aprender olhar outro autismo[1]

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  • 8/9/2019 Aprender Olhar Outro Autismo[1]

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    APRENDER A OLHAR PARA O OUTRO:

    Incluso da Crian a c om Perturba o

    do Espec tro Aut ista na Esc ola do 1

    Ciclo do Ensino Bsico

    Introduo

    Ao longo dos ltimos anos, no mbito da filosofia da Escola Inclusiva - Uma escola

    para todos-(UNESCO,1994), vem sendo praticada, pelo Ministrio da Educao, em

    Portugal, a incluso de crianas com Perturbao do Espectro Autista (P.E.A.1) em

    algumas escolas do 1 ciclo do ensino regular e, mais recentemente, tem vindo a ser

    realizada, tambm, no 2 ciclo de escolaridade.

    1 Ser considerado P.E.A. de forma a abranger o contnuo de manifestaes na sua totalidade. Sempre

    que se utilizar a palavra Autismo/Autista pretende-se aqui atribuir o mesmo significado.

    Ana Cristina F. T. CarvalhoCatarina Teixeira Soares Onofre

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    APRENDER A OLHAR PARA O OUTRO:Incluso da Criana com Perturbao do Espectro Autista na Escola do 1 Ciclo do Ensino Bsico

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    Em Algs, na Escola Bsica do 1 ciclo Sofia de Carvalho, pertencente ao

    agrupamento de Escolas de Miraflores situado no concelho de Oeiras, encontra-se afuncionar desde Setembro de 2001, uma estrutura de apoio criada, semelhana de

    outras, com o objectivo de fomentar a incluso de 6 crianas com P.E.A., cujas

    idades podem variar desde os 6 at aos 16 anos.

    Todas as crianas seleccionadas para este grupo tm de apresentar uma

    Perturbao do Espectro Autista independentemente do grau de severidade que

    pode variar desde o mais ligeiro at a um mais moderado ou mesmo profundo e/ou

    ainda outras coomorbilidades associadas. Cada aluno pertence a uma turma na qualrealiza todas as actividades consideradas essenciais sua incluso,

    independentemente das suas competncias.

    Este recurso de apoio possui a denominao de Sala de Recursos TEACCH por

    fundamentar a sua interveno pedaggica nos princpios do Programa TEACCH

    (Treatment and Education of Autistc and Related Communication Handicapped

    Children) criado para o Autismo, em 1971, por Eric Schopler e seus colaboradores

    na Carolina do Norte (EUA) e que vem sendo utilizado, nas ltimas dcadas em

    muitos pases, na educao de crianas com Autismo. Este consiste num programa

    estruturado que fornece informaes claras e objectivas sobre como se deve avaliar,

    delinear e implementar uma interveno elaborada para uma pessoa com Autismo, e

    envolve desde o incio os pais e todos aqueles que intervm no seu Processo Psico

    educacional. Trata-se de uma metodologia de trabalho que procura fundamentar as

    suas estratgias de interveno nas reas fortes das pessoas que manifestam

    Autismo e que se adequa forma especfica que parece caracterizar a sua maneira

    de pensar e de aprender.

    Nesta escola existem, anualmente, em mdia 300/350 crianas distribudas por 13 a

    16 turmas do 1 ao 4 ano de escolaridade e cujas idades variam entre os 6 e os 10-

    12/13 anos de idade. Nela todos os Recursos Humanos so da responsabilidade do

    Ministrio da Educao inclusivamente as docentes e a auxiliar de educao da Sala

    de Recursos TEACCH que receberam, na fase inicial, formao especfica sobre o

    Autismo e sobre a metodologia TEACCH, fornecida pela ECAE da zona Centro, em

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    Coimbra, local onde surgiram, em Portugal, as primeiras salas a utilizar esta

    metodologia.

    A Sala de Recursos TEACCH da escola Sofia de Carvalho situa-se na sala 13 e tem

    aproximadamente 120 metros quadrados. bastante luminosa e apresenta uma

    exposio solar virada a sul com uma porta de acesso ao exterior para um pequeno

    ptio fechado. Funciona sob a orientao de duas docentes especializadas que

    realizam diariamente a adopo e aplicao de estratgias de ensino aprendizagem

    diversificadas no sentido de desenvolver o trabalho de incluso que denominaram

    Aprender a olhar para o outro.

    A sua abertura e funcionamento envolveu vrias entidades que de uma forma

    articulada tm proporcionado os seus recursos. A Direco Regional de Educao

    de Lisboa (D.R.E.L.) coloca anualmente os recursos humanos; a Equipa de

    Coordenao de Apoios Educativos de Oeiras (E.C.A.E.) indicou na sua zona a

    escola mais adequada para implementar este recurso; a Escola abriu as suas portas

    para o receber e s crianas que por ele seriam apoiadas; o Centro de Estudos e

    Apoio Criana e Famlia, (C.E.A.C.F.)2 fornece apoio tcnico e formao na

    interveno pedaggica em crianas com P.E.A., avalia as crianas e participa em

    reunies com tcnicos e pais; a Cmara Municipal de Oeiras forneceu mveis e

    verba para equipar a sala, e finalmente mas de extrema importncia o envolvimento

    de vrias entidades privadas, maioritariamente do prprio concelho, que ao abrigo

    da Lei do Mecenato vm financiando desde o inicio a aquisio de materiais

    diversificados.

    Perturbao do Espectro Autista

    Apesar da multiplicidade de estudos existentes e no obstante as variadas e

    inmeras contribuies que vm sendo feitas desde a dcada de 40, com o

    psiquiatra infantil Leo Kanner (1943) e o pediatra Hans Asperger (1944), vrias tm

    sido as explicaes para a etiologia do Autismo. No havendo consensos nem

    certezas, actualmente sabe-se que na maior parte das vezes a sua origem

    multifactorial, apresentam um substracto neurobiolgico e podem coexistir com

    2 A tcnica do C.E.A.C.F. - Terapeuta da Fala - Carmelina Possacos Mota

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    outras perturbaes, no entanto em grande nmero de casos ainda no possvel

    determinar quais os factores que desencadeiam um quadro clnico de autismo.

    Presentemente as Perturbaes do Espectro Autista incluem-se nas Perturbaes

    Globais do Desenvolvimento e so consideradas perturbaes graves e precoces do

    neuro-desenvolvimento que no tm cura e persistem ao longo da vida, podendo a

    sua expresso sintomtica variar. O diagnstico desta perturbao continua a ser

    clnico, ou seja, realizado atravs de uma avaliao do desenvolvimento expresso

    pelo comportamento e, apesar das implicaes de subjectividade que isso possa

    conter, existem escalas de diagnstico que permitem hoje uma maior preciso eprecocidade na realizao de um diagnstico. Especificamente no contexto

    educativo so consideradas Necessidades Educativas Especiais (N.E.E.) de

    carcter permanente.

    Ser portador de P.E.A. pode ser altamente incapacitante, caso no se usufrua de

    metodologias de interveno adequadas, pois esta perturbao conduz a um

    padro caracterizadamente especfico de percepo, pensamento e aprendizagem

    (Jorden, 2000:16) que compromete em particular o contacto e a comunicao com o

    meio.

    Uma pessoa com Autismo tem na maior parte das vezes uma aparncia fsica

    normal, no entanto apresenta dificuldades muito especficas em trs reas do seu

    desenvolvimento: alterao qualitativa das interaces sociais, da comunicao

    verbal e no verbal, padres repetitivos e estereotipados de comportamento, e

    revelam muitas vezes respostas de hipo ou hipersensibilidade a estmulos e ou

    outros problemas associados.

    De uma forma generalizada a afectao nestas reas traduz-se na prtica em

    dificuldades significativas para aprender da forma convencional e pode manifestar-

    se, entre outras, por algumas caractersticas como falta de motivao, dificuldade na

    compreenso de sequncias e de consequncias, dfice cognitivo, dificuldades de

    concentrao e de ateno, alteraes na descriminao/processamento auditivo e

    na compreenso de instrues fornecidas oralmente, falta de persistncia nas

    tarefas, dificuldades em aceitar mudanas e em compreender as regras instintivas

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    da interaco social, alteraes de sensibilidade dor, a sons, a luzes ou ao tacto,

    grande reduo da capacidade imaginativa e de fantasiar, interesses restritos,alteraes de sono viglia, ou particularidades do padro alimentar.

    Descrio da prtica desenvolvida e resultados obtidos

    Apesar de ser impossvel descrever neste espao tudo aquilo que se realiza nesta

    escola com os professores, com as crianas e com as famlias, aps 5 anos a

    experimentar responder, diria e continuamente, de forma adequada s

    necessidades das crianas com P.E.A. atravs de um ensino estruturado, baseadona metodologia TEACCH, pensamos poder partilhar esta experincia e algumas

    pistas que possam ser inspiradoras para o aumento de respostas de incluso de

    crianas com esta e ou outras perturbaes nas escolas do ensino regular. O facto

    que, apenas se mudam atitudes quando se torna evidente que existem vantagens

    em mudar e quando as pessoas se envolvem em processos que resultam.

    O Ensino Estruturado um dos mtodos pedaggicos mais importantes da

    metodologia TEACCH e consiste basicamente num sistema de organizao do

    espao, do tempo, dos materiais, e das actividades de forma a facilitar os processos

    de aprendizagem e a autonomia das crianas e a diminuir a ocorrncia de

    problemas de comportamento. , no entanto, um modelo suficientemente flexvel,

    pois permite ao tcnico encontrar as estratgias mais adequadas de forma a

    responder s necessidades de cada criana.

    O objectivo central da interveno pedaggica desta Sala de Recursos TEACCH o

    desenvolvimento de competncias de autonomia e a melhoria dos comportamentos

    da criana com P.E.A. em casa, na escola, e na comunidade favorecendo a sua

    incluso no maior nmero de actividades junto dos colegas, da turma a que cada

    uma pertence, prevenindo, assim, a sua institucionalizao.

    Atravs da criao de situaes de ensino estruturado com apoio de estruturas

    visuais, de material prprio e de actividades adequadas s suas necessidades

    (plsticas, grficas, ldicas, didcticas, pedaggicas, ) procura-se potenciar a

    motivao destas crianas para explorar e aprender com o objectivo de aumentar os

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    tempos de ateno partilhada, de interaco social, de contacto do olhar e de

    comunicao atravs do olhar, desenvolver os tempos de ateno, de concentraoe de interesse pelas actividades propostas e materiais. Manter e aumentar a

    capacidade de pegar a vez em actividades motoras e verbais, aumentar a

    consistncia da resposta em contextos variados, desenvolver a capacidade de

    cumprir ordens em diversos contextos e a competncia para iniciar, realizar e

    terminar tarefas de forma autnoma.

    Aqui tambm se trabalha a linguagem, a comunicao e a interaco de forma

    estruturada, assim sempre que necessrio ou possvel usa-se o Programa delinguagem do vocabulrio MAKATON3. Este utiliza gestos e smbolos em simultneo

    com a fala e permite desenvolver a comunicao funcional, a estrutura da linguagem

    oral e da literacia facilitando o acesso aos significados do e no mundo com os outros

    o que proporciona maior disponibilidade para a relao.

    Num ambiente no qual a firmeza e o afecto so uma constante essencial fomenta-se

    a sua permanncia e o convvio com as outras crianas, desenvolvendo um trabalho

    sistematicamente articulado, com os docentes e com os colegas da escola e ainda

    de extrema importncia com as famlias, procurando-se agir em vez de reagir, no

    sentido de se alcanar uma integrao escolar bem planificada com programas e

    servios adequados que permita oferecer um conjunto de vantagens a todos os

    implicados.

    Esta articulao realizada atravs de reunies regulares de suporte nas quais se

    fornecem informaes, se reflecte sobre as conquistas e sobre as dificuldades e se

    formulam e reformulam estratgias sempre que necessrio, numa permanente

    atitude de reforo construtivo. Quem lida com crianas com Autismo experimenta

    sucessivas e constantes adaptaes, por isso, a colaborao entre todos os

    envolvidos (adultos e ou crianas) de extrema importncia, pois permite a reduo

    de ansiedades e a manuteno de um ambiente calmo entre todos os parceiros e

    ainda potencializa os desempenhos de cada interveniente proporcionando o

    desenvolvimento de novas competncias e promovendo mudanas.

    3 Concebido por Margaret Walker, UK; Verso portuguesa 1985, adaptada por Isabel Prata C.E.A.C.F.

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    Numa primeira etapa elaborada, pela tcnica do CEACF, a avaliao da criana

    com o Perfil Psico Educacional Revisto (PEP-R criado por Eric Schopler). Estefornece, alm do nvel de funcionamento em cada rea de desenvolvimento, as suas

    capacidades emergentes (nem sempre evidentes, surgindo apenas se estimuladas)

    e ainda a existncia ou ausncia de comportamento patolgico. Baseado nesta

    avaliao e em dados retirados do dia a dia da criana, no contexto escolar e

    familiar, depois realizado um Programa Educativo com objectivos estabelecidos

    para ela e a executar atravs de uma planificao de intervenes individualizadas.

    A planificao de intervenes individualizadas adaptada s suas necessidadesindividuais, aos seus diferentes nveis de funcionamento, e centra-se nas suas reas

    fortes (processamento visual, memorizao de rotinas e interesses especiais)

    utilizando-as como potencializadoras para as restantes reas.

    Com base nesta planificao so implementadas situaes de ensino estruturado

    com apoio de estruturas visuais e que consistem na organizao do espao, do

    tempo, dos materiais e na criao de rotinas. Esta estratgia fornece o tipo e a

    quantidade de estrutura que cada uma destas crianas necessita para progredir na

    sua aprendizagem e fomenta a sua autonomia, pois as estruturas visuaisensinam e

    ajudam a seguir instrues de forma autnoma auxiliando as pessoas com Autismo

    a lidar com as mudanas, proporcionando-lhes maior flexibilidade ao seu

    pensamento.

    A estrutura ou a organizao do espao

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    Consiste basicamente na forma de organizar o espao atravs da delimitao clara

    das diversas reas de trabalho, fazendo corresponder a cada rea uma actividadeespecfica podendo para tal utilizar-se mobilirio ou outro material que permita tornar

    as delimitaes claras e diminuir os estmulos distractivos.

    Segundo a metodologia TEACCH as REAS DE TRABALHO consideradas bsicas

    e que existem nesta Sala de Recursos TEACCH so:

    (i) A REA DE TRABALHO 1 A 1 ou O ESPAO PARA APRENDER (como

    denominado aqui) e que deve ser protegida de estmulos que possamser distractivos e na qual se trabalha individualmente com a criana a

    aquisio de novas competncias, procurando-se ajuda-la a encontrar

    motivao para a aprendizagem atravs de ajudas fsicas,

    demonstrativas ou verbais que possibilitem o sucesso e reduzam a

    frustrao.

    (ii) A REA DE TRABALHO INDEPENDENTE OU AUTNOMO onde se

    pretende que a criana v realizando as actividades aprendidas de forma

    autnoma centrando-se nos objectivos da actividade (nesta sala existem

    5, pois neste momento 2 das crianas j permanecem na sua sala de

    aula o dia todo com algumas adaptaes dos processos de ensino-

    aprendizagem). Nesta rea de trabalho existe tambm um SISTEMA DE

    TRABALHO INDIVIDUAL que consiste num plano de trabalho que

    fornece criana informao sobre o que fazer e por que sequncia, e

    ainda o conceito de comear, realizar e terminar uma actividade

    tornando-a capaz de realizar uma tarefa de forma autnoma (o que de

    extrema importncia para estas crianas que manifestam pouca

    motivao e dificuldade em permanecer atentas de forma a sequenciar

    uma actividade).

    (iii) AREA DE LAZER na qual no existem exigncias por parte do adulto e

    onde a criana pode estar livremente a desenvolver actividades dentro

    dos seus interesses, onde normalmente se permitem as estereotipias.

    (iv) A REA DE TRABALHO DE GRUPO na qual se desenvolvem

    actividades que promovem e favorecem as interaces sociais.

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    (v) E a REA DE TRANSIO onde a criana passa quando muda de

    rea/actividade, e que aqui se encontra junto da rea de trabalhoautnomo de cada uma das crianas.

    Depois, nesta sala, foram ainda criadas outras reas que se consideram importantes

    dentro das necessidades e capacidades das crianas que se atendem e que, visto a

    sala ser ampla, foram possveis no espao fsico existente:

    (i) Uma REA DE TRABALHO NO COMPUTADOR. A informtica

    utilizada para ajudar a ultrapassar dificuldades tanto em termos dereproduo grfica como em termos de ateno e de perseverana.

    Muitas destas crianas sentem pouca motivao para realizar

    aprendizagens e s vezes revelam dificuldades nos desempenhos

    motores finos, frequentemente o apelo de um ecr e de um software

    agradvel pode ser uma mais valia no trabalho com elas. Tambm nesta

    rea se pode aprender a esperar a vez ou a executar uma actividade

    partilhada.

    (ii) Uma REA PARA BRINCAR ESTRUTURADO com carrinhos, legos ou

    materiais de construo, na qual se procura que aprendam a desenvolver

    algumas actividades ldicas. Aqui neste espao nos momentos de

    intervalos escolares quando a sala est aberta s outras crianas da

    escola acontecem brincadeiras criativas e estimulantes que podem servir

    de modelo a imitar por estas crianas.

    (iii) Uma REA PARA LEITURA.Muitos dos meninos desta sala gostam de

    ver ou de ler livros e contar histrias extremamente rico para a

    construo de um mundo no qual se sequenciam situaes.

    (iv) Uma REA PARA REALIZAR ACTIVIDADES DE EXPRESSO

    PLSTICA onde existem materiais diversificados que permitem

    desenvolver actividades variadas que possibilitam, entre outras

    aquisies, a algumas crianas dessensibilizaes de contacto e a outras

    desenvolver a sua motricidade fina. Aqui tambm outras crianas da

    escola podem realizar actividades trazendo modelos a partilhar.

    (v) Uma REA COM LAVATRIO que possibilita realizar alm de

    actividades de higiene bsicas actividades de relaxamento com gua.

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    A organizao do tempo

    A planificao estruturada visualmente atravs de HORRIOS DE ACTIVIDADES

    e de PLANOS DE TRABALHO o que fornece antecipadamente criana (atravs de

    uma organizao externa) informao clara e objectiva sobre o que vai acontecer ao

    longo do tempodo dia e em que sequncia (antecipar e prever), o que proporciona

    um ambiente seguro, calmo e previsvel. Como resultado consegue-se compensar a

    dificuldade que manifestam em sequenciar e em se manterem organizadas,

    diminuindo comportamentos disruptivos aumentando a motivao e melhorando a

    capacidade de aceitao a alteraes da rotina.

    Estes horrios ou planos podem ser adaptados a vrios nveis de competncias

    desde os mais acessveis, que fornecem informao para um perodo de tempo mais

    curto e realizados com objectos, fotos reais ou imagens (nesta sala esto a ser

    utilizadas imagens do programa S.P.C.*), criados para crianas com mais

    dificuldades, aos mais complexos que podem utilizar smbolos mais abstractos como

    palavras e ser elaborados para uma maior durao de tempo. Funcionam de cimapara baixo, ou da esquerda para a direita (por ser o sistema convencional existente

    no pas), consistindo o mesmo numa rotina securizante qual estas crianas

    aderem rapidamente.

    * Software Boardmaker,-Mayer Johnson, verso portuguesa Anditec

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    Com o seu suporte procura-se promover a sistematizao do processo de ensino

    aprendizagem, a visualizao simblica referenciadora de regras/rotinas da escola ede condutas sociais associadas interaco que se procura estabelecer com pares

    e adultos da escola.

    Para algumas das crianas que conquistaram mais autonomia, neste momento j

    possvel fornecer esta referncia temporal simplesmente atravs de um plano do dia

    ou de um sumrio elaborado no quadro da sala que serve e beneficia toda a turma.

    Para elas tambm j no necessria uma rea de trabalho autnomo, conseguem

    estar na sala num lugar como os outros colegas sendo apenas praticadas algumasalteraes/modificaes no espao fsico ou em desempenhos do professor.

    PLANOS DE TRABALHO

    HORRIOS DE ACTIVIDADES

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    Por exemplo, quando o professor fala para o grande grupo chama esse aluno pelo

    seu nome e vrias vezes para que se mantenha atento; quando pretende que acriana olhe para alguma informao no quadro procura e certifica-se que este olhe

    para o local pretendido; cria determinadas rotinas que mantm diariamente como

    escrever o plano do dia sempre no mesmo espao do quadro, arruma a sala de

    forma estruturada; o seu lugar fica perto do quadro sem crianas sua frente para

    que no se distraia, se o aluno necessita de apoio mais directo pode ser importante

    ter sempre uma cadeira junto de si, pois assim ele sabe que sempre que precisar o

    professor pode sentar-se ali; ao seu lado deve estar sentado um colega com

    capacidade de desempenhar o papel de tutor; se existem regras afixadas(informativas de comportamentos que deve ou no deve ter) estas devem estar

    prximas e a criana deve aprender a olhar para elas sempre que o professor

    fornecer um sinal combinado, se a criana precisa de incentivos/motivaes procura-

    se que sejam dentro dos seus interesses e que possam ser compensadoras de

    desempenhos pretendidos Em relao a comportamentos disruptivos como, por

    exemplo, esteriotipias estas devem ser permitidas mas sempre de forma organizada

    e temporizada, no entanto se a criana manifesta dificuldade em aceitar esta gesto

    de comportamentos a mesma pode ser realizada com apoio de tabelas de registos

    que possam fornecer a informao visual criana.

    A organizao dos materiais

    Autilizao de material pedaggico adequado s necessidades de cada criana

    outro dos procedimentos importantes que se realiza, pois uma criana com Autismo

    necessita aprender cada tarefa vrias vezes e com material que se apresente

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    visualmente de forma estruturada, ou seja, que fornea informao clara sobre o que

    realizar, como realizar e quando est terminado.

    Depois precisa ainda de ser ajudada a generalizar essa mesma aprendizagem para

    outros contextos. Assim num primeiro tempo, no espao do Aprender (Trabalho 1a

    1) da Sala de Recursos TEACCH so trabalhadas, com material pedaggico

    especfico, por etapas, as tarefas necessrias para que cada criana atinja o/os

    objectivo/s do seu Programa Educativo. Depois quando j capaz de as realizar

    pode passar a fazer essa tarefa no seu espao/rea de trabalho autnomo com a

    posterior transio para o espao de sala de aula, que se encontra

    modificado/preparado, participando diariamente em actividades que decorrem nas

    turmas a que pertencem.

    Toda esta dinmica (modificao do ambiente e o suporte de material pedaggico

    adequado)permite a realizao diria de tarefas que a criana capaz de executar,diminuindo o grau de frustrao e promovendo relaes significativas com as

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    actividades e com os contextos, melhorando nelas a capacidade autnoma de

    desempenho em contextos variados, nomeadamente na turma a que cada umapertence, em casa com a sua famlia, ou noutros espaos generalizando as

    competncias aprendidas de forma a optimizar as aprendizagens.

    E por ltimo mas de extrema importncia as rotinas que, conforme j foi referido,

    surgem includas na planificao e na gesto das tarefas do dia a dia e dos materiais

    e permitem processar informao de forma mais eficaz facilitando a aprendizagem,

    pois podem ser usadas numa variedade de situaes e eventualmente alteradas. A

    maior parte destas crianas desenvolve rotinas, no entanto, muitas vezes so poucofuncionais.

    Concluso

    Em suma educar crianas com Perturbao do Espectro Autista hoje claramente

    vivel e possvel em incluso, no entanto, apresenta enormes desafios aos

    profissionais envolvidos devido s caractersticas que estas manifestam. Os

    problemas de linguagem podem constituir um obstculo comunicao; aresistncia mudana e neste caso aprendizagem no permite frequentemente a

    utilizao de tcnicas de ensino-aprendizagem e avaliao tradicionais. Por vezes, o

    seu elevado funcionamento mental em algumas reas pode levar o professor a criar

    falsas expectativas e consequente frustrao; as respostas alteradas a estmulos

    ambientais usados na educao podem levar os outros a responder e a actuar de

    forma menos adequada s situaes, as alteraes de humor, por vezes

    aparentemente inexplicveis, podem representar desafios e momentos de enorme

    perplexidade aos pares.

    Para um professor o que se torna crucial realar que independentemente de qual a

    sua etiologia o Autismo um distrbio do desenvolvimento que ir afectar todo o

    processo de aquisio de experincias, por isso as crianas com P.E.A. manifestam

    diferenas no modo como aprendem. Tudo aquilo que as outras crianas aprendem

    espontaneamente tem de lhes ser ensinado e explicadoutilizando procedimentos de

    interveno que reconheam e procurem compensar essas dificuldades muito

    especficas. Assim, e de acordo com cada criana, deve ser elaborado um programa

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    interventivo baseado numa estrutura externa que lhes proporcione pistas

    orientadoras do processo de aprendizagem. Esta dever funcionar como umaestratgia que compense a sua dificuldade para aprender de forma espontnea e

    auto-orientada.

    Efectivamente, a criao de ambientes estruturados e programas dirios que

    implementem estratgias aplicadas de forma detalhada, sequenciada e persistente

    torna possvel que elas aprendam e apresentem uma melhoria significativa.

    Possibilita o aumento das capacidades funcionais, a reduo das limitaes e dos

    comportamentos disruptivos e ainda a melhoria nos desempenhos e nas suasadaptaes aos contextos frequentados pelas outras crianas, nomeadamente o

    escolar.

    O envolvimento e a formao de todos os que lidam com a pessoa com autismo

    essencial. A interaco social e a aprendizagem tendem a melhorar a sua expresso

    sintomtica. Sero as relaes a modificar a sua evoluo e o seu prognstico. As

    necessidades especficas de cada um no sero apenas determinadas pelas suas

    dificuldades de desenvolvimento, mas principalmente na forma como estas se

    organizam no contexto em que a aprendizagem acontece.

    Apesar de esta sala ser um espao para trabalhar com as crianas com P.E.A. est

    sempre aberta a qualquer aluno da escola que nela queira estar, seja para brincar,

    para ser ouvido, ou apenas para esperar que o seu professor chegue. A pouco e

    pouco ela hoje um espao de todos no qual se pratica a incluso inversa.

    Modificando o ambiente, reduzindo ou aumentando os estmulos, promovem-se as

    interaces das crianas ajudando as que apresentam P.E.A. a encontrar motivao

    para a relao com o outro e as outras a respeitar o colega diferente na sua

    diferena.

    De facto, nesta escola a incluso tem sido uma realidade efectiva na qual os

    docentes envolvidos, professores formidveis tanto em termos pedaggicos como

    pessoais, tm enriquecido e partilhado as suas prticas pedaggicas. Os colegas

    das turmas aps esta experincia vivida sero concerteza no futuro cidados mais

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    APRENDER A OLHAR PARA O OUTRO:Incluso da Criana com Perturbao do Espectro Autista na Escola do 1 Ciclo do Ensino Bsico

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    completos, pois praticam diariamente uma construo de valores de respeito pela

    diferena e experimentam a tolerncia frustrao ao no obterem do outro asrespostas normalmente esperadas e por isso manifestam capacidades gradualmente

    superiores de resoluo de conflitos e de compreenso e de aceitao de diferenas

    no outro.

    Esta escola, to especial e acolhedora, relembra-nos todos os dias que na vida

    apesar de cada um seguir o seu caminho ele faz parte de um todo que diz respeito

    humanidade e isso faz-nos sentir como bom estarmos sempre atentos e

    disponveis para Aprender a olhar para o outro e para acreditarmos no seupotencial. A incluso no pode ser considerada um privilgio, ou uma mera opo

    estratgica, um direito e, sobretudo, um exerccio de cidadania a praticar

    diariamente e que abre caminho rumo a uma escola na qual todas as crianas

    devem ter um lugar, independentemente das suas diferenas, conforme preconiza a

    Declarao de Salamanca (1994).

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    Referncias bibliogrficas:

    CALDEIRA, Pedro, (2005). Abordagens problemtica do Autismo-Caracterizao e Interveno- Jornadas de Formao Caldas da Rainha Junho

    2005

    DECLARAO DE SALAMANCA (1994). Conferncia Mundial sobreNecessidades Educativas Especiais, Acesso e Qualidade, Ed. UNESCO

    FUENTES, J. (1992). Autism and Special Educational Needs: Looking Ahead.San Sebastian. Gautena.

    JORDAN, Rita. (2000). Educao de Crianas e Jovens com Autismo, Institutode Inovao Educacional, Lisboa.

    MARQUES, Carla Elsa (2000). Perturbaes do Espectro do Autismo : Ensaiode uma Interveno Construtivista Desenvolvimentista com Mes, col. Sade

    e Sociedade, Quarteto, Coimbra.

    WANG, Margaret, Gorden PORTER & Mel. AINSCOW (1997). Caminhos para asEscolas Inclusivas, Instituto de Inovao Educacional, Lisboa.