apostila xilogravura

11

Click here to load reader

Upload: artelurico

Post on 11-Jun-2015

11.562 views

Category:

Documents


175 download

DESCRIPTION

Apostila com técnicas e materiais de xilogravura.

TRANSCRIPT

Page 1: Apostila Xilogravura

Xilogravura

Francisco José MaringelliJunho de 2009

9

Page 2: Apostila Xilogravura

9

Page 3: Apostila Xilogravura

Breve Histórico

O desenvolvimento da gravura ocidental está ligado à evolução da imprensa e ao livro impresso. Da xilogravura (técnica de impressão a partir de matriz de madeira), originou-se a impressão com caracteres móveis de Guttenberg.

As primeiras xilogravuras na Europa remontam ao século XIV e foram utilizadas na impressão de baralhos e de imagens religiosas.

Mas sabe-se que a sua origem remonta à China ,no período anterior à Cristandade e supõe-se que a xilogravura e o papel chegaram à Europa através dos árabes, por volta do século XI.

As modalidades de Xilogravura

A xilogravura pode ser classificada como de fio, quando a matriz é cortada no sentido longitudinal em relação ao tronco. Esta modalidade é a mais praticada (exemplo ao lado).

A xilogravura é dita de topo, ou de contrafibra quando as matrizes são cortadas transversalmente em relação ao tronco.

Neste caso, substituímos as goivas pelos buris.

Definição da Gravura em Relevo

Tanto na xilogravura quanto na linoleogravura a tinta é depositada na superfície em relevo da matriz.

Portanto, as partes gravadas com os instrumentos de corte (goivas, facas , formões e buris), corresponderão às áreas em branco da gravura.

Madeiras

Sempre damos preferência às madeiras secas para evitarmos as empenas e termos fluência nos cortes.

As madeiras devem ser aplainadas e lixadas para que obtenhamos boas entintagens e impressões, valorizando os veios da madeira.

9

Page 4: Apostila Xilogravura

Tipos de madeira brasileira que podem ser utilizados na xilogravura: pinho (araucária), cerejeira, cedrinho, peroba, imbuia, mogno, cedro, pau-marfim etc.

A madeira compensada poderá servir especialmente na gravura de grandes dimensões e nos recortes de silhuetas com serra tico-tico. A espessura da matriz pode variar, à medida que a dimensão da matriz aumenta poderemos providenciar uma espessura maior da matriz, evitando-se as empenas.

Qualquer tipo de madeira poderá servir para a xilogravura, desde que se saiba tirar partido de suas características (grau de dureza, texturas).

Outras Opções de Matriz para Gravura em Relevo

Linóleo: tecido de juta, recoberto com uma pasta composta de: óleo de linhaça, resina e cortiça em pó. Serve para revestir pavimentos e gravar. Material macio não opõe resistência às ferramentas.

Neolite/Microduro: borrachas utilizadas pela indústria de calçados com corte/ impressão muito semelhantes à linoleogravura.

Duratex/Eucatex: chapas de fibra de madeira moída e prensada com cola (exemplo ao lado).

Todas estas variantes da gravura em relevo têm características de corte e de impressão chapada, sem texturas provenientes dos veios típicos da madeira. Neste sentido a xilogravura possibilita uma riqueza gráfica maior, pois na maioria das madeiras podemos contar com o desenho inicial dos seus veios.

A preparação da Madeira na Xilogravura

A matriz é sempre lixada no sentido dos veios na seqüência a seguir: lixa grossa, média e fina (utilizar lixas específicas para madeira). Para um acabamento polido suplementar, utilizar lixas d’água.

Caso os veios sejam muitos abertos a superfície da matriz poderá ser selada com algumas demãos de goma laca.

O Desenho e a Matriz

O trabalho de gravar pode ser direto (sem desenho prévio) ou a partir de um projeto que pode ser feito diretamente na madeira (lápis e tinta nanquim).O projeto feito em papel

9

Page 5: Apostila Xilogravura

transparente deverá ser transferido depois com carbono para a matriz, de forma invertida. Retoques e melhor fixação do desenho poderão ser feitos com nanquim/ tinta acrílica a pincel após a transferência.

O xerox do desenho pode ser transferido (processo da impressão de goma/ “gum printing”) para a matriz através do uso de terebintina aplicada no dorso da cópia xerox (para um bom resultado é necessário que a cópia xerox tenha sido feita no mesmo dia em que será utilizada, ainda com o tonner “fresco”)

GravaçãoAs ferramentas de corte são: goivas, facas e formões, para madeira de fio.

Cada família de ferramentas tem aberturas variadas e as empregamos conjuntamente de modo a evitar um resultado estereotipado e monótono:

Faca: confere precisão e nitidez nos contornos. Goiva em V: também serve para os contornos e para criar hachuras finas. Goiva em U (arredondadas): utilizada em contornos sem a precisão proporcionada

pelas facas e pelas goivas em V. Servem especialmente para abrir luzes nos fundos. Formão reto: serve para desbaste de grandes áreas, deixando irregularidades na

superfície, nos intervalos de cada corte.

Na xilogravura de topo, utilizamos preferencialmente os buris.

Os buris de haste curva e ponta losangular são manejados com maior mobilidade em todas as direções. Aliás, a madeira de topo, por apresentar todas as fibras na mesma direção, não se opõe ao corte em qualquer direção. Buris retos dificultam as curvas, porém se adaptam às linhas longas.

Os buris de seção triangular também, servem à gravação de linhas.

O buril de ponta arredondada desbasta fundos e produz texturas aproximadas à gravura de fio. Os meios-tons são feitos com buris raiados, os quais possuem linhas paralelas em sua base. A quantidade de linhas dos raiados varia de acordo com a numeração.

Afiação das FerramentasA precisão da gravação depende das goivas bem afiadas.Quando utilizamos o esmeril,a ferramenta se aquece com rapidez,faz-se necessário esfriá-la,evitando-se a perda da dureza do aço (têmpera). Na afiação manual,fazemos uso da pedra de carborundum,pedra Arkansas,óleo fino de máquina e de lixas d'água. Passamos das lixas mais grossas (de baixa numeração àquelas mais finas),por exemplo: 400,600 e 1000. No ato de afiar,deve-se manter o desenho característico da ponta de cada ferramenta.

Correções na Matriz

Na xilogravura, trabalha-se tirando provas de estado, isto é,não gravamos todas as áreas que ficarão "brancas" (impressas no papel) de uma vez.Assim evitamos gravar em demasia,uma

9

Page 6: Apostila Xilogravura

vez que sempre poderemos retirar madeira, porém não é possível reconstituir grandes áreas já desbastadas..As correções,portanto ficam limitadas ao restauro de pequenas formas,danificadas pelo escapar das ferramentas. A essencialidade de uma forma para o resultado final da gravura determina a feitura da correção , com pequenos pedaços de madeira que se ajustam à falha.,uma vez colados e secos serão lixados.

Impressão/Tipos de Papéis

Antes de imprimirmos, devemos providenciar os registros (marcações/ guias) na mesa.Um papel de mesmas dimensões daquele utilizado para a cópia poderá servir de base para a tiragem. A impressão da gravura em relevo (da xilogravura à matriz de duratex),poderá ser realizada com  colher achatada de madeira, osso ou bambu. A impressão mecânica se faz com a prensa para gravura em metal (prensa de cilindros), desde que a altura da matriz consiga passar pelo vão existente entre a mesa e o cilindro superior.São obtidos resultados diferentes,pois manualmente há a opção de pressionarmos a colher de modo diferenciado, assimsurgem as variados meio-tons. O uso da prensa na xilogravura contribui para que a pressão se distribua uniformemente por toda a matriz Uma manta de feltro deverá ser interposta entre o cilindro e o papel que está sobre a matriz..A impressão manual requer papéis de gramatura baixa,sendo que a impressão mecânica pede papéis mais encorpados (gramatura alta). A princípio qualquer tipo de papel serviria para a xilogravura (sulfite,canson nacional ,vergê, Kraft, papel arroz japonês, papéis importados para desenho). Independentemente da qualidade do papel, este deve ser de superfície lisa e absorvente. De modo geral, imprime-se com papel seco. Existe ainda a prensa manual vertical (prelo), que tem um parafuso central que, no ato de imprimir, pressiona duas pranchas horizontais de ferro (aquela da base é pesada e fixa).

Tintas à Base de Óleo

Comumente imprimimos com tinta tipográfica (quando seca resulta mais opaca) e tinta de off-set. Há marcas importadas de tintas oleosas para xilogravura.Antes de aplicarmos a tinta com o rolo (cilindro) de borracha/gelatina/couro, prepara-se à tinta sobre um vidro,esticando-a com uma espátula de aço,afim de torná-la maleável (plástica). Por fim, passa-se o rolo sobre a tinta "esticada",de modo a uniformizá-la tanto no vidro quanto no rolo. Seguem-se várias passadas de rolo na matriz, até que esta adquira homogeneidade sem brilho excessivo. A tinta a óleo confere um "peso",uma profundidade às cores.

Tintas à Base de Água

Procedimento oriental, cuja tinta é composta de pasta de arroz pigmentada, substitui a tinta oleosa. Na tradição oriental é aplicada com pincéis apropriados, após umedecimento prévio dos papéis e da matriz. O baren é um instrumento mais apropriado para este tipo de impressão rápida.

Uma opção mais direta é a tinta à base de água industrializada cujos resultados podem se assemelhar à transparência da aquarela.

Xilogravura/Linoleogravura em Cores

9

Page 7: Apostila Xilogravura

Estes procedimentos dependem de projetos elaborados previamente. Os resultados obtidos na impressão em cores devem seguir aquilo que fora planejado no projeto.

Variados são os procedimentos em cores: camafeu, separação de cores, eliminação/matriz perdida, matriz recortada e pochoir/estêncil.

CamafeuDuas ou três matrizes com impressão de tom sobre tom. Temos a matriz chave que se utiliza para imprimir a cor mais escura (por último), que definirá o desenho geral. As outras duas cores definirão as sombras (em forma de áreas).

Separação de cores

Definido o projeto grava-se a matriz chave (matriz mãe) que corresponderá à cor mais escura. Tendo-se as demais matrizes já cortadas nas mesmas dimensões, fazemos a transferência da cópia da gravação da matriz mãe para todas as matrizes. A cópia da transferência, geralmente feita sobre papel jornal com excesso de tinta facilita a transferência. As gravações subseqüentes das demais matrizes seguirão as indicações do projeto geral.

Gravadas as matrizes, a seqüência das impressões inicia-se pela cor mais clara e termina com a impressão das cores mais escuras (caso o projeto exija, essa ordem pode ser alterada).

As tintas manipuladas podem ser opacas para efeitos de cobertura ou transparentes para obtenção de veladuras (sobreposição de duas cores para obtenção de uma terceira).

As tintas se tornam transparentes, quando mescladas e batidas com o branco transparente que, é transparente, sem pigmentação.

Eliminação/Matriz Perdida

Procedimento notabilizado por Picasso. Uma mesma matriz servirá para todas as cores. Sempre eliminamos a madeira referente às formas/cores anteriormente impressas.

Assim preservamos as áreas das cores que virão superpostas. Antes de imprimirmos a primeira cor, gravamos as áreas que ficarão em branco. Este procedimento prevê que façamos a tiragem (determinação do total de cópias daquela gravura), pois será impossível recomeçar o trabalho.

Matriz recortada

Temos aqui o emprego de várias cores a partir de uma única matriz com o auxílio da serra tico-tico, faz-se a divisão da matriz em pedaços (a matriz terá fina espessura e poderá ser de madeira compensada). As partes serão entintadas separadamente, depois reunidas,

9

Page 8: Apostila Xilogravura

“amarradas” com fio metálico ou com borracha. Portanto todas as cores serão impressas simultaneamente.

Pouchoir/ Máscara.

Presta-se à impressão de cores chapadas agregadas a uma matriz chave de xilogravura ou de linóleo, que geralmente apresentam formas lineares. As áreas das cores da máscara poderão ser silhuetas recortadas ou vazadas.

Os materiais utilizados para fazê-las são: cartão duplex, cartão couro, cartão Paraná (previamente selados com goma laca), folha de metal, acetatos, acrílico etc.

9

Page 9: Apostila Xilogravura

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

CATAFAL, Jorge, OLIVA, Clara. A gravura. Lisboa : Estampa, 2003. 160 p.

HERSKOVITS, Anico. Xilogravura: arte e técnica. Porto Alegre : Tchê!, 1986. 157 p.

COSTELLA, Antonio F. Breve história ilustrada da xilogravura. Campos do Jordão: Editora Mantiqueira, 2003.COSTELLA, Antonio F. Introdução à gravura e à sua história. Campos do Jordão: Editora Mantiqueira, 2006.MARTINS, Itajahy. Gravura - arte e técnica. São Paulo: Laserprint Editorial Ltda, 1987.WESTHEIM, Paul. El grabado em madera. México: Fondo de Cultura Econômica, 1992.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

CRAIG, James. Produção gráfica. São Paulo: Editora Mosaico, 1980.ILLING, Richard. Obras-primas da estampa japosena. Lisboa: Editorial Verbo, 1978.INSTITUTO TOMIE OHTAKE (São Paulo). A gravura de Lívio Abramo. Instituto Tomie Ohtake: catálogo. São Paulo, 2006.KLINTOWITZ, Jacob. Maria Bonomi gravadora. Cultura Editore Associados: São Paulo, 2000.KREJCA, Ales. Les techniques de la gravure. Paris: Grund, 1983.LEITE, José Roberto Teixeira. A gravura brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Ed. Expressão e Cultura, 1966.MARTINS, Carlos (org.). Fayga Ostrower. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2001. MELOT, Michel [et allii]. L'estampe, histoire d'un art. Genebra: Editions d'art Albert Skira, 1981.MUSEU LASAR SEGALL. A gravura de Lasar Segall. São Paulo: Museu Lasar Segall, 1988.NAVES, Rodrigo. Goeldi. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2001.ONDERNEMING & KUNST. Linoleum in the art of the twentieth century, from Kandinsky to Corneille. Amsterdam: Onderneming & Kunst, 1999.PINACOTECA DO ESTADO (São Paulo). Samico, do desenho à gravura. Pinacoteca de São Paulo: catálogo. São Paulo, 2004.SAINT-JAMES, Ashley. Vallotton graveur. Paris: Ed. Chêne, 1978.SANTANDER CULTURAL (Porto Alegre). Impressões - panorama da xilogravura brasileira. Santander Cultural: catálogo. Porto Alegre, 2004.STRANGE, Edward F. Hiroshige's woodblock prints. New York: Dover Publications, 1983.TALLMAN, Susan. The Contemporary Print, from Pre-Pop to Postmodern. New York: Thames and Hudson Ltd, 1996WELLER, Shane (ed.). German expressionist woodcuts. New York: Dover Publications, 1984.

9