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Análise da dinâmica dos arranjos técnicos da pecuária pantaneira: população, espaço e
ambiente da pecuária em Mato Grosso do Sul1
Ana Gabriela de J. Araujo
Resumo: Este trabalho apresenta uma caracterização da estrutura produtiva da pecuária bovina extensiva de
corte nos municípios do estado do Mato Grosso do Sul que são-fazem parte do Pantanal sul-matogrossense.
Considerando a importância da atividade para a economia desses municípios, bem como seu status de vetor para
a conservação biológica da região pantaneira e para o modus vivendi da população local, torna-se relevante a
pesquisa em torno da dinâmica sócio-espacial que envolve a produção pecuária. O trabalho procura explorar a
base de dados produzida pelos Censos Agropecuários em dois momentos do tempo, 1995-1996 e 2005-2006,
para caracterizar o estágio do sistema técnico da pecuária pantaneira e assim descrever sua trajetória para a
década 1996-2006. Considerando o espaço regional pantaneiro, a pecuária passa por um processo de
reestruturação produtiva, intensificada desde a virada do século sob a égide da globalização, sendo permeada por
novos atores, novas intencionalidades e novas lógicas produtivas, que se revelam vetores de transformação
sócio-espacial. A caracterização apresentada para o sistema técnico permitiu uma expressão visual da dinâmica
da pecuária regional ao longo de 10 anos e a observação da variabilidade intraregional, evidenciada pelo
comportamento de cada município, apontando trajetórias diferenciadas. Complementado a análise, foram
utilizadas variáveis relativas ao comportamento da população rural dos municípios pantaneiros, coletadas nos
Censos Demográficos do IBGE para os anos 2000 e 2010, com foco a analisar possíveis mudanças na qualidade
de vida da população, bem como resultado de pesquisa empírica que revelam trilhas não captadas pelos Censos.
Este artigo apresenta um componente de um projeto mais amplo, em desenvolvimento, que tem como objetivo
analisar padrões de comportamento dos atores da pecuária pantaneira observados ao longo do tempo e em
associação com possíveis mudanças climático-ambientais que vem afetando o Pantanal, ambiente geoecológico
de feições singulares e rica biodiversidade, e que além disso tem a pecuária bovina de corte como produção
econômica historicamente hegemônica. Considerando a interdependência da pecuária com o ambiente do
Pantanal, ritmado pelos pulsos da inundação, as questões em torno dos possíveis impactos das mudanças no
tempo e no clima sobre a região, estratégias de adaptação e identificação das vulnerabilidades sociais,
econômicas e ecológicas ganham relevância e atualidade.
Palavras-chave: espacialização de dados; censo agropecuário; Pantanal sul-matogrossense.
Introdução
Ao longo dos últimos vinte anos a região do Pantanal em Mato Grosso do Sul vem passando
por mudanças e permanências do sistema técnico da pecuária bovina de corte. As
especificidades do processo de mudança técnica no espaço rural revelam a mudança do
espaço e da sociedade envolvidas pela produção pecuária local (ARAUJO, 2008; ARAUJO E
BICALHO, 2010). A presença simultânea de sistemas técnicos da pecuária de corte
diferenciados entre si, implementados por atores e racionalidades diferenciadas, bem como a
multifuncionalidade das fazendas de gado que vem sendo apropriadas pelo turismo e outras
produções sociais como o ambientalismo, reforçam a preocupação geográfica com os estudos
sobre a implicação de novas técnicas de trabalho para a produção de novos espaços. Este
fenômeno de vetores de transformação do Pantanal embasa a concepção teórico-metodológica
que entende o espaço como a dimensão da vida social e, em movimento, incorpora múltiplos
1 Trabalho realizado como avaliação da disciplina População, espaço e ambiente, ministrada pelos professores
Antonio Miguel V. Monteiro e Silvana Amaral, do Programa de Pós-graduação em Ciências do Sistema
Terrestre no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CCST-INPE).
conjuntos de ações e objetos, desta forma sendo constantemente organizada. Essa concepção
que considera a dimensão relacional do espaço possibilitou uma análise da diversidade de
conteúdos que formam o espaço rural do pantanal sul-matogrossense. Em escalas mais
especificas, estes conteúdos apresentam dinâmicas diferenciadas de reestruturação econômica,
inerentemente sócio-espacial.
O objetivo do trabalho é uma analise espacial que considere dados econômicos e
demográficos da região, para então serem possíveis reflexões e debates em torno das recentes
trajetórias do sistema técnico da pecuária nas diferentes localidades que compõe o Pantanal
sul-matogrossense. A localização da área de estudo é apresentada na figura 1.
Figura 1. Localização da área de estudo
Em escala intra-regional o Pantanal apresenta dinâmica produtiva diferenciada. A
estrutura desigual em termos de extensão territorial, localização na área de planície alagável e
distância dos centros beneficiadores e comercializadores, reflete no numero de rebanho por
município e na classificação entre eles em termos de produção. A classificação intra-regional
é apresentada na tabela abaixo. É possível notar que Corumbá, Porto Murtinho, Rio Verde de
Mato Grosso e Aquidauana são os municípios mais produtivos, seguidos por Coxim, Miranda
e Ladário.
Tabela 1. Distribuição do rebanho bovino e das fazendas criadoras nos municípios do Pantanal
Materiais e métodos
Para a confecção do trabalho foram estabelecidas questões iniciais como: qual(is) o(s)
comportamento(s) do sistema técnico da pecuária pantaneira, que vem sendo reconhecida por
um processo de reestruturação produtiva a partir da década de 1990, sendo permeada por
agentes de outras lógicas de produção e comercialização da carne bovina, reposicionando a
região do pantanal em novas estratégias de mercado? Quais as temporalidades e
especificidades de cada um dos sete municípios que compõe o Pantanal sul-matogrossense em
relação as formas de aderência e resistência ao processo de reestruturação produtiva da
pecaria? Quais as consequências e interferências para e da dimensão populacional nesse
processo, principalmente em relação à mudança na qualidade de vida, em aspectos como
renda, trabalho e educação dos envolvidos na produção pecuária? E como essa dinâmica de
transformação pode ser visualizada em termos espaciais na região.
A escolha para responder tais questões partiu da coleta de dados dos censos
agropecuários e demográficos dos municípios Aquidauana, Corumbá, Coxim, Ladário,
Miranda, Porto Murtinho e Rio Verde de Mato Grosso, que compõe a regionalização do
Pantanal, segundo o Instituto Agropecuário de Mato Grosso do Sul (IAGRO) (figura 1). As
variáveis escolhidas se pautaram em características do sistema técnico e do espaço da
pecuária e foram reduzidas àquelas passíveis de comparação entre os censos agropecuários de
1995-6 e 2005-62. Apesar da incompatibilidade de algumas variáveis entre os censos
agropecuários, foram verificados avanços e aprimoramentos nos resultados para 2005-2006.
Também foram coletadas variáveis relativas a trabalho, renda e educação para a população
rural, passiveis de comparação entre os censos demográficos de 2000 e 2010.
2 A medida que a mudança na metodologia de um censo para o outro não permitiu a comparação de algumas
variáveis para o período, aqui consideradas relevantes.
Além do banco de dados elaborado a partir dos Censos, complementou-se a análise
com coletas empíricas junto à 26 estabelecimentos pecuários do município de Aquidauana,
importante produtor em Mato Grosso do Sul, realizadas no ano de 2010. As informações
nessa resolução espacial mais fina puderam orientar a reflexão sobre as diferentes trajetórias
do sistema técnico da pecuária pantaneira, dando visibilidade a dados não coletados nos
Censos, bem como, confirmar o que detectou-se nesta fonte.
Após a sistematização dos dados estatísticos e download dos shapes para indexação
espacial, disponíveis no sitio eletrônico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), foi realizado um trabalho de montagem de banco de dados, via agrupamento dos
dados por data e tema e a confecção de mapas e gráficos de visualização utilizando o
ambiente SIG, como os programas Access e Terraview.
Resultados e discussões
Foram produzidos mapas referentes a estrutura espacial e produtiva da pecuária na região para
os anos de 1995-6 e 2005-6. A visualização dos mapas abaixo, relativos à estrutura agraria de
cada município mostra um processo de diminuição do tamanho das propriedades rurais para o
período entre década, indicando um movimento de fragmentação das antigas fazendas
pantaneiras que possuíam áreas extensas3 (ARAUJO, 2011). Outra configuração evidenciada
foi a mudança do perfil do produtor, que em 2005-6 passa a residir em outras localidades
além do próprio estabelecimento, seja no espaço urbano do município seja em outro
município. Isso indica uma trajetória de produtores que lidam com a pecuária de forma mais
empresarial, sendo muitas vezes novos proprietários que se instalam na região atraídos pela
recolocação do Pantanal no cenário da economia globalizada e vantagens locacionais como o
preço da terra, em detrimento da condição anterior do fazendeiro proprietário morador na
propriedade (ARAUJO E BICALHO, 2010). Os mapas abaixo ilustram esta situação:
3 Áreas extensas chegando a mais de 300000 ha, por exemplo.
Figuras 2 e 3: Porcentagens por tamanho de áreas das fazendas dos municípios do Pantanal sul-
matogrossense
Figuras 4 e 5: Porcentagens por local de residência dos proprietários e numero de empregos gerados nas
fazendas dos municípios do Pantanal sul-matogrossense (2006)
Figura 6: Porcentagens dos trabalhadores em relação ao parentesco com o proprietário das fazendas dos
municípios do Pantanal sul-matogrossense (2006)
Pode-se observar que para o período entre 1996 e 2006, houve um processo expressivo
de fragmentação das propriedades maiores de 1000 ha, com crescimento dos números totais
de pequenas propriedades (até 100 ha) e maiores, entre 100 e 1000 ha. Para a região analisada,
nota-se que os municípios de Porto Murtinho e Coxim não vivem este processo de forma
nítida o período, já os demais municípios, participam desse processo de transformação da
estrutura fundiária das fazendas de pecuária, com destaque para Corumbá e Ladário (figuras 2
e 3).
As figuras 4, 5 e 6 mostram o perfil da atividade em relação à residência do
proprietário, número de empregados permanentes e a relação de parentesco dos trabalhadores
com o proprietário, indicativos da lógica de trabalho das fazendas na atualidade.
Historicamente, a pecuária pantaneira foi gestada por proprietários locais que residiam no
estabelecimento ou na área urbana do município, e foi caracterizada por não gerar empregos,
pois em regime extensivo necessitava de um capataz e um ou dois peões para o manejo de
todo o rebanho. Hoje essa situação vem sendo modificada, à medida que os novos agentes
empreendedores da atividade são compostos por empresas, inclusive, não mantem
proximidade com o estabelecimento e dispõe de um corpo técnico e administrativo
especializado gerenciando a atividade. De acordo com as informações dos gráficos contidos
nos mapas, vê-se que é significativa a porção de proprietários que residem em outros
municípios, além de morarem na fazenda ou na área urbana da mesma cidade (figura 4).
Sobre a geração de empregos permanentes, observa-se na figura 5 que para municípios
como Ladário, Corumbá, Miranda e Aquidauana, mais de um terço das fazendas possuem
mais de dois empregados permanentes, o que sugere um arranjo técnico condizente com um
manejo mais intensivo e especializado, visando o aumento da produtividade da pecuária
pantaneira, incorporando profissionais como agrônomos, veterinários, zootecnistas,
engenheiros e administradores (ARAUJO, 2008). Com relação aos trabalhadores, vê-se cada
vez menos um laço familiar com a propriedade, principalmente nos municípios de maior
produção, como Aquidauana, Porto Murtinho e Rio Verde de Mato Grosso, além de Miranda
(figura 6), situação condizente com o paradigma da produção e comercialização globalizados,
mais exigente em relação a instrução e especialização técnica (ARAUJO, 2008; ARAUJO E
BICALHO, 2010).
A pesquisa empírica feita com os produtores em Aquidauana confirma essa tendência
de especialização da mão-de-obra, seja dos trabalhadores tradicionais (peões e capatazes), seja
do novo corpo técnico atuante. A tabela abaixo mostra as porcentagens para os trabalhadores
permanentes e temporários, além das mudanças percebidas para a questão. Vê-se que as
fazendas dos três grupos produtivos detectam novas exigências e fazem uso de mais mão-de-
obra permanente.
Tabela 2. Caracterização da mão-de-obra para as fazendas analisadas no município de Aquidauana
Grupos de Fazendas
Mão-de-obra utilizada
Permanente Temporária Especializada Mudanças e particularidades nos últimos 20 anos
Tradicional
27 15
0% Sem mudanças
Mais qualificada, procuram aprender;
Mão-de-obra temporária emprestada dos
vizinhos 64% 36%
Modernizada
51 18
43%
Sem mudança
(14,5%)
Redução
(14,5%)
Acréscimo
(71%)
Mesma mão-de-obra temporária atuando
em várias fazendas de um mesmo dono;
Mão-de-obra temporária indígena;
Mais qualificada, procuram aprender
(alfabetização lingüística e digital) 74% 26%
Produtos de Qualidade
Diferenciada
77 49
100% Acréscimo
(100%)
Pesquisas;
61% 39% Apicultura;
Turismo
Fonte: trabalho de campo, 2011.
Em termos produtivos, para o intervalo de anos analisado foi evidente o aumento de
atributos como número de tratores operando na região, porcentagem da alteração das
pastagens, com diminuição dos pastos nativos e aumento percentual de pastagens exóticas,
aumento no efetivo do rebanho bovino e mudanças nos valores de investimento, receitas,
despesas e financiamento. Essa situação indica um aumento da capitalização da atividade e a
tendência de especialização produtiva, uma transformação para uma produção mais intensiva
e racionalizada.
A figura 7 mostra a evolução no efetivo de rebanhos de gado de corte para cada
município. Observa-se que somente Ladário sofreu uma diminuição do numero de animais,
Coxim e Corumbá permaneceram relativamente estáveis em efetivo de animais, já Rio Verde
de Mato Grosso, Aquidauana, Miranda e Porto Murtinho, sofreram sensível aumento dos
rebanhos. Sobre a evolução do numero de tratores observa-se uma heterogeneidade de
trajetórias, a medida que enquanto dois municípios do limite do Pantanal, Rio Verde de Mato
Grosso (NE) e Porto Murtinho (S) não alteraram seu total de numero de tratores nesses dez
anos, municípios como Aquidauana e Corumbá, os dois maiores produtores da região, tiveram
aumento no total de máquinas, enquanto que os demais municípios, Coxim, Miranda e
Ladário, tiveram redução nos números totais de tratores (figura 8).
Figuras 7 e 8: Evolução para os rebanhos bovinos de corte e número de tratores das fazendas dos
municípios do Pantanal sul-matogrossense entre 1996 e 2006
Figuras 9 e 10: Evolução das pastagens naturais e plantadas das fazendas dos municípios do
Pantanal sul-matogrossense entre 1996 e 2006
Com relação à intervenção no ambiente físico-biológico do Pantanal, no que tange a
abertura de novas áreas e substituição dos pastos nativos da região por espécies exóticas mais
resistentes aos pulsos de inundação e que permitam maior produtividade da atividade, foram
analisados dados representativos da evolução da transformação das pastagens. A partir das
figuras 9 e 10 é possível perceber que na maior parte dos municípios da região houve baixa
diminuição das áreas de pasto nativo, o que pode indicar uma estabilidade do processo de
devastação das pastagens nativas pantaneiras (??referencia), exceto para os municípios mais
próximos ao planalto como Coxim e Rio Verde de Mato Grosso. Contudo, com relação a
introdução de pastagens plantadas, nota-se um aumento expressivo de áreas, com destaque
para os municípios Aquidauana e Corumbá, ambos com grandes áreas de planície de
alagamento. A razão deste fenômeno esta ligada a fragmentação das propriedades, que
permite um rearranjo do espaço produtivo.
O levantamento de dados empíricos para as fazendas de Aquidauana mostra a
heterogeneidade do processo de modificação das pastagens. Este processo varia entre as
classes de produção pecuária, demonstrando diferenças de inter-relação com o ambiente
pantaneiro, que incorpora empreendimentos de logica moderna, investidores na substituição
de pastagens nativas, via introdução de espécies menos vulneráveis e mais produtivas; como
empreendedores que veem no pasto nativo vantagens estratégicas, relacionadas ao baixo custo
de manejo e qualidade nutricional dos animais4. A tabela abaixo mostra as diferenças
temporais e em volume para as fazendas que optaram pela substituição de pastos nativos,
comprovando o dinamismo espaço-temporal do sistema técnico.
Tabela 3. Variabilidade entre as fazendas para introdução de pastagens plantadas - Aquidauana
Grupos de Fazendas
Período da Introdução de Pastagens Plantadas
Antes de 1990 Entre 1990 – 2000 Após 2000 Sem Adesão
Pasto Plantado
Fazendas (%)
Pasto Plantado
Fazendas (%)
Pasto Plantado
Fazendas (%)
Pasto Nativo
Fazendas (%)
Tradicional 12,5% 37,5% 62,5% 37,5%
Modernizado 17,0% 67,0% 100,0% 0,0%
Produtos de Qualidade
Diferenciada 0% 100,0% 0% 0%
Fonte: trabalho de campo, 2011.
Na intensão de complementar a análise deste trabalho, foram utilizadas variáveis nos
censos demográficos de 2000 e 2010 para a população rural dos sete municípios. O objetivo
foi confrontar e articular as informações verificando uma possível alteração da qualidade de
vida desses indivíduos. A partir dos gráficos abaixo, observa-se que de forma geral houve o
aumento de número de domicílios rurais no Pantanal sul-matogrossense, com destaque para
Miranda, Aquidauana e Corumbá, em detrimento da diminuição de domicílios rurais em
Ladário, reforçando a tendência de migração para o urbano do município e de Corumbá,
cidade-gêmea (gráfico 1). o levantamento de numero de moradores por domicilio no espaço
rural da região, mostrado no gráfico 2, indica diminuição para a maioria dos municípios, onde
somente Porto Murtinho viveu um aumento de moradores por estabelecimentos rurais.
4 Dentro das especificidades de tipos de produtores da região, foi seguida a divisão de trabalho anterior
(ARAUJO, 2011) que identificou 3 grupos de sistema de produção da pecuária pantaneira: vertente tradicional,
vertente modernizada e vertente de qualidade diferenciada, que pode ser subdividia entre produtores articulados
mercado de luxo (Coby beef e Novilho precoce) e outros articulados ao mercado “sustentável”(carne orgânica e
“boi verde”). Nesse contexto, os diferentes agentes percebem o ambiente de forma diferencia, seja priorizando
pastagens exóticas, ou tendo sua produção vinculada ao ambiente orgânico do Pantanal.
Gráficos 1 e 2: Número de domicílios e moradores por domicilio das populações rurais dos municípios do
Pantanal sul-matogrossense entre os anos 2000 e 2010
Percebe-se um aumento médio em muitos dos municípios no que tange a alfabetização
dos moradores (gráfico 3), indicando um possível avanço em termos de instrução da
população rural, contudo o município de Ladário apresentou diminuição do total de
responsáveis por domicílios alfabetizados ao longo da década. Isso se deve a tendência de
êxodo rural do município e intensificação da dinâmica inter-urbana com a cidade conurbada
Corumba, que atrai a população da cidade vizinha. Complementando os dados do gráfico, dos
Censos Demográficos, como os dados agropecuários expostos no mapa abaixo (figura 11),
nota-se que de forma geral a situação dos atores da pecuária evolui para um aumento de
escolaridade. Para todos os municípios, apesar do alto grau de indivíduos com níveis de
alfabetização, ensino fundamental incompleto, alguns municípios já mostram uma população
de proprietários rurais com ensino superior completo, principalmente para os municípios de
Aquidauana, Miranda, Porto Murtinho e Rio Verde de Mato Grosso.
Gráfico 3: Número de responsáveis por domicílios
rurais alfabetizados nos municípios do Pantanal sul-
matogrossense entre os anos 2000 e 2010
Figura 11: Porcentagem de proprietários das
fazendas de pecuária da região por grau de
instrução (2006)
0.00
500.00
1000.00
1500.00
2000.00
2500.00
3000.00
3500.00
2000 2010
Nu
me
ro d
e D
om
icili
os
Domicílios Particulares Permanentes
AQUIDAUANA
CORUMBA
COXIM
LADARIO
MIRANDA
PORTOMURTINHORIO VERDE 0.00
2000.00
4000.00
6000.00
8000.00
10000.00
12000.00
2000 2010
Mo
rad
ore
s
Moradores
AQUIDAUANA
CORUMBÁ
COXUM
LADÁRIO
MIRANDA
PORTOMURTINHORIO VERDE
0.00
500.00
1000.00
1500.00
2000.00
2500.00
2000 2010
Re
sid
en
cias
Responsáveis Alfabetizados
AQUIDAUANA
CORUMBÁ
COXIM
LADÁRIO
MIRANDA
PORTOMURTINHO
RIO VERDE
Com relação a renda da população rural, nota-se um expressivo crescimento nos totais
de responsáveis com renda de até meio salário mínimo, com destaque para os municípios de
Miranda, Corumbá e Aquidauana (gráfico 4). Para as parcelas de renda entre 1e 2 salários
mínimos, nota-se uma certa diminuição dos totais de responsáveis por município, exceto nos
municípios de Coxim e Porto Murtinho, que viveram aumento para a década (gráfico 5).
Quanto às parcelas mais elevadas de renda, entre 3 a 5 salários, nota-se uma diminuição
substancial dos moradores nesta faixa salarial em 2006 em toda região, o que indica um
deslocamento da renda rural para o urbano, com destaque para Miranda, Corumbá e
Aquidauana (gráfico 6).
Gráfico 4, 5 e 6: Renda dos responsáveis das residências rurais para os municípios do Pantanal entre
2000 e 2010
Ressalta-se o nível de generalização dos censos agropecuários que ao trabalhar em
escala municipal não permite a indexação espacial de áreas diferenciadas e especificas como
no caso desses municípios e suas diferenciações em áreas de planície alagável e planalto.
Porem, a comparação entre os anos e a visualização do comportamento de cada município
permitiu a analise da dinâmica sócio- espacial promovida pela produção pecuária,
0.00
50.00
100.00
150.00
200.00
250.00
300.00
350.00
400.00
2000 2010
Nu
me
ro d
e P
ess
oas
Renda do Responsável - até 1/2 salário mínimo
AQUIDAUANA
CORUMBÁ
COXIM
LADÁRIO
MIRANDA
PORTOMURTINHORIO VERDE 0.00
200.00
400.00
600.00
800.00
1000.00
2000 2010
Nu
me
ro d
e P
ess
oas
Renda do Responsável - De 1 a 2 salários mínimos
AQUIDAUANA
CORUMBÁ
COXIM
LADARIO
MIRANDA
PORTOMURTINHORIO VERDE
0.00
20.00
40.00
60.00
80.00
100.00
120.00
140.00
160.00
2000 2010
Nu
me
ro d
e P
ess
oas
Renda do Responsável - De 3 a 5 salários mínimos
AQUIDAUANA
CORUMBÁ
COXIM
LADÁRIO
MIRANDA
PORTOMURTINHO
RIO VERDE
identificando as particularidades de cada município da região do Pantanal sul-matogrossense
dentro do processo de reestruturação produtiva capitalista, que sob a égide da globalização
vem transformando as diferentes localidades (ARAUJO, 2008)
Conclusão
O trabalho de especializar os dados econômicos e sociais do espaço da pecuária no Pantanal
de Mato Grosso do Sul possibilitou a análise da dinâmica que a região vem passando em
termos de reestruturação produtiva característica da globalização, onde novos sistemas de
ações e de objetos criam novos territórios, estabelecendo uma situação de multi-
territorialidade num mesmo espaço geográfico (SANTOS, 2004; HAESBAERT, 2007).
Foi possível observar a evolução da região em questões como o aumento técnico e
financeiro nas áreas produtivas e um processo de fragmentação das antigas propriedades
pantaneiras, historicamente extensas ao longo de dez anos. Em relação aos aspectos de renda,
trabalho e educação, foi possível especializar a dinâmica dos sete municípios, que mostraram
diferenças entre si e uma tendência modernização seletiva e excludente, dada a necessidade de
capacitação e especialização dos trabalhadores, para estes se manterem inseridos na estrutura
econômica de uma nova pecuária, e a queda nos níveis de renda no espaço rural de todos os
municípios ao longo da década analisada.
Vale destacar a insuficiência da fonte de dados utilizada, os censos agropecuários de
1995-6 e 2005-6 e censos demográficos de 2000 e 2010 para o presente tema. Considerando a
variabilidade intra-municipal tantos em termos ambientais quanto produtivos econômicos
(ARAUJO, 2011; ARAUJO E BICALHO, 2010), é necessário o uso de dados mais
específicos em escala local, em termos de propriedades, como o Cadastro Rural do INCRA,
por exemplo, que possibilita a coleta de variáveis mais específicas para a dinâmica produtiva
pantaneira dentro de cada sub-área do Pantanal. Outra base complementar é o levantamento
de campo, com entrevistas aos produtores.
Contudo a pesquisa se mostrou relevante e subsidia reflexões em torno da dinâmica da
pecuária pantaneira, que demonstra rupturas e permanências, e uma temporalidade própria e
múltipla.
Referencias bibliográficas
ARAUJO, Ana P. C. Pantanal: um espaço em transformação. PPGG/UFRJ, Rio de Janeiro,
2006. (Tese de doutorado)
ARAUJO, Ana Gabriela de J. A pecuária no Pantanal: novas tendências no processo de
produção de Aquidauana, Mato Grosso do Sul. PPGG/UFRJ, Rio de Janeiro, 2011.
(Dissertação de mestrado)
ARAUJO, A. P. BICALHO, A.M.M. S. O rural em movimento: a pecuária nas
transformações espaciais do Pantanal. CAMPO Grande: Ed. UFMS, 2010.
HAESBAERT, R. Território e Multiterritorialidade – um debate. In: GEOgraphia. Niterói:
PósGeo/UFF, 2007. n. 17
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo
Agropecuário 1995-6. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: ago/2013
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Demográfico 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: ago/2013
SANTOS, M. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo:
HUCITEC, 2002.
TerraView 4.1.0. São José dos Campos, SP: INPE, 2010. Disponível em:
www.dpi.inpe.br/terraview. Acesso em: jul/2012.
ANEXO 1
ANEXO 2