anderson p e camiller patrick introduc3a7c3a3o in um mapa da esquerda na europa ocidental

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Page 1: Anderson p e Camiller Patrick Introduc3a7c3a3o in Um Mapa Da Esquerda Na Europa Ocidental

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(OnTRAPonTO

Revisão de trilduçãoCésar Benjamin ..

Organi7.açãoPerry Anderson" 'Patriek Camille~

Tradução .Maria Luiza X. de A. Borges

UM MAPADA ESQUERDA

NA EUROPAOCIDENTAL

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'8 :I UM MAPA 1>A RSQUEROA NA nunoPA OClonNT'" .. . II '..:' .'. , .. Peter Malr é professor de PoJ(tica Comparada na Universidade de Leiden. £ autor de

.. ' TlIe G.hiillgillg In'sh Party Syst~m (1987). Identity. Compelifiotl a1fd E1ectoral Am;lability{I 999> ~~Rep,.c.setltativc Govcrmnetlt in Modem Ellrope (segunda edição, 199.4) •

.. ' I, .: .. . Lars ~joset é diretor de pesqu.isas [lO Instituto de Pesquisa Social. Oslo.,. ... :Stepher{Padgett é professor de líolítica Européia na Universidade de Esse~. t Co-autor.de polit~~(ll Parfies and Ele~tion it, Wesr Gennat,y(J986) e A HistoryofSodaf Democracy,:j!i.PO$~rr Europc (1991). E co-orgal1j~dor de Dcvelopments ir, Germall Politics (1992)e oi'~nitildor de Adcmiue,. to Kohl: .The Dcvelopmctlt of the Gcrmall Chmlcellorship.~1.994). f!- (arnb~m co-editor da revista Gemlan Pqliti(.S. . ., ."WilIiRm,E. Paterson é pr~(~or de [nstituições Européias e diretor do Europa Illstitu(,c. -4a U~1iv~rsidade de Edimburgo. Seus livros mais recentes. em co-nutoria, são Govem-.'memt mid lhe Chemical Inoustry ;n Bn'ta;" llnd GemlQlIY (1988), Govr.rniilg Genmmy .(1"991)~;A History of Sodal D~mo~racy ;n Postw.ar Europe (1991). £ co-organizador del)evclop(ncl1ts in German Politics (l992) e co-editor da revista German Poli;ics.

. 'IJonas P~ntusson é professor de Administraçao P(lblica na Universidad~.de' Cornel!.J:: autor 'de Thc Limits of Sodal Democracy: blvc.stmellt Politics ;11Swed~1J (l992) e co-oig~Jli ••..•1~or de Bargaining for C1Jallge: Un;ofl Politics ;11 North Amen'ca and £uropc'

. (1992). Atualmente, desenvolve' uma pesquisa comparativa sobre reestruturação iodus.trial e múdança polltica na Europa Ocidental.

George Ross é professor. da cadeira de Classes Trabalhadoras e Pensamenlo Social naUniversidade de Bandeis e pesquisador-associado do Centro de Estudos EuropeusMinda de Gunzburg. da Universidade de Harvard. Seus livros recentes incluem Workers~Ijd Comt1lrmists in Frallce (1982). The View from IlIsideo'.A Frendl Comitllmist Celli!, C,.isis.~com Jane Jenson) (l98S~> Uniom, Crisis alld Challgc (com P. Lal1ge e M..Vannjcclli) (1982), o primeiro volume da série do Centro de Estudos' Eúropeus deH~rvard,sobre reações d~ sindicatos. a crises ecof.l6micas, Tire Mittermld Experimctlt(com S. ~o(fmann e S. Mal1.•.,cher. orgs.) e Searching for the Ncw Francc (com JámesHollifield). Em 1994, publicou The Cydisto' ]acques Delors and Europeallllltegratioll.

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Bcnt S~(till Tranoy é pesquisador do Centro de Pesquisil Internllciollal sobre o Clima ea Energia ida Universidade de Oslo.

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INTRODUÇÃO

Perry Anderson

A socialdemoéracia na Europa Ocidental gozou tradicionalmente de uma ima-gem plácida. Os partidos da Internacional Socialista pareciam integrados à cenado após-guerra, veículos de uma política de reformas nem sempre eficaz, masclaramente respeitável. Nos últimos anos. uma súbita série de choques expôsum sinistro reflexo dessa identidade. Em fevereiro de 1993. o líder socialista ita-liano Bettino Craxi - a figura polUies dominante em seu país nos anos 80.quando foi primeiro~nlinistro duas vezes - renunciou sob uma avalanche deacusações de corrupção. Atualmente. foge da prisão na Tunísia. Em maio de1993. Pierre Bérégovoy, socialista. primeiro-ministro da França, questionadopela imprensa sobre suas finanças pessoais e desalentado com a fragorosa den'o~ta de seu partido naS urnas. suicidou-se no Dia do Trabalho. Duas semanas maistarde. o Hdcr do Partido Socialdernocl'ata Alemão (SPD). Bjorn Engholm. re-nunciou após confessar ter mentido no episódio da queda de um concorrentedemocrata-cristão em Schleswig-Holstein, mais tarde um suicida. Nem um mêsse passara quando o mais poderoso Uder sindical alemão, Franz Steinkühler,secretário-geral da IGMetaIl. foi obrigado a abandonar o cargo após certas reve-lações: usando informações sigilosas. fizera negócios numa companhia em cujoconselho diretor tinha assento como representante dos trabalhadores. Enquan~to isso, no mesmo periodo. avolumavam-se acusações de corrupção generaliza-da contra o governo de Felipe González, na Espanha. Na prhnavera de 1994.dois dos mais graduados funcionários desse governo - os dirigentes do BancoCentral e da Guardia Civil - foram acusados de enriquecimento ilícito. Umdeles está na prisão e o outro, escondido. Na Grã-Bretanha. o Partido Trabalhi's-ta - diferentemente de seus correspondentes na Itália. França. Alemanha eEspanha - não desfrutou de poder. nem nacional nem regional, por mais deuma década. Mesmo ali. porém, o principal benfeitor do pal1ido e seu protetorna imprensa, Robert Maxwell- um ex-parlamentar trabalhista, cujo controledo império Mirrorfoi selado pela liderança trabalhista -, morreu ao cair de umiate de luxo. depois da maior fraude financeira da história britânica.

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As sensações são passageiras. A enxurrada de escândalos que varreu a so-cialdemocracia na Europa Ocidental nos anos 90 não é necessariamente umindicador seguro de seu futuro. Mas é bastante improvável que a coincidênciadesses episódios nos cinco maiores Estados da União Européia careça de signi-ficação. Elessugerem uma crise TJ;loralmais ampla na identidade das maioresorganizações da esquerda na Europa Ocidental. No passado, evidentemente,não teria sido possível falar num movimento socialdemocrata único em todaessa região. Pois a metade ocidental da Europa esteve tradicionalmente divi-dida em duas zonas distintas. I Historicamente, os partidos de massas da Se-gunda Internacional surgiram nos paises do Norte. A socialdemocracill clássi-ca lançou raizes nessa região, onde havfa uma classe trabalhadora numerosabaseada em grandes concentrações de indústria pesada (Grã-Bretanha, Bél-gica) ou então uma classe de pequenos agricultores disposta a se aliar com ooperariado (Escandinávia). Partidos de massas, sindicatos fortes e rápido cres-cimento eleitoral marcaram esse reformismo do Norte, No entanto, apesar dealguma experiência em cargos de governo no intervalo entre as guerras, ele sóse tornou urna força regular de governo em toda a região depois da SegundaGuerra Mundial. Foi entàQ,durante o longo boom do após-guerra, que os par.tidos britânico, do Benelux, nórdicos e germânicos, sem concorrentes de pesoà sua esquerda, se impuseram, Embora indústr.ias selecionadas tenham sidoestati7..adasem alguns pafses (Grã-Bretanha e Áustria foram os casos mais sig~nificativos), a propriedade pública não estava entre seus objetivos básicos.A marca registrada da socialdemocracia no Norte foi a edificação de welfal'estates, com pleno emprcgo c amplos serviços sociais. As formas e a abrangên-cia destes serviços variavam de país para país, e os resultados raramcntc se de~viam apenas à iniciativa socialdemocrata. Mas o sucesso político desses parti-dos sernpre se baseou em sua habilidade para capturar a identificação popularcom essas duas realizações, O capital de apoio poUtico assim criado provou-seacumulativo, No Norte como um todo, os sucessos da socialdemocraciaatingiram seu apogeu não no infcio dos anos 50 ou 110Sanos 60, mas no iníciodos anos 70.'"Nosanos 1974-75, pela primeira e única vez na história do após-guerra, havia primeiros-ministros socialdemocratas em todos os Estados daregião: Grã.Bretanha, Alemanha Ocidental, Áustria, Bélgica,Holanda, Norue-ga, Dinamarca, Suécia e Finlândia.Jr Mais ou menos ao mesmo tempo em que esse auge poHtico era alcançado,porém, esmoreceram as condições econÔmicas subjacentes ao sucesso do re-formismo do Norte. Em meados dos anos 70, os lndices de crcscimcnto ti-nham caído, a inflação se acelerava e o desemprego crescia. Ficou claro que aeconomia capitalista mundial estava caminhando para um longo decllnio, Nanova conjuntura, a socialdemocracia não cnreciRapenas de políticas eficazespara enfrentar a crise. Ela se viu associada à própria crise, quando o ressurgi~

. l... .nlel1to ideológico do monctarismo escplh~u os gastos estat,us\~~cesslv9~.eo~;.sindicatos superpoderosos como as causas-çhaV'eda estagflaç~.o,O I.'esultado....foi uma onda de reações contra. o consenso em torno do welfare state que ,a.sodaldemocracia presidira, o que resultou em partidos de dirci~tano pod.er emtoda a regiã0;.lComeçando com o regime Thatcher na Grã-Bre:;tanhaem '19?9,.o movimento espalhou-se pela Alemanha O.cidental, os Pafses p,ai:x:ose.d~pois)de maneira mais desigual, pela Escandinávia. Nesse período, $:6a Áus.tr~ae a,S~écia resistiram à tendênciatO padrã.o.dóI11inantedos anos ~~ f~j .bem ~efi-:1ido, Em todo o Norte da Eu"ropa,a esquerda perdeu terreno .pohtlco e mte-.J . ,. r Ih d .'lect"ualpara uma direita revigorada, que investia contra toda su~ la a ..e servI-,..ços no após.guerra;.! . '. . .. L .. .."o crescimento da esquerda tomara um camll1hodlfere.nte 11? Sul da ~~r~pa.,

.Na França, ltália, Espanha, Portugal e Grécia~a indl1strializaçã~1chego~ em ge-rai de maneira menos c0r:"pletaou mais'tar4ia, tipicamente no:~uadro ~~ ul.n~ag~:'iculturaatrasada, em q~e era for~e,a iJ)fl~êllciado cl~ro e d~s prop.netál'los

. de terras. Aqui o anarco-sindicalismo era ulUacorrente Impor{~nte 1~0apogc~.da Segunda Intcrnacion",1; no entrepguerras; aTerccira Internl~ci.onal.formolÍ..partidos comunistas que, em 1945,já se tinham tornado a forç~.~reponderán~eno .1l10vimentotl'abalhista, Mas, s.ea esquerda,~o Sul ~ra pol~tt.~amen~emaisradical que a do Norte, era também estruturalmente mais fra~Em socle~ade~..nienos modernas, o equillbrio de forças no após-guerra favorec~u pesadamentea direita na maior parte do 'tempo. 'Na.ltália, depois do infcio d,~Guerra Fria, a 'heg~monia da Demoáacia Cristã pel'll1.ane~euintacta dl1rantc,;trinta anos. ~aFrança, a fundação da Quinta, Repúblic.1por De Gaulle a;segu;o.u u.I~.çon.t~ole,conservador estável por duas décadas.:~~ ~panha e em I ortu~al, antlga~dlt.a~..'duras.persistiram. Em plenos. anos 60, .~ilitares tomaram o ll.?der ,na ,GréCIa.Com o tempo, contudo, o iOJ.lg? booni teve seus efeitos tamb.ém n~ cm,turão:.meditel'râneo, na medida em que o d~s~!1Volv1mentoeconómii~oc a n:1ll.da~çasocial el'odiam graduálmente as fundaç'õ.esda ordem domina~te. Na .segUl~~~l'rietade dos anos 70, os r.egimes d~ .Pt'an~o,Sala7.3r,e Papad~?oulos estavahifinalmente encerrados. Na Fr~llçã,a capacidade de Giscal'd de asstgurar a con~ 'tinuidade da herança gaullista estava em ~isível decHnio. Na Itália, Andreottiteve d~ ampliar sua base parlamentar, es(abeleccndo consultas informa!s.com o

'.PatiidoComunista(PCI)'J . ::'. ::. ,11:.'. 'A liberalização tardia ,da.0rde.1llpol~ticnabriu oportuJ11dad.~óhvl~s:.pa~'~a.

e5~uerda, portadora de alternativas poi' .m~i~otempo negadas..Na pnnclpa! ,... triilca .de Estados, os partidos comunistas, ~entaram se estabe~~cerc.om~.can- ,.. didatos naturais para uma mudança de,poder, mediante a ado?~ de 11~c.on~:.. Útucionalismo conciliatório, em cOllformidade com as trad,çoes oCldcll.tat~,(e-en; conu'aposição às soviéticas). Mas.~ tentativa eurocomull,i,stade se aju~:aràs nova, condições malogrou em toda parte. APresentalldo.slllll1l1la gama:d~'

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l'IINTRODUÇÃO'

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UM MAPA DA nSQUllROA NA IWnopA. OCIOnNTAI.10

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• Literalmente. "grupos ascendentcs". Expressão usada para caracterizar os grupos, locali7..lldosprincipnimente nas cidades do Norte, que mais se beneficiamm da expanslio econômica havidaentre 1983 e 1987, e que exibiam um estilo de vida supostamentc "moderno", com ~nrase nosucesso mnterio.l.(N. do R.)

administrações foi severamente limitado pela conjuntura internacional. Asmesmas pressões oriundas do mercado mundial que ajudaram a levar a direitaao poder no Norte inibiram quaisquer impulsos radicais por parte da esquerdano Sul. Depois do malogro, em 1982R83, da tentativa inicial da França de pro-mover uma expansão antidclica, o euro-socialismo, em sua maior parte, simMplesmente se deixou levar pela maré da economia global. A partir de meados dadécada, ele se tornou o beneficiário passivo da febre especulativa provocadapela política financeira deficitária de Reagan, que disseminou fortes tendênciasconsumistas entre as camadas mais prósperas do eleitorado, ao mesmo tempoem que pouco fez.pelos pobres e os desempregados. Este padrão foi especialMmente nítido na Itália, com o florescimento dos ceti rampatJti-* sob Craxi, e dUMrante a segunda administração Gonzálcz na Espanha.

Emhora distante do modelo clássico de reformismo previdenciário, ainda sepodia considerar que o desempenho da versão sulista da socialdemocracia -ratificada por reeleições na França, Espanha e Grécia) e por um relativo cresciMmenta na Itália - estava compensando os reveses sofridos pelos movimentosdo Norte no~ 3110S80. Num balanço europeu ocidental, tinha de ser levada emconta a sobrevivência do Partido Socialdemocrata Sueco (SAP) no governo,ainda resistindo à virada neoliberal, e de uma coalizão austrfaca também sobpredomfnio da socialdemocracia. Era possível considerar o quadro geral confu~SOl mas não inteiramente perdido. Esta foi, de fato, a conclusão da maior sintc-se comparativa sobre a socialdemocracia nesses anos. Com admirável cuidado cmeticulosidadc, Wolfgang Mel'kel retraçou em Ende der Sozialdemokrane! [Fimda socialdemocracia?] o desempenho dos partidos socialdemocratas nos de-zesseis principais países da Europa Ocidental até 1990. Ciéncia política originalem sua melhor expressão, o estudo de Merkel não é apenas um excelente traba-lho de pesquisa. B também uma bem articulada discussão.2 Discordando de umamplo espectro de críticos - neoconservadores, liberais, marxistas, teóricos daregulação, analistas da escolha racional- que haviam sugerido, a partir de diMferentes pontos de vista, que a socialdemocracia enfrenta um declinio histórico,Merkel trata de mostrar com precisão estatfstica que. se o período 1974-90 forcomparado com o de 1945M73,a socialdemocracia européia como um todo nãosofreu perda nem de força eleitoral nem de poder governan'lcntal. Até o recuopoUtico, na medida em que ocorreu) foi superestimado. Num espfrito de sensa-ta lealdade a ideais progressistas, Merkel termina com uma nota de otimismo.Apesar das novas condições, a socialdemocracia resistiu bastante bem à mu-

'3IN"l'nODuçÃO

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'I": 1~. II UM M~~A.n~:nS~~2RDÁ NA I!U.ROPA OCIDIlNTAL' . '~.' . •

. , r ..colornções, todas sociaJdemocratas pelos padrões da Terceira Internacional, ospartidos',!taliano, francês c espanhol tiveram de competir com concorrentes ge~nuinamente socialdemocratas, que, embora iriicialmente muito mais fracosnão tinh~m as desvant~gens da burocracia interna e da associação externa co~os regimes da Europa OrieniabfTodos foram rapidamente superados pela pas-

o sagem de~sas formações euro-so,cialistas - PS ['na França]. PSOE r na EspanhaLPSI [na I~~lia}-para o cen~ro da cena nacional. Em Portugal e na Grécia,. ondeo~ partid~s comunistas permaneceram não reformados, o resultado fói o mes-

.J110: o PSp [em Portugal) e o Pasok Ina Grécia] - este último. uma cdaçãointeiramente nova -logo os alcançaram.. Quan~o o ,Poder finalrncnt.e inudou d~ mãos, o beneficiário foi, portanto,uma nová soclaldemocracia, e não um comunismo renovado. Numa inversãodos papéiS do apÓS-Bl:lerra,exatamente quando °Norte da Europa tendia para a

. direita. a Europa do Sul incIinava.se para a esquerda. No início dos anos 80,.ly1itterrand era presidente da França, e González., Craxi, Papandreou c Soareseram primcirosMministros da Espanha, Itália, Grécia e Portugal. A composiç.iopolítica d~sses governos estava longe de ser unifol'me. Na França, Espanha eGrécia, havia amplas maiori~s socialistas na amara, ao passo que na Itália e emPortugal os socialistas eram apcnas'o pivô de uma coalizão dominante. As políti.cas il1icial~nente praticadas pelos partidos euro-socialistas tampouco eram assim

.tão .semelhantes. Na França. c em menor grau na Grécia, foi empreendido um. b'. " dam 1CI0S0pl'Ogl'ama e cstati.zação. redistribuição e reOação,'" que não 'teve'con-trapartid~:nos demais países. Nà Espanha, tentou-se desde o início a ortodóxiafinanceiraTque nunca foi praticada na mesma medida na ltália.1No final da déc.1.

. da, porém. eram nítidos os elementos de um balanço comum. A socialdcmocl'aMda rião reproduziu, no Sul, <> padrão original do Norte: partidos de massas daclasse trabalhadora, ligados a f0l1es movimentos sindicais. No Sul, a uma lideMrança tipicamente composta de profissionais liberais em ascensão. correspondeuum eleitorndo mais heter6clito, e antes um declínio que um crcsciment~.dos sin-dicatos e~ tamanho e força. Ela também não foi capaz de repetir a fàçanha dopleno emprego que o Norte conseguira no após.guerra: o número de desempre~

'gados permaneceu alto ao longo de toda a década de 1980. A Espanha, onde ogoverno socialista durou mais tempo, detém o recorde europeu do desemprego~

.~)Ol'ou(ro lado, se um welfare state importante não foi criado ou ampliado,me:destas ;reformas sociais foram introduzidas, ao lado de alguma moderniza-ção J.nstituCional, ali onde os sistemas judiciários eram particularmente arcai.cos'ou os processos democráticos ainda inseguros. O desempenho global dessas

. ~ As pollticas deflacionári"s trndiciooaill produzem recess!o econômica. As políticas reflacio-nárias tent31ll est.imular o crtscimento, evitando no mesmo tempo uma retomada inOncionAria.(N. do R,) :' .,

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'. UM MAPA I)A nSQUnnDA ~A nunol'/\. OCIODNTAL. nÍTnoDuçAo

dança da conjuntura internacional ei na medida em que está se desenvolvendouma Clnova exigência de regulação por cima do mercado", não há razão paraque ela não venha a florescer novamente.Assim PNdia se apresentar o balanço a um observador engajado, mas eSCrU.

puloso, em 1990. Desde então, os fatos não foram benévolos. No Norte, a tenta-tiva sueca de uma "Terceira Via" se desintegrou, e o Partido Socialdemocrataperdeu o poder em 1991 para o p~Í1neiro governo de liderança conservadoradesde os anos 291 no verão de 1994, os desempregados correspondiam a cerca de14% da força de trabalho - entre os mais altos índices q3 Organização para aCooperação e o Desenvolvimento Econômico (OECD). tNo Sul, o socialismofrancês sofTeu grave derrota nas eleições de 1993) O que deu à direita a maiormaioria parlamentar na história da Quinta Repl1blica. Na Itália, o PSI- apa-nhado no centro da tangentopoli" - foi aniquilado, não conseguindo eleger umdeputado sequer nas eleições da primavera de 1994, quc guindaram ao poderuma coalizão mais radical da direita, em grandc parte neofascista. Poucos mesesdepois, as eleições européias ofereceram um triste retrato da situação da esquer-da em toda 11 União Européia. Na Espanha, o Partido Socialista foi fi.agoro.samente derrotado, pela primeira vez, por seus oponentes conservadores. NaFrança, o voto do PS caiu para menos de 1/6 do eleitorado, forçando MichelRocard a renunciar à liderança do partido. Na Itália, o maior partido residual daesquerda, o recém-formado Paltito Democratico della Sinistra (PDS) - cx-co-munistas transformados em socialdemocratas - foi reduzido a menos de 1/5 doeleitorado, obrigando Achille Occhetto a renunciar também. Na Alemanha, de-pois de doze anos de governo de Kohi, o voto do Partido SociaJdemocrala caiu aseu n£vel mais baixo desde os anos 50. Só na Grã-Bretanha o partido tradicionalda esquerda, o Trabalhista, obteve ganhos maiores, mas com uma votação -pouco mais de 1/3 do eleitorado - pequena demais para inspirar lnuita segu-rança em seu futuro. Comparações estaUsticas que fossem fcitas a parti!' de mea~d?s ,nos anos 90 - quando o Sul da Europa deu uma brusca guinada palel adireIta, scm que a esquerda tenha tido até agora qualquer reabilitação convin~cente no Norte - seriam menos tranqüilizadoras que no final dos anos 80...1Os ciclos eleitorais nacionais vão e v~m. A diversidade dos Estados da Euro-

pa Ocidental torna improvável que eles alguma vez venham a coincidir com-pletamente. Continuará a haveI; governos conduzidos por panidos socialde-mocratas - como, no momento em que escrevo, na Noruega, Dinamarca,Áustria, Espanha e Grécia - e futuras eleições serão ganhas-P0l" eles, como pro-vavelmente ocorrerá em breve na Suécia. Mas há uma crise subjacente, cujo

.• Em trnduç1\o livl"C,"propinópolis", ou Kcidade do suborno". Expressão popular itnlillllfl, clInha.dfl pam carncterizar a onda de dem\ncias de corrupção que abalou profundamente fi vida polfti-ca do pais nos lí1thnos :mos. (N. do R.)

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sentid<.>é inequlvoco. Eia não foi aliviada, ma.s a~ra~da, pelo colnp~o do c6m~- .:..nismo na Europa Oriental. Çontrariando. obscrvadores otimist~s, .ésse c.olapso . _ .. :.não (oi um tônico para a socialdemoeracia, por justificar a contrario sua opçã-o ..l~istól"icapela via das' refOrmas consti.tucionais moderadas:O triu\lfo ideológico.. . ~.dq mercado foi tão completo no Leste que ricocheteou contra qlialqucr ~so do ...~ta~o para a regulação econômica ou a prcvid~ncia social no Oqident<:.t£. dÜl~ .cil dizer quanto tempo vai durar essa pre.dpitação radioativa.1Nb'ste momento,.seu.efeito é impressionante. Pois ela ocor~eu quando a Europa déidental ainda.. ,~stava por se recuperar da piaI' recessão,desde a guerra.ptualmbrite, o desem-.prego nãó cstá apenas muito acima dos nlveis registrados nos E~tados. Unidosou no Japão. Na vcrdade, é mais elevado que nos anos 30, sem que haja qual-quer perspectiva de melhoria a longo pn~zo.3 Ccrca de 20 milhõe~ de pessrias-,- ..mais que toda a população da Escandinávia - estão sem emprtgo na Europa.Ocidental.fNo entanto, longe de fortalecer a socialdcmocracia C01110 um remé-dio con.tra os males do capitalismo, a vólta desse açoite- que foi;.n~~euparcela:tão. gI~ande da raisond'~treoriginal dos !Jlovilne.ntos socialdemb'cratas - v.cio .-âpelias cnfraquccê~la ainda mais. Outro1".aa principal defcnsol'J'dc: pr.ogramas:.para resistir ao desemprego gencralizado, ela parece agora redu~ída -à coildição .de espectadora impotente, enquanto a maré dos desempregadQs cresce cons-tantemente, de um ciclo econômico para outro ..A socialdcmocracia pode nãoestar. prestcs a acabar. Mas. quem pode duvidar de que esteja nut'n impasscJp .

Historicamente, sempre houve outras forças à esquerda da socialdeInocraciana Europa Ocidental. A principal delas, obviamenle, foi o con1unismo.-H6jc, ..com o colapso do bloco soviético, o fundaméilto básico de desccndl:nda. da !te-vohição de Outubro praticamente desapareceu5Na Itália, o maior movi'mento ..comuilÍstn do Ocidente se converteu num partido socialdcmociata muito. me-n~r, de expressão modesta, que tomo.u: O lugar do PSJ. Nos d~'mais .p"aíscs,-a":tradição comunista persiste numa sobrevida incerta. Tipicamcl;te, ainda .COl'- ,.

grega uma minoria de eleitores mais radicalmente contrários a lbdrões.e.stabe- .lecidos que os eleitores da Internacional Socialista. O grau em quc esses parti- .dos romperam com a doutrina e a disciplina ortodoxas varia ~enorn~emente. ~.Num extremo, o comunismo sueco se democratizou já no inicio dos anos Z:O,:.t1'ansformando-se num partido de esquerda abertO e indepcndc1lle: No outro, a .~postura do comunismo gr~go ou portugu.ês permanece basicamente i1'lalterada ...O comunismo franc~, apesar de muita dissidência interna, c~ntinlla, sendouma. espécie de versão mirrada de si mesmo cm outros tempos. ~nquanto isso, ..no âmbito da coalizão Esqucrda Unida, o comunismo espanhol deu nova f~r. :: .ma à sua imagem. O próprio cOI)lunismo italiano não se dissoÍveu cOl;~pleta- .mente no PDS, mas deixou-um resíduo ativo na Rifondazione domunista [Re-."-fundação Comunista]. Mesmo na AleJ1.'lanha,a tradição comuni:sta.sobreviveu, :em defesa da identidade da população Ol.fenta1.Todos esses pahidos. re.ceb~.n1.:

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pensávcl para compreender sistemas eleitorais, padrões de votação ou regras decoalizão, esse estilo de análise tende a dar menos ênfase à dinâmica do conflitosocial e ideológico. considerado em prazos mais longos. Sem abrir mão do co-nhecimento que esse estilo proporcional esta coletânea procura reconstruir odesenvolvimento da esquerda em cada pais com uma nan-ativa histórica quevai mais longe num recuo ao passado. Nos casos da Dinamarca ou da Noruega,sociedades pouco conhecidas n!J exterior, o panorama polftico de cada país ~reconstituído a partir do século XIX. De maneira geral, os primórdios da atualordem institucional- O Cow Deal (Suécia), a Liberação (Itália), a Guerra Fria(Alemanha), a Quinta República (França), a Transição (Espanha) - fornecemos pontos de partida relevantes. Nenhuma das exposições confere à história umselo de necessidade. Os partidos são vistos como atores coletivos, que fazemsuas escolhas. Longe de reduzir sua trajetória a algum destino predetclminadol

o retrospecto histórico mostra possibilidades que não se realizaram, 0pol'tuni-dades perdidas tanto quanto erros evitados. Os ensaios aqui reunidos foramescritos a partir de posições independentes sobre a esquerda, criticas das 01' •

todoxias oficiais, mas não sectárias. Sugerem reflexões sobre fatos .Ao mesmo tempo, eles buscam respeitar o espfrito da frase de Gramsci: l'Es.

crever a história de um partido é escrever, de um ponto de vista monográfico, ahistória geral de um país. "<4 Assim, cada capftulo procura situar a evolução daesquerda dentl'O do campo geral de forças da nação em questão - incluindo,em especial, a configuração da direita, bem como o espectro mais amplo de alia-dos ou adversários que se relacionam com seu desenvolvimento. Dentro dessequadro geral, as perspectivas variam amplamente, pois cada ensaio ressalta oque considera sercm os traços notáveis do cenário nacional pal1icular. Curiosa-mente, os capítulos sobre a Suécia e a Noruega enfatil.am os modelos econõ~micos do crescimento do após-guerral sem se limitar a uma análise dos wclfarestal"c.s, que são o que nesses países mais freqüentemente desperta O interesse es-trangeiro. Jonas Pontusson e Lars Mjeset e seus colaboradores sustentam queesses modelos foram a condição material das reformas sociais pelas quais os doispaises s.;o mais conhecidos: em cada um "deles, a chave para o destino da es-querda sempre foi sua administração econômica. Eles mostram que, sob esseaspecto

lo desempenho diferiu de forma significativa. Na Suécia, a regulação do

mercado de trabalho, seguida pela derrota dos fundos de assalariados, o sucessotemporário e depois o fracasso final da Terceira Vial forma um padrão. O "so-cialismo de crédito" da Noruega, desmantelado numa liberalização amenizadapelos rendimentos do petróleo, forma outro - atualmente, com menor desem-prego. A originalidade de cada experiência permanece notável. Na Dinamarca, atrama central foi de outro tipo, como um trailer de experiências de desenvolvi-mentos que apareceriam em outros lugares. Ali, explica NieIs Finn. Chdstiansenl

uma configuração de classes distinta - em que uma pequena burguesia radical

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~'6 i UM MAI'A DA I!SQUnll.'~,A.,NA :-U~.O,~A .OCIDBNTAL

":. : li '. .','.' '. . : .atúahnellte urtta parcela de 5% a'10% dos votos~ Seu eleitorado global coiltinua'm~ioi que 9 dos partidos verdes~ que hoje, na maioria dos palses, competem

.. com' eles no fianco esquerdo da:sodaldemócracia; Em outros.países, como a. Dinamarca 'e 8.Noruega, partidos sÓcialjstas de e~querda, de caráter populista,, stirgidos de r~voltas anteriores d.ei1t'ro da tra~iÇão comunista ou sociaidemo.. crat~, imp~antaram.se como' elementos duradouros da paisagem política. ,.N~.Europa Ocidental como um,todo, é regra em toda patte que,'sob condições de .

, representação'minimamente' eqüitativa ,da opí'nião polftica, há uma esquerda'.~ituãda além t~OS limites da lnte~flaci.ànal Socialista. Mas em lugar 3~gum elá 'tem ~ance de formar um gQvcrno.: sua úniCa esperança de ocupar posições'de

. podcr"é em coalizão com uma ~ocialdemocracia dominante. Sua rejeição ao ca-pitalismo pós'~Reagan é mais fil'me~ ~las seu estoque de soluções não é ~fU.ito

.. '. mais rico. Em' todo caso, a 'existênci~ .dessa área polftica pouco contriboi" no;~o,men~o, para modificar os dilem~s'programátiCos da esquerda. . .. Ness'as condições

lhá uma evjdent~ necessidade de reflexão comparativa so~

;'bre a experiêbcia d~ passado rece[lte. Este voÍume oferece uma espécie de' ín-. ventário. Suas origens I'esidem numã série de ensai9s publicados ~o longo de....uma década pela NClV Lefi Rcvié~,uma revista feita na Grã-Bretanha mas inter-H,acional em seu quadro de colaborad~res e em seu público leitor, o qual-::- emreação ao caráter paroquial da cultura polftica no próprio Reino Unido -ma-nifestou um precoce interesse pelas variedades na esquerda da Europa Oci-dental. Sob vários aspectos, o livro traz uma nova abordagem ao tema. Tradi.cionalmente, a Iiterat~ra sobre a esqúerda europ~ia tendeu a recair em duas"categorias: estudos sobre os partidos clássicos da socialdemocracia no Norte e

'. tí'abalhos'sobre os partidos'comunistas ou - mais recentemente - euro.so-.cialistas: dt> Sul. Havia boas razões para essa divisão, mas hoje ela já não faz.I"fluito sClltid9. O levantamento comparativo de Mel'kcl a supera, com uma

" análise quantitativa das eleições e,dos !'quocientes de podern por toda a metade. dó continente que integra a OECD. Más as avaliações atuais de MCl'kel sobre odesempenho da socialdemoc!acia no governo, embora perspicazes, continuam

. muito mais'seletivas. Aqui se buscou um balanço regional representativo, que.'tenta, pcla pri'meira vez dar igl.!-alateilção ao Norte escandinavo, ao Centroa1'1gIQ-germân"ico e ao Sul latino ..0' rcsultado 'não é exaustivo. Nas bordas decada' uma desias faixas, Finlândia e Islândia, Áustria e Irlanda, Portugal e Gréciaforam omitid'ós - como também os mosaicos religiosos e lingüísticos dos Pa'~. sCs Baixos e da Sufça. Deu-se prioridade aos principais Estados das três cafl:ladasdo capitalisrn6 da Europa Ocidental.

Um seg':ln.do traço distintivo destes ensaios é o modo particular como foca-JiUIl1, os casoS nacionais considerados. Hoje em dial a maior parte dos textos .sérios,sobre partidos ou movimentos'é produto de uma ciência polftica moder-l~aquc"$e especializou em pesquisa quantitativa e correlações estatísticas. Indis-'. . I

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INTRODUÇÃO 17

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" Nesse ano 75% dos deputados do Parlamento italiano passaram ti ser eleitos por mniorill simplesem distrit~s eleitornis com um SÓrepresentante (sistemn de maiolia relatiVA).Os demnls 25% per-maneceram sendo c1eitossegUl\do as regras do volo proporcional, em listtlsp<'lrtid6lias,(N, do R.)

era originalmente muito mais forte na zona rural, transmitindo importan~cs ltaR

dições para a sociedade urbana - gerou a primeira grnnde revolta no OCidente,liderada por uma direita POpuliSt81 contra os impostos decorrentes do welfarcstate. Também ali emergiu a que foi, talvez. a primeira divisão nítida dentro daesquerda, entre o eleitorado tradicional do setor industrial e o novo, do ,serviçopúblico. refletitia no contraste entre o Partido Socialdemocrata e o Partido So~dalista do Povo. Eis ai outro tema para o futuro.

Na A~emanha, os dilemas apresentados por esse tipo de divergência foramdepois encenados da maneira mais obsessiva. O conflito cultural c de geraçõesdo final dos anos 60, mais prorundo ali, pavimentou o caminho para a emer-gência dos Verdes, num desafio muito maior à política oficial da socialdemo-craeia do que ocorrera na Dinamarc.1. com o Partido Socialista do Povo. Stephc~Padgett e William Paterson remontam às origens das tensões que v~m parali-sando cada vez mais o Partido Socialdemocrata Alemão (SPD), à medIda que eletenta segurar eleitorados velhos e novos, marcados po.~mentalid~d~s ~,da v~zmais diversas, diante de uma disputa confessada mente pós-materialista ; mUl-tas vezes isso o imobiliza na situaçáo de um asno de Buridan. Em nenhum ou-tro pals ~uropeu o debate polltico e intelectual sobre a .es~uerda foi tão ~omi-nado pelo problema da composi~ãO estratégica da matona a ser conqUistada.Questões similares surgiram na Grã-Bretanha, mas ali elas foram propostas demaneira menos aguda. em parte por causa da ausência de qualquer contracul-tura poUtica comparável, em parte por causa da natureza do ~istema eleitoral.£ este último que fornece o foco da contribuição de Peter Malr ao volume. Nomundo ang16fono, o Partido Trabalhista suscitou uma literatura tão extensaque nesse caso se pode pressupor uma base conhecida. Os reveses eleitorais dopartido, que de 1979 a 1992 sofreu o pior conjunto de derrotas de qualquersocialdemocracia na Europa, foram bem retraçados por Ivor Crewe, em par~ticular; enquanto isso, suas vicissitudes polilicas foram objeto de ren?vada a~en-ção no vigoroso livro de Grcgory Elliott, Úlbourism and ,rhe Bnglls1l Ge~lUs.5Nesse contexto, pareceu preferivel dar destaque ao detcrmlOante me~os dlSCU~tido, mas extremamente importante) que diz respeito ao caráter espeCial do tra-balhismo: sua situação em meio à peculiar estrutura eleitoral britânica. Nesseponto) a análise comparativa que Maír faz da l'elação entre os sistemas de vota-ção e a política radical contém lições de impol'tância g.eralpara a esquerda. .

É clara a relevância dessas lições para o caso da Itáha: em 1993) O PDS [pnn-cipal sucessor do Partido Comunista Italiano] ~poiou um pl~bi.scito p~ra :bo!ira representação proporcional em prol de um Sistema de malona l'elatlv8. Hls-

,8 UM MAPA DA nSQUBRDA NA nUROPA OCJDBt-:TAL 1,....'

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. . .... ' IN"rRODUÇ".O. I :.', .'.".' ,toricamente, foi a direita européia qué:- com boas ra;,.ôes - a:p6iou sistem,a-''tica'mente os sístel1'm5de representação desproporcional, desde o tempo de.Versalhes.6 Na Itália, Mussolini foi o primeiro a se benefici8i-:l:Jeles 'no entre-o .guerras, e não surpreende que Berlusconi tenha sido o primcir~ a se beneficia'r,deles na era atual. Aqui, a engenharia eleitoral foi parte de um tçr1a mais amplo_quiunifica os principais Estados latinos: a política de "model'llização".,Dado ó .cai-áter arcaico de tantas instituições' dessas sociedades" qualquer tctltativa de-obter um mandato para empreender mudanças péla esquerda 11âopodi,á deixarde, fazer apelo a ideais de modernidade. Mas não há signíficaJ!~e mais ,volúve~

'quê,'este. George Ross e Jane lenson mostram ~omo foi suici7:a, na .Fra~ça, a'recusa do Partido Cornuni5ta a abandonar) enquanto era tempo; tradlçôes ana-crÔnicas, a que ele se apega i11 extremis até hoje - uma recusa que fez cçnn que,o' Programa Comum) em principio a mais audâciosa tentativa isolada "deálte"i'ar,,os limites do capitalismo avànçado desde a guerra, perdesse d~latl1ism~ junto,'ao povo e, em conseqüência, perdesse qualquer chance realista?e sucesso. Mn~

, eles mostram também o quanto foi contraproducente a convei'são'do P311iqo.. t" . -Socialista, na esteira desse fracasso, a uma idolatria da en1pl'esa e do merc~dtrcomo titãs d8 modernização. Na Espanha, quase quarenta 81\OS de di~ad:ura~cei1tralista deixaram fi direita isolada das elites industt'iais I'egionais do pais,.dando uma rédea mais larga à moderniia.ção promovida pelos.socialistas. Eril-bora prolongada através de concessões tardias ao movimento :trabalhista, .no~..anos 90 também el8 ficou muito desgastad8, como Patrick Carniller dei?Çaclaro:A.principal razão é comum a todos esses. três países) mas é n~ Itália que est~exposta da maneira mais clara. Esvaziada de qualquer contcódo além do ajuste .via mercado, a «modernidade" tem perigosos anagramas. Erri'\oda pane, ~u:a

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.nêmesc foi a corrupção. Embora a escaln em. que' o dinheiro luurificou'o goyc'r: .no tenha sido excepc.ional no reinado de Craxij o ponto de partida da ascensl'iodo PSl à posição mais alta não foi atfpica - uma sintonia conliprocessos reais.de 'seculariz.ação na sociedade italiana"ti'atados com indiferença.'pelo 'PCI. Os,anos 80 trouxeram um saldo .desastroso para a esquerda italia\la, terminandocom a completa extinção do PSI e com <) PCl saindo de cena .Idesmoralizado.

"Tobias Abse sustenta que a principal causa'isolada foi o consta,nte fracasso dócomunismo italiano em reagir criativamente a aspirações e movimen.tos pop~-:lares contra a velha ordem, dos anos 60.em ,diante. li . : . "

Gerência macroeconômica, agrcgaç'~o social, justiça eleitoral, é:omu.ni~ção:. . 'I _ .)p~pularJ modernidade cultural - estas. fOl'~m algumas das q\1e~to~s ccntral~ .com que a esquerda da Europa Ocidel~tal se confrontou, nUli~ niomento em.que as esperanças de socialismo foram riscadas de sua agenda. Por trás dela~.'-reside uma dupla rnud8nça ém sua situação ~stratégica. Primeit;o, sua 'comp<?sj-,ção se fragmentou. Em época alguma,Qs partidos da Segund~,ou da Tçrceira

.'Internacional, ou seus sucessores 'do após-guerra, se assentaram numa base so- ., l'

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i20 UM MAPA DA ESQUERDA NA nUROPA OCIDnNTAL

..cial hOmOgênJ. Movimentos trabalhistas puros sempre foram uma lenda.'Po-.rém, até os anOs 60 a classe trabalhadora manual ocupava o centro magnético'de toda coalizã~ social que os par~dos dominantes da esquerda podiam for-o

. mar. t~nto no Norte quanto no Sul da'.Europa. O proletariado industrial era o." ~n~ior 'compori~nte numérico de seus eleitorados, estruturalmente o màis,bem,'c)J:ganizado, m~ralmente o mais respeitável. A liderança polftica desses pat1idos .

. ',-podia' provir de grupos intelectuais ou pr~fissionais liberais, seus eleitor~.in-. c1uhlJ11coritillg~ntes d8 classe m,édia'bãixa ou do campesinato; ao mesmo teÍn-po~'eviClenteme.nte, muitos trabalhado'res votavam em partidos conservadores:No entanto. o q'ue soldava uma série de forças e~ torno da esquerda era aquilo''que. os teóricos', italianos chamavalú de ceutralitn operaia, a 'Ccentralidade'" da ..cl~sse trabalhadora, De modo geral.'isso já não ocorre hoje.7 t. verdade que"ao.)oo.go .dos liltiri)os vinte anos, embor~'_~nha.ll"vjdo alguns enclaves de cr~ci-.iriento de novbs trabalhadores p0I: cO(lta própria; a mão-de-obra assalariada.conti~1l10~, em, geral, a expa'ndir':.sc) ="à medida .que camponeses tradiciori~is~"

" . artesão's~ lojistas e outros segmentos foram perdendo' sua independência e do ...n~s-de-casa ingressavam no mercado de trabalho. Mas cresceu l;:oormemente'adivis~o nas fileiras dos assalariados..:'Agora, cinco eixos de diferenciação tornam mais diffcil qualquer movimen-

to unidó por mudança radical. O primeiro deles é'antigo, mas sua distribuiçãose deslócou. Na Europa, mais do que nos Estados Unidos e no Japão, sempre'houve um contraste notável de status e renda entre trabalhadores manuais ecolarínhos-bral1cos, contraste reflcti~o .nos níveis de organização e no posi-'cioriamento politico. Atualmente, invertera-m~se as proporções de cada um

.. desses grupos na força de trabalho:da Europa Ocidental como um todo. 'A cl,as-se trabalhadora manual declinou para uma média de pouco mais de 1/4 da po..:.. pulação economicamente atiya e .foi superada em ,toda parte pelo número' deempregados nó setor terciário. Mesmo' ali onde- os colarinhos-brancos conquis-tai'am graus ni'uito elevados de sinditalização e estiveram tradicionalmenteidentificados com as metas do movimento trab3lhista, como na Suécia, a mu-datiça de seu péso relativo afrouxou antigos laços de solidariedade com ~s tra-

. ''-~balhadores da"indústria. Ao mesmo tempo, o leque de habilitações, renda e'seguridade detitro da própria 'classe trabalhadora manual se alargou de mt;mcira .constante.8 Num extremo, nune.1 foi tão'favorável a posição material dostraba-lhadores especializados, inseridos em setores de tecnologia de pontal que prosw.peraram ao longo dos anos Reagah"":'" freqüentemente com efeitos acentuados~sobre séus p-adl~Oesde votação I conto n~ GrãwBretanha no auge do sucesso deThat~hér~9 No outro extremo, inchou O conglomerado da mão-de-obra nãO es.pecializada, empregada de maneira informal - no limite, em trabalhos esw

tafantes fi mal r~munerados ou relegada's longos períodos de desemprego. Enw

:trc os dois. os trabalhadores semi-especializados da indústria manufatureiraI .

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INTRODUÇÃO

clássica minguaram em número e influência. O resultado foi uma polarizaçãosocial do pr6prio operariado manual, com crescentes conflitos de interesse en-tre seus grupos mais desprotegidos e os mais privilegiados.

Nesse meio tempo, outro tipo de estratificação ganhou crescente importân-cia, já que o ingresso na força de trabalho começa mais tarde e o tempo deaposentadoria dura mais. A idade passou a dividir os assalariados de novas ma-neiras. Por um lado, a adolescência deixou de ser um preâmbulo nitidamentedefinido da vida adulta. Os mundos da educação prolongada (ou O que passapor isso) e do trabalho precoce se fundem numa cultura jovem bastante inde.pendente que - exceto em momentos de tensão política elevada - tende adissociar cada nova geração das preocupações comuns de classe ou localidade .Por outro lado, a queda nas tax'as de natalidade e o aumento da expectativa devida aumentaram o peso dos idosos no conjunto da população. Cerca de 1/3da vida do adulto médio se passa agora após sua sarda do mercado de trabalho .O welfare stat'eé hoje preponderantemente um sistema de auxflio público a essegrupo, que, com pensões e assistência médica, absorvem cerca de 2/3 de todosos gastos sociais. 10 O resultado é uma lógica da segmentação - tanto fiscalquanto cultural- que faz da "segunda idade" da força de trabalho assalariada,imprensada entre as necessidades da "terceira idade", acima de si, e as exigên-cias de uma "primeira idade". abaixo, o ponto potencial de pressão poHtica.

Se essas mudanças tenderam a desagregar eleitorados que outrora podiamser rapidamente reunidos, o efeito da feminização da força de trabalho foi maisambfguo. Os eleitorados tradicionais da esquerda sempre revelaram um déficitsexual. Sob a influência de mentalidades tradicionais ou do isolamento domésti-co, invariavelmente as mulheres votavam em partidos conservadores em maiornúmero que os homens. A disparidade entre os dois grupos foi suficiente, por sisó, para manter o Partido Trabalhista britânico fora do poder entre 1951 e 1964.Seria de esperar que o constanle crescimento da participação feminina no traba~lho assalariado - para uma média de cerca de 60% da taxa masculina na UniãoEuropéia e 70% na Escandinávia - enfraqueceria esse padrão. De fato, houvesinais de uma inversão histórica: em algumas eleições nacionais, o voto das mUM

lheres na esquerda foi maior que o dos homens. Mas a alteração permanece dis.persa e episódica. Até o momento, o crescimento potencial da força polftica daesquerda em função do dec1inio relativo do número de mulheres que permane~cem no lar foi provavelmente superado pela incontestável dificuldade que têmos movimentos sindicais, controlados por homens, em se ajustar à multiplicaçãodo número das trabalhadoras. A disparidade salarial entre os sexos continua altana maior parte da Europa Ocidental. Mesmo onde ela é mais baixa) nos paísesnórdicos, a segregação ocupacional continua pronunciada. Os quocientes finaisde desigualdade no mercndo de trabalho provavelmente cresceram, em vez dediJninuir, à medida que maior número de mulheres nele ingressou.

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INTRODUÇÃO .13

temores de inflação, solapa o~efeitosde ambas. No inicio dos an~s 80, ofrac~s. ' ...so da polftica reflacionária francesa foi freqüentemente confrontado .co~ ~ su-'~cess? da desvalorização sueca,.No final da década, os efeitos desta últi~na est~~.'vam .esgo.tados e.não po~iam repetír~se: a desvalolização subs,eqüente•.-f~ita":pelo Partido Soctaldemocrata Sueco. foi um prenúncio do desastre eleitor~1. ..Hoje,.na Europa Ocidental. a perda da autonomia nacional sobrê:a poBtica mo-netápa está se tornando, em geral, cada vezmais pronunciada, embora,não seja'de modo a.lgumabsol~ta.. 11. . .:';,A polílica fiscal fOIafetada de maneira ""enos direta pela globalizaçãO.do:

capital, já que a maior parte dos contribuintes individuais do fisc6não desfruta ~.. da opção de sair de seu contexto nacio~al; taxas elevadas de imi;ostos sobre ~s ,empresários, no entanto, podem pl'O'yocafreações de retração. ;NeSte,pi.ano;.á.....opinião poH~kadoméstica ~ ou, nas pa~avra~de Hirschmann, ~ expl'~são .?«v.oz- se tomou uma restnÇ8oRchave.Historicamente. o padrãQ'de tributa~ó . .terideu a ser bastante inercial na maiori<l;do~ países da Europa 6cident~l; su.as: .respectivas formas nacionais po"ucovariando ab longo do tempo.\Mas, no..a.p.6s~:',:guerra, o nível geral dos impostos subiu na O"ECDdurante trinta, anos, perfodo .em que também cresceu constantemente a..parcela de gastos públicos como.prop?~'ÇãOdo prod.uto nacional brulo (PNB). ESsatendencia foi sustada. P9f .rebehoes contra os unpostos, lideradas pela direita radical. que começúam .n~..Dinamarca no inIcio dos anos 70 e triurifaram nos Estados Unidos e no.Reino .Unido no inicio dos anos 80. O resultado ~ão'foi uma redução significati~a'nos !.gastos públicos propriamente ditos; na v~rdade, o n(vel médio desses gastos na.OECDaumentou de 46% para 48% durante a década de 1980, ha medida em .que ~ peso dos direitos adquiridos se torna~a..~n~jselevado, C01i o grande. n~-. ~mer:ode aposentados e desempregados. q endIVIdamentopúblico aumeiltou eos impostos se tornar<l111mais regressivos.Acobrança de tributo~1indiretos Úo-bre.? c~nsumo) cresceu, l1~asem geral houve.lllTIaredução dos i~postos dire-t'os~obrca renda, a título de incentivos..Esserebaixamcnto da m6dalidade maisvisívelde tributação teve um efeito ideológico:que superou de lo~gesuas conse.q,üência~práticas, excet~ pa.raos muito ricos.".Criou-seum nov?rconseJ~soso- ..cml, em que se tornou dlficJ1para qualquel' partido de esquerda propor medl- ..das que corram o menor risco de pareccr elevar os impostos da maio,:ia dos:cidadã.o.s,por mais neutro ou redistl'ibut.i"voque seja o efeito reaI'dessa medid'a,.. seI.TIcaminhar para um suicldio "eleitoral;1lAsorte .do Partido Trabalhist~ :em .1992~.e Jnais recentemente do "progl'al~.ado ;Paliido Socialdem~crata.Alemão - .n~ ~rin~averade 1994.s.ãoilustrações el~qüe~ltesdesse gargalo. ;Para a esqu'el'.-..da, estreit~ram-se drasticamente os limites da iniciativa na área fiJcal.A aversão'. aos impo.stos.acolocou na defc.nsivaen~,i:odaparte, l'

. ~pretnida entre uma bas.e.social ca,.,n.bfantce um horizonte polftico em'contração, a socialdemocl'aci~ p~~cce.~~i'perdido sua bússola. ~m c<.>Iidições,

UM. MAPA DA r.SQUIHtDA NA IWIlOI'A OCIDnN'tAI.

Por fim, de maneira mais notória que qualquer outro fator de diferencia-ção. a transformação da Europa Ocidental de zona tradicional de emigraçãoem zona de imigração erodiu a cultura de solidariedade nn população trabalha-dora da maioria de suas nações. Se a divet'sificaçãoétnica enriqueceu a vida dcsuas grandes cidades, o preço político foi um aumento errático, mas incqu[vo-co, de sintomas de racismo e xenofobia. Os imigrantes provenientes da Ásia,África e Cáribe na União Européia somam atualmente cerca de 13milhões. NaAlemanha, França, Grã-Bretanha, Suécia e Bélgica, 10%ou mais da populaçãoinfantil em idade escolar já são de origem não européia. A experiência dos Es-tados Unidos é um lembrete das conseqüências que uma divisão racial e étnicapode ter sobre um movimento trabalhista. c mesmo para qualquer sentimentode solidariedade social mais amplo. Novos partidos da direita antiimignmteconquistam a classe trabalhadora na França, na Itália. na Bélgica, na Áustria ena Dinamarca, sintoma de fraturas que podem tornar-se muito mais profun-.das. £ pouco provável que uma política de identidade nacional forneça terrenofavorável para a esquerda.Diferenças no trabalho, renda, seguridade, idade, gênero, origem - até ago-

ra o efeito de tudo isso foi desagrcgar as instâncias coletivas necessárias paracontestar o status quo. A desintegração dos eleitorados torna intrinsccamentemais árdua a tarefa de mobilização subjetiva para qualquer mudança radical.Mas este é apenas um lado das novas dificuldades que a esquerda tem de en-frentar na Europa Ocidental. O outro é ainda mais intratável: o agravamentodas restrições que reduzem o espaço objetivo para suas poHticastradicionais. Asconquistas fundamentais da esquerda no após-guerra foram a criação de siste-mas de previdência c a manutenção de um quase pleno-emprego, e os meios deque ela lançou mão para administrar a economia capitalista de modo a produ-zir essesresultados foram essencialmente dois: política monetária e po\[tica fis-cal. Os instrumentos básicos de administração macroeconômica foram, porum lado, a fIxaçãode taxas de juros e taxas de câmbio e, por outro) o controleda tributação. Nos casos mais favoráveis, isso foi suplementado. mas nuncasubstituido, por acordos salariais. No curso dos anos 80 tudo isso se enfra-queceu drasticamente, Políticas de renda foram marginalizadas, porque o pa-tronato perdeu o interesse em acordos nacionais e os sindicatos perderam opoder de forçar seu cumprimento - até em países como a Suécia, que dirá naGrã-Bretanha. Asmudanças mais importantes, no entanto, se deram em outrocampo, A internacionali7..açãodos fluxos de capital, liberados pela desregulaRmentação dos mercados financeiros, tomo.u cada vez mais dificil promoverdesvalorizações cambiais (para restaurar balanças comerciais) e baixar taxas dejuros (para estimular a dem.mda). No passado, essas eram as duas armas maisfreqüentemente usadas do arsenal socialdemocrala de administração de crises.Hoje, a mobilidade das transações.especulativas, instantaneamente senslvêis a

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nossOs dias acomoda um vasto espectro de:partidos, dos moderadamente pro~gressistas (Dinamarca ou Reino Unido), passando pelos inabalavelmente con-servadores (Bélgica ou Itália), até os estridentemente reacionários (Áustria). Osintegrantes da Internacional Socialista, mesmo que amanhã a socialdemocraciavenha a se tornar tão ficHeia para eles como o socialismo é hoje. têm maiorprobabilidade de continuar a se autodefinir como partidos da esquerda .

Para muitos que tendem a aceitar a vitória do capitalismo COmo definitiva,sujeita apenas a variaçôes locais. esta última categoria é de qualquer modo pre-fcrível - historicamente lnais antiga e moralmente menos comprometida .A esquerda é concebida nes.se caso, em uma de suas mais atraentes teorizações,como uma tradição nascida do Iluminismo, cuja missão é corrigir sucessivostipos de desigualdadcs que oprimem os menos favorecidos - os sinistrés de laTerre -, na medida çm que a história as torna sanáveis.14 Essa obra de "retifi-cação" não exige nenhuma teoria geral de uma sociedade alternativa e aceita anecessidade de uma direita como perpétuo contrapeso a si mesma, como umametaconseqüência de seu próprio principio de paridade. Provavelmente cresp

cerá o apelo de uma visão desse tipo, que abandona a idéia de (lsocialismo" aomesmo tempo em que conserva a noção de "esquerda". como que abrindomão do vocabulário literal em troca do vocabulário alegórico de oposição .Mas, de maneira bastante honrada, ela sugere seus próprios limites. Politica-mente. os tcrmos "esquerda" e "direita" são tão inescapáveis quanto elusivos.Uma vez que cada um só adquire seu signific.1do a partir do outro) seus valoressão sempre relativos. Os historiadores falam coerentemente de esquerda e di-reita não apenas no seio) digamos, do Partido Trabalhista, mas também dentroda Democracia Cristã, ou até dentro do fascismo. Uma l'esquerda" poderia so-breviver no intcrior de um sistema totalmente capitalista que estivesse à direitade tudo o que hoje é considerado centro. Além do problema dessa mobilidadetopográfica, contudo, há a subordinação lógica que uma política de retificaçãoimplica. como indica.a própria etimologia do termo, homenagem involuntáriaao inimigo. Em tal concepção, o tecido social é sempre urdido na direita: acsquerda nada mais faz que esticá-lo ou remendá-lo. A modéstia da propostapode parecer uma garantia de rcalismo. De muitas maneiras, ela expressa oestado de espfrito atual da socialdemocracia. Ficam fora do seu alcance, no en-tanto, mudanças sistemáticas na sociedade européia.

O êxito da politica socialdemocrata no após-guerra baseou-se num conjuntode estruturas características do perIodo: no padrão de pleno emprego, estabele-cido no âmbito de economias nacionais em que a demanda podia ser objeto deuma sintonia finaj na provisão de serviços sociais a lares com um só chefe, habi-tados por farnmas tradicionais encabeçadas por um homem assalariado; na ex-tensão da educação universal até a adolescência; na operação de uma economiamista, com um setor público obrigado a prestar contas ao governai na vitali-

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2~ .•.•••...... il: UM MAPA D~ nSQUiUt'DA NA BUUOPA OCI~nNTAL .

. .. . I. . .tão altct:adas, :ienderá ela a sófrer uma nova mutação? ~~~..Ycépoca, nos. pl'i-

..: I~eiros anos d~ Segunda Internacional, em que ela orientou sua ação para a. : superação do ~Iapitéllismo. Emp'enhou-sc depois por reformas parciais) consi~e-_\ 'radas passos g~~dativos rumo ao s~~i.~l.i!.~o. Finalmente, contentou-~~ com o': bem-estàr SOC!rle o pleno emprego d~~:ro do capitalj~~l}.o.Se ela admltI~ ~gor~. úma diminuiç?o do bem-estar e desls~lr do pleno emprego, em que tIpo. de'. movimentá vai se transformaI:? Na avaliação de um de seus mais perspi!=azes.e.~indulgentes:observadores, que não é u,n pessimista rabugento, <Iaúnica certeza.quaJ1to ao fut~ro da nova.socialdell.locracia in statu nasccndi é qu~, so~? aspcc-

.. to social.c culthral, ela será mais iteterogêtlellj, sob o aspecto orgamzaclOnal, será.nlaiS fi'aea e n,'~is dcpcndcI1teda personalidade ,do ~r~~.rie sob os aspectos políti:'".c~ e eleitoral, ~Úámais instdvef quê a 'antiga' socialdemocracia".l~ Ist<;Jestá lon-

.. se de i'cf urna'prediçãO tra'ilqOilizadora. Mas ela s6 se refere à provável cocsã?;.' .. ' pu. à. força, d9~ partidos da Internacional Socialista. Que d.izer sobre su~s' ra,.~ zOes ou.seu' propósito? Historicam~.r:ate, s6 na Europa ~cldental. a soclalde-.... mocracia foi úma força de governo., N~m os Estados Umdos nem o JapãÇ), as

.'f du'as ou~ras r~giões decisivas do cap~tlllismo avançado, a conheceram~ Ali as'. classes trabalhrtdorns nunca alcança'ram a-mesma inqependência ou pl;ojeçãó. pOlftica ...Por rrtuito tempo, podia pat:~cer que essas versões alternativas da civi-., Iizaçã~_capi,talista eram éltlOmalias, sendo lícito esperar que, mais cedo o~ maistarde, elas se eJ)caixariam no modelo clássico do Velho Mundo. Hoje, o contrá-'

:'río.parece mais provável. A popul.a'~aC?da União Européia é um pouco menor, e.5~~pro~~ção muito mcnor, que as d~s Estados Unidos e do Japão combinada~..9' capitaHstllQ;contemporâneo J~ais vigoroso, ond~ freqüent~mente <? çr~~cl-mento é mais mpido, está fora da Europa. Esse ambiente dommante prçss~ona

. '.pai'a'abáixar 9S custos dos modelos sociais adotados na União Europ.éi.il~Na,., retórica oficia:! e - cada vez Inais'~ na dil'et1:iz da Comissão Européia, :para:. fiem faiar d~ Conselho, a necessidad'c'de ~ompetir.s'e transforma na obrigação.. d~.se ajtistar. 'Nessa lógica, é a soc~al~(ú~ocracia q'ue se converte na anoIri~lia ~.ser:.po.âada, hêrança de um passad<,l insustentável. . '_.Um. cenário como esse, hoje: muito amplament~ debatido pela opinião .eIilw

'.. presarial, n~o I\mplica o fim d.es pàrtid~s.'da !llte~'n~~ional So~ialista tal COm? os. conhec~mos: ~;mplica simpl:smentç,ayer?a dó.papel.peculJal: que ouq'or~ os

' ..: : ~êparou~ digaplos, do Partido ~eIrt~crátlc;o .no~ Esta~os Uflld~~, u':la fo~~francainente cbmprornetida con'1o capi~alism.o s~m a<:1ereçosSOCiaiS.Um adeu.s :à 'esi~l~cia da' Jbcialdemocracia não preCisa significar o desaparecimento do ter-o

..mó ..q~e pod~~ia persistir indefiJlid~meiltc pelo ~1'6ximo século afora ~ bel~ ., .à maneira como Dahrendori sugériU',l~ dos partidos ('liberais" dos mais divçr-. sos'tipos, '~ue :sobrevivem em muitas partes da Europa Ocidental sem qualquerIigaçã~ signifi~tiva com o ideal polítiCO'do liberaJism~ do século passado ..Essa

. analogia pod'~~ia levar ern'~onta uma diferença. A Internacional Ljberal:d~si . .,' . .

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INTRODUÇÃO 25

Page 11: Anderson p e Camiller Patrick Introduc3a7c3a3o in Um Mapa Da Esquerda Na Europa Ocidental

.6 UM MAPA DA ESQUERDA NA llunOPA OCIOnNTALJN1'llOLJUÇÃO .

I'. ,'.27

dade de uma democracia parlamentar sustentada por partidos de massas. Hoje,todos estes elementos da ordem do após-guerra estão em eclipse ou em declí-nio. As duas mudanças mais profundas são aquelas que transformaram os mun-dos do trabalho e do lar. O pleno emprego desapareceu . .fi possivel que 20 mi-lhões de europeus ocidentais não tenham absolutamente nenhum trabalho, cum número muito maior tem apenas empregos de tempo parcial. Em algunspaises, é posslvel que não mais de 1/3 da população adulta tenha empregos detempo integral. A regulação governamental parece impotente diante de umacrise que se agravou a cada baixa da economia desde os anos 70. Enquanto isso,as mulheres, em sua maioria - de 60% a 80%l"conforme o pais -, deixaram deser donas-de-casa. A maternidade, por sua vez, tornou-se independente do CílMsarnento - atualmente. ocorrem fora do matrimônio 50% dos nascimentos naEscandinávia e 33% na França (as respectivas proporções, há apenas vinte anos.eram de 20% e 7%).J5 Números crescentes de crianças - uma em cinco naGrande Londres hoje - são criadas só pela mãe ou só pelo pai, e um nómeroainda maior são cuidadas fora de casa: na Dinamarca, cerca de metade de todasas mães com bebês de até dois anos está no mercado de trabalho. Com maiorespopulações aposentadas ou marginalizadas, trabalhadores em regime de tempoparcial e pais reduzidos à indigência, até regimes neoliberais têm encontradodificuldades para deter a escalada dos custos da previdência social.Ademais, em muitos paises, a universalização do ensino não produziu os

frutos esperados. Em vez de escolas públicas que oférecessem uma cultura gra-tuita para todos, capazes de tornar as escolas.privadas un~a despesa supérflua àmedida que o cabedal geral de habilidades intelectuais se elevasse até um nfvcligual) elas freqüentemente se transformaram em espaços empobrecidos, aban-donados pelos pais de classe média, outrora çonsiderados seus defensores escla-recidos. Sitiada por novas tensões, ligadas à divisão étnica c ao entretenimentocomercial, a escola pública se transformou numa fonte endêmica de insatisfa-ção nas grandes cidades da Inglaterra ou da França, como já o é há muito temponos Estados Unidos. Na própria economia. é claro, as empres(ls públicas dequalquer tipo - estigmatizadas como inerentemente ineficientes - retrocede-ram. A onda de privatizações desencadeada pelos governos Thatcher.na Ingla-terra está longe de se extinguir na Europa Ocidental como um todo. AtualmenMte, tanto a França quanto a Alemanha c a Itália são palco de grandes vendas deativos, cujas dimensões se alargaram progressivamente - desde mineração emanufaturas até empresas de serviços públicos, chegando agora a funções co-mo os correios e a arrecadação de impostos, atividades que até o liberalismo doséculo XIXatribula ao Estado-guardsMnoturno. Por fim. a autoridade dos parla-mentos foi enfraquecida com a transferência do poder para conselhos intergoMvernamentais de ministros, ou para mercados de capital que gozam de extraMterritorialidade. A participação do eleitor declinou. Ideologicamente, o espaço

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do."conflito polftico se deslocou dos pa~tidos para os ShOW5 de:televisã'~:, d6s.: .. 'discursos para os clipes, das poBticas para -as.p~rsonalidades. fi . . .': .',

A nova socialdemocracia forneteu nt~ agota poucas respostas para q~alquer. :. destc's problemas: na melhor das hipóteses. aqui e !'iH, adaptou-se) eles.,A partir.dos anos 3D) este movimento tendeu a buscar muitas de suas 'idéias mestrasmais fora das suas fileiras - junto a liberais como Keynes ou Beveridgel ou a:'independentes como Widcsell - que nelas mesmas. A mesma~.coisa poderi.a .voltar a ocorrer, tivesse Rawls a influênCia que por vezes lhe é :~tribu1d~l.Por ~.enquanto, contudo, continua a ha.ver um notável contraste ent~f a fOl'Ç<,'inte-lectual da direita e da esquerda em seus respectiv~s perlodos d~ oposiç~o. Noap~geu do governo socialdemocrata, O: neoconservadorismo fo~.uma' ca~ de ,.máqúinas de teorias e propostas para a r~cllpe'ração da iniciativa poHtica;p.r<?ri-' .tas para ser implementadas quando o podcl' voltassc. Sempre houve. é daro. .~ais recursos financeiros para esse trabalho, e as poHticas defeiididas sempre ... . ~. .fOlim mais compatfveis cón"l a ordem n~tural da sociedade capitalista.:~esJ.norecónhecendo estas vantagens, perma"nece serido iú1pressionante

ik diferença. nainten'sidacle da pesquisa. Só muito recentcmeilt~ isto começou a:mudãr.16 Por .-.fora da:tclldência dominante nos partidos pp'llticos estabelecidos,: no entamo;a ..cultura da esquerda não andou d.ormindo. ~ sobretudo nas margens 'da p'olltica.:do. d'ia~~-dia que a reflexão criativa ~ind~:ppde séi- encontrada. li . . .. -.. Talve~.seja significativo que) ~té aqlii~ ~en~um programa pla~isíyel ~ara re~; ,taurar o pleno emprego tenha. sIdo elaborado, em parte alguma, nos anos 90 .~ como se os limites impostos pelo modo de produção, hoje incontestáveis~tornassem isso .impossfvel. Nos limites do .capitalismo realmentb ,existente, no .entanto, foram exploradas, em detalhes cada vez ~nais práticos, duas alternati-vas - não necessariamente incómpatfvçi~ .....:..paraevitar o aumqlto do desem-. .prego. A.primeira pretende urIla redu~() gen-e'ral~?..adada jornada de tra~alho, .de modo a permi~ir uma ,partilha ri"laiseqüitativa do empregolS ~ UI:na aboi'd~-. gem que já vem sendo posta à.pr?va, dc\,ágari ..na maior montad?,ra dc-.vercul~~da Alemanha e, de maneira mais arejada.'é discutida em fóruns nacionais l~aFrança. A segul1da deféndc a substitulção.'de sistemas arcaic0S:~e seguro-de~ .sctnprcgo e beIlcflcios suplementares, com su';)ine"ficiência e esti~ma C8l'acterfs-ticos, pelo direito a uma renda: rri(nil~a"assegurada a todos os.:cidadã?S, seja.qual for: sua posição no mercado de tl'aba:l~\o:As propostas apreSentadas nessaIinh~; que originalmente r.ell.1o.nta~1"3~s}empos de Condorcet ~:.de P~i.n~lad~quii'irmn recentemente nova sofisticação :eoon6rnica e filosófic~.19 Element?s ..delas já chegaram à fase de recomendação ,ófldà1nos Pafses Bai~?s.. ; ".

Por definição, esses esquemas pen~.anecem neutros em rel~çâo aos scx.os..Eles visam à crise do trabalho. mais qu~ 'à da famUia. Pois a assi1TIetriados .se-~os suscita um conjunto diferente de pl:oQlemas. A maternidad~ s(ú~pre ..sign~- ...fico~,âlgum tipo de afastamento - parcial,~~ t~ta~ - do mercad,o?e trabalho,.: ..

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:1 UM MA!,A DA BSQ~EnÓA NA EUROP~ DC,onNTAL

1I• O "que esteve tia origem da desigualda"de sexual. No passado, o salário di> ho-

me~ tendia. ao mesmo tempo, a legitimar e a abrandar os efeitos da depen-o db12ia da muiher na unidade conjugal. Com a desestabilização da fa111ilia -nu-t CIear) os ônus aa procriação "tendem a recair ainda mais pesadamente sobre as.:mulheres, que têm de criar os filhos sozinhas. Uma pobreza especificamente.".feminina tem sido uma tendência acentuada nos últimos anos. A longo prazo,':. s6 se~á'poss1v~1alcançar a igualdade entre os sexos qu;sndo a maternidade dei-

<:.. xar de'ser u~~desvantagem econ6mica.20 Um conjunto de medidas poderia, contribuir para esse fim. Os mais avançados arranjos são encontrados no siste-'. ma sociÀI de Jeches, disseminado na:Suécia e na Dinamarca. 'Mas, indo al~m-- -.' ,__desse t!PO de medida I a lógica,da livre escolha aponta para que uma renda, a ser'. gasta a'Critério dos beneficiários, seja assegurada para a r~produção da próx.ima. geraçã-o da soCiedade.21 O outro aspe~to dessa reprodução é, evidcntementc}. tarefá' do'sisteina escolar. Neste campo, o avanço poderia se dar num seu'tido, evidente: a' a~itação do princípio" simples de que .recursos iguais devem ser, destinàdos a todas as crianças. Onde subsiste a escola privada} suas condições

'. pode~ ser co~sjderadas um refe~-encial de nlvcl para os padrões a serel.ll gene-ralizados.22 Em outras palavras, a estrutura da educaç..;o pública deveria visar aum ilivelamento por cima I e não por.baixo. Não por acaso, esta é urna áre.:1emque _ apesar do montante de investimentos que exige - a direita não propõeuma privatização radical.

A produção, evidentemente, ~ uma outra questão. A empresa pública não foieliminada pel~ virada neoliberal dos anos 80. Mesmo diminuída, ela continuasendo" u~ ele~hento residual nas economias da maior parte dos palses"da UniãoEuropéia. Politicamente, po~ém, não há sinal algum de reabilitação. A "nacio-'nali,zação" -sempre um eufemismo ,culpado --=. não foi sempre ineficiente, m.as-não trouxe ne'nhum aumento significativo de democracia ou de igualdade nas"empresas sob administração póbiica ..,Caso as relações de propriedade venham a

- 'ser alteradas J'm dia, está claro que não será por esse caminho. Duas linhas altcr~nativas de ataque ao arranjo atual se opresentam: A primeira delas focaliza a es-.trutura da decisão no âmbito da emptesa. As idéias de democracia industrialtêm un{a longa e diversificada 'história. Os.últimos anos viram uma explosão denovas' propostas em um espectro político bastante amplo, que vão desde a defesa

'i . ,- .do moderado modelo alemão das companhias stakeholder, em que trabalhado-

". rcs, forneced6res e banqueiros estão todos representados nos conselhos sl.lper-:.. visares, localiiados acima das direções, até concepções mais radic.1is de emp're-

saS administradas pelos trabalhadores - as LMFs ILabour Managed Firms] do. tipo norte-anl.'ericano, ou as cooperativas bascas.23 Uma segunda altcrnativa~ em"coiltrapartida, admitiria a hierarquia interna da empresa I baseada na cficiênciarelativa, mas' alteraria a repartição dos lucros; dando a todos os cidadãos .um

, dividendo.sodiaJ.2i1 Aqui, a prÍoddade é antes a distribuição mais eqüitatiya da

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IN1'RODUÇÃO

renda que a organi7..açãodemocrática da empresa. Em ambos os casos, porém. apremissa historicamente realista é que a atual configuração da propriedade em-presarial é mutável.

O mesmo pode ser dito, e não em menor grau, sobre as bem conhecidasinstituições da democracia constitucional. O Reino Unido é, sem dúvida, umcaso extremo de disparidade entre as reivindicações e as realidades no planodo governo representativo. Nesse campo. enquanto no passado a socialdemo-cracia jamais contestou os poderes arbitrários de um Executivo sem peias, in-vestido de uma legitimidade régia por sobre um Legislativo dócil a seus pés,que sequer finge refletir de forma equilibrada a opinião política ou dar prote-ção legal aos direitos fundamentais, um movimento independente no seio dasociedade civil- Chal1er 88 - forçou o Partido Trabalhista a começar a levarem conta questões de reforma democrática) coisa de que ele próprio está noto •riamente necessitado. Os resultados ainda são tfrnidos.2s Em outros países daEuropa Ocidental, a democracia é concebida, pelo menos nominalmente, co-mO soberania popular. Mas qual é o Estado em 'que a liberdade atingiu seulimite natural? Houve um tempo, no final dos anos 60, em que o PartidoSocialdemocrata Alemão adotou como divisa Mehr Demokrarie wagen [ousemais democracial_ Depoisl sua contribuição própria para a reforma polftica foia Bcrufsverbotj~' e desde então nenhuma reivindicação foi tão completamentescpultada na memória coletiva da Internacional. Continuou incontida a dete-rioração da esfera pública. mapeada por Habermas trinta anos atrás, quandoele ainda alimentava a esperança de que partidos e assembléias fossem capazesde revitalizá-Ia. Evidentementel ele não previu a "transformação estrutural"ulterior: o modo como os mercados financeiros e os conclavcs ministeriaispassam ao largo dos poderes legislativos nacionais} num espaço europeu que jánão guarda sequer a aparência de abrigar governos obrigados a prestar contas.O Tratado de Maastricht} ao prometer um banco central e uma moeda únicos,sem um parlamento soberano ou um executivo eleito, só veio aprofundar oabismo. O restabelecimento tanto dos prindpios básicos da democracia quan-to de quaisquer perspectivas de política macroeconômica eficaz exige a cons-trução de uma verdadeira estrutura federativa na Europa. Sobrt este ponto, aesquerda, no conjunto, não foi mais clarividente ou imaginativa que o centroou a direita. A indecisão e a confusão continuam sendo a norma. Mas, comoos ensaios deste livro demonstram, a questão da Europa já domina a polfticadoméstica de paIs após paIs - da Noruega à França, da DinamarCR à Grã-

~ Literalmente. "proibição de exercer a pl'OflSSão".Foi llssim que Q oposi~o de esquerda denomi.nau o decreto dos anos 70 que concedia ao Estado alemlio ocldemill li prerrogativn de não con-tratar professores collsiderados ideologicamente nlio confiáveis. A expressllo jd fom usada du-rante o Terceiro Reich. (N. do R,) ,

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)0 UM MAPA Ô ••• eSQunRDA NA HUltOI>A OCIDnNTAL lNTRODVÇÃO

I)'

Bretanha, da Suécia à Itália. As estratégias puramente nacionais estão desapa.recendo do espectro polftico em toda parte. A esquerda na Europa Ocidentals6 vai adquirir novos contornos quando esse dilema for resolvido.

Julho de 1994

NOT •.••S

1. Para uma discussão mais lUIlpll1desse contraste, ver Perry Anderson, '''111CLight of EUI'ope",Ellglisll Questions. Verso, Londres, 1992, p, 307-325.

2. Wolfgang Merkel, EI/de der Sozialdemokralier Machll'essollrcell utld Regierungspolilik im~teltropnjschetl Vergtdd" Frnnkfurt, 1993. Anteriormente, Merkcl escrevera estudos sobre osocialismo Italiano e espanhol.

3. Pal1l números cOll1ptlrativos. Vl!r o vigoroso 8rtigo de Alldrell Holtht'l, "Westem Europe'sEconomic Stngnlltion", New uft Review20l, set./out. 1993, p. 62.

4. Quadcmi delCarccre, v.III, Turim, 1975. p. 1.630.5. Pura a análise de Crewe sobre a situação do Partido Trobalhistll rias vésperas das (Iltimlls elci.

ções. ver seu incisivo ensaio "Labour Force Changes, Working-Class Decline. and the LabourVote", em Franccs Fox Pivcn, org., Lnbo/lr Parlies in PasE-Industrial Soârlies, Oxford, 1992; olivro de Elliott,1Abowism {lfIri lhe Eng/ish Ge1,illS, Verso, Londres, 1993. inclui um penetn\lltcretrospecto da história do partido Ilt~ o final da década de 1970. bem como uma sinopse de seudesenvoMmento desde entRo.

6. Para o padrãO compnrntivo, ver "The Light of Europe", ElIglish Questions, op. cit., p. 340.345.7. A melhor discusslio dessa rnudançll po(le ser encontrada em Gernssimos Moschonas, lA 50-

cial-d~mocrafjc de 1945 d IIOSjOllrs, Paris. 1994, p. 37-52 e 75-83. Embora menos extenso, esseexcelcnte livro, de um pesquisador grego que trabalha em Creta, rivaliza com o estudo deMcrkel em qualidl'lde e abnlllg~ncia. Os dois trablllhos. escritos de maneira independente,produzem um interessante contraste. MoschOllas não tcnla analisor llS pol£ticas dos governossocinldemocratAs, que constituem o principnl foco do livro de Merkel. mas dá maior atençiio 11base SOOlll e às estruturas organizaciollais dos partidos socialdemocrntas.

8. Historicamente, não há precedente para o aumento da displ"rsliO dos salários ocorridn naGrã-Bretanha entre 1976 e 1990. Sobre isso. ver Amanda Gosling, Stephen Mnchin c CoastasMeghir, Wlltlt Has H(lppe,,~d to Wagcsr. Institu1e for Fiscal Studies, jun. 1994. p. 3. Elafoi ainda maior nos Estados Unidos nos anos 80, mas menor 1111maioria dos outros pnfseseuropeus.

9. Um dos temólS do trnhalho de MoschonAs ~ que, após 1973. A pc-rda de apoio da socióllde.mocracia no seio d8 classe tmbnlhadora foi maior do que a rcduçllo dessa classe. O PartidoSocialdemocrata Alcmll.o foi uma cxceção, consel'VRndo seu voto proletário. mas perdendogrande parte de seu eleitorado entre colarinhos. brancos e fllndOIl~rios públicos.

lO. Para esscs dados, vcr o m<lgnilico panorama esboçado por GOra0 Theroorn sobre as mudall-ças sociais e culturais n<l Europa Ocidental desde a guerra: "Modcmifà Sociale in Europa(1950-1992)". em Storia ri'Europa. v.l, org. p, Andersoll. M. Aymard. P. Bairoch. W. Barbtris.C. Ginzburg. Turim. 1993. p. 467-468.

lI. Isto certllmente contribuiu para a extrema relutância dos governos euro.socialistas em alteraros sistemas fiScais de scus palsts, por mais injustos ou defjci~1I1es que fossem. Merkel, propen-so n um8 visão indulgente dos pl'Ogramas de gaStoS desses governos, que na sua opinião forammais generosos do que geraltnente se admite. ~ severo em relação a seu frllalsso nesse ponto:E"dc der Sozialdemokrntie? p. 209-301.

12. Mosc.honas. lA Soâaf-dlmocratic d~ 1945 d ~O$jOIlT'$, óp. cit'.I)' 151.

",13.Vtt seu famosoensnio, "Das E1endder So1.ialdemokral.ie", Merktlr, de?. 1987. p. 1.022. um dos."alvos çontn'l os quais Merkel dispar.'!. . . 11

J4. Ver Steven Lukes, "Whnl is uft? EssentiaJ Sodalisln nnd the Urge 10 Rectif'y", Timc$ Lituary"'.. s.,upp/cment. 27 mar. 1922, um texto ricamen.tc ,'ondensado, que AS obselyaç.ães ~.eitas aqui:

. ta!ve7.distorçam. '. .., !. '. "'o ','

. lS.,licrvé Lc Bras. "La Popoll\Z.Íon~", Storia d'El/fOpa, v ..I, p. 89. O texto sugerequc pro\'ave!mcn- '.. te a'maioria dos pafseseuropeusCJlminhará para fi riorma escllndinava de 5d% de nilscimentos .. '. ~.'iieg£timos". '. " I!. ' ..

16,.NA ~.r/l-.nretllnha, o trabalho do lnstitute for PubHc Policy Research reprí1enta um.a ..impor- .nmte gll1nada. , .. '. 11.

17: Nos anos 80, o uso de subsfdio~ snlnri~is, 8tti~lniente defendido como fom)~ de ~ed~zir ~ de-, scmprcgo na Grll-Bretanha em '(talvez) 50%,- £OiPI:OPOstO como meio de i'sscgurnr o direito' .

. ilnivtrsal 110trabalho, de que hoje nenhuniâ -figura pública fala. Ver Michael Rustin', Foi' IJ"

: PIIln;Ust Sociatism, Londr~, 1985, 'p. 147-172.. . '.' 11. ." "..18: O mais eloqoenre dtfensor desla estrot~gl:fsempre foi André Cor?.: ver Cri/ic of ECO'flOl1iic •

. .RmsôlI, Verso. Londres. '1989. p:'i83-215. , " : .'. 11', . ','

19: Ver Os diferentes enuios, baseados numa conref~ilcia intemacJon81 ocorri à em Louvain. êmPhilippe Vãn Parijs, org.: Arguillg for Basic JtlCom~ Verso,' Lt'lndrcs. 1992, q~e iiiclul uma 61ti- .

. càaoslimites.dt;!lsaidéiaporAndréGOrl.:p ..1?:~Ja4.'. 11., . '.20 ..Quem formula mais vigorosam~n~l! o argumento' geral ~ Nicky Hnrt, "Protriation: The ~ub-

stancc of Female Opprcssion in Modem Society", Contt.':flÍon. n, 1-2. outono 1991:invtr1lO .-. 19?2. '. ..'. - '... . f' ': .'::.,21. Para'convincentes comentárioS' !Obre os limites da assist~ncia ti criança. ver Patricia Hewitt e

Penelope l.each. Sodal Jusrice, Olíldre.n and Fnmilies. jpPR. Londres, 1994, p. 24~26.', . . ~

.. 21. EstA'~ a idéia d~fendidl\ por Paul Auerbnch, "On SO"cialist Optimism", New l.cft Reviclt' J92,. ,mnr.fAbr. 1992, p, 31.33. _ ..' I~ .23.' Paro uma cxcel~nlc descrição do modelo alemão. ver David Goodhart, Tlie Resllllpitlg or thc .

'Gtrmim Social Marktl. lPPR. Londres 1994, p,.I.7-32; ~ idéia dll Labour M~nllgCd Firms é 'ex."piorada ,em Jacqucs Drhe. LabOllr Mrl1lagemt.tH. CotllrnctJ and Capital Ma,-kets, Oxford, 1.989.

24. Jóhn Roemtr. A Futurejor Socialism, Verso, Lo;tdres, 1994, é atualmentc~o U'abalho ctlltl,ll:sobre este ponto. Ir :

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