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E s pecial Entrevista Estudo Os Vinhos do Alentejo Pág. 16 Dora Simões Presidente da CVRA Pág. 26 Painel Os Vinhos do Sul Pág. 30 Durante três dias, o protagonismo é dado aos vinhos do Sul. Ribatejo, Terras do Sado, Alentejo e Algarve terão na ViniPax uma montra para os seus vinhos. Aliados aos néctares de Baco juntam-se os azeites. Aníbal Coutinho, Director Técnico da ViniPax H ipersuper (H): 3.ª edição da ViniPax, em 2009. Porquê uma feira para os Vinhos do Sul? Aníbal Coutinho (A.C.): Trata-se de uma feira dedicada aos vinhos do Ribatejo, Terras do Sado, Alentejo e Algarve. O pr opósito da V iniPax, ao contrário das feiras nacionais, é pas- sar ao consumidor um conceito muito mais claro, que o ajude depois na pra- teleira, que em Portugal temos três perfis de vinho: Atlântico, de Lisboa até ao Minho; dos Vales, a nossa zona de continentalidade, da encosta; e finalmente, do Sul, neste caso, vinhos para os iniciados. Este feira podia ser , de facto, nacio- nal, mas pr efiro ter a maior feira de vinho apenas de um perfil e passar aos consumidor es e comprador es que nos visitam o que de bom se pro- duz neste perfil. H: Dentro destas quatro regiões o que distingue os vinhos? A.C.: É evidente que pode haver dis- tinções, mas todos eles obedecem a um denominador comum que é esse perfil vinho fácil. São vinhos, de facto, muito aveludados, muito ar omáticos, que encantam à partida. Isso acontece nas ar eias de Palmela, como acontece em Évora ou Beja, em Santarém, o perfil do vinho é igual. De tal maneira, que tento passar esta mensagem há alguns tempos ao sec- tor, - sector não, por que não há sec- tor, há uma fileira, mas esse é outr o problema que existe no vinho, já que para ser sector deveria de existir uma “cabeça” de comando. H: Quer dizer que não há um “sec- tor do vinho” em Portugal? A.C.: Não, sector é, por exemplo o das farmácias onde existe uma asso- ciação que r epresenta todas as far- mácias. No vinho não existe uma associação que r epresente todos os produtores de vinho de Portugal. Não se consegue ter uma voz de coman- do para o sector e isso é um pr oble- ma de que padecemos há muitas décadas. As cooperativas têm a sua associa- ção, os privados dividem-se em asso- ciações, a ViniPortugal não é a estru- tura que toda a gente r econhece como o seu veiculo de pr omoção, alguns fazem a sua pr omoção fora dela, mesmo as instituições, como é o caso do IVDP (Instituto dos V inhos do Douro e Porto). Deveria haver uma estrutura de comando, apesar de ser alvo de críti- cas, mas que fosse uma estrutura que concentrasse todo o dinheiro e toda a política. É um tiro no pé que andamos a dar ano após ano. H: Esse é o problema que faz com que Portugal não possua uma ima- gem de grande produtor de vinho mundial? A.C.: Dificulta certamente. É evidente que a própria marca do país ajuda os seus vinhos, tal como a inter naciona- lização da gastr onomia, veja-se o caso da Itália. H: Mas se falarmos do Novo Mundo, talvez não sejam países com grande internacionalização da sua gastronomia, mas, no entanto, têm uma imagem muito forte no universo do vinho? A.C.: Certo, mas esses países têm outras vantagens. Essas vantagens prendem-se com o facto de perten- cerem à Commonwealth e que o jor- nalismo especializado inter nacional é dominado, claramente, por angló- fonos. É evidente que fazemos gran- “O vinho português não vai ser saudável se continuar com preços tão baixos“ Victor Jorge [email protected] João Reis No vinho não existe uma associação que represente todos os produtores de vinho de Portugal

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EspecialEntrevista

EstudoOs Vinhos do Alentejo

Pág. 16

Dora SimõesPresidente da CVRA

Pág. 26

PainelOs Vinhos do Sul

Pág. 30

Durante três dias, o

protagonismo é dado aos

vinhos do Sul. Ribatejo,

Terras do Sado, Alentejo

e Algarve terão na

ViniPax uma montra para

os seus vinhos. Aliados

aos néctares de Baco

juntam-se os azeites.

Aníbal Coutinho, Director Técnico da ViniPax

Hipersuper (H): 3.ª edição daViniPax, em 2009. Porquêuma feira para os Vinhosdo Sul?

Aníbal Coutinho (A.C.): Trata-se deuma feira dedicada aos vinhos doRibatejo, Terras do Sado, Alentejo eAlgarve. O pr opósito da V iniPax, aocontrário das feiras nacionais, é pas-sar ao consumidor um conceito muitomais claro, que o ajude depois na pra-teleira, que em Portugal temos trêsperfis de vinho: Atlântico, de Lisboaaté ao Minho; dos Vales, a nossa zonade continentalidade, da encosta; efinalmente, do Sul, neste caso, vinhospara os iniciados. Este feira podia ser , de facto, nacio-nal, mas pr efiro ter a maior feira devinho apenas de um perfil e passaraos consumidor es e comprador esque nos visitam o que de bom se pro-duz neste perfil.

H: Dentro destas quatro regiões oque distingue os vinhos?A.C.: É evidente que pode haver dis-tinções, mas todos eles obedecem aum denominador comum que é esseperfil vinho fácil. São vinhos, de facto,muito aveludados, muito ar omáticos,que encantam à partida. Isso acontece nas ar eias de Palmela,como acontece em Évora ou Beja, emSantarém, o perfil do vinho é igual. De

tal maneira, que tento passar estamensagem há alguns tempos ao sec-tor, - sector não, por que não há sec-tor, há uma fileira, mas esse é outr oproblema que existe no vinho, já quepara ser sector deveria de existir uma“cabeça” de comando.

H: Quer dizer que não há um “sec-tor do vinho” em Portugal?A.C.: Não, sector é, por exemplo odas farmácias onde existe uma asso-ciação que r epresenta todas as far-mácias. No vinho não existe umaassociação que r epresente todos osprodutores de vinho de Portugal. Nãose consegue ter uma voz de coman-do para o sector e isso é um pr oble-ma de que padecemos há muitasdécadas. As cooperativas têm a sua associa-ção, os privados dividem-se em asso-ciações, a ViniPortugal não é a estru-

tura que toda a gente r econhececomo o seu veiculo de pr omoção,alguns fazem a sua pr omoção foradela, mesmo as instituições, como éo caso do IVDP (Instituto dos V inhosdo Douro e Porto). Deveria haver uma estrutura decomando, apesar de ser alvo de críti-cas, mas que fosse uma estrutura queconcentrasse todo o dinheiro e toda apolítica. É um tiro no pé que andamosa dar ano após ano.

H: Esse é o problema que faz comque Portugal não possua uma ima-gem de grande produtor de vinhomundial?A.C.: Dificulta certamente. É evidenteque a própria marca do país ajuda osseus vinhos, tal como a inter naciona-lização da gastr onomia, veja-se ocaso da Itália.

H: Mas se falarmos do NovoMundo, talvez não sejam paísescom grande internacionalização dasua gastronomia, mas, no entanto,têm uma imagem muito forte nouniverso do vinho?A.C.: Certo, mas esses países têmoutras vantagens. Essas vantagensprendem-se com o facto de perten-cerem à Commonwealth e que o jor-nalismo especializado inter nacionalé dominado, claramente, por angló-fonos. É evidente que fazemos gran-

“O vinho português não vai ser saudávelse continuar com preços tão baixos“

Victor [email protected]

João

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No vinho não existe uma associação querepresente todos os produtores de vinho de Portugal

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de destaque quando há uma notíciade um vinho numa r evista inter na-cional. Mas se virmos a revista ondesaiu essa notícia do vinho portu-guês, temos uma notícia sobr e umvinho português e o r esto da revistaa falar dos países e vinhos que estãomais relacionados com esses jor na-listas. Não acredito que sejam os mer cadosanglófonos a âncora para nós conse-guirmos fortalecer a nossa pr esençainternacional. E enquanto tivermosvocacionados para os países anglófo-nos, fruto do estudo Porter, perdemostempo, ener gia e per centagem demercado nos mer cados lusófonos,que são os nossos mercados naturais. Nós temos Angola que está a revelar--se um grande país de importaçãonos vinhos, temos o Brasil, onde exis-te uma ligação. Nós para irmos lá para fora, temosque tentar ir com toda a nossa estru-tura de qualidade. Nos países ondenão nos conhecem como país devinho ou onde não existe uma relaçãohistórica, essa estrutura de qualidadefica achatada apenas à gama debaixo preço. Nós em países como aInglaterra ou EUA, o nosso cr esci-mento será sempr e sustentado pelagama de baixo pr eço. Nos paíseslusófonos, podemos ir com toda anossa estrutura de qualidade. Portugal é um país pequeno, de quin-ta, e não vejo que aguentemos muitomais anos, lutando no mer cado porpreço. Daqui a dez anos temos aChina e a Índia a bater à porta. Essessão os grandes mercados que depoisatacam em tudo, como nos outr osprodutos, e já temos vários enólogosa viajar da Eur opa para lá fazer ovinho. Ora, daqui a dez anos, a Chinae a Índia vão inundar o mer cado dobaixo preço. No fundo, Portugal tem dez anos parase reposicionar e pensar que o nossofoco tem de ser o mer cado lusófono,desde Angola, Brasil até Macau, umaexcelente porta de entrada para aChina, e onde Portugal diz mais doque a Argentina ou o Chile.Repare que há dez anos, era inconce-bível encontrar vinho chileno no mer-cado angolano e, actualmente, ovinho do Chile já entr ou em Angolaenquanto Portugal a lutar em mer ca-dos que não são naturais. Portugal tem de ter noção da suapequenez e per ceber que não podeestar em todo o lado. O estudo Por-ter, não digo que não tenha tido pon-tos importantes, mas cr eio que foium estudo mais nefasto do que posi-tivo para o posicionamento do vinhoportuguês.

H: Destas quatro regiões, houveuma que registou um “boom” nosúltimos 15 a 20 anos: o Alentejo.Qual a razão para esta situação?Maior aposta na viticultura, vinicul-tura, uma nova visão do vinho, ajuventude?A.C.: Um pouco de tudo isso, mastalvez será o r esultado interessante epositivo de um impedimento políticoque houve durante anos. Durante aditadura havia uma imposição que oAlentejo teria de produzir cereal. No caso do Alentejo, isso pode serconsiderado positivo, porque quandoo vinho volta em força ao Alentejo nadécada de 1980, começa pratica-mente do zero. Isso permite que exis-ta tempo para escolher as castas,para contratar técnicos, construiradegas mais modernas e é uma van-tagem enorme perante as r egiõesmais tradicionais, como, por exem-plo, o Ribatejo. Acresce que aconteceu uma coisamuito interessante no vinho do Alen-tejo que foi a chegada do marketingao vinho. Ou seja, o marketing chegaao vinho via Alentejo e tem de se dizerque existe um projecto que é marcan-te no marketing do vinho que é oEsporão.

H: Mas também é verdade que omarketing foi trabalhado como“Região” Alentejo?A.C.: É ver dade. O que inter essa éque o consumidor beba Alentejo. Éum fenómeno inter essante que asoutras r egiões não conseguiram“copiar”.

H: Porquê?A.C.: Talvez por uma questão deescala. O pequeno pr odutor tempouco dinheir o para pr omoção.Quando se ganha escala, como foi ocaso das grandes herdades e coope-rativas alentejanas, existem menosmarcas para maior volume, o quequer dizer que cada marca pode liber-tar mais dinheiro para a promoção. O mer cado é feito por mar cas eessas têm dinheir o para pr omoção.Os mercados que possuem menosmarcas de maior volume são osmercados que conseguem fortale-cer o nome do país e aí estamos afalar do Novo Mundo (Austrália,Chile, Nova Zelândia, entr e outros).Na Austrália, os grupos estão,actualmente, tão concentrados quebasta cinco ou seis pessoas junta-rem-se em Sidney para um almoço econseguem traçar uma estratégiapara o país. Em Portugal não seconsegue fazer isso para umaregião, quanto mais para o País.

Entrevista

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13 Hipersuper - 22 de Outubrowww.hipersuper.pt Especial

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H: Mas o Alentejo também já pos-sui muito produtor de pequenaescala?A.C.: Mas que aproveita a capitaliza-ção que foi feita anteriormente naregião com o nome Alentejo.

H: Foi o Alentejo que foi ao encon-tro do consumidor ou foi essemesmo consumidor que encontrounos vinhos do Alentejo algo novo?A.C.: O consumidor vê no vinho doAlentejo um vinho mais fácil, maiscativante e a história mais r ecente dovinho português vem de Norte paraSul e, por isso, os vinhos do Sul sãopropostas mais novas e que encai-xam nesse consumo mais agradável,numa nova mentalidade do consumi-dor que pr efere vinho mais novo. Oconsumidor deixou de olhar para asdatas de colheita. O consumidor ,actualmente, quer saber o que há denovo, a nova mar ca. Este é um dosfactores resultante do Novo Mundo.

H: Dentro destas quatro regiões, oAlgarve talvez seja a região commaior desvantagem e menor afir-mação no mercado?A.C.: Menor afirmação, certamente.Maior desvantagem, é totalmente ocontrário. O Algarve é a r egião ondetoda a gente gostaria de estar . OAlgarve todo o vinho que faz, vendoao consumidor do Algarve, é a típicaregião de que tem o consumo ao ladoda pr odução. A operação logística,por exemplo, não é um problema. A ViniPax vai, pela primeira vez numafeira, apresentar quase uma dezenasde produtores algarvios e, portanto,os consumidor es vão poder ver oque é o novo Algarve em termos devinho.

H: Mas o consumidor não temgrande percepção dos vinhos doAlgarve?A.C.: Não tem, nem conhece. Primei-ro, os vinhos do Algarve não se ven-dem ao mesmo pr eço dos vinhos doresto do País. Como têm um bomescoamento, não têm de vir para pre-ços de um eur o. O Algarve é, nessesentido, a r egião mais valorizada dePortugal. O Algarve tem, na realidade, uma limi-tação de espaço e uma estrutura fun-diária de pequena quinta e não con-segue grandes volumes, por isso,estamos a falar sempr e de umapequena produção.

H: Olhando para a exportação, osvinhos do Algarve podem, noentanto, ter uma vantagem que é otipo de turismo que possui?

A.C.: Não há volume para exportar .Não estou a dizer que não exista umaou outra pessoa que venha ao Algar-ve, que goste do vinho e que pr eten-da comprá-lo depois no país. Há pro-dutores que têm alguns mer cadosdevido ao turismo, mas a produção éreduzida e que se escoa na região e abom preço. Para ter uma ideia, um r osé algarviovende-se a três ou quatr o eur os, oque é quase o triplo do que é o nor-mal, em média, de um r osé de outraregião.

H: Estas quatro regiões são regiõesde vinhos tintos ou os brancos erosés começam a ter cada vez maisexpressão?A.C.: Sempre que um produtor penseem produzir vinho e quando pensamnas castas a plantar , é evidente quedurante muitos anos deram primaziaaos tintos. No entanto, nos últimosanos, as uvas mais caras do Alentejosão brancas, sobretudo a Antão Vaz eArinto. Isso mostra que há uma deri-vação para essa lógica. Nós somos um País de turismo, decosta, que tem uma gastr onomia demar fantástica. Por isso, os vinhosbrancos talvez sejam os que mais seadaptam a características e é naturalque se aposte nos brancos, não só aSul como em todo o País.

H: Os produtores portuguesesestão, actualmente, a produzir osvinhos que o consumidor exige?A.C.: Cada vez mais os pr odutorespreocupam-se em dar ao consumidoro que este necessita.Nós durante os anos da ditaduratínhamos consumos per capita supe-riores a 60 litr os. Neste momento, oconsumo per capita r onda os 40litros, mas a média da União Europeiaé muito menor, não chegando aos 20litros. É normal, com o consumo em que-bra, com as novas gerações a substi-tuir o vinho de menor qualidade porvinho de maior qualidade, ou seja,menos mas melhor. Isto tudo faz comque o consumo ainda diminua maisem Portugal. Ora, a pr odução terá de ser vendidamenos no interior e mais no exterior .Isso quer dizer que os pr odutores jáse começaram a consciencializar queo vinho terá de ter o perfil do consu-midor inter nacional. Aí o Sul é maisapelativo, mas o Atlântico e o Norte(Vales) têm uma grande vantagemque é a diferença. Dentro de dez anos só estar emossaudáveis no mer cado se apostar-mos na diferença.

H: Isso quer dizer que terá de haveruma alteração a Sul?A.C.: Exactamente. O Sul tem de irpara castas portuguesas. Não estou adizer que não possa haver o contribu-to de algumas castas melhoradoras,mas o pr otagonismo terá de ser dascastas portuguesas. Com vinhos iguais não conseguimoscompetir lá fora. O Chile mete vinhosa preços incomportáveis na Eur opa.Não quer dizer que os eur opeus nãoconsigam ir à “luta” durante dois trêsanos, mas mais do que isso é impos-sível. Não temos estruturalmente amesma forma de sustentar essespreços.Em média, uma vinha portuguesa tem4.000 quilos por hectare de rendimen-to. No Chile são 15.000 quilos porhectare. Como é possível combateresta realidade.

H: A Sul, a diferença consegue-secom que castas nacionais?A.C.: Existem algumas e já estão noterreno. Temos uma casta que apor-tuguesámos, o Alicante Bouschet,

temos a Trincadeira, Aragonês.O que é necessário, mais do que pen-sar nas castas, é pensar no aperfei-çoamento dessas mesmas castas.

H: E a “portuguessissima” TourigaNacional?A.C.: Não sou nada contra a T ourigaNacional vir para Sul. É uma castaportuguesa, tem esse apelo lá fora, émuita personalidade. Pr ovavelmentefoge um pouco do que é o perfil dovinho do Sul. Prefiro a entrada da Tou-riga Nacional do que as experiênciascom outras castas internacionais quevão demorar muitos anos.

H: Mas não há Cabernet Sauvignona mais?A.C.: O Cabernet Sauvignon foi umacasta que apareceu bem no Sul, creioque deve ser balanciada, tal como oSyrah. Não quer o dizer que não devamentrar castas inter nacionais, masdevia haver uma legislação em queessas castas fossem sempre de com-plemento e não de base. Não é muito bom que um pr odutorcomece um pr ojecto no Alentejo eque, de base, um enólogo o ajude elhe diga para não ter Aragonês ouTrincadeira, mas que opte por Syrah.Isso é desvirtuar o que é o nosso futu-ro como país de vinho.

H: A diferenciação dos brancos émaior que nos tintos?A.C.: Nas castas brancas, natural-

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Dentro de dez anos só estaremos saudáveis no mercado se apostarmos na diferença

Entrevista

Especial Hipersuper - 22 de Outubro 14www.hipersuper.pt

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mente, que deveríamos colocar oArinto, Antão V az, Roupeir o, Fer nãoPires. Há, por exemplo, castas doNorte que poderão funcionar bem noSul, caso do Verdelho ou Alvarinho.Esses pr ojectos têm mais inter essedo que ver vinhos feitos à base deChardonnay.

H: Os vinhos do Sul consegue com-petir em preço?A.C.: Não vejo grande difer ença depreços entre os vários perfis de vinho.Em Portugal, os pr eços estão muitoequilibrados e, sobr etudo, muito bai-xos. O vinho português não vai sersaudável se continuar com preços tãobaixos. Essa será uma reflexão que afileira terá de fazer. Nós não podemospedir aos pr odutores que tenhamgrandes cuidados na vinha, quefaçam vinhos com personalidade, sedepois não pagamos uvas a umpreço justo ou que, como nalgunscasos, não paguem de todo.

H: Mas os preços estão baixos noprodutor, no linear do retalho, norestaurante?A.C.: Em todo o lado. Não estou adizer que também não possa haverculpa dos distribuidor es em termosde margens. A verdade é que os dis-counts e as grandes superfícies jápassaram a barreira do distribuidor epossuem vinhos de marca própria.

H: O consumidor português,actualmente, está formatado da

seguinte maneira: vinho de baixaqualidade vou ao super ou hiper-mercado, vinho de qualidade vou àgarrafeira?A.C.: Está e estará cada vez mais. Ovinho responde a duas funções: utili-dade e aspiração. A utilidade tem aver com funções mais anónimas dovinho e essa é procurada no super ouhipermercado. As funções de aspira-ção são o contrário, ou seja, o vinho écomprado em função da mar ca, deinvestimento, colecção, status. Paraesse tipo de consumo, é lógico que oconsumidor procure a loja especiali-zada. Os portugueses vão, no entanto, pro-curar satisfazer as duas funções nagrande distribuição. O que é curioso eé preciso notar é que, em Portugal, amaior parte do que é aspiração novinho é r espondido por mar cas quesão de entrada de gama. Ou seja, as grandes superfícies vãoresponder cada vez mais à pr ocurado consumidor com marca de volumee as garrafeiras dedicar -se-ão aotopo, à pequena produção. Nem é inter essante para a distribui-ção meter-se com mar cas de pr eçoalto, nem as garrafeiras quer erãometer-se com os vinhos de grandevolume. No futur o, ir emos vender mais de70% do vinho a ser vendido na distri-buição.

H: 3.ª edição da ViniPax. O que seriaum evento de sucesso para a orga-nização do evento?A.C.: O evento já é um sucesso. Sepensarmos que estarão lá 100 produ-tores do Sul, que as empr esas dereferência, quer ao nível nacionalquer internacional marcam presença,que a ViniPortugal envia vários jorna-listas inter nacionais a cobrir esteevento, que tem o apoio decisivo dasCVR´s das quatro regiões, que é vistopelos vinhos algarvios como a pri-meira montra fora do seu domínio,que é a feira de dimensão nacionalmais perto do segundo centr o deconsumo que é o Algarve. T udo istosão r ealidades que fortalecem oevento. O nosso objectivo é ser uma montrapara o vinho do Sul, que funcionetanto a nível nacional como inter na-cional, ao mesmo tempo que pr eten-demos ser um veículo de cultura dovinho numa r egião que, nestes últi-mos anos, viu uma enorme revoluçãonesta mesma cultura. Para pr ovar o sucesso do evento,mesmo em tempo de crise, a V iniPaxvai cr escer 25% face ao evento de2008. �

15 Hipersuper - 22 de Outubrowww.hipersuper.pt

Entrevista

Especial

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Nas páginas seguintes, damos destaque a um estudo efectuado pela Ipsofacto, em exclusivo para o Jornal

Hipersuper, sobre os Vinhos do Alentejo.

Este estudo foi feito a um universo nacional de 425 Indivíduos residentes em Portugal, com idades

compreendidas entre os 18 e os 65 anos, que bebem vinhos do Alentejo (tinto/ Branco ou Rosé), através do

qual se pretende mostrar a opinião do consumidor relativamente aos vinhos do Alentejo.

Vinhos do Alentejo

DESTAS BEBIDAS QUAL OU QUAIS TEM POR HÁBITO BEBER?

COM QUE REGULARIDADE DIRIA QUE CONSOME VINHOS DO ALENTEJO?

RELATIVAMENTE AO QUE DISSE SER O SEUCONSUMO DE VINHO DO ALENTEJO,

EM QUE SITUAÇÕES DIRIA QUE COSTUMABEBER CADA UM DESTES VINHOS?

PORQUE MOTIVO COMPRA VINHO NESSES LOCAIS?

Estudo

Especial Hipersuper - 22 de Outubro 16www.hipersuper.pt

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QUANTAS GARRAFAS DE VINHO DO ALENTEJO(EM MÉDIA) DIRIA QUE COMPROU NOS ÚLTIMOS

12 MESES EM CADA UM DOS LOCAIS?

QUAL O VALOR QUE GASTA NORMALMENTE (E EM MÉDIA) COM VINHO EM CADA UM DOS

SEGUINTES LOCAIS?

Hiper/ Supermercado

Restaurantes

Garrafeiras

Na Adega/ Produtor

Hiper/ Supermercado

Restaurantes

Garrafeiras

Na Adega/ Produtor

Estudo

Especial17 Hipersuper - 22 de Outubrowww.hipersuper.pt

16-21 vinhos VJ:Hipersuper 247 20-10-2009 11:49 Page 17

QUANDO COMPRA VINHO TINTO/ VINHO BRANCO/ VINHO ROSÉ QUAIS SÃO OS FACTO-RES MAIS IMPORTANTES, ISTO É, O QUE É QUE

TEM MAIS EM CONTA NA SUA ESCOLHA?

QUAIS AS MARCAS DE VINHO DO ALENTEJOQUE TEM POR HÁBITO COMPRAR/CONSUMIR.

E DAS MARCAS QUE NORMALMENTE COMPRA/BEBE, QUAL É A SUA PREFERIDA?

QUAL DAS SEGUINTES FRASES MELHOR CARACTERIZA A SUA SITUAÇÃO?

COMO AVALIA OS VINHOS DO ALENTEJO?

QUAL A REGIÃO VITIVINÍCOLA QUE PREFERE?

Estudo

Especial Hipersuper - 22 de Outubro 18www.hipersuper.pt

16-21 vinhos VJ:Hipersuper 247 20-10-2009 11:49 Page 18

QUAL O MOTIVO PORQUE PREFERE ESSA REGIÃO?

QUAL A ESCALA QUE MELHOR REFLECTE O SEU CASO

Estudo

Especial19 Hipersuper - 22 de Outubrowww.hipersuper.pt

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DOS ASPECTOS ABAIXO INDICADOS, QUAISAQUELES QUE NA SUA OPINIÃO MELHOR

DISTINGUEM OS VINHOS DO ALENTEJO DOS RESTANTES VINHOS?

PARA TERMINAR QUERÍAMOS SABER SE JÁALGUMA VEZ BEBEU VINHO EM GARRAFAS

COM ROLHA DE PLÁSTICO?

QUAL O SEU GRAU DE AGRADO RELATIVAMENTE ÀS ROLHAS DE PLÁSTICO?

QUAL O FORMATO, ROLHA DE CORTIÇA EROLHA DE PLÁSTICO, QUE MELHOR REFLECTE

CADA UMA DAS OPÇÕES ABAIXO LISTADAS?

FICHA TÉCNICA

UNIVERSOIndivíduos residentes em Portugal, com idades compreendidas entre os18 e os 65 anos, que bebem vinhos do Alentejo (tinto/ Branco ou Rosé).

ÂMBITO: Nacional.

AMOSTRARealização de 425 questionários.

ERRO AMOSTRAL: 4.8% para a amostra total (425), considerando umintervalo de confiança de 95%.

DATA DO TRABALHO DE CAMPODia 29 de Setembro a 11 de Outubro de 2009. Após a realização do trabalho de campo a totalidade dos questionáriosfoi sujeita a limpeza e higiene dos casos inválidos e codificação das per-guntas abertas.

METODOLOGIA: Questionários online auto-administrados.

Estudo

Especial Hipersuper - 22 de Outubro 20www.hipersuper.pt

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Entrevista

Especial Hipersuper - 22 de Outubro 22www.hipersuper.pt

Apesar de na ViniPax

estarem presente quatro

regiões vitivinícolas –

Tejo, Terras do Sado,

Alentejo e Algarve –

fomos entrevistar a

responsável pela região

que, nos últimos 15 a 20

anos, maior crescimento,

importância e quota de

mercado obteve

Dora Simões, Presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana

Detendo uma quota de mercadode superior a 44%, em valor, e40%, em volume, os vinhos doAlentejo conseguiram afirmar-

se como “um valor seguro” no pano-rama vitivinícola. Em entrevista, DoraSimões, presidente da Comissão Viti-vinícola Regional Alentejana, refereque o rumo deverá ser o aumento dopreço médio por garrafa e a exporta-ção.

Hipersuper(H): Nos últimos 15 a 20anos, os vinhos do Alentejo con-quistaram a maioria dos consumi-dores nacionais e internacionais. Aque se deve esta conquista e se éum reflexo da qualidade e do preçoa que os vinhos do Alentejo estãono mercado?Dora Simões (D.S.): O trajecto dequota de mercado que os vinhos doAlentejo têm vindo a fazer deve-se avários factores. Há factores que estãoligados a questões de viticultura, deser uma região moderna que permitiua criação de raiz, de juventude, mastambém ao conjunto de agentes eco-nómicos do Alentejo que são elemen-tos muito pró-activos relativamente àcriação de marcas, comercializaçãode produto, à exportação, aos fortesinvestimentos em marketing.

H: O começar “de novo” constituiuuma vantagem para a região doAlentejo?D. S.: Começou-se de novo em ter-

mos de grandes estruturas e constru-ção de adegas, mas não deixa de serdifícil retirar o Alentejo do contextovinho. O vinho tem e teve sempre umagrande tradição no Alentejo.Uma das riquezas do Alentejo passapela tradição que foi mantida em rela-ção a algumas castas, um gosto pelovinho, a integração do vinho na gas-tronomia. Portanto, o vinho esteve eestá enquadrado no Alentejo. Noentanto, em termos de estrutura cria-da, de vinha, novas adegas, novastécnicas, novos produtores, aí houveuma grande dinâmica e foi, de facto,mais fácil não estando o Alentejo“agarrado” a velhos preconceitos.

H: E por isso os vinhos do Alentejo

adaptaram-se mais rápida e facil-mente às novas exigências dosconsumidores?D. S.: Os vinhos do Alentejo consegui-ram fazer isso, mas também há carac-terísticas da região, de castas, da viti-cultura que ajudaram ao perfil dosvinhos. O Alentejo foi, de facto, bafeja-do por uma conjuntura que tem ajuda-do a ir para a frente.

H: Mas foi o produtor que foi à pro-cura do consumidor ou foi o consu-midor que encontrou algo que nãotinha?D. S.: Não se pode excluir uma deter-minada adaptação dos vinhos aogosto do consumidor. A maioria dosprodutores do Alentejo produz um

perfil de vinho e se olharmos para opassado, esses mesmos vinhos erammais rústicos, diferentes. Por isso, háuma vontade empresarial de ir acom-panhando as tendências de mercadoe detectar e olhar para o que está a serfeito no exterior, para as tendênciasem Portugal e no estrangeiro, porque,com o mercado a decrescer no quediz respeito ao consumo, vai haveruma camada de consumidores quenão está tão habituado ao vinho e vaipreferir vinhos mais fáceis de beber. Ponto importante nos vinhos do Alen-tejo tem sido a constância da qualida-de, ou seja, o consumidor quandopede um vinho do Alentejo está peran-te um valor seguro. Esse tipo de racio-cínio foi bem interiorizado pelos agen-tes económicos do Alentejo, mas nãofoi pura sorte. Houve factores quecontribuíram para que isso aconteces-se e foram trabalhados.

H: Os agentes económicos quandoiniciaram os vários projectos játinham em mente a exportação?D. S.: Não, a exportação veio maistarde. O mercado nacional foi, durantealgum tempo, a âncora, absorvendo amaior parte da produção e onde seconseguiu um valor médio por garrafamais elevado em relação às outrasregiões, tornando a situação maisconfortável, permitindo aos vinhos doAlentejo consolidar o negócio em ter-ritório nacional. Essa foi uma boa basee o mercado nacional continua a ser omaior mercado para os vinhos doAlentejo.No entanto, por ambições de interna-cionalização, por quererem ver asmarcas fora e porque o mercadoexterno trazer um valor acrescentado,naturalmente, que começaram a olharpara fora de Portugal. O início da exportação teve comoprincipal destino o mercado do Brasilque foi e é dos maiores mercadospara os vinhos do Alentejo, conse-guindo estabelecer, inclusivamente, oAlentejo como categoria, não necessi-tando estar apoiado em Portugal paraexistir. Esse movimento de internacionaliza-ção foi iniciado e agora é o caminho e

“O consumidor quando pede um vinho doAlentejo está perante um valor seguro”

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Especial

tendo vindo a aumentar, procurandosempre novos mercados.

H: Consegue definir-me um consu-midor tipo dos vinhos do Alentejo?D. S.: Penso que há vários consumi-dores dos vinhos do Alentejo, masdepende sempre dos segmentos edas marcas que estamos a falar, por-que dentro da própria região há vinhosmuito diferentes.

H: É um consumidor iniciador novinho?D. S.: Por vezes pode ser. É uma dasregiões para propiciar uma boa intro-dução no vinho, se bem que muitasvezes a introdução no mundo dosvinhos seja feita pelos brancos ourosés, o que não é um forte, em volu-me do Alentejo.

H: O Alentejo continua a ser(re)conhecida uma região de vinhostintos?D. S.: Sim. Prevemos que vá haver umaumento da produção de branco e éuma cor que o Alentejo precisa. Mas oAlentejo será sempre uma região ondepredominarão os tintos.

H: Indiscutível continua a ser osucesso da promoção e marketingaos vinhos do Alentejo. O que dis-tingue o Alentejo de outras regiõesneste aspecto?D. S.: Em primeiro lugar, na produção,há um trabalho conjunto, das marcas,onde a dimensão das empresas éimportante e permite efectuar investi-mentos que não são tão frequentesnoutras regiões. Há um trabalho debase e um puxar pelas marcas quesão as alavancas da região. Não é ogenérico que cria a região, mas sim asmarcas. Para além desse investimento dosagentes económicos, há a actuaçãodas organização, como a Comissão,que tem feito todo um investimento nosentido de oferecer plataformas para apromoção dos vinhos do Alentejo. Os produtores vêem valor na região eutilizam-na para alavancar as suasmarcas e há um sentimento forte deque esta região traz mais -valia e podecriar valor acrescentado à garrafa ven-dida. Não nos podemos esquecer que oAlentejo, como região, e os seus pro-dutores fizeram com que se tivessecriado a noção de valor seguro, dequalidade em relação aos vinhos doAlentejo.

H: É esse valor seguro e qualidadeque têm ajudado os vinhos do Alen-tejo na exportação?

D. S.: Sem dúvida. Penso que temestado a haver uma abertura e quan-do são apresentados no exterior háconsenso em relação à qualidade ediversidade dos vinhos do Alentejo.Embora específico, os vinhos do Alen-tejo têm um perfil mais internacionalque outros produzidos em Portugal efacilmente se gosta e se percebe ovinho.

H: É o vinho português mais com-parável aos vinhos do Novo Mundoe daí mais facilmente exportáveis?D. S.: Sim. No panorama nacional sãoos mais parecidos com os vinhos doNovo Mundo, mas continuam vinhoseuropeus.

H: Quais são os principais merca-dos de exportação do vinhos doAlentejo?D. S.: Actualmente, Angola saltou paraprimeiro lugar, seguido do Brasil.

H: Angola?D. S.: Sim, Angola já não é o País dehá 10 ou 15 anos. Angola já absorvemarcas de valor elevado, está a modi-

ficar-se. Os vinhos do Alentejo, asmarcas do Alentejo, estão a aposta nomercado angolano. Depois seguem-se os EUA, Canadá,Suíça, Alemanha, países nórdicos eReino Unido.

H: Para Oriente não tanto?D. S.: Há intenções de algumasempresas para determinados merca-dos. Mas consensualmente, são osmercados que referi os mais impor-tantes. Tem sido importante para a afirmaçãodos vinhos do Alentejo como catego-ria que exista alguma unidade na deci-são dos mercados, na pouca disper-são.

H: O Alentejo produz vinho suficien-te para todos esses mercados?D. S.: Penso que sim. Quando chegaro problema de falta de vinho estare-mos todos relativamente unidos. É uma situação que nos assusta atodos, mas penso que nos deveassustar quando lá chegarmos. Parajá, não é uma região de excedentes.Temos estados a vender na medidada produção. O sucesso de uma região mede-sepelo que produz poder ser vendidoem diversos mercados-alvo comprestígio e como produto de qualida-de.

H: Mas exportar para mercadoscomo os EUA ou Reino Unido é pre-ciso massa crítica. Não se podequerer exportar para grandes mer-cados com produções pequenas?D. S.: Mas se há região que o podefazer é o Alentejo. Há agentes econó-micos no Alentejo com capacidade deabastecer os grandes mercadosimportadores de vinho. A política do Alentejo nunca poderáser a do preço baixo, mas pode haver

volume com qualidade. E se há regiãoque o pode fazer, até pela estruturadas empresas existentes, pelas coo-perativas, é o Alentejo.

H: Há estimativas em relação àcampanha de 2009?D. S.: Ainda não fechámos os núme-ros …

H: Há pouco tempo admitia-se umaumento de 12% que, posterior-mente, foi revisto, podendo haver apossibilidade de se registar umaquebra?D. S.: Essa primeira informação foidada no final de Julho. No entanto,houve uma vaga de calor que veioalterar a situação e estamos agora,

contra as previsões iniciais, com indi-cações de ligeira quebra.

H: Isso é benéfico ou prejudicialpara os vinhos do Alentejo?D. S.: Tornou-se uma vindima maisrápida, tendo-se iniciado duas sema-nas antes do que é normal. Em termosde qualidade estamos à espera devinhos com muito boa concentração,com bom teor alcoólico.

H: A que produção pode chegar aregião do Alentejo, situando-seactualmente na rodem dos 85milhões de litros?D. S.: Essa é a média. Não sabemosonde poderemos chegar. Temos vindoa aumentar progressivamente aaumentar a produção. Daqui a unsanos virá a liberalização dos direitosde produção e não sabemos ondepoderemos chegar. Penso que poderá haver incrementospequenos anuais.

H: Qual a área de vinha do Alentejo?D. S.: 22 mil hectares. Estamos numafase de equilíbrio e não prevejo queesta realidade se altere nos curtosanos.

H: As estatísticas revelam, contudo,que o consumo está a descer. Oque é que o Alentejo tem feito parase adaptar a esta quebra de consu-mo?D. S.: Ninguém está imune é quebrade consumo, embora existam catego-rias de preço mais elevado onde essaquebra não se está a verificar. Há mui-tas marcas do Alentejo a actuar nessasub-categoria. O que o Alentejo tem estado a fazer, emuito bem, é a reorientar a sua produ-ção para os mercados externos e ointeresse pelos vinhos do Alentejo évisível nas várias feiras onde temosestado. Por isso, os agentes económi-cos estão, acertadamente, a orientar asua estratégia para mercados onde oconsumo tem estado a aumentar,nomeadamente, Brasil, EUA, Canadá,Angola. Estão a criar quota ao mesmotempo que o mercado cresce e issodá-nos confiança.

H: Mas esses mercados tambémnão se conquistam num ano ounuma simples ida a uma feira?D. S.: Exactamente. Esse é um factorque tem distinguido a estratégia dosvinhos do Alentejo. A consistência doinvestimento prolongado dos vinhosdo Alentejo em determinados paísestem sido um factor importante e quan-do se olha para trás, para o investi-mento feito por muitos produtores e

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Entrevista

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marcas, por exemplo, no Brasil, per-cebemos que levou tempo, muitasvisitas, trabalho com os importadores,etc..

H: Há um consenso nos objectivostraçados na região?D. S.: Sim, sem dúvida. Isso tem aju-dado muito. Há trabalho constante emmercados específicos.

H: A falta de imagem de Portugalprejudica os vinhos do Alentejo oujá são uma marca que se afirma porsi só?D. S.: Nalguns mercados a falta deimagem de Portugal pode não ajudaros vinhos do Alentejo. Em termos globais, a falta de umaimagem é melhor do que ter uma máimagem.

H: O Charles Metcalfe dizia no anopassado que “os consumidores nãocomprarão vinhos portugueses, senão os conhecerem”. D. S.: Seria desejável que os Vinhosde Portugal fossem uma categoriamaior, que fossem mais conhecidos.Em termos de Alentejo é importanteaproveitar as oportunidades existen-tes no que diz respeito ao facto deestar inserido em Portugal. Agoradevem tentar diferenciar-se dosVinhos de Portugal. Devem ir junto,mas diferenciando-se como região.

H: Os vinhos do Alentejo são os queconseguem apresentar uma melhorrelação preço/qualidade?D. S.: São fortes nesse aspecto. Nãosei se será a melhor, mas é um pontoforte dos vinhos do Alentejo.

H: Qual o maior concorrente dosvinhos do Alentejo a nível nacional einternacional?D. S.: Os concorrentes são diferentesem áreas diferentes. Há concorrentesem termos de preços, regiões quepodem estar a estabelecer os seusprodutos numa fasquia de preçosmais elevada, mas que não terão ovolume que têm os vinhos do Alente-jo. Há regiões que têm estado a ter umpouco mais de exposição, mas nãovejo um concorrente directo. Há emdeterminadas categorias concorren-tes dos vinhos do Alentejo. Em termosde internacionalização não vejo issocomo uma coisa má. Vejo como umaapresentação da diversidade dosVinhos de Portugal e que é bom haverregiões-motor para levar os produtospara a frente. Penso que pode haver alguma con-corrência dos Vinhos de Portugal com

os vinhos de Espanha, mas quandoestamos a exportar, criar uma catego-ria, aumentar uma quota de mercado,não há concorrência directa. No que diz respeito a mercado dosvinhos, naturalmente, que os vinhostintos do Douro têm-se aproximado.

H: Mas o Alentejo tem a vantagemdos custos de produção?D. S.: E por isso o preço médio deuma garrafa de vinho do Douro é maiselevado. Depois há que ver se a talrelação preço/qualidade é transversal.No Alentejo é.

H: Que caminhos poderão tomar osvinhos do Alentejo no futuro?D. S.: Em termos de rumo, não sei. Oque é desejável para os vinhos doAlentejo é que aumentem o preçomédio da garrafa vendida. Essa é aprimeira ambição do produtor.

H: Os vinhos do Alentejo são bara-tos?D. S.: Aos olhos do consumidor, osvinhos do Alentejo apresentam umaboa relação qualidade/preço, mas nãoestão situados nos mais baratos dePortugal. É importante que assim con-tinuem, é uma afirmação de qualida-de. Na perspectiva comercial, é importan-te que se trabalhe no sentido deaumentar o preço médio por garrafa eisso engloba muitas coisas. Devemoscontinuar a expandir a categoria emmercados externos, é muito importan-te que se aumente a quota de expor-tação para dentro e fora da UniãoEuropeia …

H: Que está em quanto, actualmen-te?D. S.: É difícil avaliar, até por questõesde pautas aduaneiras, já que a cate-goria de vinhos do Alentejo não é con-templada na União Europeia, encon-trando-se a Comissão a lutar para queesta situação se altere, que é absurda. A quota de exportação dos vinhos doAlentejo estará entre os 15 a 20%.Queremos que o vinho se afirmecomo um dos produtos da região e aío enoturismo tem um papel importan-te, podendo a média-prazo trazer umbom retorno para os produtores. �

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Entrevista

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Seria desejável que osVinhos de Portugal fossemuma categoria maior, quefossem mais conhecidos

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Victor [email protected]

Quatro empresas

respondem a

10 questões

relacionadas com

os Vinhos do Sul.

A unanimidade em

relação ao sucesso

conseguido pelos

vinhos do Alentejo

é geral.

1 - Dentro das regiõesparticipantes na ViniPax(Tejo, Terras do Sado,Alentejo e Algarve), osvinhos do Alentejo foram esão os que maior destaquetem tido e recebido. Estasrealidade deve-se àqualidade/preços dos vinhosao a uma maioraproximação ao gosto dosconsumidores?

2 - Quais são, em suaopinião, as reais exigênciasdo consumidor actual noque toca ao vinho?

3 - Existe um consumidortipo para cada uma destasregiões?

Por um lado, se analisarmos o número demarcas, presentes na Vinipax, de cada umadas regiões, de certeza que vamos encontraruma quota muito mais significativa dosvinhos do Alentejo. Por outro lado, a Vinipaxé realizada no Alentejo, como tal, provavel-mente, os visitantes deverão ser na sua maio-ria do Alentejo o que leva a uma tendênciapara provar vinhos da sua região. Finalmente,os vinhos do Alentejo conquistaram umanotoriedade de tal forma elevada que existe atendência, por parte do consumidor , paraprovar as últimas novidades desta região.

O consumidor exige uma relação preço qua-lidade imbatível. Como este mer cado temuma oferta elevada, apenas os vinhos quetiverem esta característica conseguemenquadrar-se no leque de escolhas do consu-midor.

O consumidor de vinho consome vinhos devárias regiões, no entanto tem ordens de pre-ferência. Como existe esta “multi-preferên-cia” julgo que não é possível definir um per filde consumidor por região.

Qualidade/preços e confiança por parte doconsumidor.

Preço, qualidade e segurança alimentar.

Julgo que não. Poderá haver alguma ten-dência de ordem geográfica e cultural.

Preço, qualidade e packaging.

Não.

PAULO MEDINA NUNO FRANCO MARIA FERNANDA DIAS FILIPE CAETANODirector de Marketing e Vendas Director-geral da Directora-executiva da Director de Marketing da Aliança, Vinhos de Portugal Herdade São Miguel Adega Cooperativa de Portalegre do Esporão

A preferência dos consumidores pelosvinhos alentejanos pode ser explicada porvárias razões. Curiosamente, na distribuiçãomoderna, a região é apenas o 4º factor deescolha dos consumidores. Em primeiroaparece o preço, depois a mar ca, depois otipo de vinho (branco, rosê ou tinto) e entãosim, a região. Na restauração, a região apa-rece inclusive depois da gastronomia.Mas, seguramente, o destaque de quegozam os vinhos do Alentejo tem sido a con-sequência do excelente trabalho desenvolvi-do pelos produtores alentejanos ao longodos anos: qualidade dos vinhos (agrícola eenologia), constância de um padrão de qua-lidade, preço competitivo, adequação da pro-posta aos consumidores e do bom trabalhodas marcas ao nível da distribuição, comuni-cação e promoção. Uma quota de mer cadode 40% não aparece por acaso.

A qualidade, uma boa apresentação, disponi-bilidade e um preço justo são condições sinequa non para os consumidores. Estas sãotodas exigências legítimas dos consumido-res. Afinal quem quer produtos maus, “feios”e caros ainda por cima?No fundo, o que os consumidores querem,realmente, em todo o lado, é que as mar cassejam capazes de dar respostas às suas reaisexpectativas.

É possível estabelecer um perfil do consumi-dor tipo para as diferentes regiões.Mais do que definir consumidores tipo,podemos falar de diferentes exigências ouexpectativas relativamente a diferentesregiões. Genericamente, os consumidores dizem-nosque quando procuram vinhos do Alentejovão à procura de vinhos equilibrados, tradi-cionais e de confiança que e que os ajudama apreciar a companhia dos outros, sejamamigos ou família. Os mesmos consumido-res, quando procuram os vinhos do Sado,dizem-nos que procuram vinhos práticosque intensificam o prazer de estar com osoutros.

Painel Vinhos do SulPainel

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Especial

4 - O Alentejo foi a regiãoque nos últimos anos maiorvisibilidade teve. A que sedeve esta realidade?

5 - Dado que a promoçãodos vinhos do Alentejoobteve tanto sucesso,porque não foi replicadapelas outras regiões?

6 - Que vantagens possuiesta Região – SUL –relativamente às outrasregiões vitivinícolasnacionais?

7 - Os vinhos do SULaproximam-se mais do que,normalmente, se denominade “vinhos mais fáceis debeber”?

O Alentejo conseguiu, durante muitos anos,oferecer vinhos de excelente relação preçoqualidade. Aliado a este facto, o estilo con-sensual dos vinhos alentejanos, colaboroupara um aumento do seu consumo.

É uma questão que deverão ser as respecti-vas Comissões a responder, no entanto deve-mos fazer justiça à Região dos Vinhos V er-des, por exemplo, que tem tido um papel pre-ponderante no aumento da notoriedade econsumo dos vinhos Verdes.

A grande vantagem que identifico é que setrata de uma região de grande dimensão geo-gráfica, podendo assim, produzir vinhos emquantidade e a preços competitivos

Como tinha respondido anteriormente, o esti-lo dos vinhos do Alentejo é bastante consen-sual. São vinhos que beneficiam das elevadastemperaturas características da região, reflec-tindo-se na maturação das uvas, aumentandoos níveis de açúcares e matéria corante pre-sente na película dos bagos. Os vinhos tor-nam-se agradáveis na visão e macios nopaladar.

Foi a região que mais investiu em comu-nicação. Passou aos longo dos últimosanos, a mensagem mais ou menos cor-recta! Apelou, pelos atributos regionais,do saber fazer , das especificidades geo-gráficas, dos recursos naturais. Esta ima-gem, foi ao longo dos anos associada àqualidade que os consumidores reconhe-cem nos vinhos.

Talvez por que as outras regiões, ao longodos mesmos anos, descaracterizaram oque era especifico e tradicional de cadauma delas – faltando sustentatibilidade.Não basta ter nome, é preciso defendê-lo.É a minha opinião!

O património vitivinícola (a manutenção epreservação das castas autóctones /nacionais).

É discutível. O que para um consumidor éfácil de beber para outro não é? Hoje, aenologia permite, facilmente ir ao encon-tro das apetências de cada um. A qualida-de e preferência, são matérias muito sub-jectivas.

Vinhos fáceis de beber a bons preços ebom marketing de algumas empresas.

Provavelmente não há espaço paratodos, mas vê-se regiões tais como oSado a subirem.

Não existe região Sul, existe Tejo, Terrasdo Sado, Alentejo e Algar ve, que sãoregiões completamente distintas. Não sepode comprar T ejo com Alentejo, porexemplo.

Não existe região Sul existe Tejo, Terrasdo Sado, Alentejo e Algar ve que sãoregiões completamente distintas.

PAULO MEDINA NUNO FRANCO MARIA FERNANDA DIAS FILIPE CAETANODirector de Marketing e Vendas Director-geral da Directora-executiva da Director de Marketing

(cont.) da Aliança, Vinhos de Portugal Herdade São Miguel Adega Cooperativa de Portalegre do Esporão

Numa primeira linha, esta visibilidade deve-seà capacidade de produção da região, à exce-lente relação qualidade/preço dos seusvinhos, à dimensão que o Alentejo e as suasmarcas conseguiram conquistar junto aomercado e ao capital de confiança que con-quistou junto dos consumidores.Numa vertente de marketing e comer cial, hámuito trabalho das marcas, dos produtores edistribuidores e houve uma aposta decisivado trade (off e on) nos vinhos Alentejanos.Por último, num plano crítico para o Alentejo,a Comissão Regional do Alentejo soube evo-luir e contribuir para criar condições para odesenvolvimento sustentado da região e dosseus produtores.

Provavelmente, porque não foi possível àsoutras regiões. São várias as razões, quer amontante quer a jusante, que podem justificaressa incapacidade de replicar o sucesso queo Alentejo tem tido até ao presente. Entreessas razões, saliento a organização e tecidoempresarial de cada região, a produção (qua-lidade, constância e quantidade) que cadaregião consegue disponibilizar para o mer ca-do, o preço a que chegam os produtos aomercado e ao consumidor , a credibilidade etradição que gozam os vinhos do Alentejojunto aos clientes e consumidores, a boa dis-tribuição dos produtos, o trabalho das mar-cas/Alentejo (imagem, notoriedade), etc, etc..

Em Portugal, é difícil falar duma região Sulque vai do Norte de Lisboa até ao Algar ve.Para o consumidor de vinhos, o sul é o Alen-tejo e, por proximidade, o Sado. Os vinhos doAlgarve, e da nova região do Tejo não “encai-xam” nesta região Sul, independentemente daqualidade que possam ter. Internacionalmen-te, a questão não se coloca nos mesmos ter-mos (regionais). Fundamentalmente, a grande vantagem dosvinhos Alentejanos é serem vistos, aos olhosdos consumidores, como sendo vinhos tradi-cionais, simples, acessíveis, para ocasiõesdiárias e informais e para ambientes maisdescontraídos e amigáveis. E é aqui que se faza 90% do consumo.

De novo, é difícil estabelecer um padrão tãoalargado. Falando do Alentejo, sim, num certosentido. Pelas suas características, os vinhosalentejanos são, em condições normais,vinhos equilibrados, com uma fruta muitopresente (o que os tornam muito agradáveispara os consumidores), e que acompanhammuito bem a nossa gastronomia regional. Mas, como em todas as generalizações,cometem-se grandes injustiças, já que hávinhos que fogem totalmente a este perfil “cli-ché”. Existem hoje grandes vinhos alenteja-nos, complexos, profundos, com personali-

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8 - O Top 10 dos vinhosmais vendidos nadistribuição moderna emPortugal têm preços entreos 2 e 5 euros. Este é o realvalor do vinho em Portugal?

9 - Nos últimos tempostem-se assistido a uma cadavez maior aposta nosbrancos. Esta aposta é umaconsequência da qualidadedos vinhos ou uma respostaao que se faz noestrangeiro?

10 - O vinhos do SUL sãoos mais facilmenteexportáveis?

No canal alimentar, vendem-se muitos vinhosindicados para o dia-a-dia, daí os volumes epreços médios referidos. Se excluirmos o top10, o preço médio do total vinhos consumi-dos no canal alimentar , o preço médio baixapara cerca de 1,40 Eur. No canal Horeca con-somem-se vinhos que são mais indicadospara momentos especiais, logo de preçomais elevado.

O aumento de consumo de vinhos brancos éuma tendência. Trata-se de um nicho de mer-cado a explorar quer a nível nacional, quer anível internacional.

Os vinhos do Sul são exportáveis, no entan-to, no caso da Aliança que tem quintas e pro-dução nas principais regiões do País, possoconfirmar que não são os mais fáceis de ven-der a nível internacional.

É o PVP de grande consumo.

É uma questão de moda e a moda, vai evem. Temos que seguir o nosso caminho.O vinhos do SUL são os mais facilmenteexportáveis?

Julgo não. O que facilita é o preço e ovolume disponível em cada uma dasregiões.

O top dos vinhos vendidos em Portugalé a baixo dos dois euros. Mas top devendas entre os 2 e 5 euros não é sóuma realidade no nosso Pais é uma rea-lidade em todos os mercados.

É uma resposta ao mer cado que temaumentado significativamente nos últi-mos anos, também devido à boa quali-dade dos vinhos brancos.

Na exportação antes de haver Regiõestem que haver a marca Portugal. Come-ça a haver curiosidade pelos vinhos por-tugueses, embora ainda precoce.

PAULO MEDINA NUNO FRANCO MARIA FERNANDA DIAS FILIPE CAETANODirector de Marketing e Vendas Director-geral da Directora-executiva da Director de Marketing

(cont.) da Aliança, Vinhos de Portugal Herdade São Miguel Adega Cooperativa de Portalegre do Esporão

dade, com um envelhecimento fantástico eque não encaixam no per fil de vinho fácil.Experimentar um Esporão (Garrafeira ouReserva) é uma boa maneira de per ceberisso. O bom é haver diferentes propostas nomercado que provam a grande qualidadedos vinhos do Sul de Portugal, em diferentessegmentos de preço.

Se é nestes segmentos (abaixo de 5€) que sefazem 90% do consumo (em valor) é porqueeste é o valor real do vinho em Portugal.Aliás, é nesta faixa de preço que temos oMonte Velho que está sempre na luta pelaliderança deste mercado e o Alandra que é a11ª marca no ranking de vendas da distribui-ção moderna em Portugal (em valor). Logi-camente, há vinhos que valem muito maisque isso, e felizmente há consumidores queos compram, desde o Defesa, ao Esporão aoTorre. Mas estes, não são a regra do mer ca-do.

Prefiro ver esta questão como sendo uma(re)descoberta dos consumidores e, simul-taneamente, uma aposta dos produtores.Não sei quem é a galinha, mas a qualidadedos vinhos brancos portugueses aumentoumuito nos últimos anos e acho que as ten-dências internacionais têm influência nosprodutores que, como o Esporão, tentamantecipar estas alterações de comportamen-to dos consumidores. A título de exemplo, oEsporão construiu a sua adega de brancosem 2002.

Depende. Numa primeira análise, creio que aregião do Douro leva vantagem, com o Alen-tejo a seguir . E os vinhos verdes têm tam-bém uma proposta bastante diferenciadorado ponto de vista do consumidor e do trade. Numa perspectiva mais global, os vinhosmais facilmente exportáveis são aqueles queassentam num produto adequado ao consu-midor a que se destinam, que têm uma boarelação qualidade preço e que têm umamarca forte por trás. Essa mar ca pode serum País, uma região conhecida e valorizada,um produtor ou uma mar ca reconhecida.Felizmente que o Alentejo e algumas dassuas mar cas, entre as quais Esporão eMonte Velho, conseguiram estabelecer umarelação de confiança com consumidores empaíses que passaram a valorizá-las. Falosobretudo de países que têm uma forte liga-ção cultural a Portugal (principalmente Brasile Angola). Para estes mer cados, ser do Sul,ou mais concretamente do Alentejo, é umavantagem. Para quase todos os outros países não con-sidero que seja uma ajuda à exportação pornão ser uma região reconhecida pelos con-sumidores, ou mesmo pelo trade.

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Mercado

Detentores de uma quota de44,3%, em valor, e 40%, emvolume, segundo dados daNielsen no período entre

Fevereiro 2008 a Janeiro 2009 (reta-lho, incluindo Lidl e restauração), osvinhos do Alentejo estão, sem dúvi-da entre os eleitos dos consumido-res portugueses. (ver quadro)No final da semana 37 do ano 2009(terminada a 12 de Setembro), osvinhos do Alentejo registaram umcrescimento global de 4,9%, emvolume, e 8,2%, em valor, face aomesmo período do ano passado. Entre os vinhos analisados pelaNielsen, destaque para o cresci-mento do rosé, um vinho cada vez

mais na moda, e dos tintos, conti-nuando a marcar a preferência dosconsumidores portugueses, aocontrário dos brancos que regista-ram um decréscimo tanto na globa-lidade do mercado nacional comoem todos os formatos analisadospela consultora. À frente das vendas, em volume evalor, naturalmente encontramos os

tintos (Regional e VQPRD), comlarga vantagem sobre os restantesnéctares. No que diz respeito ao formato deretalho que mais vinho do Alentejocomercializa, os supermercadoslevam vantagem, tanto em volumecomo em valor.

De referir que o Alentejo tem nestemomento 260 produtores de vinho,contra 45 em 1995, tendo a exten-são de vinha crescido de 13.500para 22 mil hectares. Na campanha2007/2008, o Alentejo representou15,31% da produção nacional devinho. �

Os mais recentes

dados da Nielsen

dão conta de que

os vinhos do

Alentejo mantêm

uma evolução

positiva

Alentejo continua em alta

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VINHOS DO ALENTEJOTotal Portugal INA

Volume de Vendas Var. % Valor de Vendas Var, %TOTAL VINHOS ALENTEJO 29.536.024 4,9 95.411.763 8,2

BRANCO 5.144.404 -16,9 13.938.840 -1,1

BRANCO REGIONAL 2.960.517 -28,3 7.714.748 -11,7

BRANCO VQPRD 2.183.887 6,1 6.224.092 16,1

ROSE 132.416 36,6 525.999 13,5

ROSE REGIONAL 111.070 64,1 444.762 20,9

ROSE VQPRD 21.346 -27,1 81.237 -15,2

TINTO 24.259.444 11,0 80.946.941 10,0

TINTO REGIONAL 18.167.627 16,5 56.007.337 14,6

TINTO VQPRD 6.091.817 -2,8 24.939.604 0,7

HipermercadosTOTAL VINHOS ALENTEJO 8.007.731 -1,5 30.811.475 5,1

BRANCO 1.209.585 -21,7 3.618.480 -6,6

BRANCO REGIONAL 689.202 -33,5 2.057.117 -16,8

BRANCO VQPRD 520.383 2,2 1.561.363 11,2

ROSE 71.287 67,5 253.025 35,5

ROSE REGIONAL 58.555 98,5 206.084 37,1

ROSE VQPRD 12.732 -2,5 46.941 28,6

TINTO 6.727.239 2,8 26.939.957 6,7

TINTO REGIONAL 5.139.491 4,8 19.527.395 9,2

TINTO VQPRD 1.587.748 -3,0 7.412.562 0,6

SupermercadosTOTAL VINHOS ALENTEJO 18.730.760 7,7 56.020.924 10,6

BRANCO 3.357.545 -16,4 8.860.386 1,4

BRANCO REGIONAL 1.892.526 -29,0 4.817.175 -10,1

BRANCO VQPRD 1.465.019 8,6 4.043.211 19,5

ROSE 58.682 15,7 260.141 0,7

ROSE REGIONAL 50.391 45,2 227.549 13,8

ROSE VQPRD 8.291 -48,2 32.592 -44,0

TINTO 15.314.806 15,0 46.900.401 12,6

TINTO REGIONAL 11.463.721 21,5 31.893.998 18,1

TINTO VQPRD 3.851.085 -0,9 15.006.403 2,6

Tradicionais

TOTAL VINHOS ALENTEJO 2.797.531 6,4 8.579.365 4,4

BRANCO 577.392 -8,0 1.459.960 -1,5

BRANCO REGIONAL 378.855 -11,4 840.437 -7,5

BRANCO VQPRD 198.537 -0,8 619.523 8,2

ROSE 2.472 -33,5 12.836 -30,6

ROSE REGIONAL 2.140 -38,2 11.129 -36,2

ROSE VQPRD 332 32,3 1.707 61,5

TINTO 2.217.658 11,0 7.106.559 5,7

TINTO REGIONAL 1.564.582 25,0 4.585.920 15,8

TINTO VQPRD 653.076 -12,4 2.520.639 -8,7

FONTE: Nielsen; Ano Móvel 4 S 2009 37

Victor [email protected]

Na campanha 2007/2008,o Alentejo representou15,31% da produção nacional de vinho

30-31 vinhos VJ:Distribuição.qxd 20-10-2009 12:22 Page 30

30-31 vinhos VJ:Distribuição.qxd 20-10-2009 12:22 Page 31

A ViniPortugal promoveu,

recentemente, uma

iniciativa nos EUA. Para

perceber melhor que

importância tem ou

poderá ter este mercado

para os produtores

nacionais, estivemos à

conversa com Márcio

Ferreira, Area Manager

da ViniPortugal.

Márcio Ferreira, Area Manager da ViniPortugal

Ocupando, actualmente, a 9.ªposição no ranking dos paí-ses exportador es para osEUA, a grande distância do

8.º lugar, pertencente à Nova Zelân-dia, Márcio Ferreira, Area Manager daViniPortugal, salienta que “é maisimportante focarmo-nos num objecti-vo mais realista e que esteja ao nossoalcance, como é, por exemplo, atingir1 milhão de caixas exportadas”.

Hipersuper (H): 35 Produtores por-tugueses (250 vinhos) participaramrecentemente num programa depromoção dos vinhos nacionaisnos EUA. Como correram estas ini-ciativas?Márcio Ferreira (M.F.): No geral,bem. O mer cado começa a denotarreceptividade para os vinhos portu-gueses.O nosso pr ograma começou com aFeira Internacional de Miami. Estrate-gicamente é importante entrar na Flo-rida, que é o segundo maior estadoem termos de consumo nos EUA.Esta feira tem um programa de com-pradores eficaz, o que atrai um bomnúmero de profissionais.No tour da V iniPortugal pelos EUA aprova de Boston foi a menos concor-rida. Estiveram 35 empr esas presen-tes e contamos com a pr esença de150 pr ofissionais. O mer cado deBoston está mais trabalhado por Por-tugal, sendo tipicamente um mer ca-do étnico, que serve de canal de

entrada para vários vinhos portugue-ses.Em Chicago tivemos a nossa maiorprova jamais or ganizada naquelacidade. Contámos com a pr esençade 300 pessoas, na sua maioria pr o-fissionais. O local foi prestigioso (Shi-

kago Library). Das 30 empr esas pre-sentes todas deram feedback positi-vo. Tivemos seminários cheios sobr e aTouriga Nacional. Estas sessõesforam bastante interactivas commuita per gunta/resposta, o quedemonstra o cr escente inter essepelos vinhos portugueses neste mer-cado. Chicago como mer cado devinhos é muito importante, quer narestauração, quer no retalho. Nos últi-mos anos a V iniPortugal tem aliinvestido. Os sommeliers são umapeça vital em Chicago, são eles quemuitas vezes dão exposição aos

vinhos nos locais certos. O seminárioda Touriga Nacional foi apr esentadopor sommeliers.

H: Em 2008, Portugal ultrapassou aÁfrica do Sul como país exportadorpara os EUA, colocando-nos em 9.ªposição. A que distância estamosdo 8.º lugar e é possível chegarmais alto no ranking?M.F.: Actualmente África do Sul ePortugal estão muito próximos nasexportações para os EUA. No ano de2009 temos assistido a um alter narsistemático entre os dois países entrea 9.ª e 10.ª posição. Em 8.º lugarencontra-se actualmente a NovaZelândia, que leva um bom avanço aPortugal. Enquanto até Junho Portu-gal exportou 632.6 mil caixas de 9L,a Nova Zelândia exportou 1.288.3mil. O dobr o, portanto. Penso que,para já, dificilmente Portugal estarána disputa pelo 8.º lugar . É maisimportante focarmo-nos num objecti-vo mais realista e que esteja ao nossoalcance, como é, por exemplo, atingir1 milhão de caixas exportadas, e tra-balhar a partir daí. Algo que nãoacontece com vinho português háuns bons 10 anos.

H: Charles Metcalfe, editor daWine Magazine referia, em entre-vista ao Hipersuper, em Outubrode 2008, que “os consumidoresnão comprarão vinhos portugue-ses se não os conhecerem”. Osvinhos portugueses já são conhe-cidos nos EUA? M.F.: O Charles é um amigo de Por-tugal e tem feito um trabalho notávelde promoção. Trabalhamos há váriosanos com ele. Ele tem razão quando diz que nãoconhecem os vinhos portugueses láfora. É verdade. Claro que cada casoé um caso e o mer cado do ReinoUnido (com o qual ele é mais familiar)é muito mais segmentado do que odos EUA. Nos EUA alguns vinhosportugueses começam a ganharalgum reconhecimento como marca,como os casos do Vinho Verde e dasregiões do Dour o e Alentejo. MasPortugal, como categoria de vinhos

“A educação do consumidor é o maiordesafio para os Vinhos de Portugal”

Victor [email protected]

D.R

.

O desafio passa (...) pela projecção de umamensagem que conquistequota top of mind do con-sumidor norte-americano

Entrevista

Especial Hipersuper - 22 de Outubro 32www.hipersuper.pt

32-35 vinhos VJ:Hipersuper 247 20-10-2009 12:24 Page 32

de mesa, tem ainda muito trabalhopela frente.O desafio passa indiscutivelmentepela pr ojecção de uma mensagemque conquiste quota top of mind doconsumidor norte-americano. Umamensagem aliada a uma estruturaeducacional de base que possibilitecomunicar Wines of Portugal com efi-ciência. Há também por conquistar coraçõesdos diversos opinion makers. Há quesaber identificá-los bem. Saber quemé mais abrangente, e executar . Con-seguir “vender” a mensagem dosvinhos portugueses. Da nossa parte(promoção) esse compromisso sem-pre foi assumido. Mas é necessárioexecutar, implementar com rigor .Estabelecer objectivos e alcança-los.

H: A marca “Wines of Portugal” éessencial para a afirmação dosvinhos de Portugal num mercadocomo os EUA?M.F.: A ViniPortugal comunica Winesof Portugal há 12 anos no mer cadoexterno. Em anos mais r ecentes não temostido uma campanha publicitária quetransmita uma mensagem poder osae coerente. Penso que a esse nível aquestão deve ser r esolvida o quanto

antes. É esse o maior desafio dosvinhos portugueses. Comunicar deforma clara o que são os V inhos dePortugal.

H: Quando se fala dos EUA, Portu-gal não possui capacidade para“abastecer” todo o mercado norte--americano. Em que Estados oucidades deveriam os produtoresconcentrar-se?M.F.: Embora os EUA sejam um paísenorme, isso não pode nem deve inti-midar os produtores portugueses. Nopassado já tivemos marcas que ven-

diam milhões de caixas para os EUA,e quanto mais vinho fosse necessá-rio, mais vinho era produzido.Os estados mais inter essantes sãosempre aqueles que têm um maiorconsumo per capita e menos r egras.O mer cado dos EUA é complexo.Não só é um sistema tripartido(importação, distribuição, r etalho),como existem dois tipos de estados,License e Control (monopólio estatal).Por norma os estados de licença sãomais fáceis de trabalhar , mas nosestados de monopólio as mar genssão maiores e um vinho listado num

estado de monopólio tem vendasasseguradas. Diria que, actualmente,para Portugal os estados mais apete-cíveis são os habituais Nova Jérsia,Nova Iorque, Pensilvânia, Massachu-setts. E os novos, Florida, Illinois,Califórnia, W ashington e Or egon. Eaté estados como o Texas ou Alaba-ma têm estado a obter r esultadosmuito positivos.

H: É mais fácil aos produtorescolocarem os seus vinhos na res-tauração ou na no retalho norte--americano?M.F.: Depende muito do tipo de vinhoe, clar o, do pr eço. Mas penso queseja ainda o r etalho o motor de Por-tugal nos EUA. T emos tido váriosvinhos com grande sucesso na Hore-ca, vinhos com alguma marca, comoalguns V inhos Verdes, ou vinhos degama mais alta, com um preço atrac-tivo e de perfil mais novo mundo. Avantagem da restauração é a de queos vinhos portugueses são natural-mente bons vinhos para casar com agastronomia global. É para isso que aViniPortugal irá lançar exclusivamen-te em 2010, guias de vinhos espe-cialmente dir eccionados à r estaura-ção, que visam uma melhor educa-ção destes profissionais para a r eali-

Entrevista

Especial33 Hipersuper - 22 de Outubrowww.hipersuper.pt

32-35 vinhos VJ:Hipersuper 247 20-10-2009 12:24 Page 33

dade actual dos vinhos de mesa por-tugueses.

H: De que forma a actual conjuntu-ra económica de crise veio afectara importação de vinhos por partedos EUA, principalmente os vinhosde Portugal?M.F.: Em geral sim, a r ecessão teveimpacto negativo nas importaçõesde vinhos dos EUA. A sofr er maisestão os australianos e franceses,logo seguidos pelos italianos. Feliz-mente tal não tem sucedido comPortugal. Para nós, e pelo contrário, aconjuntura veio ajudar , e muito. Opanorama actual das exportaçõesdos vinhos nacionais não tem prece-dente, desde 2000. No primeir osemestre de 2009 Portugal já expor-tou cerca de 70% do total exportadoem 2008. Este ano, para os EUA, jáexportámos 90% comparativamentea 2008. A r ecessão fez com que oconsumidor olhasse para os vinhosportugueses. A razão maior reside nafantástica r elação qualidade pr eçoque Portugal tem conseguido colocarno mercado.

H: Que percepção possuem osconsumidores norte-americanosdos vinhos de Portugal?

M.F.: Não têm muita em geral. A edu-cação do consumidor é o maiordesafio para os V inhos de Portugal.Não é nada de novo. Nestes últimosanos Portugal tem vindo a lutar peloreconhecimento ao nível do consumi-dor. Acho que temos dado passosmuito importantes. Portugal é, natu-ralmente, mais conhecido pelosvinhos fortificados como Porto eMadeira. Embora sejam, sem dúvida,os grandes embaixadores dos vinhosPortugueses no mundo, começa ahaver sinais de mudança no que dizrespeito aos vinhos tranquilos. Porexemplo, hoje em dia o Vinho Verde éuma mar ca fabulosa, com muita

força no mer cado, e está a levar onome de Portugal mais longe.

H: Para vencer nos EUA, que pre-ços deverão adoptar os vinhos dePortugal?M.F.: Penso que os pr eços têm sidoos grandes responsáveis pelo actualcrescimento de Portugal nos EUA.Acho que não há grandes dúvidasem r elação a isso. Mas temos deanalisar os prós e os contras de pr e-ços competitivos. Hoje em dia Portu-gal é sobretudo um país que pr oduzvinhos com boa r elação qualidadepreço. Isso quer dizer que pr oduzi-mos bons vinhos a pr eços acessí-

veis. É benéfico para o país por queconsegue introduzir produto no mer-cado, faz por construir a categoria(Portugal) e obtém r econhecimento.No entanto, só bons pr eços não aju-dam a criar uma base sustentável depreço médio por garrafa de um vinhoPortuguês, que nos EUA anda à voltade 6.5 dólares, o que é muito baixo eacaba por colocar Portugal numaposição algo delicada. Por um lado, aconcorrência é fortíssima entr e pr o-dutores e acaba por haver algumacanibalização de preços. Por outro, éperigoso para Portugal, pois está aposicionar-se num segmento depreço baixo de onde poderá ser difí-cil de sair.

H: Quais as regiões vitivinícolas dePortugal com maior probabilidadesde sucesso nos EUA?M.F.: Vinhos Verdes, Douro e Alente-jo. Mais de metade de todos osvinhos Portugueses vendidos nosEUA são V inhos V erdes: 56%.Actualmente, as duas maior es mar-cas portuguesas nos EUA são deVinhos V erdes. Só depois apar eceum vinho tinto. O V inho Verde, comoproduto sazonal que é, e de abor da-gem mais fácil, tem vindo a pr ovarque o mer cado é r eceptivo a vinhos

Entrevista

Especial Hipersuper - 22 de Outubro 34www.hipersuper.pt

32-35 vinhos VJ:Hipersuper 247 20-10-2009 12:24 Page 34

mais fáceis e com menos teor alcoó-lico.Já nos vinhos tintos as r egiões commaior notoriedade são Dour o eAlentejo. O Douro porque está a produzir vinhosfantásticos e beneficia da ligação como vinho do Porto. T emos assistido auma explosão dos vinhos do Dour oDOC. E penso que de futuro a tendên-cia será sempre de um maior númer ode referências no mercado.Em relação ao Alentejo, a r egião temindiscutivelmente vindo a assumir -secomo produtora de vinhos com qua-lidade consistente a pr eços muitocompetitivos. O perfil dos vinhosAlentejanos é moder no, mais estilonovo mundo, o que tor na o pr odutomais adaptado ao mercado.

H: Quais são os maiores concor-rentes dos vinhos de Portugal nomercado dos EUA?M.F.: Hoje em dia diria que são todos.Portugal já deu provas que pode pro-duzir vinhos capazes de competircom os melhor es do mundo. Achoque, acima de tudo, é preciso ter istoem mente. A nível genérico o desafio de Portugalreside na comunicação, na imagem,e no branding, mas acima disso nanecessidade de se focar em objecti-vos delineados. Porque efectivamen-te é difícil comunicar Portugal. Por-que temos um país muito diverso,com muita coisa a ser dita a um mer-cado que só entende mensagensclaras e coer entes. Acho que nestecampo tem havido um maior “esfor-ço” (com maiores retornos) por partedos nossos concorrentes. Um país que tem estado a dar cartasnão só na pr omoção, bem como naprodução, é a Ar gentina. Em 2009 aArgentina cresce a 40% nos EUA. Jáconseguiu fazer uma mar ca podero-

sa do Malbec nos tintos, e está agoraa fazer o mesmo com o T orrontés.Focou-se no Malbec, ganhou posi-ção e cr edibilidade no mer cado, oque agora lhe dá uma maior margempara inovar em marketing. Outro país com grande capacidade éa Nova Zelândia. A NZ é um paíspequeno que se focou na pr oduçãode duas castas: Sauvignon Blanc ePinot Noir , e o sucesso tem sidoestrondoso. Exportam muito maisque Portugal para os EUA, e noentanto não têm a nossa dimensão.São muito mais pequenos.A Espanha é um caso interessante deavalizar por que é um país do velhomundo, tal como Portugal, que ácusta de muitos fundos (coisa quePortugal não tem) tem conseguidoimpor-se no panorama dos vinhos anível mundial de forma notável. Espa-nha é um bom exemplo comer cial.Um bom executor de planos. Osespanhóis, exímios a executar e adelinear objectivos, conseguiramatrair as atenções dos mais influentescríticos de vinhos nos EUA e nomundo.

H: Actualmente, tem-se verificadouma grande tendência por partedos principais países produtoresmundiais de vinho em apostarem aOriente (Japão, China, Macau,Hong Kong, etc.). Não deveria sereste, também, o caminho a efec-tuar pelos produtores portugue-ses?M.F.: Não só deveria como é. Desdehá três anos que assumimos essaposição. Temos desde então actuadono mer cado do Eixo Asiático deforma constante, executando umplano anual de pr omoção cuidado ecom resultados obtidos. O mercado de vinhos da China cr es-ce 20%/ano e é estimado que em2017 passe os EUA como o maiormercado de vinhos mundial. Desde2004/08, o composto do Eixo Asiáti-co (Hong Kong, Macau e China con-tinental) cr esceu 96% para 7,6milhões EUR. No primeir o semestrede 2009 já exportámos mais para aChina que na totalidade de 2008,6.73 vs 6.2 milhões Lt. �

Portugal já deu provasque pode produzir vinhoscapazes de competir comos melhores do mundo

Entrevista

Especial35 Hipersuper - 22 de Outubrowww.hipersuper.pt

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Entrevista

Especial Hipersuper - 22 de Outubro 36www.hipersuper.pt

Tendo recebido fortes

ataques provenientes do

Novo Mundo, a rolha de

cortiça continua a ser “o

melhor vedante para

todo o tipo de vinho”.

Esta é a convicção de

Joaquim Lima, director-

-geral da APCOR

Joaquim Lima, Director-geral da APCOR

Hipersuper (H): Depois dosataques à cortiça no universodo vinho, realizado, principal-mente, pelo Novo Mundo, a

cortiça manteve a sua importância?A que se deve este facto?Joaquim Lima (J.L.): A cortiça teráperdido alguma quota de mer cadomas, gradualmente, tem-se consegui-do alterar a situação sendo que,actualmente, representamos cerca de70% do total do mer cado de vedan-tes. Desde 2000-2001, o sector teminvestido somas r elativamente impor-tantes na melhoria da performancetécnica da r olha de cortiça, o que éreconhecido pelas grandes caves epelos principais líder es de opiniãomundiais. E, também, desenvolvemosnovos produtos e novas rolhas de cor-tiça para os segmentos mais competi-tivos dos vinhos, conseguindo ofer e-cer uma panóplia de pr odutos paratodas as necessidades.O progresso que esta indústria fez émuito significativo e é por isso quehoje podemos afirmar que do pontode vista de comparabilidade entr euma r olha de cortiça e um vedantealternativo, a melhor opção é sempr euma rolha de cortiça. Basta ver que osmelhores vinhos do mundo usamrolha de cortiça, não só por uma ques-tão de imagem, mas também pela suaperformance técnica.

H: Os países anglófonos continuama ser os maiores “atacantes” darolha de cortiça?J.L.: O berço das cápsulas de alumí-

nio é a Nova Zelândia e a Austrália e éclaro que foi daqui que vieram os prin-cipais ataques nos últimos tempos.Isto porque estes vedantes tentaramganhar terr eno quer à cortiça, queraos plásticos. No entanto, os líder esde opinião ingleses inverteram umpouco a sua postura e tivemos, porexemplo, a crítica de vinhos JancisRobinson a escrever contra os vedan-tes de plástico. Isto foi, sem dúvida,uma mudança radical, pois, há unsanos, esta enóloga esteve envolvidano “funeral da cortiça”.

H: O consumidor de vinho acreditaque vinho de qualidade tem de sercom rolha de cortiça?J.L.: Sim, os últimos dados que pos-

suímos denotam isso. Por exemplo,num estudo desenvolvido pelo T exasWine Marketing Resear ch Institute(Instituto de Investigação e Marketingde Vinho no Texas), a cortiça é a pr e-ferida dos consumidor es, r egistando71% das opções. De destacar, ainda,que neste estudo os consumidor escontinuam a considerar a cortiçacomo um símbolo de um vinho de

qualidade, em oposição às cápsulasde alumínio que são associadas avinho baratos e de baixa qualidade. Um outr o exemplo, a r evista WineBusiness Monthly, dos EUA, r ealizouum estudo sobr e os vedantes paravinho no sentido de avaliar a per cep-ção e o uso dos mesmos entr e ascaves americanas. Dos vedantes emestudo – r olhas de cortiça natural,rolhas técnicas de cortiça, vedantessintéticos e cápsulas de alumínio -, asrolhas de cortiça natural estão em pri-meiro lugar no ranking obtendo umapontuação de quatr o valor es emcinco. O elevado valor das r olhas decortiça natural no ranking é dado pelapreferência do consumidor (4,5), aperformance na linha de engarrafa-mento (4,0) e a performance do pr o-duto (3,8).

H: Como é que se contraria a ideiade que “vinhos baratos são comvedante alternativo” e “vinhos dequalidade com cortiça”?J.L.: A r olha de cortiça é o melhorvedante para todo o tipo de vinho. Seos grandes vinhos optam pela cortiça,porque é que os vinhos mais baratosnão o podem fazer? Para além dasqualidades ambientais apr esentadasanteriormente, a r olha de cortiça é,também, incomparável ao nível daperformance. A sua estrutura confere-lhe características únicas (compr essí-vel, elástica, flexível, resistente à pene-tração de humidade, impermeável alíquidos e praticamente a gases) fun-damentais para a conservação eenvelhecimento de um bom vinho. Éadaptável a qualquer gar galo, estádisponível em inúmeros calibres e for-matos, capaz de satisfazer todas asnecessidades de um pr odutor viníco-la. Para além de tudo isto, a cortiçatem uma r elação de séculos com ovinho, uma relação de confiança e decumplicidade, estando pr esente emtodos os vinhos do “novo” e “velho”mundo vitivinícola.

H: O sector da cortiça em Portugalestá em expansão?J.L.: A indústria de cortiça, comotodos os outros sectores de activida-

“A melhor opção é sempre uma rolha de cortiça”

Victor [email protected]

AP

CO

R

Se os grandes vinhosoptam pela cortiça, porque é que os vinhosmais baratos não o podem fazer?

36-37 vinhos VJ:Distribuição.qxd 20-10-2009 12:24 Page 36

de, tem enfr entado dificuldades quese r eflectem nas exportações portu-guesas deste pr oduto. As exporta-ções tiveram uma quebra de2007para 2008, na or dem dos 3,5%,mas acr editamos que neste anopossa ser possível inverter esta ten-dência. A indústria de cortiça dependemuito do mer cado vinícola mundial,se este r egistar uma tendênciapositiva, também a indústria decortiça seguirá esta tendên-cia. E o que temos consta-tado é que o consumomundial de vinhoapresenta umatendência decrescimento, oque é bastantepositivo para aprocura das r olhasde cortiça, e, por outr olado, a cortiça como materialde construção e decoraçãotambém começa a estar no top daspreferências dos ar quitectos e desig-ners. Acreditamos que o futuro pode-rá ser animador.

H: Que importância tem a Investiga-ção no sector da cortiça? J.L.: A investigação e desenvolvimen-to têm de estar sempre presentes numsector para que não se caia no erro daestagnação. No caso da indústria decortiça esta investigação tem passadopelo sector fabril, mas também pelosector flor estal. No primeir o temosassistido à inovação de pr oduto, mastambém à aposta em novas fabricas,mais moder nas, e ao melhoramentodos processos de fabrico. A indústriade cortiça é hoje completamente dife-rente da indústria de há 10 anos atrás.E oferece hoje uma gama muito maisvasta de produtos do que a que ofere-cia também no mesmo período. Nocaso do sector florestal, tem sido evi-dente a necessidade de conhecermelhor o sobreiro, falo da questão dogenoma do sobr eiro. Esperemos queeste estudo nos permita mais umpasso na qualidade, desta matéria--prima tão preciosa.

H: Como é que se consegue inovarneste sector?J.L.: A palavra inovação é derivada dotermo latino innovatio e r efere-se àcriação de uma ideia, método ouobjecto. Ora, na indústria de cortiça ainovação é e continuará a ser umaconstante. Veja-se os vários tipos derolha que foram surgindo para além datradicional rolha natural, ou os inúme-ros pr ojectos que têm sur gido dearquitectos e designers e que têmpensado a cortiça de uma forma com-

pletamente dife-rente, como, por

exemplo, a obra queestá em concurso no

Museu Guggenheim, deNova Iorque, o CBS - CORK

BLOCK SHELTER " (um abrigoconstruído com cortiça) ou o mobiliá-rio concebido pela SusDesign.

H: Quais são os maiores defensoresda cortiça?J.L.: A cortiça tem defensor es detodos os quadrantes. É pr eferida dosambientalistas, porque é um pr odutonatural e amigo do ambiente, é selec-cionada pelas grandes caves porque éo melhor vedante para o vinho, é aeleita dos consumidores porque con-grega a tradição, a inovação e a sus-tentabilidade. De um outr o ponto de vista, gostariade dizer que os portugueses são osseus maior es defensor es, por queacima de tudo é um produto nacional,é a embaixadora de Portugal.

H: Portugal é auto-suficiente emtermos de cortiça? Que volume decortiça produz Portugal?J.L.: Portugal produz cerca de 160 miltoneladas de cortiça por ano. Noentanto, esta matéria-prima não é sufi-ciente para a pr odução da nossaindústria e adquirimos, principalmentea Espanha, mais cer ca de 100 milha-res de toneladas/ano para colmatar asnossas necessidades.

H: Quais são os países para ondePortugal exporta mais cortiça?J.L.: A indústria de cortiça é um sectorfortemente exportador , sendo quemais de 90% do que pr oduz é paraexportação. Ao nível da exportaçãocomo pr oduto final, França ocupa oprincipal lugar nos mer cados deexportação, com cer ca de 18,8%,seguido pelas EUA com 16 por cento,Espanha (11,6%), Alemanha (7,5%) ea Itália (7,3%). �

37 Hipersuper - 22 de Outubrowww.hipersuper.pt

Entrevista

Especial

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Entrevista

Especial Hipersuper - 22 de Outubro 38www.hipersuper.pt

“Portugal só conseguirá

um aumento do consumo

de azeite com

campanhas informativas

fortes e constantes junto

dos consumidores”. Esta

é a crença do presidente

da Casa do Azeite, Pedro

Cruz, que, em entrevista

ao Jornal Hipersuper,

admite que a crise

económica não teve um

efeito muito acentuado

no consumo de azeite

em Portugal

Pedro Cruz, Presidente da Casa do Azeite

Hipersuper (H): O consumo deazeite em Portugal manteve-se estável nos últimos doisanos (2005/2006 e

2006/2007), fixando-se nas 70 miltoneladas. Que previsões possui aCasa do Azeite para o ano2007/2008?Pedro Cruz (P.C.): Relativamente aoconsumo de azeite em Portugal, osdados do Conselho Oleícola Interna-cional apontam realmente para osvalores mencionados – cerca de70.000 toneladas. De facto, com basenos dados disponíveis na Casa doAzeite, que representa mais de 90%do azeite transaccionado e exportado,e tendo igualmente em consideraçãoos dados Nielsen, estes valores esta-rão ligeiramente sobrestimados. Noentanto, a Casa do Azeite estima umaumento progressivo do consumo deazeite em Portugal nos próximosanos, consolidando a recuperação deconsumo que se deu em Portugal aolongo das últimas décadas, em que oconsumo de azeite per capita dupli-cou desde o início dos anos 90 atéaos nossos dias. Valerá a pena recor-dar que, de entre os países produtoresda União Europeia, Portugal é o Paíscom menor consumo per capita de

azeite: em Espanha e Itália o consumoper capita é aproximadamente odobro e na Grécia cerca de quatrovezes superior ao nosso. Temos, porisso, um longo caminho ainda a per-correr na recuperação do consumo deazeite em Portugal, o que só se con-seguirá com campanhas informativasfortes e constantes junto dos consu-midores.

H: Este consumo deve-se à “redes-coberta” do azeite como produtonatural, saudável e com inúmerosbenefícios para a saúde humana?P.C.: A recuperação do consumo deazeite em Portugal, à semelhança doque tem acontecido um pouco portodo o mundo, está de facto relacio-nada com a redescoberta deste pro-duto como produto de enorme valornutricional e com comprovados bene-fícios para a saúde.

H: Em termos de produção,os dados da Casa do Azei-te indicam que nos doisanos em análise, esta sefixou nas 29 e 35 mil tone-ladas, respectivamente.Assim, Portugal não éauto-suficiente. De ondeprovém o azeite extra quese consome em Portugal?P.C.: Acabam de ser divulgadospelo INE os dados relativos à pro-dução nacional em 2008, queapresentam um assinalável cresci-mento relativamente a 2007, fixan-do-se nas cerca de 54.000 tonela-das de azeite produzido em Portu-gal. Embora ainda abaixo dasnecessidades nacionais, estesdados confirmam as projecções daCasa do Azeite relativamente à recu-peração da produção nacional, quevai, claramente, no caminho da auto--suficiência. Esta esperada (e tãodesejada) auto-suficiência estásobretudo relacionada com os fortesinvestimentos em novas plantaçõesa que se tem assistido nos últimosanos, maioritariamente concentra-dos no Sul de Portugal, na área deinfluência da barragem do Alque-va, onde se plantaram nos últimos

anos cerca de 30.000 novos hectaresde olival intensivo e superintensivo, deelevada produtividade. Com a pro-gressiva entrada em produção destesnovos olivais, Portugal verá a sua pro-dução aumentar muito significativa-mente. Estas projecções podem já sercomprovados pela análise das produ-ções do Alentejo nas últimas 3 cam-

panhas: em 2007 e 2008 a produçãonesta região situou-se à volta das14.500 toneladas, tendo subido paracerca de 23.000 toneladas em 2008(um crescimento de quase 60%).Devemos ainda assinalar que o azeiteproveniente destes novos olivais é, nasua esmagadora maioria, azeite vir-gem extra de elevada qualidade.

H: Existem vários azeites portugue-ses? O que os diferencia?P.C.: Primariamente, os azeitespodem ser diferenciados, em termosde qualidade, através do tipo comer-cial: Azeites Virgem Extra (maior quali-dade), Azeite Virgem (admite ligeirosdefeitos de cheiro e/ou sabor) e Azeite– contém azeite refinado e azeite vir-gem. Dentro dos Azeites Virgem Extrae Virgem, o que diferencia maioritaria-mente os azeites uns dos outros sãoas variedades de azeitona a partir dasquais são elaborados, bem como aproporção em que essas variedadesentram nos loteamentos. Raramenteos azeites são monovarietais, embora

existam. Normalmente são forma-dos pelo loteamento de 2 ou mais

azeites obtidos de diferentesvariedades de azeitona,

que, em função das suasproporções relativas, vãooriginar azeites comcaracterísticas organo-lépticas que podem sermuito distintas.

H: De que forma a crise eco-nómica veio afectar o consumode azeite em Portugal?P.C.: A crise económica não teveum efeito muito acentuado,essencialmente porque coincidiucom uma fase em que os preçosdo azeite caíram muito, logo, osconsumidores encontram azei-te a preços muito inferioresque em 2005, por exemplo.Esta diminuição do preço doazeite também fez diminuir a

diferença entre o preço doazeite e dos óleos, razão pelaqual, provavelmente, algunsconsumidores que normalmentenão consumiam azeite por ques-

“Temos um longo caminho ainda a percorrerna recuperação do consumo de azeite”

Victor [email protected]

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Especial

tões de preço possam ter iniciado oseu consumo, em substituição deoutros óleos vegetais. Por outro lado,os mercados para onde se dirigemessencialmente as nossas exportações(e.g. Brasil) não foram grandementeatingidos pela crise económica, verifi-cando-se até um acentuado cresci-mento das exportações nacionais,pese embora a crise mundial.

H: As marcas da distribuição (MDD)têm ganho importância, nos últi-mos anos. Que quota de mercadopossuem já em Portugal?P.C.: Segundo os últimos dados a quetemos acesso, a quota de mercadodas MDD rondará os 35% e tem, defacto, ganho importância nos últimosanos. Apesar disso, e quando compa-rado com outros países, como Espa-nha, por exemplo, ainda se verifica emPortugal um predomínio das marcasde comércio.

H: Esta quota tende a subir?P.C.: Essa é uma tendência em quasetodas as categorias de produtos ali-mentares e em quase todos os paísesdesenvolvidos. O azeite não foge aessa regra, pese embora as MDDtenham, em Portugal, menor expres-são que noutros mercados, comoanteriormente referido.

H: O azeite de Portugal é dosmelhores do mundo?P.C.: Efectivamente, existem em Por-tugal alguns azeites ao nível dosmelhores do mundo, como poderá seratestado pelo número crescente de

prémios conquistados em concursosinternacionais. Mas não nos parecemuito correcto dizer que esta ou aque-la origem é a “melhor do mundo”, atéporque em todos os países produto-res, incluindo Portugal, existem exce-lentes azeites mas, também, péssi-mos azeites. Não se trata, pois, deuma questão de origem. Mais impor-tante que a origem é a qualidadeintrínseca do produto, que, aliada aonosso gosto pessoal e à utilizaçãoculinária mais adequada a cada caso,nos deverá conduzir à escolha dosazeites certos para cada ocasião deconsumo ou para cada combinaçãoculinária.

H: Quais são os principais merca-dos de exportação?P.C.: O Brasil é o maior mercado dedestino das exportações portuguesasde azeite, e tem tido, nos últimosanos, um crescimento muito significa-tivo, essencialmente nos azeites demaior qualidade, ou seja, no segmen-to dos azeites virgem extra. Portugal élíder de mercado no Brasil, com umaquota de 52% em volume e cerca de56% em valor, e tem vindo a reforçaresta liderança ano após ano. Outrosmercados importantes são a Venezue-la, os EUA e os países africanos, comdestaque para o crescimento recentee muito acentuado das exportaçõespara Angola.

H: Quanto vale, actualmente, aexportação de azeite português?P.C.: Rondará os cerca de 125 – 130milhões de euros. �

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