apostila usinagem parte2

113
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA A A P P O O S S T T I I L L A A E E N N G G 0 0 3 3 3 3 4 4 3 3 P P r r o o c c e e s s s s o o s s d d e e F F a a b b r r i i c c a a ç ç ã ã o o p p o o r r U U s s i i n n a a g g e e m m P P a a r r t t e e 2 2 Prof. Dr. André João de Souza 20111

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Page 1: Apostila usinagem parte2

UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE  FFEEDDEERRAALL  DDOO  RRIIOO  GGRRAANNDDEE  DDOO  SSUULL  

EESSCCOOLLAA  DDEE  EENNGGEENNHHAARRIIAA  

DDEEPPAARRTTAAMMEENNTTOO  DDEE  EENNGGEENNHHAARRIIAA  MMEECCÂÂNNIICCAA  

AAPPOOSSTTIILLAA  

EENNGG0033334433  

PPrroocceessssooss  ddee  FFaabbrriiccaaççããoo  ppoorr  UUssiinnaaggeemm  

PPaarrttee  22  

PPrrooff..  DDrr..  AAnnddrréé  JJooããoo  ddee  SSoouuzzaa  

22001111‐‐11   

Page 2: Apostila usinagem parte2

   

Page 3: Apostila usinagem parte2

SUMÁRIO 

PARTE 2 – PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA 

5  PROCESSO DE TORNEAMENTO .................................................................................................................... 93 

5.1  Generalidades ............................................................................................................................................. 93 

5.2  Movimentos e Grandezas no Processo ....................................................................................................... 94 

5.3  Máquinas‐Ferramentas ............................................................................................................................... 98 

5.4  Ferramentas de Corte ............................................................................................................................... 105 

5.5  Operações de Torneamento ..................................................................................................................... 114 

5.6  Esforços de Corte em Torneamento ......................................................................................................... 115 

5.7  Qualidade das Peças Torneadas ................................................................................................................ 121 

5.8  Condições Econômicas de Usinagem ........................................................................................................ 125 

5.9  Problemas ................................................................................................................................................. 133 

6  PROCESSO DE FURAÇÃO ........................................................................................................................... 134 

6.1  Generalidades ........................................................................................................................................... 134 

6.2  Movimentos e Grandezas no Processo ..................................................................................................... 134 

6.3  Máquinas‐Ferramentas ............................................................................................................................. 137 

6.4  Ferramenta de Corte ................................................................................................................................. 141 

6.5  Operações de Furação ............................................................................................................................... 151 

6.6  Esforços de Corte em Furação ................................................................................................................... 154 

6.7  Qualidade de Peças Furadas ..................................................................................................................... 161 

6.8  Problemas ................................................................................................................................................. 162 

7  PROCESSO DE FRESAMENTO ..................................................................................................................... 163 

7.1  Generalidades ........................................................................................................................................... 163 

7.2  Movimentos e Grandezas no Processo ..................................................................................................... 164 

7.3  Máquinas‐Ferramentas ............................................................................................................................. 166 

7.4  Ferramentas de Corte ............................................................................................................................... 176 

7.5  Operações de Fresamento ........................................................................................................................ 180 

7.6  Esforços de Corte em Fresamento ............................................................................................................ 185 

7.7  Qualidade de Peças Fresadas .................................................................................................................... 191 

7.8  Otimização do Processo de Fresamento ................................................................................................... 192 

7.9  Problemas ................................................................................................................................................. 197 

8  REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 198 

 

Page 4: Apostila usinagem parte2
Page 5: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

 

93 PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA 

PARTE 2 PROCESSOS DE USINAGEM COM             

FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA 

5 PROCESSO DE TORNEAMENTO 

5.1 Generalidades 

Torneamento  (também  chamado  de  corte  semi‐ortogonal  em  laboratórios  de  pesquisa)  é  um 

processo mecânico de usinagem com geração de cavaco onde um sólido de revolução bruto [matéria‐

prima (barra) ou corpo de prova (tarugo)] é transformado retirando‐se material de sua periferia. Nesta 

retirada é utilizada uma ferramenta monocortante a com a finalidade de se obter uma superfície técnica 

(cilíndrica ou cônica) com formas, dimensões e acabamento definidos. 

Na operação de corte, a peça bruta é fixada na placa do torno e girada a certa rotação em torno 

do  eixo  principal  da máquina  (movimento  de  rotação).  Simultaneamente,  a  ferramenta,  rigidamente 

alojada em um dispositivo chamado porta‐ferramentas, é deslocada simultaneamente em uma trajetó‐

ria coplanar ao referido eixo (movimento de translação) a uma taxa de avanço constante. Esta combina‐

ção de movimentos promove a  remoção de uma  camada de material da peça bruta para  formar um 

cilindro, um cone, uma rosca ou ainda uma superfície de perfil mais complexo. 

O movimento de avanço da ferramenta pode ser ao longo da peça, o que significa que o diâmetro 

da peça será torneado para um tamanho menor. Alternativamente, a ferramenta pode avançar em dire‐

ção ao centro, para o final da peça, o que significa que a peça será faceada. Frequentemente são combi‐

nações dessas duas direções, resultando em superfícies cônicas ou curvas, com as quais as unidades de 

controle dos tornos CNC atuais podem lidar por meio de muitas possibilidades de programas. 

Historicamente, os primeiros passos de pesquisa passaram pela procura das melhores geometrias 

para a operação de corte. A etapa seguinte dedicou‐se à busca de materiais de melhores características 

de  resistência e durabilidade. Depois  se passou a combinar materiais em novos modelos construtivos 

sincronizando as necessidades de desempenho, custos e  redução dos  tempos de parada no processo 

produtivo. Como resultado, consagrou‐se o uso de ferramentas compostas, onde o elemento de corte é 

uma pastilha (inserto) montada sobre uma base. 

A Figura 5.1 mostra uma operação de corte em que uma ferramenta com  inserto de metal‐duro 

M20 (vide Norma ISO 503, Fig. 3.11) é usada no torneamento de acabamento de uma peça de aço inoxi‐

dável. Observe a formação do cavaco helicoidal curto tipo arruela (vide Norma ISO 3685, Fig. 4.3). 

Page 6: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

94  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Figura 5.1 – Operação de torneamento com inserto intercambiável 

Apesar de ser geralmente uma operação de corte com aresta monocortante, o processo de tor‐

neamento varia nos aspectos de formato e material da peça, tipo de operação, requisitos, custos, etc. 

que determinam uma série de fatores de corte da ferramenta. As ferramentas de corte atuais são cui‐

dadosamente projetadas, baseado em décadas de experiências, pesquisas e desenvolvimentos. 

O torneamento é certamente o processo de usinagem mais comumente empregado em trabalhos 

experimentais relativos ao corte dos metais com geração de cavaco. 

5.2 Movimentos e Grandezas no Processo 

Os movimentos entre ferramenta e peça durante a usinagem são aqueles que permitem a ocor‐

rência do processo de corte. Tais movimentos são considerados durante o projeto e a  fabricação das 

máquinas‐ferramentas que os realizarão. 

Os movimentos podem ser classificados como ativos ou passivos. 

Os movimentos ativos são aqueles que promovem remoção de material ao ocorrerem. Os movi‐

mentos passivos são aqueles que, apesar de fundamentais para a realização do processo de usinagem, 

não promovem remoção de material ao ocorrerem. Ambos são  importantes, pois a eles estão associa‐

dos tempos que, somados, resultam no tempo total de fabricação (produção). 

Para que se possa melhor compreender a interação entre máquina/ferramenta/peça é preciso en‐

tender os movimentos relativos entre elas. Esses movimentos referem‐se à peça considerada parada. A 

Figura 5.2 mostra a direção dos movimentos de corte, de avanço e efetivo no torneamento, descritos 

nos itens que se seguem. 

Movimento de Corte (rotação da peça): movimento entra a ferramenta e a peça, que, sem o movi‐

mento de avanço gera apenas uma remoção de cavaco durante uma única rotação da ferramenta. 

Movimento de Avanço  (translação  longitudinal da  ferramenta): movimento entre a peça e a  ferra‐

menta, que,  junto com o movimento de corte, gera uma remoção repetida ou contínua do cavaco 

durante várias rotações da ferramenta. 

Page 7: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

95PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Movimento Efetivo de Corte  (movimento combinado  ferramenta/peça): resultado dos movimentos 

de corte e de avanço (contínuo) realizados simultaneamente. 

Movimento de Profundidade  (translação  transversal da  ferramenta): movimento entre  a peça e  a 

ferramenta no qual a espessura da camada de material a ser retirada é determinada de antemão. 

Figura 5.2 – Direção dos movimentos de corte, de avanço e efetivo no torneamento, mostrando os ângulos de di‐

reção de avanço (), de direção efetiva () e o plano de trabalho da ferramenta (Pfe) 

A Figura 5.3  ilustra de maneira esquemática os movimentos em uma operação de torneamento 

longitudinal externo, no qual se podem visualizar os movimentos de corte  (seta azul), de avanço (seta 

preta) e de profundidade (seta branca). 

Figura 5.3 – Representação dos movimentos no processo de torneamento 

5.2.1 Velocidade de corte e velocidade de avanço 

A velocidade de corte vc (Eq. 5.1) é a velocidade tangencial instantânea resultante da rotação da 

peça no ponto de contato da ferramenta a uma profundidade de corte definida, onde os movimentos de 

corte e de avanço ocorrem simultaneamente: 

  c

d nv

1000

  (5.1)

onde vc é a velocidade de corte [m/min]; d é o diâmetro final da peça [mm]; n é a rotação da peça [rpm]. 

A velocidade de avanço vf (Eq. 5.2) é o produto do avanço pela rotação da ferramenta: 

Page 8: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

96  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

  fv f n   (5.2) 

onde vf é a velocidade de avanço [mm/min] e f é o avanço [mm/volta]. 

5.2.2 Seção transversal de corte 

A situação idealmente simples para análise das relações entre os parâmetros de corte e as demais 

grandezas de usinagem – com erros considerados aceitáveis entre 10% e 15% dos valores medidos e/ou 

calculados – ocorre quando se considera uma ferramenta com aresta de corte retilínea em canto vivo, 

ângulos   0 e ’r  0. Esta situação idealmente simplificada define a seção transversal de corte. 

A Figura 5.4 mostra a situação idealmente simplificada. 

(a)  (b) 

Figura 5.4 – Definição da área da seção transversal de corte: (a) superfícies, grandezas de corte, ponto de referência “D” e largura de corte “b” no torneamento cilíndrico; (b) grandezas de corte para arestas de corte 

retilíneas – torneamento cilíndrico com  = 0 e ponto de corte na ponta da ferramenta 

A área (A) da seção transversal no corte ortogonal (bidimensional) é a área calculada perpendicu‐

larmente à direção de corte no plano de medida de um cavaco a ser removido (com erro de 10% a 15% 

sobre o valor real). Neste caso, é válida a Equação (5.3). 

  A = apf = bh  (5.3) 

A  largura de corte (b) e a espessura de corte (h) – também chamadas de  largura e espessura do 

cavaco, respectivamente – são calculadas na seção transversal de corte. Da Figura 5.6, tem‐se: 

  p

r

a hsen 

b f  (vide SEÇÃO 4) 

Page 9: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

97PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

5.2.3 Tempo de corte e taxa de remoção de material 

O tempo de corte tc [min] resume a totalidade dos tempos ativos, pois ele representa o tempo em 

que os movimentos de corte e/ou avanço estão efetivamente ocorrendo: 

 f f f

c

f c

L L d Lt

v f n 1000 f v

  (5.4)

onde Lf é o percurso de avanço [mm]. 

Recapitulando: a velocidade de corte (vc) é a taxa na qual a ponta da ferramenta passa pela super‐

fície a ser trabalhada, normalmente expressa em [m/min]; o avanço (f) corresponde à distância percor‐

rida pela ferramenta na direção axial em cada volta da peça a uma dada rotação, em [mm/volta]; e a 

profundidade de corte (ap) é a espessura do metal removido da peça, medida em uma direção radial em 

[mm]. O produto destes três parâmetros de corte resulta na taxa de remoção de material Q [cm3/min]. 

A taxa de remoção de material (Eq. 5.5) representa o volume de cavaco removido [cm3] por uni‐

dade de tempo [min]. Este parâmetro é frequentemente utilizado para determinar a eficiência de uma 

operação de usinagem. 

  p cQ a f v   (5.5)

5.2.3.1 Exemplo 5.1 

Pretende‐se obter peças cilíndricas de aço ABNT 1040 (dureza 156 HB) com 85 mm e 450 mm 

de comprimento a partir de barras cilíndricas com 100 mm utilizando profundidade de corte 1,5 mm, 

avanço 0,30 mm/volta e rotação 1115 rpm em um torno CNC com potência nominal de 20 cv. Para isso, 

dispõe‐se de uma ferramenta MD P25 com r  75o,   0o,   6o,   6o e r  0,8 mm. Calcular o 

tempo de corte de uma peça. 

Resolução do Exemplo 5.1: 

Para reduzir o diâmetro de 100 mm para 85 mm, são necessários np  5 passes de 1,5 mm. 

Considerando a rotação constante em n  1115 rpm, tem‐se (Eq. 5.4): 

c cf

L L 450t np np 5            t 6 min 44 s

v f n 0,3 1115

 

Considerando a velocidade de corte constante para d0  100 mm, tem‐se (Eq. 5.4): 

1 npc

0

c

d ... dL L 97 94 91 88 85 450 450t np 4,55

f n d f n 100 0,3 1115 0,3 1115

     t 6 min 07 s

 

Mantendo‐se a velocidade de corte (vc) constante, a rotação (n) aumenta com a diminuição do 

diâmetro (d) e assim, a velocidade de avanço (vf) aumenta, diminuindo o tempo de corte (tc). 

Page 10: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

98  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

5.3 Máquinas­Ferramentas 

A máquina‐ferramenta de usinagem para obtenção de superfícies usinadas de  revolução é cha‐

mada de torno. Isto se dá com a peça em movimento principal de trabalho (rotação), enquanto a ferra‐

menta tem os movimentos: longitudinal (avanço) e transversal (profundidade). 

Os fatores que definem a escolha de um torno são: material da peça; tamanho do lote; prazo do 

lote; relação geométrica L/D; grau de complexidade; grau de desbalanceamento; quantidade de opera‐

ções; quantidade de ferramentas necessárias; dispositivos e acessórios disponíveis. 

5.3.1 Tipos de tornos 

A classificação de um torno pode ser feita em função de diferentes fatores, tais como tipo, grau 

de automatização, controle ou comando da máquina etc. Este último é o mais aplicado, dividindo os 

tornos em convencionais (universal, revólver, vertical, copiador, automático), e com comando numéri‐

co. A Figura 5.5 ilustra os principais tipos de máquinas‐ferramentas para torneamento e a Tabela 5.1 cita 

as suas características básicas. 

(a) Torno universal  (b) Torno revólver  

 

(c) Torno vertical  (d) Torno copiador  

(e) Torno automático  (f) Torno CNC 

Figura 5.5 – Principais tipos de máquinas‐ferramentas para torneamento 

Page 11: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

99PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Tabela 5.1 ‐ Características básicas dos tipos de máquinas‐ferramentas para torneamento 

Tipo de Torno  Utilização Dependênciado Operador 

Grau de Automação 

Velocidades e Avanços 

Tamanho do Lote 

Universal Oficinas e

ferramentarias Alta Baixo Baixos Pequeno

Revólver  Produção Alta Médio (mecânica)

Baixos Pequeno a médio

Vertical Produção (peças muito grandes)

Alta Alto (mecânica e/ou eletrônica)

Baixos a médios Pequeno a médio

Copiador  Produção Alta Alto (mecânica e/ou eletrônica)

Baixos Pequeno a médio

Semi‐automático 

Produção Baixa Alto (mecânica) Médios Grande

Automático  Produção Baixa Alto (eletrônica) Altos Médio a grande

CNC  Produção Baixa Alto (eletrônica) Altos Pequeno a médio

Ultraprecisão Peças especiais e/ou exclusivas

Baixa Alto (eletrônica) Muito baixos Pequeno a médio

Especial Requisitos específicos

Depende do grau de automação

Exclusiva Depende do tipo de peça

Pequeno a grande

 

5.3.1.1 Tornos convencionais 

Os  tornos  convencionais  vão desde  tornos  com  simples mecanização de algumas  funções,  tais 

como avanço longitudinal e avanço transversal, até tornos com alto grau de automação em que todas as 

funções são automáticas, inclusive funções de carga e descarga de peças. 

Este alto grau pode ser conseguido mediante o emprego de dispositivos e comandos mecânicos, 

elétricos, hidráulicos e pneumáticos. Este tipo de automação é chamado automação rígida que fornece 

à máquina alta produção e eficiência, mas com baixa flexibilidade e mudanças na produção. 

Dentre  os  tornos  convencionais  estão  os  tornos:  universal,  revólver,  vertical,  copiador,  semi‐

automático, automático e especial. 

Os componentes básicos de um  torno convencional podem ser  resumidos através da Figura 5.6 

que mostra os subsistemas do torno universal. 

Os tornos universais são os mais comuns. Não oferecem grandes possibilidades de produção de‐

vido à dificuldade que apresenta na mudança de ferramenta. 

O torno revólver surgiu da necessidade de reduzir o custo da produção em série (grandes ou pe‐

quenas), isto é, produzir o maior número de peças no menor tempo possível. Sua principal característica 

é a utilização de um dispositivo especial em  forma de  torre giratória que emprega várias  ferramentas 

(varia de 4 a 12) convenientemente dispostas e preparadas para realizar as operações em forma orde‐

nada e sucessiva – o castelo revólver. A finalidade é permitir que sejam usinadas várias peças iguais, de 

modo  igual, utilizando uma  série de  ferramentas que  serão aplicadas  sem a  remoção da peça e  sem 

alteração de colocação de ferramenta. Podem‐se efetuar as operações de torneamento, furação, alar‐

gamento e rosqueamento. Construtivamente, os  tornos revólver são semelhantes aos  tornos comuns, 

com a diferença de o barramento ser mais curto e apresentar o castelo (ou torre) porta‐ferramenta. 

Page 12: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

100  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Figura 5.6 – Subsistemas do torno universal 

O torno vertical é semelhante ao torno de placa, diferindo apenas na disposição do eixo‐árvore, 

que é vertical. Já a fixação de peças (grandes diâmetros e pesos excessivos) é mais simples e exige me‐

nos esforço (maior comodidade). Por ter um eixo apoiado em mancais altamente resistentes, estes con‐

somem maior potência. Além disso, a expulsão de cavacos é mais difícil; entretanto, não caem sobre o 

barramento. Em geral é constituído por castelo (magazine) para várias ferramentas, com avanços longi‐

tudinais (vertical) e transversais. Pode ter mais de um carro porta‐ferramentas – o segundo para cargas 

leves e torneamento simultâneo (operações externas, internas e faceamento). Caracteriza‐se pelo corte 

lento gerando cavacos com grande seção transversal. Peças de formato  irregular não precisam ser cui‐

dadosamente alinhadas antes de se aplicarem rotações elevadas (como em operações horizontais). 

O torno copiador permite obter peças com a forma de sólidos de revolução de qualquer perfil. Pa‐

ra tanto, é necessário que a ferramenta execute dois movimentos simultâneos – translação longitudinal 

e  translação  transversal – em relação à peça que se  trabalha. Sob o ponto de vista  funcional, o  torno 

copiador poderia ser considerado um torno semi‐automático já que ao inserir o protótipo e a peça a ser 

usinada, a ferramenta move‐se automaticamente seguindo o perfil até o fim. É empregado, geralmente, 

para a produção seriada de peças que tenham perfis cônicos, esféricos ou complexos. 

O  torno semi‐automático é aquele em que há a necessidade de o operário substituir uma peça 

acabada por outra em estado bruto no  final de uma série de operações realizadas sucessivamente de 

forma automática. A diferença entre o semi‐automático e o automático é que o segundo produz uma 

peça a partir da matéria‐prima  (barra, vergalhão etc.) movimentada com avanço automático. O semi‐

automático é apropriado especialmente para a usinagem de peças fundidas, forjadas ou estampadas. 

Page 13: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

101PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

O torno automático se caracteriza por realizar todas as operações  (desde a matéria‐prima até a 

peça  final)  sucessivamente, uma após a outra, de  forma automática. O  campo de aplicação  se dá na 

produção seriada de pequenas peças torneadas, quase sempre a partir de uma barra cilíndrica de metal. 

A diferença fundamental entre o torno revólver e o automático está no sistema de comando: no primei‐

ro, os movimentos que caracterizam as diferentes operações de corte dependem do acionamento do 

operador para executar cada uma delas; no segundo, a sucessão de operações se dá automaticamente. 

Existem diferentes tipos de tornos automáticos, cada um com suas características particulares; a escolha 

deve  ser  feita baseando‐se nas possibilidades que as  ferramentas  têm de efetuar certos movimentos 

para realizar um ciclo de trabalho conveniente, em relação às exigências de forma, dimensões etc. 

Os tornos especiais são aqueles destinados a operações específicas. Como exemplo, tem‐se o tor‐

no detalonador, usado no corte de dentes de fresas e machos, na qual se exige um perfil constante. 

5.3.1.2 Tornos com comando numérico 

O comando numérico é um equipamento eletrônico capaz de receber  informações por meio de 

entrada  própria,  compilar  estas  informações  e  transmiti‐las  em  forma  de  comando  à  máquina‐

ferramenta, de modo que esta – sem a  intervenção do operador –  realize as operações na seqüência 

programada. Os  tornos  com  comando  numérico  diferem‐se  basicamente  dos  tornos  convencionais, 

uma vez que não necessitam de acessórios que proporcionem o controle dos movimentos da máquina, 

tais como gabaritos, cames, limites etc. e até mesmo a interferência direta do operador. Estes movimen‐

tos são comandados através de dados de entrada, que determinam os movimentos a serem executados, 

proporcionando ao equipamento e à peça uma condição bastante  favorável, quando comparado com 

torno convencional, além do que, são maiores as garantias de uniformidade de qualidade de peça para 

peça e de lote para lote. Os componentes básicos de um torno com comando numérico são: 

Parte mecânica: máquina operatriz propriamente dita, incluindo as unidades motoras, hidráulicas e 

pneumáticas e ainda, os sistemas de refrigeração, lubrificação, transportadores de cavaco e outros. 

Interface eletroeletrônica: componente que distribui e comanda os diversos elementos da máquina 

(motores principais do eixo‐árvore, motores de bombas hidráulicas) e  também a abertura e  fecha‐

mento de válvulas solenóides atuantes em sistemas hidráulicos e pneumáticos. 

Comando eletrônico: equipamento (comando numérico) que recebe as informações em seu painel e 

atua na  interface homem‐máquina que, por sua vez, transmite à máquina‐ferramenta as operações 

requeridas. Atua nos motores de avanço através de outra unidade de força de comando, própria pa‐

ra estes motores, que são os responsáveis pelo movimento dos carros. 

Em um torno com comando numérico, todas as suas funções são programáveis, sendo sua função 

principal programar o movimento relativo entre a ferramenta e a peça. O projeto e a construção são de 

altíssima  rigidez e  solidez, proporcionando qualidade e  tolerâncias ótimas. Como os movimentos  são 

programáveis, pode‐se obter alta repetitividade de peças com nenhum erro ou interrupção, ou mesmo 

sem a intervenção do operador da máquina. Os tornos comandados por computador, denominados CNC 

(comando numérico computadorizado), permitem também sua integração com outros computadores e 

máquinas, aumentando  sua capacidade de  trabalho e diversificação, ou  seja,  flexibilidade –  fator que 

vem sendo fortemente exigido dentro das indústrias atualmente. 

Page 14: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

102  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

O centro de torneamento é um torno com posicionamento de fuso programável (3º eixo) e com 

ferramenta programável em movimento na direção Y (quarto eixo), de forma que podem ser realizados 

complementarmente os processos de furação, fresamento ou roscamento em superfícies de revolução. 

A usinagem de ultraprecisão pode ser chamada de microusinagem,nanousinagem ou até mesmo 

usinagem com ferramentas de diamante. O torno de ultraprecisão (Fig. 5.7a) é usado principalmente na 

produção de peças mecânicas bem como elementos ópticos transmissivos e reflexivos (Fig. 5.7b), quan‐

do se necessita de alta precisão na escala submicrométrica e,  inclusive, na nanométrica. O projeto e a 

fabricação de um torno de ultraprecisão, bem como seu real desempenho, dependem diretamente do 

comportamento estático e dinâmico de seus componentes. Algumas características funcionais são fun‐

damentais:  precisão  de  giro,  rigidez  elevada,  repetitividade  dos movimentos  e  capacidade  de  carga. 

Mancais aerostáticos são adequados para projeto de cabeçotes e guias lineares. Na usinagem de ultra‐

precisão, pequenos níveis de vibração e variações térmicas como os introduzidos pelo ambiente e pelo 

próprio processo de usinagem têm influência direta na qualidade da superfície usinada. 

 

Laboratório de Mecânica de Precisão  

(a)  (b) 

Figura 5.7 – Usinagem de ultraprecisão no LMP‐UFSC: (a) torno; (b) espelho usinado 

5.3.2 Fixação e ajuste da peça na máquina 

A fixação deve ser segura, rápida e precisa. A potência requerida para o corte deve ser  integral‐

mente transmitida à peça. A força necessária para uma fixação segura, sem deixar marcas ou distorcer a 

peça, depende da geometria e do material da peça, da ferramenta e dos parâmetros de corte. 

São sistemas de fixação de peças no torno: placas de castanhas; placas de vácuo; placas magnéti‐

cas; fixação entre pontas; pinças; mandris; etc. (Fig. 5.8). 

Page 15: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

103PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

 

(a) Placa de castanhas  (b) Fixação entre pontas  (c ) Pinça 

Figura 5.8 – Tipos de sistemas de fixação de peças no torneamento 

Placas de castanhas. Podem ser constituídas de três ou quatro castanhas, com fechamento manual 

ou automático (pneumático). As castanhas podem ser internas ou externas, moles ou duras (tempe‐

radas), autocentrantes ou independentes, integrais ou intercambiáveis. 

Fixação entre pontas. Utilizado no torneamento de peças  longas. Para tanto, são necessários furos 

de centro nas duas extremidades das peças. O movimento de rotação é transmitido à peça por meio 

de ressaltos no contraponto ou por grampo. 

Pinças. Servem para o torneamento de peças pequenas (peças de precisão). Propicia elevada preci‐

são de rotação e baixas deformações induzidas à peça. 

A rotação segura depende do tamanho e da geometria da peça, da forma e do acabamento dese‐

jado, da rigidez do setup e do tipo de fixação, do tipo de operação e das ferramentas de corte utilizadas. 

A Figura 5.9 mostra duas situações errôneas de fixação da peça na placa. O certo é prender a peça 

pelo seu maior diâmetro de modo a suportar mais facilmente o torque durante o corte e ser afixada o 

mais perto possível da face da placa. 

 

(a)  (b)  (c) 

Figura 5.9 – Método de fixação da peça na placa de castanhas: (a) certo; (b) errado; (c) errado 

A peça, o torno e as ferramentas determinam o sistema de fixação a ser utilizado. A seleção crite‐

riosa do sistema de fixação garante a obtenção de melhores resultados. 

5.3.3 Fixação e ajuste da ferramenta na máquina 

Com a busca incessante pela alta produtividade e a necessidade de se usinar com ampla gama de 

velocidades em uma grande variedade de materiais, os processos de usinagem, principalmente os com 

ferramentas de geometria definida,  requerem alta  rigidez nas  ferramentas de corte. A ausência desta 

rigidez se torna um fator crítico na qualidade da usinagem e na capacidade do processo. 

Page 16: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

104  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Assim, a fixação e o ajuste da ferramenta são a chave para obtenção de potenciais ganhos de pro‐

dutividade e precisão do processo de usinagem. Recentes desenvolvimentos da precisão, da  força de 

fixação e da geometria dos dispositivos de fixação possibilitam atingir o máximo desempenho das fer‐

ramentas de corte e das máquinas, que podemos traduzir em vantagem competitiva e lucros. 

Vale frisar que a ferramenta deve ser fixada de modo que a ponta (quina e cunha) fique na altura 

do centro do torno. Para isso, usa‐se o contraponto como referência. A Figura 5.10a mostra a ajustagem 

do centro da ferramenta no torneamento longitudinal e a Figura 5.10b no torneamento transversal. 

 

(a)  (b) 

Figura 5.10 – Ajustagem do centro da ferramenta de corte no torneamento: (a) longitudinal; (b) transversal 

Deve‐se também observar o ângulo de posição da ferramenta em relação à peça (Fig. 5.11). 

   

Figura 5.11 – Diferentes valores para o ângulo de posição da ferramenta (r) gerando larguras de corte (b) distintas 

Em geral, a haste da ferramenta fica fixada na torre do carro porta‐ferramenta. A Figura 5.12 mos‐

tra diferentes configurações de torres porta‐ferramentas para máquinas convencionais. 

 

Figura 5.12 – Diferentes configurações de torres porta‐ferramentas para tornos convencionais 

Page 17: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

105PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

5.4 Ferramentas de Corte 

Apesar de geralmente ser composto por operações de corte com ferramentas monocortantes, o 

torneamento varia em função do formato e do material da peça, das condições, exigências, custos etc. – 

fatores que podem  influenciar nas características da ferramenta de corte. As ferramentas para tornea‐

mento atuais são cuidadosamente projetadas, com base em décadas de experiência, pesquisa e desen‐

volvimento. Da  (macro e micro) geometria, do material, passando pelo  formato e  fixação da pastilha 

intercambiável no porta‐ferramentas, convencional ou modular, atualmente a ferramenta cuida da di‐

nâmica do corte do material, de uma  forma que seria  impensável algumas décadas atrás. Há diversos 

tipos básicos de operações de  torneamento, que exigem  tipos específicos de  ferramentas para que a 

operação seja executada da maneira mais eficiente. 

5.4.1 Tipos de ferramentas 

As ferramentas podem ser inteiriças – retas, com quina quadrada, com quina em ângulo, com ân‐

gulo de posição e tipo offset – (Fig. 5.13) ou com insertos (pastilhas) intercambiáveis. 

Figura 5.13 – Denominação das ferramentas de corte para torneamento 

O estilo da ferramenta  inteiriça ou do porta‐ferramentas para  insertos  intercambiáveis deve ser 

selecionado de acordo com a operação a ser executada. 

Recomenda‐se que a haste do porta‐ferramentas para insertos intercambiáveis (selecionada pela 

altura,  largura, diâmetro e comprimento) seja sempre a mais estável possível de acordo com as  limita‐

ções da máquina‐ferramenta e da operação de corte. O tamanho e o tipo da pastilha dependem da es‐

colha do porta‐ferramentas: os códigos de ambos devem ser correspondentes. 

O tamanho da pastilha é um dos fatores que determina a máxima profundidade de corte (ap). Ou‐

tros fatores são: ângulo de posição (r), raio de quina (r) e o tipo/geometria do quebra‐cavacos. 

A escolha do raio de quina depende do perfil/especificações do componente e do tipo de opera‐

ção de corte que deve ser executada. A profundidade de corte (ap) deve ser sempre maior que o raio de 

quina (r). O valor de r influencia a seleção dos parâmetros de corte e o acabamento usinado: 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

106  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

r pequeno: para aplicações em geral e baixos esforços de corte (menor risco de vibração); 

r grande: garante maior resistência, condições de corte mais severas, bom acabamento superficial. 

O tipo/geometria dos quebra‐cavacos é projetado para direcionar ou quebrar os cavacos no tor‐

neamento de materiais que geram cavacos longos. A designação descreve as seguintes áreas de aplica‐

ção: F = acabamento; M = semi‐acabamento; R = desbaste; 

Em geral, as pastilhas são divididas em classes: classes com cobertura  (CVD e PVD), classes sem 

cobertura e cermets. A designação das classes acompanha um ranking que envolve propriedades básicas 

de tenacidade e resistência ao desgaste. Todas as classes estão também classificadas de acordo com a 

norma ISO 513 (P, M, K, N, S, H, 01‐50). 

Exemplo de pastilha intercambiável de metal‐duro: 

S  N  M  G  12  04  08  P  M  4025                      

Legenda:   Formato  da  pastilha  (S  =  quadrada);  Ângulo  de  folga  da  pastilha  (N  =  0o);   Tolerância  do  círculo  inscrito 

(M  =   0,13);   Tipo  de  pastilha  (G  =  );   Comprimento  do  gume  (l  =  12 mm);   Espessura  da  pastilha 

(s = 4,76 mm);  Raio de quina (r = 0,8 mm);  Classe ISO (P = aços);  Quebra‐cavacos (M = semi‐acabamento); 

 Classe (metal‐duro com cobertura CVD P25: 3 camadas = interna Ti(C,N) + intermediária Al2O3 + externa TiN). 

A Figura 5.14 mostra a codificação ISO de ferramentas de torneamento. 

5.4.2 Geometria da ferramenta 

A Figura 5.15, mostra uma ferramenta de torneamento e define as superfícies, arestas de corte, 

chanfros e quinas. Então, diz‐se como sendo cunha de corte, o corpo limitado pela superfície indicada na 

figura. As intersecções das superfícies de saída e de folga formam as arestas. A aresta que se mostra no 

sentido da direção de avanço é denominada de aresta principal. Correspondentemente, a aresta que 

tem a cunha normal ao sentido de avanço é denominada de aresta secundária. A intersecção das duas 

arestas é denominada quina da ferramenta e, muitas vezes, apresenta a forma arredondada. 

A superfície de saída (ou face) da ferramenta é aquela sobre a qual escoa o cavaco. Designam‐se 

superfícies de folga (ou flancos) aquelas que se  justapõem às superfícies recém usinadas das peças; as 

superfícies de folga são designadas como principal e secundária. Se houverem chanfros nas arestas de 

corte, designam‐se estes de chanfros da aresta principal e da secundária. Pode‐se ainda ter chanfros nos 

flancos, denominando então chanfro do flanco principal e chanfro do flanco secundário. 

A Figura 5.16 mostra os ângulos de folga (), de cunha () e de saída () medidos no plano per‐

pendicular à aresta principal de corte passando no ponto de referência “D” (ponto médio desta). Como 

já mencionado, pode‐se observar que       90o. 

A Figura 5.17 mostra a influência do ângulo de saída na deformação do cavaco visando aumentar 

sua capacidade de quebra. O  trabalho de dobramento do cavaco diminui com o aumento de  e, por conseguinte,  a  temperatura  gerada diminui. Mas  em materiais  de difícil usinagem, o  aquecimento  é 

mais próximo à quina, onde a dissipação de calor é mínima; neste caso, deve‐se diminuir  (consequen‐

temente, aumentar ). 

Page 19: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

107PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Figura 5.14 – Codificação ISO de ferramentas de torneamento para suportes e insertos (pastilhas) intercambiáveis 

Page 20: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

108  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Figura 5.15 – Superfícies, arestas cortantes, quina e chanfros na ferramenta de torneamento 

 

(a)  (b)

Figura 5.16 – (a) ângulos ,  e  medidos no plano de medida; (b) faceamento de material dúctil com + 

Ainda com relação à Figura 5.17, quanto menor , maiores os esforços de corte, maior a tempera‐

tura gerada e menor a vida da ferramenta. Assim, a resistência e a dureza do material a usinar são pon‐

tos primordiais na escolha de . 

O ângulo de  inclinação () protege a quina da ferramenta em cortes interrompidos. O ângulo de 

inclinação pode variar de 10 a 10o. Em geral,   5o (Fig.5.18). 

O ângulo de posição (r) – também chamado de ângulo de direção, ângulo de ataque ou ângulo 

de rendimento – controla o choque de entrada da ferramenta, a espessura (h) e a largura (b) do cavaco 

em função do avanço (f) e da profundidade de corte (ap), Figura 5.19. Influencia nos esforços atuantes 

na ponta da ferramenta. Modifica a grandeza do ângulo de quina  (r) – responsável em garantir resis‐

tência mecânica na ponta da ferramenta. 

O arredondamento da quina com um raio de curvatura r promove uma redução da espessura do 

cavaco (h) na quina. Se r é muito pequeno, apenas a parte final de h é reduzida. Se r é muito grande, 

há uma  redução  gradual de h, diminuindo Ks na quina e  reduzindo  a quantidade de  calor  gerada na 

mesma; por outro lado, induz vibrações. 

Page 21: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

109PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Figura 5.17 – Ferramenta de desbaste com ângulos medidos no plano de medida 

 

(a)  (b) 

Figura 5.18 – (a) ângulo  medido no plano de corte; (b) protegendo a quina da ferramenta 

Figura 5.19 – Ferramenta de desbaste com ângulos medidos no plano de referência 

5.4.3 Vida da ferramenta 

A vida de uma ferramenta pode ser definida como sendo o tempo em que a mesma trabalha efe‐

tivamente, sem perder a capacidade de corte, dentro de um critério previamente estabelecido. Em ou‐

tras palavras, a ferramenta trabalhando em condições normais de corte é usada até que o seu desgaste, 

Page 22: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

110  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

previamente fixado, seja tal que exija a sua substituição. Assim, a ferramenta deve ser substituída quan‐

do se observar: 

Valores elevados de desgastes podendo levar à quebra da ferramenta. 

Temperaturas excessivas atingidas pela ferramenta. 

As tolerâncias dimensionais fogem do controle. 

Acabamento superficial deixa de ser satisfatório. 

As componentes da força de usinagem aumentam excessivamente. 

Quando a abrasão é a principal causa do desgaste de flanco, os padrões de desgaste são relativa‐

mente uniformes e fáceis de mensurar. Por exemplo, o tempo necessário para que o valor médio e/ou 

máximo da marca de desgaste de flanco atinja VBB = 0,3 mm e/ou VBmáx = 0,6 mm respectivamente (va‐

lores indicados pela norma ISO 3685) é um padrão usual de fim de vida, embora esta abordagem esteja 

mais ligada às falhas na ferramenta que propriamente aos problemas de acabamento e/ou tolerância da 

peça. Industrialmente, tais parâmetros podem assumir valores diferentes, pois dependem das condições 

de trabalho de cada empresa. A prática utilizada é trabalhar com a ferramenta até que as peças produ‐

zidas saiam das especificações de tolerância dimensional e acabamento superficial ditadas pelo projeto. 

Contudo, quando lascamentos gerados por adesão ou sobresolicitações mecânicas e/ou térmicas 

são a causa do desgaste de flanco, o padrão é geralmente irregular, resultante principalmente da usina‐

gem de materiais de difícil corte. Neste caso, VBB não mais determina a vida. Recomenda‐se que seja 

considerada a  largura máxima da marca de desgaste de flanco (VBmáx). A zona onde VBmáx ocorre pode 

fornecer  informações úteis  sobre o mecanismo de desgaste e como ele pode  ser  reduzido. Em geral, 

para caracterizar fim de vida, VBmáx  0,6 mm. 

DINIZ et alli mostram que em torneamento de acabamento, VB  0,2 mm para uma qualidade IT7 

e VB  0,3 mm para uma qualidade IT8. FERRARESI sugere o controle através: do tempo de corte, do vo‐

lume de material removido ou o número de peças usinadas. Entretanto, a continuação do uso da aresta 

de corte depois de superados os critérios preestabelecidos traz sérios riscos, pois valores excessivos de 

desgastes causam aumento da força de usinagem e geração de calor, podendo provocar fratura na fer‐

ramenta e danos irreversíveis à peça. 

O desgaste de cratera se manifesta sob a forma de cavidade na face da ferramenta. O desenvol‐

vimento deste tipo de desgaste está diretamente ligado à temperatura e à pressão de corte. Ao contrá‐

rio do desgaste no flanco, este não influencia na rugosidade ou na tolerância, mas sim na alteração do 

ângulo de saída () e no comprimento de contato cavaco/ferramenta. Em condições térmicas inadequa‐

das e para alguns tipos de materiais da peça pode resultar em fraturas na ferramenta devido à fragilida‐

de da aresta cortante. A profundidade de cratera  (KT) entre 0,05 e 0,1 mm é geralmente usada como 

critério de fim de vida. Talvez o principal inconveniente de KT esteja na dificuldade de sua quantificação. 

Os principais problemas relacionados à fixação de um determinado valor‐limite de desgaste para 

o fim de vida da ferramenta estão associados com o tipo de operação: 

Em operações de desbaste (onde se toleram altos valores de desgaste), por temer que a ferramenta 

quebre, costuma‐se trocar a ferramenta bem antes, com valores de desgaste bastante  inferiores à‐

queles que poderiam provocar tal avaria. 

Page 23: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

111PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Em operações de acabamento é relativamente simples detectar quando as dimensões da peça saem 

das  faixas de  tolerâncias  projetadas  (desgastes na  ferramenta).  Em  geral, utiliza‐se um  calibrador 

passa/não‐passa ou algum outro instrumento e procede‐se a medição por amostragem. Neste caso, 

não é necessário trocar a ferramenta imediatamente, pois ainda é possível corrigir a posição da fer‐

ramenta e continuar a usinagem com a mesma aresta de corte (compensação de desgastes em má‐

quinas‐ferramentas com comando numérico). 

Da mesma forma que diversos fatores influenciam os mecanismos de desgaste, vale salientar que 

diferentes variáveis influenciam direta ou indiretamente no tempo de vida de uma ferramenta: 

Peça: natureza do material; composição química; processo de fabricação; tratamento térmico; pro‐

priedades físicas, químicas, mecânicas; microestrutura; dimensões e forma. 

Ferramenta:  tipo de material; geometria; composição; propriedades químicas,  físicas e mecânicas; 

largura da marca de desgaste de flanco (critério de fim de vida). 

Máquina: tipo de máquina; rigidez; velocidade de corte (parâmetro mais significativo), avanço e pro‐

fundidade de corte; área de seção de corte; forma da seção de corte; meio  lubrirrefrigerante (tipo, 

propriedades lubrificantes, forma de aplicação etc.). 

5.4.3.1 Relação da vida da ferramenta com as variáveis dependentes do processo 

F. W. TAYLOR demonstrou em 1907 que a  relação entre a vida da  ferramenta e a velocidade de 

corte pode ser expressa aproximadamente pela equação empírica: 

  yc tv T C   (5.6)

Em que: 

vc  velocidade de corte [m/min] 

T   tempo de vida da ferramenta [min] 

Ct  constante cujo valor depende principalmente do material da peça, do material da ferramenta, das 

dimensões do corte e do meio lubrirrefrigerante. Seu valor é numericamente igual à velocidade de 

corte que dá à ferramenta de corte a vida de 1 minuto. 

y   expoente cujo valor depende até certo ponto das outras variáveis – máquina, ferramenta e peça. O 

expoente y varia usualmente entre 1/3 e 1/10, podendo tomar como valores médios os  indicados 

na Tabela 5.2. O valor do mesmo mostra quão sensível é a ferramenta à mudança de vc. 

A Equação (5.6) pode ser reescrita sob a forma da Equação (5.7)1: 

 

x

xttx

c c

C KT            K C

v v

  (5.7)

isto é, a vida varia inversamente com a potência “x” da velocidade. 

                                                            1 A Equação (5.7) define uma reta em um gráfico bi‐logaritmo da função T = f(vc), ou seja: log T  log K  xlog vc. 

Page 24: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

112  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Na usinagem de aço, por exemplo, com ferramenta de metal‐duro (x  5), ao se dobrar vc, o tempo T é 

reduzido para cerca de 3%. O aço‐rápido (x  7) é ainda mais sensível à mudança da velocidade de corte 

(T é reduzido para cerca de 0,8%). 

Tabela 5.2 – Valores dos expoentes x e y 

Ferramenta  Peça  x  y 

Aço‐rápido (AR) 

Aço  6 a 8  0,125 a 0,167 

Fofo  4 a 7  0,143 a 0,25 

Latão  4  0,25 

Cobre  7,7  0,13 

Alumínio  2,44  0,41 

Metal‐duro (MD) 

Aço  5  0,2 

Fofo  4  0,25 

Alumínio  2,44  0,41 

Cerâmica  Aço  2  0,5 

 

A vida da  ferramenta, para uma dada velocidade de corte, é evidentemente  influenciada pelas 

dimensões do corte. Em 1954, M. KRONENBERG procurou agrupar as equações das velocidades de corte 

de diferentes pesquisadores que levavam em consideração a forma e a seção de corte. Desta maneira, 

podem ser introduzidas duas relações: 

área da seção transversal de corte  pA a f  e 

índice de esbeltez do cavaco pa

Gf

Portanto, a equação de Taylor pode ser novamente reescrita: 

 

xx gyvt

ic c

60 C 0,2 GCT

v v A

  (5.8) 

Em que 

xg

x yt v i

0,2 GK   C     60 C

A

 e: 

Cv  velocidade de corte obtida experimentalmente que dá à ferramenta de corte uma vida padrão de 

60 minutos na usinagem de uma seção A  1 mm2, com G  5. Valores típicos de Cv na Tabela 5.3. 

i   expoente da área de seção de corte, Tabela 5.4. 

g   expoente do índice de esbeltez do cavaco, Tabela 5.4. 

OBSERVAÇÃO: A área A tem um efeito superior que a forma, caracterizada pelo índice G, pois i  g. 

5.4.3.2 Exemplo 5.2 

Considerando o enunciado do Exemplo 5.1, determine o número de peças fabricadas por tempo 

de vida da aresta de corte. 

 

Page 25: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

113PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Tabela 5.3 – Valores típicos de Cv para as ferramentas de aço‐rápido e metal‐duro 

Dureza Brinell 

Tensão de Ruptura 

Cv na usinagem de aço c/ ferramenta de: 

Cv na usinagem de fofo c/ ferramenta de: 

HB  r [N/mm2]  AR  MD  AR  MD 

100  350  85  361  50  240 

125  440  64  283  40  200 

150  530  51  224  35  160 

175  610  42  183  30  130 

200  700  34  150  25  100 

225  790  30  133  20  80 

250  870  26  113  ‐‐‐  60 

275  960  23  101  ‐‐‐  45 

300  1050  20  89  ‐‐‐  45 

325  1170  ‐‐‐  84  ‐‐‐  ‐‐‐ 

350  1220  ‐‐‐  76  ‐‐‐  ‐‐‐ 

375  1230  ‐‐‐  68  ‐‐‐  ‐‐‐ 

400  1400  ‐‐‐  63  ‐‐‐  ‐‐‐ 

 

Tabela 5.4 – Valores dos expoentes i, g e y para as ferramentas de aço‐rápido e metal‐duro 

Ferramenta  Material  Cv [m/min]  i  g  y  1/x 

Aço‐rápido (AR) 

Aço Tabela 5.3 

0,28  0,14  0,125 a 0,167 

Fofo  0,20  0,10  0,143 a 0,25 

Latão  100  0,31  0  0,25 

Cobre  45  0,23  0  0,13 

Alumínio  77  0,29  0  0,41 

Metal‐duro(MD) 

Aço Tabela 5.3 

0,28  0,14  0,20 

Fofo  0,20  0,10  0,25 

Latão  1000  0,10  0  ‐‐‐ 

Cobre  850  0,10  0  ‐‐‐ 

Alumínio  1650  0,10  0  0,41 

 

Resolução do Exemplo 5.2: 

Considerando a  rotação constante em n  1115  rpm,  tem‐se o aumento do  tempo de vida  (T) 

com a diminuição do diâmetro da peça (d), pois a velocidade de corte diminui. 

Consultando as Tabelas 5.3 e 5.4, obtém‐se pela Equação 5.8: 

x 5 5y g 0,2 0,14v

i ii 0,28 5ii i

1000 60 C (0,2 G) 1000 60 215 (0,2 5) 1 174,078T            T

dA d n 0,45 1115 d

 

Portanto: T1 = 18 min 37 s; T2 = 21 min 47 s; T3 = 25 min 37 s; T4 = 30 min 18 s; T5 = 36 min 02 s. 

Com isso, o tempo médio de vida da aresta de corte é de 26 min 28 s. Visto que o tempo de corte 

de uma peça é 6 min 44 s, o número de peças usinadas por aresta é aproximadamente igual a 4. 

Considerando a velocidade de corte constante para d0  100 mm, tem‐se: 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

114  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

5 5

0 00

174,078 174,078T            T 16 min

d 100

 

Sabendo que o tempo de corte de uma peça é 6 min 07 s, o número de peças usinadas por aresta 

fica entre 2 e 3 peças (2 peças  três primeiros passes da peça 3  16 min). 

5.5 Operações de Torneamento 

O torneamento é um processo de usinagem muito utilizado pela indústria mecânica por causa do 

grande número de formas geométricas que pode gerar em suas diferentes operações, além de sua alta 

taxa de remoção de material. São operações de corte externo  (Fig. 5.20) e  interno  (Fig. 5.21): tornea‐

mento  radial  de  superfície  (faceamento);  torneamento  cilíndrico;  torneamento  cônico;  torneamento 

radial de entalhe circular (sangramento); roscamento etc. 

Quanto  à  forma  da  trajetoria  da  ferramenta  de  corte  em  torneamento,  a  operação  pode  ser 

retilínea ou curvilínea. 

  

(a)  (b)  

   

(c)  (d)  (e) 

Figura 5.20 –Torneamento externo: (a) faceamento; (b) cilíndrico; (c) cônico; (d) sangramento; (e) roscamento 

O  torneamento  retilíneo  radial  consiste da operação de  corte na qual a  ferramenta  se desloca 

segundo  uma  trajetória  retilínea,  perpendicular  ao  eixo  principal  de  rotação  da máquina. Quando  o 

torneamento  radial  visa  a obtenção de uma  superfície plana,  a operação  é  chamada de  faceamento 

(externo, Fig. 20a ou  interno, Fig.21a). Quando o  torneamento  radial visa a obtenção de um entalhe 

circular, a operação é denominada sangramento radial (externo, Fig. 20d ou interno, Fig.21d). 

O torneamento retilíneo cilíndrico consiste da operação de corte na qual a ferramenta se desloca 

segundo uma trajetória paralela ao eixo principal de rotação da máquina. A operação pode ser externa 

(Fig. 5.20b) ou  interna  (Fig. 5.21b). Quando o  torneamento  retilíneo  cilíndrico visa obter na peça um 

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Prof. Dr. André João de Souza    

115PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

entalhe  circular  na  face  perpendicular  ao  eixo  principal  de  rotação  da máquina,  a  operação  é  dita 

sangramento axial. 

 

(a)  (b)  

 

(c)  (d)  (e) 

Figura 5.21 – Torneamento interno: (a) faceamento; (b) cilíndrico; (c) cônico; (d) sangramento; (e) roscamento 

O  torneamento  retilíneo cônico consiste da operação de corte na qual a  ferramenta se desloca 

segundo uma trajetória retilínea, inclinada em relação ao eixo principal de rotação da máquina. Pode ser 

externa (Fig. 5.20c) ou interna (Fig. 5.21c). 

O roscamento é um processo mecânico de usinagem destinado à obtenção de filetes, por meio da 

abertura de um ou vários sulcos helicoidais de passo uniforme, em superfícies cilíndricas ou cónicas de 

revolução. Para  tanto, a peça ou a  ferramenta gira e uma delas se desloca simultaneamente segundo 

uma trajetória retilínea paralela ou  inclinada ao eixo de rotação. O roscamento pode ser externo  (Fig. 

5.20e) ou interno (Fig. 5.21e). 

5.6 Esforços de Corte em Torneamento 

Tanto na prática como na pesquisa é de grande importância o conhecimento dos esforços de cor‐

te na usinagem. Os esforços encontram aplicação no cálculo da estrutura e dos mecanismos de aciona‐

mento das máquinas operatrizes; estes permitem o  cálculo da potência de usinagem e  consequente‐

mente a determinação do rendimento da máquina para diferentes cargas e velocidades de trabalho. 

Para as aplicações acima, geralmente é suficiente a determinação dos valores médios das compo‐

nentes ortogonais da força de usinagem. Porém, para o mecanismo da formação do cavaco, para estu‐

dos da estabilidade dinâmica da máquina operatriz, é necessária a medida da variação da força. No pri‐

meiro caso diz‐se que se trata de uma medida estática, enquanto no segundo tem‐se a medida dinâmica 

da força. As medidas estáticas e dinâmicas da força podem ser obtidas através de sistemas de aquisição 

de dados associados a dinamômetros, em geral, transdutores piezelétricos. 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

116  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

5.6.1 Força de usinagem 

A força de usinagem em torneamento  ilustrada pela Figura 4.5a (norma ABNT NBR 12545) pode 

ser representada através das componentes ortogonais da força de usinagem. Foi mencionado na Seção 

4.2 que a parcela “Fz” projetada sobre a direção de corte é a força de corte (Fc); a parcela normal à dire‐

ção de corte “Fx” projetada sobre a direção de avanço é a força de avanço (Ff); a parcela radial “Fy” pro‐

jetada perpendicularmente ao plano de trabalho é a força passiva ou de profundidade (Fp). 

A Figura 5.22 mostra as componentes ortogonais (Fx, Fy, Fz) no torneamento longitudinal externo. 

O gráfico corresponde  respectivamente aos valores das  forças Ff  (verde) Fp  (vermelho) e Fc  (azul). No 

torneamento de aços em geral com ferramentas de metal‐duro, considera‐se a seguinte proporção mé‐

dia entre as componentes da força de usinagem: 

  p cfF FF

2 5 9   (5.9)

o que pode ser visto qualitativamente no gráfico (Ff : Fp : Fc  5 : 6 : 14 com r  75o). 

Figura 5.22 – (a) componentes ortogonais da força de usinagem; (b) forças após 30 segundos de usinagem com ferramenta nova de metal‐duro (vc = 350 m/min, f = 0,3 mm/volta, ap = 1,5 mm;) 

A intensidade da força de usinagem pode ser determinada pela Equação 5.10. 

  2 2 2f p cF F F F   (5.10) 

O conhecimento do comportamento e da ordem de grandeza dos esforços de corte nos processos 

de usinagem é de fundamental importância, pois eles afetam: a potência necessária ao corte (utilizada 

para o dimensionamento do motor do  torno); a  capacidade de obtenção de  tolerâncias apertadas; a 

temperatura de corte; e o desgaste da ferramenta. 

Existem duas abordagens no estudo dos esforços de corte: abordagem teórica, baseando‐se na 

fenomenologia de formação do cavaco (computa os diversos esforços que ocorrem em torno do plano 

de cisalhamento do cavaco e da superfície de saída da ferramenta no corte ortogonal); abordagem em­

pírica, em que os esforços são equacionados usando coeficientes extraídos de  resultados experimen‐

tais. Aqui se dará ênfase à segunda abordagem. 

Page 29: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

117PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

5.6.1.1 Determinação empírica da força de corte 

A força de corte pode ser expressa pela Equação 5.11: 

  c s sF K A K b h   (5.11)

onde Ks é a pressão específica de corte e A é a área da seção transversal de corte, onde: A  bh  apf. 

Existem diversas teorias baseadas em resultados experimentais para o cálculo da pressão especí‐

fica de  corte, dentre  eles:  F. W.  TAYLOR, ASME  – American  Society of Mechanical Engineers, AWF  – 

Ausschuss für Wirtschaftliche Fertigung, HUCKS e KRONENBERG. 

Em 1951, buscando uma formulação simples e precisa, KIENZLE apresentou a Equação 5.12 que uti‐

liza a espessura de corte. Através de testes práticos, obteve‐se a representação gráfica da pressão espe‐

cífica de corte Ks para um determinado par peça‐ferramenta, como na Figura 5.23. Sabendo que uma 

diminuição ou aumento no ângulo de saída () propicia respectivamente um aumento ou diminuição da 

força de corte, faz‐se uma correção de 1,5% para cada grau de variação do ângulo  em relação aos valo‐

res utilizados por KIENZLE em suas experimentações (  6o para aço e   2o para ferro fundido). 

  zs s1K K h   (5.12) 

onde Ks1 e z são constantes do material. 

Figura 5.23 – Variação da pressão específica de corte com a espessura de corte: (a) representação aritmética; (b) 

representação log  log 

Substituindo a Equação 5.9 em 5.8, tem‐se a força de corte Fc [N] segundo KIENZLE: 

Aço: o 1 z

c s1F 1 (0,015 ( 6 )) K b h   (5.13) 

Ferro‐fundido: o 1 z

c s1F 1 (0,015 ( 2 )) K b h   (5.14) 

A Tabela 5.5 apresenta os valores de 1z e Ks1 dos materiais ensaiados por KIENZLE. 

5.6.1.2 Exemplo 5.3 

Considerando o enunciado do Exemplo 5.1, determine a estimativa da força de corte segundo a 

equação empírica de KIENZLE. 

 

Ks1

z

Ks

Ks

Page 30: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

118  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Tabela 5.5. Valores dos parâmetros 1z e Ks1 para diferentes materiais 

Material  t [N/mm2]  1z  Ks1 

Aço DIN 16 Mn Cr 5  532  0,84  2000 

15 Cr Mo 5  590  0,83  2290 

18 Cr Ni 6  630  0,70  2260 

34 Cr Mo 4  800  0,79  2240 

42 Cr Mo 4  1070  0,84  2320 

50 Cr V 4  600  0,74  2220 

105 W Cr 6  744  0,71  2000 

 

Material  t [N/mm2]  1z  Ks1 

Aço ABNT 1020  500  0,83  1800 

1030/1035  520  0,74  1990 

1040  620  0,83  2110 

1045  670  0,86  2220 

1050  720  0,70  2260 

1060  770  0,82  2130 

4137  600  0,79  2240 

4140  730  0,74  2500 

4320  630  0,70  2260 

6150  600  0,74  2220 

8620  770  0,74  2100 

9260  960  0,73  1270 

52100  640  0,71  1600 

 

Material  t [N/mm2]  1z  Ks1 

Ferro Fundido  HRc 46  0,81  2060 

FoFo GGL 14  124  0,79  950 

FoFo GGL 18  124  0,87  750 

FoFo GG 26  HB 200  0,74  1160 

 

Resolução do Exemplo 5.3: 

Conforme a Equação 5.13, a força de corte é dada por:  o 1 zc s1F 1 0,015 6 k h b  

Então: po

r or

a 1,5h f sen 0,3 sen75 0,290     e     b 1,553

sen sen75

 

Da Tabela 5.5, chega‐se a:  o o 0,83c cF 1 0,015 6 6 2110 0,29 1,553           F 1383 N  

 

5.6.2 Vibração 

A vibração da  força de usinagem em altas  frequências é proveniente do próprio mecanismo de 

formação do cavaco, enquanto que a variação da força em baixas frequências é devida aos diferentes 

Page 31: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

119PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

processos de corte (corte  interrompido na operação de fresamento, brochamento etc.) e às  irregulari‐

dades do sistema de acionamento  (peças rotativas desbalanceadas, defeitos de engrenagens, correias 

etc.). Neste caso deve ser considerado o fenômeno da ressonância entre uma das fontes perturbadoras 

com um dos modos naturais de vibração da máquina. O próprio fenômeno de corte, em determinadas 

condições, pode provocar vibrações auto‐excitadas, fazendo a máquina vibrar com frequência próxima 

de uma de suas frequências naturais. 

Durante a usinagem, a deformação plástica e o atrito entre o cavaco, a ferramenta de corte e a 

peça produzem vibrações. As oscilações da força de corte também produzem vibrações. Com o decorrer 

do  tempo e com o conseqüente desgaste da  ferramenta, o sinal de vibração apresenta alterações de 

freqüência e  intensidade. Assim, a vibração  indica um  fenômeno que varia com o  tempo. Além disso, 

quando a ondulação alcança a superfície do material, gera deslocamentos chamados Ondas de Rayleigh. 

Para evitar vibrações auto‐excitadas no torneamento cilíndrico externo (Fig. 5.24): L/D  1,5  fi‐

xação em balanço; L/D  1,5  fixação com contraponto. 

Figura 5.24 – Relação comprimento (L) versus diâmetro (D) no torneamento cilíndrico externo 

Além da dificuldade de refrigeração na região de corte e da dificuldade na expulsão/saída de ca‐

vacos, o torneamento cilíndrico  interno (Fig. 5.21b) apresenta grande tendência a vibrações por causa 

do comprimento da barra da ferramenta. Nestas operações em casos que apresentam uma relação pro‐

fundidade/diâmetro elevada, tem‐se na prática um trabalho especialmente crítico. Neste caso, devem 

ser empregados  suportes esbeltos  (barras) de  ferramentas,  cujos diâmetros naturalmente devem  ser 

menores que o diâmetro do furo (Fig. 5.25). 

Figura 5.25 – Ação da ferramenta na peça no torneamento cilíndrico interno 

Estas condições geométricas acarretam em pequena rigidez para o sistema, de tal forma que a e‐

lasticidade e a deformação na usinagem passam a ser definidas primordialmente pelo suporte da ferra‐

Page 32: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

120  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

menta. Ademais,  como  este  sistema  em  geral  apresenta  baixo  amortecimento,  a  resposta  vibratória 

pode assumir valores elevados em caso de instabilidade. 

5.6.3 Potência de usinagem 

A potência de usinagem resulta da soma das potências necessárias para cada componente da for‐

ça de usinagem, bem como do produto da velocidade pela força e pelo cosseno do ângulo entre ambas. 

Assim, somente os componentes de corte e avanço contribuem para a potência de usinagem. 

Uma máquina‐ferramenta gera potência para girar seu eixo‐árvore e executar os movimentos de 

corte e avanço. Assim, podem‐se estabelecer relações para as potências de corte e de avanço: 

Potência de Corte [kW]:  c cc 3

F vP

60 10

  (5.15) 

Potência de Avanço [kW]:  f ff 6

F vP

60 10

  (5.16) 

onde: 

Velocidade de Corte [m/min]:  c

d nv

1000

  (5.17)

Velocidade de Avanço [mm/min]:  fv f n   (5.18)

em que n  rotação da peça [rpm] e d  diâmetro da peça [mm]. 

Portanto, a relação entre as potências de corte e de avanço fica: 

c c c c

f f f f

P 1000 F v F d 9 d

P F v F f 2 f

 

Considerando uma situação hipotética extrema em que d  10 mm e f  1 mm/volta (d é muito 

pequeno e f é muito grande), de modo a tornar a relação Pc/Pf a menor possível, tem‐se: 

c

f

P4,5 10 141,4

P  

Ou seja, a potência de avanço é no mínimo 140 vezes menor que a potência requerida ao corte 

para uma operação de usinagem. Isto permite desprezar Pf no cálculo da potência do motor (Pm). Assim: 

 c

m

PP

  (5.19)

onde  é o rendimento da máquina operatriz. 

Em máquinas convencionais, que possuem engrenagens ou correias para transmissão do movimento: 

65%    85%. 

Em máquinas modernas, onde o motor tem variação contínua de rotação e a transmissão é realizada 

sem elementos de transmissão (motor acoplado): 85%    95%. 

Page 33: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

121PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

5.6.3.1 Exemplo 5.4 

Considerando o enunciado do Exemplo 5.1 e o  resultado do  Exemplo 5.3, determine o  rendi‐

mento da máquina‐ferramenta durante a operação de corte. 

Resolução do Exemplo 5.4: 

O maior rendimento acontecerá no maior diâmetro (d0  100 mm), pois é nesta situação que a 

velocidade de corte é máxima para uma rotação n  1115 rpm. Das Equações 5.15 e 5.19: 

c cc m

m

F d n F d n 1383 100 1115P P                         54,9%

60 1000 60 1000 P 60 1000 20 735,55

 

Isto mostra que a máquina está subutilizada para as operações de corte em questão, visto que o 

rendimento de uma máquina CNC  fica em  torno dos 95%. Uma máquina de 12 cv atenderia a 

esta necessidade (trabalharia a 91,5% da sua capacidade). 

 

5.7 Qualidade das Peças Torneadas 

A qualidade de um produto é sempre de grande importância na fabricação. Deve‐se dar a máxima 

prioridade a ela durante o planejamento do processo de usinagem. A qualidade de uma peça usinada 

(torneada,  fresada,  furada,  retificada etc.) pode ser expressa sob a  forma de parâmetros geométricos 

(dimensão,  forma, acabamento etc.), parâmetros  físicos  (condutividades elétrica,  térmica e magnética 

etc.), parâmetros químicos  (resistência à corrosão etc.) e parâmetros mecânicos  (dureza, resistência à 

fadiga etc.). Estes parâmetros da peça são determinados pelo projetista, de acordo com as condições 

nas quais o produto irá funcionar. O grau de coincidência dos parâmetros reais obtidos depois que uma 

peça é fabricada, com os parâmetros definidos no projeto da peça, representa a qualidade da peça. 

Para uma maior conveniência de análise, o grau de coincidência entre os parâmetros macrogeo‐

métricos (forma, dimensão, posição) de uma peça obtidos depois da usinagem, e aqueles especificados 

no projeto da peça, é definido aqui como precisão de usinagem. O grau de coincidência entre os parâ‐

metros microgeométricos  reais  (rugosidade)  e  os  parâmetros  das  propriedades  físico‐mecânicas  das 

superfícies das peças, obtidos depois da usinagem de uma peça, com aqueles especificados no projeto 

da peça é definido aqui como qualidade da superfície. 

A precisão de usinagem é expressa quantitativamente pela magnitude dos erros de usinagem. Um 

erro de usinagem é definido como a diferença entre os parâmetros de uma peça usinada e aqueles de 

uma peça perfeita (absolutamente precisa) especificada no desenho. O erro de usinagem varia de peça 

para peça, mesmo num mesmo lote. Apesar de que erros de usinagem sempre ocorrem nos processos 

de fabricação, uma peça pode ser considerada aceitável, desde que a magnitude do erro de usinagem 

não exceda os limites de tolerância. A tolerância representa o erro de usinagem máximo permissível. A 

precisão de fabricação exigida de uma peça é especificada pelo projetista, enquanto que as exigências 

para se atingir aquela precisão, são especificadas pelo processista. 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

122  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Os fatores que podem causar erros na usinagem são divididos em três grupos básicos: (a) prepa‐

ração  inadequada da máquina;  (b)  fixação  imprecisa da peça;  (c) movimento relativo real  (imperfeito) 

entre ferramenta e peça no processo de usinagem. 

5.7.1 Precisão dimensional e tolerâncias 

A Figura 5.26 mostra os erros dimensionais e geométricos comuns em torneamento. 

   

(a) Erro de forma  (b) Erro de dimensão  (c) Erro de posição  (d) Rugosidade 

Figura 5.26 – Exemplos de erros geométricos 

Erros de  forma. A  forma  cônica da peça  gerada no  torneamento  longitudinal externo  (Fig. 5.26a) 

ocorre por má  fixação da peça na máquina‐ferramenta em  relação ao eixo de  trabalho, gerando o 

desvio. O abarrilamento na peça surge quando ela sofre flexão por efeito da componente passiva da 

força de usinagem (direção radial), principalmente quando se tem L/D grande. No torneamento lon‐

gitudinal  interno, o problema de  circularidade é  causado quando o  tubo  fixado externamente por 

uma placa de três castanhas, por exemplo, produzirá após a soltura da peça da placa uma forma dife‐

rente da redonda inicial em decorrência da deformação elástica. 

Erro de dimensão. A geração de diâmetro da peça  fora das  tolerâncias  (Fig. 5.26b) é causada por 

deformações do torno pelo aumento da força de usinagem e pelo desgaste da ferramenta de corte. 

Erros de posição. O desvio dos eixos de dois cilindros que teoricamente deveriam ser concêntricos é 

decorrente da fixação imprecisa da peça nas castanhas (Fig. 5.26c). 

Rugosidade.  Causada  por  vibrações  que  são  geradas  pela  rigidez  insuficiente  da  máquina‐

ferramenta, materiais de peça e geometrias de  ferramenta utilizadas, ou mesmo pelo desgaste da 

ferramenta. A presença de APC, ocorrendo em baixas velocidades de corte, deteriora a qualidade da 

superfície usinada. A formação inadequada de cavacos afeta a rugosidade do componente. A oxida‐

ção da superfície da peça pode fazer com que a rugosidade fique fora dos valores especificados. A Fi‐

gura 5.26d esquematiza a rugosidade afetada pelos problemas citados. 

Dentre os vários parâmetros da precisão de usinagem, a precisão da forma da superfície da peça 

depende da  ferramenta e  também dos movimentos  relativos entre a  ferramenta e a peça. Os  fatores 

que afetam a precisão de processos de usinagem são: 

Imprecisão teórica: simplificação de trajetórias da ferramenta na usinagem. 

Imprecisão geométrica de máquinas e ferramentas: fabricação imprópria e/ou desgaste. 

Falta de  rigidez no  sistema MFP  (máquina/ferramenta/peça):  variação da  intensidade da  força de 

usinagem (alterações em ap e na dureza da peça); variação da posição de atuação da força de usina‐

Page 35: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

123PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

gem (mudança na rigidez do sistema MFP); variação da força de fixação (ferramenta e/ou peça); va‐

riação de outras forças externas (gravitacionais, inerciais etc.). 

Deformação  térmica  do  sistema MFP:  aquecimento  dos  elementos  (máquina,  ferramenta  e  peça) 

devido ao calor originado de várias fontes – processo de corte, atrito entre os componentes da má‐

quina e unidade de potência. 

Deformação da peça devido a tensões  internas: são produzidas tanto em processos a quente (p.ex. 

peças previamente fundidas, forjadas, soldadas) quanto a frio (p.ex. peças previamente estampadas 

ou usinadas). Em processos a quente, as tensões internas ocorrem devido a diferentes taxas de res‐

friamento em vários pontos, e a transformação na estrutura metalográfica do material. Em processos 

a frio, as tensões são causadas principalmente pela deformação plástica da peça a baixa temperatu‐

ra, e também devido ao calor da usinagem. 

Erros de medição: não alteram a  forma ou o  tamanho da peça. Porém, os efeitos  são os mesmos 

comparados com os erros de usinagem. As razões principais são: imprecisão dos instrumentos, medi‐

ções executadas de forma inadequada, influência da temperatura ambiente. 

As tolerâncias de um produto devem ser alcançadas no processo de fabricação.  Isto é garantido 

pela tecnologia de medição. 

5.7.2 Acabamento de superfícies 

A qualidade superficial é outro aspecto que  indica a precisão de usinagem. Ela se refere ao aca‐

bamento da superfície (textura) e ao estado físico‐mecânico da camada superficial (integridade) e afeta 

o funcionamento apropriado e a vida em serviço das peças. 

5.7.2.1 Textura 

A precisão de usinagem é expressa quantitativamente pelo erro de usinagem. O acabamento usi‐

nado é expresso quantitativamente pela rugosidade. A rugosidade de uma superfície é gerada por: fato‐

res  geométricos  (geometria da  ferramenta e  avanço); deformação plástica do material na  superfície; 

vibração do sistema MFP durante a usinagem. 

A rugosidade de uma peça usinada depende de diversos fatores tecnológicos, tais como: material 

da peça, material da ferramenta, geometria da ferramenta, condições de corte, rigidez do sistema MFP, 

etc. A rugosidade é um tipo de desvio microgeométrico ou micro‐irregularidades da superfície usinada. 

Ela aparece em todas as superfícies – independente de quão lisas as superfícies pareçam ser. 

A rugosidade influencia significativamente o desempenho das peças em trabalho. Para garantir no 

produto: qualidade, estender sua vida em serviço e reduzir seus custos de produção, a rugosidade deve 

ser precisamente especificada no projeto e cuidadosamente controlada na fabricação. 

Genericamente pode‐se dizer que uma operação de torneamento consegue obter qualidades na 

faixa de  IT6 a  IT11 e acabamentos superficiais com rugosidade média (Ra) de 0,8 a 6,3 m, sendo que 

tolerâncias e acabamentos mais apertados são conseguidos em operações de acabamento. A obtenção 

ou não de tolerâncias apertadas depende de muitos fatores, dentre os quais os principais são: 

material da peça; 

Page 36: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

124  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

condições de usinagem  (meio  lubrirrefrigerante e parâmetros de corte) e  rigidez do sistema MFFP 

(máquina, ferramenta, sistema de fixação e peça); 

geometria e estado da ferramenta. 

Muitas vezes, quando se deseja maior precisão na peça, a operação de  torneamento é seguida 

por uma operação de retificação cilíndrica. 

No processo de torneamento, se o avanço f [mm/volta] é menor que o raio de ponta r [mm] da 

ferramenta, o valor de Ra [m] é calculado aproximadamente pela Equação 5.20: 

 2 2

a

1000 f fR 32,075

r18 3 r

  (5.20)

5.7.2.2 Integridade 

Em processos de usinagem, a porção de material mais próxima da superfície externa deforma‐se 

plasticamente.  Isto ocorre devido à entrada da  ferramenta na peça, ao atrito entre o  flanco da  ferra‐

menta e a superfície, e também devido ao efeito do raio de quina da ferramenta. Portanto, a superfície 

externa da peça tem um comportamento diferente do material interno. 

O diagnóstico do estado físico‐mecânico da camada superficial encontra‐se em estágio de investi‐

gação experimental. Padrões completos de avaliação ainda não estão consolidados. Entretanto, sabe‐se 

que as variações das propriedades do material na superfície são causadas por encruamento, mudanças 

metalográficas (calor gerado) e tensões residuais. 

O encruamento da superfície externa é causado pela deformação plástica do material, resultando 

no aumento de sua microdureza. 

Grande parte da energia consumida na usinagem é transformada em calor, que resulta no aumen‐

to da temperatura na região de corte. No processo de torneamento (assim como nos demais processos 

de usinagem com ferramentas de geometria definida), a maior parte do calor é retirada pelos cavacos, e 

a temperatura na superfície da peça não é muito alta. Entretanto, em operações onde se consome uma 

elevada quantidade de energia (como no processo de retificação) a temperatura na superfície da peça 

pode alcançar a temperatura crítica de transformação do material. Esta condição causa a mudança me‐

talográfica na superfície da peça. 

A tensão residual é gerada na camada superficial após a usinagem por diferentes causas: 

O material da peça expande quando aquecido pelo calor do processo e se contrai quando resfriado. 

O material  interno  resiste a esta expansão e a esta contração,  resultando em  tensões  residuais de 

tração na superfície da peça. 

O material externo  (na superfície) deforma plasticamente por extrusão e atrito com a  ferramenta, 

enquanto que o material interno (próximo à superfície) deforma elasticamente. Depois da usinagem, 

a recuperação da deformação elástica do material  interno é restringida pelo material da superfície 

que deformou plasticamente. Isto resulta em tensão residual, normalmente de compressão. 

A variação metalográfica da camada  superficial  resulta na  sua alteração volumétrica  (expansão ou 

contração) restringida pelo material interno, que resulta em tensão residual (compressiva ou trativa). 

Page 37: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

125PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

5.8 Condições Econômicas de Usinagem 

Na Seção 3.5 foi falado sobre os Parâmetros de Corte e afirmou‐se que quão pequena (opera‐

ções de desbaste) ou quão grande (em operações de acabamento) deve ser a velocidade de corte, de‐

pois de escolhidos o avanço e a profundidade de corte, depende das Considerações Econômicas do Pro‐

cesso de Usinagem. 

Se a velocidade de corte utilizada for  imediatamente superior à velocidade crítica (velocidade a‐

baixo da qual se tem a formação da aresta postiça de corte), os desgastes serão pequenos, com conse‐

quente longo tempo de vida e pequenos custos com ferramentas de corte. Porém, o tempo de corte por 

peça  será alto  (devido à baixa velocidade), acarretando baixa produção horária e aumento de  custos 

com utilização de máquina e operador. Há que se considerar aqui que, neste caso, a  ferramenta será 

substituída poucas vezes, o que diminui os tempos passivos devido à troca da ferramenta. 

Por outro lado, se a velocidade de corte utilizada for muito superior à velocidade crítica, os des‐

gastes serão grandes, com consequente curto tempo de vida e altos custos com ferramentas de corte. 

Porém, o tempo de corte por peça vai ser baixo, acarretando menor utilização da máquina e do opera‐

dor, com custos menores. Nesse caso pode acontecer também de a vida ser tão baixa e o número de 

vezes que se  tem de parar a máquina para substituir a  ferramenta ser  tão alto que  também o  tempo 

total de produção de uma peça (que soma, aos tempos de corte, todos os tempos passivos) seja alto, 

apesar do pequeno tempo de corte. 

Existe então um valor  intermediário de velocidade entre a velocidade  crítica e uma velocidade 

muito superior a ela, onde se tem os menores custos de produção. Nesse ponto, a velocidade de corte é 

chamada de velocidade de mínimo custo (vco). Por outro lado, existe também um valor intermediário de 

velocidade, onde se tem o menor tempo total de fabricação de uma peça. Nesse ponto, a velocidade de 

corte é chamada de velocidade de máxima produção (vcmxp). 

Toda essa análise não  leva em consideração as condições de contorno do processo, como quali‐

dade da peça, condições do sistema MFP etc. 

5.8.1 Ciclos e Tempos de Usinagem 

O ciclo de usinagem de usinagem de uma peça, pertencente a um lote de Z peças, é constituído 

diretamente pelas seguintes fases: 

1. Colocação e fixação da peça. 

2. Aproximação e posicionamento da ferramenta. 

3. Corte 

4. Afastamento da ferramenta. 

5. Inspeção (se necessária) e retirada da peça. 

Além dessas fases, tomam parte indiretamente no ciclo de usinagem (para um lote de Z peças): 

a) Preparo da máquina. 

b) Remoção da ferramenta para sua substituição. 

c) Recolocação e ajustagem da nova ferramenta. 

Page 38: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

126  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

O tempo total de usinagem de uma peça (tt), dentro de um lote de Z peças, será: 

  t c 1 2t t t t   (5.21) 

onde: 

tc   tempo de corte (fase 3), que diminui com o aumento da velocidade de corte (vc), Equação (5.4): 

 f f f

c

f c

L L d Lt

v f n 1000 f v

   

t1   tempo improdutivo, referente à colocação, inspeção e retirada da peça, aproximação e afastamento 

da ferramenta, substituição da ferramenta e preparo da máquina para a usinagem de um lote, que 

é independente de vc, Equação (5.22): 

  p ft

1 s a

t tt t t

Z

   

Em que: 

ts   tempo secundário (fases 1 e 5) 

ta   tempo de posicionamento (fases 2 e 4) 

tp   tempo de preparação ou setup (fase a) 

tft  tempo de ajuste da ferramenta (fases b e c) 

t2   tempo relacionado com a troca da ferramenta, Equação (5.23). Quanto maior vc, menor o tempo de 

vida da ferramenta (T) (vide Equação 5.8) e maior o número de paradas da máquina para a substitu‐

ição da mesma. 

 x 1

ft ft f cf2 c x

c c

t t d L vd Lt t

T 1000 f v K v 1000 f K

  (5.23) 

Substituindo na Equação (5.21), tem‐se: 

 1 x 1ftf f

t c 1 c

td L d Lt v t v

1000 f 1000 f K

(5.24)

A Figura 5.27 representa a variação das três parcelas da Equação (5.21) em função da velocidade 

de corte. Vê‐se na figura que o tempo de corte (tc) diminui com o crescimento da velocidade de corte, o 

tempo t1 é independente da velocidade de corte e o tempo t2, relativo à troca da ferramenta, aumenta 

com a velocidade de corte. 

O valor da velocidade de máxima produção (mínimo tempo de produção) é o ponto de mínimo da 

função expressa na Equação (5.24). Admitindo‐se o avanço (f) e a profundidade de corte (ap) constantes, 

a velocidade de corte de máxima produção (vcmxp) é dada por: 

ft2 x 2 xt ftf fc c c

c

x 1 tdt td L d L0        v x 1 v 0       1 v

dv 1000 f 1000 f K K

 

Page 39: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

127PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

  xcmxp

ft

K v

x 1 t

  (5.25) 

 

Figura 5.27 – Tempo de produção por peça em função da velocidade de corte 

5.8.2 Custos de Produção 

Para a determinação da velocidade econômica de corte (velocidade de mínimo custo de produção 

de uma peça), devem‐se considerar apenas os custos referentes ao processo propriamente dito (despe‐

sas com ferramentas e com a ocupação de máquinas e operadores). Assim, estes custos são dados por: 

  p 1 p1 p2K C K K   (5.26)

onde: 

C1   constante independente da velocidade de corte [R$/peça], Equação (5.27): 

  11 2

t 1C C

60 Z

  (5.27)

Em que: 

C2  soma das despesas com mão‐de‐obra (Sh) e com máquina (Sm) [R$/peça]:  2 h mC S S  

Kp1   custo relativo ao processo de usinagem, Equação (5.28): 

 c f

p1 2 2

c

t d LK C C

60 60 1000 f v

(5.28)

Kp2   custo relacionado com a troca da ferramenta, Equação (5.29): 

 x 1

c f cp2 3 3

t d L vK C C

T 1000 f K

  (5.29) 

Em que: 

Page 40: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

128  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

C3  constante de custo relativo à ferramenta [R$/peça]:  ft3 ft 2

tC K C

60  

Kft  custo da ferramenta (ou aresta de corte de pastilha intercambiável) por vida. 

Substituindo na Equação (5.26), tem‐se: 

 1 x 13f 2 f

p 1 c c

Cd L C d LK C v v

60000 f 1000 f K

  (5.30)

O custo de usinagem de uma peça (Kp) se compõe de 3 parcelas, mostradas na Figura 5.28. A pri‐

meira C1 independe da velocidade de corte (vc). A segunda (Kp1) diminui à medida que vc cresce. A tercei‐

ra (Kp2) aumenta com o crescimento de vc, já que o expoente (x1) é sempre positivo. 

Figura 5.28 – Custo de produção por peça em função da velocidade de corte 

O valor mínimo de Kp  (admitindo‐se  f e ap constantes) é obtido quando a derivada da Equação 

(5.30) em função da velocidade de corte for nula. Assim: 

p 32 x 2 x3f 2 f 2c c c

c

dK x 1 CCd L C d L C0        v x 1 v 0        v

dv 1000 f 60 1000 f K 60 K

 

  2

xco

3

C K v

60 x 1 C

  (5.31) 

5.8.3 Intervalo de Máxima Eficiência 

A Figura 5.29 mostra o gráfico das curvas de custo total de usinagem por peça (Kp) e de tempo to‐

tal de confecção (tt) de uma peça em função da velocidade de corte (vc). Define‐se Intervalo de Máxima 

Eficiência (IME) o intervalo de valores de velocidade de corte compreendido entre vco e vcmxp. 

É muito importante que os valores de vc a serem utilizados realmente estejam neste intervalo. Por 

exemplo, se a vc utilizada estiver logo abaixo de vco (portanto, fora do IME), o custo da peça usinada vai 

ser bem próximo do mínimo, mas o tempo para fabricá‐la vai ser bem alto. Como pode ser visto na Figu‐

ra 5.29, existe outro valor de vc, dentro do IME, onde o custo da peça é  idêntico, mas o seu tempo de 

Page 41: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

129PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

fabricação é bem menor. O mesmo se pode falar do outro extremo do IME. Se o valor de vc for logo aci‐

ma do valor de vcmxp (e assim, fora do IME), o tempo de confecção de uma peça é bem próximo do mí‐

nimo, mas o  seu custo de  fabricação é alto. Analogamente, pode‐se ver na Figura 5.29 que há outro 

valor de vc dentro do IME para o qual o tempo de fabricação é idêntico, mas o seu custo é bem menor. 

 

Figura 5.29 – Intervalo de máxima eficiência (IME) 

Vale ressaltar que toda a análise feita foi baseada na escolha prévia de f, de ap e da ferramenta. 

Essas escolhas devem ser  feitas baseados nas condições de contorno do processo,  tais como:  tipo da 

operação (desbaste ou acabamento), potência da máquina, rigidez do sistema MFP etc., conforme já foi 

discutido na Parte 1 da disciplina. 

Para concluir a Seção 5.8, deve‐se afirmar um princípio que nem sempre é bem entendido no 

meio produtivo, que resulta da análise feita acima: “nem sempre aumentar a velocidade de corte signi­

fica aumentar a produção horária de peças, e nem  sempre diminuir a velocidade de  corte  significa 

diminuir os custos de produção.” 

5.8.3.1 Exemplo 5.5 

Pretende‐se tornear uma peça cujos dados encontram‐se na Tabela 5.6 que se segue. A partir dos 

dados  fornecidos, determinar:  (a) o  intervalo de máxima eficiência  (IME);  (b) o custo mínimo  [R$] de 

produção do lote; (c) o tempo mínimo [min] de produção do lote. 

Tabela 5.6 – Dados do Exemplo 5 

DADOS GERAIS 

Material da Peça  Peça de aço ABNT 4320, rt = 630 MPa, faceada e centrada, com 80 mm. 

Operação  Corte para d = 75 mm em um único passe, no comprimento L = 200 mm. 

Máquina‐ferramenta Torno CNC com potência do motor de 20 cv e rendimento  = 95%. 

A máquina trabalha em 3 turnos diários (6 a 8) horas. 

Ferramenta Pastilha intercambiável de metal‐duro tipo SNMG 120408 PM 4025 (quadrada, classe P25) 

com 8 gumes e geometria  = 75o,  = 0o,  = 6o,  = 6o, r = 0,8 mm. 

Condições de corte  Deseja‐se uma rugosidade média (Ra) menor ou igual a 5 m na usinagem a seco. 

 

Page 42: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

130  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

CUSTO RELATIVO À MÁQUINA E À MÃO‐DE‐OBRA 

Salário do operador + salário máquina (inclusive sobretaxas) C2 = Sh + Sm [R$/hora]  60,00 

CUSTO RELATIVO À TROCA DA FERRAMENTA 

Custo da ferramenta por vida do gume Cf [R$/gume]  5,00 

DADOS AUXILIARES 

Tempo de troca do gume ferramenta tf [min]  0,50 

Tempo de aproximação e afastamento ta [min/peça]  0,20 

Tempos secundários ts [min/peça]  0,36 

Tempo de preparo da máquina tp [min]  35 

Tamanho do lote Z  1800 

 

Resolução do Exemplo 5.5: 

1) Determinação do avanço e da profundidade de corte: 

Como Ra  5 m, tem‐se pela Equação (5.20): 

2 2

a

f fR 32,075      5 32,075      f 0,3531 mm/volta     adota‐se f 0,350 mm/volta

r 0,8

 

Pelos dados do problema, para obter 75 mm a partir de 80 mm, deve‐se usar ap  2,5 mm 

2) Vida da ferramenta (Equação 5.8): 

xx ggy ypv v

i icc p

a60 C 0,2 G C60T

v 5 fv A a f

 

Consultando as Tabelas 5.3 e 5.4, obtém‐se: 

5 50,140,2

0,28c c

60 176 2,5 435,58T            T

v 5 0,35 v2,5 0,35

 

3) Tempo de usinagem de uma peça (Equação 5.24): 

ftf ft 1

c c

td L d Lt t

1000 f v 1000 f v T

 

5

ct

c c

v75 200 35 0,5 75 200t 0,36 0,20 0,5

1000 0,35 v 1800 1800 1000 0,35 v 435,58

 

5

ct

c c

v134,64 134,64t 0,5792

v 2 v 435,58

 

Page 43: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

131PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

4

ct

c

v134,64     t 0,5792

v 694,70

 

4) Velocidade de corte de máxima produção (Equação 5.25): 

5

5xcmxp cmxp

ft

K 435,58v            v 379,2 m/min

x 1 t 5 1 0,5

 

5) Custo de usinagem de uma peça (Equação 5.30): 

3f 2 fp 1

c c

Cd L C d LK C

1000 f v 60 1000 f v T

 

5

cp

c c

v0,5792 1 75 200 60 75 200K 60 5,5

60 1800 1000 0,35 v 60 1000 0,35 v 435,58

 

5

cp

c c

v134,64 740,52K 0,5459

v v 435,58

 

4

cp

c

v134,64     K 0,5459

v 381,46

 

6) Velocidade de corte de mínimo custo (Equação 5.31): 

5

25xco co

3

C K 60 435,58v            v 234,74 m/min

60 x 1 C 60 5 1 5,5

 

7) Verificação da potência da máquina: 

Força de Corte (Equação 5.13): 

o 1 zc s1F 1 (0,015 ( 6 )) K b h  

0,7oc co

2,5F 1 0,015 ( 6 6) 2260 0,35 sen75            F 3230,7 N

sen75

 

Potência do Motor (Equações 5.15 e 5.19): 

c c mm c c

c

60 20 735,55 0,95F v 60 PP v            v 259,55 m/min

60 F 3230,7

 

Isto mostra que para as condições de corte previamente determinadas (f, ap e ferramenta), a 

velocidade de corte não deve ultrapassar o valor de aproximadamente 260 m/min. 

8) Respostas: 

Page 44: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

132  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

a) Intervalo de Máxima Eficiência: 235 m/min  vc  259 m/min 

b) Custo mínimo de produção do lote: 

O custo mínimo para fabricar uma peça é: 4

cop p

co

v134,64K 0,5459            K 1,2629 R$/peça

v 381,46

 

O custo mínimo para produzir Z  1800 peças será então R$ 2273,17. 

c) Tempo mínimo de produção do lote: 

O tempo mínimo de fabricação de uma peça é: 4

cmxp

t t

cmxp

v134,64t 0,5792            t 1,1184 min

v 694,70

 

O tempo mínimo para produzir Z  1800 peças será então 2013 min ou 33 h 33 min. Por‐

tanto, serão necessários 5 turnos para a confecção do lote. 

A Figura 5.30 mostra o gráfico das curvas de custo total de usinagem por peça (Kp) e de tempo 

total de confecção (tt)de uma peça em função da velocidade de corte (vc) para o Exemplo 5, 

onde se pode observar o IME realçado em verde. 

 

Figura 5.30 – Intervalo de máxima eficiência (IME) do Exemplo 5 

O que se pode observar no gráfico da Figura 5.30 é que o custo de produção por peça (Kp) as‐

sociado à vco (K235  R$ 1,26) é praticamente o mesmo que o associado à vcmxp (K259  R$ 1,28). Entretanto, o tempo de produção por peça (tt) é ligeiramente menor no segundo caso (t259 = 

1,118 min) que no primeiro (t235 = 1,165 min). 

A partir desta análise, é mais vantajoso trabalhar com vc = 259 m/min, já que a máquina não 

suporta vc = 379 m/min. Já a avaliação da possibilidade de se aplicar esta última condição é a 

proposta do Problema 3. 

259 m/min 379 m/min

tt235 m/min

Kp

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

0 100 200 300 400 500 600 700

Tempo de Fabricação por Peça [min]

Custo de Fabricação por Peça [R$]

Velocidade de Corte

Intervalo de Máxima Eficiência

tempo

custo

Page 45: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

133PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

 

5.9 Problemas 

1. Uma peça de aço ABNT 1030 laminado a quente deve ser torneada com uma ferramenta de metal‐

duro P10 revestida e geometria: r  80o,   3o,   5o,   5 e r  0,8 mm. O torno CNC possui 

potência nominal de 15 cv. A classe de rugosidade especificada é N9 (3,2 m  Ra  6,3m). 

a) Determinar a faixa de valores de avanço e profundidade de corte para a classe de rugosidade 

especificada. Analisar o resultado quanto a sua suscetibilidade à quebra. 

b) Calcular a velocidade de corte ótima (segundo Kronenberg) para uma vida da ferramenta de 60 

a 100 minutos. Discuta o mecanismo de desgaste predominante com base no valor da veloci‐

dade de corte encontrada. 

c) Determinar a  força de corte  (segundo Kienzle), a potência de corte e o  rendimento do  torno 

CNC na operação de corte. 

2. Refaça o Problema 1 considerando a usinagem de ferro fundido GG26 com ferramenta de metal‐

duro K10 revestida. 

3. Considere no Exemplo 5.5 a necessidade de se utilizar a velocidade de máxima produção encontra‐

da  (vcmxp  379 m/min). Cite quais modificações nas variáveis de entrada do processo devem  ser 

realizadas. Execute‐as e refaça os cálculos. Que conclusões podem ser tiradas em comparação aos 

resultados encontrados no Exemplo 5.5 em termos de tempo e custo de produção? 

   

Page 46: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

134  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

6 PROCESSO DE FURAÇÃO 

6.1 Generalidades 

Na usinagem metal‐mecânica há diversas formas de se obter furos em peças. Podem‐se destacar 

os seguintes meios: puncionamento, fundição, forjamento, serra‐copo, eletroerosão, oxiacetileno e por 

meio de brocas. Será focada a atenção apenas na obtenção de furos através do uso de brocas, pois é o 

meio mais largamente utilizado na indústria, devido à sua versatilidade, baixo custo envolvido e também 

a simplicidade de operação. 

Furação é um processo de usinagem remoção de cavaco onde o movimento de corte é circular e 

o movimento de avanço é  linear na direção do eixo de rotação da ferramenta de corte (broca). Este é 

um dos processos mais usados na  indústria manufatureira,  já que a grande maioria das peças de qual‐

quer tipo de indústria tem pelo menos um furo, e somente uma parcela muito pequena destas peças já 

vem com furo pronto do processo de obtenção da peça bruta (fundição, forjamento etc.). Em geral, as 

peças têm de ser furadas em cheio ou terem seus furos aumentados através deste processo. 

As brocas utilizadas na furação podem ser de vários tipos: brocas de centro; brocas calçadas; bro‐

cas helicoidais; brocas  canhão  (para  furos profundos) etc. A  furação  com brocas é uma operação de 

desbaste, havendo necessidade de outra operação para acabamento tal como retificação, mandrilamen‐

to, alargamento etc. Na  furação devem ser observados os seguintes  fatores:  (a) diâmetro do  furo;  (b) 

profundidade do furo; (c) tolerâncias de forma e de medidas; (d) volume de produção. 

Apesar da sua  importância, o processo de furação foi pouco modernizado até alguns anos atrás. 

As ferramentas de outros processos (p. ex: torneamento, fresamento) progrediram rapidamente com a 

introdução de novos materiais para ferramentas (metal‐duro, cerâmica, CBN, diamante). Por outro lado, 

na furação, a ferramenta mais usada é ainda a broca helicoidal de aço‐rápido. A principal razão para tal 

atraso está no diâmetro do furo. Exemplificando, uma broca de 10 mm para ser aplicada com veloci‐

dades de corte  (vc) compatíveis ao metal‐duro  ( 200 m/min) precisaria de uma rotação da ordem de 

6400  rpm, bastante alta para  furadeiras convencionais. Nos últimos anos  tem crescido a utilização de 

centros de usinagem CNC, que propiciam rotações bem superiores aos 6400 rpm citados. 

As condições de operação em processos de furação são severas: 

A velocidade de corte (vc) não é uniforme e varia desde zero no centro do furo até o máximo na peri‐

feria da broca. 

O meio  lubrirrefrigerante, que deve atuar na  lubrificação, na refrigeração, como também no trans‐

porte/retirada de cavacos do furo, chega com dificuldade às arestas de corte (gumes) da ferramenta, 

onde sua ação é mais necessária. 

6.2 Movimentos e Grandezas no Processo 

Os movimentos envolvidos na operação de furação são movimentos relativos entre a peça e um 

ou mais gumes (arestas de corte) da ferramenta. Estes movimentos são referentes à peça considerando‐

a como parada. Durante o processo de furação têm‐se os seguintes movimentos (Fig. 6.1): 

Page 47: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

135PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Figura 6.1 – Movimentos na furação com brocas helicoidais 

Movimento (principal) de corte: é o movimento entre a peça e a ferramenta em contato, o qual sem 

o movimento de avanço origina somente uma única remoção de cavaco durante uma volta. 

Movimento de avanço: é definido  como  sendo o movimento da  ferramenta,  segundo  seu eixo de 

rotação, no sentido do avanço durante a usinagem. O movimento de avanço é especificado em uni‐

dades de comprimento por rotação ou por tempo. 

Movimento efetivo de corte: é o movimento resultante dos movimentos de corte e de avanço, reali‐

zados no mesmo tempo. 

A superfície gerada pela broca no fundo do furo é decorrente do avanço contínuo efetuado pelas 

duas arestas principais de corte, de forma que cada aresta executa metade do movimento de avanço. 

O movimento efetivo de corte faz com que o ângulo efetivo de folga (e) seja menor que o ângulo 

de  folga  (). Esse e deve ser o maior possível para evitar o esmagamento do material pelo flanco da 

broca. No entanto, quanto maior e, menor a resistência da cunha e maior a tendência a vibrações. 

Um grande ângulo de ponta () leva a desvios da broca que, por sua vez, aumentam o diâmetro 

sendo usinado (broca não guiada). Um ângulo () pequeno leva a uma boa centragem, mas aumenta a 

força passiva e, conseqüentemente, o atrito. 

6.2.1 Área da seção transversal de corte 

A seção transversal de corte A [mm2] na furação é a área calculada de um cavaco a ser removido, 

medido perpendicularmente à direção de corte no plano de medida. A Figura 6.2a mostra a seção A na 

furação com broca inteiriça em cheio e a Figura 6.2b com pré‐furo. 

 

(a)  (b) 

Figura 6.2 – Grandezas de corte para a furação  

 

b

h

ap

D

A

fz r

b

h

D

A

fz r

ap

d

Page 48: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

136  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Em ambos os casos, é válida a relação: 

p zA a f b h  

em que: 

z

ff

2   r

2

 

p

r

ab

sen 

 

z rh f sen   

onde: 

fz   avanço da broca por aresta principal de corte [mm/volta]; 

f   avanço da broca [mm/volta]; 

r   ângulo de posição da ferramenta, da aresta principal de corte; 

   ângulo de ponta [o] 

ap   profundidade de corte [mm]; 

b   largura de corte [mm]; 

h   espessura de corte [mm]. 

Para uma broca helicoidal na furação em cheio:  p

Da

2    e   

D fA

4

Para uma broca helicoidal na furação com um pré‐furo com diâmetro “d”:  p

D da

2

 e 

(D d) fA

4

No caso de brocas com pastilhas intercambiáveis, o número de insertos influencia apenas na lar‐

gura de corte (b), pois o avanço da broca é considerado totalmente (Fig. 6.3). Assim, tem‐se fz  f e: 

  i eb b b   (6.1) 

onde: 

bi   largura interna de corte das pastilhas intercambiáveis; 

be   largura externa de corte das pastilhas intercambiáveis. 

Figura 6.3 ‐ Distribuição do corte em brocas com pastilhas intercambiáveis 

O ângulo de posição r em brocas com pastilhas intercambiáveis pode ser diferente para cada in‐

serto, influenciando assim a espessura de corte (h) resultante. 

Page 49: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

137PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

6.2.2 Avanço da ferramenta 

A aresta de corte (gume) move‐se segundo uma espiral que se  inclina com relação à direção de 

corte. Esta  inclinação é definida pelo ângulo de direção efetiva de corte  (). O ângulo  cresce com o 

crescimento do avanço (f) e com a diminuição do diâmetro (D) da broca, como mostra a Equação 6.2: 

 D

f tg

  (6.2)

Assim, o crescimento do avanço facilita a quebra do cavaco e, conseqüentemente, sua remoção 

de dentro do furo. Para que o cavaco removido pela broca helicoidal não seja esmagado pela superfície 

principal de folga (vide Figura 3.14c) e o corte possa ocorrer, é necessário que o ângulo lateral efetivo de 

folga  (fe)  seja positivo  tanto quanto possível para qualquer diâmetro da broca. Porém,  tem‐se pela 

Equação 6.3 que: 

  fe = f    (6.3) 

Assim, para que o ângulo fe seja sempre positivo, é necessário que o ângulo lateral de folga (f) 

seja maior que o ângulo  em qualquer diâmetro da broca. 

Observa‐se na Equação 6.3 que fe diminui com o aumento de . Assim, o aumento do avanço (f) 

para facilitar a quebra do cavaco faz com que fe diminua e, com  isso, aumente a deformação plástica 

do  fundo do  furo, principalmente próxima ao centro, onde este ângulo é menor ainda  (causa encrua‐

mento em materiais dúcteis). Com isso, na região mais central da broca, f precisa ser maior para com‐

pensar o crescimento de  e, com isso, possibilitar a obtenção de um fe positivo. Isso deve ser conse‐

guido através da afiação da broca. Além disso, como será visto na Seção 6.6, existe um  limite para o 

crescimento do avanço: acima de um determinado valor, o avanço pode causar a quebra da broca ou a 

paralisação do avanço da máquina. 

6.2.3 Velocidade de corte 

A velocidade de corte (vc) [m/min] diminui à medida que se caminha da periferia para o centro da 

broca, já que ela depende do diâmetro (D) [mm] da broca e da rotação n [rpm] da broca: 

  c

D nv

1000

 

Assim, quando materiais dúcteis são furados em cheio (sem pré‐furo), a formação da aresta posti‐

ça de corte (APC) na vizinhança do centro da broca é inevitável, já que a formação desta se dá em baixas 

temperaturas de corte, ou seja, baixas velocidades de corte. A utilização de baixa velocidade de corte 

pode gerar APC numa porção maior do diâmetro da broca. Por outro  lado, o aumento da velocidade 

para minimizar a sua formação gera maiores desgastes na ferramenta (a vizinhança da periferia da bro‐

ca, que antes já não o formava, agora passa a se desgastar mais rapidamente). 

6.3 Máquinas­Ferramentas 

As máquinas‐ferramenta de furar, ou simplesmente furadeiras, são máquinas operatrizes que têm 

por função principal executar furos nos mais diversos tipos de materiais. Para tanto, o motor da furadei‐

Page 50: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

138  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

ra aplica uma alta velocidade de rotação a uma ou mais brocas  (ferramentas de corte) que serão res‐

ponsáveis pela remoção de material. 

Para as diferentes condições de material  requeridas,  foram criados diferentes modelos de  fura‐

deiras, em cuja aplicação os seguintes aspectos devem ser avaliados: forma da peça; dimensões da pe‐

ça; número de furos a serem abertos; quantidade de peças a serem produzidas; diversidade no diâme‐

tro dos furos de uma mesma peça; e grau de precisão requerido. 

As furadeiras consistem basicamente de um eixo‐árvore, que gira com velocidades determinadas, 

onde se fixa a broca. Esta árvore pode deslizar na direção de sua linha de centro. Também se pode ter 

uma mesa onde a peça é fixada e movimentada. As partes principais de uma furadeira variam de acordo 

com a sua estrutura. A Figura 6.4 destaca as partes principais de uma furadeira de coluna. 

 

Figura 6.4 – Partes constituintes de uma furadeira de coluna: 

(1) base; 

(2) coluna; 

(3) mesa; 

(4) sistema motriz; 

(5) alavanca de movimentação da ferramenta; 

(6) árvore de trabalho; 

(7) mandril; 

(8) broca 

 

A variedade de detalhes em  furadeiras é bastante grande. Algumas máquinas possuem avanço 

automático  com  limitadores de profundidade. Outras possuem mesa giratória. Há equipamentos que 

dispõem de inversão de rotação e avanço sincronizado, que permitem execução de roscas com machos. 

6.3.1 Tipos de furadeiras 

Podem‐se  classificar as  furadeiras de diversas maneiras. Quanto ao  sistema de avanço pode‐se 

classificar como manual (ou sensitiva) ou automática (elétrico ou hidráulico). Ao contrário do que possa 

parecer as furadeiras sensitivas possuem grande aplicação no meio industrial. Quanto ao tipo de máqui‐

na pode‐se classificar como: portátil, sensitiva, de coluna, de bancada, radial e horizontal. 

As furadeiras de uso doméstico classificam‐se como portáteis. É utilizada comumente em peças já 

montadas em que o  local a ser perfurado  impede a utilização de  furadeiras mais precisas. A  força de 

avanço vem o operador que pressiona a furadeira contra o material. Já na furadeira sensitiva, o avanço 

do mandril se dá por meio de uma alavanca em que o operador faz avançar aos poucos, “sentindo” as‐

sim o avanço da broca dentro do material. Ambas são utilizadas para pequenas furações. 

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Prof. Dr. André João de Souza    

139PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

A furadeira de coluna caracteriza‐se por apresentar uma coluna de união entre a base e o cabeço‐

te. Esse arranjo possibilita a furação de elementos com as formas mais diversificadas, singularmente e 

em série (Fig. 6.4). É a furadeira mais encontrada em oficinas de manutenção e de produção sob enco‐

menda devido a sua versatilidade. A furadeira de bancada é bastante similar à furadeira de coluna, co‐

mo pode ser observado pela Figura 6.5a. 

Enquanto as furadeiras de bancada são utilizadas em pequenos serviços, as furadeiras radiais (Fig. 

6.5b) são empregadas em peças de grandes dimensões a serem furadas em pontos afastados na perife‐

ria. O braço possui movimento vertical na coluna, normalmente através de um motor. O braço também 

possuir movimento de giro em  torno da  coluna, que é  feito manualmente na maioria das vezes. Um 

carro que possui o sistema de acionamento da árvore principal movimenta‐se pelo braço para posicio‐

nar a ferramenta. A furadeira radial pode ter mais de uma mesa, que permite trabalhar numa peça en‐

quanto se está  fixando outra. Também é comum deixar um  fosso em um dos  lados da máquina para 

permitir trabalhar peças grandes. 

(a)  (b) 

Figura 6.5 – Furadeira: (a) de bancada; (b) radial 

A furadeira horizontal tem campo de atuação similar ao da radial, ou seja, indicada para executar 

furos em peças de grandes dimensões que, mesmo na radial, não poderiam ser usinadas. 

Quanto ao número de árvores, podem‐se classificar as furadeiras como: simples, quando possu‐

em apenas uma árvore, gêmea (Fig. 6.6), que possui duas e múltipla quando possui três ou mais. 

As furadeiras de múltiplas árvores são empregadas para trabalhos em uma peça que tem de pas‐

sar por uma série de operações em um furo como furar, alargar, escarear, rebaixar etc., em seqüência. 

Neste caso podem‐se ter, basicamente, dois tipos distintos de acordo com o número de cabeçotes. Nas 

furadeiras múltiplas de múltiplos cabeçotes (fig. 6.7a), mais de um cabeçote age na peça a ser furada, 

eliminando a necessidade de reposicionar e virar a peça cada vez que o plano de furação for alterado. 

São utilizadas para economizar tempo, uma vez que o tempo total de perfuração fica condicionado ao 

furo mais profundo. Nas furadeiras múltiplas de cabeçote único (Fig. 6.7b), todos os eixos‐árvore com‐

partilham de um mesmo cabeçote. Elas originaram‐se da aplicação de cabeçotes de vários mandris em 

furadeiras de coluna. São mais úteis em peças a serem produzidas em série quando ocorre a necessida‐

de de furação de muitos pontos em um ou mais planos. 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

140  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Figura 6.6 – Furadeira gêmea 

 

(a)  (b) 

Figura 6.7 – Furadeiras de múltiplos eixos‐árvore: (a) cada uma com seu motor e (b) motor compartilhado 

As furadeiras múltiplas são as máquinas utilizadas nas linhas de produção, pois aceleram a fabri‐

cação. Podem ser ajustadas para executar as várias etapas de um  furo. Também podem ser ajustadas 

para efetuar diversos  furos em uma  só operação. Em algumas destas máquinas pode‐se ajustar  cada 

árvore livremente, dentro de seus limites, e ter sua própria velocidade de rotação. 

Se a furadeira operar de acordo com um programa, permitindo uma maior precisão e velocidade, 

ela é denominada furadeira CNC. Mais usuais que as furadeiras CNC são os Centros de Usinagem. 

6.3.2 Fixação e ajuste da peça na máquina 

Os  dispositivos  de  fixação  de  peças  utilizados  nas  furadeiras  são  similares,  e muitas  vezes  os 

mesmos, utilizados nas máquinas‐ferramenta de fresar (fresadoras), como mostra a Figura 6.8. Utilizam‐

se cantoneiras, morsas, grampos, blocos e gabaritos. Em furadeiras, destaca‐se o uso comum de gabari‐

tos de furação, que tem a função de guiar a broca e garantir a exatidão/ repetitividade das coordenadas 

dos furos. Nos gabaritos os furos são de aço endurecido e podem ser substituídos quando desgastados. 

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Prof. Dr. André João de Souza    

141PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

 

Figura 6.8 – Diferentes dispositivos de fixação 

6.3.3 Fixação e ajuste da ferramenta na máquina 

Normalmente na extremidade  inferior da árvore de trabalho há um furo cônico (cone Morse ou 

ISO), que é uma das características importantes da máquina. Neste cone podem ser fixados diretamente 

ferramentas de haste cônica ou um mandril universal tipo “Jacobs” (Fig. 6.9a) para fixação de ferramen‐

tas de haste cilíndrica. Como a fixação em cone Morse ocorre por força de pressão, a retirada de uma 

ferramenta ou de um mandril porta  ferramenta é  feita por meio de uma  cunha  introduzida em uma 

ranhura existente na árvore, como mostra a Figura 6.9b. 

  

(a)  (b) 

Figura 6.9 – (a) Mandril universal tipo Jacobs; (b) Retirada de mandril ou ferramenta do cone Morse 

6.4 Ferramenta de Corte 

As brocas são as  ferramentas de abertura de  furos que, em geral, possuem de 2 a 4 arestas de 

corte (gumes) que formam o ângulo de ponta () e sulcos (em geral, helicoidais) por onde escoa o cava‐

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

142  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

co. O ângulo de ponta vale 90o    150o de acordo com a dureza do material a furar, sendo o ângulo 

de 118o o mais comum de se encontrar. A Figura 6.10 mostra exemplos de brocas helicoidais MD. 

 

Figura 6.10 – Brocas de metal‐duro Sandvik Coro‐Drill Delta‐C 

6.4.1 Tipos de ferramentas 

A ferramenta mais antiga para a abertura de furos é a broca chata, obtida pelo processo de acha‐

tamento a quente de uma parte de uma barra  cilíndrica  (Fig. 6.11a). Ela é  formada por duas arestas 

principais de corte formando o ângulo . São utilizadas em furações pouco profundas em materiais frá‐

geis, como ferro fundido, bronze e latão. Possuem momento de torção (torque) limitado. 

As brocas helicoidais de aço‐rápido  (Fig. 6.11b) são as  ferramentas mais usadas na execução de 

furos. Os tipos de broca mais comuns são: cilíndrica, de centro, calçada com pastilha e múltipla. 

 

 

(a)  (b) 

Figura 6.11 – (a) Broca chata; (b) Elementos básicos de uma broca helicoidal 

A broca de centro (Fig. 6.12a) tem a função de iniciar o furo de uma peça, isto é, fazer um peque‐

no  furo para que a ponta da broca não  saia da posição desejada. Sua alta  rigidez  impede que ocorra 

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143PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

flambagem e que o  furo seja executado  fora do  local correto,  já que ela possui um diâmetro relativa‐

mente grande em relação ao seu comprimento. 

As brocas de aço‐rápido calçadas com pastilha (Fig. 6.12b) de maior resistência a quente são indi‐

cadas para furação de materiais de maior dureza e/ou para obter‐se rendimentos superiores. Observa‐

se que a as pastilhas são soldadas ao corpo da broca, fazendo a função da aresta cortante. 

 

(a)  (b) 

Figura 6.12 – (a) Broca de centro; (b) Broca calçada com pastilha 

Similares às brocas calçadas há as brocas com pastilhas intercambiáveis (brocas com dentes posti‐

ços), largamente utilizadas em altas produções e em máquinas CNC, devido à rapidez e simplicidade em 

se manter a aresta cortante (gume) afiada. A Figura 6.13 apresenta uma aplicação desta ferramenta. 

Figura 6.13 – Exemplo de aplicação de broca com pastilhas de metal‐duro (AB Sandvik Coromant) 

As  brocas múltiplas  ou  escalonadas  (Fig.  6.14)  são  especialmente  afiadas  para  executar  furos 

complexos em apenas uma operação. Como se pode observar, as possibilidades são muito grandes. Sua 

aplicação é voltada para grandes produções onde o custo de preparação de brocas especiais acaba se 

diluindo na execução de grandes lotes em tempos mais reduzidos. 

 

Figura 6.14 – Brocas múltiplas ou escalonadas 

As brocas canhão, que tem um único  fio cortante são  indicadas para execução de furos profun‐

dos, entre 10 e 100 vezes o seu diâmetro. A Figura 6.15 ilustra estas brocas especiais. 

Também se devem citar as brocas com canais internos para fluido lubrirrefrigerante. Como se po‐

de observar na Figura 6.16a (vide detalhe na Fig. 6.15), o refrigerante é enviado diretamente para a re‐

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

144  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

gião de formação do cavaco, evitando o superaquecimento da ferramenta e auxiliando na remoção de 

cavacos. Permite ainda a usinagem de furos relativamente profundos em um único aprofundamento. 

Figura 6.15 – Exemplo de brocas canhão (AB Sandvik Coromant) 

Existem  também as brocas anulares  (também chamadas de  serra‐copo), como na Figura 6.16b, 

que permitem executar furos de grandes diâmetros com menor geração de cavaco. Esta broca remove 

apenas um anel de material, e a cápsula resultante pode até ser utilizada como matéria‐prima. 

 

(a)  (b) 

Figura 6.16 – (a) Brocas com canais internos para lubrificação/refrigeração; (b) Broca anular 

Com a utilização de Centros de Usinagem CNC no processo de furação, vários desenvolvimentos 

têm ocorrido com os materiais das brocas, podendo‐se citar: 

Broca de aço­rápido revestidas com TiN: possibilitou um substancial aumento da velocidade de cor‐

te e/ou vida da ferramenta em relação à broca de aço‐rápido sem revestimento (Figura 6.17a). 

Broca inteiriça de metal­duro: quando o furo é pequeno (D  20 mm) e a máquina possui rotação, 

rigidez e potência suficientes, esta broca é uma boa alternativa (Figura 6.17b). 

Broca  com  pastilhas  intercambiáveis  de metal­duro:  brocas  deste  tipo  são  inviáveis  quando  seu diâmetro D é pequeno (dificuldade na fixação de insertos). Porém, para brocas com D médio, essa é 

uma boa opção desde que, novamente, a máquina propicie sua utilização (vide Fig. 6.13). 

Brocas especiais: quando o  furo  tem diâmetro D muito grande e/ou comprimento L muito grande 

em relação a D (L/D grande), estes tipos de brocas podem ser usados (vide Fig. 6.15). 

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Prof. Dr. André João de Souza    

145PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

 

(a)  (b) 

Figura 6.17 – Exemplo de brocas AB Sandvik Coromant: (a) de aço‐rápido revestidas com TiN; (b) inteiriças de metal‐duro 

6.4.2 Geometria da ferramenta 

A Figura 6.18 mostra os componentes básicos de uma broca helicoidal. 

 

Figura 6.18 – Componentes básicos de uma broca helicoidal 

Diâmetro (D): é medido entre as duas guias da broca. Em geral tem tolerância dimensional h8. 

Sulcos helicoidais: criar espaço para a remoção de cavacos. 

Duas arestas principais de corte: corte direto do cavaco (flancos principais); o ângulo formado entre 

as duas arestas principais é chamado ângulo de ponta (). 

Aresta transversal de corte: situado na ponta, liga as arestas principais de corte. 

Guias e rebaixos: a guia é o 1º flanco secundário e o rebaixo o 2º flanco secundário (superfície se‐cundária de folga). 

Haste cônica ou cilíndrica: destina‐se à fixação da broca na máquina. Em brocas de diâmetro “D” até 

15 mm, usam‐se em geral brocas de haste cilíndrica e a fixação à máquina se dá por mandril. Em 

brocas de diâmetros superiores a 15 mm, prefere‐se prender a broca a um cone Morse, que por 

sua vez é preso à máquina, o que possibilita maior força de fixação. 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

146  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Núcleo: parte interior da broca de diâmetro igual a 0,16D. Serve para conferir rigidez à broca. 

Guias: a superfície externa de uma broca helicoidal apresenta duas regiões (uma em cada aresta de 

corte) que  têm diâmetro maior que o das paredes da broca. Tais  regiões  são denominadas guias. 

Têm duas funções básicas: (a) guiar a broca dentro do furo; (b) evitar que toda a parede externa da 

broca atrite com as paredes do furo, diminuindo assim os esforços necessários à furação. 

Canais helicoidais: são as superfícies de saída da ferramenta. Os ângulos de hélice () serão discuti‐dos na seção 3.2. O comprimento do canal helicoidal também pode variar dependendo do diâmetro 

da broca e do comprimento do furo que se deseja. Além das brocas normais (tipo N, H e W), existe 

uma infinidade de outros tipos: para furos profundos, brocas extracurtas (onde uma maior rigidez é 

necessária), brocas escalonadas (para furos passantes escalonados), brocas de calibração (calibrar ou 

alargar furos fundidos, pré‐estampados ou pré‐furados) etc. 

O tamanho da ferramenta corresponde à primeira restrição ao processo de furação; este engloba 

o menor e o maior diâmetro disponíveis. As características de uma broca, além de sua forma, são: di‐

mensão, material e os ângulos (de ponta , de folga  e de hélice ), mostradas na Figura 6.19. 

   

(a)  (b)  (c) 

Figura 6.19 – Ângulos de uma broca helicoidal: (a) ângulo de ponta (); (b) ângulo de folga (); (c) ângulo de hélice (no diâmetro externo,   ) 

O ângulo de ponta () corresponde ao ângulo formado pelas arestas principais da broca, que devem 

ter o mesmo comprimento. Este também é determinado pela dureza do material que será usinado. 

O ângulo de  folga  () tem a função de reduzir o atrito entre a broca e a peça e facilitar sua pene‐

tração no material; vale 9o    15o. Também deve ser determinado de acordo com o material da 

peça a ser furada. Quanto mais duro o material, menor deve ser . 

O ângulo de hélice () auxilia no desprendimento do cavaco. Coincide, no diâmetro externo da broca, 

ao ângulo de saída  (). Determinado de acordo com o material a ser usinado. Quanto mais duro o 

material menor deve ser . 

As brocas helicoidais são classificadas pelo seu diâmetro externo (D) e pelo seu ângulo de hélice 

() ou saída (). De maneira geral, as brocas normalizadas são classificadas como W, N e H (Fig. 6.20): 

Brocas tipo W: indicadas para materiais macios e/ou que produzem cavaco longo. Utiliza‐se   130o para usinagem de alumínio, zinco, cobre, madeira e plástico. 

Brocas tipo N (normal): indicadas para materiais de tenacidade e dureza normais (medianos). Aplica‐

se   118o em aço macio, fofo maleável, latão e níquel e   130o para aço de alto carbono. 

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147PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Brocas tipo H:  indicadas para materiais duros e frágeis e/ou que produzam cavaco curto (descontí‐

nuo). Em geral, utiliza‐se   80o para materiais prensados, ebonite, náilon, PVC, mármore e granito; 

  118o em ferro fundido duro, latão, bronze, Baquelite2 e Celeron3;   140o para aços de alta liga. 

   

(a)  (b)  (c) 

Figura 6.20 – Classificação das brocas normalizadas: (a) tipo H; (b) tipo N; (c) tipo W 

Quando uma broca comum não proporciona um rendimento satisfatório em um trabalho especí‐

fico e a quantidade de furos não justifica a compra de uma broca especial, podem‐se fazer algumas mo‐

dificações nas brocas tipo N e obter resultados melhores, como ilustra a Figura 6.21. 

   

(a)  (b)  (c) 

Figura 6.21 – Modificações nas brocas tipo N: (a) aumento de  acima de 118o; (b) aumento de  acima de 130o; (c) chanframento da aresta de corte 

Pode‐se aumentar o ângulo da ponta (), tornando‐o mais obtuso (acima de 118o) e melhorando os 

resultados na furação de materiais duros, como aços de alto carbono (Fig. 6.21a). 

Na furação de chapas finas têm‐se freqüentemente duas dificuldades: furos não redondos e muitas 

rebarbas. A reafiação da broca, para que fique com um ângulo de ponta () bastante obtuso (acima 

de 130o), reduz bastante estes problemas (Fig. 6.21b). 

Para a usinagem de ferro fundido, recomenda‐se utilizar uma broca com ângulo de ponta  = 118o com as partes externas das arestas de corte  (gumes) afiadas com aproximadamente 90o entre elas 

em cerca de 1/3 do comprimento (Fig. 6.21c). 

                                                            2 A BAQUELITE é uma resina sintética, quimicamente estável e resistente ao calor, que foi o primeiro produto plástico. Trata‐se da 

junção do fenol com o formaldeído (aldeído fórmico), formando um polímero chamado polifenol. 

3 O CELERON é um fenólico com base em tecido de algodão, formando um material denso obtido a partir da aplicação de calor e 

pressão sobre o tecido impregnado. O tecido de algodão garante maior resistência mecânica. Resiste a óleos, graxas, água do 

mar, corrosão e mudanças bruscas de temperatura. É um material  isolante de baixa tensão e de fácil usinagem. Aplicações: 

Buchas, anéis, mancais, guias... 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

148  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

6.4.3 Vida da ferramenta 

Vida de uma broca é o tempo que a mesma trabalha efetivamente, até perder a sua capacidade 

de corte, dentro de um critério previamente estabelecido. Atingindo este tempo, a broca deve ser re‐

afiada ou  substituída. Logo a vida da broca é o  tempo entre duas afiações  sucessivas necessárias, no 

qual ela  trabalha efetivamente. A perda da capacidade de corte é avaliada geralmente através de um 

valor limite de uma grandeza de desgaste medida na ferramenta ou na peça (através da rugosidade ou 

variação de diâmetro). A rugosidade e o diâmetro da peça sofrem outras  influências além do desgaste 

da  ferramenta,  devido  às  alterações  térmicas,  elásticas  e  comportamento  dinâmico  do  sistema MFP 

(máquina,  ferramenta e peça). Somente em processos de acabamento  justifica‐se um monitoramento 

da peça (ao lado de um da ferramenta). Em geral, nos processos de desbaste (onde se inclui a furação) 

as tolerâncias dimensionais e rugosidade têm menor  importância, sendo os  limites de desgaste defini‐

dos pela solicitação térmica e/ou mecânica máxima da ferramenta. 

Na furação podem ser adotados diversos critérios de fim de vida para a broca. O colapso da fer‐

ramenta (destruição da ponta) pela soldagem por fricção (caldeamento) no fundo do furo e conseqüen‐

te quebra, no entanto, só é utilizado por alguns pesquisadores para caracterizar uma situação final bem 

definida e em testes de recepção de materiais. Quando o objetivo é a reutilização da broca por reafia‐

ção, a marca de desgaste nos flancos principais, secundários e de quina são tomados como referência. 

Por vezes considera‐se o critério de fim de vida baseado no desgaste de flanco (0,4 mm  VB  0,8 mm), 

no desgaste das guias VBNS e na profundidade de cratera KT. 

O desgaste total da broca compreende os desgastes de flanco (superfície de folga), das guias, de 

cratera, de quina e do gume transversal (Fig. 6.22). Como os mais comumente encontrados são os dois 

primeiros (VB e VBNS),  justifica‐se a escolha destes para estabelecer o critério de fim de vida da broca. 

Em geral, as brocas devem apresentar VB  0,3 mm, medido no maior ponto. 

 

Figura 6.22 – Tipos de desgastes em brocas helicoidais 

Os desgastes mais importantes para uma broca helicoidal são os desgastes da quina e da guia da 

broca. Na quina, a velocidade de corte atinge o valor máximo, resultando em uma maior carga térmica. 

Como conseqüência, a quina sofre um arredondamento que se estende até a guia. As guias são então 

exigidas pelo atrito, podendo até chegar a atuar como uma aresta cortante. Os desgastes de quina e de 

guia têm  influência sobre a superfície gerada pela broca, ou seja, o diâmetro do furo e a qualidade da 

superfície. O desgaste da guia deve ser completamente eliminado pela reafiação da broca. O valor ad‐

missível para o desgaste da guia, portanto, é determinado pelos custos da ferramenta e de reafiação; no 

Desgaste de cratera

Desgaste de quina

Desgaste de gume transversal

Desgaste de flanco

Desgaste de guia

 

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Prof. Dr. André João de Souza    

149PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

entanto, depende de uma análise econômica detalhada. Recomenda‐se que o desgaste de guia não ul‐

trapasse 0,08D ou 2,55 mm (o menor dos dois valores). 

No flanco de ambas as arestas principais de corte desenvolvem‐se grandes marcas de desgaste, 

que aumentam à medida que a broca aproxima‐se do seu  fim de vida. Quanto maior a velocidade de 

corte, maiores serão as marcas de desgaste da periferia da broca em relação ao centro. Para maiores 

valores de avanço ocorre o inverso. 

O desgaste do gume transversal é basicamente mecânico devido ao ângulo de saída negativo (em 

torno de 60o) e às baixas velocidades de corte, levando a uma grande flutuação da estrutura do corte. 

Este desgaste tem um efeito de auto‐afiação do gume (aresta cortante), o que é compensado pala for‐

mação da APC devido à baixa velocidade de corte. 

O desgaste de  cratera ocorre na  face da  ferramenta e  coincide  com a  região de  temperaturas 

mais elevadas na cunha da ferramenta, de forma que ele é causado tanto por fenômenos correlaciona‐

dos com a temperatura, como também por mecanismos abrasivos mecânicos. Um desgaste de cratera 

excessivo enfraquece a aresta de corte e aumenta o risco de quebra. 

Avarias da aresta de corte (lascamentos; fissuras transversais e  longitudinais; deformação plásti‐

ca)  são decorrentes de  solicitações  térmicas e mecânicas excessivas. Elevadas  forças de  corte podem 

levar a micro e macrolascamentos da aresta ou da quina, principalmente quando o ângulo   (ou ) é pequeno ou o material da peça é frágil. Nestes lascamentos a linha de fissura é definida pela direção da 

força de usinagem.  Interrupções de corte  também podem provocar  lascamentos, sobretudo na usina‐

gem de materiais tenazes que apresentam cavacos que facilmente caldeiam ou soldam na face da broca. 

Microlascamentos ocorrem na usinagem de materiais duros e com inclusões duras. O material de broca 

mais susceptível a estes tipos de solicitações  localizadas é o metal‐duro, principalmente nos processos 

com seções de usinagem muito pequenas (p. ex: alargamento e brochamento). 

Solicitações alternantes (corte interrompido) levam à fadiga térmica e mecânica da cunha. As rá‐

pidas variações da força de usinagem podem levar a fissuras transversais. 

Na furação com brocas de pequeno diâmetro D (abaixo de 3 mm) e na furação profunda (profun‐

didade de corte ap  2,5D), é comum a quebra da ferramenta devido ao trancamento de cavacos e fura‐

ção torta, levando a um fim de vida prematuro da ferramenta. 

A Tabela 6.1 ilustra alguns dos principais problemas que ocorrem em brocas. 

Durante a usinagem, a broca helicoidal encontra‐se sujeita aos esforços axiais, de flexão e de tor‐

ção. O torque estático necessário para a quebra da broca helicoidal é bem superior aos momentos que 

atuam durante a usinagem normal; porém, o desgaste da broca leva às oscilações do torque que ultra‐

passam o  limite de  resistência à  fadiga da broca. Portanto, a quebra ou o  lascamento de uma broca, 

normalmente ocorre devido ao esforço alternante ocasionado pelo desgaste da guia e quina. 

Os possíveis danos causados por uma quebra parcial ou total de uma broca são: danificações dos 

rolamentos do eixo‐árvore e dos elementos de transmissão (polias, correias, acoplamentos) da máqui‐

na; destruição dos elementos de  fixação da broca  (pinça, mandril) e danificação das  conexões  (cone 

Morse, ABS, HSK); incrustação de pedaços de metal na peça; danificação do dispositivo de fixação e do 

local de colisão da peça. Em máquinas supervisionadas, estes danos podem ser evitados, pois ocorrem 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

150  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

dentro do intervalo de reação do operador; porém, em máquinas automáticas, danos maiores ocorrem 

se não houver nenhum dispositivo de proteção. 

Tabela 6.1 – Principais falhas na ferramenta de corte 

 

Aresta postiça  Desgaste de flanco excessivo  Desgaste de cratera 

 

Deformação plástica  Desgaste de gume transversal  Lascamento na quina 

   

Lascamento no gume principal  Trincas térmicas nas guias  Quebra 

 

Fazendo uma análise rigorosa dos desgastes da broca, é possível concluir: se o tipo de broca, se as 

condições de corte, ou ainda, se a afiação da ponta está correta para a tarefa em execução. Assim: 

Achatamento do gume transversal: indica que o avanço (f) está excessivo. 

Deterioração excessiva das quinas: indica uma velocidade de corte (vc) muito elevada. 

Marca  de  desgaste  uniforme  nos  flancos  (superfície  de  folga): mostra  que  o  avanço  (f)  e  a  velo‐

cidade de corte (vc) estão corretos. 

Grande aderência de material na  face  (superfície de saída)   indica que o ângulo de saída  () da broca é muito pequeno para o material que está sendo furado. 

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Prof. Dr. André João de Souza    

151PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Leve adesão de material no flanco ou polimento da superfície, perto da ponta da broca: indica que 

o ângulo de folga () está muito pequeno ou que o avanço (f) escolhido é muito grande. 

Adesão de material nas guias:  indica ou que a broca não  tem  redução de diâmetro em direção à 

haste, ou que ocorrem forças transversais pela afiação assimétrica das arestas principais de corte. 

Adesão de material no final dos canais da broca:  indica que o comprimento da hélice é muito pe‐

queno. Freqüentes saídas da broca, para remoção do cavaco, podem eliminar o problema. 

6.5 Operações de Furação 

O ângulo de saída () das brocas helicoidais diminui no sentido da periferia para o centro, sendo 

que se têm ângulos muito negativos próximos ao centro. Este fato, somado aos baixos valores de vc e à 

presença da aresta transversal, faz com que as condições de corte nessa região sejam desfavoráveis. 

Por isso, a força de avanço (força de penetração da broca) fica elevada, gerando deformação (fle‐

xão e flambagem) da broca (principalmente para brocas com “D” pequeno) e do eixo‐árvore (principal‐

mente para máquinas‐ferramenta pouco rígidas) e, por conseguinte, desvios de forma e de posição do 

furo (ovalização e excentricidade). A deformação plástica do material no fundo do furo aumenta ainda 

mais a força de avanço necessária (encruamento em materiais dúcteis). 

Por causa disso, faz‐se necessário minimizar o problema do corte no centro do furo. Uma das a‐

ções mais adotadas é o chanframento do gume transversal, que além de diminuir o tamanho da aresta 

de corte (gume), aumenta o valor do ângulo de saída () da broca nessa região. Uma segunda opção é a 

execução de um pré‐furo com diâmetro maior que o diâmetro do gume  transversal  (soluciona o pro‐

blema, mas aumenta os custos pela introdução de uma operação extra). 

Algumas brocas com pastilhas  intercambiáveis de metal‐duro possuem, em uma de suas arestas 

de corte, pastilha somente na periferia da broca e, na outra aresta cortante, pastilha somente na região 

central, como mostra a Figura 6.23. Assim, pode‐se usar na periferia uma pastilha com material e geo‐

metria adequada para as altas velocidades de corte inerentes a essa região, a mesma coisa acontecendo 

para o  inserto central,  isto é, neste usa‐se uma pastilha com material e geometria adequados para as 

condições do corte nessa região. Além disso, o inserto central, em geral, possui quebra‐cavacos na sua 

superfície de saída, facilitando a expulsão dos fragmentos de material removido da região de corte. 

 

Figura 6.23 – Broca com insertos intercambiáveis de metal‐duro no centro e na periferia (Sandvik CoroDrill 880) 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

152  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

6.5.1 Furação com pré­furo 

Muitas vezes, para se abrir um furo com broca helicoidal, necessita‐se primeiro fazer um furo de 

centro para que a broca não realize um corte excêntrico já a partir do início do furo. 

Devido a pouca rigidez e potência das furadeiras convencionais, muitas vezes, para a execução de 

um furo de diâmetro médio, é necessário primeiramente usinar um pré‐furo de diâmetro menor. Entre‐

tanto, o uso de brocas de metal‐duro em máquinas modernas (com alta rotação e alta rigidez) permite a 

obtenção de furos mais precisos (da ordem de  IT9   43 m para furos entre 10 mm e 18 mm), 

muitas vezes sem a aplicação de furos de centro e/ou pré‐furos. Muitas destas brocas possuem geome‐

tria com função autocentrante, isto é, a geometria da broca é tal que evita (ou minimiza) a realização de 

furos excêntricos, mesmo sem o uso de furos de centro ou buchas‐guia (Fig. 6.24). 

Figura 6.24 – Broca Dormer tipo Hydra com cabeça intercambiável e geometria autocentrante 

6.5.2 Formação do cavaco e furação profunda 

Cada processo é capaz de produzir furos até certa profundidade. Esta capacidade é uma função 

tanto dos processos quanto do movimento da árvore. É função também do comprimento da ferramen‐

ta, da capacidade de remoção dos cavacos, e também do diâmetro e do comprimento do furo. 

Um dos problemas do processo de furação é a saída (expulsão) dos cavacos de dentro do furo. Se 

os cavacos não forem formados de maneira tal que propiciem sua fácil retirada, eles podem provocar o 

entupimento do furo, aumento do torque (momento de torção) necessário e a conseqüente quebra da 

broca. A quebra de uma broca dentro de um furo é um problema grave, pois além da perda da ferra‐

menta, a retirada da ferramenta do interior do furo é, em geral, uma tarefa cara e demorada que, mui‐

tas vezes, ocasiona a rejeição da peça. Se for levado em conta que um furo é normalmente um pequeno 

detalhe de uma peça bem maior, tal rejeição pode representar perda substancial. 

Outro problema é a falta de retilineidade da linha de centro (principalmente em furos longos). Em 

geral, a melhor retilineidade é alcançada quando tanto a peça quanto a ferramenta giram. Se isto não é 

possível, a melhor opção é girar apenas a peça (p.ex. furos em tornos). A pior condição com respeito ao 

desvio da linha de centro se obtém quando a ferramenta é dotada de rotação e a peça permanece para‐

da (que ocorre na grande maioria das furadeiras e centros de usinagem). 

Dentro desta abordagem, é necessário gerar cavacos que tenham uma geometria que facilite sua 

remoção do furo. Se o cavaco formado tiver a forma de fita, será complicado extraí‐lo; cavacos helicoi‐

dais ou em lascas são os que podem ser mais facilmente removidos dos furos. Quão mais profundo for o 

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Prof. Dr. André João de Souza    

153PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

furo, mais difícil é a remoção do cavaco. Por isso faz‐se necessária a utilização de um ciclo de operações 

que retire freqüentemente a broca de dentro do furo durante o processo (o que gera tempos passivos 

extras pela interrupção freqüente do processo) para que o cavaco e o calor possam ser removidos, prin‐

cipalmente quando o material que está sendo usinado gera cavacos longos. Outro problema é a lubrifi‐

cação/refrigeração da região de corte. Algumas vezes as brocas são dotadas de canais internos que pos‐

sibilitam a  introdução do  fluido  lubrirrefrigerante sob pressão pelo  interior da mesma a  fim de que a 

região de corte, no fundo do furo, possa ser alcançada (Fig. 6.25). Além do mais, a capacidade do lubrir‐

refrigerante em remover os cavacos da zona de corte dependerá da viscosidade e da vazão do fluido. 

   

Figura 6.25 – Broca Iscar com canais internos de lubrificação/refrigeração 

O processo de furação a seco ainda deve ser mais bem estudado, uma vez que fluidos ainda preci‐

sam ser utilizados porque promovem a  lubrificação, a refrigeração e a expulsão dos cavacos, evitando 

que estes se soldem por fricção (caldeamento) na aresta de corte e no furo. Sem a utilização de fluido, a 

rugosidade de um  furo pode  ser duas vezes maior do que quando  se utiliza  fluido  lubrirrefrigerante. 

Assim, métodos alternativos de refrigeração para processos mais exigentes devem ser propostos e pes‐

quisados, coberturas de ferramentas também devem apresentar características superiores para supor‐

tarem altas taxas de calor e ao mesmo tempo proporcionarem um efeito lubrificante como tem aconte‐

cido atualmente. Desta  forma, novas  ferramentas e  coberturas devem permitir um equilíbrio entre a 

melhoria das condições de corte e o meio ambiente  sem afetar a produtividade e não gerando altos 

custos de implantações e modificações do atual chão de fábrica conhecido. 

6.5.3 Ferramentas e operações especiais 

Em furos de precisão, normalmente emprega‐se uma broca helicoidal (operação de desbaste) e, 

depois, o  furo passa por operações de acabamento  tais como:  (a) alargamento;  (b) brochamento;  (c) 

mandrilamento; (d) torneamento interno; e (e) retificação interna A Figura 6.26 mostra tais processos. 

Alargamento: utilizado em furos de pequenos diâmetros (geralmente menores de 20 mm) quando 

se deseja uma tolerância na faixa de IT7 ( 18 m para diâmetros entre 10 mm e 18 mm). 

Mandrilamento: completar... 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

154  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Alargamento  Mandrilamento  Brochamento interno  

 

Torneamento interno  Retificação interna 

Figura 6.26 – Ferramentas e operações especiais 

Brochamento: usado em furos passantes com diâmetros médios e grandes  (freqüentemente acima 

de 20 mm), lisos ou estriados, com tolerâncias na faixa de IT7 ( 21 m para diâmetros entre 18 

mm e 30 mm). É uma operação bastante rápida. A brocha é uma ferramenta delicada e muito cara. 

Torneamento Interno: aplicado no acabamento de furos de diâmetros médios e grandes (comumen‐

te acima de 15 mm) em peças de revolução. Não possui limitação com relação ao volume de pro‐

dução e pode obter furos de qualidade IT7. Com o desenvolvimento das máquinas‐ferramentas, já se 

consegue em produção furos torneados com tolerância IT6 ( 13 m para diâmetros entre 18 mm 

e 30 mm) ou até menor. 

Retificação Interna: usada também em furos médios e grandes e se deseja tolerâncias mais aperta‐

das, na faixa de IT5 ( 9 m para diâmetros entre 18 mm e 30 mm), de regra após ter sido reali‐

zado o tratamento térmico final da peça (a peça já endurecida). Muitas vezes, a retificação é realiza‐

da após o furo ter recebido uma das operações citadas nos itens anteriores. 

6.6 Esforços de Corte em Furação 

A  importância do conhecimento dos esforços de corte no processo de  furação está  relacionada 

com a determinação dos fenômenos que ocorrem na região de formação do cavaco, para a explicação 

de mecanismos de desgaste e como critério para a determinação da usinabilidade de um material. 

Durante a furação, verificam‐se as seguintes resistências à penetração da broca devidas: 

ao corte do material nas duas arestas (ou gumes) principais; 

ao corte e esmagamento do material na aresta (ou gume) transversal; 

ao atrito das guias com a parede do furo e entre a superfície de saída da broca e o cavaco. 

A Força de Usinagem (F) que atua sobre a cunha cortante durante a furação pode ser decompos‐

ta em três componentes (Fig. 6.27): força de corte (Fc), força de avanço (Ff) e a força passiva (Fp). 

Page 67: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

155PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Figura 6.27 – Componentes ortogonais da força de usinagem em furação 

Força de Corte (Fc): predominantemente responsável pelo momento de torção (Mt) que atua na fu‐

ração. O atrito das guias da broca e dos cavacos na parede do furo também contribui para o aumento 

de Mt. Esta contribuição depende da qualidade da afiação e do fluido de corte utilizado. 

Força de Avanço (Ff): decorrente da atuação da aresta transversal (corte deficiente e esmagamento 

do material) e da resistência ao corte (penetração) do material usinado. Esta força também recebe 

pequena contribuição do atrito do cavaco nos canais da broca. Vale salientar que, quando as arestas 

principais da broca não estão igualmente afiadas, os esforços são diferentes de uma aresta principal 

para outra, podendo causar flexão na ferramenta. 

Força Passiva (Fp): atuante em uma parcela da aresta principal de corte, a Fp tem sentido oposto à 

força passiva atuante na outra. Presumindo‐se que a geometria da ponta da broca tenha sido corre‐

tamente construída, a  resultante é nula Fp1  Fp2 = 0. Ela é desprezível quando comparada com as 

forças de corte (Fc) e as forças de avanço (Ff). 

Uma broca helicoidal durante o corte é basicamente submetida a esforços de torção (devido à ro‐

tação da broca) e esforços de compressão (devido ao avanço da broca). Assim, para se estimar os esfor‐

ços de um processo de furação, basta calcular‐se o momento torçor e a força de avanço do processo. 

No processo de furação com brocas helicoidais de aço‐rápido, os componentes ortogonais da for‐

ças de usinagem  (corte Fc, avanço Ff e passiva Fp) e o momento de  torção  (Mt)  seguem os  seguintes 

comportamentos (Fig. 6.28): 

A Ff e o Mt são diretamente proporcionais à largura da marca de desgaste de flanco da broca (VB). 

A elevação da Ff e do Mt não possui repetitividade para a mesmo valor de VB. 

A Fp  resultante não mostra variação com o desgaste, pois o desgaste  simultâneo das duas arestas 

principais compensa o seu efeito. Apenas diferenças de desgaste podem ser reconhecidas. 

A participação percentual das arestas principais de corte, da aresta  transversal e dos atritos no 

momento torçor e na força de avanço oscila entre os fatores apresentados na Tabela 6.2.  

Tabela 6.2 – Participação das arestas da broca helicoidal nos esforços de corte em furação 

  ARESTAS PRINCIPAIS  ARESTA TRANSVERSAL  ATRITOS 

Momento Torçor (Mt)  77 a 90%  3 a 10%  3 a 15% 

Força de Avanço (Ff)  35 a 60%  40 a 60%  2 a 5% 

Page 68: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

156  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

 

Figura 6.28 – Força de avanço Ff, força passiva Fp e momento de torção Mt em função da marca de desgaste VB 

O ângulo de saída () das brocas helicoidais diminui no sentido da periferia para o centro da bro‐

ca, sendo que se têm ângulos muito negativos próximos ao centro. Este fato, somado aos baixos valores 

de velocidade de corte e à presença da aresta transversal, faz com que as condições de corte nessa regi‐

ão sejam bem desfavoráveis. Por isso, a força de avanço Ff (força de penetração da broca) fica elevada, 

gerando deformação (flexão e flambagem) da broca (principalmente para brocas com diâmetro peque‐

no) e do eixo‐árvore (principalmente para máquinas‐ferramenta pouco rígidas) e, por conseguinte, des‐

vios de forma e de posição do furo (ovalização e excentricidade). A deformação plástica do material no 

fundo do furo aumenta ainda mais a força de avanço necessária (encruamento em materiais dúcteis). 

Por causa disso, faz‐se necessário minimizar o problema do corte no centro do furo. Uma das a‐

ções mais adotadas é o chanframento da aresta transversal de corte, que além de diminuir o tamanho 

da aresta principal, aumenta o valor de  nessa região. Uma segunda opção é a execução de um pré‐furo 

com diâmetro maior que o comprimento da aresta transversal (soluciona o problema, mas aumenta os 

custos pela introdução de uma operação extra). 

6.6.1 Equações empíricas para o cálculo dos esforços em furação 

Como em todos os processos de usinagem, diversos são os fatores que  influem nos esforços de 

corte durante a furação, dentre eles: o avanço, a profundidade de corte, a velocidade de corte, a geo‐

metria da ferramenta, o material da ferramenta, o material da peça etc. 

Para que as equações experimentais que possam estimar os valores destes esforços sejam deter‐

minadas, é necessário que o número de parâmetros de influência no processo seja reduzido, a fim de ter 

uma equação possível de ser usada. Assim, os pesquisadores KRONENBERG E H. DAAR desenvolveram e‐

quações baseadas no diâmetro (D) do furo, no avanço (f) e no material da peça para brocas. Os demais 

fatores estão implícitos nas constantes definidas. Tais equações estão representadas na Tabela 6.3. 

Os valores das constantes do material da peça (C, x e y) das equações mostradas na Tabela 6.3 são 

apresentados nas Tabelas 6.4 e 6.5. 

Page 69: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

157PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

 

Tabela 6.3 – Equações empíricas para determinação dos esforços em furação 

  FURAÇÃO EM CHEIO  FURAÇÃO COM PRÉ‐FURO 

Momento Torçor 

[Nmm] 

x1 y1t 1M C D f  

KRONENBERG 

2 x3 x3 x3 1 y3t 3M C D D d f  

H. DAAR 

Força de Avanço 

[N] 

x2 y2f 2F C D f  

H. DAAR 

1 x4 x4 x4 1 y4f 4F C D D d f  

H. DAAR 

D  diâmetro da broca [mm]          f  avanço da broca [mm/volta]          Ci, xi, yi  constantes do material da peça 

Tabela 6.4 – Coeficientes para a obtenção do momento de torção 

FURAÇÃO EM CHEIO  FURAÇÃO COM PRÉ‐FURO 

Aço  C1  x1  y1  Aço  C3  x3  y3 

1085  296  2,05  0,86  1085  271  1,90  0,29 

1020  148  2,22  0,76  1020  236  1,60  0,23 

1065  238  2,05  0,83  1065  185  2,10  0,30 

1055  215  2,01  0,77  1055  198  1,70  0,34 

1025  372  1,87  0,77  1025  216  1,90  0,26 

52100  459  1,97  0,77  52100  341  2,50  0,30 

VM 20  477  1,77  0,72  VM 20  213  1,90  0,30 

VND  257  2,13  0,78  VND  369  1,90  0,22 

VS 60  107  2,33  0,70  VS 60  466  0,50  0,31 

 

Tabela 6.5 – Coeficientes para a obtenção da força de avanço 

FURAÇÃO EM CHEIO  FURAÇÃO COM PRÉ‐FURO 

Aço  C2  x2  y2  Aço  C4  x4  y4 

1085  1579  1,02  0,79  1085  373  0,90  0,49 

1020  319  1,32  0,65  1020  1098  0,20  0,39 

1065  486  1,07  0,54  1065  273  0,60  0,56 

1055  216  1,32  0,54  1055  373  0,40  0,62 

1025  328  1,21  0,60  1025  407  0,60  0,43 

52100  411  1,41  0,66  52100  632  1,20  0,46 

VM 20  268  1,30  0,59  VM 20  451  0,50  0,46 

VND  540  1,29  0,72  VND  917  0,60  0,32 

VS 60  419  1,35  0,70  VS 60  677  0,20  0,60 

 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

158  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

6.6.1.1 Exemplo 6.1 

Seja uma broca de aço‐rápido com 12 mm que será usada para a  furação do aço ABNT 1020. 

Considerando um avanço de 0,8 mm/volta, determine: (a) a força de avanço (Ff) e o momento de torção 

(Mt) na furação em cheio; (b) a Ff e o Mt na furação com pré‐furo de 4 mm. 

Resolução do Exemplo 6.1: 

De acordo com as Tabelas 6.4 e 6.5 para o aço ABNT 1020: 

C1 = 148  C2 = 319  C3 = 236  C4 = 1098 

x1 = 2,22  x2 = 1,32  x3 = 1,60  x4 = 0,20 

y1 = 0,76  y2 = 0,65  y3 = 0,23  y4 = 0,39 

 

(a) Conforme a Tabela 6.3 para D = 12 mm e f = 0,8 mm/volta: 

Força de avanço na furação em cheio:  x2 y2f 2F C D f  

1,32 0,65f fF 319 12 0,8        F 7,34 kN  

Momento de torção na furação em cheio:  x1 y1t 1M C D f  

2,22 0,76t tM 148 12 0,8        M 31,1 N m  

(b) Considerando d = 4 mm: 

Força de avanço na furação com pré‐furo:  1 x4 x4 x4 1 y4f 4F C D D d f  

1 0,2 0,2 0,2 1 0,39f fF 1098 12 12 4 0,8            F 2,27 kN  

Momento de torção na furação com pré‐furo:  2 x3 x3 x3 1 y3t 3M C D D d f  

2 1,6 1,6 1,6 1 0,23t tM 236 12 12 4 0,8            M 23,7 N m  

 

6.6.2 Determinação do avanço máximo permissível da ferramenta 

Uma broca helicoidal é submetida basicamente aos esforços de torção e compressão. Se os esfor‐

ços em cada aresta principal de corte da broca não forem iguais (devido, principalmente, a uma afiação 

desigual dos dois gumes), surgirá uma resultante radial diferente de zero (Fp1  Fp2  0), que provocará 

flexão na broca, podendo  levá‐la à ruptura. Em brocas de pequeno diâmetro (D  3,5 mm), também a 

flambagem deve ser levada em consideração. 

Quanto maior o esforço a que a broca é submetida, mais a máquina é solicitada e maior é o risco 

da broca se quebrar. Baseando‐se nas equações da Tabela 6.3 e nas características da  ferramenta de 

corte e da máquina, é possível determinar o avanço máximo permissível para a realização de um dese‐

jado  furo, acima do qual a máquina‐ferramenta  (furadeira) não consegue mais realizar o corte e/ou a 

broca se rompe. Três são os fatores limitantes: 

Page 71: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

159PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Material da broca 

Rigidez da máquina‐ferramenta 

Potência do motor do eixo‐árvore 

6.6.2.1 Material da broca 

A tensão admissível para uma broca normal de aço‐rápido é adm  245 N/mm2. A tensão ideal re‐

sultante da ação conjunta do momento torçor e da força de avanço é dada por: 

33t

i adm t3

36,4 M 245 D          M 6,73 D

D 36,4

 

Assim, tem‐se para a furação em cheio (situação mais crítica) a seguinte situação: 

 

13 x1 y1

max

1

6,73 Df

C

  (6.1)

Desta forma, utilizando‐se um valor de avanço menor ou igual ao dado pelas equações supramen‐

cionadas, garante‐se que a broca não vai romper. O avanço máximo calculado dessa forma é válido para 

brocas de diâmetros médios e pequenos. Para brocas de grandes diâmetros, certamente devem‐se levar 

em consideração a resistência e a rigidez da máquina (vide Fig. 6.13). 

6.6.2.2 Rigidez da máquina‐ferramenta 

Toda máquina de furar tem um limite para a força de penetração que pode realizar. Acima deste 

limite, ela não consegue prosseguir o movimento de avanço da broca. Em furadeiras radiais, costuma‐se 

tomar a  força máxima  como aquela que produz no braço da máquina uma  flecha por  flambagem de 

1,5 mm por metro de braço. Desta forma, tem‐se para a furação em cheio (situação mais crítica): 

x2 y2 y2 furadeiraf 2 furadeira max x2

2

FF C D f F            f

C D

 

 

1

y2furadeira

max x22

F     f

C D

  (6.2)

A Figura 6.29 mostra um diagrama com a variação do avanço máximo permissível (fmax) em função 

do diâmetro (D) da broca para a furação do aço 1025, levando‐se em consideração a resistência da bro‐

ca na  furação em  cheio e a  força de penetração máxima da máquina  (considerada  igual a 2480 kgf).  

Observa‐se no diagrama que para D  35 mm, a resistência da broca é a  limitação, enquanto que para 

D  35 mm, a limitação passa a ser a força de avanço da máquina. Vale dizer também que o avanço má‐

ximo para D  35 mm vale fmax  1,0 mm/volta. 

6.6.2.3 Potência do motor do eixo‐árvore 

A potência máxima de corte disponível no eixo‐árvore de uma furadeira (Pcdisp) pode ser dada por: 

Page 72: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

160  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

tmax

cmax ccdisp motor

M D n

F v D 2 1000P P

60 60

 

 

 

Figura 6.29 – Avanço máximo permissível versus diâmetro da broca 

Levando‐se em consideração a furação em cheio: 

x1 y1tmax motormotor 1 max

M n 9550 PP                    C D f

30000 n

 

 

1

y1motor

max x11

9550 P     f

n C D

  (6.3) 

6.6.2.4 Exemplo 6.2 

Verifique se o avanço do Exemplo 6.1 é aceitável, levando‐se em conta a resistência da broca. 

Resolução do Exemplo 6.2: 

1 13 x1 3 2,22y1 0,76

max max

1

6,73 D 6,73 12f            f 0,22 mm/volta

C 148

 

O avanço da broca de aço‐rápido do Exemplo 6.1 não é aceitável, visto que não se deve ultrapas‐

sar 0,22 mm/volta (o exemplo utiliza 0,8 mm/volta).  

 

6.6.2.5 Exemplo 6.3 

Seja uma broca de aço‐rápido com 40 mm que será usada na furação do aço ABNT 1055 com ro‐

tação n  1000 rpm. Sabendo que a força de penetração máxima na furadeira é 25 kN e a sua potência é 

0

1

2

3

4

5

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Avan

ço M

áxim

o [m

m/v

olta

]

Diâmetro da Broca [mm]

Furação do Aço 1025 ‐ Ffmax = 2480 kgf

Resistência da Broca

Força de Avanço da Máquina

Page 73: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

161PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

15 cv (rendimento de 80%), calcule: (a) o avanço máximo permissível, (b) a força de avanço máxima, (c) 

o momento de torção máximo e (d) a força de corte máxima. 

Resolução do Exemplo 6.3: 

De acordo com as Tabelas 6.4 e 6.5 para o aço ABNT 1055: 

C1 = 215  x1 = 2,01  y1 = 0,77 

C2 = 216  x2 = 1,32  y2 = 0,54 

 (a) Cálculo do avanço máximo permissível em função de: 

Material da broca: 1 1

3 x1 3 2,01y1 0,77

max max

1

6,73 D 6,73 40f            f 1,28 mm/volta

C 215

 

Rigidez da máquina‐ferramenta: 1 1y2 0,54

furadeiramax maxx2 1,32

2

F 25000f            f 0,804 mm/volta

C D 216 40

 

Potência do motor do eixo‐árvore: 1 1y1 0,77

motormax maxx1 2,01

1

9550 P 9550 15 735,55 0,8f            f 0,154 mm/volta

n C D 1000 215 40

 

Portanto, o avanço máximo permissível é fmax  0,15 mm/volta. 

(b) Cálculo da força de avanço máxima: 

x2 y2 1,32 0,54fmax 2 fmaxF C D f 216 40 0,15        F 10,1 kN  

(c) Cálculo do momento de torção máximo: 

x1 y1 2,01 0,77tmax 1 tmaxM C D f 215 40 0,15            M 82,8 N m

 

(d) Cálculo da força de corte máxima: 

tmaxcmax cmax

2 M 2 82,8F            F 4,14 kN

D 40

 

 

6.7 Qualidade de Peças Furadas 

A análise do acabamento obtido em processos de furação normalmente é uma tarefa complexa, 

pois se trata de um processo de desbaste no qual o acabamento é obtido por outro processo. 

Page 74: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

162  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

No entanto, todas as operações de acabamento em furos são utilizadas para produzir característi‐

cas exclusivas na peça, visando satisfazer as exigências específicas de tolerâncias. Por exemplo, o alar‐

gamento produz uma melhor retilineidade, enquanto o mandrilamento resulta num melhor paralelismo. 

Os processos de furação produzem furos que poderão ter diâmetros maiores ou menores do que 

o desejado. Da mesma forma existem tolerâncias dimensionais negativas e/ou positivas. Quanto às tole‐

râncias geométricas, a retilineidade e o paralelismo dependem do comprimento e do diâmetro do furo; 

por outro lado, a circularidade e o perpendicularismo dependem do processo. Erro de planicidade ocor‐

re devido à deflexão na  ferramenta  (principalmente), excentricidade da  ferramenta, erro na máquina 

etc. e depende da profundidade e da largura de corte, do comprimento e do diâmetro da ferramenta. 

A Figura 6.30 esquematiza os erros de forma (diâmetro não uniforme), de posição (deslocamento 

do centro do  furo), de circularidade  (seção circular distorcida), dimensional  (diâmetro  resultante dife‐

rente da broca) e de rebarbação (rebarbas na entrada ou saída do furo). 

Figura 6.30 – Erros comuns na geometria do furo 

6.8 Problemas 

1. Refaça o Exemplo 6.3 utilizando uma broca de aço‐rápido com 25 mm e rotação n  1500 rpm. 

Compare os resultados com os encontrados no Exemplo 6.3. 

2. Considerando um avanço f  0,3 mm/volta, determine a rotação máxima permitida à broca de aço‐

rápido para os dados do Exemplo 6.3. 

3. Reproduza a Figura 6.29 para o Exemplo 6.3. 

   

Page 75: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

163PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

7 PROCESSO DE FRESAMENTO 

7.1 Generalidades 

A operação de  fresamento é uma das mais  importantes no processo de usinagem mecânica. A 

operação consiste na retirada do excesso de material ou sobrematerial da superfície de uma peça (re‐

mover cavaco) com a finalidade de construir superfícies planas retilíneas ou com uma determinada for‐

ma e acabamento desejados. No fresamento, a remoção do sobrematerial da peça é feita pela combina‐

ção de dois movimentos, efetuados ao mesmo tempo. Um dos movimentos é o de rotação da ferramen‐

ta ao redor do seu eixo. O outro é o movimento da mesa da máquina, onde é fixada a peça a ser usina‐

da. É o movimento da mesa da máquina‐ferramenta ou movimento de avanço que  leva a peça até a 

ferramenta de corte e torna possível a operação de usinagem. A ferramenta, chamada fresa, é provida 

de arestas cortantes (gumes) dispostas simetricamente em torno de um eixo. 

O fato da fresa poder se apresentar sob as mais diferentes formas confere a esta operação um ca‐

ráter de versatilidade em termos de geometrias possíveis de serem geradas. Boa parte das superfícies 

não‐planas e de não‐revolução de peças e/ou componentes mecânicos  somente pode  ser gerada por 

fresamento. As superfícies planas de não‐revolução podem ser executadas por vários processos além do 

fresamento, dentre eles o aplainamento, o brochamento externo e a retificação. A Tabela 7.1 apresenta 

dados comparativos entre estes processos. 

Tabela 7.1 ‐ Comparação entre o fresamento e outros processos de usinagem no corte de superfícies planas de não‐revolução 

FRESAMENTO  APLAINAMENTO 

Operação mais barata Máquina e manutenção mais barata e menor tempo 

de afiação da ferramenta 

FRESAMENTO  BROCHAMENTO EXTERNO 

A operação de brochamento é impossível quando a 

superfície a ser usinada faz uma intersecção com 

qualquer outra superfície existente 

Operação mais barata a partir de um determinado 

número de peças no lote 

FRESAMENTO  RETIFICAÇÃO 

Maior capacidade de remoção de cavaco 

Melhor acabamento da superfície usinada e obtenção 

de tolerâncias mais apertadas. Muitas vezes, operação 

de retificação vem depois da operação de fresamento 

Recordando (vide Fig. 7.1): 

Aplainamento é o processo mecânico de usinagem destinado à obtenção de  superfícies  regradas, 

geradas por um movimento retilíneo alternativo da peça ou da ferramenta. O aplainamento pode ser 

horizontal ou vertical. Quanto à  finalidade, as operações de aplainamento podem  ser classificadas 

ainda em aplainamento de desbaste a aplainamento de acabamento. 

Page 76: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

164  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Brochamento é um processo mecânico de usinagem destinado à obtenção de superfícies quaisquer 

com auxílio de ferramentas multicortantes. Para tanto, a ferramenta ou a peça se deslocam segundo 

uma trajetória retilínea, coincidente ou paralela ao eixo da ferramenta. O brochamento pode ser in‐

terno (executado num furo passante) ou externo (executado numa superfície externa da peça). 

Retificação é um processo mecânico de usinagem por abrasão4 destinado à obtenção de superfícies 

com auxílio de ferramentas abrasivas de revolução. Para tanto, a ferramenta gira e a peça ou a fer‐

ramenta se desloca segundo uma trajetória determinada, podendo a peça girar ou não. A retificação 

pode ser tangencial (cilíndrica, cônica, de perfis, plana, sem centros) ou frontal. 

   

(a)  (b) 

 

(c)  (d) 

Figura 7.1 – Processos de usinagem usados na geração de superfícies planas de não‐revolução: (a) fresamento; (b) aplainamento; (c) brochamento; (d) retificação 

7.2 Movimentos e Grandezas no Processo 

Em usinagem, todos os movimentos são importantes. A todos eles estão associados direções, sen‐

tidos, velocidades e percursos. 

Em fresamento, a velocidade de corte vc (Eq. 7.1) é a velocidade tangencial instantânea resultante 

da rotação n da ferramenta com diâmetro D em um ponto de contato com a peça, onde os movimentos 

de corte e de avanço ocorrem simultaneamente: 

  c

D nv

1000

  (7.1)

onde vc = velocidade de corte [m/min]; D = diâmetro da fresa [mm]; n = rotação da ferramenta [rpm]. 

                                                            4 Denomina‐se usinagem por abrasão o processo mecânico de usinagem no qual são empregados abrasivos ligados ou soltos. 

Segundo a Norma ABNT PB‐26, uma ferramenta abrasiva é aquela constituída de grãos abrasivos ligados por aglutinante, com 

formas a dimensões definidas. A ferramenta abrasiva com a forma de superfície de revolução adaptável a um eixo é denomi‐

nada rebolo abrasivo. Não são considerados rebolos abrasivos rodas ou discos de metal, madeira, tecido, papel, tendo uma ou 

várias camadas de abrasivos na superfície. 

Page 77: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

165PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Sabe‐se que f [mm/volta] é o percurso de avanço em cada volta da ferramenta. Assim, fz [mm] é o 

percurso de avanço por dente e por volta da ferramenta medido na direção de avanço (z = número de 

dentes da fresa). O avanço por dente corresponde à distância entre duas superfícies em usinagem con‐

secutivas, considerada na direção de avanço (Eq. 7.2). 

  z

ff

z   (7.2) 

O avanço de corte fc [mm] é a distância entre duas superfícies consecutivas em usinagem, medida 

no plano de trabalho da ferramenta e perpendicular à direção de corte (Eq. 7.3). 

  c zf f sen    (7.3) 

A velocidade de avanço vf [mm/min] é o produto do avanço pela rotação da ferramenta (Eq. 7.4). 

  f zv f n f z n   (7.4) 

A Figura 7.2 mostra o avanço por dente (fz) e as direções das velocidades associados ao movimen‐

to concordante  (vide  Item 7.5.1) e ao discordante  (vide  Item 7.5.2) no processo de  fresamento. Na 

figura,  é o ângulo entre as direções das velocidades de avanço (vf) e de corte (vc); e  é o ângulo entre as direções das velocidades efetiva (ve) e de corte (vc). 

 

Figura 7.2 – Grandezas de avanço no fresamento (a) concordante; (b) discordante 

As grandezas de penetração são aquelas que descrevem geometricamente a relação de penetra‐

ção entre a ferramenta e a peça. Em fresamento, ap corresponde à profundidade ou largura de penetra‐

ção da ferramenta em relação à peça, medida perpendicularmente ao plano de trabalho (Fig. 7.3). 

 

(a)  (b) 

Figura 7.3 – Grandezas de penetração no fresamento: (a) tangencial ou periférico; (b) frontal 

Page 78: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

166  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

No fresamento tangencial (Item 7.5.4), ap é denominado largura de corte; no fresamento frontal 

(Item 7.5.5), ap é denominada profundidade de corte. Assim como ap, a penetração de  trabalho  (ae) 

tem importância predominante no fresamento: ae corresponde à penetração da ferramenta em relação 

à peça medida no plano de trabalho perpendicularmente à direção de avanço. Tem‐se também af que 

representa a penetração da ferramenta medida no plano de trabalho na direção de avanço. 

O tempo de corte tc [min] (Eq. 7.5) resume a totalidade dos tempos ativos, pois ele representa o 

tempo em que os movimentos de corte e/ou avanço estão efetivamente ocorrendo: 

 f f f

c

f z z c

L L d Lt

v f z n 1000 f z v

  (7.5)

onde Lf é o percurso de avanço  [mm]. Em  fresamento, a dificuldade em obter  tc está em  justamente 

determinar Lf. Maiores detalhes na Seção 7.5. 

A taxa de remoção de material Q (Eq. 7.6) representa o volume de cavaco removido [cm3] por u‐

nidade de tempo [min]. Este parâmetro é frequentemente utilizado para determinar a eficiência de uma 

operação de usinagem. Em fresamento, ela é calculada pelo produto de três parâmetros: profundidade 

ou largura de corte, penetração de trabalho e velocidade de avanço da ferramenta: 

  p e fa a vQ

1000

  (7.6)

7.3 Máquinas­Ferramentas 

As peças a serem usinadas podem ter as mais variadas formas. Este poderia ser um fator de com‐

plicação do processo de usinagem. Porém, graças à  fresadora  (ou máquina de  fresar) e às suas  ferra‐

mentas e dispositivos especiais, é possível usinar praticamente qualquer peça com superfícies de todos 

os tipos e formatos. A operação de usinagem feita por meio da fresadora é chamada de fresamento. 

O  levantamento histórico  indica que a operação de fresamento surgiu em 1918. A fresadora é a 

máquina cuja ferramenta possui movimento de rotação e que permite movimentar a peça em um, dois, 

três ou mais eixos (lineares e/ou giratórios). Sendo assim, tem‐se uma máquina elaborada para execu‐

ção facilitada de peças prismáticas – ao contrário do torno que executa principalmente peças rotacio‐

nais (perfil de revolução). 

Algumas exigências de projeto e construção de máquinas de fresar: 

As máquinas‐ferramenta devem ser projetadas para altas solicitações estáticas e dinâmicas. 

O posicionamento da árvore deve ser radial ou axial sem folgas. 

O acionamento da árvore deve ser contínuo e sem folgas para evitar vibrações e permitir altas vidas 

das ferramentas. 

Fresamento sincronizado necessita de cuidados no acionamento e no avanço da mesa e dos carros. 

Facilidade na operação: visor eletrônico de posicionamento; aplicação de comando numérico. 

Page 79: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

167PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

7.3.1 Tipos de fresadoras 

Podem‐se classificar as fresadoras de diversas formas, sendo que as principais levam em conside‐

ração o  tipo de avanço, a estrutura, a posição do eixo‐árvore em  relação à mesa de  trabalho e a sua 

aplicação (OBS. mesa de trabalho é o lugar da máquina onde se fixa a peça a ser usinada). Tem‐se: 

Quanto ao avanço: 

Manual 

Automático (hidráulico ou elétrico) 

Quanto à estrutura: 

De oficina, também chamada de ferramenteira (maior flexibilidade) 

De produção (maior produtividade) 

Quanto à posição do eixo‐árvore: 

Horizontal (eixo árvore paralelo à mesa de trabalho); 

Vertical (eixo árvore perpendicular à mesa de trabalho); 

Universal (pode ser configurada para vertical ou horizontal); 

Omniversal (universal com a mesa que pode ser inclinada); 

Duplex (dois eixos‐árvore simultâneos); 

Triplex; 

Multiplex; 

Especiais. 

Quanto à aplicação: 

Convencional; 

Pantográfica (fresadora gravadora); 

Chaveteira (específica para fazer chavetas internas e/ou externas); 

Dentadora (específica para usinar engrenagens); 

Copiadora (o apalpador toca um modelo e a ferramenta o reproduz na peça). 

As fresadoras são, na maioria dos casos, classificadas de acordo com a posição do seu eixo‐árvore 

em relação à mesa de  trabalho. Por existirem diversos modelos de  fresadoras, as partes principais de 

uma máquina podem variar de uma configuração para outra. Desta forma, serão detalhados os princi‐

pais componentes de uma fresadora omniversal de produção e outros modelos comumente aplicados 

em ambiente industrial. 

7.3.1.1 Fresadora Omniversal 

Principais componentes da Fresadora omniversal (Fig. 7.4): 

Base: é o componente responsável por suportar toda a máquina e, muitas vezes, funciona também 

como reservatório de fluido refrigerante (Fig. 7.5). Normalmente os apoios possuem ajustes para ni‐

velamento da máquina no piso. 

Coluna: é a estrutura principal da máquina (Fig. 7.6). Costuma ser o alojamento do sistema de acio‐

namento e também dos motores. Possui as guias (barramento) do movimento vertical. 

Page 80: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

168  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

   

(a)  (b)  (c) 

Figura 7.4 – Configurações de uma fresadora omniversal: horizontal (a) foto; (b) desenho; (c) desenho vertical 

Console: desliza pelas guias da coluna, realizando o movimento vertical da peça  (Fig. 7.7). Aloja os 

mecanismos de acionamento da sela e da mesa. Possui as guias do movimento horizontal transver‐

sal. Na fresadora ferramenteira, normalmente de configuração vertical, não costuma haver o conso‐

le, pois o movimento vertical é realizado pelo próprio eixo árvore. 

Sela: na omniversal, a sela divide‐se em duas partes denominadas sela inferior e sela superior. A sela 

inferior  (Fig. 7.8a) desliza pelas guias do console, realizando o movimento horizontal transversal. A 

sela superior (Fig. 7.8b) gira em um plano horizontal em relação à  inferior, permitindo‐se  inclinar a 

peça. A superior possui as guias do movimento horizontal longitudinal. 

Mesa: desliza pelas guias da sela superior realizando o movimento horizontal  longitudinal (Fig. 7.9). 

Possui rasgos em “T” para fixação das peças e acessórios e canalizar o fluxo de fluido lubrirrefrigeran‐

te de volta ao reservatório. 

 

Figura 7.5 – Base  Figura 7.7 – Console 

   

 (a)  (b) 

Figura 7.8 – Sela: (a) inferior; (b) superior  Figura 7.6 – Coluna  Figura 7.9 – Mesa 

Torpedo: é a estrutura montada sobre a coluna (Fig. 7.10a). Sua finalidade é a de receber o suporte 

do mandril (Fig. 7.10b), quando a fresadora estiver na configuração horizontal e com ferramenta lon‐

ga. Quando se utiliza a configuração vertical, o torpedo é deslizado para trás. 

Cabeçote vertical: dispositivo que se  fixa na coluna da  fresadora e conecta‐se ao eixo‐árvore, alte‐rando a configuração de horizontal para vertical, Figura 7.11. 

Page 81: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

169PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

     

(a)  (b) 

Figura 7.10 – (a) torpedo; (b) suporte do mandril  Figura 7.11 – Cabeçote vertical 

Árvore: é o eixo que recebe a potência do motor e fornece o movimento de giro para a ferramenta. 

A árvore pode ser acionada através de correia e/ou engrenagens, as quais permitem o ajuste de al‐

gumas velocidades de rotação. Ela pode girar nos dois sentidos. Normalmente, em sua extremidade, 

há um cone (ISO ou Morse) para fixação direta de ferramentas ou de mandril porta ferramentas. 

7.3.1.2 Fresadoras de Console 

A Figura 7.12 mostra as fresadoras de console horizontal e vertical. 

(a)  (b) 

Figura 7.12 ‐ Fresadoras de console: (a) horizontal; (b) vertical 

Principais características: 

Coluna soldada na base. 

Console para movimento vertical no qual o carro transversal faz a movimentação da mesa. 

Máquinas horizontais: a coluna possui o acionamento principal e tem o fuso principal. 

Máquinas verticais: o acionamento principal está num compartimento fixado vertical ou horizontal‐

mente na coluna. 

Pequeno porte: potências de 1 a 25 kW. 

7.3.1.3 Fresadoras Horizontais 

Principais características das fresadoras horizontais (Fig. 7.13): 

Coluna é responsável pela movimentação vertical. 

Mesa possui carro transversal onde são fixadas as peças de trabalho. 

Com o deslocamento vertical da coluna, a força de avanço não é alterada com a movimentação do 

carro transversal. 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

170  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Qualidade de usinagem obtenível melhor que nas de console e transversais. 

 

Figura 7.13 – Fresadoras horizontais 

7.3.1.4 Fresadoras Paralelas 

A Figura 7.14 mostra as fresadoras paralelas pequenas e grandes. 

(a)  (b) 

Figura 7.14 – Fresadoras paralelas: (a) pequenas; (b) grandes 

Principais características: 

Grande mesa de fixação para usinagem de peças longas ou de peças em série. 

Possibilidade de se preparar uma mesa enquanto outra está sendo usada. 

Máquinas deste tipo podem ter vários cabeçotes, o que possibilita a usinagem de uma peça em cinco 

superfícies. 

7.3.1.5 Fresadoras Universais 

A Figura 7.15 ilustra uma fresadora universal (desenho e foto). 

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Prof. Dr. André João de Souza    

171PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

 

Figura 7.15 – Fresadora universal 

Principais características: 

Base, mesa giratória, cabeçote de fresamento flexível. 

Usinagem em todas as direções com ferramentas de geometrias complexas. 

Fabricação de pequenas e médias peças. 

Potências de 2 a 15 kW. 

7.3.1.6 Fresadoras de Mesa Circular 

A Figura 7.16 mostra as vistas laterais de uma fresadora de mesa circular. 

 

Figura 7.16 – Fresadora de mesa circular 

Principais características: 

As peças são fixadas em dispositivos que se encontram na mesa circular que realiza o movimento de 

avanço circular. 

Dois fusos principais posicionados verticalmente podem ser utilizados em operações em seqüência. 

Esse posicionamento tem a vantagem de o movimento de avanço ser contínuo e não necessitar um 

retorno da mesa. 

Os dispositivos de fixação dessas máquinas são hidráulicos e automáticos. 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

172  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

7.3.1.7 Fresadoras Copiadoras 

A Figura 7.17 ilustra dois tipos de fresadoras copiadoras. 

 

Figura 7.17 ‐ Fresadoras copiadoras 

Principais características: 

Presença de apalpador copiador. 

O acionamento de avanço deve ser bastante rígido, pois trabalha conjuntamente com o apalpador. 

Apalpadores em versões bidimensionais e 2½ dimensionais. 

Os apalpadores bidimensionais trabalham nos eixos X e Y. 

Os apalpadores 2½ dimensionais trabalham no eixo vertical. 

7.3.1.8 Fresadoras com Comando Numérico (Três Eixos) 

A Figura 7.18 mostra uma fresadora com comando numérico e movimentação em três eixos. 

Figura 7.18 – Fresadora com comando numérico (três eixos) 

Principais características: 

Movimento da coluna – eixo X. 

Movimento vertical pelo carro – eixo Y. 

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173PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Movimento do cabeçote porta‐ferramenta – eixo Z. 

O carro possui um palete que pode ser trocado. 

O cabeçote possui dispositivos para troca de ferramentas no magazine. 

7.3.2 Fixação e ajuste da peça na máquina 

Os principais acessórios utilizados em operações de fresamento relacionam‐se à fixação da peça 

na mesa de trabalho. São eles: parafusos e grampos de fixação (Fig. 7.19); calços (Fig. 7.20); cantoneiras 

de angulo  fixo ou ajustável  (Fig. 7.21); morsas  (Fig. 7.22); mesa divisora  (Fig. 7.23); divisor universal e 

contraponto (Fig. 7.24). 

Figura 7.19 – Parafusos e grampos de fixação  Figura 7.20 – Calços 

Figura 7.21 – Cantoneiras (de ângulo fixo e ajustável)  Figura 7.22 – Morsa 

Figura 7.23 – Mesa divisora  Figura 7.24 – Divisor universal e contraponto 

É muito importante ressaltar que a instalação de alguns dispositivos e/ou acessórios na mesa de 

trabalho da  fresadora deve  ser  realizada com muita atenção para evitar erros dimensionais na usina‐

gem. Para que o ajuste nesta instalação seja feito adequadamente, é importante que se faça uma análi‐

se do projeto do componente que será usinado, conciliando bom senso,  lógica e prática. A escolha de 

acessórios adequados proporciona economia de tempo de montagem/desmontagem, maior segurança 

nas operações de corte e evita vibrações indesejáveis. 

O exemplo clássico é a instalação de uma morsa. Após sua fixação na mesa com auxílio de gram‐

pos e/ou parafusos de fixação, deve‐se fazer o seu alinhamento/posicionamento (referenciamento) em 

três planos básicos com o auxílio de um relógio comparador, apalpando o seu mordente fixo que deverá 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

174  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

ficar paralelo ao movimento da mesa (Fig. 7.25). Também é necessário verificar se não há cavacos que 

mantenham a morsa ligeiramente inclinada no plano paralelo ao chão. 

 

Figura 7.25 – Fixação e posicionamento da peça na máquina de fresar 

Ainda para auxiliar o posicionamento, dispositivos com carregamento manual ou automático, com 

sensores de falha e travas elétricas são comumente encontrados. 

7.3.3 Fixação e ajuste da ferramenta na máquina 

Outro  conjunto de acessórios de grande  importância está  relacionado  com a  fixação das  ferra‐

mentas na máquina. Como já foi mencionado, o eixo‐árvore possui em sua extremidade um cone e cha‐

vetas. Neste cone pode‐se fixar um mandril ou uma ferramenta de haste cônica. Para garantir a fixação 

utiliza‐se uma haste roscada que atravessa a árvore. As chavetas evitam o deslizamento. 

Há ferramentas de haste cônica que podem ser fixadas diretamente no cone de fixação do eixo‐

árvore, que pode ser MORSE (menor esforço) ou ISO (maior fixação). Normalmente trata‐se de ferramen‐

tas relativamente grandes. Para fixarem‐se ferramentas menores que possuem outra dimensão de cone 

utiliza‐se um mandril adaptador, como mostrado pela Figura 7.26. Nesta mesma figura pode‐se observar 

na ponta do mandril a rosca onde se fixa a haste roscada. 

Com relação ao mandril, podem‐se ter três tipos: universal (JACOBS, Fig.7.27), porta­pinça e por­

ta­ferramenta. O mandril universal  é muito utilizado  em  furadeiras manuais, mas  também pode  ser 

utilizado em fresadoras, mas com ressalvas. Só podem ser fixadas ferramentas de haste cilíndrica e cujo 

esforço não seja elevado, pois a pressão de fixação não será suficiente. 

 

Figura 7.26 – Mandril adaptador para ferramentas de haste cônica (Cone MORSE) 

Figura 7.27 – Mandril universal tipo JACOBS 

Plano 2

Plano 3

Plano 1

Plano 2

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Prof. Dr. André João de Souza    

175PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

O mandril porta‐pinça  (Fig. 7.28) possui modo de  trabalho  similar ao  JACOBS, mas permite uma 

força de  fixação maior. Também é  indicado para  ferramentas de haste cilíndrica. A pinça é uma peça 

única com um furo central no diâmetro da haste a ser fixada e com diversos cortes longitudinais que lhe 

dão uma flexibilidade de fechar este furo em alguns décimos de milímetro. Este mandril é composto de 

duas partes. A primeira (que é o mandril propriamente dito) possui uma cavidade que receberá a pinça. 

Esta cavidade possui uma superfície cônica de formato igual ao da pinça. A segunda parte, denominada 

porca, é roscada no mandril. Durante o rosqueamento, a pinça é forçada pela porca a entrar na cavidade 

do mandril e, devido ao formato cônico, obriga a pinça a se fechar e fixar à ferramenta. 

 

Figura 7.28 – Mandril porta pinça e dois modelos de pinças 

Para ferramentas de maior porte, e conseqüentemente, maior esforço de usinagem, é necessário 

uma maior garantia de que não haja um deslizamento entre o mandril e a própria ferramenta. Nestes 

casos, o mandril possui chavetas, que podem ser transversais (quando o mandril é curto) ou  longitudi‐

nais. A Figura 7.29 apresenta alguns modelos de mandril. 

 

Figura 7.29 – Alguns modelos de mandril 

A Figura 7.30 apresenta um mandril curto com chaveta longitudinal e transversal. 

 

(a)  (b) 

Figura 7.30 – Mandril porta‐fresa curto com chaveta (a) longitudinal; (b) transversal 

A Figura 7.31 apresenta um mandril porta‐fresa  longo com chaveta  longitudinal, também deno‐

minado de eixo porta‐fresa de haste longa. 

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176  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Figura 7.31 – Eixo porta‐fresa de haste longa 

7.4 Ferramentas de Corte 

As  fresas  são  ferramentas  rotativas providas de múltiplas arestas de  corte dispostos  simetrica‐

mente ao redor de um eixo, removendo intermitentemente material da peça. Esta característica oferece 

uma grande vantagem das fresas sobre outras ferramentas: o menor desgaste. Quando os dentes não 

estão realizando o corte eles estão sendo refrigerados, e isto permite que mantenham sua dureza. 

Em muitos casos utilizam‐se fresas com apenas uma aresta cortante, denominadas popularmente 

de  bailarina.  Em  situações  específicas  também  pode  ser  necessário  o  uso  de  uma  disposição  não‐

simétrica das arestas de corte para evitar ressonância. 

7.4.1 Tipos de Fresas 

As fresas podem ser classificadas de várias maneiras, como mostra a Figura 7.32. A primeira delas 

seria quanto à forma geral. As fresas podem ser cilíndricas, cônicas ou ainda de forma. Quanto à estru‐

tura, as  fresas podem  ser  inteiriças,  com  insertos,  com dentes postiços, ou de haste. As  ferramentas 

mais estreitas são também chamadas de fresas de disco, enquanto as ferramentas que possuem haste 

própria são denominadas de fresas de haste ou fresas de topo. 

 INTEIRIÇA  COM INSERTO  COM DENTES POSTIÇOS  DE HASTE 

 CILÍNDRICA  DE DISCO  ANGULAR  DETALONADA 

Figura 7.32 – Ferramentas de fresar 

As fresas cônicas ou angulares podem possuir apenas um ângulo, como as fresas para encaixes ti‐

po cauda de andorinha, ou possuir dois ângulos. Neste segundo caso podem ser classificadas como si‐

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177PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

métricas  (ângulos  iguais) ou bi‐angulares  (ângulos diferentes). Normalmente  as  fresas para  cauda de 

andorinha possuem haste incorporada, enquanto as fresas bi‐angulares não. 

As fresas de forma (detalonadas) possuem o perfil de seus dentes afiados para gerar superfícies 

especiais tais como dentes de engrenagem  (fresa módulo), superfícies côncavas ou convexas, raios de 

concordância e outras formas específicas de cada caso, e são denominadas fresas especiais. Alguns au‐

tores classificam as fresas cônicas como fresas de forma. As fresas especiais normalmente são fabrica‐

das pela própria empresa que as utiliza, no setor denominado de ferramentaria, ou são encomendadas 

em empresas especializadas em ferramentas. 

Quanto ao sentido de corte, a classificação depende do sentido de giro da ferramenta, observado 

do lado do acionamento (de cima para baixo). Têm‐se as fresas de corte à direita (horário) e as fresas de 

corte à esquerda (anti‐horário). Obviamente, esta classificação só se emprega em fresas de haste fixa. 

As que não possuem haste podem, em geral, ser fixadas tanto em um sentido como em outro. 

Quanto aos dentes, podem ser retos, helicoidais, ou bi‐helicoidais. Os dentes helicoidais têm co‐

mo vantagem uma menor vibração durante a usinagem, ou seja, o corte é mais suave, pois o dente não 

atinge a peça de uma só vez como acontece com os dentes retos. Os dentes helicoidais geram uma força 

axial, e para compensar esta força pode‐se recorrer a uma fresa bi‐helicoidal, ou seja, uma ferramenta 

que possui um dente afiado em um sentido e o seguinte afiado no inverso. Mas fresas bi‐helicoidais só 

são possíveis em espessuras relativamente pequenas e com ângulos reduzidos de hélice. Para possibili‐

tar usinagem de grandes superfícies sem o efeito da força axial deve‐se recorrer a uma montagem de 

duas fresas de mesmo diâmetro e número de dentes, mas com hélices invertidas. 

Quanto à  construção, podem‐se  classificar as  fresas  como  inteiriças, onde  toda a  ferramenta é 

construída de um mesmo material. As mais comuns são as de aço rápido e metal‐duro. Há também a 

fresa calçada, onde o corpo da ferramenta é de um material mais simples e as arestas de corte, soldados 

ao corpo, são de um material mais nobre, como aço‐rápido ou metal‐duro. Finalmente há as fresas com 

dentes  postiços  (insertos) que  são  similares  as  fresas  calçadas. A diferença  é que os dentes de  aço‐

rápido, metal‐duro, diamante ou cerâmicos podem ser trocados em caso de quebra ou desgaste. 

As fresas também podem ser classificadas quanto às faces de corte (o número de superfícies com 

afiação) e que definem em que direção a ferramenta pode avançar, ou seja, se poderá executar um fre‐

samento  tangencial  (eixo paralelo  à peça)  e/ou uma  fresamento  frontal  (eixo perpendicular  à peça). 

Têm‐se fresas de um, dois e três cortes. A fresa de um corte possui afiação, normalmente, apenas em 

sua superfície cilíndrica. A fresa de dois cortes possui afiação em uma de suas faces e em sua superfície 

cilíndrica. Uma fresa de três cortes possui afiação nas duas faces e também na superfície cilíndrica. 

Quanto à fixação pode‐se fresas de haste cilíndrica ou cônica e fresas para mandril com chaveta 

longitudinal ou transversal. 

Esses diversos tipos de fresas são fabricados principalmente de aço‐rápido, aço‐rápido com reco‐

brimento e metal‐duro. Fresas de grandes diâmetros (fresas frontais de facear, fresas cilíndricas de dis‐

co) são feitas de metal‐duro (região de corte) com corpo de aço‐carbono (mais barato). Para fresas de 

pequenos diâmetros  (fresas  frontais de  topo), o material utilizado é o aço‐rápido e o aço‐rápido com 

cobertura. Dado ao fato de que as máquinas CNC modernas possibilitam rotações cada vez mais altas, as 

fresas inteiriças de metal‐duro também têm sido uma opção para diâmetros inferiores a 20 mm. 

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178  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

7.4.2 Geometria da ferramenta 

A Figura 7.33 ilustra as características geométricas da fresa. 

 

Figura 7.33 – Arestas de corte e superfícies da parte de corte de uma fresa frontal 

Os ângulos de folga (), de cunha () e de saída () são os ângulos da fresa (      90°). São estes ângulos que dão à  ferramenta de corte uma maior ou menor resistência à quebra.  Isto significa 

que quanto maior for a abertura do ângulo , mais resistente será a fresa. Obviamente, quanto menor 

for a abertura do ângulo , menos resistente a fresa será. Com isto, é possível classificar a fresa em três 

tipos: W, N e H. A Figura 7.34 apresenta uma comparação entre estas fresas. 

   

W  N  H 

Figura 7.34 – Tipos de fresas 

Tipo W (  8o,   57o e   25o): por ter uma abertura de ângulo de cunha () menor, tem passo 

grande (poucos dentes). Esta fresa é indicada para a usinagem de materiais não‐ferrosos de baixa du‐

reza, tenazes, que geram cavacos longos como alumínio, bronze e plásticos. 

Tipo N (  7o,   73o e   10o): é mais resistente que a fresa Tipo W por ter passo menor (mais 

dentes). É indicada para materiais de média dureza (rt  700 MPa). Comumente usada em desbaste 

e semi‐acabamento de aços, e em situações onde exista tendência à vibração prejudicial à operação. 

Tipo H (  5o,   81o e   4o): tem passo pequeno (grande número de dentes e espaços entre os 

dentes pequenos). Permite alta taxa de remoção de material  (pode‐se aumentar  f e, consequente‐

mente, vf, mantendo‐se fz no mesmo nível da fresa Tipo N). Normalmente usada para ferro fundido 

(por causa do cavaco curto que se aloja bem nos pequenos espaços entre os dentes) e para opera‐

ções de acabamento em aços (não se podem realizar desbastes, pois o volume de cavaco removido 

fica limitado pelo espaço entre os dentes; se fz for mantido em níveis baixos, o acabamento da peça 

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Prof. Dr. André João de Souza    

179PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

fica muito bom e não existirá problema de entupimento entre os dentes). Também é adequada para 

o fresamento de materiais em que vc tenha de ser mantida em níveis reduzidos, como no caso de li‐

gas de titânio (vc baixa significa n baixa; como vf  fzzn, um z grande compensa uma n baixa e fz não 

precisa ser muito pequeno para se ter uma razoável vf e, assim, uma taxa razoável de remoção de 

material). Por ser mais resistente que as  fresas Tipo W e Tipo N, esta  fresa é  indicada para usinar 

materiais duros e quebradiços (rt > 700 MPa). 

Observa‐se que  fresas para materiais mais macios podem  ter dentes menos  resistentes, o que 

significa possuir um ângulo de cunha  menor.  Isto permite colocar menos dentes na ferramenta, dei‐

xando maior espaço para  transportar o cavaco, que será  removido em grandes quantidades. Em uma 

fresa para materiais de alta dureza, cada dente remove pouco material. Desta forma, é necessário que a 

fresa possua muitos dentes para que, em uma volta, remova uma quantidade significativa de material. 

Além disto, os dentes deverão ter um ângulo  maior para lhes conferir maior resistência. 

Por exemplo, suponha que se precise usinar uma peça de aço. Por ser mais duro que outros ma‐

teriais, menor volume dele será cortado por dente da fresa. Portanto, menos cavaco será produzido por 

dente e menos espaço para a saída será necessário. Já um maior volume por dente pode ser retirado de 

materiais mais moles, como o alumínio. Neste caso, mais espaço será necessário para a saída de cavaco. 

Um dos problemas em usinar materiais moles com fresa com muitos dentes é que o cavaco fica preso 

entre os dentes e estes não  são  refrigerados adequadamente.  Isto acarreta o desgaste dos dentes e 

pode ainda gerar um mau acabamento da peça. 

7.4.3 Vida da ferramenta 

Além dos diversos fenômenos já estudados anteriormente (condições de usinagem, geometria da 

ferramenta  etc.)  que  causam  o  desgaste  da  ferramenta  em  usinagem,  o  fresamento  possui  algumas 

características peculiares que  incentivam o processo de  falha da  ferramenta. A Figura 7.35 mostra as 

falhas comuns encontradas em fresas (desgastes e avarias combinadas). 

Figura 7.35 – Falhas típicas da ferramenta de corte em fresamento 

Variações da temperatura: quando uma aresta de corte está em contato com a peça realizando a 

remoção de material, a mesma se aquece. Como a espessura de corte é variável, a distribuição de 

temperaturas é irregular. Quando a aresta cortante sai da peça, ela se resfria em contato com o meio 

lubrirrefrigerante. Essas variações de  temperatura  resultam em  tensões que podem causar  trincas 

(ou fissuras) térmicas. Estas avarias ocorrem perpendicularmente à aresta de corte (Fig. 7.36a). 

Variação dos esforços mecânicos: no momento da entrada da ferramenta, a aresta de corte sofre um 

impacto, pois as forças de corte crescem rapidamente e depois variam conforme a direção e espes‐

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

180  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

sura do cavaco.  Isso poderá causar trincas mecânicas por fadiga no material. Estas avarias ocorrem 

paralelamente à aresta de corte, causando microlascamentos na aresta de corte (Fig. 7.36b). 

 (a)  (b) 

Figura 7.36 – Fraturas na fresa: (a) fissuras térmicas; (b) microlascamentos 

A soma das trincas de origem térmica com as trincas de origem mecânica resulta em um tipo de 

deformação na cunha cortante da ferramenta denominada sulco em forma de pente. Essas característi‐

cas exigem maior cuidado com a tenacidade e resistência ao choque térmico da pastilha, bem como o 

dimensionamento da geometria da  ferramenta a  fim de que ela possa  resistir a esses  fenômenos. O 

crescimento das trincas pode  levar à quebra da ferramenta. Para evitá‐las pode‐se, dentre outros pro‐

cedimentos, deve‐se escolher uma ferramenta mais tenaz, diminuir o avanço por dente e posicionar a 

fresa corretamente em relação à peça. 

7.5 Operações de Fresamento 

De acordo com o movimento relativo entre a peça e a  ferramenta, pode‐se ter  fresamento dis­

cordante,  fresamento  concordante ou  fresamento  combinado. Antes de definir esses  tipos de  fresa‐

mento, é  importante que se defina o ângulo de contato do dente (), que é o ângulo entre uma  linha 

radial da fresa que passa pelo ponto de contato aresta de corte/peça e outra linha radial que passa pelo 

ponto onde a espessura de corte (hD) é zero. 

Segundo a posição do eixo‐árvore da máquina‐ferramenta, a operação é classificada em:  fresa‐

mento horizontal, fresamento vertical ou fresamento inclinado. 

Quanto aos métodos de fresar superfícies segundo a disposição dos dentes ativos da fresa, classi‐

fica‐se a operação em: fresamento tangencial (ou periférico) e fresamento frontal. 

7.5.1 Fresamento concordante 

No fresamento concordante ou para baixo, o sentido de rotação da fresa é o mesmo do avanço 

da peça no ponto de contato. O corte inicia‐se com a espessura máxima do cavaco (h) e a força de corte 

tende a apertar a peça contra a mesa (o ângulo de contato do dente () começa de um valor máximo e 

decresce até zero). É a forma menos indicada de fresamento, e está apresentada na Figura 7.37. Outras 

vantagens: menor desgaste; melhor acabamento; menor  força e potência de usinagem; caminho mais 

curto da aresta de corte. 

A maioria das  fresadoras  trabalha  com o  avanço da mesa baseado  em  fuso/porca, que  com o 

tempo e desgaste apresentam uma folga. No movimento concordante esta folga é empurrada pelo den‐

te da fresa no mesmo sentido de deslocamento da mesa (esforço de corte). Desta forma a mesa pode 

executar movimentos irregulares (vibração) que poderão prejudicar o acabamento da peça e até mesmo 

quebrar os dentes da fresa. Este inconveniente pode ser corrigido diminuindo‐se as folgas fuso/porca ou 

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Prof. Dr. André João de Souza    

181PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

utilizando‐se fusos de esferas recirculantes, onde não existe folga e todo contato entre fuso e porca é 

feito através de esferas. 

 

Figura 7.37 – Fresamento concordante 

7.5.2 Fresamento discordante 

No fresamento discordante ou para cima, o sentido de rotação da fresa é contrário ao sentido de 

avanço da peças, no ponto de contato. Isto faz com que o corte do cavaco se inicie com a espessura (h) 

mínima (o ângulo de contato do dente () cresce de zero a um valor máximo). A força de corte tende a 

levantar a peça da mesa. Se a peça for longa e estiver presa pelas extremidades, ela poderá gerar vibra‐

ções indesejáveis. A Figura 7.38 ilustra este método de fresamento. 

   

Figura 7.38 – Fresamento discordante 

Este tipo de fresamento costuma desgastar um pouco mais a ferramenta. Como o corte inicia‐se 

com pouca espessura, o início do corte é difícil. Na realidade a aresta de corte começa encruando o ma‐

terial a ser cortado, até que sejam superadas as deformações elásticas e realmente  inicie‐se o cisalha‐

mento do material. Este encruamento eleva localmente a dureza, fazendo com que o desgaste seja um 

pouco mais elevado. Neste método não há influência da folga entre porca/parafuso no deslocamento da 

mesa, fazendo com que o movimento seja mais uniforme, gerando melhor acabamento. 

7.5.3 Fresamento combinado 

Ocorre quando a fresa tem seu eixo dentro do campo de corte da peça. Desta forma parte do cor‐

te ocorre através da fresamento concordante e parte através da discordante (Fig. 7.39). 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

182  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Figura 7.39 – Fresamento combinado 

7.5.4 Fresamento tangencial 

No método tangencial, o eixo de rotação da fresa é paralelo à superfície da peça que está sendo 

usinada. A seção transversal da superfície fresada corresponde ao contorno da fresa ou à combinação 

das fresas. A  largura de corte ap (b  ap) é substancialmente maior que a penetração de trabalho ae. A 

superfície usinada é gerada pela aresta principal de corte. Usualmente, o fresamento tangencial é reali‐

zado em  fresadoras horizontais  (Fig. 7.40). As  ferramentas de corte são chamadas de  fresas de disco, 

fresas cilíndricas ou fresas tangenciais. 

 

Figura 7.40 – Fresamento tangencial em fresadora horizontal 

7.5.4.1 Forma do cavaco produzido 

No fresamento tangencial, o cavaco tem a forma de uma vírgula com a espessura de corte (hD) va‐

riando de um valor máximo a zero (corte concordante) ou de zero a um valor máximo (discordante). 

O ângulo de contato do dente com a peça () pode ser dado por: 

  e eD 2 a 2 acos 1

D D

  (7.7)

Assim, tem‐se que: 

 2

e eDmax z z

a ah f sen  2 f

D D

  (7.8)

Page 95: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

183PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

7.5.5 Fresamento frontal 

No método frontal, o eixo de rotação é perpendicular à superfície da peça. A superfície fresada é 

plana, sem qualquer  relação com o contorno dos dentes. Ela é caracterizada pelas  raias de usinagem 

deixadas pelos dentes, de acordo com o avanço por volta f e por dente fz. A penetração de trabalho ae é 

substancialmente maior que a profundidade de corte ap. Pela sua alta produtividade, deve ser preferida 

sempre que possível. Em geral, o fresamento frontal é realizado em fresadoras verticais (Fig. 7.41). As 

ferramentas de corte são chamadas de fresas de topo ou fresas frontais. 

 

Figura 7.41 – Fresamento frontal em fresadora vertical 

No fresamento frontal, podem‐se ter formas de cavaco diferentes. No caso do fresamento frontal 

simétrico, onde a fresa se desloca sobre o eixo de simetria da peça, tem‐se o início do cavaco com uma 

espessura  inicial, passando por um máximo no eixo de simetria da peça e  terminando com espessura 

inicial novamente. No fresamento frontal assimétrico, quando toda superfície é fresada com fresas de 

facear, a espessura de corte se inicia em um mínimo e termina em um máximo (Fig. 7.42). 

      

(a)  (b)  (c)  (d) 

Figura 7.42 – Tipos de fresamento frontal: (a) simétrico tipo rasgo; (b) simétrico tipo faceamento; (c) assimétrico com toda a superfície sendo fresada; (d) assimétrico com parte da superfície sendo fresada 

7.5.5.1 Forma do cavaco produzido 

Os cavacos do processo de fresamento são geralmente curtos e de segmentos descontínuos, que 

são decorrentes da geometria do processo. A espessura de corte varia de zero a um máximo no corte 

discordante e de um máximo a zero no corte concordante. A Figura 7.43 mostra a geometria de um ca‐

vaco para fresamento concordante. 

Page 96: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

184  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Figura 7.43 – Geometria do cavaco 

No fresamento frontal, podem‐se ter formas de cavaco diferentes. No caso do fresamento frontal 

simétrico, onde a fresa se desloca sobre o eixo de simetria da peça, tem‐se o início do cavaco com uma 

espessura  inicial, passando por um máximo no eixo de simetria da peça e  terminando com espessura 

inicial novamente. No fresamento frontal assimétrico, quando toda superfície é fresada com fresas de 

facear, a espessura de corte se inicia em um mínimo e termina em um máximo. 

O cavaco produzido no fresamento frontal simétrico e assimétrico pode ser assim definido: 

Simétrico em relação ao eixo de simetria da peça em usinagem: 

Fresamento de rasgo ou canal com fresas de topo 

Quando ae  D e   180°, a espessura de corte hD cresce de hDmin  0 a hDmax  fz e depois volta a 

hDmin  0. 

Fresamento comum com fresas de facear 

Quando ae  D e  easen2 D

, a espessura de corte hD cresce de um determinado valor na entra‐

da (hDmin  0) a hDmax  fz e depois volta ao valor inicial hDmin. 

Assimétrico com fresas de facear: 

Pode ser concordante (se a maior parte da espessura for decrescente) ou discordante (se a maior 

parte da espessura for crescente). 

Este procedimento é vantajoso quando o diâmetro da fresa é grande em relação à largura da peça 

– neste caso, tem‐se um maior número de dentes simultaneamente no corte, e com isso, meno‐

res esforços de corte por dente e, portanto, um corte mais suave. 

Pode ser usado também para se fazer rebaixos. 

Observações: 

A direção das  forças radiais de corte no corte simétrico variará à medida que a aresta cortante 

penetrar na peça, o que poderá levar a vibrações e à quebra prematura da mesma. O problema é 

minimizado quando se tem mais de um dente que atua simultaneamente no corte. Quando o cor‐

te é assimétrico, a variação da direção da componente radial da força de usinagem é bem menor 

e, com isso, menor a tendência à vibração. 

0

D

2hmax

vc

f

l

Page 97: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

185PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

No caso em que as avarias forem o fator predominante para o fim de vida da fresa (trincas mecâ‐

nicas), o corte assimétrico com  pequeno é mais vantajoso, pois desta forma o choque fica mi‐

nimizado. À medida que  cresce, aumenta a espessura de corte hD na entrada do dente de corte 

e, assim, cresce a energia do choque. 

Se a ferramenta usada for tenaz, ela será mais resistente ao choque e ao lascamento gerado por 

ele. Assim, não há mais necessidade de se ter  pequeno. Neste caso, como o desgaste será o fa‐

tor que determinará o fim de vida da fresa, o corte simétrico passa a ser mais interessante, pois o 

contato ferramenta‐peça é menor e, consequentemente, o desgaste também. 

7.6 Esforços de Corte em Fresamento 

O estudo das forças de usinagem em operações de fresamento permite otimizar os parâmetros de 

corte e assim assegurar menor gasto de energia, melhor acabamento e maior vida de ferramenta.  

O conhecimento das forças de usinagem ou de suas componentes ortogonais (força de corte, de 

avanço e passiva) é a base para: o projeto de uma máquina ferramenta; a determinação das condições 

de  corte;  a explicação de mecanismos de desgaste;  a determinação da usinabilidade de peças. Além 

disso, as componentes são determinantes para a qualidade geométrica e dimensional da superfície usi‐

nada, uma vez que tais componentes podem induzir deflexões em ferramentas mais esbeltas. 

Como no fresamento a área da seção transversal do cavaco varia periodicamente, as forças resul‐

tantes,  observadas  na movimentação  que  ocorre  entre  peça  e  ferramenta  também  variam,  gerando 

vibrações excessivas. 

7.6.1 Força de Usinagem 

Os fatores que, em maior ou menor grau, afetam as componentes da forças de usinagem nas ope‐

rações de  fresamento são: o material a ser usinado e seu estado de dureza; a velocidade de corte, o 

avanço e a profundidade de corte; a geometria e o material da ferramenta e o material de recobrimen‐

to; o uso ou não de fluido lubrirrefrigerante; o atrito e as tensões geradas na remoção do cavaco; o des‐

gaste da ferramenta; os efeitos térmicos. 

A Figura 7.44 apresenta as disposições das componentes da força de usinagem para os processos 

de fresamento. A força total que atua sobre a aresta de corte durante a usinagem é chamada força de 

usinagem Fu, suas componentes são a força ativa Ft e a força passiva Fp que é perpendicular ao plano de 

trabalho, plano onde os movimentos de usinagem  são  realizados, a  força de usinagem é dividida em 

força de corte Fc , força de avanço Ff , força de apoio Fap e força efetiva de corte Fe (não representada na 

figura) que é a projeção de Fu sobre a direção efetiva de corte: 

  2 2u p tF F F   (7.9) 

Como nos processos de fresamento o ângulo de direção de avanço  encontra‐se em constante 

variação  (diferente dos processos de  torneamento, onde este valor é sempre uma constante   90o, fazendo com que a força Fap coincida com Fc), a força ativa resultante será expressa como a resultante 

das componentes Fap, Fc e Ff. 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

186  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Figura 7.44 – Componentes das forças de usinagem atuantes no processo de fresamento tangencial discordante 

A força passiva ou de profundidade (Fp) é a projeção da força de usinagem em um plano perpen‐

dicular ao plano de trabalho e não contribui para a potência de usinagem, uma vez que é perpendicular 

aos movimentos exercidos neste plano, onde ocorrem os movimentos de corte e de avanço. Entretanto, 

deve ser estudada, pois é responsável pela deflexão elástica da peça e flambagem da ferramenta duran‐

te o corte e, dessa forma, responsável pelas variações de tolerâncias de forma e tolerâncias dimensio‐

nais quando estas são muito rígidas. Além disso, Fp é mais sensível ao desgaste da aresta de corte que Fc, 

tornando essa componente importante na determinação da vida da ferramenta e nos processos de mo‐

nitoramento de desgaste. A Figura 7.45 ilustra o sistema de monitoramento do processo de fresamento 

através da aquisição de sinais de força e torque por sistema wireless. 

Figura 7.45 – Sistema de monitoramento do processo de fresamento 

Page 99: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

187PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

7.6.2 Vibração 

Normalmente, as vibrações começam como pequenas trepidações (chatters)5, responsáveis pelo 

aspecto ondulado na superfície usinada e também por irregularidades na espessura do cavaco e, poste‐

riormente, progride para a vibração propriamente dita. Geralmente a vibração surge devido às  limita‐

ções na ferramenta de corte, na máquina, na peça ou no dispositivo de fixação. 

7.6.2.1 Ferramenta de corte 

Pelo fato das fresas (de topo) serem fixadas por sua parte superior, por imprimirem altas rotações 

e por apresentarem falta de rigidez, surgem deflexões causadas pelas variações da força de usinagem. A 

inclinação da  fresa causada por esta deflexão gera diferentes espessuras de cavaco no sentido axial – 

um problema que pode ser ainda mais grave conforme aumente a profundidade de corte axial (ap). 

Para faceamento, a direção das forças de corte deve ser considerada: 

 

Fresa com ângulo de posição r  90o, geram principalmente forças radiais na direção 

de avanço. Isto cria deflexão da fresa com L/D grande; no entanto, a força axial pe‐

quena é vantajosa ao fazer o fresamento de peças com uma estrutura fraca ou pare‐

des finas e em casos de fixações instáveis. 

 

Fresas com ângulo de posição r  45o geram forças axiais e radiais distribuídas uni‐

formemente. Apresenta entrada suave no corte. Tem baixa tendência a vibrações ao 

fazer o fresamento com longos balanços ou com sistemas de fixação e acoplamentos 

menores/mais fracos. É a escolha geral para faceamento. 

 

As fresas com pastilhas redondas direcionam a maioria das forças para cima do fuso, 

especialmente em pequenas profundidades de corte (ap). Dependendo das variações 

de ap, o ângulo r muda de 0o a 90o, alterando a direção da força de corte ao longo do 

raio da aresta.O raio de canto oferece uma aresta muito robusta e, por isso, são efici‐

entes para desbaste e uso geral. 

Em  suma,  com  longos  balanços  da  ferramenta  (redução  da  estabilidade  da  ferramenta),  reco‐

menda‐se o uso de um ângulo de posição pequeno (alta força de corte axial). Já para peças de paredes 

finas e instáveis (redução da estabilidade da peça), é indicado um ângulo de posição grande (baixa força 

de corte axial). A Figura 7.46 mostra o efeito do ângulo de posição sobre a estabilidade da ferramenta. 

                                                            5 As vibrações geradas pelas trepidações da ferramenta resultam de um mecanismo auto‐excitado na geração da espessura do 

cavaco durante a operação de usinagem. Dependendo da mudança de fase entre as duas sucessivas ondas, a máxima espes‐

sura do cavaco pode crescer exponencialmente até que a freqüência de oscilação das trepidações, que é fechada, não seja 

mais igual ao modo estrutural dominante no sistema. O crescimento das vibrações aumenta as forças de corte e pode lascar a 

ferramenta e produzir um acabamento pobre de superfície. As vibrações auto‐excitadas podem ser causadas pelo modo de 

acoplamento ou por  regeneração da espessura do cavaco. O modo de  trepidação de acoplamento ocorre quando existem 

vibrações em duas direções no plano de corte. O fenômeno de regeneração resulta da diferença de fase entre as ondas de 

vibração passadas em ambos os lados do cavaco e ocorre antes do modo de acoplamento na maioria das usinagens. 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

188  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Figura 7.46 – Estabilidade da ferramenta 

Também se deve escolher o menor diâmetro possível para a operação. Entretanto, o diâmetro da 

fresa deve ser de 20 a 50% maior que ae. Também, é importante ter um passo largo e/ou uma fresa para 

passo diferencial. Uma fresa com baixo peso é vantajosa. 

7.6.2.2 Máquina‐ferramenta 

A condição da máquina pode ter grande influência sobre a tendência a vibrações. Desgaste exces‐

sivo no rolamento do fuso ou mecanismo de avanço resultará em propriedades de usinagem insatisfató‐

rias. Devem‐se escolher as estratégias de usinagem e as orientações das componentes da força de usi‐

nagem que aproveitem ao máximo a estabilidade da máquina. Cada fuso de máquina possui áreas natu‐

rais com tendência a vibrações. As áreas de corte estáveis são descritas como pontos de estabilidade e 

aumentam à medida que a rotação aumenta. Mesmo aumentos pequenos (como 50 rpm) podem alterar 

um processo de corte de instável, com vibrações, para estável, sem vibrações. 

7.6.2.3 Peça e suas fixações 

Para se obter os melhores resultados possíveis, a peça deve ter um apoio correto em relação às 

componentes da força de usinagem que surgem durante o processo. Quando não houver apoio, deve‐se 

evitar a operação de corte de uma peça com balanço. 

Em peças com paredes/base finas e/ou quando a fixação é fraca (Fig. 7.47): 

A fixação deve ser rente à mesa da máquina. 

O percurso da ferramenta e o sentido de avanço devem ser na direção do apoio mais forte da má‐

quina/fixação para obter condições de corte mais estáveis. 

A usinagem em direções onde o apoio da peça seja insuficiente deve ser evitada. 

O  fresamento discordante pode  reduzir as  tendências às vibrações quando a  fixação e/ou a peça 

são fracas em uma direção específica. 

 

(a)  (b) 

Figura 7.47 – Fixação da peça: (a) para fixações fracas, o sentido do avanço deve ser em direção à mesa; (b) obser‐va‐se que a primeira etapa deve ser feita na metade da profundidade da segunda, terceira, etc. 

Page 101: Apostila usinagem parte2

 

Prof. Dr. André João de Souza    

189PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

7.6.2.4 Fixação da ferramenta 

Na montagem da ferramenta na máquina, alguns cuidados devem ser tomados: 

A montagem da ferramenta deve ser mantida mais rígida e curta possível. 

O adaptador deve ter o maior tamanho/diâmetro possível. 

Em fresas pequenas deve‐se usar se possível um adaptador cônico. 

Em operações onde o passe  final esteja profundo na peça, deve‐se mudar para  ferramentas com 

extensão em posições pré‐determinadas (Fig. 7.48). 

Para rotações do fuso acima de 20 000 rpm deve‐se usar ferramentas e fixação balanceadas. 

Figura 7.48 – Ferramentas com extensão pré‐determinadas: deve‐se usar sempre o menor tamanho possível para a ferramenta e aumentar o comprimento gradativamente 

Já a excentricidade pode ser atribuída a alguma falha de fixação dos insertos, que pode gerar uma 

diferença de raio na fresa. A excentricidade altera as forças médias e os picos máximos e mínimos do 

perfil instantâneo de forças de diversas maneiras, dependendo das condições de corte, da geometria do 

corte e da natureza e intensidade da excentricidade. 

7.6.3 Potência de Corte 

Por causa das características do fresamento, a potência de corte consumida varia a todo instante. 

Esta variação não é ocasionada pelo  corte  interrompido, pois esta ocorre  também, por exemplo, em 

peças complexas sujeitas a operações de acabamento em torneamento, em que este é uma das últimas 

etapas visto que os detalhes na peça já foram realizados previamente. Tal variação na potência é então 

provocada pela ação de um ou mais dentes no corte do material e pela variação da espessura do cavaco. 

Em fresamento, existe uma série de fatores que afetam o consumo de potência para uma deter‐

minada operação de  fresamento. Para exemplificar, pode‐se  considerar a diferença entre o desbaste 

pesado em uma peça de aço versus o faceamento de acabamento de uma peça de ferro fundido, que 

são executadas  com  ferramentas de  geometrias e diâmetros diferentes. Existem  formas diferentes  e 

bastante complicadas de calcular a potência necessária para estas duas operações; no entanto, há al‐

gumas equações aproximadas com as quais se tem um valor de referência. 

Geralmente, o dimensionamento da potência requerida para a máquina pode ser feito através do 

cálculo da potência média, sobretudo quando o número de dentes simultaneamente no corte é alto. 

Desta forma, tanto na operação de fresamento tangencial como na operação de fresamento fron‐

tal, a potência média de corte é calculada através do uso de um valor médio de Ks (Ksm) calculado utili‐

zando‐se um valor médio da espessura do cavaco. 

Page 102: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

190  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Assim, tem‐se que: 

 s1

sm zm

KK

h   (7.10)

em que o valor médio da espessura de corte (hm) é calculado por: 

  1 2m z r

2 1

cos cosh f sen

  (7.11)

onde: 

1  ângulo entre o ponto de entrada (ou saída no fresamento concordante) do dente e a vertical; 

2  ângulo entre o ponto de saída (ou entrada no fresamento concordante) do dente e a vertical. 

Para o fresamento frontal, a equação 7.11 já pode se usada. Para o fresamento tangencial de den‐

tes retos, algumas simplificações podem ser realizadas: 1  0; 2  0; r90o. Então, tem‐se: 

 0 e

m z m z

0 0

1 cos 2 a 1h f        h f

D

  (7.12)

onde: 

0  ângulo de contato entre o dente e a peça. 

Os valores de Ks1 e z para o fresamento são dados pela Tabela 7.2. 

Tabela 7.2. Valores dos parâmetros z e Ks1 para diferentes materiais 

Material  Dureza Brinell (HB)  Z  Ks1 

Aço sem liga 

(C = 0,10% a 0,25%)  125  0,25  1500 

Aço sem liga 

(C = 0,25% a 0,55%)  150  0,25  1600 

Aço sem liga 

(C = 0,55% a 0,80%)  170  0,25  1700 

Aços de Baixa Liga 

(elementos de liga < 5%)  175  0,25  1700 

Aços de Alta Liga 

(elementos de liga > 5%)  200  0,25  1950 

Aços inoxidáveis 

(austeníticos)  200  0,21  2000 

Aços inoxidáveis 

(ferríticos/martensíticos)  200  0,21  1800 

Ferros fundidos cinzentos 

(baixa resistência à tração)  180  0,28  900 

Ferros fundidos cinzentos 

(alta resistência à tração)  245  0,28  1100 

 

Com isso, a potência média de corte Pc [kW] consumida pelo processo é dada por: 

Page 103: Apostila usinagem parte2

 

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191PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

  smc 3

K QP

60 10

  (7.13) 

onde: 

Q  taxa de remoção de material  p e fa a vQ

1000

 em [cm3/min]. 

7.7 Qualidade de Peças Fresadas 

Dentre os erros associados às variações das forças de usinagem, aquele que exerce maior influên‐

cia no acabamento da  superfície usinada e na  tolerância dimensional é a deflexão da  ferramenta de 

corte no  fresamento de  topo. Tal deflexão varia durante  todo o processo,  tanto na usinagem de seg‐

mentos retos quanto na usinagem de cantos. A exatidão no processo de acabamento é, portanto, for‐

temente influenciada pela deflexão da ferramenta, que é causada pela variação das forças de corte, pelo 

diâmetro e pelo comprimento da fresa. 

O fresamento tangencial produz uma superfície ondulada. A altura desta ondulação define a ru‐

gosidade máxima teórica Rtteórica [m] que é calculada a partir do diâmetro da fresa D [mm] e do avanço 

por dente fz [mm]. Essa rugosidade máxima teórica pode ser dada por: 

 2z

teórica

1000 fRt

4 D

  (7.14) 

A  rugosidade máxima  real, no entanto, é  sempre maior ou  igual  à  teórica, pois outros  fatores 

também influem no seu valor, tais como: 

Posicionamento irregular das pastilhas no sentido radial. 

Desgaste não‐uniforme das arestas. 

Fluxo de saída de cavacos irregular. 

Condições operacionais da máquina‐ferramenta: se a rotação da fresa for excêntrica (excentricidade 

do eixo‐árvore), a rugosidade é diretamente  influenciada, pois somente a aresta que gira no maior 

diâmetro realiza o corte mais profundo que gera a rugosidade. Portanto, para fins de rugosidade, fz 

passa a ser igual a f, e a rugosidade máxima cresce substancialmente. 

Fixação e/ou rigidez deficientes da peça, que podem gerar vibrações que são reproduzidas na super‐

fície da peça. 

Foi mencionado que, dentre os parâmetros de rugosidade, o mais utilizado é o Ra (roughness av­

erage), amplamente empregado na  indústria em  controle de processos, em especial, no desgaste da 

ferramenta. Como representa um valor médio, é um parâmetro estável, que não recebe  influência de 

efeitos ocasionais. 

Para uma operação de  fresamento  tangencial, o valor de Ra  [m] é calculado  teoricamente em 

função do avanço por dente fz [mm] e pelo diâmetro da fresa D [mm], conforme Equação 7.15: 

Page 104: Apostila usinagem parte2

 

ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

192  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 2 2z z

a

1000 f fR 64,15

D9 3 D

  (7.15)

Para uma operação de fresamento frontal, o valor de Ra [m] é determinado pela Equação 7.16: 

  2 2a zR 500 r r 0,25 f   (7.16)

Como  já mencionada, a utilização do  fresamento concordante pode melhorar o acabamento da 

peça por causa da diminuição da vibração (vide seção 8.5.1). Outras ações que podem melhorar o aca‐

bamento  são o uso adequado de  fluido de  corte  (principalmente na usinagem de materiais que  têm 

tendência ao empastamento) e a diminuição da penetração de trabalho (ae) no fresamento tangencial, 

que tem um  importante efeito na deflexão da ferramenta. No entanto, no corte de materiais que têm 

alta  taxa de encruamento, como o aço  inox austenítico, a penetração de  trabalho não pode diminuir 

demais, para que se evite o encruamento da superfície. 

7.8 Otimização do Processo de Fresamento 

Os principais fatores a serem  levados em conta na seleção das condições de usinagem no fresa‐

mento são: profundidade (ou  largura) de corte (ap), avanço por volta (f), velocidade de corte (vc) e nú‐

mero de dentes da fresa (z). 

7.8.1 Profundidade ou largura de corte 

Do ponto de vista econômico, deve‐se usar a maior profundidade (ou largura) de corte possível, já 

que esta influencia pouco no desgaste da fresa e seu aumento provoca um incremento proporcional na 

remoção de material. 

Assim, em fresas de topo (fresamento frontal) e fresas de disco (fresamento tangencial), deve‐se 

utilizar ao máximo o comprimento das arestas (ap equivale respectivamente à profundidade e à largura 

de corte). Porém, é necessário obedecer à recomendação de que a largura de usinagem (b  ap/sen r) 

deve ser menor que 2/3 do comprimento total da aresta de corte da fresa para se evitar vibrações (vide 

Item 7.6.2.1). 

7.8.2 Avanço 

Para a escolha do avanço em fresamento, diferentes fatores precisam ser analisados, como o tipo 

da fresa, o material da ferramenta, o acabamento da superfície fresada, a potência da máquina etc. 

Como foi visto no Item 4.2.4, o avanço não é diretamente proporcional à força de corte, pois a 

pressão específica de corte diminui com o aumento do avanço. Consequentemente, não é diretamente 

proporcional à potência consumida. Mantendo‐se a mesma taxa de remoção de material, o aumento do 

avanço por dente (fz) acarreta uma diminuição da potência consumida. Assim, mantendo‐se o avanço (f) 

constante, uma fresa com poucos dentes consome menos potência que uma fresa com muitos dentes. 

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Prof. Dr. André João de Souza    

193PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Para que a pressão específica de corte não cresça demasiadamente, a espessura média do cavaco 

(hm) deve ser maior que 0,04 a 0,20 mm (dependendo da dureza do material e da geometria de corte) 

para o fresamento tangencial e superior a 0,10 mm para o fresamento frontal. 

7.8.3 Velocidade de corte 

Uma alteração da rotação (n) da fresa visando mudar a velocidade de corte (vc) vai ocasionar uma 

alteração no avanço por dente (fz) – se a velocidade de avanço (vf) não for modificada na mesma pro‐

porção, visto que: 

  f zv f n f z n   (7.17) 

Uma modificação de fz altera a espessura média do cavaco (hm) e uma mudança de vf altera a taxa 

de remoção de material. 

Um incremento de vc sem modificação em vf gera uma diminuição de fz e, consequentemente, da 

espessura do cavaco (h), sem alterar a taxa de remoção de material (Q), o que provocará um maior Ks 

por dente. Com isto, ocorrerá um aumento da potência consumida. Isso mostra que no fresamento, ao 

escolher vc, é preciso analisar alguns outros fatores além dos usuais. 

Apesar disso, o grande objetivo na escolha da vc mais adequada ainda recai sobre obter uma vida 

econômica para a fresa, principalmente porque vc tem mais influência sobre os desgastes da ferramenta 

que f e ap. Além de toda a influência que vc exerce sobre a temperatura de corte, incentivando os meca‐

nismos de desgaste (vide Item 7.4.3), no fresamento, o incremento de vc aumenta a força do impacto 

do dente da fresa contra a peça, incentivando ainda mais a ocorrência de trincas e lascamentos de ori‐

gem mecânica na aresta de corte. 

7.8.4 Número de dentes da fresa 

Já  foi mencionado que uma  fresa de muitos dentes  consome mais potência que uma  fresa de 

poucos dentes, mantendo‐se o mesmo fz, já que na 1ª, o fz (e o hm) é menor que na 2ª, para uma mesma 

taxa de remoção de material (Q). 

Outros fatores de escolha do número de dentes da fresa são: 

Material da peça: materiais que geram cavacos longos no corte exigem um espaço maior entre den‐

tes da fresa. 

Tamanho da peça: para evitar vibrações indesejadas, é sempre bom manter pelo menos 2 dentes da 

fresa atuando simultaneamente no corte do material. 

Estabilidade do sistema máquina/fresa/dispositivo de fixação/peça e o acabamento superficial dese‐

jado: quanto menor fz e, por conseguinte, quanto maior z para um determinado f, melhor o acaba‐

mento superficial da peça. 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

194  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

7.8.5 Percurso da ferramenta e tempo de corte 

Os percursos são considerados nas direções dos movimentos durante um tempo desejado de evo‐

lução do processo. A Figura 7.49 ilustra os percursos de corte (Lc), de avanço (Lf) e efetivo (Le) na opera‐

ção de fresamento discordante. 

Figura 7.49 – Percursos da ferramenta na operação de fresamento discordante 

O tempo de corte (tc) é um dos principais parâmetros analisados quando o objetivo é a otimização 

do processo. De forma geral tem‐se a seguinte relação: 

 f

c

f

L  [mm]t  [min/peça]

v [mm/min]   (7.18) 

O percurso de avanço  (Lf) deve ser analisado em cada situação. A Figura 7.50 apresenta um es‐

quema geral para a usinagem de um canal que atravessa a peça. Pode‐se considerar que Lf é a soma do 

comprimento da peça mais o diâmetro da ferramenta ( 2R), desconsiderando‐se a folga inicial e a final. 

Figura 7.50 – Percurso de avanço para um canal no fresamento frontal com fresa de topo 

Se o  canal não atravessasse  todo o  comprimento da peça, então o percurso de avanço  seria o 

próprio comprimento do canal. 

É comum  também  ter situações onde a usinagem da peça envolva diferentes velocidades de a‐

vanço (vf) em diferentes etapas. Neste caso será necessário calcular o tempo de corte (tc) de cada uma 

destas etapas e somá‐las. 

O tempo unitário (t1) é o tempo total gasto por uma peça. Calcula‐se por meio da soma do tempo 

de corte (tc) com o tempo de preparação da peça (tp), como mostra a seguinte relação: 

  1 c pt  [min] t  [min] t  [min]   (7.19) 

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Prof. Dr. André João de Souza    

195PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

O tempo do lote (tL) é o tempo gasto para se usinar um lote de peças. Depende do tempo unitário 

(t1), da quantidade de peças do lote (Qdd) e do número de máquinas que farão o lote (Nmaq). 

 1

L

maq

t  [min]Qddt  [h]

N 60

  (7.20)

A produtividade (Pr), definida como peças/minuto (ou outra unidade de tempo), também é utili‐

zada como parâmetro na otimização do processo, facilitando a comparação entre máquinas. É simples‐

mente o inverso do tempo de corte. 

 c

1Pr  [peças/min]

t  [min/peça]   (7.21)

7.8.5.1 Exemplo 7.1 

É preciso fresar um lote de 500 peças de aço de pressão específica de corte média de 2500 N/mm2 com 

100 mm de comprimento, 100 mm de  largura, e 15 mm de altura. A operação consiste na abertura de 

uma cavidade circular centrado na face da peça com diâmetro de 54 mm e profundidade de 5,0 mm.  

 

Figura 7.51 – Exemplo 7.1 

As fresas compradas para esta operação são de topo, inteiriças de metal‐duro, com 04 arestas de corte, 

diâmetro de 14 mm, velocidade de corte de 40 m/min e avanço por dente de 0,05 mm. Serão utilizadas 

duas fresadoras verticais para a usinagem do lote, ambas com potência útil de 0,3 cv. De acordo com o 

processo de fabricação elaborado, a posição  inicial da ferramenta será no centro da peça a 1,0 mm da 

face. O material da cavidade será removido em duas etapas de 2,5 mm de profundidade. A velocidade 

de avanço de aprofundamento será de 1/4 da velocidade de avanço normal. A abertura do diâmetro da 

cavidade será executada em dois passes de  igual tamanho. Deverá ser utilizada a maior velocidade de 

avanço possível. Tanto a velocidade de retorno para o centro da cavidade como a velocidade de subida 

da ferramenta serão ajustadas para 300 mm/min. Observe que a posição inicial e a final da ferramenta 

são as mesmas. Qual o tempo de usinagem (horas e minutos) do  lote, considerando o tempo de setup 

entre peças de 30 segundos em média. 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

196  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

Resolução do Exemplo 7.1: 

(a) Dados do problema: 

Tamanho do lote: Qdd  500 peças 

Pressão específica de corte: Ksm  2500 N/mm2 

Cavidade circular em fresamento frontal:  54mm / ap  5,0 mm 

Fresa de topo com z  4 dentes; fz  0,05 mm/dente ( f  0,2 mm/volta); 

D  14 mm; vc  40 m/min 

Fresadoras verticais: Nmaq  2 com Pc  0,3 cv  220,8 W 

Penetração máxima permitida: 2,5 mm  2 passes para remover ap  5,0 mm. 

Posição inicial da ferramenta a 1,0 mm da face. 

Velocidades de avanço de entrada e saída: vf1  0,25vf2; vf3  300 mm/min 

(b) Cálculo dos espaços: 

Corte de aprofundamento: Espaço 1  1,0 mm  2,5 mm  2,5 mm  6 mm 

Corte normal: Espaço 2  2(10  210  10 220) mm  417 mm 

Saída em vazio: Espaço 3  20 mm  20 mm  6 mm  46 mm 

(c) Cálculo da rotação do eixo árvore da fresadora vertical. 

c1000 v 1000 40n            n 910 rpm

D 14

 

(d) Cálculo das velocidades de avanço: 

Corte normal:  f2 f2v f n 0,2 910           v 182 mm/min  

Corte de aprofundamento:  f1 f2 f1v 0,25 v            v 45,5 mm/min  

Saída em vazio: vf3  300 mm/min (dado) 

(e) Cálculo dos tempos de usinagem: 

Tempo de corte:      c cf1 f1

Espaço 1 Espaço 2 6 417t        t 2,423 min

v v 45,5 182  

Tempo improdutivo:      i if3

Espaço 3 46t        t 0,153 min

v 300  

Tempo de setup entre peças:     tp  30 s  0,5 min 

Tempo unitário:     t1  tc  ti  tp  3,08 mm 

Tempo do lote:  1L L

maq

t Qdd 3,08 500t            t 12 h 49 min

60 N 60 2

 

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Prof. Dr. André João de Souza    

197PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

(f) Verificação da máquina‐ferramenta: 

Corte normal: ae  10 mm 

Da equação 7.13:     sm p e f2

c 3

K (a a ) v 2500 (2,5 10) 182P 189,6 W 220,8 W   OK!

60 10 60000

 

Corte de aprofundamento: deve‐se seguir o procedimento de furação (vide item 6.2.1) 

No caso, a área da seção transversal de corte deixa de ser (apae) e passa a ser (0,25Df): 

sm fc 3

K (0,25 D f) v 2500 (0,25 14 0,2) 182P 5,308 W 220,8 W   OK!

60 10 60000

 

7.9 Problemas 

1. No Exemplo 7.1, o processo está usando aproximadamente 86% da sua potência útil para produzir 

o lote de 500 peças em 12 h 49 min. Determine o tempo de produção deste mesmo lote se fosse u‐

tilizado 95% da sua potência útil. 

2. Com uma fresa disco deseja‐se usinar um canal de 5 mm de profundidade em uma peça de 200 mm 

de comprimento e pressão específica de corte média de 650 N/mm2. 

 

Figura 7.52 – Problema 2 

A velocidade de corte recomendada pelo fabricante da ferramenta é 14 m/min. Será utilizada uma 

fresadora horizontal com motor de 4,0 cv (95% de rendimento). Estima‐se o rendimento da máqui‐

na em 95%. As características da fresa são: 150 mm de diâmetro, 35 mm de largura, 24 arestas de 

corte e 0,54 mm de avanço por dente. Calcule a velocidade de avanço e o tempo de corte. Pode‐se 

ter alguma melhoria no processo? Especifique. 

3. Deseja‐se  fresar um  lote de 7500 peças de aço  (Ksm  2800 N/mm2)  com  comprimento 350 mm, 

altura 15 mm e largura 50 mm. A operação consiste de uma cavidade centrada na face superior da 

peça com largura de 35 mm, comprimento de 250 mm e profundidade de 5,0 mm. 

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ENG03343 – Processos de Fabricação por Usinagem  2011‐1  

198  PROCESSOS DE USINAGEM COM FERRAMENTAS DE GEOMETRIA DEFINIDA

 

Figura 7.53 – Problema 3 

As fresas compradas para esta operação são de topo, com 04 arestas de corte em metal‐duro, diâ‐

metro de 25 mm, velocidade de corte de 70 m/min e avanço por dente de 0,13 mm. Estão disponí‐

veis três fresadoras verticais para esta operação: a fresadora FR1 com potência de 1,5 cv, a FR2 com 

4,0 cv e a FR3 com 7,0 cv. A decisão do operador é sempre realizar a abertura da cavidade em ape‐

nas uma passada e na maior velocidade de avanço possível para não perder tempo. Qual o tempo 

de usinagem (horas e minutos) do lote com a fresadora escolhida, considerando o tempo de setup 

entre peças de 40 segundos em média. Observações:  (1) A peça  já possui um  furo  inicial em um 

dos cantos da cavidade. (2) Será utilizada somente uma fresadora. 

4. Deve‐se fresar, em 32 horas (8 turnos de 4 horas), um lote de 3000 peças de aço com pressão espe‐

cífica de corte média de 3900 N/mm2. A operação consiste de uma cavidade circular com diâmetro 

de 75 mm e profundidade de 12 mm. As fresas são de topo, inteiriças de metal‐duro, com 04 ares‐

tas de corte, diâmetro de 30 mm, velocidade de corte de 80 m/min e avanço por dente de 0,08 mm. 

De acordo com o processo de fabricação elaborado, a posição inicial da ferramenta será no centro 

da peça a 1,0 mm da face. O material da cavidade será removido em etapas de 4,0 mm de profun‐

didade. A velocidade de avanço de aprofundamento será de 1/3 da velocidade de avanço normal. 

Deverá ser utilizada a maior velocidade de avanço possível. A velocidade de retorno para o centro 

da cavidade após cada etapa e a velocidade de subida da ferramenta (percurso em vazio) será ajus‐

tada para 500 mm/min. Observe que a posição inicial e a final da ferramenta são as mesmas. Consi‐

derando que o tempo de troca de peças está estimado em 36 segundos, planejar o número de má‐

quinas e a potência necessária de cada uma para um rendimento de 90%. 

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