apatridia - uma investigação do fenômeno dos apátridas sob a otica do direito internacional

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  • 7/25/2019 Apatridia - Uma Investigao Do Fenmeno Dos Aptridas Sob a Otica Do Direito Internacional

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    Ncleo de Pesquisa e Extenso do Curso de Direito NUPEDIRVII MOSTRA DE INICIAO CIENTFICA (MIC)

    25 de novembro de 2014

    APATRIDIA: UMA INVESTIGAO DO FENMENO DOS APTRIDAS SOB ATICA DO DIREITO INTERNACIONAL

    Anglica Eikhoff1

    Liana Maria Feix Suski2

    SUMRIO: 1. INTRODUO. 2 APTRIDAS - A CIDADANIA E A NACIONALIDADE. 3 ASCONVENES INTERNACIONAIS E OS DIREITOS HUMANOS COMO MEIOS DE PROTEODOS APTRIDAS. 4 CONCLUSO. REFERNCIAS.

    Resumo: Vivemos em um mundo globalizado no qual as divisas/barreiras se tornam cada vez menores,ao mesmo tempo em que o capitalismo dominante se torna cada vez mais radical. Essa conjugaoafeta diretamente a maneira com que os Estados soberanos passam a tratar seus cidados. Ao final,como um dos desdobramentos dessa nova relao Estado/cidado, surge a figura dos aptridas,pessoas que no possuem vnculo com nenhum Estado soberano, e que tendem a se tornar cada vezmais frequentes no respeitando questes de origem, raa, condio social no mundo ps-contemporneo. Assim, de total importncia, principalmente nos tempos atuais diga-se ps-contemporaneidade na qual impera o regime de exceo , a busca por formas de tutela para osindivduos aos quais se nega vnculo estatal de cidadania.Palavras-chave: Apatridia. Direito Internacional. Direitos Humanos.

    1 INTRODUO

    A Declarao Universal dos Direitos Humanos reconhece que toda pessoa tem

    o direito de ter um vnculo com um Estado, ou seja, ter uma nacionalidade. Assim

    sendo, a nacionalidade considerada um direito humano fundamental do qual

    ningum deveria ser privado.

    Contudo, a supracitada declarao no dispe a forma pela qual se dar a

    efetivao do direito nacionalidade. Dessa forma, os Estados soberanos no so

    obrigados por um imperativo legal/coercitivo a conceder nacionalidade para que essa

    se torne acessvel a todos. Nesse contexto surge a figura dos aptridas, sujeitos que

    no obtiveram o direito de nacionalidade concedido por um Estado.

    1 Acadmica do 8 semestre do curso de Direito da SEI FAI Faculdades de Itapiranga. E-mail:[email protected] em Direito pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Misses (URI), campus

    Santo ngelo/RS. Bacharela em Direito pela URI. Professora do Curso de Direito da FAIFaculdadesde Itapiranga/SC. Advogada. Membro do Grupo de Pesquisa registrado no CNPq Tutela dos Direitos esua Efetividade, vinculado Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Misses (URI Campus de Santo ngelo). E-mail: [email protected].

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    Nesse vis, o presente estudo bem como objetivo de analisar a situao dosaptridas e como o Direito Internacional ampara estes.

    2 APTRIDAS A CIDADANIA E A NACIONALIDADE

    No atual estgio de evoluo social, denominado pelos socilogos como ps-

    contemporaneidade, vive-se dias de incertezas. As relaes sociais so cada vez

    mais influenciadas pelas relaes capitalistas. Os efeitos do chamado capitalismodominante incidem em todos os elementos do corpo social, sendo que, nem mesmo

    o Estadoaqui visto como ente socialse salva das influncias do fenmeno.

    Um dos efeitos reflexivos a nova dialtica entre Estado e cidado, ou seja, a

    maneira com que os Estados soberanos passam a tratar seus cidados. Deste

    desdobramento, surge a figura dos aptridas, seres humanos que no possuem

    vnculo com nenhum Estado soberano. Uma triste situao que cada vez mais

    presente nos dias atuais.Conforme o Alto Comissariado das Naes Unidas para Refugiados (ACNUR),

    estimou-se em 2012, que existiam 12 milhes de pessoas no mundo vivendo em

    condies desumanas e sem qualquer vnculo jurdico com um Estado soberano, ou

    seja, em situao de apatridia. Aptridas com o prefixo ade origem grega , no

    sentido original de morfema de negao, representando explicitamente a dura

    locuo, sem ptria.3

    Conforme j dito anteriormente, a Declarao Universal dos Direitos Humanos

    estabelece que todos tm direito a uma nacionalidade e que ningum ser

    arbitrariamente privado desta.4Portanto, a referida declarao prev todos o direito

    de obter um vnculo jurdico e poltico com um Estado soberano, para que dessa forma

    3ACNUR. Agncia da ONU para refugiados. Unidade de Informao Pblica. p. 1. Disponvel

    em:. Acesso: 08 ago. 2014.4ONU. Declarao Universal dos Direitos Humanos. Art. XV. Disponvel em:. Acesso: 08 ago. 2104.

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    sejam assegurados os Direitos Humanos bsicos, entre os quais o direito de sercidado, em outras palavras o direito de ter direitos.5

    Nesse sentido, Hannah Arendt, em seu paradigmtico trabalho ps-guerra,

    contribui esclarecendo que no sistema Estado-nao somente os nacionais podem

    ser cidados, e apenas estes podem gozar da proteo jurdica que emana do

    Estado.6

    Dessa forma, percebe-se que a cidadania uma garantia perante o Estado e

    para o Estado, que cria um lao coletivo na comunidade, podendo produzir cidadosintegrados ou renegados por essa coletividade.7A cidadania representa, portanto, o

    direito de gozar de direitos, e somente quando o sujeito for reconhecido por um Estado

    soberano como nacional que passar a adquirir seus direitos como cidado.8

    Por sua vez, o sujeito que no possui nacionalidade, desprovido de proteo

    estatal, uma vez que, no possui qualquer vnculo jurdico/poltico de direito pblico

    com um Estado soberano, sofrendo assim, restries em relao aos seus direitos

    civis e polticos.9

    DelOlmo, em relao ao conceito de nacionalidade, aponta:

    A nacionalidade identifica o liame jurdico fundamental entre o ser humano eo Estado, constituindo-se no elo que cria para ambos direitos e obrigaesrecprocas. Esses elos os mantero unidos, mesmo na eventualidade deafastamento da pessoa do espao geogrfico do pas, onde continuarrecebendo proteo estatal e respeitando as diretrizes emanantes da suasoberania.10

    Ainda no tocante nacionalidade, importante destacar os critrios dedeterminao desta. Via de regra, a nacionalidade determinada por meio de dois

    5ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. So Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 300.6ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. So Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 308.7RIBEIRO, Deborah C. Rodrigues; NASCIMENTO, Isabela O. Penna do; VALLE JUNIOR, Luiz A. C.do; NEVES, Victor de S. Apatridia e cidadania: Protegendo Indivduos legalmente invisveis.Disponvel em: .Acesso: 09 ago. 2014.8ARENDT, op. cit., p. 300 et seq.9GUIMARES, Francisco Xavier da Silva Guimares. Nacionalidadeaquisio perda e reaquisio.Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 2.10DELOLMO, Florisbal de Souza. Curso de direito internacional privado. 9. ed. Rio de Janeiro:Forense, 2011, p.75.

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    sistemas fundamentais, empregados ora em suas formas puras, ora mesclados emcompleta harmonia: ojus sanguinise ojus solis11.

    O primeiro critrio confere nacionalidade pela filiao, levando-se em conta o

    critrio da consanguinidade ou parentesco, no qual a nacionalidade dos pais

    determina a nacionalidade dos filhos, independentemente do lugar de nascimento

    destes, decorrendo, assim, a nacionalidade do prprio fato da filiao12.

    Pelo segundo critrio, a nacionalidade atribuda pelo lugar do nascimento, ou

    seja, trata-se de um critrio territorial.13

    Neste critrio a concesso de nacionalidadeocorre para [...] aquele que nasce dentro dos limites territoriais do Estado; desprezada

    a influncia de quaisquer outros fatores:quod est in territorio, est de territrio1415.

    A Organizao das Naes Unidas (ONU) recomenda aos Estados que utilizem

    os critrios de atribuio de nacionalidade na tentativa de evitar o surgimento de

    novos aptridas, seja para proteger os descendentes de seus nacionais, seja

    abraando aqueles que nascem em seu solo16.

    No entanto, da situao supramencionada abrolha um problema. Tendo em vistaque cada Estado pode utilizar ao seu bel prazer dos critrios de atribuio de

    nacionalidadeou seja, estes tm total competncia para legislar sobre elaacabam

    por surgir sistemas jurdicos conflitando17 em relao nacionalidade.18 Essas

    divergncias acabam, por fim, em aumentar as chances de surgimento de mais

    aptridas.

    11MARINHO, Ilmar Penna. Tratado sobre a nacionalidade. v. 4. Rio de Janeiro: Departamento deimprensa nacional, 1961, p. 07.12CAHALI, Yussef Said. Estatuto do estrangeiro. 2. ed. rev., atual. e ampl. So Paulo: Editora Revistados Tribunais, 2010, p. 23.13GUIMARES, Francisco Xavier da Silva. Nacionalidadeaquisio perda e reaquisio. Rio deJaneiro: Forense, 2002, p. 13.14Quem est no territrio, do territrio (Traduo literal).15CAHALI, op.cit., loc.cit.16MOREIRA, Marcele de Almeida Lima. Aptridas: a efetivao dos direitos fundamentais sob a tutelada Organizao das Naes Unidas. 2011. 84 fl. Monografia de Direito UniCEUB, Braslia, 2011.Disponvel em: .Acesso: 08ago. 2014.17Com a insuficincia de fontes internacionais que referem-se a nacionalidade e a legislao interna de

    cada Estado, conduz a tais conflitos: conflito positivo, quando um indivduo pode cumular numerosasnacionalidade; conflito negativo, quando o sujeito no pode adquirir nenhuma nacionalidade, ou seja,o aptrida.18CAHALI, op.cit., p. 62.

    http://repositorio.uniceub.br/bitstream/123456789/398/3/20681731.pdfhttp://repositorio.uniceub.br/bitstream/123456789/398/3/20681731.pdf
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    Sobre o problema, Marinho adverte que o Direito Internacional reconhece epermite a apatridia, vez que este no probe os Estados de promulgarem uma

    legislao ou de exercerem atos que predeterminem a apatridia, e que dessa

    autorizao de apatridia, ocorre uma sria contradio do domnio do Direito

    Internacional, ou seja, esta permisso, priva o aptrida da proteo de um Estado

    soberano, como tambm do gozo de vrios direitos necessrios, entre os quais o livre

    acesso aos tribunais que em geral estabelecido base de reciprocidade.19

    O Alto Comissariado das Naes Unidas para Refugiados ACNUR, rgoespecfico que tem como objetivo auxiliar todas as pessoas que perderam ou no

    tiveram acesso a uma nacionalidade, retrata o aptrida a partir do seguinte conceito:

    Aptridas so todos os homens e mulheres (incluindo idosos, jovens ecrianas) que no possuem vinculo de nacionalidade com qualquer Estado,seja porque a legislao interna no os reconhece como nacional, sejaporque no h um consenso sobre qual Estado deve reconhecer a cidadaniadessas pessoas.20

    O fenmeno da apatridia, fez surgir no cenrio internacional duas classes de

    aptridas, o aptrida de fato e o aptrida de direito, cuja diferenciao se faz

    necessria. O aptrida de fato, possui uma nacionalidade, porm no tem o efetivo

    exerccio desta, ou seja, o indivduo tem uma nacionalidade mas deixa seu pas de

    origem, no estando mais na proteo e assistncia das autoridades nacionais, ainda,

    quando as autoridades recusam-se a conceder assistncia e proteo, ou quando o

    prprio sujeito renuncia a essa proteo.21Por sua vez o aptrida de direito, cuja

    definio puramente jurdica, portanto, no trata de caractersticas e atributos da

    nacionalidade um indivduo que no possui nacionalidade reconhecida por

    nenhum estado, por causa de seu nascimentouma vez que no lhe foi atribuda

    nenhuma nacionalidade por meio de registro de nascimento reconhecido pelo Estado

    19MARINHO, Ilmar Penna. Tratado sobre a nacionalidade. v. 4. Rio de Janeiro: Departamento deimprensa nacional, 1961, p. 231.20ACNUR. O que apatridia. Disponvel em: . Acesso: 08 ago. 2014.21ACNUR. A Study of Statelessness. Disponvel em: . Acesso:04 set. 2014.

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    , ou ainda, quando durante a sua vida, este perdeu sua nacionalidade, e no podeadquirir outra.22

    3 AS CONVENES INTERNACIONAIS E OS DIREITOS HUMANOS COMO

    MEIOS DE PROTEO DOS APTRIDAS

    A questo das pessoas sem ptria j foi alvo de vrias convenes internacionais,

    resultando em tratados que buscam enfrentar a questo. Os principais tratados queversam especificamente sobre proteo, preveno e reduo da apatridia so o

    Estatuto dos Aptridas de 1954 e a Conveno para Reduo dos casos de Apatridia

    de 1961.

    O Estatuto dos Aptridas de 1954, embora no seja um documento recente e

    que carece de efetivao, a principal legislao internacional para a definio de

    aptrida e a melhor maneira de regulamentar e assegurar os diretos fundamentais

    sem descriminao, bem como, os direitos sociais e polticos oferecidos a estes.23

    No mesmo condo, a Conveno para Reduo dos Casos de Apatridia defende

    que todas as pessoas tm direito a uma nacionalidade e sempre que a(anomalia) da

    apatridia surgir a nfase deve ser na preveno e reduo24.

    No entanto, cumpre lembrar que a proteo dos aptridas por meio da

    supracitada conveno deve ser uma soluo temporria, vigente apenas at o

    momento em que seja realizada de fato a concesso de nacionalidade por um Estado

    soberano. Todavia, para que seja garantida a aquisio e proteo dos direitos dos

    22ONU. Conveno sobre o Estatuto dos Aptridas de 1954 . Art. 1, inciso I. Disponvelem:. Acesso: 08 ago. 2014.23MOREIRA, Marcele de Almeida Lima. Aptridas: a efetivao dos direitos fundamentais sob a tutelada Organizao das Naes Unidas. 2011. 84 fl. Monografia de Direito UniCEUB, Braslia, 2011.Disponvel em: .Acesso: 08ago. 2014.24ACNUR. Conveno para a reduo dos casos de apatridia. Disponvel em:.Acesso: 05 set. 2014.

    http://repositorio.uniceub.br/bitstream/123456789/398/3/20681731.pdfhttp://repositorio.uniceub.br/bitstream/123456789/398/3/20681731.pdf
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    aptridas na forma prevista pelas convenes de 1954 e 1961, necessrio que osEstados soberanos que se interessem em promover a nacionalizao tenham aderido

    ambas.

    mais do que cedio o entendimento de que deve ser evitada a apatridia para

    subsequentemente diminuir o nmero de aptridas, contudo, para tanto,

    imprescindvel que haja uma cooperao internacional para que a comunidade dos

    Estados soberanos possam assegurar todas as pessoas que carecem, o gozo do

    direito de nacionalidade. Porm, so necessrias diferentes atitudes de algunsEstados em relao a atribuio e perda da nacionalidade.25

    A j mencionada Conveno de 1961 o nico instrumento universal que

    estipula salvaguardas claras, detalhadas e concretas para assegurar uma resposta

    adequada e justa a ameaa da apatridia, coagindo os Estados por meio de

    mecanismos que buscam evitar e resolver as controvrsias da nacionalidade, bem

    como, implementando a mobilizao internacional para a preveno e reduo da

    apatridia.26

    Uma vez feita a adeso pelo Estado soberano Conveno para Reduo e

    Preveno dos Casos da Apatridia de 1961, fundamental que se promovam medidas

    que garantam a proteo dos aptridas. Esta conveno tem por objetivo

    regulamentar e melhorar a condio dessas pessoas, assegurando que lhes sejam

    outorgados seus direitos e liberdades fundamentais sem discriminao. Ao final, o

    Estado soberano que tiver aderido a ambas convenes estar dando um passo

    importante para o enfrentamento da apatridia.

    Outro documento internacional que enfrenta a questo da apatridia a

    Declarao Universal dos Direitos Humanos. Esta afirma que todos tm direito a uma

    nacionalidade, porm, no estabelece qual ser a forma pela qual se instrumentalizar

    essa garantia, culminando assim na ausncia de regras objetivas que podem resultar,

    em ltimo grau, novos casos de apatridia.

    25ACNUR. Preveno e reduo da apatridia. p. 2. Disponvel em:. Acesso em: 08 ago. 2014.26Idem.

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    Ainda, a declarao supracitada traz a ideia de Direitos Universais prprios condio da pessoa, bem como, de liberdades fundamentais, e ainda a vedao de

    distines de raa, cor, sexo, idade, origem social, nacional, opinio poltica,

    reconhecendo assim, a dignidade e o valor da pessoa humana, buscando consolidar

    ao final, a igualdade de direitos fundados na liberdade, justia e paz mundial.27

    Bobbio, em relao tal perspectiva, aduz que a declarao um sistema de

    valores, universal, no um princpio, mas de facto, possui validade e capacidade

    para reger os destinos da comunidade futura de todos os homens, que explicitamente declarado.28

    Por isso, a declarao deve ser interpretada no somente como uma carta de

    princpios, mas tambm pela sua importncia de provimento e reconhecimento

    universal dos Direitos Humanos como Garantias Fundamentais, e ainda como meio

    de promoo da dignidade humana. Ou seja, a supracitada declarao busca

    assegurar os princpios bases que norteiam o Direito Internacional.

    A dignidade da pessoa humana um superprincpio, devendo ser usado comobase para o Direito Internacional, bem como, para a proteo dos Direitos Humanos

    e Garantias Fundamentais.

    A dignidade humana um fundamento primordial dos Direitos Humanos para

    proteger os aptridas, garantir seus direitos previstos e, principalmente, legitim-los

    augurados nas declaraes, tratados, princpios internacionais e constituies

    modernas, que j sustentam a questo da dignidade da pessoa humana como direito

    primordial para todas as pessoas.

    A dignidade humana precisa ser reconhecida, respeitada e igualada para todos,

    estabelecendo-se rotas alternativas e linhas de fuga para o enfrentamento do

    27ONU. Declarao Universal dos Direitos Humanos. Prembulo. Disponvel em:. Acesso: 08 ago. 2014.28BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho; apresentao de Celso Lafer.Nova Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p. 28.

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    problema de forma convexa e comprometida com o patamar de indeterminao ecomplexidade que a modernidade recente deflagra29.

    De todo exposto, deve-se considerar que a apatridia uma consequncia de um

    sistema internacional que considera cidado somente aquele que pertence a um

    Estado soberano. Assim, tal fenmeno representa um paradigma entre a soberania

    dos Estados e dos Direitos Humanos, visto que a condio de ser humano

    decorrente dos direitos exigidos pelo estado ao qual deveria pertencer30.

    Por ser um problema cada vez mais presente na vida ps-contempornea, imperioso que se passe a estudar meios de combat-lo. Ao nosso entender, uma

    medida consistente para enfrentar a questo da apatridia a conjugao dos

    postulados do Direito Internacional Convenes e Tratados que enfrentam o

    problemados Direitos Humanos e Garantias Fundamentais e do superprincpio da

    Dignidade da Pessoa Humana.

    4 CONCLUSO

    Ao final, de todo o exposto, entende-se realmente valiosa a discusso da

    questo da apatridia, locada no mbito do Direito Internacional e vista pelo olhar

    direcionado dos Direitos Humanos e Garantias Fundamentais. Em tempos nos quais

    as certezas so, na esteira de Baumann31, cada vez mais fludas, e nos quais as

    arbitrariedades dos Estados soberanos so cada vez mais pungentes, ningum pode

    afirmar que se v livre da condio de ser um aptrida. No o fosse, o nmero destes

    no aumentaria de ano em ano. Portanto, necessrio que passemos a estudar meios

    de combater tal fenmeno.

    29PERREIRA, Gustavo Oliveira de Lima. Direitos humanos e transnacionalizao: a questo dosAptridas pelo olhar da alteridade. p.16. Disponvel em:

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