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Apostila de Software Livre e assuntos correlatos DCE-Livre da USP “Alexandre Vannucchi Leme”

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Apostila de Software Livree assuntos correlatos

DCE-Livre da USP “Alexandre Vannucchi Leme”

Sumario

1 Introducao 41.1 Hardware . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51.2 Software . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2 O quee o software livre 92.1 Vantagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112.2 Historia do movimento pelo Software Livre . . . . . . . . 142.3 Instrumentos legais que os regulamentam . . . . . . . . . 182.4 Distribuicoes GNU/Linux . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212.5 Ambientes graficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 242.6 Mitos e equıvocos que cercam o Software Livre . . . . . . 262.7 Equivalentes aos softwares proprietarios conhecidos. . . . 30

3 Formatos livres de arquivos eletronicos 433.1 ODF-Open Document Format . . . . . . . . . . . . . . . 45

4 TV Digital 48

5 Inclusao Digital 50

6 Licencas Creative Commons 50

7 Construcao colaborativa de conteudo 507.1 Wikipedia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

8 Certificacao Eletronica 50

9 Casos de sucesso em uso de Software Livre 519.1 Poder publico e grupos polıticos . . . . . . . . . . . . . . 519.2 Movimentos Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

9.2.1 Entidades Estudantis . . . . . . . . . . . . . . . . 529.3 Empreendimentos solidarios . . . . . . . . . . . . . . . . 529.4 Empresas do capitalismo tradicional . . . . . . . . . . . . 52

10 Conclusao 52

4DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”

Gestoes 2006/7(Camarao) e 2007/8(Vez e Voz)

1 Introduc ao

Tradicionalmente, o Movimento Estudantil (ME) discute e mobiliza-se emtorno de assuntos ligados as lutas pela qualidade do ensino, as diversasformas de opressao praticadas contra alguns grupos de pessoas, a defesade patrimonios publicos constantemente ameacados por interesses priva-dos e discussoes polıtico-filosoficas de toda sorte. A maioria das pessoasinteressadas nessas questoes e que sonha com uma sociedademais justa eestudante de cursos universitarios da area de Humanidades.Dessa forma, quando e necessario discutir nesse meio um assunto de cu-nho tecnologico, encontra-se resistencia e apatia; mesmo tratando-se deuma luta que tambem pode ser vista como um movimento social que querdar mais liberdade para as pessoas, algo que “pode tornar o mundo umpouquinho melhor”, numa abordagem mais piegas.Nesse contexto esta incluıda a questao do Software Livre. Quando seus(su-as) defensores(as) procuram mostrar para integrantes de diversas lutas emovimentos a sua importancia na construcao de uma sociedade mais de-mocratica geralmente nao encontram retorno adequado. Muita gente jaouviu falar em alguns dos softwares livres mais famosos, masnao sabe oque isso significa direito; seja fora das universidades, noscursos de Hu-manidades e Biologicas ou mesmo em menor escala dentro dos cursos deExatas.Esta apostila foi elaborada por alguns alunos da USP que teminteresseem ver essa questao esclarecida e aceita dentro dos movimentos estudan-tis e sociais, sob encomenda do DCE-Livre, gestoes 2006/7 (Camarao) e2007/8. Autor: Francisco Jose Alves1 “Zeppelin” “laranjatomate” (EESC).Colaboradores:Pode-se copiar e distribuir o presente material de acordo com as licencasCreative Commons nc-nd-sa$\© =©

C

© , conforme sera explicado emdetalhes na secao 6.Esta apostila foi elaborada usando-se exclusivamente softwares livres, enao tem o objetivo de ser um curso que os ensine a usar, mas apenas mos-trar questoes filosoficas, sociais, polıticas, economicas e estrategicas portras desse assunto tecnico.

[email protected]

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.1 - Introducao 5

1.1 Hardware

Sem entrar em demasiado em detalhes tecnicos, vamos comecar expli-cando um pouco do funcionamento dos computadores. Apesar deenfa-donho para quem nao e aficcionado(a) pela area, tais conhecimentos seraouteis para compreender o que sera discutido adiante.Basicamente, um computador e uma maquina que faz calculos. Ela pegaos numeros em determinado lugar, faz os calculos necessarios e coloca osresultados em outro lugar. Por isso que em frances tal maquina e deno-minadaordenateur. Quem ja viu nos escritorios de Contabilidade antigascalculadoras mecanicas acionadas por manivela, que em seus mecanismoslevavam dos numeros teclados aos resultados das somas/subtracoes/multi-plicacoes/divisoes pode imaginar com um pouco mais de facilidade o queacontece dentro de um computador; pois a diferenca e que aoinves de com-ponentes mecanicos o que se movimenta sao pequenas cargaseletricas, emum ritmo muito mais acelerado.Como qualquer equipamento eletronico, computador e “tapado”, “pau--mandado”. Ele faz exatamente o que o(a) programador(a) manda, semquestionar, sem perceber falhas humanas de programacao.Tarefas comoescolher os melhores tamanhos de letras e margens para a editoracao de umjornal, ou exibir um objeto girando e pulando no monitor, sao resultado deoperacoes que geralmente demandam milhares de calculospor segundo esao orientados por pedidos do(a) usuario(a) e pelo que jafoi programado.Os programas, os dados de entrada e de saıda sao armazenados em meioeletronicos de formabinaria, ou seja, na forma de zeros e uns. A combina-cao deles representa letras, numeros e outros sımbolos. Cada 0 ou 1 podeser representado pela orientacao de uma partıcula magn´etica num disquete,pela presenca ou ausencia de luz por determinada fracaode segundo emuma fibra otica ou de pulso eletrico em um fio, pela existencia ou nao deuma marquinha microscopica na superfıcie de um CD que permite ou nao areflexao doLASERincidente. Poder-se-ia ainda convencionar que um graode feijao significa 0 enquanto o grao de milho representa 1 econvencionarque 01100001=a 01100010=b e por aı vai para que um texto pudesse serrepresentado por uma sequencia de graos dispostos sobre uma superfıciequalquer.No sistema binario (com base 2 ao inves do 10 ao qual estamosacostu-mados/as), 01100001=97 pois 97= 9 × 10 + 7 que na base binaria fica1 × 26 + 1 × 25 + 0 × 24 + 0 × 23 + 0 × 22 + 0 × 21 + 1 × 20. Noscomputadores, a letra “a” minuscula e tratada pelo codigo 97. Os 8bits

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utilizados para armazenar umbytepermitem 256 combinacoes, que temoutros usos alem das letras, numeros e sinais de pontuac˜ao. Podem porexemplo representar 256 tonalidades de vermelho, verde ou azul, permi-tindo 2563 = 224 = 16777216 cores diferentes. Cadapixel (pequenoquadrado com uma unica cor, pode-se perceber dando umzoomnuma fi-gura digitalizada que trata-se de um mosaico) precisa portanto de 3bytespara seu armazenamento.Da mesma forma, musicas sao armazenadas nos CDs convencionais comouma tabela com a posicao da pelıcula da caixa de som armazenada com16bits (216 = 65536 combinacoes) atualizada a 44100 vezes por segundo(calculos complicadıssimos provam que assim o ouvido humano pratica-mente nao percebe diferenca entre o CD e a musica de verdade).Os formatos JPEG para figuras e MP3 para musicas permitem quese ocupeum espaco muito menor nos dispositivos de armazenamento dedados,gracas a transformacoes matematicas que permitem descrever mudancasde cor e vibracoes sonoras atraves de equacoes. As formulas que ocupammenos espaco exigem mais do computador na hora de exibir o que quere-mos.

1.2 Software

Ha varias formas de se programar um computador. Ha a programacao emalto e baixo nıvel (que nao tem nada a ver com carater, moral ou vulga-ridade). A programacao de alto nıvel pode ter programascompiladoseinterpretados. O mais comum e versoftwarescompilados programadosem alto nıvel, e nessa categoria reside a diferenca entresoftwarelivre eproprietario.A programacao em alto nıvel e feita atraves da elaborac¸ao de umcodigo--fonte com instrucoes que o computador deve obedecer quando o pro-grama estiver executando. Quando o porgrama e compilado, ocodigo-fonte e transformado em outra forma de arquivo binario queso e com-preendida pelo proprio equipamento e por quem entende de compiladores.Nos programas interpretados tais instrucoes, compreensıveis para os(as)programadores(as), sao lidas diretamente pelo processador, levando a pro-gramas um pouco mais lentos na sua execucao. Costuma-se dizer que ocodigo-fonte e uma especie de receita de bolo, con uma serie de instrucoespara se reazlizar uma determinada tarefa. Em Computacao,essa seria deinstrucoes dadas a uma maquina ou pessoa para resolver determinado pro-blema de forma sistematizada e chamada dealgoritmo.

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.1 - Introducao 7

Ha ainda a programacao em baixo nıvel, que consiste em criar um pro-grama diretamente com ordenando osbits de forma compreensıvel parao hardwareexistente.E uma tarefa semelhante a da engenharia genetica,pois ha 4 bases nitrogenadas (A, T, C, G) que podem corresponder a 2bitscada, que sao alteradas e transportadas entre especies para dar origem a no-vas formas de seres vivos transgenicos. As instrucoes doDNA coordenama construcao e o funcionamento de determinado organismo,como nenhum“Criador” deu para os humanos o fonte da “compilacao” de nenhum de-les, faz-se programacao em baixo nıvel na programacaodos seres vivos,levando a criaturas com novas estruturas anatomicas e funcionamentos fi-siologicos.Da mesma forma que o DNA se replica praticamente sem prejuızo a estru-tura original (aı reside uma das causas do envelhecimento edeterioracaodas celulas), os arquivos eletronicos podem ser copiadosindefinidamentesem perder sua qualidade, desde que o meio fısico (disquete, CD, pen-drive) nao seja danificado. A informacao e o conhecimento, bens in-tangıveis, quando copiados nao privam do seu uso a pessoa que o forneceupara copia. Ambos continuam com informacoes e arquivos perfeitos emmao.Nos primordios da Computacao, haviam poucos computadores em opera-cao no mundo todo. Houve gente importante do setor que chegou a dizerna decada de 1970 que e ridıcula a ideia de ter um computador em casa,ou ainda que o mundo teria mercado para apenas 5 ou 6 maquinas, nosanos 1960. Tais maquinas foram concebidas inicialmente para ajudar emtarefas de Engenharia que exigem milhoes de calculos em curto espacode tempo, ou ainda para o trato com grandes bancos de dados, sendo utilpara governos e grandes corporacoes em geral, especialmente bancos. Suatransformacao em maquina de escrever de luxo ou eletrodomestico de en-tertenimento foi um acidente.Naqueles tempos, osoftwareera livre, ou seja, seu codigo-fonte nao eraescondido a sete chaves como autalmente. Havia interesse emvender oequipamento e era interessante para os fabricantes que houvessem maisprogramas para elas e gente trabalhando no desenvolvimentodeles. Naohavia venda desoftwarecomo atualmente. Em 1978, Bill Gates publi-cou um artigo em uma revista cientıfica fazendo apologia ao modelo desoftwareproprietario, incentivando as empresas desenvolvedorasde soft-ware a vender direitos de uso sobre eles e restringir o acesso aos fontesaos limites da empresa. Sua sugestao foi aceita pela industria e, aliadaa popularizacao dos computadores pessoais nos anos 1980fez com que a

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populacao considerasse natural a possibilidade de adquirir apenas odireitode usodo programa pronto, mesmo que em condicoes mais desfavor´aveisque aquelas verificadas quando nao havia restricao de acesso aos fontes.Esse modelo ajudou algumas empresas a se fixar e crescer no mercado.Para nao caracterizar aquela cena em que o Seu Madruga explica ao Chaveso jogo de boliche enquanto o menino fica imaginando uma mesa deres-taurante com mudas de arvores Pinus e as bolas de boliche sendo usadascomo luvas de boxe, vamos apresentar um exemplo simlpes de c´odigo-fonte. Trata-se de um programa que calcula os dıgitos verificadores doCPF quando insere-se os seus 9 dıgitos principais. Na linguagem de pro-gramacao usada, o que vem apos as duas barras sao coment´arios ignoradospelo compilador, que servem apenas para orientar os/as programadores(as)que leem o codigo. Nota-se uma serie de instrucoes em ingles e uma certasintaxe para determinar o que e quando o programa deve exibire calcular.

//Fonte: Prof. Maur ıcio Nacib Pontuschka (PUC-SP)//www.pucsp.br/˜tuska/2002/arquivos/extras/CPF.C#include <stdio.h>void main() {

char c[15];int soma, resto, digito1, digito2, i;printf("Entre com o n£mero do CPF:");scanf("%s",&c);

//C alculo do 1º d ıgitoi=0;while (i<9) {c[i++]-=48;}i=10;soma=0;while (i>1) {soma+=c[10-i] * i--;}resto = soma % 11;if (resto < 2)

digito1 = 0;else

digito1 = 11 - resto;//C alculo do 2º d ıgito

i=11;soma=0;while (i>2) {soma+=c[11-i] * i--;}

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.2 - O quee o software livre 9

soma += digito1 * 2;resto = soma % 11;if (resto < 2)

digito2 = 0;else

digito2 = 11 - resto;//Impress ao do resultado

printf("Digitos verificadores :%d%d",digito1,digito2);

}

Antes de comecar a falar do tao esperado Software Livre e necessario ex-plicar o que eSistema Operacional(SO). Trata-se de um conjunto deprogramas que fazem a intermediacao entre os programas comuns, ohard-waree as acoes do(a) usuario(a). Exemplos de SOs sao: MS-DOS, Win-dows (marcas registrads da Microsoft), OS/2 (da IBM), MacOS(da Apple)e Linux (registrada por seu criador Linus Torvalds). Geralmente confunde-se Software Livre com Linux, que e apenas o nucleo de um sistema oper-caional livre. Ha programas proprietarios que funcionamsob SOs livrese vice-versa, apesar ser mais comum a existencia desoftwareslivres comversao para SOs igualmente livres como o Linux.Os cursos de Ciencia da Computacao tem disciplinas especıficas sobre ofuncionamento e a confeccao de Sistemas Operacionais.

2 O quee o software livre

Muita gente confunde Software Livre comsoftwaregratuito. A liberdade de que se trata e a de ter acessoao codigo-fonte que gerou o programa.E perfeita-mente possıvel haver software proprietario gratuito(como os conhecidossharewaresde downloadgra-tuito) e softwareslivres pagos. Um bom exemplo eo programa fornecido gratuitamene pela Receita Federal para elaboracaode delcaracoes de Imposto de Renda, que nao permite o acesso ao seusfontes para toda a populacao.Pode-se pagar pelo desenvolvimento de um Software Livre, manutencaoou treinamento de pessoal. Richard Stallman, presidente daFree Software

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Foundation2, idealizador do movimento pelo Software Livre e notavelprogramador, diz:

Free as in free speech, not as in free beer.

Ou seja, livre de “liberdade de expressao” e nao como e entendido em“cerveja gratis”. Para umsoftwareser considerado livre, deve atender aquatro requisitos:

• A liberdade de executar o programa, para qualquer proposito (edu-cacional, comercial, lazer);

• A liberdade de estudar como o programa funciona, e adapta-lo paraas suas necessidades. Acesso ao codigo-fonte e um pre-requisitopara esta liberdade;

• A liberdade de redistribuir copias de modo que voce possa beneficiaro proximo;

• A liberdade de aperfeicoar o programa, e liberar os seus aperfeico-amen tos, de modo que toda a comunidade se beneficie. Acesso aocodigo-fonte e um pre-requisito para esta liberdade.

Quando osoftwaree livre, pode-se pegar seu codigo-fonte atraves dedown-load ou outro meio qualquer e compila-lo em casa, alterando sua progra-macao ou nao. O(a) usuario(a) tem liberdade para definiroutro rumo parao programa, nao apenas aquele predeterminado pela empresafornecedora.Tendo a “receita do bolo” na mao hao ha como cobrarroyaltiespelo seumero direito de uso. Ao contrario dosoftwareproprietario, nao ha proble-mas com pirataria, pois com uma copia de um pacote e instalac¸ao de Soft-ware Livre pode-se instala-lo com quantos computadores sequeira semprecisar dar satisfacao ao seu time de desenvolvimento.Ha, porem, a exigencia de que caso essesoftwareseja passado adiante,as mesmas liberdades sejam mantidas. Uma empresa pode alterar umSoftware Livre sem contar nada a ninguem, mas nao pode distribuir talalteracao apenas em formato programa-pronto (binario). “Uma vez Fla-mengo, sempre Flamengo”, a mesma regra aplica-se aos Softwares Livres.Pode-se dizer que a GPL e uma “Licenca-Flamengo”O pai do autor principal, tecnico em Contabilidade, sempreaconselhavaseus filhos a nao corrigir/revisar os proprios textos; pois ja o tendo em

2<http://www.fsf.org>

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mente, junto de determinados vıcios fica mais difıcil encontrar erros. Queme contabilista sabe disso e passa seus lancamentos contabeis para outra pes-soa conferir. Da mesma forma, os Softwares Livres estao a disposicao deum numero muito maior de programadores e programadoras ao redor detodo o planeta, que veem a vida de formas diferentes, que passaram pordiversas experiencias. Erros que “passam batido” por quemcriou um pro-grama em uma localidade podem ser facilmente detectados e corrigidospor pessoas de outro lugar. As vantagens de usar Software Livre seraomais detalhadas adiante.Codigo-fonte e como receita de bolo. Sendo livre, quem e alergico a glutenpode livrar-se a tempo de um bolo com farinha de trigo e tentarfazer umsemelhante com fecula de mandioca ou batata. Quem e vegano(nao con-some nada de origem animal) pode criar uma “versao” sem ovosdo mesmoprato se tiver acesso a receita. Alternativas que nao existem quando ha um“monopolio” por parte da padaria ou restaurante.Ha tambem no Software Livre a ausencia de restricao no acesso ao co-nhecimento, o que e especialmente grave quando as empresasvendedo-ras de software proprietario aproveitam-se do conhecimento acumuladopos seculos para produzir algo fechado. Com o Software Livre pode-secomecar onde outra pessoa parou, sem e necessidade de desenvolver al-guma aplicacao especial a partir do nada.

2.1 Vantagens

Apesar da pouca preocupacao com o respeito a direitos autorais e com apirataria no Brasil, a primeira vantagem enxergada no Software Livre ea reducao de custos para seus/suas usuarios(as). Mesmo tendo elevadoscustos na migracao de seu parque de maquinas e no treinamento de seupessoal, na pior das hipoteses ganha-se a longo prazo quando deixa-se derealizar pagamentos vultosos para grandes corporacoes que vivem de ven-der licencas desoftwareproprietario, pois tais atualizacoes para versoesmais recentes sao periodicas.Nada impede tambem que alguem cobre pelo custo do mıdia (CD virgempor exemplo), do tempo de copia, do transporte, etc.; e venda CDs comSoftwares Livres. A unica exigencia e manter a liberdadeque se teve eincluir o codigo-fonte no pacote ou ao menos da uma indicacao de ondepode-se fazer odownloaddeles.Admitamos que orgaos fiscalizadores nao tem interesse em punir “peixespequenos” como pessoas fısicas que temsoftwaresproprietarios piratas em

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casa, inclusive porque precisariam dar-se ao trabalho de obter uma ordemjudicial para violar uma residencia. Nao faz sentido adotar um discursomoralista que exalte a honestidade, o “dar a Cesar o que e deCesar” oumesmo que insinue que pirataria desoftwaree roubo. Deve-se incenti-var o uso do Software Livre nos pequenos estabelecimentos e residenciasexltando-se suas outras qualidades.Ja que foi falado em pirataria, roubo e moralismo; pode-se dizer que como Software Livre ha uma honestidade em mao dupla. Nao apenas o/ausuario(a) deixa de ser desonesto(a) com o fabricante mas aempresa oucoletivo desenvolvedor e honesta ao fornecer umsoftwaretransparente,que pode ser auditado. Se uma falha de seguranca for descoberta, ela podeser consertada em pouco tempo e uma versao a prova daquela vulnerabi-lidade pode ser lancada em pouco tempo. Nosoftwareproprietario, naose sabe quais procedimentos estao imbuıdos em sua programacao, que foifeita para atender a maioria dos(as) usuarios(as). Nada garante que naohaja uma “treta” que faca algo que o/a usuario(a) nao aprovaria, ou aindaque alguma caracterıstica inovadora esta sendo guardadapara a proximaversao (para que tenham mais produtos para vender) quando poderia serimplementada ja.Com Software Livre nao ha tanta dependencia em relacaoas empresasfornecedoras. Alguem que, por exemplo, planta abobrinha enao sabe pro-gramar, pode encomendar umsoftwarelivre para gerenciar sua producao.Se o programna for proprietario e houver um desentendimento entre aspartes, ou o(a) responsavel pelo desenvolvimento do programa morre oufecha sua empresa; o(a) cliente fica desamparado(a). Sendo livre, pode-setrocar de fornecedor de servicos de programacao/desenvolvimento quandonecessario. Pode-se ainda levar os codigos-fonte para outra pessoa quetenha uma plantacao de chuchu e deseja informatizar suas atividades. Oprograma feito para gerenciar plantacao de abobrinha pode ser alteradopara as particularidades da cultura de chuchu sem que seja necessario rein-ventar a roda, ou seja, escrever outrosoftwarea partir do nada.Ja que o presidente Lula tenta explicar muita coisa fazendometaforas fu-tebolısticas e o autor principal e engenheiro mecanico,vamos a algumascomparacoes com o automobilismo:Softwareproprietario e uma caixa-preta. Usa-lo corresponde a tomar um taxi de olhos vendados; pois chega-se ao destino pretendido sem saber se haveria uma forma mais pratica,rapida, segura e barata de faze-lo. Falhas descobertas emSoftwares Li-vres importantes costumam ser reparadas em dias ou memso horas! Naose varre a poeira para debaixo do tapete, costuma-se alertartoda a comu-

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nidade da descoberta da falha e do trabalho em torno do desenvolvimentode uma solucao. Por nao ser possıvel modificar e adaptar osoftwarepro-prietario e o(a) usuario(a) ficar a merce da boa vontade da empresa desen-volvedora; pode-se compara-lo a um automovel com capo soldado. Um(a)engenheiro(a) que nao seja dessa empresa nao pode abrir o capo para vercomo e o motor nem abaixar a suspensao ou o cabecote, converter paraalcool ou gas natural, colocar vidro escuro, ou algo que o valha.E interessante que a populacao reclamaria muito se essas coisas aconte-cessem no mundo automobilıstico, mas nao reclama quando acontece nomundo dosoftware!Os Softwares Livres tambem sao passıveis de permitir quese chegue ausos inusitados em relacao a ideia original, para ter flexiblidade e rece-ber novas funcionalidades especıficas que sao necessarias a uma pequenafatia do mercado. Nesse caso pode-se pagar para uma empresa ou pro-gramador(a) adaptar osoftwarea necessidade de cada cliente, afinal naosao todos(as) que sabem programar. A diferenca e que nesse modelo o(a)cliente nao e dependente de um unico fornecedor, de um monopolio, quetem poder para estabelecer regras escorchantes.Uma luta importante que deveria ser construıda principalmente por movi-mentos polıtico-partidarios e pelo uso de Software Livre nas urnas eletronicas.Atualmente nao temos conhecimento de seus metodos internos de funcio-namento, tal equipamento nao pode ser auditado.O ideal seria disponibilizar o codigo-fonte dos seussoftwarespara todo opublico. Fiscais representando os partidos polıticos analisariam os fontespara atestar sua lisura. Taissoftwaresseriam compilados em uma sessaopublica. O programa compilado seria instalado nas urnas, que seriamlacradas tambem na presenca desses(as) fiscais e de quem seinteressar.Chaves de autenticacao3 seriam geradas para reforcar a prova de que oprograma instalado naquela sessao publica nao foi alteradoem baixo nıvelnem foi substituıdo.Alguns milhoes de Reais de eventuais gastos adicionais nao fariam muitadiferenca, dada a importancia de ter-se eleicoes honestas. O Governo deveexigir isso nos editais para fornecimento das urnas eletronicas. Nao pre-cisamos voltar as cedulas de papel (como pedia Leonel Brizola em seusultimos meses de vida) so por causa dessas desconfiancas atuais em relacaoao nosso processo eleitoral.

3Metodos matematicos baseados na multiplicacao de mumeros primos muito grandes po-dem provar a autenticidade e autoria de arquivos eletronicos. Os Governos Federal e algunsestaduais estao investindo em certificacao eletronica(secao 8)

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Por incrıvel que pareca, o uso de Softwares Livres tambempode ser fa-voravel ao meio ambiente. O modelo desoftwareproprietario incentiva aobsolescencia programada, que e a necessidade de atualizar ohardwarepara acompanhar os “avancos” dosoftware. O descarte de computado-res antes do real fim da sua vida util faz com que a energia e os recur-sos naturais (alguns deles toxicos) usados em sua fabricac¸ao sejam sub-aproveitados, alem de acelerar o seu ciclo de consumo e contribuir com apoluicao da agua e do solo por baterias e geis de capacitores. Seguindo olema do projeto USP Recicla, que diz que deve-se “reduzir, reutilizar e emultimo caso enviar para reciclagem”; usarsoftwaresmais “enxutos” e quenao sejam tao exigentes (a flexibilidade do Software Livrepermite isso)permite um substancial aumento na vida util desses equipamentos, bemcomo o “retorno a vida” de muitos deles que estavam esquecidos. A ONGMeta Reciclagem4, com sua princpal sede em Santo Andre-SP e “filiais”em diversas cidades, usa do conhecimento tecnico de pessoas engajadasna luta pela popularizacao do Software Livre para revitalizar (termo muitocomum na boca dos/as polıticos/as atualmente) computadores descartadose direciona-los para projetos sociais e de inclusao digital.O lancamento periodico de novas versoes de determinadosoftwarepro-prietario pode trazer (e geralmente traz) outra armadilha: aos poucos criam-se versoes de programas e arquivos incompatıveis entre si, de forma aimpedir que arquivos elaborados emsoftwaresantigos sejam lidos nasversoes mais atuais do mesmo, o que forca parte da populacao a ter (querseja comprando ou pirateando) a ultima palavra em determinadosoftwarepara poder comunicar-se adequadamente. Nao parece, mas o desenvolvi-mento de Softwares Livres sempre e feito buscando-se a compatibilidade,inclusive retroativa.

2.2 Historia do movimento pelo Software Livre

Richard Stallman

Em 1983, o fısico Richard Matthew Stallman, ati-vista em lutas por liberdades civis e individuaisnos EUA; deparou-se com um problema tecnicona impressora Xerox do seu local de trabalho: asretas impressas por ela estavam em formato leve-mente ondulado. Tendo conhecimento em e gostopor programacao de computadores, requisitou ao

4<www.metareciclagem.org>

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.2 - O quee o software livre 15

fabricante o codigo-fonte dodriver5 dessa impres-sora, dizendo que tinha conhecimento tecnico pararesolver o problema e de quebra disponibiliza-lo

para todos(as) os(as) seus/suas clientes ao redor do mundo.Seria bompara ele, para os/as demais clientes e para o fabricante, queinfelizmentenegou-lhe o acesso as instrucoes que geram taldriver e tambem nao o con-sertou por conta propria.Diante desse fato Richard percebeu a importancia de lutar para que osoft-ware voltassea ser livre e comecou um projeto ambicioso: desenvolvertodo um SO com diversas ferramentas uteis para tarefas informatizadasque fosse livre. Tal desenvolvimento deveria ser feitofrom scratch, ou seja,a partir do zero, sem “chupinhar” codigo-fonte de nenhum outro prorgamaproprietario.Em 1985 foi fundada a Free Software Foundation, com sede em Boston,Massachussets, EUA.Stallman comecou sua empreitada sozinho, depois com ajudade colegas detrabalho do MIT, onde desenvolvia sua pos-graduacao. O primeiro projetofoi de um editor de texto chamado Emacs, que quando ficou razoavem-lente usavel foi prontamente disponibilizado paradownloadno servidorFTP (File Transfer Protocol, muito usado parauploadse downloads) dainstituicao. Havia tambem a opcao de comprar uma fita magnetica como programa e seu codigo-fonte, util para quem nao tinha conexao com aInternet na epoca. O preco pode parecer salgado (US$ 150) para um pro-grama que poderia ser baixado gratuitamente, mas trazia a vantagem dedar liberdade de estudo e desenvolvimento de novas funcionalidades aoeditor.Com o tempo, mais colaboradores(as) juntaram-se a esse e a outros proje-tos de Softwares Livres que foram surgindo, tendo na expans˜ao da Internetuma grande aliada. A existencia de umrepositorio de codigo-fonte queesta a disposicao de qualquer um(a) em qualquer lugar domundo agilizamuito a troca de informacoes e o desenvolvimento em si.Os sistemas operacionais usados por Richard Stallman e pelas pessoas ini-cialmente envolvidas no seu projeto eram diversos tipos de Unix. Esse SOe mais robusto, seguro, complexo, difıcil de operar e dotado de alguna re-cursos que o MacOS, Windows ou o MS-DOS por exemplo; nao tem. OsUnices sao usados com mais frequencia em servidores de bancos de dadosou de acesso a Internet, ou ainda em areas tecnologicas deuniversidades.

5Em Computacao, trata-se de programas especıficos que definem as regras decomunicacao de um determinadohardwarecom o sistema operacional e os demais programas

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Os outros SOs mais faceis de operar sempre foram os preferidos dos(as)“mortais”.Stallman escolheu o gnu, um antılope africano, para ser o mascote do mo-vimento. O sistema operacional livre idealizado por ele e chamado deGNU, que significa (Gnu is Not Unix).E um acronimo, uma brincadeiracomo o nome do animal, que serve par lembrar que seu projeto eumacoisa, e os Unices em geral sao outra. O sistema operacionalGNU temsua estrutura, comandos e modos de funcionamento semelhantes ao dosUnices existentes.Aı reside uma das principais causas de resistencia na migracao para Soft-ware Livre: Deve-se aprender a usar algum Unix. O proprio Linux e umaespecie de Unix. Quem idealizou o Software Livre nao quis fazer algo ex-ternamente semelhante ao MS-DOS ou ao Windows 3.1.A excecao da pouca familiaridade de muita gente com os Unices e ao pe-queno alcance da Internet no fim dos anos 1980, tudo ia muito bem. Faltavaum pequeno detalhe para que fosse possıvel usar um computador exclusi-vamente com software livre: uma peca chamadakernel! Faltava a cerejano bolo, a parte principal do SO. Em 1991, um formando de Ciencia daComputacao finlandes chamadoLinus Benedict Torvaldsestava com pro-blemas que viriam de encontro as necessidades do projeto GNU: ele queriaestudar profundamente a arquitetura dos microprocessadores 80386, usarum Unix no seu PC (so havia MS-DOS e Windows 3.x para IBM-PC 386na epoca) e nao ser obrigado a atravessar ruas cheias de neve para che-gar ao equivalente da Sala Pro-aluno6 da Universidade de Helsinki paraacessar a Internet; uma vez que poderia acessar o servidor via linha te-lefonica se pudesse curtir tudo o que um Unix pode oferecer em casa.

6Chamada de LIG (Laboratorio de Informatica para Graduacao) na UFSCar e de Polo naUnesp

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.2 - O quee o software livre 17

Tux, o pinguim--mascote do Linux

Ele comecou a desenvolver umkernel, que quandotinha um mınimo de usabilidade (agosto) foi di-vulgado numnewsgroup7sobre SOs. Ele anunciouque essekernel seria disponibilizado de acordocom a Licenca Geral Publica da Free SoftwareFoundation nao pelo mesmo altruısmo e idea-lismo que movem Richar Stallman, mas por en-xergar nesse modelo de desenvolvimento vanta-gens tecnicas. Teria na mao seu Unix para 80386em menos tempo, tambem poderia contar com umproduto de melhor qualidade gracas a colaboracaode mais gente.

Em outubro daquele ano era lancada a primeira versao estavel do Linux,cujo nome significa Linus’ Unix. O Unix do Linus. Seu desenvolvimentoe o de outros programas continuou, porem sem muita preocupacao com osusuarios “mortais” ate o fim dos anos 1990. Nesta decada que o desenvol-vimento de Software Livre comecou a preocupar-se com os/asusuarios(as)finais, surgindo projetos de desenvolvimento de Softwares Livres para ta-refas cotidianas de grande parte da populacao; para SOs livres ou nao. Asecao 2.7 mostra uma tabela com Softwares Livres equivalentes aos princi-paissoftwaresproprietarios conhecidos para as mais diversas aplicac˜oes.Pode-se dizer tambem que atualmente o Software Livre como um todoesta maduro o suficiente para atender a grande maioria das demandas depopulacao em geral e das empresas, havendo espaco para desenvolver oque falta. Em alguns nichos especıficos, porem, o SoftwareLivre dificil-mente entrara.

Aos poucos pessoas que nao estudam Computacao nem EngenhariaEletrica somam-se ao movimento, seja simplesmente usandoSoftwaresLivres, colaborando com seu desenvolvimento sem necessariamente sa-ber programar (por exemplo, elaborando musicas, artes visuais ou asse-sorando desenvovledores com outros conhecimentos), contribuindo comdocumentacao e traducao, testando versoes Beta e reportando problemasaos coletivos de desenvolvimento. Ou simplesmente militando para divlu-gar o assunto, levar a discussao a seu respeito para fora da “torre de silıcio”e exigir que pelo menos os orgaos publicos e entidades semfins lucrativosgastem seu dinheiro com responsabilidade e nao exijam de seus/suas as-

7Neles, pode-se discutir sobre diversos assuntos, porem sem a interfacegrafica bonitinhae amigavel do Orkut

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Gestoes 2006/7(Camarao) e 2007/8(Vez e Voz)

sociados(as) e cidada(o)s que usem determinadossoftwarese formatos dearquivos proprietarios.

2.3 Instrumentos legais que os regulamentam

Linus Torvalds

O/A programador(a) tem a sua disposicaodiversas ferramentas legais para proteger odireito autoral de seus codigos sem preci-sar esconde-los, podendo escolher a maisadequada para cada caso. No ambientedo Software Livre tambem ha acordos en-tre usuario(a) e time de desenvolvimento,que sao implicitamente aceitos quando clica-se no botao “Next” na instalacao de algunssoftwaresem ambientes graficos. Clicarnessas opcoes com a inscricao “Next” ou“aceito os termos da licenca” tem o valor le-

gal de aceitar as condicoes de quem desenvolveu osoftware, seja livre oupriprietario. A vantagem dos Softwares Livres e que suas condicoes naosao tao desfavroaveis.A principal licenca de Software Livre e aGPL (General Public License),redigida pela Free Software Foundation. Trata-se de um texto extenso ede difıcil leutura (esta disponıvel em ingles no site daFSF), que diz basi-camente que quem usa umsoftwaresob suas condicoes tem as 4 liberda-des citadas e que caso o redistribua deve manter o acesso a elas. A GPLtambem tem um carater “viral” que “contamina” outros programas que re-cebam trechos de codigo sob essa licenca, nesse caso o novoprogramatambem deve ser distribuıdo pela mesma licenca.Ja foi dito que nada impede que umsoftwareproprietario funcione sob SOlivre ou vice-versa. Porem o funcionamento combinado de umprogramasob GPL com um proprietario ou simplesmente com outro tipo de licenci-amento incompatıvel nao e permitido. Mesmo tendo na FSF pessoas quesonham com um mundo onde todos ossoftwaresfossem livres, foi elabo-rada uma licenca ligeriamente diferente para “quebrar um galho”: aLesserGeneral Public License (LGPL). Uma de suas utilidades e permitir quebibliotecas8 livres possam ser utilizads porsoftwaresproprietarios. . Seu

8Biblioteca e uma colecao de subrotinas que podem ser usadas porsoftwaresdistintos.Servem para facilitar o desenvolvimento deles, poupando trabalho de desenvolver instrucoessemelhantes para problemas semelhantes e espaco em disco.Por exemplo, uma biblioteca

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.2 - O quee o software livre 19

objetivo e justamente permitir quesoftwareslivres possam ser combina-dos com modulos nao-livres e vice-versa. Entretanto a FSFnao estimulaseu uso, e sim o da GPL convencional, para quesoftwaresnao livres tra-balhem em conjunto com essas bibliotecas. Tal atitude pode incentivaro uso de Softwares Livres ou distanciar as pessoas dele, dependendo dasimpatia que determinada pessoa, grupo ou empresa nutre porele. Outrofator quepesa nessa decisao pode ser a existencia de bibliotecas altamenteavancadas.A terceira e ultima versao da GPL tem atualizacoes para evitar que o Soft-ware Livre nao seja vıtima dativoizacao indiscriminada. Hahardwarequeso funciona se osoftwaretiver uma determinada assinatura eletronica, oque impediria o uso de versoes alteradas nesse tipo de equipamento. Ativoizacao, porem, e desejada nas urnas eletronicas,onde deve-se ter cer-teza de que o programa uma vez instalado nao foi alterado. AsLicencasBSD (Berkeley Software Distribuition) foram criadas a partir da dis-cordancia de algumas pessoas com as regras da GPL, que as consideramcomplicadas e restritivas demais. As licencas BSD permitem que pedacosde codigo desoftwarelivre possa ser adicionado emsoftwareproprietario.Tais licencas tambem exigem a citacao do nome de todas aspessoas en-volvidas no desenvolvimento, mesmo quando alguma parte e incorporadaa umsoftwareproprietario. O defensores desse modelo de licenciamentodizem nele pode-se fazer com o codigo mais coisas que a GPL permite,enquanto quem defende a licenca da FSF diz que a permissao de incorpo-rar sodigo livre em programa proprietario dificulta o avanco do SoftwareLivre.Os sistemas operacionais Free BSD, Net BSD e Open BSD tem suaslicencas ligeriamente diferentes. Sao considerados mais seguros que o Li-nux e preferidos em algumas aplicacoes onde exige-se altaconfiabilidae,por razoes tecnicas. Tambem sao tipos de Unix, mas devido a suas particu-laridades nao sao tao apropriados para uso para pessoas leigas em tarefasinformatizadas corriqueiras.Interessados(as) em conhecer os BSD mais profundamente podem consul-tar:http://en.wikipedia.org/wiki/BSD licensehttp://www.freebsd.orghttp://www.netbsd.orghttp://www.openbsd.org

com informacoes sobre valroes e desenhos de cartas de baralho poderia ser usada por variosjogos de cartas.

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Algumas corporacoes torcem o nariz para o termoFree Softwaree pre-ferem Open Source. Um softwareOpen Source tem os codigos-fontea disposicao dos(as) usuarios(as) para estudo e atestado de seguranca elisura, mas nao lhes da necessariamente o direito de modificar e distri-buir. Tal termo foi cunhado porque “Free Software” assuta alguns atoresdo capitalismo tradicional, soa libertario demais para o gosto deles. AOpen Source Initiative<http://www.opensource.org> defende aexistencia de ambos os conceitos e pode fornecer maiores informacaoespara quem se interessar em uma visao mais detalhada.Softwares Livres precisam de documentacao livre. Quem desenvovlesoftwaresgeralmente nao tem muita inspiracao ou paciencia para escre-ver os manuais dos programas, quando eles sao complexos demais paraprecisar disso. Pessoas que tenham talento ou nao em programacao saoincentivadas a desenvolver manuais e tutoriais para Softwares Livres. AFDL-Free Documentation License nada mais e que um meio de permitir alivre distriubicao e aperfeicoamento de documentacao em geral, nao ape-nas para Software Livre. Ter “livros” livres, mesmo que naono formatofısico convencional, ajuda no aprendizado em qualquer area, dispensandoas pessoas da compra de livros caros a respeito (e existem muitos voltadosparasoftwareslivres).Um engano muito comum para quem nao conhece as questoes do SoftwareLivre e confundi-lo comdomınio publico. Uma obra inventiva/criativa/ar-tıstica sob domınio publico nao esta sujeita a nenhumaregra de direito au-toral e pode ser pega por qualquer pessoa ou empresa para qualquer finali-dade. Geralmente trata-se de obras antigas quecaıramem domınio publicodevido a expiracao de patentes e fazem parte do patrimonio historico,artıstico ou cultural de um povo. Cantigas de roda e algumasmusicasque animam as festas juninas enquadram-se nessa categoria.Falta falar do Copyleft. Trata-se de um trocadilho com o Copyright, ondea expressao “direito de copia” e trocada pelo “copia permitida”, em ingles.Ao inves de proibir a copia de qualquer obra criativa sem a expressa per-missao do(a) autor(a) ou detentor(a) dos direitos autorais, ha liberdade paracopias e adpatacoes. Ha diferencas entre Copyleft e domınio publico, poiso Copyleft nao e tao permissivo e exige que as mesmas liberdades sejamrepassadas e a citacao do nome do(a) autor(a). A GPL e as licencas Crea-tive Commons sao Copyleft.O sımbolo do Copyleft e o sımbolo de Copyright invertido horizontal-mente.«

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2.4 Distribuicoes GNU/Linux

Como o Linux, o sistema operacional GNU e os demais SoftwaresLivrespodem ser distribuıdos por qualquer pessoa ou empresa; algumas delaspreparam discos de instalacao para permitir a instalac˜ao de um sistemaoperacional completo com relativa facilidade. Sao como engarrafadoras.Algumas distribuicoes sao preparadas por empresas e outras por coletivosformados por voluntarios(as).As centenas de distribuicoes existentes (nada impede queuma pessoa criea sua propria) tem focos e objetivos distintos. Algumas oferecem ferra-mentas que facilitam a instalacao, configuracao e uso docomputador. Ou-tras, permitem um maior controle sobre a maquina e configuracoes maisavancadas. Ha ainda as que preocupam-se em atender a necessidades es-pecıficas de algumas regioes. Outra opcao que as principais distribuidorasfazem consiste em “engarrafar” os programas na sua versao mais atual ouescolher versoes exaustivamente testadas. Alguns Softwares Livres saoatualizados uma ou mais vezes por mes, estao em constante evolucao, eessa opcao pode ser muito importante dependendo da aplicacao. Nada im-pede, pois, que apos a instalacao do sistema operacionale dos aplicativosa partir do disco de instalacao de alguma ditribuidora sejam instalados ou-trossoftwares, livres ou nao que funcionem sob o SO.Algumas empresas nao mantem necessariamente uma determiadadistribuicao, mas contribuem com seu desenvolvimento deoutras formas.Algumas doam equipamentos, dinheiro, ou chegam ao ponto de ter em-pregados(as) pagos(as) exclusivamente para ajudar a manter determinadosoftwareou distribuicao. Em alguns casos ha interesses comerciais, comopor exemplo assegurar que determinado produto sera compatıvel com aomenos uma distribuicao.Existem ainda as distribuicoesLive-CD, que praticamente nao interferemno disco rıgido. Com um Live-CD e um computador que permita realizaro procedimento deboot9 a partir dodrive de CD, pode-se executar o SOa partir dessa mıdia. Apesar do funcionamento mais lento e de algumaslimitacoes, ha a vantagem de muitas tarefas de configurac¸ao dehardwareser automatizadas, o que e necessario nesse caso porque n˜ao se guarda ne-nhum arquivo de configuracao no disco. Apos desligar o computador erealizar obootnovamente sem o CD nodrive, ele volta a executar o SOque esta instalado em seu disco rıgido como se nada tivesseacontecido.Eum transe hipnotico.

9O pontape inicial, uma serie de processos de inicializc ˜ao do computador

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Os Live CDs sao muito uteis para conhecer o GNU/Linux sem compro-misso, sem exigir muito espaco no disco rıgido para sua instalacao. Nao seforca uma mudanca drastica de paradigmas, uma pessoa pode ate mesmousar um computador que nao lhe pertenca.Vamos falar um pouco sobre as principais distribuicoes existentes:Debianhttp://www.debian.orgO nome surgiu da fusao do nome do seu criador (Ian Murdock), com ode sua esposa, Debra (que romantico!). Nota-se que que seu site e .orge nao .com, pois nao se trata de uma empresa, mas de um grupo de pes-soas distribuıda ao redor do mundo que mantem a distribuic¸ao com o seutrabalho de desenvolvimento e “engarrafamento”. A principal marca doDebian e a preocupacao com o alinhamento a filosofia do Software Li-vre, nenhum programa entra e empacotado em seus discos de instalacaose nao for totalmente livre (algumas distribuidoras empacotam programasproprietarios). Mesmo assim, conta atualmente com mais de18000 pro-gramas, atualmente a distribuicao completa contem 21CDs ou 3 DVDs.Mesmo assim eles sao rigorosos e so admitem versoes dossoftwaresqueforam exaustivamente testadas e tiveram sua estabilidade comprovada, emdetrimento das ultimas versoes dos mesmos.E uma das distribuicoes maisantigas, fundada em 1993, e algumas outras derivam dela.Slackwarehttp://www.slackware.comUm sistema GNU/Linux instalado a partir dessa distribuic˜ao e o equiva-lente de uma maquina fotografica que usa filme e tem regulagem de aber-tura e exposicao. Nao ha “moleza”, muitas das configurac¸oes devem serfeitas editando-se arquivos de configuracao ao inves de escolher-se menuse botoes em ambiente mais amigavel. Para pessoas mais experientes essecaminho e mais apropriado, bem como para quem quer aprofundar-se noconhecimento do sistema. A intencao dos seus desenvolvedores e criarum sistema operacional mais parecido possıvel com Unices ja existentes.Tambem lancado em 1993, visa a “simplicidade”, nao no sentido de serfacil de usar por iniciantes, mas em nao ter muita “firula”.RedHat/Fedorahttp://www.redhat.comFoi umas das primeiras distribuidoras com foco para o mercado corpo-rativo, propondo-se a oferecer servicos para grandes empresas. Muitossoftwarespara GNU/Linux, inclusive alguns proprietarios, sao feitos parafuncionar melhor ou somente com Red Hat. Apos a decisao de atenderapenas os clientes corporativos, foi lancada a distribuic¸ao Fedora para oambiente domestico. Curiosidade: o governo chines crioua distribuicaoRed Flag para uso interno.

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Mandriva http://www.mandriva.com.brFusao da francesa Mandrake com a brasileira Conectiva. Segue uma li-nha semelhante a da Red Hat, com o oferecimento de aplicativos edriversvoltados para os equipamentos dehardwaremais vendidos na America La-tina, na divisao Conectiva.SUsEhttp://www.novell.com/linuxEmpresa alema que atende boa parte do mercado europeu, adquirida re-centemente pela Novell.Gentoohttp://www.gentoo.orgTambem indicada para pessoas muito expeirentes, tem uma caracterısticamarcante: tudo e compilado, os programas nao sao instalados no seumodo compilado a partir de uma mıdia de instalacao.E feito o down-loaddos codigos-fonte dos programas esoclhidos, com algumas opcoes decompilacao. Os programas ficamotimizadospara o equipamento que setem, o que pode ser vantajoso quando prcisa-de desempenho.As principais distribuicoes sao baseadas na RedHat, Slackware ou Debian,usando inclusive seus sistemas de pacotes de instalacao.Ha alguns anos atras a discussao sobre qual distrubicao e a melhor eramais acalorada e apaixonante, especialmente entre usuarios(as) de Debiane Slackware. “So o (Debian/Slack) presta!” ja foi dito pormuita gente.Atualmente a discussao sobre as caracterısticas de cada distribuicao e suaadequacao para cada tarefa ainda existe e e saudavel, permanecendo numnıvel menos agressivo que o passado.Existem tambem as distribuicoes que usam o formato chamadao Live-CD. Nelas, nao e necessario instalar nada (ou quase) no disco rıgido. Osprogramas sao carregados a partir do CD desde o inıcio do processo deboote permitem uma certa funcionalidade sem maiores interferencias docomputador. Apesar das limitacoes no desempenho dos programas, es-sas distribuicoes sao muito uteis para quem quer sonhecer o GNU/Linuxsem compromisso, nao tem condicoes de migrar de SO atualmente oumesmo nao dispoe de um computador proprio, podendo usar oLive-CDem maquinas de terceiros(as). Quando desliga-se o equipamento e retira-se o CD, ele volta a executar o SO instalado no disco rıgido nas outras ve-zes em que for ligado em o Live-CD, como se nada tivesse acontecido. Ecomo se fosse um transe hionotico. A uinca interferenciaque pode ser ne-cessaria e a instalacao de um unico arquivo (geralmente bem grande) paraser usado pelo GNU/Linux comomemoria virtual ou uma serie de arqui-vos menores para salvar algumas configuracoes para o caso de utilizar-seo Live-CD com uma certa frequencia no mesmo computador.

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Entre as distribuicoes Live-CD, destacam-se: Knoppix (baseada no De-bian, uma das primeiras a adotar o modelo Live-CD), Kurumin (voltadapara o publico brasileiro). Ubuntu e suas variantes (Xubuntu, Edubuntu).Ubuntu e mantida por um milionario sul-africano que chegaao ponto deenviar gratuitamente pelo correio seus CDs para quem requisita-los. Ali-ada as facilidades dos Live CDs, essa facilidade de obtencao dos seus dis-cos fez do Ubuntu uma distribuicao muito popular. A palavra Ubuntu temdiversos significados em lınguas tribais africanas, que v˜ao desde “piada” a“humanidade em direcao a outros(as)”, que na explicacao de Nelson Man-dela passa a nocao de referir-se e pessoa solidaria, acessıvel e hospitaleira.Em <http://www.distrowatch.com> encontra-se uma extensalista de distribuicoes.

2.5 Ambientes graficos

No sistema operacional Microsoft Windows, o mais conhecidoe usado, ainterfacegrafica e uma funcionalidade embutida que nao pode ser trocada.Nos Unices isso e diferente: ha um servidor de janelas varios ambien-tes graficos distintos (estima-se que atualmente estejam na casa dos 50),que sendo livres podem ser compilados em diversos SOs que seguem ospadroes do Unix. Tais ambientes graficos tem propostas diferentes, po-dem exigir mais ou menos recursos fısicos do computador, ter mais oumenos funcionalidades (das mais essenciais aquelas considerads “firula”),ser mais facil de aprender a usar ou nao. Ha ainda a opcaopessoal de cadausuario(a), e a possibilidade de ter varios ambientes gr´aficos distintos nummesmo computador para cada pessoa usar o que melhor lhe convier (bastao hardwarecomportar todos eles). Pode-se mesmo usar a cada dia umainterfacediferente sem problemas com compatibilidade.Nao e apropriado colocar aqui, em preto-e-branco e no tamanho reduzidodo papel, as capturas de tela (tambem chamadas descreenshots) dos prin-cipais ambientes graficos usados no ambiente Unix. Para conhece-los me-lhor, deve-se visitar os seussitespara saber detalhes de suas caracterısticase ver algunsscreenshots.O site“Sao’s place. Window Managers for X11”http://homepage.mac.com/sao1/fink/wmanagers.htmltem uma pagina Web com informacoes resumidas sobre varios ambientesgraficos para uso em SOs livres compatıveis com Unix. Halinks para osseussitesonde maiores informacoes podem ser obtidas. Comentarios so-bre alguns deles:

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Enlightenment: altamente configuravel, leve, relativamente complexo e dedifıcil aprendizado.GNOME <http://www.gnome.org> : GNU Network Object ModelEnvironment. Criado para ser uma alternativa ao KDE numa epoca em queele era mal-visto.KDE <http://www.kde.org> : e o mais pesado, seguido de pertopelo GNOME. Ha alguns anos precisava de uma biblioteca proprietariapara funcionar e era mal visto por pessoas muito preocupadascom a filo-sofia do Software Livre. Essa biblioteca, chamada Qt, foi liberada, o quepermitiu sua popularizacao. Tem muitas ferramentas de configuracao quepoupam o/a usuario(a) de fucar em arquivos-texto menos amigaveis, alemde contar com muitos recursos graficos. Tais regalias sao configuraveispara que setenha mais ou menos “firulas”. Junto com GNOME, tem mui-tas funcionalidades associadas, beirando um SO completo.IceWM/FVWM/QVWM: Concebidos para ter aparencia semelhante a doMS Windows 95, para facilitar a aclimatacao de pessoas acostumadas aesse SO.XFCE - X Free Cholesterol Environment. Feito para ser semelhante aoGNOME na aparencia, sendo porem um pouco mais leve para permitir seuuso em computadores mais antigos.Window Maker10: boa relacao custo-benefıcio para quem nao faz questaode muitos efeitos especiais. Leve e agil. Nao tem a barra inferior comacesso intuitivo aos menus, que sao acessados com a tecla F12 ou comclique do botao direito domousena area de trabalho. Suas configuracoespodem ser editadas com aplicativo proprio ou atraves da manupulacao dearquivos texto para quem preferir. Compatıvel com aplicac¸oes feitas espe-cialmente para KDE e GNOME.Nota-se que em muitos projetos de ambientes graficos (ha v´arios outroscitados no Sao’s place) ha preocupacao com a leveza e agilidade. Al-guns chegam ao ponto de permitir o maximo possıvel de funcionalidadecom o uso mınimo domouse, pois algumas pessoas preferem manter suasmaos sobre o teclado. Poucos preocupam-se na facilidade deuso para lei-gos(as) recem-chegados(as) dos SOs proprietarios. Basicamente, KDE eGNOME sao os mais recomendados para iniciantes e pessoas que nao que-rem aprofundar muito seus conhecimentos tecnicos nos Softwares Livres.Para executa-los dignamente, porem, e necessario ter recursis dehardwareparopriados, pois eles sao exigentes nesse quesito.

10O autor usa Slackware e Window Maker, mas nao faz questao que os/as outros(as) facamo mesmo, desde que estejam no Software Livre

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Em projetos que visam o reaproveitamento de computadores antigos paraprojetos socio-ambientais, pode valer a pena esforcar os/as envolvidos(as)no aprendizado de um ambiente mais espartano, pois muito poder de pro-cessamento esta envolvido na elaboracao de alguns graficos e ter um am-biente assim pode ser fundamental para o sucesso do SoftwareLivre emequipamento mais modesto.De qualquer forma, a escolha do ambiente grafico e tao ou mais impor-tante que a da distribuicao, pois quem usa o computador temcontato coma interfacediretamente, ao passo em que a instalacao, as configurac˜oes erotinas de manutencao podem ser feitas por outras pessoas, que instalariama distrubuicao a qual estao acostumados(as).

2.6 Mitos e equıvocos que cercam o Software Livre

Muitas ideias erroneas sobre o Software Livre permeiam a imaginario po-pular. Algumas sao espalhadas por pura ma-fe por parte dequem quermanter-se gracas ao software proprietario. Outras sao repetidas por quemtem preguica de pensar e avaliar as vantagens so Software Livre porqueteria mais trabalho caso seu local de estudo ou trabalho o implementasse.See de graca nao deve ser bom.E geralmente a primeira ideia lancadapor quem quer denegrir o Software Livre, com a ideia de que quem naoe remunerado por um servico nao o faz corretamente. Sem ser piegas,sem dizer que esses(as) programadores(as) sao altruıstas e querem justicasocial; deve-se chamar a atencao para as motivacoes tecnicas que levammuita gente a buscar o modelo livre para disponibilizar ou buscar umsoft-ware. Pode nao pegar bem dizer que as melhores coisas da vida naotempreco, dependendo do contexto.Por que voce nao aprende Esperanto tambem? Afinal, sao modelos di-ferentes, criados por pessoas que dizem que sao melhores para o mundocaso fossem adotados em larga escala.A proposta de uma lıngua “tiradada cartola” com regras gramaticais simples, sem excecoes, verbos irregula-res ou a predominancia cultural de determinado povo pareceinteressante.Ha, porem, algumas diferencas entre o uso da linguagem e dos softwa-res: os idiomas evoluem, influem uns nos outros e dividem-se de formaespontanea e descentralizada. Tampouco e necessario pagar porroyaltiesou direitos autorais para usar um determinado idioma, seja na forma es-crita ou falada. O Esperanto pode ter vantagens tecnicas sobre o inglesque e naturamlente aceito na comunicacao globalizada, as trata-se de umaquestao menos grave e urgente, sobre a qual tambem nao temos tanto co-

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nhecimento de causa.Em contrapartida ha uma semelhanca entre as propostas do Esperanto edo Software Livre, de acordo com depoimentos de gente que estuda esseidioma: Por nao estar atrelado a neuma cultura e nenhum povoespecıfico,nao haveria a necessidade de se mudar o idioma “padrao”, “universal” dacivilizacao cada vez que uma nacao diferente assume a lideranca, mesmoque esse fenomeno seja bem mais lento que as atualizacoese mudancasde padrao na industria de informatica. Ha alguns seculos, espanhois eportugueses tinham notavel influencia no Velho Mundo devido aos seusdesenvolvimentos na area naval. Gregos e Romanos (que falavam latim)ja foram os mais poderosos tambem. Hoje temo o ingles comoa lıngua“universal” dos negocios e usada pelos povos dominantes. Daqui a algu-mas decadas, os idiomas chines e espanhol promete tomar boa parte desseespaco. Um idioma com padroes mais simples (com a outra face da mo-eda de nao ser tao enfeitado e belo) poderia sobreviver melhor a essasmudancas periodicas de paradigma.

. Deve-se deixar claro que em TI (Tecnoligia da Informacao) naoexiste Vodu! Para instalar um programa menos seguro, compilado poralguem de ma-fe com intencao de causar algum dano; deve-se passar pri-meiro pelos programas seguros que estao atualmente instalados e compi-lados. Alterar o codigo emumamaquina nao altera o programa pronto naoutra instantaemanete e sem necessidae de passar por barreiras. Nao existevodu em Tecnologia da Informacao.Mas eu nao tenho o que fazer com o fonte.Os Softwares Livres nao saofeitos apenas para estudantes e profissionais de Ciencia daComputacao eEngenharia Eletrica. Alguns deles sao voltados para o publico geral, in-clusive leigo. Mesmo quem nao participa do coletivo de desenvolvimentotoma parte das vantagens da liberdade que talsoftwareda. Os/As dsen-volvedores(as) fazem-no pensando em toda a populacao (obviamente sefor por exemplo um programa para area medica, pensa-se em todos/asoas/as profissionais da Medicina). Quem sentir a obrigacao moral decolaborar pode participar de outras atividdes que nao necessariamente aprogramacao, conforme ja foi descrito.Mas eu mal sei mexer no “Ord”.Cada um(a) tem suas habilidades e ap-tidoes. Alguams pessoas tem dificuldade para entender como um com-putador funciona e nao tem o “desconfiometro” que outras tem para lidarcom essa maquina. Como o SO livre mais famoso (GNU/Linux) ereal-mente mais complexo (a verdade deve ser dita) e o simples fatode migrarpara o que nao se esta acostumado exige novo aprendizado; amudanca de

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paradigma para Software Livre realmente assusta. Quando a pessoa temdisposicao para aprender, nota-se que aquelas que lidam com computado-res ha muito tempo (digamos, quem ja mexeu com MS-DOS, XT, 286)ou aquelas que nunca pegaram num e ja comecam a aprende a us´a-lo emplataformas livres e nao tem o legado proprietario; aprendem a lidar como GNU/Linux mais facilmente do que aquelas que comecaram com o Mi-crosoft Windows 2000 ou XP. Se a pessoa mal sabe usar o “Ord”, ´e umaotima oportunidade para que ela aprenda usar o BrOffice de uma vez.Mas na empresa XYZ migraram para Software Livre e estao gastandomais. Isso pode ser verdade. Ha os custos com migracao, treinamentoe nao ha tantos(as) profissionais aptos(as) a oferecer suporte adequadoem todas as regioes do Paıs. Ha demanda reprimida, empresas e orgaospublicos querendo migrar mas nao encontram quem possa faze-lo. Alu-nos(as) de Computacao ou Engenharia Eletrica que estudam o assunto porconta propria tem mais chance de conseguir uma bos colocac¸ao no mer-cado de trabalho. Em alguns casos pode tratar-se de um investimento, commaiores custos na fase inicial e retorno na forma de menores custos dali aalguns anos; nao apenas na economia com licencas eroyaltiescomo comperdas e “dores de cabeca” evitadas. Ha quem disponha-se apagar ais porestabilidade, seguranca e disponibilidade.E o caso dos bancos, que ga-nham demais com tarifas, os altıssimosspreadse juros da dıvida interna,mas estao aceitando Softwares Livres ao menos em seus servidores. Comodizem por aı, gasta-se menos indo atras de prostitutas, mas nao e tao legalquanto levar a namorada para um restaurante.See de graca porque eu tenho que pagar pelo treinamento? Deveriamdar treinamento gratuito tambem. Nao e tao livre assim esse software.Uma polıtica publica de incentivar a adocao do SoftwareLivre em diersascamadas da sociedade seria bem vinda e acontece de forma tımida em al-guns projetos publicos. Porem, deve-se entender que casonao se consigaisso ou algum(a) voluntario(a) para ministrar algumas aulas gratuitamentea unica saıda e pagar pelo curso. Ja foi dito que o custo detreinamento naoe a mesma coisa que pagar pela licenca de uso do programa. Umcursopago, mesmo que com preco modico e/ou voltado meramente para cobrircustos, forca o(a) professor(a) a ter mais carinho e responsabilidade; alemde incentivar o(a) aluno(a) a comparecer as aulas e valoriza-las. Abrindo-se inscricoes gratuitas para um curso de GNU/Linux, se ha200 pessoasinscritas umas 20 vao efetivamente as aulas.Quem garante que um dia nao vao apossar-se deles e torna-los ilegais oupiratas?O carater “flamenguista” das licencas.

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.2 - O quee o software livre 29

Os estadunidenses roubaram a patente do brasileiro que inventou o Bina.Vamos roubar algo deles tambem. Para quem cre na Bıblia basta di-zer que vinganca nao e legal e o Apostolo Paulo ensina a pagar o malcom o bem. Esse desejo vingativo e prejudicial para quem o sente, poisdeixa-se de usufruir as vantagens do Software Livre. Deve-se ressaltartambem a “vista grossa” que os principais desenvolvedoresde softwareproprietario fazem em relacao a pirataria, para manter-se populares atravesda disseminacao de seus produtos ilegais onde a fiacalizac¸ao e mais com-plicada (em casa, com pessoas fısicas). A pirataria favorece seu alvos, pormanter a sociedade longe das alternativas livres e da discussao a respeitodelas. Alguem pode alegar que sendo o preco das licencas escorchantes(e o sao realmente) umadesobediencia civil nosmoldes ghandianosseriautil para rebelar-se contra essas grandes corporacoes;mas elas nao temprejuızo com essa pratica, pelo contrario.Isso ainda nao esta pronto para “nıvel usuario”. Daqui a uns 5 anos,quando estiver melhor, eu vejo se migro ou nao. Ha quantas decadas dizemque o Brasil e o Paıs do futuro, e o futuro nunca chega? Ha distribuicoese ambientes graficos adequados para quem esta disposto(a)a dispenderum mınimo de tempo aprendendo a lidar com seus ambientes. Faz muitotempo que os ambientes de Software Livre estao prontos parao “nıvelusuario”.Mas naoe tao parecido com o equivalente proprietario que conheco.Temgente que reclama que se osoftwarelivre que se propoe a realizar a mesmatarefa de outrosoftwareproprietario tiver a aparencia e funcionalidademuito semelhante, reclama; se for muito diferente, reclamatambem. Deve-se ver se osoftwarelivre usado atende as necessidades de cada um.Asveze spode nao atender, e a saıda pode ser pagar pelo seu desenvolvimentona direcao pretendida ou continuar usando a solucao proprietaria. Quererque umsoftwareseja semelhante a outro para ser cdhamado de bom equi-vale e chamar uma pessoa negra de bom carater depreto de alma branca.Sugiro uma experiencia, que foi realizada no 50o Congresso da UNE nofinal dos debates sobre Software Livre e assuntos afins: tome um refrige-rante local, de preferencia um guarana, quando for viajara um lugar novo.O interior paulista tem varias fabricas de alcance regional com bons gua-ranas11. Alguns talvez nao sejam tao bons. No Parana tambem ha refrige-rantes exoticos, com sabor de morango e abacaxi. Ao tomar esse guarananovo ao seu paladar, avalie se ele e bom por si so e se atende `as suas ne-

11O autor principal e assisense e recomenda os guaranas Conquista, Cristalina e Funada,populares no vale do Paranapanema, oeste paulista

30DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”

Gestoes 2006/7(Camarao) e 2007/8(Vez e Voz)

essidades; mas em hipotese alguma compare seu sabor ao dos principaisguaranas do mercado. Um guarana bom nao precisa necessariamente tero mesmo sabor do Kuat ou do Antarctica.Mas... e os anti-vırus? Quasenao ha anti-vırus para ambiente GNU/Linux. E isso nao sedeve a sua po-pularidade incipiente. Sua estrutura nao permite determinadas formas deataque, ou somente parmite que se prejudique o diretorio dousuario queestalogado (ou seja, que fez ologin). Se o programa operado por essapessoa manipular arquivos em outro lugar nao ha esse risco. De qualquerforma, e tecnicamente possıvel confeccionar vırus paraplataformas livresque possam infectar usuarios(as) domesticos e afetar seus arquivos. Atu-almente os vırus cederam espaco para outros tipos de pragas virtuais, queexploram vulnerabilidades dossoftwares, especialmente os proprietarios.Nesse caso, uma rede bem configurada (com aquela peca que ficaentre oteclado e a cadeira bem ajustada, treinada e atualizada) mantem uma redecorporativa segura. Sofrer tais ataques em casa e umapossibilidade remota,porem ainda tecnicamente possıvel.Mas tem que ter um padrao, voce esta indo contra a corrente.Sim, devehaver padroes, mas padroes livres, que nao restrinjam aspessoas. Real-mente mudar umpadrao amplamente usado pela Humanidade e traumaticoe oneroso, e nao sera feito enquanto nao se tiver ampla certeza de queesse outro padrao e melhor e que nao sera necessario mais mudancas. Jafoi dito que a Internet e sua face mais conhecida (aWorld Wide Web) soalcancaram a popularidade que tem porque foram baseadas em padroesabertos. Qualquer um(a) faz um navegador, um roteador, um SOou umaplaca que comunica-se via TCP/IP, o protocolo da Internet. Se os padroespara parafusos e pneus fossem de popriedade de uma unica empresa aoinves de permitir seu livre uso por diversos fabricantes automobilısticos;haveria uma pressao por um padrao novo e livre?

2.7 Equivalentes aos softwares proprietarios conhecidos

Fontes: Tabela do Projeto Software Livre-Bahia12

e <www.linuxrsp.ru/win-lin-soft/table-eng.html>

Programa Proprietario/MicrosoftWindows

Equivalente livre

12<http://twiki.dcc.ufba.br/bin/view/PSL/CartilhaSL>

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.2 - O quee o software livre 31

Internet

Navegador oubrow-ser

Internet Explorer

Mozilla FirefoxGaleonKonquerorNautilus

Cliente de e-mail Outlook Express

EvolutionSylpheedMozilla ThunderbirdKMailGnumail

Catalogo deenderecos

Outlook Express Rubrica

Gerenciamento dedownloads

Getright

Downloader for XCaitoo (Kget)ProzillaWget13

Aria.AxelGetLeft.Lftp

Download desitesin-teiros

Teleport Pro

HttrackWWW Offline ExpolrerWget, Xget, QtGetPavuk

Clientes FTP Bullet Proof, Cu-teFTP, WSFTP

GftpDpsftpKBearIglooFTPNftpWxftpaxyFTP

Clientes IRC (InternetRelay Chat)

mIRC, VIRC, Xircon

XchatKVircIrssiBitchXKsircEpicSirc

13Front-endsgraficos para Wget: Kmago, Gnome Transfer Manager, QTget, Xget

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Gestoes 2006/7(Camarao) e 2007/8(Vez e Voz)

Mensagens em redelocal

Win PopUp, netsendLinPopUpKpopup

Clientes para mensa-gem instantanea

ICQ, MSN, AIM,TrillianICQ (free-eware, nao e livre)

Licq (ICQ)Centericq (ICQ, console)Alicq (ICQ)Micq (ICQ)GnomeICU (ICQ)Gaim (Suporta variosprotocolos)KopeteEverybuddyImici MessengerIckle (ICQ)aMSN (MSN)Kmerlin (MSN)Kicq (ICQ)YSM (ICQ, console)kxicq

Clientes Jabber MyJabber, SkybberRhymbox, Rival

TkabberGabberPsi

Vıdeoconferencias MS NetMeeting GNOME Meeting

Firewall BlackICE, ATGuard,ZoneAlarm, AgnitumOutpost Firewall,WinRoute Pro

ipchainsKmyfirewallShorewallGuarddogFirestarterIPCopFirewall Builder

Deteccao de intru-sos(as)

BlackICE, AgnitumOutpost Firewall

SnortPortsentryHostsentryLogsentry

Filtro de conteudo Proxomitron, AT-Guard, AgnitumOutpost Firewall, MSISA server

SquidDansGuardianSquidguardPrivoxyJunkBusterForkMozilla(tem essa opcao)

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.2 - O quee o software livre 33

Restricao de trafego ? IP Relay

Contabilidade detrafego

Tmeter, dial-up doMS Windows

Tcp4meGetstatdIpacctIpac-ngIpauditLanbillingSARGTalinuxNetUP UserTrafManager

Compartilhamento dearquivos

Morpheus, WinMX,Napster, KaZaA(Fasttrack), eDonkey

LimeWire (Gnutella)Lopster. (OpenNAP)Gnapster (OpenNAP)Mldonkey (eDonkey)eDonkey for LinuxcDonkeyGifted2k guiGtk-GnutellaQtellaMutella (Gnutella, console)TheCircleFreenetGNUnetLmuleBittorrent

Fax WinFaxHylaFaxFax2SendEfax

Dial-up (conexao dis-cada)

Vdialer, TrumpetWinsock

KpppX-ispwvdialGpppKinternetRp3

Compartilhamento evisualizacao de arqui-vos em redes MSWindows

Pastas comparti-lhadas, Locais derede

SambaLinNeighboorhoodXSMBbrowser

Gerenciamento de arquivos

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Gestoes 2006/7(Camarao) e 2007/8(Vez e Voz)

Administracao de ar-quivos

Windows Explorer

KonquerorGnome-CommanderNautilusEndeavourXWC

Pacotes para escritorio

Editor de texto Bloco de notas, Word-Pad, TextPad

Kedit (KDE)Gedit (Gnome)GnotepadKate (KDE)KWrite (KDE)NeditVimXemacsXcoralNvi

Compressao de arqui-vos

WinZip, WinRAR

Tar/GzipFileRollerGnozipLinZipArkKArchiveurGnochiveRAR for LinuxCAB Extract

Visualizacao de PDF Adobe Acrobat Rea-der

XpdfKpdfGhostView

Criacao de PDF Adobe Acrobat Distil-ler, plug-ins para Mi-crosoft Office

comando “imprimir PDF”em varios programasPDFLatexlatex+dvipdfmGhostscriptTex2PdfReportlab K

Criptografia PGPGnuPGGPAKgpg

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.2 - O quee o software livre 35

OCR-Reconhecimentooptico de caracteresescaneados

Recognita, FireRea-der

ClaraOcrGocr

Scanner Programas quevem junto com ele,gerlamente paraMS-Windows

XsaneKooka

Anti-vırus NAV, AVGOpenAntivirus+AMaViSVirusHammerSophie/Trophie

Backup ntbackup, LegatoNetworker

ddGpartedPartitionImage

Gestao de tarefas TaskInfo, Process Ex-plorer

topGtop/KtopkSysGuard

Reconhecimento detexto por voz

MS text to speechKDE Voice PluginsFestivalEmacspeak

Reconhecimento devoz

ViaVoice, Dragon Na-turally Speaking

SphinxViaVoice

Busca por arquivos System monitor(integrado ao MS-Windows)

FindGsearchtoolKfind

Recuperacao de dadosR-Studio

e2undelmyrescueTestDiskunrm

Multimıdia-audio

Musica em formatoMP3 ou Ogg Vorbis

Winamp

XMMSNoatunXampGQmpeg

36DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”

Gestoes 2006/7(Camarao) e 2007/8(Vez e Voz)

Gravacao de CD Nero, Roxio

K3b (KDE)XCDRoastKOnCdEclipt RoasterGnome ToasterCD Bake OvenKreateCDSimpleCDR-XGCombust

Reproducao de CD CD player

KsCDOrpheusSadpWorkManXmcdGripXPlayCDccd/cccd

MIDI/Karaoke VanBasco, Cakewalk,Finale, Sibelius,SmartScore

NoatunKmidiLilyPond

Edicao de audio SoundForge, Cooledit

SweepWaveForgeSoxAudacityGNUSoundEcasound

Mixagem sndvol32

Opmixeraumixmix2000Mixer app

Multimıdia-Graficos

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.2 - O quee o software livre 37

Visualizador de figu-ras e fotos digitais

ACDSee, InfranView

XnviewGQviewQivCompuPicKuickshowGTKSeepornviewimgvGwenviewGlivShowimgFbiGthumb

Editor de figuras sim-ples

Paint

KpaintGpaintTuxpaintKillustrator

Editores de fotogra-fias digitais com fil-tros

Adobe Photoshop GIMP

Desenhos vetoriais(adesivos, logotipos)

Corel Draw, AdobeIllustrator, Freehand,AutoSketch

SodipodiInkscapeXfigOpenOffice Drawdia

Criacao de Flash Macromedia FlashDrawSWFMing

Graficos 3D 3D Studio

BlenderMayaKPovModelerK3StudioMoonlightGIG3DGOPOVrayK3DWings 3D

Editor de ıcones MicroangeloKiconeditGonme-iconedit

38DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”

Gestoes 2006/7(Camarao) e 2007/8(Vez e Voz)

Captura de tela tecla PrintScreen

GIMPKsnapshotXwpickXwdxgrabsc

Multimıdia-Vıdeo e etc.

Reprodutores deMPEG4

BSplayer, Zoom-player, WindowsMedia Player

MplayerXineSinekVideoLANAviplay

Repordutores deDVD

PowerDVD,WinDVD, Mi-croDVD, WindowsMedia Player

OgleMplayerXineAviplayVideoLAN

Decodificador deDVD

Gordian KnotDripMencoder

Edicao de vıdeos sim-ples

Windows Movie Ma-ker

iMira Editing

Edicao profissional devıdeo

Adobe Premiere, Me-dia Studio Pro

CineleraiMira Editing

Sintonizadores de TV AVerTV, PowerVCR3.0, CinePlayer DVR

KwintvGNOME TVMplayer

Escritorio/negocios/administracao

Pacote de escritorio MS Office (Word, Ex-cel, Power Point), 602

Open OfficeKofficeGNOME OfficeSIAG

Edicao de textos 602 text, MS WordOpen Office WriterAbiwordLATEX

Planilhas eletronicas MS Excel, 602TabOpenOffice CalcKspreadGnumeric

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.2 - O quee o software livre 39

Apresentacoes/aplestrasMS Power Point

Open Office ImpressLATEXKpresenterMagic Point

Bases de dados locais Ms Access

KNodaGNOME DB ManagerOpenOffice + MySQLBDB

Financas pessoais Quicken, MS Money

GNUcashGnoFinKmymoneyGrisbi

Gerenciamento deprojetos

MS Project, ProjectExpert

Mr. Project

Comercio eletronico eweb business

Websphere JBoss

Cientıficos

Sistemas matematicos Mathcad Gap

Sistemas matematicos MATLAB

OctaveScilabrlabyacaseuler

Sistemas matematicos Mathematica, MapleMaximaMupad

Editor de equacoes Mathtype MS Equa-tion

OpenOffice MathMathMLedKformulaLyXTEX/LATEX

CAD ArchiCAD, Auto-CAD

QCAD

CAD AutoCADThanCADLignunCADFreeEngineer

Editoracao de jornaise revistas

Adobe PageMaker,MS Publisher

Scribus

40DCE-Livre-USP “Alexandre Vannucchi Leme”

Gestoes 2006/7(Camarao) e 2007/8(Vez e Voz)

Simulacao de circui-tos eletronicos

Electronics Work-bench

GedaXcircuitGnome Assisted electronicsSPICE

Desenho de estruturasquımicas

Chemwin, Chamdraw Xdrawchem

Emulador de osci-loscopio

Winoscillo Xoscope

Monitoramento dedisco rıgido

Active Smart, uti-litarios que vem coma placa-mae

IDEloadHDDtempSmartmontools

Monitoramento detemperaturas

SisSoft SANDRA,SisSoft SAMANTHA

Lm sensorsKsensors

Atualizacao Windows Update

Ximian Red CarpetApt-getSlaptgetYumMandrake Online

Palm Palm OfficeJpilotKpilot

Protetor de tela embutido no MS Win-dows

XlockxcreensaverKscreensaver

Checagem de HD Scandiskfsckreiserfsck

Observacoes sobre a tabela: Na tabelaon lineha links para o site da mai-oria dos programas.Pidgin e gaim acessam varios protocolos de conversa on-line (MSN, Jab-ber, IRC, ICQ, Google Talk, Yahoo! Messenger).Alguns termos que soam com muita naturalidade para entendidos(as) eminformatica devem ser esclarecidos:Servidor e cliente: servidor prove umservico qualquer, enquanto o cliente aproveita-se dele. Se ha por exemplouma rede de bate-papoonline, sao necessarios computadores com progra-mas apropriados para armazenar tudo e coordenar as conversas, da mesmaforma que os computadores de cada usuario(a) devem ter programas quefacam a comunicacao com o servidor e com as outras pessoasda con-

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.2 - O quee o software livre 41

versa. O provedor tem o servidor (tanto emhardwarequanto emsoftware)enquanto os/as usuarios(as) tem os clientes instalados em casa. Proto-colo e o conjunto de regras par que computadores, iguais ou nao em SOou hardware, comuniquem-se entre si. Para transportar informacao pelaInternet ha o protocolo TCP/IP, para conversar pela rede MSN ha o pro-tocolo MSN e por aı vai. Deve-se ressaltar que a Internet soe tao dis-seminada e popularizada hoje porque os idealizadores do TCP/IP e doHTML/WWW tornaram-nos livres e abertos, de forma que qualquer de-senvolvedor(a) pudesse construir computadores, dispositivos esoftwaresque pudessem acessa-la.Firewall e um programa ou um conjunto delesque filtra as informacoes que podem ou nao passar pela maquina onde estafuncionando. Serve para dar seguranca, privacidade e disponibilidade parausuarios(as) de uma rede de computadroes.Plug-in sao acessorios emgeral, que incrementam as funcionalidades de um programa. Onavega-dor/browserpode ter por exemploplug-inspara exibir determinados for-matos de arquivos e conteudo, como desenhos vetorais SVG e animacoesem Flash.Front-end grafico e uma versao de determinado programa eminterface grafica, mais amigavel, com as mesmas funcionalidades de ou-tro programa conhecido, porem que funciona em “modo texto”, ou seja,aquela janelinha preta onde deve-se digitar os comandos, que assusta muitagente. Criptografia Tecnica de cifrar conteudo para que caso seja in-terceptado nao possa ser comprrendido por quem nao deve ter acesso aoseu teor. Pode ser feita e desfeita atraves de metodos matematicos comseguranca comprovada.Codec e um decodificador que permite que umprograma (geralmente da area de Multimıdia) possa abrir arquivos em for-matos para os quais nao fora designado. Muitos formatos criados pelaMicrosoft para ser abertos exclusivamente em seus programas, como porexemplo os vıdeos WMV e as musicas WMA. Programas multimıdis paraGNU/Linux costumar ter os taiscodecspara permitir a manipulacao des-ses formatos.Desenho vetorial vs. bitmap: Um bitmap e um mosaicodigital, onde cada ponto quadrado (chamado depixel) tem uma determi-nada cor. Fotografias digitais sao armazenadas em formatosdiversos debitmap, que podem ocupar mais ou menos espaco conforme ja foi expli-cado (armazenar as cores de todos os pontos ou converte-lospara equacoesque os descrevam e ocupam menos espaco). Os desenhoe vetoriais saoformados por equacoes que descrevem figuras geometricascomo linhas,quadrados, cırculos e afins. Tambem descrevem as cores dosobjetos. De-senhos vetorias podem ser ampliados e reduzidos livrementesem perdade qualidade grafica, enquanto os bitmaps tem seus quadradinhos ampli-

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Gestoes 2006/7(Camarao) e 2007/8(Vez e Voz)

ados para quadrados grandes que nao condizem com a amplicac¸ao dese-jada. Desenhos vetoriais sao muito uteis para a elaboracao de graficos elogotipos, podendo ser convertidos para bitmaps se necess´ario. Boot e oprocesso de inicializacao da maquina, uma serie de procedimentos inici-ais que levam alguns segundos desde o ato de ligar o computador ate eleestar pronto para uso.Memoria virtual e formada por um arquivo ouparticao no disco rıgido para ser usada pelo SO quando a memoria RAM(onde os dados estao prontos para uso pelo procesador aposser carregadosa partir dos discos) nao e suficiente. Sem memoria virtualqualquer SO ficamuito lento, a nao ser que se compre uma quantidade exagerada de RAMpara equipar o computador.HTML e a sigla para Hypertext Markup Lan-guage, que e um protocolo que define regras para a confeccao das paginasdaWWW, World Wide Web , a parte multimıdia da Internet que chega aser confundida com ela propria.Ao falar de protocolos, especialmente o HTML, e importantedestacar quegrandes empresas desoftwareproprietario como a Microsoft criam ferra-mentas que facilitam muito o desenvolvimento de paginas para a WWW,porem as custas da violacao de alguams regras do HTML ou da criacao denovas regras incompatıveis com esse protocolo. Fugindo dopadrao HTMLconvencionadopor anteriormente entre varios atores do mercado de Tecno-logia da Informacao atraves de instrucoes fechadas nessas paginas, chega-se ao grande numero deWeb sitesque so pdem ser visualizados com onavegador proprietario Internet Explorer! Mais uma formade obrigar aspessoas a usar produtos proprietarios de uma unica empresa. Isso e espe-cialmente grave quando visto em servicos publicos, emsitesdo GovernoFederal, Estadual ou Municipal.O objetivo desta secao e mostrar algumas questoes tecnologicas para quemnao e da area.E necessario explicar o significado de um mınimo de termostecnicos para o entendimento dos assuntos tratados aqui. Nao queremosimportunar os/as leitores(as) com termos tecnicos desnecessarios.O site Freshmeat<http://freshmeat.net> e o repositorio SourceForge <http://sourceforge.net> contem informacoes sobrevarios projetos de Software Livre, com busca e hospedagem de seus pro-jetos.

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.3 - Formatos livres de arquivos eletronicos 43

3 Formatos livres de arquivos eletronicos

Uma discussao tao importante quanto a do Software Livre eaquela refe-rente aos formatos livres de arquivos eletronicos. Diversos tipos de arqui-vos (textos, planilhas, figuras, musicas) podem ser armazenados tambemem formatos livres ou proprietarios.Os arquivos manipulados por pacotes de automacao de escritorio (tambemchamados de pacotes ou suıtes Office) sao o exemplo mais flagrante decomo os formatos proprietarios podem ser prejudiciais a sociedade semque ela de-se conta. Ao longo de aproximadamente 20 anos desde apopularizacao dos PCs (Personal Computers) e do seu uso emescritorios,alguns editores de texto, planilhas e apresentacoes distintos passaram peloscomputadores e escritorios mundo afora, e mesmo diversas versoes de ummesmo editor mantido por uma mesma empresa. Geralmente os desenvol-vedores de suıtes proprietarias criam formatos proprietarios para que osarquivos criados por essa suıte nao possam ser lidos emsoftwaresfeitospela concorrencia. Dessa forma fica mais difıcil perder mercado, ja que amudanca de ferramenta e desestimulada pela impossibilidade de conver-ter os documentos acumulados por anos a fio. Empresas parceiras; comofornecedores, consultores ou clientes; tambem precisam ter o mesmo pro-grama para lidar com o formato de arquivos no qual foi gravado. Quemdetem a maioria do mercado (que logo corre para um unico modelo bus-cando padronizacao) nao prde mais esse posto.Os formatos proprietarios tambem podem levar a obsolescencia progra-mada de uma forma bem sutil. A cada nova versao pequenos “avancos”sao incluıdos, que tornam o arquivo criado na versao anterior incompatıvelcom a versao atual dosoftware. Um arquivo gerado num mesmo edi-tor,porem numa versao usada ha cinco anos atras corre o serio risco deser incompatıvel com o que o mercado usa atualmente.Como funciona essa historia de formato de arquivo: Pode-searmazenarum texto em formato ASCII, que e texto puro e pode ser lido porumeditor como o Bloco de Notas, no MS Windows. Um texto de um edi-tor WYSIWYG tem, alem do conteudo do texto, muitas informacoes do-bre formatacao da pagina, margens, cabecalho, rodape, figuras incluıdas,divresas fontes e formatacao de paragrafos, tabelas, itens; que nao saopossıveis de se fazer com o texto puro. Nos formatos proprietarios essasinstrucoes todas costumam estar “embaralhadas” ao longodo arquivo, mis-turadas com o conteudo do texto para dificultar que alguem leia com um

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Gestoes 2006/7(Camarao) e 2007/8(Vez e Voz)

editor de ASCII puro ou umeditor hexadecimal14. Alem dessa confusaoproporsital de informacoes, ha ainda a possibilidade dese colocar muita“enchecao de linguica” nos arquivos para que fique mais difıcil a tarefa dequem atrever-se a criar algum editor para manipular um arquivo sob esseformato. Ambos os habits levam a arquivos maiores e que daomais traba-lho ao microprocessador para ser abertos e salvos.Antes da chegada dos computadores ao nosso cotidiano, bastava ser al-fabetizado(a) para ter acesso ao conteudo de um documento eter acessofısico a ele. Copias poderiam ser feitas a mao por copistas, em fotoco-piadoras ou em graficas. Com os formatos proprietarios manipulados poralginssoftwares, uma permissao a mais e necsssaria da parte do fornecedordessesoftware. No caso, e necessario comprar a sua licenca ou piratea-lo.As mesmas comparacoes valem para as planilhas e as apresentacoes mul-timıdia.Aparentemente isso nao faz diferenca. A maioria esmagadora dapopulacao que tem acesso aos computadores continua a enviar textos, pla-nilhas e apresentacoes em um formato proprietario que teoricamente res-tringe algumas liberdades dos/as seus/suas usuarios(as)e obriga o seu uso,mas que devido ao amplo uso da pirataria passa desapercebido. Estamosfalando do Microsoft Office. Troca-se a armazena-se textos do Word, pla-nilhas do Excel e apresentacoes do Power Point “porque e opadrao demercado, e o que todo mundo usa”. Pouca gente se toca de que eobrigadaa adquirir o Microsoft Office para ler um arquivo num desses formatos ede que isso nao e bom, ja que a pirataria e amplamente aceita e praticadano Brasil.Exigir a manipulacao de formatos proprietarios de arquivos e especial-mente grave quando trata-se de orgaos publicos. Apesar do esforco doGoverno Federal e de alguns governos estaduais/municipaisem usarsoft-ware e formatos livres na marquina publica, ainda vemos documentoseletronicos disponibilizados a cidadaos(as) em formatos que exigem acompra ou pirataria. Concursos publicos exigem o conhecimento des-sas ferramentas proprietarias. Universidades publicasestimulam seu uso,com tımidas iniciativas, geralmente individuais da partede alguns(mas)professores(as) que estimulam o uso de formatos livres em atividadesacademicas. Em meados de 2006 foi anunciado pela Coordenadoria deTecnologia da Informacao (CTI-USP) um Programa de Inclusao Digital eAperfeicoamento Academico que preve a venda de licencas do Microsoft

14Editores que permitem ver como o arquivo e realmente armazenado, como e cadabyteque compoe o arquivo na forma como e lido e gravado pelo computador

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.3 - Formatos livres de arquivos eletronicos 45

Office por cerca de R$ 150 para a comunidade academica; alemda vendade PCs e laptops com duas opcoes de SO: MS Windows XP ou Vista. Oque levou a essa atitude de favorecimento da Microsoft, por que nao setomou a decisao de usar SO’s livres e outros pacotes Office que manipu-lam arquivos em formatos tambem livres? Talvez nem tenha sido de ma-fe,mas por entender que nao ha demanda por Software Livre por parte dos(as)alunos(as).

3.1 ODF-Open Document Format

Dados os problemas de usar arquivos, especialmente em aplicacoes tıpicasde escritorio, em formatos proprietarios, surge a necessidade de elaborarum padrao livre para a mesma categoria de arquivos. De acordo com aUniao Europeia, um padrao aberto para documentos deve ter seu formatototalmente descrito em docuemntos acessıveis a qualquer pessoa, com li-vre distribuicao e implementacao em qualquersoftwaresem empecilhostecnicos ou legais.E bom recordar que pode-se cobrar por custos nominaisde distribuicao (por exemplo copia e distribuicao), mas nao porroyalties.O padrao deve ser disponıvel para que todos(as) possam le-lo e imple-menta-lo em algum programa para que ele manipule os arquivos de acordocom suas regras. Nao deve prender o(a) usuario(a) a um unico fornecedor.Nao pode haver qualquer forma de discriminacao. Tais padroes devem serpassıveis de evolucao, desde que mantemnham a compatibilidade retroa-tiva e nao levem a um formato fechado. O modelo legal de licenciamentodesse padrao deve ser protgido contra praticas comerciais predatorias queestrangulem seu desenvolvimento e levem ao seu apoderamento por umpequeno grupo. Deve haver suporte ao padrao enquanto houver interessesocial nele. Nao pode haver restricoes quanto a plataforma (dobradinhahardware/software); um arquivo editado numa determinada arquitetura decomputador com dterminado SO deve ser passıvel de leitura emanipulacaoem qualquer computador diferente. Tambem e recomendavel que o arma-zenamento dos dados nao seja feito na forma binaria, ou seja, de formaque suas informacoes nao possam ser extraıdas com uma simples lida numeditor ASCII ou hexadecimal. A ultima caracterıstica agiliza sobremaneiraa leitura e gravacao desse tipo de arquivo.Nesse contexto surge o ODF, que encaixa-se perfeitamente nas exigenciasestabelecidas. O consorcio OASIS, responsavel por mantˆe-lo, disponi-biliza suas especificacoes para que qualquer pessoa ou empresa. Talconsorcio e formadopor empresas e pessoas com os mais diversos inte-

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resses, num modelo que impede que o interesse de poucos se sobressaia.Seu licenciamento foi feito por esse orgao independente esem custo, demaneira irrevogavel. Isso significa que nao e possıvel do ponto de vistalegal passar a cobrar pelo uso do ODF no futuro, da mesma formaque naose pode faze-lo com os Softwares Livres sob GPL (Licenca-Flamengo).O fato de ter um grupo heterogeneo construindo o OASIS elimina a pos-sibilidade de sua extincao quando algum setor nao mais vir interesse nele.Nao ha aenas empresas e profissionais da area de TI participando dele, masha tambem por exemplo, empresas como a Boeing, que viu a necessidadede diminuir o espaco ocupado por seus documentos internos em seus ser-vidores, bem como reduzir o tempo de transferencia desses documentosentre locais distintos quando necessario.O ODF foi adotado pela ISO, fazendo parte agora da norma ISO/IEC26300. Uma boa variedade desoftwares, tanto livres como proprietarios,esta adotando-o como formato padrao ou como alternativa ao seu formatooriginal. Ate mesmo umplug-inpara que o Microsoft Office pudesse le-losfoi feito pela comunidade Software Livre, sendo que a Microsoft e a em-presa a qual menos interessa a popularizacao do ODF em detrimento dosseus padroes DOC, XLS e PPT. A aceitacao ao ODF cresce continuamente,ao menos nos meios mais ligados a Tecnologia da Informacao e em algunsorgaos publicos mundo afora. Alguns governos municipais/estaduais noBrasil, nos EUA, na Europa e a propria Uniao Europeia saosimpaticos aoODF e estao migrando para ele, visando disponibilizar alguns de seus do-cumentos para suas populacoes de forma mais justa.Da mesma forma que acontece com o Software Livre; ha resistˆencia, apa-tia e a difucao de mitos e equıvocos em relacao ao padrao ODF. Ha genteque nao entende a Licenca-Flamengo e pensa que a qualquer momentoalguempode agir de ma-fe e apoderar-se do padrao ou de algum dos seusprincipais pacotes Office que o manipulam, sem atentar para ofato de quese isso acontecesse ainda seria possıvel usar outro programa que manipulaODF. O que pode acontecer mais facilmente e algumsoftwareproprietarioque lide com ODF ser descontinuado ou algumsoftwarelivre ter seu de-senvolvimento abandonado; o que nao deixaria seua/suas usuarios(as) de-samparados(as), pois poderiam migrar facilmente para outra suıte de apli-cativos, livres ou nao, que opere com ODF.Outra ideia encalacrada na mente de quem usa computador e n˜ao conheceessa realidade e que com ODF a pessoa precisa migrar para GNU/Linuxou ficar presa a suıte Open Office, que e a mais famosa dentreaquelasque lidam com ODF. Quem recebe um texto (ODT-Open Document Text),

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.3 - Formatos livres de arquivos eletronicos 47

planilha (ODS-Open Document Spreadsheet) ou palestra (ODP-Open Do-cument Presentation) em ODF tem a sua disposicao mais de 20 aplicativos,livres ou nao, para as mais diversas arquiteturas de computadores e SOs.O principal e mais famoso pacote e o Open Office, chamado de BrOfficeem sua versao em portugues brasileiro. A comunidade BrOffice e bemativa no seu desenvolvimento, lutando para torna-lo facil de usar e dotadode funcionalidades necessarias para as tarefas cotidianas. Sua aparencia emuito semelhante a dos aplicativos equivalentes do Microsoft Office, ape-sar de ter seu funcionamento interno bem diferente.A verdade deve ser dita: o autor principal nao tem detalhes de todas asfuncionalidades do BrOffice por nao usa-lo tao intensamente. Sabe-se queo Banrisul, primeiro banco nacional a migrar para Softwar Livre, incen-tivado pela decisao do entao governador gaucho Olıvio Dutra; manteveo Microsoft Office em alguns computadores onde foi verificadoque al-guns recursos avancadıssimos do Excel sobre matematicafinanceira eramnecessarios por alguns(mas) profissionais dos seus quadros. Os recursosmais simples que a maioria esmagadora da populacao usa sao cobertos,e o banco tomou a decisao racional de adquirir as licencas do MS Win-dows+MS Office apenas onde era realmente necessario, migrando paraGNU/Linux e BrOffice no restante do seu parque de maquinas.O poder publico (e isso inclui as universidades publicas)precisa gastaradequadamente seus recursos. Enquanto estudantes e Sintusp lutam poruma maior parte do orcamento estadual, desperdica-se o dinheiro atual-mente recebido dessa e de outras formas.A luta por um uso mais disseminado de formatos livres na Universidadelevaria a sociedade, em medio prazo, pessoas conscientese que nao co-nhecem apenas uma ferramenta, que nao veja computador comosinonimode computador com a dobradinha MS Windows+MS Office. O esforc¸opara acostumar-se a um dos pacotes que lidam com ODF epequeno sehouver forca de vontade e disposicao para participar nesse processo, es-pecialmente se for escolhido o Open Office que eesternamentemuito se-melhante. Nao se deve esperar apenas que o governo faca tudo e ficaresperando que as melhorias venham de bandeja. Nos alunos(as) e fun-cionarios(as) podemos coalborar.

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4 TV Digital

Como ja foi explicado, a transmissao ou armazenagem de dados na formadigital e feita a partir de dois tipos de sinal, cuja combinacao define asinformacoes que se quer descrever. No caso de transmissao por ondas deradio (nesse caso tambem enquadram-se as transmissoes de TV, que usamondas eletromagneticas como o radio, porem em frequencias diferentes),uma transmissao digital poderia ser feita convencionando-se os zeros e unsdo codigo binario como a presenca ou ausencia de onda poruma determi-nad quantidade de tempo, ou mesmo usando-se duas ondas diferentes. Afigura 1 ilustra a transmissao digital de dados. Muitas transmissoes de da-dos ja sao feitas de uma forma semelhante. De 2006 para ca oGovernoFederal mostrou interesse em mudar o sistema de transmissao de televisaono Paıs para a tecnologia digital. A vantagem tecnica maisflagrante nessamudanca seria a ausencia de chiados e fantasmas na imagem.Ou ela chegaperfeita ao aparelho receptor ou nao chega, afinal uma ligeira distorcao nasondas ainda pode ser enxergada como determinado tipo de onda(ou seja,como 1 ou 0) e levar a representacao da imagem real na tela.No modoanalogico, usado atualmente, haanalogia entre intensidades de onda ea definicao dos sona e das imagens, numa comparacao grosseira. Umadistorcao nas ondas eletromagneticas (que podem ser causdas por tempes-tades, montanhas e grandes porcoes metalicas presas ao solo, por exemplo)leva a distorcoes da imagem.A TV digital, porem, traz mais discussoes alem da simplesmelhoria naqualidade da imagem. Em 2006 o Governo Federal optou por usaro padrao

Figura 1: Exemplo de transmissao de alguns caracteres na forma digital,por ondas eletromagneticas

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.4 - TV Digital 49

japones de TV Digital, apos uma disputa acirrada entre eles com grupos in-teressados na adocao dos padroes europeu ou estadunidense. O padrao ja-pones foi adotado em troca da transferencia de algumas tecnologias, atravsda instalacao de algumas fabricas de componentes eletrˆonicos em territoriobrasileiro.Cada um dos tres principais padroes usados atualmente no mundo tem suasparticularidades. O padrao usado nos EUA tem como uma de suas aualida-des uma imagem em alta definicao, enquanto o japones e voltado para dis-ponibilizar conteudos multimıdia para dispositivos moveis comopalmtopsou telefones celulares. Havia tambem a possibilidade de unir universidadee centros de pesquisas brasileiros para desenvovler um padrao nacional,voltado as nossas necessidades.A transmissao de TV na forma digital permite aumentar absurdamenteaqualidade da imagem para poucas pessoas que disponham-se acomprarum aaprelho mais caro. Ou pode-se manter a definicao atual de imagem(porem sem chiados e distorcoes) e alojar atequatro canais. Com oes-pectro eletromagnetico disponıvel para a transmissao de uma variedademaior de canais, a sociedade poderia beneficiar-se com a participacao demais grupos (sejam empresas privadas ou organizacoes cominteresses so-ciais) na producao e distribuicao de conteudo que entra diariamente emmilhoes de lares brasileiros e influencia. Trata-se de uma discussao so-bre a funcao social da propriedade ou sobre a destinacaoque o Estadodara a uma conecssao sua. A tecnologia atual permite que nomesmo con-junto de frequencias eletromagneticas sejam transmitidas o quadruplo deconteudos diferentes. Qual o interesse em manter uma conecessao na maode um unico grupo que ja a detem para a transmissao de um unico canal?Interesses de gente poderosa estariam ameacados.Outra promessa da TV Digital e ainteratividade, que pode ser usada paradiversos fins. A comunicacao com a producao de determinado programaem tempo real seria facilitada, bem como o uso dessa novidadepara finscapitalistas como permitir a encomenda de um figurino usado numa no-vela com alguns cliques no controle remoto. Pensa-se tambem em levar oacesso a Internet junto com a transmissao digital para mais lares, atravesdo aparelho de TV pronto para a tecnologia digital ou do conversor D/A(digital-analogico) que sera usado por quem nao quiser adquirir um novoaparelho tao cedo, o chamadoset-up-box.Nesse contexto, um padrao de TV digital desenvolvido no Brasil, adequadoas nossas necessidades e particularidades (por exemplo geograficas, quesao muito diferentes das demandas japonesas) poderia ser desenvolvido

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de formalivre , trazendo algumas vantagens; como o desenvolvimento detecnologia nacional, a liberdade para que outros paıses modificassem onosso padrao para suas necessidades particulares e a liberdade para quequalquer um(a) desenvolvessesoftwaresusaveis nos modulos da TV Di-gital ou mesmo programas televisivos, sem ter que pagarroyaltiesou so-frer qualquer tipo de restricao por parte dos grandes grupos do setor decomunicacao.O Ministerio da Cultura, aliado a secretaria de TI do Minsisterio do Pla-nejamento, estao buscando desenvolver o projeto Ginga Brasil, para criarferramentas livres que permitam a producao de aplicativos e conteudo paraveiculacao em TV Ddigital de forma livre e mais democratica. Nessemodelo, a comunidade Software Livre brasileira foi chamadapara cola-borar a ajudar a melhorar essa tecnologia. Enquanto isso, o Ministeriodas Comunicacoes defende os interesses dos grandes conglomerados decomunicacao na “cara-dura”.O Coletivo Intervozes de Comunicacao Social promove o debate so-bre a TV Digital e assuntos relacionados, que lidem com a producao edistribuicao de conteudos voltados para comunicacaode massa.

5 Inclusao Digital

Textos e conversas de Sergio Amadeu da Silveira

6 Licencas Creative Commons

7 Construcao colaborativa de conteudo

7.1 Wikipedia

8 Certificacao Eletronica

Governo eletronico

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.9 - Casos de sucesso em uso de Software Livre 51

Figura 2: Nosso Ministro da Cultura apoia ambas as iniciativas.

9 Casos de sucesso em uso de Software Livre

9.1 Poder publico e grupos polıticos

Governo gaucho. Governo Federal. Algumas prefeituras.Falar do FISLPT discute razoavelmente.A discussao sobre Software Livre esta bem avancada nos coletivos anar-quistas, com muito(a) aluno(a) de Humanidades “metendo os peitos” eaventurando-se nele, aprendendo a usar seus programas. Nospartidos deesquerda ainda e incipiente.

9.2 Movimentos Sociais

MST ja participou do FISL. Zilda Arns e simpatica. Economia Solidariaesta buscando, caminha-se para uma solida interseccaoentre ambos os mo-vimentos.

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9.2.1 Entidades Estudantis

DCE-UFPR. Nossos amigos bafo de pinha, de pe-vermelho e coxa-brancapodem ajudar na redacao dessa sub-secaoUNE. Deixar claro para a turma do PSTU que o software livre nao e ruimso porque o governo e a UNE os apoiam.

9.3 Empreendimentos solidarios

9.4 Empresas do capitalismo tradicional

O soft. livre pode ajudar ambos. Pode ser usado para o bem e para o mal.

10 Conclusao

E aı, pronto(a) para a migracao para Software Livre?Que tal ajudar o DCE-Livre e os CAs a estabelecer um cronograma demigracao e ajudar a tornar osoftwaree os formatos livres uma “polıtica deEstado” e nao “polıtica de governo”? Uma diretriz que permaneca inde-pendentemente da orientacao ideologica das proximas gestoes.Como o assunto ainda nao e tao bem conhecido fora datorre de silıciodos cursos tecnologicos, elaboramos esta cartilha para dar uma visao ge-ral do assunto. Passe-a adiante, incentive a discussao sobre esses assuntosna sua entidade, seu movimento social ou seu coletivo. Incentive o DCE-Livre e/ou seu grupo a organizar um debate serio a respeito.Estimule aparticipacao de amigos(as) nesses debates e apresentacoes. Procure pes-soas que entendam do assunto (e mais provavel encontra-las na Poli, noIME e no IF, para quem e da USP) para tirar eventuais duvidasnao escla-recidas aqui.Nao fique “bitolado(a)” apenas na sua luta ou no seu movimento. Epossıvel (ate mesmo recomendavel em alguns casos) lutarpor e ser a fa-vor da legalizacao do aborto, das reformas agraria e urbana, do passe li-vre, da erradicacao de qualquer forma de opressao de pessoas contra pes-soas, da educacao publica gratuita laica de qualidade para todos e todas,do meio ambiente, da autodeterminacao dos povos, dos direitos humanos(e ate mesmo dos outros animais), entre tantas outras lutas; usandosoftwa-rese formatos livres de arquivos, as ferramentas e instrumentos legais deconstrucao colaborativa de conhecimento.

Apostila de Software Livre e assuntos correlatos.10 - Conclusao 53

A militancia em determinada causa toma tempo, sabemos disso. Nao es-tamos pedindo para militar pelo Software Livre da forma tradicional, par-ticipando de muitas atividades que demandariam muito tempo. O mınimoque queremos e a compreensao da sua importancia a seu uso mais disse-minado. Da mesma forma, nos militantes pro-Software Livre podemos tercontato com outras discussoes e incluir algumas de suas reivindicacoes nodia-a-dia, uma especie de intercambio.