ano 12 - nº 72 - julho / agosto 2017abraveq.com.br/.../2019/04/revista-equina-digital-72.pdf• 1 s...

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Indexação Qualis A Revista do Médico Veterinário • www.revistavetequina.com.br ANO 12 - Nº 72 - JULHO / AGOSTO 2017 • Doping em Esportes Equestres • Prevalência de anticorpos anti-leptospira em éguas de tração carroceiras às margens do rio Paraíba em Alagoas, Brasil • Odontologia: Cáries periféricas em Equinos - Dentes pré-molares e molares • Ortopedia Equina: Casos clínicos (parte 2) • Agronegócio: Impactos da Polícia e da Receita Federal na Equinocultura • Informativo Equestre: Choque Circulatório em Equinos OBESIDADE: Uma visão sobre fator de risco de Síndrome Metabólica Equina Revisão de literatura

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  • Indexação QualisA

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    ANO 12 - Nº 72 - JULHO / AGOSTO 2017

    • Doping em EsportesEquestres

    • Prevalência deanticorpos anti-leptospiraem éguas de traçãocarroceiras às margensdo rio Paraíba emAlagoas, Brasil

    • Odontologia: Cáriesperiféricas em Equinos -Dentes pré-molares emolares

    • Ortopedia Equina:Casos clínicos (parte 2)

    • Agronegócio: Impactosda Polícia e da ReceitaFederal na Equinocultura

    • Informativo Equestre:Choque Circulatório emEquinos

    OBESIDADE:Uma visão sobre fatorde risco de SíndromeMetabólica Equina

    Revisão de literatura

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    S U M Á R I O ANO 12 - Nº 72 - JULHO / AGOSTO 2017

    FOTO CAPA: Arquivo pessoal dos autores

    FOTO DESTAQUE:Érica Bertha F.R. Bezerra de Mello (2015)

    www.passoapasso.org.br

    1. REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA (ISSN 1809-2063)- publica artigos Científicos, Revisões Bibliográficas, Relatos de Ca-sos e/ou Procedimentos e Comunicações Curtas, referentes à área deEquinocultura e Medicina de Equídeos, que deverão ser destinadoscom exclusividade.2. Os artigos Científicos, Revisões, Relatos e Comunicações curtasdevem ser encaminhados via eletrônica para o e-mail:([email protected]) e editados em idioma Português. To-das as linhas deverão ser numeradas e paginadas no lado inferior di-reito. O trabalho deverá ser digitado em tamanho A4 (21,0 x 29,0 cm)com, no máximo, 25 linhas por página em espaço duplo, com mar-gens superior, inferior, esquerda e direita em 2,5 cm, fonte Times NewRoman, corpo 12. O máximo de páginas será 15 para artigo científico,25 para revisão bibliográfica, 15 para relatos de caso e 10 para comu-nicações curtas, não incluindo tabelas, gráficos e figuras. Figuras, grá-ficos e tabelas devem ser disponibilizados ao final do texto, sendo quenão poderão ultrapassar as margens e nem estar com apresentaçãopaisagem.3. O artigo Científico deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumoe Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Material eMétodos; Resultados e Discussão; Conclusão e Referências. Agrade-cimento e Apresentação; Fontes de Aquisição; Informe Verbal; Comitêde Ética e Biossegurança devem aparecer antes das Referências.Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamentedevem apresentar parecer de aprovação de um comitê de éticainstitucional já na submissão (Modelo .doc, .pdf).4. A Revisão Bibliográfica deverá conter os seguintes tópicos: Títu-lo, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdu-ção; Desenvolvimento (pode ser dividido em sub-títulos conforme ne-cessidade e avaliação editorial); Conclusão ou Considerações Finais;e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição eInforme Verbal devem aparecer antes das Referências.5. O Relato de Caso e/ou Procedimento deverá conter os seguintestópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espa-nhol); Introdução; Relato de Caso ou Relato de Procedimento; Discus-são (que pode ser unida a conclusão); Conclusão e Referências. Agra-decimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal de-vem aparecer antes das Referências.

    NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA

    6. A comunicação curta deverá conter os seguintes tópicos: Título,Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Texto (semsubdivisão, porém com introdução; metodologia; resultados e discus-são e conclusão; podendo conter tabelas ou figuras); Referências.Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal;Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das referênci-as. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamentedevem apresentar parecer de aprovação de um comitê de éticainstitucional já na submissão. (Modelo .doc, .pdf).7. As citações dos autores, no texto, deverão ser feitas no sistemanumérico e sobrescritos, como descrito no item 6.2. da ABNR 10520,conforme exemplo: “As doenças da úvea são as enfermidades maisdiagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até 50%15”. “Se-gundo Reichmann et al.15 (2008), as doenças da úvea são as enfermi-dades mais diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até50%”. No texto pode citar-se até 2 autores, se mais, utilizar “et al.”Exemplo: Thomassian e Alves (2010). Neste sistema, a indicação dafonte é feita por uma numeração única e consecutiva, em algaris-mos arábicos, remetendo à lista de referências ao final do artigo,na mesma ordem em que aparecem no texto. Não se inicia a nume-ração das citações a cada página. As citações de diversos docu-mentos de um mesmo autor, publicados num mesmo ano, são distin-guidas pelo acréscimo de letras minúsculas, em ordem alfabética, apósa data e sem espacejamento, conforme a lista de Referências. Exem-plo: De acordo com Silva11 (2011a).8. As Referências deverão ser efetuadas no estilo ABNT (NBR 6023/2002) conforme normas próprias da revista.8.1. Citação de livro: AUER, J.A.; STICK, J.A. Equine Surgery. Phila-delphia: W.B. Saunders,1999, 2.ed., 937p.TOKARNIA, C.H. et al. (Mais de dois autores) Plantas tóxicas da Ama-zônia a bovinos e outros herbívoros. Manaus: INPA, 1979, 95p.8.2. Capítulo de livro com autoria: GORBAMAN, A. A comparativepathology of thyroid. In: HAZARD, J.B.; SMITH, D.E. The thyroid. Balti-more: Williams & Wilkins, 1964, cap.2, p.32-48.8.3. Capítulo de livro sem autoria: COCHRAN, W.C. The estimation ofsample size. In: ______. Sampling techniques. 3.ed., New York: JohnWilley, 1977, cap.4, p.72-90.8.4. Artigo completo: PHILLIPS, A.W.; COURTENAY, J.S.; RUSTON,

    R.D.H. et al. Plasmapheresis of horses by extracorporal circulation ofblood. Research Veterinary Science, v.16, n.1, p.35-39, 1974.8.5. Resumos: FONSECA, F.A.; GODOY, R.F.; XIMENES, F.H.B. et al.Pleuropneumonia em equino por passagem de sonda nasogástrica porvia errática. Anais XI Conf. Anual Abraveq, Revista Brasileira de Medi-cina Equina, Supl., v.29, p.243-44, 2010.8.6. Tese, dissertação: ESCODRO, P.B. Avaliação da eficácia e segu-rança clínica de uma formulação neurolítica injetável para uso perineu-ral em equinos. 2011. 147f. Tese (doutorado) - Instituto de Química eBiotecnologia. Universidade Federal de Alagoas.ALVES, A.L.G. Avaliação clínica, ultrassonográfica, macroscópica ehistológica do ligamento acessório do músculo flexor digital profundo(ligamento carpiano inferior) pós-desmotomia experimental em equi-nos. 1994. 86 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina Ve-terinária e Zootecnia. Universidade Estadual Paulista.8.7. Boletim: ROGIK, F.A. Indústria da lactose. São Paulo: Departa-mento de Produção Animal, 1942. 20p. (Boletim Técnico, 20).8.8. Informação verbal: Identificada no próprio texto logo após a in-formação, através da expressão entre parênteses. Exemplo: ...sãoachados descritos por Vieira (1991 - Informe verbal). Ao final do texto,antes das Referências Bibliográficas, citar o endereço completo doautor (incluir e-mail), e/ou local, evento, data e tipo de apresentaçãona qual foi emitida a informação.8.9. Documentos eletrônicos: MATERA, J.M. Afecções cirúrgicas dacoluna vertebral: análise sobre as possibilidades do tratamento cirúr-gico. São Paulo: Departamento de Cirurgia, FMVZ-USP, 1997, 1 CD.GRIFON, D.M. Artroscopic diagnosis of elbow displasia. In: WORLDSMALL ANIMAL VETERINARY CONGRESS, 31., 2006, Prague, CzechRepublic. Proceedings… Prague: WSAVA, 2006, p.630-636.Acessado em 12 fev. 2007. Online. Disponível em: http://www.ivis.org/proceedings/wsava/2006/lecture22/Griffon1.pdf?LA=1.9. Os conceitos e afirmações contidos nos artigos serão de inteiraresponsabilidade do(s) autor(es).10. Os artigos serão publicados em ordem de aprovação.11. Os artigos não aprovados serão arquivados havendo, no entanto,o encaminhamento de uma justificativa pelo indeferimento.12. Em caso de dúvida, consultar os volumes já publicados antes dedirigir-se à Comissão Editorial.

    • Obesidade: uma visão sobre fator de risco deSíndrome Metabólica Equina (Página 4)

    • Dermatofitose Equina (Revisão de Literatura)(Página 14)

    • Doping em Esportes Equestres (Página 20)

    • Prevalência de anticorpos anti-leptospira em éguasde tração carroceiras às margens do Rio Paraíba emAlagoas, Brasil (Página 24)

    • Agronegócio: Impactos da Polícia e da ReceitaFederal na Equinocultura (Página 28)

    • Cáries periféricas em equinos (parte 1): Dentes pré-molares e molares (Página 32)

    • Ortopedia Equina: Casos Clínicos (parte 2)(Página 36)

    • Informativo Equestre: Choque Circulatório emequinos (Página 40)

    • Gestão Empresarial: Gestão de Pessoas naMedicina Veterinária (Página 44) 24

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    E D I T O R I A L

    FUNDADORSynesio Ascencio (1929 - 2002)

    DIRETORESJosé Figuerola,Maria Dolores Pons Figuerola

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    Luiz Cláudio Nogueira MendesClínica de Grandes [email protected]

    Marco Antônio AlvarengaClínica e Reprodução [email protected]

    Marco Augusto G. da SilvaClínica Médica de Equí[email protected]

    Maria Verônica de SouzaClí[email protected]

    Max Gimenez RibeiroClinica Cirúrgica e [email protected]

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    Renata de Pino A. MaranhãoClí[email protected]

    Silvio Batista Piotto JuniorDiagnóstico e Cirurgia [email protected]

    Tobyas Maia de A. MarizEquinocultura e Fisiologia [email protected]

    “É a economia, estúpido!”A frase original era apenas "a economia, estúpido!", mas

    popularizou-se com o acréscimo do verbo no inicio da frase, re-forçando a ideia. Ela foi cunhada pelo marqueteiro (sempre eles)da campanha presidencial de Bill Clinton de 1992. Naquela épo-ca, George Bush (pai) era o grande favorito: sua popularidadeatingia incríveis 90% e havia resgatado o orgulho americano coma Guerra do Golfo. Mas James Carville, o marqueteiro, teve asensibilidade de perceber que a economia era o que mais inco-modava o eleitor e foi esse o tema da campanha vencedora deClinton.

    A participação em congressos e a literatura científica mos-tram os importantes avanços na medicina veterinária equina. OBrasil possui excelentes profissionais, muitos reconhecidos inter-nacionalmente. Assim como o popular George Bush, vitórias têmsido conquistadas no front profissional. Mas isso não tem sidosuficiente para ganhar a eleição do mercado, nem sempre o con-sumidor faz a escolha que imaginávamos.

    Momentos como o atual, com a economia fraca, desem-prego e outros indicadores fora do ideal, surgem batalhas e al-vos longe de serem os corretos. Guerra de preços, especialmen-te por serviços, é uma das estratégias mais perversas que sur-gem nesses momentos. E o resultado costuma ser de perdaspara todos. Ao invés da agressividade, adotar postura de maisestudos e análises gera melhores resultados. É necessário co-nhecer melhor estruturas de custos e de precificação. Analisar omercado, desvendar os clientes. É a economia o centro dos pro-blemas e de onde deve partir a solução.

    A captação de recursos para pesquisas, a elevação demarket share, a minimização de custos e a maximização de lu-cros, tudo depende de aprofundar estudos, desvendar uma áreamuitas vezes esquecida pelos profissionais ocupados com o co-tidiano de sua formação profissional. Mas esta área precisa serresgatada e utilizada tal como uma lanterna ilumina o caminhomais adequado. Qual é essa área? É a economia, estúpido!

    Roberto Arruda de Souza LimaProfessor da ESALQ/USP

    [email protected]

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    INTRODUÇÃOA obesidade em cavalos ainda é um tema

    pouco explorado no Brasil. Os elementos quefavorecem a ocorrência tanto de obesidadecomo resistência à insulina estão presentes emnosso meio. Ainda há uma crença entre cria-

    uma visãosobre fator derisco deSíndromeMetabólicaEquina

    “Obesity: a vision on EquineMetabolic Syndrome awarenessfactor”

    “La obesidad: una visión sobreel factor de riesgo delSíndrome Metabólico delCaballo”

    ......................................................

    Erica Bertha F. Raupp Bezerra de Mello*([email protected])Aluna de doutorado do Programa dePós-Graduação em Medicina Veterinária/UFRRJ

    Tanja Maria HessProf. Associado do Equine SciencesDepartment, Animal Sciences/CSU

    Paulo de Tarso Landgraf BotteonProf. Associado do Depto. de Medicinae Cirurgia Veterinária - IV/UFRRJ

    Bruno Ferreira SpíndolaAluno de doutorado do Programa dePós-Graduação em Medicina Veterinária/UFRRJ

    Thayse Lima de BarrosAluna de graduação em MedicinaVeterinária/UFRRJ, Bolsista PBIC-FAPERJ

    Bruno Gonçalves de SouzaMédico Veterinário, D.Sc. - HVGA/UFRRJ

    Gustavo Mendes GomesProf. Titular da Universidade SeverinoSombra/USS

    * Autora para correspondência

    RESUMO: A obesidade tem sido apontada como uma condição alarmante no que diz respeito asaúde humana e animal. Essa condição é fator de risco para aparecimento de distúrbios endócrinoe metabólicos. Em cavalos, o quadro de resistência à insulina associado a obesidade e laminite é atríade para diagnóstico da Síndrome Metabólica Equina. Sabe-se que, além do fator ambiente, háinfluência de fator genético para o aparecimento do quadro. Algumas formas de avaliação da condiçãocorporal de cavalos são o escore corporal, escore de pescoço e porcentagem de massa gorda livre.Para avaliação da resistência à insulina, testes laboratoriais devem ser executados em animaissuspeitos. O tratamento da condição se faz prioritariamente através de alterações do manejo nutricionale de exercícios dos animais. A avaliação sistemática através de métodos consagrados paraconhecimento do grau de adiposidade nos cavalos se faz necessária na prática da clínica de equinos.Unitermos: cavalos, escore corporal, escore de pescoço, adiposidade

    ABSTRACT: Obesity has been identified as an alarming condition in regard to human and animalhealth. This condition is a risk factor for on set of endocrine and metabolic disorders. In horses,insulin resistance associated with obesity and laminitis is the triad for diagnosis of Equine MetabolicSyndrome. It is known that in addition to the environmental factor, there is the influence of geneticfactor for the appearance of the clinical condition. Some forms of assessment of body condition ofhorses are the body score, neck score and percentage of free fat mass. For assessment of insulinresistance, laboratory tests should be performed in suspected animals. Treatment of the condition isdone mainly through nutrition management changes and animal exercises. Systematic evaluationthrough established methods for understanding the degree of adiposity in horses is needed in theequine practice.Keywords: horses, body condition score, neck score, adiposity

    RESUMEN: La obesidad ha sido identificada como una condición alarmante en lo que respecta a lasalud humana y animal. Esta condición es un factor de riesgo para la aparición de los trastornosendocrinos y metabólicos. En los caballos, la resistencia a la insulina asociada con la obesidad ylaminitis es la tríada para el diagnóstico del síndrome metabólico equino. Se sabe que, además deel factor ambiental, existe la influencia del factor genético para la aparición del cuadro clinico. Algunasformas de evaluación de la condición corporal de los caballos son la puntuación cuerpo, el cuello yla puntuación de porcentaje de la masa libre de grasa. Para la evaluación de la resistencia a lainsulina, las pruebas de laboratorio deben realizarse en animales sospechosos. El tratamiento de laenfermedad se realiza principalmente a través de cambios en la administración de nutrición y ejerciciosde los animales. Se necesita una evaluación sistemática a través de métodos establecidos para lacomprensión del grado de adiposidad en caballos en la práctica de la clínica equina.Palabras clave: caballos, condición corporal, puntuación del cuello, adiposidad

    dores que animais com escore corporal altostêm melhor trato que animais com escore cor-poral mediano e os métodos de ranqueamentosão pouco difundidos.

    A aplicação de métodos consagrados paradeterminar o escore corporal e adiposidade

    Figura 1: Animal em estação,sendo avaliado por inspeção paraescore corporal........................................................

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    dos animais provê um dado fidedigno à condição corpórea dos ani-mais quando comparado a percepção empírica de cada criador. Essequadro é fator de risco para a Síndrome Metabólica Equina, umquadro semelhante à Síndrome Metabólica humana, que ocorre emanimais que apresentam sobrepeso ou obesidade.

    OBESIDADESobrepeso e obesidade são definidos como o depósito anor-

    mal de gordura que podem levar riscos à saúde. Tais condições sãode risco para o aparecimento de diversas doenças crônicas comodiabetes, doenças cardiovasculares e câncer1. Sua ocorrência vemaumentando nas últimas décadas e têm sido apontadas como con-dição alarmante no que diz respeito a saúde humana e animal. Oponto de alerta para o aumento dos índices de obesidade é que acondição pode ser diretamente relacionada a distúrbios endocrino-metabólicos. Esses distúrbios, nas diferentes espécies, se apresen-tam de formas similares, onde uma das alterações encontradas é ado metabolismo energético envolvendo a insulina.

    O tipo de dieta e sedentarismo são incriminados como fatoresde risco à saúde humana. A semelhança do que ocorrem em huma-nos, sistemas de criação baseados no fornecimento de rações ricasem energia e confinamento, restringindo a atividade física dos ca-valos, favorecem a ocorrência de obesidade.

    Um fator que pode ser abordado é o desconhecimento porparte de proprietários e criadores do escore corporal consideradoótimo para a vida saudável do animal. Fora do país isso fica clarocomparando os resultados do censo promovido pelo National Ani-mal Health Monitoring System (2006)2 com os resultados obtidosda pesquisa de Thatcher et al. (2012)3. Algumas práticas de manejopodem contribuir para o desenvolvimento da obesidade. O apare-cimento da obesidade em cavalos a partir da maturidade sexualestá associado com o oferecimento de dietas ricas em carboidratossolúveis e baixo nível de exercício diário4. A dieta rica em carboi-dratos associada a obesidade podem levar à resistência à insulinaem cavalos5. Além disso, favorece o aumento do estresse oxidati-vo, inflamação e de doenças como artrite e laminite6,7.

    AMBIENTE vs GENÉTICACavalos classificados como obesos geralmente têm alta con-

    versão alimentar e apresentam baixa sensibilidade à insulina, masmantendo a glicemia dentro dos padrões de normalidade4,8.

    Através da análise de pedigree em humanos conseguiu-se tra-çar um efeito genético sobre o fenótipo obeso e desenvolvimentode Síndrome Metabólica9. Além do fator ambiente, sabe-se que háinfluência de fator genético para o aparecimento do quadro de Sín-drome Metabólica Equina10. Pode-se apontar como uma das causasa seleção genética de animais mais resistentes a períodos de baixaoferta de alimentos.

    Um fator que pode influenciar no aparecimento do fenótipoobeso, são os cruzamentos favorecendo a endogamia. Um exemplodisso é o que ocorre na raça Mangalarga Marchador. Ela é a raçamais difundida no país. Sua criação tem origem em fazendas no Sulde Minas Gerais e, hoje, está distribuída por todas as regiões doBrasil11, com cerca de 500 mil animais registrados (GOMES - In-forme verbal, 2016*). É a principal raça criada no estado do Rio deJaneiro, com sua principal utilização no trabalho do campo e, com

    * GOMES, G.M. (informe verbal via e-mail): “Acabei de receber o e-mail daassociação, número de animais em torno de 500 mil registrados (registros pro-visórios e registros definitivos) e em torno de 11.500 associados... Fonte ABC-CMM 2016...”

    o crescimento nos últimos anos, em esportes hípicos, lazer e tera-pia de reabilitação12. A formação da raça Mangalarga Marchadorse deu no sudeste do Brasil a partir de cruzamentos de raças euro-peias. Para manter a característica do tríplice apoio, são realizadoscruzamentos entre linhagens com nível elevado de homozigose econsaguinidade, que eventualmente podem também vir por seleci-onar características não desejosas.

    MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE ADIPOSIDADEEM EQUINOS

    Alguns métodos de predição de adiposidade podem ser utili-zados na rotina da clínica de equinos. Os mais difundidos são aescala de escore corporal13, escala de escore de pescoço14 e a avali-ação ultrassonográfica de percentagem de gordura livre15.

    • Escala de Escore CorporalEm equídeos, a categorização de acordo com o escore corpo-

    ral13 tem valor diagnóstico para a obesidade semelhante ao Índicede Massa Corporal utilizado na população humana16. A difusão eutilização deste método simples de diagnóstico para a obesidadenesses animais se torna importante quando observa-se que em pa-ralelo a epidemia de obesidade humana, há um crescente reconhe-cimento de que a obesidade é comum a muitas espécies de animaisdomésticos, incluindo cavalos3,17,18.

    Nessa escala, os animais são classificados em uma escala pro-posta que categoriza os animais de 1 a 9, levando-se em conta lo-cais de deposição de gordura (por saber crista do pescoço, cerne-lha, logo atrás e acima do codilho, costado, dorso-lombo e topo dacauda), onde 1 é o animal em condição caquética e 9 extremamenteobeso, através de avaliação visual e palpação das áreas chave (Fi-guras 1, 2 e 3). A descrição do método está no Quadro 1.

    Figura 2: Animal sendoavaliado através da palpa-ção dos pontos-chave dedeposição de gordura emequinos. Notar a maciez,relacionado a camada degordura, no local de pal-pação

    Figura 3: Pontos de deposição de tecido gorduroso em equinosmachos e fêmeas. A= Crista do pescoço, B= Cernelha, C= Lom-bo; D= Inserção da cauda; E= Costado; F= Região caudal à pa-lheta (Fonte: Purina Chart)

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    • Escala de Escore de PescoçoOutro método de avaliação de adiposidade é a escala de esco-

    re de pescoço14. Nela, os animais também são classificados numaescala de 0 a 5, através de inspeção e palpação (Figuras 4 e 5)como descrito no Quadro 2.

    As medidas de perímetro e do escore de pescoço demonstra-ram ter correlação negativa com os dados obtidos de sensibilidadeà insulina14. Essa mensuração tem implicância semelhante a cir-cunferência de cintura utilizada em humanos obesos e está relacio-nado à gravidade clínica de doenças como a laminite. A diminuiçãoa sensibilidade à insulina está associada com quadros de laminite19,além de obesidade, rabdomiólise de exaustão, osteocondrose5 e al-terações reprodutivas20.

    • Estimativa de Massa Gorda LivreCálculos podem ser utilizados para determinação de porcen-

    tagem de gordura corporal baseados no peso total do animal e naespessura da camada de gordura avaliada ultrassonograficamentena região da garupa. Essa determinação pode ser usada como

    Figura 4: Palpação dobordo superior dopescoço. Aqui o clínicoobserva consistência eespessura da região

    Animal extremamente magro; processos espinhosos, costelas,ossos da inserção da cauda, íleo e ísquio se projetam de formaproeminentes; estrutura óssea da cernelha, ombros e pescoçofacilmente perceptível, sem tecido adiposo palpavel.

    Animais magros; ligeira cobertura adiposa sobre a base dos pro-cessos espinhosos, processos transversos das vértebras lomba-res arredondados; processos espinhosos, costelas, ossos da in-serção da cauda, íleo e ísquio proeminentes; cernelha, ombros,pescoço e estrutura ligeiramente discernível.

    Acúmulo de gordura até a dos processos espinhosos; apófisestransversas não podem ser sentidas; pequena cobertura de gor-dura nas costelas; processos espinhosos e costelas facilmenteperceptíveis; ossos da inserção da cauda proeminentes, masvértebras não são identificados visualmente; região do íleo arre-dondada, mas proeminente; ísquio não distinguíveis; cernelha,ombros e pescoço acentuados.

    Ligeira crista ao longo das costas, leve esboço de costelas visí-vel; destaque da inserção da cauda depende de conformaçãodo animal com gordura palpável ao seu redor; íleo não distinguí-vel; cernelha, ombros e pescoço não tão obviamente magros.

    Costas planas (sem vinco ou crista); costelas não visualmentedistinguíveis, mas facilmente palpáveis; gordura ao redor da baseda cauda começando a ter consistência esponjosa; cernelha in-sere-se arredondada sobre os processos espinhosos; ombros epescoço harmoniosos com o corpo.

    Pode ter ligeiro vinco nas costas, gordura sobre costelas de con-sistência esponjosa; gordura ao redor da base da cauda macia;pouca gordura depositada na cernelha, atrás dos ombros e pes-coço.

    Pode ter ligeiro vinco nas costas; costelas palpáveis, mas per-ceptível preenchimento com gordura entre as costelas; gorduraao redor da inserção da cauda macia, gordura depositada aolongo de cernelha, atrás dos ombros, e ao longo do pescoço.

    Vinco nas costas; difícil sentir as costelas, gordura da inserçãoda cauda muito macia; área da cernelha cheia por gordura, áreaatrás do ombro espessada, gordura visível no pescoço; gorduradepositada ao longo da parte interna das coxas.

    Vinco óbvio nas costas; cobertura de gordura irregular sobre ascostelas, saliência de gordura na inserção da cauda; gordura aolongo de cernelha, atrás dos ombros e ao longo do pescoço, par-te interna das coxas pode se encontrar; flanco cheio de gordura.

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    DESCRIÇÃO

    Quadro 1: Descrição de Escore Corporal

    (adaptado de Henneke et al., 1983)EC

    Figura 5: Escore de pescoço e suas características descritivas: 0)Nenhuma crista visível (tecido aparente acima do ligamento danuca) e nenhuma crista palpável; 1) Sem crista visível, mas comligeiro preenchimento sentido à palpação; 2) Crista aparente, masa gordura é depositada de forma bastante equilibrada da nucaaté a cernelha, a crista pode ser palpada facilmente com umadas mãos e pode ser deslocada de lado a lado; 3) Crista grossa eendurecida, com maior deposição de gordura no meio do pesco-ço, a crista pode ser palpada com uma das mãos, mas há dimi-nuição da maleabilidade; 4) Crista notadamente larga e endure-cida, a crista não consegue ser palpada somente com uma mãoe não consegue haver lateralização, pode haver sulcos e rugasno topo da crista; 5) A crista é tão grande que se mantém todotempo caída para um dos lados (adaptado de CARTER et al., 2009)

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    método de avaliação de programas de exercício e dieta dos ani-mais15.

    Para a determinação, os animais devem ser pesados e ser re-alizada a mensuração da espessura de tecido adiposo na área dagarupa, usando aparelho ultrassonográfico. A técnica consiste emobter a imagem no ponto médio da linha imaginária traçada entreas tuberosidades ilíaca e isquiática de um dos lados da garupa (Fi-

    Figura 7: Imagem ultrassonográfica da camada de gordura de garupa.A partir do valor encontrado e peso vivo total, pode-se calcular o per-centual de gordura livre do animal..................................................................................................

    Figura 6: realização do exame ultrassonográfico de camada de gordu-ra de garupa para obtenção de dados de porcentagem de gorduralivre (Arquivo pessoal)

    guras 6 e 7).A porcentagem de gordura corporal é estimada através do cál-

    culo submetendo os dados obtidos durante a mensuração da cama-da de tecido adiposo da garupa, utilizando-se da equação15:

    8,64 + (4,70 x espessura do tecido adiposo, em centímetros)

    Para determinação da estimativa de massa gorda livre21, utili-za-se os dados de peso de massa corporal total e porcentagem degordura corporal, calculando-se uma regra de três simples, sendo aequação:

    Massa gorda = Massa Corporal Total x Porcentagem de gordura

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    SÍNDROME METABÓLICA EQUINAEm humanos, o termo Síndrome Metabólica é empregado para

    descrever um conjunto de fatores de risco associados ao desenvol-vimento de doença cardiovascular em humanos. A Síndrome Meta-bólica é caracterizada pela presença de resistência à insulina acom-panhada de pelo menos dois dos seguintes problemas: obesidade,hipertensão, hipercolesterolemia, dislipidemia e albuminúria22,23. Aresistência à insulina acontece quando níveis normais ou aumenta-dos de insulina produzem uma resposta biológica reduzida; isso serefere, classicamente, à disparidade na sensibilidade da insulinamediada pela disponibilidade de glicose19,24.

    O termo Síndrome Metabólica Equina foi empregado primei-ramente por Johnson (2002)4, referindo-se a cavalos com históricode laminite, resistência à insulina e uma característica fenotípica deespessamento da crista do pescoço com depósitos de gordura nacernelha e no dorso. A princípio houve divergência sobre a nomen-clatura utilizada nas síndromes observadas em cavalos adultos obe-sos. A resistência à insulina, está relacionada como fator de riscopara o aparecimento de hiperlipidemia, adenoma pituitário, osteo-condrose, laminite aguda e laminite subclínica. As nomenclaturasadotadas foram utilizadas por associação aos sintomas observadosem humanos25.

    Em 2010, o American College of Veterinary Internal Medicine,

    Quadro 2: Descrição de Escore de Pescoço(adaptado de Carter et al., 2009)

    DESCRIÇÃOEP

    Nenhuma crista visível (tecido aparente acima do ligamento danuca) e nenhuma crista palpável.

    Sem crista visível, mas com ligeiro preenchimento sentido à pal-pação.

    Crista aparente, mas a gordura é depositada de forma bastanteequilibrada da nuca até a cernelha, a crista pode ser palpadafacilmente com uma das mãos e pode ser deslocada de lado alado.

    Crista grossa e endurecida, com maior deposição de gordura nomeio do pescoço, a crista pode ser palpada com uma das mãos,mas há diminuição da maleabilidade.

    Crista notadamente larga e endurecida, a crista não consegueser palpada somente com uma mão e não consegue haver late-ralização, pode haver sulcos e rugas no topo da crista.

    A crista é tão grande que se mantém todo tempo caída para umdos lados

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    chegou a um consenso em que seria denominada de SíndromeMetabólica Equina quadros em que os animais apresentam obesi-dade ou lipodistrofia, laminite clínica ou histórico de claudicaçãosem estar associada a nenhum outro fator predisponente e resistên-cia à insulina, detectada através de testes de sensibilidade à insuli-na, comumente referidos como testes de tolerância à glicose8.

    TESTES DE TOLERÂNCIA A GLICOSEEm cavalos, o quadro de resistência à insulina associado a

    obesidade e laminite é a tríade para diagnóstico de Síndrome Me-tabólica Equina. Animais que apresentam a síndrome tem diminui-ção da sensibilidade à insulina quando submetidos a teste oral outeste intravenoso de tolerância a glicose como o Teste Intravenosode Coleta Seriadas de Tolerância à Glicose (sigla em inglês -FSIGT)5.

    A resistência à insulina se caracteriza pela resposta biológicaabaixo do normal dos tecidos a concentrações de insulina26, quan-do um nível normal ou elevado de insulina produz uma respostabiológica atenuada24. Algumas metodologias podem ser utilizadaspara predição da sensibilidade à insulina.

    • Teste Intravenoso de Tolerância à Glicosecom Coletas Frequentes

    A sensibilidade à insulina pode ser avaliada por diversos tes-tes, mas o modelo mais se assemelha a homeostase é o teste intra-venoso de tolerância à glicose com coletas frequentes (FSIGT)5.

    O teste para utilização em cavalos foi adaptado do modelohumano27 onde os dados obtidos durante o teste são utilizados paracálculos usando o análise de modelo mínimo28. Das amostras co-lhidas durante o teste, são analisadas glicemia e insulinemia de to-das as amostras.

    Para a execução do teste, os animais devem se encontrar emjejum parcial, onde é suprimido o oferecimento de ração na noiteanterior ao teste, sendo oferecido volumoso de baixo índice glicê-mico e água ad libitum até o fim do ensaio.

    Na manhã do teste, após assepsia, a veia jugular deve ser cate-terizada. O cateter deve ser fixado a pele do animal e acoplado umextensor de cateter, também a ser fixado, para facilitar a manipula-ção da via. Após o processo, uma amostra basal deve ser colhida.Em seguida, administra-se um bolus de glicose de 200 mg/kg/PV.A partir daí, são realizadas coletas de sangue subsequentes nosminutos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 12, 14, 16 e 19 após a injeção deglicose. Aos 20 minutos uma dose de 20 mUI/kg/PV de insulinadeve ser administrada. Outras coletas sucessivas são efetuadas nosminutos 22, 23, 24, 25, 27, 30, 35, 40, 50, 60, 70, 80, 90, 100, 120,150, 180 após a injeção de glicose29. Amostras de sangue para aná-lise de glicose e insulina são coletados em todos os pontos do tem-po através do via, após a remoção de pelo menos 5 mL de sanguede resíduos. Entre as coletas, é utilizada uma solução heparinizadapara evitar a coagulação do acesso.

    Dados de insulina e glicose obtidos durante o teste são sub-metidos ao modelo matemático denominado Modelo Mínimo, dis-ponível no software (MinMod Millenium)28. Esses dados deriva-dos do modelo mínimo são relativos a resposta das células β-pan-creáticas secretoras de insulina em resposta a glicemia através daresposta aguda da insulina a glicose (AIRg), a capacidade da glico-se promover sua autocaptação (Sg), a capacidade da insulina pro-mover a captação glicose plasmática (SI), a eficiência da respostadas células β-pancreáticas relativa ao grau de sensibilidade à insu-lina do tecido dado pelo produto entre AIRg e SI (DI).

    • Teste Combinado de Glicose e InsulinaEsse é um teste que pode ser realizado quando há suspeita de

    Síndrome Metabólica Equina. O oferecimento de ração dos ani-mais deve ser suprimido na noite anterior ao teste, sendo oferecidovolumoso de baixo índice glicêmico e água ad libitum até o fim doensaio. Após assepsia, a veia jugular é canulada com uso de catetere acoplado um extensor para melhor manipulação da via, sendofixados a pele. É coletada uma amostra basal e logo em seguida,administrado um bolus de solução de glicose a 50% IV na dose de150 mg/kg e 0,1 U/kg de insulina regular. São realizadas coletasem 1, 5, 15, 25, 35, 45, 60, 75, 90, 105, 120, 135 e 150 minutosapós a administração de glicose e insulina, sendo avaliadas glice-mia em todos os pontos e insulinemia da amostra basal e ao 45ºminuto. Amostras de sangue para análise de glicose e/ou insulinasão coletados em todos os pontos do tempo através do via, após aremoção de pelo menos 5 mL de sangue de resíduos. Entre as cole-tas, é utilizada uma solução heparinizada para evitar a coagulaçãodo acesso. Animais com sensibilidade a insulina normal têm con-centrações de glicose iguais ou menores que a basal ao 45º minutode teste30.

    • Proxies Basais de Sensibilidade à InsulinaUma outra maneira de prever a sensibilidade à insulina é atra-

    vés do cálculo de proxies basais de sensibilidade à insulina e res-ponsividade β-pancreática31,32. Em humanos, a utilização de proxi-es basais de sensibilidade à insulina é feita em saúde pública paramonitoração da Síndrome Metabólica. Através de cálculos de da-dos obtidos do modelo mínimo, chegou-se a cálculos semelhantesque possam ser utilizados em cavalos usando uma única coleta desangue em jejum dos animais. As proxies derivadas tem correlaçãoaos dados obtidos através do TIVTG31.

    Para determinação da sensibilidade à insulina, os dados deinsulina plasmática foram utilizados na equação que determina orecíproco quadrado inverso da insulina basal (do inglês: RISQI),onde:

    RISQI = = insulina basal-0.5 √ insulina basal

    Para determinação da responsividade secretória de insulinadas células β pancreáticas a glicose, os dados de glicemia e insuli-nemia foram utilizados na equação que determina a razão modifi-cada insulina-glicose (do inglês: MIRG), onde:

    1

    Os resultados obtidos são agrupados em quintilhos, mostra-dos no Quadro 3. RISQI tem comportamento crescente de

    MIRG = [ 800 - 0.30 x (insulina basal - 50)2 ]

    (glicose basal - 30)

    Quadro 3: Valores Referenciais dos Quintilhos de RISQI e MIRG(adaptado de Treiber et al., 2005)

    1 2 3 4 5

    RISQI (mU/L)-0,5 0,152 - 0,296 - 0,336 - 0,394 - 0,471 -0,295 0,335 0,470 0,393 0,953

    MIRG Uins2/(10.L.mgglic) 1,20 - 2,13 - 3,49 - 4,55 - 5,27 -

    2,12 4,54 3,48 5,27 10,67

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    sensibilidade à insulina, ou seja, animais resistentes à insulina seencontram nos primeiros quintilhos, enquanto animais sensíveis seencontram nos últimos. Por sua vez, MIRG tem comportamentodecrescente, sendo que animais nos últimos quintilhos precisam demaior secreção de insulina para manter a homeostase da glicoseenquanto animais nos primeiros quintilhos precisam secretar me-nos insulina para manter a resposta biológica33.

    RECOMENDAÇÕES PARA COMBATE À SÍNDROMEMETABÓLICA EQUINA

    Até o momento, a principal forma de combate a SíndromeMetabólica Equina é através de alterações no manejo dos animais.Alteração da fonte energética e programas de exercício se mostrammais eficientes do que manejo medicamentosos dos casos.

    • Manejo Dietético: Substituição de partedo Carboidrato por Gordura Vegetal

    Uma forma de acompanhamento e tratamento da SíndromeMetabólica Equina é através do manejo dietético, através da mu-dança da fonte energética do carboidrato para a gordura. Em ani-mais de enduro, a adição de óleo como fonte energética como alter-nativa aumentou a sensibilidade à insulina após o exercício quandocomparados com animais ingerindo dieta rica em carboidratos so-lúveis34. O uso de gorduras vegetais também demonstrou aumentara capacidade de captação de ácidos-graxos e aumento da sua taxade oxidação35. Outra forma de manejo da condição é através dainserção de programas de exercício na rotina dos animais. Em ve-locidades consideradas baixas a moderadas, a fonte de energia uti-lizada para a função muscular são os lipídeos36.

    • Manejo de Exercícios: Inserção de Programasna Rotina dos Animais

    Através do acompanhamento sistemático das proxies referen-tes a secreção β-pancreática, encontrou-se que em animais que nãoapresentavam Síndrome Metabólica Equina havia uma menor se-creção de insulina pelas células β-pancreáticas em meses onde aintensidade de exercício era maior quando comparada com mesesem onde o exercício era de menor intensidade ou descanso em ca-valos de uso militar37.Também foi encontrado um decréscimo dosvalores de MIRG a partir da terceira semana em um protocolo pro-gressivo de treinamento em esteira38. Uma diminuição da secreçãode insulina das células β-pancreáticas foi notada, através do cálcu-lo de AIRG, quando os animais foram submetidos ao teste duranteo exercício, demonstrando o efeito do exercício sobre a secreçãode insulina39. Esses dados são relevantes ao ponto que a diminui-ção da secreção de insulina com a manutenção da sensibilidade àinsulina sugere um metabolismo energético mais eficiente na ma-nutenção da euglicemia33.

    • Manejo Medicamentoso: Uso de DrogasFormas medicamentosas de tratamento da condição não são

    substitutos para as adaptações de manejo. De qualquer forma, exis-te uma janela para modulação farmacológica da condição corporaldos animais. Uma possibilidade é o uso de levotiroxina que age naobesidade e resistência à insulina, mas tem alto custo. A utilizaçãode metformina como controlador da euglicemia é feita em casos deSíndrome Metabólica e Diabetes Mellitus do tipo 2 em humanos,mas não se demonstrou eficiente na modulação da sensibilidade àinsulina em cavalos40.

    CONSIDERAÇÕES FINAISApós exposta a revisão acima, torna-se clara a importância da

    análise sistemática de escore corporal para manutenção da saúdedos animais. Animais que tenham fornecimento de dietas com altosíndices de carboidratos solúveis e/ou tenham restrição no que tan-ge a prática de exercícios regulares devem ser observados e, sepossível, alguma mudança feita no manejo desses animais. Em casode suspeita clínica de Síndrome Metabólica Equina, diversos testespodem ser executados para obtenção da sensibilidade à insulina doanimal. Para manejo do animal, alterações na dieta e programa deexercício se mostram tão ou mais eficazes do que tratamento medi-camentoso. Por isso, sugere-se que a avaliação de condição corpo-ral entre no hall de procedimentos realizados no dia a dia da práti-ca de clínica equina.

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    PALMILHAS ESE20ANOS

    Contato: (41) 3667-7077Contato: (41) 3667-7077Contato: (41) 3667-7077Contato: (41) 3667-7077Contato: (41) 3667-7077EEEEE-mail:-mail:-mail:-mail:-mail: [email protected]@[email protected]@palmilhaese.com.brcomercial@palmilhaese.com.brwwwwwwwwwwwwwww.palmilhaese.com.br.palmilhaese.com.br.palmilhaese.com.br.palmilhaese.com.br.palmilhaese.com.br

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    INTRODUÇÃOAinda que as dermatopatias não compreendam

    uma considerável parte das doenças dentro das en-fermidades clínicas que afetam os equinos, não éraro observar que grande parte dos animais apre-senta uma ou mais lesões de pele. Dentre os princi-pais microrganismos causadores de afecções der-matológicas nas espécies domésticas destacam-seos dermatófitos, fungos queratinofílicos, ou seja,que degradam queratina para obtenção de produ-tos a serem metabolizados. Como consequência, in-fectam superfícies queratinizadas como camada cór-nea e pelos.

    A infecção por fungos dermatófitos é contagi-osa e zoonótica, podendo haver diferentes formas

    Mariana Brettas SilvaMestre pelo Depto. de Veterinária,Univ. Federal de Viçosa (UFV), MG

    Jeferson Bello dos SantosAcadêmico em Medicina VeterináriaDepto. de Veterinária (DVT), UFV, MG

    Gabriel Barbosa de Melo NetoResidente em Medicina Veterináriado DVT/UFV, MG

    Polyana Galvão Bernardes CoelhoPós-Doutoranda do Programa dePós-Graduação em MedicinaVeterinária (PPGMV), DVT/UFV, MG

    Thayne de Oliveira SilvaMestranda do PPGMV, DVT/UFV, MG

    Sérgio Gaspar de CamposProf. Titular, Área de Microbiologia,Depto. de Microbilogia e ImunologiaVeterinária, Univ. Federal Rural doRio de Janeiro, RJ

    Maria Verônica de Souza*([email protected])([email protected])Profa. Titular, Área de Clínica Médicade Grandes Animais, DVT/UFV, MG

    * Autora para correspondência

    RESUMO: A dermatofitose é uma das principais doenças de origemfúngica e acomete diversas espécies animais, incluindo humanos. Écausada por fungos queratinofílicos, classificados como zoofílicos,antropofílicos ou geofílicos, dependendo da sua adaptação aohospedeiro ou ambiente. Além disso, a maioria das espécies possuicaráter zoonótico, o que afeta diretamente a interação ser humano eanimal, sendo essa doença desconhecida por muitos trabalhadoresdo meio rural. Esse trabalho possui como objetivo reunir informaçõessobre a dermatofitose, mediante realização de uma revisão sobreaspectos gerais relacionados com a afecção.Unitermos: cavalo, roído de traça, zoonose

    ABSTRACT: Ringworm is one of the major diseases of fungal originand affects several animal species, including humans. Are diseasescaused by keratinophilic fungal classified as zoophilic, anthropophilic

    or geophilic, depending on their adaptation to host or environment. In addition, most species have zoonotic,which interferes directly in humans and animal relationship, and this unknown disease for many workers in therural areas. This work aims to gather information about ringworm by a review of the general aspects of thecondition.Keywords: horse, gnawing worm, zoonosis

    RESUMEN: La dermatofitosis es una de las principales enfermedades de origen fúngica y afecta diversas especiesanimales, incluyendo a los hombres. Es causada por hongos queratinofílicos, clasificados como zoofílicos,antropofílicos o geofílicos, dependiendo de su adaptación al hospedador o ambiente. Además, la mayoría delas especies tienen carácter zoonótico, lo que afecta directamente a la interacción humana y animal, siendo estaenfermedad desconocida por muchos trabajadores del medio rural. Este trabajo tiene como objetivo reunirinformaciones sobre la dermatofitosis, por medio de la realización de una revisión sobre aspectos generalesrelacionados con la enfermedad.Palabras clave: caballo, tiña, zoonosis

    (Revisão de Literatura)

    “Equine ringworm: literature review”

    “Dermatofitosis em caballos: revisión de literatura”

    de transmissão. O sinal clínico “roído de traça”,considerado como presente na afecção assemelha-se ao observado em outras doenças que afetam otecido cutâneo, tanto em animais como em huma-nos. Infelizmente são raros os estudos epidemioló-gicos com a finalidade de determinar a prevalênciae incidência dos casos de dermatofitose. Essa faltade estudos provavelmente esteja subestimando aocorrência da afecção. Nesse contexto, é possívelque o impacto das dermatofitoses nos seres huma-nos também seja subestimado.

    Embora a dermatofitose ainda seja negligencia-da, é importante destacar o elevado potencial zoonó-tico da afecção, de forma que a compreensão da mes-ma possa auxiliar na implementação de medidas

    Figura 1: Aparência deum equino com quadro dedermatofitose...................................................

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    de saúde pública para sua prevenção e tratamento. Sendo assim,essa revisão teve como objetivo realizar uma abordagem geral so-bre a dermatofitose, enfatizando a sua importância dentro da medi-cina veterinária e da interação ser humano-animal, com destaquepara estudos recentes e em andamento.

    DESENVOLVIMENTOA pele é considerada o maior órgão do corpo. Externamente

    exposta, protege o organismo e possui propriedades sensitivas, atu-ando de forma conjunta aos demais tecidos, o que possibilita a ex-teriorização de afecções sistêmicas, além das de origem especifi-camente dermatológica1. É considerada uma das primeiras barrei-ras de defesa do corpo, sendo a manutenção da sua integridadeimprescindível para evitar a invasão e proliferação dos patógenosno organismo animal2.

    Por ser um órgão único e possuir limitações quanto à capaci-dade de reagir aos diferentes tipos de agentes agressores, algumasafecções cutâneas costumam apresentar sinais clínicos bastante se-melhantes3. Além do desconforto para os animais, as lesões derma-tológicas geram perdas econômicas devido à aparência da pele (Fi-gura 1), que muitas vezes é desagradável, e gastos resultantes dotratamento. Adicionalmente, podem limitar o transporte dos ani-mais, interferindo na participação dos mesmos em exposições, com-petições, entre outras atividades esportivas4.

    Etiologia e Perfil EpidemiológicoA dermatofitose, também conhecida como “tínea”5, é impor-

    tante dentro da dermatologia veterinária devido ao seu potencialzoonótico6. Também é denominada “roído de traça” na clínica mé-dica de equinos7,8. Na realidade esse termo se refere ao aspectofísico da lesão.

    Os fungos patogênicos apresentam capacidade adaptativa aosdiferentes ambientes e hospedeiros. Assim, nas últimas décadas têm-se observado alterações no comportamento biológico e, consequen-temente, epidemiológico desses fungos, devido às alterações cli-máticas, geográficas, vegetativas e das interações inter e intraespe-cífica de humanos e animais.9 Inicialmente os dermatófitos eramfungos adaptados ao solo, ou seja, geofílicos. Entretanto, o conta-to com animais e humanos fez com que se adaptassem aos diferen-tes hospedeiros, sendo então denominados zoofílicos e antropofíli-cos, respectivamente. De acordo com Mendez-Tovar10 (2010), a der-matofitose é a micose mais frequente no mundo. A espécie maiscitada como afetando equinos é o Trichophyton equinum (Figura2A). No entanto, as espécies T. verrucosum, T. mentagorphytes,Microsporum canis e M. gypseum (Figura 2B) também são comu-mente relatadas como agentes etiológicos.4,11,12

    Escassas pesquisas foram desenvolvidas com objetivo de de-terminar a prevalência da dermatofitose em equinos, e apresenta-ram diferentes resultados. Schmidt13 (1996) realizou os exames mi-cológico direto e cultura fúngica (Figura 3A) em 606 amostras devárias espécies animais com lesões dermatológicas, atendidos emWestfalia do Norte (Alemanha), entre os anos de 1993 e 1995. Aprevalência na população equina foi de 11,5%. Ahdy et al.12 (2016)estudaram por um ano 457 de 735 (62,2%) equinos da raça árabeno Egito, pertencentes a 15 fazendas nas cidades de Cairo e Giza.Em todos os animais selecionados foram realizados os exames mi-cológico direto e cultura fúngica e a prevalência observada foi de16,8% para dermatofitose. Na região central da América do Nortee Canadá foi desenvolvido por Schaffer et al.14 (2013), um estudoretrospectivo utilizando laudos de biópsias (Figuras 3B e 3C)

    Figuras 2: Cultura fúngica onde se observa microscopicamente oagente Trichophyton equinum (A) e Microsporum gypseum (B)..........................................................................................................................

    Figuras 3: Macromorfologia doTrichophyton equinum (A); e biópsiarealizada com Punch (B); Aspecto dapele após realização da biópsia (C)

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    cutâneas equinas e de lesões clínicas não neoplásica, realizadasdurante o período de 10 anos, na Faculdade de Veterinária da Univer-sidade do Estado do Colorado e na Universidade de Saskatchewan.Dos 5.141 espécimes 2% foram positivos para dermatofitose.

    Embora grande parte dos estudos demonstrem prevalênciasrelativamente baixas para dermatofitose, uma pesquisa conduzidapor Nweze11 (2011) durante 30 meses em sete estados da Nigériademonstrou o contrário. O autor observou que dos 538 animais dediferentes espécies domésticas avaliadas, sendo todos com derma-topatia, 39,8% foi positivo para dermatofitose. Dentre a populaçãoequina avaliada (n = 25), a prevalência observada foi de 44,0%.

    No Brasil, no estado de São Paulo, estudo conduzido por Ishi-kawa et al.15 (1996) com 175 equinos observou prevalência no totalde equinos e naqueles com lesões dermatológicas sugestivas de der-matofitose de 1,7%, e 7,1%, respectivamente. O período de reali-zação do estudo não foi expresso pelos autores. Outro estudo de-senvolvido no Brasil, por Pessoa et al.16 (2014), no estado da Para-íba, região semiárida, avaliou registros de atendimentos clínicosretrospectivos de 10 anos de 1.786 equinos. Dentre os 447 animaisdermatopata a prevalência foi de 3,4% para dermatofitose.

    A transmissão ocorre pelo contato direto entre o indivíduo sadioe o animal carreador ou por meio de fômites contaminados e mos-cas em repasto também podem atuar como transmissores dos fun-gos dermatofíticos17. Cães e gatos mantidos como animais de com-panhia são transmissores importantes da afecção, ainda que pos-sam não apresentar sinais clínicos18. Estudo epidemiológico rando-mizado realizado por Romano et al.19 (1997) em gatos assintomáti-cos oriundos da cidade de Siena (Itália), revelou que quase metadedos animais apresentaram cultura fúngica positiva para dermatófi-tos. Salebian e Lacaz20 (1980) realizaram cultura fúngica de 47 amos-tras de pelos sadios de 27 roedores silvestres do estado de SãoPaulo. Destas, 8,4% foi positiva para o gênero Trichophyton sp.,sendo 4,2% positiva para a espécie T. mentagrophytes. De acordocom esses resultados, roedores silvestres também são potenciaisportadores e transmissores da dermatofitose.

    A dermatofitose também está correlacionada com a imunida-de, de forma que equinos jovens apresentam maior risco de desen-volver a dermatofitose4. De acordo com Pickering et al.21 (2008),de modo geral, as zoonoses em humanos apresentam-se mais fre-quentemente em crianças e em indivíduos imunocomprometidos.Pesquisas indicam que a condição nutricional afeta as imunidadesinata e adquirida, sendo utilizada inclusive como prevenção e tra-tamento de doenças22. Sendo assim, equinos submetidos a condi-ções nutricionais precárias também se tornam mais susceptíveis aodesenvolvimento da dermatofitose23.

    Embora a resolução espontânea da dermatofitose possa ocor-rer entre uma a quatro semanas, dependendo da melhora no manejoalimentar e sanitário, o tratamento é indicado devido ao carátercontagioso e zoonótico da afecção. Estudo epidemiológico reali-zado por Silva24 (2016) revelou que equinos sem sinais clínicos delesão cutânea também podem ser positivos para dermatofitose. Adi-cionalmente, um dado muito interessante é que durante a pesquisaocorreu o isolamento do T. rubrum, espécie ainda não mencionadaem equinos.

    Sinais ClínicosO termo “roído de traça” é, na realidade, utilizado para carac-

    terizar diferentes afecções que se manifestam clinicamente pelapresença de placas ou máculas circulares, com diferentes formasde apresentação de alopecia (Figura 4A), assim como, por áreas

    descamativas (Figura 4B), eritematosas e hipercrômicas25 em pa-drão anelar inicialmente bem demarcado e, mais raramente, na for-ma de crostas espessas. A dermatofitose é causada por fungos quetêm a capacidade de digerir queratina4,17, portanto, estão localiza-dos nas camadas superficiais da pele, como o estrato córneo epi-dérmico, hastes pilosas e unhas ou cascos4,6.

    Para que a doença se manifeste, geralmente é necessária agres-são prévia à pele, ainda que de baixa intensidade4. Além disso, oestabelecimento da doença é dependente da capacidade do derma-tófitos em superar as barreiras imunes inatas da pele e se ligar aohospedeiro, para obtenção dos nutrientes necessários para sua so-brevivência26. Cada espécie dermatófita é especializada em secre-tar proteases que definirão o perfil inflamatório no hospedeiro, quedirecionará a resposta imune. Quanto mais grave for a inflamaçãogerada, maior será o recrutamento de células do sistema imune emais rápida será a resolução da doença27.

    As lesões alopécicas são multifocais e crostas com pequenasdimensões podem se formar sobre os folículos, aderidas ao pela-me. De acordo com White7 (2005), é muito raro ocorrer intensaprodução de crostas. Também pode ocorrer acúmulo de pequenaspartículas queratinizadas, com aspecto semelhante à “cinza de ci-garro”4. O quadro pode causar irritação e prurido7. Ocasionalmen-te, no início pode apresentar característica urticariforme, com mu-dança do ângulo da haste pilosa4,7. Os locais de aparecimento pri-mário das lesões, que podem apresentar caráter superficial ou pro-fundo, incluem as regiões axilares e suas periferias. Podem se dis-seminar para o tronco, garupa, pescoço, cabeça e membros7.

    Figura 4: Quadro clínico frequentemente observado em animais comdermatofitose. A) Áreas de alopecia (setas) e B) Descamação (setas)..........................................................................................................................

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    DiagnósticoAs dermatopatias equinas são consideradas um desafio diag-

    nóstico, devido à limitada capacidade da pele em responder de di-ferentes formas aos diversos estímulos a que é submetida, e assimapresentar sinais clínicos similares3. Portanto, para a realização dodiagnóstico definitivo é imprescindível a realização de exames com-plementares.

    Os exames complementares utilizados para diagnóstico defi-nitivo da afecção são a avaliação da fluorescência do pelo comauxílio da lâmpada de Wood; a tricografia, para a realização dosexames parasitológico e micológico direto; a cultura fúngica dopelame e, mais raramente, o exame histopatológico mediante bióp-sia cutânea. A lâmpada de Wood é um exame de triagem utilizadopara indicar a localização dos pelos que serão coletados para cultu-ra fúngica e micológico direto. Nesse caso, as hastes pilosas, possi-velmente infectadas, emitem uma coloração verde-maçã/amarelo-esverdeada quando são incididas pela luz da lâmpada. Entretanto,é este exame que possui baixa sensibilidade e especificidade28, umavez que apenas cerca de 50% das cepas de M. canis fluorescem soba lâmpada de Wood, enquanto as demais espécies não fluorescem,e a presença de debris, fios de algodão e medicamentos tópicos abase de tetraciclina podem gerar reação falso-positiva29. Nos equi-nos possui pouca indicação de utilização, pois as principais espéci-es fúngicas que acometem esses animais não apresentam fluores-cência sob a incidência da luz ultravioleta3.

    O raspado cutâneo (Figura 5A) pode ser associado à epilaçãopor tração ou escovação (Figura 5B) para coleta de crostas e dasuperfície queratinizada da pele para cultura fúngica7. Esse métodoé utilizado para avaliação parasitológica direta do material. Outro

    método de coleta de material dermatológico é o descrito por Ma-ckenzie30 (1963), no qual é utilizada uma escova de dente para co-leta dos pelos da superfície corpórea e subsequente análise por cul-tura fúngica. O micológico direto, realizado pela tricografia, é umaanálise direta da morfologia das hastes pilosas sob microscopia deluz. Os achados indicativos da doença são pelos morfologicamentealterados, com superfície irregular e aspecto áspero29.

    É um exame que possui baixa especificidade. Estudo relacio-nando a microscopia direta com a cultura fúngica, revelou especi-ficidade e sensibilidade relativas de 64,71% e 27,12%, respectiva-mente31. Entretanto, a visualização da infecção da haste pilosa ésuficiente para o diagnóstico positivo. Por outro lado, caso o mico-lógico direto seja negativo ou ocorram dúvidas sobre o diagnósti-co, a cultura fúngica deve ser solicitada, visto que é consideradacomo exame padrão ouro para o diagnóstico da afecção. Nesse caso,as amostras de pelo28 ou do raspado cutâneo7 são depositadas sobremeio de cultura específico para fungos e as colônias desenvolvidasavaliadas microscopicamente28. A biópsia cutânea para o examehistopatológico somente está indicada em casos específicos17, comona suspeita de lesão neoplásica, grave e/ou com perda da configu-ração em lesão que necessite de biópsia para o diagnóstico defini-tivo, como nas doenças imunomediadas e dermatoses nutricionais,e nas lesões ulcerativas crônicas32.

    Além das técnicas tradicionais, é citado o uso da amplificaçãodo DNA, como a reação em cadeia da polimerase (PCR) e reaçãoem cadeia da polimerase em tempo real (RT-PCR) para o diagnós-tico da dermatofitose, tanto em humanos quanto em animais33,34.Para Brillowska-Dabrowska et al.35 (2007), as vantagens dessas téc-nicas incluem maior sensibilidade, simplicidade, rapidez diagnós-tica e consequente redução dos custos quando comparadas aos exa-mes micológico direto e de cultura e análise morfológica das colô-nias fúngicas. O estudo de Tartor et al.34 (2016) com 200 equinosda raça Árabe comparou os diferentes métodos de diagnóstico comomicológico direto, cultura fúngica, PCR das amostras de pelo ePCR das colônias isoladas na cultura fúngica. Os autores concluí-ram que a associação das técnicas de PCR e cultura fúngica é amelhor forma de diagnosticar a dermatofitose.

    Prognóstico e TratamentoA resolução espontânea da dermatofitose pode ocorrer dentro

    de uma a quatro semanas17, embora animais imunocomprometidossejam predispostos a infecções mais prolongadas e intensas8. Des-sa forma, o tratamento é sempre indicado devido ao caráter conta-gioso e zoonótico da afecção17. As terapias antifúngicas incluemtanto medicamentos de uso oral, quanto medicamentos tópicos.Entre os tratamentos utilizados, destacam-se o uso oral de itraco-nazol ou griseofulvina e de solução tópica de enilconazol ou tia-bendazol36. Além desses, também estão indicados banhos com so-luções de sulfato de cobre 1% a 3%, violeta genciana a 1% e ácidosalicílico em álcool a 5%37, além de miconazol a 1% associado ounão à clorexidina38. Na prática da Medicina Veterinária equina, tam-bém são utilizados banhos de solução de dakin a 2% com resulta-dos considerados satisfatórios. Finalmente, também são utilizadassuspensão de nistatina, miconazol intralesional, cetoconazol oralou iodo sódico intravenoso e creme de sulfadiazina de prata39.

    É importante ressaltar que, como os dermatófitos são fungosqueratinofílicos, podem estar presentes em pelos e descamaçõeslivres no ambiente e fômites, que podem provocar novas infecçõese disseminação da doença. Nesse contexto é importante a desinfec-ção geral do local onde ficam os animais e dos acessórios utilizados.

    Figura 5: Obtenção de amostras mediante realização de raspadocutâneo (A) e escovação (B)

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    Capoci et al.40 (2015) testou in vitro a eficácia do extrato hidroalcó-lico de Cymbopogon nardus (L.) Rendle, planta conhecida comocitronela contra o M. canis, isolado do ambiente de cães e gatosdomésticos. Os resultados revelaram que a sua utilização mostrou-se eficaz como agente fungicida e fungistático ambiental contraesse dermatófitos.

    De acordo com os sinais clínicos, os principais diagnósticosdiferenciais são dermatofilose, pênfigo foliáceo e foliculite por Sta-phylococcus sp.41. De forma complementar, devido ao caráter dis-cretamente pruriginoso, ao possível desenvolvimento de urticári-as23 e, particularmente pelo quadro “roído de traça”25, é possívelincluir as desordens alérgicas como diagnóstico diferencial23.

    CONSIDERAÇÕES FINAISUma vez que o aumento da interação ser humano-animal e as

    mudanças climáticas, geográficas e vegetativas têm alterado o com-portamento dos fungos dermatófitos, mais estudos para elucidar osaspectos clínicos e epidemiológicos da dermatofitose nos animaisdomésticos são necessários. Apenas com a melhor compreensãodo comportamento da afecção é que será possível canalizar a ela-boração de políticas públicas condizentes com as principais espé-cies em questão, bem como a instituição do tratamento associadoao controle ambiental como meio preventivo para o desenvolvi-mento da dermatofitose.

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    1. INTRODUÇÃOO doping pode ser conceituado como uma in-

    tervenção farmacêutica (administração de drogaslícitas ou ilícitas) no intuito de alterar o desempe-nho físico de um atleta, de forma positiva ou negati-va1,4. Além da possível intervenção no desempenhoatlético, substâncias dopantes administradas em ani-mais podem possuir importância toxicológica, fo-rense e de segurança alimentar5,6. Nos esportesequestres, os agentes dopantes podem ser substân-cias proibidas e compostos terapêuticos veterinári-os legítimos, que garantem a saúde do equino, masque podem afetar direta ou indiretamente o seu de-

    Ana Luísa Soares de Miranda*

    ([email protected])Escola de Veterinária da UFMG

    Benito Soto-Blanco,Marília Martins MeloEscola de Veterinária da UFMG

    * Autora para correspondência

    “Doping in equestrian sports”

    “Doping en deportesecuestres”

    RESUMO: O doping pode ser conceituado como uma intervenção no desempenho físico de um atleta. Dosdesafios impostos à detecção de ocorrência do doping nos esportes equestres, destacam-se os diversos métodosanalíticos disponíveis, as substâncias dopantes com características físico-químicas diversas e particularidadesinerentes, além da diversidade de amostras biológicas que podem ser coletadas.O objetivo deste trabalho érealizar uma revisão bibliográfica acerca do histórico do doping, a legislação envolvida na sua realização,destacando-se algumas substâncias dopantes mais comuns, amostras passíveis de coleta e metodologias aserem empregadas.Unitermos: amostra, cavalos, equino, exame, hipismo

    ABSTRACT: The doping concept can be defined as an intervention on an athlete physical performance. Of thechallenges in detecting doping in equestrian sports, it is highlighted the several analytical methods available,different doping substances, with their own physical-chemical characteristics and particularities, and a range ofbiological samples that can be collected. The aim of this study is to perform a bibliographical review on dopinghistory, legislation, highlighting some common doping substances, sampling and analytical methodologiesavailable.Keywords: horseback riding, horses, equine, exam, sample

    RESUMEN: El doping es caracterizado como una intervención em la performance del atleta. De los desafíos de ladetección del doping en los deportes ecuestres, se destaca los diversos métodos analíticos disponibles, lassubstancias dopantes con distintas características físico-químicas y particularidades, además de la diversidad demuestras que puedan ser colectadas. El propósito de este trabajo es realizar una revisión bibliográfica acerca delhistórico del doping, su legislación, destacando las substancias dopantes comunes, muestreo y metodologíasanalíticas.Palabras clave: caballos,equinos,equitación, examen, muestra

    em EsportesEquestres

    sempenho esportivo4.Grandes desafios são impostos à detecção de

    ocorrência do doping. Destacam-se os diversos mé-todos analíticos disponíveis, com suas próprias com-plexidades e limitações3,7,9; as substâncias dopantescom características físico-químicas diversas e parti-culares, que estão diretamente relacionadas à suaprópria capacidade de detecção no exame antido-ping10-13; a diversidade de amostras biológicas quepodem ser coletadas, com implicações éticas e par-ticularidades de coleta, análise, transporte e arma-zenamento14,18.

    O objetivo do presente trabalho é realizar uma

    ES

    CO

    LA D

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    A U

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    Figura 1: Coleta de saliva.................................................

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    revisão de literatura sobre o histórico e a legislação acerca do do-ping nos esportes equestres; as substâncias mais comuns utilizadascomo dopantes em equinos; as amostras biológicas passíveis deserem utilizadas nos exames antidoping na espécie; e a diversidadedas análises metodológicas disponíveis.

    2. REVISÃO DE LITERATURA

    2.1. HistóricoPressupõe-se que, em equinos, os primeiros relatos da admi-

    nistração de substâncias que alterariam o desempenho atlético da-tam dos tempos romanos. O hidromel, um composto fermentado apartir de água e mel, seria usado para aumentar o desempenho doscavalos nas corridas de bigas. No século XVII, em 1666, nas corri-das de cavalos em Worksop, Inglaterra, um regulamento banindosubstâncias excitatórias foi oficializado. Em 1910, as práticas dedoping tomaram proporções tão graves, que autoridades da Áus-tria, responsáveis pela gestão das corridas de cavalos, buscaram oauxílio de estudiosos que demonstraram que a detecção de drogasera passível de ser realizada na saliva dos equinos. Em 1930, nosEstados Unidos da América (EUA), o Departamento Federal deNarcóticos realizou o primeiro passo para o controle da adminis-tração de fármacos em equinos e prendeu mais de cem envolvidosem um esquema de tráfico de narcóticos. Em 1932, o teste antido-ping na saliva dos animais foi instaurado nos EUA. Com o fim daSegunda Guerra Mundial, os narcóticos cederam lugar às anfeta-minas e compostos simpatomiméticos que, por sua vez, foram des-bancados pelos anestésicos locais, anti-inflamatórios e esteroidesanabolizantes, utilizados até os dias atuais.1

    2.2. LegislaçãoOs programas de combate ao doping são meios efetivos para

    identificar atletas que trapaceiam ao manipular o desempenho físi-co por meio de drogas. Tais programas objetivam, portanto, dissu-adir essa