anteprojeto do cpc e repercussões no processo do trabalho

27
Rev. TST, Brasília, vol. 78, n o 1, jan/mar 2012 109 ANTEPROJETO DO CPC E REPERCUSSÕES NO PROCESSO DO TRABALHO José Antonio Pancotti * Não se pode aguardar solução milagrosa para as inúmeras questões processuais que nos pre- ocupam há muito tempo. Milagres são operados por serem humanos, não pela lei. (Tereza Arruda Alvim Wambier) INTRODUÇÃO D esde que se optou, no Brasil, por codificar a normatização do processo judicial, o Código de Processo Civil teve a função de ser a fonte sub- sidiária dos processos administrativo, eleitoral, penal e trabalhista. O Código tem, por isso, o caráter de um instrumento base e científico que fornece estrutura, conceitos e princípios para a construção consistente e orientadora de Teoria Geral do Processo. De sorte que todas as vezes que se apresenta proposta de inovação do Código de Processo Civil desperta interesse geral e particularmente por todos quantos atuam ou militam na Justiça do Trabalho. É com esta preocupação que nos propomos a examinar alguns aspectos das repercussões do anteprojeto do Código de Processo Civil que tramita no Congresso Nacional. Ab initio louve-se a incorporação, no anteprojeto, o Livro I, Título I, Capítulo I, “Dos Princípios e das Garantias Fundamentais do Processo Civil”, perfilhando a linha inaugurada pela Constituição Federal de 1988, o novo Código contempla a visão do movimento pós-positivista que norteou o último quartel do Século XX e esse início do Século XXI. Neste sentido é o enun- ciado do art. 1º, O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e princípios fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código, além de preconizar que o juiz, no julgamento da lide deve aplicar os princípios * Desembargador do TRT da 15ª Região; Mestre em Direito Constitucional; Prof. de Processo do Tra- balho da UNITOLEDO de Araçatuba e Presidente Prudente.

Upload: julianodepaula

Post on 08-Nov-2015

217 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

analise do anteprojeto do novo cpc e os relfexos no processo do trabalho

TRANSCRIPT

  • Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 109

    ANTEPROJETO DO CPC E REPERCUSSES NO PROCESSO DO TRABALHO

    Jos Antonio Pancotti*

    No se pode aguardar soluo milagrosa para as inmeras questes processuais que nos pre-ocupam h muito tempo. Milagres so operados por serem humanos, no pela lei. (Tereza Arruda Alvim Wambier)

    INTRODUO

    Desdequeseoptou,noBrasil,porcodificaranormatizaodoprocessojudicial, o Cdigo de Processo Civil teve a funo de ser a fonte sub-sidiria dos processos administrativo, eleitoral, penal e trabalhista. O Cdigotem,porisso,ocarterdeuminstrumentobaseecientficoqueforneceestrutura, conceitos e princpios para a construo consistente e orientadora de Teoria Geral do Processo.

    De sorte que todas as vezes que se apresenta proposta de inovao do Cdigo de Processo Civil desperta interesse geral e particularmente por todos quantos atuam ou militam na Justia do Trabalho. com esta preocupao que nos propomos a examinar alguns aspectos das repercusses do anteprojeto do Cdigo de Processo Civil que tramita no Congresso Nacional.

    Ab initio louve-se a incorporao, no anteprojeto, o Livro I, Ttulo I, Captulo I, Dos Princpios e das Garantias Fundamentais do Processo Civil, perfilhando a linha inaugurada pelaConstituioFederal de 1988, o novoCdigo contempla a viso do movimento ps-positivista que norteou o ltimo quartel do Sculo XX e esse incio do Sculo XXI. Neste sentido o enun-ciado do art. 1, O processo civil ser ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e princpios fundamentais estabelecidos na Constituio da Repblica Federativa do Brasil, observando-se as disposies deste Cdigo, alm de preconizar que o juiz, no julgamento da lide deve aplicar os princpios

    * Desembargador do TRT da 15 Regio; Mestre em Direito Constitucional; Prof. de Processo do Tra-balho da UNITOLEDO de Araatuba e Presidente Prudente.

  • D O U T R I N A

    110 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    constitucionais e as normas legais, no as havendo, supletivamente recorrer analogia, aos costumes e princpios gerais de direito (arts. 6 e 108). A ordem enunciada indica a precedncia dos princpios constitucionais de que se deve socorrer o magistrado para a construo do raciocnio jurdico, no ato de decidir.

    A nova postura consentnea com os ideais que norteiam a hermenu-tica e a aplicao do direito material e processual, porque no se pode mais considerar a norma sem sua referncia aos comportamentos reais da sociedade, quer sob o enfoque dos valores e ideais de justia, quer por dever reconhecer o direito como busca de ordem jurdica justa. Esse movimento ps-positivista introduz, ainda, novo olhar e pensar o processo, com a normatizao dos prin-cpios, na dimenso axiolgica dos direitos fundamentais, conquista histrica e intangvel das sociedades ps-modernas.

    A caracterstica do ps-positivismo fundamentalmente um conjunto de ideias que ultrapassam os limites do legalismo estrito do positivismo-norma-tivismo de Hans Kelsen, no despreza a forte ascenso dos valores, reconhece a normatizao dos princpios, a essencialidade dos direitos fundamentais e o retorno do debate tico nas questes jurdicas1.

    1 O ANTEPROJETO E PROCESSO DO TRABALHO HARMONIZAO OU POLMICA?

    Nohdvidaemseafirmarqueasdisposiesdosarts.1,6e8doanteprojeto se harmonizam com o que dispe o art. 8 da CLT: As autorida-des administrativas e a Justia do Trabalho, na falta de disposies legais ou contratuais, decidiro, conforme o caso, pela jurisprudncia, por analogia, por equidade e outros princpios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevalea sobre o interesse pblico.

    Alm disso, est em perfeita consonncia com o art. 769: Nos casos omissos, o direito processual comum ser fonte subsidiria do direito proces-sual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatvel com as normas deste Ttulo, quando no art. 14, o anteprojeto expressamente preconiza que na au-sncia de normas que regulem os processos penais, eleitorais, administrativos ou trabalhistas, as disposies deste Cdigo lhes sero aplicadas supletivamente.

    1 BARROSO,LuisRoberto.FundamentostericosefilosficosdonovoDireitoConstitucionalbrasileiro.In: Revista de Direito da Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro, RJ, n. 54, p.77, 2001.

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 111

    Neste ponto, ouso discordar do ilustre e respeitado professor Manoel Antonio Teixeira Filho2, quando sustenta que no h harmonia, mas polmica, entreoart.14doanteprojetoeoart.769daCLT,afirmandoqueaaplicaosubsidiria por omisso axiolgica, ontolgica ou normativa. Os requisitos para se admitir a subsidiariedade do Cdigo de Processo Civil ao processo do trabalho so simultneos: omisso e compatibilidade com a normatizao da Consolidao das Leis do Trabalho. Destes parmetros no se pode prescindir para a aplicao supletiva do Cdigo. No discorrer deste trabalho, ser ressaltado que a marca de celeridade do processo do trabalho pode perder terreno, em alguns aspectos, com os avanos das sucessivas minirreformas do atual Cdigo de Processo Civil, especialmente na fase de liquidao e cumprimento da sentena, se se comparar o procedimento da liquidao por simples clculo, a teor do art. 475-A e seguintes e com o que estabelece art. 879 da CLT. Estas inovaes do Cdigo de Processo Civil albergadas no anteprojeto imprimem maior celeridade, ainda, na medida em que elimina a necessidade de citao do devedor, mediante simples intimao, enquanto a CLT conserva a determinao de citao (art. 880), inclusive para a execuo de acordos inadimplidos, mesmo celebrados em audincia com a presena das partes.

    Sustenta-se, portanto, que a Consolidao das Leis do Trabalho, mesmo nos pontos em que for omissa, no veda ao juiz do trabalho lanar mo de preceito do Cdigo de Processo Civil que melhor atenda celeridade e efeti-vidade do processo do trabalho, porque se estar procurando dar cumprimento ao preceito de direito fundamental da razovel durao do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitao, consoante o inciso LXXVII da CF/88, agora reproduzido no art. 4 ao dispor que: As partes tm direito de obter em prazo razovel a soluo integral da lide, includa a atividade satisfativa.

    No se pode, porm, criar um ambiente de crise ou de afronta, ao con-trrio, deve priorizar o princpio da segurana jurdica, por uma hermenutica conforme a Constituio, afastando a aplicao tumulturia dos avanos do Cdigo de Processo Civil a pretexto de subsidiariedade ou, como queira, em carter supletivo. O anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil enftico emestabelecerregrasnocaminhardoprocedimento,afimdequeoslitigantestenham sua disposio normas claras, precisas, objetivas e concisas. Obriga o magistrado a tomar atitudes antes impensadas. Assim, a ausncia de pressupostos processuais deve ser noticiada parte para que, se possvel, a corrija (art. 350) ou se os atos e procedimentos revelarem-se inadequados s peculiaridades da causa, dever o juiz, ouvidas as partes e observados o contraditrio e ampla

    2 Conforme Prof. Dr. Homero, aula de 23.06.2010 Curso Orientao Jurisprudencial, Curso FMB.

  • D O U T R I N A

    112 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    defesa, promover o necessrio ajuste ( 1 do art. 151), ou como se ver logo abaixo, introduz a estabilizao da demanda, consoante (art. 314).

    visvel no anteprojeto a prioridade da ausncia de surpresas para os litigantes,aflexibilidadeformaldosatoseprocedimentoseaexignciadamaiscompleta fundamentao dos despachos e das decises, com absoluta ateno e relevncia dos princpios constitucionais que informam o direito processual: o contraditrio, a ampla defesa, do devido processo legal, iniciando expres-samente por preconizar que, Ao aplicar a lei, o juiz atender aos princpios aos fins sociais a que se dirige e s exigncias do bem comum, observando os princpios da dignidade humana, da razoabilidade, da impessoalidade da deciso, da moralidade, da publicidade e da eficincia (CPC, art. 6).

    Destarte, vislumbra-se a possibilidade de reconhecer ao juiz do trabalho, uma vez convertido o anteprojeto em lei, a legitimidade para aplicar os avan-os que o novo Cdigo de Processo Civil venha introduzir no ordenamento processual civil, sem desconsiderar, por serem bvias as peculiaridades e os aspectos absolutamente incompatveis com o processo trabalhista. O que se constata, porm, que h progressos que no podem ser desprezados, do que decorre um vasto caminho a percorrer e um fecundo terreno para uma cons-truo jurisprudencial que incorpore estes avanos para a segurana jurdica dos litigantes trabalhistas.

    2 A ESTABILIZAO DO PEDIDO E DA CAUSA DE PEDIR

    Nos arts. 264 e 2943 do Cdigo em vigor, uma vez ofertada a contes-tao, estabiliza-se o pedido e a causa de pedir que no podem mais sofrer modificaes.

    Sendo caracterstica essencial para o processo do trabalho a necessidade da audincia, por priorizar conciliao, a oportunidade em que o juiz tem contato direto com as partes e testemunhas. Neste mister, o juiz acaba por colher maiores informaes, conhecer mais elementos e circunstncias que podem aperfeioar e delinear com mais preciso os contornos do litgio que sequer constam da litiscontestatio.

    O anteprojeto prope que, antes de proferida a sentena, a parte possa aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, desde que o faa de boa-f e que

    3 Art.264.Feitaacitao,defesoaoautormodificaropedidoouacausadepedir,semoconsentimentodo ru, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituies permitidas por lei.

    Art. 294. Antes da citao, o autor poder aditar o pedido, correndo sua conta as custas acrescidas em razo dessa iniciativa.

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 113

    no importe em prejuzo ao ru, assegurada a sua impugnao ou manifesta-o, facultando-lhe a produo de prova suplementar, com igual oportunidade relativamente ao pedido contraposto (art. 314).

    A respeito da inovao, Ada Pellegrine Grinover4 sustenta que:

    Sem se chegar ao extremo de se permitir a alterao do pedido e da causa de pedir em grau de apelao, como previsto em alguns ordena-mentos o que demandaria a observncia do contraditrio em segundo grau de jurisdio certamente pedido e causa de pedir podem ser alte-radosatasentena,desdequeamodificaosejafeitadeboa-f,norepresenteprejuzoinjustificadoparaapartecontrriaeocontraditrioseja preservado. Melhor reabrir o contraditrio (alegando e provando) no mesmo processo, do que relegar a matria ao ajuizamento de uma nova demanda. questo de economia processual voltada a evitar a multiplicidade de processos.

    Acrescenta a autora que, no Brasil, isto j acontece no processo penal, em que a denncia ou a queixa podem ser aditadas at a sentena, observado o contraditrio.

    A reclamao trabalhista s excepcionalmente traz pedido nico, na sua generalidade so pedidos cumulados, em que, a rigor, comportariam uma ao e um processo distintos. Se um dos pedidos se mostra de plano invivel e que, se levado avante, demandaria produo de prova que onera inutilmente o processo, o juiz, na audincia, invariavelmente convence a parte de desistir daquele pedido. Desse mesmo modo, em dilogo franco e aberto com as partes, o juiz pode e deve, em prol da celeridade e efetividade, esclarecer que a alterao do pedido e o acrscimo de pedido, s evita a nova ao que inafastavelmente ser proposta, a posterior. Se no se sentir confortvel, pelo menos aceite adi-tamento, nos moldes propostos pelo anteprojeto, para evitar, como sustenta a professora da USP, a multiplicidade de processos.

    Assim, oferecida a defesa estabilizou-se a demanda, contudo, sem preju-zo do aditamento da causa de pedir ou pedido, bem assim do pedido contraposto.

    De sorte que, salvo melhor juzo, a proposta deve ser bem vinda ao processo trabalho.

    4 GRINOVER, Ada Pellegrini. Mudanas estruturais para o novo Processo Civil. In: CARNEIRO, Athos Gusmo; CALMON, Petrnio. (Orgs.). Bases cientficas para um renovado Direito Processual. 2. ed. Salvador: Jurispodivm, 2009. p. 24.

  • D O U T R I N A

    114 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    3 DO INCIDENTE DA DESCONSIDERAO DA PESSOA JURDICA

    No processo do trabalho usual declarar-se a desconsiderao da pessoa jurdica, ex officio, na fase de execuo, quando, pelos elementos dos autos, o juiz do trabalho infere que os administradores ou os scios esvaziaram de tal modo o patrimnio da sociedade que a tornou insolvente, de sorte que o exe-quente nada encontrar, ou quando encontrar, s se depara com bens inidneos a responder pelo crdito trabalhista. No raro, a precria situao econmica da sociedade comercial, industrial ou de servios, os administradores ou scios ostentam patrimnio pessoal e particular incompatvel com os rendimentos a ttulo de pro labore ou de retiradas dos frutos da sociedade. Em comarcas do interior, em que a conduta das pessoas mais exposta perante a comunidade, este quadro extremamente desmoralizante para a Justia, porque no se con-segueentregaraocredorobemdavida,fimltimodaprestaojurisdicional,a pretexto que no encontra patrimnio do devedor (sociedade). No entanto, os seus scios no tm o menor constrangimento de ostentar padro de vida que absolutamente nada condiz com a situao econmica da empresa.

    Assim, extremamente til, na busca da real efetividade da execuo, a declarao da desconsiderao da pessoa jurdica de forma clere e expedita, com vistas alcanar os bens particulares dos administradores ou dos scios, para responder pelas dvidas trabalhistas da sociedade. O administrador ou scio passa a ser, ento, o devedor e integra o polo passivo da execuo trabalhista. Ato contnuo, determina-se sua a citao, para que a execuo contra ele prossiga.

    Apesar de ser um procedimento singelo e clere, no oferece insegurana jurdica, porque est sob a salvaguarda do contraditrio e ampla defesa, por todos os meios processuais que a Lei Processual oferece ao devedor, para re-sistir execuo. Nesta oportunidade poder alegar e provar todas as questes de fato e de direito, em defesa dos seus interesses, especialmente o eventual descabimento da declarao de desconsiderao da pessoa jurdica.

    O anteprojeto traz inovaes profundas, porque pressupe a necessidade derequerimentodaparte,paraainstauraodeumincidenteespecficocomvistas obteno de declarao judicial de desconsiderao da pessoa jurdica. Ainda que possa ser requerida em qualquer processo ou procedimento (conhe-cimento ou execuo), preconiza-se a concesso de um prazo de quinze dias para scio ou terceiro manifestar e requerer as provas cabveis, seguindo-se apossibilidadedeinstruoprobatriaespecficaqueculminarcomdecisoimpugnvel por agravo de instrumento.

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 115

    O Cdigo silente, mas parece visvel a necessidade de suspenso do processo at a deciso do incidente, mesmo porque no h disposio de que sua instaurao no suspenda o andamento do processo. Se se der na fase de conhecimento admissvel e at razovel a suspenso do procedimento, mas na fase de execuo, como visto, ser prejudicial celeridade e efetividade. No se vislumbra, porm, a necessidade de instaurao do incidente no processo do trabalho, na fase de conhecimento.

    De sorte que, primeira vista, estaria inviabilizada a desconsiderao da pessoa jurdica, por iniciativa do juiz ou de ofcio.

    No obstante omissa a Consolidao das Leis do Trabalho, este um dos pontos que o anteprojeto atrita frontalmente com os princpios da infor-malidade, celeridade e efetividade do processo do trabalho, tornando, por isso, desaconselhvel a sua aplicao. A possibilidade de cabimento de recurso da deciso, nitidamente de natureza interlocutria, vai na contramo do esprito do anteprojeto que alardeia a irrecorribilidade imediata dos interlocutrios.

    Na Justia do Trabalho, se aplicado tal procedimento incidental, ser o caos,especialmentenaexecuo,porquedeflagrariaumprocedimentoinci-dental complexo que postergaria e at atravancaria a prestao jurisdicional. A dinmica da atividade econmica que envolve a atuao empresarial, seja com a alienao do patrimnio da empresa ou alterao da personalidade jurdica, retiradaeadmissodescios,ouosescaninhosartificiososdedesviosdepa-trimnio das empresas, inviabiliza o uso de tal procedimento, sem prejuzo efetividade do processo do trabalho.

    Este um dos pontos que o anteprojeto se distancia do processo do trabalho.

    4 IRRECORRIBILIDADE IMEDIATA DAS DECISES INTERLOCUTRIAS

    As caractersticas das decises interlocutrias so proferidas no curso do processo e destinam-se a resolver questo incidente5,semprfimaoprocesso.No Cdigo de Processo Civil vigente, tais decises, se no atacadas oportu-namente, se cristalizam e tornam-se imutveis, pelo fenmeno da precluso, impedindo que sejam revistas pelo tribunal.

    Diversamente, a Consolidao das Leis do Trabalho, no art. 893, 1, preconiza que Os incidentes do processo so resolvidos pelo prprio juzo ou

    5 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. 3. v. So Paulo: Saraiva, 1984. p. 7.

  • D O U T R I N A

    116 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    Tribunal, admitindo-se a apreciao do merecimento das decises interlocu-trias somente em recursos da deciso definitiva.

    Consagrou-se a a irrecorribilidade imediata das decises interlocutrias, no processo do trabalho.

    O receio de se consolidar a precluso das decises interlocutrias, no processo do trabalho, tem levado a advogados mais cautelosos a lanarem protestos diante de tais decises desfavorveis, em audincia ou no curso do processo, reavivando-osnas razesfinais,afimdequeo juizsepronunciena sentena, possibilitando a rediscusso nas razes recursais. uma cautela vlida, porm, no necessariamente exigida.

    Neste sentido, no sob a forma de protesto, mas de agravo retido oral, a constar do termo, expostas sucintamente, o 3 do art. 523 do vigente Cdigo de Processo Civil, admite a impugnao de decises interlocutrias proferidas em audincia, conforme redao da Lei n 9.139, de 30.11.95. Alguns juzes do trabalho tinham restries no lanamento de protestos no termo de audi-ncia, porm, prtica consagrou, a ponto de, hoje, inexistindo o protesto, h entendimentosqueconfiguramprecluso.Equivaledizer,noserconhecidaa matria, se for veiculada apenas no recurso ordinrio.

    Pois bem. O art. 929 do anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil, depois de restringir as hipteses de cabimento de agravo de instrumento, no pargrafo nico traz uma inovao que muito aproxima o processo civil do processo do trabalho: As questes resolvidas por outras decises interlocutrias proferidas antes da sentena no ficam acobertadas pela precluso, podendo ser impugnadas pela parte, em preliminar, nas razes ou contrarrazes de apelao.

    No se pode descurar que o anteprojeto, no inciso IV do art. 929, ressalva em outros casos expressamente referidos neste Cdigo ou na lei, como, por exemplo, no caso de deciso em incidente de desconsiderao da pessoa jurdica.

    inegvel, porm, o avano no pargrafo nico do art. 923 do ante-projeto do novo Cdigo: As questes resolvidas na fase cognitiva no ficam cobertas pela precluso e devem ser suscitadas em preliminar de apelao, eventualmente interposta contra a deciso final.

    Ada Pellegrine Grinover6, referindo-se s precluses sustenta que:

    3.1. Precluses

    6 GRINOVER, Ada Pellegrini. Mudanas estruturais para o novo Processo Civil. In: CARNEIRO, Athos Gusmo; CALMON, Petrnio. (Orgs.). Bases cientficas para um renovado Direito Processual. 2. ed. Salvador: Jurispodivm, 2009. p. 24.

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 117

    Osistemabrasileiro,depreclusesrgidas,dificultaaprestaojurisdicional rpida e expedita, contrariando o dogma constitucional da durao razovel do processo.

    3.1.1. A recorribilidade das interlocutrias

    O sistema ptrio um dos poucos que permite a recorribilidade das decises interlocutrias, por meio de agravo (retido ou de instrumento). O Agravo retido constitui uma antigualha, completamente destituda de sentido. Se o recurso vai ser apreciado como preliminar futura, eventual apelao, para qu agravar?

    Bastar dizer que as decises interlocutrias no se sujeitam precluso, devendo ser impugnadas na oportunidade de interposio da apelao, ressalvado o recuso contra as decises interlocutrias que possam provocar leso grave e irreparvel parte.

    Oprocessodotrabalhoconvivepacificamentecomairrecorribilidadeimediata das decises interlocutrias, sem ofensa a nenhum princpio consti-tucional, porque nos casos em que possam provocar leso grave ou irreparvel parte, como as tutelas de urgncia, se proferida antes da sentena, podem ser atacadas por mandado de segurana ou proferidas na sentena, ser possvel obter a sua suspenso, por meio de medida cautelar que dar efeito suspensivo ao recurso cabvel (vide Smula n 414 do TST).

    Ademais, como visto acima, os mais cautelosos no deixam lanar seus protestos, para afastar qualquer interpretao de que se curvaram deciso interlocutria desfavorvel.

    Assim, o grande avano do anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil j se encontra incorporado, desde as suas origens, ao processo do trabalho.

    5 INCIDENTES DE RESOLUO DE DEMANDAS REPETITIVAS

    O Livro IV do anteprojeto se ocupa Dos processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnao das Decises Judiciais. Introduziu-se este expediente processual: admissvel o incidente de demandas repetitivas sempre que identificadacontrovrsiacompotencialdegerar relevantemultiplicaodeprocessos fundados em idntica questo de direito e de causar grave insegu-ranajurdica,decorrentedoriscodecoexistnciadedecisesconflitantes.

    A transcrio do preceito, por si s, ressalta em que aes repetitivas com potencialidadededecisesconflitantescausamgraveinseguranajurdica.uma realidade nos nossos Tribunais que ningum pode ignorar. O expediente

  • D O U T R I N A

    118 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    de uniformizao de jurisprudncia nas segundas instncias no se mostrou eficienteparaimpedirofenmeno,especialmentenaJustiadoTrabalho.

    Este novo incidente poderia ser acolhido pelos regimentos internos dos Tribunais do Trabalho, mediante aplicao subsidiria do novo Cdigo de Processo Civil, porque compatvel com a ordem dos processos nos Tribunais, o que, por bvio, vai requerer infraestrutura adequada para a sua implementao.

    Eis um ponto que pode aprimorar a atividade jurisdicional dos tribunais do trabalho.

    6 DINMICA DA DISTRIBUIO DO NUS DA PROVA PRINCPIO DA MELHOR APTIDO PARA A PROVA

    O anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil no art. 261 manteve o clssico ou tradicional sistema de que ao autor cabe o nus de provar os atos constitutivosdoseudireitoeaoruaprovadosfatosimpeditivos,modificati-vos e extintivos. Entretanto, no art. 262 incorporou o princpio de distribuio dinmica do encargo probatrio, atribuindo o nus de provar parte que tem maior aptido para produzi-la:

    Art. 262. Considerando as circunstncias da causa e as peculia-ridades do fato a ser provado, o juiz poder, em deciso fundamentada, observar o contraditrio, distribuir de modo diverso o nus da prova, impondo-o parte que estiver em melhores condies de produzi-la.

    1 Sempre que o juiz distribuir o nus da prova de modo diverso do disposto no art. 261, dever dar parte oportunidade para o desem-penho adequado do nus que lhe foi atribudo.

    2 A inverso do nus da prova, determinada expressamente por deciso judicial, no implica em alterao das regras referente aos encargos da respectiva produo.

    No processo do trabalho, a jurisprudncia vem, ainda que timidamente, admitindo o emprego da distribuio dinmica do nus da prova, atribuindo ao empregador, a quem compete documentar fatos e ocorrncia no contrato individual de trabalho, o nus de prova mediante carto de ponto, por exem-plo, a efetiva jornada do empregado, quando a empresa contar com mais de 10 empregados. O anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil vai mais alm, quandoexpressamenteconsagraqueoencargoprobatrioficaacargodaparte que detiver melhores condies de produzi-la.

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 119

    Ada Pellegrine Grinover7 critica, com razo, o anteprojeto no que mantm o princpio clssico, Trata-se de um princpio esttico e superado pela realidade, em que ru tem mais condies de provar fatos constitutivos do que o autor, sobretudo quando existe desigualdade real na posio das partes. Entretanto, ressalta a autora a inovao bem vinda e salutar, porque d nova dinmica instruo probatria.

    O anteprojeto, na proposta original, era mais enftico, ao cogitar que a carga da prova incumbe parte que detiver conhecimentos tcnicos ou in-formaes especficas sobre fatos, ou maior facilidade em sua demonstrao. Infelizmente foi retirada, na tramitao no Senado.

    No caso do processo do trabalho, a empresa a parte que ter conheci-mentotcnicoedetminformaesespecficasacercadefatos,semcontarque,em face do natural poder gerencial e de documentao que decorre do poder, organizao, direo e controle no ambiente de trabalho, ter sempre maior facilidade para demonstrao dos fatos, em busca da verdade.

    Na controvrsia acerca da extino do contrato, por exemplo, em que o empregador alega pedido de demisso e o empregado sustenta que foi dispen-sado sem justa causa, quem melhor tem condies de provar que houve pedido de demisso a empresa, no sendo o caso de se atribuir exclusivamente ao empregado o nus de provar a dispensa sem justa causa. Assim, no provado o pedido de demisso, deve prevalecer o argumento da dispensa sem justa causa. Na sistemtica vigente, se o empregado no prova a dispensa sem justa causa, invariavelmente acolhe-se que houve pedido de demisso, porque desconsidera a dinmica da distribuio do nus da prova.

    7 O PEDIDO CONTRAPOSTO E O FIM DA RECONVENO

    O art. 337 do anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil explicita-mente adota o sistema de que em todas as aes tm carter dplice, sempre que seria cabvel a reconveno. Assim, o ru na contestao, depois de expor toda a matria de defesa poder formular pedido contraposto para manifestar pretenso prpria que seja conexa com a ao principal ou com o fundamento da defesa.

    E mais, a desistncia da ao ou a sua extino no obsta o prossegui-mento do pedido contraposto, com a instruo do pedido efetuado na defesa.

    7 REVISTA JURDICA CONSULEX, ano XIV, 14 15.02.2010, p. 31.

  • D O U T R I N A

    120 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    O art. 307, pargrafo nico, transporta todos os requisitos para o pedido do autor, com aplicao ao pedido contraposto, isto , quanto necessidade de pedido certo e determinado, facultando-se a formulao de pedido genrico, com a determinao desde logo das consequncias do fato ilcito, ou quando a determinao do objeto ou do valor da condenao depender de ato da parte contrria.

    No h a nenhum prejuzo, porque no exige para o pedido contraposto identidade de rito, para o pedido posto, requisito para a reconveno.

    No processo do trabalho, o pedido contraposto vinha sendo adotado exclusivamente nos dissdios coletivos, admitindo-se que o suscitado formule pedido de clusulas, e por vezes acolhe-se, embora no fora objeto do pedido do suscitante.

    No dissdio individual trabalhista de procedimento sumarssimo no se admite pedido contraposto, como no procedimento sumrio, no cvel, conforme art. 278, 1 ( lcito ao ru, na contestao, formular pedido a seu favor, desde que fundado nos mesmos fatos referidos na inicial).

    Este avano do anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil deve ser incorporado ao processo do trabalho, extirpando, por exemplo, a polmica do cabimento da reconveno, no caso de ao de consignao em pagamento de verbas rescisria, em que o empregado reconvm, formulando verdadeira reclamao trabalhista ou no inqurito judicial para a apurao de falta grave em que a reconveno pede a reintegrao ou indenizao correspondente ao perodoestabilitrio.Sersuficientequeotrabalhadorreclamadonaconsignat-ria, depois de esclarecer os fundamentos da resistncia da recusa em receber as verbas que a empresa quis pagar, deduza pedido prprio de pagamento correto do que lhe entender devido, decorrente de dispensa sem justa causa, por exemplo.

    No mais oponvel o argumento da incompatibilidade de rito procedi-mental, como, por exemplo, se o pedido inicial ensejar procedimento de rito sumarssimo e o pedido contraposto rito ordinrio, porque no sistema trabalhista, comalgumaexceo,oquedefineoritoovalordopedidoinicial.

    De sorte que se o pedido inicial ensejar procedimento de rito sumarssimo e o pedido contraposto rito ordinrio, vivel que o juiz do trabalho converta paraesterito,naprpriaaudincia,determinandoareautuaoereclassificaodofeito,parafinscadastraiseestatsticos.Estaposturamaisconsentneacoma razovel durao do processo, porque busca a sua celeridade e efetividade, em vez de exigir que o reclamado venha propor reclamao trabalhista autnoma.

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 121

    8 A CONCILIAO CONCILIADORES E MEDIADORES NO JUZES

    Na Justia do Trabalho a conciliao sempre foi e continua sendo o meiomaiseficazparaacomposiodoslitgios,tantonodissdioindividualquanto no coletivo. No dissdio individual, o Juiz do Trabalho tem por dever, de ofcio, propor a conciliao, no mnimo, em duas oportunidades, na mesma audincia: no incio e depois de encerrada a instruo. Em nenhum momento se descarta a busca da conciliao, em qualquer fase do processo, e na prtica, mesmo depois de desencadeada a execuo forada.

    A opo da Justia do Trabalho pela conciliao remonta s suas origens, tanto na primeira instncia, como na segunda instncia, basta um exame da Consolidao das Leis do Trabalho8.

    A particularidade que a conciliao no processo do trabalho se dar sempre com a participao efetiva do juiz do trabalho. H uma forte resistncia em se delegar a tentativa de conciliao a servidores, como havia reserva em deleg-la aos juzes classistas, enquanto subsistiram as Juntas de Conciliao e Julgamento.

    OnovoCdigoavana,deformasignificativa,secomparadocomasuaverso original de 1973 e mesmo depois das minirreformas. Assim, o processo civil aos poucos foi se enriquecendo com as contribuies da experincia da Justia do Trabalho e avana criando conciliadores no juzes, o que se pode tornar efetivo na tentativa de conciliao.

    8 Art. 678. Aos Tribunais Regionais, quando divididos em Turmas, compete: I ao Tribunal Pleno, especialmente: a) processar, conciliar e julgar originariamente os dissdios coletivos. Art. 764. Os dissdios individuais ou coletivos submetidos apreciao da Justia do Trabalho sero

    sempre sujeitos conciliao. 1 Para os efeitos deste artigo, os juzes e Tribunais do Trabalho empregaro sempre os seus bons

    ofcios e persuaso no sentido de uma soluo conciliatriadosconflitos. 2 No havendo acordo, o juzo conciliatrio converter-se- obrigatoriamente em arbitral, proferindo

    deciso na forma prescrita neste Ttulo. 3 lcito s partes celebrar acordo que ponha termo ao processo, ainda mesmo depois de encerrado

    o juzo conciliatrio. Art. 846. Aberta a audincia, o juiz ou presidente propor a conciliao. Art.850.Terminadaainstruo,poderoaspartesaduzirrazesfinais,emprazonoexcedentede

    10 (dez) minutos para cada uma. Em seguida, o juiz ou presidente renovar a proposta de conciliao, e no se realizando esta, ser proferida a deciso.

    Art. 858. A representao ser apresentada em tantas vias quantos forem os reclamados e dever conter:

    a)designaoequalificaodosreclamantesedosreclamadoseanaturezadoestabelecimentooudoservio;

    b) os motivos do dissdio e as bases da conciliao.

  • D O U T R I N A

    122 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    O anteprojeto expressamente preconiza que a conciliao e a mediao devem ser estimuladas por magistrados, advogados, defensores pblicos do Ministrio Pblico, inclusive no curso de processo judicial (art. 135). Nunca, a conciliao no processo civil, teve tratamento to enftico. No se desconhece o preconceito que os civilistas tinham, em relao ao processo do trabalho, exatamente por seu carter marcante de enfatizar e priorizar a conciliao.

    No art. 333 o anteprojeto do novo Cdigo diz expressamente que: Se a petio inicial preencher os requisitos essenciais e no for o caso de rejeio liminar da demanda, o juiz designar audincia de conciliao com antecedncia mnima de quinze dias. As nicas ressalvas sero: se as partes se mostrarem, de pronto, contrrias conciliao; por outros motivos o juiz constatar a in-viabilidade de conciliar.

    No mais, o propsito que a tentativa de conciliao se mostre obrigat-ria,compautadeaudinciasespecficasequeprecedeaudinciadeinstruoejulgamento.Nohcominaodenulidade,masficaevidentequeseojuizfor omisso, est contrariando o preceito legal.

    Inova, ainda, de maneira antes impensada, quando insere entre os auxi-liaresdojuzoafiguradosconciliadoresemediadoresoficiais;facultandoacriao,pelostribunais,desetorespecficoparatalfim.Resgata-se,comisso,afiguradopretor,noprocessocivilromano,namedidaemquesefacultaraos litigantes escolher o conciliador ou mediador e, se infrutfero este acordo, haver sorteio entre os inscritos no registro do tribunal (veja arts. 134 e 144 do anteprojeto).

    O anteprojeto traz, ainda, algo que no se depara na Consolidao das Leis do Trabalho, nem no Cdigo do Processo Civil que a conciliao e a me-diao so informadas pelos princpios da independncia, da neutralidade, da autonomiadavontade,daconfidencialidade,daoralidadeedainformalidade.O novo Cdigo introduz, ento, os princpios que norteiam a postura do con-ciliador e das partes.

    Alm de criar um padro de conduta para quem quiser ser conciliador, institui requisitos para a funo: no so servidores; obrigatoriamente devem estar inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil; constar do quadro de conci-liadoresemediadoresdotribunal;ostentarprovadecapacitaoespecficaqueo habilite para funo; no patrocinar causas em que funciona como conciliador. A satisfao destes requisitos ser exigida, para a habilitao perante o tribunal.

    Depreende-se que os conciliadores voluntrios dos juizados especiais (Lei n 9.099/95) no foi uma experincia de sucesso, por falta de capacitao

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 123

    e porque o trabalho voluntrio no vincula o conciliador ao juiz encarregado da homologao do acordo. Observe-se que o anteprojeto preconiza que o juiz responsvel traar os parmetros para a atuao do conciliado ou mediador.

    A propsito, est em curso uma experincia do TRT da 23 Regio, de Mato Grosso, um ncleo de conciliao, na sua sede, executadas por servidores que centralizam as tentativas de conciliao de processos em curso na primeira e segunda instncias, contando com a coordenao de um Juiz do Trabalho. o caso de se colher experincia e aprimorar o sistema. Alm disso, cogita-se de remunerar o conciliador e o mediador.

    No Frum Trabalhista de Paulnia, cidade prxima Campinas, no TRT da15Regio,houtraexperinciaquetemsemostradoeficaz,emqueojuizfaz uma triagem dos processos a serem submetidos conciliao, permitindo a atuao de um conciliador leigo, no servidor. Trata-se de um servidor pblico aposentado, com larga experincia como conciliador no juizado especial cvel da Comarca e que se props a desenvolver tais servios no Frum Trabalhista, sob a superviso direta dos juzes do trabalho.

    H, ainda, as experincias relatadas por tcnicos do Ministrio da Justia, naoficinadaEscolaJudicialdoTRTdeCampinas,emjuizadosespeciaisfede-rais e estaduais, com a participao de conciliadores e mediadores no juzes, por servidores devidamente capacitados. o caso de a Justia do Trabalho acompanhar e avaliar melhor a instituio de centros de conciliao monitorados porumjuizdotrabalho,auxiliadoporservidorespblicosquetenhamperfilpara essa tarefa, no sem passar antes por um curso de capacitao.

    Sem estes requisitos do conciliador ou mediador, ainda que se trate de servidor,pode-sechegaraoinsucessoaqueseverificounosjuizadosespeciaisestaduais e federais.

    Eis a um avano que o projeto traz e pode ser utilizado pela Justia do Trabalho.

    9 TUTELA DE URGNCIA E TUTELA DE EVIDNCIA

    O anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil, a partir do art. 277, rene e disciplina as tutelas de urgncia cautelares e satisfativas inovando com o que denominou de tutela de evidncia. Equivale dizer, engloba medidas cautelares em geral ou inominadas (CPC, art. 798) e a tutela antecipada e tutela especfica(CPC,arts.273e461).

  • D O U T R I N A

    124 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    E mais, com maior conciso que o art. 798 do atual CPC, o anteprojeto preconiza, no art. 278, que: O juiz poder determinar as medidas que consi-derar adequadas quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra leso grave e de difcil reparao.

    A norma se insere no poder geral de cautela do juiz que, por sinal, muito pouco utilizado pelos juzes de direito, exceto em questes de famlia, da infncia e adolescncia, aes possessrias e previdencirias.

    No processo do trabalho, o poder geral de cautela mitigado pela ju-risprudncia.

    Alis, a jurisprudncia conservadora, ainda, quando o juiz do trabalho defere a tutela antecipada do art. 273 do Cdigo de Processo Civil, em obrigao de pagar verbas rescisrias, ante a inquestionvel dispensa sem justa causa. certo, porm, que se o empregado no a solicitou na pea de ingresso, mas durante a audincia surgem indcios e ou a evidncia de que o empregador, que se recusa a conciliar, est se mudando do municpio ou comarca, ou corre o risco de desaparecer, sem considerar a natureza alimentar das parcelas, no h razo para subtrair do juiz o poder de determinar de imediato tal pagamento. No necessrio dizer que o deferimento da tutela antecipada, acompanhada de astreinte para o caso de descumprimento, fator que estimula o adimplemento da deciso judicial.

    A concentrao das tutelas de urgncia e de evidncia com idntica dis-ciplina contribui em muito para a celeridade e efetividade do processo e deve ser adotada, de pronto, pelo processo do trabalho. A Consolidao das Leis do Trabalho s contempla duas hipteses de tutela antecipada, no art. 659, IX e X, carecendo de uma norma genrica para contemplar outras em que a medida se mostre vivel, diante do caso concreto. Trata-se de medida absolutamente compatvel com o processo trabalhista, em harmonia com os princpios da celeridade e efetividade.

    A tutela da evidncia uma ideia nova que merece destaque especial.

    O art. 285 do anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil diz expres-samente:

    Art. 285. Ser dispensada a demonstrao de risco e dano irre-parvel ou de difcil reparao quando:

    Ificarcaracterizadooabusododireitodedefesaouomanifestopropsito protelatrio do requerido;

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 125

    II um ou mais dos pedidos cumulados ou parcela deles mostrar-seincontroverso,casoemqueasoluoserdefinitiva;

    III a inicial for instruda com prova documental irrefutvel do direito alegado pelo autor a que o ru no oponha prova inequvoca; ou

    IV a matria for unicamente de direito e houver jurisprudncia firmadaemjulgamentodecasosrepetitivosousmulavinculante.

    Pargrafo nico. Independer igualmente de prvia comprovao de risco de dano a ordem liminar, sob cominao de multa diria, de entrega do objeto custodiado, sempre que o autor fundar seu pedido reipersecutrio em prova documental adequada do depsito legal ou convencional.

    No se reproduziu a exigncia do caput do art. 273 do Cdigo de Processo Civil acerca da prova inequvoca que convena o juiz da verossimilhana da alegao da parte. Andou bem o legislador em enumerar, a ttulo de exemplo, as hipteses que ensejam a adoo da medida. Com efeito, no a numerus clausulus, mas enunciado de hiptese que a jurisprudncia pode perfeitamente enriquecer, ampliando-as.

    H ampla possibilidade de aplicao das tutelas de evidncia no processo do trabalho. rotineira a presena das partes em audincia, ante a dispensa sem justa causa, em que indiscutvel a estabilidade provisria (gestante, dirigente sindical, cipeiro, vspera de aposentadoria, acidentado, etc.). A tutela judicial selimitaaaguardaradecisofinaldocursoordinrio,paraaofinalconvertera deciso em indenizao, por decurso do prazo estabilitrio. No difere o exemplo j citado da incontroversa dispensa sem justa causa, sem pagamento das verbas rescisrias.

    A grande novidade que havendo pedido com fundamento em julgamen-tos repetitivos enseja a aplicao da medida. Vislumbra-se que, por exemplo, os mais de quatrocentos verbetes de Orientao Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho, que resultam indiscutivelmente de julgamentos repeti-tivos, autorizam o juiz a aplicar a tutela de evidncia. Com maior razo, por exemplo, em pedidos com respaldo em Smula do TST, ainda que estas no tenham fora vinculante.

    Nas hipteses de cumulao de aes, muito comum na Justia do Tra-balho, se um pedido ou parcela for incontroverso, a soluo mediante a tutela deevidnciadefinitiva,significa,execuodefinitivadeimediato.

  • D O U T R I N A

    126 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    10 INTERVENO DE TERCEIRO AMICUS CURIAE

    Por preocupao com a celeridade e a efetividade do processo do trabalho, as diversas formas de intervenes de terceiro previstas no Cdigo de Processo Civil sempre encontraram resistncia para a sua aplicao por juzes do trabalho.

    No necessrio dizer que a CLT s cogitava do chamamento em caso do art. 486, factum principis.

    O anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil resumiu as hipteses antigas e de interpretao complexa de interveno de terceiro assistncia e o chamamento ao processo. Inovou com a introduo do amicus curiae.

    O chamamento ao processo foi sempre aceito no processo do trabalho, havendoresistnciaquantodenunciaodalideque,finalmente,acabousendoadmitida pela jurisprudncia, porque o advento da Emenda Constitucional n 45 que incluiu na competncia da Justia do Trabalho as aes de reparao de danos materiais e morais, o empregador invariavelmente pretende a denun-ciao da lide seguradora, para resguardar o seu de regresso (CPC, art. 76). Neste sentido, o TST cancelou a Orientao Jurisprudencial n 227, conforme Dirio da Justia de 22.11.05.

    Acredita-se que a proposta de dar nova feio do chamamento ao proces-so que engloba a denunciao da lide, perfeitamente aceitvel na Justia do Trabalho, como, por exemplo, se aceita o chamamento do tomador de servios para integrar o polo passivo da relao processual, quando acionada a empresa terceirizada.

    Houve avanos e aperfeioamento que se compatibiliza com o processo do trabalho.

    Amicus Curiae

    O anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil, no Captulo V, Ttulo I, Livro II, art. 320, dispe que:

    O juiz ou o relator, considerando a relevncia da matria, a es-pecificidadedotemaobjetodademandaouarepercussosocialdalide,poder, por despacho irrecorrvel, de ofcio ou a requerimento das partes, solicitar ou admitir a manifestao de pessoa natural, rgo ou entidade especializada, no prazo de dez dias da sua intimao.

    Pargrafo nico. A interveno de que trata o caput no importa alterao de competncia, nem autoriza a interposio de recursos.

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 127

    O entendimento do Supremo Tribunal Federal foi inicialmente em resistir afigura,tantoqueoregimentointernodaExcelsaCorteexpressamentevedava,nas aes direta de inconstitucionalidade, ao declaratria de constitucionali-dade e ao de arguio de descumprimento de preceito fundamental.

    Evoluiu-se, porm, para admitir como forma especial de interveno de terceiro fora da nomenclatura do Cdigo de Processo Civil. Tratava-se do instituto amicus curiae ou amigo da corte.

    O amigo da corte aquele que lhe presta informaes sobre matria de fato e de direito, objeto de controvrsia. Sua funo chamar a ateno dos julgadores para alguma matria que poderia, de alguma forma, escapar-lhes ao conhecimento. Um memorial de amicus curiae pode ser produzido, assim, por quem no parte no processo, com vistas a auxiliar a Corte, contribuindo para o acerto da deciso, ou com vistas a sustentar determinada tese jurdica em defesa dos interesses pblicos ou privados de terceiros, que sero indiretamente afetados pelo desfecho da questo9.

    Segundo o Professor Gustavo Binenbojm10, tradio do constitucio-nalismo norte-americano a admisso da figura do amicus curiae em processos alados ao conhecimento da Suprema Corte, quando em discusso grandes questes constitucionais do interesse de toda a sociedade. O ingresso do ami-cus curiae serve, assim, para pluralizar o debate que no sistema americano originariamente travado apenas entre as partes no processo. No mbito da Suprema Corte norte-americana, a interveno do amicus curiae prevista na Rule 37 do Regimento Interno da Corte Brief for an amicus curiae.

    Na verdade, a introduo do instituto no ordenamento jurdico brasilei-ro s se deu com tal propsito, por meio da promulgao da Lei n 9.868/99, que sepultou de vez a disposio do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal que vedava a interveno de terceiros nos processos de ao direta de inconstitucionalidade.

    Trata-se de possibilidade de interveno do amicus curiae nas hipteses de ao declaratria de constitucionalidade e de ao direta de inconstitucio-nalidadeperanteoSupremoTribunalFederal,comobemdefinidonoart.7, 2, da Lei n 9.868/99:

    Art. 7 No se admitir interveno de terceiros no processo de ao direta de inconstitucionalidade.

    9 StevenH.Gifis,Law Dictionary, Barrns Educational Series, Inc., 1975, p. 112.10 Revista Eletrnica de Direito de Estado, n. 1 jan./fev./mar. 2005 Salvador-Bahia-Brasil.

  • D O U T R I N A

    128 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    1 Os demais titulares referidos no art. 2 podero manifestar-se, por escrito, sobre o objeto da ao e pedir a juntada de documentos re-putados teis para o exame da matria, no prazo das informaes, bem como apresentar memoriais.

    2 O relator, considerando a relevncia da matria e a represen-tatividade dos postulantes, poder, por despacho irrecorrvel, admitir, observadooprazofixadonopargrafoanterior,amanifestaodeoutrosrgos ou entidades.

    Finalmente, a Lei n 9.882/99, que regulamenta a Arguio de Descumpri-mento de Preceito Fundamental ADPF, no 1 do art. 6 prev a participao do amigo da corte:

    Art. 6 Apreciado o pedido de liminar, o relator solicitar as in-formaes s autoridades responsveis pela prtica do ato questionado, no prazo de dez dias.

    1 Se entender necessrio, poder o relator ouvir as partes nos processos que ensejaram a arguio, requisitar informaes adicionais, designar perito ou comisso de peritos para que emita parecer sobre a questo,ouainda,fixardataparadeclaraes,emaudinciapblica,depessoas com experincia e autoridade na matria.

    2 Podero ser autorizadas, a critrio do relator, sustentao oral e juntada de memoriais, por requerimento dos interessados no processo.

    AjurisprudnciadoSuperiorTribunaldeJustia temreafirmadoqueafiguradoamicus curiae uma importante inovao no direito admitida na esfera constitucional, igualmente na esfera infraconstitucional, objetivando a uniformizao de interpretao de Lei Federal (vide EDcl no AgRg no Mandado de Segurana n 12.459-DF 2006/0273097-2).

    O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Medida Cautelar na ADI n 2.321-7 DF, em que foi relator o Ministro Celso de Mello, conforme Ementrio n 2195-1, publicado no DJ de 10.06.05, analisando o pedido de interveno do amicus curiae,assimsepronuncioufl.47:

    PROCESSO OBJETIVO DE CONTROLE NORMATIVO ABS-TRATO. POSSIBILIDADE DE INTERVENO DO AMICUS CURIAE: UM FATOR DE PLURALIZAO E DE LEGITIMAO DO DEBATE CONSTITUCIONAL.

    O ordenamento positivo brasileiro processualizou, na regra inscrita no art. 7, 2, da Lei n 9.868/99, a figura do amicus curiae,

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 129

    permitindo, em consequncia, que terceiros, desde que investidos de representatividade adequada, sejam admitidos na relao processual, para efeito de manifestao sobre a questo de direito subjacente prpria controvrsia constitucional.

    A interveno do amicus curiae, para legitimar-se, deve apoiar-se em razes que tornem desejvel e til a sua atuao processual na causa, em ordem a proporcionar meios que viabilizem uma adequada resoluo do litgio constitucional.

    A ideia nuclear que anima os propsitos teleolgicos que motiva-ram a formulao da norma legal em causa, viabilizadora da interveno do amicus curiaenoprocessodefiscalizaonormativaabstrata,tempor objetivo essencial pluralizar o debate constitucional, permitindo, desse modo, que o Supremo Tribunal Federal venha a dispor de todos os elementos informativos possveis e necessrios resoluo da controvr-sia, visando-se, ainda, com tal abertura procedimental, superar a grave questo pertinente legitimidade democrtica das decises emanadas desta Suprema Corte, quando no desempenho de seu extraordinrio poder de efetuar, em abstrato, o controle concentrado de constitucionalidade. (grifei)

    No contexto do ordenamento jurdico e da jurisprudncia, o amicus curiae pode ter razes para intervir quando tiver contribuio para oferecer ao juiz ou ao relator da deciso, desde que se mostre pertinente e necessria para asoluodacontrovrsia,afimdesuperargravequestoligadalegitimidadedemocrtica das decises emanadas do Poder Judicirio.

    A sua introduo no anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil uma inovao salutar porque amplia o alcance dessa forma de interveno de terceiro,paraasaescveisemgeral,afimdeque,considerando a relevncia da matria, a especificidade do tema objeto da demanda ou repercusso social da lide, o juiz de ofcio ou a requerimento das partes, solicitar ou admitir a manifestao de pessoa natural, rgo ou entidade especializada, no prazo de dez dias de sua intimao (art. 320). Neste sentido se harmoniza com o que dispem os 1 e 2 do art. 7 da Lei n 9.868/99.

    No exame prvio, para determinar ou admitir a interveno do amicus curiae, cabe ao juiz aquilatar a representatividade da pessoa, rgo ou entidade especializada, bem como a relevncia da matria controvertida. O binmio representatividade e relevncia no podem escapar anlise para se aquilatar

  • D O U T R I N A

    130 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    se ser til, desejvel e necessria a sua atuao processual, para a melhor soluo da lide.

    Porfim,notemcabimentoaoamicus curiae deduzir pretenses iguais, semelhantes, subsidirias ou supletivas quelas formuladas pelo autor da ao ou ru, j que sua interveno de amigo da corte e no da parte.

    Da, o sbio comando do pargrafo nico do art. 320, da deciso que admitir ou rejeitar a interveno do amicus curiae no cabe recurso.

    A pergunta que no cala:

    Tem cabimento essa modalidade de interveno no processo do trabalho?

    No se pode descart-la a priori em face da ampliao da competncia da Justia do Trabalho.

    De sorte que em determinada ao movida por um sindicato, em face de uma empresa, postulando a colocao de um equipamento de proteo coletiva, em determinada seco, o juiz pode chamar para ser ouvida a FUNDACENTRO Fundao Centro Nacional de Preveno de Acidente de Trabalho, rgo do Ministrio do Trabalho e Emprego, por meio de seu pessoal tcnico, se uma ou maisperciasrealizadassemostraremdeficientes,porexemplo.

    Em ao de dissdio coletivo ou ao de cumprimento de instrumento normativo, em que preliminarmente, se discute a legitimidade de representao sindical,noseriaocasodechamarosindicatoaqueaspartesaludiram,afim

    de ser ouvido?

    Em caso de profunda alterao das condies de trabalho por inovao tecnolgica, em sindicato que vem alegando prejuzo aos trabalhadores, o juiz poderia ouvir empresa especializada na matria, para apreciar a legitimidade ou no do ato patronal.

    Nas dispensas coletivas sob o argumento de inovao tecnolgica ou por razes de mercado, porque no ouvir especialista na matria?

    Vislumbra-se que, evitando burocratizao ou alongar a demanda, admitir ou determinar a oitiva de um amicus curiae, pode ser soluo clere, no one-rosaeeficiente,paraquestesmaiscomplexasqueporoutrasformasdeojuiz

    obter informaes implicaria em morosidade e aumento de custos do processo.

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 131

    11 DA REJEIO LIMINAR DA DEMANDA

    uma inovao que permite agilizar a prestao jurisdicional, introduzida no art. 317 do anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil.

    Art. 317. Independentemente da citao do ru, o juiz rejeitar liminarmente a demanda se:

    I manifestamente improcedente o pedido, desde que a deciso proferida no contrarie entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justia, sumulado ou adotado em julgamento de casos repetitivos;

    II o pedido contrariar entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justia, sumulado ou adotado em julgamento de casos repetitivos;

    IIIverificar,desdelogo,adecadnciaouaprescrio;

    1 No interposta a apelao, o ru ser intimado do trnsito em julgado da sentena.

    2 Aplica-se a este artigo, no que couber, o disposto no art. 316.

    No se trata, portanto, de mero indeferimento da petio inicial, por defeito de forma, mas rejeio liminar da demanda. Curiosamente, o art. 469 do anteprojeto no a inclui nas hipteses de sentena de mrito.

    Na Justia do Trabalho manifestamente improcedente, por fora da Smula Vinculante n 04 do STF, o pedido de diferena de adicional de insalu-bridade, em que se pretende ver adotada, como base de clculo, a remunerao superior ao salrio-mnimo.

    Certas demandas em face de Estado de So Paulo, Municpio e autarquias, postulando diferenas salariais, a pretexto de incluso de parcelas na base de clculo, vm sendo reiteradamente rejeitadas pela jurisprudncia, inclusive pelo TST.

    12 UM PROCESSO CIVIL SINCRTICO E AS SUAS REPERCUSSES

    O anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil incorpora todos os avanos que as minirreformas no atual Cdigo introduziram, nitidamente materializando, ainda que timidamente, a longa experincia do processo na Justia do Trabalho.

  • D O U T R I N A

    132 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    Oexemplomaissignificativonoprocessodotrabalhooart.799daCLT, segundo o qual o reclamado deve arguir todas as questes e excees em sua defesa e a arguio de exceo no suspende o andamento do feito, exceto emcasodeincompetnciaabsolutaereafirmaairrecorribilidadeimediatadasdecises interlocutrias.

    Introduziu, ainda, a proposta de um processo civil sincrtico, na medi-daemqueaexecuodasentenaseddeformaclereemaissimplificada,privilegiando os interesses do credor, se comparada com a execuo de ttulo extrajudicial ou com o rito da Consolidao das Leis do Trabalho.

    O anteprojeto j enuncia que a execuo da sentena em ao que te-nha por objeto o cumprimento de obrigao independe de citao do devedor (art. 490). Sendo parte pessoalmente intimada por carta para cumprimento da sentena ou deciso que reconhecer a existncia de deciso, excetuadas as hipteses de revelia, falta de informao do endereo da parte nos autos ou quando no for encontrada no endereo constante dos autos. De modo geral, decorrido o prazo previsto em lei ou na sentena para o cumprimento espontneo da obrigao, seguir-se-, imediatamente e de ofcio, a sua execuo. Para se exigirocumprimentodasentenaemfacedofiador,sernecessrioquetenhaparticipado da fase de conhecimento (art. 490 e ).

    convincente o argumento de que a Consolidao das Leis do Trabalho temformamaissimplificadaecleresenosreferimosfasedeconhecimento.Na fase de execuo exige-se, ainda, o requerimento do credor e a necessidade de citao do devedor para pagar, depositar ou oferecer bens penhora11.

    Noporoutrarazoquehumenormeconflito jurisprudencial,naprpria Justia do Trabalho, em torno da aplicao do art. 475-J do Cdigo de Processo Civil vigente ao processo do trabalho, exatamente em razo da norma expressa do art. 880 da CLT.

    No se desconhece que o art. 878 legitima a execuo ex officio12, porm, oprocedimentoexecutriossedeflagrapelacitaododevedor,enquantono anteprojeto do Cdigo de Processo Civil se inicia por mera intimao do devedor, por carta.

    11 Art. 880. Requerida a execuo, o juiz ou presidente do tribunal mandar expedir mandado de citao doexecutado,afimdequecumpraadecisoouoacordonoprazo,pelomodoesobascominaesestabelecidas ou, quando se tratar de pagamento em dinheiro, inclusive de contribuies sociais devidas Unio, para que o faa em 48 (quarenta e oito) horas ou garanta a execuo, sob pena de penhora.

    12 Art. 878. A execuo poder ser promovida por qualquer interessado, ou ex officio pelo prprio Juiz ou Presidente ou Tribunal competente, nos termos do artigo anterior.

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 133

    Na liquidao da sentena o avano do atual Cdigo de Processo Civil foi preservado no anteprojeto, em se tratando de apurao do valor por clculo, como caso de expressiva maioria das execues trabalhistas. Como j nos referimos acima, no se submete ao complexo e moroso procedimento do art. 879 da Consolidao das Leis do Trabalho13.

    Na sistemtica do anteprojeto, o processo prosseguir para que, de imediato, se proceda a sua liquidao (art. 494), em que o credor apresentar demonstrativo de clculo discriminado e atualizado do dbito, seguindo a intimao do executado para pagamento no prazo de quinze dias, sob pena da multa de dez por cento (art. 495). Se a elaborao do clculo depender de dados que estejam em poder do devedor ou de terceiro, o juiz, a requerimento do devedor, poder requisit-lo (art. 495, 1).

    Ora, estes dispositivos caem como uma luva no processo do trabalho, enquanto os juzes do trabalho relutam em aplic-los, por apego s normas da ConsolidaodasLeisdoTrabalho,noobstanteflagrantementeultrapassadas.

    O cerco ao devedor contumaz se torna mais efetivo, se no efetua o pagamento espontneo, quando institui honorrios advocatcios em dez por cento sobre o valor da execuo, sem prejuzo daqueles arbitrados na sentena ( 4 do art. 495).

    O anteprojeto se aproxima do processo do trabalho, quando permite a avaliaoporoficialdejustia,oquedesoneraoprocedimentodeexecuo,em vez de nomear um avaliador.

    13 Art. 879. Sendo ilquida a sentena exequenda, ordenar-se-, previamente, a sua liquidao, que poder ser feita por clculo, por arbitramento ou por artigos.

    1Naliquidao,nosepodermodificar,ouinovar,asentenaliquidandanemdiscutirmatriapertinente causa principal.

    1-A. A liquidao abranger, tambm, o clculo das contribuies previdencirias devidas. 1-B. As partes devero ser previamente intimadas para a apresentao do clculo de liquidao,

    inclusive da contribuio previdenciria incidente. 2 Elaborada a conta e tornada lquida, o Juiz poder abrir s partes prazo sucessivo de 10 (dez) dias

    para impugnao fundamentada com a indicao dos itens e valores objeto da discordncia, sob pena de precluso.

    3 Elaborada a conta pela parte ou pelos rgos auxiliares da Justia do Trabalho, o juiz proceder intimao da Unio para manifestao, no prazo de 10 (dez) dias, sob pena de precluso.

    4 A atualizao do crdito devido Previdncia Social observar os critrios estabelecidos na legis-lao previdenciria.

    5 O Ministro de Estado da Fazenda poder, mediante ato fundamentado, dispensar a manifestao da Unio quando o valor total das verbas que integram o salrio de contribuio, na forma do art. 28 da Lei n 8.212, de 24 de julho de 1991, ocasionar perda de escala decorrente da atuao do rgo jurdico.

    6 Tratando-se de clculos de liquidao complexos, o juiz poder nomear perito para a elaborao efixar,depoisdaconclusodotrabalho,ovalordosrespectivoshonorrioscomobservncia,entreoutros, dos critrios de razoabilidade e proporcionalidade.

  • D O U T R I N A

    134 Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012

    A alienao se dar por iniciativa particular e por leilo judicial eletrnico ou presencial (art. 802). Admite-se a alienao por iniciativa prpria do credor, ou por corretor credenciado. No se fala mais em hasta pblica, sob a forma de praa, remetendo-se diretamente a alienao por leilo. Nisso se aproximou do processo do trabalho.

    Asimplificaodoprocedimentoparaaadjudicaodiretaqueencontrarforte resistncia nos tribunais do trabalho, no anteprojeto avano digno de nota.

    Adefiniodelimiteparaaqualificaodepreovil,seinferiora50%do valor da avaliao, ser um entrave, exceto se o juiz da alienao estipular outropreo.Opercentualelevadoepodedificultaraalienaoemleilo.

    Anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil preconiza que a satisfa-o do crdito far-se-, inclusive, pela adjudicao, pelo exequente, dos bens penhorados.

    Admite-se expressamente a prescrio intercorrente na execuo, tanto que o art. 845, VI, preconiza que o processo permanece, suspenso, por tempo suficienteparaperfazeraprescrio,quandoodevedornopossuirbenspe-nhorveis, ou se a alienao dos bens penhorados no se realizar por falta de licitantes e o exequente, em dez dias, no requerer a adjudicao nem indicar outros bens penhorveis.

    CONCLUSO

    O anteprojeto do novo Cdigo de Processo Civil, no obstante as crticas que lhes esto impondo alguns juristas, representa um grande avano, porque se preocupou em oferecer sociedade um Cdigo extremamente didtico, de fcilinterpretaoe,sobretudo,comasimplificaodeprocedimentos.Apardestes avanos incorpora valores e princpios constitucionais, para oferecer sociedade um diploma legal comprometido com a sua natureza de um mtodo deresoluodeconflitos.lamentvel,porm,quenoCongressoNacionaljexcluiu o Captulo acerca das aes coletivas, porque a proposta da Comisso de Juristas, neste ponto, era avanadssima, corrigindo algumas distores de que foram vtimas a Ao Civil Pblica e o Cdigo de Defesa do Consumidor.

    Oprocessodotrabalhofoiumberodaexperinciapositivadesimplifi-cao dos procedimentos em prol da celeridade e efetividade, no traz riscos segurana jurdica para os litigantes. Essas experincias foram, em grande parte, incorporadas ao anteprojeto, o que salutar e louvvel. Este o momento em que os magistrados, advogados e membros do Ministrio Pblico que militam e estudam o processo do trabalho devem preocupar-se em contribuir para que

  • D O U T R I N A

    Rev. TST, Braslia, vol. 78, no 1, jan/mar 2012 135

    esses avanos no sofram nenhuma resistncia para serem incorporados, sem apego s formas ultrapassadas. Isto, agora, inspirando-se em muitos avanos no processo civil.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BARROSO,LuisRoberto.Fundamentos tericosefilosficosdonovoDireitoConstitucionalbrasileiro. In: Revista de Direito da Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro, RJ, n. 54, p. 77, 2001.

    SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso Orientao Jurisprudencial, Curso FMB 2010.

    GRINOVER, Ada Pellegrini. Mudanas Estruturais para o Novo Processo Civil. In: CARNEI-RO, Athos Gusmo; CALMON, Petrnio. (Orgs.). Bases cientficas para um renovado Direito Processual. 2. ed. Salvador: Jurispodivm, 2009.

    SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. So Paulo: Saraiva, 1984, 3. v.

    REVISTA JURDICA CONSULEX, ano XIV, 14 15.02.2010.