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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO LUANA APARECIDA BARBOSA BRAGA APAC - Associação de Proteção e Assistência aos Condenados: uma metodologia de ressocialização adotada em um sistema prisional Belo Horizonte 2017

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Page 1: APAC - Associação de Proteção e Assistência aos Condenados ... · À minha mãezinha Sônia, minha irmã Ludmila, meus sobrinhos Sofia e João Lucas. Desculpem-me por ter estado

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

LUANA APARECIDA BARBOSA BRAGA

APAC - Associação de Proteção e Assistência aos

Condenados: uma metodologia de ressocialização adotada

em um sistema prisional

Belo Horizonte 2017

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LUANA APARECIDA BARBOSA BRAGA

APAC - Associação de Proteção e Assistência aos

Condenados: uma metodologia de ressocialização adotada

em um sistema prisional

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Administração do Centro Universitário UNA, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre.

Área de Concentração: Inovação e Dinâmica Organizacional.

Linha de Pesquisa: Dinâmica Organizacional, Inovação e Sociedade.

Orientadora: Profª. Drª. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

Belo Horizonte 2017

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AGRADECIMENTOS À Deus, pela saúde, resiliência, sabedoria, por me carregar no colo, nos momentos

mais difíceis, iluminar-me e colocar as pessoas certas em meu caminho.

Ao CEFET, por me proporcionar a oportunidade de estudar, adquirir conhecimento e

me tornar uma pessoa melhor a cada dia e uma profissional mais capacitada.

Aos recuperandos que se dispuseram a participar deste estudo, dividindo suas

experiências e emoções.

Aos diretores da FBAC e da APAC, pela atenção, disponibilidade e apoio.

À minha querida orientadora, Professora Dra. Fernanda Wasner, sou muito grata

pela ajuda, orientação, disponibilidade, atenção e carinho. Quantas palavras de

incentivo e tranquilidade. Obrigada por acreditar em meu projeto. Este título também

é seu.

Ao Davidson Andreoni, por me apresentar à APAC e ao Dr. Paulo Antônio de

Carvalho, sem você este trabalho não existiria.

Ao Dr. Paulo Antônio de Carvalho, Juiz de Execução Penal da Comarca de

Itaúna/MG, muito obrigada por abrir as portas da APAC para que eu pudesse

realizar minha pesquisa, por reacender em mim a esperança de um mundo melhor e

voltar a acreditar que ainda existem boas pessoas neste país.

Ao meu paizinho Vicente, sempre cuidando de mim onde quer que o senhor esteja.

À minha mãezinha Sônia, minha irmã Ludmila, meus sobrinhos Sofia e João Lucas.

Desculpem-me por ter estado ausente em alguns momentos importantes de nossa

vida durante esses dois anos, e obrigada por estarem sempre comigo tornando meu

fardo mais leve e cuidando de mim.

À minha querida e muito amada Tia Zélia, fonte de inspiração.

Aos amigos do CEFET que foram fundamentais nessa conquista: Adriana Venuto,

Carla Moreira, Cássia Silva, Dilene Silva, Fabiana Pés, Luciana Setragni, Glenda

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Carvalho e Viviane Zamboni.

Aos membros da banca, por aceitarem o convite e por suas contribuições.

À Professora Dra. Íris Goulart, querida e amada professora, que me instigou a

conhecer e estudar uma instituição total. Obrigada pelas aulas divertidas e

interessantes, e pelos momentos que passamos juntas.

À Professora Dra. Cristiana Ituassu, como aprendi com suas aulas. Sou muito grata

a você por ter me ensinado uma nova maneira de enxergar o mundo, uma forma

bem melhor do que eu conhecia. Obrigada por me ensinar a enxergar o mundo de

modo mais crítico.

À Professora Dra. Carolina Maranhão, obrigada pelos ensinamentos em cada aula.

Como é bom ter aula com professores que amam o que fazem, tornando esse

momento leve e prazeroso. Obrigada por tudo.

À Gionete Evangelista, amiga que ganhei no mestrado. Quantos obstáculos nós

vencemos juntas. Como nos divertimos, ficamos ansiosas, nos descabelamos,

achamos que não conseguiríamos, mas hoje estamos comemorando nossa vitória!!!

Aos amigos, que tanto amo e que contribuem tornando minha jornada mais leve e

feliz.

À Jeice Ignácio, amiga, irmã que a vida me deu, obrigada pelos ensinamentos e pelo

companheirismo durante esse período.

À Jeane Satlher, obrigada por acreditar em mim, no meu potencial. Obrigada por

toda a ajuda incondicional que você me deu para que eu pudesse realizar este

sonho.

Ao meu quarteto favorito, Bárbara Lopes, Brillian Aquino, Isabela Pena e Vanessa

Gregório, obrigada pelos momentos de alegria, pela amizade, companheirismo e

carinho.

À Angélica Pena, distante fisicamente, mas sempre ligada pelo coração.

À Adriana Perdigão, Daniele Fernandes, Elisa Maciel, Fernanda Machado Pavan,

Flaviana Maciel, Grazielle Viegas, Mara Bastos, Regiane Silva e Vanessa Sanches,

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obrigada pela amizade e apoio.

Aos meus colegas de sala do mestrado que, no decorrer desses dois anos, dividiram

suas experiências e aprendizado comigo, contribuído, assim, para meu crescimento

pessoal, profissional e acadêmico.

Aos professores e administrativos do mestrado da UNA.

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“Mesmo se a vida de uma pessoa é um terreno cheio de espinhos e ervas daninhas, há sempre um espaço onde a semente boa pode crescer. É preciso confiar em Deus”.

Papa Francisco

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RESUMO O método adotado pela Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) é uma alternativa ao tratamento adotado no sistema prisional tradicional, permitindo que, após cumprir a pena privativa de liberdade, haja a ressocialização e a reintegração desse indivíduo à sociedade. Este estudo teve como objetivo analisar o método de ressocialização praticado pela APAC Masculina de Itaúna (MG), na ótica de gestores e recuperandos, no ano de 2016. Para tanto, optou-se por uma pesquisa de abordagem qualitativa, de caráter descritivo, constituída por um estudo de caso. Foram realizadas 17 entrevistas semiestruturadas, por acessibilidade até a saturação. Os relatos foram transcritos e submetidos ao software IRAMUTEQ para a análise de conteúdo, sendo sugeridas 5 classes: (i) Gestão do Método APAC; (ii) Valorização Humana; (iii) Recuperando ajudando recuperando; (iv) Estrutura jurídica, crime e tradicionalidade; e (v) Cotidiano da APAC. Utilizou-se a enunciação para dar consistência a essas categorias. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da FHEMIG, sendo a pesquisa aprovada, conforme CAAE 59031016.7.0000.5119 e Parecer 1.759.237. Os resultados evidenciaram que a APAC introjeta suas regras, normas e crenças nos internos. Além disso, foi demonstrado, ao comparar com o sistema prisional comum, que a APAC é um modelo alternativo de gestão prisional eficiente. Através das diretrizes institucionais e dos seus 12 elementos estruturantes, principalmente, trabalho e atividades laborterápicas e profissionalizantes, família, religião, valorização humana e ajuda mútua, o método APAC aplica o caráter punitivo da pena de maneira digna, oferecendo condições para que o preso seja ressocializado e consiga sua reinserção na sociedade, após o cumprimento da pena, conforme previsto na Lei de Execução Penal (LEP). Nesse contexto, os depoimentos retratam que o método APAC é uma inovação social, ao adotar o termo recuperando para designar o condenado; ao individualizar a pena; ao tratá-los com dignidade e respeito independente do crime cometido; ao propiciar a participação efetiva da comunidade e dos voluntários; ao possibilitar aproximação com a família; ao ter infraestrutura adequada para os três tipos de regime e por existir controles administrativos que mensuram o comportamento do recuperando (mérito) e que subsidiam o juiz de execução penal na concessão dos benefícios da pena. Com isso, foi constatado que, ao envolver os recuperandos, conscientemente, em seu processo de ressocialização, surgem novas perspectivas de vida, a partir da mudança de comportamentos que evidenciam um preparo para retornar à sociedade e voltar a viver em situação bem mais adequada que aquelas experienciadas antes de cometer o delito. Concluiu-se que o método APAC é uma alternativa viável e eficiente no sistema prisional, ao cumprir a LEP e não violar os direitos humanos. Entretanto, esse método precisa ser entendido, aceito e disseminado no âmbito jurídico, pois um processo de ressocialização efetivo diminui a criminalidade, melhora a educação e a relação com o próximo, aumenta o grau de cidadania e, consequentemente, oferece maior proteção à sociedade. Para contribuir com a reintegração desse indivíduo e sua reinserção no mercado de trabalho, associado ao fato de esta pesquisa estar vinculada a um Mestrado Profissional, propôs-se um projeto de curso, na área de Informática com foco na profissionalização desse condenado em consonância com a proposta do método APAC. Palavras-chave: Instituição Total; Ressocialização; Reintegração; Inovação Social;

APAC.

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ABSTRACT The method adopted by the Association for Protection and Assistance to the Condemned (APAC) is an alternative to the treatment employed in the traditional prison system, since it allows for ressocialization and reintegration of the individual to society after completing the sentence imposed on him/her. This study was aimed at analyzing the ressocialization method adopted by APAC Itaúna (MG) for Male Convicts, from the perspective of both managers and rehabilitees, over the year of 2016. To this aim, a qualitative descriptive approach was chosen for the research, based on a case study. 17 semi-structured interviews were conducted through accessibility up to saturation. The reports were transcribed and submitted to software IRAMUTEQ for content analysis, with 5 categories being suggested: (i) Management of APAC Method; (ii) Human Valorization; (iii) Rehabilitee helping Rehabilitee; (iv) Legal structure, crime and traditionalism; and (v) APAC Daily Routine. Enunciation was utilized so as to ensure consistency to these categories. The research was submitted to the Committee of Ethics in Research of FHEMIG, being approved under CAAE 59031016.7.0000.5119 and Opinion 1.759.237. The results showed that APAC passes on its rules, norms and beliefs to the internees. It was also demonstrated that, when compared to the traditional prison system, APAC stands out as an efficient alternative prison management model. Through the institutional guidelines and their 12 structuring elements, mainly work and labor therapy as well as professionalizing activities, family, religion, human valorization and mutual help, APAC method applies the custodial sentence on a dignifying manner, by offering conditions so that the imprisoned can be ressocialized and successfully reinserted in society upon serving his/her sentence, as established by the Law on Penal Execution (LEP). In this context, the testimonies portrait APAC method as a social innovation, since it employs the term rehabilitee instead of condemned, individualizes the sentence, provides dignified and respectful treatment, irrespective to the committed crime, promotes effective community and volunteer participation, allows for family closeness, offers a suitable infrastructure for the three types of regime, besides keeping management controls that evaluate rehabilitees’ behaviors (merit) and provide the penal execution judge with information for the granting of sentence benefits. It was found that by consciously involving rehabilitees in their ressocialization process, new life perspectives surface from a behavioral change that shows readiness to return to society and restart living on much better perspectives than those experienced before committing criminal offenses. It was concluded that APAC method is a viable and efficient alternative in the prison system, which complies with LEP and does not violate human rights. However, this method needs to be understood, accepted and disseminated across the legal ambit, for being an effective ressocialization process that has decreased criminality, improved education and personal relationships, boosted citizenship and consequently provided society with higher protection. Towards contributing to individual reintegration and reinsertion in the job market, since this research work is linked to a Professional Master Degree, a Computer Basics course project was proposed with views to promoting rehabilitees’ professionalization, aligned with APAC method proposition. Key words: Entire institution; Ressocialization; Reintegration; Social Innovation;

Rehabilitee; APAC.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Visão geral da estrutura da dissertação.................................. 24

FIGURA 2 Entrada Regimes fechado e semiaberto na APAC Itaúna......... 73

FIGURA 3 Afresco com a proposta da APAC.......................................... 73

FIGURA 4 Vista geral de uma Cela no sistema semiaberto...............................................................................

73

FIGURA 5 Sala de Laborterapia no sistema fechado................................ 73

FIGURA 6 Empreendimento APAC......................................................... 74

FIGURA 7 Classificação Hierárquica Descendente................................... 78

FIGURA 8 Dendograma de Análise de Classificação Hierárquica Descendente sobre a análise do método de ressocialização praticado pela APAC..............................................................

79

FIGURA 9 Representação Gráfica das Classes de Palavras no Texto....... 82

FIGURA 10 Quadro Avaliação Disciplinar..................................................... 87

FIGURA 11 Quadro Atividades do Sistema Semiaberto.............................. 101

FIGURA 12 Resultados da Análise de Similitude........................................ 134

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LISTA DE QUADROS E TABELAS LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Equivalência das hipóteses com os instrumentos de coleta de

dados propostos.........................................................................

66

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Informações prisionais dos vinte países com maior população

prisional......................................................................................

33

TABELA 2 Pessoas privadas de liberdade no Brasil em junho de 2014........ 34

TABELA 3 Taxa de aprisionamento dos estados brasileiros.......................... 35

TABELA 4 Identificação das palavras na classe.......................................... 80

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS % Porcentagem

§ Parágrafo

APAC Associação de Proteção e de Assistência aos Condenados

APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

Art. Artigo

CAAE Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CEFET/MG Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

CEP Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos

CHD Classificação Hierárquica Descendente

CRS Centro de Reintegração Social

CSS Conselho de Sinceridade e Solidariedade

CTC Comissão Técnica de Classificação

DF Distrito Federal

EUA Estados Unidos da América

FBAC Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados

FHEMIG Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais

FIAT Fabbrica Italiana Automobili Torino

Freq. Frequência

GCJ Grupo de Cooperação Judicial

GMF Grupo de Monitoramento e Fiscalização de Execução Penal e Medidas Socioeducativas e de Segurança

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INFOPEN Informações Penitenciárias

IRAMUTEQ Interface de R pour les analyses Multidimensoionnelles de Textes et de Questionnaires

LEP Lei de Execução Penal

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MG Minas Gerais

no. Número

ONU Organização das Nações Unidas

PAI-PJ Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário Portador de Sofrimento Mental

PCN Projeto Começar de Novo

PFI Prison Fellowship International

PLS Projeto de Lei no Senado

RS Rio Grande do Sul

R$ Reais (moeda brasileira)

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública

SP São Paulo

SUAP Sistema Unificado de Administração Pública

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TJMG Tribunal de Justiça de Minas Gerais

UEC Unidade de Contexto Elementar

X² Qui-quadrado

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................. 14 1.1 Questão norteadora.................................................................... 16 1.2 Objetivo geral.............................................................................. 16 1.3 Objetivos específicos.................................................................. 16 1.4 Pressupostos da pesquisa......................................................... 17 1.5 Justificativa................................................................................. 18 1.6 Estrutura da dissertação............................................................. 23

2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................. 25 2.1 Instituição Total e Prisão............................................................. 25 2.2 Sistema Prisional........................................................................ 31 2.3 Ressocialização do Condenado................................................. 39 2.4 Inovação Social.......................................................................... 49 2.5 Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) 51

3. METODOLOGIA................................................................................ 62 3.1 Caracterização da pesquisa....................................................... 62

3.1.1 Quanto à abordagem.................................................................. 62 3.1.2 Quanto aos fins........................................................................... 63 3.1.3 Quanto aos meios....................................................................... 63

3.2 Unidade de análise..................................................................... 64 3.3 Sujeitos da pesquisa.................................................................. 64 3.4 Coleta de dados ........................................................................ 64 3.5 Técnica de análise e interpretação dos resultados.................... 66

4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS....................... 71 4.1 Caracterização do estudo............................................................. 71 4.2 Caracterização dos sujeitos da pesquisa.................................... 74 4.3 Contextualização......................................................................... 75 4.4 Categorias de Estudo e Análise.................................................. 77 4.4.1 Categoria: Gestão do Método APAC............................................ 84 4.4.2 Categoria: Cotidiano na APAC.................................................... 100 4.4.3 Categoria: Valorização humana.................................................. 108 4.4.4 Categoria: Recuperando ajudando recuperando........................ 120 4.4.5 Categoria: Estrutura jurídica, crime e tradicionalidade................ 127 5. PRODUTO TÉCNICO........................................................................ 136 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................... 138 6.1 Implicações gerenciais................................................................... 145 6.2 Limitação da pesquisa................................................................... 146 6.3 Sugestão para trabalhos futuros.................................................... 147 REFERÊNCIAS..................................................................................... 149 APÊNDICES......................................................................................... 162 Apêndice A........................................................................................... 162 Apêndice B........................................................................................... 164 Apêndice C........................................................................................... 165 Apêndice D........................................................................................... 166 ANEXOS............................................................................................... 174 Anexo A................................................................................................ 174 Anexo B................................................................................................ 175 Anexo C................................................................................................ 176

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Anexo D................................................................................................. 177 Anexo E................................................................................................... 179 Anexo F................................................................................................ 181 Anexo G ............................................................................................... 182 Anexo H ............................................................................................... 183

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1. INTRODUÇÃO

As organizações, em geral, vêm sendo estudadas devido à sua diversidade e

complexidade. Dentre essas, a instituição total desperta interesse de estudo por

suas características peculiares. Essas instituições podem ser exemplificadas por

manicômios, conventos, quartéis, asilos, prisões, entre outras. Segundo Goffman

(2015), nessas instituições, o indivíduo reside e trabalha em um mesmo local,

ficando impossibilitado de ter contato com o ambiente externo por determinado

período de tempo.

Após sua reclusão, esse indivíduo passa a ser socializado por essa instituição

fechada. Sendo assim, as instituições totais determinam as regras e os indivíduos

devem segui-las para atender aos objetivos oficiais da organização, não permitindo

nenhuma liberdade aos internos. Nesse sentido, compreender a influência que esse

tipo de instituição provoca na vida desses indivíduos torna-se importante para

entender os desafios, principalmente aqueles relacionados à sua socialização.

Esse processo de socialização utiliza a disciplina com o intuito de transformar o

homem em sua conduta social. Os sujeitos introjetam valores e crenças da

organização, relegando, a segundo plano, valores e crenças que possuíam antes de

sua inserção nessa instituição. Nesse contexto, essa socialização gera reflexos para

a sociedade, alterando as relações sociais desses indivíduos. Nesse sentido, afirma-

se o interesse em estudar a instituição total, compreendida nesta pesquisa como

“um local de residência e trabalho onde grande número de indivíduos, vivendo em

situação semelhante, separados da sociedade mais ampla, por considerável período

de tempo, leva uma vida fechada e formalmente administrada” (GOFFMAN, 2015,

p.11), em especial, as prisões.

A prisão foi escolhida para matéria deste estudo por constituir uma organização que

é pouco estudada pelos cientistas. Fisher (1996) afirma que a prisão, por ser uma

organização que não goza de prestígio, é ignorada por muitos cientistas, pelo

Estado e pela sociedade que também a discrimina por representar um problema

social, sendo considerada como o lixo da sociedade, repleta de indivíduos que não

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têm recuperação e oferecem grande risco social, conforme descrito por Ottoboni

(2014, p.34).

Nesse contexto, Barreto (2006) ressalta que o Estado não investe nos

estabelecimentos prisionais e a sociedade ignora a situação desumana em que

vivem os reclusos. Ainda, conforme o autor, o Estado e a Sociedade são

responsáveis na promoção de transformações nessas instituições, como a

realização de programas que possibilitem a reinserção do liberto na sociedade,

conforme prevê a Lei de Execução Penal vigente. Entretanto, mesmo sendo um

dever do Estado oferecer ao condenado condições para sua reinserção na

sociedade, após o cumprimento da sua pena, normalmente isso não acontece

(PINTO, 2013).

Em geral, as prisões não exercem o papel de recuperação do condenado.

Entretanto, existe uma alternativa ao sistema tradicional em que os presos cumprem

a pena privativa de liberdade de maneira digna e com uma estrutura eficiente, a

Associação de Proteção e Assistência aos Condenados, denominada APAC, sendo

retratada por Assis (2007), Butelli (2011) e Ottoboni (2014), dentre outros.

Sob essa perspectiva, o método APAC, adotado em alguns estabelecimentos

prisionais, está estruturado em 12 elementos que têm por objetivo recuperar o

condenado e propiciar condições para sua reinserção na sociedade. Trata-se de

uma instituição prisional inovadora com o objetivo de recuperar o condenado e

reinseri-lo na sociedade. Esse método tem como base uma rígida disciplina e a

humanização do cumprimento da pena privativa de liberdade, descrita por Ottoboni

(2014).

A organização que constitui esse objeto de estudo é a APAC Masculina, localizada

no município de Itaúna, em Minas Gerais. A APAC Masculina de Itaúna é modelo

para as demais APACs, devido aos bons resultados na aplicação do método de

valorização humana.

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1.1 Questão norteadora

O processo de socialização na APAC é realizado pela aplicação de método próprio,

considerado inovador, possuindo disciplina rígida, baseada no respeito, na ordem,

no trabalho e no envolvimento da família do recuperando. Esse processo deve ser

bem organizado e planejado para que a instituição consiga alcançar os resultados

esperados.

Visando a compreender essa instituição e seu processo de ressocialização, a

questão norteadora dessa pesquisa é: Quais são as potencialidades e as

fragilidades do método APAC na ressocialização do condenado?

1.2 Objetivo geral

Analisar o método de ressocialização praticado pela Associação de Proteção

e Assistência aos Condenados (APAC).

1.3 Objetivos específicos

Identificar pontos de referência do projeto inovador de ressocialização

prisional, adotado pela APAC.

Comparar os procedimentos usuais (plano disciplinar) de uma prisão comum

com os adotados na APAC.

Investigar as expectativas dos gestores em relação ao método APAC.

Verificar o que dizem os recuperandos sobre o processo de ressocialização a

partir da adoção do método APAC.

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Propor um projeto de estruturação de curso, voltado para a formação

profissional do condenado, a fim de contribuir para sua reinserção no

mercado de trabalho.

1.4 – Pressupostos da pesquisa

Para auxiliar o desenvolvimento desta pesquisa, foram definidos os seguintes

pressupostos:

A prisão comum exerce papel de reintegrar o condenado na sociedade

após o cumprimento da pena privativa de liberdade.

A APAC exerce papel de ressocializar o condenado na sociedade após

o cumprimento da pena privativa de liberdade.

O método APAC é um processo inovador.

O método APAC é uma ferramenta social.

Os condenados percebem a diferença entre o sistema prisional comum

e a APAC.

Os condenados preferem o sistema prisional comum para cumprimento

da pena privativa de liberdade.

Para os gestores, o método APAC ressocializa o preso.

O método APAC é aplicado por seus gestores como é proposto.

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1.5 Justificativa

Um dos desafios da sociedade é a recuperação do criminoso, de modo que não

volte a cometer crimes, após o retorno para a vida em sociedade. Vale destacar que

esta pesquisa teve sua conclusão no mês de Janeiro de 2017, em que matérias de

capa das quatro maiores revistas impressas e de fácil acesso do país destacaram a

crise no sistema prisional brasileiro, com as manchetes: Veja: “A Explosão da

Barbárie nas Prisões”; Época: “O País da Carnificina”; Isto É: “Os chefes do crime

apavoram o Brasil” e Carta Capital: “Massacre Amazônico”.

Essas reportagens refletem a atual crise nos presídios brasileiros, detalhando as

rebeliões que ocorreram em presídios localizados nos estados do Amazonas, de

Roraima e do Rio Grande do Norte. Essas rebeliões foram gerenciadas por facções

criminosas que promoveram brigas com facções rivais, envolvendo morte e

decapitação de presos, fugas, destruições das dependências dos estabelecimentos

prisionais, além de ações criminosas no ambiente externo aos presídios, tais como,

ônibus incendiados, delegacias alvejadas, ataques a Fóruns e aumento da violência

nesses estados.

Nesse contexto, o presente estudo torna-se importante por possibilitar um melhor

entendimento sobre como e de que forma uma organização pode influenciar a vida

dos indivíduos, tornando-os dóceis e úteis a essa organização, através da disciplina,

conforme propõe Foucault (2012, p.133).

A partir dos estudos do Poder Disciplinar de Foucault, várias instituições utilizam a

disciplina como forma de domesticar os indivíduos e tais procedimentos introjetam

esses valores institucionais. Dentre essas instituições, encontram-se as prisionais,

que, por meio das práticas organizacionais adotadas, conseguem que os presos

sejam ressocializados e reintegrados na sociedade, após o cumprimento da pena

privativa de liberdade.

Seguindo padrões internacionais para o cumprimento de pena privativa de liberdade,

desde 2009, a República do Kosovo possui uma instituição especial para a

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socialização de condenados a penas curtas de prisão. Essas penas são de até 3

(três) anos de condenação, no regime aberto ou semiaberto, com tratamento

adequado ao condenado, tendo esse a possibilidade de trabalhar (HOXHA, 2015).

Ainda, conforme o autor, o tratamento penal, voltado para a vida e o trabalho do

condenado, permite que o real objetivo do cumprimento da pena privativa de

liberdade seja conquistado.

Na realidade brasileira, na qual as prisões são organizações muito complexas e

pouco estudadas pelos cientistas, elas não dispõem de um programa de

ressocialização voltado para atitudes; apenas se preocupam com a disciplina no

tocante aos horários do banho, do banho de sol, de visita, de entrada e saída da

cela bem como a divisão do espaço. Assim, nesses momentos, os internos

socializam suas experiências de prática do crime, tornando os estabelecimentos

prisionais um ambiente propício para o aprimoramento das práticas criminosas.

A partir do momento em que o indivíduo é privado de sua liberdade, ele é afastado

do seu convívio pessoal corriqueiro e perde suas referências, sua individualidade, o

que causa graves consequências para sua personalidade. Como a maioria dos

presídios não possui um processo de ressocialização, o único aprendizado que o

preso adquire é a prática do crime, como descrito por Machado (2004, p.84).

Estudos comprovam esse fato ao apontarem índices de reincidência dos egressos

de 48% na Costa Rica, 60% na Espanha e até 80% nos Estados Unidos, conforme

Bitencourt (2011). No Brasil1, esse índice é de 85% no sistema prisional comum.

Zampier (2015)2, da Agência do Conselho Nacional de Justiça, afirma que 1 (um) em

cada 4 (quatro) ex-condenados voltam a cometer crimes, no período de cinco anos,

após o cumprimento de sua pena. Ainda segundo essa autora, “a população nos

presídios brasileiros cresceu 83 vezes em 70 anos, e já somos o quarto país que

mais encarcera no mundo (607,7 mil) – atrás de Rússia (673,8 mil), China (1,6

milhões) e Estados Unidos (2,2 milhões).”

1 Dados informados pela APAC Itaúna, através de comunicação pessoal. 2 Disponível em: http://cnj.jus.br/noticias/cnj/79883-um-em-cada-quatro-condenados-reincide-no-crime-aponta-pesquisa. Acesso em: 04 jan. 2017

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Sendo assim, Ribeiro, Cruz e Batitucci (2005) salientam que um processo de

socialização adequado torna-se indispensável para que crenças e valores dessa

instituição, na qual ingressaram, sejam internalizados por esses sujeitos. Esses

indivíduos se eximem de desejos e atitudes particulares, atendendo apenas aos

objetivos dessa organização.

Nesse sentido, verificou-se que a Associação de Proteção e Assistência aos

Condenados (APAC), uma prisão que utiliza método considerado inovador no

sistema prisional e dedicado exclusivamente à recuperação e à reintegração social

dos condenados, às suas penas privativas de liberdade, está baseada em método

próprio, estruturado no amor, na confiança e na disciplina e tem como filosofia

“matar o criminoso e salvar o homem” (OTTOBONI, 2014, p.49).

Isso acontece por se tratar de uma organização penitenciária com modelo alternativo

àquele adotado por uma instituição total, ao assumir papel ressocializador que

valoriza a autodisciplina, o respeito à pessoa humana e o tratamento adequado ao

sentenciado nos termos da Lei de Execução Penal (LEP), sem perder de vista a

finalidade punitiva da pena. Esse fato também constituiu fator que propiciou maior

interesse pelo tema visto que essa prisão não perdeu a característica de uma

instituição total, o que mudou foi apenas a concepção do processo de

ressocialização que utiliza a religião como base fundamental para o sucesso na

aplicação desse método (LIRA JÚNIOR, 2009, p.80).

Cabe ressaltar que, no poder legislativo brasileiro, tramita um Projeto de Lei no

Senado (PLS) n° 513/20133 que tem por objetivo enfrentar os problemas que

destroem os presídios. O projeto recomenda algumas alterações na LEP, tais como:

progressão automática do regime para presos com bom comportamento que tiverem

cumprido pelo menos um sexto da pena privativa de liberdade no regime anterior;

proibição de acomodar presos acima da capacidade do estabelecimento; proibição

de presos provisórios em penitenciárias; incentivos fiscais para empresas que

contratem ex-presidiários; dentre outras. Entretanto, não é mencionada a

necessidade de cuidar desse condenado em busca de novos aprendizados e 3Disponível em: http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/115665. Acesso em: 15 jan. 2017.

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comportamentos que permitirão a ressocialização desse indivíduo e sua

reintegração com a sociedade.

A partir do interesse por essa temática, fez-se um levantamento na literatura

especializada e constatou-se que sistema prisional, ressocialização e reintegração

do condenado são assuntos discutidos em diferentes áreas do conhecimento:

jurídica, filosófica, psicológica, psiquiátrica e sociológica, abordando pontos de vista

diversificados, sendo pouco explorado na área de Administração. Esse tema para a

área da Administração é relevante visto que investiga a estrutura e a dinâmica de

uma organização, a partir de um método considerado inovador pelo sistema no qual

está inserido e por atender a uma demanda social. É possível estudar como uma

instituição prisional realiza sua gestão, como utiliza a disciplina para avaliar os

condenados, se o método de ressocialização e reintegração proposto é eficiente

bem como sua aceitação pelos condenados, pelos gestores e pela sociedade.

Para a academia, é oportuno, neste momento, conhecer a dinâmica da organização

da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), na ótica da

Administração, por ser considerada uma organização prisional inovadora ao adotar

modelo alternativo de gestão carcerária cujo custo4 por preso, para o Estado, é de

R$853,00 (oitocentos e cinquenta e três reais) enquanto que, no sistema prisional

comum, esse mesmo preso custa R$3.080,00 (três mil e oitenta reais). Ressalta-se

que as estruturas físicas na APAC são propícias para o cumprimento da pena

privativa de liberdade, pois oferecem boas condições de higiene, celas adequadas,

alimentação saudável, atividades escolares e laborais, assistências médica, jurídica

e religiosa para os presos.

Outro aspecto é que essa instituição respeita o indivíduo, tratando-o de maneira

digna, independente do crime que tenha cometido, contribuindo, assim, para o

estabelecimento da sua autoestima e valorização humana. Em Minas Gerais, o

Método APAC foi iniciado e desenvolvido no município de Itaúna, no ano de 1997 e,

posteriormente, foi adotado em outras Comarcas para que houvesse a

4 Dados informados pela APAC Itaúna em 26 out. 2016 através de e-mail.

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municipalização da pena.

Para a autora desta pesquisa, o estudo foi motivado pelo interesse em compreender

como um método adotado por uma organização consegue influenciar na vida dos

indivíduos e como esses resultados se refletem na sociedade. Essa metodologia tem

como principais objetivos recuperar o preso, socorrer a vítima, proteger a sociedade

e promover a justiça (OTTOBONI, 2014). Nesse contexto e associado às atividades

profissionais desenvolvidas pela autora, no Centro Federal de Educação

Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), pretende-se elaborar uma proposta de

curso profissionalizante para os condenados, com o objetivo de instrumentalizar

esse indivíduo e aumentar as possibilidades de sua inserção no mercado de

trabalho.

Ressalta-se que, no método APAC, há baixo índice de reincidência5, 44% contra

85% em relação ao sistema prisional comum o que pode ser explicado pelo fato de

os trabalhos e da valorização humana constituírem elementos estruturantes desse

Método, sendo o preso assistido com atividades laboral e profissionalizante. Nesse

contexto, cumpri-se a real finalidade da pena, a ressocialização e a integração do

preso à sociedade.

Para a sociedade, este estudo apresenta uma alternativa para a melhoria de um dos

grandes problemas do sistema prisional brasileiro, a recuperação dos condenados

após cumprir a pena privativa de liberdade. Conhecer métodos de gestão carcerária

diferenciados que ressocializem os presos de modo que os mesmos não retornem

ao mundo da criminalidade torna-se importante. Nesse sentido, pode-se evitar o

aumento da criminalidade, a superlotação dos estabelecimentos prisionais e, assim,

diminuir o custo social.

5 Dados informados pela APAC Itaúna através de e-mail www.apacitauna.com.br.

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1.6 Estrutura da dissertação

Este texto está estruturado da seguinte forma: a Introdução consiste no 1º capítulo e

apresenta o tema abordado, o problema de pesquisa, os objetivos desta pesquisa, a

definição dos pressupostos bem como sua justificativa.

O segundo capítulo contempla a Revisão de Literatura, incluindo os temas:

instituição total, sistema prisional, ressocialização do condenado, inovação social e o

método APAC.

O terceiro capítulo abrange a Metodologia que compreende a descrição quanto à

abordagem, aos fins e aos meios; unidade de análise e sujeitos da pesquisa;

instrumento de coleta de dados; técnica de análise e interpretação de dados; os

aspectos éticos e a estruturação do produto técnico.

A Análise e a interpretação dos dados estão apresentadas no capítulo quatro,

abrangendo os tópicos: caracterização da área de estudo e dos sujeitos da

pesquisa, as categorias do estudo, conforme proposto por Bardin (2013), bem como

a análise e a interpretação propriamente dita. Com base nos resultados desta

pesquisa, propôs-se como produto técnico, um projeto de curso na área de

Informática, constituindo o capítulo cinco.

O sexto capítulo é composto pelas Considerações Finais desta pesquisa,

evidenciando as implicações gerenciais, ressaltando as limitações desta pesquisa e

propondo estudos futuros. Posteriormente, encontram-se: as Referências que

fundamentaram esta pesquisa; bem como os Apêndices e os Anexos em seus

respectivos capítulos.

A figura 01 sistematiza os seis capítulos estruturais desta dissertação bem como

suas referências, apêndices e anexos.

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Figura 01 - Visão geral da estrutura desta dissertação.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

A revisão de literatura deste trabalho aborda os seguintes temas: Instituição total

prisão, sistema prisional, ressocialização do condenado, inovação social e

Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC).

2.1 Instituição Total e Prisão

As instituições totais são organizações caracterizadas pelo isolamento social, visto a

barreira com o mundo exterior. “Seu fechamento ou caráter total é simbolizado pela

barreira à relação social com o mundo externo e por proibições à saída que, muitas

vezes, são incluídas no esquema físico, por exemplo, portas fechadas, paredes

altas, arame farpado” (GOFFMAM, 2015, p.16), afastando o indivíduo

completamente do seu convívio social para que ele seja socializado pela instituição

sem que sofra influência do meio externo (CALHAU, 2008).

Nesse sentido, quando o indivíduo ingressa nessa instituição, ele passa a conviver

apenas com outros indivíduos que vivem situações semelhantes à dele e com os

dirigentes dessa instituição. Os estudos de Machado (2004) e Goffman (2015)

analisam e fundamentam o cotidiano das instituições totais, evidenciando que a

segregação causada por essas, atuam diretamente sobre o indivíduo, sendo

consideradas por Goffman como “estufas para mudar pessoas”.

Ainda segundo esse autor, essas instituições diferenciam-se das demais instituições

pelo fato de romperem barreiras nas esferas da vida como trabalho, residência e

lazer. Os indivíduos realizam todas as atividades em um mesmo local e sob uma

única autoridade. Essas atividades são realizadas diariamente por eles e por outro

grupo de pessoas que são tratadas da mesma forma e fazem as coisas em conjunto;

há horários estabelecidos para as atividades e regras formais e explícitas que

atendem aos objetivos da instituição. Dessa maneira, Goffman (2015) classifica-as

em cinco grupos descritos a seguir. Esses grupos contemplam o público alvo

específico.

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i - Instituições para cuidar das pessoas incapazes e inofensivas, como por

exemplo: casas para cegos, velhos, órfãos e indigentes, ilustrado por

Morais, Benelli e Monteiro (2013).

ii - Instituições para cuidar de pessoas incapazes de cuidar de si mesmas

(ameaça para a sociedade, de maneira não intencional), como por

exemplo: sanatórios para tuberculosos, hospitais para doentes mentais e

leprosários, exemplificado pelos estudos de Alves dos Santos (2015).

iii - Instituições para proteger a sociedade contra perigos intencionais, por

exemplo, cadeias, penitenciárias, campos de prisioneiros de guerras,

campos de concentração, exemplificado por Chies (2013).

iv - Instituições que têm a intenção de realizar de modo mais adequado a

tarefa de trabalho, que se justificam através de fundamentos

instrumentais, como quartéis, navios, escolas internas, campos de

trabalhos, descritos nos estudos de Leal (2013) e Goulart, Ituassu e

Mattos (2015).

v - Instituições que servem para refúgio do mundo, embora muitas vezes

como locais de instrução para os religiosos: abadias, mosteiros,

conventos e outros claustros, exemplificado na pesquisa de Caldeira

(2014).

Essas instituições não possuem as mesmas características. Entretanto, seu aspecto

central de rompimento das relações sociais externas do indivíduo, fazendo com que

ele realize sua vida pessoal e profissional dentro do mesmo ambiente, é comum em

todos os grupos. Algumas dessas características se diferem de acordo com o tipo de

instituição total, umas pela permanência involuntária dos indivíduos e outras “com

intenção de autodesenvolvimento, descoberta pessoal ou para promulgar

compromisso com uma causa partilhada” (WADE, 2015, p.3).

Assim, a instituição total é definida por Goffman (2015, p.11) como sendo “um local

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de residência e trabalho em que grande número de indivíduos com situação

semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de

tempo, leva uma vida fechada e formalmente administrada”, sendo esse conceito

utilizado para nortear essa pesquisa.

Barcinski e Cúnico (2014) também caracterizam instituição total a partir dos estudos

de Goffman, através de aspectos que compõem a mutilação do eu, destruindo a

identidade pessoal dos indivíduos, através de práticas como o recolhimento de bens

pessoais, o dever de realizar tarefas diárias, a falta de momentos de intimidade, o

controle das relações com o mundo exterior, dentre outras.

Observa-se que essas instituições realizam papel socializador para assimilação das

normas e da cultura da instituição. De acordo com Fleury (1996, p.48), “os rituais de

socialização desempenham ao mesmo tempo o papel de inclusão do indivíduo ao

grupo e delimitação do processo de exclusão dos demais.” Assim, cada organização

possui uma estratégia para esse processo que é iniciado com a chegada do novato

e recebe denominações, tais como: acolhida, programa de inserção, integração de

novos funcionários, entre outras.

O processo de socialização organizacional é definido por van Maanen (1976) como

sendo um “processo pelo qual uma pessoa aprende valores, normas e

comportamentos exigidos o que lhe permitirá participar como membro de uma

organização”. Tal fato corrobora com as observações de Leal (2013) que evidencia

como esses indivíduos aprendem a fazer parte desse grupo social, tomando para si

os elementos dessa cultura.

A socialização pode ocorrer por um status diferenciado, explicitado e enfatizado pela

instituição (processo formal) ou por um aprendizado que ocorre no interior das redes

sociais (processo informal). Nesse sentido, essa socialização perpassa pelas regras

formais, explícitas que preservam a identidade da organização e, também, por

regras informais que, às vezes, se faz em maneira inconsciente, conforme abordado

por Schein (2004).

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Assim sendo, nas instituições totais, a disciplina é usada no processo de

socialização dos indivíduos como uma forma de ajustar o indivíduo à realidade em

que ele está inserido. Segundo Foucault (2012), a disciplina é um meio de

dominação decorrente dos séculos XVII e XVIII que torna os corpos mais obedientes

e mais úteis, com uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada. É uma

técnica de poder em que todos os dominados se submetem de maneira permanente

e silenciosa.

Ainda segundo o autor, através do olhar hierárquico que vigia, da sanção

normalizadora que pune e um exame singular, há possibilidade de os indivíduos

serem classificados, qualificados e punidos. O sucesso do poder disciplinar “se deve

sem dúvida ao uso de instrumentos simples: o olhar hierárquico, a sanção

normalizadora e sua combinação com que lhe é específico, o exame” (FOUCAULT,

2012, p.164).

Por ser tão evidente, o poder disciplinar é notório na instituição total prisão. Segundo

Machado (2004, p.92), o estabelecimento prisional definido como local de

confinamento, sob uma intensa vigilância e disciplina, “preenche todos os requisitos

que permitem caracterizá-lo como uma instituição total”. Dessa forma, a instituição

total foi criada antes que a lei a tornasse uma punição, para que os indivíduos sejam

transformados em dóceis e úteis através de um trabalho precioso sobre seus corpos

(FOUCAULT, 2012, p.217). Situação semelhante foi descrita por Barcinski e Cúnico

(2014), pois as prisões, a partir das normas previamente estabelecidas, realizam a

padronização e a exclusão dos indivíduos através do controle permanente de seus

comportamentos.

Conforme abordado por Fisher (1996, p.70), nessas instituições, dois grupos estão

presentes: o controlado e o controlador. As diferenças desses grupos são

enfatizadas pela atuação de práticas de aprendizagem que têm por finalidade

reorganização do eu, normas e regulamentos, ritos e símbolos que, segundo

Barcinski e Cúnico (2014), poderão contribuir para a destruição da identidade dos

indivíduos encarcerados.

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Assim, quando o indivíduo entra em uma instituição total, há rupturas com o mundo

externo na qual a autonomia de suas necessidades é perdida, formando, assim, o

grupo controlado. Os dirigentes dessas instituições (grupo controlador) regem as

regras e os horários detendo o poder sob os internados (grupo controlado), segundo

Caldas e Lima (2015).

Por diversos fatores, a prisão deve ser um dispositivo disciplinar fatigante,

conferindo poder total sobre os detentos, com seus mecanismos internos de

repressão e de castigo. Foucault (2012) analisa a construção de um local

controlador que possibilitava um controle individual e funcional por meio do

Panóptico de Bentham:

Na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre: esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; ela tem duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito da contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhuetas cativas nas celas da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que cada ator está sozinho, perfeitamente individualizado e constantemente visível. O dispositivo panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e reconhecer imediatamente. Em suma, o princípio da masmorra é invertido; ou antes, de suas três funções – trancar, privar de luz e esconder - só se conserva a primeira e suprimem-se as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha (FOUCAULT, 2012, p.190).

Nesse sentido, Machado (2004) lembra que, por meio de um número reduzido de

supervisores carcerários, o Panóptico de Bentham objetiva o controle completo e

constante dos presos, por meio de uma estrutura de poder relativamente eficiente.

Martins (2010) salienta que, quando se começa a fazer parte dessa instituição, ou

seja, o início do seu confinamento, o indivíduo passa por uma série de etapas para a

mortificação do eu com o objetivo de tornar os sujeitos dóceis, submissos e úteis,

conforme definiu Goffman. O isolamento ao mundo exterior e o afastamento ao seu

ambiente favorecem a aplicação do poder disciplinar pelos dirigentes através de

regras e procedimentos diários. Os sujeitos passam a viver longos períodos de

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tempo no mesmo local com as mesmas pessoas, internos e dirigentes. A vida dos

internos passa a ser administrada por terceiros.

O conflito vivido pelos internos entre o caráter punitivo do estabelecimento prisional

e a cultura de valores delinquente é relatado por Carvalho (2003). O autor conta que,

ao entrar nessa instituição, o indivíduo é sujeito a uma série de degradações, dando

início à construção de uma nova identidade. Essas degradações são exemplificadas

pelo autor como a substituição do vestuário civil pelo institucional; substituição do

nome individual por um número identificador, dentre outras.

Essas degradações assumem direção oposta aos direitos dos presos, sejam eles

presos condenados sejam provisórios, previstos na Lei de Execução Penal (LEP),

Lei n° 10.713/2003, em seu artigo 41:

(...) I - alimentação suficiente e vestuário; II - atribuição de trabalho e sua remuneração; III - Previdência Social; IV - constituição de pecúlio; V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI - chamamento nominal; XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena; XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento; XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes. XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente (BRASIL, 2003).

Nesse contexto, verifica-se que a prisão potencializa o valor das regras e normas, a

reorganização do eu, demarcando as diferenças entre o grupo controlador e o grupo

controlado de acordo com os moldes e as características cunhadas por Fischer

(1996) e Goffman (2015).

Com isso, torna-se evidente que a instituição total busca socializar o indivíduo a

partir do seu confinamento nessa instituição. Com o rompimento de suas relações

sociais, o indivíduo assimila valores, crenças, normas e procedimentos, tornando-as

características dessa instituição, facilmente perceptível, em cada indivíduo. Para

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entender mais detalhadamente como esse processo acontece e a sua relação com o

tema desta pesquisa, o sistema prisional será discutido a seguir.

2.2 Sistema Prisional

A prisão é definida por Foucault como “local onde o poder de punir, que não ousa

mais se exercer com o rosto descoberto, organiza silenciosamente um campo de

objetividade em que o castigo poderá funcionar em plena luz como terapêutica e a

sentença se inscreve entre os discursos do saber” (FOUCAULT, 2012, p.242). Para

Goffman (2015, p.17), as prisões “são um tipo de instituição total criada para

proteger a comunidade contra perigos intencionais, e o bem-estar das pessoas

assim isoladas não constitui o problema imediato.”

Conforme Trentin (2011), a partir do isolamento desse indivíduo, ele é submetido ao

controle dessa instituição total prisão, cujo fechamento físico e simbólico da

instituição fundamenta o êxito no controle sobre esses indivíduos, mantendo

soberania do mundo externo.

Nesse contexto, a prisão, local destinado ao cumprimento de pena privativa de

liberdade, é menos atual do que se alega:

A forma-prisão preexiste à sua utilização sistemática nas leis penais. Ela se constitui fora do aparelho judiciário, quando se elaboram, por todo o corpo social, os processos para repartir os indivíduos, fixá-los e distribuí-los espacialmente, classificá-los, tirar deles o máximo de tempo e o máximo de forças, treinar seus corpos, codificar seu comportamento contínuo, mantê-los numa visibilidade sem lacuna, formar em torno deles um aparelho completo de observação, registro e notações, constituir sobre eles um saber que se acumula e se centraliza (FOUCAULT, 2012, p.217).

Desse modo, Fisher (1996, p.70) menciona que a organização penitenciária tem

como objetivo o ajustamento social de indivíduos que exibem condutas desviantes.

Segundo a autora, a prisão realça técnicas de aprendizagem, por meio de ritos e

símbolos, para que ocorra uma reorganização do eu, mantendo os padrões culturais.

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Apesar disso, Dostoiévski salienta que o presídio não cumpre seu papel de

recuperar o condenado, “o regime de penitenciária oferece resultados falsos,

decepcionantes, ilusórios. Esgota a capacidade humana, definha o espírito e,

depois, apresenta aquele detento mumificado como modelo de regeneração”

(DOSTOIÉVSKI, 2006, p.24).

A realidade do sistema prisional é preocupante. Os presos vivem de maneira

degradante, cruel e desumana em um sistema falido que precisa de novas ações

que visem a solucionar tais situações. De acordo com Motta, Ribeiro e Moura (2011),

os problemas carcerários brasileiros são classificados em dois grupos:

O primeiro corresponde aos problemas decorrentes da má gestão da coisa pública, falta de interesse político, inabilidade administrativa e técnica. São exemplos desse grupo: presídios sem a infra-estrutura mínima necessária, material e humana, para o cumprimento de pena; falta de condições materiais e humanas para o incremento dos regimes progressivos de cumprimento de pena, consoante dispõe o texto legal; superpopulação carcerária, etc. O segundo grupo corresponde aos problemas inerentes à própria natureza da pena privativa de liberdade e os inerentes à própria natureza do cárcere. São eles: o isolamento da família, a segregação em relação à sociedade, a convivência forçada em meio delinquente, o sistema de poder controlando todos os atos do indivíduo, relações contraditórias e ambivalentes entre o pessoal penitenciário e os presos (quem oferece apoio é quem os reprime e os pune). A grande diferença do segundo grupo em relação ao primeiro é que seus problemas são praticamente inevitáveis (MOTTA; RIBEIRO; MOURA, 2011, p.589) (Grifos nossos).

Segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias,

INFOPEN (2014), o Brasil tem a quarta maior população prisional do mundo em

números absolutos, perdendo apenas para Estados Unidos, China e Rússia,

conforme apresentado na tabela 01. Com o aumento da população prisional, as

prisões encontram-se superlotadas, pois novas vagas não são criadas na mesma

proporção, gerando, assim, superlotação carcerária nas prisões brasileiras.

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Tabela 01: Informações prisionais dos vinte países com maior população prisional

País População prisional

Taxa da população

prisional por 100.000

habitantes

Taxa de ocupação

Taxa de presos sem condenação

Estados Unidos 2.228.424 698 102,70% 20,40%

China 1.657.812 119 - -

Rússia 673.818 468 94,20% 17,90%

Brasil 607.731 300 161% 41%

Índia 411.992 33 118,40% 67,60%

Tailândia 308.093 457 133,90% 20,60%

México 255.638 214 125,80% 42,00%

Irã 225.624 290 161,20% 25,10%

Indonésia 167.163 66 153% 31,90%

Turquia 165.033 212 101,20% 13,90%

África do Sul 157.824 290 127,70% 26,00%

Vietnã 142.637 154 - 12,80%

Colômbia 116.760 237 149,90% 35,20%

Filipinas 110.925 113 316% 63,10%

Etiópia 93.044 111 - 14,00%

Reino Unido 85.704 149 111,60% 14,40%

Polônia 78.139 203 90,20% 7,70%

Paquistão 74.944 41 177,40% 66,20%

Marrocos 72.816 221 157,80% 46,20%

Peru 71.913 232 223% 49,80%

Fonte: INFOPEN, jun/2014; SENASP, dez/2013; IBGE, 2014, p.12.

Ainda segundo dados do INFOPEN (2014), Secretaria Nacional de Segurança

Pública - SENASP (2013) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE

(2014), a situação carcerária mundial vive uma situação precária tanto em sua forma

estrutural quanto em sua funcionalidade, conforme descrito na tabela 02. O Brasil,

por possuir uma população carcerária de 607.731, ocupa o quarto lugar no ranking

dos países com maior população prisional do mundo, perdendo apenas para os

Estados Unidos (2.228.424), China (1.657.812) e Rússia (673.818). Esses dados

confirmam que a situação carcerária é um dos problemas sociais mais complexos da

realidade brasileira, visto que o número de vagas existentes é de 376.669, gerando

um déficit de 231.062 vagas. Ressalta-se que a taxa de ocupação é de 161%, ou

seja, a cada local que deveria custodiar 10 presos existem, aproximadamente, 16

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presos.

Tabela 02: Pessoas privadas de liberdade no Brasil em junho de 2014

BRASIL 2014

Panorama Geral Índices

População prisional 607.731

Sistema Penitenciário 579.423

Secretarias de Segurança/ Carceragens de Delegacia

27.950

Sistema Penitenciário Federal 358

Vagas 376.669

Déficit de vagas 231.062

Taxa de ocupação 161%

Taxa de aprisionamento 300

Fonte: INFOPEN, jun/2014; SENASP, dez/2013; IBGE, 2014, p.11.

Considerando a população prisional de cada estado brasileiro, São Paulo é o estado

com maior população prisional com 219.053 presos, representando 36% da

população prisional do país. Minas Gerais ocupa a segunda posição com 61.286

presos e o estado do Rio de Janeiro, com 39.321 presos, na terceira posição.

Observa-se que a menor população carcerária, com 1.610 presos, encontra-se em

Roraima (INFOPEN, 2014).

Para melhor dimensionar a população carcerária, é utilizada a taxa de

aprisionamento que corresponde à taxa da população prisional para cada 100.000

habitantes. Em 2014, a taxa de aprisionamento foi de aproximadamente 300 presos

por 100.000 habitantes. Na Tabela 03, constam os valores da taxa de

aprisionamento em cada estado brasileiro.

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Tabela 03: Taxa de aprisionamento dos estados brasileiros

ESTADOS BRASILEIROS TAXA APRISIONAMENTO (%)

Minas Gerais 568,90

São Paulo 497,40

Distrito Federal 496,80

Acre 441,20

Rondônia 436,40

Espírito Santo 417,90

Amapá 353,40

Pernambuco 339,40

Roraima 324,00

Mato Grosso 321,20

Minas Gerais 295,60

Santa Catarina 266,30

Paraná 259,00

Rio Grande de Sul 250,40

Ceará 246,40

Pernambuco 243,30

Rio de Janeiro 238,90

Tocantins 216,00

Rio Grande do Norte 207,70

Goiás 203,00

Sergipe 194,00

Amapá 192,40

Alagoas 174,20

Pará 164,30

Bahia 101,80

Piauí 100,90

Maranhão 89,00

Fonte: INFOPEN, jun/2014, p.18.

Ainda conforme informações do INFOPEN (2014), quanto ao perfil da população

prisional brasileira, 56% dos presos possuem idade entre 18 e 29 anos, 51% são

negros, 57% são solteiros e 8% têm Ensino Médio completo. Em Minas Gerais (MG),

o perfil da população prisional é 57% dos presos têm idade entre 18 e 29 anos, 70%

são negros, 82,5% são solteiros e 56% têm Ensino Fundamental incompleto.

Nos estabelecimentos prisionais brasileiros, 38.831 dos detentos realizam atividades

educacionais, constituindo 10% da população prisional brasileira. Em MG, 5.403

presos realizam atividades educacionais representando 11% da população prisional

desse Estado, conforme dados fornecidos pelo INFOPEN (2014).

Esses estabelecimentos apresentam uma realidade social preocupante, conforme

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apontam os estudos de Callegari (2009) que enumeram alguns dos principais

problemas enfrentados pelo sistema prisional brasileiro: superpopulação carcerária,

presídios sem higiene, não há separação entre os presos já condenados dos que

ainda não foram julgados, nem distinção por tipo de crime, morosidade na análise

dos processos de progressão, ausência de programas de trabalho e assistência ao

preso, o que dificulta o cumprimento da pena pelos condenados.

Conforme apontado por Oliveira (2008), os recursos que poderiam proporcionar aos

presos melhores condições para o cumprimento da pena, nas prisões brasileiras, é

uma das causas que favorecem a violação do direito da dignidade humana. De

acordo com Hildenbrand et at. (2014), quando o preso integra uma instituição total

prisão, ele passa a ter obrigações a cumprir, a ser vigiado e limitado, balizando

padrões de bem-estar, valores, incentivos e sanções.

Segundo estudos de Verde e Assunção (2014), a violação de direitos fundamentais

aos presos, durante o cumprimento da pena privativa de liberdade, deve ser abolida

dos estabelecimentos penitenciários, devendo haver um esforço maior da sociedade

e do Estado em não violar esses direitos.

A violação desses direitos gera uma dificuldade no indivíduo em se adaptar à vida

fora da prisão, pelo fato de não conseguir se desvincular da cultura prisional, sendo

um estimulador da reincidência no mundo do crime (BARRETO, 2006). Assim, a

concessão ou não dos direitos fundamentais será fator determinante para que esses

indivíduos retornem ou não ao mundo do crime. Esse fato também pode ser

minimizado por políticas públicas na área da educação que facilitem sua inserção no

mercado de trabalho após o cumprimento da pena.

A prisão, como medida punitiva, não consegue exercer sua finalidade, tendo o

Estado a principal preocupação de exclusão social, não oferecendo ao preso

possibilidades de ressocialização (CARTAXO et al., 2013). Os autores também

afirmam que fatores como a superlotação e o déficit de vagas nos estabelecimentos

prisionais dificultam ações que garantam os direitos assegurados pela LEP.

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A falência do sistema prisional é comprovada por alguns fatores enumerados por

Fischer, como, por exemplo, crescimento da reincidência criminal, superlotação

carcerária, rebeliões recorrentes. Fisher (1996, p.74) salienta que “o projeto

disciplinador de contenção da criminalidade revelou-se incapaz, limitando sua

eficácia à parca execução de um tipo de controle social, o qual é altamente

insuficiente, até mesmo para assegurar a custódia do preso”.

Nesse sentido, enquanto a sociedade e o governo brasileiro mantiverem uma

posição com atitudes discriminatórias, preconceituosas e de descaso, o sistema

penitenciário continuará sendo um grande problema social, político e econômico

para o país, o que pode ser resumido por Assis (2007, p.3), “não apenas a situação

carcerária, mas o problema de segurança pública e da criminalidade como um todo

tende apenas a agravar-se”.

Conforme estudos de Takemiya (2015, p.1), as falhas no processo de execução

penal brasileira, principalmente quanto ao aspecto de ressocialização do condenado,

contribuem para o crescimento da reincidência criminal e da população carcerária.

Ainda segundo a autora, a prisão “não combate ou previne a criminalidade, ou seja,

não fornece a segurança esperada pela sociedade.”

Sendo assim, o sistema prisional comum não cumpre seu papel principal de

reinserção dos presos na sociedade após o cumprimento da pena de uma maneira

digna e humanitária. Camargo (2006, p.4) apresenta um projeto carcerário inovador

com bons resultados na ressocialização dos presos. “Traremos à luz algo de

inteiramente novo, inusitado e revolucionário, em se tratando de humanização da

pena e efetiva recuperação do preso.” O autor refere-se à Associação de Proteção e

Assistência aos Condenados (APAC), uma entidade jurídica, sem fins lucrativos que

tem como objetivo recuperar o preso através do método de valorização humana,

denominado Método APAC.

Caravellas (2009) apresenta um projeto voltado para recompor o dano causado pelo

crime, com práticas que atendam às necessidades da vítima, sendo uma alternativa

para resolver os problemas enfrentados pelo sistema prisional, denominado de

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Justiça Restaurativa. Alguns países já adotam políticas restaurativas desde 1970,

sendo o Canadá o primeiro país a aplicar a justiça restaurativa, fundamentada no

Povo Aborígena. Na Nova Zelândia, desde a década de 1980, são aplicadas práticas

restaurativas em jovens, pessoas nativas e adultos que praticaram crimes graves.

Nos EUA, as práticas restaurativas são executadas na criminalidade juvenil, através

de acordos para reparação de dano e alguns Estados adotam essas práticas em

crimes graves sob a forma de reparação de dano e consequências do delito.

Ainda conforme a autora, no Brasil existem 3 (três) projetos de justiça restaurativa,

em Brasília/DF, Porto Alegre/RS e São Caetano do Sul/SP. O projeto piloto,

desenvolvido em São Caetano do Sul, é praticado em conflitos com adolescentes,

estabelecendo uma relação entre justiça e educação para pequenos delitos ou

crimes de menor potencial ofensivo.

No caso deste estudo, enfoca-se apenas o processo de ressocialização, utilizando o

método APAC. Oliveira (2013) afirma que esse método, modelo religioso de

administração prisional, cativou a atenção de vários grupos, em especial, no Estado

de Minas Gerais devido à parceria da Fraternidade Brasileira de Assistência aos

Condenados (FBAC) com a Organização Não Governamental americana, Prison

Fellowship International (PFI). Para um melhor entendimento, Almeida e Sá (2016)

descrevem, a seguir, as principais vantagens do método APAC para o sistema

prisional brasileiro. A parceria com a FBAC consiste em fiscalizar a aplicação do

método, mantendo sua integridade nas instituições que abrangem o método.

O método APAC tem índice de reincidência menor que 10% em todos os locais em

que é usado, o que demonstra sucesso na meta de que o preso retorne a uma vida

normal na sociedade após cumprir sua pena. Nesse método, ocorre o menor número

de rebeliões. Esses índices são explicados porque o método APAC cumpre o que foi

instituído pela Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984); com a dignidade merecida

pelo condenado e que foi estabelecida constitucionalmente; além de constituir um

método de participação coletiva, baseada no voluntariado.

Nesse contexto, o método APAC é uma alternativa de gestão para os problemas

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enfrentados pelo sistema prisional comum, pois o condenado cumpre a pena

privativa de liberdade de maneira digna, tendo a possibilidade de se recuperar e de

se reinserir na sociedade, exercendo assim a real finalidade da pena. O caráter

ressocializador também é proposto pela justiça restaurativa, constituindo uma

ferramenta para combater a criminalidade, sendo uma alternativa no tratamento de

conflitos, cuidando da vítima e restabelecendo as relações sociais.

Em síntese, o sistema prisional no Brasil precisa ser repensado com o intuito de

promover a ressocialização do condenado, conforme prevê a LEP, minimizando a

reincidência em práticas criminosas, visto que essas pessoas precisam se preparar

para uma condição de vida mais adequada e justa após o cumprimento de sua pena.

Ressalta-se que a maior parte do sistema prisional vigente impõe uma série de

violações aos direitos humanos e o cumprimento da pena tem a finalidade punitiva

por si só. Mas existem casos em que, com o método escolhido para gerenciar um

presídio, a pena tem seu caráter punitivo, mas também apresenta em igual nível de

importância a ressocialização e a reintegração do condenado, visto que a defesa da

vida contempla os valores constitucional, éticos, morais e sociais como propõe o

método APAC.

2.3 Ressocialização do Condenado

Conforme instituído na Lei de Execução Penal, Lei n° 7.210 de 1984, em seu artigo

1º, “a execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou

decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do

condenado e do internado”, o cumprimento da pena deve possibilitar condições para

que o preso se integre à sociedade.

A finalidade da pena privativa de liberdade, segundo Figueiredo Neto et al. (2009), é

de reabilitação e ressocialização do criminoso, buscando como resultado maneiras

de corresponder o mal provocado pelo criminoso. A aplicação da pena deve ter

efeito de temor além de regeneração para que esse indivíduo, ao retornar à

sociedade, seja útil e honesto. Para Takemiya (2015), o trabalho e a capacitação

profissional são elementos fundamentais para que o preso possa ser reintegrado na

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sociedade.

De acordo com professor Francis T. Cullen (2000), pesquisador Emérito de Justiça

Criminal da Universidade de Cincinnati, é necessário pontuar sobre o que deve ser

feito com aqueles que violam a lei, uma pergunta aparentemente simples que

desafia a uma resposta também simples, relacionando-se à abordagem escolhida

para tirar cidadãos da criminalidade. Para Cullen, o mais importante é trabalhar para

reduzir a criminalidade. O autor destaca que essa ideia de que intervenção

correcional deve corrigir infratores e mudá-los, remete aos Estados Unidos, no início

do século XIX com a invenção das penitenciárias (BEAUMONT; TOCQUEVILLE,

1964 [1833]6; ROTHMAN, 1971). Essas não foram criadas com a intenção de ser um

lugar onde os criminosos sofressem, mas como propõe a própria palavra

penitenciária, ao sugerir que a prisão proporcionasse uma experiência de

encarceramento capaz de transformar o próprio espírito e promover a adoção de

bons hábitos para viver.

Porém, Robert Martinson, em 1974, publicou sua avaliação célebre e pessimista dos

estudos de tratamento: O que funciona? Perguntas e Respostas Sobre Reforma

Prisional (What Works? Questions and Answers About Prison Reform). Para

Martinson (1974, p.25), "a reabilitação, os esforços que têm sido relatados até agora

não tiveram efeito apreciável sobre a reincidência”, para ele, foram raras as

exceções.

As avaliações de Martinson permaneceram durante algum tempo como uma das

obras mais citadas em Criminologia, segundo os autores Cousineau e Plecas

(1982), dada a consideração para com seu ensaio. Mesmo após estudos com maior

rigor metodológico e, ou estatisticamente sofisticados de análises, muitos

criminologistas trataram o "Nada funciona" como a realidade empírica e suas

preferências ideológicas convenientes, sem a necessidade de reabrir a questão. No

entanto, como citado pelos autores acima, Paul Gendreau e Robert Ross e seus

6 CULLEN, Francis T.; GENDREAU, Paul. Assessing Correctional Rehabilitation: Policy, Practice, and Prospects. Disponível em: <https://www.ncjrs.gov/criminal_justice2000/vol_3/03d.pdf> Acesso: 16 Ago 2016.

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colegas Don Andrews e James Bontam, com vivências de um contexto sociopolítico

diferente, examinaram o controverso “Nada funciona". Como psicólogos

canadenses, tiveram experiências na implantação, administração e avaliação de

programas correcionais, mais tarde reconhecidos como a escola canadense de

reabilitação.

Ao contrário de estudiosos nos Estados Unidos, esses psicólogos não visualizaram

a reabilitação como um caso de "terapia imposta coercivamente aplicada por

agentes estatais de controle social em um criminoso (in) justiça politizada" (BINDER

e GEIS, 1984). Eles foram para o "Nada funciona", com um viés disciplinar. Como

clínicos treinados na Teoria da Aprendizagem, eles acreditavam que o

comportamento criminoso foi em grande parte aprendido. Sendo essa hipótese

verdadeira, a ideia do "Nada funciona" fazia pouco sentido para eles, visto que essa

doutrina sugere implicitamente "que os criminosos são incapazes de reaprender ou

de adquirirem novos comportamentos" (GENDREAU; ROSS, 1979, p.465-466).

Gendreau e Ross (1979; 1987) revisaram extensivamente as narrativas de pesquisa

publicada em revistas e livros na era pós-Martinson. Na primeira avaliação, foram 95

estudos do ano de 1973 ao início do ano de 1978 e, na segunda avaliação, foram

analisados 130 estudos, no período de 1981 a 1987. Ambas as avaliações

apontaram para três conclusões: (i) uma das principais razões para os programas

correcionais falharem é devido à falta de integridade terapêutica; (ii) apesar dos

muitos obstáculos que a programação correcional precisou superar, Gendreau e

Ross descobriram dezenas de exemplos de intervenções de tratamento bem-

sucedidas na redução da reincidência; e (iii) os estudos relataram que os infratores,

semelhantes a outros seres humanos, são marcados por diferenças individuais.

Algumas dessas diferenças dizem respeito à sua criminalidade e os infratores

diferem em relação ao seu nível de risco para reincidência.

As opiniões quanto à eficácia do sistema penal dos EUA diferem para a população

americana, para a qual o sistema é implacável com o crime, contudo para o resto do

mundo ocidental, este é visto como um sistema quebrado, em que a política dos

EUA de encarceramento em massa é o resumo da prática ineficaz (MALLORY,

2006). O índice de encarceramento americano é superior a 714 presos por 100.000

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cidadãos norte-americanos (WALMSLEY, 2008). Essa taxa é maior do que a de

outros países europeus do Sul e do Oeste, cujas taxas de encarceramento são de

95 por 100.000 cidadãos (STERN, 2002; WALMSLEY, 2008). A maior taxa de

encarceramento dos EUA poderia ser aceitável se resultasse em uma sociedade

mais segura. No entanto, isso não acontece. Então, na forma atual, o sistema

prisional norte-americano não impede crimes e é ineficaz na reabilitação de

infratores. Ironicamente, o sistema penal americano, inadvertidamente, encoraja o

comportamento antissocial (MALLORY, 2006).

Em contraste, quando se examinam as taxas de criminalidade, a percentagem da

população que está presa e a taxa de reincidência nos países nórdicos, as

estatísticas demonstram que os sistemas penais nórdicos são bem-sucedidos em

desestimular uma futura atividade criminosa, quando comparado com os EUA

(WALMSLEY, 2008). A abordagem nórdica à punição, a organização de suas

prisões e a percepção pública da finalidade do sistema penal são fundamentalmente

diferentes daquele adotado pelos EUA. Constatou-se que esse modelo de prisão,

também utilizado na Dinamarca, Finlândia e Suécia, permitiu a redução na taxa de

criminalidade na Noruega que era de 200 por 100.000 pessoas em 1950 e, em 2004,

foi de 65 por 100.000 pessoas (von HOFER, 2007).

Segundo Melo (2015), nos Estados Unidos, alguns juízes criaram um programa de

ressocialização na Prisão Angola, a mais brutal e violenta do país, para condenados

com pena inferior a 10 anos. Esse programa consiste em transformar os presos em

pessoas prontas para reingressar na sociedade. Cada preso possui um mentor que

são antigos prisioneiros, muitos deles sem esperança de saírem vivos da prisão. De

acordo com a teoria dos juízes, os mentores se tornam uma figura paterna,

facilitando assim o processo de ressocialização. Além disso, são oferecidos cursos

profissionalizantes, tais como, mecânica, lanternagem e horticultura que preparam

os presos para o mercado de trabalho. Situação semelhante é verificada no método

APAC em alguns de seus elementos: recuperando, ajudando recuperando, trabalho,

voluntário e formação.

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Outro exemplo, uma prisão holandesa experimental foi criada para minimizar os

custos e aumentar o sucesso do recluso após a libertação, em que os direitos dos

presos são uma preocupação primordial e o objetivo final é ensinar aos infratores

que suas escolhas têm consequências boas e más (KENIS, 2010).

Os países nórdicos apresentam leis e políticas penitenciárias distintas. Mesmo

assim, seus sistemas penais têm resultados favoráveis para reabilitação e educação

dos delinquentes. Observa-se que as prisões norte-americanas abrigam cerca de

350 presos, a maioria dessas prisões é relativamente pequena e possui cerca de

100 reclusos (PRATT, 2008). O principal objetivo do tamanho limitado da prisão é

manter várias prisões ativas em diversas partes do país, permitindo que os

prisioneiros residam próximos às suas famílias (PRATT, 2008; MELO, 2012).

Consequentemente, os prisioneiros nórdicos podem manter suas raízes em suas

comunidades e laços familiares ao receber serviços de reabilitação dentro dos

muros da prisão.

No método APAC, existe uma situação semelhante, ao propor a municipalização dos

presídios, visto que seus elementos estruturantes contemplam a participação da

comunidade e da família, o trabalho, o Centro de Reintegração Social (CRS),

propriamente dito, bem como assistências jurídica e de saúde.

Segundo Campos (2015), a prisão de Halden, que fica localizada na Noruega, foi

construída em uma área florestal, onde os presos podem receber visitas de seus

familiares, possuem trabalho, cursos de formação profissional e cursos educacionais

como, por exemplo, curso de inglês. As celas não possuem grades, mas sim, amplas

janelas com vista para a floresta. A comida é preparada pelos próprios presos e

também há uma loja onde os presos podem comprar ingredientes para fazerem

refeições especiais. Os guardas prisionais devem passar por um curso de formação

de, no mínimo, dois anos em uma faculdade para que possam cuidar dos detentos.

No método APAC, observam-se semelhanças com o descrito anteriormente para a

prisão de Halden, no tocante à estrutura da cela, ao preparo da alimentação, à

existência de uma lojinha de conveniência, às atividades laborais e

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profissionalizantes. Entretanto, os presos são responsáveis pelos cuidados com toda

a infraestrutura do Centro de Reintegração Social de Presos (CRS) e os próprios

recuperandos são responsáveis uns pelos outros, inclusive pela segurança do local.

Melo (2012) salienta que, nos Estados Unidos, o sistema prisional baseia-se em

duas teorias: (i) a Teoria da retribuição, vingança e retaliação, baseada na filosofia

do olho por olho, dente por dente, e (ii) na Teoria da dissuasão, que é uma

retaliação contra o criminoso e uma ameaça a outros, tentados a cometer o mesmo

crime. Ao contrário do sistema prisional norueguês, a reabilitação do preso não é

uma opção, mas sim, uma obrigação. A pena máxima na Noruega é de 21 anos.

Caso o preso nesse período não se reabilite inteiramente ao convívio social, “serão

aplicadas prorrogações sucessivas da pena, de cinco anos, até que sua

reintegração à sociedade seja inteiramente comprovada” (MELO, 2012, p.2).

No Brasil, o processo de reeducação do preso é um processo difícil, pois não

existem recursos materiais suficientes e, muito menos, políticas de incentivo do

governo para que seja feito um investimento na formação do preso para que esse

não cometa novos crimes, relata Oliveira (2008).

Atualmente, tramita no Poder Legislativo um Projeto de Lei do Senado (PLS) n°

239/20157 que propõe a criação de polos industriais próximos aos estabelecimentos

penitenciários como o objetivo de promover a instalação de empresas que

participem da formação profissional e da concessão de empregos aos presos. Além

disso, esse projeto institui o valor de salário inicial de pelo menos um salário mínimo.

Outro projeto que, se aprovado contribuirá para a ressocialização do condenado, é o

PLS n° 513/20138 que oferece benefícios fiscais para as empresas que contratarem

determinado percentual de egressos oriundos do sistema prisional.

A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado. Ela deverá ser material, à

saúde, jurídica, educacional, social e religiosa, segundo disposto na Lei de

7 Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/120820. Acesso em: 31 de janeiro de 2017. 8 Disponível em: http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/115665. Acesso em: 31 de Janeiro de 2017.

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Execução Penal (LEP), n° 7.210 de 11 de julho de 1984, em seu 11º artigo, “A

assistência será: I - material; II - à saúde; III - jurídica; IV - educacional; V - social; VI

- religiosa (BRASIL, 1984).

Conforme disposto no art. 126 da LEP, o condenado tem direito a estudar e a

trabalhar enquanto estiver preso e poderá remir parte do tempo de execução de

pena. Estudando, o condenado poderá reduzir um dia de pena a cada 12 horas de

frequência escolar. E, trabalhando, reduz 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de

trabalho.

Lima (2010) descreve a importância do trabalho para a ressocialização dos detentos,

pelo trabalho e pela qualificação profissional, possibilitando o reingresso social,

porque “através do trabalho, os indivíduos garantem equilíbrio e melhor

condicionamento psicológico, bem como melhor comprometimento social. Ensinar

um ofício enquanto cumprem a pena é a maneira mais eficaz para ressocializar os

presos” (LIMA, 2010, p.4).

Ainda, segundo o autor, a formação profissional do preso possibilita a reinserção

social e pode inibir a reincidência, particularmente se o motivo do crime foi ausência

de qualificação profissional e/ou de formação acadêmica. Ao encontro a esse autor,

os estudos de Takemiya (2015) reforçam a importância da profissionalização e do

trabalho para o preso durante o cumprimento da pena privativa de liberdade.

Segundo os estudos feitos por Campos (2015), fatores como o aumento da

formação profissional e educacional dos presos, conseguir um emprego após a

libertação e a estabilidade familiar são medidas que contribuem para a reinserção do

preso na sociedade, diminuição da reincidência e, com isso, a diminuição da

criminalidade.

Nesse sentido, o ato de ressocializar é definido por Rossini (2015, p.2) como “dar ao

preso o suporte necessário para reintegrá-lo à sociedade, é buscar compreender os

motivos que o levaram a praticar tais delitos, é dar a ele uma chance de mudar, de

ter um futuro melhor independente daquilo que aconteceu no passado.” O autor

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apresenta alguns impedimentos no sistema prisional, para a ressocialização do

preso ao cumprir sua pena privativa de liberdade. São eles: saúde, higiene e

alimentação dentro das prisões; superlotação carcerária; violência dentro das

prisões e o retorno à sociedade (aceitação).

As péssimas condições de vida (saúde, higiene e alimentação) dentro das prisões

provocam doenças tanto físicas quanto psicológicas nos presos, conforme

Bitencourt9 (2011, p.166), citado por Rossini (2015),

Nas prisões clássicas existem condições que podem exercer efeitos nefastos sobre a saúde dos internos. As deficiências de alojamentos e de alimentação facilitam o desenvolvimento da tuberculose, enfermidade por excelência das prisões. Contribuem igualmente para deteriorar a saúde dos reclusos as más condições de higiene dos locais, originadas na falta de ar, na umidade e nos odores nauseabundos.

Rossini (2015) argumenta que a superlotação carcerária ocorre principalmente pelo

aumento da criminalidade, pelo atraso no julgamento dos processos e pela falta de

medidas para a reintegração do preso na sociedade.

A violência entre os presos dentro das prisões é cada vez mais frequente,

imperando a popular lei do mais forte. O código do recluso são as regras impostas

pela máfia carcerária. Essas regras devem ser seguidas pelos presos, caso

contrário, sofrerão punições como, isolamento, espancamento, violência sexual ou

morte, também descritas por Carvalho (2003).

A sociedade tem um importante papel para o êxito na ressocialização do preso que,

após o cumprimento da pena, necessita de aceitação e oportunidade para o seu

retorno à sociedade. Rogério Greco10 (2011, p.443) apud Rossini (2015) enfatiza

que “parece-nos que a sociedade não concorda, infelizmente, pelo menos à primeira

vista, com a ressocialização do condenado. O estigma da condenação, carregado

pelo egresso, o impede de retornar ao normal convívio em sociedade.”

9 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão – Causas e Alternativas. 4. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. 10 GRECO, Rogério. Direitos Humanos, Sistema Prisional e Alternativa à Privação de Liberdade. São Paulo:

Saraiva, 2011.

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Greco (2011, p.448)10, citado por Boueri (2015), relata algumas dificuldades

enfrentadas pelos indivíduos após o cumprimento da pena:

De que adianta ensinar um ofício ao condenado durante o cumprimento de sua pena se, ao ser colocado em liberdade, não conseguirá emprego e, o que é pior, muitas vezes voltará ao mesmo ambiente que lhe propiciou o ingresso na “vida do crime”? Ademais, não somente a imposição do trabalho tem essa finalidade ressocializadora. O que queremos, na verdade, não é despertar a consciência do condenado no sentido de que, quando em liberdade, não volte a delinquir? Assim, mesmo que não aprenda nenhum ofício durante o cumprimento de sua pena, devem, obrigatoriamente, ser ministrados cursos no sentido de mostrar ao condenado os malefícios do crime, fazendo com que valorize a sua liberdade (GRECO, 2011, p.448).

Nesse sentido, Arruda (2011) complementa e corrobora com os fatores já

mencionados por Callegari (2009), Cartaxo et al. (2013), Rossini (2015) e Takemiya

(2015) que impedem a ressocialização do apenado. Os principais fatores,

apresentados por Arruda (2011), foram a superlotação nos presídios, a corrupção

dentro das prisões, a ociosidade dos presos, a proliferação de organizações

criminosas, a falta de saúde pública dentro das prisões, a morosidade processual e

os erros do Judiciário, bem como a omissão do Estado e da sociedade.

Além da superlotação dos estabelecimentos prisionais, fatores como, presos

provisórios e condenados de várias idades nos mesmos estabelecimentos, e

estruturas físicas em situações mórbidas se contrapõem ao que prevê a LEP

(MORAES; ABREU, 2015). Nesse contexto, Monteiro e Cardoso (2013) observam

que as políticas desenvolvidas pelo governo objetivam apenas os problemas

emergenciais, não fomentando ações que possam diminuir a criminalidade e permitir

a ressocialização do preso.

Conforme apresentado anteriormente, a recuperação do condenado não depende

apenas da vontade dele ou de ensiná-lo um ofício, mas também de uma mudança

cultural da sociedade. A marca da condenação dificulta o retorno ao mercado

profissional facilitando, assim, a volta ao mundo do crime.

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De acordo com os dados do Conselho Nacional de Justiça, no relatório de pesquisa

sobre Reincidência Criminal, a reincidência ao crime é um desafio no sentido de

“apostar na recuperação do preso, dar oportunidade ao preso de reintegração à

sociedade” (CNJ, 2015, p.111) primando pelo respeito à dignidade humana. Ainda

segundo esse relatório, os presos que cumprem pena nas unidades onde é adotado

o método APAC possuem índices de reincidência que variam de 8% a 15%,

diferente dos presos que cumprem pena no sistema prisional comum, responsáveis

por 70% da reincidência do país.

Volpe Filho (2009) argumenta que ressocializar é transformar o ser humano

novamente em um indivíduo social, ressocializando o que foi dessocializado. O autor

salienta que a pena de prisão e seu cumprimento não têm função ressocializadora,

ela simplesmente dessocializa. Para que a dessocialização seja mais branda, o

Estado deve executar medidas ressocializadoras, após o cumprimento da pena,

para evitar o aumento à reincidência criminal. Assim, Gonçalves (2014) propõe que

a reintegração social ocorrerá a partir da integração entre a sociedade e a prisão,

diminuindo a exclusão social do preso pós-prisão e, consequentemente, a

reincidência criminal.

Para Rossini (2015), existem algumas alternativas para que o sistema prisional

brasileiro solucione essa crise e realize a ressocialização do condenado. Segundo a

autora, as alternativas podem ser o trabalho prisional como medida ressocializadora,

provocando efeitos positivos no preso; a educação nos estabelecimentos prisionais

com a finalidade de qualificar o indivíduo; a intervenção mínima do direito penal,

através da criação de novos tipos penais e o desenvolvimento de políticas públicas

para que o Estado possa realmente alcançar o objetivo do cumprimento da pena

privativa de liberdade. Segundo o Dicionário Aulete11, enquanto reeducar significa

tornar a educar ou reabilitar educando; ressocializar é definido como socializar de

novo, ou seja, adequar-se à vida em grupo com percepção de direitos, limites,

solidariedade, entre outros. Sendo assim, reeducação é uma forma de ressocializar.

Por fim, para Machado (2008), ressocializar é preparar o condenado para a

11Disponível em www.aulete.com.br. Acesso em: 15 fev 2016

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reinserção social, ensinando-lhe um ofício, construindo sua moral e ensinando

hábitos de disciplina e ordem. Esse conceito apresentado por Machado será

utilizado para nortear esta pesquisa, porque se assemelha ao proposto pelo método

APAC.

2.4 Inovação Social

Em consonância com o objeto de estudo adotado neste trabalho, para explicar

inovação social, primeiramente será definido o termo inovação. No momento em que

o conceito de inovação for definido, interessa diferenciar os termos invenção e

inovação. De acordo com Kim e Nelson (2005, p.16), “a maioria das inovações não

envolve grandes rupturas, mas está profundamente enraizada em ideias já

existentes”. O acesso à tecnologia estrangeira é muito importante para a

consolidação desse desenvolvimento, pois aprendizado e inovação constituem a

chave mestre para gerar novos conhecimentos. Os autores enfatizam que,

inicialmente, alguns países realizam imitações de produtos estrangeiros para

conquistar novos mercados comerciais, apresentando produtos com preços

competitivos. Essas imitações, na maioria das vezes, são legais, seguem a lei das

patentes que permite a utilização do conhecimento científico e tecnológico após o

fim de período determinado.

De acordo com Schumpeter (1985), a inovação ocorre a partir de novas

combinações que geram desenvolvimento e ganho econômico como novo produto,

novo processo, novo mercado, novos insumos, nova organização industrial.

Para que uma empresa tenha vantagem competitiva sustentada, Barney (1991)

salienta que essa deve possuir recursos empresariais (ativos, processos

organizacionais, atributos empresarias, entre outros), sendo quatro os atributos para

possuir esse potencial: valioso, raro, difícil de imitar e difícil de substituir. Nesse

sentido, a empresa deve possuir recursos internos como diferencial competitivo

sustentável.

Segundo Bignetti (2006), inovação tornou-se um termo popular, principalmente, por

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estar presente em várias campanhas publicitárias. Sendo assim, inovação está

relacionada à competitividade das empresas, sendo esse um fator necessário para

sua manutenção no mercado. Nesse contexto, a inovação social revelou-se como

um modo de encontrar possibilidades para o futuro da sociedade. O autor definiu

inovação social como “resultado do conhecimento aplicado a necessidades sociais

através da participação e da cooperação de todos os atores envolvidos, gerando

soluções novas e duradouras para a sociedade em geral” (BIGNETTI, 2011, p.4).

Ainda, segundo o autor, no Brasil, não há muitos estudos sobre o tema inovação

social, pois as pesquisas focam majoritariamente o sentido mais amplo da inovação,

dificultando um consenso em sua definição. A inovação social diferencia-se da

inovação tecnológica em função de alguns fatores como finalidade, estratégia, lócus,

processo de desenvolvimento e difusão do conhecimento. Além disso, Bignetti

(2011) ressalta que a inovação social é um evento que reflete o envolvimento de

vários atores sociais.

Para André e Abreu (2006, p.124), inovação social provoca mudança social e

modifica as relações de poder geradas por alguns processos de inovações

tecnológicas, através, por exemplo, do emprego ou do consumo, eliminando os

efeitos sociais.

Como um caso de inovação social, Hulgard e Ferrarini (2010) apresentam a política

pública brasileira, por possuir processos de estrutura institucional e por permitir a

participação da sociedade civil. Para os autores, a política pública passa a instaurar

processos de inovação social através do processo e do resultado. Assim, Bignetti

(2011) ressalta que a inovação social é uma maneira mais efetiva, mais sustentável

do que os recursos já existentes cujo resultado favorece a sociedade como um todo.

Como exemplo de inovação social, será apresentado um centro de ressocialização

prisional que adota uma metodologia ressocializadora, o método APAC, que conta

com a participação efetiva da sociedade, sendo uma inovação social relevante.

Percebe-se que, no contexto da instituição total prisão, esse método é uma inovação

para o sistema prisional, pois altera os processos, a disciplina e a forma de

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ressocializar o condenado em relação ao sistema prisional comum. No método

APAC, as exigências ao preso de executar atividades durante todo o dia (trabalho,

estudo, lazer, ato socializador, oração) e as ações de valorização humana são

exemplos de mudança comportamental que tornam esse método uma inovação

social relevante e bem-sucedida em uma instituição total prisional.

2.5 Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC)

Na busca de resolver o problema do sistema penitenciário nacional, especialistas da

área estudam alternativas cabíveis que possam amenizar a crise nesse sistema. As

Associações de Proteção e Assistência aos Condenados adotam um modelo

alternativo de gestão carcerária. A APAC é uma pessoa jurídica de direito privado,

constituindo uma instituição filantrópica que funciona como penitenciária que

administra os Centros de Reintegração Social de Presos (CRS).

Conforme o Programa Novos Rumos, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais

(TJMG, 2011), a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC)

teve sua origem em São José dos Campos (SP), em 1972.

Desde sua origem, o método APAC se difundiu pelo Brasil e pelo mundo. Segundo a

FBAC, no Brasil, existem 148 APACs organizadas judicialmente, sendo 48 em

funcionamento e 100 no processo de implantação. Sendo que 39 estão localizadas

em Minas Gerais e as demais nos estados do Maranhão, Paraná, Espírito Santo e

Rio Grande do Norte. No exterior, ocorreu a implantação desse Método, em mais de

24 países, por exemplo, Alemanha, Argentina, Bolívia, Bulgária, Cingapura, Chile,

Costa Rica, Equador, El Salvador, Eslováquia, Estados Unidos da América,

Inglaterra, País de Gales, Honduras, República da Letônia, México, Nova Zelândia e

Noruega.

Fundada pelo advogado e jornalista Mário Ottoboni e um grupo de participantes da

Pastoral Penitenciária de São José dos Campos (SP), cujo lema é “Matar o

criminoso e salvar o homem”, o Método APAC dispõe de diretrizes que oferece ao

condenado condições de recuperação, conseguindo, assim, proteger a sociedade e

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promover a justiça social. Assim, a valorização da autodisciplina, o respeito à pessoa

humana e o tratamento adequado do condenado, previstos nos termos da Lei de

Execução Penal (BRASIL, 1984), são fatores que possibilitam o sucesso desse

Método.

A Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC), órgão

coordenador e fiscalizador, reconhecidamente de utilidade pública, tem a função de

orientar, assistir e manter a unidade de propósitos das APACs. A FBAC é definida

como “uma entidade civil de Direito Privado, com personalidade jurídica própria, sem

fins lucrativos, com patrimônio e personalidade jurídica própria e tempo de duração

indeterminado”.12

Através da Constituição Federal de 1988, essas associações são amparadas para

atuar nos presídios, possuindo Estatuto próprio, resguardado pelo Código Civil e

pela Lei n° 7.210/1984. Filiadas à FBAC, as APACs dedicam-se à recuperação e à

reintegração social dos condenados a penas privativas de liberdade.

Em 2001, foi criado o Programa Novos Rumos, do Tribunal de Justiça de Minas

Gerais (TJMG) com o principal objetivo de humanizar o cumprimento da pena

privativa de liberdade por meio do Método APAC. O Programa tem como objetivo

propagar o método APAC e é constituído por cinco formas de atuação, conforme

descrito a seguir:

i. Grupo de Cooperação Judicial (GCJ): Busca a efetividade da Justiça

Criminal no Estado de Minas Gerais.

ii. Método APAC: Implantação como política pública.

iii. Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário Portador de

Sofrimento Mental (PAI-PJ): Presta assistência ao condenado portador

de doença mental.

iv. Grupo de Monitoramento e Fiscalização de Execução Penal e Medidas

Socioeducativas e de Segurança (GMF): Fiscaliza as instalações

12 Disponível em: http://www.fbac.org.br/. Acesso em: 08 out 2015

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físicas dos CRS e toma conta das garantias legais dos apenados e de

suas famílias.

v. Projeto Começar de Novo (PCN): desenvolvimento de políticas

públicas para a recolocação do apenado no mercado de trabalho.

O Programa Novos Rumos gerencia essas iniciativas com a perspectiva de

reinserção social do indivíduo em conflito com a Lei. É um programa de referência

nacional por suas ações em favor da humanização da pena, da inclusão e da justiça

social. Outro objetivo desse Programa, apresentado por Butelli (2011), é de provocar

uma mudança de paradigma de que o sistema prisional é uma estrutura não

ressocializadora.

De acordo com Ottoboni (2014), o método APAC preocupa-se primeiro com a

valorização humana, evangelizando e reconhecendo o criminoso como ser humano.

O autor afirma que recuperando13 o criminoso, a sociedade está protegida e a

vitimização está prevenida. Ainda, segundo o autor, o método baseia-se em 12

(doze) elementos para seu êxito. Nenhum dos elementos pode ser substituído ou

excluído. São eles: i) Participação da Comunidade; ii) Recuperando ajudando o

recuperando; iii) Trabalho; iv) Religião; v) Assistência jurídica; vi) Assistência à

saúde; vii) Valorização humana; viii) A família; ix) O voluntário e o curso para sua

formação; x) Centro de Reintegração Social; xi) Mérito; xii) A Jornada de Libertação

com Cristo.

Esses doze elementos que estruturam o Método APAC e suas características serão

descritas, a seguir, de acordo com Ottoboni (2014), Santos (2013) e Zeferino (2013).

Conforme Ottoboni (2014), o início da aplicação do método ocorre pela participação

da comunidade. A APAC deverá, através de audiências públicas, sensibilizar e

mobilizar a comunidade para captação de recursos e sócios contribuintes além de

voluntários para serem formados de acordo com o método APAC. Santos (2013)

salienta que a participação da comunidade é importante para garantir aos presos

todas as assistências (saúde e jurídica) instituídas na Lei de Execução Penal.

13 Recuperando é a denominação dada ao interno que cumpre pena na APAC.

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O segundo elemento refere-se à ajuda entre os recuperandos. Um recuperando

ajudando o outro a ter limites, respeito e a viver em comunidade. Responsabilidades

somente dos recuperandos, como representação de cela e o Conselho de

Sinceridade e Solidariedade (CSS) são importantes para o desenvolvimento da

harmonia, da disciplina, da responsabilidade e da cooperação, afirma Ottoboni

(2014).

Desse modo, para Santos (2013), a divisão de tarefas e das responsabilidades entre

os presos são ensinamentos para vida em comunidade, e constituem um diferencial

entre o método APAC e o convencional. No método convencional, o preso não

consegue manifestar sua capacidade de servir ao próximo.

O terceiro elemento refere-se ao trabalho. Para Ottoboni (2014), o trabalho não é a

única forma de recuperar o condenado. É preciso que haja uma reconstrução dos

valores e da autoestima. Cada regime tem um ponto que deve ser trabalhado e

desenvolvido. No regime fechado, o foco é o desenvolvimento do autoconhecimento,

ajudando o condenado a se reabilitar, a criar um objeto e passar o tempo através da

prática de trabalhos laborterápicos.

No regime semiaberto, as oficinas profissionalizantes são uma oportunidade para os

presos que não possuem uma formação profissional, desenvolvendo a aptidão de

cada um. Na APAC, há várias oficinas que criam condições aos recuperandos para

trabalhar em suas próprias dependências.

O regime aberto busca a reinserção do condenado na sociedade. Propõe que o

recuperando esteja preparado para voltar ao convívio social com uma profissão

definida. Sendo assim, o trabalho é um elemento importante no Método, pois evita o

ócio dos condenados e possibilita a descoberta dos seus méritos.

No entanto, para Santos (2013), os trabalhos forçados, humilhantes ou degradantes

não oferecem ao preso a possibilidade de recuperação. O trabalho deve ser

obrigatório, mas não os tipos especificados anteriormente, mas através de ações

socializadoras que melhoram a autoestima do preso que assim poderá identificar

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suas habilidades para o trabalho cotidiano.

A religião é o quarto elemento. Segundo Ottoboni (2014), na APAC nenhuma religião

é imposta, mas é necessário que o recuperando busque a experiência com Deus e

possua uma religião. Os voluntários têm um importante papel neste momento,

ajudando o recuperando acreditar no amor de Deus e que Deus é fonte de tudo.

Apesar de o método APAC ter a religião como um dos seus princípios básicos,

Falcão e Cruz (2015) criticam a obrigatoriedade do preso ser crente a uma religião,

pois este fato é contrário ao disposto no artigo 24 da LEP, § 2º em que ”Nenhum

preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa” (BRASIL,

1984).

Em contrapartida, Coutinho (2009) salienta que ter um vínculo religioso para os

presos é como uma válvula de escape para problemas vividos durante o

cumprimento da pena, tanto na APAC quanto no sistema prisional comum. Ainda

segundo a autora, independente do sistema, a adoção de uma religião é uma

perspectiva de mudança de vida e forma de responder as normas das instituições,

facilitando o cumprimento da pena e a obtenção de benefícios.

Cuidar do espírito possibilita ao preso a libertação e se apegar a algo maior do que

seu passado. Apesar disso, Santos (2013) afirma que apenas a religião não é

suficiente para a recuperação do preso, mas todos os elementos propostos pelo

Método têm uma finalidade no processo de ressocialização e reintegração desse

indivíduo.

O quinto elemento refere-se à assistência jurídica. A LEP prevê várias ações e

vantagens para os indivíduos no cumprimento da pena privativa de liberdade. A

situação processual do condenado é uma preocupação para ele, causando

angústias, ansiedades. A assistência jurídica oferece todo suporte para o condenado

acompanhar seu processo, mostrando as possibilidades legais e benefícios que a lei

faculta aos presos. Essa assistência é gratuita. O acompanhamento constante do

processo de cada recuperando facilita manter a tranquilidade e calmaria dentro do

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presídio (SANTOS, 2013; ZEFERINO, 2013).

O sexto elemento refere-se à assistência à saúde. Através do trabalho de

profissionais voluntários, são oferecidas assistências à saúde: médica, psicológica,

odontológica. A saúde física e mental é colocada em primeiro plano para evitar que

os recuperandos tenham aflições e preocupações (OTTOBONI, 2014; ZEFERINO,

2013). A presença de departamento de saúde organizado e de voluntários que

ajudam no atendimento aos recuperandos possibilita um ambiente saudável e

harmônico e o resgate da autoestima do preso, conforme verificado nos estudos de

Santos (2013) e Zeferino (2013).

A valorização humana é apresentada por Ottoboni (2014) como o sétimo elemento

do Método APAC e busca a valorização humana como base, reformulando a

imagem do homem que errou. O estudo e o trabalho são atividades que contribuem

para essa valorização, como também chamá-lo pelo nome, as instalações físicas

dignas, a alimentação saudável e o uso de talheres nas refeições estabelecem a

confiança e o respeito aos condenados.

Ao entrar no sistema prisional, o indivíduo recebe o atestado de óbito social, não

tendo esperança de recuperação. O elemento de valorização humana possibilita ao

recuperando, ao aceitar sua recuperação, converter e ter uma nova oportunidade de

se ter uma vida digna (SANTOS, 2013).

O oitavo elemento refere-se à família. Segundo Ottoboni (2014), a família tem um

papel importante no método APAC, pois os elos familiares são fundamentais para a

continuidade do processo de inserção social do condenado. A família do

recuperando é acompanhada e assistida fortalecendo assim os laços entre eles. É

dada orientação aos familiares dos recuperandos, para que não tratem de assuntos

que possam trazer angústias para eles. O envolvimento da família na recuperação

do condenado colabora para que não haja fugas, rebeliões ou conflitos. Além disso,

há permissão para visitas íntimas desde que atendam aos requisitos do instrumento

regulador.

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Nas APACs, são ministrados cursos com os familiares que, conforme Santos (2013),

possibilitam a mudança de valores bem como conhecer o Método, atribuindo

também a eles a responsabilidade com o recuperando. Esse processo contribui para

a reinserção do preso na sociedade.

O método APAC, por ser baseado na gratuidade, no serviço ao próximo, precisa de

voluntários para o seu funcionamento. Ottoboni (2014) apresenta o voluntário e o

curso de formação como sendo o nono elemento. A remuneração existe somente

para as pessoas que trabalham no setor administrativo. O processo de formação do

voluntário ocorre através do curso de formação, composto por 42 aulas, de 1 hora e

30 minutos. Nesse curso, o voluntário conhece as diretrizes da APAC, procurando

despertar nos voluntários a seriedade da proposta. Alguns casais voluntários,

denominados casais padrinhos, possuem a tarefa de refazer a imagem negativa dos

pais com referência forte à imagem de Deus.

Santos (2013) salienta a importância do voluntário qualificado na recuperação do

condenado. A qualificação é realizada através do curso de formação, em que os

valores do Método são relembrados e formas de ajudar no resgate e na melhoria da

autoestima do condenado são apresentadas para o recuperando.

O décimo elemento é o Centro de Reintegração Social (CRS), o presídio,

administrado pela APAC, é o local onde o recuperando poderá cumprir pena próximo

à sua família e aos seus amigos. Essa proximidade facilita a formação de mão de

obra e a reintegração social. Sua estrutura física é constituída de três pavilhões,

sendo cada um deles destinado a um dos tipos de regime: fechado, semiaberto e

aberto. Conforme Santos (2013, p.53), o CRS é um “estabelecimento penal

adequado e digno que proporcionará ao recuperando condições para alcançar sua

verdadeira reinserção social.”

Conforme a Lei n° 10.792/2003, “a pena privativa de liberdade será executada em

forma progressiva com a transferência para o regime menos rigoroso, a ser

determinado pelo juiz, quando o preso tiver cumprido um sexto da pena no regime

anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do

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estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão” (BRASIL, 2003).

No artigo 112, da Lei de Execução Penal, foi estabelecida a necessidade de avaliar

o mérito dos recuperandos para que esses pudessem fazer uso desse direito. Esse

mérito é avaliado não apenas na conduta prisional, mas como um cumpridor da

pena (BRASIL, 1984). Assim, seu dia a dia na prisão constitui um dos indicadores

em que o condenado será avaliado para obter ou não a concessão desses

benefícios jurídicos. O mérito é o décimo primeiro elemento do método APAC. Para

a aplicação desse elemento, foi criada a Comissão Técnica de Classificação (CTC),

composta por profissionais de diversas áreas para que se avaliem os recuperandos

e se realizem os exames que são exigidos para progressão de regime e para a

concessão de outros benefícios.

De acordo com Santos (2013), ao entrar na APAC, o preso começa a ser avaliado

pelos próprios conselheiros do Conselho de Sinceridade e Solidariedade (CSS),

formado pelos próprios recuperandos do regime no qual está inserido, sendo

importante a avaliação de seu comportamento para a concessão de benefícios.

O último e não menos importante que os demais elementos é a Jornada de

Libertação com Cristo. Nascida da necessidade de provocar no recuperando a

adoção de uma nova filosofia de vida, a Jornada de Libertação com Cristo é

classificada como atividade primordial do método APAC. Composta, principalmente,

pelos voluntários, é realizada em três dias de muitas reflexões e interiorização com

os recuperandos com o objetivo do recuperando repensar o real sentido da vida.

Essas atividades apresentam Jesus Cristo aos recuperandos e possibilitam o

encontro deles com Deus, consigo mesmo e com o outro.

Segundo Santos (2013), esse elemento é uma importante atividade para reflexão

espiritual e experiência de novos valores essenciais para o futuro exercício do livre

arbítrio. Essas reflexões se dão como fator de reparação, conversão e controle

social (GONÇALVES; FERREIRA; 2014).

Conforme Soares (2011), a APAC é conhecida por ser um sistema prisional eficiente

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e inovador que possui características próprias, estruturadas nos doze elementos que

compõem esse Método. Esses aspectos são constatados pelo fato de, nas APACs,

não haver presença policial nem do agente penitenciário, os próprios presos

possuem as chaves das celas e são responsáveis pela segurança do local. Eles

também não usam uniformes, mas sim roupas comuns, são chamados pelos nomes

e usam crachá de identificação, usam talheres durante as refeições. Essas

características contribuem na possível ressocialização do condenado, evitando a

reincidência criminal e foram descritas por Oliveira,

Nessas prisões sem guardas administradas por APAC’s, os presos encontram-se submetidos a uma rotina institucional com atividades obrigatórias de cunho religioso, são encorajados a seguir uma religião (católica ou evangélica), avaliados constantemente pelo staff cristão em relação ao seu comportamento e comprometimento com a dinâmica de vida prisional apaqueana e, principalmente, participam da administração dos regimes de cumprimento de pena com a execução de tarefas ligadas aos serviços de segurança e disciplina do presídio, como, por exemplo, portar as chaves dos portões externos, internos e celas dos pavilhões (OLIVEIRA, 2013, p.3).

Nesse contexto, Campos Filho (2013) apresenta três propósitos adotados pelo

método APAC: (i) preparar o condenado ao retorno do convívio social; (ii) assegurar

a sociedade convívio com um indivíduo ressocializado e (iii) acompanhar o

condenado e sua família.

O método apresentado por Soares (2011) teve seus resultados reconhecidos pela

Organização das Nações Unidas (ONU), através do Prison Fellowship. A autora

ressalta também que esse Método custa menos de 1/3 do valor do custo de um

preso no sistema prisional comum. Segundo Campos e Santos (2014), no Brasil,

existem 100 APACs cujo custo de manutenção é 40% do custo do sistema prisional

comum. Outro fator relevante é que 70% dos indivíduos que cumprem pena privativa

de liberdade na APAC conseguem emprego após a pena.

Algumas características da terapêutica do Método APAC o tornam um processo

inovador de execução penal, conforme relacionado por Butelli (2011, p.17):

Os presos, denominados recuperandos, são co-responsáveis pela sua recuperação e possuem assistência jurídica, médica,

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odontológica, psicológica, espiritual prestada pela comunidade.

Valorização do indivíduo. São tratados pelo nome e não usam uniformes.

Estudam e trabalham durante todo o dia, evitam assim o ócio. Participam de atividades laborais, frequentam cursos supletivos e profissionais; Só vão para cela quando vão dormir, estão doentes ou por alguma punição.

Não há presença de policiais e agentes penitenciários, os próprios recuperandos são responsáveis pela segurança do presídio.

Municipalização da execução da pena, possibilitando que o preso cumpra pena em sua terra natal e tenha relacionamento com sua família durante toda a execução penal.

Presídio de pequeno porte com capacidade média de 100 a 180 recuperandos, não possibilitando a superlotação.

Faria (2011) acrescenta algumas características a esse projeto carcerário inovador,

tais como individualização da pena; participação efetiva da comunidade local,

através do voluntariado; único estabelecimento prisional que oferece os três regimes

penais: fechado, semiaberto e aberto com instalações independentes e apropriadas

às atividades desenvolvidas em cada um deles; ausência de armas; a religião é o

fator essencial da recuperação; a valorização humana é a base da recuperação, pois

promove o reencontro do recuperando com ele mesmo. O autor ainda destaca as

atividades exercidas pelos recuperandos de acordo com o regime da pena.

A prática de trabalhos laborterápicos no regime fechado; oficinas profissionalizantes

no regime semiaberto; e, no regime aberto, o trabalho é direcionado para a inserção

social do recuperando, podendo ser considerado como uma inovação social,

conforme estudos de Bignetti (2011). Outro ponto inovador refere-se à denominação

Recuperando, para os presos que cumprem pena na APAC, como proposta básica

de valorização humana, segundo Ottoboni e Ferreira (2013), e apresentado no relato

de Butelli,

Nada recebe para acolher ou ajudar os condenados, independentemente do tipo de crime praticado e dos anos de condenação. Tudo é gratuito em nome do amor. Na APAC nada se impõe, e sim se propõe, como: O diálogo como entendimento; a disciplina com amor; o trabalho como essencial; a fraternidade e o respeito como meta; a família organizada como suporte; Deus como fonte de tudo (BUTELLI, 2011, p.17).

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Entretanto, Falcão e Cruz (2015) criticam o método APAC ao ponderarem que ele

não é apropriado a qualquer preso, não atendendo às necessidades da população

prisional como um todo. Nessa proposta, o condenado deve aceitar as diretrizes,

seguir as regras estabelecidas e se adequar à disciplina da terapêutica penal.

Apesar dos benefícios oferecidos pelo método APAC, há presos que não se

adaptam a essa proposta e solicitam seu retorno ao sistema prisional comum.

As parcerias também assumem caráter inovador no setor penitenciário, pois

contribuem com as ações de atendimento direto aos recuperandos, além de gerarem

recursos. De acordo com o Manual, Processo de Sistematização APAC, a APAC é

mantida através de convênio de custeio entre a APAC e o Poder Executivo

(Secretaria responsável pela Administração Penitenciária) para despesas de

alimentação, de material de consumo, pagamento de funcionários e outras

finalidades descritas no convênio e da formação de parcerias (APAC, 2015a).

Em suma, a instituição total prisão, que em geral possui característica punitiva e não

ressocializadora, apresenta a APAC como uma instituição ressocializadora que não

perde sua função punitiva, mas, sim, que inova o processo de socialização, aplicado

aos condenados no sistema prisional.

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3. METODOLOGIA

O processo metodológico utilizado na presente pesquisa teve uma abordagem

qualitativa, caráter descritivo, feita através de um estudo de caso, tendo como

unidade de análise a APAC masculina da Comarca de Itaúna, em Minas Gerais.

Como instrumentos de coleta de dados, foram utilizadas entrevistas semi-

estruturadas por acessibilidade até saturação, feitas a partir de roteiros previamente

elaborados, apresentados nos Apêndices A, B e C. As entrevistas foram gravadas

em áudio, transcritas na íntegra e submetidas às análises de conteúdo e de

enunciação propostas por Bardin (2013), utilizando o software Interface de R pour

les analyses Multidimensoionnelles de Textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ)

para a organização dos dados obtidos nesta pesquisa e posterior interpretação.

3.1 Caracterização da pesquisa

3.1.1 Quanto à abordagem

Quanto à abordagem, a pesquisa é qualitativa e busca analisar o processo de

recuperação adotado na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados

(APAC), Centro de Reintegração Social de Presos Masculina de Itaúna/MG, no ano

de 2016. Nesse contexto, a pesquisa qualitativa é um método mais subjetivo pelo

fato de avaliar as percepções e entender as atividades sociais e humanas, conforme

proposto por Collis e Hussey (2005).

Segundo Godoy (1995), a pesquisa qualitativa não busca quantificar os dados muito

menos usa instrumentos estatísticos para analisá-los. O estudo desses dados se

inicia a partir de questões amplas que se definem no decorrer da pesquisa. A

obtenção de dados se dá sobre pessoas, lugares e processos interativos e envolve

um contato direto com o pesquisador. Logo, a compreensão dos fenômenos deverá

ocorrer pela interpretação deles, mantendo a imparcialidade da interpretação do

pesquisador.

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63

3.1.2 Quanto aos fins

Segundo Gil (2002), a pesquisa descritiva é aquela que objetiva descrever as

características de uma população ou determinado fenômeno sem interferência do

pesquisador.

De acordo com Collis e Hussey (2005), a pesquisa descritiva tem por finalidade

obter e identificar informações sobre as características de um fenômeno, ou seja,

descreve seu comportamento, o que é pertinente nesse estudo.

Triviños (2009) esclarece que a pesquisa descritiva requer do pesquisador um

conjunto de informações sobre o que se pretende pesquisar. Além disso, a pesquisa

descritiva descreve com precisão fatos e acontecimentos de uma realidade

específica. Em consonância com os objetivos propostos para essa pesquisa,

caracteriza-se essa pesquisa como descritiva, visto que se pretende analisar o

processo de recuperação através do Método APAC, identificando a percepção dos

condenados e as expectativas dos gestores no processo disciplinar desses

recuperandos.

3.1.3 Quanto aos meios

A pesquisa foi constituída por um estudo de caso que analisou o processo de

recuperação da APAC a partir de entrevistas realizadas com os condenados

(recuperandos), o Presidente da APAC Masculina de Itaúna (MG) e do Presidente

da FBAC (gestores) e o Juiz de Execução Penal da Comarca de Itaúna (Poder

Público).

Conforme Yin (2015), o estudo de caso deve ser utilizado a partir do momento em

que os objetivos específicos de pesquisa procuram explicar “como” e “por que”

algum fenômeno social funciona e necessitam de uma descrição ampla e intensa,

em especial, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e o foco se

encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real.

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3.2 Unidade de análise

A unidade de análise desta pesquisa é a APAC Masculina de Itaúna/MG. A APAC

Masculina de Itaúna foi a primeira unidade criada em MG, fundada em Maio de

1997. Em 2002, o município de Itaúna sediou um seminário sobre o método APAC

para 14 países de língua latina, sendo esse seminário repetido nos anos de 2004 e

2008. A APAC de Itaúna tornou-se referência mundial por seus resultados14.

3.3 Sujeitos de pesquisa

Os sujeitos da pesquisa foram divididos em grupos, sendo o primeiro grupo

composto pelos condenados (recuperandos); o segundo, pelos gestores que

ocupam o cargo de diretor na APAC e na FBAC e, o terceiro grupo, pelo Juiz de

Execução Penal da Comarca de Itaúna, como representante do Poder Público. O

instrumento de coleta de dados foi entrevista com amostragem por conveniência e

acessibilidade até a saturação e será detalhado posteriormente.

3.4 Coleta de dados

O instrumento de coleta de dados foi entrevista semi-estruturada por acessibilidade

até saturação, feita a partir de roteiros previamente elaborados com base na

literatura consultada, incluindo os documentos: Manual de Sistematização do

Processo da APAC (APAC, 2015a) e Regulamento Disciplinar dos Centros de

Reintegração Social Dr. Franz de Castro Holzwarth (APAC, 2015b), que

possibilitaram compreender melhor a concepção, a implantação e o funcionamento

do método apaqueano.

Segundo Triviños (2009), as entrevistas valorizam a presença do investigador e

oferecem condições para que o informante tenha a liberdade e a espontaneidade

necessárias para contribuir o máximo possível para o aprofundamento da

investigação.

14 Disponível em: http://ftp.tjmg.jus.br/presidencia/programanovosrumos/cartilha_apac.pdf. Acesso em: 15 out. 2016

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Foram utilizados roteiros distintos para cada grupo participante desta pesquisa: para

os recuperandos, um roteiro com 31 perguntas, descritas no Apêndice A; e para o

representante do Poder Público, 23 perguntas, conforme o Apêndice B; para os

diretores da APAC e da FBAC, 25 questões apresentadas no Apêndice C.

Segundo Fraser e Gondim (2004, p.140), “a entrevista na pesquisa qualitativa, ao

privilegiar a fala dos atores sociais, permite atingir um nível de compreensão da

realidade humana que se torna acessível por meio de discursos, sendo apropriada

para investigação cujo objetivo é conhecer como as pessoas observam o mundo”.

As entrevistas foram iniciadas com uma breve exposição feita pela pesquisadora

sobre o objetivo da pesquisa, relembrando os aspectos éticos previstos no Termo de

Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), Anexos D e E, em duas vias previamente

assinadas, sendo que uma delas foi entregue para a pessoa entrevistada. Assim, foi

obtida a anuência dos entrevistados à gravação de suas falas.

A gravação possibilitou ao pesquisador, na condição de participante, maiores

condições de observação. A entrevista foi conduzida de forma flexível, deixando aos

entrevistados a oportunidade de se delongarem sobre os aspectos que lhes fossem

convenientes, em consonância com Lakatos e Marconi (2003, p.199), que diz:

“quando o entrevistador consegue estabelecer certa relação de confiança com o

entrevistado, pode obter informações que de outra maneira talvez não fossem

possíveis.”

Uma vez que a pesquisa trabalha com pessoas, é preciso levar em conta os

aspectos éticos. Sendo assim, o projeto foi cadastrado na Plataforma Brasil e

designado a um Comitê de Ética para análise, conforme Resolução nº 466/12, que

regulamenta a pesquisa com seres humanos no País. A pesquisa foi aprovada em

04 de Outubro de 2016, pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Fundação

Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), sob o nº CAAE

59031016.7.0000.5119 e Parecer n° 1.759.237, conforme apresentado no Anexo F.

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3.5 Técnica de análise e interpretação dos resultados

Conforme Goulart (2006), para aplicar a análise de conteúdo, a utilização do

raciocínio lógico pelo pesquisador é necessária, pois ele precisa assumir uma

conduta ética e ser imparcial, considerando o ponto de vista do outro e não o seu. A

autora esclarece que a análise de conteúdo surgiu da necessidade de impedir o uso

da influência pessoal na interpretação dos resultados.

No intuito de equiparar os instrumentos de coleta de dados, elaborou-se o quadro 01

que correlaciona as questões propostas nos diferentes roteiros de entrevista com os

pressupostos desta pesquisa, o que permitiu visualizar a organização inicial dos

dados obtidos nos relatos, preparando-os para a análise de conteúdo. Segundo

Vergara (2012), a análise de conteúdo é uma técnica para o tratamento de dados

que visa a identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema.

Quadro 01: Equivalência dos pressupostos com instrumentos de coletas de dados propostos

PRESSUPOSTOS

Pressupostos

Recuperandos/Presos

Juiz

Diretores APAC Masculina

e FBAC

a) Os condenados percebem a diferença entre o sistema prisional comum e a APAC.

2-Como é a rotina no sistema prisional comum? 3-Como é a convivência com os demais presos e a direção do sistema comum? 7-Quais motivos o levaram a se inscrever para participar do método? 8-Quais as diferenças entre o sistema prisional comum e a APAC?

1 - Os presos sabem a diferença entre o sistema prisional comum e o sistema APAC?

17- Os presos sabem a diferença entre o sistema prisional comum e a APAC?

Continua...

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Pressupostos

Recuperandos/Presos

Juiz

Diretores APAC Masculina

e FBAC

b) A prisão comum exerce papel de reintegrar o condenado à sociedade após o cumprimento da pena privativa de liberdade.

4 - A prisão comum ressocializa o condenado? De que maneira? Como você percebe isso no seu dia a dia?

20 - Qual dos métodos, tradicional e APAC, consegue ressocializar o preso? Esse método consegue exercer o papel de reintegrar o preso à sociedade após o cumprimento da pena?

19- O método consegue exercer o papel de reintegrar o preso à sociedade após o cumprimento da pena? E o sistema prisional comum?

c) Os condenados preferem o método tradicional para cumprimento da pena privativa de liberdade.

30- Por que você optou pelo sistema prisional comum? 7-Quais motivos o levaram a se inscrever para participar do método?

2 - Como é a escolha/seleção do preso para cumprir pena na APAC? 1 - Os presos sabem a diferença entre o sistema prisional comum e o sistema APAC?

17 – Os presos sabem a diferença entre o sistema prisional e a APAC? 16- Os presos que passaram anteriormente pelo sistema prisional comum aceitam o método APAC?

d) O Método APAC é um processo inovador.

9-Você acredita que o método APAC seja uma inovação no sistema prisional? Por quê?

21 - O método APAC é um sistema inovador?

18- O método APAC é um sistema inovador?

e) O Método APAC é uma ferramenta social.

23- O método APAC promove a ressocialização do condenado? Como? 24- Há cursos profissionalizantes/ qualificação no sistema prisional? Quais são? Como participar? 28- Quais são suas expectativas quando sair daqui?

16 - Você acha que o método APAC é a solução para o sistema prisional? Por quê? Todo preso aceitaria a metodologia? Se não, porque não aceitaria? 23- Existem outros métodos de ressocialização que conseguem cumprir o papel de reintegrar o preso à sociedade após o cumprimento da pena?

15- Qual dos métodos, tradicional ou APAC, consegue ressocializar o preso? Esse método consegue exercer o papel de reintegrar o preso à sociedade após o cumprimento da pena? 19 – O método consegue exercer o papel de reintegrar o preso à sociedade após o cumprimento da pena? E o sistema prisional comum?

...Continuação

Continua...

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Pressupostos

Recuperandos/Presos

Juiz

Diretores APAC Masculina

e FBAC

f) O Método APAC é aplicado por seus gestores como é proposto.

12-Como é o processo de socialização do preso quando chega à APAC? Como e por quem ele é recebido? Qual é a primeira coisa que o preso faz quando chega à APAC? 13-De que maneira a metodologia foi apresentada a você? Por quem? Quem são os responsáveis pelo processo de socialização na APAC?

8 - Esse processo tem foco na disciplina e na ordem? Como é aplicada a disciplina? Descrever. 9 - Quem são os responsáveis pelo processo de socialização na APAC?

3-Quem são os responsáveis pelo processo de socialização na APAC? 4- De que maneira a metodologia é apresentada? Quem aplica a metodologia? 20- Como são escolhidos os recuperandos para serem os líderes do CSS?

g) Para os gestores, o Método APAC ressocializa o preso.

30- Na sua opinião, seu gestor acredita no seu processo de recuperação?

20 - Qual dos métodos, tradicional e APAC, consegue ressocializar o preso? Esse método consegue exercer o papel de reintegrar o preso à sociedade após o cumprimento da pena?

19- O método consegue exercer o papel de reintegrar o preso à sociedade após o cumprimento da pena?

h) A APAC exerce papel de ressocializar o condenado à sociedade após o cumprimento da pena privativa de liberdade.

23-O método APAC promove a ressocialização do condenado? Como? 29- Se você estivesse cumprido pena no sistema comum você teria a mesma expectativa para conseguir um trabalho?

20 - Qual dos métodos, tradicional e APAC, consegue ressocializar o preso? Esse método consegue exercer o papel de reintegrar o preso à sociedade após o cumprimento da pena?

15- Qual dos métodos, tradicional ou APAC, consegue ressocializar o preso? Esse método consegue exercer o papel de reintegrar o preso à sociedade após o cumprimento da pena? 19 – O método consegue exercer o papel de reintegrar o preso à sociedade após o cumprimento da pena?

Fonte: Elaborado pela autora.

Os princípios e conceitos fundamentais para a análise de conteúdo foram propostos

por Bardin, na obra intitulada, L’analyse de Contenu, publicada em Paris, em 1977,

em que define o termo como:

...Continuação

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[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo de mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2013, p.48).

Bardin (2013) divide a análise de conteúdo em três etapas. A primeira, pré-análise,

refere-se à fase de organização dos dados coletados nas entrevistas. A segunda

etapa propõe a exploração do material, sendo a aplicação sistemática das decisões

tomadas e, a terceira inclui o tratamento dos resultados obtidos, inferência e sua

interpretação.

Na primeira etapa, foram organizados os dados obtidos nas entrevistas. Em seguida,

os respondentes foram categorizados pelo regime da pena (1 – Semiaberto, 2 –

Fechado, 3 - Não se aplica) e pelo tipo de sujeito (1 – Gestor, 2 – Recuperando e 3 -

Poder Público).

Posteriormente, os dados foram adequados à linguagem do software e submetidos

ao Interface de R pour les analyses Multidimensoionnelles de Textes et de

Questionnaires (IRAMUTEQ), com o objetivo de promover maior facilidade, agilidade

e confiabilidade dos elementos textuais de cada entrevista para que se pudessem

realizar o tratamento dos dados e a análise de conteúdo.

Na segunda etapa, foram consultados a literatura pertinente e os documentos

Sistematização de Processos APAC e Regulamento Disciplinar APAC. O documento

de Sistematização de Processos APAC é um manual com a descrição dos principais

processos e indicadores para implantação de novas unidades e manutenção dessas

unidades (APAC, 2015a), enquanto, o Regulamento Disciplinar APAC rege a

disciplina dos recuperandos dos regimes fechado, semiaberto, semiaberto,

autorizado ao trabalho externo e aberto (APAC, 2015b).

O tratamento desse material deve ser considerado como uma codificação do

processo pelo qual os dados brutos são transformados em unidades de registro para

análise, a partir das regras que agregam conteúdos semelhantes. Assim, com base

na literatura pesquisada, foi possível realizar a codificação dos dados, em cinco

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classes temáticas, ou categorias, para análise de conteúdo, assim definidas: (1)

Gestão do Método APAC; (2) Valorização Humana; (3) Recuperando ajudando

recuperando; (4) Estrutura jurídica, crime e tradicionalidade; e (5) Cotidiano da

APAC.

Os dados foram agrupados considerando que as informações sobre a gestão do

método APAC estão na classe (1), aquelas que dizem respeito à religião, à

confiança, ao respeito pela família e pela sociedade (2); as que estão relacionadas

ao projeto de vida e com essas experiências (3), aquelas que se referem às

questões comparativas ao sistema prisional comum (4) e, no tema (5), a experiência

do sujeito na prisão.

Em complemento à análise temática, proposta por Bardin (2013), procedeu-se com a

análise de enunciação, na concepção de preparação e análise do material, em que

cada entrevista foi estudada em si mesma como uma totalidade organizada e

singular, respeitando e transcrevendo o máximo de informações, com registro da

totalidade dos significantes.

Finalmente, a terceira etapa compreendeu o tratamento dos resultados gerados no

IRAMUTEQ, a inferência e a interpretação constituíram a etapa de reflexão, intuição

e estabelecimento de relações, apoiadas nas informações propostas na literatura,

nos elementos estruturantes e nos princípios da APAC, na Lei de Execução Penal

(LEP), e nos documentos institucionais: Sistematização dos Processos na APAC e

Regulamento Disciplinar com os dados obtidos na pesquisa empírica.

Os resultados brutos foram tratados de maneira a serem significativos, válidos e

fiéis, dando condições à pesquisadora de propor inferências e adiantar

interpretações a propósito dos objetivos previstos, ou mesmo, a respeito de outras

descobertas inesperadas. De acordo com Bardin (2013), a finalidade da análise de

conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção ou,

eventualmente, de recepção de mensagens.

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4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo envolve a análise e o tratamento dos dados a partir da exploração do

material levantado durante as entrevistas, com o objetivo de codificar, classificar e

categorizar os dados obtidos. A análise e a interpretação dos resultados ocorreram

após a definição das categorias de estudo, contrastando com o embasamento

teórico e destacando as falas que melhor representam os depoimentos dos

entrevistados.

Este capítulo está estruturado em subtópicos que apresentam a caracterização da

área de estudo, a caracterização dos sujeitos da pesquisa, as categorias de estudo,

sua análise e interpretação desses resultados.

4.1 Caracterização do estudo

A área escolhida para este estudo é a APAC, entidade civil de direito privado, sem

fins lucrativos, com patrimônio e personalidade jurídica própria e tempo de duração

indeterminado cuja função é administrar o Centro de Reintegração Social de presos

(CRS), do sexo masculino, situada no município de Itaúna (MG). Possui estatuto

próprio, acobertado pela LEP n° 7.210/1984 e resguardado pela Constituição

Federal de 1988 (BRASIL, 1988; 1984).

A APAC é uma entidade que visa à humanização do cumprimento da pena privativa

de liberdade, mediante a aplicação do método APAC, sem perder sua finalidade

punitiva (Figura 2). Tem como objetivo a recuperação do preso, a proteção da

sociedade e a promoção da justiça. Ela propõe o amor como caminho; o diálogo

como entendimento; a disciplina como amor; o trabalho como essencial; fraternidade

e respeito como meta; responsabilidade para o soerguimento; humildade e paciência

para vencer; conhecimento para ilustrar a razão; a família organizada como suporte;

e Deus como fonte de tudo. Tem como lema: Matar o criminoso e salvar o homem

(OTTOBONI, 2014).

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Para o alcance de seus objetivos, a APAC é estruturada a partir do método proposto

por Mário Ottoboni (2014) que adota uma disciplina rígida, baseada no amor, no

respeito ao próximo, na família e no trabalho (Figura 3). O método é composto por

12 elementos: (i) participação da comunidade; (ii) recuperando ajudando

recuperando; (iii) trabalho; (iv) religião; (v) assistência jurídica; (vi) assistência à

saúde; (vii) valorização humana; (viii) família; (ix) voluntário e formação; (x) Centro

de Reintegração Social (CRS); (xi) mérito; e (xii) jornada de libertação com Cristo.

Nesse contexto, citam-se como aspectos relevantes ao método APAC:

Todos os condenados são chamados pelo nome; usam crachá e

roupas comuns, em vez de uniformes.

Individualização e aplicação da pena.

Ausência de armas e policiais da segurança pública, sendo a vigilância

do Centro de Reintegração Social (CRS) realizada pelos próprios

recuperandos, responsáveis pelas chaves, segurança, boa convivência

e disciplina do CRS.

Participação efetiva da comunidade em assistência espiritual, médica,

odontológica, psicológica e jurídica.

Estrutura física da APAC com capacidade máxima de 200 condenados

evitando, assim, superlotação e rebeliões (Figura 4).

Atividades laborais e escolares (Figura 5).

Disciplina rígida.

Assistência à família dos recuperandos.

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Figura 2: Entrada regimes fechado semiaberto na APAC Itaúna.

Figura 3: Afresco com a proposta da APAC

Figura 4: Vista geral de uma cela no regime semiaberto

Figura 5: Sala de Laborterapia no regime fechado

Fonte: Acervo da pesquisa, 2016. Nota: Registros fotográficos realizados nas dependências da APAC Itaúna (masculina).

A APAC de Itaúna conta com infraestrutura adequada para que o

recuperando cumpra a pena com privação de liberdade, oferecendo

condições dignas de moradia (Figura 6a) e alimentação (Figura 6b),

oportunidades de trabalho e lazer, conforme a figura 6c, além de aspectos

motivacionais e religiosos, conforme figura 6d.

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Figura 6: Empreendimento APAC (a) infraestrutura APAC, (b) alimentação; (c)

atividades laborais; e (d) aspectos motivacionais e religiosos.

(a)

(b)

(c)

(d)

Fonte: Acervo da pesquisa, 2016. Nota: Registros fotográficos realizados nas dependências da APAC Itaúna (masculina).

4.2 Caracterização dos sujeitos de pesquisa

Inicialmente, foram propostas 19 entrevistas pessoais em profundidade, sendo que

os entrevistados foram selecionados pelo sistema de amostragem por conveniência

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e acessibilidade. Tais entrevistados pertenciam aos seguintes grupos: (i)

recuperandos dos regimes fechado e semiaberto; (ii) gestão (Diretores da APAC

Itaúna, da FBAC); (iii) Poder Público (Juiz de Execução Penal da Comarca de

Itaúna/MG). Finalizou-se esta pesquisa com 17 entrevistados sendo 13

recuperandos, 3 (três) gestores e 1 (um) representante do poder público, alcançando

a saturação.

Os 13 recuperandos são do sexo masculino, possuem tempo de condenação

variado e cumprem pena nos regimes fechado ou semiaberto. Suas idades variam

entre 21 e 56 anos, sendo uma população na sua maioria de jovens condenados por

crimes ligados ao tráfico de entorpecentes, seguido por crimes patrimoniais, furto,

roubo e homicídio.

Para esta pesquisa, não houve interesse na tipificação do crime cometido por cada

um desses recuperandos, visto que, na APAC, os recuperandos não são

segregados em celas de acordo com o crime cometido, havendo o convívio pacífico

entre eles apesar de entre eles haver esse conhecimento.

Nesse contexto, optou-se por uma descrição mais abrangente dos sujeitos que

participaram dessa pesquisa com o intuito de preservar as diferentes identidades,

respeitando os objetivos propostos para este estudo bem como seus aspectos

éticos. Para preservar o sigilo das falas de gestores e recuperandos, os sujeitos

foram numerados aleatoriamente.

4.3 Contextualização

No desenvolvimento da revisão de literatura, foi possível constatar a importância da

profissionalização do recuperando para a ressocialização. Para Lima (2010), o

trabalho é de suma importância para a ressocialização, contribuindo também para o

comprometimento social.

Gonçalves (2014) ressalta ainda que a sociedade deve se unir ao Estado em ações

reintegradoras para os presos, favorecendo, assim, a diminuição da reincidência

criminal e a inclusão social dos presos, após o cumprimento da pena privativa de

liberdade. Segundo Verde e Assunção (2014), a violação dos direitos fundamentais,

previstos na Constituição Federal Brasileira de 1988 (BRASIL, 1988) e na Lei de

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Execução Penal (LEP) (BRASIL, 1984), contribui para que o preso regresse à

sociedade mais perigoso do que quando ingressou ao sistema prisional. Os autores

ainda salientam a necessidade de políticas públicas na área de educação e para o

mercado de trabalho para os libertos.

Além de objeto de estudo da academia, o tema desta pesquisa tem sido

amplamente discutido na mídia, visto a crise vivida no sistema penitenciário

brasileiro que busca soluções para as superlotações nos estabelecimentos

prisionais, fatores que impedem a ressocialização e a reabilitação dos presos, além

do aumento da reincidência criminal, tendo consequência direta para a sociedade.

O objetivo desse estudo foi analisar o método de ressocialização praticado pela

APAC. Para isso, as entrevistas foram realizadas, após aprovação do Comitê de

Ética em Pesquisa, com os recuperandos da APAC de Itaúna, Diretor da APAC,

Diretor da FBAC e o Juiz de Execução Penal da Comarca de Itaúna (MG), no

período de 17 de Outubro a 14 de Dezembro de 2016.

Os dados coletados foram submetidos à análise de conteúdo, conforme proposto por

Bardin (2013), classificando em 3 fases: a primeira, pré-análise dos documentos; a

segunda, exploração do material; e a terceira, tratamento dos resultados, inferências

e interpretação, conforme descrito no capítulo que trata dos aspectos metodológicos

desta pesquisa.

Num primeiro momento, os dados desta pesquisa (17 entrevistas) foram submetidos

à codificação, classificação e categorização, conforme proposto por Bardin (2013),

utilizando o IRAMUTEQ, sendo geradas 3 (três) classes semânticas. Verificou-se

que as classes geradas não ficaram claras e bem definidas, visto às informações

peculiares trazidas na entrevista do representante do poder público. Assim, optou-se

por excluí-la da base do IRAMUTEQ. Entretanto, o conteúdo desse relato foi

analisado e interpretado pela enunciação, visto que essas informações subsidiaram

a análise dos dados obtidos nas demais entrevistas.

Em seguida, as 16 entrevistas foram novamente submetidas ao software, gerando

05 classes semânticas que fizeram sentido diante do contexto desta pesquisa, dos

objetivos propostos e por sua representatividade em consonância à literatura

estudada, incluindo o Manual de Sistematização de Processos APAC (APAC,

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2015a) e o Regulamento Disciplinar APAC (APAC, 2015b). A aproximação

linguística entre gestores e recuperandos diferencia-os daquela utilizada pelo

representante do poder público, o que pode explicar a discrepância na proposição

das classes temáticas pelo IRAMUTEQ. Conforme Bardin (2013), para integrar o

relato de todos os entrevistados, adotou-se a análise por enunciação, cujos

depoimentos de recuperandos, gestores e poder público elucidaram cada uma

dessas classes semânticas, contribuindo para a elucidação dos objetivos propostos

para esta pesquisa.

4.4 Categorias de estudo e análise

Para estabelecer as cinco classes desse estudo, utilizou-se o software IRAMUTEQ

que possibilita fazer a análise estatística sobre dados de textos e palavras. A análise

mais simples é feita pela frequência das palavras denominada lexicografia básica; e

a análise mais complexa é realizada de forma mais detalhada, considerando-se a

representatividade da palavra dentro da classe, ou seja, o número de vezes que ela

se repete dentro da classe em relação ao total de vezes que aparece no texto

(CARMARGO e JUSTO, 2013).

A partir da análise da Classificação Hierárquica Descendente (CHD), Simple Sur

Segmentos de Texte, recomendada para análises longas, o corpus, conjunto de

textos analisados, foi dividido em 16 unidades de textos, 1443 segmentos de textos,

4423 formas distintas tendo 50.381 ocorrências, isto é, total de palavras que

constituíam o corpus textual.

A CHD reteve 92,79% do total relatado no texto, gerando assim 5 classes

semânticas, conforme apresentado na figura 7. Esse resultado significa que, dos

1443 segmentos de texto gerados pelo IRAMUTEQ, houve a retenção de 1339

segmentos de textos, representando quase a totalidade dos segmentos.

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Figura 7: Classificação Hierárquica Descendente (CHD)

Fonte: Dados da pesquisa IRAMUTEQ, 2016.

É importante ressaltar que aqueles segmentos de texto que não possuem aderência

às classes identificadas e que não podem ser considerados como pertencentes a

uma mesma classe distinta, de conteúdo significativo, são desprezados desse

processo. Na fase de análise, o software verifica a proximidade e a frequência das

palavras nos segmentos para definir as classes. No caso, somente 7,21% do

material foi descartado como não aderente ao restante do corpus textual.

As classes são formadas a partir da aproximação dos sentidos das palavras e da

relevância. Este procedimento de separação das palavras é realizado com base em

fórmula estatística do Qui-quadrado (X²) que analisa a frequência das palavras a

partir do seu radical, dentro de cada segmento de texto em comparação com todo o

corpus textual, formando então um dendograma em que as palavras são agrupadas

a partir do seu radical léxico e as classes formadas, considerando-se o contexto de

todo o corpus textual.

Após a divisão das classes, essas se agrupam, considerando a correlação entre as

palavras. Assim, a classe 2 e a classe 3 representam juntas 39,51% das falas dos

entrevistados e se correlacionam diretamente pela similaridade do sentido atribuído

às palavras dentro do contexto em que foram utilizados. Essa aproximação justifica-

se pelo fato de um dos propósitos da ajuda mútua, aprender a valorizar o outro, ser

fraterno, solidário, ter um bom convívio social, seja este outro o recuperando, a

família ou mesmo a sociedade.

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As demais classes formam-se a partir das divergências entre o sistema prisional

tradicional e o método APAC, sendo a principal diferença o cotidiano vivenciado nos

dois sistemas.

Figura 8: Dendograma de Análise de Classificação Hierárquica Descendente a partir

dos relatos desta pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa IRAMUTEQ, 2016.

Nota: Classe 1: Gestão do método APAC; Classe 2: Valorização Humana; Classe 3: Recuperando ajudando recuperando; Classe 4: Estrutura jurídica, crime e tradicionalidade; Classe 5: Cotidiano na APAC.

Classe 3

Recuperando

ajudando

recuperando

Classe 2

Valorização

Humana

Classe 4

Estrutura jurídica,

crime e

tradicionalidade

Classe 5

Cotidiano na APAC

Classe 1

Gestão do método

APAC

Número de UCEs: 164 (12,25% do corpus)

Número de UCEs: 365 (27,26% do corpus)

Número de UCEs: 152 (11,35% do corpus)

Número de UCEs: 249 (11,35% do corpus)

Número de UCEs: 409 (30,55% do corpus)

Variáveis associadas *Sujeito: Recuperandos

Variável associada *Sujeito: Recuperando

*Regime semiaberto

Variáveis associadas *Sujeito: Recuperandos

*Regime: Fechado

Variáveis associadas

*Sujeito: Gestores

Palavra Freq. Palavra Freq. Palavra Freq. Palavra Freq. Palavra Freq.

Usar 12 Ajudar 46 Crime 51 Hora 42 APAC 126

Exame 10 Pessoa 95 Cometer 25 Tirar 27 Juiz de

execução

22

Direito 13 Amor 22 Comum 15 Levantar 15 Método 33

Droga 19 Falar 107 Prisão 13 Roupa 19 Metodologia 24

Propósito 8 Mesmo 76 Bandido 8 Agente 14 Curso 41

Menino 14 Preso 54 Sistema 22 Mãe 20 Fechado 23

Assistir 5 Família 58 Erro 5 Tratar 19 Recuperandos 32

Vender 12 Querer 86 Perdão 5 Chorar 11 Itaúna 18

Mente 9 Achar 57 Crer 8 Algemar 11 CSS 26

Rua 18 Pior 12 Vida 20 Baixo 14 Encarregado 12

Empresa 7 Ajuda 21 Sistema

comum

25 Algema 9 Presidente 15

Novo 20 Tranquilo 23 Viver 6 Pai 11 Falta 17

Deus 18 Fugir 19 Presidiário 4 Mão 15 Regime 19

Dia 37 Caro 11 Suave 4 Pátio 8 Segurança 14

Cortar 6 Mudar 27 Mostrar 11 Filho 15 Laborterapia 10

Morar 6 Melhor 25 Brasil 8 Cabeça baixa 7 Condição 13

Senhor 9 Próximo 8 Mundo 22 Andar 15 Adaptação 13

Inteiro 9 Trazer 21 Colega 5 Braço 6 Mecânico 11

Sofrer 7 Coração 9 Lembrar 5 Convivência 6 Juiz 11

Convênio 3 Sociedade 20 Conviver 5 Amigo 9 Aula do

método

11

Mexer 8 Igual 57 Perder 9 Visitar 9 FBAC 9

Ocupar 4 Lugar 16 Buscar 4 Obrigação 7 Mina 12

Tempo 20 Melhorar 9 Revolução 3 Humilhação 7 Apresentar 12

Mudança 11 Suporte 5 Inferno 5 Cigarro 5 SENAI 12

Volta 8 Complicado 14 Homicídio 4 Festa 5 Maior 13

Gosto 5 Confiança 13 Sistema

prisional

4 Sobrar 5

Reconhecer 4

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Após a análise de cada classe e do conjunto de palavras que as compõem, elas

foram assim denominadas: Classe 1 – Gestão do Método APAC; Classe 2 –

Valorização Humana; Classe 3 – Recuperando ajudando recuperando; Classe 4 –

Estrutura jurídica, crime e tradicionalidade; Classe 5 - Cotidiano na APAC,

apresentadas no dendograma da figura 8 e detalhadas a seguir.

As classes semânticas foram separadas pelo léxico, conforme descrito na tabela 4 e

pelas variáveis pré-definidas por esta pesquisa (regime da pena e tipo de sujeito),

fornecendo os segmentos de textos típicos que justificam a formação de cada uma

das cinco classes, permitindo a interpretação e a análise dessas informações.

Por exemplo, a palavra APAC apareceu no total 251 vezes, sendo 126 vezes na

classe 1, denominada Gestão do Método APAC, representando 50,2% do total,

equivalente ao X² = 56,24. É por esse motivo que a palavra APAC está na classe 1

juntamente com as palavras juiz (X² = 50,86), método (X² = 47,14), metodologia (X²

= 44,21) e curso (X² = 40,5) que tiveram maior representatividade, justificando o

sentido de estarem com maior destaque e pertencerem à mesma classe. Raciocínio

semelhante deverá ser utilizado para o entendimento das demais classes propostas

na tabela 4.

Tabela 4: Identificação das palavras nas classes

Classe 1 – Gestão do Método APAC

Palavras EFF. St EFF. Tot % tot X²

APAC 126 251 50,2 56,24 Juiz 22 22 100 50,86 Método 33 42 78,57 47,14 Metodologia 24 27 88,89 44,21 Curso 41 61 67,21 40,5

Classe 2 – Valorização Humana

Palavras EFF. St EFF. Tot % tot X²

Ajudar 46 73 63,01 49,78 Pessoa 95 203 46,8 46,07 Amor 22 26 84,62 43,99 Falar 107 242 44,21 42,83 Mesmo 76 164 46,34 34,32

Classe 3 – Recuperando Ajudando Recuperando

Palavras EFF. St EFF. Tot % tot X²

Usar 12 13 92,31 78,29 Exame 10 12 83,33 56,93 Direito 13 21 61,9 48,95 Droga 19 40 47,5 47,67 Propósito 8 10 80 43,03

Classe 4 – Sistema Prisional Comum

Palavras EFF. St EFF. Tot % tot X²

Crime 51 69 73,91 282,95

Continua...

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Cometer 25 34 73,53 134,02 Comum 15 19 78,95 87,51 Prisão 13 17 76,47 72,56 Bandido 8 8 100 62,85

Classe 5 – Cotidiano na APAC

Palavras EFF. St EFF. Tot % tot X²

Hora 42 68 61,76 88,19 Tirar 27 39 69,23 68,04 Levantar 15 15 100 66,41 Roupa 19 23 82,61 63,35 Agente 14 14 100 61,93

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016. Nota: EFF. St = número de UCE’s que contém a palavra na Classe; EFF. Tot = número de UCE’s do corpus textual que contém a palavra; % Tot. = percentual das UCE’s da Classe em relação ao corpus textual e X² = Qui-quadrado de

associação da palavra com a Classe.

A figura 9 mostra os grupos de palavras que foram identificados na formação das

Classes, bem como o posicionamento delas ao se relacionarem no corpus textual. É

dado destaque para aquelas palavras mais representativas da Classe, tendo como

referência a relação Qui-quadrado (X²) de associação dessas palavras à Classe.

Essa representatividade é feita ao atribuir o tamanho das palavras na figura, dentro

de cada Classe. Nesse tipo de representação, também é possível identificar as

Classes que se aproximam ou se distanciam dentro do conjunto, mostrando

correlações ou segmentação das ideias.

...Continuação

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Figura 9: Representação gráfica das classes de palavras no texto

Fonte: Dados da pesquisa, software IRAMUTEQ, 2016.

Segundo Camargo e Justo (2013), a análise fatorial de correspondência é outra

maneira de demonstrar os resultados obtidos. A figura 9 reforça o que foi dito

anteriormente e demonstra a representatividade da palavra dentro da classe,

conforme o Qui-quadrado (X²) da palavra que faz a associação dela à classe, o que

justifica vocábulos com tamanhos diferenciados, com maior ou menor destaque.

Pode-se ressaltar também que as palavras dentro de cada classe não significam a

quantidade de vezes (maior frequência) em que a palavra é repetida pelos

entrevistados, mas sim, pelo critério de representatividade naquela classe, ou seja, o

seu X².

As palavras próximas ao eixo horizontal representam o que há em comum entre as

classes, enquanto seu distanciamento do eixo revela o distanciamento entre elas. Ao

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analisar a figura 9, com base no eixo central, percebe-se que as classes 2

(valorização humana/em cinza) e a classe 3 (Recuperando ajudando recuperando/

em verde), localizadas próximas ao eixo, representam concordância. Assim, pode-se

verificar que palavras, tais como ajuda, pessoa, amor, usar, exame e direito,

demonstrando relação entre as classes.

A classes 4 (Estrutura jurídica, crime e tradicionalidade/ em azul) e a classe 5

(Cotidiano na APAC/ em rosa) que se apresentam mais distantes ao eixo e em

quadrantes opostos representam uma negação, ou seja, representam que a

divergência entre o dia a dia dos sistemas, comum e APAC. Assim, pode-se verificar

que palavras como hora, levantar, roupa, no quadrante inferior esquerdo,

representam o dia a dia na APAC, enquanto palavras como crime, cometer, comum

e prisão, no quadrante superior esquerdo, significam o sistema prisional

convencional.

Outra observação que pode ser feita quanto à disposição gráfica das palavras Crime

(X² = 282,95) da Classe 4 (Estrutura jurídica, crime e tradicionalidade, em azul); e

APAC (X² = 56, 93) da Classe 1 (Gestão do Método APAC, em vermelho) que,

conforme a disposição gráfica apresentada, distanciam-se nos quadrantes, indicam

que a proposta da APAC (ou do método) é, de fato, a recuperação ou

ressocialização, conforme Camargo (2006) e Ottoboni (2014).

Os termos Ajudar (X² = 49,78) (Valorização humana, em cinza) e Usar (X² = 78,29)

(Recuperando ajudando recuperando, em verde) encontram-se presentes no mesmo

quadrante, demonstrando sentimento, emoção, solidariedade, remetendo ao

processo de humanização adotado pela APAC, corroborando com os estudos de

Camargo (2006).

Entretanto, a classe Gestão do Método APAC (em vermelho) aparece na parte

direita, concentrada no eixo central do plano cartesiano, evidenciando as palavras

APAC (X² = 56,24), Juiz (X² = 50,86), Método (X² = 47,14), Metodologia (X² = 44,21)

e Curso (X² = 40,50) que tiveram maior representatividade dentro dessa classe e

demonstram a terapêutica apaquiana.

A classe Cotidiano na APAC (classe 5, em rosa) está localizada na parte inferior,

esquerda. Os termos Hora (X² = 88,19), Tirar (X² = 68,04), Levantar (X² = 66,41) e

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Roupa (X² = 63,35) apresentam características do dia a dia na APAC. Interessante

informar que, apesar dessa disposição gráfica totalmente independente das duas

Classes, no corpus textual, isso não representa um contraditório de ideias, apenas

identifica que as palavras de maior representatividade das classes não se

tangenciam dentro das unidades de contexto elementares.

Sendo assim, a CHD é realizada a partir da Qui-quadrado (X²) e as classes são

compostas por vocabulários semelhantes entre si, diferentes dos vocabulários das

demais classes, demonstrando as ligações entre as classes e apresentando seus

termos peculiares. Ainda, segundo os autores, as classes podem apontar o

entendimento do senso comum (CAMARGO e JUSTO, 2013).

Com base na análise de conteúdo e na denominação proposta por Bardin (2013),

será adotada, a partir de então, a denominação categoria em substituição a classes

delimitadas pelo software. As categorias foram analisadas, considerando as

informações do dendograma, apresentado na figura 8.

As categorias serão descritas a seguir na seguinte ordem para facilitar a

compreensão da análise dos resultados: Categoria 1: Gestão do Método APAC;

Categoria 2: Cotidiano na APAC; Categoria 3: Valorização humana; Categoria 4:

Recuperando ajudando recuperandos; e Categoria 5: Estrutura jurídica, crime e

tradicionalidade.

4.4.1 Categoria: Gestão do Método APAC

Para a Classe 1, foram consideradas 409 Unidades de Contexto Elementar (UEC´s)

de um total de 1.139 trechos, representando 30,55% do corpus textual. A Classe 1

estabeleceu a categoria Gestão do Método APAC, porque envolve aspectos

relacionados à aplicação do método APAC, evidenciados pelos termos: APAC

(50,2%), juiz de execução (100%), método (78,57%), metodologia (88,89%), curso

(67,21%), conforme apresentado na tabela 4, recuperandos (68,09%), Conselho de

Sinceridade e Solidariedade (CSS) (70,27%), segurança (87,5%), Laborterapia

(100%), adaptação (86,67%) e aula do método (91,67%), detalhados no

dendograma (Figura 8), sendo alguns desses vocábulos próprios da gestão do

método adotado pelas APAC.

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A gestão do método APAC inicia-se com a possibilidade de o condenado que, ao

atender os critérios da Portaria-Conjunta n° 862/2007, de 23/05/2005 do Tribunal de

Justiça do Estado de Minas Gerais (MINAS GERAIS, 2006), em audiência com o

Juiz de Execução Penal reitera seu interesse em cumprir pena na APAC, é

informado sobre as políticas e condições para sua transferência para o Centro de

Reintegração de Presos (CRS). Assim, o condenado interessado em cumprir pena

na APAC deve demonstrá-lo junto ao Juiz. Além disso, o condenado deverá aceitar

as regras propostas pela APAC, assinando um termo de compromisso e seguir os

princípios estruturantes do método e o regulamento disciplinar dessa instituição.

- “Nós temos uma portaria do Tribunal de Justiça que estabelece os critérios objetivos para escolha do sentenciado que irá cumprir pena na APAC. Primeiro, ele tem que estar com a situação jurídica definida; segundo, a família tem que ter residência e domicílio na Comarca onde está localizada a APAC; ele precisa manifestar por escrito a sua aceitação das normas e regras da APAC e, por último, o critério da antiguidade, pela data da sentença. Então, existe uma fila de espera nas Comarcas, na medida em que vão surgindo vagas nas APACs, essas vagas vão sendo ocupadas por esses condenados da Justiça.” (Entrevistado 1, Gestor).

Além dos itens ilustrados na fala do entrevistado 1, a APAC pode solicitar ao Juiz de

Execução Penal da Comarca a transferência do CRS para outro estabelecimento

prisional, caso o preso não se adapte ao método.

- “Eu recebo cartas todos os dias, né? De presos que estão no presídio aqui de Itaúna, ou que são de Itaúna e se acham presos, por exemplo, em Divinópolis, Formiga e Pará de Minas, pedindo para voltar e para ir para APAC, né? Então eu dou andamento nessas cartas, junto no processo de execução e então em 90% dos casos eu já tenho a manifestação dele pedindo para ir, né? Mas, ainda assim, a gente cumpre a formalidade de estar colhendo em audiência esse compromisso de que vai, de que quer ir e vai se ajustar.” (Entrevistado 17, Poder Público). - “Para ele vir para cá é o seguinte, ele está em uma fila no presídio, né? Pré-determinada pelo juiz. Não tem discriminação, a gente não olha quem está vindo, a gente não determina quem vai vir para cá, a gente chega ... na medida

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que ele chega no presídio, ele entra em uma fila, assim que vai abrindo vaga, o juiz vai...vai transferindo, né?” (Entrevistado 5, Regime Fechado). - “Na verdade já existe um termo de adesão, na hora que a gente chega, a gente já lê no termo o que pode e o que não pode. A gente já lê e a gente já tem noção e toda cela tem uma apostila do quadro disciplinar, o que a gente pode e não pode fazer. Isso na verdade não foi nenhum, nem outro, foi os próprios presos que quando começou fez essas tipo lei, entre os presos, que é obrigado a dar continuidade e a obedecer, né? Para que a casa continua o funcionamento dela.” (Entrevistado 6, Regime Semiaberto).

O Juiz de Execução é o responsável pela condenação e pela seleção dos

condenados a cumprir pena na APAC. O Juiz acompanha o condenado durante todo

o período de condenação, sendo responsável pela concessão de benefícios ou

punições previstas na Lei de Execução Penal (LEP), n° 7.210 de 11 de julho de 1984

e no Regulamento Disciplinar da APAC (APAC, 2015b). As faltas graves

representam apenas 2% das infrações cometidas pelos recuperandos da APAC e

compete ao Juiz aplicar a punição prevista para cada situação.

- “Estava para receber a condicional, saiu de sete dias, fomos a casa dele e ele não estava... fomos, na segunda vez, e ele não estava. Tem que fazer o exame, fez o exame... e caiu. Só que aí vem uma série de desculpas, hoje normal, porque geralmente sai na hora, tinha a saída dele e na hora que ele voltou, ele já estava com resultado do exame, a gente o conduziu e ele está no fechado. O Juiz já regrediu a um ano para o fechado e aí ele vai ter um novo benefício, aí conta tudo de novo para chegar na condicional de novo.” (Entrevistado 8, Gestor). - “Eles ficam atrás de nós, (...), não posso comprar um maço de cigarro que eu fui para o fechado. (...) ele saiu do portão… saiu… eu fui correndo apresentar a ele e voltei para cá no fechado. Estou esperando para voltar para o juiz, (...) para ver se eu vou para o semiaberto de novo...” (Entrevistado 15, Regime Fechado).

As faltas leves e médias são aplicadas pelos recuperandos que compõem o CSS e

pela Diretoria da APAC, representando 98% das faltas cometidas pelos

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recuperandos. A seguir, depoimentos que evidenciam a importância do cumprimento

das regras disciplinares bem como o Quadro de Avaliação Disciplinar (Figura 10),

utilizado para acompanhar o comportamento disciplinar dos recuperandos.

- “Porque existem três categorias de faltas, leves, médias e graves. As faltas leves, elas são aplicadas pelo próprio Conselho de Sinceridade e Solidariedade, através de um quadro de avaliação diário [Figura 10] que nós temos... fica lá exposto na parede com as informações e etc.; tem as faltas médias que ficam no âmbito da administração da APAC e você tem as faltas graves que são de competência do Poder Judiciário.” (Entrevistado 1, Gestor).

Figura 10: Quadro de Avaliação Disciplinar.

Fonte: Acervo da pesquisa, 2016. Nota: Registro fotográfico realizado nas dependências da APAC Itaúna (masculina).

- “É deixar a cama limpinha, o banheiro, é não deixar toalha, cueca pendurada… porque tem a conferência de cela, passa e olha e “de quem que é?” Aí a pessoa é punida, entendeu? chega de tarde, quatro horas, você tem um lazer, vê uma televisão, joga um futebol igual os caras lá jogando, uma peteca, você não pode porque você deixou é... por exemplo, sujo, largado lá, você não pode, não pode deixar os trem dentro da cela que você é punido, prejudicado de todo jeito. Uma bolinha você fica sem lazer, duas bolinhas uma semana, três bolinhas duas semanas... todo dia, todo dia tem os plantonistas...todo dia… a gente mesmo olha, a gente que está

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mais velho “olha sua cueca lá que está pendurada”, entendeu? É, uai, senão... é todo mundo é prejudicado… é um ajudando o outro, entendeu? Então isso aqui é corriqueiro, assim, um dar um toque no outro “ó… pendura! estica o lençol...” é, pendura, estica o lençol, dobra a cama, põe o ventilador lá em cima (...)” (Entrevistado 10, Regime Fechado).

- “Olha, volto a falar novamente com você que tem um papel importantíssimo na questão da disciplina, então os problemas corriqueiros, do dia a dia, que tem a ver com a convivência lá, vão primeiro para esse Conselho, que atua de forma conciliatória, então não chega para impor, para brigar ou para punir, né? Chega para conversar, para achar um meio termo para resolver, né? E, com esse trabalho, o Conselho resolve 90% dos problemas que surgem entre eles. Dos 10% que sobram, uns 8% passam por esse Conselho, não têm solução e aí vão para a diretoria da APAC e aí sobram 2% que são aqueles que a Diretoria não tem condições de resolver ou não tem competência para resolver, digamos no caso de uma falta grave, de uma agressão lá dentro, que é crime né? Aí configura falta grave e só o Juiz é que pode resolver, ou alguém que seja apanhado lá dentro com drogas, é crime e falta grave, não é? E aí, esses 2%, a APAC repassa para o Juiz, fazendo a comunicação e aí eu vou instaurar um Incidente, dentro do processo de execução para apurar essa falta. De acordo com a LEP, eu tenho que começar esse incidente com uma audiência para ouvir a versão do preso sobre o fato - é direito de defesa - aí depois disso se houver testemunhas, se for necessário testemunha, aí eu vou marcar para ouvir a testemunha e aí vai para decisão reconhecendo ou não a falta grave… Agora tudo isso tem que ser bem definido e bem aplicável, não adianta o Conselho resolver a parte dele, a Direção resolver a parte dela se eu no final, nesses casos que são mais graves, se eu não decidir esses casos, né? Vai dar uma sensação de impunidade. Então, eu sempre marco as audiências, resolvo esses incidentes e tem o efeito pedagógico, que vai ficar demonstrado para o preso que a violação das normas implica em uma sanção.” (Entrevistado 17, Poder Público).

O cumprimento dos 12 elementos, propostos pelo método APAC, cuja gestão é

alicerçada na disciplina, conforme descrito anteriormente, explica o motivo pelo qual

o termo segurança foi evidente nos depoimentos dos entrevistados. Outro fator é

que o encarregado pela segurança da APAC é um ex-recuperando que já cumpriu

sua pena e já conquistou a sua liberdade, sendo contratado por essa instituição.

O encarregado pela segurança da APAC auxilia a diretoria dessa instituição na

administração do Centro de Reintegração Social (CRS), sendo responsável pela

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segurança do CRS juntamente com os recuperandos bem como pela escolha do

presidente do CSS. Observa-se que os demais membros desse Conselho são

escolhidos pelo presidente do CSS. O tempo de permanência do presidente do CSS

é por tempo indeterminado, podendo ser substituído a qualquer momento.

- “Ele que é o encarregado de segurança... contratada da APAC, no caso esse aí é um ex-recuperando. Já cumpriu a pena dele. Ele é funcionário da APAC. Ele foi plantonista... pode ser ex-recuperando e pode ser contratado normal, passa por processo de seleção, tudo normal. Funcionário. Então dentro do regime, ele sabe quem são os líderes, tem líder negativo e tem líder positivo, né? E, ele escolhe aquele líder que está fazendo um trabalho bacana, que está fazendo uma caminhada boa, convida ele para ser o presidente do CSS e indica para ele algumas pessoas que ele pode compor o Conselho. Tem o cara às vezes quer ser o presidente, mas eu quero trabalhar com outra pessoa que auxilia no dia a dia e eu vou chamar ele para poder me auxiliar no Conselho, ele tem essa opção. Mas, o presidente do Conselho é escolhido pelo encarregado, se trocar o Conselho, o Conselho todo é trocado e a qualquer momento por ele.” (Entrevistado 8, Gestor).

Os recuperandos, membros do CSS, são responsáveis pelo recebimento,

supervisão e treinamento desses recuperandos recém chegados do sistema

prisional comum, para que tomem conhecimento do método APAC em seus

aspectos teóricos e, principalmente, em como aplicar seus elementos em suas

atividades cotidianas, conforme proposto por Ottoboni (2014).

- “(...) e você chega na APAC tem o CSS, que vai te receber, que vai te orientar como que cumpre pena na APAC… porque tem muitas regras, né?” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto). - “A função do CSS é essa, é promover a caminhada do irmão, não adianta se autopromover. Então como o melhor auxiliar da direção da APAC, ele tem que estar tomando conta dessa disciplina, então os próprios recuperandos tomam conta da disciplina.” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto). - “(...) Eles chegam lá e vão receber informações, não é? É… bem conscientes do que é APAC, como que funciona e tal, e lá nós temos, você viu lá o Conselho de Sinceridade e Solidariedade. Então, além da própria direção fazer esse acolhimento, esse trabalho continua com esse Conselho que vai conviver com o preso e com o recuperando no tempo que

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se seguir, passando para ele essas informações, tentando ajustar a conduta dele às normas, né? (...).” (Entrevistado 17, Poder Público).

Situação semelhante foi descrita Van Maanen (1976) que afirma que o indivíduo, ao

aprender sobre os valores, as normas e os comportamentos exigidos por uma

instituição, passa a integrá-la como membro. E, ao introjetar os elementos dessa

cultura, a partir de um aprendizado com esse grupo, esse indivíduo inicia o seu

processo de ressocialização (LEAL, 2013).

Assim que o recuperando chega à APAC, ele passa por um período de adaptação

com duração de 3 (três) meses. Segundo relatos dos entrevistados, esse é um

período muito difícil, pois provoca mudanças na vida desses recuperandos que não

estavam acostumados a seguir regras, ter limites, estudar, trabalhar, cooperar com

os colegas, viver em harmonia e ser solidário.

- “Ah, foi meio diferente do que a gente está acostumado. Porque aqui é muitas regras… é… tem regras, tem coisa que a gente tem que cumprir, o método APAC, aí com o tempo vai se adaptando, né? O mais difícil?! (risos) uai...deixa eu ver… tem horário de levantar, tem muita coisa, regra assim, pequenininha... as mais pequenas, cara... é mais chato...” (Entrevistado 3, Regime Semiaberto).

O processo de desintoxicação é outra mudança que ocorre nessa fase inicial, pois a

maioria desses recuperandos são dependentes químicos e esse processo de

adaptação provoca crises de abstinência. As etapas desse processo são descritas

pelo gestor em seu depoimento:

- “E uma vez, uma vez feita a transferência, tão logo chega na APAC e ele começa a ser submetido a essa terapêutica penal própria que nós denominamos método APAC, sabendo que nos três primeiros meses serão meses de adaptação à metodologia. Esses três primeiros meses, nós vamos dividir em três momentos: o primeiro momento que vai durar um período, a depender de cada situação de cada recuperando, que nós chamamos de diagnóstico; o segundo momento que é o

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momento da desintoxicação, considerando que quase 100% dos que chegam na APAC são dependentes químicos e o terceiro momento que é o momento da motivação. Então, durante esses três primeiros meses, eles vão ter um tratamento diferenciado, é… o método se torna bastante individualizado quando eles chegam na APAC e, depois dos três meses, passada essa fase de adaptação, eles já se inserem na vida normal dentro da instituição.” (Entrevistado 1, Gestor).

O método APAC é apresentado aos recuperandos através de momentos formais,

intitulados aulinhas do método que são ministradas diariamente pelos próprios

recuperandos e, algumas vezes, por representantes da FBAC. Eles são avaliados

após 3 meses, através da aplicação de prova sobre o método, conforme os

depoimentos a seguir.

- “Sim. Durante esses três primeiros meses, eu tenho aula do método, completou os três meses e eles aplicam uma prova para testar os seus conhecimentos.” (Entrevistado 14, Regime Fechado).

- “Aí tem uma aulinha do método APAC, que é dado no fechado, durante dois meses e aí durante esses dois meses você faz duas provinhas, sempre tem uma noção do que é um… da onde que ela foi fundada, essas coisas...aí. Depois você vem para o semiaberto, quem fez a prova no fechado não precisa de fazer aqui, aí você vem, (...).” (Entrevistado 4, Regime Semiaberto).

Após a apresentação das regras a serem cumpridas na APAC, o recuperando deve

segui-las, conforme acordado no termo de compromisso. Com isso, o recuperando

aprenderá uma conduta adequada para viver em sociedade, podendo ser

reintegrado ao sistema de maneira digna e com novas oportunidades de viver a

partir dos valores adquiridos com a convivência na APAC.

- “E… então isso é muito importante e na questão do limite, na observação que a gente faz é que quem chega a uma prisão, chega por ter violado uma norma de conduta grave, né? E quem chega a essa situação já desrespeitou limite na família, na escola, no trabalho, no núcleo social dele. Então, a APAC não tem outra coisa a fazer senão tentar colocar esse limite,

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porque é a última oportunidade, a última instância para impor esse limite, se não for colocado esse limite ali certamente não terá solução, porque não haverá outra oportunidade para chegar a este resultado...” (Entrevistado 17, Poder Público).

Entretanto, conforme apontado pelo entrevistado 4, há situações em que o

recuperando não se adapta e pede para retornar ao sistema prisional comum para

cumprir a sua pena.

- “(...) não tem dificuldade não, é só se a pessoa não quiser mesmo, não quiser mesmo. Eu já vi gente que chegou aqui e falou “não quero ficar aqui não” quero voltar lá para baixo, e aí volta...” (Entrevistado 4, Regime Semiaberto). - “(...) mas de imediato, eles pediram para mim levantar a cabeça, colocar as mãos para frente e minha família já tinha trago as minhas roupas, era uma surpresa para mim, depois eu fui seguido pelo CSS onde eu fiz a leitura do termo de adesão e termo de compromisso e lógico que eu assinei ele, porque se eu deixar de assinar, a gente é transferido novamente para o sistema convencional.” (Entrevistado 11, Regime Fechado).

A maioria das entrevistas com os recuperandos trazem depoimentos que evidenciam

que o método se aplica aos presos que estão dispostos a aceitar e seguir os seus 12

elementos estruturantes. Apenas o entrevistado 15 relatou por diversas vezes em

seu depoimento a sua insatisfação em ter que cumprir regras e em ser controlado.

- “Ah, para mim é tudo a mesma coisa... mesma coisa… lá por enquanto a gente estava doido para pegar uma saída lá, mas não teve jeito. Aqui só sai para rua você é vigiado, não pode fazer nada... não pode nem comprar um maço de cigarro, eu fui comprar um maço de cigarro e voltei para o fechado de novo... lá você pode voltar, você pode voltar de qualquer forma, não tem nada a ver... aqui você não pode comprar um maço de cigarro que você vai para o fechado… olha, 03 meses já aqui... depois do semiaberto... então lá é melhor, era só sair, você pode sair, voltar, tranquilo…” (Entrevistado 15, Regime Fechado).

De acordo com algumas declarações durante as entrevistas, constatou-se que

alguns recuperandos demonstraram desconforto em receber e cumprir ordens de

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condenados como eles, pois não estavam acostumados a seguir regras ou estar

subordinados a alguém em igual condição a dele, cumprindo pena!

- “(...), no sistema comum é cada um por si e Deus para todos e você chega na APAC tem o CSS, (...), eu costumo falar, que é mais complicado cumprir pena na APAC que no sistema comum. Por quê? Pelo fato da gente estar sendo reeducado, o fato de você estar sendo reeducado por recuperandos no início causa uma estranheza. Porque você sabe que é uma pessoa que cometeu crime como você e que está chamando sua atenção, está te ensinando alguma coisa, você pensa assim “como que pode, ele está no mesmo patamar que eu, quem é ele para estar me ensinando?!” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto).

Entretanto, o entrevistado 2 pondera que...

- “Só que o objetivo não é esse, nos 12 elementos da APAC tem o segundo item que é “recuperando ajudando recuperando” e o CSS faz parte desse item, então na verdade não é o recuperando querendo mandar no outro recuperando, é o recuperando está auxiliando o outro no cumprimento da pena.” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto).

Percebe-se assim que a disciplina é mantida nessa instituição porque os

condenados pertencem ou ao grupo controlado (recuperandos) ou ao grupo

controlador (CSS), logo prevalece a ideia que, mesmo agindo individualmente de

maneira inadequada, infringindo o Regulamento Disciplinar da APAC (APAC,

2015b), a punição poderá ocorrer coletivamente, conforme refletido nos depoimentos

a seguir.

- “A disciplina é feita pelos próprios recuperandos, o que não é fácil também. Mas, é obrigado a ter ela, querendo ou não querendo. Aqui se um fez uma coisa errada, todo mundo paga por ela. É coletivo. Igual no sistema comum não é individual. Aqui não, se um cometer qualquer coisinha que desagrada, todo mundo paga...” (Entrevistado 6, Regime Semiaberto). - “(...) o CSS responsável praticamente direto no regime pela disciplina, qualquer coisa que tenha, eles têm autonomia de resolver, reunir, chamar o recuperando, conversar, explicar para ele que ele errou.” (Entrevistado 5, Regime Fechado).

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- “Olha, volto a falar novamente com você que tem um papel importantíssimo na questão da disciplina, então os problemas corriqueiros, do dia a dia, que tem a ver com a convivência lá, vão primeiro para esse Conselho, que atua de forma conciliatória, então não chega para impor, para brigar ou para punir, né? Chega para conversar, para achar um meio termo, para resolver, né? (...).” (Entrevistado 17, Poder Público).

Esse estranhamento entre os recuperandos ocorre, pois a pessoa antes de ser

presa tem uma posição individualista, cuidando apenas de si o que é mantido no

sistema prisional comum. Entretanto, ao optarem por cumprir pena na APAC, esse

individualismo é quebrado pela solidariedade e pela fraternidade estabelecida entre

eles, tendo assim todos os presos a mesma posição, independente do crime

cometido e devendo obediência aos membros do CSS.

- “(...) então vamos com o CSS, a briga maior é com o CSS. Tem discussão verbal “não, não aceito e tal” mas 80% é resolvido entre os próprios presos. Mesmo que eu não concorde, os outros “não, você é obrigado a fazer”...a maioria, só uma situação que não tem jeito de resolver aí a Direção entra. Mas, tudo é resolvido entre os presos e é a melhor maneira. Qual é a melhor maneira? É a maneira que não vai interferir no funcionamento da casa. Não é que eu quero que vai ser do meu jeito não, vai ser do jeito que foi proposto. Quando nós chegou já era e vai continuar sendo. (Entrevistado 6, Regime Semiaberto). - “Eu posso te falar, na prática, como a disciplina é a aplicada, mas, o bonito é a dinâmica que é aplicada no dia a dia, ora pelos recuperandos, ora pela equipe e ora pelo Poder Judiciário. Porque existem três categorias de faltas, leves, médias e graves. As faltas leves, elas são aplicadas pelo próprio Conselho de Sinceridade e Solidariedade, através de um quadro de avaliação diário que nós temos... fica lá exposto na parede com as informações e etc.; tem as faltas médias que ficam no âmbito da administração da APAC e você tem as faltas graves que são de competência do Poder Judiciário.” (Entrevistado 1, Gestor).

Percebe-se, através dos relatos dos entrevistados, a importância da disciplina para

que os recuperandos introjetem os valores e sigam as normas da instituição em

concordância com os estudos realizados por Foucault (2012) sobre o poder

disciplinar. Vale ressaltar ainda que a APAC possui características peculiares e por

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ser uma instituição total também contribui para mortificação do eu, mas possibilita a

socialização do indivíduo, conforme o propósito da instituição (FLEURY, 1996;

GOFFMAN, 2015).

Machado (2008) e Volpe Filho (2009) também mencionaram em seus estudos que a

disciplina é relevante também para o processo de ressocialização, pois é através

dela que se pode ensinar ao recuperando um ofício, educá-lo e prepará-lo para a

vida em sociedade.

Para a eficiência da Gestão do Método APAC, é necessário que haja o cumprimento

dos 12 elementos propostos não sendo nenhum mais importante do que o outro

(OTTOBONI, 2014). Dentre esses elementos, cita-se o Trabalho que contribui para

ensinar hábitos de disciplina e ordem, como foi ilustrado por Machado (2008). Nesse

contexto, a APAC promove cursos e atividades que auxiliem no processo de (re)

socialização, resgate da autoestima, promoção de novos valores tanto no sistema

fechado quanto nos regimes semiaberto e aberto, como está elucidado no

depoimento do representante do Poder Público:

- “olha nós... o sistema adotado pela Lei de Execuções Penais é o progressivo, né? Que você começa pelo regime fechado, semiaberto, aberto, né? É… chega por fim no mais brando dos regimes que é o livramento constitucional, então o que contribui para isso é da metodologia se bem aplicada. No fechado, você trabalha na adequação da personalidade daquele que cometeu um crime é… a uma nova realidade né? Tentando introjetar nele valores, novos valores que vão propiciar a ele hoje e amanhã a viver de acordo com as regras. No semiaberto, você trabalha a profissionalização, quer dizer a pessoa através de uma profissão, através de um estudo para a hora que chegar na rua estarem aptos a se manter e a manter a família sem causar mal a ninguém. E, depois, no aberto, já tem contatos diretamente, saindo para trabalhar, saindo para visitar a família e depois, no livramento, ainda estão presos ao processo, mas já ficam em casa e ficam convivendo com a família diariamente. Então, o que contribui é que todas essas etapas sejam bem executadas e que o semiaberto, por exemplo, eles sejam bem orientados nessas saídas para visitar a família, para ir para o trabalho, né? E, a APAC faz monitoramento desses comportamentos...” (Entrevistado 17, Poder Público).

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Esse contexto explica a frequência (100%) com que o termo Laborterapia apareceu

nos depoimentos dos entrevistados que compuseram a estruturação dessa categoria

(Gestão do Método APAC). A Laborterapia constitui uma atividade laboral adotada

no regime fechado para desenvolver a autoestima, valores e também como forma de

renda para auxiliar a família dos recuperandos como descrito nos depoimentos a

seguir. Essa atividade é importante para que esse indivíduo transforme seu coração,

desenvolva a capacidade de perdoar e, principalmente, de descobrir seus próprios

valores para recomeçar uma vida nova (OTTOBONI, 2014).

- “(...) porque a metodologia, eles sentam lá [sistema fechado] e vai ter o tempo de laborterapia… não é… esses negócios de laborterapia, fazer artesanato, né? Como se diz aliviar a mente dele primeiro... e aí a gente... e aí vai ter um trabalho de valorização humana e vai começar a ser assistido aqui… e aí a gente vai tendo um tempo...” (Entrevistado 6, Regime Semiaberto).

- “Tive, você tem um processo de adaptação de 03 meses, passar pela laborterapia, quando eu vim para cá, eu vim direto para o fechado, né? Porque minha condenação era fechado, então eu passei um tempo no fechado. Então, eu passei um período de adaptação de 03 meses na laborterapia, aprender como que é o método, participando das aulas do método que ensinam o que faz a APAC, o que ela faz por você...” (Entrevistado 7, Regime Semiaberto).

- “Essa adaptação porque… aí tem... os outros trabalham oito horas por dia e ele não tem ainda essa atividade a não ser que ele queira ficar lá, (...) de manhã cedo, a aula de valorização humana, no primeiro ato, a escola do método e aí só depois que ele vai começar a trabalhar na laborterapia. (...).” (Entrevistado 8, Gestor)*.

No Regime Semiaberto, as atividades estão voltadas para a profissionalização do

recuperando, contribuindo para a ressocialização (OTTOBONI, 2014). Logo, os

termos curso (67,61%), SENAI (85,71%) e mecânico (91,67%) apareceram com

frequência nas entrevistas, confirmando a importância de se profissionalizar e de se

aprender um ofício, propiciando condições de trabalho aos recuperandos que

citaram em seus depoimentos os cursos de painéis eletrônicos, panificação,

mecânica e artesanato.

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- “Todo tipo de curso era bom, né? Porque quando você sair daqui qualquer um, não tem especificação de curso que seria bom, mas tem um curso para dar oportunidade para o recuperando sair com esse curso lá com certificado, com um currículo a mais, um curso a mais no currículo, ia ajudar bastante, né?” (Entrevistado 7, Regime Semiaberto).

- “Eu lembro que esses dias para trás eu estava no fechado e tava tendo um curso aqui fora de mecânica. Tinha até um carro. Um carro... o povo que estava dando o curso era do SENAI, estava dando curso, desmanchando, mostrando… eles deram um curso aí... geralmente tem que ter boa disciplina, escolaridade, tem que estar estudando… e pedir para participar, tem que querer.” (Entrevistado 4, Regime Semiaberto). - “Igual o meu irmão passou por aqui, um amigo meu, muito amigo meu passou por aqui e ele fez um curso aqui de trabalhar com serra de minério, saiu daqui empregado, pelo SESI. Acho que tem uma parceria com o SESI, SENAI, quer dizer! E ele saiu daqui empregado, com uma profissão bacana… pena que ele não quis seguir adiante lá fora...” (Entrevistado 13, Regime Fechado). - “É... eu acho que quanto mais cursos tem, mais condições de recuperação na APAC, menos problemas ele vai causar quando voltar ao convívio social, principalmente, o regime semiaberto, onde vai ser criado lá uma funilaria, uma lanternagem e uma lanternagem também com a parceria da Ferrovia Centro Atlântica, então se a gente for olhar bem, o recuperando muitas vezes ele sai e reincide porque ele sai e fala - “chega lá fora e não vou ter emprego” e a APAC nos propõe a qualificação também.” (Entrevistado 11, Regime Fechado).

Constata-se que as propostas dos cursos profissionalizantes precisam estar

articuladas com os mercados nos quais as APACs estão inseridas, sendo

fundamental o estabelecimento de parcerias como ocorre com o SENAI, a FIAT

Automóveis, o Instituto Minas pela APAE, e atenção às demandas, evitando fornecer

cursos profissionalizantes que capacitem o recuperando, mas que, ao conquistar

sua liberdade, a profissionalização adquirida não permita sua reinserção no mercado

de trabalho.

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- “Olha, normalmente o que a gente prega e isso que está em todas as APACs é que esses cursos sejam voltados para a demanda para localidade em que a APAC está situada. Então me parece que aqui os cursos são bem adequados para nossa realidade, então tem cursos de mecânica, de mecânica pesada e esse pessoal já é geralmente já sabe, Pará de Minas, o projeto de mineração aqui na cidade já tem uma ocupação garantida, além disso, com a ajuda do SENAI, em parceria, tem sido ministrado curso de pedreiro, que tem muita demanda de mercado, curso de mecânica de automóveis, e aí também em parceria com a FIAT que são ocupações que depois eles vão encontrar no mercado e… mas a APAC está sempre atenta a essas mudanças, porque não adianta você colocar cursos profissionalizantes e na hora que ele chegar aqui fora ele não tem mercado. E é fato interessante que na padaria lá tem sempre recuperandos que são aprendizes e é uma área que há muita demanda aqui e em todas as outras cidades e quem passa na padaria já sai empregado, né?” (Entrevistado 17, Poder Público).

- “Tipo assim, vou embora hoje, aí outro dia que eu chego tem um curso, entendeu? Aí no outro dia eu já começo a trabalhar, aí tipo assim eu tô vendo que vou ter mudança de vida também, (...).” (Entrevistado 9, Regime Semiaberto). - “Nessa área de curso profissionalizante, nós temos a parceria do Instituto Minas pela APAE que emprega as maiores empresas de Minas e eles com o programa 5S, SESI, SENAI e etc., hoje eles prestam essa grande ajuda para as APACs, que é oferecendo cursos profissionalizantes.” (Entrevistado 1, Gestor).

A APAC também fomenta ao recuperando o retorno aos estudos regulares, em seus

diferentes níveis: Ensino Fundamental, Ensino Médio e o Ensino Superior. As aulas

são ministradas no período da noite por professores voluntários.

- “(...) é, até nesse período que eu estou aqui minha família está bem satisfeita comigo, principalmente que eu concluí o Ensino Médio, pelo esforço que eu estou tendo de estar estudando, de estar fazendo esse trabalho de vivenciar, foi uma luta muito grande para chegar aonde eu estou hoje nos estudos, nos trabalhos, né? Passei por muitos psicólogos, passei até mesmo por entrevista com juiz… eu acredito que quando eu voltar com o convívio social, elas não vão estar somente com aquelas certezas de um dia em cometi o crime e fui preso, mas elas também vão ter a visão de que a cadeia em

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geral ela me recuperou. Em certa parte pela dor e também pelo amor, pelo amor da APAC. (Entrevistado 11, Regime Fechado). - “Tipo assim, vou embora hoje, aí outro dia que eu chego tem um curso, entendeu? Aí no outro dia eu já começo a trabalhar, aí tipo assim eu tô vendo que vou ter mudança de vida também, entendeu? Ajuda, escola aqui também tem para nós... E, eu vou fazer o ENEM agora, quinta feira.vou ver se tem a forma de passar e fazer uma faculdade, né cara? (Entrevistado 9, Regime Semiaberto). - “Mas esse processo envolve outras atividades, não é? A educação, por exemplo, lá o ensino é obrigatório, não sei se você chegou a ver, mas lá praticamente todos estudam, né? E essa educação tem um papel importantíssimo por serem de um nível mais baixo chegam lá analfabetos, com dois anos de escolarização, não é? E já houve casos, vários, de pessoas que entraram lá analfabetas e saíram com curso superior... tem vários que estão fazendo… curso superior em Direito, em Engenharia, em Enfermagem, né? E isso a gente acredita que quem entra lá e sai com uma formação, por exemplo em Direito, sai outra pessoa, em outras condições para lá fora, ser inserido no mercado e não voltar a cometer outros crimes.” (Entrevistado 17, Poder Público).

Essa categoria revelou que a Gestão do Método APAC é realizada por vários

sujeitos de diferentes esferas. Esses sujeitos, o Juiz, os diretores da APAC e da

FBAC, os membros do CSS, o encarregado de segurança, e o próprio recuperando

possuem papéis específicos para o alcance de bons resultados que irão refletir

diretamente no funcionamento da APAC e na reintegração do recuperando à

sociedade.

- “são vários motivos, o apoio incondicional do Poder Judiciário e do Ministério Público são fatores que contribuem diretamente para o sucesso de uma APAC. Você ter um modelo de gestão descentralizado, onde funcionários, voluntários, sociedade, recuperandos trabalham de um modo uniforme, de um modo harmônico, isso também contribui diretamente para o sucesso. A aplicação total dos 12 elementos fundamentais são fatores preponderantes para o sucesso da metodologia. Então, são vários.” (Entrevistado 1, Gestor).

A Gestão do Método APAC está pautada em sua aceitação pelo recuperando e no

cumprimento das normas e regras instituídas por ele, através de uma rígida

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disciplina baseada no trabalho e, também, no amor e na confiança e que necessitam

do apoio de seus diferentes atores para que sejam aplicados em seu cotidiano.

Essa análise de conteúdo também demonstrou a importância da educação e da

profissionalização para a reintegração do recuperando à sociedade e ao mercado de

trabalho, em consonância com os estudos de Lima (2010), Takemiya (2015) e

Campos (2015), sendo necessário aprimorar parcerias com instituições de ensino e

empresas de diferentes segmentos de maneira a maximizar essas oportunidades.

Na categoria Gestão do Método APAC, foi possível identificar a percepção dos

presos sobre esse processo de ressocialização, a partir desse Método ao evidenciar

a importância da formação e da qualificação profissional para o reingresso na

sociedade e no mercado de trabalho, o que propiciará maior estabilidade familiar,

contribuindo para sua efetiva reinserção social, para diminuição da reincidência

criminal e, consequentemente, reduzindo a criminalidade. Esses fatores descritos

nessa categoria também foram observados nos estudos de Campos (2015).

De acordo com relatos apresentados nessa categoria, Gestão do Método APAC,

verificou-se que o método é aplicado pelos gestores, conforme foi proposto e está

descrito no Manual de sistematização de seus processos (APAC, 2015a) e no

regimento disciplinar (APAC, 2015b). Esse fato é constatado pelas aulas do método

e das atividades diárias, caracterizando-se como um método ressocializador cujo

objetivo é reintegrar o preso à sociedade, após o cumprimento da pena, que pode

ser comprovado pelos depoimentos dos próprios recuperandos. Esse contexto

permite afirmar que, na ótica dos gestores, o Método APAC ressocializa o preso.

4.4.2 Categoria: Cotidiano na APAC

Na classe 5, Cotidiano na APAC, foram consideradas 249 Unidades de Contexto

Elementar (UEC´s) de um total 1.339 representando 18,6% do corpus textual. Os

vocábulos hora (61,76%), tirar (69,23%), levantar (100%), roupa (82,61%) e agente

(100%), registrados na tabela 4, ao descreverem a importância da rotina na APAC,

justificando-se assim a denominação dessa categoria.

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O cotidiano dessa instituição propõe as atividades diárias, descritas na figura 11,

cujo objetivo é viabilizar a implementação harmônica e equilibrada do conjunto dos

12 elementos, propostos pelo método APAC, que são igualitários, a saber...

- “Eu acredito que é um conjunto, o método APAC são 12 elementos, não é um só. Você não pode aplicar um, esquecer o resto, dar ênfase em um, esquecer de outros... têm o mesmo valor: a família…, a assistência jurídica, a assistência à saúde, o trabalho, a valorização humana, a espiritualidade, a participação da comunidade...” (Entrevistado 1, Gestor).

Figura 11: Quadro de atividades do regime semiaberto

Fonte: Acervo da pesquisa, 2016. Nota: Registro fotográfico realizado nas dependências da APAC Itaúna (masculina).

Na APAC, os recuperandos assistem às aulas e às palestras de valorização humana

e sobre os elementos do método APAC; exercem atividades laborais, escolares,

profissionalizantes, estando programados também os horários de alimentação, lazer

e dedicação religiosa, no período de segunda-feira a sábado. Aos domingos, as

atividades também são preestabelecidas, incluindo o horário para receber visita dos

familiares (Figura 11).

Essas atividades são importantes para a recuperação do preso, pois criam uma

rotina de afazeres que auxiliarão em novos hábitos, na construção de valores, no

desenvolvimento da autodisciplina, dando assim ao preso tratamento digno e

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adequado nos padrões da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984), além de propiciar

ritos de socialização ao recuperando que busca um novo projeto de vida para sua

reintegração à sociedade, evitando o atestado de óbito social mencionado nos

estudos de Santos (2013), e favorecendo seu processo de inclusão (FLEURY,

1996).

Segundo os relatos dos entrevistados, a primeira atividade do dia é denominada Ato

Socializador, às 7 horas da manhã, que consiste no momento em que é feita

chamada nominal, realizada pelo inspetor de segurança; orações, reflexões bíblicas

e avisos pertinentes. As atividades laborais são realizadas durante o dia e, as

escolares, durante a noite, encerrando as atividades diariamente às 22 horas. O

entrevistado 2 faz um breve relato do cotidiano na APAC, no sistema semiaberto, e o

entrevistado 10 ilustra a rotina no regime fechado ao dizerem respectivamente que

- “A gente acorda às 6 horas da manhã porque às 7 horas tem o primeiro ato socializador, o ato socializador é composto de chamada nominal, oração e aviso. Depois disso a gente toma café, às 8 horas tem valorização humana até às 9 horas, de 9 ao meio dia é trabalho, meio dia a uma é almoço, de 1 às 3 é trabalho, 3 horas café, 3 e meia a gente volta para o trabalho até às 5 horas. Das 5 horas, a gente tem um momento de lazer até 6 horas, porque começa a escola, 6 horas… a escola vai de 6 horas às 7 horas, que é o jantar, 7 e meia, a gente volta para a escola até às 9 e meia. E, 10 horas, a gente tem que estar pronto para dormir. Então é bastante puxado, mas é gratificante.” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto). - “Ah, o CSS, entendeu, que passa para a gente. A gente tem que estar aqui dez para sete e passa um recuperando aqui gritando “faltam 10 minutos” para oração, entendeu? Você não pode ficar deitado que nem no sistema comum se você quiser, aqui não, aqui tem as regras para a gente, entendeu? Seis horas, é seis horas, a gente acorda; dez para sete, a gente tem que estar aqui para a gente rezar e fazer o ato socializador, sete e vinte é o café e, depois, é rotina normal. Depois de oito horas. Tem um tempo para a gente fazer a faxina, até oito horas, depois é rotina normal. Trabalha até 11 horas, depois 11 horas, a gente pode esperar o almoço até chegar, depois fica de lazer, pode deitar se quiser e aí uma hora você pode deitar de novo até quatro e quinze…” (Entrevistado 10, Regime Fechado).

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O gestor em seu depoimento ressalta a necessidade de adaptação do recuperando

do regime fechado à rotina na APAC que difere daquela adotada no sistema

prisional comum à qual o indivíduo estava submetido. Assim, ele explica o motivo

dessa adaptação que...

- “Essa adaptação porque… aí tem... os outros trabalham oito horas por dia e ele não tem ainda essa atividade a não ser que ele queira ficar lá, ele tem que ficar lá o máximo de tempo possível, por isso que a gente nesses três meses para a gente chegar a tanto, né? Você chega, não está acostumado com o sistema, você chega e bota para trabalhar oito horas por dia, não está acostumado. Então ele tem, a gente faz de manhã cedo a aula de valorização humana, no primeiro ato, a escola do método e aí só depois que ele vai começar a trabalhar na laborterapia. Parte do dia ele vai estudar, parte do dia ele trabalha.” (Entrevistado 8, Gestor).

As atividades laborais são realizadas ora para o restabelecimento da autoestima ora

para a profissionalização, dependendo do regime em que se cumpre a pena. Essas

atividades podem ser exemplificadas por artesanato com linha e vidro, marcenaria,

panificação, atividades na cozinha e no refeitório, limpeza das dependências da

APAC, barbearia, conferência de cela, dentre outras.

- “Aqui não, eu quero fazer aquele artesanato, vou começar nele cedo e vou ver até tantas horas, eu termino ele, aqui tudo é assim. Tantas horas, eu dou conta dele. Tenho um tapete pronto... dá para fazer aquele rolo de crochê e tal... por aí...” (Entrevistado 12, Regime Fechado). - “Na cantina, mas eu ainda tenho 2 anos da minha pena ainda no regime semiaberto, tem que cumprir um ano, para ter direito para trabalhar na rua. Então, nesse um ano, eu vou procurar aprender alguma coisa diferente. Tem muitos voluntários da APAC que abrem a porta de emprego para a gente, então a gente tem que estar em uma boa caminhada para estar conseguindo as oportunidades. Não, eu fiz no fechado, o de montagem de painéis elétricos... (...). Depois que a gente forma o Ensino Médio, a faculdade é à distância.” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto).

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A obrigação em cumprir todas as atividades, seja ela de trabalho seja de estudo,

atividade religiosa, ou mesmo tarefas corriqueiras, constituem regras formais

explícitas no termo de compromisso assinado pelo recuperando, disponíveis em

manuais em cada uma das celas (APAC, 2015b) e que preservam a identidade

dessa instituição, além de garantir o processo de socialização em consonância com

o proposto por Schein (2004). Por esse motivo, o não cumprimento das atividades

previstas acarreta punições.

- “Os próprios colegas de cela te explicam, você tem o manual na cela e tem o negócio de ficar lendo, porque aqui se você não tiver disciplina, você é punido, porque ninguém te obriga a fazer nada, mas você tem suas obrigações diárias, você tem que estar cumprindo ali. Quando você chega, eles te dá um folheto para você ler e você assinar, para ver se você vai concordar com as normas da casa. Então, eu leio e procuro fazer as obrigações tudo direitinho, porque aqui é como a linha amarela, a gente estuda, mas não é punição severa, você fica três dias dentro da cela, não pode sair, a cela fica aberta, mas você não pode sair lá de dentro... não é severa. Aqui não existe punição severa não, isso aí é para o cara ter disciplina...não cumprir com a obrigação dela, não vir na oração...entendeu? Aí você fica lá, tipo não é punição, é para você refletir porque você leu e assinou. porque você assinou o documento, é um termo que está lá no documento, você concordou, então, você tem que cumprir...” (Entrevistado 13, Regime Fechado).

Essas punições são necessárias, pois a APAC é uma organização penitenciária com

objetivo de ajustar socialmente os indivíduos que exibem condutas inadequadas.

Essa reorganização do eu, a partir de padrões culturais, também foi estudada por

Fleury (1996).

Por esse motivo, o preso necessita de ter obrigações a cumprir, precisa ser vigiado e

limitado, balizando padrões de bem estar, valores, incentivos e sanções, conforme

propuseram Hildenbrand et at. (2014), pois o objetivo final de uma instituição total,

prisão, independente do método adotado, é ensinar aos infratores que suas

escolhas têm consequências boas e más (KENIS, 2010). Logo, ao cumprir seu papel

punitivo, a APAC está promovendo reflexões aos recuperandos sobre seu processo

de ressocialização.

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Nesse contexto, no cotidiano da APAC, o mérito é utilizado para avaliar a conduta

dos recuperandos para que sejam concedidos benefícios jurídicos para a remissão

da pena. O Mérito é de suma importância para que seja dada a concessão de

benefício correta. De acordo com Ottoboni (2014), o mérito deve ser avaliado com

muito zelo profissional para que o juiz tenha uma visão mais próxima da realidade,

possibilitando-lhe uma decisão justa. Nesse contexto,

- “O sistema adotado pela Lei de Execuções Penais é o progressivo, né? Que você começa pelo regime fechado, semiaberto, aberto. E chega, por fim, no mais brando dos regimes que é o livramento constitucional, então o que contribui para isso é da metodologia se bem aplicada.” (Entrevistado 17, Poder Público).

Assim, o mérito é conquistado e reconhecido a partir do cumprimento das atividades,

conforme proposto pelo método APAC para cada um dos regimes, e registrado no

depoimento do entrevistado 17, representando o poder público,

- “No fechado, você trabalha na adequação da personalidade daquele que cometeu um crime é… a uma nova realidade. Tentando introjetar nele valores, novos valores que vão propiciar a ele hoje e amanhã, a viver de acordo com as regras. No semiaberto, você trabalha a profissionalização, quer dizer a pessoa através de uma profissão, através de um estudo para a hora que chegar na rua estarem aptos a se manter e a manter a família sem causar mal a ninguém. E, depois, no aberto, já tem contatos diretamente, saindo para trabalhar, saindo para visitar a família e, depois, no livramento, ainda estão presos ao processo, mas já ficam em casa e fica convivendo com a família diariamente (...).”

Os recuperandos também demonstram grande satisfação descrevendo que, quando

autorizado pelo Juiz, podem fazer uma ligação por semana para sua família. As

ligações são controladas por um recuperando responsável pelo telefone. Ele possui

um controle com dados do recuperando, número do telefone em que a chamada

será destinada e o tempo de duração.

- “Nesse questionário ele vai dizer quais são os seus vínculos afetivos, as pessoas com quem ele gostaria de manter contato

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dentro da APAC, que ele gostaria de manter contato por telefone, de receber nas visitas aos domingos e ao final ele vai ser acolhido, todos os recuperandos vão cantar hinos, vão abençoá-lo e a partir daí ele se insere na vida normal.” (Entrevistado 1, Gestor). - “A minha família já ficou sabendo que eu estava aqui, já me davam um telefone para eu falar, fazia um tempão que eu não falava em um telefone... não, eu fui muito bem recebido, não só pela direção da casa, mas pelos colegas que estavam aqui, os recuperandos.” (Entrevistado 13, Regime Fechado).

Outros termos que descrevem o dia a dia da APAC são mãe (71,43%), convivência

(100%), amigo (75%), visitar (75%), conforme a tabela 4, demonstrando as emoções

narradas pelos entrevistados, principalmente durante as visitas comemorativas em

que são realizadas festas para as famílias, como “Dia das Mães”, “Dia dos Pais”,

“Dia das Crianças”, a partir do esforço e da organização dos próprios recuperandos,

segundo o relato,

- “Quando você já está na APAC nada. Porque se o Estado mantém o recurso, pelo menos o necessário para manter, pelo menos o mínimo necessário, o resto a gente faz. Nós fizemos agora, recentemente, festa para as Mães, festa para os Pais, festas para a Crianças com recursos próprios, sem um centavo, não pegamos um centavo para fazer, hora nenhuma. Vendendo, vender artesanato que eles vendem e a gente ajuda, é por exemplo, vende no depósito de pão que a gente faz na padaria, é por exemplo, nas oficinas, por exemplo, a gente vende alguma coisa por eles estarem trabalhando aqui dentro, eu pago os recuperandos e a gente tem um percentual nisso daí...” (Entrevistado 8, Gestor). - “Porque o modo com que a gente é tratado aqui, a família da gente… uns se pensa na família, né? Porque lá embaixo, a família passa muita humilhação e aqui não, a família tem recebido, igual dia das mães tem almoço para a família, para as mães, dia dos pais… teve dia das crianças… então, assim, eles fazem o máximo...” (Entrevistado 16, Regime Fechado).

A presença nessa categoria de termos como cabeça baixa (100%), chorar (91,67%),

algemar (91,67%), humilhação (87,5%), presentes nessa classe, não refletem o dia

a dia da APAC, mas se justificam pelo fato de os recuperandos sempre compararem

à APAC com o sistema prisional comum dando ênfase, principalmente, às diferenças

vivenciadas por eles em cada um dos métodos.

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- “É, cheguei com as mãos para trás, algemado e ai ele tirou as algemas e pus o braço para trás, a mesma coisa e ele: - “Não, aqui na APAC não, pode tirar os braços de trás, põe a mão para frente que aqui você recebe o homem, você não recebe igual você recebe igual na cadeia não” e, logo em seguida, eu estava com a mão para trás e ele - “Tira essa mão para trás, não fica com essa mão para trás não! Cabeça baixa, levanta essa cabeça!” Me recebeu assim! E aí ele veio acompanhando eu até eu entrar para o fechado. Entrei no fechado, cheguei lá, - “Aqui, sua cama para você dormir, pode ficar à vontade, sua cama está arrumadinha, bonitinha lá.”, cheguei e deitei, descansei graças a Deus agora estou no céu, falei com ele assim “graças a Deus estou no céu” e agora? (…)” (Entrevistado 12, Regime Fechado).

-“Ah… foi… é... como que eu te falo? Ver minha mãe vir me visitar e ter que passar por aquele constrangimento todo, aquelas coisas lá, aquilo que eles passam lá, tirar a roupa perto de uma pessoa que eles nem conhecem, né? Igual minha mãe falava: - “Eu tirava a roupa só para o seu Pai... tive que tirar a roupa para eles, por conta de você”... Se isso não for o amor de mãe, eu não sei o que é não.” (Entrevistado 7, Regime Semiaberto). - “A fuga aqui é pequena? Não, mas eu estou te falando, eu acho que é pela consciência, o cara está preso pela consciência. [(...)] a gente trabalha motivado pelo coração, a gente trabalha com amor e com confiança e o preso está preso, está sendo preso pela própria consciência dele. (...)”. (Entrevistado 5, Regime Semiaberto).

Segundo Ottoboni (2014, p.91), “no método APAC, o amor é gratuito, constante e

incondicional. Por isso, a graça de Deus passa a ser recompensa.” Nesse contexto,

o primeiro elemento do Método APAC é a participação da comunidade com a qual

são desenvolvidas estratégias de convencimento e sensibilização sobre este

sistema prisional, angariando contribuintes e voluntários que auxiliem nos cursos de

formação, na assistência à saúde e no apoio jurídico.

Depoimentos de gestores e do poder público enfatizam a integração dos

recuperandos com a comunidade em geral

- “(...) e, outro ponto importante é a participação da comunidade, ele cometeu um crime e é afastado dessa comunidade e essa mesma comunidade vai ser a ponte do

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retorno dele a essa comunidade. E isso é tão importante que na maioria dos casos quando um recuperando saiu para visitar a família com o compromisso de retornar hoje até às 19h, se ele não retorna, meia hora depois a família chega o levando de volta. E se não tiver essa família, essa comunidade ativa, provavelmente ele ia ficar aí foragido durante meses ou até anos…” (Entrevistado 17, Poder Público). - “Aí é um trabalho que é feito em muitas mãos, porque as APACs têm os seus funcionários, o seu corpo de funcionários, que atuam mais no setor administrativo e ela tem também os voluntários, que são muitos e atuam nas mais diversas áreas e tem também os seus recuperandos que também vão estar atuando.” (Entrevistado 1, Gestor).

A análise de conteúdo dessa categoria evidenciou o dia a dia na APAC, através da

aplicação do método que busca a ressocialização do condenado, não perdendo a

sua função punitiva. A obrigatoriedade do recuperando em se ajustar e seguir as

normas da Instituição contribui para a transformação do indivíduo para o bem.

Os gestores entrevistados demonstraram que a terapêutica utilizada na Instituição é

uma ferramenta social eficiente para recuperar o condenado, proteger a sociedade e

promover a justiça. Além disso, enfatizam que a participação da comunidade e dos

voluntários contribui para esse novo projeto de vida dos recuperandos e assegura

aos presos seus direitos instituídos na Lei de Execução Penal (LEP) de acordo com

Santos (2013).

As atividades do dia a dia facilitam a efetivação desses elementos e contribuem para

a ressocialização do recuperando dando a ele oportunidade de entender as razões

que o levaram para a vida do crime possibilitando, assim, uma mudança de vida

(ROSSINI, 2015).

Nessa categoria foram identificados, no cotidiano da APAC, alguns dos 12

elementos do método, a saber, trabalho, família, voluntário e sua formação,

assistência técnica e jurídica, participação da comunidade que são princípios

relevantes para as experiências do sujeito neste sistema prisional.

4.4.3 Categoria: Valorização Humana

Na Classe 2, foram consideradas 365 Unidades de Contexto Elementar (UEC´s) de

um total 1.139, representando 27,26% do corpus textual, constituindo a categoria

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Valorização Humana. A estruturação dessa classe se justificou pelas palavras:

ajudar (67,01%), pessoa (46,08%), amor (84,62%), falar (44,21%) presentes na

tabela 4, família (45,67%), próximo (88,89%), coração (81,82%), igual (41,01%),

mudar (52,94%) e confiança (61,90%), descritas no dendograma (Figura 7),

presente nas falas dos entrevistados.

Os pontos abordados fazem referência ao processo de humanização adotado na

instituição, baseando-se nos 12 elementos do método. De acordo com Ottoboni

(2014, p.87), a valorização humana é a base do método APAC e deve “ser voltada

para reformular a autoimagem do homem que errou”, constituindo um de seus

elementos.

A valorização humana, por ser considerada a base do método APAC, é composta

por práticas inovadoras adotadas em um presídio tendo como objetivo desenvolver a

autoimagem do recuperando. Essas práticas puderam ser observadas no cotidiano

da instituição e também foram elucidadas por Butelli (2011), Faria (2011) Soares

(2011) e Almeida e Sá (2016) em seus estudos. São elas: tratamento nominal dos

recuperandos, o uso de crachá de identificação, vestimentas comuns, o

estabelecimento de laços pessoais e familiares, educação, trabalho, religião, saúde

física e psicológica, e que os recuperandos sentem à mesa para fazer as refeições

diárias e utilizem talheres.

- “É que todos são tratados de forma humana, são chamados pelo nome, veste a roupa própria, tem a sua dignidade, essa é a grande diferença!” (Entrevistado 11, Regime Fechado). - “Antes dele descer, para o CSS, ele é recebido, ele troca de roupa e aí dá pra ele, (...), a primeira coisa que ele pergunta é como ele chama, né? Troca de roupa, faz as revistas que precisam ser feitas de praxe, fez aí e a partir daí, da porta de entrada para cá já é chamado pelo nome e pede para que ele ande normal como qualquer ser humano. (...).” (Entrevistado 8, Gestor). - “Nós intensificamos, para esses nós intensificamos a escolinha do método APAC, para que ele possa realmente conhecer a nossa proposta e aderir a essa proposta. nós intensificamos o trabalho multidisciplinar, o atendimento psicológico, o atendimento com o enfermeiro... mais essa parte clínica, porque a grande maioria são dependentes químicos (...)

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então pode ser que ele precise de algum medicamento para essa fase da abstinência, então ele vai ter uma atenção especial. A equipe vai estar mais voltada para ele, porque é uma pessoa que chega completamente desestruturada do sistema, chega com muitas sequelas, são pessoas que chegam muito feridas, feridas no corpo, feridas na alma, feridas no espírito. As pessoas muitas vezes chegam nas APACs mal fisicamente, elas chegam péssimas psicologicamente e muitas vezes chegam mortas espiritualmente, então vai ser todo um trabalho de construção dessa pessoa.” (Entrevistado 1, Gestor). - “A partir do momento que eles têm a confiança em nós, de querer ajudar e não só prejudicar. Ajudar em que sentido? Trazendo valorização humana, trazendo pessoas para poder estar conversando com nós. É diferente, sabe? Aí você ajuda bastante, também. A gente fica...a partir da gente querer acreditar, aí os outros acreditar na gente, que a gente pode mudar, isso é importante também...” (Entrevistado 7, Regime Semiaberto). - “Então se houver respostas à confiança depositada neles, a esse carinho, a esse amor que é depositado a fuga não ocorre, né? E se ocorrer quer dizer que a metodologia falhou em algum ponto, não é? (...).” (Entrevistado 17, Poder Público).

A vontade dos entrevistados em recomeçar, ter uma vida nova, sofrer uma

transformação, é percebida durante as entrevistas com os recuperandos. A

mudança que faz parte de um querer, de um recomeçar, da (re)construção da

própria autoestima e dos valores sociais, morais e éticos estão retratadas a seguir,

- “... você ainda está com o coração fechado, você ainda está com aquela armadura ainda, por isso você nunca viu essas pessoas, você não sabe o que elas estão querendo, você não sabe se realmente eles querem te ajudar... igual eu falei, a gente chega aqui com as mazelas do sistema comum, porque aqui é APAC, mas não deixa de ser uma prisão, então a gente fica meio receoso. A partir do momento em que você vai passando em aula de valorização humana, curso de aperfeiçoamento do método, Jornada de Libertação com Cristo, retiro espiritual… aí você vai conseguindo entender qual que é o propósito da APAC, que é de restaurar o preso, mostrar para ele o caminho de uma vida melhor, diferente e a partir desse momento começa a ficar mais fácil. Começa a aceitar seus erros, começa a aceitar suas diferenças, e a partir do momento

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que você começa a aceitar seus erros, é o momento que você vai buscar o perdão...” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto). - “Ah como eu falava, né? Quero aproveitar o máximo da proposta da APAC, cumprir pena na APAC, essa oportunidade, e quero sair uma pessoa diferente. Igual eu sei, como eu vivi muitos anos no mundo do crime, não vai ser fácil recuperar a confiança das pessoas, então eu quero mudar, mostrar através da mudança de comportamento. O que eu posso fazer vai ser isso, porque foi muita pessoa que eu magoei, foi muita pessoa que eu machuquei e não há como restituir essa pessoa, a não ser com a mudança de comportamento. (Entrevistado 2, Regime Semiaberto).

Entretanto, o entrevistado 1 ressalta que alguns condenados querem ir para a APAC

a princípio por ser um local mais adequado para o cumprimento de pena, não há o

intuito de recomeçar, ter uma vida nova, ou mesmo, permitir que haja uma

transformação em seu comportamento e/ ou valores. Assim,

- “Eu nunca encontrei. Todos querem voltar. Por exemplo, Itaúna é uma Comarca que já tem APAC há muitos anos, então você já tem uma cultura de APAC na cidade, você já tem uma cultura de APAC dentro do presídio comum. Então hoje qualquer preso que cai no presídio comum de Itaúna sabe da existência da APAC e sabe que na APAC é melhor e ele vai querer ir para APAC mesmo que não seja para mudar de vida, a princípio, mesmo que seja só para cumprir sua pena em um lugar melhor a princípio...” (Entrevistado 1, Gestor).

A Família exerce influência sobre os recuperandos, sendo esse um elemento

importante para se conseguir esse recomeço e a mudança tão desejada pelos

recuperandos. Essa influência é percebida pelo apoio e pela cobrança dos familiares

perante os recuperandos, contribuindo, assim, para a reeducação deles.

Para Ottoboni (2014), a família não pode ser desconsiderada na aplicação do

método. Segundo o autor, existem estudos relevantes que indicam que a família é

um fator decisivo para optar ou não pela criminalidade. Por isso, a família deve ser

cuidada e assistida, deve aprender e entender o método e participar efetivamente do

dia a dia do preso, contribuindo, assim, para sua recuperação e ressocialização.

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- “Muita coisa, porque da outra vez, eu não tinha a mente que eu tive hoje, porque eu já vim com intuito de mudança, porque eu vi minha família sofrendo nesse tempo, minha mãe vindo me visitar, porque ela vinha me visitar todo dia, falando: - “Olha meu filho, vão precisar de você em casa, lá está precisando de fazer veja isso, isso e aquilo e você aqui” e lá eu sou o único homem, o resto é tudo mulher, então já traz… já mexe com o psicológico da gente, a força da gente querer mudar, que eles acreditem na nossa mudança...” (Entrevistado 7, Regime Semiaberto). -“Família passava por aqui e eu já esperava eles descer rindo. Os meus meninos vindo pulando… família… tudo envolve família, família é o principal de tudo. É esquisito, mas se fosse para pagar em uma penitenciária, no sistema comum ali embaixo na cadeia pública que seja em qualquer lugar, de todo jeito eu vou ter que pagar, só que se eu ficar lá no sistema 10 anos, 10 anos sem ver minha mãe e sem ver meus filhos. Eles não vai. Aí só por isso você vai tendo uma ideia.” (Entrevistado 4, Regime Semiaberto). - “O diferencial maior é a família. o respeito que você tem pela família, que não tem nenhum lá. Eu mesmo, eu tenho 04 filhas e eu só fui ver as minhas filhas depois que eu ganhei a primeira descida. Nesses 04 e pouco anos que eu estava preso. Porque eu não deixava elas ir. Porque chegava lá e ficava pelada, e é aquela bagunça. De uma hora para outra pode ter uma rebelião... como é que sua família está lá dentro… e infelizmente, o preso tiver que fazer uma reivindicação vai fazer na hora que sabe que... né? … Então a gente fica com medo, e vai deixando e vai deixando… mas aqui não, sabe que você tem… O primeiro apoio seu é a família, para tudo que você for fazer se você não tiver um apoio que é a família… aqui a gente tem mais confiança de deixar os filhos vir... ficar em porta de presídio é outra coisa que é perigosa, você está lá para visita, passa um que está em guerra, com problema, chega dando tiro no outro, já aconteceu muitas vezes lá em Bicas mesmo… a APAC é totalmente… nesse ponto ela é totalmente diferente.” (Entrevistado 6, Regime Semiaberto). - “E outro detalhe importante é que também o que eu acabei de falar da família, porque não adianta você fazer todo esse trabalho com o preso se você não cuidar também da família, porque eles chegaram ali por quê? Porque a família falhou, uma vez ou mais vezes e não adianta você fazer isso agora com eles, se eles vão chegar lá fora e vão encontrar a mesma família desestruturada e doente e tal. Então a APAC promove também cursos, encontros, seminários com as famílias para trazê-los para a filosofia da APAC para ajudar nesse processo e por exemplo, as visitas, né? Se a família não participar

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desses cursos e encontros, ela não recebe autorização para entrar lá na APAC em visita, por quê? Porque se ela não tiver essa formação, ela vai entrar sem nenhum compromisso, então provavelmente vai levar uma arma, vai levar uma droga… Então, o primeiro compromisso é da família estar ajudando na busca deste objetivo.” (Entrevistado 17, Poder Público).

Ressalta-se que a APAC prima pelo restabelecimento dos laços familiares de cada

recuperando, sendo a família elemento essencial para sua reintegração à sociedade

visto que essa constitui o primeiro grupo de relacionamento social desse indivíduo e

também precisa ser preparada para recebê-lo após o cumprimento da sua pena.

- “Você para começar, pra você entrar na APAC a primeira coisa que a gente tenta fazer é a reaproximação familiar. Como que é essa reaproximação familiar, a gente tem uma equipe de família que vai até a casa dele, ele estando ou não estando recebendo visita e vê primeiro como que a situação de lá está. É e passa para ele também como que está a família dele lá fora e como que a gente está fazendo para ajudar. E o que ele pode fazer para estar ajudando, porque ele tem que participar. (...). A gente não, a gente leva, a gente ajuda, e faz o possível realmente. Busca os familiares que estão muito longe para visitar, família está longe dele, está afastada porque ele foi preso, a gente tenta a reaproximação. (...) ...” (Entrevistado 8, Gestor). - “Ah, dá muita oportunidade da gente aprender as coisas, da gente...dar mais valor à família, eles tratam a família muito bem aqui.” (Entrevistado 16, Regime Fechado). - “Não, é... O que acontece? A APAC está faltando só mais uma coisinha para ela ser a pedra fundamental para acabar de vez e ajudar o preso até a sociedade. Hoje, para a pessoa parar de cometer um crime, ele tem que ter força de vontade, tem que ter a família ajudando, mas a pessoa tem que ter um propósito na hora de sair na rua. O que é esse propósito? Se eu sair amanhã e não tiver para quem trabalhar e o que fazer, eu vou ficar ansioso. Então não adianta querer me segurar aqui dentro sendo que eu não vou ter um apoio lá fora. O que é esse apoio? A APAC trabalha com a família.” (Entrevistado 6, Regime Semiaberto).

- “Todas são importantes, não tem como você falar “aquela ali que segura”. Eu acho que a que segura é a parte da família, porque eles sabendo que a família está sendo olhada diferente a gente consegue melhor com o preso, né? Ele sabe que a mulher e o filho dele está tendo alguma assistência, que

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quando eles chegam aqui para visitar, eles chegam e estão felizes, que é um diferencial.” (Entrevistado 8, Gestor).

A palavra Sociedade, presente nesses depoimentos (55,56%), reforça o sentimento

dos entrevistados em terem uma dívida com as pessoas de maneira geral. De

acordo com suas falas, eles querem pagar essa dívida, cumprindo sua pena para

poderem sair de cabeça erguida, tendo uma profissão para trabalhar e não cometer

os mesmos erros que os restringiram de sua liberdade e, consequentemente, do

convívio social.

- “É claro que ninguém gosta de estar preso, eu não gosto de estar preso, a APAC é boa é, mas eu queria estar aqui, eu queria estar em casa com a minha família. Só que eu tenho uma dívida com a justiça e eu tenho que acabar de pagar ela. Só que eu prefiro ficar aqui e acabar meu processo de recuperação e sair uma pessoa diferente, do que eu sair prematuramente e voltar a ser a pessoa que eu era. Então, eu prefiro que eu cumpra passo a passo toda a metodologia para que eu saia uma pessoa bacana mesmo para a sociedade, pra minha família, para mim mesmo...” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto).

- “(...), desde que aquela pessoa queira ser ressocializada. Nós temos desde a hora que chega a comida aqui até o cumprimento total da pena dele, as etapas que vão mostrando para ele como que ele consegue viver na sociedade, voltar para sociedade sem que ela o cobre por ser ex presidiário. Porque esse rótulo ele vai carregar mesmo, não tem como, mas ele pode voltar ao mercado de trabalho qualificado.” (Entrevistado 8, Gestor).

Os entrevistados demonstraram receio em retornar ao sistema prisional comum para

cumprir suas penas, pois, na APAC, eles vislumbram a possibilidade de retornar à

sociedade como um novo indivíduo que age sob os valores construídos e

vivenciados a partir da experiência de ressocialização proposta pelo método APAC.

- “Porque a comida da APAC é boa, ninguém quer fugir… a APAC sempre prega, do amor e da confiança ninguém foge. É, eu acredito que esse dileta que o Mário sempre usa, é principalmente nas escoltas, somos algemados pelo coração e escoltados por Cristo, acho que a partir do momento que escolhemos pela APAC a gente é grato da forma com que ela nos trata, ninguém vai querer fugir e abandonar e voltar para o sistema convencional e passar por tudo aquilo… (...).” (Entrevistado 11, Regime Fechado).

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- “É porque não tem motivo de fugir, porque aqui eles não trabalham oprimindo. Eles aqui é uma escala do dia a dia e da sociedade, né? Tem que acordar cedo e tem que trabalhar, igual a sociedade lá fora também é. Você tem que trabalhar e tem que ter um horário certo de você alimentar, mesma coisa que se tivesse na sociedade também. Então, eu acho que aqui você está preparando para ir para rua. Mais tranquilo, mais adaptado para a sociedade...” (Entrevistado 7, Regime Semiaberto). - “(...) Então aí entra a APAC, né? Porque ela trabalha para reverter esse quadro e para evitar que as pessoas se deterioram no sistema e depois voltem a cometer crimes quando estiverem em liberdade. E a gente percebe que realmente há uma ressocialização, eu costumo dizer que quem cumpriu pena condenado, ele corre de juiz, de promotor, de delegado, de polícia civil, de polícia militar, aqui em Itaúna a gente percebe que isso não acontece. (...) passando perto de uma construção que tem lá alguém que foi preso na APAC trabalhando como pedreiro ou como servente e, ao invés, de esconderem o rosto eles fazem questão de vir e cumprimentar o juiz, de falar como que está a vida deles, de que eles estão caminhando bem e tal... Então, nesse ponto, eu acho que a APAC está cumprindo muito bem o seu papel.” (Entrevistado 17, Poder Público).

Os vocábulos ajudar (61,76%), próximo (88,89%), mudar (52,94%), melhor (54,35%)

e melhorar (75%), utilizados pelos entrevistados, demonstram o espírito de

fraternidade, solidariedade e ajuda ao próximo, adotado dentro da instituição,

ilustrado pelo depoimento do Poder Público,

- “(...) Então para que a metodologia funcione, eu penso que é necessário que você torne bem convincente essa mensagem de fraternidade e de solidariedade, né? É… não gratuitamente passando ao recuperando essa mensagem né, tentando mudar com amor e cumplicidade, mas o levando a cumprir as normas de convivência sadia aqui fora, sabe? (...)” (Entrevistado 17).

Os entrevistados relataram que não são separados dos demais recuperandos pela

tipificação do crime, muito menos por serem recém-chegados na Instituição.

Segundo eles, os novatos e os veteranos convivem e se ajudam sem nenhuma

distinção.

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- “Não tumultuar, não querer caçar bolinho - bolinho que eu faço é encrenca, conversinha fiada, intriga com outra pessoa - é ajudar, ver uma pessoa ali precisando de alguma ajuda, ajudar! Não chegar a atrasar ele, complicar… se ele tiver fazendo alguma coisa de errado, você chegar e conversar com ele e não chegar querer prejudicar ele, falar: - “ó, fulano está fazendo coisa errada”, vai atrapalhar ele e não é... ajudando que você vai ser ajudado, né?” (Entrevistado 7, Regime Semiaberto). - “É receber ordem dos outros, né? Do próprio preso às vezes, o cara lá, a gente tem muito esse receio, o cara lá às vezes é estuprador, o cara quer dar ordem na gente, entendeu? Porque lá no sistema comum estuprador fica em cela separada, entendeu? E aqui a gente tem que conviver com todo mundo sem maltratar o cara...” (Entrevistado 10, Regime Fechado). - “Esse realmente é um ponto muito importante, porque o preso, né? Quando está na rua, quando está no presídio, é… a posição dele é muito individualista, cada um cuida de si, faz o que quer e tal e qualquer coisa que sai fora da vontade deles vai implicar em uma ameaça “te acerto lá fora”, “mato lá fora” e tal, né? Então lá na APAC isso aí é quebrado. Todos os presos estão em condição de igualdade e além do que eles têm que se subordinar àqueles que estão no Conselho, que teriam uma posição hierárquica superior à deles. Então, é uma forma de você quebrar esse individualismo e trabalhar a fraternidade, a solidariedade, um ajudando o outro e tal...” (Entrevistado 17, Poder Público). - “O povo acreditar mais, mais nesse método. Porque as pessoas lá fora trata nós aqui dentro aqui como cachorro, como ninguém. Se procurar saber mais a respeito da APAC e levar mais para todo lugar, para querer ajudar mais, ia ser muito mais… melhor, né?” (Entrevistado 7, Regime Semiaberto).

As situações descritas auxiliam no reconhecer o outro como indivíduo e a

semelhança enquanto seres humanos apesar da infração cometida. A prática de

valores como igualdade, respeito às diferenças, solidariedade, amor ao próximo

confiança estão em consonância com o lema da APAC que diz “Matar o criminoso e

salvar o homem” (OTTOBONI, 2014). Esses elementos contribuem para transformar

o ser humano novamente em um indivíduo social, ressocializando o que foi

dessocializado em consonância com os argumentos defendidos por Volpe Filho

(2009) e exemplificados no depoimento a seguir.

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- “Confiança. Uma frase que explica ali que do amor ninguém foge, a gente trabalha muito com respeito, dignidade, a gente quer tanto voltar à dignidade para ele quanto para a família, né? A família que é maltratada, por mais que algum, um ou outro, ache que não, a família acha complicado vir para cá, só que esquece que alguns meses atrás, estava passando por rotinas vexatórias no presídio, né? Isso é do ser humano, a gente não fica triste com isso não. Mas, a gente aplica muito aqui a metodologia da presença, né? E o amor, a gente tem que tratar todo mundo com igualdade.” (Entrevistado 8, Gestor).

Nesse processo de transformação, os diferentes mecanismos de valorização do ser

humano podem ser estabelecidos pelo convívio social em que há melhora da

autoestima, os elos afetivos com familiares e amigos são reconstruídos bem como

aqueles obtidos na relação com os outros recuperandos, através das atividades

escolares, laborais e profissionalizantes de frequência obrigatória.

Esses fatos foram descritos pelos entrevistados, conforme os depoimentos a seguir,

sendo que os recuperandos também reconheceram que as relações interpessoais

são boas, pois cada um é valorizado e respeitado em sua individualidade,

evidenciando, assim, que o método APAC favorece a valorização humana, conforme

proposto por Ottoboni e Ferreira (2013).

- “Presos que tenham vínculos familiares e sociais aqui. É importante salientar isso porque na metodologia da APAC um dos elementos é a família, então fica muito difícil ter aqui um condenado, por exemplo, de Salvador/Bahia, quer dizer, com uma família a 1.500 Km de distância e você pode imaginar que na ocasião na ansiedade que gera para ele essa distância, essa ausência do núcleo familiar.” (Entrevistado 17, Gestor).

- “O amor em primeiro lugar, né? Então é o amor, o amor ao próximo, o amor a Deus também, à familia… isso tudo tem que ter, se você não tiver amor ao próximo, aí atrapalha tudo, né?” (Entrevistado 7, Regime Semiaberto).

- “O que apareceu nesta reportagem de forma humana, nessa reportagem estava todo mundo junto aqui no auditório, todo mundo abraçado e festejando. A partir desse momento, eu vi que mesmo dentro da prisão tem união e amor ao próximo...” (Entrevistado 11, Regime Fechado).

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Apesar dos 12 elementos que estruturam o método APAC valorizarem os indivíduos

como seres humanos, os recuperandos, a princípio, sentiram essa valorização ao

presenciaram que os direitos básicos e o tratamento adequado estariam garantidos

durante o cumprimento da pena, ilustrados nos relatos a seguir. Situação

semelhante foi observada por Lira Júnior (2009), ao tratar de uma penitenciária que

procura fugir do modelo de instituição total, seguindo o que a Lei de Execução Penal

(LEP) institui, e Soares (2011), ao constatar que os presos utilizam o refeitório para

fazer as refeições, além de poderem utilizar os talheres para alimentação conforme:

- “Eu toda a vida eu sou muito caladinho, sou caladinho demais. Se uma pessoa vier conversar comigo, eu converso; se não tiver, eu fico calado, fico nos meus cantinhos calado. Eu ficava é andando, ia lá pra frente, ia lá dentro no refeitório e voltava, ia no pátio, deitava um tiquinho e andava de novo, andava, tomava uma água gelada… ia lá no bebedouro e tomava água gelada graças a Deus, tenho água gelada agora quando eu tenho vontade. É, é bom demais!” (Entrevistado 12, Regime Fechado). - “E quando eu cheguei aqui na portaria e eles falaram que eu ia ficar no regime fechado no cumprimento de pena, e o CSS me recebeu com o termo de compromisso, logo após foi me apresentar o CRS, os setores, como eu comentei com você e depois me encaminhou para o quarto, a cela, arrumei o colchão e alguns pertences meus… eu fiquei satisfeito, eu chego e tem um chuveiro quente, e para mim dormir uma cama, porque no sistema convencional dormia um em cima do outro.” (Entrevistado 11, Regime Fechado). - “Porque aqui você é digno, você come com o garfo, com colher, bebe refrigerante, água gelada… come o que você quer… dorme… tranquilo, na cadeia não! Na cadeia, é comida ruim, nem alimenta… por cela cabe 12, 13 pessoas e tem 32, 33 pessoas, é um amontoado. No outro… é, uma cama para dormir… água quente...” (Entrevistado 10, Regime Fechado).

Nessa categoria, os vocábulos fugir (63,33%), preso (51,43%) e pior (80%) também

foram encontrados nos relatos dos recuperandos, no sentido de não querer fugir,

pois, segundo eles, o cumprimento da pena na APAC é digno, respeitoso, pois há a

humanização da pena, sendo necessário manter a relação de confiança

estabelecida com a instituição. A confiança pertencente ao tripé (disciplina,

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confiança e amor) que sustenta o método APAC, constituindo elemento importante

para sua recuperação.

- “Eu acho primeiro que todo mundo que tem a oportunidade de vir para cá não quer perder a oportunidade. E fugir, às vezes ficar 1 mês ou 15 dias na rua e você ser preso novamente e pagar no sistema comum...” (Entrevistado 16, Regime Fechado). - “(...) porque se confia muito, eles fogem pouco porque nós confiamos muito e confiamos mesmo a ponto de entregar a chave. Então é. isso gera um comprometimento, né?” (Entrevistado 1, Gestor).

Com o intuito de reconstruir a autoestima, a valorização humana dos recuperandos é

reconhecida com a premiação para celas mais organizadas, recuperando modelo do

mês, composição do mês e quantidade de dias em que tiveram boa disciplina bem

como pelas aulas de valorização humana15. Dessa maneira, o recuperando inicia um

processo de organização, sistematização, disciplina e comprometimento com a

possibilidade de sua melhora, respeito aos outros indivíduos com atitudes altruístas.

- “A partir do momento que eles têm a confiança em nós, de querer ajudar e não só prejudicar. Ajudar em que sentido? Trazendo valorização humana, trazendo pessoas para poder estar conversando com nós. É diferente, sabe? Aí você ajuda bastante, também. A gente fica... a partir da gente querer acreditar, aí os outros acreditar na gente, que a gente pode mudar, isso é importante também...” (Entrevistado 7, Regime Semiaberto). - “Não, de princípio é eles, né, mas durante a semana tem várias atividades na casa, você tem as aulas de valorização humana, vem o pessoal da Magnífica que é assistência para gente drogada e alcoólatra. São várias atividades que são envolvidas no trabalho ao longo da semana, tudo faz diferença. A semana inteira praticamente tem valorização humana.” (Entrevistado 5, Regime Semiaberto).

A categoria, Valorização humana, abordou temas como, respeito pela família,

sociedade e confiança (re)construção de valores, religião, premiação por atividades

cotidianas (mérito).

15 “São palestras de valorização humana com o intuito de fazer o recuperando dar-se conta da realidade na qual esta vivendo, bem como conhecer os próprios anseios, Projetos de vida, as causas que o levaram a criminalidade, enfim, tudo que possa contribuir para a recuperação de sua autoestima e da autoconfiança.” (OTTOBONI, 2014, p.87).

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A análise dessa classe evidenciou que a maioria dos entrevistados compreende a

importância do valor dado ao ser humano e que essa valoração é devido ao conjunto

harmonioso dos 12 elementos do método APAC para o cumprimento da pena de

forma digna e, também, para sua ressocialização. Esse fato está em consonância

com o estudo de Camargo (2006) ao ressaltar que o processo de valorização

humana auxilia na recuperação do preso.

Apesar dos depoimentos não mencionarem diretamente a saúde como elemento

ressocializador, verificou-se que a APAC oferece condições salubres e básicas para

o recuperando, durante o cumprimento da pena, como exemplificado em várias

falas, durante as entrevistas: ter banheiro com chuveiro com água quente nas celas,

ter cama individual para dormir, ter água gelada para beber, o refeitório para as

refeições e a enfermaria.

Dessa maneira, constatou-se o cumprimento dos direitos instituídos pela LEP e do

6º elemento do método, assistência à saúde. Ao contrário da realidade apresentada

na APAC, Cartaxo et al. (2013) evidenciam que a superlotação nos

estabelecimentos prisionais do sistema convencional prejudica principalmente a

assistência à saúde dos presos.

Nesta pesquisa, a valorização humana comprova o caráter inovador do método

APAC, pois suas atividades permitem ao recuperando aprender valores sociais,

morais e éticos, restabelecendo laços familiares e sociais, sem perder sua função

punitiva. Diante disso, pode-se perceber que o tratamento adequado e digno ao

preso, além de beneficiá-lo e a sua família, impacta na sociedade, sendo uma

inovação social diante das ponderações de Bignetti (2011).

Em suma, a valorização humana, 7º elemento do método, concentra-se no

desenvolvimento interno do recuperando e em oferecer condições dignas e salubres

para ele durante o cumprimento da pena.

4.4.4 Categoria: Recuperando ajudando Recuperando

Na Classe 3, foram consideradas 164 Unidades de Contexto Elementar (UCE´s) de

um total 1.139 representando 12,25% do corpus textual. Essa classe envolve

aspectos relacionados à vida em comunidade como solidariedade, respeito ao

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próximo e às regras para o bom convívio social, estabelecendo a categoria

Recuperando ajudando Recuperando.

A boa experiência da convivência e da tolerância, da obrigatoriedade de seguir

regras, da imposição dos limites e da perda do individualismo, trabalhando a

fraternidade e a solidariedade são fatores presentes nessa categoria e que

originaram sua denominação. Conforme a tabela 4, os termos usar (92,31%), exame

(83,33%), propósito (80%), direito (61,90%), droga (47,5%) foram evidenciados nos

depoimentos desta pesquisa. De maneira complementar, os vocábulos assistir

(100%), vender (50%), Deus (35,29%), cortar (66,67%) e morar (66,67%) foram

utilizados e registrados no dendograma (Figura 8).

Recuperando ajudando o recuperando, um dos 12 elementos do método APAC, tem

como principal objetivo estimulá-los a servir ao próximo e promover a harmonia no

Centro de Reintegração, dividindo responsabilidades. Esse elemento demonstra a

importância do papel ativo do recuperando não só em seu processo de socialização,

mas também ao auxiliar seus colegas na construção desse projeto de vida, visto que

o método propõe, na experiência coletiva, a busca por valores que em prática os

reintegrarão à sociedade. Para Ottoboni (2014), é imprescindível que o recuperando

aprenda a viver em comunidade, seja solidário, tenha respeito e siga as regras da

boa convivência, promovendo um ambiente harmônico. Essas premissas estão

relatadas nos depoimentos a seguir.

- “É… ai já me deram abraço e, eu não tinha roupa, porque eu estava com a roupa da SUAP16, eles chegaram, me emprestaram a roupa. (...) , eu fui muito bem recebido, não só pela direção da casa, mas pelos colegas que estavam aqui, os recuperandos...” (Entrevistado 13, Regime Fechado). - “Assim, a forma que me trataram aqui, igual essa dificuldade para mim, é… que as camas aqui são beliches e tem gente que espera 5 ou 6 meses para passar para a parte de baixo, né? Então, o rapaz que estava de baixo cedeu o lugar dele para mim…(...), o normal era eu ter chegado e eu ter deitado na parte de cima, né? E o cara cedeu o lugar dele para mim. E na hora da alimentação, eles tiram minha alimentação para mim, todos os dias eles tiram, porque é difícil para mim lá na hora de

16 SUAP Sistema Unificado de Administração Pública

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servir a comida, eles tiram, levam para mim lá na mesa…” (Entrevistado 16, Regime Fechado)17. - “E a disciplina aqui ela não pode sair fora, porque ela pode ser individual ou ela pode ser coletiva. Então se acontece alguma coisa com todos os recuperandos ela vai ser coletiva, então todo mundo vai perder as regalias que a APAC dá para a gente, as ligações familiares, nosso horário de lazer, nosso horário de assistir uma televisão até mais tarde, tudo isso vai ser cortado, então todos os recuperandos tem que estar vigilantes dessa disciplina.” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto).

A ajuda mútua dos recuperandos é de suma importância para o recuperando novato

durante o período de adaptação. Através dos relatos, percebeu-se que há

dificuldade nesse período, pois os condenados estavam acostumados a não ter

limites, a serem individualistas, egoístas, arbitrários em suas atitudes, além de

ficarem ociosos praticamente durante todo o dia. Tais situações estão

exemplificadas nos depoimentos a seguir.

- “É difícil, porque a gente acorda às 6h da manhã e vai dormir às 10h da noite, então é muito cansativo para a gente que vivia uma vida desregrada na rua, é muito cansativo. Mas igual eu falei, de grande proveito para a vida da gente.” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto). - “É, foi difícil de adaptar também. Um mundo totalmente diferente, né? A gente fala um mundo geral, porque envolve a família, envolve o recuperando, envolve trabalho... é, eu não gastei somente os 90 dias para estar me adaptando não, eu ainda continuo uma pessoa que estar adaptando ao método...” (Entrevistado 11, Regime Fechado).

Nesse contexto, tal ajuda torna-se fundamental na orientação desses recuperandos

no cumprimento das atividades previstas como rotina para o seu dia a dia, na

adoção de atitudes coletivas, na prática da solidariedade bem como na opção por

uma nova maneira de viver em que os envolvidos sejam beneficiados nesse

processo de inclusão e de reintegração social.

Apesar de os entrevistados demonstrarem ser essencial a ajuda entre recuperandos,

em alguns relatos foi apresentada certa indignação quanto às punições coletivas, ou

17 Recuperando com deficiência na perna e que utiliza muletas para se locomover. No sistema comum, ele não pode utilizar esse equipamento, motivo pelo qual foi transferido para a APAC Itaúna.

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seja, eles se sentem às vezes injustiçados. Vale ressaltar que esse incidente, uma

punição coletiva, ocorrida no regime semiaberto, evidenciou que os entrevistados

ainda não aprenderam a viver em comunidade, a respeitar o outro e, principalmente,

fazer o seu papel objetivando um bem maior.

- “Regrinha demais, tipo assim, qualquer coisinha é coisa de cortar… igual assim, lazer que eu falo é o benefício de assistir uma televisão… uma coisa que assim, é qualquer coisinha... tem discussão, igual quando acontece e acontece prejudica todo mundo, né? Prejudica todo mundo e tem que um ajudar o outro. Sendo que o Decálogo da paz18 mesmo fala é “ajudando... recuperando, ajudando, recuperando” para andar junto um com o outro.” (Entrevistado 7, Regime Semiaberto).

Presente nos relatos dos entrevistados, os vocábulos direito (61,9%), propósito

(80,0%) e novo (35,09%) aparecem como oportunidade de uma vida nova,

enfatizando novos propósitos e novos valores a partir de comportamentos

adequados ao convívio social. Nesse contexto, o elemento do método APAC,

Recuperando ajudando Recuperando, torna-se fundamental como mediador de

exemplos, permitindo que haja espelhamento comportamental entre os

recuperandos, fortalecendo novos hábitos e buscando a conscientização e a adoção

de novos valores, sendo os mesmos praticados não por uma condição disciplinar e,

sim, por ser uma atitude que integra essa nova oportunidade de viver e conviver no

ambiente de cumprimento da pena, mas também que fortalece novos propósitos,

tais como: respeito, honestidade, ter emprego, sustentar a família, descritos a seguir.

- “Então eu tenho esse propósito. E eu gostaria de arranjar um emprego digno, poder sustentar minha família, mesmo com dificuldades, com um trabalho, com dinheiro honesto, que não seja com o suor de ninguém, que não seja com sangue de ninguém. Então, essa é a minha vontade hoje em dia.” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto). - “Ué, a APAC ela te ensina a você a respeitar, a ser respeitado... igual no presídio você pode ser respeitado pelos colegas de cela...” (Entrevistado 13, Regime Fechado).

18 1 - O amor como caminho; 2 - o diálogo como entendimento; 3 - a disciplina como amor; 4 - o trabalho como essencial; 5 - fraternidade e respeito como meta; 6 - responsabilidade para o soerguimento; 7 - humildade e paciência para vencer; 8 - conhecimento para ilustrar a razão; 9 - a família organizada como suporte; e 10 - Deus como fonte de tudo.

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- “Hoje, para a pessoa parar de cometer um crime, ele tem que ter força de vontade, tem que ter a família ajudando, mas a pessoa tem que ter um propósito na hora de sair na rua. O que é esse propósito? Se eu sair amanhã e não tiver para quem trabalhar e o que fazer, eu vou ficar ansioso. Então, não adianta querer me segurar aqui dentro, sendo que eu não vou ter um apoio lá fora.” (Entrevistado 6, Regime Semiaberto).

Os termos ocupar (80%) e tempo (29,85%) possuem significado para os

entrevistados e estão relacionados a seus direitos. O Tempo é a referência a quanto

da pena já foi cumprindo, sendo um acompanhamento do período em que ainda

terão privação da liberdade bem como dos benefícios jurídicos adquiridos através da

rotina diária, conforme disposto no artigo 126 da Lei de Execução Penal (LEP), n°

7.210/1984 (BRASIL, 1984).

- “Já vai estar passando 6 meses que eu ganhei um Acorde de 06 meses que eu fiquei uma vez preso e foi absolvido... é uma... eu fiquei lá 6 meses e 9 dias, eu entrei no Tribunal de Justiça, em Belo Horizonte e ganhei esses 6 meses como pena para minha cadeia...é, de crédito porque... agora eu estou esperando chegar o Acorde, chegou o Acorde mas tem que chegar de Belo Horizonte para cá… um mesinho chega se Deus quiser, está passando o tempo já aqui...” (Entrevistado 10, Regime Fechado).

Nesse contexto, o substantivo mente, também presente nos relatos dos

entrevistados, está associado à ocupação da mente, ao desenvolver as tarefas

diárias não tendo tempo ocioso.

- “Meus filhos, família… e é bom para a gente também, particularmente aqui é melhor, estuda… ocupa a mente o dia inteiro [...] tem as normas, não é fácil ser cumprido... mas é bem melhor, não tem nem comparação.” (Entrevistado 4, Regime Semiaberto).

É de conhecimento do recuperando que ele poderá reduzir um dia de pena a cada

12 horas de frequência escolar e 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho,

conforme proposto pela LEP. Tal fato justifica a presença do verbo ocupar nesses

relatos, pois a ocupação com as tarefas do dia a dia contribui para diminuir a

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ansiedade e ter a sensação de que o tempo está passando rápido.

Entretanto, o entrevistado 12 (Regime Fechado) não vê necessidade de ocupar seu

tempo com novos conhecimentos, pois, ao inserir no mercado de trabalho, esse

poderá exigir novas condições e os cursos realizados não terão utilidade:

- “Não, eu para mim o que eu fiz está suficiente para mim, não vou fazer aquele tanto de curso que eu não vou precisar dele na rua... não, fazer nada não. (...) ... você faz aquele tanto de curso e você chega na rua e não vai trabalhar neles tudo. Aí você entra em uma firma e eles pedem para você faz esse daqui, e os outros cursos que você fez?” (Entrevistado 12, Regime Fechado).

Outro elemento importante, apresentado pelos entrevistados, é a importância dada à

religiosidade, da experiência com Deus, de amar e ser amado, tendo a crença e

esperança em um Deus que é amor e que perdoa independentemente da religião

que o guia, conforme depoimento do entrevistado 11 que diz:

- “É, graças a Deus, sempre unidos né? Eu tenho como exemplo um recuperando que está na mesma cela comigo que outro recuperando matou o irmão dele. É difícil a gente ficar num lugar e ver… igual a mãe dele chega ai e fala assim: - “Aquele ali é o rapaz que matou o meu filho”, mas sempre a APAC trabalha com restauração. A principal finalidade da APAC é reparação. Eu sirvo como exemplo também, o rapaz que cometeu homicídio no estabelecimento meu ele também está aí e eu sempre respeitei a pessoa dele, não tenho nada contra, mas eu converso com ele, trato ele bem, (...).” (Entrevistado 11, Regime Fechado).

- “(...) começa a aceitar seus erros, começa a aceitar suas diferenças, e partir do momento que você começa a aceitar seus erros, é o momento que você vai buscar o perdão - se for possível, né? - que você vai buscar o perdão, você vai procurar restaurar aquilo que você danificou a pessoa, seja através de um furto, seja através de um tiro, se a pessoa não tiver sido levada a óbito, você vai tentar de certa forma… esses dias eu vi uma frase que eu achei muito interessante: o melhor pedido de desculpa é a mudança de comportamento. Então para essas pessoas que não vão te dar o perdão, você vai mostrar para elas que você mudou o comportamento, aquilo ali vai servir de perdão porque ela vai ver que aquilo que aconteceu

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com ela não vai acontecer com outra pessoa. (...). Então aquilo ali vale como pedido de desculpas”. (Entrevistado 2, Regime Semiaberto).

De acordo com Oliveira (2013), na APAC, são realizadas atividades obrigatórias de

natureza religiosa, sendo os recuperandos constantemente avaliados pelo

comportamento e pelo comprometimento com os ensinamentos propostos pelo

método APAC, conforme descrito pelo entrevistado 5:

- “É… tem culto religioso, aqui não tem discriminação de crença, o pastor vem, faz o culto evangélico no sábado; vem o padre mais os ministros que vêm fazer a celebração da missa, então tem esse acompanhamento todo.” (Entrevistado 5, Regime Semiaberto).

- “Então ora eles [recuperandos] estarão recebendo atendimentos individuais, ora ele vai estar participando de palestras socioeducativas ou ele estará participando de momentos de espiritualidade, de reuniões do Conselho de Sinceridade e Solidariedade (…).” (Entrevistado 1, Gestor).

Por esse motivo, as palavras Deus e sofrer são citados, com frequência, nas falas

dos entrevistados. No intuito de demonstrar que, através da fé, o sofrimento fica

mais brando e há a possibilidade de reconciliação consigo e com o outro.

- “Uai… traz ressocialização na comunidade, na sociedade, traz também a pessoa conhecer Deus, porque no sistema comum a gente não conhece, aqui tem religião muito boa que ajuda espiritual, do jeito que eles trabalham com a tranquilidade da gente, ajuda bastante também...” (Entrevistado 7, Regime Semiaberto).

A religião, elemento presente no método APAC, é fundamental para cuidar da

espiritualidade. Para Santos (2013), as pessoas buscam uma religião, uma crença

em momentos difíceis de suas vidas.

- “(...) E aí é o que eu estou falando, porque quando a gente chega aqui a gente vê a diferença que é método da APAC que é na vida da gente. Diferencial. E é muito grande. Você pode chegar e conversar com qualquer um preso aqui, que só de você ver, conversou e conversou com ele… meia hora… se

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você chegar em um presídio e conseguir conversar meia hora você vai sair de cabelo em pé, então parece que aqui é uma coisa de Deus mesmo, depois que você vem para cá parece que muda a cabeça da pessoa. É a religião que tem lugar para ela.” (Entrevistado 6, Regime Semiaberto).

Recuperando ajudando recuperando abrangeu as seguintes temáticas: projeto de

vida, experiência a partir da ajuda mútua no período de adaptação e na rotina diária,

vida, propósito e valores novos e religiosidade, religião e Deus.

Essa categoria mostrou que relações de boa convivência entre os recuperandos,

associadas às práticas de tolerância, solidariedade e fraternidade, estruturam o 2º

elemento do método. Essas relações constituem um aprendizado para se viver em

sociedade, o que reforça as teorias de Ottoboni (2014) e evidenciam a importância

da harmonia entre os 12 elementos do método APAC.

Para Santos (2013), essas práticas contribuem também para estabelecer limites,

regras e responsabilidades, individuais e coletivas, sendo um diferencial em relação

ao sistema comum. Cabe ressaltar ainda que a espiritualidade foi evidenciada

durante as entrevistas como uma ferramenta necessária para se obter uma vida

nova. O vínculo religioso ajuda a amenizar as dificuldades vivenciadas no

cumprimento da pena, além de conceder uma esperança em se ter uma vida melhor.

(COUTINHO, 2009). De acordo com Oliveira (2013), o método APAC tem cunho

religioso e busca como resultado a ressocialização do recuperando.

4.4.5 Categoria: Estrutura jurídica, crime e tradicionalidade

Na classe 4, foram consideradas 152 Unidades de Contexto Elementar (UEC) de um

total 1.139 representando 11,35% do corpus textual. Essa classe foi denominada

Estrutura jurídica, crime e tradicionalidade por apresentar, nos relatos dos

entrevistados, os termos presentes na tabela 4, crime (73,91%), cometer (73,53%),

comum (78,95%), prisão (76,47%) e bandido (100%).

Termos como bandido (100%), presidiário (100%) e inferno (62,5%), presentes no

dendograma da figura 8, demonstraram o sofrimento vivido pelos presos no sistema

comum. O tratamento desumano sofrido por eles, ora pela falta de condições

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estruturais e físicas das penitenciárias ora pela violência aplicada pelos agentes de

segurança, foram utilizados nos relatos dos recuperandos que se emocionavam

muito nesse momento.

Segundo relatos sobre a infraestrutura, os presos eram destinados ao pavilhão,

conforme o crime cometido, sendo amontoados em celas pequenas cujo número de

presos extrapolava a capacidade máxima de pessoas previstas para cada cela.

- “Não porque até então no sistema também eu acordava cedo, porque é muita gente e você tem que acordar mais cedo do que aqui, porque você tem 34 pessoas numa cela que é para 12, então dorme todo mundo de facão. A gente fala, porque do jeito que você deita, você levanta, e você tem que acordar e dobrar os colchões para dar espaço para todo mundo ficar na cela… (...).” (Entrevistado 13, Regime Fechado). - “Não, (...), esperar os outros levantar para mim sentar, (...), todo mundo apertado, se um levantou o outro já senta rapidão porque é um tempo de você descansar a perna com as celas cheias demais…umas 20, 25 pessoas na cela…” (Entrevistado 12, Regime Fechado).

No método APAC, foram registradas situações que divergem dessa apresentada

pelo sistema tradicional:

- “Uma cela que cabe 10, tem 30. Como que você tem a mente tranquila em um lugar que você não tem uma tranquilidade para dormir? Então é bem complicado. Você acorda cedo, pensando que vai ter que enfrentar mais um dia pela frente em uma cela superlotada. Aqui não, cada um dorme na sua cama, a gente tem as aulas de valorização humana, essa é a reeducação que eu falei. Por isso que a reincidência é bem menor.” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto).

Durante as entrevistas, percebeu-se a tristeza dos entrevistados ao descrever o

tratamento desumano e humilhante a que eram submetidos durante o cumprimento

da pena no sistema prisional comum. Os resultados dessa pesquisa corroboram

com o elucidado por Callegari (2009) e Oliveira (2008). A perplexidade dos presos

em relação aos agentes de segurança e à direção do presídio fora demonstrada

pelos sentimentos de revolta, medo e inferioridade.

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- “Eu acho que muito das vezes pela… quando você chega aqui, a autoestima, porque você está no sistema comum, (...), você é tratado, vamos dizer assim, como um lixo, a escória da sociedade. (...).” (Entrevistado 14, Regime Fechado). - “(...) Porque no sistema comum, você só anda com cabeça abaixada, mão para trás, algemado o pé, a mão…” (Entrevistado 10, Regime Fechado). - “Complicado. Rola droga… os caras vão fazer... as coisas é… muita coisa… tá rolando uma geral, um trem bravo, os agentes já vem daquele jeito, dá tiro, spray de pimenta… tem certas pessoas que são mais revoltadas né? (…) mas fica meio revoltado...” (Entrevistado 4, Regime Semiaberto). - “Uai, o jeito deles de chegar “Vamos lá, preso! (...) “Vamos lá rápido! Para dentro logo! Sai daí agora, tira a roupa aí!” O negócio deles é isso.” (Entrevistado 12, Regime Fechado).

- “Não, tem desavença, entendeu? Você vai falar de cadeia e eles vão falar que você está chorando cadeia, acaba dando uns tapas nas orelhas dos outros ainda para reclamar esses trem, entendeu? Porque tem gente que paga lá 20, 30 anos de cadeia e você com essa cadeinha vai ficar chorando na cabeça dele? Chorar é dentro do banheiro, lá na sua cama, lá de noite, porque senão apanha ainda...” (Entrevistado 10, Regime Fechado). - “Ah, normal é fazer tudo que eles querem, se não fazer… eles te tratam super mal, humilhação, toda hora você tem que sair da cela, tem que tirar roupa para eles… Normal, tem que fazer isso sem conspirar, sem brigar sem nada...” (Entrevistado 10, Regime Fechado). - “Ninguém melhora de vida não, porque lá embaixo você trata mal, é humilhado, sua família é humilhada. Lá embaixo, você vai é sair mais revoltado.” (Entrevistado 10, Regime Fechado).

O entrevistado 13 fala sobre pontos negativos do sistema prisional comum para

evidenciar as benesses no método APAC, ao dizer que:

- “mas quando você sai da cela, por exemplo, quando eu ia pegar um Sedex, porque a mãe e a minha família me mandavam alguns pertences, mamãe mandava Sedex, até o chinelo da gente eles cortavam… você não pode olhar para

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eles que eles xingam palavrão, juntam e te batem… aqui não tem isso não, aqui não tem algema.” (Entrevistado 13, Regime Fechado).

Durante os depoimentos, foram evidenciados relatos sobre o convívio com a direção

e os demais presos no método APAC.

- “Ah, eles sempre ajudam a gente, precisou, pode subir lá em cima, tem um menino que fica no telefone ali embaixo… você liga para eles, pergunta se eles podem, se estão ocupados, eles sempre te dão atenção, ajuda no que for preciso...” (Entrevistado 4, Regime Semiaberto).

As falas descrevem as revistas vexatórias a que as famílias são sujeitas a passar no

momento da visita semanal aos presos, bem como a humilhação e a falta de

dignidade como são tratadas.

- “Sabe que tem que fazer procedimentos humilhantes, revistas vexatórias, então a gente sabe o que aconteceu, mas a família não chora para não passar fraqueza para a gente.” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto). - “De ter que ficar agachando na frente do espelho, de ter que abrir a vagina igual a gente vê falar aí, até mesmo fiz uns estudos sobre uns presídios e nele relata que a moça tem que tomar até mesmo laxante e é muito humilhante...” (Entrevistado 11, Regime Fechado).

Vale ressaltar que a rotina é vista de maneira diferente nos sistemas. A rotina diária

no sistema comum ocorre através do banho de Sol e o ócio, que são as únicas

atividades previstas, contribuindo para o aprendizado de práticas criminosas, revolta

e ódio, o que pode ser constatado nos depoimentos apresentados. Isso é distinto da

APAC, cuja rotina é estabelecida através das tarefas diárias (atividades laborais,

religiosas e profissionais) com horários pré-determinados para serem realizadas.

- “Só dentro da cela, às vezes deitado, às vezes… não tinha nada para fazer...” (Entrevistado 14, Regime Fechado).

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- “Não, atividade que tinha era o banho de Sol, uma vez por semana, mas eu não ia porque não tinha as muletas e eu não podia ir no banho de sol, porque locomover até o pátio era mais difícil para mim, então eu não ia...” (Entrevistado 16, Regime Fechado).

Ainda conforme relatos de um entrevistado, ele conseguia “trabalhar” dentro do

presídio usando o telefone celular.

- “Porque no outro sistema, lá é droga, briga, morte… infelizmente o telefone, o que não falta no presídio, lá tem. Então faz lá o que tem que fazer aqui fora. Trabalhava, mas com telefone. É, “o trabalho”, porque se você ficando lá a gente não para... é parece que… parece não, o mal da pessoa continua.” (Entrevistado 6, Regime Semiaberto).

Em contrapartida, no método APAC, os depoimentos enfatizam outros aspectos.

- “Pelo trabalho que é feito na APAC pela recuperação do ser humano. É o que eu falo do sistema comum, o sistema comum prende e solta cada vez pior. A APAC não, a APAC quer quebrar esse ciclo vicioso, ela te prende, você vai cumprir sua pena, a APAC não passa a mão na cabeça de ninguém, mas ela dá a gente aquilo que a lei garante no papel, ela não faz mais nada, além disso. Só dá a gente o que a lei garante, o sistema comum não observa.” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto).

- “As dificuldades sempre tem, porque mesmo a gente… aqui tem muita regra, muita coisa que pode e que não, (…), depois a gente vai vendo que é para o bem da gente e, na hora que você vê, você já está adaptando às normas, porque aqui tem as normas. Aqui, felizmente, não é igual a lá não, lá eles não estão nem aí não, (...) chega aqui e tem norma! Tem a hora certa de levantar, tem oração para fazer, aí a gente vai se adaptando.” (Entrevistado 6, Regime Semiaberto).

Ressalta-se que, a princípio, ao serem transferidos de sistema, existe situação como

a descrita a seguir:

- “Todo mundo… tem uns que falam que não queriam vir para cá, mas eu estava lá e eu sei do inferno deles, todo mundo fala “eu não pedi para vir para cá” mas pediu sim, eu convivi com eles lá e eu sei que o que acontece é isso.” (Entrevistado 12, Regime Fechado).

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Quanto às rebeliões e motins, tão presentes no sistema prisional comum, segundo

as falas dos entrevistados, acontecem pela superlotação das celas, violência dos

agentes de segurança e brigas entre facções criminosas. Outro elemento

contribuinte para essas rebeliões se dá quanto à entrada de drogas, armas brancas

e celulares nas dependências das penitenciárias.

- “Igual a gente vê na televisão direto, presídio superlotado, rebelião, chacina, mas você não vê uma reportagem da APAC, que recupera vidas. Porquê? Porque a mídia gosta de mostrar as coisas ruins, para que? Para estar falando mal do preso. Igual eu já ouvi falar, tem pessoas, não são todas, que preso bom é preso morto. Que a pessoa foi presa, ela tem que passar o resto da vida ali. É e se fosse um filho dessa pessoa, será que ela queria que fosse preso morto? Se fosse filho dela, será que ela queria que ele passasse o resto da vida ali? Eu creio que não, né? Mas por não ser, por ter sido eu que cometi o crime, eu mereço passar o resto da vida atrás das grades, entendeu? Então é bem complicado.” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto).

- “Demais… aqui tem várias coisas que diferenciam, igual assim, ajudam a uma pessoa a melhorar. Lá não, lá sai droga dia inteiro, é… só falam de crime… é... só tem essa coisa ruim e aqui não, aqui você trabalha, você ocupa a mente, estuda… tem valorização humana… tem várias coisas que oferecem para você mudar… outros caminhos, né?” (Entrevistado 3, Regime Semiaberto).

- “Até para você ir para o Sol, você é algemado, soltam os cachorros, os rottweileres no meio do povo, quando vai ver o trem empaca, tem esses trem tudo porque vira montim, né? E os caras, igual eu já vi, levam um cara a morrer por 46 fichadas com objeto cortante deste tamanho...entendeu? Você não sai de lá para a liberdade com a cabeça muito boa para te falar a verdade.” (Entrevistado 13, Regime Fechado).

Ainda sobre os relatos, percebeu-se claramente que eles conheciam as diferenças

entre os dois sistemas, comum e APAC, demonstrando sua preferência pela APAC

para o cumprimento da pena privativa de liberdade por diversos fatores. Até o

entrevistado 15, que destoou dos demais entrevistados quanto à introjeção de

valores da APAC e às exigências do método, sempre relatando não haver diferença

entre os sistemas, mostrou preferência pela APAC quando foi questionado.

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- “Ficar aqui… ficar aqui é melhor... é… agora eu acostumei aqui, a rapaziada aqui, né? (Entrevistado 15, Regime Fechado).

Termos como suave (100%) e perdão (100%), apesar de serem palavras que não

representam o sistema prisional comum, mas são usados pelos entrevistados no

sentido de esperança como uma oportunidade concedida pela APAC. O perdão,

uma atitude louvável, mas difícil de ser concedida, foi mencionado, segundo o

entrevistado 2 que gostaria de ter a oportunidade de pedir perdão às pessoas, às

famílias a quem ele fez mal e que fosse perdoado por eles é um objetivo dos

entrevistados.

- “No sistema comum é… motim. Complicado rebelião. É tiro para tudo quanto é lado, bomba, spray de pimenta... aí você abaixa a cabeça e só Deus sabe o que vai acontecer, você pode tomar tiro, apesar que é de borracha, silicone machuca, já vi muitas pessoas machucadas… agora aqui na APAC, eu vou te falar com você a verdade, do lado o que existe um trem que me incomoda um pouco, igual eu te falei, todos pagar pelo preço de um... mas o restante é muito suave, para mim...” (Entrevistado 4, Regime Semiaberto).

A análise de conteúdo dessa classe evidenciou claramente que os recuperandos

sabem diferenciar os dois sistemas, alcançando um dos objetivos desta pesquisa:

comparar os procedimentos usuais de uma prisão comum com os adotados na

APAC. Cabe ressaltar que foi apresentada, nas falas dos entrevistados, a

preferência em cumprir pena na APAC, visto a estrutura física, o tratamento humano

que recebem e por estabelecer suas atividades nos direitos e deveres previstos na

LEP.

A comparação entre os sistemas convencional e APAC mostrou-se muito frequente

nos relatos dos entrevistados. As ideias relacionadas ao sistema comum

apresentadas foram: violência, superlotação, separação dos presos por tipo de crime

cometido, ócio, universidade do crime, rebeliões e motins, falta de estrutura e

higiene nos estabelecimentos, semelhante ao observado por Callegari (2009). A

violação da dignidade humana (OLIVEIRA, 2008) e o descaso da sociedade e do

governo (ASSIS, 2007) também foram apresentados como características do

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sistema. Enfim, todos esses fatores, presentes no sistema prisional comum,

prejudicam a ressocialização do apenado, estando em consonância com as

observações de Rossini (2015).

A APAC apresenta outros atributos com humanização da pena e ressocialização,

conforme apresentado pelos autores Camargo (2008) e Oliveira (2013). Ao encontro

a esses autores, Almeida e Sá (2016) apresentam algumas vantagens desse

sistema: de ter o índice de reincidência menor que 10%, de oferecer condições para

a ressocialização do preso, de cumprir o que a LEP propõe, além da participação

efetiva e voluntária da sociedade.

Assim, foi evidenciado nessa classe que os sistemas apresentados anteriormente

são ambíguos e destoantes. Cabe ressaltar ainda que a APAC segue rigorosamente

o que a LEP institui, concedendo os direitos e deveres previstos aos apenados, ou

seja, a APAC baseia-se na legislação para estabelecer os seus procedimentos

institucionais.

Após apresentar cada uma das categorias, o software IRAMUTEQ possibilitou outra

análise textual que permitiu verificar as coocorrências entre as palavras presentes

nos relatos (análise de similitude), conforme proposto por Camargos e Justo (2013)

e apresentado na figura 12.

Figura 12: Resultados da Análise de Similitude.

Fonte: Dados da pesquisa IRAMUTEQ, 2016.

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Observa-se que o termo gente é o centro de conexão entre os demais grupos em

que existem aspectos pessoais (errar, sentimento), aspectos comportamentais

(ajudar, precisar) além de algumas características do método APAC (disciplina,

sociedade, trabalhar). No contexto das entrevistas, gente significa ser reconhecido

como ser humano, pertencer a uma sociedade (ALMEIDA e SÁ, 2016), o que foi

evidenciado nas cinco categorias apresentadas anteriormente; Gestão do Método

APAC, Valorização Humana, Recuperando ajudando recuperando, Estrutura

jurídica, crime e tradicionalidade e Cotidiano na APAC.

O termo gente inicia as mudanças comportamentais que trazem alterações nas

relações sociais entre essas pessoas, despertando sentimentos de mudança de vida

(querer) e esperança de uma vida melhor, através da oportunidade recebida de

cumprir a pena privativa de liberdade na APAC. Essa mudança de vida tem foco no

tripé que baseia o método APAC, disciplina, a confiança e o amor, conforme relato

dos entrevistados.

Além disso, a família é um fator determinante na decisão para a mudança, pois os

entrevistados se preocupam com seus familiares e não querem que os mesmos

voltem a ter tratamentos humilhantes como, por exemplo, as revistas vexatórias em

que são submetidos no sistema prisional comum.

Na figura 12, percebe-se claramente que os condenados sabem as diferenças entre

os sistemas convencional e APAC, fazendo sempre comparação entre eles. Esse

fato é explicado pelo receio em voltar a cumprir pena no sistema convencional e,

principalmente, porque o método APAC cumpre com as diretrizes da Lei de

Execução Penal pelo tratamento respeitoso, digno e de confiança, em que há

direitos e deveres, em prol da ressocialização e reintegração desse indivíduo.

É possível identificar, na figura 12, que os entrevistados acreditam que o método

APAC exerce o papel de ressocializador, que ele é uma inovação no sistema

prisional e uma ferramenta social por ser uma instituição que, através de práticas

inovadoras, atende às necessidades da sociedade. Esses resultados confirmam os

estudos de Bignetti (2011) que explicam a inovação social como uma maneira viável

de atender uma necessidade social com a participação de vários sujeitos.

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5 PRODUTO TÉCNICO

A presente pesquisa foi desenvolvida como requisito parcial à obtenção do título de

mestre na modalidade de Mestrado Profissional. Nesse tipo de modalidade de

pesquisa, em atendimento às condições da Portaria Normativa nº 17, de 28 de

dezembro de 2009, os pesquisadores, com base nos resultados obtidos na

pesquisa, devem desenvolver um produto técnico, visando à socialização da

pesquisa (BRASIL, 2009). Associado a esse fato, os depoimentos dos

recuperandos, relatando a importância do ensino para a ressocialização e para o

mercado de trabalho motivaram a proposição de um curso profissionalizante, tendo

como público-alvo os sujeitos desta pesquisa.

- “igual o meu irmão passou por aqui, um amigo meu, muito amigo meu passou por aqui e ele fez um curso aqui de trabalhar com serra de minério, saiu daqui empregado, pelo SESI. Acho que tem uma parceria com o SESI, SENAI, quer dizer!” (Entrevistado 13, Regime Fechado).

- “É... eu acho que quanto mais cursos têm mais condições de recuperação na APAC, menos problemas ele vai causar quando voltar ao convívio social.” (Entrevistado 11, Regime Fechado).

- “Já teve, eu vou começar um amanhã, um curso de desenho, mas já teve FIAT aqui, de mecânica, teve de eletricista... não tive oportunidade ainda não. Agora eu acho que vai ter um do SENAI aqui ainda de painel eletrônico agora em novembro... é porque são poucas vagas né? (Entrevistado 16, Regime Fechado).

- “Hoje, por exemplo, o que a gente está fazendo em marcenaria é isso, entendeu? Hoje tem lá embaixo o pessoal da MAGNETI, tem as pessoas que tem um… a dona que vem aqui para fazer artesanato, tapete… várias coisas...” (Entrevistado 5, Regime Semiaberto).

- “Na cantina, mas eu ainda tenho 02 anos da minha pena ainda no regime semiaberto, tem que cumprir um ano para ter direito para trabalhar na rua. Então nesse um ano eu vou procurar aprender alguma coisa diferente.” (Entrevistado 2, Regime Semiaberto).

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Esse produto técnico consiste em um projeto de um curso de extensão de

informática básica para os recuperandos da APAC de Itaúna/MG. O projeto

contempla os seguintes tópicos:

Introdução;

Objetivos;

Metodologia;

Recursos necessários;

Resultados esperados; e

Referências.

A proposta do curso profissionalizante em informática para a APAC Masculina de

Itaúna, em parceria com o CEFET – MG, encontra-se detalhado no Apêndice D.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a análise dos resultados, percebe-se que a APAC, através dos 12 elementos

que estruturam a terapêutica apaquiana, consegue introjetar suas regras, normas e

crenças nos condenados, respeitosamente chamados recuperandos.

Essa instituição consegue domesticar os corpos e introjetar valores, conforme

propõe seu método, sobressaindo os valores adquiridos durante sua socialização

primária, primeira experiência para um novo projeto de vida. Pode-se também

considerar que alguns entrevistados não foram bem-sucedidos no processo de

socialização do sistema prisional tradicional, sendo a APAC sua primeira

socialização.

Nesse contexto, ressalta-se que, no regime fechado, são ensinados valores para a

adequação da personalidade a partir de atividades que motivem o preenchimento do

tempo de maneira útil e organizada. No regime semiaberto, incentiva-se a

profissionalização. E, no regime aberto, pretende-se que o recuperando tenha uma

profissão definida, e o trabalho como forma de inserção social.

Antes de serem presos, os indivíduos não tinham limites e não sabiam seguir regras

e normas, com comportamento inadequado ao convívio social. A partir da introjeção

desses novos valores, ensinados e aprendidos pela e na APAC, os recuperandos

aprendem a viver em sociedade de acordo com regras e normas de conduta

aceitáveis.

A Disciplina, fator determinante para que a instituição consiga tornar os indivíduos

dóceis, facilitando introjetar seus valores o que está em consonância com os

estudos de Foucault (2012) sobre a Sociedade Disciplinar. Esse vocábulo não é

utilizado diretamente nas entrevistas realizadas, mas pode ser percebido nas

análises das falas e também no processo de rigorosa obediência às normas

disciplinares da instituição, aceitas no termo de compromisso.

Para a administração das APACs, são utilizadas as ferramentas de gestão: quadro

disciplinar, representante de cela, premiação para recuperando modelo do mês,

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voluntário e amigo do mês, cela mais organizada, cela menos organizada, concurso

de redação, regulamento disciplinar para sanções e concessão de benefícios. Essas

ferramentas são utilizadas para controlar os recuperandos e também como uma

maneira de medir desempenho e introjeção das diretrizes e valores institucionais.

Além disso, para a progressão do cumprimento da pena, a conduta do recuperando

é um dos requisitos para sua concessão, sendo o mérito medido e avaliado em

várias atividades.

A pesquisa evidenciou, na visão dos entrevistados, através da análise das

categorias, que a APAC é um modelo alternativo de gestão prisional que, através

das diretrizes da instituição, busca aplicar o caráter punitivo da pena de maneira

digna, oferecendo condições para que o preso seja ressocializado e consiga sua

reinserção na sociedade após o cumprimento da pena privativa de liberdade,

conforme previsto na LEP.

A instituição estudada oferece ferramentas, através da aplicação dos elementos do

método, que possibilitam a ressocialização do recuperando. Essas ferramentas

ensinam ao recuperando: valores sociais, morais e éticos; possibilita também o

restabelecimento de laços familiares; além de oferecer oportunidade de estudo e

profissionalização. Cabe ressaltar que a espiritualidade, base do método, é também

um elemento importante para que o recuperando seja ressocializado, não perdendo

o caráter punitivo da pena.

A pesquisa demonstrou que as rotinas e as atividades desenvolvidas pelos

recuperandos, no dia a dia na APAC, desempenham papel socializador, contribuindo

para a reintegração do apenado. Além disso, foram verificados fatores externos

como a família, a sociedade e os voluntários, elementos da metodologia necessários

para essa ressocialização (OTTOBONI, 2014; SANTOS, 2013).

Cabe ressaltar a relevância da sociedade nesse papel socializador, principalmente,

na criação de parcerias com a instituição para oferecer cursos profissionalizantes e

vagas de trabalho para os apenados e/ou presos que já cumpriram sua pena (LIMA,

2010; CAMPOS, 2015; TAKEMIYA, 2015). A APAC de Itaúna possui parcerias com

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algumas instituições como a FBAC, Programa Novos Rumos, Tribunal de Justiça de

Minas Gerais, Instituto Minas pela Paz, SESI e SENAI.

Outro ponto relevante, verificado no cotidiano da APAC, é a forma humana, digna e

respeitosa com que os recuperandos são tratados, não levando em consideração o

crime cometido. Esta é confirmada através das práticas inovadoras, tais como, todos

os recuperandos são chamados pelo nome, uso de crachá para identificação, uso de

roupas comuns, ausência de armas e policiais, utilização de talheres durante as

refeições etc. (BUTELLI, 2011; FARIA, 2011; SOARES, 2011; ALMEIDA e SÁ,

2016). Salienta-se, ainda, que a APAC assegura os direitos e as garantias

fundamentais, previstos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

bem como na Legislação de Execução Penal.

O trabalho proposto pela APAC só terá seu resultado constatado quando o

recuperando voltar ao convívio social ressocializado, fato que ocorrerá se ele

realmente quiser uma mudança de vida.

O método apresenta um projeto de vida para o recuperando, propondo a ajuda

mútua, a fraternidade e a solidariedade, o amor e a confiança, possibilidade de

ressocialização, além de promover a justiça social (OTTOBONI, 2014), diminuindo a

criminalidade e, assim, protegendo a sociedade.

A crença em Deus e a proposta de seguir uma doutrina religiosa são ferramentas

necessárias para essa nova experiência de vida. Para Coutinho (2009), buscar por

uma religião e se tornar praticante para os apenados é um refúgio que ameniza as

dificuldades vividas e propicia conforto e um pouco de paz durante o cumprimento

da pena privativa de liberdade.

Diferentemente dessa realidade, porém muito presente nos resultados desse estudo,

foi apresentado o dia a dia no sistema prisional convencional como forma de

comparação entre os sistemas e como indicador de ser um sistema que não

desempenha o papel ressocializador, gerando mais violência e incentivo à

criminalidade.

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Nos dias atuais, tal fato é assunto cotidiano na imprensa visto que o país vivencia

uma crise no sistema prisional, devido a vários fatores apresentados no decorrer

deste estudo, como a superlotação dos estabelecimentos prisionais, falta de

estrutura física e da concessão de direitos básicos aos apenados, a violência e o

domínio das facções nos presídios, deixando o Estado sem o controle dos

estabelecimentos. A facilidade dos presos em obter drogas, armas, telefone celular,

dinheiro também facilitam os motins, rebeliões e chacinas dentro dos presídios

(ASSIS, 2007; CALLEGARI, 2009; ROSSINI, 2015).

A crise vivenciada, nos dias atuais, reforça que fatores como educação,

profissionalização, concessão dos direitos aos presos, previstos na LEP, como, por

exemplo, assistência à saúde, assistência jurídica, assistência religiosa, são

necessárias para que a pena privativa de liberdade cumpra sua real finalidade, a

ressocialização do condenado.

Os resultados deste estudo trouxeram implicações gerenciais que indicaram que o

método APAC é uma alternativa viável e eficiente no sistema prisional. Além disso,

os estudos indicaram alguns desafios para os gestores quanto ao método. Dentre

eles, aperfeiçoar o método quanto à percepção dos condenados que se adequam ao

método; facilitar a identificação dos presos que se adequam aos elementos

estruturantes do método, podendo, assim, diminuir a reincidência criminal; que os

valores introjetados pelos indivíduos a partir da terapêutica penal possam ir além do

ambiente interno; relação custo-benefício das práticas adotadas nessa instituição

versus o sistema prisional comum; ampliar a adoção desse método a outras

comarcas brasileiras.

Por um lado, os resultados permitiram verificar vantagens como a ressocialização do

preso, fim das superlotações nos estabelecimentos prisionais, tratamento digno ao

preso, concessão de direitos e cobrança de deveres aos presos. Contrapondo,

algumas desvantagens também foram detectadas, tais como, tempo demandado

para a criação de uma APAC, levando em consideração todos os aspectos

necessários para o início das atividades; mudança de paradigmas quanto à cultura

do sistema penitenciário, envolvimento da comunidade.

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Cabe ressaltar, ainda, que a APAC é uma inovação social voltada para o sistema

prisional que utiliza controles administrativos para mensurar o comportamento do

preso e os resultados gerados quanto à aplicação da metodologia. Seria

interessante o Estado utilizar essa ferramenta, que já apresenta resultados

satisfatórios, para amenizar a crise no sistema penitenciário nacional que o país

vivencia.

Quanto aos pressupostos que orientaram esta pesquisa, os entrevistados

descreveram claramente as diferenças existente entre os sistemas, Comum e APAC,

demonstrando sempre preferência pela APAC, atendendo ao pressuposto “Os

condenados percebem a diferença entre o sistema prisional comum e a APAC” e

não atendendo aos pressupostos: "Os condenados preferem o método tradicional

para cumprimento da pena privativa de liberdade” e “A prisão comum exerce papel

de reintegrar o condenado na sociedade após o cumprimento da pena privativa de

liberdade”, pois os entrevistados não consideram que o sistema prisional comum

recupere o condenado, mas sim, possibilita que eles se tornem pessoas revoltadas,

sem fé e sem esperança de terem uma vida melhor.

Outros pressupostos atendidos foram “A APAC exerce papel de ressocializar o

condenado na sociedade após o cumprimento da pena privativa de liberdade”;

“Método APAC é um processo inovador” e “O Método APAC é uma ferramenta

social”. Eles também acreditam que o método APAC exerce o papel de

ressocializador, que ele é uma inovação no sistema prisional e uma ferramenta

social por ser uma instituição que, através de práticas inovadoras, atende uma

necessidade da sociedade.

Os pressupostos “Para os gestores, o Método APAC ressocializa o preso” e “A

metodologia APAC é aplicada por seus gestores como é proposta” também foram

atendidos por essa pesquisa.

Quanto às fragilidades apresentadas pelo método, foram percebidos, primeiramente,

a metodologia não se aplicar a todo preso, pois este tem que querer seguir as regras

impostas pela metodologia e mudar de vida. Além do mais, para alguns indivíduos, o

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mundo do crime é interessante, pois possibilita conseguir dinheiro fácil. Outros

indivíduos possuem um caráter destoante dos demais membros da sociedade, não

tendo interesse ou condições para uma mudança de vida efetiva.

Outra fragilidade ocorre quanto à obrigatoriedade da religião. Os presos devem ter

uma crença, ter uma religião e se não acreditarem em Deus, não poderão fazer

parte da metodologia, por ser a religião um dos elementos fundamentais para o

sucesso da metodologia. Nesses casos, um condenado ateu pode perder a

oportunidade de participar de uma experiência desta.

Cabe ressaltar que uma APAC leva tempo para ser implantada, pois deve cumprir

várias etapas para o início de suas atividades, sendo a primeira delas o trabalho de

aceitação junto à comunidade. Além disso, é fundamental a aceitação da

metodologia pelas pessoas envolvidas no sistema penitenciário, reconhecendo essa

como nova modalidade de prisão.

Este estudo evidenciou, também, que, ao contrário do que fora ilustrado por

Goffman (2015), a prisão protege a sociedade dos criminosos, sim, mas essa

proteção ocorre por um tempo determinado, não resolvendo assim o problema em

definitivo. Sendo assim, a prisão não ressocializa, mas cria criminosos mais

perigosos do que entraram, aumentando, assim, a reincidência criminal, colocando a

sociedade em perigo maior.

Em contraponto, o método APAC assegura o cumprimento dos princípios da

dignidade da pessoa humana e da individualização da pena, oferecendo

mecanismos para que o preso, ao cumprir sua pena, saia da prisão ressocializado.

O Estado precisa adotar medidas ressocializadoras para que diminua a exclusão

social do preso, após o cumprimento da pena, e também a reincidência criminal

(VOLPE FILHO, 2009; GONÇALVES, 2014) e, por isso, a APAC mostra-se uma boa

opção de gestão, acolhimento, ressocialização e reintegração do apenado.

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Os problemas carcerários, apresentados por Motta, Ribeiro e Moura (2011), e

também pelas falas dos entrevistados, comprovam que a superlotação das prisões,

a morosidade na resolução dos processos judiciais, deixando presos provisórios

como condenados na mesma cela, presos que cometeram pequenos delitos com

presos que cometeram crimes graves, ao invés de recuperar o preso torna a prisão

uma escola para o crime, facilitando a ação das facções criminosas.

Além disso, a má gestão do sistema prisional e a falta de investimentos em

educação tendem a refletir-se diretamente na segurança pública. As exclusões

econômica e social contribuem para a não geração de empregos, faltando, assim,

oportunidades de trabalho. Esses fatores possibilitam, assim, o aumento da

criminalidade. Dessa maneira, pergunta-se: Culpa de quem? Esse questionamento

reflete a atitude ou omissão de cada um de nós, da sociedade, dos governantes em

resolver esse problema que interfere na dinâmica da sociedade. O problema

carcerário só é discutido perante as grandes rebeliões ou por interesses diretos,

quando algum ente familiar ou conhecido encontra-se em pena privativa de

liberdade.

Ainda, pode-se ressaltar que a APAC é uma inovação social relevante e bem-

sucedida, que precisa ser divulgada e disseminada para outras comarcas brasileiras,

sendo esse o principal objetivo do Programa Novos Rumos do Tribunal de Justiça de

Minas Gerais.

O TJ/MG tem um papel social importante, gerando resultados positivos para a

sociedade, com a utilização de novos processos que atendem uma demanda social,

conforme propõe Bignetti (2006), ao mencionar o papel das instituições, incluindo as

penitenciárias.

Sendo assim, a partir dos resultados da pesquisa, demonstrou-se a importância da

educação e da profissionalização, imbuída dos doze elementos estruturantes do

método APAC que contribuem para a ressocialização do recuperando.

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Este estudo sugere que sejam oferecidos mais cursos profissionalizantes para

possibilitar aos recuperandos um ganho financeiro, uma forma de sobrevivência,

possibilitando ter uma vida digna, principalmente longe do mundo dos crimes,

mundo esse de ganho econômico fácil.

Este trabalho suscita alguns pontos para reflexão:

- A aplicação efetiva do método APAC é o suficiente para garantir a

ressocialização do condenado?

- A disciplina é essencial para a introjeção dos valores da Instituição?

- A disseminação do método APAC em outras comarcas e Estados brasileiros

resolverá parte dos problemas enfrentados pelo sistema penitenciário?

6.1 Implicações Gerenciais

Os resultados deste estudo promoveram e demonstraram implicações gerenciais

nas áreas sociais, econômicas e ambientas que serão apresentadas nos itens a

seguir:

a) Implicações Sociais:

Desenvolver novas estratégias para disseminar o método em outras

comarcas e para dar continuidade ao trabalho feito com o preso após o

cumprimento da pena.

O Estado deveria desenvolver políticas públicas que complementem o

trabalho feito pela APAC, principalmente para suprir fragilidades dessa

instituição; que possibilitem a recolocação do preso no mercado de

trabalho; que priorizem o investimento em saúde e educação.

Parcerias com empresas públicas, privadas, ONGs para trabalho e

qualificação profissional dos presos.

Estabelecer parcerias com escolas que ofereçam cursos técnicos,

profissionalizantes e supletivo.

Criar ações que promovam um maior diálogo entre o sistema prisional

e a comunidade.

b) Implicações Ambientais

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Desenvolver um projeto de coleta seletiva nas dependências da APAC.

c) Implicações Econômicas

Mensurar a reincidência de presos que estão cumprindo pena mais de

uma vez na APAC e verificar os fatores determinantes.

Desenvolver ações de marketing para aumentar as vendas dos

produtos artesanais e alimentícios fabricados pelos recuperandos.

Produzir mudas no viveiro da instituição para a venda.

Buscar novos parceiros e novos sócios contribuintes.

Avaliar anualmente as ações desenvolvidas pela instituição.

6.2 Limitação da pesquisa

A limitação desta pesquisa foi em função da complexidade do tema, recursos

financeiros bem como a localização de outras APACs.

Esta pesquisa teve por objetivo estudar o processo de ressocialização e

reintegração na APAC masculina de Itaúna por esta constituir uma instituição de

referência. Nesse contexto, os resultados desta pesquisa permitiram conhecer o

método APAC bem como sua aceitação por recuperandos e gestores, mas como

estruturada, os resultados desta pesquisa não permitem inferências em relação à

outras instituições que também utilizem o método APAC.

A dificuldade em ter acesso às instituições que adotam esse método foi um limitador

que inviabilizou entrevistas com outros gestores, bem como conhecer resultados

positivos e negativos obtidos em outras APACs. Além disso, ainda há um grande

desconhecimento pelos representantes do poder público sobre o método APAC e a

ressocialização que ele possibilita ao apenado, o que dificultou ampliar as

entrevistas a outros juízes.

A ressocialização no sistema prisional é um tema polêmico e ainda pouco estudado,

pois envolve características sociais, econômicas, políticas e de gestão ainda

estruturadas em conceitos que precisam ser modernizados. Nesse contexto, o

método APAC não constitui alternativa para cumprimento da pena, sendo o sistema

prisional comum aceito por inúmeros representantes do poder público em detrimento

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ao proposto por essas instituições. Esses fatos podem justificar o número reduzido

de trabalhos científicos que contemplem essa temática, bem como o método APAC.

Esta pesquisa, ao propor a comparação dos procedimentos usuais (plano disciplinar)

de uma prisão comum com os adotados na APAC, ficou restrita à ótica dos

apenados que vieram do sistema prisional comum para a APAC, não sendo possível

entrevistar apenados desse sistema que tiveram oportunidade de cumprirem pena

no sistema APAC e não quiseram ou que foram para a APAC, mas não se

adaptaram a esse método, retornando ao sistema convencional.

6.3 Sugestão para trabalhos futuros

Esta pesquisa teve como foco analisar o método de ressocialização praticado pela

APAC Itaúna, podendo ser aproveitado como ponto de partida para novos estudos.

A autora sugere o estudo dos recuperandos que já cumpriram sua pena e estão em

liberdade. Se eles trabalham, se são reincidentes, se efetivamente tiveram mudança

de comportamento e/ou novos projetos de vida, se realmente introjetaram os valores

propostos pelo método APAC no processo de ressocialização.

Outra oportunidade de pesquisa seria um estudo com os presos que tiveram

oportunidade de cumprir pena na APAC, mas não se adaptaram ao método e

solicitaram retorno ao sistema prisional comum.

Propõe-se um estudo com o objetivo de aprofundar o conhecimento de como cada

uma das diretrizes propostas pelo método APAC, principalmente, a religiosidade,

permitindo um melhor entendimento sobre esse processo de ressocialização e

desse método como instrumento de inovação social.

Sugere-se o estudo do funcionamento do método APAC em outros municípios,

estados e países e naquelas APACs que encerraram o funcionamento de suas

atividades bem como a eficiência, eficácia e efetividade do método APAC e de suas

práticas de gestão. Nesse contexto, é importante o entendimento das Parcerias

Público Privada no sistema prisional.

Outra pesquisa seria verificar o estudo do perfil dos presos e dos profissionais que

trabalham no sistema prisional, assegurando a assistência à saúde dos apenados.

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Além disso, propõe-se realizar um levantamento referente ao Programa Novos

Rumos, do TJMG, com o objetivo de verificar a eficiência, eficácia e resultados do

programa quanto ao alcance dos seus objetivos.

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APÊNDICE A

Roteiro de entrevista: sujeito da pesquisa Recuperandos/Presos

Nome ou recurso de identificação: Idade: Escolaridade: Estado civil: Tempo de condenação: Quanto já cumpriu da pena? Regime da pena: reincidente? Algum parente já praticou algum crime?

1) Você cumpriu alguma parte da pena no sistema prisional comum? Quanto tempo?

2) Como é a rotina no sistema prisional comum? 3) Como é a convivência com os demais presos e a direção do sistema comum? 4) A prisão comum ressocializa o condenado? De que maneira?Como você

percebe isso em seu dia a dia? 5) O que você entende por ressocialização? 6) Como ficou conhecendo a APAC? 7) Quais motivos o levaram a se inscrever para participar do método? 8) Quais as diferenças entre o sistema prisional comum e a APAC? 9) Você acredita que o método APAC seja uma inovação no sistema prisional? 10)Quanto tempo você está ou esteve na APAC? 11) Como é o processo para entrada na APAC? 12)Como é o processo de socialização do preso quando chega a APAC? Como e

por quem ele é recebido? Qual é a primeira coisa que o preso faz quando chega a APAC?

13) De que maneira a metodologia foi apresentada a você? Por quem? Quem são os responsáveis pelo processo de socialização na APAC?

14) Como foi o processo de adaptação? O que você tinha que fazer? Qual era a sua rotina (horários, tarefas, estudo, trabalho)

15) Esse processo tem foco na disciplina e na ordem? Descrever. 16) Como é o convívio com os demais recuperandos? E com a direção e

gerentes? 17) Qual é o motivo que você acha que não há fugas? 18) Por que a reincidência no método APAC é menor que o sistema prisional

comum? 19) Qual fase da aplicação da metodologia APAC você acredita ser essencial

para o recuperando não ser reincidente? 20) Conte qual foi sua pior experiência no sistema prisional comum e na APAC? 21) Fale sobre um aspecto negativo da APAC. 22) Quais motivos podem garantir o sucesso da metodologia APAC? 23) O método APAC promove a ressocialização do condenado? Como 24) Há cursos profissionalizantes/qualificação no sistema prisional? Quais são?

Como participar? 25) Já fez algum curso técnico? Qual? Como foi selecionado? Esses cursos

auxiliam no seu processo de reintegração na sociedade? 26) Há demanda de algum curso específico?

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27) Como são ministrados esses cursos? Presencial ou online? Qual frequência? 28) Quais são suas expectativas quando sair daqui? 29) Se você estivesse cumprindo pena no sistema comum você teria a mesma

expectativa para conseguir um trabalho? 30) Na sua opinião, seu gestor acredita no seu processo de recuperação? 31)Por que você optou pelo sistema prisional comum?

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APÊNDICE B

Roteiro de entrevista: sujeito da pesquisa Juiz

1) Qual a diferença de um preso no sistema prisional comum e o sistema APAC? 2) Como é a escolha/seleção do preso para ir cumprir pena na APAC? Detalhar

– o condenado é apresentado à metodologia e se aceitar vai para a APAC, caso contrário sistema comum.

3) Os presos que anteriormente passaram pelo sistema prisional comum aceitam o método APAC?

4) Qual o perfil do preso? (idade, sexo, escolaridade, tipo de crime, duração da pena, reincidência)

5) Como é o processo para entrada na APAC? 6) Como o preso é recebido no sistema comum? Existe alguma diferença com o

método APAC? 7) Na sua percepção, o método APAC possui um processo de adaptação para o

preso? Se sim, como ele se dá? 8) O método APAC tem foco na disciplina e na ordem? Qual a diferença para o

método tradicional? Como é aplicada a disciplina? 9) Quem são os responsáveis pelo processo de socialização na APAC? 10) Você conhece a metodologia APAC? Como o senhor a conheceu a

metodologia? 11) Comparando o método APAC com o sistema prisional comum, já houve

fugas? Quais são os motivos? 12) Em qual método ocorre menor reincidência? Por quê? 13) O que acredita ser essencial para o recuperando não ser reincidente? 14) Exemplifique casos de recuperandos que não se adaptaram à metodologia e

retornaram ao sistema prisional comum. O que acha que não foi eficiente na metodologia?

15) Quais motivos podem garantir o sucesso da metodologia APAC? 16) Você acha que a metodologia APAC é a solução para sistema prisional? Por

quê? Todo preso aceitaria a metodologia? E por que não aceitariam? Maior desafio enfrentado.

17) Há cursos profissionalizantes/qualificação no sistema prisional? Quais são? 18) Há demanda de algum curso específico? 19) Como são ministrados esses cursos? Presencial ou online? Qual frequência? 20) Qual dos métodos, tradicional ou APAC, consegue ressocializar o preso?

Esse método consegue exercer o papel de reintegrar o preso a sociedade após o cumprimento da pena?

21) O método APAC é um sistema inovador? 22) Quais são os maiores desafios do método APAC? Quais são as críticas ao

método? 23) Existem outros métodos de ressocialização que conseguem cumprir o papel

de reintegrar o preso na sociedade após o cumprimento da pena?

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APÊNDICE C

Roteiro de entrevista: sujeito da pesquisa Diretor da APAC e FBAC

1) Como é o processo para entrada na APAC? A aplicação do método no recuperado.

2) Como é o processo de socialização do preso quando chega a APAC? Como e por quem ele é recebido? Qual é a primeira coisa que o preso faz quando chega à APAC?

3) Quem são os responsáveis pelo processo de socialização na APAC? 4) De que maneira a metodologia é apresentada? Quem aplica a metodologia? 5) Ele passa por um processo de adaptação? Se sim, como ele se dá? 6) Esse processo tem foco na disciplina e na ordem? Como é aplicada a

disciplina? Descrever 7) Qual o perfil do preso? (idade, sexo, escolaridade, tipo de crime, duração da

pena, reincidência) 8) Já houve fugas? Qual é o motivo pelo qual o índice de fugas é pequeno?

Porque a reincidência é menor que o sistema prisional comum? 9) Qual fase da aplicação da metodologia que você acredita ser essencial para

o recuperando não seja reincidente? 10) Exemplifique casos de recuperandos que não adaptaram à metodologia e

retornaram ao sistema prisional comum. 11) Você acha que a metodologia APAC é a solução para sistema prisional? Por

quê? Todo preso aceitaria a metodologia? E por que não aceitariam? 12) Há cursos profissionalizantes/qualificação na APAC? Quais são? 13) Há demanda de algum curso específico? 14) Como são ministrados esses cursos? Presencial ou online? Qual frequência? 15) O método é eficiente para a recuperação do preso? 16) Os presos que anteriormente passaram pelo sistema prisional comum

aceitam o método APAC? 17) Os presos sabem a diferença do sistema prisional comum para o sistema

APAC? 18) O método APAC é um sistema inovador? 19) O método consegue exercer o papel de reintegrar o preso a sociedade após

o cumprimento da pena? 20) Como são escolhidos os recuperandos para serem os lideres (CSS) 21) Quais motivos podem garantir o sucesso da metodologia APAC? 22) Quais são os fatores que inviabilizam a aplicação do método APAC? 23) Quais são os maiores desafios do método APAC? Quais são as críticas ao

método? 24) Afinal, o que você entende por ressocialização do recuperando? 25) Quais são os motivos que levam ao encerramento de uma APAC? Cite

exemplos.

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APÊNDICE D

PRODUTO TÉCNICO – PROPOSTA DE CURSO DE INFORMÁTICA

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS

UNIDADE CONTAGEM

Curso de Informática Básica para os recuperandos da APAC de Itaúna em parceria

com o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Unidade Contagem.

Contagem, Minas Gerais.

Dezembro de 2016.

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1. Introdução

Segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça19 (CNJ), a população

carcerária brasileira, em Dezembro de 2014, era de 622.202 pessoas. O Brasil tem a

quarta maior população carcerária do mundo, menor apenas que a dos Estados

Unidos da América, da China e da Rússia. De acordo com o Infopen (2014), o perfil

de pessoas presas no Brasil é de 31% com faixa etária entre 18 a 24 anos, 67% de

etnia negra, 53% com ensino fundamental incompleto e 27% presas por tráfico de

drogas. Esses dados demonstram que o baixo índice de escolaridade e maior

número de jovens presos é a consequência da falta de investimento em educação.

Em 2016, foram investidos 17 milhões no sistema penitenciário brasileiro20.

Conforme dados do Ministério da Educação (2016), foram investidos na área da

Educação R$ 3,8 bilhões para o ensino superior, voltados principalmente para

universidades, institutos federais e pagamento de bolsas de estudo; e o ensino

básico, fora repassados R$ 1,14 bilhões para custear programas e obras; e o ensino

técnico R$ 226,23 milhões para garantir o funcionamento de programas como o

Pronatec.21.

Esses dados representam o descaso dos governantes em investimentos na área da

educação. Diante dessa realidade e dos resultados da pesquisa, a autora percebeu

a necessidade de fazer um projeto de extensão que possibilitará a reinserção do

preso no mercado de trabalho. Este projeto refere-se a um curso de informática

básica para os recuperandos da APAC de Itaúna/MG.

A importância do curso de Informática dá-se por ser uma ferramenta necessária para

a execução de várias atividades profissionais, escolares e pessoais. O motivo da

escolha, curso de extensão, ocorre pelo fato de ser um curso que será ofertado em

um período de tempo mais curto e todos os recuperandos poderão fazer. Caso fosse

um curso técnico, seria apenas para quem tivesse interesse em trabalhar na área,

19http://www.justica.gov.br/noticias/populacao-carceraria-brasileira-chega-a-mais-de-622-mil-detentos 20http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/01/1846864-em-meio-a-superlotacoes-governo-federal-seca-repasses-para-presidios.shtml 21http://www.brasil.gov.br/educacao/2016/08/governo-reforca-investimentos-da-educacao-basica-a-superior

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ou seja, habilitar o aluno para desenvolver programas e para realizar manutenção e

suporte na área de informática. Já o curso básico de informática tem por finalidade

desenvolver técnicas e habilidades nos recuperandos para o uso das ferramentas do

pacote Microsoft office, proporcionando a capacitação e a inserção social.

O mundo moderno é de informatização e a informática é utilizada como forma de

inclusão digital, sendo uma das áreas que mais cresce. Além de possibilitar sua

inserção principalmente no mercado de trabalho, a informática precisa fazer parte do

cotidiano dos recuperandos.

A Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) é uma entidade

sem fins lucrativos, criada desde 1972 com objetivo de ressocializar o preso. A

ressocialização do preso é uma preocupação constante do Conselho Nacional de

Justiça (CNJ) que incentiva iniciativas como as da APAC que são voltadas à

diminuição da reincidência criminal. Os presos que cumprem pena na APAC passam

por formação escolar e profissional, oferecendo condições para reinserção no

mercado de trabalho, sendo a Educação uma importante ferramenta para

ressocialização.

A ressocialização do preso, após o cumprimento da pena privativa de liberdade, é

uma tarefa árdua, mas necessária, pois seus resultados refletem diretamente na

sociedade, e, apesar de ser interesse da sociedade e obrigação do Estado,

geralmente ambos se omitem para o problema, ao contrário do que acontece na

APAC.

A APAC oferece diversos cursos como, por exemplo, curso de panificação,

mecânica, artesanato, etc. Assim, este projeto tem como objetivo oferecer o curso

de informática básica para os recuperandos da APAC de Itaúna/MG. Sendo a

informática uma ferramenta indispensável para a execução de tarefas escolares e

profissionais, é muito importante o conhecimento da área para a ressocialização do

recuperando.

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2. Objetivos

Objetivo geral

● Oferecer curso de informática básica para os recuperandos da APAC de

Itaúna/MG através da parceria com o CEFET-MG, Unidade Contagem.

Objetivos específicos

● Ministradas ferramentas básicas do WORD, EXCEL, POWERPOINT e

INTERNET aos presos.

● Possibilitar a reinserção do preso no mercado de trabalho.

● Facilitar a execução de atividades escolares e profissionais dos presos.

3. Metodologia

Para que o recuperando possa fazer o curso, ele deve se mostrar interessado e ter

bom comportamento. O curso será dividido em aulas teóricas e práticas; exercícios e

atividades no computador e pesquisas na internet. o curso terá 3 meses de duração

e as aulas serão ministras de segunda a quinta-feira, uma hora por dia. As aulas

teóricas abordarão a parte introdutória e a importância da informática na formação

escolar e profissional. As aulas práticas serão abordadas em computadores da

Instituição com exercícios e atividades no computador.

Os conteúdos serão divididos em módulos: Noções básicas de Word, Excel, Power

Point e uso da Internet.

Local de estudo

O projeto será realizado na APAC de Itaúna. A APAC está localizada no

bairro Parque Jardim Santanense, município de Itaúna, Minas Gerais.

4. Recursos necessários

Para a execução do projeto, serão necessários, no mínimo, 10 computadores com o

pacote office e acesso à internet.

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5. Atividades do curso

MÓDULO CURSO CARGA HORÁRIA

Módulo 1 Microsoft Windows 10:00 horas

Módulo 2 Microsoft Word 10:00 horas

Módulo 3 Microsoft Excel 10:00 horas

Módulo 4 Internet Explorer 10:00 horas

Módulo 5 PowerPoint 10:00 horas

TOTAL 50:00 horas

Módulo 1: Windows

Introdução

Conceitos Básicos

O Windows Explorer

Operações básicas do Windows

Gerenciamento de impressoras

A lixeira

Meus locais de rede

O painel de controle

Acessórios do Windows

Backup

Principais extensões padrões do Windows

Teclas de atalho do Windows

Módulo 2: Word

Introdução

A tela do Word

Como usar a tela do Word

Manipulando textos e elementos gráficos

A barra de Menus

As barras de ferramentas

Módulo 3: Excel

Conceitos gerais

Operando o Excel

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Guia Início

Guia Inserir

Guia Layout da página

Guia Fórmulas

Guia Dados

Guia Revisão

Guia Exibição

Teclas de atalho

Módulo 4: Internet

Introdução

Barra de Menus

Modo protegido do Internet Explorer

Navegação Inprivate

Filtragem Inprivate

Filtro do Smartscreen

Encriptação

Módulo 5: Power Point

Tela de Trabalho

Barra de Menus

Barra de Ferramentas

Apresentações

Serão distribuídas apostilas com o conteúdo do curso para cada aluno. Após o

término de cada módulo, será aplicada uma prova para testar o conhecimento e

deverá obter pontuação mudança de módulo.

Bibliografia do curso:

MANZANO, Maria Izabel N. G; MANZANO, André Luiz N. G. Estudo Dirigido de Microsoft Office PowerPoint 2013 ; Editora Érica. MANZANO, Maria Izabel N. G; MANZANO, André Luiz N. G. Estudo Dirigido de Microsoft Office Excel 2013 ; Editora Érica.

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MANZANO, Maria Izabel N. G; MANZANO, André Luiz N. G. Estudo Dirigido de Informática Básica; 7ª edição; Editora Érica. MANZANO, Maria Izabel N. G; MANZANO, André Luiz N. G. Estudo Dirigido de Microsoft Office Word 2013; Editora Érica. RAMALHO, José Antônio - Introdução à Informática - Teoria e Prática – Editora Futura. Livros pacote de aplicativos Office. TORRES, Gabriel. Hardware Curso Completo – 4ª Edição – Axcel Books VELOSO, Fernando de Castro. Informática: conceitos básicos.

6. Resultados esperados

Os resultados esperados são:

Que o recuperando complete o curso tendo as noções básicas do pacote

office e uso da internet para contribuir na sua formação escolar e profissional;

Que o recuperando, ao cumprir a pena privativa de liberdade, seja reintegrado

na sociedade e no mercado de trabalho;

Levar o conhecimento do CEFET/MG para a comunidade através desta

parceria.

Com a conclusão do curso, o discente deve se mostrar habilitado a entender

a importância da informática; definir termos e conceitos básicos utilizados,

usar o Windows – sistema operacional, Word, Excel e navegar na Internet.

O certificado do curso será emitido pelo CEFET/MG Unidade Contagem ao

final do curso.

Referências:

FARIA, Ana Paula. APAC: Um Modelo de Humanização do Sistema Penitenciário. Âmbito Jurídico, Rio Grande, v. 87, p.1-2, abr. 2011. Disponível em:<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9296>. Acesso em: 09 mar. 2016.

MANZANO, Maria Izabel N. G; MANZANO, André Luiz N. G. Estudo Dirigido de Microsoft Office PowerPoint 2013; Editora Érica.

MANZANO, Maria Izabel N. G; MANZANO, André Luiz N. G. Estudo Dirigido de Microsoft Office Excel 2013; Editora Érica.

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MANZANO, Maria Izabel N. G; MANZANO, André Luiz N. G. Estudo Dirigido de Informática Básica; 7ª edição; Editora Érica.

MANZANO, Maria Izabel N. G; MANZANO, André Luiz N. G. Estudo Dirigido de Microsoft Office Word 2013; Editora Érica.

OHNESORGE, Rui. A educação no sistema penitenciário e sua importância na ressocialização. 2000. Brasil Escola. Disponível em: <http://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/a-educacao-no-sistema-penitenciario-sua-importancia-na-ressocializacao.htm>. Acesso em: 04 jan. 2017.

RAMALHO, José Antônio - Introdução à Informática - Teoria e Prática – Editora Futura. Livros pacote de aplicativos Office.

RIO DE JANEIRO, Equipe de Reportagem do Governo do. PENITENCIÁRIAS FLUMINENSES OFERECEM CURSOS PARA RESSOCIALIZAÇÃO DE DETENTOS. Governo do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p. 1-1. 13 fev. 2014. Disponível em: <http://www.rj.gov.br/web/imprensa/exibeconteudo?article-id=1960331>. Acesso em: 04 jan. 2017.

SILVA, Francisco de Assis da Costa. A informática no presídio regional de Patos. Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, p.1-3, 2012. Disponível em: <http://www.prac.ufpb.br/anais/Icbeu_anais/anais/educacao/informaticanopresidio.pdf>. Acesso em: 04 jan. 2017.

TORRES, Gabriel. Hardware Curso Completo – 4ª Edição – Axcel Books

VASCONCELOS, Jorge. Detentos de Nova Lima/MG constroem universidade onde cumprem pena. Agência CNJ de Justiça, Brasília, p.1-2, 10 jul. 2015. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/79852-detentos-de-nova-lima-mg-constroem-universidade-onde-cumprem-pena>. Acesso em: 04 jan. 2017.

VELOSO, Fernando de Castro. Informática: conceitos básicos. 9 ª ed. 2014.

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ANEXO A

AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE DADOS

Eu, ________________________________________________, ocupante do cargo

de _______________________ do(a) _____________________________________

AUTORIZO a coleta de dados do projeto: APAC – Associação de Proteção e

Assistência aos Condenados: uma metodologia de reeducação adotada em um

sistema prisional realizado pela pesquisadora, Luana Aparecida Barbosa Braga,

sob a orientação da Professora Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, para fins

de pesquisa do Mestrado Profissional em Administração, nas instalações físicas da

APAC Masculina de Itaúna/MG após a aprovação do referido projeto pelo CEP do

Centro Universitário UNA.

______________________, ______ de ____________________ de 2016.

______________________________________________

ASSINATURA

CARIMBO:

OBS: Autorização com modelo padrão para todas as instituições

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ANEXO B

TERMO DE COMPROMISSO DE CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO Nº 466/2012

Nós, Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, inscrita no CPF/MF sob o número

876491956-00, e Luana Aparecida Barbosa Braga, divorciada, administradora,

042032026-12, responsáveis pela pesquisa intitulada APAC – Associação de

Proteção e Assistência aos Condenados: uma metodologia de reeducação

adotada em um sistema prisional.

declaramos que:

Assumimos o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das informações que serão

obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa;

Os materiais e as informações obtidas no desenvolvimento deste trabalho serão utilizados para

se atingir o(s) objetivo(s) previsto(s) na pesquisa;

O material e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a nossa

responsabilidade;

Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos e/ou em encontros,

quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a privacidade e os direitos individuais dos

sujeitos da pesquisa, não havendo qualquer acordo restritivo à divulgação;

Assumimos o compromisso de suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum risco ou

dano, consequente à mesma, a qualquer um dos sujeitos participantes, que não tenha sido

previsto no termo de consentimento.

O CEP do Centro Universitário UNA será comunicado da suspensão ou do encerramento da

pesquisa, por meio de relatório apresentado anualmente ou na ocasião da interrupção da

pesquisa;

As normas da Resolução 466/2012 serão obedecidas em todas as fases da pesquisa.

_________________________, ____ de ________de 2016

Dra. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos Luana Aparecida Barbosa Braga

CPF nº. 876491956-00 CPF nº. 042032026-12

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ANEXO C

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS

Eu ___________________________________________________________________, CPF

_______________________, RG__________________________,

depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e benefícios da

pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de minha imagem e/ou depoimento,

especificados no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do

presente termo, a pesquisadora aluna Luana Aparecida Barbosa Braga, sob a orientação da Dra.

Fernanda Carla Wasner Vasconcelos, do projeto de pesquisa intitulado APAC – Associação de

Proteção e Assistência aos Condenados: uma metodologia de reeducação

adotada em um sistema prisional a realizar as fotos e/ou vídeos que se façam necessárias

e/ou a colher meu depoimento sem quaisquer ônus financeiros a nenhuma das partes.

Ao mesmo tempo, libero a utilização destas fotos e/ou vídeos (seus respectivos negativos ou cópias)

e/ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros, artigos, slides e transparências), em favor

do pesquisador da pesquisa acima especificada, obedecendo ao que está previsto nas Leis que

resguardam os direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA,

Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.°10.741/2003) e das pessoas com

deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº 5.296/2004).

______________________, ____ , _________ de 2016.

_______________________ ______________________________

Participante da pesquisa Pesquisador responsável pelo projeto

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ANEXO D

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - profissionais

Dados da pesquisa e orientações

Programa: Mestrado Profissional em Administração, Centro Universitário UNA, Belo Horizonte/MG.

Título: APAC – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados: uma metodologia de reeducação

adotada em um sistema prisional.

Pesquisadora Orientadora: Profª. Drª. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

Pesquisadora Aluna: Luana Aparecida Barbosa Braga

Natureza da pesquisa: Este trabalho, com fins acadêmicos, pretende analisar os procedimentos adotados pelo

método APAC procurando entender o processo de ressocialização nessa organização, verificar seus efeitos

sobre os recuperandos e a proposta de um projeto de estruturação de um curso voltado para a formação

profissional desse recuperando que possibilitará sua reinserção no mercado de trabalho.

Participantes da pesquisa: o Juiz de Execução Criminal da Comarca de Itaúna (MG), os diretores da APAC

Masculina de Itaúna e os diretores da FBAC.

Envolvimento na pesquisa: Ao participar deste estudo a sra (sr) permitirá que a pesquisadora Luana Aparecida

Barbosa Braga utilize os dados obtidos, para compreender como o método APAC ressocializa o recuperando. A

pesquisadora se compromete a divulgar os resultados obtidos. A sra (sr.) tem liberdade de se recusar a participar

e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para a sra (sr.).

Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através do telefone das pesquisadoras do

projeto e, se necessário, através do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa.

Sobre as entrevistas: Serão semi-estruturadas (perguntas pré-estabelecidas) agendadas previamente com os

sujeitos supracitados e registradas em áudio. Fotos serão tiradas para comprovar a autenticidade caso o sr (sra) o

permita.

Riscos e desconforto: A participação nesta pesquisa não traz complicações legais para nenhum participante.

Para evitar qualquer constrangimento para o sr (sra) , a pergunta poderá ser reformulada e a entrevista poderá

ser interrompida a qualquer momento ao seu critério sem nenhum tipo de penalização.

Confidencialidade: Todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais, ou seja, ficarão

em segredo. Somente a pesquisadora e a orientadora terão conhecimento dos dados, que não serão utilizados

para nenhum outro fim e seu nome a será mantido sob sigilo.

Forma de Acompanhamento e Assistência: Durante a entrevista, você terá orientação e assistência do

pesquisador em campo. Você poderá entrar em contato com os pesquisadores ou com o Comitê de Ética, pelos

telefones aqui fornecidos, sempre que necessário.

Benefícios: Ao participar desta pesquisa a(o) sra (sr.) não terá nenhum benefício direto.

Entretanto, este estudo apresenta uma alternativa para a melhoria de um dos grandes problemas do sistema

prisional brasileiro, a recuperação dos condenados a pena privativa de liberdade. O recuperando, sendo

ressocializado e não voltando para o mundo da criminalidade, poderá não oferecer mais perigo à sociedade.

Nesse sentido, pode-se evitar o aumento da criminalidade e diminuir o custo social. Outro benefício é o

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entendimento da maneira como o método APAC favorece o processo de ressocialização.

Pagamento: a (o) sra (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será

pago por sua participação. Como o pesquisador virá até o sr (sra) para fazer a entrevista, não terá despesa

alguma com deslocamento ou outro tipo de despesa.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa.

Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem. O sr (sra) ficará com uma cópia deste TCLE.

Obs: Não assine este termo se ainda tiver dúvida a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em

participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da

pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.

Assinatura do Participante da Pesquisa: ___________________________________

Nome do Participante da Pesquisa: _______________________________________

Assinatura do Pesquisador Aluno: ________________________________________

Assinatura da Pesquisadora Orientadora: ___________________________________

Contatos:

Pesquisadora Orientadora: Profª. Drª Fernanda Carla Wasner Vasconcelos (31)XXXXXXXXX.

Pesquisadora Aluna: Luana Aparecida Barbosa Braga (31) XXXXXXXXX

Comitê de Ética em Pesquisa: CEP-FHEMIG: Alameda Álvaro Celso, 100, Sta. Efigênia, BH-MG. Telefone:

(31)3239-9552. e-mail: [email protected]

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ANEXO E TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – recuperandos

Dados da pesquisa e orientações

Programa: Mestrado Profissional em Administração, Centro Universitário UNA, Belo Horizonte/MG.

Título: APAC – Associação de Proteção e Assistência aos Condenados: uma metodologia de reeducação

adotada em um sistema prisional.

Pesquisadora Orientadora: Profª. Drª. Fernanda Carla Wasner Vasconcelos

Pesquisadora Aluna: Luana Aparecida Barbosa Braga

Natureza da pesquisa: Este trabalho para a Universidade busca entender como você (recuperando) vê o método

APAC e quais são seus efeitos para o recuperando. A pesquisadora irá propor um curso que possibilite o seu

retorno, recuperando, ao mercado de trabalho.

Participantes da pesquisa: Recuperandos da APAC Masculina de Itaúna (MG).

Envolvimento na pesquisa: Ao participar deste estudo, você permitirá que a Luana Aparecida Barbosa Braga

(pesquisadora) utilize suas informações para compreender como o método APAC auxilia o recuperando. A

pesquisadora irá divulgar os resultados obtidos. Você tem liberdade de não participar e ainda se recusar a

continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para você. Sempre que quiser, você

poderá pedir mais informações sobre a pesquisa, utilizando os procedimentos internos de comunicação que

localizarão as informações com as pesquisadoras do projeto e, se necessário, através do Comitê de Ética em

Pesquisa.

Sobre as entrevistas: Serão agendadas com o responsável. As perguntas já estão prontas e suas respostas serão

gravadas. Fotos serão tiradas para comprovar que a entrevista realmente foi feita com você, valorizando as

ideias que cada um dos recuperandos irá contribuir para esse estudo, caso você permita.

Riscos e desconforto: A participação nesta pesquisa não traz complicações legais para você (recuperando).

Você não deve se sentir constrangido, você poderá pedir para reformular a pergunta ou pedir para parar a

entrevista sem nenhum tipo de penalização.

Confidencialidade: Todas as informações que você e os outros recuperandos fornecerem para esse estudo

ficarão em segredo. Somente a pesquisadora e a orientadora terão conhecimento dos dados, que não serão

utilizados para nenhum outro fim e seu nome será mantido sob sigilo.

Forma de Acompanhamento e Assistência: Durante a entrevista, você terá orientação e assistência da

pesquisadora. Você poderá entrar em contato com os pesquisadores ou com o Comitê de Ética sempre que

necessário conforme os procedimentos internos utilizados para comunicação.

Benefícios: Ao participar desta pesquisa, você não terá nenhum benefício direto.

Entretanto, este estudo apresenta uma alternativa para a melhoria de um dos grandes problemas do sistema

prisional brasileiro, a recuperação dos condenados a pena privativa de liberdade. O recuperando não voltando

para o mundo da criminalidade poderá não oferecer mais perigo à sociedade. Outro benefício é o entendimento

da maneira como o método APAC favorece o processo de retorno à sociedade por esse recuperando.

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Pagamento: Você não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por

sua participação e não será motivo para nenhum tipo de favorecimento. Como o pesquisador virá até você, não

terá despesa.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa.

Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem. Você ficará com a cópia desse TCLE.

Obs: Não assine este termo se ainda tiver dúvida a respeito.

Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em

participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da

pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.

Assinatura do Participante da Pesquisa: ___________________________________

Nome do Participante da Pesquisa: _______________________________________

Assinatura do Pesquisador Aluno: ________________________________________

Assinatura da Pesquisadora Orientadora: ___________________________________

Contatos:

Pesquisadora Orientadora: Profª. Drª Fernanda Carla Wasner Vasconcelos (31) XXXXXXXXX.

Pesquisadora Aluna: Luana Aparecida Barbosa Braga (31) XXXXXXXXX

Comitê de Ética em Pesquisa: CEP-FHEMIG: Alameda Álvaro Celso, 100, Sta. Efigênia, BH-MG. Telefone:

(31)3239-9552. e-mail: [email protected]

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ANEXO F

CARTA DE APROVAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA, EMITIDA PELO COMITÊ

DE ÉTICA

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ANEXO G

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ANEXO H