apostila de recuperação de Áreas degradadas

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FOZ DO IGUAU PR JANEIRO DE 2009

SUMRIO

1 INTRODUO ______________________________________________________ 1 1.1 DEFINIO DE TERMOS ____________________________________________ 1 2 - DEGRADAO, DANO AMBIENTAL E A LEGISLAO BRASILEIRA PERTINENTE __________________________________________________________ 5 2.1 - ASPECTOS GERAIS ____________________________________________________ 5 2.2 - ASPECTOS DA LEGISLAO FEDERAL E ESTADUAIS __________________________ 6 3 - ETAPAS DO PROCESSO DE RECUPERAO___________________________ 7 3.1 - INFORMAES INICIAIS ________________________________________________ 3.2 - HISTRICO DE OCUPAO______________________________________________ 3.3 - DIAGNSTICOS_______________________________________________________ 3.4 - RECUPERAO_______________________________________________________ 8 8 8 9

4 - RECUPERAO/RESTAURAO E SEUS PARADIGMAS ______________ 11 5 - SUCESSO E INTERAO PLANTA-ANIMAL COMO MECANISMO DA RESTAURAO DA BIODIVERSIDADE IMPORTNCIA DA FAUNA NA RAD18 6 - TCNICAS SILVICULTURAIS APLICADAS RAD_____________________ 19 6.1 - SELEO DE ESPCIES _______________________________________________ 6.2 - PRODUO DE SEMENTES _____________________________________________ 6.3 - PRODUO DE MUDAS DE ESPCIES FLORESTAIS __________________________ 6.5-RECUPERAO DE REAS DEGRADADAS POR MEIOS NATURAIS _________________ 6.5.1-NUCLEAO NA RAD:FUNES E TCNICAS _______________________________ 19 21 24 31 32

7 - RAD EM REAS DE AGRICULTURA E PECURIA: SISTEMAS AGROFLORESTAIS E RECUPERAO DE AMBIENTES CILIARES E RESERVA LEGAL _____________________________________________________ 34 7.1-SISTEMAS AGROFLORESTAIS-SAFS NA RECUPERAO DE REAS DEGRADADAS ___ 34 7.2-RECUPERAO DE MATAS CILIARES ______________________________________ 40 7.3 - RECUPERAO DA RESERVA LEGAL ____________________________________ 53

8 - RAD EM REAS DE MINERAO:PREPARO DO TERRENO. RECUPERAO DE SUBSTRATOS. _____________________________________ 58 9 - AMBIENTE URBANO E INDUSTRIAL _________________________________ 60 9.1 - VETORES DA DEGRADAO E PRTICAS DE RECUPERAO __________________ 9.2-ARBORIZAO DE RUAS COMO MEIO PARA RECUPERAR AMBIENTES URBANOS ____ 9.3-A QUESTO DOS ATERROS SANITRIOS E CEMITRIOS _______________________ 9.3.1-ATERROS SANITRIOS ________________________________________________ 9.2.2-A QUESTO DOS CEMITRIOS ___________________________________________ 60 67 78 78 80

10 - MONITORAMENTO________________________________________________ 85 CONSIDERAES FINAIS______________________________________________ 85 REFERNCIAS ________________________________________________________ 87

1 1 INTRODUO A preocupao com o gerenciamento dos recursos naturais vem se tornando cada vez mais constante no planejamento de vrios ramos da atividade humana nos ltimos anos. Esta realidade resultado do inegvel esgotamento e degradao a que estes recursos foram submetidos atravs de modelos de desenvolvimento que desconsideravam sua dificuldade ou impossibilidade de renovao. Oldeman (1994 apud DIAS & GRIFFITH, 1998) relatou como principais fatores de degradao dos solos do mundo o desmatamento ou remoo da vegetao natural para diferentes fins, o superpastejo da vegetao, as atividades agrcolas mal planejadas e a explorao intensa da vegetao para fins domsticos. O desenvolvimento de tcnicas de recuperao de reas degradadas (PRAD) surgiu como uma alternativa para minimizar ou mesmo reverter este quadro, passando obrigatoriamente a fazer parte das aes de gesto ambiental. Mesmo com a clara necessidade de desenvolvimento tecnolgico na rea de PRAD e com os avanos jurdicos alcanados nos ltimos anos, diferentes significados so atribudos aos termos "rea degradada" e "recuperao". Atribuir a um determinado stio o status de degradado, segundo anlise de literatura, significa fazer referncia obrigatria principalmente qualidade do solo. De acordo com DIAS & GRIFFITH (1998), a caracterizao dos processos de degradao do solo so de difcil definio. Mesmo ao se vincular a degradao ambiental qualidade do solo haver dificuldades, pois surge o problema de no haver parmetros qualiquantitativos claros para definirem-se os graus de qualidade.

1.1 DEFINIO DE TERMOS Segundo IBAMA (1990): "A degradao de uma rea ocorre quando a vegetao nativa e a fauna forem destrudas, removidas ou expulsas; a camada frtil do solo for perdida, removida ou enterrada; e a qualidade e regime de vazo do sistema hdrico for alterado. A degradao ambiental ocorre quando h perda de adaptao s caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas e inviabilizado o desenvolvimento scio-econmico." CORRA (1992) definiu "dano ambiental " como: "A ruptura do equilbrio ecolgico por atividade que, direta ou indiretamente, tenha como conseqncia impedir ou prejudicar o uso e gozo do direito subjetivo ao meio ambiente sadio." REIS et al. (1999) definiram "rea degradada" como: "Uma determinada rea que sofreu impacto de forma a impedir, ou diminuir drasticamente sua capacidade de retornar ao estado original, atravs de seus meios naturais." Enquanto "rea perturbada" aquela que:

2 "... aps o distrbio, ainda mantm meios de regenerao bitica." No fica clara nesta ltima definio a escala de tempo em que essa regenerao bitica natural, chamada pelos autores de "resilincia ambiental", se processa, mas Pimm (apud REIS et al., 1999) sugere que esta propriedade depende da energia disponvel na rea e o nmero de ciclos necessrios para a recuperao do equilbrio. Power & Myers (1991 apud DIAS & GRIFFITH, 1998) definiram a qualidade do solo como: "... a sua capacidade de manter o crescimento de plantas, o que inclui fatores como agregao, contedo de matria orgnica, profundidade, capacidade de reteno de gua, taxa de infiltrao, capacidade tampo de pH, disponibilidade de nutrientes, etc." Doran & Parkin (1994 apud DIAS & GRIFFITH, 1998), por sua vez definiram este mesmo atributo como: "A capacidade de um solo funcionar como ecossistema limite para sustentar a produtividade biolgica, manter a qualidade do meio ambiente e promover a sade de plantas e animais." Na Engenharia Civil, um solo degradado aquele que perdeu a capacidade de se manter coeso, impossibilitando o suporte de edificaes (DIAS & GRIFFITH, 1998). Percebe-se que os conceitos de degradao e de qualidade do solo variam, dependendo de vrios fatores. Mesmo em outras definies, no entanto, os efeitos sobre o solo so os mais considerados quando procura-se avaliar o grau de degradao de um determinado stio, anteriormente aos efeitos sobre flora, fauna e meio scio-econmico. No presente trabalho procurou-se seguir a definio de IBAMA (1990), por ser mais abrangente, englobando variveis naturais e scio- econmicas. Basicamente trs termos so utilizados para a atividade de carter multidisciplinar que busca proporcionar o restabelecimento de condies de equilbrio e sustentabilidade existentes anteriormente em um sistema natural: "recuperao", "reabilitao" e "restaurao", traduzidos para o ingls respectivamente como reclamation, rehabilitation e restoration (MEFFE & CARROL, 1994; DIAS & GRIFFITH, 1998). Dos trs termos o menos apropriado, pela anlise da literatura, parece ser "restaurao", j que implica na obrigatoriedade de retorno do stio ao estado original em que se encontravam os meios bitico e abitico antes da degradao, situao bastante remota. Em IBAMA (1990), "recuperao" significa: "... que o stio ser retornado a uma forma e utilizao de acordo com o plano preestabelecido para o uso do solo. Implica que uma condio estvel ser obtida em conformidade com os valores ambientais, estticos e sociais da circunvizinhana. Significa, tambm, que o stio degradado ter condies mnimas de restabelecer um novo equilbrio dinmico, desenvolvendo um novo solo e uma nova paisagem." Para Majer (1989 apud DIAS & GRIFFITH, 1998), este mesmo termo significa:

3 "... um termo genrico que cobre todos os aspectos de qualquer processo que visa a obteno de uma nova utilizao para a rea degradada. Inclui o planejamento e o trabalho de engenharia e, normalmente, mas nem sempre processos biolgicos." O mesmo autor ainda definiu "reabilitao" como: "... o retorno da rea a um estado biolgico apropriado. Este retorno no pode significar o uso produtivo da rea a longo prazo, como a implantao de uma atividade que render lucro; ou atividades menos tangveis em termos monetrios, visando a recreao ou a valorizao esttico-ecolgica." Atividades de extrativismo, sob a ordenao de um plano de manejo, no poderiam ser executadas nestas reas, se for seguida a definio deste autor. CASTRO (1998) props ainda o uso do termo "reabilitao", j que este termo significa "restituir ao estado anterior" ou "restituir normalidade", enquanto "recuperar" (do latim recuperare), significa "adquirir novamente". Como se pode perceber, mais uma vez no h consenso entre os profissionais envolvidos na rea. Para este trabalho pretende-se adotar o termo "recuperao", em virtude de sua difuso mais ampla, apesar do termo "reabilitao" parecer etimologicamente mais correto. A princpio a definio de IBAMA (1990) a mais prxima do ideal, pois d ao executor da atividade de recuperao a possibilidade de adequar o uso da rea para diferentes fins (econmicos, ambientais ou estticos, por exemplo), desde que siga as condies propostas na definio, os critrios tcnico-cientficos e, obviamente, a adequao legislao local. TODD (1997) relatou a existncia de duas linhas atuais de ao na tentativa de recuperar ambientes degradados. Pode-se dizer que a primeira mais acadmica e cientfica, onde recuperar significa recriar, no mximo detalhamento possvel, o ambiente degradado, utilizando quase que exclusivamente espcies nativas e aplicando os conhecimentos da Ecologia. J a segunda linha de ao tem um enfoque mais aplicado e extensionista, mesclando conhecimentos cientficos e empricos, buscando recuperar ambientes de maneira a proporcionar tambm um retorno econmico s populaes circunvizinhas do stio recuperado. O autor defende, guardadas as devidas excees, a segunda linha de raciocnio, pois acredita que a atividade de recuperao s ser efetivada globalmente se houver a unio entre as atividades mais "puristas" e aquelas que proporcionem a proviso de variedades diferentes de produtos comercializveis como um subproduto da recuperao. No h muitos relatos publicados e concretos, no entanto, sobre exemplos em que esse tipo de interveno teve sucesso. Isso talvez se deva a razes tcnicas ou mesmo como reflexo da cultura de razes europias vigente em grande parte do mundo, onde a ligao com o meio ambiente no de ordem esttica, religiosa e cultural, mas principalmente prtica. A ocupao desordenada dos ambientes e os modelos econmicos que desconsideram a necessidade de renovao dos recursos naturais, aliados ao crescimento populacional descontrolado em vrias regies do planeta, contribuem para este quadro. De uma maneira ou de outra a atividade de recuperao ambiental implica na interferncia humana, como relatou JORDAN III (1997), que considerou a

4 atividade como um tipo especial de agricultura. Nesta modalidade, no entanto, ao invs de manipular a natureza de maneira essencialmente extrativa, o ser humano a manipula de maneira a conserv-la. Fica claro, pelas discusses existentes na literatura referente RAD, que existem duas grandes linhas de raciocnio: a que defende a recuperao com fins prticos, com aes de manejo para sustentabilidade de populaes humanas, mesmo que isto implique em prejuzo para algumas populaes de outros seres vivos, e a linha conservacionista, que busca recuperar ambientes para proporcionar o retorno dos processos ecolgicos naturais e a manuteno da biodiversidade com o mnimo de interferncia humana, normalmente desenvolvida em locais em que a legislao ambiental assim obriga. Admite-se no presente trabalho que ambas as possibilidades so exeqveis, embora alguns dos processos envolvidos em cada uma tenham particularidades especiais. O enfoque maior ser dado, no entanto, para a segunda linha de ao. sob este enfoque que o presente trabalho usa o termo RAD conservacionista, aplicvel em locais onde a interveno humana deve ser mnima (a no ser no processo de implantao), como nas reas de reservao permanente previstas na legislao ambiental. O detalhamento maior das atividades sugeridas foi dado para aquelas de carter biolgico. Constantemente surgem questionamentos sobre a validade de trabalhos de RAD: Se podemos recuperar um ecossistema, por que se preocupar em preservar os remanescentes ainda existentes? MEFFE & CARROL (1994) e CAIRNS JR. (1997) respondem a estes questionamentos ressaltando os altos custos envolvidos em atividades de RAD e o fato de a atividade no ser encarada hoje como um fim em si, mas um meio de se manter e/ou recuperar a biodiversidade. MEFFE & CARROL (1994) consideraram que todo trabalho visando recuperao da biodiversidade envolve quatro etapas para sua execuo, quais sejam: o produto final: deve-se planejar com o mximo grau de detalhamento o que se deseja obter com a atividade. Faz-se um estudo prvio sobre o grau de alterao do local, qual a disponibilidade de recursos naturais e, inclusive, se h vontade poltica; II exeqibilidade e autenticidade: o ideal, ao se traarem os objetivos de recuperao, levar em conta os aspectos genticos, populacionais, relativos ao ecossistema e paisagem, replicando sua estrutura, funo e dinmica e permitindo mudanas ecolgicas e evolucionrias; III escala de trabalho: devem ser definidas as escalas de espao e tempo para cada caso. Quanto maior o grau de informao, o tempo e o espao, maior ser a garantia de sucesso do empreendimento; IV custos: geralmente muitos trabalhos sofrem limitaes devido aos altos custos envolvidos, principalmente para a recuperao do componente pedolgico. Mais uma vez os autores ressaltam que quanto mais informaes puderem ser compiladas e adaptadas para cada situao, mais tempo e custos sero economizados.

5 2 - DEGRADAO, DANO AMBIENTAL E A LEGISLAO BRASILEIRA PERTINENTE

2.1 - Aspectos gerais Antes de adentrar especificamente no tema, cabe mencionar que a histria da explorao dos recursos naturais e consequentemente a sua degradao j antiga. Desde a poca do descobrimento iniciando com o ciclo de extrao do paubrasil pelos portugueses houve uma evoluo intensa at os dias atuais com a grande exportao dos produtos florestais especialmente da Amaznia. A exuberante cobertura florestal original do Brasil retrata a diversidade e a riqueza dos seus recursos naturais e mesmo ao longo do perodo Ps Colonial foi sendo apropriado de uma forma cada vez mais acentuada. A reduo dessa cobertura florestal est sendo proporcionalmente cada vez mais sentida devido ao descompasso entre o desmatamento e o reflorestamento. Os nmeros sobre os remanescente so desencontrados entre a verso do governo e de entidades no governamentais. A verdade que dados atuais confiveis ainda esto para ser avaliados. A poltica florestal e ambiental norteada por coletneas de leis e outros dispositivos nem sempre pode ser extrapolada para a imensidade de um pas de caractersticas continentais como o Brasil. Independentemente da forma de explorao dos recursos naturais, o desmatamento surge como etapa inicial que expe o solo quando iniciado o processo de eroso nos mais diferentes nveis. Basta citar dados da literatura atestando que em solos protegidos por florestas a perda de apenas 4 kg/ha/ano, enquanto que em solo nu pode chegar a 4.000 kg/ha/ano. A paisagem tambm grandemente afetada pelas diversas atividades, cujos impactos so de maior ou menor monta em funo do aspecto perceptivo e da qualidade visual desta paisagem Da necessidade de recuperar ambientes degradados para melhorias ambientais imposio legal de faz-lo, as tcnicas para este trabalho tm evoludo satisfatoriamente nos anos recentes. Embora ainda no se domine totalmente todo o processo de recuperao ambiental, pode-se afirmar que j foram alcanados bons resultados nesta tarefa. A evoluo da pesquisa, o monitoramento dos projetos por parte das empresas e o acompanhamento dos rgos ambientais so fatores decisivos para o empreendimento. Contudo a participao popular fundamental pela sua capacidade de exigir das partes envolvidas, auxiliar na preservao de ambientes, pois muito mais eficiente e barato que qualquer procedimento de recuperar so as medidas preventivas que evitam a degradao. O projeto de avaliao mundial de degradao de solo, de acordo com OLDEMAN, citado por DIAS e GRIFFITH, 1997, arrola os seguintes fatores e respectivas participaes como responsveis pela degradao de solos: a) Desmatamento ou remoo da vegetao natural para fins de agricultura implantao de florestas comerciais, construo de estradas e urbanizao

6 (29,4% das reas mundiais). b) Superpastejo da vegetao (34,5%) c) Atividades agrcolas com variada gama de prticas como o uso insuficiente ou excessivo de fertilizantes, uso de gua de irrigao de baixa qualidade, uso inapropriado de mquinas agrcolas e sem prticas conservacionistas de solo (28,1%) d) Explorao intensa da vegetao para fins domsticos, especialmente como combustvel (6,8%) e) Atividades industriais que causam a poluio do solo (1,2%) A mesma fonte cita que 15% do solo mundial est degradado, sendo que 5% desta rea est na Amrica do Norte, 12% na Oceania, 17% na frica, 18% na sia, 21% na Amrica Central, 23% na Europa e 14% na Amrica do Sul, o que representa uma rea de 244 milhes de ha de solos degradados. No Brasil, no dispomos de dados confiveis sobre degradao de solos, mas o desmatamento e atividades agrcolas so indicados como os principais fatores, fato que pode ser extrapolado para os estado do sul do Brasil. Nessa regio, certamente as atividades agrcolas que necessariamente foram precedidas de desmatamento constituem-se nas grandes responsveis pelo processo de degradao dos solos. 2.2 - Aspectos da legislao federal e estaduais A legislao ambiental brasileira est em constante evoluo e, algumas correntes que trabalham este tema, julgam que a nossa legislao ainda insuficiente para obrigar quem degrada, a recuperar adequadamente o ambiente. A legislao federal faz varias menes ao tema mas no apresenta uma soluo tcnica para as diversas situaes embora devemos admitir as dificuldades tcnicas recorrentes. O estado de So Paulo tem uma legislao mais avanada no que se refere s preocupaes com a restaurao. Santa Catarina atravs das instrues normativas 16 e a minuta de instruo normativa FATMAminerao(extrao dos minrios areia, argila e saibro) detalha os procedimentos e normas legais pertinentes. No anexo 3 apresentada , uma coletnea da legislao Federal e dos estados de So Paulo e Santa Catarina as quais regulamentam o tema. Os aspectos legais da obrigatoriedade de recuperar reas degradadas podem ser encontrados principalmente na Lei no 6.938/81, na Resoluo CONAMA 001/86, no art. 225 da Constituio Federal, no Decreto no 97.632/89, nas Resolues CONAMA 009/90 e 010/90, na Resoluo 237/97 e na Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), alm de resolues especficas estaduais e municipais. No cabe aqui transcrever os textos da legislao, mas alguns comentrios so necessrios.

7 CORRA (1992) desenvolveu uma retrospectiva dos avanos jurdicos brasileiros na rea de PRAD, discutindo o significado legal de "meio ambiente" e "dano ambiental". Ressaltou a tentativa de reconhecimento do meio ambiente como um bem comum, acima das esferas pblica e privada, sempre com o intuito de resguardar esse bem em funo da qualidade de vida humana. Considera-se o meio ambiente, portanto, como um direito subjetivo, fundamental e que se estende todos de forma indistinta. Outro avano se encontra na atribuio de responsabilidades por danos ambientais: no importa que o agente lesivo ao meio ambiente tenha inteno de dolo ou mesmo culpa; basta que seja comprovado o dano e o nexo de causalidade. CASTRO (1998), analisando alguns aspectos legais pertinentes ao tema, remeteu a fundamentao legal da obrigao de recuperar reas degradadas ao inciso VIII do artigo 2o da Lei no 6.938/81 (Poltica Nacional do Meio Ambiente), aos pargrafos 2o e 3o do artigo 225 da Constituio Federal de 1988 e ao Decreto no 97.632, de 10 de abril de 1989 (regulamentao da primeira lei aqui citada). Apesar do claro avano, o autor concluiu que h muito a ser feito para complementar a legislao referente PRAD. As especificaes sobre a obrigatoriedade de recuperar reas so, em sua maior parte, referentes a atividades minerrias, no deixando claro como devem ser os procedimentos em outros tipos de empreendimentos. Mesmo nos itens referentes minerao h lacunas referentes forma de utilizao futura da rea e a sua destinao, bem como no h exigncias de garantias contratuais para a Unio quando ocorrerem eventuais inadimplncias por parte do empreendedor ao qual foi feita a concesso de explorao mineral. Sem dvida o ideal seria estabelecer obrigatoriedades para todos aqueles que explorassem qualquer tipo de recurso ambiental. H outras questes jurdicas que poderiam ser aqui abordadas, mas o consenso maior que existe a ineficcia dos rgos ambientais na fiscalizao do cumprimento das leis, sendo necessria a participao efetiva tanto do poder pblico como da coletividade. 3 - ETAPAS DO PROCESSO DE RECUPERAO Quando a inteno recuperar uma rea degradada recomenda-se que se siga o princpio de "conhecer o passado, analisar o presente e planejar o futuro". Deve-se sempre ter em mente que cada caso um caso. A empresa ou o produtor rural que deseja ou se v obrigado a adotar um programa de PRAD conservacionista deve ter em mente que este processo no imediato e demanda planejamento, sendo importante quantificar a priori os gastos que sero necessrios e adotar procedimentos tcnicos corretos. Sugere-se a seguir um roteiro bsico de atividades que podem servir de ponto de partida para a execuo destes programas de recuperao. Para maior detalhamento das aes recomenda-se que sejam consultados tcnicos especializados em aes de recuperao ambiental.

8 3.1 - Informaes iniciais Antes de se iniciar um empreendimento potencialmente degradador importante conhecer suas caractersticas e que se conheam as obrigaes legais implicadas, sendo ideal o contato com o respectivo rgo ambiental local, seja em esfera municipal ou micro-regional. Existe uma srie de trmites burocrticos que, se cumpridos, garantem a execuo do empreendimento. Muitas vezes j existem programas ambientais ao nvel da micro-bacia hidrogrfica em que a propriedade / empreendimento se insere. Esta abordagem costuma integrar as diferentes variveis ambientais (aqui entendidas como os condicionantes fsicos, qumicos, biolgicos e sociais do local), e vem se tornando bastante comum em virtude das semelhanas existentes no que se refere a estes componentes ambientais e para otimizao de tempo, custos e corpo tcnico. Os objetivos do processo de recuperao dependem dos interesses do empreendedor / proprietrio, cabendo equipe tcnica contratada elaborar o melhor plano de RAD. Esta equipe deve, na medida do possvel, ser multi, inter e transdisciplinar, para que sejam englobados ou ao menos considerados todos os aspectos ambientais durante o processo.

3.2 - Histrico de ocupao A etapa seguinte geralmente consiste em extenso levantamento bibliogrfico da regio em que ser realizada a obra, para que se tenham referncias sobre as variveis ambientais locais. Interessante tambm entrar em contato com moradores da regio, que costumam deter conhecimentos que nem sempre so registrados em literatura. Registros fotogrficos devem ser realizados antes do empreendimento, servindo de referncia posterior durante a PRAD. 3.3 - Diagnsticos Aps esse primeiro contato com a localidade parte-se para a efetiva identificao e avaliao dos impactos gerados pela obra. importante mapear as diferentes unidades fsicas da paisagem local, analisando tambm os elementos da fauna e da flora, em seus mais variados aspectos. Levantamentos estruturais das comunidades vegetais e animais so essenciais para posteriores atividades de recuperao. Se no local no existem mais remanescentes da biota original torna-se necessrio analisar o entorno, sem, no entanto, afastar-se demais das caractersticas do stio estudado. O diagnstico scio-econmico na rea afetada pelo empreendimento tambm faz parte do processo, possibilitando adequaes tcnicas do projeto de PRAD s variveis sociais locais. Esta etapa importantssima em casos de recuperao com fins conservacionistas, possibilitando retornar o local degradado a uma situao mais prxima possvel do estado original.

9 3.4 - Recuperao Aps todos os levantamentos prvios do local, incluindo pesquisa bibliogrfica, histrico da rea e diagnstico das variveis ambientais locais, pode ser iniciado o programa de recuperao propriamente dito. O processo normalmente comea pelas obras de engenharia, com a readequao topogrfica do terreno e as correes fsicas e qumicas do substrato para o posterior plantio. Estas atividades so essenciais quando o empreendimento minimizou ou inviabilizou a capacidade de regenerao natural do ambiente. Considerar o substrato onde sero desenvolvidas as atividades premissa bsica para o sucesso do programa de PRAD. Existe um nmero consideravelmente grande de "solues" para recuperar reas degradadas, principalmente nas regies tropicais e subtropicais, onde a maior diversidade de espcies permite uma ampla gama de possibilidades. O que no existe, no entanto, uma sistematizao destas atividades e a divulgao destes procedimentos por parte dos rgos extensionistas, apesar de vrios eventos e peridicos cientficos j terem publicado diferentes experincias de PRAD. Alm disso, muitas no levam em conta critrios cientficos, sendo executadas com base em conhecimentos empricos, "populares". Mesmo que algumas destas solues sejam executadas com sucesso, est se tornando consenso que se a recuperao de reas degradadas levasse em conta estudos com abordagens cientficas evitar-se-ia a repetio de erros histricos e freqentes (grande mortalidade de mudas, eroso, m escolha de espcies, etc.), economizando tempo e, principalmente, custos. Ainda impera no Brasil a idia do "em se plantando, tudo d". Pensamentos como esse, deixando de levar em conta as particularidades do local a ser recuperado, levam frustrao muitos empreendimentos. Cada rea degradada possui uma capacidade de regenerao natural a quais vrios pesquisadores do o nome conceitual de resilincia ambiental (conceito ainda no quantificado). A Ecologia Vegetal pode contribuir muito para responder questes referentes aos melhores caminhos para se recuperar um local. Algumas das reas da Ecologia que podem fornecer informaes importantes para subsidiar aes de recuperao so a fitogeografia, a fitossociologia e a sucesso ecolgica. Existem diferentes tipos de vegetao ou unidades fitogeogrficas, e cada regio tem seu histrico de ocupao. Assim, para cada local existe um rol de espcies adaptadas s condies climticas e edficas, com interaes biolgicas particulares. Se tais informaes no esto disponveis na literatura, tornam-se necessrios levantamentos florsticos em remanescentes vegetais prximos. Mas apenas conhecer as espcies a serem usadas no basta. necessrio conhecer a estrutura das comunidades onde elas se desenvolvem, definindo as espcies mais abundantes, sua dominncia e importncia relativa. Vrios estudiosos do assunto atribuem fitossociologia o papel de diagnosticar estas variveis. Apesar deste mtodo fornecer informaes importantes no diagnstico da vegetao, deve, na medida do possvel, ser complementado por outros estudos como a fenologia, a ciclagem de nutrientes e aqueles que avaliem a interao da flora com o meio abitico e a influncia dos gradientes ambientais e dos distrbios na estruturao da vegetao.

10 H, por fim, uma srie de diferenas comportamentais das espcies. Uma formao vegetal passa por uma srie de etapas em que se estabelecem a composio das espcies e as interaes entre estas, em um processo lento e gradual (e nem sempre unidirecional) denominado de sucesso ecolgica. Essa substituio seqencial de espcies est ligada tendncia geral da natureza em estabelecer um ecossistema equilibrado com as caractersticas fsicas e qumicas locais. Normalmente ocorre a substituio de grupos ecolgicos ou categorias sucessionais, que de costume so denominadas espcies pioneiras, secundrias iniciais, secundrias tardias e climxicas, ocorrendo tambm outras modificaes paralelas, principalmente no solo. Esses grupos de espcies apresentam exigncias e caractersticas biolgicas diferenciadas. Espcies pioneiras, por exemplo, produzem grande nmero de sementes, com crescimento rpido, sob luz plena e possuindo baixa diversidade mas alta densidade. J as plantas climxicas possuem caractersticas geralmente antagnicas, com menor produo de sementes, crescimento mais lento, desenvolvendo-se preferencialmente sombra, com maior diversidade e menor densidade. As espcies secundrias possuem caractersticas intermedirias, sendo mais difcil listarem suas particularidades. Porm, o enquadramento das espcies em grupos ecolgicos com base nas informaes da literatura pode muitas vezes mascarar caractersticas particulares importantes das espcies, que devem ser estudadas caso a caso sempre que possvel. Ideal tambm conhecer a relao solo/vegetao: espcies higrfilas, por exemplo, dificilmente vo se desenvolver em solos que no contenham grande quantidade de gua. Alm de levar em conta as informaes levantadas procuram-se caractersticas comuns das espcies vegetais que sero teis para otimizar o processo, tais como elevada capacidade de fixao de N2 (uso de leguminosas), elevada produo de biomassa, densa cadeia de finas razes (para evitar eroso), rusticidade, razes profundas, elevado e balanceado armazenamento de nutrientes nas folhas, renovao constante de biomassa, associao com micorrizas e ausncia de substncias txicas. O plantio de espcies arbreas costuma, dependendo da situao, ser realizado apenas aps o plantio das chamadas espcies "forrageiras", herbceas que se prestam uma primeira fixao e cobertura orgnica do solo no local degradado. Avaliando-se a rea degradada, podem-se priorizar atividades especficas de acordo com a situao do local. Se existe uma floresta parcialmente degradada nas proximidades possvel que um banco de sementes de espcies pioneiras esteja ainda presente no solo, devendo este ser manejado para que elas se desenvolvam. Se a rea no possui remanescentes prximos o processo torna-se mais demorado e muitas vezes mais caro, com a necessidade de plantio de mudas e transferncia de banco de sementes alctone. A coleta de sementes arbreas deve ser feita em espcies matrizes escolhidas por tcnicos, sendo importante manter a diversidade. Feito o preparo da rea (recomposio topogrfica e paisagstica, reduo da compactao, correo da fertilidade), efetua-se a revegetao (por plantio de mudas ou materiais propagativo, hidrossemeadura, semeadura a lano, semeadura no solo,

11 uso de serapilheira ou regenerao natural, conforme for estabelecido). interessante manter viveiros para produo de mudas ou mesmo bancos de sementes, garantindo a reposio em caso de insucesso. Costuma-se desconsiderar o papel da fauna no processo de recuperao, seja por desconhecimento, seja pela dificuldade de manejo. A presena da fauna tem papel fundamental na reciclagem de nutrientes e no revolvimento das camadas do solo, alm de poder funcionar como indicador da recuperao. Em muitos casos utilizam-se espcies vegetais facilitadoras, que atraiam polinizadores e dispersores. claro que existem variaes nas tcnicas adotadas. Mais uma vez devese ressaltar que cada empreendimento e localidade tem suas particularidades, mas os princpios a serem seguidos so semelhantes, sendo recomendado que sempre se explore ao mximo a diversidade da natureza e que os programas de PRAD estabeleam condies mnimas para que a sucesso natural ocorra. O importante planejar bem o futuro uso da rea. Nas reas de preservao permanente ou nas unidades de conservao de uso indireto obrigatrio o uso de espcies nativas, devendo ser evitada ou minimizada ao mximo a interveno humana. Mas se h uma grande extenso a ser revegetada nas proximidades pode-se optar pela adoo conjunta de sistemas agroflorestais. Essa uma estratgia que pode ser adotada para popularizar o processo de PRAD, ao mesmo tempo fornecendo opes econmicas ao proprietrio da rea e buscando o retorno de alguns processos naturais nas reas recuperadas.

4 - RECUPERAO/RESTAURAO E SEUS PARADIGMAS A recuperao ou a simples revegetao de ambientes degradados no constituem tarefa das mais difceis de serem realizadas aqui no Brasil.. Afinal temos muitas espcies arbreas com potencial para serem utilizadas neste trabalho. Isso pde-se constatar atravs de muitas experincias apresentadas nos vrios eventos realizados no Brasil nos ltimos anos sobre esta temtica. As dificuldades existem mas esto mais relacionados aos estgios da degradao e a natureza das atividades que as geraram. As recentes previses pessimistas sobre os problemas do aquecimento global associado ao desmatamento e a necessidade de reverter o processo reativou a necessidade de se pensar mais seriamente na restaurao das florestas. Contudo, o caminho a seguir e os obstculos a transpor neste processo so bastante difceis. A grande e complexa biodiversidade das florestas tropicais dificultam os conhecimentos desses. Especialistas brasileiros neste tema tem suas posies conscientes sobre esta alternativa e apontam problemas e solues: Kageyama diz:Quando vemos toda essa diversidade de espcies dos ecossistemas tropicais e as interaes de suas plantas com a fauna, na polinizao, na disperso de sementes e na predao, perguntamo-nos: ser que toda essa biodiversidade tem sentido? Vemos que tem, e muito, ao sacarmos uma dessas espcies nativas para nosso uso, na forma de plantao pura, e

12 constatamos que quase sempre no temos sucesso, atacadas que so essas plantas por pragas e doenas. No entanto, quando adentramos em nossas matas tropicais, vemos que a floresta natural toda muito verde, sem nenhum sinal de danos por insetos e microrganismos, apesar de estes serem a maioria na mata. O que isso nos mostra? Aponta claramente que a biodiversidade necessria para o equilbrio ecolgico nos trpicos, fazendo com que as mais de uma centena de rvores de uma floresta tropical, em um s hectare, vivam em harmonia com as dezenas de milhares de espcies de animais e microrganismos. Kriecher parece ter tido um insight correto, quando aponta que a evoluo dos trpicos foi um embate entre plantas e animais/microrganismos, com estes ltimos tentando devorar as plantas, e estas criando ferramentas para se defenderem. O autor conclui que as plantas venceram na evoluo e mantm a fauna sob controle, s custas de compostos secundrios qumicos (100 em mdia, para cada uma das 250 mil espcies de plantas tropicais), que so, sem dvida, a grande riqueza de nossa biodiversidade, nas quais a indstria biotecnologia tem estado de olho gordo. Dessa forma, restaurar uma floresta tropical, a partir de uma rea j degradada, implica em compreender o significado dessa biodiversidade, a sua evoluo e mesmo o que faz a sua integridade e equilbrio. Isso significa avanarmos para um novo paradigma, no conceito de Kuhn, onde o novo entendimento necessita no s de novos conceitos, mas tambm de novos ferramentais, tanto de anlise, como de metodologias de aes. Os conceitos de biodiversidade, de sucesso ecolgica, de equilbrio de ecossistemas e de interao entre espcies, aliados aos de silvicultura de plantaes de espcies nativas, mostram que possvel fazer crescer um grande nmero de rvores nativas, quando plantadas juntas, segundo alguns preceitos estabelecidos. As experincias, nesses ltimos 20 anos no Brasil, tm revelado que, com modelos apropriados de associao de grupos ecolgicos, tem se conseguido o desenvolvimento de um conjunto de 100 espcies arbreas, ou mais, juntas num hectare, numa forma similar da floresta tropical. Porm, como bem apontado por Reis, A., na Mata Atlntica do Vale do Itaja, as rvores, que so a estrutura da floresta, representam somente 34% das espcies vegetais; as epfitas e lianas, que crescem sobre as rvores, e os arbustos e ervas, que ficam embaixo das rvores, conjuntamente, totalizam os 66% das outras espcies vegetais no rvores. As preocupaes somente com as rvores, no incio dos programas de restaurao, deveram-se a: primeiro, muito mais conhecimento sobre as rvores do que sobre os outros vegetais no rvores; segundo, por ter se considerado que esses outros organismos, como associados s rvores, poderiam ter facilidades de regenerao natural; e terceiro, pela dificuldade de tecnologia para implantao das lianas, epfitas, arbustos e ervas, maneira das rvores. O mais importante que nesses 20 anos muito pouca preocupao houve com os organismos vegetais no rvores, somente se tendo tomado conscincia de sua importncia, quando os levantamentos nos plantios de restaurao, com idades acima de 15 anos, revelaram pouca regenerao natural para os vegetais no rvores. Certamente, at agora, detivemo-nos somente nas espcies vegetais; pouco se tem referido aos outros organismos no plantas, ou os animais

13 e os microrganismos que, como j nos referimos, somam cerca de 100 vezes o nmero de espcies vegetais. Se tivermos que colocar na restaurao, por exemplo, 100 espcies de rvores num hectare, devero ser mais outras 200 espcies, incluindo as lianas, epfitas, arbustos e ervas (300 espcies de plantas ao todo); afora a preocupao com mais 30.000 espcies de animais e microrganismos, completando toda a diversidade de espcies na floresta tropical. Assim, duas grandes linhas de pesquisa vm surgindo no avano do conhecimento do tema restaurao com espcies nativas: 1) Inserir tcnicas de incluso da maior parte dos organismos da biodiversidade na restaurao; e 2) em seguida implantao das rvores, incluir, sucessivamente, aps maior conhecimento, os outros organismos no rvores e no vegetais. Ou, talvez, a juno das duas, ou mesmo outras novas propostas. Assim a cincia, sempre avanando para novos paradigmas. Durigan atesta: H cerca de trs dcadas, quando a restaurao de matas ciliares passou a ser objeto de estudos tcnicocientficos e de polticas ambientais, acreditava-se que bastaria descobrir quais espcies ocorriam s margens dos rios em determinada regio e plant-las segundo as tcnicas j conhecidas da silvicultura. Mas, alm da enorme dificuldade em identificar espcies, obter sementes e formar mudas, as rvores nativas plantadas no se estabeleciam, devoradas pelas savas ou sufocadas pelo colonio e pela braquiria. Comeou a era dos chamados modelos sucessionais de plantio: era preciso tentar imitar o processo natural de cicatrizao de clareiras, plantando tambm espcies pioneiras, que, crescendo rapidamente, criariam o ambiente necessrio para que as espcies mais sensveis e de crescimento mais lento pudessem sobreviver. Mas, levantamento recente da situao de quase cem plantios de restaurao, baseados no modelo sucessional no estado de So Paulo, mostrou que muito poucas reas podem ser consideradas recuperadas. As explicaes para o fracasso incluem a degradao dos solos, falta de cuidado com as mudas e baixa diversidade, com excesso de rvores pioneiras nos plantios. Em busca de soluo para os problemas encontrados, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de So Paulo instituiu a Resoluo SMA 21 (hoje SMA 08/07), que normatiza os plantios e estabelece, entre outras medidas, o nmero mnimo de espcies a plantar. A medida foi bem intencionada, mas tem sido quase impossvel conseguir, para plantio simultneo, mudas de 80 espcies, ecologicamente adaptadas a um determinado local de plantio. Na prtica, tendem a diminuir as iniciativas de plantio, pois quem no tem obrigao de plantar desiste ou planta espcies no adaptadas, com grandes chances de fracasso. Depois das tentativas de descobrir o que deu errado nos plantios para corrigir, agora estamos tentando descobrir o que est dando certo, para tentar reproduzir. A anlise de plantios antigos bem sucedidos, pela tica do mtodo cientfico, tem trazido luz dados surpreendentes, que podem conduzir, no

14 mnimo, reflexo sobre os paradigmas vigentes. Primeiro, esses estudos tm mostrado que h plantios bem sucedidos que no seguiram modelo algum, incluindo at espcies exticas. Assim, no se comprova a hiptese de que s plantios com espcies nativas podem ter sucesso. Segundo, os tais plantios antigos bem sucedidos no incluam espcies pioneiras, derrubando a hiptese de que sem a incluso de pioneiras, a restaurao no poderia dar certo. 3) Depois de algum tempo, as rvores plantadas contribuem pouco para a estrutura da floresta. Em um dos casos - em Cndido Mota, SP, aps 28 anos, as rvores plantadas correspondiam a apenas 31% da floresta. As outras, em sua maioria, foram introduzidas por animais dispersores de sementes, que trouxeram 63 espcies que no haviam sido plantadas, colocando por terra a hiptese de que a diversidade da rea restaurada seria em funo da diversidade do plantio Reforando esta constatao em outra rea reflorestada, em Assis, SP, comparando nove modelos de plantio aos 17 anos, das 92 espcies encontradas em regenerao, apenas quatro haviam sido plantadas. Alm disso, o nmero de espcies regenerantes e sua densidade foram maiores sob um plantio puro, com uma espcie que oferece frutos para aves. A anlise dos dados demonstrou que o sucesso da restaurao depende mais da proporo de rvores plantadas que atraem a fauna, do que da diversidade no plantio. Mas, provavelmente, o resultado seria diferente se no houvesse rvores nativas navizinhana, de onde os animais pudessem trazer sementes. A percepo da importncia da regenerao natural tem conduzido a um novo paradigma: a restaurao sem plantio de mudas, introduzindo nas reas degradadas apenas sementes ou serapilheira tirada das florestas nativas, ou instalando artefatos que atraem dispersores de sementes. Mas, h indcios de que estes mtodos no funcionam bem em regies com estao seca prolongada ou com solos arenosos, condies em que as sementes no germinam ou, se germinam, morrem na estao seca. No h, em suma, uma tcnica que sirva para todas as situaes. A nica certeza, at o momento, a de que, sem cuidado com as mudas, como controle de formigas cortadeiras e de gramneas invasoras, por longo tempo, nenhuma iniciativa de restaurao florestal poder ter sucesso. Comprova-se, sim, a hiptese de que o abandono, geralmente mais do que qualquer outro fator, determina o fracasso dos plantios. Neste momento, as atenes devem se voltar para tcnicas de facilitao dos processos naturais de regenerao da vegetao. Isto passa pelo plantio de espcies facilitadoras (que melhorem as condies do solo ou atraiam dispersores, por exemplo), por tcnicas que possibilitem o controle de plantas invasoras (tais como sistemas agroflorestais), ou por outras estratgias e artefatos, que facilitem a ocorrncia dos processos naturais de regenerao das florestas. Das rvores, plantadas, devem-se esperar a proteo do solo e da gua e a funo de facilitar a chegada de sementes, a germinao e o estabelecimento de plantas nativas. A diversidade, no s de espcies, mas tambm de gentipos adaptados a cada local, ser, aos poucos, naturalmente restituda, restabelecendo uma combinao que a seleo natural levou milhares de anos para construir e que modelo algum ser capaz de reproduzir.

15 H, ainda, muito o que aprender. O problema que a partir do momento em que paradigmas transformam-se em dogma ou em lei, fecha-se, perigosamente, a porta para a busca de novos caminhos, dificultando a inovao, que desejvel tambm na restaurao de ecossistemas. A inovao depende da abertura de espao criatividade e experimentao, baseadas no princpio de que sempre possvel fazer melhor algo que, bem ou mal, j estamos fazendo. Engel diz: Os mtodos de restaurao devem buscar benefcios timos, aliando uma mxima conservao da biodiversidade a maiores benefcios financeiros e sociais, dentro das limitaes tecnolgicas e de recursos disponveis. Para se chegar a estes objetivos, vrios caminhos alternativos podem ser traados, o que, nem sempre, fcil de se implementar. Os sistemas tradicionais de produo, que visam maximizao da produtividade, em geral, baseiam-se na diminuio da biodiversidade, privilegiando sempre as espcies ou as variedades mais produtivas, eliminando-se qualquer tipo de competio com as mesmas. Por outro lado, pelo consenso no meio cientfico, sobre a relao existente entre biodiversidade e sustentabilidade dos ecossistemas, os mtodos de restaurao visam, em geral, a maximizao da biodiversidade. necessrio, portanto, o rompimento com alguns paradigmas e a busca por modelos alternativos de restaurao, que possibilitem conciliarambos os objetivos. Nas ltimas dcadas, as pesquisas sobre recuperao e reabilitao de reas e ecossistemas degradados tm evoludo muito no Brasil. medida em que o conhecimento sobre a estrutura e o funcionamento das florestas tropicais avana, muitos conceitos ecolgicos so incorporados s prticas, contribuindo para o desenvolvimento de novos paradigmas na restaurao. Entretanto, tais avanos pouco tm contribudo para um aumento significativo da superfcie de florestas no pas, conforme mostram as estatsticas recentes, indicando que as limitaes para que a restaurao ocorra de forma significativa, so de ordem muito mais econmica e social, do que tcnica. Para que a restaurao ocorra, no Brasil, em uma escala mais prxima quela necessria, tornam-se fundamentais modelos com menor custo de implantao e possibilidade de algum nvel de benefcios diretos ao produtor, que sejam aplicveis a uma maior diversidade de situaes socioeconmicas. A definio dos objetivos da restaurao, no momento de seu planejamento, deve envolver questes ligadas aos valores da sociedade, incluindo aspectos ticos, estticos e culturais. Nossa abordagem que a cincia possa contribuir no desenvolvimento de um cardpio variado de opes e de modelos de restaurao, que possam ser adotados em pequenas, mdias ou grandes propriedades rurais, dependendo dos muitos fatores j mencionados, com baixo custo de implantao, e que sejam capazes de incorporar a dimenso socioeconmica no seu planejamento e definio dos objetivos. Nossas pesquisas tm indicado algumas alternativas promissoras. Uma delas um sistema de semeadura direta no campo, com espcies arbreas nativas de rpido crescimento, associado a tcnicas de cultivo mnimo do solo. Com custos de implantao menores que plantios convencionais, possvel se ter, em sete anos, uma cobertura florestal uniforme e j estratificada, com densidade, altura e

16 cobertura de copas, comparveis aos melhores plantios convencionais por mudas, com regenerao natural de 48 espcies lenhosas, provenientes das reas de entorno. Logicamente, a aplicabilidade deste sistema depende da existncia de fontes de propgulos nas reas de entorno, para que a colonizao futura possa ocorrer, aumentando, assim, a sua complexidade estrutural. Outras opes tambm podem ser indicadas para alguns casos, como sistemas agroflorestais seqenciais, que, em nossas experincias, indicaram possibilitar o pagamento dos custos de implantao da floresta, em cerca de quatro anos, com possibilidade de ganhos marginais adicionais no futuro. Alm disso, grupos de espcies florestais com valor econmico podem ser combinados com diferentes desenhos, e manejados num sistema de cortes seletivos, permitindo o uso da madeira, ao mesmo tempo em que a regenerao natural da vegetao nativa estimulada. Cabe ressaltar que as alternativas mais adequadas para cada situao devem ser escolhidas levando-se em conta tambm o contexto da paisagem de entorno e as condies locais do stio. As caractersticas da paisagem local iro influir, por exemplo, nas taxas de recolonizao das reas em restaurao por outros organismos, bem como nos fluxos de sedimentos e fatores de impacto. Alm disso, o grau de degradao em que se encontra a rea, bem como fatores adicionais de estresse e condies locais do stio sero importantes na definio das espcies a serem introduzidas, bem como da seqncia de atividades escolhidas. Gandolfi declara que: A converso de plantios em florestas funcionais depende da reconstruo local de muitas condies estruturais e de muitos processos ecolgicos, sem os quais, nas paisagens agrcolas atualmente predominantes, esses plantios, em pouco tempo, se converteriam em meros pastos arborizados. Os caminhos j trilhados e as experincias j desenvolvidas representam uma importante herana tcnicocientfica acumulada. Ela reflete a opo pelo uso do conhecimento cientfico, em dilogo constante com a arte do executar, como ferramenta para a soluo de problemas, uma tradio que os pases desenvolvidos tm privilegiado no enfrentamento de questes complexas, que buscam obter melhor eficincia e menores custos. Portanto, no usar os resultados efetivos, j obtidos s custas de muitos erros, acertos e esforos, representa um retorno a um passado de pelo menos trinta anos. Entre os avanos obtidos nessas ltimas dcadas, est o reconhecimento de que um projeto de recuperao diverge do simples abandono de uma rea para que ela se regenere naturalmente, fato que, muitas vezes, no ocorrer. Representa, ao contrrio, o reconhecimento de que, em geral, existem um ou vrios impedimentos regenerao natural de uma dada rea, que so oriundos da degradao local ocorrida ou das caractersticas do entorno atual, e que a superao dessas barreiras um dos passos crticos para a construo de um projeto exeqvel e adequado ecolgica, econmica e socialmente. Trata-se, portanto, de intervir, mas sabendo-se como, quando e onde intervir para levantar as barreiras existentes e favorecer o eventual potencial de regenerao ainda remanescente, visando-se construir no uma floresta fugaz, que dure apenas 10 ou 15 anos, mas que se autoperpetue indefinidamente. Os trabalhos j

17 realizados tm demonstrado que o adequado uso e combinao de um grande nmero de espcies arbreas da flora regional, a rpida construo de uma fisionomia florestal e o manejo de processos ecolgicos, como a competio, disperso, etc, so ferramentas indispensveis na obteno de resultados efetivos, em restauraes que demandam plantios. Todavia, em muitas situaes, como em grande parte da costa brasileira, existem reas atualmente degradadas, e paisagens no seu entorno, que mantm ainda grande potencial de favorecer e ou acelerar a recuperao local. Nesses casos, processos ecolgicos crticos ao desencadeamento da restaurao daquela situao especfica, como, por exemplo, a induo do banco de sementes de espcies arbustivo-arbreas presentes no solo, devem ser identificados e favorecidos, de tal maneira que com pequenas intervenes, o potencial de regenerao identificado possa se realizar, iniciando a recuperao com grande eficincia e baixo custo, podendo-se, inclusive, descartar a prescrio de plantios. Se inicialmente buscavam-se prticas padronizadas, ocorreu j uma transio para a percepo de que o universo de histricos e situaes de degradao varia amplamente e que cada caso necessita de solues especficas, baseadas no conhecimento do processo natural de sucesso secundria e nos processos de dinmica de comunidades florestais, aos quais se somam as melhores prticas agronmicas e ou silviculturais, que se fizerem necessrias. Os muitos projetos que fracassaram em reconstituir florestas deixaram claros seus ensinamentos: Projetos mal elaborados prenunciam fracassos previsveis; projetos bem formulados, com execuo e conduo displicentes, convertem-se em grande perda de tempo e recursos, criando situaes comumente observadas, nas quais aps se obter a formao de uma capoeira, que persiste por cerca de dez anos, essa sofre uma regresso, transformando-se num pasto esparsamente arborizado, que impede novas intervenes mecanizadas, jogando os custos a patamares proibitivos. Caracterizar corretamente os fatores de degradao existentes e os impedimentos que eles produziram na rea degradada, caracterizar a capacidade do substrato em permitir o desenvolvimento de espcies arbustivo-arbreas, avaliar o potencial de regenerao da rea degradada e de seu entorno, utilizar uma grande diversidade de espcies arbustivo-arbreas da flora regional, quando forem necessrios plantios, no se constituem numa sofisticao ftil, antes previnem fracassos, reduzem custos, aumentam as probabilidades de sucesso e evitam desperdcio de tempo e esforos. Consideradas essas e algumas outras poucas questes, a conduo do processo de restaurao pode variar ainda de acordo com os processos ecolgicos que o executor pretenda privilegiar e a escala de tempo em que os resultados devam ser obtidos, questes de ordem pessoal. De um nico mtodo antes disponvel, o plantio hoje, de mais de 15 diferentes alternativas, j esto disponveis na caixa de ferramentas do restaurador. Conhec-las e combin-las adequadamente, representa uma significativa vantagem disposio dessa gerao.

18 5 - SUCESSO E INTERAO PLANTA-ANIMAL COMO MECANISMO DA RESTAURAO DA BIODIVERSIDADE IMPORTNCIA DA FAUNA NA RAD No apenas a diversidade de espcies que definem a diversidades de uma comunidade.Ela deve considerar tambm diversidade da interao entre plantas e animais. De acordo com Zamora, um dos maiores especialistas mundiais no tema A presena de plantas pioneiras e de etapas intermedirias, capazes de modificar o ambiente pode beneficiar outras espcies menos tolerantes pois so chaves para colocar em marcha o processo sucessional e favorecer sua progresso at fases mais avanadas.As plantas tambm interagem com os animais de diferentes formas dependendo de sua fase de vida..O efeito dos animais sobre as populaes de plantas, muito mais forte nas fases iniciais do que quando a planta alcana a fase adulta. O resultado das interaes planta animal est condicionado pelo grau de manejo humano da paisagem. Assim os impactos humanos diretos e indiretos condicionam o tipo, intensidade e balano global das interaes ecolgicas ao provocar extines seletivas de espcies, introduo de espcies exticas e fragmentar e degradar habitats originais. Todos estas alteraes provocam uma mudana na dinmica das populaes das espcies vegetais que compartilham organismos que interagem (polinizadores, dispersores e predadores) e, em ltima anlise, uma regresso significativa dos processos estruturadores da comunidade vegetal e da biodiversidade. As interas ecolgicas planta-animal podem tambm condicionar e acelerar a sucesso ecolgica, e por conseguinte, a diversidade da comunidade. Ao disseminar as sementes, as aves frugvoras podem ter um papel importante na recuperao da cobertura vegetal, por exemplo ao expandir as populaes existentes, criar outras novas, intercambiar genotipos com outras populaes e, contribuir para a formao de bancos de sementes. Pelo contrario, depredando seletivamente sementes e plantas jovens, os herbvoros podem prejudicar umas especies mais que outras. Portanto, tanto os mutualistas como os antagnicos podem potencializar a restaurao e exercer um filtro seletivo sobre as espcies da comunidade.O resultado que os animais mutualistas herbvoros tem um papel chave no xito da restaurao. KLEIN, citado por REIS (1996) ilustra interao da fauna e flora em exemplo do processo sucessional secundrio para a regio do Vale do Itaja.

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6 - TCNICAS SILVICULTURAIS APLICADAS RAD

6.1 - Seleo de Espcies Deve-se dar preferncia s espcies de ocorrncia natural na regio e, mais do que isso, as que ocorrem naturalmente nos locais cujas caractersticas so similares rea que est sendo recuperada. O passo inicial para a escolha da espcie deve ser um levantamento indicando as caractersticas da mesma e seu estgio na sucesso natural. Um conhecimento das caractersticas ecolgicas dessas plantas passa a ser importante na medida em que elas podero definir o sucesso da implantao do programa de recuperao. Pia-Rodrigues et al. 1980, citado por Reis, Nakazono & Matos, apresenta as principais caractersticas desse grupo de espcies no quadro 1.

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6.2 - Produo de sementes A produo de sementes e mudas para o processo de regenerao artificial em reas degradadas uma etapa extremamente importante nesta tarefa. De uma boa semente e de mudas de boa qualidade depender o sucesso do empreendimento. Este captulo extrado de Balensiefer & Nogueira (1993) relata algumas tcnicas e procedimentos no manuseio de sementes e produo de mudas para esta finalidade e, pela sua relevncia, transcrito na ntegra. VILLAGOMES (1979), citado por LEO, julga que a forma mais comum de propagao de espcies florestais atravs da semente, em razo da economicidade no manejo, armazenamento e pequenos riscos de transmisso de doenas, alm da fcil reproduo sexual. a) Obteno de Sementes O comrcio de sementes de essncias nativas no Brasil deficiente na disponibilidade, qualidade e preo.

22 Normalmente e, at considerando a reduzida quantidade usada, a proviso de sementes nas empresas que trabalham com recuperao de reas degradadas feita normalmente atravs de coleta prpria. b) Seleo de Matrizes A seleo de matrizes, de acordo com citaes pertinentes, parte de caractersticas fenotpicas como boa forma de tronco, copa desenvolvida, ramos finos e inseridos horizontalmente, crescimento rpido, resistncia a pragas e doenas, freqente e elevada capacidade de produo de sementes e fcil acesso. c) Coleta A maturao de sementes florestais varia por espcie e condies climticas durante o ano. Segundo CARNEIRO (1982) ela ocorre mais cedo, onde a temperatura mais elevada. De acordo com LORENZI (1992), h disponibilidade de sementes de vrias espcies nativas durante todos os meses do ano. Segundo POPINIGIS (1977), citado por LEO, a semente alcana o ponto timo de sua maturao quando chega ao ponto de mximo peso da matria seca, o mximo poder germinativo e o mximo vigor. Assim estaro estabelecidas as condies internas de maturao e estabilidade nas condies fsicas e qumicas, o que vale dizer que o ponto exato de coleta. Algumas caractersticas como atrao por insetos e pssaros, mudanas na colorao e rigidez dos frutos so bons indicativos da poca apropriada para coleta. A observao destes indicativos so importantes j que as sementes coletadas maduras apresentam maior viabilidade. Com relao a forma de coletar, o procedimento mais usual diretamente da rvore. De rvores abatidas, com exceo dos casos de explorao florestal e do cho, devido mistura de espcies, alto custo e ataques diversos, so formas pouco recomendadas.

23 d) Beneficiamento O objetivo do beneficiamento preparar a semente para sua utilizao e de acordo com DELOUCHE e POTTS (1974) citados por LEO. At o momento ainda no foram idealizadas mquinas especficas para o beneficiamento de sementes de essncias nativas, possivelmente a baixa demanda tenha refreado investimentos na questo, alm de que caractersticas como forma e tamanho da semente, tipo de fruto, teor de umidade e peso das sementes influem no mtodo de beneficiamento e tipo de equipamento. Normalmente, e considerando esta pequena demanda na recuperao de reas degradadas, o beneficiamento via de regra efetuado manualmente. Em se tratando de frutos, estes so macerados para a separao das sementes, operao que poder ser facilitada com o uso de gua, que possibilitar a flutuao dos resduos carnosos, enquanto as sementes, geralmente mais pesadas, afundam e so recolhidas, lavadas e secas. Para o caso de vagens, colhidas antes de sua abertura, procede-se a abertura manualmente, batendo-se com instrumento de madeira at romp-las, ocorrendo a separao das sementes. e) Armazenamento Considerando que a maioria das espcies florestais tem uma produo irregular de sementes, torna-se importante adotar medidas para manter a sua viabilidade para maior perodo de tempo, visando suprir a demanda nos plantios futuros. LIBERAL & COELHO (1982), citados por LEO, reportam que o tempo de durao da semente muito varivel e funo do tipo de semente e do armazenamento. De acordo com CARNEIRO (1982), as sementes que apresentam embrio mais protegido, por possurem tegumento impermevel, as mais lisas e com endosperma mais duro, podero manter sua viabilidade por um perodo de tempo maior. Sementes base de leo conservam melhor do que as constitudas por amido. Por outro lado, as sementes maduras podero permanecer viveis por um perodo mais longo. Entre os pesquisadores h unanimidade numa questo: o importante no armazenamento o controle da umidade e temperatura e sempre deve-se considerar que a respirao proporcional temperatura e ao contedo de umidade. Para a maioria das espcies florestais a temperatura ideal de armazenamento est na faixa de 0 a 5 graus centgrados e o teor de umidade entre 6 e 10%. Contudo, algumas espcies s podem ser armazenadas a teores de umidade maiores. O teor de umidade para algumas espcies pode ser mantido acondicionando-se as sementes em recipientes, pois a instalao de desumidificadores em cmaras frias eleva o custo em demasia. oportuno citar a contribuio de LORENZI (1992) a respeito da viabilidade de sementes de um grande nmero de espcies nativas. No grfico a seguir pode-

24 se constatar, pelas suas observaes que a grande maioria das sementes de essncias nativas conservadas a temperatura ambiente no ultrapassam a seis meses com boa viabilidade.

6.3 - Produo de Mudas de Espcies Florestais A produo de mudas de espcies florestais nativas com o objetivo de utiliz-las na recuperao de reas degradadas, feita basicamente pela propagao sexuada, usando-se dois mtodos de produo no viveiro: produo de mudas por semeadura direta nos recipientes e semeadura em sementeiras para posterior repicagem. Tambm, para algumas espcies que tem capacidade de brotao, possvel usar o mtodo de propagao assexuada. a) Produo de Mudas pelo Mtodo de Repicagem Este mtodo caracteriza-se basicamente pela semeadura em sementeiras para posterior repicagem das plntulas para os recipientes. Em uma pesquisa efetuada por BARTH (1989) em 8 locais de minerao no Brasil, concluiuse que 75% das empresas produzem suas prprias mudas para o programa de recuperao de reas mineradas, com produo mdia anual de 60.000 mudas, sendo que a maioria delas eram produzidas pelo mtodo da repicagem. Deve-se frisar que a repicagem para determinadas espcies pode trazer efeitos positivos, produzindo mudas mais vigorosas, enquanto que em outras espcies h um retardamento no crescimento. Ainda, algumas espcies no suportam a repicagem (dano radicular), levando a um alto ndice de mortalidade.

25 Espcies como Cumbaru (Dipterix alata Vog), Aroeira (Astronium urundeuva (Fr.All) Engl.) e Angico suportam bem a repicagem. Estudando o efeito da repicagem na produo de mudas de Louro (Cordia trichotoma (Wellozo) Arrabida ex Strudel) e Gonalo Alves (Astronium fraxinifolium Scott), JESUS & MENANDRO (1987) observaram que, embora a repicagem das mudas permita o melhor aproveitamento das sementes na produo de mudas, deve ser evitada quando possvel, j que tem um efeito negativo no desenvolvimento das mesmas, caracterizada pela restrio do crescimento no incio de sua formao. O substrato utilizado na confeco das sementeiras deve ser mais arenoso, visto que mais fcil aplicar gua do que reduzir a umidade. Assim, o substrato pode ser uma mistura de terra argilosa e areia, em propores adequadas, em funo do teor de argila, com o objetivo de fornecer uma boa drenagem, arejamento e reteno de umidade para que facilite a germinao e desenvolvimento inicial da muda. Normalmente necessrio proceder a desinfestao do substrato para eliminar sementes de plantas daninhas, fungos e insetos. O tratamento pode ser feito diretamente na sementeira. Estando o substrato desinfestado, nivela-se o mesmo no canteiro e efetua-se a semeadura, que pode ser a lano, quando as sementes so pequenas e em sulcos para sementes grandes. A profundidade de semeadura varia em funo principalmente da espessura da semente, mas como regra geral, pode-se semear a uma profundidade no mximo duas vezes a sua espessura. Aps a semeadura, cobre-se a superfcie da sementeira com uma fina camada dos seguintes materiais: capim seco picado, casca de arroz, serragem, etc. A cobertura com estes materiais tem a finalidade de proteger as sementes pr-germinadas contra os raios solares, ventos, irrigao e manter a umidade para que ocorra a germinao de maneira adequada. Quando as plntulas atingiram um certo grau de desenvolvimento na sementeira necessrio proceder a repicagem para os recipientes. Os tamanhos das plntulas para que se possa proceder essa repicagem varia em funo da espcie, mas geralmente efetua tal operao depois que as mudas desenvolveram as primeiras folhas primrias. mais vantajoso efetuar esta operao precoce do que tardia, em virtude da maior facilidade na operao e no pegamento das mudas. Antes da repicagem, os canteiros devero estar prontos, recipientes com substrato, irrigados e com um orifcio no centro. As mudas so retiradas, usando-se uma esptula, faz-se a seleo, baseada no vigor e forma da parte area e subterrnea. As selecionadas so colocadas num recipiente com gua, at que se faa a repicagem. Quando a raiz muito longa, deve-se proceder a poda. A medida que feita a repicagem, o canteiro deve ser irrigado e sombreado para garantir o pegamento. A sombra deve ser mantida por alguns dias, at que haja total recuperao das mudas repicadas. Esta operao deve ser cuidadosa para que no ocorra alto ndice de mortalidade e defeitos radiculares. b) Produo de Mudas por Semeadura Direta em Recipientes

26 Esta tcnica se caracteriza pela semeadura diretamente nos recipientes. Normalmente se coloca uma ou mais semente por recipiente. Por esta tcnica produzida a maioria das mudas nas empresas florestais. Em comparao ao mtodo de repicagem, a semeadura direta em recipientes apresenta as seguintes vantagens: no h necessidade de preparar a sementeira, evita a repicagem e o sombreamento das plntulas, reduo do tempo para produo de mudas, menor risco de doenas e geralmente a muda apresenta menor custo. Para a semeadura, prepara-se os canteiros de recipientes completamente preenchidos com substrato e ajustados adequadamente entre si. No caso do uso de tubetes eles so colocados em bandejas ou telas suspensas. Em seguida, rega-se abundantemente todo o canteiro e iniciase a distribuio das semente. Coloca-se uma ou mais sementes por recipiente , dependendo do percentual de germinao, em profundidade de no mximo duas vezes a espessura da semente. Aps, coloca-se uma camada fina de material morto, como por exemplo, casca de arroz ou trigo. Existem vrios substratos, conforme disponibilidade no local, que podem ser usados no enchimento dos recipientes: terra preta, esterco de animal, bagao de cana, terra de subsolo, vermiculita, entre outros. Geralmente o substrato mais usado a terra de subsolo, visto que isenta de plantas daninhas e fungos patognicos. Assim, no h necessidade de desinfestao do substrato, o que vantajoso no sentido de diminuir o custo de produo. Contudo, como o subsolo tem menor contedo de nutrientes, necessrio proceder a fertilizao. Antes de se proceder o enchimento dos recipientes necessrio peneirar a terra, para eliminar, pedras, razes e outros elementos que podem dificultar a germinao. Nos recipientes onde germinar mais de uma semente necessrio proceder o raleamento, deixando-se apenas a muda mais vigorosa e de melhor forma. Esta operao feita quando as plntulas apresentam algumas folhas definitivas. Nos recipientes em que no ocorreu germinao podero ser novamente encanteiradas para receberem uma nova semeadura. Quando as mudas atingirem um certo tamanho adequado para o plantio, elas so removidas dos canteiros para desprender as razes que eventualmente se aprofundarem no piso do canteiro. Concomitantemente procede-se a seleo das mudas. Caso necessrio faz-se a poda radicular. Aps, as mudas so encanteiradas ou j encaixotadas. c) Produo de Mudas por Propagao Assexuada O processo de propagao por via assexuada se refere a multiplicao de uma planta sem a interferncia dos rgos sexuais. Em outras palavras, a reproduo de uma planta por meio de partes vegetativas. Baseia-se na capacidade de regenerao de um vegetal a partir de clulas somticas. Consequentemente, as plantas propagadas vegetativamente reproduzem toda a carga gentica da planta progenitora. Na produo de mudas florestais, o processo de propagao pode ser importante para aquelas espcies cuja reproduo sexuada se torna difcil, devido

27 a irregularidades na produo de sementes, conjugado com o desconhecimento da tcnica de armazenamento, quando as sementes apresentam baixa viabilidade. Por outro lado, traz como desvantagem a uniformidade gentica das mudas, o que em reas degradadas no desejvel quando se objetiva recuperar o ecossistema como um todo. Vrios mtodos de propagao vegetativa podem ser usados, como enxertia, enraizamento de estacas e cultura de tecidos. Para produo de mudas de Eucalyptus o mtodo mais utilizado o enraizamento de estacas. Contudo para as espcies nativas os estudos so muito escassos. Vrios fatores podem afetar o enraizamento das estacas, como a idade do material a ser enraizado, uso de hormnios, o meio de enraizamento, temperatura e umidade. Os tecidos jovens apresentam maior viabilidade para enraizar do que tecidos maduros (adultos). Pesquisas com algumas espcies nativas evidenciaram que estacas obtidas de material rejuvenecido enraizaram melhor (KANASHIRO, 1982; VASTANO & BARBOSA, 1983, citados por SAMPAIO, 1989; FONSECA, 1981), que estacas de material adulto ou no chegaram a enraizar. O material jovem para enraizamento pode ser obtido cortando-se os ramos na extremidade ou brotos oriundos de cepas. Estes ramos so transformados em estacas de 10 a 20 cm, tratados com fungicidas e hormnios. Aps, as estacas so plantadas em recipientes, contendo areia, turfa, vermiculita ou uma mistura destes materiais. Normalmente necessrio usar casa de vegetao, controlando-se a temperatura e umidade. Temperaturas entre 21,1 e 26,7 graus durante o dia e de 15,6 e 21,1 graus durante a noite so ideais para a maioria das espcies, contudo algumas enraizam melhor a temperaturas mais baixas (HARTMANN & KERSTER, 1962). A umidade deve ser mantida na faixa de 80 a 100%. Para espcies florestais, de estacas com enraizamento difcil, so usados os cidos indol actico (AIA), indol butirico (AIB), e naftalenoactico. As concentraes deste cidos normalmente variam de 2.000 a 8.000 ppm. Espcies como pau-rosa (Aniba rosaedora Ducki) (SAMPAIO, 1989); aroeira (Astronium urundeuva) e angico (Anadenanthera pergrina Sgeg.), no necessitam de hormnio para o enraizamento. d) Aproveitamento de mudas de Regenerao Natural A regenerao natural de florestas representa um processo de produo de mudas realizada pela natureza sem a interferncia do homem (SEITZ 1981); Corvello 1983). Algumas espcies na floresta natural produzem grande quantidade de sementes, levando consequentemente a uma grande produo de mudas. A maioria delas morre durante o seu desenvolvimento, devido a fatores biticos e abiticos, chegando ao final do crescimento jovem com um nmero pequeno de plantas. Segundo SEITZ (1981), as espcies Euterpe edulis, Podocarpus lambertii e Ilex paraguariensis apresentam abundante regenerao. Ento, o excesso inicial dessas mudas produzidas pela regenerao natural podem ser utilizadas para o plantio em outras reas. Isto importante

28 principalmente para aquelas espcies que apresentam problemas na coleta de sementes, beneficiamento, armazenamento e dormncia (SEITZ, 1981). Para pequenas quantidades de mudas e para as espcies que apresentam abundante regenerao natural e no tm grandes problemas no transplante, vivel o aproveitamento da regenerao natural. Se a espcie apresentar dificuldades na produo de sementes e por outro lado, ter regenerao natural satisfatria a obteno de mudas por regenerao natural pode ser uma soluo (SEITZ, 1981). As plntulas extradas da floresta geralmente tem que passar por uma fase de viveiro, para que as mesmas adquiram maior resistncia para enfrentar as condies adversas do plantio no campo. e) Tcnicas de Manejo que Afetam a Qualidade das Mudas As mudas so consideradas de boa qualidade quando conseguem altas taxas de sobrevivncia e crescimento inicial aps o plantio. Esta qualidade pode ser determinadas em funo das caractersticas morfolgicas (externas) e fisiolgicas (internas). Vrios parmetros podem ser utilizados na avaliao da qualidade das mudas: altura da parte area, dimetro do colo, relao entre dimetro do colo e altura da parte area, relao entre parte area e radicial, peso de matria seca, verde e total das partes areas e subterrneas (LIMSTRON, 1963; MALINOVSKI, 1977; citados por STURION, 1981; CARNEIRO, 1976), lignificao do talo, forma da parte area, configurao do sistema radicial e colorao da folhagem (NAPIER, 1985). As mudas de baixa qualidade, por ocasio da seleo so descartadas. Nem sempre se consegue produzir mudas perfeitas, pois sempre ter uma certa percentagem de mudas refugos. Atravs do manejo adequado no viveiro pode-se diminuir ao mnimo a percentagem de mudas consideradas refugos. Se a seleo no for realizada, haver gastos em transporte e plantio da muda, os quais tero baixo ndice de sobrevivncia ou tero crescimento lento, levando a maiores despesas de limpeza no plantio. f) Irrigao Um dos fatores crticos na germinao das sementes a disponibilidade de umidade. Aps a germinao, a gua fundamental para o crescimento vigoroso das mudas. As plantas absorvem gua continuamente atravs do seu sistema radicular, juntamente com os elementos minerais, os quais participam da fisiologia vegetal. Contudo, o excesso de gua pode ser mais prejudicial do que a deficincia, pois pode ter um efeito de diminuir a circulao de oxignio, na regio radicial, levanto asfixia das razes. Tambm pode ocorrer lixiviao dos nutrientes, o favorecimento de doenas e o desenvolvimento de mudas muito suculentas. A quantidade de gua a ser aplicada varia em funo da espcie, condies climticas, tipo de solo e do sistema de irrigao. Dados de pesquisa sobre irrigao em espcies florestais so praticamente inexistentes.

29 Estudando o efeito da irrigao em mudas de aroeira (Astronium urundeuva, colocando-se 6, 9, 12 e 15 litros de gua/m2 por dia (manh e tarde), NOGUEIRA et al. (1991), observaram que, embora no havendo significncia estatstica aos 45 dias, houve um decrscimo do crescimento em altura, dimetro do colo, peso da parte area e subterrnea medida que foi aumentando a irrigao. g) Luminosidade comum nos viveiros usar o sombreamento em sementeiras com o objetivo de conservar a umidade e diminuir a temperatura superficial do substrato. Isto conseguido usando-se ripados ou sombrites sobre os canteiros. Em determinadas condies climticas e substrato, no h necessidade de sombreamento na sementeira. A necessidade de sombra varia segundo a espcie, a etapa de germinao e o local do viveiro. Para determinadas espcies, o sombreamento gera mudas com menor sistema radicial, maior valor da relao altura/dimetro e tecidos mais suculentos, como por exemplo o Ip (Tabebuia aurea BENTH & HOOK) (ALBRECHT & NOGUEIRA, 1986) o que torna a muda menos resistente. Para o Jatob (Hymeneas stigonocarpa) Guapuruvu (Schizolobium parahyba) e Tamboril (Enterolobium contortisiliquum) FERREIRA et al. (1977) obteve mudas de melhor qualidade quando no usou sombreamento. h) Recipientes O tipo de recipiente a ser usado influi na qualidade da muda. Existem no mercado diversos tipos de recipientes, como saco plstico, bandeja de isopor, tubetes, etc. O saco plstico o mais usado devido ao seu menor custo e maior disponibilidade no mercado. Contudo, apresenta como desvantagens a deformao do sistema radicial, o que reduz o ndice de sobrevivncia e o crescimento no plantio, e gera um alto custo de transporte das mudas para o local de plantio. Tambm aumenta os custos de mo de obra, porque sua manipulao individual. O tamanho do recipiente influi diretamente sobre os custos, relacionados com o seu volume, no que diz respeito quantidade de substrato e maior rea de viveiro e tambm na qualidade das mudas. So necessrios recipientes de tamanho adequado, segundo a espcie, de tal maneira que produzam mudas de boa qualidade. Para produo de mudas de maior altura necessrio usar recipiente maior. Quanto mais tempo a muda permanecer no viveiro, sendo recipiente pequeno, maiores so as chances de obter mudas com deformao do sistema radicial. Em espcies nativas h uma tendncia de usar recipientes com maior tamanho que para Pinus e Eucalyptus, contudo sem base cientfica. Os tubetes so usados com sucesso na produo de mudas de Eucalyptus, enquanto que para Pinus, parece que ocorre deformao do sistema radicial. Nas

30 espcies nativas preciso estudar o efeito dos tubetes sobre o sistema radicial, associado com regime de irrigao e fertilizao. i) Acondicionamento ou Endurecimento das Mudas O conjunto de tcnicas que manipulam o sistema subterrneo e a parte area das mudas, com a finalidade de obter mudas mais resistentes, denomina-se acondicionamento. necessrio que as mudas obtenham um certo grau de resistncia que lhe permita a sobrevivncia em condies adversas do meio, agravada nas reas degradadas. Ento necessrio atravs das tcnicas de manejo no viveiro, impor s mudas condies progressivamente mais severas no final da produo. Para obter mudas mais resistentes tem-se empregado vrias tcnicas: reduo da irrigao, poda radicial e troca do regime de fertilizao. A poda radicial e a diminuio gradativa da irrigao so tcnicas mais usuais. A reduo da rea foliar ou poda da parte area diminui a perda de gua pela transpirao. 6.4 - Preparo do Solo para plantio O tipo e o grau de degradao do solo apresenta diferentes situaes e com isso as formas de preparo do solo variam e no se pode apresentar uma receita que atenda indistintamente todos os casos. O ideal evitar no mximo o movimento de solo para no comprometer e expor o mesmo aos processos erosivos. Considerando que as reas degradadas, via de regra, apresentam algum tipo de compactao do solo importante tratar esse detalhe, pois como j foi citado, este fator afeta o crescimento das plantas. Os solos compactados tm sido um dos problemas mais srios na recuperao de reas. O ideal inverter o processo, visando reduzir a densidade e melhorar as condies para o desenvolvimento das plantas. Isto possvel atravs do uso de equipamentos agrcolas como o subsolador ou a revegetao prvia com pastagens, que atravs do seu sistema radicular aumentam a aerao e fornecem matria orgnica, contribuindo para aumentar a porosidade. O uso antecipado de espcies rsticas, competitivas, produtoras de bom volume de razes agressivas para penetrar em solos compactados pode contribuir para a recuperao de solos fisicamente degradados. O ideal usar espcies com razes fasciculadas (gramneas) e pivotantes (leguminosas) na forma de consrcio para permeabilizar as camadas compactadas dos solos. Em casos onde ocorre a perda de nutrientes do solo necessrio a adio de adubos qumicos e correo da acidez. As quantidades sero definidas por uma anlise deste solo. Feito isso o terreno est apto para receber as sementes ou mudas. O espaamento a ser adotado depende da espcie a ser utilizada, pois cada uma apresenta uma forma de crescimento tanto do seu sistema radicular como da parte area e reage competio de forma diferente. O espaamento varia tambm em funo da vegetao remanescente. Para adensamento em reas de capoeira, adota-se um espaamento mais amplo, ao contrrio para reas com solo exposto. O arranjo das espcies deve seguir a teoria da sucesso natural. Gandolfi & Rodrigues (1996) sugerem trs sistemas de revegetao:

31 a) Implantao - para reas bastantes perturbadas sem nenhuma das caractersticas das formaes florestais originais. Usada em reas em que a floresta original foi substituda por outra atividade. As espcies so introduzidas nesta seqncia: pioneiras, secundrias iniciais e secundrias tardias ou clmaces. Geralmente so usadas mudas mas j existem estudos para avaliar o uso de sementes para os trs estgios da sucesso citados. b) Enriquecimento - indicado para reas medianamente alteradas, que mantm parcialmente as caractersticas das formaes florestais tpicas. Usado em reas com capoeiras onde predominam espcies pioneiras. So introduzidas espcies secundrias ou clmax sob a copa das pioneiras. c) Regenerao natural - indicada para reas pouco alteradas. As reas devem ser isoladas para facilitar a sucesso natural podendo haver um controle de espcies agressivas (gramneas). Pode se adotar tambm o sistema de enriquecimento usando espcies finais da sucesso. Deve-se ter em mente o longo perodo de tempo para a regenerao natural de uma floresta. 6.5-recuperao de reas degradadas por meios naturais A capacidade de recuperao da floresta por meios naturais ou regenerao natural depende de uma srie de fatores. A escala da degradao que varia desde a retirada de algumas rvores ao corte total da vegetao sem alterao ou com alterao da camada superficial do solo, sua compactao, ou mesmo com a ocorrncia de processos erosivos. Dependendo de cada situao, o solo poder apresentar caractersticas favorveis, mas pode haver dependncia de outro fator importante: a ocorrncia de vegetao nas proximidades que possibilitem meios para esta regenerao. Este meio representado pela existncia de espcies produtoras de sementes que de uma forma ou de outra alcancem a rea a ser recuperada. A presena de animais na rea assume papel relevante pela sua interao com as plantas no contexto. Pssaros e roedores, alm do vento, despontam como agentes da disperso de sementes. A camada de detritos no solo e a ocorrncia de gramneas e arbustos podem atrair aves e animais na busca de alimentos. Eles podem trazer consigo frutos e sementes , ou mesmo ingeridos, eliminando-os junto s fezes nestes locais, procedendo a dita semeadura. Dependendo da espcie e o local onde a semente depositada ocorrer a germinao e desenvolvimento, iniciando assim o complexo processo de regenerao natural O tempo para o restabelecimento da floresta varia em razo do grau de degradao, da presena e do tipo de fragmentos florestais, do clima e do ecossistema natural original. KLEIN, citado por REIS (1996) ilustra um exemplo do processo sucessional secundrio para a regio do Vale do Itaja, j ilustrado na figura 1.

32 Em algumas regies do sul do Brasil ocorrem espcies de valor ecolgico fundamental neste contexto, como a bracatinga (Mimosa scabrella). O seu grande potencial para esta finalidade se deve a sua grande capacidade de germinao de suas sementes e crescimento rpido recobrindo rapidamente a rea e assim criando condies para a regenerao de outras espcies que necessitem de sombra para seu estabelecimento. A regenerao natural pode ainda ser auxiliada por meios artificiais quando introduzimos ao meio mudas que podem at ser obtidas no sub-bosque ou nas bordas de matas naturais prximas. Procedendo assim estaremos adensando ou enriquecendo a rea com espcies selecionadas auferindo a esta vegetao alguns atributos que a aproximam mais das suas caractersticas naturais. Desta forma ela pode cumprir com mais eficincia as suas mltiplas funes. 6.5.1-Nucleao na RAD:funes e tcnicas Reis nos ensina modelos de restaurao que fogem dos padres clssicos atual e constantemente aplicados na recuperao de reas degradadas, quais sejam as prticas de regenerao artificial baseadas no plantio de espcies arbreas em espaamentos regulares.Sua teoria considera as relaes entre fauna e flora no processo sucessional, baseado primordialmente no principio da nucleao. O processo de nucleao proposto por aquele pesquisador, representa uma nova alternativa de restaurao ambiental, que contrasta com os mtodos normalmente utilizados, pelo fato de priorizar os processos naturais de sucesso. Aparentemente mais lentos, mas que representam uma base para a formao de comunidades vegetacionais, que atuaro como novos ncleos funcionais, dentro da atual paisagem fragmentada. Atesta ele que estes ncleos vo atuar, dependendo de sua forma, tamanho e estrutura, como corredores ou como trampolins ecolgicos, dentro de uma nova perspectiva de manejo ambiental das paisagens. Dentro destas perspectivas, a restaurao ambiental de reas degradadas no se restringe a uma ao pontual, mas se trata de uma ao que, futuramente, ser um importante complemento no manejo ambiental da paisagem. Para tanto esse autor descreve as seguintes tcnicas: a) Transposio de solo: Consiste na seleo de reas prximas aos locais em restaurao, de onde so retiradas pequenas amostras de solo, transpondo sementes, microorganismos e nutrientes para as reas degradadas. A transposio de 16m de solos de restinga promoveu a introduo de 472 plntulas, de 58 espcies, onde 45% so herbceas, 22% arbreas, 16% arbustivas e 5% lianas. A introduo de bracaatinga (Mimosa scabrella), atravs da transposio, aos dois anos de idade, fez com que os ncleos apresentassem 43 (10,01) indivduos, com altura mdia de 2,95(1,1) m, com um raio de 2,22 ( 0,62) m de dimetro de cobertura do solo, estando o estrato graminceo, substitudo por uma camada de serapilheira.

33 b) Chuva de sementes: Trata-se de uma reserva de sementes viveis no solo em uma determinada rea. Constitui a chuva de sementes oriundas de remanescentes florestais prximos ou mesmo distantes dependendo das formas de disperso. Estas sementes permanecem no solo por tempo variado e dependendo de sua diversidade e capacidade germinativa, contribuem naturalmente na restaurao de uma rea degradada, mormente se so compostas por espcies pioneiras e no pioneiras. Da a importncia de se conhecer este potencial para evitar gastos com a regenerao artificial. c) Poleiros artificiais: Esta tcnica consiste na colocao de estruturas que imitam galhos secos e atuam como pontos de repouso, forrageamento e caa para aves. Atravs da colocao de lianas vivas, estas estruturas podem imitar rvores vivas, para atrair animais com comportamento distinto e que no utilizam os poleiros secos.Dentro desse grupo, destacam-se os morcegos, que procuram locais de abrigo para completarem a alimentao dos frutos colhidos em rvores distantes. Aves frugvoras tambm so atradas por poleiros vivos, quando estes fornecem fonte de alimento. Utilizam-se rvores exticas em reas de preservao, para sua transformao em poleiros, atravs do anelamento e sua posterior morte. A principal funo destes poleiros o papel de trampolim ecolgico, trazendo animais e sementes de remanescentes prximos. No Cerrado e na Floresta Estacional Semidecidual, 27 e 35 espcies de aves utilizaram, respectivamente, os poleiros, sendo que mais de 50% destas eram dispersoras de sementes. d) Abrigos para a fauna: Um dos requisitos bsicos para a restaurao a presena, dentro de uma comunidade em formao, de abrigos para a fauna. Esta tcnica consiste no acmulo de galhos, tocos, resduos florestais ou amontoados de pedras, dispostos em leiras, distribudas na forma de ncleos ou aglomerados, ao longo da rea a restaurar. e) Introduo de mudas: A introduo de espcies, atravs do plantio de mudas, uma forma efetiva de ampliar o processo de nucleao. Recomendamos a introduo de, no mximo, 300 mudas/ha, mas que caracterizem um ncleo da espcie, com significativa variabilidade gentica, capaz de formar uma populao mnima vivel. Isto garante, no futuro, que suas filhas possam nuclear a espcie na paisagem. Neste sentido, as espcies selecionadas devem apresentar potencialidade de interaes a mdio e longo prazo, deixando, para as outras tcnicas, o suprimento das espcies mais pioneiras. f) Mdulos de restaurao: Buscando aprimorar e tornar mais efetiva a restaurao ecolgica de reas ciliares degradadas no Norte do estado de Santa Catarina, a Empresa MOBASA S/A adotou as tcnicas nucleadoras e incentiva o desenvolvimento destas, atravs de convnio da UFSC. Para cada uma das fazendas em restaurao, elaborado um diagnstico ambiental, e a execuo da restaurao executada atravs da implantao de mdulos de restaurao. O

34 mdulo o conjunto de tcnicas com rea de 2.500m, onde 5,92% desta rea destinada implantao das tcnicas: duas transposies de galharia (18m), dois tipos de poleiros artificiais (30m), um poleiro de pinus anelado (seco) e dois poleiros de torre de cip (vivo), 20 transposies de solo (20m), 16 grupos de 5 mudas (agrupamentos de mudas nativas, com funes nucleadoras - 80m). Estes mdulos promovem eventualidades e imprevisibilidades, dando oportunidades para que os fluxos naturais encontrem espao para se expressarem e ampliarem as possibilidades de restabelecer uma srie de processos e contextos do sistema como um todo. A tendncia que, nos demais espaos (94%), seja estabelecida uma complexa rede de interaes entre os organismos e uma variedade sucessional, as quais podero convergir para mltiplos pontos de equilbrio no espao e no tempo, fruto da abertura da eventualidade. 7 - RAD EM REAS DE AGRICULTURA E PECURIA: SISTEMAS AGROFLORESTAIS E RECUPERAO DE AMBIENTES CILIARES E RESERVA LEGAL

7.1-Sistemas agroflorestais-SAFs na recuperao de reas degradadas O uso de sistemas agroflorestais na recuperao de reas degradadas tem sido objeto de muitos estudos especialmente conduzidos por instituies de pesquisa como a Embrapa. Alm de questes ambientais, os temas pesquisados esto aliando aspectos econmicas e sociais. As alternativas so muitas mas via de regra, a espcie arbrea a agrcola e a pastagem utilizada associado ao manejo , que vo ditar o sucesso do sistema. Ribaski et al apresentam algumas prticas agroflorestais na RAD em diferentes formas de degradao de solos. O sistema taungya, cultivos seqenciais, pousio melhorado, rvores multiestrato, espcies de uso mltiplo so recomendadas para reas desmatadas e degradadas pela derrubada e queima de rvores, que favorecem a emisso de gases como o CO2, a exposio do solo diretamente chuva, o que provocando eroso e assoreamento dos rios, desequilbrios na flora e fauna, com conseqente empobrecimento biolgico. Barreiras vivas, formao de terraos para uso agrcola, estabilizao de voorocas, cultivos em renques, rvores em contorno e rvores sobre curvas de nvel podem ser usadas para reas erodidas pela gua de chuvas, acarretando perdas de solo, reduzindo sua capacidade para armazenar nutrientes e gua, provocando alto n