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Apostila Digital nº3 - Projeto Pixinguinha 1979

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Apostila Digital nº3 - Projeto Pixinguinha 1979

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APRESENTAÇÃO

O objetivo original destas Apostilas Digitais foi orientar a equipe

do Portal das Artes através da história documental do Projeto

Pixinguinha, cujo acervo sonoro foi digitalizado a partir de

2005, pelo Projeto Brasil Memória das Artes. Como o volume

de arquivos sonoros era expressivo e o tempo para criação de

conteúdos, curto, os pesquisadores de música do Portal das Artes

– Bruno Tavares e Alexandre Lemos –, que também estavam

envolvidos na digitalização do acervo sonoro, anos antes, criaram

as Apostilas, como forma de compartilhar o conhecimento com

toda a equipe e ajudar na criação dos conteúdos disponíveis na

área Brasil Memória das Artes. O resultado, no entanto, ficou

tão consistente que decidimos tornar as Apostilas um conteúdo

também disponível para o usuário, e não apenas para consumo

interno. Ficam disponíveis quatro Apostilas Digitais relativas a

1977, 1978, 1979 e anos 80. Assim, as Apostilas dão um panorama

sobre a atmosfera política, cultural, organizativa do Projeto

Pixinguinha, desde seu nascimento. É um bom início de caminho.

Mais informações e documentos sobre esse rico período da

música brasileira e esta importante ação da Funarte podem ser

obtidos nas páginas do Brasil Memória das Artes e no próprio

Cedoc da Funarte.

Tópicos:

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APOSTILA DIGITAL

Tópicos

1. Contexto histórico2. O Projeto – terceiro ano3. Os artistas4. A Caravana na estrada5. Balanço do terceiro ano

1. Contexto histórico

No dia 15 de março, toma posse o general João Baptista Figueiredo, cujo principal compromisso de governo era completar a transição democrática para devolver o poder político às mãos dos civis.

É aprovada e implementada a Lei da Anistia, que tanto possibilita a libertação de presos políticos e o retorno de exilados que combateram a ditadura quanto garante impunidade aos agentes da repressão política, inclusive aos torturadores. Voltam ao país figuras como Leonel Brizola, Miguel Arraes, Fernando Gabeira e Betinho, transformando em realidade o verso de Aldir Blanc, que cantava a sonhada “volta do irmão do Henfil” (no samba O Bêbado e a Equilibrista, em parceria com João Bosco).

A economia do país aprofunda sua crise pós-milagre e a inflação se acelera. Paralelamente, é deflagrada a maior das greves do ABC sob a liderança do então metalúrgico Luís Inácio Lula da Silva. Neste mesmo contexto, é “reconstruída” a União Nacional dos Estudantes (UNE).

Aumentam os estados da federação. O sul do estado de Mato Grosso passa a se chamar Mato Grosso do Sul.

Deposto pela revolução islâmica liderada pelo Ayatollah Khomeini, o xá do Irã Reza Pahlevi se exila no Egito. Na Casa Branca, Anwar Sadat e Menachem Begin assinam o acordo de paz entre Israel e Egito. A guerrilha sandinista derruba o ditador Somoza na Nicarágua.

A MPB tradicional começa a perder força e nomes de uma nova canção vão se afirmando no cenário musical, como Moraes Moreira, Alceu Valença e Rita Lee.

Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, RJ, Tárik de Souza, 25 de março de1979

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2. O Projeto – terceiro ano

O Projeto Pixinguinha começa a sofrer as consequências da crise econômica nacional e do questionamento político sobre seu modelo. Diante disso, diminui o número de duplas participantes.

A crise leva, também, a uma crescente descentralização do financiamento das temporadas, com a maior participação das autoridades de cultura locais nesse processo. Cada cidade tem seu próprio esquema de participação – algumas contando com o apoio estadual, outras da universidade. Alguns custos – como os ingressos e o transporte – chegam a ser rateados, ou solucionados por alguma “ideia criativa” do coordenador local.

Um dia após a posse do general Figueiredo, em 16 de março, reúnem-se no Conselho de Curadores da Funarte o grupo de diretores artísticos – “produtores” – do Projeto Pixinguinha. Esta reunião tem como objetivo determinar as duplas que deverão participar do projeto no ano de 1979.

Praças

O projeto manteve os critérios de divisão geográfica e os roteiros seguidos no ano anterior: Sul, Norte e Nordeste. Estão mantidas as mesmas capitais de 1978, e ainda o Rio de Janeiro e Brasília.

Cast

Coube a cada diretor artístico indicar uma dupla para o projeto e uma dupla “reserva” para quaisquer eventualidades. As escolhas, ainda que subjetivas e pessoais, deveriam seguir algumas normas gerais, a saber:

• Não seriam indicados artistas que já tivessem participado de mais de um roteiro;

• As duplas deveriam aceitar a participação de um iniciante convidado;

• Duplas que não aceitassem o item anterior seriam preteridas no processo de escolha;

• A direção artística de cada espetáculo dependeria de anuência da dupla envolvida;

Alguns critérios são definidos para a escolha dos artistas novos: terem ao menos um disco gravado e uma participação no Projeto Pixinguinha ou no Projeto Vitrine (também da Funarte).

Jornal do Comércio, Recife, PE, 31de agosto de 1979

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Investimento:

Reduzindo seu cast de 30 para 20 duplas, a direção do projeto pleiteia, em abril, o custeio direto de 24 milhões de cruzeiros, mas acaba por obter, de fato, o valor de 10 milhões – menos da metade do pleito original. Desta forma, a realização do Projeto só se concretizou graças ao desembolso feito pelas várias secretarias culturais das cidades visitadas pelos espetáculos.

3. Os artistas

É inegável que a seleção de artistas para o projeto em 1979 incluiu nomes que tiveram amplo destaque popular naquela década. Zé Ramalho, Lô Borges e Belchior enriqueceram o conteúdo dos espetáculos e atraíram a atenção do público por onde passaram. Todavia, o conjunto completo de artistas selecionados incluía nomes de talento questionável e popularidade quase nenhuma, além de surpresas absolutas, como a inclusão da cantora lírica Maria Lúcia Godoy num projeto de música popular.

Chama a atenção uma “dupla” de artistas nordestinos de importância histórica e artística regional – Banda de Pífanos de Caruaru, Claudionor Germano e José Milton – que fará o roteiro que leva, exatamente, para sua terra natal (Pernambuco), numa clara demonstração de adaptação do Projeto às pressões regionais por espaço e visibilidade. Esta luta por afirmação regional da arte que é “nossa” se acirrará nos anos seguintes. A “sociedade do espetáculo” exigirá um esforço permanente das autoridades locais no sentido de afirmar sua identidade e obter espaço nos meios de comunicação de massas do Brasil e do exterior, em especial no que diz respeito ao carnaval. Vide manifestações como o “Axé da Bahia”, o “Frevo de Olinda”, o “Boi de Parintins” ou o “Carnaval Carioca”, todos

transformados em espetáculos turísticos internacionais.

Última Hora, Rio de Janeiro, RJ, 3 de abril de 1979

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TODAS AS CARAVANAS

A Cor do Som, Johnny Alf e Zizi Possi

Uma das cantoras mais talentosas do país nas últimas décadas, Zizi estava lançando seu segundo LP à época desta temporada. Antes disso, tinha chamado a atenção do público e da crítica ao dividir com Chico Buarque, no disco deste, os vocais da canção Pedaço de Mim (dele com Francis Hime). Estreante no Projeto, teve como companheiros de turnê dois participantes da temporada de 1978: o pianista e cantor Johnny Alf (que tinha se apresentado com Zezé Motta) e o grupo baiano A Cor do Som (que dividiu os palcos com o conterrâneo Moraes Moreira).

Aline, Isaurinha Garcia e Pedrinho Mattar

A paulistana Isaurinha Garcia é um dos raros exemplos de um artista que, na era do rádio, conseguiu projeção nacional não estando no Rio de Janeiro. Ainda na década de 40, obteve sucesso avassalador com a canção Mensagem, que se transformou em sua marca e em carro-chefe de seu repertório. À época do Projeto, ainda estava em plena atividade, tendo gravado cinco LPs durante a década de 70.

Já Pedrinho Mattar foi um pianista que construiu sua carreira em duas frentes: tanto como solista de conjuntos instrumentais, quanto como acompanhante de grandes nomes da música brasileira, como Cauby Peixoto, Maysa e Agostinho dos Santos. Completando a caravana, o espetáculo contava ainda com Aline – cantora mineira egressa de

festivais universitários e participante do Pixinguinha em 1978, com Jards Macalé e Moreira da Silva.

Antonio Adolfo, Danilo Caymmi e Walter Queiroz

Walter Queiroz surgiu no cenário musical ainda no final dos anos 60, tendo canções suas classificadas em festivais e incluídas em trilhas sonoras de filmes, como O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha. Nos anos 70, firmou parceria de sucesso com César Costa Filho, já na fase de declínio deste, por ter sido apontado por colegas como informante da ditadura militar. Queiroz compôs também para telenovelas. À época do Projeto, tinha um LP solo no currículo.

A Cor do Som, Zizi Possi, Johnnny Alf e Tereza Aragão. Acervo Funarte

Pedrinho Mattar e Isaurinha Garcia. Acervo Funarte.

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Seus companheiros de espetáculo eram Antônio Adolfo (integrante do Pixinguinha em 1978, com Carmélia Alves e Oswaldinho do Acordeom) e Danilo Caymmi (que no ano anterior tinha viajado com o compositor Luiz Vieira).

Ataulfo Alves Jr., Maestro Nelsinho e Vânia Carvalho

É verdade que não faltou perseverança, mas Ataulfo Alves Jr. jamais chegou sequer perto do brilho do pai. Seu principal sucesso foi o samba Os Meninos da Mangueira, de Rildo Hora e Sergio Cabral. Já o grande trombonista Nelsinho fez carreira como arranjador, destacando-se como mestre na escrita para naipe de metais. O espetáculo contava ainda com a cantora Vânia Carvalho, que na temporada de 1978 tinha excursionado ao lado de Nelson Cavaquinho e Beth Carvalho (sua irmã).

Belchior, Marília Barbosa e Vital Lima

O nome de Belchior é um dos mais destacados na música brasileira dos anos 70, sobretudo após a vitória no festival universitário de 1971, com a canção Na Hora do Almoço – que se tornou um grande sucesso em rodas de violão país afora. Seu primeiro LP solo veio em 74, mas antes teve canções suas lançadas pelo parceiro Fagner, com destaque para Mucuripe, que teve várias interpretações, sendo inclusive gravada por Elis Regina e Roberto Carlos. Em 1976, lança seu segundo LP, Alucinação, e alcança sucesso maciço tanto em vendas quanto em execução. Outra composição sua a fazer muito sucesso foi Como nossos Pais, consagrada na voz de Elis. À época do Projeto, porém, já experimentava um declínio de popularidade que se confirmaria tão vertiginoso quanto sua ascensão.

Marília Barbosa passou a década de 70 tendo seu nome ligado às trilhas sonoras de telenovelas da Rede Globo. Neste gênero, gravou autores como Ary Barroso, Vinicius de Moraes e Sidney Miller. Em 1979, estava ainda divulgando seu primeiro disco, que havia sido lançado no ano anterior.

O espetáculo apresentava, também, o compositor paraense Vital Lima, que participava do Projeto um ano após lançar o LP Pastores da Noite, apresentando suas parcerias com Hermínio Bello de Carvalho.

Acervo Funarte.

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Cauby Peixoto, Fátima Regina e Zezé Gonzaga

Cauby Peixoto foi um dos maiores ídolos da era do rádio. Dono de um estilo inconfundível, além de um belíssimo timbre de voz, fez sucesso estrondoso Brasil afora durante a década de 50. Seus maneirismos, porém, não se adequaram à linguagem televisiva e, assim, foi perdendo espaço no cenário musical. Apesar disso, manteve intacto seu fã-clube, composto por abnegados admiradores que jamais o abandonaram. Participar do Pixinguinha foi apenas um dos muitos revivals experimentados por Cauby, todos com êxito relativo.

Zezé Gonzaga também foi estrela da era do rádio, ainda que sem a mesma fama de Cauby. Começou sua carreira nos

anos 40 e ainda nesta década já se transferiria a peso de ouro para o cast da Rádio Nacional. Estreou no formato LP em 1955, tendo seu disco figurado entre os melhores lançamentos do ano. Zezé foi mais um grande nome da música brasileira, dentre tantos, que viu sua carreira atropelada pela mudança de costumes da idade do rock.

Já Fátima Regina foi mais uma iniciante na qual o Projeto apostou suas fichas. Depois do Pixinguinha, foi vocalista da banda de Roberto Carlos e, apesar de ter apresentado por dois anos um programa musical semanal na TVE, construiu sua carreira cantando jingles publicitários.

Banda de Pífanos de Caruaru, Claudionor Germano, Irene Portela e José Milton

Claudionor Germano notabilizou-se cantando o repertório de sua terra, Pernambuco. Em Recife, trabalhou tanto no rádio como em TV, firmando-se como um dos principais intérpretes da obra do grande Capiba.

Pífanos são como flautas transversas rústicas, em geral feitas de bambu. Bandas de pífanos são uma forte tradição nordestina (combinando pífanos de timbres variados com percussões de couro e metal) e a de Caruaru foi a que mais se destacou nacionalmente, graças aos artistas baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Irene Portela veio do Maranhão e atuou como compositora e arranjadora em espetáculos musicais. Foi através de um deles, Missa do Vaqueiro, que

Cauby Peixoto e Zezé Gonzaga. Acervo Funarte.

Acervo Funarte.

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conheceu Marcus Pereira, cuja gravadora lançou em 1979 o primeiro LP dela, Rumo do Norte.

Cantor de curta carreira, o cearense José Milton registrou sua voz grave em apenas um LP, A uma Dama Transitória. Jamais abandonou a música, mas foi como produtor que se tornou mais conhecido, trabalhando com artistas como Fagner e Nana Caymmi.

Carmélia Alves, Cláudia Versiani e Sivuca

Compositor, acordeonista, arranjador, Sivuca foi um dos grandes nomes da história da música popular do Brasil. Desde os anos 40 destacou-se em emissoras de rádio e espetáculos ao vivo, como solista ou como músico acompanhante. À época do Projeto, experimentava uma retomada de prestígio motivada, principalmente, pelo êxito de João e Maria, parceria sua com Chico Buarque, gravada por Chico e Nara Leão em 1977.

Suas parceiras no Projeto Pixinguinha eram duas cantoras: a veterana Carmélia Alves (a Rainha do Baião) e a iniciante Claudia Versiani, que, egressa do projeto Vitrine (da Funarte), acabaria construindo carreira com múltiplas atividades: jornalista, cronista, fotógrafa e atriz.

Célia, Cláudia Savaget e Paulo Moura

Mesmo sem nunca ter sido um grande sucesso popular, Célia viveu seu melhor momento justamente na década de 70, quando lançou quatro LPs solo, sempre gravando nomes ligados à MPB. Estreou no Projeto Pixinguinha ao lado do genial Paulo Moura (companheiro de Roberto Silva e Antonio Carlos e Jocafi na caravana de maior público da temporada 1978) e da cantora Cláudia Savaget (que se apresentou em 1978 com Carlinhos Vergueiro e o genial sambista Cartola).

Cristina Buarque, Época de Ouro e Lula Carvalho

Concebido pelo histórico Jacob do Bandolim, o grupo Época de Ouro trazia entre seus componentes os nomes de Dino Sete Cordas e César

Acervo Funarte.

Paulo Moura e Célia. Acervo Funarte

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Faria (grande violonista e pai de Paulinho da Viola), entre outros grandes nomes do choro. Teve como companheira de turnê outra estreante no Projeto Pixinguinha: a cantora Cristina Buarque, cujo maior sucesso era Quantas Lágrimas (Manacéa), que gravou em 1974. Irmã caçula de Chico Buarque e Miúcha, construiu uma carreira de respeito ligada ao samba e ao choro. O espetáculo apresentava também o cantor Lula Carvalho, que em 1979 ainda divulgava seu

disco de estréeia, Coisas da Vida, lançado no ano anterior (com direção musical de Maria Bethânia).

Djavan, Moraes Moreira e Terezinha de Jesus

Djavan pode ser considerado o último monstro sagrado da MPB pro-priamente dita. Depois de atuar como crooner de boates cariocas e de gravar obras alheias em trilhas sonoras de telenovelas, conseguiu alguma notoriedade ao obter a segunda colocação do Festival Abertura, da Rede Globo, com Fato Consumado. Nesste mesmo ano conheceu seu primeiro grande sucesso, com o samba Flor de Lis. Antes de se consagrar junto ao grande público, teve canções suas gravadas com boa repercussão por nomes como Nana Caymmi (Dupla Traição) e Maria Bethânia (Álibi). Na época da temporada estava lançando seu segundo LP (Djavan).

O principal nome do espetáculo, contudo, era o de Moraes Moreira, desligado do grupo Novos Baianos desde 1975, quando começou com grande sucesso sua carreira solo – que já contabilizava quatro LPs naquele ano de 1979.

A potiguar Terezinha de Jesus estava se lançando à época do Projeto Pixinguinha. Seu primeiro LP contava com canções assinadas por autores como Fagner e Suely Costa e teve participações ilustres como a de Paulinho da Viola. A realidade, porém, de um cenário musical cada vez mais pródigo em vozes femininas, fez com que Terezinha jamais decolasse em sua carreira, em que pese seu belo timbre de voz.

Egberto Gismonti, Marlui Miranda e Olívia Byington

Egberto Gismonti é um dos mais profícuos músicos brasileiros. Em 1979, já gozava de amplo reconhecimento internacional e lotava teatros no Brasil, apesar de sua música sofisticada e em tudo distinta das formas mais simples da canção.

Cristina Buarque e Época de Ouro.Acervo Funarte

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Olívia estava em início de carreira e, por vezes, combinava sua carreira solo com seu trabalho com a banda carioca Barca do Sol. Apesar de iniciante, cativara a crítica e era reconhecida por seu talento e por seu timbre peculiar.

Juntava-se aos dois a cantora e pesquisadora Marlui Miranda, integrante do Projeto Pixinguinha em 1978, com Sérgio Ricardo e o Quinteto Violado.

Elomar, João de Aquino e Xangai

Filho de uma tradicional família de fazendeiros baianos, Elomar estudou arquitetura, mas foi com a música que encontrou sua vocação. Apesar de ainda viver no interior da Bahia, cuidando de suas fazendas, ele mantém sua rotina periódica de gravações e apresentações país afora. Sua obra usa a poética típica do sertanejo, plena de neologismos, gírias e maneirismos,

formando quase um dialeto. Melodicamente, se utiliza dos elementos mais fundamentais da música do sertão. No início dos anos 70, Vinicius de Moraes o definiu como uma mistura do romanceiro medieval e do cancioneiro do Nordeste. Em 79, estava lançando seu trabalho de maior repercussão: o LP duplo Na Quadrada das Águas Perdidas.

Primo de Elomar, e muito influenciado por ele, Xangai é um intérprete de rara vocação para a música mais tradicional do Nordeste brasileiro. Com um timbre de voz particular, e com uma impostação libertária e dinâmica, Xangai desenvolveu ainda uma técnica pessoal ao violão, dando toques de modernidade à tradição que tão bem preserva. Em 79, estava em início de carreira.

Já o violonista e compositor carioca João de Aquino era um veterano na época da turnê pelo Projeto Pixinguinha. Obtivera seu primeiro (e maior) sucesso ainda em 1964, com a canção Viagem, melodia sua com letra de um então adolescente Paulo César Pinheiro. Primo do violonista e compositor Baden Powell, atuou posteriormente como produtor de discos de samba e choro.

Emílio Santiago, Maria Martha e Raul de Barros

O trombonista Raul de Barros começou sua carreira ainda nos anos 30, tocando em bailes de subúrbio e, posteriormente, em dancings no Centro

Xangai e João de Aquino.Acervo Funarte

Egberto Gismonti e Olivia Byington.

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do Rio de Janeiro. Durante a década de 40, foi trabalhar em rádio, chegando a formar sua própria orquestra na Rádio Globo. Gravou dezenas de discos (tanto no formato de 78 rotações quanto no de LP), excursionou no exterior e manteve sempre público cativo.

No Projeto Pixinguinha, teve a companhia de dois participantes da temporada de 1978: os cantores Emílio Santiago (ao lado de Leny Andrade) e Maria Martha (que se apresentou com Altamiro Carrilho e Gilberto Milfont).

João do Vale, Telma e Zé Ramalho

O paraibano Zé Ramalho gravou seu primeiro disco em 1974: um LP duplo conceitual e de inspiração lisérgica, ao lado de Lula Cortes. Diante da repercussão zero obtida por esse trabalho, migrou para o Rio de Janeiro, onde passou a integrar a banda do pernambucano Alceu Valença. Seu desempenho como músico e, principalmente, suas intervenções vocais durante os shows de Alceu foram chamando a atenção do público e da crítica até que em 1978 lançou o LP solo Zé Ramalho, obtendo grande sucesso através das canções Avohai, Vila do Sossego e Chão de Giz. Em 1979 estava lançando o LP A Peleja do Diabo com o Dono do Céu,

conhecendo talvez seu maior sucesso como compositor, com a canção Admirável Gado Novo.

O nome de João do Vale faz parte da mitologia da MPB dos anos 60. Ao lado de Nara Leão e Zé Kéti, o cantor e compositor maranhense protagonizou o histórico espetáculo musical Opinião, que teve como principal sucesso uma música de sua autoria: a canção Carcará, que numa segunda fase do espetáculo foi a alavanca de Maria Bethânia para a projeção nacional.

Outro nome do Nordeste a participar do espetáculo era a cantora alagoana Telma, que, ligada ao samba e à bossa- nova durante a década de 60 (quando gravou um LP em homenagem a Nelson Cavaquinho, em 1964), voltava ao Brasil naquele ano de 1979, após um tempo morando na Europa.

Lô Borges, Rosaly e Wagner Tiso

Wagner Tiso é um dos expoentes da canção mineira da segunda metade do século 20. Começou sua vida artística ao lado de Milton Nascimento e, a partir daí, seguiu carreira como músico, durante os anos 60. Em 1970, fundou

Acervo Funarte.

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o lendário Som Imaginário, grupo que acompanhou Milton Nascimento e outros artistas por vários anos e que gravou também LPs próprios. Durante a década de 70, notabilizou-se como arranjador e compositor de trilhas sonoras, mas sem jamais deixar de lado sua veia de cancionista.

Lô Borges é o caçula do movimento musical mineiro Clube de Esquina, tendo suas primeiras canções gravadas ainda durante sua adolescência. Seu talento chamava tanta atenção que Milton Nascimento dividiu com ele os letreiros do LP Clube da Esquina, marco inicial do movimento de mesmo nome.

A terceira atração do espetáculo de Wagner e Lô era a gaúcha Rosaly, que cantava na noite paulistana e no ano anterior fora selecionada pelo Projeto Vitrine, da Funarte.

Luiz Melodia, Marina e Zezé Motta

No início dos anos 70 o nome de Luiz Melodia começou a ser falado graças ao sucesso de suas Pérola Negra e Estácio, Holly, Estácio nas vozes de Gal Costa e Maria Bethânia, respectivamente. Em seguida, gravou seu primeiro LP (Pérola Negra), renovando o sucesso destas canções e lançando outras como Magrelinha e Farrapo Humano. Seu segundo LP (Maravilhas Contemporâneas), de 1976, incluiu o grande sucesso Juventude Transviada, tema de telenovela da Rede Globo.

Em 1979, Marina (ainda não usava o sobrenome Lima) estava lançando seu primeiro LP e inaugurando uma das mais bem- sucedidas carreiras pop no Brasil. Afinal, o Pixinguinha apostava em alguém que a sociedade também acolheria como um novo talento.

Completava a caravana o vozeirão da cantora-atriz Zezé Motta, que em 1978 tinha participado do Projeto Pixinguinha com Johnny Alf.

Maria Lúcia Godoy, Miguel Proença e Viva Voz

A formação inusitada dessa temporada parece indicar que o Pixinguinha, ao aproximar música erudita e música popular, acreditava não só em formar platéias, mas, também, em educá-las.

A mineira Maria Lúcia Godoy é considerada a maior cantora de sua geração, ao menos no ambiente da música clássica. Intérprete destacada de Villa-Lobos, completou seus estudos na Alemanha e seu talento é reconhecido e aplaudido internacionalmente.

Miguel Proença é um pianista de formação clássica e tem carreira

Wagner Tiso e Miguel Proença

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internacional de êxito. Consagrado pela imprensa especializada européia, o gaúcho Miguel atuou como solista, camerista, gravou discos no Brasil e na Alemanha – onde também foi professor.

O grupo vocal carioca Viva Voz não teve uma vida muito longa – durou não mais do que seis anos. Em 1979 lançava seu primeiro compacto simples, com duas canções cuja temática girava em torno da volta ao Brasil dos então anistiados: O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc) e Tô Voltando (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro).

Mongol, Pery Ribeiro e Sonia Santos

Carioca do bairro de Ramos, a cantora Sonia Santos por algum tempo se dividiu entre a faculdade de Assistência Social (na UERJ) e a carreira de cantora iniciada em 1971. Depois de dois LPs lançados pela Som Livre, fixaria residência nos EUA a partir do começo dos anos 80. No Projeto Pixinguinha, está ao lado de Pery Ribeiro num roteiro em que os dois tentam atualizar o modelo de espetáculo que consagrara, anos antes, o mesmo Pery Ribeiro, só que na companhia de Leny Andrade.

Mongol surgiu no cenário musical carioca ao lado de Oswaldo Montenegro. A participação no Projeto Pixinguinha e a vitória que obteria um ano depois no Festival da Rede Globo foram momentos de destaque de sua carreira – que também em 1980 teve o primeiro disco: um compacto lançado pela gravadora Warner.

4. A caravana na estrada

Com o aumento dos preços dos ingressos e com a seleção de um cast visivelmente irregular, o Projeto enfrenta problemas de baixa lotação e críticas na imprensa especializada.

Em Porto Alegre, não só os jornalistas questionam a escolha artística, como a própria equipe local de apoio ao Projeto relata o desagrado do público gaúcho diante do nível dos artistas enviados àquela cidade. Brasília também reage mal à seleção musical do ano de 1979 e faz duras críticas à direção do Pixinguinha. Cai significativamente o afluxo de espectadores.

Algumas duplas, porém, seguiram obtendo êxito de público em seus shows. Zezé Mota, Luiz Melodia e Marina chegaram a fazer uma apresentação extra em São Paulo, tamanha a demanda por ingressos. O sucesso trazia

Peri Ribeiro. Acervo Funarte.

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como consequência negativa a ação impune de dezenas de cambistas, que chegavam a cobrar Cr$ 150 por um ingresso de Cr$ 35.

Apesar da participação decisiva das secretarias de cultura e coordenadores locais, sem cujo apoio o Projeto não teria sobrevivido nos moldes propostos, o Pixinguinha seguia gerando certa insatisfação exatamente por ser acusado de privilegiar os artistas do eixo Rio-São Paulo.

5. Balanço do terceiro ano

Depois de dois anos de êxito e crescimento, o Projeto Pixinguinha começa a sofrer desgastes institucionais em sua terceira edição, passando a experimentar um ambiente menos simpático por parte da imprensa e do público em geral.

Mantido no cargo pelo novo presidente-general Figueiredo, Roberto Parreira, presidente da Funarte, apressa-se a declarar, no início de 1979, que a instituição por ele dirigida não se resumia ao Pixinguinha. A diminuição do aporte financeiro dedicado ao Projeto parecia não dever-se, por inteiro, à crise econômica então enfrentada pelo país. Parreira não se furta em manifestar suas dúvidas sobre os moldes da iniciativa e garante que esse questionamento, totalmente válido em sua visão, também levou o governo a rever os gastos com as caravanas musicais daquele ano.

Apesar do redimensionamento financeiro e das críticas, o Projeto tenta multiplicar-se em novas iniciativas, aproveitando o seu enorme carisma conquistado ao longo de sua breve história. É nesse contexto que Hermínio Bello de Carvalho, desde 1978 à frente da Consultoria para Projetos Especiais da Funarte (CONPROES), lança a ideia da Feira Pixinguinha, cujo piloto será realizado no primeiro semestre de 1979, em Brasília (que inaugurava sua Sala Funarte). Coordenada pelo compositor Sidney Miller e voltada para a descoberta de novos talentos da MPB, a Feira Pixinguinha era um festival competitivo de canções cujo prêmio seria o registro das doze finalistas de cada edição para serem lançadas em um LP da Funarte.