apostila eho-012 aluno 2015

Upload: raisamendescosta

Post on 04-Feb-2018

242 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    1/299

    UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    ESCOLA POLITCNICA DA USP

    LACASEMIN LABORATRIO DE CONTROLE AMBIENTAL, HIGIENE E SEGURANA NA

    MINERAO

    EAD ENSINO E APRENDIZADO DISTNCIA

    eHO-012

    DOENAS OCUPACIONAIS, TOXICOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA

    ALUNO

    SO PAULO, 2015

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    2/299

    EPUSP/LACASEMIN

    DIRETOR DA EPUSPJOS ROBERTO CASTILHO PIQUEIRA

    EQUIPE DE TRABALHOCCD - COORDENADOR DO CURSO DIST NCIASRGIO MDICI DE ESTON VICE - COORDENADOR DO CURSO DISTNCIAWILSON SHIGUEMASA IRAMINA

    PP - PROFESSORES PRESENCIAISDEOLINDA MARTINSEDUARDO COSTA SJEFFERSON FREITASMARIA JOS F. GIMENESROSANA LAZZARINISNIA R. P. SOUZA

    CPD - CONVERSORES PRESENCIAL PARA DISTNCIADANIEL UENO DE CASTRO PRADO GARCIADANIELLE VALERIE YAMAUTIFELIPE THADEU BONUCCIFLVIA DE LIMA FERNANDESSEIJI RENAN MICHISHITA

    FILMAGEM E EDIOKARLA JULIANE DE CARVALHOTHALITA SANTIAGO DO NASCIMENTO

    IMAD - INSTRUTORES MULTIMDIA DISTNCIADIEGO DIEGUES FRANCISCAFELIPE BAFFI DE CARVALHOLUAN LINHARESMATEUS DELAI RODRIGUES LIMAPEDRO MARGUTTI DE ALMEIDA

    CIMEAD CONSULTORIA EM INFORMTICA, MULTIMDIA E EADCARLOS CSAR TANAKAJORGE MDICI DE ESTONSHINTARO FURUMOTO

    GESTO TCNICA

    MARIA RENATA MACHADO STELLIN

    APOIO ADMINISTRATIVONEUSA GRASSI DE FRANCESCOVICENTE TUCCI FILHO

    Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo total ou parcial, por qualquer meio ou processo,sem a prvia autorizao de todos aqueles que possuem os direitos autorais sobre este documento.

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    3/299

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    4/299

    SUMRIO

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    ii

    CAPTULO 4. ASPECTOS GERAIS DA MONITORIZAO BIOLGICA ...................... 50 4.1. INTRODUO ......................................................................................................... 51 4.2. MONITORIZAO BIOLGICA EM RELAO A AMBIENTAL ........................... 52 4.3. CONDIES NECESSRIAS PARA PROGRAMAR UMA MONITORIZAO

    BIOLGICA .................................................................................................................... 52 4.4. TIPOS E CARACTERSTICAS DOS INDICADORES BIOLGICOS .................... 53

    4.4.1. INDICADORES BIOLGICOS DE DOSE INTERNA ........................................ 53 4.4.1.1. Substncias com tendncias acumulativas no organismo .......................... 53 4.4.1.2. Substncias que apresentam um rpido metabolismo ................................ 54

    4.4.2. INDICADORES BIOLGICOS DE EFEITO ...................................................... 55 4.5. FATORES INDEPENDENTES DA EXPOSIO QUE PODEM INFLUENCIAR OSINDICADORES BIOLGICOS ....................................................................................... 57 4.6. A PRTICA DA UTILIZAO DOS INDICADORES DE EXPOSIO ................. 58 4.7. PARMETROS PARA MONITORIZAO BIOLGICA DE ACORDO COM

    NORMA REGULAMENTADORA - 7 .............................................................................. 60 4.8. TESTES ................................................................................................................... 63

    CAPTULO 5. SADE OCUPACIONAL E TOXICOLOGIA .............................................. 65 5.1. INTRODUO ......................................................................................................... 66 5.2. TESTES ................................................................................................................... 69

    CAPTULO 6 VIGILNCIA DA SADE NA EXPOSIO ................................................ 70 6.1. INTRODUO ......................................................................................................... 71 6.2 TESTES .................................................................................................................... 74

    CAPTULO 7. ASPECTOS TOXICOLGICOS DOS SOLVENTES ORGNICOS ......... 75

    7.1. INTRODUO ......................................................................................................... 76 7.2. PROPRIEDADE DOS SOLVENTES ....................................................................... 77 7.3. CLASSIFICAO DOS SOLVENTES DE USO INDUSTRIAL .............................. 78 7.4. PROPRIEDADES FSICO-QUMICAS DOS SOLVENTES .................................... 78 7.5. INTERAES DOS SOLVENTES COM O ORGANISMO HUMANO ................... 79

    7.5.1. TOXICOCINTICA ............................................................................................. 79 7.5.2. TOXICODINMICA ............................................................................................ 79

    7.6. MONITORIZAO BIOLGICA ............................................................................. 80 7.7. TESTES ................................................................................................................... 81

    CAPTULO 8. GASES E VAPORES IRRITANTES ........................................................... 82

    8.1. INTRODUO ......................................................................................................... 83 8.2. GENERALIDADES .................................................................................................. 83 8.3. IRRITANTES PRIMRIOS ...................................................................................... 84

    8.3.1. AMNIA (NH3) ................................................................................................... 84 8.3.2. CIDO SULFRICO (H2SO4) ............................................................................ 84 8.3.3. CIDO FLUORDRICO (HF) .............................................................................. 85 8.3.4. FORMOL (FORMALDEDO, H2CO) .................................................................. 85 8.3.5. ACETALDEDO (H3C-CHO) E CIDO ACTICO (H3C-COOH) ....................... 85 8.3.6. ANIDRIDO SULFUROSO (SO2) ........................................................................ 85 8.3.7. CLORO (CL2) ..................................................................................................... 86 8.3.8. BROMO (BR2) E IODO (I2) ................................................................................. 86 8.3.9. FLOR (F2)......................................................................................................... 87

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    5/299

    SUMRIO

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    iii

    8.3.10. FOSGNIO (COCL2) ........................................................................................ 87 8.3.11. OZNIO (O3) .................................................................................................... 87 8.3.12. XIDOS DE NITROGNIO (NOX) ................................................................... 88 8.3.13. ACROLENA OU ALDEDO ALLICO (H2C=CH-OH) ...................................... 88

    8.3.14. CETENO (H2C=C=O), CROTONALDEDO (H3C-CH=CH-COH) E DIMETILSULFATO [(H3CO)2SO2] .............................................................................................. 89

    8.4. IRRITANTES SECUNDRIOS ................................................................................ 89 8.4.1. HIDROGNIO SULFURADO; GS SULFDRICO; SULFETO DEHIDROGNIO (H2S) ..................................................................................................... 89 8.4.2. HIDROGNIO FOSFORADO OU FOSFINA (H3P) ........................................... 89

    8.5. TESTES ................................................................................................................... 91

    CAPTULO 9. TOXICOLOGIA DOS METAIS .................................................................... 93 9.1. INTRODUO ......................................................................................................... 94 9.2. RESPOSTA BIOLGICA AOS METAIS ................................................................. 95 9.3. PROCESSOS GERAIS ENVOLVIDOS NA TOXICIDADE DOS METAIS ............. 96 9.4. TESTES ................................................................................................................. 102

    CAPTULO 10. ASPECTOS EPIDEMIOLGICOS DOS ACIDENTES E DOENAS DOTRABALHO NO BRASIL ................................................................................................. 104

    10.1. EPIDEMIOLOGIA ................................................................................................ 105 10.1.1. A CONTRIBUIO DA EPIDEMIOLOGIA NA SADE DO TRABALHADOR.................................................................................................................................... 105

    10.2. ACIDENTE DO TRABALHO ............................................................................... 106 10.2.1. DA DEFINIO DO ACIDENTE DE TRABALHO ......................................... 106

    10.2.2. DA CARACTERIZAO DO ACIDENTE ...................................................... 107

    10.2.3. DA ESTABILIDADE DO ACIDENTADO ........................................................ 107 10.3. DA COMUNICAO DO ACIDENTE ................................................................. 107 10.4. MEDIDA DOS ACIDENTES DO TRABALHO ..................................................... 109

    10.4.1. INCIDNCIA CUMULATIVA (IC) ................................................................... 109 10.4.2. DENSIDADE DE INCIDNCIA (DI) ............................................................... 109 10.4.3. COEFICIENTE DE MORTALIDADE POR ACIDENTE DE TRABALHO(CMAT) ....................................................................................................................... 109 10.4.4.LETALIDADE................................................................................................... 109 10.4.5. COEFICIENTE DE GRAVIDADE................................................................... 110

    10.4.6. EXERCCIO .................................................................................................... 110 10.5. DOENA DO TRABALHO .................................................................................. 111 10.5.1. DA DEFINIO DA DOENA DO TRABALHO ............................................ 111 10.5.2. INDICADORES EPIDEMIOLGICOS DE MORBIDADE ............................. 112

    10.6. EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES E DOENAS DO TRABALHO NO BRASIL...................................................................................................................................... 112 10.7. VIGILNCIA EM SADE DO TRABALHADOR ................................................. 115

    10.7.1. PRINCPIOS ................................................................................................... 116 10.7.2.EXEMPLO DE FICHA DE VIGILNCIA EPIDEMIOLGICA DO CESAT/BAHIA.................................................................................................................................... 116

    10.7.2.1.Dados Gerais da Empresa ........................................................................ 116 10.7.2.2.Dados sobre processo produtivo ............................................................... 116

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    6/299

    SUMRIO

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    iv

    10.7.2.3. Dados Sobre a Populao Trabalhadora ................................................. 117 10.7.2.4. Dados de Controle de Sade Monitoramento Biolgico .......................... 117 10.7.2.5. Monitoramento Ambiental ......................................................................... 117

    10.8. TESTES ............................................................................................................... 119

    CAPTULO 11. DERMATOSES OCUPACIONAIS .......................................................... 121 11.1. INTRODUO ..................................................................................................... 122 11.2. DEFINIO DE DERMATOSE OCUPACIONAL. .............................................. 123 11.3. CAUSAS DE DERMATOSES OCUPACIONAIS ................................................ 123

    11.3.1. AGENTES QUMICOS ................................................................................... 123 11.3.2. DIAGNSTICO .............................................................................................. 123 11.3.3. EXAMES DE LABORATRIO ....................................................................... 124 DERMATOSES OCUPACIONAIS POR AGENTES QUMICOS .............................. 125 11.3.4. CIMENTO ....................................................................................................... 125

    11.3.4.1. Dermatite Irritativa de Contato (DIC): ....................................................... 125 11.3.4.2. Dermatite Alrgica de Contato (DAC) ...................................................... 125

    11.3.5. BORRACHA ................................................................................................... 126 11.3.5.1. Dermatite alrgica de contato (DAC) ....................................................... 129 11.3.5.2. Alergia ao Ltex ........................................................................................ 130 11.3.5.4. Dermatite irritativa de contato (DIC) ......................................................... 132 11.3.5.5. Dermatoses ocupacionais por solventes ................................................. 133 11.3.5.6. Dermatite Irritativa de Contato (DIC) por solventes ................................. 133 11.3.5.7. Dermatite alrgica de contato (DAC) por solventes................................. 134

    11.3.6. DERMATOSES NA INDSTRIA METALRGICA ........................................ 134 11.3.6.1. leos de Corte ou Fludos de Corte......................................................... 134 11.3.6.2. Traumatismos e Ferimentos Diversos...................................................... 135 11.3.6.3. Granulomas de Corpo Estranho ............................................................... 135 11.3.6.4. Dermatite Irritativa de Contato (DIC) na Metalurgia ................................ 135 11.3.6.5. Sarna do leo de Corte ............................................................................ 136 11.3.6.6. Dermatite Alrgica de Contato (DAC) na Metalurgia ............................... 136 11.3.6.7. Alopecia Reversvel .................................................................................. 136 11.3.6.8. Cncer Cutneo ........................................................................................ 136 11.3.6.9. Erupes Acneiformes.............................................................................. 137

    11.3.7. DERMATOSES NA INDSTRIA DE ELETRODEPOSIO DE METAIS ... 138

    11.3.7.1. Dermatite Irritativa de Contato (DIC) - lceras do Cromo ....................... 139

    11.3.7.2. Dermatite Alrgica de Contato (DAC) por Cromo .................................... 139 11.3.7.3. Aes do Cromo Hexavalente sobre as Vias Areas .............................. 140 11.3.7.4. Dermatoses Causadas pelo Nquel .......................................................... 140

    11.3.8. DERMATOSES OCUPACIONAIS POR RESINAS ....................................... 142 11.3.8.1. Resinas epxi ........................................................................................... 142

    11.3.9. DERMATOSES OCUPACIONAIS POR FIBRA DE VIDRO.......................... 145 11.3.9.1. Dermatite Irritativa de Contato (DIC) com a Fibra de Vidro ..................... 146 11.3.9.2. Dermatite Alrgica de Contato (DAC) com a Fibra de Vidro ................... 146 11.3.9.3. Outras doenas: Vias Areas ................................................................... 147

    11.3.9.4. Diagnstico ............................................................................................... 147 11.3.9.5. L de Vidro ................................................................................................ 147

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    7/299

    SUMRIO

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    v

    11.3.9.6. Preveno ................................................................................................. 147 11.4. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ...................................................................... 148 11.5. TESTES ............................................................................................................... 151

    CAPTULO 12. DOENAS OCUPACIONAIS DE RADIAES IONIZANTES ............. 152 12.1. INTRODUO ..................................................................................................... 153 12.2. DOENAS AGUDAS DAS RADIAES IONIZANTES .................................... 156

    12.2.1. SNDROME AGUDA DAS RADIAES ....................................................... 156 12.2.2. LESO LOCAL DA RADIAO .................................................................... 160

    12.3. DOENAS CRNICAS DAS RADIAES IONIZANTES ................................. 162 12.3.1. CATARATA .................................................................................................... 162 12.3.2. CNCER ........................................................................................................ 162 12.3.3. CNCER DE PULMO .................................................................................. 163 12.3.4. OSTEOSSARCOMA E CARCINOMA DOS SEIOS DA FACE ..................... 163 12.3.5. LEUCEMIA ..................................................................................................... 163

    12.4. TESTES ............................................................................................................... 164

    CAPTULO 13. DOENAS CAUSADAS POR FRIO E CALOR ..................................... 166 13.1.INTRODUO ...................................................................................................... 167

    13.1.1. TEMPERATURA CORPORAL ....................................................................... 167 13.2. REGULAO FISIOLGICA DA TROCA DE CALOR (TERMORREGULAO)...................................................................................................................................... 168 13.2.1. PRODUO DE CALOR CORPORAL (TERMOGNESE) ......................... 168 13.2.2. PERDA DE CALOR CORPORAL (TERMLISE) ......................................... 169

    13.3. RADIAO .......................................................................................................... 169

    13.4. CONDUO ........................................................................................................ 170 13.5. EVAPORAO .................................................................................................... 171 13.6. CONVECO ...................................................................................................... 173 13.7. CONDUO E CONVECO NA GUA .......................................................... 174 13.8. ISOLAMENTO TRMICO E A TROCA DE CALOR ........................................... 174 13.9. BALANO TRMICO ENTRE TERMOGNESE E TERMLISE ..................... 175 13.10. O CENTRO TERMORREGULADOR ................................................................ 175

    13.10.1. TERMORRECEPTORES PERIFRICOS E CENTRAIS DO CORPO ....... 176 13.10.2. CONTROLE HIPOTALMICO DA TEMPERATURA CORPORAL ............ 176

    13.10.2.1. Ncleo Simptico Adrenrgico ............................................................... 177

    13.10.2.2. Ncleo Simptico Colinrgico................................................................. 178 13.10.2.3. Ncleo da Termognese por Calafrios .................................................. 179 13.10.2.4. Ncleo da Termognese No-Calafrios ................................................. 179 13.10.2.5. Sudorese e Calafrios Alterao do Ponto de Ajuste ........................... 180

    13.11. ADAPTAO A TEMPERATURAS AMBIENTAIS BAIXAS E DOENAS DOFRIO .............................................................................................................................. 180

    13.11.1. HIPOTERMIA ............................................................................................... 181 13.11.2. LESO NO-CONGELANTE P DE IMERSO OU P DE TRINCHEIRA.................................................................................................................................... 183 13.11.3. LESO DO FRIO GELADURA (FROSTBITE) ....................................... 184

    13.12. DOENAS DO CALOR ..................................................................................... 186 13.12.1. INTERMAO OU INSOLAO OU HIPERTERMIA ................................ 188

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    8/299

    SUMRIO

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    vi

    13.12.2. EXAUSTO DO CALOR .............................................................................. 189 13.12.3.SNCOPE DO CALOR (DESMAIO) .............................................................. 190 13.12.4. CIBRAS DO CALOR .................................................................................. 190 13.12.5. BROTOEJA DO CALOR .............................................................................. 190

    13.13. TESTES ............................................................................................................. 192 CAPTULO 14. O RUDO E SEUS EFEITOS SADE ................................................. 194

    14.1. INTRODUO ..................................................................................................... 195 14.2. AUDIOLOGIA ...................................................................................................... 196 14.3. SOM ..................................................................................................................... 197

    14.3.1. DEFINIO .................................................................................................... 197 14.3.2. CARACTERSTICAS FSICAS ...................................................................... 198

    14.3.2.1. Dimenses da Onda Sonora .................................................................... 198 14.3.2.2. O Decibel .................................................................................................. 199 14.3.2.3. Frequncia ................................................................................................ 199 14.3.2.4. Complexidade ........................................................................................... 199

    14.3.3. QUALIDADES DA ONDA SONORA. ............................................................. 200 14.3.4. PERDA AUDITIVA ......................................................................................... 200

    14.4. ANATOMIA DA ORELHA .................................................................................... 200 14.4.1. ORELHA EXTERNA ...................................................................................... 200 14.4.2. ORELHA MDIA ............................................................................................ 201 14.4.3. ORELHA INTERNA ........................................................................................ 202

    14.5. FISIOLOGIA DA AUDIO ................................................................................. 206 14.5.1. ORELHA EXTERNA ...................................................................................... 206 14.5.2. ORELHA MDIA ............................................................................................ 206 14.5.3. ORELHA INTERNA ........................................................................................ 207 14.5.4. AUDIOMETRIA TONAL ................................................................................. 208

    14.5.4.1. Classificao das perdas auditivas .......................................................... 209 14.6. PERDA AUDITIVA INDUZIDA POR RUDO (PAIR)........................................... 210

    14.6.1. PAIR OCUPACIONAL .................................................................................... 210 14.6.2. PROGRAMA DE PROMOO A SADE AUDITIVA................................... 211 (PROGRAMA DE CONSERVAO AUDITIVA - PCA) ............................................ 211

    14.7. TESTES ............................................................................................................... 213

    CAPTULO 15. LESES POR ESFOROS REPETITIVOS (LER) E DISTRBIOS

    OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT) ............................ 215

    15.1. EVOLUO HISTRICA DOS CONCEITOS .................................................... 216 15.1.1. A LER/DORT E AS SITUAES DE TRABALHO ....................................... 218 15.1.2. FATORES BIOMECNICOS: POSTO E AMBIENTE DE TRABALHO ........ 219

    15.2. FATORES DA ORGANIZAO DO TRABALHO .............................................. 221 15.3. FATORES PSICOSSOCIAIS DO TRABALHO ................................................... 221 15.4. A INTEGRAO ENTRE OS FATORES DE RISCO ......................................... 222 15.5. O DIAGNSTICO DAS DORT/LER .................................................................... 223 15.6. A PREVENO DOS DORT/LER ...................................................................... 225 15.7. TESTES ............................................................................................................... 228

    CAPTULO 16. SADE DOS TRABALHADORES DO MEIO RURAL .......................... 231 16.1. INTRODUO ..................................................................................................... 232

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    9/299

    SUMRIO

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    vii

    16.2. HISTRICO ......................................................................................................... 233 16.3. PANORAMA NACIONAL..................................................................................... 233 16.4. CLASSIFICAO ................................................................................................ 234

    16.4.1. QUANTO A FINALIDADE .............................................................................. 234

    16.4.2. QUANTO A ORIGEM ..................................................................................... 234 16.4.2.1. Inorgnicos ............................................................................................... 234 16.4.2.2. Orgnicos .................................................................................................. 235

    16.5. CLASSIFICAO TOXICOLGICA ................................................................... 235 16.5.1. TOXICIDADES ............................................................................................... 235 16.5.2. SITUAO MUNDIAL .................................................................................... 236 16.5.3. SITUAO NO BRASIL ................................................................................. 236

    16.6. EXPOSIO AOS AGROTXICOS ................................................................... 237 16.6.1. PROFISSIONAIS ........................................................................................... 237

    16.6.1.1. Trabalhadores nas Indstrias Formuladoras - Sntese ............................ 237

    16.6.1.2. Trabalhadores de Transporte e Comrcio ............................................... 237 16.6.1.3. Trabalhadores de Firmas Desinsetizadoras ............................................ 237 16.6.1.4. Trabalhadores de Sade Pblica ............................................................. 237 16.6.1.5. Trabalhadores na Agricultura ................................................................... 237 16.6.1.6. Populao em Geral ................................................................................. 238

    16.7. INSETICIDAS ...................................................................................................... 238 16.7.1. ORGANOFOSFORADOS E CARBAMATADOS ........................................... 238 16.7.2. ORGANOCLORADOS ................................................................................... 239

    16.7.2.1. Hexaclorocicloexano (HCH) ..................................................................... 239 16.7.2.2. Fungicidas ................................................................................................. 240 16.7.2.3. Herbicidas ................................................................................................. 241 16.7.2.4. Raticidas ................................................................................................... 242

    16.7.3. PERITRIDES ............................................................................................... 242 16.8.EXPOSIO MLTIPLA ...................................................................................... 243 16.9. EFEITOS TXICOS PROVOCADOS PELOS PRAGUICIDAS UTILIZADOS NA REA DA SADE ......................................................................................................... 244 16.10. PREVENO .................................................................................................... 245

    16.10.1. MEDIDAS INDIVIDUAIS DE CONTROLE ................................................... 245 16.10.2. MEDIDAS COLETIVAS................................................................................ 245 16.10.3. CONTROLE LEGAL E ECONMICO ......................................................... 245

    16.11. TESTES ............................................................................................................. 246 CAPTULO 17. ESTRESSE .............................................................................................. 248

    17.1. CONCEITO DE ESTRESSE ............................................................................... 249 17.2. FATORES DE ESTRESSE NO TRABALHO ...................................................... 253

    17.2.1. FATORES DE ESTRESSE PSQUICO NO TRABALHO .............................. 255 17.2.2. REAES AO ESTRESSE NO TRABALHO ................................................ 255

    17.3. PREVENO DO ESTRESSE ........................................................................... 258 17.3.1. AES RELACIONADAS COM O INDIVDUO ............................................ 258 17.3.2. AES NAS SITUAES DE TRABALHO ................................................. 259

    17.4. TESTES ............................................................................................................... 261 CAPTULO 18. DOENAS OCUPACIONAIS PULMONARES ...................................... 263

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    10/299

    SUMRIO

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    viii

    18.1. INTRODUO ..................................................................................................... 264 18.2. DIAGNSTICO .................................................................................................... 265

    18.2.1. HISTRIA OCUPACIONAL ........................................................................... 265 25.2.2. MTODOS DE IMAGEM ........................................................................... 265

    25.2.2.2. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE ALTA RESOLUO (TCAR)DE TRAX 266 25.2.3. PROVA DE FUNO RESPIRATRIA ................................................... 266 25.2.4. BIPSIA PULMONAR ............................................................................... 266

    18.3. TIPOS DE PNEUMOCONIOSES ........................................................................ 267 18.3.1. PNEUMOCONIOSES NO FIBROGNICAS ............................................... 267 18.3.2. PNEUMOCONIOSES FIBROGNICAS ........................................................ 267

    18.3.2.1.1 Formas de Silicose ................................................................................. 268 18.3.2.1.1.1. Silicose Crnica ................................................................................. 268 18.3.2.1.1.2. Silicose Acelerada ou Sub-Aguda ...................................................... 268

    18.3.2.1.1.3. Silicose Aguda ................................................................................... 269 18.3.2.1.2. Complicaes da silicose ...................................................................... 269 18.3.2.2. Doenas Relacionadas ao Asbesto ......................................................... 269 18.3.2.2.1. Asbestose ............................................................................................. 270 18.3.2.2.2. Doena Pleural pelo Asbesto ............................................................... 270 18.3.2.2.3. Cncer de Pulmo ................................................................................ 271 18.3.2.2.4. Mesotelioma maligno de pleura ........................................................... 271 18.3.2.3. Pneumoconiose dos Trabalhadores de Carvo ...................................... 272 18.3.2.4. Pneumoconiose por Poeira Mista ............................................................ 272 18.3.2.5. Pneumoconiose por Abrasivos ................................................................. 273 18.3.2.6. Pneumoconiose por Metais Duros ........................................................... 273 18.3.2.7. Pneumopatia pelo Berlio ......................................................................... 273

    18.4. ASMA OCUPACIONAL ....................................................................................... 274 18.4.1. INTRODUO ............................................................................................... 274 18.4.2. DIAGNSTICO CLNICO OCUPACIONAL ................................................... 275 18.4.3. DIAGNSTICO LABORATORIAL ................................................................. 275

    18.4.3.1. Curva de Peak-Flow ................................................................................. 275 18.4.3.2. Outros testes de funo pulmonar ........................................................... 276 18.4.3.3. Testes cutneos e sorolgicos: ................................................................ 276

    18.4.4. TRATAMENTO E CONDUTA ........................................................................ 277 18.4.5. PROGNSTICO ............................................................................................ 277

    BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 278

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    11/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    1

    CAPTULO 1. EVOLUO DOS CONCEITOS EM SADE E TRABALHO

    OBJETIVOS DO ESTUDO

    Caracterizar como foram sendo transformadas as aes na rea da sade e trabalho,passando da medicina do trabalho para a sade ocupacional e, atualmente, a sade dostrabalhadores destacando as aes dos higienistas ocupacionais e engenheiros de

    segurana do trabalho frente a esta ampliao dos conceitos.

    Ao trmino deste captulo voc dever estar apto a:

    Reconhecer a evoluo dos conceitos em sade e trabalho; Definir a atuao do engenheiro de segurana sob o prisma da sade dos

    trabalhadores; Classificar os fatores de risco presentes nas situaes de trabalho; Elaborar um relatrio sobre condies de trabalho a ser apresentado para

    trabalhadores ou empregadores.

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    12/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    2

    1.1. A RELAO SADE E TRABALHO: ASPECTOS CONCEITUAIS

    As relaes entre trabalho e sade tm sua origem e desenvolvimentos determinadospor cenrios polticos e sociais amplos e complexos (MENDES e DIAS, 1991). O processosade-doena dos trabalhadores-como e por que adoecem e morrem, e como soorganizadas e atendidas suas necessidades de sade pode ser considerado umaconstruo social diferenciada no tempo, lugar, e dependente da organizao dassociedades (DIAS, 2000).

    Quadro 1.1.

    O conceito de Sade da Organizao Mundial da Sade refere-se a um

    completo estado de bem estar fsico, mental e social e no apenas a ausncia dedoenas.

    Dejours (1986) criticando o conceito da Organizao Mundial de Sade enfatiza anoo de um processo esttico e o bem-estar como impossvel de ser atingido. Este autordestaca a contribuio da Fisiologia, da Psicossomtica e da Psicopatologia do trabalhopara a compreenso do conceito de sade.

    A fisiologia contribui com a noo de que o organismo humano vive em um estadodinmico, sendo importante observar a variabilidade, ou seja, que o estado de sade odo movimento, que devemos deixar os movimentos do corpo livres no trabalho, no osfixando de maneira rgida.

    A Psicossomtica observa as relaes entre corpo e mente, demonstrando que cadapessoa tem sua histria, seu passado, suas experincias, sua famlia e que ter sadesignifica ter desejo e esperana.

    A Psicopatologia do trabalho aponta o trabalho como um elemento fundamental paraa sade, sendo a organizao do trabalho o aspecto do trabalho de maior impacto nofuncionamento psquico.

    A redefinio do conceito de sade da OMS proposta por Dejours (1986) foi:A sade para cada homem, mulher ou criana ter meios de traar um caminho

    pessoal e original, em direo ao bem- estar fsico, psquico e social: Ou seja: Para o bem-estar fsico, preciso a liberdade de regular as variaes que

    aparecem no estado do organismo; O bem-estar psquico, simplesmente, a liberdade que deixada ao desejo

    de cada um na organizao de sua vida; O bem-estar social, a liberdade de se agir individual e coletivamente sobre

    a organizao do trabalho, ou seja, sobre o contedo do trabalho, a divisodas tarefas, a diviso dos homens e as relaes que mantm entre si.

    O trabalho tambm apresenta diferentes definies. Adotamos a definio de Abbagnano (1999) que diz: o trabalho representa a atividade cujo fim utilizar as coisasnaturais ou modificar o ambiente e satisfazer s necessidades humanas

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    13/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    3

    A capacidade humana de executar o trabalho foi chamada de fora de trabalho. Afora de trabalho enquanto capacidade de realizar trabalho fsico e psquico pelo homemadquiriu a dimenso de valor econmico e social. Enquanto valor econmico, a fora de

    trabalho pode ser trocada por salrio e constituir-se em um mercado de trabalho regido,socialmente, por leis.Segundo Braverman (1980) desse modo pe -se a funcionar o processo de trabalho,

    o qual embora seja em geral um processo para criar valores teis, tornou-se agoraespecificamente um processo para a expanso do capital, para a criao do lucro.

    Segundo a Organizao Mundial da Sade, os objetivos da Sade no Trabalhoincluem o prolongamento da expectativa de vida e minimizao da incidncia deincapacidade, de doena, de dor, e do desconforto, at o melhoramento das habilidadesem relao a sexo e idade, incluindo a preservao das capacidades de reserva e dosmecanismos de adaptao, a proviso da realizao pessoal, fazendo com que as pessoas

    sejam sujeitos criativos; o melhoramento da capacidade mental e fsica e da adaptabilidadea situaes novas e mudanas das circunstncias de trabalho e de vida (WHO, 1975).

    Mendes (2003) analisando o objeto da Doena no Trabalho inclui o estudo dosofrimento, dano ou agravo sade, causado, desencadeado, agravado pelo trabalho oucom ele relacionado. Historicamente o conceito de doena transita entre o subjetivo e oobjetivo, entre o individual e o coletivo, entre o fsico e o mental.

    Mendes (2003) identifica duas dimenses das doenas: u ma dimenso individualonde a noo de dano ou agravo sade fortemente influenciada por valores culturais,variando de acordo com o nvel de sensibilidade e idiossincrasias de cada pessoa; e outrode dimenso populacional que resultante do complexo somatrio das dimensesindividuais, socialmente definidas em funo da dinmica de padres culturais,econmicos, polticos, cientficos e do conhecimento/informao. As noes so diversasno correr do tempo, num dado momento e em diferentes sociedades.

    1.2. MEDICINA NO TRABALHO

    A relao entre o trabalho e a sade/doena - constatada desde a Antiguidade eexacerbada a partir da Revoluo Industrial - nem sempre se constituiu em foco deateno. Afinal, no trabalho escravo ou no regime servil, inexistia a preocupao empreservar a sade dos que eram submetidos ao trabalho, interpretado como castigo.

    Mendes e Waissmann (2003) descrevem que no antigo Egito iniciaram-se descriesde doenas associadas ao trabalho como as dermatites pruriginosas laborais atendidaspelos mdicos nas construes e minas. Na Grcia, Hipcrates (460-375 a.C.) estabeleceuensinamentos ligados s relaes entre ambiente (clima, qualidade da gua) e sade,descrevendo tambm a lombociatalgia para quem trabalhava a cavalo. Outros autorestambm descrevem problemas pulmonares em mineiros (Galeno,129-199 d.C.).

    A relao entre trabalho e doena foi primeiramente organizada para 50 profissespor Ramazzini, no clssico livro De Morbis Artificum Diatriba ("As Doenas dosTrabalhadores"), publicada em Mdena, Itlia, em 1700. Este mdico viveu de 1633 a 1714,sendo considerado o "Pai da Medicina do Trabalho".

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    14/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    4

    Mendes e Waissmann (2003) descrevem as contribuies de Ramazzini para aMedicina do Trabalho. Destacam em primeiro lugar, a preocupao e o compromisso comuma classe de pessoas habitualmente esquecida e menosprezada pela Medicina. Com

    efeito, praticou e ensinou Ramazzini que, "o mdico que vai atender a um paciente operriono deve se limitar a pr a mo no pulso, com pressa, assim que chegar, sem informar-sede suas condies; no delibere de p sobre o que convm ou no convm fazer, comose no jogasse com a vida humana; deve sentar-se, com a dignidade de um juiz, ainda queno seja em cadeira dourada, como em casa de magnatas; sente-se mesmo num banco,examine o paciente com fisionomia alegre e observe detidamente o que ele necessita dosseus conselhos mdicos e dos seus cuidados preciosos.

    Outra contribuio destacada para Ramazzini foi sua viso sobre a determinaosocial da doena, mostrando a necessidade do estudo das relaes entre o estado desade de uma dada populao e suas condies de vida, que so determinadas pela sua

    posio social; os fatores que agem de uma forma particular ou com especial intensidadeno grupo, por causa de sua posio social e ocupao.

    Em terceiro lugar, destaca-se a contribuio metodolgica de Ramazzini, quandovoltada s questes de sade e trabalho. A abordagem utilizada por Ramazzini inclui avisita ao local de trabalho e entrevistas com trabalhadores. abordagem clnico-individual,Ramazzini agregou a prtica da histria ou anamnese ocupacional: que arte exerce? Umaquarta rea na qual este mdico deixou sua contribuio foi a da sistematizao eclassificao das doenas segundo a natureza e o grau de nexo com o trabalho.

    Com o advento da Revoluo Industrial, o trabalhador "livre" para vender sua forade trabalho tornou-se presa da mquina, de seus ritmos, dos ditames da produo queatendiam necessidade de acumulao rpida de capital e de mximo aproveitamento dosequipamentos, antes de se tornarem obsoletos. As jornadas extenuantes, em ambientesextremamente desfavorveis sade, s quais se submetiam tambm mulheres ecrianas, eram frequentemente incompatveis com a vida. A aglomerao humana emespaos inadequados propiciava a acelerada proliferao de doenas infectocontagiosas,ao mesmo tempo em que a periculosidade das mquinas era responsvel por mutilaese mortes (MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA, 1997).

    A medicina do trabalho surge na Inglaterra, na primeira metade do sculo XIX, coma Revoluo Industrial. Naquele momento, o consumo da fora de trabalho, resultante dasubmisso dos trabalhadores a um processo acelerado e desumano de produo, exigiuuma interveno, sob pena de tornar invivel a sobrevivncia e reproduo do prprioprocesso (MENDES e DIAS, 1991).

    As propostas controvertidas de intervir nas empresas, quela poca, expressaram-se numa sucesso de normatizaes e legislaes na Inglaterra. A presena de um mdicono interior das unidades fabris representava, ao mesmo tempo, um esforo em detectar osprocessos danosos sade e uma espcie de brao do empresrio para recuperao dotrabalhador, visando ao seu retorno linha de produo, num momento em que a fora detrabalho era fundamental industrializao emergente. Instaurava-se assim o que seriauma das caractersticas da Medicina do Trabalho, mantida, at hoje, onde predomina naforma tradicional: sob uma viso eminentemente biolgica e individual, no espao restritoda fbrica, numa relao unvoca e unicausal, buscam-se as causas das doenas eacidentes (MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA, 1997).

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    15/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    5

    A Medicina do Trabalho orienta-se pela teoria da unicausalidade, ou seja, para cadadoena, um agente etiolgico. Transplantada para o mbito do trabalho, vai refletir-se napropenso a isolar riscos especficos e, dessa forma, atuar sobre suas consequncias,

    medicalizando em funo de sintomas e sinais ou, quando muito, associando-os a umadoena legalmente reconhecida. Como frequentemente as doenas originadas no trabalhoso percebidas em estgios avanados, at porque muitas delas, em suas fases iniciais,apresentam sintomas comuns a outras patologias, torna-se difcil, sob essa tica, identificaros processos que as geraram, bem mais amplos que a mera exposio a um agenteexclusivo. A constatao de doenas na seleo da fora de trabalho funciona, na prtica,como um recurso para impedir o recrutamento de indivduos cuja sade j estejacomprometida (MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA, 1997).

    A implantao de servios baseados neste modelo rapidamente expandiu-se poroutros pases, paralelamente ao processo de industrializao e, posteriormente, aos pases

    perifricos, com a transnacionalizao da economia. Os servios funcionavam ao mesmotempo enquanto instrumento de criar e manter a dependncia do trabalhador (efrequentemente tambm de seus familiares), ao lado do exerccio direto do controle dafora de trabalho (MENDES e DIAS, 1991).

    1.3. SADE OCUPACIONAL

    O capital, historicamente, incorpora o trabalho da mulher, o infantil e o da juventudedesde o primeiro ciclo da Revoluo Industrial, na Inglaterra, como forma de ampliar suaexplorao, dilatando a margem de mais-valia, o que concorre para o barateamento dopreo da fora de trabalho. No incio do sculo XX so implantadas modificaes doprocesso de trabalho para ampliao da mais valia como o fordismo e a administraocientfica do trabalho de Taylor.

    O fordismo, como maneira de organizao do trabalho, surge em 1914, quandoHenry Ford introduz a jornada de 8 horas a cinco dlares de recompensa para o trabalhoem linha de montagem, e se espraia pelo setor produtivo. Apresentando momentos dediferenciao em seu desenvolvimento, pode-se dizer que atinge a maturidade no perodoimediato ao ps-guerra, persistindo at 1973. "O fordismo pode ser compreendido,fundamentalmente, como a forma pela qual a indstria e o processo de trabalhoconsolidaram-se ao longo deste sculo [...], e cujos elementos constitutivos bsicos eramdados pela produo em massa, atravs da linha de montagem e de produtos maishomogneos; atravs do controle do tempo e movimentos, pelo cronmetro taylorista eproduo em srie fordista" (ANTUNES, 1995).

    O fordismo e o taylorismo, que predominaram em grande parte da indstriacapitalista, apresentam ainda como caracterstica "a separao entre a elaborao e aexecuo no processo de trabalho: fragmentao das funes, trabalho parcelar pelaexistncia de unidades fabris concentradas e verticalizadas e pela construo econsolidao do operrio-massa, do trabalhador fabril" (ANTUNES, 1995). Estruturou-se,enfim, o novo sistema de reproduo da fora do trabalho com a sociedade do consumoem massa.

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    16/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    6

    Num contexto econmico e poltico como o da guerra e o do ps-guerra, o custoprovocado pela perda de vidas - abruptamente por acidentes do trabalho, ou maisinsidiosamente por doenas do trabalho - comeou a ser tambm sentido tanto pelos

    empregadores (vidos de mo-de-obra produtiva), quanto pelas companhias de seguro, svoltas com o pagamento de pesadas indenizaes por incapacidade provocada pelotrabalho (MENDES e DIAS, 1991).

    A tecnologia industrial evolura de forma acelerada, traduzida pelo desenvolvimentode novos processos industriais, novos equipamentos, e pela sntese de novos produtosqumicos, simultaneamente ao rearranjo de uma nova diviso internacional do trabalho.Entre muitos outros desdobramentos deste processo, desvela-se a relativa impotncia damedicina do trabalho para intervir sobre os problemas de sade causados pelos processosde produo. Crescem a insatisfao e o questionamento dos trabalhadores - ainda queapenas 'objeto' das aes - e dos empregadores, onerados pelos custos diretos e indiretos

    dos agravos sade de seus empregados.Durante esse processo de expanso do capitalismo, o Estado desenvolve polticas

    sociais e de emprego afinadas com as exigncias de produtividade e de lucratividade dasempresas sob controle do grande capital. Essa interveno regulacionista, longe de seruniversal, voltada unilateralmente para a fora de trabalho economicamente ativa einserida no sistema produtivo (ABRAMIDES e CABRAL, 2003).

    Considerando esta tica de interveno do Estado no processo de expanso docapitalismo que podemos definir o surgimento das aes de Sade Ocupacional. Definidapelo Comit Misto da OIT-OMS, reunido em Genebra, em 1950 como: "A SadeOcupacional deveria ter em mira: a promoo e manuteno do mais alto grau de bem-estar fsico, mental e social em todas as ocupaes; a preveno, entre os trabalhadores,de distanciamentos da sade causados pelas condies de trabalho; a proteo dostrabalhadores em seus empregos de riscos resultantes de fatores adversos para a sade;a colocao e manuteno do trabalhador num ambiente de trabalho adaptado aos seusequipamentos fisiolgicos; para resumir: a adaptao do trabalho ao homem e cadahomem sua atividade" (MENDES e DIAS, 1991).

    A Sade Ocupacional surge, sobretudo, dentro das grandes empresas, com o traoda multi e interdisciplinaridade, com a organizao de equipes progressivamentemultiprofissionais, e a nfase na Higiene Industrial, refletindo a origem histrica dosservios mdicos e o lugar de destaque da indstria nos pases "industrializados". Aracionalidade "cientfica" da atuao multiprofissional e a estratgia de intervir nos locaisde trabalho, com a finalidade de controlar os riscos ambientais, refletem a influncia dasescolas de sade pblica. A sade ocupacional foi compreendida por Mendes e Dias(1991) como uma atividade de Sade Pblica dirigida para uma comunidade detrabalhadores, sejam os empregados de um estabelecimento, ou os trabalhadores de umaregio ou de uma categoria profissional.

    O enfoque da Sade Ocupacional ampliou a atuao da medicina do trabalho, queanteriormente se voltava basicamente para o tratamento dos doentes, passando a avaliarno apenas o indivduo, mas o grupo de trabalhadores expostos e no expostos a agentespatognicos, visando a agir no nvel de preveno, no ambiente de trabalho.

    Na Sade Ocupacional os agentes/riscos so assumidos como peculiaridadesnaturalizadas" de objetos e meios de trabalho, descontextualizados das razes que se

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    17/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    7

    situam em sua origem, repetindo na prtica, as limitaes da Medicina do Trabalho. Asmedidas que deveriam assegurar a sade do trabalhador, em seu sentido mais amplo,acabam por restringir-se a intervenes pontuais sobre os riscos mais evidentes. Enfatiza-

    se a utilizao de equipamentos de proteo individual, em detrimento dos que poderiamsignificar a proteo coletiva; normatizam-se formas de trabalhar consideradas seguras, oque, em determinadas circunstncias, conforma apenas um quadro de prevenosimblica. Assumida essa perspectiva, so imputados aos trabalhadores os nus poracidentes e doenas, concebidos como decorrentes da ignorncia e da negligncia,caracterizando uma dupla penalizao (MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA, 1997).

    A incorporao da Sade Ocupacional e a experincia dos pases industrializadoscom os servios mdicos de fbrica transformaram-se na Recomendao 112, sobre"Servios de Medicina do Trabalho", aprovada pela Conferncia Internacional do Trabalhoem 1959. Este primeiro instrumento normativo de mbito internacional passou a servir

    como referencial e paradigma para o estabelecimento de diplomas legais nacionais. Aexpresso 'servio de medicina do trabalho' designa um servio organizado nos locais detrabalho ou em suas imediaes, destinado a:

    Assegurar a proteo dos trabalhadores contra todo o risco que prejudique asua sade e que possa resultar de seu trabalho ou das condies em queeste se efetue;

    Contribuir adaptao fsica e mental dos trabalhadores, em particular pelaadequao do trabalho e pela sua colocao em lugares de trabalhocorrespondentes s suas aptides;

    Contribuir ao estabelecimento e manuteno do nvel mais elevado possveldo bem-estar fsico e mental dos trabalhadores" (OIT, 1966).

    A atuao da medicina do trabalho constitui fundamentalmente uma atividademdica, e o "locus" de sua prtica d-se tipicamente nos locais de trabalho. Faz parte desua razo de ser a tarefa de cuidar da "adaptao fsica e mental dos trabalhadores",supostamente contribuindo na colocao destes em lugares ou tarefas correspondentes saptides. A "adequao do trabalho ao trabalhador", limitada interveno mdica,restringe-se seleo de candidatos a emprego e tentativa de adaptar os trabalhadoress suas condies de trabalho, atravs de atividades educativas. Atribui-se medicina dotrabalho a tarefa de "contribuir ao estabelecimento e manuteno do nvel mais elevadopossvel do bem-estar fsico e mental dos trabalhadores", conferindo-lhe um carter deonipotncia, prprio da concepo positivista da prtica mdica (MENDES e DIAS, 1991).

    A Sade Ocupacional avana numa proposta interdisciplinar, com base na HigieneIndustrial, relacionando ambiente de trabalho-corpo do trabalhador. Incorpora a teoria damulticausalidade, na qual um conjunto de fatores de risco considerado na produo dadoena, avaliada atravs da clnica mdica e de indicadores ambientais e biolgicos deexposio e efeito. Os fundamentos tericos de Leavell & Clark, a partir do modelo daHistria Natural da Doena, entendem-na, em indivduos ou grupos, como derivada dainterao constante entre o agente, o hospedeiro e o ambiente, significando umaprimoramento da multicausalidade simples (MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA, 1997).

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    18/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    8

    1.4. SADE DOS TRABALHADORES

    A sade do trabalhador surge nos pases industrializados do mundo ocidental -notadamente Alemanha, Frana, Inglaterra, Estados Unidos e Itlia - mas que se espraiamundo afora. So os anos da segunda metade da dcada de 60, (maio de 1968 tipifica aexteriorizao deste fenmeno) marcados pelo questionamento do sentido da vida, o valorda liberdade, o significado do trabalho na vida, o uso do corpo, e a denncia do obsoletismode valores j sem significado para a nova gerao. Estes questionamentos abalaram aconfiana no Estado e puseram em xeque o lado "sagrado" e "mstico" do trabalho -cultivado no pensamento cristo e necessrio na sociedade capitalista (MENDES e DIAS,1991).

    Este processo leva, em alguns pases, exigncia da participao dos trabalhadoresnas questes de sade e segurana. Como resposta ao movimento social e dostrabalhadores, novas polticas sociais tomam a roupagem de lei, introduzindo significativasmudanas na legislao do trabalho e, em especial, nos aspectos de sade e seguranado trabalhador. Assim, por exemplo, na Itlia, a Lei 300, de 20 de maio de 1970 ("Normeper la libert e la dignit dei lavoratori, della libert sindicale e dell'attivit sindicale nei luoghidi lavoro"), mais conhecida como "Estatuto dos Trabalhadores", incorpora princpiosfundamentais da agenda do movimento de trabalhadores, tais como a no delegao davigilncia da sade ao Estado, a no monetizao do risco, a validao do saber dostrabalhadores e a realizao de estudos e investigaes independentes, oacompanhamento da fiscalizao, e o melhoramento das condies e dos ambientes detrabalho (MENDES e DIAS, 1991).

    Toda esta nova legislao tem como pilares comuns o reconhecimento do exercciode direitos fundamentais dos trabalhadores, entre eles, o direito informao (sobre anatureza dos riscos, as medidas de controle que esto sendo adotadas pelo empregador,os resultados de exames mdicos e de avaliaes ambientais), e outros; o direito recusaao trabalho em condies de risco grave para a sade ou a vida; o direito consulta prviaaos trabalhadores, pelos empregadores, antes de mudanas de tecnologia, mtodos,processos e formas de organizao do trabalho: e o estabelecimento de mecanismos departicipao, desde a escolha de tecnologias, at, em alguns pases, a escolha dosprofissionais que iro atuar nos servios de sade no trabalho (MENDES e DIAS, 1991).

    Ao lado deste processo de questionamentos da participao do Estado, na dcada

    de 70 ocorrem profundas mudanas nos processos de trabalho. Num sentido mais "macro",observa-se uma forte tendncia de "terciarizao" da economia dos pases desenvolvidos,isto , o incio de declnio do setor secundrio (indstria), e o crescimento acentuado dosetor tercirio (servios), com bvia mudana do perfil da fora de trabalho empregada.

    Ocorre tambm um processo de transferncia de indstrias para o Terceiro Mundo,- uma verdadeira transnacionalizao da economia - principalmente daquelas queprovocam poluio ambiental ou risco para a sade (ex: asbesto, chumbo, agrotxicos, eoutros), e das que requerem muita mo-de-obra, com baixa tecnologia, como o casotpico das "maquiladoras", que rapidamente se instalam nas "zonas livres" ou "francas",mundo afora. Os pases do Terceiro Mundo, afligidos pela elevao dos preos do petrleo

    e pressionados pela recesso que se instala universalmente, buscam o desenvolvimento

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    19/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    9

    econmico a qualquer custo, aceitando e estimulando esta transferncia, supostamentecapaz de amenizar o desemprego e gerar divisas (MENDES e DIAS, 1991).

    Num nvel mais "micro", observa-se a rpida implantao de novas tecnologias, entre

    as quais podem ser destacadas duas vertentes que se completam: a automao (mquinasde controle numrico, robs, e outros) e a informatizao. As novas tecnologias permitiramao capital diminuir sua dependncia dos trabalhadores, ao mesmo tempo em queaumentaram a possibilidade de controle. Ressurge, com vigor redobrado, o taylorismo,atravs de dois de seus princpios bsicos: o da primazia da gerncia (via apropriao doconhecimento operrio e pela interferncia direta nos mtodos e processos), e o daimportncia do planejamento e controle do trabalho. Contudo, se de um lado o capital buscareeditar as bases da "administrao cientfica do trabalho", agora mais sofisticada, deoutro, abre espao a formas de "resistncia" desenvolvidas pelos trabalhadores. Comoconsequncias so desenvolvidas, nos pases escandinavos, experincias dos "grupos

    semi-autnomos", na Volvo e Saab, numa perspectiva de ampliar a participao dostrabalhadores, diminuindo os enfrentamentos (MENDES e DIAS, 1991).

    A sade do trabalhador ampliou as concepes hegemnicas na temtica da relaosade e trabalho e que estabeleciam um vnculo causal entre a doena e um agenteespecfico (medicina do trabalho), ou entre a doena e um grupo de fatores de riscopresentes no ambiente de trabalho (sade ocupacional) (MENDES e DIAS, 1991).

    Quadro 1.2.

    O conceito da sade ocupacional, com a nova viso do carter histrico doprocesso sade-doena, passou a ser criticado, pois o trabalho visto apenas

    como um problema ambiental, onde o trabalhador est exposto a agentes fsicos,

    qumicos, biolgicos e psicolgicos. Laurell (1981) chama a ateno para o fato

    de que o trabalho uma categoria social e, por isso, deve ser tratado como tal

    em suas determinaes mltiplas e no s como um fator de risco ambiental".

    Na sade ocupacional as condies de trabalho so analisadas dentro do prisma deriscos ambientais (fsicos, qumicos, biolgicos) sendo a preveno das patologiasproposta em termos da reduo da exposio a esses agentes. O novo enfoque da sadedos trabalhadores vem desenvolvendo campos do conhecimento visando melhoria dosambientes de trabalho, como a ergonomia, e delimitando um novo fator que gera problemaspara a sade dos trabalhadores: a organizao do trabalho.

    O objeto da Sade do Trabalhador pode ser definido como o processo de sade edoena dos grupos humanos, em sua relao com o trabalho. Representa um esforo de

    compreenso deste processo - como e porque ocorre - e do desenvolvimento dealternativas de interveno que levem transformao em direo apropriao pelos

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    20/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    10

    trabalhadores, da dimenso humana do trabalho, numa perspectiva teleolgica (MENDESe DIAS, 1991).

    A sade do trabalhador considera o trabalho, enquanto organizador da vida social,

    como o espao de dominao e submisso do trabalhador pelo capital, mas, igualmente,de resistncia, de constituio, e do fazer histrico. Nesta histria os trabalhadoresassumem o papel de atores, de sujeitos capazes de pensar e de se pensarem, produzindouma experincia prpria, no conjunto das representaes da sociedade (MENDES e DIAS,1991).

    Um dos desafios atuais da sade dos trabalhadores a integrao das aes com aSade Ambiental. A Sade Ambiental desenvolveu-se na Sade Pblica fortementeimpulsionada tanto pelo controle de fatores biolgicos (vetores) como pelodesenvolvimento da engenharia sanitria e ambiental em torno de tecnologias deinterveno sobre fatores de risco ambiental.

    1.5. A INVESTIGAO DA RELAO SADE E TRABALHO

    A Sade do Trabalhador , por natureza, um campo interdisciplinar emultiprofissional. As anlises dos processos de trabalho, pela sua complexidade, tornam ainterdisciplinaridade uma exigncia intrnseca que necessita de preservar a autonomia e aprofundidade do conhecimento de cada profissional envolvido e de articular os fragmentosdos resultados das informaes, ultrapassando e ampliando a compreensopluridimensional dos objetos.

    Entre as vrias reas de conhecimento e especialidades envolvidas na sade dotrabalhador, destacam-se as cincias sociais e humanas (como a psicologia, a assistnciasocial e a sociologia), as cincias biomdicas (como a clnica e suas especialidades, amedicina do trabalho e a toxicologia), e reas mais tecnolgicas (como a higiene eengenharia de segurana do trabalho, a engenharia de produo e a ergonomia) (PORTOe ALMEIDA, 2002).

    No trabalho atual dos profissionais de sade no trabalho necessrio oconhecimento de diferentes disciplinas incorporadas no processo de ampliao da atuaonas situaes de trabalho. Neste sentido, hoje o engenheiro de segurana do trabalhonecessita dominar as bases dos seguintes contedos para compreender as condies detrabalho: a toxicologia, a higiene ocupacional, a ergonomia. Ao mesmo tempo para

    compreender as repercusses na sade dos trabalhadores os contedos da epidemiologia,da clnica da medicina do trabalho e da psicodinmica do trabalho. A Higiene Industrial foi descrita por Patty como a Higiene Industrial visa antecipar e

    reconhecer situaes potencialmente perigosas e aplicar medidas de controle deengenharia antes que agresses srias a sade do trabalhador sejam observadas (DELLAROSA e COLACIOPPO, 1993).

    Em relao s metodologias de investigao da relao sade e trabalho, Laurell &Noriega (1989), no intuito de distanciarem-se do conceito de risco, por considerarem-noinsuficiente para apreender a lgica global do processo de trabalho, utilizam-se do quedenominam categoria carga de trabalho - abarcando tanto as fsicas, qumicas e mecnicas

    quanto as fisiolgicas e psquicas - que interatuam dinamicamente entre si e com o corpodo trabalhador. Assinalam, no entanto, que estas ltimas "no tm materialidade visvel

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    21/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    11

    externa ao corpo humano", apontando, sem sistematizar, os componentes do processo detrabalho capazes de ger-las. Posteriormente, Noriega (1993) passa a atribuir sexigncias - enquanto requerimentos decorrentes da organizao do trabalho e da

    atividade do trabalhador - um papel relevante na conformao dos perfis de sade-doenados coletivos de trabalhadores, ao distingui-las dos riscos, relacionados aos objetos emeios de trabalho.

    Para melhor compreender como riscos ou cargas e exigncias se manifestamconcretamente nos processos de trabalho, utilizado a metodologia Ergonomia Francesa(WISNER, 1987), com base na distino entre tarefa prescrita e atividade real. Essadistino, previsvel, diante da variabilidade de condies de trabalho, ocorre em face desituaes que exigem a interferncia constante dos trabalhadores para manter acontinuidade da produo ou prevenir eventos acidentrios.

    A ergonomia analisa a atividade do trabalhador. A atividade um conjunto de

    regulaes contextualizadas, no qual tomam parte tanto a variabilidade do ambiente quantoa variabilidade prpria ao trabalhador. Por isso, para se entender o que o trabalho deuma pessoa, necessrio observar e analisar o desenrolar de sua atividade em situaesreais, em seu contexto, procurando identificar tudo o que muda e faz o trabalhador tomarmicro-decises a fim de resolver os pequenos, mas recorrentes problemas do cotidiano daproduo. Nos ambientes de trabalho, as circunstncias em que o trabalhador se encontrapara operar so incoerentes com os objetivos de qualidade da produo e incompatveiscom suas caractersticas e necessidades humanas para realizar tarefas (ASSUNO,2003).

    Um processo de investigao que objetive formular propostas de transformaorequer um minucioso trabalho emprico que capte as exigncias do trabalho e ascaractersticas da situao de trabalho, avaliando as caractersticas do ambiente detrabalho (aspectos fsicos, qumicos e biolgicos), dos instrumentos de trabalho (mquinas,ferramentas, fontes de informaes) do espao de trabalho (localizao, arranjo edimensionamento dos postos de trabalho) e da organizao do trabalho (diviso dastarefas e diviso dos trabalhadores).

    Na investigao da relao sade e trabalho a epidemiologia contribui para fornecerum quadro das repercusses de sade observa das. A epidemiologia definida como oestudo das distribuies e dos determinantes dos estados de sade nas populaeshumanas (LILIENFIELD, 1980).

    Na compreenso das repercusses na sade e estratgias de enfrentamento dostrabalhadores se utilizam os postulados da Psicopatologia do Trabalho ou, maisrecentemente, da Psicodinmica do Trabalho (DEJOURS e ABDOUCHELI, 1994) quebuscam desvelar na organizao real do trabalho as estratgias adaptativasintersubjetivas, de defesa/oposio, latentes na tenso entre a procura deprazer/reconhecimento dos sujeitos e os constrangimentos externos impostos,independentemente de suas vontades, pelas situaes de trabalho. A manifestaopatolgica de sofrimento a expresso do fracasso dessa mobilizao subjetiva.

    A aplicao desse conjunto de conceitos e noes mediadoras possibilita diversasformas de tratamento para identificar situaes de exposio de grupos/categorias/setorese seus efeitos potenciais ou reais sobre a sade, configurando perfis epidemiolgicosdiferenciados.

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    22/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    12

    A investigao da relao sade e trabalho sob o prisma da sade dos trabalhadores,trazem duas consequncias importantes quanto melhoria das condies de trabalho: aprimeira a percepo de que os trabalhadores devem participar na resoluo dos

    problemas e a segunda que a avaliao do ambiente de trabalho deve abranger aspectosda organizao do trabalho e da qualidade de vida dos trabalhadores. A participao dos trabalhadores na melhoria das condies de trabalho se d em

    dois nveis distintos: por um lado, deve ocorrer a participao ativa dos trabalhadores noprprio local de trabalho, e, por outro, deve existir uma mobilizao dos representantes dostrabalhadores (os sindicatos).

    A sade do trabalhador busca a integrao entre investigao, formao einterveno transformando as situaes de trabalho de acordo com as solicitaes dostrabalhadores organizados atravs dos sindicatos (ROCHA, 1989). Os resultados destasaes se concretizam na formao dos programas e centros de referncia em sade do

    trabalhador, estruturados em vrias regies do pas. Estes programas desenvolvem aesinterinstitucionais para assistncia e vigilncia dos ambientes de trabalho.

    O reconhecimento, pelas empresas, da legitimidade dos interlocutores institucionaise da representao dos trabalhadores fundamental. A garantia de um desfecho favorvelcondiciona-se juno do conhecimento tcnico com o saber/experincia dostrabalhadores na procura e adoo de medidas impreterveis, que evoluam para atingirsolues decisivas quanto aos agravos sade constatados. A escassa representaosindical nos locais de trabalho dificulta as intervenes. Alguns avanos foram conseguidospela criao de comisses de diversos tipos (ergonomia, sade) e por entendimentos comsetores empresariais estratgicos.

    Foi necessrio um grande empenho de trabalhadores e tcnicos para conseguir oreconhecimento de determinadas doenas profissionais e eliminar ou controlar algunsriscos. Em mbito nacional, foram realizados por exemplo, acordos tripartites referentes aouso do amianto, abolio do benzeno nas indstrias do setor alcooleiro e ergonomia.

    1.6. FATORES DE RISCO NO TRABALHO

    Fatores de risco no trabalho: Mecnicos: acidente do trabalho; Fsicos: rudo;

    Temperaturas extremas: calor/frio; Presso atmosfrica anormal; Vibraes; radiaes; iluminao; Qumicos: slidos; lquidos; gases; vapores; poeiras; fumos; nvoa ou

    neblina; Biolgicos: bactrias; vrus; fungos; Biomecnicos: posto de trabalho e equipamentos; Organizao do trabalho; Fatores Psicossociais do Trabalho.

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    23/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    13

    O conceito de organizao do trabalho inclui a diviso das tarefas, que inclui ocontedo do trabalho, a carreira, a distribuio das tarefas e a diviso dos homens, queinclui as relaes interpessoais do trabalho e a hierarquia (DEJOURS, 1986).

    O conceito de fatores psicossociais do trabalho corresponde percepo subjetivaque o trabalhador tem dos fatores da organizao do trabalho. Esta percepo dependedas: caractersticas das cargas de trabalho, da personalidade do indivduo, dasexperincias anteriores e da situao social do trabalho (KOURINKA e FORCIER, 1995).

    1.7. REPERCUSSES NA SADE DOS TRABALHADORES

    As repercusses na sade dos trabalhadores podem ser divididas em doenas dotrabalho ou relacionadas ao trabalho; distrbios ou alteraes laboratoriais e funcionais eperfil de sade.

    As doenas do trabalho so classificadas em doenas diretamente causadas pelanocividade da matria manipulada: doenas profissionais, doenas espec ficas outecnopatias; doenas produzidas pelas condies de trabalho: doenas do trabalho,doenas inespecficas ou mesopatias e doenas relacionadas ao trabalho: distrbioscomportamentais e doenas psicossomticas, hipertenso arterial sistmica, doenasrespiratrias crnicas, etc.

    O perfil de sade inclui a caracterizao da populao trabalhadora em relao scondies de vida, socioeconmicas; a caracterizao da populao trabalhadora emrelao aos hbitos alimentares, sociais, de sono, de atividade fsica e a caracterizao dapopulao em relao s doenas crnicas: hipertenso, obesidade, diabetes, etc.

    1.8. MEDIDAS DE PREVENO

    O planejamento das medidas de preveno deve incluir a percepo do processo detrabalho, dos fatores de risco, das repercusses na sade e por ltimo as medidas depreveno. Como exerccio, se possvel assistam ao Filme da FUNDACENTRO, Cenas daIndstria de Galvanoplastia e construam estes quatro blocos.

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    24/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    14

    1.9. TESTES

    1. Na relao entre sade e trabalho, segundo Dejours, no correto afirmar:

    a) A contribuio da fisiologia mostrou que o organismo humano vive em um estadodinmico, sendo importante observar a variabilidade.

    b) A contribuio da psicossomtica demonstra as relaes entre corpo e mente dotrabalhador e que cada pessoa tem sua histria e seus desejos e expectativasem relao ao trabalho.

    c) A contribuio da psicopatologia do trabalho mostra que o ambiente de trabalhoest associado predominantemente sade mental do trabalhador.

    d) A organizao do trabalho corresponde a diviso das tarefas e a diviso doshomens.

    e) Ter sade no trabalho significa deixar os movimentos do corpo livre no trabalho.

    2. Em relao a evoluo da medicina do trabalho sade dos trabalhadores,podemos dizer:

    a) A sade ocupacional concentra sua atuao no atendimento ao portador dedoena do trabalho.

    b) A sade do trabalhador incorpora a participao dos trabalhadores nasintervenes para a melhoria das situaes de trabalho.

    c) Ramazzini, considerado o pai da medicina do trabalho, descreveu as doenas

    do trabalho por agentes causadores especficos.d) A sade do trabalhador atua principalmente na assistncia aos portadores dedoenas do trabalho.

    e) N.d.a.

    3. De acordo com a sade dos trabalhadores o higienista ocupacional e o engenheirode segurana do trabalho na avaliao da situao, do trabalho devem incluir osseguintes procedimentos:

    a) Observao do trabalho.

    b) Entrevista com os trabalhadores e gerentes.c) Medies dos equipamentos e do mobilirio.d) Avaliao dos riscos ambientais.e) Todas as alternativas anteriores.

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    25/299

    Captulo 1. Evoluo dos conceitos em sade e trabalho

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    15

    4. Os fatores de risco que podem gerar repercusses na sade dos trabalhadorespodem ser didaticamente classificados em:

    a) Fsicos, qumicos e biolgicos.b) Mecnicos e ambientais.c) Fsicos como rudo; temperaturas extremas: calor/frio; presso atmosfrica

    anormal; vibraes; radiaes; iluminao e qumicos.d) Mecnicos, fsicos, qumicos, biolgicos, biomecnicos, relacionados

    organizao e aos fatores psicossociais do trabalho.e) Qumicos classificados em slidos; lquidos; gases; vapores; poeiras; fumos;

    nvoa ou neblina.

    5. Assinale a alternativa falsa:

    a) As relaes sade, trabalho e meio ambiente so complexas e se concretizamde maneira particular em cada caso atendido pelos profissionais de sade esegurana.

    b) A sade dos trabalhadores tem a mesma abordagem que a sade ocupacional.c) A sade se promove proporcionando condies decentes de vida, boas

    condies de trabalho, educao, cultura fsica e formas de lazer e descanso.d) Nos programas visando a sade dos trabalhadores fundamental a participao

    dos mesmos na definio das aes.

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    26/299

    Captulo 2. As Instituies e as Aes em Sade e Trabalho no Brasil

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    16

    CAPTULO 2. AS INSTITUIES E AS AES EM SADE E TRABALHO NO BRASIL

    OBJETIVOS DO ESTUDO

    Apresentar as principais instituies da rea de Sade e Trabalho, mostrando seusrgos e atribuies.

    Ao trmino deste captulo voc dever estar apto a:

    Reconhecer a evoluo da sade e trabalho no Brasil; Definir os rgos e aes do Ministrio do Trabalho e Emprego; Definir os rgos e aes do Ministrio da Sade; Definir os rgos e aes do Ministrio da Previdncia Social; Definir os rgos e aes do Poder Judicirio; Escolher os possveis locais de insero profissional como engenheiro de

    segurana do trabalho no Brasil.

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    27/299

    Captulo 2. As Instituies e as Aes em Sade e Trabalho no Brasil

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    17

    2.1. EVOLUO DAS AES DE SADE E TRABALHO NO BRASIL

    2.1.1. MEDICINA DO TRABALHO NAS FBRICAS

    No Brasil no perodo colonial no existem estudos sobre as repercusses na sadedo trabalho escravo. As caractersticas bsicas da prtica mdica que vigorou no Brasildurante o perodo colonial: baixo nvel de medicalizao da sociedade; o carter puramentefiscalizador no campo da sade; a quase total inexistncia de uma prtica mdica voltadapara a fora de trabalho escrava (ROCHA e NUNES, 1994).

    No Brasil at 1930, o processo de industrializao ocorreu na forma de surtosindustriais com carter no integrado e relativamente espon tneo sem provocar profundastransformaes nas estruturas econmica e social que permaneciam atreladas a umaeconomia agrrio-exportadora (COHN, 1980). As indstrias comearam a desenvolver-senesta poca, principalmente em alguns ncleos urbanos tendo o setor txtil o maior nmero

    de trabalhadores. As condies de vida e trabalho no perodo at a dcada de 30 tm muita similitudecom as ocorrncias observadas no perodo da Revoluo Industrial na Inglaterra. Ascondies de trabalho eram extremamente precrias, com longas jornadas de trabalho,emprego de mulheres e menores em locais insalubres, e com alta incidncia das doenasinfecciosas. Consequentemente havia uma alta incidncia de acidentes do trabalho noindenizados (ROCHA e NUNES, 1994).

    Com relao assistncia mdica individual ela era prestada pelas Santas Casas deMisericrdia. Algumas empresas instalam um servio mdico dentro da prpria indstria. A caracterstica principal era prestarem assistncia curativa: na prtica funcionava como

    se o mdico transferisse seu consultrio para o interior da empresa (ROCHA e NUNES,1994). A partir de 1919 foi elaborada uma srie de leis e decretos relacionados com as

    condies de trabalho. Entre os fatores que contriburam para este fim temos a mudanade postura do movimento sindical, que comeou a exigir uma atuao do Estado e a criaoda Organizao Internacional do Trabalho, que tenta regulamentar as aes nesta rea.

    Nesta poca so promulgados os seguintes decretos e leis: Decreto n 3.724 de15/01/1919 sobre os acidentes do trabalho; Lei n 1.309 de 10/06/19, que fixava a jornadade trabalho em 8 horas; Decreto n 6.027 de 30/04/23, criando o Conselho Nacional doTrabalho; Lei Eloy Chaves de 24/01/23, sobre aposentadoria e penso; Lei n 4.982 de

    24/12/25 sobre as frias; Decreto n 5.485 de 30/06/28, sobre seguro-enfermidade e areforma do Cdigo Sanitrio de 1917, dispondo sobre as instalaes industriais e sobre otrabalho de mulheres e menores. Apesar da elaborao dessas leis, elas nem sempreforam cumpridas.

    A partir de 1930, ocorre a interveno do Estado nas relaes trabalhistas. Omovimento sindical organizado possibilitando o controle do operariado em funo doprocesso de industrializao. A legislao baseia-se no corporativismo de Estado com opressuposto da "harmonia social", a colaborao dos trabalhadores e empregadores, paraque os conflitos possam ser resolvidos mediante ao do Estado.

    Neste perodo o Estado tambm normatiza a criao de Institutos de Aposentadoriae Penso (I APs) para atender as reivindicaes operrias. A Consolidao da Leis doTrabalho (CLT), publicada no Dirio Oficial da Unio (DOU) de 4/8/43, rene a legislao

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    28/299

    Captulo 2. As Instituies e as Aes em Sade e Trabalho no Brasil

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    18

    relacionada com a organizao sindical, a previdncia social, a proteo ao trabalhador ea justia do trabalho. Na CLT, o captulo V dispe sobre as normas de segurana emedicina do trabalho (CAMPANHOLE, 1984).

    Em So Paulo, o Servio da Indstria (SESI) criou em 1950 um ambulatrio de

    higiene e medicina do trabalho que de 1952-1954 realizou o Inqurito Preliminar de HigieneIndustrial no Municpio de So Paulo, constatando as seguintes doenas do trabalho comomais notificadas: 20,3% dermatoses; 7,3% intoxicao por solventes: 5,5% poeiras; 5,4%chumbo e identificando 35 agentes de doenas profissionais.

    No perodo de 1945 a 1964, os sindicatos, sob a democracia populista,concentravam-se na discusso de uma poltica nacional, submetendo as questesespecficas, como, por exemplo, os problemas de sade, a uma negociao direta com oEstado.

    Aps 1964 os militares recorreram CLT para intervirem nos sindicatos e prenderemos lderes sindicais. Os sindicatos tornaram-se basicamente rgos prestadores deservios assistenciais, mdicos, odontolgicos e jurdicos, mantendo-se os dirigentessindicais em repetidas gestes. A criao do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo deServio) determinou a perda de estabilidade no emprego para os trabalhadores, sendo hojeuma das grandes dificuldades do movimento sindical, pois qualquer "lder" dentro dasempresas demitido e o "medo" da demisso evita que os trabalhadores faam crticas scondies de trabalho.

    2.1.2. A INTRODUO DA SADE OCUPACIONAL NO BRASIL

    No Brasil, a adoo e o desenvolvimento da sade ocupacional deram-setardiamente, estendendo-se em vrias direes. Reproduzem, alis, o processo ocorridonos pases do Primeiro Mundo. Na vertente acadmica, destaca-se a Faculdade de SadePblica da Universidade de So Paulo, que dentro do Departamento de Sade Ambiental,cria uma "rea de Sade Ocupacional", e estende de forma especial sua influncia comocentro irradiador do conhecimento, via cursos de especializao e, principalmente, via ps-graduao (mestrado e doutorado). Com efeito, este modelo foi reproduzido em outrasinstituies de ensino e pesquisa, em especial em nvel de alguns departamentos demedicina preventiva e social de escolas mdicas (MENDES e DIAS, 1991).

    Nas instituies, destaca-se a criao da Fundao Jorge Duprat Figueiredo de

    Segurana e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), verso nacional dos modelos de"Institutos" de Sade Ocupacional desenvolvidos no exterior, a partir da dcada de 50(MENDES e DIAS, 1991).

    Em relao situao de trabalho, no incio da dcada de 1970, o Brasil apresentouuma das taxas mais altas de acidente do trabalho do mundo. Costa (1982) apresenta osseguintes dados: em 1971, para uma populao ativa de 7,6 milhes de pessoas, foramregistrados 1.330.523 acidentes e em 1973, para um pouco mais de 8 milhes detrabalhadores, foram registrados 1.632.696 acidentes, o que corresponde a uma taxa deocorrncia de acidentes de quase 20%.

    Nesta poca eram valorizadas as Campanhas de Preveno de Acidentes do

    Trabalho enfatizando a culpabilidade dos trabalhadores. Para diminuir os acidentes detrabalho o Estado props a regulamentao do Captulo V da Consolidao das Leis do

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    29/299

    Captulo 2. As Instituies e as Aes em Sade e Trabalho no Brasil

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    19

    Trabalho (CLT) atravs de normas relativas obrigatoriedade de equipes tcnicasmultidisciplinares nos locais de trabalho (atual Norma Regulamentadora 4 da Portaria3214/78); na avaliao quantitativa de riscos ambientais e adoo de limites de tolerncia(Normas Regulamentadoras 7 e 15), entre outras.

    2.1.3. A SADE DOS TRABALHADORES NO BRASIL

    A emergncia da sade do trabalhador no Brasil nos anos 80 acontece no interior docampo da sade coletiva, sob influncia dos pressupostos da medicina social latino-americana, da reforma sanitria italiana (modelo operrio) no final dos anos 70, e domovimento pela reforma sanitria brasileira (MENDES e DIAS, 1991).

    Neste perodo existia um contexto conjuntural caracterizado pela confluncia demovimentos sociais e polticos, de onde emergiam novos projetos de sociedade e novasestratgias de ao que influenciavam e eram influenciados pela produo intelectual.Manifesta-se no mago da construo de uma sociedade democrtica, da conquista dedireitos elementares de cidadania, da consolidao do direito livre organizao dostrabalhadores (MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA, 1997).

    Trata-se da poca em que a Ditadura Militar comea a dar sinais de esgotamento,aps sua primeira derrota eleitoral, nas eleies de 1974. Nos anos de 1978/79 sedelineiam as mudanas mais significativas no cenrio nacional, ou seja, o momento daretomada do cenrio poltico pelo Movimento Sindical, processo que se inicia no ABCpaulista a partir das grandes greves de 1978 nas indstrias automobilsticas e que seespalham por grande parte do territrio nacional nos meses seguintes (LACAZ, 1997).

    No Brasil surge a assessoria sindical feita por profissionais comprometidos com aluta dos trabalhadores, que individualmente ou atravs de organizaes como oDepartamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Sade e dos Ambientes deTrabalho (DIESAT) e o Instituto Nacional de Sade no Trabalho (INST), no caso do Brasil,estudando os ambientes e condies de trabalho, levantando riscos e constatando danospara a sade; decodificando o saber acumulado, num processo contnuo de socializaoda informao; resgatando e sistematizando o saber operrio, vivenciando, na essncia, arelao pedaggica educador-educando (MINAYO-GOMEZ e THEDIM-COSTA, 1997).

    Quadro 2.1.

    O movimento sindical, com relao luta pela sade, vinha estabelecendo

    quatro grandes frentes de trabalho dentro da estrutura sindical:

    1) Atuao mais eficiente das CIPA (Comisso Interna de Preveno de

    Acidentes), procurando eleger cipeiros vinculados aos sindicatos e tirando o

    carter "fantasma" das CIPAs;

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    30/299

  • 7/21/2019 Apostila EHO-012 ALUNO 2015

    31/299

    Captulo 2. As Instituies e as Aes em Sade e Trabalho no Brasil

    eHO 012 Doenas Ocupacionais, Toxicologia e Epidemiologia / LACASEMIN, 4o ciclo de 2015.

    21

    imposio do Poder Executivo, atravs de Portaria do Ministrio do Trabalho de 1975 -Portaria MTb n 3.460/75 - com a atribuio de tutelar a sade dos trabalhadores, aliandoos interesses de controle da fora de trabalho com a produtividade e o lucro, o que leva-osa manipular resultados de exames, demitir pessoas doentes, negar admisso e autonomia

    aos seus profissionais, o que contribui claramente para a perda de credibilidade de taisServios junto aos trabalhadores, instalando-se uma crise que agravou-se a partir daimplantao dos PSTs (LACAZ, 1997).

    No Brasil, a emergncia da sade do