literatura inglesa

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2010/2011 Literatura Inglesa Trabalhos e apontamentos Inglês/Espanhol

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Page 1: LITERATURA  INGLESA

2010/2011

Literatura Inglesa Trabalhos e apontamentos

Inglês/Espanhol

Page 2: LITERATURA  INGLESA

Índice Hamlet .............................................................. 0

Pride and Prejudice ........................................... 9

Wuthering Heights .......................................... 17

Pygmalion ....................................................... 27

Chocolate ........................................................ 38

Mrs. Dalloway ................................................ 43

The Hours ....................................................... 53

Page 3: LITERATURA  INGLESA

0

LITERATURA INGLESA

Hamlet

HAMLET é uma tragédia de William Shakespeare.

Drama é um género especial de escrita porque precisa de performance no teatro

para uma completa interpretação dos seus significados.

É também sempre um conflito de qualquer espécie e portanto, se

compreendermos os conflitos facilmente compreendemos as ideias principais

que ligam todas as partes.

A peça foi escrita na viragem do sec. XVI para o sec. XVII. Esta época Isabelina

foi um turbilhão intelectual e artístico. A atmosfera era politicamente turbulenta

, mas apesar disso o clima foi vigoroso e experimental.

A peça de Shakespeare estava nos palcos e a admiração que existia por ela era

tal que a sua técnica foi considerada mestre .

Uma das razões da sua popularidade estava na riqueza do assunto principal ;da

caracterização e da linguagem.

As questões interessantes que Hamlet levanta levam-nos a ponderar em temas

fundamentais e existenciais da vida, como por exemplo, a morte (é interpretada

como “libertação” de Hamlet mas também como sendo a grande igualdade).

Na minha opinião, o mais curioso de tudo é que Hamlet exige que os seus

pensamentos mais profundos sejam lidos uma e outra e outra vez… e são várias

as interpretações que podemos dar a cada uma das suas reflexões.

“… for there is nothing either good

Or bad but thinking makes it so.” (Acto II, cena 2)

“To be, or not to be, that is the question: whether „tis nobler in the mind to suffer

The sling and arrows of outrageous Fortune, Or to take arms against a sea of

troubles, And by opposing end them:to die to slip…” (Acto III, cena 1)

Temas centrais:

Traição, vingança, incesto, corrupção e moralidade

Drama familiar: pai e filho; irmão e irmã; irmão e irmão; filha e pai;

mãe e filho; filho e padrasto

Abordagens:

Page 4: LITERATURA  INGLESA

1

Cumprimento do dever para com os pais; para os que estão no poder; nós

próprios e nossos ideais; para com Deus e a verdade

Sexualidade e a moralidade sexual

Posse e perda de controlo

DRAMATIS PERSONAE

Hamlet - Príncipe da Dinamarca

Fantasma do pai de Hamlet

Gertrude – Rainha, mãe de Hamlet

Claudius – Rei da Dinamarca, tio de Hamlet

Polonius – Conselheiro de Estado

Laertes – filho de Polonius

Ophelia – filha de Polonius

Horatio – amigo e confidente de Hamlet

Rosencrantz e Guildenstern – cortesãos

Fortinbras, Principe da Noruega

Marcellus, Barnardo e Francisco – membros da guarda do Rei

Reynaldo – servo de Polonius

Entre outros…

SYNOPSIS

Exceptuando o Acto IV cena 4 e o Acto V cena I, toda a peça se desenrola no

castelo de Elsinore. É composta no total por V Actos.

Acto I:

Rei Hamlet morreu e Claudius , irmão, sucedeu-o no trono e casamento.

Novo Rei com completo controlo da corte.

Príncipe Hamlet discorda e sozinho continua luto

Um fantasma parecido com seu pai aparece e pede vingança.

Entretanto a filha de Polonius, Ophelia, por quem Hamlet está apaixonado,

obedece ás ordens do seu pai e do seu irmão para ignorar o cortejo de Hamlet.

Acto II:

Page 5: LITERATURA  INGLESA

2

Hamlet fica com comportamento estranho

Rosencrantz e Guildenstern, amigos de Hamlet, vigiam-no a pedido do Rei

Polonius conta ao Rei rejeição de filha aos avanços de Hamlet e sugere loucura

em consequência

Polonius lê ao Rei carta que Hamlet enviou a Ophelia e decidem forçar encontro

Rosencrantz e Guildenstern admitem a Hamlet terem sido enviados para o

vigiar, e este confessa aos amigos que tio e sua mãe estão enganados em relação

à loucura.

Chega companhia de teatro

Hamlet dá-lhes as boas vindas e traça então um plano

Pede ao actores para executarem uma peça de teatro “something like the murder

of my father.”

A actuação será feita em frente ao seu tio para observar a reacção do Rei e testar

honestidade do fantasma.

No Acto III:

Polonius põe em acção seu plano de espionagem: junto com Rei escondem-se

para ouvir a conversa entre o casal

Inesperadamente Claudius revela à audiência (aparte) que carrega um “heavy

burder”

Monólogo “To be or not to be…”

Encontra Ophelia nesta conversa Hamlet diz-lhe que nunca a amou, dizendo-

lhe“Get thee to a nunnery”.

Ophelia expressa a sua tristeza em relação a Hamlet

Rei fica convencido que o sobrinho-filho não está louco e decide então enviar

Hamlet para Inglaterra.

Polonius sugere outra sessão de espionagem mas no quarto da Rainha e Rei

concorda

O Príncipe treina os actores e pede a Horatio para observar o Rei durante a

representação

Peça consiste numa imitação reencenando o Fantasma a revelar o crime.

Na primeira cena o Rei é morto e Rainha jura fidelidade eterna ao seu marido

Page 6: LITERATURA  INGLESA

3

Não existe reacção por parte do Rei nem por parte da Rainha.

Rainha responde “ The lady doth protest too much, methinks”, revelando-se

assim ciente que filho a quer deixarem situação desconfortável

A segunda metade da peça apresenta o homicídio no jardim

Hamlet faz e ajusta comentários à conveniência

O Rei levanta-se, actuação termina mas não fica explicito o que realmente o

incomodou

Hamlet pergunta a Horatio se reparou na atitude do Rei e este anuiu

Hamlet fica extasiado e num monólogo imagina a vingar-se

Porem, não persegue o Rei mas sim a mãe e vai para o quarto desta

Apressadamente o rei faz planos para mandar Hamlet embora

Sozinho, Claudius reza atormentado pelo seu pecado

Hamlet passa por ele a caminho do quarto da mãe e hesita matá-lo, apesar da

oportunidade

Polonius escuta a conversa entra mãe e filho

Rainha tenta dar uma lição a Hamlet pelo comportamento com tio e este

relembra a mãe das ofensas que cometeu com o pai dele

Num impulso, Hamlet mata Polonius

Mãe acusa Hamlet de crime sangrento e ele responde não tão mau como matar

um Rei e casar com o irmão dele

A rainha jura nada saber e no clímax, Hamlet é visitado pelo Fantasma que lhe

relembra o propósito

Gertrude e Hamlet alcançam equilíbrio.

Acto IV:

Claudius e Gertrude vão-se afastando; é conveniente aos dois loucura do

Príncipe

Hamlet é mandado para fora, Rei revela enviá-lo para morte

Na saída, Hamlet encontra exército de Fortinbras que vai para Polónia lutar por

Honra e reprime-se pela sua falta de acção.

Ophelia enlouquece em consequência da morte do pai

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4

Laertes regressa procurando vingança

Horatio recebe carta de Hamlet que escapou do navio; Rei recebe carta também

Rei e Laertes conspiram morte de Hamlet

Rainha descreve Ophelia morta por afogamento

Acto V: Tem início no cemitério, onde dois sacristães discutem o suicídio de

Ophelia

Hamlet regressa da viagem como homem diferente e está inconsciente do plano

do tio

Manipulando crânios reflecte na morte e no peso relativo das decisões humanas

e divinas

Laertes faz exibição teatral da dor pela morte da irmã

Cena repugna Hamlet, que o ridiculariza, entrando numa luta

Hamlet conta a Horatio detalhes da sua fuga e acredita que destino humano é

controlado pela Providencia Divina

Sente que é consciente matar Rei e condenável deixá-lo livre

Desafio para uma luta de esgrima com Laertes.

Sente algo obscuro a chegar, mas diz-se preparado para a morte

Morre a Rainha bebendo veneno destinado ao filho

Laertes, já ferido, denuncia o Rei e morre

Hamlet mata o Rei e morre de seguida entretanto já ferido por Laertes

Horatio fica para contar a verdadeira história do Príncipe

Fortinbras assume o poder na Dinamarca.

Temática e interpretação

Para uma apreciação global de Hamlet, é necessária a interpretação sob

diferentes ópticas. Devido à sua riqueza e ao facto dos problemas abordados na

peça serem complexos e universais, não basta analisar Hamlet a partir de um

ponto de vista, porque todos eles são válidos.

Religião: escrita numa época de turbulência religiosa, Hamlet é alternadamente

católica (Fantasma está no purgatório e morre sem últimos sacramentos; enterro

de Ophelia) e protestante (peça localizada na Dinamarca, que era protestante).

Page 8: LITERATURA  INGLESA

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Filosofia: Hamlet é frequentemente encarado como uma personagem filosófica:

Relativistas: quando diz a Rosencrantz “nada é bom ou mau, a não ser

por força do pensamento.”- não existe verdade absoluta sobre as coisas já

que nada é percebido a não ser pelos sentidos, ou seja, cada um percebe

as coisas de maneira diferente. Daí existir apenas a verdade relativa sobre

as coisas.

Existencialistas: “To be, or not to be…”- crìticos acreditam que “ser”

alude à vida e “não ser” à morte e à inércia.

Política: Hamlet foi produzido numa época politicamente controversa em

Londres. Novos historiadores chamam a atenção para o facto de esta peça, que

dramatiza transtornos na corte real, ter sido escrita quando o poder absoluto da

monarquia estava a ser testado pela irresistível ascensão do capitalismo. Hamlet

é ao mesmo tempo filho de um Rei; herdeiro de Claudius e uma voz que

expressa desagrado por quem está no poder.

O desejo aprisionado de Hamlet - Perspectiva Freudiana

Segundo Freud, e mais tarde Ernest Jones, Hamlet demonstra possuir um

“desejo aprisionado”. Desde que descobre na sua auto-análise o significado da

lenda de Édipo, Freud evoca Hamlet precisando que a matéria das duas

tragédias é a mesma, mas que de uma época á outra, o recalcamento progrediu.

Édipo: filho de Laius( Rei de Tebas) e Jocasta, é abandonado enquanto bebé

porque um Oráculo tinha informado Laius que seu filho, ainda não nascido, seria

seu assassino.

Resgatado cresce fora do Reino. Mais tarde consulta também o Oráculo que lhe

diz que deve evitar a sua terra Natal, pois está destinado a matar seu pai e casar

com sua mãe. Numa estrada supostamente longe da terra onde nasceu, encontra

Laius e num impulso mata-o. Chega a Tebas, resolve um mistério e é

recompensado com a mão de Jocasta. Desse casamento resultam 2 filhos e 2

filhas e reina em paz e honra até que descobre seu infortúnio, cega-se como

castigo e parte.

Isto é uma tragédia do destino. Mostra um conflito entre o destino e vontade

humana.

Freud conclui que talvez todos nós estejamos destinados a dirigir o nosso

primeiro impulso sexual ás nossas mães e os impulsos de ódio e violência contra

nossos pais. Então, Rei Édipo, que matou o pai e casou com a mãe, é nada mais

nada menos que a realização dos nossos desejos de infância. Diz ainda que nós,

mais sortudos do que ele, temos sido bem sucedidos no retirar dos nossos

Page 9: LITERATURA  INGLESA

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impulsos sexuais de nossas mães e em esquecer os ciúmes dos nossos pais – isto

é – estes impulsos ainda existem, embora estejam suprimidos.

Freud vê na tragédia de Hamlet raízes no mesmo solo que Édipo, contudo a

diferença na vida psíquica de ambas as épocas e o progresso de repressão na

vida emocional da Humanidade, fazem com que haja um tratamento diferente do

mesmo material.

Principal diferença? Em Édipo o desejo da criança é trazido à luz, em Hamlet

permanece reprimido.

Este jogo baseia-se na hesitação de Hamlet em realizar a tarefa de vingar o seu

pai.

Segundo Freud, nem o texto nem as múltiplas tentativas de interpretação

conseguiram responder à questão: porque é que Hamlet não consegue matar o tio

quando tem a oportunidade perfeita para o fazer? Será ele incapaz de agir devido

à sua excessiva actividade intelectual? “Is sicklied o‟er, with the pale cast of

thought…” (Acto III, cena 1) Mas por duas vezes conseguimos ver Hamlet em

acção: quando mata Polónio e quando deliberadamente manda os dois cortesãos

para a morte destinada a si mesmo.

Mas afinal, que impede Hamlet de realizar o desejo que o fantasma do pai

lhe fez?

Hamlet é capaz de fazer qualquer coisa excepto tomar vingança sobre o homem

que matou seu pai e que ficou ao lado de sua mãe, isto é, o homem que lhe

mostra a realização dos seus próprios desejos reprimidos de infância.

Assim, o ódio que deveria ter levado a vingança é substituído por auto-acusação

que lhe diz que ele não é melhor que o assassino do pai (neste caso Claudius),

porque ele próprio tinha esse desejo.

Hamlet perde então em Ophelia o seu objecto sexual porque não a pode ter como

segunda escolha. A sua aversão sexual è demonstrada quando lhe diz “Get thee

to a nunnery. Why wouldst thou be a breeder of sinners?”… (Acto III, cena 1)

E, segundo Freud, é o desejo reprimido de Hamlet que o faz hesitar na primeira

oportunidade de matar seu tio.

CONCLUSÃO

Hamlet é universalmente popular porque a personagem central é alguém por

quem não conseguimos ficar indiferentes e que mostra, pela sua própria

experiência, o seu estado desconcertante e os seus conflitos internos.

Page 10: LITERATURA  INGLESA

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Nesta peça Shakespeare dramatiza de forma provocativa temas muito centrais ás

nossas auto-críticas levantando questões: quem somos? De onde vimos? Para

onde vamos?

Dado que a sociedade e a natureza continuam em mudança, também a forma

como se continuam a debater essas questões se alteram. Talvez por esse motivo

é que Hamlet continua a interessar pessoas de diferentes culturas e posições

ideológicas .

John Dover Wilson descreve Hamlet como “ a dramatic essay in mystery; that

is to say, the more it is examined, the more there is to discover”, in What

Happens in Hamlet (1935).

NOTTA BENNE

A questão da lealdade

Uma única certeza… a MORTE!!!

Os contrastes

A complexiadade do SER

Hamlet é uma tragédia

Género literário

No centro da tragédia está Hamlet – retrata a tragédia de Hamlet

Mas qual é a tragédia de Hamlet?

Para Hamlet, o seu Pai é o “HOMEM” mas para os leitores é um fantasma que

pretende envolver o seu filho num crime.

-Opostos

-Sentimentos de Perda

-Sentimentos confusos

Tudo se resume na condição humana

da mãe

dos amigos

Vida/morte

Real/sobrenatural

Inércia/acção

-inevitabilidade

-traição

-perda

Page 11: LITERATURA  INGLESA

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Hamlet sente-se aprisionado na condição humana

A morte do Pai é o ponto de partida para que Hamlet tenha finalmente a

possibilidade de agir

O oscilar permanente entre o agir/hesitar

Ciclo da vida

Ser ou não ser? – Compreende que está preso à humanidade, às suas fragilidades e

vulnerabilidades.

O facto de Hamlet morrer é fundamental – é inevitável – chegou ao fim o seu ciclo

É o fim de um ciclo, o tempo regenera-se, a paz regressa e é o inicio de um novo ciclo.

O final representa o fechar de um ciclo. No final as mortes representam a queda de um

dominó.

A existência contraditória que o ser humano vive.

Hamlet encerra em si mesmo e na sua evolução enquanto personagem um ciclo de

morte.

- nunnery – poderia ser bordel ou convento

Pode considerar Ofélia como símbolo das potencialidades que Gertrudes poderia

apresentar

Meio da peça No Final

Jovem irreverente,

atormentado

Hamlet adulto que busca o seu caminho;

Homem maduro continuamente atormentado

Velho e Sábio

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Pride and Prejudice

Jane Austen – Biografia

Jane Austen nasceu em 1775 em Steventon, Hampshire, no Sul da Inglaterra. Era

a sétima de oito filhos de um pastor anglicano, o Reverendo George Austen. Ele era um

homem muito culto que encorajou Austen na leitura e na escrita. Ela cresceu num

ambiente familiar alegre e unido. Costumavam até encenar peças em casa . Jane Austen

começou a escrever na adolescência.

Em 1801, a família mudou-se para Bath; Após a morte de George Austen, em

1805, mudaram-se para Southampton e finalmente Chawton em Hampshire.

Os primeiros sintomas da doença de Jane, dores nas costas, cansaço e fraqueza

surgiram em 1815.

No final de 1816 a doença agravou-se ainda que intermitente e, a partir de Março

de 1817, Jane ficou cada vez mais fraca largando definitivamente o livro que estava a

escrever, Sanditon.

Jane faleceu na manhã do dia 18 de Julho de 1817, e foi enterrada na catedral de

Winchester.

A autora deixou seis obras acabadas e três inacabadas. Os quatro livros

publicados ainda em vida foram, por ordem de publicação, Sense and Sensibility, Pride

and Prejudice, Emma e Mansfield Park .

Persuasion e Northanger Abbey foram publicados após sua morte pelo seu irmão Henry

Austen. Nas quatro obras publicadas ainda em vida da autora, os livros são assinados

“by a lady”, mas quando Northanger Abbey e Persuasão foram publicadas em 1817, o

seu irmão explicou a autoria de todas as obras austenianas através de um prefácio

assinado por ele.

As mulheres, ao longo da História, tiveram poucas oportunidades de expor as

suas formas de ver e compreender o mundo que as cercava. Desta forma, não foram

muitas as que conseguiram escrever e publicar as suas obras. Jane Austen foi uma

destas poucas autoras, tendo deixado uma vasta obra onde deixou suas impressões sobre

a sociedade inglesa do fim do século XVIII e início do XIX.

Dentre as várias escritoras inglesas, Jane Austen traz inovação no seu trabalho e

recebe lugar de destaque na literatura a partir século XVIII por descrever o quotidiano

nas suas obras. Nascida de uma família pertencente à burguesia agrária, a sua situação e

ambiente serviram de contexto para todas as suas obras.

A trivialidade dos assuntos de Jane Austen, a sua ironia subtil e os seus diálogos

espontâneos fazem de cada incidente, de cada diálogo, uma peça fundamental na

estrutura dos romances.

O estilo de Jane Austen é de aguda percepção psicológica, ela cria personagens

reais, com vícios e virtudes, revelando sempre uma ironia dissimulada pela leveza da

narrativa, que possui um tom irónico e na qual os sentimentos são contidos.

Jane Austen viveu na época da regência, porém sua obra literária caracteriza-se por

descrever com mais precisão a sociedade rural georgiana e não tanto as mudanças

sofridas com a chegada da modernidade. “É o mundo das casas dos nobres e abastados

da província, cuja vida rotineira segue indiferente às convulsões sociais que agitam a

Inglaterra”. (Cevasco, 1999)

O período britânico de Regência compreende a regência de Jorge IV como

Príncipe de Gales, durante a enfermidade de seu pai, Jorge III, e constitui uma ponte

entre o período georgiano e o vitoriano.

Page 13: LITERATURA  INGLESA

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Durante a Era da Regência em Inglaterra verificou-se a transição da Literatura

Inglesa do Neoclassicismo do século XVIII para o Romantismo do século XIX.

Durante este período da Regência, os romances davam especial ênfase aos

costumes sociais e às diferenças de classe social.

As suas obras literárias impulsionaram o romance inglês para a modernidade.

Posteriormente, a crítica veio a considerá-la a primeira romancista moderna da

literatura inglesa

Uma mulher fora do seu tempo, refugiada numa Inglaterra rural, de costumes e

de tradições, com uma capacidade única: a de transformar a mais mundana das histórias

em algo clássico e transversal até aos nossos dias.

A obra Literária

Orgulho e Preconceito retrata a vida em sociedade do século XIX, repleta de

interesses e julgamentos de conveniência, contudo contrastando-a com amostras de

afeição terna, sincera e verdadeira, capaz de ultrapassar valores plantados

intrinsecamente nas fundações da comunidade.

Em Orgulho e Preconceito a autora retrata as relações de uma família com os

mais variados intervenientes. Através das suas personagens a autora vai demonstrando

algumas das suas opiniões e convenções da época, sempre de forma subtil.

Jane Austen mostra na sua obra como o amor entre os protagonistas é capaz de

superar as barreiras do orgulho e do preconceito, da diferença social entre eles e do

escasso poder de decisão concedido à mulher na sociedade da época.

A obra Literária - Resumo

As personagens nucleares são Elizabeth Bennet e Mr. Darcy, em torno dos quais

se desenvolve a maior parte dos acontecimentos.

Elizabeth é uma jovem não muito rica que vive no seio de uma família de sete

elementos (os pais e quatro irmãs) na qual só ela, o pai e a sua irmã e confidente Jane

parecem revelar algum bom senso.

As vidas de Elizabeth e de Mr. Darcy cruzam-se e a primeira impressão que têm

um do outro é de imediata antipatia, grande parte devido a mentiras e equívocos.

Ao longo do romance a admiração de Mr. Darcy em relação a Elizabeth vai

crescendo, reconhecendo nesta um espírito crítico e astuto acompanhado por uma beleza

natural. Vários episódios os reúnem e Mr. Darcy chega mesmo a declarar-lhe o seu

amor, mas a repulsa vem por parte de Elizabeth, guiada pelo orgulho.

A verdade é que Mr. Darcy, apesar de a amar, ainda não tinha abandonado por

completo o preconceito em relação à família de Elizabeth. Finalmente, todos os

equívocos são desfeitos e, depois de ultrapassado o orgulho e o preconceito, podem

amar-se e casar.

A obra Literária – Personagens

Elizabeth Bennet

É a personagem feminina principal;

Representa a heroína típica das obra de Jane Austen:

Personalidade forte, inteligência brilhante, que se ergue pela liberdade da mulher

no casamento;

É uma das personagens mais queridas da Literatura Inglesa;

Elizabeth é a segunda filha do casal Bennet; Também chamada por Lizzie e

Eliza

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Pouco depois da publicação de Orgulho e Preconceito, Jane Austen referiu acerca de

Elizabeth Bennet: "I must confess that I think her as delightful a character as ever

appeared in print, and how I shall be able to tolerate those who do not like her at least, I

do not know".

É independente e alegre

Acaba por cometer alguns erros, quando se deixa levar pelo orgulho e pelo

preconceito que conduzem a julgamentos errados sobre Wickham e Darcy.

É a filha favorita de Mr. Bennet, no entanto a mãe considera-a como não sendo:

"is not a bit better than the others"; she "is not half so handsome as Jane, nor half

so good humored as Lydia". (Ch1, p.26)

No romance, ela é retratada como tendo “a lively, playful disposition, which

delighted in any thing ridiculous.” (Ch. 3, p.9)

A própria Elizabeth admite que : “I dearly love a laugh but … I never ridicule

what is wise or good. Follies and nonsense, whims and inconsistencies do divert

me, I own, and I laugh at them whenever I can.” (Ch. 11, p.49)

Mr. Darcy

É a personagem masculina principal

No início da obra, apresenta uma imagem repulsiva, arrogante e superior

É orgulhoso e preconceituoso

Tem uma postura altiva, é reservado e parece frequentemente entediado

É inteligente e simultaneamente, arrogante, retraído e difícil de contentar. Os

seus modos, apesar de delicados não são atraentes

“Darcy was clever. He was at the same time haughty, reserved, and fastidious,

and his manners, tough well bred, were not inviting… he was continually giving

offence” (Ch.4, p.17)

É um homem de ressentimentos implacáveis.

Uma vez perdida a sua opinião, é para sempre.

Mostra durante o desenrolar da obra a mudança mais significativa.

Após a recusa do pedido de casamento, torna-se mais cuidadoso, expansivo e

revela-se mais.

Revela cavalheirismo e o amor que já não consegue esconder.

Consegue dominar o preconceito que em muitas situações anteriores

demonstrou.

Mr. Bennet

Era um misto de petulância, sarcasmo, reserva e capricho. Considerava as filhas

tolas e ignorantes, tal como a maioria das raparigas.

“Mr. Bennet was so odd a mixture of quick parts, sarcastic humor, reserve, and caprice,

that the experience of three-and-twenty years had been insufficient to make his wife

understand his character.” (Ch.1, p.3)

Não escondia a sua preferência por Elizabeth, pela sua vivacidade.

Mrs. Bennet

Mulher de inteligência medíocre, cultura rudimentar e temperamento incerto.

Quando irritada procurava refúgio nos nervos.

A principal ocupação da sua vida era casar as filhas e o seu passatempo

preferido eram as visitas e os mexericos. As suas atitudes e comportamentos

eram frequentemente motivo de embaraço.

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Jane

É a mais velha das irmãs, com o temperamento mais doce, e considerada pela

generalidade, como a mais bela;

Bingley says : “she is the most beautiful creature i have beheld” ( Ch.3 , p.13)

É modesta, paciente, optimista, revela bom senso, bondade e generosidade.

Jane não vê malícia nem maldade nas pessoas e no mundo.

A sua candura vem contrapor o Preconceito.

“All the world are good and agreeable in [her] eyes.” and "never seeing a fault in

anyone." (Ch.4, p.11)

Reservada e controlada, o que pode ser uma desvantagem ao nível dos

relacionamentos amorosos

Catherine e Lydia Bennet

Mais fúteis que as irmãs

Animadas e efusivas

Predilecção por bailes e homens de uniforme

Mais irresponsáveis

Mary Bennet

Mais intelectual, refugia-se no livros do seu pai

É moralista, desinteressante, falta-lhe vivacidade e sentimento

Aplicada na árdua aquisição de conhecimentos e dotes, vivendo na ânsia de os

exibir. Porém não tinha gosto nem talento.

Mr. Bingley

“a single man in possession of a good fortune” (Ch. 1, p.5)

É um homem belo e distinto, com modos delicados e simples

É alegre e animado

É bastante sociável e rico

Tem uma forte amizade com Mr. Darcy

É influenciável pelas opiniões do amigo

Apaixona-se por Jane Bennet

Cativa pela brandura, franqueza e docilidade do seu carácter

Mr. Collins Primo de Mr. Bennet

Herdeiro das propriedades da família Bennet

Exercia as funções de Clérigo

Homem submisso, pomposo e sem interesse

Tem muito boa opinião de si próprio

Veneração exacerbada pela sua patrona, devido à elevada posição social da

senhora

Representa uma mistura complexa de orgulho e subserviência, presunção e

humildade

Wickham

Um Oficial que habitualmente seduzia raparigas jovens

Mantinha uma relação conflituosa com Mr. Darcy, com quem cresceu

Page 16: LITERATURA  INGLESA

13

É um elemento que desempenha um papel importante no desenrolar da acção,

pois é fonte de vários equívocos que contribuem para o aumento da antipatia de

Elizabeth por Darcy.

Ele representa o perigo para as jovens facilmente influenciáveis do mundo de

Jane Austen

Combina a sua beleza e as maneiras charmosas como forma de iludir e

convencer as pessoas das suas mentiras, demonstrando falta de veracidade e de

moralidade sexual

Outras personagens:

Lady Catherine de Bourgh – patrona de Mr. Collins; senhora de posses e tia de

Mr. Darcy. Espera que Mr. Darcy se case com a sua filha de saúde débil

Charlotte Lucas – Amiga e confidente de Elizabeth. Casa com Mr. Collins, num

casamento de conveniência

Mr. E Mrs. Gardiner – Tios de Elizabeth

Coronel Fitzwilliam – sobrinho e amigo de Mr. Darcy

Georgiana Darcy – irmã mais nova de Mr. Darcy. Uma das vítimas de Wickham

Mr. Hurst – um homem vulgar. Casado com uma das irmãs de Mr. Bingley

Mrs. Hurst – irmã de Mr. Bingley.

Caroline Bingley – Irmã de Mr. Bingley. Procura atrair as atenções de Mr.

Darcy, com o objectivo de se casar com ele.

Jane Austen transmite bastante o sentido de localização. O leitor tem a sensação de

saber sempre onde decorre a acção.

Existem três localizações principais:

Meryton - Longbourn - Casa da família Bennet

Netherfield - Propriedade de campo alugada por Mr. Bingley

Hunsford

Pemberley House

Temáticas

A obra de Jane Austen é composta por comédias satíricas da vida social e

doméstica de uma limitada esfera da sociedade inglesa. Os seus enredos constituem uma

variação do tema padrão dos romances femininos do século XVIII: a entrada numa

sociedade cujo ápice para a mulher é o casamento. Apesar de trabalhar com enredos

previsíveis, Austen era capaz de usar um estilo refinado e meticuloso para explorar um

tema universal: o lugar do ser humano dentro da família e da sociedade.

A fundação sólida do seu próprio carácter era o bom senso, e a sua característica

de excelência era retratada nas suas heroínas, que são mulheres cheias de sentimento,

mas com os sentimentos controlados. Logo, as protagonistas de Jane Austen

diferenciavam-se daquelas do seu tempo quando à mulher cabia o rótulo de frívola,

frágil, e por sempre se deixar levar pelas emoções e sensações. Assim, Elizabeth

Bennet, durante suas conversações, rompe com o estereótipo e conquista a atenção e

apreço de Mr. Darcy.

Orgulho e Preconceito

São os temas mais explícitos, que Jane Austen escolheu para dar título à obra. A

obra mostra como as famílias mais antigas e nobres tem relutância em ligações com

famílias mais modestas pertencentes à classe média/Burguesia.

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Lady Catherine says ”I am no stranger to the particulars of your youngest sister's

infamous elopement. I know it all” ….. “ Are the shades of Pemberley to be thus

polluted?'„ (Ch.24, p.313)

Darcy says: “ where there is real superiority of mind, pride will always be under

good regulation” ( Ch.11, p.51)

Esta frase, faz Elizabeth rir, pois considera que o orgulho dele não é adequado,

mas sim em demasia.

Na generalidade, a obra mostra a aprendizagem de Darcy a regular o seu orgulho

adequadamente, e a reconhecer que Elizabeth não está irremediavelmente manchada

pela posição social que a família Bennet ocupa, nem pelo seu comportamento.

A obra mostra também Elizabeth pôr termo aos preconceitos que demonstra de

Darcy. Elizabeth faz um julgamento de opinião demasiado rápido e baseado apenas no

seu comportamento rude e pouco comunicativo que Darcy demonstrou no primeiro

baile em Meryton, onde Darcy referiu que ela não é “ handsome enough to tempt me” (

Ch.3, p.13) O seu mau julgamento do carácter de Wickham foi impulsionado pela sua

boa aparência. A obra ensina-nos que o preconceito em favor da boa aparência e das

boas maneiras não deve ser de confiar.

Em conversa sobre a natureza orgulhosa de Mr. Darcy, Charlotte diz: “ His

pride, said Miss Lucas, does not offend me so much as pride often does, because there is

an excuse for it. One cannot wonder that so very fine a young man, with family, fortune,

everything in his favour, should think highly of himself. If I may so express it, he has a

right to be proud. ( Ch.5, p. 17) O julgamento de Charlotte sobre o orgulho de Darcy

representa uma perspectiva sobre a riqueza e o privilégio. Ela frequentemente expressa

as opiniões da sociedade, especialmente no que diz respeito ao dinheiro e ao casamento.

Casamento e Amor

A obra começa com a seguinte frase: “ it is a universal truth that a single man in

possession of a good fortune must be in want of a wife” ( Ch.1, p.5) Esta frase espelha,

de uma forma irónica, um dos principais temas da obra e a preocupação da época em

casar bem as filhas.

“ the bussiness of her life was getting her daughters married” ( Ch.1, p.7) A frase

acima citada revela a preocupação da Sra. Bennet, com um rápido e próspero casamento

para suas filhas. Dessa maneira, Jane Austen ressalta a sua crítica ao casamento por

conveniência e fá-lo de forma irónica e cómica.

Charlotte Lucas e Mr. Collins foram os protagonistas do primeiro casamento na

obra. Representam uma união por conveniência, em que os sentimentos são

secundarizados pela segurança familiar, social e económica, pelo prestigio e condição

social. Com a união de Wickham e Lydia, Jane Austen apresenta um modelo de mau

casamento, caracterizado pela falta de amor e integridade. Wickham é persuadido a

casar mediante uma recompensa financeira.

O casamento dos Bennet‟s representa também um mau casamento: “'he had very

early in their marriage put an end to all real affection for her. Respect, esteem and

confidence, had vanished forever” (Ch.42, p.194)

Jane e Bingley representam a união de duas pessoas que se completam

mutuamente. A sua união é encantadora e baseia-se no amor. Elizabeth e Darcy tiveram

de ultrapassar o orgulho de Darcy e a antipatia de Elizabeth pelo mesmo, para

concretizar plenamente o amor que nutriam um pelo outro. Este casamento representa

os contrastes. A vivacidade e o prazer na análise de carácter de Elizabeth combinado

com o carácter reflexivo e auto-crítico de Darcy. Este conhecimento mútuo, faz do

casamento deles o mais interessante.

Page 18: LITERATURA  INGLESA

15

Jane Austen retrata o Amor como algo secreto e íntimo. Tal como o amor de

Elizabeth por Darcy que surpreendeu a família , inclusive a sua irmã e confidente Jane.

O Amor é retratado de formas diferentes. A vontade sábia de casar por amor de

Elizabeth e Jane, e o caso da Charlotte, que apesar de não amar Mr. Collins, mostra-se

satisfeita com o acordo que fez.

É interessante constatar que na obra as incompatibilidades de sentimentos entre

os enamorados, os mal entendidos e maus julgamentos de acordo com a sua postura em

público e os seus reais sentimentos íntimos. É irónico como Darcy tenta afastar Bingley

de Jane, por considerar que ela não sente afeição por ele, mas mesmo assim, propõe

casamento a Elizabeth quando esta o detesta.

Dinheiro e interesses

Charlotte says: “ I am not a romantic you Know” ( Ch.22, p. 105) Esta é uma

obra romântica, mas em que a paixão é temperada por pensamentos leves sobre

dinheiro. A família Bennet vive atormentada com a possibilidade de perder todos os

seus bens após a morte de Mr. Bennet.

Mesmo Elizabeth fica deslumbrada quando vê as propriedades de Mr. Darcy: “

at the moment she felt, that to be mistress of Pemberley might be something” ( Ch. 43,

p. 201) Em conversa com Jane refere que a paixão por Darcy começou quando : “from

my first seeing his beautiful grounds at Pemberley” (Ch. 59, p.301)

O papel da mulher

Jane Austen retrata uma sociedade que visa os interesses económicos e os

casamentos arranjados, e em que as mulheres tem como objectivo principal procurar

uma vida confortável ao lado de um marido bem sucedido. No séc. XIX não era

permitido às mulheres educação superior. Existiam tutores, escolas privadas, etc.

Elizabeth com um espírito vivo, adoptou a leitura como forma de adquirir

conhecimentos.

Durante este período, uma mulher é dependente do seu pai enquanto não é

casada e este é vivo. Não tendo irmãos que herdem e possam ser um auxilio em caso de

necessidade, uma mulher sozinha depende de terceiros para sobreviver. Esta posição é

um factor humilhante para as mulheres

A mulher deve optar por aprender música, cantar, dançar, em detrimento de uma

educação por excelência. No capítulo 8, sobre o que deve dotar uma mulher, Bingley

fala sobre “ the ability of paint tables, cover skreens and net purses”, Caroline says “

music singing, drawing, dancing and the modern languages” e ainda “ “ something in

her air and manner of walking”. Darcy complementa com “the improvement of her

mind by extensive reading. (Ch.8, p.35)

Jane Austen retrata a figura feminina principal, que canta e toca piano, mas não

desenha, com um espírito independente. Ela frequentemente domina as atenções e

conversas. Dentro das limitações da sua situação, ela é forte. Enfrentou Lady Catherine,

quebrou o silêncio entre ela e Mr. Darcy quando lhe agradece a intervenção no caso de

Lydia, recusou dois pedidos de casamento, etc…

Técnicas Narrativas

A ironia Ao analisarmos a ironia em Orgulho e Preconceito , podemos concluir,

que a autora faz uso de tal recurso não apenas como um mecanismo para chamar a

atenção do leitor para um determinado aspecto da obra, mas principal e

fundamentalmente para criticar a sociedade burguesa da Inglaterra do final do século

Page 19: LITERATURA  INGLESA

16

XVIII e início do século XIX, evidenciando comportamentos, costumes e valores

inadequados, imorais, ou antiéticos desta classe social.

Dentre os temas que ela critica estão o casamento por interesse, o amor à

primeira vista, a hipocrisia, o status social, entre outros. De uma maneira geral, a autora

ri do exacerbamento romântico dos romances de sensibilidade e aponta para um maior

realismo na obra.

Durante o decorrer do romance, a autora faz com que a voz irónica da sua

personagem principal Elizabeth Bennet, através de um mecanismo de controlo do ponto

de vista do leitor, provoque o efeito de direccionar o olhar a um ponto ou característica

específica da história, sobre o qual a autora queira evidenciar uma determinada falha da

sociedade.

Conclusão

Há dois séculos inteiros, leitores e espectadores continuam a sofrer com a

história vivida por Elizabeth e Mr. Darcy, os quais parecem impossibilitados por uma

série de factores sociais de se entregarem ao amor que sentem um pelo outro. Muitos

afirmam que a explicação do sucesso de Jane Austen durar deve-se ao facto dela ter

escrito sobre um mundo que ela conheceu e compreendeu em sua totalidade. E o alto

grau de observação irónica da realidade em que viveu, tornou-a mais acessível aos

leitores do que a maioria dos escritores clássicos.

Orgulho e Preconceito é, sem dúvida, uma das obras em que melhor se pode

descobrir a personalidade literária de Jane Austen. A autora dá-nos um retrato

impressionante do que era o mundo da pequena burguesia inglesa do seu tempo: um

mundo dominado pela mesquinhez do interesse, pelo orgulho e preconceitos de classe.

O orgulho e preconceito, no romance, acabam por ceder face a outras razões com raízes

mais profundas no coração humano

A história remonta ao século XIX, mas ainda hoje exerce um enorme fascínio

nos leitores modernos, continuando no topo da lista dos livros preferidos e sob a

consideração da crítica literária.

Page 20: LITERATURA  INGLESA

17

Wuthering Heights

Introdução

“Wuthering Heights”é um romance, escrito por Emily Brontë, publicado em

1847, sobre o pseudónimo de Elis Bell, ficando conhecido pelo único romance escrito

da autora. A acção ocorre num ambiente agreste, tendo como paisagem as colinas de

Yorkshire, onde Emily Brontë viveu, ambiente esse que deu alusão ao título. O livro

conta a história de uma paixão obsessiva entre os dois protagonistas Heathcilff e

Catherine, sendo esta tempestuosa e trágica. Aborda temas como o amor, o casamento

como meio de subsistência feminino, a questão dos vínculos familiares e hierarquia

social em relação aos sentimentos genuínos, a moralidade.

Considerado, hoje em dia como clássico da literatura inglesa, ao ser publicado

recebeu duras críticas, a maioria dos críticos reconhecia o poder da imaginação e do

romance, mas muitos achavam a história rude e perturbadora. Só mais tarde

reconheceram o devido valor da obra.

“Wuthering Heights” é também caracterizado por ser um romance gótico, que

apresentava encontros sobrenaturais, cenários sombrios criando um ambiente misterioso

e assustador, sendo um dos romances mais adaptados ao cinema.

Este romance tem uma posição no cânone da literatura mundial e Emily Brontë é

considerada como uma das melhores escritoras do século XIX.

Contextualização Histórica

Publicado na Inglaterra no século XIX na Era Vitoriana – Reinado Rainha

Vitória;

Período de fortuna para a aristocracia e para a burguesia inglesa;

Desenvolvimento das tecnologias e métodos de trabalho;

Mão-de-obra barata composta por crianças e adultos que viviam na miséria;

Período de grandes contrastes;

Implementação e melhoria do sistema ferroviário;

Surgimentos de “ ricos emergentes” – Possuíam capital suficiente para serem

aceites no círculo social ;

Período de repressão em que a moral e os bons costumes e a religião eram

exaustivamente lembrados;

As mulheres eram criadas unicamente para casar e serem donas de casa;

A educação das crianças ricas era feita através de tutores em casa;

Ostentação através das casas grandes e o número de servos e criados;

Onda de puritanismo religioso.

Emily Brontë

Emily Brontë nasceu em Thorton em Yiorkshire, Inglaterra, em 20 de Agosto de

1818, a quinta de seis filhos de Patrick e Maria Branwell Brontë e irmã de Charlotte

Brontë e Anne Brontë, também escritoras. Em 1820, a sua família mudou-se para

Haworth, e nestes arredores o seu talento literário floresceu. Haworth era cercado por

cemitérios e por colinas e era também um local muito frio.

Depois da morte de sua mãe, as crianças foram enviadas para um colégio

interno, onde sofriam castigos, passavam fome e não dormiam devido ao frio. Duas das

suas irmãs, Maria e Elizabeth, faleceram devido às condições do internato, então seu pai

decidiu levar as crianças de volta a casa. As três irmãs, Anne, Charlotte e Emily

Page 21: LITERATURA  INGLESA

18

aprendiam tarefas domésticas enquanto o seu irmão Patrick, aprendia grego e latim com

o pai. Mais tarde, Charlotte entrou para o colégio em Roe Head, Patrick começou a

beber, e Emily começou a isolar-se.

Passava os dias em casa isolada e nos intervalos das tarefas domésticas,

compunha versos. Ela tinha um carácter invulgar, pouco sociável e reservada e as suas

crenças religiosas eram pouco convencionais. Os irmãos voltam-se a reunir, com planos

de fundar uma escola, mas não conseguem alunos. Anne e Patrick vão trabalhar como

professores, e Emily e Charlotte ficam em Haworth. Charlotte descobre os poemas de

Emily e quer publicá-los, juntamente com os seus e os de Anne, sobre o pseudónimo

masculino de Currer, Ellis e Acton Bell. Em janeiro de 1846, uma pequena editora

aceitou publicar.

Apenas dois exemplares foram vendidos, apesar do elogio da crítica. As três

irmãs não desanimaram, e cada uma começou a escrever seu romance. Em 1847 foi

publicado o seu primeiro e único romance Wuthering Heights, que recebeu duras

criticas. Morreu a 19 de Dezembro de 1848 com uma turbecolose.

Emily Brontë como a maioria dos autores, foi um produto do seu meio ambiente

e isso influenciou a sua escrita, como poderemos verificar através da sua obra.

Page 22: LITERATURA  INGLESA

19

Page 23: LITERATURA  INGLESA

20

30 Julho 1818 Emily Jane nasce na localidade Thornton, Yorkshire

Abril 1820 A família desloca-se para Haworth Parsonage 20m

15 Setembro1821 Morte da Mãe de Emily 3

25 Novembro1824 Juntamente com as suas irmãs, Maria, Elizabeth e Charlotte,

ingressam em Cowan Bridge School 6

1 Junho 1825 Emily e Charlotte regressam de Cowan Bridge School devido à

typhoid strikes e da morte das suas duas irmãs mais velhas 6

5 Junho1826 Mr Brontë presenteia Branwell, com 12 soldados de chumbo para

Branwell e as crianças começam a criar mundos imaginários 7

Antes July 1831 Criam o reino imaginário de Gondal com Anne 12

29 Julho 1835 Torna-se aluna Roe Head School onde Charlotte é professora 17

Page 24: LITERATURA  INGLESA

21

Outubro1835 Regressa de Roe Head after starving herself 17

Setembro 1838 Inicia o seu trabalho como professora em Law Hill, Halifax,

provavelmente por 6 meses 20

Fevereiro 1842 Charlotte e Emily viajam para uma escola em Bruxelas (Emily

permanece apenas 9 meses) 23

Outono 1845 Charlotte encontra a poesia de Emily. Provavelmente é por esta

altura que começa a escrever Wuthering Heights 27

Maio1846 Poemas com o pseudónimo de Currer, Ellis e Acton Bell são

publicados 27

Dezembro 1847 Wuthering Heights é publicado juntamente com Agnes Grey 29

28 Setembro, 1848 Funeral de Branwel, no qual Emily apanha uma gripe que termina

em tuberculose. 30

19 Dezembro, 1848 Morre em Haworth Parsonage 30

22 Dezembro, 1848 Enterrada na igreja de St Michael and All Angels Church, Howarth,

Oeste de Yorkshire 30

Page 25: LITERATURA  INGLESA

22

Resumo

A narração começa em 1801, com a chegada do Mr. Lockwood a Thrushcross

Grange, para passar uns tempos no campo. Ele dirige-se à propriedade de Wuthering

Heights, onde residia o Mr. Heathcilff, a fim de se dar a conhecer e tratar de assuntos

sobre o aluguer da casa. Ao chegar lá é confrontado com uma casa sombria e misteriosa,

com pessoas pouco simpáticas e acolhedoras. Tanto Lockwood como o leitor são

confrontados com este ambiente hostil, e a noite que lá passa permite que comecemos a

tomar contacto com alguns detalhes que deixam antever um passado cheio de desgraças.

Quando regressa a Thrushcross Grange, doente, pede à governante Nelly Dean

que lhe conte o que sabe sobre Heathcliff. Nelly começa a contar a história desde que

era jovem e trabalhava como governanta para o Mr. Earnshaw e sua família, em

Wuthering Heights. Um dia o Mr. Earnshaw numa das suas viagens a Liverpool volta

com um menino órfão de etnia cigana e cria-o como seu filho. No inicio os seus filhos,

Hindley e Catherine, não aceitam a criança. Mas Catherine, rapidamente o aceita e

passam a ser inseparáveis. Já Hindley detesta o rapaz e torna-se muito cruel com ele,

pois sentia ciúmes da atenção que seu pai lhe dava. Seu pai envia-o para o colégio,

deixando Heathcliff, mais próximo.

Quando o Mr. Earnshaw morre, Hindley torna-se o herdeiro e volta casado com

Frances, que busca vingança contra Heathcliff. Hindley faz de Heathcliff seu servo,

obrigando-o a trabalhar nos campos, por sua vez, a relação com Catherine cada vez se

tornava mais próxima. Numa noite, em que os dois se dirigiram a Thrushcross Grange

para provocar os irmãos Edgar e Isabella Linton, umas crianças snobes e covardes,

Catherine é mordida por um cão o que a leva a permanecer lá por cinco semanas.

Durante este tempo, Catherine, torna-se numa “Lady”. Ela encanta-se por Edgar

e a relação com Heathcliff, torna-se complicada.

Quando a esposa de Hindley morre, após dar à luz seu filho Hareton, ele torna-se

alcoólico e ainda mais cruel com Heathcliff. O desejo de Catherine, de levar uma vida

de riqueza, leva-a a ficar noiva de Edgar, apesar do seu amor por Heathcliff. Heathcliff

foge, por três anos, e retorna depois do casamento de Catherine.

Quando volta, Heathcliff, põe em prática o plano de vingança que tem em mente

para todos aqueles que o enganaram. Ele volta rico, mas não se fica a saber a origem do

dinheiro, e empresta dinheiro a Hindley, sabendo perfeitamente que não tinha como lhe

pagar. Quando Hindley morre ele torna-se herdeiro e ainda se coloca na linha de

sucessão de Thrushcross Grange, casando com Isabella, a quem trata muito mal.

Catherine fica doente, dá à luz uma menina e morre. Heathcliff implora que o espírito

dela não o deixe, mesmo que isso o deixe louco.

Pouco tempo depois, Isabella foge para Londres onde tem o seu filho, ao qual

lhe dá o nome de Linton.

Treze anos passam, e Nelly serve como babysiter da pequena Catherine. Ela é

teimosa como a mãe, mas seu temperamento é modificado por influência do pai. Ela

cresce com total desconhecimento de Wuthering Heights, mas um dia, num passeio,

descobre a mansão e encontra Hareton. Logo em seguida, Isabella morre e Linton volta

para seu pai, onde Heathcliff o trata pior do que tratava sua mãe.

Três anos mais tarde, Catherine encontra Heathcliff, que a convence a visitar a

mansão. Ela e Linton iniciam um romance através de cartas. Quando Nelly destrói as

suas cartas, a rapariga começa a fugir para encontrar-se com o seu amado. Mas

rapidamente, torna-se evidente que Linton apenas a usa porque Heathcliff o força, pois

este espera que se case com Catherine, para assim se puder vingar de Edgar.

Um dia com a doença de Edgar, Heathcliff atrai Catherine e Nelly para

Wuthering Heights, fazendo-as prisioneiras até Catherine casar com Linton. Logo após

o casamento, Edgar morre, seguido por Linton. Heathcliff agora controla as duas

Page 26: LITERATURA  INGLESA

23

mansões. Força Catherine a viver em Wuthering Heights como uma criada e aluga

Trushcross Grange a Lockwood.

A história de Nelly termina, quando chega ao presente. Lockwood horrorizado,

volta para Londres. Passados seis meses faz uma visita a Nelly, onde descobre novos

acontecimentos.

Embora Catherine no inicio tenha ridicularizado Hareton, pelos seus modos

rudes e ignorantes (fruto da educação de Hindley e Heathcliff), Catherine cresce a amar

Hareton. Heathcliff torna-se cada vez mais obcecado pela “velha” Catherine e começa a

falar com o seu fantasma. Pouco depois Heathcliff morre. Os dois jovens herdam as

mansões e planeiam casar-se. Depois de ouvir a história Lockwood visita o túmulo de

Heathcliff e Catherine.

Personagens

Nelly Dean : Governanta Wuthering Heights e narradora;

Joseph: Servente Wuthering Heights;

Lockwood : Narrador ;

Zilah : Governanta de Wuthering Heights

Dr. Kenneth : Médico da Família

O Amor: Análise

Existem vários temas que poderiam ser analisados nesta obra, tais como, a

vingança, a moralidade, hierarquia social, entre outros, mas o amor de Heathcliff e

Catherine Earnshaw parece ser o principal, pois é a emoção mais presente em toda a

obra. Esta paixão obsessiva entre os dois é o que torna a história mais atraente e

memorável.

Brontë deixa, ao leitor, escolher se acha que esta relação é condenável ou se os

idealiza como heróis românticos, cujo amor ultrapassa as normas convencionais da

sociedade e da moral. O livro está estruturado em torno de duas histórias de amor em

paralelo. Na primeira parte centra-se no amor entre Heathcliff e Catherine, enquanto na

outra metade, menos dramática refere-se ao amor de Cathy Linton e Hareton.

Page 27: LITERATURA  INGLESA

24

A característica mais importante da história de amor de Catherine Linton e

Hareton é que envolve crescimento e mudança. Logo no início do romance dos dois,

Hareton parece uma pessoa bruta, ignorante selvagem, mas com o tempo ele torna-se

seu fiel amigo. Quando se encontram pela primeira vez Catherine Linton despreza-o

como podemos verificar pelo Nelly narra no cap. XVIII:

- “Now, get my horse”, she said addressing her unknown kinsman as she would

one of the stable-boys at the Grange.

- ” You wicked creature, I shall say papa what you said”.

Mas a atitude de Cathy altera, e o desprezo que sentia dá lugar ao amor.

O amor de Catherine Earnshaw e Heathcliff, pelo contrário está enraizado na

infância e é marcado pela recusa da mudança. Ao escolher Edgar para casar, Catherine

procura uma vida mais calma, estável, mas recusa a adaptar-se ao seu papel de esposa.

Heathcliff, por sua vez mantém sempre a mesma vontade de vingança. Apesar de todo

amor, eles não ficam juntos. O desejo de Catherine por uma vida de luxo é maior e casa

com Edgar. O amor deles é um amor possessivo, degradante, não conseguem viver um

sem o outro mas também não conseguem estar juntos.

Catherine chega a afirmar no cap. IX que ela é Heathcliff:

- “It would degrade me to marry Heathcliff now; so he shall never know how I

love him: and that, not because he‟s handsome, Nelly, but because he‟s more myself

than I am. Whatever our souls are made of, his and mine are de same; and Linton is as

different as a moonbeam from lightning or frost from fire.”

As almas deles eram uma só, mas ela diz que se casa-se com Heathcliff isso a ia

degradar, pois não lhe podia dar uma vida estável. Nesta fala, Brontë utiliza uma

metáfora para dizer que Linton era muito diferente de Heathcliff, era como o gelo no

fogo, mas mesmo assim, ela casa com Edgar, amando Heathcliff. Esta conversa de

Catherine é muito importante, pois é a partir desta, que Heathcliff foge durante três

anos, e volta depois para se vingar de todos. O amor deles é cheio de ressentimentos, de

confusão. Este amor possessivo consegue alterar a vida de todos os personagens. A

escolha de Catherine de casar com Edgar em vez de Heathcliff, é que desencadeia todos

os acontecimentos seguintes.

A história de amor deles atinge o clímax quando Catherine morre. Com a sua

morte, Heathcliff fica devastado, e diz uma prece:

“ Why, she‟s a liar to the end! Where is she? Not there – not in heaven – not

perished where? Oh! You said you cared nothing for my sufferings! And I pray one

prayer – I repeat it till my tongue stiffens – Catherine Earnshaw, may you not rest as

long as I am living! You said I killed you – haunt me then! The murderer do haunt their

murderers, I believe. I know that ghosts have wandered on earth. Be with me always –

take any form – drive me mad! Only do not leave me in this abyss where I cannot find

you! Oh God! It‟s unutterable! I cannot live without my life! I cannot live without my

soul! (pag. 148 cap. XVI)

Heathcliff pede que Catherine não o deixe, que apareça de qualquer maneira,

mas que não deixe, nem que para isso o deixe maluco. Ele diz que ela era a sua alma, e

que sem ela não consegue viver. A utilização de exclamações nesta fala de Heathcliff

tem por objectivo realçar o sofrimento pelo qual estava a passar. São, também usados

termos, tais como fantasmas que conferem ao romance características góticas.

Elementos esses que podem ser encontrados em várias descrições de Heathcliff em que

o comparam com o diabo.

Enquanto o amor de Catherine e Heathcliff é um amor cheio de ressentimentos,

obsessivo e louco, o amor da 2ª geração, Cathy e Hareton, é um amor que evolui, um

amor que foi amadurecendo apesar de todo o ressentimento causado pela 1ª geração. Em

contraste com o primeiro, o segundo tem um final feliz, restaurando a paz e a ordem em

Wuthering Heights.

Page 28: LITERATURA  INGLESA

25

-“I didn‟t know you took my part” she answered, drying her eyes; “ and I was

miserable and bitter at everybody; but now I thank you, and beg you to forgive me:

what can I do besides?” (pag. 261 Cap. XXXII) ;

- The intimacy thus commenced, grew rapidly; though it encountered temporary

interruptions. Earnshaw was not to be civilized with a wish, and my young lady was no

philosopher, and no paragon of patience; but both their minds tending to the same point

– one loving and desiring to esteem, and the other loving and desiring to bee esteemed –

they contrived in the end to reach it.( pag. 263 Cap. XXXII)

Apesar de todas as suas diferenças, eles criam um laço de amizade, de amor.

Mesmo ao ser criado por Heathcliff, ser privado de educação e sujeito a crueldade,

Hareton gostava do seu tutor, não desenvolveu qualquer tipo de ressentimento, como

Heathcliff desenvolveu contra Hindley, como podemos comprovar pelo que Nelly narra

no capítulo XXXIII:

-…if he were the devil, it didin‟t signify: he would stand by him…

Com a 2ª geração as duas famílias encontram a paz, com este novo amor, vê-se a

regeneração do ser humano. Até mesmo Heathcliff nos últimos dias de vida revela que

todo o ódio e todo o ressentimento não valeram a pena, que agora já não faz sentido:

- …” an absurd termination to my violent exertions? I get levers and mattocks

to demolish the two houses, and train myself to be capable of working like Hercules,

and when everything is ready and in my power, I find the will to lift a slate of either

roof has vanished! My old enemies have not beaten me; now would be the precise time

to revenge myself on their representatives: I could do it; and none could hinder me. But

where is the use? I don‟t care for striking; I can‟t take trouble to raise my hand!...I have

lost the faculty of enjoying their destruction, and I am too idle to destroy for nothing.

Heathcliff quando morreu estava a sorrir, pois foi ter com a pessoa que sempre

amou. No fim da obra o fantasma dos dois é visto a vaguear . Só após a morte é que eles

ficam juntos enquanto os dois jovens seguiram as suas vidas pacificamente.

Estilo e Linguagem

Wuthering Heights é único por diversas razões. A história é contada por dois

narradores diferentes Nelly Dean e Lockwood o que não era usual quando escreveu a

sua obra. É também contada em analepses, “flashbacks” e utiliza o dialecto Yorkshire, o

que torna por vezes o diálogo um pouco bruto e de difícil compreensão.

As figuras de estilo utilizadas, como a imagem e as metáforas contribuem para

um estilo único. Nelly descreve a relutância de Edgar de deixar Heights depois de uma

discussão com Catherine através de uma metáfora:

- “… he possessed the power to depart, as much as a cat possesses the power to

leave a mouse half killed or a bird half eaten.”( pag. 73) ;

- “I‟ll crush is ribs like a rotten hazel -nut ( pag 108).

A maneira como Brontë descreve o tempo sempre que algo de grave acontece é

único, as imagens que utiliza faz-nos viver a situação.

No dia a seguir à morte de Catherine, Nelly diz: “ That Friday made the last of

our fine days for a month. In the evening, the weather broke; the wind shifted from

south to northeast, and brought rain first, and then sleet and snow. On the morrow one

cloud hardly imagines there had been three weeks of summer: the primroses and

crocuses were hidden under wintry drifts; the larks were silent, the young leaves of the

early trees smitten and blackened. And dreary, and chill, and dismal, that morrow did

creep over.”

O que caracteriza também esta obra é o seu estilo gótico. As constantes alusões

ao diabo, a fantasmas, ao sobrenatural são constantes nesta obra o que lhe confere o

nome de romance gótico.

Page 29: LITERATURA  INGLESA

26

Conclusão

Wuthering Heights é uma obra intensa, violenta obscura. Esta obra foi de certa

forma um pouco provadora, para a altura. Brontë faz duras criticas à sociedade da

época. Ela faz uma critica ao ideal de família da época vitoriana, que supõe que o papel

da mulher é ser fiel e tomar conta da casa e critica também o casamento por meio de

subsistência .

A estrutura da obra, o uso de elementos góticos, o uso de dois narradores fez

desta obra única no seu tempo. Que sofreu duras criticas aquando da sua publicação.

Alguns críticos acharam que era uma obra chocante e violenta.

Ela atribuiu ás personagens características muito reais o que constituiu uma nova

forma de romance.

Por todas estas razões esta obra é considerada um cânone na literatura inglesa.

NOTTA BENNE

HeadCliff – Heat(calor) – Cliff(abismo)

Page 30: LITERATURA  INGLESA

27

Pygmalion

INTRODUÇÃO

A escolha para a apresentação do meu trabalho recaiu sobre a obra

“Pygmalion”, porque, depois de uma breve abordagem às outras obras propostas pela

docente, esta, assim como o filme “My fair lady” foi a que me despertou mais interesse

pelo seu género literário, que é o estilo que mais me agrada.

Pygmalion é uma comédia romântica, composta por cinco actos, escrita pelo

irlandês George Bernard Shaw. Foi publicada em inglês no ano de 1912 e tem uma

grande componente de crítica social.

Henry Higgins é um professor de fonética que acha que os ingleses não têm

respeito pela sua própria língua a julgar pelo modo pouco cuidado a até grotesco com

que a pronunciam. O professor aposta que consegue fazer passar por uma duquesa uma

vendedora ambulante de flores (Elisa Doolittle) para uma festa que terá lugar em casa

do embaixador. Vai ensinar-lhe a assumir uma postura de gentileza, que considera ser o

elemento mais importante do discurso impecável.

Esta obra foi adaptada por George Cukor, para um filme de nome “My Fair

Lady”, datado de 1964, com Audrey Hepburn no papel de Elisa Doolittle e Rex

Harrison como professor Henry Higgins.

Em 1999, surgiu “She‟s all that”, um filme baseado também nessa obra com uma

componente mais moderna.

Ao longo do meu trabalho tentarei expor os aspectos mais relevantes da obra

literária comparando-a com as obras cinematográficas.

ENQUADRAMENTO SOCIO-CULTURAL

O ano em que foi publicada a obra foi o ano em que o Alaska se torna parte dos

Estados Unidos.

Os anos 1911 e 1912 foram palco de sérios conflitos industriais, os soldados

foram enviados para lutar com os mineiros e homens dos caminhos-de-ferro e muita

gente morreu nessa altura.

Surge o Movimento Suffragette que era um movimento composto por um grupo

de mulheres que lutavam pelo direito de voto.

Em Novembro de 1912 a Royal Commission on Divorce declarou que homens e

mulheres deveriam ser tratados de forma igual pelas leis do divórcio.

Nesse ano, 75 por cento da população do Reino Unido já vivia nas cidades ou

nos arredores das mesmas.

Page 31: LITERATURA  INGLESA

28

A Fabian Society criada também nesta altura, era uma organização que

encorajava o desenvolvimento e trocas de ideias sobre a reforma social e produção

industrial. Almejava proporcionar melhor educação, saúde e quebrar as barreiras da

classe baixa, eventualmente criar uma comunidade com justiça e igualdade. Shaw foi

um dos seus líderes e um dos seus oradores mais conhecidos.

BIOGRAFIA DO AUTOR

George Bernard Shaw nasceu a 26 Julho 1856 em Dublin – Irlanda, foi um

dramaturgo, romancista, contista, ensaísta e jornalista.

No ano de 1876, apenas com 20 anos mudou-se para Londres e somente em

1885 consegui trabalho fixo na imprensa onde trabalhou como critico de artes (musica e

drama).

Em 1898 casou com Marries Charlote com quem teve um casamento bastante

invulgar, provavelmente celibatário.

Entretanto apaixona-se por Mrs Patrick Campbell, mas o romance nunca

evoluiu.

1914 foi o ano de estreou em teatro na cidade de Londres Pygmalion e foi um

enorme sucesso.

Em 1923 escreve St Joan e em 1929 escreve The Apple Cart

Nesse mesmo ano de 1929 o festival de Malvern é inteiramente dedicado à obra

de Shaw.

A combinação do dramático, cómico e correcção social confere às suas peças um

sabor especial.

Em 1925 recusou o Prémio Nobel da Literatura.

Morreu a 02 de Novembro de 1950.

OBRA

PERSONAGENS

Henry Higgins – È professor, perito no campo da fonética, mas permitiu que o

seu trabalho se tornasse uma obsessão. Mostra pouca sensibilidade no que diz respeito

aos sentimentos dos outros e, muita gente, incluindo a sua própria mãe o caracterizam

como um homem rude. Gosta de ser o centro das atenções. Embora trate as pessoas um

pouco mal, nunca tem a intenção de o fazer. Não é bom em relacionamentos a nível

pessoal, mas mostra-se bastante confiante quando fala do seu trabalho e hobby (a

fonética). Orgulhoso da sua reputação e detesta quando alguém se mostra melhor que

ele. Afirma sempre que o seu trabalho é mais importante do que qualquer pessoa. Acha

que não deve comportar-se de acordo com as regras de ninguém. Põe de parte todos

Page 32: LITERATURA  INGLESA

29

aqueles que não vêm as coisas tão claramente quanto ele e orgulha-se da sua falta de

sentimentalismos. Diz-se que o professor Higgins foi baseado num professor de fonética

de nome Henry Sweet.

Eliza Doolittle – No início da história Eliza é ingénua, simples e ignorante.

Cresceu na pobreza e teve de defender-se sozinha. Tem um forte sentido de moralidade.

Ao contrário de muitas raparigas na sua situação evitou a vida de crime e prostituição. È

ambiciosa por melhorar e está determinada a aproveitar a primeira oportunidade de

melhorar a sua vida. Rapidamente se torna numa óptima aluna e a rapidez com que

aprende surpreende até o céptico professor Higgins. Embora mostre grande carácter ela

mantém-se vulnerável. A sua carência de afecto faz com que responda aos apelos de

Freddy.

Alfred Doolittle – Pai de Eliza, não tem qualquer moral e mostra-se sem

vergonha na sua tentativa de chantagem. È feliz na sua vida de pobreza e não quer ter

qualquer responsabilidades. È irónico que a sua capacidade de implorar por dinheiro o

torne num homem rico. Uma vez rico queixa-se das suas novas responsabilidades.

Ganha uma imensidão de familiares que tentam viver às suas custas. Teme ter que

aprender como uma pessoa da classe média inglesa.

Coronel Pickering – Tem um passado militar, passou muitos anos na Índia e é

perito em linguagem. Comporta-se como um tio querido de Eliza e ela aprecia que ele a

trate sempre como uma senhora. Age sempre como um protector ao comportamento

insensível de Mr. Higgins em relação a Eliza.

Mrs Higgins – Mãe de Henry Higgins, é uma senhora culta sempre rodeada de

coisas finas. Uma mulher inteligente ciente do mau comportamento do filho. Está

sempre preocupada com o que irá acontecer a Eliza quando a “experiência” terminar.

Dá abrigo a Eliza quando ela foge de casa de Mr. Higgins. È muito generosa e moderna

e, embora seja rica não se comporta de maneira snob.

Mrs Eynsford Hill – È uma mulher de classe média que caiu em desgraça. Não

tem dinheiro para se relacionar com a sociedade de classe alta, embora se comporte

como tal. Tenta fazer amizades com pessoas que possam beneficiar os seus filhos.

Clara Eynsford Hill – È filha de Mrs Eynsford, è muito snob e está sempre

preocupada com a moda. È facilmente enganada e quando ouve o sotaque de Eliza acha

que é “o ultimo grito”.

Freddy Eynsford Hill – È o filho de Mrs Eynsford, è um fraco e imprestável e

mostra isso logo no primeiro acto. Apaixona-se por Eliza e requer-lhe muita atenção.

Page 33: LITERATURA  INGLESA

30

Eliza apercebe-se que terá de trabalhar para o sustentar uma vez que o trabalho não é

com ele.

Mrs Peace – È a governanta de Higgins, tal como Mrs Higgins é uma pessoa

sensível que trata os outros de uma maneira decente. Está também verdadeiramente

preocupada com o que acontecerá a Eliza uma vez treinada para ser uma duquesa.

ENREDO

ACTO I

Um grupo de pessoas de vários extractos sociais abrigam-se da chuva debaixo

do pórtico da igreja de St Paul depois de terem ido ao teatro. Duas senhoras, Mrs

Eynford Hill e a sua filha Clara estão nesse grupo. Estão a queixar-se do tempo que

esperam pelo seu filho Freddy que foi procurar um táxi para irem embora. Ele volta sem

um e, as duas senhoras mandam-no de volta para procurar de novo, na pressa choca com

uma vendedora de flores, derrubando-lhe o seu cesto. À medida que se queixa chama-

lhe Freddy o que surpreende Mrs Eynford Hill. Eliza, a vendedora de flores fala num

dialecto muito invulgar quando pede à mãe do rapaz para que ela lhe pague as flores que

ele estragou: “eed now bettern to spawl a pore gel‟s flahrzn”. Representada já aqui a

tarefa difícil que terá Higgins. Mrs Hills paga as flores mas logo pergunta como é que

ela adivinhou o nome do seu filho, ao que ela lhe responde que chama a todos os

desconhecidos Freddy ou Charlie…….

Chove cada vez mais e Eliza tenta vender flores a um senhor mais velho.

Entretanto outro homem surge e diz a Eliza para ter cuidado porque um homem está a

tomar nota de tudo o que ela diz. Ao que ela protesta em voz alta. Ela não quer ser

confundida com uma ladra ou prostituta. Primeiro toda a gente pensa que o homem que

está a tirar notas é um detective, mas ele começa então adivinhar a proveniência de cada

pessoa que lhe dirige a palavra. Higgins revela que o seu truque é simplesmente a

fonética – a ciência do discurso. Eliza, atenta à conversa de Higgins pode ouvir que ele

diz que em três meses poderia fazer passar aquela rapariga por uma duquesa de forma a

poder leva-la à festa do embaixador. Os dois homens apresentam-se. O homem que

tomava notas é Henry Higgins um professor de fonética e o homem mais velho é

Colonel Pickering um perito em dialectos. Uma feliz coincidência, uma vez que eles

gostariam de ser conhecer um ao outro já há algum tempo. Eles concordam em

conversar melhor e saem. Eliza faz uma ultima tentativa para vender as flores e depois

de uma breve discussão Mr. Higgins coloca-lhe no cesto uma mão cheia de moedas.

Page 34: LITERATURA  INGLESA

31

Chega então Freddy com um táxi, mas apercebe-se que a sua mãe e irmã já se

tinham ido embora e rejeita então o táxi. Eliza decide ficar com o táxi rejeitado e ir

embora em grande estilo.

ACTO II

Na manhã seguinte, Mr. Higgins está a mostrar a Colonel Pickering o seu

aparelho de fonética, quando entra Mrs Pearce dizendo que está uma rapariga muito

comum e com um sotaque terrível para falar com ele. Ele vê ali a oportunidade de testar

o seu aparelho e pede à governanta para trazer a rapariga. A rapariga é Eliza, quando

Higgins se apercebe que é ela desinteressa-se e manda-a embora. Ela protesta com o

tratamento e informa que veio para ter aulas para poder trabalhar numa loja de flores e

está disposta a pagar. Esperava ser tratada de uma forma mais educada mas Higgins

continua com a sua amargura: “Pickering shall we ask this baggage to sit down, or shall

we throw her out of the window?” Pelo contrário Pickering é muito atencioso e educado

com a rapariga. Ele aceita a proposta e faz a aposta formal com Pickering. Higgins pede

a Mra Pearce para levar a rapariga, dar-lhe banho e queimar as suas roupas. Higgins não

quer saber dos sentimentos de Eliza e está somente empenhado em ganhar a aposta. Mrs

Pearce apercebe-se que não será bom Higgins interferir daquela forma na vida da

rapariga.

Mrs Pearce leva a rapariga para tomar banho, embora ela esteja apreensiva

quanto a isso. Entretanto Mr. Pickering questiona Higgins sobre a sua moral, ele está

preocupado que Eliza possa sair magoada daquela experiência. Esse sentimento é

partilhado pela governanta.

Mrs Pearce volta anunciando um lixeiro que está à porta para vir buscar a sua

filha. Pickering fica preocupado, mas Higgins está convencido que pode lidar com o

homem e está mais focado na pronúncia que o homem possa ter. Mr. Doolittle espera

tirar alguns lucros da situação. Higgins acusa-o de chantagem e extorsão e ameaça

chamar a polícia. De imediato o pai de Eliza faz o seu preço (5£) e convence Higgins de

que é um pobre desgraçado que só quer gastar o dinheiro em coisas que lhe dão prazer.

Higgins aceita dar-lhe o dinheiro e, ao sair Alfred Doolittle não reconhece à primeira

vista a sua própria filha. Também os dois cavalheiros estão surpreendidos com a

mudança de Eliza. Ela está satisfeita com a mudança e quer mostrar-se às outras

vendedoras de flores.

Page 35: LITERATURA  INGLESA

32

Mais tarde começam as lições de Eliza, ela está nervosa e Mr. Higgins põe-na

mais desconfortável, ao passo que Mr. Pickering é gentil com ela. Mr. Higgins está

satisfeito com a resposta de Eliza às lições e é-nos apresentado um exemplo do que ela

vai passar nos meses seguintes.

ACTO III

A mãe de Mr. Higgins está em sua casa Á espera de visitas e não fica muito

satisfeita quando chega o seu filho. Ela diz que ele aborrece as suas vistas com as suas

maneiras. Fica ainda mais surpresa quando ele lhe revela que convidou uma vendedora

de flores comum para o seu chá. Vendo a sua mãe preocupada ele diz-lhe que a ensinou

a usar as palavras adequadamente e que ela só está autorizada a falar de dois temas: o

tempo e a saúde das pessoas. Os convidados são apresentados, entre eles estão Mrs

Eynsford Hill e os seus filhos Clara e Freddy, e Higgins apresenta-os a Eliza, que está

muito bem vestida e pronuncia as palavras correctamente. Mrs Eynfield não reconhece

Eliza como sendo a vendedora de flores. Causa uma boa impressão a todos quando fala

do tempo, no entanto quando fala das estranhas circunstâncias da morte da sua tia. Mr.

Higgins consegue remediar a situação dizendo que aquela maneira de falar é o último

grito da moda. Com isto diz que é altura de irem embora, mas não sem antes encorajar

Clara a falar daquele modo quando visitar outras casas. Ele pergunta à sua mãe o que

achou de Eliza e esta diz-lhe que a achou fina mas que a sua conversa não é aceitável.

Mrs Higgins e Mr. Pickering saem com um gosto de vitória.

Chegado finalmente o dia, Higgins e Pickering chegam à festa da embaixada

com Eliza. Higgins é confrontado com um ex-aluno que se denomina perito em

linguagens europeias e que está na festa como intérprete. Isto junta outro elemento de

excitação à experiência. Todo o cenário da embaixada está repleto de comportamentos

pomposos e ignorância deliberada. Eliza está radiante com o seu sucesso mas não está

nervosa “I have done this fifty times – hundreds of times…..in my dreams”. È

apresentada ao embaixador e sua esposa como sendo filha adoptiva de Pickering. O

embaixador está impressionado e pede ao intérprete para descobrir tudo o que possa

sobre ela. O intérprete volta dizendo que Eliza é uma fraude e continua dizendo que ela

é uma princesa húngara. Embora Higgins diga a verdade, que ela é uma londrina

comum que foi ensinada por um perito, mas ninguém acredita. Eliza diz a Higgins e

Pickering que está farta de ser observada e acha que não foi bem sucedida. Pickering e

Higgins concordam que a aposta foi ganha e concordam em ir embora.

Page 36: LITERATURA  INGLESA

33

ACTO IV

Higgins, Pickering e Eliza chegam a casa. Os dois homens sentam-se

confortavelmente e falam sobre a festa. Eliza parece muito cansada, está muito calma

mas é obvio que tem algo na sua cabeça. Pickering gostou da experiência, mas Higgins

diz que em alguns momentos foi aborrecida. Eliza fica visivelmente perturbada.

Preparam-se todos para ir dormir, mas não sem antes Higgins dar algumas instruções

domésticas a Eliza. Quando ele sai Eliza atira-se para o chão com raiva. Higgins fica

chocado ao voltar para procurar os seus chinelos eles lhe são atirados. Eliza diz-lhe que

agora que ele ganhou a aposta ela já não interessa e ele não sabe lidar com a situação e

tenta justificar-se perguntando-lhe se ela foi maltratada por ele ou por alguém daquela

casa. Tenta acalma-la dizendo que ela está nervosa e exausta e não a leva a sério quando

ela lhe pergunta: “Where am I to go? What am I to do? What‟s to become of me?”

Higgins diz-lhe que o Colonel Pickering pode arranjar-lhe um trabalho numa loja de

flores e, como perdeu a aposta terá de pagar pelas suas roupas. Ela quer saber a quem

elas pertencem por não querer ser acusada de roubo. Higgins começa a sofrer as

consequências da sua insensibilidade em relação às preocupações de Eliza. È neste

momento que Higgins mostra emoção. Ele tinha a sensação que tinha o controlo de tudo

mas a sua experiência trouxe-lhe complicações inesperadas.

Eliza sai de casa e encontra Freddy. Ele diz-lhe que tem passado lá as últimas

noites porque é o único sítio onde se sente feliz. Eliza comove-se e retribui-lhe os

beijos. São interrompidos por um polícia, ela inventa que estava quase a atirar-se no rio.

Shaw faz uma referência sarcástica aos enredos dos típicos melodramas vitorianos. Eles

apanham um táxi e ela sugere que fique a vaguear toda a noite, de manhã ela pretende ir

falar com a mãe de Higgins e perguntar-lhe o que fazer.

ACTO V

A empregada de Mrs Higgins anuncia que Higgins e pickering chegaram e estão

a ligar à polícia. Ela diz-lhe para ir avisar Eliza que está no quarto e para ela não descer

sem que lhe dissessem. Higgins entra de rompante e diz à sua mãe que Eliza

desapareceu, está muito descontrolado. “I can‟t find anything. I don‟t Know what

appointments I‟ve got”. A sua mãe diz-lhe que ela tem todo o direito de ir embora se

esse for o seu desejo. Sente-se preocupada quando percebe que Pickering telefonou à

polícia para participar o desaparecimento de Eliza.

De novo a empregada anuncia a chegada de alguém, Alfred Doolittle, um

cavalheiro. Os dois homens não querem acreditar na mudança dele e acham que é algum

parente respeitável. Contudo é o pai de Eliza completamente mudado. Vestido com boas

Page 37: LITERATURA  INGLESA

34

roupas a caminho de um casamento. Ele acusa Higgins de “Tied me up and delivered

me into the hands of middle class morality”. Higgins a brincar tinha recomendado

Alfred Doolittle como um filósofo moral a um Americano rico, que depois de morrer

lhe tinha deixado £3.000 por ano. Esta boa fortuna trouxe complicações à vida de

Alfred. Está agora rodeado de familiares que tem de sustentar e terá também ele que

aprender a falar como os homens da classe média. Mr. Higgins sugere-lhe que não

aceite o dinheiro mas este confessa que não tem coragem para isso. Há muito humor na

ironia que Doolittle encontre na sua sorte tal mal. A mãe de Higgins sugere que agora

que ele é rico pode sustentar a filha, mas Henry diz-lhe que não poderá ser, porque ele

já pagou ao pai £5 por ela. Mrs Higgins revela que Eliza está na parte de cima da casa,

mas obriga o seu filho a ouvi-la dizendo que a pobre rapariga estava zangada porque

uma vez ganha a aposta “you two sat there and never said a word to her”. Mr. Pickering

apercebe-se do quão injusto e insensíveis foram com ela.

Quando Eliza entra na sala actua de forma calma e digna cumprimetando

formalmente os dois senhores “Quite chilly this morning, isn‟t it?” Higgins está

chateado e diz-lhe que foi ele quem lhe ensinou tudo o que ela sabe e que exige que ela

vá para casa com ele. Ela pergunta a Colonel Pickering se ele deseja continuar a

amizade agora que a aposta acabou. Agradece-lhe por ele lhe ter ensinado bons modos.

Eliza desabafa que foi muito difícil para ela tendo como mau exemplo o temperamento

de Higgins. Ela diz que quer que Pickering a trate por Eliza e Higgins por Mrs Doolittle.

Quando o seu pai aparece da varanda ela dá um dos seus gritos antigos. Doolittle

anuncia que se vai casar e convida a sua filha para ir ao seu casamento. Ela aceita o

convite e vai preparar-se. Convida também Pickeling e Higgins pergunta se também

pode ir ao que ele lhe responde que ficaria muito honrado. Colonel Pickering faz mais

uma tentativa de persuadir Eliza a ficar a viver em Wimpole Street.

Quando Eliza é deixada sozinha com Higgins tenta evita-lo. Ele admite

finalmente que sentirá a sua falta, e que ela se tornou uma parte importante da sua vida

ao que ela lhe responde: “When you feel lonely without me, you can turn the machine

on. It‟s got no feelings to hurt”. Eliza sente que ao tornar-se uma senhora, de certa

forma perdeu a sua independência e a capacidade de sustentar-se sozinha. Higgins

sugere que a pode adoptar ou que ela pode casar com Pickering. Eliza está determinada

em não voltar para Wimpole Street. Ela diz que irá arranjar um trabalho como

professora de fonética e que casará com Freddy assim que conseguir sustenta-lo. Ele ri-

se dela pois acha que Freddy é um tolo e imprestável. Quando mrs Higgins volta ela diz

a Henry que não voltará a vê-lo e sai com Mrs Higgins.

Page 38: LITERATURA  INGLESA

35

TEMAS

ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

No acto I são-nos apresentadas algumas diferenças entre as classes sociais (as

senhoras e senhores elegantes que saem do teatro e a vendedora de flores, suja e mal

vestida). Shaw ressalva essas diferenças para melhor percebermos o quão longe está

Eliza de ser tornar uma senhora.

Também na linguagem está patente a diferença entre as classes. Eliza tem uma

linguagem descuidada, característica da classe social em que está inserida, ao passo que

as pessoas da classe mais alta têm uma linguagem bastante cuidada.

Shaw faz-nos perceber, através da personagem de Mrs Eynford Hill e dos seus filhos,

que, algumas pessoas, embora decadentes monetariamente, vivem uma vida de

aparências.

Em Pygmalion observa-se uma sociedade separada pela linguagem, educação e

riqueza. Shaw dá-nos uma oportunidade de ver como essa lacuna pode ser superada. A

forma como ele retrata a sociedade de Londres não pode ser definida simplesmente por

ricos ou pobres. Dentro de cada grupo existem pequenas distinções menos óbvias

LINGUAGEM

Logo no acto I é-nos revelada a opinião de Mr. Higgins em relação à língua

inglesa. Ele diz que os ingleses não têm respeito pela sua própria língua e que não

ensinam os seus filhos a fala-la correctamente.

Em Pygmalion ouvimos a língua em todas as suas formas. Dependendo da

situação, a língua pode separar ou ligar pessoas, degradar ou eleva-las, transformar ou

impedir a transformação.

A linguagem não precisa necessariamente de ser veradadeira para ser eficaz, ela

pode tão facilmente enganar como revelar a verdade. È afinal o que vincula Pygmalion,

e vale a pena lê-lo com cuidado porque uma única palavra pode definir uma pessoa.

Pygmalion representa a tentativa de Shaw para esforçar os leitores a examinar o

poder e o propósito da própria linguagem.

Com a leitura de Pygmalion apercebemo-nos que a comunicação é mais do que

palavras e tudo deste as roupas até ao sotaque e ao porte físico pode afectar o modo

como as pessoas interagem umas com as outras.

Page 39: LITERATURA  INGLESA

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PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE

Nesta obra Shaw revela uma mulher diferente de todas as outras. Eliza é uma

mulher diferente porque é independente ao contrário de todas as mulheres daquela

época. (Acto I)

No último acto Eliza mostra que está disposta a trabalhar e sustentar Freddy, o

que era muito revolucionário para a época.

A forma como Shaw representa a mulher é impressionante e, às vezes

desconcertante para aquela época. Ela é mostrada em papéis convencionais como dona

de casa (Mrs Pearce), mas também como independentes (Eliza)

CLASSE NÃO TRABALHISTA

Nesta época havia um grande distanciamento entra os ricos e os pobres. Esta

diferença era muito difícil de ultrapassar. Os ricos possuíam a maioria das terras no

campo e não precisavam de trabalhar. Estas pessoas são satirizadas na festa da

Embaixada (Acto III), na qual Shaw dá uma ideia de como estas pessoas são fáceis de

enganar.

A classe média tentava copiar estes senhores. Está presente também esta ideia

quando Higgins diz a Clara que a forma de falar de Eliza é moda.

EDUCAÇÃO PARA TODOS

George Bernard Shaw acreditava que toda a gente deveria ter acesso à educação,

ele sentia que isso faria da sociedade melhor e mais justa. Shaw sentia que as pessoas

não deveriam ser limitadas pelo lugar e condições em que nasceram e que se lhe deveria

dar oportunidade de melhorar (FABIAN SOCIETY)

Apesar de ter nascido no seio de uma família de classe muito baixa, ela teve

oportunidade de se instruir e ascender socialmente, e provou ser uma aluna excelente.

CONCLUSÃO

Pygmalion deriva do célebre conto nas Metamorfoses de Ovídio, na qual

Pygmalion, desgostoso com a vida vergonhosa das mulheres da sua época, decide morar

sozinho e solteiro. Ele cria uma bela estátua mais perfeita que qualquer mulher viva.

Quanto mais olha para ela, mais apaixona por ela, chega ao ponto de desejar que ela

fosse mais do que uma estátua. Esta estátua é Galatea. Doente de amor, Pygmalion vai

ao templo da deusa Vénus e reza para que ela lhe dê uma mulher como a sua estátua;

Vénus é comovida pelo seu amor e traz Galatea para a vida. Quando Pygmalion volta do

templo de Vénus e beija a sua estátua, ele tem o prazer de descobrir que ela é quente e

macia ao toque - "The maiden felt the kisses, blushed and, lifting her tmid eyes up to the

light, saw the sky and her lover at the same time”

Page 40: LITERATURA  INGLESA

37

Embora Higgins admita que sentirá a falta de Eliza, ele não tem nem terá nada a

ver com sentimentalismos. Ele quer uma amizade de igualdade. Shaw não queria que

Pygmalion fosse simplesmente outro romance óbvio.

Higgins está certo Eliza que Eliza vai voltar, mas, ele já se enganou antes. Eliza

parece duvidar da sinceridade de Higgins, mas por outro lado ele pode ser bastante

persuasivo. Ela, ameaçou casar com Freddy, mas Freddy é um idiota muito grande.

Eliza fica numa posição difícil: ela não pode voltar a vender flores, mas ela não quer

vender-se, casar-se por dinheiro. Existe algum lugar escondido romance?

De acordo com Shaw não. Ele escreveu uma "continuação" da obra, mas, como a

maioria das sequências, não é tão bom quanto o original. É apenas uma explicação

muito longa do que acontece. Shaw apenas quer que as pessoas saibam que Higgins e

Eliza não estão juntos. Em vez disso, ela casa-se com Freddy e abrem uma loja de

flores.

È difícil ver hoje a obra como revolucionária, mas ela vai contra alguns

estereótipos vitorianos tais como:

Eliza pretende suportar Freddy quando se apercebe que ele não foi

preparado para sustentar uma casa. Isto é o papel invertido da mulher e

do homem

Eliza não se apaixona pelo professor

Higgins não se torna num homem completamente mudado devido ao

amor por Eliza

Shaw chamou à obra um romance no sentido de apresentar uma série de eventos

incomuns, nunca como uma história de amor.

NOTTA BENNE

Acrescentar ao trabalho da colega a relação entre o mito grego Pigmaleão e a peça de

Bernard Shaw – a questão da estátua ganhar vida mas não ter alma e o ponto alto desta

comparação é que a estátua e Elisa são a obra-prima de cada um dos criadores:

Pigmaleão Grego e Mr. Higgins.

Elisa prefere amor, carinho, afecto e a companhia de um homem, nem que para isso

tenha de o sustentar.

Abordar também o oposto entre a lenda grega e a obra: na lenda grega o criador tem

alma e a estátua não; no livro o criador não tem alma e a criação é quem a possui.

Page 41: LITERATURA  INGLESA

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Chocolate

Joanne Harris

BIOGRAFIA

Joanne Harris nasceu a 3 de Julho de 1964 em Yorkshire

Filha de mãe francesa e pai inglês

Estudou Lìnguas Modernas e Medievais no St Catharine‟s College de

Cambridge

Teve uma breve carreira na contabilidade.

Foi professora durante quinze anos

Romances

The Evil Seed

Valete de Copas e Dama de Espadas

Chocolate

Vinho Mágico

Cinco Quartos de Laranja,

A Praia Roubada,

Na Corda Bamba,

Xeque ao Rei

Sapatos de Rebuçado

O Rapaz de Olhos Azuis

Para o público juvenil - A Marca das Runas

Livro de contos - Danças & Contradanças

Livros de culinária

- A Cozinha Francesa e Do Mercado para a sua Mesa

- Novas Receitas da Cozinha Francesa

Chocolate chegou ao 1ºlugar de best-seller do “London Sunday Times” e foi

nomeado para romance do ano em 1999.

Obra

Personagens

Vianne Rocher

Page 42: LITERATURA  INGLESA

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Anouk Rocher

Francis Reynaud

Armande Voisin

Roux

Josephine Muscat

Paul-Marie Muscat

Caroline Clairmont

Luc Clairmont

Guillaum

Narcisse

Zezzete e Blanche

Género literário: romance

Cenário: Uma vila francesa tradicional Lansquenet Sous Tannes nos anos 50

2 narradores ( Vianne e Reynaud)

Tempo: 40 dias ( Carnaval / Quaresma)

Resumo da obra

Chegada de Vianne e Anouk a Lansquenet no meio de um cortejo de carnaval,

uma cidade de província onde as pessoas são “cinzentas”, tristes” e “de

ombros curvados”. Possuem, um olhar “duro”.

Resolvem ficar e alugam uma antiga padaria onde montam um negócio, uma

chocolotaria com o nome de “La Célest Praline”, com a esperança de assim

assentarem após uma vida inteira de viagens.

A pouco e pouco, Vienne e a sua filha vão ganhando a simpatia de alguns

moradores, o que não agrada nada ao padre que se mostra cada vez mais contra a

sua presença na aldeia, motivado pelo atrevimento dela de abrir uma loja de

chocolates precisamente na altura da quaresma, tempo de jejum e abstinência.

Aos poucos os clientes vão aumentando e a vida delas aos poucos vai-se

moldando á terra sem grandes sobressaltos.

Através de suas receitas únicas, ela descobre o mais íntimo desejo de cada

pessoa.

Page 43: LITERATURA  INGLESA

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O povo da cidade une-se contra Vianne e faz de tudo para expulsá-la de lá, mas

ela é forte e perseverante.

Aquele local dado a simplicidade dos seus habitantes e da sua pacata vida, é

completamente dominado pela mão pesada de um padre frustrado e complexado,

que vive preso ao seu passado pouco limpo e de que ele muito se envergonha.

A história é contada alternadamente por Vianne e Reynauld padre da paróquia.

Na semana antes da Páscoa Vianne planeia uma grande festa do chocolate a ter

lugar no Domingo de Páscoa. Isso enfurece Reynauld:

“I see it all now. Her malice, her damnable malice. She must have planned this from

the start, this chocolate festival, planned it to coincide with the most holy of the

church’s ceremonies. From her arrival on carnival day she must have had this in mind,

to undermine my authority, to make a mockery of my teachings .”

Esta obra aborda através de pequenas histórias vários temas:

Influência da igreja

Representada na obra por Reynaud que domina a aldeia de Lansquenet e os seus

habitantes

“Here I am feared, respected…but not loved”

“ In a place like Lansquenet it sometimes happens that one person –schoolteacher, café

proprietor, or priest, forms the lynchpin of community. That this single individual is the

essential core of a machinery which turns lives, like the central pin of a clock

mechanism, sending wheels to turn wheels, hammers to strike, needles to point hours. If

the pin slips or is damaged, the clock stops.”

Violência Doméstica

Josephine e Paul Muscat

A Morte

Armande uma diabética na casa dos oitenta, cuja filha Caroline impede o filho

de ter qualquer contacto

A Solidão

Guillaume um velho solitário lutando com a morte de seu cão, Charly.

O papel da mulher em Lansquenet

Mulher ideal de Lansquenet

“There’s a line across Lansquenet… and if you cross it, if you don’t go to

confession, if you don’t respect your husband, if you don’t cook three meals a day and

sit by the fire thinking decent thoughts and waiting for him to come home, if you don’t

Page 44: LITERATURA  INGLESA

41

have children- and you don’t bring flowers to your friends’ funeral or vacuum the

parlour our dig the flowerbeds… You’re crazy, you’re abnormal”

Vianne e Armand desafiam este estereótipo.

A descriminação dos ciganos

A chegada dos ciganos á mal vista por Reynaud.

“I preached a sermon against them this morning, but I know that in spite of this some

of mf my parishioners will make them welcome in defiance of me.They are vagrants.

They have no respect and no values. They are river-gypsies, spreaders of diseases,

thieves, liars, murderers, when they can get away with it. Let them stay and they will

spoil everything we have worked for, pere. All our education. Their children will run

with ours until everything we have done for them is ruined. They steal our children‟s

minds away. Teach them hatred and disrespect for the Church. Teach them laziness and

avoidance of responsibility. Teach them the crime and the pleasure of drugs.”

Na fase final da obra são-no revelados várias victórias nos habitantes de

Lansquenet:

O sucesso do Festival do Chocolate

Fuga de Reynauld de Lansquenet

Novo começo de vida para Josephine

Vianne e Anouk preparam-se para partir

Tema – Chocolate

Chocolate simplifica tudo o que entra em contacto com ele.

Vianne adivinha o gosto da pessoas através do chocolate.

“ I know all their favourites. It’s a knack, a professional secret like a fourtune-teller

reading palms. My mother would have laughed at this waste of my skills, but I have no

desire to probe further into their lives than this. I do not want their secrets or their

innermost thoughts . Nor do I want their fears or gratitude.”

“I sell dreams, small conforts, sweet harmless temptations to bring down a multitude of

saints crash crashing amongst the hazels and nougatines.”

O chocolate é o elo de ligação entre os personagens da história.

La Celeste Praline é “um consultório de psicologia”

O livro apela a todos os sentidos conta-nos uma história de amor, coragem e

persistência.

A obra coloca-nos perante os problemas da resistência à mudança e ao

desconhecido

Page 45: LITERATURA  INGLESA

42

O chocolate, nesta obra, foi um ponto de partida para nos apercebermos que a

mudança é possível, quer a nível pessoal, quer a nível social.

Mostra-nos que por vezes estamos presos a hábitos que temos receio de mudar.

NOTTA BENNE

Chocolate é uma metáfora – simboliza a transformação – pode ser moldado.

O chocolate pode ser diluído e transformado em várias formas

É o elo de ligação

Permite a aquisição de novas formas, novas liberdades

E aqui entra o papel na mulher nos anos 60, época importante na emancipação da

mulher

É uma obra descritiva, um apelo aos sentidos

O padre (obra) simboliza o excesso/ abuso de poder

O presidente da câmara (filme) é uma critica social

- critica aos excessos permitidos da religião

Mas é uma questão de moral e não religiosa

Critica ao uso abusivo do poder, de formas a castrar as emoções, a liberdade.

O chocolate representa a GULA, particularmente na época da Quaresma

Na obra, é feito um apelo para que se disfrute a VIDA.

Os alimentos representam a simplicidade de gozar os prazeres da vida

O chocolate é o note para abordagens mais profundas.

O chocolate é também simbólico:

O homem de negro / fantasma do passado

As vestes negras do padre

O chocolate que também pode ser negro

Mudança da própria personagem principal:

Prova que é capaz de vencer os medos e fantasmas

Prova que pode vencer o homem de negro

Prova que é capaz de estabelecer e de ter alguma estabilidade

Prova que consegue ter uma vida nómada, errante, e que se pode s estabelecer num

local.

Vitória de Vianne sobre o homem negro.

Personagens Principais:

- Vianne

- Reynauld

- Josefine

- Josefine – sofreu uma grande transformação

Antes

Mulher maltratada / castrada / com

liberdade condicionada

Depois

mulher livre, capaz e que vê a

possibilidade de voltar a ser feliz

Ligação entre Vianne e Josefine:

Pode-se mesmo dizer que podemos ver a autora em diferentes fases da sua vida

retratada nestas ligações.

Page 46: LITERATURA  INGLESA

43

Mrs. Dalloway

Virginia woolf e contextualização histórica

Virginia Woolf nasceu em Londres a 25 de Janeiro de 1882, filha de Leslie Stephen, crítico literário,

e Julia Duckworth Stephen. O seu trabalho como romancista, autora e crítica levou a que ficasse

reconhecia como uma das figuras proeminentes do modernismo.

Woolf cresceu numa família de classe média alta, envolvida na sociedade. Tinha 3 irmãos,

dois meios-irmãos e duas meias-irmãs. Foi educada em casa pelo que se tornou numa devorada de

livros aproveitando a extensa colecção do seu Pai. Com apenas 13 anos perde a mãe e depois com 15

padece a sua irmã Stella o que levou ao inicio da sua experiência com doença mental, uma depressão

profunda que a acompanhou até à sua morte.

Estando perante a época Vitoriana, tentaram cortar as asas a Woolf visto que na altura não

encorajavam mulheres a seguir os estudos. Mas em 1904, após a sua mudança para Bloomsbury,

Woolf conhece um grupo de jovens que expressam as suas opiniões acerca do mundo. Abordavam

sobre a religião, sexo, arte e, para choque de alguns, homossexualidade, temas que eram tabus na era

Vitoriana.

O primeiro romance de Woolf, The Voyage Out, foi publicado em 1915, após três anos de

casamento com Leonard Woolf, que também fazia parte “clã Boomsbury”. Durante a era vitoriana,

Woolf escrevia no seu diário romance e crìticas o que lhe permitiu tentar encontrar o “eu” como

escritora enquanto se debatia com a sua doença bipolar. Mrs. Dalloway torna-se a voz de Woolf,

visto que esta consegue criticar os profissionais médicos da altura no âmbito da doença mental.

Em 1925, com Mrs Dalloway, Woolf consegue expressar novas realidades de uma Inglaterra

Pós Primeira Guerra Mundial através de uma nova forma literária. A obra está divida em partes em

vez de capítulos, e a sua estrutura permite que a mistura de pensamentos das personagens se

complete. Segundo os crìticos, esta foi a obra em que Woolf encontrou a sua “voz” como escritora.

Virginia Woolf faleceu a 28 de Março de 1941 em Lewes. Cometeu o suicídio por

afogamento e apenas deixou as seguintes palavras ao marido:

“Dearest,

I feel certain that I am going mad again: I feel we can’t go through another of

these terrible times. And I shant recover this time. I begin to hear voices, and cant

concentrate. So I am doing what seems the best thing to do.”

Page 47: LITERATURA  INGLESA

44

Resumo da obra

Estamos em meados de Junho, faz quase 5 anos desde o dia do Armistício e Clarissa Dalloway, com

52 anos, decide ir comprar flores para a sua festa. Clarissa recorda-se de um verão em Bourton,

quando tinha apenas 18 anos, e como nesse dia sentiu que algo de mau iria acontecer. A caminho

da florista, Clarissa encontra-se com um velho amigo Hugh Whitbread. Este encontro relembra-lhe

de outro velho amigo que no verão em Bourton afirmou não gostar de Hugh, o amigo era Peter

Walsh. Clarissa recorda-se das duras palavras de Peter, de como ela iria casar com um Primeiro

Ministro.

Estes pensamentos fazem com que esta comece a pensar na ideia da Morte. Tem consciência

que o mundo vê-la como Mrs. Dalloway, esposa de Richard Dalloway, e não como Clarissa.

Septimus Warren Smith tem 30 anos, é Veterano da Primeira Guerra Mundial e sofre de Shell

shock. Lucrezia é a mulher de Septimus. Lucrezia ou Rezia sofre imenso com a doença mental do

marido e receia que este se mata visto já ter pronunciado esse desejo. Septimus vive

assombrado com a morte do seu melhor amigo Evans. No céu um avião escreve “TOFFEE” que leva

Septimus a acreditar que estão tentar comunicar com ele através de uma mensagem secreta.

Clarissa regressa das compras e sente que está num convento. Tem dormido sozinha desde

que esteve doente pelo que se sente feliz por estar só. Ao pensar que não se sente apaixonada por

Richard, assume que sente atracção por mulheres e que acredita ter estado apaixonada pela sua amiga

Sally Seton. O beijo que Sally deu a Clarissa perpetuou a felicidade desta que pensou na altura “if it

were now to die „twere now to be most happy”, frase de Othello na peça de Shakespeare.

Peter Walsh aparece em casa de Clarissa, para sua surpresa. Afirma que está em Londres para

tratar do divórcio da sua noiva Daisy que vive na Índia. Isto leva a que Peter relembre que outrora

clarissa rejeitou o seu pedido de casamento.

Quando sai de casa de Clarissa acaba por passear em Trafalgar Square e depois em Regent

Park, acabando por se sentar num dos bancos. Adormece mas quando acorda pensa “the death of the

soul” e relembra-se de quando ele acredita que a alma de Clarissa morreu. No verão em Bourton,

Page 48: LITERATURA  INGLESA

45

Clarissa conhece Richard e Peter apercebe-se que esta vai casar com Richard. Peter sente que alguém

acabou de passar por cima da sua cova.

Peter relembra-se de Sally Seton e como ambos não gostavam de Hugh Whitbread, e de como

Sally afirmava que Hugh representava tudo o que era detestável em relação à classe média alta

Britânica.

Rezia relembra Septimus de que têm uma consulta com o Dr. William Bradshaw. Rezia

acredita que este conseguirá curar Septimus.

Faz-se meio-dia com o som do Big Ben, Septimus e Rezia encontram-se no consultório de

Dr. William Bradshaw. Septimus vê a guerra como “a little shindy of schoolboys with gunpowder”.

Bradshaw não acredita na “madness” de Septimus mas que este tenha “lack of proportion”. Quando

Septimus expressa que não sente nada, que não se importa com nada, Bradshaw exprime que este

terá de ser “preso” no seu sanatório. Rezia e Septimus demonstram não ser fãs da ideia mas

Bradshaw refuta afirmando que é a lei.

Lady Bruton tem 62 anos e é vista por Richard como sendo um general. Esta pretende que

Hugh escreva à revista Times acerca do seu ponto de vista em relação à emigração para o Canadá e

que Richard apresente esta ideia no Parlamento. Lady Bruton informa que Peter Walsh está de volta

a Londres, e Richard fica surpreendido mas acredita que Clarissa já sabe de tal novidade. Após o

almoço na casa de Lady Bruton, Richard decide ir ter com Clarissa e dizer-lhe que a ama, leva-lhe

um ramo de rosas brancas e vermelhas.

Elizabeth, filha de Clarissa, está sempre com a sua professora, Miss Kilman, que não suporta

Clarissa. Miss Kilman acredita que Clarissa é ridícula e condescendente. Tendo sido vítima de

desprezo visto ser descente de Alemães, que levou ao seu despedimento num colégio, é uma pessoa

revoltada. Apesar de Elizabeth gostar de Miss Kilman, gostava que esta tivesse mais respeito pela

sua mãe, Clarissa. Depois de lancharem, Elizabeth volta a casa para a festa de “omnibus” e Miss

Kilman vai para a Abadia de Westminster rezar.

Em casa, Septimus cita a peça Cymbeline de Shakespeare: “Fear no more”. Enquando Rezia

faz um chapéu para a filha da vizinha, Septimus adormece. Quando acorda, sente que está destinado

a ficar sozinho e diz a Rezia não compreender porque Bradshaw afirma que “must” ir para o

sanatório. Rezia diz que se ele vai ela também vai, que ninguém os pode separar. Nesse momento,

Page 49: LITERATURA  INGLESA

46

chega o Dr. Holmes. Septimus pensa “Life was good” e quando houve o Dr. Holmes a

chegar à porta, chora “I‟ll give it to you”, e atira-se da janela. Holmes afirma que

Septimus é um cobarde.

Na festa, Clarissa recebe toda a gente com um “How delightful to see you”,

incluindo Peter, o Primeiro-Ministro e para sua surpresa Sally Seton. Mais tarde

cumprimenta Bradshaw, não gosta dele mas tolera a sua esposa, Lady Bradshaw.

Clarissa fica aborrecida por estarem a falar de morte na sua festa, a morte de Septimus,

e por isso afasta-se da festa. Sozinha pensa de como a morte de Septimus preserva algo

de obscuro na sua vida, vê a morte como uma forma de comunicação. Relembra-se do

verão em Bortoun e como sentiu que podia morrer de pura felicidade naquele momento.

Junto à janela, Clarissa vê uma mulher idosa a ir para a cama e ao ouvir a festa, cita

Shakespeare “Fear no more the heat of the sun”. Ela sente-se feliz por ele se ter matado.

Quando regressa à festa encontra Peter e Sally a coscuvilhar. Peter sente-se petrificado e

extasiante ao ver Clarissa.

5. Personagens

Clarissa

Dalloway Adora festas

Compreende

a attitude de

Septimus

Existe uma

Clarissa e

uma Mrs.

Dalloway

Esposa de

Richard

Mãe de

Elizabeth

Richard

Dalloway

Alto cargo

Político

Marido de

Clarissa

Pai de

Elizabeth

Elizabeth

Dalloway

Bastante

Inteligente Linda

Admiração

por Miss

Kilman

Gostava

muito do

seu Pai

Filha de

Richard e

Clarissa

Dalloway

Page 50: LITERATURA  INGLESA

47

Miss Kilman

Hugh

Whitbread

Lady Bruton

Peter Walsh

Sally Seton

Page 51: LITERATURA  INGLESA

48

Septimus

Lucrezia

Sir William

Bradshaw

Dr. Holmes

Page 52: LITERATURA  INGLESA

49

Tema

Em Mrs. Dalloway, Woolf aborda vários temas como o medo da morte, a doença

mental, o feminismo. Mas iremos abordar o facto de Clarissa e Septimus serem

“Doppelgängers”. Doppelgängers é a fusão de duas palavras alemãs: Doppel (duplo,

réplica, ou duplicada) e gänger (andante, ambulante). Há quem defenda que o

doppelgänger seja o polar oposto do seu “dono”, isto é, se a pessoa é boa, o

doppelgänger é mau.

Clarissa Dalloway

Septimus Warren Smith

• Clarissa \c-la-rissa, clar(is)-sa\ as a girl's

name is pronounced kla-RISS-ah. It is of

Latin origin, and the meaning of Clarissa

is "most bright, most famous". Latin

version of Clarice occasionally found in

medieval documents and made famous by

Samuel Richardson's novel "Clarissa",

also known as "the History of a Young

Lady" (1748).

• Septimus \s(e)-pti-mus, sep-timus\ as a

boy's name is of Latin origin, and the

meaning of Septimus is "seventh".

if it were now to die 'twere now to

be most happy." – Othello –

Shakespeare

“Fear no more” - Shakespeare

“But this question of love (she

thought, putting her coat away),

this falling in love with women.

Take Sally Seton; her relation in

the old days with Sally Seton. Had

not that, after all, been love?”

“He drew the attention, indeed the

affection of his officer, Evans by

name”

“They had to be together, share

with each other, fight with each

other, quarrel with each other.”

Page 53: LITERATURA  INGLESA

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7. Nota benne

O que devemos reter da obra Mrs. Dalloway?

A obra foi escrita por Virginia Woolf, romancista inglesa, em 1922 em Sussex e

acabou-a em Londres em 1924.

O narrador da obra é omnipresente, isto é, a “voz” sabe de tudo sobre as

personagens e revela-se aquando os pensamentos subjectivos das personagens.

Os pontos de vista alteram constantemente, reflectidos pela consciência das

personagens. A Woolf usa o discurso indirecto, uma técnica literária que permite

descrever da melhor maneira os pensamentos profundos colocando na 3.ª pessoa do

singular. Esta técnica garante que a transição de pensamentos seja subtil e suave.

O narrador é contra a opressão da alma humana. Às vezes, percebe-se um certo

humorismo que desvanece com a presente tristeza.

A acção tem lugar em Londres, num bairro em Westminster e ocorre em meados

de Junho em 1923. Por vezes ocorrem analepses, que remontam a acção aos inícios de

1890 num verão em Bourton, em que a personagem principal, Clarissa, tem apenas 18

anos.

Alguns dos padrões constantes na obra são as horas e Shakespeare. A nível de

símbolos temos o Primeiro Ministro, o Canivete de Peter e a Sra. Idosa na janela.

Não é uma obra de vanguarda. Os temas retratados são fruto da época. É um

ícone do modernismo.

Nota-se o uso do fluxo de consciência

O autor consegue anular qualquer intermediário entre o pensamento e a palavra

A palavra é , assim, o mais fiel possível

Mrs Dalloway e Septimus são praticamente um só. São duplos. Um é o outro lado do

outro. Mesmo não se conhecendo, influenciam mutuamente o resto das suas vidas

Page 54: LITERATURA  INGLESA

51

Mrs Dalloway

Clarissa

Cheia de juventude que dá asas à sua

feminilidade, à sua versatilidade sexual,

jovialidade, aos seus sonhos.

Esposa de Richard Dalloway

“Mrs Dalloway Mrs Dalloway I‟m not

even Clarissa anymore”

o Clarissa deve ser considerada como personagem autónoma, representa o outro

lado da vida, a vontade de sonhar.

o Virginia Woolf apaixonou-se por 3 mulheres!!! (todas platónicas e grande fonte

de expiração)

o Relações platónicas – Virginia foi uma mulher frígida. Durante a sua juventude,

terá sido abusada pelo seu meio irmão.

o 1.ª Guerra Mundial

o 4 anos após

o O modernismo surgiu na devastação provocada pela guerra.

o A obra aborda questões caracteristicamente modernistas:

o Devastação, fragmentação do “eu”

o A perda do sentido de pertença

o Sentimento profundo de desadequação do mundo

o Sentido de tragédia iminente

o Sentimento de impotência perante 2 questões fulcrais:

1. Passagem do tempo

2. Inevitabilidade da morte

o A morte de Septimus pode ser entendida como um acto legítimo de escolha

o Sentido-se estranho no mundo, pretende comunicar com aquele acto, que ñ se

enquadra

o Ele viveu até ao último momento. Esgotou o seu tempo.

o Aoutra opção seria morrer em vida

o Não foi um desistir da vida. A vida já ñ lhe pertence. Ficou com os mortos,

sobretudo Evans, no palco de guerra.

Aqui “elas” mesmas

representam o duplo

Page 55: LITERATURA  INGLESA

52

o O acto de Septimus implica a importância de cada um de nós optar e decidir.

Poder de tomar decisões. Ele teve coragem e capacidade de escolher e decidir.

o A incapacidade de decisão tem um preço

o Em Mrs. Dalloway temos o contraste

O brilho de Clarissa e o negro de Septimus

A questão da passagem do tempo que tanto atormenta Woolf. O BIG BEN, AS

ONDAS, A ÁGUA:

Tal como as ondas vão e vêm, também as pessoas, que quase em fila indiana, esperam a

morte. O bater das horas contantes, o relógio do pulso. TODO O LIVRO SE PASSA

EM 12 HORAS – vemos como se entrelaça duas vidas que nunca se conheceram. O

TEMPO é uma questão central (+ do que dos duplos) – temática que também se

entrelaça com a Modernidade. O fim o esgotamento, a desilusão, a memória, o

feminismo, a morte, o envelhecimento. As horas representam um teste para todos nós.

Devemos atribuir um significado a cada minuto que se esgota, que passa nas nossas

vidas.

A PERDA DA IDENTIDADE

Clarissa e Mrs. Dallowaysão entidadas como pessoas diferentes

Fusão e diluição no marido

- identidade perde-se / dilui-se na figura feminina

Mas … do marido – opressão no feminismo

Deixa a casa de campo, um certo período vitoriano – pelo casamento entra na sociedade

londrina

Deixa de ser Clarissa com os seus sonhos, loucuras e expectativas – torna-se a mulher,

anfitriã

Virgia sofria de depressões profundas com tentativas de suícidio

O desgaste da inevitabilidade da morte. A única certeza do ser humano é a morte e ela ñ

consegue lidar com esse facto.

Inspira-se em Skakespeare, em Ofélia, enche os bolsos de pedras e atira-se ao rio.

“A experiência da morte é a única que eu nunca poderei escrever” – Virginia Woolf

É a limitação do artista, uma agonia profunda.

Page 56: LITERATURA  INGLESA

53

The Hours

Michael Cunningham

• Escritor norte-americano, Michael Cunningham nasceu a 6 de Novembro de

1952, na cidade de Nova Iorque.

• Cresceu e estudou em Cincinnati, no estado do Ohio onde, com apenas quinze

anos de idade, tomou a decisão de se tornar escritor, ao ler Mrs. Dalloway de

Virginia Woolf, num volume que fora desafiado a ler.

• Terminando o ensino secundário, ingressou na Universidade de Stanford como

estudante de Literatura Inglesa, conseguindo o seu diploma em 1975. Transitou

depois para a Universidade de Iowa, onde obteve em 1980 um mestrado em

Belas Artes.

• Em 1989 viu o seu conto 'White Angel' ser escolhido para uma antologia,

reunindo as melhores obras do género desse ano, o Best American Short Stories

1989.

• Publicou o seu primeiro romance no ano seguinte, com o título A Home At The

End Of The World (1990). A obra contava a história de um triângulo amoroso

invulgar, entre dois homens homossexuais e uma amiga mútua, e ganhou

reconhecimento imediato por parte da crítica.

• Como resultado deste sucesso, Cunningham ganhou uma bolsa atribuída pela

Fundação Guggenheim no ano de 1993.

• Seguiu-se o aparecimento de Flesh And Blood (1995), romance em que o autor

descrevia os problemas da família Stassos, apresentando uma perspectiva

original das relações entre o passado e o futuro.

• Em 1998 publicou The Hours, obra em que Cunningham prestava homenagem

ao romance que inspirou a sua carreira, Mrs. Dalloway. Repartindo a acção entre

a Greenwich Village dos Anos 80, Los Angeles da década de 40 e Londres de

Virginia Woolf, o livro foi visto pela crítica como um projecto ambicioso, mas

bem sucedido, o que se confirmou com a atribuição dos prémios Pulitzer e

Pen/Faulkner na categoria de Ficção.

Page 57: LITERATURA  INGLESA

54

The Hours, Michael Cunningham

A Horas, de Michael Cunningham, sustenta-se por três histórias paralelas,

ocorridas em tempos e espaços diferentes, mas relacionadas entre si. As três

narrativas são alternadas e relatam cenas do quotidiano das suas protagonistas:

Virgínia Woolf, no momento da escrita de Mrs. Dalloway, em 1923, Laura

Brown, leitora do romance de Virginia Woolf, casada com um herói da Segunda

Guerra Mundial em 1949 e Clarissa Vaughan, homónima da personagem Mrs.

Dalloway de Virgínia Woolf, uma editora homossexual às voltas com os

preparativos para a festa que dará em homenagem a um amigo poeta,

seropositivo, em 1998.

Um dos aspectos principais é o silêncio, tomado como indicador do isolamento

no qual as personagens estão inseridas. Pode-se dizer que o silêncio se configura

como uma forma de demonstrar os sentimentos das personagens. O enredo

envolve assim, a história pessoal de três mulheres que, apesar de pertencerem a

gerações diferentes, experimentam os mesmos dilemas e emoções a par de um

conjunto de angústias inquietamente semelhantes. As questões com que se

debatem as personagens são essencialmente o tédio, a escolha da identidade

sexual, solidão, falta de sentido depressão e a morte.

Personagens

Virginia Woolf

Muda-se para o campo por recomendações do seu médico, por achar que

se ela se afastar da agitação de Londres vai conseguir melhorar. Mas isso não

acontece pois sente-se presa no silêncio, na solidão, no tédio da casa em que

vive, o que a torna mais depressiva. Ouve vozes, tem perda de memória e falta

de apetite. Para ela não comer é um vício que faz com que se sinta mais activa e

com a cabeça mais limpa. Começa assim a escrever o seu romance Mrs.

Dalloway.

Concentra-se na sua escrita como uma forma de canalizar as suas

energias e emoções de forma produtiva. Ao mesmo tempo, Virginia vê a sua

Page 58: LITERATURA  INGLESA

55

escrita como algo que acontece com ela e não como algo que está totalmente sob

o seu controle. Ela é extremamente sensível ao mundo em seu redor e

excepcionalmente receptiva aos pequenos detalhes do ambiente, que ela acredita

ter um significado incrível. A sua sensibilidade faz dela uma grande escritora,

mas também ela está sujeita a fortes emoções que são desencadeadas pelos

eventos que outras pessoas não podem perceber.

Das personagens principais é a que demonstra maior teor melancólico,

transmite-nos características de uma mulher muito à frente no seu tempo,

questionadora, transgressora do padrão moral.

Possui uma sensibilidade enorme ao encarar a vida tal qual ela é.

Apenas deseja ser feliz. Vê essa felicidade na sua irmã Vanessa, que é

feliz com os seus três filhos a acima de tudo vive em Londres a agitação que

Virginia sente falta.

Não consegue fugir de todo o isolamento que sente em Richmond, não se

consegue libertar das vozes, por isso vai de encontro à única coisa que

representa para ela a sua libertação, o suicídio.

“Dearest,

I feel certain that I am going mad again: I feel we can’t go

through another of these terrible times. And I shant recover this time. I begin to

hear voices, and cant concentrate. So I am doing what seems the best thing to

do.”

Leonard Woolf – marido de Virginia

Vanessa – irmã de Woolf

Laura Brown

Vive em Los Angeles com o marido, com o seu filho e está grávida.

A sua personagem vive num estado de apatia, mostra-se quase sempre

desinteressada. É uma pessoa triste.

Começa a ler Mrs. Dalloway.

Page 59: LITERATURA  INGLESA

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Identifica-se muito com a escrita de Virginia Woolf, passando a ter

muitas das suas sensações.

“ It is possible to die. Laura thinks, suddenly, of how she – how

anyone – can make a choice like that. It is a reckless, vertiginous thought,

slightly disembodied – it announces itself insid her head, faitntly but distinctly,

like a voice crackling from a distant radio station. She could decide to die.”

“She imagines Virginia Woolf, virginal, unbalanced, defeated by

the impossible demands of life and art; she imagines her stepping into a river

with a stone in her pocket. Laura keeps stroking her belly. It would be as simple,

she thinks, as checking into a hotel. It would be as simple as that.”

É uma mulher culta, amante da literatura, apenas se casou por ser algo

que a tornaria diferente.

Torna-se uma pessoa infeliz com a sua nova condição.

“She isn’t ready yet; the tasks that lie ahead (putting on her robe,

brushing her hair, going down to the kitchen) are still too thin, too elusive. She

will allow herself just a little more time”

Não aceita a sua vida, sente-se sufocada por se ter tornado uma dona de

casa e ter assumido o papel de mãe.

“ She does not dislike her child, does not dislike her husband.”

Uma parte importante desta personagem é a sua tentativa de fazer um

bolo de aniversário, com a ajuda do seu filho, para o seu marido. Essa tarefa

serve para demonstrar os seus sentimentos pois não é capaz de os mostrar de

outra maneira.

O facto de se dedicar todo o tempo ao filho e às tarefas domesticas faz

com que se sinta a enfraquecer, pois é sempre a mesma coisa, as horas da sua

vida são sempre iguais sem alteração. Essas horas fazem-na perder a sua vontade

de viver.

Dan – marido de Laura Brown

Kitty – Vizinha de Laura Brown

Clarissa Vaughan / Mrs. Dalloway

Editora que vive em Nova York em 2001.

É uma pessoa segura de si mesma, sem nunca alterar os seus valores.

Page 60: LITERATURA  INGLESA

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Clarissa é fortemente baseada na personagem do romance de Virginia

Woolf, Mrs. Dalloway . Tal como a personagem do livro de Woolf, ela tem uma

visão maravilhosa sobre o mundo ao seu redor. Embora ela tenha prazer no dia-

a-dia, nos detalhes do dia e da vida, questiona as escolhas que fez e tem dúvidas

sobre o que sua vida tem vindo a ser.

Está a preparar uma festa para o seu amigo Richard.

É homossexual, vive com a sua companheira Sally à 18 anos. Mas

continua sempre a pensar no seu Verão com Richard, nas lembranças que tem

desse tempo. O beijo que a marcou.

Esse beijo foi algo muito forte entre eles.

Clarissa é chamada por Richard de Mrs. Dalloway desde a sua juventude.

“Richard came out behind her, put a hand on her shoulder, and said, “

Why, hello, Mrs. Dalloway”. The name Mrs. Dalloway had been Richard’s

idea.”

As horas de felicidade que passou com Richard dão agora lugar a horas

de angústia, de uma vida sem sentido, uma vida em silêncio.

“There is dust rising, endeless days, and a hallway that sits and

sits, always full of the same brown light and the dank, slightly chemical smell

that wiil do, until something more precise comes along, as the actual odor of

age and loss, the end of hope.”

Nunca conseguiu abandonar Richard que tem Sida e está muito

debilitado, vive muito em função dele.

Richard Brown

Vive em Nova York, poeta, acaba de ganhar um prémio.

Richard é uma das bases de toda esta história, está presente na vida de

duas personagens (Laura Brown, Clarissa Vaughan).

A sua personagem começa em Los Angeles quando era ainda uma

criança. Vivia com o seu pai e a sua Laura Brown.

A sua vida actual foi influenciada pelos momentos vividos na sua

infância. O dia do aniversário do seu pai e o abandono da sua mãe.

O desespero da sua mãe, a sua falta de comunicação afectiva, todos esses

sentimentos afectaram-no imenso na sua maneira de ser.

Page 61: LITERATURA  INGLESA

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O beijo que assistiu entre ela e a sua vizinha pode ter sido o grande

causador da sua escolha sexual. Na sua juventude apaixonou-se por Clarissa mas

devido a esses pensamentos da sua infância voltou para o seu antigo amante

Louis.

Nessa altura a mãe encontrava-se a ler o romance Mrs. Dalloway, daí o

apelido que colocou a Clarissa.

Ele sente que ao fim de todo este tempo a está a sufocar, que ela apenas

vive para ele.

Momentos antes da sua festa, organizada por Clarissa, pensa na sua mãe

e em toda a sua vida. Decide por isso cometer o suicídio, algo que a sua mãe

nunca teve coragem de fazer. Fá-lo na presença de Clarissa, podemos interpretar

isso como um acto de libertação.

“He seems so certain, so serene, that she briefly imagines it hasn’t

happened at hall.”

Sally – companheira de Clarissa

Julia – filha de Clarissa

Louis – Amigo de Clarissa e Richard. Ex-namorado de Richard

Walter Hardy – companheiro de Evan e amigo de Clarissa

Evan - companheiro de Walter e amigo de Clarissa

Simbologia

A água

A água representa para os personagens de The Hours uma ameaça.

As Horas começa com Virginia Woolf suicidando-se num rio, afasta-se pela

corrente com uma pedra no bolso, apesar de acabar a sua vida o seu corpo

absorve o mundo com uma profunda lucidez.

Numa manhã Clarissa Dalloway no limiar de uma piscina sente-se afogar na sua

própria existência. Embora impulsionada pelos acontecimentos da vida normal,

corre o risco de ser absorvida e consumida como Virgínia.

“As if standing at the edge of a pool she delays for a moment the plunge, the

quick membrane of chill, the plain shock of immersion.”

Page 62: LITERATURA  INGLESA

59

As flores

As flores fazem parte da frase de abertura da Mrs. Dalloway e aparecem ao

longo de As Horas como meio de alegrar os momentos de intensidade emocional

vividos pelas personagens.

As flores, especialmente rosas, têm interpretações diferentes para cada um dos

personagens principais: para Virgínia, as rosas que coloca em volta da ave morta

significam o descanso triste.

Em Clarissa denota-se uma satisfação com as flores que ela compra. Leva-as

para Richard para reavivar o seu apartamento escuro, e leva também para sua

casa.

Laura vê nas rosas que Dan comprou uma forma de compensar a distância

intelectual que existe entre ela e sua família.

O bolo

Laura faz o bolo para Dan na tentativa de cumprir o seu papel como mãe,

cozinheira e dona de casa. Para Laura a realização do bolo faz-lhe pensar que só

ter uma família não é o suficiente para ela.

A poltrona de Richard

Representa declínio de sua saúde e aptidão mental.

A cadeira cheira a podre, mas Richard recusa-se a deitá-la fora. A cadeira,

representa o corpo de Richard.

“ Richard’s chair, particularly, is insane; or, rather, it is the chair of someone who,

if not actually insane, has let things slide so far, has gone such a long way toward

the exhausted relinquishment of ordinary caretaking.”

O pássaro morto

Virgínia vê o pássaro morto, como símbolo da morte e fica fascinada com a

maneira como o corpo fica mais pequeno e parece ser menos importante depois

que morre. O pássaro representa a morte e demonstra a forma como a vitalidade

Page 63: LITERATURA  INGLESA

60

da vida do dia-a-dia é retirada a partir da forma física, deixando-nos apenas um

pequeno corpo.

Morte

A morte surge como uma saída pessoal para Virgínia Woolf.

Virginia prefere a morte à cidade pacata onde vive, prefere deixar a sua própria

vida se a doença voltar.

Vemos através dos seus pensamentos uma questão que decorre ao longo de toda

a história: o direito que todo o ser humano tem de fazer as suas escolhas sobre a

sua vida, inclusive de a terminar.

No momento em que escreve o seu romance Mrs Dalloway pensa no destino da

sua personagem principal, que inicialmente é a morte.

O seu romance tem que ter uma morte para que as outras pessoas ao lerem dêem

mais valor à sua vida.

O romance “Mrs. Dalloway” inicialmente iria se chamar “As Horas”, por

simbolizar a passagem interminável das horas desde o momento em que

nascemos até à nossa morte.

A morte em Laura aparece relacionada com a sua vizinha Kitty.

Para Laura a sua vizinha representa a vida, mas quando sabe que ela está doente

com um tumos no utero, Laura desespera ao pensar na sua morte.

Pensa em suicidar-se mas não encontra coragem para o fazer.

Abandona a sua família mas vive com a morte de toda a sua família.

A sua filha que ela abandonou recém-nascida morre e o seu marido também.

Diferente de Virgínia Woolf, ela encontrou outra saída que não a morte.

Para Clarissa a morte está presente não na sua vida, mas no seu melhor amigo

Richard.

Clarissa nega desde o início a morte de Richard, mesmo que este desejo

estivesse muito claro para ele.

Solidão

Todas as nossas personagens encaram uma solidão.

Virginia, escreve e vive dentro das suas personagens.

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Necessita de estar isolada de todos para poder expressar toda a sua criatividade

nos seus livros.

Laura mergulha nos seus livros e faz deles uma escolha de vida, quando

abandona a família vai trabalhar para uma biblioteca.

Podemos ver que a solidão é algo que a acompanha ao longo de toda a sua vida,

desde a sua juventude quando gostava de ler e estar sozinha sem amigas.

Escolhe a solidão como companheira. Prefere uma vida solitária, onde pode ser

ela própria.

Em Clarissa a solidão não está tão explícita como nas outras personagens.

Os seus momentos de solidão são regulares na sua vida.

Quando Richard morre ela sente-se completamente só.

A falta de sentido

Leonard tenta ser o suporte na vida de Virginia, nos seus momentos de crise e

isolamento.

Laura vê que a sua vida foi construída pelo seu marido e que nada corresponde

àquilo que ela deseja. Sofre pelo facto de ter de deixar de ler os seus livros, ter

que sair da cama para preparar o pequeno-almoço para o seu marido. Esforça-se

demasiado para viver a vida que supostamente deve ser vivida naturalmente.

Encontra em Mrs Dalloway uma maneira de encarar a vida.

Clarissa encontra-se presa no passado e isso reflete-se no seu presente. O seu

amor por Richard não lhe permite relacionar-se mais afectivamente com outras

pessoas importantes na sua vida.

Para as três personagens a falta de sentido torna insuportável a sua solidão.

NOTTA BENNE

A identidade é demasiado fluída. Nenhuma das personagens conseguem

definir uma identidade no mundo em que vivem.

Todas encontram-se atormentadas por fantasmas, por medos, pela

incapacidade de encaixar na realidade.

A questão da identidade prende-se de a mudança Clarissa e Mrs. Dalloway

Septimus também não encaixava. Teve coragem de mudança. Também

Virginia o fez.

Também Laura o fez!!! (A fuga de Laura é a morte, é o fim!)

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Clarissa também não encaixa.

Identidade--------------Morte

Principais Temáticas

As horas relacionadas com a morte, com o passar do tempo

Horas e instantes fugazes, efémeros. Um minuto que nada representa.

Laura nunca se adaptou ao quotidiano. Casou para dar sentido à vida, mas

percebe que não encaixa. O quotidiano não a preenche, não é suficiente.

Vivem muito, com muita intensidade, mas nunca é suficiente.

Três momentos diferentes, contextos diferentes, pessoas que procuram

encontrar sentido para as suas vidas.

Procura-se extrair o máximo da vida para se adequarem ao contexto em que

vivem.

O tempo passa e nunca conseguem atingir o seu propósito.

A água, o correr da água simboliza a passagem do tempo, as horas que

passam. É como ela (virginia) se dilui na água.

A QUESTÃO DOS OPOSTOS (Mrs. Dalloway)

Nesta obra deixam de ser opostos. São situações em contextos diferentes que

espelham a realidade tal como ela é. A vida e a morte não são opostos. São

realidades tal como são temos de as aceitar. A morte é tão natural como é a

vida. Por isso alguma personagens escolhem a vida e outras a morte. São

escolhas…

Nas horas, a troca de casais pode simbolizar uma tentativa de se mostrar que

com outros elementos poderia haver possibilidade de criar uma identidade

menos fluida. Mas não acontece…

A homossexualidade no séc. XXI

Em ambos os casos nunca se atinge o completo.

As horas simboliza a passagem do tempo que conduz inevitavelmente para a

morte

As horas é uma extensão, continuação de Mrs. Dalloway

Conseguia-se desmontar toda a esperança, todas as possibilidades que ficam

abertas em Mrs. Dalloway se desvanecem-se aqui.