andreia camila de oliveira...aos meus pais braz ferreira de oliveira, maria camila de oliveira e...

153
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA SITUAÇÕES DE CONFLITO NO AMBIENTE ESCOLAR: UM OLHAR A PARTIR DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SÃO PAULO 2017

Upload: others

Post on 05-Mar-2021

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA

ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA

SITUAÇÕES DE CONFLITO NO AMBIENTE ESCOLAR:

UM OLHAR A PARTIR DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA

SÃO PAULO 2017

Page 2: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

ii

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA

ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA

SITUAÇÕES DE CONFLITO NO AMBIENTE ESCOLAR:

UM OLHAR A PARTIR DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto-

Sensu em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu, como

parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre.

Linha de pesquisa: Educação Física, Escola e Sociedade.

Orientadora: Profa. Dra. Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva.

SÃO PAULO 2017

Page 3: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

iii

Page 4: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

iv

Dedico esse projeto aos meus pais e familiares que sempre estiveram

ao meu lado em todos os momentos da minha vida.

Page 5: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

v

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me dar sabedoria nos momentos em que eu mais

precisei nessa jornada acadêmica.

À minha orientadora Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva por toda

atenção, ensinamentos e paciência nesses anos.

À professora Elaine Prodócimo e à professora Elisabete dos Santos Freire por

me ajudarem a entender que o mundo acadêmico é desafiador, porém encantador.

Aos amigos (as) Roseli Amaral, Deborah Palma, Paulo Amaral, Aline Santos e

a todos os professores pela parceria nessa etapa de aprendizado que foi

extremamente importante para meu crescimento pessoal e profissional.

Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda

minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas.

Page 6: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

vi

A mente que se abre a uma nova ideia,

jamais voltará ao seu tamanho original.

Albert Einstein

Page 7: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

vii

RESUMO

Conflitos estão presentes em todas as relações humanas e, portanto, também

ocorrem no contexto escolar. Eles surgem de ideias ou opiniões divergentes ou

modos diferentes de interpretar algum fato e podem auxiliar os alunos a perceberem

que deles surgem oportunidades para o amadurecimento e crescimento pessoal e

social, se conduzidos de maneira eficaz. É importante os professores realizarem

intervenções e estímulos às discussões sobre o tema com o objetivo de desenvolver

a cidadania, uma vez que o conflito também é uma oportunidade de ruptura do que

está constituído para que se construa algo novo. O objetivo da pesquisa foi

compreender a percepção docente sobre a relação existente entre situações de

conflito e intervenções pedagógicas em aulas de Educação Física. Trata-se de uma

pesquisa descritiva, qualitativa, que utilizou entrevistas semiestruturadas, diário de

aula, e promoveu reflexão conjunta entre professores e pesquisadora voltada para

problemas relacionais entre alunos. Participaram da pesquisa três professores de

Educação Física, do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, da rede particular de

ensino da cidade de São Bernardo do Campo. Para análise dos dados, foi realizada

análise de conteúdo de acordo com Saldaña (2011), tendo como referência duas

categorias pré-definidas: a) situações de conflito; b) ações implementadas. Os

conflitos foram classificados segundo tipologia proposta por Moore (1998). A

pesquisa revelou a preocupação dos professores de Educação Física em solucionar

os conflitos de maneira pacífica e imparcial, utilizando o diálogo como principal

estratégia, o que exigiu dos educadores o exercício da escuta. Os resultados

indicaram que docentes anteriormente críticos em relação à convivência com os

conflitos, hoje exercitam com maior reflexão o papel de facilitadores. Os estudos

apontaram que a mediação é o caminho para a resolução dos conflitos e o mediador

tem um papel fundamental nesse processo. Existe um consenso entre os

professores de que eles não foram preparados para lidar com tais situações e que

não existe uma metodologia educacional que possa ser praticada.

Palavras-chave: Educação Física, escola, conflito, mediação, formação continuada.

Page 8: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

viii

ABSTRACT

Conflicts are present in all human relationships and therefore also occur in the school

context. They arise from differing views or opinions or different ways of interpreting a

fact and can help students realize that opportunities for maturation and personal and

social growth arise if they are conducted effectively. It is important for teachers to

make interventions and stimulate discussions on the subject with the aim of

developing citizenship, since conflict is also an opportunity to break up what is

constituted in order to build something new. The objective of the research was to

understand the teacher perception about the relationship between conflict situations

and pedagogical interventions in Physical Education classes. It is a descriptive,

qualitative research that used semi-structured interviews, class diary, and promoted

joint reflection between teachers and researcher focused on relational problems

among students. Three Physical Education teachers participated in the research.

They are from Elementary School II and High School, from the private teaching

network of the city of São Bernardo do Campo. For analysis of the data, the content

analysis was used Saldaña (2011), having as reference two pre-defined categories:

a) conflict situations; b) actions implemented. The conflicts were classified according

to the typology proposed by Moore (1998). The research revealed the concern of

Physical Education teachers to resolve conflicts in a peaceful and impartial manner,

using dialogue as the main strategy, which required the teachers to exercise

listening. The results indicated that previously critical teachers in relation to living with

conflicts, today exercise with greater reflection the role of facilitators. The studies

pointed out that mediation is the way to resolve conflicts and the mediator plays a

fundamental role in this process. There is a consensus among teachers that they

have not been prepared to deal with such situations and that there is no educational

methodology that can be practiced.

Keywords: Physical education, school, conflict, mediation, continuing education.

Page 9: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

ix

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Classificação dos conflitos e suas causas...............................................24

Quadro 2. Cronograma dos encontros......................................................................52

Quadro 3. Análise do participante 1 .........................................................................66

Quadro 4. Análise do participante 2..........................................................................73

Quadro 5. Análise do participante 3..........................................................................79

Quadro 6. Matriz Nomotética situações de conflitos e ações de enfrentamento.....80

Quadro 7. Matriz Nomotética com conteúdos dos diários de aula............................92

Quadro 8. Matriz Nomotética sobre percepção dos conflitos..................................104

Quadro 9. Matriz Nomotética:uso dos conflitos como estratégia de ensino ..........105

Page 10: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

x

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEP

FMCS

IBGE

Comitê de Ética em Pesquisa

Federal Mediation and Conciliation Service

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

OMS

PENSE

Organização Mundial da Saúde

Pesquisa Nacional de Saúde do Estudante

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Page 11: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

xi

LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE 1 - Termo de Autorização da Escola.....................................................122

APÊNDICE 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E.)................123

APÊNDICE 3 – Entrevista Piloto..............................................................................125

APÊNDICE 4 – Questões Diário de aula..................................................................126

APÊNDICE 5 – Transcrições das entrevistas do estudo piloto................................127

APÊNDICE 6 – Detalhamento do estudo piloto.......................................................146

Page 12: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

xii

LISTA DE ANEXOS

ANEXO 1 - Parecer CEP - Comitê de Ética em Pesquisa ...................................151

Page 13: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

xiii

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................. vii

ABSTRACT............................................................................................................. viii

LISTA DE QUADROS ............................................................................................... ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .................................................................... x

LISTA DE APÊNDICES ............................................................................................ xi

LISTA DE ANEXOS ................................................................................................. xii

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 15

2. OBJETIVOS DA PESQUISA ............................................................................... 21

2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................... 21

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 21

3. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 22

3.1 Conflitos e suas definições ..................................................................................... 22

3.2 Tipologia dos conflitos ........................................................................................... 24

3.3 Conflitos e violência no ambiente escolar .............................................................. 26

3.4 Mediação de conflito ............................................................................................. 32

3.5 Formação de professores em relação a conflitos .................................................... 38

3.6 Competência ......................................................................................................... 42

4. MÉTODO DA PESQUISA .................................................................................... 45

4.1 Caracterização da pesquisa .................................................................................... 45

4.1.1 Pré Configuração da realidade ............................................................................ 45

4.1.2 Configuração da realidade .................................................................................. 47

4.1.3 Local e amostra da pesquisa ............................................................................... 47

4.1.4 Relatos dos encontros ........................................................................................ 52

4.1.5 Reconfiguração da realidade ............................................................................... 53

5. Resultados .......................................................................................................... 56

5.1 Transcrição das entrevistas a respeito dos efeitos da pesquisa sobre a percepção

docente sobre a maneira como lidar com conflitos ..................................................... 56

5.1.1 Transcrição da Entrevista com o Professor 1 ........................................................ 56

5.1.2 Transcrição da entrevista com o Professor 2 ........................................................ 69

Page 14: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

xiv

5.1.3 Transcrição da entrevista com o Professor 3 ........................................................ 78

5.2 Matriz Nomotética ................................................................................................ 80

6 REFLEXÃO SOBRE OS ACHADOS DA PESQUISA EM DIÁLOGO COM A

LITERATURA .......................................................................................................... 82

6.1 Análise dos diários de aula .................................................................................... 92

6.2 Transcrições das entrevistas relativas à percepção dos professores sobre conflitos . 98

6.3 Transcrição das entrevistas sobre competência .................................................... 107

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 113

8 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 116

APÊNDICES .......................................................................................................... 122

ANEXO .................................................................................................................. 151

Page 15: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

15

1. INTRODUÇÃO

O propósito de retratar conflitos nas aulas de Educação Física surgiu a partir

de inquietações de minha própria prática ao observar crianças e adolescentes

entrarem em divergência por várias razões. As situações conflituosas entre docentes

e discentes também me intrigavam. Ao tentar mediar situações de conflito, em

alguns casos, era surpreendente a indiferença dos alunos em tentar se reconciliar ou

desculpar-se com os colegas. Isso sempre me causou desconforto, já que, muitas

vezes, não compreendia o foco propulsor de tanta discussão que, no meu

entendimento, ocorria por motivos irrelevantes. Desta forma, percebi a necessidade

de investigar as manifestações de conflitos em aulas de Educação Física e a

maneira como o profissional da área lida com elas e procura evitar possíveis

desdobramentos como, por exemplo, a violência.

Seguindo nessa perspectiva, outros pontos que me chamaram a atenção ao

longo da minha jornada de 18 anos como educadora, dizem respeito à área da

Educação Física e à formação dos professores. Percebo que muitas situações de

conflito, que ocorrem em aulas de Educação Física são derivadas da forma como o

professor conduz a aula. Desta forma, a identificação e a intervenção realizada, são

os pontos fortes nos casos de mediação e resolução de conflitos. Em outras

ocasiões, observei que determinados conflitos são originados fora da aula e acabam

manifestando-se dentro dela. Nessas situações, me faço as seguintes perguntas:

Será que o professor sente-se capaz de identificar e intervir em diferentes situações

relacionais? Será que professor sente-se competente para lidar com situações de

conflito em suas aulas?

Nesse processo reflexivo, acredito que estudar a intervenção do profissional

de Educação Física em situações de conflito durante as aulas e sua percepção de

competência para este fim, possibilitará compreender um pouco mais acerca deste

tema atual e de grande importância nas escolas e na sociedade. Este estudo me

motiva porque, além de trabalhar em escola, com crianças e adolescentes, há em

mim essa vontade de entendê-los já que considero o esporte e a práticas corporais

em geral fenômenos que mexem com emoções, sentimentos e valores, elementos

imprescindíveis de consideração em todo e qualquer processo educativo.

Page 16: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

16

O conflito nos tempos atuais pode ser visto como evidente e inevitável. No

entanto, compreendê-lo, e saber lidar com ele, é fundamental para o sucesso

pessoal e profissional (BERG, 2012).

Os docentes têm um grande papel a desempenhar no caminho escolar de

seus alunos e concordo com Correia e Ferraz (2010) quando relatam que o processo

de formação docente é algo que está em constante transformação e que é essencial

reconhecer a escola como um espaço privilegiado nessa formação profissional. E

nesse sentido, é importante considerar que a formação docente deve ser um

processo em constante transformação, por conta do conhecimento que o professor

detém no ambiente escolar.

A escola, pela tradição que lhe é atribuída, é tida como uma das instituições

em que há maior proximidade com a realidade dos adolescentes. É um local onde se

concentram muitas falas e opiniões, não podendo ser vista apenas como um núcleo

de ensino e aprendizagem e sim como um espaço onde há mediação entre as

partes envolvidas no conflito (MOREIRA, 2015).

A instituição educacional exerce um papel importante na vida dos jovens,

tendo em vista que vai além da responsabilidade de ser detentora da transmissão de

conteúdos. A escola é reconhecida como um ambiente de convivência, socialização,

integração, novas experiências, possibilitando que o indivíduo se desenvolva em sua

plenitude e contribuindo, de alguma forma, para o ambiente histórico-social

(MOURA, 2013).

Não obstante, é preciso reconhecer que entre os fatores que influenciam a

escola, houve uma reconfiguração familiar na mesma velocidade em que a

modernidade invadiu o mundo. O sentido de ordenamento foi alterado, redefinindo e

ampliando a função da escola, que passou a assumir um papel mais destacado,

além da transmissão do conhecimento. Diante desta complexidade social, a escola

convive, dialoga e contribui cada vez mais com a formação de crianças,

adolescentes e jovens. Além de promover e interferir no processo de convivência

entre grupos heterogêneos contribui para o aprendizado entre as diferenças

existentes (ALVES, 2009).

A escola, também passou por transformações ao longo do tempo. Pressupõe-

se que toda instituição educacional tenha um projeto político pedagógico coerente

internamente, claro e bem organizado. Este projeto é uma importante ferramenta

Page 17: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

17

que orienta o trabalho em equipe e que colabora para a convergência dos objetivos

da atuação pedagógica e para a autonomia da escola. Surge a partir de ideias sobre

educação e tem como foco principal as relações humanas e os interesses coletivos

(VENANCIO; DARIDO, 2012).

As alterações ocorridas no processo de ensino-aprendizagem e em sua

estrutura didática surgiram em decorrência da Lei de Diretrizes e Bases - LDB nº

9394/96 (BRASIL, 1996), o que permitiu às escolas maior autonomia institucional e

consequente ampliação do foco no desenvolvimento do indivíduo (VENANCIO;

DARIDO, 2012).

No que diz respeito à Educação Física, a mesma Lei, em seu Artigo 26,

Parágrafo 3º, reconheceu-a como componente curricular, posteriormente

determinando-a como obrigatória na Educação Básica, facultando-lhe apenas no

período noturno de ensino (BRASIL, 1996).

Venâncio e Darido (2012) ressaltam que esta é uma área que participa de

discussões sobre formação do indivíduo, enfoque constante no projeto político-

pedagógico e, na qualidade de membro da comunidade escolar, o professor desta

disciplina assume responsabilidades e compromissos que deve cumprir como forma

de desempenhar seu papel dentro desse processo.

Souto et al (2010) destacam que o currículo, unificado ao projeto político

pedagógico da escola, retoma valores significativos e essenciais para a educação

dos estudantes, promovendo e contribuindo na formação integral deste cidadão.

A Educação Física além de desenvolver qualidades físico-motoras nos

estudantes, necessita promover relações com seus valores, as suas atitudes e

interações com os pares, sejam eles companheiros de equipe, adversários, colegas

de turma ou de escola, como mostram os estudos de (MELIN; PEREIRA, 2015).

As experiências vividas entre os alunos e as trocas que ocorrem no dia a dia

escolar contribuem para desenvolver aspectos emocionais, de conduta e de

construção de identidades (MARQUES, 2012).

Para Freire, Silva e Miranda (2011), as aulas de Educação Física podem

contribuir de diversas formas para que o aluno vivencie sua motricidade livre,

intencionalmente e com inventividade, quando o foco é o movimento corporal. Este

processo é facilitado, quando existe o entendimento sobre si mesmo, sobre as

Page 18: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

18

relações humanas, bem como o ambiente e a cultura na qual o aluno está situado.

Considerar as características locais e a relação entre as pessoas devem ser uma

das prioridades.

Na atmosfera da escola, é possível observar que, em alguns momentos, seja

por brincadeira, por divergências de ideias, por uma palavra proferida de forma

indelicada ou até mesmo por um esbarrão, os alunos entram em conflito, discutem

entre si, envolvem o grupo e se não houver um acordo, acabam mostrando-se

violentos. Esse tipo de situação precisa e deve ser mediada para que exista solução

pacífica e para que não haja reincidência da violência.

Contudo, não basta à escola preocupar-se apenas com as relações de ensino

e de aprendizagem, com foco na permanência em sala de aula de alunos e

professores. As unidades escolares precisam se preparar para enfrentar contextos

adversos, pois são inúmeras as dificuldades para implementar práticas e posturas

adequadas ao enfrentamento das situações de indisciplina e de conflitos, o que pode

comprometer as chances de aprendizagem de crianças e jovens (MARTINS,

MACHADO, FURLANETO, 2016).

Do ponto de vista de Abramovay (2008) fatores internos e externos

influenciam na formação do indivíduo. Docentes e discentes atribuem valores

distintos e reagem diferentemente a determinado fato, o que gera conflito na

convivência, afetando a situação, dificultando o convívio e contribuindo para o

surgimento de conflitos na área escolar quando não tratados de maneira adequada

por meio do diálogo.

No entanto, é importante destacar que desacordos ocorrem em todas as

dimensões e em diversos contextos. O ambiente escolar é um local em que as

diferenças entre as pessoas, sejam de ordem familiar, cultural, étnica, religiosa,

manifestam-se abertamente, tornando-se naturalmente, um espaço de conflitos,

divergências, mas não necessariamente de violência.

É essa diversidade que torna a escola uma atmosfera surpreendente e

encantadora. Por mais que haja uma organização, regras e hierarquias, muitas

vezes acontecem situações que intrigam docentes. Em minha jornada na área

escolar, tive vivência pelos dois lados. Fui estudante no Ensino Fundamental e

Médio, atleta da escola e do alto rendimento. Como discente, meu perfil sempre foi

apaziguador, mas por várias vezes presenciei situações conflituosas em aula, nos

Page 19: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

19

treinos escolares e no alto rendimento. Já durante o meu curso de graduação em

Educação Física, iniciei com apenas 18 anos o estágio de observação em um

colégio particular e sempre quis ser professora e, nesta carreira que escolhi, já

vivenciei muitas situações de conflitos, que se resolveram de forma satisfatória ou

não.

A instituição escolar sofre influências de vários setores sociais e não pode

ficar inativa ou enclausurar-se às situações de conflitos. A ela cabe o desafio de não

desprezar conflitos internos e mesmo externos à ela abrindo-se para a comunidade

no sentido de ensinar a lidar com diferenças presentes na sociedade, com a

responsabilidade social de contribuir para a resolução de problemas coletivos

(ABRAMOVAY, 2008).

Desta forma, é essencial considerar em qual contexto sociocultural a escola

efetivamente está inserida e detectar quais são as diferenças existentes, para que

se reflita, dentro da instituição, o que tem de ser construído além dos limites e muros

da escola, como garantia das condições para a diversidade sociocultural.

Pensar que a escola é um ambiente em que se resguarde todos os alunos

das divergências humanas e da sociedade seria inexequível, tendo em vista que,

dentro dela, elas acontecem, ainda que discretamente, sob formas variadas. É dessa

mesma instituição que surgem situações que contribuem para o desenvolvimento

dos conflitos (CHIZZOTTI; PONCE, 2016; CHRISPINO, 2007).

Todavia, nota-se que os conflitos também são originários de diferentes

posicionamentos entre professores e alunos ao se colocarem e agirem de maneiras

distintas diante de uma mesma situação. Nesse caso, quanto maior for a pluralidade

discente e docente, maior será a chance de resultar em conflitos. Faz-se necessário,

por parte dos professores, compreender qual é essa geração com a qual está

lidando. É um exercício diário e requer muita reflexão.

Estas manifestações de divergência sutis ou não, que despontam, em sua

maioria, em gestos e falas indesejáveis, corroem as relações dentro da comunidade

escolar, quando, na verdade, deveriam ser vistas como uma oportunidade para a

reversão do processo. O momento em que se identifica e se tem consciência sobre

elas, deveria ser o momento adequado para a reflexão e oposição conscienciosa

sobre todo e qualquer tipo de consequência (CHIZZOTTI; PONCE, 2016).

Page 20: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

20

É fundamental destacar como é a identificação, compreensão, interpretação e

intervenção pedagógica de professores de Educação Física sobre os conflitos

existentes em aula. Uma vez compreendida esta percepção, é preciso investigar

quais recursos são utilizados para realizar algum tipo de mediação.

Espera-se que o resultado desta empreitada auxilie na busca de respostas

sobre o nível de conhecimento e preparo docente para lidar com tais situações e se

o repertório estratégico existente para a mediação é suficiente, produzindo o

resultado esperado pelo profissional.

Essa pesquisa tem como finalidade contribuir com a área de Educação Física

e com a sociedade, por meio das reflexões geradas durante as discussões com os

profissionais entrevistados. Espera-se que este trabalho contribua com aqueles que,

em sua jornada educativa, enfrentam situações similares no seu dia a dia na escola

e trazer elementos que possam aprimorar a competência do professor em lidar com

situações de conflitos e utilizá-los como momentos privilegiados para educar as

pessoas no que se refere aos seus relacionamentos interpessoais.

Page 21: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

21

2. OBJETIVOS DA PESQUISA

2.1 OBJETIVO GERAL

Compreender a percepção docente sobre a relação existente entre situações

de conflito e intervenções pedagógicas em aulas de Educação Física.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Identificar o que professores de Educação Física escolar pensam a respeito

de conflito;

Identificar se professores de Educação Física estabelecem relação entre a

presença de conflitos durante as aulas e possíveis oportunidades para educar

para o estabelecimento de relacionamentos interpessoais pautados na

compreensão do ponto-de-vista do outro;

Descrever possíveis mudanças na percepção de competência dos docentes

para lidar com situações de conflito em aulas de Educação Física durante um

processo de formação continuada.

Page 22: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

22

3. REVISÃO DE LITERATURA

Na sequência da pesquisa, serão abordados temas relacionados aos conflitos

nas aulas de Educação Física, bem como a mediação dos mesmos na tentativa de

entender como esses conteúdos são tratados na escola e na sociedade.

Para introduzir o tema da pesquisa, serão conceituados alguns termos que

compõem os estudos sobre conflitos.

3.1 Conflitos e suas definições

Desde que a história da humanidade é contada, são encontradas diversas

evidências sobre conflitos em relações humanas e em todas as sociedades. Elas

manifestam-se de todas as formas: no seio familiar, entre amigos, nos grupos

étnicos, no ambiente de trabalho, empresas, no poder público e entre nações

(MOORE, 1998).

Ao se falar em conflito, encontramos definições de diferentes autores que são

interessantes para melhor entendimento de suas causas e consequências, bem

como os malefícios e benefícios produzidos pelos mesmos, que serão abordados ao

longo deste estudo.

A palavra conflito vem do latim conflictus, oriundo do verbo conflictare. O

conceito baseia-se em um choque entre duas coisas ou entre pessoas; ou grupos

opostos que lutam entre si. É um embate entre duas forças contrárias. Na realidade,

é um estado antagônico de pontos de vista, pessoas ou interesses e não passa,

basicamente, da existência de opiniões e de situações divergentes ou incompatíveis

(BERG, 2012).

Assim, pode-se dizer que o conflito é caracterizado como todo entendimento

discordante na observação e interpretação sobre algum fato ou acontecimento. Ele

tem sua origem nas diferenças de conceitos, desejos e anseios que são defendidos

de maneiras distintas. Deste modo, todas as pessoas que vivem em sociedade se

deparam com este tipo de situação, seja na infância, na adolescência e na

maturidade, não existindo noção de erro e acerto, mas de posições que são

defendidas frente a outros pontos de vista (CHRISPINO, 2007).

Page 23: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

23

Por outro lado, Moore (1998) reforça que, por ser o conflito um fenômeno

constante nas relações humanas, seu desfecho pode resultar em mudanças bem-

sucedidas e produtivas ou, podem levar ao insucesso e acarretar situações que

deterioram os relacionamentos interpessoais.

Morais e Otta (2008) discorrem sobre a ideia de que os desacordos surgem

da convivência em grupo. Seu surgimento configura-se na neutralidade, porém de

acordo com o seu prosseguimento, ele pode assumir um caráter construtivo ou

destrutivo, dependendo da forma como lidamos com eles (CECCON et al., 2009).

Para Melman (2009), não há como fugir dos conflitos, já que a

heterogeneidade existe entre pessoas, grupos e organizações. Para estes

envolvidos, sua presença é fundamental, principalmente no que diz respeito ao

refinamento das relações sociais, tornando o mundo mais fortalecido em diversos

valores, como a justiça e a igualdade.

Os conflitos estão presentes no cotidiano das pessoas e independente de

serem mais comuns ou complexos, eles nos colocam em processo reflexivo e

contribuem para o processo de aprendizagem individual. Daí a importância de

entendê-los em sua essência, para melhor manejá-los de maneira que não atinjam

estágios drásticos que levem a manifestações de violência que, certamente, não

podem ser toleradas e devem ser interrompidas.

Tendo em vista sua existência e manifestações no dia a dia, sabe-se que

violência é diferente de conflito e que este deve ser administrado, ao passo que a

violência deve ser imediatamente extinguida e jamais contemporizada (CECCON et

al., 2009).

Muito embora a divergência de posicionamento não implique,

necessariamente, em um desfecho negativo, esta oposição pode e deve ser positiva,

já que, por meio da violência há a definição e acordo de pontos de vista que servem

para facilitar o entendimento entre os envolvidos. Neste processo, se conseguem

informações sobre o outro no que diz respeito a seus valores, forma de ver o mundo

e desejos pessoais. São pequenas disputas acerca de diversos interesses e, para

que sejam resolvidas, as pessoas necessitam criar mecanismos para sua solução

(MORAIS; OTTA, 2008).

Page 24: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

24

Corroborando com esta ideia, Chrispino (2007) refere que nem todo conflito

deve ser entendido como algo maléfico, visto que apresentam benefícios que nem

sempre são percebidos pelas partes. O autor enumera vantagens como a

possibilidade de se colocar no lugar do outro, analisar o mundo sob diferentes

perspectivas, conduzir a uma autoanálise e reflexão, aumentar a percepção de que

diferenças não são verdadeiras ameaças, mas produto de uma determinada

situação. Ainda destaca que este embate auxilia na regulação das ações sociais,

seleciona melhores práticas de cooperação, contribui para que o indivíduo perceba

que, dele, surge a chance para o amadurecimento e crescimento pessoais e sociais.

3.2 Tipologia dos conflitos

No sentido de facilitar o entendimento sobre conflito e suas causas, uma

forma de estabelecer relação é a classificação, pois classificar é uma forma de

atribuir significado. Na classificação de Moore (1998) o autor estabelece uma

categorização dos conflitos em: estruturais, de valor, de relacionamento, de

interesse e quanto aos dados.

Segundo o autor, os conflitos apresentam múltiplas causas e diferentes

manifestações, conforme pode ser observado no Quadro 1.

Quadro 1. Classificação dos conflitos e suas causas.

Fonte: Adaptado de Moore (1998, p. 62).

Page 25: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

25

De acordo com o sociólogo Berg (2012), que ministra cursos nas áreas de

administração do tempo, negociação, administração de conflitos, entre outros, em

uma organização, os conflitos podem surgir pela incompatibilidade de opiniões,

métodos, objetivos, interesses. É fundamental compreendê-los para resolvê-los da

melhor maneira possível. Assim sendo, na visão do autor, há três tipos de conflitos,

sendo eles: pessoais, interpessoais e organizacionais.

O conflito pessoal ou interior é uma inquietação, uma desarmonia emocional

do indivíduo. O conflito pessoal está relacionado com a forma como alguém lida

consigo mesmo, são inquietações do indivíduo. Está atrelado a princípios e valores

individuais que, quando se chocam com situações que os confrontam, podem levar a

determinados estados de estresse e atrito.

O conflito interpessoal é aquele que ocorre entre indivíduos, quando duas ou

mais pessoas encaram a situação de maneira e pontos de vista diferentes.

O conflito organizacional não é fundamentado em sistema de princípios e

valores pessoais, mas resulta das dinâmicas organizacionais em constante

mudança, muitas delas externas à empresa.

San Martín (2003) apud Almeida (2012) relata três diferentes tipos de conflitos

levantados por Torrego (2001) os conflitos originários de ruídos no processo de

comunicação e, por consequência, que afetam as relações são denominados como

relação/comunicação. Este processo pode ter início com troca de investidas verbais,

insultos, mal-entendidos, rumores e, quando do desgaste entre as partes, pode levar

inclusive, a situações mais críticas.

Outra tipologia é a que se relaciona com interesses e necessidades. A origem

das desavenças se manifesta nos interesses divergentes no que diz respeito a

algum tipo de prática ou ainda a questões de ordem material, temporal ou espacial.

Por fim, há ainda aqueles que se originam por conta de escolhas,

posicionamento ou opiniões pessoais, quando cada um defende seu ponto de vista,

denominados como preferências, valores e crenças.

Page 26: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

26

3.3 Conflitos e violência no ambiente escolar

Na década de 60, verificou-se uma mudança significativa no processo de

democratização do ambiente escolar brasileiro. Se por um lado a população de

baixa renda passou a ter acesso facilitado ao ensino e supostamente foi favorecida

sua educação, por outro, esta mesma população submeteu-se a condições precárias

para a execução desta empreitada, dadas as condições inconsistentes e deficitárias

para aprendizagem, investimentos, salários e trabalho dos professores. Tal cenário

comprometeu este processo, impactando sobremaneira no resultado qualitativo

educacional.

Ao se assumir o propósito de oferecer educação e atender à população de

baixa renda, não há como se desvincular dos aspectos sociais. Para tanto, é

fundamental um repensar pedagógico que tenha como ponto de partida o universo

da criança que vive neste tipo de realidade (LIBÂNEO, 1986).

Pressupõe-se que, uma escola cuja voz esteja direcionada à democratização,

dedique um esforço maior para o entendimento das diferenças e promova

consequente incentivo à igualdade de direitos e preceitos democratas. A

popularização do acesso à escola, nesse contexto, leva consigo a grande tarefa de

encontrar um caminho para que a educação “de grandes tradições intelectuais,

práticas e morais, possa cultivar valores como a igualdade, a tolerância, a não

violência, a solidariedade e enfim, modos de vida que tenham na democracia política

e social o maior de seus compromissos”. (CARVALHO, 2004).

Chrispino (2007) aponta que a massificação da educação, de um lado,

garantiu o acesso dos alunos à escola e de outro, expôs essa mesma escola a um

contingente de alunos cujo perfil não estava preparada para absorver.

Nesse sentido, é possível analisar que manifestações de conflitos surgem da

incompatibilidade de ideias, divergência de opiniões, da convivência em grupo, da

heterogeneidade entre pessoas, grupos, organizações, no seio familiar, em

empresas e também no meio acadêmico.

A partir da classificação de Zampa (2005), adaptada por Chrispino (2007),

foram levantados os tipos de conflitos que ocorrem com maior frequência no

ambiente escolar. Há relatos existentes entre docentes, entre alunos e docentes,

entre alunos, e entre pais, alunos e gestores:

Page 27: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

27

Divergências entre docentes são oriundas da falta de comunicação;

interesses pessoais; questões de poder; incompatibilidades prévias; valores

diferentes; busca de posição de destaque, conceito anual entre docentes; não

indicação para cargos de ascensão hierárquica; divergência em posições políticas

ou ideológicas, entre outros.

Nessa mesma linha, os desacordos entre alunos e docentes ocorrem muitas

vezes por dificuldade do estudante entender o que os professores explicam; notas

arbitrárias; divergência sobre critério de avaliação; avaliação inadequada (na visão

do aluno); discriminação; falta de material didático; não serem ouvidos (tanto alunos

quanto docentes); desinteresse pela matéria, entre outros.

Os relatos conflituosos entre alunos surgem por mal-entendidos; brigas;

rivalidade entre grupos; discriminação; bullying; uso de espaços e bens; namoro;

assédio sexual; perda ou dano de bens escolares; eleições; viagens e festas.

Há conflitos entre pais, docentes e gestores que se manifestam por agressões

ocorridas entre alunos e entre os professores; perda de material de trabalho;

associação de pais e amigos; serviços de cantina escolar ou similar; falta ao trabalho

pelos professores; falta de assistência pedagógica pelos professores; critérios de

avaliação, aprovação e reprovação; uso de uniforme escolar; não atendimento a

requisitos “burocráticos” e gestão administrativa. Portanto, esta diversidade de

pontos de vista, quando não trabalhada, é o cerne da questão, tornando-se a causa

principal de violência na escola.

A pesquisa de Vinha e Tognetta (2009) revelou que, na visão tradicional,

estes tipos de embates são vistos como negativos e danosos à convivência entre os

alunos. Essa percepção aponta para duas direções: a primeira consiste em evitá-los,

colocando muitas regras, controlando as condutas por meio de vigilância dos alunos,

dentre outros. A segunda direção, ainda muito empregada pelas instituições, é a

resolução rápida dos conflitos, transferindo os problemas para a família ou

especialistas.

A escola está treinada para impedir ou reduzir ao máximo as divergências

existentes, uma vez que estas são traduzidas como maléficas, um desajuste social

(CHRISPINO, 2007). Nesse sentido, Ceccon e colaboradores (2009) reforçam que a

inabilidade da instituição em identificar rapidamente os fatores provocadores do

Page 28: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

28

desequilíbrio no ambiente escolar é apontada como uma das principais causas de

conflitos na escola.

Tendo em vista a tensão existente entre o sistema escolar e as expectativas

dos estudantes, são diversos os fatores que contribuem para que aconteçam

situações e manifestações de violência no cotidiano escolar. A existência de regras é

fundamental para o bom convívio, e essa questão efetivamente se destaca como

motivo gerador de conflitos, já que as mesmas são pouco compreendidas, uma vez

que não se dialoga com as partes e se desconhece como se dão as relações sociais

na escola entre os pares. Na maioria das vezes, as regras são coercitivas e

impositivas, à medida que não são discutidas por todos e, em muitos casos, são

infringidas constantemente em função da ausência de diálogo entre os envolvidos

(ABRAMOVAY, 2008).

Por outro lado, se as incompatibilidades existentes forem bem administradas

e resolvidas, convertem-se em aprendizado, ao passo que situações mal geridas

podem trazer resultados não satisfatórios como, por exemplo, a violência física e

psicológica (CECCON et al., 2009).

Há desdobramentos que ocorrem quando os conflitos não são resolvidos de

maneira positiva. Por conta da heterogeneidade entre as pessoas, Neto (2005)

ressalta que encontram-se situações de agressões morais, físicas e psicológicas no

ambiente escolar e que isso tem sido uma preocupação para a sociedade atual.

Observam-se frequentemente situações de agressões por jovens neste local, de tal

forma que saber lidar com a violência tem se tornado um desafio no processo de

ensino.

É importante esclarecer que conflito e violência não são a mesma coisa, ainda

que possam ser interligados.

Olweus (1993) define violência como um comportamento em que o causador

usa seu próprio corpo ou um objeto externo para causar uma lesão relativamente

grave a outro indivíduo.

Para Marriel et al. (2013) a violência é resultado da recorrente prática de

preconceitos e discriminação, além da crise de autoridade, caracterizada pela

ineficiência profissional ao lidar com essa situação, além de fazer uso de

Page 29: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

29

procedimentos pré-formatados, idealizados de formas diferentes conforme a

orientação dos gestores ou do próprio-projeto pedagógico.

Nos últimos tempos tem-se cada vez mais estudado a violência e suas

manifestações por conta do aumento de casos e principalmente pelos danos que

ocasiona aos envolvidos. A violência é um problema social e de saúde pública, que

atinge a todos sem distinção de idade, raça, país, classe social, e que se converte

em uma das formas mais usuais de resolver conflitos interpessoais. Quando se

referem à escola, os autores asseguram que a violência no contexto escolar passa

pelos mesmos episódios físicos e emocionais que ocorrem na vida cotidiana,

corroborando com o envolvimento em agressões físicas e verbais (RODRIGUEZ

BADA e NUNES GARCIA, 2015).

Os atos de violência vêm aumentando cada vez mais nas sociedades e

manifestando-se significativamente nas escolas, entre crianças e adolescentes, o

que tem causado grande preocupação de professores, pais e estudiosos

(PRODÓCIMO, 2009).

Muitos estudos estão voltados para o cenário da violência escolar. Na

Pesquisa Nacional sobre Saúde do Escolar (PENSE), realizada em 2009, pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da

Saúde, que envolveu 60.973 estudantes nas capitais brasileiras, constatou-se que

5,5% dos alunos faltaram nas aulas por conta da sensação de insegurança e 12,9%

relataram envolvimento em brigas com agressões físicas nos 30 dias anteriores à

pesquisa (KAPPEL, 2014).

Nota-se que a violência vai além de uma atitude de brutalidade de natureza

física ou psíquica ocasionando no individuo recebedor sensação de pânico, abuso

ou medo. Este tipo de intimidação, que ocasiona comportamentos de desprezo,

insurgências físicas, sociais e psicológicas, revela-se por símbolos, preconceitos,

caricaturas ou qualquer outro tipo de representação (SALLES et al., 2008).

A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) em relatório sobre violência e

saúde, declarou que a violência é um dos principais problemas mundiais de saúde

pública, definindo-a como sendo o uso intencional da força física ou do poder, real

ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma

comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte,

Page 30: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

30

dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação, como aponta (KRUG,

2002).

Relatos como esses são importantes, uma vez que nos mostram cenários que

retratam situações que ocorrem a todo o momento na nossa sociedade. Em certo

momento de minha vida, como aluna, sofri violência na escola e também não tive

vontade de comparecer às aulas por medo e sensação de insegurança, já que

naquele ambiente não havia nada e nem ninguém que pudesse interferir e cessar

tais manifestações. Aos poucos fui me envolvendo nas atividades esportivas da

escola e só quando entrei para o time oficial, como se estivesse sendo testada, fui

aceita pelo grupo e aos poucos as agressões terminaram. No início, sofri violência

em função de ser nova na escola e não ser muito aceita pelos grupos, sem qualquer

motivação e que até hoje me faz repensar o papel da escola enquanto ambiente

acolhedor. Nesse ponto, as aulas de Educação Física e o esporte, de certa forma,

me blindaram daquele contexto amedrontador.

Tognetta e Vinha (2008) acreditam que quando ocorre um conflito entre

crianças, é preciso que elas compreendam seus sentimentos e transforme-os em

atos verbalizados, para que a outra criança o entenda e perceba, conjuntamente,

suas limitações, para tomar consciência do que podem e não podem fazer. A

autoestima, segundo as autoras é um processo evolutivo, já que à medida que

expõem seus sentimentos podem estabelecer uma relação de confiança, sem

severas punições, mas com o reconhecimento das necessárias sanções pelos atos

cometidos.

Na visão das autoras, este longo exercício é uma oportunidade para olhar

para si mesmo, exercitando um processo de autoconhecimento, ao compreender

suas emoções e sentimentos.

A escola é um local cuja diversidade é intensa. Assim, situações de bullying

surgem por conta desta heterogeneidade, em especial, nas diferenças entre

gêneros. Isso ocorre por conta de sermos fruto de uma educação cujo poder está

com os homens em relação às mulheres. Apesar deste cenário, é a própria escola o

local oportuno para trabalhar e discutir esses valores, contribuindo para uma

sociedade mais justa (PRODÓCIMO, 2009).

Na visão de Olweus (1993), bullying caracteriza-se como uma forma de

abuso, com atitude violenta e desejo efetivamente nocivo, que ocorre dentro da

Page 31: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

31

escola, mas também fora dela. Como resultado, há um visível desequilíbrio de força

entre os envolvidos.

Situações de bullying, por exemplo, quando propositadas, levam o estudante

à angústia e tristeza por constatar nelas uma relação desigual de poder. A pessoa

que pratica o bullying necessita de autoafirmação e a pessoa que é vítima se

submete à agressão de alguém com poder e, normalmente, não sabe se defender

das agressões (VIANNA, SOUZA, REIS, 2015).

Ao discorrerem sobre bullying, Braga e Lisboa (2010) afirmam que este é um

processo em que crianças ou adolescentes são expostos repetidamente a um

conjunto de ações violentas, direta ou indiretamente, sem motivação aparente,

todavia de forma intencional, protagonizados por um ou mais agressores. Desse

modo, a criança ou o adolescente, ao se sentirem ameaçados ou frustrados pela

invasão ou assalto à sua autonomia, podem ter despertada sua agressividade. A

agressividade, assim como o conflito, é uma qualidade neutra que, se bem

direcionada pela escola ou outras instituições, pode tomar caminhos que enveredem

pela área esportiva, artística, cultural e social, garantindo resultados de superação e

conquista.

Nesse sentido, se nada for feito, esta força interna pode ser direcionada à

agressão, e se revelar sob a forma de autoflagelo, violência contra terceiros ou à

própria escola. Esta ação pode acontecer de forma direta, por meio de atos de

vandalismo e até de roubos, ou pode ocorrer de forma indireta, como por exemplo,

sabotagens e falta de comprometimento (CECCON et al., 2009).

É importante reforçar que as instituições de ensino têm que estar atentas às

mudanças que acontecem na sociedade, de tal forma que suas práticas não sejam

reguladas na centralização e no poder, o que leva ao aumento da violência. Há a

necessidade de se pensar em ações de enfrentamento contra essas manifestações

no ambiente escolar com atividades voltadas para o trabalho conjunto entre pais,

filhos e comunidade, incentivando o diálogo e abordagens sobre atitudes e

comportamentos que estimulem condutas não violentas na escola, porque o sucesso

dessas ações garantiria a redução de comportamentos hostis (BISPO; LIMA, 2014;

KAPPEL, 2014).

Esquierro (2011) aponta a importância das escolas desenvolverem ações ou

programas antibullying e que os profissionais envolvidos estejam atentos a essas

Page 32: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

32

manifestações. Além disso, é imprescindível a criação de um elo entre a escola e a

família, com ações pautadas na educação para e pela afetividade, exercitando o

respeito entre os membros da família e da escola, sendo o diálogo a base das

relações humanas. Para conter manifestações de violência são necessárias

intervenções envolvendo a participação das famílias, da comunidade e das escolas.

A violência no ambiente escolar prejudica os alunos no desenvolvimento

cognitivo, social e emocional. Faz-se necessária a promoção de práticas envolvendo

regras saudáveis de convivência, reguladas nos direitos e deveres individuais e

coletivos, incentivando os estudantes a respeitarem as diferenças existentes e

exercitarem a tolerância. (ESQUIERRO, 2011).

3.4 Mediação de conflito

De acordo com Moore (1998), o processo de mediação tem marcas antigas e

históricas em quase todas as culturas do mundo. No campo religioso, nas

civilizações islâmicas, este papel cabia aos idosos que se incumbiam de realizar a

discussão e proposição de alternativas para resolução. Entre os cristãos, líderes

religiosos assumiam o papel na resolução de problemas citadinos ou religiosos. A

Bíblia aponta Jesus Cristo como o mediador entre humanos e o poder divino. Os

mais antigos registros dessa natureza encontram-se entre os hindus e budistas. No

budismo, há registros da atuação de Buda como mediador nas comunidades.

Os hindus utilizavam um sistema de justiça chamado panchayat, formado por

um grupo de cinco membros que faziam a intervenção, bem como a arbitragem nos

conflitos existentes. Em diversas culturas asiáticas, por sua vez, a mediação tem

sido utilizada, por meio da religião, como solução para o consenso social, busca do

equilíbrio e bem-estar entre as pessoas (MOORE, 1998).

Os Estados Unidos foram pioneiros ao criar o Federal Mediation and

Conciliation Service (FMCS) que tinha o papel de solucionar divergências entre

empregados e empregadores, no propósito de evitar greves no setor industrial.

O FMCS é uma agência independente do governo dos Estados Unidos, fundada em

1947, que fornece serviços de mediação para a indústria, comunidade e agências

governamentais em todo o mundo. Uma de suas tarefas mais comuns é ajudar a

mediar conflitos trabalhistas em todo o país. A sede está localizada

em Washington e entre seus funcionários incluem mediadores certificados.

Page 33: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

33

Moore (1998) aponta que as mediações não se restringem às questões

religiosas, trabalhistas ou comerciais. Podem tratar de questões ambientais,

culturais, étnicas, governamentais, familiares e também relacionadas à educação.

Ao abordar esta questão, é essencial entender que esse procedimento necessita da

interferência de uma terceira pessoa, imparcial, no processo de negociação.

O processo de mediação tem por objetivo dar luz às diferenças existentes

entre duas partes que não conseguem alcançar a solução por elas mesmas. Cabe

ao mediador ajudar as partes envolvidas a encontrarem, de comum acordo e

espontaneamente, uma resolução reciprocamente aceitável com o tema que está em

disputa. Este terceiro participante se envolve no processo e contribui para que a

mediação resulte em um diálogo ou negociação, levanta opções e pondera as

possibilidades para um acordo aceitável (CHRISPINO, 2007; MOORE, 1998)

Como resultado, muitas vezes há a possibilidade de indução a uma nova

ordem, impactando nas relações sociais, nas atitudes, responsabilidades ou rápida

resolução de problemas semelhantes (CHRISPINO, 2007).

Por tratar de questões específicas, a mediação pode ser paradoxal, já que, se

por um lado, existe a possibilidade de fortalecer relacionamentos de confiança e

respeito entre os envolvidos, por outro, pode terminar uma relação interpessoal a fim

de que se reduzam os impactos provenientes de custos e danos psicológicos. Nesse

caso, o papel do mediador é garantir que as partes mantenham uma comunicação

mínima necessária com objetivo de recuperar o desgaste do que Ortega e Del Rey

(2002) nomearam de vínculo. Isso se dá pela proteção de novas investidas sobre

este vínculo quase rompido pelas ações provocadas por comunicação e emoções.

Contudo, o processo de mediação pode proporcionar uma reorientação das

relações sociais, novas maneiras de colaboração, de confiança e de solidariedade,

formas mais maduras, espontâneas e livres de resolver as diferenças pessoais e

coletivas. Ela conduz a atitudes de tolerância, responsabilidade e iniciativa

individual, o que contribui para uma nova ordem social (MOORE, 1998).

Tal intervenção tem a finalidade de promover situações de conciliação de

interesses entre as partes envolvidas, por meio da cooperação e da comunicação,

ao contrário de algumas formas de resolução baseadas na punição (ALMEIDA,

2012).

Page 34: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

34

Moore (1988) apresenta a negociação como forma de mediação, uma vez que

ela é uma forma de resolução conjunta do problema ou do conflito. O mediador

amplifica a barganha, possibilita um novo formato para a geração de novas variáveis

que sejam mais eficazes para o entendimento entre os envolvidos. Assim, aplicando

a proposta do autor, um bom exemplo seria uma aula de Educação Física em que há

ensaios para apresentação na festa da escola. Há estudantes que não querem

participar e outros que até participam, porém insatisfeitos. Nesse contexto, o

professor pode negociar e decidir junto com eles, ouvir as partes, questionar, sugerir

e buscar acordos entre os envolvidos.

No processo conciliatório, os envolvidos colocam as questões em disputa com

o objetivo de desenvolver opções, considerar alternativas e chegar a um acordo que

seja aceitável entre as partes, todavia, nem sempre o encerramento ocorre com

sentimentos de paz e laços de afeto. Decerto que isso seria o desejável, porém,

caso culmine no acatamento do acordo e aceite da responsabilidade de cada parte

como forma da eliminação da situação que gerou a crise, com o menor impacto, seja

ele psicológico, social ou moral, já terá sido um desfecho satisfatório (CHRISPINO,

2007).

O aprendizado da exposição madura das ideias por meio da assertividade e

da comunicação eficaz; onde o currículo considera as oportunidades para

discutir soluções alternativas para os diversos exemplos de conflito no

campo das ideias, de ideologias, do poder, da posse, das diferenças de

toda ordem; onde as regras e aquilo que é exigido do aluno nunca estão no

campo do subjetivo ou do entendimento tácito: estão explícitos, falados e

discutidos. Em síntese, devemos ser explícitos naquilo que esperamos dos

estudantes e naquilo que nos propomos a fazer (CHRISPINO, 2007, p. 23).

No âmbito educacional, seja ele escolar ou universitário, a mediação se faz

presente em toda a comunidade, entendendo-se que este processo pode ocorrer

entre alunos, alunos e professores, entre os próprios professores, ou ainda entre o

corpo administrativo e docente (MOORE, 1998).

Neste caso, entendendo a escola como uma organização pública,

independentemente da rede de ensino a qual pertença, que, igualmente a qualquer

outra entidade, se submete a leis, a preceitos sociais na proteção dos direitos

estudantis, resta aos professores e à área administrativa gerir o processo de

Page 35: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

35

intervenção educacional, do qual este tipo de intermediação faz parte (ORTEGA;

DEL REY, 2002).

As organizações educacionais que reconhecem os conflitos como valorosos e

estabelecem a mediação como importante alternativa para se chegar a um

consenso, têm em seu DNA a abertura para o diálogo. O incentivo ao entendimento

das diferenças promove a maturidade na discussão, nas escolhas das possibilidades

que conduzam à solução de conflitos de qualquer natureza.

As escolas que optam por esta trilha e estabelecem o desejo de tranquilidade

no ambiente educacional têm de interceder em três momentos específicos, a saber:

“de equilíbrio, quando se previne a ruptura; de ruptura do equilíbrio; e de

restauração do equilíbrio. Estratégias e instrumentos apropriados a cada um

desses momentos devem ser utilizados”. (CECCON et al., 2009, p. 22).

O dia a dia de alunos na escola e suas relações interpessoais são

importantes para o seu crescimento e desenvolvimento, uma vez que são momentos

de troca de experiências e vivências fundamentais.

Ao observarmos as crianças na hora do lanche, na entrada e saída, nas aulas

de Educação Física, Artes, na sala de aula, entre outros locais, percebemos que é

comum acontecerem conflitos entre elas, por razões variadas. No mesmo compasso,

observa-se também que a resolução advém de diversas maneiras, que se

manifestam através do choro, chamando o professor, encarando o oponente, ou até

mesmo demostrando-se tristes e silenciosas.

Em diferentes países, dependendo do modelo escolar, são desenvolvidos

programas voltados para conciliação e inclusive participam diretamente na escola

pessoas com funções específicas, muitas vezes dirigidas à busca de estratégias de

formação e intervenção em relação aos conflitos, sendo algumas das experiências

mais alargadas e populares as de mediação escolar. Por exemplo, em Portugal, os

mediadores socioeducativos têm sido convidados a intervir principalmente nos

contextos escolares dos diferentes níveis de ensino, estendendo-se para a

Educação e Formação de adultos. O mediador tem um papel importante na

prevenção do insucesso e do abandono escolar, na reconciliação dos jovens e

adultos com a escola e no processo ensino-aprendizagem (SILVA, 2011).

Page 36: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

36

Desta forma, Ceccon et al.(2009) afirmam que dialogar é uma das formas de

transformar conflitos em aprendizagem e mudança e este processo de intervenção

da direção, docentes, funcionários, estudantes e suas famílias é fundamental, já que

aprendem a explorar e liberar o potencial criativo dos conflitos e a impedir que, uma

vez mal compreendidos e mal dirigidos, possam se apresentar sob a forma de

estagnação ou violência.

Simbolicamente, Vezzulla (2004) compara o trabalho do mediador ao de um

fruticultor que, para poder obter as melhores frutas, não se preocupa com elas, e

sim, com árvores e plantas que as produzem. Do mesmo modo, o mediador,

preocupa-se com os envolvidos e suas necessidades subjetivas e objetivas que, ao

serem atendidas, levam os próprios envolvidos a terem condições de produzir os

próprios acordos, a encontrarem as melhores alternativas que atendam às

necessidades demonstradas em seus conflitos e, assim, produzir seus frutos.

Deste modo, o processo de gestão de conflitos e a prevenção das

consequências advindas daqueles mal solucionados demandam um trabalho

conjunto no aprendizado e construção nos diálogos. É preciso estabelecer conexões

positivas na diversidade existente dentro da escola, seja entre estudantes,

professores, colaboradores e familiares, e/ou fora da escola nas divergências com o

poder público, universidades, entre outros (CECCON et al., 2009).

Em contrapartida, Estevão (2008) destaca que o conflito é necessário às

relações entre as pessoas, uma vez que as situações de conflito são vistas de forma

positiva e imprescindível para o desenvolvimento da comunidade escolar, porém

esse desenvolvimento está atrelado à maneira como os conflitos são encarados,

direcionados e resolvidos entre os envolvidos.

A tarefa do mediador é identificá-las a partir de um mapa do conflito que

detalhe suas causas e, a partir daí definir como lidar com eles.

Ao retratar os conflitos e suas causas, Moore (1998) apresenta um esquema

de intervenções sugeridas para cada tipo de situação, a saber:

Possíveis intervenções relacionadas aos Valores:

Evitar definir o problema em termos de valor;

Permitir que as partes concordem ou discordem;

Criar esferas de influência em que domina um conjunto de valores;

Buscar atingir um objetivo superior compartilhado por todas as partes.

Page 37: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

37

Possíveis intervenções no Relacionamento:

Controlar a expressão das emoções por meio de procedimentos, regras

básicas, encontros privados, etc;

Promover a expressão das emoções, legitimando os sentimentos e

promovendo um processamento deste;

Esclarecer as percepções e construir percepções positivas;

Melhorar a qualidade e a quantidade da comunicação;

Bloquear o comportamento negativo-repetitivo mudando a estrutura;

Estimular atitudes positivas de resolução de problemas.

Possíveis intervenções nos Dados:

Conseguir acordo sobre que dados são importantes;

Concordar sobre o processo para reunir dados;

Desenvolver critérios comuns para avaliar os dados;

Usar especialistas como terceira parte para conseguir uma opinião

externa ou romper impasses.

Possíveis intervenções nos Interesses:

Concentrar-se nos interesses e não nas opiniões;

Buscar critérios objetivos;

Desenvolver soluções integradoras que lidem com as necessidades de

todas as partes;

Buscar maneiras de expandir opções ou recursos;

Desenvolver intercâmbios para satisfazer os interesses de forças

diferentes.

Possíveis intervenções Estruturais:

Definir claramente e mudar os papéis;

Substituir padrões de comportamento destrutivos;

Realocar a posse ou o controle dos recursos;

Estabelecer um processo de tomada de decisão justo e mutuamente

aceitável;

Modificar o processo de barganha de uma negociação baseada nas

posições para um ajuste fundamentado no interesse;

Page 38: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

38

Mudar os meios de influência utilizados pelas partes (menos coerção,

mais persuasão);

Mudar o relacionamento físico e ambiental das partes (proximidade e

distância);

Modificar as pressões externas sobre as partes;

Mudar as pressões de tempo (mais ou menos tempo).

Administrar conflitos é, portanto, buscar chegar a um acordo final que seja

satisfatório para as partes envolvidas, em que os dois lados sejam ouvidos e

respeitados. Consiste na utilização das estratégias mais adequadas para se lidar

com a especificidade de cada situação (BERG, 2012).

A administração de situações conflituosas no ambiente escolar é facilitada

pela forma como ocorre a mediação que se dá por intermédio de uma proposta

integradora. Com isso, apesar da dificuldade de resolução de todos os casos ao

longo do ano, quando trabalhada efetivamente por toda a instituição, o principal

resultado é a prevenção e a consequente diminuição dos casos até então existentes

(ALMEIDA, 2012).

Os professores de Educação Física têm mais facilidade em tratar certos

assuntos, uma vez que os alunos gostam destas aulas, há um contexto específico

propiciado por esta disciplina que aflora sentimentos intensos e por vezes ambíguos

no aluno em relação a si próprio e em relação aos que o rodeiam. Em sua essência,

esta é provavelmente a melhor contribuição para a desejada formação integral do

aluno como futuro cidadão produtivo, bem-sucedido e feliz, numa sociedade

contemporânea, exigente e em constante transformação (MELIM; PEREIRA, 2015).

3.5 Formação de professores em relação a conflitos

Ao longo destes anos, como educadora, um ponto que sempre me chamou

atenção foi a formação de professores. Entendo que, tanto a formação inicial quanto

a formação continuada fazem parte da vida profissional e estes processos

influenciam o modo de lecionar de cada educador. A formação do professor deve ser

vista como um processo permanente, integrado ao seu dia-a-dia e de forma

consciente.

Page 39: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

39

É interessante ressaltar o ponto destacado por Nunes (2001) ao reforçar que

o professor se engaja em um processo de auto formação, a partir do momento que

confronta os saberes adquiridos nos estudos com a prática experimentada. Esta

construção de conhecimento ocorre pela observação e reflexão de sua própria

prática. Tal convergência, embasada na política de desenvolvimento pessoal e

profissional, tem se constituído em um novo modelo na formação docente.

A formação continuada do professor é uma escolha, cujo propósito reflete

diretamente em uma maior preparação. Ao assumir tal empreitada em sua vida, por

meio do conhecimento adquirido e autonomia no aprendizado, reconhece a

possibilidade de assumir um pensamento mais reflexivo e criativo sobre seu papel e

projetos em que está envolvido. Esta valorização da carreira concede-lhe um papel

importante como contribuinte educativo. A oportunidade de novas práticas,

experiências e inovações, associadas à ciência, podem surgir como novos e

potenciais modelos pedagógicos (NÓVOA, 1992).

Desta forma, Nóvoa (1992) aborda que não existe uma mudança dentro da

escola se não ocorrer a transformação do professor e vice versa. Sua intervenção,

bem articulada com a escola e projetos, além de conectada com todos os

envolvidos, são de grande importância. Nesse sentido, a formação deste profissional

é um dos pilares para a mudança. Porém, é preciso reconhecer que este processo

não se inicia antes e sim, durante e que se tornam práticas de formação focadas na

escola, em conjunto, no empenho de se buscarem novos caminhos.

A pesquisa realizada por Foster e colaboradores (2011) no sul do Brasil, com

cinco professores, teve como propósito discutir a percepção dos mesmos em relação

às ações realizadas na escola e qual era o impacto na formação continuada. Em

discussão conjunta, os envolvidos na pesquisa reconheceram que a formação

continuada e a vivência de cada um foram facilitadoras em trabalhos coletivos, na

troca de experiência, suporte nas dificuldades e na inovação de projetos

integradores. Afirmaram ainda que os conhecimentos adquiridos, associados aos

interesses dos estudantes, deram maior dinâmica a todo processo, gerando maior

sensação de pertencimento o que, por sua vez, atribuiu valorização à formação

continuada.

Page 40: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

40

Nota-se que este é um indicador de mudança nas práticas educativas da

escola e que precisam ser refletidas a partir de duas perspectivas enfatiza (NÓVOA,

1992):

As escolas não podem mudar sem o empenhamento dos professores e

estes não podem mudar sem uma transformação das instituições em que

trabalham. O desenvolvimento profissional dos professores tem que estar

articulado com as escolas e os seus projetos. (NÓVOA, 1992, p. 17).

A formação não se faz antes da mudança, faz-se durante, produz-se nesse

esforço de inovação e de procura dos melhores percursos para a

transformação da escola. É esta perspectiva ecológica de mudança

interativa dos profissionais e dos contextos que dá um novo sentido às

práticas de formação de professores centradas nas escolas. (NÓVOA, 1992,

p. 17).

Ainda que a inovação não esteja somente nas mãos dos professores, sem

mudar o contexto em que eles atuam não haverá esforço que sustente tentativas de

inovação (NÓVOA, 1992).

Por outro lado, Silva (2009) faz uma abordagem interessante, quando relata

que, no processo de formação inicial, são raros os cursos que oferecem disciplinas

que tratem da formação do ser humano especificamente em suas relações com

valores, como o desenvolvimento da solidariedade, regras morais e éticas. E que,

formandos, em sua maioria, mostram-se despreparados, desprovidos de leitura e

teoria que possam construir um alicerce relacionado à atuação profissional, usando

como referência o bom senso para agir em determinadas circunstâncias, não

apresentando conhecimento de qual atitude tomar e, com isso, repetem práticas sem

reflexão sobre as mesmas.

Os estudos de Vinha e Tognetta (2009) abordam que, ao se depararem com

momentos frequentes de indisciplina, conflitos, violência, os educadores afirmaram

que se sentiam impotentes e inseguros e admitiam não conhecerem outras formas

de intervenção que não fossem as de reprimir, punir, censurar, ameaçar, excluir ou

mesmo ignorar. Os mesmos relataram que muitas brigas eram resolvidas de forma

cada vez mais violenta pelos alunos, e evidenciando angústia, diziam-se

despreparados para realizar intervenções construtivas. Desta forma, agiam de

maneira intuitiva e improvisada, baseando suas intervenções no senso comum.

Ainda que momentânea a intervenção, não há garantia de total resolução, uma vez

Page 41: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

41

que os alunos, ao não brigarem dentro da escola, muitas vezes resolvem seus

conflitos fora dela; ou, ainda, utilizam os meios de comunicação eletrônica para

ofender, vingar-se ou intimidar os colegas.

Na escola, especialmente nas aulas de Educação Física, observam-se

aspectos em que a concretização das relações conflitantes acontece com mais

facilidade, uma vez que há o espaço físico em que os alunos se sentem mais livres e

há maior deslocamento de todos. Muitas vezes, os alunos entram em desacordo por

questões relacionadas às regras do jogo, à exposição do corpo e das habilidades

motoras perante a sala, atividades em grupo que dependem dos colegas para atingir

tal objetivo, jogos que favorecem a competição, alunos que não entendem os limites

do outro, há conflitos verbais, de aceitação, de possuir ou não algum material. Essas

ações acaba gerando atritos verbais, corporais, ameaças, rejeição e distanciamento

(SILVA, 2009).

Silva (2009) ressalta que a Educação Física, por suas características

específicas e pelos conteúdos que veicula, possui um elemento socializador muito

forte entre os jovens, assumindo assim um papel fundamental no combate aos

problemas relacionados à violência, indisciplina que tanto preocupam as escolas

atualmente.

Nesse sentido, Berg (2012) afirma que dificilmente alguém será bem-sucedido

em uma organização se não souber lidar com conflitos, concluindo que, ou

administramos os conflitos, ou os conflitos nos administram.

Desta forma, ao olhar para a formação docente observa-se que esta é

contínua e que, enquanto o professor estiver exercendo sua profissão, novos

conhecimentos a todo o momento vão se construindo, se renovando e se

transformando, mediante práticas sociais. O docente se apropria de saberes e

culturas e os transmite e/ou os produz junto aos alunos, professores, direção da

escola (RAMOS, 2010).

Page 42: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

42

3.6 Competência

O dicionário Aurélio, de Língua Portuguesa (p. 541, 2010) em sua definição

de competência destaca que é a qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver

certo assunto, fazer determinada coisa, capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade.

Le Boterf (2003) retrata que competência é uma disposição para agir de modo

pertinente em relação a uma situação específica. Para haver competência, é preciso

que esteja em jogo um repertório de recursos.

A competência profissional não reside nos recursos (conhecimentos,

capacidades, etc.) a mobilizar, mas na própria mobilização desses recursos.

Ela é da ordem do "saber mobilizar". Para que haja competência, é preciso

que haja colocação em jogo de um repertório de recursos (conhecimentos,

capacidades cognitivas, capacidades relacionais, etc.) (LE BOTERF, 2003,

p. 50).

Nesse sentido, Perrenoud (2001) aponta competência como o conjunto dos

recursos que mobilizamos para agir diante de situações que vem acompanhada de

uma série de outros fatores (opiniões, crenças, hábitos, aptidões, saberes,

sentimentos, atitudes). Nesse contexto, é fundamental saber administrar recursos

cognitivos e afetivos das mais variadas maneiras.

Em seus estudos Perrenoud e Thurler (2009) compreendem competência:

Aptidão para enfrentar uma família de situações análogas, mobilizando de

uma forma correta, rápida, pertinente e criativa, múltiplos recursos

cognitivos: saberes, capacidades, micro competências, informações valores,

atitudes, esquema de percepção, de avaliação e de raciocínio

(PERRENOUD; THURLER, 2009, p. 19).

Perrenoud (2001) denomina competência como a capacidade do indivíduo de

mobilizar o todo ou parte de seus recursos cognitivos e afetivos para enfrentar uma

família de situações complexas.

Neste raciocínio, os autores reconhecem que situações conflituosas, exigem

competência, que por sua vez, se mostram muito mais complexas do que são.

Envolvem igualmente recursos já mencionados, mas destacam que os mesmos são

construídos ao longo da prática docente.

Fleury e Fleury (2001) apontam semelhança nesse sentido quando afirmam

que competência é um conceito utilizado para designar uma pessoa qualificada para

realizar alguma coisa.

Page 43: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

43

Nos últimos anos, o tema competência vem sendo discutido nos âmbitos

empresariais e acadêmicos, associado a diferentes instâncias de compreensão. Em

uma organização ou empresa, uma pessoa que tenha qualificação para fazer algo é

caracterizada como competente, porém, com maior aprofundamento. Este termo é

remetido a uma conduta de alguém que sabe o que faz e se reconhece e/ou é

reconhecida por isso. Como consequência, movimenta, integra e repassa

“conhecimentos, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à

organização e valor social ao indivíduo” (FLEURY; FLEURY, 2001).

Para os autores, ao abordar aspectos relevantes e de magnitude, o indivíduo

acumula para si o valor social e à organização agrega o econômico. Há o claro

entendimento de que quando há o desenvolvimento de competências para a

empresa, concomitantemente, há o crescimento pessoal.

Assim, a soma de conhecimentos, habilidades e atitudes caracterizam-se

como competência. Ela está fortemente vinculada à performance, acreditando-se

que o melhor resultado emana, acima de tudo, da personalidade e da inteligência da

pessoa. Apesar de seu desenvolvimento estar ligado ao indivíduo, sua importância

muito se situa nas organizações (FLEURY; FLEURY, 2001):

“O trabalho não é mais o conjunto de tarefas associadas descritivamente ao

cargo, mas se torna o prolongamento direto da competência que o indivíduo

mobiliza em face de uma situação profissional cada vez mais mutável e

complexa. Esta complexidade de situações torna o imprevisto cada vez

mais cotidiano e rotineiro”. (p. 186).

Depresbiteris (2016) aponta que no domínio educacional, a competência

implica na mobilização de um conjunto de recursos cognitivos, afetivos e

psicomotores que a constituem. A autora contextualiza essa passagem

exemplificando uma situação docente indagando se um docente que seja profundo

conhecedor de sua área, mas que não mobiliza esse saber para estimular a

aprendizagem e a autonomia dos educandos, poderá ser considerado como

competente.

Ao falar de competência profissional deve-se ter duplo olhar para o cargo a

ser exercido e para a pessoa que vai exercê-lo. No caso da profissão, há uma

definição dos requisitos minimamente necessários para que, de forma responsável,

execute as tarefas que lhe são exigidas no referido cargo. No que tange ao

Page 44: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

44

indivíduo, diz respeito à condição mínima necessária para assumir compromissos e

realizá-los corretamente a fim de se chegar a um objetivo pretendido. Fato é que ter

competência requer conhecimento e habilidades sobre uma questão específica e,

sem elas, haverá maior dificuldade ou tempo para a consecução. A definição de

competência auxilia também no processo avaliativo da realização da tarefa que, com

os resultados positivos, promove tanto os resultados da empresa como da própria

pessoa (LÜCK, 2009).

Desta forma, desenvolver a competência profissional é de suma importância

para profissionais que atuam em educação, como condição de aprimoramento de

sua identidade profissional baseada em promoção de resultados cada vez mais

eficazes e a capacidade de responder efetivamente aos novos desafios

educacionais (LÜCK, 2009).

Page 45: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

45

4. MÉTODO DA PESQUISA

4.1 Caracterização da pesquisa

Do ponto de vista metodológico, este estudo se caracteriza como uma

pesquisa, qualitativa de caráter descritivo, do tipo participante com proposta de

intervenção.

Para Lüdke e André (1986), na pesquisa qualitativa o pesquisador tem

contato direto com o propósito de seu estudo, descrevendo dados de forma

descritiva. O tratamento a este tipo de investigação concede mais foco ao processo,

do que ao produto. É escopo do pesquisador, atribuir maior verossimilhança ao

ponto de vista dos participantes.

Turato (2005) afirma que o pesquisador tem interesse na investigação do

sentido, na essência das coisas. Tal tipo de pesquisa propicia aumento da

percepção em compreender o significado das situações vivenciadas. Como

consequência, possibilita obter maior detalhamento de dados com interpretações de

resultados expressivos. São pesquisas realizadas no ambiente dos pesquisados,

facilitando a compreensão de fenômenos e significados que as pessoas apresentam.

O alvo dos pesquisadores é o valor significativo que tal fenômeno traz para os que

vivenciam.

No processo de pesquisa é importante considerar que procurou-se relatar as

informações coletadas com riqueza de detalhamento de situações, acontecimentos,

transcrições. O pesquisador deve atentar para que os fatos sejam investigados de

maneira estruturada, já que um fato simples pode ser essencial para a melhor

compreensão do problema que está sendo estudado (LUDKE; ANDRÉ, 1986).

Esta pesquisa foi realizada em três etapas sugeridas por Jaramillo Echeverri

(2005): Pré-configuração, Configuração e Reconfiguração da realidade.

4.1.1 Pré Configuração da realidade

Este é o momento em que ocorre uma aproximação com a realidade a ser

pesquisada, a fim de esclarecer uma pergunta ou questão de pesquisa sobre o que

pretende compreender.

Page 46: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

46

Passamos, agora, a descrever os procedimentos adotados durante a primeira

etapa da pesquisa que compreendeu o estudo piloto realizado em uma escola e a

pesquisa que subsidia essa dissertação, realizado em outra escola.

Esta pesquisa foi precedida por um estudo piloto com a finalidade de

aprimorar as habilidades de pesquisa da pesquisadora e para que houvesse sua

familiarização com a temática da pesquisa em contexto real de ensino.

O estudo piloto foi realizado na cidade de São Paulo, local diferente da escola

relatada na pesquisa. Foi aplicada uma entrevista semiestruturada aos professores

que ministravam aulas de Educação Física para alunos do Ensino Fundamental II e

Ensino Médio. Os resultados da entrevista foram importantes, pois proporcionaram a

oportunidade de ouvir um pouco sobre o que os professores encontram de conflitos

em suas aulas e de que forma enfrentam essas situações com seus alunos.

Ao concluir o estudo piloto, foi possível perceber a importância deste

processo como pesquisadora. Houve maior aproximação com os professores e com

o tema pesquisado de forma mais segura, compreendendo um pouco mais a

respeito do cenário de conflito em aulas de Educação Física e como os professores

estão enfrentando essas situações nas escolas com seus alunos. As respostas

obtidas no estudo piloto contribuíram para ampliar a busca na literatura com temas

relacionados aos conflitos, e compreender como o professor pensa e o que ele sabe

sobre conflitos e a partir dos resultados deste estudo, foi elaborado uma etapa mais

estruturada daquilo que se pretendia pesquisar.

Para que não se quebre a fluência de leitura deste relatório final de pesquisa,

o detalhamento do estudo piloto consta no Apêndice 6.

Após concluir a fase do estudo piloto, iniciou-se a pesquisa de campo com os

três professores e a pesquisa que subsidia essa dissertação foi desenvolvida em um

colégio da rede particular, localizado na cidade de São Bernardo do Campo.

No primeiro encontro com os participantes envolvidos no estudo, foi

apresentado o projeto, esclarecidos os objetivos, os benefícios da participação dos

docentes no processo de formação continuada e a contribuição de todos para a área

de Educação Física e para a sociedade. O procedimento para a coleta de dados no

Colégio foi caracterizado pelos primeiros contatos com a direção, seguido da

caracterização da escola e dos professores.

Page 47: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

47

O responsável pela direção do Colégio onde foi realizada a pesquisa assinou

o Termo de Autorização da Escola (Apêndice 1), em que foram detalhadas todas as

informações pertinentes à pesquisa envolvendo a instituição de ensino.

Para a viabilização da pesquisa com seres humanos é necessário atender às

exigências éticas e científicas fundamentais. Para isso, os participantes assinaram o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que se encontra em anexo.

(Apêndice 2).

4.1.2 Configuração da realidade

A partir da ideia concebida, houve a necessidade de se elaborar uma etapa

mais estruturada daquilo que se pretendia pesquisar, na qual o pesquisador realiza a

coleta de dados, a intervenção proposta e a análise das informações coletadas.

As informações foram coletadas por meio da realização de duas entrevistas

semiestruturadas com cada professor envolvido no projeto e de vários encontros de

discussão individualizados, da observação de aulas para compreender o contexto

pesquisado e as falas do professor. Nessa etapa também foi utilizado o diário

reflexivo como instrumento para estimular o diálogo entre pesquisador e pesquisado.

No estudo de campo na escola pesquisada foram aplicadas duas entrevistas

com cada professor. A primeira entrevista teve como propósito diagnosticar o

conhecimento teórico dos professores sobre situações de conflito em aulas de

Educação Física, identificar situações que ocasionam conflitos entre os alunos, bem

como as ações de enfrentamento realizadas por eles.

4.1.3 Local e amostra da pesquisa

Este estudo foi desenvolvido em um colégio da rede particular, localizado na

cidade de São Bernardo do Campo. O Colégio foi fundado por uma família, na

década de 60, inicialmente com turmas do Ensino Fundamental I e cursos técnicos.

Em 2011 o colégio passou a ser administrado por investidores da Educação que até

hoje o mantém.

Atualmente, o colégio tem 1.324 alunos, do Ensino Fundamental I, II e Ensino

Médio/Técnico e 153 funcionários e professores. O Sistema de ensino adotado

oferece como ferramenta uma plataforma pedagógica com objetivo de incentivar o

aluno a ser mais em todos os sentidos.

Page 48: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

48

O Colégio tem tradição em cursos profissionalizantes em que os alunos do

Ensino Médio optam pelo ensino regular ou técnico. Neste momento, há oferta de

cursos de Informática, Administração e Eletrônica. Os cursos profissionalizantes no

formato oferecido permitem ao estudante ter uma carga horária acadêmica e de

disciplinas técnicas, propiciando a eles o ingresso nas Universidades e, ao mesmo

tempo, no mercado de trabalho com uma formação técnica como diferencial.

O Colégio possui duas unidades. Na unidade I, estão alocadas as turmas do

Ensino Fundamental II e Ensino Médio e na unidade II, denominada ABC,

encontram-se as turmas de Ensino Fundamental I.

Com relação à inclusão, o Colégio recebe alunos portadores de necessidades

especiais. Em particular para alunos surdos, há o acompanhamento individual de um

intérprete de maneira que nenhum conteúdo deixe de ser retratado aos alunos.

O Colégio baseia-se em uma concepção sócio interacionista, que concebe a

aprendizagem como fenômeno que se realiza na interação com o outro. O processo

de desenvolvimento cognitivo está centrado na possibilidade de o sujeito ser,

constantemente, colocado em situações-problema que provocam a construção do

conhecimento, a partir de seus conhecimentos prévios, já consolidados.

Na região do ABC, o Colégio é visto pela comunidade de duas formas, a

primeira é de que oferece um bom ensino em um valor acessível aos pais e a

segunda por ter curso técnico que prepara os jovens para o mercado de trabalho.

Participaram desta pesquisa todos os professores de Educação Física do

Colégio, sendo um do sexo masculino e dois do sexo feminino, com idades entre 39

anos, 41 anos e 53 anos. Os três professores possuem vínculo empregatício com a

escola e ministram aulas de Educação Física para alunos do Ensino Fundamental I,

II e Ensino Médio.

Todos manifestaram sua permissão, assinando o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice 2).

Em relação à formação inicial dos participantes, os três professores possuem

licenciatura plena em Educação Física, sendo dois deles graduados na mesma

faculdade privada na década de 80 e 90, e um deles em outra faculdade privada, em

2005. Os professores serão identificados como P1, P2 e P3, desta forma protegendo

suas identidades e respeitando a ética na pesquisa.

Page 49: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

49

P1: 41 anos de idade, título de Licenciatura Plena em Educação Física desde

1996, 11 anos de experiência profissional em colégio particular, ministrou aulas em

academias e escolas públicas. Na formação continuada tem especialização em

psicopedagogia.

P2: 53 anos de idade, título de Licenciatura Plena em Educação Física desde

1986, 28 anos de experiência profissional em diferentes escolas, sendo particular e

prefeitura, atuou na coordenação na área de Educação Física e Esportes em clube e

Colégio. Na formação continuada é especialista em Didática do Ensino Superior.

P3: 39 anos de idade, título de Licenciatura Plena em Educação Física desde

2005, 13 anos de experiência profissional em escola particular, com alunos do

Ensino Fundamental II e Ensino Médio, ministra aulas em academia e também é

personal trainner. Na formação continuada participou de grupos de estudos em

Educação Física e atualmente é Presidente de uma associação esportiva.

No processo de pesquisa é importante considerar que buscou-se relatar as

informações coletadas com riqueza de detalhamento das transcrições, situações e

acontecimentos.

A primeira entrevista semiestruturada foi composta por quatro questões

abertas, as mesmas utilizadas no estudo piloto. As questões norteadoras da análise

foram relacionadas à percepção do professor sobre conflitos e sua maneira de lidar

com os mesmos.

No processo de coleta de dados foram realizados:

Estudo piloto – com objetivo de aproximação com o tema

Entrevistas semiestruturadas

Encontros individuais para discussão

Diário de aula

A entrevista aplicada aos participantes foi composta por quatro questões

abertas, as mesmas utilizadas no estudo piloto.

Roteiro das entrevistas:

1) Cite as séries em que você encontra situações de conflito nas aulas de

Educação Física.

2) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula de Educação Física

como professor(a) na escola.

Page 50: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

50

3) Quando acontece algum tipo de conflito, o que fez na ocasião?

4) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas seguintes ou na

turma?

A questão 1 teve como objetivo saber qual a idade mais frequente em que

aparecem os conflitos, somente a título de informação.

As questões 2, 3 e 4 tiveram como objetivo identificar situações que

ocasionam conflitos entre os alunos, bem como as ações de enfrentamento

realizadas pelos docentes em aulas de Educação Física.

As respostas obtidas nas entrevistas foram gravadas em áudio, transcritas,

lidas e seu conteúdo foi analisado e codificado segundo Saldaña (2011). O autor

afirma que codificar é organizar os elementos de uma maneira sistemática, para que

algo se torne parte de um sistema ou classificação, é um método que permite

organizar informações agrupando certos itens que possuem algo em comum em

categorias ou “famílias”. Após essa etapa, foram grifadas as expressões

evidenciadas pelos professores e analisadas segundo Moore (1998).

Posteriormente, foi entregue a cada docente um diário para registrarem

semanalmente acontecimentos relacionados aos conflitos em suas aulas, que teve

como objetivo levantar informações sobre o tema e provocar a reflexão dos

professores.

Os diários de aula, assim denominados por Zabalza (2004) são documentos

com riqueza de informação, em que os professores relatam suas impressões sobre

as aulas com narrativas dos acontecimentos. Esse processo é fundamental para

promover o exercício da reflexão sobre a própria prática e as circunstâncias em que

ocorrem. É um instrumento que contribui para o desenvolvimento pessoal e

profissional, sendo um excelente recurso para a formação continuada dos

profissionais da educação.

O diário de aula foi proposto e muito bem aceito pelos professores

participantes da pesquisa, de maneira que ao escrever, o professor exercita sua

reflexão e apropriação dos seus documentos. Os docentes foram orientados a

relatar situações de conflitos encontradas em suas aulas de Educação Física e

ações de enfrentamento realizadas, possibilitando um processo de reflexão.

Page 51: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

51

As perguntas que nortearam os diários foram baseadas na percepção dos

professores sobre situações de conflitos em suas aulas e medidas de resolução dos

mesmos, o que gerou temas norteadores de alguns encontros, assim, trazendo mais

elementos para as discussões.

Foram realizadas 11 reuniões individuais com os professores para discussões

dos temas da pesquisa, dos resultados das entrevistas e dos diários. Ao final do 4º

encontro, foram enviados por e-mail dois textos envolvendo temas como violência,

agressividade, disciplina no contexto da Educação Física.

O 11º encontro ocorreu com objetivo de discutir os resultados com os

professores e avaliação do que a pesquisa produziu para eles, para os alunos e para

a escola. Há relatos de professores que após os encontros e discussões sobre

conflitos passaram a olhar e a refletir sobre as desavenças encontradas em suas

aulas de maneira mais reflexiva.

As perguntas feitas aos professores que nortearam os relatos no diário de

aula foram as seguintes:

Roteiro dos diários de aula:

1. Como foram as situações que enfrentei na semana passada, relacionadas a

conflitos nas aulas de Educação Física?

2. Como lidei com tais situações? (descrever o que fez na ocasião).

3. Como me saí lidando com tais situações (auto-avaliação e percepção de

competência).

Foi elaborado, juntamente com os professores, um cronograma de encontros,

individualizados, com duração de cerca de 30 a 40 minutos cada sessão, durante 6

meses, dentro da própria escola. A proposta desses encontros foi baseada em

relatos dos professores sobre conflitos em suas aulas e a forma como conduziram o

acontecido.

Page 52: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

52

Quadro 2 – Cronograma das reuniões

Reunião 1 - Apresentação do projeto, coleta dos termos de autorização e TCLE.

Reunião 2 – Caracterização da escola e dos professores

Reunião 3 – Aplicação das entrevistas com os professores

Reunião 4 – Explicação do uso do diário de aula para relatar as situações de conflitos enfrentadas

nas aulas de Educação Física

Reunião 5 – Discussões sobre os relatos de conflitos nos diários e envio de artigos para leitura

Reunião 6 – Selecionar junto com os professores os relatos de conflitos nos diários de aula.

Reunião 7 – Propostas de estratégias de mediação que auxiliem os professores de acordo com

relatos de conflitos nos diários

Reunião 8 - Entrevista com os professores sobre questões relacionadas às competências

Reunião 9 – Discussões sobre os relatos de conflitos nos diários de bordo e situações enfrentadas

em aulas

Reunião 10 – Apresentar sugestões aos professores sobre estratégias para mediação de conflitos em

suas aulas

Reunião 11 – Discussão dos resultados com os professores e avaliação do que a pesquisa produziu

para eles, para os alunos.

4.1.4 Relatos dos encontros

1ª encontro – Nesse dia foi apresentado o projeto para a Diretora da escola,

bem como para os professores e foi entregue o Termo de autorização da escola e o

Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).

2ª encontro – Nesta reunião ocorreu a caracterização da escola e dos

professores. No caso da escola as perguntas foram feitas diretamente para a

Diretora e sobre a caracterização dos professores, os mesmos responderam

questões para identificação em relação à sua formação acadêmica.

3ª encontro – Nesse dia foi aplicada a primeira entrevista individualmente,

com duração de 30 minutos. Os professores foram estimulados a responder

questões sobre situações de conflitos em suas aulas e como enfrentaram as

mesmas.

4ª encontro – Neste encontro foi entregue a cada docente um diário para

registrarem semanalmente acontecimentos relacionados aos conflitos em suas

Page 53: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

53

aulas. Os docentes foram orientados a relatar situações de conflitos encontradas em

suas aulas de Educação Física e ações de enfrentamento realizadas, possibilitando

o início de um processo de reflexão por parte dos professores que foi estimulado

durante os encontros.

5º encontro – O encontro deste dia possibilitou a discussão sobre os relatos

feitos nos diários. Os professores sentiram necessidade de leitura e foi enviado por

e-mail a cada um deles um artigo relacionado ao tema. Os artigos enviados aos

professores foram: Disciplina em aulas de Educação Física (Silva, 2000) e Conflitos

na escola: modos de transformar (Ceccon, et al, 2009).

6º encontro – Nesse dia, cada professor selecionou os relatos feitos nos seus

diários de aula e foram discutidas as ações de enfrentamento realizadas pelos

mesmos.

7º encontro – Foram propostas a cada professor algumas estratégias para

auxiliá-los de acordo com os relados abordados nos diários. Foram propostas

estratégias de mediação de conflito como o diálogo, a escuta ativa, negociação e por

parte dos professores o exercício da reflexão diante de situações adversas.

8º encontro – Nessa etapa foi realizada a segunda entrevista com cada

professor sobre questões relacionadas à competência.

9º encontro – Nesse encontro foram retomados os outros relatos descritos no

diário de aula e foram discutidas as situações de conflitos enfrentadas e as ações

que cada professor teve no momento.

10º encontro – Nesse dia foram propostas novas estratégias para mediação

de conflitos nas aulas. Cada professor relatou o que fez como forma de lidar com os

conflitos em suas aulas.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da

Universidade São Judas Tadeu (USJT), protocolo CAAE 58359916.5.0000.0089.

4.1.5 Reconfiguração da realidade

Na etapa da Reconfiguração da realidade, os dados da pesquisa foram

validados com os participantes e os mesmos avaliaram quais mudanças ocorreram

em consequência da pesquisa. Esse momento permitiu que os docentes realizassem

Page 54: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

54

alterações e/ou complementassem os resultados e análises feitas, material cuja

discussão pode contribuir para uma ampliação do entendimento dos educadores

sobre mudanças em suas percepções de competência para lidar com situações de

conflito em aulas de Educação Física.

No 8º encontro, foi aplicada a segunda entrevista, objetivando reforçar a

percepção inicial dos professores sobre conflitos. Foi perguntado aos professores se

ao longo desse processo de discussão e reflexão, eles perceberam alguma

mudança na sua competência para lidar com situações de conflitos.

No 11º encontro foram realizadas discussão dos resultados com os

professores e avaliação do que a pesquisa produziu para eles e para os alunos. Os

relatos de cada professor foi muito importante para o processo da pesquisa.

As respostas obtidas nas entrevistas foram gravadas em áudio, transcritas,

lidas e seu conteúdo foi analisado e codificado segundo Saldaña (2011). O autor

afirma que codificar é organizar os elementos de uma maneira sistemática, para que

algo se torne parte de um sistema ou classificação, é um método que permite

organizar informações agrupando certos itens que possuem algo em comum em

categorias ou “famílias”. Após essa etapa, foram grifadas as expressões

evidenciadas pelos professores e analisadas segundo Moore (1998).

O processo analítico aplicado na pesquisa seguiu os seguintes passos:

1º) Coleta de dados – momento em que se obtém informações a respeito de

um determinado tema. A coleta de dados iniciou com a aplicação de entrevista

semiestruturada aos participantes. O processo ocorreu com os três professores e a

entrevista foi gravada em áudio.

2º) Transcrição – após a etapa de gravação em áudio, as entrevistas foram

reproduzidas e transcritas. Utilizou-se codificação in vivo, que é um indicador

baseado na linguagem real utilizada pelo participante, ou seja, são relatos extraídos

diretamente dos registros dos dados.

3º) Identificação de unidades de significado – nessa etapa Saldaña (2011)

propõe uma etapa de pré- codificação, na qual o pesquisador faz uma leitura inicial

dos dados e elabora reflexões iniciais sobre o material coletado, denominadas

memos ou memórias. Nessa fase, as informações relevantes foram sublinhadas e

assinaladas palavras e/ou frases mais evidenciadas pelos entrevistados. Portanto, a

Page 55: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

55

elaboração de memórias (memos) analíticas contribui para a elaboração de

questionamentos e o levantamento de causas e efeitos, análises pessoais e teóricas

acerca do que foi destacado durante a leitura inicial. Os memorandos são

oportunidades para refletir e escrever sobre o fenômeno.

4º) Codificação das unidades de significado - a codificação é um método de

descoberta dos significados dos dados. Estes códigos funcionam como uma forma

de padronização, classificação e, posteriormente, reorganização de cada dado de

forma a propiciar uma análise mais aprofundada. Diferentes tipos de códigos existem

para diferentes tipos de gêneros e abordagens.

5º) Elaboração de categorias de análise - Foram construídas categorias para

agrupar pontos semelhantes nos relatos. O autor estabelece diversas possibilidades

para interpretação e, neste estudo, foi utilizada a codificação descritiva de maneira

manual.

Para tanto, foram definidas, previamente, duas categorias de análise, sendo

denominadas categoria 1, que está relacionada à identificação de situações de

conflitos, e categoria 2, relacionada à intervenção do professor realizada nas

situações identificadas:

Categoria 1 - Identificação de situações de conflito.

Categoria 2 – Intervenções realizadas nas situações identificadas.

6º) Análise nomotética - a etapa final resulta, assim, da organização que o

autor propõe e que permite organizar e apresentar as matrizes nomotéticas com os

temas decorrentes das análises. Com base nas respostas obtidas, foi elaborada uma

matriz nomotética que sintetizou as respostas analisadas individualmente e

apontaram os tópicos mais citados pelos professores. Os resultados foram gerados

a partir das análises das respostas obtidas nas entrevistas e nortearam o diálogo

com demais estudos voltados para o tema.

Consideramos que a discussão deste material pode contribuir para uma

ampliação do entendimento dos educadores sobre mudanças em suas percepções

de competência para lidar com situações de conflito em aulas de Educação Física.

Page 56: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

56

5. RESULTADOS

Habituar-se no mundo social é experimentar e refletir sobre ele,

constantemente. Entretanto, para compreendê-lo profundamente sob a perspectiva

de um pesquisador, há a necessidade de um processo de coleta de provas

suficientes para documentar os padrões, categorias e significados que os seres

humanos atribuem a determinados contextos (SALDAÑA, 2011).

A primeira entrevista semiestruturada foi composta por quatro questões

abertas, as mesmas utilizadas no estudo piloto. As questões norteadoras da análise

foram relacionadas à percepção do professor sobre conflitos e sua maneira de lidar

com os mesmos

5.1 Transcrição das entrevistas a respeito dos efeitos da pesquisa sobre a

percepção docente sobre a maneira como lidar com conflitos

5.1.1 Transcrição da Entrevista com o Professor 1

Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de

conflito nas aulas de Ed. Física.

Professor 1: Depende, assim, tem ano que tem conflito em determinada série

e em outros anos, outras. O ano passado mesmo, a gente tinha bastante conflito

com o sexto ano, entendeu? Que hoje é o sétimo. É então isso muda de ano para

ano. Tem ano que foi a oitava série que tinha muito conflito. Então, acho que

depende da turminha.

Conflitos mais encontrados são no Fundamental II, no Médio já não encontra

assim tanto conflito porque parece que estão mais enturmados, já tem os grupinhos

deles, então, estão divididos em grupos e aí eles não se misturam com os outros

grupos e então acabam não tendo tanto conflito assim. Cada um fica na sua,

entendeu? Cada um fica dentro do seu grupo. Eu não vejo assim muito conflito. Em

um ou outro é claro. Fulano não gosta de ciclano. Sabe aquilo que faz parte de todo

grupo não só na escola. No grupo de trabalho, qualquer lugar que você esteja e às

vezes acaba rolando essas não afinidades, mas eu vejo mais assim tipo no sexto,

sétimo, oitavo, que acaba tendo mais conflito, em minha opinião.

Page 57: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

57

Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula

de Educação Física como professor na escola.

Professor 1: Eu já tive situação assim de aluno que do sexto ano e tal e que

não conseguia se relacionar com outro1, outros colegas tal e ai tinha, além de ter

esse problema de relacionamento1, não se relaciona, não aceitava ser questionado1.

Assim se ele recebesse um não ou alguma coisa assim, ficava extremamente

agressivo1. E aí a gente depois a gente foi estudando o caso dele e foi vendo que

vinha da própria família, entendeu? Essa agressividade. E aí chegou a uma situação

em que eu tive de intervir que ele estava querendo brigar com outros colegas e aí

ele não aceitou a minha posição2 e aí foi até... 6o ano... Um garotinho pequeninho

querendo me enfrentar, entendeu. E aí foi uma situação assim meio difícil porque

você tem que, você vê que a criança ela está totalmente descontrolada1 e aí você vê

que não pode inflamar mais aquilo, porque dependendo da forma que você fala ela

entende com mais agressão ainda. Eu não sei como dentro de casa é lidado isso.

De repente o pai e a mãe são agressivos com ele, e tal e aí acaba se manifestando

na escola. E aí se você age do mesmo jeito que o pai e a mãe, a criança acaba

ficando mais descontrolada ainda, entendeu? 2 Então eu senti que na hora que eu

intervi, porque lá, porque ele estava querendo brigar, ele estava querendo sair na

pancada com o outro aluno, aí ele pegou e virou o cotovelo1, eu tive que dar uma

amenizada, porque ele estava querendo até enfrentar mesmo, entendeu. E aí assim,

a gente tem que saber identificar cada um e aí com isso você saber lidar com esse

tipo de criança. Por isso que você nunca fala alto, entendeu? Então, acho que

assim, para você conseguir controlar alguém que é agressivo não adianta você ser

agressivo também. Você tem que tentar acalmar a pessoa ali, primeiro falando com

um tom mais baixo, mais calmo, para tentar fazer com que essa criança se acalme2,

entendeu? Mas ao mesmo tempo você tem que ser firme, porque se ela não sentir

que você não está sendo firme.

Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz

ou já fez na ocasião?

Professor 1: Ai o que acontece? Aí depois que essa criança. Esse é um dos

casos que eu me lembro... aí eu aproveitei uma outra oportunidade em que ele já

tinha se acalmado e aí eu tentei falar com ele, não como professor entendeu, como

um amigo entendeu? De igual para igual. E aí eu coloquei a situação que aqui

Page 58: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

58

dentro sabe a gente tem normas, têm regras, eu tenho que respeitar, ele tem que

respeitar e assim que a gente consegue conviver com as pessoas. E aí eu perguntei

para ele se ele viu que ele realmente tinha errado. Ele admitiu e aí a conversa assim

fluiu de um jeito que ele acabou até pedindo desculpas2. E hoje, hoje ele está

grande, adolescente... Encontro com ele por aí, tal, dá um abraço e tal e eu consegui

reverter aquela situação pela própria postura que eu acho que eu tive naquele

momento que ele me viu como, aliás muitas vezes eles olham o professor como se

fosse o inimigo, não aquele que quer ajudar entendeu? Então eles sempre olham

“ah ele não entende nada porque não está na minha pele”, entendeu? Ele é

professor, vê sempre como se fosse um adversário em que ele está disputando.

Então a partir do momento em que você fala a mesma linguagem e tal, de igualdade,

e aí aquilo que eu falei... Acaba rolando uma identificação2 né... Não que você vai

querer ser, ter uma postura de criança, tem que rolar uma identificação, olhar para

você e ele se ver, entendeu? Então dependendo do jeito que você fala ou às vezes

até a forma que você se gesticula tal, porque também não é só a fala, mas a forma

que se gesticula ele acaba se identificando e aí acaba entendendo, porque caso

contrário você não tem, não consegue ter uma conexão2.

É, então tem que rolar uma conexão, você tem que conseguir, sabe, se

conectar com essa criança.

É. Isso. Ele começou a ver que realmente tinha errado. Que a postura que ele

teve comigo, estaria me desrespeitando, entendeu? Porque na hora que ele estava

nervoso e tal, eu perguntei por que ele estava falando alto comigo, porque ele

estava gritando comigo se eu não estava gritando com ele, entendeu? Aí ele gritava

mais ainda1 e aí foi a hora, eu fui tentando acalmar ele, tal. E aí ele viu finalmente

que tinha errado. E aí ele pediu desculpas para mim. E falou e aí eu falei vamos

esquecer isso e daqui por diante, vamos tentar modificar essa postura 2.

Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas

seguintes ou na turma?

Professor 1: As aulas seguintes foram tranquilas, pelo menos na minha

frente. Na minha aula, pelo menos, não rolou mais. Porque eu falei que, dentro da

minha aula, não admitiria nenhum tipo de agressão2, mesmo que se ele tivesse

certo. Que tudo que acontecesse ali, ele tinha que chegar e falar comigo. Ele não

tinha que tentar ele resolver, porque eu era o responsável2. E aí se acontece alguma

Page 59: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

59

coisa, quem tem que assumir sou eu. Eu respondo por eles e aí foi onde ele pegou e

acabou entendendo o meu lado, sabe que ele poderia me prejudicar. Aí eu perguntei

para ele se a intenção dele é me prejudicar. Você quer me prejudicar? Aí ele falou

que não. Disse que a sua atitude poderia me prejudicar. E aí foi a onde eu consegui

colocar ele também... Tentar se colocar no lugar do aluno e fizer com que seu aluno

também se coloque também no lugar do professor, para que ele tenha uma visão

diferente2. Às vezes eu pego até e faço uma brincadeira com o pessoal. Eu pego e

escolho um e coloco-o, como se ele fosse o professor para dar aula, aí eles...

Primeiro que eles já conseguem sentir a dificuldade que eles não conseguem

organizar o pessoal, porque um sai para lá, outro sai para cá, aí eles pegam e

acabam desistindo e olham para mim e falam “ah não dá professor” e isso acaba

sendo legal porque daí eles começam a ver quais são as dificuldades que a gente

tem.

Está valorizando. Isso é o que a gente costuma tentar fazer, mas aí em forma

de brincadeira, porque, eles aprendem mesmo, só na forma lúdica. Se eles veem

alguma coisa muito imposta, eles criam alguma resistência. Então, muitas vezes, a

gente tem um objetivo a ser atingido e aí você tem que saber e ir pelas beiradas,

levando de forma de brincadeira, porque tudo para eles é em forma de brincadeira.

Se deixar, sabe, é só brincadeira, eles não fazem mais nada. Então, a gente tenta,

sabe mostrar para eles que tem a hora de brincar, tem momento que eles têm que

ter responsabilidade, sabe, tem momento que eles têm que respeitar a regra, que as

coisas funcionam desse jeito. E aí eu pego e acabo dando alguns exemplos. Falo do

futuro, de quando eu estava na faculdade, como era, tal. Coisas que aconteciam.

Para fazer com que ele imagine lá na frente, possa encontrar, entendeu? Que ele

consiga projetar lá na frente, forçar um pouco a mente dele.

Pesquisador: Minha pesquisa é uma pesquisa participante, pretendo

verificar situações de conflito que são na minha percepção e de repente na tua

não é. E a gente fazer uma troca e ver o que você percebeu naquela aula, e a

gente conversar sobre isso. E aí, a ideia é a gente poder trazer estratégias, se

você quiser que você possa utilizar ou não. Então de repente, em determinada

situação em que foi identificado o conflito, a literatura diz que você pode

coloca-los em círculo e ouvir os lados, então eu trago para você algumas

alternativas e digo, você pode tem essas ferramentas aqui e você diz se quer

Page 60: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

60

utilizar ou não. Então é participante, meu foco é você, como é sua percepção

sobre conflito, como é que você lida com conflito, e se estas estratégias que

eu estou trazendo para você foram úteis ou não. Você quis usar ou não. Isso é

uma coisa muito... Como é uma pesquisa que eu atuo junto com vocês, eu

participo com vocês, então a gente vai conversar muito sobre isso, né? Então

tudo que vocês falarem eu vou relatar e vou confrontar com a literatura e vou

falar: olha, realmente muitas escolas estão tendo este tipo de atitude, os

alunos estão tendo este tipo de atitude, então de que forma a gente pode

ajudar esses jovens de hoje? Então a mediação é uma forma...

Professor 1: Eu vejo que a gente procura ensinar eles a jogar bola, nas aulas

de Educação Física, jogar vôlei, hand...mas a gente não ensina como lidar com as

suas emoções. Eles não sabem como lidar. Então, você vê, que às vezes, ele está

nervoso por algum motivo e ele nem entende porque está nervoso. Então aí o que a

gente tem que tentar fazer é que eles tenham essa reflexão2. Por que é que eles

ficam nervosos? Ah porque eu perdi o jogo, porque fulano de tal roubou. Mas e aí?

Isso aqui é só uma brincadeira, isso aqui não está valendo nada. E mesmo que

estivesse valendo, você não pode agir desse jeito porque não é assim que você vai

conseguir resolver, entendeu?. Então, o que falta um pouco é a gente trabalhar mais

essa questão, entendeu? Então, às vezes a gente fica preso a um planejamento,

que nem está funcionando, entendeu? Então ficar só pego nessa parte de fazer o

aluno fazer exercício, fazer o aluno sabe, mas e aí, a cabeça dele, quem vai

trabalhar a cabeça dele? Será que na Educação Física não pode estar se

trabalhando também essa questão? Porque ele vai saber, ele tem que saber lidar

em grupo, a trabalhar em grupo, a lidar com. às vezes a gente tem situação de um

aluno que “é” só os melhores no time dele. Você coloca um que não seja tão

habilidoso e ele não quer, entendeu? Mas e aí? Se você estivesse no lugar dele?

Você gostaria que o pessoal te tirasse, não colocasse porque você é ruim? São

essas coisas que a gente tem que trabalhar.

Pesquisador: Na faculdade você teve algum tipo de preparação?

Professor 1: Não.

Pesquisador: Então, você lida do seu jeito?

Assim, a gente não tem uma preparação quando sai da faculdade. Só que daí

na hora que você chega, na prática, você vê que é totalmente diferente da realidade.

Page 61: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

61

Totalmente diferente, então, se você vem com alguns projetos, se pode fazer aquilo,

não sei o que, hora que você olha que você vai aplicar o negócio... Opa, não é bem

assim, não é tão fácil assim, porque você começa a encontrar um monte de

dificuldades. As barreiras, as dificuldades, e aí essa questão mesmo de ficar lidando

com pessoas, cada um tem um perfil. Você tem que entender o perfil dessa criança,

saber como lidar com ela. Então, muitas vezes a gente pega um aluno novo, é um

bom aluno, a gente tem assim uma ideia só do perfil daquele aluno. Se ele tem

laudo, se ele não tem se tem algum tipo de problema, se não tem, entendeu? E

saber se temos preparação de como lidar com esse aluno. Ah, então se ele tiver um

ataque de estrelismo no meio da aula e ele começar a querer arrebentar tudo o que

eu faço com ele? E aí? Seguro ele? E aí ele pode querer começar a arrebentar tudo,

e aí como lidar com essa situação? Então têm algumas situações que a gente

identifica, porque de repente é uma atividade simples e você vê que o aluno já se

descontrola com uma coisinha besta, entendeu? E você já fica esperto com que

você já sabe que se por causa disso ele já se estressou, se fosse um campeonato,

uma final de campeonato, alguma coisa, ele iria explodir de raiva. Então você vai

começando a dar mais atenção para ele. Então, a gente fica assim, pelo menos na

minha forma de trabalhar, dou mais atenção aos problemáticos do que aqueles que

a gente vê que não tem tantos problemas, tantas dificuldades. Então, aqueles que

são problemáticos, são aqueles que a gente fica em cima. 1 Só que assim, a

quantidade de alunos é grande, né? Então, às vezes, se a gente tem um caso

especial, você não tem como dar uma atenção especial. Ficar em cima, bater um

papo, trocar uma ideia, chamar de canto, e “aí, você viu o que você fez?”, “e aí, por

que você acha que fez aquilo?” , “ e aí, como que a gente pode fazer para melhorar

isso?2” Então, você não tem esse tempo.

Pesquisador: Então, o seu perfil é mais de chegar e conversar e resolver

o problema?

Professor 1: Eu acredito assim. As coisas se resolvem dessa forma. Então,

muitas vezes, assim, quando acabam me conhecendo e aí depois acaba tendo um

choque porque eu não resolvo as coisas dessa forma, entendeu? Não gosto de falar

alto com o aluno, não gosto de gritar, então muitas vezes, se eu entro em uma sala,

está aquela zona, aquela bagunça, todo mundo falando alto, não sei que, então, ao

invés de eu pegar e gritar para o pessoal, ou pegar um apito e começar a apitar igual

Page 62: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

62

a um louco, eu paro e fico como se fosse uma estátua, parado, sem piscar e olhando

para eles. Daqui a pouco eles começam a perceber. E aí, eles vão parando2,

entendeu? E vai parando, parando, porque o problema deles, principalmente a

Educação Física, eles não querem perder um minuto. E na hora que percebem que

eu estou ali, vamos dizer assim, parado, o tempo está passando. Eles estão

perdendo aula. E aí eu deixo claro. Enquanto não houver silencio, eu não consigo

fazer chamada, eu não consigo organizar o pessoal, eu não consigo falar qual vai

ser a atividade. Então a gente não sai da sala. Eles param na hora. Então tem

algumas coisas que a gente... Ou às vezes, eu pego e faço uma brincadeira com

eles e falo, olha, Vaca Amarela cagou na panela, quem falar primeiro. E aí eles

param na hora. Na hora. “É” estratégias que você primeiro tenta aplicar e ver se

funciona e se não funciona você vem com outra. Se funciona... e aí você começa a

identificar que algumas funcionam com determinados grupos e outras não

funcionam. Então para cada grupo funciona uma estratégia. A forma entendeu?

Então é assim: quanto mais eu conheço meu aluno, mais fácil fica. Dá para criar

estratégia para aquele aluno. Agora, se eu não consigo ter um contato mais próximo

com ele... Eu não sei o que ele pensa, o que ele acha, o que ele gosta, aí fica difícil

conseguir entrar na mente dele, entendeu? Conseguir fazer com que ele tenha essa

identificação, com que ele fique conectado, entendeu? Eu falo sempre da gente

estar conectado, é porque a gente tem que estar na mesma sintonia, para você se

entender com qualquer um. Se você não estiver na mesma sintonia a gente vai ficar

conversando e aí você vai sair daqui, um papo e vai falar “pô, não entendi nada que

aquele cara falou”. E a gente não faz a conexão. É a palavra certa. No marketing a

gente usa a palavra raport, palavra francesa essa. Mas aí se você não conseguir

criar esse relacionamento, com o aluno ou com a pessoa que você confiou o

negócio. Você tem que criar um relacionamento. Primeiro que ninguém vai dar a

atenção com uma pessoa que você não conhece. Para isso, você tem que criar um

relacionamento primeiro, para depois ela começar a te escutar, entendeu? E é isso

que a gente tenta fazer, mas deixando bem claro, que eu sou professor e eles são

alunos, que às vezes também eles não podem confundir isso, entendeu? Por que às

vezes eles podem confundir isso, entendeu? Porque às vezes eu vejo um aluno e

chega para mim e “não, professor, porque nesse final de semana a gente vai jogar

um futebol lá no Rudge Ramos, vamos aí junto com a gente, não sei o que e tal” Aí

eu falo para eles “Para com isso, eu sou casado, pô. Vocês acham que eu ficar com

Page 63: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

63

vocês andando para cima e para baixo?” E eles dizem: ”Nada a ver, nada ver, não

sei o que”. Aí eu pego na brincadeira, no jeitão, mas para eles perceberem que eu

sou professor. Não que eu não possa. De repente, eu posso, mas para ficar claro,

para que não haja confusão.

Como já conheço as turmas em que estou, então, vamos dizer assim, eles já

estão meio vacinados. Então, para acontecer alguma coisa, a gente vai ter que

tentar inflamar. Colocar em alguma situação que aí, sim, vai acontecer algum

conflito. Porque como eu já sei, eu não os coloco em situação, entendeu? E aí,

dificilmente vai haver algum conflito. Porque eu já conheço um, conheço aquilo, que

aquele eu não posso colocar naquele time, não posso colocar um contra o outro,

porque no final, sabe.

Pesquisador: Então, é a sua percepção e sua atitude com relação a esse

grupo?

Professor 1: Isso, com esses grupos, mas dependendo da situação, se for

para dar uma inflamada, para ver o que vai acontecer aí isso eu também sei fazer.

Pesquisador: Siga sua rotina.

Professor 1: Eu vejo que eles são muito dependentes da tecnologia,

principalmente do celular e é assim, eles não conseguem se ver sem o celular.

Então, esse excesso de informação que eles acabam recebendo pelo celular, que

acaba complicando mais ainda, sabe, essa identificação que eles não conseguem

ter ainda1.

Pesquisador: É a questão da idade?

Professor 1: É a questão da idade. Então é muita informação vindo de todos

os lados e sabe, eles acabam não conseguindo canalizar o excesso de informação1,

entendeu?

Professor fala em aula com o aluno: “Pega aí, deixa o celular aqui. Vou

devolver só no final da aula”

Professor 1: Eles ficam direto com o celular1.

Pesquisador: O tempo inteiro.

Page 64: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

64

O tempo inteiro. Parece que faz parte do corpo deles, entendeu? E aí o que

acontece? Qualquer informação ali que eles recebem, eles já, na hora, eles já

repassam a informação. Então como que eles vão conseguir ter concentração? 1

Pesquisador: Aqui não é proibido celular na aula?

Professor 1: É proibido. É proibido, só que a batalha nossa é ficar toda hora

ficar tirando celular, tira o celular, põe na mesa. Isso gera conflito, porque daí eles

olham para o professor e pensa, o professor é chato, o professor é isso, é aquilo,

entendeu? Eu só estou com o meu celular. Não estou fazendo nada. Só estou com o

meu celular1. E aí o que acontece? Tudo que acontece na aula, eles filmam, eles

gravam, tem essa questão também. Observou alguma coisa que eles acham que

não é normal para eles. Eles pegam o celular e já disparam a informação. E aí

aquela imagem que foi ou filmada ou tirou a foto, ela pode ter várias legendas,

entendeu? Do jeito que eles quiserem, do jeito que eles veem a situação, entendeu?

Da forma que eles interpretam. E aí aquilo passou, o negócio pega fogo rápido. Eu

às vezes, eu dou uma aula, vamos supor assim, 7h00, eu pego uma turma. O

pessoal da segunda aula, quando eu vou dar minha segunda aula, antes de eu

chegar na sala, eles já sabem o que eu vou dar na aula, porque o pessoal já passou

a informações para eles.

Então eles passam essa informação rápida e aí esse negócio pega fogo.

Porque daí já chega a segunda sala e os caras já estão sabendo o eu vou dar e tal.

e aí se eu modificar alguma coisa...”ô, espera aí, mas se na primeira aula você deu

desse jeito por que que para a gente você vai modificar ?1 E aí o negócio vai

passando para os outros. “ Ah, o que o professor fez hoje? “Ele fez isso, aquilo...” A

comunicação deles é muito rápida, muito rápida. Só que assim por ela ser assim

muito rápida, na maioria das vezes, ela vai distorcida. Por que quando que você vai

conseguir pegar uma informação rápida e vai passar detalhadamente certa, em curto

tempo? Você vai... não tem como...é igual àquela brincadeira do telefone sem fio. E

aí, imagina. O que acontece é uma distorção que eles acabam tendo. E aí o negócio

vai tomando uma proporção... E aí o que acontece, você deu bronca em um aluno,

se você chamou a atenção de um aluno, se algum aluno aprontou alguma coisa,

você foi firme com esse aluno...eles passam também e aí o complicado é isso. A

forma que eles passam essas informações, porque isso acaba criando um conflito.

Essa informação errada acaba criando um grande conflito. Um negocinho que é

Page 65: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

65

pequeno, ele puf...porque eles são dramáticos, extremamente dramáticos. Um

negocinho simples, eles transformam em algo uahh. E aí, como a gente, como eles

ficam vendo muito esses lances de manifestação, não é justo, ah não sei o que, eles

se acham no direito de se manifestar, entendeu? Não sabem nem direito quais são

os direitos deles e deveres. Porque para se manifestar você tem que saber os

direitos e deveres. Não é só saber os direitos, tem que saber os deveres também.

Eles querem ser reconhecidos, eles se acham. “Vamos juntar todo mundo aqui,

vamos à diretora, vamos à diretoria, vamos reclamar com a diretora”. Aí juntam meia

dúzia... Esses dias, eu dando aula aqui, isso fez com o pessoal do médio, aí no

fundo tem uma menina de cabelo enrolado e aí ela “Não, porque eu já falei para

limpar lá, para limpar lá, tirar o cocô de pombo e até agora não tiraram. Professor dá

licença. Eu vou lá tirar foto e vou levar lá para a diretora, tudo bem?” Aí eu falei: você

faz o que você acha que é certo. Aí ela foi lá levou a foto, desceu e foi reclamar com

a diretora que o cocô de pombo estava lá. E aí outro que está junto.” Ah também vou

junto também” e aí a fotinho já joga, já manda, sabe e o negócio começa a ferver.

Pesquisador: E o esporte em si, a Educação Física você não desenvolve,

fica com a cabeça em outra coisa...

Professor 1: Então a gente tem que saber lidar com essa situação, porque

você acaba chegando, no final do expediente, para ir embora aí você chega à

orientação e aí “ vem cá, vem cá. Mas o que aconteceu. Aí você pensa...mas que

história é essa?” É uma história totalmente deturpada, aí você não sabe nem como

começou. Aí vai ligando... ah...ah...nossa, mas o negócio chegou aqui desse jeito? E

aí assim, o que eu vejo ainda. Em vez da gente tentar corrigir isso, a o pessoal ainda

passa a mão na cabeça... e aí piora mais ainda, porque daí ele se sente poderoso.

Eles decidem qual professor eles querem tirar, qual professor que eles querem

provocar e eles acham que podem tudo isso. Quem bate de frente... Eles juntam

todo mundo... Eu “já escutei fala de aluno mesmo.” “O professor tal não sei que é

muito chato, vamos agitar para tirar ele” E aí junta uma turminha e começa uma

manifestação contra o professor, entendeu? Então tem que ser assim. Fazem-se as

coisas que eles querem você é legal. Se não faz, você é chato. É assim que acaba

vendo o professor.

Page 66: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

66

Quadro 3 – Análise da entrevista do participante 1

Cite situações de conflito que você

enfrentou na aula de Educação Física

como professora na escola

Quando acontece algum tipo de conflito o

que você faz ou já fez na ocasião?

1

1

Eu já tive situação assim do aluno do

sexto ano que não conseguia se

relacionar com outros. Problema de

relacionamento.

2

2

E aí chegou a uma situação em que eu tive de

intervir que ele estava querendo brigar com

outros colegas.

1

1

Aluno não aceitava ser questionado.

Assim se ele recebesse um não ou

alguma coisa assim, ficava

extremamente agressivo.

2

2

Para você conseguir controlar alguém que é

agressivo não adianta você ser agressivo

também. Você tem que tentar acalmar a

pessoa, primeiro falando com um tom mais

baixo, mais calmo, para tentar fazer com que

essa criança se acalme.

1

1

Um garotinho pequeninho querendo me

enfrentar, entendeu. E aí foi uma

situação assim meio difícil porque você

tem que, você vê que a criança ela está

totalmente descontrolada.

2

2

Você vê que não pode inflamar mais aquilo,

porque dependendo da forma que você fala ela

entende com mais agressão ainda. Eu não sei

como dentro de casa é lidado isso. De repente

o pai e a mãe são agressivos com ele, e tal e

aí acaba se manifestando na escola. E aí se

você age do mesmo jeito que o pai e a mãe, a

criança acaba ficando mais descontrolada.

1

1

Ele estava querendo brigar, ele estava

querendo sair na pancada com o outro

aluno, aí ele pegou e virou o cotovelo.

2

2

Dar uma amenizada, tem que saber identificar

cada um e aí com isso você saber lidar com

esse tipo de criança. Por isso que você nunca

fala alto, entendeu? Eu coloquei a situação que

aqui dentro sabe a gente tem normas, têm

regras, eu tenho que respeitar, ele tem que

respeitar e assim que a gente consegue

conviver com as pessoas. E aí eu perguntei

para ele se ele viu que ele realmente tinha

errado. Ele admitiu e aí a conversa assim fluiu

de um jeito que ele acabou até pedindo

desculpas.

A partir do momento em que você fala a

mesma linguagem e tal, de igualdade, e aí

aquilo que eu falei... Acaba rolando uma

identificação.

Page 67: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

67

Você vê, que às vezes, ele está nervoso por

algum motivo e ele nem entende porque está

nervoso. Então aí o que a gente tem que tentar

fazer é que eles tenham essa reflexão.

Dependendo do jeito que você fala ou às vezes

até a forma que você se gesticula tal, porque

também não é só a fala, mas a forma que se

gesticula. Tem que rolar uma conexão, se

conectar com essa criança.

1

1

A hora que ele estava nervoso e tal, eu

perguntei por que ele estava falando alto

comigo, por que ele estava gritando

comigo se eu não estava gritando com

ele, entendeu? Aí ele gritava mais ainda.

2

2

Eu fui tentando acalmar ele, tal. E aí ele viu

finalmente que tinha errado. E aí ele pediu

desculpas para mim.

Eu perguntei para ele se a intenção dele era

me prejudicar. Você quer me prejudicar? Aí ele

falou que não. Disse que a sua atitude poderia

me prejudicar. E aí foi a onde eu consegui

colocar ele tb... Tentar se colocar no lugar do

aluno e fizer com que seu aluno também se

coloque também no lugar do professor, para

que ele tenha uma visão diferente.Tudo que

acontecesse ali, ele tinha que chegar e falar

comigo. Ele não tinha que tentar ele resolver,

porque eu era o responsável. Tem que ser

firme, porque se ele não sentir que você não

está sendo firme.

1

1

Aqueles alunos que são problemáticos

são aqueles que a gente fica em cima.

2

2

Então, às vezes, se a gente tem um caso

especial, você não tem como dar uma atenção

especial. Ficar em cima, bater um papo, trocar

uma ideia, chamar de canto, e “aí, você viu o

que você fez?”, “e aí, por que você acha que

fez aquilo?” E aí, como que a gente pode fazer

para melhorar isso?

1

1

Sem menções 2

2

Não gosto de falar alto com o aluno, não gosto

de gritar, então muitas vezes, se eu entro em

uma sala, está aquela zona, aquela bagunça,

todo mundo falando alto, não sei que, então,

ao invés de eu pegar e gritar para o pessoal,

ou pegar um apito e começar a apitar igual a

um louco, eu paro e fico como se fosse uma

Page 68: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

68

estátua, parado, sem piscar e olhando para

eles. Daqui a pouco eles começam a perceber.

E aí, eles vão parando.

1

1

Eles são muito dependentes da

tecnologia, principalmente do celular e é

assim, eles não conseguem se ver sem o

celular. Então, esse excesso de

informação que eles acabam recebendo

pelo celular, que acaba complicando

mais ainda, sabe, essa identificação que

eles não conseguem ter ainda.

É a questão da idade. Então é muita

informação vindo de todos os lados e

sabe, eles acabam não conseguindo

canalizar o excesso de informação. O

tempo inteiro. Parece que faz parte do

corpo deles, entendeu? E aí o que

acontece? Qualquer informação ali que

eles recebem, eles já, na hora, eles já

repassam a informação. Então como que

eles vão conseguir ter concentração. Se

eu modificar alguma coisa. mas se na

primeira aula você deu desse jeito por

que que para a gente você vai modificar

?

2

2

É proibido celular na aula, só que nossa

batalha é ficar toda hora ficar tirando celular,

tira o celular, põe na mesa. Isso gera conflito,

porque daí eles olham para o professor e

pensam que professor é chato, o professor é

isso, é aquilo, entendeu? Eu só estou com o

meu celular. Não estou fazendo nada.

Perfil Individual– Professor 1

(1,2) O professor relatou situações de bullying e de relacionamento entre os

alunos que acabam gerando conflitos nas aulas. Nesse caso, o professor utiliza o

diálogo com os alunos.

(1,2) O professor abordou que há alunos que não aceitam ser questionados e

contrariados que ficam violentos e que conduz a situação sempre conversando e

tentando acalmar o aluno.

(1,2) Situações de enfrentamento do professor por parte do aluno. O

professor procura não inflamar mais ainda, e tenta reverter a situação conversando.

Page 69: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

69

(1,2) Alunos que brigam na aula de Educação Física e o professor promove a

reflexão entre eles através do diálogo.

Síntese: perfil do professor – Professor demonstra calma em situações de

conflitos em suas aulas e busca resoluções através do diálogo e da reflexão. Nos

casos mais graves, promove diálogo entre as partes e encaminha para a

Coordenação. O professor tem visão de conflito como violência.

5.1.2 Transcrição da entrevista com o Professor 2

Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de

conflito nas aulas de Ed. Física.

Professor 2: Específico nesse projeto do Carnaval, do resgate das culturas

brasileiras, com relação ao Carnaval1, é o cunho religioso. É os evangélicos, até os

judeus, a gente tem uma criança judia e eles dizem que não comemoram esse tipo

de festa e que assim, os filhos não vão participar, não vão mesmo. É decretado isso.

Então eles ficam ligando para a orientação e direção, dizendo que eu deveria dar

aula de Educação Física, jogar bola, em vez de ficar pulando Carnaval1. Eles não

têm essa percepção da cultura do Brasil, desse resgate que a gente está fazendo.

Como a gente trata com isso? Eu converso bastante com aluno, a respeito disso.

Pontuo para ele que sou evangélica há 30 anos, batizada há 25 anos, mas que isso

faz parte da cultura de meu país e que eu não posso virar as costas para isso. Num

país onde eu vivo eu tenho que saber de minhas origens, de onde veio, ainda mais

de um país tão miscigenado como é o nosso. E tento argumentar isso com os pais

também, em conjunto com a orientação, mas na maioria assim, alguns participam,

outros pedem para os filhos ficarem sentados2. É tranquilo. Como é movimento e

vale nota para a Educação Física, eu passo um trabalhinho escrito aos que não

participaram para não ter desnível de nota, né, diferença de avaliação. E assim a

gente leva numa boa mesmo. Primeiro que a escola não é uma escola professa.

Então a gente não pode tirar ou colocar determinadas comemorações. A gente tenta

resgatar cultura mesmo2. Tanto que a gente tirou o bailinho de Carnaval. A gente

desenvolveu um projeto onde eles tinham que fazer uma pesquisa e aí eles sabem

de onde veio a Escola de Samba, porque ficou samba enredo, os tipos de samba,

Page 70: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

70

até chegar na escola de samba em si que são os três nonos. E no caso do oitavo

ano, é o Maracatu.

Pesquisador: Como é que você trabalha? Qual que é o tema?

Professor 2: Resgate da cultura popular na festa de Carnaval.

Pesquisador: Eles vão ter o conhecimento....

Professor 2: Já tiveram.

Pesquisador: Na parte teórica e vão participar.

Professor 2: Os professores das outras disciplinas já abordaram, porque é

um projeto multidisciplinar. Então o professor de história, ele abordou o aspecto

histórico, a professora de língua portuguesa pediu um trabalho escrito, onde eles

redigiam o que eles pesquisavam, a professora de artes trabalhou máscaras com

eles e eu estou trabalhando com eles o ritmo, o movimento, a expressão corporal.

Pesquisador: E você notou algum outro tipo de conflito?

Professor 2: Não. Desse projeto, especificamente o único conflito e que

acaba gerando um desdobramento muito grande é a religião mesmo1.

O maior conflito que a gente tem mesmo é a questão do celular e o boné. A

gente até entende que é uma questão de identidade do menino, né. É uma maneira

de ele se colocar na sociedade em que ele vive. Para as meninas no caso é o

celular e o cabelo solto. Mas na questão da Educação Física o boné atrapalha muito,

fora que já teve acidente na minha aula. A parte debaixo do botãozinho do boné é de

metal. A bola bateu e furou a cabeça do menino. Ele teve que tomar dois pontos1.

Então, eu peço para que eles tirem e deixam na arquibancada2. No nosso espaço,

eu divido o pátio a parte de fora da quadra com outros intervalos. Como é que eu

vou assegurar que o boné do menino não será furtado daqui. Eu não tenho esse

controle, porque eu tenho 35 crianças dentro da quadra e é lá que está a minha

atenção. A mesma coisa é o celular. As meninas colocam na cintura e elas correm e

o celular cai, vem a outra pisa em cima, quebra a tela. Então eles não conseguem se

separar disso.1 Eu peço para deixar na mochila, peço para a inspetora trancar a

porta. Ela fica no corredor, ninguém entra, lá é o lugar mais seguro dentro da

mochila deles e eles não deixam2. Então esse é um conflito muito grande e preciso

de uma sugestão para ver como é que eu consigo tratar isso.

Page 71: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

71

Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula

de Educação Física como professor na escola.

Professor 2: As séries que eu encontro mais situações de conflito assim, é

mesmo os oitavos, os oitavos nem tanto, é mais nonos anos e primeiro, onde no

caso dos nonos anos, a questão do celular e do boné mesmo. E do primeiro ano, é a

questão do uniforme, porque a escola não pede uniforme para atividade física. Eles

vêm de calça jeans e aí eu permito que eles façam aula de calça jeans, mas eu tiro

0,25 de uma nota que a gente chama de atitudinal e aí eles, eles ficam bravos

porque eles acham que a calça jeans pode fazer e o que eu argumento com eles é

mais assim, é só skate que a gente pratica em questão de esporte, de atividade

física.1 É o skate que a gente pratica com jeans, mas a gente não tem pista, nem

skate aqui. A gente não usa essa atividade física. Então eu peço para maior conforto

para eles que eles venham com uma calça adequada, pode vir com legging, eu evito

alcinha para as meninas não terem exposição de seio, serem assediadas em

brincadeiras bestas com os meninos, tal. Então eu sempre converso com eles a

respeito, no início das aulas, lá no começo do ano e vou retomando aula a aula com

eles 2. Mas eu acho que o maior conflito no ensino médio é realmente a calça jeans.

Que eles vêm que faz parte do uniforme da escola. Alguns até trazem shorts,

bermuda e uma legging, para colocar, mas outros, não. Então acaba ficando difícil. E

as meninas acabam vindo de sapato crocs ou rasteirinha. Eu não permito que faça

aula, porque eu tenho medo que alguém pise nos pés delas e machuque1. Mas isso

acaba sendo uma desculpa para as meninas que não gostam de atividade física. No

dia da minha aula, elas vêm com rasteirinha, crocs, para que eu deixe fora1. E aí a

minha, a solução que eu arranjei foi eu coloco corda, eu dou alongamento para elas,

uma aula à parte, assim no colchonete e elas ficam lá, alongando fazendo algum

tipo de exercício que podem fazer sem o tênis, mas na quadra em si, a atividade

coletiva, o jogo coletivo eu não posso trabalhar porque eu tenho medo do acidente2.

Pesquisador: E relacionado a esporte, sem ser a questão da calça jeans

dentro da aula, eles jogando, times?

Professor 2: É... a única coisa também, nas minhas aulas eu não permito

camisa de time, porque eu já tive que separar briga de meninos do terceiro ano

médio, porque um estava com a camisa do São Paulo e o outra estava do São Paulo

também, mas torcidas uniformizadas diferentes. Um era do, ah eu nem o nome das

Page 72: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

72

torcidas do São Paulo, mas as duas eram do São Paulo, e um ficou ofendendo o

outro e eu tive que separar a briga por causa de camisa1. Assim, então quer vir,

venha de camisa estrangeira, de time estrangeiro ou do Brasil, porque aí, tudo bem..

De time de futebol daqui do Brasil, eu não deixo nem fazer aula, eu mando para a

orientação com alguma atividade teórica e eles ficam pesquisando no celular e

respondendo algum questionário e tal. Eu não deixo, porque assim, eu tomei

porrada mesmo, literalmente para separar a briga dos dois2.. foi punk. Briguinha

assim de Palmeiras e Corinthians a gente até separa, mas os dois são paulinos,

brigando de se engalfinhar mesmo. Aí eu fiz um acordo com eles e assim, nos dias

da minha aula mesmo, eles não vêm. Ontem jogou, né, Palmeiras e Corinthians, o

Palmeiras perdeu e tal, ne por baixo da camiseta eles vem. Eles respeitam mesmo,

porque a gente conversou e tal e foi um acordo. Foi um conflito grande, mas foi um

acordo que a gente teve e eles respeitam mesmo2.

Durante a aula, é isso. Ou até briga entre eles1. Chamo os dois, converso com

os dois e dependendo da série, mando dá mãozinhas. E a gente conversa ali na

questão de briga na sala. É um acordo que a gente tem também2. Eu não gosto que

fique ofendendo um ao outro1. Sabe, “você é pato para caramba, você não sei o que.

Você é muito burro”. Para e por que eu não gosto disso. Não é para isso que a gente

está aqui. Não aceito e aí a gente conversa nesse sentido também nesse tipo de

conflito.

O, professora, o chocolate deles era maior do que o meu...e não sei o que, né

mas assim, eu tento levar na brincadeira e no final da aula eu chamo a criança e

converso, olha não gostei do jeito que você falou, dá a impressão de que eu fui

comprado por um chocolate um exemplo. Eu não gostei. Me ofendeu, né?. Eu sei

que você é um menino, uma criança dessas atitudes, foi no calor do jogo, tal, mas

não faz mais, pensa, raciocina. Eu sempre tento levar o mais na esportiva possível.

Porque adolescente você bateu de frente, você perde ele. Então eu sempre vou, eu

tento contornar o máximo possível...sempre na brincadeira...mas sempre tem esse

tipo de conflito, sempre tem nas aulas de Educação Física2.

Pesquisador: E violência você percebe também? Do conflito que depois

vem uma agressão?

Professor 2: Geralmente acontece agressão nos corredores, porque eles

sabem que eu não vou deixar acontecer na aula1. Então quando tem conflito, eu

Page 73: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

73

dispenso a sala, fico com os dois que estavam conflitando. E aí eu peço para um

inspetor leva-los até a sala de aula. Por que já aconteceu. ” Ah foi na sala da

professora” Eu pergunto “mas foi na quadra? ”” Não, foi no corredor. A gente estava

indo para outra aula” então sabe, no banheiro, fora do ambiente sempre acontece.

Mas isso é mais no médio. É mais no Ensino médio. Os pequenos, a gente

consegue controlar do que os maiores.

Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz

ou já fez na ocasião?

Professor 2: Isso. Eu tento ao máximo mediar a situação ali. Resolver ali. O

mínimo possível eu mando para a direção e orientação. Porque até eu descer

e explicar tudo o que aconteceu e dizer qual tinha razão é mais fácil eu ficar lá

em cima ou na quadra e resolver ali e tentar de uma maneira bem amistosa,

bem...assim sabe... e tentar, neutra. Se não conseguir mesmo, aí eu desço

com os dois. Se vão entrar em vias de fato, eu desço com eles.2

Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas

seguintes ou na turma?

Professor 2: Dependendo da idade, se for até o nono ano, eu mando um

bilhete para os pais, para eles estarem cientes de que o filho brigou e qual a atitude

que a gente tomou2. Porque é muito comum a criança chegar em casa e contar do

jeito que ela quer. E os pais ligarem aqui doidos de raiva. Eu tento deixar o mais

claro possível a situação para os dois pais, tanto para o bateu e o que apanhou, no

caso e a atitude foi essa, a gente não gosta, a escola não admite esse tipo de

atitude, converse com seu filho2. Na aula seguinte, gente o que vocês acharam e tal

e a gente retoma essa situação, sem expor a criança, mas dizer que aquilo não é

legal e porque não é legal e se colocar no lugar do outro. Fazer as crianças entrar

nesse exercício de empatia, porque quem fala é sempre legal e quem escuta é que

leva, que fica com aquele sentimento. A gente tenta ao máximo...eu tento ao máximo

apaziguar aquilo e colocar os dois...na próxima aula, eu tomo o cuidado de colocar

os dois na mesma equipe para que eles não criem rivalidade. Evitar a revanche. Eu

coloco os dois no mesmo jogo, no mesmo time na hora do jogo para evitar o embate

entre eles. 2

Page 74: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

74

Pesquisador: Tem alguma coisa que você lembre e gostaria de falar?

Professor 2: No momento, não. Porque assim eles gostam muito, a maioria

gosta da aula Educação Física. Eu consigo até barganhar com os outros

professores. Olha, se a sala toda não deixar bem limpinha a sala e tal, a professora

vai dar aula teórica em vez de levar para a quadra. E aí, os professores usam até

esse fato de eles gostarem muito de Educação Física para conseguir alguma coisa

em sala de aula.

Quadro 4 – Análise da entrevista do participante 2

Cite situações de conflito que você

enfrentou na aula de Educação Física

como professora na escola

Quando acontece algum tipo de conflito o

que você faz ou já fez na ocasião?

1

1

O projeto do Carnaval, do resgate das

culturas brasileiras, conflito de cunho

religioso. Os evangélicos, até os judeus,

a gente tem uma criança judia e eles

dizem que não comemoram esse tipo de

festa e que assim, os filhos não vão

participar, não vão mesmo. É decretado

isso. Então eles ficam ligando para a

orientação e direção, dizendo que eu

deveria dar aula de Educação Física,

jogar bola, em vez de ficar pulando

Carnaval.

2

2

Eu converso bastante com aluno, a respeito

disso. Pontuo para ele que sou evangélica há

30 anos, batizada há 25 anos, mas que isso

faz parte da cultura de meu país e que eu não

posso virar as costas para isso. Num país onde

eu vivo eu tenho que saber de minhas origens,

de onde veio ainda mais de um país tão

miscigenado como é o nosso. E tento

argumentar isso com os pais também, em

conjunto com a orientação, mas na maioria

assim, alguns participam, outros pedem para

os filhos ficarem sentados.

1

1

Desse projeto, especificamente o único

conflito e que acaba gerando um

desdobramento muito grande é a religião

mesmo.

2

2

Como é movimento e vale nota para a

Educação Física, eu passo um trabalhinho

escrito aos que não participaram para não ter

desnível de nota, né, diferença de avaliação. E

assim a gente leva numa boa mesmo. Primeiro

que a escola não é uma escola professa. Então

a gente não pode tirar ou colocar determinadas

comemorações. A gente tenta resgatar cultura

mesmo.

1

1

O maior conflito que a gente tem mesmo

é a questão do celular e o boné. A gente

até entende que é uma questão de

identidade do menino, né. É uma

maneira de ele se colocar na sociedade

2

2

Eu peço para deixar na mochila, peço para a

inspetora trancar a porta. Ela fica no corredor,

ninguém entra, lá é o lugar mais seguro dentro

da mochila deles e eles não deixam.

Eu peço para que eles tirem e deixam na

Page 75: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

75

em que ele vive. Para as meninas no

caso é o celular e o cabelo solto. Mas na

questão da Educação Física o boné

atrapalha muito, fora que já teve acidente

na minha aula. A parte debaixo do

botãozinho do boné é de metal. A bola

bateu e furou a cabeça do menino. Ele

teve que tomar dois pontos.

arquibancada.

1

1

Como é que eu vou assegurar que o

boné do menino não será furtado daqui.

Eu não tenho esse controle, porque eu

tenho 35 crianças dentro da quadra e é

lá que está a minha atenção. A mesma

coisa é o celular. As meninas colocam na

cintura e elas correm e o celular cai, vem

a outra pisa em cima, quebra a tela.

Então eles não conseguem se separar

disso.

2

2

Então eu sempre converso com eles a

respeito, no início das aulas, lá no começo do

ano e vou retomando aula a aula com eles.

1

1

A questão do uniforme, por que a escola

não pede uniforme para atividade física.

2

2

Eles vêm de calça jeans e aí eu permito que

eles façam aula de calça jeans, mas eu tiro

0,25 de uma nota que a gente chama de

atitudinal e aí eles, eles ficam bravos porque

eles acham que a calça jeans pode fazer e o

que eu argumento com eles é mais assim, é só

skate que a gente prática em questão de

esporte, de atividade física.

1

1

Uma desculpa para as meninas que não

gostam de atividade física, no dia da

minha aula, elas vêm com rasteirinha,

crocs, para que eu deixe fora.

2

2

A solução que eu arranjei foi eu coloco corda,

eu dou alongamento para elas, uma aula à

parte, assim no colchonete e elas ficam lá,

alongando fazendo algum tipo de exercício que

podem fazer sem o tênis, mas na quadra em si,

a atividade coletiva, o jogo coletivo eu não

posso trabalhar porque eu tenho medo do

acidente.

2

1

Nas minhas aulas eu não permito camisa

de time, porque eu já tive que separar

briga de meninos do terceiro ano médio,

porque um estava com a camisa do São

2

2

Eu fiz um acordo com eles e assim, nos dias

da minha aula mesmo, eles não vêm. Ontem

jogou Palmeiras e Corinthians, o Palmeiras

perdeu e tal, por baixo da camiseta eles vem.

Page 76: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

76

Paulo e o outro estava do São Paulo

também, mas torcidas uniformizadas

diferentes. Um era do, ah eu nem lembro

o nome das torcidas do São Paulo, mas

as duas eram do São Paulo, e um ficou

ofendendo o outro e eu tive que separar

a briga por causa de camisa.

Eles respeitam mesmo, porque a gente

conversou e tal e foi um acordo. Foi um conflito

grande, mas foi um acordo que a gente teve e

eles respeitam mesmo.

1

1

Briga entre eles, ofendendo um ao outro.

2

2

Chamo os dois, converso com os dois e

dependendo da série, mando dá mãozinhas. E

a gente conversa ali na questão de briga na

sala. É um acordo que a gente tem também.

Eu tento ao máximo mediar a situação ali.

Resolver ali. O mínimo possível eu mando para

a direção e orientação. Porque até eu descer e

explicar tudo o que aconteceu e dizer qual

tinha razão é mais fácil eu ficar lá em cima ou

na quadra e resolver ali e tentar de uma

maneira bem amistosa, bem...assim sabe... e

tentar, neutra. Se não conseguir mesmo, aí eu

desço com os dois. Se vão entrar em vias de

fato, eu desço com eles.

1

1

Geralmente acontece agressão nos

corredores, porque eles sabem que eu

não vou deixar acontecer na aula.

2

2

Dependendo da idade, se for até o nono ano,

eu mando um bilhete para os pais, para eles

estarem cientes de que o filho brigou e qual a

atitude que a gente tomou.

Eu tento deixar o mais claro possível a

situação para os dois pais, tanto para o bateu e

o que apanhou, no caso e a atitude foi essa, a

gente não gosta, a escola não admite esse tipo

de atitude, converse com seu filho.

Eu tento ao máximo apaziguar aquilo na

próxima aula, eu tomo o cuidado de colocar os

dois na mesma equipe para que eles não criem

rivalidade. Evitar a revanche. Eu coloco os dois

no mesmo jogo, no mesmo time na hora do

jogo para evitar o embate entre eles.

Page 77: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

77

Perfil Individual– Professor 2

(1,2) O professor relatou situações de conflito de cunho religioso em que os

pais não deixam os filhos participar de determinadas comemorações. O professor

por sua vez, conversa com os alunos e pais abordando o resgate da cultura, porém

quando não obtém sucesso, cria formas alternativas solicitando trabalho escrito,

para não ter prejuízo nas notas.

(1,2) O professor encontra situações de conflito relacionadas ao uso do boné,

celular e cabelo solto. Os alunos que não guardam o celular passam a aula toda

preocupados se vai sumir ou cair no chão. Eles não conseguem se separar dele,

relatou o professor. A alternativa que o professor procurou utilizar foi de pedir para

guardarem na sala ou na mochila antes de irem para a aula, ou deixarem na

arquibancada, mas corre o risco de roubarem. Então, toda a atenção é voltada para

o aparelho e o boné.

(1,2) O professor relatou que o fato da escola não exigir uniforme atrapalha

suas aulas práticas. O professor permite que eles façam aula de calça jeans, mas

retira 0,25 da nota atitudinal e isso gera conflito entre eles.

(1,2) O professor relatou que o uso de calçado crocs e rasteirinha por parte

das meninas é uma forma delas não fazerem aula de Educação Física porque não

gostam ou não querem fazer. A solução do professor foi oferecer a essas alunas a

possibilidade de fazerem outras atividades sem calçado, como alongamento.

(1,2) O professor relatou que não permite camisa de times nas aulas em

função de brigas e ofensas entre os alunos na aula. O professor precisou interferir

separando os dois alunos. Desta forma, o professor fez um acordo com todos os

alunos, não permitindo o uso de camisas de times em suas aulas, mediando a

situação conversando com os alunos.

(1,2) Há relatos de agressões entre alunos nos corredores da escola quando

trocam de aula. O professor conversa com os envolvidos, mediando a situação e

promovendo a reconciliação entre eles. Entretanto, leva o caso para coordenação,

escreve comunicado aos pais e procura não deixar os envolvidos em times

separados evitando assim possíveis confrontos.

Síntese: perfil do professor – O professor demonstra calma e paciência em

lidar com as situações de conflitos em suas aulas. Procura ouvir os alunos, e através

Page 78: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

78

do diálogo, promove a mediação contornando os problemas encontrados. Em casos

mais graves aplica as sanções necessárias e encaminha para a Coordenação. O

professor não trata o conflito como violência.

5.1.3 Transcrição da entrevista com o Professor 3

Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de

conflito nas aulas de Ed. Física.

Professor 3: O 3º CA e 3º A do Médio são as duas salas mais difíceis que eu

tenho, na questão de participação em quadra. 1

Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula

de Educação Física como professor na escola.

Professor 3: A situação assim como professora é muito ruim quando o aluno

fica sentado, com aquela falta de interesse.1 Então você fica se questionando, meu

Deus, será que é a aula que não tá legal, será que é o conteúdo que o aluno não

gosta. É um conflito mesmo que estou enfrentando esse ano é a questão da

participação de alguns alunos, pela falta de vontade mesmo, de interesse. Aí você

percebe que 10% da turma não participa, então é a minoria2. Agora assim de conflito

assim não tenho não. Mas entre eles sim, isso tem. Esse 3º CA, por exemplo, eles

têm conflitos entre grupos, rivalidades, um grupo não gosta do outro, evitam de ficar

perto, não querem jogar quando a gente propõe uma atividade, tem que ser colocar

esse grupo com outro grupo porque eles não se entendem. 1

Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz

ou já fez na ocasião?

Professor 3: Então o que eu faço, eu procuro conversar adequadamente com

cada grupo, vejo qual é a posição de cada grupo, pra tentar mudar essa visão que

um tem do outro. Então eu vou tentando resolver essas questões dentro de sala de

aula, mas se fugir do meu controle, eu perceber que não tem nada a ver com a aula

ai eu encaminho para a Coordenação. 2

Page 79: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

79

Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas

seguintes ou na turma?

Professor 3: Essa sala tem mesmo muito conflito, então o que eu combinei

com eles. Eu procuro falar pra eles não deixarem influenciar na parte prática deles

em aula. Eu até consigo, eles fazem, eles disfarçam vamos dizer assim2. Eu sei por

que já dei aula pra eles e já sei que já a coisa já é antiga.

Quadro 5 – Análise da entrevista do participante 3

Cite situações de conflito que você

enfrentou na aula de Educação Física

como professora na escola

Quando acontece algum tipo de conflito o

que você faz ou já fez na ocasião?

1

1

Na questão de participação em quadra.

A situação assim como professora é

muito ruim quando o aluno fica sentado

com aquela falta de interesse.

2

2

Então você fica se questionando, meu Deus,

será que é a aula que não tá legal, será que é

o conteúdo que o aluno não gosta. É um

conflito mesmo que estou enfrentando esse

ano é a questão da participação de alguns

alunos, pela falta de vontade mesmo, de

interesse. Aí você percebe que 10% da turma

não participa.

2

1

Entre eles sim, isso tem. Esse 3º CA, por

exemplo, eles têm conflitos entre grupos,

rivalidades, um grupo não gosta do

outro, evitam ficar perto, não querem

jogar quando a gente propõe uma

atividade, tem que ser colocar esse

grupo com outro grupo porque eles não

se entendem.

2

2

O que eu faço, eu procuro conversar

adequadamente com cada grupo, vejo qual é a

posição de cada grupo, para tentar mudar essa

visão que um tem do outro. Então eu vou

tentando resolver essas questões dentro de

sala de aula, mas se fugir do meu controle, eu

perceber que não tem nada a ver com a aula ai

eu encaminho para a Coordenação.

Essa sala tem mesmo muito conflito, então o

que eu combinei com eles. Eu procuro falar pra

eles não deixarem influenciar na parte prática

deles em aula. Eu até consigo, eles fazem,

eles disfarçam vamos dizer assim.

Perfil Individual– Professor 3

(1,2) O professor relatou que a falta de participação e interesse por parte da

sala em participar das aulas de Educação Física causam conflitos. O professor

relatou que essa situação tem feito ele se questionar sobre os conteúdos, sua

própria prática e a desmotivação desses alunos nas aulas.

Page 80: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

80

(1,2) Foram relatadas situações de conflitos e rivalidades entre os grupos da

sala. Há relatos de que os alunos não gostam de determinados colegas, evitando-

os. Nos jogos só participam se estiverem nos times dos colegas preferidos. O

professor procura mediar a situação conversando com os alunos diretamente sobre

esses assuntos, tentando mudar essa visão e fez um combinado para que eles não

deixem esses conflitos interferirem na parte prática das aulas.

Síntese: perfil do professor – O professor demostra-se tranquilo na

condução das aulas. Mostra-se reflexivo em relação à falta de interesse dos alunos

em participar de suas aulas. Conhecendo o grupo, procura resolver os conflitos

através do diálogo, tentando resolver as questões dentro da sala, entretanto, ao não

obter êxito, encaminha para a Coordenação.

Com base nas respostas obtidas, foi elaborada uma matriz nomotética que

sintetizou as respostas analisadas individualmente e apontaram os tópicos mais

citados pelos professores 1,2,3.

Uma vez feita a análise das respostas, elas foram organizadas em uma matriz

que deve ser lida da seguinte maneira: categoria 1 - relacionada a situações de

conflitos encontradas pelos professores em suas aulas e categoria 2 - ações de

enfrentamento realizadas pelos professores diante de situações de conflito em aulas

de Educação Física.

5.2 Matriz Nomotética

Quadro 6 - Matriz Nomotética sobre situações de conflitos e ações de

enfrentamento

↓ Categorias/Professores →

P1 P2 P3

1 – Situações do conflito

Conflitos de relacionamento x x

Influência da tecnologia (celular) x x

Violência dos alunos na quadra ou no corredor x x

Falta de uso de uniformes x

Conflito de cunho religioso x

Pouca participação dos alunos nas aulas x

Page 81: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

81

2 – Ações de enfrentamento

Intervenção no local e encaminhamento dos casos graves para a

Coordenação Pedagógica

x x x

Intervenção estimulando o diálogo entre as partes x x x

Uso da postura tranquila e calma x x x

Separar brigas entre os alunos x x

Pedir para guardar o celular ou retira-lo do aluno x x

Promover reflexão entre os alunos x x

Propor alternativas para quem não veste uniforme x

Atribuir trabalho e conversa com pais e alunos sobre religião x

A discussão da matriz será apresentada a seguir no formato de uma reflexão

tendo como base a literatura pesquisada.

Page 82: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

82

6 REFLEXÃO SOBRE OS ACHADOS DA PESQUISA EM DIÁLOGO COM A LITERATURA

O ambiente escolar não pode ser considerado um local isento de

manifestações de conflitos sociais, como uma redoma que protege todos os alunos.

Muito pelo contrário, a escola é onde eles se manifestam, às vezes, discretamente e

silenciosos, outra vezes, grosseiros e cruéis, que se dão por manifestações física e

verbais indesejáveis, que desgastam o convívio na escola. Estes por sua vez, devem

ser combatidos (CHIZZOTTI; PONCE, 2016).

Os resultados das entrevistas com os professores mostraram que há conflitos

presentes no ambiente escolar tanto na relação professor-aluno, como aluno com

aluno. Todo conflito advém de uma ideia diferente ou em desacordo sobre algo ou

pontos de vista e o que torna um conflito positivo ou negativo é a forma como é

administrado, de maneira imparcial, e com olhar para as duas partes.

Ao falarmos em conflitos, percebe-se que suas manifestações surgem do

convívio em grupo, crenças, etnias, da heterogeneidade entre pessoas, grupos,

organizações, no ambiente familiar, em empresas, em relações interpessoais e no

meio acadêmico. Quando duas pessoas têm um olhar diferente sobre determinado

assunto ou posição e cada uma defende seu ponto de vista e, se não bem resolutos,

pode gerar violência.

Para facilitar o entendimento, Moore (1998) classificou as diferentes

manifestações do conflito em categorias: estruturais, de valores, de relacionamento,

de interesses e quanto aos dados.

Ao analisarmos as respostas dos professores na matriz nomotética,

observamos que brigas entre os alunos provocam conflitos, a influência da

tecnologia e falta de uso de uniformes, são classificadas por Moore (1998) como

conflitos de valor e de relacionamento, que são aqueles causados por sentimentos

intensos, percepções falsas ou estereótipos, comunicação escassa ou inapropriada,

condutas negativas e que se repetem.

Outros resultados destacados pelos professores como conflito de cunho

religioso e pouca participação nas aulas, são classificadas como conflitos de valores,

Page 83: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

83

que são causados pela utilização de diferentes critérios para avaliar ideias ou

comportamentos, relacionados ao modo de vida, crenças religiosas e ideologia.

Encontram-se conflitos relacionados a sentimentos intensos, percepções,

condutas negativas e que se repetem, que são denominados como conflitos de

relacionamento (MOORE, 1998).

Os relatos dos professores evidenciam situações de conflito de

relacionamento:

”Eu já tive situação assim do aluno do sexto ano que não conseguia se relacionar com os outros” (P1).

“Um aluno ofendendo o outro. Brigas entre eles” (P2).

“Um grupo não gosta do outro, evitam ficar perto porque eles não se entendem” (P3).

Por outro lado, Berg (2012) categoriza esse tipo de situação como conflito

interpessoal que é aquele que ocorre entre indivíduos, quando duas ou mais

pessoas encaram a situação de maneira e pontos de vista diferentes.

Em todos os casos é importante salientar que questões como estas são mais

comuns do que imaginamos, especialmente dentro da escola, local em que a

diversidade predomina.

Em grupos heterogêneos é possível notar que as diferenças existentes geram

problemas de relacionamento. As motivações pelas quais emanam essas

divergências são diversas, como mal-entendidos; brigas; rivalidade entre grupos;

discriminação; bullying; uso de espaços e bens; namoro; assédio sexual; perda ou

dano de bens escolares; eleições (de variadas espécies); viagens e festas, entre

outros (CHRISPINO, 2007).

Em relato do professor 2, uma dessas desavenças entre alunos foi devido a

rivalidade entre grupos, se manifesta no uso de camisas de times de futebol

diferentes. Nesse caso, o professor precisou intervir para que não houvesse

desdobramentos na discussão. Ainda assim, o professor precisou separar a briga

entre eles.

”Não permito camisa de time porque eu tive que separar a briga de meninos

do terceiro ano do Ensino Médio. Eu fiz um acordo com eles e nos dias da

minha aula eles não vêm. Eles respeitam mesmo, porque a gente conversou

e foi um acordo. Foi um conflito grande, mas foi um acordo que a gente teve

e eles respeitam mesmo” (P2).

Page 84: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

84

Por outro lado, a imposição de regras, no caso do P2, coloca o aluno à parte

das situações da qual as mesmas determinam. Assim, passam a acatá-las seja por

imposição ou pela presença da autoridade que criou as normas. Contudo, tal

comportamento pode se mostrar superficial ou submisso, apenas enquanto houver o

medo pela punição ou quando se espera algum tipo de benefício (VINHA;

TOGNETTA, 2006).

Muitos conflitos surgem em decorrência de vários fatores. Pode-se observar

essa questão no relato do professor 2, quando este cita que houve reclamação por

parte dos pais e dos alunos em relação à comemoração do carnaval na escola.

Nesse caso, na classificação feita por Moore (1998) sobre os tipos de conflitos,

encontramos os conflitos de valor, que são aqueles causados pela utilização de

diferentes critérios para avaliar ideias ou comportamentos, relacionados ao modo de

vida, crenças religiosas e ideologia.

Nos relatos dos professores 1 e 2 surgiram respostas interessantes voltadas

para a área tecnológica e o uso do boné.

Os dois professores relataram que muitos alunos são dependentes da

tecnologia, principalmente do celular.

De acordo com a matriz nomotética, nos casos de mediação e resolução dos

conflitos em aula de Educação Física, observa-se a preocupação dos professores

em resolver conflitos de forma pacífica. As ações de enfrentamento realizadas foram

sempre no sentido de intervenção estimulando o diálogo entre as partes, que

parafraseando Ceccon et al., (2009) dialogar é transformar conflitos em

aprendizagem e mudança e, este processo de intervenção da direção, docentes,

funcionários, estudantes e suas famílias é fundamental, já que aprendem a explorar

e liberar o potencial criativo dos conflitos e a impedir que, uma vez mal

compreendidos e mal dirigidos, possam se apresentar sob a forma de estagnação ou

violência.

Outras situações de enfrentamento destacadas pelos professores em suas

aulas foram baseadas na intervenção e/ou encaminhamento para Coordenação dos

casos mais graves, promover a reflexão e proporcionar atividades alternativas.

Cada docente apresenta uma forma para tratar essas ocorrências. O

professor 1, tem uma maneira pacífica de lidar com conflitos em suas aulas,

demonstrando preocupação em ouvir os dois lados e interferir quando necessário.

Page 85: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

85

Nas situações relatadas, o professor 1 age com tranquilidade, buscando sempre, por

meio do diálogo, resoluções positivas para ambas as partes, de maneira a não

inflamar ainda mais a situação, procurando sempre acalmar o ânimo dos alunos,

falando em tom mais baixo e buscando entender a origem da raiva,

descontentamento de alguns adolescentes, que, em alguns casos, acabam gerando

situações de violência.

Através do diálogo, o professor 1 procura amenizar e identificar os conflitos,

evidenciando que as regras fazem parte do convívio social e que servem para

manter a ordem dentro da escola, para que a convivência entre todos seja

harmoniosa.

Desta forma, o professor 1 acredita que, por meio da abertura deste canal de

comunicação com o aluno, seja possível criar uma conexão aluno-professor, o que

contribuiria para resoluções dos casos ocorridos nas aulas.

Marques (2011) quando relata conflitos na escola portuguesa aborda que este

é um espaço relacional, multicultural e multirracial que se caracteriza pela elevada

diversidade de valores, desejos, opiniões, o que pode potencializar a existência de

conflitos. No entanto, é necessário entender estes conflitos como um acontecimento

com prováveis consequências positivas para a escola e para todos aqueles que nela

convivem. Nesses casos, é imprescindível utilizar formas de resolução que sejam

baseadas no diálogo, na participação de todos, na cooperação e na negociação.

Puya (2008) relata que no processo de mediação há objetivos importantes,

destacando-se em especial a ajuda para a resolução de conflitos; a criação de um

clima favorável para o diálogo e convivência; promoção do respeito entre as partes e

o uso da escuta ativa. As partes são assistidas por uma terceira pessoa, neutra, que

buscará orientar e coordenar as partes, a promover a comunicação na solução mais

apropriada e satisfatória para todos os envolvidos.

É possível encontrar nos relatos dos três professores que não há tolerância

para esse tipo de atitude e há sempre intervenção, diálogo e encaminhamento para

a Coordenação em casos de agressão e violência dentro da escola. Esses relatos

são evidenciados quando o professor 1 encontra esse tipo de situação em suas

aulas:

”Ele estava querendo brigar, ele estava querendo sair na pancada com

outro aluno, aí ele pegou e virou o cotovelo na direção do aluno e eu gritei

com ele”. E após o ocorrido, eu procurei dar uma amenizada, coloquei a

Page 86: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

86

situação que aqui dentro tem regras, eu tenho que respeitar e ele também e

assim a gente consegue conviver com as pessoas. Eu perguntei para ele se

ele viu que realmente tinha errado. Ele admitiu e aí a conversa fluiu de um

jeito que ele acabou pedindo desculpas.” (P1)

Há desdobramentos que ocorrem quando os conflitos não são resolvidos de

maneira positiva.

Neto (2005) ressalta que se encontram situações de agressões morais, físicas

e psicológicas no ambiente escolar e que isso tem sido uma preocupação para a

sociedade atual. Observam-se frequentemente situações de agressões por jovens

neste local, de tal forma que entender e saber lidar com a agressividade tem se

tornado um desafio no processo de ensino.

O relato do professor 1 demonstra essa passagem de forma clara.

”O aluno não aceitava ser questionado. De tal forma que, se ele recebesse

um não ou alguma coisa assim, ficava extremamente agressivo. Um

garotinho pequenininho querendo me enfrentar. E aí foi uma situação assim

meio difícil porque você vê que a criança está totalmente descontrolada. A

hora que ele estava nervoso, eu perguntei por que ele estava falando alto

comigo, por que ele estava gritando comigo se eu não estava gritando com

ele. Aí ele gritava mais ainda. Para tentar acalmar alguém que é agressivo,

não adianta você ser agressivo também. Você tem que acalmar a pessoa.”

(P1).

Em pesquisa realizada por Silva (2009), com dez professores de Educação

Física da rede pública, 50% afirmaram ser o conflito parte natural nas relações

humanas, entretanto, os outros 50% não afirmaram ser o conflito algo natural,

relatando que o conflito é ruim e atrapalha o desenvolvimento das aulas.

Nas descrições das aulas do professor 3, há conflitos e rivalidades existentes

entre os grupos. Há relatos de que os alunos não gostam de determinados colegas

da sala, evitando-os, e que isso atrapalha o desenvolvimento da aula.

”Entre eles sim, isso tem. O 3º C eles tem conflitos entre grupos, rivalidades,

um grupo não gosta do outro, evitam ficar perto, não querem jogar quando a

gente propõe uma atividade, tem que colocar esse grupo com outro grupo

porque eles não se entendem.” (P3)

Em sua maioria, os cursos de formação não há disciplinas específicas que

tratem da formação do ser humano em relação a seus valores, como cooperação,

solidariedade, teorização a respeito da assimilação cognitiva e afetiva sobre regras

Page 87: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

87

morais e éticas. O autor relata que professores não sabem qual atitude tomar,

repetindo práticas sem reflexão sobre as mesmas para tratar conflitos, ou agem ao

inverso, ignorando os conflitos e cumprindo o objetivo das aulas (SILVA, 2009).

Podemos observar a afirmação de Silva (2009) na fala do Professor 1 quando

abordado sobre o tema.

“Assim, a gente não tem uma preparação quando sai da faculdade, daí na

hora que você chega, na prática, você vê que é totalmente diferente da

realidade. Não é tão fácil assim, porque você começa a encontrar um monte

de dificuldades. As barreiras, as dificuldades, e aí essa questão mesmo de

ficar lidando com pessoas, cada um tem um perfil. Você tem que entender o

perfil dessa criança, saber como lidar com ela. Então, muitas vezes a gente

pega um aluno novo, é um bom aluno, a gente tem assim uma ideia só do

perfil daquele aluno. Se ele tem laudo, se ele não tem se tem algum tipo de

problema, se não tem, entendeu? E saber se temos preparação de como

lidar com esse aluno. Ah, então se ele tiver um ataque de estrelismo no

meio da aula e ele começou a querer arrebentar tudo o que eu faço com

ele? E aí? Seguro ele? E aí ele pode querer começar a arrebentar tudo, e aí

como lidar com essa situação? Então, a gente fica assim, pelo menos na

minha forma de trabalhar, dou mais atenção aos problemáticos do que

aqueles que a gente vê que não tem tantos problemas, tantas dificuldades.

Então, aqueles que são problemáticos, são aqueles que a gente fica em

cima.” (P1)

Essas manifestações são mencionadas por Licciardi et al., (2012) quando

afirmam que desavenças estarão presentes nas relações familiares, escolares e

sociais e que o ambiente favorece o desenvolvimento moral e a autonomia do aluno.

E nesse espaço de convivência que o professor combina regras com os alunos de

acordo com as necessidades que surgem.

O professor 3 utiliza estratégias para tentar resolver os conflitos que enfrenta

em suas aulas:

”Eu procuro conversar adequadamente com cada grupo. Vejo qual é a

posição de cada para tentar mudar essa visão de que um tem do outro.

Então, eu vou tentando resolver essas questões dentro da sala de aula,

mas se fugir do meu controle e eu perceber que não tem nada a ver com a

aula aí eu encaminho para a Coordenação. Em sala tem mesmo muito

conflito, então eu combinei com eles, eu procuro falar para eles não

deixarem influenciar na parte prática em aula. Até consigo, eles fazem, eles

disfarçam, vamos dizer assim.” (P3)

Page 88: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

88

O professor procura mediar a situação conversando diretamente com os

alunos e abordando o tema em suas aulas. Licciardi et al., (2012) destacam a

importância de se apresentar aos alunos atividades diversificadas e em pequenos

grupos para resolverem seus conflitos interpessoais, estabelecendo relações de

respeito mútuo buscando, com seus pares, soluções para suas desavenças.

Nessa mesma sala, relata o professor 3, que a turma não tem muito interesse

em participar da aula, o que demonstra inquietações e questionamentos sobre sua

própria prática nas respostas do professor.

”Então você fica se questionando. Meu Deus, será que a aula não está

legal, será que é o conteúdo que o aluno não gosta. É um conflito que eu

estou enfrentando esse ano, falta de vontade mesmo, falta de interesse dos

alunos. Aí você percebe que 10% da turma não participam.” (P3).

Perrenoud e Thurler (2009) apontam justamente essa necessidade do

desenvolvimento de práticas reflexivas por parte do professor, que contribuirá da

mesma forma, com a ampliação de competência dos alunos. Desta forma, assumirá

“a responsabilidade ética de ser agente de transformação e mudanças e um

multiplicador de ideias, propiciando ao outro, possibilidades de desenvolvimento e

qualidade de ensino”.

Essas abordagens são de extrema importância, porque mostram conflito

interno e positivo, de modo que o professor 3 apresenta preocupação com as ações

e os interesses dos seus alunos nas aulas de Educação Física. Desta forma,

estimula o seu processo reflexivo, sugerindo até possíveis mudanças em suas

próprias práticas.

Nos relatos dos professores 1 e 2 surgiram respostas interessantes voltadas

para a área tecnológica e o uso do boné.

Os dois professores relataram que muitos alunos são dependentes da

tecnologia, principalmente do celular. Destacaram que, em parte, entendem que o

celular faz parte da vida dos alunos e que o boné é uma questão de identidade do

garoto na sociedade. Entretanto, a preocupação por parte dos professores é a

maneira excessiva em que o uso do celular vem ocorrendo dentro e fora das aulas.

Os professores descreveram que, como medidas de prevenção, pedem para os

alunos guardarem o celular ou precisam retira-lo do aluno para que os mesmos

Page 89: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

89

participem da aula, mesmo o objeto sendo proibido nas aulas. Fato é que proibir,

não é conscientizar.

”O maior conflito que a gente tem mesmo é a questão do celular e do boné.

No caso do boné ele atrapalha muito. Já teve acidente na minha aula. A

parte debaixo do boné tem um botãozinho de metal e a bola bateu e furou a

cabeça do menino. Ele teve que tomar dois pontos. A mesma coisa é o

celular. Eu peço para deixar na mochila, com portas da sala trancada, com

inspetor no corredor, mas eles não deixam. Então eles não conseguem se

separar disso.” (P1).

“É proibido celular na aula, mas eles não conseguem se ver sem o celular.

O tempo inteiro, parece que o celular faz parte do corpo deles. Qualquer

informação que eles recebem, ali naquela hora, eles já repassam. Então

como vão conseguir concentração. É muita informação vindo de todos os

lados e eles acabam não conseguindo canalizar o excesso de

informação.”(P2).

É importante salientar a relevância dessas abordagens, porque evidenciam a

dificuldade docente em lidar com o comportamento de uma geração extremamente

tecnológica. Há uma preocupação com a adaptação a essa realidade, a fim de que

sejam criadas estratégias para o enfrentamento dos problemas que têm surgido, de

maneira que a compreensão dos recursos tecnológicos e desse comportamento

possa ser aproveitado nas próprias aulas.

Corroborando com Bento e Cavalcante (2013), o uso das tecnologias da

informação aumenta os desafios do ambiente escolar e os professores necessitam

se adequar à realidade das mídias móveis. O educador precisa ter consciência de

que a escolha de tecnologias educacionais deve estar vinculada à ideia de

conhecimento que se idealiza. O aparelho celular e as demais mídias possuem

aplicativos que podem ser utilizados em sala de aula como recurso pedagógico e

com riqueza de conteúdos.

Em pesquisa realizada por Bento e Cavalcante (2013) com professores do

Ensino Médio em uma escola pública do Vale do Paraíba do Sul, questionou-se o

uso do celular em sala de aula. Dos entrevistados, 71% não permitiam o uso dos

aparelhos por razões diversas como a legislação (Decreto nº 52.625, de 15 de

janeiro de 2008), a falta de atenção durante a aula, o não entendimento didático do

recurso e o risco que o aparelho causa aos professores no controle da sala foram

algumas das razões apontadas. Outros 14% dos docentes fazem uso desse tipo de

Page 90: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

90

tecnologia para registros fotográficos, traduções de materiais, uso de músicas e

vídeo para serem aproveitados em aulas.

Nesta mesma pesquisa, os docentes foram questionados sobre o uso do

celular como um recurso pedagógico. Houve um entendimento majoritário de sua

importância, sendo necessário planejamento diante da necessidade do uso da

internet. Reforçam, todavia, sobre a importância do uso consciente para melhor

aproveitamento nas aulas. Neste mesmo questionamento, 14% os professores

descartavam o uso deste recurso, justificando que a tecnologia poderia centralizar-

se em laboratórios de informática e lousas digitais. (BENTO; CAVALCANTE, 2013).

Desta forma, acredita-se que, se o celular for trabalhado como ferramenta

didática complementar nas aulas, muitos problemas relacionados aos conflitos

seriam, pelo menos, minimizados. É importante a aproximação entre professor-aluno

utilizando esses recursos em prol de todos os envolvidos, inclusive do próprio

sistema educacional.

Nessa escola, muitos pais e responsáveis são de outra religião e não

aceitaram que seus filhos participassem das comemorações promovidas pela

escola, voltadas para o carnaval.

O professor 2 por sua vez, argumenta com os alunos e com os pais que o

projeto é um resgate da cultura brasileira, porém não obtém sucesso e como é um

movimento que atribui nota, o professor utiliza uma maneira de mediar a situação,

utilizando outros recursos como trabalho escrito para que o aluno não seja

prejudicado em suas notas. Observa-se que as estratégias utilizadas pelo professor

2 não resolveram o problema, mas minimizaram e evitaram possíveis

desdobramentos oriundos dos conflitos de religião.

”São conflitos de cunho religioso. Os pais ficam ligando na orientação

dizendo que eu deveria dar aula de Educação Física, jogar bola, ao invés de

ficar pulando carnaval. Dizem que não comemoram esse tipo de festa e os

filhos não vão participar mesmo. É decretado isso. ” (P2).

Por outro lado, o professor 2 relatou que conversa tanto com os alunos

quanto com os pais sobre essas questões de religião, já que especificamente esse

projeto gera um desdobramento muito grande.

“Eu converso bastante com o aluno a respeito disso. Pontuo para ele que

sou evangélica há 30 anos, batizada há 25 anos, mas que isso faz parte da

Page 91: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

91

cultura de meu país e que eu não posso virar as costas para isso. Num país

onde eu vivo eu tenho que saber de minhas origens, de onde veio ainda

mais de um país tão miscigenado como é o nosso. E tento argumentar isso

com os pais também, em conjunto com a orientação, mas na maioria,

alguns participam, outros pedem para os filhos ficarem sentados.” (P2).

A matriz nomotética permitiu identificar os conflitos que foram abordados com

maior ênfase pelos professores entrevistados, bem como as ações de enfrentamento

realizadas pelos mesmos.

O ponto relacionado às brigas entre os alunos, os conflitos de relacionamento

e a influência da tecnologia apareceram como as situações de conflitos mais

encontradas nas aulas de Educação Física. Foram relatadas outras divergências

enfrentadas pelos docentes, como por exemplo, a manifestação da agressividade

entre os alunos, agressão no corredor a caminho da aula de Educação Física, falta

de uniforme para não participar da aula, conflitos de cunho religioso e pouca

participação dos alunos nas aulas.

As ações de enfrentamento destas situações mais citadas pelos professores

foram intervenção no local e encaminhamento dos casos graves para a

Coordenação da escola. Os professores 1,2,3 relataram que em casos de

agressões, brigas e discussões, fizeram intervenção sempre utilizando diálogo entre

as partes e adotaram postura tranquila para minimizar ou resolver os conflitos

existentes. Em casos de brigas ou agressões o professor separa as brigas, conversa

com os alunos, promove a reflexão entre eles.

O uso do uniforme não é obrigatório, para as aulas de Educação Física, e o

professor propõe atividades alternativas para quem não o veste. Em caso de conflito

de cunho religioso, para que não haja maiores problemas o professor atribui trabalho

valendo nota aos alunos que não participaram das comemorações e procura

conversar com pais abordando o tema, porém sem sucesso.

Os professores relataram que em determinadas situações, utilizaram

ferramentas pessoais que compreendiam serem as mais eficazes para a resolução e

mediação dos conflitos. Desta forma, apresentaram certa particularidade na

resolução de conflitos em suas aulas, que de acordo com Vinha e Tognetta (2009),

ao se depararem com momentos frequentes de indisciplina, conflitos, violência, entre

outros, os educadores afirmaram que se sentiam impotentes e inseguros e admitiam

Page 92: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

92

não conhecerem outras formas de intervenção que não fossem as de reprimir, punir,

censurar, ameaçar, excluir ou mesmo ignorar.

Parafraseando Possato e colaboradores (2016), atualmente uma das formas

mais utilizadas para o combate à violência é a mediação, através de um trabalho de

educação para resolução de conflitos. Para isso, são empregados como meios o

diálogo entre as partes e um mediador habilitado para interagir e interceder de forma

pacífica, promovendo a aproximação com imparcialidade, na tentativa de um acordo

que possibilite o fim do conflito.

6.1 Análise dos diários de aula

Nessa etapa da pesquisa pretendeu-se observar se o professor se sente

competente para resolver os conflitos encontrados em suas aulas.

Desta forma, foi entregue a cada professor um diário para que registrassem

episódios de conflitos e ações realizadas em suas aulas.

A análise dos diários dos três professores demostrou que todos enfrentaram

situações de conflitos. Após a coleta dos dados, foi elaborada uma matriz nomotética

dos resultados obtidos.

Quadro 7 - Matriz Nomotética com conteúdos dos diários de aula

↓ Categorias/Professores → P1 P2 P3

Conflito de relacionamento x x x

Indisciplina x x

Violência x x

Desinteresse em participar das atividades x

Nos relatos individuais, há situações que apresentaram semelhanças entre si

como violência e indisciplina. Nos casos em que o professor se deparou com essas

ocorrências houve o processo de diálogo e da escuta. Em quase todos os casos, os

professores encaminharam os alunos ou pediram ajuda da orientação educacional

ou Direção da escola.

Nos relatos apresentados pelos professores, foi realizada uma classificação

dos temas que apareceram com mais frequência nas aulas. Temas como violência,

Page 93: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

93

conflito de relacionamento e indisciplina foram relatados pelos professores, que por

sua vez, utilizaram como estratégia para mediação o diálogo e a escuta ativa para

minimizar ou eliminar o conflito. Nos casos em que o professor não conseguiu

resolver, a intervenção da orientação educacional e da direção foi solicitada.

De acordo com os relatos dos três professores, o tema violência nas aulas de

Educação Física, esteve presente nos diários e observou-se a preocupação dos

professores diante desses casos. De acordo com Debarbieux e Blaya (2002), “a

violência é universal e sempre existiu”. Os autores demostram preocupação em

relação às escolas, já que a violência tem aumentado significativamente, nas últimas

décadas, em especial nos ciclos iniciais.

Os autores abordam que crianças cada vez menores apresentam mau

comportamento, sobretudo violência física. No entanto, outros comportamentos são

evidenciados como a violência verbal, o uso de linguagem chula, um “jogo” chamado

“matage” que envolve agressão grupal a uma determinada pessoa, que ocorre no

espaço do parque de recreio, extorsão, além da introdução das drogas, que vem

fragilizando as escolas.

Pode-se observar nos relatos dos professores 1 e 3 os apontamentos de

DEBARBIEUX; BLAYA (2002) relacionados a violência na escola e indisciplina.

“Essa sala tem vários problemas de indisciplina, não respeitam os

professores, não se comportam em sala de aula, falam bastante”.

(P1).

“Tenho três alunos que não se respeitam e colocam apelidos

inadequados (gordinho, macaco, mendigo). Uma situação chata. Para

eles “brincadeira”, mas de muito mau gosto”. (P3).

Com o aumento precoce da violência nas escolas, encontram-se

comportamentos antissociais, hostilidade, incivilidades, indelicadezas, o que e

intoxica o ambiente educacional, desgastando as relações interpessoais.

(DEBARBIEUX; BLAYA, 2002).

Os relatos dos professores 1 e 3 retratam as afirmações dos autores:

“O aluno aproveitou que a aluna estava correndo e o mesmo, de

forma sádica, puxou a corda da rede de vôlei bem no momento que a

aluna estava passando, tal brincadeira machucou o braço e o rosto

da aluna”. (P1)

Page 94: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

94

“Observo que as brincadeiras têm como objetivo a maldade. Após ter

interrompido o jogo, depois de várias faltas, chamei atenção dos

mesmos onde afirmei que tal comportamento poderia ter

consequências graves”. (P1)

“Todo mundo começou a falar que ele tinha sido queimado, ficaram

repetindo isso pra ele. Então isso criou uma irritação nele e ele logo

em seguida já reagiu com violência. Começou a ameaçar a chorar e

partiu pra cima de uma menina, tentando dar um murro nela. Só que

daí ele só ameaçou o murro e aí ele pegou começou a chorar,

sentou, mostrando desequilíbrio, eu via que ele já estava

desequilibrado emocionalmente”. (P1)

“Essa sala tem muita rivalidade entre os grupos”. (P3)

Debarbieux e Blaya (2002) referem que há comportamentos que desgastam

as relações entre aluno e professor e é possível observar que tal fato se comprova

na afirmação dos autores quando os professores 1 e 2 retratam em seus diários de

aula situações enfrentadas:

“Cheguei à conclusão que por motivos pessoais elas não chegavam a

um acordo. Foram discussões, alteração nas vozes e muito stress”

(P1).

“Por várias vezes, pedi que não chutasse a bola e não fui atendida”.

“Chamei o garoto e conversei sobre a tecnologia da bola, o valor dela,

sua utilidade. Ele voltou para o jogo, mas chutou a bola novamente,

olhou para mim e disse (rindo)” “foi mal”. (P2)

“Essa garotinha, na última aula, disse-me que não faria as atividades

físicas por não gostar e não querer fazer mesmo”. Disse que não

seria obrigada e que sua mãe lhe orientou a “só fazer a aula prática

se sentisse vontade”. (P2)

Para lidar com esses tipos de situações, os professores utilizaram estratégias

que entenderam serem eficazes naquele momento como: mediação através do

diálogo, da escuta ativa, discussões, coerção e reflexão:

“Observo que as brincadeiras têm como objetivo a maldade. Após ter

interrompido o jogo, depois de várias faltas, chamei atenção dos

mesmos onde afirmei que tal comportamento poderia ter

consequências graves e que se continuassem assim não iriamos

mais para a quadra. Foi passado o ocorrido à orientação da escola e

a mesma concordou em deixar os alunos na sala de aula até

melhorarem o comportamento”. (P1)

Page 95: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

95

“Foram discussões, alteração nas vozes e muito stress. Foi chamada

a orientação da escola onde a mesma deixou claro que se não

chegassem a um acordo, iria ser cancelada a apresentação de dança

delas”. (P1)

“Para descobrirmos onde estava o boné, precisei ameaçar a sala toda

com suspensão. Então, outra criança denunciou o 2º que escondeu e

ambos foram advertidos”. (P2)

“Foi então que após três aulas discutindo e apresentando sugestões,

sem acordos, decidimos cancelar a participação de todo o 1º ano do

Ensino Médio. Pedimos que todas fossem para suas salas e acabou

tudo”. (P2)

“Precisei ameaçá-los de tirar a prova se não parassem com essas

atitudes, pedi para respeitar uns aos outros e com a ameaça resolveu

a situação do dia”. (P3)

De acordo com Debarbieux e Blaya (2002), utilizar uma disciplina mais

severa, excluindo o aluno da aula ou da atividade, tem-se tornado ineficaz e menos

adequada. Nesses casos, a prevenção compreende utilizar medidas buscando

diminuir o impacto dos incidentes e de manifestações de novos casos, ou seja, o que

tem se percebido é que a intervenção antecipada surte resultados positivos.

Parafraseando Vinha e Tognetta (2006) cabe verificar se, desde as simples

manifestações às mais complexas formas de conflito, não têm sua origem em uma

conduta educativa, cuja base se mostra presa diante de ações muito opressivas ou

condescendentes, interferindo diretamente na rotina escolar. Na maioria das vezes,

não existe a necessidade de se criar uma nova regra para se resolver o problema,

mas sim, de se provocar uma ampla reflexão de forma prudente e neutra, que gere

uma nova conduta e tomada de decisão por parte do professor. As autoras afirmam

que, caso não seja feito esse processo de mudança, estará tratando a consequência

e não a causa que originou o conflito ou a desordem.

Corroborando com esta ideia, Ortega e Del Rey (2002) relatam que um dos

fatores que permitem que as relações sociais se fortaleçam é a maneira como os

conflitos são interpretados ao longo da vida. Desta forma, dentro da escola, o

avanço da violência escolar deve ser contido por meio de estratégias que promovam

a convivência entre os jovens, atuando preventivamente e por consequência,

reduzindo as possibilidades de violência juvenil. Levando-se em consideração as

Page 96: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

96

intervenções promovidas pela educação formal, esta proposta busca o equilíbrio das

relações como modelo para os relacionamentos interpessoais.

Nos diários de aula, há também relatos dos professores que se referem à

indisciplina vivida na escola, em especial nas aulas de Educação Física:

“Essa sala tem vários problemas de indisciplina, não respeitam os

professores, não se comportam em sala de aula”. (P1)

“Levei o ocorrido para a orientação educacional da escola, pois esta

sala está com muitos problemas de indisciplina. O aluno foi advertido

e o dono do boné se comprometeu em não descer mais para as aulas

práticas com o boné”. (P2)

“Um aluno levou o celular para a aula de Educação Física. Desde o

início do ano, repito sempre para deixarem o telefone dentro da

mochila, lá na sala de aula, pois não me responsabilizarei por

qualquer dano ao mesmo”. (P2)

“Mas esse aluno levou escondido, deixando-o na arquibancada. Não

sei como, mas a tela do celular apareceu trincada e o menino veio

falar comigo. Enumerei as razões pela qual eu não iria me envolver

nesse assunto. Ele havia desobedecido a regra “não levar celular

para a quadra”. (P2)

A disciplina na escola parte da premissa de que foi elaborada para aceitação

de quem as criou bem como a quem se submeterá. Muito embora sejam passíveis

quanto ao seu cumprimento, pressupõe-se que cada integrante do ambiente

educacional as cumpra. O grande contraponto reside no fato que nem sempre tais

convenções foram democraticamente refletidas e construídas por todos os partícipes

(ORTEGA; DEL REY, 2002).

Quando um sistema traz consigo regras prontas, sem mesmo ter surgido uma

situação de conflito, existem duas situações distintas, já que se por um lado há

professores que as utilizam para o estabelecimento da ordem, por outro, os alunos,

por não terem participado do processo de elaboração das mesmas, não veem

sentido, não as identificam e não se apropriam delas, não assumindo para si os

compromissos pré-estabelecidos (ORTEGA; DEL REY, 2002).

Além dos pontos acima evidenciados, nos últimos anos, os autores reforçam

que há estudos que têm identificado outros fatores que podem promover a violência

nas escolas como questões familiares, baixo padrão educacional, situação social,

Page 97: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

97

dificuldades emocionais. Há ainda relatos decorrentes de ambientes estruturais

pouco hospitaleiros, questões ambientais desfavoráveis, disciplina rígida, bebida e o

próprio fracasso acadêmico, dentre outros (DEBARBIEUX; BLAYA, 2002).

No processo de análise dos diários de aula encontram-se relatos do professor

3 quando o mesmo se refere ao processo reflexivo, que de acordo com Schön

(1992), a prática reflexiva eficaz, não pode ser analisada separadamente, deve

permear pelo contexto escolar, mas integrando a voz do aluno que deve também ser

ouvida.

O autor afirma que, para um resultado efetivo, a sugestão é que esta prática

seja uma ação conjunta entre direção e docentes e que transite na formação inicial,

nos espaços de supervisão e na educação contínua.

Esse relato pode ser observado na fala do professor 3 quando o mesmo

reflete sobre sua própria prática, desenvolvendo um processo de autoanálise, auto

avaliação e de possíveis mudanças, o que Schön (1992) chamou de reflexão-ação.

“Esta é uma sala com pouco interesse em novos desafios. Os três

grupos que apresentaram hoje deixaram a desejar, pois não houve

interesse em apresentar uma dança típica, não estavam preparados

para explicar a parte teórica, os colegas não prestaram a atenção.

Abaixei a nota dos grupos e repensei nos próximos trabalhos se terão

apresentações ou só parte escrita, individual ou grupos”. (P3)

“Como professora, participo junto com os alunos, esclarecendo as

dúvidas e incentivando na atividade para que todos realizem”. (P3)

“Quando vejo esses atritos entre os alunos, eu chamo o grupo ou a

pessoa individualmente e tento conversar e expor outra maneira de

convivência”. (P3)

A reflexão é um processo que ocorre antes e depois da ação e em parte,

durante a ação. Esses conceitos de reflexão na ação e sobre a ação referem-se ao

aprender uns com os outros e sobre o desenvolvimento da profissão. Expondo e

examinando suas teorias práticas, para si e para os colegas, o processor tem mais

chances de perceber suas falhas e limitações (ZEICHNER, 1993).

Page 98: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

98

6.2 Transcrições das entrevistas relativas à percepção dos professores sobre

conflitos

Entrevista com professor (1)

Entrevistador: O que é conflito para você?

Professor (1) Acredito que quando você acaba não conseguindo se

relacionar com pessoas do nosso grupo e você tenta impor aquilo de uma forma

mais agressiva eu acabo considerando isso como conflito. Sabe quando você não

aceita a opinião do outro, você não consegue conviver com a diferença e de alguma

forma você acaba excluindo essa pessoa. Então tudo isso eu acabo considerando

como conflito, porque acaba influenciando no convívio e na produção deles também.

Eles ficam mais preocupados com as coisas fúteis vamos dizer assim, coisa que não

tem significado nenhum, do que fazer coisas que dariam algum resultado para eles.

Por exemplo, quando você vai explicar alguma coisa para eles que no ponto de vista

deles acaba sendo complexo, eles acabam descartando. Então a atividade tem que

ser simples, a explicação bem simples, tudo tem que ser bem simples para eles,

porque se tiver um grauzinho de dificuldade, esquece...já perde o interesse. E aí se

você insiste, acaba criando conflito, porque daí eles acabam querendo ganhar as

coisa no grito. Aí começam a passar para o outro... ah esse professor é isso, esse

professor é aquilo e um vai passando para o outro e aí vai espalhando e a hora que

você vê todo mundo está falando a mesma coisa. Se tem um professor que

concorda com tudo aquilo que eles fazem, tudo bem esse professor é legal. Mas o

dia que você não concordar... ah esse professor não presta. E aí eles se juntam para

poder reivindicar os direitos deles.

Entrevistador: Você já pensou em usar conflitos como estratégia de ensino?

Professor (1) Eu procuro assim dar alguns tipos de exemplos de fora. Então

eu pego situações que acontecem na aula e comparo com o que acontece fora e

mostro para eles e tento fazer com que eles reflitam sobre o que aconteceu. Porque

se você der exemplo deles mesmo eles não vão conseguir refletir. Então eu uso

estratégias de fora para trazer algo para eles refletirem ou alguma que está

acontecendo na atualidade ou em redes sociais porque como eles estão muito

conectados a esse tipo de rede. Sempre contando uma historinha, fazendo refletir e

depois a gente tenta jogar uma projeção para o futuro. Então eu falo assim...

Page 99: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

99

Imagina daqui uns anos se continuar assim. E sobre o conflito esses dias eu falei

assim... Você tem que tentar se relacionar com os outros, mesmo você não

gostando do colega, porque amanhã ou depois você vai trabalhar você vai precisar

se relacionar com outras pessoas, e aí como vai ser? Então quando tem um grupo

que não gosta, por exemplo, da aula de voleibol, reclamam eu falo... Imagina só se

você tivesse trabalhando numa empresa e seu chefe te passasse uma tarefa pra

você fazer, então você vai chegar para ele e falar que você não vai fazer porque

você não gosta? Eu falo para eles que nem tudo na vida a gente faz porque a gente

gosta. No caso do voleibol, faz parte do planejamento da aula e você tem que

participar senão você fica sem nota. Então a questão não é se você gosta ou não é

que você precisa participar para ter a frequência na aula como se fosse outra

disciplina qualquer e você precisa tirar nota. Então a gente tenta fazer isso aí com

eles, para ver se eles entendem, mas eles criam uma grande resistência.

Professor (1) Eu falo muito com eles sobre a convivência. Então a gente fala

muito para eles que eles têm que valorizar as amizades, espírito de solidariedade,

um ajudar o outro, então tem uma atividades que a gente propõe que são os jogos

cooperativos então a gente tenta fazer com que eles entendam isso dos valores.

Mas ao mesmo tempo em que a gente tenta passar coisas para eles sobre esses

temas, a maioria do tempo eles passam aprendendo coisas opostas, de como ser

egoísta, que cada um tem que ser espertão, meio que cada um por si sabe... então

eles acham que nunca eles vão precisar de alguém. Eu vejo isso principalmente na

Educação Física pelo próprio comportamento dele na quadra e aí a gente consegue

dar uma identificada. A gente vê aquele aluno que é muito fominha, não passa a

bola, ele pega a bola e só ele quer jogar. Então você vê que ele na vida real vai agir

desse jeito, ele vai ser aquele tipo egoísta. Ele vai chamar tudo pra ele, achar que

ele resolve tudo sozinho. Então a gente vê que alguns comportamentos que

acontecem aqui eles se refletem lá fora. Por exemplo, até dificuldade de aceitar

algumas coisas, tipo você tem aquele aluno que você tenta mostrar pra ele que ele

tá errado e ele não aceita e no próprio jogo ele faz isso também. Então a gente vê

que cada dia mais esse tipo de comportamento tem aumentado é como se fosse

colocasse uma fruta boa dentro de uma caixa de frutas ruins e essas frutas ruins vão

começar a contaminar essa fruta boa. Então eu acho que também ficar fazendo

muita propagando dessa coisa negativa ela aumenta cada vez mais essa situação.

Page 100: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

100

Então se a gente fizesse o contrário, ao invés de ficar pregando a violência, o

menino fez isso, fez aquilo, começar a inverter a situação e valorizar o bom.

Então aquele aluno que a gente viu no início que era um aluno bom , começar

a investir mais nele, fazer propaganda desse aluno bom, porque eles vivem por

imitação, então quando eles entram em um ambiente que é ruim eles acabam

imitando os outros também. Eu tenho aluno aqui que quando entrou nem abria a

boca e hoje está malandrão aqui. Ele está copiando os outros, copiando os modelos

negativos. Se a gente for ver mesmo até na mídia, o que vendo mesmo é modelo

negativo, notícia ruim e se você for ver as pessoas até gostam de ficar vendo

aqueles programas onde só passam violência. Então parece que é algo vicioso,

sabe. E aí quanto mais a gente faz propaganda disso, mais aumenta. Então a gente

tem que valoriza aquele aluno que tem algum talento e não fica só falando daquele

aluno que só faz coisas ruins e sim valorizar as ações positivas.

Entrevistador: Você já pensou em usar os conflitos para ensinar sobre

diferenças, valores, convivência, etc?

Professor (1) Eu vejo assim que eles têm dificuldade de aceitar as

diferenças. Então tem aqueles alunos que vão formando seus grupinhos para sentir

mais seguros. Aqueles que acabam sendo excluídos em um grupo acabam

formando outros grupos para serem aceitos e quando não encontram um grupo para

inserir eles ficam sozinhos e até acabam sofrendo bullying dos colegas. Eu acho que

a questão do bullying vai muito da pessoa aceitar. Se ela não se impuser ela tá

perdida. Porque o objetivo é atingir, eles fazem alguma coisa para agredir alguém

então eles querem que essa pessoa se sinta mal, mas a partir do momento que a

pessoa não liga acaba perdendo a graça. Eu tenho uma aluna da tarde que ela não

aceita o bullying e ela vai pra cima, não aceita não... Aí dá uma diminuída, mas não

acaba... Eu procuro sempre chegar de canto, conversar, usar o diálogo... para o

aluno refletir... Sempre buscando puxar pela reflexão, mas tem aqueles que não

aceitam aí você tem que ser mais duro, mas nem sempre precisa gritar, você pode

fala mais duro sem se exaltar. Eu falo próximo dele, olhando nos olhos deles,

pergunto para ele porque ele está sendo agressivo se eu não estou sendo agressivo

com ele. Ele tem que sentir aquela sua energia. Você já usou de várias estratégias e

mesmo assim ele não escuta aí você tem que chegar mais firme.

Page 101: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

101

Análise individual (1)

O que é conflito para você?

Não saber se relacionar com as pessoas

Não aceitar a opinião do outro

Não conseguir conviver com a diferença

Você já pensou em usar os conflitos como estratégia de ensino?

Usar tipos de exemplos de fora com situações que acontecem na aula e

comparo com o que acontece fora e mostro para eles e tento fazer com que eles

reflitam sobre o que aconteceu.

Sempre contando uma historinha, fazendo refletir e depois a gente tenta jogar

uma projeção para o futuro.

A gente fala muito para eles que eles têm que valorizar as amizades, espírito

de solidariedade, um ajudar o outro, então tem uma atividade que a gente propõe

que são os jogos cooperativos então a gente tenta fazer com que eles entendam

isso dos valores.

A gente vê que alguns comportamentos que acontecem aqui eles se refletem

lá fora.

Você já pensou em usar os conflitos para ensinar sobre diferenças,

valores, convivência, etc?

Eu vejo assim que eles têm dificuldade de aceitar as diferenças. Então tem

aqueles alunos que vão formando seus grupinhos para sentir mais seguros.

Eu procuro sempre chegar de canto, conversar, usar o diálogo... para o aluno

refletir... Sempre buscando puxar pela reflexão, mas tem aqueles que não aceitam aí

você tem que ser mais duro, mas nem sempre precisa gritar, você pode fala mais

duro sem se exaltar.

Page 102: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

102

Entrevista com professor (2)

Entrevistador: O que é conflito para você?

Professor (2) Conflito para mim é quando tem uma divergência de opiniões.

Aí, uma pessoa quer de um jeito, a outra quer de outro e as partes não cedem ou

uma parte acaba cedendo e aí se resolve o conflito ou se arrasta. Conflito para mim

é isso, é uma divergência de opiniões, onde precisa haver diálogo e uma das partes

ceder ou ceder para ficar quieto então, ou ceder argumentando sobre a sua opinião.

Pra mim é isso.

Entrevistador: Você já pensou em usar conflitos como estratégia de ensino?

Professor (2) O conflito como estratégia de aula eu nunca pensei seriamente

nisso.

Entrevistador: Você já pensou em usar os conflitos para ensinar sobre

diferenças, valores, convivência, etc?

Professor (2) Eu já usei o conflito para ensinar sobre diferenças, valores,

convivências e tal, principalmente aqueles meninos que se acham os bons em tudo

e tal. E aí, eles desprezam as meninas que não tem tanta habilidade para aquela

modalidade. Então, eu meio que combino com as meninas e elas fecham um

“cartelzinho” e fazem com eles a mesma coisa que eles fazem com elas. Ah eu não

quero você, você joga muito mal, e aí eles se sentem mal e eles vem reclamar para

mim. E aí eu pego o gancho, eu pego a deixa e falo: olha, mas não é isso que vocês

fazem com elas no futsal, por exemplo? Agora na hora do vôlei elas têm mais

habilidade, então você não pode desprezar uma pessoa, você tem que trazer, você

tem que agregar. Aí eu trabalho empatia, resiliência, respeito, pergunto para ele

como é que ele se sente do outro lado do desprezo? Porque enquanto você está

desprezando Ok e quando você é desprezado? Então eu discuto bastante isso e

nesse sentido os resultados foram bem positivos, até hoje assim eu não tive

resultado negativo quando eu mantenho essa prática. Mas assim, não como

estratégia de aula e sim para trabalhar valores, convivência.

Entrevistador: Você já fez isso? O que achou?

Professor (2) E achei bem válido.

Page 103: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

103

Análise individual (2)

O que é conflito para você?

É quando tem uma divergência de opiniões

Você já pensou em usar os conflitos como estratégia de ensino?

Nunca pensei seriamente nisso.

Você já pensou em usar os conflitos para ensinar sobre diferenças,

valores, convivência, etc?

Eu já usei o conflito para ensinar sobre diferenças, valores, convivências e tal,

principalmente aqueles meninos que se acham os bons em tudo e tal. E aí, eles

desprezam as meninas que não tem tanta habilidade para aquela modalidade.

Então, eu meio que combino com as meninas e elas fecham um “cartelzinho” e

fazem com eles a mesma coisa que eles fazem com elas.

Entrevista com professor (3)

Entrevistador: O que é conflito para você?

Professor (3) São situações vividas em sala de alunos que necessitam

chamar atenção de alguma forma, mas percebo que sempre negativamente,

“causando” na aula com amigos e professores. As salas que apresentavam conflitos,

com a retirada de alguns alunos melhoraram bastante.

Entrevistador: Você já pensou em usar conflitos como estratégia de ensino?

Professor (3) Na verdade no Ensino Médio não.

Entrevistador: Você já pensou em usar os conflitos para ensinar sobre

diferenças, valores, convivência, etc?

Professor (3) Eu trabalho com os pequenos do Fundamental I, aproveitando

o Líder de mim, que trabalha com os valores, liderança da criança. Eu trabalho os

hábitos com as crianças, então aqui a gente tem uma programação, ser proativo, ter

o seu objetivo em mente. Então em cada bimestre é trabalhado um hábito. Eu já fiz o

proativo com as crianças, que eles entendem com é a pró-atividade, qual objetivo

deles, orientando para que começarem a fazer mais importante primeiro, que no

caso seriam as obrigações, as lições, essas coisas. Então eu trabalho dessa forma

com eles. Às vezes em forma de cartazes, ou algumas atitudes em aula, eu já falo

Page 104: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

104

sobre o Líder em mim e dos conflitos que acontecem aqui. No caso do ser proativo

eles trouxeram fotos de como eles são proativos em casa, aí eu expliquei aqui como

eles podem ser proativos dentro da escola, principalmente aqui na quadra. Então foi

bem bacana. Mas é interessante repensar em trabalhar com esses valores com os

maiores também.

Análise individual (3)

O que é conflito para você?

São situações vividas em sala de alunos que necessitam chamar atenção de

alguma forma, mas percebo que sempre negativamente, “causando” na aula com

amigos e professores.

Você já pensou em usar os conflitos como estratégia de ensino?

Na verdade no Ensino Médio não.

Você já pensou em usar os conflitos para ensinar sobre diferenças,

valores, convivência, etc?

Eu trabalho com os pequenos do Fundamental I, aproveitando um programa

chamado “Líder de mim”, que trabalha com os valores, liderança da criança. Eu

trabalho os hábitos com as crianças, então aqui a gente tem uma programação, ser

proativo, ter o seu objetivo em mente.

Às vezes em forma de cartazes, ou algumas atitudes em aula, eu já falo sobre

o Líder em mim e dos conflitos que acontecem aqui. Mas é interessante repensar em

trabalhar com esses valores com os maiores também.

Após a coleta dos dados, foram elaboradas duas matrizes com os resultados

obtidos.

Quadro 8 - Matriz Nomotética sobre percepção dos conflitos

↓ Categorias/Professores → P1 P2 P3

1 - O que é Conflito

Não saber se relacionar com pessoas x

Não aceitar a opinião do outro x

Não conseguir conviver com a diferença x

Divergência de opiniões x

Chamar a atenção de forma negativa x

Page 105: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

105

Quadro 9 - Matriz Nomotética de como foi usado o conflito como estratégia de

ensino

↓ Categorias/Professores → P1 P2 P3

2 - Como o conflito foi usado como estratégia de ensino?

Comparação de histórias dentro e fora da aula. x

Valorizar as amizades, espírito de solidariedade. x

Usou o conflito para ensinar sobre diferenças, valores,

convivências.

x

Trabalhou no Fundamental I valores e liderança x

Discussão, cartazes, atitudes, reflexão de conflitos nas aulas. x

Nem todos os relatos feitos pelos professores estavam relacionados ao

conflito. Os professores demostraram dificuldades em diferenciar conflito e violência.

A leitura da matriz permite observar que os três professores usaram situações de

conflitos como estratégia de ensino, entretanto eles não tinham conhecimento de

que o estavam utilizando para ensinar, ou seja, parece que as situações ocorreram

ao acaso.

P1 relatou que utiliza uma comparação de histórias dentro e fora da aula

como forma de aproximação com a realidade dos alunos ou situações que

acontecem nas aulas. O professor relata que sempre procura valorizar as amizades,

espírito de solidariedade com os alunos, estimulando práticas positivas em suas

aulas.

P2 cita que, em um primeiro momento, não tinha pensado nessa

possibilidade, mas que em algumas situações enfrentadas nas aulas, usou o conflito

para ensinar sobre diferenças, valores, convivências.

P3 relatou que usa os conflitos como estratégia de ensino, porém apenas com

as turmas do Ensino Fundamental I, inclusive utilizou um programa de computador

nas aulas, cartazes que estimularam atitudes e reflexão de conflitos nas aulas. O

professor aponta que ainda não havia pensado em utilizar os conflitos como

estratégia de ensino nas turmas do Ensino Médio e apontou a importância de refletir

sobre essa prática e aplicá-la em suas aulas.

Page 106: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

106

Freire, Silva, Miranda (2011) indicam que a dimensão atitudinal existente nos

planos de Educação Física nem sempre está contemplada expressamente nos

planos de ensino. Há o questionamento do quanto os conteúdos relacionados aos

valores, atitudes e normas, relacionadas a questões atitudinais, estão efetivamente

expostas nos planos de ensino dos professores. Contudo, reforçam que estes

mesmos conteúdos são construídos pelos alunos em todas as atividades escolares,

tanto nas obrigatórias quanto nas atividades extraclasses.

Para Strada Raab e Santos Dias (2015), deve-se considerar que os alunos

carregam valores e princípios previamente enraizados e que passarão por

constantes transformações ao longo de suas vidas e isso ocorrerá inclusive no

espaço escolar, sendo a mediação de conflitos, um elo entre a escola e a

comunidade no sentido de formar cidadãos independentes, que tenham condições

de refletir sobre a diversidade de valores e participação da construção do bem

comum.

Teixeira e colaboradores (2017) ressaltam que os conflitos não podem ser

encarados somente como algo negativo e, desta forma, cabe aos professores e

gestores educacionais auxiliarem os alunos a descobrirem neles uma oportunidade

para compreender e melhorar as relações interpessoais.

Os autores ressaltam que no processo de mediação de conflitos é

imprescindível instaurar a cultura do diálogo, entre os envolvidos. No ambiente

escolar, os docentes poderão realizar reuniões, assembleias para discutir situações

ocorridas, problemas entre os alunos ou simplesmente para expor situações ou

dúvidas relativas às relações interpessoais e em conjuntos poderão ser definidas,

regras de conduta e comportamentos.

Nesse sentido, é importante que a escola ofereça um espaço em que o aluno

não obedeça simplesmente às regras originárias de uma experiência não vivenciada,

de ordem exterior. É preciso que os discentes vivenciem diferentes situações e que

a partir delas e com elas, possam edificar valores como respeito, senso de justiça,

cooperação, além da resolução de problemas (VINHA e TOGNETTA, 2006).

Page 107: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

107

6.3 Transcrição das entrevistas sobre competência

A entrevista sobre competência foi realizada após o término das intervenções,

na fase de reconfiguração da realidade.

Entrevistador: Ao longo desse processo de discussão e reflexão, você

percebeu alguma mudança na sua competência para lidar com situações de

conflitos?

Professor (1) O que mudou em mim nessa convivência com os conflitos foi

que hoje eu também estou mais tolerante e sempre me coloco no lugar do outro.

Entender o porquê dos conflitos fica mais fácil quando nos colocamos no lugar do

outro.

Vejo que o controle emocional é o caminho. Ensinamos regras de futsal de

vôlei ou qualquer outro esporte, mas não ensinamos como eles podem controlar

seus sentimentos e emoções. O mundo está cada vez mais acelerado e com isso as

pessoas também estão perdendo controle com suas emoções

Antes eu tinha um ponto de vista muito crítico sobre o que é certo ou errado

sem me colocar no lugar do outro e sem entender que esses alunos ao ter conflitos

eles não conseguem entender o porquê das suas ações. Uma pessoa agressiva é

insegura e vítima de um sistema agressivo. Eles são reflexos de suas experiências.

Hoje eu entendo o que acontece.

Antes eu olhava o conflito como algo de responsabilidade exclusiva da própria

pessoa que gera os conflitos. Hoje eu vejo que existe todo um sistema responsável

por todos esses conflitos. Ex: Família, experiências antigas, ambiente.

Aqui na escola, todos os conflitos de gravidade média e alta devem ser

encaminhados à orientação, essa é uma determinação da coordenação. Os conflitos

de medianos e graves merecem mais atenção e eu como professor acredito que

conseguiria resolver caso tivesse mais tempo para resolver.

A maioria dos conflitos que existem hoje nas escolas dificilmente serão

resolvidos pela falta de preparo dos profissionais envolvidos para solucionar. É como

dar murro em ponta de faca. Não existe uma proposta eficiente e prática. Todo o

sistema educacional está ficando cada vez mais doente por não existir uma

metodologia eficiente. Dá a entender que tudo isso é feito de propósito. Eu com a

Page 108: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

108

minha experiência e conhecimento muita coisa mudou. Hoje eu tento me colocar no

lugar do outro, tenho um olhar diferenciado, buscando a origem desse conflito, um

conflito não existe só naquele momento ele inicia muito antes. Vejo que em muitos

casos a família é a origem. Tudo inicia dentro da família. Esse é o primeiro ambiente

a influenciar essa falta de preparo emocional. O aluno chega na escola sem base

emocional e sem essa base as coisas só tendem a piorar. A escola não tem

recursos para reverter isso porque a escola também está adoecendo. Uma triste

realidade onde quem tem uma boa proposta é ignorado. Como te disse tudo isso

parece ser um plano muito bem elaborado para que a escola seja um sistema falido.

Existe uma teoria sobre contágio social. Alguns pesquisadores americanos

pesquisaram por 35 anos um grande grupo de pessoas. Notaram que a influência

das pessoas sobre as outras são muito grandes. A forma de falar o jeito de se

expressar, os gostos e valores são características influenciadas pelo grupo que

vivemos. Se um bom aluno é exposto a um grupo ruim, as chances dele se tornar

como o grupo é muito grande. Acredito que tudo tem uma solução, mas precisa ter

mais empenho das pessoas interessadas.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------

Entrevistador: Ao longo desse processo de discussão e reflexão, você

percebeu alguma mudança na sua competência para lidar com situações de

conflitos?

Professor (2): Nos momentos de conflito passei a refletir mais sobre as

partes envolvidas... Nos momentos de tensão pratiquei a empatia para dirigir a

situação, sempre procurando ouvir os envolvidos de forma neutra.

Antes eu via o conflito como algo superficial, sem aprofundar nas causas que

haviam levado os envolvidos aos conflitos. E tentava solucionar de maneira

superficial também. Só para que a aula seguisse seu fluxo. Não que fosse proposital,

mas não via o conflito como um momento para firmar relacionamentos.

Hoje vejo que após uma situação de conflito, ainda que tenha punição para os

envolvidos, mas que seja bem conversado, bem resolvido, isso não afasta o aluno

do professor.

Antes de iniciar esse processo de você falar as coisas, fazer colocações eu

comecei a perceber que tenho muitos vícios. Depois que você me alertou a respeito

Page 109: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

109

disso, eu comecei a prestar atenção nos meus atos. Então as coisas que eu fazia

que para mim era normal e de vez em quando até dava conflito, mas era uma coisa

minha eu comecei a pensar, a rever, repensar as coisas. Ainda mais que eu tenho

quase 30 anos de profissão, então a gente tem alguns vícios. Essa sua colocação

sobre conflito me fez pensar nisso. Então eu começo a ver que eu fazia coisas que

para mim era normal e aí eu paro e penso... Peraí, se eu fizer dessa maneira eu vou

obter o mesmo resultado e vou evitar a fadiga, o embate. Eu comecei a rever as

minhas atitudes, as minhas ações efetivas e percebi que ficou muito mais calmo

para mim e o resultado está sendo o mesmo. Outra coisa, é quando há conflito eu

aprendi a usar essas situações para tratar algumas outras questões na turma. Não

que eu exponha o aluno, mas eu coloco a situação perguntando e aí pessoal? O que

vocês acham? Eu pego a situação de conflito e falo: Houve uma situação no 1º ano

e eu chego no 2º ano e falo assim: gente aconteceu isso numa sala, o que vocês

acham? Entendeu? Então os alunos falam assim: Nossa professora aconteceu isso

com você? Ah professora acho que você deveria ter mandado ele embora. Nossa

não quero ser professora. Então, eles vão me dando a visão deles da situação,

entendeu. A situação que aconteceu naquela sala eu não discuto naquela sala, eu

levo para outra sala para que eu veja o que eles me dão de retorno sobre aquela

situação e isso está me enriquecendo muito, sabe esse tipo de estratégia, não sei se

posso chamar isso de estratégia, mas foi uma forma que eu encontrei e tem evitado

muito conflito.

Após passar por tudo esse processo, hoje dificilmente eu mando pra

coordenação e até desafogou aqui embaixo na coordenação. Só mando mesmo

quando o aluno é reincidente e aí não tem jeito, tem que chamar o pai para

conversar, casos gravíssimos tb. Por exemplo, um aluno do 9º ano abaixou a calça

do colega. Então nesse caso não tem jeito, tem que levar para a direção mesmo. E

aí eu levei esse ocorrido para a turma. E fizemos as discussões, trabalhando os

valores com eles a partir dessas situações. Mas embate, rusgas entre os alunos isso

quando acontece eu chamo os envolvidos, converso com eles, mediando e

resolvendo ali mesmo a situação e foi de uma forma bem produtiva. Eu estou bem

diferente agora, a partir dessas reflexões sinto que fez muito bem para mim. Até os

alunos que convivem mais próximo a mim, estão percebendo isso. Eles estão

sentindo que eu estou mais ponderada com eles e até dizem: Nossa professora,

Page 110: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

110

você está mais calma esse ano, mais zen. Eu tenho juntado o que você me trouxe,

aplicado nas aulas e sinceramente isso me ajudou a trabalhar os meus vícios.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------

Entrevistador: Ao longo desse processo de discussão e reflexão, você

percebeu alguma mudança na sua competência para lidar com situações de

conflitos?

Professor (3): Eu não tive muitos embates ou violência e os poucos que

tiveram resolvi da melhor maneira. Na minha dança junina alguns alunos queriam

dançar funk, nada contra esse ritmo, mas nada a ver com festa junina, por fim a

dança foi da minha maneira. Ao longo das aulas, fazemos muitos combinados e dão

muito certo e consigo trabalhar com eles numa boa.

Quando iniciei dando aula no Ensino Médio, mudei algumas estratégias de

trabalho. Percebi que a linha de trabalho são os jogos. Então cada bimestre

trabalhamos um esporte e dentro desse esporte uma vez no bimestre ficamos em

sala e discutimos regras e assuntos atuais do mesmo e eles adoram, todos fazem

em folha para entregar e terem nota. Todas estão comigo, desde o 1 bimestre. As

outras aulas trabalham a modalidade e a última do mês eles jogam o futebol

esperado. Não tive mais problemas com eles.

Com o tempo nós amadurecemos e com isso superamos os conflitos. No meu

caso era a questão de fazer o gosto dos alunos e animá-los para a aula, pois tem

turma que não tem vontade de fazer. Isso, eu não vejo como caso de levar para a

coordenação, resolvi com eles mesmos, onde cada aula escolhemos a melhor

atividade. Os casos mais graves, como desacato, violência esses tem que ser

levados para a coordenação. Depois das intervenções me sinto mais segura nas

aulas, pois nossos combinados deram certo.

As entrevistas foram analisadas a partir da síntese dos professores e os

resultados apresentados basearam-se na literatura sobre o tema.

Síntese dos professores

Professor (1) relata que antes era muito crítico em relação à convivência com

os conflitos. Olhava o conflito como algo de responsabilidade exclusiva da própria

pessoa que gerava a discórdia. Hoje, ele percebe que existe todo um sistema

responsável por todos esses conflitos. Ex: Família, experiências antigas, ambiente.

Page 111: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

111

Nesse sentido, demostra-se mais tolerante e procura colocar-se no lugar do outro. O

professor sinaliza a importância do controle emocional e a falta de controle dos

alunos sobre as emoções.

Professor (2) relata que antes tratava o conflito de maneira superficial e que

não havia preocupação em investigar as causas. O professor retrata que não via o

conflito como um caminho para firmar relacionamento e por essa razão deixava a

aula seguir normalmente. Hoje, nos momentos de conflito passou a refletir mais

sobre as partes envolvidas e inclusive refletindo sobre sua própria prática, revendo

atitudes e ações, percebendo resultados positivos nessas situações. Desta forma,

em momentos de tensão utilizou a empatia para dirigir a situação de forma neutra

usando o conflito para tratar outras questões com a turma, exercitando a escuta e

utilizando o feedback do alunos para reflexão coletiva. Esse processo de reflexão-

ação do professor trouxe benefícios para ele próprio, para os alunos e para a escola.

Professor (3) relata que ao longo das aulas faz combinados com os alunos e

que isso tem resultados positivos na relação entre eles. Com isso o professor retrata

que teve poucos conflitos em suas aulas. No início o professor abordou que

repensou e mudou algumas estratégias de trabalho, percebendo a necessidade de

usar discussão dos jogos nas aulas para que todos participassem e com isso não

apresentaram problemas nas aulas.

Os professores 1,2,3 corroboram com os estudos de Chrispino, (2007) e

Moore (1998) que relatam que processo de intervenção tem a finalidade de

promover soluções pacíficas, buscando amenizar, ou até mesmo eliminar os

conflitos entre as partes, de modo que os envolvidos exponham seu ponto de vista e

entrem em acordo. O mediador, por sua vez, tem o papel de auxiliar as partes

envolvidas a encontrarem, de comum acordo e espontaneamente, uma resolução

reciprocamente aceitável. Em casos de conflitos, utilizar a mediação entre as partes

tem efeitos positivos sobre essas situações.

O professor 3 relata em seu diário que reflete sobre sua própria prática em

situações de conflitos em suas aulas, de maneira que os alunos possam discutir em

grupos ações, por exemplo, voltadas para a execução dos jogos. Os estudos de

Foster et al. (2011) mostram que o trabalho escolar desenvolvido em uma

perspectiva interativa, considerando tanto os saberes e as necessidades dos

professores quanto às perspectivas e interesses dos alunos como ponto de partida,

Page 112: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

112

provoca maior envolvimento de todos nas dinâmicas da escola, que passa a

fortalecer o sentimento de pertença nos sujeitos envolvidos.

Os relatos dos professores 1 e 2 ao tratarem da percepção de conflitos em

suas aulas, relataram suas vivências de que antes eram críticos e hoje reflexivos,

Essas manifestações encontram evidenciadas nos estudos de Foster et al. (2011)

quando afirmam o quanto o professor se forma na escola e, ao mesmo tempo, o

quanto o professor forma a escola, quando demostram-se mais tolerantes,

colocando-se no lugar dos alunos e exercitando a mediação entre as partes.

Este é um processo que requer do professor o desenvolvimento de inúmeras

capacidades que são desenvolvidas ao longo de sua prática docente. Nos relatos

dos três professores, percebeu-se o que Perrenoud e Thurler (2009) ressaltaram

sobre a importância de desenvolver os aspectos cognitivos, somando-se a eles,

percepção, avaliação, esquemas de pensamento e raciocínio, envolvendo valores e

atitudes. Neste ponto, os autores reconhecem que situações conflituosas, exigem

competência, que por sua vez, se mostra muito mais complexas do que são.

Page 113: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

113

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os conflitos estão presentes em todos os ambientes. Sua origem está na

diversidade de pontos de vista, da pluralidade de interesses, necessidades e

expectativas. Manifestam-se por incompatibilidade de ideias, da heterogeneidade

presente nas organizações, no ambiente familiar, em empresas e no meio

educacional. Ocorre entre duas ou mais partes, cujos interesses, valores e

pensamentos apresentam posições diferentes e opostas evoluindo para uma

resolução do caso ou não.

O ambiente educacional é um local em que se reúnem muitos grupos, cada

um com suas características, o que possibilita o contato e a convivência com a

diversidade. Assim sendo, é importante que a instituição educacional esteja atenta e

preparada para enfrentar contextos adversos que ocorrem em todas as dimensões.

Desta forma, é imprescindível que a escola promova ações de enfrentamento junto

aos pais, alunos e comunidade para combater manifestações que podem chegar a

ser hostis e violentas. A promoção de encontros, diálogos, atitudes e

comportamentos que estimulem condutas tolerantes, colaborativas, não violentas e

não discriminatórias trazem benefícios à comunidade e ao ambiente escolar.

A pesquisa revelou a preocupação dos professores de Educação Física em

solucionar os conflitos de maneira pacífica e imparcial, utilizando o diálogo como

principal estratégia, o que exigiu dos educadores o exercício da escuta. Os

resultados indicaram que docentes anteriormente críticos em relação à convivência

com os conflitos em suas aulas, hoje, e como um dos efeitos provocados pelos

diálogos e intervenções dialógicas realizadas durante a pesquisa, exercitam com

maior reflexão o papel de facilitadores. Os estudos apontaram que a mediação é o

caminho para a resolução dos conflitos e o mediador tem um papel fundamental

nesse processo.

Portanto, ao analisarmos a percepção dos docentes sobre as situações de

conflito em aulas de Educação Física, observou-se que a partir desse processo de

discussão, reflexão e intervenção, os professores demostraram mudanças na forma

de lidar com as mesmas. Docentes que antes enxergavam desavenças como algo

superficial, entendiam estes episódios como um problema exclusivo entre os

envolvidos, docentes que anteriormente apresentavam vícios de conduta em relação

Page 114: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

114

a atitudes de enfrentamento, hoje se mostram mais tolerantes, reflexivos e

conscientes sobre suas ações, inclusive com propostas de mudança em sua forma

de lidar com as desavenças entre os alunos. Tais condutas alteraram sua própria

prática, com o uso de novas estratégias, como a empatia, a reflexão e a negociação

em momentos de tensão e desacordos.

Porém, nos relatos dos professores, a maioria dos conflitos que existe

atualmente nas escolas torna-se de difícil resolução pela falta de preparo dos

profissionais envolvidos. Existe um consenso entre os professores de que eles não

foram preparados para lidar com tais situações e que não existe uma metodologia

educacional que possa ser praticada nesses casos.

Por fim, surge o questionamento se o problema não residiria em um sistema

educacional doente, resultado imprevisto e indesejado de uma democratização do

ensino implementada sem que se olhasse para todos os aspectos envolvidos como

a mudança ambiental e a formação continuada dos professores, do mau uso da

tecnologia e da característica das gerações do século XXI. A escola efetivamente

sabe lidar com esta nova realidade?

A pesquisa demonstrou que o processo reflexivo pelo qual todos os docentes

passaram apresentou resultados positivos, indicando amadurecimento e segurança

para enfrentar situações adversas em suas práticas diárias, facilitando o trabalho da

coordenação pedagógica. Apontou inclusive que houve reflexão por parte destes

profissionais sobre a própria escola.

Muito embora os resultados apresentados tenham significância, recomenda-

se novos estudos na área, a fim de que possam ser criadas alternativas

colaborativas de maior alcance. Faz-se necessário estudo mais aprofundado sobre o

ambiente escolar em que os alunos estão envolvidos e inclusive o papel da família

nesse processo, uma vez que muitos conflitos advêm de fora das aulas de Educação

Física.

Os resultados encontrados apontaram que estudos nessa área, apresentam

importantes contribuições para viabilizar discussões mais ampliadas sobre

percepção de competência, estratégia de ensino para lidar com conflito no ambiente

escolar e de maneira que se tenha um olhar para o desenvolvimento da convivência

pacífica entre as pessoas, por uma educação pela paz.

Page 115: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

115

Desta forma, são recomendados mais estudos envolvendo um maior número

de professores de Educação Física e em diferentes regiões brasileiras, para melhor

compreender e detectar as competências profissionais ao lidar com conflitos em

suas aulas e, por consequência, promover a melhoria da formação continuada e da

intervenção profissional junto à comunidade escolar.

Page 116: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

116

8 REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, M. Escola e Violências. In: Gomes, C. A. C. Segurança e Educação:

uma abordagem para construção de um sistema de medidas pró-ativas: preventivas

e repressivas coerentes com a realidade da Juventude. Salvador: UNIFACS, 2008.

ALMEIDA, A. F. S. Mediação escolar e o aluno como mediador de conflitos. Tese de

Doutorado em Ciências da Educação, 372 f. Universidade de Lisboa: Instituto de

Educação, Universidade de Lisboa, Portugal, 2012.

ALVES, R. Violência na escola e da escola: desafios contemporâneos à Psicologia

da Educação. Psicologia Escolar e educacional, v. 13, n. 2, p. 343-346, 2009.

BENTO, M. C. M.; CAVALCANTE, R. S. Tecnologias Móveis em Educação: o uso do

celular na sala de aula. Educação, Cultura e Comunicação, v. 04, n. 7, 113-120,

2013.

BERG, E. A. Administração de Conflitos: abordagens práticas para o dia a dia.

Curitiba: Juruá, 2012.

BISPO, F. S.; LIMA, N. L. Violência no contexto escolar: uma leitura interdisciplinar.

Educação em Revista, v. 30, n. 2, p. 161-180, 2014.

BRAGA, L. L & LISBOA, C. Estratégias de Coping para Lidar com o Processo de

Bullying: Um Estudo Qualitativo. Interamerican Journal of Psychology, v. 44, n. 2.

p. 321-331. 2010.

BRASIL, Ministério da Educação. Lei nº 9394/1996 - Estabelece Diretrizes e Bases

da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.

CARVALHO, J. S. F. Democratização do ensino revisitado. Educação e Pesquisa,

v. 30, n. 2, p. 327-334, 2004.

CECCON, C. et al. Conflitos na Escola: modos de transformar. São Paulo: CECIP

Centro de criação de imagem popular e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo,

2009.

CHIZZOTTI, A.; PONCE, B. J. A violência, a escola e as políticas de enfrentamento.

Revista Cocar, v. 10, n. 19, p. 7-30, 2016.

Page 117: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

117

CHRISPINO, A. Gestão do conflito escolar: da classificação dos conflitos aos

modelos de mediação. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio

de Janeiro, v. 15, n. 54, p. 11-28, 2007.

CORREIA, R. N. P; FERRAZ, O. L. Competências do professor de educação física e

formação profissional. Motriz. Revista de Educação Física. UNESP, v. 16, n. 2. p.

281-291. 2010.

DEBARBIEUX, E; BLAYA, C. Violência nas escolas: dez abordagens européias.

Unesco, Brasília, 2002.

DEPRESBITERIS, L. Competências na Educação Profissional-é possível avaliá-las?

Boletim Técnico do SENAC, v. 31, n. 2, p. 1-11, 2016.

ESQUIERRO, L. M. C. Violência na escola: o sistema de proteção escolar do

governo do Estado de São Paulo e o professor mediador escolar e comunitário. 102

f. Dissertação (Mestrado em Educação), Unisal, Americana, 2011.

ESTÊVÃO, C. V. Educação, conflito e convivência democrática. Ensaio: avaliação e

políticas públicas em educação, Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, p. 503-514, 2008.

FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio de língua portuguesa. 5. ed. Curitiba:

Positivo, 2010.

FLEURY, M. T. L.; FLEURY, A. Construindo o conceito de competência. Revista de

administração contemporânea, v.5. n. spe, p. 183-196, Curitiba, 2001.

FORSTER, M. M. S. et al. A formação continuada de professores no espaço escolar:

impactos na prática docente, Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 11, n. 33, p.

497-514, 2011.

FREIRE, E. S.; SILVA, S. A. P. S.; MIRANDA, M. L. J. Valores como conteúdo da

Educação Física escolar: perspectiva a partir da Motricidade Humana. Rev. bras.

ciênc. mov, v. 19, n. 4, p. 89-96, 2011.

JARAMILLO ECHEVERRI, L. G. La complementariedad como posibilidad para

investigar en motricidad y desarrollo humano. In: TRIGO AZA, E. et al. (Org.).

Consentido. Cauca: Universidade de Cauca, 2005.

KAPPEL, V. B. et al. Enfrentamento da violência no ambiente escolar na perspectiva

dos diferentes atores. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v. 18, n. 51, p.

723-735, 2014.

Page 118: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

118

KRUG E. G. et al. Relatório mundial sobre violência e saúde. Genebra:

Organização Mundial da Saúde, 2002.

LE BOTERF, G. Desenvolvendo a competência dos profissionais. Porto Alegre:

Artmed, 2003.

LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos

conteúdos. 4. ed. São Paulo: Loyola, 1986.

LICCIARDI, L. M. S. et al. Conflitos entre pares: percepção de professores e alunos

de 5º ano. Múltiplas Leituras, 2012, v. 4, n. 2, p. 69-84., 2012.

LIMA, M. E.; NEIRA, M. G. O. Currículo da Educação Física como espaço de

participação coletiva e reconhecimento da cultura corporal da comunidade. Revista

Iberoamericana de Educación, v. 51, n. 5, p. 1-10, 2010.

LÜCK, H. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Positivo,

2009.

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas.

Rio de Janeiro: EPU, 1986.

MARQUES, L. R. A formação de uma cultura democrática na gestão da escola

pública: analisando o discurso dos conselheiros escolares. Educação &

Sociedade, v. 33, n. 121. p. 1175-1194. 2012.

MARQUES, M. A Mediação Socioeducativa na Escola Básica do 2 e 3º ciclo do

Bairro Padre Cruz, Tese de Doutorado em Ciências da Educação, 160 f.

Universidade de Lisboa: Instituto de Educação, Universidade de Lisboa, Portugal,

2011.

MARRIEL, L. C. et al. Violência escolar e auto-estima de adolescentes. Cadernos

de pesquisa, v. 36, n. 127, p. 35-50, 2013.

MARTINS, A. M., MACHADO, C.; FURLANETTO, E. C. Mediação de conflitos em

escolas: entre normas e percepções docentes. Cadernos de Pesquisa, v. 46, n.

161, p. 566-592. 2016.

MELIM, F. M. O.; PEREIRA, B. O. A influência da Educação Física no bullying

escolar: A solução ou parte do problema? Revista Iberoamericana de educación,

n. 1. v. 67, p. 65-84, 2015.

MELMAN, J. et al. Tecendo redes de paz. Saúde e Sociedade, v. 1, p. 66-72, 2009.

Page 119: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

119

MOORE, C. W. O processo de mediação: estratégias práticas para a resolução de

conflitos. Porto Alegre: Artmed, 1998.

MORAIS, M. L. S., & OTTA, E. Diferenças culturais e de gênero em conflitos pré-

escolares. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 21, n. 2, p. 221-232, 2008.

MOREIRA, B. D. Participar com os jovens e adolescentes da experiência de

aproximação com o mundo adulto: o desafio da Educação. Educação & Sociedade,

v. 36, n. 133, p. 1137-1155, 2015.

MOURA, D. H. Ensino Médio Integrado: subsunção aos interesses do capital ou

travessia para a formação humana integral? Educação e Pesquisa, São Paulo, v.

39, n. 3, p. 705-720, 2013.

NETO, A. A. L. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de

pediatria, v. 81, n. 5, p. 164-172, 2005.

NÓVOA, A. Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.

NUNES, C. M. F. Saberes docentes e formação de professores: um breve panorama

da pesquisa brasileira. Educação & Sociedade, vol. 22, n.74, p. 27-42, 2001.

OLWEUS, D. Acoso escolar, “bullying” en las escuelas: hechos e intervenciones.

Centro de investigación para la Promoción de la Salud, Universidad de Bergen,

Noruega, vol. 2, p. 1-23, 1993.

ORTEGA, R; DEL REY, R. Estratégias educativas para a prevenção da violência.

Unesco, Brasília, p. 31-32, 2002.

PEREIRA, B. P.; LOPES, R. E. Por que ir à escola? Os sentidos atribuídos pelos

jovens do ensino médio. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 41, n. 1, p. 193-

216, 2016.

PERRENOUD, P. Ensinar: agir na urgência, decidir na incerteza. Saberes e

competências em uma profissão complexa. Porto Alegre: Artmed, 2001.

PERRENOUD, P; THURLER, M. G. As competências para ensinar no século XXI:

a formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2009.

POSSATO, B. C. et al. O mediador de conflitos escolares: experiências na América

do Sul. Psicologia Escolar e Educacional, v. 20, n. 2, p. 357-366, 2016.

Page 120: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

120

PRODÓCIMO, E. Um Olhar sobre o Bullying: reflexões a partir da cultura. In: Anais

do IX Congresso Nacional de Educação–EDUCERE. PUCPR. 2009.

PUYA, M. V. P. G. La mediación en los centros educativos. El educador social como

mediador. Bordón, v. 60, n. 4, p. 80-81, 2008.

RAMOS, G. N. S. Trajetória de vida e construção dos saberes de professoras de

educação física. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 24, n. 2, p.

223-38, 2010.

RODRÍGUEZ BADA, M.; NÚÑEZ GARCÍA, Y. La violencia entre estudiantes

preuniversitarios. Un problema social y de salud. Gaceta Médica Espirituana, v. 17,

n. 3, p. 203-213, 2015.

SALDAÑA, J. Fundamentals of Qualitative Research: understanding qualitative

research, New York: Oxford University Press, 2011.

SALLES, L. M.F. et al. A violência no cotidiano escolar. Educação: Teoria e prática,

v. 18, n. 30, p. 15-23, 2008.

SILVA, A. M. C. Mediação e(m) educação: discursos e práticas. Revista

Intersaberes, v. 6, n. 12, p. 249-265, 2011.

SILVA, L. C. F. Intervenções em situações de conflitos interpessoais nas aulas de

Educação Física. 207 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade

Estadual de Londrina, Londrina, 2009.

SCHÖN, D. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A. (Org.).

Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.

SOUTO, M. D. C. D. et al. Integrando a Educação Física ao Projeto Político

Pedagógico: perspectiva para uma educação inclusiva. Revista Motriz, Rio Claro, v.

16, n. 3, p. 762-775, 2010.

STRADA RAAB, Y.; SANTOS DIAS, C. Mediação de conflitos na escola:

possibilidades para o desenvolvimento moral? Revista Educação: Teoria e Prática,

v. 25, n. 49, p. 357-373, 2015.

TEIXEIRA, O. É. J., RECHE, M. P. C., & LUCENA, M. A. H. A Gestão dos Conflitos

Escolares na Infância. Análise das Causas e Medidas de Intervenção na Região da

Madeira REICE. Revista Iberoamericana sobre Calidad, Eficacia y Cambio en

Educación, Portugal, v. 15, n. 1, p. 37-53, 2017.

Page 121: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

121

TOGNETTA, L. R. P., VINHA, T. P. Estamos em conflito, eu comigo e com você:

uma reflexão sobre o bullying e suas causas afetivas. Escola, conflitos e violência.

Santa Maria: UFSM, 2008.

TURATO, E. R. Métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde: definições,

diferenças e seus objetos de pesquisa. Revista de Saúde Pública, v. 39, n. 3, p.

507-514, 2005.

VENANCIO, L.; DARIDO, S.C. A Educação Física escolar e o projeto político

pedagógico: um processo de construção coletiva a partir da pesquisa-ação. Rev.

bras. Educ. Fís. Esporte, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 97-109, 2012.

VEZZULLA, J. C. A mediação de conflitos com adolescentes autores de ato

infracional. 137 f. Dissertação de Mestrado em Ciência Social, Universidade

Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.

VIANNA, J. A.; SOUZA, S. M. REIS, K. P. Bullying nas aulas de Educação Física: a

percepção dos alunos no Ensino Médio. Revista Ensaio: Avaliação e Políticas

Públicas em Educação. Rio de Janeiro, v. 23, n. 86, p. 73-93, 2015.

VINHA, T. P.; TOGNETTA, L. R. A prática de regras na escola: ambiente autocrático

x ambiente democrático. Educação Unisinos, São Leopoldo: Universidade do Vale

do Rio dos Sinos, v.10. n. 1. p. 45-55, 2006.

_______. Construindo a autonomia moral na escola: os conflitos interpessoais e a

aprendizagem dos valores. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 9, n. 28, p.

525-540, 2009.

ZABALZA, M. A. Diários de aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento

profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ZEICHNER, K. M. A formação reflexiva de professores: ideias e práticas. Lisboa,

Educa Editora, 1993.

Page 122: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

122

APÊNDICES

APÊNDICE 1 - Termo de Autorização da Escola

Eu, _________________________, diretora do _____________________, autorizo

a realização da pesquisa de mestrado com o tema: Situações de conflito no

ambiente escolar: um olhar a partir da Educação Física, a ser realizada pela

mestranda Andreia Camila de Oliveira, aluna da Universidade São Judas Tadeu.

Durante o período, ela estará autorizada a observar as aulas, realizar entrevistas e

reuniões com professores de Educação Física do Colégio.

Atenciosamente,

------------------------------------------------

Diretora

Page 123: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

123

APÊNDICE 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E.)

Eu,____________________________________________________________,

portador(a) do RG nº _______________________, abaixo assinado, dou meu

consentimento livre e esclarecido para participar como voluntária(o) do estudo sobre

situações de conflito no ambiente escolar: um olhar a partir da Educação

Física, sob responsabilidade da Profa. Dra. Sheila Aparecida Pereira dos Santos

Silva e discente Andréia Camila de Oliveira, do curso de Mestrado da Universidade

São Judas Tadeu.

Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente de que:

1) O objetivo desta pesquisa é descrever mudanças na percepção de

competência dos docentes para lidar com situações de conflito em aulas de

Educação Física.

2) Durante a pesquisa, serão utilizados como instrumentos para coleta de dados:

a) Entrevista semiestruturada com os professores/as de Educação Física do

Ensino Fundamental II e Ensino Médio.

b) Questionário

c) Diário de campo do professor

d) Reuniões individuais

3) Na continuidade da pesquisa, serão utilizadas estratégias em que relatarei

situações de conflito ocorridas durante minhas aulas de forma tranquila e sem

comparações com os demais professores ou outros envolvidos.

4) Participarei de 10 reuniões com os demais professores de Educação Física

da escola, conduzidas pelo responsável pela pesquisa. Estas reuniões serão

gravadas em áudio, transcritas e seu conteúdo analisado visando obter as

respostas buscadas pela pesquisa.

5) A presente pesquisa apresenta riscos mínimos para mim, pois se trata apenas

da aplicação de questionário e participação em reuniões. Os desconfortos que

porventura surgirem, serão minimizados pelo esclarecimento prévio dos

objetivos pesquisa, como também da possibilidade de deixar de participar da

mesma, se assim eu desejar.

Page 124: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

124

6) Todos os procedimentos serão acompanhados por profissional habilitado,

com registro profissional junto ao Conselho Regional de Educação Física.

7) Todos os meus dados serão mantidos no mais absoluto sigilo. As avaliações

ao longo do programa serão utilizadas exclusivamente para as finalidades

previstas no projeto de pesquisa, inclusive a publicação dos resultados em

revistas científicas. Terei acesso aos resultados desta pesquisa assim que

estiverem disponíveis.

8) Estas informações permanecerão em posse do pesquisador durante cinco

anos e eliminadas passado esse período.

9) Não haverá remuneração pela participação na pesquisa, como também não

haverá despesas extras pela participação no estudo, pois a coleta de

informações será realizada em situação agendada na escola onde trabalho,

conforme acordado entre o pesquisador e eu.

10) Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas

Tadeu para que toda e qualquer dúvida seja dirimida em relação à pesquisa,

através do telefone (11) 2799-1944. Poderei também entrar em contato com o

pesquisador através do telefone (11) 94511-8686, [email protected]

11) Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma

permanecerá em meu poder e a outra com o pesquisador responsável.

Finalmente, tendo eu compreendido perfeitamente tudo o que me foi informado

sobre a minha participação no mencionado estudo e estando consciente dos

meus direitos, das minhas responsabilidades, dos riscos e dos benefícios que a

minha participação implicam, concordo em dele participar e para isso eu DOU O

MEU CONSENTIMENTO SEM QUE PARA ISSO EU TENHA SIDO

FORÇADO(A) OU OBRIGADO(A).

São Paulo, __________de _________________ de________.

_____________________________________________

Assinatura do(a) participante

Page 125: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

125

APÊNDICE 3 – Entrevista Piloto

A entrevista piloto é composta por quatro questões relacionadas às situações

de conflitos encontradas nas aulas de Educação Física e ações de enfrentamento

aplicadas pelos professores.

1) Cite as séries em que você encontra situações de conflito nas aulas de

Educação Física.

2) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula de Educação Física

como professora na escola.

3) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz ou já fez na ocasião?

4) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas seguintes ou na turma?

Page 126: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

126

APÊNDICE 4 – Questões do Diário de aula

NOME: Nº

IDADE: DATA:

Diário de aula composto por três questões em que os professores relataram

as situações encontradas em suas aulas e ações de enfrentamento, promovendo o

processo reflexivo e a auto avaliação.

1) Como foram as situações que enfrentei na semana passada,

relacionadas a conflitos nas aulas de Educação Física?

2) Como lidei com tais situações (descrever o que fez).

3) Como eu me saí lidando com tais situações? (auto avaliação)

Page 127: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

127

APÊNDICE 5 – Transcrições das entrevistas Piloto

Transcrição da entrevista-piloto com o Professor 1

Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de

conflito nas aulas de Ed. Física.

Professor 1:

O 6º ano, poucos, mas temos alguns. 7º ano é uma série que a gente não tem

tido muitos problemas, 8º ano tá bem legal também a gente vai muito bem, não tem

maiores problema, 9º ano a gente acaba tendo problemas um pouco maiores de

bullying1 principalmente, de relacionamento1 e este ano especificamente eu tive

alguns problemas com o 1º ano do Ensino Médio, que normalmente eu não tinha,

mas esse ano eu acabei tendo numa turma masculina.

Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula

de Educação Física como professor na escola.

Professor 1:

Nós temos aí várias situações né. Vamos ter bastante tempo pra falar aqui

agora. Por exemplo, desse negócio que eu falei pra você agora do Ensino Médio. Tá

acontecendo especificamente na hora do jogo, ou qualquer esporte que seja

basquetebol, handebol, futsal. São dois alunos que tem tido lá um dos alunos um

deles tem uma condição técnica muito superior e o outro uma condição física, uma

agressividade, melhor dizendo superior a esse primeiro que eu citei. E aí acaba

tendo esse embate1. O cara que tecnicamente é melhor, entre aspas humilha o

menino na hora de qualquer jogo1 que seja no futsal, basquetebol, handebol,

voleibol. E o outro que é mais agressivo procura bater nele na hora da situação de

jogo. O primeiro é cognitivamente é um pouco mais rápido no falar e no fazer as

coisas, alia isso àquela habilidade técnica que ele tem. Como funciona isso, ele faz

alguma coisa e fala outra em cima daquela habilidade que ele fez o outro rapaz não

tem muito como lidar com essa situação e parte para a agressividade1 e perde aí

mais a razão no conflito. Então é isso que tá acontecendo com o Ensino Médio. No

ensino fundamental, a situação é outra. O que eu sinto são as coisas acontecem, os

problemas acontecem fora da aula de Educação Física1 e aí na aula de Educação

Física é difícil você pescar o que acontece aí às vezes a situação de você não

escolher a pessoa no time, de você não passar a bola pra determinada jogadora, de

Page 128: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

128

você reclamar quando aquela menina faz um erro, o mesmo erro que outra fez e que

ninguém reclama quando outra menina fez a pessoa vai lá e reclama1. Mas no

ensino Médio a maior parte das vezes são situações que acontecem fora da aula de

Educação Física e aí acabam se mostrando com essas atitudes que eu falei.

Dificilmente acontece um problema dentro da aula de Educação Física provocado

por uma habilidade técnica, ou uma falta de coordenação motora que se manifeste

na aula e aí comece a gerar um problema. Tem sido problemas sociais1 que

acontecem no dia a dia do Colégio e se manifestam também nas aulas de Educação

Física.

Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz

ou já fez na ocasião?

Professor 1:

Sempre, sempre, 100% das vezes eu faço uma intervenção2 direta quando eu

percebo que a coisa ocorreu. Vou ser bem sincero pra você. Nunca houve uma

situação de conflito que eu tenha percebido, ela pode acontecer a gente não

percebe, depois você é chamado atenção por um ambiente externo aí, que foi

levado na orientação. Olha De Simone, na sua aula aconteceu isso, isso, isso, eu

posso retomar e falar com os dois. Mas quando a situação de conflito acontece na

aula e eu percebo 100% das vezes eu fiz a intervenção. Aí há uma diferença,

algumas vezes eu fiz a intervenção só com o causador do conflito e outras vezes eu

fiz a intervenção com os dois e também tem outra diferença, ou a gente faz a

intervenção perante todo mundo, às vezes a gente retira os dois do grupo, para não

expor ainda mais aquele que está sendo prejudicado ou não depende um pouco da

situação qual que é2. Mas a minha atitude sempre é de intervir pontualmente quando

acontece o conflito.

Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas

seguintes ou na turma?

Professor 1:

Eu procuro ser bem atento a esse tipo de situação. Primeiro eu identifico o

problema, identifiquei o problema, pela experiência que eu tenho, é claro que isso aí

não aconteceu desde quando eu comecei a dar aula nesse andamento que eu vou

te falar agora. Mas hoje em dia eu vejo o problema acontecer, identifico qual que

Page 129: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

129

seria a minha melhor atitude pontual naquela situação2 falo com os dois e a partir de

então aí eu passo a fazer uma observação. Especificamente no nosso colégio aqui

você vai entrevistar outras pessoas, eu não sei qual é a realidade de outros colégios,

mas, no nosso colégio a gente tem contato com os alunos em outras situações sem

ser na aula de Educação Física. Eu falo isso fisicamente, a escola permite que você

encontre-os no corredor, numa outra sala, tendo aula em num outro espaço, na aula

de Educação Física, então como é que funciona isso na minha cabeça. Teve o

problema, teve o conflito, eu tive a minha atuação pontual naquele momento da aula

de Educação Física e presto atenção. Acabado aquilo eu fico prestando atenção em

outras situações no colégio que eu sei que eu vou encontrar aquele grupo ou

desejada pessoa e assim por diante. E a partir daí, na aula seguinte, aí sem nenhum

problema eu chamo os dois, tá tudo resolvido? Não houve desdobramento dessa

situação? Como é que tá isso aí pra você e pra como é que tá isso pra outra

pessoa? Enfim, e aí eu vou lidando com essa situação no dia a dia. A gente tem um

departamento de orientação educacional no colégio e que algumas vezes se você vê

que a situação sai da sua mão e você não vai conseguir resolver, a gente passa pra

orientação educacional resolver. Aliás, a conduta do colégio seria sempre que há o

conflito você passar isso pra orientação educacional do colégio para eles

resolverem. Eu não penso assim pra ser bem sincero pra você. Eu primeiro tento

resolver o problema com as minhas ferramentas dentro da sala de aula2. A escola

tem capacitado muito professores com muitas técnicas, formas de agir, forma de

pensar sobre essa situação de lidar com conflitos. Formas de linguagem que você

tem que usar situações de respeito, de justiça e assim por diante. Realmente, a

linguagem eu, escuta ativa, coisas que você pode utilizar no momento ali tenso, pra

desarmar um dos lados e assim por diante. Então baseado nisso eu procuro não

passar o caso pra frente. Eu procuro sempre pegar e resolver o negócio na hora e a

partir de então é uma constância, eu falo espero algumas aulas pra às vezes não

ficar uma situação marcante né. Às vezes acontece o detalhe de você, com uma

intervenção pontual às vezes você pode exacerbar um problema que não seria tão

grande se você ficasse quieto. Então uma situação que o garoto A deixou

constrangido o garoto B às vezes passa despercebida se você não falar nada. Você

pode chegar na hora ali e fazer uma intervenção e aquele garoto B acaba ficando

em evidência, né e aí o problema que poderia ser pequeno você potencializa. Você

vai ter que saber lidar com essa situação, mas “puts”, falar que eu nunca tive

Page 130: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

130

problemas é difícil, mas sempre as intervenções que eu tive normalmente acabaram

se desenvolvendo pra um lado bom da coisa, depois a gente conversa. E outra coisa

que eu acho que muito interessante fazer, e isso eu faço muito e com o passar do

tempo eu fui sabendo lidar com essa situação. Eu chamo as duas pessoas

envolvidas e converso abertamente com o que tá acontecendo2. Eu evito falar garoto

A vem aqui, falo com o garoto A. Aí chamo o garoto B e falo: garoto B, o garoto A tá

falando assim, assim, assado e assim por diante, não. Aconteceu a coisa eu faço a

intervenção, acabou. Depois chamo os dois, que tá acontecendo, você fala na minha

frente, você fala na minha frente, a gente tenta resolver a situação, ponto. Acabou

aqui, acabou aqui. Numa outra aula, aí eu chamo só o garoto A, garoto tá tudo

certo? Não, professor tá tudo resolvido. Aí chamo o garoto B, separadamente, garoto

B, tá tudo resolvido? Tudo resolvido professor. E com a minha experiência eu vou

sentindo se esse tá tudo resolvido é uma realidade ou não ou se eles falarem né só

pra...

Se eu sinto que o negócio tá resolvido eu não passo pra orientação, não

passo pra orientação. Teve uma menina que eu tentei resolver um problema desse

tipo de situação de bullying na sala de aula, e tudo mais, eu não posso falar pra você

se deu certo ou deu errado2, mas o que eu posso falar é que a menina nunca mais

falou comigo. Eu acho que a pessoa acabou não tendo mais problemas de

relacionamento dentro da turma, mas foi uma aluna que eu perdi completamente o

contato que eu tinha o canal que eu tinha. A pessoa nunca mais falou comigo, vai

sair esse ano no 3º ano do Ensino Médio, joga handebol feminino, mas nunca mais

falou comigo.

Quadro 10 – Análise do participante 1 do estudo piloto

Cite situações de conflito que você

enfrentou na aula de Educação Física

como professora na escola

Quando acontece algum tipo de conflito o

que você faz ou já fez na ocasião?

1

1

Bullying 1

2

100% das vezes eu faço uma intervenção

direta quando eu percebo que a coisa ocorreu

1

1

Conflitos de relacionamento (Não há menções)

1

1

Embate entre alunos 2

2

Identifico qual que seria a minha melhor atitude

pontual naquela situação, falo com os dois e a

partir de então aí eu passo a fazer uma

Page 131: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

131

observação.

1

1

O cara que tecnicamente é melhor, entre

aspas humilha o menino na hora de

qualquer jogo.

2

2

Eu primeiro tento resolver o problema com as

minhas ferramentas dentro da sala de aula

1

1

Agressividade 2

2

Ou a gente faz a intervenção perante todo

mundo, às vezes a gente retira os dois do

grupo, para não expor ainda mais aquele que

está sendo prejudicado ou não depende um

pouco da situação qual que é

1

1

Os problemas acontecem fora da aula de

Educação Física e problemas sociais

2

2

Eu chamo as duas pessoas envolvidas e

converso abertamente com o que tá

acontecendo

1

1

Você não escolher a pessoa no time, de

você não passar a bola pra determinada

jogadora, de você reclamar quando

aquela menina faz um erro, o mesmo

erro que outra fez e que ninguém

reclama quando outra menina fez a

pessoa vai lá e reclama.

2

2

(Não há menções)

Perfil individual do Professor 1

(1,2) O professor relatou que em suas aulas situações como bullying e de

relacionamento entre os alunos acabam gerando conflitos nas aulas. Nesse caso, o

professor faz intervenção direta.

(1,2) O professor abordou que há embate entre os alunos por questões de

habilidade técnica. O professor relatou que tenta resolver o problema com suas

ferramentas, conversando com os alunos envolvidos.

(1,2) Questões de agressividade foram relatadas pelo professor e que há

intervenção por parte dele com os envolvidos.

(1,2) Situações de conflitos nas aulas de Educação Física são geradas por

problemas externos que acontecem fora da aula e que se manifestam na aula. O

professor conversa abertamente sobre o que está acontecendo na aula.

Page 132: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

132

Transcrição da entrevista-piloto com o Professor 2

Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de

conflito nas aulas de Ed. Física.

Professor 2:

Nas turmas dos maiores, pra mim todos os maiores a partir do Fund. II eu

encontro bastante dificuldade.

Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula

de Educação Física como professor na escola.

Professor 2:

Uma situação específica eu creio que foi quando dois alunos estavam

brigando1 e eu tive que entrar no meio da briga e separar os dois2. Olha, tem

discussões mais tranquilas se é que a gente pode dizer dessa maneira, mas conflito

mesmo foi deles estarem se pegando um ao outro1. Mas discussão1 realmente

sempre tem.

Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz

ou já fez na ocasião?

Professor 2:

Dependendo do nível da discussão eu resolvo em par e dependendo da

situação eu desço para a coordenação ou direção2.

Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas

seguintes ou na turma?

Professor 2:

Olha, pelo menos nas aulas de Educação Física eles agem normalmente, no

dia seguinte como se nada tivesse acontecido, inclusive com os que estão ali

fazendo parte da briga. Eles parecem melhores amigos como se nada tivesse

acontecido. Agora, quando aconteceu em modalidade específica que foi a ginástica,

aí a gente passou por um conflito teve um pós que foi traumático. Mas foi com uma

garota específica e aí a gente teve todo um trabalho com os pais de conversar com

eles pra resolver a situação. Algumas vezes eu creio que acontece fora, já vem de

aulas antigas, que aconteceram antes da Educação Física e eles acabam por

resolverem ali na hora1, ou outra situação é quando acontece realmente ali e no

Page 133: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

133

calor da emoção de um jogo, de alguma coisa alguns são mais competitivos que os

outros e acaba gerando conflito ali a hora1.

Quadro 11 – Análise do participante 2 do estudo piloto

Cite situações de conflito que você

enfrentou na aula de Educação Física

como professora na escola

Quando acontece algum tipo de conflito o

que você faz ou já fez na ocasião?

1

1

Dois alunos estavam brigando

2

Eu tive que entrar no meio da briga e separar

os dois

1

1

Discussão 2

2

Dependendo do nível da discussão eu resolvo

em par e dependendo da situação eu desço

para a coordenação ou direção

1

1

Conflito mesmo foi de eles estarem se

pegando um ao outro

(Não há menções)

1

1

Algumas vezes eu creio que acontece

fora, já vem de aulas antigas, que

aconteceram antes da Educação Física e

eles acabam por resolverem ali na hora.

(Não há menções)

1

1

Alguns são mais competitivos que os

outros e acaba gerando conflito

(Não há menções)

Perfil individual do Professor 2

(1,2) O professor relatou que em suas aulas ocorreram brigas entre os alunos.

O professor precisou entrar no meio da briga para separar os dois alunos envolvidos.

(1,2) Relatos de discussão nas aulas de Educação Física foram abordados

pelo professor que, dependendo do nível da discussão resolve em par ou encaminha

para a coordenação ou direção.

(1,2) O professor destaca que um fator que contribui para situações de

conflitos nas aulas de Educação Física advém de aulas antigas e que acabam se

resolvendo nas aulas seguintes, pois muitos alunos são competitivos demais e isso

gera conflito entre eles.

Page 134: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

134

Transcrição da entrevista-piloto com o Professor 3

Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de

conflito nas aulas de Ed. Física.

Professor 3:

Por incrível que pareça nesse momento, nesses últimos cinco, seis anos, o 6º

ano é o mais conflitante, por incrível que pareça. Já foi a melhor série para se dar

aula e hoje é o mais conflitante.

De uma maneira geral, eles já vêm pra aula dispostos a falar pra você que

você tá errado, né. Então o que era antigamente que a gente tinha aquele respeito

máximo, professor, professor, as perguntas elas são dirigidas pra você assim: ô, fala

isso, ô você. Ah mas tá errado, não é justo. Isso é o que você mais escuta, não é

justo, isso aí não é justo, tá roubando1. Eles sempre estão te desafiando1. Por

exemplo: a gente tá trabalhando com um novo aspecto da Educação Física com o 6º

ano. Então a gente parou com aquele negócio, só bola, bola, bola, bola, então assim

jogos pré-desportivos, coordenativos, misturando, dando vivências pra eles como,

por exemplo, atletismo, ginástica artística. E a cobrança no começo do ano é

absurda. Não mas porque, e a bola?1 E sempre a gente tá explicando da mesma

maneira. Para se fazer uma chamada tem vezes que a gente leva de cinco a sete

minutos, pra que a gente consiga falar sem que eles estejam falando juntos1.

Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula

de Educação Física como professor na escola.

Professor 3:

É foi há uns três, não, um pouco, mais uns cinco, seis. Esse menino se não tá

saindo esse ano, saiu ano passado. Ele estava no 6º ano, e aquela classe era uma

classe que não tinha condição. A gente levava 15 minutos pra fazer a chamada, a

gente falando, falando1. Eu dava aula com a Claudia, Claudia Regina, e a Claudinha

tentando, tentando, tentando. E nós falando, por favor, moçada, por favor, moçada,

vamos escutar a professora, fazer chamada, estão perdendo tempo de aula e tal2.

Até o momento em que, eu concordo que errei, mas já não dava mais e eu falei Ju,

cala a boca. Ele levantou, ficou em pé em frente a todos os colegas e disse: Vocês

viram, ele mandou eu calar a boca. Então pra você ver o nível de conflito que era.1

Aí eu tive que terminar a aula, chamar o menino, pedir desculpas, porque do jeito

Page 135: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

135

que eu agi com ele, e ele saiu da aula como se ele fosse o correto2. E hoje ele tá no

3º Colegial. Eu não deveria ter falado do jeito que eu falei, mas já tinham se

esgotados todos os pedidos possíveis e imagináveis2, baixinho, por favor, gente. E

ele saiu como herói.

Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz

ou já fez na ocasião?

Professor 3:

Em determinado momento na sala existe muita disputa, em quem é melhor

quem não é melhor, entre eles1, mas eu não sinto assim maldade um com o outro. É

uma disputa saudável, às vezes de nota, às vezes de ser mais habilidoso ou alguma

coisa do tipo, mas assim, maldade entre eles eu não sinto não. E é assim, quanto

mais vai passando o tempo, quanto mais você vai se policiando, você vai

conseguindo de certa forma, entrar no mundo deles. Porque é um mundo totalmente

diferenciado de quando eu comecei a trabalhar. Totalmente diferente e você

conseguindo entrar no mundo deles, aí fica mais fácil, aí eles começam a te ver de

outra forma. Sempre interfiro porque antigamente a gente colocava pra fora, uma

atitude mais drástica e hoje não, você para conversa, senta lá que daqui a pouco

nós vamos conversar. E aí você hoje questiona os dois de uma maneira

diferenciada2. Você acha que tá legal o que você fez? Quando a coisa passa um

pouquinho mais do limite eu sempre uso de uma forma assim, você vai ter que ficar

com ele o ano inteiro na mesma sala, não tem possibilidade de você mudar, então

será que não daria pra você o respeitar e ele te respeitar, então isso funciona muito

bem então você consegue tirar o conflito. Briga de agressão a gente manda pra

diretoria, quando já esgotou toda mediação2. Daí você para, separa, direitinho e

explica que a escola é uma coisa que a escola não admite é a agressão física. E aí,

você conversa com eles e tal e muito dificilmente você recua. Eu por exemplo,

sempre levo o caso pra diretoria porque a gente considera um caso grave, a menos

que o menino diz eu errei, vou pedir desculpa pra ele, to errado, to errado,

desculpa2. Aconteceu com o 9º ano, dois amigos inseparáveis desde o 6º ano, de

repente numa queimada, um queima o outro de uma forma diferente e saíram pra se

pegar1. Eu tive que segurar 2 e aí os dois choraram e tal.

Page 136: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

136

Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas

seguintes ou na turma?

Professor 3:

Eles resolveram ali na hora, agora eles estão terminando o ano, tranquilo,

sossegado. Os dois falaram, nós erramos terrivelmente e eu falei, perfeito, isso é

uma grande coisa de vocês, já assumiram que erraram, só a escola tem uma linha

de conduta e eu vou seguir a linha da escola, vocês contam o que aconteceu e aí é

problema da diretoria, mas pra mim vocês já me deixaram satisfeitos, porque vocês

resolveram o conflito imediatamente após ele ter acontecido, mas não pode

acontecer. Não, não professor, isso não vai acontecer mais. A escola está dando

vários cursos, inclusive um curso muito longo que a gente tá terminando agora,

estamos nas últimas aulas de um ano inteirinho onde a gente está aprendendo

coisas sobre bullying, sobre como intervir e como conversar com o aluno, mediação.

E a gente tá tendo e eu já to até usando dessas formulas que eles chamam de roda

de diálogo. Então acontece um conflito, a gente senta todo mundo numa roda,

círculo, todo mundo um olhando para o outro e aí só fala quem pede licença, levanta

a mão pra falar2. Então é uma ordem terrível, a gente ensina um a escutar o outro e

tem funcionado muito bem. Essas ferramentas nós levamos para a Educação Física

e temos conseguido grandes coisas, grandes resultados, inclusive a mudança de

você ter com a turma, fica um pouquinho melhor e eles se vêm de outra forma.

Quadro 12 – Análise do participante 3 do estudo piloto

Cite situações de conflito que você

enfrentou na aula de Educação Física

como professora na escola

Quando acontece algum tipo de conflito o

que você faz ou já fez na ocasião?

1

1

Eles já vêm pra aula dispostos a falar pra

você que você tá errado, né. Então o que

era antigamente que a gente tinha

aquele respeito máximo, professor,

professor, as perguntas elas são

dirigidas pra você assim: ô, fala isso, ô

você. Ah mas tá errado, não é justo. Isso

é o que você mais escuta, não é justo,

isso aí não é justo, tá roubando.

2

2

Sempre interfiro porque antigamente a gente

colocava pra fora, uma atitude mais drástica e

hoje não, você para conversa, senta lá que

daqui a pouco nós vamos conversar. E aí você

hoje questiona os dois de uma maneira

diferenciada.

1Eles sempre estão te desafiando 2Sempre interfiro porque antigamente a gente

colocava pra fora, uma atitude mais drástica e

Page 137: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

137

1 2 hoje não, você para conversa, senta lá que

daqui a pouco nós vamos conversar. E aí você

hoje questiona os dois de uma maneira

diferenciada

1

1

Para se fazer uma chamada tem vezes

que a gente leva de cinco a sete

minutos, pra que a gente consiga falar

sem que eles estejam falando juntos

2

2

E nós falando, por favor, moçada, por favor,

moçada, vamos escutar a professora, fazer

chamada, vocês estão perdendo tempo de aula

e tal.

1

1

Aquela classe era uma classe que não

tinha condição. A gente levava 15

minutos pra fazer a chamada, a gente

falando, falando.

2 (Não há menções)

1

1

Até o momento em que, eu concordo que

errei, mas já não dava mais e eu falei Ju,

cala a boca. Ele levantou, ficou em pé

em frente a todos os colegas e disse:

Vocês viram, ele me mandou calar a

boca. Então pra você ver o nível de

conflito que era.

2

2

Eu tive que terminar a aula, chamar o menino,

pedir desculpas, porque do jeito que eu agi

com ele, e ele saiu da aula como se ele fosse o

correto. Eu não deveria ter falado do jeito que

eu falei, mas já tinham se esgotados todos os

pedidos possíveis e imagináveis, baixinho, por

favor, gente. E ele saiu como herói.

1

1

Na sala existe muita disputa, em quem é

melhor quem não é melhor, entre eles

De repente numa queimada, um queima

o outro de uma forma diferente e saíram

pra se pegar.

2

2

Eu tive que segurar. Caso de agressão sempre

leva para a diretoria porque a gente considera

um caso grave, a menos que o menino diz eu

errei, vou pedir desculpa pra ele, estou errado,

estou errado, desculpa.

(Não há menções) 2

2

Eu já estou até usando dessas fórmulas que

eles chamam de roda de diálogo. Então

acontece um conflito, a gente senta todo

mundo numa roda, círculo, todo mundo um

olhando para o outro e aí só fala quem pede

licença, levanta a mão para falar.

Perfil individual do Professor 3

(1,2) O professor relatou sobre a forma como os alunos falam com eles, que

não há mais aquele respeito de antigamente. Os alunos utilizam palavras e expõe os

professores a situações constrangedoras como, por exemplo, dizer que o mesmo

está roubando um jogo quando está apitando. Nesses casos, o professor relatou que

antigamente havia uma conduta mais drástica como colocar o aluno para fora da

Page 138: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

138

aula, mas que hoje, tem outra postura como pedir para o aluno aguardar para

conversar após o jogo.

(1,2) Há relato do professor com relação à postura dos alunos quando cita

que eles estão sempre desafiando eles, em que não se consegue fazer a chamada

da sala pela falta de respeito por parte dos alunos. O professor pediu silencia por 15

minutos e a sala não colaborava, até que o professor perdeu a paciência e gritou

com um aluno. Este por sua vez, falou para a sala que o professor estava gritando

com ele e o professor, reconheceu que errou e pediu desculpas ao aluno. O

professor reconheceu que não deveria ter agido daquela forma, apesar de

esgotados todos os pedidos de silêncio com aquela turma.

(1,2) Situações de competitividade foram relatadas pelo professor, pois é uma

sala em que há muito disputa entre eles, de quem é melhor que o outro. Nessa

situação o professor precisou segurar um aluno que queria agredir o colega por ter

sido queimado em um jogo. O professor relatou que casos de agressão são

considerados muito graves na escola e que o aluno é encaminhado para a direção

da escola. Quando acontece algum tipo de conflito na aula, o professor utiliza de

ferramentas como roda de diálogo que para falar o aluno precisa levantar a mão e

esperar sua vez.

Transcrição da entrevista-piloto com o Professor 4

Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de

conflito nas aulas de Ed. Física.

Professor 4:

As séries que eu mais encontro são 7º, 8º e 9º ano.

Geral, depende muito das séries, mas assim nos 9os anos os conflitos

acontecem mais com as meninas e 7º e 8º ano, mais com os meninos.

Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula

de Educação Física como professor na escola.

Professor 4:

Ah sim, já tive. Conflito acontece em todas as aulas. Ah tem vários tipos de

conflitos né, ah de não querer jogar com determinada pessoa1, “poxa” deles

Page 139: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

139

quererem se mostrar demais perante o grupo, e acabam tendo conflito por isso.

Nossa tem inúmeros.

Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz

ou já fez na ocasião?

Professor 4:

Olha, normalmente eu costumo agir na hora que acontece qualquer tipo de

conflito, seja ele de qualquer natureza2. Eu costumo agir na hora. Eu acho que a

maioria das vezes não acontece durante a aula. Eles já vêm de experiência anterior,

ou na escola ou fora da escola1. E levam isso, porque nessas idades que eu citei a

gente trabalha muito esporte e o esporte é muito visceral, você põe pra fora ali

naquele momento tudo o que você ta sentindo. Poxa se você não ta bem, ta com

raiva que é um sentimento que você tem você explode no jogo. Então acho que

muitas vezes é só, como eu falei a Educação Física é um negócio muito visceral, por

isso que a gente descobre muitas coisas na Educação Física porque o esporte

praticado eu acho que muitas coisas vem de fora e é legal que você acaba

descobrindo nessas intervenções tudo que as crianças tem, do que tá sentindo. A

gente costuma na Educação Física levar muita coisa, muita informação pra

orientação do colégio e a orientação entrando em contato com as famílias

justamente por causa disso. Ele se mostra demais quando está praticando esporte.

Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas

seguintes ou na turma?

Professor 4:

Depende muito do conflito, mas normalmente tem sim. Quando você é

coerente, assim no que você faz e você age imediatamente ali, aconteceu a situação

você pega as partes envolvidas no conflito e você resolve de forma direta, sendo

justo, com as partes normalmente tem uma resolução muito bacana2. Quando é um

conflito, por exemplo, entre duas pessoas, enfim, você resolve ali fácil, ou um grupo

pequeno é fácil de você resolver, mas quando o conflito é num grupo muito grande,

a sala como um todo, tem algumas questões enfim né. Aí às vezes você precisa de

mais de uma intervenção e às vezes busca até uma intervenção às vezes até da

orientação educacional2 como no caso daqui. A gente tem, aliás, já tem há alguns

anos aqui no colégio, se não me engano uns sete, oito anos, a gente tem vivencias

Page 140: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

140

periódicas, assim de cursos aqui dentro, enfim e muitas vezes consegue usar. O que

a gente sente dificuldade assim de fazer intervenção a gente tem uma equipe de

auxilio que é a orientação educacional.

Quadro 13 – Análise do participante 4 do estudo piloto

Cite situações de conflito que você

enfrentou na aula de Educação Física

como professora na escola

Quando acontece algum tipo de conflito o

que você faz ou já fez na ocasião?

1

1

Não querer jogar com determinada

pessoa

2

2

Normalmente eu costumo agir na hora que

acontece qualquer tipo de conflito, seja ele de

qualquer natureza.

1

1

A maioria das vezes não acontece

durante a aula. Eles já vêm de

experiência anterior, ou na escola ou fora

da escola.

2

2

Quando você é coerente, assim no que você

faz e você age imediatamente ali, aconteceu a

situação você pega as partes envolvidas no

conflito e você resolve de forma direta, sendo

justo, com as partes normalmente tem uma

resolução muito bacana

Não há menções 2

2

Quando o conflito é num grupo muito grande, a

sala como um todo, tem algumas questões

enfim né. Aí às vezes você precisa de mais de

uma intervenção e às vezes busca até uma

intervenção às vezes até da orientação

educacional.

Perfil individual do Professor 4

(1,2) O professor relatou que nas aulas de Educação Física os conflitos

surgem quando um aluno não quer jogar com determinada pessoa, gerando um

conflito de relacionamento. O professor descreveu que costuma agir no momento em

que acontece algum tipo de conflito, sendo ele de qualquer natureza.

(1,2) O professor relatou e sua entrevista que muitos conflitos advêm de fora

da aula. Essas situações que não ocorrem durante a aula de Educação Física se

manifestam na aula por experiências anteriores na escola ou fora dela. O professor

retratou que age imediatamente, conversando com as partes envolvidas no conflito,

resolvendo de forma direta, sendo justo com as partes e que normalmente tem uma

resolução satisfatória para ambos.

Page 141: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

141

(2) Outro relado diz respeito a grupos maiores, no caso da sala como um todo

precisa de mais de uma intervenção e às vezes o professor busca uma intervenção

da orientação educacional da escola.

Transcrição da entrevista-piloto com o Professor 5

Pesquisador: 1ª) Cite as séries em que você encontra situações de

conflito nas aulas de Ed. Física.

Professor 5:

Bom eu só trabalho com 8º e 9º ano. Eu acho que os conflitos maiores

acontecem com o 8º ano porque eles ainda são muito competitivos, individualistas

às vezes, e tal, então eu acho que são mais concentradas as situações de conflito.

No 9º. Ano já consegue entender um pouco mais a importância do grupo, a

importância de não ter que ganhar a qualquer custo. Então eu acho que o 8º ano é

um pouco mais complicado.

Quando eu falo conflito eu to falando mais de briga, de coisas de briga

mesmo, rusgas entre eles.

Pesquisador: 2ª) Cite situações de conflito que você enfrentou na aula

de Educação Física como professor na escola.

Professor 5:

Eu acho que grande parte dos conflitos, Camila, é culpa entre aspas do

próprio professor de Educação Física que não apita direito os jogos, eu acho que

isso pode causar conflito. Este ano eu tive um conflito com dois alunos numa aula,

onde um era de uma equipe e o outro era de outra e eles estavam achando que eu

estava roubando pra uma equipe porque um era mais próximo a mim1, queridinho,

alguma coisa desse tipo.

Situações de conflito em aula a gente tem muitos conflitos no rali esportivo

que é aquela competição que a gente faz no final do ano aqui na escola. E tive

conflito no seguinte sentido, dos alunos acharem, afirmarem que os professores

estão roubando no jogo, que não apitam direito1, e isso causa um conflito não sei se

é isso que você tá estudando, mas causa um conflito entre professor e aluno. Então

quando você propõe uma competição como a gente propõe aqui no Bandeirantes,

Page 142: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

142

que é uma competição valendo medalha, que vença o melhor, você precisa estar

preparado para dar um ambiente saudável para que essa competição seja de fato

honesta e justa. Se você é um professor que não tá prestando atenção no que ta

acontecendo, se você é um professor que tá conversando durante a aula aí fica

complicado.

Toda vez que é desrespeitoso com alguém isso causa conflito na aula. Eu já

vi acontecer, assim: vocês dois são bons vão pra lá, e vocês são mais ou menos,

vão pra lá, vocês dois são ruins vão pra lá e já começa ali o conflito1. O jeito com

que o professor organiza a aula, a divisão dos times, você precisa tomar muito

cuidado porque a gente causa conflito sem nem ao menos perceber. Você não pode

jamais deixar um aluno se sentir desrespeitado, você sabe disso, diminuído, isso

tudo causa conflito na aula de Educação Física.

Às vezes os conflitos nas aulas de Educação Física eles são causados pelo

papel do professor, pela forma com que o professor encara as aulas, divide os

times1, sabe. Então acho que o papel do professor, é bacana de você estudar,

porque eu acho que grande parte dos conflitos é causada pelo jeito que a gente lida

com as coisas na aula. Eu acho que tem professor que incentiva o conflito, quando

apita um jogo de maneira equivocada, errada, deixa os meninos fazerem o que

quiserem.

O conflito ele acontece, acho que na hora ele é estressante para ambas as

partes, eu to aqui com um conflito com você por algum motivo x é estressante nesse

momento, mas se a gente tem a mediação de alguém, com aquilo que nos

aconteceu ajuda a gente a crescer com esse conflito.

Pesquisador: 3ª) Quando acontece algum tipo de conflito o que você faz

ou já fez na ocasião?

Professor 5:

Foi complicado, mas a maneira que a gente encontrou pra gente conversar

sobre isso foi fazer uma roda de conversa no final da aula. Então a gente sentou as

duas equipes, a gente conversou a respeito e cada um falou o que achava, eu

também me coloquei e disse que pra mim pouco importava quem ganhava ou não,

que meu papel era apitar e eu achei que eu não tinha cometido nenhum equivoco e

que não tava privilegiando nenhum aluno. Mas a maneira foi conversar que é algo

Page 143: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

143

que a gente tem usado muito aqui na escola que é essas rodas de conversa, tentar

mediar os conflitos2 através dessas conversas mesmo.

Pesquisador: 4ª) Houve consequências ou desdobramentos nas aulas

seguintes ou na turma?

Professor 5:

Olha, por que é assim essas rodas de conversas nas aulas de CPG aqui no

Colégio e uma coisa nova que começou no ano passado e aos poucos a gente ta

tentando introduzir nas mediações de conflito. Houve conflito, a gente para para

conversar com os alunos. Como eu dou aula de CPG também, eu estou tentando

levar isso nas minhas aulas de Educação Física. Neste caso específico, eu não

retomei com os alunos. A gente conversou, ficou esclarecido e na aula seguinte,

outra aula com conteúdo diferente, eu não retomei com estes alunos específicos o

que aconteceu. Em CPG a gente sempre retoma na próxima roda o que a gente

discutiu na roda anterior. Eu acho que é fundamental o professor ter algumas

técnicas de como lidar e mediar conflito. Não é fácil mediar conflito então tem

algumas técnicas que a gente estudou, fez um curso em CPG, na verdade estamos

fazendo o curso, é uma coisa que não para nunca é você fazer formação e tal. Eu

vou falar por mim, não sei meus colegas, mas a formação que eu tive em CPG me

ajudou muito a lidar com conflitos nas aulas de Educação Física. Então você precisa

sempre ouvir as duas partes, fazer o que a gente chama de escuta ativa2, o aluno

conta uma história pra você e você repete para o menino ouvir e se é de fato aquilo,

se eu de fato entendi aquilo que ele quis dizer, se foi isso, isso, isso. Você se sentiu

dessa forma, sempre entendendo os dois lados, faze com que cada lado se ouça,

mas são técnicas que são aprendidas. Eu sei que tenho colegas que resolvem

conflitos de outra forma, enfim. Mas eu ter passado por toda a formação pra mim fez

toda diferença.

Quadro 14 – Análise do participante 5 do estudo piloto

Cite situações de conflito que você

enfrentou na aula de Educação Física

como professora na escola

Quando acontece algum tipo de conflito o

que você faz ou já fez na ocasião?

1

1

Eles estavam achando que eu estava

roubando pra uma equipe porque um era

mais próximo a mim

2

A maneira que a gente encontrou pra gente

conversar sobre isso foi fazer uma roda de

conversa no final da aula. Então a gente

Page 144: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

144

2

2

sentou as duas equipes, a gente conversou a

respeito e cada um falou o que achava, eu

também me coloquei e disse que pra mim

pouco importava quem ganhava ou não, que

meu papel era apitar e eu achei que eu não

tinha cometido nenhum equivoco e que não

estava privilegiando nenhum aluno. Mas a

maneira foi conversar que é algo que a gente

tem usado muito aqui na escola que é essas

rodas de conversa, tentar mediar os conflitos.

1

1

Os conflitos nas aulas de Educação

Física eles são causados pelo papel do

professor, pela forma com que o

professor encara as aulas, divide os

times.

2

2

Você precisa sempre ouvir as duas partes,

fazer o que a gente chama de escuta ativa.

Perfil individual do Professor 5

(1,2) O professor relatou que em um determinado jogo em que era árbitro, os

alunos estavam achando que ele estava roubando o jogo por ter alunos mais

próximos a ele no outro time. O professor utilizou a roda de conversa com os alunos

e explicar que nada daquilo procedia e que não havia motivo algum para privilegiar

um grupo.

(1,2) Um relato muito significativo foi exposto pelo professor quando diz que

muitos conflitos nas aulas são causados pelo papel do professor, pela forma que

mesmo conduz e encara suas aulas. O professor relata que é importante ouvir as

duas partes e utilizar estratégia da escuta ativa.

Agrupamentos das categorias do estudo piloto

As respostas dos entrevistados possibilitou identificar as unidades de

significado nos discursos dos professores, trabalho que deu suporte à confecção dos

agrupamentos relacionados ao fenômeno estudado com o objetivo retratar situações

de conflitos enfrentadas nas aulas de Educação Física e o que o professor fez na

ocasião (ações de enfrentamento).

Page 145: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

145

Quadro 15 - Matriz – Análise do estudo piloto

↓ Categorias/Professores → P1 P2 P3 P4 P5 Total

Situações de conflitos

Conflito de relacionamento X X X 5

Influência de conflitos externos X X X 3

Excesso de competitividade X X 2

Falta de respeito dos alunos com os

professores

X X 2

Agressividade X 1

Exclusão dos menos habilidosos X 1

Discussão entre os alunos X 1

Incompetência do professor X 1

Ações de enfrentamento

Conversa com os envolvidos X X X X X 5

Encaminhar para coordenação X X X 3

Separar brigas entre alunos X X 2

Roda de diálogo como mediação X X 2

Page 146: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

146

APÊNDICE 6 – Detalhamento do Estudo Piloto

A pesquisa iniciou com um estudo piloto que teve caráter diagnóstico

avaliativo, o que possibilitou a aproximação com o tema. A primeira etapa da

pesquisa iniciou com a aplicação da entrevista piloto com professores que

ministravam aulas de Educação Física para alunos do Ensino Fundamental II e

Ensino Médio, que constou em solicitar-lhes respostas a questões relacionadas às

situações de conflito encontradas em suas aulas e as ações de enfrentamento.

Um breve histórico dos participantes do estudo piloto será relatado,

identificando-os como participante 1,2,3,4,5 desta forma protegendo a identidade

dos professores e respeitando a ética na pesquisa.

Quadro 16: Identificação dos professores do estudo piloto

Características/Participantes P1 P2 P3 P4 P5

SEXO Masculino X

X X

Feminino

X

X

IDADE

30 a 35 anos

X

36 a 40 anos

41 a 45 anos

X X

46 a 50 anos

51 a 55 anos X

Acima de 55 anos

X

REGIME DE CONTRATAÇÃO

Efetivo X X X X X

Contratado

TEMPO DE EXPERIÊNCIA

10 a 15 anos

X

16 a 20 anos

X

17 a 25 anos

X

26 a 30 anos X

Mais de 31 anos X

Os participantes desta pesquisa foram cinco professores de Educação Física,

sendo 3 do sexo masculino e 2 do sexo feminino. A média de idade deste grupo foi

de 46,8 anos com desvio padrão de 10,03 anos. Com relação ao vínculo

empregatício, todos eram efetivos no cargo. Três docentes têm experiência com

Educação Física escolar de 10 a 20 anos. Um professor têm 30 anos de experiência

na escola e, por fim, apenas um professor têm 41 anos de experiência na docência.

Page 147: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

147

Em relação à formação inicial dos docentes que participaram do estudo piloto,

todos os professores têm licenciatura plena em Educação Física, sendo que 2 deles

se formaram na mesma faculdade púbica de São Paulo e três professores se

formaram em faculdade particular em São Paulo.

Quadro 17: Formação dos professores

Características/Participantes P1 P2 P3 P4 P5

FORMAÇÃO INICIAL

Licenciatura Plena X X X X X

Licenciatura/Bacharelado

FORMAÇÃO CONTINUADA

Pós-Graduação lato sensu X X

X X

Pós-Graduação stricto sensu Não tem

X

No que se refere à formação continuada, o Professor 1 tem especialização

em treinamento de modalidade esportiva. O Professor 2 tem especialização em

Gestão em Educação e Psicopedagogia. O Professor 3 não tem cursos. O professor

4 tem especialização em Educação Física Especial. O Professor 5 tem

especialização em Educação Física Escolar e outros cursos voltados para o esporte.

As entrevistas piloto ocorreram no colégio e cada professor respondeu

questões relacionadas a situações de conflitos encontradas nas aulas de Educação

Física e ações de enfrentamento ao responderem as seguintes perguntas:

1. Cite as séries em que você encontra situações de conflito nas aulas de

Educação Física.

2. Cite situações de conflito que você enfrentou na aula de Educação Física

como professor (a) na escola.

3. Quando acontece algum tipo de conflito, o que você faz ou fez na

ocasião?

4. Houve consequências ou desdobramentos nas aulas seguintes?

Os professores que participaram da entrevista piloto contribuíram

significativamente para a evolução da pesquisa. Ao abordar temas como conflito nas

aulas de Educação Física e suas ações de enfrentamento, foi possível detectar que

independentemente da escola e do nível social dos alunos, os conflitos se

Page 148: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

148

manifestam de diversas formas e cada professor utiliza uma estratégia diferente para

mediar e isso me mostrou que muitos professores utilizam o diálogo como forma de

mediação e que em casos mais graves encaminham para a coordenação/direção.

O modo de abordar os professores na entrevista ocorreu de maneira formal,

ao passo que, na etapa seguinte da pesquisa, em outro colégio, demonstrei mais

segurança, promovi mais diálogos e intervenções. As respostas obtidas na etapa

piloto contribuíram para ampliar meus conhecimentos sobre o tema e tratar do

assunto de forma mais clara e objetiva.

Para a análise do estudo piloto, as respostas obtidas nas entrevistas foram

transcritas, grifadas e organizadas em duas categorias: 1 e 2.

Categoria 1) situações de conflito ocorridas nas aulas de Educação Física.

Categoria 2) intervenções do professor em situações de conflito.

As respostas foram analisadas individualmente e apontaram os itens mais

citados por cada professor.

A seguir, elaboramos uma lista das principais situações de conflitos

encontradas e as ações de enfrentamento realizadas pelos professores, resultado

do estudo piloto:

Brigas entre os alunos: conflitos externos e excesso de competitividade nas

aulas de Educação Física acabam gerando brigas entre os alunos.

Influência de conflitos externos: muitas situações de conflitos que ocorrem

fora da aula de Educação Física acabam se manifestando dentro dela,

favorecendo os conflitos de relacionamento.

Conflitos de relacionamento: grupos de alunos que não querem jogar com

determinadas pessoas por não serem tão habilidosas, ou por não gostarem

da pessoa, ou por terem tido problemas com ela fora da aula. Na hora do

jogo, acabam manifestando indiferença ou exclusão.

Excesso de competitividade: há embate entre os alunos e aqueles que são

tecnicamente melhores no esporte, acabam menosprezando os outros alunos

que não são tão habilidosos.

Exclusão dos menos habilidosos: alunos que jogam melhor acabam

Page 149: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

149

excluindo ou menosprezando dos alunos não tão habilidosos, na hora da

escolha do time ou mesmo na hora do jogo.

Discussão entre os alunos: discussão entre os alunos por diversas

questões sejam elas referentes a situações ocorridas dentro da aula, ou

aquelas que ocorrem fora da aula e que são manifestadas na aula de

Educação Física.

Incompetência do professor: muitos conflitos que ocorrem nas aulas são

causados pela atuação do professor, pela forma como ele divide os times,

encara as aulas e incentiva o conflito quando apita um jogo de maneira

equivocada, errada, deixando os alunos fazerem o que quiserem nas aulas,

deixando a classe sem liderança.

Além de situações de conflitos relatadas pelos professores, foram citadas

situações de bullying quando um aluno quer se mostrar melhor do que o outro e

acaba menosprezando e ridicularizando o aluno não tão habilidoso. Há relatos de

que problemas sociais que acontecem no dia a dia do colégio se manifestam

também nas aulas de Educação Física.

Com relação às ações de enfrentamento dos conflitos nas aulas de Educação

Física, os itens mencionados com mais frequência pelos professores foram:

Conversar com os envolvidos: todos os relatos demonstram que a ação de

enfrentamento do conflito mais utilizada pelos professores é conversar com os

envolvidos de maneira clara e objetiva.

Encaminhar para coordenação: os professores relataram que, após uma

intervenção direta, caso não haja conciliação ou ocorra um fato mais grave,

os alunos são encaminhados para a coordenação da escola.

Separar brigas entre alunos: os professores interferem separando os alunos

para evitar a violência entre eles.

Roda de diálogo para mediar o conflito: os professores foram orientados

pela coordenação da escola a utilizarem a roda de diálogo para mediar

situações de conflitos em suas aulas. Todos os alunos sentam em uma roda e

é discutido em grupo o que ocorreu.

Ao concluir o estudo piloto, percebi a importância deste processo enquanto

Page 150: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

150

pesquisadora. Foi possível me aproximar dos professores e do tema pesquisado de

forma mais segura, compreendendo um pouco mais a respeito do cenário de conflito

em aulas de Educação Física e como os professores estão enfrentando essas

situações nas escolas com seus alunos.

Page 151: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

151

ANEXO

PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA E PESQUISA - CEP

Page 152: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

152

Page 153: ANDREIA CAMILA DE OLIVEIRA...Aos meus pais Braz Ferreira de Oliveira, Maria Camila de Oliveira e toda minha família por acreditarem em mim e incentivarem minhas escolhas. vi A mente

153