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ndiceAntropologia Cultural.............................................................................................................................5 1. Apresentao..................................................................................................................................5 2. Introduo.......................................................................................................................................6 3. Objectivos Gerais...........................................................................................................................6 4. Objectivos cognitivos e educacionais...........................................................................................7 5. Plano temtico................................................................................................................................7 Unidade 1 A Antropologia Cultural: Introduo e definies preliminares.........................................................13 1.1 Introduo...................................................................................................................................13 1.2 Objectivos...................................................................................................................................13 1.3 O que a Antropologia?............................................................................................................13 A antropologia hoje......................................................................................................................14 O objecto de estudo da antropologia............................................................................................15 A crise do objecto de estudo da antropologia..............................................................................16 O que fazem os antroplogos?.....................................................................................................17 A antropologia: cincia ou arte?..................................................................................................18 A antropologia como espelho para a humanidade.......................................................................20 1.4 A Antropologia e os seus campos de conhecimento.................................................................20 1. 5 Etnografia, Etnologia, Antropologia........................................................................................23 1.6. Os enfoques sectoriais..............................................................................................................24 1.7 Relao entre a Antropologia e a Educao..............................................................................25 1.8 Relao da Antropologia Cultural com as outras cincias humanas e sociais..........................27 A Antropologia e a Psicologia.....................................................................................................31 A Antropologia e a Sociologia.....................................................................................................32 A Antropologia e o Direito..........................................................................................................34 A Antropologia e a Histria.........................................................................................................35 A Antropologia e a Filosofia........................................................................................................37 Actividades.......................................................................................................................................38 Unidade 2 Mtodos e princpios do mtodo de Antropologia Cultural................................................................39 2.1 Introduo...................................................................................................................................39 2.2 Objectivos...................................................................................................................................39 2.3 O processo de uma investigao antropolgica........................................................................39 2.4 O mtodo etnogrfico: o trabalho de campo..............................................................................42 A inveno do trabalho de campo................................................................................................43 O trabalho de campo como mtodo.............................................................................................46 Traos do trabalho de campo antropolgico................................................................................47 A etnografia e o mtodo comparativo..........................................................................................49 A trabalho de campo e a entrada no terreno................................................................................49 2.5 Tcnicas de investigao antropolgica....................................................................................50 2.6 A observao participante..........................................................................................................59 2.7 Os discursos emic-etic...............................................................................................................61 2.8 O antroplogo em contextos urbanos.......................................................................................61 2.9 A tica do trabalho de campo.....................................................................................................63 Exerccio de descrio etnogrfica..............................................................................................63 Actividades.......................................................................................................................................64 6. Qual deve ser a conduta do antroplogo, como pesquisador?.........................................................64

1

Unidade 3 O Pensamento antropolgico...............................................................................................................65 3.1 Introduo...................................................................................................................................65 3.2 Objectivos...................................................................................................................................65 3.3 Os primrdios da antropologia..................................................................................................66 3.4 Evolucionismo ..........................................................................................................................69 Antroplogos evolucionistas:.......................................................................................................70 Viso crtica do evolucionismo....................................................................................................74 3.5 O Difusionismo..........................................................................................................................76 3.6 O particularismo histrico..........................................................................................................77 3.7 Escola de Cultura e Personalidade ...........................................................................................79 3.8 O Funcionalismo.......................................................................................................................80 A introduo dos estudos de campo............................................................................................81 O conceito de funo....................................................................................................................82 3.9 O neoevolucionismo, a ecologia cultural e o materialismo histrico......................................83 O Neoevolucionismo....................................................................................................................83 A Ecologia Cultural......................................................................................................................84 O materialismo cultural................................................................................................................85 3.10 O estruturalismo francs..........................................................................................................86 Outros antroplogos estruturalistas franceses.............................................................................88 3.11 Antropologia em frica e em Moamique.............................................................................98 A Antropologia colonial...............................................................................................................98 A Antropologia no ps-independncia, em Moambique.........................................................102 A Antropologia no ps-independncia, em Moambique.........................................................102 Antropologia em frica e no chamado Terceiro Mundo..........................................................116 Actividades.....................................................................................................................................119 Unidade 4 A cultura e as Culturas.......................................................................................................................121 4.1 Introduo.................................................................................................................................121 4.2 Objectivos.................................................................................................................................121 4.3 Cultura e Sociedade.................................................................................................................121 Sociedade....................................................................................................................................122 Relaes sociais..........................................................................................................................122 Cultura .......................................................................................................................................123 Holismo......................................................................................................................................123 4.4 A noo antropolgica da Cultura..........................................................................................124 4.5 Caractersticas da noo antropolgica de cultura..................................................................127 A Cultura aprendida................................................................................................................127 A Cultura simblica.................................................................................................................130 A Cultura submete a natureza ..................................................................................................131 A Cultura geral e especfica (Cultura Culturas)..................................................................132 A cultura inclui tudo...................................................................................................................132 A cultura partilhada.................................................................................................................132 A cultura est pautada................................................................................................................133 A gente utiliza criativamente a cultura......................................................................................133 A cultura est em todas as partes...............................................................................................134 4.6 A Cultura material e imaterial ................................................................................................137 4.7 A noo sociolgica e a noo esttica do conceito de cultura..............................................139 4.8 O contedo do conceito antropolgico de cultura...................................................................141 As crenas e as ideias.................................................................................................................142

2

Os valores...................................................................................................................................143 As normas culturais....................................................................................................................144 Os smbolos................................................................................................................................144 4.9 Os universais da cultura..........................................................................................................147 4.10 A mudana cultural...............................................................................................................151 4.11 A mudana social..................................................................................................................154 Qual o peso da estrutura e qual o da aco social na mudana?...............................................154 Actividades.....................................................................................................................................160 Unidade 5 Identidade Cultural.............................................................................................................................160 5.1 Introduo.................................................................................................................................160 5.2 Objectivos.................................................................................................................................161 5.3 identidade e alteridade: paradigmas.........................................................................................161 Resposta essencialista, substantivista, psicologicista ou primordialista...................................161 Resposta Cognitivista.................................................................................................................163 Resposta Interaccionista, processual, situacionista e sociohistrica: .......................................164 5.4 A identidade como constructo relacional.................................................................................165 5.5 . A noo de raa e a ideologia racial......................................................................................168 5.6 Grupos tnicos e etnicidade....................................................................................................173 5.7 A percepo cultural dos grupos tnicos................................................................................177 Como se formam os esteretipos no interior das pessoas?.......................................................179 De onde nascem os esteretipos?...............................................................................................179 Como se mantm um esteretipo?.............................................................................................179 Como funcionam os esteretipos?.............................................................................................180 5.8 Modelos de convivncia intercultural .....................................................................................180 Modelo de integrao impossvel: Alemanha ..........................................................................180 Modelo da assimilao: Frana..................................................................................................181 Tolerncia pluritnica ou pluricultural: U.K. ...........................................................................181 5.9 O conflito identitrio...............................................................................................................183 Actividades.....................................................................................................................................185 Unidade 6 O Parentesco: organizao scio-poltica a clula e produo..........................................................187 6.1 Introduo.................................................................................................................................187 6.2 Objectivos.................................................................................................................................187 6.3 Definio do parentesco..........................................................................................................187 6.4 Grupos de parentesco..............................................................................................................188 6.5 Tipos de famlia.......................................................................................................................190 6.6 O Casamento...........................................................................................................................192 Tipos de casamento....................................................................................................................193 Padres de residncia ps-casamento........................................................................................196 6.7 Os sistemas de descendncia e herana .................................................................................197 Actividades.....................................................................................................................................198 Unidade 7 A Antropologia Econmica...............................................................................................................199 7.1 Introduo.................................................................................................................................199 7.2 Objectivos.................................................................................................................................199 7.3 Antropologia econmica.........................................................................................................199 7.4 A reciprocidade.......................................................................................................................201 7.5 A redistribuio.......................................................................................................................202 7.6 Intercmbio de mercado..........................................................................................................205

3

7.7 Modos de produo..................................................................................................................205 7.8 Caa, pesca e recoleo...........................................................................................................207 7.9 Pastorcia.................................................................................................................................208 7.10 Cultivo agrcola: horticultura e agricultura...........................................................................209 Horticultura................................................................................................................................209 Agricultura..................................................................................................................................209 7.11 A produo industrial............................................................................................................210 7.12 A sociedade ps-industrial....................................................................................................211 Actividades.....................................................................................................................................212 Unidade 8 Antropologia Poltica.........................................................................................................................214 8.1 Introduo.................................................................................................................................214 8.2 Objectivos.................................................................................................................................214 8.3 Introduo: poltica, poder e autoridade.................................................................................214 8.4 Os sistemas polticos nos bandos de caadores e recolectores...............................................219 8.5 Os sistemas polticos nos sistemas tribais..............................................................................220 8.6 Os sistemas polticos nas chefaturas.......................................................................................221 8.7 Os sistemas polticos nos estados...........................................................................................222 8.8 Rituais e ordem .......................................................................................................................224 Actividades.....................................................................................................................................225 Unidade 9 Antropologia da Religio...................................................................................................................227 9.1 Introduo.................................................................................................................................227 9.1 Objectivos.................................................................................................................................227 9.3 A Religio.................................................................................................................................227 9.4 Expresses da religio.............................................................................................................228 Animismo...................................................................................................................................228 Man e tabu................................................................................................................................229 Magia e religio..........................................................................................................................230 O Totemismo..............................................................................................................................232 Os mitos......................................................................................................................................233 9.5 Religio e cultura.....................................................................................................................234 9.6 Religio e mudana.................................................................................................................235 9.7 A religio e o tempo do calendrio..........................................................................................236 Actividades.....................................................................................................................................238 Bibliografia bsica..............................................................................................................................239

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Antropologia Cultural 1. Apresentao Nos encontros presenciais, os docentes privilegiaro aulas tericas expositivas: (conferncias), nas quais sero apresentados temas especficos com conceitos tericos e exemplos etnogrficos relacionados com os temas em questo. No decurso destas sesses, os estudantes adquiriro os textos bsicos de estudo, que compreendem um caderno de apontamenos e um outro com textos de apoio. O caderno de apontamentos este que o caro estudante tem nas suas mos. Nele encontram-se: O programa/plano de estudos, no qual constam os objectivos de aprendizagem da disciplina, as unidades temticas e respectivos contedos, a calendarizao do estudo dos estudantes e a indicao da bibliografia. Os apontamentos por contendo unidades os contedos O detalhados, caderno de organizados temticas.

apontamentos contm tambm indicao de actividades, em forma de questionrio, que o estudante dever resolver durante o tempo destinado ao estudo individual. O texto de apoio uma colectnia de textos de diferentes autores que tratam de temas especficos em estudo na disciplina. Tais textos complementam o caderno de apontamentos. O estudante dever utilizar estes dois instrumentos em simultneo. importante que o estudante leia os materiais, de acordo com a calendarizao que lhe proposta no caderno de apontamentos, porque se deixar que a matria se acumule pode no vir a ter tempo suficiente para estud-la na altura das provas escritas.5

2. Introduo Esta disciplina leccionada em todos os cursos em vigor na Universidade Pedaggica. Sendo uma disciplina de tronco comum, visa permitir a todos estudantes a aquisio de conhecimentos etnogrficos e scio-culturais do seu pas e, em especial, do continente africano. No fim do curso, o estudante ter a ferramenta necessria para conhecer o papel desempenhado pela Antropologia em frica, numa perspectiva scio-cultural. Estar tambm munido de conhecimentos para fazer a reflexo sobre os processos, fenmenos culturais, para a aco pedaggica efectiva e ser capaz de usar alguns elementos da educao tradicional na transmisso dos contedos cientficos e provocar uma revoluo epistemolgica. O estudante sociedades dominar os diferentes sistemas de filiao das moambicanas, as diferentes terminologias de

parentesco e seu valor sociolgico; saber diferenciar as noes de etnicidade, grupo tnico, categoria tnica, para alm de resolver os problemas de ordem social. ainda interesse deste programa munir os estudantes de conhecimentos sobre a importncia da ideologia na sociedade, a articulao entre a ideologia, reproduo da sociedade e o status quo social e, por fim, reconhecer o impacto da religio tradicional em frica e, em particular, Moambique. 3. Objectivos Gerais Reflectir sobre a unicidade do homem como bio-cultural, biopsquico e scio-cultural; Compreender a realidade social como um todo articulado; Conhecer processos e estruturas da construo social;6

Entender a diversidade social e cultural e a pluralidade e heterogeneidade dos homens e suas condutas. 4. Objectivos cognitivos e educacionais Contribuir para a capacitao dos estudantes com

conhecimentos bsicos sobre as diferentes etno-culturas existentes no pas, partindo de conceitos antropolgicos fundamentais e necessrios para esta compreenso, com vista a um melhor conhecimento de fenmenos scioculturais de Moambique. Contribuir para a construo duma sociedade intercultural, atravs da valorizao da diversidade do patrimnio cultural de Moambique, compreendendo que o conjunto destes valores uma das maiores riquezas do pas; Entender a pertinncia do cultivo das relaes mtuas entre a escola, famlia, comunidade e sociedade; Contribuir para a formao pessoal e social dos estudantes, futuros docentes; Reflectir sobre a necessidade duma sociedade intercultural que apele, no s ao entendimento das estruturas e factos sociais, mas tambm tolerncia e a um esprito de respeito que leve a uma interajuda entre os seres humanos. 5. Plano temtico Unidades temticas/Contedo s Calendarizao do estudo

Material de leitura

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1. A Antropologia Cultural: introduo e definies preliminares O que a Antropologia A Antropologia e os seus campos de conhecimento Etnografia, Etnologia, Antropologia Os enfoques sectoriais Relao entre a Antropologia e a Educao Relao da Entropologia Cultural com as outras cincias humanas e sociais 2. Mtodos e princpios do mtodo de Antropologia Cultural O processo de uma investigao antropolgica O mtodo etnogrfico: o trabalho de campo Tcnicas de investigao antropolgica A observao participante Os discursos emicetic O antroplogo em contextos urbanos A tica do trabalho

1)

1 a 11 de Agosto

Apontamentos, Unidade 1. 2) LIMA, Augusto Mesquitela, MARTINEZ, Benito & LOPES, Joo. Introduo Antropologia Cultural. 9 ed. Lisboa, Editorial Presena, 1991.

13 a 25 Agosto

1) Apontamentos, Unidade 1. 2) RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70, 2000

8

de campo 3. O Pensamento Antropolgico Os primrdios da antropologia Evolucionismo O Difusionismo O particularismo histrico Escola de Cultura e Personalidade O Funcionalismo O neoevolucionismo, a ecologia cultural e o materialismo histrico O estruturalismo francs Antropologia em frica e em Moamique 4. A Cultura e as Culturas Cultura e Sociedade A noo antropolgica da Cultura Caractersticas da noo antropolgica de cultura A Cultura material e imaterial A noo sociolgica e a noo esttica do conceito de cultura O contedo do conceito antropolgico de cultura Os universais da

27 deAgosto a 8 de Setembro

1) Apontamentos, Unidade 3 2) RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70, 2000 3) LERMA MARTINEZ, Francisco. Antropologia Cultural: guia para o estudante. 4 ed. Maputo, Paulinas Editora, 2003

10 a 22 de Setembro

1) Apontamentos, Unidade 4 2) MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia Cultural. 11 ed. Petrpolis, Vozes, 2004 3) HARRIS, Marvin. Canibais e reis. Lisboa, Edies 70, 1990

9

cultura A mudana cultural A mudana social 5. Identidade Cultural Identidade e alteridade: paradigmas A identidade como constructo relacional A noo de raa e a ideologia racial Grupos tnicos e etnicidade A percepo cultural dos grupos tnicos Modelos de convivncia intercultural O conflito identitrio 6. O Parentesco: organizao sciopoltica a clula e produo Definio do parentesco Grupos de parentesco Tipos de famlia O Casamento Os sistemas de descendncia e herana 7. A Antropologia Econmica Antropologia econmica A reciprocidade A redistribuio Intercmbio de mercado

24 a 29 de Setembro

1) Apontamentos, Unidade 5 2) LINTON, Ralph. O Homem: uma introduo Antropologia. So Paulo: Martins Fontes, 2000

1 a 6 de Outubro

8 a 13 de Outubro

1) Apontamentos, Unidade 6 2) RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70, 2000 3) LERMA MARTINEZ, Francisco. Antropologia Cultural: guia para o estudante. 4 ed. Maputo, Paulinas Editora, 2003 1) Apontamentos, Unidade 7 2) RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70, 2000 3) LERMA MARTINEZ, Francisco. Antropologia10

Modos de produo Caa, pesca e recoleco Pastorcia Cultivo agrcola: horticultura e agricultura A produo industrial A sociedade psindustrial Poltica, poder e autoridade 8. Antropologia Poltica Os sistemas polticos nos bandos de caadores e recolectores Os sistemas polticos nos sistemas tribais Os sistemas polticos nas chefaturas Os sistemas polticos nos estados Rituais e ordem 9. Antropologia da Religio A Religio Expresses da religio Religio e cultura Religio e mudana A religio e o tempo do calendrio

Cultural: guia para o estudante. 4 ed. Maputo, Paulinas Editora, 2003

15 a 20 de Outubro

1) Apontamentos, Unidade 8 2) RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70, 2000 3) LERMA MARTINEZ, Francisco. Antropologia Cultural: guia para o estudante. 4 ed. Maputo, Paulinas Editora, 2003 1) Apontamentos, Unidade 9 2) RIVIRE, Claude. Introduo Antropologia. Lisboa, Edies 70, 2000 3) LERMA MARTINEZ, Francisco. Antropologia Cultural: guia para o estudante. 4 ed. Maputo, Paulinas Editora, 200311

22 de Outubro a 3 de Novembro

6.

Avaliao

Aos estudantes sero aplicadas trs avaliaes: a primeira e a segunda sero exerccios escritos e a terceiraa ser um trabalho individual, de investigao independente. Em Dezembro de 2007 haver um exame final.

12

Unidade 1 A Antropologia Cultural: Introduo e definies preliminares 1.1 Introduo Esta a unidade temtica introdutria da disciplina de Antropologia Cultural. Nela so abordados contedos relacionados com conceitos de Antropologia, Etnografia, Etnologia, relao entre a Antropologia e Educao. 1.2 Objectivos No final desta unidade o estudante dever: Conhecer os termos e conceitos bsicos da antropologia. Ser capaz de contextualizar a antropologia nos campos do saber. Estar sensibilizado para uma perspectiva antropolgica. Relacionar a Antropologia e a Educao. Compreender a identidade da Antropologia Sciocultural em relao a outras cincias sociais. 1.3 O que a Antropologia? A origem etimolgica - A palavra antropologia deriva das palavras gregas logos (estudo) e anthropos (humanidade) e significa, literalmente, estudo da humanidade. Porm, a antropologia, na poca antiga, no era exactamente o que actualmente. Para os gregos e romanos, a antropologia era uma cincia dedutiva, isto , uma discusso baseada em dedues abstractas sobre a natureza dos seres humanos e o significado da existncia humana. O seu mtodo de verificao do conhecimento era o mtodo dedutivo, que consistia em chegar a uma concluso13

particular, partindo de premissas universais. Tratava-se, portanto, de um caminho que vai do geral ao particular. A verdade radicava no facto do particular ser uma parte mais do geral. Partia-se de uma teoria geral para testar hipteses (propostas de relaes entre variveis dados que variam caso a caso) derivadas dessa teoria. A antropologia hoje Podemos afirmar que a antropologia hoje: 1. 2. 3. O estudo dos seres humanos enquanto seres biolgicos, Uma forma de olhar a diversidade, uma atitude de Uma profisso na qual se aplicam conhecimentos,

sociais e culturais. sensibilidade e empatia face os outros. mtodos, tcnicas, sensibilidades e olhares para melhor compreender e lidar com o mundo. Em primeiro lugar, a antropologia uma cincia indutiva que formula concluses e abstraes sobre a natureza humana, tendo como base um conhecimento derivado da observao sistemtica da diversidade cultural humana. Este conhecimento serve, assim, para a construo de teorias que interpretam os fenmenos socioculturais. Estes conhecimentos, tal como os mtodos e as teorias da antropologia, servem para ser aplicados na melhoria das condies de vida das populaes estudadas. Em segundo lugar, a antropologia actual uma forma de olhar/perspectivar o outro e respeitar a diversidade sociocultural. Essa forma de olhar/perspectivar implica pensar a convivncia intercultural sem qualquer tipo de excluso ou

14

discriminao social. A antropologia desenmascara e desconstri a realidade para olhar desde o outro lado do espelho. Em terceiro lugar o antroplogo um profissional ...que estuda as culturas das diversas populaes em todas as suas manifestaes (tecnologia, sistemas de valores e crenas, organizao social) e as estruturas e modelos culturais em geral, com um mtodo interdisciplinar... (De la Fuente, 1998). O objecto de estudo da antropologia Os modos de vida de outras partes do mundo costumam fascinar, estranhar ou gerar uma viso extica. A antropologia oferece um conhecimento humano e comparativo do mundo e da sua diversidade cultural. Podemos estabelecer, relativamente ao seu objecto de estudo, os seguintes tipos de definies a antropologia: 1. Estuda os seres humanos em geral, e estabelece leis vlidas para o conjunto da humanidade. 2. Estuda os produtos e as aces dos seres humanos: comportamento social, costumes, cultura, rituais, parentesco, vida quotidiana, cultura material, tecnologia, etc. 3. Estuda grupos humanos ou culturas de todas as pocas e partes do mundo. 4. Estuda alguns tipos de sociedades: primitivas, pr-

industriais, simples, complexas, tradicionais, industriais, ps-industriais, no ocidentais, ocidentais...

SUJEITO: HU M

OBJECTO: HUMANOS15

A crise do objecto de estudo da antropologia Anteriormente, a antropologia era pensada como o estudo das sociedades Nesta sem escrita, essas etiquetadas, sociedades sob uma perspectiva evolucionista, como sociedades primitivas. perspectiva, coincidiam basicamente com as sociedades no ocidentais. O termo de primitivo foi, no entanto, abandonado devido sua notao pejorativa e ao falso binmio selvagem / civilizado. A partir de ento, a antropologia foi pensada como o estudo de pequenas comunidades camponesas, nas quais as relaes interpessoais e a falta de especializao econmica eram muito importantes, assim como a sua homogeneidade e o seu equilbrio internos. A antropologia virou-se assim para Ocidente. Posteriormente, a antropologia dos primitivos e dos camponeses passou a ser uma antropologia no e do espao urbano e do urbanismo. Desta forma, a antropologia passou a ser uma cincia que estuda qualquer problema sociocultural, em qualquer parte do mundo. Em sntese, actualmente, podemos pensar a antropologia como uma disciplina que: Estuda a cultura inserida num contexto social. Estuda a conduta humana e o seu pensamento, no seu contexto social e cultural. Estuda as semelhanas e as diferenas entre as culturas: o que nos faz iguais e o que nos faz diferentes, relativamente ao(s) outro(s).16

Estuda as formas de pensar, perceber e lidar com os mltiplos outros. O que fazem os antroplogos? Trabalho de campo: Recolhem dados sobre a cultura e descrevem fenmenos socioculturais. O trabalho de campo uma metodologia, inventada por antroplogos, que tem como base a integrao no grupo humano estudado e como objectivo a compreenso das suas pautas culturais. Neste contexto, a observao participante emerge como a tcnica de investigao fundamental, mas tambm como a atitude a adoptar. A antropologia no uma cincia do extico, praticada por acadmicos fechados numa torre de marfim: o antroplogo partilha muito tempo com as pessoas, a falar, ouvir, observar, gravar, participar, escrever, anotar, perguntar, etc. O antroplogo convive e partilha experincias humanas com as pessoas estudadas, como o objectivo de traduzir a sua experincia. Ler sobre a batalha de Normandia no o mesmo do que ter participado nela. Comparam culturas: Comparam culturas com outras culturas, descrevendo as suas semelhanas e diferenas . Interpretam as culturas: Interpretam a realidade humana, descobrem os seus sentidos e significados e criam teorias socioculturais. Exemplos: a garrafa est meio cheia ou meio vazia?; o movimento do olho, um tic ou um piscar de olhos a alguma pessoa?. Severo Ochoa distinguiu-se como um mdico, chegando a ser Prmio Nobel de Medicina. Durante a sua vida acadmica, reprovou a algumas disciplinas. O que que isto pode significar? a) que um mau aluno chegou a ser prmio Nobel; b) que um bom aluno pode reprovar...17

Aplicam

a

antropologia:

Aplicam

teorias,

mtodos

e

conhecimentos antropolgicos, para melhorar as condies de vida das populaes (aplicao e aplicabilidade da antropologia). A antropologia: cincia ou arte? A antropologia , para alguns, uma cincia social que enfatiza a objectividade, a observao sistemtica e a explicao. De acordo com esta perspectiva, a cincia entendida como um modo de conhecer e de gerar afirmaes sobre o mundo, mas tambm como uma forma de contrastar as afirmaes sobre a verdade do mundo. A cincia no , porm, o nico modo de produzir conhecimento sobre o mundo. Segundo Wallace (1980) os modos de produo de conhecimento podem ser classificados da seguinte forma: A) Modo autoritrio: Conhecimento por referncia aos

produtores, socialmente qualificados. Exemplo: velhos, bispos e professores. B) Modo mstico: Conhecimento que se baseia na referncia a um ser natural ou sobrenatural. Exemplo: profetas, mdiuns, deuses... Este tipo de conhecimento alcanvel atravs de rituais como o transe. C) Modo lgico - racional: Neste caso, a produo de conhecimento fundamenta-se em regras da lgica formal; i.e.: premissa A, premissa B, portanto, concluso C. a aplicao do senso comum. D) Modo cientfico: um processo que implica testar os enunciados, atravs da observao e dos dados produzidos, para alcanar generalizaes empricas e formular teorias.18

E se, para alguns, a antropologia uma cincia social, para outros a antropologia uma das Humanidades. Nesta perspectiva, a antropologia enfatiza a subjectividade, o relativismo cultural, a compreenso dos participantes e o significado que as aces socioculturais tm para as pessoas. O antropolgo faz parte da etnografia que observa: uma pessoa que estuda outras pessoas, um sujeito que estuda outros sujeitos humanos (objecto de estudo), o que implica uma inter-subjectividade na forma de produzir o conhecimento. Sob este ponto de vista, a antropologia pode ser considerada uma forma de arte. As leis da antropologia so diferentes das Cincias Naturais, aproximam-se mais do certum do que do verum. A antropologia pode atingir a objectividade? Podemos ser objectivos quando o sujeito de investigao a humanidade e o que esta tem de humano? As cincias sociais e as cincias em geral no esto isentas de valores e de subjectividades. Assim, por exemplo, um qumico pode aplicar a qumica para construir uma bomba atmica ou para curar o cancro. Portanto, no pode existir cincia sem conscincia e sem uma tica moralmente humanista. Outro exemplo o do construtor de futuro Bill Gates: Gates afirmou A traduo por computador s possvel a um nvel muito elementar. O imprescindvel exerccio de interpretao fica reservado aos humanos (Gates 1999). No caso das cincias sociais, estas no podem chegar a ser puramente e absolutamente objectivas. Todas elas podem utilizar ferramentas, mecanismos e instrumentos que objectivam a intersubjectividade e a produo de conhecimento sobre a realidade humana. Portanto, podemos afirmar que a antropologia19

uma cincia social que, s vezes, actua metodologicamente como se fosse uma arte. A antropologia como espelho para a humanidade A antropologia um espelho para a humanidade, isto uma cincia das semelhanas e das diferenas humanas (Kluckhon 1944: 9), que da resposta ao dilema da convivncia intercultural entre pessoas com modos de vida diferentes. Esta preocupao pela diversidade humana uma das chaves da antropologia, pois ao observarmos os outros podemos ver-nos, mais claramente, a nos prprios. 1.4 A Antropologia e os seus campos de conhecimento As diferenas entre os vrios campos da antropologia baseiam-se, essencialmente, nos objectos de estudo e problemticas de anlise, mas tambm no que concerne s teorias, mtodos de estudo e tradies acadmicas concretas. A. Antropologia Filosfica. O seu objecto de estudo a pessoa humana como ser genrico; aquilo que as pessoas tm em comum. Estuda generalidades e utiliza conceitos muito abstractos. O seu mtodo geralmente introspectivo: dedica-se ao interior da pessoa humana e trabalha sobre o conceito do conceito. B. Antropologia Fsica. Estuda a evoluo biolgica humana, isto , a relao entre a evoluo biolgica e a cultural; utiliza mtodos como a paleoantropologia (estudo dos antepassados humanos; uma tentativa de desvelar a evoluo biolgica dos humanos, desde o primeiro momento do aparecimento dos primatas fsseis at aos nossos dias), a antropometria (medies humanos) ou a raciologia (classificao das raas20

anatmicas), a anatomia comparativa (estudo comparativo de

humanas). Actualmente, utilizam mtodos prprios da gentica molecular para distinguir aos primates dos humanos. Nos E.U.A., e relativamente a este uso da gentica molecular, os antroplogos fsicos preferem ser chamados antroplogos biolgicos. C. Antropologia Sociocultural. Estuda as diferenas entre humanos e animais (os humanos criam e tm culturas). C.1. Antropologia Cultural. uma terminologia norte-

americana. O seu fundador Franz Boas, um alemo emigrado aos E.U.A. que converteu a musestica (etapa prvia antropologia cultural) norte-americana em cincia. Boas formou-se numa escola neokantista e o seu esquema terico de referncia o da Ilustrao. A Ilustrao da Alemanha reage, teoricamente, ao mundo medieval (teocentrismo: Deus centro de todo), e prope como alternativa o antropocentrismo (o humano como centro do mundo). O objectivo era ultrapassar os esquemas das crenas para chegar aos esquemas da razo. preciso converter o ser humano num ser cientfico. Para a Ilustrao alem o ser humano duplo: a) Por um lado, comparte caractersticas biolgicas com o resto dos seres vivos. necessrio, portanto, uma cincia que estude os humanos como um animal, a antropologia fsica. b) Por outro lado, os humanos so capazes de elaborar coisas que os animais no podem criar: a linguagem, a tecnologia, smbolos, etc. Este conjunto de coisas que os humanos produzem e aprendem, enquanto membros de uma sociedade, aquilo que os alemes chamam

21

KULTUR (cultivar: algo que s podem fazer os humanos). O estudo da kultur a antropologia cultural. Quando Franz Boas chegou aos E.U.A., empenhou-se em divulgar estas ideias, definindo a antropologia cultural, no sentido de obras materiais e espirituais especificamente humanas. C.2. Antropologia Social. um termo que nasce no Reino Unido, depois de superar, igualmente, uma fase museolgica. Para os britnicos, a referencia no foi a Ilustrao, mas o francs Emile DURKHEIM que elaborou um modelo de pensamento de reaco Ilustrao. Segundo Durkheim, se queremos estudar os seres humanos, no podemos basearmos, exclusivamente, nos seus produtos, porque os produtos so determinados pela sociedade em que esses produtos so criados. Nada garante que os produtos culturais continuam a ter a mesma significao que tinham aquando da sua elaborao e utilizao. Portanto, no possvel estudar os produtos humanos sem estudar a sociedade que os gera. Caso contrrio, no teramos garantias de conhecer o sentido e significado desses objectos ou produtos culturais. A antropologia social britnica defendeu que era necessrio estudar, primeiramente, a sociedade, para depois fazer uma anlise dos produtos humanos (kultur). Esta perspectiva sublinha mais alguns conceitos como os de: estrutura social, instituio familiar, formas de organizao poltica e econmica, controlo social, etc. Na actualidade, a diferena no existe na prtica, pois os antroplogos estudam tanto as relaes sociais, como os produtos culturais. A nica diferena que pode surgir relaciona-se com uma questo de ordem. Estamos perante o que denominamos por antropologia sociocultural.22

D. Antropologia Aplicada. A contribuio da antropologia, para as culturas que estuda, tem sido muito importante. O reconhecimento do seu servio pblico motivou a origem de uma outra subdisciplina, a antropologia aplicada que trata da aplicao de dados, teorias, perspectivas e mtodos antropolgicos para identificar, avaliar e resolver problemas sociais contemporneos. Algumas das suas reas so: a sade e a enfermagem; a planificao familiar; o desenvolvimento econmico; a animao sociocultural. Neste sentido, a antropologia aplicada estuda a cultura, para depois elaborar projectos de aco, interveno e mudana cultural, dentro de um sistema de referncia concreto. 1. 5 Etnografia, Etnologia, Antropologia De acordo com o antroplgo Claude Lvi Strauss (1992) h trs nveis de interpretao das culturas: 1. Etnografia: simples descrio e narrao da cultura. Etno: cultura, costumes,... Grafia: escrever, descreves,... Exige investigao de terreno com observao directa. A etnografia uma retrica que constri a realidade, a partir de uma reflexividade dialgica entre o antroplogo e os humanos estudados. 2. Etnologia: Nvel da procura de razes e comparaes de costumes e culturas. No se relega mera descrio dos factos. Etno: Costumes... Logia: razo, tratado de... Classifica povos, de acordo com as suas caractersticas culturais, e explica a distribuio de traos culturais. 3. Antropologia: Nvel de interpretao global e holstica (a totalidade da experincia humana: biologia, cultura, histria, economia...) dos fenmenos culturais.23

Estuda o comportamento sociocultural (ex.: atravs de instituies como a famlia, os sistemas de parentesco, a organizao poltica, os rituais religiosos, etc.) de grupos humanos passados e presentes. Estuda as regularidades e regras culturais da vida em sociedade. Na realidade, estes trs nveis convergem e interagem. Mas, no que concerne ao processo de investigao, ensina-se os alunos que este se deve iniciar com a etnografia, seguindo-se a etnologia e, depois, a antropologia. Na Frana, o termo Etnologia e o termo Antropologia so sinnimos, embora esta acepo no esteja isenta de controvrsia: o antroplogo Claude Lvi-Strauss defendeu que estes conceitos no eram sinnimos, afirmando que a etnologia procurava estudar os sentidos de uma cultura de uma rea particular e que a antropologia procurava os sentidos dos comportamentos culturais comuns a toda a humanidade. 1.6. Os enfoques sectoriais Dentro da antropologia sociocultural, h uma srie de enfoques de abordagem ou subdisciplinas. Estes procuram estudar, em profundidade, algumas dimenses do comportamento humano: Os humanos vivem em meios ecolgicos diferentes que afectam aos comportamentos culturais. A subdisciplina que trata das relaes entre os humanos e o meio ambiente a Antropologia Ecolgica. Alm disso, os humanos necessitam produzir uma srie de bens para a sua subsistncia e consumo: esta a perspectiva da Antropologia Econmica.

24

Os humanos necessitam de regras e formas de organizao para viver: as regras e organizaes polticas so estudadas pela Antropologia Poltica. O mundo simblico e cognitivo estudado pela Antropologia Cognitiva e Simblica. 1.7 Relao entre a Antropologia e a Educao A antropologia possui um vasto potencial para o trabalho em educao. Os trabalhos de campo em que estas reas so relacionadas podem ser vinculados em diversas vertentes das quais podems destacar, pelo menos trs: Educao em Antropologia, Antropologia da Educao e Antropologia Educativa. Educao em Antropologia a que se desenvolve pela maioria das disciplinas cientficas que consiste na difuso em distintos nveis e modadlidades dos saberes produzidos pela Antropologia. Antropologia da Educao a que se relaciona com as

abordagens que a Antropologia pode realizar aos efeitos de conhecer melhor a realidade de mbito da educao, mediante a utilizao de marcos tericos, metodologias e tcnicas caractersticas, e a posterior reflexo sobre a informao obtida. Antropologia Educativa surge com vista a gerar um tipo de educao que incorpore no s conhecimentos provenientes da antropologia, seno tambm esse olhar antropolgico que permita aos educadores e educandos desenvolver saberes e prticas que superem as perspectivas habitualmented etnocntricas e/ou discriminatrias presentes em cada cultura. A Antropologia da Educao uma subdisciplina da antropologia cultural que resulta do interesse dos antroplogos pelos processos25

educativos. Por processos educativos entende-se como sendo aqueles mediante os quais cada grupo transmite a sua cultura, ou seja, processos de transmisso da cultura. Assim sendo, a antropologia da educao constitui-se a partir da preocupao do antroplogo pela cultura (objecto de estudo da antropologia cultural) e, consequentemente, pela forma em que esta se transmite e se adquire de gerao em gerao. Poder-se-ia definir, ento, como o estudo antropolgico dos processos de ensino e aprendizagem da cultura. As trs reas actuam como marco quando se procura implementar aces que buscam alcanar alguns dos seguintes: Contribuir ao conhecimento da Cultura atravs de uma viso Antropolgica. Criar espaos de trabalho a favor do entendimento, o respeito e a aceitao das diferentes culturas. Investigar e difundir temticas da nossa cultura e sociedade. Diligenciar projectos artstico-culturais para a promoo de artististas e espctaculos locais. Implementar projectos e actividades educativas em diferentes reas do meio. Assessorar e apoiar projectos educativos provenientes de centros de ensino. Inovar em matria de actividades museolgicas, incorporando espaos educativos e novas metodolgicas na abordagem de temticas propostas. A Antropologia da Educao uma subdisciplina da antropoloia cultural que se justifica no interesse dos antroplogos pelos26

processos

educativos.

Esses

processos

so

entendidoscomo

aqueles mediante os quais cada grupo transmite a sua cultura, ou seja, processos de transmisso da cultura. Assim, a antropologia da educao constitui-se a partir da preocupao do antroplogo pela cultura (objecto de estudo da antropologia) e, consequentemente, pela forma em que esta se transmite e se adquire de gerao. Poder-se-ia, ento, definir a Antropologia da Educao como o estudo dos processos de ensino e aprendizagem da cultura. No estudo da Antropologia da Educao, uma das questes que se coloca tem a ver com o para qu conhecer a escola. A perspectiva de responder a esta questo indica a necessidade da criao da capacidade para precisar os limites razoveis das transformaes, bem como o trabalho activo na direco do reconhecimento das contradies. 1.8 Relao da Antropologia Cultural com as outras cincias humanas e sociais O estatuto epistemolgico das cincias humanas e sociais As Cincias Sociais aparecem, enquanto exerccio profissional, no sec. XIX. Este aparecimento no se d por acaso, uma vez que nessa altura que se consolida a sociedade burguesa e a modernidade e que aparecem novos problemas na relao entre o indivduo e o grupo. As Cincias Sociais e Humanas tm em comum a relao entre sujeito (humano) e objecto (humanos) de estudo, o que implica falar de um estatuto epistemolgico prprio, diferente do das cincias naturais. Esta postura no se encontra, porm, isenta de um forte debate cientfico que remonta origem das cincias27

humanas

e sociais. Durkheim considerava que as cincias

humanas e sociais deveriam imitar as cincias naturais e considerar os fenmenos sociais como naturais. Esta perspectiva resume-se na expresso durkheimiana: os factos sociais como coisas (Durkheim: 1995). Autores como Dilthey (1839-1911), Max Weber (1864-1920) e Peter Winch defenderam, contrariamente, que as cincias sociais deveriam ter um estatuto epistemolgico prprio, porque a aco humana radicalmente subjectiva. Para estes autores, situados numa linha compreensiva, as cincias sociais devem compreender os fenmenos sociais, a partir das atitudes mentais e do sentido que os agentes conferem s suas aces. Da que devamos utilizar mtodos diferentes das cincias naturais, basicamente qualitativos e indutivos. Portanto, o autoconhecimento e o conhecimento intersubjectivos caracterizariam as cincias humanas e sociais, desde o ponto de vista epistemolgico. Dilthey chegou a afirmar que as cincias sociais devem centrar-se no nas causas dos fenmenos sociais, mas nas representaes, sentimentos e interpretaes dos mesmos. Karl Popper foi um participante importante neste debate: afirmou a inexistncia de oposio entre as cincias humanas e sociais. Para ele, a verdadeira oposio existe entre cincias emprica e os sistemas metafsicos. Ao contrrio da metafsica, a cincia caracterizar-se-ia por submeter as suas proposies e teorias falsidade (refutao). Embora esteja consciente de que a cincia sempre provisria, Popper reconhece o direito da mesma a procurar leis gerais. Esta validade limitada significaria pensar o conhecimento cientfico no como uma verdade irrefutvel e absoluta, mas como um conhecimento certum - validade limitada.28

Kuhn,

em

oposio

a

Popper, naturais)

distinguir das

as

cincias pr-

paradigmticas

(cincias

cincias

paradigmticas (as cincias sociais). Porqu? Segundo este autor, no existe um paradigma sobre a natureza humana que seja aceite por toda a comunidade cientfica. Isto significa uma clara diferena relativamente s cincias humanas e sociais pois, se bem que paradigmas como os de Newton ou os de Einstein (relativismo) tenham sido aceites por todas as cincias naturais, em cincias humanas, a diversidade de teorias e princpios sobre a natureza humana to ampla que no nos permite falar de paradigma. Paradigma entendido como o conjunto de teorias e princpios sobre a estrutura e a natureza das coisas; conjunto aceite, por unanimidade, por toda a comunidade cientfica. Sem entrar a fundo nesta discusso sobre pre-paradigmas e paradigmas (no este o objectivo desde tema), , porm, importante situar as cincias humanas e sociais, nomeadamente a antropologia na organizao da produo social do saber. A postura, mais ligada ao conhecimento humanstico

compreensivo, a seguinte: 1. Temos que reconhecer que existem outras formas de conhecimento arte, poesia, literatura, fotografia. com legitimidades diferentes. 2. A realidade constri-se socialmente atravs de processos histricos. 3. Os humanos so seres significantes, que dotam de sentido tudo o que fazem, pensam e dizem. Os objectos so conhecidos, atravs da meditao do sujeito e da sua linguagem.29

4. A verdade absoluta no existe, apenas existem algumas certezas certum. Isto no significa que se pode controlar, cientificamente, a subjectividade caracterstica das cincias humanas. 5. Todo conhecimento cientfico est exposto a princpios ticos e valores. Os resultados de uma investigao cientfica deveriam responder a duas questes: para quem servem? para qu? No tm o mesmo valor tico o qumico que trabalha na criao de uma bomba atmica e o que trabalha para descobrir uma medicina que cure o cancro. 6. impossvel publicar um livro de cincias sociais que no influa, dalguma maneira, na sociedade. 7. Qualquer realidade social no pode ser entendida apenas atravs da quantificao matemtica. Questes como a felicidade, a tristeza, a dor, os sentimentos, os afectos no podem ser reduzidos a uma quantificao. O que distingue as cincias humanas e sociais , portanto, o seu estatuto epistemolgico prprio. No entanto, a relao intersubjectiva com o objecto de estudo tambm pode determinar algumas diferenas. Braudel (1976) afirma: O que muda o observatrio, a paisagem sempre a mesma. Qual o papel e o estatuto da antropologia em relao s outras cincias sociais e humanas? Anedota: -Qual a diferena entre um antroplogo, um socilogo e um jornalista? -Resposta: O antroplogo anda a p ou de bicicleta, o socilogo sempre de carro e o jornalista de avio.

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A anedota anterior pode representar, metaforicamente, as vrias abordagens metodolgicas que as diferentes cincias humanas e sociais apresentam, em relao ao seu objecto de estudo. Mas, na prtica, produz-se um entrecruzamento Muitas de mtodos e emprstimos terico-conceptuais. subdisciplinas

comunicam intensamente entre si. A Antropologia e a Psicologia No seguinte quadro, podemos observar, detalhadamente, a relao entre a antropologia e a psicologia: Indivd Sociedade uo Indivd Psicolo Psicologia Social uo gia Socied Sociologia e ade Antropologia Social Cultura Cultura Antropologia Psicolgica Antropologia Sociocultural e Sociologia Antropologia Cultural

Antropologia A realidade social assenta numa realidade psicolgica e biolgica bioqumica-. O humano no se reduz s ao psicolgico (ex.: atraco sexual entre duas pessoas). Experiencialismo. Estuda como o cultural e o social modelam o psicolgico e vice-versa. Facto social total (Marcel Mauss). A antropologia pratica uma integridade na anlise sociocultural. O biolgico um aspecto humano com sentido, que actua, atravs da cultura na sociedade.

Psicologia Identifica os traos psicolgicos do indivduo e explica os processos e mecanismos psquicos intraorgnicos. Conceitos: impulso, represso, reflexos, condicionamentos, ego, personalidade, motivao... Mtodo: experincias de laboratrio, testes psicomtricos, ... A psicologia experimental tenta determinar as bases psicolgicas da conduta individual. Tenta descobrir um humano abstracto existente em todas as culturas.31

Choque cultural.

PSICOLOGIA SOCIAL: estuda como o psicolgico modela o social.

A Antropologia e a Sociologia Anedota: Um antroplogo capturado por uma tribo de canibais que o colocam numa panela gigante juntamente com batatas, sal, legumes... Pouco depois, o antroplogo grita: Mais batatas, mais legumes... (O antroplogo tinha comeado a comer tudo)

Antropologia Nasceu como uma espcie de sociologia dos outros e dos primitivos. Inicialmente pensada como uma microsociologia e uma sociologia comparada (Radcliffe-Brown). Tem uma epistemologia prpria. Os outros foram incorporados no ns e o objecto de estudo entrou em crise, diversificando-se. A antropologia no uma parte da sociologia: pensar desta forma seria uma ingenuidade. Os factos, estudados pelos antroplogos, no podem ser exclusivamente considerados sob uma perspectiva social. Ex.: a religio no cumpre, apenas, funes sociais:

Sociologia -Sociologia de ns e do nosso. -Os factos sociais explicamse em funo de outros factos sociais (Durkheim). -Objecto de estudo: 1. O comportamento social de um grupo humano, de acordo com as variveis: idade, sexo, profisso, classe, prestgio, papel, mudana,... 2. A sociedade em si mesma. 3. A sociedade em geral e as suas leis gerais. 4. A sua prpria sociedade. -Conceitos: estrutura social, relaes sociais... -Mtodos: inquritos, entrevistas (recorre mais aos mtodos quantitativos do que a antropologia) (utiliza32

1.

2. 3.

o problema no se esgota a. Objecto de estudo: Estuda a cultura humana e a forma como esta vivenciada, em sociedade. Estuda culturas e etnias, dentro da sociedade. Estuda culturas diferentes. Mtodos: observao participante; entrevistas em profundidade; comparao histrica e diversidade cultural; compreenso holstica, para desvendar aspectos essenciais da vida humana muitas vezes inconscientes. Estudos mais micro. Teorias e conceitos diferentes. Ex.: relativismo cultural, etnocentrismo,... Conhecimento dos outros e de ns mesmos. Finalidade: descobrir a natureza humana. Mais histrica. Deixa falar as pessoas, escuta-as e d-lhes voz. Implica um modo de estar com as pessoas. Tem em conta as teorias nativas.

com maior frequncia a observao exterior e os estudos macro). -Mais ahistrica presentista. e

-Muitos emprstimos conceptuais e tericos antropologia e vice-versa. Fala das pessoas seu nome. em

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Antropologia Interesse pelo qualitativo

Sociologia Mais interesse pela medio quantitativa.

Observao participante de Mtodo tpico do inqurito prticas declaradas e prticas estatstico, por questionrio efectivas fechado. Tcnica da objectividade oficial, comprovativa da separao entre sujeito e objecto.

A Antropologia e o Direito Antropologia e Direito Os primeiros antroplogos eram advogados. B. Malinowski: Crime e Costume na Sociedade Selvagem. Esta obra dedicada lei. Paul Bohanan: Tiv (Nigria). outra obra sobre a criao de leis na cultura tivs. A Antropologia e a Geografia Antropologia e Geografia As semelhanas entre estas duas disciplinas foram evidentes, desde Franz Boas, nomeadamente desde a publicao da sua teoria do determinismo geogrfico (inspirada em Ratzel) e do determinismo geogrficoclimtico. Boas aplicou esta teoria nos seus estudos sobre os esquims do Canad. As semelhanas destas duas cincias passam tambm pelo uso e criao de mapas, como representao do espao e do territrio. Os mapas e os relatrios geogrficos so apoios logsticos fundamentais na investigao antropolgica. Conceptualmente, so importantes os paralelismos entre rea cultural (Cf. Brown: 2001) e o conceito geogrfico de regio, mas tambm o de fronteira. Este ltimo conceito foi utilizado, pela primeira vez em antropologia, por Clark Wissler, em 1918, no seu34

estudo sobre a fronteira entre os colonos e os indgenas dos EUA. Em termos tericos, as influncias entre estas disciplinas foram mtuas, desde h muito tempo. Por exemplo, a teoria do lugar central do gegrafo Walter Christaller influenciou a antropologia. Em antropologia, a preocupao por uma anlise do espao est bem representada pelo antroplogo E.T. Hall que estudou a forma como as pessoas utilizam culturalmente o espao. As geografias ps-modernas, como por exemplo os trabalhos de Eduardo Soja, incidem muito na antropologia urbana. Apesar das semelhanas, tambm existem diferenas conceptuais, tericas e metodolgicas. O trabalho de campo antropolgico especfico da antropologia. A geografia tende a realizar, sobre o terreno, uma observao mais exterior dos fenmenos sociais. A Antropologia e a Histria Antropologia e Histria Os antroplogos evolucionistas e difusionistas (sculo XIX) fizeram uma histria especulativa e conjectural. Os antroplogos funcionalistas tenderam a excluir a histria e aproximaram-se da sociologia. A antropologia marxista recuperou a histria. Metodologicamente, h muitas aproximaes: trabalho de campo antropolgico e histria oral. Actualmente, os antroplogos tambm trabalham com documentao escrita. A Antropologia histrica trabalha com documentos e memrias orais. A Histria tende a dar maior importncia aos documentos escritos. A antropologia tenta compreender as relaes entre passado, presente e futuro, que podem convergir metaforicamente no presente. A histria tende a reconstruir, eventualmente, o passado. A antropologia interpreta as representaes do passado, as amnsias e os esquecimentos.

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Antropologia (Sec. XVI- Histria (Sec. XVI-XIX) XIX) Nasce do encontro do Sociedades civilizadas Ocidente com sociedades no ocidentais, selvagens, brbaras. Sociedades sem escrita, dominadas pela oralidade. Antropologia (Sec. XIX) Prticas culturais no ocidentais. Sobrevivncia das instituies que teriam existido na Europa, h sculos. (a Europa teria evoludo para a Civilizao). A antropologia estudava o exotismo da ndia, do Japo e da China. Histria (Sec. XIX) Estudava a civilizao europeia ocidental (com modos de vida baseados no Estado e na escrita). Sociologia (Sec. XIX) Sociedades urbanas e industriais ocidentais. Tambm estudaria alguns aspectos das sociedades no ocidentais (urbanismo, indstrias, poder).

Segundo o antroplogo Maurice Godelier (1996: 13), as pontes entre antroplogos e historiadores foram feitas em trabalhos de etnohistria e antropologia histrica. Qual o trabalho do antroplogo, relativamente histria? Godelier (1996: 22) responde a esta questo: ... de vuelta a la prctica del antroplogo, cuya tarea consiste en reconstruir las genealogas, y a travs de las genealogas las historias de clanes y familias, y las historias de vida, ya sea de individuos ilustres o de hombres y mujeres ordinarios de los que h permanecido la memoria.36

Recordemos que, en funcin de cual sea la sociedad de la que tratemos, la memoria genealgica puede variar entre un mnimo de tres generaciones ms all de nuestro informante (es decir la generacin de sus abuelos y la de sus bisabuelos) hasta un mximo de quince. Pues bien, tres generaciones corresponden a cien aos, lo que significa que cuando un antroplogo desarrolla una investigacin no solamente se enfrenta a los acontecimientos contemporneos, sino que se sumerge en una duracin de ms de un siglo... H que considerar que, hoje, existe uma certa convergncia metodolgica, mas tambm uma necessria interdisciplinariedade. Segundo o antroplogo Ulf Hannerz (1979: 3-4), as fronteiras disciplinares no se devem tornar vacas sagradas. Persistem, no entanto, algumas diferenas, muitas vezes mais ligadas a identidades corporativas de organizao acadmica e profissional do saber, utilizadas para uma conquista dos mercados de emprego. A Antropologia e a Filosofia Para alguns autores, a origem da antropologia encontra-se na filosofia grega. Os contributos da filosofia foram e so muito importantes para a antropologia. A filosofia contribuiu para a reflexo sobre as condies de produo do conhecimento antropolgico, enquanto problema epistemolgico. A filosofia deu azo anlise antropolgica (por exemplo, a filosofia hermenetica de Gadamer - 1992). A filosofia tambm chamou a ateno da antropologia para a forma como os seres humanos pensam e apreendem. A filosofia deu um grande contributo para o psmodernismo. Sobre esta questo, recomendamos a magnfica obra do antroplogo Adolfo Yaez Casal (1996).37

A diferena entre antropologia e filosofia e antropologia tambm metodolgica, assim a filosofia tende a ser mais dedutiva e a antropologia mais indutiva e com base emprica. Actividades 1. Explique o termo Antropologia atravs . 2. Fale da gnese e evoluo da antropologia, como cincia sistematizada. 3. O que distingue a Antropologia das outras cincias sociais, tais como: a) A Histria? b) A Sociologia? c) A Geografia? d) O Direito? e) A Filosofia? 4. O que significam Antropologia? 5. A antropologia estuda o fenmino humano no seu todo, estuda o homem como um ser de relao e de coexistncia, nas suas dimenses biolgica, social e Cultural. a) Qual o objecto de estudo da Antropologia. b) Refira-se das tcnicas de colecta de dados em pesquisa antropolgica. 6. O que distingue a antropologia de outros ramos de saber? 7. Explique a relao que existe entre a Antropologia com a Educao.

os

termos

Etnografia,

Etnologia

e

38

Unidade 2 Mtodos e princpios do mtodo de Antropologia Cultural 2.1 Introduo Esta unidade temtica apresenta contedos relacionados com a investigao antropolgica. Aqui, voc ir familiar-se com a maneira como os antropolgos trabalham e para isso focaremos os seguintes contedos: antropolgica; Tcnicas de participante; antropolgica. 2.2 Objectivos Com esta unidade pretende-se que voc seja capaz de: Compreender o o mtodo etnogrfico como uma das investigao O processo de uma investigao antropolgica; A observao A escrita O mtodo etnogrfico ( o trabalho de campo); Os discursos emic e etic; O antroplogo em

contextos urbanos;

A tica do trabalho de campo e

caractersticas distintivas da antropologia. Ser capaz de reflectir e discutir sobre o trabalho de campo antropolgico como experincia distintiva da antropologia. Conhcer as tcnicas de investigao antropolgica.. 2.3 O processo de uma investigao antropolgica O processo de investigao antropolgica obedece a um modo de abordagem dos problemas socioculturais e s suas respostas. Toda investigao antropolgica obedece a um projecto de investigao explcito ou implcito, da a importncia de pensar e realizar um desenho da investigao. Este projecto deve adaptar39

se ao terreno e problema de investigao e no sempre ao contrrio ou de uma forma rgida. Destacar que o mtodo de investigao antropolgica particular da antropologia e distingue mesma, isto no quer dizer que a antropologia no partilhe com outras cincias a utilizao de determinadas tcnicas. Estas so algumas das especifidades do processo de investigao em antropologia: 1. Escolha da rea de estudo e da temtica ou abordagem. 2. Documentao e literatura sobre essa rea e a perspectiva terica escolhida. 3. Estudo da fala local, autorizaes, vacinas (ex.: contra a malria ou paludismo, febre amarela, ...), material necessrio, etc. 4. Traslado, contacto, convivncia, entrada no terreno. Projecto de investigao: 1 Perguntas de partida 2. Explorao: a) Reviso bibliogrfica. b) Entrevistas e reunies exploratrias. Nesta fase o objectivo encontrar pistas de reflexo, ideias e hipteses de trabalho, mas no verificar hipteses a priori, pois ainda no tem havido observaes sistemticas da problemtica de estudo. 3 Problemtica: Perspectiva terica: (i.e.: antropologia simblica e interpretativa) Quadros conceituais da investigao: (ex.: tempo linear, tempo cclico, actor, cenrio, bastidores, espao publico, espao privado, festa, catarse, estrutura social, ritual, performance,... ) 4 Construo do modelo de anlise: Articular conceitos e hipteses: indicadores componentes dimenses conceitos hipteses refutabilidade 5 Observao: a) Que observar?40

b) Em donde observar?: o campo de anlise (unidades de observao), a amostra c) Como observar? : instrumentos de observao (inquritos, ...) Desenhos brandos (mais indutivos): Baseados na etnografia (observao participante, trabalho com informantes chave) e em mtodos qualitativos. Melhor para contextos com obstruo, programas com metas menos definidas ou especialmente complexas e diversas, re- orientaes dos programas e circunstncias de rpida mudana. Desenhos duros (mais dedutivos): Com grupos controlados. Com programas de objectivos claros e medveis facilmente. Para produzir uma avaliao final. Investigao rpida para a tomada de decises (Uma investigao tardia uma mau investigao). 6 Anlise das informaes: interpretar os dados. 7 Concluses. No desenho da investigao fundamental a redaco de um projecto de investigao, pois o que no se escreve corre o risco de desaparecer. O projecto serve para orientar, definir e redefinir a investigao. muito importante fazer uma reviso crtica da bibliografia existente, podendo assim esclarecer o estado de conhecimento ou estado da arte sobre o assunto abordado. Devemos ler o que outros j escreveram sobre o assunto, sobre mtodos de investigao e de anlise, sobre teorias e modelos de anlise. Aqui abaixo podemos encontrar um pequeno guio para a redaco de um projecto de investigao:

Estrutura de redacco de um projecto de investigao 1 Introduo 2 Formular o problema de investigao41

3

4 5 6

7 8

2.1. Estado da questo 2.2. Modelo terico 2.3. Hipteses ou objectivos Contexto da investigao 3.1. Unidades de anlise 3.2. Contexto geogrfico 3.3. Perodo cronolgico estudado Esquema do trabalho Metodologias e tcnicas Planificao do trabalho 6.1. Plano de trabalho e calendrio 6.2. Membros da equipa de trabalho 6.3. Oramento Bibliografia Anexos

2.4 O mtodo etnogrfico: o trabalho de campo O trabalho de campo antropolgico o que diferencia a antropologia, o que o a sangue dos mrtires para a Igreja Catlica (Velasco e Daz de Rada, 1997). O trabalho de campo um mtodo de investigao sciocultural, um conjunto de procedimentos e regras para produzir e organizar conhecimento, e que integra (Velasco e Daz de Rada, 1997): a) Uma situao metodolgica que implica estranhar-se, ter curiosidade, descrever densamente, traduzir e interpretar a realidade sociocultural com a qual lidamos. Nesta situao de encontro com outros conhecemos os seus problemas, as suas percepes, o seu comportamento e os seus modos de vida nos seus prprios trminos. b) Um processo de conhecimento com base numa estadia no terreno, atravs da qual estuda os significados socioculturais no seu contexto.

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c) Uma experincia de contacto intercultural com o fim de conhecer a alteridade. Partimos da ideia de que h diferentes maneiras de fazer trabalho de campo. Portanto, o trabalho de campo antropolgico no uma simples tcnica de investigao ou um instrumento de recolha primria de dados, algo mais. A inveno do trabalho de campo O trabalho de campo tambm um ritual de passagem da tribo antropolgica que tem os seus heris e os seus mitos (ex.: mito fundador de Malinowski). Um dos primeiros antroplogos que aplicou o mtodo etnogrfico foi Lewis Morgan nos EUA, em concreto em 1859, quando estudou vrias tribos de Nebraska e Kansas. Na Inglaterra antroplogos como James Frazer (autor de O Ramo Dourado, 12 volumes) quando foi perguntado se alguma vez na sua vida fez trabalho de campo e se conhecera algum selvagem, ele respondeu: Deus me livre, nunca jamais,... . Apesar de que j Rivers propunha no seu Notes and Queries in Anthropology algumas recomendaes sobre como seguir os ciclos de vida da comunidade estudada o gnero monogrfico-, foi B. Malinowski (1973) quem sistematizou nos anos 1920 o mtodo etnogrfico de trabalho de campo, na sua obra sobre Os argonautas do Pacfico Ocidental. Malinowski (1973) converteu-se em uma espcie de heri para a antropologia e a sua obra Os Argonautas do Pacfico Ocidental num mito. Nesta obra, este traduz parte do trabalho de campo feito na Nova Guin, concretamente nas Ilhas Trobriand, donde viveu com os nativos durante dois anos, aprendendo a conviver com eles, a sua lngua e os seus costumes. As recomendaes que ele d sobre o trabalho de campo, foram muito importantes para a43

antropologia, convertendo o trabalho de campo num ritual de passagem da tribo antropolgica (Velasco e Daz de Rada, 1997: 19). Desta obra de Malinowski, o mito fundador do trabalho de campo, podemos destacar algumas ideias chave para reflectirmos sobre o trabalho de campo: Ver os dados como capazes de configurar uma teoria. Dar um esquema claro e coerente da estrutura social. Destacar as normas culturais. Estudar os fenmenos quotidianos e os extraordinrios. Um antroplogo deve expor que dados foram obtidos das suas observaes directas, e quais das indirectas. O antroplogo deve recolher os relatos dos informantes, documentos e dados de observao do comportamento. O dirio de campo um instrumento necessrio no qual devem constar: peculiaridades, repeties no comportamento, situar o acto nas suas coordenadas, descrever actores, espectadores, stio. Tambm necessrio participar na vida social. preciso ter em conta: a mentalidade, as conceies nativas, as formas de expresso, as ideias, os sentimentos, os mbiles, os actos impostos pela costume, ...Mas sobre todo o que sentem e pensam em quanto membros de uma comunidade determinada (Malinowski, 1973: 40). preciso citar as declaraes nativas, e aprender a lngua nativa. Apesar de que Haddon introduz o termo de trabalho de campo, derivado do discurso naturalista, na antropologia britnica, Malinowski descobriu uma nova forma de fazer trabalho de campo atravs do seu novo comportamento no campo. O seu primeiro trabalho de campo tinha sido tambm nas Trobriand, mas em Mailu. Neste terreno tinha seguindo o mtodo de recolha total da cultura do Notes and Queries, realizando um informe etnogrfico44

hsitorcista e evolucionista, uma etnografia de varanda com intrprete e entrevistas e uma estadia curta (2 meses) e superficial (Alvarez Roldn, 1994). No foi por acaso que Malinowski faz trabalho de campo nas ilhas Trobriand, pois ali tinha trabalhado o seu mestre, o antroplogo Seligman. No seu segundo trabalho de campo, o que depois o convertiria num antroplogo de prestgio, ele permanece em Kiriwina, onde muda a sua atitude no terreno, criando assim o que conhecementos como trabalho de campo malinowskiano (lvarez Roldn, 1994): 1. Longo tempo entre os nativos. 2. Investigao centrada em temas especficos. 3. Estudou o presente e no o pasado. 4. Aprendeu a lngua nativa.5. Observou a vida quotidiana e as instituies nativas.

6. Mudou o estilo da escrita etnogrfica. Parece ser que ficou nas ilhas Trobriand muito tempo pelo tipo de comunidade que encotrou, isto , materlinear e com chefaturas. Ser em Kiriwina onde elabore informes etnogrficos sincrnicos e funcionalistas (Malinowski, 1973). Em Kiriwina vai permanecer uma longa estadia e aprende a lngua nativa para entender o significado nativo, sem conformar-se com chegar a encontrar uma equivalncia verbal em outras lnguas. assim que Malinowski inventa o mtodo etnogrfico (lvarez Roldn, 1994) quebrando assim a anterior separao entre a recolha de dados e a teoria elaborada por outros, e convertendo o antroplogo num

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autoinstrumento de investigao (Velasco e Daz de Rada, 1997: 21). O trabalho de campo como mtodo Um mtodo um conjunto de princpios que orientam a seleco do objecto de estudo, a formao dos conceitos apropriados e as hipteses. Todo mtodo um caminho para chegar a algum stio de uma maneira certa. A metodologia um conjunto de procedimentos e regras para produzir conhecimento e est interligada com o enquadramento terico global. Portanto algo mais que uma tcnica ou um conjunto delas. As tcnicas de investigao so os procedimentos operativos e os instrumentos para produzir dados (i.e.: questionrios, Esses histrias de vida, para inquritos, entrevistas, etc.). dados servem

compreender os fenmenos, para captar as relaes entre os fenmenos e a intencionalidade das aces sem permanecer na parte exterior (s descrio de fenmenos). O mtodo dos antroplogos o trabalho de campo etnogrfico, atravs do qual se faz etnografia. De acordo com este mtodo, o antroplogo converte-se no principal instrumento de recolha de dados, por tanto uma inter-subjectividade entre observador e observado. A etnografia a descrio do comportamento, das ideias, das crenas, dos valores, dos elementos materiais, etc. quotidianos e espontneos de um grupo humano. A etnografia tem em conta 3 aspectos: O que as pessoas dizem. O que as pessoas fazem. O que as pessoas pensam que se deveria fazer.

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Como definimos mais acima, o trabalho de campo pode ser considerado como: a) uma situao metodolgica de encontro intercultural; b) um processo; c) uma experincia que diferena antropologia. Dai que possa haver diferentes formas de fazer trabalho de campo (Velasco e Daz de Rada, 1997: 18) e de a a necessidade de explicar as condies em que realizado o trabalho de campo e a produo de conhecimento. Enquanto processo de socializao secundria, o trabalho de campo obriga a deslocar-nos do nosso meio sociocultural, contactar com as pessoas, integrar-nos, aprender a sua cultura atravs do estranhamento e o apagar dos nossos preconceitos, para logo retornar e desenhar um espelho da nossa cultura. O trabalho de campo como processo metodolgico obriga-nos a descrever, traduzir, explicar e interpretar a cultura e as relaes sociais estudadas. A descrio deve ser densa (Geertz, 1987) e microscpica (Velasco e Daz de Rada, 1997: 48) para diferenciar os matizes de condutas, espaos e regras culturais e interpretar melhor os significados culturais. Da a importncia de utilizar o dirio de campo como instrumento de investigao. Explicar significa desenhar tendncias e regularidades da vida sociocultural que estudamos. Interpretar prende-se com uma viso da antropologia como uma das Humanidades ou das Artes pela sua forma de proceder e fazer. Interpretar descobrir a ordem estrutural da sociedade, captar os significados da realidade sociocultural para os diferentes agentes implicados nela. Traos do trabalho de campo antropolgico A etnografia a base da comparao entre culturas, e o seu objectivo representar a cultura. Podemos afirmar que a etnografia hoje uma fuso de horizontes, uma conversa47

intercultural sem imposies (Gadamer, 1978). A etnografia uma dialgica, uma conversa com o outro para fazer crescer a conscincia, no a unanimidade ou a verdade. A etnografia uma transvalorao, uma maneira de aprender a ver-se uma vez que olhamos os outros, voltar sobre nos prprios a mirada previamente informada pelo contacto com o outro. tambm uma ponte atravs da qual a informao passa de uma cultura a outra, um tipo de traduo (Todorov, 1988: 9-31). O trabalho de campo um requisito metodolgico que consiste em ir do distanciamento proximidade, para logo regressar da proximidade ao distanciamento e construr uma interpretao. O trabalho de campo um estado psicolgico prximo do namoro s vezes (Bux, 1995), mas tambm pode provocar angstias, ansiedades e cansaos fortemente humanos, como assim o reflecte o dirio de campo de Malinowski (1989). Alm mais o trabalho de campo pode ser pensado como um ritual de passagem da tribo antropolgica, uma experincia autotranformadora, um ritual de iniciao e um dobre choque cultural: nativizar-se e re-nativizar-se (Peacock, 1989: 95). O trabalho de campo est condicionado pela posio que o antroplogo ocupa nos sistemas polticos, sociais e econmicos (i.e.: centro, semiperiferia, periferia). Estas agendas, muitas vezes ocultas, devem ser estudadas e feitas conscientes para entender melhor a experincia de trabalho de campo. Esto ajudar-nos- a entender melhor o efeito rashomon (Heider, 1988; Cardn, 1988) em antropologia, isto , durante o nosso trabalho de campo no seleccionamos as vozes dos nativos e escolhemos algumas dentro da complexidade com a qual nos debruamos. Reflectir sobre as48

causas de por qu escoitamos mais umas do que outras obriganos a adoptar uma posio de reflexo e autoconscincia. A etnografia e o mtodo comparativo Para que uma etnografia seja boa deve ser necessariamente comparativa. Quatro so os planos que podemos estabelecer na comparao: 1. Comparao entre culturas. 2. Comparao temporal entre o passado e o presente, ou tambm entre dois tempos histricos. 3. Comparao entre dois teorias. 4. Comparao entre as ideias prvias e as ideias finais depois do trabalho de campo. A trabalho de campo e a entrada no terreno O antroplogo deve explicar aos estudados o que vai fazer, a durao do trabalho e a utilizao da informao. Para isso precisa de autorizaes e pensar nos limites ticos (privacidade, confidencialidade, anonimato, permisses para publicar, etc. ), negociar e ganhar-se a confiana da gente. Devemos pensar que podem ser precisas cartas, referncias, etc. Todas as instituies e terrenos tm porteiros. A entrada pode ser por cima ou por baixo; entrar por cima atravs de algum conhecido, importante ou de confiana para os estudados pode ser positivo, negativo ou neutro para o nosso trabalho (ex.: No igual entrar atravs de um presidente de Junta de Freguesia que atravs de um padre...). Tudo isto condiciona o terreno e os factores de produo de conhecimento mudam de acordo com os factores intersubjectivos, que so objectivados de alguma forma neste exerccio reflexivo que deve integrar os relatrios de investigao ao p da49

metodologia ou em relao com ela. Devemos ganhar-nos gradualmente a confiana dos estudados e ultrapassar a inibio com o tempo. Devemos tambm pensar no equilbrio da amostra de informantes; uma tcnica pode ser a da bola de neve, isto , um informante vai-nos levando a outro; mas noutros casos a amostra de pessoas com as quais trabalhamos devem ser pensadas em funo da sua representao face ao problema em estudo. Estes so alguns dos itens a considerar numa reflexo sobre a entrada num terreno: Por qu a escolha de: objecto de estudo, instituio-local de estgio, orientador? Como foi a entrada na instituio? (i.e.: pacincia, ansiedade, negociao do acesso, relaes e rituais com os porteiros, entrada por cima,...) Como ganhas-te a confiana das pessoas? Como foi a tua apresentao? Simpatias pelos estudados? Qual o teu papel ou papis na instituio de acolhimento? Qual a tua imagem? Qual a percepo que tinham de ti inicialmente? E agora? Qual o teu local (zona) de residncia? Condiciona as tuas observaes do problema de investigao? De que maneira? Qual a tua situao econmica? (i.e.: bolsa, estgio profissional, etc.) Qual a tua situao mental? Qual o grau de motivao para o trabalho? 2.5 Tcnicas de investigao antropolgica O antroplogo, alm da observao participante pode e deve utilizar outras tcnicas de investigao, com o objectivo de testar e comparar as informaes que obtemos. O propsito final ser sempre saturar a informao para garantir uma fiabilidade e50

legitimidade nas nossas anlises. Com o objectivo de melhor testar, fundamentar e legitimar o conhecimento antropolgico ideal ter em conta a seguinte triangulao:

ENTREVISTAS

OBSERVAO

DOCUMENTOS

A triangulao anterior permite tambm chamar a ateno sobre a necessidade de fazer uma antropologia histrica que permita compreender melhor os problemas estudados atravs da perspectiva histrica. Brevemente fazemos referncia a algumas de estas tcnicas e desenvolvemos algo mais profundamente a entrevista e a observao utilizadas.1.

participante,

porque

pensamos

que

so

mais

Notas de campo (caderno de notas ou de campo).

As primeiras impresses so muito reveladoras do impacto que outras culturas experimentam em nos. Estas notas adquirem maior importncia com o tempo. Estas notas devem incluir o lugar e o momento de observao, assim como o momento da escrita. As notas so um passo intermdio entre os dados e os relatrios etnogrficos.51

2.

Dirio de campo. um registo dirio da observao

participante, no qual se relata a experincia do antroplogo em relao com os estudados, o que dizem, o que fazem e o que pensam. uma forma de ordenao das notas e um instrumento de autodisciplina. Este um instrumento de controlo da investigao, pois nele reflecte-se como se produz o conhecimento, orientando a subjectividade e o papel do investigador no terreno. A origem dele est na literatura de viagens. uma informao relatada no momento em que acontece, que utiliza categorias de anlise (ex.: conceitos...). Um dirio de campo pode estar organizado seguindo critrios cronolgicos ou temticos. Nele integramse: Actividades do investigador. Acontecimentos. Conversas. Observaes. -Hipteses. -Interpretaes. importante colocar a data, a pessoa, o local, a idade, os sentidos e os contextos ou cenrios, para dar riqueza contextual e de significado.3.

Mapas

e

censos. de

Um certo

mapa

informa

sobre

a

distribuio

espacial

fenmeno,

localiza

uma

vivenda ou edifcio, descreve os princpios de organizao espacial de uma comunidade, etc. Neste sentido tambm podemos elaborar mapas de percorridos de pessoas durante o dia, mapas mentais de valorizao do espao, etc. Os censos informam sobre dos membros das unidades52

familiares, estes censos podem ser elaborados a partir de arquivos locais, mas muitas vezes no h e muito mais rpido utilizar informantes.4.

Genealogias. Informam sobre a distribuio familiar, as de parentesco, os vnculos familiares e

relaes

comunitrios, etc. No ano 1910 o antroplogo W. H. Rivers perguntava aos informantes: nome dos pais, nome dos filhos por ordem de idade, matrimnios e filhos deles, nomes dos pais da me e filhos dela. H pessoas entre os mais idosos que so verdadeiros especialistas nesta problemtica. Podem servir para prospectar os direitos de propriedade, as obrigas mtuas, as regras de residncia e matrimnio, a herana de ofcios, etc.5.

Histrias de vida. So relatos sobre a vida de uma

pessoa. Esse relato informa no s sobre a vida dela, porm tambm sobre a vida da comunidade e os