análise da mata ciliar de afluentes do rio doce após...

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ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - EEL UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP Análise da mata ciliar de afluentes do Rio Doce após rompimento da barragem de Fundão em Mariana - MG com o suporte de geotecnologias Lorena SP 2018

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ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA - EEL

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP

Análise da mata ciliar de afluentes do Rio Doce após rompimento da barragem de

Fundão em Mariana - MG com o suporte de geotecnologias

Lorena – SP

2018

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i

JOSÉ ANTÔNIO DA SILVA JUNIOR

Análise da mata ciliar de afluentes do Rio Doce após rompimento da barragem de

Fundão em Mariana - MG com o suporte de geotecnologias

Lorena – SP

2018

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado na Escola de Engenharia de

Lorena da Universidade de São Paulo como

requisito para conclusão da graduação do

curso de Engenharia Ambiental.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Danúbia Caporusso

Bargos.

Coorientadores: Ms. Thiago Gonçalves

Rodrigues e Dr. Éder Paulo Moreira

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ii

Silva Junior, José Antônio da

Análise das áreas de influência de afluentes do

Rio Doce após rompimento da barragem de Fundão em

Mariana (MG) com o suporte de geotecnologias / José

Antônio da Silva Junior; orientadora Danúbia

Caporusso Bargos. - Lorena, 2018.

80 p.

Monografia apresentada como requisito parcial

para a conclusão de Graduação do Curso de Engenharia

Ambiental - Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo. 2018

1. Geotecnologia. 2. Classificação supervisionada. 3. Landsat-8. 4. Rio doce. 5. Mata ciliar. I. Título.

II. Bargos, Danúbia Caporusso, orient.

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizado

da Escola de Engenharia de Lorena,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

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iii

AGRADECIMENTOS

A Deus por me dar a oportunidade de cursar o ensino superior. Pela força e graça dadas

para suportar todas as dificuldades encontradas nesse percurso e por Seu amor por mim.

À minha família por todo apoio e incentivo, pois, mesmo distantes, faziam-se presentes e

sempre deram a atenção e carinho que eu precisava para seguir adiante, sendo isso,

propulsores para minha caminhada nesse tempo me fazendo sempre acreditar que eu seria

capaz de concluir este curso.

À minha esposa Patrícia Silva que sempre esteve ao meu lado, apoiando-me nos momentos

mais difíceis e compreendendo minha ausência para dedicação a este trabalho.

Aos amigos que constituí em Lorena, em especial Raphael de Oliveira e sua mãe Flaílda,

pelos quais tenho imenso carinho e respeito, pois sempre estiveram de braços abertos para

me receberem e me apoiarem em momentos difíceis. Além das prazerosas e emocionantes

pedaladas que fiz com meu amigo.

À Prof.ª Dr.ª Danúbia Bargos pela orientação, por todo o conhecimento transmitido, por

acreditar e apoiar minhas escolhas, além de toda a paciência e dedicação que foram

imprescindíveis para a elaboração desta monografia.

À Visiona Tecnologia Espacial S.A. pela abertura ao me receber, não só como estagiário,

mas também como um estudante pesquisador e me fornecerem estrutura e suporte técnicos

necessários para o desenvolvimento desta monografia. Em especial ao Msc. Thiago

Rodrigues, por aceitar o desafio de ser meu coorientador neste trabalho. Por dispor de seu

tempo e paciência para me auxiliar nas atividades, bem como compartilhar dos seus

ensinamentos técnicos e informações que foram fundamentais para o desenvolvimento

desta dissertação. Da mesma forma, ao Dr. Eder Moreira, que chegou na metade da

evolução deste trabalho e mesmo assim não hesitou, nem poupou esforços para me auxiliar

na evolução dele, colaborando grandemente para sua qualidade e agilidade.

Também à professora Ana Gabas e a bibliotecária Regina Horta pelo direcionamento,

acompanhamento, apoio e contribuição para esta dissertação.

Por fim, mas não menos importante, ao professor Marcos Antônio (Marquinhos) por

acreditar em mim e me dar a honra de participar por dois anos consecutivos de projetos

oferecidos como bolsas de apoio estudantil que foram fundamentais para meu crescimento

profissional/acadêmico e foram fundamentais para minha permanência no começo da

graduação.

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iv

“Se enxerguei mais longe, foi porque me apoiei sobre os ombros de gigantes”.

Isaac Newton

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v

Resumo

SILVA JUNIOR, J. A. Análise da mata ciliar de afluentes do Rio Doce após

rompimento da barragem de Fundão em Mariana (MG) com o suporte de

geotecnologias. 2018. p.XX Monografia (TCC) – Escola de Engenharia de Lorena,

Universidade de São Paulo, Lorena, 2018.

Por mais que seja difícil prever quando e onde um desastre ambiental pode ocorrer,

algumas medidas, como a tomada de decisões e ações preventivas, podem ser adotadas

para evitar que eles se ampliem. Em novembro de 2015 aconteceu o rompimento da

Barragem de Fundão no município de Mariana - MG que, além de provocar o óbito de 19

pessoas, despejou no meio ambiente cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeito de

minério, que se deslocaram pelos rios Gualaxo do Norte, Rio do Carmo até o Rio Doce em

toda sua extensão. O material atingiu ainda a barragem de Santarém e Bento Rodrigues –

distrito do município de Mariana. Nesse contexto, a presente pesquisa tem por objetivo

analisar os impactos sofridos na mata ciliar no entorno do Rio Gualaxo do Norte, Rio do

Carmo e Rio Doce até a Usina Hidrelétrica (UHE) de Candongas após o rompimento da

barragem de Fundão em Mariana – MG, com o suporte de geotecnologias. Para isso, foi

elaborada uma base de dados georreferenciados e utilizadas diferentes técnicas de

geoprocessamento. Ademais, foram feitos testes de classificação das imagens do satélite

Landsat-8 referentes à área de cobertura do desastre em diferentes datas, a fim de

selecionar o processamento mais adequado para o cenário para análise das mudanças que

ocorreram na área delimitada. Os resultados possibilitaram a compreensão e a análise do

potencial do uso das geotecnologias na avaliação dos impactos decorrentes de desastres

ambientais, visto que foi possível visualizar o estágio da vegetação na mata ciliar e áreas

no entorno dos rios estudados, além da identificação de áreas onde a enxurrada da lama

passou e ainda não foram restauradas, tanto por não apresentarem crescimento vegetativo,

como por terem sido afetadas por alterações decorrentes das obras de retenção da lama. A

classificação supervisionada apresentou algumas falhas devido à confusão de elementos

que apresentaram assinaturas espectrais muito parecidas, entretanto, mostrou-se eficaz por

ter permitido a análise e a segmentação de maneira mais adequada das diversas classes que

compuseram as imagens. Além disso, considera-se que trabalhos dessa natureza permitem

difundir a disponibilidade de imagens orbitais gratuitas de alta resolução para uso

acadêmico.

Palavras-chave: Geotecnologia; Classificação supervisionada; Landsat-8; Rio Doce; Mata

ciliar.

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vi

Abstract

SILVA JUNIOR, J. A. Analysis of the riparian forest of tributaries of the Rio Doce

after Fundão dam rupture in Mariana (MG) with the support of geotechnologies.

2018. p.XX Monography (TCC) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São

Paulo, Lorena, 2018.

Although it is difficult to predict when and where an environmental disaster may occur,

some measures, such as decision-making and preventive action, can be taken to prevent

them of expanding. In November 2015, the Fundão dam broke in the municipality of

Mariana - MG, which, besides to cause the death of 19 people, dumped in the environment

about 40 million meters cubics of ore tailings that moved through the Gualaxo from the

North river, Carmo river to the Doce river in all its extension. The material also reached

the dam of Santarém and Bento Rodrigues - district of the municipality of Mariana. In this

context, the present research has the objective of analyzing the impacts of riparian forest

near the Gualaxo from the Norte river, Carmo river and Doce river to the Candongas

Hydroelectric Plant Powerhouse (HPP) after the dam rupture in Mariana - MG. For this, a

georeferenced database was elaborated and different geoprocessing techniques were used.

In addition, classification tests of Landsat-8 satellite images were carried out in different

dates, in order to select the most appropriate processing for the scenario to analyze the

changes that occurred in the delimited area. The results allowed the understanding and

analysis of the potential of the use of geotechnologies in the assessment of impacts due to

environmental disasters, since it was possible to visualize the vegetation stage in the

riparian forest and areas around the studied rivers, besides the identification of areas where

the mud slides and have not yet been restored, both because they do not present vegetative

growth and because they have been affected by alterations due to mud retention works.

The supervised classification presented some errors due to the confusion of elements that

presented very similar spectral signatures, however, it was effective because it allowed the

analysis and the segmentation of the different classes that composed the images. In

addition, it is considered that works of this nature allow to spread the availability of free

orbital images of high resolution for academic use.

Keywords: Geotechnology; Supervised classification; Landsat-8; Doce River; Riparian

forest.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Curva de refletância típica de uma folha verde ................................................ 23

Figura 2 - Assinatura espectral ........................................................................................ 24

Figura 3 - Bandas de operação do Landsat – 8 OLI/TIRS ................................................ 29

Figura 4 - Localização bacia do rio Doce ......................................................................... 31

Figura 5 - Área de Estudo ................................................................................................ 32

Figura 6 - Domínios geoambientais das bordas Sul e Leste do Quadrilátero Ferrífero ...... 33

Figura 7 - Vista aérea de Bento Rodrigues, interior de Minas Gerais, no dia seguinte ao

rompimento de barragens de rejeitos da mineradora Samarco ................................... 34

Figura 8 - Rio Doce - UHE Risoleta Neves logo após a chegada da lama ......................... 35

Figura 9 - Fluxograma das etapas a serem desempenhadas .............................................. 36

Figura 10 - Área de estudo antes do rompimento da barragem (11/10/2015) .................... 40

Figura 11 - Área de estudo uma semana após o rompimento da barragem (12/11/2015) ... 41

Figura 12 - Área de estudo quase três anos após o rompimento da barragem (01/09/2018)

................................................................................................................................. 42

Figura 13 - Classificação supervisionada da área de estudo do dia 11/10/2015 ................. 44

Figura 14 - Classificação supervisionada da área de estudo do dia 12/11/2015 ................. 45

Figura 15 - Classificação supervisionada da área de estudo do dia 01/09/2018 ................. 46

Figura 16 – Notícia do decreto nº 500 que viabiliza o início das obras de construção do

Dique S4 no distrito de Bento Rodrigues, Mariana - MG .......................................... 49

Figura 17 - Barra Longa após avalanche de lama ............................................................. 53

Figura 18 - Análise detalha Bento Rodrigues - Mariana/ MG ........................................... 55

Figura 19 - Destruição de vegetação ciliar, incluindo áreas de preservação permanente logo

a jusante da Barragem de Fundão. ............................................................................ 57

Figura 20 - Análise detalhada Paracatu de Baixo - MG .................................................... 58

Figura 21 - Marca da lama de rejeito na mata ciliar, Paracatu de Baixo, Mariana - MG.... 59

Figura 22 - Análise detalhada Barra Longa - MG .............................................................. 61

Figura 23 - Encontro do Rio do Carmo e do Rio Gualaxo do Norte com rejeito da

Barragem de Fundão - MG ....................................................................................... 62

Figura 24 - Santa Cruz do Escalvado - UHE Risoleta Neves (Candongas) ....................... 63

Figura 25 – Bento Rodrigues antes do rompimento da barragem de rejeitos (2015) ......... 65

Figura 26 – Bento Rodrigues logo após o rompimento da barragem de rejeitos (2015) .... 66

Figura 27 – Bento Rodrigues atualmente (2018) .............................................................. 66

Figura 28 - Paracatu de Baixo antes da enxurrada de lama da barragem de Fundão (2015)

................................................................................................................................. 67

Figura 29 - Paracatu de Baixo logo após a enxurrada de lama da barragem de Fundão

(2015) ...................................................................................................................... 68

Figura 30 - Paracatu de Baixo atualmente (2018) ............................................................. 68

Figura 31 - Barra Longa antes da chegada da lama ao município (2015) .......................... 69

Figura 32 - Barra Longa logo após a chegada da lama ao município (2015). .................... 70

Figura 33 - Barra Longa atualmente (2018) ..................................................................... 70

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Figura 34 - UHE Candongas antes do desastre ambiental (2015) ..................................... 71

Figura 35 - UHE Candongas logo após o desastre ambiental (2015) ................................ 71

Figura 36 - UHE Candongas atualmente (2018) ............................................................... 72

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Principais características do Landsat-8 ............................................................ 28

Tabela 2 – Bandas espectrais do sensor e suas faixas no espectro eletromagnético ........... 28

Tabela 3 - Quantidade de amostras de treinamento por imagem ....................................... 43

Tabela 4 - Áreas primeiro cenário (11/10/2015) ............................................................... 47

Tabela 5 - Áreas segundo cenário (12/11/2015) ............................................................... 47

Tabela 6 - Áreas terceiro cenário (01/09/2018) ................................................................ 47

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LISTA DE SIGLAS

ANA Agência Nacional de Águas

ANM Agência Nacional de Mineração

APP Área de Preservação Permanente

CAR Cadastro Ambiental Rural

CEMAM Centro de Monitoramento Ambiental do Ibama

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CSR Centro de Sensoriamento Remoto

DGBM DigitalGlobe Base Map

DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral

EIA Estudo de Impacto Ambiental

EUA Estados Unidos da América

GPS Global Positioning System

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano

MG Minas Gerais

MMA Ministério do Meio Ambiente

MW MegaWatt

NASA National Aeronautics and Space Administration

NDVI Normalized Difference Vegetation Index

NIR Near Infrared

OLI Operational Land Imager

PDI Processamento Digital de Imagens

PNMA Política Nacional do Meio Ambiente

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

SIG Sistema de Informações Geográfica

SWIR Shortwave Infrared

TIRS Thermal Infrared Sensor

TTAC Termo de Transação e Ajustamento de Conduta

UHE Usina Hidrelétrica

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xi

USGS United States Geological Survey

UTM Universal Transversa de Mercator

WGS World Geodetic System

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xii

SUMÁRIO

Ficha Catalográfica ........................................................................................................ ii

Agradecimentos ............................................................................................................. iii

Resumo ........................................................................................................................... v

Abstract ......................................................................................................................... vi

Lista de Figuras ............................................................................................................ vii

Lista de Tabelas ............................................................................................................. ix

Lista de Siglas ................................................................................................................. x

1. Introdução .............................................................................................................. 14

2. Objetivos ................................................................................................................. 15

2.1. Objetivos Gerais ................................................................................................. 15

2.2. Objetivos específicos .......................................................................................... 16

3. Revisão Bibliográfica ............................................................................................. 16

3.1. Equilíbrio ambiental ........................................................................................... 16

3.2. Desastres ambientais .......................................................................................... 18

3.3. Legislação Ambiental.......................................................................................... 19

3.4. Geotecnologia aplicada ao estudo de desastres naturais ...................................... 21

3.4.1. Processamento digital de imagem .................................................................. 24

3.4.1.1.Classificação de imagens ............................................................................... 25

3.5. Dados ................................................................................................................. 27

3.5.1. Landsat - 8 .................................................................................................... 27

3.5.2. My DigitalGlobe ........................................................................................... 29

3.5.3. SISCOM ....................................................................................................... 30

4. Área de Estudo ...................................................................................................... 30

5. Procedimentos Metodológicos ............................................................................... 35

6. Resultados e discussões .......................................................................................... 39

6.1. Comparação dos cenários classificados ................................................................ 39

6.1.1. Análise detalhada .......................................................................................... 54

6.2. Validação da classificação e detecção de mudanças ............................................. 64

7. Conclusão e considerações finais............................................................................ 72

8. Referências bibliográficas ...................................................................................... 75

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1. Introdução

Dados estatísticos evidenciam que a taxa de crescimento populacional ocorre hoje

de forma mais acelerada do que há algumas décadas, sendo diversos os fatores para a

ocorrência desse fenômeno. Tal crescimento causa uma pressão no meio ambiente devido

ao consequente aumento das demandas do ser humano por energia, alimento, vestimenta,

moradia e outras necessidades que visam a qualidade de vida do homem. Desta pressão,

intensificam-se as práticas agropecuárias, supressão de vegetação, uso e extração dos

recursos hídricos e minerais, dentre outros, que provocaram diversos impactos negativos

ao meio ambiente e as consequências dessas atividades, quando não desenvolvidas de

modo sustentável, podem culminar em desastres ambientais.

A palavra “desastre” significa: “resultados de eventos adversos, naturais ou

provocados pelo homem, sobre um ecossistema, causando danos humanos, materiais e/ou

ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais” (DEFESA CIVIL

NACIONAL, 1998).

Os desastres ambientais - como os deslizamentos ocorridos na região serrana do

Rio de Janeiro em 2011, o vazamento de óleo na Bacia de Campos também em 2011, a

explosão da plataforma Deepwater Horizon no Golfo do México, o derramamento tóxico

de alumínio em Ajka (Hungria) em 2010, dentre outros – tornaram-se destaque nos

noticiários nacional e mundial. No Brasil, essa situação vem causando intensa preocupação

devido às perdas e graves consequências desses eventos – os desastres. Albuquerque

(1997) destaca que a vulnerabilidade da população brasileira a desastres é muito grande se

comparada à vulnerabilidade em outros países, devido à acentuada diferença social

existente.

Nessa perspectiva, faz-se necessário a busca por metodologias e soluções que visam

prevenir e mitigar os impactos socioambientais de possíveis desastres ambientais, visto que

estes não são apenas manifestações agressivas da natureza, mas também são resultados de

processos sociais que não garantem uma adequada relação do homem com o meio

ambiente. Borba (2016) lembra que a mineração, por exemplo, só existe em função das

demandas de matérias primas da nossa sociedade e seu modo de vida e enfatizou ser esta

uma “atividade essencial para o Brasil”. Apesar de enfatizar a importância, o autor

ressaltou também que muitos problemas poderiam ser evitados se a legislação existente

fosse cumprida a risca (CALDAS, 2018).

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15

A atividade mineradora tem um grande impacto no meio ambiente, pois acaba

afetando a biota próxima de uma mina, bem como os rios e a atmosfera em diferentes

graus, dependendo do tipo de minério que se lavra. O órgão regulador da extração destes

recursos no Brasil é o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e o Código

de Mineração que está em vigência foi editado pelo Decreto-Lei 227, de 28 de fevereiro de

1967, pelo então governo militar, em substituição ao documento anterior, de 1940. Apesar

de ter sofrido muitas mudanças, o Código continua sendo a lei básica que regulamenta a

atividade e, de acordo com a legislação, cabe ao Estado a responsabilidade de fiscalização

das atividades mineradoras no país.

Nessa circunstância, considera-se que o uso da geotecnologia pode desempenhar

um papel significativo como instrumento que tornaria a fiscalização mais simples e

objetiva. Além disso, apresenta alta eficiência no monitoramento dos impactos causados

por este ofício, considerando-se ser um importante instrumento na análise do espaço em

grandes escalas, possibilitando a captação de dados espaciais com praticidade e alta

capacidade de análise quantitativa e qualitativa.

Partindo desta abordagem conceitual, este projeto tem por objetivo analisar os

impactos sofridos pela mata ciliar e áreas no entorno de afluentes do Rio Doce decorrentes

do rompimento da Barragem de Fundão no município de Mariana - MG ocorrido em 05 de

novembro de 2015. Além de provocar o óbito de 19 pessoas o evento despejou no meio

ambiente cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério que ocasionou a

supressão da vegetação marginal devido à erosão forçada pela onda de inundação,

deixando grandes depósitos de rejeitos expostos na calha do rio desde sua origem até a sua

foz no estado do Espírito Santo. Entretanto, este estudo limita sua análise à área do

rompimento até a Usina Hiderlétrica (UHE) Risoleta Neves mais conhecida como

Candongas, localizada entre as cidades mineiras de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado.

Para tanto, este trabalho teve o suporte de geotecnologias para gerar seus resultados.

2. Objetivos

2.1. Objetivos gerais

O principal objetivo deste projeto foi analisar os impactos sofridos pela mata ciliar

e áreas adjacentes no entorno do Córrego Santarém, Rio Gualaxo do Norte, Rio do Carmo

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16

e Rio Doce até a UHE de Candongas visando avaliar a transformação da área devido ao

rompimento da Barragem de Fundão em Mariana (MG).

2.2. Objetivos específicos

Os objetivos específicos englobam:

- Realizar um estudo relacionado ao tema e a área através do levantamento bibliográfico;

- Elaborar uma base de dados georreferenciados correspondentes à área a ser estudada;

- Testar diferentes técnicas de processamento de imagens orbitais a fim de selecionar o

processamento mais adequado para o estudo proposto;

- Selecionar pontos (áreas) ao longo do percurso avaliado para comparação dos mesmos

com imagens de altíssima resolução e validar a exatidão da classificação;

- Realizar análises buscando avaliar os impactos sofridos pela mata ciliar ao longo da área

de interesse após o rompimento da barragem de rejeitos de mineração e a eficiência e

limitações das técnicas/ produtos utilizados para realização do estudo proposto.

3. Revisão Bibliográfica

3.1. Equilíbrio ambiental

A manutenção dos sistemas ambientais, geridos a partir das relações entre a

biodiversidade, elementos físicos e socioculturais, representa a preservação da

continuidade do acesso aos recursos naturais e dos serviços ambientais essenciais para a

sustentação dos diferentes modos de vida da sociedade. Assim, é cada vez mais necessária

a busca pela manutenção do equilíbrio ambiental, ou seja, o estado ecossistêmico onde a

fauna e a flora sejam constantes ou o mais próximo disso possível.

Vários são os elementos naturais que fazem parte desse sistema e que devem estar

em equilíbrio a fim de se dar a continuidade das espécies e se tenha um ecossistema

ajustado. Nesse contexto, faz-se necessário a busca do equilíbrio entre exploração e

conservação dos recursos naturais, para que não haja a limitação do uso destes recursos

para o ser humano e se atenda a necessidade de preservação para as futuras gerações, como

determina a Constituição Federal de 1988. Contudo, vale lembrar que as mudanças no uso

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17

da terra são processos evolutivos, contínuos e dinâmicos, que se modifica com o passar dos

anos, pois depende do tamanho e do padrão de consumo da população.

Em condições naturais os ecossistemas se mantêm dinamicamente em equilíbrio.

Esse equilíbrio pode ser entendido como um conjunto de interações que buscam o estado

menos energético, balanceando, assim, as entradas e saídas de materiais e energia desse

ambiente. Esse é o Princípio de Le Chatelier que diz que: “Todo sistema em equilíbrio

químico estável submetido à influência de uma causa externa que tenda a fazer variar, seja

sua temperatura, seja seu estado de condensação (pressão, concentração, número de

moléculas numa unidade de volume), em sua totalidade ou somente em algumas de suas

partes, sofre apenas modificações internas, as quais se ocorressem isoladamente,

acarretariam modificação de temperatura ou de estado de condensação de sinal contrário

àquela resultante da ação exterior” (LE CHATELIER, 1884, p. 187). Analogamente, a

“causa externa” seria a ação do ser humano no meio ambiente (sistema), provocando a

alteração na dinâmica do ecossistema que, de alguma forma encontrará um meio para

voltar ao equilíbrio.

Não obstante, o impacto do homem sobre o meio ambiente se torna cada vez mais

complexo, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos e, por isso, o desenvolvimento

sustentável surge para enfrentar essa crise ecológica. Neto (2004, p.1), diz que “as escalas

e taxas de mudanças no uso do solo são bem maiores atualmente do que no passado,

devido principalmente às mudanças tecnológicas e ao crescimento da população”. Ou seja,

devido à variação do tamanho e padrão de consumo da sociedade.

Desta forma, o ser humano começa a enxergar sua influência e importância para o

meio ambiente, tanto na extração de seus recursos quanto na manutenção do seu equilíbrio

e como consequência, surge à busca pela elaboração e aplicação de leis e técnicas que

procuram limitar as ações antrópicas que, por vezes, são agressoras do meio ambiente.

Com base no exposto, percebe-se que o ser humano passou a se preocupar e

colaborar para a manutenção do meio que convive, procurando balancear até que ponto

existe um exagero do seu domínio e o atendimento às suas necessidades, caso contrário, se

essa preocupação não viesse à tona, seu papel passaria de elemento da reação com meio

ambiente a catalisador, que aumenta a velocidade de reação e acelera a degradação da

natureza.

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3.2. Desastres ambientais

Ao longo do século XX a exposição das pessoas aos riscos de desastres cresceu no

Brasil e no mundo mais rapidamente do que as capacidades de redução à vulnerabilidade,

resultando em intensos e extensos impactos, na escala espacial e temporal. Para Rossi

(Lieber e Romano-Lieber, 2002), o período considerado entre o século XIX e o inicio do

século XX pode ser denominado como os “os anos de segurança”, cuja confiança na

ciência se dava sem questionamentos.

Atualmente há diversos pesquisadores que consideram que o desastre ambiental por

si só não é um problema, pois a natureza é capaz de se adaptar a essa alteração e se

recuperar facilmente; o problema acontece quando esse evento envolve o ser humano, seja

ele como agente ativo ou passivo. No que se refere ao desastre de Mariana – MG, ambos

os agentes participam do evento: os habitantes e os responsáveis pela barragem. Neste

caso, além das perdas de vidas humanas, cujos valores são incalculáveis, em apenas onze

minutos de avalanche todo patrimônio histórico e cultural, construído ao longo de séculos,

fora dizimado pelo mar de rejeitos (GONÇALVES; VESPA; FUSCO, 2015).

Os desastres são acontecimentos coletivos trágicos nos quais há perdas e danos

súbitos e involuntários que desorganizam, de forma multidimensional e severa, as rotinas

de vida (por vezes, o modo de vida) de uma dada coletividade (VALENCIO, 2010. p.748).

Para Valencio (2005) muito comumente, os desastres constituem-se da soma de diversos

riscos ignorados ou mal gerenciados, isto é, de ameaças mal avaliadas assim como de uma

compreensão incompleta da vulnerabilidade humana frente às mesmas.

Araújo (2007, p.2) classifica esse evento em três categorias:

a) o desastre natural: que ocorre por forças da própria Natureza;

b) o desastre tecnológico: que surge da atividade humana/atividade antrópica (como o

vazamento de produto químico); e

c) o desastre ambiental: que ocorre quando um ecossistema é prejudicado por outro tipo de

desastre.

O caso de Mariana se enquadra na terceira categoria, contudo com um agravante: a

dimensão do ocorrido, pois, dadas as proporções deste desastre ambiental, as

consequências devido ao rompimento da barragem, mesmo depois de três anos, ainda são

imensuráveis.

Infelizmente, no Brasil, e em outros países no mundo, a percepção da barragem -

bem como outros empreendimentos com potencial ameaça de gerar um desastre ambiental

- quanto aos seus riscos tem ocorrido por meio da tragédia. Basta ver as muitas

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consequências negativas que podem ser enfrentadas na elaboração deste tipo de

empreendimento, uma vez que estas são expostas antes mesmo da sua concepção.

Entretanto, opta-se pela continuidade da construção, neste caso da barragem, aceitando os

seus riscos e convivendo com o perigo de um evento catastrófico, como ocorreu. Outro

exemplo da aceitação do risco aconteceu em Fukushima (Japão) no ano de 2011, quando

uma usina nuclear foi atingida por um terremoto seguido de um tsunami, decorrendo da

destruição de parte da usina e a exposição da população japonesa a outros riscos. A

possibilidade de ocorrência desse evento sempre existiu, contudo, aparentemente foi

considerado ínfimo perto dos benefícios da construção da usina e aceitou-se a conviver

com esse risco, até então.

Nesse contexto, a percepção de risco é ignorada ou ocorre de modo tardio, pois

quando o desastre acontece e gera grandes perdas materiais e imateriais às populações

atingidas, não há muito a ser feito para redução do impacto negativo sofrido e, quando há,

geralmente a solução é de longo prazo. Esse entendimento é baseado nas consequências

dos rompimentos de barragens de rejeitos de mineração, pois podem causar a

desertificação da área onde funcionam, alteração da qualidade do solo e da água,

assoreamento dos corpos de água próximos, mortandade de animais, bem como a

degradação da mata ciliar.

Diante do exposto, considera-se que os processos de decisão no que diz respeito às

barragens de rejeitos de mineração devem sempre ser elaborados com o intuito de evitar e

antecipar qualquer tipo de desastre, pois elas representam um risco ascendente para as

populações circundante a esta, desde antes de sua implantação até sua operação, pois a

construção destas edificações já exige uma alteração na rotina da população adjacente e,

quando operante, traz desconforto e insegurança quanto a sua sustentação.

Em relação à gestão de eventos de grande impacto, defende-se aqui que esta é

dependente da sinergia entre medidas estruturais (infraestrutura) e não estruturais

(instrumentos de viabilização e legalização) a fim de reduzir o impacto negativo na

natureza e minimizar suas consequências, como os desastres ambientais.

3.3. Legislação Ambiental

A Constituição Federal (Brasil, 1988), diz em seu Artigo 255, parágrafo segundo

que, “aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente

degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na

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forma da lei”. A exploração mineral por si só já é uma atividade de impacto significante no

meio ambiente, sobretudo se mal gerida. Tal atividade é capaz de gerar grandes impactos

ambientais, tais como: alteração da qualidade da água, assoreamento, mortandade de

animais (aquáticos, terrestres e aéreos), perda de vegetação, alteração da qualidade do ar e

do solo, etc. Além disso, a exploração descontrolada pode retirar mais recursos do meio do

que a capacidade desse meio se recuperar naturalmente.

No parágrafo IV do inciso anterior do mesmo artigo diz que:

§ 1° Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...] IV – exigir, na forma de lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa

degradação ambiental, estudo prévio de impacto ambiental, a qual se dará publicidade.

(BRASIL, 1988).

A fiscalização da segurança de barragens é responsabilidade da Agência Nacional

de Mineração (ANM), antigo DNPM, entidade que concede a outorga de direitos

minerários para fins de pesquisa e lavra para o aproveitamento mineral.Tal órgão é o

responsável pelo Código de Mineração que está em vigência e foi editado pelo Decreto-Lei

227, de 28 de fevereiro de 1967, pelo governo militar, em substituição ao documento

anterior, de 1940 e também dos diplomas legais complementares. Apesar de ter sofrido

muitas mudanças, o Código continua sendo a lei básica que regulamenta a atividade.

A lei é relativamente antiga, entretanto, ela tem aparato em outras leis como a Lei

Federal nº 6.938/1981 que dispõe da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), a

resolução CONAMA 001/86, principais regedoras da Avaliação de Impacto Ambiental e

do EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental/ Relatório de Impacto Ambiental). Mais

adiante, tem-se a Lei de Crimes Ambientais Lei n. 9.605/1.998, que obriga a realização do

Licenciamento Ambiental de atividades degradadoras, como é o caso da mineração.

Como visto, a Legislação brasileira no que diz respeito à conservação do meio

ambiente é bem vasta, chega até ser complexa e é considerada uma das melhores do

mundo. Entretanto, ainda há muitas barreiras que são responsáveis pela falta de

comprometimento dos órgãos competentes, no que diz respeito ao cumprimento dessas e

outras leis, e à fiscalização das atividades dos empreendimentos mineradores.

De modo geral, alguns mineradores e especialistas consideram que a legislação

ambiental acerca da mineração é extensa e até avançada. No entanto, apresenta-se

conflitante criando dificuldades na sua aplicação e necessitando uma compatibilização,

pois a sua aplicabilidade não é eficiente por uma série de fatores, tais como: há

divergências de prazos entre a legislação ambiental e mineral devido à diferença temporal

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de criação; os órgãos competentes pelo licenciamento ambiental não dispõem de estrutura

e profissionais qualificados em meio ambiente/mineração; em alguns locais, existem mais

de um órgão regulador em diferentes esferas de atuação e, geram assim, conflitos entre as

legislações; entre outros (FARIAS, 2002).

O desastre de Mariana – MG pode trazer à tona muitos debates acerca das

atividades mineradoras, o que pode apresentar aspectos positivos. Entretanto, a discussão

sem a sinergia das empresas, órgãos competentes à fiscalização e também da sociedade

civil, não será possível ter grandes avanços sustentáveis na mineração, ou seja, a

continuidade das atividades sem que haja grandes prejuízos ao meio ambiente, pois como

defendido na Constituição Federal de 1988 no Art.º 255:

Art.º 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum

de povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o

dever de defendê-lo e preservá-lo para às presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988).

Nessa perspectiva, faz-se necessário um esforço conjunto para que a atividade

mineradora apresente avanços tanto no âmbito prático quanto jurídico, visto que ela

representa uma atividade econômica importante para o país.

3.4. Geotecnologia aplicada ao estudo de desastres naturais

Geotecnologias são o conjunto de tecnologias para coleta, processamento, análise e

disponibilização de informações com referência geográfica (ROSA, 2013). Tal termo é

utilizado para referenciar todo o mecanismo envolvido para tratamento e análise de dados

espaciais e do espaço geográfico, tanto em temos qualitativos como quantitativos, bem

como o compartilhamento dessas informações. Todo o aparato que compõe essa tecnologia

envolvem os hardwares, softwares e a mão de obra humana, podendo assim, auxiliar o

analista na sua tomada de decisões.

Miranda (2005) ressalta que as geotecnologias existentes possibilitam a aquisição e

manipulação de informações espaciais, sendo ferramentas relevantes para o levantamento,

monitoramento e mapeamento dos recursos naturais. A utilização das geotecnologias

revela-se como um instrumento de grande potencial para o estabelecimento de planos

integrados de conservação do solo, da água e da cobertura vegetal. Dentre elas podemos

destacar: a cartografia digital, o Sistema de Posicionamento Global (GPS - Global

Positioning System), o Sistema de Informação Geográfica (SIG) e o sensoriamento remoto.

Deste último, Slater (1980) define sensoriamento remoto como a interação dos objetos com

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a radiação que atinge as superfícies dos objetos, ou seja, a radiação incidente nos alvos que

pode interagir de diferentes formas e é seletiva em relação ao comprimento de onda

específica para cada tipo de material em função de sua estrutura atômica e molecular.

Muitas são as aplicabilidades do sensoriamento remoto, tais como planejamento e

gestão de áreas ambientais e urbanas, como a geração de alertas de mudanças, controle de

fluxo de corpos hídricos, fluxo viário, etc; apoio para instrumentos de controles ambiental,

como o CAR (Cadastro Ambiental Rural) e urbano, como o IPTU (Imposto Predial e

Territorial Urbano); detecção de mudança de temperatura de determinada região, dentre

outras. Desta forma, pode ser útil para solução de problemas de engenharia,

monitoramento de processos geológicos, prevenção de riscos, recuperação de áreas

degradadas, construção de obras civis, aproveitamento de recursos hídricos e mineração,

etc., pois atualmente é uma das alternativas mais viáveis, dentre as geotecnologias, para se

reduzir significativamente o tempo e o custo gasto com o mapeamento de grandes áreas a

serem protegidas e, por consequência, agilizar a fiscalização do cumprimento das leis.

Além disso, com o uso do sensoriamento remoto é possível desenvolver estudos de

cobertura vegetal da terra que viabilizam a extração informações sobre a distribuição dos

diferentes tipos de vegetação, estrutura do dossel, estado fenológico, condições de estresse,

carência de nutrientes, entre outros (PONZONI E SHIMABUKURO, 2009). De acordo

com Jensen (2009), a estrutura interna e externa das plantas e suas interações com a

radiação eletromagnética, tem um impacto direto na forma como as folhas e os dosséis

vegetais aparecem espectralmente quando registrados usando instrumentos de

sensoriamento remoto. Além disso, as curvas de refletância podem variar em função da

morfologia da folha (CHUVEICO, 1996). A Figura 1 expressa graficamente o

comportamento da variação da reflectância em uma folha.

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Figura 1 - Curva de refletância típica de uma folha verde

Fonte: Adaptado de Prabhakar (2012)

A determinação de índices de vegetação (como o NDVI, por exemplo) é uma das

diversas finalidades que o sensoriamento remoto tem para controle e monitoramento de

áreas verdes. Para tanto, é necessário o processamento das bandas que operam na região do

visível - vermelho e infravermelho próximo (Red e Near Infrared – R e NIR). A figura 1

apresenta de forma clara essa relação, pois, no visível, a reflectância é baixa em função da

absorção da radiação pelos pigmentos da folha (clorofila, carotenos, xantofilas). Já no

infravermelho próximo a absorção é pequena e, consequentemente, a reflectância é alta,

devido à interação da energia incidente com a estrutura do vegetal. Por fim, nas bandas do

vermelho e infravermelho, há também uma a alta e baixa absorção de energia solar,

respectivamente, em virtude da presença de água na estrutura vegetal. Dessa forma, a união

das duas faixas espectrais supracitadas destaca as áreas de vegetação nas imagens

(HUXMAN et al., 2004). A Figura 2 apresenta graficamente a resposta espectral da de

forma mais sintetizada.

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Figura 2 - Assinatura espectral

Fonte: Adaptado de CEP/INPE

De acordo com Ponzoni (2012), o termo “assinatura espectral” deve ser empregado

como forma típica de um objeto refletir a radiação eletromagnética nele incidente,

caracterizadas, então, por fatores de refletância, o que raramente acontece quando se aplica

a classificação digital.

3.4.1. Processamento digital de imagens

O conhecimento da distribuição espacial das propriedades físicas e químicas é

fundamental para a modelagem ambiental e o manejo de extensas áreas de cobertura

vegetal. A identificação de objetos em imagens produzidas por sensores remotos mediante

a interpretação visual é eficaz quando o interesse é acessar as características geométricas e

a aparência geral desses objetos (PONZONI et.al., 2012).

Sabendo que as imagens de tais sensores são compostas por x linhas e y colunas,

formando assim uma matriz, onde cada elemento possui um atributo z, que representa a

intensidade da radiação refletida ou emitida por uma cena nesse ponto da imagem que é

registrada pelo sensor, faz-se necessário um trabalho de tratamento das imagens captadas,

haja vista que informações extraídas das cenas não dependerem somente da qualidade do

sensor, mas também da interpretação visual do analista. Tal tratamento é qualificado como

Processamento Digital de Imagens (PDI).

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Por PDI entende-se a manipulação de uma imagem por computador de modo que a

entrada e a saída do processo sejam imagens. O objetivo de se usar processamento digital

de imagens é melhorar o aspecto visual de certas feições estruturais para o analista humano

e fornecer outros subsídios para a sua interpretação, inclusive gerando produtos que

possam ser posteriormente submetidos a outros processamentos (SPRING, 1996). Além

disso, tais técnicas possibilitam a aquisição de um maior volume de dados, mais

objetividade, maior velocidade de manipulação, melhorar o aspecto para a análise visual e

outros processamentos, gerar novos produtos (imagens, gráficos e tabelas), registrar a

informação espacial em determinado contexto, etc.

As técnicas de processamento digital de imagem podem ser divididas em três fases:

técnicas de pré-processamento, técnicas de realce e técnicas de classificação. A primeira

engloba um conjunto de programas computacionais que permitem a transformação de

dados digitais brutos em dados corrigidos, ou seja, ocorre a correção de possíveis

distorções e melhora o desempenho de algoritmos a serem usados. Consiste também em

delimitar a área de estudo e fazer as correções radiométricas, atmosféricas e geométricas,

quando necessário. Já na segunda, tem como finalidade melhorar a visualização da cena

nas imagens e entra aqui a composição e fusão de bandas espectrais, cujo objetivo é a

obtenção de novas imagens que reflitam as relações existentes as bandas envolvidas nas

imagens pixel a pixel.; e, por fim, as técnicas de classificação, que tem como alvo atribuir a

cada pixel da imagem uma classe, tema ou rótulo e depende do tipo de objeto que se está

analisando e do tipo de resposta esperada na classificação. Nesta técnica, tem-se as

classificações supervisionadas, não-supervisionadas, NDVI, etc.

3.4.1.1. Classificação de imagens

A classificação digital de imagens é um processo de reconhecimento de padrões e

de objetos homogêneos e aplica-se ao mapeamento de áreas consideradas pertencentes a

uma única classe de objetos que constituem a legenda do mapeamento pretendido

(PONZONI; et.al., 2012). Nas duas últimas décadas muitos avanços foram alcançados

quanto às abordagens e técnicas para melhorar a precisão e qualidade da classificação de

imagens (LU E WENG, 2007). No entanto, a produção de mapas temáticos confiáveis é

ainda um processo complexo, já que muitos fatores como a heterogeneidade da paisagem,

a seleção dos dados de sensoriamento remoto, o processamento das imagens e a escolha

das abordagens de classificação mais adequadas interferem na qualidade do produto final

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(LU E WENG, 2007). Além do mais, os resultados da classificação digital de imagens de

satélites podem variar de acordo com a data de aquisição dos dados, resolução espacial,

espectral e radiométrica do sensor. Outro fator que influencia de forma significativa no

resultado da classificação é a ocorrência de sombras, tanto de nuvens, como aquelas

relativas ao relevo, em relação à angulação solar (azimute) na hora da captura da imagem.

Essas ocorrências acabam por ser comum às imagens de sensores óticos - denominados

passivos - por assim dizer. Isso porque a maioria dos satélites artificiais de imageamento

depende de uma fonte de iluminação secundária (solar) para captar e gerar imagens da

superfície terrestre.

As técnicas de classificação têm como propósito atribuir a cada pixel da imagem

uma classe a fim de gerar um mapa objetivo, eliminando, assim, a subjetividade do

processo de análise visual. O resultado da classificação é apresentado na forma de mapa

temático digital que definem o posicionamento e as classes pré-determinadas

(supervisionadas) ou pós-determinadas (não supervisionada).

Quando existem regiões da imagem em que o usuário tem informações que

permitem a identificação de uma classe de interesse, o treinamento é dito supervisionado.

Para um treinamento supervisionado o usuário deve identificar na imagem uma área

representativa de cada classe. Nesta classificação são usados algoritmos cujos

reconhecimentos dos padrões espectrais na imagem se faz com base na assinatura espectral

dos pixels e em amostras coletadas na área de interesse que são chamadas de amostra de

treinamento, as quais são fornecidas ao software pelo usuário e previamente determinadas,

ou seja, já conhecidas pelo analista, para que haja uma melhor qualificação das classes. De

acordo com Ponzoni (2012, p. 70), o treinamento supervisionado acontece quando o

usuário dispõe de informações que permitem a identificação, nas imagens, da localização

espacial de uma classe de interesse. É importante que a área de treinamento seja uma

amostra homogênea da classe respectiva, mas ao mesmo tempo deve-se incluir toda a

variabilidade dos níveis de cinza (SPRING, 2008).

Já na classificação não-supervisionada utiliza-se de algoritmos de agrupamento,

através do quais os pixels de uma imagem são atribuídos à classes espectrais, sem que o

usuário tenha conhecimento prévio das mesmas (Richards e Jia, 2006). Esses algoritmos

assume que cada grupo (cluster) representa a distribuição de probabilidade de uma classe

(PONZONI; et.al., 2012).

Ademais, é possível também obter uma resposta espectral do cenário através do

NDVI - Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (Normalized Difference

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Vegetation Index) - que é o índice de vegetação mais utilizado, sobretudo pelo setor da

agricultura. A normalização é feito pela razão entre a diferença e a soma das bandas do

vermelho e infravermelho próximo. No entanto, ele tende a saturar em áreas de alta

biomassa, tornando-se insensível para cobrir variações nessas áreas. Também é sensível às

variações no fundo do solo devido às condições de brilho e umidade aos efeitos

atmosféricos. Como ferramenta para o monitoramento da vegetação, o NDVI é utilizado

para construir perfis sazonais e temporais das atividades de vegetação, permitindo

comparações interanuais desses perfis (PONZONI et.al.; 2012, p. 90).

Portanto, a classificação de imagens apresenta resultados satisfatórios para indicar

os tipos de coberturas da superfície caracterizadas pelas variações de intensidade da

reflectância da luz nas imagens.

3.5. Dados

3.5.1. Landsat - 8

A série Landsat foi iniciada no final dos anos 1960, a partir de um projeto

desenvolvido pela Agência Espacial Americana dedicado exclusivamente à observação dos

recursos naturais terrestres. O primeiro satélite da série começou a operar em 1972 e a

última atualização ocorreu em 11 de fevereiro de 2013, como o lançamento do Landsat – 8.

Este satélite foi lançado da Base Aérea de Vandenberg, Califórnia - EUA, em um foguete

Atlas-V 401, com a carenagem de carga útil estendida da United Launch Alliance. A carga

útil do satélite Landsat-8 consiste em dois instrumentos - o Operational Land Imager

(OLI) e o Thermal Infrared Sensor (TIRS). Esses dois sensores fornecem cobertura

sazonal da massa terrestre global em uma resolução espacial de 30 metros (visível, NIR,

SWIR); 100 metros (térmicos); e 15 metros (pancromático).

Os dados do satélite Landsat são produzidos, arquivados e distribuídos pelos EUA

através portal (https://earthexplorer.usgs.gov/) do EarthExplorer, plataforma digital da

USGS (United States Geological Survey), desde 1972. Um resumo das características do

Landsat-8 esta apresentado na Tabela 1 a seguir.

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Tabela 1 - Principais características do Landsat-8

Operadora NASA

Data de lançamento 02/11/2013

Órbita Circular, polar, heliossíncrona

Tempo de revisita 16 dias Horário da passagem 10h / 12h

Tempo de duração da órbita 99 min.

Resolução espacial 30 m (visível e IVP)

Resolução radiométrica

15 m (PAN)

100 m (Termal)

16 bits Bandas espectrais 6 (multiespectral e NIR)

Altitude

1 Pancromática

2 (SWIR)

2 (Termal) 705 km

Largura da cena 185 km

Campo de visada 15°

Fonte: USGS (Adaptado), 2018

As imagens do Landsat-8 são ortoretificadas e todos os produtos do catálogo foram

baixados no formato GeoTIFF com resolução radiométrica é de 16 Bits, Datum WGS

1984, projeção UTM (polar estereográfica para a Antártida). O repertório de bandas

baixado é disponibilizado em um arquivo zipado que contém todas bandas espectrais de

acordo com a Tabela 2:

Tabela 2 – Bandas espectrais do sensor e suas faixas no espectro eletromagnético

Bandas Landsat - 8 Comprimento de onda

(μm)

Resolução

(m)

Band 1 – Coastal aerosol 0.43 – 0.45 30

Band 2 – Blue 0.45 – 0.51 30

Band 3 – Green 0.53 – 0.59 30

Band 4 – Red 0.64 – 0.67 30 Band 5 – Near Infrared (NIR) 0.85 – 0.88 30

Band 6 – SWIR 1 1.57 – 1.65 30

Band 7 – SWIR 2 2.11 – 2.29 30 Band 8 – Panchromatic 0.50 – 0.68 15

Band 9 – Cirrus 1.36 – 1.38 30

Band 10 – Thermal Infrared (TIRS) 1 10.60 – 11.19 100 Band 11 – Thermal Infrared (TIRS) 2 11.50 – 12.51 100

Fonte: USGS (Adaptado), 2018

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As imagens multiespectrais Landsat-8 tem uma resolução de 30 metros, entretanto,

ao compor as bandas multiespectrais e fusionar o resultado deste processo com a banda

pancromática (tons de cinza), que tem 15 metros de resolução espacial, obtém-se a

resolução espacial final da cena Landsat-8 com 15 metros de resolução colorida.

Figura 3 - Bandas de operação do Landsat – 8 OLI/TIRS

Fonte: USGS, 2018

Os dados do Landsat, assim como do Sentinel - 2, além de serem sensores de média

resolução espacial com dados gratuitos, propõem uma alta frequência de visitas – 16 e 12

dias, respectivamente - que possibilitam a geração de geoinformação em escalas locais,

regionais, nacionais e internacionais de qualidade.

3.5.2. My DigitalGlobe

My DigitalGlobe é uma plataforma de imagens que oferece acesso instantâneo à

imagens de satélite dos sensores da DigitalGlobe, antiga WorldView Imaging Corporation,

que é uma empresa estadunidense com sede em Boulder, Colorado - EUA e fornece

imagens de satélites óticos de altíssima resolução e conteúdo geoespacial, além de serviços

de sensoriamento remoto (DigitalGlobe, 2018). A empresa foi responsável pelo lançamento

de diversos satélites como o Ikonos, o QuickBird, o Worldview-1, Worldview-2,

Worldview-3 e, o mais recente, Worldview-4. Diversas empresas e organizações realizam

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contratos com a empresa, entre essas estão a NASA, o Departamento de Defesa dos

Estados Unidos e a empresas de tecnologia.

A plataforma da operadora oferece uma ferramenta simples e intuitiva para clientes

seus acessarem suas soluções globais como Basemap, Precision Aerial, e imagens de

conteúdo FirstLook. Os usuários podem pesquisar rapidamente por imagens, planejar e

gerenciar downloads, exportar e salvar em vários formatos. Com um navegador on-line, a

interface My DigitalGlobe permite o acesso à imagens e metadados multi-espectrais e

multi-temporais, além de fornecer uma biblioteca para organização, download e extração

de dados diretamente em fluxos de trabalho.

3.5.3. SISCOM

Da mesma forma, o sistema SISCOM é uma plataforma online

(http://siscom.ibama.gov.br/mariana/#/) de imagens de altíssima resolução, criada e

gerenciada pelo Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) e o Centro de Monitoramento

Ambiental do Ibama (CEMAM), órgãos do Centro Nacional de Monitoramento e

Informações Ambientais - CENIMA/IBAMA. Ao contrário, do portal My DigitalGlobe,

esta plataforma oferece dados de imagens gratuitos.

Entretanto, esta base de dados oferece imagens específicas referentes ao desastre do

rompimento da barragem de Fundão e são apresentadas em um mosaico na forma de um

buffer que vai desde a Barragem de Fundão até a foz do Rio Doce, no estado do Espírito

Santo.

As imagens fornecidas fazem parte dos catálogos de acervo das operadoras

DigitalGlobe, Airbus Defence and Space e SI Imageng Services. Trata-se de imagens de

cobertura da área antes e logo após o acontecimento do evento.

4. Área de Estudo

A área de estudo deste trabalho se restringe às Áreas de Proteção Permanente

(APP) e em na área de dois quilômetros de corredor no entorno dos afluentes do Rio Doce

desde a Barragem de Fundão: rio Gualaxo do Norte e Rio do Carmo; até o Rio Doce na

altura da UHE Candongas. Os principais corpos hídricos que compõem este estudo estão

inseridos na Bacia do Rio Doce (Figura 4), que possui área de drenagem de 83.465 km²,

compartilhada entre Minas Gerais e o Espírito Santo e atende uma população de cerca de

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3,5 milhões de pessoas, distribuídas em pouco mais de 200 municípios em Minas Gerais e

mais 26 no Espírito Santo.

Figura 4 - Localização bacia do rio Doce

Fonte: MMA/ ANA

Além disso, os dois principais afluentes, bem como a barragem da Mineradora

Samarco, concentram-se no município de Mariana – MG (Figura 5), que faz parte do

conjunto de cidades históricas do estado e, juntamente com Ouro Preto, Congonhas, São

João Del Rei, Tiradentes e Catas Altas, compõe um importante patrimônio arquitetônico

colonial-barroco do país.

O município de Mariana (MG) tem área de 1.194,208 km², está localizado nas

coordenadas: latitude 20º21’55’’S e longitude 43º24’54’’W. De acordo com dados do

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IBGE (2018), sua população estimada é de aproximadamente 59.857 habitantes, sendo que

no último censo demográfico de 2010 essa população era de 54.210 habitantes e densidade

demográfica de 45,4 hab/km² com 47,1% dos domicílios localizados na área urbana.

O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do município é de

0,742, IBGE (2018). Além disso, Mariana apresenta um PIB (Produto Interno Bruto) per

capita de R$ 52.705,53, colocando-se na posição 204º de 5.570 no ranking nacional e 19º

de 853 com relação às demais cidades do estado de Minas Gerais. No município cerca de

78% de domicílios dos marianenses são atendidos com esgotamento sanitário IBGE

(2018).

O relevo de região é caracterizado por ondulações e a presença de montanhas. Já o

clima, é quente e temperado e, de acordo com a classificação climática de Köppen é

classificado como Cwa (STRAHLER,1963). A temperatura média anual é de 20.4 °C e a

pluviosidade média anual de 1307 mm (CLIMATE-DATA, 2018).

Figura 5 - Área de Estudo

Fonte: Autor

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O município integra o conhecido Quadrilátero Ferrífero Mineiro (Figura 6) –

localizado ao centro-sul do Estado (aproximadamente 7.000 km²) – que junto com Sabará,

Santa Bárbara, Itabirito, Nova Lima, Congonhas e Ouro Preto respondem pela maior

produção de ferro do país. Sua região é banhada por rios importantes, como o Rio do

Carmo, Gualaxo do Norte, Gualaxo do Sul e outros afluentes do Rio Doce. Na região está

instalada a mineradora Samarco, formada pelas mineradoras Vale e BHP Billiton.

Figura 6 - Domínios geoambientais das bordas Sul e Leste do Quadrilátero Ferrífero

Fonte: CARMO, L.G.; MARTINS R.M.; MARTINS J.M.

Conta ainda com nove distritos, que desenvolvem atividades agropecuárias e

artesanato: Santa Rita Durão, Monsenhor Horta, Camargos, Bandeirantes (Ribeirão do

Carmo), Padre Viegas (Sumidouro), Claudio Manoel, Furquim, Passagem da Mariana e

Cachoeira do Brumado e, por fim, Bento Rodrigues, cuja comunidade sofreu o primeiro

impacto do maior desastre ambiental do Brasil, e é subdistrito de Santa Rita Durão.

Bento Rodrigues fica situado a pouco mais de 5 km das barragens, foi praticamente

todo soterrado pela avalanche de água, lama e detritos produzida com o rompimento da

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barragem (Figura 7). O IBAMA estima que 207 dos 251 imóveis do subdistrito tenham

sido destruídos naquela localidade devido ao evento (IBAMA, 2015, p.7).

Figura 7 - Vista aérea de Bento Rodrigues, interior de Minas Gerais, no dia seguinte ao rompimento de

barragens de rejeitos da mineradora Samarco

Fonte: Ricardo Moraes – Reuters

Nos trechos de cabeceira, situados a montante do reservatório da UHE Risoleta

Neves (Candongas) ocorreu à supressão da vegetação marginal devido à erosão forçada

pela onda de inundação (Figura 8). A usina tem potência instalada de 140 MW (Usina

Hidrelétrica Risoleta Neves, 2018) e é operada pelo Consórcio Candonga, composto pela

Aliança Energia e Vale, sendo cada empresa detentora da metade do consórcio. Com isso,

grandes depósitos de rejeitos expostos foram identificados na calha do rio e os números

mais recentes (Fundação Renova, 2017) constatam que cerca de 10,5 milhões m³ de

sedimentos e detritos ficaram acumulados no reservatório que tem volume de 54,4 milhões

de m³ e dista cerca de 120 km da Barragem de Fundão. Nas demais barragens o acúmulo

foi bem menor.

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Figura 8 - Rio Doce - UHE Risoleta Neves logo após a chegada da lama

Fonte: Márcio Fernandes – Estadão

São cinco os municípios no entorno dos corpos hídricos alvos de estudo desse

trabalho, até Candongas no Rio Doce: Mariana, Barra Longa, Ponte nova, Rio Doce e

Santa Cruz do Escavado; somadas, apresentam uma população estimada de 73.568

habitantes e uma área de 1225 km², segundo dados do IBGE (2018). As principais

atividades desempenhadas por essas comunidades são o artesanato e a pesca, tendo essa

última uma queda brusca no seu exercício devido à degradação dos rios em consequência

do desastre ambiental.

5. Procedimentos Metodológicos

Inicialmente, foi feito um levantamento de teses, dissertações, artigos científicos e

buscas em sites com a temática do rompimento da barragem de Fundão em Mariana – MG

e temas correlacionados, como: Equilíbrio Ambiental, Desastres Ambientais, Legislação

Ambiental, etc. bem como literaturas referentes às técnicas geotecnologias aplicadas a

estudos ambientais.

Os procedimentos metodológicos que compuseram a base de referência e

geoprocessamentos deste trabalho são apresentados no fluxograma esquematizado na

Figura 9.

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Figura 9 - Fluxograma das etapas a serem desempenhadas

Fonte: Autor

A princípio, criou-se a base digital de dados composta por arquivos vetoriais, como

os limites de municípios/estados, hidrografia, localização de objetos, dentre outros,

disponíveis nos sites de instituições como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE, 2018), Instituto Prístino (2018), Agência Nacional de Águas (ANA, 2018), além

dos vetores criados pelo autor, como os buffers (áreas de abrangências), pontos de

referências e outros.

Uma vez finalizada essa base de referência, foi delimitada a área alvo de estudo

deste trabalho, tendo como base um corredor com largura de dois quilômetros (um

quilômetro para cada lado a partir da linha de curso d’água dos rios Gualaxo do Norte, rio

do Carmo e rio Doce até a UHE de Candongas) - as extensões dos rios somadas

correspondem a quase 120 km e uma área de 219 km² (21.876 ha). Desta forma, o buffer

estipulado cobre todas as Áreas de Preservação Permanente (APPs) ao longo dos rios

considerados, sendo que medida estipulada pela lei 12.651/2012 é de 500 m a partir da

borda do rio quando este apresenta largura maior de 600 m e a largura máxima encontrada

neles não ultrapassa a metragem de 400 m. Além disso, a área delimitada também

possibilitou a visualização e análise de parte do impacto gerado em alguns afluentes destes

rios.

Somado aos vetores, a base digital de dados também foi composta por arquivos

matriciais (rasters), quando foi feita a busca de imagens do satélite Landsat-8 que foram

adquiridas gratuitamente a partir do site EarthExplorer - portal de imagens da USGR

(United States Geological Survey), base de dados da série de satélites Landsat - e foram

selecionadas considerando aquelas datadas antes e logo após o evento (imagens o mais

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próximas destes períodos e com a menor cobertura de nuvens possível) e imagens atuais,

do ano corrente e de cobertura da extensão da área de interesse.

As imagens são disponibilizadas no formato GeoTIFF, separadas por bandas, com

projeção UTM, (Datum WGS 1984) e já são ortorretificadas. As imagens selecionadas são

datadas dos dias 11/10/2015, 12/11/2015 (uma semana após o evento) e 01/09/2018, que

por conveniência serão tratadas daqui para frente como cenário 1, cenário 2 e cenário 3,

respectivamente. Assim, nos dois primeiros cenários, foram selecionadas imagens

considerando os dias mais próximos do rompimento da barragem e a menor cobertura de

nuvens possível, a fim de se ter uma melhor visualização da região estudada, visto que

quanto mais próximo dos dias do evento, melhor a avaliação do cenário e, que as nuvens

são apresentadas como obstáculos dos alvos quando se trata de sensores óticos.

Tais imagens foram submetidas a uma série de processamentos ao iniciar pela

composição colorida de bandas multiespectrais e fusão com a banda pancromática. A

imagem resultante é colorida, com 15 m de resolução e preserva a fidelidade da cor

original, permitindo uma melhor visualização e interpretação do cenário. Ademais, foi

necessário realizar a correção e ajuste dos produtos a partir de procedimentos de

equalização e realce, recorte da área de estudo e classificação digital automática dos

cenários nas três datas.

Vale lembrar que as características espectrais dos dados originais foram

preservadas nas imagens coloridas de alta resolução geradas. Isso significa que tanto a

análise, quanto a classificação podem ser feitas nas imagens com o benefício adicional da

melhor resolução espacial.

No ArcGIS 10.5.2 usou-se a ferramenta Composite Bands e, sem seguida, Create

Pan-sharpened Raster Dataset para gerar as imagens multiespectral e fusioná-las com a

banda pancromática, respectivamente. O mesmo processo foi feito no PCI Geomática

2017, usando o algoritmo Pansharp, que opera no ambiente Focus do programa e que

compõe as bandas coloridas e infravermelha e fusiona as imagens com a mesma

ferramenta.

Aqui deve se atentar à ordem na qual seleciona os marcadores dos canais de

imagem multiespectrais, pois isso afeta os resultados de saída. No caso das imagens

Landsat-8 utilizadas, selecionou-se os canais dois, três, quatro e cinco (azul, verde,

vermelho e infravermelho), mais o canal oito (pancromático). A partir disso, obteve-se as

imagens multiespectrais fusionadas com resolução de 15 m para as três datas. Na sequência

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foram realizados testes para identificação da melhor técnica e resposta dos softwares para

melhor distinção dos alvos e melhor realce.

Em seguida, fez-se o recorte da área de estudo. Neste processo o buffer criado, foi

usado como máscara para o recorte das imagens e o processo foi realizado com a

ferramenta Extract by Mask, do ArcGIS 10.5.2. Uma vez que a área de estudo foi

delimitada, foram iniciados os testes de classificação das imagens, a começar pelo método

de classificação não-superisionada, seguida da classificação supervisionada e da extração

do NDVI, respectivamente. Todos os testes foram executados no ArcGIS 10.5.2 e a

avaliação dos resultados da classificação foi feita com base na análise da eficiência dos

classificadores para identificação/delimitação dos padrões e objetos homogêneos que

compõem a área estudada, além da acurácia temática deste processo.

Inicialmente, as classificações supervisionadas foram realizadas considerando

quatro classes: vegetação, água, solo exposto e edificações. Entretanto, durante os testes,

foi necessário criar novas classes que, por fim, ficaram assim definidas: vegetação, água,

lama, solo exposto, área urbana e nuvem. A necessidade de criação e definição dessas

novas classes serão discutidas nos resultados.

Para o processo de classificação foi usada a ferramenta Image Classification do

ArcGIS 10.5.2. Inicialmente, foi realizada a classificação não-supervisionada, a qual não

retornou com um resultado satisfatório, seguida da classificação supervisionada que

apresentou um resultado melhor. Em seguida, foi realizada a classificação supervisionada

também no software R 3.5.0 com o uso do algoritmo Random Florest, que se trata de um

método de classificação pixel a pixel, não paramétrico. Esse é também um dos algoritmos

mais utilizados, devido à sua simplicidade (DONGES, 2018). Este, por sua vez, apresentou

um resultado mais satisfatório, que foi sendo refinado com a adição e melhor seleção dos

pixels das amostras de treinamento, que será discutido nos resultados.

Por fim, após a geração e validação das classificações, foram realizadas análises

quanto às classes temáticas mapeadas de forma a comparar as classes e as imagens das

diferentes datas avaliando como estava o ambiente da mata ciliar dos rios Gualaxo do

Norte, Rio do Carmo e Rio Doce antes, logo após o rompimento da barragem de rejeitos e

atualmente.

A comparação dos três cenários foi feita por meio da análise da sobreposição das

três classificações. Foi quantificada a porcentagem de cobertura do solo e, desta forma,

comparou-se esses valores com os demais cenários. Somado a isso, os resultados das

classificações, bem como das mudanças no ambiente, foram validadas ao confrontar

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algumas áreas das imagens do satélite Landsat-8 com imagens de sensores de altíssima

resolução (de 0,5 até 0,3 m) da DigitalGlobe. Com base nos procedimentos realizados e

nos resultados obtidos foi possível discorrer sobre os mesmos, permitindo assim, elaborar

considerações sobre os impactos causados pelo rompimento da barragem de rejeitos e

sobre a utilização de geotecnologias no estudo de impactos relacionados a desastres como

neste trabalho estudado.

6. Resultados e discussões

Tendo em vista a temática proposta para o desenvolvimento deste projeto em

conjunto com as ferramentas e metodologias apresentadas, esse capítulo de como objetivo

apresentar os resultados alcançados durante seu desenvolvimento.

6.1. Comparação dos cenários classificados

Para análise da situação da mata ciliar e áreas adjacentes do Rio Gualaxo do Norte,

Rio do Carmo e Rio Doce até a UHE de Candongas no período anterior e imediatamente

após o rompimento da barragem de rejeitos de Fundão em Mariana (MG), bem como de

sua situação atual, foram processadas três imagens do satélite Landsat-8 referentes à área

de estudos (Cenário 1- 11/10/2015; Cenário 2 - 12/11/2015; e Cenário 3 - 01/09/2018). As

figuras 10, 11 e 12 mostram a área de estudo na ordem de coleta:

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Figura 10 - Área de estudo antes do rompimento da barragem (11/10/2015)

Fonte: Autor

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Figura 11 - Área de estudo uma semana após o rompimento da barragem (12/11/2015)

Fonte: Autor

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Figura 12 - Área de estudo quase três anos após o rompimento da barragem (01/09/2018)

Fonte: Autor

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A localização e quantidades dos pontos de treinamento criados são distintos para

cada um dos cenários, a fim de se avaliar a diferença da reflectância de cada imagem, pois

cada uma delas apresenta uma assinatura espectral peculiar devido às alterações que

aconteceram no ambiente. Logo, foi preciso coletar pontos que apresentam uma

reflectância mais assertiva possível do alvo selecionado. As amostras para classificação

foram definidas a partir do conhecimento prévio da área e obtidas em áreas amostrais

semelhantes.

A primeira fase de classificação foi feita com as amostras classificadas como:

vegetação, água, solo exposto e edificações. Entretanto, considerando que os resultados da

primeira classificação não se mostraram satisfatórios, foi necessário aumentar/alterar as

amostras classificadoras que tiveram com base os testes realizados previamente com as

quatro primeiras amostras. Essa alteração possibilitou um melhor retorno qualitativo,

resultando em um classificador mais preciso e real relativos à situação dos alvos em estudo

e ficaram distribuídos conforme a Tabela 3.

Tabela 3 - Quantidade de amostras de treinamento por imagem

Imagens (data) Quantidade de pontos

11/10/2015 66

12/11/2015 62

01/09/2018 62

Fonte: Autor

O novo formato de classificação definido incluiu seis classes temáticas que

caracterizam a diversidade de usos da terra na área de estudo, sendo: vegetação, que

envolve as áreas de floresta e pastagem; solo exposto se manteve; água também se manteve

e teve a classe lama adicionada devido à modificação do cenário; a classe edificações se

tornou área urbana, visto que não é possível identificar uma edificação bem definida na

cena, em virtude da resolução do sensor; e por fim, adicionou-se também a classe nuvem,

por existir a presença destes obstáculos nos cenários construídos. As figuras 13, 14 e 15

apresentam os resultados da classificação conforme o novo número de classes definidas:

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Figura 13 - Classificação supervisionada da área de estudo do dia 11/10/2015

Fonte: Autor

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Figura 14 - Classificação supervisionada da área de estudo do dia 12/11/2015

Fonte: Autor

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Figura 15 - Classificação supervisionada da área de estudo do dia 01/09/2018

Fonte: Autor

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Considerando o número de classes propostos e que esta classificação possibilitou a

geração de resultados satisfatórios, foi realizado o cálculo das áreas para cada classe. Para

tanto, gerou-se valores quantitativos das alterações espectrais e, consequentemente,

espaciais em cada um dos cenários cujos resultados são apresentados nas tabelas 4, 5 e 6:

Tabela 4 - Áreas primeiro cenário (11/10/2015)

Áreas no primeiro cenário Área (ha) Proporção (%)

Água 987,91 4,52

Lama 309,85 1,42

Vegetação 13733,60 62,78

Área urbana 603,18 2,76

Solo 6165,63 28,18

Nuvem 75,80 0,35

Total área de Estudo 21875,96 100,00

Fonte: Autor

Tabela 5 - Áreas segundo cenário (12/11/2015)

Áreas no primeiro cenário Área (ha) Proporção (%)

Água 0,00 0,00

Lama 3288,49 15,03

Vegetação 13543,72 61,91

Área urbana 609,32 2,79

Solo 4290,73 19,61

Nuvem 143,71 0,66

Total área de Estudo 21875,96 100,00

Fonte: Autor

Tabela 6 - Áreas terceiro cenário (01/09/2018)

Áreas no primeiro cenário Área (ha) Proporção (%)

Água 1043,60 4,77

Lama 1392,64 6,37

Vegetação 13174,13 60,22

Área urbana 960,86 4,39

Solo 5277,42 24,12

Nuvem 27,32 0,12

Total área de Estudo 21875,96 100,00

Fonte: Autor

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Por se tratar de uma área extensa em termos de longitude, os cenários apresentam

características distintas e bem representativas de textura e homogeneidade em áreas mais

densas, como em áreas de floresta e acumulo de água. Entretanto, existem áreas em que a

distinção do alvo não é qualitativamente assertiva, principalmente, devido à resolução da

imagem e variação das texturas dos alvos. Esta ocorrência é mais frequente nas regiões

urbanas dentro da área de estudo, como nos municípios de Paracatu de Baixo, Barra Longa

e Rio Doce, por exemplo, bem como em áreas de pastagens.

As análises neste tópico foram feitas por classe referenciando cada uma delas nos

três cenários criados. Sendo assim, ao analisar as classes definidas e confrontar as imagens

com os valores das tabelas mostradas acima, inicialmente, a classe que mais chama a

atenção é a classe água, pois no primeiro cenário ela apresenta um curso bem definido e

claro, embora ela apresente algumas áreas nas quais o classificador a confundiu com outras

classes – como vegetação e sombra das nuvens. Entretanto, no segundo cenário ela foi

completamente extinta por ter sido tomada em sua totalidade pela lama. Neste caso, é

possível assimilar melhor o curso dos rios, sobretudo nas áreas de mata fechada, quando

não era possível no primeiro devido à lama não ter o mesmo comportamento espectral da

água, fazendo com que ela não reflita a imagem da mata na sua superfície e,

consequentemente, não confunda o classificador. Esse perfil se estende até a UHE

Candongas no neste cenário.

Por fim, no último cenário, a água apresenta um maior valor quantitativo, em

relação ao primeiro. A essa razão, atribui-se o novo sistema de contenção de sedimentos

construídos pela Mineradora Samarco na região do rompimento quando foram construídos

dois diques de contenção (nomeados como S3 e S4) como medida emergencial para reter e

filtrar detritos que desciam até então da barragem. Trata-se da construção de diques que

formaram duas grandes áreas alagadas, gerando assim, uma maior resposta espectral do

cenário como mostrado na notícia na Figura 16 e melhor detalhado nas imagens de

altíssima resolução nos próximos tópicos.

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Figura 16 – Notícia do decreto nº 500 que viabiliza o início das obras de construção do Dique S4 no distrito

de Bento Rodrigues, Mariana - MG

Fonte: Ouro Preto - MG, 2016

Entretanto, é constatado também que alguns trechos, os rios ainda contam com a

presença de lama no seu curso além da expressiva a diminuição da sua largura em alguns

trechos devido ao assoreamento, sobretudo na região da UHE Candongas, onde ficou

acumulado boa parte dos rejeitos da barragem e como será visto nos pontos analisados

posteriormente.

A classe lama se faz presente em todos os cenários com valores bem distintos entre

si. No primeiro cenário a classe é mais notória na área da barragem, ou seja, antes do

rompimento, apresentando também alguns poucos pixels ao longo da área de estudo,

devido à semelhança dos pixels de lama com alguns de solo exposto, além de trechos do

Rio Doce devido à turbidez da água. Em contra partida, no segundo cenário, o valor

espectral da lama cresce em mais de 1.000%. Isso porque a lama toma descontroladamente

quase toda a região da barragem e todo o curso dos rios, além de extensas áreas de mata

ciliar e de solo exposto por onde passou. Para mais, o classificador resultou uma falha

significativa neste cenário em uma área de pastagem, onde a sombra da nuvem é

interpretada como área com lama. Já o ultimo cenário, onde são apresentadas condições

mais atuais da área estudada, nota-se um resultado semelhante ao primeiro cenário, onde o

maior acúmulo de lama se encontra à montante dos rios, região das barragens. No entanto,

nessa mesma área é possível encontrar alguns resquícios de lama nos cursos d’água, bem

como em áreas de solo exposto.

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Outra classe que apresenta valores significativos é a vegetação. Nos três cenários

essa classe está acima dos 60% da área avaliada, representando todas as áreas de floresta e

pastagem. O primeiro cenário é o que apresenta o maior valor, tendo uma singela queda no

segundo. Contudo, essa pequena diferença não significa que houve pouca devastação da

vegetação, sobretudo das matas ciliares, devido ao rompimento da barragem de rejeitos de

Fundão. Dados da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional, Política Urbana e

Gestão Metropolitana de Minas Gerais (2016) revelam que o assoreamento dos rios

Gualaxo do Norte, do Carmo e parte do rio Doce até a barragem de Candonga,

comprometeram as áreas de preservação permanente nas faixas marginais dos mesmos

numa extensão de aproximadamente 1.587 hectares (ha), dos quais 1.026,65 ha de

cobertura são de vegetal, sendo que 511,08 ha são da Mata Atlântica e foi muito danificada

nesse trecho. De acordo com os dados é possível concluir que as modificações, registradas

no curso das bacias, causadas pela enxurrada de lama foram degressivas, ou seja, foram

diminuindo com o tempo, entretanto a força inicial da enxurrada foi o suficiente para

impactar na de forma significativa na dinâmica da vegetação.

Desta forma, o atributo para o classificador ter apresentado esta variação nos

cenários é o fato de ser ter analisado uma área extensa no entorno dos rios, cujas áreas de

pastagem tiveram grande impacto em contraste com as épocas analisadas, visto que o mês

de novembro se caracteriza por um período mais chuvoso (por sua proximidade com o

verão) e em outubro (próximo do inverno, período mais seco). A frequência de chuvas

possibilitou um rápido crescimento das vegetações rasteiras (áreas de pastagens) que foi

detectado a partir da reflectância dos alvos traduzido nas imagens de satélite da área nos

diferentes cenários. Além disso, o primeiro cenário apresentou alguns erros de

classificação ao agrupar alguns pixels de floresta com água, bem como a interferência das

nuvens e suas sombras, o que interferiu na quantificação das duas classes.

Considerando os aspectos analisados na comparação dos cenários um e dois, o

terceiro cenário também apresenta uma relativa diminuição da vegetação em relação ao

cenário anterior. Da mesma forma, tal fato pode ser atribuído ao período de coleta das

imagens, haja vista o início de setembro ser um período mais frio e seco, e ao impacto dos

elementos químicos, que embora não tóxicos – como o excesso de ferro, sílica, mercúrio,

manganês, alumínio - oferecem danos ambientais, como alteração do pH do solo, e

inibição do crescimento vegetal, pois diminui as concentrações de nutrientes que chegavam

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até elas, sobretudo nas áreas de vegetação rasteira, que são mais sensíveis e tiveram uma

parte de seus pixels confundidos com solo exposto.

Por essa razão, solo exposto, também retrata um expressivo valor de área

quantificada nos três cenários. No primeiro, ele representa quase que 50% da área ocupada

por vegetação. Isso porque boa parte de áreas de pastagem apresenta pouca ou nenhuma

cobertura vegetal, o que acaba sendo característica deste ambiente por diversos fatores,

entre eles: a compactação do terreno que é caracterizado pelo aumento da densidade do

solo e redução da porosidade que, consequentemente, diminui a sua permeabilidade, que se

dá quando ele é submetido ao atrito ou a uma pressão contínua. Tudo isso é resultado,

dentre outros fatores, do tráfego de tratores e máquinas agrícolas no terreno, do pisoteio de

animais (pecuária) sobre o campo ou até mesmo do manejo do solo em condições

inadequadas de umidade. Já no segundo cenário há uma considerável diminuição desta

classe. Porém não somente pela cobertura de lama nessas classes, mas também pelo seu

desenvolvimento no período de início de chuvas, que pode ter colaborado para o

crescimento da vegetação mais rasteira, ocasionando, assim, o aumento desta classe e,

consequentemente, uma diminuição da classe de solo exposto. Esse valor poderia ser ainda

menor, pois a presença de nuvens e sombras foi detectada em uma área considerável do

cenário com uma representação de quase 500 hectares que foram identificados como solo

exposto e lama, quando se tratava de nuvens. Vale lembrar que a seleção das imagens foi

realizada considerando o catalogo disponível de imagens do satélite Landsat-8 referentes à

área estudada e que buscou-se a menor cobertura possível de nuvens, sendo selecionado

aquelas em melhores condições possíveis relacionadas a esse parâmetro. Enfim, no terceiro

cenário, esta classe volta a ter um aumento, quase que nas mesmas proporções do primeiro.

Tal cenário é caracterizado pela degradação da qualidade do solo por causa da lama.

Mesmo com elementos caracterizados como não sendo tóxicos, os rejeitos, quando

sedimentados, comprometem a infiltração de água e o nível de matéria orgânica necessário

para a vida microbiana do solo, afetando as condições para a germinação de sementes e o

desenvolvimento radicular das plantas, comprometendo a variabilidade genética das áreas

ciliares.

De acordo com o engenheiro Álvaro Pereira da Fundação Renova, estima-se que

237 propriedades rurais foram atingidas diretamente pela lama de rejeitos, (PARREIRAS,

2017). Na área rural de Barra Longa, a mais diretamente afetada, devido à composição da

lama, a reconstituição do solo pode levar até centenas de anos, que é a escala geológica

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para a formação de um novo solo (MATOS, 2016). De acordo com a Secretaria de Estado

de Desenvolvimento Regional, Política Urbana e Gestão Metropolitana de Minas Gerais

(2016), além dos fatores químicos, os físicos também trouxeram grandes consequências

para a formação deste cenário que ainda não foram reabilitados, pois devido à enxurrada de

lama houve um significativo aumento da intensidade dos processos erosivos resultante do

ravinamento e surgimento de sulcos. Consequentemente, aumentou-se a ocorrência dos

deslocamentos de massas de terra no período chuvoso e, com isso, intensificou-se o

processo de assoreamento nos rios. O assoreamento dos cursos d’água também foi

intensificado, causado diretamente pela sedimentação da lama em vários trechos dos rios,

sobre tudo na região da UHE Risoleta Neves, onde ficou acumulado uma parte

considerável da lama da barragem.

Analisando o comportamento espectral da classe área urbana, pode-se dizer que foi

a classe menos assertiva, visto que apresentou uma variação que não expressou de maneira

satisfatória a realidade das cidades do trecho estudado. Isso porque houve um aumento

gradativo desta classe do primeiro ao terceiro cenário que são atribuídos ao fato de nas três

classificações o classificador ter confundido alguns pixels de solo exposto e nuvens com

área urbana. Essa confusão pode ser atribuída principalmente ao fator de quantidade de

pontos que foram coletados, pois tanto esta classe quanto a classe a seguir – nuvem -

tiveram uma quantidade de pontos abaixo do indicado por Spring (2008), que afirma que

para a obtenção de classes estatisticamente confiáveis são necessários de 10 a 100 pixels de

treinamento por classe, pois o número de pixels de treinamento necessário para a precisão

do reconhecimento de uma classe aumenta com o aumento da variabilidade entre as

classes. Além disso, à resolução da imagem também foi preponderante nos resultados,

visto que as áreas urbanas presentes na área estudada são bastante heterogêneas em termos

espectrais e a maior parte da cobertura das suas áreas construídas é de telhas de cerâmica e,

com isso, apresentam valores espectrais bem semelhantes ao da lama devido à presença de

alguns elementos como a argila.

Esse comportamento fica mais evidente no terceiro cenário, quando há um aumento

de solo exposto concomitante com a classe de área urbana. Além disso, as nuvens neste

cenário também colaboram com esse crescimento ao apresentarem respostas espectrais

semelhantes aos da classe de área urbana. Nos dois primeiros a proporcionalidade quase

que se mantêm, embora apresentem informações em regiões distintas na área de interesse.

Entretanto, a realidade mostra que houve uma diminuição clara dessas regiões do primeiro

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para o segundo cenário, visto que Bento Rodrigues foi devastada pela enxurrada de lama e

ainda não foi recuperada, tendo apenas um projeto de reconstrução que foi aprovado há

poucos meses. Já o município de Barra longa sofreu bastante com o impacto do desastre,

sobretudo na região central, onde a cidade foi assolada pelo aumento da cota do rio na

ordem de 2,5 metros acima da planície (marcas deixadas nas casas e árvores – Figura 17).

Já o município do Rio Doce não sofreu um impacto na mesma grandeza, haja vista este

centro urbano não ser cortado pelo curso d’água dos rios atingidos, mas sim pelo córrego

do Jorge onde é feita a captação de água para abastecimento da população do município. O

impacto físico no município ficou concentrado na Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, que

não conta com domicílios no seu entorno, embora apresente algumas edificações das

instalações da empresa que opera o sistema. Por outro lado, a zona rural de Santa Cruz do

Escalvado foi fortemente atingida pelos rejeitos, que causou danos físicos aos moradores

desta região. Contudo este impacto excede a área de estudo deste trabalho.

Figura 17 - Barra Longa após avalanche de lama

Fonte: Fotos Públicas

Por fim, a classe nuvem apresentou resposta, bem proporcional à presença deste

obstáculo natural em cada cenário, com exceção do último que teve boa parte de sua classe

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caracterizada como área urbana. Entretanto, os valores desta classe no segundo cenário

seriam ainda maiores se não fossem confundidos com solo exposto, denotando assim uma

limitação do classificador para análise e processamento desses alvos.

6.1.1. Análise detalhada

O trajeto da enxurrada de lama estudado neste trabalho teve início na barragem de

Fundão, passando pelo Córrego Santarém, Rio Gualaxo do Norte, Rio do Carmo e Rio

Doce até a UHE de Candongas com um percurso de aproximadamente 120 km de extensão

e levou 16 horas até chegar na usina hidrelétrica, a partir do rompimento da barragem.

Devido às proporções do evento e a dimensão deste trabalho, foram selecionados quatro

áreas considerados relevantes para a análise e considerações a respeito desta catástrofe.

As figuras a seguir apresentam a cobertura de imagem Landsat-8 e suas respectivas

classificações, por coluna (cenários 1, 2 e 3) e o primeiro ponto destacado e avaliado

encontra-se logo no começo da enxurrada, entre as barragens e o distrito de Bento

Rodrigues que fica situado a pouco mais de 5 km das barragens e 35 km da sede de

Mariana e foi praticamente todo soterrado pela avalanche de água, lama e os detritos

produzidos com o rompimento da barragem, como mostra a Figura 18.

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Figura 18 - Análise detalha Bento Rodrigues - Mariana/ MG

Fonte: Autor

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Toma-se como o primeiro ponto a ser analisado a região que foi mais impactada

pelo rompimento da barragem, a área entre a barragem e o distrito de Mariana – MG,

Bento Rodrigues. Diferentemente do que estipulava o EIA-RIMA (Estudo de Impacto

Ambiental/ Relatório de Impacto Ambiental) feito para a instalação das barragens, o

impacto do rompimento de Fundão não se restringiu às áreas de influências pré-

estabelecidas tecnicamente - a região das barragens da empresa mais o povoado de Bento

Rodrigues – (PoEMAS, 2015). Ao analisar o segundo cenário, é possível constatar o que o

grupo de estudos citou ao comparar as imagens e suas respectivas classificações: a

negligência dos responsáveis pelos estudos que deram as licenças para a construção e

operação da barragem a qual culminou no desastre e permitiu que a lama cobrisse a

totalidade da área das barragens, dos cursos d’água e inundasse cerca de 80% do território

de Bento Rodrigues. Além disso, verifica-se que esse trecho é um dos que o classificador

identificou um considerável crescimento da vegetação entre os dois primeiros cenários.

Esse fenômeno ocorre em detrimento com o fato desta ser uma das regiões mais

impactadas pela lama, ou seja, ter perdido extensas áreas de mata ciliar por sua invasão e,

tal ocorrência se dá pelo fato de no classificador ter sido agregado as áreas de floresta e

pastagem numa só classe de vegetação, sendo a vegetação rasteira, de pastagem,

responsável pela resposta do classificador. Na Figura 19 observa-se a situação da área

imediatamente a jusante da Barragem de Fundão logo após seu rompimento e a destruição

causada pela invasão da lama nos rios, no caso da imagem no córrego Santarém, e suas

matas ciliares.

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Figura 19 - Destruição de vegetação ciliar, incluindo áreas de preservação permanente logo a jusante da

Barragem de Fundão.

Fonte: IBAMA

O pior resultado nesta, e nas demais regiões, ficou bem manifesto nos recursos

hídricos, visto que foram completamente tomados pela lama, trazendo efeitos sobre a

biodiversidade aquática. Em relação aos organismos aquáticos produtores (fitoplâncton,

perifíton, e macrófitas aquáticas submersas) o aumento da turbidez impede a entrada de luz

solar na água, o que inviabiliza a fotossíntese. Já sobre os organismos consumidores a

quantidade de sólidos em suspensão no corpo d'água também provoca a obstrução das

brânquias, levando-os à morte por asfixia. Nesse grupo incluem os peixes,

macroinvertebrados aquáticos e espécies do zooplancton. (IBAMA, 2015). Isso tudo sem

contar com as espécies que foram dizimadas ao serem aterradas pela lama.

Outro ponto analisado dista 39 km de Mariana. Trata-se da comunidade de Paracatu

de Baixo, outro distrito do município e a segunda área mais afetada pelo evento (Figura

20).

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Figura 20 - Análise detalhada Paracatu de Baixo - MG

Fonte: Autor

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Nesta região, o primeiro cenário apresenta uma considerável porcentagem de

nuvens, que tem parte de seus pixels confundidos com a classe área urbana. No segundo

cenário, a área urbana do distrito também foi coberta quase por completa, entretanto pela

lama que, em contrapartida, ocasionou uma significativa diminuição desta classe por ter

sido completamente coberta pelos rejeitos da barragem, praticamente extinguindo o

pequeno povoado que tinha um total populacional de 1.740 habitantes (IBGE, 2010). De

igual modo, o distrito banhado pelo rio Gualaxo do Norte teve, no segundo cenário, toda

sua superfície coberta pela lama, bem como uma expressiva parte da vegetação.

Contrastando com esse fenômeno, houve no segundo cenário o aumento da desta mesma

classe devido ao crescimento da vegetação de pastagem - pelas mesmas razões da área

detalhada anteriormente. A Figura 21 mostra a altura alcançada pela enxurrada de lama e

seu impacto na mata ciliar às margens rio Gualaxo do Norte.

Figura 21 - Marca da lama de rejeito na mata ciliar, Paracatu de Baixo, Mariana - MG.

Fonte: Bioflora Tecnologia da Restauração, 2017

Por fim, embora o curso d’água esteja melhor definido no último cenário do que no

cenário anterior, além de apresentar um retorno espectral de água limpa – o que poderia

indicar uma recuperação dos recursos hídricos já nesse cenário – é possível identificar

alguns resquícios de lama no rio Gualaxo e nas áreas de solo exposto apontando, assim,

que a água ainda está poluída, tornando-a imprópria para o consumo. Deste modo faz-se

necessário ter cautela quanto ao uso dessa água, visto que ainda é detectado concentrações

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de óxido de ferro e sílica – principais elementos na composição dos rejeitos da barragem

de Fundão (AGENCIA BRASIL, 2018) – não só diretamente na água, mas também nos

sedimentos que ficaram no fundo e nas bordas dos rios, que causaram o assoreamento dele,

como pode ser visto no cenário c.

O município de Barra Longa é o próximo ponto a ser detalhado (Figura 22). Este

ponto, localizado a aproximadamente 58 km de Mariana – MG foi bastante impactado com

desastre, principalmente na região central, onde a cidade sofreu com um aumento da altura

do nível do rio na ordem de 2,5 metros. Contudo, na superfície, a invasão da lama ocorreu

de forma parcial, diferentemente do que houve eu Bento Rodrigues e Paracatu do Baixo.

Vale lembrar que é nesta região onde ocorre o encontro dos rios Gualaxo do Norte e do

Carmo.

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Figura 22 - Análise detalhada Barra Longa - MG

Fonte: Autor

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Os cenários 1 e 3 mostram de forma bem definida o encontro destes rios.

Entretanto, no cenário 2 não é possível notar esse encontro, devido à confusão gerada pelo

classificador ao agrupar a sombra da nuvem à classe de lama o que ocasionou a perca desta

informação, que é exibida na Figura 23.

Figura 23 - Encontro do Rio do Carmo e do Rio Gualaxo do Norte com rejeito da Barragem de Fundão - MG

Fonte: Marcio Fernandes - Estadão

Por fim, o último ponto a ser analisado no detalhe está entre os municípios Rio

Doce e Santa Cruz do Escalvado, a montante da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, (Figura

24). Neste ponto, assim como nos demais cenários a água foi praticamente extinta e,

embora o terceiro cenário apresente um quadro com menores vestígios de lama, este

apresentou alguns pixels de lama na sua superfície. Por esse motivo a Justiça Federal

mantém suas reservas e ainda não suspendeu a liminar que proibiu a pesca na foz, que está

em vigor desde fevereiro de 2016.

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Figura 24 - Santa Cruz do Escalvado - UHE Risoleta Neves (Candongas)

Fonte: Autor

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Quanto às Áreas de Preservação Permanente nas proximidades da usina, a Lei nº

12.651/2012 determina que se tenha uma faixa de áreas de preservação permanente no

entorno de reservatórios superficiais decorrentes de barramento ou represamento de cursos

d'água naturais que esteja entre 30 e 100 metros.

“Art. 5º - Na implantação de reservatório d'água artificial destinado à geração de energia ou

abastecimento público, é obrigatória a aquisição, desapropriação ou instituição de servidão

administrativa pelo empreendedor das Áreas de Preservação Permanente criadas em seu

entorno, conforme estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a faixa mínima

de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem) metros em área rural, e a faixa mínima de 15

(quinze) metros e máxima de 30 (trinta) metros em área urbana”.

Sendo assim, nota-se através das imagens que a Fundação Renova ainda tem muito

trabalho pela frente, visto que ainda não conseguiu limpar a calha dos rios de árvores,

galhos e sedimentos, nem estabilizar fisicamente os 600 hectares de margens no trecho

inicial que vai até a usina Risoleta Neves, revegetando essas áreas com espécies de

gramíneas e leguminosas a fim de proteger o solo da erosão, além de restaurar os 40 mil

hectares de APP’s ao longo de toda a bacia do rio Doce como previsto no Termo de

Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) - termo que define a Renova como o ente

responsável pela criação, gestão e execução das ações de reparação e compensação das

áreas e comunidades atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão. Mesmo com este

cenário, a presidente do Ibama diz que agora, três anos depois do evento, a Fundação

Renova começa a dar alguns passos para a recuperação da vegetação, contudo, calcula que

serão precisos mais 15 anos para se ter resultados concretos de recuperação ambiental da

região (AGÊNCIA BRASIL, 2018).

6.2. Validação da classificação e detecção de mudanças

Atualmente, as imagens de altíssima resolução espacial permitem que sejam

realizados trabalhos na escala de até 1:2.500 com precisão e qualidade, tanto na área

urbana, quanto na área rural. Apesar disso, as imagens destacadas neste tópico foram

apresentadas com escala de 1:4000, a fim de se ter a informação espectral de qualidade e a

informação espacial abrangente.

Deste modo, foi usado neste trabalho imagens dos satélites WorldView 3, GeoEye

1/Kompsat 3A e WorldView 2 cujas resoluções são de 0,30 m, 0,40 m e 0,50 m,

respectivamente. Todas as imagens foram extraídas do portal My DigitalGlobe da

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DigitalGlobe e da plataforma online SISCOM, do IBAMA, para validação da classificação

e das alterações terrenas detectadas nos pontos destacados no item anterior.

Sendo assim, imagens a seguir apresentam as imagens dos sensores supracitados

para os dias dos cenários estudados ou o mais próximo possível de cada data e com a

menor cobertura de nuvens disponível.

As figuras 25, 26 e 27 apresentam a configurações dos três cenários na área entre o

rompimento da barragem de rejeitos e o distrito de Bento Rodrigues, ou seja, a

configuração do ambiente antes, logo após e atualmente, respectivamente.

Figura 25 – Bento Rodrigues antes do rompimento da barragem de rejeitos (2015)

Fonte: SISCOM – IBAMA (DigitalGlobe, 2015)

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Figura 26 – Bento Rodrigues logo após o rompimento da barragem de rejeitos (2015)

Fonte: SISCOM – IBAMA (DigitalGlobe, 2015)

Figura 27 – Bento Rodrigues atualmente (2018)

Fonte: My DigitalGlobe (DigitalGlobe, 2018)

Ao analisar as três composições é possível ver de forma mais detalhada a proporção

da destruição no município de Bento Rodrigues, distrito de Mariana – MG, que teve

aproximadamente 80% de sua área devastada, como já foi visto nas imagens Landsat-8 e

confirmado na aerofoto (Figura 7). Além disso, tem-se uma melhor dimensão da invasão

da lama nas matas ciliares e do córrego Santarém. Ademais, o terceiro cenário mostra parte

das áreas alagadas próximas do distrito de Bento Rodrigues, consequentes da construção

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dos diques S3 e S4, a montante e a jusante, respectivamente, do distrito. Ambos foram

construídos pela mineradora Samarco, para impedir a passagem de rejeitos da barragem.

As figuras 28, 29 e 30 mostram as transformações sofridas no também distrito de

Mariana, Paracatu de Baixo, que dista mais de 60 km de Bento Rodrigues. Banhado pelo

rio Gualaxo do Norte o distrito também foi soterrado, quase na sua totalidade ao ter uma

expressa diminuição da área urbana que foi invadida pela lama.

Figura 28 - Paracatu de Baixo antes da enxurrada de lama da barragem de Fundão (2015)

Fonte: SISCOM – IBAMA (DigitalGlobe, 2015)

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Figura 29 - Paracatu de Baixo logo após a enxurrada de lama da barragem de Fundão (2015)

Fonte: SISCOM – IBAMA (DigitalGlobe, 2015)

Figura 30 - Paracatu de Baixo atualmente (2018)

Fonte: My DigitalGlobe (DigitalGlobe, 2018)

Os cenários também evidenciam o comportamento do aumento da vegetação

(cobertura de pastagem), e diminuição do solo exposto constatado entre as duas primeiras

classificações. Esta região também teve participação significativa no aumento de solo

exposto entre o segundo e terceiro cenário. Outro fator a ser destacado é a cobertura total

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do rio e da vegetação nesta região pela lama, fato que evidencia a força e a dimensão do

impacto decorrente do rompimento da barragem de rejeitos. Por fim, o terceiro cenário

neste ponto também aponta o que o classificador indicou quando demonstrou alguns

resquícios de lama nos cursos d’água, bem como em áreas de solo exposto,

impossibilitando assim, o uso da água para consumo humano.

Mais adiante, no município de Barra Longa, às margens do rio do Carmo, é

possível ver de forma mais detalhada nas figuras 31, 32 e 33 as áreas da cidade que foram

impactadas pela enxurrada de lama, denotando-se assim, que a lama atingiu de forma

parcial as áreas urbanas do município. Além disso, esta região expõe bem o fenômeno de

crescimento de vegetação nas áreas de pastagem entre os dois primeiros cenários, bem

como a diminuição desta classe no terceiro cenário e o aumento da classe de solo exposto

devido à época do ano e ao impacto dos elementos químicos, possivelmente, ainda

presentes no solo.

Figura 31 - Barra Longa antes da chegada da lama ao município (2015)

Fonte: SISCOM – IBAMA (SI Services Imaging, 2015)

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Figura 32 - Barra Longa logo após a chegada da lama ao município (2015).

Fonte: SISCOM – IBAMA (DigitalGlobe, 2015)

Figura 33 - Barra Longa atualmente (2018)

Fonte: My DigitalGlobe (DigitalGlobe, 2018)

Em fim, no último ponto analisado, a região no entorno da UHE de Candongas

mostra as mudanças ocorridas nos três cenários e destacadas nas classificações. Desta

forma, é possível validar essas alterações quando analisadas as configurações formadas em

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cada uma das imagens de altíssima resolução, conforme apresentado nas figuras 34, 35 e

36.

Figura 34 - UHE Candongas antes do desastre ambiental (2015)

Fonte: SISCOM – IBAMA (DigitalGlobe, 2015)

Figura 35 - UHE Candongas logo após o desastre ambiental (2015)

Fonte: SISCOM – IBAMA (DigitalGlobe, 2015)

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Figura 36 - UHE Candongas atualmente (2018)

Fonte: My DigitalGlobe

A chegada da lama na usina constata o que já ocorreu nos demais pontos com a

cobertura de toda a superfície da água, neste trecho tem um ponto mais agravante, pois há

grande acúmulo de sedimentos devido à contenção da usina hidrelétrica onde ficou

acumulado cerca de 10,5 milhões m³ de rejeitos (FUNDAÇÃO RENOVA, 2018). Além

disso, este é um dos pontos onde fica mais evidente as consequências do assoreamento

devido ao acumulo de sedimentos no fundo do rio ao perceber a expressa diminuição da

largura do curso d’água neste trecho, bem como a perca de áreas de mata ciliar.

7. Conclusão e considerações finais

Embora não seja possível vislumbrar o retorno às condições anteriores ao

rompimento da barragem de Fundão, muitas ações já foram tomadas por vários atores para

a recuperação das áreas devastadas pela enxurrada de lama que desceu à montante do

córrego Santarém até a foz do Rio Doce. O que se sabe até o momento é que depois de três

anos do evento a real dimensão do maior desastre ambiental da história brasileira ainda é

desconhecida e que o impacto socioambiental é da mesma forma ainda imensurável.

Várias instituições públicas, organizações não governamentais e organizações

privadas têm unido esforços em uma sinergia a fim de acelerar o processo de recuperação

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das áreas da bacia do rio Doce, embora haja processos impossíveis de serem antecipados,

pois “a natureza tem seu tempo e não se faz recuperação ambiental em dois ou três anos”,

como citado pela presidente do Ibama (AGÊNCIA BRASIL, 2018).

Concluiu-se que os resultados deste estudo possibilitaram a compreensão e uma

análise mais crítica acerca do uso das geotecnologias na avaliação dos impactos

decorrentes de desastres, como o aqui estudado, e outras alterações feitas no meio

ambiente, sobretudo ao utilizar as imagens de alta resolução para identificar e acompanhar

as alterações em áreas de grandes dimensões. Neste caso, pode ser avaliado com clareza as

áreas as quais a lama invadiu e deixou marcas, as alterações na vegetação – matas ciliares e

áreas de pastagem - e a variação da superfície da água, que se deu principalmente pela

cobertura da lama e o assoreamento em regiões do curso dos rios.

Entretanto, sabe-se que o estudo detalhado de regiões por meio de imagens de

sensoriamento remoto utilizando procedimentos automáticos é limitado e está sujeito a

vários tipos de falhas, pois muitas vezes apresentam resultados insatisfatórios

principalmente por depender da subjetividade da interpretação do analista. O ajuste dos

parâmetros como a mudança do método de classificação, quantidade e localização de

pontos de treinamento, etc., melhora os resultados, tornando assim viável o uso desse

expediente para análises como as deste trabalho propostas. A vantagem do método

utilizado nesse estudo é a possibilidade da análise mais rápida de áreas extensas

considerando diferentes cenários.

Embora tenha possibilitado uma análise mais precisa das mudanças entre os

cenários, o processo de classificação supervisionada não é completamente isento de falhas,

pois elementos diferentes podem apresentar assinaturas espectrais muito parecidas,

confundindo a classificação, como aconteceu nas análises feitas. Somado a esse fator, a

resolução da imagem também colaborou fortemente nos resultados da classificação, pois

quanto melhor resolução espacial melhor é a identificação dos objetos imageados e,

consequentemente, melhor o retorno na classificação. As imagens de altíssima resolução

também proporcionaram uma melhor visualização e análise da área estudada, validando

assim os resultados alcançados nas classificações supervisionadas e comprovando as

alterações físicas e espectrais das da área de estudo.

Considerando todos os procedimentos realizados neste trabalho e os resultados

produzidos, pode-se constatar que os processos de recuperação das áreas impactadas pela

lama estão apenas no início, apesar dos passados três anos. As medidas tomadas para

mitigar os danos ambientais nas áreas de mata ciliares invadidas pela lama ainda estão

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longe de serem o necessário para a restauração da área estudada, visto que existem trechos

onde o classificador mudou de vegetação para solo exposto entre o primeiro e o terceiro

cenário, que é atribuído, principalmente ao efeito de assoreamento, além da possibilidade

da existência de elementos químicos – ferro, alumínio, chumbo, cromo, cádmio e

manganês - no solo, decorrentes da passagem da lama. Tais elementos servem de

inibidores do crescimento vegetativo e, de igual modo, se mostraram presentes no solo de

algumas áreas de pastagem onde a vegetação rasteira não voltou a se desenvolver no

último cenário, embora boa parte das áreas de pastagem apresentarem um comportamento

dinâmico por conta da sazonalidade e coleta das imagens.

Além disso, algumas áreas ainda apontam a presença de lama tanto na vegetação

como no corpo d’água. Também foi constatado que existem áreas que não poderão mais

ser regeneradas de modo a voltar à configuração que se tinha antes do evento, como é o

caso de parte da área que foi alagada em Bento Rodrigues, devido à construção dos diques.

Por fim, ao concluir esta pesquisa, fica como sugestão para futuros estudos o uso de

imagens gratuitas com resolução melhor do que a do Landsat-8. A exemplo disso, tem-se

as imagens do sensor Sentinel – 2, da European Space Agency (ESA), cuja resolução é de

10 m e para resultados mais qualitativos na classificação das imagens, pode–se também

aumentar o número de pontos de treinamentos no classificador, conforme orientado por

Spring (2008). Ademais, o uso da técnica de Análise Orientada ao Objeto também é

recomendada pelos orientadores deste estudo, pois pode resultar em um melhor resultado

da classificação dos alvos.

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