análise econômica do crime

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Análise Econômica do Crime Resumo: A análise econômica do crime se faz necessária hodiernamente para ir além dos critérios outrora utilizados para anular a ação dos agentes criminosos. Considerar os fatores que levam um indivíduo a cometer qualquer espécie de crime é essencial para buscar soluções para o combate à tais condutas danosas à sociedade. 1.Introdução Este trabalho tem como objetivo abordar de forma introdutória uma análise econômica do crime, ou seja, os fatores que levam o indivíduo à prática de um crime, levando em consideração o ordenamento jurídico e sua efetiva aplicação. Sabemos que a letra da lei nos remete a uma ideia, mas que a aplicação ao caso concreto é ineficiente por diversos fatores precários, tendo em vista a má estruturação de presídios e polícia nos mais variados lugares do Brasil, por exemplo. Sabe-se que a quantidade de presídios existentes no Brasil é muito inferior ao necessário para manter todos os condenados por um crime com pena de reclusão ou presos em flagrante, ou preventivamente, de forma digna e adequada. Daí surgem as situações que a mídia sempre divulga, que são presídios superlotados, pessoas dormindo em pé, sem o mínimo de dignidade para a boa saúde e sobrevivência. E mesmo com o

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Resenha Análise do Crime

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Page 1: Análise Econômica Do Crime

Análise Econômica do Crime

Resumo:

A análise econômica do crime se faz necessária hodiernamente para ir além dos critérios

outrora utilizados para anular a ação dos agentes criminosos. Considerar os fatores que levam

um indivíduo a cometer qualquer espécie de crime é essencial para buscar soluções para o

combate à tais condutas danosas à sociedade.

1.Introdução

Este trabalho tem como objetivo abordar de forma introdutória uma análise

econômica do crime, ou seja, os fatores que levam o indivíduo à prática de um crime, levando

em consideração o ordenamento jurídico e sua efetiva aplicação. Sabemos que a letra da lei

nos remete a uma ideia, mas que a aplicação ao caso concreto é ineficiente por diversos

fatores precários, tendo em vista a má estruturação de presídios e polícia nos mais variados

lugares do Brasil, por exemplo.

Sabe-se que a quantidade de presídios existentes no Brasil é muito inferior ao

necessário para manter todos os condenados por um crime com pena de reclusão ou presos em

flagrante, ou preventivamente, de forma digna e adequada. Daí surgem as situações que a

mídia sempre divulga, que são presídios superlotados, pessoas dormindo em pé, sem o

mínimo de dignidade para a boa saúde e sobrevivência. E mesmo com o risco de ir para esses

locais subumanos, a cada dia mais pessoas se arriscam à cometer crimes.

2. Do Sistema Penal

São regras estabelecidas no ordenamento jurídico brasileiro no Direito Penal, Direito

Processual Penal e Direito da Execução Penal. É composto de normas que valoram penas,

estabelecem prazos, definem condutas proibidas, estruturam, delimitam competências,

aplicações, dentre outros. A conduta deverá ser típica, antijurídica e culpável para que se

enquadre naqueles tipos penais.

Por meio dessas leis é que o Estado tenta coibir o sujeito à prática daqueles atos

considerados danosos à sociedade. Quando percebe que alguma conduta não está mais sendo

considerada danosa ou que alguma outra está prejudicando a harmonia em sociedade, então o

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legislador modifica tais leis. Quando pretende repreender ainda mais, ele faz com que a

sanção seja aumentada. O mesmo acontece quando o Estado pretende desestimular a prática

do tipo penal, ele aumenta as sanções já impostas.

O Estado brasileiro não tem suporte para, ao mesmo tempo, suprimir todos os ilícitos

penais cometidos. Seja por falta de fiscalização, por falta de estrutura, por falta de servidores

capazes de identificar condutas criminosas, de processar e aplicar as devidas penas

correspondentes àqueles atos. Nem todas são levadas ao conhecimento das autoridades

competentes. Além do mais, tais crimes, apresentam uma baixa reprovação social (não pagar

impostos, comprar produtos piratas ou contrabandeados) e não possuem uma vítima concreta.

O fato é que o sistema penal é ineficiente, ineficiência esta denominada de cifra

negra(criminalidade real versus criminalidade aparente). É natural e até compreensível que os

policiais prefiram atender a um chamado em um caso de estupro ou homicídio a atender um

chamado de corrupção. Os direitos tratados com prioridade são aqueles ligados à vida e à

liberdade, sem dúvida. Destarte, os crimes econômicos ou não são levados ao conhecimento

das agências de controle, ou, se são, prescrevem, na maioria dos casos, porque outros estão à

frente para serem julgados. Poucos são os casos em que essas situações não ocorrem, como,

por exemplo, quando envolve política ou quando a mídia interfere com seus holofotes.

2.1.Do crime

Os crimes podem ser de ordem coletiva ou individual, segundo o bem jurídico que

pretendem proteger. E se subdividem também em econômico ou lucrativo e não econômico e

não lucrativo, sendo o primeiro aquele que visa à obtenção de dinheiro ou coisa alheia, como

os tipos de furto, estelionato, receptação, dentre outros; o segundo não se caracteriza por essa

relação imediatamente, sendo, por exemplo, os crimes de estupro, homicídio, tortura, crimes

que afetam diretamente a integridade física de um indivíduo e não tendo em suas respectivas

tipificações a obtenção de lucro em torno daquele ato.

Por consequência, os criminosos econômicos, podem ser equiparados a típicos

empresários. Auferem lucros e prejuízos, planejam seus atos, formalizam estruturas para

amparar seus atos, têm “sócios” ou não de acordo com a necessidade e do risco que envolve

aquela atividade. Uns contribuem com trabalho, outros com capital, como também com bens.

Quanto maior a cadeia criminosa, maior e mais complexa se torna essa relação empresarial do

crime, onde vão se formando e se agregando mais e mais pessoas em busca de um lucro final

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em torno daquilo tipificado como crime, como errado, como um risco à boa saúde da

sociedade.

E por que a prática de crimes econômicos tem valido tanto à pena? Atualmente,

acompanhamos o julgamento do mensalão, no qual a maioria dos crimes é de ordem

econômica.

Os autores de tais crimes não tem uma classificação. São pobres, ricos – penso que

principalmente esses – de qualquer raça ou região. Não há um estereótipo, eles estão por toda

a parte tentando tirar vantagem de tudo quanto há e cometem pequenos e grandes crimes.

2.2. Da impunidade

A impunidade dos crimes econômicos desencadeia uma série de implicações. A

primeira é que já que não há punição, todos os indivíduos da sociedade estão propensos a

cometer qualquer um dos crimes, principalmente os ligados à corrupção. A segunda

implicação é que não há uma relevante crise de consciência ao se balancear se vale à pena ou

não cometer esses tipos de crimes. “Ora, se nada vai acontecer, o que há de mal em aceitar

esse suborno? Afinal, tenho uma família lá em casa, isso é mais importante, preciso colocar

comida na mesa, esse salário que eu ganho não dá pra nada! Além disso, todo mundo faz isso

mesmo, se eu fizer ninguém vai perceber.” E a terceira e última implicação é que hoje aquele

indivíduo aceita suborno.

Amanhã aceitará um suborno ainda maior. Depois, participará de um roubo onde só

irá ajudar dirigindo o carro e irá receber muito bem “só” por fazer isso. E quando se dá conta,

ele já faz parte de uma gigantesca cadeia do crime, onde cada um desempenha sua função

dentro daquela sociedade e contribui de alguma forma para que o “lucro” seja obtido no fim

daquele ciclo. E como em toda sociedade, todos se especializam na sua ocupação para que,

por fim, recebam mais por isso.

3.Da Análise Econômica

Os agentes criminosos atuam quase sempre de forma racional e não antissocial e

emotiva, nesses crimes econômicos. Os indivíduos precisam apenas de oportunidade e

motivação. A motivação se dá por qualquer motivo, se atrelado à personalidade do indivíduo,

ou seja, qualquer coisa é um motivo se aquele indivíduo é propenso à prática de crimes. Outra

motivação é que, na maioria das vezes, obter algo de forma ilícita é mais vantajoso (mais

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barato, mais rápido, menos gravoso) do que obter aquela mesma coisa de forma lícita (muito

trabalho, muito esforço) e em pleno mundo capitalista, tudo se torna mais competitivo.

A oportunidade é a análise de lucro e punição. Como dito anteriormente, se o que há

é a impunidade então qualquer coisa se torna lucro. A máxima é a obtenção do máximo de

lucro com o mínimo de esforço e risco. Assim sendo, a alternativa para a sociedade não

criminosa é tentar fazer com que os custos transacionais aumentem, ou seja, maximizar os

custos da atividade criminosa e minimizar os seus ganhos, para coibir o crime.

Estima-se que a probabilidade de um indivíduo ser preso Brasil pela prática de um

delito, seja menor que a verificada nos EUA, qual seja, 5%. Implica dizer, portanto, que a

chance de cometer um crime e sair ileso é de mais de 95%! Creio ser este uma grande

motivação para o investimento na indústria do crime para aqueles que optam por o praticar.

Há estudos que revelam que a indústria do tráfico de drogas está no ranking mundial

entre os principais negócios, perdendo somente para a indústria automobilística e para o setor

de petróleo. Será, portanto, que se os crimes de drogas forem desconstituídos, ou seja,

passarem a ser permitidos no Brasil, esse cenário pode mudar? Ou seja, a venda de drogas

sendo liberada, tal “setor” pagará impostos ao governo e gerará empregos formais como em

qualquer outro setor da economia, impulsionando, quem sabe, ainda mais a economia e

acelerando sua movimentação. E o que era um fator danoso à sociedade, acabaria tornando-se

um aliado para o crescimento econômico e melhoria da qualidade de vida de muitos. Ressalta-

se que este artigo não tem como escopo aprofundar-se neste tema, deixando para outra

oportunidade. Vale somente analisar o que a sociedade deve fazer para tornar nulo o retorno

lucrativo da atividade criminosa.

4. Conclusão

O crime viola a ordem e a paz social. A análise econômica do crime se faz mister

para que a sociedade possa desenvolver mecanismos para tentar ao máximo anular o retorno

lucrativo do criminoso, fazendo com que o crime não compense. Para tanto, precisa-se

investir em educação, segurança, melhor distribuição de renda, melhor formação e amparo de

fiscais da lei, mais oportunidades de empregos – com salários dignos -, melhor formação

educacional etc.

A relação de risco e benefício que vemos na sociedade é de que o retorno econômico

é maior que o risco e que a possibilidade de ser punido pela prática de um crime econômico é

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infinitamente menor do que a chance de obter lucros com a prática do crime. Implica dizer,

portanto, que o crime tem compensado!

Considerar que a prática de crimes – principalmente os econômicos - é uma escolha

racional e sabendo das deficiências da sociedade para coibir a prática desses crimes, são de

fundamental importância para a elaboração de leis mais eficientes para mudar o panorama que

vemos hoje. Deve-se melhorar o Direito Penal nesse sentido, ampliando a persecução penal,

adequando a sanção penal para os tipos de maior incidência e gravidade, melhorar a

fiscalização e aplicação da lei. A pena deve servir não só para punir o infrator, mas para coibir

a prática de crimes, fazendo com que o risco seja ampliado e que não compense a prática.

Enquanto houver impunidade, o crime continuará compensando!

5. Bibliografia

SHIKIDA, Pery Francisco Assis; AMARAL, Thiago Bottino do. Análise Econômica do

Crime. In: TIMM, Luciano Benetti (Organizador). Direito e Economia no Brasil.São Paulo:

Editora Atlas S.A., 2012, p. 296-317