apostila de história local para o curso de condutor ambiental de garopaba
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Apostila de história local para o curso de condutor ambiental de Garopaba. Prof. Viegas Fernandes da Costa Instituto Federal de Santa CatarinaTRANSCRIPT
APOSTILA DE HISTÓRIA LOCAL PARA
O CURSO DE CONDUTOR AMBIENTAL
DE GAROPABA
Profº Viegas Fernandes da Costa
Maio de 2014
HISTÓRIA, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO
PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ
Bertold Brecht Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis:
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída
Quem a reconstruiu tantas vezes?
Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo:
Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para os seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam
gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou?
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?
Tantas histórias.
Tantas questões.
PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL
O QUE É TOMBAMENTO?
É uma palavra antiga, que se referia ao ato de guarda e conservação de documentos importantes
nos arquivos da Torre do Tombo, em Portugal. Atualmente significa um ato administrativo
realizado pelo poder público com o objetivo de preservar, por intermédio da aplicação de
legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de
valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados,
culminando com o registro em livros especiais denominados Livros do Tombo.
O QUE PODE SER TOMBADO?
O tombamento pode ser aplicado aos bens móveis e imóveis, de interesse cultural ou ambiental,
quais sejam: fotografias, livros, mobiliários, utensílios, obras de arte, edifícios, ruas, praças,
cidades, regiões, florestas, cascatas, etc. Somente é aplicado aos bens materiais de interesse para
a preservação da memória coletiva.
QUEM PODE EFETUAR UM TOMBAMENTO?
O tombamento pode ser feito pela União, por intermédio do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, pelo Governo Estadual, por meio dos órgãos estaduais que trabalham com a
preservação, ou pelas administrações municipais, utilizando leis específicas.
O ATO DO TOMBAMENTO É IGUAL À DESAPROPRIAÇÃO?
Não. São totalmente diferentes. O tombamento não altera a propriedade de um bem, apenas
proíbe que venha a ser destruído ou descaracterizado. Logo, um bem tombado não precisa ser
desapropriado. Não existe qualquer impedimento para a venda, aluguel ou herança de um bem
tombado. No caso de venda, deve ser feita uma comunicação prévia à instituição que efetuou o
tombamento, para que esta manifeste seu interesse na compra do mesmo. O tombamento é a
primeira ação a ser tomada para a preservação dos bens culturais, na medida que impede
legalmente a sua destruição.
O QUE É ENTORNO DE IMÓVEL TOMBADO?
É a área de projeção localizada na vizinhança dos imóveis tombados, delimitada com o objetivo
de preservar sua ambiência e impedir que novos elementos obstruam ou reduzam sua
visibilidade. Compete ao órgão que efetuou o tombamento estabelecer os limites e as diretrizes
para as intervenções, nas áreas de entorno dos bens tombados.
O TOMBAMENTO DE EDIFÍCIOS OU BAIRROS INTEIROS "CONGELA" A
CIDADE, IMPEDINDO SUA MODERNIZAÇÃO?
Não. A proteção do patrimônio ambiental urbano está diretamente vinculada à melhoria da
qualidade de vida da população, pois a preservação da memória é uma demanda social tão
importante quanto qualquer outra atendida pelo serviço público. O tombamento não tem por
objetivo "congelar" a cidade. De Acordo com a Constituição Federal, tombar não significa
cristalizar ou perpetuar edifícios ou áreas, inviabilizando toda e qualquer obra que venha
contribuir para a melhoria da cidade. Preservação e revitalização são ações que se
complementam e, juntas, podem valorizar bens que se encontram deteriorados.
O TOMBAMENTO É UM ATO AUTORITÁRIO?
Não. Em primeiro lugar o tombamento, como qualquer outra Lei Federal, Estadual ou
Municipal, estabelece limites aos direitos individuais com o objetivo de resguardar e garantir
direitos e interesses de conjuntos da sociedade. Não é autoritário porque sua aplicação é
executada por representantes da sociedade civil e de órgãos públicos, com poderes estabelecidos
pela legislação.
COMO É UM PROCESSO DE TOMBAMENTO?
O tombamento é uma ação administrativa do Poder Executivo que começa pelo pedido de
abertura do processo, por iniciativa de qualquer cidadão ou instituição pública. Qualquer pessoa
física ou jurídica pode solicitar aos órgãos responsáveis pela preservação o tombamento de bens
culturais ou naturais. Este processo, após avaliação técnica preliminar, é submetido à
deliberação dos órgãos responsáveis pela preservação. Caso seja aprovada a intenção de
proteger um bem cultural ou natural, é expedida uma notificação ao seu proprietário. A partir
desta notificação, o bem já se encontra protegido legalmente, contra destruições ou
descaracterizações, até que seja tomada a decisão final, terminando o processo com a inscrição
no Livro do Tombo e comunicação formal aos proprietários.
EXISTEM PRAZOS DETERMINADOS PARA A DELIBERAÇÃO FINAL DE UM
PROCESSO DE UM TOMBAMENTO?
Não. Por se tratar de uma decisão importante e criteriosa, muitos estudos devem ser realizados
para instrução do processo e, conforme sua complexidade, cada caso demandará prazos
diferenciados. Neste processo, os proprietários, de acordo com a lei, têm direito a manifestação.
Na Lei Estadual não existe prazo estabelecido, porém, é possível prever prazo para o processo
de tombamento.
O TOMBAMENTO É A ÚNICA FORMA DE PRESERVAÇÃO?
Não. A Constituição Federal estabelece que é função da União, do Estado e dos Municípios,
com o apoio das comunidades, preservar os bens culturais e naturais brasileiros. Além do
tombamento, existem outras formas de preservação. O inventário é a primeira forma para o
reconhecimento da importância dos bens culturais e ambientais, por meio do registro de suas
características principais. Os Planos Diretores também estabelecem formas de preservação do
patrimônio, em nível municipal por intermédio do planejamento urbano. Os municípios devem
promover o desenvolvimento das cidades sem a destruição do patrimônio. Podem ainda criar
leis específicas que estabeleçam incentivos à preservação.
UM IMÓVEL TOMBADO PODE MUDAR DE USO?
Sim. O que será considerado é a harmonia entre a preservação das características do edifício e
as adaptações necessárias ao novo uso. Atualmente, inúmeras edificações antigas, cuja função
original não mais existe, são adaptadas para uma nova utilização.
O CUSTO DE UMA OBRA DE RESTAURAÇÃO OU CONSERVAÇÃO É ELEVADO?
Chamamos restauração as obras executadas em prédios de valor cultural que tenham como
finalidade conservar e revelar seus valores estéticos ou históricos. Uma restauração deve ter
caráter excepcional, enquanto a conservação deve ser uma atividade permanente. Na maioria
das vezes, o custo da conservação é semelhante ao da manutenção, sendo necessário executar
intervenções de maior porte, que portanto encarecem a obra. Outra situação é a dos prédios que
contém materiais, elementos decorativos ou técnicas construtivas excepcionais. Nesses casos é
necessário utilizar mão-de-obra especializada, elevando o custo dos serviços. A maioria dos
órgãos de preservação fornece gratuitamente orientação aos interessados em executar obras de
conservação ou restauração em bens tombados.
O QUE É NECESSÁRIO PARA APROVAÇÃO DE UM PROJETO PARA EXECUÇÃO
DE OBRAS EM IMÓVEIS TOMBADOS OU LOCALIZADOS EM ÁREAS DE
ENTORNO?
Os projetos deverão ser encaminhados à apreciação das equipes técnicas dos órgãos
responsáveis pelo tombamento dos mesmos. A Fundação Catarinense de Cultura faz as
seguintes exigências: estudo preliminar ou projeto definitivo:
Imóvel tombado:
" requerimento via ofício ou modelo, assinado pelo proprietário ou representante legal;
" registro de imóveis atualizado;
" histórico e relatório do estado de conservação do imóvel;
" planta de situação e localização, com escala e endereço completo;
" levantamento arquitetônico (plantas baixas, cortes e fachadas) com especificação de
revestimentos externos, desenhos das esquadrias e da cobertura;
" projeto de intervenção ou restauração com todas as especificações necessárias, Anotação de
Responsabilidade Técnica (ART) do profissional responsável e aprovação da prefeitura
municipal;
" Em caso de reforma interna, solicita-se usar nas cópias as convenções: amarelo, a demolir, e
vermelho, a construir.
Imóvel novo em entorno de bem tombado:
" desenho das fachadas voltadas para a via pública, do imóvel tombado e das edificações
vizinhas;
" fotos abrangendo o terreno e seu entorno imediato;
" projeto com todas as especificações necessárias, ART e aprovação da prefeitura municipal;
" definição do uso da edificação.
" Aprovado o estudo preliminar, deverão ser encaminhadas quatro cópias do projeto definitivo
para registro e controle.
COMO É POSSÍVEL IMPEDIR A DESTRUIÇÃO DE UM BEM QUE INTERESSE
PRESERVAR?
Atualmente, pela ação do Ministério Público, qualquer cidadão pode impedir destruição ou
descaracterização de um bem de interesse cultural ou natural, solicitando apoio ao Promotor
Público local. Ele está instruído a promover a preservação com agilidade, acionando os órgãos
responsáveis da União, Estado ou Município.
EXISTE ALGUM INCENTIVO FISCAL PARA PROPRIETÁRIOS DE BENS
TOMBADOS?
Sim. O Governo Federal estabelece incentivo através do "Programa Nacional de Apoio à
Cultura" - PRONAC, regulamentado pela Lei no 8.313/91 (Lei Rouanet) e o Governo Estadual
através da Lei no 10.929/9 - Decreto no 3.604/98. No imposto de renda da Pessoa Física, podem
ser reduzidos 80% das despesas efetuadas para restaurar, preservar e conservar bens tombados.
Essa dedução foi limitada em 1994 à 10% da renda tributável. No caso de pessoa Jurídica,
podem ser deduzidas 40% das despesas. Essa dedução foi limitada, no mesmo ano, a 2% do
imposto de renda devido. Existem alguns municípios que dão incentivos fiscais específicos para
conservação dos bens tombados, ou isentam seus proprietários de IPTU.
FONTE:
http://www.fcc.sc.gov.br/patrimoniocultural//pagina/4404/perguntasfrequenteseglossari
o
Conceito de Patrimônio Imaterial
Em 1988, a Constituição Federal Brasileira estabeleceu em seu artigo no 216, "Constituem
patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente
ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira".
No mesmo artigo, se incluem como definidores de patrimônio cultural as formas de expressão;
os modos de criar, de fazer e de viver; as criações científicas, as artísticas e as tecnológicas; as
obras, os objetos, os documentos, as edificações e os demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais; e, finalmente, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e, inclusive, os de valor
científico. A amplitude e a abrangência desse preceito disposto formalmente na Constituição
estabeleceu novos paradigmas para a área do patrimônio e um grande desafio para sua efetiva
preservação e valorização. Para completar esse quadro legal, no ano de 2000 foi instituído um
novo instrumento de preservação, o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que
constituem patrimônio cultural brasileiro, e criado o Programa Nacional do Patrimônio
Imaterial, por meio do Decreto n° 3.551 (www.iphan.gov.br).
O Registro se faz em um dos seguintes livros:
Livro dos Saberes: conhecimentos, técnicas, processos e modos de saber e fazer, enraizados no
cotidiano das comunidades. Exemplos: tecnologias tradicionais de produção artesanal.
Livro das Celebrações: rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da
religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social. Exemplos: procissões,
festas, concentrações.
Livro das Formas de Expressão: manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e
lúdicas. Exemplos: folguedos, ritmos, linguagens, literatura oral.
Livro dos Lugares: espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas.
Exemplos: mercados, feiras, santuários, praças.
SAMBAQUIS
Sambaquis são montes compostos de moluscos (de origem marinha, terrestre ou de água
salobra), esqueletos de seres pré-históricos, ossos humanos, conchas e utensílios feitos de pedra
ou ossos. É resultado de ações humanas, ou seja, são montes artificiais, com dimensões e formas
variadas.
A palavra “sambaquis” tem origem Tupi, e é a mistura das palavras tamba (conchas)
e ki (amontoado).
Os sambaquis são locais muito antigos, onde os homens comiam moluscos em grandes grupos.
O formato dos sambaquis vão dos cônicos aos semi-esféricos. Dependo da região, são
conhecidos por casqueiros, concheiros ou berbigueiros.
O primeiro sambaqui estudado está na Dinamarca. Alguns sambaquis em países Europeus e no
norte da África foram datados como de 4000 a 2000 a.C.
No Brasil, existem sambaquis em vários pontos do litoral brasileiro, sendo que em Santa
Catarina estão os maiores sambaquis do mundo. Nesse estado, existem sambaquis em todo o
litoral, que chegam a ter 25 metros de altura e centenas de metros de extensão. Tem idade
aproximada de 5.000 anos. Em nosso país existem sambaquis inclusive no baixo Amazonas e no
Xingu.
Dentre os utensílios encontrados nos sambaquis brasileiros, muitos são feitos em rocha, como os
quebra-cocos, facas, machados de diabásio semipolido, raspadores e pontas. Os anzóis,
furadores, pontas de flechas e arpões encontrados são feitos de ossos.
As explicações possíveis quanto à finalidade dos sambaquis são diversas. Para alguns
pesquisadores, eles seriam depósitos dos restos de alimentos, de carcaças e ossadas de animais,
servindo também, não se sabe por que, como abrigo de sepulturas de humanos. Não eram
utilizados como moradias, enfim.
Existem pesquisadores que defendem que os sambaquis serviam como acampamentos
temporários.
Para outros pesquisadores, os sambaquis seriam habitações temporárias, o que explicaria a
presença de sepulturas. Servia também, nessa versão, como depósito de materiais.
Apesar de serem patrimônio da União, verdadeiros crimes ambientais destruiram parte dos
sambaquis brasileiros, como construções irregulares em áreas protegidas e a extração de cal por
industrias inescrupulosas.
Fonte: http://www.infoescola.com/arqueologia/sambaqui/ Acesso em 02/10/2013.
CANOEIROS OUSADOS
Cientistas descobriram algo interessante: em um mesmo período, havia sambaquis de diferentes
tamanhos sendo ocupados.
É possível que a altura dos amontoados fosse considerada fator de prestígio: os moradores dos
sambaquis mais altos se destacariam daqueles que estavam à sua volta.
Essa diferença social também está bem marcada no enterramento dos mortos. Em todos os
sambaquis existem enterramentos, em maior ou menor número.
Alguns sambaquis apresentam uma quantidade tão grande de sepulturas, que podem ter servido
apenas como cemitérios. De qualquer forma, os enterramentos apresentam significativas
diferenças entre si. Os indivíduos podem ter sido sepultados sozinhos ou em grupos de 2, 3, 4
ou mais pessoas. Os corpos podiam ser colocados estendidos, como hoje fazemos, ou então
dobrados em posição fetal. Alguns indivíduos foram enterrados com objetos, que provavelmente
lhes pertenceram durante a vida, como delicados colares em conchas ou dentes de animais,
pontas projéteis e lâminas de machado. Estes objetos provavelmente indicam um status
diferenciado que o indivíduo teria tido.
Provavelmente os grupos que construíram os maiores sambaquis eram também aqueles que
tinham maior população. Todos esses indícios sugerem ter havido naquele povo uma forte
hierarquização social e política.
Os povos que habitaram os sambaquis foram exímios canoeiros. Isso explica a presença, nos
sítios, de restos de tubarão, baleia, golfinhos, tartarugas e raias, alguns deles encontrados apenas
em alto mar.
Em várias ilhas brasileiras existem sambaquis, e obviamente elas só poderiam ter sido
alcançadas com o uso de embarcações.
Além disso, estudos realizados nos esqueletos mostram que os indivíduos tinham membros
superiores mais desenvolvidos que os membros inferiores, como resultado de um uso e esforço
centralizado, típico do remo.
Estes grupos também deixaram registros no campo da arte. Belíssimas peças de pedra, feitas
com a técnica do polimento, foram encontradas nos sambaquis. Apresentam a forma de animais
como golfinhos, peixes, aves e antas ou têm forma humana, como é o caso do famoso "Ídolo de
Iguape", proveniente de um sítio no sul de São Paulo.
Gravuras em rochas foram encontradas em algumas ilhas de difícil acesso, em Santa Catarina,
algumas a mais de 15 km de distância da costa. As figuras são geométricas (traços, círculos,
pontos), por vezes sugerindo figuras humanas.
O fato de existirem sambaquis desde o baixo Amazonas até o Rio Grande do Sul (embora
estejam ausentes em algumas áreas, como boa parte do Nordeste) sugere que o caminho de
expansão tenha sido o próprio mar.
A rota migratória teria partido do Amazonas, que detém as datas mais antigas e uma seqüência
cronológica. A expansão desses grupos teria sido bastante rápida, pois em apenas 500 anos
estavam construindo amontoados no Paraná.
Por outro lado, o fato dos sambaquis guardarem características básicas comuns ao longo de todo
o litoral indica que teriam mantido uma rede de contatos culturais, visitando-se entre si,
mantendo algumas atividades em conjunto, realizando trocas de objetos, definindo casamentos
intercomunitários, e assim por diante.
Com certeza, os sambaquieiros mantinham contato também com outros grupos humanos que
habitavam o Brasil naquela época, como os caçadores do planalto. Afinal, quem já transpôs a pé
a Serra do Mar, que separa o litoral do planalto desde o Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul,
pode perceber como estas duas áreas são próximas e acessíveis, embora sejam bastante
diferentes em termos ambientais.
Os arqueólogos ainda não sabem ao certo o que aconteceu com esses grupos, mas seus sítios
desaparecem por volta dos 1.000 anos AP.
É possível que tenha ocorrido algum processo interno de desestruturação. Sabe-se que mais ou
menos no ano 1.000 AP alguns topos de sambaqui começam a apresentar material cerâmico
relacionado a grupos cultivadores do planalto, e talvez a chegada destes grupos tenha
contribuído, em maior ou menor grau, para o desaparecimento daqueles. Questões que
continuam em aberto na Arqueologia Brasileira.
Fonte: http://www.itaucultural.org.br/arqueologia/pt/tempo/sambaquis/index.html
Acesso em 02/10/2013.
OS ÍNDIOS CARIJÓS
Vestígios arqueológicos em diversas partes do litoral de Santa Catarina e encostas dos afluentes
dos rios, comprovam que os índios carijós foram os povoadores do litoral posteriormente ao
homem do sambaqui. Alguns desses índios viviam sobre os antigos sambaquis e desenvolviam
atividades como, pesca, caça, agricultura de subsistência, coleta de alimentos e produção de
cerâmica.
Supõe-se, que o índio carijó não restringia sua alimentação e sobrevivência como mero coletor,
como o homem do sambaqui. Ele desenvolveu e aprimorou novas técnicas e instrumentos,
utilizando novos recursos materiais do meio ambiente onde vivia.
As matas pluviais atlânticas ofereciam ao índio uma farta opção de material lenhoso e isso
possibilitou, apesar dos limites de ferramentas, a fabricação de embarcações. Além disso,
desenvolveu as técnicas de trançados fabricando cocas, jererés, utensílios de pesca, etc. Essas
técnicas mais tarde foram assimiladas pelos portugueses.
A tradição Tupiguarani, cujo destaque é a cerâmica decorada por pintura, corrugado e
escovado, e que ocorre ao longo da Faixa Costeira do Brasil.
Tal tradição apresenta variantes na combinação de traços, porém pertencem a mesma cultura
geral. As formas dos vasos são muito variadas.
Ainda em relação ao índio, encontramos na região da grande Florianópolis a reserva indígena do
Maciambú. Neste local um pequeno grupo de pessoas (cerca de sessenta), desenvolve
expressivo artesanato de trançados em taquara. Observamos, contudo, que nesta produção
existem influências do homem branco tais como, no formato, nas cores, bem como no uso da
matéria prima.
RELATO DO NATURALISTA E VIAJANTE FRANCÊS AUGUSTO DE SAINT-
HILAIRE SOBRE A ARMAÇÃO DE SÃO JOAQUIM (1820)
(...) O mais notável de todos os vegetais que se encontram na singular planície de
Garopaba é uma palmeira anã que eu ainda não conhecia e à qual deram o nome de
butiá (do guarani mbutiá, que significa coqueiro).
(...) Após atravessar o areão, penetrei numa floresta virgem, passei por diante de
plantações de mandioca e de laranjas perfeitamente alinhadas, o que no Brasil é de
causar admiração e, enfim, cheguei à fazenda do Sargento-mor. Ela ficava situada no
alto e daí se desvendava simultaneamente um trecho de mar e uma vasta planície
coberta de mato, e que é a continuação da que acabei de referir. Essa habitação também
se me afigurou outra raridade, pois em Minas e Goiás as fazendas são geralmente
construídas em lugares baixos. (...).
Dissera-me o sargento-mor que plantava principalmente mandioca, por ser nessa
região a cultura mais produtiva em virtude de a mesma preferir terrenos arenosos.
Acrescentara que após colhida a mandioca plantada em terreno que antes fora mata
virgem, devia-se deixá-lo repousar por dois anos, mas, se as terras fossem de capoeira, o
tempo de espera seria de 4 a 5 anos, a fim de que os arbustos e os espinheiros se
achassem novamente em condição de ser cortados e queimados.
(...) De volta à Armação, fui visitar o Administrador Geral, que havia regressado
na minha ausência. Apenas entrei na varanda de sua casa, o Administrador pôs-se a
rezar, edificando-me com o seu aspecto devoto e humilde. (...) Assim, fiquei bastante
surpreendido com essa ostentação devota que eu, desde que me achava na América,
testemunhava pela primeira vez. (...)
A 21 de maio parti de Garopaba com as minhas três carroças. O caminho era
plano, muito bom, e atravessava uma zona de mata virgem. Encontrei, porém, nas
vizinhanças da Armação, muitas terras já desbravadas e, a cada passo, diversos sítios e
algumas roças de mandioca. Em certa altura, atravessamos um rio denominado
Garopaba, que vai lançar-se na lagoa do mesmo nome, perto do mar. Como era dia de
festa, encontrei grande número de mulheres a cavalo, que voltavam da Missa. Elas não
usavam chapéus de homem como as de Minas, mas chapéus próprios do sexo e,
tampouco, se esquivavam de olhar para os lados, corresponder aos cumprimentos que
eu lhes dirigia e falar com os passantes.
Uma delas, vendo-me colher plantas, entendeu que eu era médico e forçou-me a
entrar em sua casa para ver um doente. Era um homem atacado, havia muitos meses, de
paralisia, e os mais hábeis talvez tivessem ficado tão embaraçados como eu.
Recomendei o doente a Deus, aconselhei-o a ter paciência e a confiar na sua mocidade,
e escapei-me o mais depressa possível.
Após ter feito cerca de 3 léguas, parei num sitiozinho denominado Encantado,
pertencente ao dono de uma das carroças que nos conduziam, e aí passei a noite.
Conversando com o meu hospedeiro, perguntei-lhe quanto tempo era necessário, no seu
lugar, para deixar a terra em repouso e derrubar as capoeiras. – Nós temos tanta terra,
disse-me ele, que depois de aproveitado o lugar, abandona-se-o e vai-se plantar noutro.
Deixando o Encantado, entramos num areão coberto de butiás muito juntos uns
dos outros, entremeados de diversos arbustos e subarbustos. Para mim era um quadro
inteiramente novo o que me ofereciam essas palmeiras anãs, cujas folhas glaucas e
agudas pareciam dosséis sob os quais cresciam arbustos, quase todos de folhas verde-
gaio.
VIDA E CULTURA AÇORIANA
Franklin Cascaes
Boitatá Esse facho de fogo, para eles, se mostrava com várias formas do mundo objetivo.
Por exemplo, diziam: ah, eu vi um monstro semelhante a uma batina de padre, eles viam
a saia do padre. Outras vezes se apresenta que nem um pássaro, outras vezes que nem
uma vela, uma lanterna. Outras vezes parecia ser um bicho, um gambá, uma coisa
qualquer. Eles olhavam e observavam essa forma. E contavam depois isso para mim.
Como artista eu estudei o caso. O dia em que eu descobri esse tal de boitatá,
conhecido nesse mundo inteiro e aqui no Brasil como “Mboy-Tatá”, nome indígena que
significa “cobra de fogo”. Os indígenas já conheciam este ente desde a mata, esta forma
espiralada, eles diziam que tinha uma forma comprida, quase que nem cobra, eles
falavam muito isso. É justamente quando o fogo, o “fátuo” começa a solta; depois é a
aragem, o vento que dá as diversas formas. Formas e cores. O índio, lógico, viu a forma
espiralada e lembrou da cobra quando ela se apronta para dar o bote neles. Daí o
“mboy”. Já o português disse “boitatá”, boi de fogo. Também disseram “baitatá”, baita é
uma coisa grande, “tatá” é fogo, o que dá um animal muito grande em forma de fogo.
Depois, ainda batizaram de “bitatá”. Bita, é cabra. Aí eu recriei em cima de tudo isso.
De acordo com as histórias que escutei, que eu vi, é que eu começo a trabalhar a minha
arte e as minhas histórias.
Eles viam o boitatá e se escondiam, com as mãos nos bolsos, por causa da
eletricidade, e para evitar que o fogo fosse atraído pelos dedos e aí queimasse as
pessoas, queimasse a roupa. Aí, eles até chegaram a inventar uma história e diziam:
“fulano, corre depressa, vai buscar a corda do sino para amarrar o boitatá”. Sempre que
eles avistavam o boitatá, eles gritavam pelo nome de uma pessoa qualquer: “fulano,
fulano, corre depressa, vai buscar a corda do sino para amarrar o boitatá”. Isso é para
espantar o boi.
O uso da mandioca
O índio aqui na Ilha de Santa Catarina já sabia usar a mandioca. Eles faziam uma
farinha que aproveitava a mandioca curtida e que eles chamavam “puba”. A mandioca
era colocada dentro de um poço e ficava curtindo durante oito dias. Depois desse tempo,
eles retiravam, puxavam a casca e saía a massa inteirinha. Então eles espremiam aquela
massa numa espécie de tipiti oblongo, bem comprido, cada homem apertava numa
ponta. À medida em que ia apertando, manualmente, a “manipoeira”, que é a água da
massa, ia saindo. Essa água é venenosa, perigosa. Depois eles colocavam a massa no sol
e depois de seca era torrada nas panelas de barro, as “nãen-pepô”, “nãen” é panela,
“pepô” é barro. Era barro cozido. Aí torravam. Ficava uma farinha meio grossa. Na
minha época, aquele tipo de farinha chamavam “carolo”, porque era grossa. Na minha
terra eles faziam uma farinha muito fina, muito gostosa. Por toda essa Ilha, quase todo o
litoral fazia dessa farinha. Passando um pouco de Palhoça para baixo, já a farinha era
grossa, a fabricação já era diferente. A minha mãe também usava fazer muito isso aí
para tirar a massa para fazer cuscuz, cuscuz de mandioca “puba”, como ela dizia.
Misturava com farinha de milho e ainda botava canela, cravo, era uma delícia. Hoje não
fazem mais. Vendem aí nessa feira, mas não é bom, não.
Mais tarde, esses engenhos foram melhorando. Os viajantes que passaram aqui na
Ilha, já deixaram escrito, lá por 1800, que a farinha era tão boa, tão fina, que eles
achavam melhor que a farinha de trigo feita lá na Europa. O açoriano, o colono, eles
usavam fazer um bolo, é um pirão, que comiam com carne, com peixe. A minha mãe
dava muito para a gente com leite. Fazia aquele pirão de farinha, e no centro fazia um
buraco que enchia com leite, e a gente comia aquilo ali com carne seca, do vento, a
carne do vento. Ontem ainda eu fiz essa carne. É excelente. A gente toma um pedaço de
carne, escala, põe um pouco de sal, e põe no sol. Um dia de sol é bom, mais fica muito
seca. Frita, assada no espeto, ah!, é uma delícia. Com carne de porco também se faz.
Assim é com o peixe também. A gente escala e põe no sol, ele fica amarelinho, fica
delicioso, porque não fica totalmente salgado como eles fazem nas sagas, onde eles
põem sal até embranquecer. Isso tira todo o sabor, toda a vitamina.
Como eu disse, os engenhos melhoraram. Eles construíram engenhos tipo
“cangalha”, trabalhando com boi. Isso aí já melhorou bastante porque o homem só tinha
o trabalho de encostar a mandioca na roda cevadeira, que é a roda que rala a mandioca.
Com o boi eles forneavam também só não prensavam, porque para prensar tem que ser
o homem. A farinha então já tornou-se melhor, mais fina, mais gostosa.
O engenho é construído com madeira de lei: canela, peroba, sassafrás, jacarandá,
ipê, que era muito usado para fazer os fusos, que servem para apertar a massa dentro dos
tipitis. E a farinhada era de manhã à noite, não parava nunca. De madrugada, cedo, lá
pelas duas horas, já começavam a fornear. Dentro da casa de engenho já havia um
monte de mandioca para ser raspada. E trabalhava todo mundo: crianças, mulheres,
homens. Trechos compilados de: Caruso, Raimundo C. & Caruso, Mariléa M. Leal Caruso. Vida e
cultura açoriana em Santa Catarina: 10 entrevistas com Franklin Cascaes. Florianópolis:
Edições da Cultura Catarinense, 1997.
RELATO DOS COMBATES ENTRE AS FORÇAS REPUBLICANAS E
IMPERIAIS EM GAROPABA DURANTE A REPÚBLICA JULIANA DE 1839
José Artulino Besen
As forças republicanas não param aí. Sob o comando do Coronel Teixeira Nunes
avançavam rumo ao Norte, apossando-se sucessivamente de Imbituba, Vila Nova e
Imaruí. Avançavam sobre Garopaba, onde havia uma força sob o comando do Alferes
Vilas Boas. No dia 26 de setembro, à aproximação dos republicanos,todos entregaram
as armas. O mesmo ocorre em Maciambu. Acampam os revoltosos perto do forte de
Araçatuba, que adere à causa republicana. Em Garopaba nomeiam para chefe de polícia
o major Claudino de Souza Medeiros.
(...)
A ação imperial toma corpo. A 27 de setembro os rebeldes são expelidos de
Maciambu. Na ponta da Pinheira são batidos, sendo perseguidos até Garopaba (17 de
outubro).
O plano para o ataque a Garopaba, marcado para o dia 14, foi transformado
devido à notícia de presença dos revoltosos comandados por Garibaldi, que haviam
saído de Laguna rumo ao Norte, pelo mar.
Mas a 1º de novembro, iniciam-se medidas para ser cortada a força que o inimigo
ainda conservava em Garopaba.
As forças do governo descobrem numa picada por onde podia passar apenas um
homem a pé, a qual entrando na ponta da Gamboa, junto à serra, com uma volta de 5
léguas, vinha a sair da retaguarda dos republicanos acampados na Encantada.
Comandados pelo capitão Manoel Joaquim, conhecedor do terreno, foram atravessando
a picada, noite à dentro, todos a pé, em meio à chuva. No segundo dia, de madrugada,
surpreenderam um piquete republicano de 5 homens sem haver um tiro.
Travou-se combate: de parte revoltosa 10 mortos no campo, 6 soldados
prisioneiros e 1 capitão. O restante fugiu em debandada para os matos próximos. Da
parte imperial, 2 mortos, alguns feridos. O coronel Teixeira fugiu. No dia seguinte as
forças governamentais atravessam o Morro do Siriú, unindo-se ao Batalhão. Vários
piquetes julianos fugiram para a serra.
O 2º Batalhão, acampado na Encantada, destrói qualquer resistência em Garopaba,
fazendo os republicanos retrocederem até Imbituba, e dali para Laguna, onde se travaria
o combate decisivo que se deu a 15 de novembro, data que marca o fim da República
Juliana.
Fonte: BESEN, José Artulino. São Joaquim de Garopaba: 1830-1980. 1996, p. 30-
31.
A ORIGEM DO NOME ENCANTADA
Januária Barbosa Soares
O velho José da Rosa era meu sogro. Ia viajando. Olhou e viu uma moça sentada.
Chegou perto: um balainho de costura, todo de ouro. Tudo de ouro: as roupas dela eram
a coisa mais linda! Ela foi, perguntou para ele. Ele achegou-se e atemorizou-se. Ela
perguntou: - De que é que o senhor mais se agrada de mim? (Ele devia responder: - O
que mais me agrada é tu!) Ele respondeu: - O que mais me agrada é tua tesoura. Ela
disse: - Ah, ingrato! Não quebraste o meu encantamento... Daí o lugar pegou o nome de
Encantada. Mas pouca gente sabe donde veio o nome. Eu sei porque meus pais e meus
avós contaram. Antigamente tinha muito encantamento. Hoje não tem mais porque o
pessoal não acredita.
Fonte: BESEN, José Artulino. São Joaquim de Garopaba: 1830-1980. 1996, p. 127.
Tradições açorianas
A Farra do Boi é uma festa de origem cultural. É muito popular no estado de Santa
Catarina, e segundo historiadores, foi trazida ao Brasil há cerca de 200 anos, por
descendentes de açorianos.
Desde 1997, a Farra do Boi foi proibida em todo o estado de Santa Catarina, após
inúmeras denúncias e uma grande campanha de conscientização por partes dos
ecologistas e da Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA, na sigla em inglês). O
argumento dos participantes da festa foi o de que a Farra acontecia para manter a cultura
e o folclore da região.
A festa acontecia frequentemente na época da Páscoa, quando centenas de bois eram
torturados e mortos, em um martírio que começa dias antes.
A tortura começa alguns dias antes da festa, quando o boi é isolado e deixa de ser
alimentado. Quando o animal está a dias sem comer, são colocados comida e água
próximos a ele, de forma que ele possa ver mas não possa alcançar, ficando
desesperado.
No dia da Farra, o boi é solto pelas ruas, onde as pessoas aguardam portando os mais
variados instrumentos para ferir o boi, como por exemplo, pedaços de pau, pedras,
chicotes, facas, cordas e lanças.
Outras formas utilizadas pelos “farristas” para ferir o boi são: cortar o rabo do boi,
quebrar suas patas e cornos, jogar pimenta nos olhos dos boi, arrancar os olhos,
introduzir um pedaço de madeira ou vidro em seu ânus, banhá-lo em óleo quente ou
ainda encharcá-los de combustível e atear fogo.
Algumas vezes, o boi é perseguido até encontrar o mar e atira-se, onde morre
afogado.
Quando isso não acontece, a tortura pode durar até três dias, mesmo porque os
“farristas” tomam “cuidado” para que a farra dure mais.
Somente ao perceber que o boi está próximo de morrer, os “farristas” o matam e
dividem a carne. A crueldade costuma acabar com um churrasco.
A partir da Lei Federal nº 9.605, de Fevereiro de 1998, a Farra do Boi foi proibida
em todo o Brasil.
Fonte: http://www.infoescola.com/folclore/farra-do-boi/
A renda de bilros é realizada sobre uma almofada dura, o rebolo, cilindro de pano
grosso, cheio com palha ou algodão, cujas dimensões dependem da dimensão da peça a
realizar, coberto exteriormente por um saco de tecido mais fino.
A almofada fica sobre um suporte de madeira, ajustável, de forma a ficar à altura do
trabalho da rendilheira. No rebolo, é colocado um cartão perfurado, o pique, onde se
encontra o desenho da renda, feito com pequenos furos. Nos furos da zona do desenho
que está a ser realizada, a rendilheira espeta alfinetes, que desloca à medida que o
trabalho progride. Os fios são manejados por meio de pequenas peças de madeira
torneada (ou de outros materiais, como o osso), os bilros. Uma das extremidades do
bilro tem a forma de pera ou de esfera, conforme a região. O fio está enrolado na outra
extremidade. Os bilros são manejados aos pares pela rendilheira que imprime um
movimento rotativo e alternado a cada um, orientando-se pelos alfinetes. O número de
bilros utilizado varia conforme a complexidade do desenho.
Em Portugal a arte da renda de bilros tem especial expressão nas zonas piscatórias do
litoral, com maior relevo para Peniche e Vila do Conde, onde esta arte é antiquíssima
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Renda_de_bilros
O boi de mamão tem origem na lenda do bumba meu boi.
“Bumba meu Boi é uma dança folclórica da cultura brasileira, principalmente na região
Nordeste. A dança surgiu no século XVIII, como uma forma de crítica à situação social
dos negros e índios. O bumba-meu-boi combina elementos de comédia, drama, sátira e
tragédia, tentando demonstrar a fragilidade do homem e a força bruta de um boi.
A lenda é a seguinte: Um rico fazendeiro possui um boi muito bonito, que inclusive
sabe dançar. Pai Chico, um trabalhador da fazenda, rouba o boi para satisfazer sua
mulher Catarina, que está grávida e sente uma forte vontade de comer a língua do boi. O
fazendeiro manda seus empregados procurarem o boi e quando o encontra, ele está
doente. Os pajés curam a doença do boi e descobrem a real intenção de Pai Chico, o
fazendeiro o perdoa e celebra a saúde do boi com uma grande festividade.” (Fonte: http://lendasdobrasil.blogspot.com.br/2011/07/lenda-do-bumba-meu-boi.html)
“(...)Então eu vou contar a história do Boi de Mamão. Como ele começou. “Muita gente
me pergunta como é que principio o Boi de Mamão. O Boi de Mamão principio do
menino que foi a venda comprar bolacha e biscoito para a mãe tomar café, as seis horas
da tarde, que hoje no Brasil se trata de seis horas de ave-maria. E outro menino vizinho,
prep
arou um mamão maduro bem grande, fez dois furos, amarrou um cordão no pé do
mamão , e acendeu um pedacinho de vela dentro do mamão. E quando o menino ia
passando com o biscoito e a bolacha, ele puxou o cordão, o menino gritou e se assustou
e jogou as bolachas e os biscoitos fora, pensando que era um troço invisível. Aí ele
chegou em casa gritando: um Boi de mamão, um Boi de Mamão... A mãe com pena do
menino foi a casa da vizinha perguntar o que tinha existido. – “comadre, foi o meu
menino que pegou um mamão bem maduro , bem vermelho por dentro, fez dois furos,
acendeu uma vela, e o menino se assustou. Foi aonde jogou a bolacha e os biscoitos
fora.” Aí os dois se quiseram achar no pau. A mãe e a comadre não deixou. Dali
prometeram fazê uma brincadeira pra ele com outro tipo de Boi. Aí fizeram um Boi de
pano que levou o nome de Boi de Mamão. E ele era o vaqueiro e o outro ( que pregou a
peça) brincava debaixo do Boi. Depois chegou outro menino querendo participar da
brincadeira. É um Mateus e um vaqueiro. Chega uma menina também querendo
participar da brincadeira e ela serviu de maricota. E aí foi chegando os meninos da
comunidade. Um brincou debaixo do urubu pra que quando o boi morrer, belisca; outro
brincou no cavalinho laçando o Boi e daí nasceu a brincadeira no Brasil.”
(José Manoel Agostinho, em depoimento a Ronaldo Manoel Gonçalves. In. Cantadores
de boi de Mamão: velhos cantadores e educação popular na Ilha de Santa Catarina.
UFSC, 2000, p. 17).
“O folguedo do Boi de Mamão, no folclore catarinense, é uma das brincadeiras de maior
atração popular. Existe no folclore brasileiro com os nomes mais diversos: Bumba –
meu- boi, Boi-bumbá, Boi- pintadinho, Boi-de-Reis, Boizinho, Boi-de-cara-preta, Boi-
calemba,etc. E entre nós Boi-de-pano e Boi-de-Mamão. (...)“Antigamente o folguedo do
Boi era conhecido como Bumba-meu- Boi, depois Boi–de-pano, mas ocorre que, com a
pressa de se fazer uma cabeça, foi usado um mamão verde, e quando foi apresentado
recebeu o nome de Boi-de-Mamão. Nome este mantido até a época atual, onde se vêem
Bois com cabeças de todos os tipos, até mesmo de boi, menos de mamão. Há quem
contrarie essa versão, dizendo vir o nome Boi-de-Mamão do boi que mama.”
(SOARES, Doralécio. Folclore Brasileiro. Santa Catarina, FUNARTE 1979, pg. 29.)
“Se o Boi que dança parece ser uma criação brasileira, não resta dúvida que no folclore
português, do qual se originou o brasileiro, uma parte muito importante é atribuída ao
Boi em todas as representações populares. Não esqueçamos também a importância
simbólica do Boi em toda Bacia do Mediterrâneo e especialmente na Península Ibérica.
“Encarnação das forças genésicas”, o Boi era ao mesmo tempo um símbolo de
transformação, e da angústia que toda transformação desperta. Mas para que o tema
tivesse podido se conservar na memória coletiva, ao passar de um continente à outro e
com todas as modificações de gênero de vida que isto implica, era preciso que
correspondesse a uma realidade e a necessidades profundas.”
(MEYER, Marlise. Pirineus, Caiçaras... Da Comédia dell’arte ao Bumba-meu-boi. 2°
ed. rev. e ampl.- Campinas, S.P.: Editora da UNICAMP, 1991, pág. 62
ARQUITETURA AÇORIANA
Em Santa Catarina, o material mais usado na habitação rural é a madeira: a floresta
tropical do litoral e a araucária do planalto fornecem esse material em abundância. São
as de pau-a-pique com coberturas de palha, ou então são feitas as paredes de barro, com
armação de taquara; já a cobertura com telhas de barro cozido denota melhoramento - é
a casa de oitão, tipo fundamental em Santa Catarina.
Já o descendente dos açorianos e vicentistas, os quais se fixaram nos três pontos do
litoral São Francisco, Laguna e a Ilha, quando constrói um edifício rudimentar, recorre
a esse modelo, com uma variante - o beirado, que deve ser uma imitação da casa urbana.
(...) É que, com a vinda dos casais açorianos a colonizar nosso litoral, o governo
português determina a construção das povoações sempre dentro de um formato: praça
central, tendo numa das faces da igreja e noutra a casa do governo; dessa praça, sairiam
ruas paralelas com certo número de palmos para cada família. Os açorianos, chegando à
Desterro em 1748, em levas sucessivas até 1756, localizaram-se aqui ou espalharam-se
para Enseada de Brito, Laguna, São Miguel, São José, Sto. Antônio, Rio
Tavares, Lagoa, Ribeirão, Canasvieiras, Trindade e para o Rio Grande do Sul.
(...)
Assim, pois, as casas, baixas, pegadas umas as outras, geralmente com testada exíguas
e duas águas, alinhavam-se em ruas estreitas, partindo do centro.
(...)
Arquitetura Desterrense: Eram as casas, de porta e janela num compartimento de
entrada; dali saia um corredor com um quarto ao lado, atrás da primeira sala, sem
janelas. O corredor iaterminar noutra sala, a varanda, onde ia abrir outro quarto, também
sem janela, os outros compartimentos do fundo que davam para o quintal.
Os telhados com beirais desciam até bem baixo. É o que se vê ainda hoje, em casas
situadas a rua João Pinto.
Conforme descrição de Oswaldo Cabral em "Nossa Senhora do Desterro - casas -
sobrados - chácaras”, eram tais casas feitas de tijolos com traço de cal de conchas e
areia, ligados com azeite de baleia, o cimento da época. A pobreza não tinha o azeite, e
o traço não passava então de um barro grosso, cal areia, misturados com água: com o
tempo, essa mistura se esfarelava e as paredes, sob o peso das cumeeiras de madeira
pesada iam perdendo o prumo. Dai, pois, serem construídas umas colocadas às outras,
arrimando-se mutuamente.
E assim são às famosas casas "porta janela", ainda existentes, atestando os restos
saudosos da nossa antiga Desterro.
Úmidas e escuras, têm as janelas de guilhotina, e abrigam ainda hoje a gente mais
humilde que quer localizar-se no centro.
(Fonte: http://www.manezinhodailha.com.br/Scripts/Arquitetura.htm#....)
A CANOA BALEEIRA
A canoa baleeira é um dos barcos mais tradicionais do litoral catarinense e faz parte da
história e do desenvolvimento da região, concentrando cerca de 90% das embarcações
desse tipo de todo o país.
Trazida para o Brasil pelos imigrantes açorianos em meados do século XVIII, a canoa
baleeira tem características de navegação que a tornaram propícia para a captura de
baleias e para a pesca artesanal. Durante muito tempo, ela foi fundamental para a
geração de renda dos pescadores e para o desenvolvimento do litoral catarinense. Em
2008, foi incluída no Projeto Barcos do Brasil do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan), que visa a preservação do patrimônio naval brasileiro.
O professor Nilceu Novicki explica que, pela industrialização da pesca, limitações
ambientais ao uso da madeira e proibição da caça às baleias, a construção desse tipo de
embarcação praticamente não existe mais. “Os métodos de construção da canoa baleeira
estão preservados apenas na memória de mestres artesãos. Se não forem devidamente
documentados, corremos o risco de se perderam no tempo”, declara.
(Fonte: http://www.ifsc.edu.br/campus-itajai/3244-projeto-visa-preservar-a-construcao-
da-canoa-baleeira)
A canoa baleeira – Brasil
Joel Pacheco
A baleeira da Ilha de Santa Catarina é uma embarcação que possui influências dos
botes açoriano e Americano, sendo que o conhecimento de fabricá-la e usá-la na caça à
baleia, provavelmente, chegou com os açorianos em meados do século XVIII.
Os povos nórdicos já utilizavam este tipo de canoa de proa e popa iguais,
características dos famosos barcos vikings. Originalmente eles foram construídos onde
hoje é a Suécia, a Dinamarca e a Noruega. Depois da conquista da Inglaterra, passaram
a ser fabricados também nas ilhas britânicas e na Normandia e Bretanha francesas.
A similar catarinense é a única embarcação tradicional brasileira a ter analogia
com os barcos nórdicos, portanto, só ela apresenta dupla proa.
De acordo com o professor Nereu do Vale Pereira, a presença da baleeira é
descrita e registrada nos apontamentos do viajante alemão Adajbert Von Chamisso, que
passou pela Ilha de Santa Catarina em 1815.
Chamisso relata “o nome armação designa as pescarias reais que executam sobre
baleias, existindo neste governo em número de quatro. Tal pesca se dá nos meses de
inverno junto à entrada do canal. Os barcos que vão ao mar são de madeira e abertos,
tripulados por seis remadores, um timoneiro e o arpoador; a baleia é atingida e puxada
à praia e lá retalhada”.
Por ser leve e de ótima navegabilidade, esta embarcação foi muito utilizada na
captura da baleia e indispensável na pesca artesanal. Com o fim da caça, foi adaptada só
para carga e pesca. O antigo velame deixa de ser usado ao introduzir-se o motor central.
Com o uso voltado para o transporte turístico de passageiros, o barco recebe também
uma cabine de proteção para os usuários.
É considerada por muitos pescadores e construtores navais como a rainha do mar,
devido à notável qualidade náutica, firmeza e segurança, pois enfrenta e navega com
agilidade nos mais diversos mares. Foi concebida para navegar movida a vela ou remo,
mas adaptou-se muito bem ao motor, atingindo velocidade superior a de um bote
motorizado de mesmo comprimento.
(Fonte: Pacheco, Joel. A canoa baleeira dos açores e da Ilha de Santa Catarina.
Florianópolis: Edição do Autor, p. 39 – 40.)
FORTUNATO JUSTINO MACHADO
Míriam Furtado Hartung
Nos primeiros dias que sucederam a minha chegada ao Morro do Fortunato, o tema
principal nas conversas com os moradores girou em torno da história do grupo. Os
relatos remetiam incondicionalmente ao nome de Fortunato Justino Machado, chamado
de pai Nato, como sendo o primeiro morador do lugar e o fundador do grupo. "O
premero morador que eu conheci lá era o pai do Anastácio, o Fortunato ", diz uma
senhora de 84 anos, antiga moradora do Morro, viúva de um dos filhos de Fortunato
Justino Machado. Esta é uma verdade entre os moradores do Morro e das proximidades.
Fortunato possuía uma grande plantação de café e com a venda desse produto ganhou
tanto dinheiro que, na região, ficou conhecido como Fortunat, o rico.
(...)
A versão dos moradores do Vale, apresenta Fortunato como escravo de Marcos Vieira e
filho deste mesmo homem. A condição de Fortunato não é posta em dúvida. Afirma-se
categoricamente que ele foi escravo. Pergunto se não estaria esta versão e,
consequentemente, este modo de perceber os membros do grupo do Fortunato, muito
próximo daquele que, durante a escravidão, conforme mostra Cunha (1985),
considerava escravo e negro como "categorias coextensivas"? Dentro dessa lógica da
coextensividade das categorias escravo e negro, se o grupo do Morro do Fortunato é de
origem africana, logo, seu ancestral era escravo. No entanto, isto não diz nada se não for
considerado, como se viu acima, que, igualmente coextensivos a estas duas categorias -
negro e escravo -, é o conjunto de adjetivos que qualificam depreciativamente esse
segmento.
(...)
Escravo e filho de um mesmo homem. Dupla sujeição, dupla dependência. Na versão
dos moradores do Vale, aquele que cria é o senhor branco e Fortunato aparece como
produto desse criador. Dentro desta lógica, Fortunato e, portanto, todo o grupo que com
ele se identifica, devem sua existência, sua criação a este senhor branco. Não estaria
aqui contida a ideia de sujeição ao poder de outrem? Não estaria aqui contida a crença
de que este segmento da população é "naturalmente" incapaz de criar, de ser pessoa (2),
portanto, sujeito e senhor de sua própria história? Indicar a escravidão como marco
histórico do grupo do Morro não significa apontar para todos estes estigmas? Do modo
como está narrada, sugiro, a versão dos moradores do Vale reafirma todos estes
estigmas e oculta, em si, uma ideia de dependência que o grupo de moradores do Vale
imagina tenha o grupo do Morro em relação a eles.A versão dos moradores do Morro
sugere um caminho diferente. O que pretendem os descendentes de Fortunato quando,
na sua versão, afirmam que o ancestral era livre e "nasceu no ventre livre"?
Significa, a meu ver, dizer que os moradores do Morro não identificam seu ancestral
com o conjunto de idéias, que se pretende representativo do escravo e que, como se viu,
continua atuante. Isto é, 0s descendentes de Fortunato não consideram estas ideias
representativas de seu ancestral, porque a imagem que o grupo constrói deste é positiva,
modelar, portanto, não pode ser associada ao escravo. O Fortunato da versão dos
moradores do Morro é alguém autônomo, no sentido de que construiu sua própria
existência; aquele que possibilitou a existência do grupo e, portanto, não se identifica
com as representações acerca do escravo. Fortunato é aquele que cria, sendo, assim, ele
o senhor.
(Excertos extraídos de: Hartung, Míriam Furtado. Nascidos na Fortuna – O grupo do
Fortunato: identidade e relações interétnicas entre descendentes de africanos e
europeus no litoral catarinense. Florianópolis: PPGAS/UFSC, 1992, p. 36-45)
ORIGEM DO QUILOMBO ALDEIA
Versão de Manoel dos Passos (2010):
Versão de Laudelino Antônio (2010):
(Fonte: Carvalho, Francine Adelino. Entre cores e memórias: escolarização de alunos
da comunidade remanescente do Quilombo Aldeia de Garopaba/SC (1963-1980).
Florianópolis: PPGE/UDESC, 2011)