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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS ANÁLISE FITOQUÍMICA E ATIVIDADE LEISHMANICIDA DE FRAÇÕES DE SEMENTES DE ANNONA MURICATA L. (ANNONACEAE) DE UM CULTIVO EM TOMÉ-AÇU, PARÁ THIAGO FREITAS SILVA BELÉM PA 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

ANÁLISE FITOQUÍMICA E ATIVIDADE LEISHMANICIDA DE

FRAÇÕES DE SEMENTES DE ANNONA MURICATA L.

(ANNONACEAE) DE UM CULTIVO EM TOMÉ-AÇU, PARÁ

THIAGO FREITAS SILVA

BELÉM – PA

2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

ANÁLISE FITOQUÍMICA E ATIVIDADE LEISHMANICIDA DE

FRAÇÕES DE SEMENTES DE ANNONA MURICATA L.

(ANNONACEAE) DE UM CULTIVO EM TOMÉ-AÇU, PARÁ

Autor: Thiago Freitas Silva

Orientadora: Prof.ª Dra. Alaíde Braga de Oliveira

Co-orientadora: Prof.ª Dra. Maria Fâni Dolabela

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, área de concentração: Fármacos e Medicamentos, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Mestre em Ciências Farmacêuticas.

BELÉM – PA

2017

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ANÁLISE FITOQUÍMICA E ATIVIDADE LEISHMANICIDA DE

FRAÇÕES DE SEMENTES DE ANNONA MURICATA L.

(ANNONACEAE) DE UM CULTIVO EM TOMÉ-AÇU, PARÁ

FOLHA DE APROVAÇÃO

Thiago Freitas Silva

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, área de concentração: Fármacos e Medicamentos, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Mestre em Ciências Farmacêuticas.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof.ª Dra. Alaíde Braga de Oliveira (Orientadora) Instituição: PPGCF UFPA

Ass:_______________________________________

Prof. Dr. Wagner Luiz Ramos Barbosa

Instituição: PPGCF UFPA

Ass:_______________________________________

Prof.ª Dra. Edilene Oliveira da Silva Instituição: ICBIO UFPA

Ass:_______________________________________

BELÉM – PA

2017

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AGRADECIMENTOS

A Deus, como criador e sustentador de todas as coisas, única base

epistemológica suficiente para o conhecimento, e doador de boas dádivas aos

homens, dentre as quais a ciência e a racionalidade.

À minha família, na pessoa dos meus pais, como primeiros educadores e tão

dedicados mantenedores, sem os quais eu não teria alcançado quase nada do que

tive a alegria de alcançar, e na pessoa dos meus irmãos, companheiros de alegrias

e tristezas, que me motivam a ser um bom exemplo como irmão mais velho.

À minha noiva e companheira de laboratório, Anna Carolina Pontes, pelo

apoio, ânimo, discussão, crítica, compreensão e exemplo, todos prestados com

amor e atenção.

À minha orientadora, Profª Drª Alaíde Braga de Oliveira, pela amizade

construída, bem como sua inspiradora dedicação à pesquisa, e admirável paciência

para ensinar e orientar alguém comparativamente tão inexperiente.

À minha co-orientadora, Profª Drª Maria Fâni Dolabela, por todo apoio,

instrução, aconselhamento e amizade.

À doutoranda no PPGCF da UFMG, Tatiane Freitas Borgati, pelo

companheirismo e realização das análises por ressonância magnética nuclear, bem

como pelo auxílio na interpretação dos resultados.

Aos colegas mestrandos, Mirian Bastos, João Silva, Valdicley Vale e Heliton

Brigido, por toda ajuda na realização do trabalho, risadas compartilhadas, e

refeições divididas com alegria, regadas a conversas que podem mudar o mundo.

Ao Prof Dr Geraldo Célio Brandão, pela realização das análises por massas e

auxílio na interpretação dos resultados.

Ao ICBIM, da UFU, nas pessoas da Profª Drª Renata C. de Paula, Iasmin

Araújo e Juliana Miranda, pela realização dos testes de citotoxicidade e atividade

anti-amastigota.

À UFPA, em especial à secretaria e coordenação do PPGCF, representadas

pelas sras. Cliciane Melo e Maria Brasília, e pelo Prof Dr José Luiz Vieira.

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Aos amigos do Laboratório de Farmacologia e Doenças Negligenciadas da

UFPA, e Laboratório de Fitoquímica da UFMG, pela prontidão em ajudar,

compartilhando conhecimento ou emprestando uma mão amiga, e por me

receberem tão bem, ainda que sendo um aluno de outra instituição.

Agradeço a cada pessoa que me auxiliou, torceu ou orou pelo meu sucesso.

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EPÍGRAFE

“Quem tem conhecimento é comedido no falar, e quem tem entendimento é de espírito sereno”

-Bíblia Sagrada (NVI), Pv 17.27

“Pois o Senhor é quem dá sabedoria; de sua boca procedem o conhecimento e o

discernimento”

-Bíblia Sagrada (NVI), Pv 2.6

“O saber ensoberbece, mas o amor edifica”

-Bíblia Sagrada (ARA), 1 Co 8.1

“O primeiro passo em direção ao conhecimento

é saber que somos ignorantes”

-Richard Cecil

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RESUMO

SILVA, T. F. Análise fitoquímica e atividade leishmanicida de frações de sementes de Annona muricata L. (Annonaceae) de um cultivo em Tomé-Açu, Pará. Dissertação, Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal do Pará, Belém, 2017. A leishmaniose é uma doença parasitária que representa um problema de saúde mundial. Poucos fármacos estão disponíveis para seu tratamento e estes apresentam graves efeitos colaterais, toxicidade, além de resistência do parasito e o inconveniente da administração parenteral. Annona muricata L., conhecida no Brasil como graviola, constitui rica fonte de acetogeninas, uma classe de produtos naturais com comprovada atividade leishmanicida. Este trabalho teve como objetivo identificar, quantificar e avaliar a atividade leishmanicida de frações ricas em acetogeninas de A. muricata contra formas promastigotas e amastigotas de Leishmania amazonensis. A partir de sementes coletadas de três exemplares em Tomé-Açu, Pará, foi preparado um extrato etanólico (EE) por percolação. O EE foi submetido a três diferentes processos de partição líquido-líquido envolvendo solventes de diferentes polaridades, gerando 9 frações: FH1, FCL1, FMH1, FDM2, FAE2, FMH2, FCL3, FAE3 e FMH3. As frações FAE2 e FCL3 foram submetidas a fracionamento por coluna cromatográfica (CC). Análises espectométricas revelaram as frações FAE2 e FCL3 e suas subfrações como as mais ricas em acetogeninas, contento 10 diferentes grupos de acetogeninas. Observou-se ainda uma concentração das acetogeninas em solventes de polaridade média, como acetato de etila e clorofórmio. As frações e subfrações avaliadas foram ativas contra formas promastigotas de L. amazonensis (6,48 ≤ CI50 ≤ 24,36 µg/mL), porém foram citotóxicas contra macrófagos murinos, apresentando, portanto, baixo índice de seletividade (0,98 ≤ IS ≤ 2,68). Esta citotoxicidade, no entanto, aponta para uma atividade antitumoral. Quanto a atividade anti-amastigota, as amostras foram pouco ativas (9 ≤ % de infecção ≤ 48). Palavras-chave: acetogeninas; atividade leishmanicida; Annona muricata; RMN

quantitativo.

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ABSTRACT

SILVA, T. F. Phytochemical analysis and leishmanicidal activity of fractions from seeds of Annona muricata L. (Annonaceae) from a cultivation in Tomé-Açu, Pará. Master’s degree, Pharmaceutical Sciences Postgraduation Program, Universidade Federal do Pará, Belém, 2017. Leishmaniasis is a parasitic disease that represents a health problem around the world. Few drugs are available for its treatment, and these present serious collateral effects, toxicity, parasite resistance and the inconvenience of parenteral administration. Annona muricata L., known in Brazil as graviola, is a rich source of acetogenins, a class of natural products with proven leishmanicidal activity. This work aimed to identify, quantify and evaluate the leishmanicidal activity of acetogenin rich fractions of A. muricata against promastigote and amastigote forms of Leishmania amazonensis. An ethanol extract (EE) was prepared by percolation from seeds collected from three specimens in Tomé-Açu, Pará. EE was submitted to liquid-liquid partition by 3 different processes with solvents of varying polarity, giving 9 fractions: FH1, FCL1, FMH1, FDM2, FAE2, FMH2, FCL3, FAE3 and FMH3. Separations by column chromatography (CC) of fractions FAE2 and FCL3 were also performed. Spectrometric analyses revealed fractions FAE2 and FCL3 and its subfractions as acetogenin rich, containing 10 different groups of acetogenins. It was also observed a concentration of the acetogenins in medium polarity solvents as ethyl acetate and chloroform. The fractions and subfractions evaluated were active against promastigote forms of L. amazonensis promastigotes (6,48 ≤ CI50 ≤ 24,36 µg/mL), but cytotoxic against murine macrophages, thus presenting low selectivity index (0,98 ≤ SI ≤ 2,68).This cytotoxicity, though, points to a antitumoral effect. Regarding the anti-amastigote activity, the samples had low activity (9 ≤ % of infection ≤ 48). Palavras-chave: acetogenins; leishmanicidal activity; Annona muricata; qRNM.

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LISTA DE ABREVIATURAS

AcOEt Acetato de Etila

CCS Cromatografia em Coluna de Sílica

CCD Cromatografia em Camada Delgada

CI50 Concentração Inibitória de 50%

CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

DAD Detector de Arranjos de Diôdo

DMSO Dimetilsulfóxido

DMSO-d6 Dimetilsulfóxido deuterado

EE Extrato Etanólico

ESI Eletrospray Ionization

EtOH Etanol

FAE2 Fração Acetato de Etila Partição 2

FCL3 Fração Clorofórmio Partição 3

HEX n-Hexano

MeOH Metanol

RPMI Roswell Park Memorial Institute

TMS Tetrametilsilano

UV Ultravioleta

Vis Visível

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ciclo biológico de Leishmania spp. ........................................................... 24

Figura 2- Estruturas químicas de fármacos leishmanicidas: (A) Anfotericina (B)

Miltefosina (C) Estibogluconato de sódio (Pentostam®) (D) Paromomicina (E)

Antimoniato de meglumina (Glucantime®) (F) Pentamidina ...................................... 26

Figura 3 - (A) Arbusto; (B) flor; (C) botão de flor e (D) fruto de Annona muricata ..... 28

Figura 4 – Diferentes tipos de unidades γ- lactona que ocorrem em acetogeninas .. 30

Figura 5 – Estruturas químicas de acetogeninas com unidade γ-lactona do tipo A .. 31

Figura 6 - Exemplo de fragmentações características de acetogeninas em

espectometria de massas com ionização por impacto eletrônico (Coibina A) ........... 37

Figura 7 - Estruturas químicas de anonacina (A) e uvaricina (B) .............................. 38

Figura 8 - Fluxograma da partição líquido-líquido do Extrato Etanólico pelo Método 1.

MeOH/H2O: solução metanol/água 1:1 ..................................................................... 46

Figura 9 - Fluxograma da partição líquido-líquido do Extrato Etanólico pelo Método 2.

MeOH/H2O: solução metanol/água 1:1 ..................................................................... 47

Figura 10 - Fluxograma da separação dos cristais formados no Extrato Etanólico da

porção solúvel em n-hexano. .................................................................................... 47

Figura 11 - Fluxograma da partição líquido-líquido do Extrato Etanólico pelo Método

3. MeOH/H2O: solução metanol/água 1:1 ................................................................. 48

Figura 12 - Disposição das amostras nas placas de 96 poços.................................. 55

Figura 13 - Fórmula para cálculo de células viáveis .................................................. 55

Figura 14 – Cromatograma por CCD do extrato etanólico e porção solúvel em n-

hexano ...................................................................................................................... 63

Figura 15 – Cromatograma por CCD das frações provenientes das partições ......... 63

Figura 16 - Cromatograma por CLAE-DAD do extrato etanólico e suas frações com

tempo de retenção (TR) de picos de interesse.......................................................... 65

Figura 17 - Espectros de absorção no UV de picos do Extrato Etanólico registrados

por CLAE-DAD .......................................................................................................... 66

Figura 18 - Cromatogramas por CLAE-DAD das frações da primeira partição ......... 67

Figura 19 - Espectros de absorção no UV online de picos dos cromatogramas por

CLAE-DAD referentes às frações da primeira partição ............................................. 68

Figura 20 - Estruturas químicas de duas acetogeninas ............................................ 68

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Figura 21 - Espectros de absorção no UV online dos picos majoritários nos

cromatogramas por CLAE-DAD das frações da segunda partição ........................... 70

Figura 22 - Cromatogramas por CLAE-DAD das frações da segunda partição ........ 70

Figura 23 - Espectros de absorção no UV online de picos do cromatograma por

CLAE-DAD referentes à fração acetato de etila 2 (FAE2). ........................................ 71

Figura 24 – Cromatogramas em CLAE-DAD das frações da terceira partição ......... 72

Figura 25 - Espectros de absorção no UV online de picos dos cromatogramas em

CLAE-DAD referentes às frações da terceira partição .............................................. 72

Figura 26 - Espectros de absorção no UV online de picos do cromatograma em

CLAE-DAD referentes à fração clorofórmica 3 (FCL3). ............................................. 73

Figura 27- Perfis cromatográficos por CLAE-DAD da subfração nº 5 (FAE2(5)) obtida

a partir da fração acetato de etila 2 por cromatografia de coluna em duas diferentes

programações. .......................................................................................................... 75

Figura 28 - Espectros de absorção no UV online de picos no cromatograma por

CLAE-DAD da subfração nº 5 (FAE2(5)) obtida a partir da fração acetato de etila por

cromatografia de coluna ............................................................................................ 76

Figura 29- Perfis cromatográficos por CLAE-DAD da subfração FAE2(5.5) e

espectros no UV online dos picos majoritários. ......................................................... 78

Figura 30- Perfis cromatográficos por CLAE-DAD da subfração FAE2(5.6) e

espectros no UV online dos picos majoritários. ......................................................... 78

Figura 31 - Espectros de absorção no UV online de picos dos cromatogramas por

CLAE-DAD referentes à subfração FAE2(5.5). ......................................................... 79

Figura 32 - - Espectros de absorção no UV online de picos nos cromatogramas por

CLAE-DAD referentes à subfração FAE2(5.6). ......................................................... 79

Figura 33 – Cromatograma de Íons Totais (CIT) do extrato etanólico no modo

positivo. ..................................................................................................................... 83

Figura 34 – Espectro de massas do Extrato Etanólico registrado na faixa de 450 a

700 m/z. .................................................................................................................... 83

Figura 35 - Espectro de massas da FAE2 registrado no intervalo de 450 a 700 m/z.

.................................................................................................................................. 86

Figura 36- Espectro de massas da FAE 2(5.6) compreendido entre os TR 7 e 12

minutos registrados entre 450 e 700 m/z. ................................................................. 87

Figura 37 - Espectro de massas da FAE 2(5.5) compreendido entre os TR 7 e 12

minutos registrados entre 450 e 700 m/z. ................................................................. 87

Figura 38 - Espectro de massas da FCL3 compreendido entre os TR 7 e 12 minutos

registrados entre 450 e 700 m/z.. .............................................................................. 88

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Figura 39 - Espectro de massas da FCL 3.7 compreendido entre os TR 7 e 12

minutos registrados entre 450 e 700 m/z. ................................................................. 89

Figura 40 - Espectro de massas da FCL 3.9 compreendido entre os TR 7 e 12

minutos registrados entre 450 e 700 m/z. ................................................................. 90

Figura 41 - Espectro de RMN de 1H de EE, com destaques para os deslocamentos

característicos de acetogeninas ................................................................................ 92

Figura 42 - Espectro de RMN de 1H de FAE2 seccionado, com destaques para os

deslocamentos característicos de acetogeninas ....................................................... 93

Figura 43 - Espectro de RMN de 1H de FCL3 seccionado, com destaques para os

deslocamentos característicos de acetogeninas ....................................................... 94

Figura 44 - Espectro de RMN de 1H de EE com adição de antraceno e amplianção

da região com sinais utilizados para quantificação ................................................... 96

Figura 45 - Espectros de RMN 1H de FAE2, FCL3, FCL3.7 e FCL3.12, com adição

de antraceno e amplianção da região com sinais utilizados para quantificação ....... 97

Figura 46 - Estruturas químicas das acetogeninas anonacina e solamina ................ 98

Figura 47 - Estruturas químicas das acetogeninas corossolona e coibina C ............ 99

Figura 48 – Imagens de macrófagos obtidas no ensaio de atividade anti-amastigota

de FCL 3.12 ............................................................................................................. 102

Figura 49 - Imagens de macrófagos obtidas no ensaio de atividade anti-amastigota

de FCL 3.12 ............................................................................................................. 102

Figura 50 - Estrutura química da acetogenina bulatacina ....................................... 103

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Valores de deslocamentos químicos (δ) característicos de diferentes tipos

de lactonas terminais de acetogeninas em espectros de RMN de 1H ....................... 33

Tabela 2 - Valores de deslocamentos químicos (δ) característicos de diferentes tipos

de lactonas terminais de acetogeninas em espectros de RMN de 13C ...................... 33

Tabela 3 - Valores de deslocamentos químicos (δ) característicos de diferentes

acetogeninas em espectros de RMN de 1H ............................................................... 34

Tabela 4 - Valores de deslocamentos químicos (δ) característicos de diferentes

acetogeninas em espectros de RMN de 13C ............................................................. 35

Tabela 5 - Programação A: Condições utilizadas nas análises por CLAE-DAD........ 50

Tabela 6 - Programaçao B: Condições utilizadas nas análises por CLAE-DAD........ 50

Tabela 7 - Condições utilizadas nas análises por CLUE-DAD-IES-MS ..................... 51

Tabela 8 - Critérios para classificação da atividade leishmanicida de acordo com

valores CI50 ............................................................................................................... 56

Tabela 9 - Rendimentos do processo extrativo das sementes de Annona muricata e

partições do extrato etanólico.................................................................................... 60

Tabela 10- Resultados da detecção de acetogeninas por cromatografia em camada

delgada ..................................................................................................................... 62

Tabela 11 – Número de subfrações coletadas, com suas massas, de acordo com o

eluente utilizado, na coluna cromatográfica da fração acetato de etila 2 (FAE2) ...... 74

Tabela 12 - Número de subfrações coletadas, com suas massas, de acordo com o

eluente utilizado, na coluna cromatográfica da subfração nº 5 (FAE2(5)) obtida a

partir da fração acetato de etila 2 .............................................................................. 77

Tabela 13 - Número de subfrações coletadas, com suas massas, de acordo com o

eluente utilizado, na coluna cromatográfica da fração clorofórmica da terceira

partição (FCL3) ......................................................................................................... 80

Tabela 14 - Massa dos fragmentos esperados de acetogeninas de acordo com sua

massa molar. ............................................................................................................. 82

Tabela 15 - Acetogeninas já isoladas de sementes de Annona muricata com massas

moleculares 578 e 596. ............................................................................................. 84

Tabela 16 - Acetogeninas já isoladas de sementes de Annona muricata com massas

576, 580 e 624. ......................................................................................................... 85

Tabela 17 - Concentrações de acetogeninas obtida por qRMN de 1H no extrato

etanólico e frações analisadas .................................................................................. 95

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Tabela 18 - CI50 das subfrações analisadas para atividade antipromastigota em

Leishmania amazonensis ........................................................................................ 100

Tabela 19 - Atividade anti-amastigota em Leishmania amazonensis das subfrações

analisadas (percentual de infecção). ....................................................................... 101

Tabela 20 - Valores da concentração citotóxica (CC50) das frações analisadas em

linhagem de macrófago murino (RAW 264.7). ........................................................ 103

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 18

2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................. 21

2.1 Leishmaniose ................................................................................................... 21

2.2 Annona muricata L. .......................................................................................... 26

3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 40

3.1 Objetivo geral ................................................................................................... 40

3.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 40

4 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 41

4.1 Material ............................................................................................................ 41

4.1.1 EQUIPAMENTOS ...................................................................................... 41

4.1.2 SOLVENTES ............................................................................................. 41

4.1.3 FASES ESTACIONÁRIAS ......................................................................... 41

4.1.4 MEIO DE CULTURA E OUTROS .............................................................. 42

4.1.5 REVELADORES PARA CROMATOGRAFIA EM CAMADA DELGADA

(CCD) .................................................................................................................. 42

4.1.5.1 Anisaldeído - Ácido Sulfúrico (AS) .......................................................... 42

4.1.5.2 Reagente Kedde ..................................................................................... 42

4.1.6 PREPARO DOS MEIOS DE CULTIVO ...................................................... 42

4.1.7 MATERIAL BIOLÓGICO ............................................................................ 43

4.1.7.1 Parasito Leishmania ............................................................................... 43

4.1.8 MATERIAL VEGETAL ............................................................................... 43

4.2 Métodos ........................................................................................................... 44

4.2.1 ANÁLISES FARMACOGNÓSTICAS ......................................................... 44

4.2.1.1 pH ........................................................................................................... 44

4.2.1.2 Perda por dessecação ............................................................................ 44

4.2.1.3 Teor de cinzas totais ............................................................................... 44

4.2.1.4 Densidade aparente ................................................................................ 44

4.2.1.5 Granulometria ......................................................................................... 45

4.2.2 PREPARAÇÃO DO EXTRATO ETANÓLICO DE SEMENTES (EE) ......... 45

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4.2.3 PARTIÇÕES LÍQUIDO-LÍQUIDO DO EXTRATO ETANÓLICO DE

SEMENTES (EE) ................................................................................................ 45

4.2.3.1. Método 1 - Primeira partição líquido-líquido .......................................... 45

4.2.3.2. Método 2 - Segunda partição líquido-líquido ......................................... 46

4.2.3.3. Método 3 - Terceira partição líquido-líquido ........................................... 47

4.2.4 FRACIONAMENTO DE FAE2 POR CROMATOGRAFIA EM COLUNA DE

SÍLICA GEL (CCS) ............................................................................................. 48

4.2.5 - FRACIONAMENTO DE FCL3 POR CROMATOGRAFIA EM COLUNA DE

SÍLICA GEL (CCS) ............................................................................................. 49

4.2.6 DETECÇÃO DE ACETOGENINAS POR CROMATOGRAFIA EM CAMADA

DELGAGA (CCD) ............................................................................................... 49

4.2.7 ANÁLISES POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA EFICIÊNCIA

ACOPLADA A DETECTOR DE ARRANJOS DE DIÔDOS (CLAE-DAD). .......... 50

4.2.8 ANÁLISES POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ULTRA EFICIÊNCIA

ACOPLADA A DETECTOR DE ARRANJO DE DIÔDOS (CLUE-DAD) E

ESPECTÔMETRO DE MASSAS COM IONIZAÇÃO POR ELECTROSPRAY

(IES-MS) ............................................................................................................. 51

4.2.8.1 Identificação de acetogeninas no extrato e frações a partir das análises

por CLUE-EM-IES .............................................................................................. 51

4.2.9 ANÁLISES POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR DE

HIDROGÊNIO E CARBONO-13 (RMN de 1H e de 13C)...................................... 52

4.2.9.1 Identificação de acetogeninas no extrato etanólico e frações a partir das

análises de RMN de 1H e de 13C ........................................................................ 53

4.2.9.2 Quantificação de acetogeninas no extrato etanólico e frações por RMN 53

4.2.10 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE LEISHMANICIDA ...................................... 54

4.2.10.1 Atividade anti-promastigota .................................................................. 54

4.2.10.2 Atividade antiamastigota ....................................................................... 56

4.2.10.3 Atividade citotóxica ............................................................................... 56

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................. 58

5.1 Características farmacognósticas do pó das sementes de Annona muricata .. 58

5.2 Investigação de acetogeninas por CCD e CLAE-DAD ..................................... 59

5.2.1 EXTRATO ETANÓLICO E FRAÇÕES DAS PARTIÇÕES ......................... 59

5.2.2 FRACIONAMENTO CROMATOGRÁFICO DE FAE2 E FCL3 ................... 73

5.4 Análises por CLUE-EM-IES de frações contendo acetogeninas ...................... 81

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5.5 Identificação e quantificação de acetogeninas por qRMN de 1H ...................... 91

5.6 Atividade antileishmania .................................................................................. 98

6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 104

7 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 105

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18

1 INTRODUÇÃO

As leishmanioses são um grupo de doenças negligenciadas, comumente

associadas à pobreza, e que tem maior ocorrência em países do norte e leste

africano, do sudeste asiático e América Latina. Estima-se que 1,5 milhões de novos

casos ocorram por ano no mundo, provocando entre 20 e 30 mil óbitos. São duas as

principais manifestações clínicas desta patologia, a leishmaniose visceral (LV) e

leishmaniose tegumentar (LT). O Brasil é um dos seis países responsáveis por 90%

dos casos de LV no mundo. Esta forma da doença atinge 23 das 27 Unidades

Federativas, ocasionando de 200 a 300 óbitos/ano. A LT pode ser encontrada em

todas as Unidades Federativas, com registro de 233.638 casos entre os anos de

1990 e 2013, os quais se concentram principalmente na região Norte. O Brasil se

encontra no grupo de países nos quais ocorre um terço dos casos de LT no mundo

(BRASIL, 2014; WHO, 2015).

As leishmanioses são causadas por parasitos de mais de 20 espécies do

gênero Leishmania, os quais geram diferentes manifestações da doença, ou casos

assintomáticos (BATES, 2008; WHO, 2015). A LV é a forma mais grave, letal se não

tratada, e caracteriza-se por febre, perda de peso, hepato-esplenomegalia e anemia.

A LT subdivide-se em três: a leishmaniose cutânea localizada (LCL), forma mais

comum da doença, manifesta-se através de lesões no local da infecção, as quais

são indolores, com bordas bem definidas, fundo avermelhado e base eritematosa. A

leishmaniose muco-cutânea (LMC), que causa lesões destrutivas localizadas na

mucosa, em geral nas vias aéreas superiores. E a leishmaniose cutânea difusa

(LCD), uma forma rara de leishmaniose, relacionada a uma reação imune

inadequada. Nesta, uma disseminação do parasito leva ao surgimento de várias

lesões não ulcerosas espalhadas pelo corpo (BRASIL, 2014).

O tratamento das leishmanioses, no Brasil, é realizado principalmente por

quimioterapia com antimoniais pentavalentes (Sb5+) como Glucantime® ou,

alternativamente, Anfotericina B e Pentamidina. Em geral, os fármacos utilizados

contra a leishmaniose requerem tempo prolongado de uso, administração via

parenteral e provocam vários efeitos adversos. Estes fatores levam a uma baixa

adesão à terapia, o que tem contribuído para o surgimento de parasitos resistentes.

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Este quadro aponta a necessidade de desenvolvimento de novos fármacos

leishmanicidas. Na área de pesquisa, desenvolvimento e inovação de fármacos

várias estratégias podem ser adotadas, dentre as quais a validação do uso popular

de plantas com fins medicinais, e a obtenção de moléculas promissoras a partir de

plantas (BRASIL, 2014; WHO, 2010).

Annona muricata, árvore arbustiva comum na região Norte, é conhecida no

Brasil como graviola, e possui importância econômica principalmente devido a seus

frutos, que são comercializados na forma de polpa, sucos, doces e sorvetes. Além

disso, a graviola também é utilizada para fins medicinais. A decocção das suas

folhas, por exemplo, é utilizada por comunidades tradicionais brasileiras como

analgésico, para emagrecimento e contra o diabetes, e o suco da fruta contra

parasitos intestinais (BENEVAL et al. 2016; CAETANO, SOUZA e FEITOZA, 2014).

Em outras partes do mundo, no entanto, diferentes usos são atribuídos a várias

partes da planta. De especial interesse é a utilização de suas folhas por nativos da

Malásia para tratar úlceras decorrentes da leishmaniose tegumentar (BADRIA e

SCHAUSS, 2009). Estudos científicos têm servido de fundamentação para este uso

ao identificar extratos metanólicos e etanólicos de diferentes partes de A. muricata

com atividade promissora contra promastigotas de diferentes espécies de

Leishmania, relacionando esta atividade à presença de acetogeninas nestes extratos

(OSORIO et al. 2007; VILA-NOVA et al. 2013). As acetogeninas são uma classe de

metabólitos secundários presentes em todas partes de A. muricata, mas

encontrados em maior abundância nas sementes (MOGHADAMTOUSI et al. 2015).

Portanto, ainda que o uso tradicional da graviola contra leishmaniose esteja mais

relacionado às suas folhas, uma vez que sua atividade leishmanicida está associada

a presença de acetogeninas, e as mesmas encontram-se principalmente nas

sementes, levando-se em consideração ainda que as sementes são uma parte da

planta normalmente descartada no processo produtivo de polpas, estas despontam

como de interesse para estudos que investiguem sua atividade leishmanicida,

visando seu aproveitamento (LIAW et al. 2010).

Este trabalho buscou avaliar a atividade leishmanicida de sementes de

graviola cultivadas na região amazônica (Tomé-Açu, Pará), a qual, sendo

comprovada, poderia incentivar o aproveitamento das sementes e, portanto,

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agregaria valor ao que normalmente é tratado como resíduo no processo de

beneficiamento da graviola para produção de polpas, doces, etc., uma atividade

bastante explorada no estado do Pará. Além disso, uma maior valorização das

sementes de A. muricata contribuiria para o crescimento da agricultura familiar,

principal responsável pelo seu cultivo hoje (LEMOS, 2014; SOUZA, PEREIRA e

FONSECA, 2012).

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Leishmaniose

As leishmanioses, um grupo de doenças causadas por parasitos do gênero

Leishmania, estão entre as doenças classificadas como doenças tropicais

negligenciadas. Possuem uma prevalência global de 14 milhões de casos e uma

incidência anual de 1,5 a 2 milhões de novos casos. São também responsáveis por

20 a 30 mil mortes por ano, estimando-se que 350 a 400 milhões de pessoas

estejam em risco de infecção. Este grupo de doenças ocorre em 98 países, sendo

que 79 destes são países em desenvolvimento (ALVAR et al. 2006; WHO, 2010).

As leishmanioses podem ser classificadas em dois tipos, de acordo com suas

manifestações clínicas, que são: Leishmaniose Visceral (LV), e Leishmaniose

Tegumentar (LT). Esta última se subdivide em: cutânea localizada (LCL);

mucocutânea (LMC); e cutânea difusa (LCD). A forma da doença que irá se

manifestar depende da espécie do parasito infectante; da espécie do vetor

transmissor; e de características do hospedeiro (genéticas e de resposta imune).

Esta multiplicidade de fatores torna a leishmaniose uma das doenças de mais

complexa epidemiopatogênese (SHARMA e SINGH, 2008; WHO, 2015).

No mundo todo são registrados de 200 a 400 mil novos casos de LV por ano.

Destes, 90% ocorrem em apenas cinco países, entre os quais está o Brasil, onde o

agente causador desta doença é Leishmania (Leishmania) chagasi. O Brasil é o

responsável pela quase totalidade de casos de LV nas Américas. Casos autóctones

são relatados em 22 dos Estados brasileiros, estando a maioria deles concentrados

na região Nordeste (BRASIL, 2014; WHO, 2015). A LV é a forma mais perigosa de

leishmaniose e leva a óbito em 90% dos casos se não tratada (BRASIL, 2010).

A LT possui ampla distribuição mundial, com mais de 1 milhão de casos

registrados por ano. Nas Américas pode ser encontrada desde o sul dos Estados

Unidos até o norte da Argentina, com exceção de Chile e Uruguai. O Brasil encontra-

se entre os sete países do mundo com maiores taxas de leishmaniose cutânea, e é

o país da América do Sul com maior número de casos (ALVAR et al. 2012). No

Brasil, desde 2003, são notificados casos autóctones de LT em todos os Estados da

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Federação, e a região Norte é a que possui o maior número de casos confirmados,

tendo sido registrados 233.638 casos entre os anos de 1990 e 2013 (BRASIL, 2014).

A LT é uma doença dermatológica infecciosa, não contagiosa que, ainda que muitas

vezes não seja fatal, exige atenção por causar deformidades que afetam tanto o

âmbito psicossocial como podem incapacitar o indivíduo infectado para exercer suas

funções (REITHINGER, 2005).

A LCL, forma mais comum da LT, é uma forma de leishmaniose em que os

parasitos se restringem ao local da infecção, causando lesões limitadas que podem

ser múltiplas. Esta forma de leishmaniose em muitos casos segue com cura

espontânea ou gera um caso assintomático, o que pode ser um problema, pois o

infectado passa a agir como reservatório. A LCL pode ser causada por: Leishmania

(Viannia) guyanensis, Leishmania (Leishmania) amazonensis e Leishmania (Viannia)

braziliensis (BRASIL, 2014).

A LMC é um tipo de leishmaniose que gera mutilações mucocutâneas. Ela

inicia-se com uma infecção local, através da qual os parasitos chegam até as

mucosas por via linfática ou hematogênica, e ali, devido a uma resposta imune

exagerada, ocorrem as lesões. Estas lesões comumente sofrem infecção bacteriana

secundária e, diferentemente da LCL, não cicatrizam por si só, o que pode agravar o

quadro geral do paciente e eventualmente levar a óbito. O principal agente causador

da LMC no Brasil é a L. (V.) braziliensis (LOPES et al. 2010).

A LCD é a forma mais rara de LT e se origina por uma complicação

imunológica do hospedeiro. Caracteriza-se por uma intensa proliferação do parasito,

gerando várias lesões crônicas não ulcerosas com formação de pápulas, nódulos ou

infiltrações difusas. Muitas vezes mesmo com o tratamento a doença não involui, ou

então após curto período de tempo há recidiva. No Brasil, a espécie causadora de

LCD é L. (L.) amazonensis (BARRAL et al. 1995).

Leishmania é um protozoário intracelular pertencente à ordem Kinetoplastida,

família Trypanosomatidae e gênero Leishmania. Este gênero se subdivide em

complexos agrupados em dois subgêneros: Leishmania e Viannia. O subgênero

Leishmania reúne espécies causadoras de LT e LV, e são algumas delas: L. (L.)

major e L. (L.) tropica, responsáveis pela leishmaniose tegumentar no Velho Mundo;

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L. (L.) mexicana, L. (L.) amazonensis, L. (L.) pifanoi e L. (L.) venezuelensis,

causadoras de leishmaniose tegumentar nas Américas; e L. (L.) donovani, L. (L.)

infantum e L. (L.) chagasi, causadoras de leishmaniose visceral. Já o subgênero

Viannia agrupa espécies causadoras de LT apenas, como: L. (V.) braziliensis, L. (V).

guyanensis, L. (V.) panamensis, e L. (V.) peruviana (LAINSON e SHAW, 1987). No

total, são cerca de vinte espécies patogênicas ao homem (CDC, 2014).

O ciclo biológico dos parasitos causadores da leishmaniose (Figura 1) ocorre

quando a fêmea infectada do inseto flebotomíneo do gênero Phlebotomus (vetores

nos países do Velho Mundo) ou Lutzomyia (vetores nos países do Novo Mundo),

introduz na pele de um mamífero suscetível formas promastigotas metacíclicas do

parasito Leishmania (COLLIN et al. 2009; NEVES et al. 2016). No hospedeiro

vertebrado, os promastigotas são fagocitados por células mononucleares,

principalmente macrófagos, nos quais ficarão restritos ao fagolisossomo (junção do

fagossomo com lisossomos). Ali, por influência do ambiente ácido, os promastigotas

transformam-se em amastigotas, os quais diminuem a atividade microbicida do

macrófago. Após a transformação, eles se multiplicam por divisão binária até que o

macrófago se rompa, liberando novos amastigotas que poderão infectar células

dendríticas, fibroblastos ou outros macrófagos. O ciclo tem continuidade quando o

flebotomíneo se infecta com o parasito ao ingerir células dendríticas ou macrófagos

infectados por amastigotas, os quais se transformarão em promastigotas em seu

trato gastrointestinal e se multiplicarão por divisão binária até atingirem o estágio de

promastigotas metacíclicas, quando o inseto poderá inoculá-las em um novo

hospedeiro mamífero, reiniciando-se o ciclo (SHARMA e SINGH, 2008). Apesar

desta ser a forma clássica de transmissão da leishmaniose, a infecção também pode

ocorrer por transfusão sanguínea, transplante de órgãos ou congenitamente (PAVLI

e MALTEZOU, 2010). Além do homem, existem outros hospedeiros vertebrados

para a Leishmania, como: roedores, marsupiais e canídeos, inclusive o cão

doméstico (Canis familiaris) (GRAMICCIA e GRADONI, 2005).

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Figura 1 - Ciclo biológico de Leishmania spp.

Fonte: SILVA, 2012.

Os fármacos de primeira escolha na terapia leishmanicida são os antimoniais

pentavalentes (Sb5+), os quais foram desenvolvidos há mais de 70 anos. Existem

dois principais fármacos deste tipo utilizados, o estibogluconato de sódio

(Pentostan®) e o antimoniato de meglumina (Glucantime®). O primeiro é produzido

no Reino Unido e geralmente utilizado nos países que o compõe, nos EUA e na

maioria dos países da África e Oriente Médio, enquanto o segundo, produzido na

França e no Brasil, é mais comumente utilizado em países de língua francesa e na

América Latina. Ambos apresentam eficácia limitada, efeitos tóxicos e colaterais

frequentes, administração parenteral, e restrição de uso no caso de grávidas e

pacientes infectados com HIV (AMATO et al. 2000). Associado a esses fatores, o

tratamento prolongado (no mínimo 20 dias, podendo chegar até 40 dias) com altas

doses faz com que muitos pacientes abandonem o tratamento antes do seu término,

favorecendo o surgimento de resistência do parasito em larga escala. Na Índia por

exemplo, o tratamento com antimoniais foi banido, uma vez que em algumas

localidades as cepas que infectavam a população possuíam 100% de resistência a

esse fármaco (MOHAPATRA, 2014).

Uma opção ao tratamento com antimoniais é a Anfotericina B, um antibiótico

que age ligando-se ao ergosterol da membrana plasmática do parasito, aumentando

Transmitidos durante repasto

Transmitidos durante repasto

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sua permeabilidade e afetando seu equilíbrio osmótico, causando sua morte. Este

fármaco também é de administração parenteral e possui uma série de efeitos tóxicos

graves e tratamento igualmente longo, o que restringe seu uso (MOLINA et al.

2007). No entanto, há uma versão deste medicamento conhecida como Anfotericina

B Lipossomal que utiliza nanotecnologia para restringir a ação da molécula às

células do sistema fagocitário mononuclear, reduzindo assim grandemente seus

efeitos adversos. Esta seria a melhor escolha medicamentosa para o tratamento da

leishmaniose, mas seu alto custo restringe seu uso em larga escala (BRASIL, 2007;

RATH et al. 2003).

Existem ainda outros fármacos leishmanicidas considerados de segunda linha

como a Paromomicina, Pentamidina (Lomidina®) e Miltefosina. Apesar da

Pentamidina ser a mais utilizada como fármaco de segunda escolha, é importante

chamar a atenção para a Miltefosina, que é o único medicamento utilizado no

tratamento das leishmanioses que possui administração por via oral, além de

apresentar menos efeitos adversos que os demais. Seu uso se dá principalmente na

Índia, mas possui limitações pelo seu efeito teratogênico e pequena janela

terapêutica (SINGH, KUMAR e SINGH, 2012).

Em síntese, os fármacos disponíveis para o tratamento da leishmaniose

possuem efeitos tóxicos e graves reações adversas (MOLINA et al. 2007), o tempo

de tratamento é prolongado e na maioria dos casos por via parenteral, sendo ainda o

custo do tratamento elevado (BRASIL, 2014), e a resistência do parasito crescente

(MOHAPATRA, 2014).

Mediante o exposto, a busca de novos fármacos assume um caráter de

urgência e as plantas despontam como fontes de novas moléculas ativas (CRAGG e

NEWMAN, 2013; WHO, 2010).

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2.2 Annona muricata L.

A família Annonaceae, à qual pertence a espécie Annona muricata L., é a

maior das 6 famílias pertencentes à ordem Magnoliales, e junto da família

Magnoliaceae está entre as mais estudadas da ordem citada (APG, 2003). Também

conhecida como custard apple family, ou família da ata, esta possui cerca de 135

gêneros e 2500 espécies, as quais podem ser encontradas principalmente em zonas

tropicais, sendo algumas poucas espécies encontradas em regiões temperadas

(RICHARDSON et al. 2004). Constituída por árvores, arbustos e mais raramente

trepadeiras, usualmente perenifólias, esta família recebe seu nome da palavra latina

(B) (A)

(C) (D)

(F) (E)

Figura 2- Estruturas químicas de fármacos leishmanicidas: (A) Anfotericina (B) Miltefosina (C)

Estibogluconato de sódio (Pentostam®) (D) Paromomicina (E) Antimoniato de

meglumina (Glucantime®) (F) Pentamidina

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anon, que significa algo como produção precoce, referindo-se à grande produção de

frutos característica nas Annonaceae (NRCS, 2008).

Muitas das espécies de Annonaceae possuem grande importância econômica

como fonte de frutos e óleos comestíveis, como por exemplo Annona squamosa,

Annona muricata e Annona senegalensis; outras como fonte de fragrâncias para a

perfumaria, como Cananga odorata; e de maneira geral, muitas são usadas

medicinalmente em vários países para o tratamento de diversas enfermidades,

inclusive no tratamento de males associados ao câncer, e tumores (BINDU, 1998;

MOGHADAMTOUSI et al. 2015).

Apesar de, relativamente ao seu tamanho, a família Annonaceae ser

considerada umas das famílias menos estudadas fitoquimicamente (BINDU, 1988),

já foram identificados como componentes de interesse nesta família alcaloides,

principalmente isoquinolínicos, e as acetogeninas, as quais são promissoras como

agentes antitumorais e antiparasitários. Até o presente momento, cerca de 400

acetogeninas já foram isoladas de Annonaceae (AMINIMOGHADAMFAROUJ,

2011).

O gênero Annona possui mais de 120 espécies catalogadas. No Brasil já

foram identificadas 30 dessas espécies na região amazônica, área de maior

concentração de espécies desse gênero no continente americano. O gênero Annona

tem sido estudado por possuir espécies com grande interesse econômico e

alimentício, como Annona muricata L., Annona squamosa L. e Annona reticulata L.,

além de ser fonte de acetogeninas e alcaloides isoquinolínicos (MOSCA,

CAVALCANTES e DANTAS, 2006).

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Figura 3 - (A) Arbusto; (B) flor; (C) botão de flor e (D) fruto de Annona muricata

Annona muricata L., conhecida como soursop (inglês), guanabana (espanhol)

e, no Brasil, como gravioleira, é uma árvore terrestre, perenifólia, de caráter ereto,

medindo de 5 a 8 metros de altura quando adulta, com uma copa aberta e

arredondada. Possui folhas grandes, de um verde escuro brilhante. Sua fruta,

graviola, é comestível e de grande tamanho, com formato de coração, chegando a

ter entre 15 e 20 cm de diâmetro (Figura 3) (SOUZA et al. 2009).

Além do uso da polpa do seu fruto para a preparação de sucos, sorvetes,

doces e cremes, todas as demais partes da planta, como folhas, sementes, cascas,

raízes e flores de A. muricata têm sido amplamente utilizados para fins medicinais

por comunidades nas Américas, África e Índia. É utilizada para o tratamento de

artrite, neuralgia, reumatismo, diarreia, disenteria, febre, malária, escoriações,

vermes, cistite, diabetes, dores de cabeça, insônia, abscessos, úlceras provocadas

AA BB

DD CC

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por leishmaniose, afecções associadas ao câncer e, ainda, como inseticida, larvicida

e piscicida (ADEWOLE e CAXTON-MARTINS, 2006; ADEWOLE e OJEWOLE, 2009;

BENEVAL et al. 2016; CAETANO, SOUZA e FEITOZA, 2014; MISHRA, AHMAD e

SHARMA, 2013).

Os efeitos de A. muricata foram avaliados em diferentes ensaios

biológicos/farmacológicos, tendo sido observadas importantes atividades

relacionadas aos seus principais constituintes bioativos (alcaloides, acetogeninas,

megastigmanas, flavonoides, fenóis e ciclopeptídeos), como: antidepressiva,

citotóxica para diversas linhagens de câncer, neurotóxica, moluscicida,

antileishmania, inseticida, antimalárica, anti-inflamatória, hipoglicemiante,

anticonvulsionante, entre outras (MOGHADAMTOUSI et al. 2015).

2.3 Acetogeninas

Dentre os constituintes bioativos encontrados em A. muricata, as

acetogeninas, em especial, têm chamado atenção, e até o momento mais de 100

diferentes representantes desta classe já foram isolados desta espécie, a maioria

possuindo atividade anticâncer e antiparasitária (MOGHADAMTOUSI et al. 2015). As

acetogeninas são uma classe distinta de metabólitos secundários, com 35 ou 37

carbonos, caracterizados por possuírem uma longa cadeia alifática de 32 ou 34

carbonos, não ramificada, apresentando em uma das extremidades um anel de γ-

lactona, além de diferentes funções oxigenadas, que podem ser hidroxilas,

carbonilas cetônicas, anéis oxirânicos (epóxidos), anéis tetraidrofurânicos (THF) ou

tetraidropirânicos (THP) e, mais raramente, ligações duplas ou tríplices. (ALALI, LIU

e MCLAUGHLIN, 1999). A rota biosintética responsável pela formação destes

compostos ainda não está totalmente elucidada, mas é provável que eles sejam

originados pela condensação de acetilCoA pela rota do acilpolimalonato (SIMÕES et

al. 2010; ZAFRA-POLO et al. 1998).

As acetogeninas apresentam uma grande diversidade estrutural e são

classificadas de acordo com a presença de grupos funcionais, como epóxidos;

número e posição de anéis THF ou THP, e tipo de subunidade de anel de γ-lactona;

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a qual pode ser uma γ-lactona-α-β-insaturada (mais comum), cetolactona, γ-

hidroxilactona insaturada ou uma β-hidroxilactona. A Figura 4 mostra os principais

tipos de anéis γ-lactona em acetogeninas. Quanto aos grupos funcionais, estes

podem ser do tipo epóxi, e nesse caso, sem anéis THF, uma vez que os anéis epóxi

são considerados precursores dos anéis THF; lineares (sem anel THF); mono-THF,

bis-THF adjacentes e não adjacentes, tri-THF e não clássicas com anel THP. Na

Figura 5 estão representadas as estruturas de algumas acetogeninas com anel γ-

lactona do tipo A, e diferentes grupos funcionais ao longo da cadeia, algumas das

quais isoladas de A. muricata, uma das principais fontes de acetogeninas na família

Annonaceae. As acetogeninas mais comuns, representando 206 das aproxidamente

417 acetogeninas isoladas até o momento, são as mono-THF com unidade γ-

lactona-α-β-insaturada (BERMEJO et al. 2005).

Tipo A: γ-lactona-α-β-

insaturada

Tipo B: cetolactona

Tipo C: γ-hidroxilactona

insaturada Tipo D: β-hidroxilactona

R = H ou OH

1

2 3

4 35(33)

36(34)

37(35)

1

2 3

4 35(33)

36(34) 37(35) 1

2 3

4 35(33)

36(34)

37(35)

1 2

3 4

35(33)

36(34)

37(35)

Figura 4 – Diferentes tipos de unidades γ- lactona que ocorrem em acetogeninas

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Tipo 1: Linear Ex: Coibina A*

Tipo 2: Epóxi Ex: Coronina*

Tipo 3: mono-THF

Ex: cis-Solamina*

Tipo 4: bis-THF adjacente

Ex: Robustocina*

Tipo 5: bis-THF não adjacente

Ex: Gigantecina

Figura 5 – Estruturas químicas de acetogeninas com unidade γ-lactona do tipo A * Acetogeninas já isoladas de A. muricata

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32

Quanto à identificação de acetogeninas em plantas da família Annonaceae,

diferentes técnicas, em especial espectrométricas, devem ser empregadas em

conjunto. Costuma-se inicialmente confirmar a presença de acetogeninas através da

detecção da subunidade γ-lactona por análises de cromatografia de camada delgada

(CCD), ultravioleta (UV) e infravermelho (IV). Para se definir então o tipo de

acetogenina encontrado, são necessários estudos de espectrometria de massas

(EM) e ressonância magnética nuclear (RMN), através dos quais deve-se buscar

identificar o tipo de subunidade γ-lactona presente na acetogenina investigada, bem

como as funções oxigenadas presentes, posicionando-as ao longo da cadeia.

No que diz respeito à utilização de técnicas de RMN, dados já definidos pela

literatura para os deslocamentos químicos esperados para cada tipo específico de

subunidade γ-lactona e para a detecção da presença de grupos funcionais são

necessários na identificação das acetogeninas, inclusive quando em misturas

(ALLEGRAND et al. 2010). Como exemplo, as Tabelas 1 e 2 apresentam

deslocamentos químicos registrados em RMN de 1H e 13C para os diferentes tipos

de subunidades γ-lactona apresentados na Figura 4. A diferença entre os valores de

deslocamento químico para cada tipo de unidade γ-lactona é suficiente para que se

possa distinguir entre uma e outra. O tipo D por exemplo não possui H-3 e H-4,

contrastando facilmente com os outros; os tipos B e C não possuem H-36(34),

Tipo 6: tri-THF

Ex: Goniocina**

Tipo 7: THP

Ex: Mucocina

Figura 5 (cont.) – Estruturas químicas de acetogeninas com unidade γ-lactona do tipo A ** Único exemplo da classe até o momento

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33

contrastando com A e D, e a diferença do deslocamento químico de H-35(33) entre

os tipos B e C permite distingui-los.

Tabela 1 - Valores de deslocamentos químicos (δ) característicos de diferentes tipos de lactonas terminais de acetogeninas em espectros de RMN de 1H

Tipos de γ-lactona

H-2 H-3 H-4 H-35(33) H-36(34) H-37(35)

Tipo A¹ - 2,26 1,52 6,95 4,99 1,42

Tipo B¹ 3,02 1,99 e 2,23 4,54 3,01 e 2,66 - 2,20

Tipo C¹ - 2,40 3,82 6,75 - 1,70

Tipo D¹ 2,55 - - 4,15 4,50 1,38

Tabela 2 - Valores de deslocamentos químicos (δ) característicos de diferentes tipos de lactonas terminais de acetogeninas em espectros de RMN de 13C

Tipos de γ-lactona

C-1 C-2 C-3

C-4 C-35(33) C-36(34) C-37(35)

Tipo A¹ 173,8 134,2 25,6 27,3 148,9 77,4 19,2

Tipo B¹ 178,8 33,4 35 78,9 43,8 205,5 29,9

Tipo C¹ 172,9 133,9 33,3 69,5 150,5 104,1 24,2

Tipo D¹ 177,4 43,78 25,6 27,3 73,7 82,5 18,1

As Tabelas 3 e 4 apresentam valores de deslocamentos químicos das

acetogeninas cujas estruturas constam na Figura 5 e representam os diferentes

tipos que possuem unidade γ-lactona do tipo A. Em cada exemplo os valores de

deslocamento químico (δ) dos hidrogênios de CH2 são muito próximos, e facilmente

identificáveis, em torno de 1,20-1,60. Os δ’s em torno de 3,0 são associados a

hidrogênios de anéis oxirânicos, em torno de 3,4 identificam hidrogênios de

carbonos ligados a hidroxilas, e os em torno de 3,8 identificam os hidrogênios de

anéis THF adjacentes ao oxigênio. Deslocamentos em campo mais alto, em torno de

5,0, estão associados a hidrogênios ligados a carbonos olefínicos. Essa diferença

nos valores de deslocamento, associada a dados de massa, permite identificar os

grupos funcionais presentes na molécula e determinar sua posição ao longo da

cadeia.

Legenda: ¹ BERMEJO, et al. 2005

Legenda: ¹ BERMEJO, et al. 2005

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Tabela 3 - Valores de deslocamentos químicos (δ) característicos de diferentes acetogeninas em espectros de RMN de 1H

Hidrogênios Coibina

A Tipo 1a

Coronina Tipo 2b

cis-Solamina

Tipo 3c

Robustocina Tipo 4d

Gigantecina Tipo 5e

Goniocina Tipo 6f

Mucocina Tipo 7g

H-3 2,26 m 2,26 t 2,25 t 2,26 t a 2,38 m

b 2,51 m

a 2,40 m

b 2,53 m

a 2,40 m

b 2,53 m H-4 1,55 m 1,52 m 1,55 m 1,55 m 3,87 m 3,85 m 3,84 m

H-5 1,26 m 1,23-1,39 1,24-1,40 1,24-1,28 1,42 m 1,47 m 1,47 m

H-6 1,20-1,40 1,23-1,39 1,24-1,40 1,24-1,28 1,24-1,28 1,20-1,60 1,10-1,35

H-7 1,20-1,40 1,23-1,39 1,24-1,40 1,24-1,28 1,24-1,28 1,20-1,60 1,10-1,35

H-8 1,20-1,40 1,23-1,39 1,24-1,40 1,30 m 1,31 m 1,20-1,60 1,10-1,35

H-9 1,20-1,40 1,23-1,39 1,24-1,40 1,49 m 1,45 m 1,44 m 1,10-1,35

H-10 1,20-1,40 1,23-1,39 1,24-1,40 3,95 m 3,87 m 3,93 m 1,10-1,35

H-11 1,20-1,40 1,23-1,39 1,24-1,40 a 1,57 m b 2,03 m

a 1,55 m b 2,07 m

a 1,62 m b 2,02 m

1,46 m

H-12 1,20-1,40 1,52 m 1,24-1,40 a 1,60 m b 1,97 m

a 1,63 m b 1,92 m

a 1,64 m b 1,70 m

3,88 m

H-13 1,20-1,40 2,95 m 1,24-1,40 3,99 m 3,87 m 3,83-3,92 a 1,49 m b 2,02 m

H-14 1,41 m 2,99 m 1,46 m 3,89 m 3,40 m 3,83-3,92 a 1,62 m b 1,92 m

H-15 3,42 m 1,71 m 3,41 m a 1,76-1,84 b 1,94-1,96

1,56 m a 1,64 m b 1,96 m

3,8 m

H-16 3,42 m 1,71 m 3,81 m a 1,76-1,84 b 1,94-1,96

1,56 m a 1,64 m b 1,90 m

3,43 m

H-17 1,55 m 2,99 m 1,74 m 3,89 m 3,40 m 3,83-3,92 1,52 m

H-18 2,20 m 2,95 m 1,92 m 3,35 m 3,87 m 3,83-3,92 1,62 m

H-19 5,40 m 1,60 m 3,81 m 1,44 m a 1,65 m b 2,07 m

a 1,64 m b 1,96 m

3,48 m

H-20 5,38 m 2,22 m 3,41 m 1,24-1,28 a 1,73 m b 1,92 m

a 1,60 m b 1,90 m

3,15 m

H-21 2,05 m 5,39-5,41 1,46 m 1,24-1,28 3,87 m 3,80 m a 1,45 m b 1,70 m

H-22 1,20-1,40 5,39-5,41 1,24-1,40 1,24-1,28 3,40 m 3,37 m a 1,43 m b 2,10 m

H-23 1,20-1,40 2,05 m 1,24-1,40 1,24-1,28 1,50 m 1,38 m 3,28 m

H-24 1,20-1,40 1,31 m 1,24-1,40 1,24-1,28 1,24-1,28 1,20-1,60 3,05 m

H-25 1,20-1,40 1,23-1,39 1,24-1,40 1,24-1,28 1,24-1,28 1,20-1,60 1,41 m

H-26 1,20-1,40 1,23-1,39 1,24-1,40 1,24-1,28 1,24-1,28 1,20-1,60 1,10-1,35

H-27 1,20-1,40 1,23-1,39 1,24-1,40 1,24-1,28 1,24-1,28 1,20-1,60 1,10-1,35

H-28 1,20-1,40 1,23-1,39 1,24-1,40 1,24-1,28 1,24-1,28 1,20-1,60 1,10-1,35

H-29 1,20-1,40 1,23-1,39 1,24-1,40 1,24-1,28 1,24-1,28 1,20-1,60 1,10-1,35

H-30 1,20-1,40 1,23-1,39 1,26 m 1,26 m 1,24-1,28 1,20-1,60 1,10-1,35

H-31 1,30 m 1,23-1,39 1,26 m 1,26 m 1,24-1,28 1,20-1,60 1,10-1,35

H-32 0,87 t 1,26 m 0,88 t 0,86 t 1,26 m 1,20-1,60 1,10-1,35

H-33 6,99 d 1,26 m 6,98 t 6,97 d 1,26 m 1,28 m 1,10-1,35

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35

H-34 5,00 dq 0,88 t 4,99 dq 4,98 dq 0,82 t 0,87 t 0,88 t

H-35 1,42 t 6,98 d 1,41 d 1,41 d 7,17 d 7,20 q 7,19 d

H-36 - 4,99 dq - - 5,06 dq 5,06 dq 5,06 dq

H-37 - 1,41 d - - 1,41 d 1,35 d 1,43 d

Tabela 4 - Valores de deslocamentos químicos (δ) característicos de diferentes acetogeninas em espectros de RMN de 13C

Carbonos Coibina

A Tipo 1a

Coronina Tipo 2b

cis-Solamina

Tipo 3c

Robustocina Tipo 4d

Gigantecina Tipo 5e

Goniocina Tipo 6f

Mucocina Tipo 7g

C-1 173,9 173,8 173,8 173,9 174,6 174,3 174,6

C-2 134,3 134,2 134,3 134,2 131,1 131,1 131,2

C-3 25,3 25,2 25,1 25,1 33,3 33,2 33,3

C-4 27,3 27,4 27,4 27,3 69,9 69,8 69,9

C-5 29,6 24,3-29,7 25,7-29,7 25,8-29,6 37,0 37,2 37,3

C-6 25,4-29,5 24,3-29,7 25,7-29,7 25,8-29,6 25,8-29,6 25,4-29,7 26-33

C-7 25,4-29,5 24,3-29,7 25,7-29,7 25,8-29,6 25,8-29,6 25,4-29,7 26-33

C-8 25,4-29,5 24,3-29,7 25,7-29,7 26,1 25,8-29,6 25,4-29,7 26-33

C-9 25,4-29,5 24,3-29,7 25,7-29,7 35,8 35,8 35,6 26-33

C-10 25,4-29,5 24,3-29,7 25,7-29,7 80,1 79,3 79,6 26-33

C-11 25,4-29,5 24,3-29,7 25,7-29,7 a 28,4 b 32,2

a 28,2 b 32,3

32,1 35,6

C-12 25,4-29,5 27,8 25,7-29,7 a 28,4 b 28,4

a 28,2 b 28,2

28,3-28,5 79,3

C-13 25,4-29,5 56,4 25,7-29,7 80,7 82,0 81,1-82,3 32,4

C-14 33,5 56,5 34,0 81,5 74,1 81,1-82,3 28,3

C-15 74,6 25,0 74,3 28,4 37,0 28,3-28,5 81,9

C-16 74,3 25,0 82,8 28,4 37,0 28,3-28,5 73,8

C-17 33,5 56,9 28,1 82,5 74,3 81,1-82,3 28,7

C-18 23,4 57,3 28,1 74,7 82,7 81,1-82,3 28,8

C-19 129,0 27,8 82,8 34,5 a 28,2 b 32,3

28,5 73,5

C-20 131,1 25,2 74,3 25,8-29,6 a 28,2 b 28,2

28,8 80,1

C-21 27,2 128,1 34,0 25,8-29,6 82,7 83,0 26,9

C-22 25,4-29,5 131,1 25,7-29,7 25,8-29,6 74,4 74,2 31,9

C-23 25,4-29,5 27,2 25,7-29,7 25,8-29,6 37,0 33,3 70,5

C-24 25,4-29,5 29,6 25,7-29,7 25,8-29,6 25,7-29,7 25,6 82,0

C-25 25,4-29,5 24,3-29,7 25,7-29,7 25,8-29,6 25,7-29,7 29,3-29,7 25,5

Legenda: a GLEYE, C. et al. 1997; b GLEYE, C. et al, 2001; c GLEYE, C. et al. 1998; d

GLEYE, C. et al. 2000; e ALKOFAHI, A. et al. 1990; f GU, Z. et al. 1994; g SHI, G. et al.

1995.

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36

C-26 25,4-29,5 24,3-29,7 25,7-29,7 25,8-29,6 25,7-29,7 29,3-29,7 26-33

C-27 25,4-29,5 24,3-29,7 25,7-29,7 25,8-29,6 25,7-29,7 29,3-29,7 26-33

C-28 25,4-29,5 24,3-29,7 25,7-29,7 25,8-29,6 25,7-29,7 29,3-29,7 26-33

C-29 25,4-29,5 24,3-29,7 25,7-29,7 25,8-29,6 25,7-29,7 29,3-29,7 26-33

C-30 25,4-29,5 24,3-29,7 31,9 31,9 25,7-29,7 29,3-29,7 26-33

C-31 22,6 24,3-29,7 22,7 22,6 25,7-29,7 29,3-29,7 26-33

C-32 14,1 31,9 14,1 14,1 31,7 31,9 26-33

C-33 149,0 22,7 148,8 148,9 22,3 22,7 26-33

C-34 77,5 14,2 77,5 77,4 14,4 14,1 14,1

C-35 19,0 148,7 19,2 19,2 151,2 151,9 151,8

C-36 - 77,4 - - 77,9 78,0 78,0

C-37 - 19,2 - - 19,1 19,1 19,1

Quantos às análises de EM, algumas das técnicas utilizadas são a

espectrometria de massas com bombardeamento por átomos rápidos (EMBAR),

espectrometria de massas com ionização por “eletronspray” (EM-IES), e

espectrometria de massas com ionização por impacto eletrônico (EM-IE)

(MCLAUGHLIN, 2008; YANG et al. 2009). É possível encontrar na literatura estudos

do padrão de fragmentação das acetogeninas em EM que facilitam a sua

identificação. A maioria dos dados se refere a fragmentações por EM-IE, uma vez

que a maior parte das pesquisas envolvendo acetogeninas foram realizadas na

década de 90, e essa era a técnica mais acessível à época (LAPREVOTE e DAS,

1994; SMITH, LIU e WOOD, 1991). Análises por EM-IQ (espectrometria de massas

com ionização química) e EMBAR também eram empregadas, geralmente para a

definição da fórmula molecular. A Figura 6 apresenta um esquema de fragmentação

típico de coibina quando analisada por EM-IE.

Legenda: a GLEYE, C. et al. 1997; b GLEYE, C. et al, 2001; c GLEYE, C. et al. 1998; d

GLEYE, C. et al. 2000; e ALKOFAHI, A. et al. 1990; f GU, Z. et al. 1994; g SHI, G. et al.

1995.

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37

.

.

Atualmente, no entanto, a fonte de ionização mais comum nos

espectrômetros de massas é “eletronspray”, tendo os aparelhos com ionização por

impacto eletrônico quase desaparecido (SAWAYA et al. 2004; WU, RODGERS e

MARSHALL, 2005). No estudo das acetogeninas e outros lipídios complexos, o

método de ionização por eletronspray (IES), por ser mais brando que o método por

IE, pode levar à formação de íons primários [M + H]+ com sinais fracos, além da

formação de adutos como [M + Na]+, que podem dificultar a definição da estrutura

(ALLEGRAND et al. 2010). Por isso, é comum adicionar-se iodeto de lítio às

amostras estudadas, que leva à formação proeminente de íons [M + Li]+ e seus

fragmentos, possibilitando assim a obtenção de mais informações precisas e

relevantes (BENNION et al. 2007). Apesar disso, Gu e colaboradores (1997)

desenvolveram um método para identificação de acetogeninas por EM-IES, inclusive

em matrizes complexas, que dispensa a utilização de iodeto de lítio, tendo como

base a formação de adutos de sódio para auxiliar a identificação. A partir do estudo

de acetogeninas isoladas, este grupo de pesquisadores definiu quais seriam as

fragmentações características esperadas de uma determinada acetogenina de

acordo com sua massa e número de hidroxilas. Este método possibilitou a

identificação de sete acetogeninas de massas diferentes em um extrato metanólico

de Rollinia mucosa.

Figura 6 - Exemplo de fragmentações características de acetogeninas em espectometria de massas com ionização por impacto eletrônico (Coibina A) Fonte: GLEYE et al., 1997

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Figura 7 - Estruturas químicas de anonacina (A) e uvaricina (B)

Desde a descoberta da uvaricina (Figura 7B) em 1982, como a primeira das

acetogeninas, esta classe de metabólitos tem sido amplamente investigada pelo seu

elevado potencial de atividade biológica. De fato, a uvaricina, quando descoberta, foi

anunciada como novo agente anti-câncer (TEMPESTA, KRIEK e BATES, 1982), e

as acetogeninas de maneira geral foram reconhecidas como os mais potentes

inibidores do complexo I (NADH: ubiquinona oxidorredutase) da cadeia respiratória

mitocondrial (BERMEJO et al. 2005; ESPOSTI et al. 1994). Hoje são conhecidas,

além da atividade antitumoral das acetogeninas, outras atividades importantes como

antimalárica, antiparasitária e pesticida (MCLAUGHLIN, 2008).

As acetogeninas, apesar de serem potentes agentes citotóxicos contra células

cancerígenas, após serem estudadas por mais de trinta anos ainda não geraram

nenhum fármaco anti-câncer. Seu mecanismo de ação ainda não foi completamente

elucidado. Restam dúvidas quanto ao sítio de ligação exato e relações estrutura-

atividade. Sabe-se que a natureza lipofílica das acetogeninas é fator importante na

ligação ao sítio na mitocôndria (TORMO et al. 1999), mas estudos realizados

utilizando diferentes acetogeninas, que se distinguiam apenas pelas posições de

hidroxilas, ou pela presença de anéis THF, revelaram pouca ou nenhuma variação

na atividade apresentada entre elas. Foi demonstrado, no entanto, que as

acetogeninas mais ativas são aquelas do tipo bis-THF adjacentes com γ-lactona-α-β-

insaturada, além de que um maior número de hidroxilas parece aumentar a atividade

(TAKADA et al. 2000).

(A)

(B)

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39

Em resumo, as acetogeninas, ainda que descobertas há mais de trinta anos,

e pesquisadas desde então, continuam sendo importantes alvos de estudos como

classe de metabólitos secundários promissora para o tratamento de câncer e outras

doenças como malária e leishmaniose.

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40

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Realizar análise fitoquímica e avaliar a atividade leishmanicida de sementes

de Annona muricata L.

3.2 Objetivos específicos

Caracterizar, em termos farmacognósticos, o pó das sementes de Annona

muricata L.;

Obter e caracterizar extrato etanólico e frações;

Quantificar as acetogeninas no extrato e frações por RMNq.

Avaliar atividade in vitro do extrato etanólico e frações obtidos:

o Antipromastigota frente a cepa de Leishmania amazonensis;

o Anti-amastigota frente a cepa de Leishmania amazonensis;

o Citotóxica em macrófagos murinos imortalizados.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Materiais

4.1.1 EQUIPAMENTOS

Balança analítica - Bioprecisa, modelo FA2104 N Eletronic Balance;

Cabine de fluxo laminar vertical – Pachane, modelo PA 310;

Coluna de fase reversa LiChrospher® RP 18 (5 µM) 12,5 cm LiChrocart 125-4

(Merck Millipore®);

Cromatógrafo líquido de alta eficiência (CLAE-DAD), modalidade analítica,

Waters®, equipado com injetor automático, mod. 2695; detector de arranjos

de diodos (DAD), mod. 2996; bomba mod. L-6200A; integrador, mod. C-R4A;

Cromatógrafo líquido de ultra eficiência acoplado a espectrômetro de massas

(CLUE-PDA-MS/ESI) marca WATERS ACQUITY® H-Class Core System.

Espectômetro de RMN Bruker Advance DPX 200;

Incubadora de CO2- Ultrasafe, modelo HF212 UV;

Leitora de Microplacas - Biotek, modelo ELX 808;

Medidor de pH, Marconi, modelo PA200;

4.1.2 SOLVENTES

Acetato de etila, ácido fórmico, ácido fosfórico, clorofórmio, diclorometano, n-

hexano, hidróxido de amônio, metanol (Isofar®);

Acetonitrila grau CLAE, metanol grau CLAE (Tedia Company®);

Água deionizada (sistema Milli-Qplus);

Clorofórmio deuterado (Merck®);

DMSO-D6 (Sigma Aldrich®);

Etanol (Souza Cruz®).

4.1.3 FASES ESTACIONÁRIAS

Sílica gel 60 (0,063 – 0,200 mm) para coluna cromatográfica (Merck®).

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Sílica gel 60 G (90% < 55 µm) para cromatoplacas (Merck®)

4.1.4 MEIO DE CULTURA E OUTROS

Fosfato de sódio dibásico anidro P.A- Labsynth produtos para laboratório;

Gentamicin (Sulfato de gentamicina) 80 mg/2mL solução injetável - Nova

Farma Indústria Farmacêutica LTDA;

Meio RPMI 1640 (Roswell Park Memorial Institute) com glutamina e 25 MM;

Bicarbonato de sódio- Sigma Aldrich;

MTT (brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-yl)-2,5-difeniltetrazolium 500 mg,

Sigma-Aldrich;

Penicilina G - Sigma Aldrich;

Soro bovino Fetal – Gibco®.

4.1.5 REVELADORES PARA CROMATOGRAFIA EM CAMADA DELGADA (CCD)

4.1.5.1 Anisaldeído - Ácido Sulfúrico (AS)

Misturou-se anisaldeído (0,5 mL) com ácido acético glacial (10 mL), em

seguida adicionou-se metanol (85 mL) e ácido sulfúrico concentrado (5 mL). A

seguir, o reagente foi armazenado em frasco âmbar sob refrigeração (2-8°C;

WAGNER; BLADT; ZGAINSKI, 1984).

4.1.5.2 Reagente Kedde

Solução A: Ácido 3,5-dinitrobenzóico a 3% em metanol. Solução B: KOH a

5,7% em água. As soluções foram combinadas no momento da pulverização nas

placas (MULIA et al. 2015).

4.1.6 PREPARO DOS MEIOS DE CULTIVO

O meio RPMI (Roswell Park Memorial Institute) 1640 (com L-Glutamina e sem

bicarbonato de sódio) incompleto foi preparado utilizando-se cerca de 800 mL de

água ultrapura (Milli-Q®) em béquer, à qual foram adicionados sob agitação

constante: bicarbonato de sódio (2 g), D-glicose (2 g; dextrose), tampão HEPES

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(5,98 g), RPMI 1640 em pó (10,4 g). O conteúdo foi então transferido para balão

volumétrico de 1L e o volume completado com água ultrapura. Logo após, ajustou-

se o pH do meio para 7,2. O meio foi esterilizado em membrana de 0,22 μm e

acondicionado em frascos estéreis mantidos a 4 ºC.

Para o preparo de 40 mL do meio RPMI completo, foram adicionados ao meio

RPMI incompleto, preparado de acordo com o descrito acima, 4 mL de soro fetal

bovino desnaturado (a 56 °C) e 0,4 mL de uma solução de antibiótico (10.000 U/mL

de penicilina + 10.000 µg/mL de estreptomicina, Gibco®), previamente preparada. O

preparo deste meio segue o Protocolo Experimental do Instituto Evandro Chagas.

4.1.7 MATERIAL BIOLÓGICO

4.1.7.1 Parasito Leishmania

A espécie de parasito utilizada foi L. (L.) amazonensis. Para o ensaio

antipromastigota utilizou-se cepa isolada de caso humano procedente de

Ulianópolis, Estado do Pará, gentilmente cedido pelo Instituo Evandro Chagas, cujo

código é MHOM/BR/2009/M26361. Para o ensaio anti-amastigota utilizou-se a cepa

199 cedida pelo ICBIM/UFU. Cepas diferentes foram utilizadas em cada teste por

questões de disponibilidade.

4.1.8 MATERIAL VEGETAL

As sementes foram obtidas em três diferentes remessas, entre abril-maio de

2015, todas advindas de frutos produzidos em cultivo particular, no município de

Tomé-Açu, Estado do Pará, sob as coordenadas 2°25'S 48°07'W. Uma exsicata foi

produzida, mas ainda aguarda identificação.

As sementes de A. muricata foram lavadas em água corrente e imersas

brevemente por 3 vezes em etanol a 70%, seguindo-se a isso a secagem a 40 °C

em estufa com ventilação de ar forçado por sete dias. Após a secagem das

sementes, estas foram reduzidas a pó em moinho de facas.

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4.2 Métodos

4.2.1 ANÁLISES FARMACOGNÓSTICAS

4.2.1.1 pH

A determinação do pH foi efetuada de acordo com a Farmacopeia Brasileira V

ed. (BRASIL, 2010). Uma amostra de 3g do pó foi adicionada à água destilada para

o preparo de uma solução a 1%, que foi então aquecida em chapa elétrica por 5

minutos. O extrato em seguida foi filtrado por algodão e levado ao potenciômetro. O

procedimento foi efetuado em triplicata e o resultado definido pela média aritmética.

4.2.1.2 Perda por dessecação

A perda por dessecação consiste em um método gravimétrico para

determinação de água e substâncias voláteis em drogas vegetais. Conforme descrito

na Farmacopéia brasileira, uma amostra de 2g do material vegetal em pó foi

transferida para pesa-filtro, em seguida levada à estufa a 110 ºC por 5 horas. Após

esse período a amostra arrefeceu em dessecador e foi pesada novamente para

calcular a diferença na massa (BRASIL, 2010). O procedimento foi efetuado em

triplicata e o resultado definido pela média aritmética.

4.2.1.3 Teor de cinzas totais

A determinação de cinzas totais abrange tanto as cinzas de origem fisiológica

quanto não fisiológicas. Uma amostra de 3g do material vegetal em pó foi pesada e

transferida para um cadinho previamente tarado, e então incinerada em mufla

(Quimis®), obedecendo-se um gradiente de temperatura a fim de se evitar projeções

do material: 30 minutos a 200ºC, 60 minutos a 400ºC e 90 minutos a 600ºC

(BRASIL, 2010). O procedimento foi realizado em triplicata e o resultado definido

pela média aritmética.

4.2.1.4 Densidade aparente

A densidade aparente considera o volume total da amostra incluindo o espaço

vazio entre os grãos. Neste procedimento o material vegetal foi colocado em uma

proveta até preencher o volume de 15 mL. A proveta então foi pesada em balança

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analítica e os valores de densidade foram obtidos através do quociente entre o valor

da massa e volume (SAMPAIO e SILVA, 2007). O procedimento foi realizado em

triplicata e o resultado definido pela média aritmética.

4.2.1.5 Granulometria

A granulometria foi determinada de acordo com a Farmacopeia Brasileira,

com adaptações. Uma amostra de 10g do pó foi adicionada à sequência de peneiras

1,70 mm; 710 µm; 355 µm; 180 µm e 125 µm, as quais foram levadas ao agitador

mecânico por 15 minutos. Ao final deste tempo a quantidade retida em cada peneira

foi pesada e definido o tipo do pó (BRASIL, 2010). O procedimento foi realizado em

triplicata e o resultado definido pela média aritmética.

4.2.2 PREPARAÇÃO DO EXTRATO ETANÓLICO DE SEMENTES (EE)

O extrato etanólico foi preparado por maceração exaustiva, utilizando-se 400g

do pó das sementes e etanol 96 °GL como solvente extrator. O extrato resultante foi

recolhido e concentrado em evaporador rotativo até resíduo, obtendo-se assim o

extrato etanólico (EE) das sementes, de caráter pastoso, que foi conservado (no

congelador de uma geladeira) a -2 °C.

4.2.3 PARTIÇÕES LÍQUIDO-LÍQUIDO DO EXTRATO ETANÓLICO DE SEMENTES

(EE)

O EE obtido foi dividido em três porções de aproximadamente 20g cada. Para

cada uma delas seguiu-se um processo diferente de partição líquido-líquido a fim de

que se pudesse avaliar qual seria o método mais apropriado para a obtenção de

uma fração rica em acetogeninas.

4.2.3.1. Método 1 - Primeira partição líquido-líquido

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Uma alíquota do EE (20 g) foi dissolvida em 300 mL de uma solução de

MeOH/H2O 1:1 que foi submetida a extrações sucessivas com n-hexano e

clorofórmio, de acordo com o fluxograma a seguir:

Figura 8 - Fluxograma da partição líquido-líquido do Extrato Etanólico pelo Método 1.

MeOH/H2O: solução metanol/água 1:1

Da partição, portanto, foram obtidas três frações: Fração Hexânica (FH1);

Fração Clorofórmica (FCL1) e Fração Metanol-Água (FMH1).

4.2.3.2. Método 2 - Segunda partição líquido-líquido

Uma alíquota de EE (20 g) foi dissolvida em 300 mL de uma solução de

MeOH/H2O 1:1 e em seguida foi submetida a extrações sucessivas com

diclorometano e acetato de etila, de acordo com o fluxograma a seguir:

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Figura 9 - Fluxograma da partição líquido-líquido do Extrato Etanólico pelo Método 2. MeOH/H2O: solução metanol/água 1:1

Da partição foram obtidas, portanto, três frações: Fração Diclorometano

(FDM2); Fração Acetato de Etila (FAE2) e Fração Metanol-Água (FMH2).

4.2.3.3. Método 3 - Terceira partição líquido-líquido

O EE tendo sido mantido em geladeira, veio a formar grandes e numerosos

cristais. Quando da divisão do EE total em 3 porções de aproximadamente 20g,

estes cristais foram reunidos em uma das porções. Adicionou-se então a essa

porção do extrato 50 mL de n-hexano, a qual foi em seguida filtrada, obtendo-se

assim uma fração solúvel em n-hexano, e os cristais, separadamente.

Figura 10 - Fluxograma da separação dos cristais formados no Extrato Etanólico da porção solúvel em n-hexano.

Resíduo

EE +

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Após essa etapa, ao resíduo da fração solúvel em n-hexano (EEH), foram

adicionados 100 mL de uma solução de MeOH/H2O 1:1, e a solução obtida foi

submetida a partições sucessivas, com clorofórmio e acetato de etila, de acordo com

o fluxograma a seguir:

Figura 11 - Fluxograma da partição líquido-líquido do Extrato Etanólico pelo Método 3. MeOH/H2O: solução metanol/água 1:1

Da partição, portanto, foram obtidas três frações: Fração Clorofórmica (FCL3);

Fração Acetato de Etila (FAE3) e Fração Metanol-Água (FMH3).

4.2.4 FRACIONAMENTO DE FAE2 POR CROMATOGRAFIA EM COLUNA DE

SÍLICA GEL (CCS)

FAE2 foi submetida a cromatografia em coluna aberta de sílica gel 60 (0,2-0,5

mm 107734 Merck®), com as seguintes características: 1,5g de amostra; altura da

coluna - 75 cm; altura da porção com sílica e amostra - 30 cm; diâmetro da coluna -

5,5 cm, visando a obtenção de uma fração rica em acetogeninas. A partir de FAE2

obtiveram-se 27 subfrações, que foram avaliadas em CCD e CLAE-DAD, sendo

selecionada a subfração FAE2(5), com massa > 100 mg e perfil sugestivo de

acetogeninas para refracionamento.

O refracionamento de FAE2(5) ocorreu novamente por CCS com as seguintes

características: 117 mg de amostra; altura da coluna - 100 cm; altura da porção com

sílica e amostra - 35 cm; diâmetro interno da coluna - 1,5 cm. Obtiveram-se 15

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subfrações que foram submetidas à análise por CCD. As subfrações número 5 e 6

foram reunidas por apresentarem perfil semelhante, e sugestivo de acetogeninas, e

nomeadas FAE2(5.5).

4.2.5 - FRACIONAMENTO DE FCL3 POR CROMATOGRAFIA EM COLUNA DE

SÍLICA GEL (CCS)

FCL3 foi submetida a CCS utilizando-se sílica gel 60 (0,2-0,5 mm 107734

Merck®), com as seguintes características: 13g de amostra; altura da coluna - 75

cm; altura da porção com sílica e amostra - 45 cm; diâmetro da coluna - 5,5 cm, com

o intuito de se obter uma fração enriquecida em acetogeninas. A partir de FCL3

obtiveram-se 22 subfrações, que foram avaliadas por CCD, e as frações de número

7 a 12 apresentaram perfil sugestivo de acetogeninas.

4.2.6 DETECÇÃO DE ACETOGENINAS POR CROMATOGRAFIA EM CAMADA

DELGAGA (CCD)

O extrato etanólico das sementes, as frações resultantes das partições

líquido-líquido e as frações e subfrações de colunas cromatográficas foram

analisadas por CCD. Foram preparadas cromatoplacas com sílica gel 60 G para

CCD (107731 Merck®), nas quais foram aplicadas as amostras a serem analisadas.

Diferentes solventes ou misturas de solventes foram utilizados como fases móveis,

levando-se em conta a polaridade dos constituintes esperados. Como reveladores

para as acetogeninas foram utilizados os reagentes de Kedde (VILA-NOVA et al.

2011) e anisaldeído sulfúrico (RAGASA et al. 2014). Sob a ação do reagente de

Kedde as acetogeninas geram uma cor entre róseo e lilás, geralmente fraca, que

esvanece em pouco tempo, bastando-se, no entanto, reaplicar o reagente para

realçar a coloração novamente. É importante ressaltar que o reagente de Kedde

colore apenas as acetogeninas que possuam anel γ-lactônico α-β-insaturado,

excluindo os outros tipos (VILA-NOVA et al. 2011). No entanto, as acetogeninas

desse tipo são as mais comuns (BERMEJO et al. 2005). Para os casos de

acetogeninas que não possuem o anel γ-lactônico α-β-insaturado, o anisaldeído

sulfúrico age como um revelador geral, produzindo uma cor rósea ou esverdeada na

presença de acetogeninas (RAGASA et al. 2014).

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4.2.7 ANÁLISES POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA EFICIÊNCIA

ACOPLADA A DETECTOR DE ARRANJOS DE DIÔDOS (CLAE-DAD).

As amostras analisadas foram preparadas em tubo cônico do tipo eppendorf

de 2 mL, adicionando-se 3 mg de cada amostra dissolvida em 1 mL de metanol grau

CLAE. Em seguida fez-se sonicação em aparelho de ultrassom por 10 minutos e

então centrifugação por 10 minutos a 10.000 rpm, para se obter sobrenadante mais

límpido. As amostras foram então filtradas e transferidas para tubos identificados. O

volume de amostra injetado foi de 10 µL.

Os espectros no UV foram registrados no comprimento de onda de 210 nm.

Foram empregadas duas programações de eluição, uma delas, que será aqui

referida como Programação A, é usualmente empregada no Laboratório de

Fitoquímica da Faculdade de Farmácia/UFMG na análise preliminar de extratos

vegetais, e a segunda, aqui referida como Programação B, foi descrita para a

análise de amostras contendo acetogeninas (YANG et al. 2010). Os dados

referentes a estas condições de análise constam das tabelas 5 e 6.

Tabela 5 - Programação A: Condições utilizadas nas análises por CLAE-DAD

Tempo (min)

Fluxo (mL/min)

Eluente A* (%)

Eluente B** (%)

Temperatura (°C)

Coluna Detecção UV

0

1

95,0 5,0

40

LiChrospher 100, C-18,

125 x 4 mm, 5 µm

210 nm 60 5,0 95,0

65 5,0 95,0

70 95,0 5,0

* H2O + 0,1% ác. Fosfórico ** Acetonitrila

Tabela 6 - Programaçao B: Condições utilizadas nas análises por CLAE-DAD

Tempo (min)

Fluxo (mL/min)

Eluente A* (%)

Eluente B** (%)

Temperatura (°C)

Coluna Detecção

UV

0

1

15,0 85,0

40

LiChrospher 100, C-18,

250 x 4 mm, 5 µm

210 nm 40 15,0 85,0

60 5,0 95,0

* H2O + 0,1% ác. Fosfórico ** Metanol

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4.2.8 ANÁLISES POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ULTRA EFICIÊNCIA

ACOPLADA A DETECTOR DE ARRANJO DE DIÔDOS (CLUE-DAD) E

ESPECTÔMETRO DE MASSAS COM IONIZAÇÃO POR ELECTROSPRAY (IES-

MS)

As análises foram realizadas em espectrômetro de massas com detector TQ

Acquity Waters com ionização por electrospray (+) acoplado a cromatógrafo Acquity

UPLC Waters e detector PDA Acquity Waters.

As amostras foram preparadas em tubo cônico do tipo eppendorf de 2 mL,

adicionando-se 2mg de cada amostra dissolvida em 1 mL de metanol grau CLAE.

Em seguida foi realizada sonicação em aparelho de ultrassom por 10 minutos e

então centrifugação por 10 minutos a 10.000 rpm. As amostras foram então filtradas

e transferidas para tubos identificados. O volume de injeção utilizado foi de 0,3 µL.

As condições de análise constam da Tabela 7.

Tabela 7 - Condições utilizadas nas análises por CLUE-DAD-IES-MS

Tempo (min)

Fluxo (mL/min)

Eluente A* (%)

Eluente B** (%)

Temperatura (°C)

Coluna Detecção

UV

0

0,3

95,0 5,0

40 °C

Acquity UPLC

HSS, C-18 SB, 50 x 2,1 mm, 1,8 µm

210 nm 10 5,0 95,0

11 95,0 5,0

13 95,0 5,0

* H2O + 0,1% ác. Fórmico ** Acetonitrila

4.2.8.1 Identificação de acetogeninas no extrato e frações a partir das análises por

CLUE-EM-IES

Para a identificação de acetogeninas em misturas através dos dados obtidos

na análise por CLUE-EM-IES foi utilizada a metodologia descrita por Gu e

colaboradores (1997), com modificações. A identificação é possível a partir dos íons

característico obtidos pela fragmentação de acetogeninas em modo positivo, que

são aqueles de massas [M + Na]+, [M + H]+ e íons fragmentários resultantes de

perdas de água, de acordo com o número de hidroxilas na molécula, representados

pelos íons [M + H - H2O]+, [M + H - 2H2O]+, etc. Além disso, acetogeninas com uma

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hidroxila na posição C-4 apresentam perda da unidade γ-lactona + 1CH3 da cadeia

alifática representada por íons de massa [M + Na - 112]+, esta perda, porém,

aparece mais claramente quando analisada por estudos de massas-massas. Como

exemplo, uma acetogenina de massa 596 que possui quatro hidroxilas ao longo da

cadeia alifática deve gerar os fragmentos com as seguintes massas: 619 [M + Na]+,

597 [M + H]+, 579 [M + H - H2O]+, 561 [M + H - 2H2O]+, 543 [M + H - 3H2O]+, 525 [M

+ H - 4H2O]+ e, possivelmente, 507 [M + Na - 112]+. Vale ressaltar, no entanto, que

esta metodologia não possibilita diferenciar acetogeninas isoméricas que estejam

em mistura, mas apenas confirmar a presença de uma ou mais acetogeninas de

uma determinada massa. Para a identificação de acetogeninas específicas

seguindo-se este método seria necessária a utilização de padrões, com a

comparação dos TRs dos fragmentos característicos no padrão e na mistura.

O EE e as frações FAE2, FAE2(5.5), FAE2(5.6), FCL3, FCL3.7 e FCL3.12

foram, portanto, investigados quanto a presença de acetogeninas por CLUE-EM-IES

de acordo com esta metodologia. Inicialmente foram obtidos o Cromatograma de

Íons Totais (CIT) de EE e os espectros de massas dos constituintes referentes aos

picos com tempos de retenção entre 7 e 12 minutos, faixa na qual se encontra a

maioria dos picos com absorção de radiação UV de λ 210 nm. Os sinais nos

espectros foram então analisados com o intuito de se encontrar um padrão de

fragmentação que correspondesse a algum grupo de acetogeninas já identificadas

em A. muricata, e de massa conhecida. Ainda, a intensidade relativa no espectro de

massas dos picos de íons comprovadamente relacionados a acetogeninas foi

considerada como indicativa da abundância daquela(s) acetogenina(s) de massa

correspondente. O mesmo procedimento foi utilizado para análise das frações.

4.2.9 ANÁLISES POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR DE HIDROGÊNIO

E CARBONO-13 (RMN de 1H e de 13C)

Os espectros de RMN de 1H e de 13C foram obtidos em espectrômetros

BRUKER AVANCE DPX200 e DRX400 no Laboratório de Ressonância Magnética

Nuclear de Alta Resolução – LAREMAR, Departamento de Química, ICEx, UFMG.

Os solventes utilizados na solubilização das amostras foram o clorofórmio deuterado

(CDCl3) e o dimetilsulfoxido deuterado (DMSO-d6). Os deslocamentos químicos (δ)

foram medidos em ppm e as constantes de acoplamento (J) em Hertz (Hz). Como

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referência interna foi utilizado o tetrametilsilano (TMS). Para processar os espectros

utilizou-se o programa TOPSPIN 3.0 - Bruker.

4.2.9.1 Identificação de acetogeninas no extrato etanólico e frações a partir das

análises de RMN de 1H e de 13C

O EE e algumas frações foram avaliados quanto a presença de acetogeninas

a partir da análise de RMN de 1H e de 13C. Buscou-se por sinais referentes a γ-

lactona conforme descrito nas Tabelas 1 e 2, e os sinais referentes ao restante da

molécula de acordo com as Tabelas 3 e 4. Aquelas amostras que apresentaram

estes sinais foram tidas como positivas para a presença de acetogeninas. Em

conjunto com dados obtidos pela análise por CLUE-EM-IES, procurou-se confirmar a

presença de alguns tipos específicos de acetogeninas já descritas em A. muricata.

4.2.9.2 Quantificação de acetogeninas no extrato etanólico e frações por RMN

Para a quantificação de acetogeninas por RMN utilizou-se a metodologia

descrita por Machado e colaboradores (2014). As amostras analisadas foram

inicialmente dissolvidas em CDCl3, e a elas foi adicionado 1,0 mg de antraceno

como padrão interno. Em seguida, na análise por RMN de 1H, compara-se a área de

sinais referente ao antraceno e às acetogeninas. Estes devem estar em regiões do

espectro com pouca ou nenhuma sobreposição de sinais. No caso do antraceno

foram escolhidos os sinais referentes aos quatro α-hidrogênios da molécula, que

ocorrem como multipleto em torno de δ 8. Para acetogeninas foram escolhidos sinais

de hidrogênios presentes na unidade γ-lactona. No caso de anonacina, o sinal

referente ao H-35 que ocorre em torno de δ 7,18, e no caso de solamina, o sinal

referente ao H-33, que ocorre em torno de δ 6,97. A partir da relação entre os sinais

escolhidos do padrão e da acetogenina analisada é possível obter a concentração

através da fórmula a seguir:

Equação 1 - Fórmula para cálculo da concentração de acetogeninas

Em que IT e IIS são os valores das integrações referentes aos sinais de

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acetogenina selecionadas para este experimento e aos sinais do padrão interno,

respectivamente. MT é a razão entre a massa molar da acetogenina (anonacina ou

solamina) e o número de prótons referentes ao sinal em 7,18 (H-33/35 em

acetogeninas com OH em C-4) ou 6,98 (H-33/35 em acetogeninas sem OH em C-4)

ppm, e MIS a razão entre a massa molar do antraceno e o número de prótons na

região de δ 8. WIS é a massa do padrão interno (antraceno) em mg, e WL é a massa

da amostra em g.

4.2.10 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE LEISHMANICIDA

4.2.10.1 Atividade anti-promastigota

A atividade anti-promastigota foi avaliada através de uma adaptação do

método descrito por Okpekon et al. (2004). Formas promastigotas de L. (L.)

amazonensis, durante a fase logarítmica de crescimento, foram centrifugadas a

3500 rpm por 10 minutos. Em seguida, o sobrenadante foi desprezado e o

sedimento ressuspenso em meio RPMI completo. Os promastigotas do meio foram

quantificados em câmara de Neubauer e ajustados para uma concentração

correspondente a 5 x 106 parasitos/100 μL. Esta suspensão foi distribuída em placas

de cultura de células com fundo chato que já possuíam as amostras a serem

testadas (100 μL/poço). Na figura 12, encontra-se detalhada a disposição das

amostras na placa. As concentrações utilizadas para as amotras, e controle de

solvente foram 200; 100; 50; 25; 12,5; 6,25 e 3,125 μg/mL. O controle positivo foi

realizado pela adição de Anfotericina B nas seguintes concentrações: 25; 12,5; 6,25;

3,125, 1,5625 e 0,7812 μg/mL. As placas foram incubadas a 26 °C por 72h. Após o

período de incubação das promastigotas com as amostras e fármacos, foram

adicionados 10 μL de uma solução brometo 3-(4,5-Dimetiltiazol-2-il)-2,5-

difeniltetrazólio (MTT) a 5 mg/mL em cada poço. A placa foi coberta com papel

alumínio, sucedendo-se nova incubação por 4 h em estufa a 26 °C para que o MTT

seja metabolizado e consequentemente fossem formados os cristais de formazam.

Após 4 h, foi adicionado 10 μL de dimetilsulfóxido (DMSO), para solubilizar os

cristais de formazam gerados na metabolização do MTT. Para facilitar esse processo

foi empregada agitação manual por 5 min.

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55

Em seguida, realizou-se a leitura da densidade óptica das amostras em leitor

de placas de ELISA, no comprimento de onda de 490 nm. A viabilidade da forma

promastigota foi avaliada com base na absorbância dos poços, que é proporcional

ao MTT metabolizado. A porcentagem de células viáveis (promastigotas) foi

calculada pela seguinte fórmula, adaptada de Ngure et al. (2009):

Figura 13 - Fórmula para cálculo de células viáveis Fonte: NGURE e colaboradores (2009)

A concentração inibitória 50% (CI50) é a concentração que causa a redução de

50% das células em crescimento (viáveis) e foi determinada pelo programa

GraphPad Prism versão 6.0. Foram adotados os seguintes critérios para

determinação de atividade, adaptados de Mota et al. (2015):

Figura 12 - Disposição das amostras nas placas de 96 poços Legenda:

Fonte: SILVA, 2016

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Tabela 8 - Critérios para classificação da atividade leishmanicida de acordo com valores CI50

CI50 µg/mL Resultados

100 Ativo

Entre 101-200 Moderadamente ativo

Acima de 200 Inativo

4.2.10.2 Atividade antiamastigota

O extrato etanólico de sementes de A. muricata e as frações derivadas deste

foram avaliados quanto a sua atividade antiamastigota contra macrófagos infectados

por L. amazonensis (cepa 199) adaptando-se método de Neal e Croft (1984).

Macrófagos imortalizados (linhagem RAW 264.7) foram distribuídos em placas de 24

poços (1x105 macrófagos/poço) contendo lamínulas circulares. Em seguida, após a

adesão dos macrófagos às lamínulas, parasitos da espécie L. amazonensis (cepa

199) foram adicionados aos poços (1x106 parasitos por poço). Para que ocorresse a

infecção dos macrófagos pelos parasitos, as placas foram mantidas em níveis de

oxigênio de demanda biológica por 24h. Após a infecção, os macrófagos foram

adicionados aos poços as amostras teste em cinco concentrações (3,12µg/mL a

50µg/ml – fator de diluição 2), em duplicata. As placas contendo os macrófagos

infectados e as amostras foram incubadas por um período de 72h. Após este

período, as lamínulas foram retiradas dos poços, coradas por Panótico Rápido® e

analisadas em microscópio ótico. A taxa de infecção dos macrófagos (número de

macrófagos infectados / número de não infectados, após contagem de 300

macrófagos por lamínula, em triplicata) foi determinada para as amostras testes por

comparação com a taxa de infecção do controle sem tratamento (100% de infecção).

4.2.10.3 Atividade citotóxica

O extrato etanólico de sementes de A. muricata e as frações derivadas deste

foram submetidos à avaliação da citotoxicidade in vitro contra macrófagos murinos

RAW 264.7 segundo adaptação de método de Denizot e Lang (1986).

Resumidamente, as células foram distribuídas em microplacas de 96 poços (4x105

células/100μL por poço) e incubadas em estufa de CO2 à 37°C por 24h para a

adesão das células à placa. Em seguida, foram adicionados 100μL de meio RPMI

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57

completo contendo diferentes concentrações amostras testadas em triplicata. As

placas foram incubadas por mais 24h. Ao final deste período, foram adicionados

28μl/poço de uma solução de MTT a 2mg/mL. Após 1h30m de incubação com o

MTT foram adicionados 100μl/poço de DMSO. A leitura foi realizada em

espectrofotômetro a 570nm. A dose letal mínima que inibe em 50% o crescimento

das células na presença amostras testes e controle (Anfotericina B) foi determinada

em comparação com células cultivadas apenas em meio de cultura, consideradas

100% de crescimento. Os resultados foram avaliados no programa Origin 8.5 com

determinação das curvas dose-resposta traçadas com ajuste sigmoidal. Foram

determinadas as concentrações citotóxicas que inibem em 50% o crescimento das

células (CC50) em relação aos controles negativos (meio de cultivo com macrófagos,

sem amostras-teste ou Anfotericina B).

4.2.10.4 Índice de Seletividade

Para que se pudesse determinar o grau de segurança na utilização das

amostras testadas contra as células alvo, no caso, os macrófagos, foi calculado o

Índice de Seletividade (IS) de acordo com a seguinte fórmula (PAGÉ et al. 1993):

Foram consideradas seguras amostras com IS ≥ 10 (WENIGER et al. 2006).

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58

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Características farmacognósticas do pó das sementes de Annona muricata

Os estudos farmacognósticos são importantes por permitirem avaliar a

qualidade do material vegetal utilizado e auxiliarem na sua identificação quando

comparados a monografias das plantas investigadas (CHANDA, 2014). A análise de

umidade residual do pó por gravimetria gerou um valor médio de 11,4%, que se

encontra dentro do limite (8-14%) estabelecido pela Farmacopeia Brasileira V ed.

(BRASIL, 2010). O valor encontra-se um pouco acima do encontrado por outros

autores, como 8,5%, encontrado por Onimawo (2002) e 7,7% encontrado por

Kimboguila e colaboradores (2010), o que pode estar relacionado a uma maior perda

de constituintes voláteis junto da umidade (FITTKAU e KLINGE, 1973). Quanto ao

teor de cinzas totais, o valor encontrado de 1,44% encontra-se bem abaixo do

encontrado pelos mesmos autores citados acima, sendo de 13,6% para Onimawo

(2002) e 9,7% para Kimboguila e colaboradores (2010). Esse resultado indica uma

menor contaminação do pó obtido, já que o teor de cinzas está principalmente

relacionado à presença de matéria estranha. O valor de pH determinado para o pó

das sementes no presente estudo foi de 8,63. Este valor é semelhante ao

encontrado por outros autores que analisaram sementes de A. muricata (ONIMAWO,

2002; KIMBOGUILA et al. 2010), bem como sementes de outros integrantes da

família Annonaceae (FORMAGIO et al. 2010), e provavelmente está relacionado a

presença de alcaloides no gênero, que possuem caráter básico (HARBORNE,

1984). Nos estudos de granulometria, o pó obtido foi caracterizado como pó grosso,

de acordo com a Farmacopéia Brasileira V ed. (2010), com retenção de 82% do pó

no segundo tamis, de 355 µm. O pó grosso é adequado para a realização de

estudos fitoquímicos por reduzir a amostra a partes suficientemente pequenas para

aumentar a área de superfície, sem gerar compactação excessiva do pó, o que

poderia atrapalhar o processo de extração por solventes (ZHANG et al. 2007).

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59

5.2 Investigação de acetogeninas por CCD e CLAE-DAD

5.2.1 EXTRATO ETANÓLICO E FRAÇÕES DAS PARTIÇÕES

Para se chegar ao extrato etanólico e frações ricas em acetogeninas, foi

realizada a percolação do pó das sementes com etanol 96 °GL, seguida de

diferentes partições líquido-líquido. Os rendimentos dos processos extrativo e de

separação utilizados neste trabalho foram calculados e se encontram na Tabela 9.

Para a obtenção de um bom rendimento em processos extrativos é importante a

utilização de solventes e métodos adequados ao material vegetal utilizado

(BIMAKRA et al. 2011). Diferentes partes das plantas armazenam espécies e

concentrações diferentes de constituintes químicos que podem ainda variar de

acordo com fatores ambientais (solo, suprimento de água, temperatura, pragas,

espécies concorrentes, etc) e de maneira sazonal, variando com as estações do ano

ou até mesmo horas do dia (BLANK et al. 2007; STEFANELLO et al. 2010). No caso

de Annonas, as acetogeninas costumam ser encontradas em maior concentração

nas sementes e, no caso de Annona muricata, essa parte da planta oferece um

maior rendimento em extrações com etanol quando comparada a outras partes

como folha, casca, fruto, galhos e raiz (ANSANTE, 2014; BRITO, 2014;

RANISAHARIVONY et al. 2015). Assim, utilizou-se o etanol, um ótimo solvente

extrator, uma vez que é capaz de extrair constituintes em um amplo espectro de

polaridade (ANASTAS e WARNER, 2000; FALKENBERG et al. 2010), e o material

vegetal seco e em pó grosso (70% > 355 µm), o que melhora a extração por evitar a

compactação excessiva do pó e aumentar a superfície de contato (LAROZE et al.

2010). O método extrator foi a maceração, devido ao seu baixo custo, praticidade e

capacidade de extrair constituintes minoritários (RANISAHARIVONY et al. 2015).

O processo extrativo realizado a partir das sementes por percolação gerou um

extrato etanólico (EE) com rendimento de 15%. Este rendimento foi semelhante ao

encontrado por Brito (2014), que usou metodologia similar, portanto, sugere-se que

o método aqui utilizado foi eficiente na extração dos constituintes solúveis em etanol

presentes nas sementes de A. muricata. O EE foi submetido a partições por 3

métodos diferentes (págs. 40-43), e os rendimentos obtidos das frações que

constam na Tabela 9 foram semelhantes aos relatados por outros autores como

Brito (2014) e Ranisaharivony e colaboradores (2015). Os maiores rendimentos

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obtidos foram aqueles das frações hexânica (FH1, 75%), clorofórmica (FCL3, 72%) e

diclorometânica (FDM2, 62%), solventes de baixa e média polaridade. Isso se deve

provavelmente ao fato de sementes apresentarem usualmente um teor elevado de

óleos fixos (triacilgliceróis), que tendem a se concentrar nos solventes de caráter

menos polar em uma partição líquido-líquido com solventes de diferentes

polaridades (BRANCO et al. 2010). As frações de polaridade média, FCL1, FAE2

apresentaram um rendimento de 9 e 10%, respectivamente, semelhante ao das

frações mais polares FMH1 e FMH2, indicando que os constituintes mais polares

estão em teor mais baixo no extrato etanólico das sementes. No entanto, as frações

FAE3 e FMH3 da terceira partição, tiveram um rendimento de apenas 2,9 e 3%,

respectivamente. Isso ocorreu provavelmente por essas frações serem provenientes

de EEH, que presumivelmente extraiu principalmente compostos de baixa e média

polaridade do EE.

Tabela 9 - Rendimentos do processo extrativo das sementes de Annona muricata e partições

do extrato etanólico

Extrato/frações Método extrativo Quantidade inicial

(g) Rendimento g (%)

EE Maceração a partir do pó das sementes com etanol 96 °GL

(pág. 40) 400 60 g (15%)

FH1

Partições do Extrato Etanólico (págs. 40-43)

20

15 g (75%)

FCL1 1,8g (9%)

FMH1 1,56g (7,8%)

FDM2

20

12,4g (62%)

FAE2 2g (10%)

FMH2 1,6g (8%)

FCL3

20

14,4g (72%)

FAE3 0,58g (2,9%)

FMH3 0,6g (3%)

Legenda: EE – extrato etanólico; FH1 – fração hexânica 1; FMH1 – fração metanol/água 1; FCL1 – fração clorofórmica 1; FDM2 – fração diclorometano 2; FMH2 – fração metanol/água 2; FAE2 – fração acetato de etila 2; FCL3 – fração clorofórmica 3; FMH3 – fração metanol/água 3; FAE3 – fração acetato de etila 3.

A detecção de acetogeninas por CCD no extrato e frações revelou a presença

destes metabólitos em quase todas elas (Tabela 10, Figuras 14 e 15). EE e EEH

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apresentaram perfis em CCD semelhantes quando as placas foram reveladas pelo

reagente de Kedde, sugerindo que boa parte das acetogeninas presente no EE são

solúveis em hexano, o que levanta a hipótese de um extrato hexânico ser a melhor

opção para extração de acetogeninas das sementes de A. muricata, diminuindo uma

etapa do processo aqui utilizado. A diferença dos perfis quando revelados por

anisaldeído sulfúrico pode estar relacionada a outros constituintes que não

acetogeninas, já que o AS é um revelador inespecífico.

Quanto às análises por CCD das frações das partições líquido-líquido, entre

aquelas da primeira partição, todas apresentaram resultado positivo para Kedde, o

que aponta para o fato de existirem acetogeninas de diferentes polaridades no EE.

No entanto, FCL1 apresentou uma mancha mais intensa que as demais frações, o

que pode sugerir uma maior concentração de acetogeninas nesta fração, de

polaridade média. Nas análises com revelação por AS, os perfis de FCL1 e FMH1

foram semelhantes, com manchas de mesma intensidade, o que sugere que um

mesmo grupo de constituintes está presente em ambas frações. Isto pode estar

associado, como discutido anteriormente, a utilização de um tempo inadequado no

processo de partição para a devida separação dos constituintes. FH1 teve resultado

negativo na revelação por AS, possivelmente por uma pequena concentração de

acetogeninas nesta fração.

Nas frações da segunda partição líquido-líquido, semelhantemente ao que

aconteceu naquelas da primeira partição, FAE2, fração obtida com solvente de

polaridade média, foi a que apresentou mancha mais intensa na análise com o

revelador de Kedde, sugerindo uma maior concentração de acetogeninas na

mesma. FDM2 e FMH2 também apresentaram resultado positivo para acetogeninas,

e as manchas revelam tipos de polaridades diferentes em cada uma delas. Na

análise por AS, todas frações foram positivas, apresentando mais uma vez tipos

diferentes de acetogeninas, pelas suas manchas, o que aponta para uma melhor

separação, se comparado a frações da primeira partição.

Nas frações da terceira partição líquido-líquido, mais uma vez todas foram

positivas na análise com revelador de Kedde. FCL3, neste caso a fração de menor

polaridade, foi a que apresentou mancha mais intensa. No entanto, como já

discutido, FCL3 e FAE3 foram obtidas com solventes de polaridade muito

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semelhante, por isso pode-se afirmar que mais uma vez as acetogeninas parecem

ter se concentrado no solvente de polaridade média. FAE3 apresentou resultado

negativo na análise por AS, possivelmente por uma baixa concentração de

acetogeninas nesta fração.

Tabela 10- Resultados da detecção de acetogeninas por cromatografia em camada delgada

Amostra Revelador Resultado

EE Kedde +

Anisaldeído sulfúrico (AS) +

FH1 Kedde +

Anisaldeído sulfúrico (AS) -

FMH1 Kedde +

Anisaldeído sulfúrico (AS) +

FCL1 Kedde +

Anisaldeído sulfúrico (AS) +

FDM2 Kedde +

Anisaldeído sulfúrico (AS) +

FMH2 Kedde +

Anisaldeído sulfúrico (AS) +

FAE2 Kedde +

Anisaldeído sulfúrico (AS) +

FCL3 Kedde +

Anisaldeído sulfúrico (AS) +

FMH3 Kedde +

Anisaldeído sulfúrico (AS) -

FAE3 Kedde +

Anisaldeído sulfúrico (AS) -

Legenda: EE: Extrato Etanólico; FH1: Fração Hexânica 1; FMH1: Fração metanol/água 1; FCL1: fração clorofórmio 1; FDM2: fração diclorometano 2; FAE2: fração acetato de etila 2; FMH2: fração metanol/água 2; FCL3: fração clorofórmio 3; FAE3: fração acetato de etila 3; FMH3: fração metanol/água 3

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Figura 14 – Cromatograma por CCD do extrato etanólico e porção solúvel em n-hexano

Legenda - EEH: porção do extrato etanólico solúvel em n-hexano; EE: extrato etanólico de sementes

Fase móvel - Acetato de etila:Metanol 9:1 Reveladores - A: Kedde; B: Anisaldeído Sulfúrico

Figura 15 – Cromatograma por CCD das frações provenientes das partições Legenda - FH1: Fração Hexânica 1; FMH1: Fração metanol/água 1; FCL1: fração clorofórmio 1;

FDM2: fração diclorometano 2; FAE2: fração acetato de etila 2; FMH2: fração metanol/água 2; FCL3: fração clorofórmio 3; FAE3: fração acetato de etila 3; FMH3: fração metanol/água 3

Fase móvel - Acetato de Etila/Metanol 9:1 Reveladores - (A) Kedde (B) Anisaldeído Sulfúrico

EE EEH EE EEH

A B

FDM2 FMH2 FAE2 FDM2 FAE2 FMH2

AA AA BB BB

FH1 FMH1 FCL1 FH1 FMH1 FCL1

AA BB

FCL3 FAE3 FMH3 FCL3 FAE3 FMH3

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A reunião dos dados de cada partição líquido-líquido parece mostrar que as

acetogeninas, apesar de sua longa cadeia lipofílica, estavam presentes em maior

teor nas frações de polaridade intermediária, como acetato de etila (FAE2) e

clorofórmio (FCL1 e FCL3), com exceção de FAE3. Isso se deve, provavelmente, ao

grande número de funções oxigenadas (hidroxilas, anéis THF e anel lactônico)

presentes nas acetogeninas, que contribuem para aumentar sua polaridade, fazendo

com que tenham maior afinidade por solventes de polaridade média (FONTANA et

al. 1998; TAKADA et al. 2000). A análise por CLAE-DAD, discutida adiante, fortalece

esta hipótese, uma vez que se observou nas frações FAE2 e FCL3 uma maior

abundância de picos indicativos de acetogeninas, comparativamente às demais

frações.

Após a detecção de acetogeninas por CCD, análises por CLAE-DAD também

foram realizadas com o objetivo de conhecer o perfil cromatográfico do extrato e

frações, bem como detectar acetogeninas pelos seus espectros no UV registrados

online. Na Figura 16, que mostra os cromatogramas do extrato etanólico e frações

obtidos pela Programação A, se observa que, de maneira geral, parece haver alguns

picos comuns aos vários cromatogramas, na faixa de 46 a 54 min. Os espectros no

UV referentes aos constituintes destes picos, obtidos online, mostram que todos

podem ser atribuídos a acetogeninas, apresentando absorção no UV em torno de

210 nm. Este resultado é promissor, mostrando que as acetogeninas foram

extraídas eficientemente pelo etanol.

Na Figura 16A, que corresponde ao cromatograma por CLAE-DAD do EE, é

possível verificar vários picos com diferentes tempos de retenção, sugerindo uma

composição variada, com substâncias de diferentes polaridades. Tal resultado era

esperado, uma vez que os extratos brutos costumam ser matrizes muito complexas,

com diferentes constituintes (RAVAOMANARIVO et al. 2014; GOMATHI et al. 2015).

Deve-se ressaltar que os picos de maior intensidade aparecem a partir de 46 min, o

que, devido às características utilizadas na análise segundo as quais constituintes

de baixa polaridade possuem TRs maiores, indica que a maior parte dos

constituintes do EE com absorção em torno de 210 nm seja de

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TR 21,6 min

TR 53,1 min

TR 16,2 min

TR 3,2 min TR 52,9 min

TR 2,4 min TR 14,6 min

TR 53 min TR 43,3 min

TR 53 min

TR 54,1 min

TR 52,9 min TR 16,2 min

TR 46,8 min

TR 47,7 min

TR 47,8 min

TR 49 min

TR 12,7 min

TR 14,7 min

TR 12,7 min

TR 11,3 min

B

C

G

I

J

H

F

D

E

A

Figura 16 - Cromatograma por CLAE-DAD do extrato etanólico e suas frações com tempo de retenção (TR) de picos de interesse

Condição: Programa A - Coluna LiChrospher 100, C-18, 125 x 4 mm, 5 µm; fluxo = 1 mL/min, temperatura 40 °C

Fase móvel: t = 0 min: 95% água e 5% acetonitrila; t = 60 min: 5% água e 95% acetonitrila; t = 65 min: 5% água e 95% acetonitrila; t = 70 min: 95% água e 5% acetonitrila

Legenda: A - extrato etanólico; B - fração hexânica 1 (FH1); C - fração clorofórmica 1 (FCL1); D - fração metanol/água 1 (FMH1); E - fração diclorometano 2 (FDM2); F - fração acetato de etila 2 (FAE2); G - fração metanol/água 2 (FMH2); H - fração clorofórmica 3 (FCL3); I - fração acetato de etila 3 (FAE3); J - fração metanol/água 3 (FMH3).

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média a baixa polaridade. O espectro de absorção no UV referente ao constituinte

responsável pelo pico de maior intensidade com TR 46,81 min (Figura 17) possui

uma absorção máxima próxima a 210 nm (~208 nm), característica de acetogeninas

com anel γ-lactônico α-β-insaturado (MELOT et al. 2009; YANG et al. 2010). Além

disso, o tempo de retenção é semelhante ao encontrado por outros autores que

utilizaram perfis de análise por CLAE semelhantes ao utilizado no presente trabalho

(GROMEK et al. 1994; GU et al. 1995). O pico vizinho ao mais intenso, com TR 47,7

min, apresenta máximo de absorção no UV online em 214 nm, podendo também ser

atribuído a uma acetogenina. As absorções no UV de outros picos sugerem tratar-se

também de acetogeninas com diferentes TRs.

Nos cromatogramas referentes às frações da primeira partição, FH1, FCL1 e

FMH1 (Figura 18), observa-se que na fração FH1 predominam substâncias de baixa

polaridade, como era de se esperar, mas também estão presentes substâncias de

média polaridade. O pico 1 desta fração (TR 21,6 min), pico de maior área (12,56%),

bem como o pico 22 (TR 53,1 min), ambos com max em torno de 210 nm, sugerem a

presença de acetogeninas. Em FCL1 estão presentes substâncias de alta, média e

Figura 17 - Espectros de absorção no UV de picos do Extrato Etanólico registrados por CLAE-DAD

Legenda: TR - tempo de retenção; AU - absorbância

TR 53 min

TR 63,8 min TR 55,3 min

TR 49,2 min TR 48,7 min

TR 53,5 min

TR 46,8 min TR 47,7 min

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baixa polaridade, e o pico majoritário (TR 52,9 min) provavelmente é devido a uma

acetogenina, considerando sua absorção no UV (Figura 19). A fração FMH1 contém,

principalmente, compostos polares, como se deduz pela predominância dos picos

com TR de até 20 minutos. Seus picos majoritários, 1 (TR 2,4 min, 17,4% área) e 9

(TR 14,6 min, 21,3% área), provavelmente não correspondem a acetogeninas, como

se deduz a partir de seus espectros no UV, mas os picos com TR 22,1 min e 25,6

min apresentam, ambos, absorção no UV com max de 209,6 nm, sugerindo a

presença de acetogeninas mais polares.

FH1

FCL1

FMH1

21,6 min 53,1 min

52,9 min

2,4 min

14,6 min

22,1 min 25,6 min

Figura 18 - Cromatogramas por CLAE-DAD das frações da primeira partição Legenda: FH1 – fração hexânica 1; FCL1 – fração clorofórmica 1;

FMH1 – fração metanol/água 1

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68

É importante observar que as acetogeninas estão presentes em todos as

frações desta partição, com tempos de retenção diversos, apontando para

acetogeninas com diferentes polaridades, resultado este consonante com aqueles

encontrados na análise por CCD. A justificativa para esta constatação é o fato de as

acetogeninas apresentarem variada polaridade em função do variado número de

funções oxigenadas presentes nessas moléculas. De fato, já foram isoladas

acetogeninas com apenas dois grupos hidroxila, como montecristina, portanto de

menor polaridade, assim como acetogeninas com três anéis THF e duas hidroxilas,

como a goniocina, portanto mais polares (ALALI et al. 1999; BERMEJO et al. 2005).

Figura 19 - Espectros de absorção no UV online de picos dos cromatogramas por CLAE-DAD referentes às frações da primeira partição

Legenda: TR - tempo de retenção; AU - absorbância; A - fração hexânica 1 (FH1); B - fração clorofórmica 1 (FCL1); C - fração metanol/água 1 (FMH1).

A

B

Figura 20 - Estruturas químicas de duas acetogeninas Legenda: A - Montecristina; B - Goniocina

TR 53,1 min

TR 16,2 min

TR 3,2 min

TR 52,9 min

TR 25,6 min TR 22,1 min

TR 2,4 min

TR 14,6 min

A A B

B B C

C C C

TR 21,6 min

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69

Nos cromatogramas referentes às frações da segunda partição (Figura 22),

nota-se que na fração FDM2 predominam picos com TR > 20 min, como era de se

esperar por se tratar de constituintes de baixa polaridade, solúveis em diclorometano

(RAO e NAGARAJU, 2003). Os picos mais intensos são aqueles de números 8 (TR

43,3 min, 13,5% área) e 12 (TR 53 min, 28,6% área), sendo que este último

apresenta espectro no UV característico de acetogeninas (Figura 21). Na fração

FAE2 predominam substâncias de média e baixa polaridade, com dois picos

intensos com TR 53,0 (36,0% área) e 54,1 (15,7% área) minutos, ambos com

absorção no UV com λmax 209,6 nm, sugestiva de acetogeninas. Os demais picos

registrados na faixa de 50 a 55 minutos possuem, todos, absorções em torno de λmax

210 nm (Figura 23), o que sugere uma fração rica em acetogeninas, motivo pelo

qual esta foi escolhida para subsequente fracionamento. A fração FMH2 apresenta

um perfil semelhante ao de FAE2, com a diferença de um maior número de picos

foram detectados nos primeiros 5 minutos, sendo, portanto, substâncias de caráter

mais polar, como esperado, uma vez que a fração metanol/água deveria acumular

as substâncias de caráter polar. É interessante observar, no entanto, que o pico

majoritário na fração FMH2 (TR 52,9 min, 26,4% área) parece corresponder ao pico

majoritário encontrado em FAE2 (TR 53,0 min), que foi relacionado à presença de

acetogeninas, e o mesmo ocorre com os demais picos próximos ao majoritário. Este

fato sugere que a separação na segunda partição não foi eficiente, sendo talvez

necessário um maior número de extrações da camada hidrometanólica com acetato

de etila para se ter uma melhor extração da provável acetogenina com TR 53,0 min.

(ACREE e ABRAHAM, 2006; MELWANKI e FUH, 2008). Mais uma vez, assim como

nas frações da primeira partição, todas as frações desta segunda partição

apresentaram picos que, pelos seus espectros no UV, devem corresponder a

acetogeninas.

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70

A A B

B C C

TR 53 min

TR 54,1 min

TR 53 min

TR 16,2 min TR 52,9 min

TR 43,3 min

Figura 21 - Espectros de absorção no UV online dos picos majoritários nos cromatogramas por CLAE-DAD das frações da segunda partição

Legenda: TR - tempo de retenção; AU - absorbância; A - fração diclorometano 2 (FDM2); B - fração acetato de etila 2 (FAE2); C - fração metanol/água 2 (FMH2).

53,0 min FDM2

FAE2

FMH2

43,3 min

53,0 min 54,1 min

52,9 min 54,1 min

Figura 22 - Cromatogramas por CLAE-DAD das frações da segunda partição Legenda: FDM2 – fração diclorometano 2; FAE2 – fração

acetato de etila 2; FMH2 – fração metanol/água 2

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71

Figura 23 - Espectros de absorção no UV online de picos do cromatograma por CLAE-DAD referentes à fração acetato de etila 2 (FAE2).

Legenda: TR - tempo de retenção; AU - absorbância

Nos cromatogramas referentes às frações da terceira partição (Figura 24),

claramente se nota que a maioria das substâncias menos polares se concentrou na

fração FCL3, enquanto que as mais polares se concentraram nas frações FAE3 e

FMH3. Isso ocorre porque o clorofórmio, primeiro solvente utilizado nesta partição,

possui caráter menos polar que o acetato de etila (4,1 e 4,4 P’ respectivamente), o

que levou a uma maior concentração dos constituintes mais polares na fração

acetato de etila, que apresentou perfil semelhante à fração FMH3. Os espectros no

UV relacionados aos constituintes responsáveis pelos picos mais intensos na fração

FCL3 (TR 47,8, 39,9% área e 49 min, 12,31% área) apresentam λmax em torno de

210 nm (Figura 25), sugerindo a presença de acetogeninas. Vários outros picos

registrados para esta fração também apresentam espectros no UV característicos de

acetogeninas (Figura 26), revelando que FCL3 é uma fração rica em acetogeninas.

No cromatograma de FAE3, os picos majoritários, com TR de 12,7 (20,9% área) e

14,7 min (16,0% área), apresentam espectros no UV (Figura 25) característicos de

alcalóides aporfínicos que são frequentes em Annonaceae e descritos para A.

muricata (LEBOEUF et al. 1981), sendo que na fração na fração FMH3 está

presente um mesmo alcaloide com TR 12,7 min (TSIMOGIANNIS et al. 2007). Mais

uma vez aqui, as frações FAE3 e FMH3 apresentaram perfis muito semelhantes,

levantando a questão da ineficiência da partição com esses dois solventes, já

discutida anteriormente, sugerindo que a partição final com metanol/água seria

dispensável. Mesmo assim, esta terceira partição foi a mais eficiente para a

separação e concentração de acetogeninas dentre aquelas testadas.

TR 55,3 min

TR 58,4 min TR 59,8 min TR 61,3 min

TR 56,1 min TR 57,3 min

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72

Figura 25 - Espectros de absorção no UV online de picos dos cromatogramas em CLAE-DAD referentes às frações da terceira partição

Legenda: TR - tempo de retenção; AU - absorbância; A - fração clorofórmica 3 (FCL3); B - fração acetato de etila 3 (FAE3); C - fração metanol/água 3 (FMH3).

Figura 24 – Cromatogramas em CLAE-DAD das frações da terceira partição Legenda: FCL3 – fração clorofórmica 3; FAE3 – fração acetato de

etila 3; FMH3 – fração metanol/água 3

TR 49 min

TR 14,7 min

TR 12,7 min

TR 11,3 min

TR 12,7 min

TR 47,8 min A A B

B C C

FCL3

FAE3

FMH3

49,0 min 47,8 min

12,7 min

14,7 min

12,7 min

14,7 min

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73

Figura 26 - Espectros de absorção no UV online de picos do cromatograma em CLAE-DAD referentes à fração clorofórmica 3 (FCL3).

Legenda: TR - tempo de retenção; AU - absorbância

Em resumo, a análise fitoquímica até este ponto revelou que, como esperado,

acetogeninas estão presentes no EE, e que dentre as frações obtidas por partição

líquido-líquido, as mais promissoras foram FAE2 e FCL3, por apresentarem maior

número de picos sugestivos de acetogeninas nas análises por CLAE-DAD, e

principalmente na região de substâncias de média polaridade (TR 45-60 min.), onde

é mais provável que as acetogeninas destas frações se encontrem. Por esse motivo

as mesmas foram submetidas a fracionamento por cromatografia de coluna de sílica

gel (CCS).

5.2.2 FRACIONAMENTO CROMATOGRÁFICO DE FAE2 E FCL3

O fracionamento de FAE2 por CCS gerou 27 subfrações, das quais a

subfração número 5 (FAE2(5)) foi a que apresentou maior massa (211,5 mg), além

de resultado positivo para Kedde, o que é um indicativo da presença de

acetogeninas. Não se fez reunião de subfrações porque foram observados perfis

muito diferentes nas análises por CCD, o que sugeriu a necessidade da realização

de uma nova separação. Assim como ocorreu nas partições líquido-líquido, aqui

também as acetogeninas parecem ter se concentrado nas subfrações de polaridade

média (4 a 13), eluídas com AcOEt ou AcOEt/Metanol, uma vez que estas foram as

subfrações de maior massa (Tabela 11). Este resultado é condizente com o

TR 52,3 min

TR 56,3 min TR 55,5 min

TR 51,3 min TR 50,3 min

TR 54,3 min

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74

encontrado por outros autores que usaram técnicas de extração e separação

semelhantes (ELISYA et al. 2014; MULIA et al. 2013; YAMTHE et al. 2015), e

confirma a afinidade das acetogeninas por solventes de polaridade média. Na

Tabela 11 pode-se ver também que as maiores massas se concentram nas

subfrações obtidas com solventes de baixa polaridade (1 a 3), do que de alta

polaridade (21-27), mostrando que as substâncias polares presentes no EE foram

extraídas na sua maioria por FMH1, quando da partição, deixando em FAE2

principalmente constituintes de polaridade média e baixa.

Tabela 11 – Número de subfrações coletadas, com suas massas, de acordo com o eluente utilizado, na coluna cromatográfica da fração acetato de etila 2 (FAE2)

Fase móvel Subfrações coletadas Massa (mg)

CH2Cl2 1 136,1

CH2Cl2:AcOEt 1:1 (v/v) 2

3

64,0

24,5

AcOEt 4 79,4

AcOEt:MeOH 9:1 (v/v)

5

6

7

8

9

10

211,5

73,6

11,1

12,5

2,5

1,0

AcOEt:MeOH 7:3 (v/v)

11

12

13

20,2

38,3

7,5

AcOEt:MeOH 1:1 (v/v) 14

15

16,1

0

AcOEt:MeOH 3:7 (v/v)

16

17

18

19

20

8,0

4,8

9,7

10,4

24,1

MeOH

21

22

23

24

25

7,9

5,0

2,0

7,6

3,3

MeOH:H2O 9:1 (v/v) 26

27

27,2

20,9

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75

Figura 27- Perfis cromatográficos por CLAE-DAD da subfração nº 5 (FAE2(5)) obtida a partir da fração acetato de etila 2 por cromatografia de coluna em duas diferentes programações.

Condição: Programação A e B - Coluna LiChrospher 100, C-18, 125 x 4 mm, 5 µm; fluxo = 1 mL/min, temperatura 40 °C

Fase móvel: Programação A: t = 0 min: 95% água e 5% acetonitrila; t = 60 min: 5% água e 95% acetonitrila; t = 65 min: 5% água e 95% acetonitrila; t = 70 min: 95% água e 5% acetonitrila. Programação B: t = 0 min: 15% água e 85% metanol; t = 40 min: 15% água e 85% metanol; t = 60 min: 5% água e 95% metanol

Legenda: (A) Programação A; (B) Programação B; TR: Tempo de retenção; AU: Absorbância

A análise por CLAE-DAD da subfração FAE2(5) foi realizada tanto pela

Programação A quanto pelo Programação B. Os cromatogramas correspondentes

são mostrados na Figura 27. É possível observar nestes cromatogramas que esta

fração contém principalmente dois constituintes representados pelos picos 6 (47,4

min, 56% área) e 7 (48,3 min, 23% área), na porção A da Figura 27, ambos com max

próximo de 210 nm no UV, o que aponta para a presença de acetogeninas. Na

porção B da Figura 27 é possível ver alguns picos, sendo o pico majoritário o de

número 3 (14,6 min, 71% área), com max 209,6 nm no UV online. Os outros picos

com TR acima de 48,3 devem todos corresponder a acetogeninas, de acordo com

os espectros no UV correspondentes (Figura 28). Esta análise mostrou que o

fracionamento realizado por CCS foi eficiente em separar este grupo de

acetogeninas dos demais constituintes encontrados na fração FAE2, além de revelar

essa fração como rica em acetogeninas.

TR 47,4 min

TR 48,3 min

TR 14,6 min

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76

FAE2(5) foi submetida a novo fracionamento por CCS, e foram obtidas 15

subfrações, das quais as de número 5 e 6, ambas eluídas com AcOEt, foram as que

apresentaram características sugestivas de acetogeninas na análise por CCD, além

de estarem entre as de maior massa (84 e 20 mg respectivamente) (Tabela 12).

Pode-se ver pela tabela que o padrão de eluição das amostras para a CCS de

FAE2(5) foi semelhante àquele de FAE2, onde a maior parte da massa concentrou-

se nas amostras eluídas com solventes de polaridade média (4-11) e, em segundo

lugar, naquelas amostras eluídas com solventes de baixa polaridade (1-3), enquanto

que as amostras eluídas com solventes polares (12-15) possuíram pouca massa.

Esse fato reitera a hipótese de que as acetogeninas, que aparentam ser o principal

constituinte da fração FAE2 e subfração FAE2(5), como mostrado pelas análises de

CLAE-DAD, são extraídas principalmente por solventes de polaridade média.

Figura 28 - Espectros de absorção no UV online de picos no cromatograma por CLAE-DAD da subfração nº 5 (FAE2(5)) obtida a partir da fração acetato de etila por cromatografia de coluna

Legenda: A - Programação A; B - Programação B; TR - tempo de retenção; AU - absorbância

TR 49,3 min

TR 50,1 min

TR 49,9 min

TR 50,8 min TR 52,5 min

TR 49 min

TR 17,4 min TR 18,3 min TR 21,7 min

A A A

A A A

B B B

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Tabela 12 - Número de subfrações coletadas, com suas massas, de acordo com o eluente utilizado, na coluna cromatográfica da subfração nº 5 (FAE2(5)) obtida a partir da fração acetato de etila 2

Fase móvel Subfrações coletadas Massa (mg)

CH2Cl2 1 0

CH2Cl2:AcOEt 1:1 (v/v) 2

3

9

14

CH2Cl2:AcOEt 3:7 (v/v) 4 29

AcOEt 5

6

84

20

AcOEt:MeOH(1%) (v/v) 7 3

AcOEt:MeOH(2%) (v/v) 8 0

AcOEt:MeOH(5%) (v/v) 9

10

0

4

AcOEt:MeOH 9:1 (v/v) 11 2

AcOEt:MeOH 7:3 (v/v) 12

13 6

MeOH 14

15

4

0

Pode-se notar no cromatograma de ambas subfrações (Figuras 29 e 30) um

pico majoritário com TR 47,7 min e absorção máxima no UV em 209,6 nm, que deve

corresponder a uma ou mais acetogeninas, uma vez que é possível notar um

pequeno pico sobreposto ao principal, o que pode indicar uma segunda substância,

eluindo em tempo muito semelhante à substância principal e que, portanto, pode se

tratar de um isômero (GROMEK et al. 1994; YANG et al. 2010). Há um outro pico

nas subfrações nos TR 49,6 min (Programação A) e 15,5 min (Programação B) para

FAE 2(5.5), e 50,3 (Programação A) e 18,7 (Programação B para FAE 2(5.6). Estes

picos também possuem máximo de absorção no UV em torno de 210 nm (Figuras 31

e 32), e por isso devem corresponder a diferentes acetogeninas. Apesar disso,

decidiu-se reunir estas subfrações, diante da sua semelhança, sob o nome de FAE

2(5.5). As Figuras 31 e 32 mostram que praticamente todos os picos presentes

neste cromatograma correspondem a acetogeninas, dada a sua absorção máximo

no UV, sugerindo esta subfração corresponde provavelmente a uma mistura de

acetogeninas isoladas.

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TR 47,7 min

TR 12,4 min

TR 15,5 min

TR 49,6 min

TR 14,7 min

TR 47,8 min

TR 12,6 min

TR 18,7 min

TR 50,3 min

Figura 29- Perfis cromatográficos por CLAE-DAD da subfração FAE2(5.5) e espectros no UV online dos picos majoritários.

Condição: Programação A e B - Coluna LiChrospher 100, C-18, 125 x 4 mm, 5 µm; fluxo = 1 mL/min, temperatura 40 °C

Fase móvel: Programação A: t = 0 min: 95% água e 5% acetonitrila; t = 60 min: 5% água e 95% acetonitrila; t = 65 min: 5% água e 95% acetonitrila; t = 70 min: 95% água e 5% acetonitrila. Programação B: t = 0 min: 15% água e 85% metanol; t = 40 min: 15% água e 85% metanol; t = 60 min: 5% água e 95% metanol

Legenda: (A) Programação A; (B) Programação B; TR: Tempo de retenção; AU: Absorbância.

Figura 30- Perfis cromatográficos por CLAE-DAD da subfração FAE2(5.6) e espectros no UV online dos picos majoritários.

Condição: Programação A e B - Coluna LiChrospher 100, C-18, 125 x 4 mm, 5 µm; fluxo = 1 mL/min, temperatura 40 °C

Fase móvel: Programação A: t = 0 min: 95% água e 5% acetonitrila; t = 60 min: 5% água e 95% acetonitrila; t = 65 min: 5% água e 95% acetonitrila; t = 70 min: 95% água e 5% acetonitrila. Programação B: t = 0 min: 15% água e 85% metanol; t = 40 min: 15% água e 85% metanol; t = 60 min: 5% água e 95% metanol

Legenda: (A) Programação A; (B) Programação B; TR: Tempo de retenção; AU: Absorbância.

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79

Figura 32 - - Espectros de absorção no UV online de picos nos cromatogramas por CLAE-DAD referentes à subfração FAE2(5.6).

Legenda: A - Programação A; B - Programação B; TR - tempo de retenção; AU - absorbância

Notou-se pouca diferença entre os perfis cromatográficos das subfrações

FAE2(5) e FAE2(5.5), mostrando que este segundo fracionamento não foi eficiente,

gerando subfrações com perfis cromatográficos muito semelhantes. No entanto, o

Figura 31 - Espectros de absorção no UV online de picos dos cromatogramas por CLAE-DAD referentes à subfração FAE2(5.5).

Legenda: A - Programação A; B - Programação B; TR - tempo de retenção; AU - absorbância

A A A

B B B

A A A

A A A

B B B

TR 49,5 min

TR 50,3 min

TR 49,8 min

TR 51,2 min TR 52,9 min

TR 49 min

TR 14,7 min TR 15,5 min TR 18, min

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80

fracionamento por CCS da fração FAE2 foi eficiente em separar a provável

acetogenina que corresponde ao pico majoritário presente em seu cromatograma

(Figura 22), uma vez que este pico se reproduz nos cromatogramas de FAE2(5) e

FAE2(5.5). Além disso, constituintes minoritários nestas duas subfrações parecem

corresponder, em sua maioria, a acetogeninas. Portanto, sugere-se que uma única

CCS de FAE2 realizada cuidadosamente seja suficiente para se obter uma

subfração rica em acetogeninas.

Foi realizada ainda uma CCS a partir da fração FCL3, da qual foram obtidas

22 subfrações (Tabela 13). As subfrações de maior massa (1-4) foram eluídas com

solventes de baixa polaridade e apresentaram resultado negativo para acetogeninas

na análise por CCD com o reagente de Kedde. Portanto, sugere-se que seu principal

conteúdo seja de óleos fixos (principalmente triacilgliceróis), abundantes nas

sementes de A. muricata (BRANCO et al. 2010). Este resultado contrasta com

aquele da CCS de FAE2, no qual o maior acúmulo de massa se deu nas subfrações

eluídas com solventes de polaridade média. Isso se deve provavelmente ao fato de

que em FAE2, os óleos fixos devem ter se acumulado na fração FDM2, que é a de

menor polaridade da segunda partição, enquanto que FCL3 é a fração de menor

polaridade da terceira partição, mas que também concentrou a maior parte da

acetogeninas. Apesar das subfrações 1 a 4 serem as de maior massas, em segundo

lugar estão as subfrações 12 e 13, que apresentaram resultado positivo para

acetogeninas na análise por CCD com revelador de Kedde, e foram eluídas com

misturas de solventes de polaridade média, principalmente AcOEt, reproduzindo

assim o resultado encontrado no fracionamento por CCS da fração FAE2, reiterando

a hipótese de que a maioria das acetogeninas das sementes de A. muricata tem

afinidade por solventes de polaridade média.

Tabela 13 - Número de subfrações coletadas, com suas massas, de acordo com o eluente utilizado, na coluna cromatográfica da fração clorofórmica da terceira partição (FCL3)

Fase móvel Subfrações coletadas Massa (mg)

Hex - -

Hex:CH2Cl2 1:1 (v/v) 1

2

542

6081

CH2Cl2 3

4

470

3030

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81

CH2Cl2:AcOEt 1:1 (v/v) 5 318

CH2Cl2:AcOEt 3:7 (v/v) 6 94

CH2Cl2:AcOEt 1:9 (v/v) 7 157

AcOEt

8

9

10

11

36

58

57

89

AcOEt:MeOH 9:1 (v/v) 12

13

709

421

AcOEt:MeOH 7:3 (v/v)

14

15

16

17

18

106

90

50

40

17

AcOEt:MeOH 1:1 (v/v) 19

20

37

81

AcOEt:MeOH 2:8 (v/v) 21

22

0

0

5.4 Análises por CLUE-EM-IES de frações contendo acetogeninas

EE e as frações FAE2, FAE2(5.5), FAE2(5.6), FCL3, FCL3.7 e FCL3.9 foram

investigadas quanto a presença de acetogeninas por CLUE-EM-IES de acordo com

a metodologia descrita por GU, e colaboradores (1997), com modificações.

Inicialmente foi obtido um cromatograma de íons totais (CIT) de EE (Figura

33), para que se pudesse saber em que tempo haveria uma maior abundância de

íons. A figura mostra que a maioria dos íons se encontra entre os TR de 7 e 12

minutos, faixa em que se espera a eluição de substâncias de média e baixa

polaridade, inclusive acetogeninas. Por isso, selecionou-se esse intervalo do CIT

para que a partir dele fosse extraído o espectro de massas, que se encontra na

Figura 34. No espectro é possível identificar pelo menos seis picos que poderiam

corresponder a acetogeninas através das suas massas moleculares + 1H ([M + H]+),

e são eles os picos de massa 613, 597, 595, 579, 563 e 531, os quais

corresponderiam a acetogeninas de massa 612, 596, 594, 578, 562 e 530. De

acordo com a metodologia utilizada, para que esses picos se confirmassem como de

acetogeninas, seria necessário identificar no espectro picos que indicassem uma

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subsequente perda de hidroxilas na forma de água (-18 amu) a partir de [M + H]+,

além do aduto com sódio [M + Na]+. Cada massa destas citadas está associada a

um grupo de isômeros de acetogeninas, que possuem um número determinado de

hidroxilas e, portanto, devem apresentar um número determinado de perdas

subsequentes de água de acordo com a Tabela 14. Por exemplo, para que se

confirmasse que o pico de massa 597, pico de maior intensidade no espectro

analisado, está de fato associado ao grupo de acetogeninas de massa 596, seria

necessário identificar no espectro um pico de massa 619, correspondendo ao aduto

com sódio, e picos de massa 579, 561, 543 e 525, que correspondem à perda de

quatro hidroxilas na forma de água. Esses picos podem de fato ser identificados no

espectro de EE, assim como aqueles esperados para o grupo de acetogeninas de

massa 612, 594, 578, 562 e 530, descritos na Tabela 14.

Tabela 14 - Massa dos fragmentos esperados de acetogeninas de acordo com sua massa molar.

M [M + Na]+ [M + H]+ [M + H - H2O]+

[M + H - 2H2O]+

[M + H - 3H2O]+

[M + H - 4H2O]+

[M + H - 5H2O]+

[M + H - 6H2O]+

530 553 531 513 495 - - - -

562 585 563 545 - - - - -

576 599 577 559 541 - - - -

578 601 579 561 543 - - - -

580 603 581 563 545 527 - - -

594 617 595 577 559 541 - - -

596 619 597 579 561 543 525 - -

612 635 613 595 577 559 541 523 -

614 637 615 597 579 561 543 525 507

624 647 625 607 589 571 553 - -

Legenda: M – Massa molar

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Figura 33 – Cromatograma de Íons Totais (CIT) do extrato etanólico no modo positivo.

Figura 34 – Espectro de massas do Extrato Etanólico registrado na faixa de 450 a 700 m/z.

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Foram consideradas como mais abundantes no EE, diante da intensidade

relativa dos picos dos seus fragmentos, aquelas acetogeninas de massas

moleculares 596 e 578. Apesar de alguns dos fragmentos esperados para as

acetogeninas com essas massas se sobreporem (Tabela 14), o pico de massa 601,

que corresponde ao fragmento [M + Na]+ das acetogeninas de massa 578,

claramente se distingue, apontando para a existência de acetogeninas de massa

596 e 578 no EE. É importante ressaltar que estas massas não estão associadas a

uma acetogeninas apenas, mas a um grupo de isômeros de acetogeninas e é,

portanto, impossível determinar, através dessa metodologia, se está presente no EE,

por exemplo, apenas a acetogenina corossolona, de massa 578, ou anocatacina A,

também de massa 578, ou ambas. Seria necessário isolar uma substância de massa

578, e em conjunto com a análise de RMN então determinar de qual isômero se

trata. A Tabela 15 mostra acetogeninas já isoladas de sementes de A. muricata que

correspondem às massas 596 e 578, e pode-se observar que há várias. A

anonacina, uma das possíveis acetogeninas encontradas de massa molecular 596, é

descrita como majoritária nas diferentes partes de A. muricata, podendo chegar a

até 70% do seu conteúdo de acetogeninas (CHAMPY et al. 2005). De fato, no

presente estudo os picos relativos à massa molecular 596 foram aqueles com maior

intensidade em todas frações e subfrações analisadas, com exceção de FCL 3.7 e

FCL3.9, e supõe-se, portanto, que os mesmos estejam associados a anonacina ou

cis-anonacina. Quanto ao grupo de acetogeninas de massa 578, a corossolona é

descrita como acetogenina mais comum e, portanto, provavelmente presente em

maior quantidade nas amostras estudadas.

Tabela 15 - Acetogeninas já isoladas de sementes de Annona muricata com massas moleculares 578 e 596.

M Nome Posição das hidroxilas

Configuração relativa de anéis

THF

Fórmula molecular

578

Corossolona (CO, 10)

15, 20

tr / t / tr

C35H62O6

Anocatacina A 4, 23 t / tr / t / tr C35H62O6

Anocatacina B 4, 23 c / tr / c / tr C35H62O6

596

cis-Anonacina

4, 10, 15, 20

tr, c, tr

C35H64O7

cis-Goniotalamicina 4, 10, 13, 18 tr, c, tr C35H64O7

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Arianacina + Javoricina 4, 12, 15, 20 tr, t, tr C35H64O7

Gigantetrocina B 4, 14, 17, 18 t / tr-tr C35H64O7

Muricatetrocina A+B 4, 16, 19, 20 t /er ou tr-tr C35H64O7

Muricina A 4, 19, 26, 27 t / tr-tr C35H64O7

Muricina Ba 4, 19, 26, 27 t / tr-tr C35H64O7

Muricina C

4, 21, 24, 25

t / tr-tr

C35H64O7

a Possui carbono com configuração S na posição 4, diferentemente de muricina A. De fato é a única acetogenina conhecida com essa configuração; Legenda: M – massas molar; c - cis; t - trans; er - eritro; tr - treo. Fonte: BERMEJO, e colaboradores (2005).

O espectro de massas de FAE2 (Figura 35) revelou a presença da maioria

dos fragmentos também encontrados em EE, com exceção dos fragmentos

provenientes de acetogeninas de massa 530 que, ainda que presentes,

apresentaram intensidade muito baixa. Estes resultados reiteram os resultados de

CLAE-DAD, mostrando que o método de partição líquido-líquido foi eficiente em

separar as acetogeninas em uma fração de polaridade média. Em adição aos

fragmentos já encontrados em EE, foi possível identificar fragmentos relativos a

acetogeninas de massa molecular 580 (Tabela 14), que provavelmente estavam em

menor concentração em EE, e por isso ocultos pela presença de outros

constituintes. Em FAE2 os grupos de acetogeninas majoritários foram aqueles de

massa 578, 580 e 596. A Tabela 16 mostra acetogeninas já isoladas de sementes

de A. muricata de massa molar 580 e que podem, portanto, estar presentes em

FAE2.

Tabela 16 - Acetogeninas já isoladas de sementes de Annona muricata com massas 576, 580 e 624.

M Nome Posição das hidroxilas

Configuração relativa de anéis

THF

Fórmula molecular

576 Coibina C+D (Dupla em C21/19)

17/15, 18/16 tr-c C37H68O4

580

Murisolina

4, 15, 20

tr / t / tr

C35H64O6

Corosolina 10, 15, 20 tr / t / tr C35H64O6

Muricina H 19, 24, 25 t / tr-tr C35H64O6

624

cis-Annomontacina

4, 10, 17, 22

tr / c / tr

C37H68O7

Legenda: M – massa molar; c - cis; t - trans; er - eritro; tr - treo. Fonte: BERMEJO et al. 2005.

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FAE 2(5.5) e FAE 2(5.6), originadas do fracionamento de FAE2 por CCS,

foram analisadas em seguida. FAE 2(5.5) apresentou quase que exclusivamente

fragmentos correspondentes a acetogeninas de massa molecular 596 (Figura 36)

que, como discutido anteriormente, provavelmente correspondem à anonacina ou

cis-anonacina. FAE 2(5.6), semelhantemente, apresentou principalmente fragmentos

relativos a acetogeninas de massa molecualr 596 (Figura 37), mas também foi

possível identificar fragmentos associados a acetogeninas de massa molar 624. O

padrão de fragmentação para acetogeninas com essa massa encontra-se na Tabela

14 e, como mostra a Tabela 16, uma única acetogenina com essa massa, cis-

anomontacina, foi até o momento isolada de sementes de A. muricata, podendo-se

deduzir então, que a mesma está presente em FAE 2(5.6).

Figura 35 - Espectro de massas da FAE2 registrado no intervalo de 450 a 700 m/z.

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Figura 37 - Espectro de massas da FAE 2(5.5) compreendido entre os TR 7 e 12 minutos registrados entre 450 e 700 m/z.

Figura 36- Espectro de massas da FAE 2(5.6) compreendido entre os TR 7 e 12 minutos registrados entre 450 e 700 m/z.

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FCL3, apesar de ter sido obtida por partição do EE por um método diferente

do utilizado para obtenção de FAE2 (Itens 4.2.3.2 e 4.2.3.3, págs. 42-44),

apresentou perfil muito semelhante ao desta (Figura 38), com predominância de

grupos de acetogeninas de massa molar 578, 580 e 596, aqui representadas pelos

seus íons moleculares [M+1], que podem corresponder às acetogeninas descritas

nas Tabelas 15 e 16. A partir disso e dos dados já discutidos de CLAE-DAD, pode-

se inferir que ambas as metodologias utilizadas para particionar EE foram eficientes

em separar acetogeninas. Levando-se em consideração, no entanto, que FCL3 foi

obtida a partir de uma única etapa de partição, enquanto que FAE2, a partir de duas,

a primeira seria mais adequadamente utilizada para a separação de acetogeninas, já

que uma única etapa de partição reduziria a perda de material.

O espectro de massas de FCL 3.7, diferentemente das outras frações,

apresentou predominantemente fragmentos associados a acetogeninas de massa

Figura 38 - Espectro de massas da FCL3 compreendido entre os TR 7 e 12 minutos registrados entre 450 e 700 m/z..

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molar 578 e 576, ainda que também estejam presentes fragmentos relativos às

acetogeninas de massa molar 596 (Figura 39). A Tabela 14 mostra os fragmentos

esperados de acetogeninas com massa molar 576, e a Tabela 16 mostra que

apenas duas acetogeninas com essa massa, Coibinas C e D, isoladas em mistura,

foram até agora encontradas em sementes de A. muricata. Logo, pode-se inferir que

as mesmas se encontram nesta subfração.

Semelhantemente, FCL 3.9 apresentou principalmente fragmentos referentes

a acetogeninas de massa molar 578 e 580 e, em menor intensidade, 576. Pela

primeira vez, fragmentos associados a acetogeninas de massa molar 596

praticamente não foram detectados (Figura 40).

Em resumo, o grupo de isômeros de acetogeninas de massa molar 596 foi

aquele de maior intensidade em EE, FAE2, FAE 2(5.5), FAE 2(5.6) e FCL3.

Provavelmente a acetogenina mais abundante com esta massa nestas frações e

subfrações seja a anonacina, já descrita como acetogenina majoritária em A.

Figura 39 - Espectro de massas da FCL 3.7 compreendido entre os TR 7 e 12 minutos registrados entre 450 e 700 m/z.

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muricata. As frações FCL 3.7 e FCL 3.9, no entanto, apresentaram principalmente

acetogeninas de massa molar 578 e 580, mostrando que as metodologias de

separação por CCS, ainda que menos eficientes que metodologias mais sofisticadas

como CLAE preparativo, são uma opção válida para separação de acetogeninas. No

total, foi possível identificar pelo menos dez grupos de acetogeninas, de acordo com

suas massas moleculares (530, 562, 576, 578, 580, 594, 596, 612, 614 e 624), que

podem corresponder a mais de vinte diferentes acetogeninas, dado a existência de

vários isômeros. O número possível de isômeros de acetogeninas para,

praticamente, cada uma das massas molares consideradas faz com que seja

virtualmente impossível a diferenciação entre os mesmos em matrizes complexas

como são estas frações e subfrações. Para tanto seria necessário o isolamento ou

obtenção de misturas com reduzido número de acetogeninas. Os dados disponíveis

permitem sugerir a presença das acetogeninas cis-annomontacina e coibinas C e D,

uma vez que são as únicas acetogeninas de massas molares 624 e 576,

respectivamente, já isoladas de sementes de A. muricata.

Figura 40 - Espectro de massas da FCL 3.9 compreendido entre os TR 7 e 12 minutos registrados entre 450 e 700 m/z.

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5.5 Identificação e quantificação de acetogeninas por qRMN de 1H

Análises de RMN de 1H foram realizadas para identificar a presença de

acetogeninas no EE, FAE2 e FCL3. Todos os espectros obtidos (Figuras 41-43)

apresentaram sinais característicos de acetogeninas referentes à unidade γ-lactona-

α,β-insaturada com deslocamentos em torno de δ 1,4 (H-35/37); 5,0 (H-34/36) e 7,0

(H-33/35) ou 7,2 (H-33/35 para acetogeninas com OH em C-4). Sinais referentes aos

hidrogênios de carbonos ligados a hidroxilas também foram observados, com

deslocamentos em torno de δ 3,4, assim como sinais referentes a anéis THF, com

deslocamentos em torno δ 3,8 (hidrogênios-α em relação ao oxigênio do anel). O

espectro de FCL3, especificamente (Figura 43), apresentou sinais em δ 5,38 que

podem ser referentes a hidrogênios olefínicos, o que condiz com os dados de EM

que revelaram a presença de coibinas C e D na fração FCL3.12, acetogeninas que

possuem ligações duplas carbono-carbono.

Estes dados de RMN, associados aos dados anteriormente discutidos de EM,

CLAE-DAD e CCD permitem confirmar a presença de acetogeninas no extrato e

frações estudados. A utilização destas diferentes técnicas adiciona robustez ao

resultado, mas é importante reconhecer as limitações de cada uma. As técnicas

mais simples e de baixo custo, como CCD e CLAE-DAD, são principalmente

presuntivas, quando não se dispõe de um padrão para ser avaliado

concomitantemente aos extratos ou frações em estudo. Por esse motivo, estas

metodologias costumam ser utilizadas em estágios iniciais de análises fitoquímicas.

Já as técnicas de EM e RMN, mais caras e sofisticadas, quando utilizadas de acordo

com a metodologia aqui descrita, prescindem das técnicas de CCD e CLAE-DAD

para a identificação de acetogeninas e, portanto, diminuem potencialmente o tempo

das análises (KRISHNAN, KRUGER, RATCLIFFE, 2004; MOCO et al. 2007).

A quantificação de acetogeninas por de RMN de 1H foi realizada em triplicata

para as amostras EE, FAE2, FCL3 e FCL3.7 e FCL3.12, e o valores de

concentração foram obtidos a partir da média de cada análise (Tabela 17).

Espectros representativos das amostras de cada fração encontram-se nas Figuras

44 e 45.

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Figura 41 - Espectro de RMN de 1H de EE, com destaques para os deslocamentos característicos de acetogeninas

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Figura 42 - Espectro de RMN de 1H de FAE2 seccionado, com destaques para os deslocamentos característicos de

acetogeninas

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Figura 43 - Espectro de RMN de 1H de FCL3 seccionado, com destaques para os deslocamentos característicos de acetogeninas

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Nestes experimentos, as acetogeninas representaram apenas 0,76% do peso

total do pó de sementes (calculado a partir do EE), o que é comum, uma vez que

esta classe de metabólitos secundários costuma estar em baixa concentração nas

plantas (SHITAN, 2016). No entanto, os métodos de extração e os de fracionamento

utilizados foram eficientes em concentrar acetogeninas, já que seu teor aumentou a

cada etapa. Em especial, o aumento da concentração em FAE2 sugere a partição

líquido-líquido como um método simples para obtenção de frações ricas em

acetogeninas, que podem vir a ser utilizadas em formulações farmacêuticas. As

concentrações de acetogeninas expressas em anonacina foram mais altas em EE,

FAE2, FCL3 e FCL3.12, corroborando dados que relatam esta acetogenina como

majoritária (BONNEAU et al. 2017). Em FCL3.7, no entanto, as concentrações foram

mais altas quando expressas em solamina que como anonacina. Isto condiz com os

dados obtidos por EM, onde FCL3.7 foi a única fração em que o pico de massa

molar 597, provavelmente associado a anonacina, não foi predominante. Ainda,

FCL3.7 foi obtida por CCS, eluída em solução de CH2Cl2:AcOEt 1:9, enquanto que

FCL3.12, foi eluída em AcOEt:MeOH 9:1. Assim, a diferença de polaridade entre

solamina e anonacina (Figura 46), que possuem duas e quatro hidroxilas,

respectivamente, pode justificar o fato de FCL3.7 ter maior concentração de

acetogeninas expressas como solamina.

Tabela 17 - Concentrações de acetogeninas obtida por qRMN de 1H no extrato etanólico e frações analisadas

Amostra Concentração de acetogeninas na amostra (mg/g) ± desvio padrão

Calculada como anonacina Calculada como solamina

EE 85,12 ± 3,81 76,10 ± 5,10

FAE2 786,18 ± 27,87 202,72 ± 36,31

FCL3 105,54 ± 8,71 60,23 ± 14,93

FCL3.7 134,93 ± 22,76 616,16 ± 35,48

FCL3.12 942,64 ± 38,26 99,67 ± 2,61

Legenda: EE – extrato etanólico; FAE2 – fração acetato de etila 2; FCL3 – fração clorofórmica 3; FCL3.7 – subfração de coluna 7, da fração clorofórmica 3; FCL3.12 – subfração de coluna 12, da fração clorofórmica 3.

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Os valores inicialmente obtidos para concentração de acetogeninas quando

expressas como anonacina para FCL3.12 foram dados impossíveis, pois sugeriam

que haveria 1,556g de acetogeninas em 1g de amostra. Isto ocorreu porque nesta

amostra o valor da integração dos sinais escolhidos para análise referentes a

acetogeninas calculadas como anonacina foi maior que aqueles do antraceno,

padrão interno utilizado. Uma maior concentração de antraceno (1,5 mg/mL) foi

então utilizado para que se pudesse obter dados coerentes, o que se provou

possível. Não obstante, a construção de uma curva de calibração para se

estabelecer com precisão limites de detecção e quantificação, seria o ideal, o que

não foi realizado pelos autores responsáveis pela técnica aqui reproduzida. Bonneau

e colaboradores (2017), em experimento semelhante, utilizaram com sucesso como

padrão interno o fumarato de dimetila, tendo também estabelecido os limites de

detecção e quantificação para sua técnica, a qual pode ser, portanto, uma alternativa

àquela utilizada nesta análise.

Figura 44 - Espectro de RMN de 1H de EE com adição de antraceno e amplianção da região com sinais utilizados para quantificação

4 α-H Antraceno H-35 Anonacina

H-33 Solamina

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FCL3 FAE2

4 α-H Antraceno H-35 Anonacina

H-33 Solamina

4 α-H Antraceno H-35 Anonacina

H-33 Solamina

4 α-H Antraceno H-35 Anonacina

H-33 Solamina

4 α-H Antraceno

H-35 Anonacina

H-33 Solamina

FCL3.7 FCL3.12

Figura 45 - Espectros de RMN 1H de FAE2, FCL3, FCL3.7 e FCL3.12, com adição de antraceno e amplianção da região com sinais utilizados para quantificação

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5.6 Atividade antileishmania

As subfrações FCL 3.7, FCL 3.9, FCL 3.12, FAE 2(5.4), FAE 2(5.5) e FAE

2(5.6) foram avaliadas quanto à sua atividade antipromastigota pelo método do MTT.

Os valores de CI50 determinados para cada subfração encontram-se na Tabela 18.

Todas as subfrações apresentaram CI50 < 100 µg/mL e, portanto, foram

consideradas ativas de acordo com parâmetros estabelecidos na metodologia.

Atribui-se a atividade antipromastigota dessas subfrações à presença de

acetogeninas, confirmada pelas análises espectométricas. Estes resultados são

coerentes com dados da literatura, uma vez que acetogeninas isoladas e extratos de

A. muricata têm sido identificados como ativos contra formas promastigotas de

diferentes espécies de Leishmania. Osorio e colaboradores (2007) obtiveram um

extrato de acetato de etila das folhas de A. muricata que apresentou CI50 de 25

µg/mL contra formas promastigotas de L. amazonensis e L. braziliensis. Vila-Nova e

colaboradores (2013) isolou duas acetogeninas, anonacinona e corosolona, as quais

apresentaram CI50 entre 6,72-8,00 e 16,14-18,73 µg/mL, respectivamente, contra L.

major, L. donovani e L. mexicana. O mesmo grupo, em outro momento, determinou

as CI50 de anonacinona e corosolona contra formas promastigotas de L. chagasi,

obtendo valores que variaram de 13,5 a 28,7 µg/mL e 43,5 a 79,9 µg/mL,

respectivamente (VILA-NOVA et al. 2011). Ainda, Le Grandic, e colaboradores

Anonacina

Solamina

Figura 46 - Estruturas químicas das acetogeninas anonacina e solamina

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Figura 47 - Estruturas químicas das acetogeninas corossolona e coibina C

(2004) avaliaram a atividade antipromastigota de doze acetogeninas contra L.

donovani, e encontraram valores de CI50 variando de 4,7 a 47,3 µM. Os valores de

CI50 encontrados para as frações avaliadas no presente estudo, portanto,

assemelham-se àqueles encontrados pelos autores citados para acetogeninas

isoladas. Este resultado é promissor, uma vez que as frações são de mais fácil

obtenção do que as acetogeninas isoladas, o que reduziria o custo de um possível

produto com atividade antileishmania obtido a partir de A. muricata.

Dentre as amostras estudadas, FCL 3.7 e FCL 3.9 foram as que

apresentaram menor atividade. De acordo com os dados da análise por IES-MS e

RMN, estas foram as únicas amostras nas quais a anonacina (Figura 46) não foi

predominante, mas sim as acetogeninas corossolona e/ou coibina C/D (Figura 47).

Esta diferença na constituição das amostras é provavelmente o motivo da diferença

na atividade, uma vez que estudos de estrutura-atividade revelam que uma maior

quantidade de hidroxilas e anéis THF, assim como uma hidroxila no carbono C-4,

estão associados com maior atividade anticancerígena (OBERLIES et al. 1997;

YANG et al. 2009) e, portanto, podem também estar associados com a atividade

antipromastigota. A anonacina possui uma maior quantidade de hidroxilas que

corossolona e coibina C/D, além de uma hidroxila em C-4, o que a tornaria mais

ativa que as demais acetogeninas citadas.

Corossolona

Coibina C

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100

No entanto, os ensaios de atividade antipromastigota são apenas presuntivos

quanto a possível atividade antileishmania de uma amostra, já que a forma

responsável pelo desenvolvimento das leishmanioses no homem é a amastigota.

Além disso, outro parâmetro importante a ser avaliado é a citotoxicidade de uma

amostra, para que se possa ser calculado o índice de seletividade (IS) da mesma,

que expressa mais adequadamente sua atividade.

Tabela 18 - CI50 das subfrações analisadas para atividade antipromastigota em Leishmania amazonensis

Amostra CI50 + DP (µg/mL) Classificação

FCL3(7) 24,63 ± 0,07 Ativo

FCL3(9) 15,46 ± 0,52 Ativo

FCL3(12) 10,87 ± 0,20 Ativo

FAE2(5.4) 12,68 ± 0,75 Ativo

FAE2(5.5) 6,48 ± 0,60 Ativo

FAE2(5.6) 9,99 ± 0,77 Ativo

Anfotericina B 4,9 ± 0,67 Ativo

Legenda: CI50 < 100µg/mL- ativo; 100 < CI50 < 200µg/mL- moderadamente ativo; CI50 >

200µg/mL- inativo (MOTA, 2010); DP: desvio padrão.

Nos ensaios de atividade anti-amastigota avaliou-se o efeito das subfrações

FCL 3.11, FCL 3.12, FAE 2(5.4) e FAE 2(5.6) em macrófagos murinos (RAW 264.7)

infectados com L. amazonensis (cepa 199). Os resultados foram expressos em

porcentagem de infecção de macrófagos nas diferentes concentrações avaliadas

(Tabela 19).

Dentre as frações avaliadas, FCL 3.12 apresentou resultados promissores, e

seus dados de RMNq de 1H revelaram uma alta concentração de acetogeninas

calculadas como anonacina (Tabela 17). Um dado importante, no entanto, é a

morfologia alterada dos macrófagos observada em alguns dos experimentos

(comparar Figuras 48 e 49), e especialmente em FCL 3.12. Goon-Tae, e

colaboradores (2016) ao avaliar o efeito imunomodulatório de um extrato etanólico

de A. muricata em macrófagos RAW 264.7, identificou alterações na membrana dos

mesmos, associando-as a estimulação da diferenciação celular e da resposta imune

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101

*Só foi possível determinar o percentual de infecção em um dos experimentos pois no outro haviam muitos macrófagos com morfologia alterada, portanto não há média ou desvio padrão. **Testada apenas na concentração de 50 µg/mL.

provocadas pelo extrato. Esta regulação da resposta imune poderia ser a

responsável por inibir a infecção dos macrófagos. Uma outra hipótese levantada é

que, devido a sua natureza físico-química, as acetogeninas poderiam atuar como

tensoativos, consequentemente desestabilizando a membrana lipídica dos

macrófagos. Essa desestabilização impediria a interação de proteínas de membrana

do parasito com as da célula, inviabilizando assim sua incorporação pelo macrófago

e contribuindo para a redução do percentual de infecção (MORRÉ et al. 1994;

OBERLIES et al. 1997; SHIMADA et al. 1998). A possibilidade mais plausível para o

que provocou a alteração de membrana dos macrófagos, no entanto, é a

citotoxicidade de FCL 3.12, pois foram utilizados para o teste anti-amastigota

macrófagos de linhagem cancerígena, e atividade antineoplásica contra diferentes

linhagens tem sido associada a acetogeninas (CORIA-TÉLLEZ et al. 2016;

GEORGE et al. 2012; MOGHADAMTOUSI et al. 2015).

Tabela 19 - Atividade anti-amastigota em Leishmania amazonensis das subfrações analisadas

(percentual de infecção).

Amostras Concentração (µg/mL) ± Desvio padrão

50 25 12,5 6,25 3,12

FCL 3.11 24,5 ± 3,5 25 ± 8,3 28 ± 9,1 39 ± 1,4 37,5 ± 2,1

Perc

en

tuais

de in

fecção

FCL 3.12 11* 9* 30* 44* 47*

FAE2 (5.4) 33* 25* 30* 41,5 ± 4,4 38,5 ± 3,2

FAE2 (5.6) 30 ± 2,8 36* 26 ± 2,8 38 ± 4,1 28*

Anfotericina B 0**

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Figura 48 – Imagens de macrófagos obtidas no ensaio de atividade anti-amastigota de FCL 3.12. A: macrófagos não infectados, não tratados; B: macrófagos infectados não tratados. Cabeças de seta: amastigotas de Leishmania amazonensis

A B

10 μm 10 μm

A

10 μm

10 μm 10 μm

B

C

Figura 49 - Imagens de macrófagos obtidas no ensaio de atividade anti-amastigota de FCL 3.12. A: macrófagos infectados, tratados com FCL 3.12; B: macrófagos não infectados tratados com FCL 3.12; C: macrófagos infectados tratados com anfotericina B. Cabeças de seta: amastigotas de L. amazonensis; setas: vacúolos.

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O ensaio de citotoxicidade foi realizado com macrófagos murinos da linhagem

RAW 264.7, avaliando-se as mesmas amostras testadas no ensaio anti-amastigota.

Os resultados obtidos (Tabela 20) mostram que todas as amostras foram citotóxicas,

com índices de seletividade (IS) inferiores a 10. Como dito anteriormente, esta

citotoxicidade provavelmente é devida ao fato de as células utilizadas no ensaio anti-

amastigota serem de linhagem cancerígena. A inibição do sistema oxidativo NADH é

um efeito característico de acetogeninas e que é especialmente observado em

células neoplásicas por possuírem atividade metabólica exacerbada (GRANDIC et

al. 2004). Essa tese é reforçada pela pesquisa realizada por Morré e colaboradores

(1994), que ao comparar a citotoxicidade de uma acetogenina, bulatacina (Figura

49), contra células cancerígenas HELA e HL-60 com a citotoxicidade contra células

normais do fígado de ratos, constatou que a inibição do sistema NADH e, portanto, a

citotoxicidade, foi seletiva para células cancerígenas. Assim, é necessário realizar

testes de citotoxicidade com células normais para que se possa melhor avaliar a

atividade citotóxica das amostras estudadas. Além disso, estes resultados apontam

as acetogeninas como potentes inibidores de células cancerígenas, corroborando

dados da literatura (KOJIMA et al. 2013; SUN et al. 2016).

Tabela 20 - Valores da concentração citotóxica (CC50) das frações analisadas em linhagem de macrófago murino (RAW 264.7).

Fração CC50 (µg/mL) CI50 (µg/mL) IS (CC50/CI50)

FAE2 (5.4) 12,50 12,68 0,98

FAE2 (5.6) 26,74 9,99 2,68

FCL 3.11 17,95 16,80 1,06

FCL 3.12 12,37 10,87 1,13

Anfotericina B 264,10 4,90 53,90

Bulatacina

Figura 50 - Estrutura química da acetogenina bulatacina

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6 CONCLUSÃO

Os métodos de partição mais eficientes para a obtenção de frações ricas em

acetogeninas foram o segundo, realizado com diclorometano, acetato de etila e

metanol/água, e o terceiro, realizado com clorofórmio, acetato de etila e

metanol/água, os quais geraram as frações FAE2 e FCL3. A separação por CCS

revelou-se eficiente em separar acetogeninas, as quais concentraram-se

principalmente em solventes de média polaridade. As análises por espectrometria

permitiram identificar como principais constituintes dessas frações, e das subfrações

de FAE2 analisadas, acetogeninas de massa molar 596, dentre as quais a principal

e provavelmente mais abundante é anonacina. Nas subfrações de FCL3, no entanto,

as acetogeninas mais abundantes são as de massa 578, sendo a principal a

corosolona. Estes dois metabólitos são possivelmente os responsáveis pela

atividade antipromastigota encontrada, os quais também apresentaram potencial

atividade antitumoral, uma vez que foram citotóxicos contra células RAW 264.7 e

consequentemente apresentaram baixa seletividade. Esta citotoxicidade também

pode estar associada à ausência de atividade anti-amastigota relevante, pois a lesão

dos macrófagos utilizados no teste anti-amastigota pode ter impedido a interação

efetiva dos constituintes das frações com as células amastigotas. Faz-se necessário,

portanto, a realização de estudos de citotoxicidade utilizando-se células normais

para que se possa definir a real citotoxicidade das amostras estudas contra

macrófagos e, não havendo citotoxicidade relevante, novos estudos de atividade

anti-amastigota. Assim será possível determinar o valor das amostras estudadas na

busca de constituintes leishmanicidas.

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