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DISCIPLINA

METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTFICA

Apostila elaborada pelos professores de METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTFICA da Ps-graduao UNIASSELVI

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IMPORTANTE: Esta apostila utilizada exclusivamente para fins didticos na disciplina de METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTFICA na Ps-graduao UNIASSELVI. No deve ser considerada como base para consulta bibliogrfica, mas como material de orientao. proibida a reproduo total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violao dos direitos de autor (Lei n 9.610/98) crime estabelecido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.

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PLANO DE ESTUDO DA DISCIPLINA METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTFICA EMENTA Conhecimento e Cincia. Pesquisa Cientfica: etapas, modalidade, coleta e anlise de dados. Trabalhos Acadmicos. Artigo Cientfico: apresentao grfica, orientaes metodolgicas, estrutura. Delimitao da Pesquisa: tema, problema, objetivos e etapas do desenvolvimento. Informaes sobre orientao do artigo. OBJETIVO Compreender criticamente os conceitos e processos da pesquisa cientfica, visando elaborao da estrutura do artigo tcnicocientfico. AVALIAO Elaborao textual e exerccios. Estruturao parcial do artigo. REFERNCIAS BSICAS ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS. NBR 14724: informao e documentao: trabalhos acadmicos: apresentao. Rio de Janeiro, 2011. ______. NBR 6024: informao e documentao: numerao progressiva das sees de um documento escrito: apresentao. Rio de Janeiro, 2003. ______. NBR 6028: informao e documentao: resumo: apresentao. Rio de Janeiro, 2003. ______. NBR 6027: informao e documentao: sumrio: apresentao. Rio de Janeiro, 2003. ______. NBR 10520: informao e documentao: citaes em documentos: apresentao. Rio de Janeiro, 2002. _____. NBR 6023: informao e documentao: referncias: elaborao. Rio de Janeiro, 2002. ANDRADE, Maria Margarida de. Introduo metodologia do trabalho cientfico. 5. ed. So Paulo: Atlas, 2001. AZEVEDO, Israel Belo de. O prazer da produo cientfica. 7. ed. Piracicaba: UNIMEP, 1999. CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia cientfica. 5. ed. So Paulo: Prentice Hall, 2002. GIL, Antnio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. So Paulo: Atlas, 1996. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia cientfica. 3. ed. So Paulo: Atlas, 2000. MEDEIROS, Joo Bosco. Redao cientfica. 6. ed. So Paulo: Atlas, 2004. SEVERINO, Antnio Joaquim. Metodologia do trabalho cientfico. 21. ed. So Paulo: Cortez, 2000. TAFNER, Malcon Anderson et al. Metodologia do trabalho acadmico. 3. ed. Curitiba: Juru, 2010.

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SUMRIOINTRODUO ....................................................................................................................................................................................................5 1 CONHECIMENTO ..........................................................................................................................................................................................7 1.1 CONHECIMENTO MTICO ...........................................................................................................................................................................7 1.2 CONHECIMENTO POPULAR/EMPRICO ..................................................................................................................................................8 1.3 CONHECIMENTO RELIGIOSO/TEOLGICO ...........................................................................................................................................9 1.4 CONHECIMENTO ESTTICO/ARTSTICO ..............................................................................................................................................10 1.5 CONHECIMENTO FILOSFICO ................................................................................................................................................................11 1.6 CONHECIMENTO TCNICO .....................................................................................................................................................................12 1.7 CONHECIMENTO CIENTFICO ................................................................................................................................................................14 2 CINCIA .........................................................................................................................................................................................................16 2.1 CARACTERSTICAS E COMPONENTES .................................................................................................................................................16 3 PESQUISA CIENTFICA ..............................................................................................................................................................................19 3.1 ETAPAS DA PESQUISA ...............................................................................................................................................................................19 3.2 MODALIDADES DA PESQUISA ................................................................................................................................................................21 3.3 COLETA DE DADOS ...................................................................................................................................................................................24 3.3.1 Questionrio ................................................................................................................................................................................................25 3.3.1.1 Populao e amostragem ..........................................................................................................................................................................27 3.3.1.2 Tamanho da amostra aleatria simples ....................................................................................................................................................27 3.3.2 Entrevista ....................................................................................................................................................................................................28 3.3.3 Observao ..................................................................................................................................................................................................29 3.4 ANLISE E INTERPRETAO ..................................................................................................................................................................29 4 TRABALHOS TCNICO-CIENTFICOS ..................................................................................................................................................31 4.1 TRABALHO DE CONCLUSO DE CURSO DE GRADUAO, TRABALHO DE GRADUAO INTERDISCIPLINAR, TRABLAHO DE CONCLUSO DE CURSO DE ESPECIALIZAO E/OU APERFEIOAMENTO .........................................................................31 4.1.1 Monografia ..................................................................................................................................................................................................31 4.1.2 Dissertao ..................................................................................................................................................................................................31 4.1.3 Tese .............................................................................................................................................................................................................31 4.1.4 Paper ...........................................................................................................................................................................................................31 4.1.5 Artigo cientfico ..........................................................................................................................................................................................32 5 ARTIGO CIENTFICO .................................................................................................................................................................................33 5.1 APRESENTAO GRFICA ......................................................................................................................................................................33 5.2 ORIENTAES METODOLGICAS .........................................................................................................................................................34 5.3 ESTRUTURA DO ARTIGO ..........................................................................................................................................................................35 5.3.1 Elementos pr-textuais ................................................................................................................................................................................35 5.3.2 Elementos textuais ......................................................................................................................................................................................36 5.3.2.1 Introduo ................................................................................................................................................................................................36 5.3.2.2 Desenvolvimento .....................................................................................................................................................................................36 5.3.2.3 Consideraes Finais ...............................................................................................................................................................................39 5.3.3 Elementos ps-textuais ...............................................................................................................................................................................39 5.3.3.1 Referncias ...............................................................................................................................................................................................39 5.3.3.2 Apndice ..................................................................................................................................................................................................39 5.3.3.3 Anexo .......................................................................................................................................................................................................39 6 DELIMITAO DA PESQUISA...................................................................................................................................................................40 6.1 DELIMITAO DO TEMA..........................................................................................................................................................................41 6.2 PROBLEMA DE PESQUISA ........................................................................................................................................................................41 6.3 OBJETIVOS...................................................................................................................................................................................................42 6.4 ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO...........................................................................................................................................................44 6.5 ORIENTAO DO ARTIGO........................................................................................................................................................................44 REFERNCIAS ................................................................................................................................................................................................ 46 ANEXO .............................................................................................................................................................................................................. 48

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INTRODUO Na busca de atualizar-se na sua misso de ensinar, a Ps-graduao UNIASSELVI procura inovar as possibilidades didticas, incitando professores e alunos a perseguirem o melhor preparo para o mercado e para a academia. Todo profissional contemporneo deve procurar a solidez de conhecimentos, aliada atualizao constante, tendo que apresentar um background cultural que o coloque nas melhores cadeiras de um mercado competitivo. Disciplinas, como Metodologia da Pesquisa Cientfica, so ofertadas com o intuito de criar uma postura crtica. Elas procuram contribuir para que o pesquisador iniciante alcance seus objetivos na pesquisa, em termos epistemolgicos, tecnolgicos, de ensino e de procedimentos didticos, apresentando significativos ganhos. Tudo isso porque as atividades cientficas demandam coragem, esforo e, principalmente, qualidade. A equipe de professores que elaborou esta apostila objetivou apresentar as caractersticas de artigos cientficos e procedimentos para sua elaborao, favorecendo e estimulando a tica, a soluo de problemas, a produo escrita e/ou a vivncia da pesquisa cientfica. Para tanto, a apostila apresenta explicaes sobre a estrutura do documento tcnico-cientfico a ser elaborado pelos acadmicos da Psgraduao da UNIASSELVI. Acreditamos que esta apostila se tornar uma referncia para quando voc, caro ps-graduando, estiver iniciando seu Artigo Cientfico. Lembramos que o primeiro passo a escolha do tema. Esta deve ser realizada com muita flexibilidade, liberdade e criatividade. Se, na monografia, a formulao do problema, dos objetivos e da metodologia vital para a elaborao do trabalho de pesquisa, no artigo cientfico, a definio do tema e de seu esquema bsico, conhecido como esqueleto do texto, fundamental. Por isso, a importncia de voc estar tranquilo quando estiver encaminhando esses processos fundamentais para a construo do artigo. Inicie um exerccio individual ou com outras pessoas, procurando comentar e identificar questes relacionadas s suas preferncias temticas individuais, motivaes profissionais, assuntos ou reas temticas de leitura e estudo, que marcaram ou foram mais determinantes em suas escolhas acadmicas, inclusive que trouxeram voc a este momento. Pense em um ou dois assuntos/temas bem genricos. No esquea: verbalizar e anotar suas ideias sobre o tema gera, por si s, um processo de feedback. Em termos prticos, o seguinte: se voc apenas pensar sobre um assunto ou uma ideia e ficar analisando mentalmente a questo, ter uma compreenso especfica e mais restrita, baseada em dados comparativos relativos, ou seja, voc abre um nmero menor de arquivos para analisar a questo. Mas se verbalizar e escrever tudo o que estiver pensando, ou se fizer isso em um grupo, sua anlise ser mais ampla e completa. Aps, identifique questes mais especficas nesse quadro geral, detectando alguns focos mais estreitos relacionados a possveis temas. Na continuidade, pergunte-se: Este pode ser um tema para meu artigo cientfico? Aonde quero chegar analisando este tema? H material terico consistente e suficiente (livros, revistas, sites, etc.) para fundamentar um texto com este tema ou no h muito material terico produzido sobre o assunto? Qual ser meu diferencial de anlise? Qual o assunto que sempre me interessou, desde a faculdade, em livros, artigos, palestras, cursos, etc.? Qual a rea ou o conjunto de questes que mais me instiga no trabalho profissional? Aquelas que vivencio durante minha jornada de trabalho e que sempre me inquietam? O que sistematicamente procuro responder ou, pelo menos, atenuar em termos de dvidas? Qual o assunto que foco mais comum de minhas leituras? Provavelmente, um ou dois temas se destacaro! Se no houver xito imediato ou se no for to simples como imaginava, d um tempo a voc e passe a observar, em suas preferncias tericas, uma tendncia geral, como tambm uma provvel linha de ao profissional repetitiva que denote certa coerncia ou afinidade com um tema ou uma rea no trabalho profissional e intelectual. No se esquea de que a definio do tema deve ser algo individual, com grande significado para o autor, pois, assim, o artigo ser realizado com mais motivao e prazer. No se deixe levar somente pela sugesto de amigos e professores. Escolha um tema que tenha significado para voc, respeitando, claro, algumas regras importantes na escolha e na redao de um artigo acadmico. Para amadurecer gradativamente o melhor tema para o artigo, voc pode e deve realizar estas reflexes sozinho e/ou com outras pessoas, inclusive j de incio escolhendo seu orientador, tendo a preocupao constante de anotar as ideias no momento em que elas aparecem, na hora em que ocorre o insight, caso contrrio, as ideias fogem, e voc acaba se esquecendo.

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Aps estas reflexes, escreva muito. Somente desta forma o Artigo Cientfico se tornar uma realidade! Convm, por oportuno, ressaltar ainda que a equipe de professores da disciplina de Metodologia busca atualizao constante da apostila. Assim, criamos uma identidade com a UNIASSELVI, normatizando a apresentao e a editorao dos artigos e dos trabalhos dos nossos ps-graduandos. Enfim, a apostila de grande valor e estimular voc, aluno da Ps-graduao UNIASSELVI, a sentir prazer com a pesquisa cientfica porque, na obra, buscamos primar pela clareza dos objetivos, elegncia na forma de apresentao e erudio na medida justa, evitando pernosticismos na apresentao dos temas. Alm do mais, buscamos um tratamento diferenciado para os vrios cursos, sem fugir, entretanto, da unidade fundamental da disciplina de Metodologia.

Equipe de Metodologia da Pesquisa Cientfica da Ps-graduao UNIASSELVI

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1 CONHECIMENTO O conhecimento o ato de adquirir informaes e dados sobre um determinado assunto. Ele pode ser motivado pela necessidade de conhecer algo ou saber sobre ele, bem como por curiosidade de conhecer/identificar o procedimento, histrico, as caractersticas, o funcionamento, entre outros, de um fato. Assim, conhecimento um processo de reflexo crtica cujo objetivo o desvelamento de um objeto. (BARROS; LEHFELD, 2000). Portanto, nesta prtica de reflexo e descoberta, necessrio o envolvimento de dois segmentos: sujeito e objeto. O sujeito o indivduo capaz de conhecer (desvelar), ou seja, o pesquisador, o aluno, o professor, enquanto o objeto tudo que pode ser conhecido (refletido, criticado), podendo ser algo fsico/ tangvel, como um acontecimento, um produto, um fenmeno, etc. nesta relao do sujeito com o objeto que se estabelece a busca pelo conhecimento. Em termos mais especficos, nesta relao que se d a pesquisa, a busca pelo conhecimento. O ser humano busca o conhecimento ao problematizar o mundo vivido, sua relao com o meio e com os seus semelhantes. O conhecimento possibilita representar a realidade de maneira que o sujeito possa se situar e agir no mundo. O conhecimento uma forma de representao da realidade. Ao produzir/buscar conhecimento, se cria uma representao possvel da realidade. A realidade, sendo uma construo do sujeito que conhece, elaborada com base nos referenciais do sujeito. So muitas as variveis da relao entre sujeito e objeto do conhecimento. Para conhecer, o sujeito utiliza os referenciais que esto a sua disposio. Em funo dos elementos utilizados pelo sujeito, de sua viso de mundo, da realidade, do resultado e dos procedimentos adotados, tem-se a gerao de um tipo de conhecimento mais ou menos especfico. Muito embora seja necessrio levar em conta o carter sistmico e complexo do conhecimento, para fins didticos e reflexivos, comum uma separao entre os tipos de conhecimento. A tipologia do conhecimento, de forma simplificada, pode ser entendida como o resultado da utilizao, pelo sujeito, de diferentes tipos de referncias para a construo do conhecimento. Convencionalmente, o conhecimento tipificado em: conhecimento popular/emprico, filosfico, religioso/teolgico e cientfico. Contudo, levando-se em conta outros referenciais e procedimentos possveis, ainda vivel encontrar outros tipos para essa diviso. Os tipos de conhecimento podem coexistir em um mesmo sujeito da cognio. Um cientista voltado para o estudo da biologia, por exemplo, pode ser praticante de uma religio, ter afinidades com um sistema filosfico e ter como guia de sua vida cotidiana conhecimentos provenientes do senso comum. Alm disso, vale salientar que esses tipos de conhecimento

podem ter um mesmo objeto de estudo, como, por exemplo, a origem do universo. Mas, cada um dos tipos de conhecimento pode apresentar a sua verso para tal fato. Para que se entenda melhor como funciona essa diversidade de conhecimentos, apresentam-se, em linhas gerais, os sete tipos de conhecimento: o mtico, o popular/emprico, o religioso/teolgico, o esttico/artstico, o filosfico, o tcnico e o cientfico. 1.1 CONHECIMENTO MTICO O conhecimento mtico busca o entendimento da realidade com base no sobrenatural e na tradio. um tipo de conhecimento que faz uso da intuio para explicar a realidade, as origens e a cosmologia de um grupo. O conhecimento mtico, assim como os demais tipos de conhecimento, cria uma representao do real, atribuindo sentido, significado para as manifestaes da natureza e para as tradies culturais. A crena em seres fantsticos, em simbiose com o meio ambiente e com os ancestrais explica o funcionamento do social e do natural. LEITURA COMPLEMENTAR MITO E COSMOLOGIA As cosmologias indgenas representam modelos complexos que expressam suas concepes a respeito da origem do Universo e de todas as coisas que existem no mundo. Os mitos, considerados individualmente, descrevem a origem do homem, das relaes ecolgicas entre animais, plantas e outros elementos da natureza, da origem da agricultura, da metamorfose de seres humanos em animais, da razo de ser de certas relaes sociais culturalmente importantes, etc. Para muitas sociedades indgenas, o cosmos est ordenado em diversas camadas, onde se encontram divindades, fenmenos atmosfricos e geogrficos, animais e plantas, montanhas, rios, espritos de pessoas e animais, ancestrais humanos, entes sobrenaturais benvolos e malvolos. Cada uma das diversas sociedades indgenas elabora suas prprias explicaes a respeito do mundo, dos fenmenos da natureza, dos espritos, dos seres sobrenaturais e, tambm, do momento em que surgiram os seus ancestrais. Para exemplificar, apresentamos, resumidamente, o mito de origem dos ndios Arara, grupo de lngua Karib. Para eles, quando essa vida ainda no havia comeado, existiam somente o cu e a gua. Separando-os, uma pequena casca que recobria o cu e servia de assoalho a seus habitantes. Na casca do cu, a vida era plena, pois havia de tudo para todos.

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A boa humanidade, protegida pela divindade Akuanduba, vivia conforme as coisas bsicas da vida: acordar, comer, beber, namorar, dormir. Se algum cometesse algum excesso, contrariando as normas, a divindade fazia soar uma pequena flauta, chamando a ateno de todos para que se comportassem de acordo com a boa ordem. Fora da casca do cu, existiam coisas ruins, seres atrozes e espritos malficos, contra os quais a boa humanidade estava protegida por Akuanduba. Houve um dia, no entanto, que ocorreu uma grande briga da qual participou muita gente. A divindade fez soar a flauta, mas a multido teimosa no quis parar de brigar. Nessa confuso, a casca do cu se rompeu, lanando tudo e todos para longe, para dentro da gua que envolvia a casca. Com a queda, todos perderam e todos os velhos e crianas morreram, restando apenas uns poucos homens e mulheres. Dos sobreviventes, alguns foram levados de volta ao cu por pssaros amaznicos, onde se transformaram em estrelas. Os que ficaram foram abandonados pelos pssaros nos pedaos da casca do cu que caram sobre as guas. Assim, surgiram os Arara que, para se manter afastados das guas, escolheram ocupar o interior da floresta. At hoje, os Arara, habitantes do vale dos rios IririXingu, no Estado do Par, assobiam chamando as araras quando as vem voando em bandos por sobre a floresta. Quando pousam no alto das rvores, as araras, por sua vez, observam os ndios e, ao notarem o quanto eles cresceram, desistem de lev-los de volta ao cu. Aqui j foram deixados outras vezes e aqui devero permanecer. Os Arara, que antes viviam como estrelas, esto agora condenados a viver como gente, tendo que perseguir o alimento de cada dia em meio aos perigos que existem sobre o cho. BIBLIOGRAFIA RAMOS, Alcida Rita. Sociedades indgenas. So Paulo: tica, 1986. TEIXEIRA-PINTO, Mrnio. Ieipari: sacrifcio e vida social entre os ndios Arara. Curitiba: Editora UFPR, 1997.Fonte: http://www.museudoindio.org.br/template_01/default.asp?ID_ S=33&ID_M=110. Acesso em: jun. 2011.

1.2 CONHECIMENTO POPULAR/EMPRICO O conhecimento popular/emprico tambm pode ser designado de vulgar ou de senso comum. Porm, nesse tipo de conhecimento, a maneira de conhecer ocorre de forma superficial por informaes ou por experincia casual. desenvolvido, principalmente, por meio dos sentidos e no tem a inteno de ser profundo, sistemtico e infalvel. Usualmente, adquirido por acaso ou pelas tradies ou transmitido de gerao para gerao, no passando pelo crivo dos postulados metodolgicos. O conhecimento popular/emprico adquirido independentemente de estudos, de pesquisas, de reflexes ou de aplicaes de mtodos. Entretanto, pode tornar-se cientfico, desde que passe pelas exigncias dos pares de uma comunidade cientfica. Pode atingir o status de conhecimento cientfico, pois [...] ele base fundamental do conhecer e j existia muito antes de o ser humano imaginar a possibilidade da existncia da cincia. (FACHIN, 2003, p. 10). Entre as caractersticas do conhecimento popular/ emprico esto, segundo Ander-Egg (1978 apud LAKATOS; MARCONI, 2000): Superficial conforma-se com a aparncia, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas. Usam-se frases como: Eu vi, Eu estive presente, Porque disseram, Porque todo mundo diz. Sensitivo refere-se s vivncias, aos estados de nimo e s emoes da vida diria da pessoa. Essas vivncias no so plausveis de comprovao e de mensurao. Subjetivo o prprio sujeito que organiza suas experincias e os seus conhecimentos. Assistemtico a organizao da experincia no visa a uma sistematizao das ideias e da forma de adquiri-las nem tentativa de valid-las. Enfim, no conhecimento popular/emprico, o homem conhece o fato e a sua ordem aparente, sem explicaes de ordem sistemtica, metodolgica, mas pela experincia, pelo costume e pelo hbito. Num embate entre o conhecimento popular/emprico e o conhecimento cientfico, algumas pessoas podero argumentar que ambos tm o mesmo valor; outras podero defender que o primeiro inferior e que o segundo digno de confiana e mrito.

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LEITURA COMPLEMENTAR CARACTERSTICAS DO SENSO COMUM Um breve exame de nossos saberes cotidianos e do senso comum de nossa sociedade revela que possuem algumas caractersticas que lhes so prprias: so subjetivos, isto , exprimem sentimentos e opinies individuais e de grupos, variando de uma pessoa para outra, ou de um grupo para outro, dependendo das condies em que vivemos. Assim, por exemplo, se eu for artista, verei a beleza da rvore; se eu for marceneira, a qualidade da madeira; se estiver passeando sob o Sol, a sombra para descansar; se for bia-fria, os frutos que devo colher para ganhar o meu dia. Se eu for hindu, uma vaca ser sagrada para mim; se for dona de um frigorfico, estarei interessada na qualidade e na quantidade de carne que poderei vender; so qualitativos, isto , as coisas so julgadas por ns como grandes ou pequenas, doces ou azedas, pesadas ou leves, novas ou velhas, belas ou feias, quentes ou frias, teis ou inteis, desejveis ou indesejveis, coloridas ou sem cor, com sabor, odor, prximas ou distantes, etc.; so heterogneos, isto , referem-se a fatos que julgamos diferentes porque os percebemos como diversos entre si. Por exemplo, um corpo que cai e uma pena que flutua no ar so acontecimentos diferentes; sonhar com gua diferente de sonhar com uma escada, etc.; so individualizadores por serem qualitativos e heterogneos, isto , cada coisa ou cada fato nos aparece como um indivduo ou como um ser autnomo: a seda macia, a pedra rugosa, o algodo spero, o mel doce, o fogo quente, o mrmore frio, a madeira dura, etc.; mas tambm so generalizadores, pois tendem a reunir numa s opinio ou numa s idia coisas e fatos julgados semelhantes: falamos dos animais, das plantas, dos seres humanos, dos astros, dos gatos, das mulheres, das crianas, das esculturas, das pinturas, das bebidas, dos remdios, etc.; em decorrncia das generalizaes, tendem a estabelecer relaes de causa e efeito entre as coisas ou entre os fatos: onde h fumaa, h fogo; quem tudo quer, tudo perde; dize-me com quem andas e te direi quem s; a posio dos astros determina o destino das pessoas; mulher menstruada no deve tomar banho frio; ingerir sal quando se tem tontura bom para a presso; mulher assanhada quer ser estuprada; menino de rua delinqente, etc.; no se surpreendem e nem se admiram com a regularidade, constncia, repetio e diferena das coisas, mas, ao contrrio, a admirao e o espanto se dirigem para o que imaginado como nico, extraordinrio, maravilhoso ou miraculoso. Justamente por isso, em nossa sociedade, a propaganda e a moda esto sempre inventando o extraordinrio, o nunca visto; pelo mesmo motivo e no por compreenderem o que seja investigao cientfica, tendem a identific-la com a magia, considerando que ambas lidam com o misterioso, o oculto, o incompreensvel. Essa imagem da cincia como magia aparece, por exemplo, no cinema, quando os filmes mostram os laboratrios cientficos repletos de objetos incompreensveis, com luzes que acendem e apagam, tubos de onde saem fumaas coloridas, exatamente como so mostradas as cavernas ocultas dos magos. Essa mesma identificao entre cincia e magia aparece num programa da televiso brasileira, o Fantstico, que, como o nome indica, mostra aos telespectadores resultados cientficos como se fossem espantosas obras de magia, assim como exibem magos ocultistas como se fossem cientistas; costumam projetar nas coisas ou no mundo sentimentos de angstia e de medo diante do desconhecido. Assim, durante a Idade Mdia, as pessoas viam o demnio em toda a parte e, hoje, enxergam discos voadores no espao; por serem subjetivos, generalizadores, expresses de sentimentos de medo e angstia, e de incompreenso quanto ao trabalho cientfico, nossas certezas cotidianas e o senso comum de nossa sociedade ou de nosso grupo social cristalizam-se em preconceitos com os quais passamos a interpretar toda a realidade que nos cerca e todos os acontecimentos.Fonte: CHAU, Marilena. Filosofia. So Paulo: tica, 2005. p. 110-111.

1.3 CONHECIMENTO RELIGIOSO/TEOLGICO O conhecimento religioso/teolgico (do grego theos, que significa Deus, e logos, que significa tratado/discurso) est relacionado com a f e a crena divina. Apresenta verdades indiscutveis e infalveis. O que funda o conhecimento religioso/ teolgico a f, no sendo necessrio ter evidncias para crer. O conhecimento religioso/teolgico apoia-se em doutrinas que contm proposies sagradas, valorativas, as quais foram ou so reveladas pelo sobrenatural, pelo divino e, por esse motivo, tais proposies so consideradas infalveis, indiscutveis e exatas. No conhecimento religioso/teolgico, um corpo coerente de crenas pode se transformar em religio. J a religio o uso de forma sistematizada e institucionalizada dessas crenas. Enfim, o conhecimento religioso/teolgico parte do princpio de que as verdades tratadas so infalveis e indiscutveis, por consistirem em revelaes da divindade, do sobrenatural.

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LEITURA COMPLEMENTAR 1 Deus existe porque existe movimento no universo. Observa-se, no mundo, que as coisas se transformam. Todo o movimento tem uma causa, que exterior ao ser movido. Sendo cada corpo movido por outro, necessrio existir um primeiro motor, no movido por outros, responsvel pela origem do movimento. Esse primeiro motor Deus. 2 Deus existe porque, no mundo, os efeitos tm causa. Todas as coisas no mundo so causas ou efeitos de algo, no podendo uma coisa ser causa e efeito de si mesma. Assim, toda causa causada por outra leva necessidade da existncia de uma causa no-causada. Essa primeira causa Deus. 3 Deus existe porque se observa, no mundo, o aparecimento e o desaparecimento de seres. Se todas as coisas aparecem ou desaparecem, elas no so necessrias, mas so apenas possveis. Sendo apenas possveis, devero ser levadas a existir num dado momento por um ser j existente. Esse ser existente e necessrio por si prprio, que torna possvel a existncia dos outros seres, Deus. 4 Deus existe porque h graus hierrquicos de perfeio nas coisas do mundo. Dizer que existem graus de bondade, sabedoria... implica a noo de que essas coisas existam em absoluto, o que, inclusive, permite a comparao. 5 Deus existe porque existe ordenao nas coisas do mundo. No mundo, verifica-se que as diferentes coisas se dirigem a um determinado fim, o que ocorre regularmente e ordenadamente. Sendo to diversas as coisas existentes, a regularidade e a ordenao no poderiam ocorrer por acaso; portanto, faz-se necessrio que exista um ser que governe o mundo. Esse ser Deus.Fonte: AQUINO, So Toms de. Compndio de teologia. So Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 73.

arte tem sido elevada categoria de conhecimento validado para esses entendimentos e explicaes. O conhecimento esttico ou artstico, baseado em sentimentos, emoes, criatividade e intuio possibilitam conhecer e lanar possibilidades de interpretao do real. O cientista tambm est imerso e influenciado por sua referncias sobre arte e esttica. Assim, o conhecimento artstico traduzido nas obras de arte expresso de um contexto histrico cultural especfico. LEITURA COMPLEMENTAR O CONHECIMENTO ARTSTICO Embora parea um assunto datado, recente a valorizao da criatividade e da imaginao como elementos constitutivos do conhecimento. A arte, no entanto, no reflete uma forma de conhecimento que se encerra em si, pois a partir dela possvel alcanar novas formas de experincia humana. Gian Danton Durante muitos anos, a viso positivista do conhecimento colocou a cincia no topo de uma pirmide. Logo abaixo dela, vinham conhecimentos tidos como inferiores, como a filosofia, a religio e o empirismo (chamado de conhecimento vulgar). Atualmente, filsofos e cientistas comeam a concordar que existem outras formas de explicar o mundo, to importantes quanto a cincia. Uma dessas formas, ainda um tanto desvalorizada, a arte. Em filmes, quadros, livros e at histrias em quadrinhos pode estar a chave para compreender o homem e o mundo em que vivemos. Edgar Morin acredita que a arte um elemento essencial para analisar a condio humana. No livro A cabea bem feita, ele diz que os romances e os filmes pem mostra as relaes do ser humano com o outro, com a sociedade e o mundo: O romance do sculo XIX e o cinema do sculo XX transportam-nos para dentro da Histria e pelos continentes, para dentro das guerras e da paz. E o milagre de um grande romance, como de um grande filme, revelar a universalidade da condio humana. Assim, em toda grande obra, seja de literatura, poesia, cinema, msica, pintura ou escultura, h um profundo pensamento sobre a condio humana. Entretanto, essa maneira de ter contato com o mundo representado pela arte foi marginalizada durante dcadas. Origens do preconceito O Crculo de Viena, importante grupo de intelectuais do incio do sculo XX, acreditava que a imaginao era um corpo estranho cincia, um parasita que devia ser eliminado por aqueles que pretendem fazer uma pesquisa sria. Numa poca em que a cincia era tida como a nica forma vlida

1.4 CONHECIMENTO ESTTICO/ARTSTICO A viso positivista de conhecimento colocou no topo da hierarquia a cincia. Com as vises contemporneas de saber, tm sido resgatados saberes e fazeres que ajudam a entender a realidade e explicar as relaes sociais e fenmenos naturais. A

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de explicar o mundo, isso equivalia a uma sentena de morte contra a imaginao e a criatividade. O mesmo Edgar Morin, agora no livro Introduo ao pensamento complexo, explica que a imaginao, a iluminao e a criao, sem as quais o progresso da cincia no teria sido possvel, s entravam na cincia s escondidas. Eram condenveis como forma de se chegar a um conhecimento sobre o mundo. A valorizao da criatividade e da imaginao s aconteceu muito recentemente. O filsofo Karl Popper, por exemplo, ao observar as pesquisas de Einstein, que considerava o mais importante cientista do sculo XX, percebeu que toda descoberta desse cientista encerrava um elemento irracional, uma intuio criadora. O trabalho do pensador alemo Thomas Kuhn, ao demonstrar os aspectos sociais e histricos na construo do conhecimento cientfico, abriu caminho para que a arte fosse resgatada como forma de conhecimento. Afinal, se o cientista influenciado pelo mundo em que vive, ele tambm influenciado pelos romances que l, pelos filmes que assiste e at pelas msicas que ouve. No Brasil, um livro importante para a aceitao da arte como forma de conhecer o mundo foi A Pesquisa em Arte, de Silvio Zamboni. Na obra, o autor argumenta que a arte no s um conhecimento por si s, como tambm pode constituirse em importante veculo para outros tipos de conhecimentos, pois extramos dela uma compreenso da experincia humana e de seus valores. Intuio A aceitao da arte como conhecimento implica a necessidade de compreender como essa manifestao se desenvolve. Sabe-se que existe um lado racional na produo artstica, mas tambm existe um componente no racional e, portanto, difcil de ser verbalizado. Uma das obras mais relevantes para a compreenso desse processo o livro Desenhando com o lado direito do crebro, de Betty Edwards. Baseando-se em pesquisas cientficas sobre a constituio do crebro, ela percebeu que, geralmente, o hemisfrio esquerdo dominante na maioria das pessoas, o que dificulta a livre expresso da criatividade, j que o lado esquerdo racional, lgico e analtico, enquanto o lado direito intuitivo e criador.[...]Fonte: http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/17/ artigo134597-1.asp. Acesso em: jun. 2011.

1.5 CONHECIMENTO FILOSFICO O conhecimento filosfico pode ser entendido como resultado do esforo racional, sistemtico e lgico de busca de conhecimento sem recorrer experimentao. De acordo com Fachin (2003), o conhecimento filosfico busca ser o guia para a reflexo e conduz elaborao de princpios e de valores universais vlidos. Ainda conforme Fachin (2003, p. 7), o conhecimento filosfico conduz reflexo crtica sobre os fenmenos e possibilita informaes coerentes. Seu objetivo o desenvolvimento funcional da mente, procurando educar o raciocnio. Nesse tipo de conhecimento, a razo que permite a coordenao, a anlise e a sntese em uma viso clara e ordenada. Entre as caractersticas do conhecimento filosfico esto, segundo Ander-Egg (1978 apud LAKATOS; MARCONI, 2000): Valorativo - seu ponto de partida consiste em hipteses, que no podero ser submetidas observao, ou seja, as hipteses filosficas no se baseiam na experimentao; No-verificvel - os enunciados das hipteses filosficas no podem ser confirmados nem refutados; Racional - consiste num conjunto de enunciados logicamente correlacionados; Sistemtico - suas hipteses e enunciados visam a uma representao coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreend-la em sua totalidade; Infalvel e exato - suas hipteses e postulados no so submetidos ao decisivo teste da observao e da experimentao. O conhecimento filosfico tem como caracterstica o esforo da razo, ou seja, recorre-se razo para postular boas respostas aos problemas humanos, como, por exemplo, conhecimento, tica, poltica e esttica. Enfim, o objeto da filosofia so as ideias, os conceitos, que no so redutveis realidade material e que, por isso, no so passveis de observao e mensurao. Porm, vale lembrar que essa posio no unnime. LEITURA COMPLEMENTAR FILOSOFIA: REPENSAR, VOLTAR ATRS O afrontamento, pelo homem, dos problemas que a realidade apresenta, eis a o que a filosofia. Isto significa, ento, que a filosofia no se caracteriza por um contedo especfico, mas ela , fundamentalmente, uma atitude; uma atitude que o homem toma perante a realidade. Ao desafio da realidade, representado pelo problema, o homem responde

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com a reflexo [...]. E que significa reflexo? A palavra nos vem do verbo latino reflectere, que significa voltar atrs. , pois, um re-pensar, ou seja, um pensamento em segundo grau. Poderamos, pois, dizer: se toda reflexo pensamento, nem todo pensamento reflexo. Este um pensamento consciente de si mesmo, capaz de se avaliar, de verificar o grau de adequao que mantm com os dados objetivos de medirse com o real. Pode aplicar-se s impresses e opinies, aos conhecimentos cientficos e tcnicos, interrogando-se sobre seu significado. Refletir o ato de retornar, reconsiderar os dados disponveis, revisar, vasculhar, numa busca constante do significado. examinar detidamente, prestar ateno, analisar com cuidado. E isto o filosofar. [...]. Com efeito, se a filosofia realmente uma reflexo sobre os problemas que a realidade apresenta, entretanto ela no qualquer tipo de reflexo que possa ser adjetivada de filosfica, preciso que se satisfaa uma srie de exigncias que vou resumir em apenas trs requisitos: a radicalidade, o rigor e a globalidade. Quero dizer, em suma, que a reflexo filosfica, para ser tal, deve ser radical, rigorosa e de conjunto. RADICAL. Em primeiro lugar, exige-se que o problema seja colocado em termos radicais, entendida a palavra radical no seu sentido mais prprio e imediato. Quer dizer, preciso que se v at as razes da questo, at seus fundamentos. Em outras palavras, exige-se que se opere uma reflexo em profundidade. RIGOROSA. Em segundo lugar e como que para garantir a primeira exigncia, deve-se proceder com rigor, ou seja, sistematicamente, segundo mtodos determinados, colocando-se em questo as concluses da sabedoria popular e as generalizaes apressadas que a cincia pode ensejar. DE CONJUNTO. Em terceiro lugar, o problema no pode ser examinado de modo parcial, mas numa maneira perspectiva de conjunto, relacionando-se o aspecto em questo com os demais aspectos do contexto em que est inserido. nesse ponto que a filosofia se distingue da cincia de um modo mais marcante. Com efeito, ao contrrio da cincia, a filosofia no tem objeto determinado, ela dirige-se a qualquer aspecto da realidade, desde que seja problemtico; seu campo de ao o problema, esteja onde estiver. Melhor dizendo, seu campo de ao o problema enquanto no se sabe ainda onde ele est; por isso se diz que a filosofia busca. E nesse sentido que se pode dizer que a filosofia abre caminho para a cincia; atravs da reflexo, ela localiza o problema tornando possvel a sua delimitao na rea de tal ou qual cincia que pode ento analis-lo e, qui, solucion-lo. Alm disso, enquanto a cincia isola o seu aspecto do contexto e o analisa separadamente, a filosofia, embora dirigindo-se s vezes apenas a uma parcela da realidade, insere-a no contexto e a examina em funo do conjunto.Fonte: SAVIANI, Dermeval. Educao: do senso comum conscincia filosfica. 6. ed. So Paulo: Cortez/Autores Associados, 1985. p. 23-24.

LEITURA COMPLEMENTAR DIFERENA ENTRE O FILSOFO E O CIENTISTA A diferena entre o cientista e o filsofo , portanto, fcil de perceber. O cientista se fixa sobre o objeto sem olhar a mesma maneira com que o atinge. A maiutica lhe , pois, estranha e indispensvel. O filsofo centraliza sua ateno sobre o sujeito que conhece e sobre as atividades do esprito, acionadas para apreender seu objeto. Do cientista ao filsofo completamente diferente a atitude frente ao seu objeto. A Filosofia uma reflexo do esprito sobre o trabalho do esprito. A cincia a flexo sobre objeto sobre o qual se debrua.Fonte: CHARBONNEAU, Paul-Eugne. Curso de filosofia: lgica e metodologia. So Paulo: EPU, 1986. p. 15-16.

1.6 CONHECIMENTO TCNICO O conhecimento tcnico a aplicao das outras formas de conhecimento para soluo de problemas e transformao da realidade. baseado na objetividade operacional da aplicao do saber fazer a um determinado contexto.Tem como objeto o domnio do mundo e da natureza. especializado e especfico e se esmera na aplicao de todos os outros saberes que lhe podem ser teis. Trata-se de um tipo de saber que auxilia o homem e a mulher a agirem no mundo, levando-os s mais diversas atividades visando produo tcnica da vida. (CORREIA, 2009).

Nos atuais paradigmas do conhecimento, a construo de saberes voltados para as necessidades do mercado torna-se um diferencial competitivo. Nesse sentido, a produo tcnicocientfica, focada no saber fazer, constitui-se como uma regra para a inovao e aplicao de solues prticas das organizaes e da sociedade como um todo. LEITURA COMPLEMENTAR A SACRALIZAO DA TCNICA Wellington Lima Amorim Sagrado Para falar de Sacralizao e Tcnica, preciso deixar claro o que significa materialismo. Este consiste em axiomatizar o esprito como sendo produzido e determinado pela matria. Nessa concepo, qualquer valor moral, poltico, religioso, esttico ou cultural, determinado pelas condies materiais. Para entender como se d o processo de materializao do real pela Tcnica, necessrio ainda compreender os conceitos de sagrado e profano. O sagrado sempre compreendido como algo divino, diferente de qualquer realidade natural perceptvel,

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e que escapa aos processos de racionalizao. O sagrado o incomum, o especial, o que apresenta um significado particular em nossa vida de modo absoluto e definitivo. De modo geral, o termo sagrado, significa o que est separado, reservado, inviolvel. O seu uso possui uma extenso indefinida; so lugares, pessoas, objetos, textos, imagens, aes, etc., que so usados como sagrados. O sentido da palavra sagrado o divino, o transcendente, portanto:Sagradas ou religiosas eram as coisas que de algum modo pertenciam aos deuses. Como tais, elas eram subtradas ao livre uso e ao comrcio dos homens, no podiam ser vendidas nem dadas como fiana, nem cedidas em usufruto ou gravadas de servido. Sacrlego era todo ato que violasse ou transgredisse esta sua especial indisponibilidade, que as reservava exclusivamente aos deuses celestes (nesse caso eram denominadas propriamente sagradas) ou infernais (nesse caso eram simplesmente chamadas religiosas). (AGAMBEN, 2007, p. 65-69).

que se devem observar a fim de respeitar a separao entre o sagrado e o profano. Religio no o que une homens e deuses, mas aquilo que cuida para que se mantenham distintos. Por isso, religio no se opem a incredulidade e a indiferena com relao ao divino, mas a negligncia, uma atitude livre e distrada ou seja, desvinculada da religio das normas diante das coisas e do seu uso, diante das formas da separao e do seu significado. (AGAMBEN, 2007, p. 65-69).

No entanto, para cada realidade religiosa, h quase sempre uma maneira diferente de ver o sagrado. Entre tantas caractersticas, salienta-se a numinosidade. De um lado, o tremendo, que tem como caracterstica o medo, o respeito, a reverncia; e de outro, o fascinante, o misterioso, a majestade, o fascnio. O sagrado se manifesta como o totalmente outro. Ele se manifesta totalmente diferente do profano. Desde as religies mais primitivas at as mais tradicionais, vemos revelaes do sagrado como numa pedra, rvore, animais, absoluto, nico, etc. Mas esses objetos s demonstram a revelao do sagrado enquanto algo de sagrado se revelar neles, como por exemplo, uma pedra no revela o sagrado como uma pedra, mas sim como algo sagrado, como objeto absoluto e transcendente. Entre tantos objetos da cincia e da filosofia, pode-se falar da sacralizao ou da profanizao do real. Pode-se falar da relao entre o sagrado e o profano, sob o ponto de vista da tcnica, da cincia, da psicologia, da filosofia, da sociologia, que significa se aproximar do elemento nico e irredutvel do real buscando uma resposta apropriada. Profano O conceito de profano pode ser entendido como sendo aquilo que devolvido ao uso e propriedade dos homens. No algo natural; artificial, e somente possvel se ter acesso profanando. Sendo assim, cabe analisar os conceitos de uso e profanao e sua ntima relao. Para que se possa entender essa relao, preciso compreender o que religio. Pode-se definir como sendo:Religio aquilo que subtrai coisas, lugares, animais ou pessoas ao uso comum e as transfere para uma esfera separada. No s no h religio sem separao, mas toda separao contm ou conserva em si um ncleo genuinamente religioso [...] O termo religio, segundo uma etimologia ao mesmo tempo inspida e inexata, no deriva de religare (o que liga e une o humano e o divino), mas de relegere, que indica a atitude de escrpulo e de ateno que deve caracterizar as relaes com os deuses, a inquieta hesitao (o reler) perante as formas e as frmulas

Portanto, a religio separa as coisas, lugares e animais, colocando-as em um lugar separado, conservando um ncleo religioso e so os dispositivos tcnicos que so utilizados para executar tal tarefa. O rito ou ritual praticado pelos dispositivos tcnicos pode restituir o sagrado ao profano e vice-versa. O termo religio significa uma atitude disciplinar e de extrema ateno que, atravs de suas frmulas, formas e dispositivos, tem como finalidade criar uma ponte entre os espaos do sagrado e do profano. O principal paradigma da civilizao ocidental industrial o desenvolvimento extremo que profanizou, ou melhor, materializou o mundo. A racionalidade das cincias naturais e Tcnica induz a uma razo econmica e industrial que atinge a previso e o controle dos acontecimentos naturais e econmicos, alm de permitir a vitria do profano sobre o sagrado. Uma das consequncias desse desenvolvimento a materializao do real, que, a partir do sculo XVII, conjugada racionalidade das cincias naturais e da industrializao, por um lado, causou a desvinculao entre a religio e a filosofia, as tradies e as artes; e, principalmente, por outro, fez a cincia ganhar a aura do sagrado, do dogma e da verdade. A separao entre o sagrado e o profano fica mais evidente no incio do sculo XIX, estendendo-se at o sculo XXI. Sendo assim, a Tcnica possui um discurso profanizador, antimetafsico e que nos remete a uma condio puramente fsica, somente existe a materialidade, ou seja, tudo que no material precisa ser materializado, ou melhor, tudo que sagrado precisa ser profanizado, atravs da razo instrumental. No entanto, ela se torna sagrada em um mundo profanizado; surge, ento, a sacralizao da Tcnica, no permitindo ao homem contemporneo viver sem os aparatos da cibercultura e dos diversos componentes e dispositivos tcnicos.

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1.7 CONHECIMENTO CIENTFICO O conhecimento cientfico procura desvelar os fenmenos: suas causas e as leis que os regem. Considera-se, assim, que o objeto da cincia o universo material, fsico, perceptvel pelos rgos dos sentidos ou pelos aparelhos investigativos. De acordo com Fachin (2003, p.12), [...] a literatura metodolgica mostra que o conhecimento cientfico adquirido pelo mtodo cientfico e, sem interrupo, pode ser submetido a testes e aperfeioarse, reformular-se ou at mesmo avantajar-se mediante o mesmo mtodo. Para que um conhecimento adquira o status de cientfico, deve seguir alguns critrios internos: coerncia (ausncia de contradies); consistncia (capacidade de resistir a argumentos contrrios); originalidade (no ser tautologia); relevncia (esperase que traga alguma contribuio ao conhecimento acumulado pela comunidade cientfica); objetividade (capacidade de reproduzir a realidade como ela , e no como o cientista gostaria que fosse evitar formulaes ideolgicas). O conhecimento cientfico possui algumas caractersticas de consenso da literatura especializada. Dentre elas, se destacam as seguintes, conforme Ander-Egg (1978 apud LAKATOS; MARCONI, 2000): Real lida com ocorrncias, fatos, isto , com toda forma de existncia que se manifesta de algum modo; Contingente suas proposies ou hipteses tm a sua veracidade ou falsidade conhecida por meio da experimentao, e no pela razo, como ocorre no conhecimento filosfico; Sistemtico saber ordenado logicamente, formando um sistema de ideias (teoria), e no conhecimentos dispersos e desconexos; Verificvel as hipteses que no podem ser comprovadas no pertencem ao mbito do conhecimento cientfico; Falvel no definitivo, absoluto ou final; Aproximadamente exato novas proposies e o desenvolvimento de novas tcnicas podem reformular o acervo de teoria existente; Objetivo procura as estruturas universais e necessrias das coisas investigadas; Generalizador rene individualidades, percebidas como diferentes, sob as mesmas leis, os mesmos padres ou critrios de medida, mostrando que possuem a mesma estrutura; Racional procura, assim, apresentar explicaes racionais, claras, simples e verdadeiras para os fatos, opondo-se ao espetacular, ao mgico e ao fantstico; Previsvel busca demonstrar e provar os resultados obtidos durante a investigao, graas ao rigor das relaes definidas entre os fatos estudados; a demonstrao deve ser feita no s

para verificar a validade dos resultados obtidos, mas tambm para prever racionalmente novos fatos como efeitos dos j estudados. Enfim, o conhecimento cientfico ordenado e contnuo, ocorrendo por meio de estudos incessantes. Procura renovar-se e modificar-se continuamente, evitando a transformao das teorias em doutrinas e estas em preconceitos sociais. O conhecimento cientfico est aberto a mudanas e resulta de um trabalho paciente e lento de investigao e de pesquisa racional. LEITURA COMPLEMENTAR A CINCIA NO NEUTRA O que cincia? A questo parece banal. As respostas, porm, so complexas e difceis. Talvez a cincia nem possa ser definida. Em geral, mais conceituada do que propriamente definida. Porque definir um conceito consiste em formular um problema e em mostrar as condies que o tornaram formulvel. No entanto, para os cientistas em geral, a verdadeira definio de um conceito no feita em termos de propriedades, mas de operaes efetivas. Mesmo assim, definies no faltam. Para o grande pblico, cincia um conjunto de conhecimentos puros ou aplicados, produzidos por mtodos rigorosos, comprovados e objetivos, fazendo-nos captar a realidade de um modo distinto da maneira como a filosofia, a arte, a poltica ou a mstica a percebem. Segundo essa concepo, os contornos da cincia so mal definidos. O prottipo do conhecimento cientfico permanece a fsica, em torno da qual se ordenam a matemtica e as disciplinas biolgicas. A esse conjunto, opem-se os conhecimentos aplicados e tcnicos, bem como as disciplinas chamadas humanas. A verdadeira cincia seria um conhecimento independente dos sistemas sociais e econmicos. Seria um conhecimento que, baseando-se no modelo fornecido pela fsica, se impe como uma espcie de ideal absoluto. Mas h outras definies: umas so extremamente amplas e vagas, a ponto de identificarem cincia com especulao; outras so demasiadamente restritivas, a ponto de exclurem do domnio propriamente cientfico, seno todas, pelo menos boa parte das disciplinas humanas. Algumas definies podem ser classificadas como idealistas, na medida em que insistem em reduzir a atividade cientfica busca desinteressada do conhecimento ou da verdade; outras apresentam-se como realistas, chegando ao ponto de identificarem pura e simplesmente cincia e tecnologia. Uma coisa nos parece certa: no existe definio objetiva, nem muito menos neutra, daquilo que ou no a cincia. Esta tanto pode ser uma procura metdica do saber, quanto um modo de interpretar a realidade; tanto pode ser uma instituio com seus grupos de presso, seus preconceitos, suas recompensas oficiais, quanto um meti subordinado a instncias administrativas, polticas ou ideolgicas; tanto uma aventura intelectual conduzindo a um conhecimento terico (pesquisa), quanto um saber realizado ou tecnicizado.Fonte: JAPIASSU, Hilton. O mito da neutralidade cientfica. Rio de Janeiro: Imago, 1975. p. 9-10.

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SUGESTES DE FILMES Aproveita-se a oportunidade para sugerir alguns filmes que podem ajud-lo a entender melhor os tipos de conhecimentos existentes. Filme: O CORPO (The Body). Direo: Jonas McCord. Produo: Rudy Cohen. Elenco: Antnio Banderas (Pe. Matt Gutierez), Olvia Williams (Dra. Sharon Golban). 2001. Foco de anlise: conhecimento teolgico/religioso X conhecimento cientfico. Filme: OS DEUSES devem estar loucos (The Gods Must Be Crazy). Direo: Jamie Uys. Elenco: Marius Weyers, Sandra Prinsloo, Nixau, Louw Verwey. 1980. Foco de anlise: conhecimento teolgico/religioso x conhecimento tcnico Filme: POSSESSO (Possession). Direo: Neil LaBute. Elenco: Gwyneth Paltrow, Aaron Eckhart, Jeremy Northam, Jennifer Ehle. EUA, 2002. Foco: conhecimento teolgico/religioso x conhecimento tcnico x conhecimentp cientfico. Filme: QUASE DEUSES (Something the Lord Made) Direo: Joseph Sargent. Elenco: Alan Rickman, Mos Def, Mary Stuart Masterson, Kyra Sedgwick. EUA, 2004 Foco: desenvolvimento do conhecimento cientfico.

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2 CINCIA A palavra cincia etimologicamente tem origem latina, scientia, que significa aprender ou alcanar conhecimento, e grega, scirem, conhecimento criticamente fundamentado. A cincia caracteriza-se pelo conhecimento racional, sistemtico, exato, verificvel, lgico, objetivo e falvel. Na histria da cincia, vrias so as conceituaes, nem sempre unnimes. Nesse sentido, possvel encontrar diversas conceituaes. Conforme Ruiz (1996, p.129),a palavra cincia pode ser assumida em duas acepes: em sentido amplo, cincia significa simplesmente conhecimento, como na expresso tomar cincia disto ou daquilo; em sentido restrito, cincia no significa um conhecimento qualquer, e sim um conhecimento que no s apreende ou registra fatos, mas tambm os demonstra pelas suas causas determinantes ou constitutivas.

Conhecimento pelas causas a cincia se caracteriza por demonstrar as razes dos enunciados, relacionando as suas causas. Profundidade e generalidade das concluses a cincia exprime suas concluses em enunciados gerais que traduzem a relao constante do binmiocausa/efeito; generalizando o porqu, atinge a constituio ntima e a causa comum a todos os fenmenos da mesma espcie, conferindo cincia a prerrogativa de fazer prognsticos seguros; Finalidade prtica e terica da pesquisa fundamental e da descoberta da verdade decorrem inmeras consequncias prticas; Objeto formal , de maneira particular, o aspecto e o ngulo sob os quais a cincia atinge seu objeto material (realidades fsicas), com o controle experimental das causas reais prximas (evidncias dos fatos, e no das ideias); Mtodo e controle uma investigao rigorosamente metdica e controlada, derivando-se da a razo da confiana nas concluses cientficas; Exatido a cincia pode demonstrar, por via de experimentao ou evidncia dos fatos objetivos, observveis e controlveis, o mrito dos seus enunciados; e Aspecto social a cincia uma instituio social, com os cientistas membros de uma sociedade universal para a procura da verdade e melhoria das condies de vida da humanidade. Alm das caractersticas da cincia, destaca-se, ainda, que as tarefas bsicas para se fazer cincia so, conforme Demo (1985, p. 35),a) Definir os termos com preciso, para no dar margem ambigidade; cada conceito deve ter um contedo especfico e delimitado; no pode virar durante a anlise; embora a dose de impreciso seja normal, o ideal reduzi-la ao mnimo possvel, produzindo o fenmeno desejvel da clareza da exposio; b) Descrever e explicar com transparncia, no incorrendo em complicaes, ou seja, em linguagem hermtica, dura, inteligvel; para bem explicar, mister simplificar, mas preciso buscar o meio-termo entre excessiva simplificao e excessiva complicao; c) Distinguir com rigor as facetas diversas, no emaranhar termos, clarear superposies possveis, fugir da mistura de planos da realidade; no cair na confuso, no sentido de confundir uma coisa com a outra, de obscurecer regies distintas no mesmo objeto, de trocar termos destacveis; d) Procurar classificaes ntidas, bem sistemticas, de tal sorte que objeto aparea recortado sem perder muito a sua riqueza; e) Impor certa ordem no tratamento do tema, de tal modo que seja claro o comeo ou o ponto de partida, a constituio do corpo do trabalho, e a sequncia inconstil das concluses.

Para Fachin (2003, p. 14),O ser humano, diante da necessidade de compreender e dominar o meio, ou o mundo, em benefcio prprio e da sociedade da qual faz parte, acumula conhecimentos racionais sobre seu prprio meio e sobre as aes capazes de transform-lo. A essa sequncia permanente de acrscimos de conhecimentos racionais e verificveis da realidade denominamos cincia.

Para Ferrari (1982, p. 22), [...] A cincia todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemtico conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido verificao. De acordo com Fachin (2003), a exposio dos conceitos de cincia pe em relevo a forma pela qual a pesquisa cientifica d valor evidncia dos fatos ou objetos, mostrando como cada rea das cincias geralmente se inicia com os dados oriundos da observao e da verificao, seguindo parmetros da metodologia cientfica. Devido constante busca da verdade cientfica, a evoluo da cincia tornou-se presente, ampliando, aprofundando, detalhando e, por vezes, invadindo conhecimentos anteriores. Dessa maneira, pode-se colocar que a cincia exata por tempo determinado, at que ela passe por novas transformaes, sendo, portanto, falvel. 2.1 CARACTERSTICAS E COMPONENTES A cincia distingue-se do senso comum porque este uma opinio baseada em hbitos, preconceitos, tradies cristalizadas, enquanto a cincia baseia-se em pesquisas, investigaes metdicas e sistemticas e na exigncia de que as teorias sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a realidade. De acordo com Ruiz (1996), algumas das caractersticas das cincias so:

Mesmo com as mais variadas conceituaes de cincia, das suas caractersticas e das tarefas bsicas para se constru-la, vale destacar que, para fazer cincia, necessrio preocupar-

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se com a formao do cientista/pesquisador. Nada vale um instrumental sofisticado e mtodos aceitveis, se o pesquisador/ cientista no estiver fundamentado de um esprito cientfico, ou seja, o de buscar solues srias com mtodos aceitos pelos pares. Acima de tudo, o pesquisador/cientista deve estar apto a enfrentar crticas e sustentar o seu parecer sobre o fenmeno que estuda. De acordo com Cervo e Bervian (1983), o esprito cientfico traduz-se na prtica em conscincia crtica, objetiva e racional. A conscincia crtica no se refere a um sentido negativo, mas ao sentido de impedir aceitao do fcil e superficial. A conscincia crtica s deve admitir o que suscetvel prova. A objetividade implica romper com posies subjetivas, mal-formuladas e suscetveis a enganos ou expresses, como acho que, pois, para a cincia, no vale o que o cientista pensa ou imagina, mas o que de fato .[...] o esprito cientfico age racionalmente. As nicas razes explicativas de uma questo s podem ser intelectuais ou racionais. As razes que a razo desconhece, as razes da arbitrariedade, do sentimento e do corao nada explicam nem justificam no campo da cincia. (CERVO; BERVIAN, 1983, p. 19, grifos dos autores).

que gostaramos que fosse, em detrimento daquilo que de fato ; d) Profundidade na anlise, significando a recusa de deter-se na superfcie das coisas, na viso imediata, na ingenuidade da informao primeira; e) Ordem na exposio, significando a montagem concatenada, arrumada, clara da pesquisa e anlise; f) Dedicao cincia, tomada por vocao, ou seja, feita com convico ntima, com prazer, com realizao pessoal; g) Abertura incondicional ao teste alheio, a fim de superar colocaes subjetivistas, etreas ou excessivamente gerais, que no conseguem ser reproduzidas pelos colegas; h) Assdua leitura dos clssicos, para conhecimento profundo de como viram realidade e at que ponto foram capazes de objetivao; i) Dedicao aos estudos das principais teorias, metodologias e da produo atual, com vistas ao posicionamento inteligente dentro da discusso e ao amadurecimento de uma personalidade prpria cientfica.Fonte: DEMO, Pedro. Introduo metodologia da cincia. 2. ed. So Paulo: Atlas, 1985. p. 39.

Esprito cientfico, mentalidade cientfica ou atitude cientfica um estado de esprito, uma disposio subjetiva adequada nobreza e seriedade do trabalho cientfico. Esse estado subjetivo resulta do cultivo de uma constelao de virtudes morais e intelectuais; no bastar, pois, conhec-las; preciso viv-las, reduzi-las prtica, cultiv-las. (RUIZ, 1996). Enfim, muitas so as conceituaes de cincia e as posies sobre quais caractersticas internas ou externas esta deve ter, mas isso depende de poca para poca, de autor para autor e dos instrumentos investigativos disponveis que so usados pelos cientistas de um determinado contexto. LEITURA COMPLEMENTAR ALGUNS CUIDADOS METODOLGICOS COMUNS PARA O COMPROMISSO DA OBJETIVAO a) Esprito crtico, significando a postura que d primazia contestao dos pretensos resultados cientficos, sobre a sua consolidao, no fundo no acredita em consolidao, mas na necessidade de constante superao; b) Rigor no tratamento do objeto, significando, sobretudo, a necessidade de se definir bem, distinguir cuidadosamente, sistematizar com detalhe e fineza; c) Trabalho sine ira et studio, significando atitude distanciada, na procura de no se deixar envolver em excesso por aquilo

LEITURA COMPLEMENTAR QUALIDADES DO ESPRITO CIENTFICO [...] Como virtude intelectual, ele se traduz no senso de observao, no gosto pela preciso e pela ideias claras, na imaginao ousada, mas rgida pela necessidade da prova, na curiosidade que leva a aprofundar os problemas, na sagacidade e poder de discernimento. Moralmente, o esprito cientfico assume a atitude de humanidade e de reconhecimento de suas limitaes, da possibilidade de certos erros e enganos. imparcial. No torce os fatos. Respeita escrupulosamente a verdade. O possuidor do verdadeiro esprito cientfico cultiva a honestidade. Evita o plgio. No colhe como seu o que os outros plantaram. Tem horror s acomodaes. corajoso para enfrentar obstculos e os perigos que uma pesquisa possa oferecer. Finalmente, o esprito cientfico no reconhece fronteiras. No admite nenhuma intromisso de autoridades estranhas ou limitaes em seu campo de investigao. Defende o livre exame dos problemas [...].Fonte: CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro. Metodologia cientfica: para uso dos estudantes universitrios. So Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1983. p. 19.

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SITES INTERESSANTES Associao Brasileira de Normas Tcnicas www.abnt.org.br Banco de Teses e Dissertaes CAPES capesdw.capes.gov.br/capesdw/ Biblioteca Digital de Teses e Dissertaes - textos integrais de parte das teses e dissertaes apresentadas na USP www.teses.usp.br Biblioteca Nacional (Brasil) - o site referncia para todas as bibliotecas do pas, com farta documentao e imagens digitalizadas, alm de informaes e servios www.bn.br Biblioteca Virtual Dante Alighieri - UNIASSELVI (Revistas/ Peridicos Online biblioteca.fameblu.com.br:8080/sabio/ Bibliotecas virtuais do sistema MCT/CNPq/Ibict - grande referncia na rea de bibliotecas virtuais, o site mais importante no Brasil de informao e comunicao sobre cincia e tecnologia www.prossiga.br Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico www.cnpq.br Currculo dos pesquisadores www.cnpq.br/lattes Diretrios de grupos de pesquisa no Brasil www.cnpq.br/gpesqui3 Financiadora de Estudos e Projetos www.finep.gov.br Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia www.ibict.br Instituto de Estudos Avanados da Universidade de So Paulo www.usp.br/iea Ministrio da Cincia e Tecnologia www.mct.gov.br O que Qualis? www.capes.gov.br/avaliacao/qualis Portal de Peridicos da CAPES www.periodicos.capes.gov.br/ Revista de Divulgao Cientfica www.uol.com.br/cienciahoje SCIELO - biblioteca eletrnica com peridicos cientficos brasileiros www.scielo.br Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia www.sbpcnet.org.br Universia Brasil - busca teses nas universidades pblicas paulistas e na PUC-PR www.universiabrasil.net/busca_teses.jsp WebQualis www.qualis.capes.gov.br/webqualis

SUGESTES DE FILMES E DOCUMENTRIOS Sugerem-se alguns filmes e documentrios que podem ajud-lo a entender melhor o que cincia. Filme: CRIAO. Direo: Jon Amiel. Produo: Jeremy Thomas. Reino Unido: Han Way Film, 2009. 1 DVD (108 min). Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=ZcRP822h22A Foco: Charles Darwin e a Origem das Espcies Filme: GALILEU. Direo: Joseph Losey. Lanamento em DVD: 2004 Inglaterra, 1975. 1 DVD (139 min). Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=nscGLQFq7cM&feat ure=related O filme uma adaptao da pea Brecht e trata do conhecimento cientfico e religioso. Filme: GALILEU: Batalha para o Paraso. Direo: Peter Jones. The History Channel, 2002. 1 DVD (100 min). Trecho no Youtube: http://www.youtube.com/ watch?v=On9Wn96BETE Documentrio: POEIRA das estrelas vai at a Torre de Pisa. Direo e Produo: Rede Globo de Televiso. Episdio exibido em: 27 ago. 2006. Vdeo on-line (10 min). Srie Poeira das Estrelas Episdio 2. Parceria entre o fsico e astrnomo Marcelo Gleiser e Fantstico/Rede Globo de Televiso. Trata do nascimento da cincia com um brevssimo histrico de Aristteles at Galileu. Disponvel em: . Acesso em: 7 jun. 2011. Documentrio: DEUS, Universo e Todo Resto. Apresentao: Carl Sagan; Arthur C. Clarke; Stephen Hawking. Inglaterra: Kultur, 1988. 1 DVD (50 min). Documentrio com Carl Sagan, Arthur C. Clarke e Stephen Hawking em uma conversa sobre cincia.

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3 PESQUISA CIENTFICA A cincia, desenvolvida por meio da pesquisa, um conjunto de procedimentos sistemticos, baseados no raciocnio lgico, com o objetivo de encontrar solues para os problemas propostos, mediante o emprego de mtodos cientficos e definio de tipos de pesquisa. (CERVO; BERVIAN, 2002; ALVESMAZZOTTI; GEEWANDSZAJDER, 1999). A pesquisa objetiva a produo de novos conhecimentos por meio da utilizao de procedimentos cientficos. Contribui para o trato dos problemas e processos do dia a dia nas mais diversas atividades humanas, no ambiente do trabalho, nas aes comunitrias, no processo de formao e outros. O conhecimento torna-se uma premissa para o desenvolvimento do ser humano e a pesquisa como a consolidao da cincia. (SILVA, 2008). A pesquisa, tanto para efeito cientfico como profissional, envolve a abertura de horizontes e a apresentao de diretrizes fundamentais, que podem contribuir para o desenvolvimento do conhecimento. (OLIVEIRA, 2002, p. 62). O desenvolvimento da pesquisa demanda investimentos governamentais, como tambm de instituies privadas, em cincia e tecnologia e, ainda, de criatividade, rigor, conhecimento e competncia dos pesquisadores - acadmicos e/ou cientistas j consagrados. (MENEZES; VILLELA, 2010). O pesquisador utiliza conhecimentos tericos e prticos. necessrio ter habilidades para a utilizao de tcnicas de anlise, entender os mtodos cientficos e os procedimentos, com o objetivo de encontrar respostas para as perguntas formuladas. (SILVA, 2008).

Collis e Hussey (2005, p. 16) ressaltam que o objetivo da pesquisa pode ser: Revisar e sintetizar o conhecimento existente; Investigar alguma situao ou problema existente; Fornecer solues para um problema; Explorar e analisar questes mais gerais; Construir ou criar um novo procedimento ou sistema; Explicar um novo fenmeno; Gerar novo conhecimento; Uma combinao de quaisquer dos itens acima. Os pesquisadores necessitam de mtodos e procedimentos precisos, planejamento eficaz, critrios e instrumentos adequados que passem confiana e credibilidade, tanto aos envolvidos quanto no resultado do trabalho. (MENEZES; VILLELA, 2010). Portanto, fundamental o estabelecimento de procedimentos de estudo em consonncia com as etapas de desenvolvimento da pesquisa. 3.1 ETAPAS DA PESQUISA Para o desenvolvimento adequado de uma pesquisa cientfica, necessrio planejamento cuidadoso e investigao de acordo com as normas da metodologia cientfica, tanto aquela referente forma quanto a que se refere ao contedo. (OLIVEIRA, 2002, p. 62). O planejamento e a execuo da pesquisa fazem parte de um procedimento sistematizado que compreende etapas, conforme se expe no Quadro 1.

QUADRO 1 - Etapas da pesquisaa) Delimitao do tema b) Formulao do problema c) Determinao de objetivos d) Justificativa e) Fundamentao terica f) Metodologia g) Coleta de dados 0h) Anlise e discusso dos resultados i) Consideraes finais j) Redao e apresentao da pesquisa

Fonte: Adaptado de Lakatos e Marconi (2001), Barros e Lehfeld (2000) e Cervo e Bervian (2002).

Assim, fundamental a apresentao das fases da pesquisa nos documentos tcnico-cientficos, citadas no quadro 1, e que so elucidadas a seguir. a) Delimitao do tema A escolha do tema da pesquisa geralmente um momento de angstia para o pesquisador. Este deve considerar alguns critrios (SILVA, 2008; GIL, 1996):

Conhecimento prvio de autores, temas, assuntos, matrias; Disponibilidade de tempo e de recursos para a pesquisa; Existncia de bibliografia disponvel no assunto; Possibilidade de orientao e superviso adequada dentro do assunto; Relevncia e fecundidade do assunto. A definio do tema dever ser guiada no apenas por razes intelectuais, mas tambm por questes como a instituio, o nvel de conhecimento e a perspectiva profissional.

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b) Formulao do problema O problema de uma pesquisa algo a ser formulado pelo autor no incio de seu processo. A partir de uma viso global do contexto, deve surgir o problema a ser pesquisado. Deve ser identificado claramente e delimitar os aspectos ou elementos que sero abordados. Deve apresentar a situao-problema da pesquisa que no necessariamente ser uma limitao. (BARROS; LEHFELD, 2000). A palavra problema no significa uma dificuldade, um obstculo real ao ou compreenso, mas sim ao foco, ao assunto, ao tema especfico delimitado e formulado pelo pesquisador para ser alvo de seu estudo e de sua prtica. Pode ser uma oportunidade percebida pelo aluno sobre uma temtica a ser pesquisada. Este um dos primeiros itens elaborados em uma pesquisa. (SILVA, 2008). Escrito na forma de uma pergunta a ser respondida ao longo da pesquisa, o problema deve referir-se especificamente ao interesse a ser investigado pelo autor. Um trabalho de pesquisa deve apresentar uma ou mais perguntas de pesquisa, que so os questionamentos que surgem naturalmente a partir da descrio do problema. c) Determinao de objetivos Os objetivos de um projeto de estudos, de pesquisa, no representam somente as intenes do autor, mas a possibilidade de obteno de metas, resultados, finalidades, que o trabalho deve atingir. Do ponto de vista tcnico, o objetivo deve sempre iniciar no infinitivo, representando a ao que se quer atingir e concluir com o projeto, como: compreender, constatar, analisar, desenvolver, capacitar, entre outros. Os objetivos classificam-se em objetivo geral e objetivos especficos. (SILVA, 2008). O objetivo geral refere-se diretamente ao problema do trabalho. Inicia-se a frase do objetivo geral com um verbo abrangente e na forma infinitiva, envolvendo o cenrio pesquisado e uma complementao que apresente a finalidade. J os especficos podem ser considerados uma apresentao pormenorizada e detalhada das aes para o alcance do objetivo geral. Tambm so iniciados com verbos que admitam poucas interpretaes e sempre no infinitivo. (SILVA, 2008; BARROS; LEHFELD, 2000). O verbo utilizado no objetivo geral deve ser amplo e no deve ser o mesmo utilizado para um objetivo especfico do mesmo projeto, lembrando que, em um bom planejamento, assim como em uma execuo e desenvolvimento, fundamental que se tenha de maneira clara, qual objetivo se deseja alcanar. (SILVA, 2008). d) Justificativa Demonstra a relevncia e necessidade do estudo do tema escolhido para o trabalho. O autor deve informar ao seu leitor

sobre a importncia da discusso sobre o tema, abordando sua viso de forma geral para a especfica sobre o assunto tratado. Em conjunto a isto, devem-se utilizar citaes diretas e indiretas. (CERVO; BERVIAN, 2002). A abordagem da justificativa deve ser tcnica e cientfica, argumentando a favor da motivao da pesquisa ao mercado e formao do pesquisador. Deve ser elaborada tendo em vista o seguinte (SILVA, 2008): Por que se pretender realiza esta investigao? (Propsito ou inteno); Possibilidades (formao, experincia) no desenvolvimento desta; Importncia do tema (utilidade ou necessidade da investigao). O texto dever convencer de que a pesquisa importante, que tem um significado cientfico, uma relevncia social. Citar informaes, se for o caso, de pesquisas j realizadas sobre o tema. e) Fundamentao terica Esta fase da pesquisa apresenta o tema proposto, fundamentando-o com uma reviso crtica de fontes de pesquisa relacionadas ao tema de forma ampla para depois especific-la. O aluno deve relacionar sua viso sobre o tema fundamentado aos acontecimentos atuais e trabalhos j realizados na rea, bem como opinies de autores. A fundamentao terica, reviso da literatura ou reviso bibliogrfica apresenta os conceitos tericos que nortearo o trabalho. O texto deve ser construdo expressando as leituras e os dilogos tericos entre o pesquisador e os autores pesquisados. (SILVA, 2006c). necessrio o cumprimento da Norma Brasileira de Regulamentao (NBR) 10520, de 2002, da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT). f) Metodologia Para o desenvolvimento de qualquer pesquisa cientfica, necessria a definio dos procedimentos metodolgicos. Assim, o pesquisador deve citar e explicar os tipos de pesquisa que o estudo trata, justificando cada item de classificao e a relao com o tema e objetivos da pesquisa. Deve-se fazer uso de citaes para enriquecer a argumentao. Toda e qualquer fonte deve ser referenciada. (SILVA, 2008). g) Coleta de dados Apresentar como foi organizada e operacionalizada a coleta dos dados relativa ao processo de pesquisa. Todas as formas usadas de coleta devem ser mencionadas como: levantamento bibliogrfico (leituras especializadas), anlise documental, questionrios, entrevistas, observao e outros, bem como onde foram coletadas (identificando o ambiente, a populao e a amostra

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para a pesquisa). h) Anlise e discusso dos resultados O objetivo da anlise reunir as informaes de forma coerente e organizada, visando a responder o problema de pesquisa. A interpretao proporciona um sentido mais amplo aos dados coletados, fazendo a relao entre eles. (DENCKER, 2000). Esta etapa pode ser de carter quantitativo ou qualitativo, utilizando vrias tcnicas para o tratamento dos dados. conveniente a realizao de uma anlise descritiva, apresentando uma viso geral dos resultados, e, na sequncia, anlise dos dados cruzados, que possibilita perceber as relaes entre as categorias de informao, e da anlise interpretativa. (DENCKER, 2000). A estatstica, na anlise e interpretao de dados, segundo Labes (1998), pode ser classificada como: Estatstica descritiva (descrio e anlise sem inferncias e concluses) e Estatstica indutiva (inferncias, concluses, tomadas de deciso e previses). Assim, a pesquisa deve prezar pela necessidade de apresentao, formal e oficial, dos resultados do estudo; explicitao dos objetivos, de metodologia e dos resultados; e prioridade fidedignidade na transmisso das descobertas feitas. (LABES, 1998). Todas as informaes importantes constatadas na pesquisa devem ser apresentadas em forma de texto ou de elementos de apoio ao texto, se for necessrio, como figuras, quadros, grficos e tabelas. Pode-se apresentar um quadro compreendendo o perodo em que se realizaram as atividades da pesquisa. (SILVA, 2008). i) Consideraes finais Descreve-se, neste momento, uma sntese da anlise, algumas sugestes, tanto de pesquisa quanto em relao ao tema em questo. Pode-se, tambm, salientar a contribuio e benefcios que o pesquisador props quando justificou a importncia deste no estudo. (SILVA, 2008). Os resultados devero ser relacionados aos objetivos (geral e especficos) e aos possveis benefcios, bem como importncia do tema. Este tpico no deve apresentar assunto novo, como tambm citaes diretas ou indiretas. j) Redao e apresentao da pesquisa Esta ltima estapa da pesquisa no elaborada no trmino do estudo ou possui uma sequncia de outras etapas, mas uma preocupao geral que o pesquisador precisa ter quando da produo cientfica. (SILVA, 2008). O estilo de redao utilizado em pesquisas chamado tcnico-cientfico, [...] diferindo do utilizado em outros tipos de composio, como a literria, a jornalstica, a publicitria.

(UFPR, 2000, p.1). Aborda temtica referente cincia, utilizando seu instrumental terico e objetivando a discusso cientfica. Utiliza linguagem tcnica ou cientfica em seu nvel padro ou culto, respeitando as regras gramaticais. Todo texto formado por pargrafos e, por isso, a preocupao deve ser na sua elaborao e harmonia das ideias. O pargrafo formado por um conjunto de enunciados que devem convergir para a produo de um sentido. A primeira frase de cada pargrafo, denominada tpico frasal, sempre muito importante, devendo ter uma palavra forte que possa ser explorada. A m definio dificulta a redao. Assim, devem-se evitar abstraes e lembrar que cada pargrafo deve explorar uma s ideia. Explorar vrias ideias ao mesmo tempo torna o texto confuso e sem coerncia. A construo de sentido no texto relaciona-se com a coeso e a coerncia dele. Um texto coerente um conjunto harmnico, em que todas as partes se encaixam de maneira complementar, de modo que nada haja de destoante, ilgico, contraditrio, ou desconexo. J o texto coeso aquele em que seus vrios enunciados esto organicamente articulados entre si, em que h concatenao entre eles. O modelo de apresentao do documento dever seguir as regras definidas para sua tipologia (monografia, artigo cientfico e outros) e a instituio solicitante (universidade, revista cientfica, evento e outros). A apresentao grfica sugerida pela ABNT a NBR 14724 (2011) para trabalhos tcnico-cientficos de carter monogrfico. Aps os procedimentos de planejamento e execuo, tem-se a divulgao dos resultados obtidos na pesquisa. Assim, o pesquisador deve apresent-los comunidade. 3.2 MODALIDADES DA PESQUISA Para o desenvolvimento de qualquer pesquisa cientfica, imprescindvel a definio dos procedimentos metodolgicos. O artigo cientfico tambm deve apresentar os caminhos e formas utilizadas no estudo. Assim, importante citar as modalidades ou tipos da pesquisa e caractersticas do trabalho. Conforme Gil (2006), as pesquisas podem ser classificadas quanto: natureza da pesquisa; abordagem do problema; realizao dos objetivos; aos procedimentos tcnicos. a) Do ponto de vista da sua natureza, pode ser: Pesquisa Bsica: objetiva gerar conhecimentos novos, teis para o avano da cincia, sem aplicao prtica prevista. Envolve verdades e interesses universais. (GIL, 2006). Assim, o pesquisador busca satisfazer uma necessidade intelectual pelo conhecimento, e

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sua meta o saber. (CERVO; BERVIAN, 2002). Pesquisa Aplicada: objetiva gerar conhecimentos para aplicao prtica dirigidos soluo de problemas especficos. Envolve verdades e interesses locais. (GIL, 2006). Este tipo de pesquisa visa aplicao de suas descobertas a um problema. (COLLIS; HUSSEY, 2005).So pesquisas [bsica e aplicada] que no se excluem, nem se opem. Ambas so indispensveis para o progresso das cincias e do homem: uma busca a atualizao de conhecimentos para uma nova tomada de posio, enquanto a outra pretende, alm disso, transformar em ao concreta os resultados de seu trabalho. (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 65).

DENCKER, 2000). Esse tipo de pesquisa voltado a pesquisadores que possuem pouco conhecimento sobre o assunto pesquisado, pois, geralmente, h pouco ou nenhum estudo publicado sobre o tema. (COLLIS; HUSSEY, 2005).A pesquisa exploratria visa a prover o pesquisador de um maior conhecimento sobre o tema ou problema de pesquisa em perspectiva. Por isso, apropriada para os primeiros estgios da investigao quando a familiaridade, o conhecimento e a compreenso do fenmeno por parte do pesquisador so, geralmente, insuficientes ou inexistentes. (MATTAR, 2005, p. 85).

b) Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, pode ser: Pesquisa Quantitativa: considera que tudo possa ser contvel, o que significa traduzir em nmeros opinies e informaes para classific-las e analis-las. Requer o uso de recursos e de tcnicas estatsticas (percentagem, mdia, moda, mediana, desvio padro, coeficiente de correlao e outros). (GIL, 2006). Assim, a pesquisa quantitativa focada na mensurao de fenmenos, envolvendo a coleta e anlise de dados numricos e aplicao de testes estatsticos. (COLLIS; HUSSEY, 2005). Pesquisa Qualitativa: considera que h uma relao dinmica entre o mundo real e o sujeito, isto , um vnculo indissocivel entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que no pode ser traduzido em nmeros. A interpretao dos fenmenos e a atribuio de significados so bsicas no processo de pesquisa qualitativa. No requer o uso de mtodos e tcnicas estatsticas. O ambiente natural a fonte direta para coleta de dados, e o pesquisador o instrumento-chave. (GIL, 2006). A pesquisa qualitativa utiliza vrias tcnicas de dados, como a observao participante, histria ou relato de vida, entrevista e outros. (COLLIS; HUSSEY, 2005).Se voc estivesse conduzindo um estudo sobre o estresse provocado por trabalho noturno e adotasse o mtodo quantitativo, seria til coletar dados objetivos e numricos, tais como taxas de absentesmo, nveis de produtividade, etc. Todavia, caso adotasse um mtodo qualitativo, voc poderia coletar dados subjetivos sobre o estresse enfrentado por trabalhadores noturnos em termos de percepes, sade, problemas sociais e assim por diante. (COLLIS; HUSSEY, 2005, p. 27).

Pesquisa Descritiva: visa a descrever as caractersticas de determinada populao ou fenmeno ou o estabelecimento de relaes entre variveis. A forma mais comum de apresentao o levantamento, em geral, realizado mediante questionrio ou observao sistemtica, que oferece uma descrio da situao no momento da pesquisa. Metodologia indicada para orientar a forma de coleta de dados quando se pretende descrever determinados acontecimentos. (GIL, 1996; DENCKER, 2000). direcionada a pesquisadores que tm conhecimento aprofundado a respeito dos fenmenos e problemas estudados.A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenmenos (variveis) sem manipul-los. [...] Procura descobrir, com a preciso possvel, a freqncia com que um fenmeno ocorre, sua relao e conexo com outros, sua natureza e caractersticas. [...] desenvolve-se, principalmente, nas cincias humanas e sociais, abordando aqueles dados e problemas que merecem ser estudados e cujo registro no consta de documentos. (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 66).

Pesquisa Explicativa: aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razo, o porqu das coisas e, por isso, o tipo mais complexo e delicado, j que o risco de cometer erros aumenta consideravelmente. Visa a identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrncia dos acontecimentos. Caracterizase pela utilizao do mtodo experimental (nas cincias fsicas ou naturais) e observacional (nas cincias sociais). Geralmente utiliza as formas de Pesquisa Experimental e Pesquisa Ex-PostFacto. Metodologia indicada para orientar a coleta de dados em pesquisas que procuram estudar a influncia de determinados fatores na determinao de ocorrncia de fatos ou situaes. (GIL, 1996; DENCKER, 2000). d) Do ponto de vista dos procedimentos tcnicos, pode ser: Pesquisa Bibliogrfica: utiliza material j publicado, constitudo basicamente de livros, artigos de peridicos e, atualmente, de informaes disponibilizadas na internet. Quase todos os estudos fazem uso do levantamento bibliogrfico, e algumas pesquisas so desenvolvidas exclusivamente por fontes bibliogrficas. Sua principal vantagem possibilitar ao investigador a cobertura de uma gama de acontecimentos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. (GIL, 2006). A tcnica bibliogrfica visa a encontrar as fontes primrias e secundrias e os materiais cientficos e tecnolgicos necessrios para a realizao do trabalho cientfico ou tcnico-cientfico. (OLIVEIRA, 2002).

c) Do ponto de vista de seus objetivos, pode ser: Pesquisa Exploratria: visa a proporcionar maior proximidade com o problema, objetivando torn-lo explcito ou definir hipteses. Procura aprimorar ideias ou descobrir intuies. Possui um planejamento flexvel, envolvendo, em ger