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ANO X | NÚMERO 115 | SETEMBRO DE 2014 CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA (CONTAG) CONTAG A CONTAG é filiada à 2014 Ano Internacional da Agricultura Familiar, Camponesa e Indígena E MAIS: Formação Política para Mulheres (pág 4) • Reforma Política (pág 3) • Renovação de Acordos com MPS e INSS (pág 5) • Governança Fundiária (pág 4) • Terceirização do Trabalho (pág 6) • Violência no Campo (pág 7) • Contribuição Sindical (pág 6) 13 DIRETRIZES PARA AVANÇAR NO DESENVOLVIMENTO RURAL DILMA RECEBE DA CONTAG

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Page 1: ANO X | NÚMERO 115 | sEtEMbRO dE 2014 CONtAg · Desde o advento da Lei nº 9.840/99, a pri-meira lei de iniciativa popular conquistada em nosso país, passamos a contar com normas

A N O X | N Ú M E R O 1 1 5 | s E t E M b R O d E 2 0 1 4

CONfEdERAçãO NACiONAl dOs tRAbAlhAdOREs NA AgRiCultuRA (CONtAg)

CONTAGA CONtAg é filiada à

2014Ano Internacional daAgricultura Familiar,Camponesa e Indígena

�E�MAIS:�Formação�Política�para�Mulheres�(pág�4)�•�Reforma�Política�(pág�3)�•�Renovação�de�Acordos�com�MPS�e�INSS (pág 5) •�Governança�Fundiária�(pág�4)�•�Terceirização�do�Trabalho�(pág�6)�•�Violência�no�Campo�(pág�7)�•��Contribuição�Sindical�(pág�6)

13 diretrizes para avançar no desenvolvimento rural

dilma recebe da contaG

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2 J o r n a l d a C o n t a g

Editorial

E stamos nos aproximando das elei-ções, momento que iremos ele-ger o(a) presidente da República,

os(as) governadores(as), senadores(as), deputados(as) federais e estaduais. Essa nossa escolha é de extrema importância porque os(as) eleitos(as) serão os nossos representantes nos espaços de poder nos próximos anos e criarão leis e executarão as políticas públicas que impactarão direta-mente nas nossas vidas.

Por isso, o voto é um dos principais ins-trumentos de democracia no nosso País. Precisamos estar muito conscientes sobre a nossa escolha. Devemos analisar as pro-postas dos partidos políticos e dos candi-datos e candidatas e se há viabilidade de aplicação. Também é fundamental pesqui-sarmos o histórico pessoal e político de ca-da um(a), se estão enquadrados na Lei da Ficha Limpa e se representam os nossos in-teresses.

Ao fazer um intenso debate sobre as plataformas de governo apresentadas pe-los presidenciáveis, o Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) tomou a decisão de apoiar a can-

didatura à reeleição de Dilma Rousseff para o Brasil seguir mudando. Entendemos que algumas políticas não avançaram, como a Reforma Agrária, por exemplo. No entan-to, reconhecemos muitas conquistas, co-mo o incremento de recursos para o Pronaf, o Programa Nacional de Habitação Rural, o PAA, o PNAE, a aprovação do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo), do Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo), o Mais Médicos e outras políticas que impac-tam positivamente na vida e trabalho das mulheres e homens do campo. Nesse sen-tido, o projeto político defendido pela com-panheira Dilma Rousseff nos represen-ta. Apesar do nosso apoio, continuaremos com o nosso papel de movimento sindical: vamos reivindicar, pressionar e negociar a pauta da categoria trabalhadora rural, de forma independente e autônoma, em busca de mais conquistas para o campo.

A cada eleição, o MSTTR vai amadure-cendo e incentivando a candidatura de tra-balhadores e trabalhadoras rurais para ocu-par os espaços políticos. Precisamos ter a nossa gente nas Assembleias Legislativas e

na Câmara dos Deputados para apresentar e defender os nossos projetos. Em 2014, te-mos 12 candidatos(as) orgânicos do MSTTR pleiteando a vaga de deputado(a) estadual e seis a de deputado(a) federal. Além disso, apoiamos outros candidatos(as) que decla-raram compromisso com os trabalhadores e trabalhadoras rurais.

Deixamos aqui um chamamento para que as nossas lideranças se engajem nessa reta final da campanha, que façam a defesa desse projeto político e dos candidatos(as) que nos representam. Precisamos ter repre-sentantes autênticos do movimento sindi-cal para que a nossa luta seja fortalecida.

Trabalhador e trabalhadora rural, no dia 5 de outubro, vá às urnas e vote conscien-te. Eleja pessoas compromissadas com a classe trabalhadora, que conheçam a nos-sa realidade e as nossas propostas por um Brasil mais justo e igualitário. Juntos somos mais fortes!

Alberto Ercílio BrochPresidente da CONtAg

Vamos votar para o Brasil seguir mudando

EntrEvista

Márlon reis

Estamos nos aproximando das eleições. Qual é a importância do voto?Embora não se possa resumir a democra-cia aos processos eleitorais, o voto consti-tui um dos mais importantes instrumentos de participação cívica, sendo o responsá-vel pela definição dos nomes que irão di-rigir politicamente a sociedade. Por isso, devemos conferir muita atenção a esse momento particular da nossa vida em co-letividade. 

Qual é a importância do “Ficha Limpa” para a política brasileira e dos cidadãos e cidadãs escolhe-rem bem os seus governantes e parlamentares?A Lei da Ficha Limpa presta uma grande colaboração ao eleitor e eleitora ao afas-tar cautelarmente dos processos eleito-rais candidatos e candidatas que eviden-temente não preenchem o perfil mínimo esperado dos nossos dirigentes políticos. Pessoas que possuem condenações pro-

feridas por órgãos colegiados em virtude de atos de corrupção, narcotráfico, im-probidade administrativa, crimes contra a Administração Pública, estupro, dentre outros, não podem pretender figurar entre os que disputam o voto do povo. Primeiro, devem cuidar de suas defesas criminais. 

Como podemos denunciar a compra de votos durante as elei-ções?

Desde o advento da Lei nº 9.840/99, a pri-

meira lei de iniciativa popular conquistada

em nosso país, passamos a contar com

normas capazes de afastar dos pleitos

pessoas descobertas praticando a ação de

doar, oferecer, prometer ou entregar qual-

quer bem ou vantagem ao eleitor e eleitora

com o fim de obter-lhe o voto. Condutas

como essas devem ser denunciadas ao

Ministério Público ou comunicadas aos

Comitês do Movimento de Combate à Cor-

rupção Eleitoral (MCCE). Hoje, são mais de

300 espalhados por todo o Brasil. 

Por que precisamos realizar a Reforma Política?Precisamos reduzir os custos das elei-ções. A forma atual de financiamento das campanhas, baseada nas doações em-presariais, se converteu no campo ade-quado para a prática do abuso de poder econômico. Precisamos de eleições bara-tas, transparentes e austeras. A eleição é a véspera do governo. Precisamos cuidar muito desse processo. Além disso, temos que simplificar o sistema eleitoral. Defen-demos, no âmbito da Coalizão pela Refor-ma Política Democrática e Eleições Lim-pas, que as eleições sejam realizadas em dois turnos. No primeiro se vota no partido, no segundo se elegem os deputados. Isso permite que o eleitor saiba exatamente o que estes estão fazendo. Hoje, não há cla-reza alguma no voto. O eleitor não percebe que está compondo o parlamento segundo uma proporcionalidade partidária ao votar. Nem sabe que o voto emitido em favor de um candidato ou candidata pode ser apro-veitado por outro que não foi escolhido.

Márlon Reis é juiz de Direito no Maranhão, membro e fundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e um dos redatores da minuta da Lei da Ficha Limpa (LC n˚ 135/2012). Em entrevista ao Jornal da CONTAG, ele destaca questões como a importância do voto, da Lei da “Ficha Limpa” para a política brasileira, da realização da Reforma Política e como e onde denunciar a compra de votos nas eleições.

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3J o r n a l d a C o n t a g

A CONTAG entregou à candidata à reeleição Dil-ma Rousseff as propostas do MSTTR para o Brasil seguir mudando, com 13 diretrizes para avançar no desenvolvimento rural sustentável e solidário. Foi reivindicado que as proposições integrem a plata-forma de governo para 2015-2018. O ato ocorreu em 28 de agosto, na sede da CONTAG, em Brasília, e reuniu mais de 500 pessoas, entre dirigentes sindi-cais, trabalhadores(as) rurais, assessores, lideranças do cooperativismo e as mulheres trabalhadoras ru-rais, que protagonizaram uma recepção acalorada à candidata Dilma.

“É com muito carinho que as margaridas aqui presentes te recebem na nossa casa. As margari-das estão aqui com o rosto pintado, revestidas com o compromisso com a reeleição da companheira”, afirmou Alessandra Lunas, secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais.

O presidente da CONTAG, Alberto Broch, desta-cou os 50 anos de lutas e conquistas da CONTAG e sua importante participação nos principais mo-mentos da agenda nacional e na busca por melho-res condições de vida e trabalho para a população rural. “Quero dizer que as maiores conquistas que tivemos no campo brasileiro foram nos últimos 12 anos, desse projeto em curso no Brasil, capitaneado pelo presidente Lula e pela presidenta Dilma. Nos orgulhamos das políticas públicas conquistadas, como o fortalecimento do Pronaf, o PAA, o PNAE, habitação rural, o Luz para Todos e o Água para To-dos, dentre outros”, avaliou.

Apesar das conquistas, o presidente da CONTAG destacou alguns desafios ainda a serem enfrentados no campo. “Ainda temos trabalhadores(as) rurais sem acesso às políticas públicas, como a reforma agrária, e que ainda não têm seus direitos respei-tados. Os trabalhadores(as) rurais, em sua ampla maioria, tomaram a decisão política, de forma au-tônoma e independente, de apoiar a sua reeleição. Essa decisão foi tomada pelo projeto político que a senhora representa nesse país. Mas, continuaremos a fazer o nosso papel, mobilizando, fazendo nossos atos, batendo nas portas do Palácio e negociando, pois ainda temos muitos problemas no campo.”

As 13 diretrizes propostas são: Reforma Agrária; Fortalecimento da Agricultura Familiar e da Agro-ecologia; Meio Ambiente; Assalariamento Rural; Educação do Campo; Saúde; Previdência Rural; Mulheres Trabalhadoras Rurais; Juventude Rural; Terceira Idade; Participação Social e Fortalecimento da Democracia; Desenvolvimento Territorial; e For-talecimento das Estruturas do Estado.

COMPROMISSOSDilma Rousseff ressaltou que, no próximo man-

dato, fortalecerá o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). “Nos últimos anos, no meu governo e do Lula, temos uma consciência de que não construímos sozinhos as políticas para a agricultura familiar. Nós construímos juntos (Governo e CONTAG). Vocês reivindicaram, lutaram e fizeram acontecer. Por isso, me sinto mui-to alegre de estar com vocês hoje”, reconheceu.

Dilma Rousseff aproveitou para apresentar as principais ações e conquistas para o campo ao lon-go do seu mandato e também citou outras propos-tas para os próximos quatro anos, como o marco regulatório do cooperativismo rural, a efetivação do Código Florestal e a reforma agrária. “Sobre a refor-ma agrária, ainda temos muitas dificuldades. Rea-firmo o meu compromisso com a reforma agrária, mas não só com a distribuição de terra, essa é só

a primeira parte do caminho. Além da distribuição de terra, que tem que ser da melhor qualidade, com linhas de créditos específicos, temos que garantir produção, cidadania e condições de renda para o assentado.”

Em defesa de uma reforma que torne o siste-ma político brasileiro democrático e participativo, a CONTAG, FETAGs e STTRs seguem comprometi-dos e mobilizados com a campanha pela Reforma Política.

Desde o ano passado, a CONTAG, que integra a Coalizão Democrática responsável pela coleta de assinaturas em apoio ao Projeto de Lei de Iniciati-va Popular de Reforma Política e Eleições Limpas, promove o debate interno sobre esta reforma, além de participar das atividades nacionais propostas pela Coalizão, como a caminhada para coleta de assinaturas, em novembro de 2013.

Além dessas atividades, a CONTAG passou a compor a articulação pelo Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Siste-

ma Político. Foram encaminhados materiais para as FETAGs e STTRs, e a CONTAG participou ati-vamente das ações do Dia Nacional de Mobiliza-ção pelo Plebiscito Popular, em agosto, com mo-bilização dos educandos(as) da 5ª turma nacional da ENFOC para dialogar sobre a Reforma Política com os moradores do Núcleo Bandeirante, uma das cidades satélites de Brasília.

O ponto alto da campanha pela Reforma Polí-tica foi o Plebiscito por uma Constituinte Exclusiva e Soberana, ocorrido entre 1º e 7 de setembro em todo o País, que reuniu votos favoráveis à proposta que serão utilizados para pressionar o Congresso a convocar o plebiscito oficial.

É importante lembrar que a campanha segue com a coleta de assinaturas para o Projeto de Lei,

e qualquer pessoa pode ajudar neste processo. Para a secretária-geral da CONTAG, Dorenice Flor da Cruz, “é fundamental que as nossas lideranças sindicais continuem na coleta de assinaturas para que o MSTTR seja protagonista das mudanças que nós queremos na política”.

ElEiçõEs 2014

Trabalhadores e trabalhadoras rurais entregam propostas para a plataforma de governo de Dilma

rEforma Política

Campanha pela Reforma Política continua após plebiscito

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Candidatos orgânicos do MSTTRCeará:

Moisés (PT) / deputado estadualMato Grosso:

Maria da Glória (PCdoB) / deputada estadualMinas Gerais:

Vilson Luiz da Silva (PSB) / deputado federalPará:

Beto Faro (PT) e Zé Geraldo (PT) / dep federalZé Maria (PT), Airton Faleiro (PT), Maria

Ivone (PT), Lucineide (PT), Paulinho do PT (PT) e Dilvanda Faro (PT) / dep estadual

Paraná:Assis do Couto (PT) / deputado federal

Pernambuco:Manoel Santos (PT) / deputado estadual

Rio de Janeiro:Ezaquiel Siqueira (PCdoB) / deputado estadual

Rio Grande do Sul: Heitor Schuch (PSB) / deputado federal Elton Weber (PSB) / deputado estadual

Rondônia: Anselmo de Jesus (PT) / deputado federal

Lazaro Dobri (PT) / deputado estadual

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4 J o r n a l d a C o n t a g 4 J o r n a l d a C o n t a g J o r n a l d a C o n t a g J o r n a l d a C o n t a g

A organização sindical, as ações de massa, a sustentabilidade político-financei-ra, eleições 2014 e reforma política foram al-guns dos temas debatidos pelos dirigentes da CONTAG e das FETAGs durante a reu-nião do Conselho Deliberativo, nos dias 6 e 7 de agosto, em Brasília.

As lideranças avaliaram o 20º Grito da Terra Brasil, realizado em maio desse ano, de forma descentralizada. Foram destaca-das as ações grandiosas promovidas nos estados, que mobilizaram em todo o Bra-sil cerca de 50 mil trabalhadores(as) rurais. “Conseguimos deixar a marca do movi-mento, garantimos avanços nas negocia-ções com mais de 15 ministros(as), uma boa repercussão junto à imprensa, e em 60 dias fomos recebidos duas vezes pela pre-sidenta Dilma”, destacou o presidente da CONTAG, Alberto Broch. No geral, os diri-gentes das FETAGs avaliaram que foi uma estratégia acertada, mas que a cada ano

o Conselho deve avaliar o cenário político para definir o melhor formato.

Outros temas debatidos foram Estrutu-ra e Organização Sindical, sustentabilidade político-financeira do MSTTR, as eleições 2014, com o posicionamento do MSTTR frente aos programas de governo em dispu-ta, e sobre a importância da Reforma Políti-ca e da participação do MSTTR no Plebisci-to Popular de 1º a 7 de setembro. Também foram apresentadas as propostas para o III Festival da Juventude Rural, previsto para abril de 2015, e a 5ª edição da Marcha das Margaridas, para agosto de 2015.

“Ao final desses dois dias intensos, con-seguimos cumprir o objetivo previsto de forma positiva. Tivemos uma boa partici-pação das federações, garantindo a defini-ção de estratégias para o fortalecimento do MSTTR na luta em defesa dos direitos dos trabalhadores(as) rurais”, avaliou Dorenice Flor, secretária-geral da CONTAG.

CONTAG e FETAGs avaliam ações e definem estratégias para o MSTTR

consElho dElibErativo

Margaridas se preparam para a Marcha com Curso de Formação Política

marcha das margaridas 2015

Para a construção de uma ação política, é preciso pessoas empoderadas, decididas e dispostas a lutar por seus direitos. Com essa perspectiva, a Marcha das Margaridas 2015 começa a ser construída pelas mu-lheres do MSTTR. Em agosto, a CONTAG recebeu em sua sede mais de 90 dirigentes de todos os cantos do Brasil para o 2º Cur-so Nacional de Formação Político Sindical para Mulheres Dirigentes Sindicais, que faz parte de uma estratégia formativa para po-tencializar a construção e mobilização para a Marcha das Margaridas.

Este foi o primeiro dos três módulos do curso, cujo eixo temático foi “Relações de gênero, poder e participação política”, ten-do como objetivos compreender a Marcha como uma expressão da luta e organização das trabalhadoras rurais e seus significados.

Um dos debates fortes durante o curso foi a participação feminina nos espaços de poder, coroado posteriormente com a visi-ta da candidata à reeleição Dilma Rousseff, que recebeu manifestações de apoio a sua campanha por parte das Margaridas. Outro ponto alto foi a discussão acerca da política e do sistema político a partir da crítica fe-minista, o que levou a reflexões a cerca da importância da campanha pela Reforma

Política, que tem mobilizado diversas orga-nizações em todo o Brasil.

EstRAtégiA dE PREPARAçãoO curso, segundo a secretária de Mu-

lheres da CONTAG, Alessandra Lunas, faz parte da estratégia de preparação para a Marcha 2015. “É um momento de reflexão e nivelamento das Margaridas, com um olhar já voltado para a nossa ação”, diz a dirigen-te. As discussões não ficam só na sala de aula, e as atividades intermódulos propõem às participantes avaliarem, mobilizarem e reunirem grupo de articulação para a próxima Marcha em seus estados e muni-cípios. “Cada uma das mulheres que es-tavam aqui saem com a tarefa de multipli-cadoras e mobilizadoras da Marcha, para se somarem com as outras mulheres”, afirma Alessandra.

EnvoLvimEnto dAs gERAçõEsOutro destaque do curso foi a grande

participação da juventude e terceira ida-de, em um desejo de contar com a força das margaridas jovens e idosas para uma maior representatividade das mulheres do campo, além de representantes das as-salariadas rurais, parcela importante das trabalhadoras rurais.

Mercosul debate implementação das Diretrizes de Governança da Terra

Com a preocupação do uso da terra como um espaço produtivo que pode garantir a soberania e segurança ali-mentar do mundo, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estabeleceu as Diretrizes Voluntárias sobre a Governança Responsável da Posse da Terra, Pesca e Florestas. Aprovadas pelo Conselho de Segu-rança Alimentar em 2012, estas diretrizes são fundamenta-das em modelos de desenvolvimento sustentável, com foco nas questões fundiárias e uso sustentável, incluindo não só boas práticas e bom uso da terra, mas as questões sociais de acesso, direitos, entre outras abordagens fortemente liga-das ao contexto fundiário.

Em geral, há dois conceitos de diretrizes: Vinculantes, de aplicação obrigatória e as Voluntárias, que são parâmetros orientadores a serem seguidos pelos governos dos países, o que não garante e fragiliza sua aplicação prática. A CONTAG faz parte e acompanha de perto os debates sobre as diretri-zes, e acredita que é preciso mais firmeza dos governos so-bre essas questões. “Nós temos pautada a necessidade de as diretrizes de governança serem vinculantes, pois o mun-do demanda pela produção de alimentos e se não tivermos diretrizes que orientem os países a trabalhar com a distri-buição e uso da terra proporcional à produção de alimen-tos certamente não teremos muitos avanços”, argumenta o vice-presidente e secretário de Relações Internacionais da CONTAG, Willian Clementino.

DEBATE MUNDIAL E RECORTE DA AMÉRICA LATINA

Focados neste tema, integrantes da FAO e da Reunião Especializada da Agricultura Familiar no Mercosul (REAF) e sociedade civil de oito países, além de representações do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Incra, estiveram reunidos por dois dias, no final de agosto, em Brasília, para um grande debate e apresentações de experiências sobre os avanços já conquistados na América Latina, os desafios que permanecem e os caminhos possíveis para implementação destas diretrizes na prática, em uma discussão com caráter de avaliação e monitoramento. O cenário latino já apresenta evoluções nas questões fundiárias, mas ainda são muitos os problemas que dificultam mais avanços. “A América La-tina tem se posicionado muito bem no CSA e FAO sobre as questões fundiárias, que são emblemáticas para o mundo e um problema generalizado em todos os continentes. Outros países também estão se manifestando, reconhecendo a im-portância deste tema”, diz Willian.

O debate das diretrizes é muito simbólico neste Ano In-ternacional da Agricultura Familiar, Camponesa e Indígena (AIAF-CI). “Nossa luta é para alimentar o mundo e construí--lo de forma mais justa e um futuro com mais segurança e soberania alimentar”, finaliza o dirigente.

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5J o r n a l d a C o n t a g

Coletivo prepara atividades formativas para pessoas idosas rurais

Começa a organização do Festival Nacional da Juventude Rural

Renovados termos de Cooperação Técnica entre Ministério da Previdência Social, INSS e CONTAG

PrEvidência social rural

tErcEira idadE

JuvEntudE

O Ministério da Previdência Social (MPS), o INSS e a CONTAG assinaram, no dia 6 de agosto, a reno-vação de dois importantes Termos de Cooperação Técnica. Um dos termos autoriza os Sindicatos fi-liados ao Sistema CONTAG a continuarem a reali-zar o Cadastro do Segurado Especial no banco de dados da Previdência Social. O outro termo refere--se ao repasse do desconto da mensalidade social dos benefícios previdenciários autorizados pelos aposentados(as) e pensionistas rurais associados aos STTRs, conforme autoriza o art. 115, inciso V da Lei n.º 8.213/91.

A solenidade de assinatura dos termos de co-operação ocorreu na sede da CONTAG, e contou com a presença do ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, do presidente do INSS, Lin-dolfo Neto de Oliveira Sales, do secretário execu-tivo do MPS, Carlos Eduardo Gabas, da diretoria e assessoria da CONTAG e das FETAGs, da Comis-

são Nacional de Jovens e da 5ª Turma Nacional da ENFOC.

O Cadastro do Segurado Especial visa construir uma base de dados consistente que garanta maior segurança no reconhecimento dos direitos previ-denciários e maior agilidade na concessão de bene-fícios dos trabalhadores(as) rurais. Ele deve ser feito por todos que exerçam atividade rural, individual-mente ou em regime de economia familiar, na con-dição de proprietário, parceiro, meeiro, comodatário e arrendatários rurais, assentados da reforma agrá-ria, posseiros, quilombolas e ribeirinhos. Destina-se também ao extrativista vegetal ou seringueiro e ao pescador artesanal, que tenham nessas atividades a principal fonte de renda.

O Acordo de Cooperação do desconto da men-salidade social dos Aposentados e Pensionistas também visa facilitar a vida dessas pessoas que se mantêm sócias dos STTRS contribuindo diretamen-

te para o fortalecimento do MSTTR.Segundo o secretário de Políticas Sociais da

CONTAG, José Wilson Gonçalves, esse momento de renovação dos dois acordos foi de grande im-portância para o MSTTR e para os trabalhadores(as) rurais. “A Previdência Social tem sido uma das polí-ticas públicas que mais tem avançado em favor dos trabalhadores(as) do campo e esses termos de co-operação auxiliam na manutenção desses avanços e na melhoria do atendimento e dos compromissos do MSTTR em defesa dos direitos e garantias previ-denciárias dos trabalhadores(as) rurais.”

A Comissão Nacional de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais  (CNJTTR) já começou a se mobilizar para a realização do III Festival Nacional da Juventude Rural, em 2015. Essa será a terceira edição desta atividade já tra-dicional no MSTTR, que busca envolver moças e rapazes do campo de todo o Brasil em um espaço político e social, e terá como diferencial a participação de jovens de outros países da América do Sul, que serão convidados com o intuito de promover uma troca de experiências com realidades e culturas estrangeiras.

Em reunião realizada em agosto com grande parte dos coordenadores(as)/ secretários(as) de jovens, foram retirados encaminhamentos importantes que nortearão todo o trabalho de construção do evento, a começar pela data e local. Foram escolhidos os dias 27 a 30 de abril e o Pavilhão do Parque da Cidade, em Brasília, para sediar o encontro.

Após avaliação detalhada dos Festivais Regionais, ocorridos no primeiro semestre deste ano, os(as) dirigentes juvenis puderam estabelecer o perfil do público participante do Festival e os principais objetivos, entre eles estimular a sindicalização, maior participação da juventude nas instâncias do MSTTR e valorizar a produção cultural juvenil.

Foram discutidas também as estra-tégias de captação de recursos para a realização do Festival e as atividades previstas para os quatro dias, dentre elas as tradicionais competições es-portivas.

A CNJTTR continuará focada nesta organização, e conta com o envolvimento de todos e todas, como convoca a secretária de Jo-vens da CONTAG, Mazé Morais. “Este Festival não é só da juventude, mas do MSTTR como um todo, e é necessário o apoio das federações e das coordenações regionais para realizá-lo. Esperamos poder contar com a compreensão e participação de todo o conjunto para fazermos um evento com bastante gente e um caráter político forte, com discussões não só dos temas da juventude, mas de todo o Movimento”, diz Mazé.

O Coletivo Nacional de Terceira Idade da CONTAG já está trabalhando no planejamento das atividades de formação da terceira idade em todo o Brasil. Os principais encaminhamentos e definições sobre os eventos foram estabelecidos na última reu-nião, ocorrida em Brasília, entre 20 e 22 de agosto,

para que seja dado início ao projeto em outubro, com previsão de término para junho de 2015.

Serão 27 eventos, que fazem parte de um proje-to da Secretaria da Terceira Idade da CONTAG em parceira com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), a partir de um Acordo de Coope-ração Técnica. Eles levarão para os participantes de todos os estados temáticas importantes para o MSTTR aplicadas ao contexto da terceira idade. O maior objetivo deste projeto é construir com os ido-sos e idosas rurais da base a Política do Movimento Sindical para a Terceira Idade, como forma de dar destaque às demandas deste público e fortalecer as políticas públicas direcionadas a ele.

Os eventos serão padronizados, com uma ma-triz pedagógica única, que prevê debates sobre a política atual do MSTTR e a nova que será constru-

ída com base no que for discutido em todo o país, mas também abre espaço para discussões perti-nentes nos estados, coordenadas pelas federações e sindicatos locais.

“Um dos destaques das discussões será o tema da Sucessão Rural”, adianta a secretária de Terceira Idade da CONTAG, Lúcia Moura. “Vamos conver-sar sobre isso com profundidade, pois a juventude está saindo do campo, e os idosos ficando. É muito necessário fazer esse olhar sobre as gerações para o futuro do campo”, completa. A Secretaria de Jo-vens Rurais da CONTAG também estará presente em alguns dos eventos para complementar esta abordagem. A expectativa é de uma grande parti-cipação dos idosos(as) da base, para que a Políti-ca do Movimento para a Terceira Idade seja a mais completa possível e contemple a todos(as).

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6 J o r n a l d a C o n t a g

N os últimos anos, a CONTAG e diversos atores sociais, dentre os quais a Asso-ciação Nacional dos Magistrados da

Justiça do Trabalho (Anamatra), têm lutado con-tra a liberação da terceirização ampla e irrestri-ta. Essas tentativas estão concentradas no PL 4330/2004 do senador Sandro Mabel (PMDB--GO) e na ação com repercussão geral em trâ-mite no Supremo Tribunal Federal. Nos dois casos, a classe patronal tenta a liberação da terceirização em todas as atividades da cadeia produtiva. Essas tentativas, agora, ganham um novo caminho: os planos de Governo dos candi-datos à Presidência da República. Em encontro realizado na Confederação Nacional da Agricul-tura (CNA), no início de agosto, Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e o então candidato do PSB, Eduardo Campos, que faleceu dias depois, trataram dessa questão.

A candidata à reeleição, Dilma Rousseff, foi a única a defender a negociação entre as partes sobre o tema. “Entendemos perfeitamente o que significa terceirização. A questão maior é o pro-blema da precarização do trabalho. Para passar uma legislação, temos que dar continuidade à

mesa de diálogo”.Sobre a questão do emprego no campo,

Aécio Neves e Eduardo Campos defenderam a terceirização do trabalho. “Não tem de haver distinção entre atividade fim e meio”, afirmou Aécio Neves. Já Eduardo Campos defendeu, na ocasião, que “o Brasil precisa discutir um marco regulatório da terceirização”. A candidata Marina Silva, substituta de Eduardo Campos, manteve em seu programa de governo a defesa da tercei-rização sob a justificativa de garantir o aumento da produtividade.

Para o secretário de Assalariados(as) Rurais da CONTAG, Elias Borges, “a terceirização sig-nifica um retrocesso, pois suprime os direitos históricos dos trabalhadores, aumenta a rotati-vidade, extingue postos de trabalho e precariza as relações de trabalho, tanto que 90% dos tra-balhadores resgatados em condições análogas à escravidão eram terceirizados”.

Para o presidente da Anamatra, Paulo Luiz Schmidt, a terceirização merece ser debatida, mas sempre sob a ótica do respeito aos direi-tos fundamentais, previstos na própria Consti-tuição Federal, que preveem a progressividade

dos direitos sociais, ou seja, que a lei pode e deve ser alterada, mas sempre  com o objeti-vo de melhorar a condição social do trabalha-dor.  “Mas, ao contrário de um debate sadio, o que vemos são tentativas, cada vez mais fortes, da liberação da terceirização da mão--de-obra. No Congresso Nacional, por exem-plo, tramita a passos largos o Projeto de Lei nº 4.330/2010 que, sob o argumento de regu-lamentar a terceirização, cuida justamente de liberar a prática, diluindo a responsabilidade do  empregador,  acabando com a identida-de das categorias profissionais e ameaçando garantias consolidadas  na Constituição e  na CLT. Os juízes do Trabalho estão em alerta e assim também devem estar todos aqueles que cuidam do Direito. Atualmente, dos cerca de 44  milhões de  empregados no Brasil, 11 mi-lhões são terceirizados. Com a liberação da prática da terceirização para a ‘atividade-fim’, talvez em cinco anos,  algo em torno de 10 milhões serão  migrados  para a terceirização, resultando na drástica redução da massa sa-larial. Trata-se de um retrocesso social sem precedente na história de nosso país”.

Os assalariados(as) rurais e o AIAF/CI-2014

assalariados(as) rurais

Terceirização do trabalho é combatidapela CONTAG e Anamatra

O período para o recolhimento da contribuição sindical dos trabalhado-res e trabalhadoras assalariadas(os) rurais foi encerrado em 30 de abril. Mas, até o momento, não constam o repasse de muitas empresas para o Sistema CONTAG do exercício 2014.

Para os empregadores que ain-da não efetuaram o pagamento das contribuições do período de 2009 a 2013, o prazo termina em 30 de se-tembro. Já o das contribuições de 2014 se encerra em 31 de dezembro desse ano.

A contribuição sindical é obrigatória, conforme estabelecido no artigo 580 da CLT e no Decreto Lei 1.166/1971. É descontado um dia de trabalho da remuneração dos assalariados e assalariadas rurais.

Essa contribuição é importante para a comprovação da ativi-dade rural, seja na Previdência Social ou para acessar programas governamentais. Além disso, a contribuição sindical fortalece o seu sindicato, as Federações e a CONTAG a terem mais condi-ções de continuar trabalhando em defesa dos direitos e conquis-tas para os trabalhadores e trabalhadoras rurais.

Os empregadores que recolheram a contribuição e não repas-sarem às entidades sindicais serão notificados. “Convocamos as Federações e Sindicatos a colaborarem nesse momento de cobrança das empresas. Afinal, as empresas precisam quitar o repasse da contribuição sindical. Vamos notificar e ajuizar proces-so contra as empresas devedoras. Se apropriar desse dinheiro é crime”, avisou Aristides Santos, secretário de Finanças e Adminis-tração da CONTAG.

O número de habitantes no meio rural vem diminuindo ao longo dos anos. Em 1950, 63,8% da população residiam no campo. Em 1980, reduziu para 32,3% da população total e a estimativa para 2050 gira em torno de 8%.

Essa redução drástica é provocada por diversos fatores advindos por várias trans-formações ocorridas na sociedade e no seu modo de produção, como: maior con-centração industrial nas áreas urbanas; escassez, penosidade e precariedade do trabalho no meio rural; mecanização; elevação da concentração de terra; e outros. (Dados IBGE)

Um dos públicos mais afetados por essas transformações foi o dos assalariados(as) rurais. Em 2012, o índice de informalidade nas relações de trabalho no campo era de 60,1%, atingindo 2,5 milhões de pessoas. Para agravar ainda mais a situação, existe grande rotatividade de mão-de-obra nas empresas rurais. “É muito comum em uma semana demitir 100 trabalhadores e na outra contratar outros 100. Depois de um ano de trabalho, as pessoas já estão com esgotamento físico e as empresas estão em busca de trabalhadores mais rentáveis e jovens”, informou a assalariada rural Marly Albuquerque Oliveira, de Concórdia/PA.

Marly tem carteira assinada por uma empresa da região especializada na explo-ração do dendê para biodiesel. “Os trabalhadores(as) rurais enfrentam dificuldades nas condições de trabalho, como o trabalho exaustivo, por exemplo. Aqui, a maio-ria dos assalariados rurais, que exercem trabalho braçal, são jovens e homens. As mulheres são direcionadas para a área administrativa, técnica e agrônoma. O que temos de positivo é que a maioria dos assalariados rurais daqui são beneficiados pelos acordos coletivos firmados na região, ganhando um pouco acima do salá-rio mínimo e a garantia de alguns benefícios como vale refeição, plano de saúde e odontológico, entre outros”, explicou.

Marly também disse que, na região, é muito comum a prestação de serviço para a agricultura familiar na safra da pimenta-do-reino e da horticultura. No Ano Interna-cional da Agricultura Familiar, Camponesa e Indígena (AIAF-CI), a CONTAG destaca o importante papel dos assalariados(as) rurais na produção de alimentos saudáveis junto aos agricultores(as) familiares de todo o País, garantindo segurança e sobera-nia alimentar aos brasileiros(as). Além disso, a relação de trabalho entre a agricultura familiar e os assalariados(as) rurais não é baseada na exploração da mão-de-obra, mas sim em boas práticas mediante a legislação trabalhista.

ano da agricultura familiarsustEntabilidadE Político-financEira

CONTAG cobrará a contribuição sindical dos empregadores rurais 2014

Ano Internacional daAgricultura Familiar,Camponesa e Indígena

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7J o r n a l d a C o n t a g

Foi dado início ao processo de mobilização e capacitação de li-deranças para o Cadastro Ambiental Rural (CAR) com o Seminário Nacional de Capacitação. Realizado pela CONTAG em sua sede nos dias 3 e 4 de setembro, o evento contou com um público composto pelos secretários(as) e assessores de Meio Ambiente das Federações, teve participação também de representantes do Ministério do Meio Ambiente e apoio do SENAR.

Além de um caráter formativo, com oficina prática com técnicos que orientaram como fazer o cadastro no sistema digital, o seminário também teve o objetivo de ser informativo, de nivelamento sobre as regras estabelecidas na Lei nº 12.651 que trata da regularização am-biental através do CAR, e diferenciação do antigo e do novo Código Florestal. Os dirigentes também fizeram uma análise do andamento do CAR nos estados e discutiram as dificuldades para sua realização.

“A CONTAG entende que é uma obrigação dos estados e municí-pios produzirem condições para que os agricultores façam seus ca-dastros. Mas, ainda assim, nós e o conjunto das Federações e Sindi-catos nos preocupamos com o cadastro, que é obrigatório para todos os agricultores que possuam imóveis rurais no Brasil, independente da quantidade de módulos”, diz Antoninho Rovaris, secretário de Meio Ambiente da CONTAG.

As lideranças capacitadas no seminário levarão os conhecimentos adquiridos na atividade para os sete seminários regionais que acon-tecerão nos próximos meses. “Esperamos com isso termos, pelo menos, 1200 lideranças e técnicos ligados ao MSTTR capacitados para a elaboração do CAR, para juntos o realizarmos com todos os agricultores(as), associados(as) ou não, residentes nos municípios de abrangência da CONTAG”, conclui Antoninho.

novo código florEstal

Lideranças se preparam para realizar o Cadastro Ambiental Rural

violência no camPo

CONTAG denuncia onda de crimes no campo em Mato Grosso

Infelizmente, a violência permanece no cam-po, vitimando lideranças que lutam pelo direito à terra. No mês de agosto, duas trabalhado-ras e um trabalhador rural foram assassinados em Mato Grosso. Estes crimes, relacionados a conflitos agrários e ambientais, indignou a CONTAG, as FETAGs e STTRs, que exigem pro-vidências imediatas para apurar os fatos e punir os responsáveis pelos assassinatos, atentados e ameaças aos trabalhadores(as) rurais.

Além dos assassinatos sucessivos, conti-nuam sendo registradas ameaças e atentados contra as lideranças, revelando a ação intencio-nal, articulada e cruel dos fazendeiros, grileiros de terras públicas, madeireiros e seus aliados que insistem em eliminar qualquer foco de re-sistência às suas investidas sobre as terras do Mato Grosso.

A impunidade e fragilidade do Estado em solucionar definitivamente os problemas cau-sadores dos conflitos agrários, como a grila-gem e a concentração fundiária, faz com que a violência continue sendo praticada contra os trabalhadores(as) rurais. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, em 2014, já foram

registrados 23 assassinatos, sendo que mais três estão sob averiguação. No mesmo período de 2013, o número de assassinatos registrado era de 21.

“Não podemos nos calar diante desta situa-ção e continuaremos exigindo ações estruturais e efetivas para barrar a violência praticada pelo latifúndio e seus aliados, que tiram a vida dos que lutam pelo direito à terra e à natureza”, co-brou Zenildo Xavier, secretário de Política Agrá-ria da CONTAG.

CRIMES CONTRA TRABALHADORES(AS) RURAIS REGISTRADOS EM MATO GROSSO:Município�de�União�do�Sul�

a) Maria Lucia do Nascimento, assentada na Gleba Macaco, no Assentamento Nova Con-quista 2, e ex-presidente do STTR: em 13 de agosto, foi assassinada. Ela coordenava a luta pela regularização do Assentamento que conta com 25 famílias de trabalhadores(as) rurais.

b) Cleirton Alves, ex-presidente do STTR de União do Sul e também assentado na Gle-ba Macaco, no Projeto de Assentamento Nova Conquista 2: dia 17 de agosto, Cleirton foi se-guido por dois carros. Para fugir, correu pelo

mato e se escondeu próximo de sua casa. c) Ameaças: enquanto estava escondido,

Cleirton ouviu uma conversa entre os perse-guidores, dizendo que a prioridade das mortes seria a do próprio Cleirton, além de sua irmã, Claudineia, que é assentada, e de Zilma Porfí-rio, assentada, também ex-presidente do STTR e atualmente diretora da FETAGRI-MT. Município�de�Colnizaa) Josias Paulino de Castro e Ireni da Silva Cas-tro: em 16 de agosto, no distrito de Guariba, município de Colniza, o casal foi barbaramente assassinado. Josias era presidente da Associa-ção “Aspronu”– Projeto Filinto Müller e lutava pela legalização das terras, denunciando as emissões irregulares de títulos definitivos da área em nome de fazendeiros e empresários e a extração ilegal de madeiras.

Ao longo de seus 50 anos de his-tória, a CONTAg sempre foi às ru-as para lutar por melhores condi-ções de vida e trabalho no campo brasileiro. Além das reivindicações específicas, a CONTAg participou ativamente das mobilizações pela redemocratização do País, como no movimento pela Anistia, pelas Diretas Já e pela convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

A partir de 1994, a CONTAg passou a realizar, anualmente, a sua maior e mais tradicional ação de massa: o grito da Terra Brasil (gTB) que, com 20 anos de existência, é referência para todo movimento sindical.

A 1ª edição do gTB ocorreu em 94, com organização da CONTAg em parceria com mais seis movimentos ligados às causas rurais. O foco deste grito era a proposição de políticas para a população que vive e trabalha no campo, em especial uma política diferenciada para os pequenos produto-res, avanços na realização da reforma agrária, melhoria no acesso à Pre-vidência social, combate ao trabalho escravo e questionamento às políti-cas neoliberais da época.

Nos anos seguintes, o gTB cresceu e ampliou a sua pauta, fiel ao seu caráter geral de reivindicação, proposição e negociação, sempre focado na implementação de um modelo de desenvolvimento almejado para o cam-po, expresso no Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural sustentável e solidário - PADRss. A cada ano, as lideranças sindicais, a partir das pau-tas apresentadas, definem qual o local e o tipo de mobilização ideal para continuar avançando. Além do gTB, focado na pauta nacional, são realiza-dos também gritos da Terra Estaduais e Municipais, ampliando a capaci-dade do MsTTR de dar respostas concretas às necessidades da sua base, discutindo e negociando as demandas diretamente com os governos Fede-ral, Estaduais e Municipais.

graças ao empenho dos dirigentes por trás do MsTTR e da pressão dos milhares de trabalhadores(as), muito foi conquistado nos últimos 20 anos, desde a resolução de questões emergenciais, a exemplo do atendimento dos mais de um milhão de pedidos de aposentadoria rural represados em 98, a programas permanentes de benefício a longo prazo, como o Pronaf, em 1995, e o PNAE, conquista de 99. Recentemente, conquistou o Crédito Fundiário, o PAA, o Pronacampo, entre outras. O grito da Terra Brasil segue sendo uma estratégia acertada e fortalecida ano a ano.

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A  ção Sindical e Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário é o eixo temático do Curso Nacional de Formação Política

da ENFOC, cujo 1º módulo da 5ª turma foi rea-lizado de 4 a 15 de agosto. Foram mais de 100 educandos(as) de todo o País. “Um dos desta-ques foi o perfil dessa turma. Tivemos uma pre-sença muito diversificada, em torno de 50% de jovens, e do total 70% de mulheres, mas também com bom número de adultos e idosos. Cerca de 8% são dirigentes de FETAGs, de 90% são de STTRs, presidentes de associações comunitárias e associados(as) aos sindicatos. Se formos anali-sar o perfil da turma e o lugar de onde eles vieram, dá para perceber que a mensagem da Escola está chegando exatamente onde nós queremos que ela chegue, que é exatamente lá na comunidade e no município”, avaliou Juraci Souto, secretário de Formação e Organização Sindical da CONTAG.

Com essa ação formativa, a ENFOC espera proporcionar uma formação política visando forta-lecer e qualificar a atuação desses sujeitos na luta pela disputa de projetos de sociedade, nos es-paços de formação, negociação e monitoramen-to de políticas públicas de desenvolvimento rural sustentável e solidário e na gestão das entidades sindicais.

Durante duas semanas, foram trabalhadas as unidades temáticas Formação Social e Projetos de

Desenvolvimento em disputa – Estado, Sociedade e Ideologia; e Vida Sindical – História, Concepção e Prática Sindical e Desenvolvimento Rural Sus-tentável e Solidário. Além dos debates qualifica-dos, Juraci também ressaltou o entusiasmo dos educandos(as). “As pessoas vieram entusiasma-das, sentimos um compromisso muito firme de todo o grupo, talvez seja porque tudo o que nós discutimos aqui é o que essas pessoas vivenciam no seu dia-a-dia. Todos também estão entusias-mados em participar do Enafor, em novembro, e compromissados de voltar no segundo módulo, de 26 de janeiro a 4 de fevereiro de 2015.”

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) começa a abrir mais seus canais de diálogo e trabalho com as representações da agricultura familiar. Uma das ações que afirmam este compromisso foi a audiência pública realizada em agosto, onde a diretoria colegiada da Agência convidou movimentos sociais que repre-sentam o campo, dentre eles a CONTAG, para sua 12ª reunião ordinária, que teve como abordagem principal o trabalho do órgão nas temáticas relativas à agricultura familiar e economia solidária. Nesta audiência, os movi-mentos entregaram uma carta aberta que tratava das demandas de diversos segmentos da categoria e dis-cursaram sobre a urgência delas.

Nesta reunião, o presidente da Anvisa, Dirceu Bar-bano, assinou a portaria 1.346/2014, que cria um Grupo de Trabalho composto por membros da Agência e da sociedade civil, onde serão tratados temas relacionados à produção e processamento de alimentos saudáveis e suas normas sanitárias específicas, além de agroecolo-gia, regulação e uso de agrotóxico e produção e consu-mo de tabaco.

A CONTAG contribuirá nessa nova construção do grupo de trabalho, mas não será a primeira vez que tra-balhará em conjunto com a Anvisa. Em 2013, a Con-

federação colaborou, junto com outras entidades, na construção da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 49, que trata da inclusão produtiva da agricultura fa-miliar com segurança sanitária. A partir disso, iniciou-se um trabalho de sensibilização dos gestores públicos e, no momento, a Anvisa produz cartilhas para orienta-ção tanto dos gestores quanto dos agricultores sobre o tema.

MAIS QUALIDADE E MENOS BUROCRACIAA expectativa é que esse trabalho conjunto desen-

volvido no grupo traga melhorias no aspecto da inclusão produtiva com segurança sanitária para os agricultores e agricultoras familiares, povos e comunidades tradicio-nais no que diz respeito às normas sanitárias. São mui-tos os que ainda encontram problemas para regularizar suas produções por conta das normas difíceis de se-rem aplicadas à realidade do campo. “O maior benefí-cio será a segurança dada aos agricultores(as) familiares que têm uma realidade diferente da industrialização de grande porte dos produtos da agricultura”, diz David Wylkerson, secretário de Política Agrícola da CONTAG.

Além de serem iguais às normas sanitárias das gran-des empresas, a burocracia do atual sistema de qualifi-cação desestimula o produtor(a) e prejudica a comer-

cialização dos produtos saudáveis oferecidos por eles. Para David, o trabalho desenvolvido pelo grupo pode simplificar o processo e trazer benefícios a longo prazo.

“A simplificação dos procedimentos burocráticos vai estimular o agricultor a se preparar e se organizar me-lhor, gerando uma produção mais qualificada. Isso pode resultar em melhoria da renda, pois consequentemente o produto poderá ser vendido por um preço maior ao estar regularmente formalizada a sua produção junto a Anvisa”, explica David.

Na questão dos agrotóxicos, além de banir substân-cias já proibidas em outros países, a CONTAG pretende trabalhar pela diminuição gradativa do uso desses pro-dutos, por meio da conversão do atual modelo produti-vo para uma produção de base agroecológica.

O trabalho do grupo começará após a realização de uma Oficina de Formação e indicação dos representan-tes da sociedade civil que integrarão o grupo de traba-lho. O evento acontecerá nos dias 24 e 25 de setembro, na sede da CONTAG.

expediente

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normas sanitárias E agrotóxicos

Anvisa cria grupo de trabalho para debater temas da agricultura familiar

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formação

Curso Nacional de Formação Política alcança lideranças de base

No dia 14 de agosto é comemorado o aniversário da Escola Nacional de Formação da CONTAG (ENFOC). São 8 anos de formação de lideranças para ajudar a militância sindical, atuando nos diversos espaços da sociedade, disputando ideias, projetos, programas e políticas públicas. Ao longo deste período, a ENFOC, que surgiu como uma estratégia de formação definida após de-liberação do 9º Congresso de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da CONTAG, desenvolveu uma série de cursos de formação sindical por todo o Brasil, criou uma estratégia pedagógica própria, consolidou uma rede de educadores e educadoras populares, e criou Grupos de Estudos Sindicais (GES) em muitas comunidades rurais.“Nesses 8 anos, fizemos grandes ações formativas, que já estão influenciando na forma como as pessoas, principalmente os dirigentes das FETAGs e STTRs, atuam no MSTTR, mudando o jeito de agir nas entidades sindicais”, destacou Juraci Souto.

Viva a ENFOC!

8 anos da ENFOC

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