anos dourados no brasil

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 5 Módulo 4 • Unidade 1 Os anos de ouro: prosperidade e crescimento capitalista Para início de conversa... Figura 1: Um anúncio americano antigo de aspirador de pó.

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Período 30 a 60

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Page 1: Anos Dourados No Brasil

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 5

Módulo 4 • Unidade 1

Os anos de ouro: prosperidade e crescimento capitalistaPara início de conversa...

Figura 1: Um anúncio americano antigo de aspirador de pó.

Page 2: Anos Dourados No Brasil

Módulo 4 • Unidade 16

Nesta unidade, você estudará um período interessante da História, que foi chamado pelo historiador inglês

Eric Hobsbawm de “A Era de Ouro do Capitalismo”. Este período começa logo após o final da Segunda Guerra Mundial

e estende-se até os anos iniciais da década de 1970. Apesar de nem sempre notarmos, herdamos muitos inventos

deste período e eles não só nos acompanham, como tornam nossa vida mais fácil. É possível que nem saberíamos

mais viver sem eles. E não foi por acaso que este período ficou conhecido por um nome tão pomposo, pois nos legou,

realmente, muitos novos produtos como, por exemplo, geladeira, liquidificador, televisão, aspirador de pó e a calça

Lee, que hoje chamamos apenas de jeans. Este período da História é tão próximo de nós, que, às vezes, não temos o

distanciamento necessário para compreendê-lo adequadamente.

Os anos 1950-60 foram marcados pelo espírito de prosperidade e desenvolvimento. Neste contexto, a

construção de Brasília, como representação do que havia de mais moderno, significava a superação do Brasil atrasado,

coroando os anos 1950-60 como os anos dourados.

A Era dos Extremos é o testemunho de Eric Hobsbawn sobre o século XX. “Meu tempo de vida coincide

com a maior parte da época de que trata este livro”, diz ele na abertura, “por isso até agora me abstive

de falar sobre ela.” Neste livro fascinante, ele abandona seu silêncio voluntário para contar, em lingua-

gem simples e envolvente, a história da “era das ilusões perdidas”.

(Adaptado do texto de apresentação de A era dos extremos, de Eric Hobsbawn, retirado da quarta capa

da segunda edição brasileira, publicada pela Cia. das Letras, em 2004)

Objetivos da aprendizagem � Contextualizar a Guerra Fria como a bipolarização entre Estados Unidos e União Soviética.

� Compreender o processo de internacionalização da economia brasileira, ocorrida durante o governo de Juscelino

Kubitschek.

� Descrever as mudanças que ocorreram no mundo após o término da Segunda Guerra Mundial.

� Mostrar que o Plano de Metas de JK viabilizou-se com o capital estrangeiro, mas desenvolveu a indústria nacional.

� Compreender os anos dourados como um período não só de estabilidade social, mas, principalmente, de confian-

ça e esperança por parte da população.

Page 3: Anos Dourados No Brasil

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 7

Figura 2: A beleza, grandiosidade e imensidão de Brasília no azul do Cerrado.

Page 4: Anos Dourados No Brasil

Módulo 4 • Unidade 18

Seção 1A Guerra Fria

Após a crise de 1929 e a quebra da Bolsa de Nova York, o papel do Estado no sistema capitalista tornou-se mais

presente e acentuado, o que pode ser evidenciado pelo New Deal, que viabilizou a recuperação da economia norte-

americana. Após a Segunda Guerra Mundial, os países europeus perderam a centralidade e o domínio da economia

mundial, e os Estados Unidos tornaram-se a maior potência capitalista.

O New Deal, ou “novo acordo”, é o nome que se deu ao conjunto de reformas de ordem econômi-

ca e social, implementadas pelo presidente americano Franklin Delano Roosevelt (1933-1945). Estas

medidas tinham o propósito de recuperar a economia norte-americana após a quebra da Bolsa de

Valores de Nova Iorque, ocorrida em 1929, considerada a mais grave das crises econômicas mundiais

no século XX. Abandonando alguns preceitos do liberalismo clássico, este acordo ou plano saneador,

adotou a intervenção do Estado em vários setores na tentativa de recuperar a economia dos EUA. Além

de criar um programa de obras públicas, como construção de estradas, aeroportos, escolas, portos e

habitações populares, o Estado passou a vigiar o mercado. Assim, as fábricas voltaram a produzir e

vender suas mercadorias; houve uma diminuição do desemprego e foram criadas leis de proteção aos

trabalhadores e desempregados.

Na dimensão política das relações internacionais, a liderança mundial representada pelos Estados Unidos e

pela URSS, países de orientações diferentes, muitas vezes opostas, transforma-se em constante tensão. A partir de

então, as relações entre as duas potências foram marcadas pelos seus projetos antagônicos: o socialista, representado

pela URSS, e o capitalista, defendido pelos EUA. A este clima tenso, causado pela ameaça de uma possível guerra entre

os dois países e seus aliados, deu-se o nome de Guerra Fria.

O lançamento das bombas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945, pode simbolizar o início da rivalidade

entre os dois blocos, cujo término daria com a derrubada do Muro de Berlim, em 1989. Os Estados Unidos não só

se beneficiaram do conflito, como ficaram em situação superior à União Soviética, aumentando sua produtividade

industrial. A Guerra Fria caracterizou-se, além das disputas estratégicas e conflitos indiretos, pela difusão cultural dos

EUA. A cultura norte-americana foi amplamente divulgada através dos veículos de comunicação de massa, como o

cinema e o rádio, e pelo “american way of life”, um padrão comportamental a ser transmitido para todo o mundo, que

expressava a felicidade e a alegria do “estilo americano de viver”.

Page 5: Anos Dourados No Brasil

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 9

Figura 3: Mapa da Europa durante a Guerra Fria com as áreas de influência dos Estados Unidos e da União Soviética.

Os 45 anos que vão do lançamento das bombas atômicas até o fim da União Soviética

não foram um período homogêneo, único na história do mundo. [...] Dividem-se em duas

metades, tendo como divisor de águas o início da década de 70. Apesar disso, a história

deste período foi reunida sob um padrão único pela situação internacional peculiar que o

dominou até a queda da União Soviética.

(HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996)

Como é conhecido o período citado no texto? Aponte uma das características que

marcaram esse momento histórico.

Page 6: Anos Dourados No Brasil

Módulo 4 • Unidade 110

O fim da Guerra Fria provou ser não o fim de um conflito internacional, mas o fim de uma era: não só

para o Oriente, mas para todo o mundo. Há momentos históricos que podem ser reconhecidos, mesmo

entre contemporâneos, por assinalar o fim de uma era. Os anos de 1990 marcam uma dessas viradas

seculares. Mas, embora todos pudessem ver que o antigo mudara, havia absoluta incerteza sobre a

natureza e as perspectivas do novo.

Só uma coisa parecia firme e irreversível entre essas incertezas: as mudanças fundamentais, extraor-

dinárias, sem precedentes que a economia mundial, e consequentemente as sociedades humanas,

tinham sofrido no período desde o início da Guerra Fria.

HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. P. 252

Seção 2 Os anos dourados no Brasil

O bem estar social, a satisfação e o encantamento das pessoas decorrentes do desenvolvimento da economia

e dos recordes das taxas de crescimento foram marcantes a partir dos anos 1950. As indústrias trouxeram um

considerável avanço ao consumo dos mais variados bens. A instalação da Volkswagen e a produção em série do Fusca,

por exemplo, eram sinais dos novos tempos. O clima de progresso e o sentimento de segurança na política econômica

aliados à estabilidade democrática eram as bases da sensação de harmonia e tranquilidade que tomaram conta do

povo brasileiro, que nunca havia se sentido tão confiante como naquele período.

Figura 4: Alfa Romeo FNM JK, lançado em 1960, em homenagem ao Presidente Juscelino Kubitschek.

Page 7: Anos Dourados No Brasil

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 11

Não podemos pensar os anos 50 no Brasil sem considerarmos os Diários Associados de Assis Chateaubriand, do qual

faziam parte a revista O Cruzeiro e a TV Tupi de São Paulo. Inaugurada em 18 de setembro de 1950, a TV Tupi transformou-se

no maior orgulho dos brasileiros, pois ela foi a primeira emissora de tevê da América Latina e a quarta do mundo.

Os Diários Associados incentivavam e patrocinavam o surgimento dos concursos de beleza. O mais importante

era o Miss Brasil, que transformava moças anônimas em tema de múltiplas e acaloradas discussões, referência de

beleza e comportamento, como Marta Rocha, Yeda Maria Vargas, Marta Vasconcelos, Vera Fischer dentre outras. O

concurso tornou-se um dos grandes acontecimentos do país, a tal ponto que, em 1950, o povoado goiano de Água

Limpa teve seu nome alterado e transformou-se no município de Jussara, em homenagem a Jussara Marques de

Amorim, primeira goiana eleita Miss Brasil, em 1949. E, por mais estranho que possa parecer, o Miss Brasil acabou

se tornando alvo das preocupações conservadoras do Presidente Jânio Quadros, que pouco antes da sua renúncia

assinou o Decreto nº 51.182, proibindo o uso de maiô nos concursos de beleza.

Veja a seguir, um trecho do referido decreto, assinado pelo presidente Jânio Quadros.

DECRETO Nº 51.182, DE 11 DE AGOSTO DE 1961.

Proíbe o traje de banho nos concursos e desfiles de beleza.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando das atribuições que lhe confere o artigo 87, item I, da Constituição,

Art. 1º Nos concursos de beleza, seleções de representantes femininas e semelhantes, as competido-

ras e participantes não poderão apresentar-se ou desfilar em trajes de banho, sendo tolerado o uso de

saiote.

Art. 2º As autoridades locais, encarregadas da Polícia de Costumes, tomarão as providências para o fiel

cumprimento do estabelecido no artigo anterior.

Art. 3º O presente Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em

contrário.

Brasília, D.F., 11 de agôsto de 1961; 140º da Independência e 73º da República.

Jânio Quadros

Oscar Pedroso HortaFonte: http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=181537

Page 8: Anos Dourados No Brasil

Módulo 4 • Unidade 112

Figura 5: Quando os concursos de beleza explodiram no Brasil, já eram sucesso nos EUA e na Europa. Nesta imagem, as finalistas do Concurso Miss Holanda 1960.

O presidente decidiu que as participantes dos concursos de beleza não podiam se apresentar em “trajes de

banho, sendo tolerado o uso de saiote”. A regra nunca foi aplicada, embora tenha sido revogada apenas em 1991. Para

fazê-la funcionar, foi criada a polícia de costumes, outro exotismo dispensável da era janista.

De nada adiantou a defesa dos bons costumes do Presidente que renunciaria 15 dias depois, já que nas décadas

de 1950-60 os corpos começaram a se desnudar como nunca acontecera, embora o clima de conservadorismo ainda

pairasse no ar. Apesar dos papéis feminino e masculino serem bem definidos

no período, as instituições começaram a sofrer algumas transformações,

como o casamento, que viu as juras de eternidade – celebrizada na frase

“até que a morte nos separe” - ameaçadas pela possibilidade do desquite.

Ainda que as misses representassem um ideal de feminilidade, e

a virgindade fosse valorizada, a liberdade sexual masculina continuava

consentida e a sexualidade feminina ainda se restringia, na maioria das

vezes, ao casamento convencional. Havia um policiamento quanto ao

comportamento das mulheres. Mas, ainda assim, foram naqueles anos que

começaram a exposição de corpos, mostrados cada vez mais deliciosamente,

como se dizia na época, nas praias cheias da recém-endeusada Copacabana,

no Rio de Janeiro.

Nesse tempo “mágico”, surge a Bossa Nova; a seleção brasileira pela

primeira vez é campeã mundial de futebol em 1958; Maria Esther Bueno

Figura 6 - A praia, o calçadão e os dese-nhos em pedra portuguesa, simulando as ondas do mar tornaram a praia de Copa-cabana conhecida internacionalmente.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 13

conquista Wimbledon 3 vezes; a rivalidade amistosa entre Marlene e Emilinha enfeita os palcos da Rádio Nacional e

transforma-se em leitura esperada por milhares de fãs através da Revista do Rádio; Martha Rocha perde o título de

Miss Universo e ganha um título muito maior, a eterna Miss Brasil.

O Brasil passou por transformações em várias áreas, como cultura, esportes, artes e literatura. Depois do

desencanto pós-Segunda Guerra, da dor dos “mundos que caíam” cantados pela Maysa, das amarguras porque

ninguém me ama de Antônio Maria, tudo envolvido pelas fumaças dos inferninhos de Copacabana, veio a segunda

metade da década de 1950, e com ela o governo do JK e seu plano de Metas, além, é claro, do “Barquinho, a deslizar no

macio azul do mar...” cantado por Nara Leão.

Acesse o link abaixo e assista a Chico Buarque e Tom Jobim, cantando Anos Dourados.

http://www.youtube.com/watch?v=dE3LeirvWIo

Imagem 7: Linha do tempo.

Page 10: Anos Dourados No Brasil

Módulo 4 • Unidade 114

“Outro fator importante que marca este período é a explosão publicitária, ocorrida após a Segunda

Guerra, que trouxe uma mudança de comportamento fundamental através da difusão de hábitos rela-

tivos aos cuidados com o corpo e as práticas de higiene, beleza e esportes, preconizados por médicos

e higienistas burgueses desde o início do século. O desenvolvimento do cinema e da televisão, e de

sua rede de olimpianos, muito contribuiu para os profissionais dos cuidados com o corpo venderem

suas imagens e produtos. As imagens de estrelas de cinema com sorriso branco e cabelos brilhantes

vendendo creme dental e xampu anunciavam novas práticas, difundiam uma nova maneira de lidar

com o corpo e um novo conceito de higiene.”

CASTRO, Ana Lúcia de. Culto ao corpo e sociedade: mídia, estilos de vida e cultura de consumo. São

Paulo. Annablume. 2007. p. 15

O desenvolvimento do processo de industrialização e a estabilidade política foram

algumas características do governo de Juscelino Kubitschek. A partir da charge abaixo,

como você compreende a relação entre o projeto desenvolvimentista de JK e o povo?

Page 11: Anos Dourados No Brasil

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 15

Seção 3O governo de Juscelino Kubitschek

O governo do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961) costuma ser lembrado como o governo dos “anos

dourados”. Para tal avaliação, muito contou o seu Plano de Metas, com a promessa de promover e desenvolver a

industrialização, tendo como carro-chefe a indústria automobilística, o que acabou se efetivando. A Volkswagen

instalou a primeira indústria em 1959 e colocou nas ruas o popularíssimo e desejado Fusca.

Em várias entrevistas, o presidente mineiro Juscelino sempre se reportava a Diamantina, cidade onde não

apenas nasceu, mas aprendeu a gostar de música, serenata e, principalmente, de cantar Peixe Vivo, uma canção

do folclore mineiro, que de tanto ser cantada na presença do Juscelino, acabou se transformando numa forma de

homenageá-lo.

“JK o artista do impossível” é um livro de autoria de Cláudio Bojunga, um dos seus biógrafos. Nesta obra, o autor

entrevista várias personalidades da década de 50 que conviveram com JK, e o depoimento a seguir é do filólogo

Antônio Houaiss, que foi seu assessor de documentação entre 1956 e 1960:

“JK era homem aberto, auditivo, receptivo, fino sistematizador. Recebia informações novas e as incorporava de

forma permanente, redisciplinando seu espírito. Ficava grato a quem lhe trouxesse ângulos inesperados. Não tinha

preconceitos ideológicos: ouvia adversários e opiniões discordantes e não se importava com a orientação filosófica ou

doutrinária do interlocutor. Aceitava a palavra dos estigmatizados da esquerda, assim como os conselhos moderados

das raposas de antanho. Vivia na transição de dois Brasis e saltitava na corredeira da história justificando o apelido

pelo qual ficou conhecido (Peixe-vivo).”

“Antanho” transmite a ideia de o tempo passado. Neste caso, “raposas de antanho” significa “raposas antigas”.

No livro “O Príncipe”, Nicolau Maquiavel (1469-1527) destaca que:

“existem duas formas de combate: pelas leis e pela força. A primeira é própria dos homens; a segunda é

própria dos animais (...) Um príncipe, então, sendo obrigado a saber lutar como um animal, deve imitar

a raposa e o leão, pois este não sabe se proteger das armadilhas, e a raposa não consegue se defender

dos lobos. O príncipe, portanto, deve ter a astúcia da raposa para reconhecer as armadilhas e a força de

um leão para assustar os lobos.” (Fonte: MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Tradução de Lívio Xavier. São Paulo:

Nova Cultural, 1993, cap, XVIII, p.101-102).

Claudio Bojunga utiliza no livro a expressão raposas de antanho, referindo-se aos políticos antigos e

experientes para destacar o aspecto conciliador do político JK. Ele tanto aceitava os conselhos mode-

rados das raposas como ouvia a palavra dos estigmatizados da esquerda.

Page 12: Anos Dourados No Brasil

Módulo 4 • Unidade 116

O Plano de Metas, uma das marcas do governo Kubitschek, foi elaborado em 1956, pelo Conselho de

Desenvolvimento, e estabelecia 31 objetivos a serem alcançados em seu governo. O plano priorizava os seguintes

setores: energia, transportes, alimentação, indústria de base e educação. São algumas das ações visadas pelo plano:

� Criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA);

� Criação do Conselho Nacional de Energia Nuclear;

� Construção das barragens de Furnas e Três Marias para a obtenção de energia elétrica;

� Criação do Grupo Executivo da Indústria de Construção Naval (Geicon);

� Criação do Ministério das Minas e Energia, instaurado apenas no governo seguinte;

� Criação da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste (Sudene);

Brasília, nova capital do país, considerada a meta-síntese do governo JK, foi projetada por Lúcio Costa e

Oscar Niemeyer, e inaugurada em 21 de abril de 1960. A nova capital tinha localização estratégica, pois criaria

um polo dinâmico no interior do vasto território nacional. Mas, apesar da aceitação e prosperidade do governo JK, a

dívida pública interna aumentou consideravelmente, além da inflação, que chegou aos governos seguintes de Jânio

Quadros e João Goulart.

A marca maior dos anos JK é a nova capital. Lá no Cerrado, o modernismo do projeto e do seu criador foi

traduzido na ousadia arquitetônica que empolgou o Brasil. Segundo a poesia de Cassiano Ricardo, publicada no

Correio Braziliense no dia da inauguração da nova capital, Brasília é a cidade onde nunca haverá saudade...

Assista no link a seguir à bela performance de Milton Nascimento, cantando a música “Peixe Vivo”:

http://www.youtube.com/watch?v=f2MRwp2WdHw

Page 13: Anos Dourados No Brasil

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 17

Toada pra se ir a Brasília

“Vou-me embora pra Brasília,

sol nascido em chão agreste.

Como quem vai para uma ilha.

A esperança mora a oeste.

Sei que no fim desta rua

tem um sertão que se chama,

que se chama solidão...

É onde mora meu irmão.

...

Brasília onde se diz que houve

uma lagoa dourada.

Brasília, onde Oscar Niemeyer

arquitetou – rosa em arco –

o Palácio da Alvorada.

E nesta noite em que vivo

eu preciso é de alvorada.

Não preciso de mais nada.

Vou-me embora pra Brasília,

que já nos meus olhos brilha.

Porque é a única cidade

onde nunca haverá saudade.”

Os dois últimos versos da bonita poesia de Cassiano Ricardo afirmam que Brasília é

a única cidade onde não haverá saudade.

Qual é a mensagem que o autor pretende transmitir nestes versos finais?

Page 14: Anos Dourados No Brasil

Módulo 4 • Unidade 118

Figura 8: A beleza majestática de Brasília

ResumoNesta seção você aprendeu que:

� O Plano de Metas de Juscelino Kubitschek pode ser considerado um projeto bem sucedido de planeja-

mento econômico no Brasil, ainda que a dívida pública interna tenha aumentado consideravelmente e a

inflação tenha chegado aos governos seguintes.

� Durante as décadas de 1950-60, a economia brasileira sofreu um processo de internacionalização e foi im-

pulsionada pelo capital estrangeiro.

� Os investimentos do período desenvolvimentista de JK concentraram-se na região sudeste, principalmente

em São Paulo, onde se instalou a indústria automobilística.

� A “Era de Ouro do Capitalismo” começou após o final da Segunda Guerra Mundial e estendeu-se até os anos

iniciais da década de 1970.

� A construção de Brasília representou a superação do Brasil atrasado e coroou os anos 1950-60 como os

anos dourados.

Page 15: Anos Dourados No Brasil

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 19

� O lançamento das bombas em Hiroshima e Nagasaki (agosto de 1945) inicia a Guerra Fria – período de

rivalidade entre EUA e URSS que terminou com a derrubada do Muro de Berlim, em 1989.

� O “american way of life” era um padrão comportamental a ser transmitido para todo o mundo e caracteri-

zava-se como a expressão da felicidade e alegria do “estilo americano de viver”.

� O desenvolvimento industrial trouxe um considerável impulso ao consumo dos mais variados bens. A ins-

talação da Volkswagen e o advento do Fusca sinalizavam os novos tempos.

� Os brasileiros nunca se sentiram tão otimistas como nos chamados “anos dourados”. O clima de progresso

transmitido pela política econômica tomou conta do povo.

Veja aindaLivro

� “As rainhas do rádio – símbolos da nascente indústria cultural brasileira”.

(HUPFER, Maria Luisa Rinaldi. São Paulo. Senac Editora. 2009)

Neste livro, Maria Luisa Rinaldi Hupfer mostra as mulheres que cantavam, apresentavam programas, liam

os anúncios, entre outras, na época em que o rádio era o principal meio de comunicação.

Este livro recupera um aspecto dessa fantástica história da comunicação no Brasil. Com vasta pesquisa

sobre a época, a obra traça um panorama sociocultural do país ao longo das décadas de 30 a 60 e analisa

a influência do rádio nos aspectos cotidianos. Com riqueza de material como entrevistas, biografias e fotos

de época, Maria Luísa recupera a história de grandes artistas como Marlene, Dalva de Oliveira, Emilinha

Borba, Ângela Maria, entre outras.

Fonte: http://livraria.folha.com.br/catalogo/1143272/as-rainhas-do-radio

� “JK o artista do impossível”.

(BOJUNGA, Cláudio. Rio de Janeiro. Objetiva. 2001)

Este livro conta a história de um homem, de uma época e de um país. Um homem que ousou governar com

imaginação, uma época em que os brasileiros deram as costas à derrota — e viveram o sonho intenso de

serem modernos, cosmopolitas, viáveis. Este livro é uma reparação ao mais republicano dos presidentes

e uma tentativa de entender por que um regime dinâmico e livre foi o verdadeiro “regime de exceção” na

história do Brasil do século XX.

Fonte: http://www.editoras.com/objetiva/407-0.htm

Page 16: Anos Dourados No Brasil

Módulo 4 • Unidade 120

Filmes

� “A vida é bela”

(1999 – diretor: Roberto Benigni)

Este filme italiano trata da história do judeu Guido (Roberto Benigni) e seu filho Giosué que foram levados

para um campo de concentração nazista na Segunda Guerra Mundial. Guido tenta mostrar para Giosué que

estão participando de uma grande brincadeira, por isso todos os acontecimentos e horrores da guerra são

transformados em tarefas a serem cumpridas como numa gincana. “A vida é bela” foi o vencedor do Oscar

de 1999, na categoria Melhor Filme de Língua Estrangeira, derrotando “Central do Brasil”, filme brasileiro

dirigido por Walter Salles.

� “Os anos JK - uma trajetória política”

(Documentário brasileiro de 1980 com direção de Silvio Tendler)

O filme aborda a história do Brasil: a eleição do presidente Juscelino Kubitschek, o nascimento de Brasília,

(...) a crise política, o golpe militar e a cassação dos direitos políticos de JK. O foco é a trajetória política do

“Presidente Bossa Nova”, popular entre os artistas, que propunha a aceleração no desenvolvimento do país

rumo à modernidade e à ocupação de um lugar entre as potências mundiais.

Fonte: http://www.programadorabrasil.org.br/filme/792/

� “Besame Mucho”

(1987, diretor: Francisco Ramalho)

É um filme imperdível para os que se interessam pelo tema que você estudou nesta seção. Aborda a trajetó-

ria de dois casais amigos desde a adolescência - nos anos 50, em uma cidade do interior de São Paulo - até

os “não tão dourados anos 1980”.

Referências

� BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. O governo Kubitschek: desenvolvimento econômico e estabilidade polí-

tica – 196-1961. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1976

� BOJUNGA, Cláudio. JK o artista do impossível. Rio de Janeiro. Objetiva. 2001

� CARDOSO, Miriam Limoeiro. Ideologia do desenvolvimento, Brasil: JK-JQ. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1977

� Os dois livros acima tratam de aspectos diferentes do governo JK, que possibilitam a apreensão de aspectos sutis

do complexo desenvolvimentismo proposto durante este período.

Page 17: Anos Dourados No Brasil

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 21

� CASTRO, Ana Lúcia de. Culto ao corpo e sociedade: mídia, estilos de vida e cultura de consumo. São Paulo.

Annablume. 2007

� HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos – O breve século XX (1914-1991) São Paulo. Cia. Das Letras. 2001

� PILAGALLO, Oscar. A História do Brasil no século 20 (1940-1960). São Paulo. Ed. Publifolha. 2003

� Este livro abarca a crise do Estado Novo e a redemocratização, com o retorno de Vargas pelo voto popular e seu

misterioso e polêmico suicídio. Encerra o texto com os otimistas anos JK.

Imagens

  •  http://www.sxc.hu/photo/1175613  •  Sanja Gjenero

  •  http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Your_VACUUM_CLEANER...Saves_Your_Time_and_Energy...Make_Your_Equipment_Last._-_NARA_-_514671.jpg?uselang=pt-br 

  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Bras%C3%ADlia - Heitor Carvalho Jorge

  •  http://commons.wikimedia.org/wiki/File:1968_FNM_Alfa_Romeo_JK_2000.jpg - Renzo Maia

  •  http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anefo_911-1485_Verkiezing.jpg

  •  http://commons.wikimedia.org/wiki/File:CopacabanaPavement.jpg?uselang=pt-br - Laszlo Ilyes

  •  http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Brasilia_Congresso_Nacional_05_2007_221.jpg  -  Mario  Roberto Duran Ortiz

  •  http://www.sxc.hu/photo/517386  •  David Hartman.

  •  http://www.sxc.hu/985516_96035528.

Page 18: Anos Dourados No Brasil

Módulo 4 • Unidade 122

Atividade 1

O período citado no texto é conhecido por Guerra Fria. As duas potências que

emergiram após a Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e URSS, transformaram o

mundo em um cenário marcado pela bipolaridade ou oposição entre os sistemas capitalista

e socialista.

Para marcar ainda mais as áreas de influência de cada potência, a Guerra Fria, também

conhecida como a “paz armada”, tornou-se uma disputa política tecnológica e militar. Ainda

que alguns conflitos tenham ocorrido no período, principalmente na Ásia e na África, a

disputa direta entre as duas nações nunca se efetivou.

Atividade 2

A implementação da indústria automobilística foi uma das metas alcançadas pelo

governo Juscelino Kubitschek e, para sua efetivação, o Brasil contou com participação do

capital estrangeiro. Ao mesmo tempo em que a preocupação com a indústria tornava-se a

questão central do governo, o operário queixava-se de ficar abandonado.

Atividade 3

Segundo o autor, em Brasília nunca haverá saudade porque a cidade foi totalmente

construída. O chão onde Brasília materializou-se era apenas o Cerrado e sua vegetação

típica. Isto é, não haverá saudade, pois a cidade não tem passado.

Page 19: Anos Dourados No Brasil

Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 23

O que perguntam por aí?

(Questão 42 - Prova Azul - Enem 2011)

Em meio às turbulências vividas na primeira metade dos anos 1960, tinha-se a impressão de que as tendências

de esquerda estavam se fortalecendo na área cultural. O Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos

Estudantes (UNE) encenava peças de teatro que faziam agitação e propaganda em favor da luta pelas reformas de

base e satirizavam o “imperialismo” e seus “aliados internos”.

(KONDER, L. História das Ideias Socialistas no Brasil. São Paulo: Expressão Popular, 2003.)

No início da década de 1960, enquanto vários setores da esquerda brasileira consideravam que o CPC da

UNE era uma importante forma de conscientização das classes trabalhadoras, os setores conservadores e de direita

(políticos vinculados à União Democrática Nacional — UDN —, Igreja Católica, grandes empresários etc.) entendiam

que esta organização

a. constituía mais uma ameaça para a democracia brasileira, ao difundir a ideologia comunista.

b. contribuía com a valorização da genuína cultura nacional, ao encenar peças de cunho popular.

c. realizava uma tarefa que deveria ser exclusiva do Estado, ao pretender educar o povo por meio da cultura.

d. prestava um serviço importante à sociedade brasileira, ao incentivar a participação política dos mais pobres.

e. E) diminuía a força dos operários urbanos, ao substituir os sindicatos como instituição de pressão polí-

tica sobre o governo.

Resolução:

A resposta correta é a letra A, pois os setores conservadores do início da década de 60 acreditavam que centros

culturais, como o CPC, constituíam uma ameaça aos valores capitalistas. Vale lembrar que no contexto da Guerra Fria,

criticar o imperialismo norte-americano poderia ser entendido como uma forma de difundir o socialismo.

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Anexo • Módulo 4 • Unidade 124

(Enem 1999 - Questão 60 prova amarela 9)

Em dezembro de 1998, um dos assuntos mais veiculados nos jornais era o que tratava da moeda única europeia.

Leia a notícia destacada a seguir.

O nascimento do Euro, a moeda única a ser adotada por onze países europeus a partir de 1º de janeiro, é

possivelmente a mais importante realização deste continente nos últimos dez anos que assistiu à derrubada do Muro

de Berlim, à reunificação das Alemanhas, à libertação dos países da Cortina de Ferro e ao fim da União Soviética.

Enquanto todos esses eventos têm a ver com a desmontagem de estruturas do passado, o Euro é uma ousada aposta

no futuro e uma prova da vitalidade da sociedade européia. A «Euroland», região abrangida por Alemanha, Áustria,

Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo e Portugal, tem um PIB (Produto Interno

Bruto)  equivalente  a  quase  80%  do  americano,  289 milhões  de  consumidores  e  responde  por  cerca  de  20%  do 

comércio internacional. Com este cacife, o Euro vai disputar com o dólar a condição de moeda hegemônica. (Gazeta

Mercantil, 30/12/1998)

A matéria refere-se à «desmontagem das estruturas do passado» que pode ser entendida como

a. o fim da Guerra Fria, período de inquietação mundial que dividiu o mundo em dois blocos ideológicos opostos.

b. a inserção de alguns países do Leste Europeu em organismos supranacionais, com o intuito de exercer

o controle ideológico no mundo.

c. a crise do capitalismo, do liberalismo e da democracia levando à polarização ideológica da antiga URSS.

d. a confrontação dos modelos socialistas e capitalista para deter o processo de unificação das duas Alemanhas.

e. a prosperidade das economias capitalistas e socialistas, com o conseqüente fim da Guerra Fria entre

EUA e a URSS.

Resposta: letra A. Todas as mudanças mencionadas no texto - a saber, a derrubada do Muro de Berlim, a

reunificação das Alemanhas, a libertação dos países da Cortina de Ferro e o fim da União Soviética - são referentes ao

fim da Guerra Fria, como mostra a alternativa A.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias • História 25

Caia na rede! � Caso você tenha interesse em conhecer mais sobre os temas desta aula, consulte o site abaixo que traz um

artigo abordando uma pesquisa sobre a memória social dos anos 1950, conhecido como os “Anos Doura-

dos”. São focalizados no artigo: a fabricação do Fusca, primeiro modelo da fábrica Volkswagen no país; a

conquista da primeira Copa do Mundo pelo Brasil; o advento da Bossa Nova; e os concursos de Miss Brasil.

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-36872011000300009&script=sci_arttext

� Para acompanhar as questões de História do ENEM de 2012 sendo solucionadas e comentadas por profes-

sores, acesse o link a seguir:

http://www.youtube.com/watch?v=W2Zs0978orE

� Esta é a primeira parte do vídeo. Para assistir à continuação, acesse:

http://www.youtube.com/watch?v=33hwudBlLI0

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