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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE TECNOLOGIA MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO SÂNZIA BEZERRA RIBEIRO ANÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS DOS TRABALHADORES RURAIS NO PROCESSO DE COLHEITA DO ABACAXI JOÃO PESSOA - PB 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE TECNOLOGIA

MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

SÂNZIA BEZERRA RIBEIRO

ANÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS DOS

TRABALHADORES RURAIS NO PROCESSO DE COLHEITA

DO ABACAXI

JOÃO PESSOA - PB

2005

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SÂNZIA BEZERRA RIBEIRO

ANÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS DOS TRABALHADORES

RURAIS NO PROCESSO DE COLHEITA DO ABACAXI.

Dissertação apresentada à banca examinadora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, (área de Ergonomia), promovido pela Universidade Federal da Paraíba, como requesito final para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção.

Orientador: Prof. Dr. Paulo José Adissi

Co-orientador: Prof. Phd. Francisco Soares Másculo

JOÃO PESSOA - PB

2005

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R484a Ribeiro, Sânzia Bezerra Análise dos riscos ergonômicos dos trabalhadores rurais no

processo de colheita do abacaxi / Sãnzia Bezerra Ribeiro - João Pessoa, 2005.

158f. il.: Orientadora: Prof..Dr. Paulo José Adissi Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Programa de

Pós graduação em Engenharia de Produção / UFPB.

1 Análise Ergonômica do Trabalho 2. Trabalhador Agrícola 3. Abacaxicultura I. Título.

CDU: 614.8:634.774 (043)

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SÂNZIA BEZERRA RIBEIRO

ANÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS DOS TRABALHADORES

RURAIS NO PROCESSO DE COLHEITA DO ABACAXI

Dissertação apresentada e aprovada em _____ de ____________ de 2005, como requisito

parcial para obtenção do grau de mestre em Engenharia de Produção.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Paulo José Adissi (UFPB) (Orientador)

Prf. PhD Francisco Soares Másculo (UFPB) (Co-orientador)

Dra. Eliane Araújo de Oliveira (UFPB) (Examinadora Externa)

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A minha mãe que nunca deixou de

acreditar em mim e me deu todo

incentivo desde os primórdios da minha

formação educacional.

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AGRADECIMENTOS

A Deus meu Criador e Redentor pela força e amor a mim dispensado ao longo

dessa jornada;

A minha mãe que nunca desiste de acreditar em mim e fez tudo que estava ao seu

alcance para que hoje eu estivesse aqui!

Meu pai (in memorian) por ter sido meu exemplo de luta e determinação enquanto

esteve comigo;

Minha família pelo apoio sempre;

Meu orientador Paulo Adissi que caminhou comigo a segunda milha dessa jornada

ao meu lado sempre, como um verdadeiro “PAIFRESSOR”;

Aos professores Francisco Másculo, Eliane Araújo e Claúdia Gatto pela orientação

em todas as etapas desse estudo;

À Professora Márcia Souto por sua amizade e colaboração em meu estágio

docência;

Aos demais professores desse departamento por terem contribuído para meu

desenvolvimento científico e também pessoal;

Aos colegas do mestrado pelo companherismo;

Aos funcionários do departamento pela disposição de servir;

A Rosangela Herculano que não mede esforços quando se trata de proporcionar o

melhor;

A Rosangela Gonçalves pela amizade e pelo apoio na normatização desse trabalho;

Ao colega Ivan pela sua participação e grande colaboração no inicio desse estudo;

Aos amigos Jackson e Rêmulo e meu aluno Idiel pela colaboração na finalização

desse trabalho;

Aos trabalhadores rurais da colheita do abacaxi que como voluntários contribuíram

para o progresso dessa área de pesquisa;

A minha amada igreja adventista do 7º dia/central de João Pessoa pelo apoio

espiritual e em especial os amigos Carlos Narciso, Claúdia Virginia e ao Grupo Dedic’art pelo

apoio através da sua amizade e orações;

A todos que direta e indiretamente contribuíram para que esse estudo pudesse ser

realizado.

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“Das fructas do paiz a mais louvada é o régio ananás, fructa

tão boa que a mesma natureza namorada quis como rei cingi-la de

coroa”.

Santa Rita Durão, 1781 – Caramuru

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RESUMO

O trabalho agrícola, apesar do processo de modernização experimentado, onde os maquinários cada vez mais substituem a força humana, ainda exige o carregamento de elevadas cargas e a adoção de posturas que podem comprometer a saúde dos trabalhadores. Isto ocorre tanto nos sistemas operacionais manuais como nos mecanizados. A atividade abacaxizeira, objeto de análise desse estudo, emprega sistemas mecanizados apenas nas pontas do processo de produção, quais sejam: a preparação do terreno para o plantio e o transporte do produto colhido. As demais fases são realizadas em sistemas manuais, onde elevadas cargas físicas são exigidas dos trabalhadores. Este estudo procurou realizar uma análise ergonômica do trabalho com ênfase na identificação das posturas e cargas solicitadas aos trabalhadores da colheita de abacaxi a fim de verificar os riscos potenciais de comprometimentos fisiológicos ocupacionais. A pesquisa baseou-se na observação direta do trabalho de duas típicas turmas de colheita formada por 14 trabalhadores (cada turma) sendo 4 catadores, 6 balaieiros, 2 arrumadores e 2 contadores. No tratamento e análise dos dados posturais registrados foram utilizados os programas WinOwas (Ovako Working Postures Analysing System) e o HARSim (Humanoid Articulation Reaction Simulation) para analisar estaticamente a atividade do balaieiro,por ser identificada como a mais crítica da colheita no que diz respeito a carregamento de cargas. Na análise, observou-se que para as cargas de 803N, 549N e 525N correspondentes à média das cargas nas colheitas do tipo A, B e C respectivamente, as forças axiais encontraram-se acima do limite de segurança (750N) em todos os segmentos vertebrais lombares e a maioria dos segmentos torácicos. Quanto à força de cisalhamento, o limite (500N) foi ultrapassado em T2, T12 e L5 para a carga de 803N.As pressões intervertebrais para a carga de 803N estiveram acima do limite de segurança (2MPa) entre T10 – T6 e C7-C3, enquanto que, para as cargas de 549N e 525N encontraram-se acima dos limites de segurança entre C7-C4. Dessa forma, os resultados apontaram um conjunto de posturas críticas e cargas que podem comprometer a saúde dos trabalhadores verificando-se a necessidade de se redesenhar as tarefas para evitar agravos profissionais e promover o enquadramento legal da atividade.

Palavras-chave: Análise Ergonômica do Trabalho. Trabalhador Agrícola. Abacaxicultura

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ABSTRACT

Despite the modernization process that there has been experienced, in which machines have substituted the human force, rural work still requires the loading of heavy loads and the adoption of postures that can compromise the health of workers. This happens both in manual operational systems as in mechanized ones. The pineapple crop activity, subject matter of analysis of this study, employs mechanized systems only in the extremities of the production process, which are: terrain preparation for planting and transportation of the harvested produce. The other phases are done in manual systems, in which elevated physical loads are required from workers. This study had the objective to do an ergonomic analysis of the work with emphasis on the identification of postures and loads required from workers in the pineapple harvest process in order to verify the potential risks of occupational physiological problems. This research was based on direct observation of the work of two typical harvest groups formed by 14 workers (each group), being 4 catchers, 6 basket carriers, 2 organizers and 2 counters. For treatment and analysis of postural data it was used the WinOwas (Ovako Working Postures Analysing System) program, whereas for the data related to the activities of the basket carriers it was used o HARSim ( Humanoid Articulation Reaction Simulation) since these activities were identified as the most critical when it comes to the loading of loads. In the analysis, it was observed that for the loads of 803N, 549N and 525N corresponding to the average of loads in the harvest types A, B, and C, respectively, the axial forces were found to be above the safety limit (750N) in all the lombar vertebral segments and in the majority of the thoraxical segments. In relation to the force of attrition, the limit (500N) was surpassed in T2, T12 and L5 for the load of 803N. The intervertebral pressures for the load of 803N were above the safety limit (2MPA) between T10 – T6 and C7 – C3, whereas for the loads of 549N and 525N those pressures were above the safety limits between C7 – C4. Thus, the results pointed out a group of critical postures and loads that can compromise the health of workers. Furthermore, it was verified a need to redraw the tasks in order to avoid professional problems and in order to promote the legal fitting of the pineapple harvest activities. Key words: Ergonomic Analysis of Work. Rural Worker. Pineapple Crop

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2 - Colheita semi-mecanizada .......................................................................................43 Figura 3 - Vista anterior e perfil da coluna vertebral ...............................................................57 Figura 4 - Disco intervertebral..................................................................................................59 Figura 5 - Deslocamento do núcleo pulposo do disco intervertebral .......................................59 Figura 6 - Resultante do peso corporal na postura ereta...........................................................60 Figura 7 - Forças de reação num levantamento de peso...........................................................75 Figura 8 - Força de reação e força de cisalhamento (L5/S1) com carga ..................................76 Figura 9 - Agentes sociais do processo produtivo da cultura do abacaxi na Paraíba. ..............92 Figura 11 - Chegada dos trabalhadores no campo: transporte irregular...................................95 Figura 12 - “Mesada” ...............................................................................................................96 Figura 13 - Trabalhador bebendo água.....................................................................................97 Figura 14 - Relação 2:1 (catador-balaieiro)............................................................................101 Figura 15 - Catação do fruto...................................................................................................102 Figura 16 - Colocação do fruto no balaio...............................................................................102 Figura 17 - Fases da atividade do balaieiro ............................................................................104 Figura 18 - Descarregamento do fruto pelo contador.............................................................110 Figura 19 - Arrumação da carga .............................................................................................110 Figura 20 - Equipamentos de proteção individual..................................................................112 Figura 21 - Postura inadequada dos arrumadores...................................................................114 Figura 22 - Postura inadequada do catador e balaieiro...........................................................114 Figura 23 - Ilustração do software HARSim do balaieiro com um balaio cheio de abacaxi sobre a cabeça.........................................................................................................................121

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Porcentagem da produção nacional........................................................................33 Gráfico 2 - Gráfico das forças que agem na coluna vertebral a 90o de flexão anterior do tronco: atividade do borracheiro de afrouxar ou apertar a roda com chave em cruz. ..............78 Gráfico 3 - Classificação das posturas do cortador. ...............................................................117 Gráfico 4 - Classificação das posturas do balaieiro...............................................................118 Gráfico 5 - Classificação das posturas do arrumador .............................................................119 Gráfico 6 - Força axial sobra a coluna vertebral de um balaieiro submetido a uma carga de 1000N – Perfil antropométrico: 1,70m e 90kg. ......................................................................122 Gráfico 7 - Forca de cisalhamento sobre a coluna vertebral de um balaieiro submetido a uma cargade1000N. Perfil antropométrico: 1,70m e 90 kg............................................................123 Gráfico 8 - Pressão intradiscal da coluna vertebral de um balaieiro submetido a uma cargade1000N.– Perfil antropométrico: 1,70m e 90 kg. ........................................................124 Gráfico 9 - Força de cisalhamento da coluna cervical para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg. ...................................................................................................................................125 Gráfico 10 - Força de cisalhamento na coluna torácica para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg. ...................................................................................................................................126 Gráfico 11 - Força de cisalhamento na coluna lombar para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg. ...................................................................................................................................126 Gráfico 12 - Força axial no segmento cervical para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg.................................................................................................................................................127 Gráfico 13- Força axial no segmento torácico para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg.................................................................................................................................................128 Gráfico 14 - Força axial no segmento lombar para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg. 129 Gráfico 15 - Pressão intradiscal de C1 a C7...........................................................................130 Gráfico 16 - Pressão intradiscal de T1 a T12. .......................................................................131 Gráfico 17 - Pressão intradiscal de L1 a L5. .........................................................................132

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Dados mundiais da área colhida, produção e produtividade do abacaxi em 2003. 31 Quadro 2 - Dados sobre produção, área plantada, e produtividade da cultura do abacaxi dos principais produtores do Brasil entre 90 e 2002. ......................................................................32 Quadro 3 - Produção anual do abacaxi em no frutos, caminhões e hectare da região do Baixo-Paraíba/PB. ...............................................................................................................................34 Quadro 4 - Produção em 2003 em no de frutos e área plantada em hectare dos principais produtores da região do Baixo-Paraíba/PB. .............................................................................34 Quadro 5 - Peso do fruto conforme o tipo. ...............................................................................45 Quadro 6 - Cargas sobre o Disco L-3 em um indivíduo com 70kg..........................................63 Quadro 7 - Pressão intradiscal e forças compressivas em L3-L4.............................................66 Quadro 8 - Localização das dores no corpo provocadas por posturas inadequadas.................71 Quadro 9 - Codificação da postura com o método OWAS. .....................................................73 Quadro 10 - Descrição dos objetivos da pesquisa e as respectivas variáveis e instrumentos e/ou técnicas utilizados para alcançá-los. ..............................................................................86 Quadro 11 - No de turmas por município da região do Baixo-Paraíba/PB. ............................93 Quadro 12 - Cronometragem das atividades do balaieiro na colheita de abacaxi tipo A.......106 Quadro 13 - Cronometragem das atividades do balaieiro na colheita do Tipo B...................107 Quadro 14 - Cronometragem das atividades do balaieiro na colheita do abacaxi Tipo C. ....107 Quadro 15 - Tempos seguros e inseguros com permanência da carga nos tipos de colheita. 108 Quadro 16 - Média de tempo total (min) do ciclo. .................................................................109 Quadro 17 - Riscos presentes na colheita do abacaxi relatados pelos componentes de uma turma.......................................................................................................................................113 Quadro 18 - Classificação das categorias do WinOWAS ......................................................119 Quadro 19 - Medidas antropométricas dos balaieiros ............................................................121

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - GÊNESE DA PESQUISA ...........................................................................13 1.1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................14 1.2 OBJETIVOS.......................................................................................................................16 1.2.1 Objetivo Geral .................................................................................................................16 1.2.2 Objetivos Específicos ......................................................................................................16 1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO .......................................................................................16 CAPÍTULO 2 - O TRABALHO AGRÍCOLA E A CULTURA DO ABACAXI..............18 2.1 DEFINIÇÃO DE TRABALHO .........................................................................................19 2.2 TRABALHO AGRÍCOLA.................................................................................................20 2.3 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO AGRÍCOLA ....................................................21 2.4 O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA.......................................................22 2.5 HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO .................................................................24 2.5.1 Definição de Risco ..........................................................................................................25 2.5.2 Classificação dos Riscos..................................................................................................25 2.5.3 Saúde do Trabalhador......................................................................................................27 2.5.4 Saúde do Trabalhador Agrícola.......................................................................................27 2.6 CULTURA DO ABACAXI ...............................................................................................28 2.6.1 Origem.............................................................................................................................28 2.6.2 Dados Estatísticos da produção Mundial, Nacional e do Estado da Paraíba...................30 2.7 SISTEMA DE PRODUÇÃO DO ABACAXI....................................................................34 2.7.1 Preparação do Terreno.....................................................................................................36 2.7.2 Plantio..............................................................................................................................36 2.7.3 Tratos Culturais ...............................................................................................................38 2.7.3.1 Limpas ..........................................................................................................................38 2.7.3.2 Adubação......................................................................................................................39 2.7.3.3 Indução floral................................................................................................................40 2.7.3.4 Controle de Pragas e Doenças ......................................................................................41 2.7.3.5 Colheita.........................................................................................................................42 2.8 SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO .............................................................................43 2.8.1 Aspectos Econômicos e de Comercialização ..................................................................44 CAPÍTULO 3 - ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO E BIOMECÂNICA OCUPACIONAL ....................................................................................................................48 3.1 ERGONOMIA....................................................................................................................49 3.2 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO .................................................................50 3.3 BIOMECÂNICA OCUPACIONAL ..................................................................................52 3.3.1 Trabalho Estático x Trabalho Dinâmico..........................................................................53 3.3.2 Trabalho Pesado ..............................................................................................................55 3.3.3 Biomecânica da Coluna Vertebral...................................................................................56 3.3.4 Unidade Funcional da Coluna Vertebral .........................................................................58 3.3.5 Forças Aplicadas .............................................................................................................60 3.4 LEGISLAÇÃO ...................................................................................................................66 3.5 POSTURA HUMANA.......................................................................................................67 3.5.1 A Postura Adequada e a Postura Inadequada ..................................................................69 3.6 ANÁLISE ERGONÔMICA/BIOMECÂNICA..................................................................71 3.7 REGISTRO E ANÁLISE DA POSTURA .........................................................................72 3.7.1 Sistema OWAS (Ovako Working Posture Analising System)........................................72

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3.7.2 Modelo Biomecânico.......................................................................................................74 CAPITULO 4 - METODOLOGIA .......................................................................................80 4.1 NATUREZA DA PESQUISA............................................................................................81 4.2 TIPO DE PESQUISA.........................................................................................................81 4.3 UNIVERSO E AMOSTRA DA POPULAÇÃO PESQUISADA ......................................82 4.4 IDENTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS..............................................................................82 4.5 INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS .........................................83 4.6 ETAPAS DO ESTUDO .....................................................................................................84 4.8 QUADRO DE SÍNTESE DAS ETAPAS DA PESQUISA................................................85 4.9 ASPECTOS ÉTICOS .........................................................................................................86 CAPITULO 5 - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.....................87 5.1 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO NA COLHEITA DO ABACAXI............88 5.1.1 Produtores Rurais da Cultura do Abacaxi .......................................................................88 5.1.2 Agentes Sociais da Atividade ..........................................................................................88 5.2 PERFIL DOS TRABALHADORES RURAIS DA COLHEITA DO ABACAXI ............92 5.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .................................................................................94 5.3.1 Jornada de Trabalho.........................................................................................................94 5.3.2 Pausas ..............................................................................................................................96 5.3.3 Forma de Pagamento .......................................................................................................98 5.3.4 Previdência Social ...........................................................................................................99 5.3.5 Treinamento.....................................................................................................................99 5.3.6 Motivação e Satisfação no Trabalho .............................................................................100 5.4 PROCESSO DE COLHEITA NA REGIÃO DO BAIXO – PARAÍBA..........................101 5.5 CONDIÇÕES DE TRABALHO ......................................................................................111 5.6 SEGURANÇA NO TRABALHO - RISCOS PRESENTES NA COLHEITA DO ABACAXI..............................................................................................................................112 5.7 DOR NAS COSTAS ........................................................................................................115 5.8 ANÁLISE BIOMECÂNICA............................................................................................116 CAPITULO 6 - CONCLUSÕES E SUJESTÕES..............................................................133 6.1 CONCLUSÕES................................................................................................................135 6.2 SUGESTÕES ...................................................................................................................139 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................141 APÊNDICE A – Formulário da Pesquisa..............................................................................147 APÊNDICE B – Roteiro de Entrevista..................................................................................150 APÊNDICE C – Roteiro da Organização do Trabalho do Balaieiro na Colheita do Abacaxi................................................................................................................................................152 APÊNDICE D – Quadros das forças de cisalhamento, axiais e pressões intradiscais nos três segmentos da coluna vertebral para as cargas de 803N, 549N e 525N. .................................154 ANEXO A - Certidão do Comitê de Ética .............................................................................157

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CAPÍTULO 1 - GÊNESE DA PESQUISA

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1.1 INTRODUÇÃO

De acordo com Rodrigues (2001), os riscos ergonômicos são introduzidos no

processo de trabalho devido a uma inadequação de máquinas, métodos, do ambiente de

trabalho entre outros agentes, gerando limitações dos seus usuários provocando lesões

crônicas de origem física ou ainda, psicofisiológica. São exemplos de riscos ergonômicos as

posturas inadequadas desenvolvidas na realização do trabalho, levantamento e transporte

manual de peso, ritmo excessivo de trabalho, monotonia, repetitividade, trabalhos em turnos,

etc.

Os riscos ergonômicos podem estar presentes em qualquer situação de trabalho

seja ele estruturado ou não. As atividades agrícolas são situações de trabalho não-estruturadas

onde devido à mobilidade física e funcional dos trabalhadores torna-se difícil definir o posto

de trabalho e os mesmos são expostos a vários riscos, dentre eles os riscos ergonômicos, uma

vez que executam suas atividades em posturas inconvenientes, exercendo grandes forças

musculares, em ambientes que oferecem condições desfavoráveis como a exposição direta ao

sol, chuva e ventos (IIDA, 1990).

Os estudos realizados na área de Ergonomia aplicada à Agricultura em nível

nacional e internacional têm contribuído de forma satisfatória na análise desse ramo de

atividade trazendo inovações importantes quanto à ergonomia de produtos (maquinários,

equipamentos e instrumentos agrícolas), bem como novas metodologias que facilitam a

realização do trabalho agrícola. Porém especificamente quanto aos estudos em ergonomia

agrícola da cultura do abacaxi a existência de pesquisas nessa área é escassa.

Em nosso estado, contamos com as contribuições científicas do GEA - Grupo de

Ergonomia Agrícola e Gestão Ambiental - do Departamento de Engenharia da Produção da

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UFPB, que desde 1996 tem realizado estudos com os trabalhadores rurais das principais

culturas da região do Baixo-Paraíba/PB, inclusive da cultura do abacaxi.

Estudos têm demonstrado que os riscos ergonômicos contribuem para o

surgimento de problemas osteomusculares, principalmente as lombalgias, no ambiente de

trabalho sendo essa atualmente a principal causa dos altos índices de absenteísmo nas

empresas dos diversos setores produtivos, incluindo o setor agrícola.

Tem-se conhecimento de alguns estudos relacionados ao campo da biomecânica

ocupacional em trabalhadores manuais, que objetivaram quantificar o estresse postural dos

mesmos. Cartaxo (1997) realizou um estudo ergonômico do posto de trabalho do armador de

laje quantificando os esforços da coluna vertebral a partir das posturas adotadas pelos

mesmos na realização de sua atividade laboral. Em estudo similar, Santos (2002) estudou a

relação entre o estresse postural e a exigência muscular na região lombar em borracheiros.

Porém, não temos conhecimento de estudos semelhantes realizados com trabalhadores rurais,

bem como trabalhadores rurais da colheita do abacaxi que é o objeto do nosso estudo.

Sendo a Paraíba um dos maiores produtores de abacaxi do Brasil e reconhecendo

sua importância econômica no cenário nacional e mundial, percebe-se a necessidade de

aprofundar estudos nessa área de pesquisa, buscando melhorias no processo, na relação

homem x tarefa e conseqüentemente, na produtividade dessa cultura em nossa região.

Apesar da mecanização agrícola existente nas diversas fases dos processos

agrícolas de várias culturas, o processo produtivo da cultura do abacaxi ainda é realizado

quase que totalmente de forma manual.

As atividades desenvolvidas na fase da colheita fazem uso essencialmente do

trabalho manual e costumam ser as que mais expõem os trabalhadores a riscos ergonômicos,

exigindo elevados esforços físicos e posturas inadequadas às condições humanas, decorrentes

da retirada, carregamento e arrumação dos produtos colhidos.

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Diante do exposto, esse estudo buscou responder os seguintes questionamentos:

A que riscos ergonômicos se encontram submetidos os trabalhadores rurais da

colheita do abacaxi?

As cargas demandadas pelas atividades da colheita contribuem para o aumento

do estresse postural desses trabalhadores?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Analisar os riscos ergonômicos dos trabalhadores rurais da colheita do abacaxi.

1.2.2 Objetivos Específicos

• Identificar e descrever o processo de colheita da cultura do abacaxi realizado

no município de Santa Rita/PB.

• Fazer análise ergonômica da atividade da colheita do abacaxi.

• Analisar a biomecânica da coluna vertebral dos trabalhadores rurais da

colheita do abacaxi.

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

Essa dissertação, para efeito de melhor compreensão, encontra-se dividida em seis

capítulos, além das referências, dos apêndices e anexos que a compõem.

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Neste Capítulo foi abordada a gênese da pesquisa apresentando-se a problemática

do estudo e seus objetivos.

No Capítulo II, apresenta-se a revisão bibliográfica sobre o trabalho agrícola e

suas características, Higiene e Segurança do Trabalho com enfoque na classificação dos

riscos ocupacionais, a Cultura do Abacaxi destacando todas as fases do processo produtivo

dessa cultura, bem como seu Sistema de Comercialização.

No Capitulo III, explana-se sobre a Análise Ergonômica do Trabalho e a

Biomecânica Ocupacional enfatizando a biomecânica da coluna vertebral e os estudos

realizados no que diz respeito as forças impostas a essa estrutura, em atividades de vida

diária, esportiva e trabalho, apresentando ainda os softwares utilizados na realização desses

estudo.

O Capitulo IV apresenta a metodologia empregada nesse estudo discriminando a

caracterização da amostra, natureza e tipo de pesquisa, as variáveis e os procedimentos para

coleta e análise dos dados.

No Capítulo V, apresenta-se e discute-se os resultados da pesquisa, descrevendo o

processo de colheita do abacaxi do município de Santa Rita/PB, bem como, analisando as

posturas adotadas pelos trabalhadores ao longo da jornada de trabalho e a biomecânica das

forças da coluna vertebral do balaieiro.

Finalmente, no Capitulo VI, fez-se as conclusões e sugestões tanto para superação

dos problemas estudados, como em temas de desenvolvimento de novos trabalhos.

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CAPÍTULO 2 - O TRABALHO AGRÍCOLA E A CULTURA DO

ABACAXI

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2.1 DEFINIÇÃO DE TRABALHO

O trabalho é a mola mestra da atividade humana, da dinâmica produtiva. É um dos

poucos fatores essenciais na criação de recursos e de desenvolvimento das sociedades. Dele

nascem a tecnologia, as organizações produtivas, os sistemas de troca que constituem os

mercados, os recursos que possibilitam a vida individual e coletiva. Ele encontra-se no âmago

da possibilidade de satisfação de um sem número de necessidades humanas, das mais básicas

às mais fúteis (RIO, 1998).

A ampliação dessas necessidades favorece o desenvolvimento das relações sociais

que irão determinar a visão histórica do trabalho e dessa forma, subordinar o trabalho às

formas sociais (escravismo, feudalismo, capitalismo) historicamente limitadas e às

correspondentes organizações técnicas que caracterizam o chamado modo de produção

(BRAVERMAN, 1987 apud DELIBERATO, 2002).

Fialho e Santos (1997) mostram alguns pontos de referência sobre o trabalho entre

eles, o ponto de vista bíblico onde se pode perceber o envolvimento do trabalho com a noção

geral de pena, de sofrimento: “... maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o

sustento durante os dias de tua vida” (Gên.3:17).

Esse pensamento permaneceu por muito tempo ao longo da história onde na

antiguidade até a Idade Média o trabalho foi primeiramente considerado coisa de escravos, e

depois de serviçais, ou seja, de seres considerados inferiores na sociedade e na natureza.

Dessa forma, os nobres eram responsáveis por criar, planejar o trabalho (trabalho-ergon-

realização) enquanto que os escravos e servos eram responsáveis pela execução do mesmo

(trabalho-ponos-sofrimento).

Tal visão negativa do trabalho só foi transformada em uma forma positiva pelos

mercadores burgueses da alta idade média e início da idade moderna.

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Estes homens enriqueceram quando passaram a financiar as guerras dos reis

europeus e permitiram que fossem formados os primeiros estados nacionais com regras de

comércio exterior baseadas no monopólio (MACHADO; SCHIRMER, 2000).

Porém, a definição geral que os autores citados descrevem é a que o trabalho

refere-se a uma atividade obrigatória que engloba o trabalho assalariado, o trabalho produtivo

individual (artesão, agricultor, escritor, etc), o trabalho familiar e escolar.

2.2 TRABALHO AGRÍCOLA

A agricultura é uma atividade em que freqüentemente se encontram todos os tipos

de trabalho humano: trabalho primário, propriamente dito sobre a terra e seus produtos,

trabalho secundário de fabricação e reparo de ferramentas; e o trabalho terciário de

comercialização (SANTOS; FIALHO, 1997).

Através da agricultura o homem pôde ampliar seu ambiente, aumentou a utilização

de recursos naturais, provocando mudanças de valores nas sociedades, além de induzir a

criação de ambientes artificiais (LIMA, 1995 apud MONTEIRO, 2001). Sendo uma das

práticas mais antigas realizadas pelo homem, a agricultura marca o início da produção

racional de alimentos e a fixação do homem à terra que deixa a sua condição nômade e a

relação extrativista com a natureza, para manter uma relação mais ativa, transformadora e

realizadora com a mesma (RIBEIRO, 1983 apud ADISSI, 1997).

Apesar da aquisição da consciência de sua participação ativa no trabalho, o homem

percebe não ser o único agente do processo de transformação de semente em fruto: as suas

ações de acompanhamento da vida vegetal e busca de novas técnicas e recursos na melhoria

do processo estariam subordinados às leis naturais, consideradas como de origem divina

(FREYER, 1965 apud ADISSI, 1997).

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2.3 CARACTERÍSTICAS DO TRABALHO AGRÍCOLA

As atividades agrícolas são situações de trabalho não-estruturadas onde, devido à

mobilidade física e funcional dos trabalhadores, torna-se difícil definir o posto de trabalho.

Os trabalhadores rurais, em geral, executam suas atividades em posturas inconvenientes,

exercendo grandes forças musculares durante o manuseio e transporte de cargas, em

ambientes que oferecem más condições de trabalho sob vários aspectos, além de propiciar a

exposição direta do trabalhador ao sol, chuva e ventos entre outras intempéries da natureza

no caso do trabalho realizado a céu aberto (IIDA, 1990).

Além dessas características mais comuns podemos ainda citar que as

irregularidades dos solos, o aumento do esforço físico dos trabalhadores, o desconforto

ambiental, as dificuldades de higienização e a força de trabalho altamente heterogênea

(idosos, crianças, homens, mulheres...) apresentam elevados diferenciais entre os indicadores

de produtividade do trabalho como características presentes no trabalho agrícola.

No trabalho agrícola ainda é possível observar grandes variações (culturas com

ciclo produto mais curto ou mais longo) conforme os períodos em particular do ciclo sazonal

das diversas culturas e das mudanças climáticas em áreas geográficas diferenciadas, bem

como da locação de material de custo elevado nas várias fases do processo produtivo

(WISNER, 1987).

A existência de grandes diferenciais entre o tempo de produção e o tempo de

trabalho é outra característica importante do trabalho agrícola. Na maioria das situações

agrícolas, os tempos de espera são bastante superiores ao tempo de trabalho. Técnicas

implantadas para diminuir o tempo de trabalho, em geral, não resultam na diminuição do

tempo de produção, acarretando em um aumento maior do tempo de espera (GRAZIANO DA

SILVA:1981 apud ADISSI, 1997).

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Adissi (1997) relata que o tempo do ciclo vegetativo da cultura também caracteriza

o trabalho agrícola onde esse pode ou não coincidir com o tempo de produção sendo

dependente das características de cada cultura. Sendo assim, as culturas temporárias vivem

apenas um ciclo produtivo (crescem, florescem, frutificam e morrem), enquanto que as

culturas permanentes ou semi-permanentes sobrevivem vários ciclos produtivos (florescem e

frutificam todos os anos, ou até mesmo mais de uma vez no mesmo ano).

Apesar do avanço da mecanização em várias culturas, grande parte do trabalho

agrícola ainda é realizado manualmente, de forma artesanal, onde o trabalhador fabrica seus

próprios instrumentos, adequando-os às suas próprias condições corporais e de manejo.

A biotecnologia na produção de espécies geneticamente modificadas para

suportarem melhor as modificações climáticas, o ataque de pragas e a própria melhora da

qualidade do produto não é utilizada de forma generalizada pelos produtores brasileiros. Essa

característica, aliada ao fato de que o conhecimento de métodos e técnicas que favoreçam o

aumento da qualidade e produtividade das culturas é privilégio de poucos produtores

(CUNHA, 2004).

As tentativas de prescrever os modos operatórios do trabalho agrícola, geralmente

são mal-sucedidas, fato esse que permite uma relativa liberdade na execução do trabalho por

parte dos trabalhadores rurais. Isso é devido à grande diversidade das situações do trabalho,

dependente das variações naturais de relevo, clima, solo, espaçamento das lavouras entre

outros fatores que exige adaptações nos modos operatórios, bem como, dificulta à supervisão

e controle do trabalho agrícola (ADISSI,1997).

2.4 O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA

De acordo com Adissi (1997) cinco vertentes tecnológicas participam do processo

de modernização da agricultura: a mecanização, a quimificação, o domínio das águas, o

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domínio biológico e as mudanças gerenciais, estando presentes na agricultura desde os

primórdios.

A mecanização agrícola através da utilização de mecanismos movidos pelo

próprio homem, por animais, por outras máquinas ou por eles próprios (autopropulsados),

favorece a diminuição da energia humana consumida no processo de trabalho. Tal processo de

modernização dá-se por sucessivas substituições de sistemas mecânicos por outros que

necessitam de uma menor participação da força humana, por exemplo, quando ocorre a

substituição das ferramentas manuais por tração animal e esta por tratores e máquinas

agrícolas com implementos.

A eliminação de operações manuais, bem como a exigência de outras, a

intensificação e elevação do ritmo de trabalho, a introdução de novos padrões de qualidade de

produção e o aumento da produtividade são algumas das alterações presentes no conjunto das

operações agrícolas quando o trabalho manual é substituído pelo mecanizado. Porém, em

algumas atividades agrícolas o trabalho mecanizado, apesar de ser mais produtivo, apresenta-

se qualitativamente inferior ao trabalho manual.

Além disso, existe o impacto da mecanização sobre a mão-de-obra que

desemprega trabalhadores manuais e exige trabalhadores com novas qualificações. Esse

processo agrava, ainda mais a demanda de mão-de-obra agrícola já condicionada a

sazonalidade das culturas.

Na quimificação, a potencialização das ações humanas acontece com a utilização

de produtos químicos que modificam as condições naturais de todo eco-sistema responsável

pelo desenvolvimento da fauna e flora. Assim como a mecanização, a quimificação ao

substituir operações manuais exige novas qualificações operárias, além de reduzir a oferta de

emprego.

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Adissi (1997), cita como exemplo, a utilização de herbicidas que combatem as

ervas daninhas dispensando as capinas manuais com enxada, o que, em termos de emprego,

pode significar 30 trabalhadores manuais substituídos por um aplicador, podendo esta relação

aumentar significativamente quando se tratar de herbicidas pré-emergenciais que evitam o

nascimento das ervas e têm um efeito mais prolongado que os pós-emergenciais. Nesse

exemplo, a quimificação reduz o tempo de trabalho sem alterar o tempo de produção.

A partir da necessidade de melhor distribuir a água para as plantações, o domínio

das águas foi uma das primeiras intervenções técnicas do homem sobre a produção agrícola.

As técnicas modernas de irrigação apresentam-se nos sistemas: de canais, de inundação, por

aspersão, por gotejamento e as modernas técnicas de hidroponia, podendo a irrigação ser

combinada a operação de adubação ou de controle de pragas.

Outra vertente tecnológica da modernização seria o domínio biológico onde um

conjunto de conhecimentos das diversas áreas da Biologia e da Engenharia Genética passaram

a ser, progressivamente, incorporados pela agricultura, através da seleção de variedades, do

desenvolvimento genético de novas variedades e do controle biológico de pragas.

Finalmente, ao discorrer sobre a vertente das mudanças gerenciais, o autor

supracitado, relata que seu principal objetivo seria viabilizar as inovações procedentes das

demais vertentes atuando sobre a forma de organização do trabalho. Preocupações típicas

dessa vertente são a elevação da produtividade e o controle da mão-de-obra, através do

desenvolvimento de métodos de trabalho e da imposição de regras disciplinares que buscam a

intensificação e a subordinação real do trabalho (ADISSI,1997).

2.5 HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO

Conforme Faria (1984), a Higiene do Trabalho tem por objetivo estudar os fatores

determinantes do meio físico que envolve o trabalho do homem, visando a melhoria de suas

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condições, bem como a preservação da saúde humana, individual e coletiva, além da

prevenção de acidentes adotando um conjunto de normas e técnicas específicas, para cumprir

suas finalidades, sendo importante para isso, o conhecimento dos principais riscos à saúde do

homem no trabalho.

2.5.1 Definição de Risco

A norma OHSAS (Occupational Health and Safety Assessment Series) 18001

(1999) define risco como a combinação da probabilidade de ocorrência e da(s) conseqüência

(s) de um determinado evento perigoso.

Conforme a classificação da FUNDACENTRO (1978), podemos considerar os

seguintes fatores como constituintes dos riscos profissionais tanto de trabalhadores urbanos,

como dos trabalhadores rurais:

Fatores endógenos – como a fadiga do trabalhador, o desconhecimento do

risco que o trabalho representa, a falta de treinamento, entre outros.

Fatores exógenos – relacionados ao ambiente em que o trabalho se

desenvolve: tempertura, vento, umidade, vapores, fumaça, gases, etc.

2.5.2 Classificação dos Riscos

Segundo Rodrigues (2001) a legislação trabalhista brasileira classifica os riscos em

de acidentes, físicos, químicos, biológicos e ergonômicos. Os riscos de acidentes são aqueles

gerados pelos agentes que demandam o contato físico direto com a vítima manifestando

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assim, sua nocividade. Pode-se citar exemplos de riscos de acidentes ou mecânicos ao

trabalhador rural os instrumentos perfuro-cortantes como facões, enxadas, ansinhos.

Os riscos físicos representam uma troca brusca de energia entre o organismo e o

ambiente em uma quantidade acima daquela suportável pelo organismo humano podendo

levar ao desenvolvimento de uma doença profissional. São exemplos de riscos físicos as

temperaturas extremas, frio ou calor, ruído, vibrações e pressões elevadas. Os trabalhadores

rurais estão expostos a esses de maneira intensa, uma vez que desenvolvem suas atividades a

céu aberto e os maquinários agrícolas são caracteristicamente, agentes geradores de ruídos e

vibrações.

Os riscos químicos são aqueles gerados por agentes que modificam a composição

química do meio ambiente, como por exemplo, a utilização de tintas em algumas atividades,

agroquímicos, substâncias tóxicas que prejudicam o organismo. A aplicação de agrotóxicos e

demais agroquímicos utilizados nos tratos culturais são exemplos de riscos químicos que os

trabalhadores rurais estão expostos.

Os riscos biológicos são aqueles que apresentam organismos vivos como

geradores de doenças ocupacionais tais como: vírus, bactérias, fungos e parasitas. . No

trabalho rural podemos citar a exposição dos trabalhadores aos animais peçonhentos e a

precária higienização corpórea como situação de riscos biológicos.

Finalmente, os riscos ergonômicos são aqueles introduzidos no processo de

trabalho por agentes (máquinas, métodos, etc.) inadequados às limitações dos seus usuários

sendo caracterizados por atuarem sobre os indivíduos que utilizam esses agentes geradores de

risco, provocando lesões crônicas podendo ser de origem psicofisiológica. São exemplos de

riscos ergonômicos as posturas inadequadas desenvolvidas na realização do trabalho,

levantamento e transporte manual de peso, ritmo excessivo de trabalho, monotonia,

repetitividade e os trabalhos em turnos (RODRIGUES, 2001).

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2.5.3 Saúde do Trabalhador

As doenças ocupacionais/profissionais ou do trabalho são aquelas decorrentes de

exposições os trabalhadores aos riscos ambientais, ergonômicos ou de acidentes

caracterizando-se assim quando se estabelece o nexo causal entre os danos observados na

saúde do trabalhador e a exposição a determinados riscos ocupacionais levando a uma

alteração na sua qualidade de vida. Tais alterações podem ocorrer de várias formas

dependendo do tipo de agentes que estão atuando, do tempo de exposição, das condições

particulares de cada indivíduo e de fatores do meio em que se vive.

A saúde ocupacional ou profissional, conforme Deliberato (2002) implicaria no

conjunto de todas as estratégias utilizadas para melhorar a saúde dos trabalhadores, não

apenas no seu ambiente laboral, como também na comunidade. O autor complementa que a

eficácia de estratégias preventivas na relação saúde-doença do trabalhador depende do

conhecimento da história natural de cada distúrbio ocupacional.

A partir da ótica risco/dano deve-se levar em consideração cada agente envolvido

no processo, a importância e influência das manifestações ambientais, como também os

impactos que os mesmos exercem sobre o ser humano.

2.5.4 Saúde do Trabalhador Agrícola

A agricultura atualmente é reconhecida como um dos setores econômicos que

apresentam os mais elevados índices de riscos ocupacionais, acidentes e doenças. Sabe-se que

a exploração agrícola situa-se entre as mais perigosas, juntamente com a indústria da

construção civil e a petrolífera, representando um alto custo em relação ao tratamento médico,

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indenizações, perdas de produção, entre outros, além dos agravos que trás ao acidentado e sua

família.

Como já comentado, no trabalho rural as cargas físicas (interação do corpo do

trabalhador em atividade e o ambiente de trabalho) são representadas pela grande variação de

atividades executadas ao longo da jornada de trabalho, a exposição a diferentes condições

climáticas (calor, frio, chuva), a exposição a ruídos e vibrações, posturas incorretas

transporte, inadequado e exposições a agrotóxicos.

O relatório da Agência Européia para Segurança do Trabalho (2001) informa que

as taxas de distúrbios sacrolombares provenientes de fatores de riscos existentes no local de

trabalho encontra elevadas taxas de prevalência entre os trabalhadores agrícolas, tendo o

trabalho físico pesado, elevação e movimentação de cargas, posturas incorretas e vibração por

todo o corpo como os principais riscos que levam a esses distúrbios.

2.6 CULTURA DO ABACAXI

2.6.1 Origem

O abacaxizeiro é uma planta de origem tropical, originalmente cultivada em terras

recém–desmatadas, sendo por isso considerada uma planta rústica que requer poucos tratos

culturais pra seu crescimento e produção. Consiste de um caule curto e grosso, circundado por

folhas em forma de caneleta, rígidas, cerosas e protegidas por uma camada de pêlos. Seu

sistema radicular é fibroso e superficial com a maioria de suas raízes sendo encontradas nos

primeiros 15cm do solo (CUNHA et al, 1999).

Pertencente a família botânica das bromeliáceas, com nome científico de Ananas

comosus, sua origem não é confirmada ao certo. Alguns pesquisadores acreditam ser um fruto

originário do Brasil, outros da América Central e do México, e ainda, sul da América do Sul,

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e a partir daí, foi levado para toda América pelos índios guaranis até a região da América

Central e Caribe muito antes da chegada dos europeus. É uma planta que possui um ciclo

natural variando de 16 a 30 meses, porém após a primeira safra, propaga-se vegetativamente

através de mudas como: filhotes, rebentões e coroa. (ADISSI, 2001).

Cunha et al (1999) relata que em diversos países tropicais principalmente na

América Latina, as principais cultivares plantadas tanto para a utilização in natura, como para

a industrialização são:

Smooth Cayenne mais conhecido como abacaxi havaiano, é a cultivar mais

plantada no mundo. É um planta robusta, de porte ereto, as folhas não apresentam espinhos, a

não ser algumas encontradas nas extremidades apicais. A coroa é relativamente pequena e

apresenta poucos filhotes. O fruto tem forma cilíndrica e chega a pesar entre 1,5 kg a 2,5kg.

Singapore Spanish segunda cultivar em importância para a industrialização,

cultivada amplamente na Malásia pela boa adaptação aos solos desse país. O fruto é pequeno

pesando de 1,0kg a 1,5kg, cilíndrico e com baixo teor de açúcar e baixa acidez.

Queen cultivada na Ásia, na África do Sul e na Austrália. O fruto é pequeno,

0,5kg a 1,0kg, pouco ácido e de excelente sabor.

Española Roja fruto de tamanho médio, com 1,2kg a 2,0kg em forma de barril.

Pérola cultivada exclusivamente no Brasil, a planta desta cultivar é também

conhecida como “Pernambuco” ou “Branco-de-pernambuco”. O fruto pesa de 1,0kg a 1,5kg,

possui coroa grande e é pouco apropriado para a industrialização e a exportação in natura.

Jupi cultivar que se assemelha à Pérola, da qual difere apenas pelo formato

cilíndrico do fruto. É comum aparecer em mistura, em lavouras de Pérola, sendo mais

conhecidas nos estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

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2.6.2 Dados Estatísticos da produção Mundial, Nacional e do Estado da Paraíba

O Brasil oferece excelentes condições para o cultivo do abacaxi sendo cultivado

praticamente em todos os Estados, observando-se nos últimos anos, um crescimento

significativo da produção nacional que coloca o país como terceiro produtor mundial.

Conforme dados da FAO (Organics Agriculture) a produção mundial abacaxizeira

em 2003 foi de 14.724.684 toneladas, distribuídas pelos cincos continentes. O Brasil ocupa o

3o lugar entre os maiores produtores mundiais apresentando uma produção de 1.404.210

toneladas, produtividade de 26,14 t/ha e uma área colhida de 53.724 ha.

O consumo acentuado de frutas nos últimos anos tem contribuído para o aumento

do cultivo de várias espécies, inclusive o abacaxizeiro, uma vez que esse fruto é apreciado

tanto por consumidores do mercado interno, como do mercado externo.

O Quadro 1 apresenta os dados da área colhida (ha), produção (t) e produtividade

(t/ha) no mundo em 2003, distribuídos pelos cinco continentes, bem como os dez maiores

países produtores de abacaxi.

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CONTINENTES Area Colhida (ha) Produção (t) Produtividade (t/ha) África 218.867 2.630.582 12,02 Ásia 389.415 6.935.175 17,81 Europa 160 2.000 12,50 Américas 168.573 4.991.110 29,61 Oceania 4.385 165.817 37,81 Mundo 781.400 14.724.684 18,84 PAÍSES Área Colhida (ha) Produção (t) Produtiviadade(t/ha) Tailândia 80.000 1.700.000 21,25 Filipinas 46.000 1.652.000 35,91 Brasil 53.724 1.404.210 26,14 China 62.100 1.316.280 21,20 India 70.000 1.100.000 15,71 Costa Rica 15.000 1.060.000 70,67 Nigeria 115.000 881.000 7,66 México 17.906 720.900 40,26 Kenia 13.500 600.000 44,44 Indonésia 57.800 462.623 8,00

Quadro 1 - Dados mundiais da área colhida, produção e produtividade do abacaxi em 2003. Fonte: FAO (2003)

Porém, Cunha et al (1999) destacam que mesmo tendo um crescimento

considerável nos últimos anos, a produção do abacaxi no Brasil ainda está bem aquém de

outros produtores mundiais a exemplo das Filipinas, Costa Rica, México e Kénia como

mostra o Quadro 1. Dentre as causas que contribuem para essa “baixa” produtividade estão:

A ocorrência de pragas e doenças;

A deficiência no uso de tratos culturais;

A escassez de mudas de boa qualidade e sadias;

A inexistência de programas de produção de mudas fiscalizadas;

O manejo inadequado do fruto na colheita e na pós-colheita;

A inexistência de legislação eficaz sobre a padronização e classificação de

frutos;

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Pequeno aproveitamento industrial;

Instabilidade e falta de informação de mercado;

Imperfeições no entrosamento/funcionamento dos sistemas de pesquisa e

assistência técnico-credentícia, dificultando a transferência e a adoção de tecnologias;

Pequena ou nenhuma participação dos abacaxicultores em cooperativas ou

associações de classe.

Além dessas causas, os autores também citam a existência de limitações

tecnológicas em algumas áreas como no combate as pragas, manejo de mudas, florescimento

natural, nutrição mineral e adubação (quantidades, micronutrientes, adubação verde), manejo

do solo sob cultivo intensivo com abacaxi, irrigação, consorciação e rotação de culturas,

manejo e conservação do fruto para exportação in natura.

O Estado da Paraíba nos anos de 2000 a 2002 como o segundo maior estado

produtor de abacaxi, responsável por 20% da produção do país em 2000, 20,9% em 2001 e

19,1% em 2002, apenas sendo superada por Minas Gerais com 24,1%, 25,8% e 22% no

mesmo período. Uma análise mais detalhada dos maiores produtores do Brasil pode ser feita

pelo Quadro 2:

UF Quantidade Produzida (mil frutos) Área Plantada

(ha) Produtividade (mil frutos/ha)

1990 1995 2000 2001 2002 1990 1995 2000 2001 2002 1990 1995 2000 2001 2002

MG 186.993 311.079 322.964 369.622 315.682 10.037 15.623 13.263 14.004 11.134 18,63 19,91 24,35 26,39 28,35

PB 284.168 235.757 268.080 299.404 274.208 12.718 10.107 10.226 10.444 9.344 22,34 23,33 26,22 28,67 29,35

PA 15.807 91.918 233.758 208.974 212.511 1.003 5.234 10.502 10.461 10.836 15,76 17,56 22,26 19,98 19,61

BA 45.643 58.977 98.538 118.940 116.557 2.288 2.769 4.326 4.934 4.747 19.95 21,30 22,78 24,11 24,55

RN 28.504 30.204 70.119 52.724 93.936 1.394 1.299 3.359 2.129 3.772 20,45 23,25 20,87 24,76 24,90

GO 16444 19.728 54.495 49.599 64.481 935 1.296 2.308 2.298 2.653 17,58 20,89 17,13 23,94 25,17

SP 19.731 16.335 37.260 65.120 57.730 974 782 2.175 2.720 1.980 20,26 15,22 23,61 21,58 24,30

BRASIL 735.931 950.907 1.335.792 1.430.018 1.433.234 37.151 47.967 62.976 63.282 62.862 19,81 19,82 21,21 22,60 22,80

Quadro 2 - Dados sobre produção, área plantada, e produtividade da cultura do abacaxi dos principais produtores do Brasil entre 90 e 2002.

Fonte: IBGE - Levantamento Sistemático da Produção Agrícola

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Dados de 2004 confirmam que a Paraíba continua sendo o 2º maior produtor com

258 milhões de frutos colhidos sendo que o 1º lugar ocupado pelo estado do Pará com

314.978 milhões de frutos colhidos. O Estado de Minas passou a ocupar o 3º lugar na

produção nacional com 219 milhões de frutos colhidos.

Assim, a Paraíba é responsável atualmente por 18,7% da produção nacional

conforme dados apresentados no gráfico 1. Porém, a maioria dos frutos produzidos no Estado,

cerca de 60% da produção é comercializada na região Sudeste.

Produção do abacaxi em número de frutos colhidos dos principais estados produtores em 2004

314

258219

0

50

100

150

200

250

300

350

Estados Produtores

Núm

ero

de fr

utos

(milh

ões)

Pará Paraíba Minas Gerais

Gráfico 1 - Porcentagem da produção nacional. Fonte: IBGE

No Estado da Paraíba, 37 municípios produzem o fruto do abacaxizeiro sendoo

Baixo – Paraíba a região de maior concentração da produção com destaque para o município

de Santa Rita. De acordo com os dados da EMATER/PB (Empresa de Extensão Rural), o

município de Santa Rita foi o maior produtor no ano de 2000 tendo uma produção estimada

de 103.500 mil frutos em uma área plantada de 3.500Ha (ADISSI, 2001).

Dados fornecidos pela COPAGRO (Cooperativa dos Produtores Agrícolas de

Abacaxi) informam no Quadro 3 a produção anual em frutos, caminhões carregados e

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hectares plantados, movimentada pela cooperativa na região do Baixo-Paraíba/PB entre 2001

e 2003:

ANO \ PRODUÇÃO EM FRUTOS

EM CAMINHÕES EM HECTARE

2001 1.143.688 144 43,98 2002 2.147.627 268 82,60 2003 (1o semestre) 316.732 40 12,18 2003 (2o semestre-previsão) 664.000 83 25,53 Total 4.329.047 543 166.3 Quadro 3 - Produção anual do abacaxi em no frutos, caminhões e hectare da região do Baixo-Paraíba/PB. Fonte: COPAGRO

Em 2003, conforme dados da EMATER/PB, apesar da queda da produção, Santa

Rita continua com o posto de maior produtor da região do Baixo-Paraíba/PB com 79,8

milhões de frutos colhidos em uma área plantada de 2660Ha como observado no Quadro 4.

MUNICÍPIO NO DE FRUTOS COLHIDOS ÁREA PLANTADA (HA) Santa Rita 79,8 milhões 2660 Itapororoca 54 milhões 1800

Araçagi 31 milhões 970 Pedras de Fogo 23.280 milhões 77

Sapé 13.390milhões 43 Quadro 4 - Produção em 2003 em no de frutos e área plantada em hectare dos principais produtores da região do

Baixo-Paraíba/PB. Fonte: EMATER/PB.

2.7 SISTEMA DE PRODUÇÃO DO ABACAXI

Descrevendo o processo produtivo da cultura do abacaxi no Baixo Paraíba, Adissi

(2001) o divide basicamente em quatro etapas: preparação do terreno, plantio, tratos culturais

e colheita. A Figura 1 apresenta as principais atividades que compõem cada fase do processo

produtivo da cultura do abacaxi na região do Baixo-Paraíba.

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Preparo do solo

Preparação do Terreno

Desmatamento1

Planeamento1 Aragem

Gradagem Abertura dos sulcos1

Plantio

Colheita das mudas1 Seleção das mudas1

Tratamento das mudas1 Cavagem

Adubação1

Semeio Cobertura

Tratos culturais

Irrigação 1 Adubações

Controle a ervas invasoras Indução floral

Controle de pragas e doenças

Colheita

Aplicação de maturador1 Catação

Arrumação da carga no carregamento do veículo

1Operação nem sempre realizada. Figura 1 - Processo de produção do abacaxi. Fonte: Adissi e Almeida (2002)

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2.7.1 Preparação do Terreno

Oliveira (2001) descreve esta operação como muito importante, pois o abacaxi tem

seu sistema radicular frágil e superficial. Em áreas nunca cultivadas recomenda-se o

desmatamento, a limpeza da área, aração e gradagem. Em áreas onde já houve o plantio, a

gradagem é a atividade mais comum. Pode-se realizar mais de uma operação de gradagem

dependendo da área a ser preparada.

Após o revolvimento da terra ser completado, a última operação é a da abertura

dos sulcos que, como as demais desta fase, costuma ser realizada com trator. Na maioria das

situações da produção da região do Baixo-Paraíba/PB essa operação é substituída por abertura

nas covas com enxada.

Adissi e Almeida (2002) informam que nessa atividade, o tratorista se expõe,

principalmente, aos ruídos e vibrações do maquinário, além das poeiras e irradiação solar.

2.7.2 Plantio

Para que o produtor inicie o processo de plantio, de acordo com Oliveira (2003)

faz-se necessário que haja um planejamento, quanto à variedade de cultivar que o mercado

está consumindo, a quantidade do produto que será absorvida pelo mercado e a área que será

plantada para atender a este mercado. Além disso, o produtor de abacaxi precisa observar a

qualidade do fruto, peso, tamanho e as características internas e externas como cor, acidez,

entre outros.

O período mais indicado para o plantio do abacaxi é entre janeiro e julho, porém

nos locais onde a precipitação é melhor distribuída, ou se houver boa irrigação, o plantio

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estende-se até o mês de dezembro. A fase do plantio inicia-se com o corte, carregamento e

seleção das mudas.

As distâncias mais comuns entre linhas são de 70 cm e entre plantas de 30 cm para

terrenos arenosos e 80 x 30 cm, 80 x 40 cm ou 90 x 30 cm em terrenos argilo-arenosos. O

talhão de plantio deve ter uma largura que facilite a retirada da produção, dependendo do

método a ser utilizado na plantação. As ruas entre os talhões devem ser suficientes para

transitar um caminhão, sem que o mesmo prejudique as plantas. O plantio poderá se feito em

covas, fendas e sulcos.

O plantio sulcado é indicado para grandes áreas e além disso, para terrenos que

retêm muita água, pois a muda é plantada no leirão entre os sulcos, e não da forma

convencional entre as fendas.

Com relação as mudas, são selecionadas as mais vigorosas, colhidas em campos

que tenham sido bem conduzidos isentos de pragas e doenças, sendo sadias e de tamanho

uniforme Recomenda-se plantar as mudas de peso e tamanhos diferentes, em talhões também

diferentes, para se evitar a concorrência entre plantas maiores e menores, assim como, a

floração natural dispersa pela área plantada, que dá origem ao "temporão", o fruto florado

naturalmente. O tamanho médio indicado é de 50 cm e peso entre 250 a 300g para as

variedades Pérola e Jupi e de 300 a 600g para as variedades Smooth Cayenne.

Após a colheita das mudas, em algumas produções faz-se um tratamento a base de

organofosforado no combate de fungos, bactérias e cochonilha. As mudas são imersas em

solução, contendo 200 ml do produto / 200 L de água, durante 1 a 3 minutos, após esse

tratamento deverão ficar armazenadas com o olho para cima cerca de 10 a 15 dias, para

efetuar-se o plantio.

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O processo do plantio é de operações simultâneas realizadas por turmas

especialistas, envolvendo a cavagem, colocação da muda e cobertura.. Uma turma formada de

10 homens planta um hectare em 1,5 dias (OLIVEIRA, 2001).

Durante a fase do plantio, o trabalhador se expõe a riscos de acidentes como corte,

devido à utilização de instrumentos cortantes na colheita, além das próprias folhas do

abacaxizeiro e aos riscos químicos no caso de se empregar tratamento químico das mudas

com os organofosforados. Além disso, o trabalhador fica exposto ao risco ergonômico, como

a postura inadequada, ou seja, permanece, por um longo intervalo, em flexão anterior do

tronco durante o ato de semear (colocação da muda) e de plantar (cobertura com terra)

(ADISSI; ALMEIDA, 2002).

2.7.3 Tratos Culturais

2.7.3.1 Limpas

Segundo Oliveira (2001), o abacaxizeiro, por ser uma planta de desenvolvimento

lento, defende-se muito mal dos invasores, o que repercute grandemente no seu rendimento.

Os prejuízos oriundos das ervas daninhas não se limitam somente à concorrência pela água e

nutrientes, algumas espécies servem de hospedeiros de diferentes parasitas do abacaxizeiro.

Daí a importância em deixar o plantio sempre isento de ervas daninhas. Mediante tal fato, a

limpa acontece normalmente antes das adubações e consiste na remoção das ervas por meio

da utilização da enxada. A tarefa manual é considerada um trato alternativo ao uso de

herbicidas, contornando assim a contaminação do meio ambiente e diminuindo a degradação

da composição nutricional do solo.

A limpa é a atividade que mais emprega na cultura do abacaxi, chegando em um

ciclo a ocupar cerca de 104 dias/homem em um hectare de área plantada.

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Nesta atividade o trabalhador está exposto principalmente a riscos de acidentes,

tais como o corte, impactos e quedas. Além do risco químico da inspiração intensa de poeiras

(ADISSI; ALMEIDA, 2002).

2.7.3.2 Adubação

A preocupação inicial no planejamento do plantio de abacaxi é conhecer a

fertilidade do solo. De um modo geral a planta do abacaxizeiro necessita principalmente dos

macronutrientes como nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mn),

enxofre (S) e matéria orgânica. Entre os micronutrientes os mais importantes para a cultura do

abacaxi são: cobre, zinco, ferro, molibdênio, boro. A matéria orgânica em forma de esterco

costuma ser adicionada no interior dos sulcos das covas ou ainda logo após ao plantio.

A adubação química de macronutrientes (N,P,K) é realizada manualmente pelo

menos uma vez e depende das condições individuais de cada roçado, na maioria das vezes a

primeira aplicação costuma ser realizada com agrotóxicos para controle da cochonilha.Em

solos arenosos, pobres em matéria orgânica, é aconselhável complementar a adubação mineral

com adubos orgânicos como a torta de filtro, torta de mamona, torta de oiticica, esterco de

galinha e esterco de vaca (OLIVEIRA, 2001).

Para facilitar o trabalho é comum os trabalhadores utilizarem um funil de gargalho

comprido e uma vasilha apropriada, que fica pendurada acima da cintura pélvica. Como

ferramenta de dosagem, há quem utilize uma colher caseira ou a própria mão.

Esses equipamentos evitam as posturas indesejáveis de flexão anterior da coluna,

porém o fato dos trabalhadores não utilizarem luvas possibilita a ação corrosiva dos adubos

sintéticos (OLIVEIRA, 2001).

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Além desse risco químico, a atividade expõe os trabalhadores aos riscos de

acidentes especificamente com as folhas das plantas e a riscos biológicos, quando a adubação

de adubos orgânicos pela possibilidade de vários tipos de contaminações (ADISSI;

ALMEIDA, 2002).

2.7.3.3 Indução floral

Oliveira (2001) expõe que a época de floração do abacaxizeiro pode ser antecipada

mediante à aplicação de fitorreguladores na roseta foliar ou com pulverizações da planta. A

indução floral torna homogênea a floração trazendo economia de mão-de-obra no controle da

broca do fruto e na colheita, além de facilitar a programação da mesma em função do

mercado consumidor. Deve ser realizada em plantas bem desenvolvidas, com idade variando

entre 7 a 14 meses, dependendo do manejo da cultura e principalmente do uso ou não de

irrigação.

Várias substâncias podem ser utilizadas com o fim de induzir a floração, como o

carbureto de cálcio (acetileno) {por ser mais barato é o mais utilizado no Brasil} -, o

Ethephon (ácido 2-cloroetilfosfônico) e o etileno. O carbureto de cálcio é aplicado na roseta

foliar de 1 a 2 gramas por planta, desde que tenha água no centro da roseta foliar; já os

produtos a base de ethephon podem ser pulverizados sobre a planta, na dosagem de 24 a 48g

do ingrediente ativo para 100 litros de água, aplicando 30 a 40 mililitros da calda, por planta,

no centro da roseta foliar, com adição de uréia a 2%. Esses produtos devem ser aplicados de

preferência pela manhã ou à noite. Em dias nublados, podem ser aplicados durante o dia todo.

Um acidente que ocorre com freqüência é a queimadura causada pelo contato de

carbureto com partes molhadas do corpo do trabalhador, por exemplo, quando pequenas

pedras do produto caem no interior das botas do aplicador (ADISSI; ALMEIDA, 2002).

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2.7.3.4 Controle de Pragas e Doenças

Após o aparecimento dos frutos, 45 dias depois da indução floral, inicia-se o

controle da broca do abacaxi e da fusariose, também chamada de resina. As aplicações

repetem-se semanalmente durante todo o ciclo das flores, ao longo de cerca de 5 semanas,

empregando cerca de 18 dias/homem para um hectare (OLIVEIRA, 2001).

Pela indicação da EMATER-MG (2001 apud OLIVEIRA, 2002) pode-se combater

as pragas e doenças do abacaxi da seguinte forma:

• Cochonilha: pulverizações nas plantas em desenvolvimento com inseticidas

Parathion metilico, Ethion, Diazinon ou similares, registrados para a cultura.

• Broca-do-fruto: pulverizações ou tratamento dos frutos em formação, com

inseticidas à base de Carbaril, Triclorfon, Ethion, Parathion Metilico, Bacillus Thuringiensis,

Piretroides, registrados para a cultura.

• Fusariose nos frutos: Pulverizações preventivas no período de florescimento

com fungicidas à base de Benomyl ou similares, registrados para a cultura.

Segundo Adissi e Almeida (2002), a ausência das roupas de proteção, como as

luvas, máscaras e aventais, não são as únicas responsáveis pelas elevadas e perigosas

exposições aos agrotóxicosdos trabalhadores da região do Baixo-Paraíba/PB. A estocagem

dos produtos em locais freqüentados, muitas vezes até por crianças, os vazamentos nas

bombas, a contaminação dos alimentos e a ausência de água limpa para higienização pessoal

junto aos locais de manuseio dos agrotóxicos, são fatores de risco de relevância que, com

alguma atenção dos agricultores, seriam facilmente evitados.

E além desses riscos o trabalhador expõe-se aos produtos (agrotóxicos) em seu

estado mais concentrado durante o momento da diluição, sendo este o momento mais crítico

do controle das pragas e doenças para o trabalhador.

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2.7.3.5 Colheita

De um modo geral, segundo Cunha et al.(1999), a catação do fruto é realizada com

o auxílio de um facão, devendo o colhedor (catador) proteger as mãos com luvas de lona

grossa. O catador segura, com a mão esquerda, o fruto pela coroa e com a direita secciona o

pedúnculo 3 a 6cm abaixo do fruto ou dos filhotes. Na Paraíba, este tipo de colheita é

denominado colheita sangrada e é utilizada quando as cargas de abacaxi destinam-se para

distantes mercados, servindo os filhotes para a proteção dos frutos.

Piza Junior (1967 apud CUNHA et al, 1999) refere que para cada catador

(colhedor) necessita-se de três carregadores (balaieiros), porém essa relação pode variar de

acordo com o treino dos trabalhadores e a especificidade da colheita.

Após o transporte dos frutos pelo balaieiro que conduz o balaio em sua cabeça até

o veículo, os frutos são descarregados e arrumados pelos arrumadores. A arrumação da carga

consiste numa técnica ainda pouco conhecida.

Em países onde a cultura do abacaxi é altamente tecnificada, como acontece no

Havaí, os trabalhos de colheita do fruto são realizados de forma semimecanizada, o qual é

facilitado pelo uso de esteiras rolantes, acopladas aos caminhões de transporte, que

transportam os frutos imediatamente para fora dos talhões como representado na Figura 2

(CUNHA et al., 1999).

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Figura 2 - Colheita semi-mecanizada Fonte: Cunha, (1999)

Os trabalhadores rurais da colheita do abacaxi encontram-se expostos a vários

riscos ocupacionais. Aprofundaremos esse tema mais adiante quando tratarmos das

conceituações dos tipos de riscos, exemplificando com os riscos presentes no trabalho

agrícola, bem como, na fase da colheita do abacaxi.

2.8 SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO

Como em qualquer outra cultura, a comercialização é a etapa final do processo

produtivo e no caso da cultura do abacaxi, a produção pode ser comercializada in natura nas

vizinhanças da região produtora, ou regiões mais distantes, para a industrialização e para o

mercado externo.A maior parte da produção brasileira de abacaxi é consumida pelo mercado

interno, uma vez que 99% da produção é comercializada internamente (CUNHA, 1999).

Quanto ao abacaxi produzido na Paraíba, 23% da produção fica no estado, 21% é

vendida para São Paulo, 15% para Bahia, 10% Rio de Janeiro e Minas gerais, 8% Rio Grande

do Sul, 6% Sergipe, 4% Santa Catarina e 1% para Pernambuco (CUNHA, 2004).

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Devemos considerar a cultura do abacaxi, como uma atividade que absorve mão-

de-obra no meio rural, contribuindo para o mercado de trabalho e para fixação do homem ä

terra, fato esse de grande importância socioeconômica.

Mesmo existindo grandes plantações de abacaxi nas principais regiões produtoras,

essa cultura é em sua maioria explorada por pequenos produtores que desenvolvem sua

produção adquirindo crédito rural através de programas de incentivo como o PRONAF

(Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar).

2.8.1 Aspectos Econômicos e de Comercialização

Segundo o relatório da Emepa/PB em 2002, o custo de produção de abacaxi na

região foi superior ao montante de R$ 4.137 por ha (valor bruto sujeito ao desconto de várias

taxas, tais como: tarifa de cadastro – R$ 30 a 60; seguro – R$ 90 a 140; jornada de

capacitação do produtor – R$ 60; fundo de aval – valor variável, de até 10% do valor do

financiamento) propiciado ao pequeno produtor pelo PRONAF. Tal custo se deve,

principalmente, ao material de plantio (cerca de R$ 600 a 1.000 por ha, correspondendo a 2,5

caminhões de mudas), e ao arrendamento da terra, que varia de R$ 200/ha a R$ 600/ha (na

média, R$ 400/ha) por 2 anos, tempo necessário para completar o ciclo da cultura. Existem

casos em que o valor do arrendamento corresponde aos frutos comercializados em uma

“conta” (1/13 do hectare).

Uma outra problemática existente diz respeito ao valor financiado que não leva em

conta os custos da colheita que, a depender do número de frutos colhidos, pode chegar a

R$1.000/ha (4 caminhões a R$ 250 cada). Esse fato faz com que muitos compradores

(atravessadores) assumam essas despesas, o que leva os produtores venderem a sua produção,

sob a forma de “roça fechada”, muitas vezes, bem antes da época de maturação dos frutos.

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45

Esse fato dificulta a ampliação das vendas via Bolsa do Abacaxi, em atuação na

região, situação em que essas despesas precisam ser assumidas pelo produtor ou pela sua

organização (cooperativa ou associação).

A demanda de mão-de-obra é bastante elevada (em torno de 01

homem/hectare/ano), pois o nível de mecanização é baixo, restringindo-se, em geral, ao

preparo do solo e ao transporte de insumos. A mão-de-obra nas pequenas produções é

predominantemente familiar, mas, em áreas de cultivo maiores parece haver escassez de mão-

de-obra, tentando-se superar tal problema mediante a aplicação de herbicidas no controle do

mato, pois as capinas (“limpas”) absorvem a maior parte da mão-de-obra não qualificada,

durante grande parte do ciclo da cultura do abacaxi.

A COPAGRO comercializa através da Bolsa de Comercio de Pernambuco o

abacaxi tipo Pérola, sendo este dividido em cinco classes de frutos conforme o Quadro 5:

Tipo Peso do Fruto (Kg) D Menor que 0,900 C De 0,900 a 1,200 B De 1,200 a 1,500 A De 1,500 a 1,800 Exportação Maior que 1,800

Quadro 5 - Peso do fruto conforme o tipo. Fonte: COPAGRO

A área de ação da COPAGRO para atendimento de produtores compreende o

município de Santa Rita e os municípios vizinhos sendo os principais: Bayeux, Cabedelo,

Lucena, Conde, Capim, Rio Tinto, Alhandra, Cruz do Espírito Santo, Pedras de Fogo e Sapé

compondo assim, a região do Baixo-Paraíba. Atua ainda com produtores da capital, João

Pessoa.

Conforme Cunha (2003), a distribuição sazonal da produção ocorre entre

janeiro/abril (19%), maio/agosto (22%) e setembro/dezembro (59%).

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46

No período de 1999/2003, de acordo com o tipo de abacaxi, a comercialização do

abacaxi pela Bolsa de Comércio de Pernambuco obteve a seguinte distribuição:

Tipo A – 7,8 milhões de frutos (R$ 0,53 a unidade);

Tipo B – 8,9 milhões (R$ 0,35/fruto);

Tipo C – 4,3 milhões (R$0,24/fruto).

O autor supracitado nos informa ainda que o custo do frete da Paraíba ao Rio de

Janeiro é de R$1.900,00 a R$2.000,00/caminhão com 7.500 frutos, cerca de R$0,05 por fruto,

inferior ao frete pago pelos produtores de Tocantins.

A Bolsa de Comércio de Pernambuco atende aproximadamente 840 produtores de

abacaxi, organizados em 15 associações e 8 cooperativas de vários Estados, obtendo preços

47% superiores aos de atravessadores.

Isso tem contribuído para o aumento de 376% do consumo de abacaxi ‘Pérola’ em

São Paulo, que hoje corresponde a 71% do consumo geral de abacaxi, e para a crescente

participação de frutos tipo B nas vendas do Sudeste e Sul do país (CUNHA, 2003).

Destaca-se ainda que, a renda computada pelo produtor regional de abacaxi é

bastante variável, sendo muito dependente da qualidade dos frutos produzidos, sobretudo das

parcelas de frutos do tipo A (pesos variando entre 1.500g e 1.800g); e do tipo exportação

(pesos acima de 1800g), que alcançam preços muito superiores aos menores, cujos pesos são

inferiores a 1,5 kg (tipo B e C).

Atualmente, os preços de frutos tipo A estão girando em torno de R$ 0,60/unidade,

enquanto os das classes B e C atingem valores em volta de R$ 0,30 e R$ 0,15,

respectivamente.

Apresenta ainda dados, segundo informação dos produtores visitados de que a

produção tem sido de cerca de 2.000 a 2.500 frutos por conta1 (26.000 a 32.500 frutos/ha),

1 Uma conta equivale a 755,04 m2.

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vendida aos atravessadores por R$ 300,00 a R$ 1.000,00 por conta (R$ 3.900,00 a R$

13.000.00 por hectare), que pode proporcionar, no caso da estimativa mais alta para a renda

bruta, uma rentabilidade líquida superior a RS$ 8.000,00 por ha/ciclo, que é bem expressiva.

No extremo oposto, a estimativa de receita em torno de R$ 4.000,00 (normalmente

associada a frutos de qualidade inferior e/ou comercializados inadequadamente) pode gerar

renda líquida inexpressiva, ou mesmo prejuízo, que comprometem a atividade.

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CAPÍTULO 3 - ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO E

BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

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3.1 ERGONOMIA

A Ergonomia é uma área de pesquisa que estuda fatores que podem interferir no

desempenho do trabalhador. Busca, portanto, eliminar fatores de desequilíbrio presentes no

trabalho através de um estudo minucioso do posto de trabalho tanto em nível operacional

como ambiental objetivando assim, “adaptar o trabalho ao homem” (IIDA, 1990).

A IEA (International Ergonomics Association) define a Ergonomia como sendo a

disciplina científica que trata da compreensão das interações entre os seres humanos e outros

elementos de um sistema e a profissão que aplica teorias, princípios, dados e métodos, a

projetos que visam otimizar o bem estar humano e a performace global dos sistemas (VIDAL,

2001,).

Discorrendo sobre a definição do termo Ergonomia descrita por Wisner (1987), de

que a Ergonomia é o conjunto de conhecimentos científicos relacionados ao homem e

necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados

com o máximo de conforto, segurança e eficiência. Deliberato (2002, p.123) destaca três

pontos importantes onde:

1) A Ergonomia constrói suas bases a partir de conhecimentos científicos sobre o ser humano abrangendo suas características psicofisiológicas, e a partir deles, conceber equipamentos ou modificá-los e não o inverso. 2) A verdadeira ergonomia seria aquela que atuasse na fase de concepção de equipamentos, ferramentas, máquinas e postos de trabalhos, planejando, estruturando e desenvolvendo todo o projeto de concepção a partir dos dados referentes ao ser humano, porém essa é uma realidade ainda pouco praticada em nosso país. 3) Qualquer estudo ergonômico deve primar pelo alcance simultâneo e indissociável da tríade conforto, segurança e eficiência do trabalhador, para não suceda uma concepção ergonômica inadequada.

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De maneira simplificada, Peres (1999) relata os seguintes objetivos da Ergonomia:

– Selecionar a técnica mais adequada ao pessoal disponível

– Controlar o entorno do posto de trabalho

– Detectar os riscos de fadiga física e mental

– Analisar os postos de trabalho para definir os objetivos da formação

– Otimizar a inter-relação das pessoas disponíveis e da tecnologia utilizada

– Favorecer o interesse dos trabalhadores pela tarefa e pelo ambiente de trabalho.

3.2 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) seria uma forma de sintetizar os

esquemas (atividades) a que nos referimos, ou seja, é uma análise quantitativa ou qualitativa

que nos permite descrever e interpretar o que acontece na realidade da atividade enfocada

(VIDAL, 2004).

Arueira (2000 apud VIDAL, 2004, p.18) descreve algumas situações de trabalho

em que a AET se faz necessária:

• Atividades que requeiram grande esforço físico, posturas rígidas (somente de pé ou somente sentado) e movimentos aparentemente repetitivos;

• Tarefas com elevados requisitos de precisão e qualidade final; • Introdução de novas tecnologias físicas ou organizacionais; • Elevadas taxas de absenteísmo, rotatividade, acidentes e queixas; • Atividades em turnos; • Conflito entre empregados e setores; • Existência de contenciosos e notificações.

Fialho e Santos (1997) subdividem a AET em três fases: a análise da demanda, da

tarefa e das atividades. Tal abordagem permite ao pesquisador uma metodologia coerente e a

minimização das intercorrências comuns em qualquer estudo de campo.

Para Vidal (2004), a AET se caracteriza por cinco fases típicas onde num primeiro

momento existe a escolha de situações características, análise focais dessas situações que

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permite o estabelecimento de um pré-diagnóstico. Em seguida com base no pré-diagnóstico

pode-se organizar os estudos sistemáticos que darão subsídios a produção de um diagnóstico

ergonômico em um caderno de encargos ergonômicos.

Conforme Fialho e Santos (1997), quando se define o trabalho a ser analisado,

levando-se em consideração todos os atores sociais envolvidos realiza-se a análise da

demanda. Nessa fase pretende-se identificar a origem da demanda, os problemas, se esses são

aparentes ou fundamentais, as perspectivas de ação e os meios disponíveis sendo assim uma

fase de estudos preliminares que antecede a AET propriamente dita. É de extrema importância

uma vez que, se a mesma for mal conduzida, poderá gerar resultados insatisfatórios

(WISNER, 1987).

De acordo com Fialho e Santos (1997), a análise da tarefa é o estudo das

atribuições do trabalhador, o que ele deve realizar, bem como as condições ambientais,

técnicas e organizacionais desta realização. Para analisar a tarefa, num primeiro momento

necessita-se delimitar o sistema homem-tarefa que será analisado. Em seguida, deve-se

proceder a uma descrição de todos os elementos que compõem este sistema, ou seja,

identifica-se os componentes do sistema que condicionam as exigências do trabalho. Por fim,

realiza-se uma avaliação dessas exigências (FIALHO; SANTOS, 1997).

A análise da atividade seria o estudo e observações do trabalhador para executar a

tarefa, sendo, portanto, a análise do comportamento do homem no trabalho. Sendo uma

situação de trabalho um conjunto de condicionantes ou de cargas de trabalho, de diversas

naturezas como econômicas, sociais, técnicas e organizacionais, o homem, ao realizar uma

tarefa frente a essa situação, coloca em funcionamento mecanismos de adaptação e regulação.

Sendo assim, o que se mede da atividade refere-se á avaliação que pode ser

estabelecida dessas cargas de trabalho, suportadas pelo indivíduo na realização dessa tarefa.

Cada uma dessas análises necessita de uma descrição que seja a mais precisa possível e ainda

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de observações e medidas sistemáticas de variáveis pertinentes com relação às hipóteses

formuladas (FIALHO; SANTOS, 1997).

Analisando o processo produtivo das atividades agrícolas pode-se perceber a

presença dos riscos ergonômicos em todas as fases que compõe o processo, desde a

preparação do terreno até a fase da pós-colheita onde os aspectos biomecânicos caracterizados

por repetitividade de movimentos, emprego de força no levantamento e transporte manual de

peso, posturas viciosas, pressão mecânica, trabalho estático, ritmo excessivo de trabalho, uso

inadequado de ferramentas manuais, bem como outros riscos presentes nas máquinas

agrícolas. Contribuindo com os aspectos biomecânicos no desenvolvimento de doenças

ocupacionais, encontra-se presente no trabalho rural, uma grande variedade de atividades

executadas ao longo da jornada de trabalho que expõem o trabalhador a diferentes condições

climáticas (calor, frio, chuva), às vibrações e ruídos presentes nas máquinas agrícolas e outros

equipamentos, além do uso incorreto de agrotóxicos.

3.3 BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

O estudo da biomecânica surgiu há muito tempo, desde o século XVI com a

utilização do conceito de período constante de oscilação para medir freqüência cardíaca com

um pêndulo, pelo físico Galileu Galilei. Os aspectos biomecânicos relacionados ao sistema

músculo-esquelético foram demonstrados por Leonardo da Vinci e a preocupação de

minimizar os traumas ao ser humano mecanicamente, induzido pela atividade laboral foi

concluída por Tichauer citado em Chaffin e Anderson (2001).

A partir daí houve avanços necessários da biomecânica ocupacional como base

científica e aplicação para que os trabalhadores sejam capazes de executar suas tarefas sem

riscos de lesão.

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De acordo com Chaffin (2001), essa evolução tem ocorrido significativamente nas

últimas décadas dando apoio à variedade de aplicações práticas demandada atualmente.

Segundo Iida (1990) pode-se definir biomecânica como sendo o ramo da

ergonomia que estuda as relações existentes entre o trabalho e o homem de acordo com os

movimentos músculos – esqueletais e as suas conseqüências onde basicamente se analisa a

questão das posturas corporais no trabalho e a aplicação de forças é a Biomecânica

Ocupacional Visando a adaptação do posto de trabalho, dos instrumentos, das máquinas, dos

horários e do meio ambiente às exigências do homem (GRANDJEAN, 1998), e tendo em

vista os danos que os riscos ergonômicos podem causar a saúde, segurança e produtividade do

trabalhador (FERNANDES et al, 1989 apud CARTAXO, 1997) a ergonomia, através da

Biomecânica Ocupacional, tem produzido muitos conhecimentos específicos sobre a atividade

do trabalho humano nos últimos anos.

Conforme Marras (1997), as avaliações de biomecânica são muito úteis quando

suspeita-se que a magnitude das cargas impostas no corpo excede a tolerância do mesmo.

3.3.1 Trabalho Estático x Trabalho Dinâmico

De acordo com Couto (1995), o organismo humano possui características

mecânicas que o permitem desenvolver pouca capacidade de força física no trabalho, uma vez

que o sistema osteomuscular o habilita a desenvolver movimentos de grande velocidade e de

grande amplitude, porém contra pequenas resistências.

Para realizar um determinado movimento, diversas combinações de contrações e

descontrações podem ser utilizadas onde cada uma terá diferentes características de

velocidade, precisão e força. Essa combinação de músculos para efetuar o movimento é que

determinará características e custos energéticos diferentes (IIDA, 1990).

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Iida (1990) descreve o trabalho estático como um tipo de trabalho que exige a

contração contínua de alguns músculos para manter uma determinada posição enquanto que

Grandjean (1998), refere que o trabalho dinâmico caracteriza-se por uma seqüência rítmica de

contração e descontração, ou seja, tensão e relaxamento do músculo em atividade.

A nutrição muscular ocorre no período de relaxamento, uma vez que com o

esforço muscular, a pressão interna do músculo ultrapassa o valor da pressão arterial do

sangue, ocorrendo uma vasoconstricção (“fechamento” dos vasos) os vasos que nutrem os

músculos (COUTO, 1995). Na contração dinâmica, ao ocorrer a contração muscular, o

músculo deixa de receber sangue, porém no relaxamento, quando o músculo se alonga o fluxo

sanguíneo volta ao normal.

No trabalho estático, Deliberato (2002), informa que não existe mecanismo que

facilite a circulação sanguínea por ação da “bomba muscular”, uma vez que o músculo contrai

e permanece contraído, comprimindo os vasos sanguíneos musculares por um período maior

de tempo. O autor afirma que essas características criam uma dificuldade adicional tanto

para a nutrição do músculo como para a retirada dos resíduos metabólicos, favorecendo

conseqüentemente a fadiga muscular.

Complementando essas afirmativas, Grandejean (1998) relata que quando

comparado com o trabalho dinâmico, o trabalho muscular estático leva a um consumo maior

de energia, freqüências cardíacas maiores, períodos de restabelecimento mais longos, sendo

proveniente da deficiência de oxigênio, que levará conseqüentemente a depressão do grau de

eficiência muscular.

Sendo assim, o trabalho estático é um trabalho altamente fatigante devendo ser

evitado sempre que possível, podendo-se utilizar pausas curtas durante a realização da

atividade, favorecendo assim, um relaxamento muscular e alívio da fadiga.

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3.3.2 Trabalho Pesado

Atualmente, embora a mecanização e inovações tecnológicas paulatinamente têm

sido incorporadas à realidade dos diversos setores de trabalho gerando conseqüentemente

maior produtividade sobre vários aspectos na economia brasileira, ainda encontramos alguns

setores que se caracterizam pela utilização do trabalho fisicamente pesado. Essa é uma

realidade que provavelmente fará parte da nossa economia por muito tempo e, portanto, se faz

necessário conhecer as características físicas do corpo humano e os processos de trabalhos

que ainda utilizam o trabalho físico propriamente dito, para que, dessa forma, ajustes sejam

feitos buscando o máximo de melhorias nesses processos, sem desconsiderar a produtividade

do trabalho. Dentre os setores que ainda utilizam o trabalho físico pesado na maioria de suas

atividades, destaca-se o setor agrícola, onde os trabalhadores rurais realizam a maior parte de

suas atividades em processos não mecanizados.

Conforme Grandjean (1998), com a mecanização das atividades, a relação que se

fazia entre trabalho pesado e consumo de energia praticamente perdeu o sentido, uma vez que

esse tipo de trabalho, o trabalho pesado, encontra-se restrito a algumas poucas atividades

como a indústria de minas, construção civil e agricultura. Porém, atualmente relaciona-se o

trabalho pesado no sentido de alta carga de curta duração do aparelho locomotor e nesse caso,

as atividades que possuem essa característica existem em número significativo.

Sendo assim, o trabalho pesado não se encontra relacionado apenas com atividade

manuais que despendem um alto consumo energético, como na agricultura, mas também

aquelas que demandam alta carga, pela repetitividade de movimentos em curtos períodos de

tempo, como na indústria.

O autor supracitado afirma ainda que, a freqüência cardíaca, quando relacionada

com a carga de trabalho, aumenta mais rapidamente quanto mais quente for o ambiente,

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quanto maior for a parcela de trabalho estático e quão menor o número de músculos

envolvidos no trabalho.

O limite de trabalho contínuo para homens é alcançado quando a freqüência média

do pulso durante o trabalho for de 30 batidas/minuto acima do pulso de repouso (= 30 pulsos

de trabalho) e para se obter essa medida, deve-se medir o pulso na mesma posição em que é

realizado o trabalho.

Foram realizados alguns estudos com base nesses conceitos dentre eles citamos os

de Brundke (ano apud Grandjean, 1998) no qual foi medida a freqüência de pulso de um

fruticultor, um leiteiro e um agricultor por uma semana, no período da noite, durante o sono e

constatou-se que os valores ultrapassaram a faixa critica dos 40 pulsos por minuto várias

vezes durante o período de medição.

O manuseio de cargas especialmente o levantamento de cargas, também é

considerado por Grandjean (1998) como um trabalho pesado. O autor explica que o problema

de se manusear cargas não é tanto a exigência dos músculos, mas sim o desgaste dos discos

intervertebrais, que trás conseqüências à coluna, limitando fortemente a mobilidade e

vitalidade das pessoas. Ainda segundo o autor, algumas profissões expõem mais facilmente

seus trabalhadores à ocorrência de doenças dos discos intervertebrais como no caso dos

trabalhadores rurais.

3.3.3 Biomecânica da Coluna Vertebral

A coluna vertebral representa o eixo ósseo do corpo humano, onde sua estrutura

apresenta-se de tal forma que oferece ao mesmo tempo a resistência de um pilar rígido de

sustentação e a flexibilidade suficiente para a ocorrência de livre movimentação do tronco

(DELIBERATO, 2002).

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Hamil e Knutzen (1999) descrevem que a coluna vertebral é constituída por 33

vértebras, sendo 24 delas móveis que participam dos movimentos do tronco. As vértebras

encontram-se dispostas formando quatro curvaturas que facilitam o suporte da coluna

oferecendo uma resposta à carga semelhante à de uma mola. Sete vértebras cervicais formam

a primeira curvatura, no sentido céfalo-caudal, a lordose cervical que se desenvolve à medida

que o bebê inicia a sustentação cefálica. As doze vértebras torácicas constituem a cifose

torácica que é convexa no lado posterior do corpo e encontra-se presente no nascimento.

As 5 vértebras lombares formam a lordose lombar que se desenvolve em resposta

ao apoio do peso e é influenciada pelo posicionamento da pelve e dos membros inferiores. A

curvatura sacrococcígea é formada pela fusão das 5 vértebras do sacro e das 4 vértebras do

cóccix como observado na Figura 3.

Figura 3 - Vista anterior e perfil da coluna vertebral Fonte: Hall (1993)

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Resumidamente Couto (1995) relaciona as seguintes funções da coluna vertebral:

Serve de eixo de sustentação para o corpo humano; Apresenta-se como uma estrutura de mobilidade entre a parte superior e inferior do corpo;

Permite o amortecimento de cargas, tanto decorrentes de peso colocado sobre a cabeça quanto aqueles suportados pelos próprios membros superiores, bem como os impactos decorrentes de forças externas;

Proteção da medula espinhal a partir da superposição das vértebras (canal vertebral).

3.3.4 Unidade Funcional da Coluna Vertebral

Grieve (1994), Couto (1995), Calliet (1998), Hamill e Knutzen (1999), comentam

que a unidade funcional da coluna vertebral consiste de duas vértebras adjacentes e um disco

que as separa.

Tal segmento pode ser dividido em anterior e posterior desempenhando ambos

papéis diferenciados na função vertebral. A porção anterior contém os corpos de duas

vértebras, um disco intervertebral e os ligamentos longitudinais anterior e posterior.

O disco intervertebral é uma estrutura fibrocartilaginosa, formada por um anel

fibroso e um núcleo pulposo hidrodinâmico (80 a 90% de água e 15-20% de colágeno), sendo

responsável pelo suporte de peso e a mobilidade da unidade e da coluna vertebral como um

todo (Figura 4). O colágeno é menos abundante na porção posterior do disco o que torna essa

região mais susceptível à lesão por haver uma força tensiva reduzida (HAMIL; KNUTZEN,

1999). As fibras de colágeno que compõem o disco intervertebral proporcionam a estabilidade

e flexibilidade da unidade funcional. A deteriorização e/ou destruição das fibras de colágeno é

a base de muitas lesões sintomáticas da coluna (CALLIET, 1998).

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Figura 4 - Disco intervertebral. Fonte: Hall, (1993)

De acordo com Kapandji (2000), as forças de compressão sobre o disco vertebral

aumentam com o aumento do peso do corpo acima do disco vertebral, considerando o peso

dos membros superiores, tronco e cabeça.

Num movimento de flexão anterior do tronco ocorre um aumento na tensão dos

ligamentos do arco posterior (A). Num movimento de extensão do tronco, o núcleo pulposo

do disco é deslocado para frente e ocorre um aumento na tensão dos ligamentos do arco

anterior (B). Na flexão lateral ou inflexão lateral da coluna vertebral, o núcleo pulposo se

desloca para o lado da convexidade (C); esquematizadas na Figura 5. Esses movimentos em

excesso ou repetidos, principalmente com carga, induzem a formação das hérnias de disco.

Figura 5 - Deslocamento do núcleo pulposo do disco intervertebral Fonte: Kapandji, (2000).

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3.3.5 Forças Aplicadas

No estudo da Biomecânica Ocupacional a postura é uma variável das mais

importantes, afetando tanto a força dinâmica quanto a força estática de um indivíduo. Quando

os músculos esqueléticos agem em torno das articulações, girando os segmentos corpóreos

adjacentes, o fator biomecânico pode ser observado, pela ação da força muscular através dos

braços de alavanca. Com a modificação do ângulo articular, os braços de potência também

alteram, modificando assim a ação da força muscular na produção do movimento de acordo

com o comprimento do braço de alavanca.

Os aspectos biomecânicos posturais são relevantes na capacidade de realização de

tarefas extenuantes dos trabalhadores (CHAFFIN, 2001).

O peso corporal, a tensão nos ligamentos vertebrais e nos músculos circundantes, a

pressão intra-abdominal e qualquer carga externa aplicada são forças que atuam sobre a

coluna vertebral (Figura 6). Na postura ereta a principal carga que age sobre a coluna é axial,

contribuindo para a compressão vertebral. Para manter a posição ereta do corpo, o torque deve

ser contrabalançado pela tensão nos músculos tensores do tronco (HALL, 2000).

Figura 6 - Resultante do peso corporal na postura ereta Fonte: Hall, (2000)

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Na coluna vertebral existem forças compressivas, de tensão e cisalhamento que

agem nos três planos ortogonais e dão origem aos principais movimentos desenvolvidos pela

mesma. A intensidade, freqüência, tempo de exposição dessas forças sobre a coluna entre

outros fatores, pode implicar na deformação de sua estrutura.

Com respeito aos conceitos de força de cisalhamento Hamil e Knutzen (1999) a

definem como uma força aplicada paralelamente à superfície de um objeto que cria

deformação interna em uma direção angular.

Os mesmos autores trazem a definição de força de curvamento como sendo uma

força aplicada em uma área que não tem suporte direto oferecido pela estrutura ocorrendo

uma deformação em convexidade de um lado (pela presença de forças tensivas) e uma

deformação em concavidade do outro (pela presença de forças compressivas).

Na flexão do tronco ou dos braços, os braços do momento se tornam maiores e

contribuem para aumentar o torque flexor e isto explica porque é aconselhável levantar ou

conduzir peso o mais próximo possível do tronco. Em flexão plena, a tensão no ligamento

interespinhoso contribui muito para a força de cisalhamento anterior aumentando a sobrecarga

nas articulações facetarias. Em flexão lateral e torção axial, é necessário um padrão mais

complexo de ativação dos músculos do tronco para flexão e extensão. A coluna em flexão

lateral e em torção axial gera uma força de compressão de 1400N e 2.500 N, respectivamente

(HALL, 2000).

O termo momento de força (M) ou torque é descrito por Enoka (2000), como a

capacidade de uma força para produzir rotação de um corpo em relação a um eixo, e definido

como o produto da Força (F), em Newton, pela distância perpendicular entre a linha de ação

da força e o eixo de rotação (d), em metros, representada pela equação: M= Fxd.

De acordo com Knutzen e Hamill (1999), a carga nas vértebras lombares durante

uma atividade de levantamento de peso aumenta, principalmente com o aumento da distância

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entre o peso e o tronco, isto é, ao se levantar um objeto, deve-se aproximá-lo do corpo de

maneira que, o braço de alavanca, seja o mais curto possível para favorecer a execução do

movimento.

Segundo Looze et al (1998), a carga deve ser mantida na coluna vertical, isto é, o

centro de gravidade deve passar o mais próximo possível ao eixo longitudinal do corpo.

Também menciona que as cargas aplicadas na coluna vertebral são produzidas pelo peso

corporal, pela força muscular que age sobre cada segmento móvel, pelas cargas externas que

estão sendo manipuladas e pelas forças de pré-carga que estão presentes devido às forças dos

discos e ligamentos.

De acordo com Grieve (1994), a grande maioria dos estudos biomecânicos enfatiza

a importância da compressão ou carga de torção sobre a coluna vertebral, porém pouco se

desenvolveu sobre a determinação das propriedades mecânicas do segmento de movimento na

inclinação do tronco. E os movimentos fisiológicos da coluna vertebral, raramente são puros

em torno de um único eixo, mas sim numa combinação destes.

Essa abordagem biomecânica é necessária, pois o estudo ergonômico da fase de

colheita do abacaxi está muito relacionado a análise postural e biomecânica dos trabalhadores

envolvidos na colheita do abacaxi.

Definindo pressão e estresse, Hall (1991) refere que a pressão seria a distribuição

externa da força sobre o corpo enquanto que, o estresse a distribuição interna da força,

aplicada externamente sobre o corpo.

O estresse e/ou pressão são criados quando o osso é exposto a forças

compressivas, tensivas, de cisalhamento, torção e encurvamento em repouso ou movimento.

O Quadro 6 apresenta resultados dos estudos de Nachemson (1976) apud Hamill e

Knutzen (1999) quanto às cargas sobre o disco L3 em indivíduos com 70kg realizando

algumas atividades.

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ATIVIDADE CARGA SOBRE O DISCO L3 (N)

Decúbito Dorsal 294

Em pé 686

Sentado Ereto 980

Andando 833

Rodando o tronco 882

Inclinando-se lateralmente 931

Tossindo 1078

Saltando 1078

Espreguiçando-se 1176

Erguendo 20 Kg com a coluna ereta, joelhos fletidos

2058

Erguendo 20 Kg com a coluna curvada, joelhos estendidos

3332

Quadro 6 - Cargas sobre o Disco L-3 em um indivíduo com 70kg Fonte: Nachemson (1976 apud HAMILL; KNUTZEN, 1999).

Quando uma grande força compressiva é aplicada sobre uma estrutura e as cargas

ultrapassam os limites de estresse dessa estrutura existe maior possibilidade de ocorrer fratura

(HAMIL; KNUTZEN, 1999).

Hamill e Knutzen (1999) comentam que o disco intervertebral consegue suportar

forças compressivas, forças de torção e de curvamento aplicadas sobre a coluna, bem como

distribuir essas cargas na mesma, além de restringir o excesso de movimento presente no

segmento vertebral.

Porém quando o mesmo encontra-se degenerado, torna-se menos viscoelástico,

perdendo sua capacidade de absorver as cargas de choques, produz uma carga assimétrica no

disco, concentrada na região do anel (GRIEVE, 1994).

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O autor ainda acrescenta que altas pressões, aplicadas constantemente sobre a

coluna, além de degenerarem o disco, podem desgastar as superfícies das facetas articulares

das vértebras.

Hamil e Knutzen (1999) no que diz respeito a fraturas nas vértebras cervicais

destacam que as mesmas podem ocorrer em várias atividades que provoquem compressão

excessiva. Isso deve-se ao fato da coluna cervical normalmente encontrar-se numa posição de

lordose (convexidade anterior da curvatura) e ao modificar essa posição para uma situação de

retificação cervical (abaixamento da cabeça realizando uma flexão de aproximadamente 30o)

e aplicar-se uma força no topo da cabeça, as vértebras cervicais recebem uma carga para

baixo em sua extensão provocada por essa força compressiva, originando uma luxação ou

fratura luxação das facetas articulares.

Ferreira e Vieira (1997) apud Santos (2002), relatam que as cargas na coluna

vertebral são produzidas, principalmente, pelo peso corporal, tensão dos músculos vertebrais

que possuem origem e inserção na coluna e cargas externas tais como: força de reação do solo

(FRS) e pesos transportados no trabalho, em atividades da vida diária (AVDs) ou em sessões

de treinamento físico (academias de ginástica).

O NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health) em 1981

desenvolveu uma equação para avaliar a manipulação de cargas no trabalho. Essa equação foi

revista em 1991 e em 1994 onde a partir da complementação de alguns critérios, criou-se uma

ferramenta para na identificação dos riscos de lombalgia associados à carga física que um

trabalhador encontra-se submetido em sua atividade laboral.

Recomendou-se, posteriormente, um limite de peso para cada tarefa em questão

onde o trabalhador realizasse sua atividade sem risco elevado de desenvolver lombalgia.

Conforme a última revisão, o Limite de Peso Recomendado (LPR) é determinado á partir do

quociente de sete fatores (constante de carga, fator de distância horizontal, fator de altura,

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fator de deslocamento vertical, fator de assimetria, fator de freqüência e fator de pega)

levando em consideração também os critérios biomecânicos que limita o estresse na região

lombo-sacra, o critério fisiológico que limita o estresse metabólico e a fadiga associada a

tarefas de caráter repetitivo e o critério psicofísico, que limita a carga baseando-se na

percepção que o trabalhador tem da sua própria capacidade. Após todas essas considerações, o

LPR estabelecido segundo o método de NIOSH, foi estipulado em 23kg (MINISTÉRIO DO

TRABALHO, 2002).

Segundo os critérios da NIOSH, o Limite Máximo Permitido de compressão discal

L5-S1 é de 3.400N para mulheres e de 4300N para homens. Já os limites da carga axial sobre

as vértebras lombares na posição de pé é de 700N. De acordo com estudos de Broberg (1983)

apud Santos (2002) esse valor pode atingir os valores de 3000N quando um indivíduo levanta

uma carga pesada a partir do solo, ou 300N se o mesmo encontra-se na posição de decúbito

dorsal. Porém, Nachemson (1976 apud SANTOS, 2002), informa que a coluna lombar suporta

uma carga vertical de aproximadamente 9800N sem risco de fraturar.

Em relação ao momento de força, Hamil e Knutzen (1999) descreve que no

movimento de extensão desenvolve-se uma maior produção dessa grandeza com valores

médios de 210Nm para homens. Com relação a flexão, a força encontrada foi de

aproximadamente 150Nm o equivalente a 70% da força dos extensores. Quanto à flexão

lateral, os autores relatam que foram encontrados os valores de 145Nm (69% da força

extensora) e para força de rotação 90Nm (43%).

No que diz respeito à pressão intradiscal, o Quadro 7 apresenta valores para essa

grandeza de 2Mpa encontrados em estudos de Nachemson (1964 apud HAMILL;

KNUTZEN, 1999).

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ATIVIDADE PRESSÃO INTRADISCAL (KPA)

FORÇA COMPRESSIVA ESPINHAL (N)

Em pé 270 380 Flexão (414 Nm) 710 990 Extensão (28Nm) 720 1010

Flexão Lateral (43 Nm) 620 870 Rotação de tronco (28Nm) 480 670

Flexão de 30o com 4kg em cada mão 1620 2270

Quadro 7 - Pressão intradiscal e forças compressivas em L3-L4. Fonte: Nachehmson, & Morris, (1964 apud HAMILL; KNUTZEN 1999).

Finalmente, em se tratando da força de cisalhamento, os estudos de Adams (1994

apud SANTOS, 2002) encontraram valores de 500N para o limite de ocorrência de lesões.

3.4 LEGISLAÇÃO

O artigo 198 da CLT (Consolidação das Leis de Trabalho) limita em 60kg para

homens e 40kg para mulheres o levantamento de peso com meios auxiliares . Para o

transporte individual de carga o limite encontra-se em torno dos 40kg. Porém, conforme

considerações de Vidal (2002), tanto a Constituição Federal, como outros instrumentos legais

possuem determinações que primam pela saúde do trabalhador em seu ambiente de trabalho

penalizando, portanto, aqueles que não cumprem essas exigências e expõem as pessoas a

riscos no trabalho.

A NR17 (Norma Regulamentadora 17) que trata das recomendações ergonômicas

no trabalho, nos artigos 17.2.2 à 17.2.7, reafirma a necessidade de não se exigir, nem admitir

o transporte manual de cargas por um trabalhador cujo peso comprometa sua saúde e

segurança e ainda, recomenda o uso de meios técnicos apropriados, bem como a utilização de

maquinários e instrumentos, com treinamento adequado, facilitando assim, o manuseio e

transporte dessas cargas sem causar danos a saúde do trabalhador.

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Os limites definidos pela CLT estão bem acima dos limites recomendados

internacionalmente, a exemplo do limite recomendado pelo método de NIOSH (23kg) e como

as legislações internacionais de segurança e conforto no trabalho não são superiores as do

nosso sistema jurídico, mesmo estando próximas do ideal, infelizmente nada pode-se fazer

pelos trâmites legais enquanto mudanças não ocorrerem na CLT, afirma Vidal (2002).

A atividade abacaxizeira, objeto de análise desse estudo, emprega sistemas

mecanizados apenas nas pontas do processo de produção, quais sejam: a preparação do

terreno para o plantio e o transporte do produto colhido. As demais fases são realizadas em

sistemas manuais, onde elevadas cargas físicas são exigidas dos trabalhadores. Tais cargas

conseguem em muitos momentos serem superiores aos próprios limites recomendados pela

CLT, limites esses, que já se encontram fora dos padrões internacionais, razão essa que nos

motivou a escolher essa fase do processo agrícola da cultura do abacaxi, como objeto do

nosso estudo.

3.5 POSTURA HUMANA

Em se tratando de postura, Kisner (1992) define como sendo a posição ou atitude

do corpo, a maneira como as partes do corpo se harmonizam para uma determinada atividade,

ou ainda a maneira como alguém sustenta seu corpo de forma equilibrada, sendo a má

postura, a postura que está fora do alinhamento normal, porém não leva a limitações

estruturais.

Tanaka e Farah (1997) definem postura como o arranjo que os segmentos

corporais mantêm entre si, numa posição específica, considerando o conforto, harmonia,

economia e a sustentação do corpo.

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Para Cartas, Nordin e Frankel (1992) e, Chilton e Niesenfeld (1993 apud

SANTOS, 2002) a lombalgia é um problema que tem se tornado comum em países

industrializados, e os estudos demonstram que 80% da população sofrerão de disfunções

lombares, pelo menos uma vez na vida. Esse é um problema de ordem mundial e atualmente

se constitui numa das maiores causas de sofrimento humano com repercussões desastrosas

para aqueles que sofrem desse mal.

Acomete trabalhadores de diversos setores produtivos e classes sociais e suas

queixas dolorosas podem estar diretamente relacionadas às dificuldades de adaptação de

certas atividades, as cargas existentes no trabalho, bem como às atividades repetitivas

(SANTOS, 2002).

Couto (1995) complementa que as lombalgias em grande parte dos casos, são

precipitadas por condições de trabalho desfavoráveis, onde o trabalhador realiza suas

atividades laborais em posturas inadequadas, por longos períodos, por não ter conhecimento

sobre a utilização correta da biomecânica da coluna vertebral. Tais condições podem

desencadear dor, fadiga, aumentar a incidência de acidentes e doenças ocupacionais, diminuir

a produtividade e o aumento do absenteísmo.

Dados encontrados nos estudos de Ksan (2003) afirmam que no ambiente de

trabalho, a dor lombar é considerada atualmente a principal causa de absenteísmo

ocupacional, ocupando o 2o lugar na procura por assistência médica.

Sicard (1973 apud MERINO, 1996) refere que o manuseio e a movimentação de

cargas, o trabalho prolongado em posição inclinada do tronco e trepidações contínuas são as

causas de maior freqüência no aparecimento de diferentes tipos de lombalgias, sendo

encontrada principalmente em trabalhadores braçais como: serventes, mineiros, pedreiros,

carpinteiros agricultores e estivadores.

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3.5.1 A Postura Adequada e a Postura Inadequada

A postura normal é mantida por músculos fortes e flexíveis, articulações

funcionando apropriadamente uma linha de gravidade equilibrada e bons hábitos posturais. As

alterações no alinhamento postural podem ser secundárias à má formação estrutural do

músculo mesmo durante a execução de tarefas simples (GROSS, 2001).

Músculos, ligamentos e tendões são especialmente vulneráveis aos efeitos de

forças tensoras repetitivas, enquanto que os ossos e cartilagens são suscetíveis a lesões por

aplicação de forças compressoras (NORKIN, 2001).

De acordo com Nokin (2001), um grande número de pesquisas sugere que vários

dos problemas de dor nas costas podem ser evitados uma vez que, resultam de uma tensão

mecânica produzida por posturas estáticas prolongadas em posição sentada ou de pé e

repetido levantar de cargas pesadas.

Deliberato (2002) descreve que as atividades de levantamento, transporte e

deposição de cargas encontram-se entre as principais causas de lesões nos discos vertebrais e

na estrutura ósteo-articular-ligamentar, tanto do esqueleto axial como do esqueleto

apendicular.

Iida (1991) ressalta que devido a sua estrutura, que é composta pelos discos

intervertebrais superpostos, a coluna vertebral apresenta pouca resistência a forças que não

tenham a direção do seu eixo.

Em estudos realizados por Nachenson e Anderson ( apud IIDA 1991) apontam que

a pressão exercida no disco intervertebral entre L3 e L4 é 100% maior quando o levantamento

de cargas é feito com flexão anterior do tronco e com os joelhos em extensão em relação A

pressão existente quando o mesmo levantamento é feito com tronco em extensão e joelhos

fletidos.

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Corroborando com esses resultados, Chaffin (1991 apud DELIBERATO, 2002)

demonstrou em estudo utilizando modelos biomecânicos, a relação existente entre a carga

suspensa e sua distância da coluna vertebral, com a força de compressão resultante nos níveis

de L5/S1. Ele encontrou como resultado um aumento de 1000N (aproximadamente 100kg) na

força de compressão sobre o disco, a cada 10 cm de distância horizontal entre a mão e a

coluna.

Dessa forma, sempre que possível, a carga sobre a coluna deve ser feita no sentido

vertical, evitando-se assim, as cargas com as costas curvadas.Quanto ao transporte manual de

cargas, a coluna vertebral deve ser mantida o máximo possível na vertical, o que significa que

o centro de gravidade da carga deve passar o mais próximo possível do eixo longitudinal.

Evita-se assim, pesos muito distantes do corpo ou cargas assimétricas que tendem

a provocar momento, exigindo um esforço adicional da musculatura dorsal para manter o

equilíbrio. O trabalho em equipe deve ser usado quando a carga for excessiva para uma única

pessoa (IIDA, 1991).

A postura de pé, parada, é muito fatigante uma vez que exige muito trabalho

estático da musculatura envolvida para a manutenção dessa posição, além de existir uma

maior dificuldade para bombear o sangue para os extremos do corpo (IIDA,1991). Porém,

segundo o mesmo autor, as pessoas que executam trabalhos dinâmicos, geralmente

apresentam menos fadiga que as que permanecem estáticas ou realizando poucos

movimentos.

Se o trabalhador executa suas atividades numa postura estática prolongada, seja ela

de pé ou sentada, terá um índice de dor e desconforto menor com a alternância de postura.

Couto (1995) relata ainda que trabalhar com os braços elevados acima do nível do

ombro também apresenta alguns pontos críticos. Além da contração estática, existe a

dificuldade dinâmica de chegada do sangue até as extremidades dos membros, por encontrar-

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se distantes do coração. Pode ocorrer ainda compressão do tendão do músculo supra-

espinhoso, com possibilidade de desenvolver tenosinovite ou bursite no ombro.

O Quadro 8 apresenta a localização de áreas dolorosas do corpo provocadas por

posturas inadequadas.

POSTURA RISCOS DE DORES Em pé Pés e pernas (varizes) Sentado sem encosto Músculos extensores do dorso Assento muito alto Parte inferior das pernas, joelhos e pés Assento muito baixo Dorso e pescoço Braços esticados ombros e braços Pegas inadequadas em ferramentas Antebraços

Quadro 8 - Localização das dores no corpo provocadas por posturas inadequadas Fonte: IIDA, (1990; p.85).

3.6 ANÁLISE ERGONÔMICA/BIOMECÂNICA

Analisar ergonomicamente um posto de trabalho significa estudar uma parte do

sistema onde atua o trabalhador sendo realizada através da análise da tarefa, da postura, dos

movimentos do trabalhador, como também através de observações sobre as exigências físicas,

psicológicas e mental ou cognitiva (IIDA, 1990).

Várias são as técnicas utilizadas para realizar a análise ergonômica do trabalho que

podem ser classificadas em :

Técnicas objetivas ou diretas onde os registros das atividades são realizados ao

longo de um período, por exemplo, através de filmagem em vídeo.

Técnicas subjetivas ou indiretas – técnicas que tratam do discurso do operador

fornecendo uma gama de dados que favorecem uma análise preliminar. São exemplos as

observações diretas, questionários, check-lists e as entrevistas.

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3.7 REGISTRO E ANÁLISE DA POSTURA

Ao longo de uma jornada de trabalho, várias são as posturas assumidas pelo

trabalhador e fazer uma análise ergonômica observando as posturas adotadas, torna-se uma

tarefa difícil, uma vez que, o trabalhador tende a alterar seu comportamento habitual. Fazer

uma simples observação não é suficiente devido sua subjetividade e as técnicas fotográficas

também são falhas por fazerem registros apenas instantâneos, sem fornecer informações sobre

a duração da postura e forças empregadas. (IIDA, 1990).

Sendo assim, algumas técnicas de análise de postura foram desenvolvidas e são

utilizadas como metodologia em várias pesquisas para se fazer o registro postural.

3.7.1 Sistema OWAS (Ovako Working Posture Analising System)

O OWAS (Ovako Working Posture Analising System) é um sistema prático de

registro que foi proposto por três pesquisadores finlandeses em 1977, com o objetivo de

analisar posturas de trabalho na indústria do aço (IIDA, 1991).

No método OWAS a atividade pode ser subdividida em várias fases e

posteriormente categorizada para a análise das posturas no trabalho.

Na análise das atividades aquelas que exigem levantamento manual de cargas são

identificadas e categorizadas de acordo com o sacrifício imposto ao trabalhador, embora não

seja este o enfoque principal do método. Não são considerados aspectos como vibração e

dispêndio energético.

Posteriormente as posturas são analisadas e mapeadas a partir da observação dos

registros fotográficos e filmagens do indivíduo em uma situação de trabalho (IIDA, 1991).

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Codificação da Postura

1-Ereta

2-Inclinada

3-Ereta e torcida

Dígito

Costas 4-Inclinada e torcida

1-Braços abaixo dos ombros

2-Um braço no nível ou acima dos ombros

Dígito

Braços 3-Ambos no nível ou acima dos ombros

1-Sentado

2-De pé com ambas as pernas esticadas

3-De pé com o peso em uma das pernas

esticadas

4-De pé ou agachado com os joelhos

dobrados

5-De pé ou agachado com um dos joelhos

agachados

6-Ajoelhado em um ou ambos joelhos

Posi

ções

típi

cas d

o M

étod

o O

WA

S

Dígito

Pernas

7-Andando ou se movendo

1-Força ou peso igual ou menor que 10Kg

2- 10Kg < Força ou peso < 20Kg

Dígito

Carga 3-Força ou peso > 20Kg

Quadro 9 - Codificação da postura com o método OWAS. Fonte: Adaptado de Freitas (2000)

Guimarães (2002, p.2) informa que o método classifica o esforço físico em 4

categorias de acordo com as posturas adotadas no trabalho e a força exercida em uma ação

específica:

Classe 1 – Postura normal, não é exigida nenhuma medida corretiva; Classe 2 – Postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de trabalho; carga de trabalho levemente prejudicial; Classe 3 – A carga física da postura é prejudicial, sendo necessárias medidas para mudar a postura o mais rápido possível; Classe 4 – A carga física da postura é extremamente prejudicial, necessitando de medidas imediatas para mudar as posturas.

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3.7.2 Modelo Biomecânico

Dentre essas técnicas, os modelos biomecânicos vem sendo utilizados por muitos

pesquisadores onde a utilização de um software calcula os esforços máximos em cada

articulação da coluna provocados pelas posturas inadequadas permitindo a obtenção de dados

mais quantitativos.

Alguns estudiosos desenvolveram modelos biomecânicos para avaliar as forças

que agem sobre diferentes estruturas do corpo humano e algumas vezes estimar a magnitude

máxima permissível para o manuseio de uma carga em várias posturas, o tamanho adequado

das ferramentas de trabalho e a configuração menos estressante de postos de trabalho.

Conforme Chaffin (2001), esses modelos podem auxiliar na obtenção de dados

sobre a capacidade músculo-esquelética, provenientes de diferentes fontes, como referência

para projetos de postos de trabalho. Há situações de trabalho em que os modelos são a única

forma de estimar as condições de risco em potencial em certos tecidos do sistema músculo-

esquelético. Os modelos biomecânicos foram desenvolvidos para representar os fenômenos

cuja complexidade se reduz no conhecimento do funcionamento dos componentes das funções

músculo-esqueléticas de um sistema biomecânico, com avaliação de situações reais.

Alguns modelos foram utilizados para calcular forças e momentos sobre o disco

intervertebral L5/S1, pois há um grande número de trabalhadores incapacitados por dores

lombares associadas ao trabalho manual, surgimento de lesões do punho por esforços manuais

repetitivos, especialmente quando realizadas em posturas inadequadas extremas, e ainda para

a determinação das forças musculares em diferentes posturas, que fornecem a base para

diretrizes em relação ao número esperado de pessoas capazes de realizar uma determinada

tarefa.

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No modelo apresentado na Figura 7 as forças examinadas são as de cisalhamento

(Fs) do disco intervertebral (L5/S1), a força de compressão do disco (Fc), e o momento

resultante, em M1 é maior que em M2, devido a distância entre a carga (P) e o ponto de

encontro das forças atuantes (L5/S1).

Figura 7 - Forças de reação num levantamento de peso Fonte: Chaffin, (2001).

Na Figura 8, observa-se as Forças de Reação e a Força de Cisalhamento em L5-S1

produzidos pela carga.

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Figura 8 - Força de reação e força de cisalhamento (L5/S1) com carga Fonte: Chaffin, (2001).

Uma vez que boa parte das análises posturais é realizada de maneira subjetiva, não

se tem certeza se determinadas posturas exercidas durante uma jornada de trabalho de fato,

geram estresse na coluna vertebral, prejudicando dessa forma a saúde do trabalhador e

conseqüentemente sua produtividade laboral.

Grandjean (1998) comenta que vários autores desenvolveram modelos

biomecânicos para se calcular a carga da coluna vertebral.

O Departamento de Engenharia da Produção da Universidade Federal da Paraíba

(UFPB) vem otimizando um pacote com três softwares (Behavior Vídeo, Digita e HARSim)

desenvolvidos pelo professor Francisco Rebelo e sua equipe na Faculdade de Motricidade

Humana em Lisboa, Portugal que tem sido utilizados como ferramentas na analise e

intervenção ergonômica de varias situações de trabalho fornecendo dados quantitativos que

ajudam na melhor compreensão da realidade do trabalho.

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O Behavior Vídeo tem como objetivo a quantificação sistemática da freqüência e

seqüência dos modos operatórios (posturas, tarefas, seqüências, comunicações, cargas

transportadas, etc). È um sistema flexível que fornece indicadores na compreensão de uma

realidade de trabalho, na simulação de novas situações de trabalho, para ações de formação

profissional entre outras aplicações, por um longo período de tempo (REBELO, 2003).

Para Rebelo (2003), o sistema Digita propõe um levantamento

antropométrico através da fotogrametria, com baixo custo de material técnico e

resultados em tempo infinitamente curto, se comparado a outros métodos

convencionais.

O HARSim (Humanóide Articulation Reaction Simulation), tem como objetivo

avaliar o comportamento articular humano em carga, realizando a quantificação das forças, o

calculo das forças e dos momentos que incidem sobre determinado segmento do corpo através

de modelos que utilizam a técnica dos elementos finitos (REBELO, 2003).

Santos (2002) salienta que os elementos finitos há muito tempo têm sido validado

internacionalmente como um meio eficaz de calcular certos esforços no corpo humano, a

exemplo das forças que agem numa vértebra, sujeita a diversos regimes de cargas, sem

introduzir sensores no interior dos discos intervertebrais.

Conforme explanação de Rebelo (2002), o HARSim de forma geral permite:

• Gerar qualquer percentil antropométrico, masculino ou feminino; • Gerar percentil antropométrico de uma pessoa que apresente deficiência; • Atribuir limites articulares de movimento às 40 articulações corporais; • Gerar seqüências de postura por cinemática direta através da utilização dos menus interativos; • Introduzir o peso corporal dos segmentos corporais; • Introduzir restrições as articulações resultantes de apoios dos segmentos corporais; • Gerar primitivas gráficas simples (esferas, retângulos, caixas) com as quais o manequim interage; • Calcular para cada espaço intervertebral e para outras articulações do corpo, uma força axial, duas forças de corte e três momentos flexores, além da pressão entre os espaços intervertebrais;

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Com base no método matemático de elementos finitos, O software HARSim

calcula as forças axiais em Newtons (N), os momentos flexores em (Nm) e as forças de corte

ou cisalhamento (N) da tarefa em estudo, mostrando em megapascais (MPa) as pressões

intradiscais em todas as regiões da coluna, de cada postura crítica, construindo um gráfico,

dinâmico, para cada uma destas forças conforme o Gráfico 2.

Gráfico 2 - Gráfico das forças que agem na coluna vertebral a 90o de flexão anterior do tronco:

atividade do borracheiro de afrouxar ou apertar a roda com chave em cruz. Fonte: Santos (2001; p.136)

Para efeito de análise Santos (2002) afirma que o HARSim leva em consideração

certas variáveis, como as distâncias e ângulos intersegmentares, área seccional das vértebras e

segmentos corporais, além do momento de inércia geométrico para calcular as forças atuantes

em 38 segmentos (24 na coluna, 8 nos membros superiores 6 nos membros inferiores)

somando 108º de liberdade (72º na coluna vertebral, 22º nos MMSS e 14º nos MMII).

Após o processamento dos gráficos, o programa permite a escolha dos tipos de

gráficos que se deseja visualizar ou ainda exportar os resultados em forma de texto ou para

serem tratados em programas de análise estatística.

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Sendo assim, os cálculos fornecidos pelo HARSim permitem avaliar as exigências

físicas das tarefas de trabalho prescritas ou ainda elabora propostas para concepção das

mesmas.

Santos (2002), utilizou HARSim em sua análise ergonômica do trabalho dos

borracheiros relacionando o estresse postural e a exigência muscular na região lombar e pode

concluir que a partir das variáveis calculadas da pressão intradiscal, momento flexor, força de

cisalhamento, força axial, momento de torção e o momento de flexão lateral observou-se que

quanto maior o grau de flexão anterior do tronco dos borracheiros ao realizarem suas

atividades, maior o valor apresentado pelas variáveis da pressão intradiscal, do momento

flexor e da força de cisalhamento que quase sempre ultrapassavam os limites de segurança,

principalmente quando ocorria a aplicação de uma força ou carga externa.

Em seu trabalho sobre a quantificação dos esforços físicos da coluna do armador

de laje, Cartaxo (1997) analisou as posturas desses trabalhadores, utilizando uma versão do

referido software, onde considerou-se as posturas em equilíbrio estático, sendo a coluna

modelada como uma estrutura contínua, com geometria e propriedades elásticas variáveis.

Esse trabalho analisou biomecanicamente as posturas de trabalho dos

trabalhadores rurais da colheita do abacaxi utilizando o WinOWAS e afim de quantificar as

forças que incidem sobre a coluna vertebral do balaieiro devido ao transporte de cargas

elevadas (balaio cheio) e sendo o WinOWAS insuficiente para fornecer esses dados foi

utilizado o software HARSim.

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CAPITULO 4 - METODOLOGIA

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4.1 NATUREZA DA PESQUISA

Essa pesquisa conteve em sua metodologia uma abordagem tanto qualitativa,

quanto quantitativa. Dentre as variáveis escolhidas para a caracterização do processo de

colheita e das condições de trabalho destacaram-se as qualitativas utilizadas na identificação

dos riscos ergonômicos e sua relação com o manejo inadequado da carga, porém o estudo do

ritmo de trabalho e do carregamento das cargas exigiu medições de variáveis quantitativas

independentes.

4.2 TIPO DE PESQUISA

Essa pesquisa caracterizou-se como do tipo exploratória, pois permitiu ao

investigador aprofundar seus estudos a partir de questões investigativas presentes no mesmo,

em uma realidade específica fornecendo posteriormente subsídios para o planejamento de

uma pesquisa do tipo descritiva ou experimental (TRIVIÑOS, 1990).

Também teve um caráter descritivo uma vez que o cerne desse estudo é a busca do

conhecimento e descrição do processo atual da colheita do abacaxi levando em consideração

as características organizacionais da tarefa, as condições operacionais e ambientais do

trabalho, saúde e segurança do trabalhador, especificamente quanto aos riscos ergonômicos

que esses trabalhadores estão expostos em seu ambiente de trabalho.

Quanto aos meios, essa pesquisa foi do tipo pesquisa de campo onde para se

cumprir os objetivos propostos, o estudo realizou-se em condições reais.

Tratando-se de um estudo de caso onde se estudou o processo de colheita do

abacaxi desenvolvido no município de Santa Rita, a pesquisa bibliográfica que embasou este

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estudo lançou mão de publicações em livros, revistas científicas, jornais, anais de eventos,

internet entre outras fontes para embasar a metodologia utilizada, a coleta e análise dos dados.

4.3 UNIVERSO E AMOSTRA DA POPULAÇÃO PESQUISADA

O universo da pesquisa foi composto 81 turmas de colheita, sendo cada turma

composta de 14 trabalhadores, o universo desse estudo corresponde a 1134 trabalhadores

rurais envolvidos no processo de colheita do abacaxi da região do Baixo-Paraíba/PB. Cada

turma de 14 pessoas é subdivida conforme a função que desempenha na colheita sendo 4

catadores, 6 balaieiros, 2 arrumadores e 2 contadores. Para a observação do processo

produtivo da colheita, a amostra foi composta por quatro turmas que trabalhavam no

município de Santa Rita/PB.

4.4 IDENTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS

Este estudo apresentou como variáveis independentes ou de entrada os modos

operatórios das atividades de trabalho da fase da colheita, as posturas de trabalho, tempos dos

deslocamentos, ritmos, tipo de processo, espaço de trabalho, jornada de trabalho, variações

dos espaçamentos dos talhões x dificuldade para realizar o trabalho, tipo de fruto x diferença

no processo de colheita (facilidades e dificuldades), condições climáticas, sistema de

pagamento, aquisição e uso de EPIs, preferência de atividades quanto à facilidade entre

outras. A análise postural qualitativa e quantitativa foi a variável dependente ou de saída

manipulada neste estudo.

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4.5 INSTRUMENTOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

Utilizou-se a técnica subjetiva ou indireta como técnica de análise ergonômica do

trabalho através das observações diretas e utilização de formulários e roteiros para registro das

informações conforme discurso dos atores envolvidos no processo.

Como instrumentos de pesquisa foi construído um formulário semi-estruturado

(Apêndice 1) contendo questões abertas e fechadas referentes ao perfil dos trabalhadores

rurais da colheita do abacaxi como: idade, sexo, estado civil, tempo de serviço, grau de

instrução, fatores organizacionais da atividade (carga horária, vinculo empregatício,sistema de

pagamento, ritmo, motivação e satisfação), segurança no trabalho (riscos no trabalho,

aquisição e uso de EPIs – Equipamentos de Proteção Individual), condições operacionais e

ambientais do trabalho e treinamento. Esse roteiro foi aplicado a uma turma de trabalhadores

formada por 14 indivíduos.

Desenvolveu-se ainda um roteiro de entrevista (Apêndice 2) aplicado ao presidente

da COPAGRO e especialistas da EMEPA e da EMATER para traçar o perfil dos produtores

rurais da colheita do abacaxi, bem como conhecer os agentes sociais envolvidos no processo

produtivo dessa cultura.

Para coleta dos dados referentes aos tempos gastos pelos balaieiros em cada fase

de sua atividade e o peso dos balaios cheios foi utilizado um roteiro de organização de

trabalho (Apêndice 3) sendo observados 20 ciclos da atividade de um balaieiro quando o fruto

colhido foi do Tipo A, 4 ciclos quando o fruto colhido foi do Tipo B e 12 ciclos para a

colheita do fruto Tipo C. Dessa forma, foram observados 3 trabalhadores balaieiros sendo um

em cada tipo de colheita.

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84

4.6 ETAPAS DO ESTUDO

Para cumprir os objetivos desse estudo realizou-se as seguintes etapas:

1o Uma pesquisa bibliográfica sobre assuntos referentes à cultura do abacaxi, e as

metodologias aplicadas para descrição do processo produtivo, identificação e descrição dos

riscos, com ênfase nos riscos ergonômicos, a biomecânica ocupacional, estresse mecânico da

coluna vertebral e registro da postura.

2o Preparação e aplicação de um formulário semi-estruturado, que foi preenchido

pelo próprio investigador e aplicado em uma turma com 14 trabalhadores.

3o Realização das entrevistas coletivas e individuais com os trabalhadores rurais,

com especialistas e o presidente da COPAGRO.

4o Estudo de Métodos das atividades desenvolvidas na colheita do abacaxi com

especial atenção para a atividade do balaieiro onde foram necessárias medidas de tempo e

pesagem das cargas transportadas.

5º Registro fotográfico e de vídeo para análise do processo de trabalho dos

trabalhadores rurais. Sendo essas realizadas durante um período correspondente a meio

período de execução de suas tarefas, no campo de colheita, observando-se as posturas

assumidas, tempo de permanência nestas posições e os movimentos executados.

6ª Análise biomecânica das atividades da colheita do abacaxi utilizando o software

WinOWAS para todos os tipos de atividades dos trabalhadores rurais e o HARSim para as

atividades dos balaieiros.

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4.7 Tratamento dos Dados

A ferramenta utilizada para as análises e avaliações biomecânicas da postura foi o

modelo Ovako de análises de posturas no trabalho (“Working Postures Analysing System” –

OWAS).

As posturas foram escolhidas a partir da observação dos registros fotográficos e

filmagens do indivíduo na situação de trabalho em seguida foram registradas no software pela

escolha de uma das posições básicas descritas no modelo para cada segmento corporal e

codificadas conforme apresentação do Quadro 9.

Além disso, o software WinOwas forneceu as informações a respeito do

movimento e da massa manuseada ou do esforço necessário. Baseado nesses resultados foi

possível desenvolver medidas preventivas para evitar sobrecargas articulares especialmente na

coluna dos trabalhadores.

O HARSim foi utilizado para analisar de forma mais precisa o impacto das cargas

transportadas ou manuseadas pelos balaieiros sobre a coluna vertebral. Esse software

associado com o WinOWAS quantificou os esforços físicos da coluna do balaieiro permitindo

uma análise mais abrangente das posturas e cargas de trabalho desse trabalhador.

4.8 QUADRO DE SÍNTESE DAS ETAPAS DA PESQUISA

O Quadro 10 apresenta de forma simplificada que instrumentos e/ou técnicas de

pesquisas foram utilizados nesse estudo associando-os às respectivas variáveis presentes em

cada um dos objetivos específicos do mesmo.

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OBJETIVOS VARIÁVEIS INSTRUMENTOS/ TÉCNICAS DE PESQUISA

Identificar e descrever o processo de colheita da cultura do abacaxi realizado na região do Baixo-Paraiba

Tipo de processo, Espaço de trabalho, Jornada de trabalho, atividades dos trabalhadores rurais (catadores, arrumadores, contadores e balaieiros), tipo de fruto, diferença no processo de colheita (facilidades e dificuldades), sistema de pagamento e uso de EPIs.

Observação direta, aplicação do formulário semi-estruturado, gravação de áudio de entrevistas coletivas e individuais.

Fazer análise ergonômica do trabalho dos trabalhadores rurais da colheita do abacaxi

Posturas de trabalho, Freqüência das posturas de trabalho

1) Observação direta, Formulário, Registro fotográfico e vídeo

Fazer análise biomecânica dos trabalhadores rurais da colheita do abacaxi

Deslocamentos do balaieiro e os respectivos tempos, em cada etapa de sua atividade, posturas de trabalho, freqüência das posturas, Peso dos Balaios.

Observação Direta Cronometragem (Roteiro e cronometro) Registro Fotográfico, Filmagem Software WinOWAS

Quantificar o esforço físico na coluna do balaieiro, como conseqüência das posturas assumidas na sua atividade laboral.

Momentos flexores, força de cisalhamento, pressão intradiscal, forças axiais.

Software HARSim

Quadro 10 - Descrição dos objetivos da pesquisa e as respectivas variáveis e instrumentos e/ou técnicas utilizados para alcançá-los.

4.9 ASPECTOS ÉTICOS

Todo o procedimento experimental com os indivíduos participantes da pesquisa,

está de acordo com a Resolução 196 / 96, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), uma vez

que este projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do CCS -

Centro de Ciências da Saúde sendo aprovado pelo mesmo para realização do estudo (Anexo

A).

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CAPITULO 5 - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS

RESULTADOS

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5.1 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO NA COLHEITA DO ABACAXI

5.1.1 Produtores Rurais da Cultura do Abacaxi

A cultura do abacaxi na região do Baixo-Paraíba, em especial no município de

Santa Rita/PB é em sua maioria explorada por pequenos produtores, que foram trabalhadores

ativos do processo produtivo da cana-de-açúcar ou mesmo da cultura do abacaxi em outros

municípios, conseguindo desenvolver sua produção adquirindo crédito rural através de

programas de incentivo como o PRONAF (Programa Nacional de Apoio à Agricultura

Familiar).

5.1.2 Agentes Sociais da Atividade

Destaca-se o papel da COPAGRO (Cooperativa dos Produtores Agrícolas) que

desde a sua fundação proporciona uma organização da cadeia produtiva do abacaxi, garantido

o mercado, podendo dessa forma negociar os valores do produto sem intervenientes, bem

como a facilitação do acesso ao crédito rural do pequeno e médio produtor.

Em parceria com a USAC (União Santarritense de Associações Comunitárias) que

agrega e coordena todas as associações e cooperativas do município de Santa Rita/PB e

contando com o apoio da secretaria municipal da Educação que cedeu a estrutura física, teve

inicialmente associados em seu quadro 186 produtores rurais.

Como primeira preocupação, a cooperativa buscou meios de estimular o

financiamento da produção, uma vez que esses produtores utilizavam-se de recursos próprios

para levar adiante o sistema produtivo do abacaxi.

Para ganhar espaço no mercado e ter garantias de um preço justo da produção se

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fez necessário investir e foi a partir desses objetivos que se conseguiu facilitar junto ao Banco

do Nordeste o acesso às linhas de crédito para pequenos empreendedores rurais como o

PRONAF (Programa Nacional de Agricultura Familiar).

Conforme informações do presidente da COPAGRO, a cooperativa no inicio de

sua formação, cumpriu seus objetivos de fortalecer todos os produtores de abacaxi porém

apesar da maioria permanecer com o espírito de união e de crescimento coletivo, alguns

associados queriam usufruir os benefícios conquistados pela cooperativa individualmente,

abandonando a cooperativa.

Apesar da atitude desses cooperados, a COPAGRO continuou seu trabalho,

conquistando o mercado e através da assistência técnica da EMATER a cooperativa começa a

se desenvolver sentindo a necessidade de obter uma maior segurança no produto a ser

comercializado firmando posteriormente um contrato com a bolsa de comércio de

Pernambuco que faz a intermediação do abacaxi produzido na Paraíba com o mercado interno

principalmente do Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina, o que garante uma certa

estabilidade no mercado.

Devido a problemas estruturais da cadeia produtiva, armazenagem,

acondicionamento e padronização, o abacaxi produzido na Paraíba ainda é insuficiente suprir

o mercado interno e alcançar o competitivo mercado mundial. Tal dificuldade é justificada

pela precariedade de políticas agrícolas que não permitem aos produtores captar os recursos

necessários a sua capacidade de produção.

Atualmente a COPAGRO é constituída por apenas 92 cooperados, entre pequenos

e médios produtores e trabalhadores rurais de todas as fases da cultura do abacaxi, que se

encontram devidamente regularizados.

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Essa diminuição no número de associados regularizados desde o inicio de sua

fundação, justifica a queda da comercialização do abacaxi conforme Quadro 3 na p.40, uma

vez que fica difícil para a COPAGRO obter dados da produção de produtores não-associados.

O presidente da COPAGRO nos relata ainda a preocupação social da cooperativa

com os seus cooperados trabalhando a partir da sensibilização e da capacitação temas

relativos à educação, saúde, segurança e moradia buscando dessa maneira melhorias na

qualidade de vida de seus associados.

Tal responsabilidade social é compartilhada com o SENAR (Serviço Nacional de

Aprendizado Rural) e outros órgãos de apoio, que promovem cursos de capacitação dos

produtores e trabalhadores rurais. A segurança no manuseio de agrotóxicos também é um dos

assuntos abordados nesses programas de capacitação.

Através dessas iniciativas, a COPAGRO tem conseguido firmar convênios com o

PSF (Programa Saúde da Família) de algumas comunidades para atender as esposas e filhos

desses cooperados, instituições assistenciais através do projeto COOPERAR para construção

de creches que assistam os filhos de trabalhadoras rurais da cultura do abacaxi entre outras

iniciativas.

Com respeito aos projetos de introdução de novas tecnologias no sistema

produtivo da cultura do abacaxi, foi expresso a falta de expectativas quanto à possibilidade de

mecanização do processo tanto por parte de órgãos de apoio técnico, como a EMATER e

também por parte dos próprios trabalhadores rurais que vêem a mecanização como fonte de

desemprego pela baixa qualificação desse trabalhador rural.

Em se tratando de melhorias propostas pela cooperativa para aliviar em parte o

trabalho pesado realizado pelos trabalhadores rurais principalmente na fase de colheita do

abacaxi, algumas adaptações estão sendo estudadas para eliminar o carregamento a granel

buscando o acondicionamento do abacaxi em caixotes que acomodem de 8 a 12 frutos,

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tornando o trabalho mais leve, diminuindo, portanto, o trabalho atual dos balaieiros que

chegam a carregar balaios de até 100kg na cabeça, várias vezes, ao longo de uma exaustiva

jornada de trabalho, gerando riscos a sua saúde.

O presidente da cooperativa nos relata ainda que apesar do acesso aos

financiamentos acontecerem de forma individualizada, a cooperativa facilita o acesso desse

produtor ao recebimento do crédito, uma vez que a instituição financiadora recebe garantias

da cooperativa através da Bolsa de Pernambuco, de que a produção dos produtores será

comercializada.

A programação da Bolsa de Pernambuco é baseada na comercialização do ano

anterior levando em consideração a absorção do produto pelo mercado, cada período, ao

longo do ano. Dessa forma, quando se termina uma produção se faz uma pré-programação,

uma estimativa de venda, com base nos registros de consumo dos clientes cadastrados no ano

anterior.

Por fornecer garantias no mercado, a comercialização pelo sistema de cooperativas

permite facilidades na negociação dos preços, negociação essa intermediada pela Bolsa que

tem interesse que os melhores negócios sejam fechados para que a sua parte na comissão seja

acrescida.

Relata-se ainda que a cooperativa pretende criar um banco de dados de empresas

produtoras de insumos e possibilitar a intermediação da cooperativa na compra desses

produtos a preços mais acessíveis ao produtor.

A participação dos agentes sociais pertencentes ao processo produtivo da cultura

do abacaxi na Paraíba, pode-se ver de forma simplificada no esquema da Figura 13:

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BNB/PRONAFPRODUTORES (órgãos governamentais)

COPAGRO

Dem

anda

Prod

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Doc.

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Insumos

Terra

Mão-de-

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Informações

Crédito

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EMATER

Bolsa de Mercadoria

Proprietários de Caminhões

Tran

spor

te

Turmas de

Empreiteirase Chefes de

Colheita

Turmas

Arrendador

Fornecedores

EMEPA, EMBRAPA,UNIVERSIDADE

Figura 9 - Agentes sociais do processo produtivo da cultura do abacaxi na Paraíba. Fonte: Pesquisa de Campo

5.2 PERFIL DOS TRABALHADORES RURAIS DA COLHEITA DO ABACAXI

O processo de colheita do abacaxi da região do Baixo –Paraíba/PB apresenta as

funções representadas no organograma da figura 13, onde existe um produtor que contrata

uma turma de carregamento dividida em quatro grupos de trabalhadores: os catadores,

balaieiros, contadores e arrumadores.

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Entre o produtor e os trabalhadores encontra-se a figura do chefe de turma. Cada

chefe de turma é responsável por uma turma de carregamento e dentro do processo de

colheita, geralmente ele exerce a função de contador ou arrumador. O número de

trabalhadores por turma pode variar entre 10-14 trabalhadores, porém as 2 turmas visitadas

em nossa pesquisa eram formadas por 14 trabalhadores sendo 4 catadores, 6 balaieiros, 2

contadores e 2 arrumadores.

Atualmente existem 81 turmas de carregamento distribuídas por 6 municípios da

região do Baixo-Paraíba/PB conforme o Quadro 11, onde destaca-se o município de Sapé por

contar com mais de 60% das turmas.

MUNICÍPIO No DE TURMAS Sapé 50 Mari 10 Pedras de Fogo 10 Itapororoca 5 Mamanguape 4 Araçagi 2

Quadro 11 - No de turmas por município da região do Baixo-Paraíba/PB. Fonte: Pesquisa de Campo

Chefe de Turma

Balaieiro Catador Contador/Arrumador

Figura 10 - Divisão do trabalho no processo de colheita do abacaxi da região do Baixo-Paraiba/PB

Fonte: Pesquisa de Campo.

Produtor

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O formulário de pesquisa foi aplicado em uma turma com 14 trabalhadores do

sexo masculino com média de idade de 35,4 anos e tempo de serviço de 16,0 anos. A maioria

é casada e não possui escolaridade.

São residentes no município de Sapé/PB, contratados pelos produtores de abacaxi

para realizarem o trabalho da colheita de abacaxi no município de Santa Rita onde não

existem turmas especializadas nessa atividade.

Todos trabalham na cultura do abacaxi, qualquer dia da semana desde que haja

carregamento previamente marcado. Se não estão no “roçado”, realizam “bicos” em

atividades agrícolas das outras fases do processo de trabalho da cultura do abacaxi.

“Nós só não faz vender; o resto nós faz de tudo”.(trabalhador rural)

5.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

5.3.1 Jornada de Trabalho

Conforme a distância da propriedade em que será realizado o trabalho e o seu

município de origem e as próprias condições de acesso rodoviário da mesma, a jornada de

trabalho pode iniciar muito cedo. Costumam despertar 4:00hs para chegar no campo entre

6:00 e 7:00hs.

Esses trabalhadores são transportados em caminhões para as propriedades de

maneira irregular estando expostos a riscos de acidentes provenientes dessa atitude (Figura

11):

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“É arriscado demais nós andar em cima do carro... tudo é arriscado... nós sabe

que sai, mas não sabe se chega” (trabalhador rural – catador).

Figura 11 - Chegada dos trabalhadores no campo: transporte irregular Fonte: Pesquisa de Campo

A Figura 12 apresenta um momento que antecede o início da “lida” (trabalho)

onde os trabalhadores realizam o que eles chamam de “mesada”, ou seja, um desjejum

coletivo onde cada um compartilha seu alimento com o outro. Alguns contratantes oferecem o

café-da-manhã para esses trabalhadores, porém essa não é uma prática comum.

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Figura 12 - “Mesada” Fonte: Pesquisa de campo

O trabalho propriamente dito inicia aproximadamente às 8:00hs, sendo finalizado

ao término do carregamento do caminhão, conforme o pedido do cliente. Geralmente é

concluído no final da tarde, às 16:00hs, podendo ser finalizado no inicio da tarde se a “roça é

boa”, ou seja, se a propriedade consegue contemplar todo o pedido do carregamento sem

haver necessidade de deslocamento para outras áreas.

Além disso, o término da jornada é dependente do próprio ritmo de trabalho

imposto pela turma, que geralmente é intenso uma vez que a maioria dos trabalhadores

prefere que não ocorram pausas durante a jornada exceto a pausa do almoço, para que o

trabalho seja concluído o mais rápido possível.

5.3.2 Pausas

“Se nós para, o enfado é maior e demora mais pra terminar o carrego”

(Balaieiro).

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Os trabalhadores rurais da colheita de abacaxi não realizam pausas regulares ao

longo da jornada de trabalho uma vez que preferem manter um ritmo intenso que é justificado

pela ansiedade de terminarem o quanto antes o trabalho.

“Quanto mais rápido nós terminar o trabalho melhor pra nóis receber o dinheiro

na hora”. (Arrumador)

A pausa do almoço pode coincidir com o deslocamento da turma de uma área do

campo para outra ou com o término da colheita de uma categoria de fruto e o inicio da

colheita de outro tipo.

No que diz respeito à reposição hídrica, relatam ingerirem durante a jornada de

trabalho, aproximadamente até 5 litros de água em dias quentes, sendo essa quantidade

diminuída em dias frios (Figura 13).

Figura 13 - Trabalhador bebendo água. Fonte: Pesquisa de Campo

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5.3.3 Forma de Pagamento

Conforme Adissi, (2001) na região do Baixo-Paraíba, a colheita é a segunda,

atividade do processo da produção de abacaxi que mais emprega mão-de-obra, com

aproximadamente 70 dias/homem para um hectare, sendo superada pela limpa de mato que

paga em média 104dias/homem ao longo do ciclo produtivo.

Na época de safra chegam a realizar até quatro carregamentos (um carregamento

geralmente equivale a um dia de trabalho) por semana sendo remunerados por cada caminhão

carregado.

O arrumador e o contador são os trabalhadores melhores remunerados recebendo

R$ 40, 00 por caminhão enquanto que o balaieiro e o catador recebem R$ 25,00 reais por dia

de trabalho. Esse valor não é reajustado a aproximadamente 10 anos segundo relato dos

próprios trabalhadores.

O pagamento é realizado ao final da jornada de trabalho e se o período é de safra

pode ser negociado com o produtor para o final da semana. A remuneração mensal fica em

torno de dois salários mínimos, porém nos períodos de baixa produtividade a realidade é

outra:

“Tem mês que não dá pra tirar nem R$100,00 reais!”.(Catador)

Essa situação é decorrente do desemprego característico da sazonalidade da cultura

onde apesar de haver colheita ao longo de todo ano a safra concentra-se entre os meses de

setembro a dezembro (59%) e isso é sentido pelos trabalhadores.

Em um dia produtivo, podem chegar a carregar dois caminhões, porém, isso só é

possível se o roçado contemplar toda a carga do pedido, não havendo necessidade de se

deslocarem para outra propriedade, o que demandaria perda de tempo e quebra no ritmo de

trabalho.

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5.3.4 Previdência Social

‘”No abacaxi não "ficha” carteira...Trabalho há mais de 10 anos e nunca fui

fichado’” (Catador).

Apesar de ter seu direito a assinatura de carteira de trabalho e Previdência Social,

conforme a Lei Complementar no 11, de 1971, nenhum dos trabalhadores entrevistados

encontra-se assegurado por essa instituição. Essa situação de desamparo social reflete uma

realidade comum em nosso país:

“Deus me livre um dia agente cair, levar um acidente! Aquele que tiver alguma

condição pode fazer uma feira; o que não tiver...lá mesmo fica; ou pede esmola ou vai morrer

de fome porque nós não tem direito nenhum e o patrão não quer dá” (Balaieiro).

Os únicos benefícios relatados pelos trabalhadores é o fato de alguns contratantes

fornecerem a alimentação e pagarem ao final da jornada não deixando para o fim da semana.

5.3.5 Treinamento

“Comecei no abacaxi balaiando. Depois que terminava eu ia ajudar a amarrar a

carga. O camarada via meu interesse e aí eu comecei contando e depois fui entortar

(arrumar) a carga” (Arrumador).

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100

Os trabalhadores relataram não receber nenhum tipo de treinamento no que diz

respeito a realização de suas atividades laborais informando terem aprendido todo processo

por observação de trabalhadores mais experientes.

5.3.6 Motivação e Satisfação no Trabalho

Os trabalhadores rurais foram unânimes em justificar como maior motivador para

realização de seu trabalho a necessidade de sobrevivência:

“O que eu mais gosto e do dinheiro. Gosto de fazer meu trabalho certo, não

prejudicar ninguém e quando termino recebo o dinheiro... Como eu gosto da minha vida é

como eu gosto de meu trabalho porque eu vivo dele” (Balaieiro).

Apesar de reconhecerem as dificuldades dessa atividade de elevado esforço físico

e exaustivo declaram ser mais “privilegiados” com relação ao pagamento que outros

trabalhadores rurais, que trabalham no abacaxi como por exemplo os trabalhadores da limpa

de mato:

“Não gosto de limpar mato porque ganha pouco... O trabalho no abacaxi é

pesado, mas ganha melhor” (Balaieiro).

Contudo algo precisa ser destacado quanto a forma que esses trabalhadores

administram o cansaço, o grande esforço físico, a repetitividade, a falta de perspectivas, a

apreensão quanto ao ter trabalho no dia seguinte, ou de sofrer algum acidente ou mesmo o

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próprio direito de adoecer e não conseguirem cumprir o seu papel de mantenedores de seus

lares: o clima de alegria e companheirismo presente em cada dia de carregamento:

Aqui é todo mundo trabalhando alegre o dia todinho...Não tem esse negócio de ta

trabalhando com raiva um do outro. Aqui é todo mundo amigo(Arrumador).

5.4 PROCESSO DE COLHEITA NA REGIÃO DO BAIXO – PARAÍBA

O trabalho entre os catadores e balaieiro é realizado de forma conjunta e essa

relação, balaieiro-catador no município de Santa Rita, acontece em 1:2 trabalhadores (Figura

18), respectivamente, sendo que em alguns momentos essa relação pode aumentar para 1:3 ou

diminuir para 1:1 a depender a geometria do terreno e da concentração dos frutos requeridas

pela colheita no interior da lavoura. Isso acontece porque os balaieiros que atuam junto aos

catadores é apenas uma parcela dos balaieiros da turma uma vez que, os demais ou estão se

deslocando para o caminhão de carregamento ou retornando para a lavoura.

Figura 14 - Relação 2:1 (catador-balaieiro) Fonte: Pesquisa de Campo

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Os catadores, primeiramente retiram o fruto das plantas, segundo a especificação

desejada para a qualidade dos frutos que é classificado em 5 faixas de peso. Essa atividade

demanda do catador uma experiência e uma destreza prática para escolher somente os frutos

requeridos uma vez que a seleção acontece simultaneamente à retirada do fruto (Figuras 15 e

16). O catador deve também dispensar os frutos que apresentem defeitos indesejados, como

doenças ou má formação. A catação pode ser realizada com a quebra manual dos frutos ou

com o corte com facão, do fruto juntamente com as filhações, que protegerão os frutos na

arrumação das cargas. Essa variante, denominada por catação “sangrada”, ocorre no caso de

cargas que viajarão longas distâncias. Em nosso estudo, analisamos o processo de colheita do

tipo “não-sangrada”.

A catação sem facão é mais rápida, uma vez que possibilita a utilização das duas

mãos. Por outro lado, a ausência de filhações no interior dos balaios possibilita um maior

número de frutos por balaio e conseqüentemente elevação da sobrecarga dos balaieiros.

Em seguida, os catadores colocam o fruto selecionado no interior do balaio situado

sobre a cabeça do balaieiro que acompanha o catador por toda área plantada.

Figura 15 - Catação do fruto Fonte: Pesquisa de Campo

Figura 16 - Colocação do fruto no balaio Fonte: Pesquisa de Campo

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103

Quanto à atividade do balaieiro, a mesma compreende quatro fases sendo que a 1ª

fase corresponde ao deslocamento do balaieiro ao caminhão com o balaio vazio, a 2ª fase

representa o momento em que inicia o enchimento do balaio, a 3ª fase compreende o

deslocamento do balaieiro com o balaio cheio e a 4ª fase corresponde ao descarregamento do

balaio conforme a Figura 17.

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104

Fase 1- Deslocamento ao campo com o balaio

vazio

Fase 3 – Deslocamento do balaio cheio p/ o caminhão

Figura 17 - Fases da atividade do balaieiro Fonte: Pesquisa de Campo

Fase 2 – Enchimento do balaio

Fase 4 – Descarregamento do balaio

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Para uma turma de balaieiros foram feitas 20 observações (cronometragem) do

tempo (em segundos) durante a realização da colheita do abacaxi do tipo A, 4 observações

para colheita tipo B e 12 observações para colheita do abacaxi tipo C onde cada ciclo

(observação). O Quadro 12 mostra a cronometragem das fases da atividade do balaieiro em

segundos, o tempo total em minutos, número de frutos por balaio, peso do balaio e a

freqüência de permanência do balaieiro com a carga em cada fase da colheita tipo A.

Considerando-se que em média um balaio vazio pesa 6 kg e o abacaxi do tipo “A”

colhido por esse trabalhador possui em média 1,5 kg e sendo a média do número de frutos

colhidos de 49,55 frutos, a partir da multiplicação do peso do fruto pelo número de frutos no

balaio somado ao peso do balaio vazio, na colheita tipo A obteve-se o valor de 80,3 Kg para o

peso do balaio cheio. A média do tempo dos ciclos da atividade foi de 5,57 minutos para a

colheita do tipo A.

Quanto a freqüência do balaieiro em cada fase da colheita (tipo A), 21,40% do

tempo ele encontra-se na fase de deslocamento com o balaio vazio, 33,78% na fase de

enchimento do balaio, 23,33% na fase de deslocamento com o balaio cheio e 21,50% na fase

de descarregamento.

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Tempos das Atividades em (s) por ciclo observado CARGA Ciclos Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase 4

Total do

ciclo (min)

No de Abacaxis por balaio

PESO TOTAL

(KG)

C1 15 138 57 79 4,82 45 73,5 C2 67 128 89 38 5,37 44 72 C3 88 173 73 96 7,17 47 76,5 C4 78 114 29 98 5,32 46 75 C5 13 94 41 52 3,33 52 84 C6 25 72 49 52 3,30 45 73,5 C7 164 123 53 99 7,32 49 79,5 C8 57 60 25 36 2,97 43 70,5 C9 111 152 106 54 7,05 48 78 C10 84 103 114 35 5,60 48 78 C11 72 100 100 86 5,97 47 76,5 C12 130 136 110 47 7,05 54 87 C13 74 82 58 101 5,25 58 93 C14 18 130 13 83 4,07 48 78 C15 166 41 113 37 5,95 46 75 C16 125 93 147 73 7,30 58 93 C17 54 148 49 117 6,13 62 99 C18 41 137 118 62 5,97 60 96 C19 36 143 151 115 7,42 54 87 C20 13 92 65 78 4,13 37 61,5

MEDIAS 71,55 112,95 78 71,9 5,57 49,55 80,33 Freqüência

% 21,40 33,78 23,33 21,50

Quadro 12 - Cronometragem das atividades do balaieiro na colheita de abacaxi tipo A. Fonte: Pesquisa de Campo

O Quadro 13 apresenta os dados da cronometragem das atividades do balaieiro na

Colheita Tipo B. Um fruto tipo B pesa em média 1,2 kg sendo que a média do número de

frutos colhidos foi de 40,75 frutos e o peso médio do balaio cheio foi de 54,9Kg. A média do

tempo dos ciclos da atividade foi de 5,25 minutos.

Quanto a freqüência, 37,10% do tempo ele encontra-se na fase de deslocamento

com o balaio vazio, 45,60% na fase de enchimento do balaio, 6,7% na fase de deslocamento

com o balaio cheio e 10,5% na fase de descarregamento.

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Ciclos Tempo (Fase 1

Tempo (s) Fase 2

Tempo (Fase 3

Tempo (Fase 4

Tempo Total dCiclo (min)

Abacaxis por balaio

Peso dbalaio frutos

C1 40 347 10 45 7,37 44 58,8 C2 16 122 15 95 4,13 38 51,6 C3 28 173 30 40 4,52 33 45,6 C4 28 193 67 12 5,00 48 63,6

Médias 28,2 208,8 30,6 48 5,25 40,75 54,90 f (%) 37,1 45,6 6,7 10,5

Quadro 13 - Cronometragem das atividades do balaieiro na colheita do Tipo B. Fonte: Pesquisa de Campo

Um fruto do tipo C pesa aproximadamente 1kg sendo que a média de frutos por

balaio desse tipo de colheita foi de 46,58 frutos. O peso médio do balaio cheio do fruto Tipo

C foi de 52,5Kg e a freqüência de tempo em cada fase foi respectivamente, 21,4% do tempo

na fase de deslocamento com o balaio vaio, 53,7%na fase de enchimento do balaio, 12,7% na

fase de deslocamento com o balaio cheio e 12,0% na fase de descarregamento. Os dados da

cronometragem da colheita do Tipo C encontram-se especificados no Quadro 14.

Ciclos Tempo(s) Fase 1

Tempo (s) Fase 2

Tempo (s) Fase 3

Fase 4 Total do tempo de cada

Ciclo (min)

Abacaxis por balaio

Peso do balaio +

frutos (kg) C1 16 6 40 57 1,98 37 43

C2 6 290 56 36 6,47 38 44

C3 48 153 35 50 4,77 44 50

C4 72 187 32 20 5,18 44 50

C5 76 145 22 41 4,73 45 51

C6 14 286 25 34 5,98 50 56

C7 65 120 54 29 4,47 60 66

C8 113 197 49 22 6,35 55 61

C9 134 162 32 40 6,13 54 60

C10 105 135 58 33 5,52 46 52

C11 115 134 37 30 5,27 40 46

C12 27 83 29 53 3,20 46 52 Médias 66 158,4 39 37,2 5,00 46,58 52,58 f (%) 21,4 53,7 12,7 12,0 Quadro 14 - Cronometragem das atividades do balaieiro na colheita do abacaxi Tipo C. Fonte: Pesquisa de Campo

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Para termos uma análise mais detalhada, a partir dos dados da cronometragem,

obteve-se ainda os tempos de trabalho seguros e inseguros em relação a carga transportada

nos três tipos de colheita. Para a realização desses cálculos considerou-se a carga de

segurança 23Kg, apontado pelo NIOSH em 1994. Desta forma, o trabalho seguro considerado

foi composto pelo tempo de deslocamento com balaio vazio, acrescido do tempo de

enchimento até atingir o limite de segurança de 23Kg, o tempo final de descarregamento

relativo ao período em que o balaio se esvaziou totalmente.

Colheita do Abacaxi Tipo

Tempo Seguro (min)

Tempo Inseguro(min) % TS

% TI

Tempo Total do Ciclo (min)

A 1,89 3,67 34 66 5,57 B 1,96 3,30 37 63 5,25

C 2,45 2,55 49 51 5,00 Quadro 15 - Tempos seguros e inseguros com permanência da carga nos tipos de colheita. Fonte: Pesquisa de Campo

Conforme o Quadro 15, percebe-se ainda que os balaieiros encontram-se a maior

parte da jornada de trabalho sobre condições inseguras, uma vez que, o tempo inseguro foi

maior que o tempo de segurança durante os ciclos de atividade, independente do tipo de

abacaxi colhido.

De acordo com a geometria do terreno, quanto maior a distância entre a área de

colheita e o caminhão, maior serão os tempos de deslocamentos. Também quanto maior for a

homogeneidade da lavoura em relação a presença do tipo de fruto a ser colhido, mais rápido

ocorre o enchimento do balaio. Já o tempo de descarregamento não está condicionado a

nenhuma dessas características ou variáveis.

Dessa forma, o Quadro 16, apresenta a média de tempo gasto por ciclo pelo

balaieiro em cada fase da atividade onde podemos perceber que na 2ª fase, o tempo de

enchimento do balaio foi maior quando a colheita foi do Tipo B, onde atribuiu-se esse

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aumento de tempo ao fato do campo em que foi realizado a pesquisa ser restrito quanto a esse

tipo de abacaxi necessitando um maior deslocamento pela área do campo.

Na 1ª, 3ª e 4ª fases, o tempo de deslocamento com o balaio vazio, o tempo de

deslocamento campo-caminhão e o descarregamento do balaio foram maiores na colheita do

abacaxi Tipo A.

Atribui-se o aumento ao próprio peso dos balaios ter sido superior a colheita dos

outros tipos de abacaxi, o que demanda em maior equilíbrio por parte do balaieiro para

transportá-lo e conseqüentemente maior tempo do contador para descarregar uma maior

quantidade de frutos. Ainda atribui-se esse aumento no valor pela maior distância do campo

ao caminhão nesse tipo de colheita.

Fases da Atividade Tipo A Tipo B Tipo C

1ª fase - Média do tempo (min) de deslocamento do caminhão-campo (balaio vazio)

1,2 0,47 1,10

2ª fase - Média do tempo (min) de enchimento do balaio

1,88 3,48 2,64

3ª fase -Média do tempo (min)de deslocamento do campo-caminhão (balaio cheio)

1,30 0,51 0,65

4ª fase- Média do tempo (min) de descarregamento do balaio

1,20 0,8 0,62

Quadro 16 - Média de tempo total (min) do ciclo. Fonte: Pesquisa de Campo

Após o deslocamento dos frutos pelo balaieiro, ocorre o descarregamento do

balaio cheio pelos contadores (Figura 18) e arrumação dos frutos no caminhão pelos

arrumadores conforme especificações do comprador da safra.

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Figura 18 - Descarregamento do fruto pelo contador. Fonte: Pesquisa de Campo

Os contadores ao retirarem o fruto do balaio realizam uma segunda seleção

eliminando algum fruto que não esteja compatível com especificações e em seguida repassam

aos arrumadores.

A arrumação da carga (Figura 23) requer uma técnica conhecida por poucos, sendo

que essa condição está ameaçada de desaparecer devido à introdução do uso de caixas de

papelão para embalar os frutos que poderá alterar por completo essas e as demais fases da

atividade.

Figura 19 - Arrumação da carga Fonte: Pesquisa de Campo

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5.5 CONDIÇÕES DE TRABALHO

Desde o transporte dos trabalhadores ao campo de trabalho até o término da

jornada, percebem-se as precárias condições físicas e organizacionais a que esses

trabalhadores estão expostos.

Além da longa jornada de trabalho podemos destacar a exposição desses

trabalhadores a diferentes condições climáticas, contatos com animais peçonhentos, grandes

distâncias percorridas em transportes irregulares e inadequados, bem como o grande esforço

físico demandado por essa atividade Todos os trabalhadores entrevistados relataram que

consideram as atividades da colheita repetitivas e que se sentem cansados fisicamente ao final

da jornada de trabalho.

Relataram ainda que das quatro atividades, a atividade do balaieiro é reconhecida

pelos mesmos como a mais pesada, e por isso é considerada a mais inferior. Os trabalhadores

vêem a função do arrumador como a mais elevada por exigir além da técica específica, grande

atenção na contagem dos frutos.

“Não gosto de carregar balaio porque não agüento. É mais fácil empilhar a

carga” (Arrumador).

Em se tratando da realização de suas refeições e da reposição hídrica, bem como

necessidades fisiológicas, os trabalhadores utilizam-se algumas vezes da carroceria do

caminhão como ponto de apoio, uma vez que não costuma existir próximas às áreas de plantio

próximas edificação para esse fim.

As condições de higiene desses trabalhadores também são precárias pelo fato de

estarem expostos ao sol causticante, com muitas roupas para protegerem-se dos espinhos, que

dificultam a transpiração e favorecem o acúmulo de sujeiras.

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112

5.6 SEGURANÇA NO TRABALHO - RISCOS PRESENTES NA COLHEITA DO

ABACAXI

Quanto aos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) os trabalhadores utilizam-

se da improvisação, pois não recebem nenhum incentivo financeiro para aquisição dos

mesmos. Camisas de mangas compridas gastas, calças jeans rasgadas, aventais feitos de resto

de tecido grosso, botas furadas e luvas rasgadas, espumas que protegem a cabeça do balaieiro

do contato direto com o balaio; esses são os EPIs utilizados por esses trabalhadores para sua

proteção contra os agentes físicos, biológicos, químicos e mecânicos existentes nesse processo

produtivo (Figura 24).

Figura 20 - Equipamentos de proteção individual Fonte: Pesquisa de Campo

É uma mão-de-obra que não apresenta conhecimentos das técnicas de prevenção e

poucos consideram que a sua atividade laboral pode acarretar graves conseqüências a sua

saúde. Porém algumas situações de risco foram relatadas pelos trabalhadores como as mais

presentes no processo produtivo e dentre elas, o risco de quedas devido a irregularidade do

terreno ao transportar os balaios foi a mais citada (Quadro 17).

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113

Pode acontecer da gente vir com um balaio desse de 60 a 70kg na cabeça, bate

dentro de um buraco, cai, ás vezes dá um jeito no pé... ás vezes no pescoço” (Balaieiro).

RISCOS NO DE TRABALHADORES

%

Quedas devido ao terreno acidentado do campo.

4 28,5

Problemas de coluna 3 21,4 Acidente com o caminhão (“virada”) 3 21,4 Agrotóxico (aspersão no balaio) 1 7,1 Não apresenta risco 3 21,4 TOTAL 14 100

Quadro 17 - Riscos presentes na colheita do abacaxi relatados pelos componentes de uma turma. Fonte: Pesquisa de Campo

Podemos citar ainda como agente de risco mecânico ou de acidente, as folhas das

plantas (devido a sua forma serrilhada) que podem atingir partes descobertas do corpo do

trabalhador. A possibilidade de ocorrer cortes na pele pelo contato com as folhas do

abacaxizeiro está presente mesmo utilizando as roupas de proteção. Esse é o risco mais

percebido e evitado pelos trabalhadores, porém os riscos químicos, por não serem percebidos,

dificilmente são evitados.

Quanto aos riscos químicos, o tratamento químico utilizando o maturador químico

Ethrel e o fungicida Benlate constitui-se em práticas nocivas a saúde dos trabalhadores e dos

consumidores. Essas práticas costumam ser encomendadas pelos compradores,

principalmente os mais distantes. O maturador Ethrel usado para promover o amarelamento

do fruto, simulando seu amadurecimento precoce é utilizado na pré ou pós colheita. Na pré-

colheita a aplicação ocorre 2 ou 3 dias antes da colheita e a manipulação do fruto

contaminado constitui-se uma fonte de contaminação para toda turma da colheita,

principalmente para os catadores e arrumadores. A aplicação do Ethrel na pós –colheita é

realizada no momento do descarregamento do balaieiro, junto ao veículo de transporte. A

pulverização do produto é feita quando ainda está na cabeça do trabalhador atingindo não

apenas o balaieiro, como também os demais que atuam no caminhão ou próximo a ele.

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Quanto ao fungicida Benlate é preparado e aplicado pelo contador sem nenhuma

proteção, o que acarreta em risco de contaminação. O preparo da calda consiste na diluição do

produto que costuma receber algum corante para comprovar o tratamento aos compradores da

produção.

Os trabalhadores da colheita do abacaxi, não utilizam maquinários geradores de

ruídos e vibrações, uma vez que esse processo é manual, porém a exposição à radiação solar é

uma constante. Fazendo uso de vestimentas que não facilitam a transpiração, uma vez que o

vestuário é utilizado principalmente para proteção dos espinhos, o desconforto térmico é

notório nesses trabalhadores.

Na fase de colheita do abacaxi, podemos citar a exposição dos trabalhadores aos

animais peçonhentos e a precária higienização corpórea como situação de riscos biológicos.

Os trabalhadores rurais da colheita do abacaxi encontram-se expostos a muitos

riscos ergonômicos como posturas inadequadas por longos períodos, manuseio e transporte

das cargas representadas pelos balaios, um ritmo intenso, repetitividade dos movimentos de

corte do fruto pelos catadores e da contagem dos mesmos, entre outros conforme as Figuras

21 e 22.

Figura 21 - Postura inadequada dos arrumadores Fonte: Pesquisa de Campo

Figura 22 - Postura inadequada do catador e balaieiro. Fonte: Pesquisa de Campo

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A atividade dos balaieiros requer grande força e equilíbrio durante a sustentação

dessa carga elevada (próximo dos 80kg/balaio) e seu transporte. A atividade de colheita exige

ainda uma atenção cognitiva bem elevada, tanto por parte dos catadores ao selecionar os

frutos, como pelos arrumadores ao arrumar a carga nos veículos.

5.7 DOR NAS COSTAS

“Agente carregando um peso desse pode correr o risco de ofender a espinha

(coluna) da gente, ofender os ossos” (Balaieiro).

A dor nas costas foi sintoma presente em 4 trabalhadores (28,5%) principalmente

nos balaieiros onde os mesmos associam a dor nas costas com o transporte do balaio muito

cheio, o tempo de permanência com o balaio na cabeça no momento do descarregamento e a

distância percorrida com o mesmo no campo.

“A pessoa trazer balaio muito cheio, a pessoa sente quando demora pra

descarregar e dependendo do tombo (desequilíbrio) e da distância a coluna pode prejudicar”

(Balaieiro).

Os efeitos dos riscos biomecânicos pela manutenção de posturas inadequadas e o

transporte das elevadas cargas são sentidos ao final do dia onde todos os trabalhadores

relataram sentir-se cansados fisicamente no fim da jornada de trabalho.

A dor nas costas não foi citada como motivo de faltas ao trabalho. Percebe-se que

esses trabalhadores não se permitem o direito de adoecerem por qualquer que seja o motivo e

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116

mesmo doentes, vão para o campo, pois sem trabalho, não há dinheiro e conseqüentemente

não há alimento para si e sua família, relataram os trabalhadores.

5.8 ANÁLISE BIOMECÂNICA

A partir das informações de campo, observa-se que no transcurso da atividade

realizada, a tarefa desenvolvida pelos trabalhadores é submetida a uma considerável exigência

física. O software WinOWAS foi utilizado nesse estudo para análise das posturas dos

catadores,arrumadores/contadores e balaieiros.

No tocante ao catador, percebe-se pelas Figuras 19 e 20 p.111, que o mesmo

apresenta duas posições freqüentes durante a realização de sua atividade. A primeira postura

adotada é no momento em que é realizado o corte ou catação do fruto onde apresenta-se com

as costas inclinadas, os braços abaixo do ombro, pernas em apoio bilateral com uma carga

menor que 10KG correspondendo ao código 2141. A segunda postura adotada pelo catador

ocorre no momento do lançamento do fruto ao balaio, onde apresenta-se com as costas

inclinada, um braço acima do ombro, caminhando e carga menor que 10kg correspondendo ao

código 2271. O Gráfico 3 apresenta a classificação das posturas do catador conforme

visualizado no software WinOWAS.

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Gráfico 3 - Classificação das posturas do cortador. Fonte: Dados da Pesquisa

Analisando a postura do balaieiro verificou-se uma postura básica presente em

toda jornada de trabalho diferenciada apenas pelo valor da carga transportada pelo trabalhador

durante as 4 etapas de sua atividade. Em 26% do tempo de jornada de trabalho, o balaieiro

apresenta uma postura ereta da coluna, com ambos os braços acima do ombro, caminhando e

com carga menor que 10kg (1271). Durante 10% do tempo da jornada, apresenta a coluna

ereta, ambos os braços acima do ombro e caminhando, porém com a carga entre 10 e 20kg

(1272). 64% do tempo da jornada apresenta a mesma postura da coluna, braços e pernas já

descrita e carga acima de 20kg (1273). O Gráfico 4 apresenta a representação gráfica no

WinOWAS da postura do balaieiro.

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Gráfico 4 - Classificação das posturas do balaieiro. Fonte: Dados da Pesquisa

Para o arrumador também foram verificadas três posições assumidas durante a

realização de sua tarefa. A primeira, como pode ser visualizada na Figura 25; p.124 ocorre na

maior parte da jornada de trabalho (50%) tendo como código 4141 apresentando as costas

inclinada e rodada, ambos os braços abaixo do ombro, estando parado com joelhos fletidos e

carga menor que 10kg. A segunda postura tem como código 2121, onde o arrumador está com

as costas inclinada, ambos os ombros abaixo dos ombros, pernas fixa e carga menor do que

10kg e ocorre 25% da jornada de trabalho. A terceira postura é adotada em períodos de

pausa, quando o arrumador aguarda a chegada do balaieiro para descarregar junto ao

caminhão. Ocorre numa freqüência de 25% onde o mesmo apresenta-se com a coluna ereta,

ambos os braços abaixo do ombro, pernas fixas e carga abaixo de 10kg (1121). Os resultados

do WinOWAS para a postura do arrumador são apresentados no Gráfico 5.

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Gráfico 5 - Classificação das posturas do arrumador Fonte: Dados da Pesquisa

A classificação das categorias é apresentada no Quadro 18 com suas respectivas

ações.

CATEGORIA

1 Não são necessárias medidas corretivas

2 São necessárias correções futuras

3 São necessárias correções logo que possível

4 São necessárias correções imediatas

Quadro 18 - Classificação das categorias do WinOWAS Fonte: Adaptado de Freitas (2000)

Diante dos resultados obtidos, nota-se que para a atividade do balaieiro as

demandas das costas enquadram-se na categoria 1, não havendo necessidades de correções

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futuras, já para o catador e o arrumador enquadram-se na categoria 3, necessitando de

correções logo que possível.

No que se diz respeito a postura dos braços, o catador está enquadrado na categoria

2, onde correções futuras são necessárias, o balaieiro na categoria 3 e o arrumador na

categoria 1.

Em relação às pernas, o catador enquadra-se na categoria 1, não havendo nenhum

desconforto ao trabalhador. Já o balaieiro encontra-se enquadrado na categoria 2 e o

arrumador na categoria 3.

As correções das categorias 2 e 3 são necessárias para evitar a exposição contínua

dos trabalhadores a posturas inadequadas evitando que os mesmos adquiram problemas de

saúde ocupacional a longo prazo.

A análise quantitativa das forças de cisalhamento, axial e a pressão intradiscal

sobre a coluna vertebral do balaieiro foi realizada através do software HARSim.

Não houve necessidade de se utilizar medidas antropométricas específicas

(comprimento de membro superior e inferior, por exemplo) como variáveis de entrada uma

vez que considerou-se as forças externas cujos os trabalhadores estariam submetidos como

axiais, ou seja, a antropometria específica seria necessária se essa força externa não fosse

axial, ocasionando assim a existência de momentos fletores. Quando isso ocorre a

antropometria torna-se uma variável essencial para o estudo realizado.

As medidas antropométricas mais inerentes ao estudo como peso e estatura foram

mensuradas. Estas medidas relacionadas no quadro 12, aproximam-se das medidas

antropométricas adotadas para a análise do HARSim, um tipo de padrão mediano masculino

de 1,70m com 90kg.

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Indivíduos Altura (m) Peso (kg)

A 1,74 98

B 1,85 81

C 1,65 77

D 1,63 75

E 1,68 85

F 1,71 90

Média 1,71 84,3

Quadro 19 - Medidas antropométricas dos balaieiros Fonte: Pesquisa de Campo

No tocante a análise estática, faz-se notório a análise da atividade do balaieiro

devido à elevada carga (de 80 a 100kg) transportada sobre sua cabeça. A situação analisada é

a do momento que o balaio está cheio (Figura 23).

Figura 23 - Ilustração do software HARSim do balaieiro com um balaio cheio de abacaxi

sobre a cabeça. Fonte: Dados da Pesquisa

Os Gráficos 6, 7 e 8, apresentam os resultados fornecidos pelo HARSim no cálculo

das forças axiais, de cisalhamento e da pressão intradiscal da coluna

vertebral,respectivamente, para a situação de trabalho de um balaieiro com suas respectivas

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122

características, em relação com perfil antropométrico masculino de 1,70m e 90kg e carga de

100Kg, próxima a situação de maior gravidade dentre as observadas.

Gráfico 6 - Força axial sobra a coluna vertebral de um balaieiro submetido a uma carga de 1000N – Perfil antropométrico: 1,70m e 90kg.

Fonte: Dados da Pesquisa

De acordo com Santos (2002) o limite da força axial, que a coluna vertebral de

uma pessoa pode suportar sem correr risco à saúde é de 750N. De acordo com o gráfico 6, a

força imposta em todas as cervicais, dorsais e lombares, principalmente, ultrapassam a faixa

do risco de lesão, ocasionando a exposição do trabalhador a comprometimentos fisiológicos.

No que se diz respeito a força de cisalhamento, segundo Santos (2002), a partir de

500N há elevado risco de lesão. De acordo com o gráfico 7, a situação analisada indica que as

vértebras que estão expostas a sofrerem lesão são as T11 e T12 e as L1 e L5.

Já para o perfil antropométrico de menor porte com apenas as vértebras D9 e C3

apresentaram-se sob risco de lesão.

Risco de Lesão

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123

Gráfico 7 - Forca de cisalhamento sobre a coluna vertebral de um balaieiro submetido a uma cargade1000N.

Perfil antropométrico: 1,70m e 90 kg. Fonte: Dados da Pesquisa

No tocante a pressão intradiscal (PID), segundo Santos (2002), o limite que a

coluna vertebral pode suportar uma PID sem correr risco de lesão é de 2 MPa. Observamos na

Figura 33 que da vértebra C3 até a vértebra T9 este valor é ultrapassado sendo o ponto crítico

em C5 e C6. Resultado semelhante também ocorreu para o caso do perfil antropométrico

menor.

Risco de Lesão

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124

Gráfico 8 - Pressão intradiscal da coluna vertebral de um balaieiro submetido a uma cargade1000N.–

Perfil antropométrico: 1,70m e 90 kg. Fonte: Dados da Pesquisa

A análise com o HarSIM foi realizada também para as cargas médias quando o

balaio cheio pesa 83,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg pesos correspondentes quando o tipo de fruto

colhido é do Tipo A, B e C, respectivamente, conforme observado na pesquisa de campo.

Quanto à força de cisalhamento (limite de 500N), as vértebras cervicais

encontram-se livres de risco de lesão para todas as cargas conforme o gráfico 9.

Risco de Lesão

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125

__________________________________________________________________ Gráfico 9 - Força de cisalhamento da coluna cervical para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg. Fonte: Dados da Pesquisa

No segmento torácico, as vértebras que se encontram em risco de lesão são T6 e

T12 e L5 no segmento lombar para a carga 80,3Kg (803N) sendo que o ponto crítico localiza-se

na vértebra L5 com 543,1N. Para as cargas de 54,9Kg (549N) e 52,5Kg (525N) a coluna

vertebral, em todos os segmentos, encontra-se livre de risco de lesão conforme apresentado nos

gráficos 10 e 11.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

80,3 54,9 52,5 PESO do BALAIO em KG

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7

F O R Ç A

E M

N E W T O N

Limite de Segurança

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126

____________________________________________________________________________

______________________________________________________________________ Gráfico 10 - Força de cisalhamento na coluna torácica para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg. Fonte: Dados da Pesquisa

________________________________________________________________________ Gráfico 11 - Força de cisalhamento na coluna lombar para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg.

Fonte: Dados da Pesquisa

0

50

100 150 200 250 300 350 400 450 500 550

80,3 54,9 52,5

PESO do BALAIO em KGL1 L2 L3 L4 L5Limite de Segurança

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

80,3 54,9 52,5

Limite de Segurança

PESO do BALAIO em KG

T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12

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127

Quanto a força axial, O limite de segurança no segmento cervical esteve

ultrapassado apenas para a carga de 80,3Kg sendo o ponto crítico C7 apresentando uma

carga de 819,5N (Gráfico 12) .

________________________________________________________________________ Gráfico 12 - Força axial no segmento cervical para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg. Fonte: Dados da Pesquisa

Na coluna torácica a maioria das vértebras encontra-se acima do limite de

segurança para os três tipos de cargas com exceção das vértebras T1 e T2 para a carga de

52,5Kg e T1 para a carga de 54,9Kg que encontram-se fora de risco de lesão (Gráfico 13). O

ponto crítico para o segmento torácico encontra-se na vértebra T6 com 1105,3N para carga

de 80,3Kg, T8 com 867,1N para a carga de 54,9Kg e novamente T8 com 844,1N para a

carga de 52,5Kg.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

650

700

750

800

850

900

80,3 54,9 52,5

PESO do BALAIO EM KG

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 Limite de Segurança

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128

______________________________________________________

Gráfico 13- Força axial no segmento torácico para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg. Fonte: Dados da Pesquisa

No segmento lombar, a força axial esteve acima do limite de segurança em todas

as vértebras para todas as cargas sendo o ponto crítico na vértebra L3 apresentando 1215N,

960,9N e 936,9N para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg respectivamente (Gráfico 14).

050

100150200250300350400450500550600650700750800850900950

1000105011001150

80,3 54,9 52,5

Limite de Segurança

PESO DO BALAIO EM KG

T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12

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129

_________________________________________________________________________ Gráfico 14 - Força axial no segmento lombar para as cargas de 80,3Kg, 54,9Kg e 52,5Kg. Fonte: Dados da Pesquisa

Quanto a pressão intradiscal, no segmento cervical de C3 a C7 o limite de

segurança de 2MPa foi ultrapassado quando a carga foi de 80,3Kg. Para as demais cargas, o

limite de segurança esteve acima de C4 a C7 (Gráfico 15). O ponto crítico para todas as

cargas foi no disco intervertebral de C5/C6 apresentando os valores de 3,87MPa, 2,70MPa e

2,59MPa, respectivamente.

0 50

100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800 850 900 950

1000 1050 1100 1150 1200 1250

80,3 54,9 52,5 PESO do BALAIO em KG L1 L2 L3 L4 L5

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130

________________________________________________________________________________________ Gráfico 15 - Pressão intradiscal de C1 a C7. Fonte: Dados da Pesquisa

No segmento torácico, o limite foi ultrapassado das vértebras T1 a T10 para a

carga de 80,3Kg sendo o ponto crítico entre o disco intervertebral de T1/T2 com 3,96MPa

de pressão. Para as cargas de 54,9Kg e 52,5Kg de T1 a T6 as vértebras estiveram acima do

limite de segurança apresentando com valores do ponto crítico também entre T1 e T2

2,58MPa e 2,49MPa de pressão intradiscal, respectivamente conforme gráfico 16.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

80,3 54,9 52,5

PESO do BALAIO em KG

C7/C6 C6/C5 C5/C4 C4/C3 C3/C2 C2/C1

S T R E S S

Mp a

Limite de Segurança

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______________________________________________________________________ Gráfico 16 - Pressão intradiscal de T1 a T12. Fonte: Dados da Pesquisa

No segmento lombar o limite de segurança não foi ultrapassado em nenhum disco

intervertebral em todas as respectivas cargas como visualizado no gráfico 17.

Os valores das forças de cisalhamento, axial e pressão intradiscal de cada vértebra

para cada uma das cargas médias analaisadas podem ser verificados no Apêndice 4 desse

estudo.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

80,3 54,9 52,5

T12 / T11 T11/T10 T10/T9 T9/T8 T8/T7 T7/T6 T6/T5 T5/T4 T4/T3 T3/T2 T2/T1 T1/C7

Limite de Segurança

S T R E S S

Mp a

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132

_________________________________________________________________________

Gráfico 17 - Pressão intradiscal de L1 a L5. Fonte: Dados da Pesquisa

Finalizando, neste capítulo pode-se observar em detalhes o quadro de riscos que os

trabalhadores da colheita do abacaxi estão submetidos, notadamente o balaieiro devido as

elevadas cargas que suportam ao longo da jornada de trabalho. No próximo capítulo serão

apresentadas as conclusões e sugestões desse trabalho.

PRESSÃO INTRADISCAL DE T12 A S1

0

0,5

1

1,5

2

2,5

80,3 54,9 52,5

PESO do BALAIO em KG

S T R E S S

Mp a

S1 / L5 L5 / L4 L4 / L3 L3 / L2 L2 / L1 L1 / T12Limite de Segurança

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CAPITULO 6 - CONCLUSÕES E SUJESTÕES

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6.1 CONCLUSÕES

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135

6.1 CONCLUSÕES

Apesar da mecanização e inovações tecnológicas que pouco a pouco foram

incorporadas à realidade dos diversos setores de trabalho gerando conseqüentemente maior

produtividade em vários aspectos, ainda encontramos alguns setores que se caracterizam

pela utilização do trabalho fisicamente pesado a exemplo do setor agrícola. Essa é uma

realidade que provavelmente fará parte da nossa economia por muito tempo e, portanto se

faz necessário conhecer as características físicas do corpo humano e os processos de

trabalhos que ainda utilizam-se do trabalho físico propriamente dito para que, dessa forma,

ajustes sejam feitos buscando o máximo de melhorias nesses processos, diminuindo os

riscos de lesões e comprometimentos músculo-esqueléticos.

Esse trabalho teve como objetivo fazer um estudo dos riscos ergonômicos que

os trabalhadores rurais da colheita do abacaxi da região do município de Santa Rita/PB

estão expostos e propôs melhorias para que os mesmos sejam eliminados ou pelo menos

controlados ou minimizados.

Na avaliação ergonômica do trabalho constatou-se que a colheita do abacaxi é

uma atividade agrícola, caracteristicamente pesada, realizada por indivíduos do sexo

masculino, residentes principalmente no município de Sapé, que realizam a colheita em

toda região do Baixo-Paraíba, com média de idade 35,4 anos, nível baixo de escolaridade e

ausência de direitos sociais.

A maioria dos trabalhadores nunca trabalhou em outra atividade nem mesmo em

outra cultura agrícola apresentando como média de tempo de serviço na colheita do abacaxi

16 anos.

A atividade da colheita caracteriza-se pela presença de movimentos repetitivos

no corte, contagem e arrumação dos frutos, posturas inadequadas adotadas pelos

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136

trabalhadores ao longo da jornada, sustentação (trabalho estático) e transporte de cargas

excessivas (balaios com fruto), em um ambiente de desconforto térmico (ambiente ao céu

aberto), realizado ao longo de um período com pausas de trabalho escassas.

O resultado de péssimas condições de trabalho geradoras de riscos biomecânicos

reflete-se na presença de dor nas costas 42,8% (6) dos trabalhadores.

Quantos aos riscos presentes no ambiente de trabalho, 28,5% dos trabalhadores

destacarem ser as quedas nos terrenos acidentados como conseqüência de desequilíbrio ao

transportar o balaio o maior risco de acidente presente no processo de colheita.

Apesar do alto índice de inadimplência a COPAGRO tem buscado cumprir o

seu papel econômico e social no processo produtivo da cultura do abacaxi no município de

Santa Rita/PB, proporcionando uma melhor organização da cadeia produtiva do abacaxi,

garantido o mercado para os produtores através das intermediações com a Bolsa de

Pernambuco, podendo negociar os valores do produto sem intervenientes, bem como a

facilitação do acesso ao crédito rural do pequeno e médio produtor junto ao

PRONAF/BNB.

Na avaliação das características posturais a partir das observações sistemáticas e

do uso do software WinOWAS, empregado como ferramenta de análise de posturas,

possibilitou avaliar que as posturas dos catadores, balaieiros e arrumadores, praticamente

não variam ao longo do tempo.

Segundo a análise do softaware WinOWAS, a postura das costas do balaieiro se

enquadra na categoria 1, não havendo necessidades de correções futuras, enquanto o

cortador e o arrumador enquadram-se na categoria 3, necessitando de correções logo que

possível.

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137

No que se diz respeito aos braços, os arrumadores estão enquadrados na

categoria 1, os catadores na categoria 2, onde correções futuras são necessárias e os

balaieiros na categoria 3, necessitando de correções logo que possível.

Em relação as pernas, o cortador enquadra-se na categoria 1, não havendo

nenhum desconforto ao trabalhador. Já para o balaieiro e o arrumador, ambos enquadram-se

na categoria 3, exigindo correções logo que possível.

As correções das categorias 2 e 3 são necessárias para evitar a exposição

contínua dos trabalhadores a posturas inadequadas prevenindo que os mesmos não

adquiram problemas de saúde ocupacional a longo prazo.

De acordo com os resultados apresentados pelo software HARSim, o balaieiro

está exposto a um alto grau de risco de lesão da coluna vertebral, por estar exposto a uma

elevada carga axial, variável ao longo do ciclo operacional, podendo chegar até 1000N

(balaio cheio com 100kg), a distâncias e períodos de tempo também variáveis.

Para a carga máxima de 100Kg (1000N), as forças axiais (750N) imposta em

todas as cervicais, dorsais e lombares, principalmente, ultrapassam a faixa do risco de lesão,

ocasionando a exposição do trabalhador a comprometimentos fisiológicos.

Em relação a força de cisalhamento (500N), as vértebras que estão expostas a

sofrerem lesão são as T-11 e T-12 e as L1 e L5 p/ o perfil de maior porte. Já, para o perfil

antropométrico de menor porte, apenas as vértebras T9 e C3 apresentaram-se sob risco de

lesão.

O ponto crítico de pressão intradiscal (2MPa) da coluna dos balaieiros encontra-

se entre as vértebras C3 e D9 sendo o valor ultrapassado em C5 e C6.

As médias das cargas correspondente ao peso do balaio cheio e conforme o tipo

de fruto colhido foram 80,3Kg para o fruto Tipo A, 54,9Kg para o fruto Tipo B e 52,5Kg

para o fruto Tipo C.

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As forças axiais encontraram-se acima do limite de segurança em todos os

segmentos vertebrais lombares e a maioria dos segmentos torácicos. Quanto à força de

cisalhamento, o limitefoi ultrapassado em T6, T12 e L5 para a carga de 803N. As pressões

intervertebrais para a carga de 803N estiveram acima do limite de segurança entre T10 – T6

e C7-C3, enquanto que, para as cargas de 549N e 525N encontraram-se acima dos limites

de segurança entre C7-C4.

A geometria do campo, largura do talhão, qualidade do roçado quanto a

presença dos tipos de fruto segundo a categoria especificada pelo cliente e o peso do balaio

interferem no tempo de cada fase da atividade do balaieiro.

Os balaieiros encontram-se a maior parte da jornada de trabalho sobre condições

inseguras. A cronoanálise realizada pode estimar o tempo inseguro é maior que o tempo de

segurança durante os ciclos de atividade, independente do tipo de abacaxi colhido.

Observamos assim, que esse processo produtivo contribui para geração de riscos

ergonômicos que conseqüentemente contribuirão para geração de distúrbios ósteo-

musculares, fadiga muscular, entre outros problemas nos trabalhadores rurais desse ramo de

atividade agrícola.

Conforme Couto, (2002) A diminuição do peso dos objetos manuseados deve

ser uma prioridade constante em qualquer trabalho de ergonomia, reduzindo-se o esforço

humano no trabalho, onde deve-se adotar o peso máximo de materiais e caixas de até 25kg,

evitando-se materiais que pesem entre 25 e 70Kg para transporte manual individual.

Acima de 70kg a movimentação é feita por equipamento mecânico. Segundo o

autor, o ideal é que se aumente o número de carga manuseada, porém com redução de peso

e sempre que possível, criar facilidades mecânicas no trabalho.

De acordo com essa afirmativa o ideal na atividade da colheita do abacaxi seria

a mudança do sistema manual para o mecanizado ou pelo menos semi-mecanizado como

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139

ocorre no Havaí (CUNHA, 1999). Porém entramos em um dilema que já se tornou comum

para a ergonomia: Sistemas mecanizados eliminam postos de trabalho, principalmente de

mão-de-obra com baixa qualificação como ocorre na colheita do abacaxi.

Por último, verificamos que a urgência de se reprojetar as tarefas da colheita que

mesmo para as leis brasileiras encontra-se acima do limite permitido de acordo com o

artigo 198 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) afirma que: É de 60 kg o peso

máximo que um empregado pode remover individualmente, ressalvadas as disposições

especiais relativas ao trabalho do menor e da mulher. Além disso, a NR17, no art. 17.2.1,

ao tratar do tema transporte e manuseio de cargas descreve que “Não deverá ser exigido

nem admitido o transporte manual de cargas, por um trabalhador, cujo peso seja

susceptível de comprometer sua saúde ou sua segurança”.

6.2 SUGESTÕES

Para a melhoria das condições da atividade sugere-se:

• Desenvolvimento de uma cartilha informativa ou realização de palestras

educativas, explorando o aspecto visual, uma vez que essa é uma classe de

trabalhadores de baixo nível de escolaridade no sentido de corrigir posturas

inadequadas de trabalho desses trabalhadores.

• Orientar os catadores a realizarem a colocação do fruto no balaio evitando os

movimentos de inclinação lateral e rotação do tronco;

• Reduzir as dimensões do balaio para que diminua a sobrecarga na coluna

desses trabalhadores, bem como minimizar o risco de quedas no transportes

de balaios excessivamente pesados;

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• Orientar os contadores a evitarem a flexão do tronco utilizando um banco

para assento que os mantenha no nível do balaio a descarregar ou uma

plataforma da madeira localizada próximo ao caminhão que eleve o balaieiro

o mais próximo do contador evitando assim a flexão de tronco do mesmo.

• A mesma recomendação anterior se aplica ao arrumador enquanto a carga

se mantém baixa. A medida que a carga for se elevando, manter o tronco

ereto e evitar elevar os braços acima do ombro, ficando na ponta dos dedos

para arrumá-la no nível mais superior do caminhão. Pode-se utilizar uma

plataforma improvisada de madeira que eleve o trabalhador ao nível mais

alto de arrumação da carga.

• Adotar pausas de descanso mais regulares ao longo da jornada de trabalho

para que haja tempo de recuperação das estruturas ósteo-mio-articulares

minimizando assim os efeitos da fadiga física;

• Orientar o trabalhador quanto a reposição hídrica adequada ao longo da

jornada de trabalho;

• Conscientizar os motoristas do caminhão a estacionarem os mesmos o mais

próximo do campo de colheita para evitar excessos de deslocamentos.

• Redimensionar as quadras de cultivo para reduzir os deslocamentos.

Por último, ao longo da realização desse trabalho sentiu-se a necessidade da

realização de outros estudos como:

• O redesenho da atividade da colheita do abacaxi;

• O aprofundamento dos estudos das demais fases da colheita do abacaxi;

• E a aplicação de metodologia semelhante em outras situações de trabalho

agrícola.

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REFERÊNCIAS

ADISSI, Paulo José; ALMEIDA, Carmen Verônica Barbosa Riscos na produção do abacaxi. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DA PRODUÇÃO, 20, 2002, Curitiba. Anais... Curitiba, 2002. CD ROOM. ADISSI, Paulo José et al. Processo de trabalho agrícola do abacaxi na Paraíba. João Pessoa, 2001. CD ROOM. ADISSI, Paulo José. Processo de trabalho agrícola canavieiro: proposição de uma taxonomia das unidades produtivas e análise dos riscos associados. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 1997. Tese (Doutorado). BRASIL. Ministério do Trabalho. Manual de aplicação da norma regulamentadora n. 17. Brasília: Secretaria de Inspeção do Trabalho, 2002. ARAÚJO, Nelma Miriam Chagas de. Proposta de sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho, baseado na OHSAS 18001, para empresas construtoras de edificações verticais. João Pessoa, 2002. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção/ Centro de Tecnologia /UFPB. CALLIET, René. Doenças dos tecidos moles. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. CARTAXO, Cristiana. Estudo ergonômico do posto de trabalho do armador de laje: uma avaliação quantitativa dos esforços físicos na coluna vertebral decorrentes da postura de trabalho. João Pessoa, 1997. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção/ Centro de Tecnologia /UFPB. CARTAXO, Cristiana; MÁSCULO, Francisco Soares. Estudo ergonômico do posto de trabalho do armador de laje: uma avaliação quantitativa dos esforços físicos na coluna vertebral decorrentes da postura de trabalho. Produção e Sociedade, João Pessoa, Edições PPGEP/UFPB, n. 2, 1998. CASTRO, Gilvan dos Santos presidente da COPAGRO (Cooperativa dos Produtores Entrevista concedida em 25 mar. 2004. CHAFFIN, B; ANDERSSON, G.B.J.; MARTÍN, B.J. Biomecânica Ocupacional. Belo Horizonte: Ergo, 2001.

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APÊNDICE A – Formulário da Pesquisa

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FORMULÁRIO– PESQUISA ANÁLISE DOS RISCOS ERGONÔMICOS DOS TRABALHADORES RURAIS DA COLHEITA DO ABACAXI DA REGIÃO DO BAIXO-PARAÍBA/PB Pesquisadora: Sânzia Bezerra Ribeiro Nome: ________________________________________________Idade: ______________ Sexo: Masc. ( ) Fem ( ) Estado Civil: ____________ Profissão: ___________________ Grau de Instrução: ____________________ Tempo de Serviço:______________________ Carga Horária de Trabalho: Dias da Semana: _______________Horário: ______________ Vinculo Empregatício: ______________________ Peso: _______kg Estatura: _________m 1) Tem outra atividade profissional? ( ) SIM ( ) NÃO Qual? ____________________ 2) Recebeu algum treinamento para realizar sua atividade? ( ) SIM ( ) NÃO 3) Recebe treinamento ainda? ( ) SIM ( ) NÃO 4) Gosta do seu trabalho? ( ) SIM ( ) NÃO Por que? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5) O que mais gosta na atividade da colheita e por que? 6) O que menos gosta e por que? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7) O que é mais fácil na realização de sua atividade e por que? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8) O que é mais difícil e por que? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9) Qual sua maior motivação para o trabalho? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10) Sente alguma pressão para realizar seu trabalho? ( ) SIM ( ) NÃO Que tipo? _______________________________________________________________ 11) Você bebe? ( ) sempre ( ) às vezes ( ) raramente ( ) nunca ( ) 12) Você fuma? ( ) sempre ( ) às vezes ( ) raramente ( ) nunca ( ) 13) Sente-se cansado fisicamente quando? ( ) Inicio da jornada trabalho ( ) durante a jornada de trabalho ( ) final da jornada de trabalho ( ) não se sente cansado fisicamente

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14) Tem dificuldade pra durmir? ( ) sempre ( ) às vezes ( ) raramente ( ) nunca ( ) 15) Acha seu trabalho repetitivo? ( ) SIM ( ) NÃO 16)Você recebe algum tipo de equipamento de proteção para realizar seu trabalho? ( ) SIM ( ) NÃO 16) Se sim, qual (ais)? __________________________________________________________________________________________________________________________________________ 17) Recebeu algum treinamento sobre segurança, de como deve usar corretamente esse equipamento? ( ) SIM ( ) NÃO 18) Considera importante utilizar esses equipamentos? ( ) SIM ( ) NÃO 19) Acha que seu trabalho pode trazer riscos a sua saúde? ( ) SIM ( ) NÃO 20) Que tipo de riscos? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 21) Já sofreu algum acidente no trabalho? ( ) SIM ( ) NÃO O que? ________________________________________________________________________ 22) È melhor trabalhar com chuva ou sol? Por que? 23) Existe diferença no tipo de fruto quanto às facilidades e dificuldades para realizar o trabalho? 24) ) Você sente dor nas costas ( ) SIM ( )NÃO O que acha que poderia ser melhorado para realizar melhor sua atividade?

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APÊNDICE B – Roteiro de Entrevista

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ROTEIRO DE ENTREVISTA – PRESIDENTE DA COPAGRO 1. Quem são os produtores rurais da colheita do abacaxi? 2. Quem são os trabalhadores rurais da colheita do abacaxi? 3. Qual a relação dos produtores com o BNB? O que o crédito rural cobre? Quanto é financiado? 4. Como são liberados os recursos? Existe fiscalização? E quanto á assistência? Como esta é realizada? 5. Como os produtores pagam o financiamento? Eles têm conseguido (existe inadimplência?) 6. Como se poderia melhorar o PRONAF? 7. Ainda se realizam arrendamentos? 8. Qual é o processo de colheita? 9. Os esforços dependem do tipo de talhão e do abacaxi, quantidade de fruto (tipo) na área? 10. Dados gerais de produtividade e ganhos 11. Qual a composição da turma (origem, moradia, faixa etária, sexo, arregimentação, etc)? 12. Como é feita a contratação do serviço? 13. Qual a forma de pagamentos e divisão dos ganhos? 14. Quais as oportunidades de trabalho e condições de vida? 15. De quanto é o volume de abacaxi comercializado pela cooperativa? O que isso representa em reais? 16. Quantos cooperados vendem através da Cooperativa? (%) 17. Como é o processo de comercialização da bolsa? 18. Como é o processo de aquisição de insumos agrícolas através da COAGRO? 19. Quais os riscos dessas operações? 20. Qual é a relação da cooperativa/bolsa com os bancos que fornecem crédito?

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APÊNDICE C – Roteiro da Organização do Trabalho do

Balaieiro na Colheita do Abacaxi

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Organização do Trabalho do Balaieiro na Colheita do Abacaxi

Dia - Local - Pesquisador – Chefe de turma - Composição: __Balaieiros __Facões __Contadores __Arrumadores Nº e composição dos frutos na área – Composição do caminhão – Tipo de colheita - comum sangrada Aplicação de fungicida: sim não produto: _____________ Aplicação de maturador: sim não produto: _____________ Croqui da área de colheita

Tempo (min) Atividade C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 Deslocamento caminhão campo (balaio vazio) Enchimento do balaio Deslocamento campo caminhão Descarregamento do balaio Peso do balaio (Kg)

Tempo (min) Atividade C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10 Deslocamento caminhão campo (balaio vazio) Enchimento do balaio Deslocamento campo caminhão Descarregamento do balaio Peso do balaio (Kg)

Observações:

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APÊNDICE D – Quadros das forças de cisalhamento, axiais e pressões intradiscais nos três segmentos da coluna vertebral

para as cargas de 803N, 549N e 525N.

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Força de Cisalhamento em cada vértebra da coluna cervical

PESO T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12

80,3 367,987 327,01 275,588 230,584 131,768 506,182 63,4731 154,889 295,675 368,79 439,485 523,055*

54,9 279,134 248,474 210,149 176,934 100,923 38,9638 48,5451 123,918 229,95 288,077 343,648 410,717

52,5 270,463 241,174 203,782 171,377 97,8404 38,0144 47,3622 120,275 223,724 280,434 334,652 400,086 Força de Cisalhamento em cada vértebra da coluna torácica PESO L1 L2 L3 L4 L5

80,3 473,24 267,554 1,60691 217,739 543,142*54,9 372,392 210,788 1,27752 172,462 431,79652,5 362,695 205,029 1,24638 168,261 421,275

Força de Cisalhamento em cada vértebra da coluna lombar

Força Axial em cada vértebra da coluna cervical PESO T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12

80,3 979,547 1006,51 1033,41 1056,83 1085,59 1105,36 1016,14* 1017,94 1003,56 1092,78 1080,2 1055,04

54,9 742,073 764,818 788,958 808,888 834,476 851,536 862,908 867,173* 858,644 852,957 844,428 827,368

52,5 719,382 341,559 765,123 785,914 810,864 827,497 838,586 844,13* 843,428 830,269 823,339 806,706 Força Axial em cada vértebra da coluna torácica _________________________________________________________________________ * Ponto Crítico

PESO C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 80,3 88,3811 89,7845 181,583 245,86 271,571 287,64 305,716 54,9 60,0426 61,3201 125,834 171,185 190,348 202,484 216,537 52,5 57,3332 58,5796 120,275 164,521 183,217 194,434 208,145

PESO C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 80,3 798,016 808,8 805,206 801,611 808,206 812,395 819,584* 54,9 544,471 557,265 558,687 558,687 564,373 572,903 581,432* 52,5 521,171 533,646 535,032 535,032 541,962 550,279 558,595*

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Força Axial em cada vértebra da coluna lombar.

Pressão Intradiscal de C1 a C7.

PESO T12 / T11 T11/T10 T10/T9 T9/T8 T8/T7 T7/T6 T6/T5 T5/T4 T4/T3 T3/T2 T2/T1 T1/C7

80,3 1,07829 1,654809 2,211079 2,633586 2,880681 2,965917 3,025829 3,11281 3,177681 3,451623 3,969998* 3,569003

54,9 0,397951 0,667055 1,086442 1,489035 1,796369 1,976015 2,039234 2,081375 2,132414 2,150726 2,586109* 2,506406

52,5 0,641464 1,048047 1,433816 1,735784 1,909656 1,97096 2,012006 2,061265 2,077954 2,2179 2,494696* 2,406004

Pressão Intradiscal de T1 a T12. PESO S1 / L5 L5 / L4 L4 / L3 L3 / L2 L2 / L1 L1 / T12

80,3 0,487557 0,251512 0,187066 0,39539 0,537652 0,70363454,9 0,306901 0,265771 0,227026 0,381061 0,533822 0,39795152,5 0,296117 0,262852 0,225358 0,375378 0,526799 0,380761

Pressão Intradiscal de T1 a T12. _________________________________________________________________________* Ponto Crítico

PESO L1 L2 L3 L4 L5 80,3 1090,98 1171,76 1215* 1206,06 1112,5554,9 858,644 928,037 960,0* 956,734 884,23252,5 837,2 900,96 936,0* 932,84 863,536

PESO C7/C6 C6/C5 C5/C4 C4/C3 C3/C2 C2/C1 80,3 3,831359 3,878181* 3,256883 2,0873 1,122306 0,912638 54,9 2,679891 2,703049* 2,260042 1,441208 0,77063 0,6121 52,5 2,571091 2,592012* 2,165853 1,38016 0,7374 0,596681

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ANEXO A - Certidão do Comitê de Ética

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