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ANTÍFONAS “Ó”Um tesouro da Liturgia do Advento

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ANTÍFONAS

Ó

Jomar Vigneron

Ilustrações:

Cláudio Pastro

Um tesouro da Liturgia do Advento


© PAULUS – 2014Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 São Paulo (Brasil)Fax (11) 5579-3627 • Tel. (11) 5087-3700www.paulus.com.br • [email protected]

ISBN 978-85-349-4072-6

1ª edição, 2014

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Vigneron, JomarAntífonas Ó: um tesouro da liturgia do advento: o olhar pascal do Natal / Jomar Vi-

gneron. – São Paulo: Paulus, 2014.

ISBN 978-85-349-4072-6

1. Advento 2. Liturgia 3. Natal 4. Nossa Senhora do Ó I. Título.

14-10824 CDD-263.91

Índices para catálogo sistemático:1. Advento e Natal: Liturgia: Cristianismo 263.91

Direção editorial: Claudiano Avelino dos SantosAssistente editorial: Jacqueline Mendes FontesRevisão: Zolferino TononDiagramação e capa: Marcelo CampanhãImpressão e acabamento: PAULUS


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Nossa Senhora do “Ó”

Imagem no Museu de Lamego, Portugal.Século XIV, em pedra Anca, policromada.

É com alegria que na última novena de Natal (de-

zembro de 2013) encontrei no quarto dia uma reflexão a

respeito de Nossa Senhora invocada com o título de Nossa

Senhora do Ó. Para muitos católicos Nossa Senhora do “Ó”

é desconhecida e poucos sabem o seu significado.


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Nossa Senhora do “Ó” ou Nossa Senhora da Ex-pectação1 quer indicar a expectativa do parto na qual se encontrava a jovem virgem Maria. Maria conheceu o que toda jovem mãe conhece quando espera o seu primogênito: certa apreensão. Cada ano toda a Igreja está revivendo este tempo de espera conhecido de tan-tos no povo da Primeira Aliança. Há muitos séculos que muitos filhos e filhas de Israel suspiram com tanto ardor e ânsia pelo nascimento do Messias prometido!

Esta expectativa dos nossos pais na fé a Igreja a expressou pelas sete belas antífonas Ó, iniciadas na li-turgia das vésperas dia 17 de dezembro. Cada antífona começando com a exclamação Ó: Ó Sabedoria, Ó Ado-nai, Ó Raiz de Jessé, Ó Chave de Davi, Ó Sol nascente, Ó Rei das nações, Ó Emanuel.

Nossa Senhora do Ó é uma devoção mariana surgida em Toledo, na Espanha, no século VII. Naque-la época a festa da Anunciação de Maria era celebrada no dia 18 de dezembro. É por isso que às vésperas se proferem as antífonas maiores, iniciadas pela exclama-ção (ou suspiro) Ó. O povo teria passado a denominar essa solenidade como Nossa Senhora do “Ó”.

No Brasil, o culto começou na época da coloni-zação. A imagem de Nossa Senhora da Expectação ou

1 A respeito da palavra expectação o dicionário Houaiss fala de esperar, estar na expectativa.


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do Ó era pequena, com cerca de dois palmos (20cm x 2) de altura, entalhada em madeira e estofada.

No começo do século XIX, mudanças no culto mariano começavam a estimular o dogma da Imacula-da Conceição, o que não combinava com aquela santa em estado de adiantada gravidez, como a retratava a iconografia, estimada pelas mulheres à espera da hora do parto.

Somente no fim do século XX se voltou a falar e pesquisar sobre o assunto, tendo-se encontrado ima-gens antigas enterradas sob o altar das igrejas.

A imagem de Nossa Senhora do “Ó” sempre apresenta a mão direita espalmada sobre o ventre avantajado, em fase final de gravidez. A mão esquer-da aparece levantada. Encontram-se imagens com esta mão segurando um livro aberto.


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Orações aNossa Senhora do “Ó”

Doce Virgem Maria,cujo coração foi por Deus preparado para

morada do Verbo feito carne pelas inefáveis alegrias da expectação de

vosso santíssimo parto, ensinai-nos as disposições perfeitas de uma íntegra

pureza no corpo e na alma, de uma humildade profunda no espírito e no coração, de um ardente e sincero desejo de união com Deus, para que o meigo fruto de vossas benditas entranhas venha a nascer misericordiosamente em nossos corações,

a eles trazendo a abundância dos dons divinos, para redenção dos nossos pecados,

santificação de nossa vida e obtenção de nossa coroa no Paraíso,

em vossa companhia. Assim seja. Amém.


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Outra oração

V. Vós formastes as entranhas do meu corpo e me criastes no seio de minha mãe.

R. Eu vos dou graças por me haverdes feito tão maravilhosamente. (Sl 138)

Pai nosso...

V. Desde o seio materno sois o meu Deus. (Sl 21)

R. Desde o ventre materno sois o meu protetor. Em vós está a minha esperança. (Sl 70)

Ave, Maria...

V. Não morrerei, mas hei de viver

R. Para anunciar as obras do Senhor. (Sl 117)

Glória...


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Oremos

Pai santo, Amor Criador, Senhor da vida, Deus Providente e Todo-poderoso:

desde toda a eternidade quisestes o ser e a vida de cada um de nós,

e enviastes o vosso Filho ao mundo a fim de que tenhamos a vida e a tenhamos em abundância.

Dai-nos o vosso Espírito vivificante para que, sempre,em qualquer circunstância e sem exceção alguma,amemos, respeitemos, protejamos, promovamos e cuidemos da vida, dignidade, direitos e integridade de cada ser humano– desejado ou imprevisto, são ou enfermo, sadio ou deficiente –,desde o momento da sua concepção até à morte natural, e indo, assim,

ao vosso encontro, alcancemos a felicidade eterna.Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,

que é Deus convosco, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Referências bibliográficas:Adésia Aducci. Maria e seus gloriosos títulos. “Lar Católico”, 1960.Internet (Várias fontes).


O Reino dos Céus é semelhante ao tesouro escondido no campo; um homem o acha e torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo. (Mt 13,44)


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ANTÍFONAS “Ó”Um tesouro da

Liturgia do Advento1

A “Liturgia das Horas”, a partir do dia 17 de de-zembro, gosta de se expressar com o gênero literário poético. Na Idade Média esta maneira de se exprimir tomou um grande destaque. Mas estas grandes antí-fonas (“antiphonae majores”), solenemente cantadas como introdução ao Magnifi cat, se encontram já no Responsorial atribuído ao Papa São Gregório (+ 604). Atualmente o número destas antífonas é de sete, mas alcançou algumas vezes até oito, nove ou doze. Elas são entretecidas de textos bíblicos.

“Sua composição, bem como sua melodia:

1. Começam todas com uma invocação ‘Ó’! (palavra exclamativa).

2. Em seguida vem o enunciado do título messiânico.

1 Ver o Anexo: Quadro das antífonas “Ó” e dos versículos aleluiáticos (p. 45).


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3. O apelo culmina no ‘Vinde’, característico do Adven-to, o qual introduz um pedido, defi nindo o fi m da Encarnação, em relação com as qualidades declara-das na primeira parte da antífona” (C. J. Nesmy).

Sete antífonas que nos lembram a plenitude de Deus que é “tudo em todos”. Além disso elas somam as letras que constituem o acróstico invertido:

“ERO CRAS”, isto é: Estarei (aí) amanhã!17 Sapientia Ó Sabedoria...18 Adonai Ó Adonai...19 Radix Jesse Ó Raiz de Jessé...20 Clavis David Ó Chave de Davi...21 Oriens Ó Sol nascente...22 Rex Gentium Ó Rei das nações...23 Emmanuel Ó Emanuel...

Estas antífonas “Ó” são peças de arte absoluta-mente únicas da liturgia pré-natalina (...) Já na pró-pria Escritura se gostava de criar formas sempre no-vas e impregnadas do Espírito divino, graças a novas combinações de palavras ou frases tiradas do tesouro da Escritura (...) Este gênero de composição nunca se estancou na Igreja e produziu uma poesia que enche a liturgia de esplendor (...)


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“O autor ou autores dominam soberanamente a riqueza de temas da Bíblia”. (P. Pascher)

Estas antífonas “contêm todo o miolo da litur-gia do Advento”, escreve D. Guéranger.

Além de serem cantadas para o Magnifi cat, servem também como versículos da aclamação ao Evangelho nas missas dos dias feriais, que precedem o Natal.2

As sete ANTÍFONAS “Ó” são as pérolas que constituem o tesouro escondido no campo do tempo do Advento. Elas compõem a coroa do Rei dos reis! Santo Irineu nos diz como todas as Escrituras falaram tudo a respeito de Cristo, “o tesouro escondido no cam-po” (Mt 13,44):

“... toda profecia, antes de ter efeito, não é mais que enigma e ambiguidade para os homens, mas quando chega o momento da realização do predito, então en-contra sua interpretação exata. É por esse motivo que a Lei soa como fábula para os judeus que a leem nos dias de hoje: com efeito, não possuem a explicação de todas as coisas quanto à vinda do Filho de Deus como homem.

Ao contrário, lida pelos cristãos, ela é tesouro es-condido no campo, revelado e explicado pela cruz de Cristo.

2 Ver a segunda parte deste livrinho (p. 48).


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Enriquece a inteligência dos homens, mostra a sa-bedoria de Deus, manifesta suas disposições para com a humanidade: prefigura o reino de Cristo, anuncia anteci-padamente a boa-nova da herança da santa Jerusalém, prediz que o homem que ama a Deus progredirá até o ponto em que o verá e ouvirá sua palavra, e que será glorificado pela audição desta palavra, de tal modo que os outros não poderão encarar seu rosto glorioso, como foi dito a Daniel: ‘Os que são esclarecidos resplandecerão como o resplendor do firmamento; e os que ensinam a muitos a justiça hão de ser como as estrelas, por toda a eternidade’ (Dn 12,3).

Foi dessa maneira que o Senhor explicou as Escri-turas aos discípulos depois de sua ressurreição dos mor-tos, mostrando-lhes por elas que era preciso que o Cristo sofresse e entrasse em sua glória (Lc 24,26), e que, em seu Nome, fosse proclamado o arrependimento para a remis-são dos pecados a todas as nações (Lc 24,47). Portanto, quem ler as Escrituras do modo como mostramos será um discípulo perfeito, semelhante a um pai de família que do seu tesouro tira coisas novas e velhas (Mt 13,52)” (Irineu de Lião – Libr 4,26).

Em nossa liturgia, são numerosos os hinos e as antífonas começando com esta palavra exclamativa “Ó”. Vamos agora tentar penetrar nas riquezas trazidas por estas ANTÍFONAS “Ó”.

(No texto da antífona o número indica a referência bíblica transcrita em itálico logo em seguida).


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Dia 17 de dezembro

Ó Sabedoria,que saístes da boca do Altíssimo,1

e atingis até os confins de todo o universoe com força e suavidade governais o mundo inteiro.2

Oh, vinde ensinar-nos o caminho da prudência!3


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Referências bíblicas

1 Saí da boca do Altíssimo, diz a Sabedoria, como a neblina cobri a terra... Então o criador de todas as coisas deu-me uma ordem... Ele me disse: “Instala-te em Jacó, em Israel terás a tua herança” (Eclo 24,3.8).

1 Ver também o belo trecho sobre a Sabedoria criado-ra: Pr 8,22-31.

2 (A Sabedoria) alcança com vigor de um extremo ao outro e governa o universo retamente (Sb 8,1) e todo Sb 7.

3 Quem ensinaria a Deus o caminho do julgamento pru-dente e sábio? (Is 40,14).

3 Dá, pois, a teu servo um coração que escuta para gover-nar o teu povo e para discernir entre o bem e o mal... (1Rs 3,9).


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A antífona “Ó SABEDORIA” está dirigida ao Fi-lho. É a Palavra (o Verbo – Jo 1,1) que sai da boca do Pai. Palavra criando o universo. Ela nos apresenta a origem de Jesus Cristo. Somos convidados a contem-plar o que professamos no Símbolo Niceno-Constan-tinopolitano:

Creio em só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai.

Em verdade com Cristo-Sabedoria se cumpre a palavra do salmista: Vós lhe destes poder sobre tudo, vos-sas obras aos pés lhe pusestes (Sl 8,7). Este poder, com a força que vem do alto, será necessário a Cristo para vencer o combate que vai acontecer entre a luz e as trevas, com a encarnação do Filho de Deus.

“... dentre todos os seus milagres e prodígios, o que mais ultrapassa e espanta o frágil entendimento humano é que se deva crer que o poder da divina majestade, o próprio Verbo do Pai, a própria Sabedoria de Deus na qual foram criadas todas as coisas visíveis e invisíveis, se encontre presente nos limites daquele homem que surgiu na Judeia. E que a Sabedoria de Deus tenha penetrado no


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seio de uma mulher, nascido pequenino e chorado como todas as crianças” (Orígenes – De incarnatione Christi).

Então, para nos salvar, a vinda do Senhor se tor-nará necessária a fim de nos ensinar o caminho da jus-tiça e nos ajudar a caminhar até a sua segunda volta. O “Vinde” é a única oração que vale! (Ap 22,20). É o grito de toda a humanidade sedenta do paraíso perdi-do. Só o Messias, Emanuel, pode nos ensinar o cami-nho da prudência, ou melhor, da justiça; o pedido de Salomão se tornará nosso (cf. 1Rs 3,9). Este caminho será tomado num clima de inocência, de pureza, em que cada um realiza o que o Senhor lhe pede. Assim se cumprirá o que diz aquele que está sentado no trono: Eis que faço novas todas as coisas (Ap 21,5; cf. Is 65,17).

Querer participar da Sabedoria divina é nos “tornar participantes da natureza divina” (2Pd 1,4).


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Dia 18 de dezembro

Ó Adonai,guia da casa de Israel,1

que aparecestes a Moisés na sarça ardente2

e lhe destes vossa lei sobre o Sinai: vinde salvar-nos com o

braço poderoso.


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1 Deus falou a Moisés e lhe disse: “Eu sou o Senhor. Apareci a Abraão, a Isaac e a Jacó como El Shaddai. [Quando Abrão completou noventa anos, Deus lhe

apareceu e disse: ‘Eu sou El Shadai (Deus da Estepe), anda na minha

presença e sê perfeito’” – Gn 17,1]. Mas pelo meu nome, Adonai (Senhor), não lhes fui co-

nhecido... Eu sou o Senhor, e vos farei sair de sob as car-gas do Egito, vos libertarei da sua escravidão... com mão estendida e com grandes julgamentos. Tomar-vos-ei por meu povo, e serei o vosso Deus” (Ex 6,2-7).

2 O anjo do Senhor apareceu a Moisés numa chama de fogo, do meio de uma sarça. Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia... O Se-nhor disse: “Não te aproximes daqui; tira as sandálias dos pés porque o lugar em que estás é uma terra santa. Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”. Então Moisés cobriu o rosto, porque temia olhar para Deus (Ex 3,2-6).


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Ao revelar seu nome a Moisés, Deus estava con-cedendo-lhe “poder” sobre Ele – assim era percebido pelo povo semita. A revelação do nome de “Adonai” (o Senhor), sendo guia da casa de Israel, significará para o povo eleito o “memorial” da gesta divina da sua liber-tação (a saída do Egito até a Terra prometida).

Esta segunda antífona evoca o ciclo pascal. Se Adonai, guia da casa de Israel, é o Senhor, Ele é tam-bém o Cristo. A vinda de Jesus está colocada em rela-ção com a sua obra de salvação.

Para os Santos Padres, as teofanias do Antigo Testamento foram consideradas como as aparições pessoais do Verbo de Deus. Participando da liturgia do Tríduo Pascal, nós podemos perceber o cumprimento desta identificação.

A mão direita do Senhor fez maravilhas, a mão direita do Senhor me levantou, a mão direita do Senhor fez maravilhas (Sl 117,16).

A última parte da antífona – vinde salvar-nos com o braço poderoso – é muito rica. No hebraico, a raiz ZR significa: semear, espalhar, fecundar. Dela nas-ceram duas palavras: Zera, que significa o tempo de se-mear, semente que dá a vida, posteridade, raça, tronco, rebento; e Zeroa, que significa braço, poder, virilidade, violência, apoio, ajuda. Podemos assim perceber a ex-tensão do final da antífona. Aquele que há de vir é o


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rebento (renovo) do qual Isaías fala (Is 11,1), é o Messias que vai dar de novo a vida a seu povo; mas é também o poder, o apoio, a ajuda.

Não é por acaso que no prefácio da Oração Eu-carística II o celebrante diz, falando de Jesus: “Esten-deu os braços na hora da sua paixão, a fim de vencer a morte e manifestar a ressurreição”.

“Virgem, no teu seio foi concebido nosso Deus pelo Espírito Santo, permanecendo inconsumível apesar do fogo ardente: então a Senhora foi a sarça ardente sem ser consumida que Moisés, o legislador, tinha visto prefi-gurada”

“A sarça ardente nos revela que Deus será como imergido na humanidade, sem por isso a destruir. É Maria que vai cumprir esta união no seu seio, na hora em que ela aceita o anúncio do anjo Gabriel. Com efeito, Maria recebeu no seu seio o fogo da divindade no momento em que o Anjo falou com ela (da mesma maneira com a madeira da sarça). Maria concebeu o Menino e permane-ceu pura. Maria é santa como a terra ao redor da sarça era santa” (da tradição oriental).

“Na sarça que Moisés via arder sem consumir-se, reconhecemos o sinal da vossa admirável virgindade. Santa Mãe de Deus, rogai por nós!” (Antífona da tradição ocidental).


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Dia 19 de dezembro

Ó Raiz de Jessé,ó estandarte levantado em sinal para as nações!1

Ante vós se calarão os reis da terra,2

e as nações implorarão misericórdia:vinde salvar-nos! Libertai-nos sem demora!3


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1 Naquele dia, a raiz de Jessé, que se ergue como um sinal para os povos,

será procurada pelas nações, e sua morada se cobrirá de glória (Is 11,10 – citado em

Rm 15,12).

1 O Senhor erguerá um sinal para as nações... (Is 11,12a).

1 Eis que o meu Servo há de prosperar, ele se elevará, será exaltado, será posto nas alturas (Is 52,13).

1 Ele cresceu diante dele como um renovo, como raiz que brota de uma terra seca (Is 53,2ab).

2 ... multidões ficaram pasmadas à vista dele (...) nações numerosas ficarão estupefatas a seu respeito, reis permanecerão silenciosos... (Is 52,14a.15ab).

3 (a visão) aspira por seu tempo e não engana; se ela tarda, espera-a, porque certamente virá, não falhará! (Hab 2,3).

3 ... ainda um pouco, muito pouco tempo, e aquele que vem, lá estará;

ele não tardará (Hb 10,37 LXX).


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O destino do povo de Israel se confunde com o destino do Servo sofredor de Isaías – ver o quarto can-to: Is 52,13-53,12.

O capítulo 11 de Isaías vê o Messias erguendo-se como um sinal para os povos (v. 10). No primeiro Isaías este capítulo está inserido no fim do tempo em que o povo é provado no exílio em Babilônia. Nele as nações colocarão a sua esperança (Rm 15,12d). Aí é bom lem-brar a palavra de Jesus: “’Quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim’. Assim falava para indicar de que morte deveria morrer” (Jo 12,32-33). A morte de Jesus tornará muita gente sem vez e sem voz, como “mudo”, enquanto as nações o invocarão.

Paulo salienta que a “raiz” é para todas as na-ções: Rm 15,12, citando Is 11,10, porém João está im-paciente por ver a sua glorificação final (Ap 22,16-17).

Não posso deixar de juntar este lindo comentá-rio de São Bernardo:

“No meu entender, está bem claro quem é o ramo que sai do tronco de Jessé, e quem é o rebento sobre o qual repousa o Espírito Santo (cf. Is 11,1-2): o ramo é a Vir-gem Mãe de Deus, e o rebento é o seu Filho. Sim, o Filho da Virgem é um rebento, uma flor branca e vermelha (cf. Ct 5,10) ao mesmo tempo, escolhida dentre mil, flor que os anjos desejam contemplar (cf. 1Pd 1,12), cujo perfume faz reviver os mortos (cf. 2Cor 2,16). E, como ele próprio


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declara, é uma flor do campo (cf. Ct 2,1), não de jardim. O campo, com efeito, cobre-se de flores sem a intervenção do homem, não é semeado por ninguém, não é cavado com enxada, nem adubado com esterco.

Foi assim, de modo inteiramente semelhante, que o seio da Virgem floresceu, foi assim que as entranhas invioladas, íntegras e castas de Maria produziram, como um prado eternamente verdejante, uma flor cuja beleza jamais conhecerá a corrupção e cuja glória nunca haverá de declinar” (Sermo 2 de Adventu, 4).

Este comentário nos ajuda a conhecer o que está por trás das palavras do refrão popular:

Da cepa brotou a ramaDa rama brotou a fl orDa fl or nasceu MariaDe Maria o Salvador.

De Jessé brotou MariaDe Maria brotou JesusDe Jesus nasceu MariaDe Maria o Salvador.

Para concluir, o pedido do “Vinde” quer apres-sar a soberania do Rei dos reis (cf. Mt 24,30).


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Dia 20 de dezembro

Ó Chave de Davi,cetro da casa de Israel, que abris

e ninguém fecha, que fechais e ninguém abre:1

vinde logo e libertai o homem prisioneiro, que, nas trevas e na sombra da morte, está sentado.2


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1 ... chamarei o meu servo Eliacim, filho de Helcias. (...) ele será um pai para os habitantes de Jerusalém e para a casa de Judá. Porei sobre os seus ombros a chave da casa de Davi: quando ele abrir, ninguém fechará; quando ele fechar, ninguém abrirá. Cravá-lo-ei como uma cavilha em lugar firme: ele virá a ser um trono de glória para a casa de seu pai (Is 22,10-13).

1 Ao anjo da Igreja de Filadélfia, escreve: Assim diz o Santo, o Verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, o que abre e ninguém mais fecha, e fechando, ninguém mais abre (Ap 3,7).

2 Eu o Senhor, te chamei para o serviço da justiça, tomei-te pela mão e te modelei, eu te pus como aliança do povo, como luz das nações, a fim de abrir os olhos dos cegos, a fim de soltar do cárcere os presos, e da prisão os que habitam nas trevas (Is 42, 6-7).

2 O Senhor os retirou daquelas trevas pavorosas, despeda-çou suas correntes, seus grilhões (Sl 106,14).

2 ... o Sol nascente que nos veio visitar lá do alto como luz resplandecente a iluminar a quantos jazem entre as tre-vas e na sombra da morte estão sentados, e no caminho da paz guiar nossos passos (Lc 1,78-79).


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Quem detém as chaves tem todos os direitos so-bre o lugar onde as portas se abrem e se fecham, dei-xando passar ou não as pessoas.

A chave dá o poder àquele que a possui. Jesus afirma ter recebido este poder do Pai: o Pai ama o Filho e entregou tudo em suas mãos (Jo 3,35) e: toda autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue (Mt 28,18b). O poder de Jesus está a serviço da vida, da luz (Jo 5,26 e 1,4-5), ... eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da Morte e do Hades (Ap 1,18). O poder messiânico é dado por Jesus a Pedro (Mt 16,19) e aos seus Apóstolos (Mt 18,18; Jo 20,23).

O homem liberto tem acesso à luz. Isso foi anunciado por Isaías: Modelei-te e te coloquei como sinal de aliança do povo, a fim de dizer aos cativos: “Saí”, aos que estão nas trevas: “Aparecei” (Is 49,8-9), e cumprido por Jesus: Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista... (Mt 11,4-5).

A conjunção das duas imagens da prisão e das trevas provém da própria Revelação, para significar de que servidão o Messias libertaria os homens (isto é: abrir ou fechar a porta do Reino). Isso nos é lembrado cada manhã no Ofício de Laudes, quando cantamos o Benedictus.

Nesta quarta antífona já se apresenta a imagem que será focalizada na seguinte, isto é, a luz.


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“É sabido que a arte de ensinar, própria do Verbo, chama-se ‘cetro’ no Antigo Testamento, onde se diz: ‘O cetro do seu reino é cetro de retidão’ (Sl 44,7). Uma vez que essa retidão do ‘cetro’ é a mesma que nos instrui para uma vida justa e proveitosa, e sendo esse ‘cetro’ o reino, é necessário que essa instrução seja a do reino. Nosso pró-prio Senhor é chamado ‘cetro’ por pregar uma doutrina proveitosa e moderada. Assim diz Isaías: Um cetro sairá do tronco de Jessé (Is 11,1). E para que ninguém ouse jul-gar que ‘cetro’ signifique um rigor tirânico, o profeta logo acrescenta: uma flor brotará das suas raízes e sobre ele repousará o Espírito do Senhor (Is 11,1-2). A severidade do ‘cetro’ é amenizada pela suavidade da flor, para que o rigor da doutrina não nos afaste do caminho da felici-dade perfeita. Assim, com esse cetro é que governará os povos que lhe foram dados. Não é um cetro corruptível, perecível, frágil; mas antes férreo, isto é, muito forte e fir-me, em virtude da solidez de sua natureza” (Hilário – Trac. In Os. 2).


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Dia 21 de dezembro

Ó Sol nascente,1

justiceiro,3 resplendor da Luz eterna:2

oh, vinde e iluminai os que jazem entre as trevase na sombra do pecado e da morte estão sentados!4


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1 Assim disse o Senhor dos Exércitos: Eis um homem cujo nome é Rebento; de onde ele está,

germinará (Zc 6,12).

2 É (...) Deus (...) seu Filho, a quem constitui herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez todos os séculos.

É ele o resplendor de sua glória e a expressão do seu Ser... (Hb 1,2-3).

2 Por amor de Sião não me calarei, ... até que a sua justiça raie como um clarão e a sua salvação arda como uma tocha (Is 62,1).

2 Seu brilho é como a luz, raios saem de sua mão, lá está o segredo de sua força (Hab 3,4).

3 Para vós que temeis o meu nome, brilhará o sol de justiça, que tem a cura em seus raios (Ml 3,20).

4 O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, uma luz raiou para os que habitavam uma terra sombria

como a da morte (Is 9,1).

4 Ver também Lc 1,78-79.


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Segundo o original latino, seria conveniente cantar: “Ó Oriente, resplendor da luz eterna e sol de Justiça”, em lugar de: “Ó Sol nascente, justiceiro, res-plendor da Luz eterna!” Chamar o Cristo de Oriente encontra a sua razão de ser na tradução da Vulgata: Eis um homem cujo nome é Oriente (Zc 6,12).

Com esta antífona podemos projetar a ima-gem da volta de Cristo no fim dos tempos, quando o esplendor de sua luz vencerá para sempre as trevas que obscurecem a vida de muitos. O final da antífona é muito semelhante ao da precedente: “Ó Chave de Davi”. As fontes são as mesmas.

“... o mundo manifesta que se aproxima algo que o tornará melhor, e deseja ardentemente que o resplendor de um sol mais luminoso ilumine suas trevas. (...) o Cristo, novo sol, ilumine com seu nascimento as trevas dos nos-sos pecados. E que, como sol de justiça, pelo poder do seu Natal, ponha fim à longa noite dos nossos delitos” (Máximo de Turim, Sermo 61a, 1-3).

“De onde julgas vir para todo o mundo a luz tão grande e súbita da fé, senão da pregação do nome de Jesus? Não foi, porventura, pelo anúncio desse nome que Deus nos chamou à sua luz admirável? Não é a nós, que recebemos essa luz e nela vemos a luz, que Paulo diz, com razão: Outrora éreis treva, mas agora sois luz no Se-nhor? (Ef 5,8). Por fim, o mesmo Apóstolo foi enviado a


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pregar esse nome aos reis, aos pagãos e aos filhos de Israel. E levava o nome como luz, iluminando a sua pátria e clamando por toda parte: A noite avançou e o dia se aproxima. Portanto, deixemos as obras das trevas e vista-mos a armadura da luz. Como de dia, andemos decente-mente (Rm 13,12-13). A todos mostrava a lâmpada sobre o candelabro, e em toda a parte anunciava Jesus, e Jesus crucificado” (São Bernardo – Sermo 15,4-6).


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Dia 22 de dezembro

Ó Rei das nações,desejado dos povos;1

ó Pedra angular,2 que os opostos unis:3

oh, vinde e salvai este homem tão frágil,que um dia criastes do barro da terra!4


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1 Abalarei todas as nações, então afluirão [o que é desejável], e eu encherei este Templo de glória (Ag 2,7).

2 Eis que porei em Sião uma pedra, uma pedra de granito, pedra angular e preciosa, uma pedra de alicerce bem firmada, aquele que nela puser a sua confiança não será abalado

(Is 28,16).

2 A pedra que os pedreiros rejeitaram, tornou-se agora a pedra angular (Sl 117,22).

3 Cristo Jesus é a nossa paz, de ambos os povos fez um só, tendo derrubado o muro de separação... Estais edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, do qual é Cristo Jesus a pedra angular (Ef 2,14.20).

4 O Senhor Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente (Gn 2,7).


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Esta antífona canta o Filho de Deus – pedra angular –. No decorrer do Antigo Testamento, o Se-nhor é chamado como sendo a Rocha: O Senhor é a Rocha e sua obra é perfeita (Dt 32,4). Porventura exis-te um Deus fora de mim? Não existe outra Rocha: eu não conheço nenhuma! (Is 44,8). Eu vos amo, ó Senhor, sois minha força, minha rocha e poderosa salvação... (Sl 17,2-3). São Pedro, ele que de Simão o Senhor cha-mará de Cefas (que quer dizer pedra), nos introduz no fundamento inabalável de nosso Deus, nosso Amém! (cf. 1Pd 2,4-8).

O rei das nações – criador – vai restituir ao ho-mem pecador, com a sua salvação, a imagem e seme-lhança perdidas. Cristo vai, pela sua redenção, “con-gregar na unidade todos os filhos dispersos (Jo 11,52), e assim haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10,16). Tudo isso vai se realizar pela edificação da Igreja.

“A tempestade não deixa de pé o edifício cons-truído sobre a areia; se queres, pois, edificar, edifica so-bre a rocha. Quando se levantar a tempestade, o que estiver fundado sobre a rocha não ruirá, mas o que es-tiver sobre a areia vacilará, provando que não estava bem fundado. Por isto, antes que a tempestade comece, antes que os ventos se levantem e as correntes intumes-çam, enquanto tudo ainda está em silêncio, edifiquemos nossa casa com as pedras firmes e variadas dos precei-


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tos de Deus. E assim, quando a perseguição recrudescer e o terrível furacão se levantar contra os cristãos, mos-tremos ter nosso edifício construído sobre a rocha que é o Cristo Jesus” (Orígenes – Hom. Sobre o Evangelho de São Lucas 26,3-5).


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Dia 23 de dezembro

Ó Emanuel: Deus conosco,1 nosso Rei Legislador,2

Esperança das nações e dos povos Salvador:3

vinde enfim para salvar-nos,ó Senhor e nosso Deus.


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1 Eis que a jovem concebeu e dará à luz um filho, e por-lhe-á o nome de Emanuel (Is 7,14, cf. Mt 1,23).

2 O Senhor será o nosso juiz, será o nosso legislador, o Senhor será o nosso rei: ele nos salvará (Is 33,22).

3 O cetro não se afastará de Judá, nem o bastão de chefe de entre seus pés, até que o tributo lhe seja trazido,

porque nele os povos esperarão (Gn 49,10).


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O tema desta antífona continua o da precedente. Podemo-nos perguntar: será que Deus legisla à manei-ra de um legislador da sociedade civil? Vamos escutar o que ele mesmo nos responde: Este mandamento que hoje te ordeno não é excessivo para ti, nem está fora do teu alcance... Sim, porque a palavra está muito perto de ti: está na tua boca e no teu coração, para que a ponhas em prá-tica (cf. Dt 30,11-14), e Dou-vos um mandamento novo: assim como vos amei, amai-vos também uns aos outros (Jo 13,34). Nunca devemos esquecer que o nosso verdadei-ro rei, legislador e salvador é o Cristo. Só há um legislador e juiz, a saber, aquele que pode salvar e condenar (Tg 4,12).

“’Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho’ (Is 7,14; cf. Mt 1,23). Quem acredita que uma virgem te-nha concebido, crê também facilmente que ela só possa ter dado à luz o Filho de Deus. Por isto diz Isaías: ‘E o chamarão com o nome de Emanuel (Is 7,14; cf. Mt 1,23), o que traduzido significa: Deus está conosco’. Sim, Deus está conosco.

Até então era ‘Deus acima de nós’, ‘Deus contra nós’, mas hoje é Emanuel, hoje é Deus conosco em sua natureza e em sua graça.

Conosco em nossa fraqueza, conosco em sua be-nignidade.

Conosco em nossa miséria, conosco em sua mise-ricórdia.


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Conosco por amor, conosco por piedade. Conosco por ternura, conosco por compaixão.Ó Emanuel! Ó Deus conosco! Que fareis, filhos de

Adão? Deus está conosco! Conosco! Como não pudestes, ó filhos de Adão, subir ao céu para estar com Deus, ele então desceu do céu para ser o Emanuel, o Deus conosco, e nós agimos com dissimulação quando se trata de ir a Deus, para estarmos nele.

Ó filhos dos homens, até quando tereis o coração pesado, por que amais o nada, e buscais a ilusão? (cf. Sl 4, 3). Eis a verdade!

Por que amais o nada e buscais a ilusão? Eis a pala-vra verdadeira e duradoura.

Por que buscais a ilusão? Eis o Emanuel, eis o Deus conosco.

De que modo mais pode ele estar comigo? Peque-no como eu, fraco como eu, nu como eu, pobre com eu. Em tudo se conformou a mim, assumindo o que é meu e dando o que é seu. Eu jazia morto, estava sem voz e sem sentidos, e a luz dos meus olhos não estava comigo.

Hoje desceu o grande homem, profeta poderoso em obra e em palavra (Lc 24,19). Pôs sua face sobre minha face, sua boca sobre minha boca, suas mãos sobre minhas mãos (cf. 2Rs 4,34), fez-se o Emanuel, o Deus conosco!” (Elredo de Rievaulx – Sermo in Annunt).


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Na verdade, estas ANTÍFONAS “Ó” são uma joia! Elas exprimem toda a teologia do ciclo litúrgico do Advento, isto é, a encarnação do Filho de Deus, a redenção e a continuação do resgate dos seres huma-nos até a sua segunda volta. No mistério do Natal já está contido o mistério pascal.


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Quadro das Antífonas “Ó” e dos Versículos Aleluiáticos

Dias Antífonas “Ó” Versículos Aleluiáticos

17 de dezembro

Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo, e atingis até os con-fi ns de todo o universo, e com for-ça e suavidade governais o mundo inteiro: vinde ensinar-nos o cami-nho da prudência!

Ó Sabedoria do Altíssimo, que tudo determina, com doçura e vi-gor: oh, vinde nos ensinar o cami-nho da prudência!

18 de dezembro

Ó Adonai, guia da casa de Israel, que aparecestes a Moisés na sarça ardente e lhe destes vossa lei so-bre o Sinai: vinde salvar-nos com braço poderoso.

Ó Guia de Israel, que, no monte do Sinai, orientastes a Moisés: oh, vinde redimir-nos, com braço es-tendido!

19 de dezembro

Ó Raiz de Jessé, ó estandarte le-vantado em sinal para as nações! Ante vós se calarão os reis da terra, e as nações implorarão misericór-dia: Vinde salvar-nos! Libertai-nos sem demora!

Ó Raiz de Jessé, sinal das nações: oh, vinde livrar-nos e não tardeis mais!

20 de dezembro

Ó Chave de Davi, cetro da casa de Israel, que abris e ninguém fecha, que fechais e ninguém abre: vinde logo e libertai o homem prisionei-ro, que, nas trevas e na sombra da morte, está sentado.

Ó Chave de Davi, que abre as portas do Reino eterno: oh, vinde e livrai do cárcere o preso, sentado nas trevas!

21 de dezembro

Ó Sol nascente, justiceiro, res-plendor da Luz eterna: ó vinde e iluminai os que jazem entre as tre-vas e, na sombra do pecado e da morte, estão sentados.

Ó Emanuel, sois nosso Rei e Orientador: vinde salvar-nos, ó Se-nhor e nosso Deus.

22 de dezembro

Ó Rei das nações, desejado dos povos, ó Pedra angular, que opos-tos unis. Ó vinde e salvai este ho-mem tão frágil, que um dia criastes do barro da terra.

Ó Rei e Senhor das nações, e Pe-dra angular da Igreja: vinde salvar a mulher e o homem, que, um dia, formastes do barro.

23 de dezembro

Ó Emanuel, Deus conosco, nosso Rei Legislador, esperança das na-ções e dos povos Salvador: vinde enfi m para salvar-nos, ó Senhor e nosso Deus.

Ó Rei e Senhor das nações, e Pe-dra angular da Igreja: vinde salvar a mulher e o homem, que, um dia, formastes do barro.

24 de dezembro

Ó Sol da manhã, ó Sol de justiça, da eterna luz esplendor: oh, vinde brilhar para o povo sentado, na sombra da morte!

As traduções são da Liturgia das Horas e do Missal cotidiano (Paulus, 1997).


Referências bibliográficas

ADAM ADOLF. O ano litúrgico. Edições Paulinas, 1982.

DUFRASNE DIUDONNÉ. L’Avent – Mame/Éditions du Moustier, 1991.

Lecionário Monástico I, Edições Lumen Christi, RJ, 1995.

Liturgia das Horas I, 1984.

NESMY C. J. Espiritualidade de Natal. São Paulo: Edições Paulinas, 1966, p. 95.

NOCENT ADRIEN. Célébrer Jésus Christ - Introduction - L’Avent. Delarge, 1975.


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O OLHAR PASCAL DO NATAL

Um olhar sobre as Antífonas “Ó”a partir dos Versículos Aleluiáticos

Maravilhar-se diante das riquezas contidas em nossa liturgia é estimulante e fortificante para nossa fé.

A oitava do tempo do Advento, além das belas antífonas “Ó”,1 nos premia também com os versículos começando e terminando o Aleluia precedente à pro-clamação do Evangelho da missa cotidiana. Além dis-so, perscrutando o conteúdo dos versículos é evidente que o pano de fundo é o Mistério Pascal: “Ó Chave de Davi, vinde e livrai do cárcere o preso sentado nas trevas” (20 de dezembro).

Já antes da Idade Média existia o canto do Ale-luia. O canto gregoriano, na sua “idade de ouro”, viu um grande desenvolvimento do Aleluia com os seus vocalizos – expressão musical a mais perfeita da fe-licidade (Wagner, um especialista, diz que os Coptas cantavam o Aleluia durante quinze minutos).

1 Nesta segunda parte do livrinho, um breve estudo bíblico e patrístico de cada antífona “Ó”.


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Aleluia é a adaptação em nossa língua do termo hebraico Halelû Yah, que significa Louvai-Yah (Iahweh). Trata-se de um convite ao louvor. Aleluia aparece no Novo Testamento somente no final do livro do Apo-calipse. É a aclamação da liturgia celestial (19,1.3.4.6).

Aleluia encontra-se também no livro de Tobias (13,18), mas sobretudo nos cinco salmos de ação de graças 104,1-5, 106, 111, 112, 113 e nos salmos 146-150 (23 vezes encontra-se nos salmos).

A função ministerial do Aleluia é de acompa-nhar a procissão do Evangeliário (cf. IGMR 94 e 131). É evidente que a palavra Aleluia deve ser sempre canta-da. Escutemos Santo Agostinho:

Aleluia significa “Louvai o Senhor”. Louvemos o

Senhor pela vida com os lábios, com o coração e a

boca, com a voz e as ações. Deus quer que cantemos

Aleluia sem nenhuma nota destoante. Que nossos lá-

bios concordem com nossa vida e a boca com a cons-

ciência. Concordem nossas vozes com nossas ações,

a fim de que, eventualmente, nossas boas vozes não

testemunhem contra nossa má conduta (Sermo 256).

Na origem o versículo acompanhando o Aleluia era uma homenagem ao Cristo Senhor: Deus é Rei e se vestiu de majestade (Sl 92,1). Durante a oitava do Ad-vento, o versículo aleluiático conservou esta homena-gem, mas mais especificamente ao Messias.


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17 de dezembro

O primeiro versículo do Aleluia da aclamação ao Evangelho da oitava que precede a solenidade do Natal do Senhor indica qual é o caminho que deve-mos tomar para ter acesso à manjedoura: a Sabedoria. A Sabedoria é um dos títulos retomados do Antigo Tes-tamento.


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Ó Sabedoria do Altíssimo,que tudo determina, com doçura e com vigor:oh, vem nos ensinar o caminho da prudência.

Nem foi sempre a sabedoria do Alto que acom-panhou a escolha dos antepassados de Cristo, que nós escutamos na sua longa genealogia relatada pelo evan-gelista Mateus (cf. Mt,1)

Contudo a sabedoria de Salomão atravessou os séculos. Ela ficou famosa a partir do seu julgamento a respeito de duas prostitutas que reivindicavam a pro-priedade de um recém-nascido (1Rs 3,16ss).

Mas a sabedoria personificada a partir dos escri-tos de Sabedoria nos foi revelada com a pessoa de Jesus Cristo, pão vivo que sacia a fome do ser humano (cf. Jo 6,35ss).

A sabedoria, com sua doçura e seu vigor (sus-tento e remédio da nossa vida peregrina – cf. oração antes da comunhão), nos é oferecida sobre o altar que se chama manjedoura.

Em verdade Jesus, Palavra da Vida, é a Sabedoria que sai da boca do Altíssimo. Ela participa da criação e governa o mundo! São Paulo, na sua carta aos Co-lossenses, o expressa perfeitamente: Ele é a Imagem do Deus invisível, o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos céus e na terra, as visí-veis e as invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados, Auto-ridades, tudo foi criado por ele e para ele (1,15-16).


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Como cada versículo de aclamação, o nosso se conclui com um pedido de socorro: Vem ou Vinde! Com efeito, precisamos ser ensinados para vencer os numerosos obstáculos que se apresentam, como foram numerosos para Maria e José procurando um lugar de-cente para o Filho de Deus, Sabedoria de Deus “único sábio” (cf. Rm 16,27).

Sim! Rezamos, suplicamos para Cristo, Sabe-doria do Pai, nos ensinar o caminho da verdade e da prudência. Estamos a caminho para o Reino, nossas próprias forças nos abandonam. Vem, Senhor Jesus, “tesouro da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2,3).

Belém, a “casa do pão”, é a santa Igreja, na qual se serve o corpo de Cristo, o pão verdadeiro. A manjedoura de Belém é o altar da Igreja, onde as ovelhas de Cristo se alimentam... Nesta manjedoura, sob as espécies do pão e do vinho, está o verdadeiro corpo e sangue de Cristo. Cremos que ali está o próprio Cristo, mas envolto em pa-nos, isto é, oculto no sacramento.

Santo Elredo de Rievaulx (+ 1167) – Sermo 2 in Natali Domini

Aos carentes de sabedoria, ela diz: Vinde, comei co-migo o meu pão e bebei o vinho que misturei para vós (Pr 9,4-5). Tanto àqueles que não têm obras da fé, quanto aos mais perfeitos em sua doutrina ele chama: “Vinde, comei o meu corpo que à semelhança do pão dos fortes


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vos nutre; e bebei o meu sangue, que como vinho de doutrina celeste vos deleita e conduz à deificação; pois, de modo admirável, misturei o sangue à divindade para vossa salvação”.

Procópio de Gaza (+ 528 d.C.) – Comentário sobre o Livro dos Provérbios, 9


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18 de dezembro

Para o segundo dia da oitava do Advento o Se-nhor Deus nos é apresentado como sendo o Guia de Israel – anúncio, prefiguração do Messias – Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6).


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Ó Guia de Israel, que, no monte do Sinai, orientastes a Moisés:oh, vinde redimir-nos, com braço estendido!

Enquanto no monte Sinai Moisés receberá de Deus os mandamentos, o Novo Moisés, Jesus Cristo, num monte perto de Cafarnaum, vai dar aos seus dis-cípulos as bem-aventuranças, Lei da Nova Aliança.

A mão do Senhor não vai cessar ao longo de sua vida de anúncio da Boa-nova de sustentar, aliviar, so-correr, ajudar, assegurar... o humilde de coração.

Assim acontecerá com um leproso (Mt 8,3); com a sogra de Pedro (Mt 8,15); com a filha morta de um chefe da sinagoga (Mt 9,25) [anúncio da ressurreição! No ícone da ‘descida e subida dos infernos’, vemos o Cristo ressuscitado segurando com as suas mãos os nossos primeiros pais Adão e Eva]; com Pedro afun-dando nas águas (Mt 14,31).

Enfim o profeta Miqueias anunciou esta voca-ção de guia e pastor do povo – profecia que o evange-lista Mateus retomará na narração da vinda dos magos em Jerusalém: E tu, Belém, terra de Judá... de ti sairá um que será o guia que apascentará Israel, o meu povo (Mt 2, 6; cf. Mq 5,1).

É interessante reparar a passagem do papel de guia (Primeiro Testamento) para o papel de pastor (Se-gundo Testamento). Jesus nunca se chamou guia do seu povo, mas “eu sou o bom (belo) pastor (Jo 10,14). O pastor


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que vai em busca da ovelha perdida e que, com os seus braços, “alegre a coloca sobre os ombros” (Lc 15,5).

Anúncio dos seus braços estendidos sobre o ma-deiro da Cruz. Braços que abraçam a humanidade re-dimida.

Na verdade, esse bom Pastor, que havia deixado nas montanhas celestes as noventa e nove ovelhas, isto é, os anjos, para procurar a ovelha que se havia perdi-do, tendo-a encontrado, colocou-a misericordiosamen-te sobre os ombros e a reconduziu ao aprisco celeste. Ofereceu-a então ao Pai do céu, dizendo: “Pai, encontrei a ovelha perdida que a serpente havia induzido ao erro. Tendo-a visto, coberta pela lama de uma vida de pecado, estendendo minha mão divina, imediatamente a levantei e, impelido por uma profunda compaixão, lavei-a no rio Jordão, perfumando-a depois com a unção do Espírito Santo. Agora, ressuscitado, venho à tua presença para oferecer à tua divindade este dom digno de ti: a ovelha reencontrada”.

Santo Epifânio (+ 403) - Hom. 4 in assumptionem Christi


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19 de dezembro

Ó Raiz de Jessé, sinal das nações:oh, vinde livrar-nos, e não tardeis mais!


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Em verdade o Messias recapitula na sua pessoa o pequeno resto (os anawin – Sf 3,11-13) salvo por Deus segundo a profecia de Isaías (Is 4,2-6). Todas as pro-messas estão cumpridas por Ele.

A Cruz é o sinal levantado em sinal para as na-ções.

O versículo de hoje, como do dia 20, vai tam-bém – com o símbolo da Chave – nos apresentar a Cruz como “âncora” da nossa salvação.

Como é grande o mistério da nossa salvação, sendo que tudo começou com o germe que nasceu de Jessé, o pai de Davi. Os antepassados de Davi tendo Rute, estrangeira, casada com Booz. “Booz gerou Obed. Obed gerou Jessé e Jessé, Davi” (Rt 4,21-22; Mat 1,5-6).

Na segunda parte do versículo de aclamação ao Evangelho nós suplicamos ao Senhor para nos libertar, nós não podemos mais esperar! A urgência da salvação para toda a humanidade é fortemente salientada.

Estamos cercados de calamidades. A oitava do Advento, ao longo dos dias, vê crescer a necessidade urgente da salvação! Senhor, não tardeis mais!

Fazemos nossa a súplica do salmista:Sois meu Deus libertador e meu auxílio:não tardeis em socorrer-me, ó Senhor! (Sl 69,6).Será o chamado feito a Pedro pelos habitantes

de Lida, que acabam de ver falecer sua benfeitora Tabi-ta: “Vem ter conosco sem demora” (At 9,38).


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Senhor, lembra-te de mim, quando entrares em teu reino. O que teus milagres não puderam fazer, a tua cruz fez. Ele te reconheceu com maior certeza e mais perfeita-mente sobre a cruz do que na pregação e nos milagres. Ó poder da cruz, ó triunfo do crucificado! Desde que viu o madeiro, o homem reconheceu teu reino. Vendo-te cru-cificado, compreendeu que eras rei. Ó perfume da cruz, que dissipas as dúvidas! Senhor! - exclama o ladrão, ven-do com seus olhos o preço com que Deus o resgatou.

Santo Anselmo (+ 1109) – Oratio 43


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20 de dezembro

Ó Chave de Davi, que abre as portas do Reino eterno:oh, vinde e livrai do cárcere o preso, sentado nas trevas!


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Este versículo da aclamação ao Evangelho sa-lienta de modo especial o que será desenvolvido na antífona “Ó” de hoje. Ele ilustra a palavra do anjo Ga-briel a Maria: Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Jesus que significa, como todos sabem, Deus salva.

Assim a liturgia de hoje insiste em nos indicar a profunda razão da vinda do Messias: a salvação das nossas almas! Sim, Senhor, vem e seremos salvos! O que nós manifestamos quando dizemos na segunda fórmula do Ato penitencial: Manifestai, Senhor, a vos-sa misericórdia e dai-nos a vossa salvação.

Em verdade, a “Chave de Davi” é o próprio Cris-to. Seu símbolo sendo a Chave, isto é a Cruz. Sabemos que antigamente as grandes e pesadas portas das ci-dades estavam fechadas com uma pesada trave – era a chave. Um só homem não a podia colocar! Esta trave, esta chave, vai se tornar os braços da Cruz que Cristo carregará até o Calvário e sobre a qual será crucificado!

Agradecemos a Deus por nos ter dado a chave que nos abre as portas do Reino eterno. Como eco, es-cutemos o anjo dizer à Igreja de Filadélfia: Assim fecha, e fechando, ninguém mais abre (Ap 3,7).

Um pouco antes João disse que é o Cristo que tem as chaves da Morte e da Morada dos Mortos (Ap 1,18), porque ele ressuscitou.

Assim a liturgia de hoje já nos faz olhar para o tempo pascal.


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Obrigado, Senhor, por nos tirar da prisão, nos livrando do cárcere da finitude das nossas trevas (cf. Is 40,7).

Vem, Senhor Jesus. Vem!

Moisés prefigurou a cruz quando crucificou a ser-pente para que fosse salvo, pela fé, aquele que, mordido pela serpente viva, olhasse para a de bronze. Na verdade, se uma serpente de bronze erguida deu a salvação, o Fi-lho de Deus encarnado, preso à cruz, não a daria?

São Cirilo de Jerusalém (+ 387) – Catequese 13, 20


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21 de dezembro

Ó Emanuel, sois nosso Rei e Orientador:vinde salvar-nos, ó Senhor e nosso Deus.


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O versículo da aclamação ao Evangelho de hoje não bate com a antífona “Ó” do mesmo dia! Com efei-to, nós cantaremos: Ó Sol nascente...

No versículo da missa são dados a Deus os quali-ficativos de Rei e Orientador, ou melhor, de Legislador. Funções messiânicas que o povo de Israel conheceu ao longo de sua espera do Emanuel, Deus conosco.

Podemos reparar que Moisés, o legislador, não era rei, enquanto Davi e Salomão, por exemplo, eram reis, mas não legisladores.

O Emanuel será rei e legislador.Ele é reconhecido como rei pelos magos, que

perguntam a Herodes: Onde está o rei dos judeus, recém--nascido?

A resposta dos sacerdotes e escribas convocados por Herodes relata a profecia de Miqueias, dizendo: De ti, Belém, sairá um que será guia que apascentará Israel, o meu povo (cf. Mt 2,6).

Assim vemos que as funções de rei e legislador, com a pessoa do Emanuel, se confundem. Legislador, Jesus o será plenamente quando diz: Dou-vos um man-damento novo: que vos ameis uns aos outros (Jo 13,34).

A segunda parte do versículo salienta o aspec-to salvador do Emanuel. Missão profetizada por Isaías, quando diz: Eu, eu sou o Eterno, e fora de mim não há nenhum Salvador (Is 43,11). Missão retomada por Maria no seu canto: O meu espírito se alegra em Deus, meu Sal-vador (Lc 1,47).


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A salvação que Jesus vai cumprir pela sua paixão e ressurreição nós a celebramos em cada Eucaristia. É o que cantamos após a consagração: Anunciamos, Se-nhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurrei-ção. Vinde, Senhor Jesus!

Rejeitar o mal e escolher o bem é próprio só de Deus. Assim, escutando que ele se alimentará de coalhada e de mel, nós não veremos somente um homem; por ou-tro lado, o nome de Emanuel não fará pensar a um Deus sem carne.

Santo Irineu (+ 202) – Contra as Heresias – L. III 21, 6

Cristo era rei de Israel para governar as almas, orientando-as para a eternidade e conduzindo ao reino dos céus os que creem, esperam e amam. Se o Filho de Deus, igual ao Pai, o Verbo por quem foram feitas todas as coisas, quis ser Rei de Israel, foi uma condescendência de sua parte, não uma promoção. Foi um sinal de miseri-córdia, não um aumento de poder.

Santo Agostinho (+ 430) – Tractatus 51, 3-4


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22 de dezembro

Ó Rei e Senhor das nações, e Pedra angular da Igreja:vinde salvar a mulher e o homem, que, um dia, formastes do barro!


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O versículo da aclamação ao Evangelho é quase idêntico à antífona “Ó” que cantaremos esta tarde.

Como ontem, destaca-se a realeza do Senhor que está para chegar. Jesus diante do procurador ro-mano Pilatos afirma: Tu o dizes: eu sou rei! O que o faz ser objeto de gozação da parte dos soldados, quando o coroarão com uma coroa de espinhos e jogarão sobre ele um manto de púrpura (cf. Jo 18,37 e 19,2).

Jesus Cristo, rei do universo, Senhor dos tempos e dos homens: a Igreja o celebra cada último domingo do Tempo Comum.

O versículo o aponta como sendo a Pedra an-gular da Igreja, salvando o homem e a mulher das origens – macho e fêmea criando-os, à sua imagem e semelhança.

O pecado os fragilizou, afastando-os do Paraíso.O Emanuel tudo fará para restaurar a unidade

primordial. Como pedra angular da Igreja ele vai reu-nir em um só povo, o povo da Nova Aliança, os judeus e os pagãos: Ele é a nossa paz: de ambos os povos fez um só, tendo derrubado o muro de separação e suprimido em sua carne a inimizade – a Lei dos mandamentos expressa em preceitos –, a fim de criar em si mesmo um só Homem Novo estabelecendo a paz, e de reconciliar a ambos com Deus em um só Corpo, por meio da cruz, na qual ele matou a inimizade (Ef 2,14-16).

O Rei dos reis e Senhor dos senhores – montan-do um cavalo branco do livro do Apocalipse – salva a todos e todas (cf. Ap 19,11-16).


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A insistência sobre a realeza do Emanuel não deve nos surpreender, visto que no séc. VII o Natal era celebrado como uma festa de Cristo Rei. Ele era aclamado não somente no humilde acontecimento do seu nascimento, mas também no acontecimento glorioso do fim do mundo que todos esperavam com ansiedade.

A respeito da ressurreição de Cristo, se revelam mistérios antigos e novos.

Ali, Moisés se refugiou na pedra do rochedo; aqui, o povo se abriga na pedra da fé. Ali, quebraram-se as tábuas da lei – indício de que a lei ia passar e envelhecer; aqui, as leis de Deus se conservam perfeitas e invioladas. Ali, para castigo do povo, se funde um novilho de bronze; aqui, para salvação do povo, se imola o Cordeiro de Deus. Ali, fere-se a pedra com uma vara; aqui, traspassa-se o lado de Cristo que é a pedra. Ali, a água jorra da pedra; aqui, brota água e sangue do lado que dá a vida.

Santo Epifânio (+ 403) – Hom. 3 in sanctam Christi resurrectionem


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23 de dezembro

Nas vésperas da oitava do Advento a Igreja nos deixou como versículo do Evangelho o mesmo de ontem.

Ó Rei e Senhor das nações, e Pedra angular da Igreja:vinde salvar a mulher e o homem, que, um dia, formastes do barro!


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Ontem salientamos o aspecto da realeza de Deus menino. Hoje podemos contemplar o Senhor como pedra angular da Igreja. A pedra angular é a pedra que une dois muros opostos. Em verdade o Cristo que vem é aquele que une. Nós lembramos a sua oração sacer-dotal: Pai, que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti (cf. Jo 17,21).

Sabemos que a imagem da pedra angular vem do salmo 117: A pedra que os pedreiros rejeitaram, tornou--se agora a pedra angular (v. 22).

Diante do Sinédrio o apóstolo Pedro o lembrará a todos (cf. At 4,11). Depois será a vez de Paulo na sua carta aos Efésios: Estais edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, do qual Cristo Jesus é a pedra angular! (Ef 2,20).

Como pano de fundo é bom lembrar o gesto simbólico do profeta Ezequiel (37,19): Vou tomar o le-nho de José (o reino do Norte) que está na mão de Efraim, assim como as tribos de Israel que estão com ele, para o juntar ao lenho de Judá (o reino do Sul), de modo que, unidos na mão, não sejam senão um.

Em verdade Cristo cumpre a unidade. Ele é o bom pastor que caminha à frente de suas ovelhas, que o seguem porque conhecem a sua voz (Jo 10,4).

A missão de Cristo-Emanuel – congregar na uni-dade todos os filhos de Deus dispersos (Jo 11,53), – nos incentiva a suplicar para que diante da manjedoura as


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famílias, as comunidades, as Igrejas, os países perma-neçam hoje e sempre desarmados! Vinde, Senhor Jesus. Vinde!

Eu sou a pedra inviolável, angular, que faço de duas uma só coisa, o fundamento inalienável que nin-guém pode substituir por outro. Contudo, Pedro, tam-bém és pedra, pois és fortalecido pelo meu poder a fim de teres igualmente comigo, por participação, aquilo que é próprio do meu poder.

Santo Odão de Cluny (+942) – Sermo 1


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24 de dezembro

Com o versículo da aclamação ao Evangelho de hoje, poucas horas antes do nascimento de Deus-me-nino, a Igreja nos faz retomar a antífona “Ó” do dia 21:

Ó Sol da manhã, ó Sol de justiça, da eterna luz espelendor:oh, vinde brilhar para o povo sentado, na sombra da morte!


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Estas últimas palavras nos ligam ao final do cântico de Zacarias que escutamos como Evangelho: “Deus, o sol que nasce do alto, nos visitará, para iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte” (Lc 1, 78-79).

As palavras de introdução “Ó Sol da manhã” tra-duzem a palavra “Oriens”, palavra que tem a sua ori-gem no começo da nossa Bíblia quando nos é dito que “Deus plantou um jardim em Éden, no Oriente” (Gn 2,8).

Em verdade, Jesus é o Sol nascente; pela sua res-surreição nos abre de novo o acesso ao Jardim: com efeito, foi num jardim que ele foi sepultado e ressusci-tou (Jo 19,41).

Jesus é também chamado “Sol de justiça”. Este qualificativo encontra sua raiz na profecia de Mala-quias: Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas (Ml 3,20a). Não foi também pensando nele que, em nome dos pecado-res, o profeta disse: A luz da justiça não brilhou para nós, nem para nós nasceu o Sol? (Sb 5,6).

Enfim este título de Sol de justiça desemboca no julgamento em que cada um de nós aparecerá a desco-berto! Não haverá possibilidade de fingimento!

Trabalhemos a fim de receber “a coroa da justiça, que nos dará o Senhor, justo juiz, naquele dia” (2Tm 4,8). Então não conheceremos mais a sombra da morte!


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Esta luz que vem do céu, que chamamos luz do sol, ao aparecer ilumina a terra, traz o dia, faz discernir as formas e distinguir as cores. É um grande bem e um gran-de dom de Deus para todos os mortais: que o Senhor seja louvado por suas obras! Se o sol é tão belo, que haverá de mais belo que o seu autor?

Santo Agostinho (+ 430) – Sermo 120, 2

É com razão que o povo chama este dia do nas-cimento do Senhor de novo sol, e sua autoridade em o afirmar é tal que mesmo os judeus e os gentios estão de acordo com este nome. Ao dizer novo sol, demonstra haver também um antigo. E antigo, eu diria, é o sol deste mundo, que está sempre a desaparecer, que as paredes obstruem e pelas nuvens é encoberto (...)

Mas então, se está claro que tal sol é o antigo, quem há de ser o novo, senão o Cristo Senhor, do qual está escrito: Para vós brilhará o sol de justiça? (Ml 3,20). Não foi também pensando nele que, em nome dos pe-cadores, o profeta disse: A luz da justiça não brilhou para nós, para nós não nasceu o sol? (Sb 5,6).

São Máximo de Turim (+ 423) – Sermo 62, 1


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BREVE CONCLUSÃO

As antífonas “Ó” e os versículos aleluiáticos for-mam um díptico que se completa vantajosamente. En-quanto poucos leigos têm acesso à Liturgia das Horas onde as antífonas “Ó” são como engastadas na oração da tarde, os versículos aleluiáticos são de acesso mais fácil pelo fato que em cada eucaristia eles são cantados ou lidos.

Este breve trabalho quis indicar a sintonia exis-tente entre dois tipos de antífonas que embelezam a liturgia do Advento.

Que o Cristo Jesus, Sabedoria do Altíssimo, Guia de Israel, Raiz de Jessé, Chave de Davi, Emanuel, Rei e Senhor das nações e Sol da manhã nos mostre os pre-liminares da nossa salvação.

Para concluir, eis o que nos diz a Pontifícia Comissão Bíblica na sua “Interpretação da Bíblia na Igreja”:

O lugar habitual da leitura bíblica é a igreja, no

decorrer da liturgia. É por isso que a interpretação pro-

posta é sempre de natureza teológica, pastoral e teolo-

gal, a serviço das comunidades e dos fiéis individuais.

Os Padres consideram a Bíblia antes de tudo como

Livro de Deus, obra única de um único autor. Mesmo

assim eles não reduzem os autores humanos a meros


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instrumentos passivos, e eles sabem atribuir a um ou

outro livro tomado individualmente uma finalidade

singular. Mas o tipo de abordagem deles dá apenas

uma pequena atenção ao desenvolvimento histórico

da Revelação. Numerosos Padres apresentam o Logos,

Verbo de Deus, como autor do Antigo Testamento e

afirmam assim que toda a Escritura tem um alcance

cristológico (Paulinas – A voz do Papa 134 – p. 117).


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Referências bibliográficas

Lectionário Monástico I.II.III. Rio de Janeiro: Lúmen Christi 1995/1999/2000.

Liturgie (Revista) 151 (novembre 2010).

O Caminho – 6. Diocese de São José dos Pinhais, 2012-2013.

Revista Beneditina 13. (Nov-Dez 2005).


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Índice

Nossa Senhora do “Ó”............................................................5

Orações a Nossa Senhora do “Ó” ...........................................8

Antífonas “Ó” – Um tesouro da Liturgia do Advento .........12

Quadro das Antífonas “Ó” e dos Versículos Aleluiáticos.....45

O olhar pascal do Natal .......................................................48

Breve conclusão ....................................................................75


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