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A Apostila Digital Língua Portuguesa

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A

Apostila Digital

Língua Portuguesa

OO TTEEXXTTOO EEMM NNOOSSSSOO CCOOTTIIDDIIAANNOO

Caro aluno, seja bem-vindo!

Vamos dar início às nossas atividades discutindo alguns aspectos

interessantes a respeito da presença dos textos em nossa vida.

Você deve estar acostumado a ver e ouvir a palavra “texto”, seja no trabalho,

na faculdade, em livros, revistas etc. Então, aí vem a pergunta: você saberia dizer

quais são os conceitos, os significados e a importância do “texto” para o seu dia a

dia?

Talvez você tenha parado para pensar sobre o assunto e, no momento,

surgiram algumas dúvidas:

- Texto é um aglomerado de palavras e frases?

Roupas, caderno, lindo. Fui ontem ao cinema. O cinema do

shopping é muito bonito. No shopping tem muitas coisas para se

comprar. A compra da nossa casa não deu certo porque o banco não

aprovou o financiamento.

- Texto pode ser somente aquilo que escrevemos?

- Texto é o que a professora ou o professor pede para a gente elaborar na

aula de redação?

- Texto é aquilo que a gente lê no jornal, no livro, na internet etc.?

Nós levantamos muitas hipóteses a respeito do que é texto. Será que alguma

das perguntas acima seria a sua real definição?

Fiorin (1996, p.16) diz que texto “é um todo organizado de sentido”, ou seja,

nós não podemos entender que o texto seja apenas um conjunto de palavras ou

frases que se juntam de forma aleatória para constituí-lo, mas, sim, que essas

palavras e frases devam estar ligadas entre si para que haja uma continuidade

entre elas, a fim de que a sua totalidade forme uma unidade de sentido. Talvez,

você esteja dizendo: “mas isso é óbvio!”, entretanto, não é essa a noção de texto

que boa parte dos estudantes emprega na prática.

Na escola, quando o professor ou a professora pede para que seja elaborada

uma redação é comum os alunos lhe perguntarem: “com quantas linhas?” ou “em

quantas palavras?”. Perguntas desse tipo demonstram mais preocupação em

atender às exigências de números de linhas ou palavras, do que construir um texto

que faça sentido para quem o lê.

A produção textual, nesse caso, não é concebida como um todo com unidade

de sentido, isto é, uma organização de ideias com começo, meio e fim, mas como

uma somatória de linhas, um amontoado de palavras sucessivas. Pior é que essa

concepção de texto também está presente nas atividades de leitura. Muitas vezes,

lemos apenas parte de um texto e achamos que o entendemos em sua completude.

É isso o que ocorre quando o professor nos dá um romance para ler e lemos

apenas o resumo ou partes de capítulos, imaginando que a leitura parcial seja

suficiente para ter sucesso na avaliação. Veja o texto de Ricardo Ramos:

Circuito Fechado

Ricardo Ramos1

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água,

espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água

fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras,

calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta,

chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa,

cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro.

Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo

com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída,

vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena.

Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques,

memorandos, bilhetes, telefone, papéis.(...)

1 Ricardo Ramos nasceu em Palmeira dos Índios, em 1929, ano em que o pai Graciliano Ramos exercia a função de prefeito. Formado em Direito, destacou-se como homem da propaganda, professor de comunicação, jornalista e escritor em São Paulo. Sua obra literária é extensa: contos, romances e novelas, e representa, com destaque, a prosa contemporânea da literatura brasileira.

Apesar do texto, em uma primeira leitura não aparentar relação entre as

palavras, se você observar atentamente, poderá perceber que se trata do cotidiano

de um indivíduo, e é possível perceber sua rotina e até mesmo seu gênero: se é

masculino ou feminino. Leia o restante do texto que complementa nossa análise e

tente buscar outras informações importantes que o texto passa para o leitor:

(...) Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos,

cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz,

lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi.

Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara.

Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e

poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone

interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel,

pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone,

papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de

cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros.

Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e

fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo.

Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água.

Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.

Práticas como essas demonstram que precisamos rever o conceito de texto.

Observe o texto a seguir:

Esse texto é uma “tirinha” publicada no jornal Folha de São Paulo, em

1/12/2008. As tirinhas são textos curtos formados por quadrinhos de texto verbal e

visual dispostos linearmente na página do jornal. Essa tira, em particular, tem dois

quadrinhos. No primeiro, temos um coelho que ao passear num parque é elogiado

por duas garotas. Diante desse elogio, ele se sente insatisfeito e não aprecia os

adjetivos que lhe são atribuídos. Já no segundo quadro, temos, no mesmo parque,

coelhas que também o elogiam, todavia, esses elogios são apreciados pelo coelho.

Se fôssemos analisar esse texto, isolando cada quadro, não entenderíamos

o humor que ali se estabelece, isto é, ficaríamos apenas na observação que

fizemos acima, sem uma ligação entre um quadro e outro. Para depreendermos a

unidade de sentido, devemos observar a relação que se estabelece entre os

elementos que constituem a tira.

Além das observações já realizadas, precisamos levar em conta que são

meninas – seres humanos – que, no primeiro quadro, estão fazendo o elogio. Elas

se utilizam do sufixo diminutivo (–inho) para qualificar o animal. Portanto, a relação

que caberia aqui, não passaria de HUMANO x ANIMAL, sendo o animal apenas um

“objeto” de manuseio e admiração do humano. Essa é uma relação que não agrada

ao coelho. Já no segundo quadro, os elogios são dados por coelhas e elas se

utilizam do sufixo aumentativo (-ão) para caracterizar o ser da mesma espécie,

enaltecendo sua macheza e virilidade. Portanto, a relação que cabe aqui é

COELHO x COELHAS, de cunho sexual, o que traz satisfação ao coelho, pois é

esse tipo de relacionamento que o interessa. Diante disso, vemos que o riso só se

dá quando comparamos um quadro ao outro.

Dessa forma, podemos chegar à seguinte conclusão:

Um texto é um todo organizado de sentido, porque o significado de uma parte depende das outras com que se relaciona de tal forma que

combinam entre si, a fim de gerar uma unidade.

Essa definição será fundamental para analisarmos e elaborarmos textos. Por

isso, tenham-na sempre em mente, pois já estamos de certa forma, condicionados

a analisarmos os textos de forma fragmentada, não observando todos os elementos

que estão ali presentes.

Vejamos se você compreendeu bem o que foi dito até aqui e se já conseguiu

direcionar a sua mente para entender que todos os elementos presentes no texto

são importantes para a depreensão de sentido e, para isso, vamos analisar mais

um exemplo:

Observe a propaganda a seguir retirada do site http://naweb.wordpress.com/.

Ela se constitui em três quadros. Faça a leitura mediante as questões abaixo.

a) Se você observar apenas o primeiro quadro, abaixo, qual o sentido que você

depreende?

b) Agora, observe o segundo quadro. Ele corresponde ao sentido que você

obteve do primeiro?

c) Vamos ao terceiro quadro. Ele é uma confirmação da leitura que você fez do

primeiro e segundo quadros ou somente quando você observou o terceiro

quadro é que houve um entendimento da propaganda?

Nesse momento, observe abaixo a propaganda toda.

Edson Baeta http://naweb.wordpress.com/.

Acesso em 11/11/2009

Podemos perceber que a propaganda é um alerta acerca do consumo de

bebida alcoólica e do ato de dirigir, ou seja, os dois “não devem andar juntos”, pois

o álcool prejudica a atenção dos motoristas e aumenta a ocorrência de acidentes.

Essa leitura só é possível pela visualização e depreensão de sentido dos três

quadros juntos. Por isso, falamos que o texto é uma unidade de sentido e para

obter essa unidade é necessário observar e pensar em todos os aspectos que nele

estão envolvidos.

Mas, talvez você deva estar se perguntando: “A propaganda acima ou

mesmo a tirinha é um texto? Mas elas são compostas por poucas palavras.!!!!!”

Eis, então, a resposta: ELAS SÃO TEXTO, pois texto, também, é toda

manifestação linguística, paralinguística e imagética que transmite uma mensagem

ou um ato de comunicação a fim de obter uma interação com o outro. Por isso,

dizemos que existem três tipos de texto: verbal, não verbal e sincrético ou misto

(verbal e não verbal). Quando dizemos manifestação linguística falamos de

recursos expressos pela palavra (que pode ser oral ou escrita); o paralinguístico é

quando usamos gestos, olhares etc.; e o imagético é formado por imagens ou

figuras.

Cotidianamente as pessoas se deparam com uma grande variedade de

palavras e imagens que apresentam características diferentes e que são

elaboradas com objetivos bem distintos. Veremos a seguir produções que

relacionam elementos expressivos verbais, não verbais e mistos.

Texto verbal

Existem várias formas de comunicação. Quando o homem se utiliza da

palavra, ou seja, da linguagem oral ou escrita, dizemos que ele está utilizando uma

linguagem verbal, pois o código usado é a língua. Tal código está presente, quando

falamos com alguém, quando lemos ou quando escrevemos. A linguagem verbal é

a forma de comunicação mais presente em nosso cotidiano. Mediante a língua

falada ou escrita, expomos aos outros as nossas idéias e pensamentos,

comunicando-nos por meio desse código verbal imprescindível em nossas vidas.

Portanto, a linguagem verbal é aquela que tem as palavras como recurso

expressivo, como exemplo: textos orais ou escritos, em prosa ou em verso. Leia o

texto:

Resenha de filme: Crepúsculo

Luma Jatobá 18/01/2009

Baseado nos livros de Stephenie Meyer, Crepúsculo vem às telonas contar a história da jovem Isabella Swan (Kristen Stewart) que ao se mudar para a casa do pai em Forks, Washington, conhece no colégio uma família diferente: os Cullen. Por serem anti-sociais e muito reservados, são os estranhos da escola. Bella logo se apaixona por Edward Cullen (Robert Pattinson) e ele por ela. Seria algo lindo e normal se o rapaz não fosse um vampiro. E é deste meado que se desenvolve a história: o romance proibido, o segredo que não pode ser descoberto e a perseguição dos Cullen, após James (Cam Gigandet), o vampiro sanguinário, descobrir o "namoro" deles.

Agora os Cullen e a jovem Bella estão correndo perigo. A corrida é contra o relógio para acabar com o vampiro antes que o pior aconteça. A história do filme é legal e prende do início ao fim, mas falta uma trilha sonora de peso e abusa quando dão a desculpa de que vampiros não saem ao sol porque brilham como diamantes. O livro está no terceiro volume, Crepúsculo é apenas o primeiro da série que ainda trás Lua nova e Eclipse. Dizem por aí que a nova adaptação de Romeu e Julieta veio pra substituir o bruxinho Harry Potter, será?

(http://centralrocknet.com.br/index.php?news=677)

Observamos que o texto acima é uma resenha, cuja finalidade é descrever o

filme Crepúsculo, para que o leitor tenha uma visão da história, a fim de verificar se

é interessante assisti-lo. Para isso, o autor utilizou-se da linguagem verbal, pois

como vemos, utilizou-se a língua escrita para se comunicar.

Além da resenha, encontramos a linguagem verbal em textos de

propagandas; reportagens (jornais, revistas etc.); obras literárias e científicas; na

comunicação entre as pessoas; em discursos (do Presidente da República, dos

representantes de classe, de candidatos a cargos públicos etc.) e em várias outras

situações.

Texto não verbal

As pessoas não se comunicam apenas por palavras. Os movimentos faciais

e corporais, as cores, o desenho, a dança, os sons, os gestos, os olhares, a

entoação são também importantes: são os elementos não verbais da comunicação.

Os significados de determinados gestos e comportamentos variam muito de uma

cultura para outra e de época para época.

Portanto, o texto não verbal consiste no uso de imagens, figuras, símbolos,

tom de voz, postura corporal, pintura, música, mímica, escultura como meio de

comunicação. A linguagem não verbal pode ser até percebida nos animais. Quando

um cachorro balança a cauda quer dizer que está feliz e quando coloca a cauda

entre as pernas significa medo e tristeza. Outros exemplos: sinalização de trânsito,

semáforo, logotipos, bandeiras, uso de cores para chamar a atenção ou exprimir

uma mensagem.

Dessa forma, é muito interessante observar que para manter uma

comunicação não é preciso usar a fala e sim utilizar uma linguagem, seja ela verbal

ou não verbal.

Observe a figura ao lado. Se ela fosse

encontrada em um consultório médico, faríamos a

leitura de que, naquele local, as pessoas devem falar

baixo e, se possível, manter silêncio. A linguagem

utilizada é a não verbal, pois não utiliza a língua para

transmitir “silêncio”.

O semáforo, também, é um exemplo de texto

não verbal - um objeto cujo sentido das cores

comanda o trânsito e que é capaz de interferir na vida

do ser humano de forma extraordinária.

Texto Sincrético ou misto (verbal e não verbal)

Falamos em texto misto – verbal e não verbal – quando os dois recursos

expressivos são utilizados em conjunto. Isso ocorre, por exemplo, em história em

quadrinhos, propagandas, filmes e outras produções que utilizam ao mesmo tempo

palavras e imagens.

Observemos a charge:

Ao observarmos o que está expresso na superfície textual, ou seja, aquilo

que é visível notamos que esse texto é formado por um tema “trabalho escravo”;

logo a seguir, há uma imagem de homens que se subdividem em dois grupos:

possíveis cortadores de cana de açúcar e o “patrão”, com um chicote na mão, junto

aos seus capatazes armados; e abaixo da imagem, temos os dizeres: “Aquele que

ficar por aí inventando esse tipo de mentira já sabe: duzentas chibatadas!”

Percebemos, portanto, que por meio da linguagem verbal e não verbal, o

texto aborda a questão do trabalho escravo, tema muito discutido no Congresso

Nacional Brasileiro, na época de publicação da charge. O governo pretendia

combater esse tipo de crime, mas encontrava resistência por parte de alguns

deputados e senadores, porque esses parlamentares eram proprietários de

algumas das fazendas investigadas.

A charge ironiza justamente essa questão: a existência do trabalho escravo

de forma não assumida. O “patrão” diz que denunciar o trabalho escravo é inventar

mentira, mas, ao mesmo tempo, encontra-se com um chicote na mão como faziam

os senhores e feitores, na época da escravatura. É claro que essa leitura só será

possível se fizermos a junção dos dois tipos de imagens.

Portanto, o sentido desse texto, e de todos os outros que analisamos, ocorre

pela relação que um elemento mantém com os demais constituintes do todo. Esse

sentido do todo não é mera soma de partes, mas pelas várias relações que se

estabelecem entre si. Por isso, não podemos fazer a leitura somente da imagem ou

somente do que está escrito, é necessário fazermos a leitura do todo.

Além dessas questões tratadas até aqui, cabe dizer que todo texto é

produzido por um sujeito num determinado tempo e num determinado espaço.

Conforme diz Fiorin (1996, 17-18),

(...) esse sujeito, por pertencer a um grupo social num tempo e

num espaço, expõe em seus textos as idéias, os anseios, os

temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social.

Todo texto tem um caráter histórico, não no sentido de que

narra fatos históricos, mas no de que revela os ideais e as

concepções de um grupo social numa determinada época.

Cada período histórico coloca para os homens certos

problemas e os textos pronunciam-se sobre eles.

Por isso, em um texto temos sempre a amostragem de um fato, ocorrido num

determinado momento, vista sob um ponto de vista social representado por um

sujeito. Dessa forma, ao analisarmos um texto, além de verificarmos a unidade

existente entre as partes, temos de observar o contexto.

Texto e Contexto

Quando analisamos a charge “Trabalho Escravo”, dissemos que esse

assunto estava sendo discutido no Congresso Nacional e que alguns parlamentares

apresentavam certa resistência para discutir o assunto. Ora, essas questões são

importantes para o entendimento da charge, mas elas não estão marcadas na

superfície textual. O seu sentido ocorrerá mediante o conhecimento de mundo do

leitor, em saber em que situação ela foi produzida, ou seja, levando em conta o

CONTEXTO.

Fiorin (1994, 12) define contexto como “uma unidade linguística maior onde

se encaixa uma unidade linguística menor”. Assim, a palavra encaixa-se no

contexto da frase, esta no contexto do parágrafo, o parágrafo encaixa-se no

contexto do capítulo, o capítulo no contexto da obra toda e a obra encaixa-se no

contexto social.

Fica mais clara a questão do contexto, quando adotamos a metáfora do

iceberg. Aquilo que visualizamos é chamado ponta do iceberg, pois, como o próprio

nome diz, é uma pequena parte que fica exposta na superfície da água. Contudo,

essa ponta se apóia numa imensa parte que fica submersa, a fim de dar

sustentação. Essa parte submersa é o que chamamos de contexto, pois é ele quem

dá sustentação ao texto, que é a ponta do iceberg. Observe o texto:

Para entender essa tirinha, precisamos considerar algumas questões que

não estão explícitas, mas que fazem sentido no contexto. Vivemos, hoje, um padrão

de beleza feminino em que a mulher tem de ser considerada magra. A dieta e a

“boa forma” são um dos assuntos mais comentados. Isso não significa que sempre

tenha sido dessa forma. Na época da Renascença, o padrão “gordinha” era

sinônimo de beleza, pois demonstrava que a família da referida mulher era

abastada. Na Idade Média, a ideia de fertilidade imposta como contraponto de uma

época de matanças ocorridas nas cruzadas, trazia uma mulher de quadril largo e

ventre avolumado. Em nossos dias a beleza, assim como a moda, está relacionada

a padrões de magreza impostos pela indústria da moda, para valorizar a roupa.

Portanto, em nossa época, quando um homem chama uma mulher de gorda, está

“comprando briga”. É o que ocorre na tirinha. E além de tudo, e o que é pior, ele

repetiu que ela havia engordado!!!!

Fiorin (1996), também traz um exemplo muito esclarecedor para

compreendermos a importância do contexto. Quando Lula disse a Collor no primeiro

debate do segundo turno das eleições presidenciais de 1989 “Eu sabia que você

era collorido por fora, mas caiado por dentro”, todos os brasileiros entenderam que

essa frase não queria dizer você tem cores por fora, mas é revestido de cal por

dentro, mas você apresentou um discurso moderno, de centro-esquerda, mas é

reacionário. Como foi possível entender a frase dessa maneira? Porque ela foi

colocada dentro do contexto dos discursos da campanha presidencial. Nele, o

adjetivo collorido significa relativo à Collor, “adepto de Collor”, ou seja, Collor

apresenta-se como um renovador, como alguém que pretendia modernizar o país,

melhorar a distribuição de renda, combater os privilégios dos mais favorecidos.

Havia também, na disputa, o candidato Ronaldo Caiado, de extrema direita que

defendia a manutenção do status quo. As frases ganham sentidos porque estão

correlacionadas umas às outras, dentro de uma situação comunicacional, que é o

contexto.

Portanto, diante do exposto, podemos entender que o contexto traz

informações importantes que acompanham o texto. Assim sendo, não basta a

leitura do texto, é preciso retomar os elementos do contexto, aqueles que estiveram

presentes na situação de sua construção. A produção e recepção de um texto estão

condicionadas à situação; daí a importância de o leitor conhecer as circunstâncias e

ambiente que motivaram a seleção e a organização dos aspectos linguísticos.

Podemos dizer que existem o contexto imediato e o situacional. O

contexto imediato relaciona-se com os elementos que seguem ou precedem o texto

imediatamente. São os chamados referentes textuais. O título de um poema pode

despertar determinadas decodificações. Esse contexto é aquele que

compreendemos em uma frase, quando a lemos no parágrafo; ou quando

entendemos o parágrafo, no momento em que lemos todo o texto. Leia o poema a

seguir:

O que se diz Carlos Drummond de Andrade

Que frio! Que vento! Que calor! Que caro! Que absurdo! Que bacana! Que tristeza! Que tarde! Que amor! Que besteira! Que esperança! Que modos! Que noite! Que graça! Que horror! Que doçura! Que novidade! Que susto! Que pão! Que vexame! Que mentira! Que confusão! Que vida! Que talento! Que alívio! Que nada...

Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando a vida

(http://www.portalimpacto.com.br/docs/JoanaVestF3Aula16_09.pdf)

Nesse poema, o seu sentido está tanto no título “o que se diz”, quanto no

último verso “Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando a vida”, pois

são eles que nos faz compreender sobre o que poema está tratando: o fato de nós

exclamarmos todos os dias e muitas vezes não percebemos. Observe que os

elementos que nos dão sentido ao texto estão no próprio texto, por isso, falamos de

um CONTEXTO IMEDIATO.

O contexto situacional é formado por elementos exteriores ao texto. Esse

contexto acrescenta informações históricas, geográficas, sociológicas e literárias,

para maior eficácia da leitura que se imprime ao texto. Para isso, exige-se uma

postura ativa do leitor, ou seja, é necessário que ele tenha um conhecimento de

mundo, a fim de depreender o sentido exigido.

Esse conhecimento de mundo está ligado à nossa vivência, pois durante a

nossa vida, vamos armazenando informações que serão importantes para

entendermos e interpretarmos o mundo. Por isso, é fundamental a leitura,

assistirmos ao noticiário, irmos a museus, termos contato com pessoas que nos

acrescentarão conhecimento. Quando temos suporte para lermos um texto e

retirarmos dele o que está além dos seus aspectos linguísticos, a nossa leitura será

muito mais prazerosa e consequentemente, o texto será enriquecido, às vezes,

reinventado, e até recriado. Faça a leitura desta charge:

Qual a leitura que você fez? Você a compreendeu? Do que está tratando a

charge?

Para compreendê-la é necessário que você observe todos os aspectos que

estão envolvidos na construção dessa charge: o que está escrito na lousa, o

logotipo que está abaixo da lousa, as pessoas que estão nas carteiras, o que essas

pessoas carregam em sua cintura, o que está escrito no balão, a forma como a

pessoa que está ensinando diz etc. Quando a observamos, vemos que é uma

charge que trata das olimpíadas que ocorrerá no Rio de Janeiro em 2016. Hoje, o

Rio é conhecido como uma cidade violenta e há uma grande preocupação quanto à

segurança, quando houver as olimpíadas. Nessa charge, os bandidos estão já se

preparando para esse evento, pois quando forem “atuar”, farão na língua dos

estrangeiros. É claro que para entender isso, tivemos de ativar o nosso

conhecimento das línguas portuguesa e inglesa e do nosso conhecimento de

mundo, ou seja, recorremos ao CONTEXTO SITUACIONAL.

A compreensão de um texto vai além da simples compreensão de termos

nele impressos; não basta o simples reconhecimento de palavras, parágrafos, é

preciso levar em conta em que situação ele é produzido. A compreensão exige do

leitor uma sintonia com os fatos situados no seu dia a dia e que aparecem

subliminarmente impressos na mensagem textual.

Isso ocorre também em relação à produção textual, pois todas as vezes em

que se produz um texto, seja ele oral ou escrito, ele é determinado por uma série de

fatores que interferem, por exemplo, em sua estrutura e na organização de suas

informações. Um desses fatores é o interlocutor a quem se dirige o texto. Mesmo na

situação em que o indivíduo parece falar consigo mesmo (com os próprios botões),

a fala tem como interlocutor a representação de si mesmo que o indivíduo

construiu. Assim, sempre que se escreve e sempre que se fala isso é feito tendo em

vista um interlocutor, alguém que, obviamente, interfere na produção textual. Nas

situações reais de interação, as pessoas levam em conta, dentre outros, os

seguintes fatores:

Daí se vê que toda produção textual é construída a partir e em função

desses fatores que configuram o contexto enunciativo, ou seja, todas essas

produções textuais são marcadas e definidas pelos lugares/papéis sociais que

caracterizam, na situação de interação comunicativa.

Por que escrevo? Para quem escrevo?

De onde eu escrevo?

Que efeitos de sentido quero provocar?

Que efeitos de sentido NÃO quero provocar?

O que sei sobre o assunto de que vou tratar?

COMO INTERPRETAMOS UM TEXTO

Caro aluno,

Como tem sido as suas leituras? Você lê com frequência? Quando lê, você

consegue entender claramente o que o texto quer dizer?

Uma das maiores dificuldades encontradas pelos alunos, em relação ao

aprendizado de um conteúdo, é a deficiência na leitura e compreensão do sentido

dessa leitura. Isto quer dizer que muitos não conseguem entender o que leem ou

apenas reproduzem, com as mesmas palavras, o que está escrito na superfície

textual, ou seja, naquilo que está escrito ”literalmente” ou mostrado. Abaixo segue

uma crônica de Ignácio de L. Brandão, publicada no jornal O Estado de São Paulo.

Leia-a atentamente, para entender o que acabamos de falar:

Para quem não dorme de touca

Na infância, ele era diferente. Acreditava nos outros, acreditava nas coisas. Quando alguém dizia: - Por que não vai ver se estou na esquina? Ele corria até a esquina, olhava, esperava um pouco, reconfirmava e voltava:

- Não tem ninguém na esquina. - Quer dizer que voltei. - Por que não me avisou que voltou? - Voltei por outro caminho. - Que outro caminho? - O caminho das pedras. Não conhece o caminho das pedras? - Não. - Então não vai ser nada na vida. Outra vez, numa discussão, alguém foi imperioso: - Quer saber? Vá plantar batatas.

Ele correu no armazém, comprou um quilo de batatas e foi até o quintal, plantou tudo. Não é que as batatas germinaram! Houve também aquele dia em que um amigo convidou:

- Vamos matar o bicho? - Onde o bicho está? - Ali no bar. - Que bicho? É perigoso? Me dê um minuto, passo em casa, pego a espingarda do meu pai ... - Espingarda? Venha com a sede. - Não estou com sede. - Matar o bicho, meu caro, é beber uma pinga.

Em outra ocasião, um primo perguntou: - Você fez alguma coisa para a Mercedes? - Não. Por quê? - Ela passou por mim, está com a cara amarrada.

- Amarrada com barbante, com corda, com arame? Por que uma pessoa amarra a cara da outra? - Nada, esquece! Você ficou com a cara de mamão macho, me deixou com cara de tacho. É um cara-de-pau e ainda fica aí me olhando com a mesma cara. Outra vez, uma menina, que ele queria namorar, se encheu: - Pára! Não me amole! Por que não vai pentear macaco? Naquela tarde ele foi surpreendido no minizoológico do bairro, com um pente na mão e tentando agarrar um macaco, a quem procurava seduzir com bananas. Uma noite combinaram de jogar baralho e um dos parceiros propôs:

- Vai ser a dinheiro ou a leite de pato? - Leite de pato, propuseram os jogadores. Ele se levantou: - Então, esperem um pouco. Trouxe dinheiro, mas não leito e de pato. Vou providenciar. - E onde vai buscar leite de pato?

- A Mirela, ali da esquina, tem um galinheiro enorme, está cheio de patos. Vou ver o que arranjo. Voltou meia hora depois: - Não vou poder jogar. Os patos, me disse a Mirela, não estão dando leite faz uma semana. Riram e mandaram ele sentar e jogar. Em certo momento, um jogador se irritou, porque o adversário, apesar de ingênuo e inocente, tinha muita sorte. - Vou parar. Você está jogando com cartas marcadas. - Claro que tem marca! É Copag, a melhor fábrica de baralhos. Boa marca, não conheço outra. - Está me fazendo de bobo, mas aí tem dente de coelho. - Juro que não! Por que haveria de ter dente de coelho? Quem tirou o dente do coelho? - Além do mais, você mente com quantos dentes tem na boca. A gente precisa ficar de orelha em pé. - Não estou fazendo nada. Estou na minha, com meu joguinho, vocês é que implicam. - Desculpa de mau jogador. - Não devo nada a ninguém aqui. - Deve os olhos da cara. - Devo? Não comprei os meus olhos. Nasceram comigo. Só se meus pais compraram e não pagaram. Todos provocaram, pagavam para ver. - Não venha com conversa mole, pensa que dormimos de botina? - Não penso nada. Aliás, nunca vi nenhum de vocês de botina. - Melhor enrolar a língua, se não se enrosca todo. - Não venha nos fazer a boca doce, que bem te conhecemos! As conversas eram sempre assim. Pelo menos foram até meus 20 anos, quando deixei a cidade. A essa altura, vocês podem estar pensando que ele era sonso, imbecilizado. Garanto que não. Tanto que, hoje, é um empresário bem-sucedido,

fabrica lençóis, fronhas e edredons, é dono de uma marca bem conhecida, a Bem Querer & Bem-Estar. Não sei se um de vocês já comprou. Se não, recomendo. Claro, recomendo a quem não dorme de touca, quem não tem conversa mole para boi dormir, quem não dorme no ponto, quem não dorme na portaria, para aqueles que não dormem sobre louros. Enfim, para quem não dorme com um olho aberto e o outro fechado. (BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O Estado de São Paulo, 8 jul. 2005. Caderno 2, p. D14.)

Observamos que nessa crônica, o sujeito destacado pelo narrador somente

entendia as orações de forma literal, ou seja, ele não conseguia entender a

intenção proposta pelas pessoas, quando diziam algo. Você já vivenciou esse fato?

Essa história parece ser até ridícula; aparentemente nenhuma pessoa faria

isso, pois dentro da ação comunicativa, o indivíduo consegue entender que essas

expressões são formas de dizer, ou seja, elas são expressões populares, usadas

como figuras de linguagem para dizer algo com outro sentido.

Infelizmente, essa situação é muito comum durante o ato da leitura, porque,

muitas vezes, o leitor não consegue entender a intenção do autor. Ele começa a

pensar e a dizer algo que não está no texto.

Você já leu um texto, fez uma interpretação e quando foi ver a sua

interpretação não era a ideia central do texto? Por que será que isso ocorre?

Porque muitas vezes nós queremos entender o texto de forma literal, ou

então isolamos palavras ou frases e fazemos nossa análise sem olhar o todo.

Devemos entender que a totalidade de sentido de um texto não está somente

naquilo que está escrito, conhecido como superfície textual (o que é mostrado), mas

também está nos aspectos considerados não ditos.

No texto, podemos dizer que existem dois planos: aquilo que está mostrado

mediante as letras, palavras, figuras e gestos; e aquilo que está implícito, oculto,

ou seja, aquilo que está além dessas letras, palavras, figuras e gestos. É o que

acontece na crônica. Quando foi dito “Vai ver se eu estou na esquina” a pessoa não

Talvez, você esteja se perguntando: “Como assim?”

queria que o sujeito que recebeu essa informação fosse até à esquina a fim de

verificar essa informação, porque não haveria necessidade, uma vez que ela já

estava bem à sua frente. Na realidade, por meio desses dizeres, o desejo dessa

pessoa é que o outro parasse de perturbá-la.

No entanto, deverá surgir uma nova pergunta: “Será que eu tenho essas

mesmas atitudes em relação à interpretação dos textos?”

Infelizmente, muitos ainda têm. Quer fazer um teste? Leia a seguir a fábula

de Millôr Fernandes:

A RAPOSA E AS UVAS De repente a raposa, esfomeada e gulosa, fome de quatro dias e gula de todos os tempos, saiu do areal do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia por um precipício a perder de vista. Olhou e viu, além de tudo, à altura de um salto, cachos de uvas maravilhosos, uvas grandes, tentadoras. Armou o salto, retesou o corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas. Caiu, tentou de novo, não conseguiu. Descansou, encolheu mais o corpo, deu tudo o que tinha, não conseguiu nem roçar as uvas gordas e redondas. Desistiu, dizendo entre dentes, com raiva: “Ah, também, não tem importância. Estão muito verdes.” E foi descendo, com cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço empurrou a pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra, perigosamente, pois o terreno era irregular e havia risco de despencar, esticou a pata e... Conseguiu! Com avidez colocou na boca quase o cacho inteiro. E cuspiu. Realmente as uvas estavam muito verdes! MORAL: A frustração é uma forma de julgamento tão boa como qualquer outra.

Fonte: (FERNANDES, Millôr. Fábulas Fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1991)

Se alguém lhe perguntasse “o que você

entendeu do texto?”, o que diria? Tente

formular, em sua mente, a interpretação do

texto. Talvez, tenha conseguido formular a

seguinte interpretação:

Essa fábula narra a história de uma raposa,

que não comia já há quatro dias e que,

portanto, estava com muita fome. Ela saiu do

areal do deserto e foi a um parreiral que descia

por um precipício. Ela olhou e viu que os

cachos de uvas eram grandes e maravilhosos.

A raposa tentou pegá-los por diversas vezes, mas como não conseguiu, desistiu,

dizendo que as uvas estavam muito verdes. Quando estava indo embora, se

deparou com uma pedra enorme. Com muito esforço empurrou a pedra até o local

em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra e conseguiu pegá-lo. Colocou o

cacho inteiro na boca e o cuspiu imediatamente, por que as uvas estavam muito

verdes.

Se essa foi a sua interpretação, ela foi apenas uma reprodução do que está

na superfície do texto, ou seja, ela é muito parecida com o sujeito da crônica que

entendia tudo literalmente. Ao contar essa fábula, a intenção é muito maior do que

apenas narrar a história de uma raposa que estava com fome.

Então, qual seria a possibilidade de interpretação? Tente enxergar outros

significados que estão além das palavras. Por exemplo:

Observe que essas questões estão nos fazendo olhar não apenas para

aquilo que está dito, mas buscarmos significados que estão além do texto. Isso

deve ocorrer na interpretação de todo texto.

O que é uma fábula?

Qual a relação da fábula com a moral?

Ao analisar a fábula “A Raposa e as Uvas”, devemos primeiramente ter o

conhecimento de que uma fábula é uma narrativa figurada, na qual as personagens

são geralmente animais que possuem características humanas.

Pode ser escrita em prosa ou em verso e é sustentada sempre por uma lição

de moral, constatada na conclusão da história. Ela é muito utilizada com fins

educacionais. Muitos provérbios ou ditos populares vieram da moral contida nesta

narrativa alegórica, como por exemplo: “A pressa é inimiga da perfeição” na fábula

A lebre e a tartaruga e “Um amigo na hora da necessidade é um amigo de verdade”

em A cigarra e as Formigas. Portanto, sempre que alguém redige uma fábula ele

deve ter em mente um ensinamento. Além disso, observamos que na fábula a

raposa não tem procedimentos próprios de um animal, mas de ser humano, pois ela

falou, empurrou a pedra, armou toda uma estratégia para pegar as uvas etc.

Diante disso, uma vez que a fábula sempre procura trazer um ensinamento,

devemos analisar a relação que existe entre a narrativa e a moral. Num primeiro

momento, o texto parece ter um caráter

ingênuo, de uma narrativa aparentemente

infantil, conforme apontamos naquela

interpretação literal. Contudo, quando

observamos alguns elementos textuais que

estão presentes na fábula, ampliamos a

nossa leitura. Logo no início da narrativa é

colocada não uma necessidade fisiológica (a

fome da raposa), mas uma questão comportamental (a gula da personagem), dado

importante para reforçar a conclusão. Além

disso, aparecem várias tentativas do animal

em obter o objeto de desejo que alimentaria

sua gula, mesmo depois de vários fracassos.

Só então a raposa emite um juízo “Ah,

também não tem importância. Estão muito

verdes.” (É bom ressaltar que esse

enunciado é precedido das expressões

“entre dentes, com raiva”, que evidenciam as condições da raposa no momento em

que diz).

A partir daí, novos dizeres se apresentam no texto em virtude da intenção de

sentido. Ao se deparar com uma enorme pedra, a raposa é reanimada e tenta

novamente atingir seu objetivo, ignorando o que havia afirmado anteriormente,

premida pelas circunstâncias. Isso, aparentemente, comprova que as palavras da

personagem eram apenas tidas como desculpas por não ter conseguido a fruta

para saciar sua gula. Contudo, a raposa consegue, com muito esforço, o que

pretendia - apanhar as uvas - mas, ao contrário do que desejava, as uvas estavam

realmente verdes, expelindo-as de sua boca de tal forma que não as consumisse.

Nesse ponto, o texto amplia os horizontes do significado, determinando a

moral, cujo sentido está em confirmar a questão comportamental e não a

necessidade fisiológica. As uvas já se mostravam verdes e a raposa já havia

percebido, tanto que já o havia declarado anteriormente, mas o estado de gula era

tal, que se sobrepôs à razão. Somente no momento em que provou as uvas e

houve a confirmação do que já sabia é que veio a

consciência de não poder desfrutar daquela fruta,

daí, então, ocorre a frustração.

É claro que para fazer essa leitura e

interpretação, é necessário que o leitor comece a

perceber que aquilo que é visível num texto não é a

única leitura, mas a partir desses aspectos visíveis

associados a outros aspectos que já fazem parte da

vivência do leitor, essa leitura será ampliada.

Portanto, para compreender o que está além daquilo

que é visível, precisamos ativar o que chamamos de

conhecimento de mundo.

Mas, o que é esse conhecimento de mundo?

Durante a nossa vida, nós adquirimos vários tipos de conhecimentos que

ficam arquivados em nossa memória. Por isso, é fundamental que um indivíduo

tenha acesso à cultura, faça diversas leituras, ouça música, veja filmes, pois quanto

maior for a sua experiência, maior será o seu conhecimento.

Ao fazermos uma leitura ou uma interpretação de texto, nós ativamos esse

conhecimento de mundo, para estabelecer sentido ao texto. Por isso, a leitura é

uma atividade na qual se leva em conta as experiências e os conhecimentos do

leitor.

Koch e Elias (2007, 11) dizem que “a leitura de um texto exige do leitor bem

mais que o conhecimento do código linguístico, uma vez que o texto não é simples

produto da codificação de um emissor a ser decodificado por um receptor passivo.”

Isso quer dizer que quando lemos algo, não basta apenas conhecermos as

letras ou identificarmos as imagens, pois isso

caracterizaria uma leitura ingênua. Durante o

ato da leitura, não somos simples leitores num

estado de passividade, apenas recebendo

informação, mas, devemos ser pessoas ativas

nessa leitura, buscando preencher as

lacunas que o texto tem e procurando

descobrir a intenção que está por trás dessa “superfície

textual”. Essa ação é o que chamamos de

posicionamento crítico. Segundo os Parâmetros

Curriculares Nacionais

A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades

de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas. (BRASIL. PCNS: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998, pp. 69-70.)

Portanto, o nosso desafio é fazê-lo perceber que há níveis de leitura e

entendimento de um texto. Muitas vezes, uma pessoa fica somente no primeiro

nível, o da superfície do texto, sendo que o sentido do texto vai muito além. Para

ajudar ainda mais no entendimento desse sentido, é necessário saber, também,

que tudo é construído dentro de um aspecto ideológico.

Quando Millôr Fernandes escreveu a fábula “A Raposa e as Uvas” procurou,

conforme analisamos, trazer como ensinamento a repreensão à gula. Para isso, ele

parte do princípio que a gula é algo condenado socialmente, uma vez que ela

pertence aos sete pecados capitais. Dessa forma, essa fábula confirma os valores

sociais, mostrando a gula de forma depreciativa, passível de um julgamento.

Agora, suponhamos que uma empresa de alimentos fosse fazer uma propaganda.

Você acha que ela seria a favor ou contra a gula? Pegue como exemplo alguns

comerciais de alimentos, principalmente quando se trata de algum chocolate: neles,

normalmente, aparece uma criança toda lambuzada, pois ela come o doce com

tanto prazer, que acaba se sujando toda.

Agora me responda: a empresa que faz a propaganda tem a mesma visão

de gula presente na fábula ou uma visão contrária? Por que isso ocorre?

Percebemos que é uma visão contrária, pois o objetivo dessa empresa é

fazer que o leitor consuma o maior número possível de produtos, para que ela

obtenha lucros. Portanto, a gula não seria vista como algo maléfico, mas benéfico.

Agora, leia o poema a seguir:

Aspecto Ideológico? O que é isto?

A gula

Sorvo delícias em prazeres

que mal mastigo...

Compenso-me em torrões

mascavados de deleite

Repasto-me em trouxas

douradas de ovos moles

Degusto ostras

ovadas de luar

e empanturro-me

em iguarias às quais

não ofereço resistência

E confesso-me pecadora

e escrava desta gula,

que leva à mesa,

o banquete que me sacia,

meu regozijo e conforto,

prova das minhas fraquezas.

Maria Fernanda Reis Esteves (http://www.luso-poemas.net)

Nesse poema, como é vista a gula? É vista como algo aceito ou condenado

pelo eu-lírico, ou seja, por aquele que está dizendo o poema? O que o faz ter esse

posicionamento?

Ao analisarmos o poema, vemos uma pessoa que se declara pecadora e

escrava da gula. Embora consciente de que a gula é algo condenado socialmente,

ela sente prazer no que faz. E parece não ligar por estar transgredindo os valores

sociais. Ela sabe que a gula é uma fraqueza dela, todavia, ela se sente confortável.

Essa consciência e esse conforto vêm marcados no poema pelos verbos

“sorvo”, “repasto”, “degusto” e “empanturro”, pois estão todos ligados a ação de

saborear algo. Esse posicionamento se mostra diferente da fábula e da empresa de

alimentos.

Então, o que nos leva a ter essas três visões diferenciadas da gula? São os

chamados pressupostos ideológicos de cada sujeito constituído no texto. Dessa

forma, cabe-nos ver um pouco sobre a questão da ideologia e a linguagem.

Segundo Marilena Chauí (O que é ideologia, p. 113),

“a ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas e de regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar o que devem valorizar e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer.”

Leia novamente essa definição e pense no que Marilena Chauí quer dizer.

Esse é um bom teste para ver o seu nível de leitura.

Se você for a um dicionário ou a um livro de filosofia, verá outras definições

de ideologia, todavia, essa definição dada por Chauí está bem apropriada ao que

estamos falando.

Um indivíduo, durante a sua formação vai adquirindo valores sociais, regras

de conduta que vão direcionar a sua vida. Ele buscará interpretar os fatos e se

expressar de acordo com essas ideias.

Por exemplo, se um indivíduo é de uma família em que certas palavras não

podem ser ditas porque são proibidas, esse indivíduo sempre as verá dessa forma,

por isso, procurará evitá-las.

Isso é o que ocorre nos textos, cuja temática é sobre a gula. O modo de ver

a gula e falar dela dependerá dessa questão de valores.

Esses valores, essas regras e normas são o que formam a ideologia,

portanto, o seu significado está ligado a um conjunto de ideias, de pensamentos,

das experiências de vida de um indivíduo e é por meio desta ideologia que o

indivídio interpreta seu mundo, os textos que lê e as informações que recebe por

meio de suas ações e linguagem.

Todavia, muitas vezes, a ideologia é utilizada dentro de um aspecto negativo,

porque ela pode ser usada como uma forma de mascarar a verdade. Por exemplo,

quando o patrão diz aos empregados que quanto mais eles produzirem, mais

pessoas dignas e de sucesso serão; na realidade, esse patrão está se utilizando

dos aspectos ideológicos nessa fala, pois, o que de fato deseja é a grande

produção para um maior faturamento. Na sua fala há uma intenção implícita que

não é condizente com o que ele está transmitindo. Isso é muito comum na

propaganda. Com o propósito de

vender um produto, a empresa

mostra todas as qualificações desse

produto, nos passando a ideia de que

ele é importantíssimo para o

consumidor e nós somos persuadidos

de tal forma que queremos adquiri-lo.

Veja esta propaganda antiga.

Em meados do século XX, a

enceradeira surgiu como uma

inovação tecnológica importante para

a dona de casa, pois muitas mulheres

enceravam a sua casa com um

escovão ou de joelho com um pano

na mão. Procure observar essa

propaganda e veja como ela procura

vender o produto “enceradeira”.

Se você nunca passou uma enceradeira, pergunte para sua mãe se era

dessa forma que ela encerava a casa: salto, cabelo escovado, saia e blusa, como

se fosse uma princesa. Tenho certeza de que não era assim.

Observe que a propaganda quer vender a ideia de que quem comprasse a

Enceradeira Arno Super iria ter prazer em fazer a faxina de casa e nem sentiria

cansaço. Todavia, essa ideia não é verdadeira. Portanto, a empresa se apropriou

dos aspectos ideológicos para camuflar a verdade.

Dessa forma, a realidade é distorcida a partir de um conjunto de

representações pelo qual os homens se utilizam para explicar e compreender sua

própria vida individual e social. Isso ocorre com todos os indivíduos, porque nós

somos governados por uma ordem social.

A ideologia, portanto, é um sinal de significação que está presente em

qualquer tipo de mensagem, pois, em toda mensagem sempre há por trás uma

intenção que normalmente não é claramente dita.

Desta forma podemos afirmar que todos nós deixamos nossa marca de visão

de mundo, dos nossos valores e crenças, e de INTENÇÃO, ou seja, de nossa

ideologia, no uso que fazemos da linguagem, pois nós recorremos a ela para

expressar nossos sentimentos, opiniões e desejos. E é por meio da linguagem que

interpretamos a realidade que nos cerca.

Porém, essa interpretação não é totalmente livre, pois ela é construída

historicamente a partir de uma série de aspectos ideológicos que todos nós temos,

mesmo sem nos darmos conta de sua existência.

Tomem como exemplo textos que valorizam a imagem da mulher como a

dona de casa perfeita, por exemplo, recorrem a um vocabulário que traduz as

características vistas como positivas, tais como, a mulher é a rainha do lar, o anjo

do lar, a mãe exemplar, a esposa perfeita, a santa senhora. Tais expressões eram

muito utilizadas nas propagandas das décadas de 40, 50 e 60. Elas funcionavam

para encobrir, na realidade, a verdadeira trabalhadora do lar, a qual deveria

manusear todos os eletrodomésticos para manter sua casa permanentemente limpa

para seu esposo.

Para entendermos ainda melhor os conceitos que estamos trabalhando, no

quadro a seguir, encontramos três músicas. Faça uma comparação entre elas e

veja qual é o perfil de juventude que encontramos nessas músicas. São os mesmos

perfis? A data da composição das músicas é importante para a concepção desses

perfis?

Toda essa questão parece ser muito complexa, pois é

muito conceitual. Então veremos a seguir como de fato a

ideologia se dá nos textos.

Alegria, Alegria Caminhando contra o vento Sem lenço e sem documento No sol de quase dezembro Eu vou... O sol se reparte em crimes Espaçonaves, guerrilhas Em cardinales bonitas Eu vou... Em caras de presidentes Em grandes beijos de amor Em dentes, pernas, bandeiras Bomba e Brigitte Bardot... O sol nas bancas de revista Me enche de alegria e preguiça Quem lê tanta notícia Eu vou... Por entre fotos e nomes Os olhos cheios de cores O peito cheio de amores vãos Eu vou Por que não? Por que não? Ela pensa em casamento E eu nunca mais fui à escola Sem lenço e sem documento, Eu vou... Eu tomo uma coca-cola Ela pensa em casamento E uma canção me consola

Como Nossos Pais Não quero lhe falar, Meu grande amor, Das coisas que aprendi Nos discos... Quero lhe contar como eu vivi E tudo o que aconteceu comigo Viver é melhor que sonhar Eu sei que o amor É uma coisa boa Mas também sei Que qualquer canto É menor do que a vida De qualquer pessoa... Por isso cuidado meu bem Há perigo na esquina Eles venceram e o sinal Está fechado prá nós Que somos jovens... Para abraçar seu irmão E beijar sua menina na rua É que se fez o seu braço, O seu lábio e a sua voz... Você me pergunta Pela minha paixão Digo que estou encantada Como uma nova invenção Eu vou ficar nesta cidade Não vou voltar pro sertão Pois vejo vir vindo no vento Cheiro de nova estação Eu sei de tudo na ferida viva Do meu coração... Já faz tempo Eu vi você na rua Cabelo ao vento Gente jovem reunida Na parede da memória Essa lembrança É o quadro que dói mais...

Geração Coca-Cola Quando nascemos fomos programados A receber o que vocês Nos empurraram com os enlatados Dos U.S.A., de nove as seis. Desde pequenos nós comemos lixo Comercial e industrial Mas agora chegou nossa vez Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês Somos os filhos da revolução Somos burgueses sem religião Somos o futuro da nação Geração Coca-Cola Depois de 20 anos na escola Não é difícil aprender Todas as manhas do seu jogo sujo Não é assim que tem que ser Vamos fazer nosso dever de casa E aí então vocês vão ver Suas crianças derrubando reis Fazer comédia no cinema com as suas leis Somos os filhos da revolução Somos burgueses sem religião Somos o futuro da nação Geração Coca-Cola Geração Coca-Cola Geração Coca-Cola

Eu vou... Por entre fotos e nomes Sem livros e sem fuzil Sem fome, sem telefone No coração do Brasil... Ela nem sabe até pensei Em cantar na televisão O sol é tão bonito Eu vou... Sem lenço, sem documento Nada no bolso ou nas mãos Eu quero seguir vivendo, amor Eu vou... Por que não? Por que não? Caetano Veloso Composição: Caetano Veloso/ 1967

Minha dor é perceber Que apesar de termos Feito tudo o que fizemos Ainda somos os mesmos E vivemos Ainda somos os mesmos E vivemos Como os nossos pais... Nossos ídolos Ainda são os mesmos E as aparências Não enganam não Você diz que depois deles Não apareceu mais ninguém Você pode até dizer Que eu tô por fora Ou então Que eu tô inventando... Mas é você Que ama o passado E que não vê É você Que ama o passado E que não vê Que o novo sempre vem... Hoje eu sei Que quem me deu a idéia De uma nova consciência E juventude Tá em casa Guardado por Deus Contando vil metal... Minha dor é perceber Que apesar de termos Feito tudo, tudo, Tudo o que fizemos Nós ainda somos Os mesmos e vivemos Ainda somos Os mesmos e vivemos Ainda somos Os mesmos e vivemos Como os nossos pais... Elis Regina Composição:Belchior1976

Geração Coca-Cola Legião Urbana Composição: Renato Russo / Fê Lemos / 1985

Você percebeu que essas músicas foram compostas em três décadas

diferentes? A primeira em 1967, a segunda em 1976 e a terceira em 1985. Nelas,

encontramos diferenças nos perfis dos jovens que está intimamente ligada com a

ideologia dominante da época. Veja a análise!!!

Na primeira música, temos um jovem que vive a opressão sofrida nas ruas,

nos meios de comunicação, em sua cultura nativa, no seu próprio país na década

de 60. A letra denuncia o abuso de poder de forma metafórica: “caminhando contra

o vento/sem lenço e sem documento”; expressa a violência praticada pelo regime:

“sem livros e sem fuzil,/ sem fome, sem telefone, no coração do Brasil”; denuncia a

precariedade na educação brasileira proporcionada pela ditadura que queria

pessoas alienadas: “O sol nas bancas de revista /me enche de alegria e

preguiça/quem lê tanta notícia?”.

Na segunda música, a canção fala sobre o tempo e a juventude, a

maturidade e a impotência, a ilusão e a decepção, sobre ganhar e perder. Embora

as pessoas sejam tão previsíveis e as histórias, inclusive políticas, costumem

acabar praticamente sempre “em pizza”, como se costuma dizer no Brasil, o autor

nos alerta do quão é importante que façamos a nossa parte. É importante não

desistir.

Na terceira, temos uma geração marcada pelo consumismo, que procuram

para si a praticidade e os produtos importados. É uma juventude que se deixa

envolver pelo caminho mais fácil, deixando de lado ideais revolucionários.

Como se vê, as idéias produzidas num determinado tempo, numa dada

época estão sempre presentes no texto. Por isso, é preciso verificar as concepções

e fatos correntes na época e na sociedade em que o texto foi produzido, para

ajudar-nos a entender os aspectos ideológicos, ou seja, as crenças, valores e

pensamentos relacionados à época e, consequentemente, fazermos uma leitura

além da superfície de um texto.

AS QUALIDADES DO TEXTO Concisão: Consiste em apresentar os parágrafos de forma objetiva, sem o excesso de explicações e exemplos, que na maioria das vezes deixa a leitura cansativa me desinteressante. Clareza: É a qualidade que facilita a compreensão ao texto, frasco bem elaboradas e pontuadas adequadamente. Não dando margem para interpretações incorretas ou duplas. Correção: Diz respeito a aplicação das normas linguísticas estabelecidas: concordância nominal e verbal, pontuação, acentuação, ortografia, etc. Elegância: Aqui, embora o nome sugira, mão é algo menos importante tema ver com a apresentação visual do texto: a distribuição das partes em título e parágrafos, a divisão de palavras quando não cabe na linha, a letra, etc.

A CONSTRUÇÃO DO TEXTO COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS

CONCEITO DE TÓPICO

A CONSTRUÇÃO DO TEXTO

A noção de texto é central na lingüística textual e na teoria do texto, abrangendo realizações tanto orais quanto escritas, que tenham a extensão mínima de dois signos lingüísticos, sendo que a situação pode assumir o lugar de um dos signos como em "Socorro!". (Stammerjohann, 1975). Para a construção de um texto é necessária a junção de vários fatores que dizem respeito tanto aos aspectos formais como as relações sintático-semânticas, quanto às relações entre o texto e os elementos que o circundam: falante, ouvinte, situação (pragmática).

Um texto bem construído e, naturalmente, bem interpretado, vai apresentar aquilo que Beaugrande e Dressier chamam de textualidade, conjunto de características que fazem, de um texto, e não uma seqüência de frases. Esses autores apontam sete aspectos que são responsáveis pela textualidade de um texto bem constituído:

FATORES LINGÜÍSTICOS FATORES EXTRALINGÜÍSTICOS Coesão Intencionalidade Coerência Aceitabilidade Intertextualidade Informatividade Situacionalidade

Coerência

É o aspecto que assumem os conceitos e relações subtextuais, em um nível ideativo. A coerência é responsável pelo sentido do texto, envolvendo fatores lógico-semânticos e cognitivos, já que a interpretabilidade do texto depende do conhecimento partilhado entre os interlocutores. Um texto é coerente quando compatível como conhecimento de mundo do receptor. Observar a coerência é interessante, porque permite perceber que um texto não existe em si mesmo, mas sim constrói-se na relação emissor-receptor-mundo.

Coesão

É a manifestação lingüística da coerência. Provém da forma como as relações lógico-semânticas do texto são expressas na superfície textual. Assim, a coesão de um texto é verificada mediante a análise de seus mecanismos lexicais e gramaticais de construção. Ex: "Os corvos ficaram à espreita. As aves aguardaram o momento de se lançarem sobre os animais mortos." (hiperônimo ) "Gosto muito de doce. Cocada, então, eu adoro." (hipônimo) "–Aonde você foi ontem? –f f À casa de Paulo. – f f Sozinha? – Não, f f com amigos." (elipse) Os elementos de coesão também proporcionam ao texto a progressão do fluxo informacional, para levar adiante o discurso. Ex: "Primeiro vi a moto, depois o ônibus." (tempo) Embora tenha estudado muito, não passou. (contraste)

Intertextualidade

Concerne aos fatores que tornam a interpretação de um texto dependente da interpretação de outros. Cada texto constrói-se, não isoladamente, mas em relação a outro já dito, do qual abstrai alguns aspectos para dar-lhes outra feição. O contexto de um texto também pode ser outros textos com os quais se relaciona.

Intencionalidade

Refere-se ao esforço do produtor do texto em construir uma comunicação eficiente capaz de satisfazer os objetivos de ambos os interlocutores. Quer dizer, o texto produzido deverá ser compatível com as intenções comunicativas de quem o produz.

Aceitabilidade

O texto produzido também deverá ser compatível com a expectativa do receptor em colocar-se diante de um texto coerente, coeso, útil e relevante. O contrato de cooperação estabelecido pelo produtor e pelo receptor permite que a comunicação apresente falhas de quantidade e de qualidade, sem que haja vazios comunicativos. Isso se dá porque o receptor esforça-se em compreender os textos produzidos.

Informatividade

É a medida na qual as ocorrências de um texto são esperadas ou não, conhecidas ou não, pelo receptor. Um discurso menos previsível tem mais informatividade. Sua recepção é mais trabalhosa, porém mais interessante, envolvente. O excesso de informatividade pode ser rejeitado pelo receptor, que não poderá processá-lo. O ideal é que o texto se mantenha num nível mediano de informatividade, que fale de informações que tragam novidades, mas que venham ligadas a dados conhecidos.

Situacionalidade

É a adequação do texto a uma situação comunicativa, ao contexto. Note-se que a situação orienta o sentido do discurso, tanto na sua produção como na sua interpretação. Por isso, muitas vezes, menos coeso e, aparentemente, menos claro pode funcionar melhor em determinadas situações do que outro de configuração mais completa. É importante notar que a situação comunicativa interfere na produção do texto,

assim como este tem reflexos sobre toda a situação, já que o texto não é um simples reflexo do mundo real. O homem serve de mediador, com suas crenças e idéias, recriando a situação. O mesmo objeto é descrito por duas pessoas distintamente, pois elas o encaram de modo diverso.

Muitos lingüistas têm-se preocupado em desenvolver cada um dos fatores citados, ressaltando sua importância na construção dos textos.

A COERÊNCIA TEXTUAL

Dos trabalhos que desenvolvem os aspectos da coerência dos textos, o de Charolles (1978) é freqüentemente citado em estudos descritivos e aplicados. Partindo da noção de textualidade apresentada por Beaugrande e Dressier, Charolles também entende a coerência como uma propriedade ideativa do texto e enumera as quatro meta-regras que um texto coerente deve apresentar:

1. Repetição: Diz respeito à necessária retomada de elementos no decorrer do discurso. Um texto coerente tem unidade, já que nele há a permanência de elementos constantes no seu desenvolvimento. Um texto que trate a cada passo de assuntos diferentes sem um explícito ponto comum não tem continuidade. Um texto coerente apresenta continuidade semântica na retomada de conceitos, idéias. Isto fica evidente na utilização de recursos lingüísticos específicos como pronomes, repetição de palavras, sinônimos, hipônimos, hiperônimos etc. Os processos coesivos de continuidade só se podem dar com elementos expressos na superfície textual; um elemento coesivo sem referente expresso, ou com mais de um referente possível, torna o texto mal-formado.

2. Progressão: O texto deve retomar seus elementos conceituais e formais, mas não deve limitar-se a isso. Deve, sim, apresentar novas informações a propósito dos elementos mencionados. Os acréscimos semânticos fazem o sentido do texto progredir. No plano da coerência, percebe-se a progressão pela soma das idéias novas às que são já tratadas.

Há muitos recursos capazes de conferir seqüenciação a um texto.

3. Não-contradição: um texto precisa respeitar princípios lógicos elementares. Não pode afirmar A e o contrário de A . Suas ocorrências não podem se contradizer, devem ser compatíveis entre si e com o mundo a que se referem, já que o mundo textual tem que ser compatível com o mundo que representa. Esta não-contradição expressa-se nos elementos lingüísticos, no uso do vocabulário, por exemplo. Em redações escolares, costuma-se encontrar significantes que não condizem com os significados pretendidos. Isso resulta do desconhecimento, por parte do emissor, do vocabulário a que recorreu.

4. Relação: um texto articulado coerentemente possui relações estabelecidas, firmemente, entre suas informações, e essas têm a ver umas com as outras. A relação em um texto refere-se à forma como seus conceitos se encadeiam, como se organizam, que papeis exercem uns em relação aos outros. As relações entre os fatos têm que estar presentes e ser pertinentes.

A COESÃO TEXTUAL

Um texto, seja oral ou escrito, está longe de ser um mero conjunto aleatório de elementos isolados, mas, sim, deve apresentar-se como uma totalidade semântica, em que os componentes estabelecem, entre si, relações de significação. Contudo, ser uma unidade semântica não basta para que um tal. Essa unidade deve revestir-se de um valor intersubjetivo e pragmático, isto é, deve ser capaz de representar uma ação entre interlocutores, dentro de um padrão particular de produção. A capacidade de um texto possuir um valor intersubjetivo e pragmático está no nível argumentativo das produções lingüísticas, mas a sua totalidade semântica decorre de valores internos à estrutura de um texto e se chama coesão textual. (Pécora, 1987, p. 47) Assim, estudar os elementos coesivos de um texto nada mais é que avaliar os componentes textuais cuja significação depende de outros dentro do mesmo texto ou no mesmo contexto situacional.

Os processos de coesão textual são eminentemente semânticos, e ocorrem quando a interpretação de um elemento no discurso depende da interpretação de outro elemento. Embora seja uma relação semântica, a coesão envolve todos os componentes do sistema léxico-gramatical. Portanto há formas de coesão realizadas através da gramática, e outra através do léxico. Deve-se ter em mente que a coesão não é condição necessária nem suficiente para a existência do texto. Podemos encontrar textualidade em textos que não apresentam recursos coesivos; em contrapartida a coesão não é suficiente para que um texto tenha textualidade.

Segundo Halliday & Hasan, há cinco diferentes mecanismos de coesão:

1. Referência: elementos referenciais são os que não podem ser interpretados por si próprios, mas têm que ser relacionados a outros elementos no discurso para serem compreendidos. Há dois tipos de referência: a situacional (exofórica ) feita a algum elemento da situação e a textual (endofórica)

Ex: Você não se arrependerá de ler este anúncio. – exofórica

Paulo e José são advogados. Eles se formaram na PUC. – endofórica

2. Substituição: colocação de um item no lugar de outro no texto, seja este outro uma palavra, seja uma oração inteira. Ex: Pedro comprou um carro e José também. O professor acha que os alunos estão preparados, mas eu não penso assim.

Para Halliday & Hasan, a distinção entre referência e substituição, está em que, na ocorrência desta, há uma readaptação sintática a novos sujeitos ou novas especificações. Ex: Pedro comprou uma camisa vermelha, mas eu preferi uma verde. (há alteração de uma camisa vermelha para uma camisa verde.)

3. Elipse: substituição por f : omissão de um item, de uma palavra, um sintagma, ou uma frase: – Você vai à Faculdade hoje? – f Nãof f f.

4. Conjunção: este tipo de coesão permite estabelecer relações significativas entre elementos e palavras do texto. Realiza-se através de conectores como e, mas, depois etc. Há elementos meramente continuativos: agora ( abre um novo estágio na comunicação, um novo ponto de argumentação, ou atitude tomada ou considerada pelo falante ); bem ( significa "eu sei de que trata a questão e vou dar uma resposta ")

5. Coesão lexical: obtida através de dois mecanismos: repetição de um mesmo item lexical, ou sinônimos, pronomes, hipônimos, ou heterônimos. Ex: O Presidente foi ao cinema ver Tropa de elite. Ele levou a esposa. Vi ontem um menino de rua correndo pelo asfalto. O moleque parecia assustado. Assisti ontem a um documentário sobre papagaios mergulhadores. Esses pássaros podem nadar a razoáveis profundidades.

6. Colocação: Uso de termos pertencentes a um mesmo campo semântico. Ex: Houve um grande acidente na

estrada. Dezenas de ambulâncias transportaram os feridos para o hospital mais próximo.

Koch, tomando por base os mecanismos coesivos na construção do texto, estabelece a existência de duas modalidades de coesão:

1.– coesão referencial: existe coesão entre dois elementos de um texto, quando um deles para ser interpretado semanticamente, exige a consideração do outro, que pode aparecer depois ou antes do primeiro ( catáfora e anáfora, respectivamente ) – Ele era tão bom, o meu marido! (catáfora) – O homem subiu as escadas correndo. Lá em cima ele bateu furiosamente à uma porta. (anáfora).

A forma retomada pelo elemento coesivo chama-se referente. O elemento, cuja interpretação necessita do referente, chama-se forma remissiva. O referente tanto pode ser um nome, um sintagma, um fragmento de oração, uma oração, ou todo um enunciado. Ex: A mulher criticava duramente todas as suas decisões. Isso o aborrecia profundamente. (oração) Perto da estação havia uma pequena estalagem. Lá reuniam-se os trabalhadores da ferrovia.(sintagma nominal) No quintal, as crianças brincavam. O prédio vizinho estava em construção. Os carros passavam buzinando. Tudo isso tirava-me a concentração. (enunciado)

Elementos de várias categorias diferentes podem servir de formas remissivas:

– pronomes possessivos – Joana vendeu a casa. Depois que seus pais morreram, ela não quis ficar lá.

– pronomes relativos – É esta a árvore à cuja sombra sentam-se os viajantes.

– advérbios – Antônio acha que a desonestidade não compensa, mas nem todos pensam assim.

– nomes ou grupos nominais – Imagina-se que existam outros planetas habitados. Essa hipótese se confirma pelo grande número de OVNIs avistados.

2. – coesão seqüencial: conjunto de procedimentos lingüísticos que relacionam o que foi dito ao que vai ser dito, estabelecendo relações semânticas e/ou pragmáticas à medida que faz o texto progredir. Os elementos que marcam a coesão seqüencial são chamados relatores e podem estabelecer uma série de relações:

a) implicação entre um antecedente e um conseqüente: se etc.

b) restrição, oposição, contraste: ainda que, mas, no entanto etc

c) soma de argumentos a favor de uma conclusão: e, bem como, também etc.

d) justificativa, explicação do ato de fala: pois etc.

e) introdução de exemplificação ou especificação: seja...seja, como etc.

f) alternativa (disjunção ): ou etc.

g) extensão, amplificação: aliás, também etc.

h) correção: isto é, ou melhor etc.

E mais as relações estabelecidas por outras conjunções coordenadas e subordinadas.

CONCEITO DE TÓPICO

Na conversação, parte-se geralmente de uma noção conhecida pelo interlocutor, para a desconhecida que se lhe quer comunicar. Essa noção pode estar disponível na situação, sendo supostamente conhecida pelo ouvinte, ou pode ser um dado a ser ativado em sua memória. A noção já conhecida que serve de ponto de partida do enunciado é o tópico. A noção desconhecida chama-se comentário. A definição tradicional de sujeito "ser sobre o qual se declara alguma coisa " é mais bem aplicada à noção de tópico. Ex: – Essa máquina, ela reproduz cem cópias por minuto. – As construções de tópico são normalmente características do discurso coloquial e do

diálogo em que o falante escolhe como ponto de partida de seu enunciado um elemento qualquer que julga se objeto de atenção de seu interlocutor. Na escrita, o tópico também está presente, e serve de ponte entre dois períodos seqüencializados no texto. O processo de topicalização consiste em fazer de um constituinte da frase o tópico, cujo comentário é o restante da frase. Na asserção, a topicalização faz do sintagma-nominal-sujeito o tópico da frase, embora o sintagma-nominal-objeto e o sintagma-preposicional façam parte do sintagma-verbal. Ex: –Os sinos, já não há quem os dobre. – A Brasília, só irei na próxima semana. Na análise da conversação, o tópico também é o assunto tratado pelos interlocutores. Uma mesma conversação pode conter vários tópicos.

NÍVEIS DE LINGUAGEM A linguagem está dividida em três diferentes níveis: Culto, comum e popular. O nível culto diz respeito ao uso padrão de língua, ou seja, utilizando as normas estabelecidas de gramática, ortografia, concordância verbal e meninal, etc. Este nível deve ser utilizado em todas as situações formais. O Nível comum é normalmente utilizado em ambientes familiares ou até em ambientes de trabalho, mas em situações informais. Falamos de forma despreocupada com padrões pore´m há um limite que envolve respeito. O Nível popular engloba usos de geria (pesada), palavrões, erros de descuido das normais: Resistro (para registro, pobrema (para problema).... ou seja, tudo o que deve ser evitado em língua escrita.

ADEQUAÇÃO LINGUÍSTICA O correto uso da língua deve ser feito considerando os diferentes ambientes (mais ou menos formal) e seus receptores (ouvintes), que poderão ser mais ou menos cultos, ou ainda mais ou menos próximos de nós (íntimos). A língua falada é menos desprendida de normas.

A língua falada admite, para algumas palavras, critérios de simplificação.

EX: está = tá, você = cê , não é = né , cantar = cantá , estou = estô, então = intão.

Não devemos, porém, nos esquecer de que essas adaptações são admitidas apenas na fala.

VARIAÇÃO LINGUISTAS Todas as línguas do mundo sofrem um processo natural de variações, que pode ser tanto de pronúncia: diferença no som do R, S; diferença no som do E, O (que podem ter som aberto ou fechado),diferença na seleção do vocabulário ( quando usamos palavras diferentes para designar um mesmo item ; menino, guri, garoto, piá, etc. Normalmente a variação se dá em regiões que se distanciam, mas pode também ocorrer por causa da circunstâncias. Neste caso, somente a de seleção de vocabulário, considerando a situação da comunicação (mais ou menos formal). Chamamos de variação diatópica a que ocorre quando um mesmo vocábulo (palavra), pode ser pronunciado de formas diferentes conforme o lugar. A variação diatópica pode ocorrer no campo lexical (aipim, mandioca, macaxeira) ou no campo fonético: fechado | féchado , porta | porrrta . Quando variamos os termos utilizados com a finalidade formal, fazemos uso da variação diafásica. Existe ainda a variação sintática, que ocorre quando utilizamos a língua mais ou menos de acordo com as normas pré-estabelecidas, considerando também a situação. EX: Vou te enviar um documento. Envio-te um documento.

OS DEFEITOS DO TEXTO Prolixidade: Ser prolixo é usar termos como chavões, ditos populares, frases feitas. Ex: Desde que o mundo é mundo; Antes de mais nada; Deus ajuda quem cedo madruga; Quem tem boca vai a Roma. O texto deve ser original, de autoria própria, se for citar a frase de alguém, está deve vir entre aspas. Ambiguidade: Há ambiguidade quando o texto induz a dupla interpretação Ex: Encontrei seu chefe e marcamos uma reunião no seu escritório. do chefe? da pessoa a quem se dirige? Obscuridade: Deixar o texto confuso Parágrafo muito longos, falta de pontuação, vocabulário Pleonasmo: Repetir um termo já dito. Ex: Visitaremos o pomar de frutas. Ele teve um infarto do coração O assassino de Realengo é um demente mental. Cacofonia: Consiste na seleção de palavras que juntas, na hora de ler, causa som desagradável. Ex: Comprei um aparelho de socar alho Ex: Vi a porca dela Solecismo: São erros quando á gramática e ortografia gosto de trabalhar rezistrada. Tanto poblema ! Não posso resolver! me telefona. Eco: A reunião tratou da contribuição para a elaboração daquela solicitação que foi feita.

EXERCÍCIOS 1. Classifique os erros das frases em: Barbarismo (Sole cismo), ambiguidade, pleonasmo, cacófato ou eco. a)Coitado do burro do meu amigo.Morreu *Ambiguidade b)O garçom trousse o cardápio para eu. *solecismo c)Depois que ele mudou, mandou cartas, renunciou ao cargo que pleiteou *Eco d)O adevogado trocou o pneu do carro *solecismo e)Recolhem-se os pássaros à tardinha. *ambiguidade f)Ama o filho a boa mãe. *ambiguidade g)É admirável a fé dele cacófato h)O carrasco decaptou a cabeça do condenado *pleonasmo i)Entre dentro do carro para sentir o conforto *pleonasmo

j)Escapei do perigo Deus sabe como! *cacófato l)Preciso de um rapaz para caçar pássaros e uma garota menor *ambiguidade m)Manoel assistiu ao incêndio do prédio *ambiguidade n)Tomei o ônibus correndo *ambiguidade o)Faziam anos que não morria pessoas nesta rua *solecismo

PARAGRAFAÇÃO E TÓPICO FRASAL O texto é produzido em parágrafos deva-se levar em conta o tema para produzi-lo, no estado, cada parágrafo deve apresentar um aspecto específico do tema sugerido.Assim, cada parágrafo deve conter um tópico frasal diferente dos demais parágrafos . Isso garante ao texto qualidade de informações. Seja o esquema de uma boa dissertação. --> Tema - Parágrafo inicial: Introdução e resumo dos aspectos a serem tratados . (três aspectos é um bom número). - Primeiro aspecto -Segundo aspecto -Terceiro aspecto -Parágrafo final: Reafirmação dos aspectos citados e conclusão Exemplo de texto dissertação bem esquematizado TEMA: VIOLÊNCIA URBANA 1º Parágrafo: Um assunto extremamente mostrado e discutido nos jornais impressos e televisivos é a violência urbana. Além das facilidades disponíveis nas grandes metrópoles, encontramos inevitavelmente violência como a do trânsito, contra a mulher e virtual, entre outras. 2º Parágrafo: Cidades grandes e trânsito é hoje, como se fossem termos sinônimos. Todos os

dias, gastam-se, em média, do dia presos no tráfego...

3º Parágrafo: Um outro tipo de violência, visível na área urbana, é contra as mulheres, as quais conquistam postos em diferentes áreas, no entanto, recebem salários normalmente abaixo dos pagos á funcionários do sexo oposto... 4º Parágrafo: Dentre os mais recentes tipos de violência urbana, citamos a virtual... 5º Parágrafo (final): Vemos que muitas são as vantagens de se viver na área urbana, não esquecendo que no que diz respeito à violência devemos considerar sérios pontos negativos como os vistos acima...

Conceitos e Noções Gerais de Dissertação 

      Existem dois tipos de dissertação: a dissertação expositiva e a dissertação argumentativa. A primeira tem como objetivo expor, explicar ou interpretar idéias; a segun­da procura persuadir o leitor ou ouvinte de que determinada tese deve ser acatada. Na dissertação argumentativa, além disso, tentamos, explicitamente, formar a opinião do leitor ou ouvinte, procurando persuadi­lo de que a razão está co­nosco. 

      Na dissertação expositiva, podemos explanar sem combater idéias de que discordamos. Por exemplo, um professor de História pode fazer uma explicação sobre os modos de produção, aparentando impessoalidade, sem tentar con­vencer seus alunos das vantagens das vantagens e desvanta­gens deles. Mas, se ao contrário, ele fizer uma explanação com o propósito claro de formar opinião dos seus alunos, mostrando as inconveniências de determinado sistema e valorizando um outro, esse professor estará argumentando explicitamente. 

      Para a argumentação ser eficaz, os argumentos devem possuir consistência de raciocínio e de provas. O raciocínio consistente é aquele que se apóia nos princípios da lógica, que não se perde em especulações vãs, no “bate­boca”estéril. As provas, por sua vez, servem para reforçar os argumntos. Os tipos mais comuns de provas são: os fatos­exemplos, os dados estatísticos e o testemunho. 

Como fazer uma dissertação argumentativa 

      Como fazer nossas dissertações? Como expor com clareza nosso ponto de vista? Como argumentar coerentemente e validamente? Como organizar a estrutura lógica de nosso texto, com introdução, desenvolvimento e conclusão? 

      Vamos supor que o tema proposta seja Nenhum homem é uma ilha. 

      Primeiro, precisamos entender o tema. Ilha, naturalmente, está em sentido figurado, significando solidão, isolamento. 

      Vamos sugerir alguns passos para a elaboração do rascunho de sua redação. 

      1. Transforme o tema em uma pergunta: 

      Nenhum homem é uma ilha? 

      2. Procure responder essa pergunta, de um modo simples e claro, concordando ou discordando (ou, ainda, concordando em parte e discordando em parte): essa resposta é o seu pon­to de vista. 

      3. Pergunte a você mesmo, o porquê de sua resposta, uma causa, um motivo, uma razão para justificar sua posição: aí estará o seu argumento principal. 

      4. Agora, procure descobrir outros motivos que ajudem a defender o seu ponto de vista, a fundamentar sua posição. Estes serão argumentos auxiliares. 

      5.Em seguida, procure algum fato que sirva de exemplo para reforçar a sua posição. Este fato­exemplo pode vir de sua memória visual, das coisas que você ouviu, do que você leu. Pode ser um fato da vida política, econômica, social. Pode ser um fato histórico. Ele precisa ser bastante expressivo e coerente com o seu ponto de vista. O fato­exemplo, geralmente, dá força e clareza à nossa argumentação. Esclarece a nossa opinião, fortalece os nossos argumentos. Além disso, pessoaliza o nosso texto, diferencia o nosso texto: como ele nasce da experiência de vida, ele dá uma marca pessoal à dissertação. 

      6. A partir desses elementos, procure juntá­los num texto, que é o rascunho de sua redação. Por enquanto, você pode agrupá­los na seqüência que foi sugerida: 

Os passos 

      1) interrogar o tema; 

      2) responder, com a opinião 

      3) apresentar argumento básico 

      4) apresentar argumentos auxiliares 

      5) apresentar fato­ exemplo 

      6) concluir 

        

Como ficaria o esquema 

      1º parágrafo: a tese 

      2º parágrafo: argumento 1 

      3º parágrafo: argumento 2 

      4º parágrafo: fato­exemplo 

      5º parágrafo: conclusão 

Exemplo de redação com esse esquema: 

      Tema: Como encarar a questão do erro 

      Título: Buscar o sucesso 

      Tese 

      1º§ O homem nunca pôde conhecer acer­tos sem lidar com seus erros. 

Argumentação 

      2º§ O erro pressupõe a falta de conheci­mento ou experiência, a deficiência de sintonia entre o que se propõe a fazer e os meios para a realização do ato. Deriva­se de inúmeras causas, que incluem tanto a falta de informação, como a inabilidade em lidar com elas. 

      3º§ Já acertar, obter sucesso, constitui­se na exata coordenação entre informação e execu­ção de qualquer atividade. É o alinhamento preci­so entre o que fazer e como fazer, sendo esses dois pontos indispensáveis e inseparáveis. 

      Fato­exemplo 

      4º§ Como atingir o acento? A experiência é fundamental e, na maior das vezes, é alicerçada em erros anteriores, que ensinarão os caminhos para que cada experiência ruim não mais ocorra. Assim, um jovem que presta seu primeiro vesti­bular e fracassa pode, a partir do erro, descobrir seus pontos falhos e, aos poucos, aliar seus co­nhecimentos à capacidade de enfrentar uma situa­ção de nova prova e pressão. Esse mesmo jovem, no mercado de trabalho, poderá estar envolvido em situações semelhantes: seus momentos de fracasso estimularão sua criatividade e maior em­penho, o que fatalmente levará a posteriores acertos fundamentais em seu trabalho. 

      Conclusão 

      5º§ Assim, o aparecimento dos erros nos atos humanos é inevitável. Porém, é preciso, aci­ma de tudo, saber lidar com eles, conscientizar­se de cada ato falho e tomá­los como desafio, nunca se conformando, sempre buscando a superação e o sucesso. Antes do alcance da luz, será sempre preciso percorrer o túnel. 

      (Redação de aluno.) 

Esquema da antítese 

      Como incluir a contra­argumentação numa dissertação argumentativa 

      A dissertação argumentativa começa com a proposição clara e sucinta da idéia que irá ser comprovada, a TESE. A essa primeira parte do texto dissertativo chamamos de introdução. 

      A segunda parte, chamada desenvolvimento, visa à apresentação dos argumentos que comprovem a tese, ou seja, a PROVA. É costume estruturar a argumentação em ordem crescente de importância, como foi explicado no início desta lição, a fim de prender cada vez mais a atenção do leitor às razões apresentadas. Essas razões baseiam­se em provas demonstráveis através dos fatos­exemplo, dados estatísticos e testemunhos. 

      Na dissertação argumentativa mais formal, o desen­volvimento apresenta uma subdivisão, a ANTÍTESE, na qual se refutam possíveis contra­argumentos que possam contrariar a tese ou as provas. Nessa parte, a ordem de importância inverte­se, colocando­se, em primeiro lugar, a refutação do contra­argumento mais forte e, por último, do mais fraco, com o propósito de se depreciarem as idéias contrárias e ir­se, aos pontos, refutando a tese adversa,ao mesmo tempo em que se afasta o leitor ou ouvinte dos contra­argumentos mais poderosos. 

      Na última parte, a conclusão, enumeraram­se os argumentos e conclui­se, reproduzindo as tese, isto é, faz­se uma SÍNTESE. Além de fazer uma síntese das idéias discu­tidas, pode­se propor, na conclusão, uma solução para o problema discutido. 

      Esquema de uma dissertação com antítese 

      Tema: Vestibular, um mal necessário. 

      Tese: O vestibular privilegia os candidatos pertencentes às classes mais favorecidas economicamente. 

      Prova: Os candidatos que estudaram em escolas com infra­estrutura deficiente, com as escolas públicas do Brasil, por mais que se esforcem, não têm condições de concorrer com aqueles que freqüentaram bons colégios. 

      Antítese: Mesmo que o acesso à universidade fosse facilitado para candidatos de condição econômica inferior, o problema não seria resolvido, pois a falta de um aprendizado sólido, no primeiro e segundo grau, comprometeria o ritmo do curso superior. 

      Conclusão (síntese´): As diferenças entre as escolas públicas e privadas são as verdadeiras responsáveis pela seleção dos candidatos mais ricos. 

Relação entre causa e conseqüência 

      Você possui um tema para ser analisado. Neste caso, a melhor forma de desenvolvê­la é estabelecer a relação causa­ 

      conseqüência. Vamos à prática com o seguinte tema: 

      Tema 

      Constatamos que no Brasil existe um grande número de correntes migratórias que se deslocam do campo para as médias ou grandes cidades. 

      Para encontrarmos uma causa, perguntamos: 

      Por quê? 

      ao tema acima. Dentre as respostas possíveis, poderíamos citar o seguinte fato: 

      Causa: 

      A zona rural apresenta inúmeros problemas que dificultam a permanência do homem no campo. 

      No sentido de encontrar uma conseqüência para o problema enfocado no tema acima, cabe a seguinte pergunta: 

      O que acontece em razão disso? 

      Uma das possíveis respostas seria: 

      Conseqüência 

      As cidades encontram­se despreparadas para absorver esses migrantes e oferecer­lhes condições de subsistência e de trabalho 

      Veja que a causa e a conseqüência citadas neste exemplo podem ser perfeitamente substituídas por outras, encontradas por você, desde que tenham relação direta com o assunto. As sugestões apresentadas de maneira nenhuma são as únicas possíveis. 

Veja outros exemplos: 

      Causa: As pessoas mais velhas têm medo do novo, elas são mais conservadoras, até em assuntos mais prosaicos. 

Tema: Muitas pessoas são analfabetas eletrônicas, pois não conseguem operar nem um videocassete.Conseqüência: Elas se tornam desajustadas, pois dependem dos mais jovens até para ligar um forno microondas, elas precisam acompanhar a evolução do mundo. 

      Causa: A nação que deixa depredar as construções 

      consideradas como patrimônios históricos destrói parte da História de seu país. 

      Tema: É de fundamental importância a preservação das construções que se constituem em patrimônios históricos. 

      Conseqüência: Isso demonstra claramente o subdesenvolvimento de uma nação, pois quando não se conhece o passado de um povo e não se valorizam suas tradições, estamos desprezando a herança cultural deixada por nossos antepassados. 

      Causa: A maioria dos parlamentares preocupa­se muito mais com a discussão dos mecanismos que os fazem chegar ao poder do que com os problemas reais da população. 

      Tema: A maior parte da classe política não goza de muito prestígio e confiabilidade por parte da população. 

      Conseqüência: Os grandes problemas que afligem o povo brasileiro deixam de ser convenientemente discutidos. 

      Causa: Algumas pessoas refugiam­se nas drogas na tentativa de esquecer seus problemas. 

      Tema: Muitos jovens deixam­se dominar pelo vício em diversos tipos de entorpecentes, mal que se alastra cada vez mais em nossa sociedade. 

      Conseqüência: Acabam formando­se dependentes dos psicóticos dos quais se utilizam e, na maioria das vezes, transformam­se em pessoas inúteis para si mesmas e para a comunidade. 

      Exercícios 

      Apresentaremos alguns temas e você se incumbirá de encontrar uma causa e uma conseqüência para cada um deles. Escreva­as, seguindo o modelo apresentado acima: 

      1 Tema: As linhas de ônibus que percorrem os bairros das grandes metrópoles não têm demonstrado muita eficiência no atendimento a seus usuários. 

      Causa: 

      Conseqüência: 

      2 A convivência familiar está muito difícil. 

      causa: 

      Conseqüência: 

      3 As novelas de televisão passaram a exercer uma profunda influência nos hábitos e na maneira de pensar da maioria dos telespectadores. 

      Causa: 

      Conseqüência: 

      4 As doenças infecto­contagiosas atingem particularmente as camadas mais carentes da população. 

      Causa: 

      Conseqüências: 

      5 Apesar de alertados por ecologistas, os lavradores continuam utilizando produtos agrotóxicos indiscriminadamente. 

      Causa: 

      Conseqüência: 

      Esquema de redação com causa­conseqüência 

      Título 

      Introdução (o problema): 

      1º parágrafo: Apresentação do tema (com ligeira ampliação). 

      Desenvolvimento: 

      2º parágrafo ­ Causa (explicações adicionais) 

      3º parágrafo ­ Conseqüência (com explicações adicionais) 

      Conclusão(a solução): 

      4º § ­ Expressão inicial + reafirmação do tema + observação final 

      Proposta de redação 

      Escolha um dos temas apresentados nesta folha e redija um texto em quatro parágrafos, conforme o esquema desenhado acima. Não se esqueça de aplicar a relação causa­conseqüência. 

      (Do livro Técnicas Básicas de Redação, Branca Granatic, Editora Scipione) 

Outro esquema interessante: 

      O texto Aquilo por que vivi, de Bertrand Russel, revela uma estrutura que o vestibulando poderá usar em sua redação. Leia o texto: 

      Aquilo por que vivi 

      Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram­me a vida: o anseio de amor, a busca do conhecimento e a dolorosa piedade pelo sofrimento da humanidade. Tais paixões, como grandes vendavais, impeliram­me para aqui e acolá, em curso, instável, por sobre o profundo oceano de angústia, chegando às raias do desespero. 

      Busquei, primeiro, o amor, porque ele produz êxtase – um êxtase tão grande que, não raro, eu sacrificava todo o resto da minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Ambicionava­o, ainda, porque o amor nos liberta da solidão – essa solidão terrível através da qual nossa trêmula percepção observa, além dos limites do mundo, esse abismo frio e exânime. Busquei­o, finalmente, porque vi na união do amor, numa 

miniatura mística, algo que prefigurava a visão que os santos e os poetas imaginavam. Eis o que busquei e, embora isso possa parecer demasiado bom para a vida humana, foi isso que – afinal – encontrei. 

      Com paixão igual, busquei o conhecimento. Eu queria compreender o coração dos homens. Gostaria de saber por que cintilam as estrelas. E procurei apreender a força pitagórica pela qual o número permanece acima do fluxo dos acontecimentos. Um pouco disto, mas não muito, eu o consegui. 

      Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade sempre me trazia de volta à terra. Ecos de gritos de dor ecoavam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos a construir um fardo para seus filhos, e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimentos, convertem numa irrisão o que deveria ser a vida humana. Anseio por avaliar o mal, mas não posso, e também sofro. 

      Eis o que tem sido a minha vida. Tenho­a considerado digna de ser vivida e, de bom grado, tornaria a vivê­la, se me fosse dada tal oportunidade. 

      (Bertrand Russel, Autobiografia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1967.) 

      O texto, cujo tema está explícito no título – os motivos fundamentais da vida do autor – apresenta cinco parágrafos. 

      No primeiro parágrafo, o autor revela as suas “três paixões”: 

      a) amor; 

      b) conhecimento; 

      c) piedade. 

      Em seguida, dedica três parágrafos para cada uma dessas paixões. O segundo parágrafo fala sobre a busca do amor; terceiro, sobre a procura do conhecimento; e o quarto, sobre a importância do sentimento piedade diante do sofrimento. 

      O quinto e último parágrafo realiza a conclusão do texto. 

      Eis o esquema: 

      1º§ ­ a, b, c; 

      2º§ ­ a; 

      3º§ ­ b; 

      4º§ ­ c; 

      5º§ ­ a, b, c. 

      (in Novas Palavras, de Emília Amaral e outros, editora FTD­1997) 

      Observar a estrutura dos textos dissertativos é um bom momento de aprendizagem. Recomenda­se tal exercício aos vestibulandos: ler editoriais e artigos de jornais. 

      Proposta de redação 

      A TV brasileira completa 50 anos. No início, houve quem considerasse o televisor mais um eletrodoméstico na casa. Hoje, sabe­se que ele não é só isso, a televisão é um modo de vida. 

      Redija um texto dissertativo, em prosa, com 30 linhas, analisando se a TV brasileira FORMA, INFORMA ou DEFORMA. Use o esquema acima. 

Descrição 

Introdução

A descrição é um texto, literário ou não, em que predominam verbos de estado e adjetivos que caracterizam pessoas, ambientes e objetos. É muito raro encontrarmos um texto exclusivamente descritivo. Quase sempre a descrição vem mesclada a outras modalidades, caracterizando uma personagem, detalhando um cenário, um ambiente ou paisagem, dentro de um romance, conto, crônica ou novela.

Assim, a descrição pura geralmente aparece como parte de um relatório técnico, como no caso da descrição de peças de máquinas, órgãos do corpo humano, funcionamento de determinados aparelhos (descrição de processo).

Dessa maneira, na prática, seja literária ou técnico­científica, a descrição é sempre um fragmento, é um parágrafo dentro de uma narração, é parte de um relatório, de uma pesquisa, de dissertações em geral.

Mas o estudante precisa aprender a descrever; a prática escolar assim o exige. Geralmente pede­se u texto menor que a narração ou a dissertação. Um texto descritivo com aproximadamente 15 linhas costuma conter todos os aspectos caracterizados que permitam ao leitor visualizar o ser ou objetivo descrito. Para tanto, o observador deve explorar as sensações gustativas, olfativas, auditivas, visuais, táteis e impressões subjetivas.

O que se descreve 

Podemos descrever o que vemos (aquilo que está próxima), o que imaginamos (aquilo que conhecemos mas não está próximo no momento da descrição) ou o que nossa imaginação cria, qualquer entid ade inventada: um ser extraterreno, uma mulher que você nunca viu, uma futurista, um aparelho inovador etc.

Como se descreve

De acordo com os objetivos de quem escreve, a descrição pode privilegiar diferentes aspectos:

• pormenorização – corresponde a uma persistência na caracterização de detalhes;

• dinamização – é a captação dos movimentos de objetivos e seres;

• impressão – são os filtros da subjetividade, da atividade psicológica, interpretando os elementos observados.

A organização da descrição

No processo de composição de uma redação descritiva, o emissor seleciona os elementos organiza para levar o receptor a formar ou conhecer a imagem do objetivo descrito, isto é, a concebê­lo sensorial ou perceptualmente.

A descrição é fundamentalmente espacial. Eventualmente pode aparecer um índice temporal, porém sua função é meramente circunstancial, serve apenas para precisar o registro descritivo.

Observe como Vinícius de Morais descreve a casa materna, priorizando o espaço, mas situando­a num tempo subjetivo que só existe nas impressões interiorizadas da lembrança do observador:

A casa materna

Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portão têm uma velha ferrugem e trinco se  oculta num lugar que só a mão filial conhece. O jardim pequeno parece mais verde e úmido que os demais, com suas  plantas, tinhorões a samambaias que  a mão filial, fiel a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste.

É sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos filiais se pousam sobre a mesa farta de almoço,  repetindo uma antiga imagem. Há um tradicional silêncio em suas salas e um dorido  repouso em suas poltronas. O assoalho  encerado, sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmas manchas e o mesmo taco solto  de outras primaveras. As coisas vivem como em prece, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos maternas quando eram moças e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta­retratos, a se amarem e compreenderem mudamente. O piano  fechado, com uma longa tira de flanela sobre as teclas, repete ainda passadas valsas, de quando as mãos maternas  careciam sonhar.

A casa materna é o espelho de outras, em pequenas coisas que o olhar filial admirava ao tempo que tudo era belo: o licoreiro  magro, a bandeja triste, o absurdo bibelô. E tem um corredor à escuta de cujo teto à noite pende uma luz morta, com negras  aberturas para quartos cheios de sombras. Na estante, junto à escada, há um tesouro da juventude com o dorso puído de  tato e de tempo. Foi ali que o olhar filial primeiro viu a forma gráfica de algo que passaria a ser para ele a forma suprema de  beleza: o verso.

Na escada há o degrau que estala e anuncia aos ouvidos maternos a presença dos passos filiais. Pois a casa materna se  divide em dois mundos: o térreo, onde se processa a vida presente, e o de cima, onde vive a memória. Embaixo há sempre  coisas fabulosas na geladeira e no armário da copa: roquefort amassado, ovos frescos, mangas espadas, untuosas  compotas, bolos de chocolate, biscoito de araruta – pois não há lugar mais ´propício do que a casa materna para uma boa  ceia noturna . E porque é uma casa velha, há sempre uma barata que aparece e é morta com uma repugnância que vem de longe. Em cima ficaram guardados antigos, os livros que lembram a infância, o pequeno oratório em frente ao qual ninguém, a não ser a figura materna, sabe por que queima, às vezes, uma vela votiva. E a cama onde a figura paterna repousava de  sua agitação diurna. Hoje, vazia.

A imagem paterna persiste no interior da casa materna. Seu violão dorme encostado junto à vitrola. Seu corpo como se  marca ainda na velha poltrona da sala e como se pode ouvir ainda o brando ronco de sua sesta dominical. Ausente para  sempre da casa, a figura paterna parece mergulhá­la docemente na eternidade, enquanto as mãos maternas se faziam mais  lentas e mãos filiais mais unidas em torno da grande mesa, onde já vibram também vozes infantis. (Vinícius de Morais)

ELEMENTOS PREDOMINANTES NA DESCRIÇÃO

• Frases nominais (sem verbo) ou orações em que predominam verbos de estado ou condição.

Sol já meio de esguelha, sol das três horas. A areia, um borralho de quente. A caatinga, um mundo perdido. Tudo, tudo  parado: parado e morto.(Mário Palmério)

Efetivamente a rua era aquela; e o velho palácio estava na minha frente. Era um palácio de trezentos anos, cor de barro, que me parecia muito familiar quanto ao desenho de sua alta porta, aos ornatos das colunas  e ao lançamento da escada do  vestíbulo.(Cecília Meireles)

•Frases enumerativas: seqüência de nomes, geralmente sem verbo.

“A cama de ferro; a colcha branca, o travesseiro com fronha de morim. O lavatório esmaltado, a bacia e o jarro. Uma mesa de pau, uma cadeira de pau, o tinteiro, papéis, uma caneta. Quadros na parede.” (Érico Veríssimo)

•Adjetivação: caracterizadores qualificando nomes.

A pele da cabocla era desse moreno enxuto e parelho das chinesas. Tinha uns olhos graúdos, lustrosos e negros como os  cabelos lisos, e um sorriso suave e limpo a animar­lhe o rosto oval de feições delicadas. (Érico Veríssimo)

•Figuras de linguagem: recursos expressivos, geralmente em linguagem conotativa? A mais usadas na descrição são a metáfora, a compara;’ao, a prosopopéia, a onomatopéia e a sinestesia.

O rio era aquele cantador de viola, em cuja alma se refletia o batuque das estrelas nuas, perdidas no vácuo milenarmente frio  do espaço...Depois ele ia cantando isso de perau em perau, de cachoeira em cachoeira... 

•Sensações: uso dos cinco sentidos, ou seja, das percepções visuais, auditivas, gustativas, olfativas e táteis. 

Os sons se sacodem, berram...Dentro dos sons movem­se cores, vivas, ardentes...Dentro dos sons e das cores, movem­se  os cheiros, cheiro de negro...Dentro dos cheiros, o movimento dos tatos violentos, brutais...Tatos, sons, cores, cheiros se  fundem em gostos de gengibre...  (Graça Aranha)

A DESCRIÇÃO CONVENCIONAL

Leia o texto abaixo e observe a técnica descritiva explorada pelo autor, para descrever convencionalmente um canário.

A praça, o templo. Lugar de encontro. Os homens reunidos para a discussão, para o divertimento, para as rezas. Perguntas e  perguntas, respostas, respostas, diálogos com Deus, passeatas, sermões, discursos, procissões, bandas de música, circos,  mafuás, andores carregados, mastros e bandeiras, carrosséis, barracas, badalar de sinos, girândolas e fogos de artifício  lançados para o alto, ampliando, na direção das torres, o espaço horizontal da praça. Joana, descalça, vestida de branco, os  cabelos ouro esvoaçado, traz sobre o peito a imagem emoldurada de São Sebastião. Por cima dos ombros, encobrindo­lhe  braços, mãos, e tão comprida que quase chega ao solo, estenderam uma toalha de crochê, com figuras de centauro. As  setas grossas, no tronco do santo, parecem atravessa­lo, cravar­se firmes em Joana. Por trás, numa fila torta, cantando em altas vozes, com velas acesas, muitas mulheres. A noite de dezembro não caiu de todo, alguma luz diurna resta no ar. Posso  ver que os olhos de Joana são azuis e grandes; e que seu rosto, embora desfigurado, pois ela ainda está convalescente,  difere de todos que encontrei, firme e delicado a um tempo. Adaga de cristal. (...) Meio cega, ausente das coisas, febril, as  pernas mortas. (Osman Lins)

Nesta descrição, impressões líricas compõem a imagem mística de uma mulher enferma. A linguagem moderna de Osman Lins alterna a concisão das frases nominais com a sinuosidade das frases verbais.

As frases nominais, telegráficas, abrem o texto, formando, num único parágrafo, uma seqüência de enumerações, onde estão justapostos elementos de natureza diversa: o humano X o divino, o concreto X o abstrato. O segundo parágrafo estende­se entre breves frases nominais e frases de maior complexidade: “Por cima dos ombros, encobrindo­lhe braços, mãos, e tão comprida que quase chega ao solo, estenderam uma toalha de crochê, com figuras de centauro.”

As impressões do autor, através da adjetivação, registram fartamente os aspectos visuais:”os olhos de Joana são azuis e grandes.” As sensações auditivas aparecem num flagrante: “cantando em altas vozes.”

O subjetivismo está não apenas na manifestação do autor, em 1ª pessoa, mas também nas captações pessoais, únicas, metafóricas: “As setas grossas, no tronco do santo, parecem atravessá­la, cavar­se firmes em Joana”; “firme e delicado a um tempo. Adaga de cristal.”

Há, ainda, fragmentos de descrição estática (“Joana descalça, vestida de branco (...) traz sobre o peito a imagem de São Sebastião.” E dinâmica (“ os cabelos de ouro esvoaçando”; “cantando em altas vozes”).

Assim, o texto compõe o retrato de um cenário e das pessoas que o animam, entre objetos, cores e movimentos liricamente caracterizados.

A DESCRIÇÃO ORIGINAL

Veja como, aos olhos de um observador sensível, até uma prosaica cena ganha impressões inesperadas.

O esmagamento das gotas

Eu não sei, olhe, é terrível como chove. Chove o tempo todo, lá fora fechada e cinza, aqui contra a sacada, com gotões coalhados e duros que fazem plaf e se esmagam como bofetadas um através do outro. Agora aparece a gotinha no alto da esquadria da janela, fica tremelicando contra o céu e se esmigalha em mil brilhos apagados, vai crescendo e balouça, já vai 

cair, não cai ainda. Está segura com todas as unhas, não  quer cair e se vê que ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga, já é uma gotona que se prende majestosa e de repente zup, lá vai ela, plaf, desmanchada, nada, uma viscosidade no mármore.                                                                                           (Júlio Cortázar)

Júlio Cortazar transforma em testemunho descritivo a experiência de observar a chuva e particularizá­la na gota pendente da janela. A tímida e indefinida impressão inicial (“Eu não sei, olhe, é terrível como chove”) dá lugar a uma dinâmica caracterização que atribui movimento e vida a uma gota de chuva, através da concentração de imagens visuais e onomatopéias (plaf,zup), personificando sua resistência e aniquilamento: “fica tremelicando (...), vai crescendo e balouça, (...). Está segura com todas as unhas, não quer cair (...) ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga”; “se prende majestosa”.

AS EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS NA DESCRIÇÃO

A descrição está intimamente ligada à experiência das sensações físicas e das percepções subjetivas. O leitor capta impressões sensoriais e psicológicas transmitindo­as através de recursos expressivos de linguagem. Assim, a descrição traduz com palavras a especialidade de uma imagem bem como estados de espírito, traços de personalidade e comportamento que  seres e objetivos suscitam no observador.

Sensações visuais

As sensações visuais e/ou percepções visuais são as mais freqüentes e estão relacionadas a cor, forma, dimensões, linhas etc. Quando especificamente relacionadas as cores, são chamadas cromáticas.

Companheiros de classe

Os companheiros de classe eram cerca de vinte; uma variedade de tipos que me divertia. O Gualtério, miúdo, redondo de costas, cabelos revoltos, mobilidade brusca e caretas de símio – palhaço dos outros, como dizia o professor; (...) o Maurílio, nervoso, insofrido, fortíssimo na tabuada: cinco vezes  três, vezes dois, noves fora, vezes sete? ... lá estava Maurílio, trêmulo, sacudindo no ar o dedinho esperto... olhos fúlgidos no rosto moreno, marcado por uma pinta na testa; o negrão, de ventas acesas, lábios inquietos, fisionomia agreste de cabra, canhoto e anguloso, incapaz de ficar sentado três minutos, sempre à mesa do professor e sempre enxotado, debulhando um risinho de pouca­vergonha (...)  (Raul Pompéia)

Sensações auditivas

Muito comuns, as sensações e/ou percepções auditivas estão relacionadas ao som (intensidade, altura, timbre, proveniência, direção, ausência etc).

Está sempre a rir, sempre a cantar. Canta  o dia inteiro, num tom arrastado, apregoando as revistas que vende.(Graciliano Ramos)

Sensações gustativas

As sensações e/ou percepções gustativas relacionam­se ao paladar (doce, azedo, amargo, salgado etc).

E a saliva daqueles infelizes 

  Inchava em minha boca, de tal arte

 Que eu, para não cuspir por toda parte,

 Ia engolindo aos poucos a hemoptise. (Augusto dos Anjos)

Sensações olfativas

As sensações e/ou percepções olfativas relacionam­se a cheiro (um perfume, o hálito, uma fragrância etc).

A avenida é o mar dos foliões

Serpentinas cortam o ar carregado de éter, rolam das sacadas...

(Marques Rebelo)

Sensações táteis

As sensações e/ou percepções táteis resultam do contato da pele com os objetos (aspereza, calor, frio etc.).

A tua mão é dura como casca de árvore, ríspida e grossa como um cacto.

Cassiano Ricardo)

Observe,a seguir, como Graça Aranha mescla, de forma original, todos os sentidos, num texto denso de imagens:

Carnaval

Maravilha do ruído, encantamento do barulho. Zé Pereira, bumba, bumba. Falsetes, zombeteiam. Viola chora e  espinoteia.  Melopéia negra, melosa, feiticeira, candomblé.

Tudo é instrumento, flautas, violões, reco­recos, saxofones, pandeiros, liras, gaitas e trompetes. Instrumentos sem nome,  inventados no delírio da improvisação, do ímpeto musical. Tudo é canto. Os sons se sacodem, berram. Lutam, arrebentam no ar sonoro dos ventos, vaias, klaxons, aços estrepitosos. Dentro dos sons movem­se cores, vivas, ardentes, pulando,  dançando, desfilando sob o verde das árvores, em face do azul da baía no mundo dourado.Dentro dos sons e das cores,  movem­se os cheiros, cheiro de negro, cheiro de mulato, cheiro branco, cheiro de todos os matizes, de todas as excitações e  de todas as náuseas. Dentro dos cheiros, o movimento dos tatos violentos, sons, brutais, suaves, lúbricos,meigos,  alucinantes. Tatos, sons, cores, cheiros se fundem em gostos de gengibre, de mendublim, de castanhas, de bananas, de laranjas, de bocas  e de mucosas. Libertação dos sentidos envolventes das massas frenéticas, que mexericam, de Madureira  à Gávea na unidade do prazer desencadeado. (Graça Aranha)

Numa fusão dos cinco sentidos, o autor percorre um canário carnavalesco, registrando as sensações que produzem sons, cores, cheiro, tatos e gostos. Frases nominais e enumerativas caracterizam um espaço vibrante e dinâmico (“maxixam, gritam,tresandam”), além do impressionismo provocado pelas combinações sinestésicas em “viola chora e espinoteia”, “os sons se sacodem”, “cheiro de todos os matizes”, “tatos alucinantes” e “gostos de gengibre”. A técnica de enumeração e repetição vocabular utilizada pelo autor reproduz a intensidade das sensações e a dinâmica do contexto carnavalesco.

Observe agora, num texto em versos, o aproveitamento das sensações:

Natureza morta

Na sala ao sol seco do meio­dia sobre a ingenuidade da faiança portuguesa os frutos cheiram violentamente e a toalha é fria  e alva na mesa.

Há um gosto áspero de ananases e um brilho fosco de uvaias flácidas e um aroma adstringente de cajus, de pálidas  carambolas de âmbar desbotado e um estalo oco de jabuticabas de polpa esticada e um fogo bravo de tangerinas.

E sobre esse jogo de cores, gostos e perfumes a sala toma a transparência abafada de uma redoma. (Guilherme  Almeida)

Aguçando os cinco sentidos, o poeta intensifica a composição do cenário, através do olfato (“os frutos cheiram violentamente”), do tato (“a toalha é fria”), da visão (“um brilho fosco”), do paladar (“um gosto áspero”) e da audição (“um estalo oco”). Nessas sinestesias estão os cruzamentos inesperados e subjetivos das sensações que empolgam o observador.

Sensações espaciais

Além das sensações físicas percebidas pelos cinco sentidos, existem as experiências pessoais de espaço (perspectiva, ângulo, dimensão, direção), como por exemplo altura, largura, profundidade. Há ainda as experiências relacionadas a medidas, como peso, volume, força, densidade, pressão.

Antônio Vítor veio andando em grandes passadas e mesmo antes de atingir o pequeno terreiro onde, em frente à casa  ciscavam galinhas(...)

Parou ao lado da porta da casa de barro batido, mais alta do lado direito que o do esquerdo, uma construção apressada e baixa, aumentada depois para o fundo, e olhou o céu, a alegria estampada no rosto caboclo. (Jorge Amado)

Sensações subjetivas

Faz também parte da descrição a sensibilidade “interna” do universo do observador (sensações inerentes ao ser humano): alegria, tristeza, amor, ira, náusea, fome, fadiga, vontade, nostalgia, enfim, estados emocionais.

A força de meu pai encontraria resistência e gastar­se­ia em palavras. Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa (...).

O coração bate­me forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas  adormecidas cá dentro. A horrível sensação que me furam tímpanos com pontas de ferro. (...) Sozinho, vi­o de novo cruel e  forte, separando, espumando. E ali permaneci, miúdo e insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que  trabalham na telha negra. (Graciliano Ramos)

RECURSOS EXPRESSIVOS NA DESCRIÇÃO

A caracterização de um ser ou objeto vazada em linguagem subjetiva implica o uso de determinados recursos expressivos que favoreçam o delineamento dos elementos retratados. Esses recursos são as figuras; dentro as mais comuns, citamos a metáfora, a comparação, a prosopopéia, a onomatopéia e a sinestesia.

Metáfora

A metáfora consiste no uso de uma palavra com sentido diferente daquele que lhe é próprio. É uma comparação abreviada, em que não aparecem os nexos comparativos.

Jerônimo  era alto, espadaúdo, construção de touro, pescoço de Hércules, punho de quebrar um coco com um murro: era a  força tranqüila, o pulso de chumbo. O outro, franzino, um palmo mais baixo que o português, pernas e braços secos,  agilidade de maracajá: era a força nervosa; era o arrebatamento que tudo desbarata no sobressalto do primeiro instante. Um sólido e resistente; o outro, ligeiro e destemido; mas ambos corajosos.  (Aluísio Azevedo)

Comparação

A comparação consiste no conforto de duas idéias por meio de uma conjunção comparativa.

Sentia­me preso como um cachorro acorrentado, como um urubu atraído pela carniça. (Graciliano Ramos)

O espelho da águas, liso e polido como um cristal, refletia a claridade das estrelas... (José de Alencar)

Apareceram os primeiros ventos gerais, doidamente, que nem um bando solto de demônios travessos e brincalhões.(Aluísio Azevedo)

Prosopopéia

A prosopopéia consiste em atribuir características animais a seres inanimados (animação) e características humanas a seres não humanos (personificação),

E até onde a vista alcança, num semicírculo imenso, há montes de água estrondando nesse cantochão, árvores tremendo,  ilhas  dependuradas, insanas, se toucando de arco­íris... (Rubem Braga)

Onomatopéia

A onomatopéia consiste na imitação aproximada de ruídos e sons de qualquer natureza. Exemplos:

relógio = tique­taque      

moeda = tilintim

pássaro = piu­piu           

galo = cocorocó

Até o ar é próprio; não vibram nele fonfons de auto, nem cornetas de bicicletas, nem campainhas de carroça, nem pregões de  italianos, nem tenténs de sorveteiros, nem plás­plás de mascates sírios. Só velhos sons coloniais – o sino, o chilreio das  andorinhas na torre da igreja, o rechino dos carros de boi, o cincerro de tropas raras, o trabalhar das baitacas que em bando rumoroso cruzam e recruzam o céu.(Monteiro Lobato)

As palavras que resultam da transformação do som reproduzido em verbo ou em substantivo chamam­se vocábulos onomatopéicos, como é o caso de “o chilreio das andorinhas”, “o richino dos carros de boi”, “o cincerro das tropas raras” e “o taralhar das baitacas”, que aparecem no fragmento descritivo de Monteiro Lobato.

É mais comum o uso de vocábulos onomatopéicos do que da onomatopéia.

Observe o exemplo abaixo:

A noite enchia­se de vozes estranhas, os sapos coaxavam,gargarejavam; eram trissos, zizios sutis, estilos, pios crebos e, de  quando em quando, numa lufada mais forte, o farfalho das ramas escachoava como num rebojo d’águas.(Coelho Neto)

Sinestesia

A sinestesia consiste no cruzamento de sensações diferentes.

Olívia era atraente, tinha uns olhos quentes, uma boca vermelha de lábios cheios.                                                    

olhos  = sensação visual                      

quentes = sensação tátil (térmica)  (Clarice Lispector)

 Voltou­se o canto, o rosto próximo da parede – a camada de ar ali como se guardava mais fresca, e com o relento de limo,  cheiro verde, quase musgoso...

cheiro = sensação olfativa                         

verde = sensação visual          (Guimarães Rosa)

A fusão de percepções físicas (olfato, gustação, visão, audição e tato) com impressões psicológicas ou subjetivas também produz  sinestesia.

A bondade era morna e leve cheirava a carne crua

bondade = percepção espiritual guardada há muito tempo. (Guimarães Rosa)

morna = percepção tátil  

leve = percepção sensitiva

cheirava = percepção olfativa

Os retirantes

O calor continuava. Nada diminuía sua intensidade, de manhã o sol se levantava apoplético, sumindo ao entardecer raivoso e  vermelho. A terra permanecia sedenta, com bocarras abertas à espera de água. No céu esplendidamente azul, nem uma nuvem, nenhum  sinal de chuva. Um azul límpido, tranqüilo, um imenso borrão azul, nada mais.

Na cidade, apareciam bandos de retirantes, famélicos, trêmulo, magros, como bambus ao vento.  (Odete de Barros Mott)

Nesse flagrante descritivo, temos uma combinação de recursos expressivos caracterizadores das impressões que mais sensibilizam o observador. As prosopopéias (“o sol se levantava apoplético”; “entardecer raivoso”; “terra(...) sedenta, com bocarras abertas”), a sinestesia (“azul(...)tranqüilo”), a metáfora (céu = “um imenso borrão azul”) e a comparação (“trêmulos, magros, como bambus ao vento”) dão ao texto um caráter essencialmente impressionista.

A PERSPECTIVA NA DESCRIÇÃO

A descrição é um trabalho que envolve todo um processo: o observador deverá selecionar o objeto quer descrever, a visão que ele quer dar do objeto, os elementos que colocará em destaque, o ângulo de visão, a distância, etc; isso é organizar.

A leitura de um texto descritivo supõe, pois, o trabalho de perceber o modo de que o observador se serviu para compô­lo. É essencial que o leitor explore a organização do texto, percebendo os elementos e estabelecendo relações entre eles na busca de perspectivas de visualização do objetivo descrito.

Quando observamos bem um objeto, vemos sua forma global, suas partes e seus pormenores. Na leitura ou elaboração de um texto descritivo, é importante a visualização do objeto, suas partes e pormenores.

Dessa forma, quando descrevemos, organizamos o texto, selecionando os elementos, suas características mais marcantes, as impressões sensoriais que melhor os distinguem e uma dimensão essencial da descrição: a perspectiva do descrevedor diante do objeto.

Observe, no texto seguinte, o ângulo assumido pelo observador:

A estrada estendia­se deserta; à esquerda os campos desdobravam­se a perder de vista, serenos, verdes, clareados pela luz  macia do sol morrente, manchados de pontas de gado que iam se arrolhando nos paradouros da noite; à direita, o sol, muito  baixo, vermelho­dourado, entrando em massa de nuvens de beiradas luminosas.

Nos atoleiros, secos, nem um quero­quero: uma outra perdiz, sorrateira, piava de manso Poe entre os pastos maduros; e  longe, entre o resto de luz que fugia de um lado e a noite que vinha, peneirada, do outro, alvejava a brancura de um João­grande, voando, sereno, quase sem mover as asas, como numa despedida triste, em que a gente também não sacode os  braços...

Foi caindo uma aragem fresca; e um silêncio grande em tudo. (J.Simões Lopes Neto) 

O olho humano parece rastear todos os ângulos da paisagem, percorrendo os espaços como uma câmera: desloca­se da esquerda para a direita, focaliza os atoleiros e os pastos maduros e depois lança sua perspectiva para o horizonte longínquo para dividi­lo em dois – de um lado, “o resto de luz que fugia”, e de outro, “a noite que vinha peneirada.”

Enquanto a precisão do olhar dimensionada os ângulos do espaço (a paisagem), a sensibilidade da visão recorta a magnitude do momento ( o pôr­do­sol), sendo a sinestesia seu ponto de fusão: “pela luz macia do sol morrente”, “iam se arrolhando nos paradouros da noite”, “um silêncio grande em tudo.”

Além das sinestesias, a comparação é de grande efeito na imagem que encerra o texto: “voando, sereno, quase sem mover as asas como despedida triste, em que a gente também não sacode os braços...”

DESCRIÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA

Há dois aspectos fundamentais na maneira de ver o mundo – o objetivo e o subjetivo ­, que são flagrantes, de modo especial, na descrição.

Apreendemos o mundo com nossos sentidos e transformamos nossa percepção em palavras. Das diferenças de sensibilidade de cada observador decorre o predomínio da abordagem objetiva ou subjetiva.                                                                   

Amanhecera um domingo alegre no cortiço, um bom dia de abril. Muita luz e  pouco calor.

As tinas estavam abandonadas; os coradouros despidos. Tabuleiros de roupa engomada saíam das casinhas, carregados na  maior parte pelos filhos das próprias lavadeiras que se mostravam agora quase todas de fato limpos; os casaquinhos brancos  avultavam por cima das saias de chita de cor.

Desprezavam­se os grandes chapéus de palha e os aventais de aniagem; agora as portuguesas tinham na cabeça um lenço novo de ramagens vistosas e as brasileiras haviam penteado o cabelo e pregado nos cachos negros um ramalhete de dois  vinténs; aquelas trançavam no ombro xales de lã vermelha, e estas de crochê, de um amarelo desbotado. Viram­se homens de corpo nu, jogando a placa, com grande algazarra. Um grupo de italianas, assentado debaixo de uma árvore, conversa  ruidosamente, fumando cachimbo. Mulheres ensaboavam os filhos pequenos debaixo da bica, muito zangadas, a darem­lhes  murros, a praguejar, e as crianças berravam, de olhos fechados, esperneando. A casa da Machona estava num rebuliço,  porque a família ia sair a passeio; gritava Nenen, gritava o Agostinho. De muitas outras saíam cantos ou sons de instrumentos; ouviam­se guitarras, cuja discreta melodia era de vez em quando interrompida por um ronco forte de trombone.  

(Aloísio Azevedo)

A descrição objetiva é a reprodução fiel do objeto. É a visão das características do objeto (tamanho, cor, forma, espessura, consistência, volume, dimensões etc.), segundo uma percepção comum a todos, de acordo com a realidade.

Na descrição objetiva há grande preocupação com a exatidão dos detalhes e a precisão vocabular. O observador descreve o objeto tal qual ele se apresenta na realidade.

“Há um pinheiro e extático, há grandes salso­chorões derramados para o chão, e a graça menina de uma cerejeira cor de vinho, que o sol oblíquo acende e faz fulgurar; mas o álamo junto do portão tem um vigor e uma pureza que me fazem bem pela manhã, como se toda manhã, ao abrir a janela, eu visse uma jovem imensa, muito clara, de olhos verdes, de pé, sorrindo para mim.”                                                                                       (Rubem Braga)

A descrição subjetiva é a apreensão de realidade interior, isto é, da imagem. O objeto é transfigurado pela sensibilidade do emissor­observador. É a reprodução do objeto como ele é visto e sentido.

A descrição subjetiva apresenta o modo particular e pessoal de o escritor ou relator sentir e interpretar o que descreve, traduzindo as impressões que tem da realidade exterior.

Na descrição subjetiva não deve haver preocupação quanto à exatidão do objeto. O que importa é transmitir a impressão que o objeto causa ao observador.

Descrição subjetiva Descrição objetivaSubstantivos abstratos substantivos concretosAdjetivos antepostos adjetivos pospostosLinguagem conotativa linguagem denotativaLinguagem com função poética linguagem com função referencial

Impressionismo expressionismoPerspectiva literária, artística Perspectiva técnica, científica, geométrica, 

anatômicaVisão pessoal e parcial  visão fria, isenta e imparcialCaptação imprecisa Captação exataFrases elaboradas Frases curtas, ordem direta

Acompanhe a análise do texto “Na Pedreira” e observe como o autor dosou a distribuição de elementos objetivos num trabalho artesanal em que a linguagem ora desponta denotativa ora conotativamente.

Na pedreira

Aqui e ali, por toda a parte, encontram­se trabalhadores, uns ao sol, outros debaixo de pequenas barracas feiras de lona ou de lona de palmeira. De um lado cunhavam pedra cantando; de outro a quebravam a picareta; de outro afeiçoavam lajedos a ponta de picão; mais adiante faziam paralelepípedos a escopro e macete.                                                                                                              

E todo aquele retintim de ferramentas, e o marchar da forja, e o coro dos que lá em cima brocavam a rocha para lançar­lhe fogo, e a surda zoada ao longo, que vinha do cortiço, como de uma aldeia alarmada; tudo dava a idéia de uma atividade feroz, de uma luta de vingança e de ódio. Aqueles homens gotejantes de suor, bêbados de calor, desvairados de insolação a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a pedra, pareciam um punhado de demônios revoltados na sua impotência contra o impassível gigante que as contemplava com desprezo, imperturbável a todos os golpes e a todos os tipos que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido que lhe abrissem as entranhas de granito.  (Aluísio Azevedo)

Observe no texto o predomínio da descrição subjetiva sobre a descrição objetiva. Na caracterização objetiva, os seres e objetos são apresentados através de linguagem referencial. A percepção dos elementos é igual para todos os observadores (“barracas feitas de lona”).

Na descrição objetiva predominam:

•Substantivos concretos (trabalhadores, sol, barracas, lonas, pedras);

•Adjetivos pospostos (“aldeia alarmada”);

•Linguagem denotativa, referencial (de Aqui e ali até a escopro e macete);

•Percepção fria e imparcial (de Aqui e ali a escopro e macete).

Na caracterização subjetiva, os seres e objetos são apresentados sob um enfoque pessoal, impressionista, individual. Sua apreciação combina as sensações do observador, através dos cinco sentidos (tato, visão, audição, paladar, gustação), com as impressões psicológicas, emocionais, comportamentais. (atividade feroz, a sua zoada ao longe).

Na descrição subjetiva predominam:

•substantivos abstratos (luta de vingança e ódio);

•adjetivos antepostos (pequenas barracas);

•linguagem conotativa (bêbados de calor, desvairados de insolação; a espicaçarem, a torturarem a pedra);

•percepção pessoal e impressionista (de E todo aquele retintim até entranhas de granito).

DESCRIÇÃO ESTÁTICA E DINÂMICA

A captação de uma realidade espacial pode ocorrer de duas maneiras: estática, como numa fotografia; ou dinâmica, como um filme.

Lendo ou elaborando um texto descritivo, precisamos formar ou dar a conhecer uma dessas duas realidades. Imaginamos um pôr­do­sol captado por uma máquina fotográfica e esse estímulo registrado por uma filmadora. A concepção fixa da realidade seria dada pela fotografia; já o movimento do Sol, só o filme poderia mostrar.

Observe como o autor, de forma singela, caracteriza um pôr­do­sol:

O Sol, manhoso, vinha botando a cabeça de fora, no horizonte. Malandro, sem­vergonha!

Olhava o tempo com o pedacinho do olho, indeciso. A cara, ainda não vermelha, bem dizia que acordava chateado, não queria espantar o mundo.

Começou somente mostrando a careca de cabeça, que a linha do horizonte deixava ver. Depois, a fatia foi aumentando,  aumentando um pouco mais até que já se via praticamente a metade da cara dele.

Vinha subindo devagar. Mas um devagar ligeiro, que se percebia claramente, fácil, fácil.

Afinal, lá apareceu todinho no horizonte, aquele disco alaranjado, maior do que um prato, calado, imponente, mandando luz  para toda parte.

Era o dia.  (Everaldo Moreira Veras)

Dinamicamente, o amanhecer e descrito como um despertar humano (O Sol manhoso, vinha botando a cabeça de fora, no horizonte. Malandro, sem­vergonha). Todos os movimentos do alvorecer são caracterizados através da personificação: Começou somente mostrando a careca (...); Depois, a fatia foi aumentando (...); Vinha subindo devagar; lá apareceu todinho; mandando luz para toda parte.

Note que a cena de um incêndio, como a do exemplo abaixo, só poderia ganhar a intensidade e o movimento que lhe são próprios através dos recursos da descrição dinâmica:

A um só tempo viram­se fartas mangas de água chicoteando o fogo por todos os lados; enquanto, sem saber como, homens,  mais ágeis que macacos, escalavam os telhados abrasados por escadas que mal se distinguiam; e outros invadiam o  coração vermelho do incêndio, a dardejar duchas em torno de  se, rodando, saltando, piruetando, até estrangularem as  chamas que se atiravam ferozes para cima deles, como dentro de um inferno(...)   (Aluísio Azevedo)

Quando temos o registro de um objeto ou ser em movimento, numa seqüência temporal, distinguimos uma passagem narrativa. (Ver capítulo sobre narração).

Quando se registra o movimento do ser ou objeto numa disposição espacial, o estudo é uma descrição: A um só tempo viram­se fartas mangas de água chicoteando o fogo por todos os lados; (...) e outros invadiam o coração vermelho do incêndio, a bardejar em torno de si, rodando, saltando, piruetando (...). Nesse dinamismo de imagens, a cena ganha, aos olhos do leitor, a perspectiva cinematográfica do observador.

Observe a mesma dinamicidade, desta vez na retratação de uma queimada:

Os homens olhavam­se atônitos, diante do clamor geral das vítimas. Línguas de fogo viperinas procuravam atingi­los. Pelos  cimos de mata se escapavam aves espantadas, remontando às alturas num vôo desesperado, pairando sobre o fumo.

Uma araponga feria o ar com um grito metálico e cruciante.  (Graça Aranha)

Através dos textos analisados, percebe­se que para se descrever os movimentos de seres e objetos usam­se verbos que caracterizam esse dinamismo, como no caso do fragmento acima: olhavam­se, escapavam, pairando. Há também na 

descrição dinâmica o predomínio de nomes que detonam ações: diante do clamor geral das vítimas; línguas de fogo viperinas; aves espantadas; num vôo desesperado.

Na descrição estática predominam as formas nominais, com a presença de frases sem verbo ou com verbos que expressam estado ou condição: estar, ser, haver, parecer e outros. Observe o exemplo abaixo:

A antecâmara de Alzira

Era a antecâmara da formosa Alzira rigorosamente posta ao caprichoso gosto da época.

Guarneciam­na móveis de madeira, esculpida e pintada de branco, com arabescos de ouro, que variava entre o fusco e o  luzente, formando torturados desenhos de ornato. Pombas aos pares e anjinhos rechonchudos serviam de adorno às  guarnições das portas. Sobre peanhas e cantoneiras havia jarras de sévres, com pinturas assinadas, em que se viam pastores enfeitados de fitas azuis e cor­de­rosa, na cinta, nos joelhos, no pescoço e nos tornozelos, tocando avena e flauta,  ao lado de roliças raparigas de saia curta listrada com sobre­saia de tufos de seda clara, chapéu de palha, coberto de flores,  uma corbelha enfiada no braço, sapatinhos quase invisíveis, e um dos peitos à mostra, branco e levemente rosado, como trêmula gota de leite sobre uma pétala de rosa.

Nas paredes, forradas de uma tapeçaria azul celeste, destacavam­se suavemente por cima das portas e contornando os  móveis, desenhos do mesmo azul um pouco mais escuro, representando alegorias pastoris.

Prendiam a tapeçaria cordões de arame de prata entrançando, com grandes nós de espaço, terminando em amplas borlas do mesmo metal, que afirmam  admiravelmente com os bordados das cortinas. (Aluísio Azevedo)

Alguns textos descritivos mesclam a realidade espacial, apresentando ora trechos estáticos e ora dinâmicos. Observe como tal procedimento pode até mesmo ocorrer num texto em verso, numa descrição de paisagem:

Lembrança rural

Chão verde e mole. Cheiros de relva. Babas de lodo.

A encosta barrenta aceita o frio, toda nua.

Carros de bois, falas ao vento, braços, foices.

Os passarinhos bebem do céu pingos de chuvas.

Casebres caindo, na erma tarde. Nem existem na história

Do mundo. Sentam­se à porta as mães descalças.

É tão profundo, o campo, que ninguém chega a ver que é triste.

A roupa da noite esconde tudo, quando passa...

Flores molhadas. Última abelha. Nuvens gordas.

Vestidos vermelhos, muito longe, dançam nas cercas.

Cigarra escondida, ensaiando na sombra rumores de bronze.

Debaixo da ponte, a água suspira, presa...

Vontade de ficar neste sossego toda a vida:

Para andar à toa, falando sozinha,

Enquanto as formigas caminhavam nas árvores...

(Cecília Meireles)

Quando a paisagem e o verso encontram, em Cecília Meireles, surge a descrição poética. Na 1ª estrofe despontam as sensações visuais, olfativas e táteis, através de imagens estáticas (chão verde e mole. Cheios de relva. Babas de lobo.) e líricas (A encosta barrenta aceita o frio, toda nua).

As enumerações do 1º, 3º e 9º versos que predominam formas nominais, dão conta da profusão de elementos campestres que compões a paisagem flagrada.

Nas demais estrofes, intercala­se descrições dinâmicas (Casebres caindo, na erma tarde; Sentam­se à porta as mães descalças), enumeração estática (Flores molhadas. Última abelha. Nuvens gordas) e reflexões subjetivas ( Vontade de ficar neste sossego toda a vida:/ para andar à toa falando sozinho).

O poema compreende uma captação evocativa do passado. Assim, o “eu” lírico descreve uma realidade visual e afetiva que lhe resta na memória.

DESCRIÇÃO DE PESSOA

Ao descrever uma pessoa ou uma paisagem, podemos reproduzir os pormenores físicos e/ou psicológicos. Os pormenores físicos compreendem as características aprendidas pelos sentidos (visão, gustação, olfato, tato, paladar), retratando os aspectos exteriores do ser: os traços faciais, as partes do corpo ou ainda a maneira de andar, de falar, de vestir. Os pormenores psicológicos retratam os aspectos emocionais ou mentais: caráter, comportamento, temperamento, defeitos, virtudes, preferências, inclinações, personalidade.

A dosagem equilibrada desses dois aspectos garante um texto descritivo em que subjetividade se projeta sobre a objetividade dos traços físicos: olhar viperino, sorriso doce, passo tímido, gestos nervosos, boca desdenhosa, nariz altivo, cabelos selvagens, dentes felinos, corpo sensual, andar provocante, voz envolvente.

Observe a projeção dos dados psicológicos sobre os aspectos físicos:

“Ela não era feia; amorenada, com seus traços acanhados,

o narizinho malfeito, mas galante, não muito baixa nem muito magra e a sua aparência de bondade passiva, de indolência de corpo, de idéia e de sentidos.”

(Lima Barreto)

Há descrições em que perfil psicológico é sugerido pelos dados físicos. O observador induz o leitor a perceber a interioridade da personagem muitas vezes utilizando apenas a descrição física.

Observe como  Machado obtém magistralmente esse efeito:

Chegando à rua, arrependi­me de ter saído. A baronesa era uma das pessoas que mais desconfiavam de nós. Cinqüenta e  cinco anos, que pareciam quarenta, macia, risonha, vestígios de beleza, porte elegante e maneiras finas. Não falava muito  nem sempre; possuía a grande arte de escutar os outros, espiando­os; reclinava­se então na cadeira, desembainhava um olhar afiado e comprido, e deixava­se estar. Os outros, não sabendo o que era, falavam, olhavam, gesticulavam, ao tempo que ela olhava só, ora fixa, ora móbil, levando a astúcia ao ponto de olhar às vezes para dentro se si, porque deixava cair as  pálpebras; mas, como as pestanas eram rótulas, o olhar continuava o seu ofício, remexendo a lama e a vida dos outros.(Machado de Assis)

No texto, os traços físicos, como maneirismos, trejeitos e ademanes, caracterizam, num amálgama de impressões, de forma reveladora, o comportamento e a personalidade da personagem.

Nesse tempo meu pai e minha mãe estavam caracterizados: um homem sério, de testa larga, uma das mais belas testas que já vi, dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda, uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza, sempre a mexer­se, bossas na  cabeça mal protegida por um cabelinho relo, boca má, olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho  de loucura. Esses dois entes difíceis ajustavam­se.  (Graciliano Ramos)

Na descrição da figura paterna, a caracterização explora essencialmente os dados físicos: “testa larga”, “dentes fortes”, “queixo rijo”, “fala tremenda”.

Somente um aspecto psicológico define o pai: “homem sério”. Já a mãe, caracteriza­se quase integralmente através de impressões psicológicas: “enfezada”, “ranzinza”, “boca má”, “olhos maus”, “se inflamavam com um brilho de loucura”,. Fisicamente, temos: “bossas na cabeça mal protegida por um cabelinho ralo”.

Meu pai era um sonhador, minha mãe uma realista.

Enquanto ela mantinha os pés firmemente plantados na terra, 

Ele se deixava erguer no balão iridescente de sua fantasia,

Recusando ver a realidade, oferecendo a lua a si mesmo e aos

Outros, desejando sempre o impossível...

(Érico Veríssimo)

No texto de Veríssimo, somente a visão psicológica compõe a imagem do pai e mãe; enquanto ele é “sonhador”, ela é “realista”. O autor transmite apenas traços do comportamento: os anseios, a mentalidade, a visão da realidade.

Descrição de pessoa em verso

O descritivismo é específico da prosa. Uma poesia também ser descritiva, construída em linguagem objetiva e/ou subjetiva, enquadrando uma imagem real ou imaginária.

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,

Assim calmo, assim triste, assim magro,

Nem estes olhos tão vazios,

Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,

Tão paradas e frias e mortas;

Eu não tinha este coração

Que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,

Tão simples, tão certa, tão, tão fácil:

_ Em que espelho ficou perdida

a minha face?        (Cecília Meireles)

O poema é descritivo, pois o retrato do “eu” lírico. Através da adjetivação, são relevadas características físicas e estados interiores.

Os versos apresentam sobretudo um estado de espírito, pois a adjetivação ultrapassa o aspecto físico para simbolizar o universo íntimo de um “eu” poético desesperançado, introspectivo e pessimista.

Esse efeito em que o estado de espírito vai além dos traços físicos, resulta da combinatória de palavras que a autora selecionou, num trabalho de linguagem em que o sentido denotativo (o valor real das palavras) é menos revelador que o sentido conotativo (figurado, subjetivo). Portanto, é a conotação que compõe o retrato psicológico nesse poema, através de expressões como “olhos vazios”, “lábio amargo”, “mãos sem força(...) frias e mortas”, “este coração que nem se mostra”. Já as características “rosto(...) assim calmo, assim triste, assim magro” podemos interpretar denotativamente.

O poema explora o sentido das palavras através da conotação. Esse recurso que privilegia a emoção permitiu o processo de mudança íntima do “eu” poético.

ANÁLISE DE TEXTO DESCRITIVO

Auto­retrato

Passo então à inspeção. O vidro me manda a cara espessa dum velho onde já não descubro o longo pescoço do adolescente  e do moço que fui, nem seus cabelos tão densos que pareciam dois fios nascidos de cada brilho. Castanho, meu velho  moreno corado. A beiçalhada sadia...Hoje o pescoço encurtou, como se a massa dos ombros tivesse subido por ele, como cheia em torno de pilastra de ponte. Cabelos brancos tão rarefeitos que o crânio aparece dentro da transparência que lês  fazem. Olhos avermelhados, escleróticas sujas expressão, dentro do empapuçamento e sob o cenho fechado, é de tristeza e  tem um que da máscara de choro do teatro. (...) Par de sulcos fundos saem dos lados das ventas arreganhadas e seguem com as bochechas caídas até o contorno da cara. A boca também despencou e tem mais ou menos a forma de um “V” muito  aberto. Dolorosamente encaro o velho que tomou conta de mim e vejo que ele foi configurado à custa de uma espécie de desbarrancamento, avalanche, desmonte – queda dos traços s da partes moles deslizando sobre o esqueleto permanente.  Erosão.                                                                                      (Pedro Nava)

Compondo se auto­retrato, Pedro Nava empreende um percurso patético sobre os reflexos do próprio rosto, desvendando­lhe as marcas do tempo. A juventude é lembrada para pôr em relevo a velhice: “já não descubro o longo pescoço do adolescente e do moço que fui”. As comparações produzem uma imagem exacerbada da senilidade: “Hoje o pescoço encurtou, como se massa dos ombros tivesse subido Poe ele, como cheia em torno de pilastra de ponte”. Do inventário lexial – adjetivos, verbos e substantivos – usado para se autodefinir, resultam impressões de desencanto, desalento e tristeza: “Sua expressão, dentro do empapuçamento e sob o cenho fechado, é de tristeza e tem quê da máscara de choro de teatro”.

Uma imagem caricatural surge da dimensão hiperbólica dos traços: “ventas arreganhadas”, “A boca também despencou (...)”; “tem mais ou menos a forma de um ‘V’ muito aberto”.

Metáforas de grande expressividade traduzem a visão amarga e angustiante da senectude: “Dolorosamente encaro o velho que tomou conta de mim e vejo que ele foi configurado  à custa de uma espécie de desbarrancamento, avalanche, desmonte – queda dos traços e das partes moles deslizando sobre o esqueleto permanente. Erosão”.

Auto­Retrato

Eu sou um menino maior que muitos e menor que outros. Na cabeça tenho cabelo que mamãe manda cortar muito mais do  que eu gosto e, na boca, muitos dentes, que doem. Estou sempre maior que a roupa, por mais que a roupa do mês passado 

fosse muito grande. Só gosto de comer o que a mãe não me quer dar e ela só gosta de me dar o que eu detesto. Em matéria  de brincadeiras as que eu gosto mais são as perversas, mas essa minha irmãzinha grita muito.  (Millôr Fernandes)

Com irreverência e humor, Millôr Fernandes recupera num auto­retrato traços psicológicos e lingüísticos da criança. As noções de tamanho – relevantes no universo infantil – ganham comicidade nos ingênuos paralelismos semânticos: “Eu sou um menino maior que muitos e menor que outros”. A redundância tipicamente primária (“Na cabeça tenho cabelo (...) e, na boca, muitos dentes, que doem “.) reproduz o ponto de vista de um observador infantil, cujas impressões físicas e subjetivas determinam­se pela comparação e pelo gosto. É, pois, uma leveza de estilo que se opõe frontalmente à austeridade da linguagem de Pedro Nava.

Retrato grotesco

Bocatorta

Bocatorta excedeu a toda a pintura. A hediondez personificara­se nele, avultando, sobretudo, na monstruosa deformação da boca. Não tinha beiços e as gengivas largas, violáceas, com raros cotos de dentes  bestiais fincados às tontas, mostravam­se  cruas, como enorme chaga viva. E torta, posta de viés na cara, num esgar diabólico, resumindo o que o feio pode compor de  horripilante. Embora se lhe estampasse na boca o quanto fosse preciso para fazer aquela criatura a culminância da  ascosidade, a natureza malvada fora além, dando­lhe pernas cambaias e uns pés deformados que nem remotamente  lembrariam a forma de um pé humano. E olhos vivíssimos, que pulavam das órbitas empapuçadas, veiados de sangue na  esclerótica amarela. E pele grumosa, escamada de escaras cinzentas. Tudo nele quebrava o equilíbrio normal do corpo  humano, como se a tecnologia caprichasse em criar a sua obra prima. (Monteiro Lobato)

Quando as características físicas de uma personagem fogem à nomalidade de traços, essas anomalias podem­se definir numa visão que ultrapassa o possível para compor o hediondo, o grotesco. A caracterização de Monteiro Lobato, através de comparações e metáforas, põe em evidência uma aberração teratogênica que aproxima o patológico do animalesco: “e as gengivas largas, violáceas, com raros cotos de dentes bestiais fincados às tontas, mostravam­se cruas, como enorme chaga viva”.

Caricatura

Cabelos Compridos

_ Coitada da Das Dores, tão boazinha...

Das Dores é isso, só isso – boazinha. Não possui outra qualidade. É feia, é desengraçada, é inteligente, é magérrima, não tem seios, nem cadeiras, nem nenhuma rotundidade posterior; é pobre de bens e de espírito; é filha daquele Joaquim da Venda, ilhéu de burrice ebúrnea – isto é, dura como o marfim. Moça que não tem por onde se lhe pegue fica sendo apenas isso – boazinha.

_ Coitada da  Das Dores, tão boazinha...

Só tem uma coisa a mais que as outras – cabelo. A fita da sua trança toca­lhe a barra da saia. Em compensação, suas idéias medem­se por frações de milímetro, tão curtinhas são. Cabelos compridos, idéias curtas – já o dizia Schopenhauer.

A natureza pôs­lhe na cabeça um tablóide homeopático de inteligência, um grânulo de memória, uma pitada de raciocínio – e plantou a cabeleira por cima. Essa mesquinhez por dentro. Por fora ornou­lhe a asa do nariz com um grão de ervilha, que ela modestamente denomina verruga, arrebitou­lhes as ventas, rasgou­lhe  boca de dimensões comprometedoras e deu­lhe uns pés...Nossa Senhora, que pés! E tantas outras pirraças lhe fez que ao vê­la todos dizem comiserados:

_ Coitada da Das Dores, tão boazinha...

(Monteiro Lobato)

O humor debochado despontou da esdrúxula caracterização da personagem. O discurso direto reiterado (“ _ Coitada da Das Dores”) reproduz uma impressão generalizada (“ao vê­la todos dizem comiserados”) que se confirma nas caracterizações particulares do observador: “É feia, é desengraçada, é inelegante, é magérrima (...)”. A combinatória vocabular é típica da capacidade inventiva de Monteiro Lobato: “ilhéu de burrice ebúrnea”, “um tablóide  homeopático de inteligência”, “um grânulo de memória”, “ornou­lhe a asa do nariz com um grão de ervilha”. A linguagem é íntima do leitor, pois instaura a comicidade que torna inventiva e original a visão caricatural de uma figura feminina.

Tipo

“Lá vem ele. E ganjento, pilantra: roupinha de brim amarela, vincada a ferro; chapéu tombado de banda, lenço e caneta no bolsinho do jaquetão abotoado; relógio­de­pulso, pegador de monograma na gravata chumbadinha de vermelho”.

(Mário Palmério)

Se a criatura é a exorbitância sobre os traços definidos de uma personagem, o tipo é a representação ou o modelo que se firmou culturalmente, sobretudo nas artes e na literatura.

O despojamento e a irreverência da malandragem têm nos gestos e nas roupas a sua expressividade maior: vinco, chapéu de banda, lenço e caneta à mostra, jaquetão abotoado, relógio­de­pulso e pegador de gravata. O observador explora visualmente esses adereços que tipificam o malandro.

A roupa é um recurso de aparência que a literatura brasileira consagrou no tipo que vive de expedientes e abusa da confiança alheia.

DESCRIÇÃO DE CENÁRIO

A casa de Botafogo

Prédio talvez um pouco antigo, porém limpo; desde o portão da chácara  pressentia­se logo que ali habitava gente fina e de  gosto bem educado; atravessando­se o jardim por entre a simetria dos canteiros e limosas estátuas cobertas de verdura e  enormes vasos de tinhorões e begônias do Amazonas, e bolhas de vidro de várias cores com pedestal de ferro fosco, e  lampiões de três globos que surgiam de pequeninos grupos de palmeiras sem tronco, e banco de madeira rústica, e  trombones de faiança azul­nanquim, alcançava­se uma vistosa escadaria de granito, cujo patamar guarneciam duas grandes águias de bronze polido, com as asas em meio descanso, espalmando as nodosas garras sobre colunatas de pedra branca.  Na sala de entrada, por entre muitos objetos de arte, notava­se, mesmo de passagem, meia dúzia de telas originais; umas em cavaletes, outras suspensas contra a parede por grossos cordéis de seda frouxa; e, afastando o soberbo reposteiro de  repes verde que havia na porta do fundo, penetrava­se imediatamente no principal salão da casa.  (Aluísio Azevedo)

É  mais do que uma enumeração de plantas e adornos, pois o observador procede a um minucioso inventário de detalhes, entre matérias, contornos e cores: “atravessando­se o jardim por entre a simetria dos canteiros e limosas estátuas(...) e tamboretes de faiança azul­nanquim”. Isento de captações subjetivas, o autor atravessa os espaços, registrando­os com fidelidade fotográfica. Trata­se de uma descrição objetiva.

Há um pôr­de­sol de primavera e uma velha casa abandonada.

Está em ruínas.

A velha casa não mais abriga vidas em seu interior. Tudo é passado. Tudo é lembrança. Hoje, apenas almas juvenis brincam despreocupados e felizes entre suas paredes trêmulas.Em seu chão, despido da madeira polida que a cobria, brotam ervas  daninhas. Entre a vegetação que busca minimizar as doces recordações do passado, surge a figura amarela e suave da  margarida, flor­mulher. As nuanças de suas cores sorriem e denunciam lembranças de seus ocupantes.

A velha casa está em ruínas. Pássaros saltitam e gorjeiam nas amuradas que a cercam. Seus trinados são melodias no altar  do tempo à espera de redentoras orações. Raízes vorazes de grandes árvores infiltram­se entre as pedras do alicerce e  abalam suas estruturas.

Agoniza a velha casa. Agora, somente imagens desfilam, ao longo das noites. As janelas são bocas escancaradas.

A casa velha em ruínas clama por vozes e movimento...  (Geraldo M. de Carvalho)

Nessa descrição, o observador enquadra liricamente uma casa em ruínas. Lançando sua visão subjetiva e nostálgica sobre o cenário, reveste de metáforas e impressões sinestésicas os espaços que sua sensibilidade percorre: “paredes trêmulas”, “suas cores sorriem”, “melodias no altar do tempo”, “raízes vorazes”, “agoniza a velha casa”, “as janelas são bocas escancaradas”. Temos, portanto, uma descrição subjetiva de cenário.

Uns inhos engenheiros

Onde eu estava ali era um quieto. O ameno âmbito, lugar entre­as­guerras e invasto territorinho, fundo de chácara. Várias  árvores. A manhã se­a­si bela: alvoradas aves. O ar andava, terso, fresco. O céu – uma blusa. Uma árvore disse quantas  flores, outra respondeu dois pássaros. Esses, limpos. Tão lindos, meigos, quê? Sozinhos adeuses. E eram o amor em sua  forma aérea. Juntos voaram, às alamedas frutíferas, voam com uniões e discrepâncias. Indo que mais iam, voltaram. O mundo é todo encantado. Instante estive lá, por um evo, atento apenas ao auspício.

Perto, pelo pomar, tem­se o plenário deles, que pilucam as frutas: gaturamossabiassanhaços. De seus pios e cantos respinga  um pouco até aqui.. Vez ou vez, qual que qual, vem um, pessoativo, se avizinha. Aonde já se despojaram as laranjeiras, do  redondo de laranjas só resta uma que outra, se sim podre ou muruchuca, para se picorar. Mas há uma figueira, parrada, a  grande opípara. Os figos atraem. O sabiá pulador. O sabiazinho imperturbado. Sabiá dos pés de chumbo. Os sanhaços lampejam um entrepossível azul, sacam, sacam­se oblíquos do espaço, sempre novos, sempre laivos. O gaturamo é o antes,  é seu reflexo sem espelhos, minúscula imensidão, é: minuciosamente indescriptível. O Sabiá, só. Ou algum guaxe, brusco,  que de mais fora trouxe. Diz­se tlique – e dá­se um dissipar de vôos. Tão enfins, punhado. E mesmo os que vêm a outro  esmo, que não o de frugivorar. O tico­tico, no saltitanteio, a safar­se de surpresa em surpresa, tico­te­tico no levitar preciso.  Ou uma garricha, a corruir, a chilra silvetriz das hortas, de traseirinho arrebitado, que se espevita sobre a cerca, e camba –  apontada, iminentíssima. De âmago: as rolas. No entre mil, porém, este par valeria deferente, vê­se de outra espécie – de  rara oscibilidade e silfidez. Quê? Qual? Sei, num certo sonho, uma deles já acudiu por “o apavoradinho”, ave Maria! E há  quem lhes dê o apodo de Mariquinha Tece­Seda. São os que sim sós. Podem­se imiscuir com o silêncio. O ao alto. A alma arbórea. A graça sem pausas. Amavio. São mais que existe o sol, mais a mim, de outrures. Aqui estamos dentro da amizade.  (João Guimarães Rosa)

Na criatividade lingüística de Guimarães Rosa uma paisagem campestre é recriada com dinamismo e poeticidade. O lirismo se faz presente nos neologismos “gaturamossabiassanhaços”, “pessoativo”, “entrepossível”, “frugivorar”, “saltitanteio”, “silvetriz”, “aamavio” e outros recursos expressivos que dão cadência melódica ao fragmento descrito: “O sabiá, só”, “Tão enfins, punhado”, “O ao alto. A alma arbórea”. A presença do observador sensibilizado diante do canário (“O mundo é todo encantado”, “Tão lindos, meigos, quê?”) chega ao enternecimento quando capta cinematograficamente os movimentos dos pássaros: “O tico­tico, no saltitanteio, a safar­se de surpresa em surpresa, tico­te­tico no levitar preciso.” A singularidade da linguagem garante a exclusividade do espaço retratado, que é único, porque é roseano.

Oito horas da manhã. A cerração ainda envolve tudo. Do lado da terra, mal se enxergam as partes baixas dos edifícios  próximos; para o lado do mar, então, a vista é impotente contra aquela treva esbranquiçada e flutuante, contra aquela  muralha de flocos e opaca, que de condensa ali e aqui em aparições, em semelhanças de coisas. O mar está silencioso: há  grandes intervalos entre o seu fraco marulho. Vê­se da praia um pequeno trecho, sujo, coberto de algas, e o odor da maresia  parece mais forte com a neblina. Para a esquerda e para a direita, é o desconhecido, o Mistério.

(Lima Barreto)

Como se estivesse num ponto fixo, girando sobre si mesmo, o observador descortina um paisagem marinha, identificando contornos que a cerração encobre. Entre percepções visuais (“treva esbranquiçada e flutuante”, “sujo, coberto de algas”), surgem sensações auditivas (“O mar está silencioso(...)”, “fraco marulho”) e olfativas (“o odor da maresia parece mais forte 

Narração – teoria e exemplos 

(Curso Objetivo) 

O ato de escrever é prazer, diversão. É a sensação de poder, de domínio. Criar gente, fabricar fantasias, inventar cidades, dar vida e dar morte, criar um terremoto ou furacão, fazer o que eu quiser. Escrever é um jogo, brincadeira. Conseguir segurar, prender uma pessoa, mantê­la atrelada a si (é o leitor diante do livro: sua sensação divina). (Ignácio de Loyola Brandão)

Dominando a palavra o homem tentou perpetuar seus mitos, sua visão mágica do mundo, suas conquistas, sua história. Nas narrativas, nas lendas, nas epopéias e canções, alegorizou seus ritos, temores e feitos, Seus registros venceram o tempo nos traçados de múltiplos códigos, como a escrita cuneiforme, os hieróglifos e a arte primitiva.

Assim, as pinturas rupestres da caverna de Altamira, as escrituras sagradas dos Vedas, as epopéias gregas, as cantigas provençais, os contos de fadas contam cada qual a fantasia, a mitologia,a história de seu povo. No texto oral ou escrito, ouvir e ler histórias é uma atividade antropológico­social que distingue culturalmente o homem.

Desde que descobriu o poder encantatório da palavra, o ser humano deu curso ao pensamento mítico, deu permanência às crenças, às divindades, à criação do mundo, ao cosmos, envolvendo­os em alegorias. Nos séculos XVI e XVII, na literatura oral de raízes populares, predominam os contos folclóricos, os ditos e provérbios. Na segunda metade do século XVII, propaga­se a ação sistemática da Igreja para cristianizar a cultura popular, mas o patrimônio imaginário dos contos, sobretudo os de fadas, resiste à luta de forças da Contra Reforma que domina o cenário religioso e escolar daquele século.

Com a evolução da História, a interpretação dos acontecimentos foi­se distanciando das alegorias, da imaginação; entre o mito e as formas derivadas da narrativa (o romance, a novela, o conto, a crônica), os heróis divinos torna­se personagens humanas. Os fator históricos de épocas primordiais cedem lugar aos episódios cotidianos contemporâneo. Hoje, afirma Nelly Novaes Coellho (O conto de fadas), “uma das características mais significativas do nosso século é a coexistência, pacífica ou não, entre inteligência racional/cientificista, altamente desenvolvida, e o pensamento mágico que dinamiza o imaginário”.

Nas narrativas orais, nas fábulas, nos contos de fadas ou nos romances contemporâneos, é a imaginação que faz com que apreciemos os encantamentos de Branca de Neve como apreciamos o fascínio de Cem anos de solidão.

Foi pensando no imaginário, na magia e na fantasia que foram selecionados os textos narrativos desta coletânea. Histórias que, sem deixar à margem o padrão culto da língua, encantam pela simplicidade, pelo humor, pela sátira, pela inovação, pela singularidade, enfim pelo aproveitamento exemplar das virtualidades da língua.

Definição

Narrar é contar uma história (real ou fictícia). O fato narrado apresenta uma seqüência de ações envolvendo personagens no tempo e no espaço.São exemplos de narrativas a novela, o romance, o conto, ou uma crônica; uma notícia de jornal, uma piada, um poema, uma letra de música, uma história em quadrinhos, desde que apresentam uma sucessão de acontecimentos, de fatos.Situações narrativas podem aparecer até mesmo numa única frase. Exemplos: O menino caiu. “Minha sogra ficou avó.” (Oswald de Andrade). Repare que a última frase resume ações que envolvem o casamento, a maternidade e a transformação da sogra em avó.

Estrutura da narração

Convencionalmente, o enredo da narração pode ser assim estruturados: exposição (apresentação das personagens e/ou do cenário e/ou da época), desenvolvimento (desenrolar dos fatos apresentando complicação e clímax) e desfecho (arremate da trama).

Entretanto, há diferentes possibilidades de se compor uma trama, seja iniciá­la pelo desfecho, construí­la apenas através de diálogos, ou mesmo fugir ao nexo lógico de episódios.Escritores (romancistas, contistas, novelistas) não compões um texto estritamente narrativo. O que eles produzem é um tecido literário em que aparecem, além da narração, segmentos descritivos e dissertativos.

As narrativas mais longas podem explorar mais detalhadamente as noções de tempo – cronológico (marcado pelas horas, por datas) ou psicológico (marcado pelo fluxo do inconsciente) – e de espaço (cenário, paisagem, ambiente).

O envolvimento de várias personagens e os múltiplos núcleos de conflito em torno de uma situação também são comuns nas narrativas extensas.Portanto, oferecer ao aluno um painel de narrações literárias (romances, novelas, contos) como modelo é distanciar­se da finalidade prática da redação escolar, mas alguns textos são exemplares para ilustrar procedimentos narrativos.

Elementos básicos da narração

São elementos básicos da narração: enredo (ação), personagem, tempo e espaço.

Quando a história é curta, como na narração escolar, são imprescindíveis: enredo e personagens. A perspectiva de quem escreve é dada pelo foco narrativo ( de 1ª ou 3ª pessoa). Os discursos (direto, indireto e indireto livre) representam a fala da personagem.

No texto a seguir, “Um homem de consciência”, foram apontados os elementos básicos, a estrutura narrativa – exposição, desenvolvimento e desfecho ­, os vários discursos e o foco narrativo. A onisciência do narrador revela­se no conhecimento íntimo que tem da personagem, desenvolvendo­lhe os pensamentos e apreensões.

Um homem de consciência – Monteiro Lobato

1.º parágrafo Chamava­se João Teodoro, só. O mais pacato e modesto dos homens. Honestíssimo e lealíssimo, com um defeito apenas: não dar o mínimo valor a si próprio. Para João Teodoro, a coisa de menos importância no mundo era João Teodoro. [Até aqui é exposição.]2.º parágrafoNunca fora nada na vida, nem admira a hipótese de vir a ser alguma coisa. E por muito tempo não quis nem sequer o que todos ali queriam: mudar­se para terra melhor.3.º parágrafoMas João acompanhava com aperto de coração o deperecimento visível de sua itaoca. [Nesses dois parágrafos, discurso do narrador.]4.º parágrafo­ Isto já foi muito melhor, dizia consigo. Já teve três médicos bem bons – agora só um bem ruinzote. Já teve seis advogados e hoje mal há serviço para um rábula ordinário como o Tenório. Nem circo de cavalinhos bate mais por aqui. A gente que presta se muda. Fica o restolho. Decididamente, a minha Itaoca está se acabando... [Monólogo interior.]5.º parágrafoJoão Teodoro entrou a incubar a idéia de também mudar­se, mas para isso necessitava dum fato qualquer que o convencesse de maneira absoluta de que Itaoca não tinha mesmo conserto ou arranjo possível. [Discurso do narrador.]6.º parágrafo­ É isso, deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada de nada, então arrumo a trouxe e boto­me fora daqui. [Monólogo interior.]7.º parágrafoUm dia aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, ele! Ele que na era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada...8.º parágrafoSer delegado numa cidadezinha daquelas é coisa serilíssima.Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado – e estava ele, João Teodoro, de­le­ga­do de Itaoca!...[Discurso do narrador.]9.º parágrafoJoão Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando e arrumando as mals. Pela madrugada botou­as num burro, montou seu cavalo magro e partiu.[Clímax da história.]10.º parágrafo­ Que é isso, João? Para onde se atira tão cedo, assim de armas e bagagens?11.º parágrafo­ Vou­me embora, respondeu o retirante. Verifiquei que Itaoca chegou mesmo ao fim.12.º parágrafo­ Mas, como? Agora que você está delegado?13.º parágrafo­ Justamente por isso. Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus. [Discurso direto.]14.º parágrafoE sumiu. [Desfecho.]

Exposição: 1.º parágrafoDesenvolvimento: do 2.º ao 13.º parágrafo

Desfecho: 14.º parágrafoComplicação: 7.º e 8.º parágrafos.Clímax: 9.º parágrafo

A tessitura narrativa

A narrativa deve tentar elucidar os acontecimentos, respondendo às seguintes perguntas essenciais:

O QUÊ? – o(s) fato(s) que determina(m) a história;QUEM ? _ a personagem ou personagens;COMO? _ o enredo, o modo como se tecem os fatos;ONDE? _ o lugar ou lugares da ocorrência;QUANDO? _ o momento ou momentos em que se passam os fatos;POR QUÊ? _ a causa do acontecimento.

Observe como se aplicam no texto de Manuel Bandeira esses elementos:

Tragédia brasileiraManuel Bandeira

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.Conheceu Maria Elvira na Lapa – prostituída, com sífilis,Demite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria.Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou­a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura...Dava tudo quantoEla queria.Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.Viveram três anos assim.Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.Os amantes moravam no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou­a com seis tiros, e a polícia foi encontrá­la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul. 

•O quê? Romance conturbado, que resulta em crime passional.•Quem? Misael e Maria Elvira.•Como? O envolvimento inconseqüente de um homem de 63 anos com uma prostituta.•Onde? Lapa, Estácio, Rocha,Catete e vários outros lugares.•Quando? Duração do relacionamento: três anos.•Por quê? Promiscuidade de Maria Elvira.

Quanto à estrutura narrativa convencional, acompanhe a seqüência de ações que compõem o enredo:

•Exposição: a união de Misael, 63 anos, funcionário público, a Maria Elvira, prostituta;•Composição: a infidelidade de Maria Elvira obriga Misael a buscar nova moradia para o casal;•Clímax: as sucessivas mudanças de residência, provocadas pelo comportamento desregrado de Maria Elvira, acarretam o descontrole emocional de Misael;•Desfecho: a polícia encontra Maria Elvira assassinada com seis tiros.

Personagem

Personagem é uma palavra feminina que deriva do grego persona (máscara). Modernamente, já se convencionou o emprego da palavra nos dois gêneros, tanto para se referir a seres humanos, seres animados ou antes personificados.Literariamente, pode­se definir a personagem como a pessoa ou ser personificado ou animado que figura na história e nela se envolve ativa ou passivamente. Criada no espectro infinito da imaginação, a personagem assume o perfil físico e psicológico único que só a individualidade de cada autor permite.Dessa forma, uma personagem revela­se através de dados e aspectos definidos pelo autor, que a dota de características éticas, sociais, ideológicos, políticas, profissionais, etárias e até fantásticas.Sendo assim, uma personagem pode ser definida 

psicologicamente:

A mulher do coronel era o tipo de mãe de família. Tinha quarenta anos e ainda na fronte, embora secas, as rosas da mocidade. Era uma mistura de austeridade e meiguice, de extrema bondade e de extrema rigidez. Gostava muito de conversar e rir, e tinha a particularidade de amar a discussão, exceto em dois pontos que para ele estavam acima das controvérsias humanas: a religião e o marido. A sua melhor esperança, afirmava, seria morrer nos braços de ambos. (Machado de Assis)

ou fisicamente:

Magro, meão na altura, dum moreno doentio abria admiravelmente os olhos molhados de tristeza e calmos como um bálsamo. Barba dura sem trato. Os lábios emoldurados no crespo dos cabelos moviam como se rezassem. O ombro direito mais baixo que o outro parecia suportar forte peso e quem lhe visse as costas das mãos notara duas cicatrizes como feitas por bala. Fraque escuro, bastante velho. Chapéu gasto, de um negro oscilante. (Mário de Andrade)

Em alguns casos, o narrador não revela as características psicológicas da personagem, mas procura traduzi­las através de suas ações e comportamento.Observe no seguinte texto como o autor apresenta sua personagem:

Está sempre a rir, sempre a cantar. Canta o dia inteiro, num tom arrastado, apregoando as revistas que vende. Pr aqui, por ali, vai, vem, corre, galopa, atravessa as ruas com uma rapidez de raio, persegue os veículos, desliza entre os automóveis como sombra. Parece invulnerável. (Graciliano Ramos)

Portanto, aparência, a gestualidade, o comportamento e as ações concorrem para esboçar personagens complexas (personalidade contraditória) e lineares (comportamento previsível). Essa classificação (complexas e lineares) abrange os tipos e caricaturas, as principais e secundárias, os protagonistas e antagonistas.

Personagem linear

E personagem linear define­se pela permanência e previsibilidade de sua conduta; seu caráter e suas atitudes mantêm­se inalteráveis ao longo da narrativa. Os heróis das narrativas folhetinescas (romances populares) costumam ser corajosos, sedutores, românticos. Apresentam caráter nobre, gestos solidários, redentores e justiceiros. Até os traços físicos correspondem à luminosidade de sua conduta: olhos ternos, beleza diáfana, viril. Sua ação heróica será tanto um ato de bravura física quanto um exercício habilidoso da razão ou a prática da nobreza de espírito. Já o vilão, em sua linearidade, apresenta em geral aparência repugnante: nariz adunco, olhar injetado, lábios finos, expressão glacial. O aspecto fisionômico do vilão confere com a vilania de seu comportamento: a hostilidade, as paixões vis, a velhacaria, o cinismo, a mentira, o oportunismo e outros aspectos negativos definem e seu mau­caráter. O Coringa, personagem do time Batmam, e Juliana, a serviçal de O Primo Basílio, de Eça de Queirós, tipificam o vilão que tem na hediondez o ponto de intersecção entre o físico e o psicológico.Assim, a personagem linear encerra um tipo facilmente identificável que permeia as produções da indústria cultural: histórias em quadrinhos (Mônica, Cascão), telenovelas, romances do gênero romântico, personagens de programas de humor etc.

Personagem complexa

A personagem complexa, por sua vez, é imprevisível em suas atitudes, pois seu comportamento é contraditório, osciliando entre ações edificantes e degeneradas, redentoras e infamantes, benevolentes e hostis, amorosas e odiosas, como o seres humanos. Assim, o caráter de personagem complexa mostra variações de humor e atitudes em suas ações e em sua interioridade psicológica.Mesmo surgida nos romances do século XIX, contemporaneamente a personagem complexa atravessa algumas produções da indústria cultural é o caso, por exemplo, de Charlie Brown, ora ingênuo, ora altivo; e Charles Chaplin representando Carlitos – debochado em Tempos Modernos, sentimental e altruísta em Luzes da Ribalta, pernóstico em O Grande Ditador ou humilde e resignado em O Garoto.

Tipo e Caricatura

Real ou fictícia, apresentando um conjunto de traços físicos e psicológicos que a definem em sua individualidade, a personagem pode também ser um tipo ou uma caricatura.

O tipo é uma figura singular, de características marcantes que, por suas peculiaridades comportamentais, universaliza­se e terniza­se. É o caso, Por exemplo, de D. Quixote, Romeu e Julieta e Conselheiro Acácio (O Primo Basílio). Há ainda tipos reconhecidamente populares: o bêbado, a fofoqueira, o malandro, o mascate, a beata, o chato e outros.

Era a comadre uma mulher baixa, excessivamente gorda, bonachona, ingênua ou tola até um certo ponto, e finória até outro; vivia do ofício de parteira, que adotada por curiosidade, e benzia de quebranto; todos a conheciam por muito beata e pela mais desabrida papa­missas da cidade. Era a folhinha mais exata de todas as festas que aqui se faziam(...) (Manuel Antônio de Almeida)

Quanto à caricatura, sua única qualidade ou tendência é dilatada ao extremo, provocando uma distorção propositada, a serviço da sátira ou do cômico.

O Dr. Lustosa

Era um homem baixo, de ombros estritos a caídos. Uma gordura mal distribuída acumulava­se notadamente nos quadris, na região sacrococcigiana, no ventre e nas bochechas. Quanto ao resto, dava a impressão dum tipo magro e frágil. Os braços, coxas e pernas eram finos; as mãos, miúdas e delicadas, como mãos de menino. Tinha a pele macilenta e pintalgada de cravos principalmente na testa, no nariz reluzente e no queixo, onde a barba azulava, mais cerrada. A cabeça parecia ter sido modelada com material de confeitaria, procurasse vingar­se dessa circunstância dando à sua obra traços de caricatura. No indicador da mão direita o desembargador trazia sempre o anel simbólico, com um grande rubi engastado. No inverno, quando fazia muito frio, usava­o por cima da luva. Sempre que queria dar relevo a um trecho da conversação, riscava o ar com dedo do anel, sublinhado assim as palavras com um traço vermelho e chispante. (Érico Veríssimo)

Personagens não­humanas

Segundo Massaud Moisés, “a própria etimologia do vocábulo personagem assinala um restrição semântica que merece registro: animais não podem ser personagens, menos ainda os seres inanimados de qualquer espécie. Quando comparecem no universo ficcional, os animais tendem a ser meras projeções (como no caso de Quincas Borba), ou denotam qualidades superiores à sua condição, uma espécie de “inteligência humana (como a Baleia, de Vidas Secas), ou servem de motivo para a ação (como em Moby Dick). Os apólogos ou fábulas utilizam os animais como protagonistas, mas envolvem­nos de um simbólico que os subtrai do círculo zoológico inferior para alça­la ao perímetro urbano.” Como ilustração, lembramos a cachorra baleia:

Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lembraria as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás gordos, enormes.”(Graciliano Ramos)

Quando o protagonista é um ser inanimado (num apólogo) ou um animal (numa fábula), temos um antropomorfização. O protagonista se reveste de traços humanos, sobretudo quanto à inteligência e ao caráter: é a agulha altiva em “Um Apólogo”, de Machado de Assis, é a raposa ardilosa na fábula “A raposa e as uvas”, de Esopo.A antropomortização é obtida através do uso da prosopopéia. (Ver figuras de pensamento). Esse recurso expressivo, utilizado com mais freqüência nos textos descritivos, é expediente comum nos apólogos e nas fábulas. A prosopopéia consiste na atribuição de características humans a seres não­humanos (personificação) ou de características animais a seres inanimados (animização).No universo literário, podemos encontrar também personagens coletivas, figurativizadas ou não (é o caso de Vasco da Gama, em Os Lusíadas, metaforizando o heroísmo e o espírito de conquista do povo português). Já no romance O Cortiço, o próprio cortiço e o sobrado que moradias, personificam o antagonismo de classes.

Principais e Secundárias

As personagens, quanto à sua atuação no enredo, podem ser classificadas como principais ou secundárias. A personagem principal é aquela que produz os fatos, trama os acontecimentos, ou é o móvel da maioria das ações. São as personagens secundárias que dão suporte à história, tecendo pequenas ações em torno das personagens principais.

Protagonistas e antagonistas

Outra classificação possível, que geralmente atinge as personagens principais, é a oposição entre protagonista e antagonista. O primeiro deseja algo que ao segundo cabe impedir, dificultar, cobiçar, destruir, desejar etc. O antagonista nem sempre é uma pessoa; pode ser um objeto, um animal, uma situação financeira, cultural, social (pobreza, instrução, trabalho), um problema físico ou ainda uma peculiaridade psicológica, que dificulta o acesso àquilo que o protagonista deseja.

Enredo 

O enredo ou trama corresponde à maneira como a história se desenrola, aos “arranjos” narrativos que cercam as personagens, e às situações que as envolvem. Essa articulação pode revelar o núcleo temático da matéria narrada, seja ela real ou ficcional; assim, falamos em enredo cujas temáticas podem ser conflitos passionais, casos de mistério ou terror, dramas sociais, experiências existenciais, ficção científica etc. Esse enovelamento de ações a que chamamos enredo abrange as etapas já explicadas na estrutura narrativa: exposição, desenvolvimento (complicação – ponto de tensão – e clímax – ponto de maior tensão) e desfecho.O texto narrativo resulta, portanto, de duas articulações: a história (seqüência de fatos) e o enredo (organização dos fatos). Dessa forma, o enredo é a maneira como o narrador organiza os dados que a história oferece.Observe como na contextualização de Domingo no Parque, de Gilberto Gil, os arranjos formais – versificação, rima, estrofe e refrão – e a 

organização dos fatos, articulando personagens, tempo, espaço e ação, proporcionam dimensão e expressividade a um episódio que seria, como notícia de jornal, apenas corriqueiro.

Domingo no Parque(Gilberto Gil)

Exposição: identificação das personagens

O rei da brincadeira – ê JoséO rei da confusão – ê JoãoUm trabalhava na feira – ê JoséOutro na construção – ê João

Desenvolvimento: encadeamento de ações

A semana passada, no fim da semana,João resolveu não brigar.No domingo de tarde saiu apressadoE não foi pra ribeira jogarCapoeira pra lá, pra ribeira,Foi namorar.O José como sempre, no fim da semanaGuardou a barraca e sumiu.Foi fazer, no domingo, um passeio no parque,Lá perto da boca do rio.Foi no parque que ele avistouJuliana,Foi que ele viuJuliana na roda com João,Uma rosa e um sorvete na mão.Juliana, seu sonho, uma ilusão,Juliana e o amigo João.

Complicação: ponto de tensão

O espinho da rosa feriu ZéE o sorvete gelou seu coração.O sorvete e a rosa – ê JoséA rosa e o sorvete – ê JoséOi dançando no peito – ê JoséDo José brincalhão – ê JoséO sorvete e a rosa – ê JoséA rosa e o sorvete – ê JoséOi girando na mente – ê JoséDo José brincalhão – ê José

Juliana girando – oi girandoOi a roda gigante – oi girandoOi na roda gigante – oi girandoO amigo João – oi JoãoO sorvete é morango – é vermelhoOi girando e a rosa – é vermelha Oi girando, girando – é vermelha

Clímax: ponto de maior tensão

Oi girando, girando – olha a facaOlha o sangue na mão – ê JoséJuliana no chão – ê José 

Outro caído – ê José Seu amigo João – ê José

Desfecho

Amanhã não tem feira – ê JoséNão tem mais construção – ê JoãoNão tem mais brincadeira – ê José Não tem confusão – ê João.

Segundo Fred de Góes (Literatura Comentada), “existe texto se caracteriza por sua construção cinematográfica em que, após situar as personagens e descrever o cenário onde a ação se desenrolará, o compositor possa a narrar os fatos, empregando a técnica de montagem em pequenos flashes. Além de letra e melodia, o compositor junta ruídos, palavras e gritos sincronizados às cenas descritivas, evocando realistaticamente um parque de diversões”.Para que o enredo tenha unidade, os fatos devem estar inter­relacionados, de tal modo que uns sejam a conseqüência ou efeito dos outros.

Assim como são muitas as possibilidades de se desenvolver uma narrativa, muitas são as teorias literárias para analisá­las, sobretudo nos romances. Estudiosos como Wolfgang Kayser, Vitor de Aguiar e Silva, Temístocles Linhares, Gerard Genette e Gerg Luckás são alguns dos nomes que elaboram teorias sobre a narrativa romanesca.

Também a Semiótica estuda as estruturas narrativas, segundo as idéias de ª J. Greimas, Roland Barthes e outros. Semiótica é a ciência da significação, cujo objeto de estudo são os códigos verbais e não­verbais, como os gestos, a música, a pintura, o cinema etc, e as produções discursivas que lhes correspondem. O interesse da Semiótica compreende a análise da linguagem e da ideologia nos mais diversos discursos.

Dessa forma, o enredo, numa interpretação semiótica, constrói­se num percurso temporal onde se destacam invariantes que determinam a fórmula canônica da narração: um sujeito (personagem) num de disjunção, isto é, apartado de seu objeto­valor (uma paixão, um bem material, um desejo), tentando chegar a um estado de conjunção, obtendo o objeto­valor pretendido. As variantes narrativas ficam por conta de uma sucessão de funções que enredam o sujeito na trajetória em busca de seu objeto­valor, numa evolução marcada pelas lógicas temporal e causal: a primeira resulta de uma conologia, é a sucessão de ações no tempo; a segunda é uma relação de causa e conseqüência – uma ação antecedente provoca uma conseqüente.

Assim, o enredo, interpretado semioticamente, surge de um recurso narrativo no qual se entretecem elementos mínimos invariantes (um sujeito e seu objeto­valor). Além dessas variantes, que nos dão a fórmula convencional da narrativa, ressaltamos outros elementos:

•manipulação: uma personagem manipulada outra para induzi­la a um fazer (projeto do fazer), envolvendo um querer;•competência: um saber ou um poder permite executar o projeto do fazer;•performance: a personagem executa o projeto do fazer;•sanção: conforme a ação executada, o sujeito do fazer é punido ou recompensado.Uma análise subordinada às interpretações semióticas consta do apêndice, ilustrando o percurso narrativo do texto machadiano “Conto de Escola”.

Tempo

Há duas maneiras de lidar com o tempo em uma narração: cronologicamente ou psicologicamente.

Tempo cronológico

O tempo cronológico é o tempo em que se desenrola a ação. Indica­se, conforme o caso, dia, mês, ano, hora, minuto, segundo, década, século etc. Não é preciso menciona­los sempre, mas deve­se dar a entender ao leitor o tempo de duração da história, utilizando­se de expressões como: alguns minutos, instantes, no dia seguinte, algum tempo depois, passaram­se meses, anos ou dias etc.

O ano era de 1840. Naquele dia – uma segunda­feira do mês de maio – deixei­me estar alguns instantes na Rua da Princesa. (Machado de Assis)

O escritor monta o tempo narrativo distribuindo­o de tal forma que seja aceito pelo leitor:

No dia seguinte, estava Rubião ansioso por ter o pé de si o recente amigo da estrada de ferro, e determinou ir a Santa Teresa, à tarde; mais foi o próprio Palha que o procurou logo de manhã...(Machado de Assis)

Seja em saltos abruptos (milênios, séculos, décadas), ou em períodos curtos (no mesmo dia, em uma semana), mantém­se a sucessão temporal. Um recurso possível para alterar a linha temporal é antecipar um fato futuro (Quando pequeno gostava de lidar com animais sem imaginar que um dia seria veterinário) ou regredir, em flashbak, para um passado a ser relatado (Lembrou­se de quando a conheceu. Há trinta anos, numa manhã chuvosa, viu­a num ponto de ônibus e resolveu...).

Tempo psicológico

O tempo psicológico, que não é material nem mensurável, flui na mente das personagens. Nesse caso, transmite­se a sensação experimentada durante o tempo em que o fato ocorreu: a personagem pode ter passado por situações que pareceram extremamente longas, mas que, na realidade, duraram apenas alguns minutos.O tempo psicológico é produto de uma experiência interior, não mensurável mecanicamente, mas subjetivamente. Traduz­se com palavras a duração de um acontecimento,através da intensidade emocional que o acompanha.

O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido; não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar­me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível (Graciliano Ramos)

Partículas temporais

As partículas denotadoras de tempo mais importantes são as conjunções e locuções conjuntivas, que exprimem:

•tempo anterior: antes que;•tempo posterior: depois que, assim que;•tempo imediatamente posterior: logo que, mal, apenas;•tempo simultâneo ou concomitante: quando, enquanto;•tempo inicial (tempo a partir do qual se inicia a ação): desde que, desde quando;•tempo em que termina a ação iniciada no passado e prolongada até o momento em que se fala: agora que, hoje que, a última vez que;•ações reiteradas ou habituais: cada vez que; toda vez que, sempre que.

A algumas dessas locuções conjuntivas agregam­se com freqüência partículas ou advérbios de valor intensivo: pouco antes que, muito antes que, imediatamente depois que etc.

O pronome relativo entra em vários conglomerados de sentido temporal: depois do que, durante o tempo em que, até o dia (hora, momento) em que, no instante em que etc.

Vocabulário da área semântica de tempo.

Simultaneidade: durante, enquanto, ao mesmo tempo, simultaneamente, coincidentemente, ao passo que, à medida que...Antecipação: antes, primeiro, antecipadamente, véspera...Posteridade: depois, posteriormente, a seguir, em seguida, sucessivamente, por fim, mais tarde...Intervalo: meio tempo, ínterim...Tempo presente: atualmente, agora, já neste instante, o dia de hoje, modernamente...Tempo futuro: amanhã, futuramente, em breve, dentro em pouco, proximamente, iminente, prestes ª..Tempo passado: tempos idos, outros tempos, outrora, antigamente...Freqüência: constantemente, habitualmente, costumeiramente, usualmente, corrinqueiramente, repetidamente, tradicionalmente, amiúda, com freqüência, muitas vezes...Infreqüência: raras vezes, raramente, raro, poucas vezes, nem sempre, ocasionalmente, esporadicamente, de quando em quando, de vez em quando, de tempos em tempos...A sucessão temporal para o encadeamento das ações, conferindo um caráter dinâmico à narração.

Espaço

Sejam as seguintes expressões: num certo lugar, distante daquele local, numa casa (rua ou país), temos determinados do espaço e, para caracteriza­lo, são empregados recursos descritivos que recuperam a percepção objetiva (dos cinco sentidos) e as impressões subjetivas (psicológicas).

Se a cobertura descritiva desvela integralmente o objeto, pessoa, cena ou paisagem, temos a fidelidade fotográfica que permite ao leitor “visualizar” o espaço descritivo. Quando a descrição apenas sugere traços (objetivos e subjetivos) dos elementos, o leitor é instigado a completar a imagem com a criatividade e a fecundidade de sua imaginação.

Cenário funcional e decorativo

O canário no qual as personagens se movimentam e integram pode ser decorativo ou funcional. Quando decorativo, o espaço é lugar de referência, apenas situando onde acontece o fato, fazendo sobressair quem dele participa.

As pausas descritivas podem precisar ou reter o curso narrativo, promovendo o afrouxamento da narrativa ou irrompendo a força imaginativa do leitor.

Enquanto o cenário funcionar detalha para a ação, o decorativo detalha para a inércia contemplativa. Se o aparato descritivo for subtraído de um texto, pode reduzi­lo a um relato sem fecundidade, sem virtuosismo.

Na estética do Romantismo, a especialidade é explorada em detalhes, correspondendo ao gosto da época em que floresceu sua literatura. Quando o cenário é a natureza, o descritivismo reflete os estados interiores do “eu”. A descrição romântica é, sobretudo, um recurso decorativo.

Já o espaço funcional é determinante da história, antecipando a ação ou enquadrando o lugar em que se desenrolará um episódio um episódio. No Realismo, o cenário físico age as personagens, conforme os ideários que orientavam as produções literárias da época. Assim, textos de Machado de Assis, Euclides da Cunha, Aluísio Azevedo ou Eça de Queiroz inserem seus personagens num espaço fundamental.

No Realismo, o meio (definido descritivamente) interfere no comportamento psicológico e social das personagens, confirmado a teoria determinista de que o homem é produto do meio.

A descrição, quando funcional, como no Realismo, é sempre uma relação decifradora de traços e acontecimentos entre o homem e o mundo exterior.

Na descrição realista, o empenho documental recria a realidade. Nenhum detalhe é desprovido de interesse, ganhando destaque através das impressões sensoriais.

Assim, pode­se aprender o mundo com olhos realistas ou com pulsações românticas, caracterizando lugares, personagens, o espaço e a ação.Compare agora as descrições de ambiente romântico e realista, respectivamente:

Havia à Rua do Hospício, próximo ao campo, uma casa que desapareceu com as últimas reconstruções.Tinha três janelas de peitoril na frente; duas pertenciam à sala de visitas; a outra a um gabinete contíguo.O aspecto da casa revelava, bem como seu interior, a pobreza da habitação.A mobília da sala consistia em sofá, seis cadeiras e dois consolos de jacarandá, que já não conservavam o menor vestígio de verniz. O papel da parede de branco passara a amarela e percebia­se que em alguns pontos já havia sofrido hábeis remendos.O gabinete oferecia a mesma aparência. O papel que fora primitivamente azul tomara a cor de folha seca.Havia no aposento uma cômoda de cedro que também servia de toucador, um armário de vinhático, uma mesa de escrever, e finalmente a marquesa, de ferro, com o lavatório, e vestida de mosquiteiro verde.Tudo isto, se tinha o mesmo ar de velhice dos móveis da sala, era como aqueles cuidadosamente limpo e espanejado, respirando o mais escrupuloso asseio. Não se via uma teia de aranha na parede, nem sinal de poeira nos trastes. O soalho mostrava aqui e ali fendas na madeira; mas uma nódoa sequer não manchava as tábuas areadas.” (José de Alencar)

Era a sala geral do estudo, á beira do pátio central, uma peça incomensurável, muito mais extensa do que larga. De uma das extremidades, quem não tivesse extraordinária vista custaria a reconhecer outra pessoa na extremidade exposta. A um lado, encarreiravam­se quatro ordens de carteiras de pau envernizado e os bancos. À parede, em frente, perfilavam­se grandes armários de portas numeradas, correspondentes a compartimentos fundos; depósito de livros.Livros é o que menos se guardava em muitos compartimentos. O dono pregava um cadeado à portinha e formava um interior à vontade. Uns, os futuros sportmen, criavam ratinhos cuidadosamente desdentados a tesoura, que se atrelavam a pequenos carros de papelão; outros, os políticos futuros, criavam camaleões e lagartixas, declarando­ se­lhes precoce a propensão pelo viver de rastos e pela cambiante das peles; outros, entomologistas, enchiam de casulos dormentes a estante e vinham espiar a eflorescência das borboletas; os colecionadores, Ladislaus Netos um dia, fingiam museus minerológicos, museus botânicos, onde abundavam as delicadas rendas secas de filamentos das folhas descarnadas; outros davam­se à zoologia e tinham caveiras de passarinhos, ovos vazados, cobras em canhaça. Um destes últimos sofreu uma decepção. Guardava preciosamente o crânio de não sei que fenomenal quadrúpede encontrado em escravações de uma horta, quando verificou­se que era uma carcaça de galinha! (Raul Pompéia)

Espaço físico e social

Pode­se também descriminar os espaços físico e social. No físico os domínios da natureza. Lembramos na literatura romântica os espaços nostálgicos, sacralizados ou devoradores: a primavera eterna, as torrentes avassaladoras, os penhascos sombrios, as matas virgens, os sertões ernos. No social, estão os limites culturais, como nos romances urbanos: as sociedades dos salões, dos saraus, dos teatros, além de cortiços, vendas, feiras, ambientes espúrios, enfim a pobreza citadina.

Observe no fragmento romântico abaixo, o arrebatamento descritivo de um espaço físico – um cenário da natureza:

Enquanto uma canoa deslizava misteriosamente, levando Ceci e Peri, o castelo senhorial de D. Antônio de Maria esturgia nos ares, destruído pelo paiol de pólvora incendiado. Da nobre e opulenta mansão restava apenas um noturno e uma tristíssima lenbrança. Sobreviviam somente Cecília, o índio e D. Diego. A água do rio subiu espantosa e repentinamente. Os dois, Ceci e Peri, acolheram­se ao topo de uma palmeira. E a inundação aumenta numa catástrofe assustadora. O índio arranca a palmeira da terra.E a palmeira, arrastada pela corrente impetuosa do Paraíba, seguia o destino das águas. Seguia rapidamente...até sumir­se no horizonte.(José de Alencar)

Atente para a descrição de um espaço social em um canto atual:

O prédio, de ordinário, é velho, imundo, e em suas paredes sobram suores, tensões, histórias. À entrada ficam tipos magros que vagabundeiam, esbranquiçadas ou encardidos, mexendo a prosa macia que verifica pernas que passam, discute jogo e conta casos, com as falas coloridas de uma gíria própria, tão dissimulada quando a dos bicheiros, dos camelôs ou dos turistas. A entrada é de um bar comum, comum. Como os outros. Mas este é um fecha­nunca, olho aceso dia e noite, noite e dia. Mantém pipoqueiro, engraxataria, banca de jornais. E movimento. Adiante é que estão o balcão das bebidas, o salão do barbeiro, a manicure, talvez até a prateleira de frutas. Depois, as cortinas verdes, , em todo o rigor do estilo, ou, mais simplesmente, a porta de vaivém. E, a um passo, se cai na boca do inferno, chamada salão, campo, casa, bigorna, gramado. O nome mais usual e descolorido é salão de bilhar. É lá que se ouve, logo à entradinha, uma fala macia enfeitada de um gesto de mão, um chamamento e uma ginga de corpo, como uma suave, matreira e desbochada declaração de guerra:_ Olá, meu parceirinho! Está a jogo ou a passeio?(João Antônio)

Foco narrativo

Contar (ato de narrar) ou como contar ( o estilo pessoal) implica uma determinada posição do narrador com relação ao acontecimento. Assim, o narrador pode assumir três pontos de vista na narrativa:

Narrador participante

O narrador participante é uma das personagens, principal ou secundária,. De sua história. Ele está “dentro” e “vê” os acontecimentos de dentro para fora. Nesse caso, a narrativa, elaborada em 1ª pessoa (eu – nós), tende a ser autobiográfica, memorialista ou confessional.Lembre­se: não se confunde autor com narrador. O autor tem existência real, é uma pessoa que existe fisicamente. O narrador é uma personagem criada pelo autor para contar a história.

Coloquei­me acima de minha classe, creio que me eleveibastante. Como lhes disse, fui guia de cego, vendedor de docese trabalhador de aluguel. Estou convencido de quem nenhumdesses ofícios me daria os recursos intelectuais necessários paraengenhar esta narrativa. (Graciliano Ramos)

Narrador observador

O narrador observador simplesmente relata os fatos, registrando as ações e as falas das personagens; ele conta como mero espectador, uma história vivida por terceiros. É a narrativa escrita em 3ª pessoa (ele, ela, eles, elas).

Os campos, segundo o costume, acabava de descer do almoço e, a pena atrás da orelha, p lenço por dentro do colarinho, dispunha­se a prosseguir o trabalho interrompido poucos antes. Entrou no escritório e foi sentar­se à secretária>”(Aluísio Azevedo)

Narrador onisciente

O narrador onisciente ou onipresente é uma espécie de testemunha invisível de tudo quanto ocorre, em todos os lugares e em todos os momentos; ele não só se preocupa em dizer o que as personagens fazem ou falam, mas também traduz o que pensam e sentem. Portanto, ele tenta passar para o leitor as emoções, os pensamentos e os sentimentos das personagens.

Um segundo depois, muito suave ainda, o pensamento ficou levemente mais intenso, quase tentador: não dê, elas são suas.Laura espantou­se um pouco: por que as coisas nunca eram dela?”(Clarice Lispector)

Discurso narrativo

Na comparação de um texto narrativo, o narrador pode reproduzir a fala da personagem, empregando as seguintes possibilidades direto, discurso indireto, discurso indireto livre.No discurso direto, o narrador reproduz na íntegra a fala das personagens ou interlocutores. Geralmente, essa fala é introduzida por travessão.­ Mete a mão no bolso. Não te falta nada? – perguntou Honório.­ Falta­me a carteira. Sabes se alguém a achou? – indagou Gustavo­ Achei­a eu – respondeu Honório. (Machado de Assis)

Discurso direto

No discurso direto, indica­se o interlocutor e caracteriza­se=lhe a fala por meio de verbos dicendi: dizer, exclamar, suspirar, explicar, perguntar, responder, replicar etc;Nem sempre o autor indica de quem são as falas, já que elas se esclarecem dentro do contexto. O exemplo ilustra essa possibilidade:

O Paranóico só fala no telefone tapando o bocal com um lenço. Para disfarçar a voz.­ Podem estar gravando.­ Mas você ligou para saber a hora certa!­ Nunca se sabe. (Luís Fernando Veríssimo)

O diálogo acelera a narrativa, levando o leitor a entrar em contato direto com as personagens. O narrador apenas dá indicações sobre quem fala. Além de imprimir mais dinamicidade e realismo à narração, o diálogo presentifica a história. Os traços lingüística do discurso revelam a identidade cultural e social da personagem e, ao mesmo tempo, oferecem elementos para sua caracterização psicológica.

Segundo Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova gramática do português contemporâneo), “no plano expressivo, a força da narração em discurso direto provém essencialmente de sua capacidade de atualizar o episódio, fazendo emergir da situação a personagem, tornando­a para o ouvinte, à maneira de uma cena teatral, em que o narrador desempenha a mera função de indicador das falas. Estas, na reprodução direta, ganham na naturalidade e vivacidade, enriquecidos por elementos lingüísticos tais como exclamações, interrogações, interjeições, vocativos e imperativos, que costumam impregnar de emotividade a expressão oral”.Observe o efeito dos diálogos na pequena narração abaixo:

Namorados

O rapaz chegou­se para junto da moça e disse:­ Antônia, ainda não me acostumei com seu corpo, com a sua cara.A moça olhou e esperou.­ Você não sabe quando a gente é criança e de repente vêuma lagarta listada?A moça se lembrava:­ A gente fica olhando...A meninice brincou de novo nos olhos dela.O rapaz prosseguiu com muita doçura:­ Antônia, você parece uma lagarta listada.A moça arregalou os olhos, fez exclamações.O rapaz concluiu:­ Antônia, você é engraçada! Você parece louca. (Manuel Bandeira)

Ao utilizar o discurso direto – diálogos (com ou sem travessão) entre as personagens ­, pode­se, quando à pontuação, optar por um dos três estilos abaixo:

Estilo 1

­ Que tal o carro? – perguntou João.­ Horroroso! – respondeu Antônio.

Estilo 2 

João perguntou: “Que tal o carro?”Antônio respondeu: “Horroroso!”

Estilo 3

­ Estou vendo que você adorou o carro, disse infusivamente João­ Você está redondamente enganado, retrucou Antônio.­ Observação: O estilo 3 só deve ser utilizado em caso de oração afirmativa.

Discurso indireto

No discurso indireto, o narrador exprime indiretamente a fala da personagem. O narrador funciona como testemunha auditiva e passa para o leitor o que ouviu da personagem. Nessa transcrição, o verbo aparece na 3ª pessoa, sendo imprescindível a p0resença de verbos dicendi (dizer, responder, retrucar, replicar, perguntar, pedir, exclamar, contestar, concordar, ordenar, gritar, indicar, declarar, afirmar, mandar etc), seguidos dos conectivos que (dicendi afirmativo) ou se (dicendi interrogativo) para introduzirem a fala da personagem na voz do narrador.

Observe nos exemplos abaixo os discursos indiretos grifados:

“Ele começou, então, a contar que tivera um sonho estranho”.“Todos se calaram para ouvi­lo e ele, muito sério, perguntou qual era o assunto. Informado, prosseguiu dizendo que estava profundamente interessado em colaborar”.“João perguntou se ele estava interessado nas aulas”.

Na narração, para reconstruir a fala da personagem, utiliza­se a estrutura de um discurso direto ou de um discurso indireto. O domínio dessas estruturas é importante tanto para se empregar corretamente os tipos de discurso na redação escolar, como para exercitar a transformação desses discursos exigida em alguns exames vestibulares.

Na passagem do discurso direto para o indireto, cabem as seguintes observações quanto à construção da frase:

Discurso direto

• PresenteA enfermeira afirmou:­É uma menina

• Futuro do presentePedindo gritou:­ Não sairei do carro.

• Pretérito perfeito­ Já esperei demais, retrucou com indignação.

•ImperativoOlhou­a e disse secamente:­ Deixe­me em paz.

• Primeira ou segunda pessoaMaria disse:­ Não quero sair com Roberto

• Demonstrativo este ou esseRetirou o livro da estante e acrescentou:

­ Este é o melhor

∙ Vocativo­ Você quer café, João? Perguntou a prima

• Forma interrogativa ou imperativaAbriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa:­ E o amarelo?

Discurso indireto

∙ Pretérito imperfeitoA enfermeira afirmou que era uma menina. 

∙ Futuro do pretéritoPedrinho gritou que não sairia do carro.

∙ Pretérito mais­que­perfeitoRetrucou com indignação que já esperara (ou tinha esperado) demais.

∙ Pretérito imperfeito do subjuntivoOlhou­a e disse secamente que ela o deixasse em paz.

∙ Terceira pessoaMaria disse que não queria sair com Roberto.

∙ Demonstrativo aqueleRetirou o livro da estante e acrescentou que aquele era o melhor.

∙ Objeto indireto na oração principalA prima perguntou a João se ele queria café.

∙ Forma declarativaAbriu o estojo, contou os lápis e depois perguntou ansiosa pele amarelo.

Discurso indireto livre

Resultante de mistura dos discursos direto e indireto, existe uma terceira modalidade de técnica narrativa, o chamado discurso indireto livre, processo de grande efeito estilístico. É uma espécie de monólogo interior das personagens, mas expresso pelo narrador. Este interrompe a narrativa para registrar e inserir reflexões ou pensamentos das personagens, com as quais passa a confundir­se.As orações do discurso indireto livre são, em regra, independentes, sem verbos dicendi, sem pontuação que marque a passagem da fala do narrador para a fala do personagem, mas com transposições do tempo do verbo (pretérito imperfeito) e dos pronomes (3ª pessoa). O foco narrativo deve ser de 3ª pessoa. Esse discurso é muito empregado na narrativa moderna, pela fluência e ritmo que confere ao texto.

Deu um passo para a catingueira. Se ele gritasse “Desafasta”, que faria a polícia? Não se afastaria, ficaria colado ao pé de pau .Uma lazeira, a gente podia xingar a mãe dele. Mas então...Fabiano estirava o beiço e rosnava. Aquela coisa arriada e achacada metia as pessoas na cadeia, dava­lhes surra. Não entendia. Se fosse uma criatura de saúde e muque, estava certo.Enfim, apanhar do governo não é desfeita, e Fabiano até sentia orgulho ao recordar­se da aventura. Mas aquilo...Soltou uns grunhidos. Por que motivo o governo aproveitava gente assim?Só se ele tinha receio de empregar tipos direitos. Aquela cambada só servia para morder as pessoas inofensivas. Ele, Fabiano, seria tão ruim se andasse fardado? Iria pisar os pés dos trabalhadores e dar pancadas neles? Não iria.(Graciliano Ramos)

Discurso do narrador

Há também o discurso em que o narrador registra a ação das personagens, além de comentar, analisar, inferir, interpretar e relacionar fatos da história. É o discurso do narrador.

De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira.Abaixar­se, apanha­la e guarda­la foi obra de alguns instantes.Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja...(Machado de Assis)

Resumindo

Foco narrativo ou ponto de vista do narrador

• Narrador personagem ou participante: foco narrativo em 1ª pessoa.• Narrador observador: foco narrativo em 3ª pessoa.• Narrador onisciente: foco narrativo em 3ª pessoa.

Tipos de discurso

• direto (diálogo) : o narrador reproduz textualmente a fala da personagem.• indireto: o narrador conta o que a personagem fala.• indireto livre: a fala da personagem funde­se com a fala do narador.• do narrador: o narrador conta a história e tece comentários sobre personagens e acontecimentos.

As variantes da narração

O romance, o como, a novela, o apólogo, a fábula e a crônica são modalidades narrativas consagradas pela literatura. Sobre a crônica, lembramos que, de sua gênese o jornalismo, com Machado de Assis e contemporaneamente em Rubem Braga, Fernando Sabino e outros, ela passou à complicação literária.Temos ainda como narrativas as histórias em quadrinhos (com ou sem legendas), os poemas épicos, os poemas ou letras de música que falam de um acontecimento, as piadas (ilustradas, legendadas ou sem palavras) e ainda as notícias de jornal que contam um fato.

a) A piada

Durante um forte vendável, o policial vê uma velha senhora parada numa esquina, segurando seu chapéu com todas as forças, enquanto o vento levantava seu vestido e revelava toda a sua intimidade. Por isso, o policial foi até lá e fez o alerta:­ A senhora fica segurando o chapéu em vez de segurar o vestido... Agora todos ficam olhando tudo o que a senhora tem aí.­ Escute, rapaz. O que eles estão vendo tem 80 anos. Mas esse chapéu aqui é novinho em folha.

• • •

Aula de Português. A professora pergunta para Zequinha:­ “A mulher comprou”. Que tempo é esse?­ Passado, professora.­ Está certo. Agora mais uma pergunta para você tirar nota 10. Se eu digo: “Seu pai tem dinheiro”, que tempo é esse?­ A primeira semana do mês.

A piada também é uma forma de narração. Apóia­se numa seqüência de ações cujo desfecho é sempre cômico. É freqüente encontramos, nesse tipo de narrativa, personagens estereotipadas (o português simplório, o papagaio malicioso, a criança ingênua, a sogra implicante) e trocadilhos. 

b) Notícia de jornal 

Foi pescar e foi pescado

No último domingo, sob a acusação de ter tentado furtar dinheiro da Igreja Nossa Senhora do Brasil, no Jardim América, foi detido e encaminhado ao 15º Distrito o meliante Gorgônio Pancrácio Porciúncula, de 68 anos, que alegou estar fazendo uma oferenda àquela instituição pia. Segundo os fiéis, o sexagenário, aparentemente embriagado, tentava pescar o dízimo arrecadado durante a missa, usando um arame para retira­lo do cofre.

Observe que o texto modelo inicia­se com uma breve exposição do fato (a tentativa de roubo), seguido da conseqüência para o acusado (a detenção). Os aspectos descritivos compreendem as características pessoais do envolvido. A tática para consumar a ação (a pesca do dinheiro) conclui a notícia. Esses mesmos dados poderiam ser apresentados ao leitor em qualquer seqüência. 

c) A História em quadrinhos

A imagem é recurso expressivo fundamental da história em quadrinhos. Utilizando as palavras ou prescindindo delas, encerra um gênero narrativo dos mais populares. Seja em revista ou tiras de jornal, produzir humor é sua finalidade. Na seqüência acima, a comicidade surge em apenas três quadros.

d) O Cartum

No único quadro, o Cartum resume um processo narrativo em que a seqüência temporal, antes (as pedras sendo oferecidas pelo mordomo ao menino) e depois (a quebra dos lustres), é captada em conjunto. A comicidade resulta do clima solene e dos requintes da modelagem do menino rico: a formalidade dos mordomos, as pedras na bandeja, o poste particular, a roupa sóbria do garoto e a mansão ao fundo caracterizam uma visão excêntrica da infância milionária.

e) O Poema 

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira­livre e morava no morro da Babilônia, num barracão sem númeroUma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro.BebeuCantouDançouDepois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.(Manuel Bandeira)

A versatilidade da narração, quando se expande para o verso, adquire foros de poesia. Nesse texto, a forma poética (a disposição vertical) ajusta­se a uma concisão narrativa que reduz ao mínimo a informação os elementos que a caracterizam:

• personagem – João Gostoso;• tempo – Uma noite ele chegou (...) Depois atirou;• ação – chegou, bebeu, cantou, dançou, se atirou e morreu;• espaço – morro da Babilônia, barracão sem número, bar Vinte de Novembro, Lagoa Rodrigo de Freitas.

Assim, a referencialidade comum às notícias policiais é absorvida pelo poético, numa recriação do universo jornalístico pelo literário.Como é comum às narrativas, o texto apresenta clímax (os três verbos da ação) e desfecho (o fim trágico que chega inesperadamente).Nota­se que o apelido da personagem (João Gostoso) e a generalidade de seu endereço evidenciam o estereótipo do malandro pobre.

Acrobatismo

Parou o vento. Todas as árvoresquiseram ver o salto original.Entãoquedaram­se todascom os seus anéis azuis de orvalhoe os seus colares de ouro teatral,prestando muita atenção.

Foi como se um silêncio fofo de veludoComeçasse a passear seus pés de lã por tudo.Nisto uma folha sai, muito viva, de uma rama,e vai cair sem o menor rumorsobre o tapete da grama.

É um louva­a­deus lépido e longoque se jogou de um trapéziocomo um pequeno palhaço verdee lá se foi, a rodopiaràs cambalhotas

no ar.(Cassiano Ricardo)

Quando a temporalidade, a caracterização e o lirismo se reúnem, mediados pela criação de um poeta, o resultado é um poema narrativo­descritivo. É o que faz Cassiano Ricardo, valendo­se de sinestesias e prosopopéias (“como se um silêncio fofo de veludo/Começasse a passear seus pés de lã por tudo”).Ao narrar as seqüências do salto de um louva­a­deus e as características singelas desse flagrante, o poema aproxima o simples e o belo.

f) O Apólogo

Opostos

No meio de uma poesia, o ponto saltou na vírgula com intenção de namorar.Foi coisa bem passageira, dessas que ninguém liga, mas entre o ponto e a vírgula de pano pra manga da briga.A vírgula, toda prosa, pro papo continuar. O ponto queria descanso, ficar de papo pro ar.A vírgula esticava uma frase, lero­lero, coisa e tal, lá vinha o ponto correndo e botava um ponto final.Foi indo, a vírgula ficou nervosa. Falou do direito e do avesso, falou do fim pro começo, berrou e perdeu o senso.O ponto? Nem ligava pra ausência de consenso. Ponto é silêncio no texto. Imagine se muda de jeito!A vírgula, na mesma hora, resolveu ir embora numa frase de efeito.O ponto ficou zangado, achou de botar defeito: ­ Podes ir, tagarela – falou com voz amarela – Como és chata, criatura! Nem escritor te atura!A vírgula, atrevida, optou pela pirraça: toda hora requebra de graça em qualquer frase sentido. O ponto, quando ela passa, esquece de lado o passado, fica todo derretido.O poeta investiga as razões da eterna briga: os opostos se atraem, querem sempre se juntar. Não há sem franqueza, nem feiúra sem beleza e a sorte depende do azar.(Ciça Fitipaldi)

Trata­se de um apólogo, uma narrativa em que seres inanimados agem como personagens humanos. No caso, o ponto e a vírgula, entidades lingüísticas, assumem comportamento humano.O apólogo ilustra uma lição de sabedoria cuja moral é sempre expressa no desfecho: “os opostos se atraem, querem sempre se juntar. Não há força sem fraqueza, nem feiúra sem beleza e a sorte depende do azar”.O lirismo infantil, bem como as rimas internas (“A vírgula esticava uma frase, lero­lero, coisa e tal, lá vinha o ponto correndo e botava um ponto final”) configuram o texto como prosa poética..

g) A fábula

A barata e o rato

Era uma dessas baratinhas brancas e nojentas, acostumadas à só imundície e ao monturo, comendo calmamente sua refeição composta de um pedaço de batata podre e um pedaço de tomate podre (1). Chegou junto dela um Rato transmissor de peste bubônica e lhe disse: “Comadre, ontem tive uma aventura extraordinária. Estive num lugar realmente impressionante, como você, comadre, certo jamais encontrará em toda a sua vida”. Barata comendo”. O lugar era uma coisa que realmente me deixou de boca aberta” – prosseguiu o Rato – “tão espantoso e tão diferente é de tudo que tenho visto em minha vida rodeara” (2). Barata comendo. “Imagina você” – prosseguiu o Rato – “que descobri o lugar por acaso. Vou indo numa as cavidades subterrâneas por onde passeio sempre, entrando aqui e ali numa casa e noutra, quando, de repente, percebo uma galeria que não conheço. Meto­me nela, um pouco amedontrado por não saber onde vai dar e de repente saio numa cozinha inacreditável. O chão, limpo, que nem espelho! Os espelhos de um brilho de cegar! As panelas, polidas como você não pode imaginar! O fogão, que nem um brinco! As paredes, sem uma mancha! O teto, claro e branco como se tivesse sido acabado de pintar! Os armários, tão arrumados e cuidados que estavam até perfumados! Poeira em nenhuma parte, umidade inexistente, no chão nem um palito de fósforo...”E foi aí que a barata não se conteve. Levou a mão à boca num espasmo e protestou: “Que mania” Que horror! Sempre vem contar essas histórias exatamente no momento em que está comendo!”MORAL; PARA O VÍRUS A PENICILIANA É UMA DOENÇA.SUBMORAL; A ECOLOGIA É MUITO RELATIVA.(1) Causando inveja a muita gente.(1) O rato rói. É sua sina. (Millôr Fernandes)

As fábulas são narrações de caráter alegórico, destinadas a ilustrar um preceito.A simplicidade da linguagem incipiente (“que nem espelho”) articula o impressionável universo da fantasia alegorizado pela barata e pelo rato.As nações de higiene que se intensificam ao longo da narrativa ganham expressividade descritiva (“numa cozinha inacreditável (...), no chão nem um palito de fósforo”), para então atingir o desfecho numa completa inversão de valores humanos que a moral endossa.

No texto de Millôr Fernandes, a definição de fábula é renovada, já que o texto, reunindo non­sense e criatividade, apresenta, além da tradicional “moral da história”, uma submoral, ambas plenas de humor e originalidade.

h) A Música

O Velho Francisco

Já gozei de boa vidaTinha até meu bangalôCobertor, comidaRoupa lavadaVida veio e me levou

Fui eu mesmo alforriadoPela mão do ImperadorTive terra, aradoCavalo e bridaVida veio e me levou

Hoje é dia de visitaVem aí meu grande amorEla vem toda de brincoVem todo domingoTem cheiro de flor

Quem me vê, vê nem bagaçoDo que viu quem me enfrentouCampeão do mundoEm queda de braçoVida veio e me levou

Li jornal, bula e prefácioQue aprendi sem professorFreqüentei palácioSem fazer feioVida veio me levou

Hoje é dia de visitaVem aí meu grande amorEla vem toda de brincoVem todo domingoTem cheiro de flor

Eu gerei dezoito filhasMe tornei navegadorVice­rei das ilhasDa CaraíbaVida veio e me levou

Fechei negócio da ChinaDesbravei o interiorPossuí minaDe prata, jazidaVida veio e me levou

Hoje é dia de visitaVem aí meu grande amorHoje não deram almoço, né

Acho que o moço atéNem me lavou

Acho que fui deputadoAcho que tudo acabouQuase queJá não me lembro de nadaVida veio e me levou.(Chico Buarque)

Numa ambivalência que oscila entre o humano e o geográfico, o título “O Velho Francisco” pode ser interpretado em sua dualidade: o idoso e o rio.Nesse poema narrativo, manifesta­se em 1ª pessoa um idoso supostamente internado num asilo (“Hoje é dia de visita”) “Hoje não me deram almoço, né”) e a veneranda existência do Rio São Francisco (“Desbravei o interior/Possuí mina/De prata, jazida”).Tanto o idoso como o rio têm na memória um passado. Nas lembranças fragmentadas do Velho Francisco, a decrepitude supera a lucidez (“Vice­rei das ilhas/Da Caraíba”; “Acho que fui deputado”; “Já não me lembro de nada”). Há ainda um processo antitético: por parte do idoso, temos a longevidade esgotada (“Vida veio e me levou”): por parte do rio, a resistência e sobrevivência ao longo do tempo. Assim, tanto a vida quanto o rio fluem irreversivelmente do passado para o presente; observe os verbos.Cada estrofe do poema é um fragmento da memória do velho/rio, é o curso da memória que acompanha o curso do rio através do fluxo de consciência.A personificação do rio (configuração como um homem idoso) confunde­se com as características do São Francisco, na qualidade de navegável (“Me tornei navegador”) e na extensão, atravessando três Estados (“Desbravei o interior”).A linguagem do texto é reveladora da simplicidade do Velho Francisco (“Ela vem toda de brinco”); “Quem me vê, vê nem bagaço”). Em seu aspecto formal (uma seqüência de dez versos), o poema lembra a sinuosidade do rio.

O Descritivismo na narração

As passagens descritivas numa narração revestem com expressividade personagens, objetos e situações. Como uma pintura realçada por vários matizes, a narração ganha humor, lirismo ou dramaticidade no descritivismo oportuno e manejado com estilo. Note a intervenção descritiva na composição das personagens e situações do texto abaixo:

Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí

Chegou em casa, na Rua das Marrecas, soltando marimbondos contra o carnaval. E enquanto tirava o colarinho de goma:­ País desgraçado! Tudo é feriado! Um funcionário de responsabilidade, com encargo de chefe de seção na pode trabalhar. Ninguém despacha coisa alguma. É só pulo de macaco e fantasia de baiana. Até o Desembargador Jupiaçu Feijó vai sair de Marquês de Pomba. É o fim do mundo, Dona Escolástica!E colocando os colarinhos na cadeira:­ Não agüento mais. Vou para os capuchinhos fazer meu retiro espiritual.Já falei co Dom Alvorado.Dona Escolástica, avassaladora senhora de prendas domésticas, fina como um machucador de cozinha, bateu palmas. E nas palmas dos cem quilos de Dona Escolástica embarcou Torquato Saquarema para a paz dos capuchinhos. Na porta de casa, orgulhosa do marido, a terrível senhora deu a última mão de tinta no seu consentimento:­ Vai, Saquarema. Vai com Deus, meu filho.Foi. Mas deu azar. O Bloco Vai Que Eu Fico Em Casa, da moça do estandarte ao último tamborim, entrou numa grade de não caber na delegacia, pelo que transbordou pelas páginas dos jornais. E lá veio, em quatro colunas, encadernado de baiana, o marido de Dona Escolástica. Na quarta­feira, ao deixar a prisão. Torquato Saquarema tomou uma providência enérgica. Pediu asilo na Embaixada do Peru.(José Cândido de Carvalho)

Nessa narrativa, além dos recursos lingüísticos, as imagens descritivas revelam um humor diferenciado, com sabor tipicamente brasileiro. Observe o que resultaria do texto, caso fossem suprimidas as passagens caracterizadoras:

Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí

Chegou em casa, na Rua das Marrecas. E enquanto tirava o colarinho:­ País! Tudo é feriado! Um funcionário com encargo de chefe de seção, não pode trabalhar. Ninguém despacha coisa alguma. Até o Desembargador Jupiaçu Feijó vai sair de Marquês de Pomba. E o fim do mundo, Dona Escolástica!E colocando os colarinhos na cadeira:

­ Não agüento mais. Vou para os capuchinhos fazer meu retiro. Já falei com Dom Alvorado.Dona Escolástica bateu palmas. E nas palmas de Dona Escolástica embarcou Torquato Saquarema para a paz dos capuchinhos. Na porta de casa, a senhora deu a última mão de tinta no seu consentimento.­ Vai, Saquarema. Vai com Deus, meu filho.Foi. Mas deu azar. O bloco Vai Que Eu Fico Em Casa, da moça do estandarte ao último tamborim, entrou numa grade, pelo que transbordou pelas páginas dos jornais. E lá veio o marido de Dona Escolástica. Na quarta­feira, ao deixar a prisão, Torquato Saquarema tomou uma providência. Pediu asilo na Embaixada do Peru.

Observe no trecho que segue, extraído do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, a caracterização enumerativa, os núcleos mínimos significativos, a cronologia temporal demarcada através da seqüência de ações e a impressão emotiva que, reunidos num estilo compacto e sincopado, marcam a expressividade narrativa e a precisão descritiva do texto.

Notas

Soluços, lágrimas, casa armada, veludo preto nos portais, um homem que veio vestir o cadáver, outro que tomou a medida do caixão, caixão, essa, tocheiros, convites, convidados que entravam, lentamente, a passo surdo, e apertavam a mão à família, alguns tristes, todos sérios e calados, padre e sacristão, rezas, aspersões d’água benta, o fechar do caixão, a prego e martelo, seis pessoa que o tornam de essa, e o levantam, e o descem a custo pela escada, não obstante os gritos, soluções e novas lágrimas da família, e vão o coche fúnebre, e o colocam em cima, e traspassam e apertam as correias, o rodar do coche, o rodar dos carros, um a um ... Isto que parece um simples inventário eram notas que eu havia tomado para um capítulo triste vulgar que não escrevo. (Machado de Assis)

Estilo

É o estilo que empresta ao texto singularidade lingüística, tornando­o diferenciado. Podemos falar em estilo de época (estilo romântico, realista, barroco), figuras de estilo (metáfora, metonímia, hipérbole) e estilo individual.Cada época tem um estilo: conjunto de características específicas e semelhantes que se refletem na arte, na ciência, na religião, nos costumes em geral. A essa semelhança na maneira de conceber e expressar a realidade chamamos estilo da época.Apesar de um mesmo estilo literário (Romântico, por exemplo) definir várias obras (romances, contos, poesias), o que as diferencia é o manejo das possibilidades lingüísticas, que tornam única a produção de cada autor.O estilo individual traduz os movimentos do pensamentos e do sentimento, através de uma linguagem que faz emergir a individualidade daquele que escreve. O estilo revela a manipulação dos recursos de uma língua como um meio de expressão determinado pela sensibilidade e pela natureza do autor. Estilo é, pois, uma atitude do escritor diante das possibilidades que um código oferece, num processo de seleção vocabular e ordenação das palavras, chegando a arranjos próprios que resultam num modo de escrever, numa estética peculiar.Paulo Mendes Campos, ao apresentar, sob a forma de crônica, as várias interpretações (versões) dadas a um mesmo fato, com humor e irreverência, mostra toda a versatilidade dos recursos da língua, levando o leitor a apreciar soluções estilísticas que traduzem diferentes processos mentais de elaboração do código:

Os diferentes estilos

Parodiando Raymond Quesneau, que toma um livro inteiro para descrever os modos possíveis um episódio corriqueiro, acontecido em um ônibus de Paris, narra­se aqui, em diversas modalidades de estilo, um fato comum da vida carioca, a saber: o corpo de um homem de quarenta anos presumíveis é encontrado de madrugada pelo vigia de uma construção, à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinais de morte violenta.

Estilo interjeitivo – Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno bairro de Ipanema! Um homem desconhecido! Coitado! Menos de quarenta anos! Um que morreu quando a cidade acordava! Que pena!

Estilo colorido – Na hora cor­de­rosa da aurora, à margem da cinzenta Lagoa Rodrigo de Freitas, um vigia de cor preta encontrou o cadáver de um homem branco, cabelos louros, olhos azuis, trajando calça amarela, casaco pardo, sapato marrom, gravata branca com bolinhas azuis. Para este o destino foi negro.

Estilo antimunicipalista – Quando mais um dia de sofrimento e desmandos nasceu para esta cidade tão mal governada, nas margens imundas, esburacadas e fétidas da Lagoa Rodrigo de Freitas, e em cujos arredores falta água há vários meses, sem falar nas freqüentes mortandades de peixes já famosas, o vigia de uma construção (já permitiram, por debaixo do pano, a ignominiosa elevação de gabarito em Ipanema) encontrou o cadáver de um desgraçado morador desta cidade sem policiamento. Como não podia deixar de ser, o corpo ficou ali entregue às marcas que pululam naquele perigoso foco de epidemias. Até quando?

Estilo então – Então o vigia de uma construção em Ipanema, não tendo sono, saiu então para passeio de madrugada. Encontrou então o cadáver de um homem. Resolveu então procurar um guarda. Então o guarda veio e tomou então as providências necessárias. Aí então eu resolvi te contar isto.

Estilo precionista – No crepúsculo matutino de hoje, quando fugia solitária e longínqua a Estrela­d’Alva, o atalaia de uma construção civil, que perambulava insone pela orla sinuosa e murmurante de uma lagoa serena, deparou com a atra lúrida visão de um ignoto e gélido ser humano, já eternamente sem o hausto que verifica.

Estilo Nélson Rodrigues – Usava gravata de bolinhas azuis e morreu!

Estilo sem jeito – Eu queria tanto ter o dom de palavra , o gênio de um Rui ou o estro de um Castro Alves, para descrever o que se passou na manhã de hoje. Mas não sei escrever, porque nem todas as pessoas que têm sentimento são capazes de expressar esse sentimento. Mas eu gostaria de deixar, ainda que sem brilho literário, tudo aquilo que senti. Não sei se cabe aqui a palavra sensibilidade. Talvez não caiba. Talvez seja uma tragédia. Não sei escrever mas o leitor poderá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste. Ah, se eu soubesse escrever.

Estilo feminino – Imagine você, Tutsi, que ontem eu fui ao Sacha’s, legalíssimo, e dormi tarde. Com o Tony. Pois logo hoje, minha filha, que eu estava exausta e tinha hora marcada no cabeleireiro, e estava também querendo dar uma passada na costureira, acho mesmo que vou fazer aquele plissadinho, como o da Teresa, o Roberto resolveu me telefonar quando eu estava no melhor do sono. Mas o que era mesmo que eu queria te contar? Ah, menina, quando eu olhei da janela, vi uma coisa horrível, um homem morto lá na beira da lagoa. Estou tão nervosa! Logo eu que tenho horror de gente morta!

Estilo lúdico ou infantil – Na madrugada de hoje por cima, o corpo de um homem por baixo foi encontrado por cima pelo vigia de uma construção por baixo. A vítima por baixo não trazia identificação por cima. Tinha aparentemente por cima a idade de quarenta anos por baixo.

Estilo didático – Podemos encarar a morte do desconhecido encontrado morto à margem da Lagoa em três aspectos:a) policial;b) humano;c) teológico. Policial: o homem em sociedade; humano: o homem em si mesmo; teológico: o homem em Deus. Policia e homem: fenômeno; alma e Deus: epifenômeno. Muito simples, como os senhores vêem.(Paulo Mendes Campos)

Narração e versão

Ao narrar, podemos contar o que presenciamos, o que outras pessoas nos contam ou que imaginamos. Presenciando fatos ou ouvindo­os de terceiros, acabamos por dar uma interpretação dos acontecimentos, pois imprimimos à história nossa versão sobre ela. Às vezes, é mais importante a versão do que propriamente o fato.Na leitura do conto “Dom José não era”, de Murilo Rubião, aparecia as várias versões dadas a um mesmo fato.

Dom José não era

Uma explosão violenta sacudiu a cidade. Surgiram­se outras – menores e maiores. Desnorteado, o povo corria de um lado para outro. Alguém que se conversara calmo no meio de tanta desordem, gritou:Não é o fim do mundo!Eliminada a pior hipótese, surgiram novas conjeturas:Para um bombardeio, falavam os aviões.Exercícios de artilharia?Muito provável, apoiaram alguns, apressados em explicar o mistério.E os canhões? – indagaram os mais lúcidos.Houve quem falasse de uma invasão misteriosa, para em seguida concordarem todos: D. José estava matando a esposa a dinamite.Os populares hesitaram em aproximar­se do prédio. Após curto silêncio, vários estampidos foram ouvidos. Um vagabundo, que ainda não se emocionara com os acontecimentos, comentou:Será que a dinamite foi insuficiente e ele recorreu ao revólver?Tornaram­se pálidos os rostos e, ansiosos, aguardaram o final do drama.– Tragédia?Não. D.José estava experimentando fogos de artifício.Ninguém quis confessar o desapontamento nem o gasto inútil de imaginação que, naquela meia hora de terror, fora exagerado nos espectadores.Não a matou desta vez, mas ela não escapará de outra. Seu ódio por D. Sofia é incontrolável.– D. José odiava alguém?Calúnia! Amava a mulher, os pássaros e as árvores. Ela, sim; detestava­o, irritava­se com os animais.Infelicidade conjugal?Nunca! Os esposos combinavam admiravelmente bem.Mas, entre os habitantes do lugar, não havia quem acreditasse nisso:Ela finge amá­lo somente pelo seu dinheiroEstúpidos! D. José era o homem mais podre da cidade tinha uma úlcera no estômago.

– À mais leve contestação, contrapunham­se novas acusações:Falso! D. José perdera os filhos (cinco), vítimas da tuberculose. Agora recorda­se deles manipulando um aparelho que imitava o pranto infantil. E comovia muito mais que qualquer choro de criança.– D. José falava sempre de um livro que estava escrevendo. Um livro sobre duendes.Era um fabulista?Não. Os duendes habitavam a sua própria casa, ao alcance de seus olhos.Seria a mulher um deles?– Um dia encontrara­no enforcado. Disseram imediatamente:É só fingimento. O nó está pouco apertado.Vejam que cara matreira! Está zombando de nós.Infâmia! D. José suicidara­se mesmo.Por quê?Todo o mundo fingiu não saber.– Aos que lhe tomaram a defesa, anos após a sua morte perguntavam:Afinal, o que fazia esse D. José? Se não fumava, não bebia, não tinha amantes?Amava o povo.E o povo?Observando­o com ferocidade.– Mais tarde erigiram­lhe uma estátua. Com um dístico: “D. José, nobre espanhol e benfeitor da cidade”.Derradeira mentira. D,. José era um pobre diabo e não possuía nenhum título de nobreza. Chamava­se Danilo José Rodrigues.(Murilo Rubião)

A criatividade na narração

Não há ordem convencional que regule a articulação entre personagens, ação, tempo e espaço> O percurso narrativo pode desenvolver­se a partir de um diálogo, de uma descrição, de um acontecimento crucial ou marcante, uma digressão temporal, um perfil de personagem etc.As técnicas narrativas variam de autor para autor. São as variantes de estilo que conferem à obra um traço especial na produção da trama ou enredo, onde se pode instaurar a realidade, imitar o real com arranjos ficcionais ou trazer ao leitor o universo imaginário que ao escritor é dado ultrapassar. Assim na narrativa, todos os procedimentos ganham dimensão estética e todos os acontecimentos, por mais fantásticos ou improváveis, ganham a receptividade do leitor, quando o contexto legitima se conteúdo.Aprecie, ma seqüência, a variedade de procedimentos que o painel de textos selecionados oferece como amostra de narrações criativas.

As narrativas oswaldianas

Órfão

O céu jogava tinas de água sobre o noturno que me devolvia a São Paulo.O comboio brecou lento para as ruas molhadas, furou a gare suntuosa e me jogou nos óculos mineiros de um grupo negro.Sentaram­me num automóvel de pêsames.Longo soluço empurrou o corredor conhecido contra o peito de tia Gabriela no ritmo de luto que vestia a casa. (Oswald De Andrade)

Essa narrativa é marcada por uma linguagem que ensina a morte, sem alusões diretas. O luto transfere­se da personagem para os objetos que a cercam. A cor preta é várias vezes sugerida (“noturno”, “grupo negro”, “automóvel de pêsames”, “ritmo de luto”), o que reforça a impressão pesada que envolve a morte e a orfandade.Sob essa preferência sintagmática transparece a profundidade semântica: no 1º parágrafo, o impacto que o canário exerce sobre o órfão impressionável; no 2º parágrafo de morosidade que acompanha a chegada do comboio; no 3º parágrafo, a inércia da personagem que se deixa sentar por ação alheia; no último parágrafo, o lento e doloroso ritmo do luto que se instaura no ambiente doméstico. O título encaminha o significado da leitura, sem que haja no texto qualquer menção à orfandade.

Natal

Minha sogra ficou avó.(Oswald de Andrade)

A história é contada numa única frase, de maneira telegráfica, sem qualquer índice temporal ou espacial. O signo sogra traz em seu significado projeções culturais que estigmatizaram esse grau de parentesco, investindo­o de conotações negativas – é uma mulher intrometida, possessiva, daí a expressão “casa da sogra”. O signo avó, entretanto, preenche um significado mais terno (geralmente é ela quem adula e mima os netos). Contraponham­ se os conteúdos desses signos (avó e sogra), adicionam­se os desdobramentos subjacentes à história ( sua mulher engravidou, deu à e o narrador tornou­se pai e ter­se­á o poder de síntese do autor, cujo estilo fez dele figura de vanguarda do movimento modernista.

Há ainda a relação do título (“Natal”) com o texto: desprende­se que o nascimento da criança foi tão significativo quanto a data magna do Cristianismo.

Primeiro contato de Serafim e a malícia

A – e – i – o – u Ba – Be – Bi – Bo – Bu Ca – Ce – Ci – Co – Cu (Oswald de Andrade)

Repare como o autor, combinando vogais e consoantes, na seqüência em que se dá primeiro contato com a alfabetização, faz supor ap leitor que a personagem Serafim, soletrando as primeiras letras, deteve­se na palavra que se vulgarizou como impropério. É título que indica a leitura maliciosa, acentuando o caráter maroto que a personagem dá aos exercícios de aprendizagem.

A extrapolação do real

Tema para um tapete

O general tem só oitenta homens, e o inimigo, cinco mil. Na sua tenda, o general blasfema e chora. Então, escreve um problema inspirado que pombas mensageiras derramam sobre o acampamento inimigo... Duzentos infantes passam para o lado do general. Segue uma luta que o general ganha facilmente, e os dois regimentos inteiros passam para o seu lado. Três dias depois. O inimigo tem só oitenta homens e o general tem cinco mol. Então o general escreve outro proclama, e setenta e nove homens passam para o seu bando. Resta apenas um inimigo, acuado pelo exército do general que espera em silêncio. Transcorre a noite e o inimigo não passa para o lado do general. O general blasfema e chora na sua tenda. Ao amanhecer, o inimigo desembainha lentamente a espada e avança até a tenda do general. Entra e aponta para ele. O exército do general se dissolve. Sai o sol.(Júlio Cortazar)

Trata­se de uma narrativa de enredo incomum que parte de uma situação comum – a guerra ­, extrapolando o real e lançando o leitor no heterogêneo universo do ficcional e do improvável.Protagonista e antagonista (general X inimigo) dispõem de armas diferentes: o primeiro usa a palavras (“proclama inspirado”) e outro, a espada, a força bruta que, por fim, sai vitoriosa.Como se mesclasse a parábola e a alegoria, o texto configura as relações de conquista e poder, através da imagem hiperbólica extraída das estratégias bélicas.

O fantástico

O homem que entrou no cano

Abriu a torneira e entrou pelo cano. Depois se acostumou. E, com a água, foi seguindo. Andou quilômetros. Aqui e ali ouvia barulhos familiares. Vez ou outra, um desvio, era uma secção que terminava em torneira.Vários dias foi rolando, até que tudo se tornou monótono. O cano por dentro não era interessante.No primeiro desvio, entrou. Vozes de mulher. Uma criança brincava.Ficou na torneira, à espera que abrissem. Então percebeu que as engrenagens giravam e caiu numa pia. À sua volta era um branco intenso, uma água límpida.E a cara da menina aparecia redonda e grande, olha­lo interessada. Ela gritou:“Mamãe, tem um homem dentro da pia”.Não obteve resposta. Esperou, tudo quieto. A menina se cansou, abriu o tampão e ele desceu pelo esgoto.(Ignácio de Loyola Brandão)

O inovador nessa narrativa é seu teor fantástico, resultante de um acontecimento irreal num cenário real. A linguagem é segmentada em períodos curtos, marcando o percurso monótono que leva a personagem a uma pia e daí – por uma omissão de resposta – ao esgoto.O desfecho pressupõe, aos olhos do leitor, conseqüências nefastas que justificam a ambivalência do título: entrar pelo cano no enredo fantástico da narrativas ou, segundo o clichê popular, dar­se mal numa empreitada.

Um tipo

As Marias

Maria, filha de Maria, a filha, tem trinta e um desgostos. Lava a roupa. Lava a louça, varre que varre, e patroa – Jesus Maria José – a patroa ralhando.Aos sete anos, foi esquina. Mulher cheia de filhos, não podia com mais um: deu a pobre da Maria.Sempre em casa estranha, dormindo em cama­de­vento, comendo em pé ao lado do fogão. Trabalhadeira, era de confiança e não tinha boca para pedir Pálida, vivia debaixo de chá de ervas. Sonhando, rilhava os dentes, com as bichas alvoroçadas. Maria, aí dela, nunca soube qual de uma pêra­d’água!O guarda­comida trancado a chave, ela roía com fome um naco de rapadura, escondida sob o travesseiro.Lenço amarrado na bochecha, usava cera milagrosa para dor de dente – até que perdia o dente. Vagarosa por culpa de unha encravada. De lidar na potassa, partiam­se os dedos e sofria de panarício. Nunca se despedia, era despachada pela patroa, aborrecida de suas aflições e sua cara de pamonha.Ao rolar de uma para outra casa, engordava com os anos, gemia de dor nas cadeiras e enleava­se no serviço. Sua alegria era lavar o cueiro do bebê Ah, mas beijar a criancinha...­ Está proibida, ouviu, Maria?Criada não conhece o seu lugar, podia ter alguma doença.Menina séria, não ia ao baile com as outras. No carão anêmico esfregava papel de seda escarlate molhado na língua e, mal surgia à janela, a espiar um soldadinho verde, a patroa ralhava.­ Maria, já escolheu o arroz?­ Maria, já passou a roupa?­ Já encerrou a casa, ó Maria?Areada a chapa do fogão, guardava a louça, varrida a cozinha, chegava­se medrosa à porta. O soldado rondava, parava, batia continência. Tinha pressa como soldado era de guerra: queria pegar na mão e cobrir de beijos.­ Deus me livre, podia ter alguma doença!Maria faz o sinal­da­cruz: a boca só o marido é que iria beijar.Onde estão os praças de cavalaria, o tinir da esporas na calçada? Trinta e um anos de Maria! Até proibida de passear com a Marta.­ Pois vá chorar no quarto – ordena­lhe a patroa – Não suporto cena de gentinha!Essa Maria, um objeto de casa, o capacho da porta, a vassoura no prego.Maria não vai ao cinco, o palhaço é tão gozado.Maria não vai ao Passeio Público ver o macaquinho comer banana.Maria não vai ao cineminha na sexta­feira assistir a Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.Maria, a filha de Maria, destraída no domingo com a Marta, viu seu coração rolar do peito e, prato lhe escapou dos dedos gordurosos (a patroa vai ralhar?). partir­se em sete pedaços de sangue pelo chão.Era um cabo? Maria nunca soube de que ama. Falava lindo e tão difícil, puxando no xis – vixto, mocinha? – que ela, a saltirar ora numa perna ora noutra, esganada roia as unhas.­ Tem gente, cabo. Você me respeite, ô cabo!Ele a levou ao circo e Maria entrou soberba como uma patroa entre a gentinha que fazia cena: no pescoço a velha pele de coelho mordendo a cauda. A charanga, o peludo de cara pintada, o cabo das grandes botas de general. Um palhaço xinga o outro de “Gigolô!” o circo vem debaixo de tanta gargalhada.Maria sorri, o cabo lhe tira sangue do peito.­ Ocê me deixa louco, Maria.Sob o espanto do barbeiro, anunciando “Óia a bala oi...”, ela beijou a mão do cabo.Em nove meses Maria, filha de Maria, vai ser mãe de Maria.(Dalton Trevisan)

A personagem Maria incorpora, na popularidade de seu nome e na ausência das domésticas errantes, doentes, esfaimadas, sonhadoras. Maria resume um tipo que reitera modelos previsíveis de comportamento; é o retrato das mazelas de uma doméstica.

Na linguagem cortante de Dalton Trevisan, pode­se divisar a crítica à subalternidade das domésticas, à sua condição subumana de vida e à opressão das patroas (“Essa Maria, um objeto de casa, capacho da porta, a vassoura no prego”). Na “mitologia” daltoniana, Maria é a donzela casadoura, é a personagem que se perde como a mãe e a avó, daí a insistente genealogia tipificadora “Maria, filha de Maria, a filha de Maria”.

A concisão e a repetição seqüenciada reproduzem a motoneta das ladainhas – uma analogia ao marasmo dos serviços caseiros (“Maria não vai ao circo”; “Maria n~]ao vai ao Passeio Público”, “Maria não vai ao cineminha”) e à beatitude das filhas de Maria.

A idealização de um soldado leva à aspiração matrimonial de uma donzela tardia (“Onde estão os praças de cavalaria, o tinir das esporas na calçada? Trinta e um anos de Maria!”). O assédio do “cabo” e a ingenuidade de Maria compõem o clímax da narrativa.

Na conclusão, o continuísmo da tragédia irônica: “Em nove meses, Maria, filha de Maria, vai ser mãe de Maria”.

O humor na linguagem

Um quarteirão de peruca para Clodovil Pereira

Entrou numa casa especializada e pediu uma peruca:­ Coisa moderna, de fazer vista.O especialista, com jeito técnico, aconselhou:­ Para o cavalheiro, se permite a sugestão, o melhor é uma peça discreta, tipo Napoleão Bonaparte.­ O aprendiz de calvo, que era exagerado, repeliu o conselho. E enérgico:­ ­ Não serve! Quero peça ostentosa, de Cristóvão Colombo para cima. Negócio de devastar corações na primeira perucada.­ O especialista arrumou para Clodovil um quarteirão de peruca.­ Trabalho tão sortido de ondas que Pereira pensou em colocar, no alto da cabeça, um farol de aviso aos navegantes. E no espelho, de peruca em cima:­ ­ É uma peça! Mata a pau qualquer coração.­ E assim, cabeludão, modernão, transitou sua belezura para Alfenas, onde devia cativar os interesses de moça bem apanhada de cara e de dinheiro. Só em moeda corrente do pa´si sua beleza pulava na frente de dois bilhões. Estava tudo encaminhado por um primo dela, o encalacrado Barbirato Carvalhais., que participava dos entendimentos na força de dez por cento. E no balancinho do trem, que levava Pereira para sua mina de Alfenas, em presença do espelho do lavatório, Clodovil mais uma vez espalhou elogios em louvor das marolas da peruca:­ ­ É demais! Um cabelo assim nem vai caber em Alfenas. Vão pedir outra cidade de reforço.­ Chegou, ficou um par de dias na casa da prima de Barbirato, valsou com ela na sala de visitas, pisou luar em sua companhia, encaixou dois poréns no ouvido da menina e voltou, no trem das sete, para seu negócio de representante a domicílio no Laboratório Almeida Guedes. E já pensava, de dentes acesos, na alta corretagem que Barbirato ia abocanhar (“Mais de cem mil dinheiro contado! Ladrão!”), quando recebeu do dito Barbirato o seguinte telegrama: “Casamento foi pelo barranco. Prima apreciou educação, teu pé de valsa, mas achou cabelo demais. A prima é louca por careca.”(José Cândido de Carvalho)

Narração bem­humorada cuja linguagem compõe o mundo mental do protagonista Clodovil Pereira, candidato a dar o famoso “golpe do baú”, frustração exatamente pelas “marolas da peruca” que tanto fez questão de comprar.Observe a inventividade de José Cândido de Carvalho, compondo o inovador universo lingüístico da narrativa: “farol de aviso aos navegantes” ( = peruca), “pisou luar”, “encaixou dois poréns” “ dentes acesos”.Sua linguagem incorpora o gosto brasileiro pelo aumentativo e pelo diminutivo (“cabeludão”, “modernão”, “balancinho”) com a mesma naturalidade com que dá novos contornos ao oportunismo da malandragem. O desfecho, momento fundamental, é tão inesperado quanto cômico.

O Cotidiano burlesco 

Era covardia

Tem sogra at[e boazinha, que faz o chamado biombo conjugal, isto é, fica aparando os golpes da gente para que a filha não se chateie, não aparece pro jantar e a sogra, morando na afiliação da filha, inventa enredo para que ela não dê bronca, aventando hipóteses tais como plantão no escritório, pneu do carro furado de condução e outras desculpas próprias para amenizar a raiva da esposa que vê afrouxar o chamado laço conjugal.Exemplo admirável de sogra camarada foi Tia Zulmira, quando vivia com sua filha única, a Prima Yayá, ora residente em São Paulo e agora mais solteira que o Belo Antônio, de Brancati. Uma vez Prima Yayá achou um lenço do marido sujo de batom e, quando ia dar a bronca regulamentar, Zulmira – com a dignidade que impõe seu porte altivo – explicou que o batom era dela, que pedira emprestado o lenço do genro, para tirar a pintura. A prima Yayá sabia que Tia Zulmira nunca usou batom, mas compreendeu depressa o sacrifício da velha, mentindo para evitar uma situação pior, e acomodou a coisa, tal como fez o Congresso, ao voltar o regime esse que andava aí.Já Primo Altamirando, que ontem, na 43ª Vara de Família, conseguiu anular se décimo­primeiro casamento, nunca se deu bem com sogras, por motivos óbvios. Esta última, então – da qual vem de se livrar protegido pela justiça dos homens ­, era de lascar. Até potassa a jararaca botou no açougueiro, pra ver se envenenava Marinho.Ontem lá estivemos, frente ao juiz, servindo de testemunha no processo de anulação do casamento. Jandira, a que suou a camisa nº 11 no time de Primo Altamirando, estava triste, pois adorava o marido (consta que Mirinho tem truques pra mulher que até Deus duvida). Mas a sogra estava mais furiosa que a torcida do Madureira. E tudo porque a separação foi proposta justamente depois do dia em que ela saiu no tapa com o padeiro e Marinho assistiu a sogra apanhar uma surra bizantina, impávido e – por que não dizer – um tanto ou quanto eufórico.Aliás, o juiz resolveu anular o casamento, por causa desse episódio, revoltado com o cinismo de nosso nefando parente:­ O senhor viu sua sogra levar uma sura do padeiro e não ajudou? – quis saber o magistrado.­ Não, excelência – respondeu Mirinho.­ E por que não ajudou? – estranhou o juiz.

­ Porque não ficava bem, dois homens batendo numa velha só. (Stanislaw Ponte Preta)

Stanislaw Ponte Preta é um mestre das narrativas bem­humoradas que reproduzem o burlesco familiar.Nota­se que o texto é trabalhado em linguagem despojada, coloquial, com referências diretas ao cotidiano carioca e ao futebol, elementos freqüentes nas imagens do autor.Partindo de uma apresentação estereotipada (“Tem até sogra boazinha”), o autor reforça uma imagem que o vulgo pejorativamente conserva, particularizando­a na sogra de Primo Altamirando, para, inesperadamente, desfechar a narrativa com picardia e graça.

Só diálogos

O clube dos Suicidas

A senhora – o que foi que tomou, mesmo? Comprimidos. Não sabe que comprimidos? Gardenal. Muitos? Cuidado, não pise no fio do microfone. Dez comprimidos. É o que foi que sentiu? Uma gostosa! Vejam só, uma tontura gostosa! Não é notável? Uma tontura gostosa. E foi por causa de quem? Olha o fio. Do marido. O marido bebia. Batia também? Batia. Voltava bêbado e batia. Quebrava toda a louça. Agora prometeu se regenerar. E ela não vai mais tomar Gardenal. Palmas. Olha o fio. Fica lá, à esquerda. Ali, junto com as outras. Depois recebe o brinde. Aproveito este breve intervalo para anunciar que a moça loira da semana passada – lembram, aquela que tomou pó de rato? Morreu ontem. A família veio aqui me avisar. Foi uma dura lição, infelizmente ela não poderá aproveitar. Outros o farão. E a senhora? Ah, não foi a senhora, foi a menina. Que idade tem ela? Dez. Tomou querosene? Por que a senhora bateu nela? A senhora não bate mais, ouviu? E tu não toma mais querosene, menina. A propósito, que tal o gosto? Ruim Não tomou com guaraná? Ontem esteve aqui uma que tomou com guaraná. Diz que melhorou o gosto. Não sei, nunca provei. De qualquer modo, bem­vinda ao nosso Clube. Fica ali, junto as outras. Cuidado com o fio. Olha um homem! Homem é raro aqui. O que foi que houve? A mulher lhe deixou? Miserável. Ah, não foi a mulher. Perdeu o emprego. Também não é isto. Fala mais alto! Está desenganado. É câncer? Não sabe o que é. Quem foi que desenganou? Os doutores às vezes se enganam. Fica ali à esquerda e aguarde o brinde. E esta moça? Fui Flit? Tu pensas que é barata, minha filha? Vai ali para a esquerda. Olha o fio, olha o fio. E esta senhora, tão velhinha – já me disseram que a senhora quis se enforcar. É verdade? Com o fio do ferro elétrico, quem diria! E dá? Dá? Mostra para nós como é que foi. Pode usar o fio do microfone. (Moacir Scliar)

O autor subverte o discurso direto, já que somene o entrevisador se manifesta. O leitor supõe a existência dos interlocutores unicamene através da fala do narrador, que retoma, até com certa insistência, a provável resposta dos entrevistados: O marido bebia. Batia também? Batia. Voltava bêbado e bati.Observe­se ainda que o autor interpõe, durante a narrativa, impressões que levam ao leitor elementos íntimos do cenário e da situação em que se encaixam as entrevistas: Cuidado, não pise no io do microfone. Olha o fio; Fica lá, à esquerda. Ali, junto com as outras.Esse é um exemplo de narrativa montada com o uso exclusivo de diálogos. As frases curtas e coordenadas parecem reproduzir a perfomance de um apresentador de programas de auditório em que um assunto como o suicídio é exposto publicamente. O microfone evidencia o número grande de pessoas que participam do Clube, tomando conhecimento das experiência alheias. 

Uma questão de semântica

Desliturgias

Entrei para o seminário com 12 anos, me ordenei padre com 24, anos 30 dei baixa. De modo que fui, boa parte da vida, um profissional de rituais de passagem, do batizado à extrema­unção. Então, não gostaria de falar do rituais mais clássicos.Gostaria de falar de certas liturgias pessoais, únicas. De bobos momentos em que uma pequena, pobre coisa se deu, marcante para sempre.Meu primeiro nome feio. Uma vez, no seminário, um colega quase foi expulso porque sugeriu, no piano, a possibilidade de um nome feio. No caso, muito feio mesmo. É que numa tarde de domingo de chuva ele tocou os primeiros acordes de um tango cuja letra, a certa altura, continha, segundo um dedo­duro presente, a palavra lupanar. Um nome muito feio mesmo. O padre­diretor ordenou uma pesquisa da letra do tango; o tal lupanar de fato pintava e o menino quase foi expulso. Eu, que estava perto, fui chamado para depor e tergiversei ao máximo. Eu já achava nome feio uma coisa muito bonita. Tudo por causa do meu primeiro nome feio. Ele se deu nos campos as minha infância, numa chacrinha perdida entre lavras e Bagé, em pleno pampa gaúcho. Na frente da casa, embaixo de um cinamomo, mateavam alguns tosquiadores de ovelha quando lá no alto da coxilha despontou um homem a cavalo. Um pontinho que veio crescendo, crescendo e chegou. Era um gauchito desempenado, barba meio crescida, dentes muito brancos. Eu nunca tinha visto o mar, mas me pareceu, menino, que aquele homem vinha do mar. Antes mesmo de apesar, deu um toque no aba­larga, riu largo e esporeou:­ Buenas tardes, fiadasputa.Eu achei aquela saudação tão leal, tão limpa e tão terna, que nunca mais pude achar feio um nome feio. A não ser lupanar, cartório,inadimplência, essas coisas.(Carlos Moraes)

O narrador vai buscar num episódio de infância as impressões ingênuas que, na idade adulta, o levariam a representar as convenções lingüísticas em suas raízes moralizantes.

A narrativa combina temporalidade (a retrospectiva da memória), descritivismo (a caracterização do pampa e do gauchito) e reflexão (os comentários subjetivos do narrador). Em suas reflexões quase confessionais o narrador declara­se, por força de uma formação seminarista, um “profissional de rituais de passagem”. Mas é nas “liturgias pessoais” que ele detém, cotejando lembranças de situações díspares (no seminário e nos campos). Sua visão analítica expande­se além da semântica para criticar convenções e moralismos.

Na simplicidade internacionalmente infantil de sua linguagem, percebe­se o espírito mordaz que extrai da aproximação dos dois episódios uma crítica aos desmandos da educação eclesiástica: a censura à palavra “lupanar” numa composição musical nega um fato lingüístico – a liberdade do falante em fazer uso do vernáculo.

Na trajetória de suas impressões, um “nome feio” como “fiasdaputa” é destituído de pejoratividade, pois surge com a espontaneidade da linguagem oral, num contexto que neutraliza seu caráter ofensivo. Para o narrador, “fiasdaputa” interpreta­se semanticamente como uma saudação “leal”, “cristã”, “limpa” e “eterna”, numa retomada dos conceitos valorativos da educação religiosa que recebeu. Já as palavras “lupanar”, “cartório”, “inadimplência”, que traduzem a institucionalização, as convenções e os códigos, são considerados impropérios devido aos significados que a sociedade lhes imprimiu.

As virtualidades da linguagem

Nós, os temulentos

Como que, casual, por ele perpassou um padre conhecido, que retirou do breviário os óculos, para a ele dizer: ­ Bêbado, outra vez... – em um pito de pastor a ovelha. – É? Eu também... – O Chico respondeu, com báquicos, o melhor soluço e sorriso.E, como a vida é também alguma repetição, dali a pouco de novo o apostrofaram: ­ Bêbado outra vez? E: ­ Não senhor... – o Chico retrucou ­ ...ainda é a mesma.E, mais três passos, pernibambo, tapava o caminho a uma senhora, de paupérrimas feições, que em ira o mirou, com trinta espetos. – Feia! – O Chico disse; fora­se­lhe a galanteira. – E você, seu bêbado!? – megerizou a cuja. E, aí, o Chico: ­ Ah, mas...Eu?...Eu, amanhã, estou bem................................................................................................................................................E não menos deteve­o um polícia: ­ Você está bebaço borracho! – Estou não estou... – Então, ande reto nesta linha do chão. – Em qual das duas?E foi de ziguezague, veio de ziguezague. Viram­no, à entrada de um edifício, todo curvabundo, tentabumdo. – Como é que o senhor quer abrir a porta com um charuto? – É...Então, acho que fumei a chave...E, hora depois, peru­de­fim­de­ano, pairava ali, chave no ar, na mão, constando­se de tranqüilo terremoto: ­ Eu? Estou esperando a vez da minha casa passar, para poder abrir... Meteram­no a dentro. (Guimarães Rosa)

A situação humorística e a inventividade lingüística cruzan­se num efeito estático único, que só a linguagem de Guimarães Rosa alcança. A intercalação das ações com os diálogos resulta em grande expressividade: “Feia! – O Chico disse; fora­se­lhe a galanteria. E você, seu bêbado!? – megerizou a cuja”.

Os neologismos em Guimarães Rosa são marcas discursivas que põem em relevo as possibilidades da língua como um inventário aberto de produtividade: “permibanbo”, “megerizou a cuja”, “zaguezigue”, curvabundo”, “tentabundo”.

O senhor não repare. Demore, que eu conto. A vida da gente nunca tem termo real.Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo, e estremeci, retirando as mãos para trás, incendiável: abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha, recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca. Adivinhava os cabelos. Cabelos que cortou com tesoura de prata... Cabelos que, no só ser, haviam de dar para baixo da cintura...E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo:­ Meu amor!...Foi assim. Eu tinha me debruçado na janela, para poder não presenciar o mundo.(Guimarães Rosa)

Nesse trecho de Grande Sertão: Veredas, temos um fragmento da capacidade criadora de Guimarães Rosa, voltada para as forças virtuais da linguagem, na qual se fundem a lírica e a narrativa.Entre elipses, deslocamentos sináticos e inovações estilísticas, Guimarães Rosa reproduz a fala do sertanejo com grande expressão poética “Cabelos que, no só ser, haviam de dar para baixo da cintura...”).

A estática do vago

A vaguidão específica

As mulheres têm uma maneira de falar que chamo de vago­específica.Richard Gelman

­ Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte.­ Junto com as outras?­ Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer qualquer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia.­ Sim senhora. Olha, o homem está aí.­ Aquele de quando choveu?­ Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo.­ Que é que você disse a ele?­ Eu disse pra ele continuar.­ Ele já começou?­ Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse.­ É bom?­ Mais ou menos. O outro parece mais capaz.­ Você trouxe tudo pra cima?­ Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera.­ Mas traga, traga. Na ocasião, nós descemos tudo de novo. É melhor, se não atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite.­ Está bem, vou ver como. (Millôr Fernandes)

Millôr Fernandes é exemplar quando se trata de produzir textos criativos, rompendo estruturas convencionais, inovando na linguagem e nas situações inusitadas.O texto “A Vaguidão Específica” é uma seqüência de diálogos vagos para o leitor (“Não ponha junto com as outras não. Senão pode vir alguém”), pois não aparece determinada a situação em que eles ocorrem.Percebe­se o espaço doméstico através da suposta relação entre patroa e empregada.A linguagem coloquial apresenta traços da oralidade cotidiana fática e descuidada, na presença do anacoluto (“Aquele de quando choveu?”) e da sintaxe truncada pelo uso incorreto de pronomes e conectivos (“Ponha no lugar do outro dia”; “Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo”).Não há precisão informativa no que se refere à seqüência de ações, à relação entre as personagens e aos objetos dos quais se fala (“Não ponha junto com as outras não. Senão pode vir alguém e querer fazer qualquer coisa com elas.”; “Olha, o homem está aí”).Os diálogos e até mesmo as noções espaciais (“lá fora”, “pra cima”,”aí”,”a entrada”) caracterizam o texto como narrativo; entretanto, a estrutura cronológica – começo, meio e fim – é identificada; há também fragmentos temporais imprecisos: “do outro dia”, “no domingo”,”a véspera”,”na ocasião”,”na outra noite”. É um texto que poderíamos qualificar como “sem pé nem cabeça”.

O Latinorum no gymnasyum

Rosa, rosa, rosae

Rosa, Rosa, Rosae, na aula de latinorum do Prof. José Evangelistorum, só as moscas voorum, nimguém piorum. Rosae, Rosa, Rosam por qualquer coisorum o Prf. José Evangelista relampeorum, trovejorum. A todos castigabus, gritava Violeta, Violeta, Violetorum escrever mil vezes vezorum nunca mais hei de mascar chicles, chicletes, chicletorum na aula de latinorum. Paulo Paulis Paulu ficabus de joelho lá na frente frentorum e se outra vez eu te pegorum, dominus, domine, dimini, o Prof. José Evangelistorum a mesa, esmurrorum na aula, aula, aulae de latinorum, como Joe Louisorum, a mesa, mesae nocauterorum.Calca, calça, calçae, quase pega fragorum, cruz crudibus na lapela, o Prof. José Evangelista 12 anos passorum na soli, solidão, solidorum do seminário. Nunca ridibus, sempre serius e de meia preta, o colarinho da camisa encardido encardidae, as pontas viradas, nos olhos duas olheiras cor de uma sexta­feira da Paixãozorum. Só de entrar na sala, lá vem El Tigre Tigrorum, todos tremorum, aos alunos fuzilorum com seu olhar de lobisomem lobisomorum e todos tremiam peronia século seculorum.(Roberto Drummond)

Satirizando a austeridade das aulas de latim, a narrativa ridiculariza o clássico exemplo rosa, rosae, modelo segundo o qual todos os substantivos se flexionam na primeira declinação.A sonora verbosidade do latim percorre todo o texto, onde o humor e a criatividade sobressaem ao fato narrado (os rigores do professor durante uma aula), que, em sua essência, é prosaico.Adulterando as declinações, flexões e o caráter das palavras, o narrador descamba para o deboche ao reproduzir uma aula de latim em que o 

professor é reduzido à condição de caricatura, nos maneirismos (“por qualquer coisorum (...) relampeorum”, “a todos castigabus”, “nunca ridibus, sempre serius” etc) e no aspecto físico (“de meia preta, o colarinho da camisa encardido, encardidae, as pontas viradas, nos olhos duas olheiras cor de uma sexta­feira da Paixãozorum”).A alusão à formação seminarista acentua o estereótipo do professor de latim (“12 anos passorum na soli, solidão, solidorum”) e, no trânsito irreverente das palavras, ele é ao mesmo tempo Evangelista e Evangelistorum.A conclusão do texto remete aos textos medievais de cunho eclesiástico (“peronia século seculorum”), nos quais era recorrente a imagem da permanência divina ao longo dos séculos.Assim, a narrativa recupera a temática arcaica de uma aula de latim no ginásio (realidade anterior à Reforma Capanema, década de 50), para inovar na recriação da linguagem e criticar a a aprendizagem falha decorrente da postura autoritária do “mestre”.

Transgredindo as regras do jogo narrativo

Snooker

Certa vez eu jogava uma partida de sinuca e só havia a bola sete na mesa. De modo que mastiguei­a lentamente saboreando­lhe os bocados com prazer. Refiro­me à refeição que havia pedido ao garçon. Dei­lhe duas tacadas na cara. Estou me referindo à bola. Em seguida saí montando nela e a égua de que estou falando agora, chegou calmamente à fazenda de minha mãe. Fui encontra­la morta na mesa, meu irmão comia­lhe uma perna com prazer e ofereceu­me um pedaço: “obrigado”, disse eu “já comi galinha no almoço”.Logo em seguida chegou minha mulher e deu­me na cara. Um beijo, digo. Ao mesmo tempo eu dei­lhe um pontapé e a cachorrinha latindo. Então apertei­a contra mim e dei­lhe um beijo na boca. De minha mulher, digo. Dei­lhe um abraço. Fazia calor. Daí a pouco minha camisa estava inteiramente molhada. Refiro­me à que estava na corda secando quando começou a chover. Minha sogra apareceu para apanhar a camisa. Não tive outro remédio senão esmaga­la com o pé. Estou falando da barata que ia trepando na cadeira.Malaquias, meu primo, vivia com uma velha de oitenta anos. A velha era sua avó, esclareço. Malaquias tinha dezoito filhos mas nunca se casou. Isto é, nunca se casou com uma mulher que durasse mais de um ano. Agora, sentado à nossa frente, Malaquias fura o coração com uma faca. Depois corta as pernas e o sangue vermelho do corpo enche a bacia.Nos bons tempos passeávamos juntos. Eu tinha um carro. Malquias tinha uma namorada. Um dia rolou a ribanceira. Me refiro a Malaquias. Entrou pela pretoria a dentro arrebentando a porta e parou resgolegante junto do juiz pálido do susto. Me refiro ao carro. Depois então saiu da pretoria com a noiva já na direção. Me refiro ao caro. E a Malaquias. (Millôr Fernandes)

Uma sucessão de ações desconexas cruzam­se como num jogo de snooker: assim como a bola sete vai de encontro às demais, que se chocam entre si, num confuso vaivém, a narrativa de Millôr Fernandes reproduz, com episódio fragmentados e descontínuos (“ Dei­lhe duas tacadas na cara. Estou me referindo à bola”), a profusão de movimentos de uma mesa de bilhar. É um procedimento lúdico em que o narrador, como que incorporada à bola sete, elabora combinatórias inesperadas.

A ausência de enredo criativamente transgride as relações de causa e conseqüência, pois em lugar de uma inter­relação entre as personagens, temos episódios distintos, sem nexo causal, desencadeados como numa partida de sinuca.

A conclusão inexiste: não poderia haver desfecho, já que não há trama. O texto detém­se repentinamente, tal como as bolas se paralisam após os choques que se sucedem à primeira tacada.

Era uma vez...

Era uma vez um homem que estava pescando, Maria. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenininho e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou­o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então ficaram inesperáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante vê­los no “17”! – o homem, grave, de preto, uma das mãos segurando a xícara de fumegante, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando o peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava laranjada por um canudinho especial...Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. E disse o homem ao peixinho:“Não, não assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubar­te por mais tempo o carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não! Volta para o seio de tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!...”Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n’água. E a água fez um redemoinho, que foi serenando, serenando...até que o peixinho morreu afogado...(Mário Quintana)

Fórmula consagradas pelos contos da carochinha combinam­se com elementos do maravilhoso fantástico nessa narrativa de Mário Quintana, ultrapassando os limites do imaginário.Das narrativas infantis Mário Quintana reproduz a nostálgica expressão “Era uma vez”, seguida do vocativo “Maria”, recuperando um 

procedimento das narrativas orais. Opondo­se essa simplicidade, o autor, no terceiro parágrafo, elabora com refinamento lingüístico a fala da personagem humana, lembrando a linguagem tradicional dos antigos contos de fadas de Perrault e dos irmãos Grimm: veja o 3ª parágrafo.Outro contraste da narrativa é o cenário contemporâneo (elevadores, café) no qual o maravilhoso fantástico resulta do afastamento ou distorção da realidade: o peixinho acompanhando o homem como um cachorrinho, a imagem das várias mãos (para segurar uma xícara, um jornal, um cigarro e cuidar do peixinho), o animalzinho tomando laranjada de canudinho e a tristeza que o acomete à margem do rio.O relacionamento de um homem com um peixe remonta ao conto do rodovalho encantado, de Perrault. Ao desfecho inesperado (o afogamento do peixinho) somam­se os traços fantásticos, a linguagem simples do narrador e as palavras arcaizantes da personagem, compondo uma narrativa moderna que subverte criativamente o texto inaugural de Perrault.

O solilóquio

O aventureiro Ulisses

Ainda tinha duzentos réis. E como eram sua única fortuna meteu a mão no bolso e segurou a moeda. Ficou com ela na mão fechada.Neste instante estava na Avenida Celso Garcia. E sentia no peito todo o frio da manhã.Duzentão. Quer dizer: dois sorvetes de casquinha. Pouco.Ah! Muito sofre quem padece. Muito sofre quem padece? É uma canção de Sorocaba. Não. Não é. Então que é? Mui­to so­fre quem pa­de­ce. Alguém dizia isto sempre. Eltevina? Seu Cosme? Com certeza Etelvira, que vivia amando toda a gente. Até ele. Sujeitinha impossível. Só vendo o jeito de olhar dela.Bobagens. O melhor é ir andando.Foi.Pé no chão é bom só na roça. Na cidade é uma porcaria. Toda a gente estranha. É verdade. Agora é que ele reparava direito: ninguém andava descalço.Sentiu um mal­estar horrível. As mãos a gente ainda esconde nos bolsos. Mas os pés? Cousa horrorosa. Desafogou a cintura. Puxou as calças para baixo. Encolheu os artelhos. Deu dez passos assim. Pipocas. Não dava jeito mesmo.Pipocas. A gente da cidade que vá bugiar no inferno. Ajustou a cintura. Levantou as calças acima dos tornozelos. Acintosamente. E muito vermelho foi jogando os pés na calçada. Andando duro como se estivesse calçado.(Antônio de Alcântara Machado)

Quando a personagem é emissora e receptora de sua própria mensagem, temos um solilóquio. A narrativa de Alcântara Machado é introduzida por uma exposição sobre a condição social e física da personagem (“Ainda tinha duzentos réis”. “E sentia no peito todo o frio da manhã”) e o local em que ela se encontra (“Neste instante estava na Avenida Celso Garcia”). O que evidencia a passagem imediata da exposição para o solilóquio é a linguagem popular e segmentada de Ulisses (“Duzentão. Quer dizer: dois sorvetes de casquinha. Pouco”). A totalidade do terceiro parágrafo e a única linha do parágrafo seguinte reproduzem a fala interior da personagem.

O narrador retoma seu foco a partir de um lacômico “Foi”. O último parágrafo é construído com discursos indiretos livres – a fala do narrador e da personagem aparecem fundidas sem o uso de verbos dicendi (disse, falou, respondeu etc): “Desafogou a cintura. Puxou as calças para baixo. Encolheu os artelhos. Deu dez passos assim. Pipocas. Não dava jeito mesmo. Pipocas. A gente da cidade que vá bugiar no inferno”). 

A expressividade do texto está na variação de atitudes da personagem, inicialmente sofrida (“Ah! Muito sofre quem padece”), depois constrangida (“Sentiu um mal­estar horrível”) e, por fim, irreverente (“A gente da cidade que vá bugiar no inferno. Ajustou a cintura. Levantou as calças acima dos tornozelos. Acintosamente. E muito vermelho foi jogando os pés na calçada. Andando duro como se estivesse calçado”). Assim, o monólogo interior aponta as alterações de comportamento do aventureiro Ulisses.

Ação...sem verbos

Circuito fechado

Chinelos, vaso, descarga, Pia, sabonete. Água, Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, jornais, documentos, caneta, chaves, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforo. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena.Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis, Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água.Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, 

relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos.. Xícaras. Cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, chinelos, Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.(Ricardo Ramos)

Numa narrativa atípica, em que foram abolidos verbos, adjetivos e conjunções, o narrador relata o dia­a­dia de um executivo, sugerindo­lhe as ações dos substantivos que preenchem seu cotidiano.O autor viabiliza a narrativa na sucessão de cenários e objetos afins, tornando sutil a passagem do ambiente doméstico para o escritório e vice­versa: num movimento circular, subentende­se a ida ao trabalho e o retorno a casa, sendo os objetos, e o espaço a que pertencem, os índices espaciais e temporais desse percurso.Mesmo compondo um inventário de objetos, o texto perde seu caráter descritivo pela ausência de adjetivos que atribuíram características a cada substantivo. A estrutura narrativa é corrompida para apresentar, num único parágrafo, o automatismo do cotidiano de um publicitário. A segmentação de objetos é monótona, repetitiva e circular: começa quando o executivo desperta e termina quando ele se deita, após fechar um circuito diário de atividades lineares e invariáveis. Não há tensão, não há clímax.Assim, dispensando os elementos essenciais da narração, o texto alcança máxima originalidade nos índices domésticos (creme de barbear, pincel, cueca, gravata, paletó) e profissionais (esboço de anúncios, fotos, projetor de filmes, prova de anúncio). Temos, paradoxalmente, uma narrativa que conta a rotina de um homem voltado para o universo da publicidade, de onde se deduz que, nas invariantes do cotidiano, inserem­se as variantes da criação.

O jogo entre pontuação e sonoridade

Zilzinho

Zero a zero que zebra o time já não tem gás o tempo é fugaz o juiz vai finalizar que azar Zinho não desistiu faz o sinal da cruz buscando luz e zarpa com rapidez bola no pé e que clareza desliza esvazia a defesa e que beleza um chute cruzado mas sem diretriz que infeliz por um triz é sem juízo esse Zinho só tem verniz vai passar pó­de­arroz vai ser atriz a galera ta que ta zangada exaltada enfezada e com razão quer dar vazão arma o banzé exige desempenho e desempate um golzinho só unzinho faz a fineza seu juiz de desonrar sua origem inglesa atrase o relógio mostre grandeza e lá vai o Zinho de novo sozinho solta essa bola rapaz não seja voraz mas que esperteza que braveza é esse rapaz é um faz­tudo.Em zigue­zaguedestinadodeixa a zaga zonzapra traz ta na cozinha e zás­trás gol BRAZILZILZILZINHO!!!!(Lia Zatz)

O texto reproduz a irradiação de uma partida de futebol: a ausência de pontuação dá o ritmo acelerado da locução de rádio.

A aliteração contínua forma rimas que produzem sonoridade e acrescentam poeticidade ao texto (“que clareza desliza esvazia a defesa e que beleza”). Um recurso concretiza acentua a estética inovadora e poética: a quebra da linearidade com palavra zigue­zague corta bruscamente a leitura, diminuindo­lhe o ritmo – (como faz um locutor nos lances que antecedem o gol) ­, intensificando o som até culminar com a fusão gráfica e fonética Brasil/Zil/Zinho.

A disposição oblíqua da palavra desatinado forma a letra “z! (matriz das aliterações predominantes), que graficamente forma o zigue­zague do drible do jogador e impõe uma leitura lenta.

Assim, temos um flagrante narrativo em que um tema prosaico como uma partida de futebol torna­se criativamente poético.

A narração Escolar

A narração, no sentido escolar do termo, é um texto conciso e superficial, em que os fatos na podem ser aprofundados devido a exíguo espaço para consecução da história (em média 30 linhas). Por esse motivo, os índices temporais devem ser os imprescindíveis para mensurar cronologicamente a história; o espaço é apenas citado ( nos romances, a localização espacial é delimitada e caracterizada, às vezes, em muitas páginas); as personagens são apenas as essenciais ao desenrolar dos fatos; quanto ao enredo, as ações são geradas em função de um acontecimento (nas narrações extensas são vários os acontecimentos que engendram o enredo).A narração é a modalidade, idade mais criativa e que mais possibilidades dá à imaginação para tecer infinitas combinações de estrutura e enredo. Entretanto, numa simplificação pedagógica, convencionou­se uma estrutura em que as personagens, o espaço e o tempo geralmente são mencionadas na exposição. A partir do desenvolvimento, o acontecimento instaurador da tensão ou conflito começa a se delinear ( um casamento, um crime, um encontro, uma surpresa etc), provocando suspense. A complicação decorrente atinge um ponto maior de tensão chamado clímax. O desfecho caracteriza­se pela solução do conflito ou pelo esclarecimento da trama ou ainda por apresentar uma situação de equilíbrio desejada.Ao desenvolver um texto narrativo­descritivo, o aluno deve intercalar passagens de ação com flagrantes descritivos, de modo a delinear personagens e lugares com intenção funcional, já que na concisão da narrativa escolar devem figurar somente os dados relevantes ao enredo. Se o aluno preferir um texto essencialmente narrativo, pode prescindir do descritivismo, privilegiando apenas as ações em seu percurso temporal.Assim, visando à narração para vestibular, personagens e ação são imprescindíveis. Além desses elementos, em sua redação não deve faltar emoção, suspense, surpresa e criatividade para torna­la cativante ao leitor. Leia cuidadosamente os textos transcritos na parte de “criatividade na narração” e observe como a linguagem é fundamental para definir o estilo, conferindo um toque de originalidade à história.

Receita de texto narrativo

• Com alguns traços marcantes e essenciais, procure caracterizar física e psicologicamente sua personagem. Torne sua idealização interessante para o leitor.Ex: fisicamente: olhos castanhos.Psicologicamente: incrédulo, ingênuo.• Trabalhe sua linguagem de modo a combinar dados físicos e psicológicos, oferecendo uma visão totalizante da personagem.Ex: Nos olhos castanhos de Miguel, havia um brilho incrédulo e ingênuo enquanto lia a carta de Joana.• Lembre­se de que os períodos muito longos (num espaço aproximado de 30 linhas) tornam o texto “arrastado”; já os períodos curtos demais, se não forem bem construídos, podem tornar primária a redação. Prefira períodos curtos, sintetizando as ações.Ex: Todos correram alvoroçados; ninguém se machucou. Primeiro o pânico, depois o riso.• Procure criar uma situação inusitada que desencadeia uma complicação, pois é o inesperado que sustenta o gosto pela leitura.• Você pode narrar com ou sem diálogos. Os discursos diretos, quanto à pontuação, devem ser padronizados. Observe que os diálogos são um recurso da literatura para cativar o leitor. Quando bem articulados, tornam mais fluente a narrativa.Ex: ­ O que você esperava que eu fizesse? – gritou João.­ Esperava que reagisse, só isso!.• Ao introduzir o ambiente na narração, não se detenha em detalhes supérfluos. Caracterize os espaços e objetos determinantes da ação.Ex: Na sala, apenas o sofá vermelho que acalentava as noites insones de Luís.•Procure estender ao desfecho a criatividade que você manteve ao longo do texto. O desfecho deve ser original, inesperado, surpreendente, para não transformar a narrativa num simples relato.• Não se esqueça de que o enredo de sua narrativa, antes do desfecho, deve apresentar suspense e clímax.

Assim, esquematizando, temos:

Personagem(s)definem­se características e pelas ações.

Enredoação, organização de fatos.

Tempocronológico (tempo real)psicológico (tempo mental)

Espaçolugar (definido pela descrição ou apenas citado)

Foco narrativo

de terceira pessoa – narrador onisciente (tudo sabe, conhece a interioridade das personagens)narrador observador (tudo vê)de primeira pessoa (de dentro da história) ­ narrador­personagem (conta o que vê como personagem)

Discursodireto (fala da personagem)indireto (o narrador (o narrador traduz a fala da personagem)indireto livre (fusão da fala do autor e da personagem)

Uma narração escolar

Considerado que o aluno, na escola, é preparado para ter bom desempenho no vestibular, sua narração não deve ser longa como um conto, nem tão curta quanto uma piada; no entanto, deve ter o enredo cativante de um conto e a simplicidade de uma piada, sempre com a originalidade e a linguagem que devem caracterizar a mentalidade e a criatividade de um adolescente.Observe como a proposta abaixo foi habilmente desenvolvida por uma aluna.

Proposta de redação

Elabore um texto narrativo imaginando os possíveis desfechos da situação apresentada no texto abaixo.A narrativa apresenta um conteúdo inusitado e você não deve adapta­lo aos padrões da realidade; portanto, não conclua seu texto dizendo que tudo não passou de um sonho.Não se esqueça de que você deve dar continuidade à história; por isso, narra em 3ª pessoa, contando as situações por que passou a personagem do texto.

O homem cuja orelha cresceu

Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite,estava fazendo hora extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro,35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns 10 centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário do material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua.(Ignácio de Loyola Brandão)

Super­orelha, o herói tupiniquim

Fez peripécias incríveis para passar pela rua antes de chegar à pensão; vestiu uma capa de chuva e pôs o capuz em pleno calor de verão. Só falavam os óculos e o chapéu para se tornar uma criatura perfeita de um espião de filmes classe B. Um Bond tupiniquim. Entrou na pensão como um larápio, pé ante pé, sem chamar a atenção de uma mísera mosca. Chegou em casa e percebeu tristemente que as orelhas haviam crescido por demais. Sentiu­se o próprio Dumbo. Para esconde­las, enrolou­as no alto da cabeça, amarrou­as e pôs seu enorme chapéu Panamá, que usou no carnaval para sair de malandro. Do jeito que estavam, não haveriam de ficar! Saiu durante a noite para oxigenar seu cérebro. Viu tipos estranhos na cidade: bêbados, prostitutas, homossexuais, viciados. Todos tipos estranhos, e a sociedade aceitava­os como eles eram, por que não a ele e às suas enormes orelhas?Tomou a decisão mais difícil de sua vida: revelaria ao mundo suas orelhas.Tirou seu chapéu, soltou­as e pensou consigo como era bom ser livre de convenções, de dogmas, de tabus. Saiu contente pela cidade afora, balançando suas enormes orelhas. Chegou em casa e sentiu­se mais humano, afinal tinha­se aceitado como realmente era. Dormiu o sono dos deuses e dos anjos. Acordou no outro dia, como outro dia qualquer da semana, e foi ao seu trabalho.Todos o olhavam, mas nada comentavam com ele, porém percebia os cochichos às suas costas. Foi despedido e descriminado por todos. Porém, ele agora era especial, ouvia a quinhentos metros de distância e voava, como um super­herói. Passou a trabalhar na polícia, como agente muito especial, que ouvia o que os criminosos planejavam e voava para contar à polícia. Quem disse que o Terceiro Mundo não pode ter super­heróis? Pode sim, e no Brasil ele agora é conhecido como Super­Orelha, o herói tupiniquim.Luciana Andréa S. Simão 2º Colegial – Unidade Santo Amaro ­ SP 

LINGUAGEM DENOTATIVA E LINGUAGEM CONOTATIVA:

QUANDO E POR QUE AS UTILIZAMOS

Você já pensou na importância que as palavras ou as frases têm quando

queremos expressar uma idéia ou escrever um texto? Pois é, ao escrever ou falar,

valemo-nos do significado das palavras, para propositalmente mostrarmos a nossa

intenção. Se quisermos ser objetivos no que redigimos ou falamos, precisamos

utilizar uma linguagem denotativa, a palavra ou sentença empregada está na sua

significação usual, literal, referindo-se a uma realidade concreta ou imaginária. Por

exemplo, a publicação da seguinte manchete no jornal: “NÃO CHOVE NO

NORDESTE HÁ DOIS MESES”. O verbo chover está sendo empregado numa

linguagem denotativa, pois a sua significação é literal, refere-se à precipitação

pluviométrica ou, trocando em miúdos, à água que cai do céu. Agora, se quisermos

evocar idéias por intermédio da emoção ou subjetividade, temos a linguagem

conotativa, que corresponde a uma transferência do significado usual para um

sentido figurado. Quando isso acontece, as figuras enriquecem o texto ou discurso.

Por exemplo, se lermos em um site de relacionamento a seguinte frase: “NÃO

CHOVE EM MINHA HORTA HÁ ALGUM TEMPO.”, o verbo chover, aqui, não está

num sentido literal, mas figurativo, porque o seu significado não dá a idéia de chuva

propriamente dita, mas de que faz algum tempo que uma pessoa que não tem

nenhum relacionamento com alguém.

Portanto, as palavras, expressões e enunciados da língua atuam

em dois planos distintos: a linguagem denotativa e a linguagem

conotativa. Vejamos cada uma delas com mais detalhes, para saber

quando e por que as usamos.

Linguagem denotativa

Leia o texto abaixo.

Há alguns anos, o Dr. Johnson O’ Connor, do Laboratório de Engenharia Humana, de Boston, e do Instituto de Tecnologia, de Hoboken, Nova Jersey, submeteu a um teste de vocabulário cem alunos de um curso de formação de dirigentes de empresas industriais, os executivos. Cinco anos mais tarde, verificou que os dez por cento que havia revelado maior conhecimento ocupavam cargos de direção, ao passo que dos vinte e cinco por cento mais “fracos” nenhum alcançara igual posição.

Isso não prova, entretanto, que, para “vencer na vida”, basta ter um bom vocabulário; outras qualidades se fazem, evidentemente, necessárias. Mas parece não restar dúvida de que, dispondo de palavras suficientes e adequadas à expressão do pensamento de maneira clara, fiel e precisa, estamos em melhores condições de assimilar conceitos, de refletir, de escolher, de julgar, do que outros cujo acervo léxico seja insuficiente ou medíocre para tarefa vital da comunicação.

Pensamento e expressão são interdependentes, tanto é certo que as palavras são o revestimento das idéias e que, sem elas, é praticamente impossível pensar. Como pensar que “amanhã tenho uma aula às 8 horas”, se não prefiguro mentalmente essa atividade por meio dessas ou outras palavras equivalentes? Não há como se pensar no nada. A própria clareza das idéias (se é que a temos sem palavras) está intimamente relacionada com a clareza e a precisão das expressões que as traduzem. As próprias impressões colhidas em contato com o mundo físico, através da experiência sensível, são tanto mais vivas quanto mais capazes de serem traduzidas em palavras – e sem impressões vivas não haverá expressão eficaz. É um círculo vicioso, sem dúvida: “... nossos hábitos linguísticos afetam e são igualmente afetados pelo nosso comportamento, pelos nossos hábitos físicos e mentais normais, tais como a observação, a percepção, os sentimentos, a emoção, a imaginação”. De forma que um vocabulário escasso e inadequado, incapaz de veicular impressões e concepções, mina o próprio desenvolvimento mental, tolhe a imaginação e o poder criador, limitando a capacidade de observar, compreender e até mesmo de sentir. (...)

Portanto, quanto mais variado e ativo é o vocabulário disponível, tanto mais claro, tanto mais profundo e acurado é o processo mental da reflexão. Reciprocamente, quanto mais escasso e impreciso, tanto mais dependentes estamos do grunhido, do grito ou do gesto, formas rudimentares de comunicação capazes de traduzir apenas expansões instintivas dos primitivos, dos infantes e... dos irracionais.

(GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. 8 ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1980, p. 155-56).

Otton M. Garcia, nesse texto, trata sobre a importância de termos um

vocabulário amplo, pois quanto mais palavras conhecermos, mais condições

teremos de nos expressar quando comunicamos. Todavia, se tivermos um

vocabulário escasso e inadequado, teremos grandes dificuldades em expor nossas

idéias e compreender o que outras pessoas dizem. Para expor essa temática da

importância do vocabulário, Garcia

utilizou-se de uma estatística feita

nos Estados Unidos, comprovando

que aquelas pessoas que tinham

revelado um maior vocabulário se

tornaram chefes de seus setores, no

entanto, entre aqueles que tinham

um vocabulário muito limitado,

nenhum chegou a ocupar tal posto.

As palavras usadas no texto por Garcia, para desenvolver este assunto, são,

na sua grande maioria, abstratas, tais como “conhecimento, posição, qualidade,

pensamento, expressão etc.”, pois fazem referência a conceitos, preservando seu

sentido literal.

Portanto, há linguagem denotativa quando tomamos a palavra no seu sentido

usual ou literal, isto é, naquele que lhe atribuem os dicionários; seu sentido é

objetivo, explícito. Ela designa ou denota determinado objeto, referindo-se a um

único sentido. Você se lembra do texto “Para quem não dorme de touca”, cuja

personagem entendia tudo literalmente? Segundo o entendimento dessa

personagem, a linguagem tem somente uma forma de expressão. Todavia, isso não

é verdade, pois ela pode ser conotativa também.

Linguagem Conotativa

Além do sentido literal, cada palavra remete a inúmeros outros sentidos

virtuais, conotativos, que são apenas sugeridos, evocando outras idéias

associadas de ordem abstrata, subjetiva. Leia o poema abaixo.

No Corpo De que vale tentar reconstruir com palavras o que o verão levou entre nuvens e risos junto com o jornal velho pelos ares? O sonho na boca, o incêndio na cama, o apelo na noite agora são apenas esta contração (este clarão) de maxilar dentro do rosto A poesia é o presente Ferreira Gullar

Ao lermos esse poema, percebemos que as palavras não têm um sentido

literal, mas figurativo. O eu-lírico compara seu passado a um jornal velho levado

pelo vento. O seu passado é apenas uma memória. Ele começa a reviver esse

passado na segunda estrofe, principalmente a sua vivência amorosa (“incêndio na

cama”, “o apelo na noite”). Disso, o que ficou no momento (“agora”) são apenas as

boas lembranças, que lhes trazem um sorriso estampado no rosto (“(este clarão) de

maxilar dentro do rosto”).

É muito comum encontrarmos a linguagem conotativa em textos literários,

pois eles têm uma preocupação essencialmente estética. No entanto, a

encontramos também em propagandas, textos jornalísticos, histórias em

quadrinhos, charges e em outros gêneros textuais. Pois, por meio dessa linguagem

se exploram diversos significados de uma palavra, causando o interesse do leitor

para a manchete ou provocando o riso e o duplo sentido. Veja esta propaganda a

seguir:

O outdoor da Assistência Funeral SINAF “Como arrumar uma coroa” utiliza-se

tanto o verbo como o substantivo no seu sentido conotativo (arrumar = conseguir,

coroa = senhora idosa) e para contribuir com esse sentido é colocada a imagem de

um senhor idoso e jovial (um coroa esperto) ao lado da mensagem escrita. Porém,

com o auxílio da imagem (este senhor idoso) atrelada ao nome do produto

(Assistência Funeral) se faz uma outra leitura: o verbo arrumar e o substantivo

coroa passam a ter seu sentido original, denotativo (conseguir enfeite de flores

utilizados em funerais).

É preciso que o destinatário tenha um conhecimento linguístico e cultural para

perceber a brincadeira irônica feita

na mensagem publicitária como um

recurso suavizador do assunto

(morte) delicado para nós ocidentais.

A ambiguidade suaviza e dissimula a

mensagem, mas os dados precisam

estar armazenados na memória do

público alvo para que ele reconheça

o jogo da mensagem.

Os provérbios ou ditos

populares são também um outro

exemplo de exploração da linguagem

no seu uso conotativo. Assim,

"Quem está na chuva é para se

molhar" equivale a "Quando alguém opta por uma determinada experiência, deve

assumir todas as regras e consequências decorrentes dessa experiência". Do

mesmo modo, "Casa de ferreiro, espeto de pau" significa “O que a pessoa faz

fora de casa, para os outros, não faz em casa, para si mesma.”

Leia, agora, este texto jornalístico.

A seca está de volta

Um dia, em janeiro passado, anunciada pelo pau d’arco que não floriu, pelo jabuti que não pôs, pelo pássaro João-de-barro que fez sua casa com a porta virada para o nascente, a seca reapareceu no Nordeste e plantou-se em Irecê, na Bahia. Dali, espalhou-se pelo centro do Estado: consumiu terras de Ibitiba, Ibipeba, Jussara, Brumado, Barra do Mendes e de mais 140 municípios. Com duas semanas, tomou Xique-Xique da influência do rio São Francisco.

Depois saltou para o norte de Minas Gerais e apoderou-se de Janaúba, Espinosa, Mato Verde, Porteirinha, Várzea de Palma e de mais de 35 cidades. Então retrocedeu, cortou o sul da Bahia e insinuou-se pelo sudeste do Piauí. Dormiu por muitas noites em São Raimundo Nonato. Acordou de outras tantas em São João do Piauí, Simplício Mendes, Paulistana, Jaicós e Picos, onde era aguardada pelo antropólogo popular João Feliciano da Silva Rego que, em dezembro do ano passado, no dia de Santa Luzia, fizera a experiência das três pedrinhas de sal e sentenciara para os incrédulos:

- A seca está chegando.

Ela ocupou Afrânio, Parnamirim, Bodocó, Trindade e Salgueiro, no oeste de Pernambuco, e reduziu à metade o movimento comercial na rotineira feira de gado de Ouricuri. Foi vista chegando em dias de março no oeste do Rio Grande do Norte, onde permanece no Vale do Siridó, e no

sudoeste do Ceará, na região dos Inhamus, onde encontrou bom abrigo. Trilhou depois os caminhos sertanejos da Paraíba e estimulou agricultores a invadir três cidades. Alastrou-se em seguida pelo oeste de Alagoas e está agora crescendo lentamente no nordeste de Sergipe. Já engoliu até hoje 811 mil quilômetros quadrados de 736 municípios, 222 dos quais considerados irrecuperáveis em termos de produção agrícola. E atinge direta e indiretamente 12 milhões de pessoas.

NOBLAT. Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. São Paulo: Contexto, 2003. p.102-03

Nesse texto vemos que o objetivo do jornalista Ricardo Noblat é escrever

sobre a seca que devastou o Nordeste brasileiro. Para isso, ele não se utilizou da

linguagem denotativa, mas conotativa. Ele procura personificar a seca, ou seja, ele

atribui ações humanas para um elemento que não é humano. Essa personificação

ocorre mediante uma escolha cuidadosa dos verbos (reapareceu, plantou-se,

espalhou-se, consumiu, saltou, apoderou-se, retrocedeu, cortou, dormiu, acordou,

ocupou, trilhou, engoliu etc.). Além disso, observamos que o termo seca só aparece

uma vez no título e duas no corpo do texto (uma no primeiro parágrafo e a outra na

fala do antropólogo popular), ele procura nomeá-la por figuras verbais que remetem

à seca. Noblat recorre, também, aos pronomes (o pronome pessoal ela e o reflexivo

se), que ajudam a reforçar no leitor a idéia de um ser dotado de vontade própria,

que escolhe os caminhos por onde passará na sua viagem de destruição.

Embora se espere um caráter mais objetivo, mais literal, em um texto

jornalístico, a intenção de Noblat foi a de permitir que os leitores pudessem

construir uma imagem dos efeitos da passagem da seca pela região. Para isso,

precisava atribuir a esse fenômeno um comportamento quase humano, algo que só

pode ser obtido pela exploração do uso figurado de vários termos. O resultado é um

texto quase poético que nos permite visualizar as cidades flageladas e imaginar o

sofrimento de tantas pessoas afetadas.

Portanto, a conotação é a significação subjetiva e figurada da palavra; ocorre

quando um termo evoca outras realidades por associações que ele provoca.

O quadro abaixo sintetiza as diferenças fundamentais entre denotação e

conotação:

DENOTAÇÃO CONOTAÇÃO

palavra com significação restrita palavra com significação ampla

palavra com sentido comum do dicionário

palavra cujos sentidos extrapolam o sentido comum

palavra usada de modo automatizado

palavra usada de modo criativo

linguagem comum linguagem rica e expressiva

Exemplos de conotação e denotação.

Nas receitas a seguir, as palavras têm, na primeira, um sentido objetivo,

explícito, constante; foram usadas denotativamente. Na segunda, apresentam

múltiplos sentidos, foram usadas conotativamente. Observa-se que os verbos que

ocorrem tanto em uma quanto em outra - dissolver, cortar, juntar, servir, retirar,

reservar - são aqueles que costumam ocorrer nas receitas; entretanto, o que faz a

diferença são as palavras com as quais os verbos combinam, combinações

esperadas no texto 1, combinações inusitadas no texto 2. Vejam a seguir e

compreendam melhor o que acabamos de expor.

TEXTO I Bolo de arroz 3 xícaras de arroz 1 colher (sopa) de manteiga 1 gema 1 frango 1 cebola picada

TEXTO II Receita Ingredientes 2 conflitos de gerações 4 esperanças perdidas 3 litros de sangue fervido 5 sonhos eróticos

1colher (sopa) de molho inglês 1colher (sopa) de farinha de trigo 1 xícara de creme de leite Salsa picadinha Prepare o arroz branco, bem solto. Ao mesmo tempo, faça o frango ao molho, bem temperado e saboroso. Quando pronto, retire os pedaços, desosse e desfie. Reserve. Quando o arroz estiver pronto, junte a gema, a manteiga, coloque numa forma de buraco e leve ao forno. No caldo que sobrou do frango, junte a cebola, o molho inglês, a farinha de trigo e leve ao fogo para engrossar. Retire do fogo e junte o creme de leite. Vire o arroz, já assado, num prato. Coloque o frango no meio e despeje por cima o molho. Sirva quente. (Terezinha Terra)

2 canções dos Beatles Modo de preparar Dissolva os sonhos eróticos nos dois litros de sangue fervido e deixe gelar seu coração. Leve a mistura ao fogo, adicionando dois conflitos de gerações às esperanças perdidas. Corte tudo em pedacinhos e repita com as canções dos Beatles o mesmo processo usado com os sonhos eróticos, mas desta vez deixe ferver um pouco mais e mexa até dissolver. Parte do sangue pode ser substituída por suco de groselha, mas os resultados não serão os mesmos. Sirva o poema simples ou com ilusões. (Nicolas Behr)

Fonte: (http://acd.ufrj.br/~pead/tema04/denotacaoeconotacao.html)

Leia o poema “Profundamente” de Manuel Bandeira. Observe que ele trabalha com um termo de forma denotativa e conotativa. Procure verificar que termo é esse?

Profundamente

Quando ontem adormeci Na noite de São João Havia alegria e rumor Vozes cantigas e risos

Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei Não ouvi mais vozes nem risos

Apenas balões Passavam errantes

Silenciosamente Apenas de vez em quando

O ruído de um bonde Cortava o silêncio Como um túnel.

Onde estavam os que há pouco Dançavam Cantavam E riam

Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo Estavam todos deitados

Dormindo Profundamente.

Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João

Porque adormeci.

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó Meu avô

Totônio Rodrigues Tomásia Rosa

Onde estão todos eles?

— Estão todos dormindo Estão todos deitados

Dormindo Profundamente.

Interpretando o poema, pode-se dizer que o eu-lírico se apresenta em dois

tempos distintos: o passado (quando tinha seis anos) e o presente (hoje); bem

destacados pelos advérbios que aparecem no início da 1ª (“ontem”) e da 6ª (“hoje”)

estrofes, respectivamente.

O início do texto mostra algumas lembranças do eu-lírico vividas na noite de

São João, quando ele tinha seis anos e não pôde ver o final da festa, porque tinha

adormecido. Então, ao acordar (possivelmente, no meio da madrugada), toda a

alegria produzida pelas músicas, risadas e brincadeiras do cotidiano das pessoas

daquela época tinha desaparecido, porque todos da casa estavam dormindo

profundamente (no sentido literal - denotativo). No entanto, a partir da 5ª estrofe,

percebe-se a mudança de tempo e a mesma angústia vivida pelo eu-lírico de não

ouvir mais as vozes daquele tempo e se questiona até perceber que eles não

estavam mais lá, pois haviam morrido (“dormido profundamente” no sentindo

conotativo).

É interessante a brincadeira que o poeta faz com as palavras em seu sentido

denotativo e conotativo (“dormir profundamente”- 4ª e 7ª estrofes); percebe-se,

portanto, que se trata de um bom entendedor das palavras que o cercam e que,

mediante um vocabulário simples, consegue atingir temas tão profundos como a

morte e a saudade.

Portanto, ao analisarmos um texto, temos que observar bem o significado das

palavras, a fim de depreendermos os sentidos que estão nele presentes. O que nos

ajudará muito entendermos se a palavra tem um sentido conotativo ou literal será o

contexto, conforme vimos nos capítulos anteriores.

Você conseguiu achar qual é o termo?

Sobre o que fala o poema?

Significação das palavras: Sinônimos, Antônimos e Parônimos

Sinônimos

São palavras que apresentam, entre si, o mesmo significado.

triste = melancólico.resgatar = recuperarmaciço = compactoratificar = confirmardigno = decente, honestoreminiscências = lembrançasinsipiente = ignorante.

Antônimos

São palavras que apresentam, entre si, sentidos opostos, contrários. bom x mau bem x mal condenar x absolver simplificar x complicar

Homônimos

São palavras iguais na forma e diferentes na significação. Há três tipos de homônimos:

Homônimos Perfeitos

Têm a mesma grafia e o mesmo som. cedo (advérbio) e cedo (verbo ceder); meio (numeral), meio (adjetivo) e meio (substantivo).

Homônimos Homófonos

Têm o mesmo som e grafias diferentes.

sessão (reunião), seção (repartição) e cessão (ato de ceder); concerto (harmonia) e conserto (remendo).

Homônimos Homófagros

Têm a mesma grafia e sons diferentes.

almoço (refeição) e almoço (verbo almoçar); sede (vontade de beber) e sede (residência).

Parônimos

São palavras de significação diferente, mas de forma parecida, semelhante.

retificar e ratificar; emergir e imergir.

Lista de Parônimos

acender = atear fogoascender = subiracerca de = a respeito de, sobrecerca de = aproximadamentehá cerca de = faz aproximadamente, existeaproximadamente, acontece aproximadamenteafim = semelhante, com afinidadea fim de = com a finalidade deamoral = indiferente à moralimoral = contra a moral, libertino, devassoapreçar = marcar o preçoapressar = acelerararrear = pôr arreiosarriar = abaixar

bucho = estômago de ruminantesbuxo = arbusto ornamentalcaçar = abater a caçacassar = anularcela = aposentosela = arreiocenso = recenseamentosenso = juízocessão = ato de doarseção ou secção = corte, divisãosessão = reuniãochá = bebidaxá = título de soberano no Orientechalé = casa campestrexale = cobertura para os ombroscheque = ordem de pagamentoxeque = lance do jogo de xadrez, contratempocomprimento = extensãocumprimento = saudaçãoconcertar = harmonizar, combinarconsertar = remendar, repararconjetura = suposição, hipóteseconjuntura = situação, circunstânciacoser = costurarcozer = cozinhardeferir = concederdiferir = adiardescrição = representaçãodiscrição = ato de ser discretodescriminar = inocentardiscriminar = diferençar, distinguirdespensa = compartimentodispensa = desobrigaçãodespercebido = sem atenção, desatentodesapercebido = desprevenidodiscente = relativo a alunosdocente = relativo a professoresemergir = vir à tonaimergir = mergulharemigrante = o que saiimigrante = o que entraeminente = nobre, alto, excelenteiminente = prestes a aconteceresperto = ativo, inteligente, vivoexperto = perito, entendidoespiar = olhar sorrateiramenteexpiar = sofrer pena ou castigoestada = permanência de pessoaestadia = permanência de veículoflagrante = evidentefragrante = aromáticofúsil = que se pode fundirfuzil = carabinafusível = resistência de fusibilidade calibradaincerto = duvidosoinserto = inserido, inclusoincipiente = inicianteinsipiente = ignoranteindefesso = incansávelindefeso = sem defesa

infringir = transgredir, violar, desrespeitarintemerato = puro, íntegro, incorruptointimorato = destemido, valente, corajosointercessão = súplica, rogointerse(c)ção = ponto de encontro de duaslinhaslaço = laçadalasso = cansado, frouxoratificar = confirmarretificar = corrigirsoar = produzir somsuar = transpirarsortir = abastecersurtir = originarsustar = suspendersuster = sustentartacha = brocha, pequeno pregotaxa = tributotachar = censurar, notar defeito emtaxar = estabelecer o preçovultoso = volumosovultuoso = atacado de vultuosidade (congestão na face)

Estrutura e formação de palavras

Conceitos básicos:

Observe as seguintes palavras: escol-a escol-arescol-arização escol-arizarsub-escol-arização

Observando-as, percebemos que há um elemento comum a todas elas: a forma escol-. Além disso, em todas há elementos destacáveis, responsáveis por algum detalhe de significação. Compare, por exemplo, escola e escolar: partindo de escola, formou-se escolar pelo acréscimo do elemento destacável -ar.

Por meio desse trabalho de comparação entre as diversas palavras que selecionamos, podemos depreender a existência de diferentes elementos formadores. Cada um desses elementos formadores é uma unidade mínima de significação, um elemento significativo indecomponível, a que damos o nome de morfema.

Classificação dos morfemas:

Radical

Há um morfema comum a todas as palavras que estamos analisando: escol-. É esse morfema comum – o radical – que faz com que as consideremos palavras de uma mesma família de significação – os cognatos. O radical é a parte da palavra responsável por sua significação principal.

Afixos

Como vimos, o acréscimo do morfema –ar cria uma nova palavra a partir de escola. De maneira semelhante, o acréscimo dos morfemas sub- e –arização à forma escol- criou subescolarização. Esses morfemas recebem o nome de afixos. Quando são colocados antes do radical, como acontece com sub-, os afixos recebem o nome de prefixos. Quando, como –arização, surgem depois do radical os afixos são chamados de sufixos. Prefixos e sufixos, além de operar mudança de classe gramatical, são capazes de introduzir modificações de significado no radical a que são acrescentados.

Desinências

Quando se conjuga o verbo amar, obtêm-se formas como amava, amavas, amava, amávamos, amáveis, amavam. Essas modificações ocorrem à medida que o verbo vai sendo flexionado em número (singular e plural) e pessoa (primeira, segunda ou terceira). Também ocorrem se modificarmos o tempo e o modo do verbo (amava, amara, amasse, por exemplo).

Podemos concluir, assim, que existem morfemas que indicam as flexões das palavras. Esses morfemas sempre surgem no fim das palavras variáveis e recebem o nome de desinências. Há desinências nominais e desinências verbais.

• Desinências nominais: indicam o gênero e o número dos nomes. Para a indicação de gênero, o português costuma opor as desinências -o/-a: garoto/garota; menino/menina

Para a indicação de número, costuma-se utilizar o morfema –s, que indica o plural em oposição à ausência de morfema, que indica o singular: garoto/garotos; garota/garotas; menino/meninos; menina/meninas. No caso dos nomes terminados em –r e –z, a desinência de plural assume a forma -es: mar/mares; revólver/revólveres; cruz/cruzes.

• Desinências verbais: em nossa língua, as desinências verbais pertencem a dois tipos distintos. Há aqueles que indicam o modo e o tempo (desinências modo-temporais) e aquelas que indicam o número e a pessoa

dos verbos (desinência número-pessoais):

cant-á-va-mos cant-á-sse-is

cant: radical cant:

radical

-á-: vogal temática

-á-: vogal temática

-va-: desinência

modo-temporal (caracteriza o

pretérito imperfeito do indicativo)

-sse-:desinência modo-temporal (caracteriza o

pretérito imperfeito do subjuntivo)

-mos: desinência número-pessoal

(caracteriza a primeira

pessoa do plural)

-is: desinência número-pessoal (caracteriza a

segunda pessoa do plural)

Vogal temática

Observe que, entre o radical cant- e as desinências verbais, surge sempre o morfema –a. Esse morfema, que liga o radical às desinências, é chamado de vogal temática. Sua função é ligar-se ao radical, constituindo o chamado tema. É ao tema (radical + vogal temática) que se acrescentam as desinências. Tanto os verbos como os nomes apresentam vogais temáticas.

• Vogais temáticas nominais: São -a, -e, e -o, quando átonas finais, como em mesa, artista, busca, perda, escola, triste, base, combate. Nesses casos, não poderíamos pensar que essas terminações são desinências indicadoras de gênero, pois a mesa, escola, por exemplo, não sofrem esse tipo de flexão. É a essas vogais temáticas que se liga a desinência indicadora de plural: mesa-s, escola-s, perda-s. Os nomes terminados em vogais tônicas (sofá, café, cipó, caqui, por exemplo) não apresentam vogal temática.

• Vogais temáticas verbais: São -a, -e e -i, que caracterizam três grupos de verbos a que se dá o nome de conjugações. Assim, os verbos cuja vogal temática é -a pertencem à primeira conjugação; aqueles cuja vogal temática é -e pertencem à segunda conjugação e os que têm vogal temática -i pertencem à terceira conjugação.

primeira conjugação

segunda conjugação

terceira conjugação

govern-a-va

estabelec-e-sse defin-i-ra

atac-a-va cr-e-ra imped-i-sse

realiz-a-sse mex-e-rá ag-i-mos

Vogal ou consoante de ligação

As vogais ou consoantes de ligação são morfemas que surgem por motivos eufônicos, ou seja, para facilitar ou mesmo possibilitar a leitura de uma determinada palavra. Temos um exemplo de vogal de ligação na palavra escolaridade: o -i- entre os sufixos -ar- e -dade facilita a emissão vocal da palavra. Outros exemplos: gasômetro, alvinegro, tecnocracia, paulada, cafeteira, chaleira, tricota.

Há em Português: palavras primitivas, palavras derivadas, palavras simples, palavras compostas.

Palavras primitivas: aquelas que, na língua portuguesa, não provêm de outra palavra. Pedra, flor.

Palavras derivadas: aquelas que, na língua portuguesa, provêm de outra palavra.

Pedreiro, floricultura.

Palavras simples: aquelas que possuem um só radical. Azeite, cavalo.

Palavras compostas: aquelas que possuem mais de um radical. Couve-flor, planalto.

As palavras compostas podem ou não ter seus elementos ligados por hífen.

Processos de formação de palavras:

Composição

Haverá composição quando se juntarem dois ou mais radicais para formar nova palavra. Há dois tipos de composição; justaposição e aglutinação.

• Justaposição: ocorre quando os elementos que formam o composto são postos lado a lado, ou seja, justapostos:

Pára-raios, corre-corre, guarda-roupa, segunda-feira, girassol.

• Composição por aglutinação: ocorre quando os elementos que formam o composto se aglutinam o que pelo menos um deles perde sua integridade sonora:

Aguardente (água + ardente), planalto (plano + alto)

Pernalta (perna + alta), vinagre (vinho + acre)

Derivação por acréscimo de afixos

É o processo pelo qual se obtêm palavras novas (derivada) pela anexação de afixos à palavra primitiva. A derivação pode ser: prefixal, sufixal e parassintética.

• Prefixal (ou prefixação): a palavra nova é obtida por acréscimo de prefixo.

In--------feliz des----------leal Prefixo radical prefixo radical

• Sufixal (ou sufixação): a palavra nova é obtida por acréscimo de sufixo.

Feliz----mente leal------dade Radical sufixo radical sufixo

• Parassintética: a palavra nova é obtida pelo acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo. Por parassíntese formam-se principalmente verbos.

En-------trist-----ecer Prefixo radical sufixo

en--------tard-----ecer prefixo radical sufixo

Outros tipos de derivação

Há dois casos em que a palavra derivada é formada sem que haja a presença de afixos. São eles: a derivação regressiva e a derivação imprópria.

• Derivação regressiva: a palavra nova é obtida por redução da palavra primitiva. Ocorre, sobretudo, na formação de substantivos derivados de verbos.

• Derivação imprópria: a palavra nova (derivada) é obtida pela mudança de categoria gramatical da palavra primitiva. Não ocorre, pois, alteração na forma, mas tão-somente na classe gramatical.

Observe:

jantar (substantivo) deriva de jantar (verbo) mulher aranha (o adjetivo aranha deriva do substantivo aranha) Não entendi o porquê da briga. (o substantivo porquê deriva da conjunção porque)

Outros processos de formação de palavras:

Hibridismo: é a palavra formada com elementos oriundos de línguas diferentes.

automóvel (auto: grego; móvel: latim) sociologia (socio: latim; logia: grego) sambódromo (samba: dialeto africano; dromo: grego)

ARCAÍSMO:

Arcaísmo é uma palavra, uma expressão ou mesmo uma construção frasal que caiu em desuso. Portanto, compromete a comunicação.

Veja como Paulo Mendes Campos inicia sua crônica "Ser brotinho", em edição de 1960 do livro O Cego de Ipanema.

"Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado: é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível".

Os arcaísmos, portanto, não foram sempre arcaísmos. Eles passam a existir com o passar do tempo e, muitas vezes, dependem do local ou contexto onde as expressões vocabulares são utilizadas. Há expressões usadas hoje em Portugal que no Brasil são consideradas arcaísmos. Veja:

A seguir, alguns arcaísmos e seus significados:

Vamos substituir os arcaísmos no texto abaixo?

Não fique macambúzio, seus quitutes e acepipes estão supimpas. Nesse sarau de trovadores e menestréis, servir-se-á alguma beberagem?

O texto, então, fica assim: Não fique triste, seus salgadinhos e docinhos estão excelentes. Nessa reunião de poetas e músicos, será servida alguma bebida?

NEOLOGISMO:

Neologismo É uma palavra ou expressão nova ou com sentido renovado, que conforme a intensidade do uso pode ser assimilada pela língua padrão. Expressa o dinamismo da língua/linguagem.

Os neologismos surgem da necessidade de nomear uma nova realidade, tanto no campo da ciência quanto no da arte, e mesmo a partir da linguagem comum e da influência de uma língua estrangeira (veremos na próxima coluna, que será sobre ESTRANGEIRISMOS).

Alguns neologismos atuais:

Processos de formação dos neologismos:

Há múltiplos processos de formação de neologismos. A criação de termos ou expressões pode surgir a partir de comparação com termos já usados, por prefixação, sufixação, justaposição ou aglutinação de termos e por empréstimo de termos de outras línguas (estrangeirismos). Exemplos:

• Super-herói (herói muito capacitado) • Não-policial (civil) • Enxugamento (contenção de despesas) • Pacotão, mensalão (conjunto de medidas) • Besteirol (conjunto cômico de bobagens) • Skatistas (que usam skate) • Jeans (estrangeirismo) • Xampu (estrangeirismo) • Abajur (estrangeirismo)

Observe o uso de neologismos (no nível da palavra e da frase) criados magnificamente por Guimarães Rosa neste excerto do conto "Fita verde no cabelo".

"Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha. Aquela, um dia, saiu de lá com uma fita verde inventada no cabelo. Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. Fita-Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas. Daí, que, indo, no atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo."

Já vimos que os neologismos podem expressar inventividade no texto escrito. É comum, portanto, os neologismos indicarem que o autor é pessoa atualizada - assim como o uso exagerado de arcaísmos pode indicar que a pessoa não está sintonizada com as mudanças de seu tempo.

Veja, a seguir, como o uso de neologismos é indicativo de modernidade:

ESTRANGEIRISMOS

Como vimos na coluna anterior, "Arcaísmos e Neologismos", neologismo é uma palavra ou expressão que criamos quando necessitamos nomear uma nova realidade. Conforme a intensidade do uso, o neologismo pode ser assimilado pela língua-padrão.

Vimos também que há vários processos de formação dos neologismos. Um destes processos é o que resulta nos estrangeirismos.

Estrangeirismo é o uso de termos ou expressões tomadas por empréstimo de outras línguas.

Os estrangeirismos podem ser de várias origens:

Anglicanismos (ou anglicismos): provenientes do inglês (futebol / shopping / happy-hour). Arabismos: provenientes do árabe (bazar / beirute). Galicismos (ou francesismos): provenientes do francês (matinê / toalete). Castelhanismos: provenientes do espanhol (guitarra / massivo). Italianismos: provenientes do italiano (pizza / fogazza). Germanismos: provenientes do alemão (chope / chucrute). Grecismos: do grego (olímpico). Latinismos: provenientes do latim (currículo).

Oual o jovem que nunca usou os seguintes termos? linkar, blogueiro, internauta, clicar, site...

Às vezes, usamos a palavra ou expressão estrangeira da forma como é grafada na língua original:

skatistas (que usam "skate") jeans (tecido / calças) avant-première (primeira apresentação) apartheid (vida separada / segregação) telex (meio de comunicação)

Outra vezes, fazemos adaptações na grafia:

xampu (shampoo: produto de higiene) abajur (abat-jour: quebra-luz) gol (goal: meta)

Algumas adaptações de termos franceses que resultaram em galicismos:

Algumas curiosidades sobre anglicanismos:

Sanduíche: no século XVIII, John Montagu, conde Eduardo de.Sandwich (1718-1792), sentia-se tão bem à mesa de jogo que nem mesmo para tomar as refeições dela se afastava.. Teve, então, a idéia de mandar preparar fatias de pão com carne ou queijo, saboreando-as enquanto jogava.

Linchar: derivado do nome próprio inglês Lynch, e da expressão Lynch’s law (lei de Lynch) .Entre o século XV e o século XIX, vários juízes com o mesmo nome, na Irlanda e na América, condenaram criminosos sem processo legal. "Linchar" significa "executar sumariamente, segundo a lei chamada de Lynch; aplicação da lei de Lynch; execução sumária por uma população".

Boicote: do inglês "Boycott", proveniente do nome do capitão inglês James ou Charles Cunningham Boycott

(1832-97), administrador das fazendas de Lord Erne, no distrito de Comemara, Irlanda. Boycott provocou, por volta de 1880, em conseqüência.de suas exigências excessivas e severidades exageradas, uma recusa geral de trabalhar às suas ordens. "Boicote" significa "forma de coerção ou represália que consiste em impedir ou romper qualquer relação social ou comercial".

Slogan: do inglês "slogan", grito de guerra dos antigos montanheses da Escócia. Breve fórmula para fins e propaganda, apelo, lembrança, sugestão em poucas palavras, divisa, lema."

(Fonte:Jürgen Schmidt-Radefeldt e Dorothea Suring - Dicionário dos Anglicismos e Germanismos da Língua Portuguesa, Frankfurt am Main, Ferrer de Mesquita, 1997 apud ILARI, Introdução ao estudo do léxico. São Paulo: Contexto, 2002. p. 24).

Observe o refrão da música abaixo, e veja como os compositores transformaram o verbo "equalize" (em Inglês) em "equalizar" (em Português).

De acordo com a gramática oficial da língua portuguesa, o estrangeirismo é classificado como barbarismo, ou seja, um vício de linguagem. No entanto, atualmente há uma polêmica sobre a adequação ou não do uso de estrangeirismos no português.

Por um lado, há os que consideram inadequado o uso de estrangeirismos. Um deputado apresentou, recentemente, projeto de lei que propõe punições para o uso abusivo de palavras estrangeiras em nosso idioma. Por outro lado, há os que consideram que a língua é dinâmica e se os falantes introduziram termos emprestados de outros idiomas é porque isto se fez necessário. Como traduzir, por exemplo, as palavras "pizza", "filé" ou "purê"?

Para finalizar, observe como Zeca Baleiro faz uma crítica bem-humorada ao uso exagerado de estrangeirismos na Língua Portuguesa.

Observação: sempre que você for escrever um estrangeirismo em sua forma original, as palavras ou expressões devem vir em itálico ou, se manuscritos, entre aspas.

PONTUAÇÃO

Há certos recursos da linguagem - pausa, melodia, entonação e até mesmo, silêncio - que só estão presentes na oralidade. Na linguagem escrita, para substituir tais recursos, usamos os sinais de pontuação.

Estes são também usados para destacar palavras, expressões ou orações e esclarecer o sentido de frases, a fim de dissipar qualquer tipo de ambigüidade.

• ponto:

Emprega-se o ponto, basicamente, para indicar o término de um frase declarativa de um período simples ou composto.

Desejo-lhe uma feliz viagem.

A casa, quase sempre fechada, parecia abandonada, no entanto tudo no seu interior era conservado com primor.

O ponto é também usado em quase todas as abreviaturas, por exemplo: fev. = fevereiro, hab. = habitante, rod. = rodovia.

O ponto que é empregado para encerrar um texto escrito recebe o nome de ponto final.

• o ponto-e-vírgula:

Utiliza-se o ponto-e-vírgula para assinalar uma pausa maior do que a da vírgula, praticamente uma pausa intermediária entre o ponto e a vírgula.

Geralmente, emprega-se o ponto-e-vírgula para:

a) separar orações coordenadas que tenham um certo sentido ou aquelas que já apresentam separação por vírgula:

Criança, foi uma garota sapeca; moça, era inteligente e alegre; agora, mulher madura, tornou-se uma doidivanas.

b) separar vários itens de uma enumeração:

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de idéias e de concepções, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

IV - gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais;

(Constituição da República Federativa do Brasil)

• dois-pontos:

Os dois-pontos são empregados para:

a) uma enumeração:

... Rubião recordou a sua entrada no escritório do Camacho, o modo porque falou: e daí tornou atrás, ao próprio ato.

Estirado no gabinete, evocou a cena: o menino, o carro, os cavalos, o grito, o salto que deu, levado de um ímpeto irresistível...

(Machado de Assis)

b) uma citação:

Visto que ela nada declarasse, o marido indagou:

- Afinal, o que houve?

c) um esclarecimento:

Joana conseguira enfim realizar seu desejo maior: seduzir Pedro. Não porque o amasse, mas para magoar Lucila.

Observe que os dois-pontos são também usados na introdução de exemplos, notas ou observações.

Parônimos são vocábulos diferentes na significação e parecidos na forma. Exemplos: ratificar/retificar, censo/senso, descriminar/discriminar etc.

Nota: A preposição per, considerada arcaica, somente é usada na frase de per si (= cada um por sua vez, isoladamente).

Observação: Na linguagem coloquial pode-se aplicar o grau diminutivo a alguns advérbios: cedinho, longinho, melhorzinho, pouquinho etc.

NOTA

A invocação em correspondência (social ou comercial) pode ser seguida de dois-pontos ou de vírgula:

Querida amiga:

Prezados senhores,

• ponto de interrogação:

O ponto de interrogação é empregado para indicar uma pergunta direta, ainda que esta não exija resposta:

O criado pediu licença para entrar:

- O senhor não precisa de mim?

- Não obrigado. A que horas janta-se?

- Às cinco, se o senhor não der outra ordem.

- Bem.

- O senhor sai a passeio depois do jantar? de carro ou a cavalo?

- Não.

(José de Alencar)

• ponto de exclamação:

O ponto de exclamação é empregado para marcar o fim de qualquer enunciado com entonação exclamativa, que normalmente exprime admiração, surpresa, assombro, indignação etc.

- Viva o meu príncipe! Sim, senhor... Eis aqui um comedouro muito compreensível e muito repousante, Jacinto!

- Então janta, homem!

(Eça de Queiroz)

NOTA

O ponto de exclamação é também usado com interjeições e locuções interjetivas:

Oh!

Valha-me Deus!

• O uso da vírgula:

Emprega-se a vírgula (uma breve pausa):

a) para separar os elementos mencionados numa relação:

A nossa empresa está contratando engenheiros, economistas, analistas de sistemas e secretárias.

O apartamento tem três quartos, sala de visitas, sala de jantar, área de serviço e dois banheiros.

Mesmo que o e venha repetido antes de cada um dos elementos da enumeração, a vírgula deve ser empregada:

Rodrigo estava nervoso. Andava pelos cantos, e gesticulava, e falava em voz alta, e ria, e roía as unhas.

b) para isolar o vocativo:

Cristina, desligue já esse telefone!

Por favor, Ricardo, venha até o meu gabinete.

c) para isolar o aposto:

Dona Sílvia, aquela mexeriqueira do quarto andar, ficou presa no elevador.

Rafael, o gênio da pintura italiana, nasceu em Urbino.

d) para isolar palavras e expressões explicativas (a saber, por exemplo, isto é, ou melhor, aliás, além disso etc.):

Gastamos R$ 5.000,00 na reforma do apartamento, isto é, tudo o que tínhamos economizado durante anos.

Eles viajaram para a América do Norte, aliás, para o Canadá.

e) para isolar o adjunto adverbial antecipado:

Lá no sertão, as noites são escuras e perigosas.

Ontem à noite, fomos todos jantar fora.

f) para isolar elementos repetidos:

O palácio, o palácio está destruído.

Estão todos cansados, cansados de dar dó!

g) para isolar, nas datas, o nome do lugar:

São Paulo, 22 de maio de 1995.

Roma, 13 de dezembro de 1995.

h) para isolar os adjuntos adverbiais:

A multidão foi, aos poucos, avançando para o palácio.

Os candidatos serão atendidos, das sete às onze, pelo próprio gerente.

i) para isolar as orações coordenadas, exceto as introduzidas pela conjunção e:

Ele já enganou várias pessoas, logo não é digno de confiança.

Você pode usar o meu carro, mas tome muito cuidado ao dirigir.

Não compareci ao trabalho ontem, pois estava doente.

j) para indicar a elipse de um elemento da oração:

Foi um grande escândalo. Às vezes gritava; outras, estrebuchava como um animal.

Não se sabe ao certo. Paulo diz que ela se suicidou, a irmã, que foi um acidente.

k) para separar o paralelismo de provérbios:

Ladrão de tostão, ladrão de milhão.

Ouvir cantar o galo, sem saber onde.

l) após a saudação em correspondência (social e comercial):

Com muito amor,

Respeitosamente,

m) para isolar as orações adjetivas explicativas:

Marina, que é uma criatura maldosa, "puxou o tapete" de Juliana lá no trabalho.

Vidas Secas, que é um romance contemporâneo, foi escrito por Graciliano Ramos.

n) para isolar orações intercaladas:

Não lhe posso garantir nada, respondi secamente.

O filme, disse ele, é fantástico.

ACENTUAÇÃO GRÁFICAA acentuação é um dos requisitos que perfazem as regras estabelecidas pela Gramática Normativa. A mesma compõe-se de algumas particularidades, às quais devemos estar atentos, procurando estabelecer uma relação de familiaridade e, consequentemente, colocando-as em prática ao nos referirmos à linguagem escrita.

À medida que desenvolvemos o hábito da leitura e a prática de redigir, automaticamente aprimoramos essas competências, e tão logo nos adequamos à forma padrão.

Em se tratando do referido assunto, devemos nos ater à questão das Novas Regras Ortográficas da Língua Portuguesa, as quais entraram em vigor desde o dia 1º de janeiro de 2009. E como toda mudança implica em adequação, o ideal é que façamos uso das mesmas o quanto antes.

O estudo exposto a seguir visa aprofundar nossos conhecimentos no que se refere à maneira correta de grafamos as palavras, levando em consideração as regras de acentuação por elas utilizadas. Lembrando que as mesmas já estão voltadas para o novo acordo ortográfico.

Regras básicas – Acentuação tônica

A acentuação tônica implica na intensidade como são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela que se dá de forma mais acentuada, conceitua-se como sílaba tônica.

As demais, como são pronunciadas com menos intensidade, são denominadas de átonas.

De acordo com a tonicidade, as palavras são classificadas como:

Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre a última sílaba.

Ex: café – coração – cajá – atum – caju - papel

Paroxítonas – São aquelas em que a sílaba tônica se evidencia na penúltima sílaba.

Ex: útil – tórax – táxi – leque – retrato – passível

Proparoxítonas - São aquelas em que a silaba tônica se evidencia na antepenúltima sílaba.

Ex: lâmpada - câmara - tímpano - médico - ônibus

Como podemos observar, mediante todos os exemplos mencionados, os vocábulos possuem mais de uma sílaba, mas em nossa língua existem aqueles com uma sílaba somente, são os chamados monossílabos, que, quando pronunciados, há certa diferenciação quanto à intensidade.

Tal diferenciação só é percebida quando os pronunciamos em uma dada sequência de palavras. Como podemos observar o exemplo a seguir:

“Sei que não vai dar em nada, Seus segredos sei de cor”.

Os monossílabos ora em destaque, classificam-se como tônicos, os demais, como átonos (que, em, de).

Os acentos

# acento agudo (´) – Colocado sobre as letras a, i, u e sobre o e do grupo “em” indica que estas letras representam as vogais tônicas de palavras como Amapá, caí, público, parabéns. Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre aberto.

Ex: herói – médico – céu

# acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”, “e” e “o”, indica além da tonicidade, timbre fechado:

tâmara – Atlântico – pêssego – supôs

# acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a” com artigos e pronomes.

Ex: à, às, àquelas, àqueles

# O trema (¨) – De acordo com a nova regra, foi totalmente abolido das palavras. Apenas há uma exceção: Somente é utilizado em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros.

Ex: mülleriano (de Müller)

# O til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vogais nasais.

Ex: coração – melão – órgão - ímã

Regras fundamentais:

Palavras oxítonas: Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: a, e, o, em, seguidas ou não do plural(s)Pará – café(s) – cipó(s) – armazém(s)

Essa regra também é aplicada aos seguintes casos:

Monossílabos tônicos terminados em a, e, o, seguidos ou não de “s”.

Ex: pá – pé – dó – crê – há

Formas verbais terminadas em a, e, o tônicos seguidas de lo, la, los, lãs.

respeitá-lo – percebê-lo – compô-lo

Paroxítonas: Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:

- i, is

táxi – lápis – júri

- us, um, uns

vírus – álbuns – fórum

- l, n, r, x, ps

automóvel – elétron- cadáver – tórax – fórceps

- ã, ãs, ão, ãos

ímã – ímãs – órfão – órgãos

-ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou não de “s”.

água – pônei – mágoa – jóquei

Regras especiais:

#Os ditongos de pronúncia aberta ei, oi, que antes eram acentuados, perderam o acento de acordo com a nova regra. Ex:

Antes Agoraassembléia assembleiaidéia ideiageléia geleiajibóia jiboiaapóia (verbo apoiar) apoiaparanóico paranoico

Observação importante – O acento das palavras herói, anéis, fiéis ainda permanece.

# Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, acompanhados ou não de s, haverá acento

Ex: saída – faísca – baú – país – Luís

Observação importante:

Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando hiato quando vierem depois de ditongo: Ex: Antes Agorabocaiúva bocaiuvafeiúra feiuraSauípe

# O acento pertencente aos hiatos “oo” e “ee” que antes existia, agora foi abolido. Ex: Antes Agoracrêem creemlêem leemvôo vooenjôo enjoo

#Não se acentuam o i e o u que formam hiato quando seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z:

Ra-ul, ru-im, con-tri-bu-in-te, sa-ir-des, ju-iz

#Não se acentuam as letras i e u dos hiatos se estiverem seguidas do dígrafo nh:

ra-i-nha, vem-to-i-nha.

#Não se acentuam as letras i e u dos hiatos se vierem precedidas de vogal idêntica:

xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba

No entanto, se tratar de palavra proparoxítona haverá o acento, já que a regra de acentuação das proparoxítonas prevalece sobre a dos hiatos:

fri-ís-si-mo, se-ri-ís-si-mo

# As formas verbais que possuíam o acento tônico na raiz, com (u) tônico precedido de (g) ou (q) e seguido de (e) ou (i) não serão mais acentuadas. Ex: Antes Depoisapazigúe (apaziguar) apazigueaverigúe (averiguar) averigueargúi (arguir) argui

# Acentuam-se os verbos pertencentes à terceira pessoa do plural de: ele tem – eles têm ele vem – eles vêm

# A regra prevalece também para os verbos conter, obter, reter, deter, abster. ele contém – eles contêm ele obtém – eles obtêm ele retém – eles retêm ele convém – eles convêm

# Não se acentuam mais as palavras homógrafas que antes eram acentuadas para diferenciar de outras semelhantes. Apenas em algumas exceções como:

A forma verbal pôde (terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do modo indicativo) ainda continua sendo acentuada para diferenciar-se de pode (terceira pessoa do singular do presente do indicativo).

O mesmo ocorreu com o verbo pôr para diferenciar da preposição por.

Palavras homógrafas

pola (ô) substantivo – pola (ó) substantivo polo (s) (substantivo) - polo(s) (contração de por + o) pera (substantivo) - pera (preposição antiga) para (verbo) - para (preposição)

pelo(s) (substantivo) - pelo (contração) pelo (do verbo pelar) - pelo (contração) pela, pelas (substantivo e verbo) - pela (contração)

Classes de palavras

As palavras são classificadas de acordo com as funções exercidas nas orações.

Na língua portuguesa podemos classificar as palavras em:

• Substantivo

• Adjetivo

• Pronome

• Verbo

• Artigo

• Numeral

• Advérbio

• Preposição

• Interjeição

• Conjunção

Substantivo:

É a palavra variável que denomina qualidades, sentimentos, sensações, ações, estados e seres em geral.

Quanto a sua formação, o substantivo pode ser primitivo (jornal) ou derivado (jornalista), simples (alface) ou composto (guarda-chuva).

Já quanto a sua classificação, ele pode ser comum (cidade) ou próprio (Curitiba), concreto (mesa) ou abstrato (felicidade).

Os substantivos concretos designam seres de existência real ou que a imaginação apresenta como tal: alma, fada, santo. Já os substantivos abstratos designam qualidade, sentimento, ação e estado dos seres: beleza, cegueira, dor, fuga.

Os substantivos próprios são sempre concretos e devem ser grafados com iniciais maiúsculas.

Certos substantivos próprios podem tornar-se comuns, pelo processo de derivação imprópria (um judas = traidor / um panamá = chapéu).

Os substantivos abstratos têm existência independente e podem ser reais ou não, materiais ou não. Quando esses substantivos abstratos são de qualidade tornam-se concretos no plural (riqueza X riquezas).

Muitos substantivos podem ser variavelmente abstratos ou concretos, conforme o sentido em que se empregam (a redação das leis requer clareza / na redação do aluno, assinalei vários erros).

Já no tocante ao gênero (masculino X feminino) os substantivos podem ser:

• biformes: quando apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino. (rato, rata ou conde X condessa).

• uniformes: quando apresentam uma única forma para ambos os gêneros. Nesse caso, eles estão divididos em:

• epicenos: usados para animais de ambos os sexos (macho e fêmea) - albatroz, badejo, besouro, codorniz;

• comum de dois gêneros: aqueles que designam pessoas, fazendo a distinção dos sexos por palavras determinantes - aborígine, camarada, herege, manequim, mártir, médium, silvícola;

• sobrecomuns - apresentam um só gênero gramatical para designar pessoas de ambos os sexos - algoz, apóstolo, cônjuge, guia, testemunha, verdugo;

Alguns substantivos, quando mudam de gênero, mudam de sentido. (o cisma X a cisma / o corneta X a corneta / o crisma X a crisma / o cura X a cura / o guia X a guia / o lente X a lente / o língua X a língua / o moral X a moral / o maria-fumaça X a maria-fumaça / o voga X a voga).

Os nomes terminados em -ão fazem feminino em -ã, -oa ou -ona (alemã, leoa, valentona).

Os nomes terminados em -e mudam-no para -a, entretanto a maioria é invariável (monge X monja, infante X infanta, mas o/a dirigente, o/a estudante).

Quanto ao número (singular X plural), os substantivos simples formam o plural em função do final da palavra.

• vogal ou ditongo (exceto -ÃO) : acréscimo de -S (porta X portas, troféu X troféus); • ditongo -ÃO : -ÕES / -ÃES / -ÃOS, variando em cada palavra (pagãos, cidadãos, cortesãos,

escrivães, sacristães, capitães, capelães, tabeliães, deães, faisães, guardiães).

Os substantivos paroxítonos terminados em -ão fazem plural em -ãos (bênçãos, órfãos, gólfãos). Alguns gramáticos registram artesão (artífice) - artesãos e artesão (adorno arquitetônico) - artesões.

• -EM, -IM, -OM, -UM : acréscimo de -NS (jardim X jardins); • -R ou -Z : -ES (mar X mares, raiz X raízes); • -S : substantivos oxítonos acréscimo de -ES (país X países). Os não-oxítonos terminados em -S são

invariáveis, marcando o número pelo artigo (os atlas, os lápis, os ônibus), cais, cós e xis são invariáveis;

• -N : -S ou -ES, sendo a última menos comum (hífen X hifens ou hífenes), cânon > cânones; • -X : invariável, usando o artigo para o plural (tórax X os tórax); • -AL, EL, OL, UL : troca-se -L por -IS (animal X animais, barril X barris). Exceto mal por males, cônsul

por cônsules, real (moeda) por réis, mel por méis ou meles; • IL : se oxítono, trocar -L por -S. Se não oxítonos, trocar -IL por -EIS. (til X tis, míssil X mísseis).

Observação: réptil / reptil por répteis / reptis, projétil / projetil por projéteis / projetis; • sufixo diminutivo -ZINHO(A) / -ZITO(A) : colocar a palavra primitiva no plural, retirar o -S e

acrescentar o sufixo diminutivo (caezitos, coroneizinhos, mulherezinhas). Observação: palavras com esses sufixos não recebem acento gráfico.

• metafonia : -o tônico fechado no singular muda para o timbre aberto no plural, também variando em função da palavra. (ovo X ovos, mas bolo X bolos). Observação: avôs (avô paterno + avô materno), avós (avó + avó ou avô + avó).

Os substantivos podem apresentar diferentes graus, porém grau não é uma flexão nominal. São três graus: normal, aumentativo e diminutivo e podem ser formados através de dois processos:

• analítico : associando os adjetivos (grande ou pequeno, ou similar) ao substantivo; • sintético : anexando-se ao substantivo sufixos indicadores de grau (meninão X menininho).

Certos substantivos, apesar da forma, não expressam a noção aumentativa ou diminutiva. (cartão, cartilha).

• alguns sufixos aumentativo : -ázio, -orra, -ola, -az, -ão, -eirão, -alhão, -arão, -arrão, -zarrão; • alguns sufixos diminutivo : -ito, -ulo-, -culo, -ote, -ola, -im, -elho, -inho, -zinho (o sufixo -zinho é

obrigatório quando o substantivo terminar em vogal tônica ou ditongo: cafezinho, paizinho);

O aumentativo pode exprimir desprezo (sabichão, ministraço, poetastro) ou intimidade (amigão); enquanto o diminutivo pode indicar carinho (filhinho) ou ter valor pejorativo (livreco, casebre).

Algumas curiosidades sobre os substantivos:

Palavras masculinas:

• ágape (refeição dos primitivos cristãos); • anátema (excomungação); • axioma (premissa verdadeira); • caudal (cachoeira); • carcinoma (tumor maligno); • champanha, clã, clarinete, contralto, coma, diabete/diabetes (FeM classificam como gênero

vacilante); • diadema, estratagema, fibroma (tumor benigno); • herpes, hosana (hino); • jângal (floresta da Índia); • lhama, praça (soldado raso); • praça (soldado raso); • proclama, sabiá, soprano (FeM classificam como gênero vacilante); • suéter, tapa (FeM classificam como gênero vacilante); • teiró (parte de arma de fogo ou arado); • telefonema, trema, vau (trecho raso do rio).

Palavras femininas:

• abusão (engano); • alcíone (ave doa antigos); • aluvião, araquã (ave); • áspide (reptil peçonhento); • baitaca (ave); • cataplasma, cal, clâmide (manto grego); • cólera (doença); • derme, dinamite, entorce, fácies (aspecto); • filoxera (inseto e doença); • gênese, guriatã (ave); • hélice (FeM classificam como gênero vacilante); • jaçanã (ave); • juriti (tipo de aves); • libido, mascote, omoplata, rês, suçuarana (felino); • sucuri, tíbia, trama, ubá (canoa); • usucapião (FeM classificam como gênero vacilante); • xerox (cópia).

Gênero vacilante:

• acauã (falcão); • inambu (ave); • laringe, personagem (Ceg. fala que é usada indistintamente nos dois gêneros, mas que há

preferência de autores pelo masculino); • víspora.

Alguns femininos:

• abade - abadessa; • abegão (feitor) - abegoa; • alcaide (antigo governador) - alcaidessa, alcaidina; • aldeão - aldeã; • anfitrião - anfitrioa, anfitriã; • beirão (natural da Beira) - beiroa; • besuntão (porcalhão) - besuntona; • bonachão - bonachona; • bretão - bretoa, bretã; • cantador - cantadeira; • cantor - cantora, cantadora, cantarina, cantatriz; • castelão (dono do castelo) - castelã; • catalão - catalã; • cavaleiro - cavaleira, amazona; • charlatão - charlatã; • coimbrão - coimbrã; • cônsul - consulesa; • comarcão - comarcã; • cônego - canonisa; • czar - czarina; • deus - deusa, déia; • diácono (clérigo) - diaconisa; • doge (antigo magistrado) - dogesa; • druida - druidesa; • elefante - elefanta e aliá (Ceilão); • embaixador - embaixadora e embaixatriz; • ermitão - ermitoa, ermitã; • faisão - faisoa (Cegalla), faisã; • hortelão (trata da horta) - horteloa; • javali - javalina; • ladrão - ladra, ladroa, ladrona;

• felá (camponês) - felaína; • flâmine (antigo sacerdote) - flamínica; • frade - freira; • frei - sóror; • gigante - giganta; • grou - grua; • lebrão - lebre; • maestro - maestrina; • maganão (malicioso) - magana; • melro - mélroa; • mocetão - mocetona; • oficial - oficiala; • padre - madre; • papa - papisa; • pardal - pardoca, pardaloca, pardaleja; • parvo - párvoa; • peão - peã, peona; • perdigão - perdiz; • prior - prioresa, priora; • mu ou mulo - mula; • rajá - rani; • rapaz - rapariga; • rascão (desleixado) - rascoa; • sandeu - sandia; • sintrão - sintrã; • sultão - sultana; • tabaréu - tabaroa; • varão - matrona, mulher; • veado - veada; • vilão - viloa, vilã.

Substantivos em -ÃO e seus plurais:

• alão - alões, alãos, alães; • aldeão - aldeãos, aldeões; • capelão - capelães; • castelão - castelãos, castelões; • cidadão - cidadãos; • cortesão - cortesãos; • ermitão - ermitões, ermitãos, ermitães; • escrivão - escrivães; • folião - foliões; • hortelão - hortelões, hortelãos; • pagão - pagãos; • sacristão - sacristães; • tabelião - tabeliães; • tecelão - tecelões; • verão - verãos, verões; • vilão - vilões, vilãos; • vulcão - vulcões, vulcãos.

Alguns substantivos que sofrem metafonia no plural:

abrolho, caroço, corcovo, corvo, coro, despojo, destroço, escolho, esforço, estorvo, forno, forro, fosso, imposto, jogo, miolo, poço, porto, posto, reforço, rogo, socorro, tijolo, toco, torno, torto, troco.

Substantivos só usados no plural:

anais, antolhos, arredores, arras (bens, penhor), calendas (1º dia do mês romano), cãs (cabelos brancos), cócegas, condolências, damas (jogo), endoenças (solenidades religiosas), esponsais (contrato de casamento ou noivado), esposórios (presente de núpcias), exéquias (cerimônias fúnebres), fastos (anais), férias, fezes, manes (almas), matinas (breviário de orações matutinas), núpcias, óculos, olheiras, primícias

(começos, prelúdios), pêsames, vísceras, víveres etc., além dos nomes de naipes.

Coletivos:

• alavão - ovelhas leiteiras; • armento - gado grande (búfalos, elefantes); • assembleia (parlamentares, membros de associações); • atilho - espigas; • baixela - utensílios de mesa; • banca - de examinadores, advogados; • bandeira - garimpeiros, exploradores de minérios; • bando - aves, ciganos, crianças, salteadores; • boana - peixes miúdos; • cabido - cônegos (conselheiros de bispo); • cáfila - camelos; • cainçalha - cães; • cambada - caranguejos, malvados, chaves; • cancioneiro - poesias, canções; • caterva - desordeiros, vadios; • choldra, joldra - assassinos, malfeitores; • chusma - populares, criados; • conselho - vereadores, diretores, juízes militares; • conciliábulo - feiticeiros, conspiradores; • concílio - bispos; • canzoada - cães; • conclave - cardeais; • congregação - professores, religiosos; • consistório - cardeais; • fato - cabras; • feixe - capim, lenha; • junta - bois, médicos, credores, examinadores; • girândola - foguetes, fogos de artifício; • grei - gado miúdo, políticos; • hemeroteca - jornais, revistas; • legião - anjos, soldados, demônios; • malta - desordeiros; • matula - desordeiros, vagabundos; • miríade - estrelas, insetos; • nuvem - gafanhotos, pó; • panapaná - borboletas migratórias; • penca - bananas, chaves; • récua - cavalgaduras (bestas de carga); • renque - árvores, pessoas ou coisas enfileiradas; • réstia - alho, cebola; • ror - grande quantidade de coisas; • súcia - pessoas desonestas, patifes; • talha -lenha; • tertúlia - amigos, intelectuais; • tropilha - cavalos; • vara - porcos.

Substantivos compostos:

Os substantivos compostos formam o plural da seguinte maneira:

• sem hífen formam o plural como os simples (pontapé/pontapés); • caso não haja caso específico, verifica-se a variabilidade das palavras que compõem o substantivo

para pluralizá-los. São palavras variáveis: substantivo, adjetivo, numeral, pronomes, particípio. São palavras invariáveis: verbo, preposição, advérbio, prefixo;

• em elementos repetidos, muito parecidos ou onomatopaicos, só o segundo vai para o plural (tico-ticos, tique-taques, corre-corres, pingue-pongues);

• com elementos ligados por preposição, apenas o primeiro se flexiona (pés-de-moleque); • são invariáveis os elementos grão, grã e bel (grão-duques, grã-cruzes, bel-prazeres); • só variará o primeiro elemento nos compostos formados por dois substantivos, onde o segundo

limita o primeiro elemento, indicando tipo, semelhança ou finalidade deste (sambas-enredo, bananas-maçã)

• nenhum dos elementos vai para o plural se formado por verbos de sentidos opostos e frases substantivas (os leva-e-traz, os bota-fora, os pisa-mansinho, os bota-abaixo, os louva-a-Deus, os ganha-pouco, os diz-que-me-diz);

• compostos cujo segundo elemento já está no plural não variam (os troca-tintas, os salta-pocinhas, os espirra-canivetes);

• palavra guarda, se fizer referência a pessoa varia por ser substantivo. Caso represente o verbo guardar, não pode variar (guardas-noturnos, guarda-chuvas).

Adjetivo:

É a palavra variável que restringe a significação do substantivo, indicando qualidades e características deste. Mantém com o substantivo que determina relação de concordância de gênero e número.

• adjetivos pátrios: indicam a nacionalidade ou a origem geográfica, normalmente são formados pelo acréscimo de um sufixo ao substantivo de que se originam (Alagoas por alagoano). Podem ser simples ou compostos, referindo-se a duas ou mais nacionalidades ou regiões; nestes últimos casos assumem sua forma reduzida e erudita, com exceção do último elemento (franco-ítalo-brasileiro).

• locuções adjetivas: expressões formadas por preposição e substantivo e com significado equivalente a adjetivos (anel de prata = anel argênteo / andar de cima = andar superior / estar com fome = estar faminto).

São adjetivos eruditos:

• açúcar - sacarino; • águia - aquilino; • anel - anular; • astro - sideral; • bexiga - vesical; • bispo - episcopal; • cabeça - cefálico; • chumbo - plúmbeo; • chuva - pluvial; • cinza - cinéreo; • cobra - colubrino, ofídico; • dinheiro - pecuniário; • estômago - gástrico; • fábrica - fabril; • fígado - hepático; • fogo - ígneo; • guerra - bélico; • homem - viril; • inverno - hibernal; • lago - lacustre; • lebre - leporino; • lobo - lupino; • marfim - ebúrneo, ebóreo; • memória - mnemônico; • moeda - monetário, numismático; • neve - níveo; • pedra - pétreo; • prata - argênteo, argentino, argírico; • raposa - vulpino; • rio - fluvial, potâmico; • rocha - rupestre; • sonho - onírico; • sul - meridional, austral;

• tarde - vespertino; • velho, velhice - senil; • vidro - vítreo, hialino.

Quanto à variação dos adjetivos, eles apresentam as seguintes características:

O gênero é uniforme ou biforme (inteligente X honesto[a]). Quanto ao gênero, não se diz que um adjetivo é masculino ou feminino, e sim que tem terminação masculina ou feminina.

No tocante a número, os adjetivos simples formam o plural segundo os mesmos princípios dos substantivos simples, em função de sua terminação (agradável X agradáveis). Já os substantivos utilizados como adjetivos ficam invariáveis (blusas cinza).

Os adjetivos terminados em -OSO, além do acréscimo do -S de plural, mudam o timbre do primeiro -o, num processo de metafonia.

Quanto ao grau, os adjetivos apresentam duas formas: comparativo e superlativo.

O grau comparativo refere-se a uma mesma qualidade entre dois ou mais seres, duas ou mais qualidades de um mesmo ser. Pode ser de igualdade: tão alto quanto (como / quão); de superioridade: mais alto (do) que (analítico) / maior (do) que (sintético) e de inferioridade: menos alto (do) que.

O grau superlativo exprime qualidade em grau muito elevado ou intenso.

O superlativo pode ser classificado como absoluto, quando a qualidade não se refere à de outros elementos. Pode ser analítico (acréscimo de advérbio de intensidade) ou sintético (-íssimo, -érrimo, -ílimo). (muito alto X altíssimo)

O superlativo pode ser também relativo, qualidade relacionada, favorável ou desfavoravelmente, à de outros elementos. Pode ser de superioridade analítico (o mais alto de/dentre), de superioridade sintético (o maior de/dentre) ou de inferioridade (o menos alto de/dentre).

São superlativos absolutos sintéticos eruditos da língua portuguesa:

• acre - acérrimo; • alto - supremo, sumo; • amável - amabilíssimo; • amigo - amicíssimo; • baixo - ínfimo; • cruel - crudelíssimo; • doce - dulcíssimo; • dócil - docílimo; • fiel - fidelíssimo; • frio - frigidíssimo; • humilde - humílimo; • livre - libérrimo; • magro - macérrimo; • mísero - misérrimo; • negro - nigérrimo; • pobre - paupérrimo; • sábio - sapientíssimo; • sagrado - sacratíssimo; • são - saníssimo; • veloz - velocíssimo.

Os adjetivos compostos formam o plural da seguinte forma:

• têm como regra geral, flexionar o último elemento em gênero e número (lentes côncavo-convexas, problemas sócio-econômicos);

• são invariáveis cores em que o segundo elemento é um substantivo (blusas azul-turquesa, bolsas branco-gelo);

• não variam as locuções adjetivas formadas pela expressão cor-de-... (vestidos cor-de-rosa); • as cores: azul-celeste e azul-marinho são invariáveis; • em surdo-mudo flexionam-se os dois elementos.

Pronome:

É palavra variável em gênero, número e pessoa que substitui ou acompanha um substantivo, indicando-o como pessoa do discurso.

A diferença entre pronome substantivo e pronome adjetivo pode ser atribuída a qualquer tipo de pronome, podendo variar em função do contexto frasal. Assim, o pronome substantivo é aquele que substitui um substantivo, representando-o. (Ele prestou socorro). Já o pronome adjetivo é aquele que acompanha um substantivo, determinando-o. (Aquele rapaz é belo). Os pronomes pessoais são sempre substantivos.

Quanto às pessoas do discurso, a língua portuguesa apresenta três pessoas:

1ª pessoa - aquele que fala, emissor;

2ª pessoa - aquele com quem se fala, receptor;

3ª pessoa - aquele de que ou de quem se fala, referente.

Pronome pessoal:

Indicam uma das três pessoas do discurso, substituindo um substantivo. Podem também representar, quando na 3ª pessoa, uma forma nominal anteriormente expressa (A moça era a melhor secretária, ela mesma agendava os compromissos do chefe).

A seguir um quadro com todas as formas do pronome pessoal:

Pronomes pessoais

Número

Pessoa

Pronomes retos

Pronomes oblíquos

Átonos Tônicos

singular

primeira

segunda

terceira

eu

tu

ele, ela

me

te

o, a, lhe, se

mim, comigo

ti, contigo

ele, ela, si, consigo

plural

primeira

segunda

terceira

nós

vós

eles, elas

nos

vos

os, as, lhes, se

nós, conosco

vós, convosco

eles, elas, si, consigo

Os pronomes pessoais apresentam variações de forma dependendo da função sintática que exercem na frase. Os pronomes pessoais retos desempenham, normalmente, função de sujeito; enquanto os oblíquos, geralmente, de complemento.

Os pronomes oblíquos tônicos devem vir regidos de preposição. Em comigo, contigo, conosco e convosco, a preposição com já é parte integrante do pronome.

Os pronomes de tratamento estão enquadrados nos pronomes pessoais. São empregados como referência à pessoa com quem se fala (2ª pessoa), entretanto, a concordância é feita com a 3ª pessoa. Também são considerados pronomes de tratamento as formas você, vocês (provenientes da redução de Vossa Mercê), Senhor, Senhora e Senhorita.

Quanto ao emprego, as formas oblíquas o, a, os, as completam verbos que não vêm regidos de preposição; enquanto lhe e lhes para verbos regidos das preposições a ou para (não expressas).

Apesar de serem usadas pouco, as formas mo, to, no-lo, vo-lo, lho e flexões resultam da fusão de dois

objetos, representados por pronomes oblíquos (Ninguém mo disse = ninguém o disse a mim).

Os pronomes átonos o, a, os e as viram lo(a/s), quando associados a verbos terminados em r, s ou z e viram no(a/s), se a terminação verbal for em ditongo nasal.

Os pronomes o/a (s), me, te, se, nos, vos desempenham função se sujeitos de infinitivo ou verbo no gerúndio, junto ao verbo fazer, deixar, mandar, ouvir e ver (Mandei-o entrar / Eu o vi sair / Deixei-as chorando).

A forma você, atualmente, é usada no lugar da 2ª pessoa (tu/vós), tanto no singular quanto no plural, levando o verbo para a 3ª pessoa.

Já as formas de tratamento serão precedidas de Vossa, quando nos dirigirmos diretamente à pessoa e de Sua, quando fizermos referência a ela. Troca-se na abreviatura o V. pelo S.

Quando precedidos de preposição, os pronomes retos (exceto eu e tu) passam a funcionar como oblíquos. Eu e tu não podem vir precedidos de preposição, exceto se funcionarem como sujeito de um verbo no infinitivo (Isto é para eu fazer ≠ para mim fazer).

Os pronomes acompanhados de só ou todos, ou seguido de numeral, assumem forma reta e podem funcionar como objeto direto (Estava só ele no banco / Encontramos todos eles).

Os pronomes me, te, se, nos, vos podem ter valor reflexivo, enquanto se, nos, vos - podem ter valor reflexivo e recíproco.

As formas si e consigo têm valor exclusivamente reflexivo e usados para a 3ª pessoa. Já conosco e convosco devem aparecer na sua forma analítica (com nós e com vós) quando vierem com modificadores (todos, outros, mesmos, próprios, numeral ou oração adjetiva).

Os pronomes pessoais retos podem desempenhar função de sujeito, predicativo do sujeito ou vocativo, este último com tu e vós (Nós temos uma proposta / Eu sou eu e pronto / Ó, tu, Senhor Jesus).

Quanto ao uso das preposições junto aos pronomes, deve-se saber que não se pode contrair as preposições de e em com pronomes que sejam sujeitos (Em vez de ele continuar, desistiu ≠ Vi as bolsas dele bem aqui).

Os pronomes átonos podem assumir valor possessivo (Levaram-me o dinheiro / Pesavam-lhe os olhos), enquanto alguns átonos são partes integrantes de verbos como suicidar-se, apiedar-se, condoer-se, ufanar-se, queixar-se, vangloriar-se.

Já os pronomes oblíquos podem ser usados como expressão expletiva (Não me venha com essa).

Pronome possessivo:

Fazem referência às pessoas do discurso, apresentando-as como possuidoras de algo. Concordam em gênero e número com a coisa possuída.

São pronomes possessivos da língua portuguesa as formas:

1ª pessoa: meu(s), minha(s) nosso(a/s);

2ª pessoa: teu(s), tua(s) vosso(a/s);

3ª pessoa: seu(s), sua(s) seu(s), sua(s).

Quanto ao emprego, normalmente, vem antes do nome a que se refere; podendo, também, vir depois do substantivo que determina. Neste último caso, pode até alterar o sentido da frase.

O uso do possessivo seu (a/s) pode causar ambiguidade, para desfazê-la, deve-se preferir o uso do dele (a/s) (Ele disse que Maria estava trancada em sua casa - casa de quem?); pode também indicar aproximação numérica (ele tem lá seus 40 anos).

Já nas expressões do tipo "Seu João", seu não tem valor de posse por ser uma alteração fonética de Senhor.

Pronome demonstrativo:

Indicam posição de algo em relação às pessoas do discurso, situando-o no tempo e/ou no espaço. São: este (a/s), isto, esse (a/s), isso, aquele (a/s), aquilo. Isto, isso e aquilo são invariáveis e se empregam exclusivamente como substitutos de substantivos.

As formas mesmo, próprio, semelhante, tal (s) e o (a/s) podem desempenhar papel de pronome

demonstrativo.

Quanto ao emprego, os pronomes demonstrativos apresentam-se da seguinte maneira:

• uso dêitico, indicando localização no espaço - este (aqui), esse (aí) e aquele (lá); • uso dêitico, indicando localização temporal - este (presente), esse (passado próximo) e aquele

(passado remoto ou bastante vago); • uso anafórico, em referência ao que já foi ou será dito - este (novo enunciado) e esse (retoma

informação); • o, a, os, as são demonstrativos quando equivalem a aquele (a/s), isto (Leve o que lhe pertence); • tal é demonstrativo se puder ser substituído por esse (a), este (a) ou aquele (a) e semelhante,

quando anteposto ao substantivo a que se refere e equivalente a "aquele", "idêntico" (O problema ainda não foi resolvido, tal demora atrapalhou as negociações / Não brigue por semelhante causa);

• mesmo e próprio são demonstrativos, se precedidos de artigo, quando significarem "idêntico", "igual" ou "exato". Concordam com o nome a que se referem (Separaram crianças de mesmas séries);

• como referência a termos já citados, os pronomes aquele (a/s) e este (a/s) são usados para primeira e segunda ocorrências, respectivamente, em apostos distributivos (O médico e a enfermeira estavam calados: aquele amedrontado e esta calma / ou: esta calma e aquele amedrontado);

• pode ocorrer a contração das preposições a, de, em com os pronomes demonstrativos (Não acreditei no que estava vendo / Fui àquela região de montanhas / Fez alusão à pessoa de azul e à de branco);

• podem apresentar valor intensificador ou depreciativo, dependendo do contexto frasal (Ele estava com aquela paciência / Aquilo é um marido de enfeite);

• nisso e nisto (em + pronome) podem ser usados com valor de "então" ou "nesse momento" (Nisso, ela entrou triunfante - nisso = advérbio).

Pronome relativo:

Retoma um termo expresso anteriormente (antecedente) e introduz uma oração dependente, adjetiva.

Os pronomes relativos são: que, quem e onde - invariáveis; além de o qual (a/s), cujo (a/s) e quanto (a/s).

Os relativos são chamados relativos indefinidos quando são empregados sem antecedente expresso (Quem espera sempre alcança / Fez quanto pôde).

Quanto ao emprego, observa-se que os relativos são usados quando:

• o antecedente do relativo pode ser demonstrativo o (a/s) (O Brasil divide-se entre os que leem ou não);

• como relativo, quanto refere-se ao antecedente tudo ou todo (Ouvia tudo quanto me interessava) • quem será precedido de preposição se estiver relacionado a pessoas ou seres personificados

expressos; • quem = relativo indefinido quando é empregado sem antecedente claro, não vindo precedido de

preposição; • cujo (a/s) é empregado para dar a ideia de posse e não concorda com o antecedente e sim com seu

consequente. Ele tem sempre valor adjetivo e não pode ser acompanhado de artigo.

Pronome indefinido:

Referem-se à 3ª pessoa do discurso quando considerada de modo vago, impreciso ou genérico, representando pessoas, coisas e lugares. Alguns também podem dar ideia de conjunto ou quantidade indeterminada. Em função da quantidade de pronomes indefinidos, merece atenção sua identificação.

São pronomes indefinidos de:

• pessoas: quem, alguém, ninguém, outrem; • lugares: onde, algures, alhures, nenhures; • pessoas, lugares, coisas: que, qual, quais, algo, tudo, nada, todo (a/s), algum (a/s), vários (a),

nenhum (a/s), certo (a/s), outro (a/s), muito (a/s), pouco (a/s), quanto (a/s), um (a/s), qualquer (s), cada.

Sobre o emprego dos indefinidos devemos atentar para:

• algum, após o substantivo a que se refere, assume valor negativo (= nenhum) (Computador algum resolverá o problema);

• cada deve ser sempre seguido de um substantivo ou numeral (Elas receberam 3 balas cada uma); • alguns pronomes indefinidos, se vierem depois do nome a que estiverem se referindo, passam a ser

adjetivos. (Certas pessoas deveriam ter seus lugares certos / Comprei várias balas de sabores vários)

• bastante pode vir como adjetivo também, se estiver determinando algum substantivo, unindo-se a ele por verbo de ligação (Isso é bastante para mim);

• o pronome outrem equivale a "qualquer pessoa"; • o pronome nada, colocado junto a verbos ou adjetivos, pode equivaler a advérbio (Ele não está

nada contente hoje); • o pronome nada, colocado junto a verbos ou adjetivos, pode equivaler a advérbio (Ele não está

nada contente hoje); • existem algumas locuções pronominais indefinidas - quem quer que, o que quer, seja quem for,

cada um etc. • todo com valor indefinido antecede o substantivo, sem artigo (Toda cidade parou para ver a banda ≠

Toda a cidade parou para ver a banda).

Pronome interrogativo:

São os pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto usados na formulação de uma pergunta direta ou indireta. Referem-se à 3ª pessoa do discurso. (Quantos livros você tem? / Não sei quem lhe contou).

Alguns interrogativos podem ser adverbiais (Quando voltarão? / Onde encontrá-los? / Como foi tudo?).

Verbo:

É a palavra variável que exprime um acontecimento representado no tempo, seja ação, estado ou fenômeno da natureza.

Os verbos apresentam três conjugações. Em função da vogal temática, podem-se criar três paradigmas verbais. De acordo com a relação dos verbos com esses paradigmas, obtém-se a seguinte classificação:

• regulares: seguem o paradigma verbal de sua conjugação; • irregulares: não seguem o paradigma verbal da conjugação a que pertencem. As irregularidades

podem aparecer no radical ou nas desinências (ouvir - ouço/ouve, estar - estou/estão);

Entre os verbos irregulares, destacam-se os anômalos que apresentam profundas irregularidades. São classificados como anômalos em todas as gramáticas os verbos ser e ir.

• defectivos: não são conjugados em determinadas pessoas, tempo ou modo (falir - no presente do indicativo só apresenta a 1ª e a 2ª pessoa do plural). Os defectivos distribuem-se em três grupos: impessoais, unipessoais (vozes ou ruídos de animais, só conjugados nas 3ª pessoas) por eufonia ou possibilidade de confusão com outros verbos;

• abundantes - apresentam mais de uma forma para uma mesma flexão. Mais frequente no particípio, devendo-se usar o particípio regular com ter e haver; já o irregular com ser e estar (aceito/aceitado, acendido/aceso - tenho/hei aceitado ≠ é/está aceito);

• auxiliares: juntam-se ao verbo principal ampliando sua significação. Presentes nos tempos compostos e locuções verbais;

• certos verbos possuem pronomes pessoais átonos que se tornam partes integrantes deles. Nesses casos, o pronome não tem função sintática (suicidar-se, apiedar-se, queixar-se etc.);

• formas rizotônicas (tonicidade no radical - eu canto) e formas arrizotônicas (tonicidade fora do radical - nós cantaríamos).

Quanto à flexão verbal, temos:

• número: singular ou plural; • pessoa gramatical: 1ª, 2ª ou 3ª; • tempo: referência ao momento em que se fala (pretérito, presente ou futuro). O modo imperativo só

tem um tempo, o presente; • voz: ativa, passiva e reflexiva; • modo: indicativo (certeza de um fato ou estado), subjuntivo (possibilidade ou desejo de realização

de um fato ou incerteza do estado) e imperativo (expressa ordem, advertência ou pedido).

As três formas nominais do verbo (infinitivo, gerúndio e particípio) não possuem função exclusivamente verbal. Infinitivo é antes substantivo, o particípio tem valor e forma de adjetivo, enquanto o gerúndio equipara-se ao adjetivo ou advérbio pelas circunstâncias que exprime.

Quanto ao tempo verbal, eles apresentam os seguintes valores:

• presente do indicativo: indica um fato real situado no momento ou época em que se fala; • presente do subjuntivo: indica um fato provável, duvidoso ou hipotético situado no momento ou

época em que se fala; • pretérito perfeito do indicativo: indica um fato real cuja ação foi iniciada e concluída no passado; • pretérito imperfeito do indicativo: indica um fato real cuja ação foi iniciada no passado, mas não

foi concluída ou era uma ação costumeira no passado; • pretérito imperfeito do subjuntivo: indica um fato provável, duvidoso ou hipotético cuja ação foi

iniciada mas não concluída no passado; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: indica um fato real cuja ação é anterior a outra ação já

passada; • futuro do presente do indicativo: indica um fato real situado em momento ou época vindoura; • futuro do pretérito do indicativo: indica um fato possível, hipotético, situado num momento futuro,

mas ligado a um momento passado; • futuro do subjuntivo: indica um fato provável, duvidoso, hipotético, situado num momento ou

época futura;

Quanto à formação dos tempos, os chamados tempos simples podem ser primitivos (presente e pretérito perfeito do indicativo e o infinitivo impessoal) e derivados:

São derivados do presente do indicativo:

• pretérito imperfeito do indicativo: TEMA do presente + VA (1ª conj.) ou IA (2ª e 3ª conj.) + Desinência número pessoal (DNP);

• presente do subjuntivo: RAD da 1ª pessoa singular do presente + E (1ª conj.) ou A (2ª e 3ª conj.) + DNP;

Os verbos em -ear têm duplo "e" em vez de "ei" na 1ª pessoa do plural (passeio, mas passeemos).

• imperativo negativo (todo derivado do presente do subjuntivo) e imperativo afirmativo (as 2ª pessoas vêm do presente do indicativo sem S, as demais também vêm do presente do subjuntivo).

São derivados do pretérito perfeito do indicativo:

• pretérito mais-que-perfeito do indicativo: TEMA do perfeito + RA + DNP; • pretérito imperfeito do subjuntivo: TEMA do perfeito + SSE + DNP; • futuro do subjuntivo: TEMA do perfeito + R + DNP. • São derivados do infinitivo impessoal: • futuro do presente do indicativo: TEMA do infinitivo + RA + DNP; • futuro do pretérito: TEMA do infinitivo + RIA + DNP; • infinitivo pessoal: infinitivo impessoal + DNP (-ES - 2ª pessoa, -MOS, -DES, -EM) • gerúndio: TEMA do infinitivo + -NDO; • particípio regular: infinitivo impessoal sem vogal temática (VT) e R + ADO (1ª conjugação) ou IDO

(2ª e 3ª conjugação).

Quanto à formação, os tempos compostos da voz ativa constituem-se dos verbos auxiliares TER ou HAVER + particípio do verbo que se quer conjugar, dito principal.

No modo Indicativo, os tempos compostos são formados da seguinte maneira:

• pretérito perfeito: presente do indicativo do auxiliar + particípio do verbo principal (VP) [Tenho falado];

• pretérito mais-que-perfeito: pretérito imperfeito do indicativo do auxiliar + particípio do VP (Tinha falado);

• futuro do presente: futuro do presente do indicativo do auxiliar + particípio do VP (Terei falado); • futuro do pretérito: futuro do pretérito indicativo do auxiliar + particípio do VP (Teria falado).

No modo Subjuntivo a formação se dá da seguinte maneira:

• pretérito perfeito: presente do subjuntivo do auxiliar + particípio do VP (Tenha falado); • pretérito mais-que-perfeito: imperfeito do subjuntivo do auxiliar + particípio do VP (Tivesse falado); • futuro composto: futuro do subjuntivo do auxiliar + particípio do VP (Tiver falado).

Quanto às formas nominais, elas são formadas da seguinte maneira:

• infinitivo composto: infinitivo pessoal ou impessoal do auxiliar + particípio do VP (Ter falado / Teres falado);

• gerúndio composto: gerúndio do auxiliar + particípio do VP (Tendo falado).

O modo subjuntivo apresenta três pretéritos, sendo o imperfeito na forma simples e o perfeito e o mais-que-perfeito nas formas compostas. Não há presente composto nem pretérito imperfeito composto

Quanto às vozes, os verbos apresentam a voz:

• ativa: sujeito é agente da ação verbal; • passiva: sujeito é paciente da ação verbal;

A voz passiva pode ser analítica ou sintética:

• analítica: - verbo auxiliar + particípio do verbo principal; • sintética: na 3ª pessoa do singular ou plural + SE (partícula apassivadora); • reflexiva: sujeito é agente e paciente da ação verbal. Também pode ser recíproca ao mesmo tempo

(acréscimo de SE = pronome reflexivo, variável em função da pessoa do verbo);

Na transformação da voz ativa na passiva, a variação temporal é indicada pelo auxiliar (ser na maioria das vezes), como notamos nos exemplos a seguir: Ele fez o trabalho - O trabalho foi feito por ele (mantido o pretérito perfeito do indicativo) / O vento ia levando as folhas - As folhas iam sendo levadas pelas folhas (mantido o gerúndio do verbo principal).

Alguns verbos da língua portuguesa apresentam problemas de conjugação. A seguir temos uma lista, seguida de comentários sobre essas dificuldades de conjugação.

• Abolir (defectivo) - não possui a 1ª pessoa do singular do presente do indicativo, por isso não possui presente do subjuntivo e o imperativo negativo. (= banir, carpir, colorir, delinquir, demolir, descomedir-se, emergir, exaurir, fremir, fulgir, haurir, retorquir, urgir)

• Acudir (alternância vocálica o/u) - presente do indicativo - acudo, acodes... e pretérito perfeito do indicativo - com u (= bulir, consumir, cuspir, engolir, fugir) / Adequar (defectivo) - só possui a 1ª e a 2ª pessoa do plural no presente do indicativo

• Aderir (alternância vocálica e/i) - presente do indicativo - adiro, adere... (= advertir, cerzir, despir, diferir, digerir, divergir, ferir, sugerir)

• Agir (acomodação gráfica g/j) - presente do indicativo - ajo, ages... (= afligir, coagir, erigir, espargir, refulgir, restringir, transigir, urgir)

• Agredir (alternância vocálica e/i) - presente do indicativo - agrido, agrides, agride, agredimos, agredis, agridem (= prevenir, progredir, regredir, transgredir) / Aguar (regular) - presente do indicativo - águo, águas..., - pretérito perfeito do indicativo - aguei, aguaste, aguou, aguamos, aguastes, aguaram (= desaguar, enxaguar, minguar)

• Aprazer (irregular) - presente do indicativo - aprazo, aprazes, apraz... / pretérito perfeito do indicativo - aprouve, aprouveste, aprouve, aprouvemos, aprouvestes, aprouveram

• Arguir (irregular com alternância vocálica o/u) - presente do indicativo - arguo (ú), argúis, argúi, arguimos, arguis, argúem - pretérito perfeito - argui, arguiste... (com trema)

• Atrair (irregular) - presente do indicativo - atraio, atrais... / pretérito perfeito - atraí, atraíste... (= abstrair, cair, distrair, sair, subtrair)

• Atribuir (irregular) - presente do indicativo - atribuo, atribuis, atribui, atribuímos, atribuís, atribuem - pretérito perfeito - atribuí, atribuíste, atribuiu... (= afluir, concluir, destituir, excluir, instruir, possuir, usufruir)

• Averiguar (alternância vocálica o/u) - presente do indicativo - averiguo (ú), averiguas (ú), averigua (ú), averiguamos, averiguais, averiguam (ú) - pretérito perfeito - averigüei, averiguaste... - presente do subjuntivo - averigúe, averigúes, averigúe... (= apaziguar)

• Cear (irregular) - presente do indicativo - ceio, ceias, ceia, ceamos, ceais, ceiam - pretérito perfeito indicativo - ceei, ceaste, ceou, ceamos, ceastes, cearam (= verbos terminados em -ear: falsear, passear... - alguns apresentam pronúncia aberta: estreio, estreia...)

• Coar (irregular) - presente do indicativo - côo, côas, côa, coamos, coais, coam - pretérito perfeito - coei, coaste, coou... (= abençoar, magoar, perdoar) / Comerciar (regular) - presente do indicativo - comercio, comercias... - pretérito perfeito - comerciei... (= verbos em -iar , exceto os seguintes verbos: mediar, ansiar, remediar, incendiar, odiar)

• Compelir (alternância vocálica e/i) - presente do indicativo - compilo, compeles... - pretérito perfeito indicativo - compeli, compeliste...

• Compilar (regular) - presente do indicativo - compilo, compilas, compila... - pretérito perfeito indicativo - compilei, compilaste...

• Construir (irregular e abundante) - presente do indicativo - construo, constróis (ou construis), constrói (ou construi), construímos, construís, constroem (ou construem) - pretérito perfeito indicativo - construí, construíste...

• Crer (irregular) - presente do indicativo - creio, crês, crê, cremos, credes, crêem - pretérito perfeito indicativo - cri, creste, creu, cremos, crestes, creram - imperfeito indicativo - cria, crias, cria, críamos, críeis, criam

• Falir (defectivo) - presente do indicativo - falimos, falis - pretérito perfeito indicativo - fali, faliste... (= aguerrir, combalir, foragir-se, remir, renhir)

• Frigir (acomodação gráfica g/j e alternância vocálica e/i) - presente do indicativo - frijo, freges, frege, frigimos, frigis, fregem - pretérito perfeito indicativo - frigi, frigiste...

• Ir (irregular) - presente do indicativo - vou, vais, vai, vamos, ides, vão - pretérito perfeito indicativo - fui, foste... - presente subjuntivo - vá, vás, vá, vamos, vades, vão

• Jazer (irregular) - presente do indicativo - jazo, jazes... - pretérito perfeito indicativo - jazi, jazeste, jazeu...

• Mobiliar (irregular) - presente do indicativo - mobílio, mobílias, mobília, mobiliamos, mobiliais, mobíliam - pretérito perfeito indicativo - mobiliei, mobiliaste... / Obstar (regular) - presente do indicativo - obsto, obstas... - pretérito perfeito indicativo - obstei, obstaste...

• Pedir (irregular) - presente do indicativo - peço, pedes, pede, pedimos, pedis, pedem - pretérito perfeito indicativo - pedi, pediste... (= despedir, expedir, medir) / Polir (alternância vocálica e/i) - presente do indicativo - pulo, pules, pule, polimos, polis, pulem - pretérito perfeito indicativo - poli, poliste...

• Precaver-se (defectivo e pronominal) - presente do indicativo - precavemo-nos, precaveis-vos - pretérito perfeito indicativo - precavi-me, precaveste-te... / Prover (irregular) - presente do indicativo - provejo, provês, provê, provemos, provedes, provêem - pretérito perfeito indicativo - provi, proveste, proveu... / Reaver (defectivo) - presente do indicativo - reavemos, reaveis - pretérito perfeito indicativo - reouve, reouveste, reouve... (verbo derivado do haver, mas só é conjugado nas formas verbais com a letra v)

• Remir (defectivo) - presente do indicativo - remimos, remis - pretérito perfeito indicativo - remi, remiste...

• Requerer (irregular) - presente do indicativo - requeiro, requeres... - pretérito perfeito indicativo - requeri, requereste, requereu... (derivado do querer, diferindo dele na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo e no pretérito perfeito do indicativo e derivados, sendo regular)

• Rir (irregular) - presente do indicativo - rio, rir, ri, rimos, rides, riem - pretérito perfeito indicativo - ri, riste... (= sorrir)

• Saudar (alternância vocálica) - presente do indicativo - saúdo, saúdas... - pretérito perfeito indicativo - saudei, saudaste...

• Suar (regular) - presente do indicativo - suo, suas, sua... - pretérito perfeito indicativo - suei, suaste, sou... (= atuar, continuar, habituar, individuar, recuar, situar)

• Valer (irregular) - presente do indicativo - valho, vales, vale... - pretérito perfeito indicativo - vali, valeste, valeu...

Também merecem atenção os seguintes verbos irregulares:

• Pronominais: Apiedar-se, dignar-se, persignar-se, precaver-se

Caber

• presente do indicativo: caibo, cabes, cabe, cabemos, cabeis, cabem; • presente do subjuntivo: caiba, caibas, caiba, caibamos, caibais, caibam; • pretérito perfeito do indicativo: coube, coubeste, coube, coubemos, coubestes, couberam; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: coubera, couberas, coubera, coubéramos, coubéreis,

couberam; • pretérito imperfeito do subjuntivo: coubesse, coubesses, coubesse, coubéssemos, coubésseis,

coubessem; • futuro do subjuntivo: couber, couberes, couber, coubermos, couberdes, couberem.

Dar

• presente do indicativo: dou, dás, dá, damos, dais, dão; • presente do subjuntivo: dê, dês, dê, demos, deis, dêem; • pretérito perfeito do indicativo: dei, deste, deu, demos, destes, deram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: dera, deras, dera, déramos, déreis, deram; • pretérito imperfeito do subjuntivo: desse, desses, desse, déssemos, désseis, dessem; • futuro do subjuntivo: der, deres, der, dermos, derdes, derem.

Dizer

• presente do indicativo: digo, dizes, diz, dizemos, dizeis, dizem; • presente do subjuntivo: diga, digas, diga, digamos, digais, digam; • pretérito perfeito do indicativo: disse, disseste, disse, dissemos, dissestes, disseram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: dissera, disseras, dissera, disséramos, disséreis,

disseram; • futuro do presente: direi, dirás, dirá, etc.; • futuro do pretérito: diria, dirias, diria, etc.; • pretérito imperfeito do subjuntivo: dissesse, dissesses, dissesse, disséssemos, dissésseis,

dissessem; • futuro do subjuntivo: disser, disseres, disser, dissermos, disserdes, disserem;

Seguem esse modelo os derivados bendizer, condizer, contradizer, desdizer, maldizer, predizer.

Os particípios desse verbo e seus derivados são irregulares: dito, bendito, contradito, etc.

Estar

• presente do indicativo: estou, estás, está, estamos, estais, estão; • presente do subjuntivo: esteja, estejas, esteja, estejamos, estejais, estejam; • pretérito perfeito do indicativo: estive, estiveste, esteve, estivemos, estivestes, estiveram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: estivera, estiveras, estivera, estivéramos, estivéreis,

estiveram; • pretérito imperfeito do subjuntivo: estivesse, estivesses, estivesse, estivéssemos, estivésseis,

estivessem; • futuro do subjuntivo: estiver, estiveres, estiver, estivermos, estiverdes, estiverem;

Fazer

• presente do indicativo: faço, fazes, faz, fazemos, fazeis, fazem; • presente do subjuntivo: faça, faças, faça, façamos, façais, façam; • pretérito perfeito do indicativo: fiz, fizeste, fez, fizemos, fizestes, fizeram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: fizera, fizeras, fizera, fizéramos, fizéreis, fizeram; • pretérito imperfeito do subjuntivo: fizesse, fizesses, fizesse, fizéssemos, fizésseis, fizessem; • futuro do subjuntivo: fizer, fizeres, fizer, fizermos, fizerdes, fizerem.

Seguem esse modelo desfazer, liquefazer e satisfazer.

Os particípios desse verbo e seus derivados são irregulares: feito, desfeito, liquefeito, satisfeito, etc.

Haver

• presente do indicativo: hei, hás, há, havemos, haveis, hão; • presente do subjuntivo: haja, hajas, haja, hajamos, hajais, hajam; • pretérito perfeito do indicativo: houve, houveste, houve, houvemos, houvestes, houveram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: houvera, houveras, houvera, houvéramos, houvéreis,

houveram; • pretérito imperfeito do subjuntivo: houvesse, houvesses, houvesse, houvéssemos, houvésseis,

houvessem; • futuro do subjuntivo: houver, houveres, houver, houvermos, houverdes, houverem.

Ir

• presente do indicativo: vou, vais, vai, vamos, ides, vão; • presente do subjuntivo: vá, vás, vá, vamos, vades, vão; • pretérito imperfeito do indicativo: ia, ias, ia, íamos, íeis, iam; • pretérito perfeito do indicativo: fui, foste, foi, fomos, fostes, foram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: fora, foras, fora, fôramos, fôreis, foram; • pretérito imperfeito do subjuntivo: fosse, fosses, fosse, fôssemos, fôsseis, fossem; • futuro do subjuntivo: for, fores, for, formos, fordes, forem.

Poder

• presente do indicativo: posso, podes, pode, podemos, podeis, podem; • presente do subjuntivo: possa, possas, possa, possamos, possais, possam; • pretérito perfeito do indicativo: pude, pudeste, pôde, pudemos, pudestes, puderam; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: pudera, puderas, pudera, pudéramos, pudéreis,

puderam;

• pretérito imperfeito do subjuntivo: pudesse, pudesses, pudesse, pudéssemos, pudésseis, pudessem;

• futuro do subjuntivo: puder, puderes, puder, pudermos, puderdes, puderem.

Pôr

• presente do indicativo: ponho, pões, põe, pomos, pondes, põem; • presente do subjuntivo: ponha, ponhas, ponha, ponhamos, ponhais, ponham; • pretérito imperfeito do indicativo: punha, punhas, punha, púnhamos, púnheis, punham; • pretérito perfeito do indicativo: pus, puseste, pôs, pusemos, pusestes, puseram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: pusera, puseras, pusera, puséramos, puséreis,

puseram; • pretérito imperfeito do subjuntivo: pusesse, pusesses, pusesse, puséssemos, pusésseis,

pusessem; • futuro do subjuntivo: puser, puseres, puser, pusermos, puserdes, puserem.

Todos os derivados do verbo pôr seguem exatamente esse modelo: antepor, compor, contrapor, decompor, depor, descompor, dispor, expor, impor, indispor, interpor, opor, pospor, predispor, pressupor, propor, recompor, repor, sobrepor, supor, transpor são alguns deles.

Querer

• presente do indicativo: quero, queres, quer, queremos, quereis, querem; • presente do subjuntivo: queira, queiras, queira, queiramos, queirais, queiram; • pretérito perfeito do indicativo: quis, quiseste, quis, quisemos, quisestes, quiseram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: quisera, quiseras, quisera, quiséramos, quiséreis,

quiseram; • pretérito imperfeito do subjuntivo: quisesse, quisesses, quisesse, quiséssemos, quisésseis,

quisessem; • futuro do subjuntivo: quiser, quiseres, quiser, quisermos, quiserdes, quiserem;

Saber

• presente do indicativo: sei, sabes, sabe, sabemos, sabeis, sabem; • presente do subjuntivo: saiba, saibas, saiba, saibamos, saibais, saibam; • pretérito perfeito do indicativo: soube, soubeste, soube, soubemos, soubestes, souberam; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: soubera, souberas, soubera, soubéramos, soubéreis,

souberam; • pretérito imperfeito do subjuntivo: soubesse, soubesses, soubesse, soubéssemos, soubésseis,

soubessem; • futuro do subjuntivo: souber, souberes, souber, soubermos, souberdes, souberem.

Ser

• presente do indicativo: sou, és, é, somos, sois, são; • presente do subjuntivo: seja, sejas, seja, sejamos, sejais, sejam; • pretérito imperfeito do indicativo: era, eras, era, éramos, éreis, eram; • pretérito perfeito do indicativo: fui, foste, foi, fomos, fostes, foram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: fora, foras, fora, fôramos, fôreis, foram; • pretérito imperfeito do subjuntivo: fosse, fosses, fosse, fôssemos, fôsseis, fossem; • futuro do subjuntivo: for, fores, for, formos, fordes, forem.

As segundas pessoas do imperativo afirmativo são: sê (tu) e sede (vós).

Ter

• presente do indicativo: tenho, tens, tem, temos, tendes, têm; • presente do subjuntivo: tenha, tenhas, tenha, tenhamos, tenhais, tenham; • pretérito imperfeito do indicativo: tinha, tinhas, tinha, tínhamos, tínheis, tinham; • pretérito perfeito do indicativo: tive, tiveste, teve, tivemos, tivestes, tiveram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: tivera, tiveras, tivera, tivéramos, tivéreis, tiveram; • pretérito imperfeito do subjuntivo: tivesse, tivesses, tivesse, tivéssemos, tivésseis, tivessem; • futuro do subjuntivo: tiver, tiveres, tiver, tivermos, tiverdes, tiverem.

Seguem esse modelo os verbos ater, conter, deter, entreter, manter, reter.

Trazer

• presente do indicativo: trago, trazes, traz, trazemos, trazeis, trazem; • presente do subjuntivo: traga, tragas, traga, tragamos, tragais, tragam; • pretérito perfeito do indicativo: trouxe, trouxeste, trouxe, trouxemos, trouxestes, trouxeram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: trouxera, trouxeras, trouxera, trouxéramos, trouxéreis,

trouxeram; • futuro do presente: trarei, trarás, trará, etc.; • futuro do pretérito: traria, trarias, traria, etc.; • pretérito imperfeito do subjuntivo: trouxesse, trouxesses, trouxesse, trouxéssemos, trouxésseis,

trouxessem; • futuro do subjuntivo: trouxer, trouxeres, trouxer, trouxermos, trouxerdes, trouxerem.

Ver

• presente do indicativo: vejo, vês, vê, vemos, vedes, vêem; • presente do subjuntivo: veja, vejas, veja, vejamos, vejais, vejam; • pretérito perfeito do indicativo: vi, viste, viu, vimos, vistes, viram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: vira, viras, vira, víramos, víreis, viram; • pretérito imperfeito do subjuntivo: visse, visses, visse, víssemos, vísseis, vissem; • futuro do subjuntivo: vir, vires, vir, virmos, virdes, virem.

Seguem esse modelo os derivados antever, entrever, prever, rever. Prover segue o modelo acima apenas no presente do indicativo e seus tempos derivados; nos demais tempos, comporta-se como um verbo regular da segunda conjugação.

Vir

• presente do indicativo: venho, vens, vem, vimos, vindes, vêm; • presente do subjuntivo: venha, venhas, venha, venhamos, venhais, venham; • pretérito imperfeito do indicativo: vinha, vinhas, vinha, vínhamos, vínheis, vinham; • pretérito perfeito do indicativo: vim, vieste, veio, viemos, viestes, vieram; • pretérito mais-que-perfeito do indicativo: viera, vieras, viera, viéramos, viéreis, vieram; • pretérito imperfeito do subjuntivo: viesse, viesses, viesse, viéssemos, viésseis, viessem; • futuro do subjuntivo: vier, vieres, vier, viermos, vierdes, vierem; • particípio e gerúndio: vindo.

Seguem esse modelo os verbos advir, convir, desavir-se, intervir, provir, sobrevir.

O emprego do infinitivo não obedece a regras bem definidas.

O impessoal é usado em sentido genérico ou indefinido, não relacionado a nenhuma pessoa, o pessoal refere-se às pessoas do discurso, dependendo do contexto. Recomenda-se sempre o uso da forma pessoal se for necessário dar à frase maior clareza e ênfase.

Usa-se o impessoal:

• sem referência a nenhum sujeito: É proibido fumar na sala; • nas locuções verbais: Devemos avaliar a sua situação; • quando o infinitivo exerce função de complemento de adjetivos: É um problema fácil de solucionar; • quando o infinitivo possui valor de imperativo - Ele respondeu: "Marchar!"

Usa-se o pessoal:

• quando o sujeito do infinitivo é diferente do sujeito da oração principal: Eu não te culpo por saíres daqui;

• quando, por meio de flexão, se quer realçar ou identificar a pessoa do sujeito: Foi um erro responderes dessa maneira;

• quando queremos determinar o sujeito (usa-se a 3ª pessoa do plural): - Escutei baterem à porta.

Artigo

Precede o substantivo para determiná-lo, mantendo com ele relação de concordância. Assim, qualquer expressão ou frase fica substantivada se for determinada por artigo (O 'conhece-te a ti mesmo' é conselho sábio). Em certos casos, serve para assinalar gênero e número (o/a colega, o/os ônibus).

Os artigos podem ser classificado em:

• definido - o, a, os, as - um ser claramente determinado entre outros da mesma espécie;

• indefinido - um, uma, uns, umas - um ser qualquer entre outros de mesma espécie;

Podem aparecer combinados com preposições (numa, do, à, entre outros).

Quanto ao emprego do artigo:

• não é obrigatório seu uso diante da maioria dos substantivos, podendo ser substituído por outra palavra determinante ou nem usado (o rapaz ≠ este rapaz / Lera numa revista que mulher fica mais gripada que homem). Nesse sentido, convém omitir o uso do artigo em provérbios e máximas para manter o sentido generalizante (Tempo é dinheiro / Dedico esse poema a homem ou a mulher?);

• não se deve usar artigo depois de cujo e suas flexões; • outro, em sentido determinado, é precedido de artigo; caso contrário, dispensa-o (Fiquem dois aqui;

os outros podem ir ≠ Uns estavam atentos; outros conversavam); • não se usa artigo diante de expressões de tratamento iniciadas por possessivos, além das formas

abreviadas frei, dom, são, expressões de origem estrangeira (Lord, Sir, Madame) e sóror ou sóror; • é obrigatório o uso do artigo definido entre o numeral ambos (ambos os dois) e o substantivo a que

se refere (ambos os cônjuges);• diante do possessivo (função de adjetivo) o uso é facultativo; mas se o pronome for substantivo,

torna-se obrigatório (os [seus] planos foram descobertos, mas os meus ainda estão em segredo); • omite-se o artigo definido antes de nomes de parentesco precedidos de possessivo (A moça deixou

a casa a sua tia); • antes de nomes próprios personativos, não se deve utilizar artigo. O seu uso denota familiaridade,

por isso é geralmente usado antes de apelidos. Os antropônimos são determinados pelo artigo se usados no plural (os Maias, Os Homeros);

• geralmente dispensado depois de cheirar a, saber a (= ter gosto a) e similares (cheirar a jasmim / isto sabe a vinho);

• não se usa artigo diante das palavras casa (= lar, moradia), terra (= chão firme) e palácio a menos que essas palavras sejam especificadas (venho de casa / venho da casa paterna);

• na expressão uma hora, significando a primeira hora, o emprego é facultativo (era perto de / da uma hora). Se for indicar hora exata, à uma hora (como qualquer expressão adverbial feminina);

• diante de alguns nomes de cidade não se usa artigo, a não ser que venham modificados por adjetivo, locução adjetiva ou oração adjetiva (Aracaju, Sergipe, Curitiba, Roma, Atenas);

• usa-se artigo definido antes dos nomes de estados brasileiros. Como não se usa artigo nas denominações geográficas formadas por nomes ou adjetivos, excetuam-se AL, GO, MT, MG, PE, SC, SP e SE;

• expressões com palavras repetidas repelem artigo (gota a gota / face a face); • não se combina com preposição o artigo que faz parte de nomes de jornais, revistas e obras

literárias, bem como se o artigo introduzir sujeito (li em Os Lusíadas / Está na hora de a onça beber água);

• depois de todo, emprega-se o artigo para conferir idéia de totalidade (Toda a sociedade poderá participar / toda a cidade ≠ toda cidade). "Todos" exige artigo a não ser que seja substituído por outro determinante (todos os familiares / todos estes familiares);

• repete-se artigo: a) nas oposições entre pessoas e coisas (o rico e o pobre) / b) na qualificação antonímica do mesmo substantivo (o bom e o mau ladrão) / c) na distinção de gênero e número (o patrão e os operários / o genro e a nora);

• não se repete artigo: a) quando há sinonímia indicada pela explicativa ou (a botânica ou fitologia) / b) quando adjetivos qualificam o mesmo substantivo (a clara, persuasiva e discreta exposição dos fatos nos abalou).

Numeral:

Numeral é a palavra que indica quantidade, número de ordem, múltiplo ou fração. Classifica-se como cardinal (1, 2, 3), ordinal (primeiro, segundo, terceiro), multiplicativo (dobro, duplo, triplo), fracionário (meio, metade, terço). Além desses, ainda há os numerais coletivos (dúzia, par).

Quanto ao valor, os numerais podem apresentar valor adjetivo ou substantivo. Se estiverem acompanhando e modificando um substantivo, terão valor adjetivo. Já se estiverem substituindo um substantivo e designando seres, terão valor substantivo. [Ele foi o primeiro jogador a chegar. (valor adjetivo) / Ele será o primeiro desta vez. (valor substantivo)].

Quanto ao emprego:

• os ordinais como último, penúltimo, antepenúltimo, respectivos... não possuem cardinais correspondentes.

• os fracionários têm como forma própria meio, metade e terço, todas as outras representações de divisão correspondem aos ordinais ou aos cardinais seguidos da palavra avos (quarto, décimo, milésimo, quinze avos);

• designando séculos, reis, papas e capítulos, utiliza-se na leitura ordinal até décimo; a partir daí usam-se os cardinais. (Luís XIV - quatorze, Papa Paulo II - segundo);

Se o numeral vier antes do substantivo, será obrigatório o ordinal (XX Bienal - vigésima, IV Semana de Cultura - quarta);

• zero e ambos(as) também são numerais cardinais. 14 apresenta duas formas por extenso catorze e quatorze;

• a forma milhar é masculina, portanto não existe "algumas milhares de pessoas" e sim alguns milhares de pessoas;

• alguns numerais coletivos: grosa (doze dúzias), lustro (período de cinco anos), sesquicentenário (150 anos);

• um: numeral ou artigo? Nestes casos, a distinção é feita pelo contexto.

Numeral indicando quantidade e artigo quando se opõe ao substantivo indicando-o de forma indefinida.

Quanto à flexão, varia em gênero e número:

• variam em gênero:

Cardinais: um, dois e os duzentos a novecentos; todos os ordinais; os multiplicativos e fracionários, quando expressam uma ideia adjetiva em relação ao substantivo.

• variam em número:

Cardinais terminados em -ão; todos os ordinais; os multiplicativos, quando têm função adjetiva; os fracionários, dependendo do cardinal que os antecede.

Os cardinais, quando substantivos, vão para o plural se terminarem por som vocálico (Tirei dois dez e três quatros).

Advérbio:

É a palavra que modifica o sentido do verbo (maioria), do adjetivo e do próprio advérbio (intensidade para essas duas classes). Denota em si mesma uma circunstância que determina sua classificação:

• lugar: longe, junto, acima, ali, lá, atrás, alhures; • tempo: breve, cedo, já, agora, outrora, imediatamente, ainda; • modo: bem, mal, melhor, pior, devagar, a maioria dos adv. com sufixo -mente; • negação: não, qual nada, tampouco, absolutamente; • dúvida: quiçá, talvez, provavelmente, porventura, possivelmente; • intensidade: muito, pouco, bastante, mais, meio, quão, demais, tão; • afirmação: sim, certamente, deveras, com efeito, realmente, efetivamente.

As palavras onde (de lugar), como (de modo), porque (de causa), quanto (classificação variável) e quando (de tempo), usadas em frases interrogativas diretas ou indiretas, são classificadas como advérbios interrogativos (queria saber onde todos dormirão / quando se realizou o concurso).

Onde, quando, como, se empregados com antecedente em orações adjetivas são advérbios relativos (estava naquela rua onde passavam os ônibus / ele chegou na hora quando ela ia falar / não sei o modo como ele foi tratado aqui).

As locuções adverbiais são geralmente constituídas de preposição + substantivo - à direita, à frente, à vontade, de cor, em vão, por acaso, frente a frente, de maneira alguma, de manhã, de repente, de vez em quando, em breve, em mão (em vez de "em mãos") etc. São classificadas, também, em função da circunstância que expressam.

Quanto ao grau, apesar de pertencer à categoria das palavras invariáveis, o advérbio pode apresentar variações de grau comparativo ou superlativo.

Comparativo:

igualdade - tão + advérbio + quanto

superioridade - mais + advérbio + (do) que

inferioridade - menos + advérbio + (do) que

Superlativo:

sintético - advérbio + sufixo (-íssimo)

analítico - muito + advérbio.

Bem e mal admitem grau comparativo de superioridade sintético: melhor e pior. As formas mais bem e mais mal são usadas diante de particípios adjetivados. (Ele está mais bem informado do que eu). Melhor e pior podem corresponder a mais bem / mal (adv.) ou a mais bom / mau (adjetivo).

Quanto ao emprego:

• três advérbios pronominais indefinidos de lugar vão caindo em desuso: algures, alhures e nenhures, substituídos por em algum, em outro e em nenhum lugar;

• na linguagem coloquial, o advérbio recebe sufixo diminutivo. Nesses casos, o advérbio assume valor superlativo absoluto sintético (cedinho / pertinho). A repetição de um mesmo advérbio também assume valor superlativo (saiu cedo, cedo);

• quando os advérbios terminados em -mente estiverem coordenados, é comum o uso do sufixo só no último (Falou rápida e pausadamente);

• muito e bastante podem aparecer como advérbio (invariável) ou pronome indefinido (variável - determina substantivo);

• otimamente e pessimamente são superlativos absolutos sintéticos de bem e mal, respectivamente; • adjetivos adverbializados mantêm-se invariáveis (terminaram rápido o trabalho / ele falou claro).

As palavras denotativas são séries de palavras que se assemelham ao advérbio. A Norma Gramatical Brasileira considera-as apenas como palavras denotativas, não pertencendo a nenhuma das 10 classes gramaticais. Classificam-se em função da ideia que expressam:

• adição: ainda, além disso etc. (Comeu tudo e ainda queria mais); • afastamento: embora (Foi embora daqui); • afetividade: ainda bem, felizmente, infelizmente (Ainda bem que passei de ano); • aproximação: quase, lá por, bem, uns, cerca de, por volta de etc. (É quase 1h a pé); • designação: eis (Eis nosso carro novo); • exclusão: apesar, somente, só, salvo, unicamente, exclusive, exceto, senão, sequer, apenas etc.

(Todos saíram, menos ela / Não me descontou sequer um real); • explicação: isto é, por exemplo, a saber etc. (Li vários livros, a saber, os clássicos); • inclusão: até, ainda, além disso, também, inclusive etc. (Eu também vou / Falta tudo, até água); • limitação: só, somente, unicamente, apenas etc. (Apenas um me respondeu / Só ele veio à festa); • realce: é que, cá, lá, não, mas, é porque etc. (E você lá sabe essa questão?); • retificação: aliás, isto é, ou melhor, ou antes etc. (Somos três, ou melhor, quatro); • situação: então, mas, se, agora, afinal etc. (Afinal, quem perguntaria a ele?).

Preposição:

É a palavra invariável que liga dois termos entre si, estabelecendo relação de subordinação entre o termo regente e o regido. São antepostos aos dependentes (objeto indireto, complemento nominal, adjuntos e orações subordinadas). Divide-se em:

• essenciais (maioria das vezes são preposições): a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre, trás;

• acidentais (palavras de outras classes que podem exercer função de preposição): afora, conforme (= de acordo com), consoante, durante, exceto, salvo, segundo, senão, mediante, visto (= devido a, por causa de) etc. (Vestimo-nos conforme a moda e o tempo / Os heróis tiveram como prêmio aquela taça / Mediante meios escusos, ele conseguiu a vaga / Vovó dormiu durante a viagem).

As preposições essenciais regem pronomes oblíquos tônicos; enquanto preposições acidentais regem as formas retas dos pronomes pessoais. (Falei sobre ti/Todos, exceto eu, vieram).

As locuções prepositivas, em geral, são formadas de advérbio (ou locução adverbial) + preposição - abaixo de, acerca de, a fim de, além de, defronte a, ao lado de, apesar de, através de, de acordo com, em vez de, junto de, perto de, até a, a par de, devido a.

Observa-se que a última palavra da locução prepositiva é sempre uma preposição, enquanto a última palavra de uma locução adverbial nunca é preposição.

Quanto ao emprego, as preposições podem ser usadas em:

• combinação: preposição + outra palavra sem perda fonética (ao/aos); • contração: preposição + outra palavra com perda fonética (na/àquela); • não se deve contrair de se o termo seguinte for sujeito (Está na hora de ele falar); • a preposição após, pode funcionar como advérbio (= atrás) (Terminada a festa, saíram logo após.); • trás, atualmente, só se usa em locuções adverbiais e prepositivas (por trás, para trás por trás de).

Quanto à diferença entre pronome pessoal oblíquo, preposição e artigo, deve-se observar que a preposição liga dois termos, sendo invariável, enquanto o pronome oblíquo substitui um substantivo. Já o artigo antecede o substantivo, determinando-o.

As preposições podem estabelecer as seguintes relações: isoladamente, as preposições são palavras vazias de sentido, se bem que algumas contenham uma vaga noção de tempo e lugar. Nas frases, exprimem diversas relações:

• autoria - música de Caetano • lugar - cair sobre o telhado, estar sob a mesa • tempo - nascer a 15 de outubro, viajar em uma hora, viajei durante as férias • modo ou conformidade - chegar aos gritos, votar em branco • causa - tremer de frio, preso por vadiagem • assunto - falar sobre política • fim ou finalidade - vir em socorro, vir para ficar • instrumento - escrever a lápis, ferir-se com a faca • companhia - sair com amigos / meio - voltar a cavalo, viajar de ônibus • matéria - anel de prata, pão com farinha • posse - carro de João • oposição - Flamengo contra Fluminense • conteúdo - copo de (com) vinho • preço - vender a (por) R$ 300, 00 • origem - descender de família humilde • especialidade - formou-se em Medicina • destino ou direção - ir a Roma, olhe para frente.

Interjeição:

São palavras que expressam estados emocionais do falante, variando de acordo com o contexto emocional. Podem expressar:

• alegria - ah!, oh!, oba! • advertência - cuidado!, atenção • afugentamento - fora!, rua!, passa!, xô! • alívio - ufa!, arre! • animação - coragem!, avante!, eia! • aplauso - bravo!, bis!, mais um! • chamamento - alô!, olá!, psit! • desejo - oxalá!, tomara! / dor - ai!, ui! • espanto - puxa!, oh!, chi!, ué! • impaciência - hum!, hem! • silêncio - silêncio!, psiu!, quieto!

São locuções interjetivas: puxa vida!, não diga!, que horror!, graças a Deus!, ora bolas!, cruz credo!

Conjunção:

É a palavra que liga orações basicamente, estabelecendo entre elas alguma relação (subordinação ou coordenação). As conjunções classificam-se em:

Coordenativas, aquelas que ligam duas orações independentes (coordenadas), ou dois termos que exercem a mesma função sintática dentro da oração. Apresentam cinco tipos:

• aditivas (adição): e, nem, mas também, como também, bem como, mas ainda; • adversativas (adversidade, oposição): mas, porém, todavia, contudo, antes (= pelo contrário), não

obstante, apesar disso;

• alternativas (alternância, exclusão, escolha): ou, ou ... ou, ora ... ora, quer ... quer; • conclusivas (conclusão): logo, portanto, pois (depois do verbo), por conseguinte, por isso; • explicativas (justificação): - pois (antes do verbo), porque, que, porquanto.

Subordinativas - ligam duas orações dependentes, subordinando uma à outra. Apresentam dez tipos:

• causais: porque, visto que, já que, uma vez que, como, desde que;

Palavra que liga orações basicamente, estabelecendo entre elas alguma relação (subordinação ou coordenação). As conjunções classificam-se em:

• comparativas: como, (tal) qual, assim como, (tanto) quanto, (mais ou menos +) que; • condicionais: se, caso, contanto que, desde que, salvo se, sem que (= se não), a menos que; • consecutivas (consequência, resultado, efeito): que (precedido de tal, tanto, tão etc. - indicadores

de intensidade), de modo que, de maneira que, de sorte que, de maneira que, sem que; • conformativas (conformidade, adequação): conforme, segundo, consoante, como; • concessiva: embora, conquanto, posto que, por muito que, se bem que, ainda que, mesmo que; • temporais: quando, enquanto, logo que, desde que, assim que, mal (= logo que), até que; • finais - a fim de que, para que, que; • proporcionais: à medida que, à proporção que, ao passo que, quanto mais (+ tanto menos); • integrantes - que, se.

As conjunções integrantes introduzem as orações subordinadas substantivas, enquanto as demais iniciam orações subordinadas adverbiais. Muitas vezes a função de interligar orações é desempenhada por locuções conjuntivas, advérbios ou pronomes.

Pronomes

É palavra variável em gênero, número e pessoa que substitui ou acompanha um substantivo, indicando-o como pessoa do discurso.

A diferença entre pronome substantivo e pronome adjetivo pode ser atribuída a qualquer tipo de pronome, podendo variar em função do contexto frasal. Assim, o pronome substantivo é aquele que substitui um substantivo, representando-o. (Ele prestou socorro).

Já o pronome adjetivo é aquele que acompanha um substantivo, determinando-o. (Aquele rapaz é belo).

Os pronomes pessoais são sempre substantivos.

Quanto às pessoas do discurso, a língua portuguesa apresenta três pessoas:

1ª pessoa - aquele que fala, emissor;

2ª pessoa - aquele com quem se fala, receptor;

3ª pessoa - aquele de que ou de quem se fala, referente.

Pronome pessoal:

Indicam uma das três pessoas do discurso, substituindo um substantivo. Podem também representar, quando na 3ª pessoa, uma forma nominal anteriormente expressa (A moça era a melhor secretária, ela mesma agendava os compromissos do chefe).

A seguir um quadro com todas as formas do pronome pessoal:

Pronomes pessoais

Número Pessoa Pronomes retosPronomes oblíquos

Átonos Tônicos

singular

primeira

segunda

terceira

eu

tu

ele, ela

me

te

o, a, lhe, se

mim, comigo

ti, contigo

ele, ela, si, consigo

plural

primeira

segunda

terceira

nós

vós

eles, elas

nos

vos

os, as, lhes, se

nós, conosco

vós, convosco

eles, elas, si, consigo

Os pronomes pessoais apresentam variações de forma dependendo da função sintática que exercem na frase. Os pronomes pessoais retos desempenham, normalmente, função de sujeito; enquanto os oblíquos, geralmente, de complemento.

Os pronomes oblíquos tônicos devem vir regidos de preposição. Em comigo, contigo, conosco e convosco, a preposição com já é parte integrante do pronome.

Os pronomes de tratamento estão enquadrados nos pronomes pessoais. São empregados como referência à pessoa com quem se fala (2ª pessoa), entretanto, a concordância é feita com a 3ª pessoa. Também são considerados pronomes de tratamento as formas você, vocês (provenientes da redução de Vossa Mercê), Senhor, Senhora e Senhorita.

Quanto ao emprego, as formas oblíquas o, a, os, as completam verbos que não vêm regidos de

preposição; enquanto lhe e lhes para verbos regidos das preposições a ou para (não expressas).

Apesar de serem usadas pouco, as formas mo, to, no-lo, vo-lo, lho e flexões resultam da fusão de dois objetos, representados por pronomes oblíquos (Ninguém mo disse = ninguém o disse a mim).

Os pronomes átonos o, a, os e as viram lo(a/s), quando associados a verbos terminados em r, s ou z e viram no(a/s), se a terminação verbal for em ditongo nasal.

Os pronomes o/a (s), me, te, se, nos, vos desempenham função se sujeitos de infinitivo ou verbo no gerúndio, junto ao verbo fazer, deixar, mandar, ouvir e ver (Mandei-o entrar / Eu o vi sair / Deixei-as chorando).

A forma você, atualmente, é usada no lugar da 2ª pessoa (tu/vós), tanto no singular quanto no plural, levando o verbo para a 3ª pessoa.

Já as formas de tratamento serão precedidas de Vossa, quando nos dirigirmos diretamente à pessoa e de Sua, quando fizermos referência a ela. Troca-se na abreviatura o V. pelo S.

Quando precedidos de preposição, os pronomes retos (exceto eu e tu) passam a funcionar como oblíquos. Eu e tu não podem vir precedidos de preposição, exceto se funcionarem como sujeito de um verbo no infinitivo (Isto é para eu fazer ≠ para mim fazer).

Os pronomes acompanhados de só ou todos, ou seguido de numeral, assumem forma reta e podem funcionar como objeto direto (Estava só ele no banco / Encontramos todos eles).

Os pronomes me, te, se, nos, vos podem ter valor reflexivo, enquanto se, nos, vos - podem ter valor reflexivo e recíproco.

As formas si e consigo têm valor exclusivamente reflexivo e usados para a 3ª pessoa. Já conosco e convosco devem aparecer na sua forma analítica (com nós e com vós) quando vierem com modificadores (todos, outros, mesmos, próprios, numeral ou oração adjetiva).

Os pronomes pessoais retos podem desempenhar função de sujeito, predicativo do sujeito ou vocativo, este último com tu e vós (Nós temos uma proposta / Eu sou eu e pronto / Ó, tu, Senhor Jesus).

Quanto ao uso das preposições junto aos pronomes, deve-se saber que não se pode contrair as preposições de e em com pronomes que sejam sujeitos (Em vez de ele continuar, desistiu ≠ Vi as bolsas dele bem aqui).

Os pronomes átonos podem assumir valor possessivo (Levaram-me o dinheiro / Pesavam-lhe os olhos), enquanto alguns átonos são partes integrantes de verbos como suicidar-se, apiedar-se, condoer-se, ufanar-se, queixar-se, vangloriar-se.

Já os pronomes oblíquos podem ser usados como expressão expletiva (Não me venha com essa).

Pronome possessivo:

Fazem referência às pessoas do discurso, apresentando-as como possuidoras de algo. Concordam em gênero e número com a coisa possuída.

São pronomes possessivos da língua portuguesa as formas:

1ª pessoa: meu(s), minha(s) nosso(a/s);

2ª pessoa: teu(s), tua(s) vosso(a/s);

3ª pessoa: seu(s), sua(s) seu(s), sua(s).

Quanto ao emprego, normalmente, vem antes do nome a que se refere; podendo, também, vir depois do substantivo que determina. Neste último caso, pode até alterar o sentido da frase.

O uso do possessivo seu (a/s) pode causar ambiguidade, para desfazê-la, deve-se preferir o uso do dele (a/s) (Ele disse que Maria estava trancada em sua casa - casa de quem?); pode também indicar aproximação numérica (ele tem lá seus 40 anos).

Já nas expressões do tipo "Seu João", seu não tem valor de posse por ser uma alteração fonética de Senhor.

Pronome demonstrativo:

Indicam posição de algo em relação às pessoas do discurso, situando-o no tempo e/ou no espaço.

São: este (a/s), isto, esse (a/s), isso, aquele (a/s), aquilo. Isto, isso e aquilo são invariáveis e se empregam exclusivamente como substitutos de substantivos.

As formas mesmo, próprio, semelhante, tal (s) e o (a/s) podem desempenhar papel de pronome demonstrativo.

Quanto ao emprego, os pronomes demonstrativos apresentam-se da seguinte maneira:

• uso dêitico, indicando localização no espaço - este (aqui), esse (aí) e aquele (lá); • uso dêitico, indicando localização temporal - este (presente), esse (passado próximo) e aquele

(passado remoto ou bastante vago); • uso anafórico, em referência ao que já foi ou será dito - este (novo enunciado) e esse (retoma

informação); • o, a, os, as são demonstrativos quando equivalem a aquele (a/s), isto (Leve o que lhe pertence); • tal é demonstrativo se puder ser substituído por esse (a), este (a) ou aquele (a) e semelhante,

quando anteposto ao substantivo a que se refere e equivalente a "aquele", "idêntico" (O problema ainda não foi resolvido, tal demora atrapalhou as negociações / Não brigue por semelhante causa);

• mesmo e próprio são demonstrativos, se precedidos de artigo, quando significarem "idêntico", "igual" ou "exato". Concordam com o nome a que se referem (Separaram crianças de mesmas séries);

• como referência a termos já citados, os pronomes aquele (a/s) e este (a/s) são usados para primeira e segunda ocorrências, respectivamente, em apostos distributivos (O médico e a enfermeira estavam calados: aquele amedrontado e esta calma / ou: esta calma e aquele amedrontado);

• pode ocorrer a contração das preposições a, de, em com os pronomes demonstrativos (Não acreditei no que estava vendo / Fui àquela região de montanhas / Fez alusão à pessoa de azul e à de branco);

• podem apresentar valor intensificador ou depreciativo, dependendo do contexto frasal (Ele estava com aquela paciência / Aquilo é um marido de enfeite);

• nisso e nisto (em + pronome) podem ser usados com valor de "então" ou "nesse momento" (Nisso, ela entrou triunfante - nisso = advérbio).

Pronome relativo:

Retoma um termo expresso anteriormente (antecedente) e introduz uma oração dependente, adjetiva.

Os pronomes demonstrativos são: que, quem e onde - invariáveis; além de o qual (a/s), cujo (a/s) e quanto (a/s).

Os relativos são chamados relativos indefinidos quando são empregados sem antecedente expresso (Quem espera sempre alcança / Fez quanto pôde).

Quanto ao emprego, observa-se que os relativos são usados quando:

• o antecedente do relativo pode ser demonstrativo o (a/s) (O Brasil divide-se entre os que leem ou não);

• como relativo, quanto refere-se ao antecedente tudo ou todo (Ouvia tudo quanto me interessava) • quem será precedido de preposição se estiver relacionado a pessoas ou seres personificados

expressos; • quem = relativo indefinido quando é empregado sem antecedente claro, não vindo precedido de

preposição; • cujo (a/s) é empregado para dar a ideia de posse e não concorda com o antecedente e sim com seu

consequente. Ele tem sempre valor adjetivo e não pode ser acompanhado de artigo.

Pronome indefinido:

Referem-se à 3ª pessoa do discurso quando considerada de modo vago, impreciso ou genérico, representando pessoas, coisas e lugares. Alguns também podem dar ideia de conjunto ou quantidade indeterminada. Em função da quantidade de pronomes indefinidos, merece atenção sua identificação.

São pronomes indefinidos de:

• pessoas: quem, alguém, ninguém, outrem; • lugares: onde, algures, alhures, nenhures; • pessoas, lugares, coisas: que, qual, quais, algo, tudo, nada, todo (a/s), algum (a/s), vários (a),

nenhum (a/s), certo (a/s), outro (a/s), muito (a/s), pouco (a/s), quanto (a/s), um (a/s), qualquer (s),

cada.

Sobre o emprego dos indefinidos devemos atentar para:

• algum, após o substantivo a que se refere, assume valor negativo (= nenhum) (Computador algum resolverá o problema);

• cada deve ser sempre seguido de um substantivo ou numeral (Elas receberam 3 balas cada uma); • alguns pronomes indefinidos, se vierem depois do nome a que estiverem se referindo, passam a ser

adjetivos. (Certas pessoas deveriam ter seus lugares certos / Comprei várias balas de sabores vários)

• bastante pode vir como adjetivo também, se estiver determinando algum substantivo, unindo-se a ele por verbo de ligação (Isso é bastante para mim);

• o pronome outrem equivale a "qualquer pessoa"; • o pronome nada, colocado junto a verbos ou adjetivos, pode equivaler a advérbio (Ele não está

nada contente hoje); • o pronome nada, colocado junto a verbos ou adjetivos, pode equivaler a advérbio (Ele não está

nada contente hoje); • existem algumas locuções pronominais indefinidas - quem quer que, o que quer, seja quem for,

cada um etc. • todo com valor indefinido antecede o substantivo, sem artigo (Toda cidade parou para ver a banda ≠

Toda a cidade parou para ver a banda).

Pronome interrogativo:

São os pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto usados na formulação de uma pergunta direta ou indireta. Referem-se à 3ª pessoa do discurso. (Quantos livros você tem? / Não sei quem lhe contou).

Alguns interrogativos podem ser adverbiais (Quando voltarão? / Onde encontrá-los? / Como foi tudo?).

Concordância Nominal

Concordância nominal nada mais é que o ajuste que fazemos aos demais termos da oração para que concordem em gênero e número com o substantivo.

Teremos que alterar, portanto, o artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome.

Além disso, temos também o verbo, que se flexionará à sua maneira, merecendo um estudo separado de concordância verbal.

REGRA GERAL: O artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome, concordam em gênero e número com o substantivo.

- A pequena criança é uma gracinha.- O garoto que encontrei era muito gentil e simpático.

CASOS ESPECIAIS: Veremos alguns casos que fogem à regra geral, mostrada acima.

a) Um adjetivo após vários substantivos

1 – Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai para o plural ou concorda com o substantivo mais próximo.

- Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui.- Irmão e primo recém-chegados estiveram aqui.

2 – Substantivos de gêneros diferentes: vai para o plural masculino ou concorda com o substantivo mais próximo.

- Ela tem pai e mãe louros.- Ela tem pai e mãe loura.

3 – Adjetivo funciona como predicativo: vai obrigatoriamente para o plural.

- O homem e o menino estavam perdidos.- O homem e sua esposa estiveram hospedados aqui.

b) Um adjetivo anteposto a vários substantivos

1 – Adjetivo anteposto normalmente: concorda com o mais próximo.

Comi delicioso almoço e sobremesa.Provei deliciosa fruta e suco.

2 – Adjetivo anteposto funcionando como predicativo: concorda com o mais próximo ou vai para o plural.

Estavam feridos o pai e os filhos.Estava ferido o pai e os filhos.

c) Um substantivo e mais de um adjetivo

1- antecede todos os adjetivos com um artigo.

Falava fluentemente a língua inglesa e a espanhola.

2- coloca o substantivo no plural.

Falava fluentemente as línguas inglesa e espanhola.

d) Pronomes de tratamento

1 – sempre concordam com a 3ª pessoa.

Vossa santidade esteve no Brasil.

e) Anexo, incluso, próprio, obrigado

1 – Concordam com o substantivo a que se referem.

As cartas estão anexas.A bebida está inclusa.Precisamos de nomes próprios.Obrigado, disse o rapaz.

f) Um(a) e outro(a), num(a) e noutro(a)

1 – Após essas expressões o substantivo fica sempre no singular e o adjetivo no plural.

Renato advogou um e outro caso fáceis.Pusemos numa e noutra bandeja rasas o peixe.

g) É bom, é necessário, é proibido

1- Essas expressões não variam se o sujeito não vier precedido de artigo ou outro determinante.

Canja é bom. / A canja é boa.É necessário sua presença. / É necessária a sua presença.É proibido entrada de pessoas não autorizadas. / A entrada é proibida.

h) Muito, pouco, caro

1- Como adjetivos: seguem a regra geral.

Comi muitas frutas durante a viagem.Pouco arroz é suficiente para mim.Os sapatos estavam caros.

2- Como advérbios: são invariáveis.

Comi muito durante a viagem.Pouco lutei, por isso perdi a batalha.Comprei caro os sapatos.

i) Mesmo, bastante

1- Como advérbios: invariáveis

Preciso mesmo da sua ajuda.Fiquei bastante contente com a proposta de emprego.

2- Como pronomes: seguem a regra geral.

Seus argumentos foram bastantes para me convencer.Os mesmos argumentos que eu usei, você copiou.

j) Menos, alerta

1- Em todas as ocasiões são invariáveis.

Preciso de menos comida para perder peso.Estamos alerta para com suas chamadas.

k) Tal Qual

1- “Tal” concorda com o antecedente, “qual” concorda com o conseqüente.

As garotas são vaidosas tais qual a tia.Os pais vieram fantasiados tais quais os filhos.

l) Possível

1- Quando vem acompanhado de “mais”, “menos”, “melhor” ou “pior”, acompanha o artigo que precede as expressões.

A mais possível das alternativas é a que você expôs.Os melhores cargos possíveis estão neste setor da empresa.As piores situações possíveis são encontradas nas favelas da cidade.

m) Meio

1- Como advérbio: invariável.

Estou meio insegura.

2- Como numeral: segue a regra geral.

Comi meia laranja pela manhã.

n) Só

1- apenas, somente (advérbio): invariável.

Só consegui comprar uma passagem.

2- sozinho (adjetivo): variável.

Estiveram sós durante horas.

Exercícios

Faça a Concordância Correta rasurando o termo incorreto.

01. Tenho [bastante / bastantes] razões para julgá-lo.02. Viveram situações [bastante / bastantes] tensas. 03. Estavam [bastante / bastantes] preocupados.04. Acolheu-me com palavras [meio / meias] tortas.05. Os processos estão [incluso / inclusos] na pasta.06. Estas casas custam [caras / caro].07. Seguem [anexa /anexas] as faturas. 08. É [proibido / proibida] conversas no recinto.09. Vocês estão [quite / quites] com a mensalidade? 10. Hoje temos [menas / menos] lições. 11. Água é [boa / bom] para rejuvenescer.12. Ela caiu e ficou [meio / meia] tonta.13. Elas estão [alerta / alertas].14. As duplicatas [anexa / anexas] já foram resgatadas.15. Quando cheguei era meio-dia e [meia / meio].16. A lealdade é [necessária / necessário].17. A decisão me custou muito [caro /cara].18. As meninas me disseram [obrigada / obrigadas].19. A porta ficou [meia / meio] aberta.20. Em [anexo / anexos] vão os documentos.21. É [permitido / permitida] entrada de crianças. 22. [Salvo / Salvos] os doentes, os demais partiram.23. As camisas estão [caro / caras].24. Seu pai já está [quite / quites] com o meu? 25. Escolhemos as cores mais vivas [possível / possíveis].26. É [necessário / necessária] muita fé.27. É [necessário / necessária] a ação da polícia.28. A maçã é [boa / bom] para os dentes.29. [Excetos / Exceto] os dois menores, todos entram.30. A sala tinha [bastante / bastantes] carteiras.31. Eram moças [bastante / bastantes] competentes.

32. Suas opiniões são [bastante / bastantes] discutidas.33. João ficara a [sós / só]. 34. É [proibido / proibida] a entrada neste recinto.35. Bebida alcoólica não é [boa / bom] para o fígado.36. Maçã é [bom / boa] para os dentes.37. É [proibida / proibido] a permanência de veículos.38. V. Exa. está [enganada / enganado], senhor vereador.39. Está [incluso / inclusa] a comissão.40. Tenho uma colega que é [meia / meio] ingênua.41. Ela apareceu [meio / meia] nua.42. Manuel está [meio / meia] gripado.43. As crianças ficaram [meia / meio] gripadas.44. Nunca fui pessoa de [meio / meia] palavra.45. A casa estava [meia / meio] velha.46. Quero [meio / meia] porção de fritas.47. Vocês [só / sós] fizeram isso?48. Fiquem [alerta / alertas] rapazes.49. Esperava [menas / menos] pergunta na prova.50. As certidões [anexa / anexas] devem ser seladas.51. Mãe e filho moravam [junto / juntos].52. As viagens ao nordeste estão [caro / caras].53. Segue [anexo / anexa] a biografia que pediu. 54. Está [inclusas / inclusa] na nota a taxa de serviços.55. Estou [quite / quites] com as crianças.56. Procure comer [bastantes / bastante] frutos.57. Os militares estão [alerta / alertas].58. Muito [obrigada / obrigadas] disseram elas.59. Pedro e Maria viajaram [sós / só].60. Os rapazes disseram somente muito [obrigados / obrigado].61. A lista vai [anexo / anexa] ao pacote. 62. É [necessário / necessária] a virtude dos bons.63. Todos estão [salvos / salvo], exceto o barqueiro.64. As janelas estavam [meio / meia] fechadas.65. [Só / Sós] os dois enfrentaram a fera.66. Examinamos [bastante / bastantes] planos.67. Água de melissa é muito [bom / boa].68. Para trabalho caseiro é [bom / boa] uma empregada.69. Não é [permitido / permitida] a entrada de crianças.70. Eles ficaram [sós / só] depois do baile.71. Os cheques estão [anexo / anexos] aos documentos? 72. Examinamos [bastantes / bastante] projetos.73. Os quadros eram os mais clássicos [possível / possíveis].74. Os documentos vão [incluso / inclusos] na carta.75. Seguem [anexas / anexos] três certidões.76. Para quem esta entrada é [proibido / proibida]? 77. Coalhada é [boa / bom] para a saúde.78. A coalhada dessa padaria é [bom / boa].79. Maria passeou [sós / só] pelo bosque.80. [Só / Sós] ela faria as lições.81. Mais amor [menas / menos] confiança.82. Hoje temos [menos / menas] lições.83. O governo destinou [bastante / bastantes] recursos.84. Eles faltaram [bastantes / bastante] vezes.85. Tenho [bastantes / bastante] razões para ajudá-lo.86. Seguem [inclusa / inclusas] a carta e a procuração.87. As mordomias custam [cara / caro].88. Esta viagem sairá [caro / cara].89. As peras custam [cara / caro].90. Aquelas mercadorias custaram [caro / cara]. 91. Os mamões custaram muito [caros / caro].92. As mercadorias eram [barata / barato].93. Os mamões ficaram [caros / caro].94. Não tinham [bastante / bastantes] motivos para faltar.

95. As crianças estavam [bastante / bastantes] crescidas.96. O governo destinou [bastantes/ bastante] recursos.97. Suas opiniões são [bastante / bastantes] discutidas. 98. Esta aveia é [boa / bom] para a saúde.99. Pimenta é [boa / bom] para tempero.100. É [proibido / proibida] a caça nesta reserva.101. É [proibida / proibido] entrada.102. A pimenta é [bom / boa] para tempero.103. Água tônica é [bom / boa] para o estômago.104. As crianças viajarão [junto / juntas] a mim.105. Elas sempre chegam [junto / juntas].106. Elas nunca saíram [juntas / junto].107. A filha e o pai chegaram [junto / juntos].108. Os fortes sentimentos vêm [junto / juntos].109. Os alunos [mesmo / mesmos] darão à redação final.110. Ela não sabia disso [mesmo / mesma].111. Elas [mesmo / mesmas] fizeram a festa.112. [Anexo / Anexos] estavam os documentos.113. Estou [quite / quites] com a tesouraria.114. Eles estão [quite / quites] com a mensalidade.115 Ela está [quite / quites] com você?116. A menina me disse [obrigado / obrigada].117. Os computadores custam [caros / caro].118. Permitam-me que eu as deixe [só / sós].119. Eles ficaram [só / sós] depois do baile. 120. Agora é meio-dia e [meio / meia].121. Bebida alcoólica não é [permitida / permitido].122. Os guardas estavam [alertas / alerta].123. Meu filho emagrecia a [olhos vistos / olho visto].124. Vai [anexo / anexa] a declaração solicitada. 125. As certidões [anexos / anexas] devem ser seladas.126. [Anexo / Anexos] seguem os formulários.127. Os juros estão o mais elevado [possível / possíveis].128. Enfrento problemas o mais difíceis [possível / possíveis].129. Enfrento problemas os mais difíceis [possível / possíveis].130. Visitamos os mais belos museus [possível / possíveis].131. Nós [mesmo / mesmos] edificaremos a casa.132. Eles são [mesmos / mesmo] responsáveis.133. Ela [mesma / mesmo] agradeceu.134. Tudo depende delas [mesmas / mesmo].

GABARITO

01. Tenho bastantes (muitas) razões para julgá-lo.

02. Viveram situações bastante (muito) tensas.

03. Estavam bastante preocupados.

04. Acolheu-me com palavras meio (um tanto) tortas.

05. Os processos estão inclusos na pasta.

06. Estas casas custam caro (invariável).

07. Seguem anexas as faturas.

08. É proibido (ñ artigo) conversas no recinto.

09. Vocês estão quites com a mensalidade?

10. Hoje temos menos (sempre) lições.

11. Água é bom (ñ artigo) para rejuvenescer.

12. Ela caiu e ficou meio (um tanto) tonta.

13. Elas estão alerta (sempre).

14. As duplicatas anexas já foram resgatadas.

15. Quando cheguei era meio-dia e meia (hora).

16. A lealdade é necessária (com artigo).

17. A decisão me custou muito caro.

18. As meninas me disseram obrigadas.

19. A porta ficou meio (um pouco) aberta.

20. Em anexo vão os documentos.

21. É permitido entrada de crianças.

22. Salvo (invariável) os doentes, os demais partiram.

23. As camisas estão caras (sem custar).

24. Seu pai já está quite com o meu?

25. Escolhemos as cores mais vivas possíveis.26. É necessária muita fé.27. É necessária a ação da polícia.28. A maçã é boa para os dentes.29. Exceto (sempre) os dois menores, todos entram.30. A sala tinha bastantes carteiras 31. Eram moças bastante competentes.32. Suas opiniões são bastante discutidas.33. João ficara a sós.34. É proibida a entrada neste recinto.35. Bebida alcoólica não é bom para o fígado.36. A maçã é boa para os dentes.37. É proibida a permanência de veículos.38. V. Exa. está enganado, senhor vereador.39. Está inclusa a comissão.40. Tenho uma colega que é meio ingênua.41. Ela apareceu meio nua.42. Manuel está meio gripado.43. As crianças ficaram meio gripadas.44. Nunca fui pessoa de meia (metade) palavras.45. A casa estava meio velha.46. Quero meia (= 44) porção de fritas.47. Vocês só (somente) fizeram isso?48. Fiquem alerta (sempre) rapazes.49. Esperava menos (sempre) pergunta na prova.50. As certidões anexas devem ser seladas.51. Mãe e filho moravam juntos.52. As viagens ao nordeste estão caras (sem custar).53. Segue anexa a biografia que pediu. 54. Está inclusa na nota a taxa de serviços.55. Estou quite com as crianças.56. Procure comer bastantes frutos.57. Os militares estão alerta.58. Muito obrigadas disseram elas.59. Pedro e Maria viajaram sós (sozinhos).60. Os rapazes disseram somente muito obrigados61. A lista vai anexa ao pacote.62. É necessária a virtude dos bons 63. Todos estão salvos (salvados), exceto o barqueiro.64. As janelas estavam meio fechadas.65. Só (somente) os dois enfrentaram a fera.66. Examinamos bastantes planos.67. Água de melissa é muito bom.

68. Para trabalho caseiro é bom uma empregada.69. Não é permitida a entrada de crianças.70. Eles ficaram sós (sozinhos) depois do baile.71. Os cheques estão anexos aos documentos?72. Examinamos bastantes projetos.73. Os quadros eram os mais clássicos possíveis.74. Os documentos vão inclusos na carta.75. Seguem anexas três (as) certidões.76. Para quem esta entrada é proibida?77. Coalhada é bom para a saúde.78. A coalhada dessa padaria é boa.79. Maria passeou só (somente) pelo bosque.80. Só (= 79) ela faria as lições.81. Mais amor menos confiança.82. Hoje temos menos lições. 83. O governo destinou bastantes recursos.84. Eles faltaram bastantes vezes.85. Tenho bastantes razões para ajudá-lo.86. Seguem inclusas a carta e a procuração.87. As mordomias custam caro.88. Esta viagem sairá cara.89. As peras custam caro.90. Aquelas mercadorias custaram caro.91. Os mamões custaram muito caro.92. As mercadorias eram baratas (= 88).93. Os mamões ficaram caros.94. Não tinham bastantes motivos para faltar.95. As crianças estavam bastante crescidas.96. O governo destinou bastantes recursos.97. Suas opiniões são bastante discutidas.98. Esta aveia é boa para a saúde.99. Pimenta é bom para tempero.100. É proibida a caça nesta reserva.101. É proibido entrada.102. A pimenta é boa para tempero.103. Água tônica é bom para o estômago.104. As crianças viajarão junto a mim.105. Elas sempre chegam juntas.106. Elas nunca saíram juntas.107. A filha e o pai chegaram juntos.108. Os fortes sentimentos vêm juntos.109. Os alunos mesmos darão à redação final.110. Ela não sabia disso mesmo (de fato). 111. Elas mesmas fizeram a festa.112. Anexos estavam os documentos.113. Estou quite com a tesouraria.114. Eles estão quites com a mensalidade.115. Ela está quite com você?116. A menina me disse obrigada.117. Os computadores custam caro.118. Permitam-me que eu as deixe sós (sozinhas).119. Eles ficaram sós (= 118) depois do baile.120. Agora é meio-dia e meia.121. Bebida alcoólica não é permitido.122. Os guardas estavam alerta.123. Meu filho emagrecia a olhos vistos.124. Vai anexa a declaração solicitada.125. As certidões anexas devem ser seladas.126. Anexos seguem os formulários.127. Os juros estão o mais elevado possível.128. Enfrento problemas o mais difíceis possível.129. Enfrento problemas os mais difíceis possíveis.130. Visitamos os mais belos museus possíveis.

131. Nós mesmos edificaremos a casa.132. Eles são mesmo (de fato) responsáveis.133. Ela mesma agradeceu.

134. Tudo depende delas mesmo (de fato).

Concordância Verbal

SUJEITO CONSTITUÍDO PELOS PRONOMES QUE & QUEM

QUE: se o sujeito for o pronome relativo que, o verbo concorda com o antecedente do pronome relativo.

- Fui eu que falei. (eu falei)- Fomos nós que falamos. (nós falamos)

QUEM: se o sujeito for o pronome relativo quem, o verbo ficará na terceira pessoa do singular ou concordará com o antecedente do pronome (pouco usado).

- Fui eu quem falou. (ele (3ª pessoa) falou)

Obs: nas expressões “um dos que”, “uma das que”, o verbo deve ir para o plural. Porém, alguns estudiosos e escritores aceitam ou usam a concordância no singular.

- João foi um dos que saíram.

PRONOME DE TRATAMENTOO verbo fica sempre na 3ª pessoa (ele – eles).

- Vossa Alteza deve viajar.- Vossas Altezas devem viajar.

DAR – BATER – SOAR (indicando horas)Quando houver sujeito (relógio, sino) os verbos concordam normalmente com ele.

- O relógio deu onze horas.- O Relógio: sujeitoDeu: concorda com o sujeito.

Quando não houver sujeito, o verbo concorda com as horas que passam a ser o sujeito da oração.

- Deram onze horas.- Deram três horas no meu relógio.

SUJEITO COLETIVO (SUJEITO SIMPLES)

- O cardum- e escapou da rede.- Os cardumes escaparam da rede.

Nesses dois exemplos o verbo concordou com o coletivo (sujeito simples).

Quando o sujeito é formado de um coletivo singular seguido de complemento no plural, admitem-se duas concordâncias:

1ª) verbo no singular.

- O bando de passarinhos cantava no jardim.- Um grupo de professores acompanhou os estudantes.

2ª) o verbo pode ficar no plural, nesse caso o verbo no plural dará ênfase ao complemento.

- O bando de passarinhos cantavam no jardim.- Um grupo de professores acompanharam os estudantes

SE Verbos transitivos diretos e verbos transitivos diretos e indiretos + – se:

Se o termo que recebe a ação estiver no plural, o verbo deve ir para o plural, se estiver no singular, o verbo deve ir para o singular.

- Alugam-se cavalos.

“Alugar” é verbo transitivo direto.“Cavalos” recebe a ação e está no plural, logo o verbo vai para o plural.

Aqui o “se” é chamado de partícula apassivadora (Cavalos são alugados).

Outros exemplos:

- Vendem-se casas.- Alugam-se apartamentos.- Exigem-se referências.- Consertam-se pianos.- Plastificam-se documentos.- Entregou-se uma flor à mulher. (verbo transitivo direto e indireto)

OBS: Somente os verbos transitivos diretos têm voz passiva.

Qualquer outro tipo de verbo (transitivo indireto ou intransitivo) fica no singular.

- Precisa-se de professores. (Precisar é verbo transitivo indireto)- Trabalha-se muito aqui. (trabalhar é verbo intransitivo)

Nesse caso, o “se” é chamado de índice de indeterminação do sujeito ou partícula indeterminadora do sujeito.

HAVER – FAZER

“Haver” no sentido de “existir”, indicando “tempo” ou no sentido de “ocorrer” ficará na terceira pessoa do singular. É impessoal, ou seja, não admite sujeito.

“Fazer” quando indica “tempo” ou “fenômenos da natureza”, também é impessoal e deverá ficar na terceira pessoa do singular.

- Nesta sala há bons e maus alunos. (= existe)- Já houve muitos acidentes aqui. (= ocorrer)- Faz 10 anos que me formei. (= tempo decorrido)

SUJEITO COMPOSTO RESUMIDO POR UM INDEFINIDO O verbo concordará com o indefinido.

- Tudo, jornais, revistas, TV, só trazia boas noticias.- Ninguém, amigos, primos, irmãos veio visitá-lo.- Amigos, irmãos, primos, todos foram viajar.

PESSOAS DIFERENTES

O verbo flexiona-se no plural na pessoa que prevalece (a 1ª sobre a 2ª e a 2ª sobre a 3ª).

Eu e tu: nósEu e você: nósEla e eu: nósTu e ele: vós

- Eu, tu e ele resolvemos o mistério. (1ª pessoa prevalece)- O diretor, tu e eu saímos apressados. (1ª pessoa prevalece)- O professor e eu fomos à reunião. (1ª pessoa prevalece)- Tu e ele deveis fazer a tarefa. (2ª pessoa prevalece)

Obs: como a 2ª pessoa do plural (vós) é muito pouco usado na língua contemporânea , é preferível usar a 3ª pessoa quando ocorre a 2ª com a 3ª.

- Tu e ele riam à beça.- Em que língua tu e ele falavam?

Podemos também substituir o “tu” por “você”.

- Você e ele: vocês

NOMES PRÓPRIOS NO PLURAL Se o nome vier antecedido de artigo no plural, o verbo deverá concordar no plural.

- Os Andes ficam na América do Sul.

Se não houver artigo no plural, o verbo deverá concordar no singular.

- Santos fica em São Paulo.- “Memórias Póstumas de Brás Cubas” consagrou Machado de Assis.

Obs 1: Com nome de obras artísticas, admite-se a concordância ideológica com a palavra “obra”, que está implícita na frase.

- “Os Lusíadas” imortalizou Camões.

Obs 2: Com o verbo “ser” e o predicativo no singular, o verbo fica no singular.

“Os Lusíadas” é a maior obra da Literatura Portuguesa.

- Os EUA já foi o primeiro mercado consumidor.

SER

O verbo “ser” concordará com o predicativo quando o sujeito for o pronome interrogativo “que” ou “quem”.

- Quem são os eleitos?- Que seriam aqueles ruídos estranhos?- Que são dois meses?- Que são células?- Quem foram os responsáveis?

Quando o verbo “ser” indicar tempo, data, dias ou distância, deve concordar com a apalavra seguinte.

- É uma hora.- São duas horas.- São nove e quinze da noite.- É um minuto para as três.- Já são dez para uma.- Da praia até a nossa casa, são cinco minutos.- Hoje é ou são 14 de julho?

Em relação às datas, quando a palavra “dia” não está expressa, a concordância é facultativa.

Se um dos elementos (sujeito ou predicativo) for pronome pessoal, o verbo concordará com ele.

- Eu sou o chefe.- Nós somos os responsáveis.- Eu sou a diretora.

Quando o sujeito é um dos pronomes isto, isso, aquilo, o, tudo, o verbo “ser” concordará com o predicativo.

- Tudo são flores.- Isso são lembranças de viagens.

Pode ocorrer também o verbo no singular concordando com o pronome (raro).

- Tudo é flores.

Quando o verbo “ser” aparece nas expressões “é muito”, “é bastante”, “é pouco”, “é suficiente” denotando quantidade, distância, peso, etc ele ficará no singular.

- Oitocentos reais é muito.- Cinco quilos é suficiente.

EXERCÍCIOS – 01

1. Assinale a opção em que há erro de conjugação verbal em relação à norma culta da língua:

a) Se ele vir o nosso trabalho, ficará muito doente.b) Não desanimes; continua batalhando.c) Meu pai interveio na discussão.d) Se ele reouvesse o que havia perdido.e) Quando eu requiser a segunda via do documento...

2. A única frase que NÃO apresenta desvio em relação à concordância verbal recomendada pela norma culta é:

a) A lista brasileira de sítios arqueológicos, uma vez aceita pela Unesco, aumenta as chances de preservação e sustentação por meio do ecoturismo.b) Nenhum dos parlamentares que vinham defendendo o colega nos últimos dias inscreveram-se para falar durante os trabalhos de ontem.c) Segundo a assessoria, o problema do atraso foi resolvido em pouco mais de uma hora, e quem faria conexão para outros Estados foram alojados em hotéis de Campinas.d) Eles aprendem a andar com bengala longa, o equipamento que os auxilia a ir e vir de onde estiver para onde entender.e) Mas foram nas montagens do Kirov que ele conquistou fama, especialmente na cena “Reino das Sombras”, o ponto mais alto desse trabalho.

3. A única frase em que as formas verbais estão corretamente empregadas é:

a) Especialistas temem que órgãos de outras espécies podem transmitir vírus perigosos.b) Além disso, mesmo que for adotado algum tipo de ajuste fiscal imediato, o Brasil ainda estará muito longe de tornar-se um participante ativo do jogo mundial.c) O primeiro-ministro e o presidente devem ser do mesmo partido, embora nenhum fará a sociedade em que eu acredito.d) A inteligência é como um tigre solto pela casa e só não causará problema se o suprir de carne e o manter na jaula.e) O nome secreto de Deus era o princípio ativo da criação, mas dizê-lo por completo equivalia a um sacrilégio, ao pecado de saber mais do que nos convinha.

4. (FUVEST) Complete as frases abaixo com as formas corretas dos verbos indicados entre parênteses.

a) Quando eu _________________ os livros, nunca mais os emprestarei. (reaver)

b) Os alienados sempre ______________ neutros. (manter-se)

c) As provas que _____________ mais erros seriam comentadas. (conter)

d) Quando ele _________________ uma canção de paz, poderá descansar. (compor)

5. (FGV) Nas questões abaixo, ocorrem espaços vazios. Para preenchê-los, escolha um dos seguintes verbos: fazer, transpor, deter, ir. Utilize a forma verbal mais adequada.

1) Se _______________ dias frios no inverno, talvez as coisas fossem diferentes.2) Quando o cavalo ________________ todos os obstáculos, a corrida terminará.3) Se o cavalo _______________ mais facilmente os obstáculos, alcançaria com mais folga a linha de chegada.4) Se a equipe econômica não se __________________ nos aspectos regionais e considerar os aspectos globais, a possibilidade de solução será maior.5) Caso ela ______________ ao jogo amanhã, deverá pagar antecipadamente o ingresso.

6. (ENG. MACK) As formas que completariam o período “Pagando parte de suas dívidas anteriores, o comerciante ________________ novamente seu armazém, sem que se __________ com seus credores, para os quais voltou a merecer confiança”, seriam:

a) proveu – indispusesseb) proviu – indispuzesse

c) proveio – indispuzessed) proveio – indispusessee) n.d.a.

7. (UFSCar) “O acordo não ______ as reivindicações, a não ser que ______ os nossos direitos e _____ da luta.”

a) substitui – abdicamos – desistimosb) substitue – abdicamos – desistimosc) substitui – abdiquemos – desistamosd) substitui – abidiquemos – desistimose) substitue – abdiquemos – desistamos

8. Complete os espaços com um dos verbos colocados nos parênteses:

a) ________________os filhos e o pai... (chegou/chegaram)b) Fomos nós que _______________ na questão. (tocou/tocamos)c) Não serei eu quem _________________ o dinheiro. (recolherei/ recolherá)d) Mais de um torcedor _______________________ estupidamente. (agrediu-se/agrediram-se)e) O fazendeiro com os peões __________________ a cerca. (levantou/ levantaram)

9. Como no exercício anterior.

a) _____________ de haver algumas mudanças no seu governo. (há/ hão)

b) Sempre que ______________ alguns pedidos, procure atendê-los rapidamente. (houver/ houverem)

c) Pouco me _______________ as desculpas que ele chegar a dar. (importa/ importam)

d) Jamais ______________ tais pretensões por parte daquele funcionário. (existiu/ existiram)

e) Tudo estava calmo, como se não ________________ havido tantas reivindicações. (tivesse/ tivessem)

10. Complete os espaços com um dos verbos colocados nos parênteses.

a) Espero que se _________________ as taxas de juro. (mantenha/ mantenham)

b) É importante que se _______________ outras soluções para o problema. (busque/ busquem)

c) Não se ______________ em pessoas que não nos olham nos olhos. (confia/confiam)

d) Hoje já não se __________________ deste modelo de carro. (gosta/ gostam)

e) A verdade é que ________________ certos pormenores pouco convincentes. (observou/observaram)

Resolução:

01 - E

02 - A

03 - E

04 - a) reouver b) mantêm / mantiveram c) contivessem d) compuser

05 - 1) fizessem 2) transpuser 3) transpusesse 4) detiver 5) vá

06 - A

07 - E

08 - a) Chegaram b) tocamos c) recolherá d) agrediram-se e) levantaram

09 - a) Há b) houver c) importam d) existiram e) tivesse

10 - a) mantenham b) busque c) confia d) gosta e) observaram

EXERCÍCIOS – 02

1 – (UFPR) – Observe a concordância verbal:

1 – Algum de vós conseguirei a bolsa de estudo?

2 – Sei que pelo menos um terço dos jogadores estavam dentro do campo naquela hora.

3 – Os Estados Unidos são um país muito rico.

4 – No relógio do Largo da Matriz bateu cinco horas: era o sinal esperado.

a) Somente a frase 1 está errada.

b) Somente a frase 2 está errada.

c) As frases 2 e 3 estão erradas.

d) As frases 1 e 4 estão erradas.

e) As frases 2 e 4 estão erradas.

Resposta: D

Quais de vós, quantos de nós, alguns de nós, etc. admitem as seguintes concordâncias: o verbo concorda com o pronome indefinido ou interrogativo, ficando na 3ª pessoa do plural ou concorda com o pronome pessoal. Porém, se o pronome estiver no singular o verbo ficará na 3ª pessoa do singular.

Na indicação de horas o verbo bater concorda com o número de horas, que normalmente é o sujeito. O verbo bater pode ter outra palavra como sujeito, com a qual deve concordar.

2 – (UEPG – PR) - Assinale a alternativa incorreta, segundo a norma gramatical:

a) Os Estados Unidos, em 1941, declararam guerra à Alemanha.

b) Aqueles casais parecia viverem felizes.

c) Cancelamos o passeio, haja visto o mau tempo.

d) Mais de um dos candidatos se cumprimentaram.

e) Não tínhamos visto as crianças que faziam oito anos.

Resposta: C

Ocorrem as seguintes concordâncias: a expressão haja vista fica invariável quando equivalente a atente-se; por exemplo.

O verbo haver varia quando equivale a vejam-se.

3 – (UFCE) – Como a frase “fui eu quem fez o casamento”, também estão corretos os períodos abaixo:

1. Fui eu que fiz o casamento.

2. Foi eu quem fez o casamento.

4. Fui eu que fez o casamento.

8. Foste tu que fizeste o casamento.

16. Foste tu quem fez o casamento.

32. Fostes vós que fez o casamento.

64. Fostes vós quem fez o casamento.

Resposta: 89

Quando o sujeito for o pronome relativo QUEM o verbo fica na 3ª pessoa do singular ou concorda com o antecedente. Se o sujeito for o pronome relativo QUE o verbo concorda com o antecedente.

4 – (CESGRANRIO) – Há concordância inadequada em:

a) clima e terras desconhecidas.

b) clima e terra desconhecidos.

c) terras e clima desconhecidas.

d) terras e clima desconhecido.

e) terras e clima desconhecidos.

Resposta: C

O adjetivo posposto a dois ou mais substantivos há duas concordâncias:O adjetivo concorda com o mais próximo ou vai para o plural. Se os gêneros são diferentes, prevalece o masculino.

5 – (UEPG – PR) – Marque a frase absolutamente inaceitável, do ponto de vista da concordância nominal:

a) É necessária paciência.

b) Não é bonito ofendermos aos outros.

c) É bom bebermos cerveja.

d) Não é permitido presença de estranhos.

e) Água de Melissa é ótimo para os nervos.

Resposta: A

Há duas concordâncias para as expressões é bom, é necessário, etc.:- fica invariável, portanto no masculino, se o sujeito não vem precedido de artigo ou outro elemento determinante. Se vier precedido de artigo ou elemento determinante concorda com o sujeito.

6 – (CESCEM – SP) – Já ... anos, ... neste local árvores e flores. Hoje, só ... ervas daninhas.

a) fazem/havia/existe

b) fazem/havia/existe

c) fazem/haviam/existem

d) faz/havia/existem

e) faz/havia/existe

Resposta: D

Haver/fazer são verbos impessoais. São empregados apenas na 3ª pessoa do singular. Haver (sentido de existir, ocorrer) e o verbo Fazer (na indicação de tempo). Existir é pessoal e concorda normalmente com o sujeito.

7 – (UFPR) – Qual a alternativa em que as formas dos verbos bater, consertar e haver nas frases abaixo, são usadas na concordância correta?

- As aulas começam quando ... oito horas.

- Nessa loja ... relógios de parede.

- Ontem ... ótimos programas na televisão.

a) batem – consertam-se – houve

b) bate – consertam-se – havia

c) bateram – conserta-se – houveram

d) batiam – conserta-se-ão – haverá

e) batem – consertarei – haviam

Resposta: A

Bater empregado com referência às horas concorda com o número de horas. Quando há sujeito, o verbo concorda com ele.

A partícula SE na segunda oração é apassivadora; concorda com o sujeito da oração.

O verbo haver, no sentido de existir, ocorrer, conjuga-se na 3ª pessoa do singular.

8 – (PUCCAMP – SP) – Se a altíssimo corresponde alto, a celebérrimo, libérrimo, crudelíssimo, humílimo, paupérrimo, respectivamente, há de corresponder:

a) célebre, líbero, cruel, úmido, pobre.

b) célebre, livre, cru, úmido, pobre.

c) célebre, livre, cruel, humilde, pau.

d) célebre, livre, cruel, humilde, pobre.

e) célebre, livre, cru, humilde, pobre.

Resposta: D

O superlativo absoluto expressa a qualidade de um ser, no seu grau mais elevado, sem comparação com outro ser. Nesta questão temos exemplos de superlativo absoluto sintético. É formado pelo radical do adjetivo + sufixo.

9 – (UFV-MG) – Em todos os itens o pronome SE é apassivador, EXCETO:

a) Sabe-se que ele é honesto.

b) Organizou-se, ontem, esta prova.

c) Não se deverá realizar mais a festa.

d) Nada mais se via.

e) Assistiu-se à cerimônia inteira.

Resposta: E

A oração E não pode ser passada para a voz passiva analítica, então, não pode ser pronome apassivador. O “SE” é índice de indeterminação do sujeito. Quem assistiu à cerimônia? Não sabemos quem é o sujeito.

10 – (PUCCAMP-SP) – “Nunca chegará ao fim, por mais depressa que ande”.

A oração destacada é:

a) Subordinada adverbial causal.

b) Subordinada adverbial concessiva.

c) Subordinada adverbial condicional.

d) Subordinada adverbial consecutiva.

e) Subordinada adverbial comparativa.

Resposta: B

A Oração subordinada adverbial concessiva indica uma concessão às ações do verbo da oração principal, isto é, há uma contradição ou um fato inesperado.

11 – (UFPR) – Julieta ficou à janela na esperança de que Romeu voltasse.

A oração em destaque é:

a) subordinada substantiva subjetiva.

b) subordinada substantiva completiva nominal.

c) subordinada substantiva predicativa.

d) subordinada adverbial causal.

e) subordinada adjetiva explicativa.

Resposta: B

A oração subordinada substantiva completiva nominal funciona como complemento nominal de um substantivo, adjetivo ou advérbio da oração principal.

Regência Verbal

O estudo da regência verbal nos ajuda a escrever melhor.

Quanto à regência verbal, os verbos podem ser:

- Transitivo direto- Transitivo indireto- Transitivo direto e indireto- Intransitivo

ASPIRAR

O verbo aspirar pode ser transitivo direto ou transitivo indireto.

Transitivo direto: quando significa “sorver”, “tragar”, “inspirar” e exige complemento sem preposição.

- Ela aspirou o aroma das flores.- Todos nós gostamos de aspirar o ar do campo.

Transitivo indireto: quando significa “pretender”, “desejar”, “almejar” e exige complemento com a preposição “a”.

- O candidato aspirava a uma posição de destaque.- Ela sempre aspirou a esse emprego.

Obs: Quando é transitivo indireto não admite a substituição pelos pronomes lhe(s). Devemos substituir por “a ele(s)”, “a ela(s)”.

- Aspiras a este cargo?- Sim, aspiro a ele. (e não “aspiro-lhe”).

ASSISTIR

O verbo assistir pode ser transitivo indireto, transitivo direto e intransitivo.

Transitivo indireto: quando significa “ver”, “presenciar”, “caber”, “pertencer” e exige complemento com a preposição “a”.

- Assisti a um filme. (ver)- Ele assistiu ao jogo.- Este direito assiste aos alunos. (caber)

Transitivo direto: quando significa “socorrer”, “ajudar” e exige complemento sem preposição.

- O médico assiste o ferido. (cuida)

Obs: Nesse caso o verbo “assistir” pode ser usado com a preposição “a”.

- Assistir ao paciente.

Intransitivo: quando significa “morar” exige a preposição “em”.

- O papa assiste no Vaticano. (no: em + o)- Eu assisto no Rio de Janeiro.

“No Vaticano” e “no Rio de Janeiro” são adjuntos adverbiais de lugar.

CHAMAR

O verbo chamar pode ser transitivo direto ou transitivo indireto.

É transitivo direto quando significa “convocar”, “fazer vir” e exige complemento sem preposição.

- O professor chamou o aluno.

É transitivo indireto quando significa “invocar” e é usado com a preposição “por”.

- Ela chamava por Jesus.

Com o sentido de “apelidar” pode exigir ou não a preposição, ou seja, pode ser transitivo direto ou transitivo indireto.

Admite as seguintes construções:

- Chamei Pedro de bobo. (chamei-o de bobo)- Chamei a Pedro de bobo. (chamei-lhe de bobo)- Chamei Pedro bobo. (chamei-o bobo)- Chamei a Pedro bobo. (chamei-lhe bobo)

VISAR

Pode ser transitivo direto (sem preposição) ou transitivo indireto (com preposição).Quando significa “dar visto” e “mirar” é transitivo direto.

- O funcionário já visou todos os cheques. (dar visto)- O arqueiro visou o alvo e atirou. (mirar)

Quando significa “desejar”, “almejar”, “pretender”, “ter em vista” é transitivo indireto e exige a preposição “a”.

- Muitos visavam ao cargo.- Ele visa ao poder.

Nesse caso não admite o pronome lhe(s) e deverá ser substituído por a ele(s), a ela(s). Ou seja, não se diz: viso-lhe.

Obs: Quando o verbo “visar” é seguido por um infinitivo, a preposição é geralmente omitida.

- Ele visava atingir o posto de comando.

ESQUECER – LEMBRAR

- Lembrar algo – esquecer algo- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronominal)

No 1º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja exigem complemento sem preposição.

- Ele esqueceu o livro.

No 2º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e exigem complemento com a preposição “de”. São, portanto, transitivos indiretos.

- Ele se esqueceu do caderno.- Eu me esqueci da chave.- Eles se esqueceram da prova.- Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

Há uma construção em que a coisa esquecida ou lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve alteração de sentido. É uma construção muito rara na língua contemporânea , porém, é fácil encontrá-la em textos clássicos tanto brasileiros como portugueses. Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.

- Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)- Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)

O verbo lembrar também pode ser transitivo direto e indireto (lembrar alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa).

PREFERIR

É transitivo direto e indireto, ou seja, possui um objeto direto (complemento sem preposição) e um objeto indireto (complemento com preposição)

- Prefiro cinema a teatro.- Prefiro passear a ver TV.

Não é correto dizer: “Prefiro cinema do que teatro”.

SIMPATIZAR

Ambos são transitivos indiretos e exigem a preposição “com”.

- Não simpatizei com os jurados.

QUERER

Pode ser transitivo direto (no sentido de “desejar”) ou transitivo indireto ( no sentido de “ter afeto”, “estimar”).

- A criança quer sorvete.- Quero a meus pais.

NAMORAR É transitivo direto, ou seja, não admite preposição.

- Maria namora João.

Obs: Não é correto dizer: “Maria namora com João”.

OBEDECERÉ transitivo indireto, ou seja, exige complemento com a preposição “a” (obedecer a).

- Devemos obedecer aos pais.

Obs: embora seja transitivo indireto, esse verbo pode ser usado na voz passiva.

- A fila não foi obedecida.

VER

É transitivo direto, ou seja, não exige preposição.

- Ele viu o filme.

Exercícios – 01

1. (IBGE) Assinale a opção que apresenta a regência verbal incorreta, de acordo com a norma culta da língua:a) Os sertanejos aspiram a uma vida mais confortável.b) Obedeceu rigorosamente ao horário de trabalho do corte de cana.c) O rapaz presenciou o trabalho dos canavieiros.d) O fazendeiro agrediu-lhe sem necessidade.e) Ao assinar o contrato, o usineiro visou, apenas, ao lucro pretendido.

2. (IBGE) Assinale a opção que contém os pronomes relativos, regidos ou não de preposição, que completam corretamente as frase abaixo: Os navios negreiros, ....... donos eram traficantes, foram revistados. Ninguém conhecia o traficante ....... o fazendeiro negociava.

a) nos quais / queb) cujos / com quemc) que / cujod) de cujos / com queme) cujos / de quem

3. (IBGE) Assinale a opção em que as duas frases se completam corretamente com o pronome lhe:

a) Não ..... amo mais. / O filho não ..... obedecia.b) Espero-..... há anos. / Eu já ..... conheço bem.c) Nós ..... queremos muito bem. / Nunca ..... perdoarei, João.d) Ainda não ..... encontrei trabalhando, rapaz. / Desejou-..... felicidades.e) Sempre ..... vejo no mesmo lugar. / Chamou-..... de tolo.

4. (IBGE) Assinale a opção em que todos os adjetivos devem ser seguidos pela mesma preposição:a) ávido / bom / inconseqüenteb) indigno / odioso / peritoc) leal / limpo / onerosod) orgulhoso / rico / sedentoe) oposto / pálido / sábio

5. (UF-FLUMINENSE) Assinale a frase em que está usado indevidamente um dos pronomes seguintes: o, lhe.a) Não lhe agrada semelhante providência?b) A resposta do professor não o satisfez.c) Ajudá-lo-ei a preparar as aulas.d) O poeta assistiu-a nas horas amargas, com extrema dedicação.e) Vou visitar-lhe na próxima semana.

6. (BB) Regência imprópria:a) Não o via desde o ano passado.b) Fomos à cidade pela manhã.c) Informou ao cliente que o aviso chegara.d) Respondeu à carta no mesmo dia.e) Avisamos-lhe de que o cheque foi pago.

7. (BB) Alternativa correta:a) Precisei de que fosses comigo.b) Avisei-lhe da mudança de horário.c) Imcumbiu-me para realizar o negócio.d) Recusei-me em fazer os exames.e) Convenceu-se nos erros cometidos.

8. (EPCAR) O que devidamente empregado só não seria regido de preposição na opção:a) O cargo ....... aspiro depende de concurso.b) Eis a razão ....... não compareci.c) Rui é o orador ....... mais admiro.d) O jovem ....... te referiste foi reprovado.e) Ali está o abrigo ....... necessitamos.

9. (UNIFIC) Os encargos ....... nos obrigaram são aqueles ....... o diretor se referia.a) de que - queb) a cujos - cujosc) por que - qued) cujos - cujoe) a que - a que

10. (FTM-ARACAJU) As mulheres da noite ....... o poeta faz alusão ajudam a colorir Aracaju, ....... coração bate de noite, no silêncio.A alternativa que completa corretamente as lacunas da frase acima é:a) as quais / de cujo ob) a que / no qualc) de que / o quald) às quais / cujoe) que / em cujo

GABARITO:1. D2. D3. C4. D5. E6. E7. A8. E9. E10. D

Regência Nominal

A regência verbal ou nominal determina se os seus complementos são acompanhados por preposição.

Os nomes pedem complemento nominal; e os verbos, objetos diretos ou indiretos.Exemplo:

- Ela tem necessidade de roupa.

Quem tem necessidade, tem necessidade “de” alguma coisa.De roupa: complemento nominal.

- Fiz uma referência a um escritor famoso.

Quem faz referência faz referência “a” alguma coisa.A um escritor famoso: complemento nominal

Na verdade, não existem regras. Cada palavra exige um complemento e rege uma preposição.

Muitas regências nós aprendemos de tanto escutá-las, porém não significa que todas estejam corretas.

“Prefiro mais cinema do que teatro.”

Escutamos esta frase quase todos os dias.

Preferir mais, não existe, pois ninguém prefere menos. É, portanto, uma redundância.

Quem prefere prefere alguma coisa “a” outra. A frase ficaria correta desta forma: “Prefiro cinema a teatro”.

O verbo preferir é transitivo direto e indireto e o objeto indireto deve vir com a preposição. “a”.

“Prefiro isso do que aquilo.”

Do que é uma regência popular e deve ser evitada em provas, redações e concursos.

“Prefiro ir à praia a estudar.” (Preferir a + a praia: a + a: à – veja Crase).

Acessível a

Acostumado a ou com

Alheio a

Alusão a

Ansioso por

Atenção a ou para

Atento a ou em

Benéfico a

Compatível com

Cuidadoso com

Desacostumado a ou com

Desatento a

Desfavorável a

Desrespeito a

Estranho a

Favorável a

Fiel a

Grato a

Hábil em

Habituado a

Inacessível a

Indeciso em

Invasão de

Junto a ou de

Leal a

Maior de

Morador em

Natural de

Necessário a

Necessidade de

Nocivo a

Ódio a ou contra

Odioso a ou para

Posterior a

Preferência a ou por

Preferível a

Prejudicial a

Próprio de ou para

Próximo a ou de

Querido de ou por

Residente em

Respeito a ou por

Sensível a

Simpatia por

Simpático a

Útil a ou para

Versado em

Figuras de Linguagem

São recursos que tornam mais expressivas as mensagens. Subdividem-se em figuras de som, figuras de construção, figuras de pensamento e figuras de palavras.

Figuras de som

a) aliteração: consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais. “Esperando, parada, pregada na pedra do porto.”

b) assonância: consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos. “Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral.”

c) paronomásia: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos. “Eu que passo, penso e peço.”

Figuras de construção

a) elipse: consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto. “Na sala, apenas quatro ou cinco convidados.” (omissão de havia)

b) zeugma: consiste na elipse de um termo que já apareceu antes. Ele prefere cinema; eu, teatro. (omissão de prefiro)

c) polissíndeto: consiste na repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos do período. “ E sob as ondas ritmadas e sob as nuvens e os ventos e sob as pontes e sob o sarcasmo e sob a gosma e sob o vômito (...)”

d) inversão: consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase. “De tudo ficou um pouco. Do meu medo. Do teu asco.”

e) silepse: consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que se subentende, com o que está implícito. A silepse pode ser:

• De gênero Vossa Excelência está preocupado.

• De número Os Lusíadas glorificou nossa literatura.

• De pessoa “O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e mole que se derrete na boca.”

f) anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra. A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa.

g) pleonasmo: consiste numa redundância cuja finalidade é reforçar a mensagem. “E rir meu riso e derramar meu pranto.”

h) anáfora: consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases. “ Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer”

Figuras de pensamento

a) antítese: consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido. “Os jardins têm vida e morte.”

b) ironia: é a figura que apresenta um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico ou humorístico. “A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.”

c) eufemismo: consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, procura-se suavizar alguma afirmação desagradável. Ele enriqueceu por meios ilícitos. (em vez de ele roubou)

d) hipérbole: trata-se de exagerar uma idéia com finalidade enfática. Estou morrendo de sede. (em vez de estou com muita sede)

e) prosopopéia ou personificação: consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados. O jardim olhava as crianças sem dizer nada.

f) gradação ou clímax: é a apresentação de idéias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax) “Um coração chagado de desejos Latejando, batendo, restrugindo.”

g) apóstrofe: consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada). “Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus!”

Figuras de palavras

a) metáfora: consiste em empregar um termo com significado diferente do habitual, com base numa relação de similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. A metáfora implica, pois, uma comparação em que o conectivo comparativo fica subentendido. “Meu pensamento é um rio subterrâneo.”

b) metonímia: como a metáfora, consiste numa transposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a ser usada com outro significado. Todavia, a transposição de significados não é mais feita com base em traços de semelhança, como na metáfora. A metonímia explora sempre alguma relação lógica entre os termos. Observe: Não tinha teto em que se abrigasse. (teto em lugar de casa)

c) catacrese: ocorre quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, torna-se outro por empréstimo. Entretanto, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que ele está sendo empregado em sentido figurado. O pé da mesa estava quebrado.

d) antonomásia ou perífrase: consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com facilidade: ...os quatro rapazes de Liverpool (em vez de os Beatles)

e) sinestesia: trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.

A luz crua da madrugada invadia meu quarto.

Vícios de linguagem

A gramática é um conjunto de regras que estabelece um determinado uso da língua, denominado norma culta ou língua padrão. Acontece que as normas estabelecidas pela gramática normativa nem sempre são obedecidas, em se tratando da linguagem escrita. O ato de desviar-se da norma padrão no intuito de

alcançar uma maior expressividade, refere-se às figuras de linguagem. Quando o desvio se dá pelo não conhecimento da norma culta, temos os chamados vícios de linguagem.

a) barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar uma palavra em desacordo com a norma culta. pesquiza (em vez de pesquisa) prototipo (em vez de protótipo)

b) solecismo: consiste em desviar-se da norma culta na construção sintática. Fazem dois meses que ele não aparece. (em vez de faz ; desvio na sintaxe de concordância)

c) ambiguidade ou anfibologia: trata-se de construir a frase de um modo tal que ela apresente mais de um sentido. O guarda deteve o suspeito em sua casa. (na casa de quem: do guarda ou do suspeito?)

d) cacófato: consiste no mau som produzido pela junção de palavras. Paguei cinco mil reais por cada.

e) pleonasmo vicioso: consiste na repetição desnecessária de uma ideia. O pai ordenou que a menina entrasse para dentro imediatamente. Observação: Quando o uso do pleonasmo se dá de modo enfático, este não é considerado vicioso.

f) eco: trata-se da repetição de palavras terminadas pelo mesmo som. O menino repetente mente alegremente.

Flexão Verbal

O que representa as flexões verbais

As flexões verbais são expressas por meio dos tempos, modo e pessoa da seguinte forma:

• O tempo indica o momento em que ocorre o processo verbal. • O modo indica a atitude do falante ( dúvida, certeza, impossibilidade, pedido, imposição, etc.)á • A pessoa marca na forma do verbo a pessoa gramatical do sujeito.

Tempos

Há tempos do presente, do passado ( pretérito ) e do futuro.

Modo

Modo Indicativo

Indica uma certeza relativa do falante com referência ao que o verbo exprime; pode ocorrer no tempo presente, passado ou futuro:

Presente ( IdPr ):

Processo simultâneo ao ato da fala - fato corriqueiro, habitual:Compro livros nesta livraria.nota:Usa-se também o presente com o valor de passado - passado histórico ( nos contos, narrativas )

Tempos do pretérito ( passado ) ( Id Pt ):Exprimem processos anteriores ao ato da fala. São eles:

• Pretérito imperfeito Exprime um processo habitual, ou com duração no tempo: Naquela época eu cantava como um pássaro.

• Pretérito perfeito Exprime uma ação acabada:Paulo quebrou meu violão de estimação.

• Pretérito mais-que-perfeitoExprime um processo anterior a um processo acabado: Embora tivera deixado a escola, ele nunca deixou de estudar.

Tempos do futuro ( Id Ft ): Indicam processos que irão acontecer:

• Futuro do presente Exprime um processo que ainda não aconteceu:Farei essa viagem no fim do ano.

• Futuro do pretérito Exprime um processo posterior a um processo que já passou:Eu faria essa viagem se não tivesse comprado o carro.

Modo Subjuntivo

Expressa incerteza, possibilidade ou dúvida em relação ao processo verbal e não está ligado com a noção de tempo. Há três tempos: presente, imperfeito e futuro.Quero que voltes para mim.Não pise na grama.

É possível que ele seja honesto.Espero que ele fique contente.Duvido que ele seja o culpado.Procuro alguém que seja meu companheiro para sempre.Ainda que ele queira, não lhe será concedida a vaga. Se eu fosse bailarina, estaria na Rússia.Quando eu tiver dinherio, irei para as praias do nordeste.

Modo Imperativo

Exprime atitude de ordem, pedido ou solicitação: Vai e não voltes mais.

Pessoa

A norma da língua portuguesa estabelece três pessoas: Singular: eu , tu , ele, ela .Plural: nós, vós, eles, elas.

nota:No português brasileiro é comum o uso do pronome de tratamento você (s) em lugar do tu e vós.

TEMPOS E MODOS.

PRESENTE DO INDICATIVO.

O MODO INDICATIVO serve para expressar ações definidas, reais. O TEMPO PRESENTE, normalmente, exprime as ações que acontecem no momento em que se fala. Entretanto, este tempo verbal pode ser também empregado em outras circunstâncias.

- PRESENTE MOMENTÂNEO:

"Não percamos de vista o ardente Sílvio que lá vai, que desce e sobe, escorrega e salta." - M. Assis. (Fato atual, que se dá no momento em que se fala; o narrador, aqui, está presenciando as ações do personagem)

- PRESENTE DURATIVO:

"A Igreja condena a pílula anticomcepcional e a Ciência a aprova." (Ações ou estados considerados permanentes)

- PRESENTE HABITUAL ou FREQÜENTATIVO:

"Aqueles jovens estudam na mesma escola."

- PRESENTE HISTÓRICO ou NARRATIVO:

"Procuram-se e acham-se. Enfim, Sílvio achou Sílvia; viram-se, caíram nos braços um do outro, ofegantes de canseira, mas remidos com a paga. Unem-se, entrelaçam os braços e regressam palpitando da inconsciência para a consciência." - M. Assis. (Verbos no presente para dar mais vivacidade às ações acontecidas no passado)

- PRESENTE COM SENTIDO DE FUTURO MUITO PRÓXIMO:

"Vou arrumar as malas e, amanhã, embarco para a Europa." "Vou à Roma, depois sigo para Londres." (Para se evitar qualquer tipo de ambigüidade, deve-se usar advérbios de tempo que exprimem futuro, junto ao verbo no presente)

IMPERATIVO.

Sendo por excelência o modo que exprime "ordens e mandamentos", o Imperativo também pode expressar outros sentimentos, intenções e interesses do ser humano.

Exemplos:

Saia daqui! (ordem) Partamos antes que seja tarde. (conselho) Não se preocupe com isso. (conselho expresso pelo Imperativo Negativo) Venha à nossa casa hoje à noite. (convite) Não deixem de comparecer à festa. (convite expresso pelo Imperativo Negativo) Por favor, espere por mim! "Perdoai as nossas ofensas..." "Livrai-nos do mal." (súplicas) "Não nos deixeis cair em tentação..." (súplica expressa pelo Imperativo Negativo) O modo Imperativo Afirmativo é formado da seguinte maneira: tu e vós do Presente do Indicativo, sem o s final, e as demais pessoas (você/ele, nós, vocês/eles) do Presente do Subjuntivo. Já o imperativo negativo é formado com todas as pessoas deste tempo. Não se usa a primeira pessoa do singular em ambos os casos.

O sistema de conjugação dos imperativos vale para todos os verbos da língua portuguesa, com exceção do verbo ser. Este verbo só não segue a regra nas duas segundas pessoas do imperativo afirmativo: sê (tu) e sede (vós), esta lida com o primeiro "e" fechado, do mesmo jeito que se lê a palavra que significa vontade de beber.

Exemplo:

"Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes." (Fernando Pessoa, sob o heterônimo de Ricardo Reis)

MODO SUBJUNTIVO.

Modo que se caracteriza por expressar ações e fatos hipotéticos, isto é, tudo aquilo que está no campo de nossos desejos, de nossas aspirações. É o modo das orações subordinadas por excelência.

TEMPOS:

- Presente.

Este tempo pode expressar ações tanto no presente quanto no futuro.

Exemplos:

Duvido que ele SEJA rico. (ação presente) É bom que você VOLTE amanhã. (ação futura)

Observação: A primeira pessoa do singular do presente do indicativo dá origem ao presente do subjuntivo.

Exemplos:

"Eu vejo" dá origem a "que eu veja"; "eu ouço" dá origem a "que eu ouça"; "eu digo" dá origem a "que eu diga". Se a primeira do singular do presente do indicativo é nula, como nos verbos defectivos, todo o presente do subjuntivo é nulo.

- Imperfeito.

Embora esta seja uma forma do tempo pretérito, pode também expressar fatos no presente e no futuro.

Exemplos:

Fosse verdade o que dizes, e todos estariam felizes. (a correlação com a forma verbal "dizes" dá à forma "fosse" um aspecto também de presente) Chovesse ou fizesse sol, ele ia ao trabalho. Pediu-lhe que voltasse na próxima semana. (a expressão adverbial "na próxima semana" traz um matiz de

futuro à oração)

- Pretérito.

Forma verbal sempre no tempo composto, formado pelo auxiliar TER no presente do subjuntivo, acrescido do particípio passado do verbo principal.

Exemplos:

Acredito que ele TENHA PASSADO no exame. (fato passado, supostamente concluído) Espero que ela TENHA ARRUMADO tudo antes de eu chegar. (fato passado, supostamente terminado antes de outro fato no futuro acontecer)

- Pretérito mais-que-perfeito.

Também um tempo composto, formado por um auxiliar no Imperfeito do subjuntivo e um verbo principal no particípio passado.

Exemplos:

Não esperava que ela TIVESSE CHEGADO aqui antes de mim. (ação concluída eventualmente antes de outra, ambas no passado) TIVESSE CHEGADO antes, e o prêmio seria seu. (ação hipotética, ocorrida no passado)

- Futuro (simples).

Pode ser empregado nas orações adverbiais ou adjetivas.

Exemplos:

SE QUISER, irei vê-lo. (idéia de eventualidade no futuro) Trarei presentes aos que me ENCOMENDAREM.

- Futuro (composto).

Formado do verbo auxiliar no futuro simples e o particípio passado do verbo principal.

Exemplos:

Quando TIVER ENCONTRADO a resposta, revelarei a todos. (fato futuro eventualmente terminado em relação a outro também no futuro)

Funções da Linguagem

Para entendermos com clareza as funções da linguagem, é bom primeiramente conhecermos as etapas da comunicação.

Ao contrário do que muitos pensam, a comunicação não acontece somente quando falamos, estabelecemos um diálogo ou redigimos um texto, ela se faz presente em todos (ou quase todos) os momentos.Comunicamo-nos com nossos colegas de trabalho, com o livro que lemos, com a revista, com os documentos que manuseamos, através de nossos gestos, ações, até mesmo através de um beijo de “boa noite”.

É o que diz Bordenave quando se refere à comunicação:A comunicação confunde-se com a própria vida. Temos tanta

consciência de que comunicamos como de que respiramos ouandamos. Somente percebemos a sua essencial importância

quando, por acidente ou uma doença, perdemos a capacidadede nos comunicar. (Bordenave, 1986. p.17-9)

No ato de comunicação percebemos a existência de alguns elementos, são eles:

a) emissor: é aquele que envia a mensagem (pode ser uma única pessoa ou um grupo de pessoas).

b) mensagem - é o contéudo (assunto) das informações que ora são transmitidas.

c) receptor: é aquele a quem a mensagem é endereçada (um indivíduo ou um grupo), também conhecido como destinatário.

d) canal de comunicação: é o meio pelo qual a mensagem é transmitida.

e) código: é o conjunto de signos e de regras de combinação desses signos utilizado para elaborar a mensagem: o emissor codifica aquilo que o receptor irá decodificar.

f) contexto: é o objeto ou a situação a que a mensagem se refere.

Partindo desses seis elementos Roman Jakobson, linguista russo, elaborou estudos acerca das funções da linguagem, os quais são muito úteis para a análise e produção de textos. As seis funções são:

1. Função referencial: referente é o objeto ou situação de que a mensagem trata. A função referencial privilegia justamente o referente da mensagem, buscando transmitir informações objetivas sobre ele. Essa função predomina nos textos de caráter científico e é privilegiado nos textos jornalísticos.

2. Função emotiva: através dessa função, o emissor imprime no texto as marcas de sua atitude pessoal: emoções, avaliações, opiniões. O leitor sente no texto a presença do emissor.

3. Função conativa: essa função procura organizar o texto de forma a que se imponha sobre o receptor da mensagem, persuadindo-o, seduzindo-o. Nas mensagens em que predomina essa função, busca-se envolver o leitor com o conteúdo transmitido, levando-o a adotar este ou aquele comportamento.

4.Função fática: a palavra fático significa “ruído, rumor”. Foi utilizada inicialmente para designar certas formas que se usam para chamar a atenção (ruídos como psiu, ahn, ei). Essa função ocorre quando a mensagem se orienta sobre o canal de comunicação ou contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiência.

5. Função metalinguística: quando a linguagem se volta sobre si mesma, transformando-se em seu próprio referente, ocorre a função metalinguística.

6. Função poética: quando a mensagem é elaborada de forma inovadora e imprevista, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de ideias, temos a manifestação da função poética

da linguagem. Essa função é capaz de despertar no leitor prazer estético e surpresa. É explorado na poesia e em textos publicitários.

Essas funções não são exploradas isoladamente, de modo geral, ocorre a superposição de várias delas. Há, no entanto, aquela que se sobressai, assim podemos identificar a finalidade principal do texto.

Função referencial ou denotativa: transmite uma informação objetiva, expõe dados da realidade de modo objetivo, não faz comentários, nem avaliação. Geralmente, o texto apresenta-se na terceira pessoa do singular ou plural, pois transmite impessoalidade. A linguagem é denotativa, ou seja, não há possibilidades de outra interpretação além da que está exposta. Em alguns textos é mais predominante essa função, como: científicos, jornalísticos, técnicos, didáticos ou em correspondências comerciais.

Por exemplo: “Bancos terão novas regras para acesso de deficientes”. O Popular, 16 out. 2008.

Função emotiva ou expressiva: o objetivo do emissor é transmitir suas emoções e anseios. A realidade é transmitida sob o ponto de vista do emissor, a mensagem é subjetiva e centrada no emitente e, portanto, apresenta-se na primeira pessoa. A pontuação (ponto de exclamação, interrogação e reticências) é uma característica da função emotiva, pois transmite a subjetividade da mensagem e reforça a entonação emotiva. Essa função é comum em poemas ou narrativas de teor dramático ou romântico.

Por exemplo: “Porém meus olhos não perguntam nada./ O homem atrás do bigode é sério, simples e forte./Quase não conversa./Tem poucos, raros amigos/o homem atrás dos óculos e do bigode.” (Poema de sete faces, Carlos Drummond de Andrade)

Função conativa ou apelativa: O objetivo é de influenciar, convencer o receptor de alguma coisa por meio de uma ordem (uso de vocativos), sugestão, convite ou apelo (daí o nome da função). Os verbos costumam estar no imperativo (Compre! Faça!) ou conjugados na 2ª ou 3ª pessoa (Você não pode perder! Ele vai melhorar seu desempenho!). Esse tipo de função é muito comum em textos publicitários, em discursos políticos ou de autoridade.

Por exemplo: Não perca a chance de ir ao cinema pagando menos!

Função metalingüística: Essa função refere-se à metalinguagem, que é quando o emissor explica um código usando o próprio código. Quando um poema fala da própria ação de se fazer um poema, por exemplo. Veja: “Pegue um jornal Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo.”

Este trecho da poesia, intitulada “Para fazer um poema dadaísta” utiliza o código (poema) para explicar o próprio ato de fazer um poema.

Função fática: O objetivo dessa função é estabelecer uma relação com o emissor, um contato para verificar se a mensagem está sendo transmitida ou para dilatar a conversa. Quando estamos em um diálogo, por exemplo, e dizemos ao nosso receptor “Está entendendo?”, estamos utilizando este tipo de função ou quando atendemos o celular e dizemos “Oi” ou “Alô”.

Função poética: O objetivo do emissor é expressar seus sentimentos através de textos que podem ser enfatizados por meio das formas das palavras, da sonoridade, do ritmo, além de elaborar novas possibilidades de combinações dos signos lingüísticos. É presente em textos literários, publicitários e em letras de música.

Análise Sintática

A Análise sintática estuda a estrutura do período, divide e classifica suas orações, observa a função da palavra na oração ou no período.

Período é a frase expressa através de uma ou várias orações terminadas por ponto, ponto de exclamação, ponto de interrogação ou reticências. O período pode ser simples (quando possui uma só oração) ou composto (quando possui mais de uma oração).

Frase é todo e qualquer enunciado de sentido completo, pode ser formada por uma simples palavra, uma oração ou um período. A frase pode ou não ter verbo.

Oração é o conjunto de palavras organizadas em torno de um verbo. Para que haja oração é necessário um verbo e cada verbo forma uma oração. Assim haverá tantas orações quantos forem os verbos existentes no período.

Os termos da oração são formados por palavras que se relacionam entre si e cada um desses termos desempenha uma função. O termo pode ser formado por uma ou várias palavras.

Exemplo:Luana desfila (o termo sujeito é Luana)A bela Luana desfila (o termo sujeito é A bela Luana)

Obs. Veja que o termo “A bela Luana” é formado por 3 palavras. Quando o termo é formado por um conjunto de palavras, há sempre uma que se destaca – é a mais importante –, a ela damos o nome de núcleo. Destarte, no termo sujeito “A bela Luana” o núcleo é Luana.

TERMOS DA ORAÇÃO

Os termos da oração são classificados de acordo com a importância que exercem dentro da oração. São:

1. Termos essenciais da oração: sujeito e predicado

2. Termos integrantes: complemento verbal, complemento nominal

3. Termos acessórios: adjunto adnominal, adjunto adverbial, aposto (explicativo, enumerativo, especificativo, distributivo, oracional, recapitulativo ou resumidor, comparativo), vocativo.

TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO(SUJEITO e PREDICADO)

SUJEITOO sujeito é o termo da oração a respeito do qual se enuncia algo.Núcleo do sujeito: é a palavra (substantivo ou pronome) que realmente indica a função sintática que está exercendo.Exemplo: O computador travou novamente.Sujeito: O computadorNúcleo: computador TIPOS DE SUJEITO 1. DETERMINADOO sujeito é determinado quando pode ser identificado na oração, quer se apresente de forma explícita, quer implícita, é facilmente apontado na oração, e subdivide-se em: simples e composto. Simples – quando o sujeito possui um único núcleo.Exemplo: o menino quebrou o brinquedo.

núcleo Composto – quando o sujeito apresenta dois ou mais núcleos.Exemplo: Lula e Dirceu cambaleavam pela rua. núcleo núcleo Implícito – quando o sujeito não está expresso claramente e só é possível identificá-lo através da desinência verbal.Exemplo: Viajaremos para São Paulo.Sujeito: (nós) 2. INDETERMINADOQuando o sujeito não está expresso na oração, ou por não se desejar que ele seja conhecido, ou pela impossibilidade de sua explicitação, ou seja, não é possível determiná-lo na oração.O sujeito indeterminado apresenta-se de duas maneiras:1. Verbo na 3ª pessoa do plural, sem a existência de outro elemento que exija essa flexão do verbo. Exemplo: Mandaram o pintor concluir o serviço.2.Verbo na 3ª pessoa do singular acompanhado do pronome se. Exemplo: Precisa-se de costureiras.

Observação:O sujeito é indeterminado com a partícula se funcionando como índice de indeterminação. Veja as características: o verbo sempre na 3ª pessoa do singular; não há palavra que funcione como sujeito; geralmente aparece preposição depois do pronome se; não pode ser transformada em voz passiva analítica.Exemplo: Falou-se de você.

O sujeito não é indeterminado com a partícula se funcionando como partícula apassivadora. Veja as características: o verbo pode estar na 3ª pessoa do singular ou plural; possui sujeito expresso na oração, nunca oculto; jamais aparece preposição depois o pronome se; pode ser transformado em voz passiva analítica.Exemplo: Consertam-se botões.

3. ORAÇÕES SEM SUJEITOSão orações constituídas apenas pelo predicado, pois a informação fornecida não se refere a nenhum sujeito. As principais são:1. Verbos que exprimem fenômenos da natureza: chover, trovejar, nevar, anoitecer, amanhecer, etc. Exemplo: Choveu muito hoje pela amanhã / Nevou bastante no inverno.2. O verbo haver no sentido de existir ou indicação de tempo transcorrido. Exemplo: Houve sérios problemas na rede elétrica / Há vários anos não viajamos.3.O verbo fazer, ser e estar indicando tempo transcorrido ou tempo que indique fenômeno da natureza. Exemplo: Faz duas semanas que não chove / Está muito quente hoje / Era noite quando ele chegou. ALGUMAS OBSERVAÇÕES:1. O verbo ser, impessoal, concorda com o predicativo, podendo aparecer na 3ª pessoa do plural. Exemplo: São oito horas da manhã / É uma hora da tarde.2. Os verbos que indicam fenômenos da natureza, quando usados em sentido conotativo (figurado) deixam de ser impessoais. Exemplo: Amanheci disposto / choveram reclamações sobre as operadoras de telefonia.3. Quando um pronome indefinido representa o sujeito, ele deve ser classificado como determinado. Exemplo: Alguém pegou a minha borracha / Ninguém ligou hoje. PREDICADOO predicado é aquilo que se comenta sobre o sujeito. Para estudá-lo é necessário conhecer o verbo que forma o predicado. Quanto à predicação os verbos podem ser classificados como: intransitivos, transitivos e de ligação. VERBO INTRANSITIVOSão verbos que não exigem complemento, pois têm sentido completos. Exemplo: A menina caiu / O computador quebrou.

VERBO TRANSITIVO:São verbos que exigem complemento e se dividem em: transitivo direto, transitivo indireto e transitivo direto e indireto.1. Transitivo direto: não exigem preposição, ligando-se diretamente ao seu complemento, chamado objeto direto. Exemplo: As empresas tiveram prejuízos.2. Transitivo Indireto: exigem preposição, ligando-se indiretamente ao seu complemento, chamado de objeto indireto. Exemplo: Gustavo gostava de chocolate.3. Transitivo direto e indireto: exigem os dois complemento – objeto direto e objeto indireto – ao mesmo tempo. Exemplo: Alan pediu um carro ao pai. VERBO DE LIGAÇÃOSão verbos que expressam estado ou mudança de estado e ligam o sujeito ao predicativo. Exemplo: Os alunos permaneceram na sala. O verbo de ligação pode expressar:1. Estado permanente: expressa o que é habitual, o que não se modifica. Verbos ser e viver. Exemplo: Anita é bonita.2. Estado transitório: expressa o que é passageiro: Verbos estar, andar, achar-se, encontrar-se. Exemplo: Antônio anda preocupado / A criança está doente.3. Mudança de estado: revela transformação. Verbos ficar, tornar-se, acabar, cair, meter-se. Exemplo: A pintura ficou bonita.4. Continuação de estado. Verbos continuar, permanecer. Exemplo: O computador permaneceu desligado / José continua febril.5. Estado aparente. Verbo parecer. Exemplo: A sobremesa parece saborosa. TIPOS DE PREDICADOHá três tipos de predicado: predicado nominal, predicado verbal e predicado verbo-nominal. 1. Predicado NominalExpressa o estado do sujeito. O verbo é de ligação.Exemplos: O dia continua quente / Todos permaneciam apreensivos. Observação: O núcleo do predicado nominal é chamado predicativo do sujeito, pois atribui qualidade ou condição. 2. Predicado VerbalExpressa a ação praticada ou recebida pelo sujeito.Exemplo: Os professores receberam o prêmio. Observação: o núcleo do predicado verbal é o verbo, pois sua mensagem principal é a ação praticada ou recebida pelo sujeito.Veja: Os trabalhadores exigem melhores condições de trabalho. 3. Predicado Verbo-NominalInforma a ação e o estado do sujeito.Exemplos: Nós chegamos cansados / Cândida retornou feliz da viagem. Observação: o predicado verbo-nominal é constituído de dois núcleos – um verbo e um nome – porque fornece duas informações: ação e estado.Veja: O comprador saiu da loja estressado / A criança dormia tranqüila.

TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃOSão termos que servem para complementar o sentido de certos verbos ou nomes, pois seu significado só se completa com a presença de tais termos. Os termos integrantes da oração são:

1. Complemento verbal2. Complemento Nominal COMPLEMENTO VERBAL_ Objeto direto_ Objeto indireto Objeto DiretoTermo não regido por preposição. Completa o sentido do verbo transitivo direto.Exemplos: Eles esperavam o ônibus / Rita vendia doce.PS: Um método bem prático para determinar o objeto direto é perguntar quem? ou o quê? depois do verbo. Ex: Ela vendia (o quê) doce. Objeto Direto preposicionadoMesmo não sendo regido de preposição, há casos em que o objeto direto necessita de uma preposição:1. Quando é formado por pronomes oblíquos tônicos. Exemplo: Assim, prejudicas a ti.2. Quando é formado por substantivos próprios ou referentes a pessoas. Exemplo: Amai a Deus sobre todas as coisas.3. Quando é formado por pronomes demonstrativos, indefinidos e de tratamento. Exemplo: A foto sensibilizou a todos.4. Quando é formado pelo pronome relativo quem. Exemplo: Queremos conhecer o professor a quem admiras tanto.5. Quando o objeto direto é a palavra ambos. Exemplo: A chuva molhou a ambos.6. Para evitar ambigüidade: Exemplo: Convenceu ao pai o filho mais velho.7. Quando se quer indicar idéia de parte, porção. Exemplo: Beberemos deste vinho. Objeto Direto PleonásticoQuando se quer dar ênfase à idéia, o objeto direto aparece repetido na oração.Exemplo: Este livro, eu o comprei. Objeto IndiretoCompleta o sentido do verbo transitivo indireto e é regido por preposição.Exemplo: Aline gosta de frutas. / Não confio em políticos.PS: Para reconhecer o objeto indireto, basta a pergunta quem ou quê depois do verbo + preposição adequada.Exemplo: Aline gosta (de quê) de frutas. Objeto Indireto PleonásticoÉ quando o objeto indireto aparece duplamente na oração para se dar ênfase a idéia.Exemplo: A mim ensinaram-me muito bem. COMPLEMENTO NOMINALComplemento Nominal é o termo que completa o sentido de substantivos, adjetivos e advérbios, ligando a esses nomes por meios de preposição.Exemplo: Tenho a certeza de sua culpa. / A árvore está cheia de frutos. Para determinar o complemento nominal basta seguir o seguinte esquema:Nome + preposição + quem ou quê?Exemplo: Ele é perito em computação. Diferença entre o Complemento Nominal e Objeto IndiretoEnquanto o complemento nominal completa só sentido dos nomes (substantivo, adjetivo e advérbio), o objeto indireto completa o sentido de um verbo transitivo indireto.Exemplo:Lembrei-me de minha terra natal. (objeto indireto)Ela manteve seu gosto pelo luxo. (complemento nominal) AGENTE DA PASSIVA Agente da Passiva Ocorre em orações cujo verbo se apresenta na voz passiva a fim de indicar o elemento

que executa a ação verbal.Exemplo: As terras foram invadidas pelos sem-terra. / A cidade estava cercada de belezas naturais. OBSERVAÇÃO: O agente da passiva, o objeto indireto e o complemento nominal são regidos por preposição, muitas vezes há dúvidas na diferenciação dos três. Quando isso ocorrer, basta observar o sujeito da oração. Para ser agente da passiva o sujeito precisa ser paciente, ou seja, sofre a ação verbal.Exemplo:A estatueta havia sido levada pelos invasores. (agente da passiva)Sentia-se livre de qualquer responsabilidade. (complemento nominal)Vamos precisar de sua compreensão. (objeto indireto)

TERMOS ACESSÓRIOS DA ORAÇÃOApesar de prescindíveis são necessários para o entendimento do enunciado porque informam alguma característica ou circunstância dos substantivos, pronomes ou verbos que os acompanham. São considerados termos acessórios da oração:• adjunto adnominal;• adjunto adverbial;• aposto

ADJUNTO ADNOMINAL São palavras que acompanham o substantivo para caracterizá-lo, determiná-lo ou individualizá-lo. O adjunto adnominal pode ser representado por: adjetivos; artigos; numerais; pronomes adjetivos; locuções adjetivas.

Adjetivo: As casas ANTIGAS eram mais trabalhadas. Adj. Adnominal Adjetivo Artigo:AS estrelas iluminavam A noite.Adj. Adnominal Adj. adnominal Artigo artigo Numeral:TRÊS árvores caíram.Adj. Adnominal Numeral Pronome adjetivoAQUELES computadores estão quebrados.Adj. AdnominalPronome adjetivo Locução adjetiva: O suco DE LARANJA estava gostoso. Adj. Adnominal Locução adjetiva OBSERVAÇÃO:Funcionam também como adjuntos adnominais os pronomes oblíquos quando assumem o valor de pronomes possessivos. Exemplo:Feriram-me as pernas. (Feriram minhas pernas) DIFERENÇA ENTRE ADJUNTO ADNOMINAL E COMPLEMENTO NOMINAL

Adjuntos Adnominais são palavras que acompanham o núcleo do sujeito ou do predicativo do sujeito dando-

lhes características, delimitando-os. São termos acessórios da oração, do ponto de vista da análise sintática. Ex. O amor de mãe faz bem a qualquer um.

Complemento Nominal é o termo que completa o sentido de substantivos, adjetivos e advérbios, ligando a esses nomes por meios de preposição. Esses nomes (substantivos, adjetivos e advérbios) se comportam de maneira similar aos verbos transitivos, isto é, exigem um complemento. O que é denominado de complemento nominal.Exemplo: Santos Dumont foi o responsável pela invenção do avião. (CN)

ADJUNTO ADVERBIALTermo que se refere ao verbo, ao adjetivo ou a outro advérbio, para indicar uma circunstância. Circunstância de tempo:Só obtivemos os gabaritos do vestibular NO DIA SEGUINTE. Adj. Adverbial Circunstância de lugar:O trânsito está engarrafado NA AVENIDA DE SÃO LUÍS. Adj. Adverbial Circunstância de modo:Os turistas foram recebidos ALEGREMENTE. Adj. Adverbial Circunstância de intensidade:Comemos POUCO no almoço. Adj. Adverbial Circunstância de causa:Estávamos tremendo DE FRIO. Adj. Adverbial Circunstância de companhia:Vou sair COM VOCÊ. Adj. Adverbial Circunstância de instrumento:COM A VASSOURA retirou a sujeira da sala.Adj. Adverbial Circunstância de dúvida:POSSIVELMENTE chegaremos atrasados.Adj. Adverbial Circunstância de finalidade:Estudo PARA AUMENTAR MEUS CONHECIMENTOS. Adj. Adverbial Circunstância de meio:Prefiro viajar DE CARRO. Adj. Adverbial Circunstância de assunto:Conversamos SOBRE ECONOMIA. Adj. Adverbial Circunstância de negação:NÃO deixarei desarrumarem a casa.

Adj. Adverbial Circunstância de afirmação:COM CERTEZA iremos ao parque.Adj. Adverbial.

APOSTOÉ o termo que tem por objetivo explicar, esclarecer, resumir ou comentar algo sobre outro termo da oração. Recife, A VENEZA BRASILEIRA, sofre durante o período chuvoso. Aposto AMD, FABRICANTE DE PROCESSADORES, vem ganhando mercado. Aposto OBSERVAÇÕES:O aposto pode aparecer anteposto ao termo a que se refere.Exemplo:VENEZA BRASILEIRA, Recife está sofrendo com o começo do inverno. Aposto O aposto pode aparecer precedido de expressões explicativas.Exemplo:Algumas matérias, a saber, MATEMÁTICA, FÍSICA e QUÍMICA, são as que apresentam maiores dificuldades de aprovação no vestibular. VOCATIVO – TERMO INDEPENDENTEÉ considerado um termo independente da oração porque não faz parte de sua estrutura. É usado para expressar o sentimento do falante; sentimento esse usado para invocar, chamar, interpelar ou apelar a quem o falante se dirige. Exemplo:MENINO, venha cá!VocativoMEUS FILHOS, tenham calma.Vocativo DIFERENÇA ENTRE VOCATIVO E APOSTOO vocativo não mantém relação sintática com nenhum termo da oração, enquanto o aposto mantém relação sintática com um ou vários termos da oração. MENINOS, voltem aqui.Vocativo São Paulo, CENTRO FINANCEIRO, sofre com as altas taxas de desemprego. Aposto