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Apontamentos para uma teoria participativa da democracia. Eduardo G. Ueda* 1 Resumo. Este estudo busca delimitar dentro do campo da teoria democrática quais são as perspectivas emancipatórias da atual teoria participativa da democracia. Para tanto, se faz necessário situar historicamente o conceito “democracia” em relação ao conceito “revolução”, dada a intrincada relação que os termos carregam entre si. Estes termos são ressignificados na modernidade, de modo que o que se entende hoje desses conceitos é distinto da concepção antiga. Depois de evidenciado o caráter eminentemente progressista da democracia moderna, passaremos ao período pós-guerra e ao debate teórico contemporâneo da democracia, onde é formulada a crítica da democracia clássica por Schumpeter, o resultado dessa crítica é a democracia enquanto método para escolha de líderes, nasce, portanto, o elitismo democrático, justificado empiricamente e livre de valores. Pateman traz de volta a participação para o âmbito do debate da teoria democrática com a apresentação do “mito clássico” e as críticas à teoria contemporânea da democracia. E por fim, são identificadas diferentes teorias da democracia participativa que buscam resgatar o caráter emancipatório da democracia, oferecendo novas alternativas ao projeto político que se apresenta hoje. Introdução. Este estudo busca compreender as teorias democráticas em relação ao seu contexto histórico. Pode-se dizer que as teorias da democracia se defrontam com o paradigma da modernidade, mesmo aquelas que buscam superá-lo se inserem nesse 1 *Graduando do curso de Ciência Politica e Sociologia - Sociedade, Estado e Política na América Latina (UNILA)

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Page 1: Apontamentos para uma teoria participativa da democracia. · democracia grega é a democracia direta, irrepresentável, e portanto contraditória em relação a um Estado, o que caracterizava

Apontamentos para uma teoria participativa da democracia.

Eduardo G. Ueda*1

Resumo.

Este estudo busca delimitar dentro do campo da teoria democrática quais são as

perspectivas emancipatórias da atual teoria participativa da democracia. Para tanto, se faz

necessário situar historicamente o conceito “democracia” em relação ao conceito

“revolução”, dada a intrincada relação que os termos carregam entre si. Estes termos são

ressignificados na modernidade, de modo que o que se entende hoje desses conceitos é

distinto da concepção antiga. Depois de evidenciado o caráter eminentemente

progressista da democracia moderna, passaremos ao período pós-guerra e ao debate

teórico contemporâneo da democracia, onde é formulada a crítica da democracia clássica

por Schumpeter, o resultado dessa crítica é a democracia enquanto método para escolha

de líderes, nasce, portanto, o elitismo democrático, justificado empiricamente e livre de

valores. Pateman traz de volta a participação para o âmbito do debate da teoria

democrática com a apresentação do “mito clássico” e as críticas à teoria contemporânea

da democracia. E por fim, são identificadas diferentes teorias da democracia participativa

que buscam resgatar o caráter emancipatório da democracia, oferecendo novas

alternativas ao projeto político que se apresenta hoje.

Introdução.

Este estudo busca compreender as teorias democráticas em relação ao seu

contexto histórico. Pode-se dizer que as teorias da democracia se defrontam com o

paradigma da modernidade, mesmo aquelas que buscam superá-lo se inserem nesse

1 *Graduando do curso de Ciência Politica e Sociologia - Sociedade, Estado e Política na América Latina

(UNILA)

Page 2: Apontamentos para uma teoria participativa da democracia. · democracia grega é a democracia direta, irrepresentável, e portanto contraditória em relação a um Estado, o que caracterizava

contexto. Deste modo se faz necessário situar tais teorias em relação ao período histórico

que as constituiu. Perceberemos as transformações que o conceito sofreu na teoria e na

prática, até a anulação da participação nos espaços decisórios e a redução da

democracia à um método de escolha de líderes. Será identificado ainda quais são os

caminhos por onde a democracia participativa pode reinserir-se no debate teórico, e vir a

ganhar espaço nas práticas concretas dos agentes sociais.

O conjunto de ideais liberais e iluministas que rondavam a Europa do século XVIII

moldaram a organização social de todos os países ocidentais e ocidentalizados, e ainda

hoje podemos verificar o conteúdo de tais doutrinas em nossas instituições. As revoluções

modernas, fortemente influenciadas por esses ideais, redesenharam a organização

política e social da Europa, as revoluções, tal qual as conhecemos hoje são fenômenos

que, embora o termo já fosse utilizado pela Ciência Política, não datam de antes da

modernidade. Essas revoluções modernas foram marcadas por variados grupos, ideais e

projetos políticos em disputa. O conjunto de valores liberais foram os que

majoritariamente, - não se trata de unanimidade2 - influenciaram tanto nos

acontecimentos das revoluções quanto no projeto político construído e prometido pela

modernidade.

As aspirações da Revolução Francesa são de tal grandeza que ainda hoje

constituem parte significativa dos valores adotados pelos Estados e pela sociedade, como

projeto social, e como direitos e garantias do cidadão em relação ao Estado

(HOBSBAWM, 1996). A democracia, a república, a igualdade, liberdade e fraternidade, os

direitos do homem e do cidadão são alguns dos elementos defendidos e incorporados

pelos países ocidentais ou ocidentalizados. A Revolução Francesa é o momento em que

os atores históricos entendem que sua ação não diz respeito apenas aos limites

territoriais, a um povo e uma época, mas sim a toda humanidade, e proclama uma nova

2 Christopher Hill, em O Mundo de Ponta Cabeça (1987), demonstra que na primeira das revoluções modernas,

a Revolução Inglesa, longe de ter sido um fenômeno coeso, em que havia unanimidade entre os interesses e no sentido

que a revolução iria tomar, a revolução inglesa contou, na verdade, com variados grupos e seitas que disputavam pelo

projeto de país. A revolta dentro da revolução é como Hill trata o fenômeno.

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era para o gênero humano. Não é a primeira vez que um povo declara algum conjunto de

valores como os valores e direitos de todo gênero humano, a Revolução Americana o

fizera, mas é a primeira vez que esses valores estão acompanhados de poder para se

imporem a diversos territórios, explodindo pelo mundo diversas revoluções e

independências inspiradas pelos valores da França revolucionária, dando origem a nossa

era sob o ditame desses valores, entre eles, um muito distinto, um princípio de integração

social e regulador das ações políticas com base no debate racional, a democracia.

A democracia tem sido um conceito de definição ambígua, a democracia ateniense

pouco tem a ver com a democracia moderna, seja sua versão revolucionária ou liberal.

Sartori explica que “A democracia antiga era concebida numa relação intrínseca,

simbiótica, com a pólis. E a pólis grega não tinha nada da cidade-estado que estamos

acostumados a chamá-la- pois não era em nenhum sentido um “Estado”. (1994, p.35) A

democracia grega é a democracia direta, irrepresentável, e portanto contraditória em

relação a um Estado, “o que caracterizava a democracia dos antigos era exatamente o

fato de não ter um Estado” (1994, p.36) explica o autor. Enquanto que a democracia

antiga (ou grega) permite a participação contínua do povo no exercício do poder, a

democracia moderna (liberal) consiste em grande parte, num sistema de limitação e

controle do poder. (SARTORI, 1994, p. 38). Tampouco a democracia moderna se

confunde com a democracia rousseauniana, apesar de ser influenciada por essa; teorias

normativas e descritivas disputam pela definição teórica do conceito, mas a prática não

presta dúvidas ao que é democracia: ela é o que historicamente se constituiu. É preciso,

pois, entender o fenômeno moderno da democracia atrelada aos valores, convicções e

crenças que inauguram a era da democratização.

Aproximação histórica dos termos “Revolução” e “Democracia”.

As revoluções modernas são um fenômeno político relativamente novo, datam de

não antes do século XVIII. A democracia é o nosso objeto de estudo, mas cabem algumas

considerações sobre esse fenômeno violento, a que chamamos de revolução, que trouxe

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ideais como a democracia de volta a arena da teoria política, até então, entendia-se a

democracia como regime possível apenas em pequenos territórios pouco populosos.

Os termos da Ciência Política “revolução” e “democracia” são ressignificados na

modernidade. Revolução era entendida como mudanças violentas irresistíveis que

restauram determinado arranjo político, ou um retorno a um estágio já passado, ou seja,

uma mudança dentro do ciclo da história (ARENDT, 2011). Somente na modernidade

essa mudança violenta e irresistível passa a ser entendida como uma ruptura na história,

capaz de inaugurar um novo início. Cabe aqui uma evolução histórica do conceito,

realizada com base no estudo de Reinhart Kosselleck que buscou estabelecer os

“Critérios históricos do conceito moderno de revolução” (KOSSELLECK, 2006)

Revolução significava, antes da segunda parte do século XVIII, a volta à um

estágio anterior, pois, a história era entendida como um movimento fechado e cíclico.

Como afirma Koselleck: “Cada mudança conduz a uma forma de governo já conhecida,

sob a qual os homens são obrigados a viver. Seria impossível romper esse ciclo natural”

(2006, p.64). O tom natural desse conceito, segundo o autor, se deve ao fato do conceito

ter sido emprestado pelas estrelas ao mundo social. Em 1546 Nicolau Copérnico

escreveu “Sobre as revoluções dos orbes celestes”, a qual, leva a ser incorporada na

política um conceito tradicional da astronomia. Como se algo acima de nossas cabeças

determinasse o sentido da mudança, que, invariavelmente, leva a um movimento de

retrocesso. Esse movimento é caracterizável pela Revolução Gloriosa, a qual Hobbes

descreveu 20 anos depois como um movimento cíclico. Revolução como restauração.

(KOSELLECK, 2006, p. 64-65.) De acordo com Koselleck, essa metáfora de cunho natural

trazia consigo um pressuposto de como se enxergava o tempo histórico: fixo e

determinado por elementos exteriores à história e à ação humana.

A partir de 1700, o significado de revolução já não faz menção ao movimento dos

astros, mas aos grandes acontecimentos de massa. Revolução e guerra civil eram dois

termos que não se confundiam mas também não se excluíam. Guerra civil explicava

aqueles fenômenos sangrentos, em que diferentes estamentos da sociedade buscavam

legitimar suas pretensões legais, em geral pelo uso da violência. Mas quando o Estado se

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torna capaz de exercer o monopólio do uso legítimo da força, as diferentes pretensões

legais já não podem buscar legitimidade subvertendo a ordem do Estado. Enquanto a

guerra civil vai se tornar, no imaginário europeu do século XVIII, virtualmente impossível,

“a revolução, primariamente uma expressão associada à natureza e de cunho trans-

histórico, passou a ser aplicada, por meio de um processo metafórico consciente, a

acontecimentos a longo prazo ou a eventos políticos especialmente repentinos,

comoções” (KOSELLECK, 2006, p.66). As duas palavras podiam se confundir e expressar

o mesmo fenômeno. Mesmo assim, o termo revolução continuou a ser empregado com

seu sentido de retorno, enquanto que as grandes comoções populares foram entendidas

como rebeliões. “Não se dispunha de uma palavra que pudesse designar uma comoção

social por meio da qual a população subjugada se tornasse ela mesma, a classe de

senhores” (ARENDT, apud, KOSELLECK, 2006, p.67). A emancipação social estava além

da experiência, fato que só mudaria com o exemplo das treze colônias.

A comoção com os acontecimentos passou a ser a perspectiva de interpretação

comum dos iluministas. O conceito revolução, antes um conceito natural e rígido,

dissemina o seu significado parcial, o da comoção com os acontecimentos. “O movimento

abandona sua base natural para adentrar a atualidade do cotidiano. Dessa forma, com o

termo ‘revolução’ veio à luz o âmbito de uma história genuinamente humana”

(KOSELLECK, 2006, p.67). A medida que o iluminismo progredia, mais a guerra civil

parecia ser uma reminiscência histórica e mais a comoção ia ganhando espaço na

definição do conceito revolução que ao ser despojado de sua dureza política, permitiu-se

que se confluísse para o termo todas as esperanças utópicas dos anos que se seguiram

de 1789 (KOSELLECK, 2006, p.68) Esses fatores mudaram a definição do conceito

revolução de tal modo que seu significado “não mais conduz de volta a situações

anteriores; a partir de 1789 ela conduz a um futuro a tal ponto desconhecido, que

conhecê-lo e dominá-lo tornou-se uma tarefa contínua da política” (KOSELLECK, 2006,

p.69). A crença na noção de um progresso da história, ou, por assim dizer no fim da

história, está impregnada no conceito Revolução.

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A partir de 1789, Revolução transformou-se em um “coletivo singular”, “é assim que

revolução torna-se um conceito meta-histórico, separando-se completamente de sua

origem natural e passando a ter por objetivo ordenar historicamente as experiências de

convulsão social” (KOSELLECK, 2006, p.69);

Também passou a ser entendida como obra da vontade dos homens, já não se

fazia referencia à uma divindade, ocorreu “um processo inconsciente de secularização

das expectativas apocalípticas da salvação” (KOSELLECK, 2006, p.69)

Toda previsão ou estimativa do futuro era notadamente revolucionária; A revolução

transformou-se em um conceito perspectivista que apontava à uma direção utópica, pois

inexistente, mas também irreversível, pois cedo ou tarde acreditava-se que o fim do lítigio

humano cessaria. O progresso da emancipação humana é sincronizado ao compasso da

história: conforme marcha a história, marcham também as massas em busca de sua

própria emancipação. Koselleck afirma que nesse período “é possível que houvesse ainda

discussão sobre um ‘antes’ e um ‘depois’, sobre retardamento ou aceleração, mas a

direção do movimento parecia definitivamente determinada”. (KOSELLECK, 2006, p. 71)

A revolução política transformou-se em revolução social, a mudança que se

galgava não era meramente na estrutura política, mas sim na estrutura social global.

“Todas as variações modernas do termo ‘revolução’ pretenderam, do ponto de vista

geográfico, uma revolução universal e, do ponto de vista temporal, uma revolução

permanente, até que seus objetivos fossem cumpridos” (KOSELLECK, 2006, p.72). A

conclusão lógica que se tira é que “se toda a Terra deve ser revolucionada, conclui-se

necessariamente que a revolução deve perdurar até que seu objetivo seja atingido”

(KOSELLECK, 2006, p.73).

A legitimidade da revolução, antes advinha da tradição e, por assim dizer à um

retorno glorioso e legítimo à algum estágio da história: a legitimidade da Restauração

permanecia atada à noção de tradição” enquanto que “a legitimidade revolucionária

tornava-se um coeficiente dinâmico, que direcionava a história a partir de determinada

perspectiva do futuro” (KOSELLECK, 2006, p.75). Desse modo, a legitimidade da

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revolução se encontrava na promessa que a própria revolução faz e na busca para

alcançar essa promessa. A revolução pode, inclusive, utilizar da guerra civil como arma

revolucionária, pois esta é legítima. Cai por terra portanto a busca por qualquer princípio

superior a própria revolução, o único princípio regulador da história é “racional” e guia a

humanidade ao progresso, bastando como justificativa para fazer uma revolução, poder

fazê-la.

O importante dessa digressão histórica ao conceito de revolução é que assim

podemos verificar as transformações que o conceito sofreu e observar indiretamente a

mudança de mentalidade que permitiu essas transformações ao conceito.

Podemos dizer que o modo como entendemos a democracia e a revolução, são

modos estritamente modernos, e o sentido atribuído aos dois conceitos só faz sentido na

modernidade. A Revolução Americana e Francesa3, são as duas revoluções em que a

concepção moderna de revolução se apresenta com toda sua força. Embora a Revolução

Inglesa tenha sido a primeira das revoluções modernas, nesta reside a ideia de

restauração do tempo histórico, um retorno a dado momento, e não a de uma novidade

avassaladora. Nestas revoluções, americana e francesa, a questão social desempenhou

um papel fundamental no caminho que elas seguiram, Arendt argumenta que a questão

social passou a desempenhar um papel revolucionário preponderante quando a Europa

identificou nas colônias britânicas algo antes tido como impossível, se trata da

possibilidade de a miséria ser extinta da sociedade. A América, asilo do sofrimento e da

pobreza que já não cabiam na Europa, era agora a inspiração dos franceses que

buscavam alcançar tal estado social.

3 A revolução Americana é como denominamos o conjunto de conflitos entre as 13 colônias e a Grã-

Bretanha, que levaram o país à independencia em 4 de julho de 1776, com a redação do documento de declaração de independencia dos Estados Unidos, no qual constata-se a promulgação de direitos universais a toda espécie.

A revolução Francesa se deu no fim do século XVIII, foi o período em que o Antigo Regime e sua estrutura de privilégios, já debilitados pela grave crise econômica que a França enfrentava, ruíram pela ação dos próprios homens, que inspirados por valores iluministas fundaram a primeira república francesa e proclamaram a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, documento este que junto com a declaração de independencia dos EUA constituem um marco para o que viria a ser os Direitos humanos, isto é, um conjunto de direitos e valores especificos que se propõem universais.

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A Questão Social.

A história era entendida como um ciclo, e o termo revolução era empregado com o

sentido de um retorno a determinado momento, mas quando a questão social passou a

desempenhar um papel revolucionário, o termo revolução ganhou uma conotação

diferente, era nítido que esse fenômeno já não era um retorno a algo conhecido, longe

disso, era uma novidade avassaladora até mesmo para os agentes desses fenômenos

(ARENDT, 2011, p. 75). A enorme energia liberada pela Revolução é capaz de mudar o

sentido da história, não qualquer mudança, uma mudança específica, ligada aos

interesses dos agentes, uma mudança para um novo começo em que os homens são

capazes de ditar o novo sentido da história.

“Foi somente no curso das revoluções setecentistas que os homens começaram a ter consciência de que um novo início poderia ser um fenômeno político, poderia ser o resultado do que os homens haviam feito e do que podiam conscientemente começar a fazer.” (ARENDT, 2011, p. 77-78)

O estado social em que os americanos viviam, ainda no período colonial era a de

uma relativa igualdade entre os indivíduos, não foi a Revolução Americana que inspirou

os franceses, tampouco os eruditos debates quanto ao novo regime político, “e sim a

América, o ‘novo continente’, o americano, um ‘novo homem’, ‘a encantadora igualdade’,

nas palavras de Jefferson, ‘que os pobres gozam com os ricos’” (ARENDT, 2011, p.52). O

papel que a questão social desempenhou na revolução francesa, surge das colônias que

viriam a ser os Estados Unidos, já que lá havia um exemplo concreto de que a miséria

poderia ser extinta.

“A América tinha se tornado o símbolo de uma sociedade sem pobreza muito antes que a era moderna, em seu desenvolvimento tecnológico inaudito, tivesse descoberto os meios efetivos de abolir aquela sórdida penúria da miséria completa que sempre fora considerada eterna. E somente depois que foi feita essa

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descoberta e ela chegou ao conhecimento da humanidade europeia é que a questão social e a revolta dos pobres vieram a desempenhar um papel genuinamente revolucionário.” (ARENDT, 2011, p.50)

A questão social como algo a ser resolvido foi o principal motor das revoluções

modernas, que, como já dito, influenciaram significativamente os valores, entre eles, a

democracia, que hoje os países ocidentais e ocidentalizados assumem como ideais, e

que estão enraizados nas nossas instituições. Investiguemos portanto aquele lugar em

que tal ideia surgiu.

Em sua viagem para a América do Norte em 1831, Tocqueville percebe essa

igualdade a que Arendt faz menção. Atribui-se essa igualdade a diversos fatores, desde o

estado de não-tutela a que estavam confinados os emigrantes distantes da coroa

britânica, ao próprio peregrino: aqueles que só têm seus companheiros de viagem como

auxílio e recurso para construir uma nova sociedade, além de fatores naturais que

segundo o autor contribuíram para que a riqueza mobiliária não se desenvolvesse: era

preciso a livre e interessada empresa do proprietário para o cultivo da terra. Mas o que há

de novidade é o advento da igualdade. “Sua reunião em solo americano apresentou,

desde a origem, o singular fenômeno de uma sociedade em que não haviam nem grandes

senhores, nem povo, e por assim dizer nem pobres, nem ricos” (TOCQUEVILLE, 2005,

p.40). Foi esse fenômeno que tanto incendiou os espíritos revolucionários europeus e, por

assim dizer, trouxe a questão social para a esfera da ação humana. Agora a história

poderia ser mudada, para melhor, pelo povo, algo inédito até então.

“A América apresenta, pois, em seu estado social, o mais estranho fenômeno. Lá,

os homens se tornam mais iguais por sua fortuna e por sua inteligência, ou em outras palavras, mais igualmente fortes do que em qualquer outro país do mundo e do que foram em qualquer outro século de que antes a história conserve a lembrança.” (TOCQUEVILLE, 2005, p. 63)

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No primeiro livro de A Democracia na América: Leis e Costumes, Tocqueville

argumenta que certas leis e certos costumes foram naturalmente sugeridos aos norte-

americanos por seu estado-social democrático. Primeiro, devemos nos ater ao que o

autor entende por estado-social democrático e depois devemos buscar que tipo de leis e

que tipo de costumes foram sugeridos. É o estado-social, segundo o autor, que devemos

estudar a fim de conhecer a legislação e costume de um povo, pois uma vez que um

estado-social se constitui “podemos considerar ele mesmo a causa primeira da maioria

das leis, costumes e ideias que regem a conduta das nações; o que ele não produz, ele

modifica” (TOCQUEVILLE, 2005, p. 55). A igualdade que reinava entre os emigrantes fez

com que as treze colônias já se constituíssem com um estado social democrático, a falta

da aristocracia no novo mundo, bem como as condições do solo e clima favoreceram que

tal estado social se constituísse, o estado de uma sociedade gerado a partir da ação do

conjunto de todos os atores sociais capazes de influenciar nas leis, costumes, valores e

instituições que regem uma nação é que entendo por estado-social. O estado-social

examinado por Tocqueville é democrático por que o resultado da ação dos atores sociais

favorece o desenvolvimento daquele fato irresistível e tão antigo quanto a história, que é o

avanço da igualdade. O fato fundante do estado-social democrático na América, a

igualdade, é o mesmo que almejavam os revolucionários franceses. A ausência da

questão social na América do norte colonial gerou o estado-social democrático. E o

estado-social democrático gerou a democracia enquanto forma do fazer político. Os

exemplos de Tocqueville da comuna da Nova Inglaterra e de Connecticut evidencia o que

era a democracia política, fruto do estado-social democrático:

Em Connecticut, o corpo eleitoral era composto, desde o início, pela universalidade dos cidadãos, e isso se concebe sem dificuldade. Nesse povo nascente reinava então uma igualdade quase perfeita entre as fortunas e, mais ainda, entre as inteligências.

Em Connecticut, nessa época [século XVII], todos os agentes do poder executivo eram eleitos, inclusive o governador do Estado.

Os cidadãos com mais de dezesseis anos eram obrigados a portar armas; eles formavam uma milícia nacional que nomeava seus oficiais e devia estar pronta, a qualquer momento a marchar em defesa do país.

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(TOCQUEVILLE, 2005, p. 48)

Sobre a comuna da Nova Inglaterra:

[...] vemos reinar uma vida politica real, ativa, toda democrática e republicana. As colônias ainda reconhecem a supremacia da metrópole; a monarquia é a lei do Estado, mas já a República está toda viva na comuna.

A comuna nomeia seus magistrados de todo tipo; ela se tributa, ela arrecada e reparte imposto sobre si mesma. Na comuna da Nova Inglaterra, onde a lei da representação não é admitida. É na praça pública e no seio da assembleia geral dos assuntos concernentes ao interesse de todos (TOCQUEVILLE, 2005, p.49)

Nas treze colônias a questão social não existia, e portanto, da igualdade entre os

homens estabelece-se um estado-social democrático que alicerça a democracia nos EUA

colonial. Também a experiência da Questão social nos EUA motivou a revolução

Francesa, e dessa estabeleceu-se outras democracias.4

Embora ninguém se oponha ao fato de que nas colônias britânicas reinava a

igualdade de condições em seus primórdios, não há tal consenso quanto ao período

anterior à revolução americana no século XVIII. A questão social chega nas treze colônias

através da crescente imigração de pessoas pobres vindas da Inglaterra. A massa cada

vez maior de pobres ociosos na América contava ainda com o problema dela se encontrar

armada contra as resistências indígenas, então, quando o número de imigrantes começou

a causar alguns “distúrbios sociais” “a presença dessa classe cada vez maior de

virginianos caídos na pobreza não assustava pouco os senhores de plantations”

(MORGAN, p. 135). A legislação começou a restringir a liberdade dos novos imigrantes,

por exemplo, com a adesão à servidão e a restrição do sufrágio. Uma verdadeira mancha

no que viria a ser um corpo político republicano, só que massas de não proprietários

4A noção de liberdade que se compartilhava nos EUA colonial pode ser entendendida em relação a desconfiança de T.

Jefferson com os não proprietários de terra. Esse é um exemplo dado por Morgan para se demonstrar que o que se

entendia por liberdade nos EUA /colonial está intimamente ligado a independência econômica, ou seja, a posse de

terras.

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armados poderiam se tornar mais do que uma mácula, e se inspirados por sentimento de

revolta poderiam se desdobrar em rebelião. Mas ainda assim, as leis da colônia não

podiam violar irrestritamete as liberdades dos ingleses sem uma sanção da metrópole,

“Havia um limite além do qual a redução das liberdades inglesas teria resultado não

apenas em rebelião mas em protestos da Inglaterra e no corte do suprimento de outros

servos.” (MORGAN, p. 139).

Nesse sentido, a questão social começava a se desenvolver nas treze colônias, e o

que interveio em favor da igualdade foi a escravidão. Morgan argumenta que assim que

as condições de vida da Virgínia começaram a melhorar, isto é, as taxas de mortalidade

diminuíram, foi sendo cada vez mais rentável a compra de escravos do que o trabalho

livre. Deste modo, as taxas de imigrantes ingleses foram caindo e a de africanos

escravizados aumentando, na mesma medida em que os imigrantes livres iam

encontrando um lugar na sociedade e deixavam de ser considerados massas ociosas,

eram trazidas mão-de-obra escravizadas para trabalhar nas plantations da Virgínia. “O

aumento da importação de escravos correspondeu à redução da importação de servos

contratados e, consequentemente, à redução do perigoso número de novos libertos”

(MORGAN, p.139). Em diante, não rendeu-se esforços no estabelecimento de leis que

reforçassem à prática escravocrata, a qual já era maioria em Virgínia. “Os direitos dos

ingleses foram preservados mediante a destruição dos direitos dos africanos.” (MORGAN,

p.138).

Com os crescentes “distúrbios” causados pela imigração dos pobres ingleses entre

os séculos XVII e XIX, a escravidão foi a instituição capaz de dar “unidade” ao corpo

político da Virgínia (ainda que a contradição entre pequenos e grandes proprietários de

terras estivesse presente, esta era significativamente menor do que a existente entre

servos e senhores). Permitiu que os pequenos proprietários ganhassem espaço e que as

ideias do commonwealth prosperassem. “Foi a escravidão que fez os virginianos terem a

coragem de falar uma linguagem política que engrandecia os direitos dos homens livres.”

(MORGAN, 2000 p. 142).

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É insustentável alegar que a questão social se encontra resolvida quando um

quinto da população se encontra escravizada e em péssimas condições (MORGAN, 2000,

p. 121) não se trata de uma exceção. Mas de todo modo, quando havia a ausência da

questão social nos EUA colonial, e quando a escravidão veio aliviar a tensão entre

proprietários e não proprietários, fez-se possível a manutenção de um estado-social

democrático baseado nas instituições democráticas ligadas a continuidade da tradição e

atreladas ao progresso, enquanto que na França, onde a Questão Social não encontrava

nada que a pudesse refrear, a democracia surge com um caráter contrário as instituições

monárquicas, surge a partir da violência de uma democracia revolucionária.

A outra teoria da democracia.

Nos séculos XVIII e XIX, como vimos, a democracia adquire uma nova

interpretação, diferente do que se entendia por democracia na Grécia ou nas cidades

italianas. Essa nova prática democrática está toda marcada pelos valores emancipatórios

que fundam a modernidade, valores que, segundo Schumpeter, devem ser extirpados de

qualquer teoria que se proponha ser uma descrição da realidade.

Embora tenhamos realizado um trajeto histórico do termo democracia nas

revoluções modernas, e destacado a associação existente entre tal conceito e os ideais

que ainda hoje constituem parte significativa nas constituições e práticas dos Estados

modernos ocidentais e ocidentalizados, o leitor deve ter notado que ainda não expusemos

claramente uma definição do que é democracia, ou ainda os principais autores que

contribuíram para o ressurgimento da democracia na arena política. A justificativa é que

tal sistematização só é elaborada muito depois, já no século XX, para se estabelecer uma

crítica à democracia que até então vínhamos acompanhando:

“A filosofia da democracia do século XVIII pode ser enunciada na seguinte definição: o método democrático é o arranjo institucional para se chegar a decisões políticas que realiza o bem comum fazendo o próprio povo decidir as

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questões através da eleição de indivíduos que devem reunir-se para realizar a vontade desse povo.” (SCHUMPETER, 1984, p.313)

Schumpeter define essa teoria da democracia como teoria clássica da democracia,

a qual está carregada de valores que, a fim de obtermos uma concepção realista e

descritiva da democracia, devem ser extirpados da mesma. Dois elementos dessa

definição são atacados por Schumpeter, o bem comum e a vontade do povo são dois

conceitos impraticáveis, em primeiro lugar porque “não existe algo que seja um bem

comum unicamente determinado, sobre o qual todas as pessoas concordem ou sejam

levados a concordar através de argumentos racionais.” (SCHUMPETER, 1984, p. 314),

isso não apenas porque as pessoas esperam coisas diferentes do bem comum, mas

também porque o bem comum significa coisas diferentes para diferentes pessoas. Em

segundo lugar, mesmo que haja um consenso acerca do que é o bem comum, tal

consenso não existirá quanto ao melhor método para atingir o bem comum: “a saúde

pode ser desejada por todos, mas mesmo assim as pessoas ainda discordariam quanto à

vacinação e à vasectomia. E assim por diante” (SCHUMPETER, 1984, p. 315), deste

modo entende-se como impossível a vontade do povo gerar o bem comum, aliás, o bem

comum, como demonstra Schumpeter, pode ser melhor realizado por um governo não

democrático.

A justificativa para a impossibilidade de um consenso quanto aos interesses gerais

de um determinado povo é dada pelo julgamento que o autor tem da natureza humana.

Segundo Shumpeter, a natureza humana era entendida pelos teóricos clássicos de modo

que a personalidade humana coubesse em uma unidade homogênea e a vontade fosse

definida racionalmente, “tais ideias se desvalorizaram cada vez mais no campo das

ciências sociais, onde a importância dos elementos extra-racional e irracionais em nosso

comportamento recebem uma atenção crescente” (SCHUMPETER, 1984, p. 321) O

entendimento da natureza humana é o ponto chave para a crítica schumpeteriana a

democracia clássica que, sendo confrontada com evidências reais dos tipos de

comportamentos que o ser humano adota em situações coletivas e individuais, se torna

insustentável.

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Quando os dois pilares da democracia clássica (vontade do povo e bem comum)

caem, o que resta é a eleição de indivíduos que devem se reunir para executar uma

vontade que não a vontade do povo, pois esta é impraticável e irrepresentável. Na

definição da democracia clássica, a seleção de representantes é secundária em relação

ao propósito do arranjo democrático, que é garantir poder ao eleitorado de decidir e

pautar questões políticas, mas assim que esse eleitorado é entendido como incapaz de

tanto, inverte-se os papéis desses dois elementos, e o propósito básico do arranjo

democrático passa a ser um método, um “acordo institucional para se chegar a decisões

políticas em que os indivíduos adquirem o poder de decisão através de uma luta

competitiva pelos votos da população.” (SCHUMPETER, 1984, p. 336). É preciso ainda

definir qual tipo de competição é adequado ao método democrático: “Para simplificar as

questões, restringimos o tipo de competição pela liderança que deverá definir a

democracia à livre competição pelo voto livre”. A justificativa é que a democracia parece

“implicar um método reconhecido pelo qual se pode conduzir a luta competitiva, e de o

método eleitoral ser praticamente o único disponível a comunidades de qualquer

tamanho” (SCHUMPETER, 1984, p. 338)

“O resultado da crítica schumpeteriana consiste na elaboração de uma nova teoria

da democracia, auto-declaradamente mais empírica e realista” (SILVA, 1999, p.45) assim,

Schumpeter apresenta uma outra teoria da democracia. Democracia, para Schumpeter,

não pode ser entendida como um conceito de meios e fins, não é do escopo da

democracia determinar nas decisões o que, e sim como e por quem (UGARTE, 2004,

p.96), questões que a teoria contemporânea responde em sua definição: “através de um

arranjo institucional em que os indivíduos adquirem o poder de tomar decisões políticas

através de uma luta competitiva pelos votos da população” (SCHUMPETER, 1984, p.

336); os atores são as elites que adquiriram o poder de tomar decisões políticas através

de uma luta competitiva pelos votos livres da população. Finalmente, democracia é

entendida como método democrático de escolha de líderes.

Os críticos da teoria inaugurada por Schumpeter, a saber, a teoria contemporânea

da democracia, estão corretos ao afirmar que Schumpeter ao propor que sua teoria está

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isenta de valores e que criou uma teoria realista e descritiva, empiricamente comprovada,

acabou por produzir outra teoria normativa da democracia.

]

“A teoria contemporânea da democracia não é uma mera descrição do modo

como operam certos sistemas políticos. Ela implica que esse é o tipo de sistema que deveria ser valorizado, e inclui uma série de padrões ou critérios pelos quais um sistema político pode ser considerado ‘democrático’. Não é difícil de constatar que para os teóricos considerados são aqueles inerentes ao sistema democrático anglo-americano existente, e que com o desenvolvimento desse sistema já temos o Estado democrático ideal.” (PATEMAN, 1992, p.26)

Portanto, a preocupação de Schumpeter com o empírico e a afirmação de que sua

teoria é mais real do que outras, pode ser entendida pela aparente correspondência entre

os princípios de sua teoria e a real estrutura dos Estados Unidos e Inglaterra.

Encontramos aqui a mesma perspectiva universalista que tinham os revolucionários no

princípio da modernidade, em que se prescrevia ao mundo um sistema de valores

baseado na ideia do progresso. Da mesma forma Schumpeter incorre nessa perspectiva e

prescreve que o modelo da maior democracia, é o modelo ideal de democracia. A obra de

Schumpeter tinha claras dimensões normativas. (HELD, 1987, p.150)

“Dessa forma, os críticos estão certos quando afirmam que a teoria

contemporânea não apenas tem o seu próprio conteúdo normativo, mas implica que nós - pelo menos os anglo-saxões ocidentais - estamos vivendo no sistema democrático "ideal". Eles estão certos também ao dizerem que o ideal foi rejeitado, na medida em que tal ideal, contido na teoria "clássica", diferiu das realidades existentes. (...) “Além disso, ao excluir algumas dimensões, a teoria contemporânea nos apresenta duas alternativas: um sistema no qual os líderes são controláveis pelo eleitorado e devem prestar contas a ele, no qual o eleitorado pode escolher entre os líderes ou a elite em competição: ou um sistema no qual isso não ocorre (‘totalitarismo’). A escolha, porém, é feita pela apresentação das alternativas; podemos escolher entre os líderes em competição, portanto o

sistema que deveríamos ter é exatamente o que temos.”” (PATEMAN, 1992, p.27)

Há ainda uma contundente crítica à teoria de Schumpeter. Segundo Pateman

(1992), a teoria chamada por Schumpeter de teoria clássica da democracia, simplesmente

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não existe. Na definição de Schumpeter do que é a teoria clássica da democracia, o autor

“não apenas faz uma falsa representação daquilo que os assim chamados teóricos

clássicos tinham a dizer, como também não se dá conta que podem se encontrar duas

teorias bem diferentes sobre democracia nos textos deles” (PATEMAN, 1992, p.30). Os

autores que, segundo Pateman, podem se enquadrar na definição de teoria clássica feita

por Schumpeter são: J. J. Rousseau, James Mill, J. S. Mill, Bentham, Schumpeter,

quando criticou a teoria clássica estabeleceu uma critica parcial à esses autores, seu

ataque é exclusivo aos dois utilitaristas Bentham e James Mill, que “ocupam-se quase

exclusivamente com os ‘arranjos institucionais’ nacionais do sistema político.” (PATEMAN,

1992, p.32). Para esses dois autores os cidadãos devem fazer com que a vontade geral

seja realizada a partir da eleição dos representantes mais capacitados para isso. A função

da participação, nessa teoria, é meramente proteger aos “interesses privados de cada

cidadão (sendo o interesse universal uma mera soma dos interesses individuais.)” (Idem.).

Para Bentham e J. Mill, a participação do povo serve para assegurar que “o bom governo,

isto é, o governo voltado para o ‘interesse universal’, se realize por meio da sanção da

perda do mandato.” (Idem.). Ora, essa é a mesma função que os teóricos

contemporâneos da democracia atribuem a participação: um dispositivo de proteção do

povo, mediante controle via eleitoral. Por outro lado, “nas teorias de J. S. Mill e Rousseau,

por exemplo, a participação revela funções bem mais abrangentes e é fundamental para o

estabelecimento e manutenção do Estado democrático.” (PATEMAN, 1992, p.33) Note-se

que Estado para Rousseau não é considerado apenas como conjunto de instituições

representativas nacionais, mas também da sociedade participativa.

Cabem aqui algumas considerações: 1. A crítica schumpeteriana à democracia

clássica não é válida se inserirmos autores que apenas indiretamente estão relacionados

entre si, ou seja, que não constituem um corpo teórico coerente, como os teóricos

contemporâneos se constituem. Embora hajam continuidades teóricas entre Bentham e

James Mill, o mesmo não se pode dizer de Rousseau e J. S. Mill em relação aos dois

primeiros, se tratam de teorias distintas. Rousseau e J.S. Mill, pela a importância atribuída

à participação nas suas teorias, podem ser considerados teóricos da democracia

participativa. 2. A tensão aparente entre participação e representação que se dava em

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termos de oposição vem mudando nas últimas décadas, e parece haver uma

convergência entre democracia representativa e democracia participativa. (SILVA, 1999,

p.56)

As perspectivas da democracia participativa.

A possibilidade da reinserção da participação no debate teórico da democracia

coloca-se sob três perspectivas. Duas delas afins, pois entendem que essa reinserção

pode servir a uma retomada aos valores que inauguram a democracia moderna, são elas:

1. a que busca incorporar elementos de participação em instâncias estatais, ou órgãos

institucionalizados partir de um procedimentalismo da soberania popular, fruto da

participação popular no embate deliberativo, entendendo a ampliação da participação

como aumento de qualidade da democracia (HABERMAS, 1989) (AMORIM, DIAS, 2012);

2. a que entende a participação democrática como a interação dos atores sociais em luta

pela apropriação social de recursos culturais, nesse sentido a democracia está ligada ao

reconhecimento entre os atores sociais da sua condição de adversários sociais, isto é no

reconhecimento mútuo. A participação de agentes sociais possibilita ações baseadas nos

valores e costumes e na própria razão interna ao social. O princípio universal de

progresso é abandonado em detrimento de principios definidos pelos próprios agentes

sociais. (TOURAINE, 1998). Há ainda outra corrente da democracia participativa que, ao

invés de remontar aos ideais emancipatórios advindos do período revolucionário da

modernidade, busca “reinventar a emancipação social” e entendem que as democracias

fora do ocidente não são fixas, e não reproduzem a forma hegemônica da democracia, o

elitismo democrático. Isto se deve ao fato de haver uma “diferença crucial entre as formas

ocidentais e não ocidentais de democracia: quantidade de práticas disponíveis e o papel

dos atores sociais em aumentar esse número (de práticas)” (AVRITZER, 2003, p.494).

Nos ocuparemos aqui de apresentar as duas perspectivas que apontam para uma

compreensão dos fenômenos políticos que observamos, isto é, a dinâmica dos atores

sociais contemporâneos que vem recriando as democracias latino-americanas, em

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especial as andinas, tanto pela própria especificidade de nossa formação social, quanto

pelo surgimento de novos elementos, como movimentos sociais identitários.

Para Touraine, a modernidade produziu dois tipos de democracia, ambas

baseadas na noção de progresso do periodo moderno e na univocidade da razão como

princípio de organização social, são elas a democracia revolucionária e liberal. As

diferenças que os dois tipos de democracia têm entre si não são, para o autor, suficientes

para que sejam ideias unicamente contrapostas:

"ambas se basan sobre una esperanza historica. Ambas creen en el fin de la historia: en un caso, por el triunfo de la ciencia y de la técnica, en el otro por el de la acción racional. En otros términos, revolucionarios y liberales tienen en común el hecho de sujetar la vida social a un orden que le es externo: el de la razón" (TOURAINE, 1998, p. 26)

A democracia revolucionária é a concepção que atrela os ideais emancipatórios

das revoluções modernas à própria noção de democracia e carrega a promessa de uma

sociedade livre e sem exploração de um homem pelo outro. Apesar de considerar que as

massas dominadas podem se rebelar contra seus mestres, estas não podem ser atores

da criação da nova sociedade, é preciso que uma classe muito distinta leve a sociedade

em direção do desenvolvimento histórico. Quando a democracia está atrelada à confiança

do desenvolvimento histórico, os atores dessa sociedade, o povo, constituem um bloco

homogêneo representado pelas figuras de autoridade, e toda reivindicação que não esteja

de acordo o poder político, é taxada de contrarrevolucionária. Termo que é utilizado

frequentemente de maneira arbitrária e estigmatizante. Constatamos portanto que, quanto

mais um poder político domina um movimento social, tanto mais difícil é que se constitua

uma sociedade democrática. (TOURAINE, 1998, p.21)

Os liberais, diferentemente dos revolucionários, definem a ordem democrática não

a partir do triunfo da vontade política sobre o social. Atribui-se liberdade aos atores

sociais, entre eles os atores econômicos que possuem maior capacidade de organização

de recursos para agir, restando pouco espaço para atores sociais que não possuem

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muitas oportunidades para a transformação da realidade e tampouco de conquistar e

garantir o controle da sua própria existência. O pensamento liberal compreende que as

ações dos atores são orientadas à maximização dos seus interesses econômicos "no cree

en la acción voluntaria y eficaz de actores definidos por su identidad cultural y sus

relaciones sociales, por lo tanto capaces de comportamientos orientados a los valores."

(TOURAINE, 1998, p.30)

Enquanto que a filosofia da história de perspectiva revolucionária crê no

desenvolvimento histórico da razão e na planificação das necessidades, a perspectiva

liberal crê em uma "tendencia a la disgregación del conjunto y a la contención de las

intervenciones planificadoras por sobre una regulación permanente por obra de los

mercados, de los compromissos o de una conflictividad limitada." (TOURAINE, 1998,

p.26). Ambas as perspectivas introduzem um princípio não social, separado e incapaz de

uma ação orientada a valores sociais e culturais, como remédio às mazelas sociais, "Los

unos creen en las interacciones prácticas, los otros en la liberación de las fuerzas

productivas para derribar un orden social definido, a un tiempo, como injusto y arcaico"

(TOURAINE, 1998, p. 27)

A partir da crítica a esses tipos de democracias, o autor conclui que o pensamento

democrático deve se distanciar das duas concepções. Antes de se opor a uma

organização injusta da sociedade apontando para uma visão otimista e universalizante, o

novo pensamento democrático deve reconhecer que o ator social, aquele empenhado em

relações sociais concretas, busca acrescentar sua própria autonomia e controlar o espaço

de tempo e as condições de trabalho ou de existência em que vive. (TOURAINE, 1998, p.

32)

"la democracia es, ante todo, el conjunto de las condiciones institucionales que

permiten y favorecen esta recomposición de una experiencia humana que ha sido

quebrada en dos por el modelo occidental de mdoernidad y de la cual cada uno de

nosotros, individualmente y en sus formas de pertenencia colectiva, no puede

representar más que una parte" (TOURAINE, 1998, p.88)

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Assim, a democracia deixa de recorrer a fundamentos históricos ou metafísicos

totalizantes, e passa a recorrer a um princípio moral/social de reconhecimento dos

indivíduos enquanto atores sociais. Dessa forma, a democracia não leva a humanidade

ao progresso, e ao fim da história, e sim a estabelecer acordos a partir das relações

concretas entre os atores sociais.

"A medida que era puesta en cuestión la confianza en el progreso, las soluciones

liberal y revolucionaria perdían su fundamento principal, y la idea democrática ha

comenzado a encontrar cada vez más alimento en la defensa de las identidades

personales y colectivas, en un mundo dominado por mercados que intervienen de

manera creciente sobre el terreno de la cultura y de la personalidad y ya no sólo

en el ámbito de los bienes y de los servicios materiales" (TOURAINE, 1998, p. 38).

A perspectiva da democracia que busca reinventar a emancipação social tem como

pressuposto a incapacidade da Teoria Contemporânea ou, nos termos de Boaventura de

Souza Santos Teoria hegemônica da Democracia, em resolver problemas que ela mesmo

cria. (AVRITZER, SANTOS, 2003). A crítica aprofunda-se. De três insuficiências na teoria

hegemônica, se estabelece a fissura onde a participação pode inserir-se, são elas o

procedimentalismo democrático concebido unicamente como processo eleitoral, o

problema da gestão da complexidade por uma burocracia centralizada e a crise da

representação.

A evolução da teoria democrática no século XX, apresenta uma série de mudanças

na concepção moderna que se tinha de democracia, como pudemos notar com a revisão

Schumpeteriana da “democracia clássica”. O procedimentalismo kelseniano é traduzido

como processo eleitoral por Schumpeter, um procedimento para a criação de governos, já

que a participação se encontra minimizada ao máximo na sua teoria por sua própria

definição da natureza humana. Identifica-se aqui uma associação da ideia de

procedimento democrático a um elitismo democrático, como se a única forma de

procedimentalismo fosse o de elites competitivas, mas ainda faz-se necessário explicar

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porque o processo democrático não permite a participação ampliada além da mera

escolha de representantes.

Uma segunda discussão foi central para a teoria hegemônica da democracia.

Weber demonstra a crescente perda de poder decisório pela população em geral e a

crescente centralização de processos decisórios nas mãos de uma burocracia

especializada. A sociedade industrial traz o advento das complexidades, é preciso pois,

governar o complexo a partir do conhecimento especializado, sobrando pouco espaço

para uma decisão que não esteja baseada em uma orientação técnica. Mas a burocracia

não tem sido capaz de oferecer soluções adequadas para os problemas que se

despontam. Dessa forma, tem se notado uma melhora na qualidade das decisões

tomadas com a participação dos atores sociais locais que serão atingidos pela decisão,

pois estes, empenhados em relações concretas, podem contribuir com práticas e

conhecimentos locais. "O conhecimento detido pelos atores sociais passa, assim, a ser

um elemento central não apropriável pelas burocracias para a solução de problemas de

gestão" (SANTOS, AVRITZER, 2004, p. 48).

A terceira crítica direcionada à Teoria Hegemônica da democracia diz respeito à

crise da representação. A critério que baseia a representação nesta teoria é a

autorização, ou seja, o candidato eleito é autorizado a representar a universalidade dos

eleitores. A criação de um consenso a partir das maiorias, isto é, a partir da eleição de um

representante por maioria dos votos, dificulta a solução da representação das minorias.

“Desse modo, chegamos a um terceiro limite da teoria democrática hegemônica: a

dificuldade de representar agendar e identidades específicas." (SANTOS, AVRITZER,

2003, p. 50)

As concepções não-hegemônicas da democracia respondem ao mesmo problema

que se impõe à concepção hegemônica: o totalitarismo. Mas ao invés de propor uma

forma homogenizadora de organização da sociedade, a democracia se apresenta em

virtude de seu aspecto de debate livre e respeito mútuo, onde as diferentes visões

reconhecem a pluralidade humana. O reconhecimento da pluralidade humana não se dá

pela suspensão da ideia de bem comum, como quer a teoria contemporânea, e sim a

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partir de dois critérios: "a ênfase na criação de uma nova gramática social e cultural e o

entendimento da inovação social articulada com a inovação institucional, isso é, com a

procura de uma nova institucionalidade da democracia." (SANTOS, AVRITZER, 2003, p.

51). A democracia é uma forma socio-histórica, sua própria condição de existência implica

uma ruptura com as tradições estabelecidas, pois já não recorre-se a legitimidade da

tradição e sim as relações concretas entre atores sociais que buscam instituir novas

determinações baseadas nas relações concretas e contraditórias entre os atores.

Habermas ampliou o procedimentalismo kelseniano incluindo entre os

procedimentos democráticos um princípio de deliberação societária, no qual "apenas são

válidas aquelas normas-ações que contam com o assentimento de todos os indivíduos

participantes de um discurso racional" (HABERMAS, 1995, apud, SANTOS, AVRITZER,

2004, p. 52) e "portanto o procedimentalismo democrático não pode ser, como supõe

Bobbio, um método de autorização de governos" (SANTOS, AVRITZER, 2004, p. 53). A

recuperação de um espaço público para o discurso argumentativo associado ao fato

básico da diversidade social é parte da reconexão entre procedimentalismo e

participação.

Quando a redemocratização ocorreu nos países do sul inseriram-se atores no

campo político que não se encontravam na europa, e estes atores passam a disputar pelo

significado da democracia e pela constituição de uma nova gramática social. Dessa

disputa, a redemocratização na América Latina nos anos 80 recolocou na agenda aqueles

três problemas acima discutidos, e parecem apresentar soluções satisfatórias. A forte

participação de movimentos sociais nos processos de democratização na região latino-

americana fez se desenvolver uma nova gramática e uma nova forma de relação entre

Estado e sociedade. Assim introduz-se o experimentalismo na esfera do Estado, onde

tenta-se articular o procedimentalismo e a participação social.

Essas duas teorias da democracia participativa parecem oferecer um conjunto

teórico adequado para um primeiro entendimento das esferas teórica e prática da

democracia.

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