aplicação da ferramenta mapeamento de fluxo de valor em uma fábrica de móveis sob encomenda

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APLICAÇÃO DA FERRAMENTA MAPEAMENTO DE FLUXO DE VALOR EM UMA FÁBRICA DE MÓVEIS SOB ENCOMENDA OLÍVIA BRANT ALVES RÊGO - [email protected] UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV FRANCISCO TABOSA ORTEGA - [email protected] UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV IDAMAR SIDNEI COBIANCHI NIGRO - [email protected] UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV Resumo: O OBJETIVO PRINCIPAL DESTE ARTIGO É ESTUDAR A APLICABILIDADE DA FERRAMENTA GERENCIAL MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR (MFV) NA OTIMIZAÇÃO E RACIONALIZAÇÃO DOS PROCESSOS PRODUTIVOS DE UMA FÁBRICA DE MÓVEIS SOB ENCOMENDA, ATRAVÉS DA IDENTIFICAÇÃOO DE PERDAS E PROPOSIÇÃO DE MELHORIAS PARA REDUZI-LAS. O MÉTODO UTILIZADO INCLUI A ESCOLHA DA FAMÍLIA DE PRODUTOS MAIS RELEVANTE PARA A EMPRESA, A CONSTRUÇÃO DO MAPA DE FLUXO DE VALOR ATUAL DESSA FAMÍLIA, A ANÁLISE CRÍTICA DAS PRINCIPAIS PERDAS IDENTIFICADAS E SUGESTÕES PARA A REDUÇÃO DAS SUAS FONTES GERADORAS. E, POR FIM, A PROJEÇÃO DO MAPA DE FLUXO DE VALOR FUTURO COM AS MELHORIAS PROPOSTAS. DENTRE OS RESULTADOS, DETECTOU-SE AS PRINCIPAIS CAUSAS DAS ATIVIDADES QUE NÃO AGREGAM VALOR E ELEVAM O LEAD TIME DE PRODUÇÃO DOS MÓVEIS E FORAM RECOMENDADAS MELHORIAS RELACIONADAS AOS DESPERDÍCIOS DE MOVIMENTAÇÃO E INTERRUPÇÃO, EXCESSO DE ESTOQUES E FALHAS NO FLUXO DE INFORMAÇÃO. AS AÇÕES PROPOSTAS ENVOLVERAM A IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE QUALIDADE 5S, O DESENVOLVIMENTO DE UM PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO, O REARRANJO FÍSICO, O CONTROLE DOS ESTOQUES E A MENSURAÇÃO DO DESEMPENHO ORGANIZACIONAL. O MFV MOSTROU SER EFICIENTE NA ANÁLISE DOS PROBLEMAS DA PRODUÇÃO DE MÓVEIS SOB ENCOMENDA DE FORMA SISTÊMICA E NA REDUÇÃO DO LEAD TIME, UMA VEZ QUE CONSIDERA O FLUXO DO PROCESSO AO INVÉS DE MELHORIAS ISOLADAS NAS OPERAÇÕES. Palavras-chaves: PRODUÇÃO ENXUTA; MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR; PRODUÇÃO SOB ENCOMENDA. Área: 1 - GESTÃO DA PRODUÇÃO Sub-Área: 1.1 - GESTÃO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO

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APLICAÇÃO DA FERRAMENTA MAPEAMENTO DE

FLUXO DE VALOR EM UMA FÁBRICA DE MÓVEIS

SOB ENCOMENDA

OLÍVIA BRANT ALVES RÊGO - [email protected]

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV

FRANCISCO TABOSA ORTEGA - [email protected]

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV

IDAMAR SIDNEI COBIANCHI NIGRO - [email protected]

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV

Resumo: O OBJETIVO PRINCIPAL DESTE ARTIGO É ESTUDAR A

APLICABILIDADE DA FERRAMENTA GERENCIAL MAPEAMENTO DO

FLUXO DE VALOR (MFV) NA OTIMIZAÇÃO E RACIONALIZAÇÃO DOS

PROCESSOS PRODUTIVOS DE UMA FÁBRICA DE MÓVEIS SOB

ENCOMENDA, ATRAVÉS DA IDENTIFICAÇÃOO DE PERDAS E

PROPOSIÇÃO DE MELHORIAS PARA REDUZI-LAS. O MÉTODO

UTILIZADO INCLUI A ESCOLHA DA FAMÍLIA DE PRODUTOS MAIS

RELEVANTE PARA A EMPRESA, A CONSTRUÇÃO DO MAPA DE FLUXO

DE VALOR ATUAL DESSA FAMÍLIA, A ANÁLISE CRÍTICA DAS

PRINCIPAIS PERDAS IDENTIFICADAS E SUGESTÕES PARA A REDUÇÃO

DAS SUAS FONTES GERADORAS. E, POR FIM, A PROJEÇÃO DO MAPA

DE FLUXO DE VALOR FUTURO COM AS MELHORIAS PROPOSTAS.

DENTRE OS RESULTADOS, DETECTOU-SE AS PRINCIPAIS CAUSAS DAS

ATIVIDADES QUE NÃO AGREGAM VALOR E ELEVAM O LEAD TIME DE

PRODUÇÃO DOS MÓVEIS E FORAM RECOMENDADAS MELHORIAS

RELACIONADAS AOS DESPERDÍCIOS DE MOVIMENTAÇÃO E

INTERRUPÇÃO, EXCESSO DE ESTOQUES E FALHAS NO FLUXO DE

INFORMAÇÃO. AS AÇÕES PROPOSTAS ENVOLVERAM A IMPLANTAÇÃO

DO PROGRAMA DE QUALIDADE 5S, O DESENVOLVIMENTO DE UM

PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO, O REARRANJO FÍSICO,

O CONTROLE DOS ESTOQUES E A MENSURAÇÃO DO DESEMPENHO

ORGANIZACIONAL. O MFV MOSTROU SER EFICIENTE NA ANÁLISE

DOS PROBLEMAS DA PRODUÇÃO DE MÓVEIS SOB ENCOMENDA DE

FORMA SISTÊMICA E NA REDUÇÃO DO LEAD TIME, UMA VEZ QUE

CONSIDERA O FLUXO DO PROCESSO AO INVÉS DE MELHORIAS

ISOLADAS NAS OPERAÇÕES.

Palavras-chaves: PRODUÇÃO ENXUTA; MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR;

PRODUÇÃO SOB ENCOMENDA.

Área: 1 - GESTÃO DA PRODUÇÃO

Sub-Área: 1.1 - GESTÃO DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO

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THE APPLICATION OF THE VALUE STREAM

MAPPING TOOL IN A MAKE-TO-ORDER

FURNISHING FACTORY

Abstract: THIS ARTICLE’S MAIN PURPOSE IS TO STUDY THE APPLICABILITY OF

THE MANAGERIAL TOOL VALUE STREAM MAPPING (VSM) IN THE

OPTIMIZATION AND RATIONALIZATION OF ONE MAKE-TO-ORDER

FURNISHING FACTORY’S PRODUCTION PROCESS, THROUGH THE

LOSSES’ IDENTIFICAATION AND IMPROVEMENTS’ PROPOSITIONS TO

REDUCE THEM. THE USED METHOD INCLUDES CHOOSING THE

PRODUCTS’ FAMILY THAT IS MORE RELEVANT TO THE COMPANY,

THE CONSTRUCTION OF THIS FAMILY’S ACTUAL VALUE STREAM

MAP, THE CRITICAL ANALYSIS OF THE MAIN IDENTIFIED LOSSES AND

SUGGESTIONS TO REDUCE ITS GENERATING SOURCES. AND, LASTLY,

THE PROJECTION OF THE FUTURE VALUE STREAM MAP WITH THE

IMPROVEMENTS PROPOSED. AMONG THE RESULTS, THE MAIN

CAUSES OF THE ACTIVITIES THAT DON’T AGGREGATE VALUE AND

THAT RAISE THE FURNISHINGS’ LEAD TIME OF PRODUCTION WERE

DETECTED AND IMPROVEMENTS RELATED TO THE WASTAGE

HANDLING AND INTERRUPTION, OVERSTOCKS AND FAILURES ON

THE FLOW OF INFORMATION WERE RECOMMENDED. THE ACTIONS

PROPOSED INVOLVED THE IMPLANTATION OF THE 5S PROGRAM,

THE DEVELOPMENT OF A PLANNING AND PRODUCTION CONTROL,

THE PHYSICAL REARRANGEMENT, THE STOCKS CONTROL AND

MEASUREMENT OF THE ORGANIZATIONAL PERFORMANCE. THE VSM

PROVED TO BE EFFICIENT IN THE ANALYSIS OF PRODUCTION’S

PROBLEMS OF MAKE-TO-ORDER FURNISHING IN A SYSTEMIC WAY

AND IN THE REDUCTION OF THE LEAD TIME, ONCE IT CONSIDERS

THE PROCESS FLOW INSTEAD OF ISOLATED IMPROVEMENTS IN THE

OPERATIONS.

Keyword: LEAN MANUFACTURING; VALUE STREAM MAPPING; MAKE-TO-ORDER

PRODUCTION

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1. Introdução

Devido às transformações econômicas, políticas e sociais ocorridas ao longo dos anos

no mercado econômico mundial, as organizações viram-se obrigadas a tornarem-se mais

competitivas devido ao aumento do grau de exigência dos clientes. Neste panorama, as

empresas vivenciaram a necessidade de aprimorar seus processos produtivos a fim de fornecer

produtos de alta qualidade, a preços acessíveis e no prazo estabelecido. Para tal propósito,

cresce a preocupação dos gestores em melhorar a eficiência do fluxo de produção através da

redução de desperdícios.

Diante do descrito acima, enquadra-se o conceito de Lean Manufacturing ou

Manufatura Enxuta. Segundo Werkema (2006), esta filosofia é uma iniciativa que visa excluir

o que não tem valor para o cliente e imprimir velocidade à empresa. A mesma surgiu como

um sistema de manufatura cujos objetivos são: operar o sistema da produção de forma

simples; aperfeiçoar os processos e procedimentos, como, por exemplo, excesso de estoques

entre as estações de trabalho, assim como tempos de espera elevados; operar com lotes

reduzidos, sem estoques, até atingir a condição de produzir de acordo com a demanda

(LUSTOSA, 2008).

Dentre os segmentos industriais que podem ser beneficiados com o sistema lean de

produção, inclui-se o setor moveleiro. O mesmo tornou-se alvo da atenção de áreas

governamentais devido ao aumento das exportações e da geração de divisas para o Brasil

(VALENÇA; PAMPLONA; SOUTO, 2002). A indústria moveleira nacional apresenta como

características gerais a reunião de diferentes processos de produção, elevada diversidade de

produtos finais e necessidade de cumprimento dos prazos de entrega prometidos (GORINI,

1998).

Conforme Rother e Shook (1999) o Mapa do Fluxo de Valor, é uma ferramenta lean

de fácil compreensão e que permite a representação simultânea do fluxo de informação e

materiais. O Mapa busca identificar e eliminar desperdícios em uma fábrica, permitindo a

mesma atender seus clientes com maior rapidez e qualidade. Por conseguinte, o principal

objetivo desta ferramenta é a redução do tempo entre o momento do pedido do cliente e o

momento da entrega do produto (LUSTOSA, 2008).

No presente trabalho estudou-se uma micro empresa moveleira, situada na cidade de

Viçosa-MG, presente há 20 anos no mercado, a qual é caracterizada por um sistema produtivo

sob encomenda e sob medida para as classes de consumidores A e B. Ou seja, a produção

inicia-se a partir do pedido do cliente e os móveis são personalizados de acordo com a

necessidade do consumidor. A organização em questão produz um diversificado mix de

produtos, desde móveis para quarto, sala e banheiro, a portas e balcões para estabelecimentos,

utilizando como principal matéria-prima o MDF. O quadro de funcionários da fábrica conta

com 10 colaboradores mais seus sócios administradores e a mesma possui um faturamento

médio anual de aproximadamente R$ 450.000,00.

A empresa citada acima almejava o aumento da eficiência e a profissionalização do

seu processo produtivo, de modo a reduzir o elevado lead time de entrega dos produtos e

consequentemente satisfazer seus clientes. Com esta visão, o objetivo deste trabalho é

verificar a eficácia da técnica de Mapeamento de Fluxo de Valor na identificação de

desperdícios e eliminação das suas fontes geradoras, a fim de reduzir o lead time em um

ambiente de produção sob encomenda.

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2. Referencial teórico

2.1 Sistemas de Produção

Os sistemas são um conjunto de componentes inter-relacionados que trabalham com o

propósito em comum de transformar insumos (entradas do sistema) em resultados (saídas do

sistema), através de um processo organizado de mudança (ANTUNES et al., 2008). Conforme

Shingo (1996), toda produção deve ser entendida como uma rede funcional de processos e

operações, sendo que processos transformam matérias-primas em produto e operações são as

ações que executam essa transformação. Portanto, sistemas de produção podem ser entendidos

como um conjunto de componentes que trabalham com o objetivo de transformar insumos em

bens ou serviços através de determinadas operações que envolvem a utilização de homens,

materiais e equipamentos.

De acordo com Tubino (2000), há diferentes maneiras de classificar um sistema de

produção, possibilitando assim um maior entendimento das características de cada sistema.

Esta classificação pode ocorrer de três formas diferentes: a primeira é feita pela natureza do

produto, podendo o sistema ser de manufatura de bens (tangíveis) ou prestadora de serviços

(intangível); a segunda classificação é por tipo de operação, na qual os sistemas de produção

são divididos em processos contínuos e processos discretos; e por último, classifica-se o

sistema de produção tendo como parâmetro o grau de padronização dos produtos, ou seja,

produtos padronizados e sob medida.

A primeira forma de classificar os sistemas de produção caracteriza-se pela diferença

na forma como as tarefas serão executadas entre o sistema de bens tangíveis e de bens

intangíveis. Enquanto na manufatura de um bem, a produção é orientada para o produto; no

serviço, esta é orientada para a ação. A segunda classificação define como processos

contínuos aqueles caracterizados pelo alto grau de uniformidade na produção, pouco flexíveis

e interdependentes e os processos discretos como aqueles que fabricam produtos isolados,

individualmente ou em lote. Já na terceira e última, o sistema de produção pode ser

classificado pela fabricação de produtos com alto grau de uniformidade e em grande volume e

em produtos sob medida, produzidos a partir do pedido específico de um cliente. Devido a

esta característica, a produção sob medida implica em certa dificuldade das empresas em

padronizar seus procedimentos de trabalho e, consequentemente, no aumento de seus custos e

menor disponibilidade dos produtos ao mercado (TUBINO, 2000).

2.2 Sistema Toyota de Produção

Segundo Shingo (1996) apud Antunes et al. (2008), o estudo e entendimento da

importância dos diferentes sistemas de produção desenvolvidos até hoje podem ser

determinantes para a decisão de qual direção seguir de acordo com as atuais necessidades da

organização. Ao longo da história, predominaram-se dois sistemas produtivos: Produção em

Massa e Produção Enxuta ou Sistema Toyota de Produção. O primeiro designa-se pela

produção em larga escala de produtos padronizados através de linhas de montagem

desenvolvido por Henry Ford, no início do século XX, com declínio na década de 80. Já o

segundo, Sistema Toyota de Produção (Toyota Production System – TPS) é um sistema de

gerenciamento da produção desenvolvido na Toyota Motor Company Ltda pelo engenheiro

Taiichi Ohno entre 1948 e 1975, quando foi percebido que as técnicas utilizadas nos Estados

Unidos não se aplicavam à realidade do Japão. Como teorizado por Ohno (1997), a essência

do TPS está em conceber um sistema de produção que seja capaz de produzir uma série

restrita de produtos diferenciados e variados garantindo a competitividade da empresa através

de dois princípios básicos.

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O primeiro princípio desenvolvido pelo TPS foi referente à redução dos custos, ou

princípio do não custo, com o objetivo de aumentar o lucro. Para Black (1998) apud Kayser

(2001), o mercado que determina o preço de venda adequado, cabendo à indústria racionalizar

os custos de produção dos produtos e serviços a fim de manter as margens de lucro.

Já o segundo diz respeito à eliminação total dos desperdícios e é sustentado pela

priorização das melhorias na produção via eliminação contínua e sistemática das perdas nos

sistemas produtivos (SHINGO, 1996). O conceito de perdas é explicado por Ohno (1997) com

base na divisão do movimento dos trabalhadores em três partes: o trabalho efetivo, que agrega

valor ao produto, o trabalho que não adiciona valor, mas é necessário, e as perdas. O trabalho

efetivo corresponde à aquele em que se é possível alocar custos, mas agrega valor ao produto,

como usinagem, montagem e costura. O trabalho que não agrega valor, mas é necessário,

constitui-se em atividades que dão suporte à produção como setups necessários, supervisão e

movimentação de materiais. Já as perdas constituem em atividades que não agregam valor,

mas geram custos e, portanto, devem ser eliminadas imediatamente do processo, como

refugos, retrabalho e espera de materiais (ANTUNES et al., 2008).

Com base nesse principio de eliminação de perdas, Womack e Jones (2004) destaca

sete categorias de desperdícios em uma produção, sendo estas:

- perdas por superprodução: produzir a mais e antes que o necessário;

- perdas de inventário: peças semiacabadas entre operações;

- perdas por transporte: movimento de peças;

- perdas no processamento em si: passos não necessários no processo;

- perdas devido ao processamento de produtos defeituosos: peças que necessitam de

retrabalho ou são sucatas;

- perdas no movimento: movimentos desnecessários do trabalhador;

- perdas por espera: trabalhadores aguardando para utilizar máquinas ou peças.

Além disso, Liker (2005) acrescenta uma oitava perda: desperdício da criatividade dos

funcionários, que diz respeito ao não aproveitamento de ideias, habilidades e oportunidades

de aprendizagem por não envolver ou ouvir os colaboradores.

O Sistema Toyota de Produção, a partir dos anos 80, foi referenciado como Sistema de

Produção Enxuta (Lean Manufacturing) pelos pesquisadores do International Motor Vehicle

Program (IMVP) para definir um sistema de produção mais ágil e flexível do que a produção

em massa. A Produção Enxuta é embasada na filosofia da Mentalidade Enxuta (Lean

Thinking), que tem como objetivo aumentar a satisfação dos clientes através do aumento da

eficiência (Lean Institute Brasil). Segundo Womack e Jones (2004), esse sistema apresenta

cinco princípios que dão conteúdo ao pensamento enxuto, sendo estes:

- valor: é o ponto de partida do pensamento enxuto, visto que representa o desejo do

cliente;

- fluxo de valor: conjunto de etapas necessário para a produção de um produto

específico;

- fluxo de valor enxuto: os produtos devem sempre fluir em um fluxo de valor

contínuo da matéria-prima ao produto acabado, isento de movimentos desnecessários,

interrupções e filas;

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- produção puxada: o cliente é quem deve puxar a produção, evitando o excesso de

produção, a formação de estoques e consequentemente o desperdício;

- busca pela excelência: a perfeição será alcançada à medida que os princípios

anteriores forem obtidos, possibilitando à organização oferecer produtos que atendam cada

vez mais as necessidades do cliente.

Dentre as diversas ferramentas e técnicas de operacionalização do TPS ou da Produção

Enxuta está o Mapeamento do Fluxo de Valor. Essa ferramenta tem como propósito reduzir

custos e eliminar perdas nos processos com enfoque na redução do lead time de produção.

2.3 Mapeamento do Fluxo de Valor

O Mapeamento do Fluxo de Valor (Value Stream Mapping) é uma ferramenta lean

para análise gerencial, que apresenta o processo de observação direta dos fluxos de

informação e materiais conforme eles ocorrem desde o fornecedor até o cliente (WOMACK e

JONES, 2004). Conforme Ferro (2008), o Mapeamento do Fluxo de Valor (MFV) possibilita

analisar os processos de agregação de valor horizontalmente e identificar os desperdícios na

fábrica com o objetivo de buscar soluções para amenizá-los e atender os clientes com maior

rapidez e qualidade.

O MFV é essencial para o desenvolvimento de um sistema de produção enxuto, pois

ajuda a visualizar mais do que simplesmente os processos individuais, permite enxergar o

fluxo. Além disso, auxilia na identificação não só dos desperdícios, mas das suas fontes. O

desenvolvimento dessa ferramenta é dividido em 4 etapas básicas, sendo elas: a definição da

família de produtos, o desenho do mapa atual e futuro e o desenvolvimento do plano de

melhorias (ROTHER e SHOOK, 1999).

A primeira etapa do Mapeamento do Fluxo de Valor atual, seleção de uma família de

produtos, é realizada com a escolha de um grupo de produtos que passam por semelhantes

etapas físicas de produção e utilizam equipamentos comuns. Em seguida, coleta-se

informações referentes à demanda do consumidor e desenha-se os processos produtivos que

integram a família de produtos selecionada. Para estes processos, são coletadas informações,

tais como:

- tempo de ciclo: tempo demandado entre a saída de um componente e o seguinte;

- tempo de troca de ferramentas ou setup;

- disponibilidade dos colaboradores descontando-se os tempos de manutenção e

parada;

- índice de produtos defeituosos;

- tempo de agregação de valor: tempo para transformar o produto de forma a agregar

valor ao cliente;

- lead time: tempo demandado para uma peça percorrer todo o processo produtivo;

- número de pessoas necessárias para operar o processo.

Posteriormente, deve-se mapear o fluxo de materiais conforme o atual sistema de

controle que determina a sua movimentação, e em paralelo, o fluxo de informações que inclui

a programação dos processos, a frequência com que são realizados os pedidos, as previsões e

as solicitações de material. Por fim, deve-se identificar onde se localizam os estoques e qual a

sua quantidade média em número de peças em dias (ROTHER e SHOOK, 1999).

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A partir desta visão e análise crítica do estado atual do fluxo de valor, baseada nos

princípios do TPS, desenvolve-se o mapa do estado futuro, que será um mapa com sugestões

de melhorias as quais visam diminuir o desperdício e tornar o fluxo mais enxuto. A fim de

alcançar os objetivos propostos, desenvolve-se um plano de implementação que possui ações

que viabilizarão o alcance do estado desejado (ROTHER e SHOOK, 1999). Após o estado

futuro tornar-se realidade, sugere-se projetar um novo mapa a fim de promover a melhoria

contínua do fluxo de valor dentro da organização.

3. Metodologia

A pesquisa qualitativa é uma metodologia de pesquisa exploratória não estruturada e

com pequenas amostras, com a finalidade de fornecer critérios e compreensão do cenário do

problema (MALHOTRA, 2001). O presente trabalho trata-se de uma pesquisa-ação, que é um

método de pesquisa qualitativa que alia a pesquisa e a prática com o objetivo de modificar

uma dada realidade e produzir conhecimento. Segundo Thiollent (2008), a pesquisa-ação

pressupõe uma participação planejada do pesquisador na situação problemática a fim de

transformar as realidades observadas a partir do seu entendimento, conhecimento e

compromisso para a ação dos elementos envolvidos na pesquisa.

Este método apresenta as seguintes etapas: (a) esclarecer a situação, objetivos e

suposições de determinada questão em estudo; (b) coletar dados a respeito da questão; (c)

diagnóstico da questão a partir dos dados coletados; (d) execução de ações de intervenção a

partir do diagnóstico; (e) conhecer melhor o sistema para maior controle do mesmo; (f)

acompanhar as melhorias obtidas no sistema (AVISON et al., 1998).

A micro empresa estudada apresenta uma linha de produção semelhante à de uma

marcenaria, visto que o fabrico de móveis é realizado de forma à atender as solicitações

específicas de cada cliente. O prazo de entrega dos produtos é de, aproximadamente, 60 dias

após a encomenda, o que representa um valor acima do prestado pelos seus concorrentes. Em

vista disso, a organização almeja profissionalizar seu processo produtivo e reduzir o lead time

de maneira a tornar o seu modo de produção industrial.

De acordo com as necessidades da empresa, propõe-se a aplicação da ferramenta

Mapeamento de Fluxo de Valor com a finalidade de identificar os desperdícios e propor

melhorias para minimizá-los. Esta técnica da produção enxuta é composta por quatro grandes

etapas: Seleção da família de produtos a ser analisada, Construção do Mapa do Fluxo de

Valor Atual, Análise crítica do Mapa do Fluxo de Valor e Proposição do Mapa do Fluxo de

Valor Futuro.

A primeira etapa, Seleção da família de produtos a ser analisada, visa entender os

processos produtivos da empresa através da elaboração de fluxogramas e identificar cada

família de produtos por meio da similaridade entre seus processos. Para selecionar a família a

ser estudada, pode-se aplicar o método de análise de Pareto, tendo como parâmetro a sua

respectiva rentabilidade para a organização. Na etapa Construção do Mapa do Fluxo de Valor

Atual, será utilizada a abordagem qualitativa para o levantamento das informações relevantes

para a construção do mapa. A coleta de dados nessa abordagem será dividida em duas frentes

de trabalho. Inicialmente, realizar-se-á visitas à fábrica, produção de fotos e vídeos e

entrevistas com os colaboradores e sócios da empresa, com o objetivo de conhecer o fluxo de

materiais e informações do processo produtivo da família selecionada. Na segunda frente, será

feita a coleta de tempos necessários para a confecção do mapa. Em razão das características

do sistema de produção em estudo, será imprescindível a adaptação da ferramenta quanto aos

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dados a serem coletados devido à inviabilidade da coleta de tempos de ciclo. Tais

características resumem-se a:

- os produtos demandam vários dias para serem produzidos, o que dificulta o

acompanhamento de um produto ao longo da sua fabricação;

- peças de diferentes produtos são processadas simultaneamente em uma mesma

operação;

- os tempos de ciclo oscilam de acordo com o tamanho do produto, que é

personalizado para cada pedido.

Em virtude dessas particularidades, deverão ser coletados os tempos improdutivos de

interrupção, movimentação, setup e transporte das operações para identificar os desperdícios e

analisar o seu impacto no lead time. Posteriormente, os fluxos de informação e materiais do

processo da família de produtos selecionada serão mapeados, desde o fornecedor até o cliente,

com a finalidade de construir o Mapa do Fluxo de Valor Atual.

A terceira etapa, Análise crítica do Mapa do Fluxo de Valor, constitui-se na

identificação das atividades que não agregam valor ao processo, problemas no fluxo de

informação e proposição de melhorias que impactem na redução do prazo de entrega dos

produtos. A partir das oportunidades identificadas deve-se executar a quarta etapa através da

construção do Mapa de Fluxo de Valor Futuro.

4. Resultados

4.1 Seleção da família de produtos

Inicialmente selecionou-se a família de produtos a ser utilizada para o

desenvolvimento do Mapa de Fluxo de Valor. Para tal, mapeou-se as etapas de fabricação por

meio da elaboração de fluxogramas e, em seguida, classificou-se os produtos em famílias, de

acordo com a similaridade dos seus processos. As famílias de produtos definidas foram: MDF

Branco, MDF Madeirado, MDF Laminado, Madeira Maciça e Compensado.

Após a definição das famílias de produtos, escolheu-se para o estudo a família MDF

Branco, a qual apresenta maior rentabilidade para a empresa, por meio da ferramenta Gráfico

de Pareto, conforme pode ser verificado na Figura 1.

FIGURA 1 - Gráfico de Pareto para a seleção da família de produto mais rentável.

4.2 Mapa de Fluxo de Valor Atual

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De forma a mapear os fluxos de informação e materiais das atividades necessárias para

o desenvolvimento do MFV, foram realizadas entrevistas com as pessoas envolvidas no

processo de fabricação dos móveis de MDF Branco. Além disso, foram gravados vídeos e

coletadas imagens fotográficas.

Em seguida, procedeu-se a mensuração dos tempos improdutivos (interrupção,

movimentação, setup e transporte) das operações - design, corte, gabarito, colagem, acerto de

rebarbas, montagem e acabamento. Os dados obtidos, de acordo com a Tabela 1, mostram

que, do tempo total coletado, 13% representaram movimentação, 12% interrupções, 4% setup

e 2% transporte, em um total de 31% do tempo despendido em atividades que não agregam

valor ao produto. Desse tempo, notou-se que 80,6% são desperdícios relacionados à

movimentação e interrupção, representando os maiores impactos à empresa e, portanto, o foco

das proposições de melhorias.

Em termos financeiros, pode-se traduzir o tempo improdutivo em prejuízos para a

organização. Como identificado, 31% do tempo das operações são considerados

improdutivos, isto é, tempo em que os funcionários não agregam valor ao produto. Ao

considerar um funcionário com 8 horas de trabalho diárias, o desperdício é de

aproximadamente 2,48 horas/dia. Logo, em um mês, com 20 dias úteis tem-se que 49,6 horas

são de desperdícios. Ao considerar o salário mínimo de R$ 622,00/mês, ou R$3,89/hora, um

colaborador recebe R$192,82 por atividades que não impactam na percepção do cliente.

Portanto, para 10 funcionários representam um total de R$ 1.928,20 de gastos mensais para a

empresa, como representado na Tabela 1 abaixo.

TABELA 1 - Tempo improdutivo coletado e prejuízos para a organização. Tempo Improdutivo Porcentagem do tempo coletado Porcentagem do Tempo improdutivo

Movimentação 13% 41,9%

Interrupção 12% 38,7%

Setup 4% 12,9%

Tranporte 2% 6,5%

Perdas Horas mensais Salário mensal

Para 1 funcionário 49,6 horas R$ 192,82

Para 10 funcionários 496 horas R$ 1.928,20

Por fim, contou-se os estoques intermediários com o objetivo de analisar entre quais

operações havia acúmulo de materiais em processo e analisou-se os tempos demandados para

o projeto, orçamento e aquisição de matéria-prima para a fabricação do móvel. Após essas

atividades, desenvolveu-se o Mapa de Fluxo de Valor Atual da família MDF Branco

esquematizado na Figura 2.

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FIGURA 2 - Mapa de Fluxo de Valor Atual para a família MDF Branco.

4.3 Análise Crítica do Mapa de Fluxo de Valor

O Mapa de Fluxo de Valor Atual confeccionado foi analisado criticamente pelos

autores com a finalidade de identificar os principais fatores que elevam o lead time de

produção dos móveis. Além disso, foi aplicado um questionário com os operadores para ouvir

a opinião dos mesmos quanto ao ambiente de trabalho e complementar o estudo do mapa.

Esses fatores, representados no mapa como oportunidades de melhoria ou kaizen, são:

Desperdícios de movimentação:

- Movimentação excessiva dos colaboradores para buscar ferramentas de trabalho;

- Movimentação desnecessária para a comunicação entre os setores.

Desperdícios de interrupção:

- Interrupção constante do gerente de produção para sanar dúvidas dos operadores;

- Solicitação de auxílio para transporte de material;

Estoque:

- Excesso de estoque em processo;

- Falha no gerenciamento de estoques de matéria-prima.

Falhas no fluxo de informação:

- Falta de capacitação dos funcionários;

- Ausência de documentos padronizados para realização das tarefas;

- Falta de padrão na identificação dos componentes do móvel;

- Deficiência na organização e na ordenação dos materiais dentro da fábrica;

- Ausência de um planejamento da produção.

De acordo com as oportunidades de melhorias identificadas e com a finalidade de

reduzir as principais fontes de desperdícios (movimentação e interrupção), foram propostas

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ações orientadas pelos princípios da Produção

Enxuta, tais como: implantação do Programa 5S,

rearranjo físico e desenvolvimento de

procedimentos para auxiliar no planejamento e

controle da produção. Além disso, foram

desenvolvidas ferramentas para o controle dos

estoques e indicadores para mensurar o

desempenho organizacional.

A proposta de implantação do Programa

5S teve com o objetivo fomentar a incorporação

da cultura da qualidade na empresa, aumentar a

moral e a satisfação dos funcionários, melhorar a organização do ambiente e aumentar a

eficiência do trabalho a partir da redução dos tempos de movimentação. A fim de auxiliar a

fábrica de móveis na implementação e sucesso do programa, foram realizados treinamentos de

conscientização com os colaboradores e elaboradas estratégias relativas aos cincos sensos.

Tais estratégias são apresentadas no Anexo A.

O estudo do arranjo físico foi desenvolvido com o propósito de melhorar a utilização

do espaço disponível que inclui a disposição racional dos equipamentos e minimização da

movimentação de pessoas, serviços e materiais. Além disso, buscou-se reduzir o tempo de

manufatura (redução de demoras, distâncias e estoque em processo) e o congestionamento dos

fluxos de operações. Para o alcance desses objetivos foi proposta uma alteração do layout

atual, Figura 3, pelo layout por processo, uma vez que é mais adequado às características do

sistema de produção da fábrica, conforme representado na Figura 4.

FIGURA 3 - Arranjo físico atual FIGURA 4 - Arranjo físico proposto

Como proposição de melhorias, também foram desenvolvidos ferramentas para

promover a padronização dos processos de suporte à produção, tais como: pedido de matérias-

primas, controle de estoques e planejamento da produção. Tais ferramentas são descritas

abaixo:

- Relatório de visita: documento para o registro de informações como medições do

local de instalação do móvel, restrições de entrega e montagem;

- Requisição de materiais: documento que visa a padronização o controle do pedido de

matérias-primas, de modo que o estoque seja consultado antes da aquisição a fim de que não

haja acúmulo ou falta dos materiais;

- Quadro Kanban: ferramenta de controle de estoques;

- Sistema para Planejamento e Controle da Produção: planilha eletrônica que utiliza o

princípio do gráfico de Gantt e auxilia o gerente de produção no planejamento inicial do

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projeto, de forma a definir a data de início, os responsáveis por cada etapa e a data de entrega

do móvel ao cliente;

- Roteiro de fabricação: documento que tem por finalidade auxiliar os operadores na

fabricação do móvel por meio de instruções, desenhos técnicos e informações como as

dimensões dos componentes;

- Roteiro de montagem: documento que contém as operações e os acessórios

necessários para a montagem do móvel.

Por fim, foram desenvolvidos indicadores de desempenho organizacionais com o

intuito de aperfeiçoar a gestão da organização e auxiliar no processo de tomada de decisão.

Ademais, foi elaborado documentos auxiliares para a coleta e acompanhamento dos

resultados. Tais indicadores possibilitaram a mensuração do faturamento, da produtividade,

satisfação do cliente e lead time total da empresa.

4.4 Mapa de Fluxo de Valor Futuro

A partir da análise crítica realizada e das proposições de melhorias, projetou-se o

Mapa de Fluxo de Valor Futuro apresentado na Figura 5. As principais modificações no MFV

futuro são:

- Criação de um departamento de PCP que proporcionará o aumento da eficiência do

fluxo de informação como pode ser observado pela redução das setas;

- A eliminação da operação acerto de rebarbas através da compra de uma máquina de

colagem a qual automatiza o processo;

- Os kaizens são representados com setas indicativas de redução a fim de ilustrar a

redução das sobras de MDF, dos tempos de interrupção e movimentação e a otimização do

fluxo de informação, que serão alcançados com a implementação das sugestões de melhorias

propostas.

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Fornecedor

Lead time de

entrega =1 semana

Recebimento de MP

= 1

Gabarito PVC Montagem Acabamento

Cliente

Tempo Produtivo=49,22%

Interrupção=13,48%

Movimentação=37,31%

Tempo Produtivo=75,84%

Interrupção=7,31%

Movimentação=12,74%

Transporte de MDF=4,23%

Tempo Produtivo=43,81%

Interrupção=27,76%

Movimentação=15,71%

Setup=12,73%

Tempo Produtivo=60,5%

Interrupção=13,17%

Movimentação=11,23%

Transporte de MDF=11,39%

Setup=11,71%

Tempo Produtivo=81,67%

Interrupção=13,33%

Movimentação=3,33%

Fluxo de

informação

Tempo de

movimentação

Chapas de MDF

Espera = 60%

Entrega =40%

=3

PCP

100 B

20 M

9 B3 G

21 B

= 1 = 1 ou mais

= 2

= 1

Tempo de

interrupção

Sobras de

MDF

9 B 94 B

= 1

Corte

FIGURA 5 - Mapa de Fluxo de Valor Futuro projetado para a família MDF Branco.

Para que essas práticas possam ser realmente aplicadas na fábrica de móveis, propõe-

se uma implementação em etapas de curto, médio e longo prazo, de acordo com critérios de

custos, grau de dificuldades das mudanças requeridas e competitividade do mercado. Após a

efetivação das ações pela fábrica de móveis há como expectativa os resultados apresentados

na Tabela 2.

TABELA 2 - Resultados esperados com a efetivação das ações.

Estado Atual Estado Futuro Esperado

1. Lead time total de 60 dias 1. Lead time total reduzido para 40 dias

2. Disposição irracional das sessões 2. Layout por processos

3. Elevada movimentação de materiais, serviços e

pessoas 3. Redução das perdas por movimentação

4. Interrupções frequentes na produção 4. Redução das perdas por interrupções

5. Fluxo de informação falho, com excesso de

dúvidas em relação à execução das operações

5. Informação flui pelos departamentos sem

retrabalhos

6. Ausência de Programação da Produção 6. Estruturação de um departamento de PCP

7. Ausência de padronização na execução das

atividades

7. Operações padronizadas através da utilização de

documentos

8. Desorganização do ambiente de trabalho 8. Eliminação de materiais desnecessários e

melhoria do aspecto visual da fábrica

9. Excesso de estoques intermediários 9. Gerenciamento e controle dos estoques

10. Ausência de programas de qualidade 10. Consolidação do Programa 5S

11. Baixa motivação dos funcionários 11. Redução de riscos e acidentes e aumento da

moral dos trabalhadores

12. Ausência de estratégias a longo prazo 12. Melhoria contínua através da utilização do

MFV

5. Considerações finais

A necessidade contínua das organizações permanecerem-se competitivas no mercado

exige das mesmas a adoção de estratégias como: qualidade dos produtos, preço competitivo,

sistema produtivo flexível que absorva as mudanças exigidas pelo mercado, entrega de

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produtos no prazo correto e redução do tempo de fluxo de produto. Em ambientes de

produção sob encomenda, a confiabilidade do prazo de entrega dos produtos ao cliente

representa um diferencial competitivo e pode determinar o sucesso da empresa perante os

concorrentes.

Diante desta realidade, as empresas de pequeno porte do setor moveleiro que

produzem a partir da solicitação de um pedido específico do cliente, têm requerido a

implantação de ferramentas gerenciais a fim de racionalizar os seus processos produtivos.

Dessa forma, o Mapeamento de Fluxo de Valor (MFV) demonstrou ser um instrumento eficaz

na identificação e análise dos problemas da organização de forma sistêmica, a fim de eliminar

as causas raízes dos desperdícios de maneira a fornecer valor e satisfação aos seus clientes.

Contudo, é válido frisar que para o alcance dos objetivos propostos, foi-se necessário a

adaptação do MFV devido as características do ambiente produtivo da empresa, sem

prejudicar a aplicabilidade da ferramenta.

Tal aplicabilidade foi corroborada na fábrica em estudo diante da eficácia na

identificação dos desperdícios e no processo de mudança organizacional para a adoção de

práticas do pensamento enxuto, de modo a reestruturar e profissionalizar o seu sistema

produtivo. Entretanto, ressalta-se que para a garantia da efetivação das ações propostas e

alcance dos resultados almejados presentes na Tabela 2, é fundamental a colaboração dos

funcionários e apoio da alta direção para aplicação periódica da ferramenta em busca da

melhoria contínua.

Cabe salientar que para estudos futuros sugere-se o estudo da aplicação de outras

ferramentas enxutas, como Troca Rápida de Ferramentas (SMED) e Manutenção Produtiva

Total (TPM). Acredita-se ainda que, a análise do desempenho posterior à implementação das

melhorias propostas e dos princípios e práticas enxutas sejam atividades relevantes para a

complementação do trabalho.

Referências

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Porto Alegre: Bookman, 2008.

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SHINGO, Shigeo. O Sistema Toyota de Produção. 2. ed. Porto Alegre: Editora Artmed, 1996.

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WOMACK, James P.; JONES, Daniel T. A mentalidade enxuta nas empresas. Rio de Janeiro: Editora Elsevier

LTDA, 2004.

ANEXO A – Estratégias para a implantação do Programa 5S DESCARTE

•Instalar armários com rodas e chaves próximos de cada bancada contendo as ferramentas;

•Aplicar dia ''D'' para selecionar os materiais e ferramentas não úteis e encaminhar para o descarte;

•Verificar os recipientes vazios para descarte;

•Conscientizar os funcionários para não manter materiais obsoletos;

•Definir um dia no mês para realizar o dia ''D'' do descarte.

ORGANIZAÇÃO

•Organizar os estoques do galpão e do depósito com adesivos em caixas separadas por tipo de prego/parafuso;

•No galpão, util izar recipientes menores com cola/tiner e adesivá-los. No depósito, organizar os galões com cola/tiner e adesivá-los;

•Determinar locais específicos para colocar as chapas de MDF e ferramentas;

•Realizar marcações nas prateleiras para a localização de cada material;

•Organização do layout e demarcação de áreas;

•Determinar local específico para as peças entre as operações de corte e a colagem do PVC e entre a colagem do PVC e a montagem.

LIMPEZA

•Manter uso de lixeiras e mangueiras de ar;

• Kit de limpeza rápida em cada balcão;

•Aplicar dia ''D'' para limpeza das máquinas;

•Realizar a l impeza dos armários;

•Utilizar dispositivos para diminuir a poeira, como mais exaustores e /ou aspirador industrial para limpeza;

•Criar quadro com responsáveis pela l impeza diária;

•Criar instrução de limpeza padronizada.

SAÚDE

•Utilizar abafadores adequados, luvas, óculos e máscaras de poeira sempre que necessário;

•Avaliar a necessidade de apoios (ex: cavaletes) de outros tamanhos e bancos mais baixos;

•Adquirir carrinhos para o transporte de peças;

•Confeccionar avisos de alerta para materiais como tiner, verniz e cola;

•Indicação dos locais onde se encontram as tomadas e extintores de incêndio;

•Analisar a possibilidade de substituir as telhas devido ao calor gerado e/ou instalar ventiladores;

•Criar instruções de higiene na área da cozinha;

•Substituir lâmpadas existentes por lâmpadas fluorescentes, principalmente na área da montagem.

AUTODISCIPLINA

•Elaborar instruções de trabalho sempre que necessário;

•Capacitar e realizar divulgação contínua do programa para conscientização dos funcionários;

•Determinar duplas por mês para realizar avaliações(checklist) e auditorias dos outros sensos;

•Destinar um local no galpão para gestão á vista: informações sobre o Planejamento da Produção, resultados do Programa 5S e indicadores;

•Definir responsável para verificar estoques diários dentro da fábrica;

•Bonificação para as metas alcançadas no Programa.