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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE APRENDER ARTE COM PRAZER E CRIATIVIDADE Anaídes Xavier dos Santos ORIENTADORA: PROFª. MARIA ESTER DE ARAÚJO OLIVEIRA CAVALCANTE-GO FEVEREIRO/ 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

APRENDER ARTE COM PRAZER E CRIATIVIDADE

Anaídes Xavier dos Santos

ORIENTADORA: PROFª. MARIA ESTER DE ARAÚJO OLIVEIRA

CAVALCANTE-GO

FEVEREIRO/ 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

APRENDER ARTE COM PRAZER E CRIATIVIDADE

Anaídes Xavier dos Santos

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Arte Terapia.

CAVALCANTE-GO

FEVEREIRO/ 2009

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Agradeço a Deus por me conduzir com saúde, perseverança e amor,

vencendo todos os obstáculos, sempre por toda vida no caminho do bem.

A minha família, a todos os meus ex-professores, colegas e demais pessoas

que, direta ou indiretamente, contribuíram para a confecção desse trabalho acadêmico e

sua constante utilização.

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Ao meu pai, Florentino, com alegria e amor.

Anaídes

AOS MEUS FILHOS, TAINARA E THAYNAN, PELO INCENTIVO, CARINHO E ALEGRIA,

COLABORANDO PARA QUE EU JAMAIS DESANIMASSE NA UNIVERSIDADE DA VIDA.

ANAÍDES

A memória da minha mãe, Ana Rosa Xavier, que muito contribuiu para que me

tornasse uma pessoa do bem.

Anaídes Xavier dos Santos

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Resumo

A formação em arte, que incluiu o conhecimento do que é e foi produzido em diferentes

comunidades, deve favorecer a valorização dos povos pelo reconhecimento de semelhanças e

contrastes, qualidades e especificidades, o que pode abrir um leque das múltiplas escolhas que

o jovem terá que realizar ao longo de seu crescimento, na consolidação de sua identidade. O

fenômeno artístico está presente em diferentes manifestações que compõem os acervos da

cultura popular e erudita; modernos meios de comunicação e novas tecnologias. Além disso, a

arte nem sempre se apresenta no cotidiano como obra de arte, podendo, pois, ser observada na

forma dos objetos no arranjo de vitrines, nas ladainhas entoadas por tapeceiros tradicionais, na

dança de rua etc. O incentivo à curiosidade pela manifestação artística e valores de diferentes

culturas, por suas crenças, usos e costumes, pode espertar no educando o interesse pelo

diferente, promovendo o respeito e o reconhecimento dessas distinções e ainda possibilita

reconhecer em si e valorizar no outro a capacidade artística de manifestar-se na diversidade.

O ensino de Arte é área de conhecimento com conteúdos específicos e deve ser considerada

como parte constitutiva dos currículos escolares, requerendo, portanto, qualificação dos

professores para orientar a formação do aluno em relação aos seguintes conteúdos dentro da

disciplina de Arte como: Arte visual, música dança e teatro.

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Metodologia Científica

O estudo, a análise e a apreciação das formas podem contribuir tanto para o processo

pessoal de criação dos alunos como também para o conhecimento progressivo e significativo

da função que a arte desempenha nas culturas humanas. O conjunto de conteúdos está

articulado dentro do contexto de ensino e aprendizagem em três eixos norteadores: a

produção, a fruição e a reflexão. ( PCN’s de Artes, p.35 a 45).

Ø A produção refere-se ao fazer artísticos e ao conjunto de questões a ele

relacionadas, no âmbito do fazer do aluno dos produtores sociais de arte;

Ø A fruição refere-se à apreciação significativa de arte e do universo a ela

relacionado. Tal ação contempla a fruição da produção dos alunos e da

produção histórico-social em sua diversidade;

Ø A reflexão refere-se à construção de conhecimento sobre o trabalho artísticos

dos colegas e sobre a arte como produto da história e da multiplicidade das

culturas humanas. Como ênfase na formação cultivada do cidadão;

Ø Os três eixos citados acima estão articulados na prática, ao mesmo tempo em

que mantém seus espaços próprios. Os conteúdos poderão ser trabalhados em

qualquer ordem, segundo decisão do professor, em conformidade com o

desenho curricular de sua equipe.

Levando em conta os três eixos como articuladores do processo de ensino e

aprendizagem, acredita-se que, para a seleção e a ordenação dos conteúdos gerais de Artes

visuais, músicas, teatro, e dança por ciclo, é preciso considerar os seguintes critérios:

ü Conteúdos compatíveis com as possibilidades de aprendizagem do aluno;

ü Valorização do ensino de conteúdos básicos de arte necessários à formação do

cidadão, considerando, ao longo dos ciclos de escolaridade a manifestação

artística de povos e culturas de diferentes épocas, incluindo a

contemporaneidade;

ü Especificidades do conhecimento artístico.

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Conteúdos Gerais de Artes

Os conteúdos gerais de artes estão propostos para serem trabalhados no Ensino

Fundamental segundo os critérios para a seleção e ordenação dos conteúdos circunscritos nos

PCN’s de Artes ( p. 56 a 57). Assim, os conteúdos gerais do Ensino Fundamental são:

§ Arte como expressão e comunicação dos indivíduos;

§ Elementos básicos das formas artísticas, modo de articulação

formal, técnicas materiais e procedimentos na criação em arte;

§ Produtos em arte: vidas, épocas e produtos em conexões;

§ Diversidades das formas de arte e concepção estéticas da cultura

regional, nacional e internacional; produções e suas histórias;

§ A arte na sociedade, considerando os produtores em arte, as

produções e suas formas de documentação, preservação e

divulgação em diferentes culturas e momentos históricos.

Trabalhar o conteúdo de arte exige do professor uma possibilidade de criar espaço de

participação onde as pessoas aprendam e se adaptem para poder conviver com a mudança e

com a incerteza, o que vai além do ensino que pretende uma mera atualização científica

pedagógica e didática, ou seja, para trabalhar com artes é preciso se envolver com os grupos

comunitários e com a educação Como exemplifica o pesquisar Francisco Imbernón (2002,

p.18): “os docentes precisam desenvolver capacidades de aprendizagem da relação, da

convivência, da cultura, do contexto e de interação de cada pessoa com o resto do grupo,

com seus semelhantes e com a comunidade que envolve a educação”.

Analisando esta concepção de ensino de artes, é notório que as inovações estão sendo

introduzidas lentamente no campo educacional, o que significa que será preciso paciência,

mas, além dessa lentidão endêmica, não se pode ignorar outros fatores: o ambiente de trabalho

dos professores, o clima e o incentivo profissional, a formação tão padronizada que eles

recebem; a história da vulnerabilidade política do magistério, o baixo prestígio profissional, a

atomização e isolamento forçado pela estrutura, a falta de controle inter e intraprofissional.

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(PCN’s de Artes. P.55 a 57).

A possibilidade de inovação nas instruções educativas não podem ser propostas

seriamente sem um novo conceito de profissionalização do professor, que deve romper com

as inércias e práticas do passado assumidas passivamente como elementos intrínsecos à

profissão.

Assim, acreditar que a inovação precisa ser intrínseca ao processo educativo e

profissional, significa estabelecer mecanismos profissionais e estruturas para facilitá-la

juntamente com a mudança cultural da profissão.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.------------------------------------------------------------------------------- 10

METODOLOGIA............................................................................................................ 11

CAPITULO I

ENSINO DE ARTE NO BRASIL: PERSPECTIVAS------------------------------------------------ 12

CAPITULO II

ARTE NO CURRÍCULO NO ENSINO BÁSICO-------------------------------------------------- 15

2.1- FUNDAMENTOS DA ARTE – EDUCAÇÃO-------------------------------------------------- 18

2.2- ARTE, EDUCAÇÃO E CULTURA---------------------------------------------------------- 20

2.2.1- ARTE: EDUCAÇÃO VISUAL.................................................................................. 21

2.2.2-ARTE: EDUCAÇÃO MUSICAL................................................................................ 23

2.2.3- ARTE: EXPRESSÃO DRAMÁTICA / TEATRO......................................................... 25

2.2.4- ARTE: CORPO EM MOVIMENTO: DANÇA............................................................ 26

CAPITULO III

TEORIA NA PRÁXIS---------------------------------------------------------------------------- 28

RECICLANDO COM ARTE ---------------------------------------------------------------------- 31.

CONCLUSÃO------------------------------------------------------------------------------------- 33

BIBLIOGRAFIA--------------------------------------------------------------------------------------- 34

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Introdução

A educação, para ser percebida em sua globalidade, necessita trabalhar com a essência

do ser humano que seria a arte a qual permite a expressividade de sentimentos, idéias e

informações e está inserida em todas as disciplinas. Sendo assim, a sociedade atual exige –

através de seus valores – que a escola tome conta da construção dessa essência e isto tem

significado, a cada período, a inclusão de conteúdos e até mesmo disciplinas relacionadas às

artes nos componentes curriculares, prova disto é a implantação, pelo MEC –Ministério da

Educação - do ensino de música nas escolas públicas até 2010.

Parte dessa nova concepção do ensino de artes e sua inclusão no currículo escolar dar-

se porque as tecnologias da modernidade estão associadas a diferentes linguagens: musical,

ciência, cibernética e outras que enfatizam a imagem, o som, o movimento, exigindo, então,

que o ser humano desenvolva outras habilidades além da fala, escrita, desenvolvimento

corporal e social o que significa desenvolver-se artisticamente para trabalhar e usar as novas

tecnologias. Para este desenvolver-se é preciso aprender e a escola é quem vai intermediar o

educando com a arte para dá condições de adquirir as habilidades artísticas.

Além de a tecnologia exigir novas habilidades ao ser humano, a arte também se inclui

enquanto ciência da sensibilidade e da humanização, sendo também alfabetizadora, pois

revela os símbolos presentes nas imagens, nos sons e nos movimentos estabelecendo um

diálogo visual, sonoro e cênico entre quem aprende e o objeto artístico ao mesmo tempo em

que devolvem aos sujeitos educandos valores que não fazem parte especificamente do

mercantilismo econômico que só vê satisfação no consumir.

A proposta deste trabalho é dar uma visão ampla do que seria trabalhar artes nas

escolas, usando a interdisciplinaridade, ao mesmo tempo em que pretende colaborar para que

as escolas despertem projetos de dança, teatro, música, circo e outras oficinas visuais e táteis.

Para que os objetivos propostos fossem alcançados fez-se necessário organizar o

presente trabalho em capítulos com as seguintes temáticas: o capítulo I faz um breve histórico

sobre o ensino de Artes, enfocando especialmente as perspectivas deste ensino no Brasil. No

capítulo II, estudou-se a Are no currículo do ensino básico brasileiro, seus fundamentos e sua

ligação com a cultura e a educação. O capítulo III traz sugestão para o trabalho com Artes

nas escolas, evidenciando-se o papel dos projetos, da reciclagem e das atividades que

propõem aprendizagem.

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Metodologia

O processo metodológico utilizado para o desenvolvimento desse trabalho

monográfico se deu através de pesquisa bibliográfica (livros, revistas), principalmente

enfocando os autores: Pherrenoud e Duarte Júnior e através de relatos registrados em

questionários aplicados com os professores e alunos das seguintes instituições educacionais:

Escola Municipal Moror Encantado, com alunos da 1° a 4° série e no Colégio Estadual Elias

Jorge Cheim com alunos de 5° a 8° série do Ensino Fundamental.

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CAPITULO I

O ENSINO DE ARTES NO BRASIL: PERSPECTIVAS

O ensino de Artes é identificado pela visão humanística e filosófica que demarcou as

tendências tradicional e escolanovista, embora ambas se contraponham em proposições,

métodos e entendimento dos papéis do professor e do aluno, ficam evidentes as influências

que exerceram nas ações escolares de artes. Essas tendências vigoram desde o inicio do século

e ainda hoje participam das escolhas pedagógicas e estéticas de professores de Artes.

Na primeira metade do século XX, as disciplinas desenho, trabalhos manuais, músicas

e canto orfeônico faziam parte dos programas das escolas primárias e secundárias,

concentrando o conhecimento na transmissão de padrões de modelos das culturas

predominantes. Na escola tradicional, valorizavam-se, principalmente, as habilidades

manuais, os dons artísticos, os hábitos de organização e precisão, mostrando, ao mesmo

tempo, uma visão utilitarista e imediatista da arte. Os professores trabalhavam com exercícios

de modelos convencionais, selecionados por eles em manuais e livros didáticos.

O ensino de artes era voltado essencialmente para o domínio técnico, mais centrado na

figura do professor, pois competia a ele ‘transmitir’ aos alunos os códigos, conceitos e

categorias ligados a padrões estéticos que variavam de linguagem para linguagem, mas que

tinham em comum, sempre, a reprodução de modelos.

A disciplina ‘Desenho’ se apresentava sob a forma de desenho geométrico, desenho

natural e desenho pedagógico, considerada mais por seu aspecto funcional do que uma

experiência em arte, ou seja, todas as orientações de conhecimento visavam uma aplicação

imediata e a qualificação para o trabalho.

As atividades de teatro e de dança somente eram conhecidas quando faziam parte das

festividades escolares na celebração de datas como: Natal, Páscoa ou Independência ou nas

festas de final de período escolar. O teatro era tratado com a única finalidade: a da

apresentação.Assim, as crianças decoravam os textos e os movimentos cênicos eram

marcados com rigor.

Em música, as tendências tradicionalistas tiveram seu representante máximo no canto

orfeônico, o projeto preparado pelo compositor Heitor Villa-Lobos, na década de 30. Este

canto orfeônico difundia idéias de coletividade e civismo, princípios condizentes com

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momentos políticos de então.

Entre os anos de 20 e 70, as escolas brasileiras viveram outras experiências no âmbito

do ensino e aprendizagem de Artes, fortemente sustentadas pela estética modernista e com

base na tendência escolanovista. O ensino de Artes volta-se para o desenvolvimento natural

da criança, centrado no respeito às suas necessidades e aspirações, valorizando suas formas de

expressão e de compreensão do mundo. As práticas pedagógicas do professor são

redimensionadas, havendo deslocamento do aluno e sua criação.

As aulas de Desenho e Artes Plásticas assumem concepções de caráter mais

expressivo, buscando a espontaneidade e valorizando o crescimento ativo e progressivo de

alunos. As atividades de Artes Plásticas mostram-se como espaço de invenção, autonomia e

descobertas, baseando-se, principalmente, na auto-expressão dos alunos.

Em 1971, pela Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Artes é incluída no

currículo escolar com o titulo de Educação Artística, mas é considerada uma ‘atividade

educativa’ e não disciplinar. Pode-se dizer que nos anos 70, do ponto de vista da Arte, em seu

ideário do ensino em meados do século XX ( marcadamente tradicional escolanovista), com

ênfase, respectivamente, na aprendizagem reprodutiva e no fazer expressivo dos alunos, os

professores passam a atuar em todas as áreas artísticas, independentemente de sua formação e

habilitação, frise-se, aqui, que conhecer mais profundamente cada uma das modalidades

artísticas, as articulações entre elas e também conhecer artistas, objetos artísticos e suas

histórias não faziam parte de decisões curriculares que regiam a prática educativa em Artes

nesta época.

A partir dos anos 80, constitui-se o movimento arte-educação, inicialmente com a

finalidade de conscientizar e organizar os profissionais, resultando na mobilização de grupos

de professores de arte da educação formal com a informal. O movimento arte-educação

permitiu que se ampliassem as discussões sobre a valorização o aprimoramento do professor

que conhecia o seu isolamento dentro das escolas e a insuficiência de conhecimento e

competência na área.

Em 1988, com a promulgação da Constituição, iniciam-se as discussões sobre a nova

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que seria sancionada apenas em 20 de

dezembro de 1996. Convictos da importância de acesso escolar dos alunos de ensino básico

também a Lei de Artes, houve manifestações de protestos de inúmeros educadores contrários

a uma das versões da referida lei que retirava a obrigatoriedade da área.

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Com a Lei 9.394/96, revogam-se as disposições anteriores e Artes é considerada

obrigatória na Educação Básica. Assim estabelece o Artigo 26 da referida Lei: “O ensino de

Artes é constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da Educação

Básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”..

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CAPÍTULO II

ARTE NO CURRÍCULO DO ENSINO BÁSICO

As artes são elementos indispensáveis no desenvolvimento da expressão pessoal,

social e cultural do aluno e também são formas de saber que articulam imaginação, razão e

emoção. Elas perpassam a vida das pessoas, trazendo novas perspectivas, formas e densidades

ao ambiente e à sociedade em que vive.

A vivência artística influencia o modo como se apresenta, se comunica e se

interpretam os significados do cotidiano. Desta forma, contribui para o desenvolvimento de

diferentes competências e reflete-se no modo como e em que se pensa e no que se produz com

o pensamento.

O ensino de artes também permite que desafios coletivos e pessoais contribuam para a

construção da identidade pessoal e social, exprimindo e informando a identidade nacional,

permitem o entendimento das tradições de outras culturas e é uma área de eleição no âmbito

da aprendizagem ao longo da vida.

A arte, no ensino básico, desenvolve-se, segundo os PCN’s e Artes (p. 53;54)

majoritariamente, através de quatro grandes áreas artísticas, presentes ao longo de três ciclos:

ü Expressão Plástica e Educação Visual;

ü Expressão e Educação Musical;

ü Expressão Dramática./Dança.

Sobre a proposta para trabalhar Artes, o MEC, através do Currículo Nacional do

Ensino Básico – Competências essenciais, p.179 – 181), estabeleceu para cada ciclo;

Ø No 1° ciclo, as quatro áreas são trabalhadas de forma integrada,

podendo este ser coadjuvado por professores especialistas;

Ø No 2° ciclo, dele vem PF no aprofundamento nas áreas de

Educação Musical e da Educação Visual. Esta última associa-se a

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área Tecnológica, dando origem à disciplina de Educação Visual

Tecnológica;

Ø No 3°ciclo, o leque de escolha à disposição do aluno é alargado.

Permanece a Educação Visual que como disciplinas obrigatórias e é

introduzida outra área artística opcional, de caráter obrigatório, de

acordo com a oferta da escola (Educação Musical, oficina de Teatro

ou dança);

Neste documento, parte-se do princípio de que as disciplinas enunciadas são

independentes, tendo linguagem, sinais e, símbolos próprios (visuais, sonoros, cinéticos) e

compreendendo e um corpo de saberes, conceitos, formas gêneros, técnicas, processos e

significados específicos.

A definição de competências especificas, comuns a todas as partes presentes na escola,

pretende contribuir, nomeadamente, para a construção das ofertas de escola que excedam o

âmbito das áreas disciplinares para a realização de projetos de integração artística e, ainda,

para organizar atividades artísticas em espaços de enriquecimento curricular.

Assim, a partir do que o MEC estabelece e das competências exigidas aos alunos e

professores fica claro que a educação vem passando por uma grande modificação curricular

nos últimos anos e uma delas diz respeito ao ensino de Arte. Segundo Raffa (2006, p.7 ) em

sua obra ‘Fazendo arte com os mestres’: “ é preciso que o apreciador participe da obra, e até

que se interaja com ela, alguns casos modificando a e para que isso aconteça é necessário

um estudo aprofundado sobre os principais períodos da arte”.

Raffa elenca os períodos da artes da seguinte forma:

Ø Arte na pré-história – aproximadamente 2500 a.C.

Ø Arte Grega - século X.

Ø Arte Bizantina – século XIII.

Ø Arte Renascentista século XV ao século XVI.

Ø Arte Barroca (1600 – 1750).

Ø Rococó (1720 - 1800).

Ø Neoclassicismo (1750 – 1820).

Ø Romantismo (1790 – 1850).

Ø Realismo (1948 – 1875).

Ø Imperialismo (1880 – 1900).

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Ø Expressionismo.

Ø Cubismo (1908 – 1915).

Ø Abstracionismo século XX.

Ø Surrealismo (1924).

Ø Modernismo no mundo século XIX – XX.

Ø Modernismo no Brasil (Arte Moderna) 1922.

A importância do conhecimento destes períodos se dá pela diversidade que cada

momento representou como também registra o que a sociedade valorizou enquanto expressões

artísticas. De forma que, para o professor e aluno significa, exatamente, que o que não é arte,

hoje, pode ser mais tarde, o que causa espanto para a sociedade atualmente pode ser muito

valorizado e considerado criativo, genial por outra sociedade – ainda que futura – isto se dá

porque é preciso também educar os olhares e aguçar outras formas de expressão que não a

escrita, principalmente na escola.

Ou seja, a escola precisa trabalhar ,hoje, com Arte de maneira contextualizada com

objetivos e conteúdos próprios pertinentes a cada uma das linguagens, propondo que os

alunos se expressem de forma criativa.

Portanto, é necessário que o aluno conheça e aprecie os artistas que fizeram a história

das artes ao longo dos séculos tais como: Tarsila do Amaral, Claude Monet. Vicente Van

Gogh, Paul Kle, Di Cavalcante, Anita Malfatti, Cândido Portinari e outros.

Isto para Raffa (2006, p. 17) significa queé preciso que o aluno tenha uma preferência

histórica (conhecer), que produza de forma criativa (fazer), que consiga realizar um diálogo

com quem está sendo apresentado (apreciar) e que se expresse colocando seus sentimentos,

suas emoções de modo que o produto final tenha o seu próprio “jeito”, seu próprio “estilo”

sua maneira.

O Currículo Nacional do Ensino Básico (p.151) ,diz que pressupõe a capacidade de

comunicar e interpretar significados usando das disciplinas artísticas. O que implica a

aquisição de competências e o uso de sinais e símbolos particulares, distintos em cada arte,

para recepcionar e converter mensagens e significados. Requerer ainda o entendimento de

uma obra de arte no contexto social e cultural que envolve e o reconhecimento das suas

funções nele.

Desenvolver a literacia artística é um processo sempre inacabado de aprendizagem e

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participação que contribui para o desenvolvimento das comunidades e culturas num mundo

onde o domínio da literacias múltiplas é cada vez mais importante.

A literacia em Arte implica as competências consideradas comuns a todas as

disciplinas artísticas, aqui sintetizadas nos seguintes eixos independentes:

Ø Apropriação das linguagens e elementos das artes;

Ø Desenvolvimento da capacidade;

Ø Compreensão das artes no contexto.

2.1 - Fundamentos da Arte-Educação

O treinamento artístico é, portanto, a educação do sentimento, da mesma maneira como o ‘cálculo’ matemático a simples argumentação..., é uma educação do pensamento. Poucas pessoas percebem que a verdadeira educação de emoção não é o “condicionamento’ efetuado pela aprovação e desaprovação social, mas o contato tácito, pessoal, iluminador, com símbolos de sentimento. (Ensaios Filosóficos, 1971. p. 90).

O tema Fundamentos da Arte – Educação trata da arte como uma maneira de despertar

o indivíduo para que se dê maior atenção ao seu próprio processo de sentir visto que o

intelectualismo da civilização atual, reforçado no ambiente escolar, torna relevante apenas

aquilo que é concebido racionalmente, logicamente.

Segundo Garaudy (1978, p.35), as modernas sociedades industriais estão fundadas

sobre uma cisão básica da personalidade humana; aquela entre o sentir e o pensar, entre a

razão e as emoções. Assim, a civilização ocidental sustentou-se sobre três postulados:

Ø A primazia da razão: a razão tem o poder de solucionar qualquer problema, e

os únicos problemas reais são aqueles propostos pela consciência.

Ø A primazia do trabalho: deve-se trabalhar incessantemente para a produção de

bens; deve-se orientar nossa ação sempre na direção de fins utilitários.

Ø A natureza infinita: desenvolvimento significa a produção cada vez maior de

produtos manufaturados acreditando-se que a natureza, de onde são retiradas

as matérias-primas, seja inesgotável.

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O primeiro postulado conduz a civilização ao racionalismo, isto é, que hipertrofia a

razão em detrimento das dimensões básica da vida: os valores e as emoções. O segundo leva

a relegar o lúdico (o jogo, o brinquedo) e o estético a posição inferiores; a se tornarem meras

atividades de lazer, quando se tem tempo para tal. Enquanto o terceiro gera um sistema de

produção que se deve manter em perpétuo crescimento; não se produz para suprir as

necessidades humanas, mas pelo contrário, devem-se criar novas necessidades nos homens

para então vender-lhes os novos produtos.

Segundo Duarte júnior (1991, p.60), na arte educação, o que importa não é o produto

final obtido; não é a produção de boas obras de arte. Antes, a atenção deve recair sobre o

processo de criação. O processo pelo qual o educando deve elaborar seus próprios sentidos em

relação ao mundo à sua volta. A finalidade da arte-educação deve ser sempre o

desenvolvimento de uma consciência estética.

Como toda educação se fundamenta num processo básico do ser humano, tem-se os

seguintes caminhos para o processo da aprendizagem:

Ø Como se aprende?

Ø O que se aprende?

Ø Para que se aprende?

Em síntese, estas, também, são três questões que alicerçam todo edifício educativo, ou

melhor, todo o edifício da vida humana construída neste mundo.

Duarte Júnior (1991 pg. 67) cita também que:

Educar os sentimentos, as emoções, não significa reprimi-los para que se mostrem apenas naqueles momentos em que o nosso “mundo de negócios” lhes permite. Antes significa estimulá-los a se expressar, a vibrar diante de símbolos que lhe lhes sejam significativos. Conhecer as próprias emoções e ver nelas os fundamentos de nosso próprio “eu” é a tarefa básica é que toda escola deveria propor, se elas não estivessem voltadas somente para a preparação de mão-de-obra para a sociedade industrial.

É imprescindível ressaltar que artes se constituem no estímulo permanente para que a

imaginação flutue e crie mundos possíveis, novas possibilidades de se sentir (se). Pela arte, a

imaginação é convertida a atuar, rompendo o estreito espaço que o cotidiano lhe reserva. A

imaginação é algo proibido na civilização racionalista, que pretendeu bani-la do próprio

campo das ciências, por ver nela uma fonte de erros no processo de conhecimento da

realidade.

Deve-se se adaptar às “coisas como são”, a realidade da vida, sem se perder o tempo

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com sonhos e visões utópicas. Este é o sentido da razão, o que pode significar, então, que a

humanidade não pode se sensibilizar, e continuar alheia à produção artística.

Entretanto, em oposição ao querer que as pessoas não sonhem, não é possível porque

são os sonhos e projetos que movem o mundo. É aquilo que ainda não se conseguiu que faz

com que as pessoas vão á luta, que faz com que elas trabalharem para alterar a “realidade” do

que se tem.

E é pela arte que se é ainda levado a conhecer aquilo que não se a oportunidade de

experimentar na vida cotidiana. E isto é básico para se compreender as experiências vividas

por outros homens. Assim, a arte pode possibilitar o acesso de sentimentos às situações

distantes do nosso cotidiano, forjando em nós a base para que se possa compreendê-la,

conforme as palavras do filosofo alemão Ernest Fisher (1976:13):

O desejo do homem de se desenvolver e completar indica que ele é mais que individuo. Sente que só pode atingir a plenitude que potencialmente lhe concernem, que poderiam ser dele. E o homem sente como potencialmente seu e inclui tudo aquilo que a humanidade, como um todo, é capaz. Arte é um meio indispensável para esta união do individuo como um todo; reflete a infinita capacidade humana para a associação, para a circulação de experiências e idéias.

2.2- Arte: Educação e Cultura.

A arte assume-se como uma componente integrante da Lei de Bases do Sistema

Educativo. Nos três ciclos da educação básica, os alunos têm a oportunidade de contactar, de

forma sistemática, com a Educação Artística como área curricular.

Ela tem forma de apreender o Mundo, permite desenvolver o pensamento critico e

criativo e a sensibilidade de explorar e transmitir novos valores, entender as diferenças

culturais e constituir-se como expressão de cada cultura. A relevância das artes no sistema

educativo centra-se no desenvolvimento de diversas dimensões do sujeito através da fruição,

contemplação, produção-criação reflexão e interpretação. A escola, nas suas múltiplas

experiências educativas, deve proporcionar o acesso ao patrimônio cultural e artístico, abrindo

perspectivas para a intervenção critica.

Neste contexto, as artes visuais, através das experiências artísticas e estéticas, propicia

a criação e a expressão, pela vivência e fruição deste patrimônio, contribuindo para o

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apuramento da sensibilidade e construindo, igualmente, uma área de reconhecida importância

na formação pessoal em diversas dimensões-cognitivas dos indivíduos, tornando-se condição

necessária para alcançar um nível cultural mais elevado nas formas de liteacia.

Note-se que a Arte não está separada da vida comunitária, faz parte integrante dela.

De forma que a aprendizagem dos códigos visuais e a fruição do patrimônio critico e cultural

constituem-se como vertente para o entendimento de valores culturais, promovendo uma

relação dialógica entre dois mundos: o do Sujeito e o Arte, como expressão da Cultura. O

entendimento da diversidade cultural ajuda á comparação e clarificação das circunstâncias

históricas, dos modos de expressão visual, convenções e ideologias, valores e atitudes,

pressupondo a emergência de processos e relativização cultural e ideológica que promovem

novas formas de olhar, ver e pensar.

Estas formas revelam-se essências na educação em geral pelo fato de implicarem

processos cooperativos como resposta às mudanças que se vão operando culturalmente.

2.1.1- Arte: Educação Visual

A educação visual constitui-se como uma área de saber que se situa na interface da

comunicação, da cultura dos indivíduos, tornando-se necessário a organização de situações de

aprendizagem formais para a apreensão dos elementos disponíveis no universo visual.

Desenvolver o poder de discriminação em relação às formas e cores é sentir a composição de

uma obra, torna-se capaz de identificar, de analisar criticamente o que está representando,

como também de agir plasticamente, são modos de estruturar o pensamento inerente à

intencionalidade de educação visual como educação do olhar e do ver.

As investigações iniciadas no século XX, na área da educação e da psicologia,

contribuíram para uma compreensão mais vasta do papel da ate no desenvolvimento humano.

Ao longo das últimas décadas, as orientações nesta área apontam para uma área de integração

cada vez mais aprofundada, dos saberes no âmbito das teorias da arte, da estética e da

educação. Destas pesquisas, emergem dados importantes para a compreensão do sujeito como

criador e fruidor.

Estas concepções educacionais e artísticas introduziram novas linhas de orientação,

operando mudanças ao nível teórico e prático, na educação visual.

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O paradigma anterior, fundado na convicção de que a apreciação artística era uma

questão de sentimento subjetivo, interior, direto e desligado do conhecimento da compreensão

ou da razão, compartimentando cognitivo racional e o afetivo-criativo, teve como reflexo na

pratica escolar, sobretudo nos primeiros anos de escolaridade, o entendimento do processo

criativo como manifestações espontânea e auto-expressiva, adiando, consecutivamente, a

introdução de conceito da comunicação visual, antevendo novos modos de fazer e de ver.

É reconhecido que as práticas educativas, influenciadas, têm sido abandonadas, dando

lugar a ações educativas estruturais, de acordo com modelos pedagógicos, abertos e flexíveis,

originando uma ruptura epistemológica, centrada num novo entendimento sobre o papel das

artes visuais no desenvolvimento humano, integrando três dimensões essenciais: sentir, agir e

conhecer. Esse conhecimento evolui com a capacidade que o sujeito tem de utilização de

ferramentas, disponibilizadas pela educação, na realização plástica e na percepção estético-

visual.

Assinale-se, por exemplo, a idéia do desenvolvimento da expressão visual, baseado

num repertório de respostas, em vez de um modelo linear que tem estado patente nas teorias

do desenvolvimento psicológico e artístico. A aquisição gradual de um conjunto diferenciado

de resposta, a desenvolver precocemente, constitui objetivo do conhecimento na educação

visual.

O desenvolvimento da percepção estética e a produção de objetos plásticos envolvem

o entendimento e intervenção numa realidade cultural a qual a escola não deve ser alheia. O

recurso ao método de resolução de problemas, como metodologia para a educação visual, tem

propiciando a valorização de soluções utilitárias, imediatas, negligenciando-se, por vezes, a

dimensão estética proposta. Apesar da importância dessa metodologia, fundamentada em

diferentes momentos de decisão, pesquisa, experimentação e realização; destaca-se, neste

contexto, a atividade estética nas artes visuais como constitutiva do conhecimento do universo

visual, relacionando a percepção estética com a produção de objetos plásticos.

A relação entre o universo visual e os conteúdos das competências formuladas para a

educação visual pressupõe uma dinâmica propiciadora da capacidade de descoberta, da

dimensão critica e participativa e da procura da linguagem apropriada à interpretação estética

e artística do mundo.

Ao longo do ensino básico, as competências que o aluno de adquirir em Artes Visuais

articula-se em três eixos estruturantes- fruição- contemplação, produção-criação e reflexão-

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interpretação.

Para a operacionalização e articulação destes três eixos e por uma questão metodológica

enumeram-se dois domínios de competências especificas: a comunicação visual e os

elementos da forma na educação visual. Os professores podem programar dinâmicas

pedagógicas de acordo com a realidade da comunidade em que se inserem, com o projeto

educativo da escola e com as características dos alunos. Esta articulação pode concretizar-se

de diferentes âmbitos de decisão, nomeadamente nos conselhos: Pedagógicos, de Docentes,

de Disciplina e de Turma, privilegiando uma abordagem transdisciplinar.

Na questão do processo de ensino-aprendizagem, cada proposta de trabalho estrutura-se

a partir do perfil de competências definido e dos eixos fundamentais considerados:

Ø Os saberes específicos da educação visual;

Ø Os suportes materiais e técnicas que permitem a realização de projetos;

Ø Os campos temáticos onde as propostas de trabalho devem se inserir, integrando as

aprendizagens e as produções em processo de reflexão e investigação.

A utilização dos diferentes meios de expressão deve ser implementada, nos três ciclos

do ensino básico, em função das competências e dos projetos pedagógicos das escolas. Propõe

como áreas dominantes, o desenho, as explorações plásticas bidimensionais e tridimensionais

e as tecnologias da imagem.

2.1.2 – Arte: Educação Musical

A música é um elemento importante na construção de outros olhares e sentidos, em

relação ao saber e às competência são sempre individuais e transitórias, porque se situa entre

pólos aparentemente opostos e contraditórios, entre razão e intuição, racionalidade e emoção,

simplicidade, entre passado e futuro.

As competências artístico-musicais desenvolvem-se através de processos diversificados

de apropriação de sentidos, de técnicas, de experiências de reprodução, de criação e reflexão,

de acordo com os níveis de desenvolvimento das crianças e dos jovens.

Estas competências estão pensadas no sentido de providenciar práticas artísticas

diferenciadas e adequadas aos diferentes contextos onde se exerce a ação educativa, de forma

a possibilitar a construção e o desenvolvimento da literácia musical.

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Na leterácia musical, as dimensões consubstanciam-se em experiências pedagógicas e

musicais diversificadas, baseadas na vivência e na experimentação artística e estética situada

em diferentes épocas, tipologias e culturas musicais do passado e do presente.

As competências específicas se desenvolvem e constroem, de forma a potenciar, através

da prática artística, a compreensão e as interpretações da música na escola, na sala de aula e as

músicas presentes nos cotidianos dos alunos e das comunidades e tem como centro o

pensamento artistico-musical, nas múltiplas vertentes, implica a mobilização de saberes

culturais, científicos e tecnológicos. É através desta perspectiva relacional e integradora que

os problemas e situações musicais são abordados e vividos.

Partindo da observação e questionamento da realidade, com base nas questões

emergentes do cotidiano e nas histórias individuais, procura-se fomentar uma cultura de

participação, através de projetos de natureza interdisciplinar.

Neste sentido, a música, como construção social e como cultura, pode dar um conjunto

de contributos para a consolidação das competências que o aluno deverá evidenciar no final

de ensino básico.

Ao longo da educação básica, o educando deve ter oportunidade de experienciar

aprendizagens diversificadas, em contexto formais e não formais que visem contribuir para o

desenvolvimento da literácia musical e para pleno desenvolvimento das suas identidades

pessoais e sociais.

Ø Experienciar diferentes tipos de instrumentos e culturas musicais;

Ø Explorar diferentes processos comunicacionais, e técnica de criação musical;

Ø Produzir e realizar espetáculos diversificados;

Ø Assistir a diferentes tipos de espetáculos;

Ø Utilizar as tecnologias da informação e comunicação;

Ø Explorar as conexões com outras artes e áreas do conhecimento.

Ø Desenvolver projetos de investigação;

No âmbito da cultua e seus contextos musicais, o aluno desenvolve o conhecimento e a

compreensão da música como construção social. Partilha as músicas do seu cotidiano e da sua

comunidade, investigando as obras musicais como expressões de identidade individual e

coletiva; Reconhece a contribuição das culturas musicais nas sociedades contemporâneas;

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Enquadra o fenômeno musical em determinados acontecimento, tempos e lugares e compara

estilos, gêneros e estéticas musicais em relação aos diferentes tipos de contextos passados e

presentes, ocidentais e não ocidentais; Compreende as relações entre as relações entre a

música, outras artes e áreas de conhecimento, identificado semelhanças e diferenças técnicas,

estéticas e expressivas

2.2.3- Arte: Expressão Dramática / Teatro

A educação artística é essencial para o crescimento intelectual, social, físico e

emocional das crianças e jovens. Sendo atividade dramática fortemente globalizada,

contemplando as dimensões plásticas e sonoras, da palavra e do movimento em ação.

A atividade dramática é uma pratica de grupo que se desenvolve a partir dos

conhecimentos, experiências e vivências individuais que os alunos detêm que pode propiciar a

aquisição e compreensão de novas aprendizagens através da exploração de conteúdos

dramáticos. Isto lhe confere um estatuto privilegiado de elo entre a escola, a família e o meio

social, condição essencial para que a aprendizagem ganhe novos sentidos e se reflita no prazer

de aprender.

Essas atividades dramáticas proporcionam oportunidades para alargar a experiência

de vida dos alunos e enriquecer as suas capacidades de decisão e escolha. Regendo-se por

metodologias essencialmente cooperativas, que promovem a colaboração e a interdependência

no seio do grupo, são susceptíveis de gerar a reflexão sobre valores e atitudes.

Proporcionam ainda formas e meios expressivos para explorar conteúdos e temas de

aprendizagem que podem estar articulados com outras disciplinas do currículo escolar.

Através de situações semelhantes à vida real, assim, as práticas dramáticas fornecem

processos catalisadores que podem motivar os alunos para o prosseguimento de investigações

e aprendizagens na sala de aula ou fora dela.

As práticas dramáticas desenvolvem competências criativas, estéticas, físicas,

técnicas, relacionais, culturais e cognitivas, não só o nível dos seus saberes específicos, mas

também o nível da mobilização e sistematização de saberes específicos, mas também o nível

da mobilização e sistematização de saberes oriundos de outras áreas do conhecimento.

O caráter lúdico do jogo dramático responde às necessidades primordiais do ser

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humano, da exteriorização de si no contexto de comunicação e a da busca do prazer na

construção da aprendizagem. O jogo permite ainda assimilar mais experiências e, dessa

forma, alargar a compreensão do mundo. Assim, o jogo desempenha um papel importante,

mas, por vezes, desvalorizado, ao longo de todo o processo de crescimento.

É importante contemplar nestas atividades dramáticas, a criação e a valorização das

práticas teatrais como Arte, desenvolvendo a apreciação de diferentes linguagens artísticas e

valorizando criticamente criações artísticas e teatrais de deferentes estilos e origens culturais.

2.2.4- Arte: Corpo em Movimento - Dança

Dançar é uma atividade mágica, baseada na beleza da energia humana, enquanto

movimento produzido pelo corpo, ela envolve o pensamento, a sensibilidade e o corpo no seu

agir, explorar a natureza do indivíduo, na sua propulsão para saltar, conquista o ar, no seu

impulso para viver. A dança é uma matéria de confluência de vários aspectos identitários da

natureza humana que só através da prática ganham formas visíveis e vivenciais.

No contexto escolar, pode-se pensar a dança como um mecanismo privilegiado para

estimular os alunos a conhecer as formas expressivas de pensar, percepcionar e compreender

a partir da atividade física de se mover. E, através de um vasto conjunto de experiências de

energia organizada, chegar à essência da dança.

É, em torno das influências sociais sobre o individuo, a historia da dança se vai

desenvolvendo, denunciando, assim, sempre as suas origens. O movimento não surge do

vazio, ele é conseqüência de um tecido complicado de vivências de muitas histórias que hão

de continuar a contar e a transformar, dando expressão ao comportamento cultural através de

um meio de comunicação não verbal.

O movimento humano está fortemente impregnado de significados e emoções,

mostrando os valores, as atitudes, as crenças de uma cultura através da produção física de

ações, gestos e posturas. No domínio artístico, será fácil de confirmar que o estilo, a estrutura,

o conteúdo e a própria interpretação de uma peça coreográfica são, em parte, determinados

pela visão de sociedade que se tem.

Eis a possibilidade de aprendizagem de uma linguagem, enraizada na realidade sócio-

cultural, que propõe ao aluno um universo de comunicabilidade, através da materialidade do

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corpo, capaz também de produzir conceitos de maior elaboração, como é o caso da abstração,

elemento essencial no jogo coreográfico.

Saliente-se, ainda, a vocação interdisciplinar da dança, veja-se, por exemplo, a sua

relação ancestral com a música, que propõe contatos com o ritmo, a dinâmica e a matemática.

Ou o caso das relações entre a dança e o espaço, podendo facilmente transitar para área como

Geometria, a Geografia e mesmo a Arquitetura.

Os elementos fundamentais que sustentam o saber da dança, enquanto forma de

conhecimento, seja ele antropológico, social, psicológico, político ou artístico, e que nesta

perspectiva deverão ser vividos pelos alunos em níveis progressivos da complexidade e

interação, ao longo dos nove de escolaridade, convergem para aquilo que é matéria intrínseca

e essencial desta arte: o corpo, como instrumento de aprendizagem e construção da linguagem

coreográfica.

Tratando-se de uma atividade profundamente enraizada na história do homem, dançar

propicia ao aluno um quadro de referências cognitivas culturais, sensoriais e estéticas que

contribuem para uma melhor compreensão do mundo.

A dança cumpre funções que, na essência, permanecem intactas desde o principio dos

tempos, sejam elas funções rituais, mágicas, comunicacionais, diplomáticas, lúdicas, estéticas

ou, simplesmente, como fonte de felicidade. A dança, pois, está inscrita na história e no gesto

humano, nesta perspectiva, proporciona a aquisição de uma nova referência espaço-temporal.

O ensino da dança implica a aptidão para integrar e traduzir diferentes linguagens,

através do movimento, por meio da interpretação, composição e apreciação.

Existe, nas competências aqui definidas, uma filosofia fundada num quadro de

respeito e valorização de individualidade. A diversidade de leitura do mundo, bem como os

diferentes recursos, motivações e competência, que encontram numa turma de jovens

bailarinos, constituem um terreno propicio à dimensão empírica, associada ao conhecimento

técnico e a informação sobre dança, o que é fator determinante na consolidação de uma

metodologia ou de uma opção estética própria.

A dança é, em si, uma atividade corporativa. Daí que, quotidianamente, surjam tarefas

e projetos de conjuntos que exercitam o aluno na procura de gestão eficaz dos espaços

interpessoais, com respeito pelo movimento próprio alheio.

A prática da dança implica uma atitude de disciplina física que mantém,

necessariamente, o corpo em boa forma. Por outro lado, obriga a uma consciência e

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responsabilidade em relação a si próprio e aos outros, no espaço de ação. Através dela é

possível fomentar a valorização da ecologia do corpo e do ambiente, partindo do estudo de

várias temáticas e do conseqüente trabalho coreográfico e interpretativo. Por exemplo: a

respiração, o ar e os elementos constrangedores dessa relação.

Assim, o contato com a dança é essencial para criar referência e impactos afetivos e

estéticos.

A valorização de uma inteligência emocional e sensorial, produtoras de outras

abstrações conduzem o aluno a um conhecimento mais profundo do mundo, através da

linguagem e da magia da dança.

É de salientar a preocupação em promover uma primeira “cultura coreográfica” e

também de hábitos de freqüência de espetáculos, com vista ao desenvolvimento da apreciação

estética e da capacidade crítica face aos vários aspectos de uma obra performativa.

Percebe-se que a escola não constrói a partir do zero, nem o aprendiz é uma tábua

rasa, uma mente vazia; ele sabe e, muitas vezes, questiona-se e assimila ou elabora repostas

que o satisfazem provisoriamente. Por causa disso, muitas vezes, o ensino choca-se de frente

com as concepções dos aprendizes.

Dessa forma, Fhilippe Perrenoud (2000. P. 28) cita que:

Para imaginar o conhecimento já construído na mente do aluno e que obstaculariza o ensino, não basta que os professores tenham a minoria de suas próprias aprendizagens. Uma cultura mais extensa em historia e em filosofia das ciências poderiam ajudá-los, por exemplo, a compreender que a humanidade levou séculos para aceitar que uma mesa seja um sólido essencialmente vazio, considerando-se a estrutura atômica da matéria.

Enfim, é importante que os professores se confrontem com os limites de seus próprios

conhecimento e que (re) descubram que as noções de número imaginário, colocam-no em

dificuldades, da mesma forma que seus alunos, diante das noções mais elementares.

É motivo que o professor deve trabalhar a partir das concepções dos alunos, dialogar

com eles, fazer com que sejam avaliadas para aproximá-los dos conhecimentos científicos a

serem ensinados. A competência do professor é, então, essencialmente didática. Ajuda-o a

fundamentar-se nas representações prévias cognitivo, uma maneira de desestabilizá-los a

restabelecerem o equilíbrio, incorporando o novo às representações existentes e

reorganizando-as, se necessário.

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CAPITULO III

TEORIA NA PRÁXIS

As atividades de aprendizagem são, em principio, apenas meios a serviço de finalidades que autorizariam outras trajetórias. Nessa perspectiva, são supostamente escolhidas em função de uma teoria-cientifica ou ingênua, pessoal que se aprenda melhor e, portanto, progrida na forma. (Fhilippe Perrenoud, 2000 p. 48-49).

Na prática as coisas são menos racionais. Certas atividades são inspiradas pela

tradição, pela imitação, pelos recursos de ensino. Nem sempre são pensadas numa perspectiva

estratégia. Por vezes, nem mesmo são pensadas... Além disso, as atividades e as situações

propostas são constantemente limitadas por tempo, espaço, contrato didático, expectativas de

uns e de outros, cooperação moderada dos alunos, imaginação e competência do professor.

Assim, uma pesquisa no dicionário ou uma situação matemática, concebidas para levar o

aprendizado, podem se tornar dispositivos que resultem em nada, na ausência de condições

suficientes: fala de sentido e de regulação. Escolher e modular as atividades de aprendizagem

é uma competência essencial, que supõe não apenas um bom conhecimento dos mecanismos

gerais de desenvolvimento e de aprendizagem, mas também um domínio das didáticas das

disciplinas. Quando um professor “faz ditado” sem poder dizer que valor atribui a essa

atividade, limitando-se a lembrar a tradição pedagógica ou senso comum, pode se pensar que

domina nenhuma teoria da aprendizagem da ortografia. Esta lhe permitiria situar o ditado no

conjunto das atividades possíveis e escolhê-lo, conscientemente, por seu valor tático e

estratégico na progressão das aprendizagens, e não “por falta de algo melhor” ou “como de

hábito”.

Subentende-se que essa maneira de ver, que parecia ser trivial, encontra-se em

ruptura com o funcionamento clássico da instituição escolar, que investiu muito em recursos

padronizados de ensino, principalmente fichas e cadernos de exercícios, reduzindo a

competência do professor à escolha do exercício correto.

A formação dos professores somente agora começa a torná-los capazes de inventar

atividades e seqüências didáticas a partir dos objetivos visados. A inventividade didática dos

professores é pequena e depende mais da imaginação pessoal ou da criatividade dos

movimentos de escola nova do que da formação profissional ou dos recursos oficiais de

ensino. Não há nenhuma razão para que cada um reinvente a roda, sozinho ou busque a

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originalidade pela originalidade.

Importa, em contrapartida, que cada professor seja capaz de pensar constantemente,

por si mesmo, em função de seus alunos do momento, a relação entre o que ele lhes diz para

fazer e a progressão das aprendizagens. A maioria das organizações humanas funciona de

acordo com rotinas amplamente desconectadas de suas razoes de ser, e é necessário não

apenas competências, mas também energia e, às vezes, coragem para se questionar

constantemente por que faz o que faz. Perrenoud (200, p.49) escreve que “ para gerir a

progressão das aprendizagens, não se pode deixar de fazer balanços periódicos das

aquisições dos alunos”.

Estes são essenciais para fundamentar decisões de aprovação ou de orientação

necessárias mais tarde. Esta não é sua única função, uma vez que também devem contribuir

para estratégias de ensino-aprendizagem em um grau ou em ciclo.

Evidentemente, a observação contínua não tem apenas a função de coletar dados com

vistas a um balanço. Sua primeira intenção é formativa, o que, em perspectiva pragmática,

significa que considera tudo o que pode auxiliar o aluno a aprender melhor suas aquisições, as

quais condicionam as tarefas que lhe podem ser propostas, assim como sua maneira de

aprender e de racionar, sua relação como saber, suas angústias e bloqueios eventuais diante de

certos tipos de tarefas.

Ø Eleição de projetos sem conjunto com os alunos;

Ø Participação ativa dos alunos em pesquisas e produções de referência ao longo

do projeto em formas de registro que todos possam compartilhar.

Ø Pratica de simulação de ações em sala de aula que criam correspondência com

situações sociais de aplicação dos temas abordados, por exemplo, dar um

seminário como se fosse um critico de arte, opinar sobre uma peça

apresentando como se estivesse falando pra uma emissora de TV em programa

de notícias culturais.

Ø Eleição de projetos relacionados aos conteúdos trabalhados, com o objetivo de

estruturar um produto concreto, como um livro de arte, um filme, a

apresentação de um grupo de música.

Os projetos também são muito adequados para que se abordem as formas

artísticas que não foram eleitas no currículo daquele ciclo.

Um cuidado a ser tomado nos trabalhos por projetos é deixar que seu

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desenvolvimento ocupe todas as aulas de um semestre, deve-se circunscrever

seu espaço nos planejamentos, nos projetos lidam com conteúdos variados e

não permitem o trabalho aprofundado, com todos os conteúdos necessários a

serem abordados em dada grau de escolaridade.

Na prática, os projetos podem envolver ações entre disciplinas, como, por exemplo,

Língua Portuguesa e Arte, ou Matemática e Arte e assim por diante. Os conteúdos dos temas

transversais também são favoráveis para o trabalho com projetos em Arte.

O ensino fundamental permitiu que as áreas se incorporassem uma as outras e o aluno

passa ser o principal agente das relações entre as diversas disciplinas, se os educadores

estiverem abertos para as relações que eles fazem por si. Os projetos devem buscar nexos na

seleção dos conteúdos por série, enquanto as relações entre os distintos conhecimentos são

realizadas pelo aluno. Cabe a escola dar-lhe essa oportunidade de liberdade e de autonomia

cognitiva.

3.1 - Reciclando com Arte

A geração e a destinação do lixo tornaram-se uma das principais preocupações

mundiais. Isso ocorre em razão do crescimento no consumo de produtos industrializados,

aliado à elevação dos materiais descartáveis e ao aumento populacional dos países em

desenvolvimento, que se refletem no aumento do volume de resíduos gerados.

Segundo Raffa (2006, p.4-6): “cabe aos pais e professores fazerem com que as

crianças reflitam sobre a necessidade urgente de seguir o método dos três “Rs”: reduzir,

reutilizar e reciclar, com o objetivo de preservar a espécie humana”.

Hoje, a quantidade de lixo produzida diariamente por uma pessoa é de 5 Kg. Se

somarmos toda produção de lixo mundial, os números são assustadores. Só no Brasil produz

240000 toneladas de lixo por dia. Se esse lixo fosse reciclado, muita matéria-prima seria

poupada e a natureza só teria a agradecer. Muita coisa poderia ser reutilizada e voltar às

indústrias para fabricação de novos bens de consumo.

Na escola, pode-se fazer uma grande discussão sobre o tema e a coleta seletiva,

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envolvendo não só os alunos, mas toda a comunidade.

A grande maioria das pessoas joga lixo em latões de qualquer maneira, uma pequena

parte separa e coloca em latões próprios para que seja reutilizado.

Nos países desenvolvidos como França e Alemanha, a iniciativa privada é

encarregada do lixo. Fabricantes de embalagens são responsáveis pelo destino do lixo e o

consumidor também tem que fazer a sua parte. É importante que cada um se lembre de que

uma garrafa plástica ou vidro pode leva um milhão de anos para se decompor. Esse material e

outros devem se re aproveitados, transformando-se em novos produtos ou matéria-prima, sem

perder as propriedades.

Os alunos de hoje estão ligados aos meios de comunicação mais atuais, desvendam

jogos nos videogames com muita rapidez, tem TV a cabo, estão ligados a internet, enfim,

fazem parte de um muno onde tudo acontece muito rapidamente. Por isto, as aulas precisam

ser dinâmicas, interativas e diferentes. Os alunos precisam entender porque é necessário

aprender determinados conteúdos, qual a ralação do que se esta aprendendo com o passado, a

atualidade e o futuro. Assim, os educadores precisam:

Ø Atualizar-se constantemente;

Ø Trocar experiências;

Ø Experimentar novos materiais e metodologias;

Ø Propor aos alunos pesquisas, experimentos, desafios, teatros;

Ø Atividades lúdicas, etc.

Para se iniciar um trabalho com sucata é importante conversar com os alunos sobre o

consumismo do mundo atual, sobre o desrespeito ao meio ambiente, a necessidade de

reutilizar novos papéis, vidros, alumínios, embalagens, etc. na confecção de novos produtos.

Se não houver essa conscientização o mais rápido possível, podemos ter um futuro

comprometido para as gerações futuras.

Espera-se, assim, incutir o envolvimento no individual e coletivo, na conscientização de

cidadania o quanto possível; ao mesmo tempo desenvolver informações, habilidades e

criatividade dos educando. Com o aprofundamento e interesse espontâneo do educador e

educados, sem dúvida, brotará o desejo de se fazer um jardim, um canteiro ou um simples

vaso de flores na sua escola; poderá ainda despertar incentivo e simpatia pelo estudo de

Agronomia, Biologia, Botânica e paisagismo.

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CONCLUSÃO

“O sentido da vida é um sentimento”.

Rubem Alves.

As aulas de arte não dependem do talento ou da sensibilidade dos educandos. A

disciplina funciona como qualquer outra já que existe um conteúdo, que pode ser ensinado e

aprendido por todos. Um bom caminho é mesclar a visão tradicional do ensino da matéria (em

que o estudante se baseia em um modelo já pronto) com a menos convencional (o professor

valoriza a espontaneidade para criar).

Assim, fazem parte do conjunto de ações desenvolvidas pelo professor nessa área:

orientar os processos de criação artística oferecendo suporte técnico, acompanhando o aluno

no enfrentamento dos obstáculos inerentes à criação, ajudando-o na resolução de problemas

com dicas e perguntas e fazendo-o acreditar em si mesmo; propor exercícios que aprimoram a

criação, informando-o sobre a História da Arte; promover a leitura, a reflexão e a construção

de idéias sobre arte e ainda documentar os trabalhos e textos produzidos para análise e

reflexão conjunta na sala de aula.

Cada imagem, cada gesto, cada som que emerge nas formas artísticas criadas em sala

de aula têm grande importância, uma vez que se referem ao universo simbólico do aluno.

Portanto, exigem a atuação precisa do professor, o planejamento do tempo, a organização do

espaço e a atenção aos processos de comunicação, tanto entre professor e aluno como entre os

colegas de classe.

Uma aprendizagem artística assim percorrida deixará marcas positivas na memória do

aprendiz,um sentimento de competência para criar, interpretar objetos artísticos e refletir

sobre arte sabendo situar as produções. Além disso, o aluno aprende a lidar com situações

novas, inusitadas e incorpora competências e habilidades para expor publicamente suas

produções e idéias com autonomia.

Isso não significa que arte promova a auto-estima num passe de mágica, pela simples

afirmativa de que tudo o que o aluno faz e pensa em arte é ótimo.

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Cada um se sentirá confiante em relação a sua arte à medida que aprender

efetivamente, atendendo aos três eixos de aprendizagem significativa: fazer, interpretar e

refletir sobre arte, sabendo contextualizá-la como produção social e histórica.

Dominar os processos de criação em arte, construindo um percurso cultivado, ou seja,

informado pela cultura requer um professor orientador, que incentiva a produção, ensina os

caminhos da criação e solicita do aluno envolvimento e constância. O apoio do professor, por

sua vez, é alimentado pela sua atualização permanente, necessária para se ter familiaridade

com o universo procedimental da arte.

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