ap teoria antropologica

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Para fazer as questões 1, 2 e 3, leia os trechos abaixo: I: “O que, então, acontece com a oposição corolária entre estabilidade e mudança? O pensamento ocidental pressupõe, mais uma vez, que estas sejam antitéticas: corolários lógicos e ontológicos. (...) Essa distinção atravessa em profundidade uma série inteira de categorias elementares organizadoras do saber comum: o estático versus o dinâmico, ser versus devir, estado versus ação, condição versus processo e, - por que não incluir? – substantivo em oposição a verbo. A partir desse ponto, resta apenas um pequeno passo lógico até confundir história com mudança, como se a persistência da estrutura através do tempo não fosse histórica. Porém, mais uma vez, a história havaiana não é certamente a única em demonstrar que a cultura funciona como uma síntese de estabilidade e mudança, de passado e presente, de diacronia e sincronia” (SAHLINS, Marshall. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Zahar Editores, pp. 180). II: Habitus surge então como um conceito capaz de conciliar a oposição aparente entre realidade exterior e as realidades individuais. Capaz de expressar o diálogo, a troca constante e recíproca entre o mundo objetivo e o mundo subjetivo das individualidades. Habitus é então concebido como um sistema de esquemas individuais, socialmente constituído de disposições estruturadas (no social) e estruturantes (nas mentes), adquirido nas e pelas experiências práticas (em condições sociais específicas de existência), constantemente orientado para funções e ações do agir cotidiano. Pensar a relação entre indivíduo e sociedade com base na categoria habitus implica afirmar que o individual, o pessoal e o subjetivo são simultaneamente sociais e coletivamente orquestrados. O habitus é uma subjetividade socializada (Bourdieu, 1992, p. 101). Dessa forma, deve ser visto como um conjunto de esquemas de percepção, apropriação e ação que é experimentado e posto em prática, tendo em vista que as conjunturas de um campo o estimulam (SETTON, Maria da Graça Jacintho. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea”, Rev. Bras. Educ., 2002, n.20, pp. 63). 1) Sobre o trecho I, retirado de Ilhas de História (1985), e o pensamento de Marshall Sahlins, marque a alternativa correta: a) A partir de um episódio histórico, a chegada do Capitão Cook no Havaí, Sahlins irá concluir que a cultura tem um aspecto estrutural indiferente ao evento extraordinário.

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Page 1: AP Teoria Antropologica

Para fazer as questões 1, 2 e 3, leia os trechos abaixo:

 

I: “O que, então, acontece com a oposição corolária entre estabilidade e mudança? O pensamento ocidental pressupõe, mais uma vez, que estas sejam antitéticas: corolários lógicos e ontológicos. (...) Essa distinção atravessa em profundidade uma série inteira de categorias elementares organizadoras do saber comum: o estático versus o dinâmico, ser versus devir, estado versus ação, condição versus processo e, - por que não incluir? – substantivo em oposição a verbo. A partir desse ponto, resta apenas um pequeno passo lógico até confundir história com mudança, como se a persistência da estrutura através do tempo não fosse histórica. Porém, mais uma vez, a história havaiana não é certamente a única em demonstrar que a cultura funciona como uma síntese de estabilidade e mudança, de passado e presente, de diacronia e sincronia” (SAHLINS, Marshall. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Zahar Editores, pp. 180).

 

II: “Habitus surge então como um conceito capaz de conciliar a oposição aparente entre realidade exterior e as realidades individuais. Capaz de expressar o diálogo, a troca constante e recíproca entre o mundo objetivo e o mundo subjetivo das individualidades. Habitus é então concebido como um sistema de esquemas individuais, socialmente constituído de disposições estruturadas (no social) e estruturantes (nas mentes), adquirido nas e pelas experiências práticas (em condições sociais específicas de existência), constantemente orientado para funções e ações do agir cotidiano. Pensar a relação entre indivíduo e sociedade com base na categoria habitus implica afirmar que o individual, o pessoal e o subjetivo são simultaneamente sociais e coletivamente orquestrados. O habitus é uma subjetividade socializada (Bourdieu, 1992, p. 101). Dessa forma, deve ser visto como um conjunto de esquemas de percepção, apropriação e ação que é experimentado e posto em prática, tendo em vista que as conjunturas de um campo o estimulam (SETTON, Maria da Graça Jacintho. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea”, Rev. Bras. Educ., 2002, n.20, pp. 63).

 

1) Sobre o trecho I, retirado de Ilhas de História (1985), e o pensamento de Marshall Sahlins, marque a alternativa correta:

 

a) A partir de um episódio histórico, a chegada do Capitão Cook no Havaí, Sahlins irá concluir que a cultura tem um aspecto estrutural indiferente ao evento extraordinário.

b) Sahlins propõe analisar a chegada do capitão Cook no Havaí estando atento para como esse evento transforma negativamente a cultura tradicional havaiana.

Page 2: AP Teoria Antropologica

c) Sahlins observa como a chegada do capitão Cook é interpretada pela cultura havaiana e descobre que este evento estava de alguma forma previsto na estrutura daquela cultura.

d) A chegada do capitão Cook no Havaí é entendida por Sahlins como emblemática da separação feita naquela região entre estabilidade e mudança.

 

Comentário: a resposta pode ser encontrada na aula 8, sobre análise de Sahlins sobre Estrutura e História. Veja, por exemplo, o trecho: “Marshall  Sahlins  estudou  a  sociedade  hawaiana  por  meio  do  episódio da chegada dos europeus à ilha, principalmente as atividades do capitão Cook. Através  da  análise  da  interação  entre  europeus  e  hawaianos  e  entre  os próprios hawaianos depois da chegada dos europeus, o autor vai propor uma teoria da história, que articularia estrutura e evento. Enquanto o Estruturalismo concebia a contradição entre esses dois elementos, Sahlins vai integrá-los. Partindo do exemplo hawaiano, o autor propõe que toda transformação de uma cultura é também um modo de sua reprodução. Os hawaianos consideravam os seus chefes como pertencentes ao plano dos deuses. E quando os navios estrangeiros chegaram na baía, os europeus também foram considerados quase como deuses, como falavam os mitos de chegada de divindades  pelo  mar.  A  aura  atribuída  aos  europeus  acabou  por  rivalizar com o próprio status dos chefes havaianos. Isso significa que as formas culturais tradicionais abarcam um evento extraordinário reproduzindo a própria cultura, por meio de formas já constituídas. Assim, os europeus foram classificados segundo critérios já existentes na cultura havaiana”.

 

2) Sobre o trecho II e o conceito de habitus de Pierre Bourdieu, só não podemos dizer que:

 

a) Está dado no plano da consciência individual.

b) Quer conciliar mundo exterior e subjetividade.

c) Está intimamente ligado à práxis.

d) É entendido como um conjunto de disposições estruturadas e estruturantes.

 

Comentário: A resposta encontra-se no texto sugerido ao início da questão “Habitus é então concebido como um sistema de esquemas individuais, socialmente constituído de disposições estruturadas (no social) e estruturantes (nas mentes), adquirido nas e pelas experiências práticas (em condições sociais específicas de existência), constantemente orientado para funções e ações do agir cotidiano”. Também pode ser complementada pela leitura das aulas 3 e 4, sobre o pensamento de Pierre Bourdieu.

 

Page 3: AP Teoria Antropologica

3) Sobre as relações entre os trechos I e II, e, portanto, sobre as relações entre as teorias de Sahlins e Bourdieu, veja as afirmativas abaixo e depois assinale a alternativa correta, em que V é verdadeiro e F é falso:

 

I. Ambas as teorias são tentativas de unificar pólos que podem ser descritos como o da estrutura e da conjuntura.

II. O problema de se o evento impacta a cultura ou o mundo social e vice-versa está colocado em ambos os autores.

III. O tema da mudança social está presente em Sahlins mas não se coloca em Bourdieu.

IV. Ambos os autores trabalham com o termo cultura no mesmo sentido, quase como um sinônimo de estrutura social.

 

a) V-V-F-V

b) F-F-V-V

c) V-F-F-V

d) V-V-F-F

 

Comentário: a resposta pode ser depreendida de trechos como o da aula sobre Bourdieu que diz “Para ele,  existe  no  mundo  social  estruturas  objetivas  que  podem  dirigir, ou melhor, coagir a ação e a representação dos indivíduos, dos chamados agentes.  No  entanto,  tais  estruturas  são  construídas  socialmente  assim como  os  esquemas  de  ação  e  pensamento,  chamados  por  Bourdieu  de habitus. Bourdieu  constrói  essa  idéia  baseado  na  dialética.  Existem  as estruturas objetivas que podem determinar as representações e as ações dos  agentes,  mas  estes,  por  sua  vez,  no  seu  dia-a-dia,  também  podem transformar ou conservar as estruturas.” (aula 3). Ainda, dentro do pensamento de Bourdieu, “A teoria da prática admite que os objetos de conhecimento são construções, e o princípio dessas construções é o sistema de disposições estruturadas e estruturantes que se constituem na prática e que são orientadas por meio das práticas. Por sistema de disposições estruturadas, o autor quer dizer as formas e maneiras mais ou menos usuais com que as pessoas referenciam suas ações e pensamentos, vivenciadas no passado e colocadas como possibilidades de realização. Tais disposições também são estruturantes porque quando se realizam dentro de condições dadas, que limitam as possibilidades, se tornam princípios geradores e organizadores de práticas. A prática, então, é o lugar da dialética entre as disposições estruturadas – os modelos, idéias e ações orientadoras – e as estruturantes – os movimentos e pensamentos geradores de novas estruturas. A prática é guiada por um sistema de significados, influenciado pelas condições materiais existentes e, quando realizada, é criadora de novos significados dentro da situação em que está referendada. A prática é meio e fim, ao

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mesmo tempo” (aula 4). Também pode ser depreendida da aula sobre Sahlins que diz: “toda mudança prática também é uma reprodução cultural e toda reprodução cultural é uma maneira de transformar a estrutura. E essa dinâmica se dá por meio da ação e toda ação também é simbólica. A práxis e o signo são constituintes inseparáveis  de  qualquer  realidade empírica. Ao contrário de dicotomizar estrutura e evento, a relação entre conceitos culturais (estrutura) e a experiência humana (evento) é imbricada. A experiência social humana se apropria da realidade por meio de conceitos gerais (estrutura). E o uso desses conceitos sujeita-os a reavaliações quando colocados em movimento pelo contexto empírico (evento). A cultura se realiza na ação e só tem sentido porque está repleta de significados. O signo é ao mesmo tempo objeto histórico e representação abstrata, ele só acontece quando colocado no mundo empírico. Ao mesmo tempo, a práxis coloca os significados do signo sempre em risco, pois o rearranjo desses significados leva à mudança” (aula 08). Ainda, Sahlins “pontua que os homens não sobrevivem simplesmente atendendo às suas necessidades; eles sobrevivem de maneiras específicas e culturalmente determinadas. A produção de coisas não atende à prática da lógica de eficiência material, mas é uma intenção cultural, pois os homens para produzir coisas, precisam conceber essas coisas. (...) Para Sahlins, a produção é uma reprodução da cultura – os sistemas simbólicos – em um sistema de objetos. Os sistemas simbólicos sociais são as estruturas que guiam as ações dos homens”. (aula 07)

 

Agora, para responder às questões 4 e 5, veja a imagem abaixo e leia o trecho em seguida, ambos retirados da obra clássica de Bronislaw Malinowski,Argonautas do Pacífico Ocidental (1922).

 

 

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(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Argonautas_do_Pac%C3%ADfico_Ocidental) 

“O mais importante? Mantermo-nos afastados da companhia de outros homens brancos e num contato o mais estreito possível com os nativos, o que se pode ser realmente conseguido acampando nas suas povoações” (MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural,1976, pp.21).

 

4) Pensando na antropologia que ganhou espaço a partir dos anos 1980, através de Clifford Geertz e outros, pode-se dizer que ela criticava principalmente qual dos aspectos propostos pela antropologia clássica representada por Malinowski?

 

a) a realização do trabalho de campo prolongado.

b) a proposta de fusão entre antropólogo e nativo através da experiência de campo.

c) o método de aproximação do antropólogo com relação ao nativo.

d) a etnografia enquanto método.

 

Comentário: A resposta pode ser depreendida a partir da leitura da aula 12, sobre a reflexão de Geertz acerca do “ponto de vista do nativo”. Uma parte ilustrativa é o trecho “por meio da Antropologia Interpretativa, não é necessário  que  o  antropólogo  ‘torne-se  um  nativo’,  mas que ao decifrar seu código de significados, articule a dimensão local do discurso nativo com a dimensão teórica do cientista”. De qualquer modo, é importante retomar a aula completa.

 

5) Sobre o trabalho de alguns desses antropólogos considerados pós-modernos, marque a alternativa que corresponde à associação correta:

 

1. Clifford Geertz

2. Paul Rabinow

3. James Clifford

4. Michel Taussig

 

A. Experimentou um modelo de escrita polifônico como meio de dar voz aos povos estudados por ele.

B. Criticou fortemente a escrita etnográfica, entendendo que esta explicitaria uma relação de poder entre antropólogo e nativo.

Page 6: AP Teoria Antropologica

C. Refletiu sobre o ponto de vista nativo entendendo que o antropólogo só pode ser um intérprete da realidade que estuda.

D. Experimentou em sua etnografia uma mistura de materiais de ordens diferentes: relatórios, diário de campo, textos literários; visando a que o leitor tenha uma experiência sensorial.

 

a) 1-B, 2-A, 3-C, 4-D

b) 1-A, 2-D, 3-B, 4-C

c) 1-C, 2-D, 3-B, 4-A

d) 1-C, 2-A, 3-B, 4-D