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Hebreus introdução e comentário Donald Guthrie SERIE CULTURA BÍBLICA

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  • Hebreusintroduo e comentrio

    Donald Guthrie

    SERIE CULTURA BBLICA

  • A CARTA AOS HEBREUSIntroduo e Comentrio

    porDONALD GUTHRIE, B. D., M. Th., Ph. D. antigo Vice-Diretor e Catedrtico em Novo Testamento, London Bible College

    SOCIEDADE RELIGIOSA EDIES VIDA NOVA EASSOCIAO RELIGIOSA EDITORA MUNDO CRISTO Rua Antonio Carlos Tacconi, 75 e 79 - Cidade Dutra 04810 So Paulo - SP

  • Ttulo do original em ingls:THE LETTER TO THE HEBREWS, An Introduction and Commentary

    Copyright Donald Guthrie, 1983. Publicado pela Inter-Varsity Press, England

    Traduo: Gordon ChownReviso: Jlio Paulo Tavares ZabatieroPrimeira Edio: 1984:5.000 exemplares

    Publicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitos reservados pelas Editoras:SOCIEDADE RELIGIOSA EDIES VIDA NOVA eASSOCIAO RELIGIOSA EDITORA MUNDO CRISTO Rua Antonio Carlos Tacconi, 75 e 79 Cidade Dutra SSo Paulo - SP, CEP 04810

  • CONTEDOPrefcio da Edio em Portugus............................................................. 6Prefcio do A u to r....................................................................................... 7Abreviaturas Principais ............................................................................. 8Bibliografia Seleta....................................................................................... 9INTRODUOO enigma da ca rta ............................................................................. 13A carta na igreja primitiva ............................................................. 14Autoria....................... ....................................................................... 17Os leitores.......................................................................................... 19O destino .......................................................................................... 23D ata.................................................................................................... 25O propsito da c a r ta ........................................................................ 28A situao histrica........................................................... ............... 35A teologia da c a r ta .......................................................................... 42ANLISE................................................................................................... 54COMENTRIO....................................................................................... .. 57

  • PREFCIO DA EDIO EM PORTUGUSTodo estudioso da Bblia sente a falta de bons e profundos comentrios em portugus. A quase totalidade das obras que existem entre ns peca pela superficialidade, tentando tratar o texto bblico em poucas linhas. A Srie Cultura Bblica vem remediar esta lamentvel situao sem que peque do outro lado por usar de linguagem tcnica e de demasiada ateno a detalhes.Os Comentrios que fazem parte desta coleo Cultura Bblica so ao mesmo tempo compreensveis e singelos. De leitura agradvel, seu contedo de fcil assimilao. As referncias a outros comentaristas e as notas de rodap so reduzidas ao mnimo. Mas nem por isso so superficiais. Reunem o melhor da percia evanglica (ortodoxa) atual. O texto denso de observaes esclarecedoras.Trata-se de obra cuja caracterstica principal a de ser mais exegtica que homiltica. Mesmo assim, as observaes no so de teor acadmico. E muito menos so debates infindveis sobre mincias do texto. Sso de

    grande utilidade na compreenso exata do texto e proporcionam assim o preparo do caminho para a pregao. Cada Comentrio consta de duas partes: uma introduo que situa o livro bblico no espao e no tempo e um estudo profundo do texto a partir dos grandes temas do prprio livro. A primeira trata as questes crticas quanto ao livro e ao texto. Examina as questes de destinatrios, data e lugar de composio, autoria, bem como ocasio e propsito. A segunda analisa o texto do livro seo pr seo. Ateno especial dada s palavras-chave e a partir delas procura compreender e interpretar o prprio texto. H bastante carne para mastigar nestes comentrios.Esta srie sobre o N.T. dever constar de 20 livros de perto de 200 pginas cada. Os editores, Edies Vida Nova e Mundo Cristo tm programado a publicao de, pelo menos, dois livros por ano. Com preos moderados para cada exemplar, o leitor, ao completar a coleo ter um excelente e profundo comentrio sobre todo o N.T. Pretendemos assim, ajudar os leitores de lngua portuguesa a compreender o que o texto neo-testamen- trio, de fato, diz e o que significa. Se conseguirmos alcanar este propsito seremos gratos a Deus e ficaremos contentes porque este trabalho no ter sido em vo. Richard J. Sturz

  • PREFCIO DO AUTORH alguns livros no Novo Testamento que tm um certo fascnio, no por terem uma atrao instantnea, mas, sim, porque so mais difceis do que o normal. Para mim, a Epstola aos Hebreus se enquadra nesta categoria. Isto, por si s, poderia ter fornecido uma razo apropriada para no escrever um comentrio sobre ela. Suas dificuldades, no entanto, oferecem um desafio que no pode ser levianamente deixado de lado. Se meu primeiro alvo tem sido esclarecer meu prprio entendimento, isto deve servir de encorajamento para o leitor. Estou, na realidade, convidando voc a me acompanhar na explorao de um livro que contm muitos tesouros de sabedoria espiritual e de entendimento teolgico.Minha esperana que esta busca leve a tanto enriquecimento espiritual para o leitor quanto tem levado para o escritor. No se promete com isto que todos os problemas foram resolvidos, nem que este comentrio pode alegar ter feito exploraes originais. Escrever um comentrio um pouco semelhante a um testemunho pessoal. Embora tenha profundas dvidas de gratido para com tantos outros que me antecederam na tarefa, minha prpria contribuio pode alegar singularidade somente pela razo de ser o resultado de um encontro entre o texto e minha prpria experincia de estudo do Novo Testamento e da vida crist.

    DONALD GUTHRIE

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  • ABREVIATURAS PRINCIPAISARA Almeida Revista e Atualizada no Brasil.ARC Almeida Revista e Corrigida.ATR Anglican Theological Review.BJRL Bulletin o f the John Rylands Library.CBQ Catholic Biblical Quarterly.CDC Documento de Damasco.Com. Comentrio sobre a carta aos Hebreus, conforme alistado na bibliografia seleta.EQ Evangelical Quarterly.ExT Expository Times.ICC International Critical CommentaryIdem 0 mesmo autor.JBL Journal o f Biblical Literature.LXX A Septuaginta (verso grega pr-crist do Antigo Testamento).MM Moulton e Milligan: Vocabulary o f the Greek New Testament (Londres, 1952).NIV New International Version (da Bblia em ingls).NTS New Testament Studies.QpHc Comentrio de Habacuque, de Cunr.RB Revue Biblique.RSV Revised Standard Version (da Bblia em ingls).TB Tyndale Bulletin.TDNT Theological Dictionary o f the New Testament.ThR Theologische Rundschau.ThZ Theologische Zeitschrift.WC Westminster Commentary.WH Texto de Westcott e Hort (NT Grego)ZNTW Zeitschrift fr die Neutestamentliche Wissenschaft

  • BIBLIOGRAFIA SELETACOMENTRIOSBrown, J., An Exposition o f Hebrews (Edinburgh, 1862, r.p. London, 1961).Bruce, A. B., The Epistle to the Hebrews, the first apology for Christianity (Edinburgh, 1899).Bruce, F. F., Commentary on the Epistle to the Hebrews (New London Comentary, London, 1965).Buchanan, G. W., To the Hebrews (New York, 1972).Calvin, J., The Epistle o f Paul the Apostle to the Hebrews (new Eng. trans. Edinburgh, 1963, from first edition, Geneva, 1549).Davidson, A. B., The Epistle to the Hebrews (Edinburgh, 1882).Davies, H. H., A Letter to the Hebrews (Cambridge Bible Commentary, Cambridge, 1967).Delitzsch, F. Commentary on the Epistle to the Hebrews (Eng. trans. 2 vols., Edinburgh, 1872).Ebrard, J. H. A., Biblical Commentary on the Epistle to the Hebrews (Eng. trans. Edinburgh, 1863).Hring, J., L ptre aux Hbreux (Commentaire du Nouveau Testament, Paris and Neuchtel, 1955).Hewitt, T., The Epistle to the Hebrews (Tyndale New Testament Commentaries, London, 1960)..Hughes, P. E., A Commentary on the Epistle to the Hebrews (Grand Rapids, 1977).Lang, G. H., The Epistle to the Hebrews (London, 1951).Michel, 0., Der Brief an die Hebrer (Gottingen, 1949).Moffatt, J., The Epistle to the Hebrews (ICC, Edinburgh, 1924).Montefiore, H. W., The Epistle to the Hebrews (Blacks New Testament Commentaries, London, 1964).

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  • INTRODUOI. O ENIGMA DA CARTA

    Por vrias razes, este livro apresenta mais problemas do que qualquer outro livro do Novo Testamento. H muitas perguntas que o investigador forosamente tem de fazer, mas que no podem ser respondidas de modo satisfatrio. Quem o escreveu? Quais foram os leitores originais? Qual foi a ocasio histrica exata em que foi escrito? Qual foi a data da escrita? Qual era a influncia predominante por detrs da apresentao? Estas so algumas das perguntas para as quais nenhuma resposta conclusiva pode ser dada, embora algumas no sejam to enganadoras quanto outras. O que da maior importncia para o comentarista descobrir a mensagem e relevncia atuais da carta, mas ele s pode fazer isso depois de ter investigado o pano de fundo histrico. Alguma tentativa deve ser feita, portanto, no sentido de responder s perguntas acima, ainda que seja apenas para fornecer algum arcabouo dentro do qual se possa empreender a tarefa de compreender a mensagem.No se pode negar que a direo geral do argumento da carta mostra- se difcil para o leitor. Isto principalmente porque a seqncia do pensamento est revestida de linguagem e aluses tiradas do fundo histrico cultual do Antigo Testamento. O sacerdcio de Cristo est diretamente ligado antiga ordem levtica, mas visa claramente substitu-la. Mais do que a maioria dos livros do Novo Testamento, Hebreus exige explicaes pormenorizadas da relevncia das aluses ao seu fundo histrico. Esta a tarefa principal do comentarista. Respondendo pergunta, Por que um livro to difcil includo no Novo Testamento? : que trata daquela que deve ser considerada a pergunta mais importante que confronta constantemente o homem, i.: como podemos nos aproximar de Deus? por causa da contribuio significante de Hebreus a este problema sempre presente que compensa o esforo necessrio para esclarecer sua mensagem e express-la em termos contemporneos.13

  • INTRODUOII. A CARTA NA IGREJA PRIMITIVA

    Iniciaremos olhando a maneira dos cristos primitivos considerarem esta carta porque isto nos capacitar a seguir os passos pelos quais veio a se tomar parte do Novo Testamento. Mostrar, tambm, que at mesmo a igreja primitiva tinha algumas dificuldades por causa dela.No mais antigo dos escritos patrsticos que tem sido conservado, i., a carta de Clemente de Roma igreja de Corinto (c. de 95 d.C.), h um paralelo notvel (1 Ciem. 36.1-2; cf. Hb 1.3ss.), juntamente com uns poucos outros paralelos. A seguinte seleo de 1 Clemente 36 ilustrar este fato. Escreve acerca de Cristo: Ele, que o resplendor da sua majestade, to superior aos anjos, quanto herdou mais excelente nome [cf. Hb. 1.3- 4], Porque est escrito assim: Aquele que a seus anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo [cf. Hb. 1.7]. Mas acerca do Filho o Senhor disse assim: Tu s meu Filho, eu hoje te gerei [cf. Hb 1.5] ... E, outra vez, diz-lhe: Assenta-te minha direita, at que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus ps [cf. Hb 1.13]. 1 Pareceria uma deduo razovel que Clemente tinha conhecimento de Hebreus, embora isto no tenha- passado sem ser questionado. A opinio alternativa, de que Hebreus citou 1 Clemente levanta dificuldades em demasia para ser considerada. A via media proposta, de que ambos usaram as mesmas fontes no pode atrair muito mais apoio, porque nenhuma evidncia pode ser produzida para tais fontes hipotticas, e, na ausncia de evidncias, deve ser considerada uma teoria insatisfatria. A concluso de que Clemente deve ter conhecido Hebreus tem conseqncias importantes para a avaliao da data da Epstola e para um reconhecimento da sua autoridade antiga. Deve ser notado, tambm, que nos trechos que so virtualmente citaes da carta, Clemente no menciona o autor. Em si s, isto no seria especialmente relevante, visto que Clemente cita outros livros neotestamen- trios (e.g. as Epstolas paulinas) sem mencionar o autor. provvel que Hebreus tenha agradado especialmente a Clemente, que descreve o ministrio cristo em termos do sacerdcio arnico,2 embora adote uma abordagem bem diferente do escritor desta carta. Esta dependncia antiga de Clemente de nossa Epstola tanto mais notvel por causa do perodo(.1)Traduo em ingls em K. Lake: The Apostolic Fathers 1 (Heinemann, 1952), pg. 71.(2)T. W. Manson: The Churchs Ministry (Londres, 1948), pgs. 13ss., chamao apelo de Clemente s leis cerimoniais do AT uma retrogresso.

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  • INTRODUOsubseqente em que parece ter sido negligenciada pelas igrejas no Ocidente. No foi at o fim do sculo IV que recebeu, entre aquelas igrejas, a honra que lhe cabia.Hebreus no estava includo entre os livros autorizados por Mrciom, cuja coletnea alegava representar o ensino do Apostolikon, i., o apstolo Paulo. Mrciom, no entanto, quase certamente teria rejeitado Hebreus por causa da sua forte dependncia do Antigo Testamento, o qual rejeitava categoricamente.O Cnon Muratoriano, que contm uma lista de livros que, segundo se pensa, representa o cnon da igreja em Roma perto do fim do sculoII, no contm referncia alguma a Hebreus, embora inclua todas as cartas de Paulo, citadas pelos seus nomes. possvel que o texto da lista esteja deturpado e que alguma parte dela tenha sido omitida. Apesar disto, estranho que nenhum apoio especfico para a Epstola tenha sido conservado durante este perodo primitivo.Com a virada do sculo II, mais evidncias em prol do uso de Hebreus so achadas na igreja ocidental, embora houvesse diferena de opinio quanto sua origem. Clemente de Alexandria cita seu mestre o bendito presbtero (Panteno) como algum que defendia a autoria paulina desta carta. Explicou a ausncia de um nome pessoal no texto da carta pela razo de que o prprio Jesus era o apstolo do Onipotente aos Hebreus, e que, portanto, por humildade, Paulo no teria escrito aos Hebreus da mesma maneira que escrevia aos gentios. Clemente continuou a tradio da origem paulina, e freqentemente citava Hebreus como sendo da autoria de Paulo ou do Apstolo. Seu sucessor Orgenes, no entanto, levantou dvidas quanto autoria paulina, embora no acerca da sua canonicidade. Considerava que os pensamentos eram de Paulo, mas no o estilo. Historiou a opinio doutros (os ancios), de que Lucas ou Clemente de Roma fora o autor, e, embora fale favoravelmente acerca da sugesto de que Lucas escreveu os pensamentos de Paulo em grego, ele mesmo concluiu que somente Deus sabe o autor.Subseqentemente ao tempo de Orgenes, seus sucessores no acatavam sua deciso aberta, e logo ficou sendo a convico indisputada da igreja oriental de que Paulo era o autor. Deve ser notado que Orgenes incluiu Hebreus entre as cartas paulinas, s vezes at citando-a como Paulo diz; no totalmente surpreendente, portanto, que seus alunos seguissem este padro. A grande influncia de Orgenes na igreja oriental era suficiente para garantir a contnua aceitao da carta como sendo apostlica. No h dvida, no entanto, que foi a crena na sua origem paulina que lhe gran

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  • INTRODUOjeou aceitao universal. No Papiro Chester Beatty das cartas paulinas, Hebreus est includa, colocada depois de Romanos.Na igreja ocidental, a aceitao demorou mais tempo. Aps a citao da carta por Clemente de Roma, a evidncia esparsa at os tempos de Jernimo e Agostinho. Tertuliano, no fim do sculo II, considerava Bamab como o autor, mas menciona esta opinio num s lugar. Claramente no considerava que esta Epstola estava no mesmo nvel das cartas paulinas. Eusbio, que era diligente em colecionar as opinies das vrias igrejas acerca dos livros do Novo Testamento, relatou que a igreja em Roma no aceitava Hebreus como paulina, e reconheceu que isto estava levando outras pessoas a terem dvidas. Cipriano, que pode ser considerado um representante tpico dos meados do sculo III, no aceitava a Epstola.O primeiro escritor patrstico no Ocidente que aceitou esta carta foi Hilrio, seguido, logo aps, por Jernimo e Agostinho. A opinio deste ltimo revelou-se decisiva, embora levante uma questo interessante, porque Agostinho, nas suas primeiras obras, cita Hebreus como sendo paulina, e, nas suas ltimas obras, como sendo annima, com um perodo de vacilao no meio. Sua aceitao original da Epstola foi provavelmente em razo da autoria paulina; mas veio a aquilatar o valor da Epstola com base na prpria autoridade dela, e sua abordagem claramente subentendia uma distino entre a autoria paulina e a canonicidade. Esta distino, no entanto, no foi mantida pelos seus sucessores.Este panorama da histria algo diversificada desta Epstola levantou certos fatores que devem afetar nossa abordagem sua exegese. Demonstrou que era crido de modo geral que Hebreus reflete uma autoridade apostlica, embora nenhum nome especfico possa ser ligado a ela. Onde havia relutncia para receb-la, era, com toda a probabilidade, demasiadamente vinculada com a autoria apostlica. tambm compreensvel que o estilo e o contedo da carta seriam menos atraentes aos ocidentais mais prosaicos do que aos orientais, mais eclticos. Sua aceitao final, a despeito das dvidas srias, testifica do poder intrnseco da prpria Epstola.Uma nota de rodap do perodo da Reforma para este panorama antigo pode ser acrescentada. Durante este perodo, a Epstola voltou a ser atacada no assunto da sua autoria paulina. Este foi especialmente o caso de Martinho Lutero, que sugeriu que Apoio seria um autor mais provvel. Reagindo s suas opinies, o Conclio de Trento declarou enfatica-

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  • INTRODUOmente que a Epstola foi escrita pelo apstolo Paulo, usando, assim, o carimbo da autoridade eclesistica numa tentativa de resolver a questo.

    III. AUTORIATendo em vista a confuso na igreja primitiva a respeito da origem desta carta, no surpreendente que a erudio moderna tenha produzido um monte de sugestes diferentes. Visto que a maioria delas no passam de pura conjectura, no proveitoso dedicar muito espao sua discusso. Nosso alvo ser demonstrar de modo breve por que a autoria paulina quase universalmente considerada inaceitvel, e dar algumas indicaes das propostas alternativas.3A opinio antiga da autoria paulina no apoiada por qualquer referncia a Paulo no texto da carta. Est, no entanto, includa no ttulo, que claramente uma reflexo do conceito tradicional e, portanto, tem pouca importncia. A anonimidade do texto uma dificuldade imediata para a autoria paulina, visto no haver em lugar algum qualquer sugesto que Paulo teria escrito no anonimato. Um apstolo que meticulosamente reivindica autoridade na introduo s epstolas existentes atribudas ao seu nome, no tem probabilidade de ter enviado uma carta sem referncia quela autoridade especial da qual estava revestido. Alm disto, no h sugesto, na maneira do autor de Hebreus escrever, de que conheceu aquela mesma experincia dramtica pela qual Paulo passou na sua converso, que nunca est longe da superfcie nas suas cartas.J nos tempos de Orgenes, a diferena entre o grego das Epstolas de Paulo e o de Hebreus estava sendo notada. Orgenes considerava que a Hebreus faltava a rudeza de expresso do apstolo e que mais idiomaticamente grega na composio da sua dico (cf. Eusbio.Msf. Eccl, vi.25.11-12). A maioria dos estudiosos concordaria com o julgamento de Orgenes. A linguagem forma um bom estilo literrio no grego koin, e certamente contm menos irregularidades de sintaxe do que as Epstolas.4 0 escritor sabe, alm disto, a direo que seu argumento est tomando. Se faz uma pausa para exortar os leitores, retoma a seqncia(3) Uma obra importante mais recente que argumenta em prol da autoria paulina a de W. Leonard: The Authorship o f the Epistle to the Hebrews (Londres, 1939). (4)M. E. Thrall: Greek Particles in the New Testament (Leiden, 1962), pg.

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  • INTRODUOdos seus pensamentos. No sai numa tangente, conforme Paulo faz s vezes. Voltando para a opinio de Orgenes, pode ser notado que considerava que os pensamentos eram os do apstolo. Muitos estudiosos modernos, no entanto, no concordariam. Alegariam que esto faltando vrios dos temas caracteristicamente paulinos, e que muito daquilo que est presente no tem paralelo em Paulo (e.g. o tema do suma sacerdote), por isso mais razovel supor que Paulo no foi o autor. Dois outros fatores apontam na mesma direo: o mtodo das citaes do Antigo Testamento, que diferente do de Paulo; e a declarao em 2.3, que pressupe que o autor no tinha qualquer revelao pessoal da parte de Deus, mas que recebera uma grande salvao atestada por aqueles que ouviram o Senhor. Embora haja alguma possibilidade de interpretar esta declarao em 2.3 para incluir o apstolo Paulo, no a maneira mais natural de compreend-la. Paulo nunca teria admitido que recebeu o ncleo do seu evangelho em segunda mo, como este autor parece fazer.Quais, pois, so as alternativas? O testemunho antigo menciona apenas trs outras possibilidades, alm de Paulo - Lucas, Clemente e Bar- nab. Embora haja algumas afinidades entre os escritos de Lucas e Hebreus,5 no bastam em si para apoiar a autoria comum. Clemente pode ser excludo pela razo de que h amplas diferenas de contedo teolgico entre este escritor e a carta aos hebreus, e pela suposio quase certa que citou diretamente de Hebreus.6 A nica reivindicao de Bamab para ser considerado seu passado como levita proveniente de um meio- ambiente helenista (Chipre). Mas nosso autor est interessado no culto bblico mais do que no culto no Templo.79, considera que Hebreus talvez seja mais tpica do grego culto do que qualquer outro documento no NT.(5) A. R. Eager examina suas semelhanas de estilo: The Authorship of the Epistle to the Hebrews, The Expositor 10 (1904), pgs. 74-80, 110-123. Cf. F. D. V. Narborough: Com., pg. 11. W. Manson, pg. 36, tambm d muita importncia a estes paralelos.(6)Calvino: Com., sobre Hb 13.23, estava disposto a considerar favoravelmente Lucas ou Clemente. Decididamente rejeitava a autoria paulina (cf. idem, pg. 1). Cf. tambm C. Spicq: Com. 1, pg. 198.(7) Tanto F. F. Bruce: Com., pg. xxxvii, n. 62 quanto Spicq: Com. 1, pg. 199, n. 8, alistam muitos defensores de Bamab como autor. A lista de Spicq especialmente impressionante. Entre os mais recentes esto H. Strathmann (Gottingen, 2 1937), pgs. 64-65; F. J. Badcock: The Pauline Epistles and the Epistle to the Hebrews in their Historical Setting (Londres, 1937); A. Snell: New and Living Way (Londres, 1959), pgs. 17ss. Badcock sustentava que a voz era de Bamab e a mo era

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  • INTRODUODas conjecturas mais modernas, Apoio tem tido o maior nmero de apoiadores, principalmente com base na suposio de que, como alexandrino, teria familiaridade com os modos de pensar do seu concidado alexandrino, Filo, que supostamente esto refletidos na Epstola. Esta opinio, que originalmente foi proposta por Martinho Lutero, tem sido fortemente apoiada por aqueles que desejam manter alguma conexo pauli- na com a Epstola.8 Outras propostas so: Priscila,9 Felipe, Pedro, Silva- no (Silas), Arstiom e Judas.10Se no podemos ter certeza da identidade do autor, podemos notar suas caractersticas principais que seriam inestimveis para nossa compreenso da sua carta.11 um homem que meditou longamente acerca da abordagem crist ao Antigo Testamento. O que ele escreve foi bem pensado. Sabe para onde vai sua linha de argumento. Quando faz uma pausa para exortar seus leitores, o faz com fina sensibilidade e tato. Prefere pensar o melhor acerca deles, embora faa fortes advertncias de precauo. A despeito da sua anonimidade, uma fora a levar a srio na teologia crist primitiva. Oferece-nos a mais clara discusso da abordagem crist ao Antigo Testamento dentre qualquer dos escritores do Novo Testamento.

    IV. OS LEITORESO ttulo ligado a esta carta no manuscrito mais antigo existente Aos Hebreus. 12 Na realidade, no h manuscrito da carta que no te-

    de Lucas (op. cit., pg. 198). Spicq, n entanto (Com. 1, pgs. 200-202) oferece no menos que dez razes para duvidai da probabilidade de Bamab como autor.(8) Cf. Spicq: Com. 1, pg. 210, n. 2, para uma lista detalhada. Entre os defensores deste nome no sculo XX, os mais notveis tm sido T. Zahn: Einleitung in das Neue Testament (Lpsia, 31907), pgs. 7ss.; J. V. Bartlet The Epistle to the Hebrews once more, E xT 34 (1922-23), pgs. 58-61; T. W. Manson: The Problem of the Epistle to the Hebrews, BJRL 32 (1949), pgs. 1-17; Studies in the Gospels and Epistles (1962), pgs. 254ss.,; W. F. Howard: Interpretation 5 (1951), pgs. 80ss.; C. Spicq: Com. 1, pgs. 207ss. W. Manson critica esta opinio com base em que a igreja de Alexandria nunca se referiu a Apoio como autor desta Epistola (pgs. 171-2).(9) Assim A. Hamack: ZNTW 1 (1900), pgs. 166ss.(10) Para um levantamento pormenorizado destas outras sugestes, cf. C. Spicq, Com. 1, pgs. 202ss.(11) A. Naime: Com., pg. lvii, considerava que a preciso de um nome no acrescentaria muita coisa nossa compreenso do fundo histrico.(12) H. M. Schenke: ThZ 84 (1959), pgs. 6-11, indica duas passagens no19

  • INTRODUOnha este ttulo. J nos tempos de Clemente de Alexandria e de Tertulia- no esta Epstola era conhecida por este ttulo. Apesar disto, nenhuma indicao especfica dada no prprio texto da carta de que os leitores eram hebreus, e possvel, portanto, que o ttulo no seja original. Em tal caso, pode ter sido baseado numa boa tradio, ou pode ter sido uma conjectura. Tem havido opinies divergentes nesta questo, mas permanece o fato que nenhuma evidncia patrstica d qualquer razo para duvidar da tradio. Devemos, no entanto, considerar os vrios problemas que surgem como resultado desta tradio.A primeira considerao a ser notada a definio da palavra Hebreus. Podia ser usada especificamente dos judeus que falavam hebraico (ou melhor, aramaico), e neste caso os distinguiria dos judeus de idioma grego. Esta sugesto tem algum outro apoio neo-testamentrio (cf. At 6.1; 2 Co 11.22; Fp 3.5), mas no h meio de saber se o ttulo tradicional desta Epstola visava ter este sentido. Pode ter significado nada mais do que judeus (i., judeus cristos), quer de idioma aramaico, quer de grego. Este sentido mais geral deve ser preferido. Alguns, no entanto, sugeriram que o ttulo seja totalmente desconsiderado e que se deve entender que a Epstola endereada a gentios. Claramente, a nica maneira de decidir a questo mediante um exame cuidadoso da evidncia interna.Evidncia em prol de um grupo especifico.Tendo em vista a natureza muito geral do ttulo tradicional, signi- ficante que so dadas algumas indicaes de que uma comunidade determinada estava em mente. Certamente o autor sabe algo acerca da sua histria e situao. Sabe que foram abusados pela sua f e que reagiram bem ao despojamento das suas propriedades (10.33, 34). Tem conscincia da generosidade dos seus leitores (6.10) e conhece o estado de mente atual deles (5.1 lss.; 6.9ss.). Certos problemas prticos, tais como sua atitude para com seus lderes (13.17) e questes de dinheiro e de casamento (13.4, 5) so mencionados. Parece mais razovel supor que o escritor tem conhecimento pessoal das pessoas especficas que tem em mente no decorrer da Epstola (cf. 13.18, 19, 23). Se esta for a verdade, o carter vago do ttulo claramente enganoso. Mais um aspecto que confirma esta opinio a meno especfica de Timteo em 13.23, porque TimteoEvangelho segundo Filipe, apcrifo, nas quais empregado o termo hebreus, que parece fazer uma distino entre hebreus e cristos. Esta obra gnstica, no entanto, no nenhum guia seguro para o uso lingstico ortodoxo.

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  • INTRODUOtambm deve ter sido conhecido dos leitores.Outra indicao da natureza do grupo pode ser deduzida de referncias tais como 5.12 e 10.25. A primeira dirigida queles que nesta altura j deviam ser mestres, e isto deu origem sugesto de que os leitores eram uma parte pequena de um grupo maior de cristos. A sugesto mais favorecida que formavam um grupo numa casa que se separara da igreja principal. A exortao em 10.25 apoiaria esta opinio. Ali, o escritor conclama os leitores a no deixarem de congregar-se juntos. Parece razoavelmente conclusivo que a totalidade de uma igreja no teria sido considerada mestres em potencial, e altamente provvel que um grupo separatista pudesse ter se considerado superior aos demais, especialmente se foram dotados com dons maiores. O tema que nesta Epstola argumentado de modo compacto est de acordo com a sugesto de que um grupo de pessoas com um maior calibre intelectual est em mente.Algum apoio tem sido reivindicado para o conceito de que o grupo consistia de ex-sacerdotes judeus que se tomaram cristos. Fica claro no livro de Atos que nmeros considerveis de sacerdotes estavam entre as pessoas convertidas no perodo primitivo. Como questo de conjectura, pode ser suposto que estes naturalmente formariam grupos para o estudo da sua nova abordagem ao culto antigo. Seu interesse especial na ordem levtica seria, portanto, altamente inteligvel. No h, no entanto, qualquer evidncia a favor de quaisquer igrejas que consistiam em sacerdotes, e alguma cautela deve ser exercida a respeito desta opinio. Alm disto, teramos de discutir se a direo geral do argumento favorece esta opinio.Uma extenso da mesma idia ver no grupo de leitores membros antigos da comunidade dos essnios em Cunr que se converteram ao cris- tinismo.13 primeira vista, parece ser uma proposio atraente, mormente porque a Epstola aos Hebreus revela algumas correes das tendncias de Cunr (e.g., sua separao). Os Pactuantes de Cunr tinham tido desavenas com os partidos judaicos principais no que diz respeito aos modos contemporneos de procedimentos do Templo, e isto se encaixaria bem com a concentrao da ateno desta carta no ritual do tabem-

    (13) Y. Yadin: The Dad Sea Scrolls and the Epistle to the Hebrews, Scripta Hierosolymitana 4 (1958), pgs. 36-53 (citado por E. Grasse/-, ThR 30 (1964), pg. 172), sugere que os endereados em Hebreus eram ex-cunranitas que no tinham abandonado totalmente suas prticas de Cunr. H. Kosmala: Hebrer-Essener-Chris- ten (Leiden, 1959), vai alm e argumenta que os leitores nunca tinham aceito plenamente o cristianismo. Mas contra este tipo de teoria, cf. Bruce: To the Hebrews or To the Essenes? , N TS 9 (1962-63), pgs. 217-232.21

  • INTRODUOculo ao invs do Templo. Mas as evidncias so passveis de uma aplicao mais ampla do que este conceito limitado dos leitores permitiria. A teoria comea com a desvantagem de que no feita nenhuma meno aos essnios em qualquer parte do Novo Testamento. Apesar disto, a co- munidade de Cunr tem fornecido algumas informaes teis de fundo histrico que lanaram alguma luz sobre a Epstola (mas veja mais discusso nas pgs. 37-38).Evidncia em prol de leitores gentios.O amplo apelo ao Antigo Testamento nesta carta no exige necessariamente um grupo judaico de leitores, tendo em vista que o Antigo Testamento era, universalmente, a Santa Escritura da igreja primitiva, judaica ou gentia. Na realidade, algumas partes do Novo Testamento endereadas a leitores predominantemente gentios (e.g. Romanos, Gla- tas) ainda se referem extensivamente ao Antigo Testamento. No teria levado muito tempo para os convertidos gentios tomarem-se suficientemente familiarizados com o Antigo Testamento para suscitar perguntas acerca do significado do ritual levtico. No impossvel que tais inquiries tenham levado exposio do tema do sumo sacerdote, feita pelo autor. Outra linha seguida por alguns defensores de destinatrios gentios argumentar que a ausncia de aluses controvrsia judaica favorece tal teoria, mas esta considerao pareceria neutra, se que tem alguma validez. De mais peso o argumento de que os leitores corriam o perigo de apostatar do Deus vivo (3.12), que seria inapropriado como referncia a judeus pensando em abandonar o cristianismo para voltar ao judasmo. Mas isto no conclusivo, tampouco, se o autor estiver pensando em todas as formas da apostasia, seja da parte de cristos judaicos, seja da parte de cristos gentios, como um afastamento do Deus vivo. O escritor menciona, ainda, obras mortas (6.1; 9.14) e os princpios elementares da doutrina de Cristo (6.1) que, segundo se pensa, so inapro- priados para os leitores judaicos. Pode ser razoavelmente sustentado que os gentios se encaixariam no contexto melhor do que os judeus, mas dificilmente pode ser alegado que as palavras nunca poderiam ser aplicveis aos judeus. De modo geral, tendo em vista o estilo intricado de argumento, que exige uma vasta compreenso do Antigo Testamento (cf., por exemplo, o estilo de discusso em Hb 7: 11 ss.), parece que a opinio tradicional tem mais probabilidade de ser correta. Isto se tomar mais evidente quando o propsito da Epstola for discutido abaixo.

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  • INTRODUO

    Tendo em vista a falta de informaes especficas acerca do autor ou dos leitores, quaisquer sugestes acerca de onde os leitores habitavam forosamente sero carregadas de incertezas. O melhor que podemos fazer mencionar as mais viveis. Comeamos com a idia de que a igreja em Jerusalm estava em mente.14 Alega-se que esta idia apoiada pelo ttulo e pela nfase dada ao ritual levtico. Alm disto, a referncia perseguio (10.32; 12.4) nos dias anteriores pode muito bem referir- se aos sofrimentos suportados pela comunidade crist judaica em Jerusalm. Alguns tm visto aluses a uma desgraa iminente em 3.13; 10.25; 12.27, mas a fraseologia muito geral para ter qualquer relevncia. Outros argumentaram que, porque nenhuma igreja reivindicou as cartas aos Hebreus, os endereados podem bem ter sido uma igreja num lugar que foi subseqentemente destrudo, como foi Jerusalm em 70 d.C. Mas podemos descontar o argumento; na realidade, no h evidncia de que cada livro do Novo Testamento, cujo destino especfico conhecido, era especificamente reivindicado pela(s) igreja(s) endereada(s). Se pudesse ser estabelecido que o autor tem o Templo em mente, ainda que fale em termos do tabernculo, haveria algum apoio para um destino em Jerusalm, visto que o autor usa o tempo presente como se o ritual ainda estivesse sendo observado. Aqui entra uma questo da data, porque se a Epstola foi escrita depois de 70 d.C. (conforme sustentam alguns), o destino em Jerusalm seria mais difcil de sustentar.H, porm, algumas objees srias idia de Jerusalm como sendo o destino. A declarao em 2.3 que nem o escritor nem os leitores tinham ouvido o Senhor pessoalmente claramente difcil se a igreja de Jerusalm est em mente, porque difcil imaginar que houvesse comunidades, tais como igrejas-casas, em Jerusalm, onde nenhum s dos membros ouvira a Jesus. Outra dificuldade a predominncia de idias helensticas, que so mais difceis de imaginar em Jerusalm do que noutros lugares; esta linha de pensamento, no entanto, no deve receber nfase demasiada, tendo em vista a evidncia de Cunr em prol de uma infiltrao de idias helenistas num meio-ambiente doutra forma judaico, s margens do Mar

    V. 0 DESTINO

    (14) Jerusalm foi sugerida por W. Leonard: The Authorship o f the Epistle to the Hebrews (Londres, 1939), pg. 43, e A. Ehrhardt, The Framework o f the New Testament Stories (Manchester, 1964), pg. 109. Este ltimo data a Epstola depois da queda de Jerusalm.23

  • INTRODUOMorto, no muito distante de Jerusalm. O uso consistente da LXX uma dificuldade adicional se os cristos de Jerusalm estiverem em mente, porque pouco provvel que a igreja da Judia usava esta verso. Do outro lado, pode ser ressaltado que Jerusalm tinha vrias sinagogas helenistas (At 6.9), e no impossvel que estas tenham usado a Septuaginta. Mas levando em conta o carter essencialmente grego da Epstola, deve ser concedido que um destino que no seja Jerusalm mais provvel. Uma considerao final pode ser mencionada, i., a referncia provvel generosidade dos leitores em 6.10 no se encaixa bem demais com uma igreja cuja pobreza mencionada noutros lugares do Novo Testamento em conexo com a coleta pelas igrejas gentias para prestar assistncia quela. natural que Alexandria tenha sido proposta nos tempos modernos como o destino da Epstola, tendo em vista os paralelos que tm sido alegados entre esta carta e os escritos de Filo de Alexandria. J foi notado que a igreja alexandrina nunca foi mencionada na antigidade como a possvel endereada da Epstola. Mas uma dificuldade ainda maior o fato de que em Alexandria era tomado por certo, em data bem antiga, que se tratava de uma carta enviada por Paulo aos hebreus.A sugesto que apoiada pela quantidade maior de evidncias, internas e externas Roma. Foi em Roma que a Epstola foi primeiramente conhecida e citada, e visto que assim aconteceu durante a ltima dcada do sculo I, demonstra que a Epstola deve ter chegado ali numa etapa bem recuada da sua transmisso. Alguma conexo pode ser vista entre um destino em Roma e as saudaes dos da Itlia (13.24). O modo mais natural de entender esta expresso com referncia a pessoas cujo lugar de origem a Itlia, mas que esto morando noutro lugar e desejam enviar saudaes para casa. A expresso vaga no teria razo de ser a no ser que o autor achasse que valeria a pena chamar a ateno aos compatriotas dos leitores que estavam com ele. Teria mais validade, portanto, se fosse endereada a algum lugar na Itlia ao invs de qualquer outro lugar. No conclusivo, no entanto, visto que a redao de 13.24 poderia ser entendida em termos da locao do autor ou, igualmente, da origem dos leitores.Nffo h necessidade alguma de entrar em detalhes acerca de outras sugestes. Apenas as notaremos de passagem Colossos (T. W. Manson), Samaria (J. W. Bowman), feso (W. F. Howard), Galcia (A. M. Dubarle), Chipre (A. Snell), Corinto (F. Lo Bue, H. Montefiore), Sria (F. Rendall), Antioquia (V. Burch), Beria (Hostermann), Cesaria (C. Spicq).15 A lis

    (15) T. W. Manson: BJRL 32 (1949), pgs. 1-17; J. W. Bowman: Hebrews,24

  • INTRODUOta suficientemente variada para demonstrar que as evidncias escassas podem ser usadas para se prestarem ao apoio de um grande nmero de possibilidades. Deve, pelo menos, deixar-nos prevenidos contra sermos demasiadamente dogmticos a respeito do destino da epstola.Concluiramos que o destino mais provvel Roma, embora deixemos as opes abertas para outras possibilidades.

    VI. DATANossas discusses anteriores no devem nos ter deixado muito otimistas acerca da possibilidade de fixar uma data precisa para esta carta. Tudo quanto podemos fazer sugerir limites dentro dos quais a carta foi provavelmente escrita. Podemos, pelo menos, concluir que foi escrita antes da carta de Clemente de Roma (95 d.C.), a no ser, naturalmente, que aleguemos que Hebreus usou Clemente,16 ou que os dois escritores usaram fontes em comum. Mas visto haver boa razo para supor que Clemente dependia de Hebreus, fixa-se assim uma data final para Hebreus, antes da qual deve ter sido escrita.Uma considerao intema o relacionamento entre a carta e a queda de Jerusalm. Visto que o escritor no demonstra nenhuma conscincia do evento, e que sugere, pelo contrrio, que o ritual ainda continua, a carta teria de ser datada antes de 70 d.C. Conforme j foi indicado, no entanto, o autor apela ao tabernculo mais do que ao Templo, e este fato poderia legitimamente ser reivindicado como evidncia de que o Templo j no existia. Mas os tempos no presente, usados, por exemplo, em 9.6-9 (cf. tambm 7.8; 13.10) teriam mais razo de ser se o ritual do Templo ainda estivesse sendo observado.17 A distino entre o tabernculo e o Tem-

    1 & 2 Peter (Londres, 1962), pgs. 13-16; W. F. Howard: The Epistle to the He- brews, Interpretation 5 (1951), pgs. 80ss.; A. M. Dubarle: RB 48 (1939), pgs. 506-529; A. Snell: New and Living Way (Londres, 1959), pg. 19; F. Lo Bue: JBL 15 (1956), pgs. 52-57; H. Monteflore: Com., pgs. 137ss.; A. Klostermann: Zur Theorie der biblischen Weissagung und zur Charakteristik des Hebrerbriefes (1889), pg. 55, citado por O. Michel: Com. pg. 12; C. Spicq, Com. 1, pgs. 247ss.(16) G. Theissen: Untersuchungen zum Hebraerbrief (Gtersloh, 1969), pgs. 34ss., discute o relacionamento entre Hebreus e 1 Clemente e conclui que uma dependncia literria desta ltima daquela improvvel.(17) Sobre o uso dos tempos do presente deve ser notado que 1 Ciem. 61 tambm usa tempos do presente na descrio do Templo, claramente, no caso dele, um artifcio literrio e no o emprego histrico dos tempos. Cf. o comentrio sobre estes tempos por E. C. Wickham: Com. pg. xviii.25

  • INTRODUOpio talvez no tenha sido to ntida aos leitores originais quanto aparece ao leitor moderno. No cmputo geral, esta linha de evidncia est mais a favor de uma data antes de 70 a.C., e no depois, especialmente se for dado o devido valor estranha omisso da catstrofe se j tinha acontecido. Teria sido uma confirmao histrica valiosa da tese principal da Epstola o desaparecimento do antigo para ceder lugar ao novo.Se, do outro lado, a destruio da cidade estava iminente, daria muita fora exortao aos leitores no sentido de sarem fora do arraial (13.13). Alm disto, a meno de Timteo em 13.23, se for o mesmo homem que era companheiro de Paulo, deve exigir uma data dentro da sua provvel durao de vida, mas nosso problema aqui que nenhum conhecimento independente existe quanto sua morte. Tudo quanto poderia ser concludo com segurana que uma data no sculo II est totalmente fora de cogitao. Certamente o estado da igreja que pode ser detectado nesta Epstola bastante primitivo, porque no h meno especfica dos oficiais, mas apenas a expresso um pouco vaga: vossos guias (13.7, 17). Alm disto, o ntido sabor judaico da teologia favorece uma data recuada.Outra sugesto que a referncia em 3.7ss. aos quarenta anos dos israelitas no deserto (citando SI 95.7ss.) pode ser mais aplicvel se esta Epstola foi escrita quarenta anos depois da morte de Jesus. Mas a conexo do pensamento est longe de ser bvia, e no pode fazer contribuio alguma nossa discusso. O que mais vem ao caso a referncia em 12.4 ao fato de que ainda no tendes resistido at ao sangue. Pode ser entendida metaforicamente, e neste caso no ajudaria a fixar a data, mas se significa que ainda no tinha havido mrtir entre eles, exigiria uma data antes da ocorrncia da perseguio generalizada. Se os leitores estavam em Roma, isto pareceria requerer uma data antes das perseguies de Nero. Mesmo assim, se esta era uma igreja-casa separada do restante da igreja, pode ter escapado itensidade da perseguio que o grupo principal dos cristos sofrera. Outra considerao a referncia aos dias anteriores (10.32) quando os cristos eram sujeitados perseguio. Alm disto, se estes dias se referem perseguio de Nero, a Epstola teria de ser datada depois da queda de Jerusalm. Mas o mesmo problema surge de que no h sugesto de que qualquer deles tinha morrido18 e difcil, portanto, apelar perseguio de Nero como sendo uma explicao dos dias ante

    (18) E. Riggenbach: Com., pgs. 332-3, rejeita enfaticamente a idia que 10.32-34 subentende qualquer morte por martrio.26

  • INTRODUOriores. Seria mais seguro tomar por certo que no havia tanto um ataque oficialmente organizado quanto o tipo de molestamento constante do qual tanto Atos quanto as Epstolas testificam.19 De fato, os dias anteriores podem concebivelmente referir-se ao perodo que se seguiu o decreto de Cludio que exilou os judeus de Roma, visto que os cristos judaicos presumivelmente teriam sido implicados (cf. quila e Priscila, At 18.2). Entre este evento e a perseguio de Nero transcorreu um perodo de quinze anos, que fixaria os limites dentro dos quais a Epstola deve ter sido escrita. No h maneira de saber se foi escrita antes da morte de Paulo, embora tenha sido inferido de Hebreus 13 que Paulo provavelmente j no estava com vida, com base um pouco precria na referncia solitria a Timteo.Aqueles que datam a Epstola antes da queda de Jerusalm so geralmente influenciados pelo seu conceito da ocasio como sendo decisiva para uma datao mais exata. Por exemplo, Montefiore sugere uma data semelhante de 1 Corntios20 e T. W. Manson uma data semelhante a Colossenses,21 por causa dos seus respectivos conceitos da situao tratada na Epstola. A maioria, no entanto, no a data antes da dcada de 60, e preferem uma data imediatamente anterior ou durante as perseguies nernicas se a Epstola foi enviada de Roma,22 ou imediatamente antes da queda de Jerusalm se foi enviada doutro lugar.Aqueles que considerm que a evidncia no requer uma data antes da queda de Jerusalm, usualmente sugerem um perodo entre cerca de 80 e 85 d.C.23 H duas consideraes principais. A primeira o uso da epstola por Clemente de Roma. Deve obviamente ser datada antes daquela epstola, mas quanto tempo antes? Conforme a teoria de Goodspeed,

    (19) J. Moffatt: Introduction to the Literature o f the New Testament, pg. 453, sugere que pode ter sido violncia das turbas.(20) H. Montefiore: Com., pgs. 9-10. Cf. tambm J. M. Ford: CBQ 28 (1966), pgs. 402-416.(21) T. W. Manson: BJRL, 32 (1949), pgs. 1-17.(22) J. A. T. Robinson: Redating the New Testament (1976), pgs. 200-220, prefere um destino romano e uma data c. de 67 imediatamente antes da morte de Nero. (23) E.g., E. F. Scott: The Literature o f the New Testament (Colombia UP, 1932), pg. 199; A. H. McNeile, C. S.C. Williams: Introduction to the New Testam ent (Oxford, 2 1953), pags. 235. D. W. Riddle : JBL 63 (1924), pgs. 329-348, pensava que apenas um curto intervalo poderia ter separado Hebreus de 1 Clemente. H. Windisch: Com., pgs. 329-348, fez uma conjectura de um perodo de pelo menos 10 anos.27

  • INTRODUO-Clemente escreveu em resposta a Hebreus 5.12, e neste caso, nenhum intervalo longo deve ter decorrido entre elas. Esta teoria, no entanto, tnue. Se, doutro lado, Clemente no usou nossa Epstola aos Hebreus, j no haveria necessidade de limitar Hebreus para um tempo antes da carta de Clemente. O carter primitivo da estrutura comunitria em Hebreus, no entanto, exige uma origem anterior ao tempo da epstola de Clemente. A outra considerao a opinio sustentada por alguns que Hebreus demonstra dependncia das epstolas de Paulo. Como usual no caso de argumentos baseados em afinidades literrias, a dependncia de difcil comprovao. As afinidades paulinas so suficientemente explicadas pela suposio de que o autor era um associado do apstolo. A evidncia certamente no suficiente para demonstrar que Hebreus no poderia ter sido escrita antes das cartas paulinas terem sido colecionadas. O efeito cumulativo destes argumentos em prol de uma data em fins do sculo I no con-

    24vence.

    VII. O PROPSITO DA CARTAO escritor faz uma s declarao especfica acerca do seu propsito, que est em 13.22 onde diz simplesmente: Rogo-vos... que suporteis a presente palavra de exortao; tanto mais quanto vos escrevi resumidamente. Se palavra de exortao 25 significa aqui, como em At 13.15, uma homlia, sugeriria que a estrutura da carta deve sua origem a uma pregao feita numa ocasio especial e mais tarde adaptada na forma de uma carta pelo acrscimo de comentrios pessoais no fim. Esta sugesto tem muita coisa para recomend-la e explicaria os apartes freqentes que contm apelos diretos aos ouvintes. Se a palavra exortao receber seu efeito literal, aquelas passagens que contm tais apelos diretos devem ser consideradas os pontos cruciais no argumento do autor, ainda que sejam apartes, e devem ser levadas em conta ao decidir o propsito do autor.26 H,(24) surpreendente quantos estudiosos do NT adotam uma data avanada para esta Epstola sem prestar ateno detalhada possibilidade de uma data recuada. Cf. Wickenhauser, Kmmel, Marxsen, Fuller, Klijn e Perrin nas suas Introdues. Mesmo assim, muitos comentaristas adotaram uma data recuada; e.g. W. Manson, C. Spicq, H. Montefiore, F. F. Bruce, J. Hring, G. W. Buchanan, A. Strobel.(25) Cf. F . Filson: Yesterday (1967), pgs. 27ss., para uma discusso desta palavra de exortao.(26) Tem sido sugerido que se 13.22 for aceito como sendo o indcio, o alvo

    28

  • INTRODUOno entanto, muita diferena de opinio acerca do que os leitores deviam refrear-se. As vrias sugestes podem ser convenientemente classificadas de acordo com o suposto destino da carta: judaico ou gentio.Sugestes que supem que os leitores eram judeusVisto que o conceito tradicional era que os leitores eram hebreus, comearemos com a explicao tradicional do propsito.27 Esta comea com as passagens de advertncia (principalmente os caps. 6 e 10) e passa a interpretar a Epstola inteira em termos destas. As prprias passagens certamente contm advertncias expressas na maneira mais enftica. O perigo de crucificar de novo o Filho de Deus (6.6) e de calcar aos ps o Filho de Deus e de ultrajar o Esprito da graa (10.29) colocado firmemente diante dos leitores. Diz-se que tais possibilidades ameaam os que cometem a apostasia (6.6). Ao procurar entender a natureza da apostasia, apela-se declarao em 2.3 que fala da calamidade de negligenciar a grande salvao que foi providenciada. Se o arraial em 13.13 for o judasmo antigo, uma sugesto razovel que estas pessoas eram judeus convertidos que mesmo assim mantiveram sua lealdade ao judasmo, e corriam perigo de sentar-se entre duas cadeiras, ou at mesmo de deixar a igreja crist e voltar sua antiga f judaica.Para apreciar a forte atrao do judasmo sobre os cristos que anteriormente tinham sido judeus, deve ser lembrado que o cristianismo no podia oferecer paralelo algum pompa ritual que eles conheciam como costume. Ao invs do Templo, que todos os judeus respeitavam como o centro do culto, os cristos reuniam-se em lares diferentes sem sequer terem um lugar central para suas reunies. No tinham nem altar, nem sacerdotes, nem sacrifcios. A f crist parecia desnudada de quaisquer evidncias do tipo usual de observncias religiosas. No de se admirar que houvesse judeus convertidos que explorassem a possibilidade de apegar-se s duas religies, mormente porque tanto os judeus quanto os cristos apelavam s mesmas Escrituras. Se retivessem a velha enquanto secretamente professavam a nova, possuiriam uma posio social negada queles que fizeram uma transferncia total ao cristianismo. A atrao daessencialmente prtico do autor no seria perdido de vista ao considerar sua discusso do tema do sumo sacerdote. Th Haering: Gedankegang und Grundgedanken des Hebraerbriefs, ZNTW 18 (1917-18), pgs. 145-164, comparou a estrutura de Hebreus com discursos antigos de admoestao. Cf. tambm G. Schille: Die Basis der Hebraerbriefes, ZNTW 47 (1957), pgs. 270-280.(27) Cf. e.g. A. Nairne: Com., pgs. lxxi ss.

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  • INTRODUOapostasia no sentido de voltar a uma lealdade externa ao judasmo teria sido forte para aqueles que achavam difcil enfrentar a oposio resoluta dos seus compatriotas judeus (cf. 10.32), embora estivessem dispostos a isto no incio.Se a situao que acaba de ser esboada for correta, possvel ver o que o escritor da Epstola tinha em mente ao esboar seu argumento. Estava ocupado em assegurar seus leitores que a perda de glrias rituais era mais do que compensada pela superioridade do cristianismo. Sua linha de abordagem era que tudo, na realidade, era melhor um santurio melhor, um sacerdcio melhor, um sacrifcio melhor. Na realidade, visa demonstrar que h uma razo teolgica para a ausncia do velho ritual, por mais glorioso que tenha parecido aos judeus. A f crist declarava um cumprimento completo de tudo quanto a velha ordem esforava-se por fazer. A prpria ausncia do ritual era a maior glria da nova f, porque proclamava sua superioridade sobre a velha ordem. Alm disto, o escritor vai alm disto e sustenta que Cristo era um sacerdote de um tipo diferente da linha arnica, tipificado em Melquisedeque. As passagens de advertncia seriam, ento, uma demonstrao das conseqncias srias para quaisquer pessoas que deliberadamente virassem as costas a este modo superior. Seria a mesma coisa que asseverar a superioridade da religio velha e identificar-se com os que eram responsveis pela crucificao do Filho de Deus. Este modo de entender a apostasia seria suficientemente srio para justificar os termos fortes usados nas passagens de advertncia. Explicaria, tambm, a impossibilidade de restaurao para aqueles que to descaradamente vira- vam as costas s condies melhores da f crist. Em primeiro plano na mente do autor no havia tanto a questo de uma volta ao judasmo quanto a questo da rejeio do cristianismo que semelhante volta acarretaria.Embora, de modo geral, esta maneira de compreender a apostasia fornea um modo razovel de compreender o propsito da Epstola, necessria alguma cautela. Deve ser confessado que as passagens de advertncia nada dizem acerca da apostasia para o judasmo, mas, sim, somente uma apostasia para fora do cristianismo. A interpretao esboada supra depende de uma inferncia tirada da inteno geral da Epstola. , naturalmente, possvel interpretar as passagens de advertncia de modo diferente, embora nenhuma outra sugesto parea estar em to estreita concordncia com o contexto geral.Um desenvolvimento interessante desta opinio tradicional a sugesto de que ex-sacerdotes judeus estavam em mente, sugesto esta que j

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  • INTRODUOfoi notada na discusso sobre o destino da Epstola.28 Que luz lanaria sobre o propsito do autor? Os sacerdotes convertidos imediatamente perderiam a dignidade do seu cargo. Na realidade, tomar-se-iam pessoas sem importncia, depois de terem sido respeitadas por sua posio oficial. Muitos deles devem ter enfrentado a tentao de abrir mo da sua nova f a fim de reter sua antiga posio social. Estariam ainda mais perdidos sem o ritual do que os aderentes comuns do judasmo. Podem ter esperado uma posio superior na igreja crist em virtude da sua antiga posio profissional no judasmo. Para tais pessoas, o tema do sumo sacerdcio de Cristo e a interpretao espiritual do ritual seriam altamente relevantes. De todas as pessoas, estas necessitariam de ser lembradas nos termos mais enfticos das conseqncias de uma volta ao judasmo. As passagens de advertncia, portanto, seriam da mxima relevncia. Se os leitores fossem tentados a pensar que uma religio sem sacerdotes seria inconcebvel, seria a mesma coisa que denegrir o cristianismo ao ponto de pronunci-lo ineficaz. Sua apostasia ameaada seria, portanto, a mesma coisa que voltar suas costas a uma f sem sacerdotes. Mas o desafio do escritor que, a despeito da ausncia de uma linhagem de sacerdotes, o cristianismo no est, na realidade, despojado de sacerdote, porque tem um sumo sacerdote perfeito em Cristo, que infinitamente superior ao melhor dos sacerdotes arnicos.Ainda outra variao na compreenso do propsito da carta, se foi dirigida a judeus, a opinio de que a Epstola foi dirigida a antigos membros da seita de Cunr.29 Um propsito principal seria, portanto, apresentar um mtodo verdadeiro de exegese do Antigo Testamento. Os Pactuan- tes de Cunr eram estudiosos das Escrituras do Antigo Testamento, e muitos dos seus comentrios foram preservados entre os achados de Cunr. Mas tinham seu prprio estilo de exegese que se concentrava em relacionar a restaurao da velha aliana em termos da sua prpria comunidade.30

    (28) Cf. K. Bomhauser: Empfnger und Verfasser des Hebrerbriefes (Gtersloh, 1933); M. E. Clarkson: A T R xxix (1947), pgs. 89-95; C. Sandergren: The Addressees of the Epistles to the Hebrews, EQ 27 (1955), pgs. 221ss. Este ltimo sugere que o ttulo pode originalmente ter sido Aos Sacerdotes que em grego teria alguma semelhana com Aos Hebreus.(29) Cf. C. Spicq: Revue de Qumran i (1958-59), pg. 390. Cf. tambm J. Danilou: Qumran und der Ursprung des Christentums (1958), pgs. 148ss.; H. Braun; ThR 30 (1964), pgs. 1-38; Y. Yadin: The Dead Sea Scrolls and the Epis- tle to the Hebrews, Scripta Hierosolymitana 4 (1958), pgs. 36-53; F. M. Braun: RB 62 (1955), pgs. 5ss.(30) Cf. F. F. Bruce: Biblical Exegesis in the Qumran Texts (Londres, 1960), pgs. 7ss.31

  • INTRODUOPor meio do mtodo conhecido como pesher, esforavam-se por ressaltar a relevncia contempornea do texto do Antigo Testamento, freqentemente com pouca considerao pelo contexto original. A carta aos hebreus no usa este mtodo, porque o autor demonstra a relevncia moderna sem desconsiderar o contexto histrico. Se cristos ex-Cunr estiverem em mente podem muito bem ter necessitado de uma exposio mais verdica do Antigo Testamento baseada na nova aliana em Cristo. Visto que a comunidade de Cunr era essencialmente uma comunidade sacerdotal, a predominncia do tema sumo-sacerdotal nesta Epstola tambm seria inteligvel, assim como seria a referncia aos batismos em 6.2, porque pensa-se que as lavagens rituais formavam parte importante dos procedimentos de Cunr. Apesar disto, h problemas com esta hiptese. Alm da ausncia de quaisquer evidncias que confirmassem a existncia de um grupo de cristos ex-Cunr (embora semelhante grupo no seja impossvel), os paralelos entre Hebreus e a literatura de Cunr no so impressionantes. A ausncia de qualquer discusso acerca da Lei na primeira uma dificuldade principal, porque era destacada entre os Pactuan- tes de Cunr.No cmputo geral, a opinio que postula a ameaa da apostasia, ao judasmo entre certos cristos judeus quer sejam ex-sacerdotes, quer no, geralmente tem mais para recomend-la do que opinies alternativas.31 Porm, uma outra sugesto que ainda conjectura um destino a judeus, mas que no considera que as passagens de advertncia forosamente dizem respeito apostasia ao judasmo, deve ser considerada. a opinio de que os cristos judeus no estavam aceitando a misso mundial do cristianismo. Conforme esta teoria, os leitores estavam pensando em termos do cristianismo sendo essencialmente judaico e no estavam atribuindo importncia alguma ao seu escopo universal. sugerido que este grupo tinha um ponto de vista semelhante quele dos membros mais restritos da igreja de Jerusalm. Talvez quisessem manter contato com o judasmo por razes de segurana, porque o judasmo era uma religio licita. Cortar as cordas da segurana deste ancoradouro e alargar as fronteiras para incluir os gentios introduziria um embarao agudo.O dilema era indubitavelmente real. Seria muito mais fcil insistir que todos os cristos deviam se colocar debaixo da gide do judasmo, as

    (31) William Manson: The Epistle to the Hebrews (Londres, 1951). Cf. tambm W. Neil: Com. F. F. Bruce: Com., pg. xxiv, n. 8, expressa grande simpatia para com a opinio de Manson.32

  • INTRODUOsim como fizeram os judaizantes na Galcia. Aqui, porm, segundo sugerido, a viso da extenso da misso crist era demasiadamente restrita. Alm disto, alegado que foi este conceito demasiadamente estreito que Estvo teve de combater. Certamente h algumas semelhanas entre o discurso de Estvo em At 7 e nossa Epstola, especialmente na abordagem ao ritual feita por ambos. Esta opinio trouxe alguns dados interessantes para a compreenso da Epstola, mas no pode explicar adequadamente as passagens de forte advertncia. difcil perceber como algum descreveria a falta de alargar a mente e adotar a misso mundial como sendo uma nova crucificao do Filho de Deus ou como apostasia. Pode ter feito parte do propsito do escritor urgir a adoo da misso mundial, mas estava a voltas com um problema mais radical do que este.Sugestes que tomam por certo que os leitores eram gentiosA teoria de os leitores serem gentios tem sido inspirada pela crena de que o pensamento helenista foima o fundo histrico principal desta carta. Alguns, no entanto, tambm postulam a influncia gnstica.32Podemos dispensar rapidamente o conceito de que o escritor est combatendo o judasmo especulativo que estava afetando seus leitores gentios. Cercados por muitas idias religiosas, desejariam saber que o cristianismo era sem igual ao oferecer o nico caminho aceitvel a Deus. Para responder a esta necessidade, o escritor apela ao Antigo Testamento para comprovar o carter absoluto do cristianismo, que superior no somente ao judasmo como tambm a todas as demais religies. Mas o problema desta teoria que a Epstola no faz a mnima aluso a qualquer conhecimento de ritos especulativos ou pagos. Realmente, o considervel interesse do autor pelos pormenores do ritual judeu dificilmente se enquadra num auditrio gentio que no tinha contato prvio com o judasmo. A forma.mais aceitvel de semelhante teoria seria supor que os Hebreus eram judeus helenistas.

    (32) Assim J. Moffatt: Introduction to the Literature o f the New Testament, pgs. 44ss.; idem,: Com., pgs. xxiv ss. E. F. Scott: Com., era um defensor firme de os leitores serem gentios. Sustentava que o autor entendia o judasmo erroneamente (pg. 200). Cf. tambm R. H. Strachan: The Historie Jesus in the New Testament (Londres, 1931), pgs. 74ss. A opinio de Moffatt obtm apoio parcial de A. C. Purdy: The Purpose of the Epistle to the Hebrews in the light of Recent Studies in Judaism, Amicitiae Corolla (ed. H. G. Wood, 1953), pgs. 253-264, que, apesar disto, conclui que os problemas por detrs de Hebreus eram normativos no Judasmo no sculo I.33

  • INTRODUOA opinio de que idias gnsticas permeiam a carta e que, com efeito, o autor est combatendo o gnosticismo incipiente tem tido alguns defensores persuasivos.33 Uma das opinies que os leitores pertenciam a uma seita de gnsticos judeus que estavam corrompendo a pura f crist mediante a infiltrao de idias gnsticas. Algumas idias s quais se apelam no argumento podem ser resumidas da seguinte forma breve: a nfase dada aos anjos, que estava solapando a singularidade da obra mediadora de Cristo; a idia da salvao atravs de alimentos selecionados (cf. 13.9), misturada com ensinamentos estranhos; a referncia aos batismos; maus procedimentos deliberados (aos quais, segundo se diz, as passagens de advertncia se aplicam, e refletem a confuso dos valores morais nalguns tipos de gnosticismo, cf. 12.16). Embora alguns destes paralelos sejam vlidos, extraordinrio que o autor se d tanto trabalho para fazer uma exposio da cultura judaica se o alvo principal do seu ataque era o gnosticismo.Uma crtica semelhante pode ser feita opinio de que os captulos trs e quatro so a chave verdadeira a uma compreenso da carta, e que estes captulos devem ser entendidos numa situao gnstica.34 Da, os leitores so vistos como sendo o povo de Deus perambulante, e sua viagem entendida em termos do mito gnstico do redentor. A busca do descanso (katapausis) o alvo principal da salvao. Diz-se que o conceito do redentor em que o prprio redentor deve ser redimido antes de ser autorizado a agir como redentor, e, de modo semelhante, o sumo sacerdote deve ser aperfeioado.35 No h dvida que fazer assim atribuir ao texto da Epstola muito mais do que justificado. Na mente do autor, a perfeio do sumo sacerdote tem relacionamento com sua perfeita obedincia vontade do Pai. essencialmente moral e no mstica.(33) Cf., por exemplo, F. D. V. Narborough: Com., pgs. 20-27.(34) O exponente principal desta opinio E. Kasemann: Das wandemde Gottesvolk (Gottingen, 1939). Kasemann tem sido criticado por no atribuir importncia suficiente cronologia das suas fontes. Outra considerao que o tema do povo peregrino de Deus ocorre somente nos caps. 3 e 4 e dificilmente pode ser considerado central. Kasemann alega um a Gnose pr-crist, mas nem todos concordariam com isto. R. M. Wilson: The Gnostic Problem (1958), distingue entre a Gnose e o gnosticismo, uma distino vlida que insiste que causa confuso falar em gnosticismo do sculo I.(35) Para um conceito diferente do tema da perfeio em Hebreus, cf. A. Wikgren: Pattems of Perfection in the Epistle to the Hebrews, N TS 6 (1960), pgs. 159-167, que considera que, por meio de padres simblicos de perfeio, o autor est apresentando uma filosofia da histria.

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  • INTRODUOMesmo que o tema gnstico seja exagerado nesta teoria, colocar em relevo a importncia dos captulos trs e quatro e o tema do descanso uma introspeco valiosa, que no deve ser olvidada.Outra opinio que algum desvio de um tipo semelhante quele que Paulo combate em Colossos est em mente.36 Este provavelmente era ligado com alguma forma de Gnose, embora no com o gnosticismo desenvolvido. H dois aspectos do desvio colossense que tm seu paralelo nesta carta. Um a estima excessiva dada aos anjos e a necessidade de corrigi-la (cf. Cl 2.18 com Hb 1 e 2). A primeira seo da carta visa demonstrar a superioridade de Cristo aos anjos. O outro aspecto uma nfase exagerada dada lei cerimonial, que pode ser contrastada com a interpretao espiritual do ritual em Hebreus 5-10. Estes aspectos deram vazo sugesto de que Apoio enviou esta Epstola igreja de Colossos antes de Paulo escrever a sua carta com pleno conhecimento daquilo que Apoio escrevera. Embora apoio para um destino colossense seja pouco, a teoria tem algum valor em chamar a ateno a aspectos comuns que provavelmente eram muito divulgados na experincia crist primitiva.Concluindo: inclinar-nos-emos para a opinio de que algum tipo de apostasia para o judasmo est subentendido, mas ser mantido em mente que houve outras correntes de influncia que no podem ser desconsideradas ao interpretar corretamente o pensamento. Se o autor parece obcecado com a interpretao vtero-testamentria, seu interesse por ela mais do que antiqurio. Est ajudando cristos perplexos a descobrirem o sentido verdadeiro do AT, sentido este que para ele se focaliza em Cristo. provvel, no entanto, que tambm est preocupado em demonstrar sua relevncia num mundo influenciado por idias gregas.

    VIII. A SITUAO HISTRICAQualquer escrito fica iluminado quando colocado na sua situao histrica, e necessrio indicar de modo breve o meio-ambiente desta Epstola. J foi indicado que os leitores eram quase certamente cristos judeus. lgico, portanto, notar em primeiro lugar os aspectos que se alinham especimente com um pano de fundo judaico.

    (36) Defendido por T. W. Manson: BJRL 32 (1949), pgs. 1-17.35

  • INTRODUOO Antigo Testamento0 mais bvio destes aspectos a forte influncia do Antigo Testamento sobre o autor.37 No preciso dizer que sua mente estava saturada do pensamento vtero-testamentrio, mas fica claro que seu interesse principal fixava-se no testemunho do Pentateuco. Seu tratamento do ritual d testemunho disto, porque no baseia suas observaes, conforme poderamos ter esperado, nos procedimentos contemporneos do Templo, mas, sim, nos pormenores levticos. Claramente deseja estabelecer uma abordagem crist ao ritual do Antigo Testamento, e acha sua chave no pensamento da superioridade de Cristo, tanto como sacerdote quanto como sacrifcio. At mesmo quando cita os heris da f, tira a maior parte dos seus exemplos do Pentateuco.Apesar disto, a mente do escritor tambm estava saturada doutras partes do Antigo Testamento, especialmente dos Salmos.38 De fato, pode ser dito que o Salmo 110 desempenha um papel-chave no desenvolvimento do seu argumento, fornecendo-lhe, em particular, seu tema de Melquisede- que. Outra passagem importante para ele a seo da nova aliana em Jeremias 31, que cita extensivamente no captulo 8. O modo das suas citaes tambm relevante, porque indubitavelmente considerava autorizado o texto do Antigo Testamento. Toma por certo que aquilo que o texto diz, Deus diz, o que se revela de modo notvel no captulo 1. At mesmo uma frmula vaga como: algum, em certo lugar, deu pleno testemunho para introduzir uma citao do Salmo 8 (2.6ss.) em si mesma uma evidncia de que o autor queria reforar sua discusso da humanidade de Jesus com apoio bblico, embora no especifique o contexto original. O fato de que o texto considerado assim autorizado de importncia vital para uma compreenso correta do argumento e do propsito da Epstola. Se, conforme parece provvel, um dos alvos do escritor esclarecer as dificuldades que os leitores estavam tendo para tomar uma deciso sobre uma abordagem satisfatria ao Antigo Testamento, a prpria Epstola fica sendo um guia til, no somente para seus leitores originais, como tambm para o leitor moderno. Muita coisa que talvez parea irrelevante num exame superficial encaixa-se no seu lugar apropriado quando

    (37) Para um tratamento cuidadoso do uso do AT em Hebreus, cf. J. van der Ploeg: RB 54 (1947), pgs. 187-228. K. J. Thomas: N TS 11 (1965), pgs. 303-325, discutiu o tipo de texto citado em Hebreus e conclui que duas edies diferentes da LXX foram usadas.(38) Cf. S. Kistemaker: The Psalm Citations in the Epistle to the Hebrews (Amsterdam, 1961).36

  • INTRODUOa questo mais geral da abordagem crist ao Antigo Testamento focalizada. Uma pergunta que surge se o escritor sempre trata condignamente o contexto vtero-testamentrio. Alguns j sugeriram que, para ele, o contexto no tinha relevncia alguma, mas isto seria um exagero.39 Certamente aplica o texto do Antigo Testamento s vezes de um modo novo, como quando aplica ao Filho palavras originalmente faladas acerca de Deus (1.8), mas questionvel se pode ser sustentado que o autor desconsiderou o contexto. 0 mesmo se aplica ao desenvolvimento do tema do descanso a partir do Salmo 95 nos captulos 3 e 4. Seria mais correto dizer que nosso autor ressalta o significado estendido e latente do texto original. Semelhante princpio permite-lhe a aplicao do tema de Melquisedeque de tal maneira que parea, num exame superficial, que est baseando seu argumento no silncio da Escritura, ao invs de nas suas declaraes (cf. 7.3).CunrNossa considerao seguinte deve ser descobrir se o tipo de desenvolvimento visto na seita judaica em Cunr tem qualquer relevncia como fonte para esta Epstola. Certos aspectos sugerem uma conexo, tal qual a dominncia da casta sacerdotal em Cunr e a evidncia de que existia algum interesse entre os sectrios no tema de Melquisedeque.40 A comunidade de Cunr tinha algum interesse por anjos, o que talvez sugira uma conexo com os leitores desta Epstola. Mas o interesse por anjos era generalizado entre os judeus do perodo intertestamental. Alm disto, aparece como parte da assim-chamada heresia colossense (Cl 2.18).41 Outro aspecto o interesse extensivo entre os sectrios pela exegese bblica42 e certamente h algum paralelo com o escritor desta Epstola. Visto que os exegetas estavam mais ocupados em aplicar o texto aos seus prprios dias do que ao seu contexto histrico, assim tambm nosso autor tende a ressal-

    (39) Cf. F. C. Synge: Hebrews and the Scriptures (Londres, 1959), pgs. 53,54. (40) Cf. J. A. Fitzmyer: JBL 86 (1967), pgs. 254 1 , que pensa que o tema de Melquisedeque em Cunr talvez explique seu uso na Epstola aos Hebreus. Cf. tambm M. de Jonge e A. S. van der Woude: 1 Q Melchizedek and the NT, NTS 12 (1966), pgs. 301-326.(41) Cf. T. W. Manson: BJRL 32 (1949), pgs. 1-17, que props a teoria de que o escritor aos Hebreus estava respondendo a uma heresia do tipo colossense.(42) Cf. F. F. Bruce: Biblical Exegesis in the Qumran Texts (Londres, 1960).37

  • INTRODUOtar a presente relevncia sem, porm, desconsiderar o contexto. Pode haver alguns paralelos entre o Mestre da Justia de Cunr e Jesus Cristo, mas o escritor desta Epstola no tem dvida alguma de que Jesus superior a todos os outros e , de qualquer maneira, a revelao final de Deus ao homem.43Certo aspecto que talvez tenha aplicao nossa discusso a conjuno entre os aspectos sacerdotal e real do Messias na comunidade de Cunr, embora, segundo parece, no estavam ligados mesma pessoa. 0 Messias sacerdotal de Aro era distinguido do Messias de Israel.44 Como contraste, a apresentao de Jesus em Hebreus de um sacerdote-rei segundo a ordem de Melquisedeque.A comunidade de Cunr observava certos ritos que eram especialmente de natureza purificadora. Este tema da purificao ocorre em Hebreus, mas no vinculado a ritos externos. Na realidade, os leitores so instados a avanar alm das doutrinas elementares tais como as lustraes (batismos, 6.2). Mesmos assim, a idia da purificao est presente, mas aplicada de modo espiritual, conforme demonstra a declarao em 10.22 acerca de coraes sendo purificados de m conscincia. H alguma sugesto de que os ritos purificadores em Cunr talvez tenham sido desenvolvidos como substituto pela cessao do sacrifcio. Uma das razes da localizao da comunidade no deserto da Judia era porque os sectrios ficaram insatisfeitos com as disposies para os sacrifcios no Templo em Jerusalm. No sem relevncia que a Epstola aos Hebreus concentra-se no sacrifcio melhor de Cristo.Tendo em vista tudo isto, h alguma justificativa para a opinio de que a literatura e as prticas rituais de Cunr lanam alguma luz sobre o meio-ambiente ao qual pertencem os leitores desta Epstola, embora seja questionvel se algum contato direto pode ser pressuposto.Filo de AlexandriaH muito tempo tem sido sustentado por intrpretes desta Eps

    (43) H. Kosmala: Hebraer-Essener-Christen (Leiden, 1959), adotou a opinio de que as pessoas endereadas na Epstola aos Hebreus eram ex-membros da comunidade de Cunr. Mas cf. a discusso de F. F. Bruce nesta conexo em To the Hebrews or To the Essenes? , NTS 9 (1962), pgs. 217-232, que conclui que os leitores no eram essnios.(44) Cf. a discusso sobre a esperana messinica em Cunr em F. F. Bruce: Second Thoughts on the Dead Sea Scrolls (Exeter, 1956), pgs. 70-84. No documento de Damasco, o real e o sacerdotal parecem estar combinados (cf. CDC 19. 11; 12.23; 13.1; 14.19; 20.1).38

  • INTRODUOtola que um fio de pensamento importante no pano de fundo o hele- nismo,45 especialmente a variedade do helenismo vista nos escritos de Filo de Alexandria.46 Muita coisa tem sido escrita sobre o relacionamento entre nossa Epstola e os escritos de Filo, e ser possvel oferecer aqui somente um breve resumo dos pontos salientes. Filo como exegeta de m fama pelo seu uso da alegorizao numa tentativa de tomar o texto do Antigo Testamento relevantes para seus contemporneos. Seu alvo nisto era fazer os conceitos principais do seu meio-ambiente grego remontarem a fontes judaicas. Para realizar esta inteno apologe'tica, prestava pouca ateno ao contexto histrico. Ser imediatamente percebido, no entanto, que embora o escritor desta Epstola s vezes se aproxime de uma tendncia alegrica, difere radicalmente de Filo por tratar com seriedade o contexto histrico. A totalidadade do seu argumento cairia por terra se a base histrica fosse negada. Ao discutir a busca dos israelitas pelo descanso, nunca sugere que as peregrinaes no deserto no foram historicamente relevantes e, na realidade, baseia seu argumento no fato de que os israelitas chegaram a desobedecer a Deus e foram excludos da entrada na terra prometida pela descrena .Tanto Filo quanto nosso autor, a despeito dos seus mtodos diferentes de exegese, compartilham de uma alta estima pela Escritura. Os dois usam exclusivamente a verso da Septuaginta e introduzem o texto com frmulas semelhantes de citao. Alm disto, h muitas palavras e frases significantes que aparecem tanto nos escritos de Filo quanto nesta Epstola. A relevncia dos nomes fica clara em Hebreus 7.2 e este um tipo de deduo familiar para Filo. Os dois escritores abundam em anttese tais como o contraste entre o terrestre e o celestial (cf. Hb 8.lss.; 9.23- 24), entre o criado e o no-criado (9.11) e entre o que passageiro e o que permanente (7.3, 24; 10.34; 12.27; 13.14).Esta predileo pela anttese levantou a questo de se nosso autor, como Filo, dependia da teoria platnica das idias. Tem havido uma diferena de opinio sobre a resposta a esta pergunta. Alguns tm sustentado

    (45) Um forte defensor da influncia helenista nesta Epstola era E. Mn- goz: La Thologie de Vpitre aux Hebreux (Paris, 1894). Cf. a discusso sobre este tema por A. M. Fairhurst, TB 7-8 (1961), pgs. 17-27.(46) A obra recente mais completa sobre o relacionamento entre Filo e a Epstola aos Hebreus a de R. Williamson: A Critical Reexamination o f the Relationship between Philo and the Epistle to the Hebrews (Leiden, 1967). Cf. tambm S. G. Sowers: The Hermeneutic o f Philo and Hebrews (Richmond, 1965). C. Spicq tem uma seo sobre o mesmo tema no seu Com. 1, pgs. 39-87.39

  • INTRODUOque esta teoria domina de tal maneira a Epstola que o autor deve ser considerado um judeu alexandrino que aprendeu sua abordagem do contato com o ensino de Filo. Talvez parea, superficialmente, que haja alguns paralelos com a teoria platnica que considera o que visto como irreal, apenas como sombra da realidade por detrs dele. Sem dvida, boa parte da Epstola est ocupada com o conceito de que o cerimonial apenas uma sombra da realidade superior que Cristo, e qual a sombra aponta. Mas questionvel se esta idia remonta teoria platnica. melhor explicada pela convico do autor de que em muitos aspectos Cristo melhor do que a velha ordem um melhor sacerdcio, um melhor sacrifcio, um melhor santurio e uma melhor aliana. A abordagem deste autor mais bblica do que a de Filo, porque est trabalhando com uma chave diferente.No se nega com isto a formao helenstica do autor, mas, sim, afirma-se que ele no chegou sua interpretao atravs da aplicao das idias helenistas. Mesmo assim, sua formao equipou-o a expressar em formas helenistas aquilo que j deduzira da convico crist de que Jesus Cristo era a chave ao entendimento do Antigo Testamento.O pensamento paulinoAinda dentro da nossa discusso do fundo histrico, devemos aplicar-nos ao problema do relacionamento entre esta Epstola e o pensamento paulino. J vimos as razes para rejeitar a opinio de que Paulo foi o autor, mas isto no significa que inconseqente discutir se o autor tem algum contato com a teologia de Paulo, e se sua abordagem pode ser considerada um desenvolvimento da posio de Paulo.

    valioso notar em primeiro lugar os muitos aspectos da teologia de Paulo que so compartilhados pela carta aos Hebreus.47 Certamente a cris- tologia bem semelhante. A pr-existncia de Cristo e Seu papel na criao, que um destaque principal na passagem cristolgica em Colossenses 1.15-17, ressaltada na passagem introdutria em Hebreus 1. Assim como Paulo v Cristo como Aquele que ilumina o crente, assim tambm Hebreus O v refletindo a glria de Deus (cf. 2 Co 4.4 e Hb 1.3).Lado a lado com esta cristologia sublime, tambm achamos uma nfase humilhao de Cristo (Fp 2.7; Hb 2.14-17). Esta combinao notvel de exaltao e condescendncia demonstra que Paulo e nosso escritor chegaram ao mesmo modo de entender a cristologia. Nosso escritor no(47) Cf. H. Windisch: Com., pgs. 128-9.

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  • INTRODUOprocura, assim como Paulo tampouco, explicar o paradoxo; mas no h dvida de que, para ambos, o lado divino e humano da natureza de Cristo era uma convico bsica. Embora nossa carta exponha um aspecto da Pessoa e da obra de Cristo que no ocorre em Paulo, sua cristologia essencialmente a mesma. Ligada com a auto-humilhao de Cristo h a idia da Sua obedincia (Rm 5.19; Fp 2.8; Hb 5.8), que para os dois escritores contrastada com a desobedincia doutros homens.Embora Paulo no trate do assunto de Cristo como sumo sacerdote, retrata Sua obra na figura do sacrifcio, e isto fornece uma ligao importante entre os dois autores (cf. 1 Co 5.7; Ef 5.2; Hb. 9.28). Visto que o sacrifcio desempenha um papel to importante em Hebreus, importante notar que certamente no uma idia exclusiva: pelo contrrio, era compartilhada pela igreja primitiva como uma maneira de explicar a morte de Cristo.Outro aspecto comum entre Paulo e Hebreus a importncia ligada nova aliana (cf. 2 Co 3.9ss.; Hb. 8.6ss.) Os dois demonstram que esta nova aliana melhor que a antiga. Paulo fala do maior esplendor da nova, embora no negue que a antiga tinha um esplendor todo seu. Hebreus, no entanto, um pouco mais franco ao declarar que a antiga obsoleta (Hb 8.13). No h diferena fundamental entre eles acerca da relevncia de uma aliana mediada pelo prprio Cristo.No seu catlogo dos heris da f, o escritor d a primazia a Abrao. J o mencionou anteriormente na Epstola com referncia aos seus descendentes (2.16); com referncia promessa que Deus lhe deu (6.13); e com referncia ao seu relacionamento com Melquisedeque (7.1-10). Uma alta estima semelhante por Abrao achada nas Epstolas de Paulo (Rm 4 .lss.; 9.7; 11.1; 2 Co 11.22; G1 3.6ss.;4.22). Nesta conexo podemos notar que Hebreus s vezes cita passagens do Antigo Testamento que Paulo tambm cita, e.g., os dois citam Salmo 8 (Hb 2.6-9; 1 Co 15.27); Deute- ronmio 32.35 (Hb 10.30; Rm 12.19); e Habacuque 2.4 (Hb 10.38; Rm1.17; G1 3.11).As evidncias supra bastam para demonstrar que a carta aos Hebreus, embora no tenha sido escrita por Paulo, pertence aos mesmos moldes teolgicos. No seria aceitvel forar uma cunha de separao entre eles, nem supor que Hebreus um desenvolvimento posterior do paulinismo. mais verdade dizer que, embora os dois sejam desenvolvimentos distintivos, no esto totalmente divorciados da corrente principal da opinio Crist primitiva.

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  • INTRODUOOutros paralelos no Novo TestamentoResta apenas inquirir se h pontos de contato entre Hebreus e outros livros do Novo Testamento. Alguns tm visto paralelos com a literatura joanina, especialmente com a idia de Jesus Cristo como o intercessor em prol do Seu povo.48 A maioria concordaria que Joo 17 apresenta Jesus em semelhante papel, orando em prol do Seu povo de uma maneira que formaria muito bem um elo com a idia de Jesus o Sumo Sacerdote intercedendo por Seu povo em Hebreus 7.25. H fora nesta comparao, que acrescenta mais peso ao argumento de que Hebreus tem ligaes com as vrias correntes da tradio crist primitiva. No pode ser afirmado com certeza que o autor de Hebreus conhecia o Evangelho segundo Joo, mas no est fora dos limites da possibilidade que tinha conhecimento de uma tradio que conservava pelo menos o fato, seno o contedo, da orao de Cristo em prol dos Seus discpulos. O tema interces- srio ocorre tambm em 1 Joo 2.1-2, onde aparece a idia de Cristo nosso Advogado. parte da literatura joanina, podemos notar, tambm, que h algumas semelhanas entre Hebreus e o discurso de Estvo em Atos.49 Estas tm levado algumas pessoas a concluir que Lucas foi o autor das duas obras. No obstante, parte das questes da autoria, relevante que os dois ressaltam a chamada de Abrao e os dois atribuem importncia a um templo no feito por mos humanas. H alguma concordncia entre Hebreus e Atos 7 na abordagem histria vtero-testamentria e na avaliao dela. luz da discusso supra, pode haver pouca dvida de que Hebreus no pode ser divorciada da corrente principal da literatura neotestament- ria. Nada h para sugerir que os leitores gerais da literatura crist primitiva teriam tido dificuldade com a inteno do argumento desta carta, nem podemos supor que no teriam visto relevncia nele.

    IX. A TEOLOGIA DA CARTANo h dificuldade em localizar os temas principais desta carta, mas no fcil ver como todos se encaixam. Esta a tarefa principal do telogo. basada na suposio razovel de que o autor no misturou uma(48) Cf. C. Spicq: Com. 1, pgs. 109-138.(49) W. Manson: The Epistle to the Hebrews (Londres, 1951), pgs. 184-5.

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  • INTRODUOmassa de temas sem relacionamento entre si, suposio esta que apoiada pela natureza ordeira da disposio literria. Fica claro que planejou cuidadosamente a sua obra. Sempre que digresses ocorrem na seqncia do seu pensamento, no tm licena de interferir com o desenvolvimento principal do seu argumento. Procuraremos descobrir, em primeiro lugar, se h uma idia-chave, que explicaria porque o destaque dado a temas tais como o Filho, o sumo sacerdcio, o sistema sacrificial, e a nova aliana. O que lhes d unidade?Notamos imediatamente na introduo Epstola (1.1-3) que o escritor est insistindo na qualidade definitiva da revelao crist. Tudo quanto Deus tomou conhecido antes agora substitudo por Sua revelao atravs do Seu Filho. O fato de que o escritor imediatamente introduz a singularidade do Filho sugere que no tem certeza, de modo algum, de que seus leitores tm esta convico. Mas no fica imediatamente aparente porque o Filho introduzido a esta altura, e porque somente em 2.9 que Ele identificado como Jesus. Isto no pode ser por acidente, e a razo disto deve fornecer algum indcio para a direo do seu pensamento. No h dvida que a posio de Jesus como Filho desempenha um papel principal na Epstola como um todo, mesmo naquelas partes que se concentram em Jesus como Sumo Sacerdote. Talvez possamos ver a introduo precoce de Jesus como Filho como uma indicao de que atravs dEle que uma nova era nos tratos de Deus com os homens foi inaugurada. Tudo quanto acontecia na antiga aliana agora foi substitudo por uma aliana melhor. So realmente as implicaes desta nova aliana que formam o alvo principal da carta. Tomar-se- aparente que o Filho a figura-chave na inaugurao da nova aliana, o melhor Mediador possvel.O carter do FilhoEm primeiro lugar, exploraremos o carter do Filho conforme Ele demonstrado nesta carta. A apresentao de Cristo indubitavelmente de uma natureza exaltada, conforme fica imediatamente aparente nos versculos iniciais, que no somente introduzem o Filho, como tambm fazem declaraes extraordinrias acerca dEle. Podemos resumir a cristolo- gia de modo conveniente sob trs aspectos: a pr-existncia, a humanidade, e a exaltao do Filho.A pr-existncia do Filho enfaticamente afirmada pelo fato de que se diz que Ele o agente atravs de quem todas as coisas foram criadas(1.2). Ele claramente existia antes da criao material. Antecedeu os perodos sucessivos da histria do mundo (as eras). Esta cristologia exalta

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  • INTRODUOda, portanto, o ponto principal para o argumento da Epstola. O tema da pr-existncia tambm apoiado imediatamente pelo carter do agente na criao como sendo a glria e a imagem de D?us e pelo fato de que Ele continua a sustentar todas as coisas pelo Seu poder. No curso desta Epstola h mais indcios que concordam com este conceito da pr-exis- tncia de Cristo. Na aplicao do Salmo 8 feita pelo escritor em 2.9 h a implicao de que Jesus foi levado a adotar uma posio menor que os anjos que no ocupava por natureza. Em 7.3 Melquisedeque feito semelhante ao Filho de Deus, no vice-versa, que forosamente significa que Cristo era anterior a Melquisedeque. possvel tambm que 10.5ss. d testemunho do fato de que na encarnao um corpo foi preparado para o Filho.Parece evidente que, quando o escritor fala em termos da pr-existncia do Filho, est pensan