apostila arquitetura_paraná_01

Upload: caroline-cevada

Post on 12-Jul-2015

579 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN ARQUITETURA E URBANISMO

ARQUITETURA

& CIDADECONTEMPORNEAS

ANTONIO CASTELNOUCURITIBA 2010

2

SUMRIO

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Introduo Ecletismo - Arts & Crafts Pr-Urbanismo Art Nouveau Arte Moderna Pr-Modernismo Movimento Moderno Organicismo Modernismo nos EUA Desurbanismo Art Dco Arquitetura da Celebrao Planejamento Urbano Arte Contempornea Ps-Modernismo Formalismo Contextualismo Arquitetura Latinoamericana Tardomodernismo Tecnicismo Brutalismo Esculturismo Tecnotopismo Neomodernismo Minimalismo Desconstrutivismo Blobitecture Ambientalismo Green Architecture Consideraes Finais

05 11 17 23 29 35 39 45 51 57 61 67 73 79 85 89 95 103 109 115 121 127 133 139 143 149 155 159 165 171 172 1743

Referncias Bibliogrficas Lista de Sites

4

1INTRODUO

Segundo SNYDER & CATANESE (1984), h 03 (trs) tipos de anlise arquitetnica, que correspondem a modos de entender a arquitetura: ANLISE HISTRICA: Trata das teorias, dos eventos e dos mtodos de projeto e de construo no decorrer do tempo. Pretende estabelecer uma seqncia cronolgica de fatos do passado, que mantm uma relao direta ou no com o presente, permitindo projet-la para o futuro (Histria da arquitetura). ANLISE CONCEITUAL: Trata da conceituao da arquitetura o que , por que assim produzida e como deveria faz-lo. Busca princpios que conceituem o pensamento que a produziu, identificando-o e explicandoo, de modo a aplic-lo futuramente (Teoria da arquitetura). ANLISE CRTICA: Trata do processo e registro das respostas ao meio ambiente construdo, sendo estas verbais ou no. Pretende estabelecer uma valorao da arquitetura, baseada na histria e na teoria da mesma (Crtica da Arquitetura).

Ao mesmo tempo, cincia e arte; produo material e expresso espiritual, a ARQUITETURA representa, dentro de sua complexidade, um dos reflexos mais caractersticos, em um dado momento histrico, da sociedade que lhe deu sua razo de ser, atravs de seu programa, sua tecnologia e, enfim, sua ideologia. As condies de produo particulares a cada sociedade, como seu sistema poltico e sua estrutura socioeconmica, agem paralelamente aos fatores utilitrios, tcnicos, artsticos e ideolgicos, resultando na construo de uma edificao. FORMA (Firmitas) e FUNO (Utilitas) so, por conseguinte, regidos pelas condies particulares de determinado momento, por um lado; e pela ideologia existente na sociedade, por outro lado, a qual lhe confere seu CARTER (Venustas) (COLIN, 2000).

Ao se estudar a HISTRIA, faz-se o reconhecimento de uma evoluo e o enriquecimento da realidade dentro de sua unidade ao longo do tempo. Sua verdadeira razo de ser encontra-se na apreenso e na compreenso dos problemas presentes e, como tal, constitui-se em um instrumento capaz de engendrar transformaes na atualidade. Sendo a arquitetura uma rea especfica do conhecimento e das atividades humanas, quando se fala em HISTRIA DA ARQUITETURA, faz-se uma esquematizao da realidade que une toda sua experincia enquanto arte. J a TEORIA DA ARQUITETURA consiste no conjunto de idias, princpios e atitudes que fundamentam o projeto arquitetnico, sendo proveniente de conceitos, experincias e vises de mundo. Baseada em um mtodo de estudo histrico, em termos gerais, ela depende do repertrio individual de cada um; do ambiente socioeconmico em que se est inserido; das referncias culturais que se tem e do senso esttico que se adquire.

Qualquer anlise terica da prtica arquitetnica equivale a um modo de interpret-la, ou melhor, de identific-la, descrev-la e compreend-la. A fim de que essa interpretao tenha sentido, deve iluminar pelo menos um aspecto permanente da arquitetura, ou seja, deve demonstrar a sua eficcia na explicao de todas as demais obras. A anlise arquitetnica essencial, uma vez que permite a identificao de metas no processo projetual, alm da compreenso dos condicionantes em operao dentro da sociedade.

5

REVOLUO INDUSTRIALA Histria da Arquitetura Contempornea tem suas principais bases nas mudanas produzidas devido REVOLUO INDUSTRIAL (1750-1830), caracterizada pelo conjunto de transformaes econmicas, polticas, sociais, culturais e tecnolgicas, que se processaram desde finais do sculo XVIII e culminaram na primeira metade do sculo XIX. A INDUSTRIALIZAO constituiuse na passagem da produo baseada na ferramenta (artesanato/manufatura) para aquela baseada na mquina (fbrica/indstria), o que ocorreu por meio do desenvolvimento contnuo da tecnologia para fornecimento, em maior quantidade e melhor qualidade, de inventos para o homem. Diminuio da mortalidade a partir de 1750 (Aumento do crescimento vegetativo) Melhoria geral dos nveis de vida (Aumento de condies sanitrias) Tais males ocorreram pela falta de coordenao entre o progresso cientfico e a organizao geral da sociedade europia, alm da falta de providncias administrativas para controlar as conseqncias das novas mudanas socioeconmicas.

Incremento demogrfico e industrial (Demanda por bens e servios) Aumento dos processos industriais (Estmulo produo cientfica)

Esse desequilbrio acabou se refletindo na arquitetura do sculo XIX, cujo sistema era tradicionalmente regido por leis naturais e pelas convenes deduzidas na Antiguidade clssica e em parte individualizadas pelo pensamento renascentista, mas que passou, no sculo XVIII, a ser analisado em suas fontes tericas (BENEVOLO, 1998). Modificaes tcnico-construtivas: Racionalizao no emprego de materiais tradicionais, resultando na melhoria de qualidade, acabamento e transporte; Uso sistematizado de materiais novos (ferro, vidro e concreto simples, depois armado); Difuso das mquinas e melhoria do aparelhamento dos canteiros de obras; Desenvolvimento das vias de transporte terrestre e aqutico (canais, pontes, estradas e ferrovias), graas aos avanos na geometria, topografia, etc.

Ela processou-se a partir do aumento dos conhecimentos cientficos e tecnolgicos, proporcionado pela crescente demanda por bens (alimentao, vesturio, moradia, etc.) dado o incremento populacional desde 1750, o que, por sua vez, resultou em fenmenos como: a urbanizao acelerada, a proletarizao de milhares de artesos e a periferizao de trabalhadores provenientes do campo.

Progressos cientfico-culturais: Surgimento das regras de geometria descritiva, de Gaspard Monge (1746-1818); Difuso do sistema mtrico decimal a partir da Revoluo Francesa (1789/99); Desenvolvimento de novos conceitos fsicos desde R. Hooke (1635-1703), J. Bernoulli (1654-1705) e C. A. Coulomb (1736-1806), alm de invenes, como a mquina a vapor de James Watt (1736-1819); Ciso entre os ensinos de arquitetura e engenharia, com a fundao das Escolas Politcnicas e a incorporao do ensino arquitetnico s Escolas de Belas Artes a partir do sculo XIX.

Os progressos industriais deram-se devido ao esprito empreendedor do homem, buscando solucionar problemas atravs do clculo e reflexo. Porm, tambm revelaram decises arriscadas, aes incompletas e contraditrias, que permearam os sucessos e avanos com crises e sofrimento.

6

At o surgimento das primeiras escolas de engenharia na Frana a cole des Ponts et Chausses (1747) e a cole des Ingnieurs de Mzires (1748) o arquiteto era, ao mesmo tempo, o criador da forma e o nico capacitado para realiz-la. Isto se modifica com o aparecimento do engenheiro civil. Os criadores da nova profisso, como Jean-Baptiste Rondelet (17431829) e Jean-Nicolas-Louis Durand (1760-1835), eram todos construtores, de linha racionalista, tanto que enfatizavam economia, estabilidade e funcionalidade. Foram eles alguns dos responsveis pela fundao da cole Polytechnique de Paris em 1796.

As doutrinas arquitetnicas oitocentistas centralizavam-se em uma atitude acadmica, que ignorava a vastido dos novos problemas sociais a que a arquitetura deveria servir, em uma atitude tcnico-cientfica margem de seus fundamentos culturais. Surgiu ento, produto do historicismo predominante, o REVIVALISMO de estilos do passado, representado pela arquitetura neoclssica, neogtica, neo-barroca e assim por diante, at culminar com a miscelnea estilstica.A partir da segunda metade do sculo XIX, a arquitetura perdeu o contato com a realidade de seu tempo. O papel do arquiteto passou a estar reservado parte esttica, deixando para outros a parte ligada tcnica e construo propriamente dita, o que o tornou alheio discusso dos fins da produo arquitetnica e apenas ligado a questes estilsticas.

Desde seu momento inicial, a ENGENHARIA CIVIL fundou-se na investigao cientfica dos problemas fsicos que lidava herana dos mestres gticos at marcar o grande desenvolvimento do sculo XIX e o engenheiro ser considerado o homem moderno por excelncia. Foi ele quem resolveu os novos problemas funcionais da cidade industrial, que requeriam solues criativas, principalmente atravs das novas tcnicas e materiais. A profisso do arquiteto entrava em uma fase de desprestgio e, em 1808, o ensino francs de arquitetura acabou incorporado pelas coles des BeauxArts, juntamente com os de pintura e escultura (FRAMPTON, 2000).Assim, a formao do arquiteto acabou ficando isolada do conhecimento e contato com a realidade cultural de renovao do sculo XIX, assim como dos aspectos construtivos que a engenharia aperfeioava rapidamente. Sua atividade restringiu-se a uma prtica historicista, caracterizada pelo monumentalismo, pelo fachadismo e pelo ornamentalismo.

Esta situao culminou com a disseminao do ECLETISMO (mistura de citaes histricas de vrios estilos do passado na mesma obra), incentivado pelo maior conhecimento da histria e pela recente difuso da arqueologia. Tanto aos pesquisadores e tericos do sculo XIX como aos profissionais em sua prtica, passavam desapercebidas a profundidade das transformaes iniciadas na sociedade industrial e a importncia da arquitetura buscar novos destinos, devido inclusive ao prprio surgimento de novas funes.

A partir de meados do sculo XVIII, vrios programas novos apareceram, tais como, bancos, bolsas, faculdades, bibliotecas, parlamentos, ministrios, mercados, fbricas e depsitos, o que reivindicava uma nova metodologia de projeto. Nos EUA, os ensinos de ARQUITETURA e ENGENHARIA permaneceram dependentes da Europa at a primeira metade do sculo XIX, a partir de quando as iniciativas locais passaram a se destacar, quando ocorreu a fundao da American Society of Civil Engineers (1852), e do American Institute of Technology (1857). O primeiro curso norte-americano de arquitetura foi introduzindo somente em 1866, no Massachusetts Institute of Technology MIT (Cambridge, MA).

7

CIDADE INDUSTRIALO processo de INDUSTRIALIZAO consistiu em um conjunto de mudanas lentas, progressivas e decisivas, as quais aconteceram em 03 (trs) nveis: Econmico-tecnolgico: aumento da produo, da circulao e do consumo de bens e servios atravs da inveno das mquinas; Scio-poltico: proletarizao de milhares de artesos e formao de uma reserva de mode-obra nas cidades; Urbano-territorial: nova distribuio da populao no territrio e mudanas na infraestrutura urbana.

A situao crtica da cidade industrial, principalmente no que se referia s suas condies higinicas e sanitrias, levaram ao MOVIMENTO HIGIENISTA, na primeira metade do sculo XIX, responsvel pela primeira legislao de sade pblica, que regulamentava medidas de limpeza das cidades, construo de esgotos e canais para guas livres de contaminao. A partir de 1830, de acordo com BENEVOLO (1994), epidemias de clera se alastraram na Inglaterra. Com bases estatsticas, o higienista Edwin Chadwick (1800-90) estabeleceu a existncia de uma correlao entre condies de vida e mortalidade. Seu trabalho, demonstrando que doenas transmissveis eram causadas por miasmas surgidos da matria em decomposio, levou ao nascimento das primeiras Leis Sanitrias inglesas (09/agosto/1844 e 31/agosto/1848).

No sculo XIX, a cidade tornou-se o maior problema das naes industrializadas, transformada em uma totalidade em veloz crescimento, o que fez surgir questes urgentes ligadas s condies sanitrias, habitao popular e difuso das ferrovias. Isto acabou fazendo nascer o germe para o planejamento urbano. Modificou-se radicalmente a conformao usual das cidades tradicionais europias, fazendo com que seu antigo ncleo formado principalmente pelos maiores monumentos, moradias, praas e ruas estreitas fosse abandonado pelas classes mais ricas, que acabaram se estabelecendo em bairros de luxo aos arredores da cidade.Os palcio e palacetes foram ocupados por imigrantes e trabalhadores (proletariado), tal como os jardins pblicos por depsitos e casas mais pobres. Bairros operrios compactos e desordenados multiplicavam-se ao redor das cidades, ao lado de indstrias e de villas burguesas (KOSTOF, 1991).

Novo cenrio do Capital, a CIDADE INDUSTRIAL transformou-se em um emaranhado de problemas, que passou a ser um campo de experimentaes urbansticas, ora a partir de modelos neoclssicos de inspirao francesa, ora por meio de amplos programas habitacionais de bases britnicas; ou ainda atravs de traados em retcula ortogonal, aplicados tambm na Amrica.

Tais mudanas resultaram em graves problemas de transporte, habitao, servios e salubridade, reivindicando medidas de saneamento para que os conflitos sociais no se tornassem insuportveis. Vrios governos tomaram providncias a fim de resolver essa situao primeiro na Inglaterra e depois nos demais pases , os quais puderam dar os primeiros passos de planejamento.LEIS SANITRIAS passaram a vigorar, as quais no somente se preocupavam com a higiene e a sade dos moradores, como cuidavam da questo habitacional, que passou a ser subvencionada pelo Estado. Desde ento, definiram-se regulamentos para a construo mnima, assim como normas para a composio de conjuntos operrios (BENEVOLO, 1994).

A nova sociedade que emergiu com o capitalismo industrial fez nascer tambm uma nova ordem do espao urbano, que conduziu a uma revoluo no modo de pensar a cidade. Esta passou a ser compreendida como CAOS que precisava ser controlado e dirigido, de modo a garantir o desenvolvimento das novas relaes socioeconmicas.

8

Em meados do sculo XIX, nascia a disciplina do URBANISMO, a partir de ento definido como a arte de produzir ou mudar a forma fsica das cidades, sendo assim formado por aes e prticas de organizao do espao que se apiam sobre um corpo de saberes, em conjunto a tcnicas e instrumentos de interveno, que se traduzem por meio de prescries dirigidas aos seus gestores (HALL, 2002). No emergir da cidade industrial, liberal e capitalista, nasciam tambm a Sociedade da Mquina e uma nova forma de ver, sentir e viver a vida urbana. As transformaes que marcavam a paisagem das cidades europias, na qual novos elementos barulho, adensamento, movimento; os transportes e a vida fervilhante passaram a preencher o cotidiano das avenidas, praas e galerias urbanas. Em 1857, o poeta e crtico francs Charles Baudelaire (1821-67) publicava sua principal obra, Flores do mal, tornando a cidade sua maior personagem, no como espao concreto, mas sua alegoria: a multido flutuante, instvel e fulgaz, atravs da qual o poeta via Paris (CASTELNOU, 2005). Por meio das imagens momentneas, paisagens passantes ou olhares furtivos que se cruzavam nos becos e nas ruas da metrpole que comeava a se desenhar, descrevia aquela experincia vivida do choque da modernidade e, segundo o filsofo Walter Benjamin (18921 1940) , do desenvolvimento da cultura como mercadoria, o que marcaria a sociedade de massa.Adotando a elegncia de um dandy e uma atitude de cio e liberdade, Baudelaire foi enormemente criativo. Fascinado pela modernidade que se manifestava na urbanizao europia, atuou como verdadeiro flneur, ou seja, um passante ocioso, perdido na grande metrpole, livre para vaguear, observar, meditar e sonhar uma anttese do burgus, imerso totalmente no sistema.1

A flnerie seria um modo de sociabilidade em que se guarda ciosamente a sua individualidade e, obscurecendo-se por detrs da mscara do annimo e insignificante homem da multido, envereda por um percurso que o aliena da eventual possibilidade de uma relao intersubjetiva mais aprofundada com os outros agentes que se movimentam nela.

As origens da urbanstica moderna deram-se a partir de 02 (dois) grupos de agentes que se propuseram a transformar a CIDADE INDUSTRIAL, a saber: Reformadores urbanos ou urbanistas neoconservadores: agentes e executores de grandes intervenes de renovao de alguns centros europeus especialmente Paris e Viena que, diante da necessidade de dotar as cidades de condies para o enfrentamento das mudanas produzidas pela indstria, reforaram o carter tcnico do urbanismo, promovendo reformas grandiosas; Socialistas utpicos ou pr-urbanistas: generalistas na maioria, historiadores, economistas e polticos que apresentaram uma srie de propostas, as quais no passavam de obras hipotticas, de cunho essencialmente utpico j que se pensava ser possvel o restabelecimento da ordem, abandonando-se a cidade industrial e voltandose a viver no campo, numa atitude nostlgica.

URBANISMO NEOCONSERVADORCom os movimentos e revoltas sociais da segunda metade do sculo XIX, conforme BENEVOLO (1994), muitos pases europeus submeteram-se a uma nova direita, autoritria e popular, por meio da qual se passou a fazer o controle direto do Estado sobre a vida econmica e social, alm de efetuar uma srie de reformas de carter coordenador e de preocupao anti-revolucionria. Iniciaram-se assim grandes intervenes urbanas visando regular a CIDADE INDUSTRIAL em uma escala apropriada nova ordem socioeconmica, atravs da prtica de programas saneadores e de remoo do proletariado das reas centrais com a demolio das reas insalubres. 9

O filsofo e escritor alemo de origem israelita Walter Benjamin (1892-1940) pode ser considerado um dos maiores crticos da esttica do sculo XX, especialmente devido sua reflexo sobre linguagem e arte sob a tica marxista que fez junto Escola de Frankfurt. Particularmente interessante foi sua contribuio com A obra de arte na poca de sua reprodutibilidade tcnica (1936), em que j identificava as novas atitudes do pblico, realizadores e atores, transformados pelo progresso tcnico e esttico do cinema (N.A.).

Buscando um plano unitrio entendido como modelo urbano ideal, uniforme e regular, o URBANISMO NEOCONSERVADOR do sculo XIX pode ser exemplificado por:Paris (1853/69) Georges-Eugne Haussmann (1809-91)

PLANO DE NOVA YORK (1811)Como colnia britnica de 1607 a 1783, os EUA tiveram como elementos de sua tradio urbanstica aqueles provenientes da Inglaterra, derivados de trama reticulada, disposta de modo rigoroso e invarivel como ponto de referncia para a implantao arquitetnica (modulao ortogonal), como atestam Filadlfia PE (1682), Cambridge MA (1699), Savannah GO (1732) e Reading PE (1748). Com o fim da Guerra da Independncia Americana (1775/83), instaurou-se uma democracia fundada na soberania popular e nos direitos inalienveis do Homem. A criao das novas sedes dos orgos polticos e administrativos dos 13 Estados e a nova Capital do pas, Washington DC construda entre 1800 e 1871 , exigiram a adoo de um novo estilo, optando-se pelo NEOCLSSICO por seu significado: smbolo da virtude republicana de bases francesas.Nascia assim a imagem da Amrica radical, em que se buscava a difcil conciliao entre as formas palladianas e o ideal democrtico. Foi o arquiteto e presidente Thomas Jefferson (1743-1826) quem melhor representou essa duplicidade arquitetnico-poltica da tradio americana, reconhecendo com extrema lucidez o valor institucional e pedaggico da arquitetura ao mesmo tempo em que adotava o neoclassicismo como guia prtico para a construo da democracia americana.

Plano de carter esttico, tcnico e higienista, que incluiu a abertura de novas artrias para o trnsito nos velhos bairros; a criao de praas e grandes parques; a urbanizao de terrenos perifricos, atravs da construo de novos subrbios; a reconstruo de prdios ao longo dos recentes alinhamentos; e a renovao dos sistemas de gua, saneamento, iluminao e transporte pblico; alm da reforma de todo o sistema administrativo parisiense, com descentralizao e instalao de novos edifcios pblicos.

Viena (1857/69)

L. C. F. Frster (1797-1863) e outros

Plano de reforma urbana baseado na demolio das antigas muralhas da cidade e na construo da Ringstrasse, uma rua circular ligando novas instituies polticas e culturais.

Barcelona (1859/70)

Ildefons Cerd (1815-76)

Plano reticular de expanso urbana (LEixample), de forte carter estrutural, baseado em uma inovadora proposta de distribuio e ocupao de quadras por espaos pblicos.

Londres (1863/91)

London County Council LCC (1889)

Conjunto de aes que incluram a criao do Metropolitan Railway (1863), o primeiro metr do mundo; do Peabody Buildings (1870) para abrigar pobres; e do primeiro borough (bairro proletrio) do LCC (1891).

O Plano de Haussmann (1853-69), realizado a mando de Napoleo III (1808-73), acabou se repercutindo nos planos de Florena (1864), Marselha (1865), Estocolmo (1866) e de Toulouse (1868); assim como influenciou as propostas que se seguiram para Roma, Bolonha, Colnia, Leipzig, Copenhague, Adelaide e Brisbane, entre outras. No se pode esquecer suas influncias em todo o mundo, inclusive no Brasil.

No sculo XVIII, a nova cultura americana considerava a grade (grid) como um instrumento geral, aplicvel em qualquer escala: para desenhar uma cidade, repartir um terreno agrcola ou marcar os limites de um Estado. Em 1786, criou-se a Law Ordinance, que estabelecia a malha reticulada orientada segundo os meridianos e paralelos como norma universal para colonizar os novos territrios do Oeste (BENEVOLO, 2001). NOVA YORK, um entreposto de peles situado na foz do rio Hudson, ao sul da Ilha de Manhattan, criado em 1624 pelos holandeses como Nova Amsterd, possua um traado irregular e espontneo, mas seu excepcional crescimento como porto e centro polticoadministrativo exigiu um plano retilneo de expanso, aplicado no incio do sculo XIX.Implantado a partir de 1811, o Plano de Nova York caracterizou-se pela retcula uniforme que desconsiderava a topografia da Ilha de Manhattan e era composta por avenidas no sentido Norte-Sul e ruas no sentido LesteOeste, com a previso de uma ampla rea verde, a qual teve uma parte posteriormente destinada ao lazer pblico urbano, com a proposta do Central Park em 1858.

FORMAO DOS EUA

10

2ECLETISMO

Todo o sculo XIX foi marcado pelo retorno a fontes histricas, as quais inspiraram todas as correntes artsticas e arquitetnicas da Europa e Amricas. No incio, o principal foco de resgate foi a Antiguidade Clssica, o que conduziu ao Estilo Neoclssico, que expressava os interesses, os hbitos e a mentalidade da burguesia mercantilista, que assumira a direo da sociedade europia com a Revoluo Francesa (1789/99) e o Imprio de Napoleo, entre 1804 e 1814. Embora iniciado na Itlia ento incentivado pelas descobertas em Pompia e Herculano em 1748 , foi na Frana que o NEOCLASSICISMO (1780-1830) encontrou sua mxima expresso, passando sua arquitetura a ser caracterizada pela exatido, monumentalidade e uso de elementos greco-romanos (frontes, colunas, arcos, cpulas, entablamentos, etc.).

No Neoclassicismo, destacaram-se os pintores franceses Jacques-Louis David (1748-1825) e Jean-Dominique Ingres (1780-1867); o escultor italiano Antonio Canova (1757-1822) e o dinamarqus Betel Thorwaldsen (1768/70-1840); e os arquitetos franceses Germain Soufflot (1713-1780), tienne-Louis Boulle (1728-99), Claude-Nicolas Ledoux (1736-1806), Pierre B. Vignon (1763-1828), Jean Chalgrin (1739-1811), Charles Percier (1764-1838) e Henri Labrouste (1801-75); alm dos britnicos James Gibbs (1682-1754), William Chambers (1723-96), Robert Adam (1728-1782) e John Nash (17521835); e dos alemes Carl Langhans (1732-1808) e Karl Friedrick Schinkel (1781-1841).

Com a difuso dos ideais do Romantismo e principalmente com o pensamento de Jean-Jacques Rousseau (1712-78), que insuflou geraes prtica de uma moral rebelde, a arte romntica eclodiu no incio do sculo XIX, marcada pela ampliao dos meios de comunicao e expresso artsticas (exposies individuais, colecionismo burgus, empastamento das tintas, etc.). Rousseau intentava fazer possvel a existncia do bom selvagem no mundo contemporneo, atravs de um regresso ao seu estado natural com a manuteno de sua independncia e liberdade ao longo da vida. Para tanto, props um sistema de educao que permitisse ao homem manter sua bondade, inocncia e virtudes naturais. Suas idias influenciaram todo o pensamento romntico e tiveram vrios seguidores, entre os quais o austraco Johann H. Pestalozzi (1746-1827) e o alemo Johann W. von Goethe (1749-1832).

Tambm chamado de Academicismo, o Estilo Neoclssico teve como base a reao promovida pela nova burguesia contra a aristocracia, seus faustos e caprichos exibidos atravs do Barroco e Rococ; alm da afirmao do Iluminismo, especialmente no que se refere razo humana e seus princpios; e a teorizao desenvolvida pelo alemo Johann Winckelmann (1717-1768), baseada na busca do belo absoluto, a partir da inspirao nos modelos clssicos. Caracterizando-se pelo uso dos princpios de harmonia, regularidade da forma, temtica herica e serenidade da expresso, a arte neoclssica idealizava a sociedade burguesa e alienava o artista da vida social e poltica de sua poca.

Na arquitetura, o ROMANTISMO (182060) refletiu-se no Estilo Neogtico, que se disseminou rapidamente, elegendo o sentimento e a imaginao como fontes artsticas criadoras e apontando para o uso de formas medievais (arcos ogivais, abbadas, vitrais, pinculos, etc.).Tambm conhecido como Neomedievalismo, esta corrente artstica caracterizou-se pela oposio ao rigor neoclssico em desenho e em composio atravs do movimento e da cor, voltou-se natureza, sentimentalismo e individualismo. Sua pintura apresentou liberdade de criao, com pinceladas pastosas e irregulares, alm de planejamentos ondulados, movimentao das formas e temtica emocional. Da mesma forma, a escultura mostrava movimentos livres, variedade e dinamismo (GOMBRICH, 1999).

11

Os principais nomes do Romantismo foram os dos pintores franceses Theodore Gricault (1791-1824) e Eugne Delacroix (1789-1863), alm dos ingleses John Constable (1776-1837) e Joseph W. Turner (1775-1851); e do espanhol Francisco de Goya y Lucientes (17461828), este com fortes tendncias realistas; os escultores franceses Franois Rude (1784-1855), Jean-Baptiste Carpeaux (1827-75) e Antoine L. Barye (1796-1875); e os arquitetos britnicos sir Charles Barry (1795-1860) e Augustus Welby N. Pugin (1812-52), alm do alemo Gottfried Semper (1803-79) e do francs Eugne E. Viollet-le-Duc (1814-79).

Por volta de 1850, Inglaterra e Frana eram as naes mais ricas e prsperas da Europa, devido ao desenvolvimento industrial (PEVSNER, 1998). Entretanto, a acelerada industrializao no permitiu o aperfeioamento esttico das inovaes, que acabaram nas mos de especuladores sem cultura, muito mais interessados em lucros, j que os artistas de valor no participavam da indstria. O historicismo e o liberalismo econmico impulsionavam a criao de qualquer gnero e qualidade de produto, desde que se conseguisse vend-lo e se obtivesse lucro. Para os arquitetos daquela poca, o homem j havia resolvido todos os problemas arquitetnicos no passado, solues estas a que se devia voltar como tendncia nacional e universal. O ECLETISMO no era interpretado como uma posio de incerteza, mas como um propsito deliberado de no se fechar em qualquer formulao unilateral, mas sim de julgar caso a caso. Embora quase todos os eclticos principiem protestando contra a reproduo de estilos antigos, propondo-se a reinterpret-los, na prtica, foram as imitaes que proliferaram, principalmente pela intromisso do cliente.

A arte realista foi fruto do aumento das crticas tanto idealizao neoclssica como subjetividade e liberdade de interpretao dos romnticos. Assim, inclinava-se mais para temas populares e atuais, caracterizando-se pela veracidade de suas criaes artsticas, alm do nacionalismo (temas nacionais), do cientificismo (carter descritivo baseado em fatos exatos) e do sentido de contemporaneidade (preocupaes polticas e sociais do presente e no do passado clssico ou medieval).

Tambm denominado de Naturalismo, o REALISMO (1850-90) foi a corrente artstica predominante da segunda metade do sculo XIX, certamente o perodo em que a arte pela arte (arte entendida como resultado da situao de excepcionalidade em que o artista colocase diante da sociedade) adquiriu uma fora considervel. Na arquitetura, a expresso ecltica foi a que mais se aproximou dos ideais realistas da arte oitocentsita. A partir de 1850, a arquitetura voltou-se totalmente para a estril discusso estilstica atravs do chamado ECLETISMO.Os maiores escritores realistas foram Gustave Flaubert (1821-80) e Alexandre Dumas Fils (1824-95). Nas artes plsticas, os principais nomes do Realismo foram: os pintores franceses Camille Corot (1796-1875), Honor Daumier (1808-79), Thodore Rousseau (1812-67), JeanFranois Miller (1814-75) e Gustave Coubert (1819-77); e o escultor francs Auguste Rodin (1840-1917).

Os arquitetos eclticos, lanando mo dos princpios de Julien Guadet (1834-1908) arquiteto francs que foi o responsvel pela nova programao dos cursos de arquitetura na Frana, baseada no direito de se escolher livremente seu mestre ou direo artstica , criaram uma linguagem marcada pela liberdade e pelo primado da fantasia, porm sem nenhuma originalidade. Entre os artistas do perodo vale destacar o arquiteto Charles Garnier (1825-58), criador da clebre pera de Paris (1861/75), hoje conhecida como pera Garnier.

12

Em interiores e mobilirio, o ECLETISMO reunia de modo desordenado candelabros, tabernculos, cortinagens, folhagens espiraladas e fechos pendurais do Renascimento poca barroca , junto aos ps retorcidos e bossagens da poca de Louis XIII (1601/17) e de Boulle2 ou ornamentao a la Berain3 do reinado de Louis XIV (1660/1715). Foi a corrente esttica que predominou durante toda a segunda metade do sculo XIX, correspondendo aos estilos de Louis Philippe (1773-1850), rei francs de 1830 e 1848; e do perodo do II Imprio, referente ao governo de Napoleo III (180873), de 1848 a 1870.

EXPOSIES UNIVERSAISA construo em ferro e vidro caracterizou o sculo XIX como o Sculo da Engenharia, cujos progressos resultaram, de 1851 em diante, nas EXPOSIES UNIVERSAIS, as quais estabeleciam uma relao direta entre produtores, comerciantes e consumidores, depois da abolio das corporaes e disseminao do liberalismo econmico, alm de propiciarem a difuso de equipamentos, materiais e tcnicas modernas.

Tal mistura estilstica foi acompanhada de um excesso de ornamentao que aumentou cada vez mais, o que sobreviveu por muitas dcadas, mas aos poucos foi se destituindo de toda sustentao terica e impedido por posies cada vez mais progressistas, as quais anteciparam o MODERNISMO. Outrossim, o gosto ecltico teve especial ressonncia na Inglaterra da Rainha Vitria, de 1837 a 1901. No final do sculo, comearam a surgir preocupaes e uma srie de crticas para a renovao das artes aplicadas (arquitetura e decorao). O sentido comum era melhorar a qualidade artstica geral, combatendo a vulgaridade e o exagero trazidos pela postura ecltica. O acmulo e a profuso da ornamentao no deixavam espao ao vazio. Ao amontoado dos motivos correspondeu uma policromia brilhante e vistosa, servida por uma variedade de materiais que misturava os mrmores aos prfiros, aos mosaicos, ao bronze, ao nix, prata, aos dourados, aos cristais, aos vitrais, aos lambris incrustados de madeiras raras ou escurecidas como o bano, s porcelanas pintadas e s lacas (Estilo Vitoriano).2

Estas foram consideradas as principais Exposies Universais ou Internacionais da Era Industrial, realizadas entre 1851 e 1939: LONDRES(1851): Primeira Exposio Universal inglesa, organizada por Henry Cole (1808-82), na qual se construiu o Palcio de Cristal, obra do engenheiro Joseph Paxton (1803-65), com 556 m de comprimento e 33 m de p-direito, de ferro e vidro e incendiado em 1936; francesa, na qual se destacou o Palais delIndustrie, obra ecltica em alvenaria de J. M. Viel (1796-1863), com cobertura de ferro e vidro, posteriormente substitudo pelos Grand Palais e Petit Palais, reguidos como smbolo da III Repblica para a Exposio Universal de 1900, ocorrida tambm em Paris.

PARIS (1855): Primeira Exposio Universal

O ebanista francs Andr-Charles Boulle (16421732) foi quem introduziu reforos em bronze nos mveis barrocos, desenvolvendo a aplicao de outros materiais inclusive pequenos pedaos de madeira formando desenhos em arabescos; no em relevo, mas embutidos: era a MARCHETARIA (Marqueterie ou Marcheterie). Alm da madeira, fazia a incrustao geralmente de bronze, ncar, ouro, prata e cobre, entre outros materiais (N.A.).3

LONDRES (1862), PORTO (1865), PARIS(1867), MADRID (1871), VIENA (1873), PHILADELPHIA (1878), PARIS (1878), MELBOURNE (1880), AMSTERD (1883), ANVERS (1885) e BARCELONA (1888).

PARIS (1889): Quarta Exposio Universalfrancesa, na qual foram construdos a Halle des Machines, de Charles Dutert (1845-1906), com uma abbada de 45 m de altura por 115 m de vo, e a Tour Eiffel, realizada em ferro pelo engenheiro Gustave Eiffel (1832-1923), com 300 m de altura (mais 20 m da antena no topo). Possui 1652 degraus at o terceiro andar, que tambm pode ser acessado por elevadores.

O decorador Jean Berain (1639-1711) foi um dos principais expoentes do Segundo Estilo Louis XIV, que perdurou de 1690 a 1715 na Frana, sob influncia de Louis LeVau (1612-70) e Jules Hardouin-Masart (1646-1708); e que foi considerado de transio, aparecendo nos ltimos anos do reinado, onde uma nova leveza das formas e fantasia das linhas j anunciavam o Estilo Louis XV, predominante entre 1723 e 1774.

CHICAGO (1893), LYON (1894), BRUXELAS(1897), PARIS (1900), TURIM (1902), STLOUIS (1904), MILO (1906), NANCY (1909), SAN FRANCISCO (1915), BARCELONA (1929), LIGE (1930), PARIS (1937) e NEW YORK (1939).

13

Com o aparecimento de 02 (dois) novos programas arquitetnicos, essencialmente urbanos as estaes ferrovirias, devido ao aumento populacional e necessidade de transporte; e os mercados cobertos, dado o crescente comrcio de materiais e produtos, alm da necessidade de abastecimento geral , o uso dos materiais novos (ferro, vidro e concreto) tornou-se cada vez mais requisitado, cuja produo industrializada levou progressivamente ao barateamento da construo e sua melhoria tcnica. A ARQUITETURA DE FERRO dos engenheiros, embora admitida mais para as funes utilitrias ou mesmo transitrias, demonstrava-se melhor adaptada s condies da poca, comeando a aparecer tentativas de explorar sua plasticidade. Surgiu ento a necessidade da arquitetura conhecer a tcnica das construes e suas relaes com a formao artstica, questionando-se academicamente a tradicional orientao dos estudos e a situao do arquiteto no como artista, mas como profissional.Dentre aqueles que lamentavam as contradies do Ecletismo, uma parte percebeu que o discurso estava sendo levado apenas por aparncias formais e que era preciso ancorar as escolhas formais em razes objetivas, demonstrveis racionalmente. No final do sculo, a liberdade de escolha ecltica comeou a ser contrariada pela prerrogativa coletiva, que dependia muito mais da razo que da emoo, nascendo o germe do modernismo.

ARTS & CRAFTSO Movimento das Artes e Ofcios (1880/90) constituiu-se da ao de um grupo de artesos ingleses, que visava a renovao do artesanato artstico em menosprezo s artes industriais. Foram fundadas 05 (cinco) sociedades que, atravs de seus trabalhos em cermica, madeira e metais, apontaram a necessidade de buscar originalidade e sensibilidade nas artes da Gr-Bretanha. Seus fundamentos estavam nas idias do escritor ingls John Ruskin (1819-1900), que buscava solues para a degenerescncia da arte de seu tempo, colocando como sua causa o regime econmico burgus e a indstria capitalista. Em The seven lamps of architecture (1849), defendia a iniciativa da classe trabalhadora e o resgate do artesanato.Como crtico e esteta, Ruskin escreveu tambm os 03 (trs) volumes de The Stones of Venice (1851/53), onde reagia contra o materialismo da era vitoriana, aliando a prdica moral e as iniciativas sociais reflexo sobre a arte. Ele defendia o resgate da Idade Mdia (Neomedievalismo), que considerava mais autntica que a Renascena, apoiando a Irmandade Pr-Rafaelista4.

Os principais responsveis pelo fortalecimento da postura racional na arquitetura da segunda metade do sculo XIX foram: HENRI LABROUSTE (1801-75): Arquiteto francs considerado a figura mais importante do racionalismo neoclssico, atravs de uma prtica revolucionria do emprego de ferro na construo, trabalhando-o de forma exposta e lgica. Entre 1843 e 1850, reconstruiu a Biblioteca de Sainte-Genevive, em Paris, cujo exterior estritamente neo-renascentista enquanto o interior, em duas naves com arcos e abbadas de bero, formado de colunas e nervuras de ferro vista. EUGNE E. VIOLLET-LE-DUC (1814-79): Arquiteto francs ligado ao revivalismo, que trabalhou como restaurador de edifcios, dado seu conhecimento de histria, alm de defensor do princpio de construo gtica e uso de ferro na arquitetura. Dizia que o valor das obras medievais residia na sua honestidade em relao expresso dos materiais e dos processos construtivos. Publicou o Dictionnaire raisonn de larchitecture franaise du XI e au XVIe sicle (1854/68) e Entretiens (1863), no qual divulga a arquitetura ps-industrializao.

RUSKIN atacava a mquina, para ele, a principal vil da era industrial; e difundia o retorno ao artesanato, propondo assim iniciar a reforma do sistema socioeconmico a partir da renovao das artes plsticas. Seu maior discpulo, o arquiteto e socilogo William Morris (1834-96), tambm 5 influenciado pelo utopista Bellamy , procurou aplicar seus ideais, defendendo uma arte do povo para o povo e organizando grupos para a revificao do trabalho artesanal.4

A Irmandade Pr-Rafaelita ou Pre-Raphaelite Brotherhood foi um grupo de pintores fundado em 1848 por William H. Hunt (1827-1910), Dante G. Rossetti (1828-82), e John E. Millais (1829-96). Organizado ao modo de uma confraria medieval, surgiu como reao arte acadmica que seguia os moldes dos renascentistas. Inseridos no esprito romntico, os pr-rafaelitas desejavam devolver arte a sua pureza e honestidade anteriores, que consideravam existir no Gtico tardio (N.A.).5

Edward Bellamy (1850-98) foi um escritor norteamericano que em seu livro 2000 to 1887 (Olhando para trs, 1888), props uma visita Boston do futuro, onde existiria um sistema industrial perfeito, no qual todos viveriam iguais e em paz, atravs de uma forma cooperativa de produo e distribuio socialista (N.A.).

14

Como artista e ativista, MORRIS contribuiu para a renovao das artes decorativas a partir de sua ao prtica em defesa do artesanato, lutando contra a ausncia do sentido de unidade artstica na produo ecltica. Atravs de sua firma, fundada em 1861 na George Edmund Street, que criava objetos para interiores e a vida diria (papis de parede, vitrais, tecidos, tapetes, tapearias e mveis) impulsionou o ARTS & CRAFTS MOVEMENT.Em 1891, William Morris escreveu News from nowhere (Notcias de nenhuma parte), obra utpica e, ao mesmo tempo, potica e humana, em que mostrava o retorno a uma sociedade agrcola e artesanal, em cujo seio a luta de classes romperia com o socialismo estatal, alm de apresentar a concepo social-democrata de um programa mnimo de reformas graduais e um programa mximo a ser implementado em um futuro indefinido. Seu livro oferecia uma soluo para se alcanar uma genuna democracia de trabalhadores, da mesma forma que defendia a vida harmoniosa junto natureza.

PARK MOVEMENTEm meados do sculo XIX, os ideais romnticos e naturalistas conduziram os norte-americanos para o desenvolvimento do chamado Park Movement, o qual se contraps baixa qualidade de vida nas cidades, decorrente dos efeitos negativos da industrializao, bem como dos graves processos de explorao da natureza, estes exercidos pela agricultura e pecuria em expanso nos EUA. Este movimento contribuiu para uma radical transformao no significado da relao entre homem e natureza, alm de promover uma grande campanha pela conservao dos recursos naturais, assim como pela renovao das paisagens deterioradas pela ao humana naquele pas (FRANCO, 2000).

Entretanto, os participantes do ARTS & CRAFTS chegaram concluso de que era quase impossvel que a produo artstica artesanal fosse barata, pois somente seria possvel obter preos mais baixos custa da desvalorizao da vida e do trabalho humano. De qualquer forma, sua ao inovadora trouxe 03 (trs) contribuies valiosas: Defesa da originalidade a todo custo, abandonando-se as preferncias eclticas; nfase ao trabalho simples e dedicado junto natureza prpria dos materiais; Desenvolvimento de criativas padronagens estilizadas, lmpidas e geomtricas.

As bases do movimento dos parques americanos encontravam-se nos textos de escritores que criticavam as graves conseqncias da industrializao: George P. Marsh (1801-82): considerado um dos fundadores do conservacionismo norteamericano, atravs de seu livro Man and nature (Homem e natureza, 1864), atacou o mito da superabundncia e introduziu uma nova viso ecolgica, apontando a deteriorao dos solos e as inundaes como resultados do descaso humano em relao ao meio ambiente natural; Ralph W. Emerson (1803-82): ensasta que no via a natureza apenas como fonte de satisfaes espirituais e de sade fsica, mas tambm de lies prticas, guardando os segredos de uma ordem racional e justa. Para ele, a filosofia da natureza deveria transformase na moral de conquista e na tica do trabalho;

Seus maiores expoentes foram: os artfices Ernest Gimson (1864-1920) e sir Ambrose Heal (1872-1959); os pintores e ilustradores Walter Crane (1845-1915) e Charles R. Ashbee (1863-1942) e o arquiteto Arthur H. Mackmurdo (1851-1942).

1840Romantismo

1860

1880Impressionismo

1900Art Nouveau Ps-Impressionismo

Realismo Simbolismo Ecletismo Escola de Chicago Arts & Crafts Proto-Racionalismo

15

Henry D. Thoreau (1817-62): apresentou, em Walden or life in the woods (Walden ou vida nos bosques, 1854), entre outros, a natureza no como um cenrio impessoal a emoldurar o homem, mas como alvo de uma experincia pessoal e direta, baseada na emoo. Para ele, o homem no estaria acima da natureza, mas seria parte integrante dela. Walt Whitman (1819-92): poeta que definiu a cidade como produto da American Democracy; e a realizao de um ambiente urbano eficiente, so e democrtico, desde ento como o maior desafio da nova cultura na Amrica.

Olmsted defendeu o uso econmico do espao livre, procurando melhorar o clima urbano e minorar a poluio do ar e gua, alm de mitigar as enchentes e proporcionar um espao agradvel para passeio e moradia; fornecendo um contraponto naturalstico aos edifcios e ruas congestionadas. Ele via nos parques a possibilidade de assegurar comodidade, segurana, ordem e economia nas grandes cidades e, mais ainda, vendo-os como sinnimo de justia social e de participao democrtica.

Andrew J. Downing (1815-52), editor da revista The Horticulturist desde 1845, foi um dos maiores propagandistas da idia de parque pblico, para a qual preconizou o estilo a que chamou de Beautiful, por meio de uma esttica orgnica e uma linguagem pitoresca que traduziriam as imagens naturais, de valores religiosos e sociais, na teoria e na prtica do American Landscape. Mesmo com poucas chances de colocar em prtica suas idias, seus escritos assinalavam a importncia das virtudes rurais sobre os processos de crescimento urbano e acabaram influenciando o movimento nacional a favor da criao de parques.Entre 1843 e 1845, Robert F. Gourlay (1778-1863) elaborou os planos de ordenao de Boston e Nova York; e em 1844, William C. Bryant (17941878) iniciou no New York Evening Post uma campanha a favor dos parques pblicos. J em 1851, Downing descreveu como deveria ser o parque no centro da ilha de Manhattan, em Nova 6 York o Central Park projetado 05 (cinco) anos aps seu falecimento, por Frederick L. Olmsted (1822-1903) e Calvert Vaux (1824-95).

A partir de Olmsted, o PARQUE URBANO passou a ser smbolo de uma nova vida comunitria e, ao mesmo tempo uma opo urbanstica que se justificava em argumentos de ordem econmico-funcional, alm de consideraes tico-ideolgicas sobre sua funo social (CIUCCI et al., 1975).Alm dos citados, tambm fizeram parte do Park Movement: Jacob Weidenmann (1829-93), graas sua ao propagandista e obras desenvolvidas desde 1864 como superintendente dos parques de Hartford; Horace S. Cleveland (1814-1900), que realizou, a partir de 1883, o plano de Minneapolis j com o conceito de uma reforma urbana global; e Charles Eliot (1859-97), herdeiro da obra iniciada em 1867 por Olmsted em Boston MA7.

Foi sem dvida Frederick L. Olmsted (1822-1903) o arquiteto paisagista que, atravs de seus trabalhos em Nova York, Chicago, Detroit, San Francisco, Washington, Filadlfia e Boston, alm de outras, quem forjou um papel definitivo para os parques urbanos no sculo XIX, estabelecendo-os em estreita relao com a diminuio dos problemas ambientais e sociais da cidade naquela poca (KOSTOF, 1991).6

Paralelamente ao Movimento dos Parques Americanos, surgiu uma srie de estudos que deu bases ao CONSERVATION MOVEMENT, ou seja, o conjunto de aes pela conservao e/ou preservao das reas naturais nos EUA, que resultou em uma importante influncia no urban planning e na cultura norte-americana. Um dos pioneiros desse movimento foi John W. Powell (1834-1902), representante do Geographic and Geological Survey, na regio das Montanhas Rochosas dos EUA. Suas consideraes foram decisivas para a definio das diretrizes da poltica de colonizao do oeste americano. Da sua ao e de seus discpulos nasceu a primeira reserva natural do mundo, em 1872, o Yellowstone National Park, situado em Wyoming.7

Fruto de um concurso pblico em 1858, do qual o Greesward Plan, de Olmsted e Vaux, foi o vencedor, o Central Park consiste basicamente de um retngulo de 750 m por 3750 m, o que perfaz 2 cerca de 3.000.000 m , ou seja, 770 acres, dos quais 150 foram reservados para a gua. Possui ainda a separao de sistemas virios para pedestres, cavaleiros e carruagens, assim como ruas de trnsito externo e passagens em desnvel nas interseces , alm de caminhos pitorescos.

Olmsted props um plano integrado de parques focado sobre seis intervenes principais, coordenadas na direo leste-oeste por um sistema de parkways, o qual foi a primeira expresso da exigncia de se formular planos urbanstico de conjunto, visando a reestruturao de uma cidade. A partir de 1880, Boston converteu-se em um dos centros mais dinmicos de difuso do paisagismo.

16

3PR-URBANISMOO processo de urbanizao decorrente da REVOLUO INDUSTRIAL (1750-1830) foi surpreendente. De 1830 a 1900, Londres passou de dois para quatro milhes de habitantes; e Paris, no mesmo perodo, passou de um milho para pouco mais de dois milhes. Berlim, do incio do sculo XIX at 1890 teve sua populao aumentada de 150.000 para 1.300.000. Se em 1800, no havia nenhuma cidade no mundo com mais de um milho de habitantes, em 1850, j existiam quatro e, em 1900, 19. Esse crescimento acelerado conduziu a inmeros problemas de habitao, circulao, abastecimento e, em especial, saneamento, provocando vrias epidemias e fazendo nascer as primeiras LEIS SANITRIAS.Iniciadas na Inglaterra em 1844, as leis sanitrias incidiam diretamente nas condies de moradia e construo da cidade industrial, acabando por forar os governos a agir sobre a planificao urbana, o que conduziu formulao das primeiras leis urbansticas na Europa, como as da Itlia (1865), Sucia (1874), Prssia (1875) e Holanda (1901). Tanto no Reino Unido como na Frana, tais normalizaes sobre as questes urbanas demoraram para se unificarem, ocorrendo apenas, respectivamente, em 1909 e 1919 (BENEVOLO, 2001).

Segundo FERRARI (1991), foi o catalo Ildefonso Cerd (1815-76), responsvel pelo Plano de Barcelona (1859/70), quem primeiro empregou o termo urbanizao, em sua obra pioneira intitulada Teoria geral da urbanizao (1867), para explicar a organizao das cidades industriais em seu atual sentido sociolgico.

Ao mesmo tempo em que se efetivavam, nas grandes capitais europias, as medidas prticas de remodelao urbana pelos urbanistas neoconservadores, surgiram projetos ou modelos utpicos de comunidades alternativas, cujo conjunto recebe o nome de PR-URBANISMO, j que consistiam em propostas hipotticas, feitas por generalistas, na maioria de cunho poltico-econmico e/ou sciocultural, mas que se caracterizavam como uma mostra de indignao diante das condies em que vivia o proletariado. Sua importncia de estudo est no fato de que, pela primeira vez na histria das cidades, tinha-se uma viso integrada do significado das relaes sociais e econmicas na influncia sobre as questes da estruturao fsica e esttica dos espaos urbanos.Apesar de algumas tentativas de aplicao prtica e pouqussimas bem-sucedidas, tais modelos no passaram de utopia, inclusive por proporem uma interveno radical no s na distribuio de riquezas dentro da sociedade, como tambm na vida em famlia, como a diviso por sexo e idade.

Alm disso, acreditava-se que a iniciativa de transformao urbana partiria do prprio empresariado (classe dominante); ou ainda se defendia a destruio das mquinas, o abandono da indstria e o retorno s atividades agrcolas de subsistncia, em uma atitude nitidamente nostlgica.

A teorizao cientfica a respeito dos termos urbanizao e urbanismo na acepo de planejamento urbano somente surgiu a partir da segunda metade do sculo XIX, quando se implementaram medidas de saneamento e grandes reformas urbanas, estas expressadas por meio do chamado URBANISMO NEOCONSERVADOR.

De acordo com CHOAY (1998), possvel identificar duas atitudes diversas nesses modelos urbanos dos pr-urbanistas: o PROGRESSISMO, que se voltava mais para o futuro, aceitando a industrializao como chave dos tempos modernos, em uma atitude descritiva, como aquela presente nas propostas de Saint-Simon, Owen, Fourier e outros; o CULTURALISMO, mais voltado ao passado, negando a indstria e apontando a mquina como fator causador do desaparecimento de um mundo melhor, presente em Ruskin e Bellamy, alm dos socialistas cientficos (Marx e Engels).

17

PROGRESSISMODefensores da mquina e da indstria, os progressistas propuseram sociedades utpicas ou comunidades afastadas dos centros urbanos, incentivando a produo coletiva e a organizao cooperativa, de iniciativa patronal.Claude Henri de Rouvroy (1760-1825)Conhecido como o Conde de Saint-Simon, acreditava que o avano da cincia determinaria a mudana poltico-social, alm da moral e da religio, considerando que, no futuro, a sociedade seria formada somente por cientistas e industriais. Quando descreveu esta nova sociedade, em seus escritos entre 1807 e 1821, imaginou uma imensa fbrica, na qual a explorao do homem pelo homem seria substituda por uma administrao coletiva. A propriedade privada no caberia mais nesse novo sistema industrial. Seu modelo, porm, mantinha a idia de uma sociedade hierarquizada, onde no topo estariam os diretores da indstria e produo, engenheiros, artistas e cientistas; e, mais abaixo, os trabalhadores responsveis pela execuo dos projetos feitos pelos inventores e diretores. Ele foi o primeiro a perceber que o conflito de classes estava relacionado com a economia e que seria nas mos dos trabalhadores que o futuro seria construdo, embora devendo serem guiados por algum. Apesar de defender um novo cristianismo que teria como imperativo a fraternidade e a justia social, tinha uma concepo anti-igualitria e antidemocrtica.

NEW HARMONY, INDIANA EUA Robert Owen (1771-1858)Reformador gals de origem modesta, que se tornou proprietrio de uma tecelagem de algodo, em New Lanark, Esccia, elaborando um sistema baseado na cooperao mtua e na autogesto de bens. Em Uma nova viso da sociedade (1813), defendia a idia de que era necessrio reconstruir o ambiente a servio do homem, antes de se pensar em qualquer vantagem econmica, individual ou poltica. A partir disso, elaborou um modelo ideal de convivncia, no qual as habitaes seriam agrupadas ao redor de um grande espao aberto, onde se localizariam os edifcios comunitrios. As casas seriam comunais, com dormitrios, refeitrios, salas e escolas. Envolvendo as moradias, haveria grandes jardins e hortas; e, em um dos lados do conjunto, situar-se-iam a fbrica e as oficinas. Alm de uma estrada, um cinturo agrcola circundaria todo o complexo. Nesta comunidade de 300 a 2.000 pessoas, a maquinaria para os trabalhos seria moderna e todos estariam obrigados a produzir (CHOAY, 1998). Em 1824, mudou-se para os EUA e fundou a colnia de NEW HARMONY, em Indiana, uma cidadezinha para uma comunidade agrcola restrita.

Charles Fourier (1772-1837) PLANO DE NAUVOO, ILL. (1848)Comerciante francs que escreveu O novo mundo industrial e societrio (1829), entre outras obras, em que desenvolvia uma proposta de cidade ideal, La Falange, a qual seria desenvolvida em anis concntricos, partindo de um ncleo comercial e administrativo, circundado pela rea industrial e esta, por sua vez, pelo setor agrcola. Sua comunidade pode ser definida como um modelo de habitao coletiva, de oficinas-modelo e de construes rurais-tipo. Criada para cerca de 1.600 habitantes, caracterizava-se pela disposio sistemtica de lugares e atividades; assim como pelo FALANSTRIO; um edifcio monumental ou palcio social, no qual as pessoas viveriam de forma comunitria. Tais idias baseavam-se em um sistema filosfico-poltico, que propunha a unio de esforos para se alcanar um estado de harmonia universal, conseguido somente com a satisfao de paixes naturais. Em 1832, passou a publicar o semanrio Le Phalanstre, o qual pregava a formao de suas sociedades cooperativas de produo e consumo. Foram seus discpulos: o francs Victor Considrant (1808-93) e o alemo Wilhelm Weitling (1808-71).

Etienne Cabet (1788-1856)Francs que lanou o romance Viagem Icaria (1842), onde apresentava uma nao utpica dividida em 100 provncias; e cada uma delas possuindo dez distritos municipais, sendo que no centro de cada um destes haveria uma capital. A cidade de ICARIA seria uma grande metrpole, dividida por um rio retilneo, com uma ilha no meio, formada por uma retcula de ruas amplas e rodeada por dois anis concntricos de boulevares. Os quarteires seriam formados por 15 casas iguais, onde a vida humana seria muito organizada e toda a propriedade estatal. O produto do trabalho seria dividido eqitativamente entre os trabalhadores, cujas roupas seriam uniformizadas. Em 1848, mudou-se para os EUA, onde fundou uma colnia em Nauvoo, Illinois, com 500 imigrantes. Houve brigas e desavenas, mas a colnia conseguiu resistir at 1855. Seus maiores discpulos foram os espanhis Narcs Monturiol i Estarriol (1819-85), fundador do jornal utopista La Fraternidad (1847/8); e Jos Anselmo Clav (1824-74).

FALANSTRIO (1829)

18

James Silk Buckingham (1786-1855)Reformador ingls que publicou Males nacionais e medidas prticas com um plano de uma cidade-modelo (1849), onde propunha um novo modelo de cidade a ser repetido em srie para combater o desemprego. VICTORIA, a primeira dessas cidades, consistiria em um quadrado de uma milha de lado destinado a abrigar 10.000 pessoas. As habitaes estariam dispostas em sete fileiras concntricas: no centro estariam as casas espaosas da classe alta, enquanto os operrios de estratos inferiores viveriam na periferia, prximos s fbricas situadas no espao externo cidade. Paralelamente, as escolhas estilsticas de cada edificao seguiriam a diferena entre as classes. Estavam previstos todos os tipos de servio social e para a sua realizao utilizar-se-ia uma tcnica muito avanada para a poca: uma torre de 300 ps de altura, que iluminaria toda a cidade da praa central. Seus principais objetivos eram unir o mximo grau de ordem, espacialidade e higiene, com a mxima abundncia de luz e ar, alm de um perfeito sistema de esgotos, com conforto e convivncia de todas as classes.

Jean-Baptiste Andr Godin (1817-88)Industrial francs, fabricante de foges e aquecedores, que fundou uma oficina metalrgica em Guise, Frana, em 1859, seguindo os princpios corporativos de Fourier, por visar repassar os lucros do trabalho assalariado aos operrios. Criou o FAMILISTRIO, uma reduo do modelo fourierista composta por um edifcio igualmente formado por trs blocos fechados, mas com ptios menores e cobertos por vidros, desempenhando as funes das rues intrieures de Fourier. Diversamente da vida comunitria e do carter agrcola, optou pelo regate da vida familiar e servios que facilitassem a convivncia social, alm do trabalho industrial assumir um carter hegemnico. Publicou sua teoria atravs de Solues sociais (1870). Funcionando como cooperativa de operrios at 1968, hoje o familistrio uma sociedade annima, cujo edifcio em que vivem 300 famlias tido patrimnio da humanidade, sob cuidados da Unio Europia.

CULTURALISMONo decorrer do sculo XIX, vrios escritores europeus como os franceses Honor de Balzac (1799-1850), com as 95 obras de sua Comdia Humana; Victor-Marie Hugo (180285) e mile Zola (1840-1902); alm do ingls Charles Dickens (1812-70) denunciaram em suas obras condies da cidade liberal. O utopismo culturalista encontrou emJOHN RUSKIN (1819-1900) seu maior expoente. Paralelamente, alguns utopistas passaram a utilizar repblicas ou sociedades imaginrias para apresentar suas crticas polticas, destacando-se: George A. Ellis (1810-40): em New Britain: a narrative of a journey (1820), criticava as comunidades experimentais na Amrica; Robert Pemberton (1788-1879): em The happy colony (1854), parodiava o utopismo britnico. Samuel Butler (1835-1902): em Erewhom (1872), satirizava as injustias da Inglaterra vitoriana ao descrever uma sociedade, cujas leis, princpios morais e concepes cientficas tinham se tornado a sua prpria oposio.

VICTORIA (1849) Pierre Joseph Proudhon (1809-63)Reformador francs considerado um dos pais do anarquismo ou comunismo libertrio; um movimento ideolgico baseado na rejeio autoridade e exigncia da liberdade. Acreditava que a posse individual da propriedade era a garantia essencial para a existncia da sociedade livre, desde que ningum possusse em excesso. Suas idias baseavam-se na luta contra o passadismo para promover uma forma global de existncia moderna; uma racionalizao das formas de comportamento e do papel da indstria na nova cidade. Defendia a ao de minorias impulsionando as massas e organizando a produo e o consumo em nome do federalismo. Aps o fracasso da Revoluo de 1848, passou a confiar unicamente no mutualismo e na organizao do crdito gratuito como resposta ao problema da misria social. Teve vrios seguidores na rea poltica e sua influncia sobre a classe operria do II Imprio foi considervel.

Karl Marx (1818-83) & Friedrich Engels (1828-95)Pensadores alemes que procuraram passar o socialismo da utopia cincia, avaliando a crtica social dos utopistas em seu Manifesto Comunista (1848), acusando-os de no proporem meios adequados para alcanar a sociedade ideal. Seus escritos introduziram reivindicaes futuras, como a supresso da oposio entre campo e cidade e o fim da propriedade privada e do trabalho assalariado. Embora aqum do dinamismo da realidade, suas aes desempenhariam importante papel no movimento de conscientizao do proletariado. Fundaram o SOCIALISMO CIENTFICO, que consiste na realizao daqueles objetivos no marco histrico concreto/material, negando-se a profetizar acerca da futura sociedade comunista ou a estabelecer modelos urbanos de utopia.

FAMILISTRIO (1859)

19

COMPANY-TOWNS MOVEMENTPapel relevante na histria do urbanismo desempenharam as experincias norteamericanas das COMPANY-TOWNS ou cidades-fbrica, que se desenvolveram no final do sculo XVIII at se tornarem freqentes no sculo XIX, podendo ser consideradas a utopia do Capital empenhado, desde seus primrdios, em edificar um sistema econmico que deixasse de se basear na terra e passasse a 8 ser realizado por mquinas .

Francis Cabot Lowell (1775-1817)Tpico empresrio de New England EUA que, em 1814, introduziu o tear mecnico em suas manufaturas de Waltham; fator fundamental para tornar rentveis as vrias fbricas algodoeiras que se multiplicavam s margens dos rios da regio, de modo a assegurar uma produtividade que permitisse o nascimento de um verdadeiro sistema urbano-industrial. Sensvel aos problemas sociais, Lowell imaginou uma comunidade ideal dedicada ao trabalho e concentrada ao redor das atividades produtivas, cuja principal finalidade seria alcanar a mxima eficincia, concebendo uma cidade formada por dois grupos sociais distintos, os cidados e os assalariados, sendo a vida dos primeiros livre e a dos segundos completamente controlada pela Companhia.

Kirk Boot (1780-1837)Diretor da Merrimack Manufacturing Company, formada cinco anos aps a morte de Lowell, que acolheu suas idias e props-se a criar uma comunidade industrial iniciada em 1823. O ncleo central da nova cidade de LOWELL, Massachusetts, foi a localizao das instalaes manufatureiras, que foram dispostas de modo a garantir o mximo aproveitamento dos recursos hdricos do rio Merrimack e de um sistema de canais artificiais realizados na rea da implantao. Ao invs de seguir leis orgnicas de crescimento ou traados de justificativas geomtrico-sociais, estabelecia-se em funo direta das exigncias produtivas das instalaes industriais. Soma-se a isto uma preocupao excessiva da Companhia em exercer um controle absoluto da mo-de-obra, criando seu prprio mercado de fora de trabalho, assim como a considerao da moradia e dos servios urbanos apenas como conseqncias simples e diretas do trabalho, resultando em uma estrutura urbana extremamente rgida, que refletia a diviso de classes.

LOWELL PLAN, MASSACHUSETTS EUA (1823)As CIDADES-FBRICA configuraram uma drstica ruptura em relao tradio rural da cultura yankee, implementando comunidades cujas componentes sociais tradicionais tenderiam a desaparecer. Como modelo urbanstico bsico, representavam uma alternativa completa cidade histrica, j que se colocavam contra esta que significava continuidade, seja em termos de desenvolvimento econmico como de estrutura social.

Seu ideal rechaava a civilizao urbana e configurava um modelo puramente econmico; produto de uma ideologia que tendia a anular a cidade atravs da fbrica, fazendo-a desaparecer e integrando o urbano no produtivo, priorizando os processos de racionalizao produtiva e a maximalizao da explorao. Sua influncia estendeu-se at a Europa.8

Embora anteriores, foi a partir do sculo XIX que essas comunidades difundiram-se e, mesmo subsistindo Guerra Civil Americana (1861/65), acabaram por se revestir de uma funo poltica concreta, convertendo-se em um instrumento econmico interno e tpico do processo de acumulao capitalista. Um dos primeiros exemplos foi a cidade-fbrica de Paterson, criada em New Jersey em fins dos setecentos pela Society for Establishing Useful Manufactures; por Pierre Charles LEnfant (1754-1852) e Nehemiah Hubbard (1721-1811). Entre as company-towns da poca que precedeu guerra, destacaram-se New Manchester, onde atuou desde 1836 a Amoseag Manufacturing Company; e Lawrence, iniciada no final da dcada de 1840 pela Bay Satate Mills e pela Essex Company. Alm disso, outros assentamentos de New Hampshire, como New Ipswick e New Market, converteram-se em significativas cidades industriais naquela regio.

SALTAIRE PLAN, WEST YORKSHIRE GB Titus Salt (1803-76)Criador da cidade-fbrica de SALTAIRE, em West Yorkshire, perto de Shipley, Inglaterra, melhor exemplo da influncia do movimento na Europa. Construda entre 1850 e 1863, possua a maior fbrica do pas e casas dispostas em padro paladiano. Tendo como princpios de composio o senso de liberdade, a justia social, a pequena escala e a vida junto natureza, apresentava algumas preocupaes modernas com seus edifcios pblicos, tais como centros comunitrios, hospitais, escolas e igrejas. Usou-se como modelo as idias das factory villages (vilarejos-fbrica), descritas nos romances de Benjamin Disraeli (1804-81).

20

George Mortimer Pullman (1831-97)Fabricante norte-americano de vages que, percebendo a necessidade de melhoria das condies dos trabalhadores para o sucesso de seu empreendimento, fundou nas imediaes de Chicago, prximo ao lago Calumet, uma cidade-fbrica homnima, PULLMAN, cujas obras iniciaram-se em 1880, segundo um projeto elaborado por Solon Spencer Beman (1853-1914) e Nathan Franklin Barrett (1845-1919) e que receberia, j em junho do ano seguinte, seus primeiros 650 habitantes (CIUCCI et al., 1975). A partir de um pioneiro processo de construo planificada e de estandardizao de moradias, a cidade j produzia a todo vapor um ano depois e, em 1884, alcanaria uma populao de 8.500 pessoas, alm de poder contar com um centro comercial, o Arcade Building, os principais edifcios pblicos, a igreja municipal e um suntuoso teatro.

O mundo do laissez-faire norte-americano encontrou sua crtica atravs do pensamento de vrios utopistas, destacando-se EDWARD BELLAMY (1850-98). Alm dele, deve-se destacar outros dois autores, cuja herana terica marcaria as idias, as aes e os debates no campo da planificao urbana, no incio do sculo passado: Henry George (1839-97): em Progress and poverty (Progresso e pobreza, 1880), defendia que a terra deveria pertencer a todos, instituindo-se uma taxa nica (single-tax) sobre a renda fundiria; Thorstein Veblen (1857-1929): em The theory of leisure class (A teoria da classe ociosa, 1899), detectou e criticou a tendncia de formao de uma sociedade tecnocrtica, cujo poder estaria nas mos de empresrios, banqueiros e tcnicos.

Paralelamente, um outro fenmeno caracterstico dessa poca foram as cidades norte-americanas ligadas minerao, as chamadas COAL-TOWNS, assim como aquelas relacionadas histria do petrleo, sendo a mais famosa a cidade de Pithole, na Pensilvnia, surgida em 1862 e que, aps trs meses de existncia, j contava com cerca de 15.000 habitantes. Houve ainda as company-towns que surgiram ao longo dos eixos de expanso das ferrovias: tanto as existentes, que foram revitalizadas com a chegada de novas linhas, como os novos povoamentos criados diretamente pelas companhias ferrovirias (CIUCCI et al., 1975). Em praticamente todos os casos das company-towns ou das coal-towns implementadas, o mito da CIDADE-MODELO dedicada ao trabalho caiu por terra pela formao da prpria conscincia de classe, o que conduziu a greves e lutas por melhores salrios. Esse novo modelo de vida moderna, que rechaava a civilizao urbana em prol de uma comunidade voltada somente ao trabalho e produo industrial, permitia ao mesmo tempo uma singular intensificao dos laos de solidariedade entre os operrios, que reagiram a seu paternalismo e exigiram seus direitos como trabalhadores.No decorrer do sculo XIX, com o desenvolvimento da industrializao, as cidades americanas tiveram um crescimento surpreendente, em especial aquelas ligadas ao carvo da Pensilvnia (Filadlfia e Pittsburgh) ou ao minrio de ferro s margens dos Grandes Lagos, em Minnesota (Minneapolis), Wisconsin (Milwaukee), Illinois (Chicago), Michigan (Detroit), Ohio (Cleveland) e N. York (Buffalo). Neste perodo, consolidou-se ainda mais o papel centralizador do Capital empresarial de NY City.

GARDEN-CITIES MOVEMENTNo utopismo sociopoltico expresso pela cidade oitocentista, a proposta mais contundente de integrao entre a cidade e a natureza foi o modelo, de claras bases culturalistas, representado pela proposta das GARDEN-CITIES ou cidades-jardim, idealizadas pelo britnico Ebenezer Howard (1850-1928). Howard acreditava que todas as vantagens da vida mais ativa no meio urbano e toda a beleza e delcias do meio rural poderiam estar combinadas de modo satisfatrio, atravs de uma nova forma de planejamento.

O Movimento das Cidades-Jardim foi uma das experincias mais profcuas do sculo passado, a qual defendia a noo de cidade-parque e conduziu formao de vrios bairros-jardim em todo mundo. No incio do sculo XX, os princpios deste modelo foram aplicados em prottipos urbanos tanto na Europa como nos EUA, assim como no Brasil, sendo suas caractersticas bsicas:a) A malha de anis concntricos, recortados por vias radiais; b) As demarcaes precisas de setores e limites por meio de cintures verdes; c) A eliminao da especulao atravs do arrendamento dos terrenos; d) O controle de sua expanso, j que, ao se atingir uma populao de 32.000 pessoas, seria fundada uma nova comunidade, ligada como satlite a um centro maior.

21

Ebenezer Howard (1850-1928)Autor do livro Amanh: um caminho pacfico para a verdadeira reforma (1898), mais tarde reeditado como Cidades-jardim de amanh (1902), defendia a integrao entre campo e cidade considerados como ims para a populao , atravs da proposta de cidades para 32.000 habitantes, com rea aproximada de 400 ha e um cinturo agrcola de 2.000 h, com autonomia econmica. Em 1899, fundou a Garden City Association, procurando aplicar na prtica seus conceitos, os quais no passavam de esquemas tericos (CHOAY, 1998). Martin Wagner (1885-1957) e Ernest May (18861970) podem ser considerados seguidores de Howard na Alemanha, assim como Henri Sellier (1883-1943) na Frana.

WHITE CITY MOVEMENTEm fins do sculo XIX, diante da situao crtica das cidades americanas industriais, surgiram vrios questionamentos sua conformao, esta guiada pelo laissezfaire (livre concorrncia) e marcada profundamente pela explorao da mais valia imobiliria, estando sua gesto nas mos do chamado boss (chefe) da construo, sem que houvesse nenhuma autoridade para intervir sequer nos controles parciais de ocupao do solo. O boss organizava a massa de imigrantes, introduzindo-os no ciclo produtivo das cidades e, depois, na estrutura social, oferecendo servios urbanos mnimos em troca de uma lealdade que se materializava em votos (CIUCCI et al., 1975). Contra tal situao, desenvolveu-se uma srie de movimentos reformadores progressistas, entre 1890 e 1900, cujo conjunto ficou conhecido como WHITE CITY MOVEMENT, consistindo na primeira mobilizao baseada em um controle coordenado da cidade norteamericana; e destinado a produzir resultados nitidamente opostos prxis do liberalismo. Tal movimento caracterizou-se pela defesa de uma ao coordenada de funes destinadas a tornar a cidade higinica e mais saudvel, tais como a pavimentao e iluminao das ruas; o abastecimento de gua potvel e implantao da rede de esgoto; a coleta de lixo e o controle dos incndios; um conjunto de medidas sanitrias em geral, que deveria ser tratado pelas regras ditadas pela cincia e tecnologia.Bastante influenciado pelo Higienismo e pelos trabalhos de Haussmann em Paris, ocorridos entre 1853 e 1869, assim como pelas reformas das capitais europias, esse movimento concentrava-se principalmente em medidas sanitrias visando a qualidade de vida nas cidades. Seu pice aconteceu por ocasio da Worlds Columbian Exposition a Exposio Universal de Chicago (1893) Realizada em homenagem ao 400 aniversrio do Descobrimento da Amrica, esta feira foi projetada por Daniel H. Burnham (1846-1912) e Frederick Law Olmsted (1822-1903) como um prottipo de como uma cidade moderna deveria ser. Com cerca de 2,4 km2 e mais de 200 novos edifcios classicistas, era composta por lagoas, canais e monumentos. Seus maiores destaques foram: o Administration Building, de Richard M. Hunt (1827-95); o Agricultural Building, de Charles F. McKim (1847-1909); o Manufactures and Liberal Arts Building, de Georges B. Post (1837-1913); e o Mines and Mining Building, de Solon S. Beman (1853-1914).

Raymond Unwin (1863-1940) & Barry Parker (1867-1947)Arquitetos ingleses cuja empresa durou de 1896 a 1914 e foi responsvel pela criao de vrias cidadesjardim, como a primeira delas, LETCHWORTH, implantada em 1903, a cerca de 56 km de Londres, para uma populao de 33.000 habitantes, alm do subrbio londrino de Hampstead Garden Suburb. A publicao de suas idias e trabalhos a partir de 1908 influenciou todo o urbanismo anglo-saxo do sculo XX.

Louis de Soissons (1904-97)Fundador da clebre cidade-jardim de WELWYN, criada em 1919 e localizada a 15 km de Letchworth, Inglaterra, projetada para 40.000 habitantes, com previso de expanso para no mximo de 50.000 pessoas.

LECHTWORTH (1903)

WELWYN (1919)

22

4ART NOUVEAU

O Art Nouveau expressava o tom festivo de uma moda ou estilo criado de improviso e transitrio, muito mais prximo do sculo XIX que o XX, pelas suas razes histrias e ideolgicas. Seu elemento mais marcante foi a linha ondulada e assimtrica, que terminava em um movimento cheio de energia como o da ponta de um chicote. Tal linha decorativa pde ser elegante e graciosa (Inglaterra) ou dinmica e animada (Frana); e tinha fundo simblico j que expressava nascimento; florescimento , no qual se selecionavam vrios elementos naturais, tais como o rebento vioso, o broto vegetal, o boto floral e a figura feminina (CHAMPIGNEULLE,1984).O Art Nouveau desenvolveu-se dentro de uma dicotomia: de um lado, a presso asfixiante do materialismo e do desenvolvimento tecnolgico; e do outro lado, a influncia do simbolismo e a atitude esttica do artista. Esta foi uma das causas para o rpido desaparecimento do estilo, que j a partir de 1910 tornou-se raro: ele no conhecia solues para o problema de como relacionar a mquina com as exigncias artsticas.

O final do sculo XIX foi marcado por muitas declaraes de insatisfao em relao ao ECLETISMO, principalmente de artistas e arquitetos, que alegavam sua deteriorao por causas tcnicas e culturais. Apontavam a falta de poder criativo da arquitetura e a necessidade de encontrar um estilo novo e original, abandonando aquela que seria a tentativa frustrada de reviver tradies antigas. As correntes historicistas tinham conscincia que a modernidade industrial havia colocado em crise a arte, que vivia uma carncia em temas e propostas originais. Assim, cresceu cada vez mais a oposio entre aqueles que tiravam partido do Ecletismo disponvel e aqueles que afirmavam a necessidade de romper com o passado por meio de um novo estilo artstico que refletisse as transformaes e a velocidade da modernidade emergente.

De qualquer forma, o estilo Art Nouveau foi uma reao ao ECLETISMO, o que equivaleu a uma srie de iniciativas que se baseavam, na sua totalidade, na recusa da associao entre o repertrio estilstico tradicional (historicismo) e as tcnicas modernas, defendendo principalmente o uso do ferro e vidro. Esse perodo, que se estende at o incio da Primeira Guerra Mundial (1914/18), ficou conhecido como a Belle poque, por ser uma fase de paz e prosperidade econmica europia, devido expanso do comrcio internacional e o aumento da confiana no progresso das classes dominantes. Isto abriu campo a experincias de vanguarda de grupos ou artistas isolados na busca de um estilo original e totalmente livre de precedentes (SEMBACH, 2007).Desde 1870, as estradas de ferro interligavam quase toda a Europa, intensificando as relaes comerciais feitas at ento quase somente por via martima e fortalecendo a sociedade industrial. Com o surgimento do primeiro gerador eltrico de uso comercial, a eletricidade comeou a ser difundida no nvel de transporte pblico (bondes eltricos), bombas dgua, e iluminao urbana, o que transformou rapidamente a vida nas cidades. Foram dessa poca as seguintes invenes: telefone (1876), lmpada eltrica (1879), motor a exploso (1885), elevadores (Otis, 1887), ferrovia eltrica (1890), rdio (1894), cinematgrafo (1895), avio (1903), etc..

Denomina-se ART NOUVEAU ou Arte Nova o conjunto de movimentos artsticos europeus, iniciados por volta de 1890, que visavam a renovao das artes aplicadas (arquitetura e decorao) e que se caracterizavam por uma grande experincia recproca de personalidades singulares, que tinham em comum nica e basicamente a novidade em estilos pessoais.

Com muitas razes e precursores,manifestou-se principalmente na decorao e mobilirio, embora tenha influenciado todas as esferas da arte, inclusive moda e adereos. Por fim, foi uma criao original, que tinha por finalidade principal renegar a herana artstica do passado e criar algo completamente novo (MADSEN, 1967).

23

Durante a BELLE POQUE, a mquina ainda no havia invadido totalmente os lugares humanos e os objetos ornamentados produzidos ainda satisfaziam o grande pblico, apesar de algumas crticas: alguns consideram que o Art Nouveau j nasceu morto, por ainda estar preso ao ornamentalismo e ao individualismo, mas outros percebem sua importncia na ruptura de velhos conceitos de criao nas artes ainda que no tenha alcanado na prtica todos os seus propsitos conceituais. Mesmo tendo condenados seu carterinicial e desaparecimento precoce, ainda permaneceu para a sociedade contempornea o retrato da experincia de interao que o Art Nouveau promoveu nas artes. Esse movimento deixou o legado das primeiras manifestaes nas artes grficas, que deram origem publicidade; e a preocupao de unidade com o design e com o detalhe na arquitetura, interiores, objetos e moda. Tratava-se enfim de uma arte que manifestava a alegria de viver e o nascer de uma nova era (BENEVOLO, 1998).

O ART NOUVEAU significou inovao em praticamente todos os pases, acabando por receber vrias denominaes, tais como: Style Modern, Mtro ou Fin-de-Sicle (Frana); Stile Liberty ou Florale (Itlia); Arte Joven ou El Modernismo (Espanha); Jugendstil (Alemanha); Estilo Drago (Escandinvia) e Style Tiffany (EUA) (PEVSNER, 2001). Suas principais caractersticas foram:a) Acentuado interesse pelas artes aplicadas, por influncia terica de Ruskin e Morris, alm da prtica do Movimento Arts & Crafts, resultando em uma decorao espaosa e bem planejada, restabelecendo o senso de unidade; b) Motivos decorativos derivados da arte oriental (repertrio vegetal e mundo aqutico), com tendncia estilizao e abstrao linear c) Inspirao naturalista na flora (botes de flores, orqudeas, lrios, crisntemos, nenfares e ninfias; superfcies com entrecruzamentos de caules, espinhos e ondulaes) e na fauna (borboletas, liblulas, pssaros e rs); d) Inspirao na figura feminina, associando-se a mulher ao princpio elementar da vida, tanto pelo sexo como pelas formas curvilneas (rosto, busto, quadril, cabelos, etc.); e) Preferncia pelos ritmos grficos ou plsticos da linha curva e suas variantes, como a espiral, a voluta e a linha em chicotada (uso de arabescos, formas sinuosas e ovides); f) Recusa de proporo e equilbrio clssicos, buscando-se dinamismo e ritmos musicais; e enfatizando-se juventude, leveza e otimismo (cores em tons plidos e transparentes, formando zonas planas e esfumaadas);

g) Tendncia em resolver valores plsticos atravs de elementos lineares e cromticos, acentuando a sensao de movimento e a estruturao da forma; e fundindo ornamento e objeto; h) Individualismo artstico em contradio ao tentar uma aliana entre o social e o esttico; entre o popular e o erudito: produo original, mas cara e luxuosa (estilo de artistas).

O ART NOUVEAU opunha-se esterilidade artstica da era industrial, tendo como principal objetivo combater o historicismo que vigorava desde o sculo XV. Denominava-se arte nova no sentido de romper com o mtodo criativo do passado, de inspirao na antiguidade; e por tentar melhorar a qualidade artstica da poca. Propunhase assim a dar novo rumo s artes aplicadas, integrando artesanato e indstria.

Nascido na Blgica pas fora do contexto daqueles que normalmente eram precursores de vanguardas , foi um movimento muito abrangente, que atingiu vrios pases e recebeu em cada um denominaes diferentes. Alm disso, suas fronteiras temporais no se apresentaram delimitadas com nitidez, o que fez com que fosse considerado por muitos crticos mais como um momento de transio para o modernismo do que estilo unitrio. 24

AVENUE RAPP, 29 LYCE ITALIEN LONARD DAVINCI (1901, PARIS) (1899, PARIS)Vrios artistas destacaram-se no ART NOUVEAU, tornado-se importantes pelo uso que fizeram da estrutura arquitetnica e sua explorao como meio artstico de expresso, alm do culto que lhe fizeram. Embora no tenham conseguido produzir um estilo adequado produo em massa, prepararam o campo para as pesquisas modernas do sculo passado.

BLGICA E FRANASituada no Norte europeu, a Blgica foi colnia espanhola do sculo XVI ao XVIII; e depois de disputas de domnio por parte de austracos e franceses, passou a integrar os Pases Baixos em 1815. Em 1830, tornou-se um pas independente, catlico e neutro, de regime monrquico constitucional e parlamento democrtico. Desde a instalao de seu primeiro regente, Leopoldo I (1790-1865), da casa dos Saxe-Coburgos, em 1831, o pas transformou-se em um centro de indstrias de luxo e plo de atrao, em especial durante o reinado de Leopoldo II (1835-1909), a partir de 1865, no qual se destacaram as atuaes excepcionais de: GUSTAVE SERRURIER-BOVY (1858-1910): Arquiteto e ebanista belga que, aps visitar a Inglaterra em 1884, voltou Blgica pas bastante influenciado pelo Arts & Crafts, incluindo seus elementos em seu trabalho, especialmente em sua residncia prpria LAube, situada no Parc de Cointe, em Lige. PAUL HANKAR (1859-1901): Arquiteto e ebanista belga, que comeou como escultor, mas, a partir de 1888, dedicou-se arquitetura. Em 1893, construiu sua prpria casa em Buxelas (Maison Hankar), considerada precursora do novo estilo, junto ao trabalho de Horta. Sua obra foi amplamente reconhecida com a Exposio Universal de Bruxelas (1897). Outras obras, na mesma cidade: Maison Zegers-Regnard (1895), Maison & Pharmacy Peeters (1896) e Htel Ciamberlani (1897). VICTOR HORTA (1861-1947): Arquiteto belga considerado precursor do Art Nouveau devido sua primeira obra, o Htel Tassel (1892/93, Bruxelas), que criou certa discusso nos meios artsticos por no apresentar nenhum elemento tradicional. Depois desta obra, construiu muitas residncias, escritrios e lojas, introduzindo uma sntese das formas arquitetnicas e das novas tcnicas construtivas. Algumas obras em Bruxelas: Htel Solvay (1895/1900), Htel van Eetvelde (1895/98), Maison du Peuple (1896/98), Maison & Atelier Horta (1898) e o Palais des Beaux-Arts de Bruxelles (1922/28). HENRY VAN DE VELDE (1863-1957): Arquiteto belga, que procurou esclarecer os fundamentos do movimento reformador. Aplicando a Teoria de Einfuehlung (Simpatia fisiopsicolgica da linha como elemento artstico figurativo, que deve encontrar justificativas cientficas nas sensaes psquicas que provoca), fez vrios projetos grficos, mobilirios singulares e trabalhos decorativos, como na Maison Bloemenwerf (1895/96, Uccle), no Museu Flokwang (1900/02, Hagen) e na Villa Esche (1902/03, Chemnitiz). Na Alemanha, tornou-se conselheiro artstico e participou da Deustcher Werkbund, importante base moderna.

Outros destaques do Art Nouveau belga foram: o arquiteto e engenheiro Jules Brunfaut (1852-1942), o ceramista Auguste Delaherche (1857-1940), o joalheiro Philippe Wolfers (1858-1929) e o pintor James Ensor (1860-1949). No trabalho dos belgas, tornou-se evidente a influncia dos elementos do Simbolismo9, que encontrou grande repercusso no pas, atravs das obras do dramaturgo e ensasta belga Maurice Maeterlinck (1862-1949), um dos maiores inspiradores de Horta e Van de Velde.

RUE RAMUR, 124 (1905, PARIS)

HTEL GUIMARD (1909/10, PARIS)

Na Frana, a prosperidade do reinado de Napoleo III (1808-73), de 1848 a 1870, assim como as reformas empreendidas pelo Baro de Haussmann, entre as dcadas de 1860 e 1870, fizeram de Paris um modelo de modernizao, cultura e progresso. Contudo, o ecletismo predominava em praticamente todas as construes, ocultando as estruturas em concreto, ferro e vidro. As exposies universais de 1855, 1867 e 1878, sediadas em Paris, permitiram o ensaio de tcnicas novas, as quais culminaram com a de 1889. Victor Baltard (1805-74), arquiteto dos Halles de Paris (1852/72), alm dos trabalhos de Gustave Eiffel (18321923) e Charles Dutert (1845-1906), influenciados por Viollet-Le-Duc, apontavam cada vez mais para o emprego de materiais industrializados.

9

Basicamente, o SIMBOLISMO ou Decadentismo foi uma corrente literria e artstica que surgiu na Frana no final do sculo XIX como oposio ao Realismo e tendo Baudelaire como precursor. A partir de 1881, poetas, dramaturgos e escritores franceses em geral destacando-se Stphane Mallarm (1842-98), Paul Verlaine (1844-96) e Arthur Rimbaud (1854-91) , influenciados pelo misticismo advindo do grande intercmbio com as artes, filosofias e religies orientais, procuraram refletir em suas produes uma atmosfera mstica, subjetiva e transcendental. De temtica alegrica e geralmente espiritual, os simbolistas buscavam expressar sentimentos pessoais e ocultos, alm de enfatizar a musicalidade (N.A.).

25

Preocupados em dar resposta ao gosto variado da clientela aristocrtica e burguesa, os artfices franceses buscaram inspirao na Blgica e passaram a explorar as formas do Art Nouveau, que, rebatizado de STYLE MODERNE, despontou no incio do sculo XX.

O meio cultural parisiense buscava um estilo que refletisse, de maneira apropriada, a modernidade que estava surgindo, traduzindo o progresso tecnolgico daquela poca de prosperidade. Embora inspirado pelo gosto popular, devido suas formas curvilneas e motivos florais, sua criao teve carter muito individual, s vezes exagerado, resultando em objetos carssimos, que por causa da dificuldade de produo e execuo, ficaram restritos a clientes muito ricos.Com a primeira temporada parisiense dos Ballets Russes, em 1909, a elite francesa descobriu os encantos do orientalismo e a arte japonesa passou a ser fonte de inspirao do Style Fin-de-Sicle. Difundiram-se as lacas, vernizes e talhas, alm do uso de molduras, lambris e cornijas, tanto em interiores como no mobilirio.

Em 1901, foi fundada a COLE DE NANCY, uma associao de artistas locais que produziu um Art Nouveau bastante delicado e colorido, revolucionando as tcnicas de fabricao de vidro e loua (leitosidade, uso de matizes e decoraes cravadas), assim como o desenho de mveis leves e brilhantes. Foram estes seuss principais expoentes: MIL GALL (1846-1904): Arteso francs que foi o fundador da cole de Nancy, juntamente com o ebanista Majorelle e um dos irmos vidreiros, Auguste Daum, presidindo-a at a morte. Naturalista e botnico, desenhou objetos e mveis em formas inspiradas em plantas e asas de borboletas e liblulas. EUGNE VALLIN (1856-1922): arquiteto e ebanista francs, que abriu seu prprio estdio em 1895, no Boulevard Lobau, Nancy. Sucedeu Majorelle e Daum na vice-presidncia da Associao, que funcionou at a I Guerra. VICTOR PROUV (1858-1943): pintor, gravador e escultor nascido em Nancy, que trabalhou com Gall e Vallin, alm de Camille Martin. Tornou-se o segundo presidente da cole de Nancy, aps a morte de Gall em 1904. De 1919 a 1940, foi diretor da cole des BeauxArts de Nancy. JACQUES GRBER (1870-1936): Artista plstico e mestre vidreiro que abriu em 1893 seu prprio atelier em Nancy, tendo trabalhado com Majorelle e Daum e consagrando-se na arte dos vitrais. Seus maiores trabalhos foram as vidraas do Chambre de Commerce et d'Industrie de Nancy e da Villa Majorelle (1901/02, Nancy), alm da cpula envidraada das Galeries Lafayette (1896/1912, Paris).

Entre os maiores expoentes do Art Nouveau na Frana, destacaram-se: JACQUES DOUCET (1853-1929): Estilista francs que fundou uma das primeiras casas de alta costura em Paris, trabalhando com a sobreposio de cores em vestidos difanos e muito ornamentados inspirados no sculo XVIII e incorporando citaes impressionistas. Assinou o vesturio de muitas atrizes da poca, como Sarah Bernhardt (1844-1923) e Ccile Sorel (1873-1966); e se tornou mecenas e colecionador de mveis Art Nouveau. REN JULES LALIQUE (1860-1945): Mestre vidreiro e joalheiro francs, que se tornou famoso pelo desenho faustoso e elegante de frascos de perfumes, candelabros, jias, taas e vasos, abrindo sua prpria fbrica, at hoje existente. Suas maiores fontes de inspirao eram: paves-reais, borboletas e outros insetos, reais e imaginrios, alm da flora em geral. HECTOR GUIMARD (1867-1942): Arquiteto francs responsvel pela fora criadora e popularidade do Art Nouveau na Frana, aps visitar Bruxelas e propor uma expresso mais elevada e refinada do estilo, marcada por relevos em espirais quebradas e linhas em chicotada. Suas obras mais importantes em Paris foram: o Castel Branger (1895/98), a Maison Coilliot (1900) e a Salle Humbert-deRomans (1901), alm de algumas entradas para o metr parisiense, feitas entre 1899 e 1904.

Outros artistas que se destacaram em Nancy foram: os pintores e ilustradores Louis Hestaux (1858-1919) e Louis Guingot (1874-1948); os escultores e ceramistas Ernest Bussire (1863-1913) e Alfred Finot (1876-1947); os arquitetos e ebanistas Louis Majorelle (1859-1926), Lucien Weissenburguer (1860-1929), Camille Martin (1861-98) e Franois-mile Andr (1871-1933); os vidreiros e irmos Auguste (1853-1909) e Antonin Daum (1864-1930), alm do decorador Henri Berg (1870-1937).

USTRIA E ALEMANHANa Alemanha, o movimento pela renovao das artes decorativas comeou logo aps a experincia belga, mas encontrou grande resistncia. Algumas exposies simbolistas e, principalmente, a publicao de revistas Pan (1895), Simplicissimus (1896), Jugend (1896) e Dekor