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Pg 1 ANÁLISE TEÓRICA DE TERMINOLOGIA ESPECÍFICA APLICADA A INTERVENÇÕES EM FUNDOS DE VALE NO ESPAÇO URBANO DE BELO HORIZONTE/MG Rafael Tavares de Lucena Lotti Vieira [email protected] Universidade Fumec – Faculdade de Engenharia e Arquitetura/FEA Engenharia Ambiental Eliane Ferreira Silva Almeida [email protected] Universidade Fumec – Faculdade de Engenharia e Arquitetura/FEA Engenharia Ambiental Resumo: Esta pesquisa buscou apresentar a polarização dos conceitos avaliados na análise teórica de terminologia específica aplicada em fundos de vale no espaço urbano de Belo Horizonte/MG. A pesquisa propôs uma análise minuciosa com relação à interação entre os conceitos Revitalização, Restauração, Reabilitação e Recuperação, no intuito de identificar a melhor maneira de aplica-los em estudos e projetos, de forma fiel aos parâmetros oriundos do significado original de cada termo. Utilizou-se da revisão bibliográfica como método para conhecer as diferentes contribuições científicas disponíveis sobre os termos propostos, bem como identificar os desvios de identidade ocorridos durante a argumentação dos diferentes autores. Com suporte no panorama construído com os conceitos averiguados, sugeriu-se um arranjo específico para cada terminologia, de modo a abarcar as diversas áreas do conhecimento ao utiliza-las durante escopos de trabalhos. Palavras-chave: revitalização, restauração, reabilitação, recuperação, fundo de vale 1. INTRODUÇÃO Ao longo do processo histórico das cidades o homem sempre buscou melhorar e ampliar o espaço em que vive tornando-o mais aprazível. Neste contexto, chegou-se ao início do século XXI com novas posturas embasadas na busca constante de melhoria da qualidade de vida. Belo Horizonte nas últimas décadas vem passando por inúmeros processos de reordenamento urbano, visto que sua morfologia não condiz com a ocupação atual. As áreas de fundo de vale em meio urbano apresentam ocupação muitas vezes incompatível com a geomorfologia, como é o caso do município de Belo Horizonte, onde estas ocupações geram problemas socioambientais que culminam na busca por readequação deste espaço. Estas iniciativas de reestruturação vêm sendo apresentadas sob o viés de conceitos ambientais que são empregados de maneira equivocada. Engenheiros ambientais, civis, geógrafos e outros profissionais necessitam de um conhecimento mais objetivo dos conceitos “revitalização”, “restauração”, “reabilitação” e “recuperação”, para assim melhor aplicá-los em seus projetos. Desta maneira o presente projeto de pesquisa tem como principal ponto analisar estes conceitos, através de uma revisão bibliográfica criteriosa, formalizando indicadores para cada conceito estudado a fim de aproximá-los do significado original da palavra. 2. OBJETIVO Erguer uma revisão bibliográfica por meio de publicações em variados âmbitos, como engenharia, sociologia, geografia, biologia, arquitetura, perfazendo o maior contingente de conceitos possíveis para garantir a construção do melhor arranjo para as terminologias estudadas. Com o arranjo articulado tem-se a função de clarear o conhecimento sobre as terminologias

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ANÁLISE TEÓRICA DE TERMINOLOGIA ESPECÍFICA APLICADA A INTERVENÇÕES EM FUNDOS DE VALE NO ESPAÇO URBANO DE BELO

HORIZONTE/MG

Rafael Tavares de Lucena Lotti Vieira [email protected]

Universidade Fumec – Faculdade de Engenharia e Arquitetura/FEA Engenharia Ambiental

Eliane Ferreira Silva Almeida [email protected]

Universidade Fumec – Faculdade de Engenharia e Arquitetura/FEA Engenharia Ambiental

Resumo: Esta pesquisa buscou apresentar a polarização dos conceitos avaliados na análise teórica de terminologia específica aplicada em fundos de vale no espaço urbano de Belo Horizonte/MG. A pesquisa propôs uma análise minuciosa com relação à interação entre os conceitos Revitalização, Restauração, Reabilitação e Recuperação, no intuito de identificar a melhor maneira de aplica-los em estudos e projetos, de forma fiel aos parâmetros oriundos do significado original de cada termo. Utilizou-se da revisão bibliográfica como método para conhecer as diferentes contribuições científicas disponíveis sobre os termos propostos, bem como identificar os desvios de identidade ocorridos durante a argumentação dos diferentes autores. Com suporte no panorama construído com os conceitos averiguados, sugeriu-se um arranjo específico para cada terminologia, de modo a abarcar as diversas áreas do conhecimento ao utiliza-las durante escopos de trabalhos. Palavras-chave: revitalização, restauração, reabilitação, recuperação, fundo de vale

1. INTRODUÇÃO

Ao longo do processo histórico das cidades o homem sempre buscou melhorar e ampliar

o espaço em que vive tornando-o mais aprazível. Neste contexto, chegou-se ao início do século XXI com novas posturas embasadas na busca constante de melhoria da qualidade de vida.

Belo Horizonte nas últimas décadas vem passando por inúmeros processos de reordenamento urbano, visto que sua morfologia não condiz com a ocupação atual. As áreas de fundo de vale em meio urbano apresentam ocupação muitas vezes incompatível com a geomorfologia, como é o caso do município de Belo Horizonte, onde estas ocupações geram problemas socioambientais que culminam na busca por readequação deste espaço.

Estas iniciativas de reestruturação vêm sendo apresentadas sob o viés de conceitos ambientais que são empregados de maneira equivocada. Engenheiros ambientais, civis, geógrafos e outros profissionais necessitam de um conhecimento mais objetivo dos conceitos “revitalização”, “restauração”, “reabilitação” e “recuperação”, para assim melhor aplicá-los em seus projetos.

Desta maneira o presente projeto de pesquisa tem como principal ponto analisar estes conceitos, através de uma revisão bibliográfica criteriosa, formalizando indicadores para cada conceito estudado a fim de aproximá-los do significado original da palavra.

2. OBJETIVO

Erguer uma revisão bibliográfica por meio de publicações em variados âmbitos, como engenharia, sociologia, geografia, biologia, arquitetura, perfazendo o maior contingente de conceitos possíveis para garantir a construção do melhor arranjo para as terminologias estudadas. Com o arranjo articulado tem-se a função de clarear o conhecimento sobre as terminologias

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empregadas, proporcionando aos profissionais de interesse firmeza ao definir as intervenções inerentes a cada termo.

3. DISCUSSÃO DAS TERMINOLOGIAS

A variedade de terminologias aplicadas às práticas urbanas evidencia um elenco de metáforas. Acresce-se ao engenheiro ambiental, civil, geógrafo, biólogo e outros profissionais a necessidade de definir com clareza o conceito objetivo de cada termo empregado nos estudos e projetos a que venham participar.

O conhecimento do conceito real da terminologia a ser aplicada é essencial para direcionar as intervenções que serão utilizadas e quais ações são cabíveis para a realização destas. No entanto o que se tem observado é um uso indiscriminado onde não se conhece devidamente o conceito e utiliza-se a terminologia sem saber se realmente esta pode ser aplicada à intervenção desejada.

Ao longo da história surgem terminologias específicas, que são lançadas para arrebanhar características particulares, a fim de constituir um padrão de ações. O padrão de ações de cada terminologia é concebido por indicadores chave, inevitáveis quando na perspectiva de diferenciação dos tipos de intervenção aplicadas aos estudos atuantes.

A começar do ponto onde o processo de renovação urbana, que abrange uma batelada de intervenções físicas e estruturais em prol da sociedade, abre espaço para a aplicação de termos como reabilitação, revitalização e regeneração, procedendo às condutas médico científicas, práticas urbanísticas incorporam a anamnese, remetendo-se a análise inicial. Desta forma reconhecem o valor da história na cidade e do homem como ser cultural. Esta prática passa a ser identificada na construção das próprias terminologias, que apontam para “voltar a” – refazer uma relação temporal.

O prefixo “re” passa a ser aplicado nas novas definições, representando referências no manifesto a identidade. O “re” é uma estratégia que considera a inclusão do Tempo na análise do Espaço, sem, contudo, explicitar um significado ou metodologia para tal.

Assim surgem as imprecisões de definição e da própria metodologia a ser adotada. Misturam-se os conceitos, pois esses foram transportados de um campo de conhecimento para outro. Concomitantemente, o poder púbico e as classes dominantes colaboram para essa confusão, legitimando novos termos para manter o privilégio de definir que culturas devem ser selecionadas e valorizadas.

Panorama dos Conceitos Encontrados

As intervenções urbanas visam programas e projetos que são pertinentes à reestruturação, requalificação ou reabilitação funcional e simbólica de regiões ou edificações de uma cidade. A intervenção define-se sobre uma realidade preexistente, que possui características e configurações específicas, com o objetivo de retomar, alterar ou acrescentar novos usos, funções e propriedades e promover a apropriação da população daquele determinado espaço.

A proposta de intervenção pode ter natureza pontual, estar ligada a estruturação do espaço, inclusão social, revitalização econômica e preservação do patrimônio cultural. As intervenções levam em consideração instrumentos como a economia, a vida social, jurídico e institucional, não apenas um make-up nos centros urbanos (VARGAS e CASTILHO, 2006). A intervenção sintetiza-se como uma cirurgia numa região que necessita de reestruturação, soberano ao motivo da mesma.

Algumas intervenções urbanísticas são planejadas com o intuito de restauração ou requalificação de espaços públicos, como as conhecidas revitalizações de centros históricos. Outras objetivam transformações nas dinâmicas sócioespaciais, redefinindo funções e projetando novos atributos.

Os modelos de intervenção aplicados no século XX adotaram práticas urbanísticas que fortaleceram a economia, a vida social e cultural de áreas degradadas e decadentes. Estas intervenções tinham o objetivo de dar nova vida aos lugares. Com o crescimento do centro urbano,

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a falta de acessibilidade, a decadência e o abandono da área, este se degradou, desta forma tornou-se fonte e área de estudo para aplicação de usos requalificados.

Esta degradação pode ser observada por meio dos vazios urbanos e construções abandonadas, muitas vezes localizadas em lugares privilegiados da cidade (JANUZZI, 2006). Assim esta melhoria do espaço, ou seja, o processo de intervenções passou por três períodos: o Embelezamento Urbano a Renovação Urbana e a Revitalização Urbana (JANUZZI, 2006).

A revitalização urbana teve inicio com modelos na metade do século XX, buscando o fortalecimento econômico, social e cultural de áreas decadentes, dando-as nova vida. Nos projetos são adotadas atividades como comércio, serviço, lazer, cultura, turismo, habitação e outros. Preocupou-se também com a vitalidade, os problemas de infraestrutura e com as edificações que deveriam ser preservadas (Januzzi, 2006).

A revitalização é um tipo de operação que auxilia na vida econômica e social de uma cidade. Intervenção esta que implica no retorno a vitalidade, porque gera novas atividades e as diversificam, além de atrair pessoas a estes locais através da valorização da cultura local (VASCONCELOS e MELO, 2006; VAZ e SILVEIRA, 2006).

A restauração pode ser considerada uma forma de preservação que devolve o patrimônio ao seu estado original, fazendo-se necessário todo o levantamento da estrutura atual e de como era no passado (FERRARI, 2004).

O significado íntegro de todos estes conceitos é importante para diferenciar os tipos de intervenções e deixar claro o objetivo de cada uma delas e seus benefícios. Para este entendimento é necessário reunir indicadores que estabeleçam as diferenças que determinem a gama de modificações/transformações que são cabíveis ao projeto.

A revitalização é uma das formas de intervenção mais utilizadas em centros urbanos ou áreas centrais. Engloba todo o espaço, preocupa-se com o cultural, o social, com a infraestrutura e com os equipamentos urbanos.

A revitalização consiste na reestruturação de um conjunto urbanístico ou obra arquitetônica, ou seja, na série de trabalhos que visam revitalizar – dar nova vida – ou reabilitar – dar nova habilidade a determinada obra que se encontra em deterioração ou mesmo desuso. Para tanto, permite-se reformular componentes – elementos constituintes-, associar novas funções e acrescentar intenções ao projeto, desde que se mantenha total ou parcialmente o caráter original (CASTENOU NETO, 1992).

Destaca-se a presença do termo “reabilitar” durante a definição do autor supracitado, indicando que as funções incorporadas à terminologia, podem ser transferidas e agregadas em intervenções do âmbito da “revitalização”, como mostra a Figura 1.

Figura 1 – Atribuições entre os termos reabilitação e revitalização

Revitalizar

Reabilitar

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Jorge Augusto Callado Afonso (2011), abordou em sua dissertação os termos

renaturalização e revitalização de rios urbanos, chamando a atenção para sustentabilidade nos processos:

“A revitalização consiste na preservação, conservação e na recuperação ambiental dos rios, por meio de ações integradas que proporcionem a melhoria da qualidade da água para os usos múltiplos, bem como a melhoria das condições ambientais e o uso sustentável dos recursos naturais (AFONSO, 2011 apud MMA FNMA, 2005).”

Assim, nesta abordagem observa-se que o conceito de revitalização abarca os conceitos de recuperação, preservação e conservação sob o viés da qualidade.

A orientação técnica da Semad/Serla (2001), em relação ao manejo de rios retificados em áreas rurais e rios e córregos em áreas urbanas, estabelece a abordagem definida como revitalização, a qual consiste em “melhorar a situação ecológica do rio com um conjunto de medidas”, como mostra a Figura 2.

Figura 2 – Parâmetros para orientação das ações plausíveis de acordo com a Semad/Serla

Outros autores como Ernesto Moeri (Instituo Ekos Brasil), Rodrigo Coelho (CSD-

GEOKLOCK), e Andreas Marker (GTZ – Agência Alemã de Cooperação Técnica), definem a revitalização como uma técnica de remediação que abarca o gerenciamento e a recuperação:

“A revitalização sustentável de áreas degradadas consiste no gerenciamento, recuperação e revitalização dessas áreas para uso benéfico, de modo que assegure a realização e contínua satisfação das necessidades humanas das gerações presente e futuras, de maneira ambientalmente responsável, economicamente viável, institucionalmente saudável e socialmente aceitável dentro de um contexto regional específico.”

Novamente depara-se com a relevância para as práticas sustentáveis dentro do rol de

definições para o termo revitalização, podendo-se entender que uma das funções da revitalização é promover a sustentabilidade.

Nos processos de intervenção urbana, inspirados pela ideia de revitalização, assume-se a necessidade de recomposição da mistura de atividades e de uma maior diversificação etária, cultural e econômica da população residente ou ativa, de áreas mais alargadas e, como tal, mais heterogêneas em termos históricos e estéticos, ou seja, um contexto com maior interação entre o espaço e o ser, reconstruindo a vida do local (Portas, 2003).

O conceito de revitalização aplica-se tanto ao entendimento de intervenções de recuperação de âmbito pontual, conforme ocorre nos edifícios, quanto àquelas de âmbito mais geral, que se referem à reabilitação das estruturas sociais, econômicas e culturais locais, com o objetivo de

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melhorar a qualidade global dos contextos de intervenção (AGUIAR, 1993). Portanto em termos espaciais não já uma diferenciação que se possa fazer.

A perspectiva de revitalização propõe novos usos ao espaço edificado, ou melhor dizendo, uma reutilização do mesmo que também se relaciona com uma perspectiva de requalificação para alguns autores.

Entenda-se por requalificação um conjunto de intervenções múltiplas com o intuito de valorizar as potencialidades sociais, culturais, econômicas e funcionais dos contextos de intervenção, melhorando as condições do espaço, de forma a promover a qualidade de vida..

Em meio aos termos que são identificados englobados nas definições das terminologias em análise, percebe-se a preocupação com a identidade, onde as funções do termo aplicado cingem as características culturais e históricas da região.

Segundo a arquitetura todo objeto arquitetônico possui um caráter, que é derivado de um conceito precedente, ou melhor, das ideias, intenções, preocupações e significações as quais o arquiteto buscou priorizar e seguir. O caráter de um edifício é igualmente originado do espírito de uma época, dos valores de uma sociedade, das ressonâncias de uma moda ou inclusive de um empenho individual e criativo de seu autor.

Neste sentido a arquitetura utiliza o termo “restaurar” ou invés de “revitalizar”. Para esta área do conhecimento, dentre os termos analisados, o que mais perfaz o sentido de incorporar as marcas históricas aos procedimentos da intervenção, é “restauração”, onde esta terminologia registra divergências quanto ao ponto de retorno para desenhar a intervenção.

A restauração consiste em recuperar uma obra, o que pode acontecer de dois modos: fazendo uma “reversão” ao estado original, pressupondo uma reconstituição histórica, ou aplicando uma “intervenção” da obra em si, respeitando, entretanto seu caráter, função e forma.

Como se pode observar na Figura 3, quando um projeto de restauração define aplicar a “reversão” ao estado original, tem-se um ciclo fechado, onde as características originais da obra ou espaço sempre retornam após sofrerem alterações e ou transformações.

Ao optar por fazer uma “intervenção” na obra ou espaço de análise, o ciclo que garante o retorno das características originais inicia-se após determinadas alterações e ou transformações. Nesta perspectiva de retardo temporal do início do ciclo de retorno das características, parcelas destas se perdem, indicando restaurações de referência a um determinado período ou época específica.

Reversão Intervenção

Figura 3 – Esquemas de restauração para a área da arquitetura

Ainda no contexto arquitetônico, restauração trata do conjunto de trabalhos de regeneração de uma ou mais edificações de importância histórica, cujo resultado deve refletir as condições reais em que tais obras eram utilizadas. Diligentemente associado à conservação e eventualmente à reconstrução, o ato de restaurar equivale a manter o caráter, a forma e a função original da obra.

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Um exemplo clássico é a arqueologia que é uma fonte indispensável na restauração, tanto da paisagem como da obra arquitetônica, sendo que um dos cuidados que se deve ter é com o risco de embelezamento do passado. Dessa forma idealiza-se a restauração de maneira que uma vez infligido a intervenção a atividade não recorrerá a pontos diferentes da história para lançar características do projeto.

Durante o processo evolutivo as tendências modistas de intervenção foram alteradas e por vezes influenciaram arquitetos a buscar suporte para exercer restaurações em posições distintas da história. Tais restaurações afastaram-se das propriedades originais da obra, ou seja, intervenções restaurativas que se remeteram às orientações incidentes no período que foram realizadas.

A restauração é uma operação de caráter excepcional, aplicada somente em edifícios ou conjuntos particularmente prestigiados. Obedece a rigorosos preceitos que visam a “... colocar a obra em eficiência, facilitar sua leitura e transmiti-la integralmente ao futuro...” (Carta Italiana dei Restauro, 1972).

Na Carta de Veneza (1964), encontram-se definições com o significado amplo: “A conservação implica em uma atividade permanente” (art. A) e “a restauração é uma operação excepcional” (art. 9), sendo a restauração um caso limite de conservação (DIAZ BERRIO Y ORIVE, 1974). Ao deparar-se com o termo “conservação” nas definições da terminologia “restauração”, percebe-se que o sentido das palavras é dissemelhante, todavia a terminologia “restauração” dota-se de características que para serem garantidas tornam-se necessárias ações de caráter da “conservação”. A inquietude em fazer “durar” os atributos de uma obra ao restaurá-la, pode ser associada à prática da conservação.

A Carta Italiana propõe a seguinte consideração sobre a terminologia “restauração”: “São proibidas remoções ou demolições que cancelem a passagem da obra através do tempo, salvo limitadas alterações deturpantes (Carta dei Restauro, 1972, art. 6, item 2).”

A Salvaguarda é qualquer providência conservativa que não implique a intervenção direta sobre a obra, portanto bastante semelhante ao conceito de preservação. A restauração pode ser considerada uma espécie de preservação que devolve o patrimônio ao seu estado original, fazendo-se necessário todo o levantamento da estrutura atual e de como era no passado (FERRARI, 2004).

Na área ambiental tem-se novos entendimentos para os termos. Para o pesquisador Luiz Carlos da Silva (LAGESOLOS/IGEO/UFRJ), no que concerne a manejo de rios degradados, a restauração consiste no restabelecimento das funções aquáticas e das características físicas, químicas e biológicas próximas às existentes antes ao distúrbio. Frequentemente a restauração requer um ou mais dos seguintes processos:

• “Reconstrução das condições físicas, hidrológicas e morfológicas antecedentes; • Ajuste químico do solo e da água, manipulação biológica, incluindo revegetação e reintrodução de espécies nativas ausentes ou daquelas que se tornaram inviáveis pelos distúrbios ecológicos (SILVA, 2010).”

Nesta forma de manejo os danos ecológicos aos recursos são reparados, a estrutura e as funções do ecossistema são criadas, constituindo-se no ato de retomar o ecossistema a uma condição mais próxima daquela anterior ao distúrbio.

Entende-se que a condição que permite o reestabelecimento das funções aquáticas às características “próximas” as existentes antes do distúrbio, suporta-se na dificuldade em devolver uma paisagem natural nas suas circunstâncias legítimas. Por vezes encontra-se a definição do termo restauração como o completo e inviolável retorno à situação em que o ambiente foi formado. Desta forma projeta-se a dificuldade em estabelecer intervenções do âmbito da restauração em ambientes naturais, que por diversos fatores não proporciona o retorno completo de um sitio a exata configuração demonstrada nos primórdios.

Para Jorge Augusto Callado Afonso a renaturalização e revitalização de rios urbanos, restauração consiste na recuperação das condições sustentáveis de um rio e de suas funções e serviços ecossistêmicos, depois de constatadas alterações naturais ou antrópicas que venham a

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afetar a sua estrutura e impedir o seu restabelecimento (FIRSWG, 2001). Já restauração ecológica consiste na recuperação de um ecossistema degradado, considerando os seus aspectos naturais e a respectiva integração dos seus fatores bióticos e abióticos (SOCIETY FOR ECOLOGICAL RESTAORATION, 2004).

As ações indicadas para garantir as peculiaridades identificadas na terminologia “restauração”, quando em ambientes complexos que fogem a um objeto restrito, como uma obra ou edifício, são dificilmente estabilizadas por algum padrão. A batalha em estabelecer ações padrão surge em função da dinâmica dos organismos presentes no ambiente, que se comportam a partir da configuração de outros infinitos fatores, que se alteram com uma frequência rápida o suficiente para impedir mensurações.

Com a impossibilidade em indicar quantidades para o perfil almejado pós-restauração, profissionais utilizam indicar qualificações, que visam equilibrar a dinâmica natural para que ela não promova degradações. Ressalta-se o caráter globalizado do presente estudo, que visa abranger as mais diversas áreas de aplicação das terminologias. Desta forma observando o termo “restauração” não é aconselhável sua utilização para intervenções em ambientes complexos.

A plea for the Faithful Restoration o four Anciete Churches (“Um Apelo para a Restauração Fiel de Nossas Igrejas Antigas”), completado em 1864 com um código de restauração com vinte pontos, “General Advice to Promotors os Ancient Buildings” (“Conselho Geral para Promotores de Edifícios Antigos”, publicado em 1864-1865 in Sessional Papers of the Riba (“Sessão de Documentos do Riba”). A ideia central (pretensamente conservadora) é fazer que os edifícios voltem ao seu estado inicial. Para isso é preciso suprimir, corrigir, inventar, só conservar as restaurações anteriores se não estiverem “deslocadas”; Conforme J.Fawcett, op, Cit.

Através dos vários pareceres encontrados a respeito das terminologias, surge uma série de indicadores que aproximam as várias peculiaridades de cada terminologia a um viés da concepção do termo “Recuperação”, tornando-o amplo e emaranhado de interpretações.

A Lei n° 9.985 de 18/07/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidade de Conservação, visa regulamentar o art.225, § 1°, incisos I, II, III e IV da Constituição Federal, incluído em seu rol de definições, o processo de recuperação foi descrito legalmente como restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original (Diário Oficial, 19/07/2000). “A recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sitio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano pré-estabelecido para uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do meio ambiente (Dec. Federal 97.632/89, art. 3º).”

Desta forma o ambiente degradado terá condições de desenvolver uma nova paisagem, seja ela semelhante ao layout anterior ao distúrbio ou uma atualização para uma forma de utilização diferente da inicial, desde que ambas as configurações sigam incessantemente o plano de uso do solo regulamentado.

Retorna-se a Revista Brasileira de Geografia Física/UFPE, do autor anteriormente citado Luiz Carlos da Silva, para relacionar a definição do termo “recuperação” de acordo com o manejo de rios degradados. Coloca o termo recuperação quando se emprega primeiramente no sentido de devolver boas condições ou funcionamento de um corpo hídrico. Na sua aplicação mais elementar destina-se à obtenção de melhorias de natureza visual de um recurso natural.

O então autor, na sequência em sua publicação na revista Brasileira de Geografia Física/UFPE, levanta o alcance de cinco objetivos para definir a recuperação de um curso d’água:

1. “Restabelecimento do nível natural da qualidade da água; 2. Restabelecimento da dinâmica sedimentar e do regime de fluxo natural, incluindo as flutuações sazonais, como também os padrões de enchentes anual e decenal; 3. Restabelecimento da geometria natural do canal e da sua estabilidade; 4. Restabelecimento da comunidade de plantas ribeirinhas naturais;

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5. Restabelecimentos das plantas e animais aquáticos nativos, salvo caso de colonização/repovoamento espontâneos. 6. Aponta ainda dois fatores que implicam no inaudito em alcançar esta forma de manejo: 7. Frequente impossibilidade de se estabelecer como eram as condições originais do rio; 8. Fato de estes tratamentos implicarem em modificações nos aspectos físico e biológico do rio, como a forma do canal, comunidade biológica, de maneira que eles repitam o estado original (SILVA, 2010).”

No Brasil, Cunha (2003), por sua vez, conceitua como recuperação o manejo de um rio ou do ecossistema fluvial que implica no retorno deste às condições anteriores ao distúrbio, consistindo na estabilização do desenvolvimento de habitat e colonização a uma taxa mais rápida que a dos processos naturais físicos e biológicos. Assim, além da perspectiva integradora do projeto sustentável de recuperação, esta intervenção considera aspectos hidrológico e ecológico, qualidade da água e estética.

Nota-se, portanto, que no contexto de manejo de rios degradados o termo “recuperação” aproxima-se da definição de “restauração”. Esta associação pode ser entendida ao recorrer às determinações do plano de uso do solo para a região marginal de corpos hídricos. Determinações que implicam na conservação da condição original da paisagem. Sendo assim uma intervenção recuperativa em áreas ciliares, atendendo aos requisitos do plano de uso do solo, será de caráter restaurativo, todavia o termo restauração apresentar conflitos quando aplicado em ambientes que possuem uma dinâmica complexa de organismos, como áreas naturais.

Para Azevedo (1987), a recuperação é uma intervenção destinada a eliminar a obsolescência física e funcional de uma obra e permitir seu pleno uso social, evitando sua disfunção, abandono e consequentemente destruição.

No trabalho apresentado a Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra em dezembro de 2007, pela então estudante Janete Dione Faria Alves do curso de Sociologia, com o título “Reabilitação de Centros Históricos”, cita-se o termo recuperação como uma intervenção que tem por objetivo “... adaptar às novas condições de vida das populações, beneficiar...” (apud ALVES, 2007).

Percebe-se o relacionamento da terminologia “Recuperação” com a terminologia “Reabilitação”, onde no conceito supramencionado identificam-se ações no âmbito de adaptar/amoldar e beneficiar, que podem ser associadas como funções do termo reabilitar, que tem como objetivo principal dar nova habilidade/função.

Análogo à associação do termo “recuperação” ao termo “restauração” se tratando de manejo de rios degradados, assume-se a premissa que em intervenções em centros urbanos o termo “recuperação” agrega-se com o sentido da revitalização, que por sua vez apresenta-se com a função de “...dar nova vida, animação da função inicial, modificação da função inicial...” (SANTOS e SANTOS, 1989).

O uso do solo é uma combinação de um tipo de uso/atividade e de um tipo de assentamento/edificação. O uso do solo assim admite uma variedade de intervenções tão grande quanto as atividade da própria sociedade. Ao intervir em uma área dando-a condições de retornar a uma configuração não degradada ou restaurar uma nova forma de utilização, que a defina como não degradada, a torna objeto associado à recuperação. Para que se configure “recuperação” esta intervenção deverá seguir o plano de uso e ocupação do solo da então região estudada.

No seminário na UNESP Rio Claro em 2006, sobre “Recuperação de Áreas Degradadas” o professor da Escola Politécnica da USP apresentou um esquema conceitual para recuperação de áreas degradadas.

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Figura 4 – Esquema conceitual de RAD

Observa-se que no esquema apresentado pela Figura 4, que o processo de recuperação

supõe alternativas que indicam intervenções do tipo “restauração” e “reabilitação”. Compreende-se que o termo recuperação é apresentado se assemelhando a uma espécie de matriz. Esta matriz tem como filiais as terminologias restauração, revitalização e reabilitação. Por sua vez estas filiais exercem atividades em nome da matriz. Pode-se exemplificar criando indicadores nas nomenclaturas das intervenções: “recuperação-restaurativa”, “recuperação-revitalizadora” e “recuperação-reabilitativa”.

Tais associações são percebidas em autores como Choay e Merlin, onde reabilitar significa restabelecer os direitos. Na jurisprudência “é a ação de recuperar a estima e a consideração” (CHOAY e MERLIN apud VARGAS e CASTILHO, 2006, p.58).

Também para Duarte (2005, p.02), a reabilitação constitui um processo integrado de recuperação de uma área urbana que se pretende salvaguardar, implicando no restauro de edifícios e na revitalização do tecido econômico e social, no sentido de tornar a área atrativa e dinâmica, com boas condições da habitabilidade.

Percebe-se que o então autor estabelece a reabilitação com uma atividade do processo de recuperação, podendo ele ser aplicado a centros urbanos, periferias ou em ambientes rurais. Aproxima-se dos indicadores de “restauração” quando se trata de intervenções físicas em edificações e aponta o conceito de “revitalização” para exercer funções sociais, pois este se aplica em áreas decadentes.

Surge então o termo requalificar. Segundo Duarte (2005, p.02), a requalificação engloba processos de alteração em uma área urbana para dar-lhe uma ou mais funções, dissemelhantes das antecedentes. Sendo que uma intervenção pode ter, ao mesmo tempo, um caráter de renovação e requalificação.

Observa-se que os termos “renovação” e “requalificação” desorientam-se com o conceito de “revitalização”. De acordo com a Carta de Lisboa, entende-se que a revitalização aplica-se em áreas da cidade que se encontram em decadência/deterioração. Para Diaz-Berrio e Orive (apud VARGAS e CASTILHO, 2006), o termo reabilitação vinha consolidando-se até se configurar como um dos aspectos fundamentais da conservação e, no texto da Convenção da Unesco de 1972, substituiu praticamente o termo restauração, aplicado tanto em arquitetura como em urbanismo.

No entanto, após a análise de vários conceitos, concluiu-se que a associação demonstrada entre os termos “reabilitação” e ”restauração” posicionou-se desconexa às avaliações realizadas durante este estudo, onde não se observa a obrigação de retorno íntegro às condições

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originais quando se utiliza a terminologia “reabilitação”, peculiaridade que se enquadra no termo “restauração”.

4. TERMINOLOGIAS ADOTADAS

Diante do panorama traçado para correlacionar as terminologias e suas características particulares, percebe-se o embróglio em que as mesmas são colocadas. Em função de diversos fatores, a construção histórica dos conceitos aplicados aos termos foi recebendo contribuições distintas, sem uma significativa preocupação em associar e compatibilizar os atributos lançados para cada termo, a fim de estabelecer um padrão típico de cada terminologia.

A fim de aprofundar o significado dos termos revitalização, restauração, recuperação e reabilitação, e as correlações destes com a metodologia do projeto, propõe-se analisar os indicadores do significado, sem, contudo, qualquer pretensão de esgotar o assunto. Enfim adotam-se os seguintes conceitos para as terminologias. Revitalização

Intervenção que salienta a proposta de dar nova vida a áreas decadentes. Tem por objetivo retornar a vitalidade, esta que se define como dinâmica funcional das estruturas econômica e social. Geram novas e diversificadas atividades em função de relançar a atração da sociedade. Preocupa-se em manter as características culturais da região da intervenção, porém não garante o retorno à configuração inicial íntegra. Funções aplicáveis à terminologia: Retorno à Atratividade - novas funções/atribuições, avaliação do contexto histórico/cultural, apropriação do objeto/espaço pela comunidade. Indicadores das características do objeto/ambiente para a aplicação da terminologia: Área/objeto em Decadência - desuso, deterioração, degradada.

Restauração

Termo que se remete integralmente à ideia da anamnese. A restauração é uma intervenção de caráter único e não condiz com aplicações em pontos temporais diferentes, baseado no risco de embelezamento das reais características do objeto/ambiente de intervenção. Objetiva o retorno à condição original. Funções aplicáveis à terminologia: Retorno à Configuração Original - reversão da situação atual para a situação original, integração completa do contexto histórico/cultural, transmissão de informações do objeto/espaço para comunidade. Indicadores das características do objeto/ambiente para a aplicação da terminologia: Área/Objeto em Desacordo com a Configuração Original - desuso, deterioração, degradada, deformada.

Reabilitação

Incube-se o preceito de fazer uma nova qualificação para o objeto de intervenção, ou seja, uma nova habilidade. Vem na tarefa de valorizar as potencialidades sociais. Prevê ações de retorno às condições originais do sítio construído, desde que esta situação promova benfeitorias às circunstâncias encontradas. Coloca a instalação de novos equipamentos para formalizar a atração da população. Dinamiza a rotina da área com o funcionamento da habitabilidade, mantendo a identidade e as características da região da cidade a que dizem respeito. A intervenção que vem em caráter da reabilitação tem o objetivo de beneficiar um objeto/ambiente para uso da população. Funções aplicáveis à terminologia: Acepilhar do Objeto/Ambiente - intervenção da situação atual para a situação original se viável, integração do contexto histórico/cultural como indispensável na qualidade de vida, facilitação do acesso/interesse da população para com o objeto/ambiente de intervenção. Indicadores das características do objeto/ambiente para a aplicação da terminologia: Área/Objeto de Intervenção com Vistas a Incrementos Culturais, Sociais e Econômicos - área/objeto apto à apropriação/uso diferenciado para o futuro.

Recuperação

Entende-se recuperar a título de posse, ou seja, retomar o domínio. Retomar a posse de uma condição não degradada para o objeto/ambiente de intervenção. Devem-se considerar as atividades previstas em conformidade ao uso legal demonstrado através de regulamentações como

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plano de uso do solo. Sua principal função é enquadrar o objeto/ambiente de intervenção ao uso permitido para aquela área, que pode ser identificado em registros oficiais utilizados como ferramenta de baliza. Assim a recuperação deve restituir um ambiente degradado a uma configuração não degradada, seja ela semelhante ou distinta da anterior, sem desconsiderar o que é previsto legalmente. Funções aplicáveis à terminologia: Enquadramento ao Uso Legal Permitido - novas funções/atribuições, avaliação do contexto histórico/cultural, apropriação do objeto/espaço pela comunidade, transmissão de informações do objeto/espaço para comunidade, intervenção da situação atual para a situação original se viável, integração do contexto histórico/cultural como indispensável na qualidade de vida, facilitação do acesso/interesse da população para com o objeto/ambiente de intervenção. Indicadores das características do objeto/ambiente para a aplicação da terminologia: Área/Objeto em desacordo com regulamentação de uso legal permitido - desuso, deterioração, degradada, deformada, abandonada, apenas fora da regulamentação.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O correto uso de cada palavra ou termo em sua aplicação em projetos e estudos é indispensável para o planejamento operacional e a garantia de que cada etapa das atividades seja executada de forma condizente aos seus reais significados e objetivos.

Ao deliberar qualquer tipo de ação em função da aplicação de uma terminologia, induz a intenção de exprimir um padrão de indicadores que vão nortear as tomadas de decisão a respeito da condução das etapas e configurações que serão adotadas. Ou seja, cada palavra possui características responsáveis por aferir ou restringir determinadas práticas.

Um objeto/ambiente de intervenção conta com um conjunto de programas que tem a função de alterar/transformar sua condição atual para uma nova configuração, que é determinada de acordo com as necessidades e almejos de quem realiza a intervenção.

Desta forma há uma série de procedimentos que devem ser adotados para correlacionar as características do objeto/ambiente de intervenção com as necessidades e almejos do interventor. Ao construir este tipo de relação, estabilizando os interesses do agente da intervenção com as características do objeto ou área de intervenção, é possível determinar quais serão as modificações introduzidas e como serão realizadas. A partir deste arranjo torna-se necessário um planejamento para que as atividades ocorridas sejam sempre fiéis à relação estabelecida a priori.

Percebe-se que ao buscar os diversos âmbitos de aplicação das terminologias em questão é factível traçar um panorama onde se capta com clareza as marcas culturais de cada uma. Estas marcas culturais são as contribuições advindas do momento de surgimento do termo até a atualidade, que são provenientes dos acontecimentos relevantes da história, responsáveis por consolidar qual o real significado de cada nomenclatura.

A partir deste panorama concedeu-se a facilidade em analisar com destreza os significados e as ações passíveis de cada termo proposto. Com essa feição tem-se um layout, Figura 5, onde os resultados esperados são concordantes à nomenclatura de projeto e termos utilizados durante as atividades propostas pelo estudo.

Figura 5 – Esquema conceitual de RAD

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É importante aos profissionais que se envolvam no ambiente das intervenções, o conhecimento e domínio das palavras que utilizam, pois é a soberana condição para desenvolver práticas coniventes às afirmações aplicadas durante a etapa de estudos.

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