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Apadrinhamento Um encontro de afeto e amizade Cartilha para Crianças e Adolescentes

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ApadrinhamentoUm encontro de afeto e amizade

Cartilha para Crianças e Adolescentes

ApadrinhamentoUm encontro de afeto e amizade

Cartilha para crianças e adolescentes1

1 Cartilha produzida para o Projeto Novos Vínculos Afetivos para crianças e adolescentes – Preparação, um trabalho do Aconchego com o

apoio do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente - FDCA/DF, 2016/2017.

“Ter um padrinho ou madrinha é ter um adulto como

referência, alguém que tenha disponibilidade para o

convívio e a vontade de compartilhar histórias,

opiniões, aprendizados, segredos, memórias,

risadas, silêncios, dores. ”

Maria da Penha O. Silva

GOVERNO DO DISTRITO FEDERALGovernador: Rodrigo Rolemberg

SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍTICAS PARA CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JUVENTUDESecretário: Aurélio de Paula Guedes Araújo

CONSELHO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – CDCA/DFPresidente: Antônio Carlos de Carvalho Filho

FUNDO DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E DO ADOLESCENTES – FDCA/DFPresidente do Conselho de Administração: Emilson Ferreira Fonseca

ACONCHEGO – GRUPO DE APOIO A CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIAPresidenta: Soraya Kátia Rodrigues Pereira

CRÉDITOS

Responsabilidade pelo desenvolvimento e realização do Projeto Novos Vínculos Afetivos para Crianças e Adolescentes: Aconchego Grupo de Apoio a Convivência Familiar e Comunitária.

Presidenta: Soraya Kátia Rodrigues Pereira

Organizadoras:Maria da Penha Oliveira Silva Eliana Carla Barcelos Kobori (Cogitatus: Psicologia, Educação e Cultura)

Produção de Textos:Maria da Penha Oliveira Silva (Cogitatus: Psicologia, Educação e Cultura)

Revisão:Elizete Cristina de Souza

Ilustrações: Eneida Figueiredo (Caju Design)

Projeto Gráfico, Diagramação e Arte Final:Fátima Leão (Caju Design)

Equipe Técnica de Apadrinhamento Afetivo/AconchegoEliana Carla Kobori, Maria da Penha Oliveira Silva, Sheila Siqueira, Simone Nunes e Sophia Galvão

ColaboradoraAna Carla Domingues de Araújo

Apoio administrativoDeusdedit Guimarães e Paulo Roberto Siqueira

Copyright © 2016 by CDCA/DF

A reprodução do todo ou parte deste documento é permitida para fins não lucrativos e desde que citada a fonte.Impresso no BrasilPrinted in BrazilDistribuição Gratuita

Sumário A História de Marcela 9

O que é Apadrinhamento Afetivo? 25

Como acontece? 26

Quem participa do Apadrinhamento Afetivo? 27

Quem pode ser Apadrinhado? 28

Quem pode ser Padrinho ou Madrinha? 29

A preparação das crianças e dos adolescentes 30

Apadrinhamento é diferente de Adoção 32

Padrinho ou Madrinha é diferente de Colaborador 33

No Apadrinhamento Afetivo, as regras de convivência 34

devem ser claras e coerentes

Padrinho ou Madrinhas podem participar da vida social do Afilhado, 35

desde que esse permita

Como a Criança ou Adolescente encontra seu Padrinho ou Madrinha? 36

Como acontece a celebração do Apadrinhamento? 37

O tempo de espera para o encontro com o futuro Padrinho ou Madrinha 38

Quem coordena o Apadrinhamento Afetivo? 39

Atividades 40

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A História de Marcela2 e os novos laços de afeto

Sou a MARCELA, tenho 16 anos, estou no “abrigo” desde que eu tinha nove anos de idade, quando eu e meus três irmãos fomos levados pelo Conselheiro Tutelar, o Sr. Francisco.

Um dia, estava em casa com meus irmãos, ele chegou, fez umas perguntas e disse que não podíamos ficar ali sozinhos, que alguém precisava cuidar de nós, e nos levou para o Abrigo. Na verdade, nós estávamos sem comer já tinha alguns dias, minha barriga estava colada.

Chegamos à noite nessa casa. A tia Nancy foi nos receber, fez outras tantas perguntas e nos apresentou para a “mãe social”. Achei muito estranho esse nome, pois eu só tinha uma mãe, e agora aquela ali que eu não conhecia me era apresentada assim? Não entendi nada. Mais tarde, alguém me explicou que era a pessoa que ia cuidar de mim e de meus irmãos até que minha mãe “de verdade” fosse nos buscar.

2 Nomes e alguns elementos da história de Marcela são imaginários. Há uma combinação de algumas histórias sobre apadrinhamento

afetivo.

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Esperei muito tempo, até que um dia, ela foi lá no abrigo. Conversamos. Falei das pessoas que estava conhecendo ali. Das crianças e adolescentes, da psicóloga, da assistente social, da nova escola e da nova professora. E de tantas outras pessoas que passavam ali no abrigo. Gente de toda natureza – gente que queria brincar comigo, gente que queria cortar meu cabelo, ou queria me ensinar matemática e até quem queria me ensinar a dançar. Também contei que todos os dias o almoço era servido na mesma hora. Que à tarde, eu ia para escola. Falei que às vezes gostava daquele lugar, mas que preferia estar com ela. Mas, ela desconversou, disse que a culpa de eu estar no abrigo era da vizinha que tinha “dedurado” (denunciado) ela, que só saía para trabalhar a fim de voltar para casa com nossa comida. Porém, recordo que não era bem assim....

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Daí, lembrei do que a tia Maria havia falado... que crianças não podem ficar sozinhas e nem podem trabalhar. Que um adulto precisa cuidar delas, que elas precisam ir à escola. E, quando isso não acontece, os direitos da criança estão sendo violados. A criança precisa ser cuidada por um adulto, pois está no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Minha mãe voltou outras vezes no “abrigo” para nos visitar. Ela sempre prometia que da próxima vez iria nos levar. Mas, isso não aconteceu, eu fiz 11 anos lá e fui cadastrada para adoção, mas nunca fui apresentada a alguma família. Soube que as famílias querem adotar crianças menores que eu. Meus dois irmãos menores foram adotados, e eu e meu irmão mais velho ficamos no abrigo.

Hoje tenho 16 anos, na escola, estou na 6ª série e ainda espero que minha mãe venha me buscar, apesar de que agora eu sei que está cada vez mais difícil, pois ela está usando drogas e não dá conta de cuidar nem dela mesma. Fico muito triste com isso, mas eu tenho que viver a minha vida.

Quando eu tinha quase 14 anos, a assistente do abrigo me inscreveu junto de outros adolescentes para o Apadrinhamento Afetivo. É um programa que prepara pessoas adultas para serem padrinhos ou madrinhas, e crianças ou adolescentes para serem os afilhados ou afilhadas. Para entrar nele, nós temos que fazer um curso onde aprendemos muitas coisas sobre o apadrinhamento afetivo.

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Eu fiz esse curso e agora tenho uma madrinha. Foram seis encontros. Às vezes, eu tinha preguiça de ir, mas eu queria muito um padrinho ou madrinha e me esforçava um pouco para participar do curso. Lá eu aprendi que um padrinho ou madrinha seria uma pessoa com quem eu formaria um laço de amizade. Então, eu poderia passear, ir à casa dela, viajar. Ela poderia ir à minha escola e a outras atividades que eu faço, assim, me acompanharia e me daria apoio em minhas escolhas.

Soube também que ela me ajudaria em meu projeto de vida, ou seja, me ajudaria a escrever minha história do futuro. Aprendi também que o padrinho ou madrinha seriam diferentes dos voluntários que frequentavam o abrigo, teriam compromisso e responsabilidade em me ver, pelo menos de 15 em 15 dias. Ah! poderia ser uma pessoa solteira; um casal: padrinho/madrinha; ou dois padrinhos ou duas madrinhas.

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Finalizado o curso, eu fui apresentada a uma pessoa e começamos a nos conhecer. No início, foi um pouco difícil, eu não sabia o que conversar com ela. Eu tinha aprendido no curso que era assim mesmo e que não podíamos pedir presentes, pois o importante era o afeto. Mas, eu não sabia o que era isso. Era estranho para mim!

A partir do nosso terceiro encontro, já sabíamos algumas coisinhas sobre nós. Ela era solteira, mas tinha um namorado. Tinha estudado para ser advogada. Era funcionária pública, trabalhava para o governo. Gostava de filmes românticos e, quando estava em casa, gostava de cozinhar. Isso tudo para mim era uma surpresa. Eu não sabia como funcionava uma família.

Por outro lado, ela foi me conhecendo também. Ela sabia que eu gostava muito de entrar nas redes sociais, tipo Facebook, adorava ficar no celular, tirar selfie e passear no Shopping, além disso sonhava em ter uma casa para mim e meus irmãos. Só que não gostava muito de estudar, mesmo que gostaria de ser advogada.

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Aos poucos, eu fui contando minha história. Senti que ela ficava triste quando eu falava que minha mãe mexia com drogas, mas que ainda assim eu queria morar com ela.

Acho que tinha medo que eu também gostasse de drogas e aí me dava muitos conselhos. Às vezes, eu gostava de ouvir, outras vezes eu não queria que ela me falasse nada.

Confesso que eu pensava que minha madrinha poderia me adotar, mas eu logo desfazia esse pensamento, pois eu aprendi no curso que quem deseja ser padrinho ou madrinha não pretende adotar, a intenção não é ter filho, mas sim um afilhado ou afilhada. Entendi que adoção é diferente de apadrinhamento, pois adotar significa ser pai ou mãe da criança ou do adolescente.

Como madrinha e afilhada nos encontrávamos com frequência. Cada uma morava em lares diferentes, mas às vezes eu me incomodava de voltar para a minha casa (é assim que chamo o abrigo). Com o tempo, fui entendendo que nossa amizade era importante, que não precisava ser sua filha, nem morar com ela para ser cuidada, respeitada e amada.

Depois de três meses de convivência, a coordenação do Apadrinhamento Afetivo nos chamou e perguntou se já estávamos prontas para assinar um Termo de Compromisso como madrinha e como afilhada. Disseram ser um momento importante quando seria celebrado um acordo de respeito e compromisso afetivo entre nós. Se em algum momento não quiséssemos mais esse compromisso, nós podíamos dizer uma para outra e nos separar sem nenhum problema. O que não podia acontecer, era uma de nós abandonar a outra sem nenhum aviso. Gostei disso! Afinal, as pessoas não costumam se despedir de mim. Só agora entendi que isso é necessário e que dói menos quando sabemos que não veremos mais aquela pessoa e por qual razão isso acontece.

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A celebração do apadrinhamento foi uma festa bem legal! Outros adolescentes também participaram com seus padrinhos e madrinhas. Todos pudemos levar alguns amigos e pessoas de que gostamos. Fizemos um lanche coletivo, com algumas brincadeiras, trocamos presentes com nosso padrinho ou madrinha.

Agora eu já tenho dois anos com essa madrinha. Somos amigas, mas às vezes nos desentendemos principalmente, porque eu gosto muito de sair, passear com meus amigos e chegar tarde em casa, e ela fica toda preocupada, porque pensa que vou fazer alguma coisa errada, tipo “ficar bêbada”, ou “me drogar”; enfim, fazer coisas que me prejudiquem. Eu não gosto quando ela fica falando, blá, blá, blá .... Mas, confesso que gosto quando vejo que ela se preocupa comigo, pois acho que é um sinal de que gosta de mim, não é mesmo?

Ela também pega muito no meu pé para estudar. Mesmo sendo uma coisa chata, entendo e não acho muito ruim, pois sei que preciso fazer a minha parte se eu quiser mesmo um dia ser advogada, ter a minha própria casa e família. Mas, acho tão difícil!!!

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Ah! Meu irmão Tiago de 14 anos também está no Apadrinhamento Afetivo. Ele tem um padrinho e uma madrinha. Eles são casados, tem um filho mais novo que meu irmão chama de “irmãodrinho” com quem convive na maioria dos finais de semana. Tiago também faz muitas coisas com seu padrinho e madrinha, algumas são legais e outras nem tanto, parecem obrigações, assim ele diz. Joga bola, vai ao cinema, anda de skate, fazem caminhadas no parque, mas também ajuda o padrinho a fazer compras no mercado, a lavar o carro; e, quando tem prova, o padrinho costuma ajudá-lo a estudar. Para meu irmão, esse laço de amizade tem sido muito importante embora, muitas vezes, ele perturba o padrinho dele, pois é um garoto um pouco emburrado, ou mesmo mal-humorado. Para meninos como meu irmão, eu sugiro aos padrinhos ou madrinhas ouvirem um trecho da música “Sutilmente” do Skank, que ouvi no curso, pois acho que pode ajudar:

...E quando eu estiver triste/ Simplesmente me abrace/ E quando eu estiver louco/ Subitamente se afaste/ E quando eu estiver bobo/ Sutilmente disfarce/... /Mas quando eu estiver morto/ Suplico que não me mate (não)/ Dentro de ti/ Dentro de ti.

Bem, eu não me acho uma adolescente difícil, nem mal-humorada, a não ser quando estou de “TPM “. Ter uma madrinha me deixa mais confiante no meu futuro, pois sei que posso contar com ela hoje e mesmo depois que eu fizer 18 anos e tiver que sair do “abrigo”. Sei que não vou morar com ela, mas poderei visitá-la, como sempre fiz. Ela já é parte de minha família e sei que não estarei mais só. Ainda que um dia nos separemos, ela estará presente na minha vida e no meu coração. É muito bom minha madrinha ser uma pessoa em quem posso confiar e que gosta realmente de mim!

Mas, eu aprendi que esse vínculo afetivo é como uma plantinha, que precisa ser regada todos os dias por mim assim como por minha madrinha. Sem contar que, para ser afilhado, é preciso realmente querer isso, não basta participar do curso. Assim se constrói a amizade, uma relação que exige respeito, cuidado, dedicação e muita paciência.

Fim!

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Saiba mais sobre Apadrinhamento Afetivo

O que é Apadrinhamento Afetivo?Apadrinhamento Afetivo para criança ou adolescente significa ter um laço de amizade, ou um vínculo afetivo com um adulto que deseja cuidar, acompanhar, conversar, aconselhar, brincar, passear, ler, estudar, jogar, apoiar o projeto de vida etc. Cada padrinho ou madrinha deve apadrinhar somente uma criança ou adolescente proporcionando a ele cuidados e atenção individualizada. Padrinhos ou madrinhas devem ser referência na vida da criança ou do adolescente para formar um vínculo afetivo, de maneira segura e duradoura.

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Como acontece?Primeiro, para realizar o Apadrinhamento Afetivo e convidar pessoas da comunidade para se tornarem padrinhos ou madrinhas de crianças e adolescentes, os organizadores do programa devem dar atenção ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Essa Lei determina que a criança e o adolescente estão sempre em primeiro lugar. O artigo 4º dessa Lei determina que a família, a comunidade, a sociedade em geral e o estado devem assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Depois, os organizadores devem ter um método (jeito) de trabalho que considere todas as ações que levem ao sucesso do apadrinhamento: Quem participa do apadrinhamento afetivo? Quais crianças ou adolescentes podem participar? Quem pode e quem não pode ser padrinho ou madrinha? O que é preciso fazer para se tornar um padrinho ou madrinha e para se tornar um afilhado ou afilhada? Essas e outras questões relevantes veremos adiante.

Quem participa do Apadrinhamento Afetivo? Para que o apadrinhamento afetivo tenha sucesso, todos os integrantes da rede de acolhimento e responsáveis pela proteção da criança e do adolescente devem entender o que é e como o programa funciona. Pessoas da comunidade que desejam ser padrinhos ou madrinhas, crianças e adolescentes também precisam compreender e vivenciar o apadrinhamento afetivo.

Toda a rede deve trabalhar em sintonia e se comunicar com clareza e coerência. É importante que cada um saiba qual o seu papel e como deve atuar para que tudo funcione e facilite a construção do vínculo afetivo entre padrinhos ou madrinhas; crianças e adolescentes. Para isso, devem se preparar para atuarem com responsabilidade e compromisso.

Vara daInfância e daJuventude Padrinhos/

Madrinhas

Universidades

Secretariade

Assistência

Promotoriada Infância e da

Juventude

DefensoriaPública

Acolhimento

Aconchego

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Quem pode ser Apadrinhado? • Crianças acima de 10 anos de idade e adolescentes que vivem provisoriamente em instituições de acolhimento (abrigos).

Quem pode ser Padrinho ou Madrinha?Pessoas da comunidade que:• possam oferecer cuidados, carinho e atenção individualizada a apenas

uma criança ou a um adolescente;• tenham mais de 21 anos de idade e que não estejam pretendendo

adotar, querem apenas ser padrinho ou madrinha.• tenham tempo para se encontrar com seu afilhado ou afilhada no

mínimo de 15 em 15 dias.• tenham compromisso, responsabilidade e respeito com a história de

cada criança/adolescente.• possam zelar pela integridade física e moral do afilhado ou afilhada

quando em sua companhia.• desejem colaborar com o projeto de vida e com a promoção da

autonomia de adolescentes por ocasião da saída da Instituição.• não possuam nenhuma demanda judicial.• façam o curso de preparação para padrinhos e madrinhas e participem

dos encontros de acompanhamento.

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A preparação das crianças e dos adolescentesCrianças e adolescentes são indicados para fazerem o Curso de Preparação para serem afilhados ou afilhadas. Participam de seis encontros. Ali, eles aprendem o que é apadrinhamento; quem pode ser padrinho ou madrinha, quem pode ser afilhado ou afilhada; conversam sobre limites e regras de convivência; discutem sobre autonomia e projeto de vida. Aprendem que o vínculo a ser construído no apadrinhamento afetivo ultrapassa a questão material, como presentes, passeios e lanches. Busca-se, no padrinho ou madrinha, o afeto, o diálogo, a troca de experiências, mas também uma referência e um apoio na construção do projeto de futuro.

Todas as atividades dos encontros são realizadas com jogos e brincadeiras, colagens, desenhos e música. E, por meio desses recursos, os participantes são convidados a pensarem nos desejos e sonhos deles, a olharem suas habilidades e seus talentos para melhor fazerem suas escolhas futuras.

Passada a etapa da preparação, a coordenação do apadrinhamento afetivo e a equipe de psicólogos e assistentes sociais do abrigo fazem alguns encontros com as crianças e adolescentes para compartilharem como está a convivência daqueles que já têm padrinho ou madrinha. Além disso, observam como está a espera para os outros que ainda não o conseguiram. Quando algo não vai muito bem no apadrinhamento, a equipe do Aconchego ajuda ambos a descobrirem o quê ocorre e como melhorar a convivência; ou, às vezes, sugere ser melhor interrompê-la.

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Apadrinhamento é diferente de Adoção• No apadrinhamento afetivo, constrói-se um laço de amizade.

Os adultos se tornam padrinhos ou madrinhas, e as crianças ou os adolescentes se tornam afilhados e afilhadas. Padrinhos, madrinhas, afilhados e afilhadas devem continuar morando em suas próprias casas. Mas, podem se visitar e passar finais de semana, datas festivas e viajar juntos quando a Vara da Infância e da Juventude autorizar.

• Na adoção, por outro lado, constrói-se um laço de filiação. Os adultos se tornam pais e mães, e as crianças e os adolescentes se tornam filhos e filhas.

Padrinho ou Madrinha é diferente de Colaborador• Colaboradores são voluntários que desejam contribuir com a

instituição, com a equipe técnica, com os cuidadores, com as crianças e com os adolescentes, mas não estão dispostos a dar atenção individualizada a cada criança ou adolescente. Eles contribuem com serviços (psicólogos, médicos, dentistas, motoristas, informática, reforço escolar etc.) e com doações (roupas, alimentos, livros, transporte etc.).

• Padrinhos/madrinhas são pessoas preparadas para dar afeto e atenção individualizada a seus afilhados e afilhadas. Presentes e outros mimos devem ser oferecidos apenas em datas festivas e, se quiserem, pois não é uma obrigação: Aniversário, Natal, Dia das Crianças, Páscoa e outras datas a combinar.

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No Apadrinhamento Afetivo, as regras de convivência devem ser claras e coerentes• Padrinho ou madrinha, afilhado ou afilhada devem construir

e respeitar os combinados sobre a convivência;

• Encontros, passeios, viagens devem ser combinadas com antecedência e, quando um ou outro não puderem se encontrar, devem avisar e justificar o motivo para o não cumprimento do combinado;

• Padrinho ou madrinha devem combinar com o afilhado ou afilhada os comportamentos permitidos e os não aceitos, assim como as crianças e os adolescentes devem dizer o que gostam e o que não gostam que façam com ele;

• Ambas as partes, se precisarem se ausentar ou desejarem sair do apadrinhamento, devem comunicar um ao outro e procurar realizar a despedida.

Padrinhos ou Madrinhas podem participar da vida social do Afilhado, desde que esse permita• As crianças e os adolescentes podem convidar seus padrinhos

ou madrinhas para participarem de suas atividades escolares, religiosas ou da instituição de acolhimento: reuniões, comemorações e festividades;

• Os padrinhos ou madrinhas também podem convidar seus afilhados ou afilhadas para participarem de seus compromissos familiares e sociais: aniversários, datas festivas, viagens de férias ou feriados;

• Outras atividades de lazer são sugeridas: brincar, jogar bola, leitura, skate, dançar, ir ao cinema, ao teatro, ao clube, shopping etc;

• Crianças e adolescentes podem ser convidados para participarem das rotinas da família do padrinho ou madrinha: ir ao supermercado, salão de beleza ou barbeiro, ajudar a preparar uma refeição, lavar carro, ver TV etc.

Como a Criança ou Adolescente encontra seu Padrinho ou Madrinha?Crianças e adolescentes são apresentados às pessoas que fizeram o curso e iniciam a convivência. Primeiro se encontram na instituição; em seguida, fazem pequenos passeios e, após algum tempo de convivência, conhecem a casa do padrinho ou madrinha e podem passar o dia ou pernoitarem de acordo com o consenso de ambas as partes.

A apresentação é feita por algum profissional do serviço de acolhimento. Esse profissional deve estar atento ao perfil ou modo de ser de cada criança e adolescente para identificar aquele que poderia ser o melhor padrinho ou madrinha para ele. Por exemplo, uma criança ou adolescente que gosta muito de futebol vai se beneficiar mais de um padrinho que também gosta desse esporte. Um outro que gosta de informática, poderá encontrar em um padrinho ou madrinha com essa habilidade, o que poderia servir de inspiração para seu futuro profissional.

Como acontece a celebração do Apadrinhamento?

Quando o vínculo acontece, ou seja, quando ambos, padrinhos/madrinhas e afilhados ou afilhadas, já confiam e se sentem seguros e confortáveis na presença um do outro, os responsáveis pelo Programa convidam todos os participantes para celebrarem o apadrinhamento através de um ritual, um evento de comemoração. Pode ser em algum lugar público, como restaurante, clube, parque; ou um lugar privado, como a casa de alguém. No encontro de celebração, os dois assinam um Termo de Compromisso elaborado pelo Aconchego. Além disso, padrinhos ou madrinhas e seus respectivos afilhados(as) trocam presentes que devem ser algo simbólico, sem importar com o valor material que cause um valor afetivo para quem ganha.

O tempo de espera para o encontro com o futuro

Padrinho ou MadrinhaA coordenação do apadrinhamento afetivo, juntamente

com os profissionais dos serviços de acolhimento, trabalha sempre para encontrar o melhor padrinho ou madrinha para

cada criança ou adolescente. Espera-se que o tempo de espera seja o menor possível.

Porém, nem sempre conseguimos realizar esse encontro como desejamos. Às vezes, é preciso esperar. E sabemos que isso causa ansiedade ou até mesmo desesperança. Para superar

essa questão, durante o curso de preparação, as crianças e os adolescentes trabalham com um caderno que

deve servir como um diário para que registrem seus sentimentos e emoções no período de

espera.

Quem coordena o

Apadrinhamento Afetivo? Todas as etapas são coordenadas por uma

equipe de psicólogos, assistentes sociais e educadores preparados para realizarem o trabalho e acompanharem todo o processo de apadrinhamento afetivo. Em Brasília, a coordenação fica por conta do ACONCHEGO,

uma organização que trabalha pelos direitos da criança e do adolescente

à convivência familiar e comunitária.

Atividades

Caça PalavrasADOLESCENTE, AFETO, AFILHADO, AMIZADE, APADRINHAMENTO, CONVIVÊNCIA, CRIANÇA, CUIDADO, MADRINHA, PADRINHO, PREPARAÇÃO, REGRAS, RESPEITO

B O L U C N I V Q Q B O A P AR E S P E I T O J P N D H R FI X A M I Z A D E A M A N E IA I C N E V I V N O C D I P LO H N I R D A P C V S I R A HA C N A I R C C K A P U D R AR E G R A S T F S H F C A A DE A D O L E S C E N T E M C OT S K U L I T I C X V X T A LA P A D R I N H A M E N T O W

Palavras cruzadasHORIZONTAIS2. Pessoa que contribui com uma instituição, doando bens ou serviços.3. Relacionar-se, ter uma vida em comum; ser próximo de alguém.8. Consideração; sentimento que leva alguém a tratar outra pessoa com grande atenção.9. Laço de amizade.10. Diz respeito à afetividade, aos sentimentos; possui afeição ou características afetuosas.

VERTICAIS1. Ligação afetiva ou moral entre duas ou mais pessoas.2. Atenção especial. Dedica-se a uma pessoa em especial, particular, singular.4. Criança acima de 12 anos de idade.5. Comprometimento; acordo realizado entre uma ou várias partes.6. Aquele que apadrinha uma criança. Escolhido para cuidar e proteger uma criança.7. Cerimônia. Ato de Celebração de um vento importante.

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Faça um desenho ou escreva sua expectativa do padrinho ou madrinha

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ACONCHEGO – GRUPO DE APOIO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

Organização não governamental fundada em 1997 no Distrito Federal. Tem como missão, promover ações e tecnologias sociais transformadoras em prol da convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes em acolhimento institucional. O ACONCHEGO é filiado à Associação Nacional dos Grupos de Apoio a Adoção – ANGAAD.Atualmente, suas principais frentes de trabalho são: a) apoio à adoção: encontros mensais com adotantes e interessados no tema e encontro com pais e mães de crianças acima de 3 anos de idade – Adoção Tardia; Famílias Aconchegantes: exposição fotográfica de famílias adotivas; b) Programa de Apadrinhamento Afetivo; c) Irmão mais Velho, desenvolvendo o voluntariado no contexto escolar, com adolescentes do ensino médio;d) Programa Click: a elaboração da história individual por meio da “contação de histórias” com crianças que vivem em instituições de acolhimento no DF; e) Programa de Capacitação.

Soraya Kátia Rodrigues Pereira. Psicóloga Clínica e Psicodramatista. Pós-graduada em Recursos Humanos. Especialista em atendimento à criança e ao adolescente. Formação em “Protoinfância” com Myrtha Chokler, Educação Infantil na abordagem Emmi Pikler-Loczy /Hungria. Coordenadora de Grupos. Presidente do Aconchego – Grupo de Apoio à Convivência Familiar e Comunitária.

Maria da Penha Oliveira da Silva - Organização e Produção de Texto Psicóloga, psicodramatista clínica e organizacional. Coordenadora de grupos. Pós-graduada em clínica interdisciplinar de transtornos psicopatológicos da criança e do adolescente. Consultora em processos de acolhimento institucional, adoção e apadrinhamento afetivo. Coordenadora do Programa de Apadrinhamento Afetivo – Aconchego. Coordenadora do Programa de Formação para os Núcleos de Preparação para adoção e apadrinhamento afetivo, do Aconchego/CONANDA.

Eliana Carla Barcelos Kobori - Organização Psicóloga e Empresária. Formação na Abordagem Pickler-Loczy na França. MBA em Gestão de Projetos IBMEC. Formação em Coaching com Psicodrama. Consultora para organizações do terceiro setor. Coordenadora do Programa de Formação para os Núcleos de Preparação para Adoção e Apadrinhamento Afetivo, da ONG Aconchego/CONANDA. Experiência desde 2006 em elaborar e implantar projetos sociais com a temática da Promoção a Convivência Familiar e Comunitária.

Eneida Figueiredo - Ilustradora, Artista Plástica e Designer Gráfico Graduada em Artes Visuais - IDA - UnB - 1994 | ESPM - MBA em Marketing - 1999. Voluntária na criação de algumas peças gráficas na ONG Aconchego. Desenha desde a infância!