análise da participação de pequenas centrais hidrelétricas ... · santos, andressa soares dos....

88
Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação de Energia Andressa Soares dos Santos Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadores: Carmen Lúcia Tancredo Borges Leontina Maria Viana Graziadio Pinto Rio de Janeiro Setembro 2017

Upload: others

Post on 10-Jan-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no

Mecanismo de Realocação de Energia

Andressa Soares dos Santos

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Elétrica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientadores: Carmen Lúcia Tancredo Borges Leontina Maria Viana Graziadio Pinto

Rio de Janeiro

Setembro 2017

Page 2: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no

Mecanismo de Realocação de Energia

Andressa Soares dos Santos

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA ELÉTRICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL

DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA

Examinada por:

_______________________________________________

Prof. Carmen Lucia Tancredo Borges, D.Sc.

_______________________________________________

Prof. Leontina Maria Viana Graziadio Pinto, D.Sc

_______________________________________________

Prof. Djalma Falcão Mosqueira, Ph.D.

_______________________________________________

Prof. Glauco Nery Taranto, PhD.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

Setembro de 2017

Page 3: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

Santos, Andressa Soares dos.

Análise da participação de Pequenas Centrais

Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação de Energia/

Andressa Soares dos Santos – Rio de Janeiro: UFRJ/

ESCOLA POLITÉCNICA, 2017.

IV, 81 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadores: Carmen Lucia Tancredo Borges, Leontina

Maria Viana Graziadio Pinto

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Elétrica, 2017.

Referências Bibliográficas: p. 79-81.

1. Mecanismo de Realocação de Energia. 2. Risco

Hidrológico. 3. Estudo de Caso. I. Borges, Carmen Lucia

Tancredo et al.II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,

UFRJ, Engenharia Elétrica. III. Título.

2.

Page 4: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

i

Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço aos meus pais, André Luiz e Sandra de Cássia, por

terem me apoiado e incentivado ao longo de toda a minha vida. Também agradeço ao meu

irmão por sempre estar ao meu lado e torcer muito por mim.

Gostaria de agradecer a todos da Engenho, que me ensinaram muito e contribuíram

bastante para no início da minha vida profissional. Agradeço especialmente à Leontina, que

abriu diversas portas para mim e tem servido como uma grande fonte de inspiração.

Agradeço a todos os meus professores do Departamento de Engenharia Elétrica,

que foram vitais para minha formação acadêmica. Em especial, menciono a Professora

Carmen, que, além de ser minha orientadora neste projeto, foi minha professora em duas

das matérias que mais gostei no curso e as ministrou com dedicação e entusiasmo.

Por fim, menciono todos os meus companheiros de curso que passaram por esta

jornada junto comigo. Principalmente, minha amiga Anny Elena, que sempre esteve ao meu

lado e me ajudou sempre que precisei,

Page 5: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

ii

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Elétrico

Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

de Energia

Andressa Soares dos Santos

Setembro/2017

Orientador: Carmen Lúcia Tancredo Borges

Co-orientador: Leontina Maria Viana Graziadio Pinto

Curso: Engenharia Elétrica

O Sistema Elétrico Brasileiro apresenta uma matriz de geração bastante diversificada com

uma grande presença de fontes renováveis. Estas trazem insegurança para a operação do

sistema devido à incerteza da disponibilidade da fonte primária de energia. Nesse sentido,

as usinas termelétricas e as hidrelétricas com grandes reservatórios atuam no sentido de

fornecer segurança e confiabilidade no atendimento à carga. Estas últimas, entretanto, vêm

se tornando mais escassas no sistema, aumentando cada vez mais a complexidade e a

importância das decisões de despacho tomadas pelo ONS. A imprevisibilidade na geração

pode desestimular os investimentos no setor, pois grande parte dos contratos de energia

são por quantidade, ou seja, os geradores são obrigados a fornecer uma quantidade mensal

de energia para o comprador. A fim de reduzir uma parcela desse risco, foi criado o

Mecanismo de Realocação de Energia em 1998. Este busca compartilhar o risco hidrológico

entre todos os empreendimentos que o integram. O MRE é compulsório para todas as

usinas com despacho determinado pelo ONS e opcional para as PCHs. Nos últimos anos,

vem ocorrendo uma queda no GSF (Generating Scaling Factor), o que tem preocupado os

geradores hidrelétricos quanto à estabilidade financeira de seus empreendimentos. O

presente trabalho busca apresentar o MRE, contextualizando-o dentro do SIN e

apresentando a forma como ele é contabilizado pela CCEE. Além disso, é feita uma breve

discussão a respeito das questões atuais que envolvem o MRE e, por fim, é apresentado

um estudo de caso para avaliar as vantagens da participação de duas PCHs no mecanismo.

Palavras-chave: Mecanismo de Realocação de Energia, Risco hidrológico,

Comercialização de energia, Pequenas Centrais Hidrelétricas.

Page 6: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

iii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Engineer.

Analysis of the participation of Small Hydropower Plants in the Energy Reallocation

Mechanism

Andressa Soares dos Santos

September/2017

Advisor: Carmen Lúcia Tancredo Borges

Co-advisor: Leontina Maria Viana Graziadio Pinto

Course: Electric Engineering

The Brazilian Electric System has a very diverse generation matrix with an expressive

participation of renewable sources. These ones bring insecurity to system operation

because of the uncertainty about the availability of the primary source of energy. In this

sense, thermoelectric plants and hydroelectric plants with large reservoirs provide security

and reliability to meeting energy demand. However, hydroelectric plants with large reservoirs

are becoming scarcer, which increases the complexity and importance of dispatch decisions

taken by ONS. The generation unpredictability may discourage investments in the electricity

sector since a great part of the power purchase agreements are by quantity of energy. This

means that the generator has to provide an agreed value of energy each month to the buyer.

As an attempt to mitigate part of these risks, in 1998, the Energy Reallocation Mechanism

(MRE) was created. Through this mechanism, hydro plants that are part of MRE share the

hydrological risks among each other. Participation in MRE is mandatory for all hydropower

plants whose generation is determined by ONS, but it is optional to PCHs (small hydropower

plants). In the last few years, GSF (Generation Scaling Factor) has been decreasing, which

has been worrying hydro generators about the financial stability of their enterprises. The

current paper presents MRE, contextualizing it inside the National Integrated System (SIN)

and showing how it is accounted by CCEE. Besides, a brief discussion about the current

issues involving MRE is brought forward and, in the end, the paper presents a case study

to evaluate the advantages of two PCHs in participating in the mechanism.

Keywords: Energy Reallocation Mechanism, Hydrological risk, Energy commercialization,

Small Hydropower Plants.

Page 7: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

iv

Sumário 1. Introdução ....................................................................................... 1

2. O Sistema Elétrico Brasileiro ......................................................... 3

2.1 Planejamento da Operação ..................................................................... 5

2.2 Comercialização de Energia Elétrica ........................................................ 15

3. O Mecanismo de Realocação de Energia ................................... 26

3.1 Regras de Comercialização da CCEE sobre o MRE ........ 30

3.1.1 ENERGIA SECUNDÁRIA .............................................................................. 31

3.1.2 DEFICITS E SOBRAS DAS USINAS DO MRE ............................................. 33

3.1.3 NECESSIDADES DE COBERTURA DE GARANTIAS FÍSICAS POR

SUBMERCADO ....................................................................................................... 34

3.1.4 COBERTURA DOS DÉFICITS APURADOS ................................................. 35

3.1.5 ATENDIMENTO DO DIREITO A ENERGIA SECUNDÁRIA.......................... 36

3.1.6 DETERMINAÇÃO DOS AJUSTES TOTAIS DO MRE ................................... 38

3.1.7 COMPENSAÇÃO DA GERAÇÃO NO MRE .................................................. 40

3.1.8 CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE CONTABILIZAÇÃO .......... 41

3.2 Situação atual do GSF....................................................... 42

4. Estudo de Caso ............................................................................ 50

4.1 Dados de Entrada ................................................................................. 51

4.1.1 GERAÇÃO E GARANTIA FÍSICA PASSADOS ............................................. 51

4.1.2 DESPACHO FUTURO DOS SUBSISTEMAS ............................................... 52

4.1.2.1 Cenários Escolhidos ...................................................................... 55

4.1.3 GARANTIA FÍSICA FUTURA SAZONALIZAA DOS SUBISISTEMAS .......... 56

4.1.4 GERAÇÃO FUTURA E GARANTIA FÍSICA SAZONALIZADA DE QUELUZ E

LAVRINHAS ............................................................................................................ 57

4.1.5 PARTICIPAÇÃO DE ITAIPU .......................................................................... 57

4.1.6 TARIFA DE OTIMIZAÇÃO DE ENERGIA ...................................................... 58

4.2 Dados de Entrada ................................................................................. 59

4.2.1 PASSADO ...................................................................................................... 59

4.2.2 CENÁRIOS FUTUROS .................................................................................. 65

5. Conclusão ..................................................................................... 75

Referências Bibliográficas................................................................78

Page 8: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

1

1. Introdução

O Sistema Elétrico Brasileiro é predominantemente hidrotérmico, o que aumenta a

complexidade do despacho de geração, já que o recurso energético das hidrelétricas é a

água, cuja disponibilidade depende do regime de chuvas. A decisão presente em relação a

turbinar ou armazenar a água de uma usina hidrelétrica depende da expectativa futura de

afluências, ou seja, é acoplada no tempo. Esta decisão não é tomada pelo próprio dono do

empreendimento, mas pelo Operador do Sistema, que avalia qual é a opção que trará os

maiores benefícios econômicos e garantirá a segurança de suprimento para o sistema

como um todo.

A interligação nacional do sistema elétrico permite que, em momentos em que haja

abundância de recursos energéticos em uma região do país, economize-se a água das

demais regiões. Essa característica é benéfica para a operação, porém torna a

comercialização de energia por parte dos empreendimentos hidrelétricos complexa, pois

sua geração não depende apenas do histórico de vazões do rio em que estão localizados,

mas também do ganho que sua geração traria para o sistema de modo geral.

A fim de mitigar os riscos inerentes à operação comercial deste tipo de

empreendimento, foi criado o Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), que faz com

que, ao fim de cada período de contabilização, cada usina pertencente a ele receba seu

nível de garantia física nivelado pelo desempenho conjunto de todas as usinas pertencentes

ao mecanismo.

A participação no MRE é compulsória para todas as usinas hidrelétricas que

possuem despacho centralizado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), ou seja, que

possuem sua geração determinada pelo Operador. As Pequenas Centrais Hidrelétricas

(PCHs), que são empreendimentos hidrelétricos com potência instalada menor ou igual a

30 MW, não fazem parte desta modalidade de despacho, pois são de pequeno porte e, por

isso, não possuem reservatórios de regulação e sua operação não afeta de forma

significativa a operação das usinas localizadas no mesmo rio que elas. Dessa forma, sua

participação no MRE é opcional, cabendo ao dono da PCH determinar se a melhor

estratégia comercial para ele será integrar ou não o bloco de usinas participantes.

O presente trabalho busca realizar uma discussão sobre o mecanismo, sua

motivação e forma de aplicação, assim como abordar sucintamente a atual situação que

abrange as usinas participantes. Além disso, será realizado um estudo de caso a fim de

Page 9: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

2

avaliar de forma teórica as vantagens da permanência de duas PCHs, Queluz e Lavrinhas,

no MRE a partir de seu desempenho passado e de projeções futuras.

No Capítulo 2 será apresentado um panorama do Sistema Elétrico Brasileiro,

englobando uma introdução aos principais agentes institucionais que atuam para o

funcionamento integrado do sistema; uma explicação geral sobre a forma como é feita a

operação e a comercialização no SIN, de forma a enriquecer a compreensão sobre o MRE,

as razões de sua existência e os principais conceitos envolvidos.

No Capítulo 3 será dado um enfoque no próprio Mecanismo de Realocação de

Energia, expondo o que é o mecanismo, como é feita sua contabilização pela Câmara de

Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e as principais questões que o envolvem

atualmente.

No Capítulo 4 será apresentado o estudo de caso a respeito da participação das

PCHs Queluz e Lavrinhas no MRE. Para isso, serão apresentados os dados de entrada

utilizados e os resultados numéricos obtidos. Neste capítulo também serão explicitadas as

premissas adotadas e as simplificações realizadas. Os resultados do estudo de caso serão

apresentados tanto em função do fluxo de energia das PCHs quanto em função dos seus

resultados financeiros. Os dados numéricos obtidos serão analisados focando nas

vantagens ou desvantagens que o mecanismo traz para cada um dos empreendimentos.

O Capítulo 5 apresentará as conclusões finais acerca dos resultados do trabalho,

comentando sobre a decisão obtida a respeito da permanência das PCHs no MRE

baseadas nas saídas do estudo de caso. Além disso, serão feitas considerações a respeito

de outros fatores a serem levados em conta dado o atual processo de reestruturação que

o Sistema Elétrico vem passando nos dias atuais.

Page 10: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

3

2. O Sistema Elétrico Brasileiro

O atual Modelo do Setor Elétrico Brasileiro teve início em 2004 e foi resultado de um

processo de reestruturação em resposta ao racionamento ocorrido em 2001. Os principais

objetivos deste modelo são: a modicidade tarifária, a confiabilidade no suprimento de

energia e a universalização de seu acesso (TOLMASQUIM, 2015).

Para o funcionamento harmonioso deste novo sistema, é necessária a atuação

integrada de diversos agentes com diferentes objetivos e atribuições. Podemos citar como

agentes institucionais do Setor Elétrico: o Conselho Nacional de Política Energética

(CNPE), o Ministério de Minas e Energia (MME), o Comitê de Monitoramento do Setor

Elétrico (CMSE), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Empresa de Pesquisa

Energética (EPE), o Operador Nacional do Sistema (ONS) e a Câmara de Comercialização

de Energia Elétrica (CCEE).

É necessário haver investimento constante no setor para que haja geração de

energia suficiente para atendimento à carga e meios físicos para que esta chegue ao seu

consumidor final. Ao mesmo tempo, esta energia deve ser vendida a um preço que os

usuários possam pagar. Deve haver um esforço no sentido de equilibrar o interesse dos

agentes que fornecem os serviços de geração, transmissão e distribuição, que visam ao

lucro, e os consumidores finais, que desejam pagar a menor tarifa possível. A seguir, será

feito um resumo de algumas das principais características destes órgãos de forma a

explicitar um pouco melhor a forma como o Novo Modelo lida com essas questões.

O CNPE foi criado pela Lei nº 9.478/1997 e regulamentado pelo Decreto nº

3.520/2000. É um órgão do governo ligado à Presidência da República e presidido pelo

ministro de Minas e Energia. Seu papel é estabelecer diretrizes para garantir o uso

apropriado dos recursos energéticos do país. No âmbito do setor de energia elétrica, é o

órgão responsável por indicar a necessidade dos Leilões Estruturantes e possui a obrigação

de estabelecer critérios para garantia do suprimento e manutenção da modicidade tarifária

(TOLMASQUIM, 2015).

As indicações feitas pelo CNPE são traduzidas em políticas pelo Ministério de Minas

e Energia. O Ministério exerce o papel de Poder Concedente no setor de energia elétrica.

Ele tem como atribuições o estabelecimento de diretrizes para os leilões de energia, a

celebração dos contratos de concessão e a expedição dos atos autorizativos e as definições

das garantias físicas dos empreendimentos (TOLMASQUIM, 2015).

Page 11: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

4

O CMSE, criado pela Lei nº 10.848 de 2004 e constituído pelo Decreto nº 5.175, tem

o papel de fiscalização das atividades de geração, transmissão, distribuição,

comercialização, importação e exportação de energia elétrica, gás natural, petróleo e seus

derivados. Ao identificar alguma situação de risco de suprimento, o CMSE deve criar

propostas de ações para manter ou restaurar a segurança do atendimento e encaminhá-

las ao CNPE (TOLMASQUIM, 2015).

A ANEEL é o órgão regulador do Setor Elétrico e está vinculada ao MME. Apesar

disto, há autonomia de gestão e suas decisões são independentes. Dentre as diversas

responsabilidades da ANEEL, podemos mencionar a regularização da geração,

transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica; a fiscalização de

concessões, de permissões e dos serviços de energia elétrica; a implementação de

políticas e diretrizes do governo federal relativas à exploração de energia elétrica e ao

aproveitamento dos potenciais hidráulicos; o estabelecimento de tarifas; a intermediação

de divergências entre os agentes do setor elétrico e a promoção de atividades de outorgas

de concessão, permissão e autorização de empreendimentos e serviços de energia elétrica

por delegação do Governo Federal (ANEEL, 2017).

A EPE foi uma instituição criada no Novo Modelo com a função de exercer as

atividades de estudos para o planejamento da matriz energética, objetivando a expansão

do sistema e a redução dos riscos de racionamento ou cortes de carga. A EPE é a

responsável por elaborar o Plano Decenal de Energia (PDE), o Plano Nacional de Energia

(PNE) e o Programa de Expansão da Transmissão (PET). Esses estudos, de longo prazo,

mapeiam as necessidades futuras para a expansão do Sistema Interligado. Ela também é

encarregada de calcular o Custo Marginal de Expansão, que será mencionado mais adiante

(TOLMASQUIM, 2015).

O ONS foi criado pela Lei nº 9.684/1998 e é uma pessoa jurídica de direito privado,

sem fins lucrativos, cuja função é coordenar a operação dos Sistema Interligado Nacional

(SIN). Suas principais atribuições são o planejamento e a programação da operação do

Sistema, realizando o despacho centralizado de diversos agentes geradores. Também

realiza atividades de supervisão e controle das operações do SIN e das interligações

internacionais. O ONS realiza estudos de forma a propor reforços na rede (TOLMASQUIM,

2015).

A CCEE foi criada por meio da Medida Provisória nº 144/2003, posteriormente

convertida na Lei nº 10.848/2004 e substituiu o antigo Mercado Atacadista de Energia. Ela

é responsável por fiscalizar e coordenar todas as atividades relacionadas à comercialização

Page 12: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

5

de energia, tanto no Ambiente de Contratação Regulada (ACR) como no Ambiente de

Contratação Livre (ACL). Ela é responsável pela liquidação financeira dos valores de

compra e venda de energia. Para realização dessas atividades, ela também se encarrega

da medição dos montantes gerados, do registro de todos os contratos em ambos os

ambientes de contratação e do cálculo do Preço de Liquidação de Diferenças. Para garantir

a segurança do suprimento de energia e possibilitar a liquidação de todas as quantidades

contratadas, a CCEE também é responsável pela contratação de Energia de Reserva e por

manter a Conta de Energia de Reserva (CONER) (TOLMASQUIM, 2015).

Todos esses agentes possuem uma série de atribuições que vão bem além das que

foram brevemente expostas. Apesar de possuírem autonomia em suas operações, todos

eles conversam e atuam de forma integrada para que haja garantia de atendimento à carga

sem que haja tarifas extremamente elevadas.

Para a realização da discussão de que trata o presente trabalho, é importante se

entender sobre a forma como se dá a operação física do sistema e também as diretrizes

gerais que regem a comercialização de energia. Estes dois tópicos serão brevemente

abordados antes de explicarmos em detalhes as Regras de Comercialização que envolvem

o Mecanismo de Realocação de Energia.

2.1 Planejamento da Operação

A matriz energética brasileira é bastante diversificada. Verifica-se um domínio das

chamadas fontes renováveis, que compreendem a energia proveniente de fontes hidráulica,

eólica, solar e também térmica a biomassa.

Figura 1: Capacidade Instalada no Brasil em 2012 e 2017. Fonte: Elaboração própria a partir de

dados da ANEEL.

Page 13: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

6

Apesar dessa diversidade de fontes, a ascensão das fontes eólicas, solar e

biomassa ainda pode ser considerada recente. A geração solar de grande porte ainda é

muito incipiente e este tipo de fonte ainda está mais presente em instalações menores,

principalmente no âmbito da geração distribuída. Já a energia eólica vem apresentando um

crescimento bastante expressivo nos últimos anos, representando mais de 6,5% da matriz

de energia elétrica atualmente, segundo dados do Banco de Informações de Geração (BIG)

da ANEEL.

Juntamente com o crescimento dessas fontes, há a redução na expansão de usinas

hidrelétricas com reservatórios. Segundo o PDE 2024, a expansão hidrelétrica é estimada

em 28,35 GW. No entanto, o acréscimo na capacidade de armazenamento é apenas de

cerca de 2,6 GW médios (EPE, 2015). Assim, há um crescimento expressivo da capacidade

instalada para atender à uma demanda também crescente, porém, a possibilidade de se

“estocar” o recurso hídrico se torna proporcionalmente reduzida.

Os reservatórios funcionam como “baterias” para o SIN. Devido à imprevisibilidade

das afluências que chegam às bacias das usinas, é importante ter um meio de manter a

geração hidrelétrica mesmo em períodos mais secos. Essa questão possui um viés tanto

ambiental quanto econômico.

As grandes usinas hidrelétricas, por serem construções de grande porte que exigem

construção de barragens e o alagamento das áreas próximas, possuem um custo de

investimento bastante elevado. No entanto, uma vez construído o empreendimento, os

custos de manutenção e operação são bem pequenos. Para fins de planejamento da

operação, considera-se que as hidrelétricas possuem um custo de operação presente nulo,

pois ele varia muito pouco em função da quantidade de energia gerada e não há custo

adicional com combustível, pois o recurso energético é a água.

Em períodos secos, a alternativa à geração hidráulica é acionar as usinas térmicas.

Estas, além de serem muito mais poluentes, possuem um custo de investimento baixo e

um custo variável alto. Esse custo varia em função do tipo de combustível utilizado por cada

usina. Entretanto, no Plano Decenal de Energia, prevê-se uma expansão baseada

principalmente no gás natural, que é menos poluente do que outros combustíveis fósseis,

como o carvão mineral, óleo diesel e outros derivados do petróleo.

O carvão mineral está presente em abundância no Brasil, mas é também o

combustível que mais polui. Além disso, ele é combustível de usinas a vapor, que são

menos eficientes do que usinas a gás ou a ciclo combinado. O gás natural, apesar de emitir

menos gases poluentes, possui produção nacional limitada, tendo, muitas vezes, que ser

Page 14: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

7

importado de países como a Bolívia, o que faz com que seu preço esteja fortemente

indexado à variação do câmbio, que, especialmente na situação política atual, é bastante

imprevisível (TOLMASQUIM, 2016).

A geração baseada nos ventos, na energia luminosa do Sol e a térmica à biomassa

também possui um custo de operação baixo, já que os ventos e a luz são recursos

presentes na natureza e a biomassa em geral utiliza-se de resíduos que seriam

descartados. No entanto, considera-se que essas fontes são não despacháveis. Isto quer

dizer que não se pode programar a operação dessas usinas em função da grande

variabilidade da energia primária de cada uma delas.

A biomassa é um pouco mais controlável, mas esta possui uma sazonalidade

extremamente acentuada. No Brasil, o principal produto de usinas térmicas a biomassa é o

bagaço-de-cana, que possui uma disponibilidade restrita a determinado período do ano

dependendo da região (TOLMASQUIM, 2016).

Na lista de usinas não despacháveis, podemos incluir as Pequenas Centrais

Hidrelétricas e as Centrais Geradoras Hidrelétricas, que são empreendimentos de geração

a partir de fonte hidráulica com potência instalada inferior a 30 MW e 1 MW,

respectivamente. As PCHs e CGHs não possuem reservatórios, atuando como usinas a fio

d’água. Esses empreendimentos não necessitam de uma altura de queda elevada e sua

construção possui baixo impacto ambiental. Os donos desses empreendimentos, inclusive,

podem atuar como autoprodutores, gerando energia apenas para seu próprio consumo.

Em países com uma matriz majoritariamente térmica, a operação econômica do

sistema envolve um grau de complexidade menor do que sistemas hidrotérmicos. As usinas

são despachadas do menor para o maior preço, respeitando-se as restrições elétricas da

rede, os custos de ligamento e desligamento das máquinas e o tempo de tomada de carga.

Assim, excetuando-se os intervalos de tomada de carga e de parada, a operação de um

sistema térmico é desacoplada no tempo; ou seja, a decisão das usinas que geram em um

instante de tempo não afeta o despacho do instante seguinte.

Um sistema hidrotérmico inclui uma série de outras considerações. Devido ao

desconhecimento das condições hidrológicas, a decisão de usar a água hoje pode impactar

seriamente no custo de operação futuro. Esta afirmação só é válida para sistemas com

capacidade de regularização, pois a opção da não geração por fonte hidráulica só resulta

em uma economia futura se este volume “poupado” puder ser usado posteriormente.

Além do acoplamento temporal, também temos um acoplamento espacial. O

Sistema Elétrico Brasileiro possui como forte característica a existência de usinas

Page 15: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

8

hidrelétricas em cascata. Dessa forma, num mesmo rio, podemos ter diversas usinas

localizadas em diferentes níveis. Estocar água numa usina localizada à montante do rio

(nível superior) afeta na geração das usinas à jusante (nível inferior), pois a quantidade de

água que chega para estas é menor do que seria se a usina a montante decidisse turbinar

a água ou até mesmo vertê-la.

O despacho da geração também deve considerar o uso múltiplo da água. Este

recurso é vital para a manutenção da vida de qualquer sociedade. Além da geração de

energia elétrica, a água disponível também deverá ser usada para a pesca, irrigação,

navegação, saneamento, entre outros. Esses aspectos representam restrições adicionais à

quantidade de água que poderá passar pelas turbinas. Cabe ao ONS determinar a

quantidade que cada usina deverá gerar, buscando coordenar o uso múltiplo da água de

maneira a garantir a operação mais econômica e reduzir o risco de déficit.

Apesar da integração nacional do Sistema Elétrico adicionar uma grande

complexidade à operação, ela possui como vantagem o aproveitamento da

complementaridade das vazões das diversas regiões do país.

O SIN é comumente repartido em quatro grandes regiões, também chamadas de

subsistemas ou submercados, quais sejam: Sudeste/Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte.

Cada região possui suas particularidades. O subsistema Sudeste/Centro-Oeste é onde se

concentra a maior parte da carga do SIN e também é o que possui maior capacidade de

armazenamento. O regime de vazões dos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste, Norte e

Nordeste possuem uma sazonalidade parecida, possuindo seus períodos úmidos

concentrados nos meses de dezembro a abril. Já as bacias do Sul são complementares

com as demais regiões, tendo seu período úmido de junho a novembro. Podemos observar

esta característica na Figura 2, que apresenta a Média de Longo Termo (MLT) das energias

afluentes dos subsistemas.

Page 16: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

9

Figura 2: Média de Longo Termo das ENAs dos subsistemas a partir de 29/04/2017. Fonte:

Elaboração própria a partir de dados do ONS.

No PDE, grande parte da expansão hidrelétrica prevista se encontra na região

Norte, que possui uma abundância de bacias hidrográficas e é a região que possui maior

disponibilidade de recurso não explorado. Ela também é a região que apresenta a menor

carga. Assim, o subsistema Norte age como exportador para as demais áreas durante a

maior parte do tempo. A região Sul pode exportar energia para as demais em seu período

chuvoso, evitando o excessivo desperdício do recurso hídrico por meio de vertimentos.

Simplificando, o dilema do operador do sistema consiste em decidir se a energia

usada para atender à carga será proveniente de usinas térmicas ou hidrelétricas. Se

gerarmos por meio de hidrelétricas e, no futuro, houver vazões abundantes, então a decisão

tomada foi correta. Caso o futuro apresente secas, grande parte da geração será derivada

de térmicas, tanto das mais baratas quanto de térmicas mais caras. Antecipando esse

cenário, a decisão mais econômica seria gerar a partir das térmicas mais baratas no

presente e no futuro. Numa situação extrema, as secas poderiam levar ao corte de carga.

Em contrapartida, num primeiro momento, sendo conservador, o operador poderia

optar por acionar diversas térmicas antevendo uma situação de seca rigorosa. Caso esse

cenário se confirme, sua cautela terá sido recompensada. Todavia, se houver chuvas em

Page 17: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

10

excesso, essas térmicas terão gerado mais do que o necessário, encarecendo a operação,

e haverá vertimento por parte das hidrelétricas, o que também configura desperdício.

As usinas térmicas são despachadas pela chamada ordem de mérito. Isto significa

que as térmicas mais baratas são chamadas para gerar antes das mais caras. Elas são

classificadas por ordem de CVU (Custo Variável Unitário). Este custo engloba todos os

custos operacionais da usina que não estão inclusos na Receita Fixa, tais como o custo do

combustível e os custos de operação e manutenção associados à geração flexível de

energia elétrica. Os procedimentos de cálculo do CVU para fins de despacho estão

definidos no art. 3º da portaria do MME nº 42, de 1º de março de 2007. Este custo leva em

consideração o preço de referência de cada tipo de combustível, assim como a taxa de

câmbio destes.

Por esta lógica, as hidrelétricas deveriam ser despachadas quando seu valor fosse

inferior ao custo das térmicas. Qual seria então o “valor da água”? O valor da água

representa o quanto a decisão de gerar um MW a mais de água hoje encarecerá a operação

futura do sistema.

O planejamento da operação do Sistema Elétrico se trata de um problema de

otimização, cujo objetivo é minimizar os custos do parque gerador. Este problema engloba

restrições de segurança, incluindo um custo de déficit e uma curva de aversão ao risco para

reduzir o corte de carga.

Queremos minimizar uma função custo, que considera que o preço da geração

térmica é equivalente ao CVU delas e a geração hidrelétrica possui custo nulo, mas a

utilização da água impacta no custo de operação de outros intervalos de tempo. Dessa

forma, possuímos um custo imediato, que equivale à utilização das térmicas e um custo

futuro, relacionado com a expectativa de despacho térmico.

A Figura 3 representa a composição dos custos de operação do sistema em função

do volume final do reservatório. Se resolvermos deplecionar o reservatório (volume final

nulo), teremos um custo imediato baixo, pois estaremos utilizando a água para atendermos

à demanda. Já o custo futuro será elevado, pois não teremos mais recurso hídrico no final

do período considerado. Caso resolvamos estocar toda a água no reservatório, teremos um

custo imediato elevado, pois estaremos fazendo uso das térmicas. O custo futuro, em

compensação, será pequeno.

Page 18: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

11

Figura 3: Representação dos custos envolvidos no planejamento da operação.

A derivada da função Custo Imediato representa o custo de geração térmica ou o

custo de déficit. Já a da função custo futuro, equivale ao custo ou valor da água. O ponto

ótimo da operação é aquele em que essas derivadas se anulam (CCEE/ONS, 2016).

Apesar de o problema ter uma conceituação relativamente simples, a obtenção da função

custo futuro envolveria um conhecimento das afluências que ocorrerão. No entanto, as

vazões de água que chegam aos rios possuem um alto grau de incerteza.

Estudos realizados a partir do histórico de vazões disponíveis desde 1931

permitiram estudar o comportamento estatístico desse fenômeno. Foi selecionado o modelo

autorregressivo periódico para se ajustar às séries conhecidas. A sazonalidade marcante

dos regimes de vazões é o motivo para a escolha de um modelo periódico. Por meio do

modelo estocástico, é possível definir-se uma quantidade bem grande de hipóteses de

afluências. O cálculo do Custo Futuro pode ser feito acompanhando cada uma dessas

hipóteses e obtendo-se a média de todas elas, resultando, assim, num Custo Futuro Médio

(CCEE/ONS, 2016).

É possível utilizar-se séries sintéticas, geradas a partir de modelos probabilísticos

de vazões, ou séries históricas para a simulação da operação futura do sistema. A

representação por séries históricas significa adotar a hipótese de que uma condição de

hidrologia passada voltaria a ocorrer no futuro. Este método resulta em um tratamento

determinístico do problema, pois assume-se conhecidas as afluências futuras. As séries

sintéticas resultam em uma árvore de afluências e cada nó desta árvore abre-se em

Page 19: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

12

diversas possibilidades. Essas possibilidades estão associadas a uma probabilidade de

ocorrência. Esta abordagem estocástica é a utilizada para no planejamento da operação

energética por se considerar que ela representa melhor a incerteza da hidrologia

(CCEE/ONS, 2016).

O Operador Nacional do Sistema utiliza uma série de modelos computacionais para

planejar a operação. Cada um dos programas utilizados possui uma discretização distinta

e diferentes níveis de simplificação do problema. Os resultados dos programas com uma

modelagem mais ampla e horizonte de estudo mais longo fornecem insumos para os mais

detalhados e com horizonte de estudo mais curto. Assim, é possível modelar um problema

de grande porte com menos esforço computacional.

Figura 4: Cadeia de Modelos para Planejamento e Programação da Operação. Fonte: Elaboração

própria a partir de informações do Cepel.

Os principais programas que regem o planejamento da operação são o NEWAVE,

o DECOMP e o DESSEM, desenvolvidos pelo Centro de Pesquisas de Energia Elétrica -

CEPEL. Baseando-se no período seco mais longo da região Sudeste/Centro-Oeste, o

planejamento da operação é feito olhando-se cinco anos à frente. Esse horizonte de médio

prazo é adotado pelo NEWAVE. Nele, os intervalos de tempo são separados em etapas

mensais. O DECOMP é utilizado para o planejamento de curto prazo, cujo horizonte é de

apenas alguns meses (de dois a seis) discretizados em intervalos semanais. A

programação diária é feita por meio do DESSEM, que tem um horizonte de uma semana e

cada período está espaçado de trinta minutos (CCEE/ONS, 2016).

O NEWAVE e o DECOMP são utilizados pelo ONS e pela CCEE, tendo passado

por processos de validação na ANEEL com participação de outros agentes de todos os

Page 20: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

13

setores da área de energia (geração, transmissão, distribuição e comercialização)

associados a ambas as instituições. O DESSEM foi validado em 2013 e está em processo

de implantação (CCEE/ONS, 2016).

O NEWAVE não representa as usinas de forma individualizada, agregando todas

elas em reservatórios equivalentes de energia. Os reservatórios adotados são similares à

divisão do SIN em subsistemas. Nestes reservatórios, nós temos uma equação de balanço

hídrico.

A energia armazenada é a energia que pode ser gerada através do

deplecionamento dos reservatórios. Além da energia dos reservatórios, há ainda as vazões

que afluem nos reservatórios de todas as usinas em cada instante de tempo. Esta energia

afluente é separada em uma parcela controlável, relacionada com a decisão de estocar ou

armazenar a água e uma parcela à fio, que representa a água que chega para as usinas à

fio d’água. A água que chega para este último conjunto de usinas não pode ser estocada,

devendo ser turbinada ou vertida. Também é transformada em energia a vazão mínima, o

desvio de água (relacionado com os demais usos da água) e a evaporação (CCEE/ONS,

2016).

As usinas que não são despachadas centralizadamente pelo ONS não fazem parte

das usinas que são agregadas em reservatórios equivalentes. Este é o caso de PCHs, por

exemplo. Essas usinas, assim como as usinas eólicas, solar e térmicas à biomassa são

referidas como “Pequenas Usinas” ou “Usinas não Simuláveis Individualmente”. O ONS

estima a produção futura dessas usinas baseada no histórico de geração a partir dos dados

fornecidos pela CCEE e pelos agentes de distribuição através da ANEEL. A partir desses

dados, é calculado um fator de capacidade baseado no tipo de fonte e na região. A geração

dessas usinas é abatida diretamente da demanda nos programas computacionais.

A transformação da água em energia depende da altura de queda da mesma. Como

não se sabe o nível de armazenamento da água quando a vazão chega ao reservatório, a

conversão desta em energia controlável é feita considerando-se 65% do volume útil dos

reservatórios. A conversão também é feita para 0% e 100% do nível dos reservatórios. Com

estes três pontos, é possível aproximar-se uma parábola para corrigir a Energia Controlável,

uma vez conhecido o nível de armazenamento do reservatório. O recurso da parábola

também é utilizado para a Energia de Evaporação, para a Energia de Vazão Mínima e para

a energia relacionada aos demais usos da água (CCEE/ONS, 2016).

Até a vigésima edição do NEWAVE, os reservatórios equivalentes de energia eram

divididos da mesma forma que a repartição entre os quatro subsistemas. No entanto, o

Page 21: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

14

Despacho SRG/ANEEL nº 3.276, de 22 de setembro de 2015 aprovou a utilização de nove

reservatórios equivalentes. Além dos quatro subsistemas, também foram incorporadas as

bacias hidrográficas de Itaipu, do Rio Madeira, do Paraná, de Teles Pires e de Belo Monte,

que possuem comportamento bem característico. Cada um desses reservatórios possui

sua própria equação de balanço hídrico. Entretanto, para a condição de atendimento à

demanda, eles são reagrupados nos quatro subsistemas originais (CCEE/ONS, 2016).

Na representação dos REEs (reservatórios equivalentes de energia), as restrições

elétricas internas de cada região não são representadas. Apenas são consideradas aquelas

referentes aos troncos de transmissão entre os subsistemas. O NEWAVE começa sua

execução com o cálculo dos parâmetros de energia para a montagem do Sistema

Equivalente. Em seguida, são gerados cenários sintéticos de energia afluente para a

execução do algoritmo. Após sua convergência, é obtida a Função de Custo Futuro, que

fornece o valor da água (CCEE/ONS, 2016).

O primeiro mês do DECOMP é dividido em etapas semanais. As afluências nestas

primeiras semanas são consideradas conhecidas. Desta forma, recebem um tratamento

determinístico. A partir do primeiro mês, é levada em conta a árvore de afluências baseadas

nas séries sintéticas. O custo futuro dos estados ao fim do horizonte do DECOMP provém

do NEWAVE.

O DECOMP trata as usinas hidrelétricas de forma individualizada. A produtibilidade

das usinas, que representa o quanto sua capacidade de turbinamento varia em função da

altura de queda de seus reservatórios, é tratada como uma função linear por partes para

contornar a impossibilidade de sua representação num problema de Programação Linear.

O DECOMP também considera o tempo de viagem da água, enchimento do volume morto,

geração em pequenas bacias, indisponibilidade de unidades geradoras, entre outras

restrições que enriquecem a modelagem do problema (CCEE/ONS, 2016).

O resultado do DESSEM é utilizado pelo ONS na publicação do Programa Mensal

da Operação do Sistema Interligado (PMO). Este documento procura estabelecer metas e

diretrizes energéticas de curto prazo para garantia da otimização dos recursos de geração

disponíveis.

Em ambos os programas as usinas térmicas são modeladas individualmente. O

corte de carga é representado como uma térmica adicional, cujo “preço” é dado pelo custo

de déficit, que é fixado por resolução da ANEEL.

Um resultado importante para do processo do planejamento da operação é o Custo

Marginal de Operação (CMO). Este valor representa qual seria o gasto adicional de se

Page 22: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

15

atender a um MW a mais de demanda no sistema. O valor do CMO será dado pelo valor do

próximo recurso a ser utilizado para suprir esta carga adicional. Se houver água abundante

nos reservatórios, o CMO será o valor da água. Caso este consumo extra seja atendido

com geração térmica, ele será o CVU da próxima térmica a ser despachada. Este parâmetro

é um indicador significativo da situação energética do Sistema. Em períodos de hidrologia

adversa, o CMO se eleva, indicando que a operação do sistema está mais cara. Quando o

valor do CMO é baixo, as condições climáticas estão favoráveis à geração de energia.

Neta seção, foi apresentada de uma forma breve as questões envolvidas na

operação do SIN. A modelagem matemática do problema é complexa e precisa ser

decomposta em uma cadeia extensa de programas de forma que o sistema físico possa ser

representado de maneira adequada e com esforço computacional viável. Os dados de

entrada dos modelos necessitam de uma colaboração e coordenação entre as diversas

entidades discutidas no início do trabalho para que haja abrangência e unicidade de

informação. As premissas adotadas também estão sujeitas à aprovação do Ministério de

Minas e Energia ou da ANEEL e podem sofrer modificações de acordo com o julgamento

do CNPE.

As incertezas envolvidas em todo este processo poderiam desestimular a

participação de agentes econômicos. Apesar de a comercialização de energia ter uma forte

relação com a operação real do sistema, há uma série de mecanismos que auxiliam na

realização das transações financeiras no mercado de energia. A seção seguinte abordará

um pouco como está estruturada a comercialização de energia no Sistema Elétrico

Brasileiro.

2.2 Comercialização de Energia Elétrica

Até o início da década de 1990, o modelo do setor elétrico no Brasil era baseado

em empresas verticalizadas, que detinham o monopólio das áreas de geração, transmissão

e distribuição de energia. O Estado tinha um forte poder regulatório sobres essas

atividades, detendo as outorgas e concessões de todos os segmentos. Em 1980, eclodiu

uma crise motivada pela falta de financiamento na expansão do setor. Inspirado pelo

movimento de privatização oriundo dos demais países no mesmo período, na década de

1990, iniciou-se um processo de reestruturação do setor. Esse movimento buscou a livre

comercialização de energia no Sistema Interligado Nacional (TOLMASQUIM, 2015).

Page 23: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

16

A reforma foi marcante por separar a geração e a comercialização da transmissão

e distribuição. Neste período foi criado o Mercado Atacadista de Energia Elétrica (MAE),

que funcionava como um Mercado Livre de energia. No entanto, antes mesmo do término

do processo de transição entre os modelos, houve o racionamento de 2001, cujo um dos

principais motivos foi a falta de investimento em geração. Com o racionamento, surgiu mais

uma vez a necessidade de repensar a organização do Setor Elétrico Brasileiro. O modelo

que se seguiu, como mencionado, é o que está vigente até o momento.

Uma característica mantida da reforma dos anos 1990 foi a segmentação das áreas

de geração e comercialização das de transmissão e distribuição. Estas duas últimas são

consideradas monopólios naturais, detendo o controle das áreas de sua concessão. Por

este motivo, para se manter a qualidade dos serviços e a modicidade tarifária, são setores

fortemente regulados. A geração e a comercialização, por sua vez, são segmentos cuja

competitividade é estimulada. A disputa entre os diversos agentes geradores promoveria

um constante investimento no setor e a disputa por mercado resultaria em preços mais

acessíveis.

Junto com o novo modelo, foram criados dois ambientes de contratação de energia

elétrica: o Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e o Ambiente de Contratação Livre

(ACL). De acordo com o Decreto 5.163/2004, o ACR é o segmento do mercado no qual se

realizam as operações de compra e venda de energia entre agentes vendedores e agentes

de distribuição, precedidas de licitação, ressalvados casos previstos em lei. Já o ACL, é

onde se realizam as operações de compra e venda por meio de contratos bilaterais,

livremente negociados.

Em 2003, foi criada a CCEE para viabilizar a comercialização do SIN, tanto no ACR

quanto no ACL. Os agentes obrigatórios da CCEE são, segundo a Convenção de

Comercialização de Energia Elétrica:

concessionários, permissionários ou autorizados de geração que possuam central

geradora com capacidade instalada igual ou superior a 50 MW;

autorizados para importação ou exportação de energia elétrica com intercâmbio

igual ou superior à 50 MW;

concessionários, permissionários ou autorizados de serviços e instalações de

distribuição de energia elétrica cujo volume comercializado seja igual ou superior a 500

GWh/ano, em relação ao ano anterior;

Page 24: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

17

concessionários, permissionários ou autorizados de serviços e instalações de

distribuição de energia elétrica, cujo volume comercializado seja inferior a 500 GWh/ano,

quando não adquirirem a totalidade da energia de supridor com tarifa regulada;

autorizados de comercialização de energia elétrica, cujo volume comercializado seja

igual ou superior a 500 GWh/ano, referido ao ano anterior; e

consumidores livres e consumidores especiais;

agentes de geração comprometidos com CCEAR (Contrato de Comercialização de

Energia em Ambiente Regulado) e com CER (Contrato de Energia de Reserva).

Todos os contratos firmados em ambos os ambientes de contratação devem ser

devidamente registrados na CCEE. Ela também é o órgão responsável por aplicar as

penalidades referentes ao não cumprimento das obrigações contratuais.

É importante ressaltar que a atividade de comercialização de energia é um

fenômeno contratual e contábil. Isso significa que o vendedor que tenha negociado uma

determinada quantidade de energia por meio de contratos não necessariamente precisa

entregar fisicamente esta energia para o sistema. No caso do Brasil, cujo despacho é

determinado pelo ONS e que, além disso, possui uma geração expressiva a partir de fontes

intermitentes, essa distinção entre o mundo físico e o mundo contábil é essencial para

viabilizar as operações de compra e venda.

Ademais, um vendedor que possui um empreendimento de geração no Nordeste

pode negociar energia com um comprador do Sudeste. A energia gerada por este

fisicamente seguirá o caminho de menor resistência e atenderá às cargas mais próximas.

Entretanto, o registro da negociação será de uma transação realizada entre os dois

submercados.

De acordo com o Decreto nº 5.163, todos os agentes vendedores deverão

apresentar lastro para a venda de energia de forma a garantir a totalidade de seus

contratos. Este lastro é composto pela garantia física do empreendimento do próprio

vendedor ou de terceiros, podendo ser respaldado por contratos de compra de energia.

Basicamente, para que um agente possa vender energia, ele deve ter meios de assegurar

que é capaz de prover esta energia ou por meio de geração própria ou através da obtenção

de energia de outros empreendimentos.

O conceito de lastro é puramente contábil, mas ele é fundamentado por um conceito

físico, que é o da garantia física. Esta quantidade, segundo o mesmo decreto, representa

o valor máximo de energia associado a um empreendimento que poderá ser usada para

atendimento à carga ou comercialização por meio de contratos.

Page 25: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

18

A determinação da garantia física é responsabilidade do MME, sendo o cálculo

realizado pela EPE. O cálculo das garantias físicas é feito em etapas. A primeira delas

consiste na determinação da oferta total do SIN. Esta oferta é determinada através de

simulação estática da operação hidrotérmica utilizando o NEWAVE. São considerados

todos os empreendimentos da configuração de referência adicionados os

empreendimentos para os quais se deseja calcular a garantia física. São inclusas todas as

usinas e interligações existentes por um período de cinco anos. As influências das

condições iniciais são eliminadas com a adição de um período de 10 anos no horizonte de

simulação, antecedendo o período estudado. Também são acrescentados cinco anos

adicionais ao fim deste intervalo para a estabilização do custo futuro (EPE, 2008).

Utilizam-se 2000 séries sintéticas de afluência e mantém-se a proporção entre as

cargas do Sudeste e Sul e as do Nordeste e do Norte. Pode-se variar livremente a oferta

conjunta desses dois grandes blocos e a proporção entre eles. O processo converge

quando, atendendo os critérios de suprimento definidos pelo CNPE, no mínimo um dos

subsistemas atende ao critério de igualdade entre o CMO e o CME (Custo Marginal de

Expansão), admitindo uma tolerância. O somatório da carga de todos os subsistemas nesta

condição é denominada carga crítica (EPE, 2008).

O CME também é calculado pela EPE e tem como objetivo estimar o custo futuro

da expansão da geração, levando em consideração os preços de energia previstos e as

fontes que devem ser instaladas no futuro. Para isso, é feita uma estimativa da expansão

da geração, discriminada por ano de entrada e tipo de fonte e uma estimativa do custo

médio de expansão. Com essas duas informações, o cálculo é consolidado (EPE, 2015).

A carga crítica é rateada entre os blocos hidráulico e térmico, através de fatores

multiplicativos. Estes fatores correspondem à participação das gerações hidráulica e

térmica na geração total obtidas pelo NEWAVE, calculados com base em uma ponderação

pelo CMO.

O rateio da oferta hidráulica é feito proporcionalmente à energia firme de cada usina,

obtido através do modelo de simulação a usinas individualizadas SUISHI. A energia firme

corresponde à geração média das usinas no período crítico. Ela é calculada usando séries

históricas de vazão e a disponibilidade máxima de geração contínua das usinas. O

resultado do rateio é a garantia física das usinas, sendo que pode haver um acréscimo a

ele se a usina possuir reservatório de regularização com usinas a jusante. A garantia física

deve ser limitada à disponibilidade máxima da usina (EPE, 2008).

Page 26: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

19

A garantia física das térmicas também é limitada por sua disponibilidade máxima. A

oferta térmica obtida após o rateio deve ser compatibilizada com a disponibilidade da usina.

O excedente é distribuído entre as demais térmicas da configuração na proporção de suas

ofertas originais (EPE, 2008). As usinas inflexíveis ou com CVU nulo, as eólicas e as solares

possuem procedimento de cálculo diferenciado.

A garantia física das PCHs é obtida por meio da média de seu registro de vazões e,

caso já estejam em operação comercial, pode ser calculada pela geração média da usina,

conforme portaria do MME nº 463/2009.

As metodologias de cálculo de garantias físicas estão em constante processo de

revisão, pois é um dado fundamental para que haja uma correta compatibilização entre a

oferta e a demanda no SIN. O agente vendedor não pode vender além de sua garantia

física, mas pode comprometer uma parcela menor dela em seus contratos.

Ao comprador de energia, cabe comprovar suficiência de cobertura contratual de

consumo de energia elétrica e potência. Isto significa que os agentes consumidores devem

adquirir a totalidade de seu consumo por meio de contratos registrados na CCEE.

Os contratos de energia são diferentes em cada ambiente de contratação. O

Ambiente de Contratação Regulada rege a relação entre as distribuidoras e os

consumidores ditos cativos. As distribuidoras, por lei, devem garantir o suprimento da

totalidade de sua demanda. Para isto, cada distribuidora realiza uma previsão da estimativa

de suas cargas para os próximos cinco anos.

A maior parte da energia adquirida pelas distribuidoras se dá por meio de leilões.

No entanto, as distribuidoras também podem adquirir energia por meio de geração

distribuída (limitada a dez por cento de sua carga, de acordo com Decreto 5.163/2004); de

cotas de garantia física (energia negociada com empreendimentos que tiveram concessão

vencida); de cotas de Itaipu (distribuidoras do Sudeste/Centro-Oeste e Sul devem

compulsoriamente contratar energia de Itaipu na proporção de suas cargas); de cotas de

energia nuclear (referentes à contratação da energia de Angra I e II); de cotas do PROINFA

(contratação de usinas que fizeram parte da primeira fase do Programa de Incentivo a

Fontes Alternativas) e de contratos bilaterais, instituídos antes do estabelecimento do Novo

Modelo (TOLMASQUIM, 2015).

As diretrizes dos leilões de energia são veiculadas em portaria do MME, que prevê

a sistemática do leilão, a data, a modalidade contratual, o início da operação comercial e o

prazo para entrega da declaração de necessidade por parte das distribuidoras

Page 27: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

20

compradoras. A EPE realiza a habilitação técnica do empreendimento. A ANEEL elabora o

edital do leilão, que é realizado por ela própria ou pela CCEE por delegação da ANEEL.

Os leilões de energia, em geral, são divididos em leilões de energia nova e leilões

de energia existente. Os leilões de energia existente são concorridos por empreendimentos

que já se encontram em operação comercial e, normalmente, ocorrem um ano antes do

início de suprimento. A Lei nº 13.360/2016 permitiu que esses leilões pudessem ocorrer até

cinco anos antes do começo do fornecimento de energia. Eles visam a contratação dos

montantes de reposição das distribuidoras, ou seja, objetivam realizar a manutenção da

carga das distribuidoras em decorrência do vencimento de contratos existentes. As

concessões resultantes dessa contratação podem durar entre um e quinze anos.

Dentro da categoria de energia existente, também podemos incluir os leilões de

ajuste. Eles são um mecanismo que permite às distribuidoras complementar as quantidades

contratadas nos demais tipos de leilão. A energia contratada nestes está limitada a cinco

por cento da carga das distribuidoras e tem duração máxima de dois anos. Em geral, ele

ocorre poucos meses antes da data de início de suprimento. Diferentemente dos demais

tipos de leilões, ele é realizado por distribuidora, que define o preço-teto do processo.

Os leilões de energia nova podiam ser A-3 ou A-5, ou seja, ocorriam três ou cinco

anos antes da data de início do suprimento. A Lei nº 13.360/2016 permitiu que eles

pudessem ocorrer de sete a três anos antes do começo da operação comercial e as

concessões poderiam ter um prazo de quinze a trinta e cinco anos. Os proponentes

vendedores destes leilões são empreendimentos que ainda não iniciaram operação

comercial. Eles têm como objetivo contratar a energia correspondente ao crescimento

natural das cargas das distribuidoras. O MME anuncia a abertura de um leilão de energia

nova a partir da declaração da necessidade de contratação enviada pelas distribuidoras.

O CNPE pode indicar a necessidade de leilões estruturantes, que também podem

ser considerados como sendo de energia nova. Os projetos estruturantes são

empreendimentos de grande porte, que são de caráter estratégico para o sistema e de

interesse público. Através desses leilões foram negociadas as vendas das energias das

UHEs Santo Antônio, Teles Pires e Belo Monte. Eles foram leilões A-5 com prazo de

concessão de trinta anos. Pessoas jurídicas disputam para poderem investir nessas usinas

e, ao final do leilão, as distribuidoras compram energia do empreendimento.

Há ainda os leilões de fontes alternativas. Estes possuem como objetivo incentivar

a compra de energia a partir de fontes eólica, solar, biomassa e de pequenas centrais

hidrelétricas, que poderiam não ter preços competitivos em leilões com a participação de

Page 28: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

21

fontes mais tradicionais. Este tipo de leilão pode ser de empreendimentos que estão ou não

em operação comercial.

Além da divisão entre energia existente e energia nova, os contratos resultantes dos

leilões também podem ser enquadrados em duas modalidades: “por disponibilidade” ou

“por quantidade”. Essas duas modalidades estão relacionadas com a alocação dos riscos

associados à contratação de energia. Na modalidade “por quantidade”, é o vendedor que

assume os riscos hidrológicos, enquanto na “por disponibilidade”, é o comprador que deve

arcar com as consequências de geração abaixo dos níveis esperados.

A modalidade “por quantidade” é a usualmente escolhida na contratação de usinas

hidrelétricas. Nela, o vendedor se compromete a entregar uma quantidade de energia todo

o mês para o comprador no valor estipulado pelo leilão (ajustado anualmente pelo Índice

Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA). Caso a geração do empreendimento

ocorra abaixo do valor de energia contratado, o dono da usina deve obter esta diferença

por meio de contratos de compra de energia ou adquirindo-a no Mercado de Curto Prazo.

Assim, o vendedor está sujeito às exposições financeiras decorrentes do não cumprimento

de suas obrigações.

As usinas térmicas convencionais fornecem uma segurança energética ao sistema,

já que elas são usinas despacháveis e a disponibilidade do recurso energético depende

apenas da aquisição do combustível utilizado para acionar as turbinas. Entretanto, estes

são mais caros e, visando uma operação mais econômica, as térmicas são despachadas

apenas em situações de hidrologia menos favorável. Aquelas com custo variável mais

elevado podem permanecer inativas durante a maior parte de sua operação comercial.

Assim, de forma a estimular a contratação e o investimento nessas usinas, foi

estabelecida a modalidade “por disponibilidade” nos leilões de energia, que é geralmente

aplicada às usinas térmicas. Neste caso, o comprador remunera o vendedor pela

“disponibilidade” da usina, ou seja, esta recebe um valor mensal suficiente para cumprir

seus custos fixos de operação, independente de gerar ou não energia. Caso o

empreendimento venha a ser despachado, a distribuidora deve pagar a parcela variável,

equivalente ao CVU da usina, por cada MWh gerado. Portanto, é o comprador que tem de

lidar com as incertezas associadas à operação do sistema.

No ambiente regulado, toda energia é suprida pelas distribuidoras aos chamados

consumidores cativos. A aquisição desta energia é repassada aos consumidores finais por

meio de tarifas, reguladas pela ANEEL. As tarifas cobradas pelos prestadores de serviços

Page 29: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

22

de distribuição compreendem os preços da compra de energia, das tarifas de uso dos

sistemas de transmissão e distribuição, além de impostos e encargos.

Já no Ambiente de Contratação Livre, os consumidores possuem a flexibilidade de

negociar energia diretamente com o fornecedor, seja este um agente gerador ou

comercializador de energia. Assim, o relacionamento desses consumidores com as

distribuidoras limita-se unicamente ao pagamento da Tarifa de Uso do Sistema de

Distribuição (TUSD), caso a carga deste esteja ligado a uma tensão inferior a 230 kV.

Neste ambiente, encontram-se os consumidores livres e livres especiais. Para que

um consumidor cativo possa migrar para o Mercado Livre, ele precisa ter uma demanda de

potência igual ou superior a 3 MW. Para que ele possa retornar à condição regulada, precisa

avisar a concessionária de distribuição com antecedência mínima de cinco anos.

Os consumidores livres especiais possuem uma carga entre 500 kW e 3 MW. Esses

consumidores também podem adquirir energia através de negociações com fornecedores

de sua escolha; no entanto, a energia adquirida deve ser proveniente de fontes

incentivadas, como a eólica, a solar, a térmica a biomassa e a proveniente de Pequenas

Centrais Hidrelétricas (PCHs).

No ACL, os consumidores e comercializadores podem estabelecer contratos de

curto, médio ou longo prazo com agentes geradores. Os termos destes contratos podem

ser livremente negociados entre as partes, assim como o preço da energia negociada. Os

contatos provenientes da livre negociação formam os chamados CCEAL (Contrato de

Comercialização de Energia no Ambiente de Contratação Livre). Apesar da autonomia para

estabelecimento dos termos dos contratos, eles devem ser registrados na CCEE, para que

ela possa fazer a liquidação financeira dos agentes.

Embora as garantias físicas procurem refletir uma quantidade de energia que os

empreendimentos possam assegurar durante a maior parte do tempo, em muitas situações,

a geração associada ao agente em determinado mês pode não ser suficiente para atingir a

quantidade vendida por este. Nestas situações, este agente deve adquirir a diferença no

Mercado de Curto Prazo.

O Mercado de Curto Prazo é onde ocorre a liquidação das diferenças entre o que

foi gerado e o que foi contratado. Quando essa diferença é positiva, o agente vende energia

no MCP; caso seja negativa, ele compra. Todas as transações ocorridas são realizadas ao

Preço de Liquidação de Diferenças – PLD. Essas operações, do ponto de vista do vendedor,

podem ser observadas na Figura 5. Do ponto de vista do comprador, os contratos de

Page 30: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

23

compra de energia são comparados com o consumo do agente. Na ótica do comercializador

de energia, os contratos de compra são contrapostos com os de venda.

Figura 5: Liquidação dos Contratos de Energia no Mercado de Curto Prazo sob a ótima do agente

gerador de energia.

O PLD também é calculado por meio do uso do NEWAVE e do DECOMP. Este valor

é definido semanalmente por subsistema e por patamar de carga. Para o cálculo dos

preços, não são consideradas as restrições de transmissão internas de cada subsistema

ou as usinas em operação em teste. A inflexibilidade das térmicas também não é inclusa

na precificação. O PLD será igual ao Custo Marginal de Operação da rodada, caso ele

esteja acima do piso e abaixo do teto do PLD.

Os valores de PLD mínimo e máximo são definidos anualmente pela ANEEL. O valor

mínimo pode ocorrer em condições de hidrologia favorável quando a geração provém

basicamente da geração hidrelétrica. Nesse caso, o piso do PLD busca remunerar os

custos de operação e manutenção de geração desses empreendimentos e fornecer uma

compensação financeira. Já o teto considera os custos variáveis de operação dos

empreendimentos termelétricos disponíveis para despacho centralizado.

A liquidação financeira final do agente é feita mensalmente. Assim, ele pode

gerenciar seus custos ao longo do mês a fim de aumentar seus lucros ou reduzir seus

déficits ao fim da contabilização. Os preços, além de variarem de uma semana para a outra

e de acordo com o patamar de carga (pesada, média e leve), podem ser diferentes entre

os subsistemas caso os limites de intercâmbio entre as regiões tenham sido violados.

A CCEE mantém medições atualizadas da geração de cada agente por meio do

Sistema de Coleta de Dados de Energia (SCDE). Ela também, como exposto anteriormente,

possui o registro de todos os contratos de compra e venda de energia, permitindo a

Page 31: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

24

contabilização final dos montantes gerados e contratados. As medições da CCEE, para fins

contábeis, são referidas ao chamado “Centro de Gravidade”, que seria o ponto em que os

valores informados pelos agentes de geração e consumo são igualados. Dessa forma, as

perdas na rede são igualmente rateadas entre os geradores e os consumidores.

De forma a garantir que haja energia suficiente para que todas as diferenças possam

ser devidamente liquidadas, o MME pode decretar a necessidade de contratação de energia

de reserva através de leilões, cujo montante será definido por este mesmo órgão com base

em estudos realizados pela EPE. A energia de reserva não compõe lastro comercial, tendo

como objetivo aumentar a segurança energética do Sistema.

A contraparte dos Contratos de Energia de Reserva é a CCEE. Ela é responsável

por gerir a Conta de Energia de Reserva (CONER). Toda energia de reserva contratada é

liquidada no Mercado de Curto Prazo e o montante obtido na liquidação é utilizado para

cobrir os custos da contratação da Energia de Reserva, como o pagamento dos agentes

vendedores, os custos administrativos, financeiros e tributários associados com a

manutenção da CONER. Os eventuais montantes financeiros faltantes para cobertura dos

custos são obtidos por meio de Encargo de Energia de Reserva (ESS).

A exposição ao Mercado de Curto prazo é, em geral, evitada pelos agentes pois os

preços podem variar muito de acordo com a semana, o patamar de carga e os

submercados. Dessa forma, existem alguns mecanismos para estimular os

empreendedores e mitigar um pouco do risco associado com o mercado de energia.

O Mecanismo de Realocação de Energia (MRE) é um mecanismo de

compartilhamento dos riscos hidrológicos. As usinas hidrelétricas que utilizam esse

mecanismo possuem seu desempenho nivelado pelo desempenho de todo o bloco. Assim,

mesmo que a usina não seja despachada por motivos externos ao agente (determinação

do ONS, por exemplo), se o Sistema como um todo apresentar uma geração hidrelétrica

acima da garantia física do bloco, esta usina não sentirá os efeitos financeiros de sua

geração abaixo do esperado.

O MRE é um recurso contábil e é aplicado antes do balanço energético do agente a

fim de contabilização dos saldos no Mercado de Curto Prazo. Esse mecanismo é bastante

importante para as hidrelétricas, devido às imprevisibilidades das afluências. Como a

maioria dos contratos regulados de hidrelétricas é por quantidade de energia e todos os

contratos no Mercado Livre também são dessa forma, o dono do empreendimento

hidráulico poderia não estar disposto a assumir tamanho risco caso não houvesse uma

Page 32: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

25

forma de, pelo menos, amortecê-lo. O MRE será tratado em mais detalhes no próximo

capítulo, explicando-se como ele funciona e como é feita sua contabilização pela CCEE.

Outro mecanismo de mitigação de risco existente é o Mecanismo de Compensação

de Sobras e Défcits (MCSD), que permite que as distribuidoras descontratem parte de seus

contratos de energia, caso estas apresentem sobras de energia. Ao mesmo tempo,

distribuidoras subcontratadas podem completar seus contratos ao declarar déficits. Esse

tipo de mecanismo é importante, pois as distribuidoras só podem repassar integralmente o

valor da compra de energia para os consumidores caso sua sobrecontratação esteja

limitada a cinco por cento da carga. A subcontratação possui regras de repasse que podem

prejudicar os concessionários de distribuição, já a sobrecontratação acima dos cinco por

cento devem ser integralmente arcadas pelas distribuidoras.

A contabilização realizada pela CCEE é regulamentada pela Convenção de

Comercialização de Energia Elétrica, pelas Regras de Comercialização e pelos

Procedimentos de Comercialização. As Regras apresentam as bases conceituais e as

equações algébricas que regem as operações da CCEE. Já os Procedimentos de

Comercialização estipulam as condições, prazos e requisitos que devem ser seguidos pelos

agentes. O conteúdo destes é revisto anualmente e eles também são regulados pela

ANEEL.

Após este panorama sobre a operação e a comercialização de energia necessário

para a melhor compreensão do funcionamento do setor e dos fatores que influenciam na

formação dos preços do Mercado de Energia, o próximo capítulo abordará especificamente

o Mecanismo de Realocação de Energia.

Page 33: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

26

3. O Mecanismo de Realocação de Energia

O Mecanismo de Realocação de Energia é um instrumento de mitigação dos riscos

hidrológicos, instituído pelo Decreto nº 2.655, de 2 de julho de 1998, ainda sob a vigência

do Mercado Atacadista de Energia (MAE). Como abordado no primeiro capítulo, o Sistema

Elétrico Brasileiro é predominantemente hidrotérmico e apresenta uma operação complexa

em função da incerteza no comportamento das afluências. O despacho individualizado de

cada usina não depende apenas do dono do empreendimento, mas das decisões do

Operador Nacional do Sistema.

De forma a otimizar os recursos hidrológicos do território nacional, buscando a

minimização dos custos de operação e do risco de déficit, o ONS pode considerar mais

vantajoso deixar de gerar energia a partir da fonte hidráulica no presente a fim de reservar

o recurso hídrico para um instante de tempo posterior. Além disso, por conta da interligação

do sistema elétrico, aproveitando-se da diversidade do regime de vazões das bacias

hidrológicas, o Operador pode despachar as usinas que se encontram em regiões no

período úmido e poupar a água em outras partes do território. Um outro fator a ser levado

em conta é o de que, devido à configuração em cascata de várias usinas hidrelétricas, a

operação ótima individual de um empreendimento pode não corresponder à

operacionalização ótima de todo o conjunto.

O MRE busca retirar o risco individual da operação das usinas e repactuá-lo entre

as todas as usinas que integram o mecanismo. Assim, os agentes donos das usinas não

terão seu desempenho avaliado unicamente pela geração de seu empreendimento, mas,

sim, pela geração do bloco de usinas. O MRE garante que todas as usinas recebam seu

nível de garantia física ao final da contabilização. É importante destacar que o MRE é um

mecanismo utilizado para fins contábeis. Dessa maneira, a energia alocada para cada usina

durante a contabilização do MRE é unicamente para fins de liquidação financeira das

mesmas, mas essa energia transacionada continua sendo computada no submercado da

usina que a gerou.

Na contabilização do MRE, três situações são passíveis de ocorrer:

1. A geração total das usinas do MRE supera o somatório de suas garantias físicas.

Neste caso, haverá a chamada Energia Secundária, que seria uma energia excedente no

sistema. Assim, além do seu nível de garantia física, as usinas do bloco receberão essa

energia extra na proporção de sua garantia física.

Page 34: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

27

2. A geração total das usinas do MRE é igual à soma das garantias físicas das usinas

que fazem parte do mecanismo. Essa situação tem um caráter mais didático, sendo

improvável de ocorrer na prática. Para esta hipótese, a energia alocada para cada usina

será exatamente igual ao seu nível de garantia física.

3. A geração total das usinas do MRE é inferior à garantia física agregada das usinas

do bloco. Dessa maneira, não há energia suficiente para suprir o nível de garantia física

das usinas. Para contornar esta situação, calcula-se um fator de ajuste igual à razão entre

a geração das usinas do bloco e sua garantia física agregada. A energia alocada para cada

usina será sua garantia física ponderada por este fator de ajuste.

A contabilização do MRE é feita por semana e por patamar de carga. Ao fim do mês,

é computado o resultado final do agente. A garantia física, como definida anteriormente, é

um valor dado em MW médios. Para fins do MRE, essa garantia física é sazonalizada e

modulada pela CCEE. Além desses dois procedimentos, deste fator também é decrescida

a indisponibilidade da usina e é feito o rateio das perdas na Rede Básica.

A sazonalização da garantia física converte os valores anuais médios da usina em

MW médios em valores mensais em MWh. A garantia física sazonalizada considerada para

fins do MRE não é a mesma utilizada pela CCEE para apuração das penalidades por

insuficiência de lastro. Para fins do MRE, os agentes donos das usinas definem os

montantes mensais que serão utilizados para processamento do mecanismo. Itaipu, usinas

submotorizadas, que tiveram a concessão renovada, que iniciam ou terminam o período de

concessão no ano em questão ou que não queiram declarar valores de sazonalização

possuem seus montantes definidos de acordo com o perfil dos demais agentes (CCEE,

2016).

Estes valores são ajustados em função da média das perdas internas relacionadas

com a operação das usinas. A garantia física definida em ato regulatório é determinada na

barra de saída do gerador; assim, para usinas que tiveram sua garantia física definida desta

forma, é preciso aplicar aos montantes sazonalizados um fator de ajuste em função das

perdas internas médias de cada uma no ano anterior.

Por meio do processo de modulação, os montantes mensais de garantia física são

separados por semana e patamar de carga. O fator de modulação do MRE para cada

período de comercialização é calculado por meio da razão entre a geração total das usinas

neste período de comercialização (que corresponde a um determinado patamar de carga

em uma dada semana) e a geração total das usinas ao longo do mês. Já o fator ponderado

de modulação das usinas participantes do MRE num dado período de comercialização

Page 35: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

28

equivale à razão do fator de modulação naquele período e o somatório dos fatores de

modulação de todos os períodos de contabilização do mês em questão. A Garantia Física

Modulada (𝐺𝐹𝐼𝑆_1, segundo denominação da CCEE) por período de comercialização e por

parcela de usina corresponde ao fator de modulação ponderado multiplicado pelo montante

mensal sazonalizado (CCEE, 2016).

Após modulada, a garantia física é multiplicada por um fator de rateio de perdas de

geração associadas à usina. Para as usinas programadas e despachadas

centralizadamente pelo ONS, também deve ser considerado o Mecanismo de Redução de

Garantia Física – MRGF. Este mecanismo verifica se a usina cumpriu ou não com os

requisitos de disponibilidade determinados. Se não, a garantia física é multiplicada por um

fator inferior à unidade, correspondente ao Fator de Disponibilidade da parcela da usina. O

resultado é, de acordo com a nomenclatura da CCEE, a Garantia Física Ajustada pelo Fator

de Disponibilidade, 𝐺𝐹𝐼𝑆_2 (CCEE, 2016).

Participam do MRE todas as usinas que são despachadas centralizadamente pelo

ONS. As Pequenas Centrais Hidrelétricas podem optar por fazer ou não parte do

mecanismo, segundo procedimentos de comercialização correspondente. A integração

dessas usinas ao bloco é determinada a partir de ato regulatório expedido pela ANEEL.

A dinâmica do MRE envolve que haja um fluxo de energia entre aquelas usinas que

geraram acima de sua garantia física para aquelas que geraram abaixo. Essa energia

transacionada possui uma tarifa associada, chamada Tarifa de Energia de Otimização –

TEO. Essa tarifa é definida anualmente pela ANEEL e busca compensar os custos

incrementais de geração das usinas do bloco.

Parte desta tarifa é composta pela Tarifa Atualizada de Referência – TAR, que visa

valorar a compensação dos recursos hídricos. Ela é atualizada todo ano com base no

indicador econômico ajustado às especificidades dos serviços de energia elétrica, de

acordo com a ANEEL. Além do uso dos recursos hídricos, a TEO busca cobrir os custos de

operação e manutenção das usinas. Estes últimos gastos são atualizados anualmente pelo

IPCA (ANEEL, 2014).

Todas as usinas do bloco possuem sua geração incremental valorada pela TEO, à

exceção de Itaipu. Pelo preço de Itaipu estar atrelado ao dólar, seus custos variáveis de

operação, em dólar americano, são multiplicados pela média geométrica da taxa de câmbio.

As trocas de energia no MRE são realizadas majoritariamente no próprio subsistema

da usina. Assim, a usina deficitária recebe primeiramente energia proveniente do excedente

de geração das usinas do seu próprio subsistema e, em seguida, se necessário for, de

Page 36: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

29

usinas pertencentes aos demais. O fluxo entre os subsistemas pode acarretar a chamada

exposição ao PLD por conta da eventual diferença de PLD entre os submercados.

Consideremos que o Submercado 1 possui um PLD de R$ 100,00/MWh e o

Submercado 2, um PLD de R$ 150,00/MWh numa determinada semana e patamar de

carga. Caso uma usina do Submercado 1 exporte energia para uma do Submercado 2,

diremos que essa usina está exposta negativamente, pois o preço que esta usina “vende”

sua energia é inferior ao valor pelo qual a usina do outro submercado estará comprando. A

situação inversa resulta na chamada exposição positiva.

A energia alocada para cobrir a garantia física das usinas no MRE possui direito de

alívio à exposição à diferença de PLD, mas a energia secundária é passível a este tipo de

exposição. Dessa forma, a energia secundária proveniente de submercados distintos ao da

parcela de usina em questão deve ser valorada à diferença de PLD entre ambos os

submercados, caso haja.

A Figura 6 apresenta um esquema simplificado da dinâmica das transações de

energia no MRE para a situação em que a geração total é igual ao somatório das garantias

físicas das usinas do bloco. Parte da energia da Usina 4 é repassada para a Usina 2,

pertencente ao Subsistema 1. No entanto, toda a geração da Usina 4 é contabilizada no

Subsistema 2. A parcela cedida à Usina 2 funciona unicamente para fins de liquidação

financeira das usinas.

Figura 6: Dinâmica do fluxo de energia no MRE

Page 37: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

30

A seguir, será feita uma revisão das Regras de Comercialização relativas ao

Mecanismo de Realocação de Energia, utilizando-se as mesmas nomenclaturas usadas

pela CCEE.

3.1 Regras de Comercialização da CCEE sobre o MRE

As etapas dos cálculos realizados pela CCEE para a determinação da energia

alocada para cada usina pertencente ao bloco, assim como dos valores financeiros

referentes às transações de energia pelo mecanismo estão esquematizadas na Figura 7.

Na etapa “Energia Secundária”, calcula-se a garantia física ajustada para o MRE e

o direito à energia secundária de cada participante. Em “Déficits e Sobras das Usinas do

MRE”, são definidas quanto cada usina gerou acima ou abaixo de sua garantia física. Em

“Necessidades de Cobertura de Garantias Físicas por submercados”, são determinados as

sobras e os déficits por submercado. A etapa “Cobertura dos Déficits Apurados” avalia

quanto de energia há disponível para cobrir os déficits das usinas do bloco. Depois, verifica-

se a sobra disponível para alocar energia secundária em cada submercado e para cada

usina na fase “Atendimento do Direito à Energia Secundária”. Os fluxos totais de energia

para cada empreendimento são calculados em “Determinação dos Ajustes Totais do MRE”.

Por fim, na “Compensação da Geração no MRE” são estabelecidos os montantes

financeiros que cada empreendimento deve receber ou pagar em função de sua

participação no mecanismo.

Page 38: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

31

Figura 7: Etapas de cálculo dos módulos das Regras de Comercialização da CCEE referentes ao

MRE

3.1.1 ENERGIA SECUNDÁRIA

À exceção do resultado financeiro apurado na última etapa da contabilização do

MRE, todas as grandezas são computadas por semana e patamar de carga. A execução

do mecanismo ocorre antes da apuração da liquidação financeira correspondente ao

cumprimento dos contratos de venda de energia. Isto porque estes não serão comparados

com a geração real da usina no determinado período de comercialização, mas, sim, à

energia final alocada ao agente após a apuração do mecanismo.

A primeira etapa de cálculo consiste em calcular a Garantia Física do MRE, que

corresponde ao somatório das garantias físicas de todos os participantes do bloco e a

Geração Total Agregada do MRE, equivalente a geração total destas usinas.

𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 = ∑ 𝐺𝐹𝐼𝑆_2𝑝,𝑟,𝑤

𝑝 ∈𝑃𝑀𝑅𝐸

(1)

𝐺𝑇𝐴_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 = ∑ 𝐺𝑀𝑅𝐸𝑗

𝑗 ∈𝑅𝑊

(2)

Em que:

Page 39: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

32

𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 é a Garantia Física do MRE no patamar “r”, da semana “w”

𝐺𝑇𝐴_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 é Geração Total Agregada do MRE no patamar “r”, da semana “w”

𝐺𝐹𝐼𝑆_2𝑝,𝑟,𝑤 é a Garantia Física Modulada Ajustada pelo Fator de Disponibilidade da parcela

de usina “p”, participante do MRE no patamar “r”, da semana “w”

𝐺𝑀𝑅𝐸𝑗 é a Geração Total das Usinas Participantes do MRE por período de comercialização

“j”

“PMRE” é o Conjunto de parcelas de usinas “p”, participantes do MRE

“RW” é o conjunto dos períodos de comercialização “j”, pertencentes ao patamar de carga

“j”, pertencentes ao patamar de cara “r”, da semana “w”

O Ajuste do MRE é a razão entre a Geração Total Agregada das usinas

pertencentes ao mecanismo e a Garantia Física do MRE. Este fator equivale ao “Generation

Scaling Factor” (GSF). Esta grandeza é bastante mencionada nas análises de mercado,

pois é um indicativo do desempenho do bloco hidráulico, que é tão importante para a

formação de preços de energia.

Este fator indica a existência ou não da energia secundária no período de

comercialização apurado. Se ele for maior do que a unidade, a geração superou a garantia

física e há sobras de energia, ou Energia Secundária. Se ele for menor ou igual à unidade,

a garantia física dos empreendimentos deve ser ponderada por este fator para que não falte

energia no momento da alocação da cobertura das garantias físicas. O resultado desta

ponderação é a Garantia Física Modulada Ajustada para o MRE.

Temos, então:

𝐴𝐽𝑈𝑆𝑇𝐸_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 =

𝐺𝑇𝐴_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤

𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 (3)

Se este fator for maior do que um, teremos Energia Secundária no sistema e cada

usina participante do bloco terá direito a receber parte desta energia. Neste caso, a Energia

Secundária do sistema, a Garantia Física Ajustada para o MRE e o Direito à Energia

Secundárias das usinas serão dados por:

𝑆𝐸𝐶_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 = 𝐺𝑇𝐴_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 − 𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 (4)

𝐺𝐹𝐼𝑆_3𝑝,𝑟,𝑤 = 𝐺𝐹𝐼𝑆_2𝑝,𝑟,𝑤

(5)

𝐷𝑆𝐸𝐶_𝑃𝑝,𝑟,𝑤 = 𝑆𝐸𝐶_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 ×

𝐺𝐹𝐼𝑆_3𝑝,𝑟,𝑤

𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤

(6)

Page 40: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

33

∀ 𝑝 ∈ 𝑃𝑀𝑅𝑊

Em que:

𝑆𝐸𝐶_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 é a Energia Secundária do MRE no patamar “r”, da semana “w”

𝐺𝐹𝐼𝑆_3𝑝,𝑟,𝑤 é a Garantia Física Modulada Ajustada pelo Fator de Disponibilidade da parcela

de usina “p”, participante do MRE no patamar “r”, da semana “w”

𝐷𝑆𝐸𝐶_𝑃𝑝,𝑟,𝑤 é o Direito à Energia Secundária por parcela de usina “p”, participante do MRE,

no patamar “r” da semana “w”.

Quando a geração não atinge a garantia física, tanto a Energia Secundária quanto

o direito à Energia Secundária são nulos e 𝐺𝐹𝐼𝑆_3𝑝,𝑟,𝑤 será igual a 𝐺𝐹𝐼𝑆_2𝑝,𝑟,𝑤 multiplicado

pelo fator de ajuste do MRE.

3.1.2 DÉFICITS E SOBRAS DAS USINAS DO MRE

Nesta fase, busca-se apurar, por usina, as quantidades que estão acima e abaixo

de sua garantia física. Essa energia corresponde a quanto cada usina deverá ceder ou

receber do MRE para cobertura das garantias físicas. As sobras e os déficits de cada usina

serão dados por:

𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴_𝐺_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 = 𝑚á𝑥 [0, (( ∑ 𝐺𝑝,𝑗

𝑗 ∈𝑅𝑊

) − 𝐺𝐹𝐼𝑆_3𝑝,𝑟,𝑤)]

(7)

𝐷𝐸𝐹𝐼𝐶𝐼𝑇_𝐺_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 = 𝑚á𝑥 [0, (𝐺𝐹𝐼𝑆_3𝑝,𝑟,𝑤 − ( ∑ 𝐺𝑝,𝑗

𝑗 ∈𝑅𝑊

))]

(8)

∀ 𝑝 ∈ 𝑃𝑀𝑅𝐸

Em que:

𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴_𝐺_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 é a Sobra de Geração da parcela de usina “p” participante do MRE no

patamar “r”, da semana “w”

𝐷𝐸𝐹𝐼𝐶𝐼𝑇_𝐺_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟𝑤, é o Déficit de Geração da parcela de usina “p” participante do MRE

no patamar “r”, da semana “w”

𝐺𝑝,𝑗 é a Geração Final da parcela de usina “p”, por período de comercialização “j”

Page 41: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

34

3.1.3 NECESSIDADES DE COBERTURA DE GARANTIAS FÍSICAS POR

SUBMERCADO

A etapa anterior verifica as sobras e déficits por usina. O passo seguinte procura

computar essas quantidades por submercado. Elas correspondem aos somatórios das

sobras e déficits de todas as usinas pertencentes ao MRE que compõem este subsistema,

respectivamente.

Quando o submercado é deficitário em um dado período de comercialização, isto

significa que as sobras das usinas pertencentes a ele não serão suficientes para cobrir os

déficits das demais usinas do subsistema. Assim, as usinas deficitárias desse bloco terão

parte da cobertura de sua garantia física proveniente do próprio submercado e o restante

virá de submercados superavitários.

Se o submercado apresentar sobras que superem seus déficits, todas as usinas

deste submercado que possuírem déficit de geração receberão energia proveniente apenas

de seu próprio submercado. O restante das sobras será cedido para usinas de um

subsistema diferente.

Podemos perceber que, diferentemente das usinas individualizadas, os

submercados podem possuir, ao mesmo tempo, sobras e déficits. O que determinará se

este submercado será exportador ou importador dentro do MRE será a diferença entre

essas duas quantidades. Estas podem ser definidas por:

𝐷𝐸𝐹𝐼𝐶𝐼𝑇_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤 = ∑ 𝐷𝐸𝐹𝐼𝐶𝐼𝑇_𝐺_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤

𝑝 ∈ 𝑠

(9)

𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤 = ∑ 𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴_𝐺_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤

𝑃 ∈ 𝑠

(10)

Em que:

𝐷𝐸𝐹𝐼𝐶𝐼𝑇_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤 é o Déficit Total de Geração por submercado “s”, no patamar “r”, da

semana “w”

𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤 é a Sobra Total de Geração por submercado “s”, no patamar “r”, da

semana “w”

A Quantidade Disponível para Cobertura de Garantia Física em um submercado é,

portanto, quanto dos déficits das usinas pertencentes a ele virão do próprio submercado da

usina. No caso de as sobras serem inferiores aos déficits, não haverá excedente neste

submercado e toda essa quantidade será usada para cobrir os déficits de suas usinas:

Page 42: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

35

𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑆𝑠,𝑟,𝑤 = 𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤 (11)

Em que:

𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑆𝑠,𝑟,𝑤 é a Quantidade Disponível para a Cobertura de Garantia Física por

submercados “s”, no patamar “r”, da semana “w”.

Caso as sobras superem os déficits, a cobertura da garantia física das usinas do

submercado virá do próprio e haverá um excedente de energia nele. O excedente total do

MRE será igual à soma dos excedentes de todos os submercados:

𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑆𝑠,𝑟,𝑤 = 𝐷𝐸𝐹𝐼𝐶𝐼𝑇_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤

(12)

𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤 = 𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤 − 𝐷𝐸𝐹𝐼𝐶𝐼𝑇_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤

(13)

𝑇_𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 = ∑ 𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤

𝑠

(14)

Em que:

𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤 é o Excedente do MRE por submercado “s”, no patamar “r”, da semana

“w”

𝑇_𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 é o Excedente Total do MRE, no patamar “r”, da semana “w”

3.1.4 COBERTURA DOS DÉFICITS APURADOS

Como previamente mencionado, o mecanismo procura garantir que todas as usinas

recebam seu nível de garantia física para fins de MRE. Para cumprir com este objetivo, este

nível é ajustado caso a geração não seja suficiente para tanto. Se uma usina gera abaixo

de sua garantia ajustada, parte da cobertura desta poderá vir do seu próprio submercado e

parte de fora. Estas duas quantidades são computadas separadamente para que a CCEE

possa, em um outro momento, calcular eventuais exposições e para que ela possa

contabilizar o fluxo de energia no mecanismo.

A quantidade de energia recebida pela usina vem prioritariamente do subsistema

em que ela está localizada. Esta quantidade corresponderá à quantidade total disponível

para cobertura de garantia física do submercado ponderada pelo déficit desta usina em

relação ao déficit de todas das usinas do submercado:

𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑃𝑆𝑝,𝑟,𝑤 = 𝐷𝐸𝐹𝐼𝐶𝐼𝑇_𝐺_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 ×

𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑆𝑠,𝑟,𝑤

𝐷𝐸𝐹𝐼𝐶𝐼𝑇_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤

(15)

Page 43: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

36

∀ 𝑝 ∈ 𝑃𝑀𝑅𝐸

Em que:

𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑃𝑆𝑝,𝑟,𝑤 é a Quantidade Alocada do Próprio Submercado para Cobertura de

Garantia Física para a parcela de usina “p” em seu submercado, no patamar “r”, da semana

“w”

“s” refere-se ao submercado em que a usina está localizada

Se esta quantidade não for suficiente para cobertura total da usina, esta receberá

energia de todos os submercados superavitários. Havendo mais de um, não há prioridade

entre os demais submercados, dependendo apenas da razão entre o excedente do

submercado externo e o excedente total do MRE:

𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑃𝑝,𝑠∗,𝑟,𝑤

= (𝐷𝐸𝐹𝐼𝐶𝐼𝑇_𝐺_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 − 𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑃𝑆𝑝,𝑟,𝑤)

× (𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠∗,𝑟,𝑤

𝑇_𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤)

(15)

𝑝 ∈ 𝑠

𝑝 ∉ 𝑠 ∗

∀ 𝑝 ∈ 𝑃𝑀𝑅𝐸

Em que:

𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑃𝑝,𝑠,𝑟,𝑤 é a Quantidade Alocada de Outros Subsistemas para a Cobertura de

Garantia Física para a parcela de usina “p”, por submercado “s”, no patamar “r”, da semana

“w”

Percebe-se, assim, que, se a cobertura da garantia física proveniente do

submercado da usina for igual ao seu déficit, a quantidade alocada de um subsistema

externo será nula. Isto também ocorrerá se o subsistema externo ao da usina não

apresentar excedente no mecanismo para um dado período de comercialização.

3.1.5 ATENDIMENTO DO DIREITO À ENERGIA SECUNDÁRIA

Além da energia alocada para completar sua garantia física, o participante do MRE

também pode receber energia secundária do sistema. Assim como é feito para cobertura

de garantia física, primeiro são determinadas as quantidades de energia secundária por

submercado. Ela também é redistribuída prioritariamente dentro do próprio submercado.

Page 44: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

37

No caso da cobertura da garantia física, apenas as usinas com déficit de geração

tinham energia alocada. Para a energia secundária, todos os empreendimentos

hidrelétricos pertencentes ao bloco receberão uma parcela da energia extra gerada naquele

período de comercialização na proporção de suas respectivas garantias físicas.

𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴𝑆𝐸𝐶𝑠,𝑟,𝑤

= max (0, (𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴_𝑆_𝑀𝑅𝐸𝑠,𝑟,𝑤 − 𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑆𝑠,𝑟,𝑤

− ∑ 𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑃𝑝,𝑠,𝑟,𝑤

𝑝

))

(16)

𝐷𝐸𝑆𝐸𝐶_𝑆𝑠,𝑟,𝑤 = ∑ 𝐷𝐸𝑆𝐸𝐶_𝑃𝑝,𝑟,𝑤

𝑝 ∈ 𝑠

(17)

∀ 𝑝 ∈ 𝑃𝑀𝑅𝐸

Em que:

𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴𝑆𝐸𝐶𝑠,𝑟,𝑤 é a Sobra Disponível para Alocação de Energia Secundária por submercado

“s”, no patamar “r”, da semana “w”

𝐷𝐸𝑆𝐸𝐶_𝑆𝑠,𝑟,𝑤 é o Direito à Energia Secundária Integralizado por Submercado “s”, no

patamar “r”, da semana “w”

As sobras para a Energia Secundária em um submercado corresponde à quantidade

de sobras total deste subtraída das quantidades de energia cedida por ele para cobertura

de garantia física de suas próprias usinas e das pertencentes aos demais subsistemas. Por

sua vez, o direito à energia secundária do submercado é a soma do direito de todas as

usinas deste, calculado na primeira etapa da contabilização.

Novamente, se a quantidade disponível for superior a que deve ser recebida, haverá

um excedente de energia secundária no submercado. O excedente total do MRE será a

reunião dos excedentes de todos os subsistemas. Os cálculos desta etapa são bastante

simulares aos da cobertura de garantia física.

𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑆𝐸𝐶𝑠,𝑟,𝑤 = 𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴𝑆𝐸𝐶𝑠,𝑟,𝑤 − 𝐷𝑆𝐸𝐶𝑠,𝑟,𝑤

(18)

𝑇_𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑆𝐸𝐶𝑟,𝑤 = ∑ 𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑆𝐸𝐶𝑠,𝑟,𝑤

𝑠

(19)

Page 45: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

38

Em que:

𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑆𝐸𝐶𝑠,𝑟,𝑤 é o Excedente de Energia Secundária por submercado “s”, no patamar “r”,

da semana “w”

𝑇_𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑆𝐸𝐶𝑟,𝑤 é o Excedente Total de Energia Secundária, no patamar “r”, da semana

“w”

Caso as sobras de secundário de um subsistema exceda seu direito a energia

secundária, a quantidade de energia secundária que ele cederá para uma usina

pertencente a ele será igual ao direito de secundário dessa usina. Se este não for o caso,

a cobertura de energia secundária de uma usina será composta pelas parcelas:

𝐶𝑂𝐵𝑆𝐸𝐶_𝑃𝑆𝑝,𝑟,𝑤 = 𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴𝑆𝐸𝐶𝑠,𝑟,𝑤 × (

𝐷𝑆𝐸𝐶_𝑃𝑝,𝑟,𝑤

𝐷𝑆𝐸𝐶_𝑆𝑠,𝑟,𝑤)

(20)

𝐶𝑂𝐵𝑆𝐸𝐶_𝑃𝑝,𝑠∗,𝑟,𝑤 = (𝐷𝑆𝐸𝐶_𝑃𝑝,𝑟,𝑤 − 𝐶𝑂𝐵𝑆𝐸𝐶_𝑃𝑆𝑝,𝑟,𝑤) × (

𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑆𝐸𝐶𝑠∗,𝑟,𝑤

𝑇_𝐸𝑋𝐶𝐸𝐷_𝑆𝐸𝐶𝑟,𝑤)

(21)

𝑝 ∈ 𝑠

𝑝 ∉ 𝑠 ∗

∀ 𝑝 ∈ 𝑃𝑀𝑅𝐸

Em que:

𝐶𝑂𝐵𝑆𝐸𝐶_𝑃𝑆𝑝,𝑟,𝑤 é a Quantidade Alocada do Próprio Submercado de Energia Secundária

para a parcela de usina “p” em seu submercado, no patamar “r”, da semana “w”

𝐶𝑂𝐵𝑆𝐸𝐶_𝑃𝑝,𝑠,𝑟,𝑤 é a Quantidade Alocada de Outros Submercados de Energia Secundária

para a parcela de usina “p”, por submercado “s”, no patamar “r”, da semana “w”.

3.1.6 DETERMINAÇÃO DOS AJUSTES TOTAIS DO MRE

O passo seguinte consolida o ajuste energético final de cada usina, contabilizando

o fluxo de energia que cada empreendimento recebeu de seu próprio submercado e dos

demais. Nesta etapa, consolida-se a quantidade de energia total que a usina cedeu ou

recebeu do mecanismo para que, em seguida, se possa obter o resultado financeiro das

operações.

A CCEE considera que o fluxo de energia é positivo se a usina recebeu energia do

mecanismo e negativo, se ela cedeu energia para as demais. Define-se, dessa forma:

Page 46: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

39

𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑃𝑆𝑝,𝑠,𝑟,𝑤

= 𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑃𝑆𝑝,𝑟,𝑤 + 𝐶𝑂𝐵𝑆𝐸𝐶_𝑃𝑆𝑝,𝑟,𝑤 − 𝑆𝑂𝐵𝑅𝐴_𝐺_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤

(22)

𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑃𝑝,𝑠∗,𝑟,𝑤 = 𝐶𝑂𝐵𝐺𝐹𝐼𝑆_𝑃𝑝,𝑠∗,𝑟,𝑤 + 𝐶𝑂𝐵𝑆𝐸𝐶_𝑃𝑝,𝑠∗,𝑟,𝑤

(23)

𝑝 ∈ 𝑠

𝑝 ∉ 𝑠 ∗

𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑀𝑅𝐸_𝑆𝑝,𝑠,𝑟,𝑤 = 𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑃𝑆𝑝,𝑠,𝑟,𝑤 + 𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑃𝑝,𝑠,𝑟,𝑤

(24)

𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 = ∑ 𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑀𝑅𝐸_𝑆𝑝,𝑠,𝑟,𝑤

𝑠

(25)

∀ 𝑝 ∈ 𝑃𝑀𝑅𝐸

Em que:

𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑃𝑆𝑝,𝑠,𝑟,𝑤 é o Fluxo de Energia no Próprio Submercado para a parcela de usina “p”,

em seu submercado “s”, no patamar “r”, da semana “w”

𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑃𝑝,𝑠,𝑟,𝑤 é o Fluxo de Energia em Outros Submercados para a parcela de usina “p”,

no submercado “s”, no patamar “r”, da semana “w”

𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑀𝑅𝐸_𝑆𝑝,𝑠,𝑟,𝑤 é a Fluxo de Energia do MRE no Submercado para a parcela de usina

“p”, no submercado “s”, no patamar “r”, da semana “w”

𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 é o Fluxo de Energia no MRE por parcela de usinas “p”, no patamar “r”,

da semana “w”

Dessa forma, após a cobertura de sua garantia física e de energia secundária, as

sobras de geração da usina representarão o que ela cederá para o mecanismo. Nota-se

que não é possível que a cobertura de garantia física e as sobras de geração de uma usina

sejam ambas não nulas. Também é interessante apontar que, independente da energia

cedida pela usina ter permanecido em seu próprio submercado ou ter ido para usinas

localizada nos demais, essa quantidade é computada no fluxo de energia no próprio

submercado da usina.

Uma situação que vale a pena ressaltar é aquela em que a usina apresenta sobras

de geração, mas estas não são suficientes para atender ao seu direito de energia

secundária. Nesse caso, se seu submercado apresentar sobras de geração, o fluxo de

energia advindo do próprio submercado da usina será positivo, ou seja, ela receberá

energia de outras usinas de seu submercado. Se este, no entanto, for deficitário, o fluxo de

Page 47: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

40

energia no próprio submercado da usina pode ou não ser positivo (dependendo se a

porcentagem de cobertura de sua energia secundária no próprio submercado foi ou não

suficiente para superar seu excedente de geração), mas esta apresentará um fluxo de

energia maior do que zero em um ou mais dos demais submercados. Assim, o fluxo de

energia de outros submercados nunca será negativo. O fluxo do MRE no período de

contabilização, independente do sinal do fluxo no próprio submercado, será positivo, já que

a usina precisa receber energia do mecanismo.

3.1.7 COMPENSAÇÃO DA GERAÇÃO NO MRE

Na fase final, são apurados os recursos financeiros totais do MRE e quanto cada

agente deve receber ou pagar em função de sua participação no mecanismo. O MRE é

apurado antes da liquidação financeira do agente no Mercado de Curto Prazo, assim, esta

contabilização é apenas do montante financeiro referente aos fluxos de energia no MRE.

Se, mesmo após a aplicação da alocação de energia, a usina não cumprir com suas

obrigações contratuais, ela deverá saldar seus débitos a PLD. Caso, ao final desta etapa,

ela receba mais energia do que ela tem contratada, a usina pode vender estas sobras

através de contratos de venda de curto prazo no Mercado Livre ou liquidá-la a PLD no MCP.

Primeiramente, é verificado o montante de energia recebida e o de energia entregue

por cada parcela de usina. Em cada período de contabilização, pelo menos uma dessas

duas grandezas será nula. No mecanismo, o saldo total a ser recebido pelas usinas é

simplesmente a energia cedida por ela valorada ao valor de sua TEO. No entanto, o

pagamento realizado é igual ao total a ser pago no MRE na proporção de seu recebimento

de energia em relação ao total recebido no mecanismo.

Esta diferenciação deve-se, principalmente, ao custo da TEO de Itaipu, que é

descolado dos demais. Caso não houvesse nenhuma usina com Tarifa de Energia de

Otimização particular, o recebimento de cada usina seria igual ao valor que ela pagaria pela

mesma quantidade de energia (desconsiderando eventuais exposições financeiras). Em

geral, a menos que Itaipu não tenha cedido energia para o mecanismo, o valor do MWh

pago por uma parcela de usina é superior ao que ela recebe.

Este processo é representado pelas seguintes equações:

𝐸𝑁𝑇𝑅𝐸𝐺𝐴_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 = max(0, −𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤)

(26)

Page 48: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

41

𝑅𝐸𝐶𝐸𝐵𝐼𝐷𝐴_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 = max(0, 𝐹𝐿𝑈𝑋𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤)

(27)

𝑅𝐸𝐶𝐸𝐵𝐼𝑀𝐸𝑁𝑇𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 = 𝐸𝑁𝑇𝑅𝐸𝐺𝐴_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 × 𝑇𝐸𝑂𝑝,𝑚

(28)

𝑇𝑂𝑇_𝑃𝐴𝐺_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 = ∑ 𝑅𝐸𝐶𝐸𝐵𝐼𝑀𝐸𝑁𝑇𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤

𝑝 ∈𝑃𝑀𝑅𝐸

(29)

𝑃𝐴𝐺𝐴𝑀𝐸𝑁𝑇𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 = 𝑇𝑂𝑇_𝑃𝐴𝐺_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 ×

𝑅𝐸𝐶𝐸𝐵𝐼𝐷𝐴_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤

∑ 𝑅𝐸𝐶𝐸𝐵𝐼𝐷𝐴_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤𝑝 ∈𝑃𝑀𝑅𝐸

(30)

𝐶𝑂𝑁𝑆𝑂𝐿𝐼𝐷𝐴ÇÃ𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑚

= ∑ (𝑅𝐸𝐶𝐸𝐵𝐼𝑀𝐸𝑁𝑇𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 − 𝑃𝐴𝐺𝐴𝑀𝐸𝑁𝑇𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤)

(𝑟,𝑤) ∈ 𝑚

(31)

∀ 𝑝 ∈ 𝑃𝑀𝑅𝐸

Em que:

𝐸𝑁𝑇𝑅𝐸𝐺𝐴_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 é a Energia Entregue ao MRE da parcela de usina “p”, no patamar “r”,

da semana “w”

𝑅𝐸𝐶𝐸𝐵𝐼𝐷𝐴_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 é a Energia Recebida do MRE da parcela de usina “p”, no patamar “r”

da semana “w”

𝑅𝐸𝐶𝐸𝐵𝐼𝑀𝐸𝑁𝑇𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 é o Recebimento do MRE da parcela de usina “p”, no patamar

“r”, da semana “w”

𝑇𝐸𝑂𝑝,𝑚 é a Tarifa de Energia de Otimização da parcela de usina “p”, utilizada para valorar

os custos da energia trocada no MRE, no mês de apuração “m”

𝑇𝑂𝑇_𝑃𝐴𝐺_𝑀𝑅𝐸𝑟,𝑤 é o Total de Pagamento ao MRE no patamar “r”, da semana “w”

𝑃𝐴𝐺𝐴𝑀𝐸𝑁𝑇𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑟,𝑤 é o Pagamento do MRE da parcela de usina “p”, no patamar “r”, da

semana “w”

𝐶𝑂𝑁𝑆𝑂𝐿𝐼𝐷𝐴ÇÃ𝑂_𝑀𝑅𝐸𝑝,𝑚 é a Consolidação do MRE da parcela de usina “p”, por mês de

apuração “m”

3.1.8 CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE CONTABILIZAÇÃO

Page 49: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

42

O valor da TEO é inferior ao piso do PLD e o da TEO Itaipu possui um valor próximo

a este. Inclusive, até 2014, a Tarifa de Energia de Otimização de Itaipu era determinado

pelo mínimo preço do MCP. Desta forma, para as usinas que precisam complementar sua

geração, o MRE se apresenta como uma forma econômica de adquiri-la. Em compensação,

para aquelas usinas que costumam gerar além de sua garantia física de forma recorrente,

suas responsabilidades ante o mecanismo representam uma perda financeira.

A partir da forma como a CCEE realiza a apuração dos resultados do Mecanismo

de Realocação de Energia, para além daquelas três situações globais mencionadas na

apresentação do mecanismo, poderemos observar individualmente para os participantes

as seguintes possibilidades:

1. Há energia secundária no sistema e a usina considerada apresenta sobra de

geração. Neste caso, a energia alocada final desta usina pode ser maior ou menor do que

sua geração própria, dependendo se suas sobras em relação à garantia física foram

menores ou maiores, respectivamente, do que o Ajuste do MRE. No entanto, esta energia

alocada será superior à sua garantia física. A usina, desta forma, pode ter de receber

energia do mecanismo, mesmo tendo gerado acima de sua GF.

2. Há energia secundária no sistema e a usina considerada apresenta déficit de

geração. A energia alocada final da usina será maior do que sua geração própria e maior

do que sua garantia física. A usina deverá pagar pela cobertura da garantia física e da

energia secundária.

3. O Ajuste do MRE é inferior a um e a usina considerada apresenta sobra de geração.

Assim, a energia alocada final da usina será menor do que sua garantia física. Ela entregará

energia para outros agentes do MRE para cobertura da garantia física dos mesmos.

4. O Ajuste do MRE é inferior a um e a usina considerada apresenta déficit de geração.

Para esta situação, a energia alocada após a contabilização do MRE para a usina poderá

ser maior ou menor do que sua geração, dependendo se a razão entre sua geração e sua

garantia física for menor ou maior do que o Ajuste do MRE, respectivamente. No entanto,

essa quantidade será inferior à garantia física. Mesmo gerando abaixo de sua GF, a usina

pode, ainda assim, ter de entregar energia para o mecanismo.

3.2 Situação atual do GSF

Como abordado ao longo deste trabalho, os contratos firmados pelos geradores

hidrelétricos em sua maioria envolvem uma obrigação de entrega mensal de energia, sendo

Page 50: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

43

que, caso esta obrigação não seja cumprida, é o gerador quem tem de arcar com a

exposição negativa no Mercado de Curto Prazo. Essa situação é verdade tanto no ACR,

em que os leilões de contratação costumam ser na modalidade “por quantidade” de energia;

quanto no ACL, em que todos os contratos, independente da fonte energética, costumam

implicar em um compromisso mensal de suprimento.

De forma a mitigar os inúmeros riscos envolvidos na comercialização de energia por

parte dos agentes geradores com empreendimentos a partir de fonte hidráulica, o MRE se

apresenta como um importante instrumento de mitigação de riscos. No entanto, esta

afirmação só é válida na medida em que o bloco gerador hidráulico consiga atingir seus

níveis de garantia física.

Segundo o Anuário Estatístico de Energia Elétrica (EPE, 2016), a geração de

eletricidade a partir do recurso hidráulico, em 2011, representava cerca de 80% da

produção total, enquanto esses empreendimentos correspondiam a, aproximadamente

70% da capacidade instalada. No entanto, em 2015, a produção hidrelétrica equivalia a

61,87% da geração total e sua capacidade instalada era de 64,76% da matriz. Desta forma,

observamos que, há alguns anos, a produção de energia hidrelétrica era acima de sua

representatividade na matriz e, atualmente, essas grandezas já se equivalem, sendo que a

geração já se encontra até abaixo em termos percentuais.

A situação apresentada em 2011 seria a normalidade de nosso sistema, pois o

despacho hídrico representa uma operação mais econômica e, embora precisemos contar

com a existência de térmicas na matriz para garantir a segurança do suprimento, estas

exercem um papel de complementaridade em relação às usinas hidrelétricas. Conforme a

discussão no início do trabalho, nos últimos anos temos presenciado um processo intenso

de diversificação da matriz com expansão acelerada de fontes como usinas eólica e

biomassa. Estas fontes, chamadas de fontes intermitentes, não são controláveis e são

despachadas conforme disponibilidade de sua fonte primária. Este fator contribui para a

redução da geração hidrelétrica.

Todavia, este fator não deveria causar um grande impacto no GSF, pois este é a

razão entre a geração das hidrelétricas e suas garantias físicas. A expansão de outras

fontes reduziria a geração hídrica, mas estas ainda deveriam ser capazes de atingir seus

níveis de energia assegurada. O que vem se verificando, entretanto, é uma queda no nível

deste fator, como pode ser observado na Figura 8. Nela, podemos observar que, até 2012,

ele se encontrava acima da unidade, expressando a existência de energia secundária no

sistema ao longo do ano. Esta situação se modifica em 2013, ano a partir do qual o GSF

Page 51: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

44

apresentou valores abaixo de um em todas as médias anuais. Em 2015, ele apresentou

seu nível mais baixo, de 84,7%. De acordo com o InformaCCEE do dia 09/06/2017, a CCEE

projeta um ajuste de cerca de 85,2% para o ano de 2017.

Uma das principais razões para a queda deste fator é a condição de hidrologia

desfavorável que vem ocorrendo nos últimos anos, com as Energia Naturais dos

subsistemas permanecendo, em geral, abaixo de suas médias de Longo Termo, com

exceção do Sul. O subsistema Nordeste, inclusive, vem apresentando uma das piores

séries hidrológicas de seu histórico. A Energia Armazenada de seus reservatórios ficou em

torno de 10% de sua capacidade em Outubro e Novembro de 2016, segundo histórico do

ONS e tem ficado em torno dos 20% no primeiro semestre de 2017.

Em função da ausência de chuvas e dos baixos níveis dos reservatórios, o Operador

do Sistema pode optar, por indicação do CMSE, por acionar térmicas por razão de

suprimento energético. Esse tipo de despacho não entra na precificação e é cobrado por

meio do Encargo de Serviços do Sistema (ESS).

Figura 8: Histórico do Fator de Ajuste do MRE. Fonte: Elaboração própria a partir de dados da

CCEE.

Nestes casos, torna-se extremamente difícil para os geradores hidráulicos

protegerem seus investimentos. Muitos deles passaram a ter posições negativas no

Mercado de Curto Prazo em somas milionárias e, assim, levaram a questão para disputas

judiciais, conseguindo liminares que os protegia de terem de pagar seus débitos na

liquidação financeira. Essas liminares causaram um grande desequilíbrio no MCP,

Page 52: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

45

provocando altos níveis de inadimplência e dificultando o recebimento dos agentes com

posições positivas (GOMES, 2015).

Em 2015, quando começaram a surgir as questões judiciais em torno da questão do

GSF, a ANEEL abriu a Audiência Pública nº32/2015 para discutir o tema. Ela teve como um

dos resultados a Medida Provisória nº688/2015, que, posteriormente, foi convertida na Lei

nº 13.203/2015, que, entre outras determinações, dispõe sobre a repactuação do risco

hidrológico para os participantes do MRE (ANEEL, 2015).

Em dezembro deste mesmo ano, foi publicada a Resolução Normativa nº 684/2015,

que estabelece os termos e as condições para a repactuação no ambiente regulado e no

ambiente livre. Alguns agentes aderiram à repactuação do risco hidrológico no ACR, mas a

proposta para o ACL teve pouca adesão. Os agentes que optarem pela repactuação devem

desistir de qualquer processo judicial. Na liquidação de Abril de 2017, cerca de R$1,64

bilhão está associado com a inadimplência relacionada com liminares do GSF, o que ilustra

que esta medida ainda não foi suficiente para solucionar o problema.

Para aderir a repactuação do risco hidrológico no ACR, a usina precisa fazer parte

do MRE e ter contrato em vigor com alguma distribuidora. Os contratos de venda e a

outorga da usina precisam ter vigência mínima até dezembro de 2016. O montante passível

de repactuação é limitado ao menor valor entre os lotes vendidos e a garantia física da

usina.

O gerador que opta pela repactuação no ACR transfere parte de seu risco ao

comprador mediante um pagamento de prêmio de risco. Ele pode escolher entre três

classes de produto: classe P, em que o gerador permanece com a energia secundária do

sistema; classe SP, em que a energia secundária também é transferida ao consumidor e

classe SPR, em que, além da energia secundária, o consumidor também arca com o risco

da redução da garantia física do gerador.

Cada classe possui um pagamento de prêmio diferenciado. Como, na classe P, o

gerador permanece com o direito ao excedente de energia do sistema, o prêmio que ele

deve pagar é mais elevado por unidade de energia do que o das demais classes. Além da

divisão entre as três classes, o produto escolhido pelo agente gerador também dependerá

da quantidade de risco que ele está disposto a assumir.

Os optantes pelas classes P e SP devem determinar esta quantidade por meio de

um fator f, que pode variar entre 0% e 11%. Para um f igual a 0%, o gerador não assume

nenhum risco em relação à sua garantia física e, portanto, paga um prêmio de risco mais

elevado. O agente que escolher um produto da classe SP e estiver disposto a tomar um

Page 53: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

46

risco de 5%, por exemplo, adquire o Produto SP95. Para a classe SPR, o risco é

inteiramente assumido pelo comprador e, dessa forma, o fator f é sempre zero para esta

classe.

O prêmio de risco é pago para a Conta Centralizadora dos Recursos de Bandeiras

Tarifárias (CCRBT). Também desta conta virão os recursos financeiros utilizados para

ressarcir os agentes geradores pela repactuação do risco. Ao decidir repactuar o risco, o

agente deve firmar um termo de adesão no qual especifica a classe do produto, o fator f e

o montante de energia repactuado.

Além dessas especificações, também será definido no termo de adesão o prazo de

postergação de pagamento do prêmio de risco. Este último só se aplica para aqueles

agentes que optarem por repactuar o resultado de 2015. O valor devido ao agente será

pago por meio do adiamento do início do pagamento do prêmio ou, se não for suficiente,

haverá postergação da outorga do empreendimento, em que a energia poderá ser

negociada livremente ou vendida no ACR.

No caso da opção por recontratar a energia no ACR, as condições serão as mesmas

do contrato preexistente com exceção do montante de energia. Este último será majorado

para contemplar o montante negociado no mercado livre ou a parcela de energia que não

foi repactuada. O prazo de extensão da outorga considera a amortização do ativo

constituído e atualizado monetariamente por meio da margem líquida unitária de referência

em R$/MWh.

Em cada período de comercialização, o valor a ser transferido para o consumidor,

que será calculado mensalmente pela CCEE, utilizará a equação:

𝑇𝑅_𝑅𝐼𝑆𝑝,𝑚 =

𝑀𝑂𝑁𝑇_𝐶𝑉𝑅𝑚

𝑄𝑀_𝐺𝐹𝑝,𝑚′

× ( ∑ {max (0; [(1 − 𝑓) × 𝐺𝐹𝐼𝑆_2𝑝,𝑟,𝑤′ − 𝐺𝐹𝐼𝑆_3𝑝,𝑟,𝑤

′ ])

𝑟,𝑤 ∈ 𝑚

× 𝑃𝐿𝐷𝑝,𝑟,𝑤 − 𝐶 × {∑ [𝐷𝑆𝐸𝐶𝑝,𝑠,𝑟,𝑤′ × 𝑃𝐿𝐷𝑠,𝑟,𝑤]}})

4

𝑠=1

(32)

Em que:

𝑇𝑅_𝑅𝐼𝑆𝑝,𝑚 é o resultado mensal do risco hidrológico que será transferido do vendedor aos

compradores, da usina “p” e por mês “m”

𝑄𝑀_𝐺𝐹𝑝,𝑚′ é a quantidade mensal de garantia física com sazonalização uniforme (“flat”), da

usina “p”, por mês “m”.

Page 54: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

47

𝑓 é o risco hidrológico assumido pelo vendedor, podendo variar entre 0% e 11%, sendo

necessariamente zero para a classe SPR.

𝑀𝑂𝑁𝑇_𝐶𝑉𝑅𝑚 é o montante em MWh da repactuação efetuada pelo agente, podendo variar

entre zero e o menor valor entre seus lotes negociados no ACR e sua garantia física,

referente ao mês “m”, distribuído de forma uniforme.

𝐺𝐹𝐼𝑆_2𝑝,𝑟,𝑤′ é a garantia física modulada ajustada à sazonalização uniforme da usina “p”,

para patamar de carga “r” e semana “w”.

𝐺𝐹𝐼𝑆_3𝑝,𝑟,𝑤′ é a garantia física modulada ajustada à sazonalização uniforme para o MRE da

usina “p”, para patamar de carga “r” e semana “w”.

𝐶 é uma variável que pode variar entre zero e um, sendo zero para a classe P e um para

as demais.

𝐷𝑆𝐸𝐶𝑝,𝑠,𝑟,𝑤′ é o direito à energia secundária da usina “p” participante do MRE por

submercado “s”, patamar de carga “r” e semana “w”, considerada sazonalização uniforme.

𝑃𝐿𝐷𝑠,𝑟,𝑤 é o preço de liquidação de diferenças do submercado “s”, para o patamar de carga

“r” e semana “w”.

Para o cálculo dessa quantidade, a CCEE precisa realizar uma contabilização

similar àquela que ocorre para aferir os resultados do MRE, porém, considera-se nesse

processo a sazonalização uniforme das garantias físicas e dos montantes de energia

contratados (BRITO, 2015). Assim, em geral, o fator de ajuste para fins de repactuação não

será o mesmo do MRE. O valor recebido pelo gerador, portanto, pode não ser suficiente

para cobrir totalmente o deslocamento da geração hidrelétrica.

Também podemos ver pela equação que, para produtos da classe P, a energia

secundária não entra no resultado mensal do risco hidrológico (C = 0). Para as demais

classes, a energia secundária decorrente da repactuação do risco entra como um valor

negativo, ou seja, ele é repassado para o consumidor pelos vendedores. Dessa maneira, o

agente vendedor deve avaliar bem quais são as melhores estratégias para a escolha do

produto mais adequado para seu caso.

Já a repactuação no ACL se dá por meio de termo de adesão em que o gerador

escolhe o montante de energia de reserva existente a ser destinado ao seu uso, que deve

ser de, no mínimo, 5% de sua garantia física e estará limitado à quantidade total de energia

de reserva disponível até dezembro de 2015.

O prêmio de risco que ele deverá pagar será a multiplicação de R$2,10/MWh pela

quantidade de energia de reserva destinada a seu uso. Este valor, referenciado a janeiro

Page 55: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

48

de 2015, será atualizado anualmente pelo IPCA a partir de janeiro de 2016. Essa mesma

condição também é válida para os valores dos prêmios de risco para repactuação no ACR.

A energia de reserva solicitada pelo gerador para efeitos a partir de 2015 será válida

até 31 de dezembro de 2018. A partir de 2016, para um período mínimo de quatro anos, o

gerador deve declarar em leilões específicos de energia de reserva de capacidade de

geração o montante de energia necessário para substituir a energia de reserva existente

destinada a seu uso.

Os resultados referentes ao ano de 2015 serão obtidos da restituição dos montantes

excedentes da CONER ao longo do mesmo ano, atribuído ao gerador hidráulico na

proporção do montante repactuado em relação ao total de energia de reserva contratada

nesse ano.

No período de extensão do prazo de outorga para os agentes do ACL, o gerador

hidráulico ficará inteiramente responsável pelo seu risco não fazendo jus ao uso da energia

de reserva. A capacidade de energia de reserva deste será transferida aos demais usuários

deste tipo de energia. O gerador pode optar por negociar em ambos os ambientes de

contratação na extensão da outorga.

Além da repactuação em ambos os ambientes de contratação, a Lei 13.203, por

meio de redação dada pela Lei nº 13.360, de 2016, determina que a ANEEL deve

estabelecer, para aplicação a partir de 2017, a valoração, o montante elegível e as

condições de pagamento para os participantes do MRE do custo do deslocamento da

geração hidroelétrica decorrente de geração termelétrica que exceder a ordem de mérito e

a importação de energia elétrica sem garantia física.

Para atender esta determinação, foi aberta a audiência pública nº 45/2016 em

dezembro de 2016. Desta audiência, resultou a resolução normativa nº 764, de 18 de abril

de 2017. Ela define o montante de energia elegível para valoração a fim de realizar o

pagamento aos participantes do MRE. Este montante corresponde a deslocamento por

razão de segurança energética e por restrição elétrica (ANEEL, 2017).

O montante de energia será rateado entre os participantes do MRE na proporção

de sua garantia física modulada ajustada de forma flat, similarmente à usada para fins de

repactuação do risco hidrológico no ACR. O valor financeiro a ser ressarcido para cada

usina será esta quantidade multiplicada pela diferença entre o PLD médio do período em

que houve o deslocamento de geração e o PLDx do ano. Caso essa diferença seja negativa,

o gerador não receberá compensação financeira naquele período de comercialização. A

Page 56: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

49

compensação financeira será paga por meio da cobrança de Encargo de Serviço de

Sistema (ESS).

O PLDx é um valor que deverá ser divulgado anualmente pela Câmara de

Comercialização de Energia Elétrica. Ele expressa a mediana do histórico dos valores do

PLD desde 2001. Para 2017, o PLDx foi fixado em R$ 108,07/MWh.

Como é possível perceber, nos últimos anos, juntamente com o agravamento da

situação do GSF, várias propostas vêm sendo discutidas para contornar a questão com a

intensa participação dos agentes geradores nas audiências públicas. Apesar disto, ainda

há um número elevado de processos judiciais ativos e uma inadimplência bilionária no

MCP.

O Setor Elétrico tem passado por diversas modificações e muitas propostas para

atualização dos modelos adotados estão surgindo. Assim, é provável que o próprio MRE

passe por mudanças estruturais a fim de melhor comportar o cenário atual do sistema

elétrico brasileiro. Essas incertezas podem fazer com que agentes geradores donos de

Pequenas Centrais Hidrelétricas, que podem optar por fazer ou não parte do mecanismo,

se questionem sobre a validade da permanência no bloco. O próximo capítulo abordará a

metodologia e as premissas adotadas para uma análise deste tipo para as PCHs Queluz e

Lavrinhas. A análise considerará apenas a contabilização do Mecanismo de Realocação de

Energia, sem considerar os efeitos de uma possível repactuação do risco ou a

compensação financeira decorrente do deslocamento de geração.

Page 57: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

50

4. Estudo de Caso

A participação das Pequenas Centrais Hidrelétricas no MRE é opcional,

regulamentada pela Resolução Normativa nº 409, de 2010 que estabelece os critérios e

procedimentos para participação dos empreendimentos não despachados

centralizadamente no mecanismo. Entre os critérios, estão incluídos a necessidade de

encaminhamento de pedido de adesão à CCEE e a instalação do Sistema de Medição e

Faturamento. O agente que optar pela entrada ou saída do MRE deve manter sua decisão

por um período mínimo de 12 meses.

Na concepção original da resolução, eram estabelecidas algumas metas de geração

média mínima para que o agente pudesse permanecer no mecanismo. Essas metas

aumentavam progressivamente conforme o tempo de operação comercial da usina. A partir

da Lei nº 13.360, de 2016, no entanto, ficou estabelecido que os empreendimentos

hidrelétricos não despachados centralizadamente só poderiam ser excluídos do mecanismo

em caso de opção própria do gerador ou por conta de perda de outorga.

De forma a avaliarmos os benefícios comerciais que podem ser trazidos pelo

Mecanismo para um agente deste tipo, serão avaliados os casos das PCHs Queluz e

Lavrinhas, ambas de propriedade da Alupar. Os dois empreendimentos têm características

similares quanto à localização e capacidade de geração de energia elétrica. Eles se

localizam na bacia do Rio Paraíba do Sul, no estado de São Paulo, e possuem capacidade

instalada de 30 MW. Suas garantias físicas também são iguais e equivalem a 21,4 MW.

A PCH Queluz interliga-se ao SIN por meio da linha de transmissão que parte da

subestação elevadora de Queluz, encontra-se com a subestação da PCH Lavrinhas e

segue até a subestação de Santa Cabeça, no município de Cachoeira Paulista. Ela entrou

em operação comercial em agosto de 2011. A PCH Lavrinhas localiza-se à montante da

PCH Queluz e entrou em operação comercial um mês depois, em setembro de 2011.

A fim de realizar um estudo sobre as vantagens e desvantagens do MRE para a

operação financeira dessas usinas, foram aplicadas as regras do mecanismo aos meses

de operação da usina para validação de algumas das aproximações utilizadas e para

análise do desempenho passado dos empreendimentos. Além disso, foram escolhidos

cinco cenários baseados em hidrologias passadas para obtenção de um possível despacho

futuro e, assim, avaliar os benefícios de se fazer parte do mecanismo.

Page 58: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

51

Uma das simplificações adotadas, por conta dos dados disponíveis, foi a aplicação

do mecanismo em base mensal sem separação por patamar de carga. Os dados usados

foram em MW médios por mês. Além disso, não seria viável reproduzir o mecanismo

utilizando-se dados de todas as usinas participantes por conta do número elevado de

dados, o que aumentaria de forma excessiva o problema sem um ganho proporcional nos

resultados. Assim, não é possível se calcular as sobras e déficits de cada subsistema,

apenas quanto cada um pôde exportar ou importar dos demais, em média, por mês.

Ainda por conta da não possibilidade de identificar quanto cada usina receberia de

cada subsistema em função do não conhecimento do total de déficits individuais, não se

pode identificar de forma precisa a contribuição de Itaipu na energia alocada para o MRE,

que influencia na contabilização final do mecanismo. Para contornar este problema, foi feita

uma estimativa desta parcela de contribuição em função das sobras de geração de Itaipu

em relação à sua garantia física. A forma como essa simplificação foi feita será discutida

mais adiante.

Para a simulação do despacho futuro, foram utilizados dados baseados no deck do

NEWAVE disponibilizado pela CCEE referente ao mês de março. As informações contidas

nele só englobam informações sobre as usinas despachadas de forma centralizada pelo

ONS. Desse modo, foi adotada a aproximação de que estas usinas são representativas de

todo o bloco dos participantes do MRE. No ano de 2016, segundo dados da CCEE, a

geração das usinas despachadas centralizadamente correspondeu a cerca de 96% da

geração do MRE.

4.1 Dados de Entrada

Para que possa ser reproduzido o processo de contabilização do Mecanismo de

Realocação de Energia, primeiramente, são necessários dados de geração e garantia

física. Além da geração e da garantia física sazonalizada para fins de MRE das PCHs

Queluz e Lavrinhas, também foram utilizadas as gerações e garantias físicas sazonalizadas

de cada subsistema do SIN.

4.1.1 GERAÇÃO E GARANTIA FÍSICA PASSADOS

Para o passado, através de diversos relatórios da CCEE, foi possível se obter a

geração por subsistema das usinas participantes do MRE, assim como os dados de

Page 59: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

52

garantia física sazonalizada utilizada para fins do mecanismo. Além disso, também estavam

disponibilizados os dados para as PCHs em estudo. Os dados de geração e garantia física,

obtidos em MWh, foram transformados em valores médios para cada mês.

4.1.2 DESPACHO FUTURO DOS SUBSISTEMAS

Como discutido no início deste trabalho, a operação do sistema brasileiro é bastante

complexa e envolve uma cadeia extensa de modelos que estão em constante processo de

aperfeiçoamento. Para o objetivo deste trabalho, a geração futura foi obtida adotando-se

uma série de simplificações, que não são feitas na operação real. Os dados utilizados foram

majoritariamente retirados do deck do NEWAVE disponibilizados pela CCEE para o mês de

março. Os dados fornecidos englobam o período de 2017 até o final de 2021.

O problema de programação linear foi resolvido na forma de um PL único, ou seja,

a simulação de todos os períodos e cenários é resolvida de forma direta e determinística.

Sua formulação matemática foi dada por:

𝑀𝑖𝑛 𝑧 = ∑ (∑ (∑ (∑ 𝑐𝑡,𝑠,𝑖𝑔𝑡𝑡,𝑠,𝑖

𝑖∈𝑡𝑟

)

𝑟

)

𝑠

)

𝑡

(33)

𝑠𝑢𝑗𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑎:

𝑔ℎ𝑡,𝑠,𝑟 + 𝑉𝑡,𝑠,𝑟 + 𝑆𝑡,𝑠,𝑟 = 𝐴𝑡,𝑠,𝑟 + 𝑉𝑡−1,𝑠,𝑟

(34)

𝑔ℎ𝑡,𝑠,𝑟 + ∑ 𝑔𝑡𝑡,𝑠,𝑖

𝑖∈𝑡𝑟

+ ∑ 𝐼𝑛𝑡𝑡,𝑠,𝑘

𝑘∈𝑙𝑟

= 𝐷𝑡,𝑠,𝑟 − 𝐺𝑃𝑒𝑞𝑡,𝑠,𝑟

(35)

𝑉𝑡,𝑠,𝑟 ≤ 𝑉𝑡,𝑠,𝑟 ≤ 𝑉𝑡,𝑠,𝑟

(36)

𝑔ℎ𝑡,𝑠,𝑟 ≤ 𝑔ℎ𝑡,𝑠,𝑟 ≤ 𝑔ℎ𝑡,𝑠,𝑟

(37)

𝑔𝑡𝑡,𝑠,𝑖 ≤ 𝑔𝑡𝑡,𝑠,𝑖 ≤ 𝑔𝑡𝑡,𝑠,𝑖

(38)

−𝐼𝑛𝑡𝑡,𝑠,𝑘 ≤ 𝐼𝑛𝑡𝑡,𝑠,𝑘 ≤ 𝐼𝑛𝑡𝑡,𝑠,𝑘

(39)

Page 60: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

53

𝑆𝑡,𝑠,𝑟 ≤ 𝑆𝑡,𝑠,𝑟 ≤ 𝑆𝑡,𝑠,𝑟 (40)

Em que:

𝑐𝑡,𝑠,𝑖 é o custo da térmica “i”, no intervalo de tempo “t” no cenário “s”.

𝑔ℎ𝑡,𝑠,𝑟 é a geração hídrica no intervalo de tempo “t”, no cenário “s” do submercado “r”.

𝑔𝑡𝑡,𝑠,𝑖 é a geração térmica da usina “i” no intervalo de tempo “t”, no cenário “s”.

𝑉𝑡,𝑠,𝑟 é o volume armazenado ao final do intervalo de tempo “t”, no cenário “s”, no

submercado “r”, em unidade de energia.

𝐴𝑡,𝑠,𝑟 é a energia natural afluente no intervalo de tempo “t”, no cenário “s”, no submercado

“r”.

𝑆𝑡,𝑠,𝑟 é o volume vertido no intervalo de tempo “t”, no cenário “s”, no submercado “r”.

𝐼𝑛𝑡𝑡,𝑠,𝑘 é o fluxo no tronco de intercâmbio “k”, no intervalo de tempo “t”, no cenário “s”.

𝐷𝑡,𝑠,𝑟 é a demanda no instante de tempo “t”, no cenário “s” no submercado “r”.

𝐺𝑃𝑒𝑞𝑡,𝑠,𝑟 é a geração das pequenas usinas no instante de tempo “t”, no cenário “s”, no

submercado “r”.

𝑡𝑟 é o conjunto de térmicas pertencentes ao submercado “r”.

𝑙𝑟 é o conjunto de linhas que desembocam no submercado “r”.

Foram considerados apenas quatro reservatórios equivalentes de energia

correspondentes aos submercados. Assim, as equações de balanço hídrico foram

agrupadas da mesma forma que para as de demanda. Para os limites de geração hidráulica,

foi considerada a geração mínima como sendo nula e a geração máxima estaria limitada à

soma das disponibilidades máximas de todas as usinas pertencentes ao submercado. As

disponibilidades máximas foram calculadas através do produto da capacidade instalada de

cada usina pela taxa de indisponibilidade programada (IP) e pela taxa de indisponibilidade

forçada (TEIF).

Ao longo do período de estudo, ocorrem algumas expansões de usinas existentes

ou entrada em operação de novas usinas. Assim, a capacidade de geração hidráulica

máxima aumenta ao longo do período considerado. Na simplificação adotada, não foi

considerada uma redução da capacidade de turbinamento em função do nível do volume

armazenado no período.

O custo das térmicas foi dado pelo CVU contido também no deck de informações.

Também está disponível a geração mínima de cada uma dessas usinas para cada mês do

primeiro ano e para os demais anos considerados. A geração térmica máxima considerada

Page 61: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

54

foi dada pelo produto da capacidade instalada (POTEF) pelo fator de capacidade máxima

da usina (FCMAX) e pelos índices de indisponibilidade programada (IP) e forçada (TEIF).

Tanto as variáveis usadas para o cálculo da geração térmica máxima quanto a

geração mínima podem possuir alterações em determinados períodos de tempo, que

também foram consideradas, conforme informações presentes no deck.

Os limites máximos dos volumes foram determinados a partir da capacidade

máxima dos reservatórios de cada subsistema, obtidos a partir de informações do ONS. Os

volumes iniciais também foram inseridos a partir do estado dos reservatórios do sistema ao

final do mês anterior ao mês incial do estudo. Quanto aos volumes mínimos, foi estabelecida

uma restrição para que os reservatórios não ficassem abaixo de 20% de sua capacidade

máxima de armazenamento. Para o volume final, também foi inserida esta restrição de

forma a evitar que os reservatórios fossem totalmente deplecionados ao final do estudo.

O deck fornece, para cada submercado, uma projeção da demanda e da geração

de usinas não despachadas centralizadamente (pequenas usinas). Essa informação é

replicada para todos os cenários. Os limites de intercâmbio também são fornecidos para

cada instante de tempo.

As afluências usadas foram retiradas de registros históricos. Essa opção também

foi feita, pois a geração das PCHs em estudo é função das afluências do rio em que estão

localizadas, que estão relacionadas com o submercado em que este rio se encontra. O

ONS possui relatórios com os registros históricos desde 1931 das energias naturais

afluentes por subsistema e por bacia. A partir dos dados de vazões históricas dos rios, é

utilizado o mesmo método empregado pelo NEWAVE para transformação em unidades de

energia, considerando a configuração das usinas e suas produtibilidades para uma altura

de queda a 65% do volume útil dos reservatórios. Esses registros são atualizados

anualmente para se adaptarem à configuração mais recente do SIN.

As correções adotadas pelo NEWAVE em função do volume dos reservatórios

referentes à redução da produtividade com a altura de queda, às perdas por evaporação e

o desvio d’água para atender a seus usos múltiplos também não foram incorporadas ao

problema do despacho, já que os polinômios usados para conversão são obtidos no

momento da conversão das vazões históricas para a energia natural afluente. Além disso,

como o método de solução é realizado de uma única vez e é um problema linear, a inserção

dos polinômios seria dificultada.

O resultado deste PL fornece a geração hidráulica, assim como a geração térmica

por usina, para todos os meses considerados, por subsistema e por cenário. Os valores do

Page 62: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

55

despacho hídrico obtidos serão usados como dados de entrada para a geração das usinas

do MRE para os cenários futuros.

4.1.2.1 Cenários Escolhidos

Os cenários históricos de energia natural afluentes foram escolhidos de uma forma

que se pudesse representar diferentes condições hidrológicas. A seleção foi feita

principalmente baseada na hidrologia do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, pois como

este possui maior capacidade de armazenamento e concentra a maior parte da carga do

SIN, este subsistema é um importante indexador nos resultados do modelo.

Os cenários selecionados foram:

Cenário 1 (Período crítico do sistema) → 1952 a 1956

Cenário 2 (Início seco seguido de recuperação) → 1970 a 1974

Cenário 3 (Período de cheias) → 1980 a 1984

Cenário 4 (Início de cheias seguido por seca) → 1998 a 2002

Cenário 5 (Anos recentes, em que se observa período de secura) → 2012 a 2016

A Figura 9 mostra, em MW médios os valores de cada cenário hidrológico. Como foi

discutido anteriormente neste trabalho, percebe-se que o cenário 5, que possui os

resultados mais recentes de Energia Natural Afluente, apresenta valores bem baixos para

o subsistema Nordeste. O Sul apresenta um desacoplamento com os demais e, com

exceção do cenário 3, não possui uma separação tão clara entre os cenários.

Page 63: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

56

Figura 9: ENAs de cada subsistema para os cenários escolhidos

4.1.3 GARANTIA FÍSICA FUTURA SAZONALIZADA DOS SUBSISTEMAS

Para obtenção das garantias físicas, foram utilizadas informações de Garantia

Física do Banco de Informações de Geração (BIG) da ANEEL dos empreendimentos em

operação comercial, em construção e com construção ainda não iniciada, dos relatórios de

acompanhamento da expansão de geração da ANEEL e dos relatórios das reuniões do

CMSE com a tendência para início de operação dos empreendimentos. Com estes dados,

foram estimadas as garantias físicas anuais, em MWmed, das UHEs por subsistema.

Através dos relatórios da CCEE com os dados gerais para o ano de 2016, foi obtido

o perfil de sazonalização das garantias físicas de cada submercado para fins de MRE. Este

perfil de sazonalização foi então aplicado aos dados anuais de garantia física. Assim,

conseguimos uma informação de garantia física por submercado em base mensal para

todos os anos de estudo.

Estas garantias físicas serão comparadas com a geração obtida por meio do

problema de programação linear explicado anteriormente. Como este apenas considerou

as usinas despachadas centralizadamente, a informação de garantia física também foi

obtida apenas para as UHE, desprezando-se a participação das garantias físicas das PCHs

e das CGHs.

Page 64: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

57

4.1.4 GERAÇÃO FUTURA E GARANTIA FÍSICA SAZONALIZADA DE QUELUZ E

LAVRINHAS

Por meio dos dados das vazões afluentes (em m³/s) e da geração bruta de cada

uma das PCHs, foi ajustada uma curva que relacionasse esses dois dados,

desconsiderando-se os primeiros meses de operação comercial. Tendo os valores

históricos de vazões de cada uma para os anos correspondentes a cada um dos cenários,

foi obtido uma geração correspondente. Comparando-se os dados de geração líquida da

CCEE com a geração bruta, constatou-se que as usinas possuíam um consumo de, em

média, 2,72%, que foram descontados dos dados originalmente retirados da curva.

Ao longo de todo seu período de operação comercial, não houve revisão do

montante de garantia física das PCHs estudadas. Os donos dos empreendimentos podem,

a cada ano, decidir pelo perfil de sazonalização da garantia física de seus

empreendimentos. Foram utilizados, para todos os anos, os dados de garantia física

sazonalizada para fins de MRE das PCHs para o ano de 2015, obtidos dos relatórios de

dados individuais das usinas da CCEE. Apesar dos registros referentes ao ano de 2016

serem mais recentes, o perfil de sazonalização adotado neste ano não acompanhava o

perfil de afluência do rio em que as PCHs estão localizadas, diferentemente do perfil de

2015. Assim, o de 2015 foi escolhido em detrimento do de 2016 por ser considerado mais

representativo.

4.1.5 PARTICIPAÇÃO DE ITAIPU

A CCEE possui diversos relatórios referentes ao MRE, que mudaram de formato ao

longo dos anos. A partir do preço médio da energia transacionada no MRE e dos preços da

TEO e da TEO Itaipu do período, é possível mapear o quanto a energia de Itaipu impactou

no preço do mecanismo em cada período de comercialização.

Procurou-se, então, estabelecer uma relação entre a porcentagem de participação

desta usina no preço do mecanismo e o quanto sua geração superou sua garantia física

sazonalizada. Foi ajustada uma reta que foi incorporada aos cálculos do mecanismo.

Para utilização dessa reta, foram utilizados os dados de garantia física sazonalizada

de Itaipu, que puderam ser inferidos do relatório dos Dados Gerais da CCEE. A geração

passada de Itaipu também foi obtida por meio dos relatórios da CCEE.

Page 65: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

58

Quanto à geração futura, foi empregado um método similar àquele aplicado a

Queluz e Lavrinhas: a geração bruta de Itaipu destinada ao Brasil para vários anos foi

conseguida a partir de dados históricos de geração de Itaipu do ONS, assim como as

vazões de sua bacia. Por meio desses dados, para os cenários trabalhados, foram

estimados valores de geração. Como os dados de geração do ONS e da CCEE possuíam

uma discrepância de cerca de 6%, este percentual foi retirado dos resultados do ajuste da

curva.

Tendo as gerações para o passado e para os cenários futuros, assim como dados

de garantia física de Itaipu, as sobras são obtidas a partir da diferença de ambos. A

porcentagem de participação de Itaipu na contabilização de cada mês pode, então, ser

obtida pela reta ajustada.

4.1.6 TARIFA DE OTIMIZAÇÃO DE ENERGIA

A ANEEL disponibiliza anualmente os valores da TEO e da TEO Itaipu que vão

vigorar durante todo o período. A Tabela 1 apresenta os valores de ambas para os anos

desde o início de operação comercial das centrais hidrelétricas até 2017. Estes valores,

como discutido no capítulo sobre o MRE, estão associados às flutuações do IPCA e, no

caso da tarifa de Itaipu, às cotações do dólar. Ambos os índices estão muito relacionados

com a situação econômica do país, o que torna suas variações de difícil previsão. Como

não foi considerado uma variação no CVU das térmicas para realização do despacho de

geração futura, também se adotou os valores da TEO como estáticos para os cenários

futuros.

Tabela 1: Valores de Tarifas de Energia de Otimização ao longo dos anos de estudo

TEO TEOITAIPU

2011 R$ 8,99 R$ 12,08

2012 R$ 9,58 R$ 12,20

2013 R$ 10,01 R$ 14,13

2014 R$ 10,54 R$ 15,62

2015 R$ 11,25 R$ 17,01

2016 R$ 12,35 R$ 22,41

2017 R$ 11,58 R$ 33,06

Page 66: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

59

4.2 Resultados

4.2.1 PASSADO

Considerando-se os dados realizados desde o mês de início de operação comercial

das PCHs (agosto de 2011 para Queluz e setembro de 2011 para Lavrinhas) até dezembro

de 2016, aplicou-se as regras do MRE, considerando-se os valores em MW médios mensais

sem divisão por patamares de carga. Além disso, com os dados de geração de Itaipu,

também foi utilizada a aproximação discutida na seção sobre os dados de entrada.

As Figuras 10 e 11 mostram um comparativo entre a geração efetiva das usinas

(barras azuis) e a energia alocada para elas ao fim da aplicação do mecanismo (barras

laranjas). Nos primeiros meses considerados, podemos verificar que, para ambos os

empreendimentos, em geral, a geração foi maior do que a energia alocada a elas, o que

mostra que elas cederam mais energia para o mecanismo do que receberam. No entanto,

nesses meses também houve energia secundária no sistema, como podemos perceber

pelo fato de que a curva mostrando a garantia física ajustada pelo MRE (𝐺𝐹𝐼𝑆_3) encontra-

se abaixo da energia alocada. Assim, mesmo o ganho financeiro das usinas ter sido menor

do que no caso de elas estarem operando assumindo todo o risco, elas ainda receberam

toda a sua garantia física ao final da consolidação dos resultados do MRE.

A partir de junho de 2012, esta situação se reverteu para Queluz. Até o final do ano

de 2015, durante a maior parte dos meses, a energia atribuída a ela foi bastante superior à

sua geração, indicando que ela recebeu energia das demais usinas, tendo que pagar a

tarifa correspondente. Esta tarifa sempre será inferior ao PLD e, portanto, o resultado

financeiro de Queluz de meados de 2012 até o final de 2015 teria sido pior caso esta não

fizesse parte do MRE.

A situação de Lavrinhas foi similar à de Queluz, mas apresentou mais flutuações do

que esta última no ano de 2012. Em janeiro e fevereiro deste ano, inclusive, Lavrinhas

apresentou uma “geração negativa”, indicando que seu consumo foi maior do que sua

energia turbinada. Ao longo do ano, a PCH apresentou uma melhora de desempenho, mas

o MRE também foi importante para seu balanço financeiro nos demais anos.

Page 67: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

60

Figura 10: Resultados energéticos da PCH Queluz em seus meses de operação comercial

Figura 11: Resultados energéticos da PCH Lavrinhas em seus meses de operação comercial

O ano de 2016 foi atípico para ambas as PCHs, já que, como mencionado durante

a discussão sobre os dados de garantia física das usinas para os cenários futuros, o perfil

de sazonalização escolhido para este ano foi divergente daquele adotado em anos

anteriores. Até 2015, a maior parte da garantia física era alocada nos primeiros meses do

ano, seguindo o perfil de afluências da região Sudeste. Em 2016, porém, grande parte da

garantia física foi deslocada para a segunda metade do ano. Assim, nos primeiros meses,

a geração das usinas foi bem superior à energia alocada. Em compensação, no segundo

semestre, a diferença entre a garantia física e a geração das usinas foi bastante acentuada.

Page 68: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

61

De forma similar ao Ajuste do MRE dado pela razão entre a geração agregada das

usinas participantes do mecanismo e o somatório de suas respectivas garantias físicas,

podemos considerar um ajuste de cada PCH como a razão entre sua geração e sua garantia

física sazonalizada para podermos comparar seu desempenho individual com o

desempenho do mecanismo. Caso o ajuste da PCH supere o do MRE, sua participação no

bloco não é economicamente vantajosa, pois o empreendimento estaria cedendo energia

ao bloco a um preço reduzido em vez de liquidá-la no Mercado Livre ou a PLD. Neste último

caso, se o Ajuste do MRE for bem menor do que a unidade, o empreendimento pode deixar

de cumprir suas obrigações de entrega de energia determinada em seus contratos por estar

cedendo energia ao bloco. Em contrapartida, se o Ajuste da PCH for menor do que o do

MRE, mesmo que este último seja inferior à unidade, o empreendimento pode não estar

cumprindo seus contratos (se este houver comprometido uma porcentagem elevada de sua

garantia física nestes), mas terá de adquirir uma quantidade inferior de energia no Mercado

Spot a PLD, reduzindo suas perdas. As Figuras 12 e 13 mostram as comparações destes

dois ajustes com discretização mensal e as figuras 14 e 15 as apresentam para cada ano

a fim de retirar os efeitos das sazonalizações interanuais.

Figura 12: Comparação entre o desempenho mensal de Queluz e o Ajuste do MRE.

Page 69: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

62

Figura 13: Comparação entre o desempenho mensal de Lavrinhas e o Ajuste do MRE.

Figura 14: Comparação entre o desempenho anual de Queluz e o Ajuste do MRE.

Page 70: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

63

Figura 15: Comparação entre o desempenho anual de Lavrinhas e o Ajuste do MRE.

Nas comparações mensais, podemos ver que o Ajuste do MRE apresenta bem

menos picos e vales do que os desempenhos individuais das PCHs, o que fornece uma

certa estabilidade ao longo do ano. Já nas comparações anuais, percebemos claramente

que os picos apresentados por Queluz e Lavrinhas em seus meses de geração elevadas

não foram suficientes para compensar os meses em que tiveram desempenho ruim. Assim,

com exceção do ano de 2011 (em que só foram computados alguns poucos meses), foi

vantajosa a participação de ambas no MRE.

Nas Figuras 14 e 15 podemos observar o decaimento do GSF discutido no capítulo

3. Todavia, as PCHs também foram afetadas pela hidrologia desfavorável e, sem as demais

usinas do MRE para amortecer este impacto, os resultados dela teriam sido

financeiramente piores. O ano de 2015, que teve GSF mais baixo, foi aquele em houve um

descolamento ainda maior do Ajuste das PCHs em relação ao do bloco.

As Figuras 16 e 17 ilustram a contabilização financeira dentro do MRE, ou seja, o

montante financeiro que cada PCH recebeu ou pagou pela energia transacionada dentro

do bloco. Os resultados positivos mostram que as usinas cederam energia ao mecanismo

e, por isso, receberam uma compensação financeira. Já os valores negativos representam

que as PCHs receberam energia das demais usinas e, assim, devem ressarci-las. Os

valores destas figuras não consideram possíveis exposições devido às diferenças de

submercado para a Energia Secundária.

Figura 16: Contabilização dos montantes financeiros da PCH Queluz relacionados à energia

transacionada no MRE.

Page 71: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

64

Figura 17: Contabilização dos montantes financeiros da PCH Lavrinhas relacionados à energia

transacionada no MRE.

Nas Figuras 16 e 17, as barras amarelas representam os montantes financeiros

reais divulgados pela CCEE. Os valores positivos calculados encontram-se bem próximos

aos valores reais, pois correspondem à energia cedida pelas PCHs valoradas à TEO. As

pequenas diferenças podem ser atribuídas a não consideração de cada semana e patamar

de carga. Além disso, as transformações dos valores de MWh para MW médios podem

causar algumas divergências. Já os valores negativos podem possuir diferenças mais

significativas. Isto se deve ao fato de o valor pago pela energia recebida ser diferente em

cada contabilização por conta da participação de Itaipu no montante de energia cedida.

Apesar deste valor ser estimado, os resultados calculados e reais estão bem próximos.

A comparação dos montantes de cada ano não é direta, pois os valores de TEO e

TEO Itaipu variam de um ano para o outro, mas estes gráficos ajudam a corroborar o que

foi dito sobre os primeiros meses de operação de Queluz, cujo resultado dentro do

mecanismo foi positivo no início de seu funcionamento. Nos demais meses, os resultados

de ambas foram majoritariamente negativos. Em 2016, há alguns resultados positivos no

primeiro semestre, mas os volumes negativos associados à segunda metade do ano são

bem mais elevados em módulo do que os resultados dos anos anteriores.

Para uma abordagem mais ampla dos resultados financeiros das PCHs, foi

considerado um contrato de 21 MW médios flat para cada PCH no valor de R$ 250,00/MWh.

Este valor será recebido mensalmente pelas usinas independente da operação real. No

MRE, caso a energia alocada final seja menor do que a energia do contrato, a PCH deverá

Page 72: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

65

adquirir energia faltante a PLD, caso contrário, ela poderá liquidar o excedente. Além do

contrato e do resultado no curto prazo, o balanço financeiro deve incluir os montantes

recebidos ou pagos pela energia transacionada no mecanismo.

No caso de uma operação por fora do MRE, o valor contratado não mais seria

comparado com a energia alocada pelo MRE, mas, sim, com a geração real da usina. As

possíveis divergências entre esses dois valores devem ser liquidadas a PLD. A Tabela 2

mostra a comparação dos ganhos financeiros em ambas as situações a partir de 2012.

Tabela 2: Resultados Financeiros de Queluz e Lavrinhas dentro e fora do MRE de 2012 a 2016.

Queluz Lavrinhas

Resultado

Financeiro no

MRE

Resultado

Financeiro fora

do MRE

Ganho

MRE

(%)

Resultado

Financeiro no

MRE

Resultado

Financeiro fora

do MRE

Ganho

MRE

(%)

R$

202.446.891,68

R$

146.116.826,80 38,55%

R$

206.580.656,55

R$

144.774.181,76 42,69%

A Tabela 2 consolida a conclusão de que, quanto à operação passada das usinas,

a participação no MRE ajudou a contornar uma situação de anos de vazões abaixo do

desejado, melhorando em torno de 40% o faturamento dos empreendimentos para um

contrato no valor e na quantidade mencionados, que são condizentes com a garantia física

da usina e com o preço da energia de PCHs nos leilões.

4.2.2 CENÁRIOS FUTUROS

Os cenários futuros foram escolhidos conforme discussão sobre os dados de

entrada. Como exposto, foram utilizadas hidrologias passadas com a configuração futura

do sistema com o parque atual e suas expansões programadas até o ano de 2021. Assim,

os resultados obtidos abrangem janeiro de 2017 a dezembro de 2021. As Figuras 18 e 19

mostram a comparação entre a geração e a energia alocada para Queluz e Lavrinhas,

respectivamente para todos os cenários.

Como podemos observar na análise destas figuras, poucas vezes a barra laranja

indicando a energia alocada para as PCHs superou a garantia ajustada pelo MRE,

indicando que o fator de ajuste do MRE, em geral, ficou abaixo da unidade. Como usamos

a sazonalização do ano de 2015 para a garantia física para fins de MRE, a garantia ajustada

Page 73: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

66

apresenta o mesmo formato para todos os anos, mas pode apresentar diferentes alturas de

acordo com o fator de ajuste do MRE. Vemos, dessa forma, que ao longo dos anos, em

todos os cenários, este fator não apresenta uma diferença muito acentuada.

Em compensação, a geração das PCHs apresenta níveis bem diferentes de acordo

com o cenário utilizado. No caso de Queluz, como podemos ver na Figura 18, o cenário 1

não teve uma hidrologia tão favorável, ficando sua geração significativamente abaixo da

garantia física em grande parte dos meses. Os cenários 2 e 3 apresentaram um resultado

mais equilibrado, sendo que, no cenário 3, a PCH apresentou um desempenho bem

expressivo. O cenário 4 teve uma performance mediana nos meses de maior afluência e

uma grande diferença entre geração e energia alocada nos meses de afluências mais

baixas. O cenário 5 corresponde a 2012-2016, anos de vazões bem baixas no rio de Queluz.

Neste cenário, a PCH teve um desempenho bem insatisfatório de geração em comparação

com a energia que foi alocada para ela ao final da aplicação do mecanismo.

Figura 18: Resultados energéticos da PCH Queluz para cenários futuros.

Page 74: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

67

A quantidade de energia alocada para Lavrinhas em relação a sua garantia física

para fins de MRE são iguais aos de Queluz, pois o desempenho do sistema como um todo

foi o mesmo para as duas PCHs, no entanto, os valores absolutos não são idênticos, já que

suas garantias físicas possuem valores um pouco diferentes por conta das médias de

perdas internas aferidas e sua distribuição de sazonalização. As gerações, embora ambas

as PCHs se localizem no mesmo rio, também são distintas pois elas se situam em alturas

diferentes e suas curvas de vazão-geração não são iguais.

Apesar dessas divergências, os cenários com melhores desempenhos para Queluz

são também os de Lavrinhas (cenários 2 e 3). Vemos, porém, que Queluz alcançou maiores

valores de geração nesses cenários do que Lavrinhas.

Figura 19: Resultados energéticos da PCH Lavrinhas para cenários futuros.

A comparação entre ambas as usinas pode ser melhor observada nas Figuras 20 e

21, em que vemos suas razões entre geração e garantia física em relação ao ajuste do

MRE. A geração de Lavrinhas parece ter um perfil um pouco mais estável do que o de

Page 75: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

68

Queluz ao longo dos anos estudados, mas esta última apresenta valores de picos maiores

do que Lavrinhas.

Assim como ocorrido para o passado, vemos muito menos variações nos ajustes do

MRE ao longo dos meses do que vemos em relação à geração das PCHs. Esta curva possui

um comportamento parecido em todos os cenários, pois a carga utilizada foi sempre a

mesma e o problema de otimização busca conseguir aproveitar o máximo da água em todos

os cenários para atender a carga. Conforme análise feita a partir da Figura 18 para Queluz,

os cenários 2 e 3 são aqueles com melhor performance de geração da PCH. O cenário 3

apresenta resultados muito elevados de geração de outubro de 2019 até dezembro de

2020. Quanto aos cenários 1, 4 e 5, é perceptível que o desempenho geral do bloco de

usinas participantes do MRE é superior ao da PCH. No cenário 5, percebemos claramente

um deslocamento das duas curvas, que possuem poucas interseções, diferentemente do

que ocorre nos demais cenários.

Figura 20: Comparação entre o desempenho mensal de Queluz e o Ajuste do MRE para cenários

futuros.

Page 76: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

69

No caso do cenário 3 de Lavrinhas, apesar de esta não apresentar geração tão

elevada quanto Queluz no segundo semestre de 2019 e durante 2020, ela apresentou

melhores resultados de geração nos anos de 2017 e 2018 e também em 2021. O

descolamento de sua curva de desempenho no cenário 5 também não possui um

afastamento tão grande quanto da de Queluz em relação ao ajuste do MRE, embora os

últimos dois anos de Queluz tenham sido melhores que os de Lavrinhas. Assim, quando há

vazão elevada, Queluz parece conseguir gerar mais, porém, em meses mais escassos,

Lavrinhas consegue uma performance mais elevada.

Figura 21: Comparação entre o desempenho mensal de Lavrinhas e o Ajuste do MRE para

cenários futuros.

Assim como feito para o passado, as Figuras 22 e 23 ilustram o resultado anual das

duas PCHs para que se possa observar o desempenho delas sem o efeito da

sazonalização. Nos ajustes anuais, podemos perceber que o despacho obtido por meio do

Page 77: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

70

problema de otimização manteve o despacho próximo da unidade, que seria a situação

esperada no sistema.

Nota-se que, apesar de algumas diferenças entre as PCHs, a análise geral que pode

ser feita para ambas é a de que, em geral, faz mais sentido permanecer no mecanismo de

realocação de energia, pois, com exceção do ano de 2020 no cenário 3, o desempenho das

duas foi inferior ao do bloco. Também vemos que, em condições de operações ordinárias,

o ajuste do MRE ficaria próximo à unidade e, dessa forma, se as usinas comprometessem

um pouco menos de sua garantia física nos contratos, elas poderiam conseguir cumprir

com suas obrigações de entrega durante a maior parte de sua operação.

Num contrato de entrega de energia por quantidade, a menos que as PCHs

assinassem contratos com um perfil de sazonalização que se ajustasse bem às suas

vazões, elas ficariam expostas ao Mercado Spot em vários meses.

Figura 22: Comparação entre o desempenho anual de Queluz e o Ajuste do MRE nos cenários

futuros.

Page 78: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

71

Figura 23: Comparação entre o desempenho anual de Lavrinhas e o Ajuste do MRE nos cenários

futuros.

Os gráficos das Figuras 24 e 25 mostram, para cada cenário, a contabilização de

cada empreendimento em relação à energia transacionada no próprio mecanismo. Como

foi utilizada a mesma tarifa ao longo de todo o período de estudo, os valores de todos os

meses possuem a mesma ordem de grandeza.

Page 79: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

72

Figura 24: Contabilização dos montantes financeiros da PCH Queluz relacionados à energia

transacionada no MRE para os cenários futuros.

Figura 25: Contabilização dos montantes financeiros da PCH Lavrinhas relacionados à energia

transacionada no MRE para os cenários futuros.

Os resultados financeiros apenas ratificam a discussão realizada sobre as

vantagens da permanência no mecanismo. Embora estes valores representem débitos para

as usinas, eles seriam muito mais elevados caso esta energia precisasse ser obtida a PLD.

Como dito na análise sobre o passado das usinas, o resultado negativo indica que as usinas

receberam energia do MRE, enquanto o postivo, que elas cederam. Apesar dos ganhos por

MWh serem menores do que o prejuízo devido ao preço da tarifa de Itaipu, esta energia

ainda é bem barata. Se as usinas estivessem cedendo muita energia, elas estariam

ganhando menos do que poderiam devido às suas obrigações com o bloco. Como a

situação é inversa (as usinas estão comprando energia das demais participantes), a

participação no bloco mostra-se como vantajosa.

Assim como foi feito para o passado, considerou-se que ambas as PCHs possuíam

um contrato com uma obrigação de entrega de energia flat de 21,0 MW médios com preço

de R$ 250,00/MWh. Diferentemente do passado, não temos valores de PLD, assim, foram

criadas as Tabelas 3 e 4 com diferentes pressuposições de PLD. Na Tabela 3, considerou-

Page 80: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

73

se um valor de PLD mensal de R$ 200,00/MWh. Já a Tabela 4 assume um PLD de R$

250,00/MWh.

Essas tabelas consideram o resultado financeiro ao longo do período de estudo para

as PCHs dentro e fora do MRE. Este resultado engloba o pagamento pelos contratos, as

transações no mercado de curto prazo e, no caso de participação no MRE, a contabilização

das transações ocorridas dentro do bloco.

Podemos ver que, com exceção do cenário 1, o resultado financeiro de Queluz fora

do MRE é superior ao de Lavrinhas, pois, como a primeira consegue gerar acima em épocas

de vazão elevada, seu resultado no mercado de curto prazo seria superior. Em

compensação, como a garantia física de Lavrinhas para fins de MRE é um pouco acima da

de Queluz, seu resultado financeiro dentro do bloco também é maior, já que, como

integrantes do mecanismo, ambas receberão a mesma porcentagem de sua garantia física

ao fim de cada contabilização.

Pelo fato de Lavrinhas apresentar um resultado fora do mecanismo inferior ao de

Queluz e melhor dentro dele, seu ganho percentual por fazer parte dele também é mais

elevado que o de Queluz. Em todos os cenários, há sempre um ganho financeiro dentro do

MRE. Apesar do cenário 3 ser o único cenário em que as PCHs apresentaram um ano com

desempenho superior ao do mecanismo, o cenário 2 foi aquele em que o ganho por

pertencer ao mecanismo foi menor. Isto porque, no cenário 2, o desempenho das PCHs se

afastou menos do ajuste do MRE ao longo do período de estudo do que o cenário 3. Como

esperado, o cenário 5, em que a geração das PCHs foi baixa, foi aquele com maiores

ganhos percentuais.

Em relação às diferenças entre as Tabelas 3 e 4, percebe-se que o aumento do PLD

faz com que a participação no bloco se torne mais vantajosa. Isto é decorrência dos maiores

valores que deveriam ser pagos pelos empreendimentos no caso de exposições negativas.

Para um PLD de R$250,00/MWh, as PCHs teriam que comprar energia no valor de seu

contrato no Mercado Spot, anulando qualquer resultado líquido nessas operações. É

interessante notar que os valores dos resultados fora do MRE das PCHs nas Tabelas 3 e

4 variam sensivelmente, mas as colunas do resultado dentro do MRE de ambas não se

alteram muito. Devido ao ajuste do MRE próximos de um, as PCHs sofrem pouca

exposição, não sendo tão afetadas pelo valor do PLD.

Tabela 3: Resultados Financeiros de Queluz e Lavrinhas dentro e fora do MRE para cenários

futuros, considerando um PLD mensal de R$200,00/MWh.

Page 81: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

74

Cen

Queluz Lavrinhas

Resultado

Financeiro no

MRE

Resultado

Financeiro fora

do MRE

Ganho

MRE

(%)

Resultado

Financeiro no

MRE

Resultado

Financeiro fora

do MRE

Ganho

MRE

(%)

1

(Período

Crítico)

R$

212.221.618,57

R$

190.322.809,58 11,51%

R$

213.625.325,06

R$

192.874.415,78 10,76%

2

(Seca→

Recuperação)

R$

223.995.983,09

R$

213.773.393,86 4,78%

R$

225.051.215,43

R$

210.196.480,24 7,07%

3

(Cheias)

R$

224.134.860,29

R$

209.138.361,43 7,17%

R$

225.286.210,25

R$

206.063.084,65 9,33%

4

(Cheia→

Seca)

R$

223.717.238,30

R$

201.580.246,26 10,98%

R$

224.581.778,16

R$

195.274.802,02 15,01%

5

(Seca

Recente)

R$

221.594.121,82

R$

173.216.530,12 27,93%

R$

222.800.707,10

R$

172.386.368,71 29,24%

Tabela 4: Resultados Financeiros de Queluz e Lavrinhas dentro e fora do MRE para cenários

futuros, considerando um PLD mensal de R$250,00/MWh.

Cen

Queluz Lavrinhas

Resultado

Financeiro no

MRE

Resultado

Financeiro fora

do MRE

Ganho

MRE

(%)

Resultado

Financeiro no

MRE

Resultado

Financeiro fora

do MRE

Ganho

MRE

(%)

1

(Período

Crítico)

R$

208.208.474,54

R$

180.384.511,97 15,42%

R$

209.949.342,74

R$

183.574.019,73 14,37%

2

(Seca→

Recuperação)

R$

222.730.477,22

R$

209.697.742,33 6,22%

R$

224.145.140,80

R$

205.226.600,29 9,22%

3

(Cheias)

R$

223.049.453,09

R$

203.903.951,79 9,39%

R$

224.561.768,32

R$

200.059.855,81 12,25%

4

(Cheia→

Seca)

R$

222.631.827,95

R$

194.456.307,82 14,49%

R$

223.857.333,03

R$

186.574.502,53 19,98%

5

(Seca

Recente)

R$

220.508.708,71

R$

159.001.662,65 38,68%

R$

222.076.259,21

R$

157.963.960,89 40,59%

Os resultados apresentados para os cenários futuros apontam para as vantagens

econômicas e de confiabilidade trazidas pelo MRE tanto para Queluz quanto para

Lavrinhas.

Page 82: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

75

5. Conclusão

No presente trabalho foi apresentada uma discussão sobre o Mecanismo de

Realocação de Energia, abordando sua importância dentro da configuração atual de

operação e comercialização do Sistema Elétrico Brasileiro, sua forma de contabilização e

as questões atuais que cercam esta temática. Por fim, foi feito um estudo de caso em torno

de duas PCHs a fim de se avaliar as vantagens de sua participação no mecanismo.

A partir dos resultados obtidos no estudo de caso, podemos concluir que, durante o

período de operação comercial de Queluz e Lavrinhas, o MRE foi importante para um

melhor equilíbrio econômico dos dois empreendimentos, já que, nesses últimos anos, as

vazões do rio em que estão localizadas foram baixas, o que resultou num desempenho

inferior ao esperado. Desta forma, mesmo com a questão do GSF baixo, as duas PCHs

tiveram uma performance ainda pior do que as hidrelétricas participantes coletivamente.

Quanto aos cenários futuros, os resultados obtidos também apontam para a

permanência das usinas no bloco. O modelo de otimização fez com que a tendência das

usinas participantes do MRE fosse apresentar um nível de geração em torno de sua

garantia física, o que é condizente com a forma de cálculo dessa grandeza, que busca

refletir a quantidade de energia que as usinas podem fornecer de forma constante para o

sistema. Essa estabilidade representa uma segurança para as PCHs participantes, cuja

geração varia muito ao longo dos anos e, em geral, não superam tanto sua garantia física.

Este tipo de resultado ilustra bem a idéia por trás da concepção do MRE, pois, nas

situações em que a usina apresenta geração em excesso, ela cede parte desta para as

outras, sem afetar a quantidade de energia que ela pode comprometer em contratos (já que

o mecanismo busca garantir que as usinas recebam seu nível de garantia física em todos

os meses); e, nos casos em que as usinas apresentam déficit de geração, ela receberia

energia das demais, pagando apenas pelos gastos incorridos por elas para gerar esta

sobra. Assim, em todos os períodos de contabilização do mecanismo, os empreendimentos

participantes teriam sua performance nivelada com as demais sem, contudo, ter um

prejuízo decorrente de insuficiência de lastro.

Para usinas que costumam gerar além de sua garantia física freqüentemente, o

MRE poderia não ser a melhor estratégia financeira, pois esta estaria deixando de liquidar

suas sobras de energia. No entanto, a obrigatoriedade da participação das usinas com

Page 83: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

76

despacho centralizado garante uma certa segurança energética para o bloco, evitando que

a saída de agentes importantes afete o fluxo energético.

Entretanto, para além dos modelos matemáticos, há, atualmente, situações difíceis

de se prever. A situação hídrica do Nordeste tem se mostrado preocupante, apresentando

um dos piores resultados do histórico sem perspectiva de melhora num futuro próximo. Esta

seca no Nordeste representa um novo período crítico, fazendo com que os cenários

históricos escolhidos para o estudo não sejam suficientes para análise proposta.

A crise hidrológica, apesar de mais severa no Nordeste, também afeta os demais

subsistemas. A própria metodologia de cálculo da garantia física leva em conta o período

mais crítico do histórico para calcular a quantidade de energia firme que as usinas podem

suprir para o sistema. O novo período de afluências escassas pode implicar na não

confiabilidade dos valores de garantia física atribuídos aos empreendimentos hidrelétricos.

As PCHs em estudo, por exemplo, também tiveram vazões em seu período comercial que

destoam da média de seus registros históricos. Assim, vimos que, em geral, suas gerações

não atingiram seu nível de garantia física.

Além disso, juntamente com a crise hidrológica, o cenário do Sistema Elétrico

brasileiro tem passado por diversas transformações, como a diversificação da matriz

elétrica, trazendo consigo a inserção de diversas fontes não controláveis, que operam na

base do sistema e são de difícil previsão. A estagnação do aumento da capacidade de

armazenamento em face da expansão da geração e da carga também torna o despacho

das usinas cada vez mais complicado e traz maior incerteza para o atendimento da

demanda.

Todos esses fatores têm culminado no acionamento das térmicas tanto por ordem

de mérito quanto por razões de segurança energética ou por restrição elétrica. Estes dois

últimos motivos vão contra a operação ótima do sistema, pois encarecem a operação

mesmo, teoricamente, havendo recurso hídrico para o despacho das usinas hidrelétricas.

Os estudos recentes para incorporação de novos mecanismos de aversão ao risco podem

aumentar o uso das térmicas, reduzindo, assim, a geração hidrelétrica e,

conseqüentemente, tornar a operação mais cara, o que também afeta o PLD.

Dessa maneira, o MRE, que visa a mitigação dos riscos da operação, não apresenta

a mesma segurança para seus empreendimentos. Como visto no capítulo 2, até 2012, a

situação normal do sistema era a existência de energia secundária. A modificação do

cenário resultou em diversos processos judiciais por parte dos donos dos empreendimentos

hidrelétricos, o que causou uma grande inadimplência no MCP, afetando todos os agentes

Page 84: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

77

de mercado. Desde então, procurou-se criar novas formas de contornar o problema como

a repactuação do risco hidrológico e o pagamento aos participantes do MRE em função do

deslocamento da geração hídrica (despacho fora da ordem de mérito das usinas térmicas).

A análise das vantagens de se participar do MRE, portanto, torna-se mais complexa

e o agente precisa avaliar se as medidas adotadas para a resolução dos baixos níveis do

GSF é suficiente para a estabilidade da operação comercial de seu empreendimento. O

comprometimento de uma porcentagem menor de sua garantia física em contratos pode

representar uma solução provisória, que evite exposições desnecessárias.

Verifica-se que a discussão sobre o MRE e a diminuição da participação das

grandes hidrelétricas na geração do SIN é bastante atual e será protagonista nos debates

sobre a restruturação do sistema que tem ocorrido. Essa questão deve envolver todos os

agentes do sistema para que seja encontrada uma solução que atenda a todos de forma a

não ocorrer um desestímulo no investimento do setor de geração.

Page 85: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

78

Referências Bibliográficas

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (ANEEL), Resolução Normativa nº 109,

de 26 de outubro de 2004. Institui a Convenção de Comercialização de Energia Elétrica.

Disponível em: < http://www2.aneel.gov.br/cedoc/bren2004109.pdf>. Acesso em: 30 de

abril de 2017.

______________, Resolução Normativa nº 409, de 10 de agosto de 2010. Estabelece

critérios e procedimentos para participação de empreendimento hidrelétrico não

despachado centralizadamente no Mecanismo de Realocação de Energia - MRE.

Disponível em: < http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2010409.pdf>. Acesso em: 10 de

março de 2017.

______________, “Nota Técnica nº 075/2014-SRG/ANEEL”. Atualização da Tarifa de

Energia de Otimização – TEO, com vigência a partir de 1º de janeiro de 2015, e da TEO

Itaipu 2015.3 de dezembro de 2014.

______________, “Nota Técnica nº 238/2015-SRM-SRG/ANEEL”. Critérios para anuência

e as demais condições de repactuação do risco hidrológico, nos termos da Medida

Provisória nº 688, de 18 de agosto de 2015 – MP 688. 29 de outubro de 2015.

______________, Resolução Normativa nº 684, de 11 de dezembro de 2015. Disponível

em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2015684.pdf>. Acesso em: 30 de abril de 2017.

______________, Banco de Informações da Geração (BIG), 2017. Disponível em:

<http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm>. Acesso em:

20 de maio de 2017.

______________, Bem-vindo à ANEEL!, 2017. Disponível em: < http://aneel.gov.br/a-

aneel>. Acesso em: 20 de maio de 2017.

______________, “Nota Técnica nº 029/2017-SRM-SRG/ANEEL”. Regulamentação do

artigo 2º da Lei nº 13.203, de 08/12/2015 – custo do deslocamento de geração hidrelétrica

decorrente de geração termelétrica acima da ordem de mérito econômico e importação de

energia sem garantia física. 28 de março de 2017.

______________, Resolução Normativa nº 764, de 18 de abril de 2017. Estabelece o

montante de energia elegível, a valoração e as condições de pagamento para os

participantes do Mecanismo de Realocação de Energia do custo do deslocamento da

geração hidrelétrica decorrente de geração termelétrica que exceder aquela por ordem de

mérito e de importação de energia sem garantia física. Disponível em:

<http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2017764.pdf>. Acesso em: 15 de maio de 2017.

Page 86: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

79

BRASIL. Decreto nº 2.655, de 2 de julho de 1998. Diário Oficial [da] República Federativa

do Brasil, Brasília, DF, 3 de julho de 1998. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2655.htm>. Acesso em: 15 de abril de 2017.

______________. Lei nº 10.848, de 15 de março de 2004. Diário Oficial [da] República

Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 de março de 2004. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.848.htm>. Acesso em:

15 de abril de 2017.

______________. Decreto nº 5.163, de 30 de julho de 2004. Diário Oficial [da] República

Federativa do Brasil, Brasília, DF, 30 de julho de 2004. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5163.htm>. Acesso

em: 15 de abril de 2017.

______________. Lei nº 13.203, de 8 de dezembro de 2015. Diário Oficial [da] República

Federativa do Brasil, Brasília, DF, 9 de dezembro de 2015. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13203.htm>. Acesso em:

15 de abril de 2017.

______________. Lei nº 13.360, de 17 de novembro de 2016. Diário Oficial [da] República

Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 de novembro de 2016. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/L13360.htm>. Acesso em: 15

de abril de 2017.

BRITO, M. C. T., Análise da Repactuação do Risco Hidrológico das Usinas Hidrelétricas

Participantes do Mecanismo de Realocação de Energia. Tese de M.Sc., COPPE/UFRJ,

Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2016.

CÂMARA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA (CCEE), “Regras de Comercialização:

Balanço Energético”. Versão 1.0. CCEE, 2012. Disponível em: <http://www.ccee.org.br>.

Acesso em: 15 de fevereiro de 2017.

______________, “Regras de Comercialização: Garantia Física”. Versão 2016.2.0. CCEE,

2016. Disponível em: <http://www.ccee.org.br>. Acesso em: 28 de março de 2017.

______________, “Regras de Comercialização: Mecanismo de Realocação de Energia”.

Versão 2017.1.0. CCEE, 2017. Disponível em: <http://www.ccee.org.br>. Acesso em: 15

de fevereiro de 2017.

______________, “Regras de Comercialização: Repasse do Risco Hidrológico do ACR”.

Versão 2017.1.0. CCEE, 2017. Disponível em: <http://www.ccee.org.br>. Acesso em: 02

de maio de 2017.

Page 87: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

80

______________, “InformaCCEE – Acompanhamento diário do mercado: 09/06/2017”.

CCEE, junho de 2017. Disponível em: <http://www.ccee.org.br>. Acesso em: 11 de junho

de 2017.

CÂMARA DE COMERCIALIZAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA (CCEE), OPERADOR

NACIONAL DO SISTEMA (ONS), “Treinamento Newave – Decomp – O SIN e os modelos

para Planejamento da Operação Energética”. Curso para Agentes. ONS/CCEE: maio de

2016. Disponível em: < http://www.ons.org.br/download/agentes/pmo/treinamentoPMO/01-

Apostila_Treinamento_modelos_NEWAVE-DECOMP_2016.pdf>. Acesso em: 30 de maio

de 2017.

EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE), "Metodologia de Cálculo da Garantia

Física das Usinas”. Nota Técnica nº EPE-DEE-RE-099/2008-r0, Rio de Janeiro, julho de

2008.

______________, “Custo Marginal de Expansão CME – Metodologia e Cálculo”. Nota

Técnica nº EPE-DEE-RE-043/2015-r0, Rio de Janeiro, março de 2015.

______________, ”Anuário Estatístico de Energia Elétrica 2016 – Ano Base 2015”. EPE,

setembro de 2016. Disponível em: <http://www.epe.gov.br>. Acesso em: 30 de abril de

2017.

EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE), MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA

(MME), “Plano Decenal de Expansão de Energia 2024”. Brasília: MME/EPE, 2015.

Disponível em: <http://www.epe.gov.br>. Acesso em: 30 de abril de 2017.

GOMES, Raphael. “A Lei nº 13.203/2015 e a Resolução Normativa Aneel 684/2015 -

repactuação do risco hidrológico”. Agência CanalEnergia. Rio de Janeiro, 14 de janeiro de

2016.

MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA (MME). Portaria nº 42, de 1º de março de 2007.

Disponível em: < http://www2.aneel.gov.br/cedoc/bprt2007042mme.pdf>. Acesso em: 15

de maio de 2017.

______________. Portaria nº 463, de 3 de dezembro de 2009. Disponível em:

<http://www2.aneel.gov.br/cedoc/atprt2009463mme.pdf>. Acesso em: 15 de maio de

2017.

SIERRA, M. A. G., Um Modelo de Otimização Estocástica Para Apoio à Decisão na

Comercialização de Energia de Pequenas Centrais Hidrelétricas. Tese de M.Sc., UFSC,

Florianópolis, SC, Brasil, 2013.

TOLMASQUIM, M. T., Novo Modelo do Setor Elétrico Brasileiro, 2ª ed. Rio de Janeiro,

Synergia, 2015.

Page 88: Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas ... · Santos, Andressa Soares dos. Análise da participação de Pequenas Centrais Hidrelétricas no Mecanismo de Realocação

81

TOLMASQUIM, M. T. (Coordenador), “Energia Termelétrica: Gás Natural, Biomassa,

Carvão, Nuclear”. EPE: Rio de Janeiro, 2016.