anÁlise dos mÉtodos de marcaÇÃo em vertebrados - a experiÊncia do zoolÓgico dois irmÃos

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Revista Nordestina de ZoologiaISSN 1808-7663

Volume 5

Nmero 1

Ano 2011

Revista da Sociedade Nordestina de Zoologia

Revista Nordestina de Zoologia

Recife

V. 5

N. 1

P. 1 - 139

2011

ANLISE DOS MTODOS DE MARCAO EM VERTEBRADOS A EXPERINCIA DO ZOOLGICO DO PARQUE ESTADUAL DOIS IRMOS, RECIFE, PERNAMBUCO Dnisson da Silva e Souza1,2; Daniel Barreto Siqueira2; Luciana Carla Ramehde 2 2 2 Albuquerque ; Mrcio Andr da Silva ; Brbara Lins Caldas ; Miriam Camargo 3 Guarnieri ; Geraldo Jorge Barbosa de Moura41

Especializao em Clnica Mdica e Cirrgica de animais Selvagens e exticos, Instituto Qualittas de Ps-Graduao, Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro. 2 Corpo tcnicos do zoolgico do Parque Estadual Dois Irmos. 3 Docente da Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Zoologia, Laboratrio de Animais Peonhentos e Toxinas. 4 Docente da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Biologia, Laboratrio de Herpetologia e Paleoherpetologia. Autor para correspondncia: [email protected]

RESUMO A manuteno de animais silvestres em cativeiro muito importante para a conservao das espcies, sendo um dos objetivos propostos na nova concepo de um zoolgico moderno. Desta forma, torna-se imprescindvel o conhecimento, controle e monitoramento dos espcimes nestes ambientes. Uma ferramenta importante para o cumprimento destes requisitos a identificao individual, sendo necessria para o acompanhamento do histrico clnico e gentico dos indivduos, por possibilitar um manejo veterinrio e biolgico mais eficiente, atendendo as exigncias da legislao ambiental vigente. Este trabalho descreve os sistemas de identificao individual implantados nos animais do Parque Estadual Dois Irmos PEDI, Recife-PE. Os mtodos utilizados foram tatuagem, anilhamento e microchipagem, sendo estas escolhidas levando-se em considerao a praticidade, eficincia, custo-benefcio, durabilidade e adaptabilidade dos mtodos, bem como as espcies em questo. No perodo de realizao do trabalho, foram marcados 498 animais, sendo 109 aves, 323 rpteis e 66 mamferos. As marcaes mostraram-se bastante efetivas uma vez que poucos problemas resultantes dos procedimentos foram observados para o PEDI, o mtodo de microchipagem apresentou o melhor custo-benefcio para todos os grupos de rpteis e mamferos, assim como o mtodo de anilhamento foi mais eficiente para o grupo das aves. Palavras-chaves: Microchipagem, tatuagem, anilhamento, animais selvagens.

ABSTRACT Keeping wild animals in captivity is very important in species conservation for it is one proposed objective of the new concept of a modern zoo. In this way it becomes essential to know, control and monitor the specimens in these environments. AnRevista Nordestina de Zoologia, Recife, v. 5 (1): p.97-112. 2011

important tool for achieving these requirements is the individual identification, being necessary to monitor the clinical and genetic history of individuals, enabling a more efficient veterinary and biological management, but also to conform legislation of environmental regulations. This paper describes the individual identification systems deployed in animals of the Dois Irmos State Park - PEDI, Recife-PE. The used methods were tattooing, microchip implantation and banding, while each technique was chosen considering the practicality, efficiency, cost-benefit, durability and adaptability as well as the biology of the target specimen, their sensitivity to capture and containment, and individual behavior. In the period of study 504 animals were marked which includes 121 birds, 323 reptiles and 66 mammals. The markings were very effective since few arising problems from the procedures were observed. Tattooing turned out to be the most time consuming method for application as well as for reading. Although it is restricted to birds, banding served well the needs of the institution while providing a low cost, durability and practicality of implementation besides the method is painless to specimens. Having a lower implementation cost, the microchip method is representing the most advantageous method in terms of durability, reliability in identification and practical application. For the PEDI, the microchip method showed the best cost-effectiveness for all groups of "reptiles and mammals, while the banding method was more efficient for the group of birds. Keywords: Microchip, tattoo, banding, wildlife.

INTRODUO A identificao de animais praticada desde a pr-histria, sendo inicialmente com o propsito de distinguir os animais entre si e de personalizar a propriedade (Dria, 2009). Atualmente, os objetivos de marcao abrangem tambm s finalidades comerciais , ao estudo das populaes in situ e ex situ, ao controle do bem-estar dos animais e respectiva responsabilizao dos seus detentores (Paula e Ferreira, 2006; Dria, 2009). A identificao do animal deve ser capaz de individualiz-lo dos demais sem causar-lhe estresse, dor ou alterar seu comportamento e preferencialmente ser facilmente identificada distncia (Paula e Ferreira, 2006). Muitas vezes todos esses requisitos no podem ser cumpridos e dois ou mais tipos de marcas podem ser aplicadas o que

permite sua distino em marcas permanentes, de longa ou de curta durabilidade (Mangini e Ncola, 2003). Em situaes especficas, quando necessrio identificar os animais distncia e por perodo limitado, possvel utilizar marcaes temporrias, como pinturas, colares ou braadeiras de cotas coloridas, cortes nos pelos, entre outros. Estas tcnicas so particularmente teis quando se pretende observar o comportamento de indivduos que vivem em grupos (SMA-SP, 2008). Alternativamente as marcas naturais, como padro de colorao, forma das escamas, cicatrizes, ou ainda defeitos ou deformidades podem auxiliar na identificao do animal, embora sejam pouco freqentes (SMA-SP, 2008). Tratando-se de marcaes artificiais e permanentes utilizados nos vertebrados terrestres, destaca-se para o grupo das aves o uso freqente de anilhas para as de

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pequeno e mdio porte e microchip para as de grande porte. Para os rpteis utilizam-se comumente microchips, brincos e marcas por cortes de escamas. Os mamferos so freqentemente marcados por microchips, brincos e tatuagem (Almeida et al., 1979; Fowler, 1993; Ferreira, 2002; Machado e Nantes, 2004; Mangini e Ncola, 2003; Olivetti et al., 2003; Beausoleil et al., 2004; Wemmer, 2006; Serrano, 2008; SMASP, 2008; Dria, 2009). A identificao dos animais em cativeiro, especialmente em zoolgicos, um requisito importante para uma gesto mais eficaz, possibilitando um acompanhamento contnuo da biologia (biometria, idade e reproduo), histria clnica (doenas, vacinas e exames laboratoriais) e gentica de cada espcime, assim como est de acordo ao requisito legal para a manuteno de animais em cativeiro, seja na condio permanente ou em quarentena (Fowler, 1993; Brasil MMA, 2008). Este trabalho objetiva apresentar uma anlise crtica dos diferentes mtodos de marcao utilizados em rpteis, aves e mamferos de cativos no zoolgico do Parque Estadual Dois Irmos, Recife, Pernambuco. MATERIAL E MTODOS O Parque Estadual Dois Irmos (PEDI) O Parque Estadual Dois Irmos (latitude: 08 00' 20.79" S, longitude: 34 56' 51.85" W) uma Unidade de Conservao de Proteo Integral composta por um fragmento de Mata Atlntica de 384,42 ha, onde est inserido um zoolgico com

aproximadamente 14 ha (Coutinho et al., 1998; Weber e Resende, 1998). O Zoolgico do Recife apresenta, atualmente, um plantel com 737 animais, distribudos em 120 espcies, sendo 448 rpteis, 186 aves e 103 de mamferos. A manuteno do plantel realizada por uma equipe de cinco veterinrios, quatro bilogos, oito tratadores e trs manipuladores de alimentos, alm do setor administrativo. Mtodos de marcao empregados Com base nas informaes disponveis na literatura e a experincia obtida com os animais previamente marcados no PEDI, foram escolhidas as tcnicas de marcao levando-se em considerao a praticidade, eficincia, custo-benefcio dos mtodos, durabilidade e adaptabilidade as peculiaridades comportamentais dos animais. Desta forma os mtodos escolhidos foram tatuagem, anilhamento e microchipagem. Na marcao por tatuagem foi utilizado um dermopigmentador, modelo Mei-cha Dinasty Zafiro 2000 e pigmento preto Mei-cha AG (Figura 01); no anilhamento marcadores de inox e alumnio da marca Anilhas Capri; na microchipagem produtos da AnimallTAG KORTH - RFID, constitudos por transponders e implantadores individual e multiuso (medelo KT34/13 ISO FDX-B 134,2 KHz) e leitor (modelo ISO 11784 FDXB 134,2 KHz) (Figura 02). A marcao por tatuagem foi feita na face medial do membro plvico direito, sendo adotada a palavra PEDI seguida da numerao cronolgica dos animais manejados (Figura 3); esse tipo de marcao foi realizado nos mamferos.

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Figura 01: Dermopigmentador modelo Mei-Cha Dinasty Zafiro 2000 e pigmento preto Mei-

cha AG. Dnisson da Silva e Souza (Recife, 07/02/2010).

A marcao por anilhamento foi realizada na grande maioria das aves. A marcao por microchipagem foi realizada na regio entre as escpulas nos mamferos, nos quelnios e lagartos no membro plvico esquerdo e nos crocodilianos, na lateral esquerda da regio cervical. Nas aves ratitas foi colocado na poro anterior da regio cervical e nos grandes rapinantes, no subcutneo da face lateral da asa esquerda. Antes de proceder com o

implante, foi realizada assepsia no local da aplicao com lcool iodado e feito o acompanhamento do comportamento dos animais aps as marcaes por meio de observaes es diretas. Foi realizada leitura dos microchips antes e aps sua implantao. Nos quelnios e lagartos tambm foi realizada leitura aps uma semana. Este tipo de marcao foi realizada nos rpteis rpteis, aves e mamferos.

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A

B

CFigura 02: A. Implantador individual pronto para ser utilizado; B. implantador multiuso; C C. Leitor modelo ISO 11784 FDX 134,2 KHz. Dnisson da Silva e Souza (Recife, FDX-B 07/02/2010).

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Figura 03: Marcao por tatuagem no membro plvico direito em Euphractus sexinctus. Dnisson da Silva e Souza (Recife, 30/12/ 2009).

Conteno dos animais Os principais materiais utilizados para a conteno fsica dos mamferos foram os pus e as luvas de raspa de couro, conforme sugerido por Oliveira e Del-Claro (2003) e Mangini e Nicola (2004). A conteno dos Testudines e lagartos de mdio porte (Iguana iguana) foi realizado manualmente sem equipamentos de imobilizao. Durante marcao de Podocnemis expansa (tartaruga-da-amaznia) os espcimes foram mantidos em decbito dorsal e foi utilizado um colcho de espuma com o objetivo de evitar traumatismos nas carapaas. As serpentes foram contidas com gancho e cambo e os crocodilianos com pu de malha grossa e ligas de borracha para imobilizao da boca, sendo realizada a marcao com os animais envolvidos pela malha do pu. As aves de pequeno e mdio porte foram capturadas com o auxlio do pu e contidas com as mos protegidas com as luvas de raspa de couro. As aves de grande porte (ratitas) foram contidas realizando-se um cerco, estando os operadores protegidos com forquilhas de madeira

e aps a imobilizao o espcime teve sua cabea cobertas com capuz de cor preta. Todos os animais que receberam tatuagem foram submetidos conteno qumica e diferentes protocolos foram utilizados. Para Coendou prehensilis (coandu) foi utilizada a associao de cloridrato de cetamina (40mg/kg) e diazepan (10mg/kg), para Euphractus sexcinctus (tatu-peba) utilizou-se o atropina (0,04mg/kg), cloridrato de cetamina (30 mg/kg) e cloridrato de xilazina (1,0 mg/kg). e para Eira barbara (irara) foi realizado associao de cloridrato de cetamina (10mg/kg), cloridrato de xilazina (1,0 mg/kg) e diazepan (1,0mg/kg). RESULTADOS E DISCUSSO Entre dezembro de 2009 e maro de 2010 foram marcados 498 animais, sendo 323 rpteis, 109 aves e 66 mamferos. A experincia vivenciada no PEDI evidenciou a tcnica de marcao com tatuagem, como o mtodo que pode causar um maior risco a vida do animal, caso este procedimento no seja bem elaborado, principalmente com relao conteno qumica. No

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entanto, graas disponibilidade atual de drogas extremamente seguras, tais riscos podem ser bastante minimizados e, neste caso, cria-se a possibilidade de realizar um exame clinico geral mais detalhado, inclusive com coleta de material biolgico aps o procedimento de marcao. O mtodo de tatuagem foi o procedimento que consumiu mais tempo para ser implantado, como registrado por Ferreira e Meirelles (2002) em trabalhos desenvolvidos com bovinos no estado de Mata Grosso do Sul. Ressalta-se ainda que o uso de anestsicos exige um tempo de relaxamento e retorno do animal, tornando o perodo de ps marcao mais duradouro (Almeida et al., 1979). Levando-se em considerao a praticidade do manejo e a eficincia e durabilidade do mtodo, resolveu-se realizar na maioria dos mamferos a marcao por microchipagem, embora o custo-benefcio deste mtodo seja mais oneroso do que a tatuagem. Dessa forma, no perodo estabelecido para o estudo, apenas trs espcies de mamferos foram tatuados, sendo dois Euphractus sexcinctus (tatupeba), dois Coendou prehensilis (coandu) e um Eira barbara (irara) (Foto 02 A e B). A tatuagem um mtodo que sofre influncias de variveis intrnsecas e extrnsecas ao animal, como a cor e o tipo da pele do animal, revestimento e anexos da pele, cor da tinta, metodologia de grafia da tatuagem e o tipo do aparelho tatuador (Olivetti et al., 2003), podendo ter uma durabilidade restrita ou permanente. A habilidade do operador tambm um fator que deve ser levado em considerao neste mtodo. A principal vantagem da utilizao da tatuagem a sua durabilidade, eficincia e o baixo custo. Como desvantagem, este mtodo no

permite a identificao do animal por observao direta, havendo a necessidade de conteno fsica ou qumica sempre que necessitar fazer a leitura da marca (Ferreira e Meirelles, 2002; Wermer, 2006). Outro fato que deve ser considerado a possibilidade de haver a necessidade de amputar o membro do animal devido algum problema de sade como trauma ou neoplasia. Desta forma sempre que possvel, importante associar a tatuagem com outro mtodo de marcao (Wermer, 2006). Em aves, a pele delgada impossibilita a fixao de algumas tintas e a rea marcada geralmente se torna plida, o que torna a identificao ilegvel (Wermer, 2006). importante considerar que cada instituio deve estabelecer o mtodo mais adequado de marcao para os animais do seu plantel, porm pela legislao vigente todos os animais silvestres devem ser individualizados (Brasil, MMA, 2008). Nos quelnios e lagartos, optou-se por fazer uma nova leitura do microchip uma semana aps o seu implante e foi observada a ausncia de leitura em 2,8% (8/286) dos quelnios (Tabela I). Os microchips desses animais caram durante este perodo de tempo visto que a leitura foi conferida logo aps a sua implantao e os microchips foram posteriormente encontrados no recinto dos animais. Acredita-se que as perdas dos microchips tenham ocorrido devido ao calibre da agulha do implantador ser grosso (2,6mm de dimetro), que, ao introduzir na pele grossa desses quelnios, no permitiu uma rpida cicatrizao da pele e consequente sada dos microchips. As marcaes realizadas com o microchip mostraram-se bastante eficientes e prticas, uma vez que o maior tempo gasto foi com a

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conteno fsica e no com a marcao em si. Este foi o mtodo que demonstrou as melhores caractersticas de implantao como a facilidade de aplicao, durabilidade e confiabilidade de informaes (Machado e Nantes, 2002). Em nenhum animal marcado foi observado rejeio do implante ou processo inflamatrio.

Quanto eficincia da microchipagem nos mamferos, este mtodo foi considerado adequado, em especial pela sua rapidez de aplicao e durabilidade, alm de ter sido bem tolerado pelos animais. Dos 61 mamferos marcados por microchip, no foi registrado perda do material at o momento (Tabela II).

Tabela I: Rpteis marcados por microchip no zoolgico do Parque Estadual de Dois Irmos no perodo de dez 2009 a maro 2010.Clado/Espcie S AU R O P S I D A TESTUDINE K i n o s t e r n o n s c o r p i o i d e s (Linnaeus, 1766) M e s o c l e m m y s t u b e r c u l a t a (Lderwaldt, 1926) Chelonoidis carbonaria (Spix, 1824) Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) P o d o c n e m i s e x p a n s a (Schweigger, 1812) P o d o c n e m i s u n i f i l i s ( Troschel, 1848) T r a c h e m y s s c r i p t a e l e g a n s Dumril & Bibron, 1835 T r a c h e m y s s c r i p t a d o r b i n y Dumril & Bibron, 1835 R h i n o c l e m m y s p u n c t u l a r i a (Daudin, 1801) LEPDOSAURIA S Q U AM A T A LACERTIDEOS Iguana iguana (Linnaeus 1758) OPHIDEOS Boa constrictor (Linnaeus 1758) Corallus hortulanus (Linnaeus 1758) Epicrate cenchria (Linnaeus 1758) Eunectes murinus (Linnaeus 1758) Python morullus bivittatus Kuhl, 1820 Python reticullatus (Schneider, 1801) ARCOSSAURIA CROCODILIANOS C a i m a n l a t i r o s t r i s ( Daudin,1802) P a l e o s u c h u s p a l p e b r o s u s ( Cuvier, 1807) T O TA L Animais marcados Animais que perderam o chip Eficincia (%)

37 35 22 88 19 11 37 36 1

4 4 -

100 100 81.9 94.4 100 100 100 100 100

1 5 19 2 3 2 1

-

100 100 100 100 100 100 100

3 1 323

8

100 100

A marcao por anilhamento um mtodo de fcil aplicao e bastante eficiente para identificao das aves (Tabela III). Devido ao comportamento especfico demonstrado por algumas aves, como os rapinantes e psitacdeos, aps a colocao das anilhas, observou-se que esses animais tiveram os tarsos feridos (Figura 04) devido s

tentativas de se livrar das anilhas (Figura 05A e B), sendo necessria a retirada da marcao, o que ressalta a importncia do monitoramento psanilhamento para manuteno da integridade fsica das aves, em especial as de comportamento agressivo (Wemmer, 2006). No entanto, das 106 aves anilhadas, apenas cinco (4,7%) apresentaram

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leso nas patas: Ciconia maguari, Falco sparverius, Morphinus guaianensis, Rupornis magnirostrise e Penelope jacuguacu). Para estes animas foi realizada a retirada dasClado/Espcie CANIDAE Cerdocyon thous (Linnaeus,1776) MARSUPIALIA Caluromys philander ( L i n n a eu s , 1 7 5 8 ) MUSTELIDAE Eira barbara (Linnaeus,1758) Galictis vittata (Schreber, 1776) Lutra longicaudis (Olfers,1818) PRIMATA Ateles marginatus (Geoffroy,1809) Ateles paniscus (Linnaeus,1758) Ateles paniscus chamek (Linnaeus,1758) Lagothrix lagotricha (Humboldt,1812) P a p i o a n u b i s (Erxleben, 1777) P a p i o h a m a d r y a s (Erxleben,1777) Chlorocebus aethiops (Linnaeus,1758) PROSCIONIDAE Nasua nasua (Linnaeus,1766) Procyon cancrivorus (Cuvier, 1798) Potus flavus (Schreber,1774) XENARTRA Dasypus novemcinctus ( L i n n a e u s , 1 7 5 8 ) Myrmecophaga tridactyla(Linnaeus,1758) Tamandua tetradactyla (Linnaeus,1758) RODENDIA Cuniculus paca (Linnaeus,1758) Coendou prehensilis ( L i n n a eu s , 1 7 5 8 ) ARTIODACTYLA Pecari tayassu (Link,1795) FELIDAE Leopardus pardalis (Linnaeus,1758) Leopardus tigrinus (Schreber,1775) Puma yaguarondi (Geoffory,1803) Puma concolor ((Linnaeus,1771)

anilhas, exceto a P. jacuguacu, em que bastou remodelar a anilha para resolver o problema. Nas demais aves, no foi realizada marcao posterior at o presente momento.Nome Popular Cachorro-do-mato Cuca Papa-mel Furo Lontra Macaco-aranha-testa-branca M.-aranha-cara-preta M.-aranha-cara-vermelha Macaco-barrigudo Babuno verde Babuno sagrado Macaco-griv Quati Guaxinim Jupar Tatu-galinha Tamandu-bandeira Tamandua-mirim Paca Coandu Porco-do-mato Jaguatirica Gato-do-mato Gato-mourisco Suuarana n 8 1 1 1 3 1 3 2 3 1 3 1 9 2 1 2 3 3 2 3 2 2 2 1 1

TABELA II - Lista dos mamferos marcados por microchip no zoolgico do Parque Estadual Dois Irmos no perodo de dez 2009 a maro 2010.

TABELA III - Lista das aves marcadas por anilhamento no zoolgico do Parque Estadual Dois Irmos no perodo de dez 2009 a maro 2010.Clado/Espcie CARENATA Aburria jacutinga (Spix, 1825) A m a zo n a a e s t i v a ( L i n n a e u s , 1 7 5 8 ) A m a zo n a a m a zo n i c a ( L i n n a e u s , 1 7 6 6 ) A m a zo n a f a r i n o s a ( B o d d a e r t , 1 7 8 3 ) Ara nobilis (Linnaeus,1758) Ara(Diopsitaca) severus (Linnaeus,1758) Aratinga acuticaudata (Vieillot,1818) Aratinga aurea (Gmelin,1788) Jacutinga-negra Papagaio-verdadeiro Papagaio-do-mague Papagaio-moleiro Ararinha nobreMa r a c a n g u a u Ararinha-de-testa-azul Periquito-estrela Gangarra 1 10 2 2 11 1 1 9 Nome comum n

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Aratinga cactorum (Kult,1820) A . l e u c o p h t h a l m u s ( S t a t i u s Mu l l e r , 1 7 7 6 ) A. solstitialis jandaya (Linnaeus,1766) Buteo magnirostris (Gmelin,1788) Cariama cristata (Linnaeus,1766) Ciconia maguari(Gmelin,1789) Crax Alberti Fraser,1852 Crax alector (Linnaus,1766) Crax blumenbachii (Spix,1825) Crax daubentoni (G.R.Gray,1867) Crax f. fasciolata(Spix,1825) Crax fasciolata pinima Crax globulosa (Spix,1825) Crax rubra rubra(Linnaeus,1758) Eudocimus ruber(Linnaeus,1758) Falco sparverius(Linnaeus,1758) Harpia harpyja (Linnaeus,1758) M i t u m i t u t o m e n t o s a ( S p i x, 1 8 2 5 ) Mitu mitu tuberosa (Spix,1825) Morphinus guaianensis (Daudin,1800) Nothocrax urumutum(Spix,1825) Ortalis gutatta (Spix,1825) Pauxi pauxi(Spix,1825) P e n e l o p e j a c u g u a c u ( S p i x, 1 8 2 5 ) Pionites leucogaster (Linnaeus,1758) Pionites melanocephala (Kuhl,1820) Pionus fuscus (Statius Muller, 1776) Pionus maximiliani (Kuhl,1820) Pionus menstrus (Linnaeus,1766) Pipile jacutinga (Spix,1825) Polyborus plancus (Miller, 1777) Primolius auricollis (Cassin, 1853) Pteroglossus aracari (Linnaeus,1758) P t e r o g l o s s u s i n s c r i p t u s ( S wa i n s o n 1 8 2 2 ) Pulsatrix perspicillata (Latham, 1790) P y r r h u r a r o d h o g a s t e r ( S p i x, 1 8 2 4 ) Ramphastos tucanus cuvieri (Statius Muller, 1776) Ramphastos vittelinusAriel(Vigors,1826) Rhinoptynx clamator (Vieillot,1808) R AT I T A Struthio camelus (Linnaeu,1758)

Araguari Jandaia-verdadeira Siriema Gavio carij Maguari Mutum-de-bico-azul Mutum-poranga Mutum-do-sudeste Mutum-globo-de-ouro Mutum-de-penacho Mutum-pinima Mutum-fava Mutum-do-mexico Guar Gavio quiri-quiri Harpia Mutum-do-norte Mutum cavalo Uirau-falso Urumutum Aracu Mutum-topete-de-pedra Jacucaca Jacu-de-spix Marianinha-de-cabea-amarela Marianinha-de cabea-preta Curica roxa Curica -de-peito-roxo Curica de cabea azul Jacutinga Carcar Maracan-de-colar Araari minhoca Araari letrado Coruja murucututu Ti r i b a - b a r r i g a - v e r m e l h a Tu c a n o - d e - p e i t o - b r a n c o Tu c a n o - b i c o - p r e t o Coruja orelhuda Avestruz TOTAL

2 6 2 1 1 1 3 2 2 4 1 4 1 1 1 2 1 2 1 3 1 1 2 1 5 2 2 2 1 1 3 1 3 2 2 7 2 1 2 1 109

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Figura 04: Leso na regio do tarso direito em Buteo magnirostris devido a tentativa de retirada da anilha. Dnisson da Silva e Souza (Recife, 9/02/2010).

ACONCLUSO No que se refere eficincia, a marcao por tatuagem um bom mtodo desde que haja disponibilidade de tempo e a utilizao de drogas mais seguras para os procedimentos de conteno qumica, para no colocar em risco a vida do animal, alm de apresentar grande durabilidade. O anilhamento mostrou-se um mtodo eficiente para maioria das aves. A praticidade de implantao e durabilidade fizeram desse mtodo

Buma boa opo para adoo na instituio. O mtodo da marcao por microchipagem foi considerado muito eficiente, permitindo a sua utilizao nos trs grandes grupos animais (rpteis, aves e mamferos), devido principalmente a sua praticidade de aplicao, aceitao do animal ao implante e durabilidade. Dessa forma, notrio que os diversos sistemas de marcao individual dos animais apresentam pontos positivos e negativos, sendo constatada a importncia de escolher

Figura 05: Aratinga acuticaudata tentando retirar a anilha. Dnisson da Silva e Souza (Recife, 28/01/2010).

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o mtodo mais eficiente, de fcil aplicao e que cause o menor incomodo possvel ao animal. Uma vez que o plantel est identificado, cria-se a possibilidade de conhecimento do histrico, principalmente, mdico e reprodutivo de cada indivduo, permitindo melhores cuidados com a coleo que se deseja manter. REFERNCIAS Almeida, A. F.; Bertolani, F.; Nicolielo, N. 2010. Estudo de uma populao de catetos, tayassu tajacu, em uma floresta implantada de pinus spp. IPEF n.19, p.21-35, dez.1979.Disponvel na World Wide Web em: http://www.ipef.br/publicacoes/scientia /nr19/cap02.pdf. Acesso em 20 dez. Beausoleil, N.J.; Mellor, D.J.; Stafford, K.J.. 2010. Methods for marking New Zealand wildlife - Amphibians, reptiles and marine mammals. New Zealand, 2004. Disponvel na World Wide Web em: . 19 dez. BRASIL. 2008. Ministrio do Meio Ambiente. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBMA. Instruo Normativa n 169 de 20 de fevereiro de 2008. Dirio Oficial da Unio. n 35, de 21 Fev. 2008. Seo 01, Pgina n 57. Carvalho-Filho, E.P.M.; Carvalho, C. E. A.; Carvalho, G. D. M .; Zorzin, G. 2010. Anilhamento e Tcnicas de Capturas de Falconiformes no Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte. 2005. Disponvel na World Wide Web em: < http://www.sosfalconiformes.com.br/FI

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