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R. Bras. Risco e Seg., Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, p. 129-144, out. 2008/mar. 2009 129 Análise Espacial Exploratória de Roubos de Cargas em Rodovias Federais no Estado de Minas Gerais Marcelo Pereira Queiroz, MSc. Centro de Formação em Recursos Humanos em Transportes – CEFTRU/UnB Francisco Gildemir Ferreira da Silva, MSc. Agência Nacional de Transporte Terrestre – ANTT Carlos Eduardo Freire Araújo, Eng. Programa de Pós-Graduação em Transportes Universidade de Brasília – UnB Resumo O transporte rodoviário de cargas é responsável por mais de 61,1% da quantidade dos bens transportados no Brasil. Os valores e tipos das mercadorias transportadas atraem, constantemente, o interesse de quadrilhas especializadas em roubo de carga. Com o passar do tempo, os assaltos se tornaram um problema de segurança pública. Este artigo contribui para estudos de transporte e ações governamentais, pois objetiva explorar o tema e introduzir a utilização de técnicas de análise e estatística de dados espaciais pontuais, desenvolvendo uma metodologia de análise exploratória do padrão de assaltos em rodovias. Esta metodologia foi aplicada aos dados de roubo de carga em rodovias federais no estado de Minas Gerais no período de 1999 a 2001 resultando em: sugestões para avaliação da qualidade de informação do banco de dados; obtenção de mapas de tendência de crescimento ao longo deste período e na identificação de trechos críticos de roubos de carga. Palavras-Chave transporte rodoviário; seguro; roubo de carga. Sumário 1. Introdução. 2. Roubo de cargas. 3. Análise espacial. 3.1. Ferramentas de análise espacial de padrões pontuais. 3.2. Ferramentas de análise espacial em áreas. 4. Metodologia 5. Aplicação da metodologia. 5.1. Preparação da base de dados. 5.1.1. Georreferenciamento. 5.1.2. Definição da unidade de análise de área. 5.1.3. Agregação dos roubos de cargas georreferenciados no formato de área selecionado. 5.1.4. Definição e cálculo do índice de roubo de cargas. 5.1.5. Verificação e correção da integridade topológica. 5.2. Análise exploratória em áreas. 5.2.1. Visualização espacial. 5.2.2. Concentração espacial global. 5.2.3. Concentração espacial local. 5.3. Análise exploratória em áreas. 5.3.1. Análise da distribuição espacial dos roubos de cargas. 5.3.2. Análise dos agrupamentos de roubo de carga. 6. Conclusões e recomendações. 7. Referências bibliográficas. Artigo recebido em 16/7/2007. Aprovado em 17/4/2008.

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R. Bras. Risco e Seg., Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, p. 129-144, out. 2008/mar. 2009 129

Análise Espacial Exploratória de Roubos de Cargas emRodovias Federais no Estado de Minas Gerais†

Marcelo Pereira Queiroz, MSc.Centro de Formação em Recursos Humanos em Transportes – CEFTRU/UnB

Francisco Gildemir Ferreira da Silva, MSc.Agência Nacional de Transporte Terrestre – ANTT

Carlos Eduardo Freire Araújo, Eng.Programa de Pós-Graduação em TransportesUniversidade de Brasília – UnB

Resumo

O transporte rodoviário de cargas é responsável por mais de 61,1% da quantidade dos bens transportadosno Brasil. Os valores e tipos das mercadorias transportadas atraem, constantemente, o interesse dequadrilhas especializadas em roubo de carga. Com o passar do tempo, os assaltos se tornaram umproblema de segurança pública. Este artigo contribui para estudos de transporte e ações governamentais,pois objetiva explorar o tema e introduzir a utilização de técnicas de análise e estatística de dados espaciaispontuais, desenvolvendo uma metodologia de análise exploratória do padrão de assaltos em rodovias.Esta metodologia foi aplicada aos dados de roubo de carga em rodovias federais no estado de MinasGerais no período de 1999 a 2001 resultando em: sugestões para avaliação da qualidade de informaçãodo banco de dados; obtenção de mapas de tendência de crescimento ao longo deste período e naidentificação de trechos críticos de roubos de carga.

Palavras-Chave

transporte rodoviário; seguro; roubo de carga.

Sumário

1. Introdução. 2. Roubo de cargas. 3. Análise espacial. 3.1. Ferramentas de análise espacial de padrõespontuais. 3.2. Ferramentas de análise espacial em áreas. 4. Metodologia 5. Aplicação da metodologia.5.1. Preparação da base de dados. 5.1.1. Georreferenciamento. 5.1.2. Definição da unidade de análisede área. 5.1.3. Agregação dos roubos de cargas georreferenciados no formato de área selecionado.5.1.4. Definição e cálculo do índice de roubo de cargas. 5.1.5. Verificação e correção da integridadetopológica. 5.2. Análise exploratória em áreas. 5.2.1. Visualização espacial. 5.2.2. Concentração espacialglobal. 5.2.3. Concentração espacial local. 5.3. Análise exploratória em áreas. 5.3.1. Análise da distribuiçãoespacial dos roubos de cargas. 5.3.2. Análise dos agrupamentos de roubo de carga. 6. Conclusões erecomendações. 7. Referências bibliográficas.

† Artigo recebido em 16/7/2007. Aprovado em 17/4/2008.

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Análise Espacial Exploratória de Roubos de Cargas em Rodovias Federais no Estado de Minas Gerais

Abstract

Exploratory spatial analysis of cargo robbery on federal roadways in Minas Gerais State

Marcelo Pereira Queiroz, MSc.Training Center for Human Resources in Transportation (Centro de Formação em Recursos Humanosem Transportes) – CEFTRU/UnB

Francisco Gildemir Ferreira da Silva, MSc.National Agency of Terrestrial Transportation (Agência Nacional de Transporte Terrestre) – ANTT

Carlos Eduardo Freire Araújo, Eng.Post-Graduation Program in Transportation.University of Brasilia (Universidade de Brasília) – UnB

Summary

Roadway cargo transportation is responsible for more than 61,1% of all the goods transportation servicesin Brazil. The type of goods transported and their respective value usually attract gangs who are specializedin the robbery of cargo. This type of pillage has gradually become a public security problem. This paperattempts to give a contribution to the transportation sector and governmental action, since it offers abroader exploration of the subject and introduces statistical and analysis techniques of accurate spatialdata, developing a methodological procedure of exploratory analysis of the pattern found in the occurrenceof robberies on roadways. This methodology was applied to the data of the cargo robbery on federalroadways in the Minas Gerais state between the period from1999 to 2001. The results of which were:suggestions for the evaluation about the information quality of the database; obtainment of maps showingthe growth tendency during this period; and the identification of strategic locations for cargo robberies.

Key Words

roadway transportation; insurance; cargo robbery.

Contents

1. Introduction. 2. Cargo robbery. 3. Spatial analysis. 3.1. Spatial analysis tools of accurate patterns.3.2. Spatial analysis tools in areas. 4. Methodology 5. Methodology application. 5.1. Database preparation.5.1.1. Georeference. 5.1.2. Definition of the area analysis unit. 5.1.3. Aggregation of the georeferencedcargo robberies in the selected area format. 5.1.4. Definition and calculation of the cargo robbery ratio.5.1.5. Verification and correction of topological integrity. 5.2. Exploratory analysis in areas. 5.2.1. Spatialvisualization. 5.2.2. Global spatial concentration. 5.2.3. Local spatial concentration. 5.3. Exploratory analysisin areas. 5.3.1. Analysis of the spatial distribution of cargo robberies. 5.3.2. Analysis of the cargo robberygrouping. 6. Conclusions and recommendations. 7. Bibliographic references.

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Marcelo Pereira Queiroz, Francisco Gildemir Ferreira da Silva e Carlos Eduardo Freire Araújo

Sinopsis

Análisis espacial exploratoria de robos de cargas en carreteras federales en el Estado deMinas Gerais

Marcelo Pereira Queiroz, MSc.Centro de Formación en Recursos Humanos en Transportes – CEFTRU/UnB

Francisco Gildemir Ferreira da Silva, MSc.Agencia Nacional de Transporte Terrestre – ANTT

Carlos Eduardo Freire Araújo, Eng.Programa de Posgrado en TransportesUniversidade de Brasília – UnB

Resumen

El transporte vial de cargas es responsable por más del 61,1% de la cantidad de los bienes transportadosen Brasil. Los valores de las mercancías transportadas atraen, constantemente, el interés de pandillasespecializadas en robos de carga. Con el pasar del tiempo, los asaltos pasaron a ser un problema deseguridad pública. Este artículo contribuye para estudios de transporte y acciones gubernamentales,pues objetiva explorar el tema e introducir la utilización de técnicas de análisis y estadísticas de datosespaciales puntuales, desarrollando una metodología de análisis exploratoria del padrón de asaltos encarreteras. Esta metodología ha sido aplicada a los datos de robos de carga en carreteras federalesen el Estado de Minas Gerais en el periodo de 1999 a 2001, resultando en: sugerencias para evaluaciónde la calidad de la información del banco de datos; obtención de mapas de tendencias de crecimiento alo largo de este periodo; y la identificación de tramos críticos de robos de carga.

Palabras-Clave

transporte vial; seguro; robo de carga.

Sumario

1. Introducción. 2. Robo de cargas. 3. Análisis espacial. 3.1. Herramientas de análisis espacial de padronespuntuales. 3.2. Herramientas de análisis espacial en áreas. 4. Metodología 5. Aplicación de la metodología.5.1. Preparación de la base de datos. 5.1.1. Georreferenciación. 5.1.2. Definición de la unidad de análisisde área. 5.1.3. Agregación dos robos de cargas georreferenciados en el formato de área seleccionado.5.1.4. Definición y cálculo del índice de robo de cargas. 5.1.5. Verificación y corrección de la integridadtopológica. 5.2. Análisis exploratorio en áreas. 5.2.1. Visualización espacial. 5.2.2. Concentración espacialglobal. 5.2.3. Concentración espacial local. 5.3. Análisis exploratorio en áreas. 5.3.1. Análisis de ladistribución espacial de los robos de cargas. 5.3.2. Análisis de los agrupamientos de robo de carga.6. Conclusiones y recomendaciones. 7. Referencias bibliográficas.

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Análise Espacial Exploratória de Roubos de Cargas em Rodovias Federais no Estado de Minas Gerais

1. Introdução O modo rodoviário é responsável pela movimentação de 61,1% decargas no país, correspondendo ao valor de R$ 133,3 bilhões (7,5%)do Produto Interno Bruto nacional em 2004 (LIMA, 2006). O roubo decargas no Brasil vem aumentando significativamente. Segundo aCOPPEAD (2002), houve um aumento de cerca de 160% no númerode ocorrências de roubo de cargas entre 1994 e 2001, resultando emprejuízos que já chegaram a atingir mais de R$ 400 milhõesanualmente. Apenas no estado de São Paulo, as perdas chegaram aR$ 198,614 milhões em 2004 (Sindicato das Transportadoras de Cargado Estado de São Paulo – SETCESP). O roubo de cargas se tornou umcaso de segurança pública devido ao fato de impactar diretamente naeconomia por inibir a produção, influenciar no risco Brasil, aumentaros custos em seguro de transporte de carga e reprimir o transporte demercadorias.

Segundo o artigo 144, parágrafo primeiro inciso I, da Constituição Federal1988 (BRASIL, 1988), a atividade investigativa é de responsabilidade daPolícia Federal e pode ser subdividida em inteligência (análise criminal),ações inibidoras e repressivas. No que se refere à inteligência, ela éaplicada, dentre outras atividades, na identificação de probabilidadesde ocorrência, no mapeamento de locais críticos, no cruzamento deinformações correlacionadas com o tipo de delito (assalto, furto,assassinato, atentado, etc.), na prospecção de possibilidades de delitose planejamento de ações inibidoras e repressivas. Em tese, as açõesinibidoras e repressivas envolvem agir quando todas as medidas tomadaspara evitar a ocorrência não tiveram êxito.

A evolução da análise criminal exige que os órgãos investigadorespossuam: disponibilidade de maiores volumes de dados sobre o crime,propriamente acumulados e sistematizados; existência de “ferramentas”de processamento e análise (manuais ou automatizadas);profissionalização técnica dos agentes policiais, especialmentecapacitados para funções de inteligência policial e análise criminal.Pode-se observar que a moderna prática da análise criminalfundamenta-se no uso intensivo da Tecnologia da Informação (TI),incluindo os aplicativos de estatística computadorizada e de análiseespacial.

Apresentar um ferramental aplicável à inteligência policial e aogerenciamento de risco e mostrar o potencial das ferramentas de análiseespacial para identificar padrões pontuais dos roubos de carga constituemos principais objetivos deste trabalho. Inicialmente, apresenta-se um brevehistórico do roubo de cargas no Brasil, citando estatísticas e distribuiçõesdestes eventos por regiões e estados brasileiros. Em seguida, apresenta-seuma revisão teórica da análise e estatística de dados espaciais em formade ponto. A quarta seção descreve a metodologia proposta de análiseespacial exploratória de roubo de cargas, citando as etapas e atividadesnecessárias para análises desses eventos. A aplicação da metodologiaaos eventos de roubo de carga em rodovias federais em Minas Gerais,no período 1999 a 2001, é realizada na quinta seção. Na última seção,são apresentadas algumas conclusões e recomendações de estudospara o desenvolvimento da análise espacial de roubos de carga.

2. Roubo de cargas Heinrich (2004) afirma que os roubos de cargas começaram a ganharnotoriedade no início da década de 80, o que resultou na criação de uma

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taxa conhecida por Adicional de Emergência (ADEME) pelo GovernoFederal, sendo substituída em 2001 pelos custos em Gerenciamentode Riscos (GRIS). Os roubos de carga foram aumentando anualmente,de 3.000 ocorrências em 1994 para 8.000 em 2001, ocasionandoprejuízos de aproximadamente 100 milhões de reais e de 500 milhões,respectivamente (COPPEAD, 2002). Aproximadamente 80% dos roubosde carga estão concentrados nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro,segundo o requerimento 23, de 2000, do Congresso Nacional. Essemesmo documento cita que há uma tendência de ampliação do raio deação das quadrilhas para os estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais(Triângulo Mineiro), Goiás e Paraná. Estudos da SETCESP (1999)revelam que as ocorrências de roubo de caminhões e depósitos deempresas de transportes cresceram mais de 30% em relação ao anoanterior em São Paulo.

Estas estatísticas contribuíram para que os operadores e o governoadotassem várias medidas para obter a redução destes índices.Os operadores adotaram medidas mais rígidas de controle e seleçãodos motoristas no início dos anos 90. Tal fato reduziu os casos deapropriação indébita, sem reduzir, entretanto, os casos de abordagemde veículos com indivíduos fortemente armados que seqüestram e atémesmo podem matar os condutores (GAMEIRO; CAIXETA-FILHO, 2002).Por outro lado, o Governo elaborou o requerimento 23, de 2000, criandouma CPMI para apurar o crescimento do roubo de cargas, na qual foiconstatado o envolvimento do narcotráfico, bem como a possível açãode receptores relacionados a grandes grupos de supermercados.Essa Comissão sugeriu e, seqüencialmente, foi elaborada a Lei 10.446,08/05/2002, que, em seu artigo 1o inciso IV, cita que cabe à Polícia Federal,sem prejuízo a outras instituições, a investigação do furto, roubo oureceptação de cargas transportadas em operação interestadual ouinternacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha em maisde um estado brasileiro. Recentemente foi aprovada a Lei Complementar121, de 09/02/2006, criando o Sistema Nacional de Prevenção,Fiscalização e Repressão ao Furto e Roubo de Veículo e Cargas paraestabelecer mecanismos de cooperação entre União, Estados e DistritoFederal.

Este Sistema, segundo Caiado (2006), deve ter como objetivo a criaçãode estratégias de combate a essas ameaças, sendo possível odesenvolvimento de mecanismos e indicadores de monitoramento, oque requer um sistema computadorizado estatístico sustentável efuncional. O desenvolvimento dessas ferramentas, segundo Dantas eSouza (2004), vem sendo estudado por renomados pesquisadores,destacando-se Henry Fielding, Edgar Hoover, August Vollmer, WinfieldWilson e John Edgar Hoover. Algumas das ferramentas estudadas estãorelacionadas ao uso intensivo da Tecnologia da Informação (TI), incluindoos aplicativos de estatística computadorizada e de análise espacial. Caiado(2006) cita que a análise espacial se aplica aos eventos criminais porqueum dos meios mais eficientes de se medir políticas públicas é a eleiçãoda dimensão espacial e territorial como unidade de análise (pressupostosfirmados no âmbito da Escola de Chicago, nos Estados Unidos).

3. Análise espacial A análise espacial possui como principal objetivo a mensuração depropriedades e relacionamentos de dados que possam ser

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caracterizados no espaço, em função de algum sistema decoordenadas (CÂMARA; CARVALHO, 2000). Esses dados podem serclassificados e analisados de quatro formas distintas: análise desuperfícies, análise de redes, análise de padrões pontuais e análisede dados em áreas. Descrevem-se as duas últimas análises porserem aplicadas, na metodologia, nos subitens 2.1 e 2.2.

Dentre as aplicações das técnicas de análise espacial para análise dadistribuição espacial de eventos criminais, destacam-se os trabalhosdesenvolvidos por Block (1994), Block & Block (1995), Levine (1996),além do Manual do Crimestat (NIJ, 2002). Na aplicação dessas técnicasno Brasil, destaca-se o trabalho desenvolvido por Queiroz (2003), o qualapresentou o potencial dessas técnicas para a identificação de locaiscríticos de acidentes de trânsito considerando a dependência espacial.

3.1. Ferramentas Padrão pontual pode ser definido como qualquer conjunto de dadosde análise espacial consistindo de uma série de localizações pontuais que estão associadasde padrões pontuais a eventos dentro da área de estudo. A distribuição destes dados espaciais

pode ser caracterizada por meio de funções de estatística espacial quepermitem localizar o centro desta distribuição, identificar a existência depadrão espacial, identificar autocorrelação espacial, dentre outrosobjetivos (CRESSIE, 1993). Dentre essas funções, destaca-se a elipsede desvio-padrão e os agrupamentos espaciais.

A elipse de desvio-padrão fornece a medida de dispersão espacial dospontos em duas dimensões ao redor do centro da distribuição. Já a técnicade agrupamento espacial pode ser entendida como técnica que permitequalquer agrupamento de eventos (pontos, linhas e áreas), emdeterminado período de tempo (QUEIROZ, 2003). Na literatura podemser encontradas diversas técnicas que determinam os agrupamentos,diferindo quanto aos critérios de identificação. NIJ (2002) subdivide essascategorias em: localizações pontuais, técnicas de particionamento;técnicas hierárquicas e técnicas de variável de risco. Bailey e Gatrell(1995), apud Grubesic e Murray (2003), citam que a técnica hierárquicausando o critério do vizinho mais próximo é a mais aplicada em problemasde agrupamentos. Equações, aplicações e limitações dessa técnicapodem ser encontradas em Queiroz et al.(2004).

3.2. Ferramentas O objetivo da análise de dados em áreas é identificar a existência dede análise espacial padrões de distribuição espacial, de áreas críticas e de tendênciasem áreas espaciais de crescimento, auxiliando o entendimento da ocorrência

de determinado fenômeno. Foram selecionadas algumas ferramentaspara realizar uma caracterização espacial sistêmica dos eventos deroubo de carga, as quais são apresentadas resumidamente a seguir.Para mais detalhes sobre equações e aplicações sobre todas asferramentas abaixo citadas, recomenda-se consultar Queiroz (2003),disponibilizado na internet.

A visualização de dados é a forma mais simples de observar valoresextremos e consiste em apresentar mapas cloropéticos contendo adistribuição dos atributos por área, sendo que diferentes critérios de divisõesem intervalos de classes induzem a visualização de diferentes aspectos.

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Marcelo Pereira Queiroz, Francisco Gildemir Ferreira da Silva e Carlos Eduardo Freire Araújo

Os indicadores globais fornecem um único valor como medida daassociação espacial para o conjunto de dados. Quando a área de estudoestá muito subdividida, é muito provável que ocorram diferentes regimesde associação espacial e que apareçam máximos locais deautocorrelação espacial, onde a dependência espacial é ainda maispronunciada.

Os indicadores locais servem para indicar a significância estatística daconcentração espacial indicando as regiões que apresentam correlaçãolocal significativamente diferente do resto dos dados. Essas regiõespodem ser vistas como “bolsões” de não estacionariedade, pois são áreascom dinâmica espacial própria e que merecem análise detalhada.Este mapa é chamado de Lisa Map e, na sua geração, os valores doíndice local de Moran são classificados em quatro grupos: nãosignificantes, com significância de 95% (classe 1), 99% (classe 2) e 99,9%(classe 3).

4. Metodologia A metodologia proposta se caracteriza por ter um foco exploratório emrelação à aplicação de um conjunto de ferramentas de análise e estatísticaespacial para análise de eventos de roubo de carga e também por conteratividades que detectem erros no resultado de cada etapa. As etapasdesta metodologia são apresentadas na Figura 1.

A etapa de preparação da base de dados possui como objetivo principalorganizar, verificar e corrigir os dados para analisá-los geograficamentenas etapas posteriores B e C. A atividade A1 requer que todos os dadosde roubo de carga estejam cadastrados em um banco de dadosinformatizado, e para executá-la pode-se utilizar alguns dos métodos degeorreferenciamento disponíveis na maioria dos pacotes de SIG.A atividade A.2 consiste em definir o formato de área a ser usado naetapa B, sendo recomendado o formato mais desagregado possível.Na terceira atividade deve-se contabilizar a quantidade de roubo decargas georreferenciados por unidade de área selecionada. A atividadeA.4 define um índice de roubo de carga e posteriormente calcula o seuvalor usando as ferramentas disponibilizadas nos SIG.

Figura 1 – Metodologia de Análise Exploratória de Roubos de Cargas

A. Preparação da base de dadosA.1. GeorreferenciamentoA.2. Definição da unidade de análise de áreaA.3. Agregação dos roubos de cargas georreferenciados no formato de área selecionadoA.4. Definição e cálculo do índice de roubo de cargasA.5. Verificação e correção da integridade topológica

B. Análise exploratória em áreasB.1. Visualização espacialB.2. Concentração espacial globalB.3. Concentração espacial local

C. Análise de padrões pontuaisC.1. Análise da distribuição espacial dos roubos de cargasC.2. Análise dos agrupamentos de roubo de carga

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Análise Espacial Exploratória de Roubos de Cargas em Rodovias Federais no Estado de Minas Gerais

A atividade A.5 realiza a importação da camada de áreas e de pontospara uma plataforma que calcule as estatísticas espaciais necessáriaspara se atingir os objetivos do estudo. A definição do pacote a ser usadodependerá dos objetivos do estudo e da disponibilidade de recursos paraaquisição dos recursos computacionais. Deve-se ter cuidado nestaimportação dos dados em área, pois algumas vezes os relacionamentostopológicos não são importados corretamente, embora visualmentepareça que esses relacionamentos não apresentem erros. Para evitaristo, a atividade A.6 recomenda a utilização de ferramentas de correçãotopológica. A verificação topológica já é mais fácil de ser executada, poisconsiste de testes simples conforme o formato do dado. Nessa atividadedeve-se verificar se os roubos de carga estão corretamente posicionados,conferindo se os mesmos pertencem ao município e ao trecho de rodoviacitado no banco de dados. Para dados em áreas, deve-se elaborar amatriz de conectividade ou de proximidade espacial, observados osvalores apresentados em cada célula da matriz.

A etapa 2 possui como objetivo obter uma caracterização espacialsistêmica sobre os eventos de roubo de carga, identificando áreas críticas,dependências e tendências espaciais de crescimento, dentre outrasfunções. A atividade B.1 consiste em visualizar a distribuição espacialdos roubos de carga para identificar as áreas críticas. Vale lembrar quecaso se deseje comparar valores em diferentes períodos, os mapasgerados com intervalos de classes iguais são os mais adequados.As estatísticas espaciais globais são calculadas na atividade B.2 paraconstatar o tipo de distribuição espacial dos índices de roubos de cargas.Estes cálculos também podem ser usados para comparar diferentesperíodos em relação ao grau de concentração espacial. A atividade B.3calcula as estatísticas espaciais locais, identificando e classificando asáreas conforme o nível de significância da correlação espacial dos índicesde acidentes, usando o Lisa Map.

A etapa 3 está subdividida em três atividades e pode ser realizada empacotes estatísticos espaciais. A atividade C.1 descreve e comparageograficamente os roubos de carga, por período, usando as áreasde elipse de desvio-padrão. A aplicação da técnica hierárquica deagrupamento do vizinho mais próximo é realizada na atividade C.2 paraidentificar locais críticos de roubos de carga.

5. Aplicação Esta seção inicia a aplicação da metodologia usando os dados de rouboda metodologia de carga em rodovias federais, disponibilizados pela Polícia Rodoviária

Federal do estado de Minas Gerais, referentes ao período de 1999 a2001.

5.1. Preparaçãoda base de dados

5.1.1. Georreferenciamento Os dados de roubos de carga estavam armazenados em uma planilhade dados que continha várias informações, destacando-se: município;denominação do trecho rodoviário; quilometragem e tipo de carga.Essa planilha não continha nenhuma rotina que pudesse evitar aduplicidade de cadastro de registros e muito menos rotinas que

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Marcelo Pereira Queiroz, Francisco Gildemir Ferreira da Silva e Carlos Eduardo Freire Araújo

evitassem o cadastro de municípios ou de trechos rodoviários quenão pertenciam ao estado de Minas Gerais. Alguns atributos dessaplanilha apresentaram a maioria dos seus campos nulos, tais como ovalor da carga e a placa dos veículos, contribuindo como fator limitantepara alguns tipos de análises.

O georreferenciamento destes dados foi realizado usando os comandosdisponibilizados na maioria dos SIGs, por meio das ferramentas Locateby Adress. Do total de 323 registros, foram georreferenciados 90,17%.O principal motivo de não georreferenciamento foi a ausência dos valoresde denominação do trecho de rodovia ou da quilometragem.

5.1.2. Definição A unidade de área selecionada para este estudo foi a de municípios, porda unidade de se tratar da menor unidade de área que pode fornecer subsídios paraanálise de área análises sobre roubos de carga possibilitando inferir sobre o destino da

carga furtada e também, embora em menor grau de precisão, a área deatuação de quadrilhas de roubos de carga.

5.1.3. Agregação dos Para realizar esta atividade, foram usadas as ferramentas contidas naroubos de cargas maioria dos pacotes comerciais de SIG, seguindo estes passos: inseriu-segeorreferenciados uma coluna na tabela de associação da camada de municípios, e depoisno formato de foi realizada a sobreposição de camadas, para calcular a quantidade deárea selecionado roubo de cargas em cada município.

5.1.4. Definição e Para compreender este fenômeno geograficamente usando ascálculo do índice ferramentas de análise exploratória, recomenda-se definir um índice quede roubo de cargas reduza a influência do tamanho da área. Por este motivo, recomenda-se

visualizar a distribuição espacial do índice de freqüência de roubo decarga para obter uma visão espacial do fenômeno de roubo de carga.Qualquer variável de base, seja relacionada à dimensão física(quilometragem viária, área quadrada) seja relacionada a algum outroatributo da área (população, veículos registrados, dentre outros), aprincípio poderá ser usada. Queiroz (2003) verificou que os atributosrelacionados à dimensão física apresentaram o menor valor, que podemelhor caracterizar a heterogeneidade do fenômeno dos acidentes nomunicípio de Fortaleza.

Este trabalho verificou ainda a viabilidade do uso do índice da quantidadede roubos de carga por quilômetro da rodovia federal em cada municípiomineiro. Este índice foi calculado inserindo mais uma coluna na tabelade associação da camada de municípios para, em seguida, multiplicar aquantidade de roubos por cem e depois dividir pelo campo da quantidadede quilômetros. Optou-se por multiplicar por 100 para facilitar ascomparações entre os municípios, evitando razões menores do que um.

5.1.5. Verificação A avaliação da qualidade da informação não espacial foi realizada pore correção da meio da verificação dos atributos especificados no banco de dadosintegridade topológica informatizados. Uma delas se refere à correção da denominação dos

municípios seguindo a nomenclatura especificada pelo InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outra se refere à correção

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dos nomes das rodovias cadastradas por meio da comparação comos dados contidos no Plano Nacional de Viação (PNV). A correção dadenominação dos tipos de carga também foi realizada para possibilitaro agrupamento das cargas e alguns relacionamentos entre os tiposde carga roubados e os locais críticos identificados pela técnica deagrupamentos espaciais.

A avaliação da qualidade da informação espacial utilizou os recursos ecomandos de análise espacial integrantes da maioria dos pacotes deSIG, destacando-se os comandos de sobreposição espacial. Com aaplicação de tais recursos, verificou-se que aproximadamente 20% dosmunicípios citados na planilha, quando georreferenciados e confrontadoscom a localização espacial do município fornecida pela IBGE, nãocorrespondiam às denominações contidas na planilha. Dada a divergênciade informação em relação ao município, adotou-se como correta ainformação da quilometragem citada na planilha.

5.2. Análise exploratóriaem áreas

5.2.1. Visualização A Figura 2 destaca os municípios que tiveram mais de 20 roubos noespacial período de 1999 a 2001, os quais estão localizados no triângulo mineiro,

compreendendo os municípios de Uberaba, Uberlândia e Araguari. Pode-seobservar, também, nessa mesma figura, uma outra concentraçãorelevante envolvendo alguns municípios adjacentes ao estado do Rio deJaneiro, embora em menor magnitude.

Na Figura 3 pode ser observada a distribuição dos 14.925 quilômetrosde rodovia federal por município, destacando-se o município deUberlândia com a maior quantidade de quilômetros e alguns de seusmunicípios vizinhos (Uberaba, Prata e Campina Verde) com valores bempróximos, motivado possivelmente pela elevada geração de atividadeseconômicas nesta região do Triângulo Mineiro. Observa-se também que43% destes municípios apresentam valor nulo de quilometragem derodovias federais. O principal objetivo desta figura é servir de suportepara analisar a distribuição do índice de roubo de carga por quilômetrode rodovia federal de cada município, apresentada na Figura 4, na qualse observa que aproximadamente 90% dos 851 municípios mineirosapresentam valor nulo para este índice. O município de Indianópolis foio que apresentou maior valor para este índice, motivado provavelmentepela proximidade com o Triângulo Mineiro. Com a aplicação deste índice,observou-se também que Uberlândia, pela elevada quantidade dequilometragem, deixou de ser classificado como município crítico emrelação a roubo de carga.

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5.2.2. Concentração O pacote usado para o cálculo deste índice foi o GEODA, disponibilizadoespacial global gratuitamente na internet, o qual apontou com significância de 99,9%,

após 999 permutações, a existência de um padrão de auto-correlaçãoespacial com um valo r de 0,3364. Esse valor indica que o índice deroubo de carga constitui um evento geograficamente dependente.

Figura 2 – Quantidade de Roubo de Cargas porMunicípio

Figura 3 – Quilômetros de vias federais por Município

Figura 4 – Relação de Roubo de cargas/km de vias federais

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5.2.3. Concentração A Figura 5 apresenta os municípios que possuem dependência espacialespacial local significativa, ou seja, municípios que possuem o índice local de Moran

com significância de 95% (classe 1), 99% (classe 2) e 99,9% (classe 3),os quais se encontram principalmente na área da região do TriânguloMineiro (elevados índices de roubo de carga). Esta maior significânciarepresenta que o índice elevado de roubo de cargas nesta área possuium forte relacionamento com as características espaciais desse local,tais como elevada concentração de indústrias, produtos e serviços. Comsignificância um pouco menor, 99%, pode-se verificar que existem váriosmunicípios localizados próximos à região crítica do índice de roubo decarga.

Figura 5 – Relação de Roubo de cargas/km de vias federais

5.3. Análise exploratóriaem áreas

5.3.1. Análise da A Figura 6 destaca a localização da elipse de desvio-padrão dos eventosdistribuição espacial de roubo de carga em Minas Gerais, a qual indica área que contém ados roubos de cargas maior quantidade de eventos de roubo de carga. Também indica

a tendência de concentração destes eventos dentro do estado de MinasGerais.

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5.3.2. Análise dos A Figura 7 apresenta a localização dos agrupamentos de roubos de cargaagrupamentos contendo mais de 5 eventos em sua área de cobertura. Pode-se visualizarde roubo de carga que a maioria desses agrupamentos se localiza próximo ao Triângulo

Mineiro, como foi identificado na Figura 2, a qual apresenta os municípioscom maiores valores do índice de roubo de carga. Pode-se observar,também, nessa figura, que existem agrupamentos próximos à fronteiracom o Rio de Janeiro, originados possivelmente da pouca fiscalizaçãonesta Região. A Figura 8 apresenta um detalhamento da região queobteve maior concentração de agrupamentos próximos ao município deUberlândia, principalmente nos trechos rodoviários da BR365, da BR050e da BR153. Dada a proximidade desses agrupamentos, pode-se inferirque existem ligações entre municípios, tais como a ligação entreUberlândia e Indianópolis, na BR365, que podem ser alvo de medidasde inteligência por parte da Polícia Federal com o intuito de reduzir aocorrência destes eventos nesses trechos.

Figura 6 – Relação de Roubo de cargas/km de vias federais

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Figura 7 – Agrupamentos de Roubo de Cargas por Município

Figura 8 – Detalhe dos Agrupamentos de Roubo de Cargas por Município

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6. Conclusões e A aplicação da metodologia citada neste trabalho para análise exploratóriarecomendações de roubos de cargas possibilitou uma análise do banco de dados

informatizado, fornecido pela Polícia Rodoviária do estado de MinasGerais, citando os erros e problemas detectados, e também forneceuum melhor entendimento sobre a distribuição espacial dos eventos deroubo de carga ao longo das rodovias federais desse estado. Outroresultado obtido, a identificação de locais com concentrações significativaspor meio da aplicação da técnica de agrupamentos, mostrou possuir umenorme potencial de contribuição para estudos de identificação de locaiscríticos de quaisquer tipos de crime. A identificação destes locais críticospode também auxiliar na programação de medidas de fiscalização epatrulhamento de rodovias, além da investigação, por parte da polícia,dos diversos fatores que impulsionam a ocorrência do delito, como: malharodoviária mais densa, quantidade de produtos transportados, tipo e valordas mercadorias transportadas. Essa informação pode ser igualmenteimportante para as empresas de gerenciamento de riscos, tendo em vistaa consideração dos locais críticos no planejamento da rota mais segurapara os transportadores O estudo de caso possibilitou identificar a Regiãodo Triângulo Mineiro como a região crítica em relação ao roubo de cargadevido às características sócio-econômicas, marcadas principalmentepela elevada quantidade de indústrias e serviços dessa região. Verificou-seainda trechos de ação repressiva por parte da polícia, passíveis de escoltapara o caso do gerenciamento de risco e que impliquem maior custo aoprêmio pago às seguradoras.

Recomenda-se a elaboração de metodologias de identificação de locaiscríticos que considerem o pressuposto da dependência espacial dosroubos de carga. Recomenda-se também aplicar outras técnicas aosestudos criminais nacionais, considerando o modelo de análises de crimeespaço temporais disponíveis em pacotes estatísticos espaciaisdisponibilizados gratuitamente na internet. Outra recomendação consisteem aplicar outras técnicas de agrupamento, considerando um fator deponderação, como, por exemplo, o valor da carga. Apesar de já existiremalguns softwares nacionais que analisam os eventos criminais, tais comoo Terracrime, recomenda-se que estes pacotes possam contemplar asferramentas de análise espacial citadas neste estudo devido às vantagenssupracitadas neste trabalho.

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