antropologia do cuidar 4

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A DOENÇA COMO METÁFORA ANTROPOLÓGICA Existe uma antropologia cultural da doença e da saúde que tem por finalidade analisar as distintas formas de interpretar os processos de adoecer e de cura em distintos âmbitos culturas. A doença supõe uma mudança na vida da pessoa humana, uma mudança ou mutação que não se refere somente a estrutura somática do ser humano, mas também a sua integridade. Na esfera da antropologia filosófica que ate aqui se desenvolveu, a doença pode ser definida como uma alteração global da estrutura pluridimensional e plurirrelacional da pessoa, uma alteração que pode ser associada ao sofrimento ao longo do tempo.A doença altera profundamente a percepção da própria materialidade.Contudo, o adoecer, como processo antropológico, afeta fundamentalmente a interioridade do ser humano, ou seja, suas expectativas, seus valores, suas recordações, soas emoções,seus sentimentos mais íntimos, sua capacidade de argumentar e suas elaborações de caráter metafísico e transcendente. A doença o mundo afetivo e relacional, pois a pessoa doente e suas relações interpessoal se expressam de um modo diferente, ou seja, é entendida como metáfora, configura na historia do pensamento antropológico um tópico habitual na descrição da condição humana. Três perspectiva confluem para dar destaque a tal concepção do humano em termos de doença,porem em nossa concepção antropológica supõe uma alteração global na estrutura da pessoa , não é um risco definitivo para o ser humano, mas uma esperiência pela qual ele passa e que pode ser entendida a priori em vários sentidos analógico. O ser humano adoece, precisamente porque é vulnerável e seu ser não é autárquico ou autossuficiente, mas frágil e desagradável.A doença é uma espressao concreta,isto é, espacial e temporal, da vulnerabilidade ontológica do ser humano. Assim, a enfermidade ou a doença e o processo de enfermar ou adoecer são formas evidentes e tocantes da vulnerabilidade humana.Nesse sentido, o doente tem uma sabedoria que é conseqüência de sua circunstancia patológica.

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Existe uma antropologia cultural da doença e da saúde que tem por finalidade analisar as distintas formas de interpretar os processos de adoecer e de cura em distintos âmbitos culturas.

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Page 1: Antropologia Do Cuidar 4

A DOENÇA COMO METÁFORA ANTROPOLÓGICA

Existe uma antropologia cultural da doença e da saúde que tem por finalidade analisar as distintas formas de interpretar os processos de adoecer e de cura em distintos âmbitos culturas. A doença supõe uma mudança na vida da pessoa humana, uma mudança ou mutação que não se refere somente a estrutura somática do ser humano, mas também a sua integridade.

Na esfera da antropologia filosófica que ate aqui se desenvolveu, a doença pode ser definida como uma alteração global da estrutura pluridimensional e plurirrelacional da pessoa, uma alteração que pode ser associada ao sofrimento ao longo do tempo.A doença altera profundamente a percepção da própria materialidade.Contudo, o adoecer, como processo antropológico, afeta fundamentalmente a interioridade do ser humano, ou seja, suas expectativas, seus valores, suas recordações, soas emoções,seus sentimentos mais íntimos, sua capacidade de argumentar e suas elaborações de caráter metafísico e transcendente.

A doença o mundo afetivo e relacional, pois a pessoa doente e suas relações interpessoal se expressam de um modo diferente, ou seja, é entendida como metáfora, configura na historia do pensamento antropológico um tópico habitual na descrição da condição humana. Três perspectiva confluem para dar destaque a tal concepção do humano em termos de doença,porem em nossa concepção antropológica supõe uma alteração global na estrutura da pessoa , não é um risco definitivo para o ser humano, mas uma esperiência pela qual ele passa e que pode ser entendida a priori em vários sentidos analógico.

O ser humano adoece, precisamente porque é vulnerável e seu ser não é autárquico ou autossuficiente, mas frágil e desagradável.A doença é uma espressao concreta,isto é, espacial e temporal, da vulnerabilidade ontológica do ser humano.

Assim, a enfermidade ou a doença e o processo de enfermar ou adoecer são formas evidentes e tocantes da vulnerabilidade humana.Nesse sentido, o doente tem uma sabedoria que é conseqüência de sua circunstancia patológica.

A deficiência ou a indigência natural do homem constitui talvez a mais antiga e permanente observação na historia da antropologia filosófica desde o mito de prometeu ate o texto bibico de Genesis,caracteriza-se, diferentemente dos mamíferos superiores, antes de tudo PR seus defeitos e carência , os quais equivalem a um estado biológico de inespecialização, indiferenciação, inadaptação ou primitivismo.

A doença, pois, refere-se, sob o ponto de vista antropológico, a carência natural.Apesar disso, a doença é uma constante na vida dos seres humanos, pois também a cultura e a civilização, que tem forjado o ser humano com suas mãos para defende-se de suas carências naturais, por sua vez, novos fatores patológicos, novos perigos que produzem novas e modernas enfermidades.

A doença, sob uma orientação antropológica,relaciona-se também com a conflitividade cultural.O ser humano não é um ente fechado ou estático, mas natureza aberta que se desenvolve plenamente, não só sob a perspectiva material, mas também emocional.A doença, sob uma perspectiva antropológica, pode ter outro fundamento alem de carência natural e da excentricidade, a saber, a conflitividade cultural, isto é, a fricção entre culturas distintas em um mesmo sujeito, pode ser fermento de patologia.

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A experiência da doença se relaciona diretamente com a redução da liberdade exterior do ser humano.A doença, e sobretudo a dor, podem fazer com que o homem sinta sua corporeidade não como meio de liberdade, mas como instrumento de escravidão e de tirania.Sob esssa segunda perspectiva, a liberdade é um processo de liberação que se constrói lentamente ao longo do decurso vital e que se constrói lentamente ao longo do decurso vital e que esta intimamente relacionado com as experiências e vivencias de tipo biográfico.

Como episodio biográfico, a doença permite uma releitura do próprio projeto existencial sob uma perspectiva mais penetrante e transparente.O doente são é, de repente, o doente que aceita sua situação apesar das múltiplas limitações que tolera .Por outro lado, o doente não-são é incapaz de aceitar sua situação e expressa animicamente seu estado de rebeldia contra si próprio, contra a natureza e contra aqueles que o rodeiam.

A doença, pois, sob uma perspectiva antropológica global, tem um caráter eminentemente cultural e isso significa que a percepção da doença no seio da sociedade ou de uma comunidade difere profundamente em relação a outra por razoes simplesmente culturais e mitológicas.

A saúde se relaciona diretamente com a lógica da ser e não com a lógica de ter, ou seja, relaciona-se com uma total transparência entre exterioridade e interioridade, no âmbito de uma intersubjetividade alegre e aberta serenamente a questão de sentido ultimo.A visão sobre a realidade é diferente antes e depois da enfermidade.A experiência de adoecer que, de repente, é uma experiência de negatividade, de dependência, de dor e inclusive de isolamento do mundo social. A doença produz, do ponto de vista interior, uma mutação significativa do sentido habitual, e isso é possível no âmbito de uma relação interpessoal adequada e consciente do transtorno que sofre tal pessoa.

A dependência da própria corporeidade é um fenômeno conatural a experiência da doença. A pessoa doente, como já referido, não é dona de seu corpo, mas converteu-se em servente de seu corpo.Por ultimo, durante a experiência da doença, o enfermo focaliza sua atenção na zona de dor. A experiência da corporiedade é muito mais intensa na doença do que na saúde, no sofrimento do que no prazer.

O sofrimento não é alheio a vida humana, mas está completamente presente nela ainda que sob formas e modalidades muito distintas.O sofrimento não é unívoco, tampouco equivoco, e sim, analógico.Isso significa que existem dinstintas formas de padecer, mas , para alem das diferenças formais, subsiste uma semelhança comum, uma raiz comum no sofrer.

Pode-se definir o sofrimento como a epifasia da vulnerabilidade,pois não apenas a enfermidade, mas todo o sofrimento, seja ele qual for, é a manifestação patente e exterior da vulnerabilidade humana. Sofrimento e doença se relacionam mutualmente, ainda que não necessariamente se identifiquem, ou seja, a doença leva, em geral, a um tipo de dor ou sofrimento, ainda que não necessariamente, pois uma pessoa pode estar doente e não se aperceber dos sintomas de tal patologia durante um determinado período, assim como pode não padecer de dor.

A experiência do sofrimento se relaciona diretamente com a experiência do mistérios do inexplicável., porem, a pergunta pelo sentido ultimo de sofrer, a interrogação pela razão ultima de dor humana constitui, talvez, a questão mais grave da existência humana.

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De cara, é necessário distinguir entre sofrimento e dor. A dor é, pois, um sofrimento de ordem somática, mas incide um modo determinante na estrutura global do ser humano e tem, por isso, conseqüências na ordem interior e na vida pratica e espiritual.Não se deve identificar o mal com o sofrimento, pois o sofrimento tem um caráter subjetivo.Ou seja, nem todo mal resulta necessariamente em sofrimento, pois para que exista sofrimento tem que haver um sujeito capaz de sentir, capaz de perceber.

Na arte de cuidar, a consideração de sofrimento intrapessoal é fundamental, pois só se pode cuidar adequadamente de um ser humano, se reconhece o duplo nível de padecimento, a saber, o sofrimento exterior e o sofrimento interior.Uma relação desequilibrada, caótica ou desordenada em uma relação e o fruto de uma má relação é o sofrimento interpessoal e de outro modo, o sofrimento interpessoal não tem sua Genesis no ser humano em si mesmo, mas no atrito com outro ser humano, na textura da relação, no inter.

O sofrimento natural não constitui uma novidade na vida do homem, mas depois da revolução industrial tem adquirido um peso e uma notoriedade extraordinária na historia dos homens.Tudo isso significa que cuidar de um ser humano é cuidar também de seu entorno natural.