animaldiçoados um panorama do horror no cinema de animação...

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016 1 Animaldiçoados um panorama do Horror no Cinema de Animação Brasileiro 1 Genio Nascimento 2 Laura Loguercio Cánepa 3 Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP Resumo O presente trabalho introduz uma pesquisa sobre as animações de horror brasileiras que participaram do festival Animaldiçoados, criado em 2010, e que já teve desde então seis edições. O objetivo deste primeiro levantamento é caracterizar as tendências atuais dos filmes de horror de animação feitos no Brasil, levando em consideração o modo de formação das equipes, os tipos de financiamentos, as técnicas utilizadas e os subgêneros praticados. Com isso, pretende-se consolidar um grupo de informações e debates que possam descrever os traços mais significativos da animação brasileira de horror na atualidade. Palavras-chave: cinema; animação; horror; festival. Introdução O Cinema de Animação no Brasil evoluiu de forma significativa nos últimos anos. Segundo dados divulgados na página da ABCA Associação Brasileira de Cinema de Animação, de 22 filmes produzidos na década de 1980, saltamos para 216 na década de 1990, evoluindo para 373 apenas nos primeiros quatro anos do século XXI. Mesmo assim, não podemos considerar que temos uma produção consistente para cinema, já que muitas dessas produções são voltadas para publicidade. Além disso, são raríssimos os filmes longas-metragens. De 1953 a 2006, ou seja, em 53 anos, o Brasil produziu apenas 19 filmes longa-metragem de animação. Sendo que, desses 19, quatro deles foram produzidos em 2006. Logo, em 52 anos, tivemos 15 longas 4 . 1 Trabalho apresentado no GP Cinema do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Mestrando em Comunicação Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi, e-mail: [email protected]. 3 Pós-doutora em Comunicação pela Universidade de São Paulo - USP, Coordenadora do Programa de Pós- graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, e-mail: [email protected] 4 As informações na página da ABCA não estão atualizadas para os últimos anos. Em alguns casos, temos dados até 2004, em outros até 2007. Disponível em: <http://www.abca.org.br/historico-anim-brasileira/> Acesso em: 03/07/2016.

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

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Animaldiçoados – um panorama do Horror no Cinema de Animação Brasileiro1

Genio Nascimento2

Laura Loguercio Cánepa3

Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, SP

Resumo

O presente trabalho introduz uma pesquisa sobre as animações de horror brasileiras que

participaram do festival Animaldiçoados, criado em 2010, e que já teve desde então seis

edições. O objetivo deste primeiro levantamento é caracterizar as tendências atuais dos

filmes de horror de animação feitos no Brasil, levando em consideração o modo

de formação das equipes, os tipos de financiamentos, as técnicas utilizadas e os subgêneros

praticados. Com isso, pretende-se consolidar um grupo de informações e debates que

possam descrever os traços mais significativos da animação brasileira de horror na

atualidade.

Palavras-chave: cinema; animação; horror; festival.

Introdução

O Cinema de Animação no Brasil evoluiu de forma significativa nos últimos

anos. Segundo dados divulgados na página da ABCA – Associação Brasileira de Cinema de

Animação, de 22 filmes produzidos na década de 1980, saltamos para 216 na década de

1990, evoluindo para 373 apenas nos primeiros quatro anos do século XXI. Mesmo assim,

não podemos considerar que temos uma produção consistente para cinema, já que muitas

dessas produções são voltadas para publicidade. Além disso, são raríssimos os filmes

longas-metragens. De 1953 a 2006, ou seja, em 53 anos, o Brasil produziu apenas 19 filmes

longa-metragem de animação. Sendo que, desses 19, quatro deles foram produzidos em

2006. Logo, em 52 anos, tivemos 15 longas4.

1 Trabalho apresentado no GP Cinema do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento

componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2 Mestrando em Comunicação Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi, e-mail:

[email protected].

3 Pós-doutora em Comunicação pela Universidade de São Paulo - USP, Coordenadora do Programa de Pós-

graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, e-mail: [email protected]

4 As informações na página da ABCA não estão atualizadas para os últimos anos. Em alguns casos, temos

dados até 2004, em outros até 2007. Disponível em: <http://www.abca.org.br/historico-anim-brasileira/>

Acesso em: 03/07/2016.

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De qualquer forma, podemos notar que no caso dos curtas o crescimento é

significativo. Entre 1993 e 2007, 903 filmes brasileiros foram selecionados para o Anima

Mundi - Festival Internacional de Animação do Brasil 5, o maior evento dedicado ao

cinema de animação das Américas e o segundo maior do mundo6. Criado pelos animadores

brasileiros Marcos Magalhães, Aida Queiroz, Cesar Coelho e Léa Zagury, que se

conheceram no curso de animação promovido pela Embrafilme em parceria com o National

Film Board do Canadá, em 1985, o Anima Mundi selecionou 101 animações brasileiras na

edição de 2015, quando iniciamos essa pesquisa.

Mas não é de agora que existem festivais de cinema de animação em terras

brasileiras. Em 1965, aconteceu o I Festival Internacional de Cinema de Animação no

Brasil, no Masp (Museu de Arte de São Paulo), com a participação de diversos países. Dez

animações brasileiras participaram desse festival (cf. NESTERIUK, 2011). De lá para cá,

surgiram inúmeros outros, como o Animage (Festival Internacional de Animação de

Pernambuco), Animacine (Festival de Animação do Agreste), Maranime (Festival

Maranhense de Animação), Festival Internacional Brasil Stop Motion, Festival Anima

Tere, Anim!Arte (Festival Brasileiro Estudantil de Animação), Locomotiva (Festival de

Cinema de Animação), Mumia (Mostra Udigrudi Mundial de Animação), BAF (Brasília

Animation Festival), Festival de Animação da Universidade Federal de Pelotas,

Phantasmagoria (Festival de Animação da UFMG), entre outros.

Esses festivais funcionam como incentivo aos produtores, já que possibilitam a

divulgação de suas obras. Outro fator importante para essa mudança notada nos últimos

anos, são os avanços tecnológicos que permitiu um barateamento dos custos de produção.

Além da popularização do acesso à internet, que proporciona um intercâmbio significativo

entre produtores do mundo inteiro, facilitando o aprendizado e soluções técnicas e é, talvez,

o maior canal de divulgação. Dentre os gêneros possíveis dessas animações, destacaremos o

gênero de horror como tema dessa pesquisa.

O principal questionamento quando se fala de Horror e Animação é se existe

essa associação. Temos certeza de que uma animação pode muito bem apresentar elementos

identificados como horríficos. E tanto existe que a demanda levou a criação de um festival

específico para revelar essa produção. É o festival que comporá o corpus dessa pesquisa.

5 Nesse mesmo período, em um levantamento parcial, já que nem todas as edições foram contabilizadas,

foram 1709 filmes inscritos. Informação disponível no site da ABCA. Disponível em:

<http://www.abca.org.br/historico-anim-brasileira>. Acesso em: 03/07/2016.

6 Conforme informação no próprio site do Festival Anima Mundi.

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Uma das explicações para o aumento dessas produções é a chegada de games de horror no

mercado brasileiro. Desde 1997 temos uma gradativa produção de games do gênero

Survival Horror. Uma vez que games também envolvem animações, é visível nessa mídia

as possibilidades de se criar um clima de horror mesmo com uma animação menos realista,

como é o caso da maioria dos jogos. Logo, esse clima pode ser transposto para uma

narrativa audiovisual com desenhos, massas, bonecos ou recortes.

Fig. 1: Cenas do game Blair Witch Volume 3: The Elly Kedward Tale (2000). Fonte: hookedgamers.com

O Cinema de Animação no Brasil

Nove anos separam a primeira animação da história mundial da primeira

brasileira. Segundo Andréia Prieto Gomes, nossa primeira produção foi o curta-metragem

Kaiser, de 1917. O filme que, infelizmente não restou cópia, apenas notas em jornais da

época e alguns fotogramas, era “uma charge animada em que o líder alemão Guilherme II

sentava-se em frente a um globo e colocava um capacete representando o controle sobre o

mundo. O globo então crescia e engolia o Kaiser” (GOMES, 2008). A charge refletia um

momento histórico, já que o Brasil havia entrado na Primeira Guerra Mundial nesse ano

após ter alguns navios torpedeados por submarinos alemães (Cf.: GARAMBONE, 2014).

Em 1942, foi lançado o Dragãozinho Manso, o primeiro filme brasileiro de

bonecos animados (stop motion), também um curta-metragem. Já o primeiro longa é de

1953: Sinfonia Amazônica. Em preto e branco, levou seis anos para ficar pronto e mais de

500 mil desenhos, todos feitos à mão por Anélio Lattini Filho. O filme, que contava

algumas lendas amazônicas, foi praticamente ignorado pelo público, mas conquistou

diversos prêmios nacionais e internacionais (Cf.: MIRANDA, 1971).

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Em 1972, surge a primeira animação colorida, Presente de Natal, um longa-

metragem dirigido por Álvaro Henrique Gonçalves, que também trazia características do

folclore brasileiro, tendo como um dos personagens o Saci-Pererê. A década de 70 foi um

marco para a Animação Brasileira. Nela surgem os primeiros estúdios nacionais de

animação. Entre eles, o Maurício de Souza Produções, que foi responsável por cinco

animações ao longo da década posterior: quatro filmes da Turma da Mônica e um d'Os

Trapalhões. O filme "Os Trapalhões no Rabo do Comenta", de 1986, combinava o uso de

live-action e animação e foi dirigido por Dedé Santana.

A década de 90 é marcada pela primeira animação produzida totalmente em

computação gráfica. O filme Cassiopéia, de 1996, foi dirigido pelo animador Clóvis Vieira

e levou quatro anos para ficar pronto. Só ficou atrás do Toy Story como o primeiro filme de

animação feito inteiramente em computador porque, com toda a estrutura da Pixar, esse

ficou pronto em 19957. Já Brasil Animado, de 2011, é o primeiro longa com captação e

exibição 3D. O filme mistura animação com cenas de paisagens brasileiras e foi dirigido

por Mariana Caltabiano.

Finalmente, dois filmes marcam a evolução do Cinema de Animação Brasileiro,

com as maiores bilheterias e premiações: Uma História de Amor e Fúria (2013), dirigido

por Luiz Bolognesi, recebeu o prêmio de Melhor Animação no Annecy International Film

Festival, na França; e O Menino e o Mundo (2015), dirigido por Alê Abreu, foi um dos

cinco indicados ao Oscar de Melhor Animação de 2016, além de vencer os dois prêmios

mais importantes do principal festival de animação do mundo, em Annecy, levar mais de

100 mil espectadores aos cinemas franceses e vencer cerca de 40 prêmios em diferentes

festivais mundiais (cf: VALENTE, 2016).

O Festival Animaldiçoados

O Animaldiçoados – Festival Internacional de Animação de Horror, foi criado

em 2010 por Alexander Mello e Leandro Morais, que perceberam haver uma significativa

7 Existe divergências se Cassiopéia ou Toy Story foi o primeiro filme totalmente criado no computador. A

Disney em 1995 lançou uma forte campanha de marketing (Us$ 50 milhões) dizendo que Toy Story era o

primeiro filme totalmente criado no computador. Como a Disney utilizou modelos de argila para criação dos

personagens antes do computador, alguns autores afirmam ser Cassiopéia e outros Toy Story o pioneiro.

Conforme Andréia Prieto Gomes, em História da Animação Brasileira, UERJ, 2008.

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produção de animações do gênero horror, mas não haver um festival específico8. Segundo

seus criadores, não foi identificado em nenhum país um festival com essas características, o

que torna o Animaldiçoados pioneiro no gênero. O festival é voltado exclusivamente para

animações de Terror, Horror e Suspense e destinado somente ao público adulto, conforme

descrição do próprio site do evento. O corpus desse estudo é formado pelas animações

brasileiras selecionadas para esse festival nas suas cinco primeiras edições. Entre 2010 e

2014, foram selecionadas 52 animações brasileiras, sendo que algumas delas participaram

de mais de uma edição9.

Fig. 2: Logo da primeira edição do festival (2010). Fonte: animaldicoados.com.br

Em 2015, na sexta edição, o festival passou a se chamar Animaldiçoados –

Festival Internacional de Animação Sombria e a aceitar produções de terror, horror,

suspense "e outros gêneros amaldiçoados". Com essa mudança, o evento deixou de ter um

foco específico para o universo do horror e entrar também na seara da ficção científica.

Como exemplo, a edição de 2015 foi dedicada a produções de animações sobre

extraterrestres.

Conforme mencionamos anteriormente, nas cinco primeiras edições do festival

foram selecionados 52 filmes brasileiros. A seguir, faremos algumas análises iniciais desse

corpus, para verificarmos aspectos como locais de produção, gênero do diretor, produções

patrocinadas ou independentes, técnicas utilizadas e número de produções por ano.

No gráfico abaixo, da origem geográfica dos filmes, podemos observar que há uma

significativa concentração no eixo Rio-São Paulo. Mais da metade das produções são desses

dois estados, sendo Rio de Janeiro em primeiro e São Paulo em segundo. Se não contarmos

as produções que não tiveram suas origens identificadas, o Estado de Minas Gerais aparece

em terceiro. Dentre os motivos que justificam essa concentração, podemos destacar que

8 Conforme entrevista com os criadores do evento para o site Animação SA. Disponível em:

<http://animacaosa.blogspot.com.br/2016_05_01_archive.html>. Acesso em: 03/07/2016.

9 Conforme a lista disponível no Anexo e retirada do próprio site do festival

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diversas dessas produções foram provenientes de cursos universitários, como os da

Universidade Veiga de Almeida, da Universidade Metodista de São Paulo, da Universidade

Federal de Minas Gerais e da Universidade Federal Fluminense. Além de cursos livres,

como os da Escola Meliès, hoje Faculdade Meliès de Tecnologia.

Fig. 3: “Origem Geográfica” Fonte: animadiçoados.com.br

Outro dado importante analisado são as técnicas utilizadas nessas produções. Quase

metade (25) delas foram feitas utilizando a técnica mais tradicional de animação, ou seja, o

desenho de duas dimensões (2D). Em segundo lugar, com 9 produções, temos um empate

entre a técnica 3D e animações que utilizam técnicas mistas, como 2D mais 3D, recortes

(cut-out) mais 2D ou filmes que envolvem live-action mais outra técnica de animação. Em

terceiro lugar temos a animação de recortes (cut-out) e em quarto, a stopmotion. Aqui

podemos concluir que a escolha pelo método tradicional se dá por questões de custos e

tempo de produção. E por ser o oposto, o seja, que tem um tempo e um custo maior de

produção, é que a técnica stopmotion apresenta um número infinitamente menor de

produções.

Fig. 4: “Técnicas das Animações” Fonte: animaldicoados.com.br

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Um dado significativo é o gênero (masculino ou feminino) dos diretores. Como

ainda ocorre na produção cinematográfica em geral, a maioria dos diretores são homens. No

caso, 85%. Nos 15% restantes, há diretoras, duplas formadas por homens e mulheres, e

ainda uma produção que não teve a direção identificada porque foi creditada a um estúdio.

Fig. 5: “Diretores gênero (masculino/feminino)” Fonte: animadicoados.com.br

Com relação aos filmes serem ou não patrocinados, observamos que a maioria são

filmes independentes, alguns produzidos em casa, como é o caso do curta “Aqueles olhos”,

que o diretor Chico Azevedo manteve um blog como diário de produção. No caso dos

filmes patrocinados, alguns creditam investimento de verbas públicas, como algumas leis de

incentivos via prefeituras, secretarias de culturas, agências financiadoras, como a Ancine e

Financiarte, e até de empresas públicas como a Petrobrás. Outros são produções que

envolvem principalmente a utilização de recursos das escolas, como a UVA, Umesp,

Meliés, UFF, PUC-Rio e UFMG.

Fig. 6: “Patrocínio” Fonte: animadicoados.com.br

Com relação ao ano de produção, observou-se que os filmes participantes de uma

edição são produzidos no ano anterior, em geral. Na primeira edição do festival, houve a

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necessidade de se convidar algumas produções que apresentavam as características do

festival e que já tinham se tornado clássicas no meio, como é o caso da “A lasanha

assassina”, de Ale McHaddo. Por esse motivo, nessa edição aparecem filmes produzidos em

2002, 2003, 2008 e 2009. Nas edições seguintes, observou-se as produções recentes para

efeito de premiações. Alguns filmes aparecem em diferentes edições; nesse caso, eles

compõem alguma mostra específica e não participam das premiações.

Fig. 7: “Ano de produção” Fonte: animadicoados.com.br

Destaques do Festival

Destacaremos a seguir alguns filmes de diferentes técnicas que fizeram parte das

edições do festival, como exemplo.

Como exemplo de técnica 2D, vamos destacar aquela que é, talvez, a animação

brasileira mais conhecida de horror: A lasanha assassina (2002). O título já remete ao

universo dos filmes trash, principalmente pela originalidade do vilão: uma lasanha com

sotaque italiano. O curta, dirigido por Ale McHaddo, conta a história de uma lasanha

esquecida na geladeira, que sofre mutações ao entrar em contato com os gases que vazam

do congelador e a baixa temperatura do ambiente. Depois disso, ela vai atacar os moradores

da casa, com muita violência e sangue misturado com molho de tomate. O filme traz

diversas referências do universo do cinema de horror, seja pelo inusitado monstro, pelos

desenhos da TV que o garoto assiste e até a introdução feita pela versão cartunesca do Zé

do Caixão. Como em seus filmes, o próprio Mojica dubla seu personagem fazendo a

apresentação do horror que o espectador “corajoso” enfrentará.

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Fig. 8: “A lasanha assassina” Fonte: Cinefashion

Como exemplo de animação em stopmotion, temos "O Rei está Morto", um filme de

2012 inspirado no universo simbólico do jogo de xadrez. O curta, dirigido por Frank Fialho,

começa com o rei Negro morto e o rei Branco enviando seu filho, Nescius, para conquistar

o reino do inimigo. O horror fica por conta da “violência” e também do visual dos

personagens. O diretor manteve um blog com o making off da produção:

“oreimorto.blogspot.com.br”.

Fig. 9: “O Rei está Morto” Fonte: Adorocinema

Na técnica de recortes (cut-out), temos um filme de 2012 chamado “Os Últimos 40

segundos de Dr. Jekyll & Mr. Hyde”. Dirigido por Alexandre Correa, o curtíssimo filme faz

uma interpretação livre dos últimos 40 segundos dos personagens (o duplo personagem) do

livro “O médico e o Monstro”, de Robert Louis Stevenson. O enredo é meio confuso, mas a

composição ficou belíssima.

Fig. 10: “Os Últimos 40 segundos de Dr. Jekyll & Mr. Hyde” Fonte: animaldicoados.com.br

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Por último, destacamos uma animação em 3D: Meu Medo (2012). A animação

dirigida por Murilo Hauser detalha, pela visão de uma criança, as reações do corpo ao sentir

medo.

Fig. 11: “Meu Medo” Fonte: murilohauser.com

Como pudemos observar, há uma variedade imensa de formas e temas tratados nas

animações. Desde monstros inusitados, personagens clássicos da literatura, até efeitos

psicológicos aparecem nessas quatro amostras. Se projetarmos para os 52 filmes

selecionados teremos inúmeras possibilidades.

Conclusão

Como indicamos no resumo, este trabalho trata-se de uma introdução da pesquisa

que estamos desenvolvendo. O caminho buscado é analisar cada animação para identificar

as características técnicas e narrativas. Partindo dessa necessidade de aprofundamento das

pesquisas em Cinema de Animação, especificamente do Gênero Horror em produções

brasileiras, esse trabalho inicia, quem sabe, um diálogo com outros pesquisadores, para que

juntos possamos avançar para construir uma base teórica e contribuir com futuras pesquisas

na área.

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Referências

ANIMACAST S.A. #007 - Estamos Todos Animaldiçoados. Disponível em:

<http://animacaosa.blogspot.com.br/2016_05_01_archive.html>. Acesso em: 25 de junho de 2016.

BENDAZZI, Giannalberto. Cartoons: One Hundred Years of Cinema Animation. Indianápolis:

Indiana University Press, 1999.

Cenas do game Blair Witch Volume 3: The Elly Kedward Tale (2000) [imagem online]. Disponível

em: <http://hookedgamers.com>. Acesso em: 03 de julho de 2016.

DENIS, Sebàstien. O cinema de Animação. Tradução: Marcelo Félix Coleção Mi.mé.sis, v. 7.

Lisboa: Texto & Grafia, 2010.

GOMES, Ana Paula. História da Animação Brasileira. CENA - Centro de Análise do Cinema e do

Audiovisual, São Paulo: Cebrap, 2008. Disponível em:

<http://www.cenacine.com.br/wpcontent/uploads/historia-da-animacao-brasileira1.pdf>. Acesso

em: 25 de junho de 2016.

LAMARRE, Thomas. The Anime Machine: A Media Theory of Animation. Minneapolis: University

of Minnesota Press, 2009.

Logo da primeira edição do festival (2010) [imagem online]. Disponível em:

<http://animaldicoados.com.br>. Acesso em: 25 de junho de 2016.

A lasanha assassina (2002) [imagem online]. Disponível em:

<http://cinefashion.com.br/cinema/animacao-a-lasanha-assassina>. Acesso em: 3 de julho de 2016.

LUCENA JR. Alberto. Arte da animação. Técnica e estética através da história. 3ª ed. São Paulo:

Senac, 2011

Meu Medo (2012) [imagem online]. Disponível em: <http://www.murilohauser.com>. Acesso em: 3

de julho de 2016.

MIRANDA, Carlos Alberto. Cinema de Animação – Artenova/ Arte Livre. Petrópolis: Vozes, 1971

MORENO, Antônio. A Experiência Brasileira no Cinema de Animação. Rio de Janeiro: Artenova,

1978

NESTERIUK, Sergio. Dramaturgia de Série de Animação. São Paulo: Sergio Nesteriuk, 2011.

O Rei está Morto (2012) [imagem online]. Disponível em:

<http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-103961>. Acesso em: 3 de julho de 2016.

Os Últimos 40 segundos de Dr. Jekyll & Mr. Hyde (2012) [imagem online]. Disponível em:

<animaldicoados.com.br>. Acesso em: 3 de julho de 2016.

PINNA, Daniel Moreira de Sousa. Terror Animado - questões de gênero nos estudos de Animação.

Revista Universitária do Audiovisual - RUA, São Carlos, Ano 5, jan/dez. 2012. Disponível em:

<http://www.rua.ufscar.br/terror-animado-questoes-de-genero-nos-estudos-de-animacao/>. Acesso

em: 25 junho 2016.

SAWICKI, Mark. Animating with Stop Motion Pro. London: Focal Press, 2010

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VALENTE, Eduardo. O Menino e o Mundo. Blog Cine Arte UFF, 2016. Disponível em:

<http://www.centrodeartes.uff.br/blogcinearteuff/2016/01/o-menino-e-o-mundo/>. Acesso em: 24

de junho de 2016

Filmes

AQUELES olhos. Dirigido por Chico Azevedo. [n. i.]. 2010, 2 min. 51 seg. Color, son.

BRASIL Animado. Dirigido por Mariana Caltabiano. Mariana Caltabiano Criações. Rio de Janeiro,

75 min. Color, son.

CASSIOPÉIA. Dirigido por Clóvis Vieira. NDR Filmes Produções Ltda. São Paulo, 1996, 80 min.

Color, son.

DRAGÃOZINHO Manso: Jonjoca, O. Dirigido por Humberto Mauro. INCE - Instituto Nacional de

Cinema Educativo. Rio de Janeiro, 1942, 25 min 37 seg. Preto e branco, Son.

HISTÓRIA de Amor e Fúria, Uma. Dirigido por Luiz Bolognesi. Buriti Filmes e Gullane Produção.

São Paulo, 2013, 74 min. Color, son.

KAISER. Dirigido por Álvaro Marins. Corrêa, Sampaio. Rio de Janeiro, 1917, 18 min. Preto e

branco, Sil.

LASANHA Assassina, A. Dirigido por Ale McHaddo. 44 Bico Largo. Brasil, 2002, 8 min. Color,

Son.

MENINO e o Mundo, O. Dirigido por Alê Abreu. Filme de Papel. Rio de Janeiro, 2014, 1 h 20 min.

Color, son.

MEU Medo. Dirigido por Murilo Hauser. Ancine. 2010, 10 min. 46 seg. Color, son.

PRESENTE de Natal. Dirigido por Álvaro Henrique Gonçalves. [n. i.]. São Paulo, 1972, [n. i.].

Color, son.

REI está morto, O. Dirigido por Frank Fialho. Financiarte. Caxias do Sul, 2012, 21 min. 22 seg.

Color, Son.

SINFONIA Amazônica. Dirigido por Anélio Latini Filho. Latini Studio Ltda. Rio de Janeiro, 1953,

61 min. Preto e branco, Son.

TOY Story. Dirigido por John Lasseter. Pixar Animation Studio. Estados Unidos, 1995, 81 min.

Color, son.

TRAPALHÕES no Rabo do Cometa, Os. Dirigido por Dedé Santana. Estúdios Maurício de Souza.

São Paulo, 1985, 81min. Color, Son.

ÚLTIMOS 40 segundos de Dr. Jekyll & Mr. Hyde, Os. Dirigido por Alessandro Corrêa. [n. i.].

2008, 40 seg. Preto e branco, son.

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Anexo

Lista dos filmes brasileiros selecionados nas primeiras cinco edições do Animaldiçoados

(2010-2014)*

A Lasanha Assassina (Ale McHaddo/ 2002/ 00:08:00/ Ed. 2010)

A Moça que Dançou Depois de Morta (Ítalo Cajueiro/ 2003/ 00:11:00/ Ed. 2010 e 2013)

A Última Noite (José Guilherme Fernandes Rezende/ 2010/ 00:07:30/ Ed. 2010 e 2014)

Abner, o papa zumbis (Marcus Camargo / 2011/ 00:03:30/ Ed. 2011 e 2012)

Aqueles Olhos (Chico Azevedo/ 2010/ 00:02:51/ Ed. 2010)

As Monstruosas Aventuras Alcoólicas do Dr. Jackson (Klewerton Bortoli/ 2013/ 00:04:28/

Ed. 2014)

As visões ungótikas de Dr. Frankenstein (Alessandro Corrêa/ 2010/ 00:00:45/ Ed. 2010)

Como Fazer um Cupcake (Giovana Giacomini/ 2012/ 00:01:28/ Ed. 2013)

Contos de Allan Poe: “O Poço e o Pêndulo” (Nilton Soares/ 2005/ 00:05:48/ Ed. 2010)

Coração Delator (Júlia Araújo e Nathália D’Emery/ 2010/ 00:07:17/ Ed. 2011)

Depois do Fim do Mundo (Flávio Moura/ 2011/ 00:13:37/ Ed. 2012)

Diesel Rock and Stardust (Filippe Lyra/ 2014/ 00:05:07/ Ed. 2014)

Dream Catchers (Gabriel Freire/ 2014/ 00:05:36/ Ed. 2014)

El Baile de Los Locos (Marcus Guio/ 2012/ 00:00:40/ Ed. 2012)

Enquanto Você Dorme (Romualdo Gonçalves/ 2014/ 00:01:23/ Ed. 2014)

ERiTRO (Matheus Guisse/ 2011/ 00:09:01/ Ed. 2011)

Estrada do Medo (Wesley Melchior/ 2011/ 00:05:23/ Ed. 2011 e 2012)

Eu Queria ser um Monstro (Marão/ 2009/ 00:08:00/ Ed. 2010)

Fatty Boom Boom: Primary Colors (Lucas Roger/ 2013/ 00:02:22/ Ed. 2013)

Garota Gótica (Glauco Viana/ 2013/ 00:03:30/ Ed. 2013)

Madrepérola (Janaína Pereira, Josi Diniz e Luiz Beltrami/ 2010/ 00:06:00/ Ed. 2010)

Medo (William Koscianscki/ 2012/ 00:03:52/ Ed. 2013)

Meu Medo (Murilo Hauser/ 2010/ 00:10:46/ Ed. 2011)

Meu Primeiro Pesadelo (Leandro Mendes/ 2010/ 00:01:08/ Ed. 2010)

Mudanças (Marcos Ramone/ 2011/ 00:01:04/ Ed. 2012)

O Andar Superior (Leo Ribeiro/ 2010/ 00:06:40/ Ed. 2010 e 2013)

O Ciclo (Maurício Marques/ 2010/ 00:09:00/ Ed. 2011)

O Martelo das Feiticeiras (Alessandro Corrêa/ 2011/ 00:04:20/ Ed. 2011)

O Massacre dos Quatro Dedos (Luis Santos/ 2011/ 00:02:40/ Ed. 2013)

O Ogro (Márcio Júnior e MáriciaDeretti/ 2011/ 00:08:00/ Ed. 2011)

O Rei Está Morto (Frank Fialho/ 2012/ 00:21:21/ Ed. 2013)

O Visitante Imaginário (Daniel Muniz/ 2013/ 00:07:25/ Ed. 2013)

Obsoleto (Leandro Henriques, Heitor Mendonça e Victor Mendonça/ 2011/ 00:05:40/ Ed.

2011)

Os Últimos 40 seg. de Dr. Jekyll & Mr. Hyde (Alessandro Corrêa/ 2008/ 00:00:40/ Ed.

2010)

Ossos (Márcio Nogueira/ 2011/ 00:04:15/ Ed. 2011)

Pareidolia (Lívia Francoio/ 2014/ 00:02:47/ Ed. 2014)

Performance 1: Bambolê (Kapel Furman/ 2000/ 00:00:30/ Ed. 2010)

Phantasma (Alessandro Corrêa/ 2012/ 00:10:00/ Ed. 2012)

Podre Vida episódio 1 (Leandro Ferra/ 2013/ 00:01:47/ Ed. 2013)

Podre Vida episódio 2 (Henrique Barone/ 2013/ 00:01:30/ Ed. 2013)

Podre Vida episódio 3 (Leandro Ferra/ 2013/ 00:02:05/ Ed. 2014)

Podre Vida episódio 4 (Henrique Barone/ 2013/ 00:03:38/ Ed. 2014)

Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

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Podre Vida episódio 5 (Leandro Ferra/ 2014/ 00:02:08/ Ed. 2014)

Quinto Andar (Marco Nick/ 2012/ 00:07:40/ Ed. 2013)

Sessão Terror - 3 Histórias Apavorantes (Márcio Nogueira/ 2010/ 00:05:00/ Ed. 2011)

Silêncio e Sombras (Murilo Hauser/ 2008/ 00:09:00/ Ed. 2010 e 2011)

Sombra (Mariana Almeida, Ronaldo Vaz e Thatiane Rodrigues/ 2013/ 00:04:00/ Ed. 2014)

Terror na Floresta (Paulínia Stop Motion/ 2013/ 00:01:00/ Ed. 2014)

The Master's Voice: Caveirão (Guilherme Marcondes/ 2013/ 00:11:00/ Ed. 2014) parc.

França e EUA

Uma Noite Sombria (Suzani Figueira/ 2012/ 00:01:08/ Ed. 2012)

Unhudo (André Brito/ 2014/ 00:04:00/ Ed. 2014)

Xi! Comeram o Lanche da Vovó (Alan Nóbrega/ 2012/ 00:01:00/ Ed. 2012)

* São 52 filmes de curta-metragem. Alguns aparecem mais de uma vez, em diferentes

edições.