antÔnia lucivÂnia da silva - xiii encontro nacional de ... · alunos a reflexão sobre o...

16
Oralidade e Ensino de História: Uma experiência Pibidiana na Escola José Alves de Figueiredo ANTÔNIA LUCIVÂNIA DA SILVA O presente trabalho constitui-se de experiências de ensino de história na E.E.F.M. José Alves de Figueiredo situada na cidade de Crato-CE e foram desenvolvidas no ano de 2015 com 129 alunos de quatro turmas da educação básica ensino médio; intermediadas pelo PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), subprojeto História, através da Universidade Regional do Cariri. O eixo norteador das discussões foi a temática juventude, procurando proporcionar aos alunos a reflexão sobre o significado de ser jovem em diferentes tempos e espaços. As oficinas realizadas pelos bolsistas, alunos da graduação e orientados pela coordenação do projeto e supervisora, professora da instituição, tiveram como objetivo possibilitar aos alunos a compreensão dos conceitos básicos da História sejam eles: tempo, transformações, permanências e os jovens como sujeitos construtores da história; por meio das memórias dos mais velhos buscando por este caminho desenvolver a valorização da oralidade e dos saberes desses sujeitos guardadores de memórias. O tema geral norteador dos trabalhos no período de 2015, Cultura Juvenil, Novas Tecnologias e Ensino de História, foi debatido nos encontros semanais destinados à formação teórica tendo como principal bibliografia o livro História dos jovens da antiguidade à era moderna, organizado por Giovani Levi e Jean Claude Schmitt; o livro Sobre Educação e Juventude, de autoria de Zygmunt Bauman, dentre outras leituras..., com o intento de desenvolver capacidades intelectuais para a abordagem na escola, posteriormente partindo para o contato inicial com os alunos, apresentação da temática com oficinas que tiveram como intenção sensibilizá-los para a relevância do tema, sondar conhecimentos prévios e conhecer a multiplicidade juvenil. As fontes básicas que estão na construção deste trabalho consistem em cinco rodas de conversas no chão da escola com duas turmas de primeiro ano e duas de terceiro ano mediante as quais pessoas idosas da cidade foram convidadas para falar sobre suas juventudes dando URCA, cursando especialização em Ensino de História, suas Metodologias e Pesquisas. Supervisora do PIBID

Upload: phungmien

Post on 25-Jan-2019

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Oralidade e Ensino de História: Uma experiência Pibidiana na Escola José Alves de

Figueiredo

ANTÔNIA LUCIVÂNIA DA SILVA

O presente trabalho constitui-se de experiências de ensino de história na E.E.F.M. José

Alves de Figueiredo situada na cidade de Crato-CE e foram desenvolvidas no ano de 2015

com 129 alunos de quatro turmas da educação básica ensino médio; intermediadas pelo PIBID

(Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), subprojeto História, através da

Universidade Regional do Cariri.

O eixo norteador das discussões foi a temática juventude, procurando proporcionar aos

alunos a reflexão sobre o significado de ser jovem em diferentes tempos e espaços. As

oficinas realizadas pelos bolsistas, alunos da graduação e orientados pela coordenação do

projeto e supervisora, professora da instituição, tiveram como objetivo possibilitar aos alunos

a compreensão dos conceitos básicos da História sejam eles: tempo, transformações,

permanências e os jovens como sujeitos construtores da história; por meio das memórias dos

mais velhos buscando por este caminho desenvolver a valorização da oralidade e dos saberes

desses sujeitos guardadores de memórias.

O tema geral norteador dos trabalhos no período de 2015, Cultura Juvenil, Novas

Tecnologias e Ensino de História, foi debatido nos encontros semanais destinados à formação

teórica tendo como principal bibliografia o livro História dos jovens da antiguidade à era

moderna, organizado por Giovani Levi e Jean Claude Schmitt; o livro Sobre Educação e

Juventude, de autoria de Zygmunt Bauman, dentre outras leituras..., com o intento de

desenvolver capacidades intelectuais para a abordagem na escola, posteriormente partindo

para o contato inicial com os alunos, apresentação da temática com oficinas que tiveram como

intenção sensibilizá-los para a relevância do tema, sondar conhecimentos prévios e conhecer a

multiplicidade juvenil.

As fontes básicas que estão na construção deste trabalho consistem em cinco rodas de

conversas no chão da escola com duas turmas de primeiro ano e duas de terceiro ano mediante

as quais pessoas idosas da cidade foram convidadas para falar sobre suas juventudes dando

URCA, cursando especialização em Ensino de História, suas Metodologias e Pesquisas. Supervisora do PIBID

ênfase aos seguintes aspectos: juventude e família; juventude e escola; juventude e diversão;

juventude e namoro; juventude e política; juventude e religião; juventude e moda.

2

Tivemos como metodologia de trabalho; após ter sido tratado em sala acerca da

juventude, Memória, Identidade, construção da História, os jovens na História os saberes

advindos da oralidade...; o contato com idosos que previamente sabíamos serem significativos

como sujeitos guardadores de memórias e posteriormente a conversa tendo como base suas

memórias da juventude, sendo os estudantes peças fundamentais nestas atividades uma vez

que foram eles os principais mediadores da conversa com os convidados.

Como avaliação recorremos mais uma vez à oralidade sendo a última roda de conversa

um debate entre a supervisora, bolsistas e estudantes procurando instigá-los a demonstrar que

conhecimentos conseguiram desenvolver perante a estratégia do estudo da História pela

oralidade.

Fizemos uso da História oral compreendendo-a como uma possibilidade de

aprendizagem da História, estando cientes de que assim como as demais fontes, sejam:

escritas, fílmicas ou imagéticas, a História oral deve ser tratada como um documento, fonte, a

ser problematizada, evitando tomá-la como sendo em si mesma a História. Procuramos

instigar os alunos para o desenvolvimento da arte do ouvir contar, haja vista estarem imersos

em um mundo da instantaneidade onde pouco tempo se tem para dedicar ao ouvir e assim

deixando escapar saberes tão válidos quantos aqueles que se fazer representar por meio da

escrita ou mesmo por meio da imagem tão apreciada no contexto atual.

A oralidade na sala de aula:

Sabemos que os desafios de ensinar História aos jovens nesse contexto de extrema

valorização das tecnologias são cada vez maiores e que o exercício do ouvir e valorizar os

saberes dos mais velhos é cada vez mais escasso. No entanto, apesar de não podermos recusar

o uso das mídias modernas, entendemos ser necessário recorrer aos saberes orais, pois negá-

los, é ignorar parte significativa da História. Seria semelhante a jogar fora arquivos repletos

de fontes históricas. Ademais está inclusa a valorização das pessoas idosas, muitas vezes

vistas como ultrapassados e desprovidos de saberes quando são na verdade portadores de

memórias necessárias à construção dos saberes históricos.

No cotidiano escolar nos deparamos com jovens que apresentam dificuldades em lidar

com a disciplina de História por não perceberem para que de fato ela serve. Reclamam das

metodologias tradicionais e manifestam profunda inclinação pelo diálogo com os colegas.

Partindo desse contexto a equipe de bolsistas optou por desenvolver atividades que tomassem

3

os alunos como sujeitos centrais na construção do conhecimento fazendo uso do exercício da

oralidade por terem constatado esse interesse. Para tanto foram incentivados à realização de

entrevistas com seus pais e avós tendo por fim o conhecimento da juventude no passado a

partir das histórias dos seus familiares e de objetos de memórias por eles guardados.

As entrevistas seriam problematizadas em sala tornando-se assim material didático e

conhecimento histórico. No entanto, apesar das formações a eles ministradas, a maioria não se

reconheceu na atividade tendo somente alguns poucos, produzido as entrevistas de modo

bastante sucinto e primário, o que nos levou a mudar as estratégias. Muitos argumentaram ser

tarefa bastante difícil ou mesmo que não gostavam de conversar com pessoas idosas, pois

segundo eles tais pessoas falam em excesso.

Partindo desse problema levantamos a possibilidade de fazermos rodas de conversas,

devendo os próprios alunos indicar os possíveis convidados, ao que novamente se recusaram

por nenhum deles chegar a sugerir possíveis depoentes. Em virtude da questão os próprios

bolsistas contataram pessoas da cidade, considerados bons narradores, cabendo aos estudantes

elaborar um roteiro de perguntas a partir de suas próprias curiosidades acerca da juventude

dos entrevistados.

A equipe percebeu maior entusiasmo da turma na expectativa de poder conversar com

pessoas que a partir das memórias iriam narrar um passado vivido transformado em

monumento que tratado como fonte poderiam tornar a história em um conteúdo mais

palpável, haja vista os alunos poderem estar dialogando com testemunhas do passado.

Todavia, há que se ressaltar que “a entrevista não é a história, mas uma fonte a ser trabalhada,

analisada e comparada a outras fontes”. (ALBERTI, 2004: 46).

Nossas preocupações centrais nesse momento estavam em conseguir dar mais

significado aos conhecimentos históricos por meio de algo mais prático capaz de fazer os

alunos enxergar que a história é viva, é presente, é passado e é projeção de futuro. Perceber

que “os sujeitos construtores da História são líderes comunitários, empresários, militares,

trabalhadores anônimos, jovens que cultivam utopias [...]” (DELGADO, 2010: 55).

Entender de fato quem constrói a História e como ela é construída não é tarefa fácil.

Por mais que os livros didáticos e professores frisem isso, os discentes poucas vezes

enxergam a materialização desse discurso. Perceber-se como agente da história ainda é algo

distante, ficando muitos alunos na ilusão da História como verdade única e feita por poucos.

Quando proposto a pesquisar sobre sua própria história, age com descrença na validade desse

saber, ainda que afirme ser chato estudar somente a História de outros homens em tempos e

espaços que não o seu. Não obstante, “a experiência histórica do entrevistado torna o passado

4

mais concreto” (ALBERTI, 2004: 22) sendo por isso, atraente na divulgação do

conhecimento.

Concordamos com ALBERTI (2004), quando afirma que a história oral não é solução

para tudo. Entretanto, como experiência didática ajudou na compreensão dos conteúdos de

História facilitando a assimilação das temporalidades, as mudanças das vivências em

sociedades, os valores, jeitos de ser e de viver no mundo. Viver hoje é diferente de viver nos

anos 1940. 1950, 1960... Ser jovem hoje em muitos aspectos é diferente de ser jovem nas

décadas em que nossos entrevistados viveram suas juventudes, sendo que há também alguns

pontos de semelhanças. Desse modo, a história oral:

diversifica caminhos em direção ao conhecimento, porque valoriza a autonomia do

aluno e proporciona um aprendizado ativo, participativo e colaborativo. Ela

permite que o aluno não seja apenas um receptáculo de dados - e que passe a

condição de sujeito ativo, criativo, do conhecimento, o interesse do estudante pelo

objeto de aprendizagem tende a aumentar. (SANTHIAGO; MAGALHÃES, 2015: 10)

Proporcionar o contato do aluno com a história oral é permitir que ele tenha acesso ao

papel de construtor da História. É entrar em contato com o passado fazendo uso das memórias

dos narradores que assim como os documentos escritos, passam a ser tratados como fontes

históricas, documentos significativos para a compreensão do passado, porém com as questões

relativas ao presente tendo em vista ser a memória constantemente reatualizado a partir do

presente.

Para SANTHIAGO; MAGALHÃES (2015:15), o livro didático traz muitas imagens,

não havendo, porém nele espaço para a escuta e defendem ser a atividade de escuta um ato

enriquecedor para a formação do cidadão proporcionando atitudes de tolerância. Foi um ponto

sobre o qual refletimos bastante, o interesse dos alunos pela conversa em sala de aula, em

contraste com a pouca participação quando inicialmente propusemos as entrevistas com seus

pais, tios ou avós. Intencionávamos além dos objetivos centrais do projeto, estimular o

respeito aos mais velhos e criar uma relação de aproximação entre os alunos e seus familiares,

o que não aconteceu com êxito no início da proposta do trabalho com as entrevistas. Apesar

de diversas iniciativas dos docentes o uso do livro didático ainda ocupa lugar central, sendo

que ele pouco estimula à oralidade ao passo que é rico na utilização de imagens.

Da mesma forma que a escola ainda enfrenta grandes desafios relacionados à

capacidade de escrita o mesmo acontece com a habilidade da fala sistematizada e do exercício

do ouvir com a intenção de produzir saberes. Ainda há a valorização maior dos saberes que já

vem pronto, ainda que alunos e professores pouco se identifiquem com eles. Pensamos a

escola como um espaço capaz de favorecer a troca intercultural também muito rica. “Esse

5

método pode instituir pontes entre gerações, possibilitando um diálogo entre diferentes

sucessões geracionais ou entre membros de diferentes grupos”. (SANTHIAGO;

MAGALHÃES, 2015: 57) e por este artifício tornar válido em sala de aula os saberes

construídos a partir das memórias dos alunos, familiares e moradores das comunidades em

que vivem.

As rodas de Conversas:

Na segunda atividade com as convidadas, ambas cordelistas, Fátima Correia de

Almeda, professora e poetisa, 62 anos de idade e Josenir Amorim Alves de Lacerda,

cordelista, 62 anos de idade, esta iniciou com um cordel de sua autoria intitulado “de volta ao

passado”. Nessa obra, trabalha as transformações dos costumes citando nomes que quase não

se usa mais, objetos e formas de diversão que com o advento das novas tecnologias foram

caindo em desuso. Em sua fala afirma que a história vem dos ancestrais.

Segundo a narradora as paqueras eram mais lentas. O tempo demandado para a

conquista era de uma maior duração e tinha-se menos liberdade, pois havia todo um conjunto

de valores que limitavam as intimidades entre os pretendentes a namoros. Todavia ela não

lembra o passado com desprezo e negatividade nem tampouco o supervaloriza em detrimento

do presente. Sua visão é de extremo valor ao defender que o sentimento de felicidade era

grande mediante um simples olhar da pessoa desejada.

Primeiramente havia o flerte e estudo dos olhares e gestos para posteriormente iniciar

o namoro. Ao contar sobre seu passado, fala sobre como conheceu o esposo. Na época ela

tinha que esperar o período de oito dias, ocasião em que ia à missa, para olhá-lo de longe

enquanto ele a olhava e lhe vinha a mente a seguinte indagação: “quem é aquela meninona?!”.

Percebemos algumas transformações nos relacionamentos quando Josenir diz: “Os

jovens ficam com alguém e não sabem nem o nome da pessoa. Abraça, beija, e aí? Serve para

que, isso? Eu acho que a emoção é importante. Tem que haver um sentimento na história”.

Vimos no depoimento que o namoro vivenciado pela depoente a partir do seu contexto e lugar

social diferencia-se em parte das práticas de namoro experimentadas pelos alunos. Não

obstante, nas falas deles, apesar de concordarem que os namoros da contemporaneidade na

cultura em que vivem são mais liberais, nem todos concordam com a liquidez, como diria

BAUMAN (2013), dos relacionamentos amorosos. Temos aí uma permanência.

Havia uma preparação maior para o casamento. Para Josenir, “hoje, se conhece hoje,

se casa amanhã e se separa depois. O casamento era na intenção de ser feliz para sempre e até

6

que a morte separasse. A coisa mudou muito da nossa geração para a de vocês, foi uma

velocidade incrível que a gente se espanta como mudou. As pessoas procuravam viver. Hoje

se diz: ‘vamos casar! Se não der certo separa’. E não é assim. Tem que encarar com

sinceridade”.

Com esse depoimento pudemos identificar transformações, porém comparando com

outro depoimento é possível perceber que não havia um único modo de vida na mesma

sociedade, pois enquanto havia o discurso da pretensão do casamento para sempre e do

sentimento de amor entre os casais, é também citado os casamentos arranjados pelos pais que

em boa parte prezavam pelos interesses materiais como critério definidor das uniões de suas

filhas com futuros maridos. Josenir esclarece que o casamento por interesse perdura até hoje

ainda que muito disfarçado.

Fátima diz que já casou coroa, pois tinha 26 anos. Ressalta que havia e ainda há uma

cobrança da sociedade para com a mulher, exigindo dela o casamento. Reconhece que apesar

dessa permanência da “obrigação” do casamento e de ter filhos, hoje há uma quebra com essa

cultura uma vez que existem outras formas de realização da mulher através de uma profissão.

Ambas falam que mudou o conceito de casamento. Diz que antes, namorar um homem

desquitado era o fim do mundo. Até mesmo as amigas se afastavam de mulheres que

namorasse um homem nessas condições. A cobrança da virgindade feminina era condição

essencial até para os namoros. Lembram bem um ditado bastante utilizado na época “prendam

suas cabritas que meu bode está solto”. Era muito comum os casamentos entre primos.

Quando um rapaz se dirigia ao pai de uma jovem para pedir permissão de namoro, o pai fazia

um prolongado interrogatório a fim de tomar ciência acerca da idoneidade do rapaz e de seus

familiares.

Apesar de toda vigilância sobre o comportamento juvenil havia namoros escondidos e

raptos combinados. A moça era “roubada” pelo pretendente e levada para casa de uma família

que usufruísse de boa conduta moral perante a sociedade, com a incumbência de garantir a

honra da jovem até o dia do casamento. Uma vez a moça raptada, o que já configurava uma

afronta à família dela, o rapaz contraia a obrigação moral de se casar. Caso contrário à menina

e sua família teria a honra maculada.

As depoentes falam que as músicas que marcaram suas juventudes foram as da Jovem

Guarda, Chico Buarque, Os Mutantes... Os Pholhas, e consideram esquisitas as músicas

contemporâneas que fazem apologia à violência e desvalorização da mulher.

Na rua em que Josenir residia só tinha uma casa cujos proprietários possuíam

geladeira. Relata sua emoção mediante a aquisição deste objeto por seus pais. “Eu coloquei

7

água para congelar e quase não congelava de tanto que eu abria a geladeira. Eu chupava o

gelo como quem comia um manjar!” Eram poucas as residências que tinham televisão. O

povo se reunia para assistir.

Quando fala da escola, cita as comemorações cívicas do dia 7 de setembro, ocasião em

que se exigia muita disciplina e percebe haver hoje pouco amor à pátria. Nas falas houve uma

diferença com relação ao uso disciplinar da palmatória na escola. Enquanto Josenir diz que

não conheceu seu uso, Fátima diz ter sido vítima desse instrumento nas sabatinas de

matemática. As duas depoentes são contemporâneas, mas tiveram experiências diferentes

quanto à vivência escolar. Entretanto ambas abominam o recurso da palmatória. Para Fátima,

“era peia. Era palmatória. Deus me livre daquele tempo voltar”.

Houve muito interesse dos discentes pela moda. Citaram o uso do vestido tubinho,

calça boca de sino, saia curta... Quanto a esse ponto os alunos chamaram atenção para as

permanências ao afirmarem que hoje muitos modelos de roupas que foram moda na época dos

seus pais são modas na contemporaneidade.

Lamentam o fato de hoje as pessoas agirem mais rápido destinando pouco tempo para

o encanto. Até mesmo as crianças tem pouca oportunidade de idealizar o objeto pretendido,

pois os pais fazem rápido esforço para proporcionarem aos filhos a realização dos desejos. Na

oportunidade Josenir relata seu desejo de ganhar uma bicicleta quando criança, objeto o qual

nunca veio a possuir. “Eu aprendi a andar de bicicleta numa bicicleta alugada. Eu não esqueço

nunca a emoção”.

Quanto aos comportamentos na cidade de Crato, respondendo às indagações dos

alunos, diz que existiam bordéis, sendo o de Glorinha um dos mais famosos por lá estarem as

mulheres mais bonitas e era muito voltado para os clientes de maior status e poder aquisitivo.

Esses lugares era como se fossem o outro lado. As mulheres dos bordéis se vestiam diferente.

Existia preconceito. Elas eram o outro lado. Essas mulheres, no dizer das entrevistadas,

“respeitavam”. Não ultrapassavam para o outro lado, havendo uma segregação. Já os motéis,

estes não existiam, pois esse espaço é mais voltado para algo mais particular. São lugares

destinados a intimidades entre casais muitas vezes vivendo uma relação de namoro, o que na

época não era permitido, devido à imposição do sexo só após o casamento, sendo que os

homens que quisessem vivenciar experiências sexuais fora do casamento ou enquanto

solteiros, deveriam procurar um determinado tipo de mulheres nos bordéis.

Falando sobre as brincadeiras, mencionaram as casinhas, brincadeiras de roda, brincar

de escola, brincadeira do anel, brincar de jogar xibiu, peteca, pular corda, bonecas de sabugo

de milho. As farinhadas também oportunidades para brincadeiras, paqueras e contações de

8

histórias. Fátima entende que hoje falta mais sinceridade. As pessoas são mais artificiais.

Josenir fala sobre as mudanças na estrutura das casas e relações entre as pessoas a partir da

análise das portas residenciais que antes estavam sempre abertas ao passo que hoje são

inteiras e estão geralmente fechadas para reforçar a privacidade e individualidade e por medo

de malfeitores. Diz haver antes mais liberdade, porém ressalta ter que considerar que no

passado a população era menor e mais simples, “a gente paga hoje o preço do progresso”.

As pessoas se socializavam por meio das tertúlias. Já a elite ia mais às festas dos

clubes AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) e Crato Tênis Clube. Já na zona rural

predominava as festas chamadas de bailes ou sambas durando a noite inteira sendo animada

pelos tocadores: zabumbeiros e sanfoneiros. Eram comuns ainda as serenatas.

Eleonora Albuquerque Batista, professora aposentada graduada em pedagogia e

engajada na militância política, 72 anos de idade e Francisco Edésio Batista, 81 anos de idade,

cordelista e bancário aposentado, narram suas trajetórias de vida por meio das quais deixaram

transparecer os valores da época de suas juventudes, inclusive os aspectos políticos.

Antes do casamento Eleonora sonhava em ser arquiteta, chegando a cursar, mas teve

essa trajetória interrompida quando ao passar férias em sua cidade natal, Crato, conheceu

Edésio decidindo em pouco tempo noivar. Não tinha interesse em ser professora porque via as

dificuldades da mãe que enquanto professora enfrentava problemas principalmente em virtude

da política marcada por perseguições. Ela diz que na faculdade o currículo não se organizava

por semestres e que passou a ser semestral devido à ditadura militar que utilizou essa

metodologia como estratégia de quebrar os laços de união entre os alunos.

Enquanto estudante; participava do grêmio estudantil, organizava festas de São João e

o Jornal Mural. Relata memórias da juventude e de acordo com ela existia um respeito entre

os jovens. Com seus amigos organizavam atividades de diversão tais como ir tomar banho na

nascente do Crato, porém sempre com muito respeito e promoviam tertúlias cada final de

semana em uma casa diferente. Devido às condições da época, nessas festas particulares não

se ofereciam comes e bebes. Serviam apenas água. Também não faziam uso de bebidas

alcoólicas. Essa diversão consistia em colocar o disco na vitrola e dançar bastante. Já seus

pais se divertiam indo duas vezes por semana ao cinema e os filhos uma vez só, porque as

condições não permitiam ir todos os dias.

No final de semana o lugar de encontro dos jovens era a Praça Siqueira Campos que

contava com uma amplificadora. A iluminação era pouca, mas segundo a depoente, não havia

tantos ladrões como hoje. Os rapazes ficavam de um lado e as moças de outro, se

comunicando rapazes e moças através de flertes. O horário estabelecido era bastante rígido,

9

não podendo passar das 21:00h, sob pena de serem principalmente as mulheres, mal faladas,

vistas como mulheres indignas de respeito.

Os rapazes rodeavam a praça e as moças se organizavam em pequenos grupos todas de

braços dados. Após cerca de um mês ou mais de flertes era que os homens se aproximavam

das mulheres para declarar intenção de namoro. Os homens que iniciavam namoros não

rodeavam mais a praça.

Eleonora participou da JEC (Juventude Estudantil Católica) e em suas memórias

consta que não havia drogas e celular. Em seu diálogo com os alunos, fez várias críticas ao

mau uso do celular. Quanto às drogas, suas memórias se confrontam com as do depoente José

Flávio Vieira, médico e escritor, 63 anos de idade, pois segundo este, havia uso de droga por

jovens, porém não na proporção de hoje.

Eleonora contextualiza sua vida com a ditadura militar que afetou em grande

proporção a sua família tendo a irmã, Ângela Figueiredo, se exilado no Chile depois tendo

que fugir para a Europa quando do golpe militar que depôs Salvador Allende.

No ponto de referência à moda ela fez críticas ao uso de roupas excessivamente curtas

pelas mulheres do tempo presente. Já na época de sua juventude, mostra que assim como hoje,

havia preocupação com a moda, sendo muito comum o uso dos vestidos godê, vestidos

rodados, uso de anáguas e os decotes não eram tão grandes.

Edésio fala que os pais eram rígidos com os filhos. Entretanto, seu pai era bem

humorado cabendo à mãe dele uma postura menos tolerante. Em sua infância e juventude as

coisas não eram fáceis tendo ele que procurar lenha, pilar arroz, carregar água com um

jumento e um jogo de ancas. Por um tempo estudou no Seminário da Prainha, em Fortaleza,

todavia não tinha vocação para ser padre. Em época de férias vinha para a casa dos pais, mas

por ser seminarista, tinha que se retirar para um local reservado caso chegasse alguma moça

em sua casa. Seu sonho era trabalhar no banco, o que veio a conseguir posteriormente. Quanto

à vida amorosa afirma: “Meu sonho era casar com uma loira, mas fui fisgado por uma de

pernas grossas”. Suas brincadeiras preferidas enquanto criança era brincar vaquinhas de ossos

e cavalos de pau.

O entrevistado também fez referência aos fatos políticos da época de sua juventude, e

defendeu que os jovens deveriam conhecer mais sobre a ditadura militar e a história de sua

cidade e participar mais da política.

Percebemos um ponto de convergência entre as memórias de Edésio e Eleonora com

as memórias de Fátima e Josenir quando falam acerca dos procedimentos de namoros. Os

primeiros relatam que depois de vários dias é que chegavam a pegar nas mãos um do outro.

10

Eleonora acrescenta que a Praça da Sé também era boa e tinha amplificadora, mas a preferida

era a Praça Siqueira Campos porque simbolicamente dava mais liberdade por não ter igreja do

lado como havia na Praça da Sé. A ideia de vigilância e pecado era mais forte nesta última

não sendo, portanto um lugar bom para os flertes.

Em conversa com Antônio Correia Lima, 64 anos de idade, historiador, pudemos

conhecer muito sobre o cotidiano dos jovens da zona rural de Crato. Na escola ele foi educado

com o uso da tabuada, cartilha e palmatória, apesar de não ter lembranças da aplicação desta

última. Acredita que tal instrumento estava presente mais para intimidar o aluno sem, contudo

chegar a ser aplicado o castigo. Era mais a ameaça simbólica.

As salas de aulas eram numerosas, sendo os professores, pertencente a uma elite e

tinham um tratamento especial. Eram respeitados e respeitavam os alunos. Porém certo dia

um aluno imitou um gato na sala de aula exatamente quando vinha entrando a professora de

francês, a qual tinha os olhos claros, assemelhados olhos de gato. Não tendo ela descoberto

quem foi o provocador, resolveu punir a turma com a nota zero. Não se lembra de conflitos

sérios na escola, pois não aconteciam problemas como os de hoje. Não tinha programa de

merenda escolar nem transporte escolar e recorda que seu cunhado vinha para a escola

montado em um animal e para não sujar a roupa, vinha só de roupa íntima, se vestindo

somente na entrada da cidade. Apesar das boas lembranças ele diz não gostar de fazer

comparações e julgamentos do presente e do passado.

Entre suas diversões estava o jogo de bola de meia, jogo de bila (bola de gude). A

calçada da igreja funcionava como se fosse uma praça e as pessoas se encontravam lá para

namorar. Tinha também os banhos nas cachoeiras em Ponta da Serra, distrito de Crato, lugar

onde nasceu e vive o entrevistado. Os jovens gostavam de tomar banho no açude e no Rio

Carás bem como tomar banhos de chuva. Outro costume era escorregar de bruços na calçada

de cimento quando a mesma estava molhada, sendo o desafio contornar uma curva que tinha

nela, pois muitos não conseguiam e caiam no meio da rua. Tinha as brincadeiras do dia e as

brincadeiras da noite. Uma delas era o tudo ou nada. Meninos de um lado e meninas de outro.

A pessoa dizia: meu lado direito está desocupado quem ocupa? Então o menino interessado ia

para o lado da menina. Outra brincadeira era a de passar o anel. Durante o dia, gostavam de

caçar pássaros com suas baladeiras, armar arapucas e caçar preás. À noite as pessoas se

concentravam na calçada da igreja, muitas vezes para contar estórias assombrosas.

Nos anos de 1960 torna-se comum as tertúlias que na Ponta da Serra aconteciam

geralmente em um salão da casa paroquial uma vez que não tinha clube para festas. Em suas

memórias consta que havia uma prática que era quase como um rito de passagem ou prova de

11

poder, que era conseguir atravessar o açude a nado. Segundo Antônio isso ficava na história

da pessoa.

Veio o movimento Jovem Guarda que muito fez parte do lazer dos jovens ficar

ouvindo as músicas no rádio. A calçada da igreja era o palco. “A gente brincava de fazer

shows. Eu sou um privilegiado por ter vivido a época da Jovem Guarda, embora o país

passasse por um período conturbado, a ditadura militar. A gente era criança e não tinha

consciência da questão política”.

Nos depoimentos de Antônio há referência às serenatas e relembra uma que fez para a

namorada para a qual contou com a ajuda de um primo que o ajudou a levar uma radiola à

pilha para fazer a serenata tendo inclusive que atravessar um rio para chegar à casa da menina.

Diz que na festa do padroeiro tinha contato com jovens de outros sítios. Era o momento

também das paqueras. Gostava também de se divertir roubando cana de algumas plantações.

Ele reconhece as mudanças de diversões sendo hoje muito frequente o celular, tablet e internet

na qual ele próprio é tão viciado que nem mais liga o rádio. Sua diversão hoje é a internet, a

pesquisa genealógica, a produção do Jornal Ponta da Serra e a rádio web que criada por ele.

O convidado José Flávio, em sua fala demonstrou um forte teor político bem diferente

dos demais depoentes, apesar de que Eleonora também demonstrou ter sido uma jovem

engajada na política iniciando pela atuação no grêmio escolar. Flávio participou inclusive dos

movimentos artísticos da região, os festivais de músicas que tanto foram alvo da repressão

conservadora militar. Falou sobre o engajamento de artistas brasileiros na contestação ao

autoritarismo. Frisou bastante as transformações sociais e mudanças no sistema educacional

que buscam melhorar a garantia de acesso e qualidade. Sem, contudo ser conformista chamou

a atenção dos alunos para a necessidade de valorizar a educação e lutar por melhorias.

Surgiram muitas perguntas sobre como era a educação no passado, respondendo ele que era

muito elitista, pois não tinha garantia de escola para todos, programas de merenda escolar,

transporte escolar e livros didáticos. Sua fala foi bastante motivadora e se deteve muito às

atuações política dos jovens no passado e sempre apontando para a necessidade da atuação

dos jovens no tempo presente.

Cada um falou da juventude tendo como referência suas próprias memórias e apesar

de serem os depoentes quase do mesmo tempo, espaço e classes sociais diferentes,

encontramos pontos de convergências e divergências em suas memórias, pois elas se

embasam nas subjetividades, sem, contudo perderem a sua importância como matéria para a

construção da história.

12

Resultados e aprendizagens:

Na última atividade com a oralidade pudemos desenvolver uma avaliação e identificar

a compreensão desenvolvida acerca dos objetivos propostos. Foram trabalhados antes de

iniciar o ciclo de rodas de conversas, os conceitos básicos, consistindo essas atividades orais

em momentos de praticar os conceitos por meio da interação com os entrevistados.

Procuramos desnaturalizar o tempo e percebê-lo na sua multiplicidade sendo os calendários

construções históricas e culturais, não cabendo uma hierarquização entre as diversas formas

de captura do tempo. Sobre a concepção de tempo, para Scadaferri,

A formação do conceito de tempo, assim como a de outros conceitos, é também uma

aquisição pessoal. Cada um irá construí-lo de acordo com a sua vida social e

cultural. Os significados que o indivíduo atribui a um vocábulo, objeto,

acontecimento ou fenômeno vai depender de sua experiência, dos conhecimentos

que ele adquiriu a partir de suas vivências nas relações socioculturais e da

mediação do processo de ensino e aprendizagem. (SCALDAFERRI, 2008: 4)

Apesar das noções de tempo já terem sido vistas pelos alunos na série anterior, muitos

apresentaram dúvidas quanto a este conceito tão abstrato, chegando às vezes a entender haver

um calendário correto, que seria o ocidental enquanto os demais estariam atrasados ou

errados. Sentimos necessidade de intensificar sobre os processos de duração temporal, as

subjetividades na compreensão de tempo. Destacamos que cada sociedade em cada época

tem seus valores, seus modos de viver política, econômica... e socialmente, sendo toda cultura

passível de transformações e permanências sendo elas devidas às ações humanas resultantes

do fazer coletivo.

A Evocação do passado através das lembranças (DELGADO, 2010: 39) dos depoentes

possibilitaram a significação dos conteúdos da história sendo eles capazes de conhecer a

atuação histórica dos jovens do passado em relação a diversos aspectos seja na política,

religião, diversão, namoros, família, escola. Contudo tivemos a sensibilidade de orientá-los

quanto às subjetividades dos depoimentos, pois ao lidar com a memória não podemos encará-

la como a verdade, nem tampouco como uma mentira, mas colocá-la no lugar de um

documento que como tal precisa ser problematizado. Atentamos para o fato de que “a

memória é uma construção sobre o passado, atualizada e renovada no tempo presente”.

(DELGADO, 2010: 9).

Para Alberti,

[...] contar uma história é operar por exclusão, é selecionar e ordenar os

acontecimentos de acordo com o sentido que se lhes quer conferir e que se quer

conferir à própria história. Mas isso não quer dizer que o resultado da exclusão e

da seleção não tenha relação com a realidade. Ao contrário, é preciso tomar

13

cuidado para não incorrermos no extremo oposto, passando a sustentar que tudo

não passa de versões sobre o passado, ou ainda que toda construção narrativa é

ficção. (ALBERTI, 2004: 69)

Foi discutido acerca da importância da memória para a construção da história, pois

nem sempre temos fontes escritas sobre tudo o que procuramos conhecer, porém destacando

que assim como a memória tem suas fragilidades o documento escrito também deve ser

tomado como fonte e não como a expressão da verdade absoluta. Foi confuso para os alunos

compreenderem como pode algo ser e não ser a verdade ao mesmo tempo. A partir da quinta

roda de conversa durante a qual tivemos a oportunidade de refletir sobre os depoimentos, eles

puderam compreender que cada pessoa narra a partir do seu ponto de vista, de suas

experiências e que apesar de quase todos os que foram ouvidos terem vivido na mesma cidade

e período histórico, cada um tem suas ideologias e formas de enxergar o mundo. Não se trata

de uma pessoa ter mentido e da outra ter falado a verdade. Tem que considerar que num

mesmo lugar e tempo há várias formas de se viver.

Apesar de suas particularidades foi possível encontrar pontos convergentes entre as

falas como foi o caso das referências à ditadura militar, embora alguns depoentes tenham tido

uma maior compreensão na época e outros como é o caso de Antônio Correia, não ter se

envolvido diretamente ou entendido o que era o regime militar. Podemos pontuar ainda as

tertúlias que foram citadas tanto por Eleonora, que teve sua infância na cidade e que era de

uma classe social mais abastada, como por Antônio Correia que viveu a juventude no distrito

de Crato e mais ligado a uma vida rural e menos abastado.

Outro ponto semelhante foi quanto ao comportamento da época, mais rígido em

relação a hoje seja na relação com a família, escola ou mesmo os modos de se vestir. Os

alunos foram compreendendo como é possível estudar a história a partir das vivências de

pessoas que não pertencem ao panteão dos heróis citados nos livros didáticos e como as

memórias das pessoas nos dizem muito sobre o passado. Não podemos esquecer-nos do

encantamento que essa atividade gerou nos envolvidos. As turmas com as quais trabalhamos

são compostas em sua maioria por alunos que não apreciam muito a escuta, o que causou

surpresa pela atenção e interação nas atividades. Por isso concordamos com SANTHIAGO;

MAGALHÃES (2015) quando discutem sobre a história oral ao entender que,

Ela (história oral) permite, através da fala, e da escuta, do registro de histórias

narradas, entrar em contato com a memória do passado e a cultura do presente.

Por meio dos relatos de quem testemunhou e viveu experiências que merecem ser

contadas, a história oral reforça laços entre pessoas, gerações, comunidades e

tempos. (SANTHIAGO; MAGALHÃES, 2015: 7)

14

Vivenciar o passado por intermédio das narrativas proporcionou o exercício da escuta

e a valorização dos saberes possibilitando além do aprofundamento dos conceitos históricos e

da concepção dos jovens como construtores da História, o respeito aos idosos percebendo-os

como sujeitos que muito contribuíram e contribuem para a formação de uma sociedade. O

comportamento dos alunos durante as atividades não foi coerente com seus anteriores relatos

de que não gostavam de conversar com pessoas idosas por elas falarem demais.

Demonstraram intenso interesse pelo diálogo e fizeram várias indagações acerca dos temas

discutidos.

Os resultados das atividades nos fizeram refletir quanto aos métodos e estrutura

curricular que muitas vezes nos obrigam a reduzir a aula a um preparatório para

vestibulares/ENEM deixando muitas vezes de vivenciar ricas experiências que colaboram

tanto para o intelecto quanto para a formação humana, algo que não cai diretamente no

vestibular, mas que fará toda a diferença enquanto sujeitos que atuarão na sociedade.

Pudemos acreditar nas possibilidades da utilização da História oral na educação básica como

um instrumento capaz de transformar a aprendizagem dos alunos, pois “o uso de entrevistas

em sequências didáticas facilita a compreensão de que o conhecimento histórico não consiste

em uma reconstituição exata, verídica, precisa, incontestável, do passado. Mostra, na verdade,

que o que existe é um passado plural [...]”. (SANTHIAGO; MAGALHÃES, 2015:154).

Somos convictos de que pelas análises das entrevistas em rodas de conversas os

estudantes envolvidos foram capazes de reconhecer como a história é construída, as tensões

das quais a História resulta e seu caráter plural não havendo uma verdade única, entretanto

não podendo cair no engano de considerar uma mentida as narrativas produzidas seja pelos

narradores que contam a partir da memória ou mesmo pelos historiadores. Defendemos que a

educação deve criar mais espaços para o ouvir e contar para despertar mais não só o

conhecimento daqueles atores históricos aos quais lhes foi negado espaço nas páginas da

escrita historiográfica, ou mesmo dos sujeitos cujas histórias foram escritas, mas desenvolver

a solidariedade humana e o exercício da alteridade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALBERTI, Verena. Ouvir contar: textos em história oral. 1. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2004.

BAUMAN, Zygmunt. Sobre educação e juventude. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

DELGADO, Lucília de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. 2.ed.

Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

15

LEVI, Giovani; SCHMITT, Jean Claude. História dos jovens: da antiguidade à era moderna.

São Paulo: Companhia das letras, 1996.

SANTHIAGO, Ricardo; MAGALHÃES, Valéria Barbosa de. História oral na sala de aula.

1.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

SCALDAFERRI, Dilma Célia Mallard. Concepções de Tempo e Ensino de História. 2008.

Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/view/11522.

Acesso em 24/02/2016.