apostila 2º passo - histÓria de quem conta histÓrias (1)

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Desvelando Caminhos por um Brasil literário: ontem, hoje e sempre! Junho de 2012

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Page 1: APOSTILA 2º PASSO - HISTÓRIA DE QUEM CONTA HISTÓRIAS (1)

Desvelando Caminhos por um Brasil literário:

ontem, hoje e sempre!

Junho de 2012

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Equipe de Leitura – SME/ D.C. Junho de 2012

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Para início de conversa...

“Não restam dúvidas de que isto é leitura: reescrever o texto da obra dentro

do texto de nossas vidas”

Roland Barthes

Queridos Dinamizadores,

considerando que este ano nosso projeto não se prende à nenhuma efeméride e a Literatura flui plena e livre por nossas leituras, escolhas e escolas, neste segundo passo – História de quem conta histórias – optamos por deixar que os próprios autores, suas vidas e obras figurassem como personagens principais nessa apostila. Todos os escritores citados por vocês em dezembro passado aparecem aqui. Os que já foram homenageados ou cujas palavras nortearam nosso trabalho também. E ainda os que estiveram conosco este ano e estão conosco hoje. E Bia Bedran nossa homenageada, claro! Além disso, vocês ainda vão encontrar textos voltados para a pedagogia da leitura, no espaço chamado Construindo Sentidos e Significados; e poderão revisitar algumas Sugestões de atividades. Sintam-se à vontade para inserirem outros autores e obras, desde que justificados em seus projetos. Afinal, ninguém melhor do que vocês – Dinamizador de Leitura e Dinamizador de Biblioteca – para reconhecerem que palavras serão melhor absorvidas e entrelaçadas à história de suas escolas e alunos. Nossa intenção, como sempre, é contribuir. Mas, desta vez, também queremos provocar! Sim, provocar. Provocar o desejo de se tornarem autores de seus projetos de trabalho, ligados à SME, vinculados à Equipe de Leitura, como sempre, mas, cada vez mais com identidade, com a assinatura de vocês, como representantes e articuladores de leitura de suas Unidades Escolares. Afinal, reiteramos a assertiva de Barthes “isto é leitura: reescrever o texto da obra dentro do texto de nossas vidas”! E é por este motivo, somado à capacidade e responsabilidade que cada um de vocês têm com a promoção da leitura, que foram escolhidos para esta função! Levantem esta bandeira com vigor e vontade, porque apenas com intensidade, continuidade e paixão é que vamos também inscrever a nossa história particular na História de quem conta histórias.

Hellenice Ferreira Duque de Caxias, 05 de junho de 2012.

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Construindo sentidos e significados...

LITERATURA: LEITURA DE MUNDO, CRIAÇÃO DE PALAVRA Bartolomeu Campos de Queirós

Se a literatura é uma extensão do autor, a mim ela surge pela falta. Meu desejo é talvez de contar para os mais jovens aquilo que gostaria que fosse narrado a mim. Mas o ato de escrever dá sentido ao meu cotidiano. Na medida em que escrevo e me surpreendo com aquilo que eu não sabia que sabia eu me torno mais amigo meu. Não sei se crio para estar com o outro ou pela saudade de minha infância e, quem sabe, pela alegria de ter vencido aquele tempo. Desde o momento do convite me pus a perseguir uma ideia sobre o que escrever, eu que cada dia descubro, perplexo diante do universo, que nada sei. A cada dia que vivo mais tomo posse do tanto ainda por saber. E o meu exercício de vida tem sido o de estar procurando o que não foi feito ainda, o que ainda não sei fazer. Só me interesso pelo que me falta. E falta tanto... O que sei não me basta ou satisfaz. Isso por acreditar, com convicção, que o mundo só muda quando acrescentamos a ele o nosso poder de reinventar a vida com seus tantos significantes. Acredito demais na capacidade inventiva do homem. Posso afirmar que pela criação tanto o sujeito se redimensiona como também se acrescenta ao mundo. Criar, para mim, é a alternativa derradeira para abrandar o peso do não-sabido. E eu tenho um desejo imenso de alterar a comunidade em que vivo. Não que eu tenha uma proposta para ser cumprida. Mas é na medida em que travamos um profundo diálogo entre o nosso ser real e nosso ser ideal que determinamos a crença, a ideologia, o mundo a ser sonhado. Eu gostaria de viver em uma sociedade mais reflexiva, em que o silêncio fosse um pré-requisito essencial para toda ação, assim como ele existe no ato da criação. Almejo estar entre pessoas amantes de sua origem, capazes de ler o mundo com a mesma sensibilidade com que o tempo acaricia os anos com suas estações. Gostaria de viver numa sociedade em que não fôssemos dirigidos pelos caprichos de alguns, mas num movimento estabelecido pela soma de todos nós. Num mundo pleno de dúvidas, numa vez que para mim a dúvida nos torna mais cuidadosos, mais cautelosos, mais delicados com as relações. Quem supõe ter encontrado a verdade, passa a um estado de fanatismo. E isso no exercício do poder é muito perigoso. Meu sofrimento advém de estar e viver numa sociedade tão injusta, em que as diferenças não concorrem para o enriquecimento, mas a diferença é apenas uma maneira arbitrária de dividir os homens em classe. Sofro por viver em uma comunidade analfabeta, como eu, marcada pela impossibilidade de ler o seu entorno. Uma sociedade em que o sofrimento nos impossibilita de participar da poesia existente. Uma vez que as necessidades básicas são mais prementes. Mas o tema que me proponho pensar é: “A literatura e o encontro de dois mundos”, e me conduz a dois entendimentos. É que a literatura destinada aos mais jovens é uma conversa entre dois mundos: o mundo adulto e o mundo da criança. É uma longa distância. E essa literatura (mais uma vez posso dizer a partir de mim) acontece quando uma nostalgia me ameaça, trazida pela minha infância irremediavelmente perdida. É uma literatura difícil de ser construída. Ao configurar meu trabalho me vem sempre o medo de estar querendo amadurecer a criança mais cedo, roubando dela a infância e colocando-a do meu lado para não me sentir ameaçado por ela. Esses dois mundos contidos na escrita – a infância vivida e a infância ainda por viver – me envolvem de cuidados. É que cada sujeito, para mim, é proprietário de uma vida, um único fio que não deve ser cortado para que o tecido não apresente falhas. E depois, a vida para mim nunca foi um processo de soma, mas sim, de subtração. Viver um dia é ter menos um dia. Nesse sentido eu, como adulto, já subtraí bastante e sei que concretamente a criança tem mais vida a viver do que eu. Diante da infância eu tenho que ser humilde o suficiente para reconhecer esses dois mundos.

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Minhas funções talvez sejam a de me abrir com minhas fantasias e minha suposta verdade diante dos mais jovens, para que eles não repitam o meu percurso, mas que procurem o caminho das diferenças. É pela diferença que enriquecemos o mundo e a nós. Na medida em que escrevo e o leitor se inscreve no texto é que elaboramos um terceiro tempo, democraticamente. Isso me alivia ao saber que o leitor vai além de mim enquanto procura decifrar a minha metáfora. Eu sempre preferi dizer que escrevo pela criança que aconteceu em mim e não escrevo “para” a criança. Mas todo ato criador é cheio de infância. Se me pergunto quais os elementos que inauguram a infância, eu me respondo ser a liberdade, a espontaneidade, a fantasia, a inventividade. E se me indago sobre os elementos que estão presentes no ato criador, eu também me respondo ser a liberdade, a espontaneidade, a fantasia, a inventividade. Daí estar a criança tão próxima da arte. Falar assim me assusta na medida em que crescer é perder as qualidades da infância e entrar no mundo da contenção. E que, na medida em que vivo, ouço dizer que a pessoa é educada quando mais contém os seus impulsos. Acredito pois que crescer é mais perder do que ganhar. Criar, assim pensando, é a única maneira de preservar a juventude. Vivo numa sociedade que não encara a fantasia como o mais profundo do ser. Quando nos propomos a expressá-lo, estamos trazendo à tona o que há de mais reservado em nós. Daí sentir como difícil é para os processos educacionais a aceitação da literatura em seu contexto. A literatura é feita de fantasia. A escola, por ser servil, quer transformar a literatura em instrumento pedagógico, limitado, acanhado, como se o convívio com a fantasia fosse um bem menor. A escola não percebe que a literatura exige do leitor uma mudança, uma transferência movida pela emoção. Não importa o que o autor diz, mas o que o leitor ultrapassa. E a literatura é feita de palavras, e é necessário um projeto de educação capaz de despertar o sujeito para o encanto das palavras. Eles não descobriram, por exemplo, que toda palavra é composta. Quando se diz a palavra “pai”, sei que cada indivíduo ouvinte adjetiva essa palavra com sua experiência. Para alguém, pai é aquele que o abandonou, para outros, o que adoçou, para outros, o que eles não conheceram, e assim por diante. Nenhuma palavra é solitária. Cada palavra remete o leitor ou o ouvinte para além de si mesma. Haverá tarefa mais significativa para a escola do que esta de sensibilizar o sujeito para desvendar as dimensões da palavra? Por ser assim, trabalhar com a palavra é compreender seus deslimites e apresentar para o leitor um convite para adivinhar o que está obscuro no texto e só ele pode desvendar.

Na medida em que o texto tem como figura maior a construção da metáfora, é possível ir muito além do escrito. A metáfora cria arestas, faces, dúvidas. E esta metáfora em função da arte, da beleza, abrirá portas para muitas e infindáveis paisagens que já existiam na alma do leitor. Eu venho de um país onde a diversidade cultural é a nossa identidade. São tantas e várias as manifestações que nele sobrevivem. E só poderia ser assim. Somos uma mistura. O negro que veio para o Brasil não veio por vontade própria, mas como um castigo. Mesmo lá seu coração era só saudade e banzo. Daí ele não ter se desligado de suas origens religiosas, artísticas, alimentares. E todos os outros valores trazidos foram praticados nesta outra terra. De outro lado, os índios que lá estavam com suas antigas

crenças e hábitos eram forçados a um trabalho independente de seus anseios. Mas também eles não abandonaram os seus ritos. E os portugueses traziam sua cultura milenar e mais um desejo desenfreado de conquistar misturado com um espírito de grandes viagens, tesouros e colonizações. Esses muitos aspectos foram somados e nos conduziram a um lugar onde as explicações do mundo nos são dadas e sem nos surpreender, por muitas vertentes. Convivemos com um pensamento rico em que o imaginário, em seus diversos ângulos, nos é bastante familiar e próximo do nosso cotidiano. Sempre procuramos e praticamos uma explicação para nossos destinos por diversos caminhos e crenças, já que nossa realidade é, por si só, fantástica e não nos espanta. E o

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nosso cotidiano é nosso grande tema, nosso maior assunto. A mobilidade e a flexibilidade de pensamento nos amarram e nos aproximam. Nossos hábitos não são europeus. Não estamos ocupados ou preocupados em racionalizar os mistérios do mundo dos homens. Acreditamos não precisar de um enredo norteador, mas de relatar a existência por meio de explicações apenas apaziguadoras. Nosso real é, muitas vezes, mais fantástico que a fantasia. O milagre, para nós, é um acontecimento quase natural. O diálogo entre o velho mundo e a América Latina me parece semelhante ao diálogo estabelecido pelo adulto ao se propor escrever para as crianças. Ou convidamos o leitor a viajar pela fantasia ou somos também colonizadores, querendo convencê-lo, e não encantá-lo. Um mundo antigo só pode estar do lado de um mundo jovem na medida em que dialogamos por meio dos elementos que configuram o processo criador – neste caso a literatura. O mundo adulto só é possível para os jovens quando pode ser alterado, transformado, transferido para situação de seu interesse. O adulto está esgotado – como o velho mundo – mas vejo a infância aberta e sem preconceitos. O mais jovem possui a vivacidade, a força transformadora como elemento mobilizador da vida. Mas nós precisamos do velho mundo, não para chegarmos lá onde ele está. O jovem precisa do mais velho em muitas vertentes, não para simplesmente repeti-lo, mas para ultrapassá-lo, para romper. Só assim o passado é útil. Nós, da América Latina e do terceiro mundo em geral, precisamos cuidar para que não reeditemos simplesmente o primeiro mundo. O poeta brasileiro Abgar Renault pronunciou um discurso em que dizia que para a sociedade de hoje “um país desenvolvido é aquele capaz de matar mais e melhor”. Mas toda a obra de arte, neste caso a literatura, é contemporânea, atual, universal. Na medida em que a arte trabalha com os sentimentos que fundam o homem – a busca, a perda, o desencanto, o medo, a esperança, o luto, o ciúme, a paixão, a fraternidade - ela é uma linguagem comum a todos os homens, independentes do lugar onde vivemos e da posição deste lugar numa classificação econômico-financeira. A arte é movida pela força de Eros, força que nos amarra, nos aproxima, nos enlaça, nos torna iguais. Não há distância entre os criadores, não há distâncias entre as literaturas. O intercâmbio entre literaturas de diferentes povos atualiza as relações entre os homens e confirma que o essencial é inerente ao homem, ainda que as formas de expressão difiram segundo suas origens. Nesse sentido, a arte aproxima os povos. Por tudo isso, vejo nas atividades e objetivos que norteiam o IBBY (International Board on Books for Youth) um trabalho utilíssimo e até urgente de aproximar, o mais cedo possível, as crianças da leitura. Isto nos leva a crer que podemos almejar, para um futuro próximo, um mundo cheio de paz, democracia e fraternidade.

YUNES, ELIANE (org.). Pensar a Leitura: Complexidade. Ed. PUC – Rio; São Paulo: Loyola, 2002.

Sugestão de leitura: PAZ, OTÁVIO. O arco e a lira. Tradução de Olga Savary. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1982. CANETTI, ELIAS. A consciência das palavras. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. RAMOS, MARIA LUIZA. Interfaces. Belo horizonte: Rio de Janeiro. Ed. Nova Fronteira, 1990. SANT’ANNA, AFFONSO ROMANO DE. A sedução da palavra. Rio de Janeiro: Letraviva, 2000.

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UMA JANELA PARA A LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA Celso Sisto¹

Não vou entrar aqui naquela discussão, infrutífera, mas tão comum, se deveria existir ou não, uma divisão entre literatura e literatura infantil ou juvenil ou qualquer outro rótulo que se queira empregar para separar os segmentos literários. Literatura infantil é aquela que visa o leitor criança, e pronto! Mas também acredito que só merece ser chamada de literatura infantil, as obras que não se desviaram do caminho da arte, e conseguiram, aliar público leitor, forma e conteúdo, sem fazer concessão ao didático, ao utilitário e ao insuportável vício do ensinamento e do moralismo, que ainda cismam (alguns) em cobrar das obras destinadas ao leitor infantil! Portanto, nem todo livro pra criança é literatura infantil!

Considerando que o Brasil tem uma rica e diversificada produção editorial para crianças, também é bom prestar atenção ao quadro atual de vertentes, temas e autores. No panorama contemporâneo, há linhas bem

nítidas e nomes que são também sinônimos de qualidade, criatividade, profissionalismo, pesquisa séria e garantia de uma leitura lúdica, principalmente.

Vale lembrar que para atingirmos o estágio atual de qualidade e crescente multiplicação de leitores, alguns fatores foram (e continuam sendo) importantes: o aumento da circulação de boas obras, o surgimento de novas editoras e distribuidoras, a credibilidade de alguns prêmios existentes no país, (responsáveis pela divulgação de obras e autores recomendáveis, especialmente os prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e o prêmio Jabuti), a democratização dos programas de leituras espalhados pelo país, a preocupação com a formação do leitor como parte integrante da formação da cidadania, o aumento do número de bibliotecas no país e o incremento de pesquisas acadêmicas na área da literatura infantil. Mas ainda faltam outras tantas, bem sabemos, especialmente, ações que criem e garantam espaços permanentes para a crítica aprofundada das obras literárias infantis, nas diversas mídias, e que vá além das resenhas de divulgação espalhadas pelo marketing e pelos departamentos de divulgação das editoras.

Para pensarmos o quadro atual de obras e autores, podemos falar em basicamente seis linhas de trabalho, nas quais estas obras se inserem: 1. uma linha inventiva, fantasista, que está preocupada com uma maneira nova e original de escrever histórias para as crianças, seja pela forma, seja pelo tema, mas principalmente, pela linguagem adotada. 2. uma linha que vai buscar na cultura popular os elementos para as suas obras. 3. uma linha que está preocupada em explorar a linguagem poética. 4. uma linha que está preocupada com as intertextualidades (e que dialoga com outras obras e autores) e que aposta na desconstrução dos clássicos, seja pela paródia, pelo humor, pela atualização dos enredos. 5. uma linha com clara preocupação social (em geral, mais realista, construída em torno de temas mais urbanos, novos modelos familiares, crianças independentes e com vozes, crítica ao modelo tradicional escolar, etc.) 6. uma linha informativa (que produz biografias, livros mais de aquisição de conhecimento, feitos à altura do leitor criança, às vezes com linguagem também poética, mas sempre lúdicos). Nada disso pode ser visto de forma estanque e rígida. Essas linhas se interpenetram, se mesclam, se misturam! Note que estamos falando apenas de narrativas e de literatura infantil.

Para cada uma destas vertentes, há autores em destaque (mesmo correndo o risco de esquecer alguém...). Na vertente “inventiva”, preste atenção nas obras de Rosa Amanda Strausz, Eva Furnari, Léo Cunha, Odilon Moraes, Marcio Vassalo, Adriana Falcão. Na vertente da “cultura popular”, preste atenção em Roger Mello, Daniel Munduruku, Carolina Cunha, Reginaldo Prandi, Fernando Vilela, Fátima Miguez, André Neves. Na vertente “poética” procure conhecer a obra de Stela Maris Resende e Graziela Bozano Hetzel. Na vertente que “retrabalha

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os clássicos”, veja a produção de Paula Mastroberti. Na vertente de “cunho mais social”, preste atenção em Lia Zatz, Nilma Gonçalves Lacerda, Gabriel, o pensador. E por fim, na linha da literatura informativa, preste atenção em Lúcia Fidalgo e Kátia Canton. Esses nomes são mais do que suficientes para que possamos ter uma boa ideia da produção contemporânea. E claro, não esgotam o que de muito bom tem-se feito nesta área.

Não podemos esquecer que a literatura infantil atual vem sinalizando algumas mudanças importantes, como o aparecimento de novos gêneros (a crônica para crianças é um belo exemplo, sobretudo nos textos de Gilberto Dimenstein e Fernando Bonassi); o espaço cada vez maior para a poesia destinada ao leitor criança; a exploração, cada vez maior, nas obras, dos novos papéis sociais, novas famílias e novos temas urbanos. Por outro lado, há também a permanência de elementos fundamentais, como o lugar garantido para o humor, a manutenção de uma escrita baseada na oralidade, a exploração das intertextualidades. A grande novidade do mercado editorial tem sido a busca frenética das editoras por textos que contemplem o pequeno leitor.

Mas ainda que esse panorama provoque um grande alento e um enorme estímulo, ainda somos todos tributários dos “modelos” instaurados lá nos anos 70 e 80 por Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Sylvia Orthof, Lygia Bojunga, Ziraldo, Angela Lago, Ricardo Azevedo, Elias José, Rogério Andrade Barbosa, Joel Rufino dos Santos, Tatiana Belinky, Marcelo Xavier, Marina Colasanti, Bartolomeu Campos de Queirós, Pedro Bandeira – que de algum modo são ainda os responsáveis pela “grande virada” na literatura infantil brasileira.

E para finalizarmos esse panorama, vale a pena lembrar que a literatura infantil continua tendo que lidar com problemas como: a divisão por faixa etária nos catálogos das editoras, o difícil acesso às obras das editoras de médio e pequeno porte; a pouca abertura para a publicação dos novíssimos autores e ilustradores, a falta de continuidade da leitura além do âmbito escolar, a dificuldade em se afastar, principalmente, do utilitarismo e do “pedagogismo”, o excesso de traduções derramadas no mercado editorial por conta do “barateamento” da produção, a falta de espaço na mídia para a crítica literária, o preconceito em relação ao livro de imagem ou livro sem texto, e a quase inexistência de publicações de literatura dramática. Problemas que merecem toda a nossa atenção (e a de quem possa ajudar a pensar em saídas e soluções!). E num último desejo de partilha, fica aqui a indicação de obras imperdíveis, para quem quer começar a se aventurar nos caminhos modernos dessa literatura infantil brasileira: Uma ideia toda azul, Doze reis e a moça no labirinto do vento (de Marina Colasanti); Tchau, O meu amigo pintor, A casa da madrinha (de Lygia Bojunga); Menina bonita do laço de fita, História meio ao contrário, Bisa Bia, Bisa Bel, De olho nas penas (de Ana Maria Machado); Tampinha, Sua alteza, a Divinha, De morte (de Angela Lago); Classificados poéticos, Jardins, Receitas de olhar, Retratos (de Roseana Murray); Meninos do mangue (de Roger Mello); Marcelo, marmelo, martelo, Historinhas malcriadas (de Ruth Rocha); O coração de Corali (de Eliane Ganem); Os bichos que tive, A viagem de um barquinho, Galo, galo não me calo, Chora não! (de Sylvia Orthof); O menino maluquinho, O menino quadradinho, A professora maluquinha, Vitor Grandam (de Ziraldo); Tigres no quintal (de Sérgio Capparelli); Ciganos, Mário, Pedro, Indez, Correspondência (de Bartolomeu Campos de Queirós); Vera Mentirosa, O último dia de brincar (de Stela Maris Rezende); Feito à mão (de Nilma Gonçalves Lacerda). Depois da leitura dessas obras, ninguém será o mesmo! Celso Sisto é escritor, ilustrador, contador de histórias do grupo Morandubetá (RJ), ator, arte-educador, especialista em literatura infantil e juvenil, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Doutorando em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e responsável pela formação de inúmeros grupos de contadores de histórias espalhados pelo país. Tem 36 livros publicados para crianças e jovens e recebeu os prêmios de autor revelação do ano de 1994 (com o livro Ver-de-ver-meu-pai, Editora Nova Fronteira) e ilustrador revelação do ano de 1999 (com o livro Francisco Gabiroba Tabajara Tupã, da editora EDC); ambos concedidos pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Vários dos seus livros também receberam o selo Altamente Recomendável, desta mesma Fundação.

Disponível em: http://www.celsosisto.com

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Ana por ela mesma – Por que escrevo?¹

Ana Maria Machado

Por que escrevo? Porque a linguagem me fascina, me encanta, me intriga.

Porque desde criança sempre adorei navegar nos mares das histórias – ouvindo, lendo, inventando. Porque a leitura é para mim um deslumbramento e a escrita é o outro lado das moedas desse tesouro.

Por nenhuma dessas razões apenas, e por todas elas. E muito mais. Sempre gostei de gente, bicho e planta – e um dia percebi que linguagem, histórias e ideias são a marca do humano. E, já que eu não sou capaz de fazer como as árvores e transformar gás carbônico em oxigênio, devia tentar alguma coisa que eu pudesse fazer, para que veneno virasse fonte de vida.

Desde menina, sabia que era sensível, me emocionava facilmente, reparava em coisas miúdas que passavam despercebidas para muita gente. Chorava à toa, era uma manteiga derretida. Uma menina que usava palavras esquisitas. Alguns colegas riam de mim por causa disso e não me deixavam esquecer minha diferença. Uma das minhas irmãs tinha sempre o cuidado de me corrigir quando eu contava um caso – “Não foi bem assim, a Ana já está exagerando de novo...” Alguns professores e amigos dos meus pais também apontavam outras coisas – “A Ana tem cada ideia!” – e diziam que eu era muito racional.

Meu avô era professor de física e vivia elogiando meu espírito científico, gabava minha objetividade, minha memória para os detalhes, minha fidelidade a um fato observado. Em suma, eu era uma contradição ambulante. O que me deixava sempre com a sensação de ser meio marginal em tudo.

Na hora de escolher profissão, nem pensei que escrever podia entrar nesta categoria. Fiz teste vocacional, descobri que devia escolher entre ser artista ou cientista. Pensei em estudar agronomia (para lidar com planta e bicho) ou química (em que eu tinha ótimas notas) ou arquitetura (porque ficava no meio do caminho entre a ciência e a arte). Acabei escolhendo geografia, um vestibular sem matemática nem latim. Sonhava com geografia humana, não aguentei um ano estudando rochas e me rendi. No ano seguinte, fiz outro vestibular. Desta vez para letras, ia ser professora. Mas não pensava em escrever. E como já estava começando no jornalismo, pude concentrar no texto de jornal meu gosto pela escrita, minha capacidade de observação, minha fidelidade aos fatos. Meu lado cientista objetivo, enfim.

Artista, sim, eu sabia que era, e não tinha jeito. Mas não achava que isso fosse profissão. Era minha porção delirante à procura de um canal de escoamento. Estudei piano muitos anos. Fiz parte de um grupo de teatro experimental. Fui pintora com paixão (até hoje pinto e adoro), fiz exposições onde estranhos compraram meus quadros, fui elogiada pela crítica, comecei a entrar no circuito profissional.

Mas um dia, pelo fim dos anos 1960, fui percebendo que os títulos de muitos quadros e as entrevistas de certos pintores estavam tendo mais importância que a pintura em si. Pensei: “Se é para usar palavras, por que não escrever logo, em vez de ficar tentando explicar o quadro?” Desse modo, entendi que minha arte era outra – verbal mesmo. Encontrei as palavras. Ou elas me encontraram.

Escrevendo, juntei todos os meus lados e porções, colei meus cacos internos, dei uma certa ordem ao caos interior. Fui me apaixonando pelas possibilidades infinitas que a escrita literária me abria, pela intensa liberdade que me trazia. Um dia, segui o conselho de Ernest Hemingway, quando disse que o jornalismo nunca fez mal algum a um escritor... desde que largado a tempo. Demorei um pouco, talvez, mas, depois de 17 anos em redações, me despedi delas.

Também escrevo por causa de outros fatores. Um deles é muito importante: minhas circunstâncias. Se eu tivesse nascido numa família analfabeta e sem contato com livros, ou em uma das tantas regiões paupérrimas do Brasil, ou em uma geração anterior, dificilmente poderia

Aos 5 anos, em 1947

Pintando nos idos da década de 70

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Junto da estátua de Hans Christian

Andersen, em Nova Iorque.

ser escritora profissional viver disso. Ainda mais sendo mulher. Minhas avós, por exemplo, não tiveram diante de si essa escolha. Minha avó materna nasceu na roça, nunca foi à escola, só foi ler e escrever depois que casou. Minha avó paterna, que estudou no Colégio Sion, falava francês correntemente e era apaixonada por literatura, bem que tentou escrever, mesmo com sete filhos pra criar. Foi uma pioneira corajosa – mantinha uma coluna regular num jornal de Petrópolis. Mas assinava com pseudônimo, porque moça de família não faz essas coisas. E, evidentemente, escrevia de graça – porque o atraso sempre acha que trabalho intelectual não precisa ser remunerado, já basta a honra de ser prestigiado.

Nesse ponto, eu dei muita sorte. Por isso, pude escrever – e este é um porquê importantíssimo. Descobri que era escritora depois que uma geração de mulheres (a quem rendo homenagem e gratidão) já tinha aberto as primeiras portas da imprensa e da literatura. E num momento em que o mercado editorial brasileiro começava a se ampliar. Foi graças a ele que eu pude existir como autora.

Em 1969, a Editora Abril lançou a revista infantil Recreio. Fui convidada a colaborar. Em pouco tempo, chegavam a vender 250 mil exemplares semanais, quando as histórias eram assinadas por mim ou por Ruth Rocha. Com esse sucesso, cada vez mais pediam textos nossos. Em início de 1970, eu partira para o exílio e, lá longe, inventava histórias para meu filho. Depois as mandava pra Recreio. A acolhida dos leitores era a minha garantia.

Escrevo hoje porque eles me profissionalizaram, me permitiram escrever – mesmo obras aparentemente áridas, como meu primeiro livro, Recado do nome,

um ensaio sobre Guimarães Rosa. Depois fui começando a publicar contos e novelas infantis em livros. Só pude continuar escrevendo porque os leitores me leram, os críticos me premiaram, os editores me deram espaço. A eles também devo gratidão e reconhecimento. Sem essa preciosa ajuda, não dava para continuar.

Em 1983, ousei publicar meu primeiro romance, Alice e Ulisses, guardado na gaveta havia cinco anos. Desde então venho alternando obras para crianças, jovens e adultos – leitores de qualquer idade, sem os quais o livro não existe. Escrevo porque eles me leem. E me aflige muito pensar na quantidade de escritores que não conseguem chegar aos leitores, no número de livros que não furem o bloqueio e ficam encalhados, sem serem lidos, mortos... Por isso, também, sou uma militante da leitura. Fui livreira, editora, vivo fazendo palestra e dando curso de promoção da leitura por este Brasil afora. Também é por isso que escrevo: porque amo os livros, devo tanto a eles, quero colaborar na expansão desse universo.

Já disse isso antes, mas não me incomodo de repetir: À medida que o tempo passa e vou amadurecendo e entendo melhor

todo esse processo, constato que escrever, para mim, se liga a dois impulsos. O primeiro é uma tentativa de fixar uma experiência passageira e, assim, viver a vida com mais intensidade, apreender nela aspectos que me passavam despercebidos, compreender seu sentido. O outro é a vontade de compartilhar, de oferecer aos outros essa visão e essa compreensão, para que de alguma forma isso fique, para que minha passagem pelo mundo – ainda efêmera – não seja inútil. Na trajetória da escrita à leitura, a palavra se multiplica e se reproduz, fecundante de criação compartilhada. ²

Por que escrevo? Simplesmente porque é da minha natureza, é isso que sei fazer direito. Se fosse árvore, dava oxigênio, fruto, sombra para todo mundo. Mas só consigo mesmo é fazer brotar palavra, história e ideia, para dividir com todos.

¹ Depoimento para a série “Encontro com o Escritor”, do Instituto Moreira Salles, junho de 2000.

² Esta força estranha, Editora Atual, 1996.

MACHADO, ANA MARIA. Texturas sobre leituras e escritos, Editora Nova Fronteira.

Imagens: http://www.anamariamachado.com

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História de Ana

Na vida da

escritora Ana Maria

Machado, os números

são sempre generosos.

São 40 anos de carreira,

mais de 100 livros

publicados no Brasil e

em mais de 18 países

somando mais de

dezoito milhões de

exemplares vendidos.

Os prêmios conquistados ao longo da carreira de escritora

também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta. Tudo

impressiona na vida dessa carioca nascida em Santa Tereza,

em pleno dia 24 de dezembro.

Vivendo atualmente no Rio de Janeiro, Ana começou

a carreira como pintora. Estudou no Museu de Arte Moderna

e fez exposições individuais e coletivas, enquanto fazia

faculdade de Letras na Universidade Federal (depois de

desistir do curso de Geografia). O objetivo era ser pintora

mesmo, mas depois de doze anos às voltas com tintas e telas,

resolveu que era hora de parar. Optou por privilegiar as

palavras, apesar de continuar pintando até hoje.

Afastada profissionalmente da pintura, Ana passou a

trabalhar como professora em colégios e faculdades, escreveu

artigos para revistas e traduziu textos. Já tinha começado a

ditadura, e ela resistia participando

de reuniões e manifestações. No

final do ano de 1969, depois de ser

presa e ter diversos amigos também

detidos, Ana deixou o Brasil e partiu

para o exílio. A situação política se

mostrou insustentável.

Na bagagem para a Europa, levava

cópias de algumas histórias infantis

que estava escrevendo, a convite da

revista Recreio. Lutando para

sobreviver com seu filho Rodrigo

ainda pequeno, trabalhou como

jornalista na revista Elle em Paris e

na BBC de Londres, além de se

tornar professora na Sorbonne.

Nesse período, ela consegue

participar de um seleto grupo de

estudantes cujo mestre era Roland

Barthes, e termina sua tese de

doutorado em Linguística e Semiologia sob a sua orientação.

A tese resultou no livro "Recado do Nome", que trata da obra

de Guimarães Rosa. Mesmo ocupada, Ana não parou de

escrever as histórias infantis que vendia para a Editora Abril.

A volta ao Brasil veio no final de 1972, quando

começou a trabalhar no Jornal do Brasil e na Rádio JB - ela foi

chefe do setor de Radiojornalismo dessa rádio durante sete

anos. Em 76, as histórias antes publicadas em revistas

passaram a sair em livros. E Ana ganhou o prêmio João de

Barro por ter escrito o livro "História Meio ao Contrário", em

1977. O sucesso foi imenso, gerando muitos livros e prêmios

em seguida. Dois anos depois, ela abriu a Livraria Malasartes

com a ideia de ser um espaço para as crianças poderem ler e

encontrar bons livros.

O jornalismo foi abandonado no ano de 1980, para

que a partir de então Ana pudesse se dedicar ao que mais

gosta: escrever seus livros, tantos os

voltados para adultos como os infantis.

E assim foi feito, e com tamanho

sucesso que em 1993 ela se tornou

hors-concours dos prêmios da

Fundação Nacional do Livro Infantil e

Juvenil (FNLIJ). Finalmente, a

coroação. Em 2000, Ana ganhou o

prêmio Hans Christian Andersen,

considerado o prêmio Nobel da

literatura infantil mundial. E em 2001,

a Academia Brasileira de Letras lhe

deu o maior prêmio literário nacional,

o Machado de Assis, pelo conjunto da

obra.

Em 2003, Ana Maria foi eleita

para ocupar a cadeira número 1 da

Academia Brasileira de Letras,

substituindo o Dr. Evandro Lins e

Silva. Pela primeira vez, um autor com

uma obra significativa para o público

infantil havia sido escolhido para a Academia. A posse

aconteceu no dia 29 de agosto de 2003, quando Ana foi

recebida pelo acadêmico Tarcísio Padilha e fez uma linda e

afetuosa homenagem ao seu antecessor.

Disponível em: www.anamariamachado.com

“Era uma vez uma menina linda, linda. Os olhos dela

pareciam duas azeitonas pretas, daquelas bem brilhantes.

Os cabelos eram enroladinhos e bem negros, feito

fiapos da noite. A pele era escura e lustrosa, que nem o pelo

da pantera negra quando pula na chuva.

Ainda por cima, a mãe gostava de fazer trancinhas no

cabelo dela e enfeitar com laço de fita colorida. Ela ficava

parecendo uma princesa das terras da África, ou uma fada

do reino do luar.”

Menina bonita do laço de fita

A Academia Brasileira de Letras elegeu, por unanimidade, no dia 8 de dezembro a Diretoria que ficará à frente da instituição no próximo ano. A Acadêmica Ana Maria Machado será a Presidente. Ela substituirá o Acadêmico Marcos Vinicios Vilaça, que dirigiu a ABL nos biênios 2006/07 e 2010/11. Segunda mulher eleita Presidente da ABL – antes foi a Acadêmica Nélida Piñon, em 1997, ano do centenário da Academia – a escritora Ana Maria Machado, assim que foi confirmada sua vitória, afirmou: “Daremos continuidade à linha de atividades voltadas para a promoção dos melhores valores da cultura nacional e da língua portuguesa. A dinâmica da Casa será a mesma iniciada pelas gestões anteriores. Independentemente disso, dirigiremos nossa ênfase para duas celebrações em particular: o centenário de morte do Barão do Rio Branco, e a celebração do centenário de nascimento de Jorge Amado".

http://www.academia.org.br 8/12/2011

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Histórias de Ana

ENSAIO Recado do Nome. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. Esta Força Estranha. São Paulo: Atual, 1996. Contracorrente. Rio de Janeiro: Ática, 1997. Em espanhol: Buenas palabras, malas palabras.

Argentina: Ed. Sudamericana, 1998. Texturas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. Como e Por que Ler os Clássicos Universais desde Cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. Também

traduzido em espanhol, Bogotá: Editorial Norma, 2004. Ilhas no Tempo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004. (Em espanhol, alguns dos ensaios fazem parte de Lectura, escuela y creación literária. Madrid: Anaya,

2002; e de Literatura infantil: creación, Censura y resistência. Buenos Aires: Ed. Sudamericana, 2003.)

Romântico, sedutor e anarquista: como e por que ler Jorge Amado hoje, 2006. Balaio: Livros e Leituras. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

ROMANCE

Alice e Ulisses. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. Tropical Sol da Liberdade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. Canteiros de Saturno. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1991. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

1998. Aos Quatro Ventos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. O Mar nunca Transborda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995. Em espanhol, El Mar no se Desborda.

Bogotá: Editorial Norma, 2003. A Audácia Desta Mulher. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. Para Sempre. Rio de Janeiro: Record, 2001. Palavra de Honra. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

LITERATURA INFANTO-JUVENIL

Bento-que-bento-é-o-frade. São Paulo: Abril 1977. Hoje Salamandra. Também publicado em espanhol e em Portugal.

Camilão, o Comilão. São Paulo: Abril, 1977. Hoje Salamandra. Também publicado em espanhol. Currupaco Papaco. São Paulo: Abril 1977. Hoje Salamandra. Também publicado em espanhol. Severino Faz Chover. Reunião de quatro contos, reeditados em separado a partir de 1993, na Coleção

Batutinha. Rio de Janeiro: Salamandra. História Meio ao Contrário. Rio de Janeiro: Ática, 1979. Também publicado em espanhol, sueco e

dinamarquês. O Menino Pedro e Seu Boi Voador. São Paulo: Paz e Terra, 1979. Hoje Ática. Também publicado em

espanhol. Raul da Ferrugem Azul. Rio de Janeiro: Salamandra, 1979. Também publicado em espanhol.

O menino que espiava pra dentro

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A Grande Aventura da Maria Fumaça. Rio de Janeiro: Rocco, 1980. Hoje Salamandra. Balas, Bombons, Caramelos. São Paulo: Paz e Terra, 1980. Rio de Janeiro: Moderna, 1998. O Elefantinho Malcriado. São Paulo: Paz e Terra, 1980. Rio de Janeiro: Moderna, 1998. Bem do Seu Tamanho. Rio de Janeiro: EBAL, 1980. Hoje

Salamandra. Também publicado em espanhol e em francês. Do Outro Lado Tem Segredos. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

1980. Hoje Nova Fronteira. Também publicado em espanhol. Era uma Vez, Três. Rio de Janeiro: Berlendis, 1980. O Gato do Mato e o Cachorro do Morro. Rio de Janeiro: Ática,

1980. Também publicado em espanhol. O Natal de Manuel. São Paulo: Paz e Terra, 1980. Hoje Nova

Fronteira. Série Conte Outra Vez (O Domador de Monstros; Uma Boa

Cantoria; Ah, Cambaxirra, Se Eu Pudesse...; O Barbeiro e o Coronel; Pimenta no cocuruto). Rio de Janeiro: Salamandra, 1980-81. Hoje FTD. Também publicados em espanhol.

De Olho nas Penas. Rio de Janeiro: Salamandra, 1981. Também publicado em espanhol, sueco, dinamarquês, norueguês.

Palavras, Palavrinhas, Palavrões. São Paulo: Codecri, 1981. Hoje Quinteto. Também publicado em espanhol.

História de Jabuti Sabido com Macaco Metido. São Paulo: Codecri 1981. Hoje Nova Fronteira. Bisa Bia, Bisa Bel. Rio de Janeiro: Salamandra, 1982. Também publicado em espanhol, inglês, sueco e

alemão. Era uma Vez um Tirano. Rio de Janeiro: Salamandra, 1982. Também publicado em espanhol e

alemão. O Elfo e a Sereia. São Paulo: Melhoramentos, 1982. Hoje Ediouro. Também publicado em Portugal. Um Avião, uma Viola. São Paulo: Melhoramentos, 1982. Hoje Formato. Também publicado em

francês. Hoje Tem Espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. Série Mico Maneco (Cabe na Mala; Mico Maneco; Tatu Bobo; Menino Poti; Uma Gota de Mágica; Pena

de Pato e de Tico-tico; Fome Danada; Boladas e Amigos; O Tesouro da Raposa; O Barraco do Carrapato: O Rato Roeu a Roupa: Uma Arara e Sete Papagaios; A Zabumba do Quati; Banho sem Chuva; O Palhaço Espalhafato; No Imenso Mar Azul; Um Dragão no Piquenique; Troca-troca; Surpresa na Sombra; Com Prazer e Alegria). São Paulo: Melhoramentos, 1983-88. Hoje, Salamandra.

Passarinho Me Contou. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. Também publicado em espanhol.

Praga de Unicórnio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. Também publicado em espanhol.

Alguns Medos e Seus Segredos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

Gente, Bicho, Planta: o Mundo Me Encanta. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. Também publicado em espanhol.

Mandingas da Ilha Quilomba (O Mistério da Ilha). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. Hoje Ática. Também publicado em espanhol.

O Menino Que Espiava pra Dentro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. A Jararaca, a Perereca e a Tiririca. São Paulo: Cultrix, 1985. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

Também publicado em espanhol. O Pavão do Abre-e-Fecha. São Paulo: Cultrix, 1985. Rio de Janeiro: Ática, 1998. Também publicado

em espanhol e em Portugal. Quem Perde Ganha. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

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A Velhinha Maluquete. Rio de Janeiro: Livro Técnico, 1986. Rio de Janeiro: Moderna, 1988. Também publicado em espanhol.

Menina Bonita do Laço de Fita. São Paulo: Melhoramentos 1986. São Paulo: Ática, 1998. Também publicado em espanhol, inglês, francês, sueco, dinamarquês e japonês.

O Canto da Praça. Rio de Janeiro: Salamandra, 1986. Rio de Janeiro: Ática, 2002. Também publicado em espanhol.

Peleja. Rio de Janeiro: Berlendis, 1986. Série Filhote (Lugar Nenhum; Brincadeira de Sombra; Eu Era um Dragão; Maré Alta, Maré Baixa). São

Paulo: Globo, 1987. São Paulo: Global, 2001 (os três últimos). Rio de Janeiro: Salamandra, 2002 (novo título: Dia de Chuva).

Coleção Barquinho de Papel (A Galinha Que Criava um Ratinho; Besouro e Prata; A Arara e o Guaraná; Avental Que o Vento Leva; Ai, Quem Me Dera...; Maria Sapeba; Um Dia Desses). Os 4 primeiros na Globo, 1987. De 1994 a 1996, todos na Ática.

Uma Vontade Louca. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. Rio de Janeiro: Ática, 1998. Também publicado em espanhol.

Mistérios do Mar Oceano. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. Na Praia e no Luar, Tartaruga Quer o Mar. Rio de Janeiro: Ática, 1992. Também publicado em inglês. Vira-vira. Rio de Janeiro: Quinteto, 1992. Hoje O Jogo do Vira-vira. Rio de Janeiro: Formato. Também

publicado em espanhol. Série Adivinhe Só (O Que É?; Manos Malucos I e II; Piadinhas Infames). São Paulo: Melhoramentos,

1993. Rio de Janeiro: Salamandra, 2000. Dedo Mindinho. Rio de Janeiro: Livro Técnico, 1993. Hoje Rio de Janeiro: Moderna. Um Natal Que não Termina. Rio de

Janeiro: Salamandra, 1993. Um Herói Fanfarrão e Sua Mãe Bem

Valente. Rio de Janeiro: Ática, 1994. O Gato Massamê e Aquilo Que Ele Vê.

Rio de Janeiro: Ática, 1994. Exploration into Latin America.

London: Belitha Press, 1994. Também publicado em espanhol, sueco, dinamarquês, norueguês, francês.

Isso Ninguém Me Tira. Rio de Janeiro: Ática, 1994. Também publicado em espanhol.

O Touro da Língua de Ouro. Rio de Janeiro: Ática, 1995.

Uma Noite sem Igual. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995. Também publicado em espanhol. Gente como a Gente. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996. Também publicado em espanhol. Beijos Mágicos. Rio de Janeiro: FTD, 1996. Também publicado em espanhol. Os Dois Gêmeos. Rio de Janeiro: Ática, 1996. De Fora da Arca. Rio de Janeiro: Salamandra, 1996. Hoje Ática. Também publicado em espanhol. Série Lê pra Mim (Cachinhos de Ouro; Dona Baratinha; A Festa no Céu; Os Três Porquinhos; O Veado

e a Onça; João Bobo). Rio de Janeiro: FTD, 1996-1997. Amigos Secretos. Rio de Janeiro: Ática, 1997. Também publicado em espanhol. Tudo ao Mesmo Tempo Agora. Rio de Janeiro: Ática, 1997. Também publicado em espanhol. Ponto a Ponto. Rio de Janeiro: Berlendis, 1998. Os Anjos Pintores. Rio de Janeiro: Berlendis, 1998. O Segredo da Oncinha. Rio de Janeiro: Moderna, 1998. Melusina, a Dama dos Mil Prodígios. Rio de Janeiro: Ática, 1998. Amigo é Comigo. Rio de Janeiro: Moderna, 1999. Fiz Voar o Meu Chapéu. Rio de Janeiro: Formato, 1999.

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Mas Que Festa!. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. Também publicado em espanhol e francês. A Maravilhosa Ponte do Meu Irmão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. O Menino Que Virou Escritor. Rio de Janeiro: José Olympio, 2001. Do Outro Mundo. Rio de Janeiro: Ática, 2002. Também publicado em espanhol e inglês. De Carta em Carta. Rio de Janeiro: Salamandra, 2002. Também publicado em espanhol. Histórias à Brasileira. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002. Também publicado em espanhol. Portinholas. São Paulo: Mercuryo, 2003. Abrindo Caminho. Rio de Janeiro: Ática, 2003. Palmas para João Cristiano. São Paulo: Mercuryo, 2004. O Cavaleiro dos Sonhos. São Paulo: Mercuryo, 2005. Procura-se Lobo. São Paulo, Ática, 2005. Coleção Gato Escondido (Onde Está Meu Travesseiro?, Que Lambança!, Vamos Brincar de Escola?, e

Delícias e Gostosuras). São Paulo: Salamandra, 2004-2006. Também publicados em espanhol. O Menino e o Maestro. São Paulo: Mercuryo, 2006. A Princesa que Escolhia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. Publicado em espanhol. Mensagem Para Você. São Paulo: Ática, 2007. Publicado em espanhol. Histórias à Brasileira 3 - Pavão Misterioso e outras.. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008. A Minhoca da Sorte. São Paulo: Moderna, 2008. Não se Mata na Mata: Lembranças de Rondon. São Paulo: Mercuryo Jovem, 2008. Série 7 Mares (Odisseu e a Vingança do Deus do Mar; O Pescador e a Mãe D’Água; Simbad, o Marujo;

O velho do Mar; Pescador de Naufrágios) São Paulo: Moderna, 2008-2010. ABC do Brasil. São Paulo: SM, 2009. Sinais do Mar. São Paulo: Cosac & Naify, 2009. Um pra lá, outro pra cá. São Paulo: Moderna, 2009. Histórias à Brasileira 4 – A Donzela Guerreira e outras. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2010. Curvo ou Reto – Olhar Secreto. São Paulo: Global, 2010. O urso, a gansa e o leão. São Paulo: FTD, 2011.

ORGANIZAÇÃO DE ANTOLOGIAS

O Tesouro das Virtudes para Crianças. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, vols. I e II em 1999 e 2000; vol. III em 2002.

O Tesouro das Cantigas para Crianças. Vol. I em 2001; vol. II em 2002. POESIA

Sinais do Mar. Rio de Janeiro: Cosac & Naify, 2009. Participações em Obras Coletivas Hoje é Dia de Festa. São Paulo: Cia. das Letras, 2006. Amor em Texto, Amor em Contexto. São Paulo: Papirus, 2009.

Disponível em: www.academia.org.br

O urso, a gansa e o leão

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Bartolomeu por ele mesmo (1944–2012)

Bartolomeu Campos de Queirós

Sou mineiro e vivo em Belo Horizonte. Gosto de ler e escrever. Leio poesia, conto, romance. Ler é conversar com as ideias do escritor. Escrevo quando tenho algo a dizer. Gosto de registrar o que meu pensamento pensa, mesmo sabendo que parece impossível uma formiga comer um elefante. Sei que na literatura posso escrever tudo que penso, sonho e imagino. Se escrevo minha fantasia, ela vira verdade. Gosto de ter as crianças como leitoras. Elas são capazes de fantasiar coisas muito bonitas e sérias. Elas não se espantam com a capacidade de criar uma realidade nova para o mundo onde vivem. E quando escrevem, as crianças contam histórias que surpreendem. É que elas sabem ver com o coração. Recebi muitos prêmios - no Brasil e no Exterior - pelos muitos livros que escrevi e que foram traduzidos para outros países. Mas saber que sou lido em muitos lugares é o maior prêmio. Quando escrevemos, é para ser lidos.

BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS por ele mesmo. Extraída da obra ISSO NÃO É UM ELEFANTE,

Editora Abacatte, Belo Horizonte, 2009.

“Aqueles que tinham olhos de ver à primeira vista sentiam que era um menino desarmado e feito só para o carinho. Sua maneira de olhar, seu jeito de se oferecer ou se encostar, seu modo de se aninhar nos braços, dava nas pessoas uma vontade muito forte de fazê-lo sumir entre carinhos. Apertá-lo em abraços e escondê-lo no coração.”

Indez

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História de Bartolomeu

Bartolomeu Campos de Queirós viveu sua infância em Papagaio, cidade pequena com gosto de "laranja serra-d'água", no interior de Minas Gerais, antes de se instalar em Belo Horizonte, onde residiu e trabalhou.

Seu interesse pela literatura e pelo ensino da arte o fez viajar muito por este país. Conheceu as cidades apreciando azulejos e casas pacientemente - um andarilho atento a cores, cheiros, sabores e sentidos que rodeiam as pessoas do lugar, com o mesmo encanto na alma com que observava os rios da Amazônia, dos quais costumava sentir saudades em Minas.

Bartolomeu só fez o que gostava, não cumpria compromissos sociais nem tarefas que não lhe pareciam substanciais. Dizia ter fôlego de gato, o que lhe permitiu nascer e morrer várias vezes. "Sou frágil o suficiente para uma palavra me machucar, como sou forte o suficiente para uma palavra me ressuscitar."

Em 1974 publicou seu primeiro livro, O peixe e o pássaro, e desde então firmou seu estilo de escrita como uma prosa poética da mais alta qualidade.

Com formação nas áreas de educação e arte, cursou o Instituto Pedagógico de Paris. Desde

os anos 70, teve destacada atuação como educador, em vários níveis, contribuindo com importantes projetos para a Secretaria de Estado da Educação e para o Ministério da Educação. Participa do Projeto ProLer, da Biblioteca Nacional, dando conferências e seminários sobre educação, leitura e literatura. Tem 43 livros publicados no Brasil e vários deles traduzidos e editados em outros países.

É detentor dos mais importantes prêmios literários nacionais, como:

Prêmio Cidade de Belo Horizonte; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do

Livro; Selo de Ouro, da Fundação Nacional do

Livro Infanto-Juvenil; 9ª Bienal de São Paulo; 1ª Bienal do Livro de Belo Horizonte; Diploma de Honra da IBBY, de Londres; Prêmio Rosa Blanca (Cuba); Quatrième Octagonal (França); Prêmio Nestlé de Literatura; Prêmio Academia Brasileira de Letras.

Com o livro "Indez", foi o vencedor do Concurso Internacional de Literatura Infanto-Juvenil (Brasil, Canadá, Suécia, Dinamarca e Noruega). Vários de seus textos foram adaptados para o teatro, dentre eles, "Ciganos", encenado

pelo Grupo Ponto de Partida. Sua obra tem sido tema de teses acadêmicas (áreas de literatura e psicologia) em várias universidades brasileiras.

Foi presidente da Fundação Clóvis Salgado/Palácio das Artes, membro do Conselho Estadual de Cultura e do Conselho Curador da Escola Guignard, membro do Conselho de Curador da Fundação Municipal

de Cultura. Atuava também como crítico de arte, integrando júris e comissões de salões e fazendo curadorias e museografias de exposições.

http://www.caleidoscopio.art.br/bartolomeucamposdequeiros/release

“Um bom texto literário faz o

leitor pensar o que ele não

sabia que ele podia pensar.”

Bartolomeu Campos Queirós

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Histórias de Bartolomeu

“Há trabalho mais definitivo, há ação mais absoluta do que essa de aproximar o homem do livro?”

O livro é passaporte é bilhete de partida

ANOS 70

O peixe e o pássaro, 1971. Saraiva

Pedro, 1973. Global

Raul- Luar, 1978. RHJ

Onde tem bruxa tem fada, 1979. Moderna

ANOS 80

Ciganos, 1982. Global

Mario ou de pedras, conchas e sementes, 1983. Global

Ah! Mar..., 1985. RHJ

As patas da vaca, 1985. Global

Cavaleiros das sete luas, 1986. Global

Coração não toma sol, 1986. FTD

História em 3 atos, 1986. Global

Correspondência, 1986. Global

Pintinhos e pintinhas, 1986. FTD

Apontamentos, 1988. Formato

Papo de Pato, 1989. Formato

Indez, 1989. Global

ANOS 90

Escritura, 1990. Mazza

Minerações, 1991. RHJ

Faca afiada, 1992. Moderna.

Diário de classe, 1992. Moderna

Por parte de pai, 1995. RHT

Ler, escrever e fazer conta de cabeça, 1996. Global

“Ele está sempre acordado, viajando e vigiando tudo. Sabemos que ele existe porque modifica todas as coisas.

O tempo troca a roupa do mundo. Ele muda a história, desvia águas, come estrelas, mastiga reinos,

amadurece frutos, apodrece sementes. Nada fica fora do tempo. Moramos dentro dele e impedidos de abraçá-

lo. O tempo foge para não ser amado. Quem ama para e fica. O tempo foge.”

Tempo de voo.

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“Quanto a gente fala de uma sociedade leitora, nós estamos justamente tentando uma sociedade reflexiva, que pensa o seu destino, que pensa o seu caminho.”

A palavra conta

ANOS 2000

Rosa dos Ventos, 2000. Global

Bichos...são todos bichos, 2001. Brasil

De não em não, 2001. Global

Flora, 2001. Global

Os cinco sentidos, 2002. Global

Mais com mais dá menos, 2002. RHJ

A Matinta Pereira, 2002. FTD

Olhar de bichos, 2002. Dimensão

Piolho, 2003. RHJ

Menino de Belém, 2003. Moderna

Vida e obra de Aletrícia depois de Zeroastro,

2003. Moderna

Rosa e Rosa, 2003. Franco

Até passarinho passa, 2003. Moderna

Para criar passarinho, 2004. Global

O olho de vidro do meu avô, 2004. Moderna

Entretantos, 2004. Conselho Regional de Psicologia

O guarda-chuva do guarda, 2004. Moderna.

Pato pacato, 2004. Moderna

De letra em letra, 2004. Moderna

Formiga amiga, 2004. Moderna

Pé de sapo e sapato de pato, 2004. Brasil

Somos todos igualzinhos, 2005. Global

Sem palmeira ou sabiá, 2006. Peirópolis

Antes e depois, 2006. Manati

ANOS 2010

Isso não é um elefante, 2010. Abacate

2 patas e 1 tatu, 2010. Positivo

A árvore, 2010. Paulinas.

Vermelho amargo, 2011. Cosac Naify

O fio da palavra, 2011. Galera Record.

Para ler em silêncio, 2007. Moderna

Sei por ouvir dizer, 2007. Edelbra

O ovo e o anjo, 2007. Global

Foi assim..., 2008. Moderna

Anacleto, 2008. Larousse

Menino inteiro, 2009. Global

Tempo de voo, 2009. Edições SM

Nascemos livres, 2009. Edições SM

O livro de Ana, 2009. Global

ABC até Z, 2009. Larousse

“Meu avô me convidou, naquela tarde, para me assentar ao seu lado nesse banco cansado. Pegou minha mão e, sem tirar os olhos do horizonte, me contou: O tempo tem uma boca imensa. Com sua boca do tamanho da eternidade ele vai devorando tudo, sem piedade. O tempo não tem pena. Mastiga rios, árvores, crepúsculos. Tritura os dias, as noites, o sol, a lua, as estrelas. Ele é o dono de tudo. Pacientemente ele engole todas as coisas, degustando nuvens, chuvas, terras, lavouras. Ele consome as histórias e saboreia os amores. Nada fica para depois do tempo. As madrugadas, os sonhos, as decisões, duram pouco na boca do tempo. Sua garganta traga as estações, os milênios, o ocidente, o oriente, tudo sem retorno. E nós, meu neto, marchamos em direção à boca do tempo. Meu avô foi abaixando a cabeça e seus olhos tocaram em nossas mãos entrelaçadas. Eu achei serem pingos de chuva as gotas rolando sobre meus dedos, mas a noite estava clara, como tudo mais.”

Por parte de pai

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Bia por ela mesma - O quintal – Memórias de uma contadora de histórias...

Bia Bedran

Um quintal é o primeiro palco que uma criança pisa. Pode ser uma área ou um pequeno pedaço qualquer onde ela se exteriorizará, largará sua imaginação e

desenvolverá sua criatividade.

Wanda Bedran

Durante os anos 1970, minha mãe, Wanda Martini Bedran, e suas

irmãs e primas, Wilma Martini Brandão, Wandirce Martini Wörhle, Maria de Lourdes Martini, Maria José Martini Quintas e eu fundamos, ao lado de uma grande parte da família, o Quintal Teatro Infantil, inaugurado em 16 de setembro de 1973, numa agradável rua do bairro de São Francisco, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro. O teatro Quintal, de duzentos lugares, foi erguido literalmente no quintal da casa de umas das irmãs, Wandirce, com projeto arquitetônico de Junir Brandão, marido da outra irmã, Wilma. Quem passava pela rua General Rondon, 15, voltava sua atenção para uma casa de esquina sombreada por enormes amendoeiras com um toque especial no muro branco: uma grande margarida pintada no lugar no buraco onde era a bilheteria. Participavam do grupo 23 membros da família, pais, mães, irmãos, avós, primos, tias e tios, que, através da arte, conseguiram a façanha de viabilizar a convivência entre as três gerações. A ideia da fundação de um teatro para crianças surgiu com Wanda, Wandirce, Wilma e Maria José, que quando jovens realizavam apresentações de teatro de bonecos nos morros. Com o casamento de cada uma delas, o trabalho foi interrompido até 1973, quando desejaram a volta do grupo e mobilizaram toda a família, já na segunda geração.

Ali no nosso Quintal, pudemos experimentar linguagens cênicas diversas sempre buscando falar à infância, e nos revezávamos nas inúmeras funções pertinentes ao mundo das artes cênicas, desde a construção do próprio teatro em formato de arena até a confecção de figurinos, cenário, bonecos e adereços, criação dos textos, músicas, direção, produção, iluminação, controle de borderaux, organização da cantina (que se chamava A Casa do Sapo Guloso), enfim, todos os passos que pertencem a uma trupe teatral.

Eu, então com dezessete para dezoito anos, tratava da direção musical dos espetáculos, e todos tocávamos instrumentos de percussão, violão, acordeom, flautas, e objetos sonoros como bacia com areia para obtermos o som da água, ou conchas e chaves enredadas por um fio, que produziam um efeito mágico diante dos olhos encantados das crianças e dos adultos.

Os textos das peças infantis do Quintal eram de autoria de Maria de Lourdes Martini (também diretora-geral do grupo), Wanda Martini Bedran, Maria Mazzeti e Maria Arminda Aguiar. Dotados de uma enorme brasilidade, evocavam situações rurais às vezes datadas de outras épocas, o que favorecia a minha pesquisa dentro do cancioneiro do Brasil para que as nossas interpretações tivessem maior vigor e mostrassem às crianças e a seus pais um mundo sonoro rico e diferenciado. Já aí se fazia presente aquela memória das modinhas, cordéis, romances, e das estrofes rimadas e ritmadas cantadas por

minha mãe durante a infância, e toda criação das canções para os espetáculos desabrochava fertilmente, embebida da água daquela fonte inicial. Também o modo como descobrimos juntos a força das narrativas em contraponto com a interpretação e a caracterização dos personagens foi fundamental durante todo o processo de amadurecimento profissional do grupo. Nossa pesquisa de linguagem, utilizando bonecos e adereços que se mesclavam com nossas atuações, acontecia atrás e na frente da “tapadeira” ou “empanada”, como era chamado o palco dos bonecos. Eles eram criados e manipulados com primor pelas nossas mestras: mães, avós e tias. Elas eram verdadeiras artesãs na criação e manipulação dos bonecos, que surgiam dos mais variados materiais e adquiriam formas surpreendentes, nada convencionais enquanto fantoches, mamulengos ou adereços que se transformavam em personagens. Sua sabedoria

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elas repassavam para nós, que éramos na época a ala jovem do Quintal, a exemplo dos costumes recorrentes na cultura popular, em que o saber dos mais velhos é transmitido oralmente.

Durante os dez anos de duração do Quintal Teatro Infantil, a presença do narrador que atuava paralelamente ao desenvolvimento das cenas foi crescente e marcante. Muitas vezes cabiam aos nossos personagens distanciarem-se dos seus papéis e narrarem o que tinha acabado de acontecer, isto é, passávamos da interpretação na primeira pessoa para a narrativa na terceira pessoa. A partir de então, comecei a entender algumas características do processo narrativo e seu poder de intercambiar a experiência com seus ouvintes. Em todos os espetáculos montados pelo nosso Quintal Teatro Infantil, compus a trilha sonora de modo que todos pudéssemos integrar nossas vozes, instrumentos artesanais, o corpo e o movimento à ação cênica. Quando cantávamos, era como se fôssemos o coro grego que conta e descreve a cena que acontecerá ou que acabará de acontecer.

Em ordem cronológica, o Quintal Teatro Infantil montou os seguintes espetáculos: O aniversário da Princesinha Papelotes – de Maria Mazzeti – 1973.

O planeta maluco – de Maria Mazzeti – 1973

O circo de dom Pepe, Pepito, Pepom – de Wanda Bedran – 1973

O pescador e o gênio – de Wanda Bedran – 1974

Os três porquinhos – adaptação de Wanda Bedran – 1974

Estela, a estrela que caiu do céu – de Wanda Bedran – 1974

A bruxinha do caldeirão verde – de Wanda Bedran – 1974

Palha seca – de Wanda Bedran – 1975

Você tem um caleidoscópio? – criação coletiva – 1975

A estória da moça preguiçosa – de Maria de Lourdes Martini – 1975

Azul ou encarnado? – de Maria Arminda Aguiar – 1976

Terra ronca – de Maria de Lourdes Martini – 1977

Bem te vejo – de Wanda Bedran – 1978

O velho mar – de Wanda Bedran – 1979 e 1980

O espetáculo “A estória da moça preguiçosa”, com texto e direção de Maria de Lourdes Martini (a nossa Tia

Lolita), recebeu o primeiro Prêmio Molière de Teatro Infantil, em 1975, num grande reconhecimento por nossa pesquisa de linguagem dentro do teatro infantil brasileiro.

A partir de 1977 houve uma dispersão dos elementos mais jovens do grupo pelas escolhas profissionais em outras áreas, e as temporadas no Teatro Quintal foram interrompidas, sendo o espaço alugado esporadicamente para outros grupos teatrais. O núcleo, integrado por Wilma Brandão, Wanda Bedran, Wandirce Wörhle e Maria José Quintas, saiu para desenvolver projetos em escolas e praças da cidade e do interior. Finalmente elas decidiram reabrir o teatro para sua última temporada com a peça O velho mar, uma adaptação feita por minha mãe para um dos contos das Mil e uma noites. Fui convidada para a direção-geral do espetáculo, além de criar a trilha sonora, gravada com nossas vozes fazendo os personagens e tendo como fio condutor o som da água: ondas quebrando, borbulhas, som de remadas.

No início dos anos 1980, quando o tempo do Quintal findou e cada um seguiu suas escolhas profissionais e pessoais, eu já havia me decidido plenamente pelo caminho da criação artística voltada para as crianças e absolutamente imbricada com a música e a narrativa de histórias.

Durante o processo de desenvolvimento das linguagens cênicas, musicais e narrativas dentro do Teatro Quintal, encontrei-me, em 1974, com outros dois jovens músicos cariocas que também pesquisavam a música

tradicional brasileira e se interessavam pelo diálogo da linguagem musical com a infância, Victor Larica e Ricardo Medeiros. Juntos, fundamos em 1977 um grupo que se chamou Bloco da Palhoça, Música para Brincar e Cantar. Nosso grupo fez uma fusão muito equilibrada da pesquisa do folclore com nossas composições próprias. Fazíamos espetáculos para adultos e crianças em praças, auditórios, pátios de escolas públicas e particulares, coretos de cidades do interior, enfim, íamos descobrindo uma linguagem na qual o fazer artístico dialogava com a recriação de elementos do folclore ou da tradição oral. Em nossas viagens para o interior dos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais, mesclávamos a pesquisa de campo com as apresentações profissionais em que cantávamos e tocávamos grande parte do material recolhido tanto em fontes

bibliográficas quanto o que ouvíamos e aprendíamos nas festas populares (ou folguedos, numa nomenclatura da época) por onde passávamos: Folia de Reis, Congada, Folia do Divino, Caxambu, Jongo, Moçambique, Catiras e Rodas de Cirandas. Todas essas manifestações culturais mesclavam o espírito religioso com o profano e nos entregavam um retrato sonoro, rítmico e melódico, visual, coreográfico e histórico do nosso processo de mestiçagem, em que se misturavam elementos das tradições portuguesas, indígenas e africanas.

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Denominávamos de “arquivo vivo” nosso processo de pesquisa: arquivo por causa dos registros ordenados de todo o material recolhido, e vivo pelo fato de vivenciarmos o referido material. O termo “arquivo vivo” refere-se então à apreensão de diversas formas musicais tradicionais de determinada comunidade através da troca de experiências, do tocar junto aos cantadores, violeiros, sanfoneiros e percussionistas levando nossos instrumentos e permutando-os com os deles. O resultado desta troca era um arranjo musical espontaneamente criado, acrescido do que nós, enquanto músicos profissionais, adquirimos com o nosso trabalho e do que aquelas pessoas nos ensinavam pela maneira intuitiva de tocar, dançar, cantar e contar. O intercâmbio destas experiências artísticas nos deixou um legado rico de influências culturais que pudemos transmitir posteriormente em espaços cênicos e também no contexto de nossas práticas na área da educação.

No ano de 1974 fui conhecer a Festa do Divino de São Luís do Paraitinga, no interior de São Paulo. Era uma grande feira onde coexistiam torneio de moda de viola, cerâmica de Taubaté, jongo, catira, Moçambique, cavalhada e seus palhaços, missa, procissão, circo, parque de diversão...

O Divino desceu do céu

Nesta hora de alegria

Para abençoar o povo

Que veio festejar seu dia

Assim dizia um dos inúmeros versos de “Toada do Divino” cantados pela Companhia de Seu João, que ecoava pelas ruas da cidade. Os festejos do Divino duravam dez dias e mobilizavam toda a população de São Luís e arredores, pobres e ricos, usufruindo das ofertas que eram arrecadadas pelos “foliões”. Assim eram chamados os integrantes da Folia do Divino, que cantavam e arrecadavam de casa em casa, a exemplo da Folia de Reis, bois, porcos e galinhas, que depois eram cozidos em enormes tachos de cobre e transformados no “afogado”, como é chamado este prato típico. Ele era servido diariamente para todos, junto com paçoca, macarrão, feijão e arroz. Nesta ocasião conheci o João Tartaruga, contador de histórias e artista do barro que esculpia dentro de pequenas cabaças. Eram miniesculturas que ele vendia após contar a história que nela estava contida:

Faço arte de barro, lindas paisagem de verdade

A minha fama de artista está correndo cidade em cidade

E com essa teligência me ajuda a nececidade

Serviço de pega na enchada a muito tempo já fui

Hoje sou cabroco de gosto faço pintura na cuia

Quando esto fazendo verço

Quanto mais obra eu faço

Mais dinheiro desluia

(João Tartaruga, 1974, em texto registrado pelo próprio na entrada de sua oficina) Em meio às apresentações musicais e teatrais, formei-me em

musicoterapia e licenciatura em educação artística. Tornei-me professora de educação musical e fui trabalhar em várias escolas, procurando conjugar a arte de contar com a de cantar, tocar e criar para crianças. Com as crianças em sala de aula, pude observar o quanto a música e a narrativa se completavam: os processos criativos meus e das crianças geravam novos poemas, canções, histórias e dramatizações a partir de matrizes e exemplos vindos da tradição oral, como brincadeiras, parlendas, trava-línguas, adivinhações, contos populares, literatura de cordel, enfim, todo o material que já pertencia à pesquisa que eu vinha desenvolvendo anteriormente. Observei que as crianças tinham vontade de recontar uma história ou canção que haviam acabado de ouvir, e eu propunha uma atividade usando uma forma de expressão artística semelhante à de João Tartaruga, transformando em maquetes o cenário principal da narrativa ou registrando em desenhos e colagem seus principais personagens. Depois, com seu trabalho na mão, as crianças contavam à sua maneira, acrescida de detalhes ou fazendo uma síntese de sua própria criação.

A pesquisa que realizei pertencendo aos grupos Quintal e Bloco da Palhoça se desdobrou em diversas abordagens dentro da arte de contar e cantar histórias, pois levei esta experiência para a TV, para o rádio, para o teatro e para a educação. Em todos os formatos e suportes citados lá estavam impressas as marcas da tradição oral, na escolha do repertório de contos e canções, de brincadeiras e jogos, de adivinhações e brincadeiras de roda e cirandas. São canções que contam histórias ou histórias que trazem canções. Ouvidas em outros tempos, transmitidas oralmente, registradas na escrita literária ou musical, e finalmente gravadas a partir da possibilidade dos suportes eletrônicos. Músicas para brincar e cantar. Histórias para ouvir, contar e sonhar.

BEDRAN BIA. A arte de cantar e contar histórias – Narrativas orais e processos criativos,

Editora Nova Fronteira.

Bloco da Palhoça

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História de Bia

Era uma vez Bia Bedran, uma menina que nasceu para fazer as crianças sonharem e hoje ensina a quem quiser a viver feliz para sempre.

Foi em Niterói (RJ), no dia 26 de novembro de 1955, que Bia Bedran nasceu, ou melhor, estreou. Isso porque, desde criança, assim bem pequenininha, a menina, criada em família de artistas, começou a escrever músicas e poemas, coisas que, geralmente, toda criança que lê e se diverte com a literatura faz. “No início, eu não sonhava em ser artista da infância. Eu era criança e gostava de ler. Gostava de contar, fabular o que eu lia. Às vezes, só para mim mesma, para o meu fazer, gostava de me trabalhar artisticamente”, relembra Bia.

Na adolescência, assim já mais mocinha, seu pai sempre a inscrevia em concursos de música e só revelava a idade da filha depois, para ela não ser desclassificada. Nessa fase, Bia fazia sua arte pensando nos adultos. Fazia sambas, toadas, músicas políticas e concorria com adultos em festivais de canção. Tanto que foi muito influenciada por João de Barro, Braguinha, Lamartine Babo e pelas músicas da Rádio Nacional. Precoce, não?

Sua carreira começou para valer em 1973, aos 17 anos (nem era gente grande ainda a menina). Na época, sua família montou um grupo de teatro para crianças. As apresentações aconteciam no quintal da casa de uma tia, daí o nome Quintal Teatro Infantil. “Eu descobri a minha vocação quando tive a sorte de trabalhar no grupo que minha família criou. Éramos, ao todo, 23 entre irmãos e primos da família Martini Bedran. Minha mãe escrevia peças para crianças e a família toda trabalhava. Minha avó fazia os vestidos e meu avô ficava na bilheteria. Eu, com 17

anos, era uma das mais velhas do grupo. Nesse tempo foi que eu descobri esse mundo”, diz Bia.

A arte de contar estórias veio naturalmente com o convívio com as crianças. Foi nessa época que a jovem atriz entrou no mundo mágico da contação de estórias. “Aí descobri que contar estória era diferente do que interpretar. Toda vez que eu entrava na voz da narradora, percebia que a criançada prestava mais atenção. A criança tem uma paixão pela narração, pelo texto contado. Quando eu narro,

quando eu falo do personagem, eu sinto uma atenção maior”, explica.

Hoje, já com 54 anos, Bia Bedran tem sete livros publicados, oito discos e um DVD. A artista já compôs mais de 300 canções. Dessas, 100 músicas foram gravadas. A atriz também foi

apresentadora de televisão. De 1986 até 1993, Bia esteve à frente do “Conta Conto”, na antiga TV Educativa, atual TV Brasil. Em 1988 e 1989, apresentou o programa ecológico “Baleia Verde”, na extinta TV Manchete, além de “Lá vem História”, na TV Cultura e “Alfabetização no Canteiro de Obras”, pela Fundação Roberto Marinho.

Os planos dessa eterna menina, no entanto, não param por aí. Seu próximo passo pode ser na telona. “Só falta agora cinema. Não vou morrer sem fazer um filme, trabalhar atuando ou ser uma narradora,

mas é um sonho ainda. Minha filha acabou de se formar em

cinema e a gente tem conversado muito sobre isso ultimamente”, vibra.

“QUEM CONTA ESTÓRIA FAZ O OUTRO IMAGINAR”

Ciranda da Palavra 2010

Gravação DVD “Cabeça de vento” SESI Duque de Caxias/ 2010

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Professora concursada

desde 1985, Bia dava aulas de musicalização para as crianças do CAP (Colégio de Aplicação) da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). No início, ela só ensinava música. Com o tempo, o hábito de ler e contar estórias invadiu suas aulas. Foi então que descobriu que bom mesmo era cantar e contar ao mesmo tempo. “São quase 25 anos como professora na Uerj. No decorrer do tempo, eu já era contadora de estórias na vida artística e fui incorporando a coisa do ensinar música para as crianças, mas ensinar também o fazer, o contar, música dentro de uma estória, estória com canções e fui mudando a minha metodologia que era só de ensino musical, para fazer estórias junto com canções”, explica.

Nessa época, Bia Bedran foi chamada para dar aulas em uma oficina chamada A Arte de Cantar e Contar Estórias, para professores e educadores. Seu desejo é passar para outros essa nobre arte. “De lá para cá já se passaram 14 anos, sempre às segundas e quartas à noite. Essa oficina eu trabalho com educadores, não mais crianças, e ensino esse ‘making-off’ de como é contar estórias e como construir pequenos adereços, entre outras coisas”, revela.

Segundo Bia, o contar estórias revela uma troca de experiências muito interessante. Naquele curto espaço de tempo, que pode durar dez, 20 minutos ou até meia hora, o intérprete só tem ali a sua palavra, a sua voz, a sua mão, os seus olhos, e, principalmente, a sua expressão. Todo o resto é imaginado por quem ouve. “Ensinar a contar estória nem é tanto a coisa do ator, não é ensinar a interpretar, mas ensinar a amar esse fazer tão atávico ao homem, que é esse momento que você senta, conta coisas reais e imaginárias. Às vezes você conta um fato que realmente aconteceu”.

A educadora se mostra preocupada com a perda do hábito de conversar e acredita que o

mundo hoje precisa pisar no freio. “As pessoas hoje, nessa vida muito corrida, têm pouco tempo para contar suas histórias pessoais. Em um tempo mais antigo, as pessoas tinham esse hábito naturalmente, não existia aulas de contar estória. Não tinha televisão, as pessoas faziam uma roda e o que existia era a troca de experiências, o ato de contar para o outro o que você viveu”, relembra.

Essa falta de tempo também tem prejudicado a

formação das crianças. Bia comenta que elas precisam ler mais e não somente assistir televisão ou navegar pela internet. “A criança também entra num frisson de cada vez mais aprender conteúdo e mais conteúdo. Esse é o momento em que o professor para e conta uma estória. É o momento do sonho. A criança viaja

como se fosse uma parada no tempo, não uma parada onde ela fica vazia, uma parada ativa. A alma está em repouso, mas ela está atenta, está sentindo”, ensina.

A professora revela, ainda, dicas para quem também quer viver essa experiência.

“Quem quer contar e viver de estórias tem que descobrir o que

quer ser. Quer ser um educador ou contar profissionalmente em eventos de literatura? É preciso descobrir que sente prazer com isso e depois focar. Trabalho em hospitais e, diferentemente de atuar em um palco, em todas essas modalidades tem que amar contar estórias, tem que gostar da literatura, de transformar o texto lido em um texto coloquialmente falado. Treinar em casa, montar um repertório e fazer cursos”, explica mais uma vez a professora que sabe que, no final de toda estória tem que ter um “e viveram felizes para sempre”. E quem quiser que conte outra.

Artigo de 10 de Outubro de 2009.

Disponível em: http://www.jornaldeteatro.com.br

Seminário O DIA da Educação em Movimento/Duque de Caxias 2012

Seminário Direitos Humanos Duque de Caxias - 2011

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Histórias de Bia LIVROS:

A sopa de pedra

O pescador o anel e o rei

Cabeça de vento

Deus…

Eu e o tempo

O palhaço Biduim

A menina do anel

Uma história sem fim

O sapateiro e os anõezinhos

O menino que foi ao Vento

Norte

CDS:

Fazer um Bem

Brinquedos cantados

Bia Canta E Conta 2

Úman

Dona árvore

Coletânea de Músicas Infantis

Bia Canta e Conta

A caixa de músicas de Bia

Bedran

Acalantos

DVDS:

Cabeça de Vento

Histórias de um João de Barro

Deus. Ilustração Thaís Linhares: http://ilustracoesdethais.blogspot.com.br

http://ilustracoesdethais.blogspot.com.br

http://ilustracoesdethais.blogspot.com.brhttp://ilustracoesdethais.blogspot.co

m.br

“Perdi meu anel no mar

Não pude mais encontrar

E o mar me trouxe a concha

De presente pra me dar...”

O anel

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Drummond por ele mesmo (1902-1987)

Carlos Drummond de Andrade

Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança Itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!

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História de Drummond

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.

Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.

O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que

sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.

Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de

obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.

Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado

diversos livros em prosa. Em mão contrária traduziu os seguintes

autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).

Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

Disponível em:

http://www.releituras.com/drummond_bio.asp

1962

Com esposa Dolores e a filha Julieta

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Histórias de Drummond

POESIA 1930 – Alguma poesia 1934 – Brejo das almas 1940 – Sentimento do mundo 1942 – José 1945 – A rosa do povo 1948 – Novos poemas 1951 – A mesa 1951 – Claro enigma 1952 – Viola de bolso 1954 – Fazendeiro do ar 1955 – Soneto da buquinagem 1957 – Ciclo 1959 – A vida passada a limpo 1962 – Lição de coisas 1964 – Viola de bolso II 1967 – Versiprosa 1967 – José & outros 1968 – Boitempo & A falta que ama 1968 – Nudez 1969 – Reunião 1973 – As impurezas do branco 1973 – Menino antigo (Boitempo II) 1977 – A visita 1978 – O marginal Clorindo Gato 1979 – Esquecer para lembrar (Boitempo III) 1980 – A paixão medida 1983 – Nova reunião 1984 – Corpo 1985 – Amar se aprende amando 1986 – Tempo vida poesia 1988 – Poesia errante 1996 – Farewell

“Minha vida, nossas vidas formam um só diamante. Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças.”

Canção amiga

ANTOLOGIAS POÉTICAS 1956 – 50 poemas escolhidos pelo autor 1962 – Antologia poética 1971 – Seleta em prosa e verso 1975 – Amor, amores 1982 – Carmina Drummondiana 1987 – Boitempo I e Boitempo II INFANTIS 1983 – O elefante 1985 – História de dois amores EDIÇÕES DE POESIA REUNIDA 1942 – Poesias 1948 – Poesia até agora 1954 – Fazendeiro do ar & Poesia até agora 1959 – Poemas 1969 – Reunião 1983 – Nova reunião 1997 – Coleção Verso na Prosa Prosa no Verso 1997 – Coleção Mineiramente Drummond – A palavra mágica “Eu te amo porque não amo

bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca,

não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo...”

As sem-razões do amor

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PROSA 1944 – Confissões de Minas 1945 – O gerente 1951 – Contos de aprendiz 1952 – Passeios na ilha 1957 – Fala, amendoeira 1962 – A bolsa & a vida 1966 – Cadeira de balanço 1970 – Caminhos de João Brandão 1972 – O poder ultrajovem e mais 79 textos em prosa e verso 1974 – De notícias & não-notícias faz-se a crônica 1977 – Os dias lindos 1978 – 70 historinhas 1981 – Contos plausíveis 1984 – Boca de luar 1985 – O observador no escritório 1987 – Moça deitada na grama 1988 – O avesso das coisas 1989 – Autorretrato e outras crônicas CONJUNTO DE OBRA 1964 – Obra completa ANTOLOGIAS DIVERSAS 1962 – Quadrante 1963 – Quadrante II 1965 – Vozes da cidade 1965 – Rio de Janeiro em prosa & verso (em colaboração com Manuel Bandeira) 1966 – Andorinha, andorinha, de Manuel Bandeira 1967 – Uma pedra no meio do caminho (Biografia de um poema. Com estudo de Arnaldo Saraiva) 1967 – Minas Gerais 1971 – Elenco de cronistas modernos 1972 – Don Quixote 1977 – Para gostar de ler 1979 – O melhor da poesia brasileira I 1981 – O pipoqueiro da esquina 1982 – A lição do amigo 1984 – Quatro vozes 1984 – Mata Atlântica

Disponível em: http://drummond.memoriaviva.com.br/mais-um-pouco/tudo/

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Elias por ele mesmo (1936-2008)

Elias José

Sempre gostei de ler e escrever, sem desejar ser um escritor.

Comecei fazendo jornal de escola. Com as primeiras namoradas (reais

ou idealizadas), nasceram os primeiros poemas de amor. Depois, foi a

fase de escrever crônicas para jornais do interior. Um dia, li que a

revista Vida Doméstica estava patrocinando um concurso de contos

sobre o tema “mar”. Escrevi e reescrevi o meu primeiro conto e ganhei

o prêmio, todo feliz com a “grana” e com a publicação bem-cuidada,

com ilustrações e papel de primeira. Aí não parei mais de escrever

contos, publicando-os nos suplementos literários de Minas, São Paulo e

Rio de Janeiro. Fui ganhando concursos e acumulando mais de

cinquenta histórias, até que pude, em 1970, reuni-las no livro de

estreia: a mal-amada.

Hoje, tenho mais de quarenta livros publicados, para crianças,

jovens e adultos. Muitos deles ganharam prêmios importantes nacionalmente, como: “Jabuti”, “Governador do

Distrito Federal” e “Governo do Paraná”, para contos; dois do APCA (1982 e 1987); o “Odylo Costa, filho” e

“Altamente Recomendado para Crianças”, da FNLIJ, para poesia infantil; e outros. Vários contos foram

traduzidos e publicados no México, Argentina, Polônia, Estados Unidos e Nicarágua.

Como vou muito às escolas para conversar com meus leitores, sempre me perguntam se é mais prazeroso

escrever para crianças, para jovens e adultos. Confesso que me sinto outra pessoa, mais livre, mais feliz e meio

menino quando escrevo poesias para crianças e jovens. A poesia

nos dá a oportunidade de jogar com as palavras de forma mais

criativa e musical. É um prazer buscar uma imagem poética,

explorando o que as palavras têm de essencial e de sugestivo.

Saber que tenho que contar uma história, ou explorar um instante

de emoção, em um mínimo de palavras, é um desafio. É gostoso

buscar palavras dentro de uma palavra, arrumar e desarrumar a

distribuição em versos e estrofes, deslocar ou cortar o que não

está bem. Acho que foi o poeta Décio Pignatari quem disse,

acertadamente, que o poema “é uma aventura planificada”. E essa

aventura não vale só para poeta, o criador do jogo. Se o leitor é

sensível, se aceita a aventura, se resolve cantar junto, vibrar junto,

haverá na leitura uma viagem gostosa ao país da fantasia. Mesmo

que o leitor não se interesse pela planificação (é preferível que nem perceba as dificuldades que apareceram na

construção), ele tem que viver a aventura. Cada poema é uma descoberta, uma novidade e, ao mesmo tempo, um

diálogo com outros poemas que já foram feitos. Gosto de dialogar com os poemas folclóricos, de recriar cantigas

para que elas voltem a ser cantadas. Além do prazer de criar, gosto de apresentar meus poemas em escolas. Leio

em coro ou individualmente com os estudantes, fazemos variações temáticas, buscamos novas entonações,

novos ritmos e sentidos. Muitas vezes, na hora, “pinta” um novo poema, feito por muitas vozes. Não é isso uma

viagem, uma festa, uma aventura no mundo das palavras? Experimente, caro leitor, transformar meus poemas,

musicá-los. Eles não são mais meus; depois de publicados, são de todos. Antes de entrar no jogo, porém, crie

asas, solte as emoções, ligue seus sentidos – poesia é isso!

JOSÉ, ELIAS. Segredinhos de amor. São Paulo: Moderna, 1991.

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História de Elias

Elias José nasceu em Santa Cruz da Prata, distrito do município de Guaranésia, Minas Gerais, em 25 de agosto de 1936. Além de escritor, Elias José é professor aposentado de Literatura Brasileira e de Teoria da Literatura na Faculdade de Filosofia de Guaxupé (FAFIG), tendo atuado também como vice-diretor, diretor e coordenador do Departamento de Letras e como professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira na Escola Estadual Dr. Benedito Leite Ribeiro.

Elias José estreou em livro com “A Mal-Amada”, em 1970, com apoio de Murilo Rubião, que reunia contos publicados em suplementos literários do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Portugal. Antes disso, já tinha conquistado o segundo lugar no Concurso José Lins do Rego da Livraria José Olympio Editora, em 1968.

Em 1971, publicou “O Tempo”, “Camila”, “Minicontos”. Em 1974, “Inquieta Viagem no Fundo do Poço” e “Contos”, ambos na Imprensa Oficial, sendo que este último ganhou o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro (CBL) como Melhor Livro de Contos de 1974 e o prêmio Governador do Distrito Federal como Melhor Livro de Ficção de 1974.

Elias José tem contos e poemas traduzidos e publicados em revistas literárias e antologias de autores brasileiros no México, Argentina, Estados Unidos, Itália, Polônia, Nicarágua e Canadá. Já foi várias vezes selecionado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) para representar o Brasil em feiras de livros internacionais. Jurado de vários concursos literários, ministrava cursos, oficinas e palestras, tendo participado de vários congressos de educação, linguística e literatura.

Disponível em: http://www.educared.org

“Ao pé das fogueiras acesas, Crianças, jovens, adultos,

Até os já passados dos noventa, Teciam calorosos cantos e contos Grupais, envolventes e encantados.

Hoje, em tempos de fogueiras apagadas, Precisamos fuçar na memória E catar os cacos dos sonhos Para engrandecer a vida

E não sufocar o mito e a poesia.”

Ao pé das fogueiras acesas

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Histórias de Elias

INFANTIL E JUVENIL As Curtições de Pitu - 1976 O Fantasma no Porão - 1979 Jogo Duro - 1979 Os que Podem Voar - 1981 Saudoso, O Burrinho Manhoso - 1981 Dança das Descobertas - 1982 Pouco de Tudo, de Bichos, de Gente, de

Flores - 1982 A Dança das Descobertas - 1982 Passageiros em Trânsito - 1983 De Repente Toda História Novamente -

1983 Cidade da Pá Virada - 1983 Gente louca, maré solta! - 1983 Caixa Mágica de Surpresas - 1984 O Historiador de Catitó - 1984 O Herói Abatido - 1984 Vaidade no Terreiro - 1984 Com as Asas na Cabeça - 1985 Um Rei e seu Cavalo de Pau – 1986 Um Casório Bem Finório - 1987 Fabulosos Macacos Cientistas - 1987 Namorinho de Portão - 1987 Lua no Brejo - 1987 Machado de Assis - 1988 Os Primeiros Voos do Menino - 1988 Sorvete Sabor Saudade - 1988 Amor, Mágica e Magia - 1988 Só um Cara Viu - 1989 Mamãezinha - 2007 Primeiras Lições de Amor - 1989 Furta-Sonos e Outras Histórias - 1989 O Jogo da Fantasia - 1989 Luta Tamanha, Quem Ganha? - 1990 Os Vários Voos da Vaca Vivi - 1990 Um Curioso Aluado - 1990

Vó Melinha, Rainha e Cigana - 1990 Setecontos Setencantos - 1991 Segredinhos de Amor - 1991 Lua no Brejo - 1991 Sem Pé nem Cabeça - 1992 Bolo pra Festa no Céu - 1992 Cantigas de Adolescer - 1992 A Toada do Tatu - 1992 Sem Pé nem Cabeça - 1992 Quem Lê com Pressa Tropeça - 1992 Uma Escola Assim, Eu Quero para Mim -

1993 De Amora e Amor - 1993 Vaidade no Terreiro - 1994 Mundo Criado, Trabalho Dobrado - 1996 Noites de Lua Cheia - 1996 Toda Sorte de Magia - 1996 No Balancê do Abecê - 1996 O que Conta o Faz de Conta - 1996 Bicho de pé é chulé na mulher - 2001 Lições de Telhado - 1996 Félix e seu Fole Fedem - 1996 O Mundo Todo Revirado - 1996 O Jogo das Palavras Mágicas - 1996 Cantos de Encantamento - 1996 Solos de Violões e Sonhos - 1997 O Incrível Bicho-Homem - 1997 O Baú de Sonhos - 1997 Vera Lúcia, Verdade e Luz - 1997 (Re)Fabulando (sete volumes) -

1998/2005 A Cidade que Perdeu o seu Mar - 1998 O Macaco e a Morte - 1998 A Gula da Avó e da Onça - 1998 As Virações da Formiga - 1998 O Macaco e sua Viola - 1998 De como o Macaco Venceu a Onça - 1998

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O Macaco e o seu Rabo - 1998 Viagem Criada, Emoção Dobrada - 1999 A Vida em Pequenas Doses - 2000 Ri Bem Melhor Quem Junto Ri - 2000 O Amigão de Todo Mundo - 2001 O Desenhista - 2001 O que Tem nesta Venda - 2001

O Que Você Lê Ali - 2001 Visitas à Casa da Vovó - 2001 Querido professor - 1999 Gente e mais Gente - 2001 Birutices - 2002 Um Jeito Bom de Brincar - 2002 Vidrado em Bicho - 2002 Eu Sou Mais Eu - 2002 As Histórias e os Lugares - 2002 O Contador de Vantagens - 2002 Bicho de Pena Provoca Amor e Pena -

2002 Se Tudo Isso Acontecesse - 2002 Saudando Quem Chega - 2002 É Hora de Jogar Conversa Fora - 2002 De Olho nos Bichos - 2003 Poesia Pede Passagem - 2003 História Sorridente de Unhas e Dentes -

2003 Que Confusão, Seu Adão! - 2003 Aquarelas do Brasil - 2003 O que se Lê no Abecê - 2003 O Dono da Bola - 2004 Dias de sucesso - 2009 Dias de Susto - 2005 Mínimas Descobertas - 2005 Quem Conta um Conto Aumenta um Ponto

- 2005

O Rei do Espetáculo - 2005 A Festa da Princesa, que Beleza! - 2006 Dois Gigantes Diferentes - 2006 Forrobodó no Forró - 2006 Mágica Terra Brasileira - 2006 Cantigas de Amor - 2006 Fantasia do Olhar - 2006 - Minicontos

inspirados nas obras de Aldemir Martins Está chovendo animais famintos - 1998 Pequeno Dicionário Poético-Humorístico

Ilustrado - 2006 Ao Pé das Fogueiras Acesas - 2008 Ciranda Brasileira - 2006 Cantigas para Entender o Tempo – 2007

FORMAÇÃO

Literatura infantil: Ler, Contar e Encantar Crianças - 2007

ROMANCE

Inventário do Inútil - 1978 Armadilhas da Solidão - 1994

CRÔNICA

Olho por Olho, Dente por Dente - 1982 POESIA

A Dança das Descobertas – 1982 Amor Adolescente - 1999 (Atual Editora)

CONTO

A Mal-Amada – 1970 O Tempo, Camila – 1971 Inquieta Viagem ao Fundo do Poço – 1974 Um Pássaro em Pânico – 1977 Passageiros em Trânsito – 1983 O Grito dos Torturados - 1986

Disponível em: http://pt.wikipedia.org

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Jorge por ele mesmo (1912-2001) - Nem a rosa, nem o cravo...

Jorge Amado

As frases perdem seu sentido, as palavras perdem sua significação costumeira, como dizer das árvores e das flores, dos teus olhos e do mar, das canoas e do cais, das borboletas nas árvores, quando as crianças são assassinadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita beleza dos campos e das cidades, quando as bestas soltas no mundo ainda destroem os campos e as cidades? Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados destruíram os trigais e os povos morrem de fome. Como falar, então, da beleza, dessa beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do teu rosto na tarde? Não posso falar dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias de todos os instantes. Porque elas estão perigando, todas elas, os trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. Contra tudo que é a beleza cotidiana do homem, o nazifascismo se levantou, monstro medieval de torpe visão, de ávido apetite assassino. Outros que falem, se quiserem,

das árvores nas tardes agrestes, das rosas em coloridos variados, das flores simples e dos versos mais belos e mais tristes. Outros que falem as grandes palavras de amor para a bem-amada, outros que digam dos crepúsculos e das noites de estrelas. Não tenho palavras, não tenho frases, vejo as árvores, os pássaros e a tarde, vejo teus olhos, vejo o crepúsculo bordando a cidade. Mas sobre todos esses quadros boiam cadáveres de crianças que os nazis mataram, ao canto dos pássaros se mesclam os gritos dos velhos torturados nos campos de concentração, nos crepúsculos se fundem madrugadas de reféns fuzilados. E, quando a paisagem lembra o campo, o que eu vejo são os trigais destruídos ao passo das bestas hitleristas, os trigais que alimentavam antes as populações livres. Sobre toda a beleza paira a sombra da escravidão. É como uma nuvem inesperada num céu azul e límpido. Como então encontrar palavras inocentes, doces palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido destas palavras, destas frases, elas me soam como uma traição neste momento. Mas sei todas as palavras de ódio, do ódio mais profundo e mais mortal. Eles matam crianças e essa é a sua maneira de brincar o mais inocente dos brinquedos. Eles desonram a beleza das mulheres nos leitos imundos e essa é a sua maneira mais romântica de amar. Eles torturam os homens nos campos de concentração e essa é a sua maneira mais simples de construir o mundo. Eles invadiram as pátrias, escravizaram os povos, e esse é o ideal que levam no coração de lama. Como então ficar de olhos fechados para tudo isto e falar, com as palavras de sempre, com as frases de ontem, sobre a paisagem e os pássaros, a tarde e os teus olhos? É impossível porque os monstros estão sobre o mundo soltos e vorazes, a boca escorrendo sangue, os olhos amarelos, na ambição de escravizar. Os monstros pardos, os monstros negros e os monstros verdes. Mas eu sei todas as palavras de ódio e essas, sim, têm um significado neste momento. Houve um dia em que eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as frases mais trabalhadas. Hoje só o ódio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo. Só o ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, um ódio sem perdão, um ódio que venha do coração e que nos tome todo, que se faça dono de todas as nossas palavras, que nos impeça de ver qualquer espetáculo - desde o crepúsculo aos olhos da amada - sem que junto a ele vejamos o perigo que os cerca. Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança. Jamais os livros diriam coisas belas, nunca mais seria escrito um verso de amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte e sobre o mar, sobre teus olhos também, se debruçaria a desonra que é o nazifascismo, se eles tivessem conseguido dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela de beleza, a mais mínima. Amanhã saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje só sei palavras de ódio, palavras de morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra aqueles que amam as trevas e a desgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos de podridão que sonharam esmagar a poesia, o amor e a liberdade! O texto acima foi publicado no jornal "Folha da Manhã", edição de 22/04/1945, e consta do livro "Figuras do Brasil: 80 autores em 80 anos de Folha", PubliFolha - São Paulo, 2001, pág. 79, organização de Arthur Nestrovski.

Disponível em: http://www.releituras.com/jorgeamado_menu.asp

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História de Jorge

Jorge Amado

nasceu a 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, no distrito de Ferradas, município de Itabuna, sul do Estado da Bahia. Filho do fazendeiro de cacau João Amado de Faria e de Eulália Leal Amado.

Com um ano de idade, foi para Ilhéus, onde passou a infância. Fez os estudos secundários no Colégio Antônio Vieira e no Ginásio Ipiranga, em Salvador. Neste período, começou a trabalhar em jornais e a participar da vida literária, sendo um dos fundadores da Academia dos Rebeldes.

Publicou seu primeiro romance, O país do carnaval, em 1931. Casou-se em 1933, com Matilde Garcia Rosa, com quem teve uma filha, Lila. Nesse ano publicou seu segundo romance, Cacau.

Formou-se pela Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro, em 1935. Militante comunista, foi obrigado a exilar-se na Argentina e no Uruguai entre 1941 e 1942, período em que fez longa viagem pela América Latina. Ao voltar, em 1944, separou-se de Matilde Garcia Rosa.

Em 1945, foi eleito membro da Assembleia Nacional Constituinte, na legenda do Partido Comunista Brasileiro (PCB), tendo sido o deputado federal mais votado do Estado de São Paulo. Jorge Amado foi o autor da lei, ainda hoje em vigor, que assegura o direito à liberdade de culto religioso. Nesse mesmo ano, casou-se com Zélia Gattai.

Em 1947, ano do nascimento de João Jorge, primeiro filho do casal, o PCB foi declarado ilegal e seus membros perseguidos e presos. Jorge Amado teve que se exilar com a família na França, onde ficou até

1950, quando foi expulso. Em 1949, morreu no Rio de Janeiro sua filha Lila. Entre 1950 e 1952, viveu em Praga, onde nasceu sua filha Paloma.

De volta ao Brasil, Jorge Amado afastou-se, em 1955, da militância política, sem, no entanto, deixar os quadros do Partido Comunista. Dedicou-se, a partir de então, inteiramente à literatura. Foi eleito, em 6 de abril de 1961, para a cadeira de número 23, da Academia Brasileira de Letras, que tem por patrono José de Alencar e por primeiro ocupante Machado de Assis.

A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba em várias partes do Brasil. Seus livros foram traduzidos para 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e em formato de audiolivro.

Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001. Foi cremado conforme seu desejo, e suas cinzas foram enterradas no jardim de sua residência na Rua Alagoinhas, no dia em que completaria 89 anos.

A obra de Jorge Amado mereceu diversos prêmios nacionais e internacionais, entre os quais destacam-se: Stalin da Paz (União Soviética, 1951), Latinidade (França,

1971), Nonino (Itália, 1982), Dimitrov (Bulgária, 1989), Pablo Neruda (Rússia, 1989), Etruria de Literatura (Itália, 1989), Cino Del Duca (França, 1990), Mediterrâneo (Itália, 1990), Vitaliano Brancatti (Itália, 1995), Luis de Camões (Brasil, Portugal, 1995), Jabuti (Brasil, 1959, 1995) e Ministério da Cultura (Brasil, 1997).

Recebeu títulos de Comendador e de Grande Oficial, nas ordens da Venezuela, França, Espanha, Portugal, Chile e Argentina; além de ter sido feito Doutor Honoris Causa em 10 universidades, no Brasil, na Itália, na França, em Portugal e em Israel. O título de Doutor pela Sorbonne, na França, foi o último que recebeu pessoalmente, em 1998, em sua última viagem a Paris, quando já estava doente.

Jorge Amado orgulhava-se do título de Obá, posto civil que exercia no Ilê Axé Opô Afonjá, na Bahia.

Disponível em:

http://www.jorgeamado.org.br/?page_id=75

1 ano

Jorge e Zélia, grávida de João Jorge, em São João de Meriti. 1947

Cerimônia de posse na Academia Brasileira de Letras

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Histórias de Jorge

ROMANCES: - O País do Carnaval, 1931 - Cacau, 1933 - Suor, 1934 - Jubiabá, 1935 - Mar Morto, 1936 - Capitães da Areia, 1936 - Terras do Sem Fim, 1943 - São Jorge dos Ilhéus, 1944 - Seara Vermelha, 1946 - Os Subterrâneos da Liberdade (3v), 1954 - Gabriela, Cravo e Canela, 1958 - Os Pastores da Noite, 1964 - Dona Flor e Seus Dois Maridos,1966 - Tenda dos Milagres, 1969 - Teresa Batista Cansada da Guerra, 1972 - Tieta do Agreste, 1977 - Farda Fardão Camisola de Dormir, 1979 - Tocaia Grande: a face obscura, 1984 - O Sumiço da Santa: uma história de feitiçaria, 1988 - A Descoberta da América pelos Turcos, 1994 - O Compadre de Ogum, 1995 NOVELAS - A Morte e a Morte de Quincas Berro D’água, 1959 - Os Velhos Marinheiros, 1976 LITERATURA INFANTO-JUVENIL: - O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: uma história de amor, 1976 - A Bola e o Goleiro, 1984 - O Capeta Carybé, 1986 POESIA: - A Estrada do Mar, 1938 TEATRO: - O Amor do Soldado, 1947 (ainda com o título O Amor de Castro Alves), 1958 CONTOS: - Sentimentalismo, 1931 - O homem da mulher e a mulher do homem, 1931

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- História do carnaval, 1945 - As mortes e o triunfo de Rosalinda, 1965 - Do recente milagre dos pássaros, 1979 - O episódio de Siroca, 1982 - De como o mulato Porciúncula descarregou o seu defunto, 1989 RELATOS AUTOBIOGRÁFICOS: - O menino grapiúna, 1981 - Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei, 1992 TEXTOS AUTOBIOGRÁFICOS: - ABC de Castro Alves, 1941 - O cavaleiro da esperança, 1945 GUIA/VIAGENS: - Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e de mistérios, 1945 - O mundo da paz (viagens), 1951 - Bahia Boa Terra Bahia, 1967 - Bahia, 1970 - Terra Mágica da Bahia, 1984. DOCUMENTO POLÍTICO/ORATÓRIA: - Homens e coisas do Partido Comunista, 1946 - Discursos, 1993 LIVRO TRADUZIDO: - Dona Bárbara (Doña Barbara), romance do venezuelano Rómulo Gallegos, 1934 EM PARCERIA: - Lenita (novela), com Edison Carneiro e Dias da Costa, 1929 - Descoberta do mundo (literatura infantil), com Matilde Garcia Rosa, 1933 - Brandão entre o mar e o amor, com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz, 1942 - O mistério de MMM, com Viriato Corrêa, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Rachel de Queiroz, José Condé, Guimarães Rosa, Antônio Callado e Orígines Lessa, 1962 PUBLICAÇÕES NO EXTERIOR:

Segundo a Fundação Casa de Jorge Amado, existem registros oficiais de traduções de obras do escritor para os seguintes idiomas: azerbaidjano, albanês, alemão, árabe, armênio, búlgaro, catalão, chinês, coreano, croata, dinamarquês, eslovaco, esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês, galego, georgiano, grego, guarani, hebraico, holandês, húngaro, iídiche, inglês, islandês, italiano, japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol, norueguês, persa, polonês, romeno, russo, sérvio, sueco, tailandês, tcheco, turco, turcumênio, ucraniano e vietnamita (48 no total). Essas traduções foram publicadas no mínimo nos seguintes países: Albânia, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Armênia, Áustria, Azerbaidjão, Bulgária, Canadá, Chile, China, Colômbia, Coréia do Norte, Coréia do Sul, Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Eslováquia, Estônia, Finlândia, França, Geórgia, Grécia, Holanda, Hungria, Inglaterra, Irã, Islândia, Israel, Itália, Iugoslávia, Japão, Letônia, Lituânia, México, Mongólia, Noruega, Paraguai, Polônia, Portugal, República Tcheca, Romênia, Rússia, Suécia, Tailândia, Turquia, Ucrânia, Uruguai, Venezuela e Vietnã; o Brasil também deve ser computado em função da edição nacional em esperanto, totalizando 52 nações. Dados extraídos de livros do autor, portais da Internet, outros livros e revistas e, em especial, dos Cadernos de Literatura Brasileira publicados pelo Instituto Moreira Salles.

Disponível em: http://www.releituras.com/jorgeamado_bio.asp

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Lygia por ela mesma – Livro: a troca

Lygia Bojunga

Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros me deram casa e comida. Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede; deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava no outro e fazia telhado. E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro. De casa em casa, eu fui descobrindo o mundo (de tanto olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras. Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça. Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto mais íntimos a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar o telhado ou de construir novas casas.

Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava minha imaginação. Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia; e de barriga assim toda cheia, me leva pra morar no mundo inteiro: iglu, cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto, o livro me dava. Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que – no meu jeito de ver as coisas – é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava. Mas como a gente tem mania de sempre querer mais, eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar tijolo pra – em algum lugar – uma criança juntar com outros e levantar a casa onde vai morar.

Mensagem de Lygia Bojunga para o Dia Internacional do Livro Infantil e Juvenil, traduzida e

divulgada nos 64 países membros do IBBY

Disponível em: http://www.casalygiabojunga.com.br/frames/livroatroca.htm

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História de Lygia

Escritora

brasileira, escreveu inicialmente os seus livros sob o nome Lygia Bojunga Nunes. Nasceu em Pelotas no dia 26 de agosto de 1932 e cresceu numa fazenda. Aos oito anos de idade foi para o Rio de Janeiro onde em 1951 se tornou atriz numa companhia de

teatro que viajava pelo interior do Brasil. A predominância do analfabetismo que presenciou nessas viagens levou-a a fundar uma escola para crianças pobres do interior, que dirigiu durante cinco anos. Trabalhou durante muito tempo para o rádio e a televisão, antes de debutar como escritora de livros infantis em 1972.

Num continente que se tornou conhecido por seu realismo mágico e contos fantásticos, a literatura infantil brasileira caracteriza-se por uma acentuada transgressão dos limites entre a fantasia e a realidade. Lygia Bojunga é uma escritora que perpetuou esta tradição e a tornou perfeita. Para ela, o quotidiano está repleto de magia: onde brotam os desejos tão pesados que literalmente não é possível erguê-los, onde alfinetes e guarda-chuvas conversam tão obviamente como os peões e as bolas, onde

animais vivem vidas tão variadas e vulneráveis como as pessoas. Imperceptivelmente, o concreto da realidade transforma-se noutra coisa, não num outro mundo, mas num mundo dentro do mundo dos sentidos, onde a linha entre o possível é tão difusa

como fácil de ultrapassar. A tristeza vive com Bojunga juntamente com o conforto, a calma alegria com a estonteante aventura e no centro da fantasia da escrita está a criança, muitas vezes sozinha e abandonada, sempre sensível, sempre cheia de

fantasias. A morte não é tabu, a desilusão também não, mas além da próxima esquina, espera a cura. Numa prosa lírica e marcante, pinta as suas imagens e não importa se a solidão é muito amarga, há sempre um sorriso que expressa uma compaixão com os mais pequenos, que nunca se torna sentimental.

Os textos de Bojunga baseiam-se

fortemente na perspectiva da criança. Ela observa o mundo através dos olhos brincalhões da criança. Aqui é tudo possível: os seus personagens podem fantasiar um cavalo no qual cavalgam a galope ou desenhar uma porta numa parede, que atravessam no momento seguinte. As fantasias servem geralmente para ultrapassar experiências pessoais difíceis: quando a personagem principal em Corda Bamba, 1979 usa uma corda para entrar em uma casa estranha com muitas portas fechadas, do outro lado da rua, é na prática uma forma de curar a tristeza depois de ter perdido os seus pais numa morte inesperada. Em A Casa da Madrinha, 1987 percebemos depressa que as experiências fantásticas de Alexandre durante a sua busca pela casa longínqua de sua madrinha são na realidade a concretização das fantasias de felicidade e amparo de um menino da rua abandonado. É uma história que se aproxima do conto de Astrid Lindgren Sunnanäng. A fantasia psicológica de Bojunga emerge novamente nos contos com animais: quando o tatuzinho Vítor em O Sofá Estampado, 1980 se sente nervoso, começa

1 ano

Aos 19 anos tomada de

paixão pelo teatro

"... naquele tempo escrever/criar personagens era, pra mim, uma forma de sobreviver e de poder construir a casa que eu queria pra morar (a Boa Liga); só depois, quando eu abracei a literatura, é que eu me dei conta que escrever/criar personagens era muito mais que um jeito de sobreviver: era – e agora sim! – o jeito de viver que eu, realmente, queria pra mim."

Após abandonar sua carreira de atriz

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a tossir e arranhar o sofá – até entrar um momento mais tarde nos seus tempos de infância.

O realismo mágico e perspicácia psicológica reúnem-se a uma paixão pelo social e pela democracia. Bojunga, que começou a escrever quando ainda dominava a ditadura no Brasil, dirigia atividades subversivas. Isto torna-se mais fácil em literatura infantil porque – nas palavras de Bojunga – os generais não leem livros destinados às crianças. Nestes livros, encontram-se galos de briga com o cérebro costurado com arame e pavões com filtros de pensamento que se removem com um saca-rolhas. Os ventos da liberdade são fortes nos livros de Bojunga, onde a crítica contra a falta de igualdade entre os sexos é um tema recorrente. Mas Bojunga nunca dá sermões, o sério é sempre equilibrado pela brincadeira e o humor absurdo. Os sonhos inflados de Raquel em A Bolsa Amarela, 1976, são literalmente perfurados por um alfinete, e transformados em pipas de papel que voam para bem distante à mercê dos ventos.

Bojunga (que costuma apresentar-se em público com monólogos dramáticos) tem o dom da narrativa oral que prende o leitor logo na primeira página. Também escreveu peças teatrais e gosta de usar descrições cênicas. Num dos seus livros, Angélica, 1975, incluiu uma peça de teatro completa. Não é sempre a história em si que é o mais importante nos seus livros, por vezes une-se um acontecimento ao outro em longas cadeias (como nas narrativas orais), onde o personagem principal poderá por vezes desaparecer do centro de atenção. A tônica está na própria narrativa, com os seus tons humorísticos e poéticos, e na sensação estranha de liberdade que brota quando tudo é possível. A forma refinada como Bojunga deixa cores expressarem emoções contribui fortemente para a extraordinária beleza dos seus livros. Esta expressão é talvez mais marcante em O Meu Amigo Pintor, 1978 (também transformado em peça teatral), que descreve como um personagem, um menino, tenta curar a sua tristeza

pela morte de um pintor com a ajuda das cores. Um relógio é amarelo ao tocar as horas, para voltar a ser branco quando para. Amarelo é a cor preferida de Bojunga, ligada à alegria da vida,

tornou-se o tema predileto desde o seu primeiro livro Os Colegas, 1972.

Por vezes, Bojunga prefere ficar na realidade e mostrar então o seu olhar psicológico penetrante: Seis Vezes Lucas, 1995, descreve, como na obra anterior, Tchau, 1984, a infidelidade, conflitos matrimoniais e divórcio do ponto de vista impotente – mas esperançoso – da criança.

Bojunga entra sem medo no domínio dos adultos, na sua escolha de justificativas encostando-se com todo o direito à sua enorme capacidade de concretizar e personificar as sombras interiores em histórias fáceis de entender.

Como Hans Christian Andersen, com quem se aparenta claramente, Bojunga equilibra-se com

perícia na linha entre o humor e o sério. No seu mais recente livro, Retratos de Carolina, 2002, domina o sério. Esta escritora fascinada pelo experimento tenta aqui novos caminhos. Em uma narrativa que se aproxima da forma do meta-romance, permite que o leitor siga o personagem principal desde a infância até à vida adulta. Deste modo, Bojunga

rompe as fronteiras da literatura infanto-juvenil e preenche assim as ambições que enuncia no texto final e no prefácio do livro: dar lugar a si própria e às personagens que criou dentro duma só

casa, “uma casa que eu inventei”. As obras de Bojunga estão traduzidas para

várias línguas, entre as quais francês, alemão, espanhol, norueguês, sueco, hebraico, italiano, búlgaro, checo e islandês. Recebeu vários prêmios, entre eles, o Prêmio Jabuti (1973), o prestigiado Prêmio Hans Christian Andersen (1982) e o Prêmio da Literatura Rattenfänger (1986).

Disponível:

http://www.alma.se/upload/alma/pristagare/2004/biobibliography_portugese.pdf

Recebeu da Princesa Victoria,

da Suécia, o prêmio ALMA, 2004

Quando a Casa Lygia Bojuga iniciou a produção de Retratos de Carolina, a câmera de Peter registrou Lygia junto ao mar – exatamente no local onde, no livro, Lygia se despede de Carolina.

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Histórias de Lygia

Os colegas , 1972 Angélica, 1975 A bolsa amarela, 1976 A casa da madrinha, 1978 Corda bamba, 1979 O sofá estampado, 1980 Tchau, 1984 O meu amigo pintor, 1987 Nós três, 1987 Livro, um encontro, 1988 Fazendo Ana Paz, 1991 Paisagem, 1992 6 vezes Lucas, 1995 O abraço, 1995 Feito à mão, 1996 A cama, 1999 O Rio e eu, 1999 Retratos de Carolina, 2002 Aula de inglês, 2006 Sapato de salto, 2006 Dos vinte 1, 2007 Querida, 2009

http://www.casalygiabojunga.com.br

“A literatura funciona para nós como um espelho. Quanto mais nos olhamos nele, mais vamos captando revelações sobre nós mesmos

e, consequentemente, sobre nossa postura face ao mundo.”

http://educarparacrescer.abril.com.br

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Manuel por ele mesmo (1886–1968) - Autorretrato

Manuel Bandeira

Provinciano que nunca soube

Escolher bem uma gravata;

Pernambucano a quem repugna

A faca do pernambucano;

Poeta ruim que na arte da prosa

Envelheceu na infância da arte,

E até mesmo escrevendo crônicas

Ficou cronista de província;

Arquiteto falhado, músico

Falhado (engoliu um dia

Um piano, mas o teclado

Ficou de fora); sem família,

Religião ou filosofia;

Mal tendo a inquietação de espírito

Que vem do sobrenatural,

E em matéria de profissão

Um tísico profissional.

Disponível em: http://www.revista.agulha.nom.br

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História de Manuel

Terceiro ocupante da Cadeira 24, eleito em 29 de agosto de 1940, na sucessão de Luís Guimarães e recebido pelo Acadêmico Ribeiro Couto em 30 de novembro de 1940. Recebeu os Acadêmicos Peregrino Júnior e Afonso Arinos de Melo Franco.

Manuel Bandeira (M. Carneiro de Sousa B. Filho), professor, poeta, cronista, crítico e historiador literário, nasceu em Recife, PE, em 19 de abril de 1886, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 13 de outubro de 1968.

Filho do engenheiro civil Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e de Francelina Ribeiro de Sousa Bandeira. Transferiu-se aos 10 anos para o Rio de Janeiro, onde cursou o secundário no Externato do Ginásio Nacional, hoje Colégio Pedro II, de 1897 a 1902, bacharelando-se em letras. Em 1903 matriculou-se na Escola Politécnica de São Paulo para fazer o curso de engenheiro-arquiteto. No ano seguinte abandonou os estudos por motivo de doença e fez estações de cura em Campanha, MG, Teresópolis e Petrópolis, RJ, e por fim Clavadel, Suíça, onde se demorou de junho de 1913 a outubro de 1914. Ali teve como companheiro de sanatório o poeta Paul Eluard. Sua vida poderia ter sido breve, face à doença. Viveu até os 82 anos, construindo

uma das maiores obras poéticas da moderna literatura brasileira.

De volta ao Brasil, Manuel Bandeira iniciou a sua produção literária em periódicos. Em 1917, publicou A cinza das horas, onde reuniu poemas compostos durante a doença. Em 1919 publicou o segundo livro de poemas, Carnaval. Enquanto o anterior evidenciava as raízes tradicionais de sua cultura e, formalmente, sugeria uma busca da simplicidade, esse segundo livro caracterizava-se por uma deliberada

liberdade de composição rítmica. Ao lado de "sonetos que não passam de pastiches parnasianos", segundo o próprio Bandeira, nele figura o famoso poema "Os sapos", sátira ao Parnasianismo, que veio a ser declamado, três anos depois, durante a Semana de Arte Moderna, por Ronald de Carvalho. Antecipador de um novo espírito na poesia

brasileira, Bandeira foi cognominado, por Mário de Andrade, de "São João

Bandeira por Candido Portinari

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Batista do Modernismo". Por intermédio do amigo Ribeiro

Couto, Manuel Bandeira conheceu os escritores paulistas que, em 1922, lançaram o movimento modernista. Não participou diretamente da Semana, mas colaborou na revista Klaxon e também na Revista Antropofagia, Lanterna Verde, Terra Roxa e A Revista.

Em 1927, viajou ao Norte do Brasil, até Belém, parando em Salvador, Recife, Paraíba, Natal, Fortaleza e São Luís do Maranhão. De 1928 a 1929 permaneceu no Recife como fiscal de bancas examinadoras de preparatórios. Em 1935, foi nomeado inspetor de ensino secundário; em 1938, professor de Literatura

Universal no Externato do Colégio Pedro II; em 1942, professor de Literaturas Hispano-Americanas na Faculdade Nacional de Filosofia, sendo aposentado por lei especial do Congresso em 1956. Desde 1938, era membro do Conselho Consultivo do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Recebeu o prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira por conjunto de obra (1937) e o prêmio de poesia do Instituto Brasileiro de Educação e Cultura, também por conjunto de obra (1946).

Durante toda a vida, fez crítica de artes plásticas, crítica literária e musical para vários jornais e revistas. Em 1925, colaborou na

seção "Mês modernista" do jornal A Noite, na revista A Ideia Ilustrada e na revista musical para o Diário Nacional, de São Paulo; em 1930-31, escreveu crítica de cinema para o Diário da Noite, do Rio de Janeiro, e para A

Província, do Recife; em 1941, fez crítica de artes plásticas em A Manhã, do Rio de Janeiro; em 1954, publicou De poetas e de poesia (reunião de textos de crítica); em 1955, começou a escrever crônicas para o Jornal do Brasil; de 1961 a 1963,

escreveu crônicas semanais para o programa "Quadrante", da Rádio Ministério da Educação; de 1963 a 1964, para os programas "Vozes da Cidade" e "Grandes poetas do Brasil", da Rádio Roquette-Pinto.

Como crítico de arte, Manuel Bandeira revelou particular afeição pelas velhas igrejas coloniais da Bahia e barrocas de Minas Gerais, pela arte arquitetônica dos conventos e dos velhos casarões portugueses da Bahia e do Rio de Janeiro, e pelas formas singelas das mais humildes igrejas do interior.

Como crítico de literatura e historiador literário, revelou-se sempre um humanista. Consagrou-se pelo estudo sobre as Cartas chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, pelo esboço biográfico Gonçalves Dias, além de ter organizado várias antologias de poetas brasileiros e publicado o estudo Apresentação da poesia brasileira (1946). Em 1954, publicou o livro de memórias “Itinerário de Pasárgada”, onde, além de suas memórias, expõe todo o seu conhecimento sobre formas e técnicas de poesia, o processo da sua aprendizagem literária e as sutilezas da criação poética. Sua obra foi reunida nos volumes Poesia e Prosa, Aguilar (1958), contendo numerosos estudos críticos e biográficos.

Disponível em:

http://www.academia.org.br

Andorinha lá fora está dizendo: - "Passei o dia à toa, à toa!"

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!

Passei a vida à toa, à toa...

Andorinha

Poetas: Drummond, Vinicius, Bandeira, Quintana, Paulo Mendes Campos

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Histórias de Manuel

POESIA:

Poesias, reunindo A cinza das horas, Carnaval, O ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930); Estrela da manhã (1936); Poesias escolhidas (1937); Poesias completas, reunindo as obras anteriores e mais Lira dos cinquet'anos (1940); Poesias completas, 4a edição, acrescida de Belo belo (1948); Poesias completas, 6a edição, acrescida de Opus 10 (1954); Poemas traduzidos (1945); Mafuá do malungo, versos de circunstância (1948); Obras poéticas (1956); 50 Poemas escolhidos pelo autor (1955); Alumbramentos (1960); Estrela da tarde (1960).

PROSA:

Crônicas da província do Brasil (1936); Guia de Ouro Preto (1938); Noções de história das literaturas (1940); Autoria das Cartas chilenas, separata da Revista do Brasil (1940); Apresentação da poesia brasileira (1946); Literatura hispano-americana (1949); Gonçalves Dias, biografia (1952); Itinerário de Pasárgada (1954); De poetas e de poesia (1954); A flauta de papel (1957); Prosa, reunindo obras anteriores e mais Ensaios literários, Crítica de Artes e Epistolário (1958); Andorinha, andorinha, crônicas (1966); Os reis vagabundos e mais 50 crônicas (1966); Colóquio unilateralmente sentimental, crônica (1968).

ANTOLOGIAS:

Antologia dos poetas brasileiros da fase romântica (1937); Antologia dos poetas brasileiros da fase parnasiana (1938); Antologia dos poetas brasileiros bissextos contemporâneos (1946). Organizou os Sonetos completos e Poemas escolhidos de Antero de Quental; as Obras poéticas de Gonçalves Dias (1944); as Rimas de José Albano (1948) e, de Mário de Andrade, Cartas a Manuel Bandeira (1958).

Disponível em: http://www.academia.org.br

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Manoel por ele mesmo

Manoel de Barros

Manoel por Manoel

Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por um motivo do ermo não fui um menino peralta. Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem. Quando era criança eu deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto.

Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação.

Porque se a gente fala a partir de criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas

raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.

Fraseador Hoje eu completei oitenta e cinco anos. O poeta nasceu

de treze. Naquela ocasião escrevi uma carta aos meus pais, que moravam na fazenda, contando que eu decidira o que queria ser no futuro. Que eu não queria ser doutor. Nem doutor que cura nem doutor de fazer casa nem doutor de medir terras. Que eu queria era ser fraseador. Meu pai ficou meio vago depois de ler a carta. Minha mãe inclinou a cabeça. Eu queria ser fraseador e não doutor. Então, o meu irmão mais velho perguntou: Mas esse tal de fraseador bota mantimento em casa? Eu não queria ser doutor, eu só queria ser fraseador. Meu irmão insistiu: Mas se fraseador não bota mantimento em casa, nós temos que botar uma enxada na mão desse menino pra ele deixar de variar. A mãe baixou a cabeça um pouco mais. O pai continuou meio vago. Mas não botou enxada.

BARROS, MANOEL. Memórias inventadas. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2006.

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História de Manoel O poeta Manoel de Barros, patrono da

Fundação Manoel de Barros (FMB)

Manoel de Barros nasceu no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá em 1916. Mudou-se para Corumbá, onde se fixou de tal forma que chegou a ser considerado corumbaense. Atualmente mora em Campo Grande. É advogado, fazendeiro e poeta. Escreveu seu primeiro poema aos 19 anos, mas sua revelação poética ocorreu aos 13 anos de idade quando ainda estudava no Colégio São José dos Irmãos Maristas, Rio de Janeiro. Autor de

várias obras pelas quais recebeu prêmios como o “Prêmio Orlando Dantas” em 1960, conferido pela Academia Brasileira de Letras ao livro “Compêndio para Uso dos Pássaros”. Em 1969 recebeu o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal pela obra “Gramática Expositiva do Chão” e, em 1997 o livro “Sobre Nada” recebeu um prêmio de âmbito nacional.

Perfil

Cronologicamente pertence à geração de 45. Poeta moderno no que se refere ao trato com a linguagem. Avesso à repetição de formas e ao uso de expressões surradas, ao lugar comum e ao chavão. Mutilador da realidade e pesquisador de expressões e significados verbais. Temática regionalista indo além do valor documental para fixar-se no mundo mágico das coisas banais retiradas do cotidiano. Inventa a natureza através de sua linguagem, transfigurando o mundo que o cerca. Alma e coração abertos a dor universal. Tematiza o Pantanal, universalizando-o. A natureza é sua maior inspiração, o Pantanal é o de sua poesia.

Disponível em: http://www.fmb.org.br

“O tema do poeta é sempre ele

mesmo. Ele é um narcisista: expõe o

mundo através dele mesmo. Ele quer

ser o mundo, e pelas inquietações

dele, desejos, esperanças, o mundo

aparece. Através de sua essência, a

essência do mundo consegue

aparecer. O tema da minha poesia

sou eu mesmo e eu sou pantaneiro.”

WWW.poemasdeadrianoespindola.blogspot.com.br

(Praça Pantaneira) Campo Grande /Mato Grosso do Sul

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Histórias de Manuel

• Poemas concebidos sem pecado – 1937. • Face imóvel – 1942. • Poesias – 1956. • Compêndio para uso dos pássaros – 1960. • Gramática expositiva do chão – 1966. • Matéria de poesia – 1970. • Arranjos para assobio – 1980. • Livro de pré-coisas – 1985. • O guardador de águas – 1989. • Gramática expositiva do chão - poesia quase toda – 1990. • Concerto a céu aberto para solo de aves – 1993. • Livro de ignorãças – 1993. • Livro sobre nada -1996. • Ensaios fotográficos – 2000. • Exercícios de ser criança – 2000. • O fazedor de amanhecer – 2001. • Tratado geral das grandezas do ínfimo – 2001. • Para encontrar o azul eu uso pássaros – 2003. • Memórias Inventadas - Infância – 2003. • Cantigas por um passarinho à toa – 2003. • Encantador de palavras- Edição de portuguesa – 2000. • Les paroles sans limite - Edição francesa – 2003. • Todo lo que no invento es falso - Antologia na Espanha – 2003. • Águas – 2001. • Das Buch der Unwissenheiten - Edição da revista alemã Alkzent – 1996. • Poemas rupestres – 2004. • Memórias inventadas I – 2005. • Memórias inventadas II – 2006. LIVROS PREMIADOS 1.“Compêndio para uso dos pássaros”. Prêmio Orlando Dantas - Diário de notícias, 08 de setembro de 1960 - Rio de Janeiro 2.“Gramática expositiva do chão”. Prêmio Nacional de poesias – 1966. Governo Costa e Silva - Brasília 3.“O guardador de águas”. Prêmio Jabuti de poesias - 1989 - São Paulo 4.“Livro sobre nada”. Prêmio Nestlé de Poesia - 1996 5.“Livro das Ignorãnças”. Prêmio Alfonso Guimarães da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro - 1996 6.Conjunto de obras. Prêmio Nacional de Literatura do Ministério da Cultura, 05 de novembro de 1998 7.Secretaria de Cultura de Mato Grosso do Sul como melhor escritor do ano 1990. “Prêmio Jacaré de Prata” 8.Livro “Exercício de ser criança”. Prêmio Odilo Costa Filho - Fundação do Livro Infanto Juvenil - 2000 9.Livro “Exercício de ser criança” – 2000. Prêmio Academia Brasileira de Letras 10.Pen Clube do Brasil- data não anotada 11.“O fazedor de amanhecer (Salamandra) - livro de ficção do ano. Prêmio Jabuti- 2002 12.“Poemas Rupestres” - Prêmio APCA 2004 de melhor poesia- 29 de março de 2005 13.“Poemas Rupestres” - Prêmio Nestlé - 2006

“Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.”

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Lobato por ele mesmo (1882-1948)

Monteiro Lobato

Nasceu em Taubaté, aos 18 de abril de... 1884 (na verdade

1882). Mamou até 87. Falou tarde, e ouviu pela primeira vez, aos 5 anos, um célebre ditado: "Cavalo pangaré/Mulher que ... em pé/Gente de Taubaté/ Dominus libera mé".

Concordou. Depois, teve caxumba aos 9 anos. Sarampo aos 10. Tosse

comprida aos 11. Primeiras espinhas aos 15. Gostava de livros. Leu o Carlos Magno e os doze pares de

França, o Robinson Crusoé, e todo o Júlio Verne. Metido em colégio, foi um aluno nem bom nem mau -

apagado. Tomou bomba em exame de português, dada pelo Freire. Insistiu. Formou-se em Direito, com um simplesmente no 4º ano - merecidíssimo. Foi promotor em Areias, mas não promover coisa nenhuma. Não tinha jeito para a chicana e abandonou o anel de rubi (que nunca usou no dedo, aliás).

Fez-se fazendeiro. Gramou café a 4,200 a arroba e feijão a

4.000 o alqueire. Convenceu-se a tempo que isso de ser produtor é sinônimo de

ser imbecil e mudou de classe. Passou ao paraíso dos intermediários. Fez-se negociante, matriculadíssimo. Começou editando a si próprio e acabou editando aos outros.

Escreveu umas tantas lorotas que se vendem - Urupês, gênero de grande saída, Cidades mortas,

Ideias de Jeca Tatu, subprodutos, Problema vital, Negrinha, Narizinho. Pretende publicar ainda um romance sensacional que começa por um tiro:

- Pum! E o infame cai redondamente morto... Nesse romance introduzirá uma novidade de grande alcance, qual seja, a de suprimir todos os

pedaços que o leitor pula. Particularidades: não faz nem entende de versos, nem tentou o raid a Buenos Aires. Físico: lindo! Monteiro Lobato Autobiografia A Novela Semanal, São Paulo, nº 1, 2 de maio 1921.

Disponível em: http://www.projetomemoria.art.br

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História de Lobato José Bento Monteiro Lobato estreou

no mundo das letras com pequenos contos para os jornais estudantis dos colégios Kennedy e Paulista, que frequentou em Taubaté, cidade do Vale do Paraíba onde nasceu, em 18 de abril de 1882.

No curso de Direito da Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, dividiu-se entre suas principais paixões: escrever e desenhar. Colaborou em publicações dos alunos, vencendo um concurso literário promovido em 1904 pelo Centro Acadêmico XI de Agosto. Morou na república estudantil do Minarete, liderou o grupo de colegas que formou o Cenáculo e mandou artigos para um jornalzinho de Pindamonhangaba, que tinha como título o mesmo nome daquela moradia de estudantes. Nessa fase de sua formação, Lobato realizou as leituras básicas e entrou em contato com a obra do filósofo alemão Nietzsche, cujo pensamento o guiaria vida afora.

Diploma nas mãos, Lobato voltou a Taubaté. E de lá prosseguiu enviando artigos para um jornal de Caçapava, O Combatente. Nomeado promotor público, mudou-se para Areias, casou-se com Purezinha e começou a traduzir artigos do Weekly Times para O Estado de S. Paulo. Fez ilustrações e caricaturas para a revista carioca Fon-Fon! e colaborou no jornal Gazeta de Notícias, também do Rio de Janeiro, assim como na Tribuna de Santos.

A morte súbita do avô determinou uma reviravolta na vida de Monteiro Lobato, que herdou a Fazenda do Buquira, para a qual se transferiu com a família. Localizada na Serra da Mantiqueira, já estava com as terras esgotadas pela lavoura do café. Assim mesmo, ele tentou transformá-la num negócio rendoso, investindo em projetos agrícolas audaciosos.

Mas não se afastou da literatura. Observando com interesse o mundo da roça, logo escreveu artigo, para O Estado de S. Paulo, denunciando as queimadas no Vale do Paraíba. Intitulado “Uma velha praga”, teve grande repercussão quando saiu, em novembro de 1914. Um mês depois, redigiu Urupês, no mesmo jornal, criando o Jeca Tatu, seu personagem-símbolo. Preguiçoso e adepto da "lei do menor esforço", Jeca era completamente diferente dos caipiras e indígenas idealizados pelos romancistas como, por exemplo, José de Alencar. Esses dois artigos seriam reproduzidos em diversos jornais, gerando polêmica de norte a sul do país. Não demorou muito e Lobato, cansado da monotonia do campo, acabou vendendo a fazenda e instalando-se na capital paulista.

Com o dinheiro da venda da fazenda, Lobato virou definitivamente um escritor-jornalista. Colaborou, nesse período, em publicações como Vida Moderna, O Queixoso, Parafuso, A Cigarra, O Pirralho e continuou em

O Estado de S. Paulo. Mas foi a linha nacionalista da Revista do Brasil, lançada em janeiro de 1916, que o empolgou. Não teve dúvida: comprou-a em junho de 1918 com o que recebera pela Buquira. E deu vez e voz para novos talentos, que apareciam em suas páginas ao lado de gente famosa.

A revista prosperou e ele formou uma empresa editorial que continuou aberta aos novatos. Lançou, inclusive, obras de artistas

modernistas, como O homem e a morte, de Menotti del Picchia, e Os Condenados, de Oswald de Andrade. Os dois com capa de Anita Malfatti, que seria pivô de uma séria polêmica entre Lobato e o grupo da Semana de 22: Lobato criticou a exposição da pintora no artigo “Paranoia ou mistificação?”, de 1917. “Livro é sobremesa: tem que ser posto debaixo do nariz do freguês", dizia Lobato, que, para

provocar a gulodice do leitor, tratava o livro como um produto de consumo como outro qualquer, cuidando de sua qualidade gráfica e adotando capas coloridas e atraentes. O empreendimento cresceu e foi seguidamente reestruturado para acompanhar a velocidade dos negócios, impulsionada ainda mais por uma agressiva política de distribuição que contava com vendedores autônomos e com vasta rede de distribuidores espalhados pelo país. Novidade e tanto para a época, e que resultou em altas tiragens. Lobato acabaria entregando a direção da

Revista do Brasil a Paulo Prado e Sérgio Milliet, para dedicar-se à editora em tempo integral. E, para poder atender às crescentes demandas, importou mais máquinas dos Estados Unidos e da Europa, que iriam incrementar seu parque gráfico. Mergulhado em livros e mais livros, Lobato não conseguia parar.

Escreveu, nesse período, sua primeira história infantil, A menina do narizinho arrebitado. Com capa e desenhos de Voltolino, famoso ilustrador da época, o livrinho, lançado no Natal de 1920, fez o maior sucesso. Dali nasceram outros episódios, tendo sempre como personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia

Nastácia e, é claro, Emília, a boneca mais esperta do planeta. Insatisfeito com as traduções de livros europeus para crianças, ele criou aventuras com figuras bem brasileiras, recuperando costumes da roça e lendas do folclore nacional. E fez mais: misturou todos eles com elementos da literatura universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema. No Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan brinca com o Gato Félix, enquanto o saci ensina truques a Chapeuzinho Vermelho no país das maravilhas de Alice. Mas Monteiro Lobato também fez questão de transmitir conhecimento e ideias em

livros que falam de história, geografia e matemática, tornando-se pioneiro na literatura paradidática - aquela em que se aprende brincando.

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Trabalhando a todo vapor, Lobato teve que enfrentar uma série de obstáculos. Primeiro, foi a Revolução dos Tenentes que, em julho de 1924, paralisou as atividades da sua empresa durante dois meses, causando grande prejuízo. Seguiu-se uma inesperada seca, que decorreu em um corte no fornecimento de energia. O maquinário gráfico só podia funcionar dois dias por semana. E numa brusca mudança na política econômica, Arthur Bernardes desvalorizou a moeda e suspendeu o redesconto de títulos pelo Banco do Brasil. A consequência foi um enorme rombo financeiro e muitas dívidas. Só restou uma alternativa a Lobato: pedir a autofalência, apresentada em julho de 1925. O que não significou o fim de seu ambicioso projeto editorial, pois ele já se preparava para criar outra empresa. Assim surgiu a Companhia Editora Nacional. Sua produção incluía livros de todos os gêneros, entre eles traduções de Hans Staden e Jean de Léry, viajantes europeus que andaram pelo Brasil no século XVI. Lobato recobrou o antigo prestígio, reimprimindo nela sua marca inconfundível: fazer livros bem impressos, com projetos gráficos apurados e enorme sucesso de público.

Decretada a falência da Companhia Gráfico-Editora Monteiro Lobato, o escritor mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde permaneceu por dois anos, até 1927. Já um fã declarado de Henry Ford, publicou sobre ele uma série de matérias entusiasmadas em O Jornal. Depois passou para A Manhã, de Mario Rodrigues. Além de escrever sobre variados assuntos, em A Manhã lançou O Choque das Raças, folhetim que causou furor na imprensa carioca, logo depois transformado em livro. Do Rio Lobato colaborou também com jornais de outros estados, como o Diário de São Paulo, para o qual em 20 de março de 1926 enviou "O nosso dualismo", analisando com distanciamento crítico o movimento modernista inaugurado com a Semana de 22. O artigo foi refutado por Mário de Andrade com o texto "Post-Scriptum Pachola", no qual anunciava sua morte.

Em 1927, Lobato assumiu o posto de adido comercial em Nova Iorque e partiu para os Estados Unidos, deixando a Companhia Editora Nacional sob o comando de seu sócio, Octalles Marcondes Ferreira. Durante quatro anos, acompanhou de perto as inovações tecnológicas da nação mais desenvolvida do planeta e fez de tudo para, de lá, tentar alavancar o progresso da sua terra. Trabalhou para o estreitamento das relações comerciais entre as duas economias. Expediu longos e detalhados relatórios que apontavam caminhos e apresentavam soluções para nossos problemas crônicos. Falou sobre borracha, chiclete e ecologia. Não mediu esforços para transformar o Brasil num país tão moderno e próspero como a América em que vivia.

Personalidade de múltiplos interesses, Lobato esteve presente nos momentos marcantes da história do

Brasil. Empenhou seu prestígio e participou de campanhas para colocar o país nos trilhos da modernidade. Por causa da Revolução de 30, que exonerou funcionários do governo Washington Luís, ele estava de volta a São Paulo

com grandes projetos na cabeça. O que faltava para o Brasil dar o salto para o

futuro? Ferro, petróleo e estradas para escoar os produtos. Esse era, para ele, o tripé do progresso.

Mas as ideias e os empreendimentos de Lobato acabaram por ferir altos interesses, especialmente de empresas estrangeiras. Como ele não tinha medo de enfrentar adversários poderosos, acabaria na cadeia. Sua prisão foi decretada em março de 1941, pelo Tribunal de Segurança Nacional (TSN). Mas nem assim Lobato se emendou. Prosseguiu a

cruzada pelo petróleo e ainda denunciou as torturas e maus-tratos praticados pela polícia do Estado Novo. Do lado de fora, uma campanha de intelectuais e amigos conseguiu que Getúlio Vargas o libertasse, por indulto, após três meses em cárcere. A perseguição, no entanto continuou. Se não podiam deixá-lo na cadeia, cerceariam suas ideias. Em junho de 1941, um ofício do TSN pediu ao chefe de polícia de São Paulo a imediata apreensão e destruição de todos os exemplares de Peter Pan, adaptado por Lobato, à venda no Estado. Centenas de volumes foram recolhidos em diversas livrarias, e muitos deles chegaram a ser queimados.

Lobato estava em liberdade, mas enfrentava uma das fases mais difíceis de sua vida. Perdeu Edgar, o filho mais velho, presenciou o processo de liquidação das companhias que fundou e, o que foi pior, sofreu com a censura e atmosfera asfixiante da ditadura de Getúlio Vargas. Aproximou-se dos comunistas e saudou seu líder, Luís Carlos Prestes, em grande comício realizado no Estádio do Pacaembu em julho de 1945. Partiu para a Argentina, após associar-se à editora Brasiliense e lançar suas Obras

Completas, com mais de 10 mil páginas em trinta volumes das séries adulta e infantil. Regressou de Buenos Aires em maio de 1947, para encontrar o país às voltas com os desmandos do governo Dutra. Indignado, escreveu Zé Brasil. Nele, o velho Jeca Tatu, preguiçoso incorrigível, que Lobato depois descobriu vítima da miséria, vira um trabalhador rural sem terra. Se antes o caipira lobatiano lutava contra doenças endêmicas, agora tinha no latifúndio e na distribuição injusta da propriedade rural seu pior inimigo. Os personagens prosseguiam na luta, mas seu criador já estava cansado de tantas batalhas. Monteiro Lobato sofreu dois espasmos cerebrais e, no dia 4 de julho de 1948, virou “gás inteligente” - o modo como costumava definir a morte. Foi-se aos 66 anos de idade, deixando imensa obra para crianças, jovens e adultos, e o exemplo de quem passou a existência sob a marca do inconformismo.

Disponível em: http://lobato.globo.com

Aquarela dedicada a Purezinha Monteiro Lobato

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Histórias de Lobato

LITERATURA INFANTO-JUVENIL 1 – Reinações de Narizinho 2 – Viagem ao céu e O Saci 3 – Caçadas de Pedrinho e Hans Staden 4 – História do mundo para as crianças 5 – Memórias da Emília e Peter Pan 6 –Emília no país da gramática e Aritmética da

Emília 7 – Geografia de Dona Benta 8 – Serões de Dona Benta e História das invenções 9 – D. Quixote das crianças 10 – O poço do Visconde 11 – Histórias de tia Nastácia 12 – O Picapau Amarelo e A reforma da natureza 13 – O Minotauro 14 – A chave do tamanho 15 – Fábulas 16 – Os doze trabalhos de Hércules (1º tomo) 17 – Os doze trabalhos de Hércules (2º tomo) LITERATURA GERAL v. 1 – Urupês v. 2 – Cidades mortas v. 3 – Negrinha v. 4 – Ideias de Jeca Tatu v. 5 – A onda verde e O presidente negro v. 6 – Na antevéspera v. 7 – O escândalo do petróleo e Ferro v. 8 – Mr. Slang e o Brasil e Problema vital v. 9 – América v. 10 – Mundo da lua e Miscelânea

v. 11 – A barca de Gleyre (1º tomo) v. 12 – A barca de Gleyre (2º tomo) v. 13 – Prefácios e entrevistas Lançamento posteriores da obra adulta pela Editora Brasiliense v. 14 – Literatura do Minarete v. 15 – Conferências, artigos e crônicas v. 16 – Cartas escolhidas (1º tomo) v. 17 – Cartas escolhidas (2º tomo) v. 18 – Críticas e outras notas v. s/n - Cartas de amor OUTROS TÍTULOS O Saci-Pererê: resultado de um inquérito(sem

indicação de autor). São Paulo, Seção de Obras de O Estado de S. Paulo, 1918.

A menina do narizinho arrebitado. (1920) Edição fac-similar. São Paulo, Metal Leve, 1982.

La nueva Argentina (sob pseudônimo de Miguel P. Garcia). Buenos Aires, Editorial Acteon, 1947.

Zé Brasil. s.l., Ed. Vitória, 1947; Calvino Filho, ilustrado por Portinari, 1948.

Georgismo e comunismo – O imposto único. São Paulo, Brasiliense, 1948.

Disponível em: http://lobato.globo.com

http://topicos.estadao.com.br

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Nelson por ele mesmo (1912-1980)

Nelson Rodrigues

“Todos nós temos histórias que encheriam uma biblioteca; qualquer um pode fazer três mil volumes sobre si mesmo.” Nelson Rodrigues

Eu tinha quatro anos de idade quando saí do Recife. Meu pai

estava na miséria e resolveu vir arranjar emprego no Rio. Veio sozinho

dizendo à minha mãe que a chamaria logo que conseguisse emprego. Sua

intenção era ir para o Correio da Manhã. Mas o tempo passava e ele não

arranjava o emprego. Minha mãe se impacientou, vendeu todas as joias –

era uma grã-fina de Pernambuco – e veio de navio com os filhos. Ela

telegrafou a meu pai: “Vou com as crianças.”

Pegamos um vapor. Por esse gesto de minha mãe, eu me tornei

carioca.

Meu pai caiu no maior pânico de mundo, mas aguentou firme. No

dia da chegada, lá estavam ele e o Olegário Mariano no cais do porto

esperando. Meu pai, assombrado, estupefato, caiu nos braços de minha

mãe (...)

Fomos todos então para a casa de Olegário Mariano. O qual, aliás,

teve uma tremenda briga comigo tempos depois. Ele me dizia aos berros

pelo telefone: “Eu te matei a fome, desgraçado!” Foi uma discussão

terrível, na base do “canalha”, “quebro-te a cara”.

Éramos seis filhos nesta ocasião, conforme o romance da senhora Leandro Dupré, Éramos seis. E aí

chegou aquele batalhão imenso, meu pai num pânico profundo, sem um níquel no bolso, sem emprego, sem

nada; nós tivemos que passar um mês na casa do Olegário Mariano e ele realmente me matou a fome.

O José Mariano, irmão do Olegário, era amigo do Edmundo Bittencourt e conseguiu arranjar emprego

para meu pai no Correio da Manhã.

No dia seguinte à minha chegada no Rio de Janeiro – nunca me

esqueço disso – num vizinho o gramofone tocava a “Valsa do Conde de

Luxemburgo”. Até hoje, quando ouço essa valsa, sinto um vento de nostalgia.

Toda aquela atmosfera de repente desaba sobre mim novamente e fico assim

meio deslumbrado. Desencadeia em mim todo um processo de volta, de

busca, de descoberta. Isso era na Rua Alegre, em Aldeia Campista.

Bom, aí, aos seis anos, fui para uma escola da Rua Alegre, que mudou

de nome, tanto a rua como a escola, mas a escola conserva exatamente a

mesma coisa. D. Rosa se chamava a minha professora, uma senhora de

narinas apertadas, tinha, no primeiro dia, um vestido de desenho todo

florido, mas era um trocadilho com o nome.

Eu comecei a estudar, e aí que ocorreu aquele negócio da merenda...

Eu era pobre, menino pobre, e levava uma banana, e estava muito orgulhoso olhando a banana, mas quando

cheguei no recreio com a minha banana, muito maior que o momento da aula, quando puxei minha banana,

outro garoto, simultaneamente, olhando para mim e baixando os olhos e olhando para mim outra vez,

desembrulhava um sanduíche de ovo que humilhou e liquidou a minha banana. O ovo ainda estava úmido, de

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forma que escorria gema pela boca como uma papa amarela, e o garoto olhando pra mim, e eu não sabia o

que fazer com a banana.

Aliás, essa cena iria se repetir por todo o meu curso, porque meu pai era pobre. Pão e manteiga, isso

pra mim era coisa oriental das Mil e uma noites (...)

O bairro da minha infância me marcou profundamente. Tanto que nas minhas memórias – sou muito

memorialista e quando não faço memórias tenho sempre lembranças para intercalar – falo da paisagem de

Aldeia Campista e das batalhas de confete da Rua Dona Zulmira. Eram fantásticas e tinham uma fama

incrível. Não sei a razão, pois naquele tempo não havia as

coberturas de televisão.

A Tijuca teve uma coisa que me marcou: a Escola

Prudente de Moraes, onde fiz a minha primeira “A vida como

ela é...”. Houve um concurso de composição na aula. Era, se não

me engano, o 4º ano primário, e ganhamos o concurso, eu e o

outro garoto.

O outro garoto escreveu sobre um rajá que passeava

montado num elefante e eu escrevi a história de um adultério

que terminou com o marido esfaqueando a adúltera. Creio que a

professora dividiu o prêmio com o outro garoto como concessão à moral vigente, porque ela ficou meio

apavorada, em pânico, com a violência da minha “A vida como ela é...”. Eu, quando soube que o garoto tinha

ganho também e ouvi a história dele, a dele foi lida em voz alta, a minha não, fiz uma restrição que revela

todo o meu despeito profundo, a minha competição feroz. É que eu

teria posto na testa do rajá um diamante. Ele não tinha posto, e isso foi

minha compensação.

Foi aí que eu fiz o meu primeiro plágio, começando a história

assim: “A madrugada raiava sanguínea e fresca.”

Quando a professora começou a ler, fiquei em pânico que ela

manjasse a história. Foi um plágio cínico, em plena consciência, não foi

coincidência nem nada.

Foi já com esta “A vida como ela é...” que me senti escritor,

porque eu me entreguei a isso com um élan fabuloso. Desandei a

escrever o troço...

Continuei escrevendo e comecei a ser marcado na aula talvez

como um gênio. Era olhado pelas professoras como uma promessa de

tarado. (...)

Mudar para Copacabana foi realmente uma aventura fabulosa, por causa do mar. O mar significava

Olinda, a minha infância profunda. Portanto o mar significava a minha pátria, minha paisagem.

“Voltei” para Olinda, em Copacabana. Fui morar na Rua Inhangá, numa casa que eu achava um

palácio, porque até a Tijuca nós tínhamos morado modestamente. Na Rua Inhangá a casa era de altos e

baixos, tinha um sótão. Foi aí que eu descobri o sótão, isso é uma curiosidade porque eu usei o sótão no

Vestido de noiva. Então, eu subia para o sótão e o achava uma coisa maravilhosa.

Meu pai já estava no Correio da Manhã e foi aí, logo depois, que ele se tornou diretor do jornal.

Desde cedo eu lia meu pai, não entendia muita coisa que ele escrevia, os termos que ele usava, mas

ficava deslumbrado quando não entendia. O que é uma reação normal: até hoje, quando não entendemos

ficamos deslumbrados. E isso antecipou minha vocação, me deu uma pressa literária.

RODRIGUES, SONIA (org.). Nelson Rodrigues por ele mesmo. Editora Nova Fronteira.

E.M. Prudente de Moraes

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História de Nelson

Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife,

em 1912. Aos 5 anos, mudou-se com a família para

o Rio de Janeiro, indo morar na Rua Alegre, em

Aldeia Campista, bairro que depois seria

absorvido pelos vizinhos Andaraí, Maracanã,

Tijuca e Vila Isabel. Em contato com a imaginação

fértil do futuro escritor, a realidade da Zona Norte

carioca, com suas tensões morais e sociais, serviu

como fonte de inspiração para Nelson construir

personagens memoráveis e histórias carregadas

de lirismo trágico.

Aos 13 anos, ingressa na carreira de

jornalista, trabalhando como repórter policial em

A Manhã, um dos jornais fundados por seu pai,

Mário Rodrigues, que marcaram época – o

segundo foi Crítica, palco de uma tragédia que

abalaria o dramaturgo profundamente: o

assassinato de seu irmão, o ilustrador e pintor

Roberto Rodrigues, em 1929.

Lado a lado com o teatro, o jornalismo foi

para ele um ambiente privilegiado de expressão.

Dentre seus textos propriamente jornalísticos,

destacam-se aqueles dedicados ao futebol, em que

empregou toda sua veia dramática, transformando

partidas em batalhas épicas e jogadores em

heróis. Trabalhou nos mais diversos jornais e

revistas, assinando artigos e crônicas, como a

popular e discutida coluna “A Vida Como Ela É…”.

Em 1943, a consagração no Teatro

Municipal do Rio de Janeiro: sua segunda peça,

Vestido de Noiva, montada por um grupo amador,

Os Comediantes, dirigida pelo polonês recém-

imigrado Ziembinski e com cenários de Tomás

Santa Rosa, revolucionava a maneira de se fazer

teatro no Brasil. Sua peça seguinte, Álbum de

Família, de 1946, que trata de incesto, foi

censurada, sendo liberada apenas duas décadas

depois. Dali em diante, sua obra despertaria as

mais variadas reações, nunca a indiferença.

O prestígio alcançado pelo

reconhecimento de seu talento não livrou-o de

contestações ou perseguições. Classificado pelo

próprio Nelson Rodrigues como “desagradável”,

seu teatro chocou plateias, provocando não

apenas admiração, mas também repugnância e

ódio, sentimentos muitas vezes alimentados por

seu temperamento inclinado à polêmica e à

autopromoção.

Nelson Rodrigues morreu no Rio de

Janeiro, em 1980, aos 68 anos. Além dos

romances, contos e crônicas, deixou como legado

17 peças que, vistas em conjunto, colocam-no

entre os grandes nomes do teatro brasileiro e

universal.

Disponível em: http://www.funarte.gov.br

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Histórias de Nelson

ROMANCE Meu Destino É Pecar - 1944 - com o pseudônimo de Suzana Flag Escravas do Amor - 1946 - com o pseudônimo de Suzana Flag Minha Vida - 1946 - com o pseudônimo de Suzana Flag Asfalto Selvagem (2 volumes) - 1960 O Casamento - 1966 O Homem Proibido* - 1981 - com o pseudônimo de Suzana Flag Núpcias de Fogo* - 1997 - com o pseudônimo de Suzana Flag A Mentira* - 2002 - com o pseudônimo de Suzana Flag A Mulher que Amou Demais* - 2003 - com o pseudônimo de Myrna

CONTO Cem Contos Escolhidos: A Vida como Ela É... (2 volumes) - 1961 Elas Gostam de Apanhar - 1974 Pouco Amor Não É Amor* - 2002

CRÔNICA Memórias de Nelson Rodrigues - 1967 A Menina sem Estrela - 1967 O Óbvio Ululante - 1968 A Cabra Vadia - 1970 O Reacionário - 1977 À Sombra das Chuteiras Imortais* - 1993 A Pátria em Chuteiras* - 1994 O Remador de Ben-Hur: Confissões Culturais* - 1996 Não Se Pode Amar e Ser Feliz ao Mesmo Tempo: O Consultório Sentimental de Nelson Rodrigues* - 2002 - com o pseudônimo de Myrna O Profeta Tricolor: Cem Anos de Fluminense* - 2002

ENSAIO O Baú de Nelson Rodrigues: Os Primeiros Anos de Crítica e Reportagem* - 2004

TEATRO Vestido de Noiva, A Mulher sem Pecado - 1944 Álbum de Família - 1946 Anjo Negro, Vestido de Noiva, A Mulher sem Pecado - 1948 Senhora dos Afogados, A Falecida - 1956 Teatro - 1959 Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas Ordinária - 1965 Teatro Quase Completo (com obras inéditas) - 1965 A Serpente - 1980 Os Sete Gatinhos - 1980 Teatro Completo - 1981 - 1989* - quatro volumes; com obras inéditas

*Publicação póstuma

Disponível em: http://www.itaucultural.org.br

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Roseana por ela mesma

Roseana Murray

Digo como Neruda, poeta que amo: para nascer nasci. Para

fazer poesia, amar, cozinhar para os amigos, para ter as portas da

casa e do coração sempre abertas. Nasci num dia quente de

dezembro, em 1950, dois meses antes do previsto, numa clínica em

Botafogo. Sou filha de imigrantes poloneses, Lejbus Kligerman e

Bertha Gutman Kligerman, que vieram para o Brasil antes da

Segunda Guerra fugindo do antissemitismo. Passei a infância no

bairro do Grajaú, no Rio de Janeiro.

Gosto de mato e silêncio, não sou nada urbana. Durante

muitos anos vivi em Visconde de Mauá, mas troquei Mauá por

Saquarema em 2002, já que uma cirurgia na coluna tornou a

montanha quase intransponível. Mas o meu filho André Murray

continua lá tocando as suas árvores e panelas no Restaurante Babel:

ele é Chef de Cozinha. Meu outro filho é músico, o Guga. Ele vive em

Granada, na Espanha e tem um trio no Brasil, o Um Trio Vira-Lata.

Eles são filhos do meu primeiro casamento. Desde 1997 estou

casada com o Juan Arias, jornalista e escritor.

Tenho muitos livros publicados e leitores de

todas as idades, aliás, não acredito em idade, mas sim

em experiências vividas. Fico muito feliz quando penso

que um poema que escrevi aqui na minha mesa, sozinha,

chega a lugares tão distantes e emociona tanta gente.

E falando em livros, são os livros que mandam

em mim. Com eles viajo pelo Brasil, encontro pessoas,

faço novos amigos. Minha vida gira em torno deles.

Escrever é minha grande paixão. Estou sempre

escrevendo alguma coisa, um verso, um poema, uma

carta. Gosto que as pessoas gostem do que escrevo. Não

tem nada que me deixe mais feliz. E corajosa.

“Tantos medos e outras coragens”, Roseana Murray e http://www.roseanamurray.com

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História de Roseana

Nasceu no Rio de Janeiro em 1950.

Graduou-se em Literatura e Língua Francesa

em 1973 (Universidade de Nancy/ Aliança

Francesa).

Publicou seu primeiro livro infantil em

1980 (Fardo de Carinho, ed. Murinho, R.J).

Tem mais de 60 livros publicados. Tem dois

livros traduzidos no México (Casas, ed.

Formato e Três Velhinhas tão velhinhas, ed.

Miguilim/ IBEP). Seus poemas estão em

antologias na Espanha. Tem poemas

traduzidos em seis linguas ( in Um Deus para

2000, Juan Arias, ed. Desclée e Maria, esta

grande desconhecida, Juan Arias, ed. Maeva.).

Recebeu o Prêmio O Melhor de Poesia

da FNLIJ nos anos 1986 (Fruta no Ponto, ed.

FTD), 1994 (Tantos Medos e Outras Coragens,

ed. FTD) e 1997 (Receitas de Olhar, ed. FTD).

Recebeu o Prêmio Associação Paulista

de Críticos de Arte em 1990 para o livro Artes

e Ofícios, ed. FTD, S.P.

Entrou para a Lista de Honra do I.B.B.Y

em 1994 com o livro Tantos Medos e Outras

Coragens tendo recebido seu diploma em

Sevilha, Espanha.

Recebeu o Prêmio Academia Brasileira

de Letras em 2002 para o livro Jardins ed.

Manati, R.J como o melhor livro infantil do

ano.

Participou ao longo destes anos de

vários projetos de leitura. Implantou em

Saquarema, em 2003, junto com a Secretaria

Municipal de Educação, o Projeto Saquarema,

Uma Onda de Leitura.

Disponível em:

http://www.roseanamurray.com/biografia

E. M. Pedro Paulo da Silva, em Santa Cruz da Serra, inauguração da Sala de Leitura

Roseana Murray, 2010

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Histórias de Roseana

POESIA PARA CRIANÇAS E JOVENS Lá vem o Luis, Ed. Leya, 2011, ilustrações de Oriol San Julián Luna, Merlin e Outros Habitantes, Ed. Miguilim, reedição 2011, ilustrações de Caó Cruz Alves No Mundo da Lua, Ed. Paulus, reedição 2011, ilustrações de Maria Ines Piekas. Roseana Murray, Poemas para Ler na Escola, ed. Objetiva, 2011, seleção de Hebe Coimbra O Circo, ed. Paulus, 2011, ilustrações Caó Cruz Alves (reedição) O Mar e os Sonhos, ed. Lê, reedição, 2011, ilustrações Elvira Vigna Uma Gata no Coração, Ed. Amarilys, 2011. Classificados Poéticos, Reedição Ed. Moderna, 2010. Carteira de Identidade, ed. Lê, B.H, 2010 (Catálogo de Bolonha 2011) Fardo de Carinho, ed. Lê, 2009. Poemas de Céu, ed. Paulinas, 2009. Kira, ed. Lê, 2009. Arabescos no Vento, ed. Prumo, 2009. Fábrica de Poesia, ed. Scipionne, 2008. Poemas e Comidinhas, com o Chef André Murray, ed. Paulus, S.P, 2008 Residência no Ar, ed. Paulus, 2007. No Cais do primeiro Amor, ed. Larousse, 2007. Desertos, ed. Objetiva, 2006. ( Finalista do Prêmio Jabuti ) - Altamente Recomendável FNLIJ, 2006 O traço e a traça ed. Scpionne, 2006. O xale azul da sereia, ed. Larrousse, 2006. O que cabe no bolso? ed. DCL, 2006. Paisagens, ed. Lê, 2006. Pêra, uva ou maçã ed. Scipione, 2005. (Catálogo de Bolonha 2006 e Acervo Básico, F.N.L.I.J). Rios da Alegria, ed. Moderna, 2005. (Altamente Recomendável, F.N.L.I.J). Poemas de Céu ed. Miguilim, 2005. (Antigo "Lições de Astronomia"). Maria Fumaça Cheia de Graça, ed. Larousse, 2005. Duas Amigas, ed. Paulus, 2005 (reedição). Lua Cheia Amarela, ed. Dimensão 2004. Caixinha de Música, ed. Manati, 2004. (Catálogo de Bolonha 2005) Um Gato Marinheiro, ed. DCL, 2004. Todas as Cores Dentro do Branco, ed. Nova Fronteira, 2004. Recados do Corpo e da Alma, ed. FTD, 2003. (Altamente Recomendável F.N.L.I.J)

O LIVRO É A CASA ONDE SE DESCANSA

DO MUNDO

O LIVRO É A CASA DO TEMPO

É A CASA DE TUDO

MAR E RIO NO MESMO FIO

ÁGUA DOCE E SALGADA

O LIVRO É ONDE A GENTE SE ESCONDE

EM GRUTA ENCANTADA Falando de livros

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Luna, Merlin e Outros Habitantes, ed. Miguilim/ Ibeppe, 2002. (Altamente Recomendável, F.N.L.I.J.) Jardins, ed. Manati, 2001. (Prêmio Academia Brasileira de Letras de Literatura Infantil 2002) Caminhos da Magia, ed. DCL, 2001. Manual da Delicadeza, ed. FTD, 2001. O Silêncio dos Descobrimentos, com Elvira Vigna, ed. Paulus, 2000. Receitas de Olhar, ed. F.T.D, 1997, ( Prêmio O Melhor de Poesia, F.N.L.I.J. ) Carona no Jipe, ed. Memórias Futuras, 1994 e ed. Salamandra, 2006. No final do Arco-Íris, ed. José Olímpio, 1994. O Mar e os Sonhos, ed. Miguilim,1996, (Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. ) Paisagens, ed. Lê, 1996. Felicidade, ed. F.T.D, 1995, (Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. ) De que riem os palhaços ed. Memórias Futuras, 1995. Esgotado Tantos Medos e Outras Coragens, ed. F.T.D, 1994 ( Prêmio O Melhor de Poesia F.N.L.I.J e Lista de Honra do I.B.B.Y. ) Reedição com novas ilustrações em 2007. Qual a Palavra? ed. Nova Fronteira, 1994. Casas, ed. Formato, 1994. Editado no México, ed. Alfaguara Dia e Noite, ed. Memórias Futuras, 1994. Esgotado Artes e Ofícios, ed. F.T.D, 1990, (Prêmio A.P.C.A. e Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. ) Reedição com novas ilustrações em 2007. Falando de Pássaros e Gatos, editora Paulus, 1987. Fruta no Ponto, ed. F.T.D, 1986. (Prêmio O Melhor de Poesia. F.N.L.I.J.) Fardo de Carinho, ed. Murinho, 1980 e ed. Lê, 1985. O Circo, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1985. Lições de Astronomia, ed. Memórias Futuras, 1985. Esgotado Classificados Poéticos, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1984, (Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J, e finalista do Prêmio Bienal. ) No Mundo da Lua, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1983. CONTOS PARA CRIANÇAS E JOVENS Vento Distante, Ed. Escrita Fina, 2010 (Catálogo de Bolonha 2011) Território de Sonhos, ed. Rocco, Altamente Recomendável FNLIJ, 2006. Sete Sonhos e um Amigo, ed. FTD, 2004. Pequenos Contos de Leves Assombros, ed. Quinteto, 2003. Um Avô e seu Neto, ed. Moderna, 2000. Terremoto Furacão ed. Paulus, 2000. Um cachorro para Maya, ed Salamandra, 2000. Uma História de Fadas e Elfos, ed. Miguilim / Ibeppe, 1998, (Acervo Básico da F.N.L.I.J - criança). Três Velhinhas tão velhinhas, ed. Miguilim / Ibeppe, 1996. O Fio da Meada, ed. Memórias Futuras, 1994. Ed. Paulus, 2002. Retratos, ed. Miguilim/ Ibeppe, 1990, Altamente Recomendável para a Criança, F.N.L.I.J. ) O Buraco no Céu ed. Memórias Futuras, 1989. POESIA Variações sobre Silêncio e Cordas, com desenhos de Elvira Vigna. E-BOOK, edição artesanal Maurício Rosa, Visconde de Mauá, maio de 2008. Poesia essencial, ed. Manati, 2002. 15 poemas no livro Um Deus para Dois Mil, de Juan Arias, ed. Vozes (em seis línguas) 1999. Caravana, inédito, vencedor do Concurso Cidade de Belo Horizonte, 1994. Pássaros do Absurdo, ed. Tchê ,1990, vencedor do Concurso da Associação Gaúcha de Escritores. Paredes Vazadas, ed. Memórias Futuras, 1988. Esgotado Viagens, ed. memórias Futuras, 1984. Revista Poesia Sempre. Revista Microfisuras, Espanha Correspondência Porta a porta, com Suzana Vargas, ed. Saraiva, 1998. (Acervo Básico da F.N.L.I.J - jovem).

Disponível em: http://www.roseanamurray.com/bibliografia

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Ruth por ela mesma – Entrevista com Ruth Rocha

Ruth Rocha

Como o Marcelo, a senhora também criava palavras quando era criança? RUTH ROCHA: Na minha família, a gente brincava muito com palavras. Meu pai dava corda. Sempre contava as histórias do poeta Emílio de Menezes, um trocadilhista. Uma atriz sentava na frente dele no teatro, aí o Emílio levantava e apontava as cadeiras vazias: “Atrás há três, atriz atroz!” Mas era meu avô o contador de histórias da família. Analisando hoje, sei que ele contava Andersen, Perrault, Grimm, As Mil e Uma Noites, histórias folclóricas. Essa fabulação toda ficou em mim. Ele era primo de 2º ou 3º grau do Castro Alves, e declamava a obra inteira dele. Meu pai, minha mãe e avó gostavam de cantar versos. Era uma família muito faladeira. Todo mundo diz que meu estilo é oral. Deve ser por ter ouvido muitas histórias. Qual é o segredo, afinal, do sucesso do “Marcelo, Marmelo, Martelo”? RUTH ROCHA: Se eu soubesse, faria todos como ele! O que sei é que um bom livro precisa ter verdade, propor novas questões e fazer o leitor pensar. Nunca escrevo porque tal assunto pode agradar ao público infantil, mas sempre preocupada em contar uma boa história e ser fiel aos meus valores.

Como foi seu primeiro contato com a literatura, Ruth? Como a senhora decidiu ser escritora? RUTH ROCHA: Meu contato com a literatura se deu através de Monteiro Lobato, sem dúvida. Mas depois, quando eu tinha uns 13 anos e andava lendo uma porção de livros medíocres, um professor, Aderaldo Castelo, pediu na escola que fizéssemos um trabalho sobre “A cidade e as serras”, de Eça de Queirós. Esse livro foi para mim, não um encontro com a literatura, mas uma verdadeira trombada! Até hoje eu ainda leio esse livro de vez em quando. A minha decisão de ser escritora se deu quando comecei a escrever para a revista Recreio. Depois de vinte ou trinta histórias percebi que era o que eu queria realmente fazer. Como a senhora avalia os livros infantis produzidos atualmente, por autores novos? RUTH ROCHA: Leio pouco. Mas os que li têm problemas éticos, estéticos, de desconhecimento da criança. Histórias indicadas para criança muito pequena, mas que parecem escritas para criança grande. Com referência a problemas que não são de criança. Por exemplo, história de amor entre crianças. Bobagem. Os adultos é que inventam isso. A criança até a puberdade não pensa nisso. A Luluzinha é perfeita, odeia meninos, tem o clube do Bolinha. Há também muita história com bom-mocismo e moral no final. Ou melhor, as histórias sempre terminam com um “então, você não deve desobedecer à mamãe, nem ao papai, pois Deus castiga.” Seria possível dizer se os jovens de hoje gostam de ler? RUTH ROCHA: Em todos os tempos houve jovens que gostavam de ler e outros que não tinham grande interesse. O escritor sempre espera conquistar esse grupo. Já aconteceu à senhora de jogar fora um livro que escreveu por não considerar que ele estivesse satisfatório? RUTH ROCHA: Já aconteceu, sim. Segundo Ana Maria Machado, um escritor deve ter uma gaveta pequena, para guardar originais, e uma cesta de lixo grande, para jogar fora o que não fica bom. Fontes de pesquisa: * http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/leitura-nao-pode-ser-so-folia-423575.shtml * Revista Língua Portuguesa, Ano III, Nº 32, junho de 2008.

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História de Ruth Ruth Rocha nasceu em

1931 na cidade de São Paulo. Filha dos cariocas Álvaro de Faria Machado, médico, e Esther de Sampaio Machado, tem quatro irmãos, Rilda, Álvaro, Eliana e Alexandre. Teve uma infância alegre e repleta de livros e gibis. O bairro de Vila Mariana, onde morava, tinha nessa época muitas chácaras por onde Ruth passava, a caminho da escola - estudava no Colégio Bandeirantes. Mais tarde, terminou o Ensino Médio no Colégio Rio Branco.

É graduada em Sociologia e Política pela Universidade de São Paulo e pós-graduada em Orientação Educacional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Casada com Eduardo Rocha, tem uma filha, Mariana e dois netos, Miguel e Pedro.

Durante 15 anos (de 1956 a 1972) foi orientadora educacional do Colégio Rio Branco, onde pôde conviver com os conflitos e as difíceis vivências infantis e com as mudanças do seu tempo. A liberação da mulher, as questões afetivas e de autoestima foram sedimentando-se em sua formação.

Começou a escrever em 1967, para a revista Claudia, artigos sobre educação. Participou da criação da revista Recreio, da Editora Abril, onde teve suas primeiras histórias publicadas a partir de 1969. “Romeu e Julieta”, “Meu Amigo Ventinho”, “Catapimba e Sua Turma”, “O Dono da Bola”, “Teresinha e Gabriela” estão entre seus primeiros textos de ficção. Ainda na Abril, foi editora, redatora e diretora da Divisão de Infanto-Juvenis.

Publicou seu primeiro livro, “Palavras Muitas Palavras”, em 1976, e desde então já teve mais de 130 títulos publicados, entre livros de ficção, didáticos, paradidáticos e um dicionário. As histórias de Ruth Rocha estão espalhadas pelo mundo, traduzidas em mais de 25 idiomas.

Monteiro Lobato foi sua grande influência. Em sua obra, essa influência se traduz pelo seu interesse nos problemas sociais e políticos, na sua tendência ao humor e nas suas posições feministas.

Seu livro de forte conteúdo crítico, “Uma História de Rabos Presos”, foi lançado em 1989 no Congresso Nacional em Brasília, com a presença de grande número de parlamentares. Em

1988 e 1990 lançou na sede da Organização das Nações Unidas em Nova York seus livros “Declaração Universal dos Direitos Humanos” para crianças e “Azul e Lindo: Planeta Terra, Nossa Casa”.

Participou durante seis anos do programa de televisão Gazeta Meio-Dia como membro fixo da mesa de debates.

Em 1998 foi condecorada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso com a Comenda da Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura.

Ganhou os mais importantes prêmios brasileiros destinados à literatura infantil da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, da Câmara Brasileira do Livro, cinco Prêmios “Jabuti”, da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Academia Brasileira de Letras, Prêmio João de Barro, da Prefeitura de Belo Horizonte, entre outros.

Seu livro mais conhecido é “Marcelo, Marmelo, Martelo”, que já vendeu mais de 1 milhão de cópias.

Em 2002 ganhou o prêmio Moinho Santista de Literatura Infantil, da Fundação Bunge. Também nesse ano foi escolhida como membro do PEN CLUB –

Associação Mundial de Escritores no Rio de Janeiro.

Atualmente é membro do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta.

Disponível em:

http://www2.uol.com.br/ruthrocha/historiadaruth

4 anos vestida de anjinho

Lendo para a filha Mariana e seus primos

Com seus pais e irmãos

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Histórias de Ruth

A arca de Noé , Salamandra A árvore do Beto, FTD A Cinderela das bonecas, FTD A coisa, FTD A decisão do campeonato, FTD A escola do Marcelo, Salamandra A escolinha do mar, Salamandra A família do Marcelo, Salamandra A fantástica máquina dos bichos, Ática A flauta mágica, Callis Ed. A história do livro, Melhoramentos A Ilíada, Cia. das Letrinhas A máquina maluca, FTD A menina que aprendeu a voar, Salamandra A menina que não era maluquinha e outras

histórias, Melhoramentos A primavera da lagarta, Formato A rua do Marcelo, Salamandra Almanaque Ruth Rocha, Ática Alvinho e os presentes de natal, FTD Alvinho, a apresentadora de TV e o campeão,

FTD Alvinho, o Edifício City Of, FTD Armandinho, o juiz, FTD As coisas que a gente fala, Salamandra As coisas que eu gosto, Ática As férias de Miguel e Pedro, Melhoramentos Atrás da porta, Salamandra Azul e lindo: planeta terra, nossa casa,

Salamandra Boi, boiada, boiadeiro, Quinteto Editorial Bom-Dia, todas as cores!, FTD Borba, o gato, Ática Carmem, Callis. Como se fosse dinheiro, FTD Contos de Perrault, FTD Contos para ri e sonhar, Salamandra Davi ataca outra vez, Ática

Declaração universal dos direitos humanos, Salamandra

De hora em hora..., Quinteto Editorial De repente dá certo, Salamandra Dois idiotas sentados cada qual no seu barril...,

Ática Elefante?, Formato Enquanto o mundo pega fogo, Ática Escrever e criar...É só começar! (8 Volumes),

FTD Este admirável mundo louco, Salamandra Eu gosto muito, Ática Eugênio, o gênio, Salamandra Fábula de Esopo, FTD Faca sem ponta, galinha sem pé..., Nova

Fronteira Fantasma existe?, Ática Faz muito tempo, Ática Flauta mágica, Callis. Gabriela e a titia, Salamandra Histórias das mil e uma noites, FTD Historinhas malcriadas, Salamandra Joãozinho e Maria, FTD Joãozinho e o pé de feijão, FTD Lá vem o ano novo, Salamandra Leila menina, Nova Fronteira Livro de números do Marcelo, Quinteto

Editorial Macacote e Porco Pança, Salamandra Marcelo, marmelo, martelo, Salamandra Marília Bela, Nova Fronteira Meu amigo dinossauro, Melhoramentos Meu irmãozinho me atrapalha, Melhoramentos Meus lápis de cor são só meus, Melhoramentos Microdicionário Ruth Rocha, Scipione Mil pássaros, Melhoramentos Mil pássaros pelos céus, Ática

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Minidicionário Ruth Rocha, Scipione Mulheres de coragem, FTD Nicolau tinha uma ideia, Quinteto Editorial Ninguém gosta de mim?, Ática No caminho de Alvinho tinha uma pedra, FTD No tempo em que a televisão mandava no

Carlinhos, FTD Nosso amigo ventinho, Salamandra O amigo do rei, Salamandra O bairro do Marcelo, Salamandra O Barba Azul, FTD O barbeiro de Sevilha, Callis O coelhinho que não era de páscoa, Ática O dia em que Miguel estava muito triste,

Melhoramentos O Guarani, Callis O jacaré preguiçoso, Salamandra O livro da escrita, Melhoramentos O livro das letras, Melhoramentos O livro das línguas, Melhoramentos O livro das tintas, Melhoramentos O livro de números do Marcelo, Quinteto

Editorial O livro do lápis, Melhoramentos O livro do papel, Melhoramentos O livro dos gestos e dos símbolos,

Melhoramentos O macaco bombeiro, Salamandra O menino quase virou cachorro,

Melhoramentos O menino que aprendeu a ver, Quinteto

Editorial O menino que quase morreu afogado no lixo,

Quinteto Editorial O mistério do caderninho preto, Ática O monstro do quarto do Pedro,

Melhoramentos O patinho feio, FTD O pequeno Mozart, Noovha América O piquenique do Catapimba, FTD O que é, o que é? (3 Volumes), Quinteto

Editorial O que os olhos não veem, Salamandra O rato do campo e o rato da cidade, FTD O rei que não sabia de nada, Salamandra O reizinho mandão, Quinteto Editorial O trenzinho do Nicolau, Salamandra O último golpe de Alvinho, FTD O velho, o menino e o burro e outras histórias

caipiras, FTD Os direitos das crianças segundo Ruth Rocha,

Cia. das Letrinhas Os amigos de Pedrinho, Melhoramentos Os músicos de Bremen, FTD Palavras, muitas palavras..., Quinteto Editorial Pedrinho Pintor, Salamandra Pedro e o menino valentão, Melhoramentos Pesquisar e aprender, Scipione

Pra que serve?, Salamandra Pra vencer certas pessoas, Ática Procurando firme, Nova Fronteira ...que eu vou para Angola..., José Olympio Quando eu comecei a crescer, Nova Fronteira Quando eu for gente grande, FTD Quando o Miguel entrou na escola,

Melhoramentos. Quem tem medo de cachorro?, Global Quem tem medo de dizer não?, Global Quem tem medo de monstro?, Global Quem tem medo de quê?, Global Quem tem medo de ridículo?, Global Quem vai salvar a vida?, I. M. Salles Romeu e Julieta, Ática Ruth Rocha conta a Odisseia, Cia. das Letrinhas Sabe do que eu gosto?, Ática Sapo vira rei vira sapo: a volta do reizinho

mandão, Salamandra Será que vai doer?, Ática Tem uma coisa que eu gosto, Ática Tenho medo mas dou um jeito, Ática Tom Sawyer, Objetiva Um cantinho só pra mim, Melhoramentos Um macaco pra frente, Salamandra Uma história com mil macacos, Ática Uma história de rabos presos, Salamandra Você é capaz de fazer isso?, FTD

A fantástica fábrica dos bichos

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Sylvia por ela mesma (1932–1997) - Autobiografia

Sylvia Orthof

Escrevo errado, não sei gramática, respingo vírgulas

e peco Literatura. Mea culpa! Nasci no Rio, no Hospital dos Estrangeiros,

sou carioca, filha de austríacos. Sou bagunceira, atrapalhei os sete pecados, escrevi oito

pecados capitais para esta coleção*. Motivo? Distraí, fiz um conto sobre a soberba e outro sobre o orgulho

e nem reparei que era a mesma coisa, gente ! Sou mãe da Cláudia, Gê e Pedro, filhos queridíssimos. Tenho quatro netos: Mariana, Francisco, Nina e Olívia.

Gracinhas de netos! Moro em Petrópolis, sou casada com o Tato,

ilustrador de muitos dos meus livros . Vim do teatro e dirijo o grupo: Teatro do Livro Aberto.

Acho que escrever é como desfilar numa escola de samba: tem enredo, alegorias, fantasias, ritmo.

Torço sempre pela Estação Primeira de Mangueira. Adoro mangas rosadas, sou gulosamente gorducha. Será que

a gula é mesmo um pecado tão capital quanto a inveja? Outro pecado que é capitalíssimo é a avareza,

sobretudo no capitalismo. A luxúria tem seus encantos.

A ira tem seus momentos. A preguiça deu em mim... fim.

*Extraída da obra “A gula”, Coleção Eles são Sete

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História de Sylvia

Sylvia Orthof nasceu no Rio de Janeiro, em

1932, filha de um casal de judeus austríacos que deixou Viena entre as duas guerras, para buscar paz e trabalho. Filha única de imigrantes pobres, teve uma infância difícil. Aprendeu a falar primeiro alemão e falava português com sotaque e errado até a idade escolar. Aos 18 anos, foi estudar teatro em Paris. Um ano depois, voltou ao Brasil e trabalhou como atriz no Teatro Brasileiro de Comédias, em São Paulo (o TBC), e, no Rio, atuou com grandes nomes do teatro e da TV. Escritora muito amada, com a sua irreverência poética inesquecível, publicou mais de 100 livros para crianças e jovens e teve 13 títulos premiados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil com o selo Altamente Recomendável para Crianças. Sylvia morreu em 1997, mas até hoje exerce grande influência sobre um grande número de autores infantis.

Entrar numa história de Sylvia Orthof é encher os olhos de susto, mas não um susto de tremer perna ou bater queixo. O susto que as histórias de Sylvia dão na gente são carregados de perplexidade, arregalam a gente por dentro, dão largura no pensamento.

Ganhadora do Prêmio Jabuti, por A Vaca Mimosa e a Mosca Zenilda (1997), Sylvia teve vários trabalhos adaptados para o teatro e quebrou tudo quanto é estereótipo na literatura infantil brasileira, com o seu texto desobediente, esmerado, abusado, feito de riso, provocação e

arrepio. Afinal, a criatividade de Sylvia Orthof jamais coube em rótulos. Como ela mesma já disse, as histórias clássicas da literatura infantil sempre tiveram um ponto de vista muito machista. “Ninguém pergunta à Cinderela se ela quer casar com o príncipe. Cinderela casa com o príncipe porque ele tem dinheiro e poder. Ela se prostitui”, disse a autora. Mas, ao mesmo tempo, a autora defendia a leitura dos contos tradicionais, desde que houvesse uma reflexão. “Se Chapeuzinho Vermelho tem tanta força até hoje, é porque tem o seu valor. Só precisamos tomar cuidado para não apresentarmos essas histórias com uma mensagem moralista. Vamos discutir um pouco. Por que não podemos sair do caminho e procurar um atalho na vida? Será que em todo lugar há um lobo? E será que devemos ter tanto medo dos lobos?”, questionava.

Além de questionar velhos conceitos, Sylvia Orthof sempre vivia do modo como escrevia: espalhando encantamento por onde passava. Autora de um dos maiores clássicos da literatura infantil brasileira, Uxa, Ora Fada, Ora Bruxa (1985), que mostra, com estilo único, os dois lados de todos nós, Sylvia era apaixonada por jardins e flores. Aliás, a sua favorita era a Maria sem Vergonha. “Gosto muito dessa flor. Lá em casa, temos uma escada, no jardim. E as flores não quiseram nascer no canteiro. Não foram exatamente as Marias, mas também são sem vergonha. Elas nasceram por entre as pedras do muro. Sempre assim. Nascem nos lugares mais impossíveis. Aí um rapaz queria cortá-las das pedras, mas eu reagi: - Não faça isso. Elas lutaram tanto por esse lugar”, disse Sylvia, numa entrevista. E acrescentou: “O jardim é uma coisa que precisa de atenção, como os livros. Mas não gosto daqueles jardins muito cuidados. Podados demais. As plantas, como as histórias, têm direito de espreguiçar onde quiserem”. E as histórias da Sylvia continuam espreguiçando, ou melhor, continuam despertando leitores de toda idade.

Disponível em:

http://www.agenciariff.com.br

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Histórias de Sylvia

ÁTICA Tumebune, o Vaga-lume – 1995 Fada Cisco Quase Nada – 1997 Avoada, a Sereia Voadora – 1997 Pomba Colomba – 1998 Maria-Vai-com-as-Outras – 1998 A Limpeza de Teresa – 1998 A Fraca Fracola, Galinha-D’Angola – 1998 As Visitas de Dona Zefa – 1998 João Feijão – 1999 Que Saracotico! (Série: Para Gostar de Ler Júnior) – 2009 A Vaca Mimosa e a Mosca Zenilda – 2010 ATUAL A Poesia é uma Pulga – 1991 Livro Aberto – 1996 Guardachuvando Doideiras – 2005 Quem Roubou Meu Futuro? – 2004, 2009 FTD Uma Velha e Três Chapéus – 1986 Jogando Conversa Fora – 1986 A Gema do Ovo da Ema – 1988 O Cavalo Transparente – 1998 O Sapato que Miava – 1998 A Fada Sempre-viva e a Galinha-fada – 2000 Felipe do Abagunçado – 2009 - 53 págs. A Rainha Rabiscada – 2009 - 23 págs. Ponto de Tecer Poesia – 2010 - 40 págs. FORMATO Foi o Ovo? Uma Ova! – 1990 Galo Galo Não Me Calo – 1992 Ovos Nevados – 1997 GLOBAL Histórias Curtas e Birutas – 1997 Ciranda de Anel e Céu – 1997 A Décima Terceira Mordida – 1997 O Rei Preto de Ouro Preto – 2003 Rabiscos ou Rabanetes – 2005 Um Pipi Choveu Aqui – 2005

Ave Alegria – 1989 (nova edição no prelo) Você viu? Você ouviu? – 2004 (nova edição no prelo) O Anjo de Aleijadinho – 1996 (nova edição no prelo) A Onça de Vitalino – 1994 (nova edição no prelo) LÊ A Velhota Cambalhota – 1985 Bóia Bóia Lambisgóia – 1995 AO LIVRO TÉCNICO Dona Noite Doidona – 1991 Pé de Pato – 1991 Dumonzito – 1991 MODERNA A Viagem de um Barquinho – 2002 NOVA FRONTEIRA No Fundo do Fundo-fundo, Lá Vai o Tatu Raimundo – 1984 Se as Coisas Fossem Mães – 1984 Uxa, Ora Fada, Ora Bruxa – 1985 Se a Memória Não Me Falha – 1987 Nana Pestana – 1987 Luana Adolescente, Lua Crescente – 1989 Zoiúdo, o Monstrinho que Bebia Colírio – 1990 Chora Não! – 1991 Zé Vagão da Roda Fina e Sua Mãe Leopoldina – 1997 Currupaco, paco e tal, quero ir pra Portugal – 2002 A Bruxa Fofim – 2002 Manual de Boas Maneiras das Fadas – 1995, 2009 - 32 págs. Fada Fofa em Paris – 1995, 2009 - 16 págs. Fada Fofa e os Sete Anjinhos – 1997, 2009 - 31 págs. Fada Fofa e a Onça Fada – 1998, 2009 - 31 págs. OBJETIVA Contos de Estimação: mudanças no galinheiro, mudam as coisas por inteiro – 2003, Eu Chovo, Tu Choves, Ele Chove... – 2003

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PAULINAS Tia Carlota Tricota – 1998 Tia Libória Contando História – 1998 Tia Januária é Veterinária – 1998 Bagunça Total na Cidade Imperial – 1998 Moqueca, a Vaca – 1999 Vovô Bastião Vai Comendo Feijão – 2000 Pequenas Orações para Sorrir – 2000 PAULUS Doce Doce Quem Comeu Regalou-se – 1987 PROJETO Ervilina e o Princês – 1986, 2009 QUINTETO Duas Histórias de Pernafina – 1985 Sou Miloquinha, a Duende – 1988 Malaquias – 1995 Cordel Adolescente, ó Xente! – 1998 RECORD Papos de Anjo – 1987 As Casas Que Fugiram de Casa – 2002 Pererê na Pororoca – 2002 As Malandragens de um Urubu – 2002 ROVELLE Vovó viaja e não sai de casa – 1994, (nova edição no prelo) Gato pra cá, Rato pra lá – 2012 O Livro Que Ninguém Vai ler – 1997, (nova edição no prelo) A Mula sem cabeça, A Flauta de Nicolau e Fada Crica Cozinheira – 1994, (nova edição no prelo) Senhor Vento e Dona Chuva – 1986, (nova edição no prelo) O Baile do Fim do Mundo e Outras Histórias – 2012 Mudanças no Galinheiro Mudam as Coisas por Inteiro – 2003, 2012

Eu Sou Mais Eu! – (nova edição no prelo) A Folia dos Três Bois – (nova edição no prelo) Uma 'Estória' de Telhados – (nova edição no prelo) Cantarim de Cantará – 1984, 2010 Adolescente Poesia – 1996, 2010 SALAMANDRA As Aventuras da Família Repinica em Busca do Tesouro - 1984 Sonhando Santos Dumont – 1997 Os Bichos Que Tive – 2004 História Enroscada – 1997 (nova edição no prelo) História Vira-lata – 1997 (nova edição no prelo) História Avacalhada– 1997 (nova edição no prelo) História Engatada – 1997 (nova edição no prelo) SCIPIONE O Inspetor Geral (adaptação) – 1997 SM EDIÇÕES A Fada Lá de Pasárgada e Cabidelim, O Doce Monstrinho – 2004 DIREITOS REVERTIDOS São Francisco Bem Te Vi – 1993 Meus Vários Quinze Anos – 1995 Tem Minhoca no Caminho - 1995 Tem Cachorro no Salame – 1996 Tem Cavalo no Chilique – 1996 Tem Graças no Botticelli – 1996 Canarinho, Cachorrão e a Tijela de Ração – 1996 Mas que Bicho Lagarticho – 1996 Que Raio de História – 1994 Mais-que-perfeita Adolescente – 1994 Papai Bach Família e Fraldas – 1997 Cadê a Peruca do Mozart? – 1998 Quincas Plim, Foi Assim – 1998 Tia Anacleta e Sua Dieta – 1998 Dragonice Diz que Disse – 2004

“Se eu me for

vou de bagagem

sem ter mala

e compromisso.

Vou de anjo,

sem ter asa,

vou morando,

sem ter casa.

Vou medir

o infinito.”

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Andrea por ela mesma

Andrea Viviana Taubman

Nasci em Buenos Aires, na Argentina em 1965.

Talvez por ter sido filha única até os seis anos de idade e a

primeira criança da minha geração numa família de leitores

vorazes, desde que me conheço por gente (bem miudinha) me

interessei pelas letras – minha mãe ri contando que eu pegava os

grampos de cabelo dela para montá-las e perguntava: mãe, que

letra é essa?

Desde então e mesmo antes disso, minha maior diversão

sempre foram os livros.

Em 1973, vim para o Brasil com meus pais e minha irmã.

Morei em São Paulo e no Rio de Janeiro. Passei a adolescência lendo,

escrevendo poemas, cantando, tocando violão, representando e

trabalhando voluntariamente com educação não formal com crianças.

Na hora de escolher a profissão, optei pelo bacharelado em

química porque era tão curiosa que queria saber do que eram feitas as

coisas do Universo. Em 1986 me formei na Universidade Mackenzie e

passei vinte anos escrevendo e traduzindo textos técnicos, manuais e

correspondências comerciais.

Nunca abandonei os livros de literatura nem me afastei das

crianças. Em 2008, já mãe de dois filhos, escrevi O MENINO QUE TINHA

MEDO DE ERRAR - que conta em versos a história de Pedro, que por

receio de virar motivo de chacota, prefere não conviver com outras

crianças. Publicado inicialmente em dezembro de 2009 com ilustrações de Judith Adler Levacov, o livro

ganhou nova edição e novas ilustrações de Camila Carrossine em

2012 (Escrita Fina).

Em outubro de 2010 tive a felicidade de ver publicado meu

segundo livro, A ESCOLA QUE EU QUERO PRA MIM – com ilustrações

de Luiza Costa (Editora Ao Livro Técnico), que fala também em versos

sobre as relações interpessoais no ambiente escolar e promove a

reflexão sobre os valores e as atitudes individuais que fazem a

diferença para que esse ambiente seja o mais acolhedor possível.

A partir deste trabalho, conheci muitas escolas, muitas

crianças e professores, muitos outros escritores e ilustradores de

literatura infantil e juvenil e pessoas envolvidas com livros e

educação. Isto tudo me trouxe de volta uma alegria que eu acreditava ter ficado lá na minha infância e

adolescência; me faz sentir que dei uma grande volta ao mundo, mas que agora estou onde sempre gostaria

de ter ficado!

Atualmente, divulgo meu trabalho e opiniões através da página pessoal no facebook

(https://www.facebook.com/andrea.taubman), da página do livro A ESCOLA QUE EU QUERO PRA MIM

(https://www.facebook.com/pages/A-ESCOLA-QUE-EU-QUERO-PRA-MIM/253189551368030 ) e do meu

blog (www.andreavivianataubman.blogspot.com.br).

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Celso por ele mesmo

Celso Sisto

Nasci no mês de junho e sou do signo de gêmeos. Caramba! Deve ser por isso que gosto tanto disso e daquilo! Faço “trocentas” coisas ao mesmo tempo. E adoro esse movimento, essa ocupação toda! Às vezes, se tenho pouca coisa para fazer, acabo não fazendo nada ou deixando tudo para a última hora!

Gosto mesmo é de tudo o que está relacionado a livros e leituras! Escrevo diariamente e leio quase o tempo todo! Se pudesse, leria durante o sono também! Há tanta coisa para ler na vida, que tenho medo que não dê tempo de ler tudo o que quero! Adoro estudar, pesquisar, inventar projetos. Gosto de cachorros, gatos e plantas... De mexer na terra, fazer hidroginástica,

comer doces...

Hum! Vivo perto do mar, no litoral norte do Rio Grande do Sul. Estudei Literatura e Teatro. Quer dizer, estudei não, continuo estudando! Sou professor com muita honra! Dou aulas por aí, em universidades, ministro oficinas em feiras de livros e cursos em cidades, de longe e de perto! Principalmente para professores, para quem quer e gosta de contar histórias, oralmente e por escrito.

Há mais de vinte anos sou contador de histórias do Grupo Morandubetá, um dos primeiros grupos de contadores de histórias do Rio de Janeiro.

Além disso, adoro ilustrar! Brincar com as imagens me encanta! Para saber mais sobre mim, é sobre mim, é só acessar meu site www.celsosisto.com

Do livro Vozes da Floresta: lendas indígenas, Cortez Editora: São Paulo, 2011.

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Cora por ela mesma (1889–1985) - Todas as Vidas

Cora Coralina

CORALINA, CORA. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. Ed. Global, 2001.

Vive dentro de mim uma cabocla velha

de mau-olhado, acocorada ao pé do borralho,

olhando pra o fogo. Benze quebranto.

Bota feitiço... Ogum. Orixá.

Macumba, terreiro. Ogã, pai-de-santo...

Vive dentro de mim

a lavadeira do Rio Vermelho. Seu cheiro gostoso

d'água e sabão. Rodilha de pano. Trouxa de roupa,

pedra de anil. Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim a mulher cozinheira.

Pimenta e cebola. Quitute bem-feito. Panela de barro. Taipa de lenha. Cozinha antiga. toda pretinha.

Bem cacheada de picumã. Pedra pontuda.

Cumbuco de coco. Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim a mulher do povo.

Bem proletária. Bem linguaruda,

desabusada, sem preconceitos, de casca-grossa,

de chinelinha, e filharada.

Vive dentro de mim a mulher roceira. - Enxerto da terra,

meio casmurra. Trabalhadeira. Madrugadeira.

Analfabeta. De pé no chão. Bem parideira. Bem criadeira.

Seus doze filhos, Seus vinte netos.

Vive dentro de mim

a mulher da vida. Minha irmãzinha...

tão desprezada, tão murmurada...

Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim: Na minha vida -

a vida mera das obscuras.

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Luciana por ela mesma

Luciana Grether Carvalho

Sou Luciana Grether Carvalho, carioca e me interesso por imagens desde cedo. Na escola, às vezes, os discursos dos professores sumiam frente às fotografias, pinturas, filmes e mapas que eles mostravam. Além do mais, eles foram meus primeiros modelos vivos, desenhava-os todos, principalmente, no Ensino Médio.

Comecei a estudar desenho em 1996 ao ingressar no curso de

Design na PUC- Rio. Na universidade fui aluna de professores que me apresentaram significativos caminhos para o despertar de uma linguagem poética própria e me ensinaram a trabalhar junto a diversos grupos de pesquisa. Fui ainda monitora em aulas de pintura e desenho e apaixonei-me pelo processo criativo.

Depois de formada, já tendo ilustrado dois livros,

colaborando com ilustrações semanalmente para o Jornal do Brasil e cuidando da minha primeira filha recém-nascida, fui fazer licenciatura em Artes na Unibennett. Aprendi a ser professora e a lidar com os aprendizados do cotidiano escolar nas aulas de Artes Visuais no Ensino Fundamental na Escola Oga Mitá. Conciliando a maternidade, as aulas nas escolas e as ilustrações, iniciei o Mestrado em Artes & Design

na PUC-Rio em 2004. Em 2007 nasce minha segunda filha e cada vez mais a literatura infantil se fez presente em longas contações de histórias que nos aproximavam e emocionavam. Em 2009 passei a dar aulas também na PUC-Rio onde realizo um trabalho gratificante ao orientar processos e desenhos nas aulas de projeto I e II.

Recentemente as ilustrações pra

livros vêm acontecendo mais intensamente e hoje já conto dezesseis projetos editoriais ilustrados. Nos encontros, lançamentos, oficinas, mesas redondas tenho tido preciosas oportunidades de conviver com autores e ilustradores. A admiração pelos mestres da representação, as histórias e a beleza da vida são inspirações para as ilustrações que faço. Ilustrando e ensinando continuo aprendendo.

Cordel da Candelária

Teatro com bicho é o bicho

Namoro Encantado

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Sandra por ela mesma

Hu

go

Sandra Ronca

Sou carioca, filha de artistas plásticos italianos, formada em

Comunicação Social – Publicidade e Propaganda. Cursos complementares: Desenho de Propaganda; Design e Produção Gráfica; Aquarela; Quadrinhos; Livro Infantil: Ilustração e Design. Pós-graduada em Design e Ilustração pelas Faculdades Pestalozzi em Niterói. Em 2010, participei do Laboratório Cor & Ilustração com Rebeca Luciani. Em 2011, participei de workshops de ilustração infantil com Svjetlan Junakovic (Sarmede/IT) e Carll Cneut e Maurizio Quarello (Macerata/IT).

Como ilustradora, utilizo Aquarela, Acrílica, Colagem e Técnica Mista. Participei de mostras em diferentes Estados no Brasil e em 2010, tive uma ilustração selecionada para a mostra e catálogo Scarpetta D’Oro, em Riviera Del Brenta, Italia. Em 2011, participei da mostra Dear JAPAN: Messages of hope from picture book artists worldwide", em Tokyo e Ishikawa, Japão, promovida por Art-Ehon em apoio às vítimas deste país. Minha imagem foi selecionada para o mês de abril do calendário de 2012.

Apesar de também ilustrar com mais seriedade, sempre tive forte tendência para as figuras tidas como "infantis", onde qualquer objeto ou personagem pode ganhar características e comportamentos

humanos. O mesmo já acontecia no contato com o barro, nas visitas ao atelier, de onde surgiam as simpáticas "criaturas". Amo ilustrar, inventar e ver o brilho nos olhos das crianças diante dos traços, das cores e texturas nas muitas viagens que proporciona a ilustração. Trabalho com Aquarela, Acrílica, Colagem, Técnica Mista e Lápis Aquarelável.

Como escritora, a imaginação também vai longe. Em 2008, lancei o “Coitada da raposa!” pela Cortez

Editora. O texto está leve e vem nos mostrar, de forma divertida, que o problema de uns, às vezes, não é o

problema dos outros. E até mesmo que as alegrias de uns, podem ser um ‘problema’ para os outros.

O segundo como escritora, "Dia de vacina" foi publicado pela Editora Rovelle. Se trata de uma vivência

particular trazida a público depois de 40 anos! A história de uma menina que sempre se comportava na hora de

tomar vacina. Até que um dia, na hora H, algo inesperado aconteceu. Ela chorou e esperneou. Muito. Por quê desta

vez e, nas outras não?

O terceiro, lançado em 2011, “Com que bicho você se parece?” pela Editora RHJ, brinca com as

diferenças, e não só as dos animais... Vale a pena a leitura!

Agora em 2012, está no forno O sumiço do O. Lançamento previsto para o mês de junho.

Seja na ilustração ou na escrita, sigo aprendendo, inventando e viajando em meio a meus amigos-mirins.

www.sandraronca.com.br

www.sandraronca.blogspot.com.br

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História da Thaís

Thaís Linhares

Formada pela Escola de Belas Artes UFRJ e SENAI de Artes

Gráficas, a ilustradora já conta com dezenas de obras publicadas e

bem recebidas pelo público, algumas delas incluídas nas

bibliotecas escolares, premiadas como "Altamente

Recomendável" pela FNLIJ ou expostas na BIB – Bienal

Internacional de Bratislava. Foi cenógrafa de animação na série

“Juro que Vi”– da Multirio e roteirista para "O Quarto do Jobi",

série animada da 2DLab exibida pela TV Ratimbum. Em 2008

recebeu da Secretaria de Cultura do Estado do RJ o prêmio do

edital para Desenvolvimento de Roteiro de Longa de Animação

por sua obra "O Monge e a Fada". Também escreve quadrinhos e

livros para crianças e jovens, alguns destes adotados em políticas

públicas para difusão da leitura. Participa ativamente da diretoria

da AEILIJ – Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura

Infantil e Juvenil. Thais nasceu carioca, em setembro de 1970.

Uma bancada antiga de sapateiro. Estudo para o livro novo da Bia Bedran.

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SUGESTÕES DE ATIVIDADES...

Ler e fazer análise crítica das histórias

Confeccionar jornal mural sobre os autores e suas obras

Organizar a produção de um jornal falado ou notícia escrita sobre o contexto de uma história

Criar o “Clube do autor”. Atividades relacionadas a obra e vida de determinado autor, com dinâmicas para

a comunidade escolar utilizando diferentes portadores textuais sobre o mesmo: biografia, entrevista,

notícias, etc..

Organizar “Ciranda de livros” com obras de um autor específico, promovendo a circulação das obras nos

grupos de leitores por meio de sacolas, malas e caixas literárias.

Promover roda de leitura, leitura compartilhada, leitura dramatizada, sarau, chá literário, piquenique

literário sobre diversas obras e autores.

Criar a “Vitrine de autores”, divulgar a obra do autor, na comunidade escolar por meio de propagandas.

Confeccionar mural com frases sugestivas, relacionadas à leitura ou ao livro.

Elaborar “Perfil de personagens”, ou seja, construir textos descritivos com as características e

personalidades dos personagens de determinada obra. Podendo promover brincadeira de adivinhar o

personagem descrito entre os alunos.

Promover debates e/ou julgamento de personagens.

Construir linha do tempo com as obras e biografia de determinado autor, situando o contexto social e

vivências dos leitores.

Exposição visual: vida e obra de autores.

Brincar de mímica para adivinhar personagens e títulos de histórias.

Confeccionar jogos de trilha, quebra-cabeça, dominó, jogo da memória, quiz literário, bingos, utilizando o

contexto da história.

Dar vida aos personagens com criação de bonecos.

Dramatizar as histórias utilizando diversos recursos: teatro de varas, de sombras, de bonecos, fantoches,

sucatas.

Organizar com os alunos coletâneas de contos, poesias, narrativas e crônicas dos autores trabalhados

e/ou textos produzidos pelos alunos.

Promover dinâmicas a partir da literatura utilizada: história interrompida, mudança de final, criar uma

versão da história do ponto de vista de um determinado personagem, criar história em quadrinho, cartão

postal.

A partir das histórias criar esquetes, enquetes, jograis e paródias.

Contar e recontar histórias.

Montar varal utilizando diversas tipologias textuais e produções de alunos

Transformar a história em literatura de cordel.

Histórias ou poemas partidos em parágrafos, estrofes ou versos para que os alunos reorganizem o texto.

Recital e roda de poesia.

Concurso de produção de livros, de cartas para personagens de histórias, de frases sobre um tema, de

contos, crônicas, poesias, etc.

Promover um correio escolar que pode ter em seu conteúdo: poesias, considerações sobre uma obra lida,

informações sobre autores, etc.

Releitura dos textos lidos com mudança de gênero ou estilo. Ex: de poesia para canção, de canção para

pintura, de narrativa para poesia.

Comparar textos literários com adaptações audiovisuais (televisivas ou cinematográficas).

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NAVEGANDO...

Navegando nos links abaixo você encontra biografia, bibliografia, textos, poesias,

artigos, curiosidades, fotos, ilustrações, teses e muito mais sobre a vida e obra de

diversos autores.

Ana Maria Machado - http://www.anamariamachado.com/home

Informações sobre vários autores: http://www.caleidoscopio.art.br/artistas-literatura e

http://www.releituras.com/drummond_bio.asp.

Bia Bedran - http://biabedran.com.br e http://bloglog.globo.com/biabedran

Ilustradora Thaís Linhares: http://ilustracoesdethais.blogspot.com.br

Carlos Drummond de Andrade - http://drummond.memoriaviva.com.br

Jorge Amado - http://www.jorgeamado.org.br e http://www.jorgeamado.com.br

Lygia Bojunga: http://www.casalygiabojunga.com.br

Fundação Manoel de Barros - http://www.fmb.org.br

Monteiro Lobato: http://www.projetomemoria.art.br/MonteiroLobato e http://lobato.globo.com

Nelson Rodrigues: http://www.nelsonrodrigues.com.br

Roseana Murray: http://www.roseanamurray.com e http://www.roseanamurray.com/ebook

Ruth Rocha: http://www2.uol.com.br/ruthrocha

Sylvia Orthof: https://sites.google.com/site/sylviaorthof

Cora Coralina: http://casadecoracoralina.blogspot.com.br

Ilustradora Luciana Grether Carvalho:

http://ilustralu.blogspot.com.br

Escritora e Ilustradora Sandra Ronca -

http://www.sandraronca.com.br

Ilustradora Thaís Linhares:

http://ilustracoesdethais.blogspot.com.br e http://thaislinhares.blogspot.com.br

Celso Sisto - http://www.celsosisto.com

Portal do Ilustrador - http://ilustradores.ning.com

Academia Brasileira de Letras - http://www.academia.org.br

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EQUIPE DE LEITURA...

Chefe

Hellenice de Souza Ferreira

Implementadores

Ana Rita de Castilho

Cristiane Guimarães Dantas

Daniela Mendes Vieira Alves

Fátima Regina dos Santos França

Flávio José Bonfim

Izabel Regina Docek

Marluce Moraes dos Santos

Patrícia de Sá Góes

Renata de Araújo Tomé

Vera Lúcia Santos da Silva

Assistente administrativo

Ana Paula Cabral de Lima