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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA E PRESERVAÇÃO PATRIMONIAL
Diógenes Rodrigues Costa
ANÁLISE ESPACIAL EM ARQUEOLOGIA: um enfoque
intra-sítio dos artefatos líticos do sítio Ponte Velha,
sudeste do Piauí.
São Raimundo Nonato - PI
2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA E PRESERVAÇÃO
PATRIMONIAL
Diógenes Rodrigues Costa
ANÁLISE ESPACIAL EM ARQUEOLOGIA: um enfoque
intra-sítio dos artefatos líticos do sítio Ponte Velha,
sudeste do Piauí.
Monografia apresentada a Universidade
Federal do Vale do São Francisco, Campus
Serra da Capivara, como requisito parcial para
obtenção do título de bacharel em
Arqueologia e Preservação Patrimonial.
Orientador: Prof. Dr. Leandro Surya
São Raimundo Nonato – PI
2013
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer
meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que
citada à fonte.
São Raimundo Nonato – PI, 25 de março de 2013.
Diógenes Rodrigues Costa
Costa, Diógenes Rodrigues
C837a
Análise espacial em arqueologia: um enfoque intra-sítio dos artefatos líticos do sítio Ponte Velha, sudoeste do Piauí/ Diógenes Rodrigues Costa. -- São Raimundo Nonato - PI, 2013.
50f.: il. ; 29 cm. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF, Campus Serra da Capivara, para graduação em Arqueologia e Preservação Patrimonial, 2013.
Orientador: Prof. Dr. Leandro Surya
1. Arqueologia. 2. Arqueologia pré-colonial. 3. Arqueologia Espacial. 4. Análise Lítica. I. Título. II. Universidade Federal do Vale do São Francisco
CDD 930.1
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Biblioteca. SIBI/UNIVASF
Para minha mãe, Ilma.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Aloísio e Ilma, pelo apoio incondicional nos momentos
difíceis. Minha eterna gratidão pelos esforços e incentivos, ao concretizarem meu
sonho de torna-me arqueólogo.
A Leandro Surya, pela paciência na orientação da minha monografia.
A Danielle, minha irmã, doce menina sempre calma, atenciosa e alegre. Meus
sinceros agradecimentos.
A Douglas, meu irmão, por acreditar em meu potencial. Apoiando-me em
todas as minhas decisões durante o período da graduação. Grande abraço.
A Djonatas, meu irmão, muitas idéias cibernéticas trocadas entre nós.
A Kekel, pelos momentos felizes compartilhados ao seu lado. Amo-te.
A Wagner Ribeiro (Pajé), por contribuir na construção do conhecimento
científico em campo e no laboratório.
Aos colegas Márcio Gomes (Bob Marley), Roberto Costa (Burra Preta),
Leandro Borges (Negão), Reuber Henrique (Maguim), Cleberson Xavier (CCF),
Melquisedeck Mendes (Mendigão), Joaquim Oliveira (Japonês). Um salve para os
manos: André (Jandira), Marcelo (Bobo da corte), Leonardo (Cachimbinho), José
Thiago (Zé), Nicodemos (Nicó). Vamos estourar! \|/______
A Marcelo Ribeiro e Rômulo Macêdo, por gentilmente informarem a respeito
do sítio Ponte Velha.
Por fim, agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente.
MAS I LOVE YOU - RAUL SEIXAS O que é que você quer Que eu largue isso aqui? É só me pedir Soldado ou bancário Garçom ou chofer Eu paro de ser De ser cantor É só dizer Pra não morrer Meu único amor Eu largo o que sou Vou ser zelador De um prédio qualquer Sentado ao portão O portão dos sonhos Que você sonhou Diga o que você quer Se acaso não quiser Feliz eu serei seu nada Mas um nada de amor Eu lavo e passo Sirvo à mesa e faxino Aprendo e te ensino Posso até dirigir Comprar um táxi Só pra lhe servir Deixo de ser coruja Pra ser sua coto...via E só viver de dia Pra você ser feliz O que é que você quer Que eu largue isso aqui? É só me pedir Soldado ou bancário Garçom ou chofer Eu paro de ser De ser cantor É só dizer Pra não morrer Meu único amor Mas I love you...
RESUMO
O presente trabalho visa analisar a distribuição espacial intra-sítio dos artefatos líticos do sítio Ponte Velha, situado na localidade do Junco, município de São Raimundo Nonato, sudeste do Piauí. Buscamos compreender o contexto arqueológico, com aportes teóricos e metodológicos da Arqueologia Espacial e apoio de um Sistema de Informação Geográfica. Efetuamos prospecções sistemáticas e coleta total de superfície. Evidenciamos em abundância, matérias-primas (sílex, quartzo e quartzito) empregadas na confecção de ferramentas líticas. Os resultados obtidos no processamento dos dados espaciais das evidências arqueológicas indicaram três áreas com concentrações de evidências líticas. Procuramos entender as concentrações de artefatos, abordando-as com enfoque no software livre – Grass. Inferimos que este sítio trata-se de uma indústria lítica, encontramos percutores, lascas e estilhas.
Palavras-chave: Arqueologia, Pré-colonial, Arqueologia Espacial, Análise intra-sítio, Análise lítica.
ABSTRACT
This study aims to analyze the spatial distribution of intra-site lithic artifacts from the Ponte Velha site, located in São Raimundo Nonato, southeast of Piaui. We seek to understand the archaeological context, with theoretical and methodological contributions of Spatial Archaeology and support of a Geographic Information System. We have carried out systematic surveys and total collection surface. Evidenced in abundance, raw materials (flint, quartz and quartzite) employed in the manufacture of stone tools. The results obtained in the processing of spatial data from archaeological evidence indicated three areas with concentrations of lithic evidence. We seek to understand the concentrations of artifacts, covering them with a focus on a free software - Grass. We infer that this site comes up a lithic industry, we found hammerstones, flakes and spalls.
Key words: Archaeology, pre-colonial, Spatial Archaeology, intra-site analysis, lithic analysis.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12
CAPÍTULO I: CONTEXTUALIZAÇÃO DO SÍTIO PONTE VELHA ............................ 14
1.1. Contexto arqueológico........................................................................................ 14
1.2. Área de estudo ................................................................................................... 15
1.3. Arqueologia espacial .......................................................................................... 17
CAPÍTULO II: MATERIAIS E MÉTÓDOS .................................................................. 22
2.1. Arqueologia de campo ....................................................................................... 22
2.2. Prospecção ........................................................................................................ 25
2.2.1. Registro topográfico ........................................................................................ 27
2.2.2. Coleta total de superfície ................................................................................. 30
2.3. Laboratório ......................................................................................................... 33
CAPÍTULO III: ANÁLISE INTRA-SÍTIO DOS ARTEFATOS LÍTICOS ....................... 41
3.1. Distribuição espacial .......................................................................................... 41
3.2. Concentrações de evidências líticas .................................................................. 43
3.3. Áreas de atividades ............................................................................................ 45
CONSIDERAÇÕES ................................................................................................... 48
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49
APÊNDICE ................................................................................................................ 51
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa exibindo localização do município de São Raimundo Nonato .......... 16 Figura 2: Mapa com esboço geológico da cidade ..................................................... 17 Figura 3: Observamos que o sítio situa-se próximo ao município. ............................ 19 Figura 4: Imagem de satélite apresentando contexto arqueológico do sítio .............. 20 Figura 5: Área de coleta total de superfície ............................................................... 21 Figura 6: Nomenclatura de produtos de talhe............................................................ 23
Figura 7: Lasca de sílex evidenciada em superfície. ................................................. 24
Figura 8: Bandeirinha sinalizando uma lasca de sílex ............................................... 24
Figura 9: Prospecção nas unidades demarcadas em campo .................................... 26
Figura 10: Bloco de concreto utilizado com Datum (ponto zero). Logo ao seu lado um artefato lítico .............................................................................................................. 27
Figura 11: Estação total empregado no estudo arqueológico ................................... 28
Figura 12: Registro topográfico com estação total e preenchimento de etiqueta ...... 29
Figura 13: Sinalização das evidências arqueológicas ............................................... 31
Figura 14: Planta baixa do sítio ponte velha com concentrações de evidências líticas .................................................................................................................................. 32
Figura 15: Instrumentos empregados nas atividades de laboratório: paquímetro, esquadro, escova de dente, massa de modelar, lupa, régua, lapiseira, tesoura e escovinha .................................................................................................................. 34
Figura 16: Baldes com evidências arqueológicas ..................................................... 35
Figura 17: Pesquisadores analisando um artefato lítico ............................................ 36 Figura 18: Reserva técnica com caixas de papelão para acondicionamento da cultura material .......................................................................................................... 37 Figura 19: Caixa de papelão com identificação do sítio ponte velha ......................... 37
Figura 20: Percutores com marca de uso encontrados no sítio Ponte Velha ............ 38
Figura 21: Percutor de quartzito coletado em superfície ........................................... 38 Figura 22: Ferramenta lítica ...................................................................................... 39 Figura 23: Visão lateral de ferramenta lítica, apresentado seu fio cortante ............... 39 Figura 24: As lascas de sílex foram encontradas em concentrações arqueológicas 39 Figura 25: Lasca de sílex .......................................................................................... 39 Figura 26: Estilha de sílex ......................................................................................... 40 Figura 27: As estilhas de sílex eram desenhadas, entretanto em algumas situações não era possível ........................................................................................................ 40 Figura 28: Núcleo com marca de retirada ................................................................. 40 Figura 29: Núcleo de quartzito .................................................................................. 40 Figura 30: Quantificação e distribuição de amostras coletadas ................................ 46 Figura 31: Planta baixa com três áreas apresentando ação antrópica ...................... 47
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Evidências arqueológicas coletadas em superfície .................................. 41 Gráfico 2:Densidades de artefatos líticos nas unidades arqueológicas .................... 42 Gráfico 3: Matéria-prima das evidências líticas ......................................................... 43 Gráfico 4: Conjunto arqueológico da indústria lítica .................................................. 44
12
INTRODUÇÃO
A Arqueologia brasileira permanece carente de estudos regionais
sistemáticos para que se torne um corpo sólido de conhecimentos. A acumulação de
dados na disciplina ainda se faz de maneira assistemática, grandes áreas
permanecem desconhecidas do ponto de vista arqueológico, e até mesmo a simples
seqüência cronológica de acontecimentos, que constitui a base para se construir
hipóteses e aplicar teorias, é ainda falha (ARAÚJO, 2001).
No sudeste do Piauí, as investigações científicas iniciaram-se com a missão
franco-brasileira, coordenada pela arqueóloga Niéde Guidon, no início da década de
70. Apesar de várias décadas de pesquisas, muitos aspectos dos grupos humanos
antes da colonização européia ainda permanecem obscuros.
O presente trabalho tem intuito de analisar a distribuição espacial intra-sítio
dos artefatos líticos do sítio Ponte Velha, situado na localidade do Junco, município
de São Raimundo Nonato, sudeste do Piauí.
O sítio Ponte Velha situa-se entre as coordenadas latitude 8°59'43.41"S e
longitude 42°39'47.47"O, com altitude de 342m, localidade do Junco, a 8 km do
município de São Raimundo Nonato.
A identificação de evidências líticas em superfície deu-se pelo arqueólogo
Rômulo Macedo e o estudante Marcelo Alves. Por meio destas informações
buscamos analisar o potencial arqueológico deste sítio.
Consultamos informações no IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional), onde não encontramos nenhum registro do sítio Ponte Velha. A
Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) também não efetuou
pesquisas arqueológicas neste sítio.
Constatamos através das evidências arqueológicas e em fontes orais indícios
de ocupações humanas no período colonial. Próximo ao sítio existe uma ponte
velha, produzida em madeira de aroeira que era utilizada em uma estrada que
cortava o município de São Raimundo Nonato, antiga BR-020.
13
O sítio Ponte Velha localiza-se em um terraço fluvial1, próximo ao curso do rio
Piauí, onde identificamos artefatos líticos (núcleos, percutores, lascas, estilhas, etc).
Este sítio engloba uma ampla dispersão espacial, com indícios de atividades
humanas pré-coloniais e coloniais (multicomponencial).
As evidências arqueológicas pré-coloniais deste sítio indicaram produção e
utilização de ferramentas líticas. Na região, encontramos diferentes tipos de
matérias-primas (sílex, quartzo, quartzito, etc.) que foram utilizadas na confecção
destas ferramentas líticas.
A pesquisa de campo mostrou-nos que o sítio Ponte Velha apresenta um
grande potencial arqueológico. Encontramos em superfície muitas evidências
arqueológicas como ferramentas líticas, esparsos fragmentos de olaria e cerâmica.
Prospectamos os locais com evidências de ocupações humanas pretéritas.
Buscamos compreender como estão distribuídos os artefatos líticos em superfície.
Analisando a utilização do espaço e paisagem pelos grupos humanos.
Este trabalho está estruturado em três capítulos:
No capítulo I: Contextualização do sítio Ponte Velha descrevemos o sítio,
abordando seu contexto arqueológico, delineando sua área de estudo. Neste
capítulo estudamos o sítio, com enfoque no comportamento técnico dos grupos
humanos.
O capítulo II: Materiais e métodos discutimos a fundamentação teórica e
metodológicas no qual está constituída esta pesquisa. Empregamos pressupostos
metodológicos da Arqueologia Espacial e do uso de um Sistema de Informação
Geográfica (SIG - GRASS).
O capítulo III: Análise Intra-sítio dos artefatos líticos efetua-se abordagem
intra-sítio das evidências arqueológicas, contextualizando as distribuições espaciais
com as ocupações humanas pré-coloniais. Nas considerações, expõem-se os
resultados obtidos com está pesquisa e sugerimos novos trabalhos no sítio Ponte
Velha, pela amplitude do seu potencial arqueológico.
1 Segundo Bigarella e Mousinho (1965), os terraços fluviais são superfícies planas ou levemente inclinadas formando as margens um rio, resultantes de variações climáticas ou do nível das águas através dostempos.
14
CAPÍTULO I: CONTEXTUALIZAÇÃO DO SÍTIO PONTE VELHA
Apresentamos a área de estudo do sítio Ponte Velha. Procuramos
caracterizar a região com enfoques nas evidências líticas. Com isso, buscamos
compreender a distribuição espacial intra-sítio das evidências arqueológicas do sítio
Ponte Velha. Pretendemos estudar as relações com o curso do rio Piauí e sua
influência na disponibilidade de recursos naturais.
1.1. Contexto Arqueológico
Realizamos um estudo acerca do contexto geoambiental do rio Piauí, assim
como do contexto arqueológico relacionado ao sítio Ponte Velha. Os dados foram
analisados sempre colocando em evidência a relação entre contexto ambiental e
arqueológico.
Segundo Bigarella e Mousinho (1965), para se entender os depósitos de
terraços deve-se considerar um clima semi-árido, responsável pelo abandono ou
redeposição de seixos rolados, elaborados pelo transporte fluvial no clima úmido
antecedente, posicionados ao longo de talvegue remanescente. Numa fase
seguinte, determinada pelo retorno ao clima úmido, evidencia-se o reentalhamento
da drenagem no antigo leito abandonado, ou próximo deste; os seixos rolados,
abandonados na fase agressiva anterior, depois de exumados pela incisão da
drenagem, se posicionam acima do talvegue atual, muitas vezes sotopostos ou
recobertos por sedimentos resultantes do transbordamento do rio, como os
depósitos aluviais, ou provenientes de montantes (depósitos coluviais).
Todos os dados espaciais, provenientes da revisão bibliográfica e dos
resultados das análises realizadas foram inseridos em um banco de dados e
construído um Sistema de Informação Geográfica, utilizando o software Grass2 e em
planilhas digitais (ver apêndice 1).
2 O programa de suporte à análise de recursos geográficos GRASS (do inglês, Geographic
Resources Analysis Support) é um sistema de informação geográfica (SIG) usado na gestão e análise de dados geoespaciais, processamento de imagem, produção de gráficos/mapas, modelação e visualização espacial.
15
A Arqueologia, ao tratar da posição espacial de sítios arqueológicos ou da
distribuição de vestígios intra-sítios, enfrenta essas questões relacionadas aos
contextos ambientais e arqueológicos, embora, como coloca Hodder e Orton (1990),
os pré-historiadores tenham sempre se preocupado mais com a seqüência
cronológica do que com a dimensão geográfica das culturas .
A evolução dos Sistemas de Informações Geográficas possibilitou sua
crescente utilização como ferramenta de auxílio à análise espacial, tornando
possível avaliar cenários geográficos com rapidez e conseqüentemente tornar mais
ágil as tomadas de decisão tanto em pesquisa de campo como no laboratório.
Assim, neste trabalho, apresentam-se algumas características da associação destas
técnicas e alguns exemplos de aplicação das mesmas.
1.2. Área de estudo
O sítio Ponte Velha localiza-se entre a latitude 8°59'43.41"S e longitude
42°39'47.47"O. Está posicionado em um terraço fluvial com a presença de material
lítico e cerâmico.
Encontramos no entorno muitas matérias-primas (sílex, quartzo, quartzito),
etc, que poderiam ser utilizados pelos grupos humanos pré-coloniais. Por isto,
encontra-se próximo à área arqueológica da Serra da Capivara, relacionamos sua
ocupação aos mesmos movimentos populacionais.
O sítio situa-se na área arqueológica da Serra da Capivara, sudeste do
Estado do Piauí, próximo ao parque nacional, que ocupa áreas dos municípios de
São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias. A superfície
do Parque é de 129.140 ha. e seu perímetro é de 214 km A distância que o separa
da capital do Estado, Teresina, é de 530 km O parque está em uma área semi-árida,
fronteiriça entre duas grandes formações geológicas - a bacia sedimentar Maranhão-
Piauí e a depressão periférica do rio São Francisco - com paisagens variadas nas
serras, vales e planície, com vegetação de caatinga (o Parque Nacional Serra da
Capivara é o único Parque Nacional situado no domínio morfoclimático das
16
caatingas), a unidade abriga fauna e flora específicas e pouco estudadas.
(FUMDHAM, 2006).
Clark (1977) define a análise espacial como uma ferramenta que possibilita
manipular dados espaciais de diferentes formas e extrair conhecimento adicional
como resposta. Incluindo funções básicas como consulta de informações espaciais
dentro de áreas de interesse definidas, manipulação de mapas e a produção de
alguns breves sumários estatísticos dessa informação; incorporando também
funções como a investigação de padrões e relacionamentos dos dados na região de
interesse, buscando, assim, um melhor entendimento do fenômeno e a possibilidade
de se fazer predições.
Figura 1: Mapa exibindo localização do município de São Raimundo Nonato. Fonte: CPMR.
Nas figuras 1 e 2, observamos os mapas (político e geológico), abordando o
contexto da área de estudo.
17
Figura 2: Mapa com esboço geológico da cidade. Fonte: CPMR.
1.3. Arqueologia espacial
A análise espacial estuda as distribuições, espaciais e temporais, dos
processos no âmbito arqueológico e as suas inter-relações. Esses processos
estabelecem padrões de ocupação humana, sendo a espacialidade das
evidências arqueológicas, essencial para a pesquisa científica. De acordo com
Binford:
Uma das questões a que os arqueólogos procuram hoje em dia dar resposta é a de saber como o homem pré-histórico organizava o seu espaço vital, isto é, qual a localização e o relacionamento espacial existente entre as diferentes atividades que realizava: dormir, comer, buscar comida, fabricar utensílios, etc. O que pretendemos saber é, até que ponto, o homem pré-histórico usava o espaço de forma coerente e especializada que é característica do homem moderno (1983).
Clarke (1977), em seu livro, Arqueologia Espacial, definiu a análise
arqueológica do espaço em três escalas: micro, meso e macro.
18
A Micro-escala é desenvolvida no nível de estruturas e contextos individuais,
no nível de espaço social e pessoal onde os fatores culturais e individuais são
dominantes. Tendo como objeto de análise a determinação da dimensão espacial
(funcional ou simbólica) de vestígios materiais circunscritos a estruturas individuais.
A Meso-escala é desenvolvida no nível de agregações de estruturas e
contextos arqueológicos ligados a atividades grupais e coletivas onde os fatores
sociais e culturais se expressam na organização espacial dos vestígios materiais.
Macro-escala explora as relações entre os sítios e entre os sítios e o meio
ambiente. Trata-se de uma escala regional de análise que põe ênfase principal nas
estratégias de ocupação e exploração econômica da natureza, assim como a
territorialidade teórica e relações entre grupos culturais.
Os dados geográficos (ou geo-referenciados) são dados espaciais cuja
dimensão espacial está associada à sua localização na superfície da terra, em um
determinado instante (período de tempo). O dado espacial descreve fenômenos
associados a dimensões espaciais. A representação espacial de um objeto
geográfico é a descrição de sua forma geométrica associada à posição geográfica.
Com o desenvolvimento da tecnologia de computadores e de ferramentas
matemáticas para análise espacial, que ocorreu na segunda metade do século XX,
surgiu possibilidades diversas, entre elas a habilidade de armazenar, recuperar e
combinar os dados disponíveis sobre um território. Até recentemente, no entanto,
isto era feito apenas em mapas e documentos em papel.
19
Figura 3: Observamos que o sítio situa-se próximo ao município de São Raimundo Nonato.
A figura 3 apresenta a macro-escala do sítio Ponte Velha. O sítio está
localizado a 8 km do perímetro urbano do município de São Raimundo Nonato,
apesar de estar situado em uma propriedade particular está ameaçado pela ação
humana contemporânea.
Pois, parte da madeira que constituí a Ponte Velha foi roubada e neste
evento, trafegaram máquinas pesadas nas áreas limítrofes do sítio (no lado oeste)
que transportaram a madeira. Boa parte da estrutura da ponte ainda mantém em seu
local original. No entanto, o risco de novas depredações e roubo deste patrimônio
ainda é constante.
Sítio Ponte Velha
20
Figura 4: Imagem de satélite apresentado contexto arqueológico do sítio.
Na figura 4, analisamos em micro-escala e o contexto arqueológico do sítio
Ponte Velha. O sítio situa-se próximo ao curso do rio Piauí, ao lado uma estrada.
Com está imagem identificamos posicionamento atual do terreno e as interferências
contemporânea, provenientes da agricultura regional que ocasionou poucas
alterações nas evidências arqueológicas.
No entanto, é importante notar que o uso do arado com tração animal não
causou modificações suficientes que comprometessem as análises de distribuição
espacial no sítio. Como será demonstrado nos capítulos seguintes.
21
Figura 5: Área de coleta total de superfície.
Na figura 5, evidenciamos as unidades arqueológicas que foram prospectadas
sistematicamente. Coletamos todas as possíveis evidências líticas, para uma análise
mais detalhadas em laboratório.
O sítio Ponte Velha encontra-se em uma local de fácil acesso, sendo
impactado indiretamente por uma estrada, ao lado, com um fluxo considerável de
trafego de veículos.
Em ambas as margens do curso do rio Piauí evidenciamos ocupações
humanas pré-coloniais. Nas duas margens, identificamos materiais líticos. No
contexto regional, encontramos com facilidade bloco de sílex, seixos, e outras
matérias-primas utilizadas na produção de artefatos líticos.
22
CAPÍTULO II: MATERIAIS E MÉTODOS
No capítulo, abordaremos os materiais e métodos empregados na pesquisa.
Utilizamos abordagens da Arqueologia Espacial e Sistema de Informação
Geográfica (SIG). Efetuamos prospecções sistemáticas e coleta total de superfície.
2.1. Arqueologia de campo
Na pesquisa de campo, efetuamos uma prospecção na região e entorno do
sítio para averiguar a distribuição das evidências arqueológicas. Analisamos o
contexto arqueológico e geoambiental da área de estudo.
A coleta total de superfície se deu apenas em materiais líticos, devido a uma
escolha metodológica que privilegiou o caráter horizontal, vislumbrado pela grande
quantidade de material visível. Tal característica espacial da horizontalidade –
permite que diferente de uma perspectiva verticalizante, no qual a cronologia é
valorizada.
Trabalhamos na busca de compreendermos como era o comportamento das
populações que o ocuparam o espaço do sítio em tempos pré-coloniais.
Efetuamos visitas ao sítio, com intuito de discutir a delimitação da área de
intervenção da pesquisa arqueológica.
Fixamos os piquetes de ferro e amarramos barbantes, para delimitar as
unidades. Logo após, sinalizamos as evidências arqueológicas com bandeirinhas
coloridas, relacionando os materiais com as cores. No total foram prospectadas 33
unidades, totalizando 3.300 m².
Caminhamos lado a lado, analisando qualquer evidência de ocupação
humana. Os materiais arqueológicos foram identificados e registrados com
bandeirinhas coloridas, para uma análise espacial meticulosa. Assim como, evitando
riscos de esquecimentos nas coletas dos dados arqueológicos.
23
Inicialmente, colocamos bandeirinhas vermelhas e amarelas para
identificarem os materiais líticos. As bandeirinhas azuis e verdes foram utilizadas
para cerâmicas e telhas.
Resolvemos coletar apenas uma amostra de cerâmica, louça, telha e tijolo.
Pelo tempo limitado nas pesquisas de campo, além de serem poucas evidências
arqueológicas destes tipos.
Coletamos todas as evidências arqueológicas com uso de uma Estação Total
(Pentax), empregando registros fotográficos e audiovisuais. Delimitamos a área
para coleta total de superfície em unidades de 10m x 10m.
Os materiais arqueológicos coletados nas unidades foram acondicionados em
sacos plásticos com etiqueta contendo suas informações. Todos estes elementos
foram registrados numa ficha de controle de unidade, na qual se indicam todos os
dados imprescindíveis para a identificação das suas características.
Em laboratório buscamos estudar meticulosamente as evidências
arqueológicas. Empregamos mínima intervenção possível nos materiais analisados.
As fichas empregadas nas análises foram produzidas com base nas referências
bibliográficas, como na figura 6, de acordo com Débenath e Dibble (1994).
Figura 6: Nomenclatura de produtos de talhe (segundo Débenath e Dibble, 1994:13).
Logo após, os dados arqueológicos foram organizadas em múltiplos softwares
(Grass, QCad, BrOffice, Gimp, etc). O objetivo foi organizar um conjunto de dados
24
que permita o desenvolvimento de mapas, cartas, desenhos, etc, com os auxílios de
programas computacionais. Os dados arqueológicos foram trabalhados em tabelas e
banco de dados.
Caracterizamos, quando possível, o tipo de cultura material, ou apenas
registramos a ocorrência de evidências arqueológicas que servirão de subsídios
para analises mais detalhadas em laboratório. Os locais de interesse, como o sítio,
contexto ambiental e vestígios materiais, foram registrados através de fotografias.
Evidenciamos muitos indícios de uma indústria lítica do sítio Ponte Velha. As
lascas de sílex foram encontradas em diversas concentrações de evidências líticas.
Figura 7: Lasca de sílex evidenciada em superfície.
Nas figuras 7 e 8, constatamos uma lasca de sílex que foi sinalizada, para
posteriormente efetuar a coleta total de superfície. Elas são identificadas nas
concentrações de evidências líticas.
Figura 8: Bandeirinha sinalizando uma lasca de sílex.
25
2.2. Prospecção
As pesquisas de campo ocorreram no período de 25 a 31 de janeiro, de 2012,
no sítio Ponte Velha, na localidade do Junco, município de São Raimundo Nonato,
Piauí.
O sítio arqueológico Ponte Velha está em um terraço fluvial, onde
evidenciamos a presença de materiais líticos e cerâmicos. Este sítio engloba um
amplo território, com indícios de ocupações humanas pré-coloniais e coloniais.
As evidências arqueológicas pré-coloniais deste sítio indicaram produção e
utilização de ferramentas líticas. Na região, encontramos uma diversidade de
matérias-primas (sílex, quartzo, quartzito, etc) que podem ser utilizadas na
confecção de ferramentas líticas.
Nos dias 25/01/2012 e 26/01/2012, delimitamos a área para coleta total de
superfície, em unidades de 10m x 10m. Empregamos a estação total para efetuar o
levantamento topográfico do sítio Ponte Velha (figura 9).
Estabelecemos o Datum com um bloco de concreto, em um local onde se
tinha uma visão maior do sítio. Fixamos os piquetes para marcar os pontos e
amarramos com barbantes (figura 10).
Nos dias 27, 28, 29, 30 e 31 de janeiro de 2012 coletamos as evidências
arqueológicas com auxílio da estação total e registro fotográfico. Tirávamos os
pontos com a estação total, acondicionava-se e etiquetava as evidências
arqueológicas.
26
Figura 9: Prospecção nas unidades demarcadas em campo.
27
2.2.1. Registro topográfico
Segundo Espartel (1987), a topografia tem como objetivo determinar o
contorno, dimensão e posição relativa de uma porção limitada da superfície terrestre
desconsiderando a curvatura resultante da esfericidade da Terra.
A Topografia é diferenciada da Geodésia por ter como finalidade mapear
uma pequena porção superfície terrestre (área de raio com até 30 km), já a
Geodésia, tem por finalidade, mapear grandes porções desta mesma superfície,
levando em consideração as deformações devido à sua esfericidade. Portanto,
pode-se afirmar que a Topografia, menos complexa e restrita, é apenas um capítulo
da Geodésia, ciência muito mais abrangente.
O sítio arqueológico, levantado topograficamente, é representado através de
uma Projeção Ortogonal Cotada, denominada Superfície Topográfica. Isto equivale
dizer que, não só os limites desta superfície, bem como todas as suas
particularidades naturais ou artificiais, serão projetadas sobre um plano considerado
horizontal. A esta projeção ou imagem figurada do terreno dá-se o nome de Planta
ou Plano Topográfico (ESPARTEL, 1987).
Figura 10: Bloco de concreto utilizado com Datum (ponto zero). Logo ao seu lado um artefato lítico.
28
Na figura 10, o bloco de concreto foi enterrado tendo o seu comprimento de
aproximadamente 50 cm.
A figura 11 exibe a estação total utilizada na pesquisa científica. Os dados
espaçais foram trabalhados em softwares livres (Grass, QCad,Gimp, etc) e
softwares com direitos autorais (Topo EVN).
Figura 11: Estação total da marca Pentax empregada no estudo arqueológico.
29
Figura 12: Registro topográfico (12-a) com estação total e
preenchimento de etiqueta (12-b).
As evidências líticas eram coletadas com a estação total (equipamento
topográfico). Um integrante da equipe ficava responsável pelo preenchimento das
etiquetas e acondicionamento do material, enquanto os outros dois coletavam
pontos e amostras, como observamos na figura 12 a e b.
Os materiais arqueológicos eram acondicionados em sacos plásticos, lacrado
com fecho para evitar desaparecimento dos artefatos.
A qualidade dos dados coletados direta ou indiretamente vai determinar a
qualidade do resultado final do trabalho. A qualidade dos dados pode ser avaliada
quer pela sua precisão quer pela sua exatidão. A precisão dos dados corresponde
ao nível de detalhe dos dados. A exatidão corresponde ao grau de aproximação dos
valores relativamente à realidade. Os dados nunca são cem por cento precisos nem
exatos, mas os seus níveis de precisão e exatidão devem ser os maiores possíveis,
para que o erro seja o menor possível.
30
2.2.2. Coleta total de superfície
Para realizar uma análise espacial, torna-se necessário ter informação sobre a
qual se vai trabalhar. Dados, são observações diretas da realidade, ou seja, são
uma coleção de fatos que podem ser armazenados, processados e transformados
em informação. Podemos pensar em dados como uma lista de números e, a
informação é o significado que atribuímos aos dados.
A informação pode aparecer de várias maneiras e sob vários formatos. Pode ser
sob a forma de texto, números, gráficos ou imagens. Pode ainda estar associada a
uma localização geográfica ou não.
Os dados sob a forma de texto ou números denominam-se alfanuméricos e
podem estar organizados em tabelas, podem referir-se a uma localização específica
ou a um momento (no tempo) específico.
A produção de informação requer primeiro a coleta de dados. Os dados
espaciais podem provir de fontes primárias ou fontes secundárias. Os dados devem
ter três dimensões: temporal (quando), temática (o quê) e espacial (onde). Os dados
temáticos são considerados atributos, ou seja, são as características referentes a
uma entidade geográfica.
Prospectamos meticulosamente evidências antrópicas, em especial,
evidências líticas. Caminhamos em lado a lado, fixando bandeirinhas coloridas para
identificação das evidências arqueológicas. .
A coleta total de superfície deu-se nas 33 unidades arqueológicas, totalizando
uma área de 3.300 m². Identificamos três locais com concentrações arqueológicas
que continham artefatos líticos (figura 13).
No contexto regional, constatamos diversos nódulos de sílex, no entorno do
sítio Ponte Velha. Observamos uma grande disponibilidade de matéria-prima (sílex,
quartzo, quartzito, etc).
31
Figura 13: Sinalização das evidências arqueológicas.
A coleta total de superfície foi efetuada com auxílio de equipamento
topográfico. Em seguida, as evidências arqueológicas eram acondicionadas em
sacos plásticos, contendo etiquetas, com identificação dos aspectos da cultura
material.
As unidades arqueológicas eram prospectadas sistematicamente, existindo
dúvidas, sobre uma amostra ser antrópica ou natural, coletamos para análise, mais
aprofundadas, em laboratório.
32
Figura 14: Planta baixa do sítio ponte velha, com concentrações de evidências líticas.
Coletamos os dados espaciais com uso de uma estação total, logo após
criamos a planta baixa, no software livre, Grass, um Sistema de Informação
Geográfica (figura 14). Utilizamos software com direitos autorais (TopoEVN).
Nesta imagem, observamos três áreas com concentrações de artefatos líticas
nas unidades arqueológicas. Inferimos que as áreas de concentrações são áreas de
atividades de grupos humanos pré-coloniais.
Evidenciamos também que apesar do arado com tração animal, na parte
norte, temos uma declividade de 2 metros e o material não se dispersou, isto nos
leva a entender a distribuição das evidências não foi alterados pelo uso do arado.
33
2.3. Laboratório
Em laboratório buscamos estudar meticulosamente as evidências
arqueológicas. Empregamos em nossos procedimentos a escolha por uma
metodologia de mínima intervenção possível nos materiais analisados.
As fichas empregadas nas análises foram produzidas com base nas
referências bibliográficas (ver apêndice 1 e 2).
As análises em laboratórios são fundamentais nas pesquisas arqueológicas.
Na pesquisa de campo nem sempre se detém de muito tempo, para estudos mais
detalhados dos materiais, muitas vezes ficando em dúvida, coletamos para
posteriormente descartá-lo caso seja constatado ser apenas fruto de ação natural.
As evidências arqueológicas devem ser devidamente numeradas,
etiquetadas, acondicionadas e salvaguardadas em ambientes adequados. As salas
dos laboratórios e as caixas contendo os materiais necessitam-se de ventilações e
umidade controladas (figura 15).
Catalogamos todas as evidências, criando um banco de dados com auxílio de
softwares computacionais de códigos abertos. Além disto, utilizamos para registro
um caderno pautado com as informações das etiquetas descartadas.
Com os avanços nas pesquisas buscaremos compreender os processos
culturais dos grupos humanos pretéritos na região.
Os materiais arqueológicos constituem-se de patrimônio cultural não-
renovavél. Seu mau acondicionamento em trabalho de campo ou mesmo laboratório,
pode ocasionar uma destruição irreversível de informações para as evidências
arqueológicas. Em laboratório fizemos a curadoria e análise dos materiais
arqueológicos.
34
Nos trabalhos em laboratório analisamos as evidências arqueológicas com
mais detalhes. Com tempo suficiente, os pesquisadores inferem muitos processos
culturais não identificados em trabalho de campo.
Segregamos as evidências arqueológicas antrópicas, das naturais. Na figura
15, constatamos os instrumentos utilizados durante as atividades de laboratório.
.
Figura 15: Instrumentos empregados nas atividades de laboratório: paquímetro, esquadro, escova de
dente, massa de modelar, lupa, régua, lapiseira, tesoura e escovinha.
35
Figura 16: Baldes com evidências arqueológicas.
Os materiais arqueológicos antrópicos eram acondicionados nas caixas de
papelão e os naturais depositados em baldes plásticos. As evidências naturais
passaram por análises meticulosas até a decisão final de descartar.
Opta-se por não lavar os materiais. Apenas higieniza-os quando
apresentarem algumas características obscurecidas por sedimentos em sua
superfície. Somente em situações singulares onde se tenha algum empecilho na
análise das evidências arqueológicas.
Limpamos os materiais arqueológicos em casos especiais com auxílio de
escovas de cerdas macias e água corrente. Usam-se sacos plásticos para não sujar
o local de trabalho.
36
Figura 17: Pesquisadores analisando um artefato lítico.
Uma etapa importante na análise das evidências naturais foi durante o
descarte. Observamos todos os aspectos dos materiais, discutimos entre os
integrantes, antes de descartá-los.
Colamos todas as etiquetas das evidências líticas descartadas (naturais) em
um caderno de registro laboratorial.
As evidências arqueológicas encontram-se acondicionadas em um
laboratório, na Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM). Elas estão em
caixas de papelão, em uma estante de metal, com ventilação e umidade adequadas.
37
Figura 18: Reserva técnica com caixas de
papelão para acondicionamento dos artefatos
líticos.
Figura 19: Caixas de papelão com identificação
do sítio Ponte Velha.
Na figura 18 e 19, observamos como estão acondicionadas as evidências
arqueológicas. As pesquisas ainda são preliminares, os dados arqueológicos serão
disponibilizados futuramente na biblioteca do curso de graduação em Arqueologia e
Preservação Patrimonial, campus Serra da Capivara, da Universidade Federal do
Vale do São Francisco (UNIVASF).
38
Figura 20: Percutores com marca de uso
encontrados no sítio Ponte Velha.
Figura 21: Percutor de quartzito coletado em
superfície.
As evidências líticas compõem-se de núcleos, percutores, lascas, estilhas,
entre outros. Constatamos inúmeros artefatos líticos produzidos com o sílex
(matéria-prima muita empregadas por suas características de lascamento
Evidenciamos na imagem dois percutores (o primeiro em quartzo e o segundo
em quartzito), ambos apresentavam marca de uso, indicando a ocupação por da
região por grupos humanos pretéritos.
Na figura 21, identificamos que o percutor encontra-se com diversos locais
com marca de ação antrópica.
Os percutores estavam associados com lascas de sílex, estilhas e núcleos.
Portanto, inferimos que no sítio Ponte Velha localiza-se uma indústria lítica,
apresentando muitos indícios de ocupações humanas pré-coloniais.
39
Figura 22: Ferramenta lítica de sílex.
Figura 23: Visão lateral da ferramenta lítica,
apresentando seu fio cortante.
Nas figuras 22 e 23, visualizamos uma ferramenta lítica, com possível
utilização. Está ferramenta apresenta marcas de retirada, constatamos que ela
ajusta-se facilmente, a mão de seres humanos.
Abaixo nas figuras 24 e 25, registro fotográfico de lascas de sílex identificadas
nas concentrações de artefatos líticos, com indícios de ocupação humana pretérita.
Figura 24: As lascas de sílex foram encontradas
nas concentrações arqueológicas.
Figura 25: Lasca de sílex.
40
Figura 26: Estilha de sílex.
Figura 27: As estilhas de sílex eram desenhadas,
entretanto em algumas situações não era
possível, pelo tamanho da evidência.
As estilhas de sílex são evidenciadas nas unidades arqueológicas em
contexto, com outras evidências líticas (figuras 26 e 27)
Constatamos diversos núcleos com marca de ação antrópica, em quartzo e
quartzito. Nas figuras 28 e 29, observamos dois núcleos com marcas de retirada.
Figura 28: Núcleo com marca de retirada.
Figura 29: Núcleo de quartzito.
41
CAPÍTULO III: ANÁLISE INTRA-SÍTIO DOS ARTEFATOS LÍTICOS
Apresentamos neste capítulo a análise intra-sítio dos artefatos líticos do sítio
arqueológico Ponte Velha, na localidade do junco, município de São Raimundo
Nonato, sudeste do Piauí.
3.1. Distribuição espacial
As evidências líticas do sítio Ponte Velha estão distribuídas no terraço fluvial
que compõe o espaço do sítio. As evidências arqueológicas com ação antrópica
foram núcleos, lascas, estilhas, entre diversos artefatos.
71%
25%
4%
Ação Antrópica ( n=728)
Natural – descartado (n=257)
Indefinido (n=40)
Gráfico 1:Evidências arqueológicas coletadas em superfície.
No gráfico 1, exibimos as quantificações obtidas durante as pesquisas de
campo.
42
Gráfico 2: Densidades de artefatos líticos nas unidades arqueológicas.
O gráfico 2 apresenta as densidades de artefatos líticos nas unidades
arqueológicas, constatamos mais evidências líticas em N560-L100, N540-L100 e
N520-L110.
A análise espacial num SIG pressupõe o conhecimento das relações
espaciais entre as entidades geográficas fundamentais. A topologia é um conceito
fundamental nos SIG, especialmente na análise espacial associada ao modelo
vetorial de dados espaciais. É a topologia que define as relações espaciais entre os
diferentes elementos gráficos (pontos, linhas, linhas e áreas), isto é, a posição
relativa de cada elemento gráfico em relação aos restantes.
Embora as aplicações de análise espacial nos SIG ainda sejam limitadas,
estes sistemas dispõem de várias funções analíticas que servem à etapa
exploratória ou descritiva do processo de análise espacial.
Área I
Área II Área III
43
3.2. Concentrações de evidências líticas
Os artefatos líticos foram produzidos principalmente em sílex. Encontramos
diversos percutores, com marca de uso. O contexto arqueológico do sítio Ponte
Velha detém muitos aspectos de uma indústria lítica (percutores, lascas, estilhas,
ferramentas, etc).
O presente trabalho caracteriza-se pelo levantamento arqueológico preliminar.
Sabe-se muito pouco, das ocupações humanas anteriores a colonização no curso do
rio Piauí, no sudeste do Piauí. Principalmente, no que tange as questões intra-sítio.
82%
6%
7%
5%
Sílex (n=633)
Quartzo (n=44)
Quartzito (n=51)
Indefinido (n=40)
Gráfico 3: Matéria-prima das evidências líticas.
No gráfico 3, identificamos inúmeros tipos de matérias-prima empregadas na
elaboração de ferramentas líticas. O sílex encontra-se com predominância, em
especial – lascas. O quartzo foi utilizado principalmente em seixos (com e sem
marca de uso). Evidenciamos também percutores de quartzito que apresentavam
marca de uso.
44
Lasca de sílex Percutor Estilha Bloco Núcleo
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Gráfico 4:Conjunto arqueológico da indústria lítica.
No gráfico 4, observamos as quantificações das evidências líticas constatadas
no sítio Ponte Velha. As lascas de sílex constituem maior porcentagem das
evidências arqueológicas coletadas.
Os achados revelam a existência de grupos humanos na região há muitos
anos atrás. Para a identificação de um artefato lítico é necessário a identificação de
algumas características próprias, como o ponto de percussão (ponto onde ocorreu o
atrito para o lascamento da pedra), bulbo (parte saliente), estrias (marcas que
partem do ponto de percussão em forma de raios), ondas (marcas ondulares que
partem também do ponto de percussão), dentre outros aspectos que podem
evidenciar a sua autenticidade.
As classificações tipológicas das indústrias líticas são sempre predominantes.
Aspectos (descritivos) das técnicas líticas são fornecidos como informações
complementares às listagens tipológicas previamente expostas, por vezes um tanto
sucintas, por vezes multiplicando-se no detalhamento quantitativo de atributos
isolados, que não chegam propriamente a se articular dinamicamente, segundo as
45
possíveis etapas que culminariam nos instrumentos inicialmente listados (Prous e
Malta, 1991).
3.3. Áreas de atividades
A matéria prima majoritariamente utilizada pelos artesãos pré-coloniais foi o
sílex, disponível localmente.
As intervenções arqueológicas permitiram recuperar principalmente
instrumentos finalizados e detritos de lascamento referentes às fases finais de sua
confecção. Encontramos diversos núcleos e as lascas que serviriam como
ferramentas líticas.
Os núcleos eram encontrados localmente, assim como nossas observações
feitas em campo sugerem que as primeiras fases de produção eram realizadas nas
fontes mesmas de matéria prima.
Possivelmente, no contexto regional, grandes blocos desagregados seriam
explorados como núcleos.
O material, de modo geral, consiste em evidências de quartzo e sílex. A
grande maioria das peças são ferramentas de corte, o que pode indicar a utilização
delas, mas também de local de ocupação humanas pré-coloniais.
Uma observação merece então destaque: uma definição apenas morfológica
dos instrumentos líticos pode se revelar, como é, aliás, a regra, insuficiente para
caracterizar uma indústria lítica; variações, muitas vezes significativamente
expressivas do ponto de vista cultural, podem ser percebidas: na adaptação das
cadeias operatórias às circunstâncias do habitat, nos métodos de fabricação dos
instrumentos, nas estratégias de reaproveitamento dos utensílios (Perlès, 1992).
As três áreas de atividades do grupos humanos pré-coloniais foram as unidades
arqueológicas (N560-L100, N540-L100 e N520-L110). Nestas unidades
identificamos concentrações de evidências líticas, portanto um local com ocupação
humana pretérita. Empregamos uma enfoque intra-sítio dos artefatos líticos.
46
Figura 30: Quantificação e distribuição de amostras coletadas.
A imagem 30 apresenta a planta baixa do sítio Ponte Velha com as três áreas
de atividades, apresentando uma coloração escura, onde destaca-se as
concentrações de artefatos líticos. Problematizamos estas áreas de atividades como
sendo um local de produção de material lítico.
47
Figura 31: Planta baixa com três áreas apresentando ação antrópica.
Identificamos três áreas de atividades, ao norte, com concentrações de
artefatos líticos (com percurtores, núcleos, lascas, estilhas, etc.), como visualizamos
na figura 31.
Inferimos que no local ocorreu produção de material lítico. Temos diversos
indícios de uma indústria lítica. A declividade ao norte mostrou-nos que o arado com
tração animal não prejudicou as análises espaciais, pois as evidências líticas não se
encontram aleatórias, mas em concentrações arqueológicas.
48
CONSIDERAÇÕES
A pesquisa de campo fez-nos entender com mais eficácia, como estão
distribuídas as evidências arqueológicas e suas relações com o contexto ambiental.
Identificamos três áreas de concentração de artefatos líticos, com isso buscamos
entender se estas concentrações se referiam a áreas de atividade ou por outro lado
analisar se a dispersão aconteceu de forma aleatória.
A primeira temporada de campo permitiu verificar o potencial arqueológico do
sítio Ponte Velha. Apresentamos como sugestões novas pesquisas, com enfoque na
tecnologia lítica. O curso do rio Piauí, onde está situado este sítio, detém muitas
evidências de ocupações humanas pretéritas.
O sítio Ponte Velha está em um local de fácil acesso, na beira de uma estrada
de terra, próximo a BR-020. Não região, evidenciamos a estrutura arqueológica de
uma ponte de madeira (possivelmente Aroeira), utilizada em uma estrada muito
importante na região, antiga BR-020, que, ligava São Raimundo Nonato a outros
municípios locais. As madeiras da ponte estão sendo roubadas, ou até mesmo,
queimadas no próprio local, pela ação de vândalos.
Pretende-se com este trabalho abrir novas portas, para que outros
pesquisadores interessados no sítio Ponte Velha possam contribuir com novas
discussões. Toda a coleção esta organizada e disponível para estudo.
Recomenda-se ainda que trabalhos sejam realizados no sítio estudado.
Constatamos uma enorme diversidade de evidências arqueológicas em superfície:
ferramentas, núcleos, lascas (sílex, quartzo e quartzito), etc.
Por fim, divulgamos a investigação arqueológica em eventos científicos e para
comunidade regional.
49
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50
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MATÉRIA-PRIMA SÍLEX ( ) QUARTZO ( ) QUARTIZITO ( ) SILEXIXTO ( ) ARENITO ( )
PEÇA PREPARATÓRIA: NÚCLEO ( ) PERCUTOR ( ) BLOCO ( ) LASCA DE DESCORTICAMENTO ( )
PEÇA ACIDENTAL: LASCA SEM RETOQUE ( ) LAMELA ( ) ESTILHA ( ) FRAGMENTO ( )
PEÇA BRUTA ( ) PEÇA UTILIZADA ( ) PEÇA TALHADA / RETOCADA ( )
2ª TRIAGEM PROD. TALHE / RETOQUE: LASCA COM MARCA DE USO ( ) LASCA RETOCADA ( ) LASCA SEM MARCA DE USO ( )
CÓRTEX AUSENTE ( ) 50% ( ) MENOS DE 50% ( ) MAIS DE 50% ( ) TOTAL ( )
ARTEFATOS FURADOR ( ) FACA ( ) CHOPPING-TOOL ( ) CUNHA ( ) PONTA ( ) RASPADOR ( ) OUTROS ( )
DIMENSÕES EM MILÍMETROS
COMPRIMENTO REGISTRO FOTOGRÁFICO: ____________
LARGURA
ALTURA PESO EM GRAMAS: ___________________
DESENHO DA PEÇA OBSERVAÇÕES:
FORMULÁRIO DE ANÁLISE LÍTICASÍTIO PONTE VELHA 2012
Responsável: _____________________ Data: ___/___/_______ Unidade: _______________ Nº da peça: ________________
1 ª TRIAGEM
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