aplicação de técnicas de termovisão em sistemas elétricos
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APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE TERMOVISÃO EM SISTEMAS ELÉTRICOS
Filipe Ribeiro do Amaral 17070
Leonardo Mira Sandy 17090
Marcos Leandro dos Reis Dionísio 17059
Orientador: Prof. Estácio Tavares Wanderley Neto Instituto de Sistemas Elétricos e Energia (ISEE)
Resumo – O objetivo deste artigo é apresentar a utili-
zação da termovisão como ferramenta na manutenção
preventiva de equipamentos e instalações elétricas,
desde uma explanação teórica até uma análise dos
fatores de influência nas inspeções termográficas rea-
lizadas em campo e em laboratório, visando a deter-
minação de recomendações para a obtenção de resul-
tados mais confiáveis em uma inspeção termográfica.
Palavras-Chave: Termovisão, manutenção preventiva,
fatores de influência, inspeção termográfica, reco-
mendações.
I. INTRODUÇÃO
I.1 - Histórico
O uso da termografia teve seu início em 1800, quando o
alemão Friedrich Wilhelm Herschel, ao observar o sol
através de amostras de vidro colorido para proteger seus
olhos, notou que algumas lentes deixavam passar mais
calor que outras. Utilizando um prisma, termômetros e
um anteparo, mediu a temperatura dos vários componen-
tes de cor da luz do sol refratados através do prisma. Nes-
se estudo foi possível perceber um aumento de tempera-
tura da cor violeta para a cor vermelha e que essa tempe-
ratura continuava a aumentar na região escura além do
vermelho. À essa região foi dado o nome de Espectro
Termoelétrico, que mais tarde foi chamada de Região
Infravermelha, e à radiação o nome de Calor Negro, que
mais tarde foi chamada de radiação infravermelha.
O trabalho de Friedrich teve continuação através de seu
filho Frederick William Herschel, que publicou em 1840
um artigo no qual descrevia um arranjo feito pelo prisma
que refratava uma luz sobre um papel preto muito fino
usado para gravar imagens infravermelhas do espectro
solar. As ondas de luz absorvidas pelo papel vaporizavam
a solução de tintura, sendo possível se obter um esboço
da imagem térmica no papel. Esse foi o registro da pri-
meira imagem infravermelha.
Essa técnica de registro de imagens térmicas foi sendo
aprimorada através de vários outros estudos com o passar
do tempo, com destaque para o desenvolvimento da ter-
mografia durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial,
períodos em que os sistemas de termografia eram utiliza-
dos para detecção de inimigos, visão noturna e mísseis
guiados pelo calor.
Com o avanço da tecnologia foi possível, durante a déca-
da de 60, a obtenção da imagem termográfica em tempo
real, dando início à comercialização de termovisores.
No Brasil, os termovisores tiveram sua primeira aparição
na década de 70, sendo seguida por vários avanços tecno-
lógicos, possibilitando assim uma maior confiabilidade
nos resultados obtidos [1].
A partir daí vários estudos foram realizados, possibilitan-
do aplicações da termovisão em diversas áreas, incluindo
a utilização do termovisor na manutenção preventiva e
segurança em instalações elétricas.
Nos dias atuais há uma certa carência em termos de regu-
lamentação do uso de termovisores na manutenção de
subestações e instalações elétricas, obrigando assim as
empresas e companhias que utilizam da termografia para
se obter uma maior segurança e confiabilidade à criarem
seus próprios guias práticos de inspeção e aplicação da
termovisão.
Através deste artigo pretende-se mostrar algumas aplica-
ções de inspeções termográficas, manuseio correto do
termovisor e cuidados na medição do mesmo, aplicando-
os ao setor elétrico para manutenções preventivas e en-
saios de equipamentos como, por exemplo, transformado-
res, para-raios e cabos condutores, diminuindo assim
tempo de reparos de emergência e tempo de indisponibi-
lidade de equipamento.
I.2 - Bases Teóricas
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
SETEMBRO/2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
ENGENHARIA ELÉTRICA
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Visto que a termovisão utiliza a radiação infravermelha
para a detecção de anomalias em equipamentos elétricos,
é importante a fixação de alguns conceitos teóricos, co-
mo: temperatura, calor, transferência de calor e ponto
quente.
I.2.1 - Temperatura
Se dois corpos estão em equilíbrio térmico com um ter-
ceiro corpo, é possível afirmar que os dois corpos iniciais
estão em equilíbrio térmico um com o outro. Estando os
três corpos em equilíbrio térmico, é possível afirmar que
os três possuem uma propriedade em comum. A esta pro-
priedade dá-se o nome de temperatura [13].
I.2.2 - Calor
Considerando agora que dois corpos não estão em equilí-
brio térmico, ou seja, possuem diferentes temperaturas,
haverá transferência de energia do corpo mais quente
para o menos quente. A essa transferência de energia dá-
se o nome de calor.
I.2.3 – Métodos de transferência de calor
Existem três métodos de transferência de calor.
i. Condução: processo pelo qual a energia é trans-
ferida de uma região de maior temperatura para
uma de menor temperatura dentro de um meio
ou entre meios diferentes em contato direto.
ii. Convecção: processo que ocorre quando um flu-
ido entra em contato com um objeto com tempe-
ratura maior que a desse fluido. A temperatura
da parte do fluido que está em contato com o ob-
jeto quente aumenta, sendo assim o fluido se ex-
pande, ficando menos denso, o que gera um mo-
vimento de mistura desse fluido no meio em que
está inserido.
iii. Radiação: processo no qual a transferência de
energia ocorre através de ondas eletromagnéti-
cas, sendo as ondas que transferem calor deno-
minadas radiação térmica. É importante ressaltar
que não é necessário a existência de um meio
para que essa transferência ocorra, podendo
ocorrer no vácuo. Esse método de transferência
de calor é fundamental para o estudo da termo-
visão, que detecta a radiação infravermelha pro-
veniente do objeto sob inspeção [1].
I.2.4- Ponto quente
São considerados pontos quentes partes dos circuitos,
carcaça e conexões que apresentem uma temperatura
acima da admissível pelos padrões determinados pelo
fabricante dos equipamentos. Um ponto quente é uma
localidade onde se encontra alguma anormalidade de
caráter elétrico ou físico do equipamento.
II. VISÃO GERAL DO TERMOVISOR
II.1- Funcionalidade
Se um objeto encontra-se a uma temperatura acima do
zero absoluto (-273,16 ºC), a agitação térmica de suas
partículas faz com que ele emita radiação térmica em
forma de ondas eletromagnéticas. A intensidade desta
radiação depende de dois fatores: a temperatura do objeto
e a capacidade deste objeto de emitir radiação, que é de-
nominada emissividade.
O termovisor é o instrumento responsável por fazer com
que essa radiação térmica se torne visível ao olho humano
[3]. Através de uma câmara termográfica, a radiação in-
fravermelha emitida pelo objeto é detectada e convertida
em uma imagem térmica conhecida como termograma.
Os termogramas permitem a visualização da distribuição
de temperatura da superfície focalizada, já que a imagem
obtida pelo termovisor contém uma escala que correlaci-
ona cor e temperatura [4].
II.2- Vantagens
Numa inspeção termográfica, o sensor utilizado para a
obtenção da temperatura é a própria superfície do objeto
de interesse. Sendo assim, não há necessidade de contato
do termovisor/inspetor com o objeto, oferecendo assim a
possibilidade de realizar-se inspeções remotas. Desta
maneira, a termografia se mostra um método não destru-
tivo de inspeção, que pode apontar uma falha rapidamen-
te.
Além disso, existe a possibilidade de realizar-se uma ins-
peção em condições hostis, tais como:
i. Equipamentos instalados em locais altos e/ou de
difícil acesso.
ii. Equipamentos energizados sem que haja desli-
gamento de cargas [4].
II.3- Fatores de influência
Apesar da inspeção termográfica oferecer diversas vanta-
gens, é necessário que se tome algumas precauções ao
realizar-se uma inspeção, visto que existem diversos fato-
res envolvidos que podem induzir a um diagnóstico in-
correto ou até mesmo incapacitar a detecção do defeito
[1].
Sendo assim, para que se realize uma inspeção de alta
confiabilidade, alguns fatores de influência devem ser
considerados, tais como:
i. Emissividade: é a capacidade do objeto de emitir
radiação. A faixa de valores de emissividade va-
ria entre 0, para um refletor perfeito, e 1, para
um Corpo Negro [1].
Em subestações, parte dos equipamentos é com-
posta de materiais como alumínio, cobre e aço,
os quais possuem a característica de baixa emis-
sividade, dificultando a inspeção termográfica.
Sendo assim, a avaliação da emissividade corre-
ta de cada material é de extrema importância [2].
ii. Ângulo de visão: Uma inspeção termográfica
ideal deve ser realizada com um ângulo de visão
o mais perpendicular possível em relação ao ob-
3
jeto, já que, à medida que o ângulo de visão au-
menta, especificamente para ângulos acima de
30º, a emissividade do material diminui, o que
acarreta na obtenção de resultados não confiá-
veis [2].
iii. Distância: A distância na qual a imagem termo-
gráfica é obtida é de grande importância para a
confiabilidade dos resultados, uma vez que
quanto mais longe o equipamento do objeto em
inspeção, mais se perde a resolução desta ima-
gem térmica, o que dificulta a detecção de ano-
malias tal como um ponto quente ou diferenças
de temperatura ao longo da superfície do objeto.
Há ainda fatores de influência que estão relacionados às
condições ambientais, tais como:
iv. Radiação solar: Em uma inspeção termográfica,
a radiação solar pode influenciar negativamente
de duas maneiras. Através do carregamento so-
lar, que gera uma natural elevação de temperatu-
ra do objeto, ou através do reflexo solar, que faz
com que o objeto emita uma quantidade de radi-
ação infravermelha não compatível com a reali-
dade [2].
v. Chuva e umidade: A termografia é afetada pela
alta umidade de duas maneiras. Através do res-
friamento do componente, o qual se dá pela dis-
sipação do calor nas moléculas de água dissolvi-
das no ar, dificultando a detecção, análise e di-
agnóstico do defeito e através da atenuação da
radiação infravermelha emitida pelo componente
sob inspeção, que chega ao detector do termovi-
sor.
vi. Ventos: Têm grande influência no resultado fi-
nal de inspeções termográficas realizadas em
ambientes abertos. Em estudo realizado por
Madding & Lyon, no ano de 2000, foi demons-
trado que ventos com baixa velocidade podem
afetar consideravelmente a temperatura do obje-
to inspecionado [6].
vii. Temperatura ambiente: Um aumento na tempe-
ratura ambiente pode acarretar um aumento na
temperatura do objeto em inspeção, logo, há
uma maior probabilidade da ocorrência de falhas
nos dias quentes. Da mesma forma, em dias
mais frios, defeitos que seriam detectados pelo
aumento da temperatura podem ser camuflados.
III. APLICAÇÕES NO SETOR ELÉTRICO
III.1 - Transmissão e distribuição
Concessionárias de distribuição vêm enfrentando novas
exigências técnico-econômicas, visando melhoria na ren-
tabilidade do sistema de distribuição elétrica. Para isso,
faz-se necessário reestruturar a estratégia de manutenção,
apontando para ações preditivas a fim de minimizar a
indisponibilidade dos equipamentos e reduzir custos de
manutenção, procurando assim por um meio com melhor
custo benefício.
Neste contexto, o uso da termografia infravermelha, uma
maneira rápida e efetiva de manutenção preditiva em ins-
talações de alta tensão, permite que um maior número de
itens possa ser avaliado em uma varredura. O uso do es-
caneamento por termografia infravermelha permite que
instalações elétricas minimizem interrupções não plane-
jadas de equipamentos e reduza reparos de emergência,
devido à detecção de anormalidades antes da ocorrência
de uma falha. A partir da identificação de anomalias tér-
micas logo no início de seu desenvolvimento, os níveis de
danos causados aos itens afetados podem ser diminuídos,
aumentando assim a vida útil do equipamento. Com isso,
é possível conferir a efetividade da manutenção e de repa-
ros feitos, como também a melhoria na execução de vis-
torias.
Em medições devem ser considerados os efeitos de variá-
veis como emissividade, temperatura ambiente e distância
do objeto ao aparelho de medição.
Relatórios termográficos fornecem informações para
identificar a anomalia térmica, juntamente com a imagem
termográfica com a anomalia detectada, o que facilita o
reparo para o setor de manutenção. Além disso, há adição
de informações como sobretemperatura registrada, tem-
peratura de referência, nível de carga no momento do
escaneamento e máxima carga admitida, superaqueci-
mento considerando a temperatura ambiental e a classifi-
cação térmica da anomalia [6].
Pelo fato de não existir uma norma que regulamenta a
classificação dessas anomalias, é comum que cada con-
cessionária ou empresa do setor elétrico crie seu próprio
normativo e defina quais as providências a serem toma-
das para determinadas magnitudes de variação de tempe-
ratura em diferentes tipos de equipamentos.
Para o estudo em questão, tomou-se como referência a
Norma de Manutenção número NM-MN-SE-S. 001, da
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), de
2002 [8].
III.2 - Ensaios
III.2.1 - Para-raios
O para-raios é composto por uma estrutura bastante sim-
plificada, constituída por varistores empilhados e um in-
vólucro isolante. É utilizado como parte do sistema de
proteção de subestações e sistema de distribuição e
transmissão de energia, evitando danos a equipamentos
de grande importância para o sistema elétrico, tais como
os transformadores de potência.
Apesar de sua grande importância na proteção de siste-
mas elétricos, este equipamento apresenta uma série de
defeitos cuja ocorrência pode ser observada através da
termografia. Dentre eles é possível destacar:
i. Perda de estanqueidade.
ii. Degradação do varistor.
iii. Desalinhamento da coluna de varistores.
4
iv. Aquecimento anormal (resultado da distribuição
irregular de tensão ao longo do seu comprimen-
to) [8].
v. Presença de umidade interna.
vi. Descargas parciais [9].
III.2.2 – Transformadores
O transformador é uma das máquinas elétricas mais utili-
zadas no setor elétrico, visto que permite o ajuste de ten-
sões e correntes de acordo com as necessidades existen-
tes. Assim, é necessário que haja sempre um monitora-
mento deste equipamento a fim de evitar falhas indeseja-
das que poderiam ser previstas através de simples méto-
dos de manutenção.
Uma inspeção termográfica consegue facilmente identifi-
car sobreaquecimentos no transformador, nos terminais
de alta tensão, média tensão e baixa tensão, nos pontos de
conexão, nos painéis de comutação, nos tubos de refrige-
ração, nos ventiladores e bombas de refrigeração. A ori-
gem do sobreaquecimento pode ser de ligações soltas ou
deterioradas, sobrecargas, circulação de ar de refrigeração
insuficiente e temperatura do ar de refrigeração acima da
temperatura prevista [13].
III.2.3 – Cabos condutores
Os cabos condutores são responsáveis pelo transporte da
energia elétrica. Em sua confecção, são utilizados materi-
ais com a característica de alta condutividade, tais como
alumínio e cobre.
No sistema elétrico, os cabos condutores possuem as
mais variadas aplicações, com destaque para as linhas de
transmissão. Ao ser utilizado em uma LT, os cabos estão
sujeitos a fenômenos que acarretam na sua danificação,
tais como:
i. Vibrações eólicas, que podem provocar trações
e/ou flexões mecânicas superiores aquelas su-
portadas pelo material.
ii. Aquecimento. A elevação da temperatura decor-
rente de uma conexão mal feita ou de um mate-
rial mal escolhido acelera o processo de degra-
dação do material.
iii. Oxidação, que ocorre após longos períodos de
operação e pode ser acelerada em decorrência de
fatores ambientais.
Tais fenômenos são dificilmente detectados a olho nu, a
menos que estejam em um estágio avançado. A termogra-
fia aparece como um recurso a ser utilizado para detecção
de tais problemas em estágio inicial, já que a maioria dos
problemas em conexões elétricas de cabos resultam em
um aumento de sua temperatura [4].
III.3 - Manutenção predial/industrial
Pelo fato de a temperatura ser a principal variável detec-
tável no processo de falha de uma instalação elétrica, a
maior aplicação da termografia na área industrial está
relacionada a instalações elétricas. Uma inspeção termo-
gráfica em instalações elétricas identificará problemas
causados pelas relações corrente/resistência, normalmente
provocados por conexões frouxas, corroídas, oxidadas ou
por falhas do componente em si, assim como sobrecargas.
Além disso, erros de projeto, falhas em montagens e até o
excesso e/ou falta de manutenções preventivas podem
provocar sobreaquecimento nos sistemas elétricos 0.
IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO
IV.1- Termografia infravermelha aplicada nos
equipamentos de uma subestação
Durante uma visita à Subestação Itajubá III, realizada no
dia 06/08/2014, foram obtidas imagens térmicas, a fim de
analisar os possíveis fatores de influência durante uma
inspeção termográfica e possíveis anomalias nos equipa-
mentos.
IV.1.1- Bobina de bloqueio
Figura 1 - Bobina de bloqueio (frontal)
Figura 2 - Bobina de bloqueio (posterior)
5
As imagens mostram a influência do sol em uma imagem
térmica. A Figura 1 foi obtida sem o reflexo solar e a
Figura 2 com o reflexo solar. Nota-se que o sol possui
uma influência negativa na obtenção da imagem térmica,
visto que o reflexo solar foi responsável pela variação de
temperatura observada entre as imagens. Além disso, pelo
fato de a imagem ter sido obtida durante o dia, há a in-
fluência do carregamento solar.
Para corrigir esse tipo de influência externa, o ideal é que
se realize inspeções termográficas ao ar livre no período
da noite, no mínimo duas horas após o pôr do sol. Desta
forma, a imagem térmica não sofrerá influência dos efei-
tos citados acima.
IV.1.2- Chaves
Figura 3 - Chave seccionadora (imagem térmica)
Figura 4 - Chave seccionadora (imagem real)
Ao analisar a Figura 3, nota-se que há um possível ponto
quente no contato da chave seccionadora. Ao analisar
melhor através da Figura 4, nota-se que o material utili-
zado no contato da chave é diferente daquele utilizado no
restante do equipamento.
Numa inspeção termográfica, é de extrema importância
que se conheça os materiais utilizados no equipamento
em cada ponto no qual se quer determinar a temperatura e
consequentemente a emissividade presente em cada um
destes pontos. Desta forma, é possível fazer a análise
correta da imagem térmica, a fim de não cometer o erro
de afirmar a existência de um ponto quente onde na ver-
dade não há.
IV.2- Termografia infravermelha aplicada em
equipamentos em laboratório
IV.2.1- Para-raios
Foi realizado, no Laboratório de Alta Tensão da Univer-
sidade Federal de Itajubá (LAT-EFEI), um ensaio de ele-
vação de temperatura em dois para-raios distintos:
i. Para-raios a óxido metálico com invólucro poli-
mérico, classe de tensão 69 kV.
ii. Para-raios a carboneto de silício com invólucro
de porcelana, classe de tensão 69 kV.
O ensaio foi realizado sob temperatura ambiente de
19,9ºC e foram obtidas as seguintes imagens térmicas:
Figura 5 - Para-raios com invólucro polimérico
6
Figura 6 - Para-raios com invólucro de porcelana
De acordo com a norma [7] considerada neste estudo,
para uma análise comparativa, se a diferença de tempera-
tura entre o ponto quente do para-raios e a temperatura
ambiente for menor ou igual a 3 ºC, é considerado que o
equipamento está operando em condições normais. É
definido que, para uma diferença de temperatura maior
que 3 ºC, o equipamento está operando em condições
críticas.
A Figura 5 e a Figura 6 ilustram dois para-raios com de-
feitos previamente detectados através de outros métodos.
Nota-se que o primeiro aparentemente não apresenta ne-
nhum defeito, já que a temperatura obtida pelo termovisor
é muito próxima da temperatura ambiente, sendo menor
que 3 ºC e operando assim em condições normais de
acordo com a norma considerada. Porém, como dito ante-
riormente, este equipamento apresentou falhas em outros
tipos de testes. Esse diagnóstico equivocado ocorre devi-
do ao fato de existir entre o invólucro de porcelana e os
varistores, uma camada de ar que funciona como um iso-
lante térmico entre eles. Sendo assim, a temperatura no
interior do equipamento não condiz com aquela obtida
pelo termovisor na superfície do equipamento.
Com isso, é possível perceber que uma das limitações da
termografia é que, pelo fato da temperatura ser obtida
superficialmente, em alguns casos não é possível deter-
minar o que realmente ocorre dentro do objeto em ques-
tão, sendo necessário cuidados na hora da validação dos
resultados.
Já no segundo para-raios, como os varistores estão dire-
tamente em contato com a superfície, o calor é transmiti-
do para o invólucro e nota-se que a diferença de tempera-
tura entre o para-raios e o ambiente é maior que 3 ºC.
Sendo assim, é possível determinar que este equipamento
está operando em uma condição crítica, o que confirma
os testes feitos anteriormente. Neste caso é possível de-
terminar através da imagem termográfica o que de fato
ocorre dentro do equipamento.
Neste ensaio, aproveitou-se também para fazer uma com-
paração entre a temperatura medida com o termovisor e
com um termopar posicionado diretamente sobre a super-
fície do para-raios. Para o para-raios com invólucro poli-
mérico, a temperatura medida pelo termopar foi de
27,2ºC, o que reafirma os resultados obtidos pelo termo-
visor, visto que as temperaturas são muito próximas. Já
no para-raios com invólucro de porcelana, a temperatura
obtida através do termopar foi de 19,6ºC, confirmando
também os resultados obtidos pelo termovisor.
IV.2.2- Barramento
Foi obtida uma imagem térmica de um barramento sob
carga utilizado no Laboratório de Alta Tensão da Univer-
sidade Federal de Itajubá (LAT-EFEI).
Figura 7 - Barramento de cobre
A Figura 7 mostra a detecção de um ponto quente no bar-
ramento, o qual se deve a um ponto de tensão mecânica
relativo à curvatura do material, causado pela torção do
barramento.
IV.2.3- Transformadores
Foi realizado, no Laboratório de Alta Tensão da Univer-
sidade Federal de Itajubá (LAT-EFEI), um ensaio de ele-
vação de temperatura em um transformador 225 kVA,
13,8 kV, sendo obtida a seguinte imagem térmica:
7
Figura 8 - Transformador de Potência
Na Figura 8, o ponto mais quente apontado pela imagem
termográfica corresponde a superfície do radiador, visto
que o óleo passa pelo enrolamento e absorve calor por
convecção. Sendo assim, a temperatura obtida neste pon-
to retrata o que ocorre nos enrolamentos do transforma-
dor.
Neste caso, a imagem térmica retrata o que era esperado
em um ensaio de elevação de temperatura para transfor-
madores. Segundo a Norma [7], também utilizada como
referência neste trabalho, a temperatura no topo do óleo
não pode ultrapassar 65 ºC, portanto, o equipamento en-
contra-se em condições normais de operação.
Neste ensaio, foi utilizado em paralelo com o termovisor
um programa de monitoramento do ensaio de elevação de
temperatura. Através de um termopar colocado dentro do
transformador, logo abaixo da superfície, foi possível
monitorar mais detalhadamente a temperatura no topo do
óleo.
Figura 9 - Monitoramento do ensaio de elevação de
temperatura
Figura 10 - Temperatura no topo do óleo
A Figura 9 mostra o monitoramento completo deste en-
saio e a Figura 10 retrata os parâmetros no local desejado.
Nota-se que há uma pequena variação entre a temperatura
obtida pelo termopar e aquela obtida pelo termovisor.
Essa diferença ocorre pois o termopar está posicionado
no interior do equipamento e o termovisor nos informa a
temperatura na superfície do mesmo, fazendo com que
essa diferença seja aceitável.
V. CONCLUSÃO
Apesar de ser uma importante ferramenta na manutenção
de sistemas elétricos, a termografia possui algumas limi-
tações e influências que devem ser levados em considera-
ção.
O estudo de tais limitações e influências é de extrema
importância, visto que recomendações para eliminar pos-
síveis erros decorrentes desses fatores podem muitas ve-
zes ser simples, mas essenciais para que os resultados
sejam confiáveis.
Sendo assim, é de fundamental importância que as reco-
mendações técnicas descritas no trabalho sejam levadas
em consideração ao se realizar uma inspeção termográfi-
ca, para que falhas em equipamentos possam ser detecta-
das em estágios iniciais, facilitando a manutenção dos
mesmos e evitando o agravamento dessa falha.
Conhecer as características do equipamento sob ensaio é
fundamental para que seja possível estimar o seu compor-
tamento térmico, sobretudo quando a fonte de calor loca-
liza-se no interior do equipamento, por vezes à distâncias
significativas da superfície e, ainda, envolta por isolantes
térmicos.
Por fim, através deste trabalho, concluiu-se que a termo-
grafia é importante na detecção de anomalias térmicas em
equipamentos dentro do setor elétrico, desde que sejam
tomadas as devidas precauções durante as inspeções ter-
mográficas.
VI. AGRADECIMENTOS
Deixamos expressos nossos sinceros agradecimentos às
seguintes instituições e pessoas, sem as quais o presente
trabalho teria sido impossível:
i. Ao Professor Estácio, pelo acolhimento, valiosas
discussões e sugestões no decorrer do trabalho.
ii. Aos colegas, que sempre nos acolheram com
afeto e amizade.
iii. Às nossas famílias pelo estímulo, amizade, cari-
nho, críticas, sugestões e paciência nestes últi-
mos anos.
VII. REFERÊNCIAS
[1] Santos, Laerte dos. Termografia infravermelha em
subestações de alta tensão desabrigadas. Itajubá,
2006.
[2] Craveiro, Marco A. C. “Desenvolvimento de um
sistema para avaliação dos fatores de influência so-
8
bre análises termográficas em subestações desabri-
gadas.” Itajubá, 2008
[3] Mendonça, Luís V. “Termografia por infraverme-
lhos, Inspeção de Betão” 2005
[4] De Oliveira, J. H. E. “Inspeção automatizada utili-
zando Termografia”, 2010
[5] Madding, Robert; Lyon Jr., Bernard; “Wind Effects
on Electrical Hot Spots – Some Experimental IR Da-
ta”; Infrared Training Center 2000.
[6] Martinez, J. “Experience performing infrared ther-
mography in the maintenance of a distribution utili-
ty.” 2007
[7] NM-MN-SE-S. 001, da Companhia Hidro Elétrica do
São Francisco (CHESF), 2002.
[8] Neto, E. T. Wanderley, da Costa E. G., de Souza R.
T., de Macedo E. C. T., Maia, M. J. A. “Monitoração
e diagnóstico de Para-raios a ZnO”.
[9] Chrzan, K. L. “Termovision diagnostics of metal
oxide surge arresters” 2007
[10] Oliveira, T. M. D. “Análise de sistemas de energia e
máquinas elétricas com recurso a termografia”, 2012
[11] Louvain, Lélis C. “Aplicação da Termografia na
Manutenção preditiva”, 2011
[12] NBR 5356, “Transformador de potência”, Agosto de
1993
[13] Chrzanowski, K.. “Non-Contact Thermometry -
Measurement errors”, SPIE PL, Research and devel-
opment Treaties, Vol. 7, Warsaw, 2001.
[14] Marinho C., Honório A. A., Santos, C.P., Lima, T.
R., Silva, W. A.; Guia de Boas Práticas para Inspe-
ção Termográfica de Equipamentos Elétricos e Me-
cânicos, PETROBRAS, 2010.
BIOGRAFIA:
Marcos Leandro dos Reis Dioní-
sio
Nasceu em Cachoeira de Minas
(MG), em 1991. Estudou em Ca-
choeira de Minas (MG) e Pouso
Alegre (MG), onde concluiu o En-
sino Médio. Ingressou na UNIFEI
em 2009, no curso de Engenharia
Elétrica. Estagiou no Consórcio MS
Consultoria e Andrade&Canellas.
Filipe Ribeiro do Amaral Nasceu em São Paulo (SP) em
1991. Estudou em Pouso Alegre
(MG), onde concluiu o Ensino
Médio. Ingressou na UNIFEI em
2009, no curso de Engenharia
Elétrica. Realizou intercâmbio na
Inglaterra, na Newcastle Univer-
sity. Estagiou nas empresas Sie-
mens Brasil - Industrial Services e na Halliburton Servi-
ços.
Leonardo Mira Sandy
Nasceu em São José dos Campos
(SP). Estudou em Campinas, onde
concluiu o Ensino Médio. Ingressou
na UNIFEI em 2009, no curso de
Engenharia Elétrica. Participou de
Iniciação Científica pelo Grupo de
Estudos da Qualidade da Energia
Elétrica e estagiou na empresa Als-
tom GRID.