império romano - patrick le roux

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  • Grandioso em sua dimenso, em seu poderio e em sua longevidade, o Imprio Romano representou um modelo poltico at hoje surpreendente. Sem ser um Estado territorial nacional, nem uma monarquia absoluta, ou sequer um regime totalitrio, era ancorado na pessoa do imperador, que concentrava o prestgio, a liderana e um espantoso poder de natureza quase religiosa.

    Esta obra mostra os paradoxos desse perodo, revela a Roma da poca, as condies em que viviam seus habitantes e discute de que forma um dos momentos de grande expanso da cidadania romana e de florescimento da cultura latina tambm se caracterizou pelos sangrentos combates de gladiadores e pela perpetuao da escravatura.

  • INTRODUO

    OImprioRomanonasceuoficialmenteem27a.C.eterminoudependendodopontodevistacomaconquistadeRomapelosgodos,chefiadosporAlarico,em410d.C.,ouem476d.C.,datadaquedadoltimoimperadordoOcidente,em conseqncia dos repetidos assaltos dos povos germnicos. Consideradostodos os fatos, difcil circunscrever com preciso uma faixa histrica cujacompreensonodependadeuma srie de referncias aoperododa repblicaromanaqueseseguiuSegundaGuerraPnica;portanto,seucomeospodeser entendido mediante o estudo de uma histria poltica que fluiu como umaunidade ininterrupta. No extremo oposto, quando so considerados os sculosfinais do Imprio, somos forados a recorrer a fontes que, em suamaioria, secontrariamcadavezmaisumassoutras,demodotalqueseuestudomaisexatoteriadeserlimitadofaseclssicadoAltoImprio.Esteteveaduraodequasetrs sculos e se foi expandindo lentamente, acabando por se impor como umsistemadegovernomundial,doqualpermanecemosdeumaformaoudeoutraosherdeiros,aindaquesejamosobrigadosasalientarasnumerosasalteraesque, desde o incio, ocorreram nas divises do territrio e nas fronteiras desseimprio.Apesardasinflunciasinegveisquedelasrecebeu,oImpriodeRomaconserva poucas analogias com as realezas helnicas centralizadas napersonalidade dominadora de seus reis.Sem ser umEstado territorial nacional,nemumamonarquiaabsoluta,nem tampoucoumaditadurapopular,nemaindaum regime totalitrio, o ImprioRomano permanece historicamente como umaestrutura inclassificvel.Seuarcabouonoseencaixaemnenhummodeloquepossaseridentificado.AlgumasdasmonarquiasposterioresqueseestabeleceramatravsdaEuropaafirmaramseguiressemodelo,masnenhumadelas conseguiureproduzi-lo. A expresso o Imprio Romano admite diversas definiesparciais,eteremosdecombinarelementosdecadaumadelas,casoqueiramosnosaproximar de um conceitomais completo.Todos acreditam saber do que estofalando, mas captar esse conceito em sua totalidade um verdadeiro desafio.Antes de mais nada, para estabelecermos uma conceituao precisa, sernecessrio libert-la de todas as semelhanas enganosas que vm sendoencontradascomoImprioBritnicooucomoImprioFrancs.Hojeemdia,sepretendermos estabelecer qualquer comparao com o Imprio Americano,seremosnovamentelevadosacairnaarmadilhadeumanacronismo.

    Examinado paralelamente Repblica, o ImprioRomano designa umperodo histrico marcado pela ampla dominao da potncia romana, sob a

  • direo de seus csares. Considerado isoladamente, o Imprio Romanorepresentava uma forma institucional e territorial do exerccio de um podermonrquico,masaoqualeramassociadososvaloresaristocrticostradicionais,odireito pblico como fonte de legitimidade e uma dimenso religiosa quecorrespondiaaopontodevistaideolgicoeformacomoraciocinavamaselitesromanas e as de suas provncias. Devido sua geografia, o Imprio Romanoagrupava um conglomerado de cidades e de comunidades locais que, at certoponto,estavamintegradasaumaredederelacionamentossociaisquecopiavamasestruturasdasociedaderomana.Contudo,cadaumadelaseraconstitudaporsuas prprias sociedades individuais, hierarquizadas e culturalmentemescladas,obedecendoemparteatradieslocaisquerevelavamosaspectosmaisvariados.Finalmente, o conceito corresponde, para os no-especialistas, a uma forma ououtra de expanso da cidadania romana e de florescimento de uma civilizaoportadoradosvaloresnobresproclamadospelosliteratosefilsofoslatinos,mascaracterizada tambm pelos combates de gladiadores e outros espetculosdesumanos dos circos e anfiteatros, e pela perpetuao da escravatura, semesqueceragrosseriadeumasoldadescaindisciplinadaedementalidadeestreita,que se manifestava sem reservas no momento em que deixava os campos debatalha.

    Durante os ltimos trinta anos, multiplicaram-se os trabalhos em todos oscampos da pesquisa cientfica, histrica e sociolgica, em especial aqueles queprocuram estabelecer comparaes com os estados modernos que, em ummomentoououtrodesuashistrias,buscaramconstituir-seemalgumaformadesociedade imperial. Continuam sendo realizados estudos detalhados nosdocumentos escritos, essencialmente latinos e gregos, que chegaram at ns ecujo valor de carter insubstituvel. As novidades surgem sobretudo daconfrontao entre muitos tipos de documentos, alguns deles de grandediversidade: aos textos chamados tradicionalmente de literrios, juntam-se asfontes jurdicas, as inscries (que no se limitavam ao latim e ao grego), ospapirosepergaminhos,oestudonumismtico(dasmoedasemedalhas),ahistriada arte, a iconografia, a arquitetura, os mosaicos, os objetos de toda espcietrazidos luzpelas escavaes arqueolgicas que introduziramno mbitodahistria as profisses e as tcnicas , sem omitir os intercmbios com outrospovos, os sincretismos e as progressivasmodificaes culturais.A tentativa deescreverumahistriamodernadoImprioRomanoesbarrahojeemdiaemumestranhoparadoxo:transformou-seemumesforocuidadosoparatornaracessvelao leitor um mundo que lhe mais ou menos familiar, mas que se achaprofundamente submerso sob grande diversidade de camadas mltiplas deinformaes e de conhecimentos. Somos forados a escolher entre enfatizar as

  • principaisevoluescronolgicasdosacontecimentosoudar-lhes interpretaesrenovadas. Todavia, esse fato no deve mascarar nem as incertezas, nem asobscuridades, nem tampouco as lacunas que ainda subsistem. A aparentelimpidezdorelatoescondeparcialmenteolongoesforodemontagenspacientese cuidadosas que a interpretao e a ordenao de dados heterogneos edescontnuosexigiramdohistoriadorprofissional.

    Umasimpleshistriadosacontecimentospolticosemilitaresnosofereceumamoldura cmoda e indispensvel.Confere uma continuidade formal aos relatosdas numerosas transformaes ocorridas em um mundo romano que oscilavaentrenumerososplos.Oexercciodopoder,ogovernoeamaneiracomoeramadministradososterritriosdemonstramqueoscentrosurbanoseseuspontosdevistaeramdominantesemtodaaorganizaoenosrelacionamentosestabelecidospelo interior do imprio. Sem os comentrios precedentes, no seria possvelavaliar comexatidonemaposio, nema funodas cidades e comunidadeslocais,nemaindaaamplitudeecomplexidadedosfenmenosdeajustamento,deadaptaes e de sincretismos que envolviam a vida privada, a religio e aconflunciadetradiesressuscitadasdeumpassadoremotooufortalecidaspelarenovao. A potncia romana tinha somente admiradores ou adversrios,ningumlheeraindiferente.AolongodasfronteirasdoImprio,asforasrivais,e mesmo dentro de seus territrios, os gruposde rebeldes entravam emconcorrnciacomahumanitas(acivilizao)dequeadominaodeRomaeraaportadora.

  • CAPTULO I

    O IMPRIO OU A POTNCIA DE ROMA

    OImprioRomanojexistiaantesde27a.C.,oumesmoantesdotriunfodeOtvio sobre Antnio e Clepatra, obtido em duas ocasies: na batalha deActium, tanto terrestrecomonaval, travadaem2desetembrode31a.C.;eemAlexandria,medianteacapturadacidadeeosuicdiodoinfelizcasal,em1o deagosto de 30 a.C.A repblica senatorial, vencedora deAnbal em 201 a.C.,tornava-se, a partir dessemomento, uma repblica imperial, decidida a nodaroportunidadeaodesenvolvimentodequalquerpotnciarival.Implicadaemumadisputa de grande flego contra os reinos helensticos do Oriente, acirrada naconquista paciente da Pennsula Ibrica depois da derrota de Cartago, Romaadaptou-se progressivamente s necessidades de uma expanso para fronteirascada vezmais distantes e sempremais exigente de recursos e de soldados.Apoltica de dominao imperial acabou provocando o questionamento dasinstituiesquedavamequilbrioaoEstado:opodermonrquicofoiemergindopouco a pouco das lutas civis, desencadeadas por generais ambiciosos, poucoinclinados a contemporizar com um Senado que se revelara incapaz derestabelecer a unanimidade entre os cidados. Apesar de uma impressogeneralizadaedifcildeeliminar,provocadaempartepelamajestadeimponentedas criaes imperiais, a instalao do imprio deAugusto no significou emabsolutoofinaldasconquistas,nemproporcionouoestabelecimentodeumapazjamaisperturbada.Asguerrasciviseseucortejodeviolnciasedecompetiesdolorosas tinham simplesmente adiado a expanso romana. Todavia estaprosseguiu, semumaverdadeira soluodecontinuidade,apesardashesitaesdoprncipenessesentido.Noentanto,ainiciativadasconquistasfoireservada,apartir desse momento, ao csar reinante, o que permitiu uma melhoradministrao de um crescimentoterritorial at ento descontrolado, deixadoanteriormente livre satisfao dos apetites de ambiciosos, que buscavam poresse meio adquirir prestgio e instalar-se como senhores incontestes sobre aprpria Roma. Ocorre que a histria interna e a histria externa do Impriotinhamsido,desdeseusprimrdios,indissoluvelmenteligadas.Ascrisesmilitaresdoperodo constituemamelhor comprovaodesse fato, visto quediminurampor um certo tempo tanto a potncia romana quanto o poder de expansoimperial,massemconseguirabat-los.

  • I.OImprioRomanosobreomundoAguerraocupaumaposiocentralnahistriadoImpriodeRoma,masisso

    igualmente verdadeiro em relao histria do mundo grego. O Imprio seconstituiuaolongodasgeraescomaargamassadosangue,dacoragemedasarmasdopovoromanoedeseusadversrios.Dessemodo,plenamentecoerentesalientar o fato dequenuncaocorreram fases emquehouvesse realmenteumaausncia de guerra, mas somente uma passagem da atividade guerreira para osegundo plano. A paz romana facilitou, durante dcadas, at mesmo nasregiesmaisexpostasdoImprio,odesenvolvimentodeformaspolticas,sociaiseculturaisquesecontavamentreasmaismodernas,segundoconsideravamosantigos. O erro foi fazer de conta, durante um longo tempo, que esse perodochamado feliz tivesse atingido um ponto de realizaes to prximo daperfeio que os sculos seguintes passaram a ser condenados como amanifestao de uma decadncia irreversvel. OAlto Imprio Romano, assimcomoosdemaisperodosdahistriadeRoma,extremamentemalavaliadoporessa classificao simplista dos fatos, que arrisca provocar uma srie deinterpretaeserrneasoudeespeculaesdecarterpuramentemaniquesta.

    1 .A caminho do Imprio Originalmente, no havia qualquer projeto

    deliberado de conquista do mundo. Da mesma forma que Roma dominouprogressivamentetodososseusrivaisnaItlia,elaatribuiuasiprpriaatarefadeproteger seus interessespor todaparte emque isso lheparecessenecessrio.medidaqueseupoderioseexpandia,oscidadosromanosforamseenvolvendocomaexploraoeocontroledos territriossubmetidos.Osexrcitosromanoseram encarregados de garantir a ordem e afastar quaisquer perigos cujapropagao pudesse trazer conseqncias graves para Roma.A guerra contraCartagoexprimiumaisumavezarecusadossenadoresromanosemtolerarumaconcorrente que eventualmente poderia buscar uma vingana.A destruio dacidade pnica em 146 a.C., marcada pela criao da provncia senatorial dafrica, originou simultaneamente, conforme relatam as fontes histricas, tantotemoresquantoentusiasmos.A idiadeumapotncia romana invencvelesemrivais, que surgiu precisamente nessa poca, no foi abalada pela resistnciahericadacidadedeNumncia1, localizadanopasdosceltiberos2, durante osanosde139a133a.C.

    Tibrio Graco, um nobre de alta linhagem, buscou restabelecer a classecamponesa, formada por pequenos proprietrios livres, cuja diminuioprogressiva punha em risco a manuteno do domnio romano. As legiesdependiam tradicionalmente do recrutamento de cidados das zonas rurais, que

  • eramqualificadosparaoserviomilitarpormeiodapossedeumpedaodeterra(que era chamado decenso). Suaproletarizao isto , aperdadocenso,daextensomnimadeterra,fazendocomqueconservassemcomonicopatrimnioseusfilhos,casoostivessemosexcluadasoperaesderecrutamentoanuaispara a seleo de soldados: o sistema obrigava todo cidado inscrito norecenseamento, pertencente a qualquer uma das cinco classes sociais, a prestarserviomilitarporumperodomnimo,asercumpridoentreosdezesseteeos46anos.ALeiAgrria,violentamentecombatidapelosadversriosdoTribunodaPlebe[Graco], foientoaplicada.Oresultadonofoiaesperada reconstituiode um grupo considervel de pequenos proprietrios, que seria destinado areforaraslegies,masadivisodacidadeemdoiscampos:osquedefendiamaplebe e os que favoreciam a dominao da aristocracia senatorial, que seconsideravaameaadaporessareformaagrria.Issoficoubemclaroquando,em107 a.C.,CaioMrio, um homemnovo, isto , de origemplebia, foi eleitocnsul e efetuou um levantamento para verificar quais os cidados que aindapermaneciamdentrodaorganizaodasclasses tradicionaisequaisosquenomais pertenciam a elas. O princpio do voluntariado para o servio militar foioficialmente substitudo (se bem que no pela primeira vez) pelo recrutamentoseletivo.Dessemodo,ogeneralcumpriaapromessaquefizeraderecompensarseus soldados. A redistribuio de lotes de terra, imaginada inicialmente porTibrioGracoparacriarumareservadelegionrios,constituiu,apartirdeento,umapremiaodestinadaarecompensaroserviomilitarprestadoRepblica.

    A Guerra Social ou a Guerra dos Aliados (91 a 88 a.C.) decidiu aquestodefinitivamente:oacrscimoimportantenonmerodecidadosromanosquedelaresultou(pelaextensodosdireitosdecidadaniaaosaliados)provocouoretornoao sistemadevoluntariado,que favoreceuo recrutamentodosexrcitosnumerosos, os quais se tornaram fonte de prestgio para os grandes generais,chamadosimperatores. Ao lado dos exrcitos tradicionais, aquartelados nasprovncias para a manuteno da ordem, emergiram poderosas mquinas deconquista, cuja fora derivava, em grande parte, da capacidade de seuscomandantes para conduzi-los vitria, que serviria para as tropas como ummanancial de saques e de recompensas. O exrcito de Jlio Csar, mantidoduranteoito anosnaGlia, pode ser consideradocomomodelo epadrodessanovaforamilitar,masnofoionico.Oimperatoracrescentoutantoumnovovigorcomoumanovadimensosconquistas,pela rapidezcomque submeteuterritrios relativamenteextensos.Acimade tudo, seus sucessos lhederamumavantagemsuficienteparaquepudessereivindicaropoderpoltico.Aresistnciade seusadversrioso levoua tentar a sorte emumnico lance: aocruzar comsuas legies o limite de sua provncia, demarcado por um riachinho chamado

  • Rubico3, que corre entre Ravena e Rimini, em maro de 49 a.C., eledesencadeouumaguerracivil,daqualeventualmentesetornouumavtima.Seuassassinato, no dia 15 de maro de 44 a.C., aos ps da esttua de seu rivalPompeu,anunciouaderrotadeumpodersembasejurdica,umaditaduraimpostas pressas, antes que tivesse selado um acordo para obter a aceitao de seusoponentes.Contudo,ocesarismo,isto,a instauraodeumpoderpessoalaserviodadominaoimperialdeRoma,nomorreucomCsar:realmente,nofoi por acaso que Suetnio comeou as biografias dos doze primeirosimperadores pela de Csar, de quem Otvio, diga-se de passagem, era filhoadotivo.

    2.ApazeaguerraComaascensodeOtvioAugusto,omundoromano

    seestendeupelosdoisladosdoMediterrneo(vermapadoImprionapgina6),abrangendo,almda Itliaque ficavaemseucentropolticoegeogrfico,umavintenadeterritriosprovinciais,aosquaissejuntavamosestados-clientes(reis,chefes tribais hereditrios e outros aliados), considerados comoparte integrantedoImprio,apesardaaparnciadeliberdadequeconservavam.Areorganizaodarepblicaedoimpriofoifundamentadasobreumanovaordemintelectualeumanovaconceporacionaldoquesignificavaoexercciodopoderuniversalea ordenao poltica do mundo: a tradio e o passado foram objeto de umareleitura global e de uma sntese original, que conferia potncia romanarestabelecidabases duradouras e firmes comono tinham sidovistas at ento.Roma,herdeiradosgregosedosmacednioseegpciosdeAlexandria,senhorade todas as terras habitadas (o chamado ecmeno), assumiu o papel demantenedoradapazedacivilizaodiantedosbrbarosexteriorese interiores,consideradossuscitadoresdocaosedadesordem.AdominaodeRomasobreumnovoterritrioprovocavasuaintegraoprogressivanoimpriocivilizador.Eapazserviriaigualmenteparaaexpansodopoderimperial.

    Pormaguerranodesapareceu.OdesastredeTeutoburgo4,marcadoem9d.C. pela perdadas trs legiesmalditas (nuncamais foram reconstitudas asunidades de nmeros XVII a XIX), demonstrou que a idia de um imprioindefinidonecessitavadeserconsideradacommaiorprudnciaevigilncia.Oexrcito permanente deAugusto fixado em 28 legies,mais tarde reduzidaspara 25, flanqueadas por um nmero sem dvida superior de tropas auxiliaresrecrutadas nas provncias (compondo entre 55% e 59% dos efetivos) foidistribudosegundoumalgicaregionalquecalculavaosesforosnecessrioseavaliava os riscos das ofensivas.Do lado doOriente, a submisso dos partos5constitua o objetivo essencial. NoOcidente, os povosgermnicos deviam ser

  • controladoseabsorvidospaulatinamente.NafricadoNorte,aconquistaativaprogredia de acordo com as circunstncias, s custas dos territrios dos povosnmadesemontanheses.Operodojlio-claudiano(27a.C.aaproximadamente68d.C.)foimarcadopelacriaodenovasprovncias:aBritnia(Inglaterra),ostrs distritos alpinos (Alpes Martimos, Cotianos e Planaltinos), a Rtia e aNrica,aDalmcia,aPanniaeaMsia,aTrcia,aGalcia,aLcia-Panflia,aCilcia,aJudia,aCirenaicaeasMauritniasCesarianaeTingitanaampliaramocrculodadominaoterritorial.

    Apesardasaparncias,aatividademilitardosimperadoresseacentuousobosFlvios(69a96d.C.)eosAntoninos(96a192d.C.).Asposiesromanasseexpandiram sem cessar na Britnia (Inglaterra), na Germnia, ao longo doDanbioenoOriente.JlioAgrcola,osogrodohistoriadorTcito,realizouumasrie de campanhas vitoriosas na Britnia, culminando com a construo daMuralha deAdriano, logo prolongada pelaMuralha deAntonino, situada cemquilmetrosmaisaonorte.O imperadorDomiciano instituiuasduasprovnciasdaGermnia,InferioreSuperior,emsubstituioaosdistritosmilitaresdemesmonome. Dividiu igualmente a Msia6 em Msia Superior e Msia Inferior,inaugurandoasofensivasatravsdoDanbioemdireoTransilvnia,a terrados dcios7, governados pelo rei Decbalo. Estes foram derrotados em duasexpedies militares, durante os anos de 101-102 d.C. e 105-106 d.C.,comandadaspessoalmentepeloimperadorTrajano,quecriou,almdaDcia,asduasprovnciasdaPanniae,aosul,aprovnciadaArbia;eletambmatacouvigorosamente os partos e apoderou-se de Ctesifonte, a sua capital, que foraconstrudajuntoaorioTigre,chegandomesmoacriaraprovnciadaAssria,quetevepoucadurao,almdasprovnciasdaMesopotmia,aoredordesuacapitalNsibe(Nnive)edaArmnia,squaisAdrianoseviuforadoarenunciarmaistarde. Nunca foi muito fcil determinar as causas ou responsabilidades dessadeciso.OfracassodacampanhaprticacomandadaporLcioVero,quefoidecididaem162d.C.,apsaderrotadeElegia,infligidanaArmniaaMarcosSedcio Severiano, o governador da Capadcia no pode ser atribudounicamenteaovigorguerreirodeVologsioIV,napocareidospartas.Duranteos sculos II e III de nossa era, os maus resultados dos conflitos foram tantoconseqncia das ms decises da parte dos romanos como das reaes deadversriostentadosalucrarcomasocasiesquelheseramoferecidas.

    3.Uma idade de ferro poltica (Dion Cssio) O reinado de Marco

    Aurlio (161 a 180 d.C.) foi perturbado por uma srie de ataques atravs doDanbio,queosromanossconseguiramrechaarcomdificuldade.Oprojetode

  • uma Provncia daMarcomnia, que seria localizada para alm do Danbio,nuncachegouaseconcretizar.Segundoparece,asinvasesforamsuspensasporalgum tempo, o que veio em benefcio do imperador Cmodo.8 Porm suasloucuras9 encorajaram as conspiraes internas. Seu assassinato, em 31 dedezembro de 192, foi o estopim para uma nova guerra civil, da qual StimoSeverosaiuvencedor,nabatalhadeLyon,travadaemfevereirode197.Onovosenhordomundoredobrousuasatividades,comaintenoderestauraraimagemdapotnciaromana,aplicando-searestabeleceradisciplinadosexrcitosealhesconferirumanovaeficcia.NoOriente,aprovnciaeqestredaMesopotmiafoiretomada, sinalizando a recuperao dos exrcitos romanos; infelizmente, essesucesso no foi repetido na campanha da Britnia. O imperador adoeceu eagonizoulentamenteemEboracum(York).NafricadoNorte,aslegieseramobrigadasarealizarsucessivasoperaesdepacificao.Quando,nooutonode213,Caracala desafiou os alamanos10na Rtia, obteve um descanso de vinteanosparaoImprio,masodesperdioumaistarde,aoserderrotadopelospartos,em conseqncia de sua prpria temeridade. Severo Alexandre (222-235)retornouprecipitadamentedoOrienteparaenfrentarainvasodosgermnicosem235,mas foiderrotado,morrendoemcombate,aindanovigorda juventude.Apotncia romana, devido extenso excessiva de seus territrios, teve deenfrentardurantemeiosculoosassaltosrepetidosemuitasvezessimultneosdasforasexterioresaoImprio.Essas incursesestrangeirasacabaramporminaropoder dos prprios imperadores. A captura profundamente humilhante doimperadorValerianopeloreipersadadinastiasassnidaSaporI11(Shapur),em260,simboliza,namemriaimperial,adesordemporquepassavaoImprio.Elainiciou um sombrio perodo durante o qual imperadores proclamados por suasprprias tropas (fala-se no tempo dos imperadores-soldados ou dosimperadores-ilricos, porque, na sua maioria, se originavam da provncia doIllyricum,nosBlcs)esforaram-seemresistirsinvases,chegandoporvezesatomarainiciativa,abrindocaminhoparaasinovaesdeDiocleciano.

    O ImperiumRomanum, mesmo que ainda fosse uma enorme potncia emtermos de territrio, era prejudicado pelamultiplicidade e desigualdade de suascomunidades,integradascidadaniaromanaapsaConstituioAntoninade212,promulgadaporCaracala.OcentroromanoeasededoImprioaindaeramseu cimento.Acrescentava-se a isso o modelo da civilizao poltica romana,imitado pelas classes superiores locais. Entretanto, visto do exterior, o mundoromano era mais invejado do que temido. O acmulo de problemas de todaespcieobrigavaos romanosa recorrer repetidamente fora,oqueprovocava

  • novas reaes dos adversrios de ambas as extremidades do Imprio, queinsistiam em no se dar por vencidos. O equilbrio sobre o qual repousava acivilizaoromana,aliceradanodomnioglobaldaterrahabitada,acabaraportornar-sefrgilpelaforadascircunstncias.

    II.Amonarquiatransformadaemhbito

    O poder imperial de Roma no nasceu da coxa de Jpiter12, seu protetornomeadoeresidentenocapitlio,jenvergandocapaceteearmadura.Apesardafuno das atividadesmilitares e da vitria como fundamento da soberania deAugusto, a monarquia romana, um pouco como aconteceu no rio Nilo, foi oproduto da confluncia de mltiplas fontes, que devem ser identificadas pelasrealidades do terreno e que no podem ser claramente classificadas quando sedeseja estabelecer-lhes algum tipo de hierarquia.A personalidade e o tirocniopolticodeAugusto foramdegrande importnciaparaosucessodeumprojetoque nunca chegou a ter uma plataforma poltica definida, de um regime quenunca foi dotado de uma constituio escrita.A evoluo para o imprevisvelestabelecimento de um sistema de colegiados de imperadores, de capacidade epoderdesiguais enomeadospor foradascircunstncias, maisumaprovadahabilidadepolticaedopragmatismodeseufundador.

    1. Fundaes A inveno de uma monarquia imperial por Augusto

    revestiu-se de um duplo aspecto: submeteu a repblica autoridade de umprncipe (o primeiro entre os cidados) sem que isso conduzisse aodesaparecimento de suas instituies tradicionais e afirmou o monoplio dopoder de uma nica famlia, os Csares, reunida firmemente em torno de seuchefe.As guerras civis facilitaram a ruptura com o sistema anterior. Todavia,essesnovosaspectosnosefundamentavamnastradiesdarepblicasenatoriale muito menos nas regras estabelecidas para a sucesso dos cargos pblicosromanos,legitimadosaintervalosregularespelosvotosdopovo.Mesmoassim,oimperador deveria levar em considerao as reaes do Senado e da plebeurbana, dos romanos residentes nas provncias e das unidades militaresacantonadas em Roma ou em suas proximidades e, mais ainda, as possveisatitudes que poderiam vir a ser manifestadas pelas legies destacadas nasprovncias.IssoreveladoclaramenteporumtextodescobertorecentementenaBtica (Espanha),descrevendoumaproclamaosenatoriala respeitodeSeneuPiso,acusado,noano20denossaera,determandadoaprisionarGermnico13ede fomentar uma guerra civil. Nesse documento, no somente feito umagradecimento, segundo a frmula habitual, s classes sociais componentes da

  • cidade os senadores, os cavaleiros e a plebe urbana das 35 tribos pelafidelidademanifestada,comotambmscapitaisprovinciaiseaosacampamentospermanentesdaslegies,todosmencionadosnominalmentecomodestinatriosdecpias do decreto. O poder central romano vivia no temor da revolta deconcorrenteseventuais,apoiadospelastropasqueelestinhamsobsuasordens.Oconsenso favorvel dos cidados de todo o Imprio era julgado comoindispensvelparaobomfuncionamentodoEstado.

    Augustosempresoubemostrar-seconciliadoreprudentequandoerapreciso.Foi esse o preo que ele pagou para calar as numerosas discrdias e osressentimentos, embora no os conseguisse erradicar. Contudo, apesar daoposio de umaparte dos senadores, estabeleceu firmemente sua autoridade eafirmouaproeminnciadesuacasa,aDomusAugusta, isto,desuafamlia,expandidaeconstitudaporumaparentela,quepodia ser aumentadadeacordocom seus prprios interesses. Alm disso, nos domnios social e moral, elehonravaosvaloresdaaristocraciasenatorialeoscostumesdosancestrais,oumosmaiorum,aomesmotempoquereformavaas instituies,pormeiodemedidaseficazes, sempre que isso era exigido pela situao vigente, uma coisa quesomentepoderiaserfeitapormeiodavontadesuperiordosenhordoImprio:ogoverno, a administrao de Roma e das provncias, a religio pblica e atmesmo o plano de carreira dos soldados. O culto imperial, assentado sobre adivinizao de Jlio Csar, a partir de 44 a.C., foi sendo elaboradoprogressivamenteaolongodoreinado.AshonrasreligiosasprestadasaAugustoemvida,justificadaspelanecessidadededaraoimperadorumlugarequivalenteno plano religioso ao que ele j ocupava legalmente na repblica reformulada,prepararamsuaprpriadivinizaoapsamorte,ocorridaem19deagostode14d.C.emNola,naCampnia.Ocultoaosimperadoreseraapenasaparteimperiale oficial da religio pblica romana. Triunfador eleito dos deuses, herdeirotestamentrio e filho adotivodeCsar, proprietrio de riquezas a quenenhumafortunasenatorialpoderiasecomparar,Augustoconseguiualcanarosucessoemsua iniciativa de forjar um estilomonrquico aceitvel, tanto para os cidados,comoparaasaristocracias.

    2.A formaodeumhbito Era a prpria personalidade do imperador

    quedeterminavaamaneiracomoopodereraexercido.ApartirdeTibrio(14-37), pareceu evidente que o regime no seria mais contestado.As crueldadesextravagantesdeCalgula(37-41),asatitudesestranhasdeCludio(41-54)easdemncias de Nero (54-68) no foram suficientes para colocar em perigo ainstituio criada paciente e sutilmente por Augusto, devido sua naturezaflexvel e adaptvel. No mximo, quando o clima poltico se tornava

  • desequilibradoemexcesso, rivalidades eramostentadas abertamente.PormeranecessrioqueoSenadoconspirassecomoscomandantesdaGuardaPretorianae,semdvida,obtivesseoapoiodealgunsmembrosdafamliaimperial,paraqueuma conjurao pudesse vir a ser bem-sucedida.Contudo, no existe qualquerprova que nos possa garantir, com absoluta certeza, que Tibrio e Cludiotivessemsidovtimasdaimpacinciadeseussucessores,aoinvsdemorreremdecausasnaturais.Calgulafoiefetivamenteassassinadoaos28anosdeidade.Nerofoiforadoaosuicdio,em9dejunhode68,comtrintaanosdeidade,depoisdemaisde trezeanosde reinado.Sejacomofor,emnenhummomento,apesardeproclamaestovirtuosascomovazias,ningumchegouapensarseriamentenapossibilidadedeaboliroprincipado.Foi assimqueodesaparecimentodeNerofezretornaraguerracivil,cujoespectropareciatersidoexpulsohaviamaisdeumsculo.Naausnciadeumherdeirodesignadoedeumchefequeopredecessortivesseindicadodeformaincontestvelouquepudesseseraceitoportodos,apssuaaclamaopelasoldadesca,oscompetidoressemultiplicaram,massemqueoregimefossecontestado.Nessaslutas,aslegiesdaGermnianopuderamdaravitriaaseucampeo,porqueforamderrotadaspelaslegiesdoDanbio,aliadassoutraslegiesvindasdoOriente,quehaviamescolhidoVespasiano.

    O Flaviano vitorioso (cujo nome era Tito Flvio Vespasiano) recebeu ainvestidura dentro de novas condies. Ele precisava, do mesmomodo que ofizeraAugusto,restabeleceraomesmotempooImprioeaordemimperial(69-79).Naturaldaprovnciada ItliaelenasceraemReata,naSabnia, enooriundodeRoma,comoafamliadosJlio-claudiano,eleatendeussolicitaesdosaristocratasprovinciaismaisexigentes,consolidouasinstituiesquetinhamsido enfraquecidas pelas guerras internas e reafirmou sua adeso ao sistemamonrquicocriadoporAugusto,semquequalqueroposiofosse levantada.AconstruodoColiseu,oprimeiroanfiteatronocoraodacidade,construdoempedraparaosjogosdopovo(P.Zanker),manifestouaosolhosdetodosqueoimperadorseinteressavapeloscidados,almdeseronicoatercondiesdeconstruir monumentos to custosos e extraordinrios. Coubea seu filho maisvelho,Tito (79-81), o encargode inaugurar o circo, pormeio de uma srie decemdiasdeespetculos,realizadosnodecorrerdoanode80eassinaladospelaemisso de umamedalha comemorativa. Entretanto, foi seu irmomaismoo,Domiciano (81-96), quem de fato completou a edifcao. Este ltimo reinadopareceu renovar os pioresmomentos dos tempos de Calgula e deNero. Seusfuncionriosmais prximos e os senadores viviam em constante terror, porqueDomicianoviviaobcecadopelaidiadequesefaziamconspiraespermanentescontraele.Apesardocimequedemonstravaporsuaautoridadeepelavaidadequesentiaporgozardasvirtudesdivinasquejustificavamseupoder,Domiciano

  • conseguiumanteroimprioestveleempaz.Emmatriadeadministraoededireitodascidades,eleprolongouaobradeseupai.Maistarde,Trajanoretomoucomsucessomuitasdasprovidnciasiniciadasporele.

    O assassinato de Domiciano, em 18 de setembro de 96, deu ocasio ascensodeNerva(96-98),jbastanteidoso.SuaescolhaeaadoodeTrajano(98-117) representaram a promoo ao poder imperial do primeiro senador deorigem provinciana:Marcolpio Trajano nascera emItlica (hoje Santiponce,pertodeSevilha,naEspanha),naprovnciadeBtica.Aosolhosdaposteridade,suaimagemfoiadeumconquistadormagnfico,cujasglriasserefletiramnasuacolunarevestidadehistriasesculpidas,queseergueathojenoimensofrumconstrudoporelenocentrodeRoma.Trajanofoiobrigadoaabafarumarevoltadeclarada por judeus, entre 115 e 117, naCirenaica, emAlexandria (Egito), esemdvidanaJudia.PreocupadoemrestaurarovigordaItlia,oqueconstituiuapolticaprincipalde seu reinado, respeitadordoSenado, ele foio smbolodeuma adoo bem-sucedida e considerado como omodelo de umbomgovernosegundoopontodevistadaelitesenatorial.

    3.provadosacontecimentosTrajanoiniciouoapogeudoAltoImprio,

    achamadapocaantonina,cujoinciosecostumamarcarpelocurtomandatodeseu pai adotivo, Nerva. Adriano (117-138) e Antonino, o Pio (temente aosdeuses)(138-161),encarnaramapazeobrilhodacivilizaoromana,nocentrodaqualariquezaeoprestgiodasaristocraciasconfraternizavamfacilmentecoma alta cultura.O imperador-filsofo,MarcoAurlio, todavia, foi considerado omais infeliz dos imperadores. O Imprio foi confrontado por uma sucesso dedesastres que, naquele momento, se pensava ter sido deixados para trs:epidemias, alta taxa de mortalidade acompanhada pela diminuio dosnascimentos,ameaasexternaseincursesdevastadorasnasprovncias,revoltasde usurpadores, uma conjuntura econmica difcil. Seu filhoCmodo, o nicodosantoninosanasceremberodeprpura14, recusou-seaseguirosplanosdeseupaiedeseuspartidriospararealizarumaofensivaalm-Danbio.Maispreocupado com seus sonhos de divindade do que com a sorte do Imprio,divertia-se em descer arena para apresentar-se como gladiador e adoravafantasiar-sedeHrcules.Suas loucurasconduziramaumaconspiraoquepsfim sua vida e ao seu reinado. Mesmo assim, o Imprio estava to bemorganizadoqueosconselheirosealtosfuncionrioscumpriramsuasfunescomeficincia,durantetodoesseperodoinfeliz.

    O perodo Severiano (193-235) corresponde primeira idade de ferroimperial,segundoaexpressocriadapelosenadorDionCssioemoposio

  • supostaidadedeouroanterior.Todavia,oelementopredominantedessapocafoi a restaurao de umpoder ativo e respeitado,muito embora prejudicial aosinteressesdossenadoresedeseusclientes.OEstadofoireorganizadoemfavordamonarquia,etodososrecursosforammobilizadosparaorestabelecimentodeRomaedapotncia imperial.Porm,noprolongamentodasituaoiniciadanoperodoanterior, tanto a conjunturademogrfica comoamonetriaparecem tersido desfavorveis. Isso no impediu que algumas provncias, a dafrica, porexemplo, tivessem alcanado talvez o seumaior nvel de prosperidade duranteessetempo.Asevidnciasindicamque,sobopontodevistadosimperadores,asquestes externas e a defesa das fronteiras do Imprio definitivamente tinhamprioridade sobre os negcios interiores.O triunfo, a vitria e o crescimento doImprio eram para eles os fatores mais importantes, embora isso salientasse aausncia de qualquer plataformapoltica alm daquela inspirada pelascircunstnciasepelabuscadeglrias.Umaltopreoerapagopelasderrotas.Aguerra constantemente ameaava rebentar emmuitos pontos, dentro e fora dasfronteiras.Jhmuitotempoosexrcitosdestacadosparaadefesadasprovnciasnoerammaissuficientesparaenfrentarasameaasinternaseexternas.

    AcoroaodeMaximinoTrcio(235-238)anunciouaeradosimperadores-soldados.Aresistnciadafricaedasaristocraciascivissuaautoridadelevouos gordianos ao poder (238-244). Contudo o alvio foi de curta durao. Aengrenagemcomposta por uma srie dederrotas externas, seguidapelodesafiodas legies, sempre prontas a apoiar novos usurpadores, iniciou sua marchainexorvel.Entre235e284,nohouveums imperadorquemorresseemseuleito.Os competidores se apresentavam e as guerras civis se sucediam em umritmoacelerado.Afuno imperial se tornavacadavezmaisperigosa.Assaltossimultneos e repetidos s fronteiras fragilizavam as prprias estruturas doImprio,dogovernoedaadministrao.Anecessidadedesalvaguardare,logoaseguir,deapenasconservaropoderimperialromanoconduziuaumaprogressivaconcentrao das decises na pessoa do governante e acentuou o carterautoritriodeumpoderque,emborafosseaverdadeiragarantiadaunidadedasprovncias,acaboutendodeserpartilhado,oquenoimpediuqueassumisseumcartercadavezmaismonrquicoesempremaisatentovontadedosdeusesesplicaporsuas intervenes.Umadassuasconseqncias foiqueacidadedeRomacessoudeseraresidnciaoficialdosimperadores.

    No existe uma data de concluso cronolgica inteiramente satisfatria: deacordocomopontodevistaeoeventoescolhido,tantooanode235d.C.comoosde260ou284podemdemarcarofimdoAltoImprio,emboranosedesejeaoposio, por contraste, a um Baixo Imprio condenado ao declnio. Asmudanas foram aparecendo gradativamente, sem provocar rupturas bruscas.

  • ApesardepermanecerodignoherdeirodoImpriodosculoII,semabrirmodequalquer aparatoexternode suaantigagrandeza,o Impriodo sculo IV jno tinha asmesmas caractersticas, nem asmesmas ambies e nem sequer omesmorelacionamentocomomundoinvisveldoshabitantesdocu.

    1.AntigacidadedaPennsulaIbricalocalizadapertodanascentedorioDouro,noextremonorte.RepblicaindependenteatserconquistadaporCipioEmilianoem133a.C.Hoje,Sagunto.(N.T.)2.AntigopovodocentrodaIbria[Espanha],os iberosforamconquistadospelosceltasporvoltade500a.C. Dessamiscigenao originaram-se os celtiberos, de quem descendem em grande parte osmodernosespanhisdeCastelaeArago.(N.T.)3.PequenorioqueseparaaItliaCentraldaGliaCisalpina.JlioCsaratravessou-ocomseuexrcitonanoitede11para12dejaneirode49a.C.,semautorizaodoSenado,originandoumaguerracivilemquederrotou Pompeu e determinou seu primado sobre Roma. Atravessar o Rubico significa tomar umadecisoirrevogvel.(N.T.)4.NaflorestadeTeutoburgo,anoroestedaAlemanha,Armniovenceutrslegiesromanasa9d.C.PblioQuintilio Varo foi atrado para os desfiladeiros das montanhas, sua retaguarda massacrada, as tropasafogaram-senospntanos,ossobreviventesforamesmagadosnaplancievizinha;Varosuicidou-secomamaiorpartedosoficiais.(N.T.)5.Os partos [farsis] eramumpovo indo-europeu, de quemdescendemmuitos dos iranianosmodernos eforamconstantesinimigosdosromanos;ospersaseramumadastribospartasqueeventualmenteassumiuapredominncia.(N.T.)6.DolatimMoesia,regiodaantigaEuropa,nosBlcs,correspondendomaisoumenossatuaisBsnia,BulgriaeSrvia.Habitadaportribosgermnicasetrcias,foisubmetidapelosromanosem29a.C.(N.T.)7.Regio do baixoDanbio, nosBlcs, correspondente a parte daHungria, Transilvnia,Moldvia eValquia,portantoamaiorpartedeRomniaatual.TrajanofoiforadoaestenderafronteiradoImprioparaalmdoDanbio,porqueosdciosatravessavamorioeatacavamconstantementeaMsia.(N.T.)8. Lcio Mrio lio Antonino Aurlio Cmodo, 161-192 d.C., filho de Marco Aurlio, o nico dosAntoninosquenofoiadotado.Imperadorapartirde180,morreuassassinadonobanho.(N.T.)9.Emseutriunfoapsavitria[deseupaifalecido]naPannia,colocouaseuladonocarroumescravoemvez da imagem de Roma; realizava orgias bissexuais; era excelente atirador de balestra [o arco demola]espadachime lanceiro, tendodescidomaisde setecentasvezesarenaparacombatercomferasououtrosgladiadores.OSenadopassouachamar-seComodiano,oslegionrios,comodianos;JerusalmeaprpriaRomapassaramachamar-seColniasComodianas.(N.T.)10.DoantigogermnicoAllemann,emlatimalamanni.Osalamanoseramumaconfederaodepovosdo centro e noroeste da Germnia, namaioria semnanos, que habitava principalmente o Brandenburgo esurgiuhistoricamentenosculoIIIa.C.Apartirde178a.C,aoseremexpulsosdesseterritriopelosgodoseeslavos,osalamanosespalharam-sepelaGermniaocidental.(N.T.)11.Dinastiapersaquesucedeuaosarscidas.Seufundador,Ardeshir, filhodeBabek,eradescendentedeum mago chamado Sassan. Procuraram restaurar o imprio persa depois da conquista deAlexandre, oGrande. Foram inimigos constantes dos romanos. Sapor I [Shapur]: rei da Prsia, um dos sassnidas,falecidoem261d.C.FilhodeArdeshircomumaescravadescendentedosarscidas.(N.T.)12.Smele,filhadoreiCadmo,foiamantedeZeus(Jpiter)eengravidoudele.Imprudente,elainsistiuparaverodivinoamanteemtodaasuaglriaemorreuconsumidapelo fogodavisodivina;compadecidodeDioniso,obeb,queaindaestavavivo,porqueeradenaturezadivina,Zeusoencerrouemsuacoxadurantevriosmeses,atsecompletaroperodoparaonascimento.(N.T.)13.TibrioDrusoNero,filhodeDrusoNeroedeAntnia,netodoimperadorOtvioAugusto,16a.C.-19

  • d.C.Generalfamoso,submeteuosdlmataseospannios,venceuosgermanosdeArmnioerecuperouasguiasesmbolosdaslegiesdeVaro,queaquelemassacrara,reunindoosossosdosmortosparacremaoe libertando uns poucos prisioneiros escravizados; por esse motivo, recebeu o cognome de Germnico,conferidapeloSenado.(N.T.)14.Otecidodeprpuraeraprivilgiodosimperadores,emboraossenadorestivessemdireitoaduasfaixasnabarradatogaeoscavaleirosauma.Cmodofoionicodosimperadoresantoninosanascernafamliareal,todososdemaisforamadotados,porissoaexpresso.(N.T.)

  • CAPTULO II

    O GOVERNO DA TERRA HABITADA

    OImprioRomanospodesercomparadocomoprprioImpriodeRoma:nosefundamentavaemumprincpioterritorialquejustificasseaformadedireitoadotadaemseuseio,nemtampoucoeraumEstadocentralizado.Defato,quandoexaminamosessaconstruohistrica,nuncaencontramosquaisquerlimitesfixose definitivos.A filosofia ponderada que permitiu o fortalecimento do poder deAugustotambmdeumargemaumnovodesenhodomundoconhecido:Roma,nocentro,cercadapelaItliaeporsuasprovncias,controlavaocoraodazonatemperada; as regies mais externas que, de uma forma ou de outra, eramconsideradas como acessveis, mesmo quando muito afastadas, dependiamorganicamentedadominaoimperialdeRoma,deondeprovinhaseuequilbrio.A ordem poltica refletia a ordem imposta sobre a natureza, e a harmonia quedisso resultava se expressava pela paz, que se acreditava ser desejada pelosdeuses.Aconcentraodaautoridadenapessoadeumshomemasseguravaacoesodeumvastocorpo,cujosmembrosestavampermanentementesobameaade disperso.A majestade daUrbs deixava bem claro ao universo inteiro queRomaerasuacabea.

    OsterritriossubmetidosaoImpriodeRomatinhamgrandenecessidadedepaz e de tranqilidade aps os distrbios provocados pelas guerras civis.Umanova administrao se imps, racionalmente alicerada em um sistemahierrquico de funcionalismo, que dependia de enumeraes, classificaes,reformas fiscais, integrao dos espaos e preocupao comdecises eficientespara, em seu conjunto, estabelecer o novo esprito de governo, dedicado manuteno da ordem na Itlia e nas provncias. Controlar, verificar, sopesar,equilibrarerepartireramasatividadesque,apartirdeento,demonstraramqueaintenodaautoridadecentraleraodesenvolvimentodaartedemelhorgovernar.

    I.OimperadorUm prncipe o primeiro entre os senadores era capaz de tomar

    rapidamente todas as decises necessrias. Augusto declarou expressamentepossuir tal autoridade, em um texto destinado a ser gravado em dois pilares,erguidosnaentradadeseumausolu,noCampodeMarte,quefoiintituladoResGestae,ascoisasqueforamrealizadas.Investidodaauctoritas(quesignificavaa superioridade moral e religiosa) de que os pais conscritos (os senadores)

  • tinhamdeixado de ser os depositrios, o imperador reivindicou exclusivamentepara si e sua parentela a herana da tradio aristocrtica (mos maiorum, oscostumesdosantepassados),emnomedaqualpretendiaassumirsuasfunes.Arepblica, composta pelas ordens de magistrados, pelo Senado e pelo povoreunidonoscomcios,progrediriaagorasobavigilnciadosenhordoImprio.OdecretodossenadorescomrefernciaaoprocessodePiso,duranteoreinadodeTibrio, utiliza a imagem, de acordo como esprito augustino, dastatio pro republica, isto , a guarda doEstado.O imperador estava em seu posto, nosentido militar do termostatio, com o objetivo de observar e assegurar o bomfuncionamento das tarefas correspondentes cidade imperial. Sua implicaopessoal, seuestilo, suapersonalidadee seu interessepelosnegciosdo Impriodeterminavamascaractersticaspositivasounegativasdogoverno.

    1.Seupoder importantequeseatribuaaCsarAugusto todoomrito

    que lhe devido. As instituies da cidade serviram como molde para asprerrogativaslegais,atentodesconhecidas,queeleassumiu.Omonopliodopoderrepousavasobreoimperiumeopodertribuncio.Todavia,foisomenteem23 a.C. que o Imprio assumiu sua verdadeira forma. Durante o perodocompreendidoentreafamosasessodoSenadorealizadaem13dejaneirode27a.C.atoanoreferido,AugustoerasomenteumcnsulemRomaeoprocnsuldeumcertonmerodeprovnciasocupadasporexrcitosdelegionrios.Nessadata, ele abandonou o consulado e assumiu o poder tribuncio, mas sem alimitaodeumcolegiado,oqueprovocouaredefiniodopoderdeimperium:apartirdeento,Augusto,e somenteele,passouaser legalmenteautorizadoano abrir mo de seu poder militar quando se encontrava dentro do espaoabrangido pelopomoerium, a rea cujopermetrodelimitavao espao religiosodacidade.Inversamente,opoderdostribunosdaplebeeraexercidonoconjuntodoimprio.Sobreessetroncorobusto,foramenxertadastodasasatribuiesqueanteriormente cabiam s magistraturas tradicionais, contando-se entre elas osprocedimentos referentes aos recenseamentos, moralidade dos costumes, preservaoda religio e apresentaodepropostasde leis, almdocontroledosbensdedomniopbliconaurbeenasprovncias,eaindaadecisofinalemtodasasquestesdejustia.Dentrodaestruturadessenovoplanoinstitucional,arespublicatinhasidocolocadapraticamenteaserviodoimperador.

    Contudo,asregrasfixadaspelaleiaindanoeramsuficientes.Aliceradoemseusnovosdireitoscontraasambiesdospatrciosdaaristocracia,comandantesupremoeindiscutveldosexrcitos,oimperadorsolicitavapessoalmenteoapoiodosdeuses,umaatitudequenoescandalizavaningum.PorocasiodamortedeLpido,em12a.C.,AugustodeterminouqueocargodeSumoPontficepassasse

  • aserprerrogativadafunoimperial,tornando-sedoravanteocentrodasdecisesreferentesreligiopblica.DomesmomodoqueoEstadotinhasidoorganizadoem funo da dominao de um nico homem, as instituies religiosas foramreconstitudas de tal maneira que sua administrao se tornou uma atribuioexclusivado imperador,consideradoomodelodapiedade,emsuacondiodeeleito dosdeuses.O culto imperialmanufaturou a imagemdeumpoder sobre-humano,aindaquenodivino,queeraresponsvelporgarantirapazdosdeuses.O poder romano, por intermediao dos imperadores vivos e dos imperadoresdivinizadosapsamorte,estavaemcontatoestreitocomomundoinvisvel,doqual solicitava a assistncia e a proteo para a comunidade dos cidadosromanos e das populaes do Imprio.Porm no se confundia o imperador,mesmo morto, com um deus, ainda que o dilogo privilegiado com os seresdivinosfosseumsinaldasuperioridadeinegveldodetentordopoderdeimprio.Na pessoa dos csares se concentrava o prestgio inerente ao exerccio de umcargoconsideradocolossaleaindaaimagemdeumpoderespantosodenaturezareligiosa. A Domus Augusta, sob o efeito das sucessivas apoteoses, isto ,ascensodosimperadoresaoseiodosdeuses,evoluiunormalmenteatsetornarparenteladivina,ouDomusDivina.

    Apesardetudo,oregimeimperialnoseassemelhavaemnadaaumatirania,nemsequeraumamonarquiaabsoluta.Emnenhumapoca,atopontoemquechegam os nossos conhecimentos, apesar da estratificao progressiva dosprocedimentosadotadosaolongodotempo,foipromulgadaumaleiorgnicaqueinstitusseopoderimperialeseumododetransmisso.Asclassescomponentesdarepblicajamaischegaramasereduziramerasferramentasinstitucionais,eoexercciodopodernosemanifestavaunicamenteatravsdocontroledosmeiosde propaganda, nem era apoiado por uma poltica que lhes assegurasse aimpunidade.Oespritocviconohaviadesaparecidoporumpassedemgica,nemacompetioaristocrtica,porfaltadecombatentes.Oprestgio,aestima,apopularidade e o reconhecimento pesavam fortemente sobre a reputao dosoberano, que era bastante favorecido quando se mostrava respeitoso aosinteressesdopovo,dacidadeedaptria.Ainvestiduradoimperadornoduravamais doqueo tempo emqueo titular dopoder soubessemostrar-se digno aosolhosdoSenado,daplebeoudoexrcito.Aqualquermomento,semprequeseestabelecesseumclimadeterroroudearbitrariedade,aescassezdealimentosemRomaouumasriedederrotasmilitares,ocsarcorriaoperigodeumamorteviolenta.AsreaesquesemanifestavamnoSenado,aindaqueestesemostrassecada vez menos corajoso, pelo menos abertamente, como resultado de suaaclimataoaoregimeimperial,podiamdarorigemaconspiraes.Apsamortedeumcsar,eradossenadoresquedependiaojulgamentofinalsobreacerimnia

  • desuaapoteoseedivinizaoouse,aocontrrio,lheseriadecretadaaaboliodamemria(Suetnio).Umcsarjovemdemaisoumuitoinexperientedeveriaterbastantecuidadocomoscnsuleslaureadoseprestigiosos,quepoderiamserfacilmenteescolhidoscomooscampeesdeumnovopartido.Todavia,salvoemcircunstncias especficas de vacncia do poder por falta de um herdeirodesignado ou como conseqncia de uma revolta militar que eliminasse ogovernante,osmagistradosesenadoresnodispunhamdequaisquermeiosparaafirmarasuaprpriaautoridade.Dequalquermaneira,elesnotinhamomenordesejodeprovocarumaguerracivil,mesmoquandoacreditassemoqueera,namelhor das hipteses, duvidoso que essa lhes fosse render os melhoresresultados. Em nenhum momento da histria imperial a permanncia dainstituiofoipostaemdvida.Asambiessomentechegavamatopontodequerer derrubar o imperador e usurpar-lhe o trono, porque no havia lei ouestatutoalgumquedeterminassequeasucessodeveriaserhereditriaoumesmodependerdeumaindicaodireta.Todavia,excetoempocasdecrise,aescolhaerafeitaentreosparentesdoantigo titular.Oprncipenoeramaisdoqueumsimplesmandatriodarespublica,ummilitantequedeveriasedemonstrarmaiszelosodoqueosdemais.Comefeito,quandochegavaomomentodaescolha,osfatoresdemaiorpesoeramoespritomilitareaexaltaodosvaloresguerreiros.

    A descrio da corte do csar ouaula Caesaris nos pode trazeresclarecimentosadicionaissobreofuncionamentodeumamonarquiatoatpica.Ningumsequerpensaemnegarquetalcortetivesseexistido,emboratampoucoqualquer um imagine que ela siga um modelo comparvel ao da corte deVersalhes na poca do Grande Rei, Lus XIV. As tradies elaboradas nasmanses patrcias das pocas anteriores foram adotadas por Augusto para ainstalao de sua corte imperial, que foi sendo paulatinamente estruturada aolongodosanos,deacordocomasnecessidadeseaosabordoseventos.TambminegvelainflunciadascortesdosreishelensticosdoOrientePrximo.Delassurgiuonomedeulicosdadoaoscortesos,derivadodeaula, termotomadodeemprstimodogrego,reservadoinicialmenteparadesignarumptioabertonaentradadeumamoradia,passandodepoisadesignarumptiocentral.Foiem tornoda residnciadomontePalatino (origemdapalavrapalcio)queseconstituiu o primeiro sistema de comunicao entre o prncipe e os cidados.Vitlio praticamente abdicou ao abandonar aarx imperii, ou a cidadela doImprio,aresidnciadopalatino,segundonoscontaTcito.JemSuetnio,apalavraaulaidentificadacomodomus.Acorteacolhia,desdeAugusto,almdecertos magistrados encarregados das primeiras instncias de deciso, duascategoriassociais:aplebeeasordensaristocrticas,formadaspelossenadoreseeqestres.Apresenadesimplescidadosnasalutatiomatinal,mesmoemcarter

  • de exceo, s confirmada por depoimentos bastante posteriores. Eram ossenadores que se reuniam regularmente na corte, quando no havia sesso doSenado,ealgunscavaleirossemisturavamentreeles.Novosprotocolosforamsedesenvolvendoao longodosculoprimeiro.Progressivamente seestabeleceuoadulatio,ouseja,oespritocorteso.Umahierarquiacompostapelosamigosdoimperador foi emergindo aos poucos, mas s assumiu carter permanente napocadeAdriano.Eraadistinoentresaudaoeadmissoqueseparavaosquesomente tinham direito de fazer uma visita de cortesia daqueles ntimos doimperadoroudoshspedesdemaiorimportncia.

    Ahonrasupremaeraoacessoaocubiculum, isto,acmaradoimperador,reservadaaumnmeromuitopequenodeprivilegiados.CalgulaeDomiciano,semconseguiremimporocostume,procuraramdeterminaraoscortesosousodapnula(ummantocomcapuz)comoavesteimperialadequadaaosrituaisulicose aproskynesis, ou prosternao perante o imperador-deus, como parte doprotocolo. O convite para jantar no salo do novo palcio, que Domicianochamou decenatio Jovis (sala de jantar de Jpiter), era considerado como umimenso privilgio. De acesso limitado a uns poucos indivduos de maiorimportncia,acortefavoreciaodesenvolvimentodaimagemdesuperioridadedoprncipeedesuafamlia.OpalatinodestronouoFrumeaCria,fazendocomquetodososolharespassassemaseconcentrarnele.

    2 .Sua funo Os deveres dos imperadores evoluram com o tempo.

    Ocupavamdemaneirasdiversasosaugustos,deacordocomsuapersonalidadeecomascircunstnciasdapoca.ConformeregistrouSuetnio,Vespasianodividiaseu tempo emduaspartes, segundo amaneira clssica dopovo romano: desdeantes do nascer do sol at a hora da sesta (por volta das duas da tarde), suaateno era ocupada geralmente pelos negcios do Imprio e do Estado; osegundoperodoeradedicadosuavidaprivada,seguindoumarotinamaisoumenosconstante,cujoeventomaisimportanteeraorepastodomeiodatarde,acena,tomadonotriclinium,salvoseestivesseprevistoumverdadeiroconvivium,ou banquete.Esse foi somente um exemplo. Fora deRoma, emdeslocamento,viagemouexpediomilitar,osimperadoreseramacompanhadosporumprefeitodopretrio,porconselheirosoucompanheiros(comites),porajudantesdeordenseescribas.Elesconcediamaudincias,julgavam,organizavam,chegavammesmoadistribuiro toquedacura,emsuacondiodepontfices, salvoquandoerammonopolizadospelasquestesmilitares,oqueseproduziacomfreqnciacadavezmaior. O exerccio do poder no era, portanto, limitado a Roma e a seuslocais de deciso. Os negcios acompanhavam o augusto, mesmo quando seachavaitinerante.

  • Nenhum imperador se desinteressou dessas tarefas. Todavia, no se podereduzir a ao dos imperadores a uma sucesso de reaes perante infindveissolicitaes, nem tampouco a uma gesto do imprio como se fosse umpatrimnio. A instaurao de regras de funcionamento nunca chegou a serconstante ou sistemtica. Antes de tomar suas decises, o imperador seinformava, consultando as opinies de conselheiros, escolhidos especificamentepor sua competncia emdeterminados assuntos.O ttulo oficial deconsiliarius,associado jurisprudncia, segundoparece, no foiempregado antes deMarcoAurlio. Havia escritrios (os officia palatina) dirigidos inicialmente pordomsticosimperiais,emgerallibertos,masaseguir,quaseexclusivamente,porsenadoresemembrosdaordenseqestresquepreparavamrelatrioseredigiamas decises, que eram encarregados de investigaes (a cognitionibus), deprocessos (a libellis), da correspondncia (ab epistulis), da contabilidade (arationibus) ou das cpias de arquivos (a memoria, embora estes s tenhampassadoasernomeadosapartirdofinaldosculoII).ErafreqenteAdrianonotomar qualquer deciso antes de consultar as minutas dos relatrios oucommentarii. O incndio do palcio, em 192, revelou, segundo os escritos deDionCssio,quearesidnciadocsarabrigavaumagrandepartedosarquivosconcernentesaoestadocivilecidadania,sgraduaesdooficialatoestabelasdeavanodosmilitares.Emgeral,oregimenodependiadedecisessbitasoudearbitrariedades.

    O imperador transmitia suas instrues, oumandata, que eram obedecidassemdiscusso,porqueeraeleoencarregadodecontrolaroImprioemtodooseuconjunto.Osgovernadoresdasprovncias,oscomandantesdasunidadesmilitaresou dos exrcitos em campanha e os procuradores encarregados das finanas,todos recebiam e acatavam suas diretivas. A elaborao das leis cabiatradicionalmente iniciativa de um magistrado, cujo projeto era submetido acomciospopulares.OSenadopublicavatambmdecretos,ossentus-consulto,quedeveriamserproclamadosporumcnsulouporumtribunodaplebeequesetornavamleisnosentidotcnicodotermo,ouseja,decretoslidosempblico,mascujavignciassetornavavlidadepoisdevotadoseaprovadospelopovo.Esseprocesso de promulgao foi sendo modificado muito lentamente pelosimperadores,nemtantopelasuspensodosprocedimentosanteriorescomopelatransformao profunda e contnua do esprito das leis, sem esquecer adiminuio progressiva das atividades legislativas senatoriais nos domnios dodireitopblicoque,napocaprecedente,estavadiretamentesobseucontrole.Emquestesdedireitoprivado,oseditosdospretoresconservaramsuaautoridadeeinflunciaatapocadeAdriano,aomesmotempoqueasatividadesconferidasaoSenadoiamsendodiversificadasemultiplicadasdesdeapocadeAugustoat

  • aascensodosSeveros.Emcompensao,pelospoderesque lheshaviamsidoretirados, os csares transferiram para o Senado as principais atribuies eatividades anteriormente reservadas aos comcios, embora o povo no fossediretamente eliminado de toda a participao nos procedimentos legislativossenonasltimasdcadasdoAltoImprio.Osprncipesnoseproclamaramdeumavezportodascomoafontenicadodireito.Aocontrrio,saospoucosqueeles forammonopolizandoa jurisprudncia,promulgandoas leisatravsdenormas imperiais de direito, em cuja elaborao eram assistidos por seusconselheiros e jurisconsultos, um processo que pode ser acompanhado atravsdos editos, proclamaes, decretos, cartas e discursos noSenado, ouorationes.Foi somente sob os Severos que se consagrou a estatizao do direito, cujacentralizao era apoiada pela autoridade doconsilium. Todavia, nem assim oImperador deixou de submeter-se ao direito e s leis que sancionava, emboracontribusseparaimp-lasedot-lasdeumanovaracionalidade.

    No havia vestes imperiais determinadas. Nenhuma representao imperialexclusivaeraimportanteobastanteparasimbolizarafunoadministrativaesuamaiestas (sua superioridade). A estaturia, os relevos e as cunhagensapresentavamalternativamentemuitasrepresentaesdiferentes.Umavezqueerasimultaneamenteomagistradosupremo,ocomandante-em-chefedosexrcitoseosumosacerdote,eleencarnavaajustia(quedistribuacomfreqnciaedeboavontade),ainvencibilidadedeRomanatestadoimprioeapiedadeperanteosdeuses,smbolodesuaeleiodivina.Vestindotogaesentadonoassentocurul(asellacurulis,umacadeiradobrvel,combraos,massemespaldarecompstranados, uns sobre os outros) e no sobre o thronus, ou trono real, dispostosobreumestrado,eleexpressavaabenevolnciaeaclemnciadesuaposio.Acavalo, revestido de uma tnica e de umpaludamentum (mantomilitar), comoocorriaemumadventus(entradasoleneemRomaporocasiodoretornodeumaexpedio militar), ou de p, protegido pelo thorax, uma couraa commusculaturadefinida, fundidaemmetaldecoradodemedalhes simbolizandoaVitria, o imperator relembra que ele o responsvel pela viglia contra osperigosqueameaampermanentementeoImprio.Comacabeavelada,munidodeumaptera(vasoparalibaes)edeumcilindro(comcereais),expressaseurespeito pelos deuses, cujos favores e proteo o responsvel por assegurar.Morto, ele representa a nudez herica e divina, sinal da apoteose benfazeja,atravs da qual se demonstrou igual aos deuses. Essas representaes, emqualquermeio pictrico,misturavam eficazmente os atributosmencionados nosdiversos formatos bsicos citados acima, segundo combinaes variadas, quetransmitiam uma retrica e um simbolismo de fcil decifrao a todos os queconhecessemquaisasqualidadesdopoderquerepresentavam.

  • A linguagemmonetria ilustra a necessidade de reaproximar a pessoa e asfunes imperiais das populaes e dos cidados residentes dos recantos maisafastadosdoImprio.Cadatitularescolhiaseustemaspreferidosesuasimagensprediletas para cunh-los nas moedas e medalhas, mas sem os impor. Eram aefgie ou o busto do imperador (o ltimo a partir de Marco Aurlio) quegarantiamovalordamoeda.Aindaquetenhamsidoempregadosalgumasvezesdsticos de propaganda, mencionar a existncia de ideologias umanacronismo, j que elas no se destinavam a reforar a expresso do poderimperial contido em si mesmo... A superioridade evidente do poder doimperador no necessitava de ser reforada ideologicamente, porque eraconhecida por todos e visvel aos olhos. Eventualmente uma mentira oudissimulao buscava esconder a fraqueza do csar reinante,mas tais artifciosno se destinavam deliberadamente a convencer, educar ou, menos ainda, adoutrinar.Tinha-seliberdadedeacreditarounonosdsticoscunhados.Poroutrolado,o imperadornopodiaabrirmode todoesseaparatosemprejudicar suaprpriaimagem:naverdade,eraoaparatodopoderqueodominava(P.Veyne).

    3.O sentimento monrquico Apesar dos numerosos elementos que o

    classificariamcomoumamonarquiaestatal,oImpriodeRomaeratambmumamonarquia pessoal.A adeso ao regime criado porAugusto era praticamenteunnime.Nosepode,todavia,compararossentimentosdopblicoemrelaoautoridadequeopoderdeimprioatribuapessoaimperialcomaquelesquesoinspiradosporumarealezajulgadacomocondionatural.Semdvida,nenhumromanoaceitariaumcsarquenotivesseporambiobuscarobem,praticaravirtude,fazerreinaraordemeafelicidadeemtodapartequedeviaepodia,domesmomodocomoagiriaumpaipreocupadocomobem-estardeseusfilhos.Eraporissoqueaobedincialheeradevida.Aafeiodoscidadosedasoldadescaera expressaporocasiodasdiversas festas comemorativasdos aniversriosdoaugustoreinanteoudosmembrosdesuafamlia.AmortedosfilhosdeAgripa,Caio e Lcio, foi sinceramente pranteada pelo povo, do mesmo modo que acrenanoassassinatodeGermnicodesencadeouaclerapopular.Todososatosdegenerosidadeaeleatribudosreforavamoamorpeloprncipe.Todavia,sualegitimidadenoerareconhecidacomoincontestvel.

    A popularidade e a boa reputao gozada no seio do povo pesavamfortemente na prpriaRoma.Pormas opinies da plebe, dos patrcios ou dosmilitares sobre o senhor do imprio podiam divergir.A leitura de Tcito e dePlnio,oMoo,demonstramqueopoderseencontravaaindasobocontroledossenadores, que gostavam de enfeitar o imperador com virtudes aristocrticas:moderao ou senso de medida, acessibilidade, simplicidade, justia, respeito,

  • piedadeeapreciaodosvaloresguerreiros.Oscidadosserevoltavamquandoacreditavamterocorridoumafaltadecivilitas,queeraumcompostodecortesiaede bondade para com eles. O csar no era nem o herdeiro legtimo de umaherana,nemoproprietriodeumreino.AboavontadedoscidadosparacomeledependiadobomfuncionamentoaparentedoImprio.Osriscosdedesordempblica, o medo de derrotas, os excessos de luxo ou de violncia, o aparenteexercciotirnicodaautoridadeeoutrosmotivosdeinsatisfaojustificavamummovimentopopularparasubstituirosenhordopalatino.Quandoasnecessidadesmilitares de defesa do Imprio se tornavam mais imperiosas, a opinio dosmilitares se sobrepunha a dos demais.Era a vitria conferida pelos deuses queoriginavaumreconhecimentomaisoumenosduradourodequemestivesseentoocupandootrono.

    A dimenso religiosa do poder e a fora divina suplementar conferida aoaugustoreinantepelosdeusesnotinhamnadadeexcepcionaldentrodamaneirade pensar dos romanos. O encargo de um Imprio semelhante ao de Romasupunhaqualidadessobre-humanaseofavorecimentodasorte(fortunaemlatim,tiquoutiquiaemgrego),umaformadecumplicidadecomosdeuseseoapoiodiretodomundodivino,queparaelesselocalizavabemmaisprximodoqueseimagina hoje em dia. O culto imperial no era o resultado de um fetichismopremeditado ou de supersties enganadoras. A idia de divinizao doimperadormortoeconsagradoapoteosenoderivavadequalqueringenuidadeou insinceridade.Mesmo quando se afirmava que o imperador falecido tomaraassentoentreosdeuses,elenuncachegavaaserconsideradoigualaJpiterouaMarte. No entanto, quando o Imperador se mostrava digno de sua funo edemonstravapossuirefetivamentetodososmritosqueelateoricamentesupunha,eleobtinhaumrespeitoparticulardapartedoscidadosegranjeavaumprestgioadequado grandeza de Roma e de seu Imprio, que se considerava entoabenoado pela estima de seus padroeiros divinos. Em sua condio de parteintegrantedareligiopblica,ocultodosimperadoresmortos,realizadoemparteatravs das homenagens dirigidas aos imperadores vivos, no refletia umsentimento irracional de submisso ao imperium, mas era uma linguagemdeliberada, uma formulao clara dos relacionamentos sutis que ligavam oscidadosaopoderconstitudo,coma intenodeconservaraordemdomundoterreno,emconformidadecomaordemquereinavanocosmos.

    A impossibilidade de um imperador fazer tudo e tudo controlar submetia apessoa do prncipe a tenses e presses permanentes. As circunstnciasconduziram pouco a pouco partilha de tarefas, pela associao do imperadorcomumauxiliar de posio um tanto inferior, designado comoo csar (TitosobVespasiano,TrajanosobNerva)oudeumcolegadenvelsemelhante,que

  • tambm recebia o ttulo de augusto. Esse costume foi reforado durante osperodos de crises militares, caracterizados pela freqncia de movimentosrevolucionriosqueconduziramoupretendiamconduzirausurpaesnumerosase simultneas.Mas geralmente a qualidade unitria da funo imperial foravaseustitularesaassumiromonopliopessoaldopoder,dentrodeumcontextoemqueoSenado sehavia tornado incapazde servir comoqualquer contrapeso aopoder dos augustos. Submetido ao acaso dos acontecimentos blicos, vigiadoatentamente pelos chefes militares do estado-maior, os indivduos queencarnavamoImpriotendiamaseafastarcadavezmaisdoapoioconcretodoscidadoseabuscaraconfirmaoeaajudadossenhoresdocu.

    II.Acapital:RomaFoi Augusto quem estabeleceu inicialmente a imagem de um universo

    centrado em Roma.A cidade conquistadora e senhora do mundo era a nicacapital,asededoImprio,acabeavisveleidentificveldosterritriosqueeladominava e organizava. At a ascenso dos Severos e incluindo esses, oimperadoreracoroadoemRomaeapenasemRoma,semqueningumpensasseem mudar o local. Durante oAlto Imprio, aUrbs acumulava, concentrava eabrangiatudoouquasetudoqueexistianomundoconhecido,comonosdizlioAristides. Dotada de uma aparncia monumental, sem equivalente no mundointeiro, obtida atravsdeuma srie contnuadeprogramasdedesenvolvimentoarquitetnicodeterminadospelosimperadores,Romafoiescolhidaunanimementecomo o modelo do urbanismo, mesmo antes de se tornar legalmente a ptriacomum. Cosmopolita, ela vivia em simbiose com o restante do Imprio, noesquecendonunca,contudo,quealmdecapital,tambmeraumacidade.

    1 .Redefinies Augusto tirou vantagem de todas as conseqncias

    negativas resultantesdeumaevoluourbana insuficientementecontroladapelares publica durante o perodo das crises militares e das guerras civis. Todo oespao urbano foi sendo progressivamente remodelado por suas iniciativas, apartirde7a.C.,afetandoascatorzeregiesdaRomaantiga,quecobriamcercade1.450hectares e abrigavamcercade1milhodehabitantes, provavelmentesemcontar as reas e apopulaodosbairros (oscontinentia).Cada regio foiredistribudaemquarteires,osvici,cujototalmontavaa265,segundoPlnio,oVelho.AdistinotradicionalentretribosrsticasetribosurbanastinhaperdidoosentidodepoisdaunificaojurdicadaItlia.Aplebeurbanaabsorveuas35tribosoriginaisepassouasercaracterizadapelapossedeumdomiclioromano.Porm as modernizaes introduzidas no fizeram desaparecer subitamente asantigas divises. A simplificao pretendida deu prioridade dimenso

  • topogrfica sobre os grupos humanos, como objetivo de facilitar as operaesadministrativas por meio do emprego de inventrios numerados. O poder deimprio incontestado imps o mtodo julgado maiseficaz pelo governante,porque parecia melhor adaptado a um controle mais estrito das autoridadesencarregadas de governar a cidade. A renovao urbana foi completada pelainstaurao,emcadavicus15,dosjogoscompitaisdedicadosaosdeusesLares,protetoresdasencruzilhadas(oscompita)eaoGniodeAugusto,destinadosaser instrumentos de uma integrao poltica e religiosa da imagem imperial aoespaourbano;aomesmotempoforamcriadasassociaesdebairro,presididasporummagisterdeorigemmodesta(ummembro,freqentementeumliberto,daplebsnfima),oqueatribuaaopovohumildedasclassesoperriasoseuprpriopapel na manuteno da ordem pblica e na perpetuao da memria dosimperadores.

    O imperium e a potncia tribuncia legitimavam as intervenes do csarreinante no governo da aglomerao urbana. Suas prerrogativas eliminaramqualquer veleidade de autonomia da parte dos antigos rgos dependentes damagistraturaoudoSenado.Romaeraumaquestosriademaisepolticademaispara ser deixada aos cuidados dos senadores.Dois Prefeitos do Pretrio foramnomeados a partir de 2 a.C. e colocados testa das nove coortes pretorianasinstitudasdesde26a.C.,destinadasavelarpelaseguranadoEstadoearecordara todosqueoaparatodopoderexigiaumbraomilitar.FoisomentedepoisdanomeaodeSejanocomoumdosprefeitosquefoiestabelecidaumacasernanaprpriaRoma,acastrapraetoria,localizadapertodaPortaNomentana,nacolinado Viminal.As coortes urbanas ocuparam esse quartel, segundo parece, at apoca de Cmodo. O pretrio no se confundia com a guarda pessoal doimperador, formada inicialmente por recrutas germnicos e espanhis, antes dainstituiomais tardia dosequites singulares, os cavaleiros imperiais. Novosresponsveis foramcolocados testadascuratelas institudaspelo imperador,entre elas o servio oucura encarregado da manuteno e funcionamento dosaquedutos, o servio de superviso e conservao dos edifcios e lugarespblicos,oserviodelimpezaedesobstruodorioTibre,desuasmargensedassadasdosesgotos.Ocombateaosincndiostornou-seatribuiodoPrefeitodasViglias, ummembro da classe dos cavaleiros que assumia o comando de setecoortesdebombeiros (umaparacadaduas regies),queacumulavamoservioda guarda noturna. O prefeito da cidade a partir de ento um senadorexperiente,queportavaumainsgniaparaserreconhecidoedependiadiretamentedasordensdoimperadorrecebeuumpoucomaistarde,semdvidaduranteogovernodeTibrio,ocomandodascoortesurbanasdestinadasaopoliciamento

  • diurno.Almdascatstrofesnaturais,acompanhadasocasionalmenteporepidemias,

    a questo da proviso de alimentos para a megalpole romana era umapreocupao cotidiana do imperador. Um aprovisionamento controlado foiinstalado por volta de 8 d.C., a chamada Prefeitura da Anona, ou seja, dofornecimento de cereais, base da alimentao e smbolo da abundncia e daliberdadedoscidados.Calculou-seque60milhesdemodii(400miltoneladas),calculado o mdio como correspondendo aproximadamente ao alqueire maismoderno (uma medida que pesava em mdia 6,6 quilos de cereais), 320 milnforas (22.500 toneladas) de azeite e 150 milhes de litros de vinhocorrespondiam s necessidades anuais do consumo urbano. A importnciapolticadanutriopodesermedidapelofatodequeoprprioAugustoachouimpossvelsuprimirasdistribuiesmensaisgratuitasdetrigoaos150a200milcidados que tinham esse direito e estavam inscritos na lista oficial. EsseprivilgioperdurouaolongodetodooImprio.AconstruodeportosaonortedestiaporCludioeTrajanosalientouavontadedosimperadoresderesolverdemaneira eficiente umproblema to constante quanto vital para a paz social.Frontinonosrelataqueamanutenodeumsuprimentoabundantedeguafoitambmumapreocupaoconstantedosaugustos.

  • 2 .A cidade dos csares Somente iniciado no ltimo sculo da

    Repblica,oprogramadedesenvolvimentoarquitetnicodacapitaltomounovoimpulsocomaconstruodeinmerosmonumentospelostitularesdoprincipado(vejaomapanapgina45).Osbairrospopulares,nocoraodaaglomeraoSuburra,ArgiletoeVelabro, entreoutros foramsendo reduzidosaospoucos,atquasedesaparecerem,emfavordeedificaesqueexprimiamamajestadedoImprio e a potncia de Roma. Os tijolos cozidos em fornos substituram ostijolosdebarrosecosaosol,enquantonovassolueseconcepesurbansticasfacilitaram as construes em um espao habitvel cada vezmais reduzido: osedifcios de apartamentos de muitos andares, construdos em madeira edenominadosinsulae, cujo conforto era muito mais heterogneo do que nosfazempensaros textoscontemporneos (umapartedelesapresentavaqualidadede instalaes suficientemente boa para atrair e alojar uma quantidade

  • significativa de cidados de situao econmica relativamente favorvel); amodernizaodastermasedaslatrinaspblicas;eamultiplicaodastabernae,lugares pblicos de refeies instalados nos andares trreos, que se abriamdiretamente para as ruas. As ltimas famlias patrcias que ainda se achavampresentes nessas reas foram constrangidas, sob o governo de Domiciano, adeixar o monte Palatino e seus arredores. Estas amplasdomus particulares,devoradorasdeespaosurbanos,jtinhamsidoobjetodelimitaesnotempodeAugusto,mas elas no haviam sido inteiramente respeitadas.Acimade tudo, acrescente expanso imperial pelos bairros centrais da cidade obrigou osaristocratasasecontentaremcomresidnciasmenosesplendorosasnascolinasdoEsquilino(comonosrelatavamPlnio,oMoo,eFrontino),doQuirinal,doClioou doAventino: a evoluo da arquiteturamonumental urbana demonstra quehouveumapressoprogressivasobreavidaprivada.Osricosforamsemudandoaos poucos para suas vilas suburbanas, onde o espao ainda era abundante,permitindoaconstruodeparquesejardins,queabrigavampavilhesdestinadosao lazer, termas particulares e outros locais de repouso. Oshorti (residnciascercadas de jardins arborizados) imperiais, que tambm foram localizados nossubrbios, por mais ricos que fossem, no chegavam a causar inveja suntuosidadearistocrticademuitosdessesjardinspatrcios.

    As numerosas iniciativas tomadas pelos imperadores em matria deconstruespblicasnodiminuramabsolutamenteoimpulsoqueentoanimavaas atividades de construes privadas. Por outro lado, OtvioAugusto no seenvolvia diretamente na execuo de seus planos, mas confiava a direo dasobraspblicasaseufilhoAgripae,devidomortedeste,acuradoresexperientesdas famlias senatoriais. J Cludio acentuou a interveno imperial emdetrimentodolentocontroleantespraticadopeloSenado,cuidandopessoalmentede cada detalhe, desde oramentos at o recrutamento de pessoal especializadoemarquiteturaeconstruo.OsFlavianosparecemterampliadoaconcentraodosmeiosadministrativosetcnicosnasmosdopoderimperial,tendoprojetadoumacurapermanentedasconstruespblicas,achamadaoperaCaesaris,oquenosignificaqueelaefetivamentetenhasidocriada.Otermopareceantesreferir-se aos projetos e realizaes que todo senhor do imprio deveria planejar. Osmeiossuadisposioeramdesproporcionaisemcomparaoaosdossenadoresedosmaisricoscavaleiros.Jamaisanteriormenteasconstruespblicastinhamsidoempreendidasemtalescala.Noobstante,osprogramaseasdecisesnoforam sendo tomados arbitrariamente. As expropriaes, a natureza dosmonumentosesuautilidadepblica,atmesmosuaesttica,suscitavamreaesda plebe, que tinham de ser previstas e sopesadas com cuidado. Os edifciossagrados,emsuamaioria,eramsuperpostosatemplosmaisantigos.Asquestes

  • de espao e de dinheiro tinham lugar decisivo e geralmente se imagina que ocomportamentomaismoderadodeAntonino,oPio,osucessordoempreendedorAdriano, tenha sido o resultado tanto da exigidade de espao no permetrourbanocomodaescassezdemeiosfinanceiros.

    Fala-sefreqentementeemarquiteturaderepresentao,porquerecordavaasrealizaesesalientavaopoder imperial(P.Gros).Todavia,osmonumentostinham tambmumaoutra funomais prtica, isto , a de referncias: lugaresquesepodiamavistardelongeequepermitiamaorientaodentrodeumespaourbano em que as ruas no eram demarcadas por placas nem as casas pornmeros, no qual os bairros e quarteires nem de longe eram formados pelosquadrilterosregulareseseparadosporviasdeacessoretilneas,comoosquesepde escavar nos stios arqueolgicos de outras cidades do Imprio fundadasdepois de Roma. Ao invs do estabelecimento de um traado regular, asprincipais criaes imperiais se concentraram na ornamentao da colina doPalatinoedossetorescentrais,especialmenteos localizadosao redordoFrumRomanoedascolinasdoCapitlio,doQuirinal,doViminal,doEsquilinoedoClio.Umasegundatendnciaseencontra,apartirdePompeuedeJlioCsar,na ocupao sistemtica do Campo de Marte, localizado inicialmente fora dopermetro das muralhas. Os muitos fruns construdos pelos imperadoresdemonstramqueasobrasimperiais tinhamtambmcarterpoltico,manifestadopelaconstruocontnuadeobrasarquitetnicasdestinadasaobem-estardopovoromano;masexpressavamtambmumconfiscoprogressivodamemria,atravsdas demolies e reconstrues que manifestavam a superioridade do novoregime, como nica garantia do passado de conquistas e do presente feliz.Tratava-sedeumaverdadeiracenografiadopoder,demonstradapormeiodessaconstruosucessivadeprdiosexcepcionais,destinadosaproclamaroconsensodas camadas sociais abenoado pela aprovao dos deuses. A riqueza dasdecoraes constitua uma inovao em Roma. Templos majestosos, termaspblicas com dimenses inusitadas, edifcios destinados a espetculos pblicosdotadosdepropores literalmentecolossais, aberturadeavenidaseconstruodeprticoscomemorativostomavamoslugaresdosantigosprdiosacanhadosedeexteriores simples, criandoumaambientaourbanaamplamentevalorizada.Os edifcios revestidos de mrmore e de relevos de efeitos deslumbrantesdeclaravamunanimementequeRomaeraasenhoradomundoconhecidoequeodetentordopodereraodepositriodesuagrandezaedesuaglria.Asligaesarquitetnicas levantadas mais tarde entre dois conjuntos monumentaisindependentesreforavamovalorsimblicodaquelacenografiateatral,articuladasobreumdiscurso ideolgicoquecadaumpoderia interpretarcomomelhor lheparecesse.P.ZankerdescreveuoprogramadoColiseu,substituindoaManso

  • deOurodeNeroecompletadopelasTermasdeTrajano,comoademonstraodoreconhecimentodopapelcentralqueocupavamdentrodessaprogramaoosdivertimentosdestinadosaopovo.OprprioAnfiteatroFlaviano,oColiseu,eraum espao fechado, em razo dos jogos sangrentos que simbolicamentesubstituam as guerras civis e as limitavam ao interior desse recinto. Porm elenoeracortadodomundoexterior,muitopelocontrrio:era ligados ruasporuma rede de passagens e de vias de circulao, construdas por baixo dasarquibancadas, cuja disposio social tambm era representativa da hierarquiacvica.

    3 .As dependncias do governo O palatino e oshorti imperiais eram

    simultaneamentearesidnciadeumamoesenhor,deummonarcaedeumeleitodosdeuses.Foradeles,osprdiosdestinadosaogovernodeRomaedoImpriono formavam um bairro administrativo autnomo e identificvel. No existiasequerumaarquiteturaparticularquecaracterizasseosedifciosdeescritriosouoslocaisemquetrabalhavamosaltosfuncionriosimperiaiscolocadosnadireod a scuras. Mesmo as construes de destino e arquitetura facilmentereconhecveis,taiscomoostemploseasbaslicas,noeramlimitadasafunesreligiosas ou judicirias. Ao longo de todo o Imprio, os lugares em que seadministrava o governo e em que se preparavam as decises que envolveriamRoma e seus territrios eram disseminados pela cidade ao sabor dascircunstncias.FoimuitolentamentequeosnegciosdacidadeedaItliaeosdorestodomundoforamsendomelhorconcentrados,namedidaemquesepercebiaquea importnciadoquesepassavaemRomanoeraestritamente limitadaaoespao urbano. As tcnicas administrativas evoluram sob o efeito damultiplicao das atividades e das questes que deveriam ser abordadas. Aconsulta de arquivos, o intercmbio de informaes e de correspondncia, aprtica de investigaes completas e cada vez mais amplas, a referncia aosregulamentosanterioreseacrescenteatenojurisprudncia,anecessidadederespondersmltiplassolicitaesdoscidados,dascidades,dascomunidadesedossoldadosurdiramprogressivamenteumatramadeprocedimentostopesadosquanto complicados. Todavia, nada sugere que se tenha desenvolvido umaburocraciasufocanteoumesmogeradoradeimensapapelada.

    AparticipaodoSenadona administraodo Imprio assumiuumcartertotalmentenovo.Acria, situadanoFrum,embora fossesuasede tradicional,noerasenoumdentrevrioslugaresdereuniopossveis.Anaturezadaordemdodiadavamotivoparaa transfernciaocasionaldassessesparao templodeumadivindadejulgadaeficazparaaorientaodasessocomrefernciaaopontoabordado.ACriadePompeu,segundoparece,nuncamaisfoiusadacomolugar

  • dereuniodoSenado,apsoassassinatodeJlioCsar,nodia15demarode44 a.C. Entretanto, os primeiros imperadores no suspenderam repentinamenteessa tradio de locais de convocao diversificados. O prncipe somente seassentavanoSenadoquandoeraconvidadocadavezmenos,ouapenas semanifestavapormeiodeumaepstolamuitoesplndidaassembliaoqueaconteciacadavezcommaiorfreqncia.Oessencialparasatisfaz-laeraqueelesoubessedemonstrardefernciaparacomaassemblia.ACria Juliana (CuriaIulia),assimchamadapor ter sido restauradaporCsardepoisdeumincndio,passouatornar-seolugarordinriodassessesnodecorrerdosculoIdenossaera.Tibrio atribuiu as eleies dosmagistrados aoSenado, eliminandoovotopopular, fonte de grande corrupo. Elas eram convocadas por meio de umcalendrio regular. Os pais conscritos se encarregavam tambm de concederhonras aos prncipes e a seus parentes, alm de investiduras e consagraes:triunfos, esttuas e homenagens particulares, inclusive aquelas concedidas aosprpriossenadores.Domicianorecebeudossenadores,porexemplo,odireitodedar o nome de domcio aoms de outubro, em que nascera, a exemplo dosmeses de julho e agosto (anteriormente chamados de quintilis e sextilis,dedicados a Jlio Csar e a OtvioAugusto).As finanas, a moeda (o que comprovado pelas cunhagens em bronze com o dsticoex s[enatus]c[onsulto],abreviadoporSC),alegislao,areligioeosassuntosprovinciais(embaixadas,processos, auxlios e honras concedidos s cidades, informaes militares)tambmforamentreguesasuasdeliberaes.Contudo,adespeitodetodooseuprestgio,aCriadeixaradeserocentronicodasdecisesepassaraaconstituirapenas uma engrenagem entre as muitas que compunham a mecnicagovernamental.

    Os smbolos do Estado e dos instrumentos de seu poder demarcavam atopografia do centro da capital. O Templo de Jano, localizado no FrumRomano, fechava as portas ao final de cada guerra, a fim de aprisionar a pazrecuperada.OPrticodeMincio,noCampodeMarte,eraocenriodo ritualdasdistribuiesde trigo,repetidasacadams.Cadacidadoquetinhadireito,munidodesuatssera(pedrinhademosaicoqueserviacomoficha)edeumsacodecnhamooudealgodo, ia receber todososmeses (ouera representadoporum cliente ou liberto), em dias e guichs determinados, sua rao de cincoalqueires. A statio (sede) do Prefeito daAnona se encontrava sem dvida nasproximidades doForum Boarium (o antigo Mercado dos bois). Vespasianotransferiuaprefeituradacidadeeograndemapamuraldacidade(formaUrbis)paraorecintodoTemplodadeusaPaz.TalveztenhasidoaosuldoCampodeMarte,naCryptaBalbi,atrsdopalcodoteatrodemesmonome,queoprefeitodasVigliasestabeleceusuasede.AsoficinasdaCasadaMoedaimperialsaram

  • daCidadela(Arx)queficavanasvizinhanasdoTemplodeJunoEvitadora(dos perigos), em latimMoneta (de onde vemo nome de moeda) e foraminstaladas no monte Clio, depois do incndio de 80 d.C. Vasto edifcio quecercava com sua fachada de vrios andares a depresso do Frum entre oCapitlioeaCidadela,oTabularium(aMansodosArquivosoutabulae)que,segundoseacreditava,abrigavatodosostextosedocumentosdoEstadodesde78a.C., j no tinha espao suficiente.Diziam, segundo informa Suetnio, que oprprio Capitlio continha 3mil tabuletas de bronze, queVespasianomandourestaurarapso incndiode69d.C.Diversosmonumentosedependnciasdosfrunsimperiaisabrigavambibliotecas,compostastantoporarquivosutilitriosdepoder e de administrao como por conjuntos de obras de consulta. Umapinacoteca, completadapelas esculturas eornamentos emouroconquistados aoTemplo de Jerusalm, foi instalada no Templo da Paz.As listas dos cidadoslivres ou libertos eram conservadas, depois da demolio doAtrium Libertatis(PaodaLiberdade) emumaexedra (salade reunies)daBaslicaUlpiana,noFrum de Trajano, o mais espaoso de todos os fruns imperiais. A sombratutelar do imperador (seu gnio) era onipresente. Marte Vingador (Ultor)despojouJpiterCapitolinodeumapartedeseuspoderesmilitaresetriunfais:eradentrodorecintodoFrumdeAugusto,consagradoaMarte,queserealizavamosritosdepartidaparaaguerra,ealitambmosgovernadorespassaramaprestarseusjuramentosdefidelidadeimperialantesdepartiremacaminhodasprovnciasparaasquaistinhamsidodesignados.

    III.Aadministraodasprovncias.Osromanosjafirmavamquemuitomaisfcilconquistarumterritriodo

    que conserv-lo (Dion Cssio). O Imprio conseguiu descobrir uma soluoduradouraparaesseproblema,pelomenosparcialmente.Areorganizaomilitareraumade suaschaves;aadoodemtodosnovosdegoverno, suaprincipalnecessidade.FoiAugustoquemlanouasbasesparaumaorganizaorenovada,cujaprprialongevidadeopenhordeseusucesso.

    1.AdimensomilitarAnovaordemprovincialdependiaemgrandeparte

    da redefiniodo imperium como um poder exclusivo do augusto: era precisoevitar, depois de tantas guerras civis, a competio entre imperatores. Ainstituiodeexrcitospermanentes,indispensveisaocontroledosterritrioseproteodoImprio,nosomentefacilitavaasuafiscalizao,comoexigiaumaautoridadenica.OafastamentoprogressivoeconstantedosteatrosdeoperaesemrelaoaocentrodoImprioRomanofoifatordeterminantedalocalizaodeguarniesnaperiferiadoImprio.Asregiesdepacificaorecenteonoroeste

  • daPennsulaIbrica,oIllyricum,nacostaorientaldomarAdriticoeossetoresmeridional e ocidental da frica proconsular receberam igualmentedestacamentospermanentede tropas.Pormasconcentraesmais importantes,nos setores do Reno e doAlto Danbio ou, no Oriente, da Sria e do Egito,copiavamageografiados impulsosexpansionistas romanosedemonstravamosperigos reais e imaginrios que deles resultavam.Todavia, os efetivos julgadosnecessrios para a defesa nos parecem hoje em dia bastante limitados,considerandoqueAugustosecontentoucom28edepoiscomapenas25legies(apsomassacredastrslegiesemTeutoburgo,quenuncaforamsubstitudas).Aolongodaevoluodasituaomilitar,legiesforamdissolvidasousecriaramunidades adicionais. No sculo III, o total se elevava a 33 legies, mas asconquistas haviam se estendidomuito alm dos limites estabelecidos na pocaaugustina. Dependendo dos lugares e das circunstncias, eram criados corposauxiliarespelovoluntariadoderecrutas locais,quecorrespondiamaumtotalde50%a59%dasforasdeumexrcitoregional.Umtotalqueoscilavaentre350mile400mil soldados (contandoounoas tropasaquarteladasemRomaeosmarinheirosdasfrotas)nosdumanoodotamanhodosefetivos.Porumlado,os adversrios nunca eram muito numerosos e suas tticas de combate eramlimitadas; por outro, tinha-se de levar em considerao os limites tticos doemprego de massas de manobra superiores a dez legies, sendo prefervelencontrar solues estratgicas apropriadas ao teatro de operaes, o que nosrevela como os exrcitos eram empregados mediante escolhas refletidas eponderadas. No entanto as situaes nunca foram apreciadas por algumorganismo equiparvel a um estado-maior imperial, capaz de planejar osdeslocamentos de tropas em termos de estratgia global, mesmo durante asgrandescrises.Quandoeranecessriodecidirsobreosmeiosnecessriosparaaorganizaodeumagrandeexpedio,convocavam-seasunidadesjconscritasesediadasemdiferentesprovncias,algumasvezessemconsideraodosriscosde desequilbrio que isso poderia provocar. O fato que o Imprio Romanonunca teve fronteiras estabelecidas. Nem Augusto, nem nenhum de seussucessores,mesmono finaldo Imprio,decretaram,emalgummomento,o fimdas expanses. O limes (limite), inicialmente um caminho ou uma via depenetrao, passou a significar mais tarde uma fronteira fortificada e durvel.Contudo, o emprego dessa palavra nunca correspondeu a uma estratgiaplanejada claramente para a defesa das fronteiras em escala imperial, mesmosculoIV.

    Omapamilitar foisendoaospoucosremodelado,masosdeslocamentosdecorpos de tropa em carter emergencial, se bem que de intensidade varivel,permaneceramcomonorma.Emnenhummomentoseperceberammodificaes

  • decisivas, nem nas concepes da intendncia de abastecimentos, nem nasprticas de ordem estratgica, ainda que os eventos do sculo III forassem oImprio a adaptaes tticas correspondentes ao enfrentamento dos novosinimigos e suas diferentes tcnicas de combate. Os exrcitos provinciais eramgeralmente baseados no recrutamento de voluntrios, salvo em ocasiesexcepcionais,ecorrespondiamsaspiraesdeumasociedadequeansiavapelapaz,aomesmotempoqueeraestimuladapelosperigosinternoseexternos,reaisou previsveis. Cada vez com maior freqncia, as unidades engajavamvoluntriosprovenientesdossetoresgeogrficosmaisprximosaseuslocaisdeacantonamento.Naausnciadecorporaescivisautnomasdepoliciamento,aslegieseramresponsveispelamanutenodaordemnasprovncias,domesmomodo que tradicionalmente faziam as tropas da guarnio urbana de Roma.DesdeaorigemdoImprio,oexrcitoerauminstrumentodeterminantedesuaorganizao administrativa. Augusto teve tendncia a fixar os limites dasprovncias de acordo com os melhores interesses romanos, tendo-as em parteredesenhado,oquelhesconferiaumanovaidentidadeeacontinuidadejulgadasnecessriasparaobomandamentodosnegciospblicos,conformenossugerealeituraconjuntadaHistriadaNatureza,dePlnio,oVelho.

    O conceito de provncia no comportava uma definio simples: no eranemumterritrionosentidomodernodotermonemumdomniopessoaldeummagistrado do povo romano. Em sua origem, designava mais uma esfera decompetncia(C.Nicolet)temporriadeumrepresentantedarespublica,dentrode limites espaciais e cronolgicos precisos. O aspecto territorial tornou-sedominante a partir do final da Repblica, mas isso no impedia que fossemefetuados cortes ou reajustes de fronteiras de acordo comas circunstncias.Asdivisesterritoriaisdenominadasprovnciassomenteadquiriramestabilidadeepermannciaquandoapresenamilitarnessasreasdiminuiudeimportncia,sobefeitodomonoplioimperial.Apartirdeento,somenteoaugustopodiadecidirpela criao de uma provncia ou determinar a extenso ou diviso de umterritrio j estabelecido. No plano administrativo, uma unidade provincialconsistia em uma lista alfabtica de comunidades, identificadas por nome,importncia e estatuto jurdico.Apresenamilitardeixoude ser importante emtodasasprovnciasquepassaramacopiarosistemaromanodegovernosobocontroleeagide,aproteodiretadoaugusto.

    2.AsprovnciasdopovoromanoConformeatradiodeRoma,todasas

    provncias pertenciam histrica e juridicamente ao povo romano que as haviaconquistado.Aleide27a.C.,queoriginouanovadivisoterritorialdequenosfalam Estrabo e Dion Cssio, introduziu uma tutela imperial simultnea

  • autoridadedoscidadosrepresentadospeloSenado.Pormuitotemposefaloudeprovnciassenatoriaisedeprovnciasimperiais,sobainflunciadoesquemadirquico, isto , de dupla autoridade do poder romano. Uma vez que noexistequalquerconfirmaoexatadaafirmaodequeoSenadoconservavaumapartedecisria,agindoficticiamenteemnomedopovodamesmamaneiraqueoimperador,omelhorevitaroriscodeumadeformaohistricaquenosleveaacreditarnaidiadeumapartilhadepoderesenosimplesmentedastarefasentreoSenadoeoimperador,oquepoderiatambmsugerirqueasoberaniaromanativesse uma base popular, o que , nomnimo, improvvel.A proposta de F.Millarquetodasasprovnciassejamconsideradascomoprovnciaspblicas,distinguindo-se entre si apenas pelos procedimentos de eleio: de um ladoficavam as provncias pblicas proconsulares, confiadas a um procnsulescolhido pelo Senado, portanto mediante uma autoridade derivada dastradicionaisinstituiesrepublicanas;dooutro,asprovnciaspblicasimperiais,cujo responsvel, investido de ttulos diversos, era designado diretamente peloaugusto reinante.Na prtica, observou-se que nem as intervenes do prncipenemosdecretosprovenientesdoSenadoeram limitadosaprovnciasdefinidas.Alm disso, os estatutos imperial ou proconsular no eram adquiridos deforma definitiva: diversas mudanas ocorreram, por exemplo, na Sardenha, naAcaia, na Macednia ou no Ponto-Bitnia, o que refora a imagem de umaadministrao adaptada s circunstncias e no regrada por princpios jurdicospermanentes.Paraconcluir,todasasconquistasposterioresa27a.C.receberam,semqualquerexceo,ortulodeprovnciasimperiais.

    Oscritriospolticosexerceramumafunoimportante,conformelemosemEstrabo.Oestatutolegaldeumaprovnciadecorriadeseugraudepacificao.Julgava-se que as provncias proconsulares, as mais antigas, pacficas,urbanizadas, cuja populao estava acostumada com a vida em cidades, nocausavam perigo segurana do Imprio, no necessitando, desse modo, dapresenaconstantedeumexrcito,masapenasdepequenasunidadesdefunopolicial. A primeira das provncias imperiais foi o Egito, conquistadopessoalmente pelo primeiro dos prncipes. Seu governo era confiado a ummembrodaordemdoscavaleiros,querecebiaocargodeprefeito,umadignidadequeenfatizavaasatividadesmilitares.OgovernodaJudia,desde6a.C.,tambmera chefiado por um prefeito (por exemplo, Pilatos, durante o reinado doimperador Tibrio), que foi transformado por Cludio em procurador, umadesignaoqueindicaamudanadeorientaoparatarefasfiscaisefinanceiras.As provncias imperiais denominadas eqestres (a Judia at Vespasiano, ostrs distritos alpinos, a Nrica e a Rtia, durante os primeiros anos aps suacriao, aTrcia durante o sculo I de nossa era e asMauritniasCesariana e

  • TingitanaatofinaldoImprio),porseremgovernadaspormembrosdaordemdos cavaleiros, eram de relevo montanhoso, de populao escassa e poucocivilizadas aos olhos de Roma.As provncias imperiais, sob as ordens de umlegadodoaugusto,deumpropretorescolhidoentreosoficiaispretorianosoude um representante das famlias consulares, abrigavam de uma a trs,excepcionalmente quatro legies, porque sua situao, seus recursos e adesigualdade regional de seu desenvolvimento poltico exigiam uma grandevigilnciaporpartedeumaugusto,poisboapartedesuacredibilidadedependeriadoquenelastranscorresse.AsGliaseasGermnias(criadassobDomiciano),aBritnia, aEspanhaCiterior e aLusitnia, asMsias e asPannias, aDcia, aCapadcia,aGalcia,aSriaeaArbiacompletamuma listaaproximada, semcontar a Numdia que, sem dvida, muito cedo recebeu autonomia como umreino aliado. A frica Proconsular qual a Numdia estava, mais do queintegrada,associada,conformenosrelataPlnio,oVelho,dom