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IBSN: 0000.0000.000 Página 1 ANÁLISE DA FRAGILIDADE AMBIENTAL URBANA ASSOCIADA AOS RISCOS AMBIENTAIS NO BAIRRO BOM JARDIM DA CIDADE DE FORTALEZA-CEARÁ-BRASIL José Matheus da Rocha Marques (a) , João Sérgio Queiroz de Lima (b) , Jader de Oliveira Santos (c) (a) Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará, [email protected] (b) Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará, [email protected] (c) Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará, [email protected] Eixo: Riscos e desastres naturais Resumo Trata-se de investigar as potencialidades e fragilidades dos sistemas ambientais perante as intervenções no ambiente urbano no bairro Bom Jardim da cidade de Fortaleza, capital do estado do Ceará, Brasil, através da análise da fragilidade ambiental urbana. Questiona-se como a metodologia de investigação se aplica ao estudo dos riscos ambientais e de que modo pode contribuir para a compreensão dos desastres no sítio urbano. São utilizados dados secundários e procedimentos técnicos operacionais para produção de dados primários e produtos cartográficos para espacialização das zonas de fragilidade do bairro. Os resultados indicam que os riscos ambientais se estabelecem onde existe predominância de zonas de fragilidade emergente. Nesse ínterim, a análise da fragilidade ambiental urbana se torna útil para identificação das áreas instáveis para ocupação urbana, permitindo compreender que o contexto ambiental urbano em pauta necessita de medidas de ordenamento territorial. Palavras chave: ameaças naturais, fragilidade ambiental urbana, riscos ambientais, áreas de risco.

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Page 1: ANÁLISE DA FRAGILIDADE AMBIENTAL URBANA ASSOCIADA AOS RISCOS … · 2019-11-20 · IBSN: 0000.0000.000 Página 1 ANÁLISE DA FRAGILIDADE AMBIENTAL URBANA ASSOCIADA AOS RISCOS AMBIENTAIS

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ANÁLISE DA FRAGILIDADE AMBIENTAL URBANA ASSOCIADA

AOS RISCOS AMBIENTAIS NO BAIRRO BOM JARDIM DA CIDADE

DE FORTALEZA-CEARÁ-BRASIL

José Matheus da Rocha Marques (a), João Sérgio Queiroz de Lima (b), Jader de Oliveira Santos (c)

(a) Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará, [email protected]

(b) Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará, [email protected]

(c) Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará, [email protected]

Eixo: Riscos e desastres naturais

Resumo

Trata-se de investigar as potencialidades e fragilidades dos sistemas ambientais perante as intervenções

no ambiente urbano no bairro Bom Jardim da cidade de Fortaleza, capital do estado do Ceará, Brasil, através da

análise da fragilidade ambiental urbana. Questiona-se como a metodologia de investigação se aplica ao estudo dos

riscos ambientais e de que modo pode contribuir para a compreensão dos desastres no sítio urbano. São utilizados

dados secundários e procedimentos técnicos operacionais para produção de dados primários e produtos

cartográficos para espacialização das zonas de fragilidade do bairro. Os resultados indicam que os riscos

ambientais se estabelecem onde existe predominância de zonas de fragilidade emergente. Nesse ínterim, a análise

da fragilidade ambiental urbana se torna útil para identificação das áreas instáveis para ocupação urbana,

permitindo compreender que o contexto ambiental urbano em pauta necessita de medidas de ordenamento

territorial.

Palavras chave: ameaças naturais, fragilidade ambiental urbana, riscos ambientais, áreas de risco.

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1. Introdução

As interferências das atividades humanas que não consideraram os limites de uso dos

sistemas ambientais, sobretudo nos espaços urbanos, provocaram problemas de cunho

ambiental que são sentidos no mundo contemporâneo. Nesse assunto, os riscos emergentes e

desastres ambientais assumem destaque nos países em desenvolvimento enquanto grandes

problemas ambientais urbanos perante o crescimento das cidades.

Conforme Santos (2008) e Penna e Ferreira (2014), esse crescimento urbano no Brasil

ocorreu sobretudo na metade da década de 1950 aos dias de hoje e produziram sítios urbanos

com diversidade de problemas sociais, mas também ambientais quando associados a existência

de grupos sociais vulnerabilizados que ocuparam ambientes de elevada instabilidade, como

encostas de dunas, topos de morros residuais, planícies fluviais e áreas de inundação sazonal.

A localização inadequada e a carência socioeconômica desses grupos sociais se

condensam na forma de impactos e riscos ambientais para explicar a evidência das chamadas

“áreas de risco”, cuja problemática ambiental urbana aparece de modo premente quando há

existência de eventos naturais potencialmente danosos nas principais cidades brasileiras.

Nesse ínterim, de acordo com o Atlas Nacional de Desastres Naturais (UFSC/CEPED,

2013), eventos naturais são verificados com grande número de ocorrências nesses centros

urbanos e se configuram como ameaças naturais quando possuem potencial de causar desastres

ambientais.

Tal contexto problemático é válido para o entendimento da situação na cidade de

Fortaleza, capital do estado do Ceará, situada na porção setentrional do Nordeste brasileiro,

com status de quinta maior metrópole da região do país. Nessa cidade, enfatizam-se as

inundações enquanto episódios naturais de maiores frequências que afetam de modo

perturbador e danoso a população de modo geral, mas fortemente as instaladas nos ambientes

de maior fragilidade ambiental e mais vulnerabilizadas socialmente face aos efeitos adversos

das ameaças naturais.

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Desse modo, o bairro Bom Jardim, situado na porção sudoeste da cidade de Fortaleza

(figura I), se destaca enquanto unidade espacial de análise neste estudo em função de ser

intensamente ocupado por populações sujeitas as inundações das planícies do rio

Maranguapinho ao leste, segundo maior curso fluvial da cidade, e do Canal do Bom Jardim ao

oeste do bairro.

Figura I – Localização do bairro Bom Jardim na cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil.

Nesse assunto, o presente estudo objetiva compreender a espacialização das

potencialidades e limitações do relevo perante o nível de urbanização do bairro Bom Jardim

utilizando como amparo metodológico para tal avaliação a análise da fragilidade ambiental

urbana.

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Nos períodos de precipitações pluviais, a ocorrência de riscos emergentes provocados

pelos impactos das chuvas nos territórios com precariedade urbana se intensifica, permitindo

estabelecer questões de como zonear a dimensão espacial das inundações no bairro? E como a

fragilidade ambiental urbana pode ser útil ao entendimento dos riscos ambientais?

Ross (1994, 1995, 2006) destaca o uso da investigação da fragilidade ambiental para

ambientes rurais e agrários. Zanella et al. (2013) utilizam a vulnerabilidade socioambiental para

investigação dos riscos ambientais no ambiente urbano. Este estudo dá preferência a análise da

fragilidade ambiental urbana, proposta metodológica de Santos e Ross (2012), na medida em

que permite investigar zonas que foram fortemente alteradas ou não pelas atividades humanas,

sendo útil sua aplicação no ambiente urbano.

2. Materiais e métodos

No ramo da geografia física, uma metodologia que busca investigar as potencialidades

e limitações dos sistemas ambientais no ambiente urbano se torna necessário para estabelecer

bases para o ordenamento territorial. Da mesma forma, Lima (2018) assegura que o

conhecimento do relevo é revelante para o espacialização da manifestação das ameaças naturais

e ordenamento adequado do território.

Nesse assunto, a análise da fragilidade ambiental é uma proposta de investigação cujo

objetivo é apontar, de forma prática, as potencialidades e fragilidades dos ambientes naturais

frente ao uso e ocupação da terra, realizados pelas atividades humanas, como expressa Ross

(1994, 1995).

As unidades de fragilidade potencial são correspondentes aos ambientes estáveis e que

foram menos afetadas em sua estrutura e funcionamento pelas atividades humanas. Embora

sejam conhecidas como “estáveis”, apresentam instabilidade potencial, em virtude das suas

condições ambientais.

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Já as unidades de fragilidade emergente representam os ambientes fortemente

instáveis, na medida em que essas também se configuram nos ambientes onde as transformações

antropogênicas modificaram intensamente o meio natural.

Para avaliação dos ambientes estáveis e instáveis, a operacionalização dessa

metodologia busca definir as unidades de fragilidade potencial e emergente, apontado os

diferentes níveis de fragilidade dos ambientes naturais, sobretudo os modificados pelos

processos antropogênicos. Dessa forma, ocorre a classificação da área estudada em até cinco

níveis hierárquicos, dependentes de um conjunto de fatores que determinam a capacidade de

resiliência do ambiente (quadro I).

Quadro I - Classificação das unidades de fragilidade

UNIDADES DE

FRAGILIDADE

CLASSIFICAÇÃO DOS

NÍVEIS DE INTENSIDADE DA

FRAGILIDADE

QUALITATIVA NUMÉRICA

POTENCIAL

Muito baixa 1

Baixa 2

Média 3

Alta 4

Muito alta 5

EMERGENTE

Muito baixa 1

Baixa 2

Média 3

Alta 4

Muito alta 5

Fonte - adaptado de Ross (1994).

Santos e Ross (2012) adaptaram a proposta da análise da fragilidade ambiental para

ambientes urbanos, adequando a proposta para áreas com diferentes níveis de urbanização que

possuem, de certa forma, elevado nível de alteração do meio físico natural, devido à forte

interferência das atividades antropogênicas, no que se refere a ocupação e uso da terra.

Os níveis de fragilidade ambiental urbana adotam os critérios de relevo, solos e níveis

de urbanização seguindo ordem hierárquica quanto a capacidade de estabilidade do ambiente

urbano no meio físico natural (quadro II). Considera-se que um ambiente que apresenta bom

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qualidade na cobertura vegetal e estabilidade para uso de atividades humanas possui maior

condições de suporte a ação direta de eventos naturais.

Quadro II - Graus de fragilidade ambiental quanto ao nível de urbanização.

GRAUS DE

FRAGILIDADE

NÍVEIS DE URBANIZAÇÃO

1. Muito baixa

Ambientes estáveis com baixa declividade, situadas em porções mais elevadas com média

urbanização, favoráveis condições de vegetação e com excelentes medidas estruturais para

controle de escoamento superficial.

2. Baixa

Ambientes estáveis com boas condições de urbanização, baixa declividade, presença de

ações para controle de cheias, nas vias de escoamento e circulação urbana, nos lotes e nas

construções.

3. Média

Áreas urbanizadas com declividade praticamente nula e predominantemente impermeável

com problemas de drenagem e constantes alagamentos e inundações.

4. Alta

Áreas de inundações sazonais, planícies lacustres, áreas abrigadas das planícies fluviais e

flúvio-marinhas, Áreas urbanizadas ou semi-urbanizadas com precariedade nas habitações

e na infraestrutura para eventos pluviométricos de média/baixa intensidade.

5. Muito alta

Áreas críticas que deveriam ser destinadas à manutenção de suas funcionalidades sistêmicas

naturais. Áreas naturalmente suscetíveis a inundações, corpos hídricos, planícies de

inundação, ambientes com vertentes de alto declive e suscetíveis a movimentos de massa.

Ambientes com ausência de infraestrutura e total precariedade das habitações.

Fonte - Santos e Ross (2012).

Por outro lado, aonde não há suporte de vegetação, exista precariedade na incorporação

na rede de drenagem e sejam naturalmente submetidos a inundações sazonais, existe deficiência

no meio urbano com consequência de maior suscetibilidade de ameaças naturais, configurando

maior fragilidade e limitação ao uso urbano.

Nesse contexto, a correlação dos elementos naturais e sociais como relevo, solos e

urbanização estabelece uma classificação de fragilidade potencial e emergente, cujos números

representam um determinado peso, indicando menos suscetíveis para mais suscetível à

fragilidade potencial ou emergente perante o nível de urbanização.

Na classificação muito baixa e baixa de fragilidade, melhor é a infraestrutura urbana e

menor degradação ambiental do sítio, cuja morfodinâmica é predominante nos sistemas

ambientais, configurando potencialidade para ocupação e menor risco. O grau de fragilidade

média reflete a transição entre os ambientes de baixa e alta fragilidade, cujas características

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correspondem a serem ambientes suscetíveis a inundações ou alagamentos e que foram

inadequadamente incorporados a rede de drenagem.

As classes alta e muito alta de fragilidade englobam as áreas que possuem o caráter de

promoverem maiores impactos e riscos emergentes nos períodos de ocorrências de eventos

naturais, visto que são áreas com precariedade urbanística em termos de infraestrutura urbana

básica, além de representarem os ambientes de maior instabilidade, como as planícies fluviais,

lacustres flúvio-marinhas, áreas de inundações sazonais e áreas de alta declividade. Essas

representam maior interesse ao estudo dos riscos ambientais, visto que a instabilidade

morfogenética das áreas as confere como unidades de fragilidade emergente.

Nos procedimentos operacionais, utilizam-se técnicas relacionados a atividades em

campo; coleta de dados secundários; uso dos sistemas ambientais e declividade do município

de Fortaleza, georreferenciados na projeção plana-cartesiada Universal Transversa de Mercator,

com datum SIRGAS 2000, produzidos por Souza et al. (2009) e Santos (2016);

geoprocessamento dos dados destinados a produção cartográfica para representação da

fragilidade final no meio urbano.

3. Resultados e discussão

O bairro Bom Jardim na cidade de Fortaleza possui área territorial de 2,4 km² e limita-

se ao norte com os bairros Granja Portugal, ao Nordeste com o Bonsucesso, ao oeste com o

Granja Lisboa, ao leste com os bairros Canindezinho e Parque São José e ao Sul com o bairro

Siqueira.

Para avaliação da fragilidade ambiental do bairro, a declividade aparece na figura 3

distribuída no território. As menores cotas altimétricas são constatadas entre 5 até 10 metros

distribuídas nas planícies fluviais do rio Maranguapinho e Canal do Bom Jardim.

A figura III exibe os sistemas ambientais encontrados para área de estudo. Na porção

central da área de estudo, encontram-se os tabuleiros pré-litorâneos, unidades que não

apresentam fortes limitações para uso e ocupação urbana; na porção oeste existem área de

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inundação sazonal, as planícies lacustre e fluviais do Canal do Bom Jardim e na parte leste há

a planície fluvial do rio Maranguapinho, cuja ação morfodinâmica é atuante.

Figura II - Declividade do bairro Bom Jardim da cidade de Fortaleza.

Fonte - com base em Souza et al. (2009).

Do total de 2,4 km² do território do bairro, os tabuleiros constituem 1,55 km² e ocupam

64% de toda a área intra-urbana. Juntas, as planícies fluviais, lacustre e área de inundação

sazonal completam o restante 0,84km², totalizando 36%.

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Figura III - Sistemas ambientais do bairro Bom Jardim da cidade de Fortaleza.

Fonte - com base em Souza et al. (2009) e Santos (2016).

Não obstante do entendimento do relevo, no bairro Bom Jardim os eventos naturais,

como as inundações, derivam-se fundamentalmente do comportamento dos sistemas ambientais

com a ação climática. Nesse sentido, Ferreira e Mello (2005) e Lima, Santos e Zanella (2018)

afirmam que os principais sistemas hidroclimáticos atuantes na cidade de Fortaleza e no

Nordeste brasileiro são a Zona de Convergência Intertropical, Vórtices Ciclônicos de Altos

Níveis, os Processos Convectivos de Mesoescala e as Linhas de Instabilidade. Ao todo,

produzem em média 1.200mm de chuva concentrados nos meses de janeiro a maio.

Nesse assunto, a fragilidade ambiental urbana aparece como indicadora das

potencialidades e limitações do bairro Bom Jardim ao passo em que permite dimensionar a

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espacialização dos eventos de inundações no território. Evidenciada na figura IV, o zoneamento

utilizado seguiu a base metodológica estabelecida por Santos e Ross (2012).

Figura IV - Fragilidade ambiental urbana do bairro Bom Jardim da cidade de Fortaleza.

A fragilidade potencial abrange maior expressividade com 1,555 km², sendo 64,7% de

todo o território. A fragilidade emergente possui área de menor expressão, com 0,845 km²,

compondo 35,3% do território. Com base nos critérios da metodologia físico-geográfica

aplicada, não se encontra outros níveis de fragilidade perante a interferência da urbanização do

bairro.

A unidade potencial média encontrada corresponde ao sistema do tabuleiro pré-

litorâneo, enquanto que a emergente obedece a funcionalidade natural das planícies fluviais do

rio Maranguapinho e do Canal do Bom Jardim, lacustre e as áreas de inundação sazonal. Nesse

assunto, a característica pedogenética das superfícies tabuliformes explica sua “estabilidade”

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face a urbanização. Por outro lado, a ação morfogenética atuante e os processos de degradação

ambiental configuram maior instabilidade ao uso e ocupação da terra atual, sendo classificada

como emergente.

Nos ambientes mais instáveis no bairro Bom Jardim, por serem espaços naturais

destinados a inundações fluviais, lacustres e sazonais, as ocupações conferem dificuldade na

estabilização e segurança no ambiente urbano, configurando um espaço altamente suscetível a

ocorrência de ameaças naturais no bairro. Santos (2015) e Lima (2018) corroboram com esse

entendimento.

Se a morfodinâmica promove instabilidade e é mais atuante na planície fluvial, os

riscos nessa unidade são mais sentidos, mais presentes e, portanto, são maiores. Com a

existência de populações vulneráveis socialmente, localizadas em um ambiente de elevada

intensidade morfodinâmica, esses riscos possuem caráter emergente.

4. Considerações finais

O estudo analítico do relevo no ambiente urbano contribui decisivamente para questões

relacionadas ao planejamento ambiental e ordenamento do território. Nesse ínterim, a análise

da fragilidade ambiental urbana aplicada ao bairro Bom Jardim permitiu reconhecer os

ambientes estáveis, que não apresentam limitações para ocupação e uso urbano e as áreas

instáveis que não devem ser destinadas para ocupação.

Tal análise se aplica ao conhecimento da expressão espacial dos riscos ambientais

quando permite avaliar a dimensão espacial das ameaças naturais que impactam de modo

adverso as populações vulneráveis localizadas nas margens das planícies fluviais e na área de

inundação sazonal. Dessa forma, o zoneamento da fragilidade ambiental emergente preconiza

maior interesse ao conhecimento e identificação dos riscos de desastres ambientais no território.

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O contexto em pauta representa um meio para analisar o problema fortemente presente

de riscos de desastres ambientais na cidade de Fortaleza, da mesma forma que contribui para o

entendimento do fenômeno das áreas de risco ambiental no bairro Bom Jardim.

5. Referências Bibliográficas

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