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0 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ RICARDO PEREIRA ANÁLISE E CONCESSÃO DE CRÉDITO A PESSOAS FÍSICAS: Um Estudo na Empresa Casa da Informática Tijucas 2011

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

RICARDO PEREIRA

ANÁLISE E CONCESSÃO DE CRÉDITO A PESSOAS FÍSICAS:

Um Estudo na Empresa Casa da Informática

Tijucas

2011

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RICARDO PEREIRA

ANÁLISE E CONCESSÃO DE CRÉDITO A PESSOAS FÍSICAS:

Um Estudo na Empresa Casa da Informática

Tijucas

2011

Trabalho de conclusão de estágio apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Administração, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Tijucas. Orientadora: Prof. MSc. Marisa Pigatto

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RICARDO PEREIRA

ANÁLISE E CONCESSÃO DE CRÉDITO A PESSOAS FÍSICAS:

Um Estudo na Empresa Casa da Informática

Este trabalho de conclusão de estágio foi julgado adequado para a obtenção do

título de Bacharel em Administração e aprovada pelo Curso de Administração da

Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Tijucas.

Área de Concentração: Finanças

Tijucas, 31 de outubro de 2011.

_________________________________ Prof. MSc. Marisa Pigatto

Orientadora

___________________________________ Prof. º Nelson Zunino Duarte

Avaliador

___________________________________ Prof. º Luciano Dalla Giacomassa

Avaliador

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EQUIPE TÉCNICA

Estagiário: Ricardo Pereira

Área de Estágio: Finanças

Professor Responsável pelos Estágios: Luciano Giacomossi

Supervisor da Empresa: Alexsandro Bastos

Professora orientadora: Marisa Pigatto

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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA

a) Razão social

Casa da Informática Ltda EPP

b) Endereço

Av. Jacob Lameu Tavares, n.º 185 – Centro – Tijucas – SC, CEP 88200-000

c) Setor de desenvolvimento do estágio

Setor financeiro

d) Duração do estágio

240 h

e) Nome e cargo do supervisor de campo

Alexsandro Bastos – Gerente-Proprietário

f) Carimbo e visto da empresa

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AGRADECIMENTOS

A professora orientadora Marisa Pigatto, Msc. pela paciência, competência, e grande

apoio na elaboração deste TCE.

Aos professores, Alexandre de Sá, Maklany, Mércio, Luciana, e Roberto Hering

pelas contribuições acadêmicas durante todo o curso.

Á Coordenação do curso, dos campi de Tijucas e Balneário Camboriú, pela

solicitude e comprometimento com os acadêmicos.

À minha noiva pelo incondicional apoio, carinho e dedicação.

À minha família que são os grandes responsáveis pelo meu ingresso na academia,

fornecendo toda base familiar necessária para o meu desenvolvimento.

À minha segunda família, Raul, Rosecler e Raul Filho, pelo carinho.

Aos meus colegas de curso, pelos grandes momentos juntos.

Ao Sr.º Alexsandro Bastos, amigo, pela oportunidade de elaborar este trabalho em

sua empresa.

A todos os colaboradores da empresa Casa da Informática, pelo carinho e

contribuições.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de estágio tem o objetivo de avaliar a administração de contas a receber da empresa Casa da Informática Ltda EPP, focando nos critérios utilizados para a análise e concessão de crédito a pessoas físicas. O crédito concedido a clientes é um grande facilitador e influenciador de vendas das empresas, gerando oportunidades de aumento dos lucros e parcela de mercado. Porém, há riscos inerentes a esta atividade, que se resumem em risco de inadimplência e aumento nos custos de cobranças, influenciando o resultado final da empresa, e sua capacidade de gerar caixa. Assim, através de uma pesquisa-diagnóstico, com tipologia de pesquisa ação, de natureza qualitativa com aporte quantitativo, e por meio de observação participante, descreveu-se a análise e concessão de crédito, e a política de cobrança, buscando confrontá-las com os conceitos levantados no referencial teórico. Identificou-se o índice de inadimplência, com base em dados quantitativos coletados e analisados por meio de planilhas eletrônicas. E por fim, com base no diagnóstico efetuado e nos dados analisados, pôde-se sugerir novos critérios para a análise e concessão de crédito, para elaboração e formalização de uma política de crédito e cobrança, buscando proporcionar fundamentos consistentes para a decisão de crédito e gestão do risco.

Palavras chaves: administração financeira – contas a receber - crédito

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ABSTRACT

This stage completion work aims to evaluate the accounts receivable management Casa da Informática Ltda EPP, focusing on the criteria used for the analysis and lending to individuals. Loans to customers are a great facilitator and influencer sales of businesses, creating opportunities for increased profitability and market share. However, there are risks inherent in this activity, which are summarized in default risk and increased costs of collection, influencing the company's bottom line, and its ability to generate cash. Thus, through a diagnostic, typology of action research, qualitative input with quantitative, and through participant observation, described the analysis and credit and collection policy, seeking to confront them with the raised in the theoretical concepts. Identified the default rate, based on quantitative data collected and analyzed using spreadsheets. Finally, based on the diagnosis made and the data analyzed, it could be suggested new criteria for the analysis and credit for development and formalization of a credit and collection policy, seeking to provide consistent basis for the decision to credit and risk management. Keywords: financial management - accounts receivable - credit

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Fluxo de fundos................................................................................... 20

Figura 2: Organograma da área de finanças..................................................... 24

Figura 3: Decisões de investimento e financiamento......................................... 26

Figura 4: Capital Circulante Líquido positivo (CCL) e Capital Circulante

Líquido negativo (CCl -).....................................................................................

30

Figura 5: Ciclo operacional................................................................................. 31

Figura 6: Fluxo do capital de giro....................................................................... 33

Figura 7: Fluxo do caixa..................................................................................... 35

Figura 8: Logomarca da empresa...................................................................... 59

Figura 9: Produtos comercializados................................................................... 60

Figura 10: Principais marcas comercializadas................................................... 60

Figura 11: Serviço de telefonia TIM................................................................... 61

Figura 12: Cadastro de clientes......................................................................... 64

Figura 13: Consulta ao SPC............................................................................... 66

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Diferença entre a visão do contador para o administrador financeiro. 23

Quadro 2: Elementos do capital de giro dentro de um balanço patrimonial......... 29

Quadro 3: CCL – Capital Circulante Líquido........................................................ 29

Quadro 4: Cálculo do ciclo operacional................................................................ 32

Quadro 5: Cálculo do giro do estoque e idade média do estoque....................... 32

Quadro 6: Comparação caixa x lucro................................................................... 36

Quadro 7: Classificação de risco de crédito – rating............................................ 50

Quadro 8: Sistema de pontuação de crédito........................................................ 52

Quadro 9: Padrões de crédito.............................................................................. 52

Quadro 10: Critérios para concessão de crédito.................................................. 67

Quadro 11: Cálculo do índice de inadimplência................................................... 70

Quadro 12: Fluxo de caixa projetado................................................................... 72

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Variáveis que influenciam.................................................................. 41

Tabela 2: Condições de venda de produtos...................................................... 62

Tabela 3: Índice de inadimplência...................................................................... 70

Tabela 4: Política de cobranças......................................................................... 74

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 13

1.2 Objetivos geral e específicos....................................................................... 14

1.2.1 Objetivo geral............................................................................................ 14

1.2.2 Objetivos específicos................................................................................ 15

1.3 Justificativa................................................................................................... 15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................... 17

2.1 Finanças....................................................................................................... 17

2.1.1 Instituições financeiras.............................................................................. 19

2.2 Administração financeira.............................................................................. 21

2.2.1 Decisões de investimento e financiamento............................................... 25

2.3 Capital de giro.............................................................................................. 27

2.3.1 Capital circulante líquido........................................................................... 29

2.3.2 Ciclo operacional....................................................................................... 31

2.3.3 Fluxo de caixa........................................................................................... 34

2.4 Administração de contas a receber.............................................................. 37

2.4.1 Crédito....................................................................................................... 38

2.5 Política de crédito......................................................................................... 39

2.5.1 Condições de venda................................................................................. 41

2.5.2 Risco de crédito......................................................................................... 44

2.6 Análise de crédito......................................................................................... 46

2.6.1 Classificação ou rating.............................................................................. 49

2.6.2 Sistema de pontuação de crédito ou credit scoring.................................. 50

2.7 Políticas de cobrança................................................................................... 53

3 MÉTODO......................................................................................................... 56

3.1Delineamento do projeto............................................................................... 56

3.2 Participantes da pesquisa............................................................................ 58

3.3 Coleta de dados........................................................................................... 58

3.4 Tratamento e análise dos dados.................................................................. 58

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4 DESCRIÇÃO DA EMPRESA.......................................................................... 59

4.1 Condições de venda.................................................................................... 61

4.2 Análise e concessão de crédito................................................................... 63

4.3 Atividades de cobranças.............................................................................. 69

5 PLANO DE AÇÃO.......................................................................................... 70

5.1 Índice de inadimplência................................................................................ 70

5.2 Fluxo de caixa projetado.............................................................................. 71

5.3 Alterações e formalização da política de cobranças.................................... 73

5.4 Novos critérios e ferramentas para análise de crédito................................. 75

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 77

REFERÊNCIAS.................................................................................................. 79

ANEXO............................................................................................................... 82

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1 INTRODUÇÃO

A economia brasileira vem crescendo a taxas acima da média mundial,

percorrendo mão contrária à crise financeira internacional. De encontro a isto, há

diminuição da pobreza, com mais de 23 milhões de brasileiros saindo desta

condição, ampliando a nova classe média que em 2009 chegou a 50% da população

total, e projeta crescimento de 10% até 2014. (ANTUNES, 2010)

O reflexo deste cenário é o aumento do consumo das famílias brasileiras e do

crédito concedido as mesmas junto às empresas e o governo. Esta facilidade de

obtenção virou uma estratégia de venda e um diferencial competitivo dentre as

empresas e o mercado, ou seja, conceder crédito a prazos longos propiciam

melhores condições de pagamento aos clientes e consequentemente vende-se

mais.

Além do crescimento, houve estabilidade econômica nos últimos anos, junto

ao controle da inflação, propiciando principalmente aos bens de consumo duráveis,

ser negociados a prazos maiores, indo além dos 12 meses, como é o caso da

indústria do automóvel, onde se consegue atualmente parcelar o pagamento de um

veículo em até 60 vezes.

Por outro viés, há riscos envolvidos nesta concessão de crédito, tanto para o

país quanto para as empresas, e isso reflete diretamente na economia. A primeira é

o aumento da inflação devido ao consumo desenfreado e escassez de recursos,

resultando na alta dos preços. Com relação às empresas, segundo Brito (2006) os

principais riscos são o de não recebimento do crédito concedido, ou seja, a

inadimplência. Este resultado impacta diretamente no lucro das empresas que se

utilizam do crédito para alavancar suas vendas, ou o transformam no principal fator

de competitividade, levando-a a outro risco, o de falência.

Há alguns anos grande parte das empresas ficava a menos de uma quadra

das residências, e os comerciantes além do nome, conheciam as famílias, o

endereço e até a reputação de seus clientes. As compras eram anotadas em uma

caderneta, havendo um risco muito pequeno de não receber, pois a análise e

concessão de crédito, inicialmente eram feitas com base no conhecimento que os

comerciantes tinham sobre o caráter de seus clientes, bem como seu histórico,

devido à proximidade que existia. Entretanto com o avanço da comunicação e o

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rompimento das fronteiras do comércio, hoje se pode comprar em qualquer lugar do

mundo sem sair de casa.

Neste contexto é mais difícil obter proximidade junto ao cliente, a ponto de

colher informações que ajudem na concessão ou na rejeição do crédito ao mesmo.

Por isso faz-se necessário analisar minuciosamente esta questão. A análise e

concessão de crédito envolvem primeiramente a compreensão da situação

financeira da empresa e seu capital de giro, obedecendo a uma política de crédito, e

a administração do risco, que se faz através de ferramentas de análise de clientes e

empresas. E com base nesses aspectos, se estabelece os critérios de concessão

de crédito, com o intuito de diminuir o risco de inadimplência e os custos de

cobrança.

A presente pesquisa foi realizada na empresa Casa da Informática, que atua

no ramo de informática com a venda de produtos e serviços. Além disso, possui uma

parceria com a telefonia TIM, onde a representa como revenda de celulares e planos

de telefonia.

Dentre os diferenciais competitivos considerados pela empresa, o prazo de

pagamento é destaque, pois seus clientes escolhem pagar as compras em até 12

vezes sem juros nas modalidades de pagamento como: cheque, cartão de crédito,

ou na carteira, definido pela empresa como carnê, sendo este o principal plano

requerido, de acordo com os dados levantados e apresentados neste trabalho.

A empresa apresenta alguns critérios utilizados na análise e concessão de

crédito a clientes pessoa física, que podem não estar contribuindo para uma

avaliação eficiente de crédito, resultando no aumento da inadimplência, dos custos

de cobranças e conseqüentemente na diminuição do lucro. Portanto este trabalho

buscou estudar e avaliar este processo, e sugerir critérios para uma análise e

concessão de crédito a pessoa física.

1.2 Objetivos geral e específicos

1.2.1 Objetivo geral

Avaliar a administração de contas a receber da empresa Casa da Informática.

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1.2.2 Objetivos específicos

• Descrever o processo de análise e concessão de crédito realizado atualmente

com pessoas físicas;

• Avaliar as políticas de cobranças;

• Identificar o índice de inadimplência da empresa;

• Propor novos critérios para análise e concessão de crédito.

1.3 Justificativa

A eficiente administração das contas a receber em uma empresa é reflexo de

uma política de crédito bem definida, e da qualidade da análise do crédito concedido

a seus clientes. Com isso as perdas com inadimplência e com os custos de

cobrança podem ser diminuídas e controladas, pois estes dois fatores influenciam

diretamente no resultado final, ou seja, no lucro. (GITMAN, 1997)

Nas pequenas e médias empresas, a concessão de crédito é geralmente

considerada um diferencial competitivo, que gera aumento nas vendas e agrega

valor a suas ofertas, pois acrescenta entre outros aspectos, o fator prazo de

pagamento. (KOTLER; KELLER, 2006)

Da perspectiva de marketing, segundo Levy e Weitz (2000, p.190), “as contas

a receber geradas a partir de vendas a crédito podem ser o resultado de um

importante serviço fornecido aos clientes”, e pode fazer a diferença entre ganhar ou

perder uma venda.

Portanto, a presente pesquisa tem sua importância pautada na reavaliação da

análise e concessão do crédito da empresa Casa da Informática Ltda. EPP, visando

através do estudo teórico e do diagnóstico deste processo, sugerir critérios que

contribuam para a diminuição dos riscos de inadimplência, e a redução dos custos

de cobrança. E conseqüentemente evitar a diminuição do lucro e manter um nível de

competitividade através da concessão de crédito.

Sob a perspectiva do acadêmico esta pesquisa é a oportunidade de

estabelecer um elo entre as teorias estudadas no decorrer do curso, e a realidade

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empresarial. E assim, poder colocar em prática estes estudos, complementando e

ajustando o conhecimento adquirido.

Como a pesquisa é realizada no setor financeiro, diversas informações podem

não ser liberadas pela empresa por questões de segurança ou por opção e

exigência da mesma. Porém, neste caso toda e qualquer informação foi

disponibilizada visando à qualidade da pesquisa, além do estabelecimento do tempo

e horários flexíveis para a coleta das mesmas.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para a compreensão deste estudo inicialmente se aborda o assunto finanças,

demonstrando seus conceitos, como esta subdividida, e quais seus objetivos. Em

seguida se busca explicar a importância do administrador financeiro, suas decisões

e atividades. E por sua vez os temas que envolvem diretamente e indiretamente a

presente pesquisa, que são: capital de giro, administração de valores a receber;

crédito; políticas de crédito; riscos de crédito; análise de crédito; e políticas de

cobranças.

2.1 Finanças

Como parte integrante de todas as relações que envolvem a gestão de

recursos, essencialmente financeiros, finanças é uma área bastante ampla e que

influencia no rumo das pessoas, empresas e governos.

De acordo com Gitman (1997), Lemes Jr., Rigo e Cherobim (2005), e

Groppelli e Nikbakht (2001) finanças é a arte e a ciência de administrar fundos,

objetivando a maximização da riqueza da empresa e do valor de suas ações.

Os recursos estão em constante movimentação, enquanto a organização

obtém receitas e as investem, outras tomam estes recursos como forma de financiar

suas atividades, é a interação dos poupadores e tomadores.

Finanças pode ser dividida em duas áreas: serviços financeiros e

administração financeira. Os serviços financeiros constituem-se pela prestação de

assessoria e produtos financeiros voltados a pessoas, organizações e governo,

geralmente ofertados por instituições bancárias. Já a administração financeira possui

a responsabilidade de criar valor para as empresas, através de decisões ligadas à

gestão dos recursos financeiros, e retorno dos investimentos aos acionistas. De

acordo com Hoji (2000) para a administração financeira, o objetivo econômico das

empresas é a maximização de seu valor de mercado a longo prazo, pois dessa

forma a riqueza de seus proprietários também aumentará. Os proprietários de

empresas privadas esperam que seu investimento produza um retorno compatível

ao risco assumido, por meio de geração de resultados econômicos e financeiros

(lucro e caixa) adequados no longo prazo.

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Por outro lado, Finanças pode ainda ser compreendida através de quatro

áreas, segundo Ross, Westerfield e Jordan (2002): Finanças Corporativas ou

Empresariais, Investimentos, Instituições Financeiras, e Finanças Internacionais. Em

Finanças Corporativas os aspectos abordados estão relacionados a três questões:

a) qual o investimento a longo prazo deve-se aplicar e quais bens de capital se

utilizará? b) qual será o tipo de financiamento escolhido para as operações? c) e

como será a administração das operações do cotidiano da empresa? Respondendo

e estudando estas questões pode-se iniciar a compreensão do que é Finanças

corporativas.

Em se tratando de Investimentos, esta área relaciona-se às decisões tomadas

pelos administradores financeiros, gestores de fundos, e analistas de investimentos,

onde todos seguem objetivos relacionados ao valor dos ativos financeiros,

envolvendo-se, de acordo com o mesmo autor, com questões como: a) o que

determina o preço de um ativo financeiro, como uma ação ou uma obrigação? b)

quais são os riscos e retornos potenciais associados ao investimento em um ativo

financeiro? c) qual é a melhor composição que se deve ter de diferentes tipos de

ativos financeiros?

As instituições financeiras representadas pelos Bancos são os intermediários

financeiros que segundo Fortuna (2008) respondem basicamente pela prestação de

serviços financeiros, como por exemplo: a concessão de empréstimos; a oferta de

aplicações em produtos do próprio banco ou do mercado financeiro; e a captação de

depósitos a vista, estabelecendo a relação entre poupadores e tomadores. E ainda,

a arrecadação dos tributos e pagamento de benefícios, assumindo um papel de

prestador de serviços de intermediação financeira do Governo.

Gitman (1997) relaciona as Finanças Internacionais basicamente às

intermediações de negociações financeiras com outros países. Por exemplo, bancos

e profissionais especializados são responsáveis por operações de câmbio, análise

de risco político, objetivando negociar em mercados internacionais.

As instituições financeiras são de grande importância no estudo e na

compreensão da movimentação de recursos na economia de um país, bem como

sua interação com as empresas e indivíduos. A seguir explanam-se aspectos

relacionados a esta área de finanças.

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2.1.1 Instituições financeiras

As instituições financeiras são basicamente o alicerce da movimentação dos

recursos financeiros na economia de um país. De acordo com Gitman (1997, p.30)

“As instituições financeiras são intermediários que canalizam as poupanças de

indivíduos, empresas e governos para empréstimos ou investimentos”. Segundo

Fortuna (2008) a essência da função de um banco nasceu das operações de

depósito e empréstimos, onde apenas servia como instrumento da nobreza imperial

européia estabelecida no Brasil para movimentar e guardar suas riquezas.

No Brasil, somente a partir dos anos 50 é que se iniciou a exploração do

potencial econômico dos bancos, estabelecendo leis e criando-se órgãos

fiscalizadores e regulamentadores como: Conselho Monetário Nacional (CMN) e

Banco Central do Brasil (BACEM), que organizaram as operações financeiras e

solidificaram o Sistema Financeiro Nacional, que define Hoji (2000, p.34) como

“conjunto de instituições que têm como finalidade intermediar o fluxo de recursos

entre poupadores e investidores, em condições satisfatórias para o mercado”. Ainda,

constituíram-se bancos de desenvolvimento como Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Sistema Financeiro de Habitação

(SFH) absorvido e administrado principalmente pela Caixa Econômica Federal.

Desta forma e neste cenário, os bancos desenvolveram-se ao longo dos anos

abrangendo diversas modalidades de intermediação financeira oferecendo produtos

e serviços que contribuíram para o crescimento e desenvolvimento das empresas e

também do país.

Os participantes-chaves nas transações financeiras, como explana Gitman

(1997), são os indivíduos, empresas e governos. Os indivíduos fornecem recursos

por meio de depósitos e tomam em forma de empréstimos das instituições. Porém,

como um grupo, são responsáveis por fornecer recursos às instituições, agindo de

forma a poupar mais que tomar. Denominado pelo autor de fornecedor líquido de

fundos. As empresas se comportam como os indivíduos, depositando e

movimentando recursos através de contas em bancos, além de tomar empréstimos

para financiar principalmente seu capital de giro ou investimentos em bens de

capital. Entretanto diferente dos indivíduos, as empresas tomam mais do que

poupam recursos, denominando-se tomador líquido de fundos. O governo se

enquadra nas mesmas características das empresas, no entanto, ao invés de tomar

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empréstimos, mantém recursos ociosos provenientes de arrecadação de impostos e

recolhimento da previdência nos bancos comerciais, e resgata conforme sua

necessidade. Não se pode esquecer que o governo ao vender títulos às instituições,

de certa forma também esta tomando empréstimos, aumentando o déficit das contas

públicas.

Na Figura 1, pode-se entender a interação das instituições financeiras com o

mercado, bem como os agentes tomadores e poupadores, os quais foram descritos

anteriormente.

Instituições Financeiras

Colocação Privada

Mercados Financeiros

Fornecedores de fundos

Tomadores de fundos

Fundos

Empréstimos

Fundos

FundosFundos

Fundos

Fund

os

Títulos

Títu

los

Títulos Títulos

Depósitos/ações

Figura 1: Fluxo de fundos Fonte: adaptado Gitman (1997)

Observa-se no fluxo de fundos a movimentação e as etapas de permanência

dos recursos em cada agente, bem como a alteração de suas características. Os

fornecedores e tomadores de fundos interagem com as instituições financeiras e o

mercado financeiro, transformando os recursos em títulos ou fundos, onde assumem

a forma de depósitos ou empréstimos. Ainda esses fundos podem interagir

diretamente entre os tomadores e fornecedores através da iniciativa privada, ou seja,

as empresas.

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Assim, como segunda grande área de finanças a administração financeira

fornece de acordo com Groppelli e Nikbakht (2001) os princípios econômicos e

financeiros, e as ferramentas necessárias para a maximização da riqueza e do valor

da empresa. Para tanto, a devida importância dada a esta área está diretamente

relacionada ao desempenho das organizações quanto ao retorno dos seus

investimentos e as formas como suas atividades estão sendo financiadas.

2.2 Administração financeira

De acordo com Hoji (2000, p. 24) “para a Administração Financeira o objetivo

econômico das empresas é a maximização de seu valor de mercado a longo prazo”,

e com isso, se consegue o aumento das riquezas dos proprietários ou acionistas, no

caso de sociedades por ações. Para Lemes Junior, Rigo, Cherobim (2005, p.04)

“administração financeira é a arte e a ciência de administrar recursos financeiros,

para maximização dos acionistas”. Ross, Westerfield e Jordan (2002) expõem que o

objetivo é a maximização do valor de mercado do capital dos proprietários

existentes. Sob este enfoque o administrador financeiro é o profissional da área de

finanças responsável pelas decisões que irão conduzir a empresa a este objetivo.

A administração financeira é um campo de estudo teórico e prático que objetiva, essencialmente, assegurar um melhor e mais eficiente processo empresarial de captação e alocação de recursos de capital. (ASSAF NETO, 2006, p.32)

A administração financeira se relaciona constantemente com as outras áreas

de uma organização, como marketing, recursos humanos, produção, pesquisa, entre

outras. Pois através desse relacionamento se estabelece negociações acerca da:

disponibilidade de capital para projetos ou ampliações; se determina previsões e

orçamentos; acréscimo de pessoal para um setor e etc. Além destes

relacionamentos, a administração financeira possui um laço importante com as áreas

de economia e contabilidade. Segundo Gitman (1997) e Hoji (2000), o administrador

financeiro deve compreender a economia como um todo, estando atendo as

atividades que a influencia, bem como as mudanças em suas políticas. O autor

complementa ainda que o administrador financeiro deve ser capaz de utilizar as

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teorias econômicas como diretrizes para realizar operações comerciais com

eficiência. Groppelli e Nikbakht (2001) afirmam ainda que o administrador financeiro

deve entender os fatores macroeconômicos e microeconômicos, onde os primeiros

relacionam-se ao ambiente econômico em que a empresa esta inserida, como por

exemplo inflação, consumo, tributação e legislação. E o microeconômico é a

interação das forças de oferta e demanda, preços, entre outros fatores relacionados

diretamente a tomada de decisão.

Silva (2008), Groppelli e Nikbakht (2001) compreendem o comportamento da

economia como parte integrante do ambiente no qual a empresa esta inserida, e

neste ambiente há oportunidades e ameaças, direcionando as estratégias dos

administradores financeiros. Uma análise minuciosa do mercado em que a empresa

e seu produto esta inserido pode levar a um diferencial com relação a seus

concorrentes, e no caso de organizações que se utilizam da exportação de seus

produtos a outros países, esta análise pode abranger a economia internacional,

políticas econômicas e cambiais de outros países.

Já com a contabilidade, de acordo com Ross, Westerfield e Jordan (2002) a

administração financeira possui uma relação íntima no sentido do fornecimento e

qualidade das informações para a tomada de decisões, além da diferença entre as

abordagens utilizadas na avaliação do desempenho financeiro e econômico da

empresa. Segundo Gitman (1997, p.12), a principal função do contador “é

desenvolver e fornecer dados para medir o desempenho da empresa, avaliar sua

posição financeira e pagar impostos”. Sob a abordagem conhecida como regime de

competência, o contador ou o controller, prepara as demonstrações contábeis

reconhecendo as receitas no momento da venda e as despesas, quando incorridas.

O administrador financeiro utiliza o regime de caixa enfatizando o seu fluxo,

onde estão todas as entradas e saídas de caixa, desta forma analisa e planeja o

fluxo com o objetivo de satisfazer as obrigações e adquirir ativos necessários ao

cumprimento dos objetivos da empresa. (GITMAN, 1997).

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Visão do contador Visão do administrador Financeiro

Demonstração do Resultado do Exercício Demonstração do Resultado do Exercício

Vendas $100.000

Menos: Custo $80.000

Lucro líquido $20.000

Vendas $0

Menos: Custo $80.000

Lucro líquido ($20.000)

Quadro 1: Diferença entre a visão do contador para o administrador financeiro Fonte: adaptado Gitman (1997)

O Quadro 1 demonstra a diferença entre a visão do contador e o

administrador financeiro com relação à receita e quando ela acontece. Na visão do

contador (regime de competência) a receita acontece no momento do registro da

venda, onde se diminui o custo e obtêm-se o resultado do lucro. Já na visão do

administrador financeiro (regime de caixa) a receita só é reconhecida quando

efetivamente entra no caixa, com isso o lucro só ocorre neste momento.

Outra diferença entre administração financeira e contabilidade é a tomada de

decisão, onde o papel do contador é fornecer dados consistentes e de fácil

interpretação sobre o passado, o presente ou o futuro das operações da empresa.

Enquanto o contador volta sua atenção para a coleta e apresentação dos dados financeiros, o administrador financeiro analisa os demonstrativos contábeis, desenvolve dados adicionais e toma decisões, baseado em suas avaliações acerca dos riscos inerentes. (GITMAN, 1997, p. 13)

Com isso, as principais funções do administrador financeiro são, segundo Hoji

(2000), Assaf Neto (2006), Brigham e Houston (1999), Ross, Westerfield e Jordan

(2002), e Gitman (1997): a) análise, planejamento e controle financeiro – que

consiste em coordenar, monitorar e avaliar todas as atividades da empresa, bem

como determinar o volume de capital necessário; b) tomadas de decisão de

investimentos; e c) tomadas de decisão de financiamentos. Estas funções podem ser

divididas à medida que a empresa cresce e aumenta sua complexidade,

normalmente divididas em atividades de tesouraria, exercida pelo gerente financeiro,

e controladoria pelo contador ou controller.

A Figura 2 demonstra esta divisão, bem como as atividades exercidas pela

tesouraria e controladoria.

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Figura 2: Organograma da área de finanças Fonte: adaptado Hoji (2000), Ross, Westerfield e Jordan (2002), Gitman (1997) et al.

Acima estão enumeradas as responsabilidades dos profissionais de

tesouraria e de controladoria, ambas subordinadas ao Administrador ou Diretor

Financeiro. O tesoureiro se distingue do controller, segundo Brealey e Myers (1992),

Hoji (2000), Ross, Westerfield e Jordan (2002), e Gitman (1997) uma vez que o

tesoureiro assume a função de custódia, obtendo e gerindo o capital da empresa. Já

o controller inspeciona e verifica se os recursos financeiros são aplicados

eficientemente, além de gerir os orçamentos, a contabilidade e a auditoria. De

acordo com Hoji (2000, p.24) “o tesoureiro é responsável pelo planejamento,

controle e movimentação de recursos financeiros e o controller é responsável pelo

planejamento, controle e análise das operações e investimentos”.

O administrador financeiro deve se preparar para exercer sua função dentro

da empresa, obtendo informações de qualidade, desenvolvendo o relacionamento e

integrando-se com as demais áreas da mesma. Ainda, necessita analisar

minuciosamente o ambiente onde a empresa esta inserida, seja sob o aspecto

econômico, ou político. Além disto, este profissional precisa estabelecer uma gestão

eficiente dos recursos financeiros disponíveis, alocando-os de forma a diminuir o

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risco operacional ou econômico, e financeiro. Uma efetiva gestão financeira está

diretamente relacionada às decisões de investimento e financiamento da empresa.

2.2.1 Decisões de investimento e financiamento

Segundo Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2005, p. 354) “como obter recursos

e onde aplicá-los é a atividade principal do administrador financeiro. A obtenção de

recursos diz respeito à decisão de financiamento, e sua utilização, à decisão de

investimento”. As principais funções do administrador financeiro, como já exposto,

resumem-se em decisões que envolvem a gestão de recursos financeiros, e esta

gestão abrange decisões com relação ao: investimento e financiamento. Com base

nos autores Assaf Neto (2006), Hoji (2000), e Gitman (1997) as decisões de

investimento estão relacionadas à como os recursos financeiros da empresa serão

aplicados, e os riscos e retornos esperados. Além disso, envolve o processo de

identificação, avaliação e seleção das alternativas de aplicação dos recursos. Esses

investimentos serão empregados em algum ativo da empresa. Já as decisões de

financiamento estão vinculadas a obtenção de recursos e a estrutura do capital da

empresa, isto é, diz respeito ao passivo e como o mesmo será financiado.

As decisões de investimentos podem ser classificadas de acordo com Hoji

(2000) em temporárias ou permanentes. Os investimentos temporários são aquelas

aplicações com a intenção de resgate dentro de algum tempo, como: títulos públicos,

fundos de renda fixa, letras de câmbio e etc. Já o investimento permanente diz

respeito à aplicação em algum ativo que Ross, Westerfield e Jordan (2002) definem

como orçamento de capital, produzindo resultados no longo prazo, como: máquinas

e equipamentos, terrenos, obras de arte, pesquisa e desenvolvimento de produtos

(P&D). Para Gitman (1997), as decisões de investimento dizem respeito ao montante

de recursos investidos no ativo circulante ou no ativo permanente.

Por outro lado, as decisões de financiamento apontadas por Hoji (2000),

Ross, Westerfield e Jordan (2002), Gitman (1997), e Assaf Neto (2006) preocupam-

se com a escolha das melhores ofertas de recursos para o financiamento das

operações e atividades da empresa, que podem ser próprios ou de terceiros, e estas

escolhas envolvem a melhor combinação entre capital de curto e longo prazo, bem

como o menor custo destes. Essa decisão envolve as contas classificáveis no

passivo e no patrimônio líquido.

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A Figura 3 ilustra as decisões financeiras relacionando-as com o balanço

patrimonial de uma empresa.

Balanço patrimonial

ATIVOS

CIRCULANTES

PASSIVOS

CIRCULANTES

ATIVOS

PERMANENTES

RECURSOS

PERMANENTES

Figura 3: Decisões de investimento e financiamento Fonte: adaptado Gitman (1997)

Assaf Neto (2006) ressalta que as decisões financeiras tem sua avaliação

fundamental nos resultados operacionais das empresas, gerados exclusivamente

pelos ativos, onde se quantifica o retorno produzido pelas decisões de investimento.

Por outro lado, o resultado operacional também condiz com as decisões de

financiamento, pois se relaciona ao custo da capitação. Sob este aspecto as

decisões financeiras devem considerar dois fatores, apontados por Hoji (2000)

como: econômico e financeiro. O econômico se baseia na relação do retorno do

investimento com o custo da captação, onde o lucro operacional deve superar o

custo da captação das operações para que a empresa obtenha aumento no seu

valor econômico. E o financeiro diz respeito à sincronia entre capacidade de geração

de caixa do negócio e o fluxo de desembolso exigido.

De acordo com Gitman (1997), Hoji (2000), e Assaf Neto (2006) há riscos

inerentes as decisões financeiras como: risco econômico (operacional) e risco

financeiro. O risco econômico ou operacional relaciona-se com as decisões de

investimento, e está diretamente relacionada as atividades da empresa e as

características do mercado em que atua, não dependendo da forma como a

empresa é financiada. Como por exemplo, a mudança de tecnologia, concorrência,

variações das taxas de juros e etc. O risco financeiro condiz com as decisões de

financiamento, onde as empresas que possuem capacidade de liquidar seus

compromissos financeiros, ou seja, mantém seu nível de endividamento sob

controle, apresentam menor risco. Esses dois riscos tendem a influenciar o risco

Decisões de

Investimento

Decisões de

Financiamento

Análise e planejamento financeiro

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total da empresa, por isso tendem a ser tratados de forma conjunta pela

administração financeira da empresa.

A administração financeira preocupa-se com o equilíbrio na relação risco-retorno de suas decisões, alcançando a máxima rentabilidade associada a um nível de risco que promova a maximização do valor de mercado da empresa. (ASSAF NETO, 2006, p.36)

Como já mencionado a administração financeira se ocupa com decisões

relacionadas aos investimentos e financiamentos dos recursos de uma empresa,

com o objetivo de maximizar as riquezas dos acionistas ou proprietários das

empresas. Estas decisões financeiras possuem riscos, que de acordo com os

autores relacionam-se ao próprio negócio da empresa, e a forma como suas

operações são financiadas.

Dentro deste contexto, há a necessidade de se administrar os recursos da

empresa, de forma a sustentar suas operações a curto prazo buscando a

valorização a longo prazo. Para isso, o administrador financeiro deve inicialmente

considerar o capital de giro, que segundo Assaf Neto e Silva (1997) é um fator

importante para o desempenho operacional da empresa, cobrindo normalmente mais

da metade de seus ativos totais investidos. Sob este enfoque inicia-se o item sobre

capital de giro.

2.3 Capital de giro

Segundo Silva (2008), Hoji (2000) e Gitman (1997) a expressão capital de giro

pode ser sinônimo de ativo circulante ou capital circulante, ou seja, as contas dentro

do ativo da empresa que correspondem às disponibilidades, duplicatas a receber e

os estoques. De forma simplificada, Di Agustini (1999, apud MARTINS; ASSAF

NETO, 1985, p. 21) define que “o conceito de capital de giro ou capital circulante

esta associado aos recursos que circulam ou giram na empresa em determinado

período de tempo”. Brigham e Houston (1999), Ross, Westerfield e Jordan (2002), e

Assaf Neto e Silva (1997) complementam enumerando quatro componentes

principais para definir capital de giro: caixa, títulos negociáveis ou aplicações

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financeiras, estoques e contas a receber. Esses elementos representam os recursos

demandados por uma empresa para financiar suas necessidades operacionais.

Para Hoji (2000), o estudo do capital de giro é fundamental para a

administração financeira, porque a empresa precisa recuperar todos os custos e

despesas incorridas durante o ciclo operacional e obter o lucro desejado, por meio

da venda do produto ou prestação de serviço.

De acordo com Assaf Neto e Silva (1997) o capital de giro desempenha papel

de extrema relevância no desempenho operacional das empresas, pois, como já

mencionado, é responsável geralmente por mais da metade de seus ativos totais

investidos. Sendo assim, a presença de ativos correntes na estrutura financeira das

empresas é importante para viabilizar financeiramente seus negócios e contribuir

para a formação do retorno econômico do investimento realizado. Ainda, Gitman

(1997, p.619) complementa mencionando que “capital circulante são os ativos

circulantes que representam a parcela do investimento que circula de uma forma à

outra, durante a condução normal dos negócios”.

Hoji (2000) afirma que a circulação do capital de giro não fica restrita ao ativo

circulante, mas também passa pelas contas do passivo circulante. Entretanto, Sá e

Sá (1989 apud HOJI, 2000, p. 31) ressaltam que “capital de giro representa o capital

em circulação ou movimentação, tanto no ativo (disponível e realizável) como no

passivo (exigível), e sofre permanentes modificações em seu estado patrimonial”.

O passivo circulante é a representação do financiamento a curto prazo da

empresa, pois incluem todas as dívidas que terão seu vencimento em um ano ou

menos, conforme aponta Gitman (1997). Pode-se concluir, de acordo com Assaf

Neto e Silva (1997, p.13), que “a administração do capital de giro trata dos ativos e

passivos correntes como decisões interdependentes”. E isto faz com que as

decisões devam ser tomadas considerando os elementos que influenciam estas

contas, conforme descrição das mesmas no Quadro 2.

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ATIVOS CIRCULANTES (AC)

Disponibilidades Valores a Receber Estoques

PASSIVOS CIRCULANTES (PC)

Fornecedores Salários e Encargos Sociais Empréstimos e Financiamentos

ATIVO REALIZÁVELA LONGO PRAZO (RLP)

PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO (ELP) Empréstimos e Financiamentos Debêntures

ATIVOS PERMANENTES

Investimentos Imobilizado Diferido

PATRIMÔNIO LÍQUIDO (PL)

Capital Reservas Lucros Acumulados

Quadro 2: Elementos do capital de giro dentro de um balanço patrimonial Fonte: adaptado Assaf Neto e Silva (1997)

Diante disto, verifica-se a necessidade de análise e o confronto entre essas

duas contas do balanço patrimonial de uma empresa, que resulta no capital

circulante líquido.

2.3.1 Capital circulante líquido

Autores como Ross, Westerfield e Jordan (2002), Assaf Neto (1997), Gitman

(1997), e Hoji (2000), afirmam que o capital de giro circulante ou capital circulante

líquido (CCL), consiste na diferença entre ativo circulante e passivo circulante, que

reflete de acordo com Silva (2000), a folga financeira da empresa. E ainda, o CCL de

acordo com o autor representa o volume de recursos de longo prazo que se

encontram financiando os ativos de curto prazo. Pode-se representar este conceito

algebricamente da seguinte forma:

CCL = Ativo Circulante – Passivo circulante

ou

CCL = (Patrimônio Líquido + Exigível a Longo Prazo) –

- (Ativo Permanente + Realizável a Longo Prazo)

Quadro 3: CCL – Capital Circulante Líquido Fonte: adaptado Assaf Neto e Silva (1997)

Quando os ativos circulantes são menores que os passivos circulantes, a

empresa tem, segundo Gitman (1997), capital circulante líquido negativo. Em caso

inverso, passivos circulantes menores que ativos circulantes, tem-se um capital

circulante líquido positivo. O exemplo a seguir demonstra esta afirmação:

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Figura 4: Capital Circulante Líquido positivo (CCL) e Capital Circulante Líquido negativo (CCL -) Fonte: adaptado Assaf Neto e Silva (1997)

Na Figura 4, observam-se as duas situações em que o capital circulante

líquido pode se encontrar. A primeira, com um capital circulante líquido positivo ou

CCL, a empresa possui $ 35 aplicados no ativo circulante, $ 20 são financiados por

créditos de curto prazo (passivo circulante), e os $ 15 restantes, que representam o

capital de giro líquido da empresa, são oriundos de recursos de longo prazo (exigível

de longo prazo e patrimônio líquido). Na segunda situação, o capital circulante

líquido negativo ou CCL (-), a empresa encontra-se com $ 15 dos $ 80 investidos no

ativo permanente, sendo financiados por uma dívida de curto prazo, ou seja, pelo

passivo circulante. Neste caso, segundo Assaf Neto e Silva (1997) a folga financeira

é negativa pela presença de exigibilidade de curto prazo financiando aplicações com

prazos de retornos maiores. De outra forma, parte da dívida da empresa tem prazo

de resgate menor que o retorno da aplicação destes recursos.

O capital de giro de uma empresa está diretamente relacionado ao seu ciclo

operacional, pois é nele que a movimentação deste recurso acontecerá,

modificando-se a cada etapa. Para Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2002, p.413) o

“capital de giro representa o valor dos recursos, aplicado pela empresa para

movimentar seu Ciclo Operacional”, que compreende o espaço de tempo entre a

entrada da matéria-prima no estoque, até a venda dos produtos e seu respectivo

recebimento.

Santos (2001, p.23) argumenta que “a quantidade de capital de giro utilizado

por uma empresa depende de seu volume de vendas, de sua política de crédito

comercial e do nível de estoques que ela precisa manter”. Neste sentido, Brigham e

Houston (1999) dizem que o aumento do capital de giro em decorrência da

expansão do volume de vendas é um fator considerado normal, e os custos

decorrentes desse aumento de capital são considerados investimento necessário

AC $ 35

PC $ 20

ELP $ 30

AP

$ 65 PL

$ 50

CCL

AC $ 20

PC $ 35

ELP $ 15

AP

$ 80

PL $ 50

CCL Negativo

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para a expansão dessas vendas, podendo provocar também o crescimento dos

estoques e de contas a receber.

Porém, quando o capital de giro aumenta por causa do crescimento dos

estoques, ou das duplicatas a receber sem relação com o aumento da vendas, pode

ser reflexo de uma situação de administração inadequada (SANTOS, 2001).

Sob este enfoque, a administração de capital de giro segundo Assaf Neto e

Silva (1997, p.15) “diz respeito à administração das contas dos elementos de giro, ou

seja, dos ativos e passivos correntes (circulantes), e às inter-relações existentes

entre eles”.

Para a compreensão desta movimentação de recursos, faz-se necessário a

demonstração de alguns conceitos e aplicações acerca do ciclo operacional de uma

empresa.

2.3.2 Ciclo operacional

Autores como Ross, Westerfield e Jordan (2002), Assaf Neto (1997), Gitman

(1997), e Hoji (2000) apontam que o ciclo operacional compreende um processo

onde há transição do capital, que ocorre desde a aquisição de estoque até o

recebimento de caixa.

Figura 5: Ciclo operacional Fonte: adaptado Ross, Westerfield e Jordan (2002)

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A Figura 5 descreve o ciclo operacional de uma empresa que se inicia na

compra da matéria-prima ou mercadorias, e acaba na venda e no recebimento da

mesma após a venda. Sob esta dinâmica o produto se move entre as contas de ativo

circulante, onde sua vida começa no estoque, é convertida em contas a receber ao

ser vendida e finalmente em caixa quando as vendas são pagas. De acordo com

Ross, Westerfield e Jordan (2002) pode-se observar que a cada etapa, o ativo está

se movendo para mais perto do caixa.

A primeira parte do ciclo é denominada de período de estoque ou ciclo

econômico, e responde pelo tempo que se leva para comprar e vender a mercadoria.

A segunda é chamada de período de contas a receber, que é o tempo necessário

para receber a venda. Além disso, pode-se considerar o período do pagamento da

matéria-prima até o recebimento da venda como o ciclo financeiro.

O ciclo operacional pode ser expresso de acordo com o Quadro 4:

Ciclo operacional = IME + PMC

Onde:

IME = Idade média do estoque

PMC = Período médio de cobrança

Quadro 4: Cálculo do ciclo operacional Fonte: adaptado Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2002)

Para se calcular o ciclo operacional, Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2002)

explicam que se deve somar a idade média do estoque com o período médio de

cobrança. E para isso, primeiro precisa-se apurar o Giro do Estoque, que é obtido

pela divisão do custo dos produtos vendidos pelo valor do estoque, onde se

dividindo o número de dias do ano pelo giro do estoque, obtém-se a idade média do

estoque, conforme as fórmulas a seguir no Quadro 5:

Giro do Estoque = CPV

Estoques

Idade Média do Estoque = 360

Giro do estoque

Quadro 5: Cálculo do giro do estoque e idade média do estoque Fonte: adaptado Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2002)

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Utilizando outro exemplo (Figura 6), o fluxo de capital de giro com base no

ciclo operacional da empresa. E desta forma, compreende-se a canalização dos

recursos em cada etapa, impactando sempre no ativo circulante disponível, ou seja,

o caixa.

Figura 6: Fluxo do capital de giro Fonte: adaptado Assaf Neto (2006)

Os recursos aplicados no disponível, mais especificamente no caixa, iniciam

sua movimentação sendo deslocados para a compra de estoque de materiais ou

matérias-primas, transformando-se em um bem. Em seguida, este é alocado à

produção, e por fim constitui o estoque de produtos acabados. A partir desta fase os

recursos ou estoque, serão vendidos, podendo ser a vista, onde os recursos tornam-

se novamente caixa, ou disponível. Ou ainda, podem ser vendidos a prazo, que irão

gerar um realizável ou contas a receber, para então, após o recebimento virar

disponível, ou caixa.

Neste contexto, a abordagem sobre o elemento caixa do capital de giro torna-

se de suma importância, pois é através deste, que o fluxo de recursos, embolsos e

desembolsos, serão registrados e analisados, a fim de se identificar conforme Assaf

Neto (2006, p.487) explica: “uma liquidez imediata necessária para suportar as

Recursos aplicados em ativo circulante

Caixa

Estoque de materiais

Vendas a prazo

Realizável

Estoque de produtos acabados

Vendas a vista

Produção

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atividades de uma empresa.” E para que isso se concretize é necessário a

elaboração e o controle do fluxo de caixa da empresa.

2.3.3 Fluxo de caixa

O administrador financeiro utiliza o fluxo de caixa como uma eficiente

ferramenta para a gestão das empresas. Segundo Zdanowicz (2000, p.23) o fluxo de

caixa “é o instrumento que relaciona o futuro conjunto de ingressos e de

desembolsos de recursos financeiros pela empresa em determinado período”. Para

Santos (2001, p.57) “o fluxo de caixa é o instrumento capaz de traduzir em valores e

datas, os diversos dados gerados pelos demais sistemas de informação da

empresa”. Complementando os autores, Silva (2000) afirma que, com o fluxo de

caixa se pode identificar o processo de circulação do dinheiro, através da variação

de caixa.

Ainda, Brigham e Houston (1999) ressaltam que o fluxo de caixa de uma

empresa é igual à receita de vendas, em dinheiro, menos os custos operacionais em

dinheiro, os custos de juros e os impostos.

A principal finalidade desse fluxo é projetar as entradas e saídas de recursos

financeiros de uma empresa por um determinado período, e a partir disto informar a

capacidade que a empresa tem de liquidar seus compromissos financeiros a curto

prazo, ou seja, mensurar seu capital de giro. De acordo com Lemes Junior, Rigo, e

Cherobin (2002) esta projeção do fluxo de caixa serve para verificar se as entradas e

saídas de caixa previstas para determinado período, apresentarão excedentes ou

saldo insuficiente, e a partir disso tomar as medidas visando suprir as necessidades

de caixa ou utilizar tais excedentes.

Zdanowicz (2000) reforça que é importante também a elaboração e o controle

do fluxo de caixa para decisões financeiras de longo prazo, a fim de planejar os

investimentos em ativos permanentes.

Ainda, Brigham e Houston (1999), enfatizam que a projeção do fluxo de caixa

é importante para saber se a empresa esta gerando o caixa de que precisa, para

comprar ativos necessários para o seu crescimento, e se há fundos adicionais que

possam ser utilizados para pagar dívidas ou investir em novos produtos.

De uma forma simplificada o fluxo de caixa pode ser caracterizado como

mostra a Figura 7.

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2.3.4 Administração de caixa

Figura 7: Fluxo do caixa Fonte: adaptado Zdanowicz (2000)

O administrador financeiro faz a gestão dos recursos disponíveis, onde é ele o

responsável pelo controle e a guarda destes valores. A partir disto, ele desloca-os

quando necessário para o pagamento das duplicatas, ou em outros casos, os recebe

direcionando ao caixa, banco, e aplicações financeiras.

Para melhor compreensão da dinâmica que envolve a movimentação dos

recursos em um fluxo de caixa, é importante restabelecer a diferença entre a ênfase

no regime de competência, onde se apura o lucro líquido de uma empresa em

determinado período, conhecida como visão contábil. E o foco no regime de caixa,

ou seja, a ênfase no fluxo de caixa, na visão das finanças.

Segundo Brigham e Houston (1999, p.35) “o valor de um ativo (ou de toda

uma empresa) é determinado pelo fluxo de caixa gerado por ele”. Diante disto, o

lucro líquido é importante, porém o fluxo de caixa é ainda mais importante, pois a

compra dos ativos necessários para a empresa continuar funcionando, é feita em

dinheiro.

Então, de acordo com Silva (2000), uma empresa pode apresentar lucro em

certo exercício social, porém o seu caixa pode ter diminuído, pois há despesas

incorridas que ainda não foram pagas, e receitas que ainda não foram recebidas. O

Quadro 6, exemplifica esta afirmação:

A PAGAR

APLICAÇÕES FINANCEIRAS

BANCOS

CAIXA

DUPLICATAS

ADMINISTRADOR FINANCEIRO

A RECEBER

DINHEIRO

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Demonstrativo de Resultado 20X4 20X4 Fluxo de Caixa

Vendas 26.810,00 20.326,00 Recebimentos de clientes

CMV (13.405,99) (14.770,00) Pagamento a fornecedores

Lucro bruto 13.405,00 5.556,00 Clientes – fornecedores

Despesas - salários/encargos (4.573,00) (4.032,00) Pagamento - salários/encargos

Despesas gerais (1.625,00) (1.474,00) Pagamento - despesas gerais

Provisão p/ devedores duvidosos (194,52) 0 Devedores duvidosos

Depreciações (564,40) 0 Depreciação

Despesas financeiras (764,00) 0 Pagamento de juros

Lucro operacional 5.683,08 50,00 Caixa operacional antes do IR

Provisão para IR (852,46) 0 Pagamento de IR

Lucro líquido 4.830,62 50,00 Caixa operacional líquido

Quadro 6: Comparação caixa x lucro Fonte: adaptado Silva (2000)

As vendas em 20x4 foram de $ 26.810,00, porém a empresa somente

recebeu de seus clientes $ 20.326,00, devido a uma variação das contas a receber.

O custo das mercadorias vendidas no período foi de $ 13.405,00, entretanto pagou-

se $ 14.770,00, por causa da variação do volume de estoques e da dívida com os

fornecedores. As despesas de salários e encargos de $ 4.573,00 provocaram uma

saída de caixa de $ 4.032,00, devido também a uma variação na conta salários e

encargos. E o mesmo ocorreu nas despesas gerais. Nota-se que a Provisão para

devedores duvidosos não gerou uma saída de caixa, pois não houve inadimplentes

no período, e a depreciação foi de $ 564,40, porém também não despendeu

recursos, pois é apenas lançada na DRE como despesas. Os juros foram

computados, mas resultam de um financiamento de longo prazo e por isso foram

integrados à dívida (SILVA, 2000).

Santos (2001) afirma que há diversas finalidades para o fluxo de caixa, sendo

algumas delas de maior impacto nas decisões financeiras das empresas. São elas:

a) Planejar a contratação de empréstimos e financiamentos - a contratação de linhas

de crédito para suprir o caixa, deve ser feita no tempo e na quantidade certa; b)

Maximizar o rendimento das aplicações das sobras de caixa – aproveitar os saldos

positivos de caixa por um período de tempo em que eles se mantêm, para alocá-los

em aplicações financeiras de curto prazo no mercado financeiro; c) Avaliar o impacto

financeiro das variações de custos – em determinadas situações a empresa se

obriga a não repassar o aumento dos custos das mercadorias com o intuito de não

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perder mercado, e com isso opera no prejuízo, por um período de tempo. Por isso,

com o fluxo de caixa pode-se verificar o impacto na situação financeira da empresa

sob esta condição; d) Avaliar o impacto financeiro de aumento das vendas – quando

o aumento de vendas ocorre em decorrência da melhora de preço, prazo, ou outros

incentivos, há que se fazer uma projeção do impacto desse aumento no caixa.

Segundo Silva (2000), o fluxo de caixa pode ainda ter outras dimensões,

como: o fluxo de caixa passado ou realizado, que se resume nas movimentações já

efetuadas; e o fluxo de caixa projetado, onde se provisiona o caixa para

movimentações futuras de recursos. Sob este cenário o administrador financeiro

deve comparar essas duas situações objetivando identificar variações e as causas

de suas ocorrências.

Além disto, há fatores internos e externos que influenciam o fluxo de caixa de

uma empresa. Os fatores internos podem ser entendidos como: as políticas de

vendas, produção, distribuição, compras, pessoal, entre outros. Estes fatores podem

impactar sobre o fluxo, pois geram conseqüências financeiras, oscilando os saldos

de caixa. Já os externos, estão relacionados aos aspectos econômicos do país

como: inflação, expansão ou retração dos mercados, desemprego, inadimplência,

entre outros.

Entre as diversas finalidades de um fluxo de caixa já apresentadas, para a

gestão e o planejamento financeiro de uma empresa, sua utilização para auxiliar a

análise dos valores a receber, principalmente com relação à capacidade de gerar

caixa para suportar o incremento das vendas a crédito, pode contribuir para uma

administração de valores a receber mais eficiente.

2.4 Administração de contas a receber

De acordo com Gitman (1997), Hoji (2000), Ross, Westerfield e Jordan

(2002), Brigham e Houston (1999), e Braga (1989) as contas a receber são resultado

da concessão de crédito a uma empresa ou clientes, normalmente geradas por

vendas a prazo. Para Assaf Neto (1997, p.97) são “as operações de crédito que se

referem ao compromisso assumido pelo comprador em quitar sua dívida”. E este

compromisso pode estar expresso em instrumentos como: duplicatas a receber;

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notas promissórias; cheques pré-datados; comprovantes de venda de cartão de

crédito; entre outros.

Em termos médios, Brealey e Stewart (1992), Lemes Junior, Rigo, e Cherobim

(2005), afirmam que as contas a receber são responsáveis por um terço, ou 30%

dos ativos circulantes, e 16% dos ativos totais. Portanto, é importante verificar a

qualidade da concessão do crédito, e compreender os diversos papéis assumidos

pelo mesmo.

2.4.1 Crédito

A palavra crédito tem vários significados, dependendo do contexto onde esta

inserida, desempenhando uma função sócio-econômica junto às políticas públicas

governamentais, ou parte integrante de uma organização, sendo utilizado como

facilitador de vendas, proporcionando um diferencial competitivo às empresas que

sabem gerí-lo.

O crédito, no conceito atual, conforme Lemes Junior, Rigo, Cherobim (2005)

abordam, é a disposição de alguém ceder temporariamente parte de seu patrimônio

ou prestar serviços a terceiros, com a expectativa de receber de volta o valor cedido

ou receber pagamento, depois de decorrido o período de tempo estipulado, na sua

integralidade ou em valor correspondente. Ou seja, “é a troca de bens presentes por

bens futuros” (LEMES JUNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2005, p. 354).

Como função sócio-econômica, o crédito consiste em facilitar o crescimento e

desenvolvimento de empresas, projetos governamentais principalmente de infra-

estrutura, e consequentemente à ajuda a sociedade em todos os níveis de consumo.

De acordo com Silva (2008), o crédito também possibilita: às empresas

aumentarem seu nível de atividade; estimula o consumo influenciando a demanda;

ajuda as pessoas a obterem moradia, bens e até alimentos; e facilita a execução de

projetos para os quais as empresas não disponham de recursos próprios suficientes.

Assim como o marketing, recursos humanos, e produção, o crédito inserido

em uma empresa é considerado parte integrante do negócio, e segundo Assaf Neto

e Silva (1997) deve ser tratado como um investimento, pois influencia diretamente na

administração do capital de giro, como afirmam os autores Lemes Junior, Rigo, e

Cherobim (2005, p. 354) que, “quanto maior o volume de vendas a crédito e o prazo

média de cobranças, maior será a necessidade de capital de giro para financiar este

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ativo”. Por isso, Brigham e Houston (1999), a administração de valores a receber se

inicia com a decisão de conceder crédito ou não.

Ross, Westerfield e Jordan (2002) afirmam que o principal motivo para as

empresas venderem a prazo, ou seja, concederem crédito aos seus clientes é o

aumento do volume de vendas, e consequentemente a possibilidade do aumento do

lucro. E Hoji (2000, p. 129) expõe que “as vendas a prazo são condições

necessárias para aumentar o nível de operações e o giro dos estoques e, assim,

ganhar a escala e maximizar a rentabilidade.” Essas vendas a prazo, ainda segundo

o autor, são operações comerciais entre as empresas e consumidores finais pessoas

físicas, chamadas de créditos mercantis e crédito ao consumidor respectivamente.

A concessão de crédito a clientes por parte dos fornecedores faz parte do custo de se fazer negócio, pois ao manterem recursos comprometidos em duplicatas a receber, as empresas perdem poder aquisitivo, além de correr riscos de inadimplência. Entretanto, ao incorrer nesses custos, as empresas têm condições de ser competitivas, atraindo e mantendo clientes, e com isso melhoram e mantêm as vendas e lucros. (GITMAN, 1997, p.696)

Por outro viés, as vendas a prazo geram custos e riscos, como: inadimplência,

despesas com análise de crédito, cobranças e recebimento. Os autores Brigham e

Houston (1999) enfatizam que o excesso de vendas a prazo, ou de contas a

receber, podem diminuir o fluxo de caixa, e aumentar as dívidas incobráveis que irão

absorver os lucros gerados pela venda. Por isso, de acordo com Ross, Westerfield e

Jordan (2002), Gitman (1997), Hoji (2000), Assaf Neto e Silva (1997), e Lemes

Junior, Rigo, e Cherobin (2002) para uma empresa conceder créditos a seus clientes

ela precisa criar procedimentos de concessão de crédito e cobrança. Para isso se

faz necessário a criação e o desenvolvimento de uma política de crédito e

consequentemente uma política de cobrança.

2.5 Política de crédito

Segundo Silva (1998, p. 103) “políticas, em administração de empresas, são

instrumentos que determinam padrões para a resolução de problemas semelhantes”.

Entretanto, há situações em que se deve tratar o problema de forma específica de

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acordo com suas peculiaridades. Quando se trata de fatos repetitivos, recomenda-se

então a adoção e aplicação de uma política.

Sendo assim, para uma concessão de crédito eficaz deve-se seguir uma

política de crédito, que se constitui, conforme ressaltam Lemes, Rigo e Cherobim

(2005, p. 355) “a base da eficiente administração de Valores a Receber, pois

orientam a forma como o crédito é concedido, definindo padrões de crédito, prazos,

riscos, garantias exigidas e diretrizes de crédito.”

De acordo com Hoji (2000), a política de crédito trata dos seguintes aspectos:

prazo de crédito, seleção de clientes, e limite de crédito. E Gitman (1997) define três

ações para o desenvolvimento de uma política de crédito: seleção de crédito,

determinação de padrões, e de condições de crédito.

Assaf Neto e Silva (1997, p.98) afirmam que “a política de crédito fixa os

parâmetros da empresa em termos de vendas a prazo”, e nesta se inclui os

fundamentos para a concessão, o monitoramento, e a cobrança do crédito.

Ainda, Brealey e Myers (1992), Ross, Westerfield e Jordan (2002), propõem

que uma política de crédito deve conter os seguintes elementos: Condições de

venda ou de crédito; Análise e risco de crédito; e Política de cobrança. Com base

nestes elementos, definimos os padrões e as diretrizes de crédito que envolve as

condições mínimas para a sua concessão. E a partir disso, determinar o perfil da

empresa sob esse aspecto, onde a mesma pode ser rígida ou liberal, implicando a

essas duas situações, adotar medidas financeiras, que influenciem nos investimento

de capital, em estoques, nas despesas de cobrança e nas despesas com devedores

duvidosos.

Acresce-se que, toda compra ou venda a prazo representa um custo financeiro, o dos recursos que serão imobilizados proporcionalmente ao saldo médio de contas a receber, adicionando um risco de que o cliente não pague na data do vencimento dos títulos. (SANTOS, 2001, p.199)

Segundo Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2002), as definições dos padrões

de crédito dentro da política de crédito de uma empresa, influenciam as seguintes

variáveis:

a) Vendas: condições mínimas exigentes tendem a restringir os pretendentes a

crédito como um todo, consequentemente, de compradores. Isto diminui a

possibilidade da realização de vendas. Já padrões menos exigentes aumentam as

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chances de vendas e atraem pretendentes de crédito, abrindo as portas para a

realização de maiores vendas;

b) Valores a receber: aumento da necessidade de financiamento de valores a

receber em decorrência de diretrizes facilitadoras de vendas, ou liberais;

c) Riscos: O risco de não receber o crédito concedido, ou seja, o aumento da

inadimplência varia de acordo também com as diretrizes de crédito mais flexíveis ou

rígidas.

A Tabela 1 mostra a expectativa quanto ao resultado das variáveis de acordo

com as ações dos padrões de crédito.

Tabela 1: Variáveis que influenciam Variáveis Ações Resultado Vendas Aumento

Redução Aumento do lucro Redução do lucro

Valores a receber Aumento Redução

Redução do lucro Aumento do lucro

Risco de inadimplência Aumento Redução

Redução do lucro Aumento do lucro

Fonte: adaptado Lemes Junior, Rigo, e Cherobim (2000) Com relação às vendas, com o seu aumento, o lucro tende também a

aumentar, porém quando elas diminuem, o lucro diminui. Já quando os valores a

receber e a inadimplência aumentam, ou seja, quando as vendas a prazo aumentam

e também os devedores, o lucro se reduz. Por isso, o impacto sobre a lucratividade

da empresa, segundo Santos (2001), é o principal efeito de uma política de crédito,

pois esta afetará o custo do financiamento do capital de giro, e a perda com

devedores incobráveis. O autor ainda reforça que, uma política de crédito eficaz

seria aquela capaz de aumentar as vendas com o mínimo de perdas por

inadimplência. Por isso há que se definirem inicialmente as condições de crédito

para que a empresa possa amenizar o risco que irá incorrer.

2.5.1 Condições de venda

Dentro das condições de venda, estipulam-se de acordo com Assaf Neto

(2006) e Ramos (2007) os padrões de crédito, que envolvem as condições mínimas

necessárias por parte do cliente, para que o mesmo receba o crédito. Para os

autores Brigham e Houston (1999, p. 588) “os padrões de crédito se referem às

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condições financeiras e ao histórico de crédito que um cliente precisa apresentar

para estar qualificado a receber o crédito”.

Essas condições geralmente são fixadas de acordo com os critérios de

aprovação adotados pela empresa para conceder o crédito a seus clientes. Esses

critérios levam em conta, segundo Santos (2001), Lemes Junior, Rigo, e Cherobin

(2002), Ross, Westerfield e Jordan (2002), as informações cadastrais dos clientes,

os prazos de recebimento, os limites estipulados a cada cliente, e os descontos

oferecidos para pagamentos antecipados.

Quanto ao prazo de crédito, Assaf Neto (2006), e Lemes Junior, Rigo, e

Cherobin (2002) conceituam como o período concedido ao cliente para efetuar o

pagamento do compromisso assumido, sendo este normalmente medido em dias,

representando o mês comercial. Santos (2001) afirma que o prazo “é um dos pilares

da política de crédito de uma empresa, pois afeta vários de seus parâmetros

econômicos”. Complementando, Herling (2010) menciona que, com o aumento do

prazo de recebimento, a concessão de credito requer mais investimentos em ativo

circulante, acarretando em um incremento no tamanho do ciclo financeiro.

E ainda, o prazo do crédito concedido representa o tempo pelo qual o

investimento é realizado. Portanto, quanto maior o prazo concedido, maior o tempo

do investimento e, consequentemente, maiores os custos do investimento,

principalmente no capital de giro (LEMES JUNIOR; RIGO; CHEROBIN, 2002).

Segundo Brealey e Myers (2005) cada indústria tem seu próprio uso

específico no que diz respeito às condições de pagamento. Por exemplo, as

empresas que comercializam bens de consumo podem oferecer um mês para seu

cliente efetuar o pagamento de sua compra, ao passo que aquelas que vendem

bens perecíveis como frutas e carne, geralmente exigem pagamento em até uma

semana.

Assaf Neto (2006, p. 511) determina que:

Na realidade, a definição de prazos de concessão de crédito aos clientes depende, principalmente, da política adotada pela concorrência, das características e do risco inerentes ao mercado consumidor, da natureza dos produtos vendido, do desempenho da conjuntura econômica, do atendimento de determinadas metas gerenciais internas da empresa (giro dos ativos, políticas de estoques e compras etc.) e de mercadologia, do prazo de pagamento a fornecedores etc.

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Para tanto, Ross, Westerfield e Jordan (2002) definem três fatores que a

empresa deve considerar ao estabelecer o prazo de pagamento a seus clientes, e

nesta definição nota-se que já se toma uma posição de análise para a concessão do

crédito. Os três fatores são: a) A probabilidade de que o cliente não pague,

fornecendo assim condições de prazos mais restritos, ou seja, menos prazo para o

pagamento; b) O tamanho da conta, que define o grau de importância e de retorno

de cada cliente, pois contas pequenas normalmente geram custos maiores de

administração, e por isso menos prazo deve-se conceder; c) e a perecibilidade dos

bens, que se relaciona com o valor da garantia oferecida pelo cliente, pois quanto

menor o valor, menor o prazo de pagamento poderá ser concedido.

A definição do prazo influencia na formulação do preço à vista, ou desconto

para pagamento a vista. Desta forma, definem-se os descontos financeiros para

pagamentos antecipados, segundo Assaf Neto (2006, p.512) “no abatimento no

preço de venda efetuado quando os pagamentos das compras realizadas forem

feitos á vista ou a prazos bem curtos”. De acordo com Brealey e Myers (2005), pode-

se relacionar além da fixação dos preços à vista, mas também da taxa de juros

cobrada pelo crédito. Por exemplo, se uma empresa reduz o desconto à vista de

cinco para quatro por cento, isto pode representar um aumento de um por cento no

preço para o cliente que compra à vista. Mas uma redução na taxa de juros cobrada

na compra a crédito, de cinco por cento para 20 dias de prazo, para quatro por cento

pelos mesmos 20 dias, gera vantagem para o cliente.

Quando um cliente antecipa um pagamento para obter um desconto, está fazendo uma aplicação financeira. Essa operação representa captação de recursos financeiros para a empresa vendedora. Desse modo, uma taxa de desconto maior do que a taxa de aplicação no mercado financeiro e menor do que a taxa de captação de recursos financeiros será interessante para as duas partes. (SANTOS, 2001, p. 42)

Gitman (2000) afirma que os descontos financeiros concedidos são utilizados

normalmente para o incremento de vendas, neste caso espera-se conquistar novos

clientes e incentivar maiores volumes, e também na redução da necessidade de

caixa com a diminuição do prazo médio de cobrança. Além disto, nota-se que ao se

conceder um desconto para antecipação do pagamento, se está influenciando no

nível de investimento em valores a receber, e consequentemente na redução das

despesas com o crédito e inadimplência. Por outro lado, se o desconto for maior que

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os custos de empréstimos, isso pode reduzir os lucros da empresa, perdendo o

sentido do seu propósito.

Nas condições de venda estipuladas pela empresa há que se estabelecer

também, o limite de crédito concedido aos clientes, pois Santos (2001) expõe que a

redução do risco com a inadimplência também esta relacionada ao valor máximo de

crédito concedido a cada um deles. Segundo Roveda (2002 apud PAIVA, 1997) a

decisão de limite de crédito pode ser analisada de forma específica em cada

operação realizada com os clientes, ou pode ser padronizado estipulando um limite

fixo para determinados produtos atendendo a clientes diversos.

Ainda de acordo com Roveda (2002), não existe uma fórmula exata para se

identificar quanto crédito se deve conceder a determinados clientes. Entretanto,

existem fatores determinantes que nos permitem avaliar se a quantidade que se está

dando de crédito é tecnicamente explicável, ou apresenta argumentos convincentes.

Para isso, uma análise deve ser feita com relação às informações levantadas dos

clientes, considerando os riscos incorridos em cada operação, e isso se faz dentro

de uma análise de crédito.

2.5.2 Risco do crédito

De acordo com Brito (2007) e Roveda (2002) os riscos que envolvem a

concessão de crédito são basicamente os de não receber de volta os valores da

operação, ou seja, em função da deterioração da saúde financeira do devedor,

fraude ou condições econômicas não favoráveis, o mesmo não paga o crédito

tomado.

Segundo Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2002) o não recebimento do todo,

ou parte da venda a crédito realizada, gera perda financeira e consequentemente

redução dos lucros. Por isso, as políticas de crédito definem condições para a

concessão de crédito que permitam estabelecer previsões de perdas.

Então, quando se concede crédito espera-se perder uma parte do mesmo

com devedores duvidosos, ou seja, os inadimplentes. E isso representa maiores

custos para as empresas, que precisam incluí-los nos custos de comercialização

onde o mesmo representará uma parcela dessas perdas. Sob este aspecto, os bons

pagadores tendem a ser punidos pelos maus. Porém, tendo em vista a grande

dificuldade de mensurar o risco do crédito em cada operação, esta medida parece

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ser a mais coerente. Os autores Lemes Junior, Rigo e Cherobin (2002) ressaltam

que a legislação brasileira permite às empresas reconhecerem perdas com

devedores incobráveis que não honrarão seus compromissos, e assim deduzir estas

perdas do seu lucro e consequentemente do imposto de renda e contribuição social.

Com isso se diminui os custos e o risco.

Há ainda, segundo Brito (2007), o risco inerente a falhas no gerenciamento

das ferramentas e instrumentos de recebimento e liquidação das empresas, ou seja,

a falta de procedimentos eficientes de recebimento que facilitem o pagamento por

parte do cliente, onde o mesmo possa repor o seu crédito sem barreiras

burocráticas. Os sistemas das instituições bancárias de liquidação e cobranças são

reconhecidos como um dos mais eficientes e mais procurados por parte das

organizações, tendo em vista o grande investimento em tecnologias da informação,

como os softwares, que oferecem maior confiabilidade, rapidez, e segurança para o

cliente e empresa.

Em termos médios, Roveda (2002, p.24) expõe:

A gestão do risco de crédito é o processo por meio do qual as diversas exposições ao risco são identificadas, mensuradas e controladas. Essa gestão é fundamental para que a empresa compreenda os riscos assumidos, dimensionando-os e adequando-os aos seus objetivos relacionados ao risco-retorno. Sem a identificação, mensuração e controle destes riscos a empresa acaba pondo em dúvida sua própria continuidade, além de não prover adequadamente a demanda por crédito de seus clientes.

De acordo com Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2002, p. 447) “o mecanismo

utilizado para reduzir o risco nas vendas a crédito é a exigência de garantias sobre o

valor do crédito concedido ao cliente”. As garantias podem ser pessoais ou reais. As

pessoais são constituídas pelo aval, na qual implica ao avalista, mediante

assinatura, a obrigação assumida junto aos valores do crédito concedido e

formalizado. O avalista responde pelos valores do título com todos os seus bens,

exceto bens de família. Outra garantia pessoal é a fiança, na qual uma pessoa física

ou jurídica assume o pagamento do título, se assim o contratante não o fizer.

As garantias reais são representadas por: alienação fiduciária, onde o credor

através de instrumento público tem o direito de alienar o bem a seu nome até sua

quitação; a hipoteca, que utiliza bens imóveis como garantia; o penhor, geralmente é

representado por mercadorias e equipamento; e a anticrese, que consiste em se

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utilizar de um imóvel ou negócio, que gere renda, para o pagamento do crédito

concedido.

Outra forma de se minimizar ou não incorrer o risco da concessão, é a

terceirização, onde se contrata uma empresa especializada para avaliar, conceder e

cobrar o crédito. Esta empresa, de acordo com Longenecker, Moore, e Petty (1997)

cobra uma taxa para efetuar este serviço, normalmente sobre o valor da venda.

Então, ao transferir o risco da concessão do crédito para outra organização, a

empresa pode diminuir seus custos e focar no seu negócio principal.

Pode-se ainda incluir nestas organizações especializadas as operadoras de

cartão de crédito, que oferecem o crédito chamado de rotativo, onde por parte do

portador (cliente) do cartão há um limite estipulado pela operadora, para que ele

utilize em suas compras, tendo que repor-lo à medida que este limite é excedido. Já

por parte da empresa que recebe o pagamento pelo cartão de crédito, paga-se

também uma taxa sobre o valor da venda efetuada.

Entretanto, as empresas que possuem uma estrutura financeira, física, e de

mão-de-obra especializada podem se utilizar de métodos para a análise de crédito

de seus clientes, deixando de pagar taxas para empresas terceirizadas, que muitas

vezes podem ser maiores que o risco e o custo de elas mesmas analisarem,

objetivando assim um ganho maior e deixando de gerar custos desnecessários.

2.6 Análise de crédito

A política de crédito, como já exposto, trata das condições gerais de

concessão de crédito aos clientes. Porém, há a necessidade de se avaliar o risco e

analisar este cliente visando fundamentar a decisão de conceder ou não o crédito.

Segundo Gitman (1997, p.698) “análise de crédito consiste no processo de avaliação

dos solicitantes de crédito”. Santos (2000, p.44) define que “análise de crédito é um

técnica de previsão que permite à empresa vendedora estimar a capacidade de

pagamento a curto prazo do pretendente ao crédito”.

Por isso, Ross, Westerfield e Jordan (2002) defendem que as empresas

tendem a utilizar critérios e ferramentas para análise de crédito e mensuração do

risco. Esses critérios podem ser estabelecidos em um processo de concessão, onde

encontramos o modelo dos cinco C’s do crédito que orientam a análise de uma

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forma subjetiva dimensionando a capacidade creditícia dos clientes. Segundo

Gitman (1997), Silva (1998), Hoji (2000), e Lemes, Rigo e Cherobim (2005) os cinco

C’s são: Caráter; Capacidade; Capital; Colateral; Condições.

O caráter está relacionado ao histórico do solicitante do crédito, que envolve o

cumprimento das obrigações passadas e presentes de contratos diversos, ou de

qualquer tipo de acordo firmado com empresas, instituições financeiras, e indivíduos.

De acordo com Hoji (2000), o caráter constitui o item mais importante na análise do

crédito.

Qualquer restrição ao caráter do cliente pode contribuir negativamente na

análise de concessão de crédito. Neste sentido, Gitman (2002, p.696) esclarece que

“os dados históricos de pagamentos e quaisquer causas judiciais pendentes ou

concluídas contra o cliente seriam utilizados na avaliação do seu caráter.” Podemos

ainda atribuir, segundo Silva (1998), a pontualidade como um fator influenciador do

caráter dos clientes, que pode desaboná-lo, por efetuar pagamentos com atraso.

O segundo “C” é a capacidade, que visa avaliar a situação financeira do

cliente sob o aspecto da sua capacidade de pagamento, onde através desta análise

pode-se verificar, se o cliente terá condições de honrar com a promessa de

pagamento do crédito no futuro. Porém, Silva (1998, p. 79) aponta que “a

capacidade refere-se à habilidade, à competência empresarial do individuo ou do

grupo de indivíduos e ao potencial de produção, administração e comercialização da

empresa”. Sob esta visão, o autor propõe que a capacidade deve estar relacionada

aos fatores que influenciam a competência e a competitividade da empresa, ou da

condição de gerar riquezas por arte do individuo, tornando-a assim, se houver

capacidade de gestão, apto ao pagamento das obrigações.

O capital constitui o terceiro “C”, que se refere à situação econômico-

financeira da empresa ou individuo, no que diz respeito a seus bens e recursos que

possui para saldar suas dívidas. O foco deste aspecto são as empresas, ou seja, as

pessoas jurídicas, onde se analisa índices de liquidez, balanços, demonstrativos de

resultado e etc. Entretanto, para Silva (2008) a situação financeira de clientes,

também deve ser analisada, mesmo não havendo balanços, e nem demonstrativos

de resultado.

O mecanismo utilizado para reduzir o risco nas vendas a crédito é a exigência de garantias sobre o valor do crédito concedido ao cliente no ato da formalização do crédito. As garantias representam o comprometimento de outras pessoas, físicas ou jurídicas, pela dívida assumida ou a definição

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de bens, que podem ser móveis ou imóveis, que responderão pela dívida caso o devedor não consiga pagá-la. (LEMES JUNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2005, p. 357)

As garantias à disposição da concedente de crédito são muito importantes

para minimizar os riscos, por isso o colateral ou collateral, que em inglês significa

garantia, compõe o quarto “C” do crédito. Contribuindo para a importância deste

aspecto, Hoji (2000, p. 131) destaca que “o collateral é utilizado para

contrabalancear ou reforçar a fragilidade de um ou mais “C” dos quatro itens.” Com

relação às empresas, a análise do balanço patrimonial, onde se verifica a

quantidade dos ativos, em conjunto com as pendências judiciais, pode ser utilizada

para estimar o colateral.

O quinto e último “C”, são as condições. Talvez este seja o aspecto com a

visão mais abrangente da análise de crédito, por considerar o cenário

macroeconômico, bem como o mercado, o ramo de atividade das empresas e

clientes.

Quando se analisa o macro-ambiente, leva-se em conta o Governo, a

legislação, o desemprego, a inflação, o mercado internacional, enfim, tudo aquilo

que está ligado ao chamado ambiente externo das empresas. Estas forças

influenciam nas políticas de crédito da empresa concedente, bem como em seu grau

de exigências, e a capacidade de pagamento dos clientes solicitantes, sejam eles

pessoas físicas ou jurídicas.

Segundo Gitman (1997) os analistas de crédito normalmente dão maior

importância para os dois primeiros C’s, caráter e capacidade, pois apresentam

requisitos fundamentais para a concessão de crédito. Além disso, a partir da análise

dessas cinco variáveis defini-se o limite de crédito que será estabelecido para o

cliente, relacionado ao risco do não recebimento.

Para Assaf Neto e Silva (1997) o modelo dos 5 C’s pode apresentar certas

falhas, por três razões: é uma análise que depende do julgamento e da interpretação

individual do analista responsável pela decisão de concessão do crédito; necessita

de pessoas com experiência, e para se obter isso, tem que se incorrer alguns erros

durante o processo, havendo o risco de concessões equivocadas; e por último, este

modelo pode não estar alinhado ao objetivo da empresa, como maximização dos

lucros, havendo uma dissonância entre a estratégia de negócio da empresa e a

decisão da concessão de crédito.

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De acordo com Roveda (2002), a informação sobre esses cinco fatores

precede da experiência anterior da empresa com seus clientes e é complementado

por um sistema bem desenvolvido de captar informações externas e análise das

mesmas.

Por isso, é necessário utilizar outras ferramentas de cunho científico e

objetivas. Os modelos mais encontrados na literatura são a classificação ou rating e

o sistema de pontuação ou credit scoring.

2.6.1 Classificação ou rating

De acordo com Silva (2008), Roveda (2002) e Gitman (1997) o sistema de

rating, ou classificação de risco de crédito consiste em, classificar em ordem

decrescente o risco de crédito após a avaliação das variáveis do processo de

concessão de crédito. Estas variáveis consideram aspectos externos, como

economia, mercado, governo entre outros, e internos que englobam toda a gestão

da empresa. O risco é baseado na mensuração e ponderação dessas variáveis

determinantes do risco da empresa.

Normalmente esta classificação é fornecida por empresas especializadas

como a Standard & Poors e Moody’s, que são norte-americanas, e a Fitch IBCA, que

é resultado da fusão da IBCA do Reino Unido com a Fitch Investors Service of New

York.

Um exemplo de classificação, apresentado no Quadro 7, é o da Standard &

Poors e Moody’s, que utiliza códigos para determinar o risco de cada tipo de

tomador de crédito e fornece a interpretação de sua análise para bancos e

empresas, que por sua vez podem estar na posição de investidores ou credores em

uma operação financeira. Segundo Silva (2008, p.332) “o rating fornece ao investidor

(credor) uma medida objetiva de avaliação de risco que propicia subsídios para a

definição do retorno desejado.”

Para tanto, como a concessão de crédito deve ser considerada, como já

exposto anteriormente, em um investimento no ativo da empresa, assim deve-se

considerar o rating como instrumento importante na análise e concessão de crédito

para as empresas que possuem seu próprio setor de análise.

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Standard & Poors Moody’s Interpretação

AAA Aaa Melhor qualidade de risco, extremamente forte

AA+, AA, AA- Aa1, Aa2, Aa3 Alta qualidade de risco

A+, A, A- A1, A2, A3 Forte capacidade de pagamento

BBB+, BBB, BBB- Bbb1, Bbb2, Bb3 Adequada capacidade de pagamento

BB+, BB, BB-

Ba1, Ba2, Ba3

Provável capacidade de pagamento, direção para a

incerteza

B+, B, B- B1, B2, B3 Alto risco

CCC+, CCC, CCC- Caa1, Caa2, Caa3 Vulnerabilidade e tendência para inadimplência

CC

Ca

Classificação ruim, como nos casos de falência ou

inadimplência C

D

Quadro 7: Classificação de risco de crédito - rating Fonte: adaptado Silva (2008)

No Quadro 7, cada código representa um risco de acordo com a capacidade

de pagamento do proponente de crédito, o qual recebe uma classificação, ou seja,

uma nota. Por exemplo, o cliente classificado como AAA, representa uma

capacidade de pagamento satisfatória e risco baixo. Já os classificados a partir do

B+, B, B-, segundo Standrd & Poors, e B1, B2, B3 Moody’, possuem risco alto de

não recebimento do crédito.

Este modelo de análise é fruto da apuração dos aspectos relacionados à

política de crédito definida pela empresa, e as influencias externas, juntamente com

a avaliação das variáveis envolvidas na concessão de crédito, acerca dos riscos.

Entretanto ainda há um teor tradicional nesta ferramenta, exigindo assim da empresa

uma abordagem mais objetiva, com o intuito de fundamentar a decisão de crédito.

2.6.2 Sistema de pontuação de crédito ou credit scoring

Gitman (1997) afirma que o sistema de pontuação ou classificação de crédito,

consiste no procedimento que resulta uma pontuação capaz de refletir o potencial

financeiro de um requerente de crédito. E esta pontuação é gerada pela média

ponderada dos pontos relativos a características financeiras e creditícias. Entre

outras palavras, Roveda (2002 apud BRAGA, 1995, p.28) expõe que “a análise de

crédito consiste em atribuir valores a um conjunto de fatores que permitam a

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emissão de um parecer sobre determinada operação de crédito”. Quando se analisa

fatores que envolvem o passado dos clientes, a fim de projetar seu comportamento

futuro quanto ao pagamento de seu crédito, se esta tentando conceder-lhes crédito

de maneira a diminuir o risco e aumentar o lucro.

Segundo Brealey e Myers (2005), a empresa quando possui uma quantidade

de clientes pequena e principalmente regular, ou seja, estão sempre por perto, os

analistas de crédito podem lidar facilmente com o processo de investigação,

utilizando muitas vezes critérios mais subjetivos. Porém, quando se esta lidando

diretamente com os consumidores, atendendo diversos perfis e em grande número,

e principalmente de diversas localidades, precisa-se organizar um sistema de

informações que possa dar suporte a decisão de crédito.

O desenvolvimento da análise de crédito pelo sistema de pontuação inicia-se

segundo Assaf Neto e Silva (1997) e Ross, Westerfield e Jordan (2002), com a

obtenção das informações sobre o cliente proponente do crédito, denominadas pelos

autores Lemes, Rigo e Cherobim (2005) de informações comerciais, que

representam a base da análise de crédito. Essas informações diferem quanto às

solicitadas as pessoas físicas e jurídicas, e ao mesmo tempo para clientes atuais e

futuros. Com base em Assaf Neto e Silva (1997) as informações de pessoas físicas

são classificadas em: dados essenciais, como residência, profissão, estado civil,

entre outras; dados complementares, que consistem nas referências comerciais,

comprovação de renda, tipo de mercadoria, etc.; e dados de localização, como o

endereço para referência e telefone.

Com relação a empresas, pessoas jurídicas, as informações normalmente

solicitadas são os demonstrativos contábeis, de onde se extrai determinados índices

financeiros que possibilitam avaliar as condições de liquidez e endividamento, que

Santos (2000) afirma que podem determinar se a empresa é solvente ou não.

Após a coleta dos dados do cliente é necessário confirmar se a informações

estão corretas, testando principalmente a veracidade das mesmas, pois existe a

necessidade de se diminuir o risco de fraude por parte de pessoas não idôneas.

Para isso existe uma série de consultas que podem ser efetuadas pelos analistas de

crédito da empresa (LEMES JUNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2002).

A primeira é a confirmação do cadastro próprio no caso de clientes que já

efetuaram compras em outras ocasiões. Há agências especializadas em

informações acerca do comportamento financeiro das pessoas físicas e jurídicas,

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tanto no âmbito nacional quanto internacional, dentre as mais conhecidas são:

Serviço de Proteção ao Crédito (SPC); das associações comerciais; SERASA –

www.serasa.com; Bancos com os quais a empresa opera; Dun & Bradstreet –

www.dnb.com; Segurança ao crédito e Informações – SCI/Equifax www.sci.com.br.

Essas organizações fornecem informações e geralmente cobram por elas,

tendo que a empresa arcar com estes custos, visando é claro obter um retorno

positivo, que é o suporte a análise do crédito concedido aos seus clientes.

O próximo passo é a análise das informações coletadas e confirmadas,

conforme Gitman (1997),abrangem a análise de crédito propriamente dita que dará

suporte a decisão de conceder o crédito ou não.

Características financeiras e

creditícias Pontuação (0 a 100)

Peso Predeterminado

Pontuação ponderada

Referências de crédito 80 0,15 12,00 Casa própria 100 0,15 15,00 Faixa de renda 70 0,25 17,50 Histórico de pagamento 75 0,25 18,75 Anos de residência no endereço 90 0,10 9,00 Anos no emprego 80 0,10 8,00 Total 1,00 80,25

Quadro 8: Sistema de pontuação de crédito Fonte: adaptado Gitman (1997) Pontuação de crédito Procedimento Maior que 75 Conceder condições padrões de crédito De 65 a 75 Conceder crédito limitado; se a conta for

mantida em ordem, conceder condições padrões de crédito após um ano.

Menor que 65 Rejeitar solicitação Quadro 9: Padrões de crédito Fonte: adaptado Gitman (1997)

Nos Quadros 8 e 9, pode-se observar um exemplo de sistema de pontuação,

que auxilia a análise do crédito, onde para todos os dados atribui-se um peso, que

ao final resulta em uma nota ou total. Este total será classificado de acordo com a

tabela de critérios e pesos. Ao final, tem-se uma posição favorável ou não para a

decisão de crédito de acordo com os padrões de crédito já preestabelecido pela

empresa na sua política interna de concessão, ou seja, a política de crédito.

Ao final do processo de concessão de crédito o cliente o recebe, ou não. No

caso de uma resposta positiva, espera-se que o mesmo comporte-se de forma

pontual acerca do pagamento do crédito tomado, partindo do pressuposto de que,

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quando feita à análise, este cliente foi avaliado como merecedor deste crédito.

Porém, devem-se considerar possíveis atrasos nos pagamentos ou falhas nos

procedimentos de análise do crédito, que podem gerar uma concessão de risco.

Tendo assim, que haver medidas já preestabelecidas para lidar com este tipo de

situação.

Estas medidas constam na política de cobrança da empresa, onde não só

atividades de cobrança são executadas aqueles clientes que não pagam, mas

considera-se como o fechamento de um ciclo, o ciclo operacional e financeiro.

2.7 Políticas de cobrança

De acordo com Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2002, p. 365 )“cobrança é o

ato de concretização do recebimento de valores representativos de vendas, à vista

ou a prazo, de forma oportuna.” Para tanto, política de cobrança consiste nos

procedimentos preestabelecidos e adotados pela empresa, para que a mesma

possa cobrar as duplicatas a receber quando elas vencem (GITMAN 1997).

Santos (2000) expõe que a ultima etapa da administração de valores a

receber é o desenvolvimento de uma política de cobrança, que segundo Assaf Neto

(2006) visa ações voltadas ao recebimento, e a execução propriamente dita das

atividades de cobrança.

O ciclo operacional se completa quando o valor da venda é recebido, por isso

cobrar é tão importante quanto vender, pois de nada adianta vender e não receber.

O principal objetivo de uma política de cobrança é fazer com que o recebimento

ocorra na data de vencimento, conforme a cartilha do SEBRAE (2005), e assim

contribuir para o controle da inadimplência e a recuperação de parte ou totalidade da

dívida de clientes em situações mais difíceis, como falência.

A política de crédito e a de cobrança devem ser implantadas juntas, pois Hoji

(2000) afirma que “não deve ser facilitada demasiadamente a concessão de crédito

para, posteriormente, ter de aplicar rigidez na cobrança”. Ou seja, se na análise do

crédito se identificar uma possível dificuldade na cobrança, deve-se avaliar com mais

rigor a concessão do mesmo.

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Há diversos procedimentos de cobrança que podem ser adotados pela

empresa. Para Brealey e Myers (1992), as empresas podem enviar cartas com

extrato da dívida ou dos atrasos do cliente, chamadas telefônicas entre outras. Com

o avanço das tecnologias de comunicação, como é o caso da internet, a

possibilidade de se enviar um e-mail, ou através de outras ferramentas virtuais,

cobrando o crédito é cada vez mais comum.

O pagamento em dia é a situação ideal após todo o processo de concessão do crédito. Para os casos de atrasos e não pagamento há a necessidade de atenção redobrada, pois podem surgir conflitos, dificuldades no relacionamento com o cliente que sempre espera postura mais flexível da empresa, e por outro lado, do responsável pela área de cobrança, de quem são exigidos resultados. (LEMES JUNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2002, p. 365)

Portanto, a maneira como a empresa cobra seus clientes pode definir se elas

os manterão, ou os afugentarão, pois cobranças muito rígidas podem diminuir as

vendas. Porém, se não houver medidas de cobranças eficazes corre-se o risco de

receber com atraso, aumentando o ciclo operacional, ou de não receber o crédito.

De acordo com Roveda (2002) e Gitman (2000), os procedimentos de

cobrança devem ser adotados de forma seqüencial e condicional, com atividades

definidas, onde as mais utilizadas são:

a) Carta: de forma cortês, alguns dias após o vencimento da parcela do crédito,

a empresa envia uma carta lembrando o cliente de que sua conta esta em

atraso, pedindo sua atenção quanto ao fato;

b) Telefonema: se as cartas não surgirem efeito, pode-se ligar para o cliente e

avisá-lo que o pagamento de seu débito deve ser efetuado o mais rápido

possível;

c) Visita pessoal: este método é bastante utilizado em pequenas empresas,

onde um cobrador ou representante é enviado ao endereço do devedor, para

cobrar-lhe o débito. Em alguns casos pode se receber no ato da visita;

d) Agência de cobrança: pode-se recorrer a empresas especializadas em

cobranças, ou escritório de advocacia, que extra ou judicialmente podem

cobrar o débito dos clientes inadimplentes. Porém este método é o mais caro,

pois essas agências cobram taxas de até 50% em cima do valor do débito.

Por isso, deve-se utilizá-lo como último recurso de cobrança.

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Ainda, segundo Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2002), na política de cobrança

deve-se se estipular juros e multas para o atraso dos pagamentos, pois esta é uma

forma de evitar esses atrasos.

Dessa forma as principais consequências de uma política de cobranças resultam

no impacto aos valores a receber, diminuindo ou aumentando-os, de acordo com o

grau de rigidez nas ações de cobrança.

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3 MÉTODO

O processo de pesquisa, segundo Roesch (1996), visa comparar teoria e

prática envolvendo a investigação de um problema ou sentido, procurando explicá-

los e ou resolvê-los. Desta forma, para que se possa obter êxito em uma pesquisa é

preciso estabelecer um método, que segundo Cervo e Bervian (2002, p.23) “é a

ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir certo fim

ou um resultado desejado.”

Objetivando atingir o resultado proposto nesta pesquisa, a metodologia

determinada define-se através dos seguintes elementos: o delineamento do projeto;

os participantes da pesquisa; a coleta de dados; os instrumentos de coleta;

tratamento e análise dos dados.

3.1 Delineamento do projeto

O propósito desta pesquisa consiste em uma pesquisa-diagnóstico, que de

acordo com Roesch (1996) visa explorar o ambiente interno ou externo a

organização levantando e definindo problemas, e assim apresentar sugestões para a

resolução dos mesmos, enfatizando o modelo de consultoria.

Na área de finanças, de acordo com Roesch (1996, p.70) “o diagnóstico visa

ao melhor planejamento e ao melhor controle dos recursos”. Desta forma, foram

explorados e diagnosticados o ambiente, as atividades e procedimentos utilizados

no setor financeiro que envolve o processo de análise e concessão de crédito a

pessoas físicas, objetivando avaliá-los, bem como identificar os impactos nos custos

de cobrança e no aumento da inadimplência.

A pesquisa foi de natureza qualitativa, que segundo definição de Malhotra

(2006, p.155) “é a metodologia de pesquisa não estruturada e exploratória baseada

em pequenas amostras que proporciona percepções e compreensão do contexto do

problema.” A autora ainda reforça mencionando que a pesquisa qualitativa

proporciona melhor visão e compreensão do problema. Contudo a pesquisa possui

um aporte de natureza quantitativa, que segundo os autores McDaniel e Gates

(2004, p. 120) “são estudos que utilizam análises matemáticas”. Para Malhotra

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(2006, p.154) a pesquisa quantitativa “procura quantificar os dados e, normalmente,

aplica alguma forma de análise estatística”.

Com relação ao tipo de pesquisa, será a pesquisa-ação com foco na pesquisa

participativa, que consiste segundo Roesch (1996, p. 147) em:

Uma estratégia de pesquisa que permite obter conhecimento de primeira mão sobre a realidade social empírica. Permite ao pesquisador “chegar perto dos dados” e, portanto, desenvolver os componentes analíticos, conceituais e categóricos de explicação, a partir dos dados, e não a partir de técnicas estruturadas, preconcebidas e altamente quantificadas que enquadram a realidade em definições operacionais que o pesquisador construiu.

Thiollent (1997, p.21), complementa mencionando que “toda pesquisa-ação

possui caráter participativo, pelo fato de promover ampla interação entre

pesquisadores e membros representativos da situação investigada.”

De acordo com o mesmo autor, a pesquisa-ação possui dois objetivos: a) o

objetivo de descrição, onde a situação-problema é descrita com base nos autores e

suas linguagens próprias; b) o objetivo de intervenção consiste na captação dos

conhecimentos derivados das inferências, e que são inseridos na elaboração de

estratégias ou ações.

Este enfoque da pesquisa qualitativa destaca-se pelo estabelecimento da

relação entre teoria e prática, onde se busca a construção de uma teoria para uma

prática organizacional existente. Segundo Godoi, et al (2006 apud MERRIAM, 2002,

p. 91) “a pesquisa qualitativa abrange várias formas de pesquisa e nos ajuda a

compreender e explicar o fenômeno social com o menor afastamento possível do

ambiente natural”

A pesquisa participativa propõe facilitar o envolvimento no pesquisador com

questões complexas e difíceis de tornar explícitos pelos participantes, considerando

os valores e a cultura organizacional relacionada a situação pesquisada. (ROESCH,

1996).

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3.2 Participantes da pesquisa

Os participantes deste estudo foram os indivíduos responsáveis e envolvidos

na análise e concessão do crédito a pessoas físicas na empresa, bem como o setor

financeiro da empresa.

3.3 Coleta de dados

A coleta de dados se deu através da observação participante de forma

encoberta, onde segundo Roesch (1996) é quando o pesquisador se torna

empregado da empresa, facilitando assim o acesso às informações. Serão

levantando dados primários do processo de análise e concessão de crédito da

empresa, bem como o levantamento dos critérios utilizados pelos participantes nesta

atividade. E os dados secundários serão extraídos do Sistema de gestão

empresarial integrado (ERP), documentos, textos, e planilhas eletrônicas

relacionados ao processo, disponíveis na empresa.

3.4 Tratamento e análise dos dados

Como a pesquisa realizada possui dados de natureza qualitativa com um

aporte quantitativo, a primeira foi analisada confrontando a revisão teórica e

conceitos, com os dados coletados no setor financeiro da empresa. E assim,

buscou-se expor e sugerir o que os autores propõem quanto à administração de

contas a receber e o processo de análise e concessão de crédito e cobrança. Os

dados quantitativos levantados foram analisados através de uma planilha eletrônica

desenvolvida pelo acadêmico, a fim de atingir o objetivo específico de identificação

do índice de inadimplência da empresa.

Os dados financeiros da empresa não puderam ser divulgados a pedido da

mesma, com o intuito de resguardá-la. Por isso, para a elaboração do quadro do

índice de inadimplência, e de qualquer dado financeiro, foi necessária a utilização de

um fator X, que traduz proporcionalmente os resultados da análise, preservando-a.

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4 DESCRIÇÃO DA EMPRESA

A empresa Casa da Informática iniciou suas atividades no ano de 1999, no

dia 17 de maio, contando na época com apenas 2 funcionários, sendo um técnico de

informática e o gerente proprietário. Com matriz situada em Tijucas, SC, há

aproximadamente 50 km da capital Florianópolis, e filial inaugurada em 11 de maio

de 2011, localizada em Porto Belo, SC, conta hoje com 22 colaboradores, com uma

estrutura física de 300m² (matriz) e 40m² (filial), sendo dividida a matriz em: área

comercial e compras; Assintência técnica e laboratório de informática; e

Administrativo-Financeiro.

Figura 8: Logomarca da empresa Fonte: empresa Casa da Informática (2011)

Acreditando na qualidade de seus serviços e produtos, e com uma filosofia de

trabalho definida, a empresa busca tornar possível cada vez mais, à acessibilidade

das pessoas a tecnologia e a comunicação, acreditando estar contribuindo para o

desenvolvimento da sua região.

Com o intuito de disponibilizar o que há de melhor e de mais novo, no que diz

respeito a tecnologia e comunicação, a Casa da Informática oferece a seus clientes

produtos e serviços de informática e soluções em comunição e entretenimento.

Comercializa diversas linhas de notebooks, microcomputadores, monitores,

periféricos e acessórios, focando nas melhores marcas do mercado. Além disso,

comercializa também televisores de Plasma, LCD, LED, de diversos tamanhos e

modelos, e videogames.

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Figura 9: Produtos comercializados Fonte: empresa Casa da Informática (2011)

Figura 10: Principais marcas comercializadas Fonte: empresa Casa da Informática (2011)

Por deter o direito de comercializar produtos e serviços da empresa TIM

como revenda autorizada, possui celulares, smartphones, e tablets , além de planos

telefônicos pós e pré-pagos para clientes pessoa física.

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Figura 11: Serviço de telefonia TIM Fonte: empresa Casa da Informática (2011)

Na parte de serviços, a empresa dispõe de um laboratório de informática com

técnicos especializados, oferecendo serviços de manutenção de

microcomputadores, notebooks, e impressoras. Efetua também, reparos em

elétrônicos como monitores, acessórios de informática entre outros produtos,

terceirizando este serviço. Ainda, dispõe do serviço de assistência técnica para

empresas públicas e privadas, oferecendo soluções e consultoria em redes,

servidores Windows e Linux, e impressões.

A Casa da Informática possui uma estrutura organizacional definida, com as

atividades: de compra, armazenagem, e controle de estoque (entradas e saídas);

conta com uma equipe de vendas, marketing e criação, onde são desenvolvidas e

executadas as ações de comunicação, atendimento, treinamento e prospecção de

clientes; e o setor administrativo-financeiro.

Este último conta com profissionais engajados em atividades relacionadas a

tesouraria e controladoria, onde são efetuados o planejamento financeiro, contas a

pagar e receber, análise de crédito, e cobrança. Ou seja, são desenvolvidas

atividades financeiras que envolve principalmente a movimentação de recursos, e a

análise e concessão do crédito a clientes.

4.1 Condições de venda

Com o intuíto de aumentar as vendas e ser competitiva perante o mercado, a

Casa da Infotmática possui um serviço de crediário próprio e de terceiros, onde

oferece a seus clientes a possibilidade de pagarem suas compras de produtos, por

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diversos meios e modalidades de pagamento, com prazos flexíveis, conforme Tabela

2.

Tabela 2: Condições de venda de produtos Modalidades de venda de

produtos Prazos Desconto (% sobre a

venda) Venda à vista (espécie ou cartão de débito) 0 4%* Venda a prazo (cartão de crédito) Até 12x sem juros 0 Venda a prazo (cheque) Até 12x sem juros 0 Venda a prazo (carnê) Até 12x sem juros 0

Fonte: Casa da Informática (2011) As vendas podem ser pagas pelos clientes à vista, onde o mesmo recebe um

desconto de 4% sobre a venda, como prêmio por pagamento no ato, em espécie ou

com cartão de débito. Este desconto porém, pode ser reavaliado dependendo da

negociação entre o cliente e do volume da compra, havendo assim um acordo com a

empresa.

A modalidade de venda com cartão de crédito é a condição de venda em que,

a empresa não avalia o crédito do cliente proponente, e assim não assume o risco

inerente a esta operação, garantindo o recebimento do crédito através das

operadoras de cartão. Em virtude disto a cada operação de crédito nesta

modalidade, é necessário o pagamento por parte da Casa da Informática de uma

taxa administrativa de 2,8% sobre vendas efetuadas em até 12 vezes, para a

operadora de cartão, que neste caso é a empresa Redecard.

Nas vendas com cheque pode-se efetuar o pagamento também em até 12

vezes sem juros. Nesta forma de pagamento a empresa disponibiliza o crédito a

seus clientes, como forma de financiar suas compras. Com isso, há a necessidade

de aplicar e proceder com a análise do crédito.

Assim como no cheque, a modalidade carnê também oferece pagamentos em

até 12 vezes sem juros, e o crédito é analisado e concedido aos clientes. Porém, há

vantagens e diferenças consideradas pela empresa, entre esta modalidade e as

outras: a) para efetuar o pagamento através do carnê é preciso que o cliente vá até

a loja, e assim há a oportunidade de uma nova venda, e de comunicação através do

ponto de venda e mostruários; b) com o crediário próprio a empresa acaba

contribuindo para a fidelização dos clientes através do contato direto com o mesmo,

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tanto na análise, indicando que o crédito é concedido pela própria empresa, quanto

na cobrança, que é feita na mesma.

Com relação aos serviços (assistência técnica) que os clientes solicitam a

empresa, os mesmos são ofertados, quanto a forma de pagamento, em até 3 vezes

sem juros, no cartão de crédito, cheque, ou carnê. Porém, esta modalidade é

direcionada a demanda de pessoas jurídicas, ou seja, empresas.

Neste caso, como o foco deste trabalho são pessoas físicas, e o impacto

sobre as contas a receber segundo a empresa estudada são muito pequenos, não

se considerou esta concessão de crédito para a análise.

4.2 Análise e concessão de crédito

O cliente chega a loja e recebe o atedimento adequado ao produto que está

procurando, e então é concretizada ou a não a venda. No caso de uma resposta

positiva, o profissional de venda apresenta as formas e modalidades de pagamento

que a empresa oferece, conforme quadro 4.1, e então o cliente escolhe àquela que

melhor se adequa a sua necessidade, ou que lhe traz maior vantagem.

De qualquer forma, independente da modalidade de pagamento que o cliente

escolhe, há um procedimento que antecede esta ecolha, que é o preenchimento do

cadastro de clientes, onde são solicitadas as informações listadas na Figura 12,

conforme o Sistema de gestão empresarial integrado (ERP) utilizado pela empresa,

que servem para a emissão do Cupom Fiscal ou nota fiscal eletrônica (NF-e), para

fins de garantia dos produtos, e para pós-venda.

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Figura 12: Cadastro de clientes Fonte: Casa da Informática (2011)

No caso de pagamento à vista, com cartão de crédito ou débito, é preenchida

somente a primeira página do cadastro de clientes, onde estão as informações

básicas, como descrito anteriormente. Até então, não se pede comprovação alguma

acerca dos documentos de identificação, ou qualquer comprovante de rendimentos

ou domicílio, pois a empresa entende que não há risco nessas modalidades de

pagamento.

Se o cliente então, escolhe pagar nas modalidades cheque ou carnê, optando

por pagar a prazo, é solicitado por parte da Casa da Informática, através do

vendedor, os seguintes comprovantes e documentos, para que a proposta de crédito

passe para a análise:

• Documento de identificação (identidade, carteira de motorista, ou carteira de

trabalho);

• Cartão CPF, com o número de inscrição;

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• Comprovante de rendimentos (contracheque, holerite, declaração de renda

como autônomo ou profissional liberal, ou comprovante de benefício do

INSS.);

• Comprovante de residência atualizado, normalmente dos três últimos meses;

• Referências comerciais (empresas em que o proponente compra a prazo, se

utilizando do crédito da mesma.);

• Referências pessoais (como endereço, telefone, e grau de parentesco ou

definição do grau de relacionamento com o proponente de crédito.)

Após a solicitação, o profissional de vendas é o responsável por efetuar as

seguintes atividades que antecedem a análise propriamente dita, executada pelo

setor financeiro:

• Consulta ao Sistema de Proteção ao Crédito (SPC), fornecido pela

Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Tijucas – SC.

• Efetuar cópia de todos os documentos de comprovação, elaborando um

pequeno dossiê;

• Efetuar ligações as referências comerciais e pessoais.

Na consulta ao SPC, o vendedor preenche apenas o número do CPF do

proponente do crédito e obtêm as informações que a ferramenta fornece como:

confirmação de informações básicas; registros de pendências e débitos em algumas

empresas ou confirmação de “nada consta”; e consultas já realizadas por outras

empresas.

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Figura 13: Consulta ao SPC Fonte: CDL – Tijucas SC (2011)

No caso da Figura 13, a consulta demonstrou duas pendências de débito no

valor de R$ 24,89 cada, informando a data da ocorrência e a origem da mesma. No

campo “consultas realizadas”, a consulta permitiu visualizar duas consultas

efetuadas por outras empresas. Além de confirmar informações como nome, data de

nascimento e nome dos pais, informações estas retidas para preservar o proponente

utilizado como exemplo.

Na atividade de ligações as referências comerciais e pessoais, na primeira o

vendedor procura coletar informações acerca do volume de crédito tomado pelo

cliente da análise em questão, a pontualidade dos pagamentos das parcelas, bem

como se há valores em aberto, ou inadimplência. Isso tudo é documentado junto ao

dossiê. Com relação às referências pessoais, é solicitado a estas que confirmem o

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grau de relacionamento informado pelo proponente, e com a ligação, há a

confirmação da veracidade da informação.

Enfim, o profissional de vendas passa o dossiê para o setor financeiro que

fará a análise do crédito, bem como decidirá se concede ou não o crédito, com base

nos seguintes critérios expostos no Quadro 10.

CRITÉRIOS RESULTADO POSITIVO RESULTADO NEGATIVO

Consulta ao SPC Ausência de pendências e débitos. Não possuir muitas consultas em um período de 30 dias antecedentes a proposta do crédito

Possui pendências e débitos em empresas e banco, e muitas consultas em um período de 30 dias antecedentes a proposta do crédito.

Identificação do proponente Natural da cidade ou da região em que a empresa atua. E ainda, ser conhecido ou manter relacionamento com comunidade local ou com algum colaborador da empresa.

Não ser natural da cidade ou região em que a empresa atua. Não ser conhecido ou não possuir relacionamento algum com a comunidade e com colaboradores da empresa.

Comprovante de renda Possuir renda compatível com o valor do crédito proposto. No caso de empregado do setor privado, possui holerite comprovando a renda e ter ao menos 1 ano de permanência no trabalho atual. Funcionário público possuindo contracheque com renda compatível ao crédito proposto, e função comprovada no documento. Profissional autônomo e liberal com declaração de rendimentos e profissão comprovada. Beneficiários do INSS devem comprovar o benefício.

Não possui comprovante de renda e nem declaração de rendimentos. Ou não possui ocupação ou profissão.

Comprovante de residência Possuir casa própria. Domiciliado dentro da região em que a empresa atua.

Possuir casa alugada. Domiciliado fora da região em que a empresa atua.

Referências comerciais Grande volume de compra a prazo em outras empresas, utilizando o crédito da mesma; pagando pontualmente e com ausência de inadimplência, ou pagamentos em aberto com atrasos.

Poucas ou nenhuma compra a prazo, não apresentando histórico de pagamentos; Pagamentos em atraso, e alguns casos de inadimplência ou renegociação de dívida; ações judiciais. de cobrança.

Referências pessoais Referências positivas quanto ao caráter do proponente de crédito.

Referências negativas quanto ao caráter do proponente de crédito. E ausência de referências pessoais.

Quadro 10: Critérios para concessão de crédito Fonte: Casa da Informática (2011)

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O conjunto positivo desses critérios estabelece o resultado de conceder o

crédito aos proponentes. Já o conjunto negativo resulta em não concedê-lo.

Porém, em casos isolados a análise de crédito leva em consideração

principalmente se o proponente ao crédito é conhecido pela comunidade local, por

algum colaborador da empresa, ou proprietário da mesma. Além de residir na região

em que a empresa atua. Portanto, há casos em que este critério (identificação do

proponente) possui maior peso contra um ou mais critérios que apresentaram

resultado negativo, para a concessão de crédito ao cliente.

Há propostas de crédito que são negadas a clientes que, apresentam as

seguintes características: não residem na região; moram em casa alugada; sem

registros no SPC; possuem renda compatível com o crédito a ser tomado; e

possuem boas referências comerciais.

Em outros casos, proponentes que possuem registros no SPC, mas moram

na cidade local, tem referências comerciais positivas, ou já são clientes da empresa,

recebem o crédito.

Geralmente em casos de registros no SPC, a empresa solicita um avalista

que reside na cidade local, com requisitos que atendam os critérios de concessão do

crédito do Quadro 10.

Pôde-se verificar dentro do processo de análise de crédito, que a empresa

utiliza alguns aspectos e conceitos relacionados aos 5 C’s do crédito (Caráter,

Capacidade, Capital, Colateral, Condições). Pois na análise, a empresa utiliza o

primeiro C, o caráter, quando procura identificar o perfil do proponente do crédito,

com os critérios: Consulta ao SPC; Identificação do proponente; e Comprovante

de residência.

O segundo C, a capacidade, é identificada no critério comprovante de renda,

onde se procura estabelecer a capacidade de pagamento, através da renda do

proponente. E por fim, utiliza o collateral, quando a empresa pede um aval ao

cliente, nos casos em que a análise feita dentro dos critérios utilizados, fornece

resultado negativo. Então, como garantia do pagamento, o proponente ao crédito é

solicitado a fornecer outra pessoa, chamada de avalista, que passará pela mesma

análise do crédito, para que possa vincular-se a proposta de crédito.

Por outro viés, a empresa não possui nenhuma ferramenta ou critério, objetivo

para a análise, como um sistema de pontuação de crédito ou credit scoring, e

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classificação de crédito, ou rating. E ainda, não utiliza o critério de limite de crédito

estabelecido a cada novo proponente ao crédito, ou aos clientes já estabelecidos.

4.3 Atividades de cobranças

O procedimento de cobrança é visto pela empresa como o fechamento do

ciclo das operações do negócio. Há alguns procedimentos adotados pela mesma

para que esta atividade obtenha eficácia, como:

a) após cinco dias úteis ao vencimento da parcela, é efetuada uma ligação ao

cliente, avisando-o sobre o atraso no pagamento e pedindo-lhe que estabeleça, e

informe uma data para o pagamento. Não havendo data limite preestabelecida pela

empresa, ficando a critério do cliente. Esta ligação possui um teor de aviso somente;

b) se o cliente não efetuar o pagamento dentro do prazo informado na

primeira ligação, a empresa entra em contato novamente questionando a falta do

pagamento, e solicita ao cliente que informe uma nova data para o pagamento.

Nesta etapa, tenta-se negociar uma data menor possível, havendo a intervenção da

empresa na escolha desta data;

c) na sequência, se o cliente atrasa mais de 30 ou 60 dias, uma série de

ligações é efetuada ao cliente até que ele pague as parcelas em atraso. Estas

ligações já possuem um tom de cobrança propriamente dita, onde a empresa

informa as conseqüências da inadimplência como inclusão nos registros do SPC, e

cobrança judicial;

d) no caso de clientes com atrasos maiores de 90 e 120 dias, ou quando não

se consegue contato por telefone, por motivos diversos como de troca de número ou

de residência, o setor de cobrança efetua a inclusão do CPF no SPC (Serviço de

Proteção ao Crédito) e/ou envia o caso, ao advogado da empresa, para que o

mesmo efetue o contato e se preciso a cobrança judicial.

É neste momento que se verifica a qualidade da análise do crédito, pois se o

cliente atrasar o pagamento ou se tornar inadimplente, os critérios utilizados para a

análise, podem ter apresentado algumas falhas ou mostrarem-se defasados quanto

ao comportamento de compra dos clientes, ao mercado, e ao setor.

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5 PLANO DE AÇÃO

Neste capítulo são apresentadas as melhorias propostas e já implantadas na

administração de contas a receber da empresa, como elaboração do índice de

inadimplência, fluxo de caixa projetado, e formalização e alterações na política de

cobranças. Além de sugestões para modificações futuras na atividade de análise de

crédito a pessoas físicas.

5.1 Índice de inadimplência

Para estabelecer o índice de inadimplência foi coletado o total de vendas a

prazo, nas modalidades cheque e carnê, e valores a receber da empresa no período

de janeiro a junho de 2011(seis meses), através do Sistema de gestão empresarial

integrado (ERP) que a empresa utiliza, efetuando a seguinte razão:

Valores a receber x 100 = índice de inadimplência Total de vendas a prazo

Quadro 11: Cálculo do índice de inadimplência Fonte: Acadêmico (2011)

Efetuando esta razão, foi obtido o índice de 5,30% apurando o resultado no

dia 30 de julho de 2011, conforme Tabela 3. Além disso, com a apuração deste

índice, possibilitou-se a elaboração de uma planilha de acompanhamento mês a

mês, registrando as variações.

Tabela 3: Índice de inadimplência Mês Contas a

receber por vencimento

Recebidos Índice recebido

A receber (atualizado mês a mês)

Índice a receber

Geral

Janeiro 2011 1, 500 1, 154

76,93% -0, 047

-3,12%

Fevereiro 1, 492 1, 084

72,64% -0, 057

-3,81%

Março 1, 512 1, 174

77,60% -0, 053

-3,49%

Abril 1, 565 1, 207

77,12% -0, 082

-5,21%

Maio 1,68 1, 298

77,43% -0, 102

-6,07%

Junho 1,73 1, 294

74,61% -0, 163

-9,40% 5,30%

Fonte: Casa da Informática (2011)

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Para preservar as informações financeiras da empresa, a pedido da mesma,

na apresentação dos números na Tabela 3, foram utilizados multiplicadores e

índices que expressam proporcionalmente os resultados.

Na primeira coluna constam os meses que foram apurados as vendas a prazo

por vencimento, que contemplam os 30 dias do mês. Na segunda, é o total de

contas a receber, ou crédito concedido, em cada mês por vencimento.

Posteriormente, é expressa a parcela do total das contas a receber (vencimentos) do

mês em questão, que foram efetivamente recebidas dentro do próprio mês, ou seja,

que foram honradas pelos clientes.

Na sequência, elaborou-se o índice que representa a coluna anterior em

percentual, e após esta, há os valores das contas a receber que estão vencidas, ou

seja, que não foram recebidas no prazo acordado. E por fim, o índice que representa

estes valores não recebidos, em percentual, e a coluna de índice geral, o qual foi

extraído para a análise.

A cada fechamento de mês, exatamente no último dia, foram efetuadas

atualizações em todos os valores, pois parcelas de vendas vencidas no mês de

janeiro, por exemplo, foram pagas ao longo dos demais meses, alterando o valor dos

valores vencidos do mês de referência.

Este índice foi elaborado com o intuito de mensurar a inadimplência dos

valores a receber da empresa, para que a mesma possa controlá-la com ações de

restrição ao crédito, e intensificação da cobrança. Por isso, este critério foi

acrescentado na análise e concessão de crédito.

5.2 Fluxo de caixa projetado

O fluxo de caixa projetado representa a projeção de entradas (ingressos) e

saídas (desembolsos) do caixa da empresa de um período futuro determinado. No

Quadro 12, pode-se visualizar a relação de contas deste fluxo, da empresa Casa da

Informática.

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Julho 2011.- PROJETADO

Período

Desembolsos

Fornecedores a pagar

Fornecedores à vista

Impostos e encargos a pagar

Salários a pagar

Manutenção das instalações (aluguel, energia elétrica, e etc.)

Despesas laboratório

Despesas administrativas

Despesas financeiras (juros, taxas, encargos e etc.)

Despesas de vendas

Outras despesas

Total

Ingressos

Compromissos à Receber NP'S/ CARNÊS

Cheques a receber (status: aberto)

Cheques a receber (status: custódia)

Cartão de crédito (Master/Visa e outros)

Cobranças de carteira (em atrasos - inadimplentes- adv.)

Venda de ativo

Aumento de capital social (empréstimo dos sócios)

Receitas financeiras (juros recebidos e etc.)

Outros

Total

Caixa Banco 1

Caixa Banco 2

Caixa Circulante

Caixa loja

Total em caixa

Saldo c/ recebidos 100%

P.D.D NP/C-50%

Saldo c/ recebidos 50% Quadro 12: Fluxo de caixa projetado Fonte: Acadêmico (2011)

Este fluxo de caixa pode ser utilizado para mensurar o capital de giro da

empresa, com o intuito de planejar os períodos em que se precisará captar recursos,

quando o saldo de caixa estiver negativo, ou investir, no caso de saldo positivo.

O nível do capital de giro é influenciado pela política e concessão de crédito, e

pelo prazo de pagamento aos fornecedores, pois quando se concede crédito, neste

caso, com um prazo de 12 meses para pagar, aumenta-se o tempo do ciclo

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operacional da empresa, fazendo com que a mesma tenha que bancar o período em

que o crédito ainda esta no mercado. Essa atividade pode gerar demasiadas

tomadas de capital junto ao banco, envolvendo assim pagamento de juros e taxas.

Como conseqüência, há a diminuição da margem de lucro.

Por isso, houve também o acréscimo deste critério, de considerar o nível de

capital de giro da empresa, junto à análise e concessão de crédito. Para que se

possa tomar uma postura restritiva, em caso de saldo negativo de caixa, e flexível

em caso contrário. Acreditando ser importante a manutenção de um nível ideal de

capital de giro, em virtude da saúde financeira da empresa.

5.3 Alterações e formalização da política de cobranças

As atividades de cobrança da empresa utilizam poucos meios de

comunicação com o cliente, e ferramentas de cobrança, além de não possuir uma

política de cobrança formalizada. Sendo a ligação telefônica, o método

predominante.

Dentro das atividades da cobrança, não há prazo determinado para cada

ação, como a inclusão do nome do cliente no SPC, cujos pagamentos estão em

atraso. Neste caso, não se segue nenhum procedimento padrão, tão pouco se

estabelece um prazo mínimo de atraso para esta ação. Ficando assim, a cargo do

bom senso do profissional da cobrança.

Os casos em que é preciso enviar a cobrança para o advogado da empresa,

também não há prazo estabelecido. Geralmente esta ação dá-se em casos que, as

medidas tomadas pela empresa para a cobrança de um crédito em atraso, tornam-

se ineficazes ou são falhas. Ou ainda, quando há a intenção por parte do cliente em

não pagar sua dívida, nem mesmo renegociá-la, caracterizando uma atitude de má

fé.

Em virtude dessa postura de cobrança, foi criada uma política de cobrança,

em que se formalizam os procedimentos, adequando-os a realidade da empresa, e

ao comportamento do nível de inadimplência. Na Tabela 4, encontram-se estas

alterações.

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Tabela 4: Política de cobranças ETAPA ATRASO CONTATO AÇÃO

1 5 (úteis) à 15 dias

Ligação telefônica amigável “lembrando” ao cliente, do vencimento de sua parcela, e solicitando uma data para o pagamento.

a) Perguntar o motivo do atraso, e registrar-lo junto à data informada pelo cliente para o pagamento.

2 15 à 30 dias

Ligação e envio por e-mail ou carta (AR) de proposta de renegociação de dívida

a)Tirar extrato dos valores em atraso, e os que ainda irão vencer. Inserindo na planilha eletrônica de renegociação. b)E então enviar por e-mail ou carta.

3 30 á 45 dias Ligação telefônica informando a inclusão do CPF do cliente no SPC, caso ele não venha efetuar o pagamento em até 4 dias úteis após esta ligação.

a)Inclusão do nome no SPC. b) Criar o dossiê com os documentos necessários, como: contrato, cópia dos documentos pessoais, e comprovantes solicitados na análise de crédito. c) Tirar extrato dos valores em atraso, e os que ainda irão vencer. Inserindo na planilha eletrônica de renegociação. E então enviar por e-mail ou carta

4 45 á 60 dias Ligação ou carta do advogado informando os valores em atraso com as devidas multas e encargos.

a)Enviar por e-mail os dados do cliente e de sua dívida corrigida, para o advogado da empresa. Onde o mesmo entrará em contato com o cliente. b)Tirar extrato dos valores em atraso, e os que ainda irão vencer. Inserindo na planilha eletrônica de renegociação. E então enviar por e-mail ou carta

5 60 à 90 dias Visita pessoal. Ligação telefônica, ou carta (AR), avisando o cliente da ação judicial de cobrança.

(Se o cliente não se manifestar pelos seguintes 5 dias úteis) a)enviar o dossiê com a documentação necessária para a ação judicial, e entregá-la ao advogado

Fonte: Acadêmico (2011)

Na Tabela 4, foram definidas cinco etapas, onde, em cada uma delas há um

tipo contato com o cliente, e uma ação, que o profissional da cobrança deverá tomar.

Além disso, houve o estabelecimento de um prazo para cada etapa.

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Este prazo foi definido, com o intuito de estabelecer um tempo exato para

cada ação de cobrança, acreditando que após a etapa cinco (60 a 90 dias), há perda

de eficácia, pois há devedores que passam por todas essas etapas e ainda assim

não efetuam o pagamento. Não havendo assim, motivos para seguir com a cobrança

interna da empresa.

E ainda, com esta definição de prazo, se pode estipular um valor fixo de

despesas com as atividades de cobrança, pois as mesmas como já visto,

influenciam no resultado final da empresa.

Dentro da política de cobrança, se estabeleceu uma filosofia de trabalho com

ênfase na renegociação. Acreditando que quanto maiores forem as possibilidades e

as oportunidades oferecidas aos devedores, de renegociarem suas dívidas, maiores

serão os retornos dos valores, em relação ao uma filosofia rígida de cobrança. Em

que, a coação predomina na atitude e nas atividades deste setor.

Por isso, foi criada uma planilha eletrônica (Anexo) padrão de renegociação,

que se utiliza nas etapas 2, 3 e 4, em que o profissional de cobrança lança os

valores que deseja cobrar do cliente, e a planilha eletrônica calcula as multas e taxas

decorrentes do atraso, e retorna o parcelamento que será oferecido ao cliente, em

forma de renegociação. Além de, um texto em forma de carta, que comunica ao

cliente os valores e o tempo de atraso de suas parcelas, e as intenções da empresa

em auxiliá-lo a manter o seu crédito através de uma renegociação.

Assim, o profissional de cobrança pode enviar esta planilha por e-mail,

correio, ou entregá-la pessoalmente ao cliente.

Estas medidas sugeridas e implantadas na empresa contribuíram para o

desenvolvimento e adequação das políticas de crédito e cobrança, às novas

demandas do mercado e clientes, e ao volume de vendas em que a empresa se

propôs a alcançar. Ou seja, os novos objetivos da empresa necessitaram de

mudanças em sua estrutura organizacional, nas suas práticas e procedimentos

internos, bem como na interpretação do ambiente externo.

5.4 Novos critérios e ferramentas para análise de crédito

Com base na avaliação dos critérios e ferramentas utilizadas pela empresa

Casa da Informática em sua análise e concessão de crédito a pessoas físicas, bem

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como nas implantações de novos critérios para esta atividade, já efetuadas, pode-se

ainda, sugerir outros critérios e ferramentas para futuras alterações.

Como a empresa não possui um sistema de pontuação como o credit scorer,

tão pouco classifica seus clientes (rating), estabelecendo limites de crédito para

todos. Cabe neste caso, o desenvolvimento ou a compra de softwares que efetuam

esta análise objetiva de crédito, tendo como base informações acerca do proponente

ao crédito.

Além disso, pode- se elaborar um estudo aprofundado do método dos 5 C’s,

para utilizá-lo como ferramenta subjetiva de análise, adaptando-a a realidade da

empresa.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A administração das contas a receber que compreende a concessão de

crédito, é sem dúvida um dos mais importantes fatores competitivos, e de sucesso

empresarial. A empresa que oferece este serviço ao consumidor cria oportunidades

de captar mais clientes, girar seu estoque, e investir em um ativo que realmente

agrega valor as suas ofertas.

Na Casa da Informática a concessão de crédito ao cliente é sem dúvida uma

das suas principais vantagens competitivas, e por isso, nota-se que as modalidades

de venda a prazo, com carnê ou cheque, são as mais oferecidas, e ainda as mais

solicitadas pelos clientes. Como reflexo, a empresa é obrigada a adotar uma postura

condizente a situação em que está se posicionando perante o mercado, e

principalmente com relação a sua administração financeira.

Como facilitador de vendas, o credito deve ser compreendido dentro da

empresa como um investimento, e como tal, deve possuir políticas próprias para o

controle, e ferramentas de gestão de risco. Essa gestão não considera somente a

análise dos cadastros de clientes e informações externas, mas compreende a

capacidade financeira da empresa de conceder o crédito, e isso envolve: possuir

recursos a curto prazo para mantê-lo(capital de giro), sem comprometer os

investimentos em outros ativos; desenvolver uma política de crédito e cobrança,

alinhada a estratégia de gestão de risco; e principalmente ferramentas que

monitoram constantemente o comportamento das contas a receber(crédito), evitando

perdas com inadimplentes, e custos com cobranças.

Essas ferramentas se comportam como critérios a serem adotados junto à

decisão de conceder ou não, o crédito. Pois, em situações em que a inadimplência

esta alta, o mercado está em crise, e os custos de cobrança estão demasiadamente

altos, é o momento de restringir ou contrair o crédito, medindo e direcionando os

esforços, a fim de estabilizar as finanças, sempre preocupado com a saúde

financeira e a solvência da empresa.

Já em situações contrárias, com a inadimplência controlada, mercado

aquecido e ao mesmo tempo, com os recursos direcionados a cobrança reduzidos, o

momento é de flexibilizar o crédito, buscando oportunidades de crescimento e

volume de vendas.

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Entretanto, muitas empresas se utilizam da concessão de crédito, como

estratégia empresarial, almejando também o aumento no volume de vendas e a

conquista de mercado. E isso, não é diferente no setor e no mercado em que a Casa

da Informática atua, ou seja, seus concorrentes também oferecem crédito aos seus

clientes. Porém, para que uma empresa possa aproveitar as oportunidades da

concessão de crédito, precisa inicialmente de uma estrutura física adequada e

capital humano competente para efetuar a administração de contas a receber, a

análise e concessão do crédito, e a gestão de risco.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO

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Planilha eletrônica de renegociação

Av. Jacob Lameu Tavares, 185 –

centro

Tijucas – SC Fone: (48) 3263-2150

CNPJ:

03.131.675/0001-68

I.E. : 253.889.197

Valor devido: R$124,02

Parcelamento: 1 R$ 124,02

2 R$ 64,81

3 R$ 43,84

4 R$ 33,36

5 R$ 27,08

6 R$ 22,89

7 R$ 19,91

8 R$ 17,67

9 R$ 15,93 10 R$ 14,54

Atenciosamente,

Setor de cobranças – Casa da Informática

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