apostila inseticidas

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA AGRÍCOLA I N S E T I C I D A S Prof. José Vargas de Oliveira Recife, PE Outubro de 2010.

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Page 1: Apostila inseticidas

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA AGRÍCOLA

I N S E T I C I D A S

Prof. José Vargas de Oliveira

Recife, PE

Outubro de 2010.

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INTRODUÇÃO

Os inseticidas são produtos químicos largamente utilizados no controle de pragas, quer de

forma isolada ou em programas de manejo integrado. Na escolha de um inseticida deve-se levar em

consideração não apenas a sua eficácia, bem como outros aspectos relevantes, como a seletividade

aos inimigos naturais de pragas, toxicidade ao homem e animais, resistência de pragas, persistência

no meio ambiente e custo do produto.

O Brasil é o primeiro consumidor mundial de agrotóxicos, os quais são utilizados no controle

de pragas de importância agrícola e de interesse Médico-Veterinário. A produção, comercialização,

exportação, importação, pesquisa, experimentação, embalagem, rotulagem, registro, destinação final

das embalagens, resíduos em alimentos, etc., são disciplinados pela Lei no 7802 de ll/7/89,

regulamentada pelo Decreto no 4.074 de 4/01/2002. A legislação do Estado de Pernambuco é

regulada pela Lei 12.753 DE 21 de janeiro DE 2005.

Para efeitos Lei Federal, consideram-se:

Aditivo – substância ou produto adicionado a agrotóxicos, componentes e afins, para melhorar sua

ação, função, durabilidade, estabilidade e detecção ou para facilitar o processo de produção.

Adjuvante – produto utilizado em mistura com produtos formulados para melhorar a sua aplicação.

Agente biológico de controle – organismo vivo de ocorrência natural, ou obtido por manipulação

genética, introduzido no ambiente para o controle de uma população ou de atividades biológicas de

outro organismo vivo considerado nocivo.

Agrotóxicos e afins - produtos ou agentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados

ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas

pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes

urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim

de preservá-la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e

produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.

Componentes – princípios ativos, produtos técnicos, suas matérias-primas, ingredientes inertes e

aditivos usados na fabricação dos agrotóxicos e afins.

Ingrediente inerte ou outro ingrediente – substância ou produto não ativo em relação à eficácia

dos agrotóxicos e afins, usado apenas como veículo, diluente ou para conferir características próprias

às formulações.

Page 3: Apostila inseticidas

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Matéria-prima – substância, produto ou organismo utilizado na obtenção de um ingrediente ativo,

ou de um produto que o contenha, por processos químico, físico ou biológico.

Princípio ativo ou ingrediente ativo – agente químico, físico ou biológico que confere eficácia aos

agrotóxicos e afins.

Produto formulado – agrotóxico ou afim obtido a partir do produto técnico ou de pré-mistura, por

intermédio de processo físico, ou diretamente de matérias-primas por meio de processos físicos,

químicos ou biológicos.

Produto formulado equivalente – produto que, se comparado com outro produto formulado já

registrado, possui a mesma indicação de uso, produtos técnicos equivalentes entre si, a mesma

composição qualitativa e cuja variação quantitativa de seus componentes não o leve a expressar

diferença no perfil toxicológico e ecotoxicológico frente ao do produto em referência.

Produto técnico – produto obtido diretamente de matérias-prima por processo químico, físico ou

biológico, destinado à obtenção de produtos formulados ou de pré-misturas e cuja composição

contenha teor definido de ingrediente ativo e impurezas, podendo conter estabilizantes e produtos

relacionados, tais como isômeros.

Produto técnico equivalente – produto que tem o mesmo ingrediente ativo de outro produto técnico

já registrado, cujo teor, bem como o conteúdo de impurezas presentes, não variem a ponto de alterar

seu perfil toxicológico e ecotoxicológico.

CLASSIFICAÇÃO DOS INSETICIDAS

Existem diversas maneiras de classificar os inseticidas, porém, neste trabalho fez-se a opção

de classificá-los segundo o critério da origem e natureza química. Serão mencionadas as seguintes

classes de inseticidas:

Inorgânicos

Produtos à base de arsênico, fluor, tálio, enxofre e dióxido de sílica, este obtido de fósseis de

algas diatomáceas. Entre os produtos ainda em uso, cita-se o enxofre, como fungicida e acaricida, o

ácido bórico utilizado em iscas para o controle de baratas e o dióxido de sílica no controle de pragas

primárias e secundárias de grãos armazenados. As minúsculas partículas deste produto adsorvem a

camada protetora de cera que recobre o corpo dos insetos, provocando perda de água e consequente

Page 4: Apostila inseticidas

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desidratação e morte entre dois e 14 dias após a exposição. Insecto e Keepdry são exemplos de

formulações encontradas no mercado.

Derivados de plantas ou inseticidas botânicos

São mencionadas as piretrinas, rotenona, nicotina, o nim (Azadirachta indica), que contém a

azadiractina, principal substância bioativa, etc. Esses produtos são aplicados como extratos aquosos,

alcóolicos, metanólicos, etanólicos, óleos (fixos e essenciais), pós e em mistura com água, em

formulações comerciais (óleos emulsionáveis). São utilizados no controle de várias pragas, como

lagartas, moscas brancas, afídeos, cochonilhas, gafanhotos, ácaros, lagartas, pragas de grãos

armazenados, etc. Atuam por contato, ingestão e fumigação, provocando mortalidade, repelência,

deterrência alimentar, redução no crescimento, efeitos morfogenéticos e redução na fertilidade e

fecundidade. No comércio já existem formulações de nim (Neenseto, Natuneen, Azamax etc), sendo

utilizadas no controle de pragas em cultivos orgânicos e de produtores familiares.

Biológicos ou Bioinseticidas

São produtos contendo organismos vivos, derivados desses organismos, ou obtidos através de

manipulação genética.

Bactérias - Bacillus thuringiensis var. kurstaki (Btk), conhecido comercialmente como Dipel. e B.

thuringiensis aizawai (Bta), que se encontra no comércio com o nome de Xentari, sendo

recomendados para o controle de lagartas. A bactéria atua por ingestão, e no trato digestivo da

lagarta, que tem pH alcalino, ocorre a dissolução do cristal tóxico (delta endotoxina), etapa

obrigatória para que a toxina possa expressar a sua ação. A lagarta para de se alimentar e,

posteriormente, apresenta paralisia intestinal. A morte pode ocorrer por toxemia ou septicemia. A

bactéria, de modo geral, apresenta seletividade para predadores e parasitóides, e baixa toxicidade

para vertebrados. Outra bactéria, Bacillus sphaericus, é utilizada no controle de mosquitos (Culex

quinquefasciatus).

Abamectina - inseticida, acaricida e antihelmíntico, isolado de produtos de fermentação da bactéria

Streptomyces avermetilis. Inibe o sistema neurotransmissor GABA (ácido gama aminobutírico) nas

junções neuromusculares de insetos e ácaros. Doses entre 1 a 30 mg/kg podem provocar efeitos

neurotóxicos severos em mamíferos e pássaros. Exposição crônica com a dose de 2 mg/kg/dia causa

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sério efeito no SNC, provocando ataxia e tremores. Apresenta seletividade para ácaros predadores,

parasitóides e fungos entomopatogênicos.

Spinosynas (Spinosad) - São um grupo de moléculas derivadas naturalmente de uma nova espécie

de Actionomicetos, Saccharopolyspora spinosa, que é caracterizada como uma bactéria. Spinosad é

composto pelos dois fatores naturais mais ativos no controle de insetos (fatores A e D). O A é o

componente majoritário, no entanto, ambos são bastante similares em relação às suas estruturas e

propriedades. É um produto muito eficaz no controle de várias pragas das ordens Coleoptera,

Diptera, Hymenoptera, Isoptera, Lepidoptera, Siphonaptera e Thysanoptera em diferentes culturas,

atuando por contato e ingestão. Provoca excitação do sistema nervoso dos insetos, levando à

contrações involuntárias dos músculos, prostação com tremores e, finalmente, paralisia. Ativam os

receptores nicotínicos da acetilcolina e também afetam o complexo de receptores de GABA, o que

pode contribuir para a sua ação inseticida. É seletivo para mamíferos e outros organismos não alvos.

Um dos produtos comerciais mais conhecidos é o Tracer.

Fungos - Metarhizium anisopliae, utilizado no controle de cigarrinhas da cana-de-açúcar e de

pastagens, pragas de grãos armazenados, cupins, etc; Beauveria bassiana, controla a broca-gigante

da cana-de-açúcar, cupins, moleque da bananeira, ácaro rajado etc. Atuam nos insetos via

tegumento, ou seja, por contato.

Virus - Baculovirus anticarsia; B. erinyis; B. spodoptera utilizados, respectivamente, no controle da

lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), mandarová da mandioca (Erinyis ello) e lagarta do cartucho

do milho (Spodoptera frugiperda); são específicos em e, de um modo geral, seletivos aos inimigos

naturais.

Óleos minerais

São produtos emulsionáveis derivados do petróleo, utilizados no controle de cochonilhas e

ácaros, provocando a morte por asfixia. São também usados como adjuvantes de inseticidas. Assist,

Óleo mineral Fersol, Iharol, são exemplos de produtos comerciais. Apresentam baixa toxicidade

para vertebrados. Recomenda-se não utilizar concentrações acima de 1% para evitar fitoxicidade.

Reguladores de crescimento

Atuam por ingestão e contato, sendo muito eficazes no controle de lagartas e larvas de

besouros. Apresentam seletividade a predadores e parasitóides e baixa toxicidade para os

vertebrados. São divididos em três grupos: (a) inibidores da síntese de quitina; (b) agonistas do

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ecdisteróide e (c) análogos do hormônio juvenil. Os primeiros são derivados da aciluréia e

benzoiluréias e agem impedindo a ecdise dos insetos, em virtude da sua interferência na síntese de

quitina. Deste modo, o inseto tem a sua fisiologia comprometida durante a ecdise, não forma uma

nova cutícula, não consegue se livrar da exúvia e morre. São exemplos deste grupo: triflumuron

(Alsystin), chlorfluazuron (Atabron), teflubenzuron (Nomolt), hexaflumuron (Consult),

flufenoxuron (Cascade), diflubenzuron (Dimilin), lufenuron (Match).

O segundo grupo é formado pelos agonistas do ecdisteróide, ou seja, compostos que têm a

mesma ação do hormônio da ecdise (imitam o hormônio da ecidise). Pertencem ao grupo das

bisacilhidrazinas (tebufenozide, halofenozide, RH-2485, RH-5849). Estes compostos interagem com

o receptor de proteínas do ecdisteróide, provocando uma estimulação direta dos mesmos. Provocam

a indução de ecdise letal e prematura (acelerador de ecdise) e efeito esterilizante.

O terceiro grupo é o dos análogos do hormônio juvenil, como o methoprene, fenoxycarb,

pyriproxyfen e diofenolan. Pertencem ao grupo químico piridiléter. Agem nos estágios mais

sensíveis do desenvolvimento dos insetos, como no final do último ínstar larval ou ninfal, alongando

a duração do ínstar, formando uma larva ou ninfa superdesenvolvida, larva-pupa ou pupa-adulto ou

ninfa-adulto intermediários. Têm também ação ovicida, agindo nos estágios iniciais da

embriogênese. Em adultos de algumas espécies podem provocar uma redução na fertilidade.

Organoclorados

Os inseticidas organoclorados foram retirados do comércio brasileiro, em virtude da sua alta

persistência no meio ambiente, alto grau de toxicidade crônica, acumulando-se nos tecidos

gordurosos e capacidade de provocar câncer. São citados como exemplo, o DDT, BHC, aldrin,

dodecacloro, toxafeno, clordane, heptacloro, etc.

Organofosforados

São derivados dos ácidos fosfórico, tionofosfórico, tiolofosfórico, ditiofosfórico, etc.

Geralmente são mais tóxicos para os vertebrados em relação a outros grupos de inseticidas. São

inibidores irreversíveis da colinesterase (mediador químico da transmissão sináptica), provocando

acúmulo de acetilcolina (neurônio-neurônio, junção neuromuscular ou sinápses). Atuam por de

contato, ingestão, profundidade ou translaminar e fumigante, e alguns apresentam propriedades

sistêmicas. Podem ser classificados nos seguintes grupos químicos:

Page 7: Apostila inseticidas

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Alifáticos – trichlorfon (Dipterex), monocrotophos (Azodrin, Nuvacron), dimethoate (Agritoato),

disulfoton, dichlorvos (Dipterex), metamidophos (Tamaron), acephate (Orthene), etc.

Derivados fenílicos - methyl parathion, profenophos (Curacron), fenthion (Lebaycid), fenitrothion

(Sumithion).

Derivados heterocíclicos - diazinon (Diazinon) chlorpyrifos (Lorsban), methidathion (Supracid),

phosmet (Imidan).

Carbamatos

São derivados dos ácidos N-metil carbâmico e N-N-dimetil carbâmico. São inibidores

reversíveis da acetilcolinesterase. Ataum por contato, ingestão e fumigação, e alguns são sistêmicos.

Exemplos: carbaryl (Carbaryl Fersol), methomyl (Lannate), carbofuran (Furadan), aldicarb (Temik),

thiodicarb (Larvin), carbosulfan (Marshal).

Piretróides

São ésteres derivados do ácido crisantêmico. São tóxicos do axônio, atuando nos canais de

sódio. Atuam por contato e ingestão e não apresentam ação sistêmica, translaminar e de fumigação.

De um modo geral, são menos tóxicos em relação aos organofosforados, no entanto, são bastante

efetivos no controle de pragas, sendo rapidamente hidrolizados e eliminados intactos ou sob a forma

de metabólitos tóxicos, antes de atingirem o sistema nervoso. Exemplos: fenvalerate (Sumicidin,

Belmark), permetrina (Ambush, Pounce), bifentrina (Brigade, Talstar), lambdacyhalothrina (Karate),

cypermetrina (Ripcord, Cymbush), cyflutrina (Baytroid), fenpropatrina (Danimen, Meothrin),

deltametrina (Decis, K-obiol), esfenvalerate (Sumidan).

Fumigantes

São inseticidas que atuam na forma gasosa, penetrando pelos estigmas ou espiráculos dos

insetos, contendo na sua fórmula um ou mais halogêneos (Cl, Br ou F).

Brometo de metila – é um gás liquefeito sob pressão, contendo na sua formulação brometo de

metila e cloropicrina (substância que provoca lacrimejamento, prevenindo a intoxicação). É um

produto extremamente tóxico, pertencente à classe toxicológica I. Tem ação inseticida, fungicida e

nematicida. A absorção ocorre por via dérmica e via respiratória. A intoxicação aguda provoca

depressão no SNC, pneumonite química, edema pulmonar, hepatite e nefrite tóxicas. O contato

direto com o produto provoca a formação de vesículas na pele e ulcerações na córnea e mucosas.

Recentemente, seu uso vem se restringindo ao tratamento de madeira, visando ao controle de brocas.

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Fosfina (Gastoxin, Gastoxin Pasta) – é um gás pertencente ao grupo dos fosfetos metálicos

(fosafeto de alumínio e fosfeto de magnésio), encontrado nas formulações de pastilha, pasta,

tabletes, sachês, sendo extremamente tóxico (Classe toxicológica I). Os fosfetos na presença de

umidade liberam fosfina, que provoca inibição dos sistemas enzimáticos celulares, produzindo

edema pulmonar, depressão do sistema nervoso central, mediocardite tóxica e colapso circulatório. É

usado no expurgo de grãos armazenados (controle curativo), no controle de cupins de montículo e de

cochonilhas da raiz do cafeeiro.

Ozônio

* O ozônio (03)) é um gás resultante do rearranjo deátomos de oxigênio e pode ser gerado pordescargas elétricas ou pela incidência de radiaçãoeletromagnética de alta energia (luz ultravioleta)no ar;

* É um agente antimicrobiano de largo espectro;* Não deixa resíduos nos alimentos;* Usado na descontaminação da superfície de frutas

e legumes e como fumigante em milho, pois nãomodifica a qualidade dos grãos;

* Degrada micotoxinas e remove resíduos deagrotóxicos;

* Pode reagir com agrotóxicos e promover a suadegradação.

Sulfonamidas fluoralifáticas

Como exemplo, cita-se a isca granulada Mirex-S, utilizada no controle das formigas saúvas e

quenquéns.

Fenil pirazol

Cita-se como exemplo o Fipronil (Regent), usado no controle de cupins da cana-de-açúcar,

bem como da larva alfinete (Diabrotica speciosa), larva arame (Conoderus scalaris) em batatinha, e

de tripes, curuquerê e bicudo do algodoeiro. É também utilizado na formulação de isca granulada

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(Blitz) para o controle da formiga saúva. Atua no SNC, sendo um inibidor reversível do receptor

GABA.

Neonicotinóides ou Nicotinóides

São compostos relativamente novos que se caracterizam por apresentarem um novo modo de

ação. Dividem-se nas seguintes subclasses:

Compostos cloronicotinis: Imidacloprid (Confidor) – usado em esguicho (“drench”) e imersão;

(Gaucho) – tratamento de sementes; (Winner) – aplicação no tronco; Thiacloprid (Calipso) – usado

em pulverização. Todos os produtos mencionados são sistêmicos, sendo muito eficientes no controle

de insetos picadores-sugadores, como moscas-brancas, afídeos, tripes, psilídeos, etc. Os

cloronicotinis imitam o neurotransmissor acetilcolina e competem com eles pelos seus receptores,

isto é, são agonistas da acetilcolina, pois imitam a sua ação apesar de possuírem fórmulas estruturais

bem distintas do composto original. Contudo não são suscetíveis à hidrólise enzimática pela

acetilcolinesterase e a contínua interação entre os cloronicotinis e os receptores da acetilcolina leva

nos vertebrados a uma hiperexcitação do sistema nervoso, causando perda da coordenação muscular,

convulsões e finalmente a morte por falha respiratória.

Compostos thianicotinis: Thiamethoxam (Actara) – usado em pulverização, imersão e esguicho;

(Cruiser) – usado no tratamento de sementes. A exemplo do grupo anterior, também são sistêmicos.

Os compostos thianicotinis, como o Thiamethoxam, afetam a transmissão de estímulos

nervosos fixando-se de forma permanente na proteína receptora da membrana da célula nervosa,

denominada receptor de acetilcolina tipo B. Esta união é desdobrada muito lentamente pela

acetilcolinesterase, permitindo a transmissão contínua de estímulos nervosos, causando colapso do

sistema nervoso do inseto. Este produto permite o controle de insetos resistentes aos inseticidas

convencionais organofosforados, carbamatos e piretróides.

EFEITOS COLATERAIS DOS INSETICIDAS

Apesar dos inúmeros benefícios causados pelos inseticidas no controle de pragas agrícolas e

da saúde pública, quando não usados adequadamente, podem causar efeitos indesejáveis ao homem e

animais e nos diferentes agroecossitemas.

Page 10: Apostila inseticidas

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Toxicidade ao homem e animais

Na escolha de um determinado inseticida para o controle de uma praga, deve-se ter

conhecimento de diversos fatores, entre os quais, o risco e a toxicidade do produto. O risco diz

respeito à probabilidade de um composto causar efeitos nocivos à saúde, e depende da toxicidade e

exposição (Risco = toxicidade x exposição). Assim, tem-se as seguintes situações: (a) o risco será

alto se a toxicidade e exposição forem altos; (b) o risco será baixo se a toxicidade for alta e a

exposição baixa; (c) se a toxicidade for baixa e a exposição alta, o risco será alto; (d) o risco será

baixo se a toxicidade e exposição foram baixos. Por outro lado, a toxicidade é a propriedade inerente

à substância de causar efeito adverso à saúde. No estudo da toxicidade estão envolvidos três fatores

importantes: a dose da substância, o indivíduo exposto e a resposta do organismo (sintomas e

sinais). Os inseticidas podem causar dois tipos de intoxicação:

Toxicidade aguda – resultante da absorção de doses relativamente altas num curto espaço de tempo,

através das vias oral e dérmica, sendo expressa pela dose letal 50% (DL50), que é a quantidade do

produto, em mg/peso corpóreo, capaz de provocar a morte de 50% dos animais submetidos à

experiência. Nos testes utilizam-se, comumente, ratos albinos machos e fêmeas. Quanto menor a

DL50 ou CL50, maior será a toxicidade do inseticida.

Toxicidade crônica – resultante da absorção de doses relativamente pequenas a curto e a longo

prazos, fornecendo informações a respeito da toxicidade acumulativa de um agente tóxico.

Na avaliação toxicológica, que consiste no estudo acurado dos dados biológicos, bioquímicos

e toxicológicos de uma substância, com o objetivo de conhecer sua atuação em animais de prova e

inferir os riscos para a saúde humana, geralmente são realizados os seguintes testes: a) estudos de

efeitos reais de toxicidade aguda em tecidos e órgãos; b) estudos de efeitos carcinogênicos,

teratogênicos e mutagênicos e c) estudos sobre níveis de não efeito do agrotóxico.

ToxicidadeÉ a propriedade inerente à substância de causar

efeito adverso à saúde.

Resposta

Dose

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Risco = Toxicidade X ExposiçãoRisco = Toxicidade X Exposição

RiscoÉ a probabilidade de um evento causar efeito

adverso à saúde.

Alto

Baixo

Alto

Baixo

Alta

Alta

Baixa

Baixa

Alta

Baixa

Alta

Baixa

DL50

CL50

Toxicidade: Como medir

Outros parâmetros:

• Irritação cutânea.

• Irritação ocular.

DL50

CL50

• Oral

• Dérmica

• Inalatória

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Classificação toxicológica dos inseticidas

Consiste na classificação dos produtos técnicos e das formulações levando em consideração

os seus aspectos toxicológicos:

Toxicidade: Classificação

II

DL50 Oral(mg/kg)

Sólido

DL50 Dérm.(mg/kg)

CL50 Inal.(mg/l)

1h Expos.Olhos

Opacidade da CórneaReversível ou não

em 7 dias. Irritação persistente

Sem Opacidade daCórnea. Irritação

Reversível em 7 dias

Sem Opacidade daCórnea. Irritação

Reversível em 72 horas

Sem Opacidade daCórnea. Irritação

Reversível em 24 horas

Pele

Corrosivo < 0.2<5

<20

0.2-2

2-20

> 20

IrritaçãoSevera

IrritaçãoModerada

IrritaçãoLeve

IIII

IIIIII

IVIV

Sólido

<10

<40

5-50

50-500

>500

20-200

200-2000

>2000

10-100

100-1000

>1000

40-400

400-4000

>4000

Classificação Toxicológica

Extremamente tóxico

Altamente tóxico

Medianamentetóxico

Poucotóxico

I

II

III

IV

I

II

III

IV

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Marinho & Mendonça, 2005

Page 15: Apostila inseticidas

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Page 16: Apostila inseticidas

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Modo de ação de inseticidas

IRAC - BR

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IRAC - BR

Page 18: Apostila inseticidas

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IRAC - BR

Page 19: Apostila inseticidas

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IRAC - BR

Classificação quanto ao potencial de periculosidade ambiental (IBAMA)

Classe I – Produto altamente perigoso.

Classe II – Produto muito perigoso.

Classe III – Produto perigoso.

Classe IV – Produto pouco perigoso.

Tríplice lavagem e destinação final das embalagens vazias

Após o uso de produtos agrotóxicos, as embalagens vazias precisam der descartadas de

maneira correta e segura para evitar contaminação do homem, animais domésticos e ambiente. É

extremamente importante que o resto do produto, que ainda permanece no interior da embalagem,

seja retirado e descartado. No caso de embalagens metálicas plásticas e de vidro, que contiveram

produtos fitossanitários para serem aplicados diluídos em água, a remoção é feita usando-se a tríplice

Page 20: Apostila inseticidas

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lavagem. Este método não se aplica aos produtos embalados em recipientes não rígidos como os

sacos hidrossolúveis, sacos plásticos, sacos aluminizados e sacos multifoliados. Estes recipientes

devem ser descartados de maneira diversa.

Na tríplice lavagem a embalagem vazia deve ser enxaguada três vezes para eliminar, o

máximo possível, as sobras do produto. Esta medida de segurança torna possível a reciclagem do

material usado na fabricação da embalagem de produtos fitossanitários. Nessa operação deve-se

sempre utilizar equipamentos de proteção individual adequados como: luvas, avental, botas, óculos

protetores ou protetor facial.

A reciclagem controlada é uma das alternativas mais viáveis para o destino final das

embalagens de produtos fitossanitários tríplice lavadas, por ter a característica de uma opção auto-

sustentável. Para uma maior orientação sobre o assunto, recomenda-se consultar o Manual de

Orientação sobre a Destinação de Embalagens Vazias de Atróxicos (BASF 2000).

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Page 23: Apostila inseticidas

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Impactos de inseticidas sobre organismos não-alvo Os inseticidas podem provocar efeitos negativos e positivos em organismos não-alvo. Os

primeiros podem causar mortalidade e afetar a biologia dos organismos, através de doses subletais.

Estes efeitos podem ocorrer na sobrevivência, no crescimento, no comportamento, na alimentação,

na oviposição e no aprendizado dos insetos.

Os efeitos positivos podem favorecer a reprodução, bem como determinadas vias fisiológicas

dos insetos. Efeitos de pequenas exposições a doses subletais de agrotóxicos, denominado de

hormese (hormoligosis) favorecem o desempenho do inseto atingido. Os efeitos são manifestados no

crescimento, desenvolvimento, reprodução, respostas metabólicas e fisiológicas dos organismos.

Outros fatores, como o clima, destruição dos inimigos naturais, persistência de inseticidas etc,

podem também favorecer o desempenho dos insetos.

Ressurgência de pragas.

Consiste no ressurgimento de pragas numa infestação muito mais elevada, decorrido algum

tempo da aplicação de inseticidas de largo espectro, que são tóxicos para a praga e também para os

seus inimigos naturais. Como estes dependem das pragas ou hospedeiros para a sua sobrevivência,

demoram mais tempo para restabelecer o equilíbrio e, deste modo, as pragas livres dos seus inimigos

naturais desenvolvem altas infestações. Na citricultura paulista já foi constatada a ressurgência do

ácaro da falsa ferrugem (Phyllocoptruta oleivora) após a aplicação dos inseticidas organofosforados

fenitrothion e carbofenothion. Nos Estados Unidos já foi constatada ressurgência desta praga devido

a aplicações do inseticida organofosforado metidathion.

A morte de inimigos naturais não é a única causa da ressurgência de pragas, pois o produto

pode interferir na fisiologia da planta e, deste modo, favorecer o aumento populacional de pragas,

devido à inibição da proteossíntese. Esta inibição provoca uma sensibilização da planta em relação a

pragas, devido o enriquecimento dos tecidos em substâncias solúveis. Como exemplo, cita-se o

aumento da infestação de ácaros durante um período prolongado, após aplicação de inseticidas

organofosforados, em virtude da ação dos mesmos sobre a composição bioquímica das plantas, pelo

aumento dos teores de glicídeos solúveis nas folhas e caules. A ressurgência também pode se

verificar devido à hormese.

Page 24: Apostila inseticidas

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Trofobiose

Teoria da trofobiose.

Surtos de pragas secundárias

O uso inadequado de inseticidas também pode provocar o aparecimento de pragas

secundárias. Pesquisas desenvolvidas no Brasil têm mostrado que, após aplicações de inseticidas

piretróides em algodoeiro, ocorria um aumento da infestação do ácaro rajado (Tetranychus urticae).

O mesmo fato foi registrado em café, com o ácaro vermelho (Oligonychus ilicis). As causas

envolvidas neste desequilíbrio são as seguintes: morte de inimigos naturais, dispersão do ácaro,

estímulo à reprodução, alterações fisiológicas e nutricionais da planta, alterações no

comportamento alimentar de ácaros predadores e repelência a ácaros predadores.

Visando minimizar a ressurgência e surtos de pragas secundárias, adota-se a seletividade,

considerada uma tática de importância muito relevante no Manejo Ecológico de Pragas. Na

seletividade o produto químico seleciona a praga no agroecossistema em que foi aplicado, afetando

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em baixa proporção a população de inimigos naturais. Existem dois tipos gerais de seletividade:

Seletividade fisiológica - neste caso, numa mesma concentração, o inseticida provoca uma alta

mortalidade à praga, em comparação aos inimigos naturais, isto é, o produto é tanto mais seletivo

quanto menos afetar os inimigos naturais. A seletividade envolve, primariamente, o movimento do

inseticida sobre ou no corpo do inseto e sua interação com o modo de ação ou alvo de ação, bem

como os processos de absorção, penetração, transporte e atuação de inseticidas, os quais quando

agem em diferentes intensidades resultam em toxicidade diferencial entre a praga e inimigo natural.

Outros processos, também podem estar envolvidos, como a retenção do inseticida no tecido

gorduroso do inseto e sua excreção e metabolismos seletivos, este último englobando a

destoxificação e a insensibilidade dos alvos de ação no inseto. O grau de seletividade fisiológica

pode ser calculado pela razão entre a DL50 à praga e ao inimigo natural, ou pela relação entre a

dosagem recomendada para o controle da praga e a DL50 ao inimigo natural. São considerados

seletivos para artrópodos não alvos, os produtos à base de Bacillus thuringiensis var. kurstaki e var.

azaiwai (predadores e parasitóides); os inseticidas reguladores de crescimento (predadores);

avermectin (predadores de ácaros); carbaryl, endossulfan e monocrotofos (predadores e parasitóides

de pragas da soja); deltametrina, permetrina e ciflutrina (parasitóides); acaricidas específicos

(joaninha – Pentilea egena);

Seletividade ecológica - baseia-se nas diferenças ecológicas existentes entre as pragas e seus

inimigos naturais, significando que a seletividade é alcançada devido à estratégia de aplicação do

inseticida. Em outras palavras, embora o produto seja também tóxico aos inimigos naturais, os seus

efeitos podem ser minimizados devido de aplicação do mesmo.

Citam-se como exemplos de seletividade ecológica: aplicação de inseticidas granulados

sistêmicos no solo, tratamento de sementes com sistêmicos, aplicação de sistêmicos no tronco,

imersão de mudas em calda inseticida, esguicho, aplicação de inseticidas em reboleiras, uso de

iscas tóxicas, aplicação em fileiras alternadas etc.

Page 26: Apostila inseticidas

26

Foerster (2002)

Page 27: Apostila inseticidas

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Resistência de insetos a inseticidas

A resistência é uma característica hereditária, que consiste no desenvolvimento de uma

habilidade, numa linhagem de um organismo, de tolerar doses de tóxicos letais para a maioria da

população normal (suscetível) da mesma espécie. O inseticida exerce uma pressão seletiva sobre a

praga, eliminando os indivíduos suscetíveis e, deste modo, os resistentes se reproduzem e aumentam

a freqüência gênica dentro da população.

De acordo com o IRAC (“Insecticide Resistance Action Commitee” – Comitê de Ação à

Resistência a Inseticidas), a resistência é definida como a redução na susceptibilidade de uma

determinada população de praga a um agrotóxico, que é observada através de fracassos repetidos

com o uso deste produto de acordo com as recomendações apresentadas no rótulo, e onde o baixo

desempenho não pode ser explicado através de problemas de armazenamento do produto, aplicação

e condições ambientais ou climáticas desfavoráveis.

Representação esquemática do aumento na freqüência de indivíduos resistentes a determinado produto químico com a pressão de seleção.

Aplicação contínua Aumento na frequência de indivíduos resistentes

Pressão de seleção Pressão de seleção

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28

A evolução da resistência a inseticidas é um dos grandes entraves em programas de manejo

de pragas envolvendo o uso de produtos químicos. Dentre as conseqüências drásticas da evolução da

resistência citam-se: a aplicação mais freqüente de inseticidas; aumento da dosagem do

produto; e substituição por um outro produto, geralmente de maior toxicidade. Estes fatores

comprometem os programas de manejo integrado de pragas, em face da maior contaminação do

meio ambiente com inseticidas, destruição de organismos benéficos e elevação dos custos de

controle da praga.

Page 29: Apostila inseticidas

29

Mecanismos de resistência

Os principais mecanismos de resistência de insetos e ácaros a inseticidas e acaricidas,

respectivamente, são: aumento da degradação (metabolismo, devido a determinadas enzimas,

como as esterases), redução na sensibilidade do alvo de ação e o decréscimo na penetração

cuticular). Alguns autores também consideram o mecanismo comportamental, como por

exemplo, a repelência ao inseticida, mas nem sempre este é considerado como mecanismo de

resistência.

Resistência cruzada e resistência múltipla

Na resistência cruzada, a praga também desenvolve resistência a inseticidas que apresentam

moléculas quimicamente relacionadas, resultando num sistema comum de desintoxicação ou de

insensibilidade do alvo de ação, ou seja, um único mecanismo confere resistência a dois ou mais

compostos químicos, do mesmo grupo ou de outros grupos, que apresentem o mesmo modo de ação.

Como exemplo pode-se citar a resistência de uma praga A dois inseticidas organofosforados, ou a

um organofosforado e um carbamato. Na resistência múltipla, a resistência se estende a inseticidas

com diferentes modos de ação e/ou diferentes mecanismos de desintoxicação, ou seja, quando pelo

menos dois mecanismos coexistentes conferem resistência a dois ou mais compostos químicos,

geralmente não relacionados. Como exemplo, pode-se citar a resistência a um organofosforado e um

piretróide, devido a dois mecanismos de resistência distintos.

Estratégias de manejo da resistência

Para que os programas de manejo da resistência sejam efetivos devem ser implementados no

início do aparecimento do problema, porém na prática isso infelizmente não vem ocorrendo com

regularidade. O uso de equipamentos mal calibrados, aplicações quando a praga atinge altas

infestações, condições meteorológicas, formulações inadequadas, dosagens incorretas, pH da calda e

evolução da resistência, podem comprometer o uso de agrotóxicos. São necessários bioensaios de

laboratório para avaliar a suscetibilidade de populações de pragas aos agrotóxicos, visando

investigar como estão se comportando em relação a esses produtos.

De acordo com Georgiou (1983), são três as estratégias de manejo da resistência: manejo

por moderação, manejo por saturação e manejo por ataque múltiplo. Na primeira estratégia,

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30

deve-se reduzir a pressão de seleção, visando preservar os indivíduos susceptíveis em uma

determinada população. Como recomendações incluem: aplicação menos freqüente de

agrotóxicos, controle em reboleiras, manutenção de áreas não tratadas para refúgio dos

indivíduos susceptíveis e aplicação do agrotóxico no estágio mais vulnerável da praga. No

manejo por saturação busca-se reduzir o valor adaptativo dos indivíduos resistentes através do

uso de sinergistas ou altas doses do produto. Os sinergistas têm a finalidade de bloquear a

resistência metabólica, como o butóxido de piperonila (bloqueia a ação de enzimas oxidativas

dependentes do citocromo P-450). No manejo por ataque múltiplo recomenda-se o uso de rotação

ou mistura de produtos. No primeiro caso, a freqüência da resistência a um produto A diminui

quando produtos alternativos A e B são utilizados. Neste caso, há necessidade de assumir que

existe custo adaptativo dos indivíduos resistentes na ausência de pressão de seleção e que não

existe resistência cruzada entre os componentes da rotação. Na mistura de dois produtos,

parte-se do princípio que os indivíduos resistentes ao produto A são controlados pelo produto

B, e vice-versa; no entanto, há a possibilidade de se encontrar resistência múltipla aos

produtos A e B.

Resíduos de inseticidas em vegetais

Apesar dos inseticidas serem os principais insumos utilizados no controle de pragas, são

passíveis de acarretar a presença de resíduos tóxicos em vegetais, cujo consumo representa um grave

risco potencial à saúde dos consumidores. A ingestão contínua, mesmo de pequenas doses subletais

e possíveis efeitos deletérios sobre a saúde humana, constitui uma das principais preocupações das

autoridades sanitárias mundiais.

O controle dos níveis de resíduos nos alimentos, a nível nacional e internacional, deve ser

uma prioridade, não apenas do ponto de vista da proteção da saúde pública, bem como para

orientação das ações governamentais, visando fazer cumprir a legislação vigente.

Resíduo de agrotóxico - substância ou mistura de substâncias remanescentes ou existentes em

alimentos ou no meio ambiente decorrente do uso ou da presença de agrotóxicos e afins, inclusive

quaisquer derivados específicos, tais como produtos de conversão e de degradação, metabólitos,

produtos de reação e impurezas, consideradas tóxicas e ambientalmente importantes.

Page 31: Apostila inseticidas

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Limite máximo de resíduo (LMR) - quantidade máxima de resíduo legalmente aceita no alimento,

em decorrência da aplicação adequada numa fase específica, desde sua produção até o consumo,

expressa em partes (em peso) do agrotóxico ou seus derivados por um milhão de partes de alimento

(em peso) (ppm ou mg/kg).

Dose diária aceitável ou ingestão diária aceitável (IDA) - quantidade máxima de inseticida que,

ingerida diariamente durante toda a vida, parece não oferecer risco apreciável à saúde, à luz dos

conhecimentos atuais. É expressa em mg do agrotóxico por kg de peso corpóreo.

Intervalo de segurança ou período de carência na aplicação de agrotóxicos ou afins:

Antes da colheita – intervalo de tempo entre a última aplicação e a colheita;

Pós-colheita – intervalo de tempo entre a última aplicação e a comercialização do produto tratado;

Em pastagens – intervalo de tempo entre a última aplicação e o consumo do pasto;

Em ambientes hídricos – intervalo de tempo entre a última aplicação e o reinício das atividades de

irrigação, dessedentação de animais, balneabilidade, consumo de alimentos provenientes do local e

captação para abastecimento público;

Em relação a culturas subseqüentes - intervalo de tempo transcorrido entre a última aplicação e o

plantio consecutivo de outra cultura.

Intervalo de reentrada – intervalo de tempo entre a aplicação de agrotóxicos ou afins e a entrada de

pessoas na área tratada sem a necessidade de uso de equipamento de proteção individual (EPI).

Page 32: Apostila inseticidas

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COMO SÃO ESTABELECIDOS OS LIMITES MÁXIMOS DO RESÍDUO OU TOLERÂNCIA DOS

AGROTÓXICOS?

Boa prática Agrícola

Análise de resíduo

Resíduo (mg/Kg) A

Dieta usual

MÁXIMA INGESTÃO POTENCIAL (mg/Kg peso corporal/dia)

B

B < C → A = LMR

B ≥ C → Agrotóxico não pode ser usado

Provas de toxicidade

Aguda

Subaguda

mg/Kg na ração

mg/Kg/dia Nível de não-efeito

mg/Kg de peso corporal/dia

IDA - Ingestão Diária Aceitável

C

÷ 100

Fator de correção

Crônica

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Page 34: Apostila inseticidas

34

FORMULAÇÕES DE AGROTÓXICOS Formulação é o processo de transformação do produto técnico, através de processos físicos,

químicos e biológicos, para que o agrotóxico possa ser utilizado convenientemente.

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Síntese industrial Produto técnico

Ingrediente ativo

+

Ingredientes inertes

Formulação comercial ou

Preparado comercial

PREPARO DE UMA FORMULAÇÃO

♦Componentes de uma formulação �Princípio ativo (p.a) ou ingrediente ativo (i.a) – substância ativa responsável pela eficácia contra

pragas.

�Componentes inertes – substâncias não ativas, sendo que cada uma delas tem sua função em uma

determinada formulação. São assinaladas as seguintes:

a) Argila, talco, caolim – componentes de pós secos.

b) Aditivos – melhoram a ação, função, estabilidade, durabilidade etc.

c) Anticompactantes – impedem que o produto perca a sua fluidez durante o armazenamento.

d) Antiespumantes – impedem a formação de espuma.

e) Antioxidantes – impedem a oxidação do produto.

f) Bactericidas - impedem a proliferação de bactérias no produto.

g) Corantes – dar cor aos produtos (aspecto e segurança visual).

h) Dispersantes – dispersar as partículas sólidas na água.

i) Emulsificantes – emulsificar o i.a. na água.

Page 36: Apostila inseticidas

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j) Molhantes – proporcionar uma rápida umectação do produto quando o mesmo entre em contato

com a água.

k) Solventes – dissolver o i.a. sólido para obtenção de uma formulação líquida.

Tipos de formulação de agrotóxicos

���� Formulações para aplicação direta

Pó seco

Granulado

Microgranulado

Granulado encapsulado

Suspensão ultrabaixo volume

Ultrabaixo volume

Líquido para pulverização (eletrodinâmica).

���� Formulações para tratamento de sementes

Pós

Emulsão

Suspensão concentrada

Solução

Pó solúvel

���� Formulações para diluição em água

Concentrado emulsionável

Concentrado dispersível

Concentrado solúvel

Pó molhável

Pó solúvel

Suspensão concentrada

Granulado dispersível

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Granulado solúvel

Suspensão de encapsulado

���� Formulações especiais

Aerosol

Gás liquefeito sob pressão

Concentrado para termonebulização

Gerador de gás

Isca

Adjuvantes para agrotóxicos (formulações)

Adjuvantes – melhorar a eficácia do agrotóxico.

Espalhantes – modificar as propriedades de umectação, dispersibilidade, espalhamento e/ou

emulsificação do agrotóxico.

Espalhante adesivo – além das características dos espalhantes, aumenta a adesividade do agrotóxico

no alvo desejado.

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