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04EDITORIAL

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09 10

SUMÁRIO

CAPAO Sistema Familiar

COLUNA DO MARCOSó o amor, não se separa

ENTREVISTAEntre elas

COLUNA DO PADRE HAROLDOSonhos

COLUNA DA MARILIA“Amar demais” Amor ou desamor?

Diretora de Redação: Romina Miranda Cerchiaro Direção de Arte: Butterfly PublicaçõesJornalista Responsável: Romina Miranda Cerchiaro- MTb 49.130Gerente de Negócios: Humberto Fröhls

Anônimos é uma publicação da Butterfly Publicações Ltda -Libélula PublicaçõesRedação, Administração e Publicidade: Av. Gal. Ataliba Leonel, 2087 - Cj. 02 - Santana - 02033-010 -São Paulo - SP Telefones: (11) 2901.0048 e 2373.0577contato@revistaanonimos.com.brwww.revistaanonimos.com.brOs artigos assinados são de responsabilidade de seus autores,não correspondendo necessariamente à opinião deste periódico.Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias pu-blicadas sem consentimento prévio e por escrito da revistaAnônimos. A Libélula Publicações não se responsabiliza pelo conteúdo dosanúncios publicados nesta revista, nem garante as promessasdivulgadas como publicidade. Cabe ao leitor buscar informaçõessobre os produtos e serviços aqui anunciados.

EXPEDIENTE

VIVÊNCIA DA RECUPERAÇÃOMinha vida como conselheiro

12 PRINCÍPIOSPais e filhos não são iguais

12 PASSOSA hora é essa

ESPIRITUALIDADE O amor

121415

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Caros Leitores,

Nesta edição, além dos artigos especiais de nossoscolunistas – Marco Leite, Marília Teixeira Martins e PadreHaroldo, vamos acompanhar a vivência de um conse-lheiro em dependência química, figura tão importantenas comunidades terapêuticas, vamos conhecer melhoras nuances da dependência química feminina, através daentrevista com uma especialista, vamos refletir sobre osPrincípios de Amor-Exigente, sobre os 12 Passos e sobreo Amor.

Mas, nosso alerta na matéria de capa, é para que pos-samos aprender a olhar para a nossa família como um sis-tema, onde o comportamento de um afeta o do outro,onde a relação entre as partes é o que deve ser olhado ecuidado. Para isso, alguns questionamentos são propos-tos no sentido de oferecer possibilidades de mudanças departir para a ação, de transformar a realidade da famíliaem algo melhor.

Boa leitura!A redação

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Na grande maioria das famílias de dependentes quími-cos há um grande paradoxo. Por um lado, a culpa. “Ondefoi que eu errei?”, pensa a mãe. “Se eu tivesse feito dife-rente”, reflete o pai. Com estes questionamentos errôneose totalmente atrelados ao passado (e passado a gente nãomuda!), os familiares ficam paralisados e não conseguemagir para ajudar o filho dependente de drogas.

Por outro lado, afirmam que quem precisa de tratamen-to é somente o filho, que o problema é dele. “Para que euvou a um grupo se o doente é ele?”, pensa a mãe. “O pro-blema é dele e não meu!”, pensa o pai. Esta postura denegação faz com que a família se ausente do momento emque o filho mais precisa de apoio: quando está perdido.

O que muitas famílias que vivem este paradoxo nãoenxergam é o sistema familiar. Não há um filho, se nãohouver um pai e uma mãe. E nem uma mãe ou um paise não houver um filho. Como quando jogamos um ape-dra em um lago, as nossa ações reverberam em toda afamília, afetando a todos. Isso não quer dizer culpa, mas,sim, responsabilidade e, principalmente, mostra queexiste uma relação entre eles e é ela – a relação - que pre-cisa ser olhada e cuidada.

A visão do sistema familiar nos permite refletir sobrepontos que nos levarão à ação, aos invés de ficarmos diva-gando na culpa. “Como está a hierarquia em minha família?Quem manipula quem, quem controla quem?”. Poderiarever um pai. “De que maneira tenho sido um exemplopositivo para meu filho? Como o meu comportamentoafeta o dele e vice-versa”. Poderia questionar a mãe.

Reflexões verdadeiras, livres do medo, da culpa e do jul-gamento permitem uma postura proativa que leva a famíliaa crescer e a se fortalecer. Sempre com o foco no todo, ouseja, no sistema familiar – que envolve o relacionamentofamiliar – os questionamentos continuarão fornecendoinformações que auxiliarão na mudança.

Com este hábito, os pais passarão a olhar mais para si

mesmos, a cuidar de suas mudanças para então se fortale-cerem para fazer mais pelos filhos. Conforme se aprofun-darem nestes questionamentos positivos, sendo honestosem suas avaliações, poderão encontrar a libertação da culpa,e entender que a pedra que jogam no lago farão ondas emtoda a sua extensão.

E é quando o sistema se organiza – e ele sempre se orga-niza – de forma saudável e equilibrada que as mudançaspositivas começam a acontecer. Neste contexto, todosreconhecem os seus limites, os seus recursos. E todoscrescem com os erros, acertos, rumo à qualidade de vida.

Questionamentos proativos:

*Aceito meu filho como ele é ou quero impor minhaherança cultural a ele?*Permito que o meu filho ultrapasse os limites do

respeito comigo? Tenho mostrado a ele quais são esteslimites?*Reconheço as minhas necessidades? E a do outro?*Reconheço e aceito as diferenças em minha família?*Tenho consciência da importância do meu exemplo

na vida do meu filho?*Posso exigir aquilo que não dou? Tenho feito isto?*Tenho coragem para tomar atitudes que causarão

crise?*Estou preparado para enfrentar de forma positiva a

crise?*Busco ajuda com as pessoas certas? Tenho me isolado

negando a situação?*Em minha família buscamos ajudar uns aos outros? *Temoscumprido nossos papéis e responsabilidades ou

um faz demais e o outro não faz tanto? *Há equlíbrio, ajuda, cooperação?*Temos disciplina? Organização? Objetivos e metas?*Temos uma identidade familiar? *Minha forma de amar está adoecida? *Tenho misturado amor com facilitação, controle ou

outros sentimentos negativos?

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CAPAO Sistema Familiar

Por Romina Miranda Cerchiaro

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Sou uma pessoa muito hábil com as palavras e sei disso.Convocado às pressas para fechar meu artigo para aRevista Anônimos, me coloquei a pensar no que fazer.Uso o cotidiano? Falo em recuperação? Ou em outroassunto qualquer?

Resolvi falar de tudo um pouco - do livro presenteado(e que não foi lido), das flores que acabam por secar, docoelho de pelúcia que se perdeu pelo caminho, do sorrisoque cessou e, por fim, falar de amor - esta palavrinha dequatro letras, que está caindo em desuso cada vez mais emuma sociedade que pensa só em TER as coisas e esquecedo SER humano, nosso maior valor.

Infelizmente somos muito carne e pouco, muitopouco, espirituais.

Dia desses alguém muito caro me disse para aprendera SEPARAR as coisas. Mas não consigo separar o AMOR,ele é e foi a chave de minha volta do mundo das drogas edo álcool.

Separar para mim, e também para qualquer dicionário,significa desunir...

Como posso querer repartir, dividir, isolar, afastar? Ouseria separar o útil do inútil? Mas, não tenho capacidadepara julgar o que é isso, pois em minha vida de recupe-ração do comportamento não existem inúteis. Eu falo issocom propriedade, pois vi verdadeiros milagres em minhacaminhada de recuperação.

Quando me separei da sociedade em busca de umanova vida, fui à busca da esperança de nunca mais me se-parar de mim, de unir e de participar da vida das pessoasque me são caras. Ajudar o próximo sem interesse passoua ser meu lema. E tenho conseguido isso, mas a vida noscoloca testes neste caminho no qual os problemas se apre-sentam, e tenho que ter a serenidade de compreender isso.

Não posso e não devo jamais separar o que é bom,nem fazer distinções nos momentos para isso. E mesmoque isso aconteça, pois não depende só de mim, estarei

firme e torcendo pelo outro, sabedor que minha passagempela sua vida gerou crescimento para ambos.

DesapegosEm tempos de residência na Comunidade Terapêutica

Fazenda Renascer, quando um companheiro estava paradeixar a casa, os demais começavam a pedir os seus“desapegos” – pertences pessoais – para deixar de recor-dação para quem ficava cumprindo sua caminhada.

Lembro de um abrigo lindo que eu tinha, todo verme-lho, do meu time Internacional. Todos o queriam, afinal oInter acabara de ser campeão do mundo, em cima dopoderoso Barcelona. Acabei por deixar o casaco com ume a calça com outro.

Saí contrariado por ter feito isso, pois tinha muitaafeição por aquele agasalho e não queria me SEPARARdele. A separação significa perder o interesse e desapagar-se, deixar de viver em comum.

Para isso tem que haver perda de interesse e desamor,mas às vezes o SEPARAR se faz necessário, pois nemsempre as coisas são como planejamos.

Só uma coisa não devemos SEPARAR nesta vida, oAMOR. Sem ele nos afastamos de DEUS e, com isso, osperigos voltam a rondar. Para mim, que superdimensionoas coisas, o valor do AMOR é grandioso e não pode serseparado, pois sem ele o romantismo acaba por ser extin-to.

Aliás, pode até ser que o amor já esteja extinto e eu sejao último romântico.

Uma abraço AMOROSO aos leitores da RevistaAnônimos.

06ColunadoMarco

Só o AMOR, não seSEPARA

http://lampiaogaucho.blogspot.com

Por Marco Leite

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Revista Anônimos - Quais são as questões peculiares dadependência química entre as mulheres?

Dra. Maria da Graça - Carência afetiva, autoestima baixa,dificuldade em lidar com perdas em geral (pessoas, traba-lho, situações expressas no cotidiano), preocupação exces-siva com a imagem corporal.

RA - Qual a importância do relacionamento familiar e damaternidade neste contexto?

MGP - No caso da dependência química em indivíduossintomáticos, o relacionamento familiar ou a maternidadenão são fatores de proteção. A prioridade vai estar sem-pre voltada para as drogas.

RA - Quais são as comorbidades mais frequentes entre asmulheres?

MGP - A coexistência de duas ou mais perturbaçõesusuais nas mulheres dependentes pode ser a depressão,transtornos afetivo bipolar ou de déficit de atenção comhiperatividade (TDAH) , distúrbios alimentares etranstornos de personalidade.

RA - Para suprir as necessidades emocionais e de comu-nicação, mais presente nas mulheres do que nos homem,vocês preparam mais atividades terapêuticas cotidianas.Quais são elas?

MGP - As atividades do Centro Paulista de Recuperação,destinadas ao público feminino, são grupos terapêuticosvisando autoconhecimento e monitoramento dos sin-tonas, sessão de acolhimento individual, relaxa-mento econsciência corporal, assim como atividade física.

RA - É mais difícil a mulher buscar ajuda do que ohomem? Por que?

DMG - No caso da dependência química, homens e mu-lheres têm chegado ao tratamento em regime de inter-

nação, geralmente, de forma involuntária devido à gravi-dade da doença. As mulheres apresentam mais demandaspara tratar e requerem mais atenção da equipe terapêutica,pois culturalmente aprenderam a serem mais “queixosas”e expressarem suas emoções. (No consultório, os homenstem buscado mais ajuda que no passado, principalmentedevido às crises conjugais, o que não ocorria anterior-mente.)

RA - Quais são os fatores que mais interferem e ajudama mulher a entrar em recuperação?

MGP - Os fatores que mais interferem na recuperaçãosão os relacionamentos com parceiros também depen-dentes químicos e a dificuldade em desligar-se emocional-mente das antigas amizades do período de vida ativa.

RA - Quais são as principais substâncias de dependênciano público feminino?

MGP - Hoje, as mulheres se tornam mais dependentes decocaína, crack e afetaminas. E isto está relacionado princi-palmente à imagem corporal.

RA - Existe uma faixa etária específica?

MGP - Não. Mas, nos últimos anos, uma questão rele-vante que vem chamando atenção é o fator idade.Diferentemente do passado, existem altos índices de mu-lheres na fase madura (após 40 anos) sendo internadas pordependências em drogas ilícitas. Antes, nessa faixa etária,seu envolvimento era basicamente com medicamentospara dormir ou álcool.

08Entrevista

A Dra. Maria das Graças Dias de Oliveira Passaretti é

Psicóloga, Especialista em Dependência Química com

enfoque em Terapia Cognitiva Comportamental

(FMUSP), Pós-Graduada em Psicodrama e Terapia

Familiar e Terapeuta de Psicotraumas (EMDR).

Coordenadora do Programa Para Tratamento de

Tabagistas no CPR Centro Paulista de Recuperação.

Entre elasA dependência química entre as mulheres tem características próprias e diferenci-adas. Por isso, o tratamento precisa ter um olhar especial. Nesta entrevista, a Dra.

Maria das Graças Dias de OliveiraPassaretti, do Centro Paulista de Recuperação, fala sobre o trabalho que

realiza na unidade feminina.

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O Mestre falou para os discípulos: “Vocês sabemdizer por que o pássaro canta? Um pássaro não cantaporque tem algo a dizer. Ele canta porque traz uma melo-dia na garganta”. Quero dizer que além de termos umamelodia em nossos corações, temos sonhos nas nossasmentes/cérebro. Eu gosto de observar todas as pessoassóbrias, dançando e cantando com o Divino.

Cito várias pessoas que tiveram sonhos. Cabral – 1500– sonhou em encontrar o Oriente e ancorou em PortoSeguro, Bahia. Anchieta – 1556 – construiu uma aldeiapara os indígenas; a qual se tornou uma das maiores e maisimportantes cidades do mundo: São Paulo. Machado deAssis – 1857 – aperfeiçoou a literatura brasileira. Lula,como sindicalista e metalúrgico, desejou ser Presidente erealizou este sonho.

Os afro-americanos e afro-brasileiros tambémrealizaram vários sonhos. Lincoln – 1865 – queria libertaros escravos. Martin Luther King – 1960 – destacou seudesejo sempre repetindo “Eu tenho um sonho”. Por causadesta ideia, dia 22 de fevereiro é feriado nos EstadosUnidos. Para um americano “O milagre dos milagres”,politicamente falando, foi o fato de um afro-americano sereleito como Presidente na América do Norte.

A mesma chuva dá flores no jardim e espinhos nocampo. Às vezes, os sonhos custam nossa vida, como é ocaso de Lincoln e King, que morreram pelos seus ideais.O fato de termos sonhos não quer dizer que o preço é

fácil. Apesar das dificuldades, o sonho nos permite umavida alegre e, frequentemente, realizamos o que dese-jamos.

A Divina Majestade nos dá uma vida de felici-dade. Faz isto o tempo todo, até mesmo em pequeníssi-mas coisas, como uma de nossas células. Ela cuida de nós!Algumas de nossas células nem podem ser vistas com ummicroscópio. A célula é como a cidade de Nova Iorque.Têm milhares de postos de gasolina, um sistema de trans-porte e uma rede de comunicação como as linhas de tele-fone e a internet. As células importam várias matériascomo os nutrientes e o oxigênio. Manufaturam o que énecessário, e têm caminhões para retirar os resíduos. Têmum governo muito eficiente, um líder que manda e poli-ciamento para bloquear ações destrutivas.

Existem diferentes células, as quais formamdesde uma girafa até uma abelha. Milhões de células sãotão pequenas que podem instalar-se na ponta de umalfinete. Têm vários formatos, como discos e linhas retas.As células fornecem calor para manter o corpo quente,promovem eletricidade química para que ocorram os so-nhos e planejam completamente a vida pelo DNA.

O Criador nos fornece 100 trilhões de célulasmuito bem organizadas e um espírito que nos dá a vidaeterna. Somos cidadãos de dois mundos: do terrestre poralgum tempo, e do celestial para sempre. A DivinaMajestade nos destinou para vivermos felizes.

ColunadoPadre

Haroldo

09

Por Padre Haroldo J. Rahm, SJ

Sonhos

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Um pouco da História de “Frô”

Estou em Codisburgo, Minas Gerais. O significado donome desta cidade no interior de Minas, vem de Cordis,coração e Burgo, cidade. A cidade do coração. Do coraçãode muitas “Marias”, de muitos Josés”, de Dona Quita, SeuTarcísio, Seu Berto e do grande escritor João GuimarãesRosa.

Debaixo de um caramanchão coberto de uma plantaexótica de nome “sapatinho-de-judia”, oriunda da Índia,escrevo sobre Frô (nome fictício para preservar o seuanonimato), mulher regional, casada há muitos anos comSeu “Nhô” (nome fictício), alcoolista em recuperação hápouco mais de 2 meses.

Frô me conta um pouco de sua história de vida, de seuamor e de sua dor, se dirigindo a mim ora como menina,ora como mocinha ou “fia” e de vez em quando até searriscando a me chamar de senhora.

* Observação:A parte inicial deste pequeno artigo foi escrita de acor-

do com o dialeto regional, ou seja, da maneira em que apessoa fala.

As primeiras palavras de Frô: - Óia “fia”, vou te contá minha vida junto do meu

“Nhô” porque guardo uma grande estima pela senhora equero começá dizendo que eu amo ele demais da conta,num sabe?

Pois bem, a coisa que ele mais gostava de fazê na vidaera bebê suas pinguinha, que comprava direto do fabri-cante. Bebia demais da conta, e nessa época eu nem briga-va com ele procausa disso não! Ele gostava, uai... fazê oquê, né?

Hoje, pra bem dizê, nossa vida é uma verdadeira ma-ravilha, mas já foi muito sofrida. Atualmente eu e meuesposo trabalhamos aqui com o Dotô. Ele é muito bãocom a gente, que só cê vendo! Deixa a gente morá ali noquartinho e a gente só precisa cuidá das coisa e da casadele, nóis fazemos isso bom grado! Ah, e tem mais: soufichada e ele nunca atrasa nosso pagamento. Mas, já avisou

que o “Nhô” precisa frequentá as reunião de A.A. e con-tinuá a fazê o tratamento que ele faz lá com o médico dohospital.

E graças a Deus e debaixo de muita reza, meu “Nhô”num bebe a um tempão. Tá guentando firme!

Meu pai bebia o mesmo tanto que ele, num sabe? Eminha mãe cuidou dele direitinho, igual eu cuido do meuesposo. Óia, minha vida, pra bem dizê é só cuidá dele. Euamo ele demais da conta e quem ama cuida, num émesmo?

Quando minha mãe ainda vivia, ela falava que casa-mento que é casamento só dá certo se a mulher ficá como marido pro que dé e vié. E que, se a gente não cuidá,vem outra e cuida.

Por isso, tem dia que só de pensá que meu “Nhô” podeme deixá, eu choro... às vezes, o dia inteirim, inteirim. Sóque eu choro pra dentro e bem escondido que é pra elenum vê e nem ouvi.

Uns meses desses pra trás, eu chorei pra dentro umtempão e sofri de uma dor tão doída que nem vi a luz dosol. Meu coração ficou numa amargura só! Foi numdaqueles dias que ele bebeu demais da conta e ficou até“sem carreira certa”. Perdeu o caminho de casa e nuncamais chegava. Aí no final do dia eu fui atrás dos seus pas-sos e achei o caminho de volta pra ele, num sabe?

Olha mocinha, eu num costumo ter medo de muitacoisa nessa vida não, mas o medo mais medroso que tenhoé de perdê o meu “Nhô”. Minha vida é assim, acunchega-da na dele.

E agora, sem ele bebê, nossa vida vai melhorá... emuito! Eu amo ele demais da conta, sô!

* Observação: Frô, ao falar isso, abre um belo sorrisoe mostra sua boca sem nenhum dente na parte superior.

*Este depoimento foi devidamente autorizado por Frôpara ser publicado”.

E esta é a história de “Frô”, do Seu Nhô” e do senti-mento que ela chama de amor, apesar da dor.

Minhas consideraçõesFrô, assim como milhares de codependentes é mais

ColunadaMarilia

“Amar Demais” Amor ou Desamor?

Marília Teixeira Martins

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11uma mulher que “ama demais” e não mora mais em si.Repete e segue à risca o que sua velha e falecida mãe fazia,falava e lhe ensinava. Distante de si, nem sequer enxerga apossibilidade de se cuidar, cuidar de suas roupas, de suapele, de seus dentes, enfim, de sua vida.

Seu maior medo é que o seu companheiro a rejeite.Viver pelo outro e para o outro é a única coisa que dá sen-tido à sua existência.

Frô, pode ter muitos nomes, muitas idades e pode sechamar Maria ou José... Pode ser mulher, homem e viverem muitos bairros, em muitas cidades, do interior ou ca-pital e até em outros países. Pode ter uma boa situaçãosocial, financeira ou então, ter uma vida desfavorável emtodos estes aspectos.

É mais uma anônima, vítima da codependência e dadependência química dentro de sua casa. É mais uma“Maria” de muitas “Marias” que conheço pelo mundoafora, vivendo dentro de uma “bolha”, de uma “trava” ouatadura emocional e entregando suas vidas nas mãos dooutro e experimentando diariamente “doses” e “doses” debaixa-estima e desamor.

Possivelmente sofreram algum tipo de rejeição e aban-dono e hoje repetem a mesma história e a mesma “músi-ca” de uma nota só. Por isso, buscam no outro a felicidadeque não encontram dentro de si. Querem apenas ser

reconhecidas, aceitas e amadas. São codependentes e nãogostam, do seu “cheiro” e nem de sua “cor”. Sofrem poramor e não reconhecem seu valor.

Mulheres e homens que “amam demais” correm umsério risco de se tornarem ao longo da vida, pessoas amar-gas distantes da luz, vivendo simplesmente como sombrasdo outro, perdendo a fonte inesgotável da alegria, do pra-zer e do viver.

E é debaixo do caramanchão, coberto de sapatinho-de-judia, na cidade de Cordirburgo, a cidade do coração é queeu reflito: se o amor é nobre e temos o privilégio de senti-lo, porque não experimentá-lo com toda a beleza e agrandeza que nos é possível viver?

E para fechar este artigo, recorro-me em algumaspalavras de “Frô”: “quem ama demais da contas, sô!” nãoama “desama”, principalmente a si mesmo.

Marília Teixeira MartinsTodos os direitos reservados ©

A.A. em Codisburgo:VIVENDO EM PAZ - Fundado em 15/11/81

Rua Frei Estêvao, 350Bairro: Centro

CEP: 35.780-000 - CordisburgoReuniões: 2ª, 4ª e 6ª feira, às 19:00 horas.

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Estou completando neste ano de 2012, oito anos deatuação na área da dependência química. Antes dessetempo, não me imaginava nesse trabalho. Tudo começoupor um impulso cristão. Como cristão católico, partici-pante do movimento da Renovação Carismática Católica,no ano de 2004, resolvi dar um passo em minha vida, quena época parecia uma loucura. Não só as pessoas, mas atéeu mesmo pensava assim. No entanto existia dentro demim, primeiro, um desejo de servir a Deus, e servi-lo, aju-dando aqueles que mais estivessem necessitando de ajuda.No ano de 2004, resolvemos iniciar uma Associação, umaentidade juridicamente constituída, que pudesse ofereceressa ajuda, de maneira especial, aos dependentes químicose às suas famílias. Todo esse desejo nasceu em nossocoração, porque nos deparávamos nos encontros dejovens, com as situações de uso abusivo e dependência dedrogas. Eu e minha esposa, Maria do Carmo, (na época,éramos namorados ainda), deixamos nosso emprego paranos dedicarmos à entidade, que recebeu o nome deAssociação da Divina Misericórdia, com o apoio e suportedo movimento da RCC. Começamos bem leigamente, ape-nas com o grande desejo de ajudar, e é claro, acreditandona experiência espiritual como um grande instrumento delibertação e recuperação das drogas.

No decorrer do trabalho, foram surgindo as opor-tunidades de nos capacitarmos na área, através de cursos,como o de capacitação em dependência química. A partirdaí, comecei a desempenhar o trabalho de conselheiro emdependência química. Hoje, passados oitos anos nessaatividade, percebo a importância do conhecimento técni-co-científico a respeito das consequências do uso abusivoe da dependência de drogas, no atendimento aos usuáriose também às suas famílias.

O conselheiro em dependência química é um profis-sional habilitado, através de um curso de capacitação ou deaconselhamento em dependência química. Em muitoscasos, dependentes que deixaram as drogas e passaram porum processo de recuperação e vivem em sobriedade, tor-nam-se conselheiros e exercem em instituições estafunção, no entanto, não são somente os que já passarampela experiência do uso de alguma droga que podemexercer esta função. É claro que ter passado pela experiên-cia pode ser um fator que ajude e muito no entendimentodo problema, mas não é primordial. É o meu caso, porexemplo. Eu não passei pela experiência do uso de drogasilícitas e nem lícitas. Como relatei no início deste artigo,minha experiência foi outra e hoje percebo nitidamenteeste acontecimento e o envolvimento neste trabalho em

12Vivências

VIVÊNCIASDARECUPERAÇÃO

Minha vida como conselheiro

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13minha vida, como um chamado de Deus. Portanto, o conse-lheiro em dependência química é, a meu ver, em primeirolugar, alguém chamado, vocacionado, ou seja, poderíamosdizer que é aquela pessoa com o perfil para exercer tal ativi-dade, depois, ele precisa ser alguém capacitado, ter conheci-mento técnico-científico da doença da dependência química,não basta só querer ajudar, é necessário ter formação, estudo,preparo para isso. O conselheiro geralmente atua em insti-tuições de atendimento a usuários de drogas, em comu-nidades terapêuticas, centros e programas de recuperação; éum profissional que pode trabalhar junto a uma equipe deoutros profissionais, no processo de recuperação daquelesque iniciam um tratamento em busca da sobriedade. A funçãodo conselheiro envolve o atendimento direto aos dependentesquímicos, podendo trabalhar na orientação e no acompa-nhamento dos dependentes químicos. Essa é a experiênciaque eu tenho, de poder estar no contato direto com osusuários e dependentes que procuram a instituição onde atuo,e poder estar acompanhando cada caso, auxiliando e dandopistas ao dependente químico, no processo de recuperação. Eisso é muito importante, o conselheiro é aquele que dá “pis-tas”, ou seja, aquele que ajuda o dependente químico a darpassos, aponta caminhos. No dia-a-dia dos atendimentos,cada vez mais tenho percebido o quanto a minha funçãocomo conselheiro é não a de dar uma resposta ou umasolução pronta, mas a de ajudar, seja o dependente químico,seja a sua família, a construir essa solução, construir juntos,caminhar juntos. É evidente que há momentos em que o con-selheiro precisará dizer e apontar claramente o que deve serfeito, a partir do seu conhecimento e experiência, até para evi-tar as recaídas durante o tratamento. Outro papel importanteé o de orientação e acompanhamento da família. Todos queatuamos na área sabemos que a família e os que circundam odependente químico e possuem laços afetivos com ele,acabam por vivenciar a chamada co-dependência (os compor-tamentos e sintomas decorrentes da preocupação e do con-vívio com um membro da família dependente). O conselheiroem dependência química pode atuar muito nessa realidade,tendo em conta que a família também precisa passar pelarecuperação. Agradeço a Deus a graça de neste tempo ter essaexperiência de poder ajudar na recuperação de várias pessoase famílias. Em nossa entidade temos um grupo de apoio se-manal para os dependentes químicos e familiares; tenho aoportunidade de coordenar esse grupo junto com mais duaspessoas; ali naquele espaço também posso colocar meu co-nhecimento como ferramenta e como ajuda para os que láparticipam. Acima de tudo, é importante dizer, que para qual-quer profissional da área da dependência química, inclusivepara o conselheiro, é necessário que se estabeleça entre asduas partes, conselheiro e dependente ou família, uma relaçãode estreita confiança. O conselheiro em dependência químicaé aquela pessoa que deve ter sensibilidade aos problemasdecorrentes do uso abusivo de drogas; não pode ter precon-ceitos com relação ao dependente químico ou à família, deve

permitir que aquele que chega à instituição ou ao programa derecuperação, sinta-se valorizado, amado, respeitado como pes-soa, como ser humano, portanto, o acolhimento, a formacomo se acolhe esta pessoa dependente, conta muito em todoo trabalho. Foi o que me perguntaram numa ocasião em queeu participava de uma entrevista numa emissora de rádiolocal: “Como chegar, como se aproximar do usuário de dro-gas? Não dá medo? Como você aborda o usuário sem saber areação que ele terá?”

Então a resposta que eu dei foi exatamente essa: é pre-ciso olhar para o usuário de drogas, além do seu uso abusivo,além da doença da dependência química, além dos problemaspessoais, familiares e sociais por ele causados em decorrênciado uso, e enxergar a pessoa, o ser humano com potencial demudança, uma pessoa que talvez esteja naquela situação pornão haver ainda encontrado alguém preparado para ajudá-lo asair. Para isso, contribui muito a fé, a experiência espiritual.Hoje não tenho dúvida nenhuma que a experiência espiritual,religiosa, a espiritualidade em si, é um fator primordial narecuperação e na conquista da sobriedade. Como disse, nomeu relato de como comecei nesse trabalho, no início haviauma disposição, um impulso cristão, como católico e prati-cante da fé, depois tive a oportunidade de adquirir o conhe-cimento técnico, e agora percebo que as duas dimensões noprocesso de recuperação precisam caminhar lado a lado, umanão deve sobrepor a outra e nem uma deve excluir a outra. Oconhecimento nos leva a entender o tema e a derrubarmos ospreconceitos com relação a ele e a espiritualidade, a fé, é o quenos faz ter um olhar misericordioso, que nos faz ver além doproblema, que já nos faz enxergar a restauração acontecendo,mesmo quando ela ainda parece distante, que nos faz acredi-tar que uma pessoa tem sempre a possibilidade de mudança,de começar a trilhar uma vida nova. Aliado à determinação eao desejo de mudança, daquele que quer deixar o mundo dasdrogas, faz-se necessária a presença e a atuação desse, que euconsidero mais que um profissional, mas um vocacionado a,como conselheiro em dependência química, fazer acontecerna prática, uma frase que alguns grupos de apoio costumamcolocar junto à oração da serenidade: “Eu seguro minha mãona sua, uno meu coração ao seu, para juntos podermos fazeraquilo que sozinho eu não consigo”.

Anderson Luiz Amaral Gomes

Conselheiro em Dependência Química

na Associação da Divina Misericórdia

(entidade de atendimento a

dependentes químicos e familiares),

em São João Nepomuceno.

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A discussão e reflexão deste 4º princípio básico “Pais efilhos não são iguais”, chega ao subgrupo Frutos doAmor-Exigente com uma certa resistência por parte dealguns jovens. Mas à medida que vão se conscientizandoe percebendo que pais e filhos tem suas diferenças, até porconta do choque de gerações e viverem em épocas dife-rentes. O olhar para aquela atitude dos pais em assumir oseu “papel” desenvolvendo a “função” de orientar, enca-minhar e cobrar, promovendo assim, o bem estar dafamília, vai mudando de ótica, ou melhor, o jovem vaiolhando diferente para a situação familiar que provocatanto conflito.

A maior diferença entre pais e filhos é a das funções edos papéis. É importante que essas funções sejam bemclaras e bem definidas e quem é quem nessas relações. Éuma relação de autoridade que nasce da responsabilidadepaterna e materna. Os pais assumindo essa autoridade,automaticamente estão indicando e oferecendo caminhosde segurança e amadurecimento a seus filhos.

Um jovem do grupo compôs uma música com os dozeprincípios básicos do AE em ritmo de rap, e na estrofedesse 4º princípio ele diz assim: “Chegou a parte casca,casca dura de encarar, filho querer mandar, hum!!! Não dá.Mas olha aí querido pai o que eu tenho pra falar, não écom imposição que tudo vai mudar.”

O programa do AE auxilia muito nessa definição trans-parente de deveres e direitos de ambos os lados, preparan-do a pessoa para uma adaptação e adequação em outrasáreas da vida como trabalho, escola, lazer. Enfim, quandoo jovem começa compreender e aceitar essas diferenças,ele com certeza não terá dificuldades de respeitar normasem qualquer ambiente que se encontre.

Hoje, os filhos estão vivendo uma realidade diferentede seus pais, apesar de atingirem idade de emancipação,continuam morando na casa de seus pais e aí devem esta-belecer as regras da boa convivência. Vamos analisar!Como desejo ser independente e ditar as regras se aindanão quero abrir mão das mordomias de ter uma mãeserviçal, um pai que continua sendo o provedor do lar, ouaté situações em que só há um provedor? Refletimos nogrupo que os lucros e os custos dessa dinâmica familiardevem ser bem administrados. Normalmente, o jovemconsciente dessa condição ele costuma “baixar a bola”,como costumamos dizer, e respeita as normas para o bomrelacionamento familiar.

Interessante observar, que muitos jovens já estãovivendo essa condição de pai e, portanto, exercendo essaautoridade sobre os seus filhos, na maioria das vezes de

um jeito diferente. O grupo favorece essa reflexão sem-anal de como estou lidando com a educação do meu filho?Estou fazendo prevenção? Desejo fazer diferente nafamília que estou formando? Que modelo de pai quero serpara o meu filho? Estes questionamentos o ajudam aplanejar uma recuperação pautada dentro de valores queaté então estavam esquecidos e adormecidos pelo uso eabuso de drogas.

Na adicção o jovem vem de uma convivência com seuspares, ou seja, prefere a companhia dos iguais, aqueles quese identificam com o mesmo tipo de lazer, rejeitandoassim, o diferente por não compartilhar da mesma ideia.

Aceitar e respeitar as diferenças é peça fundamentalpara um bom relacionamento e crescimento na busca dasobriedade. A sugestão desse princípio de que pais e filhos,professor e aluno, patrão e empregado, marido e mulhernão são iguais, vem facilitar a compreensão de que asdiferenças nos enriquecem e nos ajudam conviver melhorcom o outro. Lógico que todos esses personagens que citeiacima tem seus defeitos, suas limitações, mas a intenção éde querer acertar, mesmo errando muitas vezes. Crescer éaceitar desafios. Ninguém está livre de desafios.

No grupo iniciamos esse exercício já na espiritualidadepluralista, aceitando o outro independente de sua crença,sua cor ou raça, condição social, time de futebol, enfim,isso nos possibilita a abrir a nossa mente e quebrar pre-conceitos.

A troca de experiência nas partilhas auxilia numa novaforma de se relacionar com o diferente respeitando o seuponto de vista. O grupo na verdade, é o treino para jogarsério e com habilidade na vida familiar e social. No entan-to, é preciso ter muita calma e paciência para readaptaresses novos conceitos na nova vida de sobriedade.

Mas é gratificante e motivador perceber mudanças navida de cada participante do grupo, fazendo reparaçõescom suas famílias. A experiência de uma vida nova,agradável e com sobriedade cria um clima de serenidadenecessária para corrigir os desvios de rota. Correção estaque se fará sem agressividade, sem imposição, sem dramasdesnecessários, sem vítimas ou sentimentos culpa.

É fundamental que pais e filhos se reconheçam dife-rentes, não enquanto gente, mas enquanto funções eresponsabilidades diferentes. Se entendam e se cuidem noprocesso de crescimento em todas as dimensões: físico-biológica, mental, emocional, espiritual, social e profis-sional. Todas essa dimensões são importantes para umaqualidade de vida de todo o ser humano.

1412Princípios Pais e filhos não são iguais

Por Márcia Camacho da Silva CordérCoordenadora do Subgrupo Frutos do Amor-Exigente

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12Passos

Nada mais sugestivo ao autoconhecimento do que fazerum inventário de si. O que tem de positivo, negativo, qua-lidades, defeitos, erros, acertos. O quarto passo deAlcoolicos Anônimos faz este convite. “Venha saber maissobre você”, mas ele alerta “Detalhadamente e sem medo”.Não há mais espaço para o autoengano, para julgamentosdesnecessários, para autopiedade, para desonestidade. Issotudo fica no passado e agora se abre a possibilidade de nosolharmos, de saber quem somos, de admitir nossos erros,de listar tudo sobre nós. Literalmente.

Durante o processo da jornada dos 12 Passos, muitosestacionam no quarto. Porque? Quem passa por ele nãoescapa de olhar para si, e isto é o que normalmente maisnegamos. Olhamos para tudo, para todos, cuidados detudo, de todos, fugimos de nós mesmos porque a dor éprofunda, é dificil olhar e saber que é preciso agir, se mo-dificar. Assim, muitos continuam estacionados no quartopasso.

Mas, o programa espiritual dos 12 Passos não sugeretempo, nem nos obrigada a avançar sem querer ou poder.

Estamos lá, olhando, tomando coragem, e ele nos espera. Vamos detalhar o passado, o presente, a nossa vida, a

nossa história. Vamos olhar sem culpa, sem medo. Vamoscolocar no papel tudo aquilo que ficou guardado nosporões de nossa alma e que nos fez tão mal durante todotempo.

Vamos nos libertar do que não nos serve mais e deixaro caminho livre para construir o novo, semear a terra paracolher outros frutos, mais saudáveis, mais limpos, maisférteis.

Não há como ter o novo sem abrir mão do velho. Nãohá como mudar de vida sem nos libertar do que nos amar-ra à dor. Não há como avançar sem se conhecer, afinal,quem caminha e caminhará sempre conosco na jornada davida somos nós mesmos. Como posso levar para a tra-jetória de uma vida toda alguém que eu não conheço, nãoperdoo, não amo?

A hora é essa!

A hora é essa“Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.”

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"Eu poderia falar todas as línguas que são faladas na terra e até

no céu, mas, se não tivesse amor, as minhas palavras seriam como o

som de um gongo ou como o barulho de um sino.” (I Coríntios 13.1-13)

Um dia me perguntaram quando eu sentia a espirituali-dade. Não tinha nadapronto sobre isto emminha mente, mas, na-turalmente, a respostasaiu de meus lábios.“Quando se manifesta ofluxo do amor e, emminha concepção, issoacontece quando entroem estado de doação aooutro,a serviço a Deus”.

Nas atividades de voluntariado, levando a minha expe-riência como esperança para outras pessoas, a espirituali-dade floresce. São ditas as palavras certas, no momentocerto, para as pessoas certas. Em contrapartida, os que sãotocados pela mensagem, resplandecem em gratidão e

emanam o que possuem de melhor, dividindo suas expe-riências, partilhando o seu amor. A roda, o fluxo do amorcomeça a fluir, a esperança se renova, a vida se revela nasua mais bela expressão de amor: o amor desinteressado,livre, amor de doação, de salvação.

Coisas boas aconte-cem, soluções apare-cem, tudo é me-lhor doque no momento ante-rior. Laços se estreitam,amizades se renovam,possibilidades apare-cem. Tudo se deve à luzdo amor, daquele quenão se confunde comdoença, com expectativa

ou facilitação. Daquele que não cobra, não impõe e só per-doa. Amor que transforma, que resgata, que é fiel epaciente. Amor que está lá no fundo, guardado, preserva-do, que resiste às dores, decepções, dificuldades.

Em nossos grupos, muitas pessoas falam sobre o

Por Romina Miranda Cerchiaro

Espiritualidade

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O amor

“...os que são tocados pela mensagem,resplandecem em gratidão e emanam oque possuem de melhor, dividindo suasexperiências, partilhando o seu amor”...

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18momento em que conseguiram separar o amor da doença,em que perceberam o que era obsessão, o que era con-trole, e o que ficou após a libertação destes “sintomas”.

Muitos pais, no ápice da adicção ativa de seus filhos,chegam a pensar que desistiram deles. Não suportam maisconviver com a dor, com as expectativas frustradas, comos sonhos destruídos. Desistir parece mais fácil. Mas nãoé. Quando se comprometem com a recuperação de si mes-mos e passam a entender a doença do filho e a mudarcomportamentos, conseguem entrar em contato com oamor. Saem do cen-tro do problema epassam a enxergá-lode fora. Enxergamtambém as doresdos outros, as maioresque as suas. Se fort-alecem com as cam-inhadas de seusiguais. E assim dãovazão ao amor, reco-nhecem que ele estava escondido atrás da dor, mas quenunca deixou de estar lá. Vivo, forte, firme e transfor-mador.

E é ele, somente ele, o amor, que tem o poder de trans-formar, de resgatar. Dependentes se recuperam quandopassam a amar a si mesmos, e familiares ajudam aos seus

quando resgatam a essência do amor: “Amar aos outroscomo a ti mesmo”, ou seja, aprendem a cuidar de si paradepois olhar, amar e cuidar do outro.

E, para que possamos refletir ainda mais sobre o poderdo amor, com as citações bíblicas:

“Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança

e paciência. O amor é eterno.

Existem mensagens espirituais, porém elas durarão pouco. Existe

o dom de falar línguas

estranhas, mas acabará

logo. Existe o conheci-

mento, mas também ter-

minará.

Pois os nossos dons de

conhecimento e as nossas

mensagens espirituais

são imperfeitos. Mas

quando vier o que é per-

feito, então o que é

imperfeito desaparecerá.

Portanto, agora existem estas três coisas: a fé, a espe-rança e o

amor.

Porém, a maior delas é o amor.” (ICoríntios 13.8-13).

“...Amor que transforma, queresgata, que é fiel e paciente”...

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