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DONALDO ARMELIN 25
ApONTAMENTOS SOBRE A AÇÃO MONITÓRIA.
LEI N° 9.079195
Donaldo Armelin Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo. Professor da Escola Paulista
da Magistratura. Professor dos Cursos de Graduação e Pós Graduação da PUC SP. Professor Doutor de Direito Processual Civil, convidado para o Curso de Pós
Graduação, lato sensu, da Faculdade de Direito de Bauru.
Sumário: 1. As inovações do CPC e o advento da ação monitória. 2. Conceito de ação monitória. Adequação de sua denominação. Ação, processo e procedimento. 3. A ação monitória; características, classificação e espécies. 4. O procedimento monitório do direito estrangeiro. 5. As tentativas de sua introdução no direito brasileiro. 6. A conveniência da adoção da ação monitória. 7. O modelo adotado pela Lei n° 9.079/95. 8. A lei n° 9.079/95 e sua disciplina. 9. As condições da ação monitória. 10. Os pressupostos processuais no processo de procedimento monitório. 11. Os procedimentos da ação monitória. 12. Execução na ação
monitória. 13. Conclusões.
l.AS INOVAÇÕES DO CPC E O ADVENTO DA AÇÃO MONITÓRIA.
Fiel ao seu propósito de simplificar, agilizar e potencíar a efetividade
do processo, a reforma do CPC objetiva agora inovar também com a inserção,
nesse Código, de instrumento até então nele inexistente, direcíonado ao atin
gimento de tais escopos.
26 REVISTA JURÍDICA - INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO
Por isso mesmo, mediante a conversão do Projeto de Lei n° 3.085/93 na
Lei 9.079 de 16 de julho de 1995, implantou-se, no sistema processual, a ação
monitória, que, como forma de tutela diferenciada, propiciará maior
celeridade na prestação jurisdicional de natureza satisfativa.
Deveras, esse tipo de ação hábil a transformar uma ordem de
pagamento ou de entrega em um mandado de execução, "secundum eventum
defensionis", haverá de ensejar um acesso rápido à via executiva, dispensando
a necessidade do processo de conhecimento sempre que ausente tempestiva
defesa do réu.
A utilidade da adoção de tal instrumento processual desvenda-se
através do exame dos sistemas processuais filiados ao direito continental
europeu, nos quais prepondera a orientação favorável à sua utilização.
Aliás, em alguns deles, que o albergam, a adoção da ação monitória é mais do que centenária. Essa circunstância demonstra não se tratar ela de
mera novidade adotável a título experimental. É, em verdade, um instituto
acrisolado pela experiência de mais de século a denotar sua adeqoação às
necessidades da prestação da tutela jurisdicional dos países em que atua.
Evidentemente, no Brasil, a ação monitória é uma novidade, cujas
vantagens ou eventuais inconveniências serão aferíveis a partir do início de
sua operatividade. Como se disse alhures, é no banco de prova da
jurisprudência que se testam as inovações processuais. A circunstância de ter
sido aprovada em outros ordenamentos jurídicos não implica por si só o seu sucesso no plano nacional. Diferenças de disciplina jurídico-processual,
disparidades culturais, sócio-econômicas e outras podem influenciar
decisivamente o resultado do desejado implante no sistema processual
brasileiro desse novo instrumento de atuação da jurisdição.
Mas a tentativa é válida porquanto importará na oferta aos que
reclamam a tutela jurisdicional de um instrumento diversificado para a sua
prestação.
As dificuldades eventuais de sua adaptação a esse sistema e emergentes
de sua futura atuação, como adiante serão elencadas, obviamente haverão de
ser enfrentadas pela doutrina e jurisprudência, com a conseqüente
DONALDO ARMELlN
harmonização do instituto com
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2. CONCEITO DE AÇÃO Ma DENOMINAÇÃO. AÇÃ(
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CA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN 27
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ência, com a conseqüente
harmonização do instituto com as demais normas jurídicas atualmente
vigentes disciplinadoras da prestação jurisdicional.
2. CONCEITO DE AÇÃO MONITÓRIA. ADEQUAÇÃO DE SUA DENOMINAÇÃO. AÇÃO, PROCESSO, PROCEDIMENTO.
A ação monitória, assim denominada na aludida Lei n° 9.079/95, insere-se, no Livro IV do CPC, entre os procedimentos especiais de jurisdição
contenciosa. Nele os procedimentos são arrolados como ações, algumas
qualificadas mais em função do direito material a que se reportam do que às
características processuais da prestação jurisdicional através delas reclamada.
Evidencia-se, porém, a especialização de ritos para a sua melhor
adequação aos fins a que se destinam. Com isso se objetiva uma maior rapidez
e efetividade no atingimento dos resultados do processo. Não há ali
diversidade de "ações", consideradas estas como o poder de estimular a
jurisdição, vez que todas elas produzem esse mesmo resultado, sendo
distinguidas apenas pelo pedido que veiculam. Estes, sim, são dotados de
características diferenciadoras hábeis a justificar a disparidade de
procedimentos.
Por isso mesmo a alusão a uma ação especial vale como um referencial
a um procedimento especial, tal como o título do Livro IV do CPC o indica,
muito embora venham estes rotulados no seu bojo como ações. Isto não
significa porém que não apresentem a estrutura prevista no art. 301 do CPC,
ou seja, partes, causa de pedir e pedido, de inafastável relevância para a
apuração da identidade de ações indispensável para a aferição dos fenômenos
processuais elencados no inciso V do art. 267 do mesmo Código.
Daí porque a Lei n° 9.079/95 acertadamente nesse particular qualificou
o procedimento monitório de ação monitória, acompanhando assim a
orientação adotada no vigente CPC a respeito da nomenclatura dos
procedimentos especiais.
Demais, ao inserir a ação monitória no elenco do Livro IV acima
referido, no qual se registra a presença de ações de conhecimento
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simplesmente e daquelas denominadas na doutrina executivas "lato sensu",
em que conhecimento e execução estão amalgamados em um único processo,
manifestou o legislador reformista uma clara opção.
Isto em razão de, induvidosamente, esse livro contemplar apenas ações
de conhecimento, considerando-se que, para fins de taxionomia, as executivas "lato sensu" continuam sendo consideradas como tais. Conseqüentemente,
pela topografia que se lhe impôs, a ação monitória foi considerada, pelo le
gislador, como um procedimento especial do processo de conhecimento de
natureza contenciosa.
Esta circunstância assume relevância porquanto a classificação da ação
monitória tem sido objeto de questionamento em sede doutrinária, de forma a
propiciar soluções legislativas diferenciadas, inclusive a esse respeito.
Realmente, as peculiaridades dessa ação, com a possibilidade de
convolação de pleno direito do mandado de pagamento ou de entrega em
título executivo, dentre outras, não facilitam a tarefa classificatória da
doutrina, até porque nela, se não exercitado do direito da defesa 40 réu, a
sentença, apanágio do processo de conhecimento, somente pode ser detectada
na decisão que, liminarmente, ordena o pagamento ou a entrega.
As dificuldades nesse particular refletiram-se na doutrina, que contempla
vários posicionamentos a tal respeito. Mister se faz, contudo, considerar que
estes reportam-se às soluções emprestadas pelos diversos ordenamentos
jurídico-processuais alienígenas reJati vamente à disciplina da vertente ação.
Mas as conseqüências práticas da classificação são relevantes. Dizem
respeito à coisa julgada, à defesa do réu, aos pressupostos processuais e condições de um pronunciamento sobre o mérito, dentre outras. Por isso
mesmo exige essa matéria um exame mais aprofundado.
3. AAÇÃO MONITÓRIA: CARACTERÍSTICAS,
CLASSIFICAÇÃO, ESPÉCIES
A ação monitória tem procedimento caracterizado pela possibilidade da
DONALDO ARMELIN
dispensa do processo de conhec
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em alto grau de probabilidade, a existênci.
lICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELlN
doutrina executivas "lato sensu", algamados em um único processo, Ifa opção.
~sse livro contemplar apenas ações
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dispensa do processo de conhecimento, tal como é normalmente concebido,
para se atingir a formação de título executivo apto a embasar a execução. Isto
porque, como acentua Calamandrei, nela a função mediata de preparar o título
executivo sobreleva-se sobre a imediata de declaração de certeza l •
Sua originalidade consiste em impor, desde logo, uma ordem e em
deixar para o réu a iniciativa do contraditório. A este, ao seu alvedrio, cabe
optar pela instauração do contraditório, o que implica ser sua omissão
decisiva para a rápida constituição do título executivo. Lembra, assim,
Chiovenda que, de um modo geral, todas as formas de procedimento
monitório têm como características comuns a expedição da ordem de
pagamento ou entrega, sem audiência da parte contrária e o escopo precípuo
de preparar a execução'.
Entretanto, a dispensa está condicionada à omlssao do réu em se
defender. Se isto não ocorrer, sua aptidão para a célere geração de título exe
cutivo esgarça-se e, por vezes, desaparece.
Em verdade a ação monitória resulta da conjugação de duas técnicas
convergentes para o mesmo resultado, ou seja, para a celeridade da prestação
jurisdicional. A sumariedade de uma cognição incompleta, porque unilateral
é complementada pela presunção de veracidade resultante dos efeitos da re
velia concretizada nos autos. Com isso a relativa insegurança a respeito de
fatos e decorrente da cognição incompleta é eliminada mediante a incidência
da referida presunção emergente da contumácia do réu. Isso propicia uma co
gnição exauriente geradora de certeza hábil a supedanear a existência de coisa
julgada material ungindo a prestação jurisdicional emergente desse
procedimento. Marinoni, sob enfoque parcialmente diferenciado, aponta o
monitório como "resultado da combinação da técnica da cognição exauriente
por ficção legal com a técnica da cognição exauriente"].
I EI Procedimiento Monitório, trad. esp, por Santiago Sentir Melendo, Buenos Aires, EJEA, 1953, p. 23. , Nesse sentido ver, Princípios de Derecho Procesal Civil, trad. esp. Madrid, Ed. Réus, s/d., vol. I p. 263. 3 err. Antecipação da Tutela na Reforma do Processo Civil, S.Paulo, Malheiros Ed., 1995, p. 29, na qual prossegue afinnando "Trata-se da adoção de um critério racional, que responde à exigência de se evitar
um desnecessário procedimento de cognição plena e exauriente quando a prova documental demonstra,
em alto grau de probabilidade, a existência do direito".
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Essa sua especificidade tem levado parte da doutrina a qualificá-la como encartada no processo de execução4, no processo de conhecimento ou,
mesmo, como uma espécie autônoma inserida entre tais categorias
processuais.
Até já se considerou o procedimento monitório como constante do rol daqueles pertinentes à jurisdição voluntária5
•
Como um "tertium genus", o procedimento monitório inerente a essa
ação reporta-se, na visão de Carnelutti, a um tipo de processo cuja estrutura
peculiar decorre de função diversa daqueles atinentes ao processo de
conhecimento e de execução!>. Humberto Theodoro Jr. adotou esse
posicionamento, qualificando-o como um procedimento intermediário, ao lado do processo de execução e daquele de conhecimento, "de larga
aplicação prática e de reconhecida eficácia para abreviar a solução de
inúmeros litígios"7.
4 É, de certa forma, o posicionamento de Vicente Greco Filho, que explicita, "verbis": "A ação
monitória é um misto de ação executiva em sentido lato e de cognição, predominando a força
executiva. Assim, apesar de estar a ação colocada entre os procedimentos especiais de jurisdição
contenciosa, sua compreensão e a solução dos problemas práticos que apresenta somente será
possível se for tratada como se fosse processo de execução. Ou seja, como se fosse uma espécie de
execução por título extrajudicial em que, ao invés do mandado de citação para pagamento em 24
horas sob pena de penhora, há citação com ordem de pagamento ou entrega de coisa móvel". in A
ação monitória, p.l, inédito.
.\ V. José Rogério Cruz e Tucci, invocando o magistério de Garbagnati, Il Procedimento
d'Ingiunzione, em Apontamentos sobre o Procedimento Monitório, in Devido Processo Legal e
Tutela Jurisdicional, S.Paulo, RT, 1993, p. 169.
" Cfr.: "Pero una tan profunda diferencia de estructura no puede mesmo de tener razón en una
función diferente, tanto dei proceso cognitivo como dei proceso ejecutivo. La verdad es que tanto
el proceso de inyunción como el proceso de desalojo constituyen un medido de seleción de los casos
en que, no habiendo-se discutido la pretensión, no se necesita cognición alguna, a diferencia de
aquellos en que la pretensión es discutida, en cambio, y antes de ejecución debe desarrollarse
normalmente el proceso cognitivo". Instituciones de Proceso Civil, trad. esp. por Santiago Sentir
Melendo, Buenos Aires, EJEA, 1973, vol. L, p. 84.
7 Cfr. Revista Forense 271/70.
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A - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
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antes de ejecución debe desarrollarse
~so Civil, trad. esp. por Santiago Sentir
Da mesma forma, Chiovenda o considerou um procedimento
específico, gerador de sentença de prevalente função executivaH, ao lado de
outros procedimentos com idêntico escopo. Entretanto, não o descartou da
área do processo de conhecimento.
Deveras é nesta que o procedimento monitório encontra sua adequada
colocação. Ainda que a cognição do Juízo, na hipótese de revelia do réu,
cinja-se à admissibilidade da via injuncional e à plausibilidade do direito nela
invocado, existe a atividade cognoscitiva e é ela pressuposto do acesso à via
executiva, através do título executivo nela formado. O processo de execução
emerge do resultado da ação monitória, que inexoravelmente o antecede para
a formação do título executivo judicial, mas com ela não se confunde, até
porque pode não ser incoado "ex officio", pois tal resta ao alvedrio do credor.
Ora, se o procedimento monitório decorrente da propositura de ação dessa
natureza é, por si só, hábil a gerar um título executivo judicial, sua função,
exaurindo-se com esse resultado, demonstra a sua autonomia em face do
processo de execução, o que significa não se confundir com este.
Não obstante, como assinala José Rogério Cruz e Tucci'), o Anteprojeto
de Código General deI Proceso para a América Latina (arts. 3111316), influenciado nesse particular pelo Código General deI Proceso Uruguaio (arts.
3511370) conotaram ao "proceso de estructura monitoria" execução fundada
em título executivo extrajudicial.
Também é inqualificável como inserida nos domínios da jurisdição
voluntária a ação monitória. Sua natureza contenciosa, aferível "primafacie",
dispensa quaisquer considerações a esse respeito.
Firmada a premissa no sentido de se inserir no âmbito da jurisdição dita
contenciosa e não ser encartável no conceito de ação de natureza executiva, a
ação monitória somente pode ser qualificada como geradora de processo de
conhecimento. Isto porque, seu escopo satisfativo manifesto é incompatível
com a natureza e finalidade do processo cautelar, adstrito à tutela da
'Princípios dI. p. 253.
, Apontamentos cit. p. 169.
31
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REVISTA JURÍDICA - INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO32
segurança. Portanto, mediante a exclusão das categorias processuais
inafeiçoáveis à estrutura e finalidade da ação monitória, chega-se à sua
qualificação como ação de conhecimento.
Aliás, a natureza do procedimento monitório como processo de
conhecimento e de natureza condenatória é preponderante na doutrina lO , o que
robora a conclusão de ser essa a sua qualificação mais adequada à sua
essência.
Portanto, arredadas as hipóteses de ser tal ação espécie daquelas exe
cutivas ou cautelares, somente resta ser ela examinada à luz de sua autonomia,
em face desses tipos de processo e de sua aptidão para gerar um processo de
conhecimento de escopo condenatório.
Não parece ter o procedimento monitório estrutura suficientemente
diferenciada dos demais a ponto de se constituir em um novo tipo de processo.
Se a atividade cognoscitiva do juiz é reduzida ou superficial isso não se faz
sem a necessidade de pronunciamento judicial, em caso de revelia do réu, tal
importa apenas na suficiência daquela cognição superficial inicial. Se
inexistir solução de continuidade entre a fase de conhecimento e de execução,
nem por isso a primeira é de ser descartada de sua estrutura. Fenômenos dessa
natureza permeiam o universo processual sem que, somente por isso, os
procedimentos que os configuram passem a desfrutar de individualidade
conceitual.
Também não se constitui o procedimento monitório, em mero
fenômeno de rito, sem natureza processual, porque ausente o contraditório ll ,
o que importaria na questionabilidade da existência da ação, tal como a
'" V. Calamandrei, que já em 1926 afirmava, com arrimo no entendimento de Drechsel, Hellwig,
Segni e Cristofolini, ser o procedimento monitório uma forma especial de processo de cognição
abreviado (cfr. El Procedimiento Monitório, cit., p. 60), bem assim como Eduardo Garbagnati, que,
invocando o posicionamento do mesmo Calamandrei, de Jaeger e de Sciacchitano, o qualifica como
"un processo speciale di cognizione, nel quale l'esercizio informe speciali di un'ordinaria azione
di congnizione provoca la pronuncia, in forme speciali, di un provvedimento giurisdizionale,
identico, per natura, nonostante la sommarietá delta cognizione, a quelto pronunciato, nelt'
esercizio delta giurisdizione dichiarativa, in un ordinario processo di condena" (I1 procedimento
d' ingiunzione, Milano, Giuffre, Ed. 1991, p. 30).
11 Assim Elio Fazzallari, Jnstituzioni di Diritto Processuale, Padova, Cedam, p. 75.
:be a doutrina tradicional. eOJ possibilidade da parte exercito
'cipando na formação do resull
'procedimento a ocorrência dos·
cia da incoação do processo e
,defesa, ainda que sob inicial
,uração do contraditório.
O que, em verdade, sucede,
.ento ou entrega de coisa, se
traditório, destarte, somente
gar, sendo, pois, diferido par;
Embora a propósito do legi:
a lastreado na expectativa de·
ira operatividade no procedin
'do o escopo objetivado l 3, a]
palavras, ainda que se dese
~u, esta é inquestionavelmer
do ela à opção do réu.
Essas considerações aplic
'tório, ou seja àquele puro e andrei, de um híbrido
'tório puro com o procedime
:rgado no direito processual
luer documento a embasar a ~n° 9.079/95 adotou o model( . onderante em vários orde
,ntinental européia.
de certo modo, o que defende Fazza
.e sentido acertada a observação·
.e própria e específica do monit
1957, t. n, p. 208.
I
:::A - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO IXlNALDO ARMELlN 33
ão das categorias processuais
ação monitória, chega-se à sua
monitório como processo de
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alificação mais adequada à sua
~r tal ação espécie daquelas exe
caminada à luz de sua autonomia, ltidão para gerar um processo de
litório estrutura suficientemente
Jir em um novo tipo de processo.
ja ou superficial isso não se faz
il, em caso de revelia do réu, tal
)gnição superficial inicial. Se
de conhecimento e de execução,
sua estrutura. Fenômenos dessa
:em que, somente por isso, os
a desfrutar de individualidade
Iimento monitório, em mero
orque ausente o contraditório li ,
xistência da ação, tal como a
no entendimento de Drechsel, He!lwig,
:mna especial de processo de cognição
nassim como Eduardo Garbagnati, que,
~ger e de Sciacchitano, o qualifica como
n forme speciali di un 'ordinaria azione
di un provvedimento giurisdizionale,
'gnizione, a quello pronunciato, nell'
Irocesso di condena" (Il procedimento
Padova, Cedam, p. 75.
concebe a doutrina tradicional. Considerado o contraditório como decorrente
da possibilidade da parte exercitar o seu direito de defesa "lato sensu",
participando na formação do resultado do processo lZ , patenteia-se no caso de
tal procedimento a ocorrência dos dois requisitos indispensáveis para tanto: a
ciência da incoação do processo e a oportunidade para o exercício do direito
de defesa, ainda que sob iniciativa do próprio réu, com a conseqüente
instauração do contraditório.
O que, em verdade, sucede, é a decisão sobre a expedição da ordem de
pagamento ou entrega de coisa, sem ainda a participação do réu no processo.
O contraditório, destarte, somente surge à opção deste, no prazo para pagar ou
entregar, sendo, pois, diferido para oportunidade subseqüente à ordem.
Embora a propósito do legislador, ao adotar o procedimento monitório,
venha lastreado na expectativa de que o contraditório, por omissão do réu, não
adquira operatividade no procedimento monitório, porque assim terá este sido
atingido o escopo objetivado lJ , a possibilidade disso ocorrer é manifesta. Em
outras palavras, ainda que se desejando não venha nele ocorrer a participação
do réu, esta é inquestionavelmente assegurada no procedimento monitório,
restando ela à opção do réu.
Essas considerações aplicam-se às duas especles de procedimento
monitório, ou seja àquele puro e ao documental. Este resulta, como esclarece
Calamandrei, de um híbrido resultante da comistão do procedimento
monitório puro com o procedimento documental do direito alemão, tal como
albergado no direito processual civil austríaco. O primeiro prescinde de
qualquer documento a embasar a sua admissibilidade e o segundo o exige. A
Lei n° 9.079/95 adotou o modelo deste. Fê-lo, aliás, na esteira de orientação
preponderante em vários ordenamentos jurídico-processuais da família
continental européia.
"É, de certo modo, o que defende Fazzallari, op. cit. p. 29.
" Nesse sentido acertada a observação de Redenti, quanto a, nessa hipótese, ter sido atingida a finalidade própria e específica do monitório. V. Derecho Procesal Civil, trad. esp., Buenos Aires,
EJEA, 1957, t. lI, p. 208.
l
REVISTA JURíDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO34
4, O PROCEDIMENTO MONITÓRIO NO DIREITO ESTRANGEIRO,
Deitando raízes no direito romano-canônico, quando do surgimento de
procedimentos que incluíam o "mandatum de solvendo cum clausula
iust~ficativa" ou simplesmente "praeceptum cum clausula"l\ a ação
monitória irradiou-se pelos vários ordenamentos jurídicos sob diversas formas. Inclusive o direito luso-brasileiro a contemplou, embora na
atualidade não mais albergue formas típicas de seu procedimento.
Não obstante, este vem sendo, de há muito, adotado em vários sistemas
processuais dos países europeus continentais. Em alguns deles, como na ZPO
alemã e na austríaca, já foi implantado há mais de século.
Ainda que com algumas variantes, mantém denominadores comuns na
sua estrutura e finalidade.
Na ZPO alemã!; o monitório - Mahnverfahren - é do tipo puro,
prescindindo de prova documental para a sua regular incoação, até porque I'
contempla esse Código um procedimento documental específico para as
ações lastreadas em determinados documentos. O Mahnverfahren é cabível para as pretensões atinentes a quantia líqüida de dinheiro sem limitação de
valor (art. 688). A ZPO austríaca prevê o Mahnverfahren, como monitório puro, com
limitação quanto ao valor da pretensão restrita ao pagamento de quantia
determinada (arts. 448 e segs.), ao lado do Mandatsverfahren, que versa
prestações em dinheiro ou coisa fungíveis, sem limites de valor, lastreadas em
documentos cujos tipos vem especificamente elencados no texto legal (arts. 548 e segs.)16.
14 V. José Rogério Cruz e Tuccei, op. cit. p. 161.
15 Em vigor desde 1877, com as modificações posteriores, inclusive a Vereinfachunsnovelle de
1976. !fi Consultar a respeito Faustino Gutiérrez-Alviz y Conradi, EI Procedimiento Monitorio, Estúdio de
Decerto Comparado, Anafes de la Universidade Hispalense, Ed. Católica Espaíiola S/A, 1972 pp.
101 e ss.
o CPC da França tamb ,unando-o sob o título de ",
'. 1.405 e seguintes. Sem restl
o a instrução da inicial com os
Na Itália, o CPC de 194 '.tório em se tratando de eiro, a coisas fungíveis ou
'ta do crédito, elencada, qm
tÜgo, no art. 634, e relativame 'otestações judiciais ou extraju ,1 mo artigo, a especificada n<
'to, Disciplinadas estão ain
orme o objeto que a de
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sua suspensão, a conciliação,
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V Adotam ainda tal proce
.4a Bélgica, Holanda e Luxem\
:* sua introdução no proces~
;;Portugal ainda não o adotaran
\? Antonio M. Lorca Navarrete, EI P1
S. Sebastián, 1989, págs. 99 e segs.
11 efr. op. cito p. 55 e segs.
~ÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
) NO DIREITO ESTRANGEIRO.
·canônico, quando do surgimento de
{atum de solvendo cum clausula
ceptum cum clausula"14, a ação
enamentos jurídicos sob diversas
ileiro a contemplou, embora na :as de seu procedimento.
í muito, adotado em vários sistemas
ais. Em alguns deles, como na ZPO mais de século.
mantém denominadores comuns na
Vlahnveifahren - é do tipo puro,
l sua regular incoação, até porque
to documental específico para as
entos. O Mahnveifahren é cabível
~ida de dinheiro sem limitação de
'rlhren, como monitório puro, com
restrita ao pagamento de quantia
do Mandatsveifahren, que versa
;em limites de valor, lastreadas em
tlte elencados no texto legal (arts.
ores, inclusive a Vereinfachunsnovelle de
di, EI Procedimiento Monitorio, Estúdio de
:nse, Ed. Católica Espaííola SIA, 1972 pp.
O CPC da França também contempla o procedimento monitório,
disciplinando-o sob o título de "la procedure d'injonction à payer", nos seus
arts. 1.405 e seguintes. Sem restrições quanto ao valor da pretensão, exige-se
ali a instrução da inicial com os documentos comprobatórios.
Na Itália, o CPC de 1941 admite, em seu art. 633, o procedimento
monitório em se tratando de créditos relativos a uma soma líqüida de
dinheiro, a coisas fungíveis ou a coisa móvel determinada. Exige-se prova
escrita do crédito, elencada, quanto àqueles atinentes ao n° 1 do mencionado
artigo, no art. 634, e relativamente aos créditos por honorários resultantes de
prestações judiciais ou extrajudiciais e outras arrolados nos nOs 2 e 3 do
mesmo artigo, a especificada no art. 636. Não há limitação quanto ao valor do
crédito. Disciplinadas estão ainda a competência do juízo, a forma da inicial,
conforme o objeto que a defere, a oposição do devedor tempestiva e
extemporânea, a executoriedade à míngua de oposição, a execução provisória
e sua suspensão, a conciliação, a rejeição, total ou parcial, da oposição, além
de outras peculiaridades do procedimento.
Adotam ainda tal procedimento os ordenamentos jurídico-processuais
da Bélgica, Holanda e Luxemburgo, noticiando Lorca Navarrete as tentativas
de sua introdução no processo civil espanhol 17. Mas tanto Espanha como
Portugal ainda não o adotaram.
Destaca este autor, em estudo do direito comparado europeu IR, a
existência de dois modelos básicos de procedimento monitório; o do direito
alemão e o do direito italiano.
No primeiro, inexiste um exame aprofundado do direito invocado pelo credor, de forma que o mandado de pagamento vem lastreado em afirmação unilateral e não provada dos fatos constitutivos do seu direito, suficiente
17 Antonio M. Lorca Navarrete, EI Procedimiento Monitorio Civil, Inst. Vasco de Derecho Procesal,
S. Sebastián, 1989, págs. 99 e segs.
" Cfr. op. cil. p. 55 e segs.
35
.
REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO36
destarte a verossimilhança "in statu assertionis". Aliás, é expresso o art. 692,
2 da ZPO tedesca no sentido de que a comunicação do mandado ao credor
cabe o pedido formulado. A ausência de oposição faz com que se expeça, a
requerimento do credor, mandado executivo que corresponde a uma sentença
prolatada em razão de revelia l '). Comparecendo, porém, o réu para se
defender, o mandado de pagamento converte-se em mero mandado de citação,
tal como sucedia no direito medieval, no concernente ao "mandatum cum
clausula iustificativa"211.
No segundo, diferentemente, a pretensão vem embasada em prova
documental, hábil a gerar a certeza do direito do autor, se acoplada à
contumácia do réu aferida através de autêntico procedimento. Há a motivar a
admissibilidade deste a presunção de que não existirá questionamento a
respeito da dívida reclamada, ou que são mínimas as possibilidades de vir este
ocorrer. A decisão, deferindo a ordem de pagamento, equivale a uma sentença,
pois será a única do processo, se e quando corporificada a revelia do réu. Da
mesma forma o indeferimento do pedido comportará recurso, por provocar a
extinção do processo. A decisão deferidora da injunção, ainda que não atacada
pela via de oposição, transita em julgado.
São técnicas diferenciadas direcionadas, porém, ao mesmo escopo de
aceleração da formação do título executivo.
O sucesso de sua adoção nesses sistemas jurídicos está diretamente
vinculada às peculiaridades de cada país, inclusive no concernente à própria
estrutura da organização judiciária e aos mecanismos processuais neles
existentes.
" Nesse sentido o art. 700, I da ZPO alemã. A respeito pondera Leo Rosenberg, ser possível ainda
oposição a tal mandado, que, se não oposta, permitirá cstar ele ungido pela coisa julgada material
(cfr. Derecho Procesal Civil, trad. esp., Buenos Aires, EJEA, 1954, vol 11. p. 554).
'" Assim o ensinamento de Baldo, "00. quae clausula iustificat mandatum. et si venÍl resolvitur in
semp/icem citationis", Commentaria ad. l, 5, par. 10, Dig. 39 apud, Faustino Guiterrez-Alviz y
Conradi, op. cit. p. 22.
Como já acentuado supra,
.eros títulos executivos extraj
lor complexidade2l , o mesmo c
TENTATIVAS DE SUA IJ PROCESSUAL NACION
O sistema processual nacio
nitório tal como as já acol
ssuais estrangeiros, conform
Todavia institutos adotado~
formação do título execut
'Ocedimento, a ponto de se reCI
códigos pretéritos e sua ausêr
:y 21 Com o advento da Lei n° 9.099/94, qu
instituiu em seu lugar os juizados especia
competência dos novos juizados amplio
competência desses juizados, como defm
da ação monitória, normalmente reservad
21 Assim a ação de preceito cominatório,
Ordenações Filipinas, Livro 3°, til. 78, §
e Manoelinas, bem assim como nos arti~
fazer ou de não fazer; a ação decendiária
Manoelinas e prevista nas Ordenações
Regimento 73711850, na Consolidação F tidas por Moacyr Amaral dos Santos c
Estudo do Processo Cominatório, S.Paul
~ÍDICA - INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO
"tíonís". Aliás, é expresso o art. 692,
:omunicação do mandado ao credor
oposição faz com que se expeça, a
ivo que corresponde a uma sentença
parecendo, porém, o réu para se
:rte-se em mero mandado de citação,
10 concernente ao "mandatum cum
:etensão vem embasada em prova
) direito do autor, se acoplada à ntico procedimento. Há a motivar a
ue não existirá questionamento a
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19amento, equivale a uma sentença,
) corporificada a revelia do réu. Da
;omportará recurso, por provocar a
da injunção, ainda que não atacada
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pondera Leo Rosenberg, ser possível ainda
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DEA, 1954, voI 11. p. 554).
,stificat mandatwn, et si venit resolvitur in
Dig. 39 apud, Faustino Guiterrez-Alviz y
DONALDO ARMELlN
Como já acentuado supra, resta aferir se, no sistema nacional, com
inúmeros títulos executivos extrajudiciais e juizados especiais de causas de
menor complexidade21 , o mesmo ocorrerá, pelo menos no plano estatístico.
5. AS TENTATIVAS DE SUA INTRODUÇÃO NO SISTEMA PROCESSUAL NACIONAL. O ANTEPROJETO DE 1985.
o sistema processual nacional não albergou a técnica do procedimento
monitório tal como as já acolhidas em outros ordenamentos jurídico
processuais estrangeiros, conforme acima ressaltado.
Todavia institutos adotados no passado no sentido de uma aceleração
na formação do título executiv022 guardavam semelhança com esse
procedimento, a ponto de se reconhecer a presença de técnica assemelhada
em códigos pretéritos e sua ausência no vigente.
21 Com o advento da Lei n° 9.099/94, que extingüiu os juizados especiais de pequenas causas e
instituiu em seu lugar os juizados especiais de causas cíveis de menor complexidade, o âmbito da
competência dos novos juizados ampliou-se, consideravelmente. Sendo considerada absoluta a
competência desses juizados, como defende parte da doutrina, estará esvaziado o campo de atuação
da ação monitória, normalmente reservado a causas de valor reduzido e de menor complexidade.
22 Assim a ação de preceito cominatório, também denominada embargos à primeira, prevista nas
Ordenações Filipinas, Livro 30, til. 78, § 50, que reproduziam idênticas disposições das Afonsinas
e Manoelinas, bem assim como nos artigos 302 e seguintes do CPC de 39 versando obrigação de
fazer ou de não fazer; a ação decendiária ou de assinação de dez dias, instituída pelas Ordenações
Manoelinas e prevista nas Ordenações Filipinas, Livro 30, til. 25 L, e nos arts. 246 e segs, do
Regimento 737/1850, na Consolidação Ribas e nos Códigos Estaduais da Bahia e de S.Paulo, são
tidas por Moacyr Amaral dos Santos como formas de procedimento monitório (Introdução ao
Estudo do Processo Cominatório, S.Paulo, Max Limonad Ed., 1953, p. 129).
37
I
REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO 38
Não obstante, a doutrina já alvitrava a sua adoção antes mesmo das
tentativas de sua introdução pela via legislativa em nosso direito2J • Há uma
década, Comissão adrede constituída para elaborar anteprojeto para a reforma
do CPC apresentou uma proposta nesse sentido, que veio à publicidade em
dezembro de 1985, na qual se previa a instituição do procedimento monitório
em nosso sistema processual. Na exposição de motivos desse anteprojeto,
restou explicitado o escopo da inovação. A finalidade foi constituir o título
executivo antes mesmo da defesa do réu, com a expedição de mandado para
que este satisfaça a obrigação. Tal mandado, prosseguia a exposição, teria sua
eficácia condicionada à impugnação do réu, mediante "embargos". Não
opostos, ensejam de imediato o prosseguimento da execução. Oferecidos os
embargos, procede-se como previsto no processo "executivo"24.
2' Nesse sentido, por ocasião do advento do CPC de 1939, Machado Guimarães (Comentários ao
Código de Processo Civil, 1942, v. 4°, n° 168) e Amorim Lima (Código de Processo Civil
Comentado, 1941, vol. 2°, n° 8) reclamavam contra a abolição da ação decendiária do sistema
processual. Outrossim, Galeno Lacerda, antes mesmo do vigente CPC apontava a conveniência
dessa introdução (Mandados e Sentenças Liminares, RF 236/11-12) o mesmo fazendo, em duas
opurtunidades, mesmo após ao advento deste Código, Humberto Theodoro Jr. (O Procedimento
Monitório como Possível Solução para o Problema da Execução da Duplicada sem Aceite,
Uberaba, Vitoria ed. 1976 e Procedimento Monitório e a Conveniência de sua Introdução do
Processo Civil Brasileiro, RF, 270171).
24 In Código de Processo Civil e Legislação Especial, atualizado e organizado por Sálvio de
Figueiredo Teixeira, 7' Ed., Rio, Forense, 1986, p. 681, item 26.
,; Assim o anteprojeto previa:
.ento da ação monitória, COI
nos arts. 1.102-A e 1.102 redação do primeiro destes
diferença foi a supressão da
ifOjeto, provavelmente pOI
li. O mesmo, de resto, OCOI
,-e do projeto, sendo irrelev
ambos,
Difere, entretanto, a redaç
Lei n° 9.079195 são três,
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'0 aos embargos, que, tal
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que corresponde ao devec
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. Também estatui o § 3° de
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'texto legal, permite inferi
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. .ção de soluções diferenc
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CONVENIÊNCIA DA AJ
. Em face das propostas a
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ente, a inovação atenderá j
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íDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
iva a sua adoção antes mesmo das
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l elaborar anteprojeto para a reforma
sentido, que veio à publicidade em
itituição do procedimento monitório
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A finalidade foi constituir o título
com a expedição de mandado para
lo, prosseguia a exposição, teria sua
) réu, mediante "embargos". Não
imento da execução. Oferecidos os rocesso "executiVO"24.
939, Machado Guimarães (Comentários ao
\morim Lima (Código de Processo Civil
1 abolição da ação decendiária do sistema
do vigente CPC apontava a conveniência
{F 236/11-12) o mesmo fazendo, em duas
, Humberto Theodoro Jr. (O Procedimento
da Execução da Duplicada sem Aceite,
) e a Conveniência de sua Introdução do
11, atualizado e organizado por Sálvio de item 26.
Assim o anteprojeto previa, tal como o faz a vigente lei n° 9.079/95, o
regramento da ação monitória, com a designação de procedimento monitório,
também nos arts. 1.102-A e 1.1 02-C, a serem inseridos do CPC, sendo certo
que a redação do primeiro destes é praticamente idêntica à da vigente lei. A
única diferença foi a supressão da alusão a semovente, que constava do artigo
do anteprojeto, provavelmente por considerá-lo albergado no conceito de bem
móvel. O mesmo, de resto, ocorre com o art. 1.102-B e o "caput" do art.
1.102-C do p(ojeto, sendo irrelevantes as disparidades redacionais existentes
entre ambos.
Difere, entretanto, a redação dos parágrafos deste último artigo. Na
vigente Lei n° 9.079/95 são três, em lugar dos quatro do anteprojeto em tela.
Alterações substanciais mais significativas foram a outorga de procedimento
ordinário aos embargos, que, tal como se previa no anteprojeto, processar-se
ão nos próprios autos do monitório. Também, no caso de cumprimento do
mandado, foram eliminadas as custas e honorários advocatícios imputáveis ao
réu, que corresponde ao devedor na redação do projeto, cumpridor do
mandado, sem que se definisse a situação do inadimplente quanto a tais
verbas. Também estatui o § 3° do projeto a intimação do devedor em caso de
rejeição dos embargos.
O exame do anteprojeto, que manifestamente influenciou a redação do
atual texto legal, pennite inferir a adoção pelo Legislador de orientação já
naquele preconizada quanto a algumas questões nele regradas, ao lado de
utilização de soluções diferenciadas para alguns aspectos da disciplina do
procedimento monitório. Daí o interesse no confronto dos respectivos textos,
como adminículo na exegese da vigente lei.
6. A CONVENIÊNCIA DA ADOÇÃO DA AÇÃO MONITÓRIA.
Em face das propostas anteriores nesse sentido e da atual inserção do
procedimento monitório no processo civil brasileiro, impende investigar se,
realmente, a inovação atenderá a necessidade de se obter um melhor rendimento
na prestação jurisdicional reclamada pelos usuários dos serviços judiciais.
39
40 REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO
A experiência de outros sistemas processuais aponta resultados
satisfatórios com a adoção desse tipo específico de procedimento. Dados
estatísticos o demonstram. Assim é que, na Alemanha, os procedimentos
monitórios superam de muito, em número, os demais procedimentos25 •
Também na França aumentou significativamente o número de feitos dessa natureza no decorrer do temp026. Além do mais, as estatísticas apontam
pequena porcentagem de procedimentos em que ocorreu oposição do devedor,
e, ainda, elevada parcela de casos em que essa oposição resultou
improcedente.
Doutrina nacional abalizada27 manifesta apreensão quanto ao resultado
dessa adoção, a teor de que o campo de atuação do monitório será restrito em
razão do extenso rol de títulos executivos extrajudiciais existente no processo
civil nacional.
Não parece seja por isso limitado o âmbito da atuação do monitório a
ponto de desencorajar as expectativas quanto ao êxito de sua implantação.
" Conforme anotado por Sidney Benetti (Ação Monitória na Reforma Processual, in Revista de Jurisprudência Escolhida do Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de S. Paulo, vol. 3, págs. 73 e segs), já em 1937 Adolf Schonke calculava a existência de 4.515.821 procedimentos monitórios contra 2.654.957 de procedimentos comuns. Desde então a porcentagem dos procedimentos monitórios em relação aos comuns veio evoluindo de sorte que, em 1975, estes representavam apenas cerca II % do total daqueles, tendo se mantido essa proporção até 1990, nos termos dos números citados no Munchner Kommentar ZPO, Georg Holch, Münhen,
19920 J310/1455. Em 1992 Johann Braun, em artigo sobre a coisa julgada do mandado executivo, apontava no Juristische Schulung (março 1992), a existência de cerca de seis milhões de procedimentos monitórios no Judiciário alemão. Neste, aliás, a incidência de oposição no monitório é extremamente diminuta, cerca de 8% em 1981, consoante Rosenberg-Schwab, Zivilprocessrecht, 14' ed. C.H. Beck verlags-buchhandlung, München, 1986, p. 1053.
2ó Conforme R. Perrot (li procedimento per ingiunzione. Riv. Proc. Cív. 4/1986 págs. 7171718), os
procedimentos monitórios passaram de 220.000 em 1970 para 630.000 em 1983.
27 Esse o entendimento de Cândido Rangel Dinamarco em A Reforma do Código de Processo Civil, 2' ed., S. Paulo, Malheiros Ed., 1995, p. 230, que se reportando ao advento da ação monitória, pondera: "Com tantos títulos executivos extrajudiciais em nossa ordem processual e com a
iminência de ganharmos esse poderoso meio de obter títulos executivos judiciais, seria o caso de
reduzir a órbita da executividade, não de expandi-la. Vão escasseando os créditos documentais
desprovidos de eficácia executiva, o que pode fadar à inutilidade a ação monitória, na medida do
pouco que lhe sobrará".
:Basta atentar para o número de tí
" ia executiva foi extirpada pela ifcomo de resto é um costume na li'·~.ercadoria para se constituírem t
;,; requisitos formais para ensejarerr ;, t.
f~Qs extratos de livros comerciais ( ,,:X ,"{ e quejandos, a fim de se constatar,;,4; ,.,
j qo panorama processual brasilei
'. , Aliás, embora diversos os
;itp8Ís e os daqueles que, na Eun !~!aceitável que este venha aqui tl
.semelhante àquele já constatado
É certo que em nosso paí~
para se aferir o número de proces
.monitório, em que ocorre a reVf
segurança venha a supressão do 1
do réu em instaurar o contraditóri
dos congestionados juízos e desconsiderar a presença, na est
juizados especiais de causas c
judicantes tiveram a sua com~
9.099/95, que lhes cometeu açõe
aquelas previstas no inciso II do
competência em razão do valor.
aparentemente patenteia não ma microssistema de tais juizados e
Conseqüentemente tais.
passíveis de serem processada:
este, pela experiência haurida
reservado às causas de pequenl
Mas, obviamente, ainda
esperado, a incorporação do ~
ÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
as processuais aponta resultados
:specífico de procedimento. Dados
:, na Alemanha, os procedimentos
nero, os demais procedimentos25.
vamente o número de feitos dessa
do mais, as estatísticas apontam
mque ocorreu oposição do devedor,
em que essa oposição resultou
'esta apreensão quanto ao resultado
lação do monitório será restrito em
~xtrajudiciais existente no processo
âmbito da atuação do monitório a
mto ao êxito de sua implantação.
tória na Reforma Processual, in Revista de da Civil do Estado de S. Paulo, vol. 3, págs. a existência de 4.515.821 procedimentos muns. Desde então a porcentagem dos ia evoluindo de sorte que, em 1975, estes jo se mantido essa proporção até 1990, nos
lmentar ZPO, Georg Holch, Miinhen, bre a coisa julgada do mandado executivo, existência de cerca de seis milhões de
t1iás, a incidência de oposição no monitório tnte Rosenberg-Schwab, Zivilprocessrecht, l6, p. 1053.
. Riv. Proc. Civ. 4/1986 págs. 7171718), os ::J para 630.000 em 1983.
ri A Reforma do Código de Processo Civil, eportando ao advento da ação monitória, s em nossa ordem processual e com a
tulos executivos judiciais, seria o caso de
'ão escasseando os créditos documentais
utilidade a ação monitória. na medida do
Basta atentar para o número de títulos executivos cuja aptidão para acessar a
via executiva foi extirpada pela prescrição, para as duplicatas não aceitas,
como de resto é um costume nacional, sem prova adequada da entrega da
mercadoria para se constituírem em títulos executivos, para os contratos sem
requisitos formais para ensejarem execução, para os vales, as cartas missivas,
os extratos de livros comerciais os documentos relativos a cartões de crédito
e quejandos, a fim de se constatar a amplitude que o monitório poderá assumir
no panorama processual brasileiro.
Aliás, embora diversos os níveis sócio-econômico e cultural do nosso
país e os daqueles que, na Europa, adotaram o monitório, é perfeitamente
aceitável que este venha aqui ter um desenvolvimento no plano estatístico
semelhante àquele já constatado em vários dos países acima referenciados.
É certo que em nosso país não se pode dispor de estatísticas confiáveis
para se aferir o número de processos, passíveis de albergarem o rito especial do
monitório, em que ocorre a revelia do réu. Portanto não se pode inferir com
segurança venha a supressão do procedimento ordinário decorrente da omissão
do réu em instaurar o contraditório no monitório, influir decisivamente no alívio
dos congestionados juízos e tribunais nacionais. Também não se pode
desconsiderar a presença, na estrutura da organização judiciária nacional, dos
juizados especiais de causas cíveis de menor complexidade. Estes órgãos
judicantes tiveram a sua competência ampliada com o advento da Lei nÔ
9.099/95, que lhes cometeu ações de despejo e possessórias relativas a imóvel e
aquelas previstas no inciso II do art. 275 do CPC, além de elevar o teto de sua
competência em razão do valor. Acresce, ainda, que o art. 10 dessa mesma lei
aparentemente patenteia não mais existir a possibilidade da parte optar entre o
rnicrossistema de tais juizados e o macrossistema processual.
Conseqüentemente tais juizados absorverão grande parte das causas
passíveis de serem processadas pelo rito do monitório, considerando-se que
este, pela experiência haurida em outros sistemas processuais, é, em regra,
reservado às causas de pequeno valor ou de menor complexidade.
Mas, obviamente, ainda que em grau possivelmente menor do que o
esperado, a incorporação do monitório à processualística pátria reduzirá a
41
ARMELINREVISTA JURÍDICA - INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO 42
carga do Judiciário, através da eliminação da necessidade de um
procedimento condenatório de rito comum ordinário ou sumário para a
solução de conflitos de interesses subsumíveis à sua disciplina procedimental.
Ainda que isso não venha ocorrer, a simples presença de uma forma
diferenciada de prestação de tutela jurisdicional somente poderá melhorar a
operatividade do sistema. Algumas ações, "rectius", procedimentos, de
minguada expressão estatística existem no elenco do Livro IV do CPC. Veja
se por exemplo a ação de anulação e de substituição de títulos ao portador
prevista nos arts. 907 a 913 do CPC, que, embora de escassa relevância nesse
particular, atende a uma específica necessidade de tutela jurisdicional e, por
isso mesmo, encontra-se estruturada para melhor propiciar o atendimento
dessa reclamação.
Portanto, o interesse em manter no elenco dos procedimentos especiais
aqueles mais adequados a uma pronta solução de determinados conflitos de
interesses, atende à necessidade de uma otimização do sistema processual
para o atingimento de seu escopo maior que é uma prestação jurisdicional
justa e expedita.
A celeridade na formação de um título executivo, como resulta do
procedimento monitório, com a expectativa do desinteresse do réu em
provocar o contraditório, sem dúvida contribuirá, em maior ou menor
intensidade, para a aceleração da aludida prestação.
7. O MODELO ADOTADO PELA LEI N° 9.079195.
Estabelecida a premissa no sentido de que a ação monitória
corresponde a uma ação condenatória, a sua colocação no Livro IV Título I,
do CPC, relativo aos procedimentos especiais de jurisdição contenciosa é
incensurável.
o exercício dessa ação gera um processo de conhecimento de rito
especial, direcionado a uma rápida formação de título executivo, na previsão
de uma provável omissão do réu em se defender.
Novidade em nosSO sisten
:los alienígenas já acrisolac
•. precipuamente, pelo modele
9/95.
Embora a disciplina da aç
:tabelecida no CPC italian021
uns entre ambos textos just
:, Deveras, quanto ao cabi
'.102a. do aludido diploma l~
italiano. Outrossim, o (
dado de pagamento ou dt
•. primeira parte do art. 6, :erecimento de defesa do d
~ssa defesa, lá oposição, ae 'i trega converte-se em ma
., iano, o processo passa ao ,xame os embargos, que indc
:Ifocessados, sob o rito ordin ,
.. A rejeição integral da o o,'
"rojeto implica também a pagamento ou de entrega já di
,~:
Mas o que parece mais
italiano é a sua natureza de m
'do que sucede no direito a'
expedição do mandado de ,. 'prescrito na legislação tedel
l. "ilusão à circunstância de não
"~ de ser fundamentada e cale ;!i'
1& No estatuto processual peninsular
monitório.
IICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELlN
inação da necessidade de um
Im ordinário ou sumário para a
eis à sua disciplina procedimental.
1 simples presença de uma forma
:ional somente poderá melhorar a
~s, "rectius", procedimentos, de
~lenco do Livro IV do CPC. Veja
llbstituição de títulos ao portador
nbora de escassa relevância nesse
Jade de tutela jurisdicional e, por
melhor propiciar o atendimento
:nco dos procedimentos especiais ;ão de determinados conflitos de
imização do sistema processual
le é uma prestação jurisdicional
lllo executivo, como resulta do
la do desinteresse do réu em
ltribuirá, em maior ou menor ltação.
9.079195.
) de que a ação monitória
:olocação no Livro IV Título I, is de jurisdição contenciosa é
esso de conhecimento de rito [e título executivo, na previsão er.
Novidade em nosso sistema processual o novo instituto inspirou-se em
modelos alienígenas já acrisolados pela experiência de vários anos. A opção
foi, precipuamente, pelo modelo italiano, pelo que resulta do texto da Lei n°
9.079/95.
Embora a disciplina da ação monitória neste seja exígua, se comparada
à estabelecida no CPC italian02H para esse procedimento, detectam-se pontos
comuns entre ambos textos justificadores da conclusão supra.
Deveras, quanto ao cabimento assemelha-se muito a redação do art.
1l02a. do aludido diploma legal com aquele do "caput" do art. 633 do
CPC italiano. Outrossim, o art. 1.102 .b, que cuida do deferimento do
mandado de pagamento ou de entrega, guarda também semelhanças com
a primeira parte do art. 641 da lei italiana. Diverso o prazo para
oferecimento de defesa do devedor, ambos textos prevêem que, à falta
dessa defesa, lá oposição, aqui embargos, o mandado de pagamento ou
entrega converte-se em mandado executivo. Oposta esta, no direito
italiano, o processo passa ao rito ordinário, enquanto na lei nacional em
exame os embargos, que independem de prévia segurança do juízo, serão
processados, sob o rito ordinário.
A rejeição integral da oposição, no direito italiano, e dos embargos no
projeto implica também a outorga de executoriedade ao mandado de
pagamento ou de entrega já deferido.
Mas o que parece mais relevante para filiar o texto nacional ao modelo
italiano é a sua natureza de monitório documental e não puro, diferentemente
do que sucede no direito alemão. Assim, sendo a decisão, que defere a
expedição do mandado de pagamento ou de entrega, diversamente do
prescrito na legislação tedesca, na qual no mandado deve haver expressa
alusão à circunstância de não ter o juiz se aprofundado no exame da causa, há
de ser fundamentada e calcada em juízo de certeza decorrente de prova
" No estatuto processual peninsular vão do art. 633 ao 656 os artigos que cuidam do procedimento
monitório.
43
44 REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO
documental hábil a lastrear coisa julgada materiaF'!, sempre que conjugada
com a presunção decorrente da omissão do réu em se defender. Destarte, não
sendo ela atacada por embargos ou sendo estes rejeitados, subsiste como a
expressão concreta da prestação jurisdicional reclamada e outorgada para fins
de acessar a via executiva.
Não há, obviamente, no texto da Lei n° 9.079/95 referência a essa
circunstância, mas é ela inferível de seu próprio sistema. O mesmo ocorre
com outras peculiaridades de seu regramento.
Questões a respeito serão inevitáveis, pois mesmo no direito italiano, a
despeito de estar o procedimento monitório disciplinado há mais de meio
século no seu CPC, remanescem ainda pendentes questões relativas à
inteligência de seu regramento.
Ora, se no direito processual civil italiano, em que a disciplina desse
instituto efetivou-se através de vários dispositivos, remanesce ele
problemático, com maior razão o seu sintético tratamento do CPC de 73 já
alterado com a inclusão do texto de Lei n° 9.079/95, segurament~ ensejará,
como de resto já ocorreu, inúmeros problemas de interpretação.
Por isso mesmo a adoção de um tipo de monitório documental espe
lhado, em parte, no modelo peninsular pode implicar também a importação de
questões a ele concernentes, de forma que o referencial à doutrina italiana há
de se fazer com consciência dessa conflituosidade ainda ali subsistente.
8. A LEI N° 9.079195 E SUA DISCIPLINA.
Como sói acontecer, a inserção de matéria nova em um código já
vigente exige a sua necessária adaptação ao sistema em que ela se engasta. Tal
haverá de ocorrer com o novo Capítulo XV do Livro IV CPC.
" Essa matéria continua questionada na doutrina italiana, consoante registra Edoardo Garbagnati. Assim, manifestam-se em contrário à coisa julgada material nesse tipo de processo, Carnelutti, Redenti, Andrioli e Ferrara, ao passo que Montesano e Proto Pisani opinam no sentido de ser a decisão prolatada no procedimento monitório carente de efeito reflexo, de forma a não atuar "extra
litem" e "ultra partes" (cfr. I I procedimento d'ingiunzione, Milanu, Giuffre, 1991, págs. 9/1 O).
Entretanto, alguns disposith
processual, sem o que a desejada t
A nova lei disciplinou c
processamento relativamente às hi
seu decorrer, ou seja, o adimpleme
. comparecimento para apresentar el
conseqüências de cada uma.
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Continua à disposição do credo
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Considerando-se a dimens
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DICA - INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELtN 4S
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consoante registra Edoardo Garbagnati.
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eito reflexo, de forma a não atuar "extra
, Milano, Giuffrê, ]99], págs. 9/1 O).
Entretanto, alguns dispositivos deste hão de se fletir à nova realidade
processual, sem o que a desejada harmonia intrassistêmica deixe de existir.
A nova lei disciplinou o cabimento da ação monitória e seu
processamento relativamente às hipóteses possíveis de se corporificarem no
seu decorrer, ou seja, o adimplemento voluntário do réu, a sua revelia e o seu
comparecimento para apresentar embargos, especificando, "quantum satis" as
conseqüências de cada uma.
Desde logo, porém, impende ressaltar que a introdução desse novo tipo
de procedimento no CPC não implica a indeclinabilidade de sua utilização.
Continua à disposição do credor de obrigação por soma determinada de
dinheiro, de entrega de cosias fungíveis ou móveis infungíveis
individualizados, o rito comum, ordinário ou sumário, conforme o casoJo.
Considerando-se a dimensão que vier se emprestar à antecipação de
tutela prevista no art. 273 do CPC, bem assim como a possibilidade de ocorrer
a defesa do devedor no monitório, com todas as conseqüências disso
defluentes, restará ao alvedrio do credor sopesar as vantagens e desvantagens
da opção por um ou outro rito.
A celeridade na formação do título executivo judicial em caráter
definitivo e a questionável inversão do contraditório podem se transformar em
fatores relevantes em abono da escolha do procedimento monitório.
Mas essa possibilidade de opção denota a identidade de ações em que
se exercita a pretensão lastreada em obrigações contempladas no referido art.
U02a, ainda que diferenciadas pelo rito. Ou seja, fonnulado um pedido sob
o rito monitório outro não se admitirá a despeito de veiculado pelo rito
comum, ordinário ou sumário. Aliás, o tipo de rito procedimental não se
constitui em fator suficiente para eliminar a identidade de ações prevista no
art. 301, § 2° do CPC.
"Isto, obviamente, se não inserida a causa na esfera da competência absoluta dos juizados especiais
de causas de menor complexidade, se e quando reconhecida essa natureza a tal competência.
•
.16
Segundo se infere do texto legal, é incabível o procedimento monitório
relativamente às ações meramente declaratórias e constitutivas. Tal não
apenas resulta do disposto no art. 1.102 a do CPC, que se refere apenas ao
pagamento de soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado
bem móvel, espelhando assim pretensão ao adiplemento de obrigação de dar,
como ainda da própria teleologia do instituto.
Deveras, se a finalidade precípua do procedimento monitório é a de propiciar uma rápida formação do título executivo judicial, manifesta-se
sua inidoneidade para veicular pedidos inadequados à constituição desse
mesmo título.
Essa circunstância reflete-se no plano do interesse processual e, pois, da admissibilidade da própria ação.
Neste plano destaca-se, ainda, a limitação do monitório a determinados tipos de crédito, como suficientemente explicitado no aludido artigo.
Descabe, pois, sua utilização no concernente ao adimplemento de obrigações de fazer e de não fazer e de dar coisa imóvel.
o direito invocado pelo autor deve ser atual, líquido e exigívePI, vez que a conversão de pleno direito do mandado de pagamento ou de entrega de coisa em título executivo judicial não comporta a existência de liqüidação
autônoma ou intercalar. Não obstante, não se deve considerar ilíqüido o
direito, quando seu objeto resultar de meros cálculos aritméticos lastreados
em dados constantes da prova documental que o embasa. Tal regra, válida para títulos executivos extrajudiciais32
, é de se aplicar também na via
monitória3'. Obviamente, o "quantum" apurado através de tais cálculos há de
ser determinado na inicial.
Não se distingue o texto em exame, para fins de admissibilidade da via
" V. Salvatore Satta, Manual de Derecho Procesal Civil, trad. esp., Buenos Aires, EJEA, 1971, p. 195.
" Nesse sentido Humberto Theodoro Jr. Processo de Execução, 6" ed., S. Paulo, l..eud, 198J, p. 148.
" Em sentido contrário registra Crisanto Mandrioli, Corso di Diritto Processuale Civile, 9" ed., vol. m, pp. 173/174, nota 3, decisão da Corte de Cassação Italiana, que considerou ilíqüido para fins de monitório crédito decorrente de desvalorização da moeda, apurável mediante aplicação de índices oficiais.
a, direitos de natureza f 'a concluir que, em se tratal
N para a utilização desse pro
,.. ito, inocorreria incompatibili
aquele jurídico-processual em
Mas não é bem assim. A o pelo CPC lastreia-se na acentuado supra. É miste
..000 em prova escrita e da pl ,efeitos da revelia do réu. Or< . itos disponíveis, consoant
artigo, esclarece Calmon
'ão do réu nada influem sol
de provar os fatos constitUI
Por sua vez se a prova litl
se por si só suficiente para gl 1 :rente à julgada material emer
'elia do réu, esta, com suas c( tanto. O reclamo da revelia
'. lIa resulta configuraria nessa t
Mais, ainda. A exigência
:blico em situações dessa nat
Esse o entendimento de J. E. Carreira izonte, Del Rey Ed., 1995, p. 339,
iJlaphael Silva Salvador (Da ação monité , Ed., 1995, p. 27). ""',',. J. J. Cahnon de Passos, Comentários ao (
:;".• Nesse sentido pondera José Fernando d
, 'ÍOb a égide do inciso I do art. 82 do CI {tI'üveressa à ordem pública, bem como a l
tfit:tuia comprometido na eventualidade I
:''''procesSUJliJ relevantes para o deslitufe de ;.~ Ministério Público e o Processo Civil
"!'
I
ICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
cabível o procedimento monitório
ratórias e constitutivas. Tal não
do CPC, que se refere apenas ao
:coisa fungível ou de determinado
adiplemento de obrigação de dar, :0.
) procedimento monitório é a de
executivo judicial, manifesta-se
ladequados à constituição desse
) do interesse processual e, pois,
lção do monitório a determinados
explicitado no aludido artigo.
~ ao adimplemento de obrigações I.
~r atual, líquido e exigívePI, vez
) de pagamento ou de entrega de
porta a existência de liqüidação
se deve considerar ilíqüido o
; cálculos aritméticos lastreados
Iue o embasa. Tal regra, válida
de se aplicar também na via
jo através de tais cálculos há de
ra fins de admissibilidade da via
Buenos Aires, EJEA, 1971, p. 195. '00., S. Paulo, Leud, 1981, p. J48.
di Diritto Processuale Civile, 9' ed., vol. ana, que considerou ilíqüido para fins de apurável mediante aplicação de índices
monitória, direitos de natureza patrimonial disponíveis e indisponíveis. Tal
importaria concluir que, em se tratando de direito de incapazes inexistiria qualquer
restrição para a utilização desse procedimento. Além da ausência de veto expresso
a respeito, inocorreria incompatibilidade com o sistema do próprio diploma legal e
com aquele jurídico-processual em que o novo procedimento engastou-se34 •
Mas não é bem assim. A técnica do procedimento monitório do tipo
adotado pelo CPC lastreia-se na conjugação de dois fatores indissociáveis,
como acentuado supra. É mister a conjugação do convencimento do Juiz
arrimado em prova escrita e da presunção de veracidade dos fatos emergentes
dos efeitos da revelia do réu. Ora, tais efeitos apenas ocorrem em se tratando
de direitos disponíveis, consoante se infere do art. 320, 11 do CPC. Incidindo
esse artigo, esclarece Calmon de Passos, "o comparecimento ou a não
atuação do réu nada influem sobre o ônus da prova. O autor continua com o
ônus de provar os fatos constitutivos de seu pedido e da obrigação do réu"35.
Por sua vez se a prova literal que escora o pedido veiculado na inicial
fosse por si só suficiente para gerar a certeza hábil a ensejar a imutabilidade
inerente àjulgada material emergente do procedimento monitório, que fluiu à
revelia do réu, esta, com suas conseqüências detrimentais, não seria exigível
para tanto. O reclamo da revelia sem a presunção de veracidade dos fatos que
dela resulta configuraria nessa hipótese verdadeira superfetação.
Mais, ainda. A exigência legal inafastável da intervenção do Ministério
Público em situações dessa natureza impediria a configuração dessa revelia
" Esse o entendimento de 1. E. Carreira Alvim (Código de Processo Civil Reformado, 2' ed., Belo Horizonte, Del Rey Ed., 1995, p. 339, ainda que concernente à Fazenda Pública) e de Antônio Raphael Silva Salvador (Da ação monitória e da tutela jurisdicional antecipada, S. Paulo, Malheiros Ed., 1995, p. 27).
11 1. 1. Calmon de Passos, Comentários ao Código de Processo Civil, 6' 00., Rio, Forense, 1989, v.m, p. 439. .. Nesse sentido pondera José Fernando da Silva Lopes, ao examinar a intervenção do Ministério Público sob a égide do inciso 1 do art. 82 do CPC, uÉ que a incapacidade, ainda que regularmente suprida,
interessa à ordem pública, bem como a esta também interessa uma correta atuação de lei, aspecto que
ficaria comprometido na eventualidade de ocorrer desinteresse pelo exercício de direitos e faculdades
processuais relevantes para o deslinde do mérito, por parte daquele que representa ou assiste o incapaz" (O Ministério Público e o Processo Civil, S. Paulo, Saraiva, 1976, p. 51).
47
48 DONALDO ARMELlNREVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO ------
com seus efeitos3ó• Destarte, também sob a angulação prática o procedimento
monitório se incompatibilizaria com o questionamento de direitos
absolutamente indisponíveis.
Dir-se-á que vários tipos de procedimento comportam, com a
ocorrência da revelia, o julgamento antecipado da lide, normalmente em
desfavor do réu contumaz. É o que sucede, V.g., com a ação de depósito, de
consignação em pagamento, na ação de prestação de contas, de nunciação de
obra nova, nos embargos de terceiro. Mas não se confundem tais situações
com a do procedimento monitório. É que nelas ocorre pronunciamento
judicial posterior ao reconhecimento da revelia, o que permite ao Juiz decidir
favorável ou desfavoravelmente ao autor, ainda que presente a presunção
acolhida pelo art. 319 do cpc. No procedimento monitório, ao revés, não tem
o magistrado como rever a sua decisão autorizadora da expedição do
mandado de pagamento ou de entrega. Pelo sistema da Lei n° 9.079/95, este,
ausentes os embargos do réu, convolar-se-á de pleno direito em mandado
executivo. São técnicas diferenciadas a exigir tratamento díspar, o que impede
o aproveitamento de uma relativamente a uma situação regrada por outra.
Se inviável desvenda-se o procedimento monitório nas ações em que os
efeitos da revelia não se produzem, tal não implica, obviamente, não poder ser
ele adotado em ações em que os autores sejam incapazes. São situações
díspares em que inexiste oportunidade de aplicação da mesma regra de
admissibilidade.
Em relação aos créditos contra a Fazenda Pública a questão já se tornou controvertida na doutrina37
• O art. 1.202c do cpc reformado prevê,
quer na hipótese de ausência de embargos do réu, quer na de rejeição
destes, que o mandado de pagamento ou entrega convola-se, de pleno
direito, em mandado executivo, com a constituição de título executivo,
embasador de uma execução, que prosseguirá na forma prevista no Livro
" Assim é que J. E. Carreira Alvim sustenta a admissibilidade de procedimento monitório nas ações
contra a Fazenda Pública (op. cit., pp. 339/340), posicionando-se em sentido contrário Vicente
Greco Filho (op. cit. p. 06), Antônio Raphael Silva Salvador (op. cit. po. 27/29); José Rogério cruz
e Tucci, (A Ação Monitória, S. Paulo, RT, 1995, pp. 65 e segs.).
lI, Título II Capítulos II e IV. execução contra a Fazenda Pút
circunstância dessa execução
infirmaria a admissibilidade da '
título executivo judicial, seja eI
razão de terem sido rejeitados os
a execução da ré devedora proc
nas demais ações de natureza co!
a admissibilidade do procedirr
ajuizadas contra a Fazenda, di
formado através de tal procedirr
Todavia, remanesce cor
monitória a indisponibilidade
impede que a revelia desta acarr
Sem dúvida, como lembra J. indisponibilidade ocorre, poden
existe autorização para se cel
presente essa circunstância, rei revelia, gerando a presunção di
não se concretiza40 • Por isso me
art. 1.102c do CPC ao capítu
Pública, evidencia-se a incon
centrado, como supra assenta
presunção de veracidade de
destas, ainda que de natureza r procedimental.
:. Tal posicionamento, em
3M Lastreiam precipuamente na espec
posicionamentos de Vicente Greco J admissibilidade do procedimento monité
,. Código de Processo Civil Reformado
4<)Cfr. J. J. Calmon de Passos, op. cit., PI
Brasileiro, S. Paulo, RT, 1977 p. 89.
· - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELtN
gulação prática o procedimento
questionamento de direitos
dimento comportam, com a
ado da lide, normalmente em
g., com a ação de depósito, de
.ção de contas, de nunciação de
io se confundem tais situações
nelas ocorre pronunciamento
a, o que permite ao Juiz decidir
nda que presente a presunção
Ito monitório, ao revés, não tem
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stema da Lei n° 9.079/95, este,
de pleno direito em mandado
ratamento díspar, o que impede
· situação regrada por outra.
monitório nas ações em que os
lica, obviamente, não poder ser
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do réu, quer na de rejeição
~ntrega convola-se, de pleno
stituição de título executivo,
á na forma prevista no Livro
e de procedimento monitório nas ações
lando-se em sentido contrário Vicente
· (op. cit. po. 27/29); José Rogério cruz
gs.).
II, Título II Capítulos II e IV. Ora, este último capítulo compreende a
execução contra a Fazenda Pública, na sua seção III, arts. 730/731. A
circunstância dessa execução fazer-se mediante precatório em nada
infirmaria a admissibilidade da via monitória, que a antecede. Formado o
título executivo judicial, seja em virtude de contumácia do réu, seja em
razão de terem sido rejeitados os seus embargos tempestivamente aforados,
a execução da ré devedora processar-se-ia tal como normalmente ocorre
nas demais ações de natureza condenatória. Nenhum obstáculo adviria para
a admissibilidade do procedimento monitório, nas ações condenatória
ajuizadas contra a Fazenda, do tipo de execução decorrente do título
formado através de tal procediment0 3R •
Todavia, remanesce como obstáculo à admissibilidade da Via
monitória a indisponibilidade dos direitos da Fazenda Pública, o que
impede que a revelia desta acarrete os efeitos previstos no art. 319 do CPC.
Sem dúvida, como lembra J. E. Carreira Alvim3'!, nem sempre essa
indisponibilidade ocorre, podendo ser superada em certas hipóteses em que
existe autorização para se celebrar transações a seu respeito. Mesmo
presente essa circunstância, relativizando a indisponibilidade, o efeito da
revelia, gerando a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor
não se concretiza40 • Por isso mesmo, a despeito do referencial expresso do
art. 1.102c do CPC ao capítulo deste atinente à execução da Fazenda
Pública, evidencia-se a incompatibilidade do procedimento monitório
centrado, como supra assentado, na conjugação de prova escrita com
presunção de veracidade de fatos, com indisponibilidade dos direitos
destas, ainda que de natureza patrimonial tal como se exige para esse tipo
procedimental.
Tal posicionamento, embora não imune a críticas, tem merecido
" Lastreiam precipuamente na especificidade da execução contra a Fazenda Pública os
posicionamentos de Vicente Greco Filho e José Rogério Cruz e Tucci em contrário à admissibilidade do procedimento monitório, conforme explicitado em suas obras acima citadas.
J9 Código de Processo Civil Reformado cit. pp. 138 e segs.
40 Cfr. 1. J. Calmon de Passos, op. cit., pp. 436/437, e Rita Gianesini, Da Revelia no Processo Civil
Brasileiro, S. Paulo, RT, 1977 p. 89.
49
50 OONALDO ARMELlNREVISTA JURíDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO
respaldo na doutrina41 • De resto, é o único que se harmoniza com a premissa
supra estabelecida quanto à técnica de cognição adotada para esse
procedimento.
Mais, ainda, em relação à Fazenda Pública existe óbice de difícil
transposição para figurar no polo passivo de uma relação processual
dinamizada pelo procedimento monitório. É o disposto no art. 475 do CPC,
que impede o trânsito em julgado de decisão a ela contrária, sem o reexame
necessário do segundo grau de jurisdiçã042 •
Contudo, se incabível apresenta-se o procedimento monitório nas ações
contra a Fazenda Pública, o mesmo inocorre no concernente às ações por ela
aforadas contra os particulares. Mas essa possibilidade revela-se de escassa
consistência prática, considerando-se ter-lhe sido assegurado o poder de constituir o seu próprio título executivo exigível através da via específica de
execução disciplinada pela Lei n° 6.830/80.
Insuficiente, porém, apenas o tipo do direito reclamado mediante o rito
monitório. O art. 1.102a impõe a exigência de prova escrita sem eficácia de
título executivo, como indeclinável para a sua admissibilidade. Tal como
sucede com o mandado de segurança, o tipo de prova exigido relativamente
aos fatos invocados pelo autor é fundamental para o acesso à via monitória.
Ausente essa prova, inacessível toma-se este.
A alusão a prova escrita carente de eficácia de título executivo autoriza
a exegese "contrario sensu" dessa disposição levando à conclusão ser
41 Esse parece ser o entendimento de José de Moura Rocha, que afirma, ao concluir seu estudo sobre
o procedimento monitório, "Percebe-se, de logo, a importância do comparecimento da parte ré no
processo. Não que uma simples afirmação unilateral seja por si motivo suficiente de certeza ou, se
se prefere, argumento para não indagar se os fatos são verdadeiros ou não, mas pela falta de
reação à afirmação" Procedimento Monitório?, in O Processo de Execução - Estudos em
Homenagem ao Professor Alcides de Mendonça Lima, Porto Alegre, Sergio A. Fabris Ed., p. 237.
De forma clara e induvidosa assim se manifesta Luiz Guilherme Marinoni, op. loco ult. cit..
42 Dir-se-á que esse dispositivo reporta-se à sentença, a cujo conceito não se afeiçoa a decisão que
defere o mandado de pagamento ou de entrega. Mas, se admitida a ocorrência de coisa julgada
material quanto ao pedido veiculado na inicial da ação não contestada, é de se admitir a incidência
desse art. 475 do CPC relativo a esse fenômeno do processo de conhecimento.
inadmissível a ação monitória la:
seja, implica vedação do empn
condenatório para quem já dispõ
Deveras, a menos que e
carente de requisitos essenciais]
no inciso I do art. 618 do CP(
portador um instrumento procel
executivo, agora judicial. A proi
Depois, cumpre ressalta
escrita43 , vale dizer, a uma espl
restrição é inafastável ou se COIl
hábil a propiciar a toda prova d
assegurar a admissibilidade d
legislador não se utilizou de s'
referir-se ao todo, esse particul
Parece mais consentânec
como suporte de sua adequaç1
termos práticos, a prova d características, dificilmente I admissibilidade. Não se pode propicia, pela sua natureza ex!
pertinentes à causa, garantind<
mais segura a respeito da expe
Isto porque a prova exi
compartilha do âmbito d
admissibilidade, vez que, à entendimento do juiz, o autor
da inadequação da via prc
adaptação da inicial a fim de julgamento do mérito nesse I
4l Assim também o art. 633 do CPC i
II• I 1 "~
'1
i i
I
I
CA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN SI
lue se hannoniza com a premissa
: cognição adotada para esse
Pública existe óbice de difíci I vo de uma relação processual
~ o disposto no art. 475 do CPC,
o a ela contrária, sem o reexame
rocedimento monitório nas ações
: no concernente às ações por ela
)ssibilidade revela-se de escassa
le sido assegurado o poder de
~ível através da via específica de
lireito reclamado mediante o rito
de prova escrita sem eficácia de
sua admissibilidade. Tal como
de prova exigido relativamente
li para o acesso à via monitória.
:ácia de título executivo autoriza
ição levando à conclusão ser
,que afirma, ao concluir seu estudo sobre ância do comparecimento da parte ré no
por si motivo suficiente de certeza ou, se
verdadeiros ou não, mas pela falta de
Processo de Execução - Estudos em rto Alegre, Sergio A. Fabris Ed., p. 237. herme Marinoni, op. loc. ult. cil..
jo conceito não se afeiçoa a decisão que admitida a ocorrência de coisa julgada contestada, é de se admitir a incidência
,0 de conhecimento.
inadmissível a ação monitória lastreada em título executivo extrajudicial. Ou
seja, implica vedação do emprego do processo de conhecimento do tipo
condenatório para quem já dispõe de acesso à via executiva.
Deveras, a menos que essa prova escrita corresponda a um título
carente de requisitos essenciais para embasar pretensão executiva, estatuídos
no inciso I do art. 618 do CPC, inexiste motivo para se propiciar ao seu
portador um instrumento processual direcionado à formação de outro título
executivo, agora judicial. A proibição do "bis in idem" justifica essa vedação.
Depois, cumpre ressaltar que o aludido artigo reporta-se à prova
escrita4J , vale dizer, a uma espécie da documental. Cabe indagar, pois, se a
restrição é inafastável ou se comporta esse dispositivo um elastério exegético
hábil a propiciar a toda prova documental, ainda que não literal, condição de
assegurar a admissibilidade da via monitória. Em outras palavras, se o
legislador não se utilizou de sinédoque, reportando-se à parte, pretendendo
referir-se ao todo, esse particular.
Parece mais consentâneo com o sistema da ação monitória, entender-se
como suporte de sua adequação a prova documental literal, até porque, em
termos práticos, a prova documental de diversa espécie, pelas suas
características, dificilmente haveria de se prestar de supedâneo à sua
admissibilidade. Não se pode olvidar que a prova escrita é a que melhor
propicia, pela sua natureza explicitadora, uma cognição mais rápida dos fatos
pertinentes à causa, garantindo, dessa forma, a possibilidade de uma decisão
mais segura a respeito da expedição do mandado de pagamento ou de entrega.
Isto porque a prova exigida pelo referido art. 1.102a do CPC também
compartilha do âmbito da categoria processual correspondente à
admissibilidade, vez que, à míngua de prova escrita idônea, segundo o
entendimento do juiz, o autor há de ser julgado carecedor da ação, em virtude
da inadequação da via processual escolhida, ressalvada a hipótese de
adaptação da inicial a fim de lastrear outro tipo de procedimento. Não haverá
julgamento do mérito nesse caso considerando-se a possibilidade do credor,
43 Assim também o art. 633 do CPC italiano.
44
52 REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELlN
em procedimento comum ordinário, completar a prova documental por outros
meios de prova e, pois, assegurar o reconhecimento judicial da procedência
de sua pretensão. Assim sendo, mesmo se extinta a ação, por ausência de
prova escrita idônea, possível será a sua repropositura44 •
A idoneidade da prova no procedimento monitório reflete-se na sua
presença consoante o figurino legal, de forma que "produzca en el juez (o
porque las escrituras producidas tengan el caráter de pruebas legales, o
porque el juez en virtud de su libre apreciacián las considere atendibles) el
mismo grado de certeza en torno a la verdad de los hechos constitutivos dei
crédito que el juez exigiria en el proceso ordinario para acoger, a falta de
prueba contraria dei demandado, la demanda dei actor"45.
Tal significa dever ser prova hábil a gerar certeza, liqüidez e
exigibilidade do direito invocado pelo autor, como sucede na via executiva,
faltando-lhe apenas a natureza de título executivo indispensável para acessar
essa via. Obviamente essa certeza há de emergir, segundo premissa supra
assentada, ou de ausência de prova em contrário do réu decorrente de sua
revelia, ou ainda da ausência ou insuficiência dessa prova no procedimento
ordinário conotado aos embargos deste.
Desnecessário acentuar que, em se tratando de prova documental, sua
Mesmo pelo rito monitório e com fulcro na prova documental reconhecida como inidônea no
processo anterior extinto. É o que resulta do sistema do CPC, à luz do disposto no seu art. 268. " Calamandrei, op. cit. p. 151. Prosseguindo, aliás, acentua o jurista, "La ventaja que, en relacián
a la prueba, el acreedor consigue ell el procedimiento monitorio puro) de la carga de probar, hasta
convencer plenamente el juez, los hechos constitutivos dei crédito; consiste, eso sí, ell el hecho de
que, cuando el deudor no haga oposicián, la prueba de eslOS hechos constitutivos está dada de um
modo unilateral, sin que el juez pudeda criticaria e valorarla a la luz de los resultados de la
contraprueba adversaria". No mesmo sentido, corroborando esse posicionamento, Garbagnati pondera: "La strutura speciale dei procedimento d'ingiunzione preclude infatti all'organo
giurisdizionale una previa congnizione di tulte le ragioni ed accezioni de elltrambe le parti; ma il convincimento dellafondatezza, infatto ed in diritto, della domanda dei ricorrente, che il giudice
deve acquisire altraverso la 'prova scritta', da lui fornita, non puà degradarsi ad un conviciemento
parziale, né differenziarsi per intensità da quella convinzione in merito all'esitenza dei diritto
controverso la cui mancanza rende inevitabile in un proceso ordinario di cogninziolle il regetto
della domalUia dell'attore" (IJ procedimento d'ingiunzione cit. p. 37).
autenticidade é fundamental para
de seu destinatário a respeito d
reconhecimento das firmas ne
constatação direta do tabelião r
presunção de tal autenticidade.
Poder-se-ia indagar da id(
também do' começo de prova
monitória. Mas o começo de pI
mínimo de certeza ensejadora di
entrega. Como inexiste no pn
contraditório provocado pelo fi
incipiente, carecerá ela de aptid.
Inquestionavelmente, nal
expedição dessa mandado, cono
esse começo de prova, a teor de
No universo da prova do
aptos a propiciar o acesso à atingidos pela prescrição; aquel
de executoriedade, como duplic sem prova adequada da entrega
cartas missivas, telegramas e
débito em contas e faturas, as j
instrumentárias, acordos e t
referentes a débitos vinculados
O juiz, contudo, deverá
estabelecidas nos Códigos
indispensável valoração da efic
No direito italiano, em q
sistema processual como títulc
procedimento monitório, ali
considerados como hábeis a da
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i:s ~ ~ J cf I ~
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'ICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELlN
~tar a prova documental por outros
lecimento judicial da procedência
~ extinta a ação, por ausência de
propositura44•
!lento monitório reflete-se na sua
Irma que "produzca en el juez (o
el caráter de pruebas legales, o
2ôón las considere atendibles) el
2d de los hechos constitutivos dei
ordinario para acoger, a falta de tda dei actor"45.
Jil a gerar certeza, liqüidez e
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~mergir, segundo premissa supra
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ocumental reconhecida como inidônea no CPC, à luz do disposto no seu art. 268. ltua o jurista, "La ventaja que, en relación
mitorio puro) de la carga de probar, hasta
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orando esse posicionamento, Garbagnati 'ingiunzione preclude infatti ali'organo
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, non puà degradarsi ad un conviciemento
inzione in merito all'esitenza dei diritto
oceso ordinario di cogninzione iI regetto
Ine cit. p, 37).
autenticidade é fundamental para assegurar sua aptidão para gerar a convicção
de seu destinatário a respeito dos fatos a que se reporta. Evidentemente o
reconhecimento das firmas nela lançadas, ainda que não resultante de
constatação direta do tabelião nos termos do art. 369 do CPC, reforçará a
presunção de tal autenticidade.
Poder-se-ia indagar da idoneidade não somente da prova escrita como
também do' começo de prova por escrito para embasar o acesso à via
monitória. Mas o começo de prova não é prova suficiente para lastrear um
mínimo de certeza ensejadora da expedição de mandado de pagamento ou de
entrega. Como inexiste no procedimento monitório, salvo a hipótese de
contraditório provocado pelo réu, oportunidade para completar essa prova
incipiente, carecerá ela de aptidão para tanto.
Inquestionavelmente, nada impede que o JUIZ, antes de deferir a
expedição dessa mandado, conceda ao autor oportunidade para complementar
esse começo de prova, a teor do disposto no art. 284 do CPC.
No universo da prova documental escrita, vários instrumentos estarão
aptos a propiciar o acesso à via monitória. Assim os títulos executivos
atingidos pela prescrição; aqueles que, por imperfeição formal não desfrutam
de executoriedade, como duplicatas não aceitas mas devidamente protestadas
sem prova adequada da entrega da mercadoria ou da prestação de serviços; as
cartas missivas, telegramas e quejandos; os vales, os reconhecimentos de
débito em contas e faturas, as confissões de dívida carentes de testemunhas
instrumentárias, acordos e transações não homologados, documentos
referentes a débitos vinculados a cartões de crédito e outros.
O juiz, contudo, deverá atender às regras a respeito das provas já
estabelecidas nos Códigos Civil e Comercial e no CPC, quanto à
indispensável valoração da eficácia probante desses documentos.
No direito italiano, em que vários instrumentos, qualificados em nosso
sistema processual como títulos executivos extrajudiciais, podem lastrear o
procedimento monitório, ali denominado injuncional, por não serem
considerados como hábeis a dar acesso à via executiva, outorga-se também a
determinados documentos produzidos pelo próprio credor, aptidão suficiente
53
54 REVISTA JURíDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO
para ensejar a admissibilidade da via monitória. É o que sucede com os livros
ou registros de órgão administrativos, tal como o prevê o art. 635 do estatuto
processual peninsular. Mas é questionada a eficácia probante suficiente de
documentos produzidos por profissionais regularmente inscritos em
associações profissionais, conforme registra Garbagnati46 •
Em nosso sistema jurídico, em que prepondera o princípio "nemo sibi
titulum constituit", a aceitação desse posicionamento é no mínimo
questionável. Mesmo a administração pública, não adstrita a esse princípio por desfrutar do privilégio de constituir o seu próprio título executivo, não
terá normalmente, como acentuado retro, interesse em gerar instrumento que
propicie o ingresso na via monitória se os seus créditos líquidos, poderão, de
um modo geral, ser exigidos na tela executiva. Na concernente às relações
entre particulares, impende observar que os registros domésticos provam em
desfavor de quem os fez, assim como os registros contábeis dos comerciantes,
salvo nas relações com outros comerciantes ou, naquelas com não
comerciantes, na hipótese do art. 23, 3 do Código Comercial. Destarte,
possível será constituir instrumento em desfavor de quem o produziu, mas
não em seu benefício.
Mas aqui, como no monitório italiano, prova escrita emanada de terceiro poderá embasar a via monitória. A quitação outorgada pelo credor ao
fiador do devedor lastreará a ação por este aforada em face do devedor47 •
Em suma, pois, ao juiz brasileiro, vinculado ao tipo de prova documental
imposto pelo art. 1.102a do CPC, assegura-se, sem contudo desprezo às
pertinentes normas gerais inseridas no sistema jurídico, o livre convencimento na
apreciação da idoneidade - vale dizer, adequação e suficiência - dessa prova para a admissibilidade da via monitória, bem assim como para fundamentar a decisão
deferidora da expedição do mandado de pagamento.
4ó Il procedimento d'ingiunzione, ciL págs. 67 e segs.
47 V. Garbagnati, 11 procedimento d' ingiunzione ciL p. 75. Evidentemente o documento emitido por
terceiro reporta-se, nesse caso, a uma relação jurídica documentada estabelecendo vínculos entre
credor, devedor e fiador. Por isso a eficácia do documento emitido pelo primeiro para embasar
pretensão do último em face do segundo, pressupõe a relação jurídica base.
DüNALDO ARMELlN
9. AS CONDIÇÕES DA AÇÃl
Processo de procedimentI
ação de conhecimento de esce
dicotomia atinente à área da adn
A primeira versa os pressl
o segundo, por exclusão, a caus;
As assim nomeadas con
prestação jurisdicional possa se
sentença definitiva, com o que,
nhecimento.
No procedimento monitól
do mandado de pagamento o
instaurado o contraditório pelo I
de se fazer com a necessária pn
a relação processual incoada co
Isto em razão da própria e
tela, se configurada a revelia de
implantado pela Lei n° 9.079/9 juiz reexaminar a sua decis~
expedição de mandado de entre
Sem dúvida o juiz podl
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comparecido ou se tornado re' reexame não está prevista n<
disciplina legal, ao revés, pres(
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lICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
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quitação outorgada pelo credor ao
aforada em face do devedor?
:ulado ao tipo de prova documental
1ra-se, sem contudo desprezo às
1jurídico, o livre convencimento na
ção e suficiência - dessa prova para
1 como para fundamentar a decisão lmento.
5. Evidentemente o documento emitido por
jocumentada estabelecendo vínculos entre
lento emitido pelo primeiro para embasar
:Iação jurídica base.
9. AS CONDIÇÕES DA AÇÃO MONITÓRIA.
Processo de procedimento especial gerado pelo ajuizamento de uma
ação de conhecimento de escopo condenatório, apresenta o monitório a
dicotomia atinente à área da admissibilidade e àquela de seu mérito.
A primeira versa os pressupostos processuais e as condições da ação e
o segundo, por exclusão, a causa de pedir e o pedido.
As assim nomeadas condições da ação são requisitos para que a
prestação jurisdicional possa se efetuar integralmente, com a prolatação da
sentença definitiva, com o que a tutela reclamada exaure-se no plano do co
nhecimento.
No procedimento monitório em que a decisão, que defere a expedição
do mandado de pagamento ou de entrega, poderá ser a única, se não
instaurado o contraditório pelo réu, o exame da presença dessas condições há
de se fazer com a necessária profundidade, ainda enquanto meramente linear
a relação processual incoada com a propositura da ação.
Isto em razão da própria estrutura que pode assumir o procedimento em
tela, se configurada a revelia do réu. Nessa hipótese, como deflui do sistema
implantado pela Lei n° 9.079/95, não haverá, em regra, oportunidade para o
juiz reexaminar a sua decisão deferidora, "inaudita altera parte", da
expedição de mandado de entrega ou de pagamento.
Sem dúvida o juiz poderá, reexaminado a admissibilidade da ação
proposta, reformar a decisão anterior, que a acolheu. Não estará, nessa
hipótese, adstrito a qualquer efeito preclusivo, vez que sequer terá ainda o réu
comparecido ou se tomado revel no processo. Mas essa oportunidade para
reexame não está prevista no "iter" procedimental do monitório, cuja
disciplina legal, ao revés, prescreve a convolação, "ex vi legis", do mandado
de pagamento ou de entrega em mandado de execução pelo simples fato da
revelia do réu. Para se harmonizar o texto do art. 1.102c do CPC, onde se
impõe essa convolação, com aquele do art. 267, § 3° do mesmo Código, que
autoriza o reexame, conforme interpretação pacificada na tela
55
I
56 REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
jurisprudenciaI4~, impende reconhecer essa possibilidade, enquanto não
configurado o fim do processo de conhecimento, com a formação da coisa
julgada material e do surgimento do mandado executiv049.
Deveras, tendo sido examinada nessa decisão também a pretensão de
direito material veiculada na inicial, descaberia ao juiz, que já exauriu o seu
ofício jurisdicional considerando-se o disposto 463 do CPC, redecidir tal
matéria511 •
Embora essa conclusão possa ser questionada, considerando-se as
características próprias do monitório tal como introduzido no sistema
processual nacional, em que o mandado de pagamento ou de entrega convola
se, de pleno direito, em mandado executivo, sem previsão de recurso a
respeit05l , a simples possibilidade de uma decisão equivocada e irreversível
quanto à admissibilidade da ação, exige uma atenção redobrada do juiz ao
decidir sobre a expedição daquele mandado.
Acresce a tudo isso, algumas peculiaridades das condições da ação na
4H V. a respeito Theotônio Negrão, Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor, 26'
ed., S. Paulo, Saraiva, 1995, págs. 250/251, nota 55, bem assim como Nelson Nery Jr. e Rosa Maria
Andrade Nery, Código de Processo Civil e Legislação Processual Civil Estravagante, S. Paulo, RI.,
1994, págs. 479/478 item 35.
" Com o fim do processo as hipóteses de recorribilidade convertem-se em hipóteses de
rescindibilidade se albergáveis no elenco do ar!. 485 do CPC.
\0 É bem verdade que a reforma do CPC deu nova dimensão ao comando desse artigo, na medida
em que permitiu ao juiz, após a sentença apreciar medidas cautelares, até a interposição de recurso
(ar!. 800, parágrafo único) e reformar sentença definitiva (ar!. 296 parágrafo único). Esse
tratamento legislativo rompeu a rigidez de tal dispositivo, o que permite até sustentar sua
flexibilidade no caso de procedimento monitório.
" Da decisão que defere o mandado de pagamento ou de entrega não cabe recurso, porque haverá
possibilidade de ser impugnada no prazo de quinze dias mediante a instauração do contraditório.
Deveras, se o agravo de instrumento, que seria o recurso adequado na espécie admitida a premissa
de ser a decisão recorrida meramente interlocutória, é carente de efeito suspensivo, salvo hipóteses
legalmente especificadas, e a expedição do mandado de pagamento ou entrega tem a sua eficácia
suspensa com a oposição de embargos pelo réu, carece este de interesse em recorrer, pelo simples
fato de poder embargar. A interposição de agravo de instrumento e a oposição de embargos, em que
a mesma matéria seria versada, configuraria injustificável "bis in idem" a denotar a carência de tal
interesse.
monitória em tela. Se a possibil
objetiva, porque derivada de a
oferece maiores dificuldades
legitimidade e o interesse prow
Deveras, uma e outro est
sendo por vezes difícil os escanl
O interesse de agir decc
jurisdicional não oferece maiore
exame da "causa petendi" da aç
e corresponderá, na lição de Jm
do seu crédito e o fato vio
originando-se daí a demonstral
deverá proceder ao enquadrm
statu assertionis' (mas documel
contida no ordenamento de din
se aferido também por ótica c processual escolhida, apresenta
da ação.
Tal resulta da circunstâ
próprio tônus de idoneidade da
obviamente, da natureza do
observado anteriormente, essa
como ao seu próprio mérito. P, entrega o juiz examina a existê
para justificar a presença de
Destarte, o juiz ao deferir tal e
de agir enfocado pelo prisma
condicionada à omissão do
necessidade prática, sob tal óti,
o eventual reexame desta cond
267 do CPC.
" A Ação Monitória, cit. p. 61.
i I
I !
I
II: II
I
)ICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
:ssa possibilidade, enquanto não
:imento, com a formação da coisa ado executiv04~.
sa decisão também a pretensão de
beria ao juiz, que já exauriu o seu
;posto 463 do CPC, redecidir tal
questionada, considerando-se as
1 como introduzido no sistema
pagamento ou de entrega convola
tivo, sem previsão de recurso a
decisão equivocada e irreversível
lma atenção redobrada do juiz ao ).
lridades das condições da ação na
::ivil e Legislação Processual em Vigor, 26" aassim como Nelson Nery Jr. e Rosa Maria
rocessual Civil Estravagante, S. Paulo, RT.,
ibilidade convertem-se em hipóteses de CPC.
:nsão ao comando desse artigo, na medida as cautelares, até a interposição de recurso initiva (art. 296 parágrafo único). Esse lsitivo, o que permite até sustentar sua
e entrega não cabe recurso, porque haverá
; mediante a instauração do contraditório. adequado na espécie admitida a premissa
rente de efeito suspensivo, salvo hipóteses pagamento ou entrega tem a sua eficácia
:ste de interesse em recorrer, pelo simples
umento e a oposição de embargos, em que :1 "bis in idem" a denotar a carência de tal
monitória em tela. Se a possibilidade jurídica do pedido, pela sua natureza
objetiva, porque derivada de ausência de veto expresso no sistema, não
oferece maiores dificuldades de aferição, o mesmo inocorre com a
legitimidade e o interesse processual.
Deveras, uma e outro estão, em regra, vinculados ao próprio mérito,
sendo por vezes difícil os escandir.
O interesse de agir decorrente da utilidade e necessidade da tutela
jurisdicional não oferece maiores dificuldades para ser detectado, mediante o
exame da "causa petendi" da ação. Esta, que deverá vir explicitada na inicial,
e corresponderá, na lição de José Rogério Cruz e Tucci "ao fato constitutivo
do seu crédito e o fato violador do direito (causa petendi remota),
originando-se daí a demonstração de seu interesse processual. Em seguida,
deverá proceder ao enquadramento dessa situação concreta, narrada 'in
statu assertionis' (mas documentalmente comprovada), à previsão abstrata,
contida no ordenamento de direito positivo (causa petendi proxima)"52. Mas,
se aferido também por ótica centrada precipuamente na adequação da via
processual escolhida, apresenta problemas na sua distinção do próprio mérito
da ação.
Tal resulta da circunstância de decorrer essa condição da ação do
próprio tônus de idoneidade da prova documental produzida pelo autor, além,
obviamente, da natureza do crédito exigido na via monitória. Como
observado anteriormente, essa idoneidade serve à admissibilidade da ação,
como ao seu próprio mérito. Para se expedir o mandado de pagamento ou de
entrega o juiz examina a existência de prova documental e a idoneidade desta
para justificar a presença de pretensão jurídica potencialmente acolhível.
Destarte, o juiz ao deferir tal expedição, acolhe tanto a presença do interesse
de agir enfocado pelo prisma da adequação, como a procedência, ainda que
condicionada à omissão do réu, do pedido veiculado na inicial. Daí a
necessidade prática, sob tal ótica, de se separar mérito e interesse de agir para
o eventual reexame desta condição da ação, a teor do disposto no § 3° do art.
267 do CPC.
" A Ação Monitória, cit. p. 61.
57
58 REVISTA JURíDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
Não obstante, o indeferimento da inicial sob color de ausência de prova
idônea para assegurar a via monitória, seja em virtude de não se configurar a
prova escrita exigida por lei, seja em razão dessa prova não justificar o
acolhimento do pedido, haverá de implicar apenas a carência e não a
improcedência desta ação. A reserva do rito comum ordinário para casos
desse tipo de indeferimento, lastreia tal conclusão.
No que concerne a legitimidade, pode ser ela facilmente destacada do
mérito, quando se cuida da extraordinária, reduzida a poucas hipóteses no
sistema jurídico nacional. O mesmo não sucede nos casos de legitimidade
direta, decorrente da própria titularidade do direito invocado.
Então, a prova dessa circunstância envolverá, por vezes, a própria
existência do crédito, como pondera CalamandreP3.
Portanto, deve a legitimidade emergir da própria prova documental
produzida com a inicial, que deverá abranger também eventual câmbio de
titularidade, em hipóteses de ocorrência de sucessão a título singular ou
universal desta.
Mas a imbricação da legitimidade "ad causam" com a existência do
direito invocado pelo autor, não deverá, como já acentuado acima no
concernente ao interesse processual, ensejar uma decisão definitiva a respeito
de tal direito. O indeferimento da inicial em casos dessa natureza, importará
tão somente na carência da ação proposta, na forma do estatuído no art. 295
do CPC. É o que resulta do sistema processual em que se engasta a ação
monitória, a despeito de suas específicas peculiaridades.
51 Assim, "A veces, en efecto, la prueba de la legitimación activa o passiva se confunde COIl la
prueba de la existencia dei crédito; para probar que un crédito existe, es necesario también probar
quiénes son, en concreto, independientemente dei proceso, los sujetos de la correspondiente
relación jurídica sustancial, y no hay duda de que esta prueba de la titularidad dei crédito (que
He!lwig, System, t. /l, § 251. I. 2, a, 2 !lama 'die acktive und passive Rechtszustandigkeit'; la
pertinecia activa y pasiva dei derecho de crédito)figura entre los hechos constitutivos dei mismo..."
EI procedimento Monitório, cit. págs., 137/138).
10. OS PRESSUPOSTOS PR PROCEDIMENTO Ml
Também nesse particul;
monitório não discrepa dm
obviamente, aquelas suas pecul
de que devem se revestir os sel
Mai s do que a exigência
da ausência daqueles denomim
da exigüidade e estrutura do
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Dúvidas inexistem ares
imparcialidade do juiz, para s
suspeição não alegada tempes
mesmo não ocorre com o impe
material.
Essa questão inexiste q
que se pode suscitar tanto a
sucede, obviamente, se o
imparcialidade. Mas, se silentl
de objeto de exceção processu
o mandado de pagamento ou (
O mesmo, de resto, ha'
deslocada para a área da reSI
ofício ou argüida tempestivaJ
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Quanto à inicial, deve e
CPC, até mesmo com a indic,
instaurado o contraditório. O
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IiI
:A - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
aI sob color de ausência de prova
fi virtude de não se configurar a
ão dessa prova não justificar o
:ar apenas a carência e não a
to comum ordinário para casos
:lusão.
: ser ela facilmente destacada do
reduzida a poucas hipóteses no
lcede nos casos de legitimidade
direito invocado.
envolverá, por vezes, a própria ndreP).
ir da própria prova documental
~er também eventual câmbio de
e sucessão a título singular ou
~d causam" com a existência do
como já acentuado acima no
uma decisão definitiva a respeito
casos dessa natureza, importará
a forma do estatuído no art. 295
ssual em que se engasta a ação
~uliaridades.
~ión activa o passiva se confunde COIl la
rédito existe, es necesario también probar
ceso, los sujetos de la correspondiente
prueba de la titularidad dei crédito (que
ive und passive Rechtszustandigkeit' .. la
ntre los hechos cOllstitutivos dei lIlislllo..."
10. OS PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS NO PROCESSO DE PROCEDIMENTO MONITÓRIO.
Também nesse particular o processo incoado sob o procedimento
monitório não discrepa dos demais tipos de processo, respeitadas,
obviamente, aquelas suas peculiaridades que se refletem, por vezes, na forma
de que devem se revestir os seus pressupostos.
Mais do que a exigência da presença dos pressupostos ditos positivos e
da ausência daqueles denominados negativos, os problemas surgem em razão
da exigüidade e estrutura do procedimento examinado, quando inexiste o
contraditório provocado pelo réu.
Dúvidas inexistem a respeito de se exigirem todos aqueles atinentes à
imparcialidade do juiz, para se assegurar a validade do processo. Mas se a
suspeição não alegada tempestivamente deixa de ter eficácia no processo, o
mesmo não ocorre com o impedimento, que sobrevive mesmo à coisa julgada
material.
Essa questão inexiste quando provocado o contraditório, ocasião em
que se pode suscitar tanto a suspeição como o impedimento. O mesmo
sucede, obviamente, se o juiz se reconhecer carente da necessária
imparcialidade. Mas, se si lente o juiz e omisso o réu, o impedimento passará
de objeto de exceção processual para causa de rescisão da decisão que deferir
o mandado de pagamento ou de entrega já convolado em título executivo.
O mesmo, de resto, haverá de ocorrer com a incompetência absoluta,
deslocada para a área da rescindibilidade, sempre que não reconhecida de
ofício ou argüida tempestivamente pelo réu. Este, aliás, poderá fazê-lo no
prazo que lhe foi concedido para pagar ou entregar, provocando a nulidade da
decisão deferidora da expedição do mandado respectivo. Problemática será a
possibilidade de reconhecimento de ofício, após esse prazo, se não opostos os
embargos, em virtude da incidência do art. 463 do CPC.
Quanto à inicial, deve ela preencher os requisitos exigidos pelo art. 282
CPC, até mesmo com a indicação das provas a serem produzidas se e quando
instaurado o contraditório. O pedido há de ser de condenação do réu, com a
59
61 60 REVISTA JURÍDICA - INSTiTUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO
expedição do mandado de pagamento ou de entrega e sua conversão em
mandado executivo, na hipótese de revelia do réu. A cumulação de pedidos
somente será admissível se todos forem passíveis de serem veiculados no
procedimento monitório. Assim inviável será, v.g., a cumulação suces~iva de
um pedido de natureza desconstitutiva com o de condenação a pagar valores
resultantes do acolhimento do primeiro54• É, aliás, o que resulta da aplicação
à espécie do art. 292 do Cpc.
A prova documental deve acompanhar a inicial vez que se constitui em
fator essencial ao seu deferimento, integrando, pois, os requisitos de
idoneidade dessa peça processual. Obviamente, incompleta esta, ou ausentes
os documentos essenciais à propositura da ação, deverá o juiz conceder ao
autor o prazo fixado no art. 284 do CPC para implementar sua higidez.
Não especifica a Lei n° 9.079/95 a forma de citação do réu. Esta, se
incidente a regra geral constante da parte geral do CPC, embutida no seu
Livro I, deveria se efetivar em regra pela via postal (art. 222 do CPC).
Todavia, o art. 1.l02b do CPC, decorrente desse mesmo diploma legal,
determina, no caso de estar a petição inicial devidamente instruída, o
deferimento de plano da expedição de mandado de pagamento ou de entrega.
Portanto, é de se concluir que esse mandado há de ser cumprido pelo oficial
de justiça, oportunidade em que, além de citado, o réu tomará ciência do
comando judicial e das conseqüências, que poderão lhe advir em caso de seu
descumprimento. Tal forma de citação é a mais adequada à teleologia e
estrutura do procedimento monitório, considerando-se as vicissitudes da
citação pelo correio e as conseqüências detrimentais decorrentes da revelia do
réu, nele corporificada. Estas sobejam, de muito, aquelas resultantes da
revelia no processo de procedimento comum ordinário. As citações fictas, por
sua vez, imporão a nomeação de curador especial, cuja atuação, provocando
o contraditório, elidirá a conversão de pleno direito do mandado de
pagamento ou de entrega em mandado de execução.
Os efeitos da citação serão aqueles elencados no art. 219 do CPC, em
nada diferindo, pois, daqueles emergentes da citação no processo de
14 Nesse sentido Garbagnati, II procedimento d'ingiuzione cit. p. 39.
DONALDO ARMELlN
conhecimento de procedimento comum.
O prazo para o réu provocar o contraditório é de natureza processual e,
pois, comporta todas as causas de suspensão e de interrupção previstas no
Cpc. Assim é que, à míngua de disposição legal em contrário, não corre nas
férias nem se inicia ou finda em feriados.
As partes deverão ser dotadas de capacidade processual, exigível,
obviamente, a sua implementação em casos de sua inexistência ou
insuficiência. Mais, ainda, havendo embargos impedindo o fim do processo
de conhecimento e interesses de incapazes caberá a inafastável intervenção do
Ministério Público, que, como "custos !egis", poderá adotar as providências
que entender indispensáveis ao seu mister55 •
Para o posicionamento doutrinário, que reputa admissível a ação
monitória contra incapazes56 , essa necessária intervenção impedirá a
convolação do mandado de pagamento ou entrega em mandado executivo,
findo o prazo de quinze dias previsto no projeto para o cumprir ou embargar.
Sendo indispensável, essa intervenção, sob pena de nulidade do processo,
haverá ela de ocorrer no prazo para a oposição de embargos, antes da
formação da coisa julgada, para que tal nulidade não se convole em causa de
rescindibilidade.
A representação técnica do autor e do réu, este obviamente, se
instaurado o contraditório, é indispensável, consoante os termos do art. 1°, I,
"Os poderes do órgão ministerial nessa hipótese são os deferidos pelo CPC, acentuando Humberto Theodoro Jr. que "a distinção elltre as funções do Ministério Público como parte e como 'custos legis' é meramente nominal, pois, na prática, os poderes que lhe são atribuídos, na última hipótese,
são tão vastos como os dos próprios litigantes". Curso de Direito Processual Civil, 2" ed., Rio, Forense, 1990, v. I, p. 159. No mesmo sentido José Fernando da Silva Lopes, O Ministério Público e o Processo Civil, S. Paulo, Saraiva, 196, págs. 81 e segs .. Entretanto, é questionável se teria ele
legitimidade para opor embargos de devedor. se não atua como curador especial de parte revel. Admitindo, em princípio, essa legitimidade autônoma concorrente quando a ação executiva desviase de seus fins públicos, v. Araken de Assis, Manual do Processo de Execução, Porto Alegre, Lejur,
1987, vol. 11, p. 991.
"v. Antônio Raphael da Silva Salvador, op. cit. p. 27.
CA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
de entrega e sua conversão em
do réu. A cumulação de pedidos
assíveis de serem veiculados no
-á, v.g., a cumulação suces~iva de
o de condenação a pagar valores
, aliás, o que resulta da aplicação
r a inicial vez que se constitui em
grando, pois, os requisitos de
nte, incompleta esta, ou ausentes
ação, deverá o juiz conceder ao
'a implementar sua higidez.
orma de citação do réu. Esta, se
geral do CPC, embutida no seu
I via postal (art. 222 do CPC).
te desse mesmo diploma legal,
lÍcial devidamente instruída, o
ido de pagamento ou de entrega.
I há de ser cumprido pelo oficial
;itado, o réu tomará ciência do
'oderão lhe advir em caso de seu
. mais adequada à teleologia e
liderando-se as vicissitudes da
l1entais decorrentes da revelia do
muito, aquelas resultantes da
ordinário. As citações fictas, por
'ecial, cuja atuação, provocando
>leno direito do mandado de
:cução.
ncados no art. 219 do CPC, em
; da citação no processo de
e cit. p. 39.
conhecimento de procedimento comum.
O prazo para o réu provocar o contraditório é de natureza processual e,
pois, comporta todas as causas de suspensão e de interrupção previstas no
CPC. Assim é que, à míngua de disposição legal em contrário, não corre nas
férias nem se inicia ou finda em feriados.
As partes deverão ser dotadas de capacidade processual, exigível,
obviamente, a sua implementação em casos de sua inexistência ou
insuficiência. Mais, ainda, havendo embargos impedindo o fim do processo
de conhecimento e interesses de incapazes caberá a inafastável intervenção do
Ministério Público, que, como "custos legis", poderá adotar as providências
que entender indispensáveis ao seu mister55 •
Para o posicionamento doutrinário, que reputa admissível a ação
monitória contra incapazes 56, essa necessária intervenção impedirá a
convolação do mandado de pagamento ou entrega em mandado executivo,
findo o prazo de quinze dias previsto no projeto para o cumprir ou embargar.
Sendo indispensável, essa intervenção, sob pena de nulidade do processo,
haverá ela de ocorrer no prazo para a oposição de embargos, antes da
formação da coisa julgada, para que tal nulidade não se convole em causa de
rescindibilidade.
A representação técnica do autor e do réu, este obviamente, se
instaurado o contraditório, é indispensável, consoante os termos do art. 10, I,
" Os poderes do órgão ministerial nessa hipótese são os deferidos pelo CPC, acentuando Humberto
Theodoro Jr. que "a distinção entre as funções do Ministério Público como parte e como 'custos
legis' é meramente nominal, pois, na prática, os poderes que lhe são atribuídos, na última hipótese,
são tão vastos como os dos próprios litigantes". Curso de Direito Processual Civil, 2" ed., Rio,
Forense, 1990, v. l, p. 159. No mesmo sentido José Fernando da Silva Lopes, O Ministério Público
e o Processo Civil, S. Paulo, Saraiva, 196, págs. 81 e segs.. Entretanto, é questionável se teria ele
legitimidade para opor embargos de devedor, se não atua como curador especial de parte revel.
Admitindo, em princípio, essa legitimidade autônoma concorrente quando a ação executiva desvia
se de seus fins públicos, v. Araken de Assis, Manual do Processo de Execução, Porto Alegre, Lejur,
1987, vaI. lI, p. 991.
"V. Antônio Raphael da Silva Salvador, op. cit. p. 27.
61
.
I
I
62 REVISTA JURÍmCA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
da Lei n° 8.906/9457 • A ausência dela no polo ativo importará na inexistência
dos atos realizados e não tempestivamente ratificados por advogado
constituído.
Dos pressupostos processuais ditos negativos podem ocorrer a coisa
julgada e a litispendência. A perempção será viável apenas se considerada a
defesa do réu como mera resposta, o que poderá propiciar a reiteração da
extinção do processo por inércia do autor.
Definida a natureza jurídica da ação monitória como sendo de
conhecimento e de escopo condenatório, a simples diferença de procedimento
não afasta a identidade de partes, de causa de pedir e de pedido. Portanto, a
pendência de ação monitória obsta o ajuizamento válido de ação idêntica
veiculável mediante procedimento comum. Assim, e.g., serão inadmissíveis
ações declaratórias de inexistência do direito reclamado na tela monitória,
paralelas a esta.
O mesmo se diga a respeito da coisa julgada material. A ausência de
defesa do réu, permitindo, nos termos do art. 1.102c do projeto, a constituição
de pleno direito do título executivo judicial, importa em conferir à decisão
que deferiu o mandado de pagamento ou de entrega a imutabilidade inerente à coisa julgada materiaPR.
Conseqüentemente, o resultado de qualquer outra ação idêntica, ainda
que processada sob diverso rito, não poderá afetar tal decisão, que, nessa
hipótese, terá assumido o papel de sentença, na medida em que pôs fim ao
processo, ainda que condicionada, até o término do prazo legal para a defesa
do réu, à ocorrência desta. O trânsito em julgado corporificar-se-á logo que
" A respeito v. Paulo Luiz neto Lobo, Comentários ao Novo Estatuto da Advocacia e da OAB,
Brasília, Brasilia Jur. Ed., 1994, p. 21 e segs.
" É o que sucede no direito italiano, e.g., Deveras, consoante preleciona Crisanto Mandrioli, "La legge no dice espressamente che il decreto ingiuntivo non opposto (od opposto con giudizio poi
estinto o dichiarato inammissibile o improcedibile) acquista I'efficacia di cosa giudicata. Tuttavia
la dottrina e la giurisprudenza sono concordi nel ritenere cià, sul fondamento di disposizioni di
legge dalle quali si puà desumere I'intenzione dei legislatore di atribuire ai decreto ingiuntivo
I'efficacia propria dei giudicato" (Corso di Diritto Processuale Civile, 7" ed. Torino, Giapichelli
Ed., 1989, voI. m, págs. 1821183). No mesmo sentido, ainda Garbagnati, op. cit. p. 10.
escoado "in albis" esse prazo,
judicial independe de qualquer
disciplina do CPC, questão seme
a doutrina discute o momento er
O reconhecimento da
procedimento monitório, como
altera parte", da expedição do
inocorre a defesa do réu, é fund
de devedor, como se verá infra.
11. PROCEDIMENTO DA A(
A ação monitória apresen eventum defensionis". Inocorrer
conhecimento, passando-se à ex
A redação do art. 1.1D2c
de continuidade entre ambas as
do processo de execução. A co convolação do mandado de pag;
não prescinde, contudo, de citaç
de penhora, ou entrega, sob pé
título. Daí a necessidade de ex, ao processo de conhecimento e ;
referido dispositivo legal, à disc
do Estatuto Processual.
Assim sendo, não se e executivas "lato sensu"6IJ, c
" Mandrioli, op. cit. págs. 183/184. 00 Em sentido contrário, entendendo enq
Vicente Greco Filho, op. cit. p. I. AI
peculiaridades do procedimento monitó
processo de conhecimento e de execuçã
CA - INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
lo ativo importará na inexistência
lente ratificados por advogado
negativos podem ocorrer a coisa
~á viável apenas se considerada a
poderá propiciar a reiteração da
ção monitória como sendo de
imples diferença de procedimento
de pedir e de pedido. Portanto, a
~amento válido de ação idêntica
Assim, e.g., serão inadmissíveis
ito reclamado na tela monitória,
I julgada material. A ausência de
1.1 ü2c do projeto, a constituição
I, importa em conferir à decisão
entrega a imutabilidade inerente
aIquer outra ação idêntica, ainda
rá afetar tal decisão, que, nessa
l, na medida em que pôs fim ao
lino do prazo legal para a defesa
19ado corporificar-se-á logo que
Novo Estatuto da Advocacia e da OAB,
oante preleciona Crisanto Mandrioli, "La
on opposto (od opposto con giudizio poi
;sta I'efficacia di cosa giudicata. Tultavia
re cio, sul fondamento di disposizioni di
:Iatore di atribuire ai decreto ingiuntivo
essuale Civile, 7' ed. Torino, Giapichelli
nda Garbagnati, op. ci!. p. 10.
escoado "in albis" esse prazo, vez que a constituição do título executivo
judicial independe de qualquer outro ato do magistrado. Inexistirá, pois, na
disciplina do CPC, questão semelhante à existente no direito italiano, no qual
a doutrina discute o momento em que tal trânsito ocorrerá59 •
O reconhecimento da existência de coisa julgada material no
procedimento monitório, como resultado da decisão deferidora, "inaudita
altera parte", da expedição do mandado de pagamento ou entrega, quando
inocorre a defesa do réu, é fundamental para definir o âmbito dos embargos
de devedor, como se verá infra.
11. PROCEDIMENTO DA AÇÃO MONITÓRIA.
A ação monitória apresenta variantes no seu procedimento, "secundum
eventum defensionis". Inocorrendo a defesa do réu, encerra-se o processo de
conhecimento, passando-se à execução.
A redação do art. 1.1 ü2c do CPC, não patenteia a ausência de solução
de continuidade entre ambas as fases, a tomar, assim, despicienda, a incoação
do processo de execução. A constituição do título executivo judicial com a
convolação do mandado de pagamento ou de entrega em mandado executivo
não prescinde, contudo, de citação do réu, já executado, para pagar, sob pena
de penhora, ou entrega, sob pena de busca e apreensão do bem objeto do
título. Daí a necessidade de examinarem ambos procedimentos: o pertinente
ao processo de conhecimento e aquele relativo ao de execução, remetido, pelo
referido dispositivo legal, à disciplina do Livro II, Título II, Capítulos II e IV
do Estatuto Processual.
Assim sendo, não se encarta a ação monitória no rol das ações
executivas "lato sensu"I>O, caracterizadas pela preponderante eficácia
" Mandrioli, op. cit. págs. 183/184.
NI Em sentido contrário, entendendo enquadrar-se a monitória como ação executiva "lato sensu", v.
Vicente Greco Filho, op. cit. p. I. Aliás esta teria sido a melhor solução, considerando-se as
peculiaridades do procedimento monitório c, mesmo, a tendência de se eliminar a separação entre
processo de conhecimento e de execução, tal como ocorreu na Lei n° 9.099/95.
63
64 REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
executiva das sentenças de procedência nelas prolatadas e traduzida na
desnecessidade de incoação de processo autônomo de execução para a
satisfação prática do credor vitorioso.
Mas dúvidas inexistem quanto à fundamental diferença entre o
procedimento monitório ausente a defesa do réu, ou seja, o monitório "stricto sensu", e aquele resultante da apresentação dessa defesa denominada
embargos no aludido art. l.lü2c.
Entretanto, em relação a ambas as sub-espécies desse procedimento,
existem atos comuns pertinentes ao início e angularização da relação
processual.
Assim, a petição inicial e a decisão, que defere a expedição do
mandado de pagamento ou entrega, e a citação. Os requisitos da inicial e da
citação do réu já foram examinados supra. Não, porém, os dessa decisão.
Induvidosamente deve ser ela fundamentada. Imposição do art. 93, IX
da Carta Magna e do art. 165 "in fine" do CPC, sua fundamentação não deve
ser suscinta, mas sim analítica quanto ao exame da prova, que lastrear o
deferimento do pedido de expedição do aludido mandado, e das demais
circunstâncias que o justifiquem. A certeza, liqüidez e exigibilidade do direito
invocado pelo autor devem ter reconhecimento expresso, ainda que "sub
conditione", pelo prolator de tal decisão. Não fôra a exigência constitucional
e legal, a possibilidade de se tornar ela a única decisão no processo de
conhecimento exige esse cuidado.
Além do mais, deverá essa decisão impor ao réu o pagamento das
custas e honorários advocatícios. O art. l.lü2c do projeto, em seu parágrafo
primeiro, o libera desse ônus, se cumprir o mandado de pagamento ou de
entrega. Logo, a condenação é de rigor, para que haja a isenção ali deferida.
Aliás, essa técnica estimuladora do adimplemento da obrigação não é nova
em nosso ordenamento jurídico"!.
Por sua vez, a decisão dcfcridora da expedição do mandado deverá
" Deveras, já vem prevista no ar!. 61 da Lei n° 8.245/91, que dispõe sobre locação de imóveis
urbanos.
constar deste juntamente com a ac
do CPC, com a necessária adaptai
no sentido de que, se não efctuad
embargos no prazo de quinze dia:
com a subseqüente incoação da e
Extinto "in albis" o pra
mandado ou oferecimento de er
autos do mandado devidamí
conhecimento, devendo se incoa
agora convolada em definitiva el
Diferentemente ocorrerá ~
réu. Cabe aqui, contudo, resolve
texto do art. 1.102c do CPC. Ou ~
reporta-se a uma ação autônc
especificadamente, a uma conte~
O posicionamento a res[
práticas relevantes. Impende, de
Lei n° 9.079/95 para o exe
compatibilidade dos entendimel
vigente e com a teleologia c
interpretação defendidas levam;
A exegese meramente lil
manifestamente insuficiente.
embargos assume dois signific
ação. Excepcionalmente desigI
de nunciação de obra nova (art
.2 É o que sucede com os embargos rere
doutrina, sustentando serem eles com
Araken de Assis e Vicente Greco Filho,
Moreira, Ulderico Pires dos Santos e C
contestação. V. a respeito Araken de As
1987, vaI. lI, p. 836 nota. 2486.
ICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELlN
nelas prolatadas e traduzida na
autônomo de execução para a
fundamental diferença entre o
) réu, ou seja, o monitório "stricto
ação dessa defesa denominada
;ub-espécies desse procedimento,
cio e angularização da relação
ão, que defere a expedição do
Lção. Os requisitos da inicial e da
'J"ão, porém, os dessa decisão.
:lentada. Imposição do art. 93, IX
~PC, sua fundamentação não deve
exame da prova, que lastrear o
aludido mandado, e das demais
liqüidez e exigibilidade do direito
nento expresso, ainda que "sub
io fôra a exigência constitucional
1 única decisão no processo de
impor ao réu o pagamento das
)2c do projeto, em seu parágrafo
) mandado de pagamento ou de
1 que haja a isenção ali deferida.
:mento da obrigação não é nova
I expedição do mandado deverá
~ I, que dispõe sobre locação de imóveis
constar deste juntamente com a advertência prevista no art. 285 segunda parte
do CPC, com a necessária adaptação ao procedimento a que se refere, ou seja,
no sentido de que, se não efetuado o pagamento ou a entrega ou apresentados
embargos no prazo de quinze dias, será constituído o título executivo judicial,
com a subseqüente incoação da execução.
Extinto "in albis" o prazo de quinze dias para cumprimento do
mandado ou oferecimento de embargos, prazo esse contado da juntada nos
autos do mandado devidamente cumprido, encerra-se processo de
conhecimento, devendo se incoar o de execução lastreado na decisão liminar
agora convolada em definitiva em virtude da omissão do réu.
Diferentemente ocorrerá se houver a apresentação de embargos pelo
réu. Cabe aqui, contudo, resolver primeiramente uma questão emergente do
texto do art. 1.1 02c do CPC. Ou seja, se a referência a embargos nele existente
reporta-se a uma ação autônoma ou equivale a um tipo de resposta,
especificadamente, a uma contestação.
O posicionamento a respeito importa em conseqüências jurídicas e
práticas relevantes. Impende, destarte, investigar qual o modelo adotado pela
Lei n° 9.079/95 para o exercício de defesa do réu, ressaltando a
compatibilidade dos entendimentos a respeito da matéria com o texto legal
vigente e com a teleologia do instituto. Isto porque as vertentes de
interpretação defendidas levam a diferentes formas de procedimento.
A exegese meramente literal do texto é, como, aliás, sói acontecer,
manifestamente insuficiente. No sistema do vigente CPC a palavra
embargos assume dois significados básicos: ou é um recurso ou é uma
ação. Excepcionalmente designa a oposição extrajudicial do autor de ação
de nunciação de obra nova (art. 935 do CPC) ou, ainda, uma contestaçãoó2 •
ó2 É o que sucede com os embargos referidos no art. 755 do CPC, cuja natureza é controvertida na
doutrina, sustentando serem eles correspondentes a uma ação autônoma, Pontes de Miranda,
Araken de Assis c Vicente Greco Filho, ao passo que Humberto Theodoro Jr., José Carlos Barbosa
Moreira, Ulderico Pires dos Santos e Celso Neves dentre outros sustentam serem eles verdadeira
contestação. V. a respeito Araken de Assis. Manual do Processo de Execução, Porto Alegre, Lejur,
1987, vaI. 11, p. 836 nota. 2486.
65
I
I
66 REVISTA JURíDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELlN
Conseqüentemente, nesse sistema tal palavra é manifestamente equívoca"},
comportando vários significados. Todavia o art. 1.102c reporta-se a uma
ação inserida no Livro IV do CPC, havendo pois de se submeter à sua
terminologia. Acresce, ainda, que esse mesmo artigo, no seu parágrafo 3°,
alude a embargos rejeitados, o que, nessa mesma terminologia,
corresponde àqueles embargos de devedor previstos nos arts. 520, inciso V
e no art. 739 do CPC.
Portanto, a letra do projeto, sob essa ótica, sinaliza no sentido de serem
tais embargos equivalentes àqueles previstos no processo de execução como
forma específica de exercício do direito de defesa devedor executado.
Entretanto, essa mesma letra determina que os embargos, que são
dotados de efeito suspensivo, sejam processados, independentemente de
prévia segurança do juízo, nos mesmos autos da ação monitória, assumindo o
procedimento ordinário (art. 1.102c), o que os diferencia, nesse particular'!,
daqueles previstos para o processo de execução.
Essa disciplina outorga-lhes função semelhante à dos embargos então
ofertados na antiga ação decendiária, na qual, sendo eles recebidos com
condenação ou recebidos sem condenação, deva-se vista ao autor para os
contestar, prosseguindo então pelo rito ordinári06'. Por isso a figura de
embargos em processo de conhecimento não é infensa à tradição de nosso
direito. Nem mesmo a ocorrência de embargos nesse tipo de processo
sucedidos por outros na execução.
" Assim Candido de Oliveira Filho, no regime do Regulamento 737/50, sustentava dentre os seus
vários significados também o de "meio de impugnar o pedido em várias causas summarias e de
processo especial - quaes os oppostos à primeira, nas ações cominatórias, nas decendiárias e nas
executivas"(cfr. Theoria e Pratica dos Embargos, págs. 5/6). Mais recentemente, já na vigência do
atual CPC, o saudoso Edison Prata arrolou cerca de 17 tipos diferenciados de embargos (cfr.
Embargos de Terceiro, S. Paulo, Leud, J980, p. 16).
M Somente na ausência de formação de autos apartados, pois, no que concerne ao rito, como
explicita Araken de Assis, o dos embargos de devedor assemelha-se substancialmente ao rito
ordinário do processo de conhecimento (cfr. Manual do Processo de Execução, Porto Alegre, Lejur,
1987, vaI. Il, p. 1008).
" Assim o ar!. 260 do Regulamento 73711850.
Poderia ter sido adotac
cominatória prevista nos arts. 3C
assumia o rito ordinário, mantid
Mas o legislador, ao que
réu aos embargos em razão
iniciativa do contraditório com
embargante, o réu assume a pos
prova de suas alegações. No
proceder-se-ia como no proces~
inclinado o le-gislador para essa
Tal aparente opção implic
os embargos, a inadmissibilida(
óbvid6, bem assim como a invia
feita à assistência, como sucede
A defesa do réu, consubs
matéria processual como a de
relação processual, as condiçê
adequação da via processual esc
autor embargado, e ou a existêr
abono de sua pretensão.
O pedido voltar-se-á par,
mandado de pagamento ou de t
de vício processual ou de inexis
A rejeição dos embargos,
de abranger também a sua ir
constituição de título executivo
resultado manterá íntegros o m,
o deferiu, vez que sentençc
"" A menos que, admitida a reconven
conflitantes de Araken de Assis, op. cit
no Direito Processual Civil, 2' ed., S.
reconvindo, ou seja de "reconventio rec
\CA - INSTITUiÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELlN
vra é manifestamente equívoca63 ,
a o art. 1.1 ü2c reporta-se a uma
endo pois de se submeter à sua
~smo artigo, no seu parágrafo 3°,
, nessa mesma terminologia,
. previstos nos arts. 520, inciso V
ótica, sinaliza no sentido de serem
)s no processo de execução como
defesa devedor executado.
mina que os embargos, que são
cessados, independentemente de
JS da ação monitória, assumindo o
~ os diferencia, nesse particula~4,
Jção.
~emelhante à dos embargos então
qual, sendo eles recebidos com
l, deva-se vista ao autor para os
lrdinári065• Por isso a figura de
ão é infensa à tradição de nosso
rlbargos nesse tipo de processo
lamento 737/50, sustentava dentre os seus
pedido em várias causas summarias e de
lções cominatórias, nas decendiárias e nas
5/6). Mais recentemente, já na vigência do
l7 tipos diferenciados de embargos (cfr.
os, pois, no que concerne ao rito, como
)[ assemelha-se substancialmente ao rito
'rocesso de Execução, Porto Alegre, Lejur,
Poderia ter sido adotada para tanto, a técnica da antiga ação
cominatória prevista nos arts. 302 e seguintes do CPC de 39, que contestada
assumia o rito ordinário, mantida a distribuição normal do ônus da prova.
Mas o legislador, ao que o texto indica, preferiu restringir a defesa do
réu aos embargos em razão de entender necessário explicitar assim a
iniciativa do contraditório com a inversão do ônus da prova, vez que, como
embargante, o réu assume a posição de autor, incumbindo-lhe destarte fazer
prova de suas alegações. No anteprojeto de 1985, havendo embargos,
proceder-se-ia como no processo executivo (item 5 supra), o que pode ter
inclinado o le-gislador para essa opção quanto à defesa do réu.
Tal aparente opção implica, a despeito da adoção do rito ordinário para
os embargos, a inadmissibilidade da reconvenção por parte do réu, como é
óbvi066, bem assim como a inviabilidade da intervenção de terceiros, exceção
feita à assistência, como sucede com os embargos de devedor.
A defesa do réu, consubstanciada nos embargos, poderá versar tanto a
matéria processual como a de direito material. Ou seja, terá por objeto a
relação processual, as condições da ação, vale dizer também a própria
adequação da via processual escolhida e a idoneidade da prova produzida pelo
autor embargado, e ou a existência do direito material invocado por este em
abono de sua pretensão.
O pedido voltar-se-á para a desconstituição da decisão deferidora do
mandado de pagamento ou de entrega e a revogação destes, o que decorrerá
de vício processual ou de inexistência de direito material a ser declarado.
A rejeição dos embargos, que a despeito da terminologia da lei, haverá
de abranger também a sua improcedência, implicará de pleno direito a
constituição de título executivo judicial e o início da execução. Ou seja, esse
resultado manterá íntegros o mandado expedido liminarmente e a decisão que
o deferiu, vez que sentença, que julgar os embargos, terá natureza
fi> A menos que, admitida a reconvenção aforada pelo embargado (v. a respeito as posições
conflitantes de Araken de Assis, op. cit. vol. 11, p. l018 e de Clito Fornaciari ]r. Da Reconvenção
no Direito Processual Civil, 2" ed., S. Paulo, Saraiva, 1983, p. 78) cuide-se de reconvenção do
reconvindo, ou seja de "reconvenlio reconvenlionis".
67
68 REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
exclusivamente declaratória negativa. A eficácia de ambos, suspensa com o
aforamento dos embargos é repontenciada com o advento, "ex vi legis" do
título executivo e a conseqüente convolação do mandado de pagamento ou
entrega em mandado executivo.
Não esclareceu, porém, a Lei n° 9.079/95 se, em relação aos embargos,
será adotada a disciplina própria dos embargos de devedor, o que pode ser
relevante. Assim, não está explicitado se o apelo interposto da decisão que
rejeitar ou julgar improcedentes os embargos terá ou não efeitos suspensivos;
se à desistência da ação aplicar-se-á o regramento do art. 569, parágrafo único
do CPC, a despeito de não cuidar a espécie de execução; se o prazo para
embargar, em se tratando de litisconsórcio passivo é contado singelamente
para cada devedor; se em relação a eles incidiriam as regras do art. 739,
parágrafos 20 e 30, além de outros pontos significativos dessa disciplina, os
quais restaram carentes de tratamento legislativo necessário em razão dessa
opção legislativa.
Por isso mesmo melhor teria sido a adoção do modelo italiano também
nesse aspecto. Nele a apresentação de oposição pelo réu não instaura um
processo autônomo, segundo moderna doutrina"7. Conseqüentemente a defesa
do réu tem natureza de resposta e o condão de convolar o procedimento
especial em ordinário, ainda que os prazos a este correspondentes venham ser
reduzidos à metade"x.
ó7 Nesse sentido, em contrário à posição de Salta, D'Onofrio e Rocco, este quanto "I'opposizione
tardiva", pondera Mandrioli: "[n realtà illegislatore ha chiaramente mostrato di voler configurare
I'allo di opposizione come I'allo introdullivo noll già di un giudizio autonomo e neppure di un
grado autonomo, ma semplicimente di una fase (eventuale) dei giudizio già pendente; pii1
precisamente ha mostrato di voler attribuere a suddella (eventuale) introduzione alia fase di
opposiziolle, la portata di una autentica riconduzione dei procedimento - che fino a questo ponto
si e svolto con forme e cartteristiche 'speciali' - entro i binari dei processo ordinario di
cogniz.ione" (Corso cit. vol. m, p. 172). Também Garbagnati, reportando-se à diversidade de
posicionamentos a respeito dessa matéria, conclui: "Di fronte a questa varietà di opilliolli, va
Ilegato anzitulto che I'opposiziolle ai decreto di ingiwzzione costituisca I'alto iniziale di un
autonomo processo di cogllizione". (lI Procedimento cit. págs. 132/133).
'" Assim dispõe o art. 645 do CPC italiano.
Tal implica a admissibili,
inadequação do procedimento
porque passou ele ser o comum
ou não do monitório perde inter
A posição das partes conti
de autor e réu, exatamente porq
che, da un lato, non toglie autt
dall'altro lato, gli sottrae agI
esecutorietà provvisoria) siche
grado nella stessa posizione so~
fosse mai stato pronunciato"7n. r "Piu concretamente: la pro
dell' instaurazione dell'effetivo
sulla posizione delle parti di
invertire I 'onere della prova, Pl
l'atto di opposizione, che ha la
della comparsa di risposta"71.
Em suma, pois, o rito e~
procedimento ordinário, com :;
com a fase anterior, em que
pagamento ou de entrega.
Com o surgimento do
tentati va de se obter rapidam
sentença que julgar procedente
a reconvenção como algumas f
A sentença poderá se
imutabilidade inerente à cais.
interlocutória concessiva do m
certa forma, não se afina com·
•• V. Garbagnati, op. cit. págs. 149/150 70 Corso cit., vaI. m, p. 173. 71 Op. loco uH. cit.
I
l/CA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
°icácia de ambos, suspensa com o
com o advento, "ex vi legis" do
ão do mandado de pagamento ou
9/95 se, em relação aos embargos,
argos de devedor, o que pode ser
) apelo interposto da decisão que
)S terá ou não efeitos suspensivos;
nento do art. 569, parágrafo único
:ie de execução; se o prazo para
passivo é contado singelamente
incidiriam as regras do art. 739,
;ignificativos dessa disciplina, os
lativo necessário em razão dessa
loção do modelo italiano também
)sição pelo réu não instaura um
inaó7. Conseqüentemente a defesa
:ão de convolar o procedimento
este correspondentes venham ser
)frio e Rocco, este quanto "I'opposizione
hiaramente mostrato di voler configurare
'i un giudizio aUlonomo e neppure di un
ntuale) dei giudizio già pendente; piu
ta (eventuale) introduzione alia fase di
I procedimento - che fino a questo ponto
ltro i binari dei processo ordinario di
bagnati, reportando-se à diversidade de
fronte a questa varietà di opinioni, va
nzione costituisca ['alto iniziale di un págs. 132/133).
Tal implica a admissibilidade de reconvenção e de exceçõesó~. Mas a
inadequação do procedimento deixa de ser matéria oponível, exatamente
porque passou ele ser o comum ordinário. Logo, a questão sobre o cabimento
ou não do monitório perde interesse.
A posição das partes continua, com a resposta apresentada, ser a mesma
de autor e réu, exatamente porque, como esclarece Mandrioli "l'opposizione
che, da un lato, non toglie automaticamente di mezzo il decreto ingiuntivo,
dall'altro lato, gli sottrae ogni efficacia diretta (salva la sua eventuale
esecutorietà provvisoria) siche le parti ritrovano davanti i giudici di primo
grado nella stessa posizione sostanziale che avrebbero avuto si il decreto non
fosse mai stato pronunciato"70. Mais adiante conclui o mesmo autor, "verbis":
"Piu concretamente: la pronuncia deI decreto inverte solo l'onere
dell'instaurazione dell'effetivo contraditorio senza ulteriormente influire
sulla posizione delle parti davanti aI giudice, ed in particolare, senza
invertire I 'onere della prova, per il quale vigno le regole generali. In pratica,
['atto di opposizione, che ha la strutura dell'atto di citazione ha il contenuto
della comparsa di risposta"71.
Em suma, pois, o rito especial desaparece emergindo em seu lugar o
procedimento ordinário, com as necessárias adaptações para se harmonizar
com a fase anterior, em que se antecipa o deferimento do mandado de
pagamento ou de entrega.
Com o surgimento do procedimento comum ordinário frustra-se a
tentativa de se obter rapidamente o título executivo, que passará a ser a
sentença que julgar procedente a ação. Demais, admissíveis serão não apenas
a reconvenção como algumas formas de intervenção de terceiro.
A sentença poderá ser terminativa ou definitiva, esta sujeita à imutabilidade inerente à coisa julgada material. Substituirá ela a decisão
interlocutória concessiva do mandado de pagamento ou de entrega, o que, de
certa forma, não se afina com o texto do projeto, que prevê a constituição do
"V. Garbagnati, op. cit. págs. 1491150. lO Corso cit., voI. III, p. 173. 11 Op. loc. ult. cit.
69
I
l
70 DONALDO ARMELlNREVISTA JURíDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO
título executivo com a rejeição (sic) dos embargos.
A sistemática recursal será a normal, com efeito suspensivo à eventual
apelação que vier ser interposta.
De qualquer forma, porém,
inserção de uma ação - os emba
conhecimento.
serão
rgos
evita
- no
dos
bojo
os
de
incon
um
venientes
processo
da
de
Aliás, não se pode descartar que a doutrina e jurisprudência se
inclinem para um exegese do texto do art. 1.1 ü2c do CPC, de forma a acolher um posicionamento que qualifique os embargos nele referenciados
como mera resposta72 •
De inteira procedência a ponderação de Carreira Alvim quanto aos inconvenientes de se atribuir aos embargos referenciados no aludido art.
1.1ü2c a função de ação. No sentir desse autor não há como "compreender
que, ajuizando uma ação ordinária, o credor-autor aja (exercite a ação)
com os ônus por preferir a ação monitória, fundada na mesmíssima prova,
com idêntica pretensão - que, inclusive, passa o rito ordinário, havendo
resistência - se transmude a natureza da defesa em ação, com inversão da
posição das partes no processo, posicionando o autor da monitória na
qualidade de réu dos embargos com todos os ônus daí decorrentes"?>. Mais,
ainda, se ocorrer a inversão do ônus da prova, inexoravelmente o autor optará
pelo procedimento monitório nas ações que comportarem esse rito. Deveras, se ocorrida a revelia forma-se o título executivo e, ela não se corporificando,
estará o autor isento de provar os fatos constitutivos de seu direito, sua
posição no procedimento monitório será muito mais favorável do que no
procedimento comum, ordinário ou sumário. Não havendo no CPC limitação de valor para a opção pelo monitório, esta será inevitável. É bem verdade que
já existindo documento comprovando a existência do direito do autor,
72 Em verdade, a doutrina já se encontra dividida quanto ao conceito dos embargos previstos no art.
J.I ü2c do CPC. Assim é que José Rogério Cruz e Tucci (Ação Monitória cit.) e Vicente Greco Filho
(op. cit.) posicionam-se em favor dos embargos ação. Por sua vez, José Eduardo Carreira Alvim
(Código de Processo Civil Reformado cit.) e Antônio Raphael da Silva Salvador sustentam a
natureza de mera resposta dos embargos.
7] Cfr. Código de Processo Civil reformado cit. p. 336.
normalmente ao réu incumbirá impeditivos de tal direito (art.
desfavorável ao réu, emergente
A dificuldade em compa
sistema do procedimento monit seguintes do CPC, radica-se e título executivo, prevista no ,
processo, em que os embarg
versando também o mérito da será condenatória e, pois, con embasador da execução. Portal sentido de que "rejeitados os t
título executivo judicial" não te]
monitório implantado no CPC. Verifica-se, destarte, qUi
embargos ali constantes serem (
monitório, centrada na rápida
com a apresentação da deft
acolhimento dos embargos resl
Essa divergência de int
este, do texto da lei em tela disciplina, de forma a evitar qu
venha obstar o atingimento da novo tipo de procedimento no
ocorrido, a matéria terá de SI
espancadas as dúvidas persiste
Qualquer que seja a or
natureza dos embargos afor
emergirá um título executivo.
da coisa julgada material. Na t deferiu a expedição do manc
dessa qualidade, não ensejand
já extinto. Sendo os embargo
lICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO OONALDO ARMELIN
nbargos.
, com efeito suspensivo à eventual
evitados os inconvenientes da
- no bojo de um processo de
a doutrina e jurisprudência se
Lrt. 1.1ü2c do CPC, de forma a
~ os embargos nele referenciados
o de Carreira Alvim quanto aos
os referenciados no aludido art.
lutar não há como "compreender
for-autor aja (exercite a ação) _
, fundada na mesmíssima prova,
7Qssa o rito ordinário, havendo
efesa em ação, com inversão da
ando o autor da monitória na
)s ônus daí decorrentes"7J. Mais,
i, inexoravelmente o autor optará
comportarem esse rito. Deveras,
tivo e, ela não se corporificando,
onstitutivos de seu direito, sua
lUito mais favorável do que no
Não havendo no CPC limitação
~á inevitável. É bem verdade que
:xistência do direito do autor,
J conceito dos embargos previstos no art. ção Monitória cit.) e Vicente Greco Filho )r sua vez, José Eduardo Carreira Alvim Raphael da Silva Salvador sustentam a
normalmente ao réu incumbirá provar os fatos extintivos, modificativos e
impeditivos de tal direito (art. 333, II do CPC), o que atenua a situação
desfavorável ao réu, emergente desse posicionamento.
A dificuldade em compatibilizar os embargos como resposta com o
sistema do procedimento monitório, tal como vem regrado nos arts. 1.1ü2 e
seguintes do CPC, radica-se especificamente na formação "ope legis" do
título executivo, prevista no art. 1.1ü2c. Isto em virtude de resultar do
processo, em que os embargos vierem ser apresentados, uma sentença
versando também o mérito da ação. Essa sentença se de procedência desta
será condenatória e, pois, constituirá por si só o título executivo judicial
embasador da execução. Portanto, o disposto no § 3° desse art. 1.1 ü2c, no
sentido de que "rejeitados os embargos, constituir-se-á, de pleno direito, o
título executivo judicial" não teria função alguma no sistema do procedimento
monitório implantado no CPC.
Verifica-se, destarte, que o texto legal favorece a interpretação dos
embargos ali constantes serem considerados ação. Mas a própria finalidade do
monitório, centrada na rápida formação do título executivo, que desaparece
com a apresentação da defesa do réu, melhor seria atendida com o
acolhimento dos embargos resposta.
Essa divergência de interpretação sobre pontos fundamentais, como
este, do texto da lei em tela recomendava uma maior explicitude na sua
disciplina, de forma a evitar que a disceptação, agora já instaurada a respeito,
venha obstar o atingimento da celeridade objetivada com a implantação desse
novo tipo de procedimento no sistema processual brasileiro. Não tendo isso
ocorrido, a matéria terá de ser sedimentada na via pretoriana, onde serão
espancadas as dúvidas persistentes na exegese desse texto.
Qualquer que seja a orientação adotada pela jurisprudência quanto à natureza dos embargos aforados pelo réu, do procedimento monitório
emergirá um título executivo judicial colorido pela imutabilidade decorrente
da coisa julgada material. Na hipótese de ausência de embargos, a decisão que
deferiu a expedição do mandado de pagamento ou entrega restará ungida
dessa qualidade, não ensejando questionamento no processo de conhecimento
já extinto. Sendo os embargos aceitos como ação, esse trânsito em julgado
71
74
72 REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELlN
restará suspenso até que venham ser eles julgados definitivamente, fluindo a
execução como provisória a partir de sua improcedência ou rejeição em
primeiro grau de jurisdição, adotando-se para tanto a disciplina do art. 587,
primeira parte, do CPC. Processados como mera contestação, a sentença que
julgar a ação ensejará execução provisória, se antecipada a tutela com lastro
no art. 273 do CPC, admissível em face da natureza comum ordinária
assumida pelo procedimento, ou se pender recurso com efeito meramente
devoluti vo.
Também, em se tratando de procedimento envolvendo litisconsórcio
facultativo simples ou necessário simples no polo passivo da relação
processual, em ambas concepções a solução para a hipótese de apresentação
de defesa apenas por um dos litisconsortes será a mesma. A menos que a
defesa de um deles seja comum a todos ou a alguns, não aproveitará aos
demais. Essa solução é clara para a hipótese de embargos ação, tendo em vista
a disciplina dos embargos no processo de execução. Mais questionável seria
na hipótese de embargos contestação, considerando-se que, no processo de
conhecimento, a contestação por um dos litisconsortes arreda o efeito da
revelia (art. 320 I do CPC). Todavia, a doutrina, de um modo geral, restringe
a incidência desse dispositivo aos litisconsórcio unitário ou aos fatos comuns
naqueles supra referenciados74• Apenas nesta última hipótese a questão toma
se mais difícil, eis que em relação ao revel não ocorrerá o efeito da revelia,
indispensável à fonnação do título executivo, na previsão do art. 1.102c,
"caput". Naquelas de litisconsórcio facultativo ou necessário simples, sendo
considerados os litisconsortes como litigantes distintos nas suas relações com
a parte adversa (art. 48 do CPC), coisa julgada material poderá constituir-se
em momentos cronologicamente diferenciados no monitório, propiciando
incoação de execuções com base em títulos resultantes da revelia de
litisconsortes.
v., por todos Rita Gianesini, Da Revelia no Processo Civil Brasileiro cit. pp. 85 e seguintes, bem
assim como os autores ali colacionados.
12. EXECUÇÃO NA AÇÃO MI
o fenômeno da emergên
do texto do art. 1.102c, occ
monitória. Do texto do § 3°
dúvida decorrente da alusão, a
quanto à constituição de pleno I
será despicienda, se da senl
cientificada e vier a ser citada 1=
direito do título resulta da alu
objeto de intimação, já que da
vez, essa intimação correspond pessoa de seu advogado, estar
a situação do réu que não emt
relação ao primeiro impenderá
passo que, quanto ao segundo,
Acresce, ainda, fazer-se I
iniciativa do credor, que devI
atualizado até a data da sua p
expresso do § 3° do art. 1.102c d e VI, nos quais se exige a citaçã
Portanto, a menos que se
execução ou que se tenha com
daqueles típicos das ações execu
por iniciativa do credor, com b,
ação monitória, mediante a citaI
Conseqüentemente a alt
devedor e ao prosseguimento
" A técnica adotada pelas executivas "I
do processo de escopo condenatório, cc
Processo, S. Paulo, Malheiros Ed., 19
referência expressa do § 3° art. 1.1 ü2c di
referência expressa à citação do devedol
'iCA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
Jlgados definiti vamente, fluindo a
a improcedência ou rejeição em
ara tanto a disciplina do art. 587,
mera contestação, a sentença que
se antecipada a tutela com lastro
e da natureza comum ordinária
:r recurso com efeito meramente
imento envolvendo litisconsórcio
~s no polo passivo da relação
) para a hipótese de apresentação
s será a mesma. A menos que a
)U a alguns, não aproveitará aos
de embargos ação, tendo em vista
xecução. Mais questionável seria
iderando-se que, no processo de
litisconsortes arreda o efeito da
:ina, de um modo geral, restringe
rcio unitário ou aos fatos comuns
l última hipótese a questão torna
não ocorrerá o efeito da revelia, ~vo, na previsão do art. 1.102c,
vo ou necessário simples, sendo
s distintos nas suas relações com
ida material poderá constituir-se
Idos no monitório, propiciando
ulos resultantes da revelia de
ivil Brasileiro cit. pp. 85 c seguintes, bem
12. EXECUÇÃO NA AÇÃO MONITÓRIA.
o fenômeno da emergência de dúvidas quanto à real inteligência
do texto do art. ].1 02c, ocorre também com a execução na ação
monitória. Do texto do § 3° desse artigo infere-se, desde logo, uma
dúvida decorrente da alusão, ali constante, a uma intimação do devedor
quanto à constituição de pleno direito do título executivo. Essa intimação
será despicienda, se da sentença de rejeição a parte houver sido
cientificada e vier a ser citada para a execução. Se a constituição de pleno
direito do título resulta da aludida rejeição, não haveria porque ser ela
objeto de intimação, já que da sentença será o réu intimado. Se, por sua
vez, essa intimação corresponder à citação para a execução do devedor na
pessoa de seu advogado, estar-se-á diferenciando, para fins de execução,
a situação do réu que não embargou daquele que o fez. Isto porque, em
relação ao primeiro impenderá a sua citação pessoal para a execução ao
passo que, quanto ao segundo, isso não ocorrerá.
Acresce, ainda, fazer-se mister, para a execução por quantia certa, a
iniciativa do credor, que deverá apresentar o demonstrativo do débito
atualizado até a data da sua propositura. Por derradeiro há o referencial
expresso do § 3° do art. 1.102c do CPC ao seu Livro II, Título II, Capítulos II
e VI, nos quais se exige a citação do devedor (arts. 621 e 652).
Portanto, a menos que se esteja inovando na disciplina do processo de
execução ou que se tenha convertido o procedimento ordinário à estrutura
daqueles típicos das ações executivas "lato sensu "75, a execução há de se fazer
por iniciativa do credor, com base no título executivo judicial decorrente da
ação monitória, mediante a citação do devedor.
Conseqüentemente a alusão, no texto do projeto, à intimação do
devedor e ao prosseguimento na forma prevista no Livro II, Título II,
7.\ A técnica adotada pelas executivas "lato sensu" é a que melhor se harmoniza com a teleologia
do processo de escopo condenatório, como ressalta José Roberto dos Santos Bcdaque (Direito e
Processo, S. Paulo, Malheiros Ed., 1995, p. 102), mas resulta afastada no caso vertente pela
referência expressa do § 3° art. 1.102c do CPC ao Livro 11, Título 11, Capítulos 11 e IV, nos quais há
referência expressa à citação do devedor.
73
74 REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELIN
Capítulos II e IV do CPC, deve ser entendida não como dispensa de citação
deste para a incoação do processo de execução. É bem verdade que, assim
sendo, a intimação referida no aludido § 3° do art. 1.102c tem sua
operatividade no texto legal bastante esgarçada. Por essas razões não se pode
descartar a ocorrência de uma interpretação pretoriana mais avançada,
reconhecendo, tal como sucedeu com a Lei n° 9.099/95, a possibilidade de se
iniciar a execução sem necessidade de citação, substituída na espécie pela
intimação aludida no mencionado parágrafo.
A execução será lastreada "ex vi legis" em título executivo judicial,
quer tenham ou não sido opostos embargos. Ao réu, que deixou de opor
embargos e não foi citado ou o foi nulamente, restarão os remédios
processuais dos embargos de devedor, com fulcro no inciso I do art. 741,
a "querela nullitatis insanabilis" correspondente à ação declaratória e a
ação rescisória.
Assim o risco de prejuízo decorrente de processo do qual não teve
ciência para provocar o contraditório, poderá ser minimizado com a utilização
de tais ações.
Resta indagar se, com a nova redação do art. 741 do CPC, que limita o
objeto dos embargos ao elenco nele previsto, fundamentos outros, que
exorbitem esse rol poderão ser invocados, máxime em se tratando de devedor
que não embargou.
Admitida a formação de coisa julgada material no concernente à
decisão, que deferiu o mandado de pagamento ou de entrega?", evidencia-se
que os fundamentos de nulidade desta convolam-se em hipóteses de sua
rescindibilidade. Se o contraditório não se instaurou por omissão do devedor,
não haverá porque ressuscitar na execução matéria adstrita ao processo de
" Em sentido contrário posicionou-se Vicente Greco Filho, para quem essa decisão, por não ser de
mérito, somente pode ser atacada pela ação anulatória, prevista no arL 486 do CPC (Ação
monitória, ciL p. 6).
conhecimento77 • Nele houve opo
Por isso mesmo, há de pacientar
Se, contudo, matéria nov
de se albergar em qualquer das h através de elastério exegéticc
inconstituicionalidade decorrent
ampla defesa.
13. CONCLUSÕES
Conforme acentuado sup
nova no universo processual
ajustamento e acomodação con
sendo decisiva nesse mister a a
as dúvidas e omissões decorren
implementadas na via pretoriam
questionamentos a respeito de s
O legislador foi extrema
com os textos de outros orden
3.805/93, ora convertido em lei
Além disso, o texto adota
notadamente, pela sua relevâr
posicionamentos doutrinários
respeito, o demonstram. Maior
desse procedimento poderia ter
TI Admitindo a invocação do elenco (
embargos de devedor, no procedimento
José Rogério Cruz e Tucci, Da ação m
ordinário a revelia do réu não o inibe de
se esta for prolatada a teor do disposto
criticar a sentença que lhe for desfav(
procedimento comum e do monitório ni
legislador quanto ao âmbito dos embar!
DICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO DONALDO ARMELlN
:lida não como dispensa de citação
~cução. É bem verdade que, assim
:> § 3° do art. 1.102c tem sua
·çada. Por essas razões não se pode
:tação pretoriana mais avançada,
i n° 9.099/95, a possibilidade de se
tação, substituída na espécie pela "O.
gis" em título executi vo judicial,
gos. Ao réu, que deixou de opor
ulamente, restarão os remédios
Im fulcro no inciso I do art. 741,
Jondente à ação declaratória e a
lte de processo do qual não teve
'á ser minimizado com a utilização
J do art. 741 do CPC, que limita o
~visto, fundamentos outros, que
1.áxime em se tratando de devedor
sada material no concernente à
mto ou de entrega?", evidencia-se Involam-se em hipóteses de sua
lstaurou por omissão do devedor,
matéria adstrita ao processo de
10, para quem essa decisão, por não ser de
ia, prevista no art. 486 do CPC (Ação
conhecimento77 • Nele houve oportunidade para tanto, que não foi aproveitada.
Por isso mesmo, há de pacientar o devedor o resultado de sua própria inércia.
Se, contudo, matéria nova emergir supervenientemente, insusceptível
de se albergar em qualquer das hipóteses do art. 741 do CPC, deve se permitir
através de elastério exegético essa subsunção, evitando-se destarte, a
inconstituicionalidade decorrente de vulneração da garantia constitucional da
ampla defesa.
13. CONCLUSÕES
Conforme acentuado supra, o procedimento monitório, como matéria
nova no universo processual brasileiro, dependerá de um processo de
ajustamento e acomodação com a estrutura do sistema em que se engastou,
sendo decisiva nesse mister a atuação da doutrina e jurisprudência. Também as dúvidas e omissões decorrentes de seu texto necessitarão ser eliminadas e
implementadas na via pretoriana, a fim de lhe assegurar operatividade livre de
questionamentos a respeito de sua própria disciplina.
O legislador foi extremamente parcimonioso ao regrá-Io. Comparado
com os textos de outros ordenamentos jurídicos, os três artigos do projeto
3.805/93, ora convertido em lei, representam uma pequena parcela daqueles.
Além disso, o texto adotado comporta interpretações divergentes,
notadamente, pela sua relevância, a que se reporta à defesa do réu. Os
posicionamentos doutrinários antagônicos, que já se formaram a esse
respeito, o demonstram. Maior clareza quanto a certos aspectos da disciplina
desse procedimento poderia ter evitado o questionamento a eles concernentes,
11 Admitindo a invocação do elenco de elementos de defesa previsto no art. 745 do CPC nos
embargos de devedor, no procedimento monitório em que ocorreram os efeitos da revelia do réu,
José Rogério Cruz e Tucci, Da ação monitória cit., p. 69. Sem dúvida no procedimento comum
ordinário a revelia do réu não o inibe de atuar posteriormente no feito, ainda antes da sentença. Mas,
se esta for prolatada a teor do disposto no art. 330, 11 do CPC, somente através de recurso poderá
criticar a sentença que lhe for desfavorável. Esta oportunidade diferenciadora dos sistemas do
procedimento comum e do monitório não parece suficiente para aluir a distinção estabelecida pelo
legislador quanto ao âmbito dos embargos previstos nos arts. 741 do CPC.
75
,
76 REVISTA JURÍDICA - INSTITUIÇÃO TOLEDO DE ENSINO
o que somente pode empecer o desempenho que se aguarda de sua introdução
no sistema processual nacional.
Por isso as dificuldades que surgirão na sua implantação e no seu
desempenho, exigindo da jurisprudência o papel de espancar as dúvidas deles
emergentes, sedimentando o entendimento dos dispositivos constantes dos
arts. 1.102c e seguintes do CPC introduzidos pela Lei na 9.079/95.
Algumas delas são apontadas neste trabalho. Outras existirão.
Entretanto, isso não impedirá que a iniciativa no sentido de se introduzir
esse procedimento no sistema processual produza seus resultados. É o
que se espera.
IARA DE TOLEDO FERNANDES
Df
Procuradora do Estado de Professora Doutora de DI
Gr,
No processo de Conhecim
Lei 8952 de 13/12/94, transmudl
de conciliação, instrução e julgan
específica para a conciliação, ou
O dispositivo traz algumas
teor literal do mandamento leg
conciliação ("... o juiz designar~
designada "... se necessário". Pf
Antônio Carlos Marcato', Cândid
audiência conciliatória, como co
Se a relação processual estiver em
I "Breves notas sobre alteração introduzic
2 "A refonna do Código de Processo Civi